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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM MARKETING
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O QUE O MARKETING TEM A VER COM ISTO?
Maria das Graças Borges Pereira
Rio de Janeiro
2004
ii
Maria das Graças Borges Pereira
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O QUE O MARKETING TEM A VER COM ISTO?
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes
como um dos pré-requisitos para a obtenção do
grau de Especialista em Marketing
Orientador: Prof. André Gustavo G. Cunha
Rio de Janeiro – RJ
2004
iii
Agradeço à Deus
a oportunidade de continuar sempre sendo um aprendiz e
a força que me dá para continuar a caminhada.
iv
Dedico este trabalho
Ao meu marido e aos meus filhos, por serem cúmplices dos meus sonhos;
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que provocou o meu despertar para esta temática;
Ao Prof. Paulo Márcio de Melo, diretor do Centro de Produção da UERJ,
pela oportunidade de aprofundamento no assunto, através do Programa de Responsabilidade Social (REDES);
Ao amigo Marcus Vianna, pela solidariedade constante;
Ao meu orientador, Prof. André Gustavo G. Cunha,
pelo carinho com que me conduziu durante a pesquisa;
Aos professores e colegas da Universidade Candido Mendes, companheiros desta viagem.
v
RESUMO
O mundo empresarial evolui rumo a um envolvimento cada vez maior com o
social, da mesma forma que cresce, a cada dia, a importância do consumo como
instrumento de cidadania. Em um cenário onde itens como qualidade, preço e bom
atendimento são vistos como imprescindíveis, as organizações buscam um
diferencial competitivo que vá além do produto, preço, serviço, distribuição e
comunicação.
Neste contexto, ganha força a responsabilidade social das empresas que,
aliada ao Marketing, deixa transparecer o perfil da organização expresso no cotidiano
de suas relações com acionistas, empregados, fornecedores, distribuidores,
consumidores, concorrentes, governo, organizações não-governamentais,
comunidade e meio ambiente.
Sob essa nova ótica, a valorização de tais aspectos no conjunto de premissas
empresariais, sinaliza para composição no futuro de organizações mais preocupadas
com seu papel social, tendo isso como elemento imprescindível a sua sobrevivência,
em função das novas exigências dos consumidores.
O resgate da humanização da relação da empresa com seus grupos de
interesse (stakeholders) imputará ainda mais responsabilidade ao Marketing, pela
fidelidade da imagem corporativa, atribuindo-lhe a função de permear o meio em que
atua com os valores e cultura da organização, ajudando a consolidar sua imagem e
participação nos mercados
.
vi
Sumário 1. Introdução 07
2. Contextualização histórica 08
2.1- A emergência do Terceiro Setor 09
2.2 - A responsabilidade social no mundo e no Brasil 15
2.3 – Filantropia x Responsabilidade Social - o que mudou
neste cenário? 24
2.4 – Ética e transparência: valores fundamentais da
responsabilidade social 29
2.5 – SA8000; AA1000 e Balanço Social 31
3. Responsabilidade social: o que o Marketing tem a ver com isto? 35
3.1 – Consumo consciente e responsável 35
3.2 – A importância do Endomarketing no cenário da
responsabilidade social 37
3.3 – Da evolução das necessidades à fase social do Marketing 39
4. Conclusão 47
5. Referências 49
7
1. INTRODUÇÃO
É cada vez mais relevante a forma como a sociedade e o mercado percebem o
relacionamento das empresas com seus públicos e com o meio ambiente.
A década de 90 foi marcada, entre outras coisas, pela aceleração do processo
da globalização, a partir do progresso tecnológico e à revolução na produção, na
informação e na comunicação. A competitividade entre as empresas tornou-se mais
acirrada. Ao mesmo tempo, passou a ocorrer uma mudança significativa no perfil do
consumidor final que exerce, cada vez mais, sua cidadania no momento da compra.
Neste cenário, as atividades tradicionais de marketing, que apresentam a empresa
apenas a partir dos diferenciais de produtos e serviços, preço, distribuição e
comunicação publicitária já não são mais suficientes. Torna-se imprescindível, a
cada dia, deixar transparecer o perfil da organização expresso no cotidiano de suas
relações com acionistas, empregados, fornecedores, distribuidores, consumidores,
concorrentes, governo, organizações não-governamentais, comunidade e outros. É
preciso ir além. É preciso transcender, revelando a alma desse organismo vivo
chamado empresa, que se define a partir de seus valores, crenças e tecnologias.
Como diz Nassar (2002, p.145) em seu artigo Com os olhos nos públicos:
“[...] Essa transcendência, que qualifica imagens, marcas e gestores;[...]
expressa-se na transparência e no acesso às informações; na honestidade
da comunicação; na preservação da história e do ambiente natural, em
tudo aquilo que deságua na ética que alimenta as boas relações entre o
capital e o trabalho, entre a empresa e seus públicos e o mercados, [...]só
pode ser obra de gestores que administram as suas empresas de frente
para o mundo e principalmente com os olhos e o coração voltados para os
públicos.”
Da mesma forma, atores, músicos, desportistas, políticos e formadores de
opinião associam sua imagem a organizações sem fins lucrativos, movimentos em
prol da cidadania e na defesa do meio ambiente e dos direitos humanos. As
parcerias entre governo, empresas e sociedade surgem em todos os cantos do país,
objetivando o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, o combate à
fome e à exclusão social, e a redução da violência. Na 4ª edição do Guia da Boa
8
Cidadania, publicada pela Revista Exame no final de 2003, dos 749 projetos
apresentados, 59% envolvem a articulação de parcerias entre empresas, governos e
ONGs (organizações não-governamentais) e 30% contam com o apoio de
voluntários.
O objetivo deste trabalho é contribuir para um melhor entendimento dos
conceitos de responsabilidade social e marketing social, levando a uma melhor
compreensão da importância destes conceitos como estratégias não só para as
empresas, mas também para as organizações do Terceiro Setor1 e para a sociedade
como um todo. Pretende também, através da apresentação da evolução destes
conceitos, promover a reflexão sobre o impacto, que a implantação destas novas
estratégias de gestão, imprimem aos valores das organizações.
Para o desenvolvimento deste estudo, faremos uma breve análise histórica da
emergência do Terceiro Setor e da evolução dos conceitos de Responsabilidade
Social e de Marketing Social. A partir daí analisaremos algumas práticas de
marketing e comunicação, em relação as novas posturas sociais exigidas para as
empresas e organizações.
A pesquisa foi realizada através de revisão bibliográfica, consultas a teses,
revistas e sites considerados referenciais no assunto, bem como entrevistas com
professores do Programa de Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável
(REDES), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Segundo Martinelli (1997), cada vez mais emerge uma consciência coletiva
de que a empresa privada pode e deve assumir na sociedade um papel mais amplo,
transcendente ao de sua vocação. No mundo inteiro os homens de negócios estão
empenhados em uma transformação, que muitos consideram tão importante quanto
as que ocorreram ao longo da história. A mensuração do desempenho de uma
empresa vem deixando de estar presa aos números, ao balanço e à contabilidade.
1 O termo Terceiro Setor será esclarecido no item 2.1 deste trabalho – A emergência do Terceiro Setor, p. 3
9
As empresas de vanguarda entendem a prioridade que deve ser dada às questões
sociais e aos recursos humanos. Empregados motivados, treinados e saudáveis são
um fator de sucesso para a empresa. Ao mesmo tempo, as empresas precisam de
comunidades fortes e desenvolvidas para colocarem os seus produtos e venderem os
seus serviços. Uma empresa moderna sabe que o seu sucesso depende da qualidade
de vida que a cerca.
Não podemos, no entanto, falarmos sobre a responsabilidade social de
empresas sem antes fazermos uma análise do contexto econômico e social que
proporcionou o seu aparecimento e favoreceu o fortalecimento desta prática.
2.1. A emergência do Terceiro Setor
Um dos temas mais presentes na mídia e nas discussões acadêmicas
contemporâneas sobre políticas públicas é o papel do chamado Terceiro Setor,
entendido como o conjunto de iniciativas da sociedade civil de caráter não-lucrativo,
na provisão de políticas públicas de caráter social.
Segundo Fernandes (1994), Terceiro Setor pode ser entendido como “aquilo
que é público, porém privado ou então, aquilo que é privado, porém público”. Esse
trocadilho serve para demonstrar que Terceiro Setor assemelha-se ao Estado
(Primeiro Setor) na medida em que tem como objetivos e alvo de atuação o espaço
público, mas diferencia-se do Governo por ser uma iniciativa da própria sociedade.
Por outro lado, Terceiro Setor não eqüivale à iniciativa privada (Segundo Setor), pois
apesar de não ser governamental, tem como objetivo o benefício social.
Na verdade, na abrangência do Terceiro Setor encontram-se organizações de
diferentes matizes. Eis alguns exemplos de organizações que podem ser definidas
como pertencentes ao Terceiro Setor: associações comunitárias; organizações não-
governamentais (ONGs); instituições filantrópicas; fundações; associações,
movimentos sociais; igrejas e seitas; organizações sociais (OS – conforme definição
da proposta de Reforma do Estado); OSCIPs (Lei 9.790/99 de 1999), projetos sociais
desenvolvidos por empresas e sindicatos, entre outros.
10
Cabe notar que, dentro da idéia de Terceiro Setor, encontram-se: tanto
organizações formalizadas juridicamente quanto informais; organizações com uma
gestão estruturada e profissionalizada quanto não-estruturada e pouco-
profissionalizada; organizações de grande porte quanto de tamanhos médio e
pequeno; organizações de caráter internacional ou multinacional quanto local
(CARVALHO, 1997; FERNANDES, 1994); organizações com fontes de
financiamento atreladas ao Estado e/ou grandes empresas, quanto sem fontes
regulares de financiamento de suas atividades, entre outras diferenciações (COSTA
JÚNIOR, 1998).
O ponto de convergência entre as várias organizações que comporiam o
Terceiro Setor demonstra ser a ausência do lucro como finalidade central em sua
orientação gerencial e a objetivação de benefícios para toda a comunidade ou grupos
sociais específicos. Dentre os fatores articuladores desses grupos/organizações
encontram-se variáveis não excludentes como localização geográfica, etnia,
ideologia, condição sócio-econômica, interesses econômicos, políticos e sociais,
orientação religiosa, opção sexual, dentre outros.
Outros conceitos associados ao Terceiro Setor são os que dizem respeito a
novas posturas que seriam exigidas das empresas consideradas modernas, tais como
“Responsabilidade Social de Empresas” ou “Responsabilidade Empresarial
Corporativa”, “Cidadania Empresarial” e “Filantropia Empresarial”. Eles
englobariam ações empresariais das mais diferentes formas, como projetos sociais
junto à comunidade, políticas empresariais antidiscriminação no trabalho; controle de
assédio sexual; implantação de programas de diversidade; proteção do meio
ambiente, dentre outras. Atualmente, embora ainda com pontos fracos, existem
várias empresas que desenvolvem a gestão pela responsabilidade social2. Como
exemplo podemos citar a Multibrás Eletrodomésticos, detentora das marcas
Brastemp e Consul; a SERASA; a Natura Cosméticos o Grupo Orsa (Guia da Boa
Cidadania Corporativa, 2003, p. 42-43; 48-49; 52-53; 63).
2 A gestão pela responsabilidade social será focalizada no item Filantropia x Responsabilidade Social
deste trabalho.
11
Na realidade, o que podemos observar é que são idéias antigas que se
transformam em “fórmulas” modernas de desenvolvimento econômico e social,
como veremos a seguir.
