responsabilidades do estado democrático de direito análise do contexto brasileiro

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Artigo que trata das Responsabilidades de um Estado Democrático de Direito, sob a ótica do Estado brasileiro.

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  • RESPONSABILIDADES DO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO:

    ANLISE DO CONTEXTO BRASILEIRO.

    Douglas Rocha Paixo1

    Lucas Alessandro Silva2

    RESUMO

    O Estado Democrtico de Direito, institudo a partir da relao entre os conceitos de Estado

    de Direito e Estado Democrtico, projeta uma gama de valores e sentidos intrnsecos ao

    modelo estatal brasileiro, bem como se faz consoante aos padres normativos do sculo XXI,

    de proteo a princpios bsicos, como da dignidade da pessoa humana, da cidadania, da

    justia social, da participao poltica, dentre outros, principalmente relacionados s garantias

    de vida digna. Portanto, a Repblica Federativa do Brasil, constituda a partir de 1988, possui

    em sua carta magna a legitimao de tais valores, tornando-os fundamentais. Contudo, o

    trajeto percorrido para a constituio de tal modelo de estado passou por diversas transies e

    empecilhos, possibilitando a construo do atual sistema legal duras penas. Nesse sentido,

    cabe inferir que diversos elementos que caracterizam o Estado Brasileiro, como a soberania, a

    liberdade, a diviso dos poderes, j passaram por estudos e pesquisas no intuito de delimitar

    seus conceitos e analisar suas aplicaes prticas. No rol destes elementos de estudo, um dos

    que mais se destaca o da responsabilidade do Estado, uma vez que necessrio

    compreende-lo segundo os parmetros polticos, econmicos e sociais, de um Estado que se

    configura tanto social quanto liberal. Assim, diversos questionamentos so propostos sobre a

    responsabilidade estatal em face de um estudo de caso do estado brasileiro, como exemplo, e

    talvez, o principal questionamento: a Repblica Federativa do Brasil, enquanto Estado

    Democrtico de Direito, tem sido capaz de cumprir e garantir o exerccio de suas

    responsabilidades?

    1 Graduando em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran. E-mail: [email protected]

    2 Graduado em Cincias Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Graduando em Direito pela Pontifcia

    Universidade Catlica do Paran. E-mail: [email protected]

  • Palavras-chaves: Democracia; Estado de Direito; Responsabilidade.

    ABSTRACT

    The Democratic Rule of Law, established from the relationship between the concepts of rule

    of law and democratic state, projects a range of meanings and values intrinsic to Brazilian

    state model, as well, is done according to the normative standards of the XXI century, of basic

    principles protection, as the dignity of the human being, citizenship, social justice, political

    participation, among others, mainly related to guarantees of decent living. Therefore, the

    Federative Republic of Brazil, constituted since 1988, has in its Magna Carta the legitimacy

    of such values, making them essential. However, the route taken for the establishment of such

    a state model went through several transitions and obstacles, allowing the construction of the

    current legal system by a hard way. In this sense, can be inferred that the various elements

    that characterize the Brazilian State, such sovereignty, freedom, division of powers, have

    gone through studies and surveys in order to define its concepts and analyze their practical

    applications. In the role of these elements of study, one that more stands out is the

    responsibility of the State, since it is necessary to understand it according to the political,

    economic and social parameters, of a State which configures both socially and liberal. So

    many questions are proposed about the state responsibility in reason of a study case of the

    Brazilian State, for example, and perhaps the main question: the Federative Republic of

    Brazil, while Democratic State of Law, has been able to fulfill and guarantee the exercise of

    his responsibilities?

    Keywords: Democracy; Rule of Law; Responsibility.

    INTRODUO

    O conceito e a realidade poltico-social de um Estado Democrtico de Direito so

    problematizados desde as primeiras consideraes acerca da democracia enquanto forma de

    Governo, das formas de Estado, e do prprio conceito de Direito. Tais questes so

    objetivadas como fundamentais ao estudo da constituio de um Estado de Direito.

  • Contudo, seria por deveras presunoso objetivar neste estudo a anlise de um tema

    com tal amplitude, sem que diversas lacunas ou omisses fossem constitudas. Assim, cabe

    delimitar tal objeto de estudo em face de outro elemento essencial ao Estado Democrtico de

    Direito: a responsabilidade estatal.

