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RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 1

Aula 4: Responsabilidade civil objetiva ......................................................................................... 2

Introdução ............................................................................................................................. 2

Conteúdo ................................................................................................................................ 3

Responsabilidade civil objetiva ....................................................................................... 3

Código de Proteção e Defesa do Consumidor .......................................................... 12

Proteção da incolumidade físico-psíquica do consumidor .................................... 12

Referências........................................................................................................................... 21

Notas ........................................................................................................................................... 26

Chaves de resposta ..................................................................................................................... 27

Aula 4 ..................................................................................................................................... 27

Exercícios de fixação ....................................................................................................... 27

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 2

Introdução

Nesta nossa última aula, iremos examinar a responsabilidade civil objetiva,

fazendo um retrospecto histórico do seu surgimento até os dias atuais na

legislação pátria, demonstrando que boa parte da doutrina tem entendido que o

nosso Código Civil consagra, ao lado de uma regra geral de responsabilidade

subjetiva, uma cláusula geral de responsabilidade civil objetiva prevista no seu

Artigo 927, parágrafo único.

Após um breve histórico, analisaremos algumas das hipóteses legais de

responsabilidade objetiva, sempre com o intuito de demonstrar as suas novas

tendências e objetivos, correlacionando com os demais assuntos tratados nas

aulas anteriores.

Ao final, teremos como objetivo examinar a responsabilidade civil no Código de

Defesa do Consumidor, demonstrando que a legislação consumerista tem como

regra a responsabilidade civil objetiva, pois visa à mais ampla proteção do

consumidor. Ao final, será examinada especificamente a aplicabilidade das

normas consumeristas visando à reparação do dano decorrente do risco de

desenvolvimento.

Objetivo:

1. Estudar a responsabilidade civil objetiva, demonstrando a sua evolução

histórica e legislativa, bem como examinando as previsões do Código Civil;

2. Analisar a responsabilidade civil nas relações de consumo, em especial o

dano decorrente do risco de desenvolvimento.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 3

Conteúdo

Responsabilidade civil objetiva

Vamos relembrar o que é responsabilidade civil objetiva?

1. Para que foi criada?

A responsabilidade civil objetiva, como já analisado na primeira aula deste

curso, foi criada como um instrumento para facilitar o alcance do objetivo

primordial da nossa disciplina – o ressarcimento da vítima, afastando o principal

obstáculo a tal concretização, a comprovação da culpa.

2. Como surgiu?

O seu surgimento tem ligação direta com a Revolução Industrial, com a

mudança de uma sociedade eminentemente ruralista para uma sociedade

industrializada, a qual acarreta necessariamente na ampliação das hipóteses de

riscos decorrentes destas atividades ou, como afirma Teresa Ancona Lopez

(2006, p. 112), “os perigos da nova sociedade comandada por máquinas de

todos os tipos”.

3. Comprovação de culpa?

A necessidade de comprovação do elemento subjetivo – culpa – como

pressuposto para a condenação ao dever de indenizar acaba por ser uma

barreira para o alcance da função reparatória/compensatória da

responsabilidade civil, diante da multiplicação dos danos decorrentes do surto

do progresso e desenvolvimento industrial.

4. Anderson Schreiber

Anderson Schreiber (2012, p. 17) exemplifica a dificuldade de fazer prova da

culpa afirmando que:

A exigência de que a vítima demonstrasse a culpa em acidentes desta natureza

– basta pensar em acidentes de transporte ferroviário ou em acidentes de

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 4

trabalho ocorridos no interior de fábricas – tornava-se verdadeiramente odiosa

diante do seu desconhecimento sobre o maquinismo empregado, da sua

condição de vulnerabilidade no momento do acidente e de outros tantos fatores

que acabaram por assegurar à prova a alcunha de probatio diabolica.

Diante de tão odiosa prova, a qual não era possível à vítima na grande maioria

das situações, haja vista que os danos acabam surgindo do mero exercício da

atividade perigosa, o direito passou a criar instrumentos para o fim de driblar

esta exigência e possibilitar o mais amplo ressarcimento da vítima, entre eles é

possível se indicar as hipóteses legais de presunção de culpa e a aceitação da

teoria do risco (SCHREIBER, 2012, p. 18).

Primeiros estudos

Você sabia?

O marco inicial da responsabilidade civil objetiva foi a obra de Raymond

Saleilles, Les accidents de travail et la responsabilité civile: essai d’une théorie

objective de la responsabilité délictuelle, datada de 1897, a qual propunha a

imposição do dever de indenizar por um princípio simples de causalidade, que

não exigisse o exame do comportamento do agente causador do dano.

Outra obra de relevância para o estudo da responsabilidade civil objetiva é a de

Loius Josserand, o qual “defendia a ideia de risco como critério de

responsabilização”. (SCHREIBER, 2012, p. 19).

A partir dessas obras doutrinárias, desenvolveu-se o estudo da

responsabilidade civil objetiva e da teoria do risco como mecanismos

facilitadores da indenização da vítima em situações tais em que a prova da

culpa é difícil, senão impossível.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 5

Começam a surgir gradativamente legislações que abarcam a responsabilização

independentemente de culpa, amadurecendo um dos principais institutos da

nossa disciplina na atualidade.

O Código Civil de 1916

No direito brasileiro percebe-se, numa análise breve, que o legislador do

Código Civil de 1916 se manteve na esteira da responsabilidade civil

subjetiva, exigindo como requisito indispensável para o surgimento do dever

de reparar a comprovação da culpa do agente causador do dano.