Segundo Diniz e Mattos (2002), “[...] Na história da humanidade, será
sempre observada a presença de organizações da sociedade civil, que não se
constituem em empresas privadas, tampouco organizações estatais. Tais
organizações desempenhavam importante papel no trato dos problemas envolvendo
pessoas e o ambiente onde elas estavam inseridas. Hudson (1999, p.1) relata que
registros de filantropia e caridade foram encontrados na civilização egípcia, onde se
desenvolveu um severo código moral, baseado na justiça social, encorajando as
pessoas a ajudarem os mais pobres. Na antiga Índia, o Imperador budista Asoka
(aproximadamente 274-232 a.C.) preocupou-se com a construção de hospitais, a
perfuração de poços e o plantio de árvores. Na antiga Grécia, os viajantes recebiam
alimentação e guarida. Entre os judeus, a ação profética de homens e mulheres era
expressa na luta pela justiça social, econômica e política, pressionando os governos
a promoverem mudanças radicais. Salomon (1998) registra ainda a existência de
atividades filantrópicas, na China Antiga, tendo sido fortalecida com o Budismo,
assim como no Japão, onde a primeira fundação japonesa moderna, a Sociedade da
Gratidão, remonta a 1829, sendo mais antiga que a primeira fundação norte
americana.[...]”
No Brasil, as sociedades beneficentes e filantrópicas originaram-se durante o
período colonial. Neste contexto, a Igreja Católica e as ordens fraternarias
desempenharam papéis fundamentais. Toda ação de beneficência ou do que hoje
seria chamado de "serviço social" supunha a intervenção da Igreja secular, das
ordens religiosas ou, principalmente, da Santa Casa da Misericórdia (1543). Elas
mantinham hospitais e asilos, assistiam os despossuídos e alimentavam os presos,
que não recebiam qualquer sustento da Coroa. Não existia sistema previdenciário ou
mutualista, a não ser o representado pelas "irmandades" e "ordens terceiras",
associações leigas vinculadas às igrejas e conventos. À época do Império, surgiram
os montepios civis e militares e outras sociedades beneficentes, sendo o primeiro o
Montepio dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha, criado em 02.09.1795, pelo
Príncipe D. João, no Palácio Queluz, em Lisboa (SILVA, 2002).
12
Segundo nos diz Landin (1993), o termo ONG surge pela primeva vez em
documentos das Nações Unidas, nos finais dos anos 40, aludindo a um universo
extremamente amplo e pouco definido de instituições. Em 1945, na Ata de
Constituição das Nações Unidas, já se faz menção a organizações não
governamentais com as quais o Conselho Econômico e Social da ONU poderia
estabelecer consultorias. No Brasil, as ONGs – denominação dada às organizações
filantrópicas sem fins lucrativos - são formalmente reconhecidas pelo Código Civil
Brasileiro de 1916 enquanto pessoas jurídicas de direito privado sem fins
econômicos. Compreendem, segundo o art.16, I – “As sociedades civis, religiosas,
pias, morais, científicas ou literárias, as associações de utilidade pública a as
fundações”.
Vários atores contribuíram para trazer à tona este terceiro setor e formar um
retrato positivo do seu papel, como um setor capaz de fazer frente aos problemas
sociais mais prementes do país. Ao mesmo tempo, ajudaram a formar uma imagem
que difere tanto da tradição do terceiro setor americano e da realidade de outros
países do “Norte”3 - freqüentemente usados em comparações - quanto das origens
das organizações tradicionais que formaram, no Brasil, este setor.
Veremos adiante que, a construção do terceiro setor no Brasil ocorreu “de
fora para dentro: de fora do país e de fora do setor para dentro dele” (FALCONER,
1999), isto é, mais do que as próprias organizações sem fins lucrativos brasileiras,
foram as entidades multilaterais, as empresas privadas e o Governo Federal que
favoreceram a emergência deste setor.
As grandes introdutoras do conceito e as responsáveis pela valorização do
terceiro setor em todo o mundo subdesenvolvido foram as entidades internacionais e
multilaterais. Segundo Landim (1993), entre 1960 e 1980 houve um crescimento de
68% na ajuda externa para o “Terceiro Mundo”, através de agências não
governamentais de países europeus, do Canadá e dos Estados Unidos: passou-se de
2.8 bilhões de dólares para 4.7 bilhões de dólares (pelo dólar de 1986).
3 Hemisfério Norte
13
Algumas fundações e instituições norte-americanas e européias, como a
Fundação Ford, vinham apoiando havia décadas, em particular durante os anos do
regime militar, iniciativas cujo objetivo era fortalecer a democracia através da
participação popular. Uma forma comum de fazer isto era através do apoio a projetos
de organizações comunitárias e movimentos populares, principalmente junto a
populações carentes. Segundo Falconer (2000), “[...] foram as grandes fundações,
Igrejas e mesmo entidades governamentais de países capitalistas desenvolvidos que,
desde o fim da década de oitenta, passaram a investir maciçamente na
(re)construção das sociedades civis dos países do desmoronado bloco soviético
[...].”
Ainda segundo Falconer, ” [...] nos anos 90, outra fundação americana
privada, a Fundação W. K. Kellogg, veio a assumir uma posição de destaque, em
praticamente toda a América Latina e outras partes do mundo em desenvolvimento.
Projetos pioneiros voltados para o “fortalecimento da sociedade civil”, para o
estudo do terceiro setor e para temas como o desenvolvimento da filantropia e
voluntariado contaram com o apoio financeiro maciço desta instituição [...]”. A
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, beneficia-se do apoio desta
Fundação desde o início da década de 90. (Projeto Modelo de Atenção Integral à
Saúde do Adolescente II – 1990/1993; Projeto Modelo de Atenção Integral ao
Adolescente III – 1997/2002; Projeto para a promoção e entendimento de diferentes
grupos raciais e etnias na América Latina, através da participação de jovens líderes
na Conferência Mundial contra o Racismo – 2001/2002).
Da mesma forma, o Banco Mundial, no mesmo período, passa a apoiar
maciçamente as ONGs do “Terceiro Mundo”. Entre 73 e 88, apenas 6% dos projetos
envolviam colaboração de ONGs. Em 93, um terço e, em 94, a cifra alcançou os 50%
(FALCONER, 1999). O Banco Mundial acredita que o trabalho em parceria com
ONGs permite incorporar em seus projetos as vantagens características destas
organizações: a inovação, devido à escala pequena dos projetos, a incorporação da
multiplicidade de alternativas e opiniões diversas; a participação de populações
locais e a consulta à população beneficiária; a melhor compreensão dos objetivos dos
projetos pela sociedade; o alcance ampliado da ação, atingindo a quem mais precisa e
finalmente; a sustentabilidade, ou continuidade de projetos após a retirada do Banco.
14
No âmbito federal, o governo de Fernando Henrique Cardoso alavancou de
forma fundamental a parceria com a sociedade civil. A nova relação com estas
organizações baseou-se em dois principais eixos: o Programa Comunidade
Solidária, um dos instrumentos de política social do governo, e o programa de
reforma administrativa, que propôs um mecanismo de “publicização” e criação de
organizações sociais. O Conselho da Comunidade Solidária utilizou, como principais
estratégias de atuação, a realização de ajustes na legislação que causa impacto no
terceiro setor, o estímulo à criação de redes de informação de organizações da
sociedade civil e a promoção do voluntariado, incentivando, assim, iniciativas não-
governamentais e promovendo os meios para o fortalecimento do terceiro setor.
Neste período foram criadas a Lei das OS (Lei 9.637/98) - Organizações Sociais – ,
a Lei das OSCIPs – Organizações Sociais de Interesse Público (Lei 9.790/9) e a Lei
do Voluntariado (Lei 9.608/98).
As empresas também tiveram um papel preponderante no que tange ao
fortalecimento do terceiro setor quando, em função de exigências do mercado
internacional, passaram a ter a necessidade de demonstrarem o seu lado social. Isto
desencadeou uma crescente articulação com organizações não-governamentais as
quais, por sua vez, viam a cada dia, decrescerem os recursos financeiros, oriundos
das agências internacionais, para a América Latina.
Neste contexto, as organizações do terceiro setor passaram a ter a
necessidade de se “profissionalizarem”, isto é, tanto as agências de cooperação
quanto as empresas parceiras exigem cada vez mais: objetivos claros; metas
factíveis; orçamentos “enxutos” e transparência na utilização dos recursos recebidos;
prestações de contas; avaliação de resultados e impacto e, principalmente, a garantia
da sustentabilidade destas organizações. As práticas paternalistas e assistencialistas
passam a dar lugar às pautadas no desenvolvimento de habilidades e conhecimento,
em especial na área de gestão.
Isto gerou, então, um novo campo de pesquisa para a academia.
Universidades passaram a oferecer cursos de extensão e pós-graduação, introduzir
disciplinas em cursos regulares já existentes e criar centros de estudos sobre o tema.
Como exemplo podemos citar o Centro de Estudos do Terceiro Setor - FGV-SP (o
pioneiro no Brasil, criado em setembro de 1994), o Centro de Estudos em
15
Administração do Terceiro Setor - FIA-USP (1998) e o Programa de
Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável – UERJ (2000).
Ao mesmo tempo, outras iniciativas começaram a despontar, oriundas de
empresas e organizações, com o objetivo de melhor articular as parcerias entre
empresas, governo e sociedade, estimulando a gestão socialmente responsável. O
IBASE – Instituto brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o GIFE - Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade
Social e a RITS – Rede de Informações do Terceiro Setor - são alguns exemplos.
2.2. A Responsabilidade Social no mundo e no Brasil.
“Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal
maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A
empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os
interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço,
fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir
incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas
de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários. “
Instituto Ethos de Responsabilidade Social
As ações solidárias, de benemerência, de voluntariado e do mecenato datam
da Idade Média. A filantropia era exercida por particulares e o valor da caridade
dependia muito mais do doador, do que dos efeitos da sua ação. O mecenato, prática
comum na Roma antiga, foi fundamental para o desenvolvimento da produção
intelectual e artística do renascimento bem como dos grandes descobrimentos. O
Mecenas era considerado como “protetor”, homem rico, era na prática quem dava as
condições materiais para a produção das novas obras e nesse sentido pode ser
considerado como o patrocinador, o financiador. A maioria dos mecenas eram
elementos da burguesia, homens enriquecidos com o comércio. O investimento do
mecenas era recuperado com o prestígio social obtido, fato que contribuía com a
divulgação das atividades de sua empresa ou instituição que representava4
4 Site Historianet.com.br - O Renascimento Cultural, visitado em janeiro/2004.
16
. Como podemos observar, já naquela época, havia a intenção em agregar valor
social à marca da empresa.
Ashley (2000) nos relata em seu artigo Responsabilidade social corporativa e
cidadania empresarial: uma análise conceitual comparativa que:
“[...] A responsabilidade social já era aceita nos Estados Unidos e
Europa até o século XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma
corporativa era uma questão de prerrogativa do Estado ou Monarquia e
não um interesse econômico privado (Hood, 1998). Os monarcas
autorizavam os alvarás para as corporações de capital aberto que
prometessem benefícios públicos, tais como a exploração e colonização do
Novo Mundo. As primeiras corporações nas colônias americanas foram
fundadas para prestar serviços de construção, transporte e infra-estrutura,
sendo reguladas quanto ao seu tamanho, tipo e estrutura de capital.
Com a independência dos EUA, os estados americanos começaram
a aprovar legislação que permitisse a auto-incorporação (self-
incorporation) como alternativa à incorporação por ato legislativo
específico, inicialmente para serviços de interesse público, como por
exemplo, a construção de canais e, posteriormente, para propósitos de
condução de negócios privados. Desta forma, até o início do século XX, a
premissa fundamental da legislação sobre corporações era de que seu
propósito era a realização de lucros para seus acionistas.
