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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NO ACIDENTE DE TRABALHO CLEITON WILLIAM KRAEMER POERNER Itajaí/SC, Dezembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURSCURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NO ACIDENTE DE TRABALHO

CLEITON WILLIAM KRAEMER POERNER

Itajaí/SC, Dezembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURSCURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NO ACIDENTE DE TRABALHO

CLEITON WILLIAM KRAEMER POERNER

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. RICARDO CÓRDOVA DINIZ

Itajaí/SC, dezembro de 2008

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AGRADECIMENTO

A Deus, que antes de tudo me concedeu o dom da vida, agraciando-me com este momento

especial.

Aos meus pais, que em todos os momentos da minha vida mostraram-se presentes, amparando-

me e apoiando-me, abdicando muitas vezes deles mesmos em meu proveito.

Meus avós, presentes ou não, que certamente vibram comigo neste momento de vitória.

Ao meu irmão, que sempre me incentivou aos estudos.

A minha namorada Cauê, que esteve comigo em muitos momentos difíceis.

Agradeço, ainda, a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para que este sonho se tornasse possível, inclusive aos fiéis amigos.

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DEDICATÓRIA

Esta monografia é dedicada aos meus queridos pais, que nos momentos fáceis e difíceis

estiveram ao meu lado.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí/SC, dezembro de 2008.

Cleiton William Kraemer PoernerGraduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Cleiton William Kraemer Poerner,

sob o título A Responsabilidade Civil do Empregador no Acidente de Trabalho, foi

submetida em 20.11.2008 à banca examinadora composta pela professora: Msc.

Rosane Maria Rosa, e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí, dezembro de 2008.

Ricardo Córdova DinizOrientador e Presidente da Banca

Antônio A. LapaCoordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

OIT Organização Internacional do Trabalho

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CC/2002 Código Civil de 2002

NR Normas Regulamentadoras

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ROL DE CATEGORIAS

Responsabilidade civil

“A responsabilidade é uma obrigação de reparar um dano, seja por decorrer de

uma culpa ou de outra circunstância legal que a justifique, como a culpa

presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva”1

Responsabilidade civil objetiva

“é aquela decorrente dos princípios da solidariedade social e da justiça

distributiva, nascida pela necessidade de indenizar em situações que seria

impossível se provar a culpa.”2

Empregador

“Tratando-se de conceito estritamente relacional, a caracterização da figura do

empregador importa na simples apreensão e identificação dos elementos fático-

jurídicos da relação de emprego, aduzindo-se aduzindo-se que o tipo legal do

empregador estará cumprido por aquele que se postar no pólo passivo da relação

empregatícia formada.”3

1 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Responsabilidade Civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 7. v.2 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona, Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, 4ª ed. rev. atual. e reform. – São Paulo: Saraiva,2006.3 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 393.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................... XiINTRODUÇÃO...................................................................................................... 01

CAPÍTULO 1........................................................................................................ 03O EMPREGADOR................................................................................................ 03

1.1 CONCEITO..................................................................................................... 031.2 EMPRESA...................................................................................................... 041.3 ESPÉCIES DE EMPREGADOR..................................................................... 051.3.1 Empresa de Trabalho Temporário............................................................ 051.3.2 Empregador Rural...................................................................................... 061.3.3 Empregador Doméstico............................................................................. 061.3.4 Grupo de Empresas................................................................................... 071.3.5 Consórcio de Empregadores Rurais........................................................ 081.3.6 Dono de Obra............................................................................................. 091.4 EMPREGADOR POR EQUIPARAÇÃO......................................................... 091.5 SUCESSÃO DE EMPREGADORES.............................................................. 101.5.1 Espécies de Sucessões............................................................................. 111.5.1.1 Situações-tipo Tradicionais de Sucessão.......................................................... 121.5.1.2 Situações-tipo Novas de Sucessão................................................................... 121.5.2 Requisitos da sucessão trabalhista........................................................ 121.5.2.1 Transferência de unidade econômico-jurídica................................................... 131.5.2.2 Continuidade na prestação laborativa............................................................... 141.5.3 Efeitos da sucessão trabalhista............................................................... 151.5.3.1 Posição Jurídica do sucessor empresarial........................................................ 151.5.3.2 Posição Jurídica do empregador sucedido....................................................... 161.5.4 Cláusula de Não Responsabilidade......................................................... 16

CAPÍTULO 2......................................................................................................... 18O ACIDENTE DE TRABALHO............................................................................. 18