    A responsabilidade em si, tema e elemento de estudos em diversas reas, mas que

    no campo jurdico, em especial no campo da Teoria Geral do Direito, possui destaque em

    razo de discusses acerca da legitimidade de determinadas prestaes obrigacionais por parte

    do Estado, assim questionando, quando o Estado possui a obrigao de agir ou de responder

    por determinadas situaes e fatos.

    A argumentao sobre as responsabilidades de um Estado Democrtico de Direito

    presume consideraes prvias e basilares ao tema, viabilizando o entendimento do contexto e

    da realidade poltico-social em que tais estados se constituem.

    Se faz funcional a esta exposio, portanto, apresentar preliminarmente o conceito e

    os significados da expresso Estado Democrtico de Direito, para assim, determinar suas

    principais responsabilidades e, por fim, analisar o contexto do Estado Brasileiro e quais as

    responsabilidades constitudas a partir de sua Constituio Federal de 1988.

    DO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO:

    O estudo acerca do conceito e da ideia de um Estado Democrtico de Direito, deve

    permitir a imposio de determinados preceitos e questionamentos fundamentais ao

    entendimento de tal tema. Assim, se faz necessrio analisar, por exemplo, o conceito de

    Estado e de Democracia, como requisitos permissivos ao estudo central.

    A palavra estado teria sua origem etimolgica do latim status, e estaria atrelada ao

    significado de condio, ordem, trata-se de uma realidade complexa, presente na vida de

    todas as pessoas, as quais, ao nascerem, j possuem vnculos (FACHIN, 2008, p.163). Nesse

    sentido, pode-se fazer referncia s disposies iniciais do livro Do contrato social ou

    princpios do direito poltico de Jean-Jacques Rousseau, na qual se tem que o o homem

    nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros (ROUSSEAU, 1999, p.53).

  • O Estado seria assim, essa realidade complexa, presente em uma sociedade de forma

    que todos os indivduos possuam vnculos com ele, direta ou indiretamente, por tempo e

    condies determinados por ele.

    No entanto, existem diversas correntes de pensamento e teorias que abordam o

    conceito e o surgimento do Estado, tais quais as teorias crticas, positivas, naturais. H a

    possibilidade de se retratar o referido tema a partir de diversas ticas, e este estudo partir de

    uma fundamentao jusnaturalista, uma vez que se pretende analisar o conceito de Estado a

    partir da hiptese clssica do contratualismo.

    Assim, certos nomes surgem como expoentes de tal corrente de pensamento, como

    Thomas Hobbes, John Locke e, o j citado, Jean-Jacques Rousseau.

    O destaque em tal corrente de pensamento, se fundamenta na proposta de surgimento

    de um Estado, atravs de um Contrato Social, de forma que em determinado momento, o

    direito, que era advindo da natureza juntamente com o homem, necessitou ser regulamentado

    e legitimado, seja para o bom convvio entre os homens, ou at mesmo para a sobrevivncia

    destes.

    Hobbes , dentre os autores jusnaturalistas, o mais pontual em afirmar a intrnseca

    necessidade de constituir um Estado em razo da prpria sobrevivncia dos homens, que

    poderia ser assegurada mediante a transmisso de uma parte de seus direitos, at ento

    naturais, para a constituio de um poder soberano.

    Dentre os mltiplos conceitos de Estado que podem insurgir, talvez o mais

    funcional a este trabalho a considerao de que o Estado uma condio, que atravs de

    diversas caractersticas e imposies, reflete uma realidade complexa, podendo vir a ser

    institucionalizada, seja atravs de um pacto, ou um contrato social como preferem os

    contratualistas.

    No mesmo sentido percebe-se certas delimitaes no conceito de Estado, de modo

    que se possa diferenciar proposies e limites nas constituies dos estados. Portanto, h de se

    considerar a existncia das delimitaes em formas e modelos de Estado, estando

    respectivamente, ligadas distribuio do poder em mbito do territrio nacional, e ligadas

    intensidade com que um Estado intervm em seu meio de atuao.

  • As principais formas de estado a serem citadas, so: Estado Unitrio; Estado

    Regional; Estado Autnomo; e Estado Federal. J os principais modelos de Estado so:

    Estado Totalitrio; Estado Liberal; e Estado Social. H ainda, como afirma Zulmar Fachin, a

    possibilidade de se inferir um novo modelo de Estado, surgido em face das relaes

    econmicas, polticas e sociais, na atualidade, sendo o Estado Privado.