Em 1919, a questão da responsabilidade e discricionariedade dos
dirigentes de empresas abertas veio à tona publicamente pelo julgamento,
na Justiça Americana, do caso Dodge versus Ford. Tratava-se da
amplitude da autoridade de Henry Ford, presidente e acionista majoritário,
em tomar decisões que contrariavam interesses de um grupo de acionistas
da Ford, John e Horace Dodge. Em 1916, Henry Ford, argumentando a
realização de objetivos sociais, decidiu não distribuir parte dos dividendos
esperados, revertendo-os para investimentos na capacidade de produção,
aumento de salários e como fundo de reserva para a redução esperada de
receitas, devido ao corte de preços dos carros. A Suprema Corte de
Michigan se posicionou a favor dos Dodges, justificando que a corporação
existe para o benefício dos seus acionistas e que diretores corporativos têm
livre arbítrio apenas quanto aos meios de se alcançar tal fim, não podendo
usar os lucros para outras finalidades.
17
A filantropia corporativa e o investimento na imagem da corporação para
atrair consumidores poderiam ser realizados, na medida em que
favorecessem os lucros dos acionistas.
Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda
Guerra Mundial, a noção de que a corporação deve responder apenas aos
seus acionistas sofreu ataques na academia, principalmente pelo trabalho
de Berle e Means, The Modern Corporation and Private Property (Berle e
Means, 1932, apud Frederick, 1994), diversas decisões nas Cortes
Americanas foram favoráveis às ações filantrópicas das corporações.
Em outro litígio julgado pela Justiça Americana em 1953, o Caso
AP.Smith Manufacturing Company versus Barlow (Campbell et al, 1999),
foi retomado o debate público sobre a responsabilidade social corporativa.
Neste caso, a interpretação da Suprema Corte de Nova Jersey, sobre a
inserção da corporação na sociedade e suas respectivas responsabilidades,
posicionou-se favorável à doação de recursos pára a Universidade de
Princeton, contrariamente aos interesses de um grupo de acionistas. A
Justiça determinou, então, que uma corporação pode buscar o
desenvolvimento social, estabelecendo em lei a filantropia corporativa.
A partir daí, defensores da responsabilidade social corporativa
começaram a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da
corporação, então outras ações que priorizavam objetivos sociais em
relação aos retornos financeiros dos acionistas seriam de igual
legitimidade, tais como o abandono de linhas de produto lucrativas , porém
destrutivas ao ambiente natural e social (Hood, 1998) [...].”
O tema passou a ser discutido no meio empresarial e acadêmico desde então.
O conceito de responsabilidade social corporativa vem amadurecendo e, com o
processo de globalização da economia, vem ganhando mais espaço nos fóruns de
discussão, em vista dos impactos dos investimentos internacionais sobre as
comunidades locais onde são aplicados.
No Brasil, os processos de difusão das idéias e conceitos de cidadania,
filantropia e responsabilidade social no meio empresarial datam da década de 80 e,
sobretudo da década de 90.
A seguir, apresentaremos algumas das principais iniciativas que
proporcionaram o crescimento das ações de responsabilidade social empresarial no
18
mundo e no Brasil, tendo como principal fonte o Guia de Elaboração de Relatório e
Balanço Anual de Responsabilidade Social, versão 2001, publicado pelo Instituto
Ethos.
Até a década de 70:
• 1929 – Constituição de Weimar (Alemanha) – inaugura a idéia de função social
da propriedade.
• 1960 – Começam nos Estados Unidos os movimentos pela responsabilidade
social.
• 1965 – ADCE (Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas – Brasil) Carta
de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas.
• 1972 – Resolução 1721 do Conselho Econômico e Social da ONU – iniciam-se
os estudos sobre o papel e os efeitos das multinacionais no processo de
desenvolvimento dos países emergentes e sua interferência nas relações
internacionais e discute-se a criação de um Código de Conduta dirigida às
empresas transacionais. A empresa Singer publica o que foi reconhecido como o
primeiro balanço social no mundo.
Anos 70 e 80
• Estados Unidos, Europa, América Latina – diversos estudos sugerem modelos de
balanço social.
• Publicação “Da Sociologia da contabilidade à Auditoria Sócio-Econômica”- Prof.
Dr. Alberto Almada Rodrigues.
• 1976- Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES) e
Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE) estudam o
tema responsabilidade social.
• 1977- França – Lei nº 77.769/77 – determina a publicação do balanço social
(bilian social), voltada para relações do trabalho.
• 1978 - Fundação FIDES apresenta proposta de Balanço Social.
• 1980 - FIDES realiza o Seminário Internacional sobre Balanço Social e lança o
livro “Balanço Social na América Latina”.
• Em 1982, a Câmara Americana de Comércio de São Paulo instituiu o prêmio
ECO, concedido anualmente às empresas que envolveram-se em projetos de
19
cidadania e, ao longo de mais de 20 anos, vem gerando um grande efeito
multiplicador.
• 1984 – A empresa Nitrofértil elabora o primeiro balanço social do Brasil.
• 1985 – Portugal, através da Lei 141/85, torna obrigatória a apresentação do
balanço social para empresas com mais de 100 empregados.
• 1986-94 – Elaboração do Principles for Business – the Caux Round Table – mesa
redonda criada por lideranças da Europa, Japão e Estados Unidos5
• Em 1987, um grupo de jovens líderes empresariais paulistas decidiu criar um
movimento que exprimisse os anseios das bases da iniciativa privada no Brasil
moderno que começava a se delinear. Seus objetivos eram o aprofundamento da
democracia em todas as instâncias do país; a economia de mercado, combatendo
abusos de poder econômico; a melhor distribuição da renda; o exercício da
cidadania; a opção pela negociação como sendo o melhor processo para a
resolução dos conflitos; a aceitação da diversidade como elemento enriquecedor
dos processos; a defesa do patrimônio material e humano do país. Nascia assim o
PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais. Entre outros,
participaram da fundação os empresários Oded Grajew, Emerson Kapaz, Salo
Seibel, Joseph Couri, Paulo Butori, Adauto Ponte, Eduardo Capobianco e outras
lideranças da indústria paulista6.
• 1988-93 – Elaboração da “Declaração Interfaith”- código de ética sobre o
comércio internacional para cristãos, muçulmanos e judeus.
Década de 90 em diante:
• 1990 – EUA – Domini 400 Social Index – não admite empresas envolvidas com
tabaco, álcool, jogo, armas e geração de energia nuclear.
5 KUNG, Hans (1999,p.430) apud Instituto Ethos de Responsabilidade Social in Guia de elaboração
de relatório e balanço anual de responsabilidade social empresarial, pp 10-11. - as declarações – The Caux Rounde Table e Declaração Interfaith – “consideram a importância de, paralelamente, aos lucros para os shareholders (acionistas), a responsabilidade para com todos os steakholders (agentes ou participantes, que investem seu “empenho” ou stake na empresa). Em ambas circunscrevem seções detalhadas sobre as obrigações das empresas em relação a todos os seus atores: empregados, clientes, fornecedores, financiadores, comunidade (governos locais e nacionais), além daquelas obrigações relacionadas aos proprietários.”
6 Site do Pensamento Nacional de Bases Empresariais <www. pnbe.org.br> Histórico, visitado em janeiro/2004.
20
• 1991 – é criada a ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não
Governamentais como forma de representar coletivamente as ONGs junto ao
Estado e aos demais atores da sociedade civil. Seu principal objetivo é
representar e promover o intercâmbio entre as ONGs empenhadas no
fortalecimento da cidadania, na conquista e expansão dos direitos sociais e da
democracia.
Atualmente a ABONG tem 270 associadas com destacada atuação na esfera
pública em áreas como direitos humanos, políticas públicas, questões agrárias e
agrícolas, questões urbanas, desenvolvimento regional, meio ambiente e
ecologia7.
• 1992 – A ONU promove a ECO 92 que gera a Agenda 21 – documento que
traduz o compromisso das nações para mudança do padrão de desenvolvimento
para o próximo século. Este evento desencadeou diversas iniciativas importantes
no Brasil e no mundo. Entre elas podemos citar o surgimento de diversas
organizações não-governamentais ambientalistas e a criação da norma
certificadora ISO 14.000, de Gestão Ambiental das Empresas.
• Também em 1992, a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo funda o Centro de
Estudos de Ética nos Negócios (CENE).
• Uma outra iniciativa na direção da difusão do conceito de cidadania participativa,
bem como do crescimento e consolidação do Terceiro Setor no Brasil foi, em
1993, o Seminário Internacional Cidadania Participativa – Responsabilidade
Social e Cultural num Brasil Democrático, promovido pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), pela Universidade Federal de
Campinas (UNICAMP) e pela Universidade de São Paulo (USP), patrocinado
pelos Bancos Real, Safra e Bradesco, pelas empresas Shell e White Martins e
pelas Fundações Brascan, Roberto Marinho, Kellogg e Vitae, tendo sido
coordenado pelas duas primeiras Fundações.
• 1994 – Fundação Getúlio Vargas de São Paulo funda o CETS – Centro de
Estudos do Terceiro Setor. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do
7 Site da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais <www. abong.org.br >,
visitado em janeiro/2004
21
Adolescente realiza exposição fotográfica denunciando, pela primeira vez no
brasil, a situação das crianças trabalhadoras.8
• Em 1995, constituía-se formalmente o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas, com 25 organizações participantes. Foi a primeira associação da
América do Sul a reunir organizações de origem privada que financiavam ou
executavam projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público9.
Atualmente conta com 64 associados que destinam mais de 700 milhões de reais
por ano em ações educação, cultura, saúde, meio ambiente, desenvolvimento
comunitário, voluntariado, entre outras. Ainda neste ano, a Fundação Abrinq
pelos Direitos da Criança e do Adolescente cria o selo “Empresa Amiga da
Criança”. Este selo é concedido às empresas pelo comprometimento firmado com
a Fundação e abrange os temas combate ao trabalho infantil, educação, saúde,
direitos civis e investimento social na criança10.
• Em 1996, o Institute of Social and Ethical AccountAbility cria o Modelo de
gestão auditável denominado AA 1000, que tem como principal objetivo
estabelecer passos para a adoção de um processo ético e socialmente responsável.
• Em 1997 vários fatos importantes ocorreram. São criados o GRI – Global
Reporting Iniciative – movimento internacional pela adoção e uniformização dos
relatórios socioambientais publicados pelas empresas e, a Norma Certificadora
SA8000, voltada para as condições de trabalho nas empresas. No Brasil, é criado
o Projeto de Lei nº 3.116/97 (reapresentado como PL nº 32/99), que pretende
estabelecer a obrigatoriedade do balanço social nas entidades públicas e empresas
e, Herbert de Souza, o Betinho, em conjunto com o IBASE (Instituto Brasileiro
de Análises Econômicas e Sociais), promovem eventos, propõem modelo e
incentivam a publicação do Balanço Social11.
• 1998 foi um ano bastante expressivo no cenário da Responsabilidade Social.
Consolidando ainda mais este movimento que crescia no Brasil, um grupo de
empresários paulistas oriundos do PNBE, entre eles Oded Grajew, funda o
Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Dentro de uma filosofia de criação de
8 Site da Fundação Abrinq <www. fundabrinq.org.br> Histórico, visitado em janeiro/2004. 9 Site do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas <www. gife.org.br> O que é o GIFE –
História, visitado em janeiro/2004. 10 Site da Fundação Abrinq <www. fundabrinq.org.br> Programa Empresa Amiga da Criança,
visitado em janeiro/2004.