Imprescindível se faz observar, com apoio na doutrina de Anderson Schreiber

(2012, p. 20), que o Código Civil de 1916, embora tenha como regra a

responsabilidade fundada na culpa, possuía dispositivo que atendia à ideia da

responsabilidade sem culpa consubstanciado no art. 1.529, que previa que

“aquele que habitar uma casa, ou parte dela responde, pelo dano proveniente

das coisas, que dela caírem ou forem lançadas em lugar indevido”. Todavia, o

autor afirma “que a leitura objetivista deste dispositivo somente veio a ser

plenamente aceita com a consagração doutrinária da teoria do risco e com a

crescente simpatia do legislador especial pela responsabilidade objetiva”.

Outro exemplo de hipótese de responsabilidade independentemente de culpa

na legislação anterior é a previsão do seu art. 15: “As pessoas jurídicas de

direito público são civilmente responsáveis por atos dos seus representantes

que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário

ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo contra

os causadores do dano.”

Não podemos nos esquecer, por óbvio, as hipóteses de presunção de culpa dos

arts. 1.527 e 1.528 da legislação anterior.

O nosso legislador, da época, consagrou a responsabilidade civil objetiva em

legislações esparsas, como o Decreto n.º 2.681/1912 (Lei das Estradas de

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 6

Ferro), Lei de Acidentes de Trabalho, Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei n.º

6.453/77 (relativa às atividades nucleares), Lei n.º 6.938/81 (que trata dos

danos causados ao meio ambiente), e o Código de Defesa do Consumidor,

entre tantas outras, sendo este último o marco determinado da adoção dessa

teoria no Direito Brasileiro.

A própria Constituição Federal adota a teoria do risco administrativo no

parágrafo 6º do seu art. 37, impondo a responsabilidade objetiva ao Estado e

seus agentes e concessionários.

Ou seja, até então a regra era a responsabilidade civil subjetiva, fundada na

comprovação da culpa, e a exceção era a responsabilidade civil objetiva,

fundada na noção de risco, a qual pressupunha a existência de legislação

expressa para a sua aplicação.

Por óbvio que todo aquele processo de Constitucionalização e Repersonalização

da Responsabilidade Civil possui efeito direto sobre a modificação desta regra

na legislação civil brasileira, pois prepondera a função

reparatória/compensatória da nossa disciplina em nítido respeito ao princípio da

dignidade da pessoa humana, bem como passa a influenciar a disciplina

reparatória também o princípio da solidariedade social.

Nesse sentido, segundo Maria Celina Bodin de Moraes (2006, p. 250):

A objetivação da responsabilização, neste ponto, nada mais é do que um

aspecto de um processo maior de releitura do direito civil em virtude da

incidência dos princípios constitucionais. Ela traduz a passagem do modelo

individualista-liberal de responsabilidade, compatível com a ideologia do Code

Napoléon e do Código de 1916, para o chamado modelo solidarista, baseado na

Constituição da República, fundado na atenção e no cuidado para com o

lesado: questiona-se se à vítima deva ser negado o direito ao ressarcimento e

não mais, como outrora, se há razões para que o autor do dano seja

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 7

responsabilizado. Trata-se, assim, de vincular diretamente a responsabilidade

civil aos princípios constitucionais da dignidade, da igualdade e da

solidariedade.

O Código Civil de 2012

Passada mais de uma década da vigência da nossa Constituição Federal, entra

em vigência o Código Civil de 2012 consagrando, por definitivo, a

responsabilidade civil objetiva, ao lado da responsabilidade civil

subjetiva.

Artigo 186 e 187 do CCB

O primeiro passo para esta mudança foi a separação da noção de ato ilícito

(Artigo 186 e 187 do CCB) das disposições atinentes à responsabilidade civil

(Artigo 927 e segs do CCB), ficando claro que o dano é o principal

pressuposto da nossa disciplina (LOPEZ, 2006, p. 113).

Artigo 927, caput combinado com o Artigo 186 do CCB

Ao lado da previsão da responsabilidade civil subjetiva (Artigo 927, caput

combinado com o Artigo 186 do CCB), a nova legislação estabelece uma

cláusula geral de responsabilidade civil objetiva em seu parágrafo único:

“haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos

especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Anderson Schreiber (2012, p. 21-22) afirma que esta norma teve como

inspiração o disposto no Artigo 493 do Código Civil Português e o Artigo 2.050

do Código Civil Italiano de 1942.

Responsabilidade subjetiva e objetiva

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 8

A partir da vigência do Código Civil de 2012, as duas regras, a

responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva, devem

conviver pacificamente no ordenamento jurídico pátrio.

Na análise do caso concreto, deverá o intérprete analisar a aplicabilidade das

regras partindo da responsabilidade civil objetiva e tendo como regra de

remanescente a responsabilidade subjetiva.

1

A partir da situação concreta deve o intérprete primeiro examinar se há

legislação expressa prevendo a aplicação da responsabilidade civil objetiva

(como o CDC, a Legislação Ambiental, de Transportes, etc.).

2

Em caso negativo, deve examinar a aplicabilidade do parágrafo único do Artigo

927 do CCB, ou seja, se a hipótese se enquadra na categoria de atividade

normalmente desenvolvida que gere riscos para os direitos de outrem.

3

E, por último, desde que não se enquadre em nenhuma das situações

anteriores, aplicável seria a regra da responsabilidade civil subjetiva.