    O Estado Brasileiro estaria, portanto, delimitado segundo a forma federal e o modelo

    privado, j que este ltimo se daria em razo de uma unio entre o modelo social e o liberal.

    A distino entre as formas e modelos de Estado essencial no tocante

    fundamentao de uma anlise constituinte, bem como, necessria ao entendimento do

    contedo subsequente: formas de governo e sistemas de governo.

    As formas de governo mais conhecidas, so: Monarquia; Repblica; e Despotismo. E

    os sistemas de governo: Presidencialista; Parlamentarista; e Diretorial.

    Assim, o Estado Brasileiro, constitudo na forma federal e no modelo privado, possui

    uma forma de governo republicana e um sistema presidencialista. Essa sistematizao do

    Estado brasileiro se faz fundamental anlise do Estado Democrtico de Direito, uma vez

    que, alm de estarmos realizando um estudo de caso de um estado em particular, tambm

    necessrio compreender como um estado pode ser constitudo em Democrtico de Direito.

    No que tange ao conceito de democracia essencial destacar sua forma clssica que

    deve ser retratada segundo seu surgimento na Grcia Antiga. Assim, a democracia, associao

    das palavras demos e kratos, deriva da ideia de se legitimar o poder soberano nas mos do

    povo, contudo, nos parmetros atenienses em questo, leva-se em conta que o povo" seria

    um grupo seleto: dos homens com mais de dezoito anos que fossem cidados de Atenas; e

    que, o poder, no caso sendo o governo, seria em si a prpria assembleia j constituda sem

    intermdio dos cidados e de suas vontades.

    Portanto, a democracia poderia ser vista como uma forma de governo, do mesmo

    modo que a monarquia e a repblica, por exemplo, e como apresenta Paulo Bonavides esse

    entendimento milenar assim se conservou entre os publicistas romanos e os telogos da Idade

    Mdia (BONAVIDES, 2004, p.297).

  • O conceito de democracia, no entanto, passou por diversas diversificaes e desusos,

    de forma que ao longo de diversos regimes governamentais, as propostas democrticas foram

    abandonas ou ignoradas.

    Pode-se destacar uma volta da democracia atravs de pensadores como Rousseau e

    Montesquieu, mas foi atravs de movimentos revolucionrios do sculo XVIII,

    principalmente com a Revoluo Francesa de 1789, que a democracia passa a tomar um novo

    sentido e uma nova forma poltica. A democracia passa ento a ser objeto da luta por direitos.

    J no sculo XIX, como afirma o auto Paulo Bonavides, o marxismo teria agido no

    processo de descaracterizao da democracia como forma de governo: o socialismo marxista

    rebaixou, portanto, a democracia, desvalorizando-a como forma de governo da sociedade

    burguesa. Reduzida a uma ideologia (BONAVIDES, 2004. p.297).

    Assim, a democracia passaria a ser entendida como uma ideologia e no mais como

    uma forma de governo concreta. Sua funo estaria compreendida na de superestrutura, com

    objetivo de proteger os interesses das classes dominantes, e, portanto, perdendo seu sentido

    clssico de poder do povo, para o povo e pelo povo.

    J no sculo XX deve-se destacar outro rumo no conceito de democracia,

    consequente do longo perodo de guerras mundiais e das transformaes que estas geraram no

    pensamento moderno. Frente aos horrores e atrocidades cometidas contra a humanidade, a

    democracia, que antes era forma de governo, depois ideologia, agora seria considerada como

    princpio de direito. A democracia ultrapassaria os valores ideolgicos e polticos, e

    ingressaria em um rol de princpios bsicos de direito, norteadores de tantos outros princpios

    e posicionamentos polticos.

    Nesse sentido, cabe destacar, que a expresso Estado Democrtico, no revela apenas

    a forma de governo de um estado, mas uma gama de valores intrnsecos ao seu modelo

    poltico, fundamentados no princpio da dignidade humana, garantido, portanto ideais como a

    liberdade, a igualdade, a sobrevivncia, a participao poltica, etc.