22
redes através de parcerias estratégicas para a difusão, conceituação e
conscientização do tema, o Instituto Ethos trabalha com três linhas principais de
atuação: mobilização no setor privado; mobilização para a sociedade em geral e
produção de informação. Em janeiro de 2004 possuía 805 empresas associadas,
com o seguinte porte12:
Porte Total %
Micro Empresa 141 17,52
Pequena Empresa 210 26,9
Média Empresa 145 18,01
Grande Empresa 300 37,27
Não Informado 9 1,12
Fonte: Instituto Ethos – 9-01-2004
• Também em 1998, o Ibase, com o apoio do COEP - Comitê de Entidades
Públicas no Combate à Fome e pela Vida; Gazeta Mercantil; Oficina Social e
Petrobras, realiza, no Rio de Janeiro, o Seminário Balanço Social: Cidadania e
Transparência Pública das Empresas. Na mesma época, Porto Alegre cria o
Balanço Social para empresas estabelecidas no Município e o Governo Federal
cria a Lei do Voluntariado. Iniciam-se também, neste ano, as atividades da RITS
– Rede de Informações do Terceiro Setor, que tem como missão “ser uma rede
virtual de informações, capaz de proporcionar às organizações da sociedade
civil a oportunidade de compartilhar informações, conhecimento, recursos
técnicos e promover a interação de suas atividades através do uso de
Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação - em especial, da Internet”.13
• Em 1999, os Estados Unidos criaram o Dow Jones Sustainability Index (DJSI),
que defini a sustentabilidade de acordo com critérios econômicos, sociais e
ambientais; o Governo Federal cria a Lei das OSCIPs (Organizações Sociais de
Interesse Público) que, considerada como o Marco Legal, contribuiu fortemente
para o crescimento do Terceiro Setor no Brasil; a Câmara Municipal de São
11 O tema Balanço Social será visto de forma mais aprofundada no decorrer desta pesquisa. 12 Site do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social < www. ethos.org.br> Sobre o
Ethos, visitado em janeiro/2004. 13 Site da Rede de Informações para o Terceiro Setor <www. rits.org.br> O que é a RITS, visitado em janeiro/2004.
23
Paulo lança o selo “Empresa Cidadã”, para premiar empresas com balanços
sociais de qualidade. Ainda em 1999 ocorreram a 1ª Conferência Internacional
do Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o início da Pesquisa Ação Social
das Empresas, realizada pelo IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas e
Aplicadas do Governo Federal. Realizada inicialmente na Região Sudeste, esta
pesquisa, embora pautada somente em dados quantitativos, descortinou, pela
primeira vez no Brasil, o perfil do que as nossas empresas vinham fazendo pelo
social.
• 2000 – A ONU cria o Global Compact (Pacto Global), para promoção e
implementação de nove princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio
ambiente. É lançado, também, pelo Instituto Ethos, a primeira versão dos
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. No Rio de Janeiro a
UERJ cria, através do Centro de Produção (CEPUERJ), o Programa de
Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável (REDES) e oferece pela
primeira vez, através da Superintendência de Recursos Humanos, um curso de
extensão voltado para o seu público interno, abordando os aspectos do Terceiro
Setor, Responsabilidade Social e Investimento Social Privado. Ainda neste ano, a
revista Exame lança o primeiro exemplar do “Guia da Boa Cidadania
Corporativa”. Esta iniciativa foi seguida por outros veículos da mídia impressa.
• 2001- O Instituto Ethos lança o Guia de Elaboração de Relatório e Balanço Anual
de Responsabilidade Social Empresarial. Acontece também, em Porto Alegre, o
primeiro Fórum Social Mundial, com o objetivo de se contrapor ao Fórum
Econômico Mundial de Davos. Também neste ano o ABN AMRO lança o Fundo
Ethical, primeiro fundo de ações latino-americano composto por organizações
listadas nas Bolsas de Valores do país, onde os papéis são escolhidos em função
da responsabilidade das empresas para com todos os seus acionistas, credores,
funcionários, clientes, fornecedores, governo, comunidade e sociedade14.
A partir de 2001, inúmeras iniciativas passaram a ocorrer de forma acelerada,
contribuindo, a cada dia, para o amadurecimento do processo da gestão socialmente
responsável e para o fortalecimento do Terceiro Setor.
14 Site do Banco Real < www.bancoreal.com.br> Responsabilidade Social: focos – Fundo Ethical,
visitado em janeiro/2004.
24
2.3. Filantropia x Responsabilidade Social – o que mudou
neste cenário?
Como apresentamos em itens anteriores, as ações assistenciais e de
benemerência existem desde o Brasil Colonial e eram primazia das ordens religiosas
e fraternárias. Vimos também que, as organizações sem fins lucrativos surgiram
fortemente nas décadas de 60 e 70, com o apoio das agências de cooperação
internacional e representavam formas de ação política que se opunham ao
autoritarismo vigente à época. Favoreciam a participação dos excluídos e eram
dotadas de uma forte identificação com os setores populares, as “bases” sociais (
THOMPSON, 2000).
A década de 80 inicia o desenvolvimento dos processos de democratização
política em quase todos os países da América Latina. Ao mudar o contexto político-
econômico, começam a mudar, também as instituições e a visão sobre elas. Nesta
época, o macro-ambiente para estas organizações apresentava-se extremamente
estável, caracterizado por fontes de financiamento abundantes e pouca exigência em
termos de eficácia e impacto nos resultados. Tal contexto fazia com que não
houvesse muita preocupação, por parte delas, com gerenciamento e estratégias
organizacionais. As relações das ONGs com o Estado eram praticamente
inexistentes.
Na década de 90, muitos acontecimentos produziram mudanças significativas
no cenário do Terceiro Setor. A ECO-92 e o impeachment de Fernando Collor, por
exemplo, tiveram repercussão internacional. As ONGs guiadas por uma lógica
política alternativa, opositora, moderna e preocupada com o desenvolvimento
sustentável, começam a ter espaço na grande imprensa. Segundo Landim (1993),
esses eventos produziram ou catalizaram um processo de multiplicação de ONGs,
que passaram a disputar com as organizações já consolidadas, “[...] o monopólio do
capital específico acumulado em sua história, como as parcerias solidificadas com
agências internacionais, as relações construídas com setores, grupos e movimentos
sociais na sociedade brasileira[...]”.
Um outro aspecto que influenciou fortemente a mudança de parceiros das
organizações do Terceiro Setor no Brasil, foi a modificação das tendências das
25
ONGs do “Norte”15, chamadas de agências de cooperação: a redução do fluxo de
recursos financeiros para a América Latina; a concentração de recursos em um
menor número de parceiros e temáticas; maior regionalização das atividades;
aumento do controle da contabilidade das agências; financiamentos direcionados
para grandes causas; padronização de projetos; maior qualidade dos parceiros e a
exigência da garantia de sustentabilidade das organizações que apóiam. Estes fatos
levaram as ONGs brasileiras a buscarem novas fontes de recursos, de forma a
garantirem a sua sobrevivência.
Simultaneamente, começava a consolidar-se no Brasil, o movimento pela
Responsabilidade Social. As empresas começam a deixar de atuar de maneira
pontual e assistencialista, em relação as suas ações sociais, passando a direcioná-las
de forma mais estratégica e planejada.
Da mesma forma, como vimos anteriormente, o governo de Fernando
Henrique Cardoso, através do Programa Comunidade Solidária e de outros
programas governamentais, estimulou o processo de multiplicação das organizações
sem finalidade econômica e o surgimento de institutos e fundações empresariais.
Iniciava-se, assim, o fortalecimento da parceria formal entre governo, empresa e
sociedade civil.
Por sua vez as universidades públicas e centros de estudos e pesquisas vêem
seus orçamentos “encolherem” e cair o investimento público no desenvolvimento da
ciência e da tecnologia. Neste contexto, todos estes fatores contribuem para que, um
incessante crescer de instituições públicas e privadas, busquem captar recursos das
mesmas fontes: governo, empresas, agências de cooperação, entre outras. Passam a
competir por um “mercado” de ações fomentadoras de suas atividades. Como a
demanda passa a ser maior do que a oferta de recursos, a filantropia pura e simples já
não é mais suficiente. Os parceiros das organizações sem fins lucrativos estabelecem
critérios mais rígidos e, profundos ajustes baseados em práticas próprias do setor
privado, incorporam-se à gestão das organizações e à elaboração de suas atividades.
Neste sentido, o “olhar” das empresas, antes voltado basicamente para ações
sociais envolvendo a comunidade16 como beneficiário principal (filantropia),
15 Organizações não-governamentais sediadas no hemisfério Norte que financiam projetos
desenvolvidos nos países do Terceiro Mundo. 16 Entende-se como comunidade: ONGs, associações, universidades, conselhos, sindicatos, entre outros.
26
modifica-se. As empresas começam a focalizar a cadeia de seus negócios,
englobando as preocupações de um público maior: os seus stakeholders (acionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade,
governo e meio-ambiente), buscando entender as demandas e desejos deste público,
baseadas em princípios éticos (responsabilidade social)17.
Como podemos observar, a diferença entre filantropia e responsabilidade
social incide na forma como a empresa trata de seus negócios e como ela os conduz.
“A Ética é a base da Responsabilidade Social e se expressa através dos
princípios e valores adotados pela organização. Não há Responsabilidade
Social sem ética nos negócios. Não adianta uma empresa, por um lado
pagar mal seus funcionários, corromper a área de compras de seus clientes,
pagar propinas à fiscais do governo e, por outro, desenvolver programas
junto a entidades sociais da comunidade. Essa postura não condiz com uma
empresa que quer trilhar um caminho de Responsabilidade Social. É
importante seguir uma linha de coerência entre ação e discurso”. (Instituto
Ethos)
Embora a gestão socialmente responsável já esteja sendo adotada por várias
empresas, muitas ainda praticam somente a filantropia e o assistencialismo,
conforme dados da pesquisa Ação Social das Empresas18, realizada pelo Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) em 1999 (Sudeste), 2000 (Nordeste e Sul) e
2001 (Centro-Oeste e Norte).
Como já vimos, o conceito de responsabilidade social empresarial vem
amadurecendo ao longo dos anos. Desta forma, temos ouvido falar também nos
termos cidadania empresarial e investimento social privado. Muitos os utilizam
como sinônimos de responsabilidade social empresarial. Vejamos então,
rapidamente, quais as características de cada um destes conceitos e como interagem.
17 Site do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social < www. ethos.org.br> Perguntas
frequentes: diferenças entre responsabilidade social e filantropia , visitado em janeiro/2004. 18 Disponível no site do IPEA <www. ipea.gov.br/asocial>, visitado em janeiro/2004.
27
• Cidadania Empresarial – segundo Mayhew (1999, apud ASHLEY, COUTINHO
e TOMEI, 2000), “[...]a cidadania empresarial teve suas origens em ações
paternalistas, com vistas a consolidar relações entre as organizações e as
comunidades em que estavam inseridas. A maior parte destas ações eram de
caráter filantrópico e tinham como principal fator motivador algum tipo de
retorno aos investidores [...]”. Já Altman (1998, apud ASHLEY, COUTINHO e
TOMEI, 2000), fala da cidadania empresarial como sendo “[...]a função de
relações comunitárias corporativas e a define como a função pela qual a
empresa interage, intencionalmente, com organizações sem fins lucrativos,
grupos de cidadãos e outros stakeholders ao nível da comunidade[...].