Boa parte da doutrina nacional entende que a regra geral ainda permanece

como sendo a responsabilidade subjetiva, sendo que na insuficiente desta é

que será aplicada a responsabilidade objetiva (Caio Mario da Silva Pereira,

Carlos Roberto Gonçalves, Sérgio Cavalieri Filho, Teresa Ancona Lopez, entre

outros).

Artigo 927 do Código Civil Brasileiro

A nossa aula se restringirá à análise detalhada da cláusula geral de

responsabilidade civil prevista no parágrafo único do Artigo 927 do Código

Civil Brasileiro. Contudo, imprescindível se faz observar outra regra de

responsabilidade civil objetiva prevista no Artigo 931 do Código Civil:

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 9

Artigo 931:

“ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e

as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados

pelos produtos postos em circulação.”

Vamos examinar alguns pontos em que ainda pairam dúvidas na aplicabilidade

do referido parágrafo. Vários questionamentos relevantes surgem, entre eles:

Quais seriam essas atividades de riscos?

Como caracterizar uma atividade normalmente desenvolvida?

Percebe-se, como bem observa Anderson Schreiber (2012, p. 23), que o

legislador permitiu uma ampla discricionariedade jurisdicional, permitindo ao

juiz, na análise do caso concreto, partindo dos valores e princípios

constitucionais, estabelecer o que é atividade de risco normalmente

desenvolvida.

Várias são as interpretações possíveis dessas expressões.

Várias são as interpretações possíveis destas expressões (SCHREIBER, 2012, p.

24-25), há quem afirme que a atividade deve, necessariamente, ter como

finalidade a obtenção de proveitos econômicos (Carlos Roberto Gonçalves), há

quem afirme que a atividade deve ser organizada sob a forma de empresa, e

outros que afirmam que a hipótese já estava consagrada no art. 14 do Código

de Defesa do Consumidor, referente à responsabilidade pelo fornecimento de

serviços (Sérgio Cavalieri Filho).

Numa análise mais condizente com o dispositivo em comento, pode-se afirmar

que o exercício de atividade de risco não se restringiria a hipótese em que o

agente obtém proveito econômico (teoria do risco-proveito), pois em momento

algum o legislador inclui este requisito, sendo evidente que basta que a

atividade, mesmo que não lucrativa, gere riscos à coletividade (teoria do risco

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 10

criado). Outrossim, o dispositivo em comento não se esvai na previsão do art.

14 do CDC, pois este se refere especificamente às relações de consumo,

enquanto aquele se aplicaria às demais relações em que a vítima não é o

destinatário final do serviço.

Mas então o que seria atividade normalmente desenvolvida? Teresa Ancona

Lopez (2006, p. 124) afirma que se refere, “na maioria dos casos, à atividade

empresarial e, excepcionalmente, a série de atos que a pessoa física pratica

com habitualidade pondo em risco a segurança alheia”. Adverte, por fim, que

“não podemos colocar no mesmo conceito uma atividade individual e isolada,

como a de dirigir automóveis. Nesse caso, serão os atos do motorista, e a sua

conduta diligente ou não, que estarão em julgamento.”

Finalmente, quais são esses riscos advindos de tal atividade? Anderson

Schreiber (2012, p. 25) afirma que as atividades devem gerar um “grau de risco

elevado seja porque se centram sobre bens instrinsecamente danosos (como

material radioativo, explosivos, armas de fotos, etc.), seja porque empregam

métodos de alto potencial lesivo (como o controle de recusos hídricos,

manipulação de energia nuclear, etc.).”

Por óbvio que a maioria das atividades do ser humano gera riscos a terceiros.

Poderíamos afirmar: “Viver é um risco”! Contudo, por evidente que o objetivo

da legislação não é atingir todos os riscos inerentes ao convívio social, mas,

sim, e, preponderantamente, as atividades que geram um risco fora do comum,

um risco elevado, como as atividades de transporte em geral, as atividades que

dependem para seu exercício do uso de armas de fogo, algumas atividades

esportivas, vendas de combustíveis, a construção imobiliária, fábricas de fogos

de artifícios, entre outras.

Por óbvio que cabe ao intérprete usar do bom senso, da ponderação, da

equidade, para examinar o caso concreto e distinguir as atividades que

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 11

naturalmente são perigosas e decorrem da prática cotidiana, daquelas que

geram um risco extraordinário.

Mas devemos ir mais além na Responsabilidade Objetiva, como defende

Anderson Schreiber (2012, p. 28-30). O legislador civil não previu hipóteses de

responsabilização sem a necessidade de comprovação de culpa somente

quando a atividade desenvolvida pelo agente gera risco de dano a terceiro, mas

impõe a responsabilização objetiva em situações diversas, em que não se

discute o risco da atividade, como, por exemplo, responsabilidade do habitante

pela queda de objeto de prédio (art. 938 do CCB), responsabilidade dos pais,

tutores ou curadores pelos atos dos filhos, tutelados ou curatelados (art. 932,

incisos I e II do CCB).

Nessas hipóteses não se vislumbra a análise da existência de uma atividade de

risco, mas sim constatamos, o que já analisamos anteriormente, uma

socialização dos danos, a busca da indenização tão só pela indenização, não

pela ideia de culpa, nem mesmo tão somente pela prova do exercício de

atividade de risco, mas sim pela especial finalidade de nossa disciplina: o

ressarcimento dos danos sofridos pela vítima.