    Da mesma forma, se faz necessrio o entendimento sobre a expresso Estado de

    Direito. Segundo o constitucionalista portugus Canotilho o estado de direito um estado

    constitucional (CANOTILHO, 2000, p.245), e partindo-se dessa premissa, a Constituio

    seria funcional existncia de um Estado, legitimando-o. O estado de direito projeta, assim, a

  • ampla relao de garantias e respeito ao direito, ou seja, institudo o Estado de Direito, todos

    cidados so includos, direta ou indiretamente, na tica jurdica instituda estatalmente.

    De tal modo, cabe ressaltar que tal instituto de direito estabelecido atravs de

    normas, que se distinguem hierarquicamente, com a Constituio do Estado possuindo

    supremacia frente as outras.

    A partir das duas propostas conceituais apresentadas, de Estado de Direito e Estado

    Democrtico, se faz possvel estabelecer a conexo entre ambas, conceituando assim, o

    Estado Democrtico de Direito.

    O estado democrtico de direito seria a conjugao entre os dois referidos conceitos,

    permitindo a proposta de um estado que garanta os princpios democrticos, bem como as

    derivaes deste, atravs do modelo de instituio de direitos, permissivo da relao de

    subordinao de todos ao instituto legal, assentado em uma Constituio.

    No caso do estado brasileiro, possvel observar e compreender tal relao atravs

    de uma anlise sobre a Constituio Federal de 1988. Assim assinala o prembulo desta:

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional

    Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio

    dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o

    desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade

    fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,

    na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias,

    promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA

    REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, Constituio,1988).

    Nesse sentido, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil objetiva a instituio

    de um Estado Democrtico, por meio de um Estado de Direito.

  • A RESPONSABILIDADE NO ESTADO DEMOCRTICO

    A Repblica Federativa do Brasil consagrada na carta magna de 1988 adota como

    modelo a ser posto na Federao o Estado democrtico de direito, muito bem influenciado

    pelos anseios do povo. Pois de acordo com o contexto vivenciado nas dcadas anteriores de

    um totalitarismo, recusa de diversos direitos, caos, a sociedade brasileira clamava, gritava a

    plenos pulmes para quem pudesse e quisesse ouvir que estava exausta de tanta desordem,

    que o pas necessitava de princpios, de garantias.

    Destarte, a carta magna de 1988 vem carregada de princpios democrticos. Fora

    observado os trs grandes movimentos que fortaleceram a teoria de Estado democrtico, a

    Revoluo inglesa, a americana e francesa. Ainda com grande nfase em ideais suscitados

    anteriormente na Revoluo francesa como liberdade, igualdade e fraternidade que so bases

    na Declarao de Direitos do Homem e Do Cidado em 1789. Assim, a Constituio abarca

    princpios fundamentais para a democracia que so a supremacia da vontade do povo, a tutela

    da liberdade e igualdade de direitos.

    Podemos afirmar que esta adoo do Estado Democrtico de Direito pelo Estado

    brasileiro automaticamente implica atravs da carta magna a Responsabilidade deste Estado

    em tutelar tudo que fora garantido no pacto de outubro de 1988, ou seja, uma vez que

    outorgado o pacto/Constituio entre o povo brasileiro e a figura do Estado, este ltimo se

    declara representante e protetor de toda populao, firmado uma srie de responsabilidades

    para com o povo, bem como ainda vale ressaltar que o povo o Estado, se faz Estado na

    democracia.

    Observando o que j foi explanado no corpo do trabalho, pode-se afirmar que este

    povo que se faz Estado por via da democracia, proporciona a legitimao do Estado

    Democrtico de direito. a democracia que faz a Repblica Federativa do Brasil ser legtima,

    com a unio do povo, pensamentos, reflexes conectadas por meio da representao

    devidamente fiscalizada, de acordo com uma base discursiva racional da populao, ou seja, a

    democracia suscitada na magna carta tem como foco que o povo atravs de um consenso

    comum racional que vise o bem comum sem demagogias, nepotismos, corrupo legitime o

    Estado de direito, pois este processo racional gera legitimao quando o prprio povo se torna

    Estado e legisla para si mesmo atravs da democracia. O filsofo alemo Jurgen Habermas

  • discorre sobre o tema em sua obra intitulada Direito e Democracia entre facticidade e

    validade:

    "[...] autonomia privada e pblica somente se mostra, quando conseguimos decifrar

    o modelo da auto legislao atravs da teoria do discurso, que ensina serem os

    destinatrios simultaneamente os autores de seus direitos. [...] condies formais

    para a institucionalizao jurdica desse tipo de formao discursiva da opinio e da

    vontade, na qual a soberania do povo assume a figura jurdica."(HABERMAS, 2003,

    p. 139).