Martinelli (1997), no entanto, propõe uma evolução das empresas e as
classifica em três estágios, a saber:
a) A empresa vista única e exclusivamente como um negócio onde o principal
objetivo é lucrar a qualquer custo;
b) A empresa vista como um instrumento social, com uma relação de
interdependência com seus grupos de interesse: clientes, funcionários,
fornecedores, governo, sociedade e acionistas (stakeholders). Neste estágio, a
empresa busca atender as expectativas de cada um de seus grupos de
interesse, de forma a beneficiar a todos;
c) No estágio empresa-cidadã, a empresa contribui para a transformação e
elevação social do meio onde está inserida. Opera sob uma concepção
estratégica e utiliza a ética como base para as suas ações, adotando uma
posição pró-ativa que colabore para o desenvolvimento do bem comum. Uma
característica da empresa-cidadã, segundo o autor, é a criação de institutos e
fundações próprias.
Como podemos observar, a conceituação de responsabilidade social
desenvolvida pelo Instituto Ethos engloba características dos itens “b” e “c”
relacionados acima e enfatiza a ética e a transparência como princípios básicos para
as ações empresariais.
Já o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) defende uma outra
lógica da responsabilidade social: o investimento social privado, definindo-o
28
“[...] como o uso planejado, monitorado e voluntário de recursos privados em
projetos de interesse público [...]”19. Em seu Código de Ética preconiza que “[...] os
conceitos e a prática do investimento social derivam da consciência da
responsabilidade e da reciprocidade para com a sociedade, assumida livremente por
institutos, fundações e empresas associadas[...]” ao Grupo. Explicita ainda
claramente que os investimentos sociais realizados, principalmente por empresas,
não devem ser utilizados como ferramentas de comercialização de produtos (bens
tangíveis) e não devem ter fins lucrativos porém, podem agregar valor à imagem da
empresa, tendo em vista os resultados positivos na comunidade em decorrência da
ação social realizada.
O GIFE esclarece ainda que, para que a ação social transforme-se em
investimento social, ela deve ser realizada de forma estratégica e estar inserida no
conjunto das práticas de responsabilidade social desenvolvidas pela empresa, caso
contrário transforma-se em assitencialismo, filantropia ou patrocínio.
Vimos então neste capítulo que, a ação social originou-se como
assistencialista e observou-se uma substancial mudança a partir do final da década de
80 e, com maior ênfase, no início dos anos 90. É nesse período que o envolvimento
das empresas com a área social começa a ser feito de maneira estratégica e a ganhar a
dimensão que tem hoje, derivada das profundas transformações no cenário político-
social e no mercado internacional e brasileiro. Vimos também que os princípios
éticos e a transparência tornam-se a base das ações realizadas por empresas e
organizações. O próximo capítulo abordará este aspecto.
19 Site do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas <www. gife.org.br> Código de Ética, visitado
em janeiro/2004
29
2.4. Ética e transparência: valores fundamentais da
responsabilidade social
“Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação, assim
como toda ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer; e
por isso foi dito, como muito acerto, que o bem é aquilo a que
todas as coisas tendem”
Aristóteles
Muito se tem falado em ética hoje em dia. Ética na política, nas profissões,
no consumo, nas organizações. Mas afinal o que é Ética? Segundo o Dicionário
Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA “é o estudo dos juízos de apreciação que se
referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
Etimologicamente falando, ética vem do grego "ethos" e tem seu correlato no latim
"morale", com o mesmo significado: conduta, ou relativo aos costumes. Em Ética e
Nicômaco Aristóteles definiu que o objeto do ato ético é o bem. Este trabalho não
tem a pretensão de mergulhar na infindável discussão sobre o bem e o mal, que há
séculos vem sendo alvo de tratados e teorias. Cabe-nos apenas abordar a aplicação da
ética no campo das organizações, em especial as empresariais.
Vimos, ao longo desta pesquisa, que o conceito de responsabilidade social
fundamenta-se nos padrões éticos estabelecidos pela empresa, não só para a sua
gestão como para a conduta de seus integrantes, de forma que estes valores passem a
fazer parte da sua cultura.
Embora alguns possam achar que não há espaço para a ética nas empresas,
Arruda (2001) nos diz que a ética e o lucro são compatíveis e essenciais – “[...] A
função de toda empresa é gerar produtos, serviços ou idéias que atendam às
necessidades da população, da comunidade, da sociedade. Se ela não fizer isso de
uma maneira lucrativa, eficaz, significa que não está usando adequadamente os
recursos disponíveis, sejam eles humanos, de capital ou tecnológicos. E todos eles
têm que ser eficazes e de qualidade moral. A empresa não lucrativa é incompetente e
a incompetência não é ética. [...] O lucro abusivo, gerado a partir da exploração de
recursos humanos ou naturais, é um exemplo de mau uso. E isso é falta de ética ...]”.
30
A presença dos valores e códigos de ética na vida empresarial torna-se cada
vez mais importante. Aguillar (1993) argumenta que, “[...] combinada a uma sólida
estratégia de negócios, a ética na empresa cria um clima organizacional capaz de
motivar iniciativas inovadoras e ousadas que são essenciais para obter e manter a
excelência nos negócios [...]”. O autor nos diz ainda que, em uma empresa que já
possua uma boa administração, a fomentação de padrões éticos em toda a
organização pode superalimentar o desempenho da empresa.
Os princípios éticos adotados pelas empresas devem ser aplicados à
realidade, através de uma gestão que leve em consideração as necessidades e
opiniões dos diferentes públicos envolvidos ou impactados pelo negócio das
empresas: clientes, funcionários, acionistas, comunidades, meio ambiente,
fornecedores, governo e outros. Transparência e diálogo aberto sobre desempenho,
prioridades, e sustentabilidade futura ajudam a fortalecer estas parcerias e a construir
confiança.
Assim, uma empresa não estará sendo ética quando utiliza ou concorda com a
exploração do trabalho infantil ou quando “presenteia” pessoas de um órgão público
para vencer uma licitação, mesmo que ofereça aos seus consumidores ou clientes o
melhor produto ou serviço possível. Da mesma forma, quando frauda ou sonega
informações importantes sobre produtos ou serviços, que resultarão em prejuízo para
algum de seus públicos. Isto relaciona-se diretamente a falta de transparência na
condução dos negócios e a empresa poderá ser responsabilizada posteriormente. Um
caso recente que bem exemplifica o que acabamos de mencionar é o da Parmalat, a
oitava maior empresa da Itália, que declarou-se insolvente e investigações
descobriram um esquema de fraude de mais de 10 bilhões de euros (US$ 12,6
nilhões). A reação em cadeia originária deste fato prejudicou empresas de diferentes
portes localizadas em vários países, bem como pequenos produtores rurais. No Brasil
existe o risco de faltar leite no Rio de Janeiro e em Pernambuco, estados que
abrigam a maioria das cooperativas que forneciam o produto exclusivamente à
Parmalat. A empresa deixou de pagar aos criadores mais de R$ 5 milhões.(Jornal do
Brasil, 10/01/2004, p. 1 e 20).
A incorporação dos conceitos e práticas de responsabilidade social aos
processos de gestão das organizações é dinâmica e requer avaliações constantes.
Implica em romper padrões culturais pré-estabelecidos, muitas vezes com ampliação
31
dos custos e, principalmente, requer coerência entre a prática e o discurso. Neste
aspecto, reportamo-nos novamente à Parmalat que, no Brasil, entre outras ações,
participaria da Expo Fome Zero do governo federal, possui um comitê de
responsabilidade social e programas de incentivo ao voluntariado corporativo e é
associada ao Instituto Ethos20.
Um dos primeiros exercícios para que a empresa caminhe em direção à
responsabilidade social é a auto-regulação de sua conduta. A elaboração de uma
Declaração de Valores e Princípios Éticos determinará a forma pela qual a
organização é administrada. Esta Declaração poderá transformar-se posteriormente
em um Código de Ética.
Neste sentido, algumas ferramentas têm sido desenvolvidas objetivando
auxiliar as empresas no exercício destas práticas, no monitoramento e na avaliação
das mesmas. Podemos citar, por exemplo, o manual Formulação e implantação de
Código de Ética em empresas – reflexões e sugestões, que relaciona os aspectos
básicos a serem contemplados na formulação de um código de ética para as empresas
socialmente responsáveis; Os indicadores Ethos de responsabilidade social
empresarial; Responsabilidade social empresarial para micro e pequenas empresas
passo a passo – todos publicados pelo o Instituto Ethos –, as normas certificadoras
AA 1000 e SA 8000 e o Balanço Social. Estes três últimos serão abordados com
mais detalhes a seguir.
2.5. SA8000, AA1000 e Balanço Social
Social Accountability 8000 (SA8000)21 - Primeira certificação de um aspecto
da responsabilidade social de empresas com alcance global, cada vez mais
reconhecida no mundo, a SA8000 é uma norma desenvolvida pela Social
Accountability International, (antiga CEPAA - Council on Economics Priorities
Accreditation Agency) uma organização não-governamental, sediada nos Estados
20 Site da Parmalat <www. parmalat.com.br> Responsabilidade Social; Site do Programa Fome Zero
<www. fomezero.org.br/not~icias> e Site do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social< www. ethos.org.br> Empresas Associadas . Todos visitados em 03 de fevereiro de 2004.
21 Site Social Accountability International <www. as-intl.org> e Site Business Social Development <www. bsd-net.com>, ambos visitados em janeiro/2004.
32
Unidos, que visa aprimorar o bem estar e as boas condições de trabalho bem como o
33
desenvolvimento de um sistema de verificação que garanta a contínua conformidade
com os padrões estabelecidos pela norma. A SA8000 apresenta-se como um sistema
de auditoria similar ao ISO9000 (gestão da qualidade) e ISO14000 (gestão
ambiental) e seus requisitos são baseados nas normas internacionais de direitos
humanos e nas convenções da OIT. É composta por nove requisitos a saber: trabalho
infantil; trabalho forçado; saúde e segurança; liberdade de associação e negociação
coletiva; discriminação; práticas disciplinares; horário de trabalho; remuneração;
sistemas de gestão.
Atualmente são mais de 160 empresas certificadas em diversos países,
incluindo, entre outros: Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Itália e Brasil. No
Brasil a primeira empresa certificada pela SA8000 foi a De Nadai que é, atualmente,
a única empresa do mundo no setor alimentício a ser certificada por esta Norma22.
AccountAbility 1000 (AA1000)23 - Lançado em novembro de 1999 pelo
Institute of Social and Ethical AccountAbility - ISEA, o AA1000 é, segundo a
B&SD – Desenvolvimento Econômico e Social, um modelo de gestão auditável, que
estabelece passos para a adoção de um processo ético e socialmente responsável,
melhorado continuamente, e que tem como base o diálogo com os stakeholders.
Desenvolvido a partir do consenso de várias organizações que experimentavam os
desafios do planejamento e gerenciamento empresarial com foco na responsabilidade
ética e social, foi o primeiro padrão internacional de gestão de responsabilidade
corporativa.. Seu principal diferencial está na inclusão das partes interessadas em
todos os seus passos, dando credibilidade à responsabilidade corporativa da
organização que o adota. Pode ser utilizado por organizações empresariais, sem fins
lucrativos e governamentais. Este modelo ainda é pouco utilizado no Brasil. A Souza
Cruz foi a primeira empresa brasileira a desenvolver seu Relatório Social
Corporativo segundo os padrões da AA100024.
22 Informação obtida no site da empresa <www. denadai.com.br> Responsabilidade Social: SA8000,
visitado em janeiro/2004. 23 Social and Ethical AccountAbility <www. accountability.org.uk> e Site Business Social
Development <www. bsd-net.com>, ambos visitados em janeiro/2004. 24 Informação obtida no site da Cia. Souza Cruz <www. souzacruz.com.br> Responsabilidade
Social, visitado em janeiro/2004. .