Portanto, nessas circunstâncias, percebemos que a responsabilidade objetiva

revela “a sua verdadeira essência na contemporaneidade: não a de uma

responsabilidade por risco, mas a de uma responsabilidade independente de

culpa ou de qualquer outro fator de imputação subjetiva, inspirada pela

necessidade de se garantir reparação pelos danos que, de acordo com a

solidariedade social, não devem ser exclusivamente suportados pela vítima”

(SCHREIBER, 2012, p. 30).

A partir dessa constatação, voltamos ao início, ao objetivo primordial da

responsabilidade civil: a reparação ou compensação da vítima.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 12

Código de Proteção e Defesa do Consumidor

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor foi um marco no âmbito da

responsabilidade civil objetiva no Direito Brasileiro, pois estabelece

expressamente como regra geral que:

A responsabilidade nas relações consumeristas independe da comprovação

da culpa do fornecedor.

Única exceção: a responsabilidade dos profissionais liberais, quando então

é indispensável a comprovação do elemento subjetivo.

Se não bastasse o quase absoluto afastamento das regras da responsabilidade

subjetiva, o CDC também instituiu como regra:

A responsabilidade solidária de todos os membros da cadeia produtiva e de

distribuição dos produtos e serviços, demonstrando o caráter de socialização

dos danos.

Observe a nítida intenção do legislador em oportunizar a mais ampla proteção

do consumidor nos seus primeiros artigos.

Isto acontece quando estabelece que as normas consumeristas são de ordem

pública, ou seja, de observância obrigatória.

Proteção da incolumidade físico-psíquica do consumidor

A responsabilidade civil no CDC parte de duas óticas distintas (BENJAMIN,

1990, p. 17):

Responsabilidade civil no CDC

Proteção da incolumidade físico-psíquica do consumidor através da

responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 13

Proteção da incolumidade econômica do consumidor por meio da

responsabilidade civil por vício do produto ou serviço.

Proteção da incolumidade físico-psíquica do consumidor através da

responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço.

Sobre esta ótica estão enquadrados o que chamamos de:

Acidentes de consumo, ou seja, eventual defeito do produto ou serviço

extrapola a simples utilidade do mesmo atingindo a integridade físico-psiquíca

do consumidor, trazendo danos à sua saúde. Nessa circunstância, percebe-se

que:

“o fundamento material da responsabilidade civil pelo fato do produto (...) é o

defeito que está associado à quebra do dever geral de segurança.” (MENEZES,

2012, p. 14)

Vamos a um exemplo?

O defeito nos freios de um veículo acaba acarretando num acidente que causa

a morte ou lesões à integridade física do consumidor ou de terceiros

(consumidores equiparados pelo Artigo 17 do CDC).

Ao lado do fato do produto ou serviço, o CDC impõe responsabilidade pelo vício

do produto ou serviço, quando o produto ou serviço contratados possuem

defeitos que os tornem impróprios para a finalidade para a qual foram criados.

Portanto, relaciona-se a uma anomalia intrínseca do produto ou serviço que

causa o seu mau funcionamento ou até mesmo o seu não funcionamento. Aqui

seria o próprio defeito nos freios, independentemente de causar outros danos.

O objetivo primordial deste item é examinar os riscos de desenvolvimento, por

isso iremos nos ater às regras da responsabilidade pelo fato do produto ou

serviço.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 14

Riscos de desenvolvimento

Mas o que seria o risco de desenvolvimento? Vamos a dois exemplos:

Caso DES

O caso americano Sindell versus Abbott Laboratories, de 1980, “envolvendo

droga cujo princípio ativo era o diethilstibestrol (por isso ficaram conhecidos

como casos ‘DES’), indicado para mulheres grávidas a fim de evitar o aborto

espontâneo, mas cujos efeitos colaterais, descobriu-se posteriormente,

potencializavam o surgimento de câncer em seus filhos” (LEVY, 2012, p. 10).

Pois então, quando do desenvolvimento do medicamento era desconhecido o

seu potencial danoso, o qual somente passou a ser percebido a posteriori,

quando atingiu os filhos das mulheres que tinham usado a droga, inclusive para

evitar o aborto espontâneo.

São riscos invisíveis e imprevisíveis, que quando do desenvolvimento do

medicamento eram desconhecidos, imperceptíveis para a sociedade científica

da época, diante dos conhecimentos existentes até aquele momento.

Caso da Talidomia

Outro exemplo de risco de desenvolvimento é o caso da Talidomida,

“medicamento utilizado por gestantes para aliviar os enjoos da gravidez e que

fora responsável diretamente pelo nascimento de bebês com deformidades

congênitas” (RODRIGUES, 2007, p. 4707).

Podemos citar diversas pesquisas que visam analisar os riscos do uso de alguns

produtos e que ainda não chegaram a qualquer conclusão, como o uso dos

celulares, do micro-ondas, dos alimentos transgênicos, entre outros, os quais já

são usados ou consumidos diariamente sem que se saiba ao certo se estes

podem trazer um prejuízo em longo prazo aos seres humanos.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 15

A questão que se coloca em análise é sobre a possibilidade ou não de

responsabilização dos seus fornecedores em caso de danos advindos num

futuro muitas vezes remoto.

Inicialmente cumpre advertir que a legislação consumerista não faz referência

expressa a estes riscos de desenvolvimento e consequentes danos, muito

menos sobre a possibilidade de responsabilização dos fornecedores.

Cabe examinar as regras aplicáveis à responsabilidade pelo fato do produto ou

serviço para se verificar a sua aplicabilidade nos casos de riscos de

desenvolvimento.