    Vejamos o artigo 1 da magna carta onde exposto o Estado Democrtico de direito

    e seus fundamentos:

    "Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos

    Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de

    Direito e tem como fundamentos:I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da

    pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o

    pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por

    meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio."

    (BRASIL, Constituio,1988).

    E ainda o artigo 3, onde posto os objetivos fundamentais da magna carta de 1988

    onde h uma insero de responsabilidades do Estado.

    "Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:I -

    construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento

    nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades

    sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa,

    sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao."(BRASIL,

    Constituio,1988).

    Agora ficando claro que o prprio povo autor de seus direitos no Estado brasileiro

    vamos analisar quais as responsabilidades principais que povo tem para com si mesmo de

    acordo com o pacto de 1988. So claros que temos preliminarmente trs primeiras

    responsabilidades que so a tutela de princpios democrticos j suscitados anteriormente, so

    a supremacia da vontade do povo, a tutela da liberdade e igualdade de direitos e ainda de

    acordo com os fundamentos e objetivos fundamentais apresentados nos respectivos artigos 1

    e 3 da magna carta.

  • No que tange respeito supremacia da vontade do povo, logo remetemos nossos

    pensamentos aos ideias explanados pelo filosofo iluminista Jean Jacques Rousseau que no

    "sculo das luzes", esbanjava o ideal do governo da vontade geral, ou seja, que o povo deveria

    governar, a vontade da maioria deveria ser fonte de legitimao do Estado. O Estado

    brasileiro tutela a soberania popular via o sufrgio universal, ou seja, o voto. Atravs do voto

    o povo se faz representado, se faz Estado e legitima a democracia nacional.

    Norteia-se na liberdade e na igualdade a base de uma democracia slida, assim estas

    so indispensveis em nossa Constituio. Busca-se na liberdade e igualdade a justia, so

    estas os maiores anseios do povo, por via destas o povo vive com dignidade, tem honra e so

    respeitados. Quando estas atingem seus ndices mais elevados a populao enxerga a justia,

    portanto sendo to importantes para a legitimao da democracia vamos observar uma

    reflexo a respeito da importncia da liberdade e igualdade para a democracia do mestre

    Zulmar Fachin na obra intitulada Curso de Direito Constitucional:

    Esses dois valores liberdade e igualdade constituem-se os pilares da

    Democracia, visto caracterizarem um tipo de sociedade de livres e iguais, mas

    regulada de tal modo que seus cidados que ali vivem so mais livres e iguais do que

    em qualquer outra forma de convivncia. (FACHIN, 2008, p.42).

    De forma grosseira podemos conceituar liberdade como o valor tutelado populao

    onde se proporciona a esta o direito de ser livre para buscar sua felicidade, sem restries de

    direitos como ocorrera nas dcadas anteriores a 1988, e a igualdade o valor tutelado a

    populao onde se proporciona meios para que no livre exerccio da liberdade os indivduos

    tenham as mesmas condies de liberdade, de direitos, sejam iguais sem qualquer distino.

    Liberdade e igualdade so de tal forma to ntimos que se confundem em alguns momentos,

    no entanto devemos compreender que so distintas e que uma completa a outra, pois para

    termos igualdade necessitamos da liberdade e vice versa.

    Percebemos que a liberdade est acoplada nas caractersticas do indivduo, ou seja,

    observamos a liberdade em cada individuo da populao, cada um exerce a liberdade de

    maneira distinta, por isso observamos vrias liberdades em nossa Constituio como liberdade

    de locomoo, liberdade de reunio, liberdade de manifestao de pensamento, liberdade

    religiosa em outras tantas. Enquanto que a igualdade est associada diretamente ao todo, em

    toda populao, no verificamos a igualdade em uma anlise nas caractersticas do indivduo

    como ocorre na liberdade, pois para se analisar a igualdade precisamos estabelecer a quem

  • determinado individuo igual, a igualdade uma relao entre os indivduos. Observamos

    est distino e proximidade ao mesmo tempo em uma reflexo do brilhante Norberto Bobbio

    em sua obra denominada Igualdade e Liberdade:

    "[...] liberdade e igualdade se d nos casos em que a liberdade considerada como

    aquilo em que os homens - ou melhor, os membros de um determinado grupo social

    - so ou devem ser iguais, do que resulta a caracterstica dos membros desse grupo

    de serem igualmente livres ou iguais na liberdade: essa melhor prova de que a

    liberdade a qualidade de um ente, enquanto a igualdade um modo de estabelecer

    um determinado tipo de relao entre os entes de uma totalidade, mesmo quando a

    nica caracterstica comum desses entes seja o fato de serem livres." (BOBBIO,

    1998, p.13).