34
Balanço Social – Segundo o Ibase, “[...] balanço social é um demonstrativo
publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre os
projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas
de mercado, acionistas e à comunidade. É um instrumento estratégico para avaliar e
multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa [...]”. O Instituto
Ethos complementa que “[...] é também no balanço social que a empresa pode
apresentar seus compromissos, com metas econômicas, sociais e ambientais, e
relatar as dificuldades enfrentadas e os desafios a vencer”.
O balanço social vem ganhando importância crescente e tornou-se um dos
principais instrumentos de divulgação dos impactos das ações empresariais. Neste
sentido, pode contribuir para reforçar a imagem institucional de corporações ou das
marcas e produtos a elas associados, na medida em que se apresente não apenas
como mais um atributo de marketing, mas como um demonstrativo da efetiva
responsabilidade social assumida e praticada pela empresa e, como tal, entendida e
reconhecida pela sociedade.
Resgatando o que foi visto no item A responsabilidade social no mundo e no
Brasil desta pesquisa, as primeiras iniciativas na criação de mecanismos de prestação
de contas e de transparência de informações referentes as iniciativas de
responsabilidade social corporativas datam da década de 70.A primeira empresa no
mundo a publicar um instrumento reconhecido como balanço social foi a Singer, em
1972, nos Estados Unidos e em 1977 a França cria a legislação que obriga as
empresas com mais de 750 empregados a publicarem seu balanço social. No Brasil, a
iniciativa da discussão sobre um modelo de balanço social partiu da Fundação
Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), em 1978. O primeiro
balanço social brasileiro foi elaborado pela empresa Nitrofértil, em1984. Porém,
somente a partir de 1997, o debate sobre o balanço social alcançou maiores
proporções, quando em uma campanha nacional liderada pelo sociólogo Herbert de
Souza (Betinho), o Ibase lançou o seu modelo de Balanço Social e passou a fornecer
o Selo Balanço Social às empresas que publicassem anualmente o modelo sugerido e
de acordo com os critérios estabelecidos. Dando continuidade as iniciativas
anteriores, em 2001 o Instituto Ethos lançou a primeira versão do Guia de
Elaboração do Balanço Social.
35
Embora o interesse pela publicação voluntária do balanço social venha
crescendo a adesão ainda é reduzida. Em dezembro de 2003, segundo o site do Ibase,
27 empresas receberam o Selo Balanço Social Ibase/Betinho por terem publicado
seus balanços sociais no modelo sugerido. No período de agosto a setembro de 2003,
a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) realizou a pesquisa
Responsabilidade Social Empresarial: Panorama e Perspectiva na Indústria
Paulista25 onde constatou que, das 543 indústrias que responderam ao questionário,
somente 10,8% já publicaram alguma vez o balanço social
Temos observado ao longo deste estudo que a ética e a transparência são os
referenciais para as boas práticas da responsabilidade social nas organizações e que,
nos últimos anos, instrumentos para o monitoramento contínuo, para a avaliação e
para a divulgação destas ações vêm sendo desenvolvidos. Partindo do princípio de
que os valores éticos e a transparência das informações devem permear todo e
qualquer tipo de organização – empresarial, sem fins lucrativos e governamentais -
e, indo ao encontro dos anseios da sociedade contemporânea, o Ibase desenvolveu
um modelo de balanço social para o Terceiro Setor, que contempla organizações não-
governamentais, fundações, associações e instituições de ensino. Segundo Ciro
Torres, coordenador do projeto Balanço Social, “[...] o objetivo fundamental deste
modelo26 é demonstrar de onde vêm os recursos da organização, onde os mesmos
são aplicados, quais são as atividades desenvolvidas e como a instituição se
relaciona com seus funcionários e funcionárias. Além disso, existe a possibilidade da
organização demostrar a preocupação e quais são as metas para promover a
diversidade em seus quadros, apresentar em que nível está a participação interna e
como anda a democracia no dia-a-dia institucional”.
25 O inteiro teor da pesquisa está disponível no site da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo < www. fiesp.com.br>,visitado em fevereiro de 2004. 26 Este modelo encontra-se disponibilizado no site Balanço Social <www.balancosocial.org.br >,
visitado em janeiro/2004.
36
3. RESPONSABILIDADE SOCIAL: O QUE O MARKETING
TEM A VER COM ISTO?
Metodologicamente, deveríamos começar este capítulo apresentando os
conceitos clássicos que definem o que é marketing porém focalizaremos o nosso
olhar primeiramente nos indivíduos - consumidores de produtos e serviços; usuários
do meio ambiente; beneficiários de políticas públicas; gestores de organizações
empresariais, governamentais e não-governamentais, políticos; formadores de
opinião enfim, todos nós. Qual o nosso posicionamento no mundo atual? Quais os
nossos valores éticos? Como nos comportamos frente à diversidade? Não temos a
pretensão de respondermos a todas estas questões, mas tomá-las como ponto para
reflexão sobre a nossa própria responsabilidade social.
Ao longo desta pesquisa verificamos que as práticas da responsabilidade
social empresarial vêm evoluindo e é um processo lento porém contínuo de
aprimoramento. Vimos que o lucro é compatível com a ética mas, para que isto
aconteça, é imprescindível a modificação da conduta da alta administração das
organizações, bem como dos seus funcionários e de outros stakeholders. Vejamos
isto então sob a ótica do consumo.
3.1. Consumo consciente e responsável
Como conseqüência das grandes mudanças tecnológicas ocorridas a partir da
última década, a sustentabilidade do planeta – econômica, ambiental e social –
encontra-se ameaçada. Para reverter este processo torna-se necessário uma mudança
expressiva da consciência do consumidor, tanto no que diz respeito as suas escolhas
de compra de produtos ou serviços, bem como em relação a sua própria atitude no
uso e descarte dos mesmos. Esta mudança de comportamento levará o consumidor a
valorizar as empresas que praticam a responsabilidade social e a exigir dos governos
posturas mais éticas e efetivas.
Para Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu de Consumo Consciente,
“[...] para que o consumo, em vez de origem de problema torne-se o germe da
solução, faz-se necessário informar, sensibilizar, instrumentar, mobilizar e animar o
37
consumidor para que assimile estas mudanças de atitudes e comportamentos. Isto é
possível através da educação para o consumo consciente, envolvendo a capacitação
e instrumentação de líderes comunitários multiplicadores do consumo consciente em
suas comunidades, a inclusão do consumo consciente como tema transversal nas
escolas e universidades e um forte envolvimento das mídias para a divulgação de
resultados das experiências comunitárias e para um processo em larga escala de
educação e exemplaridade do consumo consciente [...]” (MATTAR, 2004).
No sentido de contribuir para a formação de cidadãos conscientes de seu
papel como consumidores, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) em parceria
com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Inmetro) produziu a coleção Educação para o Consumo Responsável27, destinada a
professores e alunos da 5ª a 8ª séries do Ensino fundamental, abordando os seguintes
temas: meio ambiente e consumo; publicidade e consumo; saúde e segurança do
consumidor; direitos do consumidor e ética no consumo.
Não podemos esquecer que consumidores são as empresas, o governo, as
instituições de ensino; as organizações do terceiro setor; as pessoas que compõem
estas organizações, enfim, a sociedade como um todo. Desta forma, acreditamos que
o processo de conscientização para o consumo deve ser iniciado primeiramente com
o público interno, a fim de que passem a ser multiplicadores desta conduta junto a
outros públicos. Entendemos ser incoerente uma empresa ou organização que apoia
ou incentiva a preservação do meio ambiente não se preocupar com a reciclagem de
seus descartes. Isto porque o desenvolvimento dos padrões éticos de uma
organização deriva do desenvolvimento dos padrões éticos e características pessoais
de seus dirigentes e funcionários. Segundo Ashley (2000), “[...] considera-se que,
para haver a adoção da vertente normativa da responsabilidade social corporativa,
ao longo das dimensões econômicas, sociais e ambientais, deve estar presente a
responsabilidade social na rede de relacionamentos na rede de produção e de
consumo associada direta e indiretamente aos negócios empresariais. Para isso,
faz-se necessário um novo conceito de empresa que requer uma transformação na
compreensão dos impactos mútuos das relações do indivíduo, da organização e da
27 Disponível no site do site do Instituto de Defesa do Consumidor <www. idec.org.br>, visitado em fevereiro/2004.
38
sociedade entre si e com a natureza, configurando-se aí uma mudança na qualidade
de consciência [...]”.
3.2. A importância do Endomarketing no cenário da
responsabilidade social
A partir da mudança estratégica do envolvimento das empresas com a área
social (vide item 2.3 deste trabalho) e da valorização da conduta ética e transparente
das organizações, o endomarketing ou marketing interno passou a desempenhar
papel fundamental no desenvolvimento das ações socialmente responsáveis, tendo
em vista que está diretamente ligado à capacidade de mobilização das forças que as
compõem: seus empregados. Segundo Philip Kotler (1994) o marketing interno deve
preceder o marketing externo: “Não faz sentido prometer serviço excelente antes de os
funcionários da empresa estarem prontos para fornecê-lo.” E define: “Marketing
interno é a tarefa de contratações acertadas, treinamento e motivação de funcionários
hábeis que desejam atender bem os clientes”(1994:37).
Durante os últimos quinze anos o conceito de marketing interno ou
endomarketing emergiu primeiro na literatura de marketing de serviços e, depois, na
literatura de gerência de serviços (Grönroos. 1995:278 apud SILVA,1999) e começa com
a noção de que os empregados constituem o primeiro mercado interno para as
organizações. Concordamos com Silva quando diz que “[...] o endomarketing funciona
como um processo gerencial holístico que integra múltiplas funções da empresa [...]”.
Segundo o autor, o marketing interno assegura que os empregados, em todos os níveis da
empresa, compreendam o negócio e suas várias atividades e campanhas no contexto
ambiental da empresa e garante que todos estejam preparados e motivados para agirem
de forma orientada. “A premissa do endomarketing é de que uma troca interna entre a
organização e as equipes de empregados deve funcionar eficazmente antes que a
empresa possa ter êxito no alcance de suas metas relativas aos mercados externos.”
(Grönroos. 1995 apud SILVA, 1999). Podemos deduzir, então, que o endomarketing
possui estreita relação com a sustentação interna das empresas e com a importância da
fixação da imagem institucional tanto para o meio interno quanto para o externo.
Mas como definir endomarketing? Cerqueira (1994) o define como “[...] um
conjunto de processos, projetos ou veículos de comunicação integrada que permite a
39
venda, a consolidação de uma nova imagem para dentro da empresa”. Já Saul Bekin
(1995), criador e principal divulgador do endomarketing no Brasil, em Conversando
sobre endomarketing nos diz que endomarketing é “[...]. realizar ações de marketing
voltadas para o público interno da empresa, com o fim de promover entre seus
funcionários e departamentos aqueles valores destinados a servir o cliente”. E
complementa seu pensamento quando diz que “endomarketing é a utilização de
modernas ferramentas de marketing, porém, dirigidas ao público interno das
organizações. São ações estruturais que visam à ação para o mercado. O
endomarketing objetiva fortalecer as relações internas dentro da empresa com a função
de integrar a noção de cliente X fornecedor interno, o que propicia melhorias tanto na
qualidade dos produtos como na produtividade pessoal.”