O defeito no produto ou no serviço

Como vimos, a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço é aquela

decorrente do acidente de consumo, quando o defeito no produto ou no

serviço extrapola a sua funcionalidade atingindo a integridade físico-psíquica

do agente (Artigo 12 e 14 do CDC).

O que seria este defeito capaz de atingir a incolumidade física ou

psíquica do consumidor?

O próprio CDC estabelece que se considera defeituoso o produto ou serviço

quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera (Artigo

12, § 1º e Artigo 14, § 1º, ambos do CDC).

Artigo 12 do CDC

Artigo 12. (...)

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele

legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias

relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 16

III - a época em que foi colocado em circulação.

E é exatamente no limite temporal acima destacado que paira a dúvida sobre a

possibilidade de responsabilização dos fornecedores pelo risco de

desenvolvimento.

Examinando o disposto no Artigo 12 do CDC, percebe-se que o legislador

estabelece a necessidade de análise de algumas circunstâncias para se

averiguar a constatação desse defeito.

Parte da doutrina defende que essa limitação temporal acarreta na exclusão da

responsabilidade do fornecedor, por isso defendem que o risco de

desenvolvimento é uma hipótese de excludente de responsabilidade do

fornecedor pelos danos causados ao consumidor.

Rui Stoco (2007, p. 53) leciona:

Pode-se afirmar que qualquer causa ou condição que tenha o poder

de excluir o nexo de causa e efeito assume a qualidade de excludente

da responsabilidade. Do que se conclui que, ademais do chamado

risco de desenvolvimento não ser causa ou condição que empenha

responsabilização, posto que a legislação de regência não previa tal

possibilidade por expressa vontade do legislador, por outro lado,

constitui excludente implícita da responsabilidade.

Arthur Martins Ramos Rodrigues indica ainda como um dos fundamentos

utilizados por essa parte da doutrina o disposto no inciso I do art. 6º do CDC, o

qual dispõe que “o consumidor tem o direito à proteção da vida, da saúde e da

segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de

produtos ou serviços considerados ‘perigosos ou nocivos’”. Por isso, questiona:

“como proteger um consumidor do risco criado por um produto ou serviço que

não é considerado perigoso ou nocivo?”

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 17

Ainda seria um argumento favorável a essa tese o fato de que se impormos

responsabilização a estes fornecedores, isto acarretaria numa derrocada na

pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, diante da responsabilização

pelo estado da arte, pelos conhecimentos obtidos até aquele momento.

De outro lado, cita-se o Enunciado n.º 43 da I Jornada de Direito Civil do

Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal que estabelece

que o art. 931 do Código Civil (dispositivo semelhante ao art. 12 do CDC), ao

impor a responsabilização pelo fato do produto também incluir os riscos de

desenvolvimento.

Entre os defensores da responsabilização do fornecedor pelo risco de

desenvolvimento, Sérgio Cavalieri Filho (2005, p. 476) enquadra esses defeitos

como fortuito interno, inerente à atividade do fornecedor, razão pela qual deve

ser responsabilizado. E adverte que o risco do desenvolvimento diz respeito a

um defeito de concepção, que, por sua vez, dá causa a um acidente de

consumo por falta de segurança. Irrelevante saber, como já demonstrado, se

esse defeito era ou não previsível e, consequentemente, evitável.

Por outro lado, cumpre advertir que a imposição de responsabilização aos

fornecedores pode inclusive fomentar o desenvolvimento de pesquisas,

aumentando a segurança dos consumidores.

Considerações finais

Joyceane Bezerra de Menezes (2012, p. 17), relembrando parte do já

examinado na nossa disciplina, em especial a socialização dos danos e a tutela

à dignidade da pessoa humana, defende que:

“o cenário da sociedade de riscos está armado e os riscos de desenvolvimento

são uma realidade”, porém “não se pode creditar apenas ao consumidor o ônus

do desenvolvimento”, razão pela qual não se pode negar a responsabilização do

fornecedor pelos riscos de desenvolvimento.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 18

Se fizermos uma retrospectiva do que já foi examinado até aqui durante todo o

nosso curso, percebemos que, partindo-se:

Das concepções da Constitucionalização e Repersonalização do Direito;

Da evolução da responsabilidade civil para um Direito de Danos;

Da socialização dos danos e dos riscos,

Da criação de mecanismos extrajudiciais capazes de garantir o mais amplo

ressarcimento das vítimas.

...não podemos negar que é dever do fornecedor indenizar os

consumidores pelos riscos de desenvolvimento, até mesmo se partirmos de

uma interpretação teleológica do CDC, diante da nítida intenção do legislador

em proteger o consumidor.

Atividade proposta

Vamos fazer uma atividade relacionada ao tema visto anteriormente! Elabore

uma pesquisa sobre os riscos de desenvolvimento dos alimentos transgênicos,

desenvolvendo análise sobre a responsabilização ou não dos produtores.

Chave de resposta: Para iniciar a pesquisa, primeiramente, é imprescindível

examinar o que seriam os alimentos transgênicos. Para tanto, cita-se parte do

voto do desembargador Saldanha da Fonseca na Apelação Cível nº

2.0000.00.387120-5/000 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Para iniciar a pesquisa, primeiramente, é imprescindível examinar o que seriam

os alimentos transgênicos. Para tanto, cita-se parte do voto do desembargador

Saldanha da Fonseca na Apelação Cível nº 2.0000.00.387120-5/000 do Tribunal

de Justiça de Minas Gerais:

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 19

Pois bem, depois de um estudo minucioso a respeito da questão,

cheguei à conclusão de que os transgênicos são organismos vivos,

formados a partir de alterações no seu genoma. Os genes são

alterados de forma a conferir ao organismo características

importantes para que este se destaque em relação aos outros e

aumente sua capacidade de adaptação ao meio, como: resistência a

determinadas pragas, maiores índices de componentes da sua

composição, aumento de sua produtividade, entre outros.