    Cabe salientar que em nosso Estado Democrtico de Direito a igualdade se divide em

    formal e material, ou seja, sem duas espcies de igualdade para proporcionar junto da

    liberdade a justia. A igualdade formal consiste na responsabilidade tutelada pelo Estado em

    relao a letra da lei, que todos so iguais perante a lei. No entanto somente esta igualdade

    no basta para o povo, pois ao longo de dcadas de degradao de direitos a desigualdade

    aumentou muito no pas, deste modo necessitava-se de algo a mais, assim temos a igualdade

    material tutelada na magna carta hodierna. Material porque no formal, no fica abarcada na

    letra da lei, a igualdade material consiste em dar oportunidade aos desiguais, visa

    proporcionar aos que se em encontram em vulnerabilidade social, econmica serem iguais aos

    demais, mesmo que para isso seja necessrio ferir a igualdade formal, ferir a letra da lei

    proporcionando uma desigualdade na lei para possibilitar uma igualdade material, no entanto

    assim se faz justia.

    O Estado Democrtico de Direito ptrio tem como fundamentos a soberania,

    cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e

    o pluralismo poltico. Estes esto elencados ao lado dos princpios democrticos como os

    pilares deste Estado e assim de responsabilidade estatal a tutela.

    Falando-se em soberania, entendemos que este Estado, que a Repblica Federativa

    do Brasil se faz soberana, tem o poder, no reconhece qualquer outro poder acima de si, ou

    seja, j que somos uma nao democrata, que temos na figura do Presidente da Repblica o

    Estado, e este Presidente escolhido pelo povo representante dos mesmos, proporciona ao

    povo a qualidade de soberano. Sim, nenhuma outra nao pode afrontar o povo brasileiro,

  • pois garantido a este o status de soberano. No entanto, vale salientar que no se permite

    nenhuma afronta interna ao Estado brasileiro, ou seja, no se permite que o prprio povo

    afronte a soberania da Republica Federativa do Brasil. Por exemplo: no suscitado artigo 1 da

    Constituio Federal de 1988 temos a afirmao de que este Estado formado pela unio

    indissolvel dos Estados entes, municpios e o Distrito Federal, assim sendo, o povo jamais

    pode afrontar a soberania da Unio pleiteando a dissoluo de Estados membros, pois estaria

    dissolvendo a si mesmo.

    A Cidadania est acoplada em toda Constituio brasileira, pois esta tida como a

    "Constituio Cidad", insere ao indivduo o carter de cidado, por adotar um Estado

    democrtico de direito ela garante ao povo um leque de direitos gerando para o Estado

    responsabilidades de tutela, por isso cidad. Ainda cidad quando busca atravs da educao

    tornar os indivduos capazes de praticar a cidadania, serem cidados. De acordo com a magna

    carta por via da educao busca-se o preparo do indivduo para o exerccio da cidadania:

    "Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e

    incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

    seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho." Portanto a

    cidadania de suma importncia para a populao, a cara da Constituio e deve ser

    tutelada constantemente para o bom andamento da democracia.

    A dignidade da pessoa humana um dos maiores valores resguardados

    hodiernamente em nossa carta constitucional, no fora um valor criado pelos legisladores em

    1988, mas um valor que est inerente na humanidade e foi devidamente abarcado em nossa

    Constituio. O mestre Zulmar Fachin descreve a respeito na obra denominada Curso de

    Direito Constitucional:

    "O constituinte de 1988 erigiu a pessoa humana como valor supremo do

    ordenamento jurdico. A escolha refletiu a prevalncia da concepo humanista, que

    permeia todo o texto constitucional. A dignidade da pessoa humana um valor

    fundante do Estado brasileiro e inspirador na atuao de todos os poderes do Estado

    e do agir de cada pessoa." (FACHIN, 2008, p. 185)

    Afirma-se ento, que a dignidade da pessoa humana no somente uma

    responsabilidade do Estado brasileiro, mas sim mundial, podemos dizer que seria um valor

    que vai alm de qualquer legislao, tem cunho natural.

  • Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa esto atrelados a valorizao do

    trabalho, pois a populao por via do trabalho e da livre iniciativa no mercado, garante sua

    subsistncia e faz com que o pas se desenvolva economicamente. Deste modo o Estado se

    responsabiliza em manter um ndice de empregos e viabilizar meios para com que a economia

    do pas cresa, mas vale ressaltar que o Estado democrtico brasileiro carrega alguns aspectos

    liberais, no entanto continua sendo a "mo invisvel" na economia alertada por Adam Smith.

    Em regras gerais o Estado tutela o trabalho o emprego, visa no deixar com que empresas

    faam o que bem entender, como demisses em massa, procura estabelecer acordos para que

    sempre seja tutelado o emprego.

    O pluralismo poltico est relacionado diretamente com a democracia, o meio pelo

    qual o Estado proporciona via o pluralismo partidrio as diversas possibilidades de

    representaes, assim havendo vrias e distintas possveis representaes, cabe ao povo

    decidir atravs do sufrgio universal qual seria a melhor. H uma diversidade de opinies

    contrariando qualquer tipo de sociedade monista e esculpindo e garantindo mais uma vez a

    "liberdade".

    Outras responsabilidades que a Repblica Federativa do Brasil possu esto

    relacionadas aos objetivos que so expostos no artigo 3 da magna carta. Tais objetivos so

    normas programticas que visam com que o Estado possa agir efetuando normas que

    possibilitam o desenvolvimento do pas. Os objetivos so deveres deste Estado e a populao

    via procedimentos democrticos deve exigir sempre que estes sejam cumpridos.

    De acordo com o exposto, a Repblica Federativa do Brasil est atrelada a um

    Estado Democrtico de Direito, e assim responsabiliza-se com algumas tutelas indispensveis

    para o bom fluir da sociedade brasileira.

    CONSIDERAES FINAIS

    Com fulcro em toda teoria exposta no presente trabalho percebe-se que a Repblica

    Federativa do Brasil que est atrelada a um Estado Democrtico de Direito consolidada na

    Constituio de 5 de outubro de 1988 traz consigo diversos aspectos j suscitados e adotados

    em vrios povos, como princpios revolucionrios da Frana, Inglaterra e Estados Unidos da

  • Amrica, fundamentos e objetivos para este Estado democrtico de Direito percebemos as

    diversas e complexas responsabilidades que este Estado adquiriu para si visando o

    desenvolvimento deste povo.

    Tais responsabilidades so extremamente complexas para um pas de tamanha

    proporo, no entanto o Brasil deu um grande passo no momento que fora prolatada

    determinada Constituio. Com duas dcadas completadas aps outorgada a Constituio

    Cidad vem a pergunta: a Repblica Federativa do Brasil, enquanto Estado Democrtico de

    Direito, tem sido capaz de cumprir garantir o exerccio de suas responsabilidades? Fica

    evidente que aconteceu, acontece e infelizmente vai acontecer certo esquecimento, desleixo

    do Estado para com tais responsabilidades, no entanto percebe-se que com duas dcadas o

    pas evoluiu muito, a democracia tem amadurecido, a populao aumentou seus ndices de

    escolaridade, logo fortaleceu a prtica de cidadania suscitada nos fundamentos da magna

    carta.

    claro que a democracia no pas sofre com inmeros golpes ao longo dessas

    dcadas, por desleixo daqueles que se fazem representantes do povo no meio estatal, muitas

    vezes ao estar no posto de representante de um todo, ter o cargo de "figurar como Estado",

    estar com poder em mos, muitos indivduos acabam por ferir este Estado Democrtico de

    Direito com aes completamente inversas aos princpios inerentes a carta constitucional.

    No entanto, no se pode deixar de destacar, que toda e qualquer disposio acerca do

    Estado Democrtico de Direito Brasileiro deve levar em conta o processo de construo, e

    constituio, de pensamento e aprofundamento dos princpios democrticos, uma vez que,

    como j exposto, alm da Magna Carta possuir pouco mais que vinte anos, ainda deve-se

    considerar que ela se estabelece e vivencia o incio do sculo XXI, e de todas as diversas

    transformaes polticas, econmicas e sociais que ainda viro.

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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