Como apresentado por Silva (1999), o endomarketing possui dois tipos de
processos gerenciais; o gerenciamento de atitudes e o gerenciamento de comunicação. O
primeiro processo refere-se a postura típica de organizações que procuram desenvolver
uma vantagem competitiva através de uma estratégia voltada para serviços, promovendo
a integração dos setores em função do objetivo final da empresa e disseminando por toda
a organização a noção de cliente interno, o que implica a valorização do funcionário e da
pessoa do funcionário. Já o processo visto sob a ótica da comunicação tende a adquirir
uma relevância cada vez maior para a empresa globalizada na busca da eficiência e da
eficácia. Neste sentido cabe ao endomarketing o papel de suprir os níveis gerenciais e
demais pessoas de contato da organização, de informações necessárias para o
desenvolvimento de suas tarefas tais como rotinas de trabalho, características das
mercadorias e dos serviços, das vantagens anunciadas aos clientes pelas campanhas
publicitárias e pelo departamento de vendas. Podemos concluir então que os dois
processos de gerenciamento – de atitude e de comunicação – permeiam a gestão pela
responsabilidade social.
Sob a ótica da responsabilidade social entendemos que o endomarketing possui
grande importância estratégica tanto para a eficácia da gestão quanto para a
implementação do consumo consciente e responsável, tendo em vista ser um forte
instrumento mantenedor da coerência entre o discurso da empresa e prática das suas
ações. É através do seu cotidiano e das atitudes de todos que compõem a empresa que a
imagem corporativa, interna e externa, será criada. As ações de marketing, interno e
externo, devem ser planejadas em conjunto, objetivando o fortalecimento da marca, a
fidelização do cliente e, principalmente, a mudança do comportamento tanto da
40
organização quanto dos consumidores, frente as demandas econômicas, sociais e
ambientais. Este é o aspecto social do marketing sobre o qual falaremos no próximo
item.
Gostaríamos de focalizar aqui o importante papel que o endomarketing assume
nas organizações do Terceiro Setor. A semelhança das empresas, estas organizações
possuem um público externo – doadores, fornecedores, clientes, beneficiários, governo,
“concorrentes” e a comunidade em seu entorno – e um público interno – seus dirigentes,
funcionários e voluntários. Esta diversidade de alvos e de públicos com quem estas
organizações se relacionam tende a confirmar a necessidade de trabalhar com
modelos de marketing, voltados aos públicos interno e externo, de modo interativo.
Ao marketing dirigido ao público externo cabe trabalhar a imagem da organização e
o composto representado pelo serviço, o preço, a promoção e o atendimento aos
consumidores, enquanto que, ao marketing interno ou endomarketing, representado
pelo treinamento, capacitação, motivação e comprometimento dos funcionários e
parceiros, caberá a função de trabalhar os objetivos da entidade e o bom atendimento
aos consumidores, os padrões de conduta e a transparência das informações. O
marketing interno pode e deve ser utilizado para que todos os integrantes e colaboradores
da organização não tenham dúvidas ao “vestir a camisa”, saibam como fazê-lo e, em
profunda sintonia com as estratégias do marketing externo, trabalhem em prol da
visibilidade e credibilidade da imagem da organização, o que irá garantir a “fidelização”
de parceiros, doadores e clientes.
3.3. Da evolução das necessidades à fase social do
Marketing
"Marketing é uma filosofia empresarial que consiste na integração e coordenação
de todas as funções de marketing, as quais, por sua vez, estão ligadas a outras
funções da empresa, com o objetivo básico de obter o máximo lucro a longo prazo"
(Felton)4.
"O conceito de marketing significa que uma organização dirige todos os seus
esforços no sentido de satisfazer seus clientes e obter lucro" (McKarthy &
Williams))5.
41
"Marketing é uma filosofia de administração empresarial, baseada na aceitação da
orientação para o cliente e para o lucro por parte de toda a empresa, e no
reconhecimento da importância do papel do marketing em comunicar as
necessidades do mercado para os principais departamentos corporativos da
empresa" (McNamara
“Marketing é tudo aquilo que é capaz de satisfazer os desejos”
Philip Kotler
Muitos são os conceitos básicos do Marketing porém, é a partir das definição
feita por Kotler que analisaremos a vocação do marketing em sintonia com a
evolução dos desejos e necessidades do consumidor e da organização.
A natureza humana faz com que as pessoas estejam sempre alterando seus
hábitos, valores e interesses. Muito antes do nascimento de Cristo, mercadores
viajavam pelo mundo comprando e vendendo bens. As pessoas possuíam habilidades
específicas e os seus produtos artesanais eram oferecidos em mercados – áreas
comuns onde os membros da sociedade se encontravam e trocavam artigos
(SCHEWE e SMITH, 1982.p11, apud SILVA, 1999) – que geravam benefícios e
aumentavam a satisfação das pessoas.
Com o avanço do comércio entre as nações, já na Idade Média, passou a haver
uma demanda maior do que anteriormente e embora os artesãos pudessem satisfazer as
necessidades locais de uma cidade, a área de comércio aumentada exigia uma maior
variedade de bens, e em maiores quantidades. Este cenário lançou as bases para o
surgimento da indústria como conhecemos hoje. (BARTELS, 1976; SCHEWE-SMITH,
1982, apud SILVA, 1999).
No início do século XVI surgiram as primeiras empresas capitalistas, favorecidas
pela descoberta de novos mercados, no Oriente e nas Américas, devido ao vasto
abastecimento de matérias-primas e metais preciosos, bem como dos avanços no
desenvolvimento de processos de produção (BARTELS, 1976/SCHEWE-SMITH, 1982
apud SILVA, 1999).
A partir da Revolução Industrial, a mão-de-obra passou a ser desenvolvida de
forma mais especializada e a emergir técnicas de produção em massa que concorreram
para o aumento expressivo dos índices de produtividade, com mais bens a preços mais
baixos (SILVA, 1999). Este fato trouxe em seu bojo hábitos de consumo novos, mais
aplicáveis à massa, ao mercado no seu mais amplo sentido, seja ele geográfico ou
42
demográfico (TUPINIQUIM e FREITAS, 2004). Nesta época, o foco era o produto e
as empresas preocupavam-se com a produtividade e com a distribuição – como um
maior número de produtos chegaria a um maior número de compradores. A
população passou a despender mais dinheiro em bens que na realidade não eram
necessários à vida e os fabricantes começaram a produzir bens discricionários, isto é,
artigos que eram escolhidos mais através do desejo do que da simples necessidade. Estes
bens passaram a apresentar aos fabricantes uma outra situação: como criar demanda para
seus produtos e como satisfazer os desejos dos consumidores? (BARTELS, 1976;
SCHEWE-SMITH, 1982 apud SILVA, 1999). Até esta época, os fabricantes
interessavam-se apenas em prover para as necessidades básicas: alimento, bebida e
roupa. Na maioria dos casos, vendiam o que produziam, porque o mercado compraria o
que quer que fosse feito.
Na década de 40 Abraham Harold Maslow publicou um importante estudo
sobre a hierarquia das necessidades humanas, intitulado "Motivation and
Personality", publicado na US Psychological Review. Neste estudo Maslow
apresentou-nos um sistema capaz de identificar e ordenar as necessidades que os
consumidores estivessem buscando satisfazer ao pretender adquirir produtos
(TUPINIQUIM e FREITAS,2004). A partir de então os fabricantes passaram a
examinar as necessidades e desejos dos consumidores e a produzir com vista a
atendê-las. Iniciava-se, segundo Silva (1999), a “fase do marketing”.
Na década de 60 Philip Kotler começa então a analisar, revisar, desenvolver,
ampliar, sistematizar, reordenar e consolidar os fundamentos e princípios do que hoje
chamamos marketing, estabelecendo princípios elementares e dando sentido aos
fundamentos até então estabelecidos. Trouxe demonstração objetiva ao pensamento
de marketing, amarrando definitivamente o produto à satisfação de necessidades
(TUPINIQUIM e FREITAS,2004)
Marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das
necessidades e desejos, através dos processos de troca. (Philip Kotler - 1985)
Como vimos, as necessidades e os desejos dos consumidores modificaram-se
ao longo do tempo. As empresas tenderam a acompanhar estas mudanças porém o
objetivo era o lucro a qualquer preço. Majoritariamente não se preocupavam com os
meios que utilizavam para isto ou se causariam danos ao meio ambiente, à
43
concorrência ou à sociedade. Mas eis que mudanças no cenário político, econômico e
social ocorreram e a sociedade passou a cobrar uma nova postura das empresas. No
mundo globalizado, a ética e a co-responsabilidade passam a ser o novo diferencial
competitivo – este é o desejo do mercado que deve ser satisfeito. Em um processo de
amadurecimento contínuo, as empresas começam a perceber que além do objetivo
principal de gerar lucros, possuem uma finalidade social e que devem desenvolver-se
com a perspectiva de sustentabilidade. Devem agregar valor à sua imagem de marca
e conquistar novos consumidores mas pensando nas gerações futuras. Inicia-se aí a
fase social do marketing (SILVA, 1999).
O quadro abaixo, apresentado pela Fundação Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) em 2002, sintetiza de forma bastante objetiva o amadurecimento das
empresas.
1950-2000 2001-2050
Visão de mundo 1º, 2º, 3º mundos Um mundo único
Política Capitalismo X Comunismo Capitalismo radical X Moderado
Economia Crescimento Sustentabilidade
Foco Quantidade agrega volume Qualidade agrega valor
Mensuração dos resultados Financeira Financeira, social e ambiental
Capital Físico, financeiro e intelectual Humano, social e natural
Governança Exclusiva: acionistas Inclusiva: steakholders
O amadurecimento das empresas - Fonte: Fundação CSN 2002
Segundo Schiavo (1999), “[...] a expressão marketing social surgiu nos
Estados Unidos em 1971 e foi utilizada pela primeira vez por Kotler e Zaltman que,
à época, estudavam aplicações do marketing que contribuíssem para solucionar
diversas questões sociais.[...]” Ainda segundo Schiavo, os autores conceituaram
marketing social pela primeira vez em um artigo publicado pelo Journal of
Marketing, definindo-o como o “processo de criação, implementação e controle de
programas implementados para influenciar a aceitabilidade das idéias sociais e
envolvendo considerações relativas ao planejamento de produto, preço,
44
comunicação, distribuição e pesquisa de marketing”.28 A partir desta visão social, o
conceito de marketing passou a ser utilizado também por organizações do terceiro
setor embora a maior ênfase da sua aplicabilidade continue voltada às empresas.
Segundo os estudos de Canabrava apresentados por Silva (1999), “[...] as
ações de marketing devem buscar adequar-se a dois espaços distintos onde, em cada
espaço, trabalha-se com diferentes cenários determinados pelos componentes
culturais, sociais, econômicos e políticos com infinidade de variáveis e matizes.”
• Espaço da empresa com todos os seus integrantes – o conceito de disputa de vida-
ou-morte dentro das empresas dá lugar ao da colaboração solidária. “A
comunicação vertical, impositiva, do patrão para o empregado, deve dar lugar à
comunicação horizontalizada, democrática, interativa, em que todos participam
criativamente, dando e recebendo conhecimento e construindo um novo
conhecimento” (CANABRAVA, 1997 apud SILVA,1999 ).
• Espaço da comunidade – circunscreve os limites físicos da empresa. “Seguem o
espaço do bairro, do município, do estado, do país, do continente, do hemisfério, do
mundo” (CANABRAVA, 1997 apud SILVA,1999).