Pude também observar que a Engenharia Genética é uma ciência que

propicia um conjunto de técnicas que permitem, artificialmente,

alterar o material genético de um organismo, podendo referidas

modificações ocorrer das seguintes formas: transformação do material

genético entre organismos de espécies diferentes artificialmente;

transferência de material genético entre si; modificação, retirada ou

multiplicação do material genético de um organismo vivo; construção

de novos materiais genéticos fora dos organismos e posteriormente

incorporação neles próprios; etc.

Portanto, a alteração do genoma pode ser natural quando ocorre sem

a interferência do homem, ou por processos artificiais, os quais

ocorrem sob a influência única antrópica e é feita em laboratórios. Os

organismos que tiveram o seu genoma alterado, natural ou

artificialmente, são chamados de Organismos Geneticamente

Modificados (OGM).

Aí sim, chega-se no ponto que necessitamos mencionar, para não

dizer refletir, pois que as células têm a capacidade de identificar

material genético que seja estranho à sua espécie e, dessa forma,

existem mecanismos complexos para evitar que ele se integre ao seu

genoma. É através da sua membrana celular, na qual estão inseridos

complexos mecanismos que agem sobre sua estrutura, que a célula

determina o que entra e o que sai de seu interior e também, através

de outros mecanismos os quais podem fragmentar o material genético

invasor, impedindo sua replicação e inativando-o.

Assim sendo, ainda que exista uma enorme variabilidade de

organismos em cada espécie, a natureza traça limites. Espécies

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 20

diferentes não fazem cruzamento natural, já que isto é impossível que

ocorra. Porém, artificialmente, em laboratório, é possível

transferirmos um ou mais genes (ou parte de um gene) entre

espécies diferentes. O organismo resultante deste cruzamento será

um organismo geneticamente modificado, porém um OGM

transgênico.

Nesse breve relato, pude detectar que as técnicas que “enganam” a

membrana celular de outra espécie, isto é, enganam a natureza, para

modificar organismos, fazem uso de outros micro-organismos tais

como vírus e bactérias, que possuem a capacidade de transferir seus

conteúdos genéticos para os organismos que se pretende modificar.

Referido processo de transferência de material genético de um

organismo para outro é que origina a chamada modificação genética,

com a obtenção de um transgênico.

Ainda é discutível entre os pesquisadores os possíveis riscos para a saúde das

pessoas, entre eles (http://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/saiba-o-

que-sao-os-alimentos-transgenicos-e-quais-os-seus-riscos):

1. Aumento das alergias.

2. Aumento de resistência aos antibióticos.

3. Aumento das substâncias tóxicas.

4. Maior quantidade de resíduos de agrotóxicos.

A questão que se mostra tormentosa é se saber se de fato estes riscos se

concretizarão e quais os danos à saúde das pessoas. Em que pese existir doutrina

contrária à responsabilização pelos riscos de desenvolvimento, cumpre advertir que

numa análise principiológica não há como se negar à vítima, que em regra será a

coletividade, o direito ao ressarcimento desses danos.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 21

Material complementar

Para saber mais sobre danos pelo risco de desenvolvimento, indica-

se a leitura de: RODRIGUES, Arthur Martins Ramos. A tutela do

consumidor frente aos riscos do desenvolvimento, disponível

em nossa biblioteca virtual.

Referências

CAVALLIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo:

Atlas, 2005.

GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil.

3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 4.

LOPEZ, Teresa Ancona. Principais linhas da Responsabilidade Civil no Direito

Brasileiro Contemporâneo. Revista da Faculdade de Direito da

Universidade de São Paulo, v. 101, p. 111-152, jan./dez. 2006.

MENEZES, Joyceane Bezerra de. A Reengenharia da Responsabilidade

Civil na Sociedade de Riscos – Da Culpa à Socialização dos Riscos.

Disponível em:

http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/joyceane_bezerra_

de_menezes.pdf. Acesso em: 21 ago. 2014.

_____. O direito dos danos na sociedade das incertezas: a problemática do

risco de desenvolvimento no Brasil. Civilistica.com. ano 1, n. 1, 2012.

Disponível em: http://civilistica.com/direito-dos-danos/. Acesso em: 21 ago.

2014.

MORAES, Maria Celina Bodin de. A constitucionalização do direito civil e seus

efeitos sobre a responsabilidade civil. Direito, Estado e Sociedade. v. 9. n. 9,

jul/dez 2006. p. 233-258. Disponível em:

http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Bodin_n29.pdf. Acesso em: 21 ago.

2014.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 22

PÜSCHEL, Flavia Portella. Funções e princípios justificadores da

responsabilidade civil e o Artigo 927, § único do Código Civil. Revista Direito

GV, v. 1, n. 1, p. 091-107, mai.2005.

RODRIGUES, Arthur Martins Ramos. A tutela do consumidor frente aos

riscos do desenvolvimento. Disponível em:

http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/arthur_martins_ramos_r

odrigues2.pdf. Acesso em: 21 ago. 2014.

SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da Responsabilidade Civil: da

erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. 4. ed. São Paulo: Atlas,

2012.

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. São Paulo: RT, 2007.