Marcus Vianna, professor do curso de Marketing Social do Programa REDES-
UERJ, enfatiza que, por definição, o marketing já é social e citando Clemente
Nóbrega afirma que “[...] Marketing não é entender de produtos, empresas e
marcas. Marketing é entender de pessoas. O Marketing é único, os cenários de
aplicação das ferramentas é que serão diferentes [...]”. Em nosso entendimento, a
definição mais operacional de marketing social nos é oferecida por Atucha quando
diz que “marketing social é uma ferramenta democrática e eficiente, que aplica os
princípios e instrumentos do marketing, de modo a criar e outorgar um maior valor à
proposta social. O marketing social redescobre o consumidor por meio do diálogo
interativo, o que gera condições para que se construa o processo de reflexão,
participação e mudança social. Os resultados são mensuráveis pelos seus efeitos e
28 KOTLER e ZALTMAN, G. Social Marketing: An Approach to Planned Social Change. Journal of
Marketing, october-november, 1971 (35), pp. 3-12, apud SCHIAVO, R. M. Conceito & Evolução do Marketing Social, p.2, disponível em <www. socialtec.com.br>, visitado em janeiro/2004
45
avaliados por sua efetividade” (ATUCHA, 1995). Enfim, podemos então concluir
que o objetivo primordial do marketing social é a mudança de comportamentos das
organizações e dos indivíduos, frente às demandas políticas, sociais, econômicas e
ambientais
Mas nem sempre o marketing social foi entendido como instrumento de
transformação social. Assim como as ações de responsabilidade social inicialmente
eram sinônimo de filantropia e caridade, o marketing social significava
prioritariamente promoção de marca e/ou produto, através do engajamento da
empresa em projetos e campanhas sociais. Lamentavelmente, este conceito de
marketing social ainda é bastante utilizado.
Neto e Froes (1999) em um dos primeiros livros a abordar no Brasil o tema
da responsabilidade social apresentam o marketing social como sendo o exercício da
filantropia empresarial e o desenvolvimento de estratégias de marketing com base em
ações sociais. Subdividiram-no em cinco principais modalidades, a saber:
• Marketing da filantropia – modalidade com ênfase na doação de produtos
fabricados pela empresa ou de grandes somas de dinheiro. Características:
promover a imagem do empresário benfeitor; divulgar e promover a imagem da
empresa doadora; buscar apoio do governo, a preferência do cliente, a admiração
dos funcionários e o apoio da comunidade; não vinculação às ações de marketing
da empresa; atenuar o estereótipo social de empresa que obtém lucro final.
• Marketing de campanhas sociais – nesta modalidade Neto e Froes enfatizam o
engajamento de empresas em campanhas sociais com forte apelo emocional e
ampla divulgação na mídia. Características: forte apelo emocional; contribuir
para um movimento que possua credibilidade e que obtenha a adesão de
empresas, governo e sociedade civil; assegurar grande retorno publicitário;
valorizar o produto para o consumidor e alavancar as vendas; mobilizar
funcionários e construir uma imagem “simpática” para o consumidor.
• Marketing de patrocínio de projetos - nesta modalidade os autores afirmam
que através do patrocínio de projetos próprios ou de terceiros (governo,
universidades e organizações do terceiro setor) as empresas utilizam as
46
potencialidades do marketing social buscando alavancar e desenvolver o seu
negócio. Características: buscar retorno da imagem e de vendas; promoção da
marca e do produto; valorizar as ações do seu projeto como instrumentos de
fidelização e captação de clientes; buscar aproximação com o mercado; melhorar
o relacionamento com fornecedores, distribuidores e representantes; abrir novos
canais de venda e distribuição; maximizar o retorno publicitário.
• Marketing de relacionamento com base em ações sociais – segundo os autores
nesta modalidade de marketing social as empresas utilizam seus funcionários,
representantes e distribuidores como “prestadores de serviços sociais” através de
aconselhamento em questões de saúde e educação. Características: fortalecer o
relacionamento com clientes e parceiros; fidelização de clientes; promoção do
produto e da marca.
• Marketing de promoção social do produto e da marca – os autores também
denominam esta modalidade como “marketing de causa” e a definem como sendo
a licença que a empresa obtém para utilizar do nome ou logomarca de uma
entidade sem fins lucrativos ou de uma campanha social do governo, em troca de
uma porcentagem do faturamento. Características: agregar valor social à marca
conferindo atributos sociais ao produto; reforçar o conceito e o posicionamento
da marca e do produto, conferindo-lhes o status de socialmente responsável.
Como podemos observar na caracterização apresentada por Neto e Froes, todas as
modalidades objetivam agregar valor social à marca, fortalecer o relacionamento
com clientes e fornecedores, ampliar vendas e maximizar o retorno publicitário ou
seja, vimos o marketing social, encarado apenas como auto-promoção, ser
considerado como um diferencial estratégico de posicionamento da empresa.
Entendemos que para que o marketing social consolide-se realmente como um
preponderante diferencial competitivo, faz-se imprescindível a associação das
estratégias de marketing à responsabilidade social, através da conduta ética e
transparente das organizações. A implementação desta filosofia não é só
responsabilidade da área de marketing, mas de toda a empresa.
47
Concordamos com Marcus Vianna (2004) quando afirma que,”[...] se uma
empresa que se diz praticante do marketing social não possuir uma gestão
socialmente responsável, corre um sério risco de obter um fraco discurso de
marketing, caindo no descrédito do consumidor, o que denomino de linha de
discurso incoerente. A gestão pela responsabilidade social auxilia a empresa a rever
sua cultura organizacional e buscar a reflexão para não só a sua sobrevivência no
mercado em que atua, como a sobrevivência do Planeta. Essa reflexão é
extremamente vital para as ações de marketing social que passa a ter um papel
fundamental para a conscientização e consequentemente educação da sociedade
através de um consumo mais consciente”. Esta pesquisa nos leva a afirmar, com toda
a certeza, que o marketing social pode e deve ser encarado como um importante
processo de transformação social. Caso contrário, não deverá denominar-se
Marketing.
Observamos então que as ferramentas de marketing, quando utilizadas de
forma ética e voltadas ao social, tornam-se poderosos instrumentos na estratégia
corporativa de agregação de valor à imagem da marca e/ou do produto, pois
influenciam fortemente as mudanças de atitudes por parte da sociedade.
Divulgada em janeiro de 2004 pelo Fórum Mundial Econômico e a
Fleishman-Hillard International Communications, a Pesquisa da Voz dos Líderes,
que contou com a participação de 132 CEOs (Chief Executive Officers) das mil
empresas globais mais importantes do mundo, identificou que a reputação da marca
corporativa está entre os fatores mais valorizados por esses executivos.
Dos entrevistados, 92% consideram a reputação importante para sua
estratégia corporativa, 59% estimam que ela representa mais de 40% da capitalização
do mercado de uma empresa, sendo que 77% acreditam que este fator tornou-se mais
importante nos últimos dois anos.
A imagem e a credibilidade de uma organização são, para 24% dos
pesquisados, o mais importante indicador de sucesso empresarial, à frente da
lucratividade (17%), retorno do investimento (13%), sustentabilidade (6%) e
performance no mercado de ações (5%).
Neste aspecto é interessante notar que, embora ainda de forma sutil, começa a
existir uma preocupação maior das corporações com sua imagem veiculada através
da mídia. O desenvolvimento de merchandizing e propagandas que transmitam
48
mensagens que contribuam para uma conscientização maior do público em relação às
questões sociais crescem a cada dia. Já podemos verificar comerciais de bebidas com
alertas sobre a moderação no consumo; cosméticos sendo apresentados por mulheres
comuns como garotas-propaganda e negros como usuários de produtos ou serviços
voltados à classes privilegiadas. Isto tudo é decorrente do aumento da consciência e
desejos do consumidor e da coerência das empresas com gestão socialmente
responsável. Este é o marketing em seu papel social, presente no planejamento dos
presidentes de empresas e na pauta das agências de publicidade.
4. CONCLUSÃO
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo E esquecer os caminhos que nos levam aos mesmos lugares
É o tempo da travessia E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos Somente a coragem lúcida pode trazer o novo”
Fernando Pessoa
Esta pesquisa procurou apresentar a evolução histórica da responsabilidade
social e do marketing, levando a uma melhor compreensão da importância destes
conceitos como estratégias de contínuo aprimoramento da relação das organizações
com a sociedade.
No novo cenário global que se apresenta, a preocupação para com o ser
humano e a natureza passou a ser o referencial obrigatório de qualquer
empreendimento, mesmo que de pequeno porte. A implantação destas novas
estratégias de gestão imprimem novos valores ao perfil das empresas, fundamentados
em padrões de conduta éticos e transparentes, tanto para as organizações quanto a de
seus integrantes, de forma que estes valores passem a fazer parte da sua cultura e
possam refletir mudanças e contribuir para a transformação social.
Concomitantemente, verificamos uma mudança gradual da consciência do
consumidor, tanto no que diz respeito as suas escolhas de compra de produtos ou
serviços, bem como em relação a sua própria atitude. Indicação de apoio a projetos
49
sociais; informações sobre a relação da empresa com o meio ambiente; segurança do
produto, tamanho da embalagem em relação a quantidade do produto; oferta do
produto anunciado em relação a quantidade do produto no ponto de venda e
propaganda enganosa são alguns aspectos observados pelos clientes. Esta mudança
de comportamento levará o consumidor a valorizar as empresas que praticam a
responsabilidade social.
No sentido de contribuir para reforçar a imagem institucional de corporações
ou das marcas e produtos a elas associados cresce a importância do balanço social
que, gradativamente, vem transformando-se um dos principais instrumentos de
divulgação dos impactos das ações empresariais, na medida em que se apresente não
apenas como mais um atributo de marketing, mas como um demonstrativo da efetiva
responsabilidade social assumida e praticada pela empresa e, como tal, entendida e
reconhecida pela sociedade.
Ao analisarmos a evolução dos conceitos de Marketing observamos que o
marketing social que, inicialmente foi utilizado para descrever o uso dos princípios e
técnicas de marketing na promoção de uma causa, idéia, atitude ou comportamento
social, passou a significar uma tecnologia de gestão das mudanças sociais, associada
à implantação e controle de projetos que visam construir e implementar estratégias e
instrumentos para solucionar problemas sociais. Ressaltamos também que para que o
marketing social consolide-se realmente como um preponderante diferencial
competitivo, faz-se imprescindível a associação das estratégias de marketing à
responsabilidade social, através da conduta ética e transparente das organizações,
sendo a implementação desta filosofia responsabilidade de toda a empresa.
Entendemos que a implantação da gestão socialmente responsável
corresponde à tarefa, nem sempre fácil, de romper com antigos paradigmas de
organizações empresariais, governamentais e não-governamentais, consumidores,
políticos e formadores de opinião. Significa rever nossos valores éticos e nosso
posicionamento no mundo atual. Significa refletir sobre a nossa própria
responsabilidade social e ousar fazer um novo caminho, retornando ao início quantas
vezes seja necessário até que os objetivos sejam alcançados.
50
Parafraseando Fernando Pessoa podemos dizer como Claudio Corrêa de
Almeida29 que [...] “Há um tempo que é preciso abandonar os conceitos usados, que
já têm a forma da nossa marca, e esquecer as idéias que nos levam aos mesmos
mercados. É o tempo da travessia. E se o produto, o serviço, a marca não ousarem
fazê-la, terão ficado para sempre à margem deles mesmos, pois somente a coragem
lúcida poderá fazer nascer o novo conceito.[...].
5. Referências
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título da monografia: Responsabilidade Social: o que o Marketing tem a ver com
isto?
Data da entrega: ___________________
Avaliação:
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Avaliado por: _______________________________________________________
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Grau: ______________________________________________________________
Rio de Janeiro, __________ de _________________________ de 2004.