TARTUCE, Flávio. A responsabilidade civil subjetiva como regra geral do

Novo Código Civil Brasileiro. Disponível em:

http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=artigos&totalPage=2. Acesso

em: 21 ago. 2014.

Exercícios de fixação

Questão 1

(TRT 1ª 2012 - FCC - JUIZ DO TRABALHO SUBSTITUTO) No Código Civil atual,

a responsabilidade civil:

a) Continua em regra como subjetiva, excepcionando-se, entre outras, a

hipótese da atividade exercida normalmente pelo autor do dano com

risco para os direitos de outrem, quando então a obrigação de reparar

ocorrerá independentemente de culpa.

b) É objetiva como regra, excepcionando-se situações expressas de

responsabilização subjetiva.

c) É subjetiva sempre, em qualquer hipótese.

d) Em regra é subjetiva, admitida porém a responsabilidade objetiva do

empresário, como fornecedor de produtos ou de serviços, na modalidade

do risco integral.

e) É objetiva para as pessoas jurídicas, de direito privado ou público, e

subjetiva para as pessoas físicas.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 23

Questão 2

(TRT 2R (SP) - 2014 - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Juiz do Trabalho) Ressalvados

outros casos previstos em lei especial, é correto afirmar que os empresários

individuais e as empresas respondem pelos danos causados pelos produtos

postos em circulação:

a) Se houver prova de dolo ou culpa

b) Apenas se houver prova de dolo

c) Apenas se houver prova de culpa

d) Independentemente de prova de culpa

e) Desde que tais produtos tenham sido gratuitamente entregues.

Questão 3

Sobre o instituto da responsabilidade civil, assinale a alternativa incorreta:

a) A cláusula geral de responsabilidade objetiva prevista no Código Civil em

vigor está ligada à teoria do risco criado.

b) Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente

desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os

direitos de outrem.

c) O disposto no parágrafo único do Artigo 927 do CCB se refere às

atividades que geram risco fora do comum, um risco elevado, como as

atividades de transporte em geral, as atividades que dependem para seu

exercício do uso de armas de fogo, algumas atividades esportivas,

vendas de combustíveis, a construção imobiliária, fábricas de fogos de

artifícios, entre outras.

d) A legislação civil atual não adota a teoria do risco, apenas se

fundamentando na teoria da culpa.

Questão 4

A adoção da responsabilidade civil objetiva por meio de cláusula geral prevista

no parágrafo único do Artigo 927 do Código Civil é um reflexo do processo de

Constitucionalização e Repersonalização do Direito.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 24

a) Verdadeiro

b) Falso

Questão 5

A legislação civil previu hipóteses de responsabilidade objetiva em que não há

análise da existência de atividade de risco.

a) Verdadeiro

b) Falso

Questão 6

(TRF - 4ª REGIÃO - 2010 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Federal) O advogado que

eventualmente perder o prazo de interposição de recurso contra decisão

prejudicial ao seu constituinte:

a) Responderá pelos danos causados em responsabilidade objetiva.

b) Nada responderá já que é de seu livre-arbítrio recorrer ou não.

c) Responderá por vício na prestação do serviço, devendo saná-lo.

d) Responderá pelos danos causados, mediante verificação de culpa.

e) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

Questão 7

(TJ-PR - 2010 - TJ-PR – Juiz) O fabricante, o produtor, o construtor, nacional

ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência

de culpa (responsabilidade civil objetiva) pela reparação dos danos causados

aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,

montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus

produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos. Partindo desse contexto, marque a alternativa INCORRETA:

a) O produto é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor

qualidade ter sido colocado no mercado.

b) O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele

legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias

relevantes, entre as quais a sua apresentação; o uso e os riscos que

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 25

razoavelmente dele se esperam e a época em que foi colocado em

circulação.

c) O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não serão

responsabilizados quando provarem que não colocaram o produto no

mercado; ou quando, embora tenham colocado o produto no mercado, o

defeito inexiste; ou ainda quando por culpa exclusiva do consumidor ou

de terceiro.

d) O comerciante é igualmente responsável; quando o fabricante, o

construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;

quando o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,

produtor, construtor ou importador; ou não conservar adequadamente

os produtos perecíveis.

Questão 8

Considere a seguinte situação hipotética. Em razão de falha no sistema de

freios do automóvel de sua propriedade, recém-adquirido e com poucos

quilômetros rodados, Fábio atropelou Silas. Nessa situação hipotética, Silas

pode acionar a montadora do veículo, sob o argumento da ocorrência de

acidente de consumo, em virtude de ser consumidor por equiparação.

a) Verdadeiro

b) Falso

Questão 9

Assinale a afirmativa correta:

a) Não é admitido, pela doutrina e pela jurisprudência, enquadramento dos

riscos de desenvolvimento como causa para responsabilidade civil pelo

fato do produto.

b) Em se tratando de ações de responsabilidade civil de fornecedor de

produtos e serviços de consumo, o réu que houver contratado seguro de

responsabilidade não poderá chamar ao processo o segurador, uma vez

que o CDC veda qualquer espécie de intervenção de terceiros nesse tipo

de ação.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 26

c) No âmbito do CDC, a responsabilidade civil é em regra subjetiva e

individual, tendo como exceção a responsabilidade do profissional liberal.

d) Uma pessoa jurídica contratou os serviços de uma empresa de

transporte aéreo de valores para transportar vários documentos e

instrumentos profissionais de São Paulo para o Rio de Janeiro. Ocorre

que, ao efetuar o transporte, a aeronave da contratada caiu sobre uma

residência localizada na cidade do Rio de Janeiro. Nesse caso, as pessoas

atingidas em solo, vítimas do acidente, devem ser consideradas

consumidoras, em conformidade com o que dispõe o CDC.

Questão 10

Um exemplo da importância do desenvolvimento da doutrina em relação aos

riscos de desenvolvimento é o caso da “Síndrome da Talidomida”. A Talidomida

é um medicamento que foi desenvolvido na Alemanha em 1954, inicialmente

como sedativo, usado para controlar a ansiedade, tensão e náuseas. Em 1957 a

Talidomida passou a ser comercializada mundialmente, mas apenas alguns

anos depois, em 1960, descobriu-se que o referido medicamento, quando

consumido por gestantes nos 3 (três) primeiros meses de gestação, interfere na

formação do feto, gerando casos de Focomelia, síndrome caracterizada pelo

encurtamento dos membros junto ao tronco do feto, podendo provocar ainda

problemas visuais, auditivos, na coluna vertebral e em casos mais raros,

problemas cardíacos e no tubo digestivo. Assim, a talidomida foi retirada do

mercado a partir de 1961. (Fonte: http://www.talidomida.org.br/oque.asp)

a) Verdadeiro

b) Falso

Probatio diabolica: Mesmo que prova diabólica, é aquela modalidade de

prova impossível ou excessivamente difícil de ser produzida como, por exemplo,

a prova de um fato negativo.

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 27

Aula 4

Exercícios de fixação

Questão 1 - A

Justificativa: Essa é a posição majoritária na doutrina, que entende pela

manutenção da responsabilidade subjetiva como regra geral, sendo que a

responsabilidade objetiva somente seria aplicável nas hipóteses previstas

expressamente por lei, ou na hipótese do parágrafo único do Artigo 927 e do

Artigo 931 do Código Civil.

Questão 2 - D

Justificativa: A letra D está correta, conforme preceitua o Artigo 931 do CCB:

“Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais

e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados

pelos produtos postos em circulação.”

Questão 3 - D

Justificativa: Expressamente o parágrafo único do Artigo 927 adota a teoria do

risco criado, a qual imputa o dever de indenizar a toda atividade que

habitualmente exercida gere riscos de danos a outrem, independentemente

dessa atividade trazer benefício ou não para o agente causador do dano.

Questão 4 - A

Justificativa: Por óbvio que todo aquele processo de Constitucionalização e

Repersonalização da responsabilidade civil possui efeito direto sobre a

modificação desta regra na legislação civil brasileira, pois prepondera a função

reparatória/compensatória da nossa disciplina em nítido respeito ao princípio da

dignidade da pessoa humana, bem como passa a influenciar a disciplina

reparatória também o princípio da solidariedade social.

Questão 5 - A

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 28

Justificativa: O legislador civil não previu hipóteses de responsabilização sem a

necessidade de comprovação de culpa somente quando a atividade

desenvolvida pelo agente gera risco de dano a terceiro, mas impõe a

responsabilização objetiva em situações diversas, em que não se discute o risco

da atividade, como, por exemplo, responsabilidade do habitante pela queda de

objeto de prédio (Artigo 938 do CCB), responsabilidade dos pais, tutores ou

curadores pelos atos dos filhos, tutelados ou curatelados (Artigo 932, incisos I e

II do CCB).

Questão 6 - D

Justificativa: O Artigo 14, § 4º do CDC estabelece que a responsabilidade

pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Contudo, na situação em comento, se fosse uma questão subjetiva, deveria ser

examinada a aplicabilidade da Teoria da Perda de uma Chance.

Questão 7 - A

Justificativa: Artigo 12, § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato

de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

Questão 8 - A

Justificativa: O Código de Defesa do Consumidor estabelece no seu Artigo 17

que, para os efeitos desta Seção (Responsabilidade pelo Fato do Produto),

equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

Questão 9 - D

Justificativa: A alternativa “a” está equivocada, pois não há posicionamento

unânime na doutrina e na jurisprudência sobre a possibilidade de

responsabilidade civil por riscos de desenvolvimento, sendo que parte da

doutrina admite a sua inclusão como hipótese de responsabilidade pelo fato do

produto e outra parte entende que esta circunstância caracteriza excludente da

responsabilidade civil, conforme preceitua o Artigo 12, § 1º, inciso III do CDC.

A alternativa “b” está incorreta, pois segundo o CDC:

RESPONSABILIDADE CIVIL: NOVAS TENDÊNCIAS 29

Artigo 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e

serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão

observadas as seguintes normas:

II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao

processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de

Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o

pedido condenará o réu nos termos do Artigo 80 do Código de Processo Civil.

Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a

existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o

ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a

denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o

litisconsórcio obrigatório com este.

A assertiva “c” está equivocada, pois no âmbito do CDC a regra é a

responsabilidade civil objetiva e solidária entre os fornecedores, com exceção

da responsabilidade dos profissionais liberais que demanda comprovação de

culpa.

A alternativa “d” está correta, porque se refere à categoria dos consumidores

por equiparação prevista no Artigo 17 do CDC.

Questão 10 - A

Justificativa: A doutrina tem citado como exemplo de risco de desenvolvimento

o caso da Talidomida, pois quando do desenvolvimento do medicamente não se

pôde identificar, pelas técnicas existentes à época, eventuais riscos para o

consumidor, porém após um período de utilização do produto ou serviço

constatou-se graves danos que poderiam acarretar ao feto de mulheres

grávidas que administrassem o medicamento.