2.1SUSCINTO HISTÓRICO DAS LEIS ACIDENTÁRIAS................................... 182.2 ESPÉCIES LEGAIS DE ACIDENTE DE TRABALHO................................... 192.2.1 Acidente Tipo............................................................................................. 212.2.1.1 Caracterização.................................................................................................. 222.2.1.2 Fato Causador................................................................................................... 232.2.2 Nexo Epidemiológico................................................................................. 252.3 CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO................................................. 252.3.1 Requisitos................................................................................................... 272.3.1.1 Causalidade....................................................................................................... 272.3.1.2 Prejudicialidade................................................................................................. 27

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2.3.1.3 Nexo etiológico ou causal.................................................................................. 272.4 DOENÇAS OCUPACIONAIS......................................................................... 272.4.1 Conceito...................................................................................................... 282.4.2 Espécies de doenças ocupacionais........................................................ 302.4.2.1 Doença profissional........................................................................................... 302.4.2.2 Doença do trabalho........................................................................................... 312.4.2.3 Doenças provenientes de contaminação acidental........................................... 322.5 NORMAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO............................................... 322.5.1 Organização Internacional do Trabalho................................................... 342.5.1.1 Eficácia jurídica das Convenções da OIT......................................................... 352.5.1.2 Principais convenções sobre saúde do trabalhador.......................................... 352.5.2 Constitucionalização do direito à proteção à saúde do trabalhador... 362.5.2.1 Direitos Constitucionais de primeira geração.................................................... 372.5.2.2 Direitos Constitucionais de terceira geração..................................................... 382.5.3 Proteção à saúde sob enfoque constitucional....................................... 39

CAPÍTULO 3......................................................................................................... 42A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR.......................................... 42

3.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL............................................... 423.1.1 Abuso de direito como fundamento da obrigação de indenizar........... 433.1.2 O ilícito como fato gerador da responsabilidade.................................... 443.1.3 Teoria da Graduação da Culpa................................................................. 453.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL................................................ 463.2.1 Responsabilidade civil subjetiva.............................................................. 463.2.2 Responsabilidade civil objetiva................................................................ 473.2.2.1 Risco-proveito.................................................................................................... 493.2.2.2 Risco profissional.............................................................................................. 493.2.2.3 Risco de autoridade........................................................................................... 503.2.2.4 Risco excepcional.............................................................................................. 503.2.2.5 Risco criado....................................................................................................... 513.2.2.6 Risco integral..................................................................................................... 523.3 NATUREZA DOS DANOS DECORRENTES DO ACIDENTE DE TRABALHO.........................................................................................................

52

3.3.1 Danos materiais......................................................................................... 533.3.1.1 Dano emergente................................................................................................ 543.3.1.2 Lucro cessante.................................................................................................. 553.3.2 Danos morais........................................................................................... 563.3.2.1 Dispositivos legais............................................................................................. 563.3.2.2 Conceito............................................................................................................ 573.3.2.3 Aferição dos danos morais................................................................................ 573.3.2.4 Valor Indenizatório............................................................................................. 583.3.3 Dano estético.............................................................................................. 593.3.3.1 Cumulação com danos morais.......................................................................... 603.4 REQUISITOS PARA RESPONSABILIDADE INDENIZATÓRIA.................... 623.4.1 Dano............................................................................................................ 623.4.2 Nexo causal................................................................................................ 633.4.2.1 Nexo concausal................................................................................................. 643.4.2.2 Rompimento do nexo causa.............................................................................. 65

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3.4.2.2.1 Culpa exclusiva da vítima............................................................................... 653.4.2.2.2 Caso fortuito ou força maior........................................................................... 663.4.2.2.3 Fato de terceiro.............................................................................................. 673.4.3 Culpa........................................................................................................... 673.4.3.1 Modalidades de culpa........................................................................................ 683.4.3.2 Graus de culpa.................................................................................................. 693.4.3.3 Culpa concorrente da vítima.............................................................................. 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 72REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS.............................................................. 74

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RESUMO

O presente trabalho sobre a responsabilidade civil no

acidente de trabalho encontra-se numa fase de grandes discussões, ante sua

novidade no âmbito da Justiça do Trabalho, além das diversas controvérsias

estabelecidas.

Atualmente, muito se discute acerca da responsabilidade a

ser aplicada quando da ocorrência de um acidente no ambiente de trabalho, das

indenizações dele decorrentes e suas quantificações.

A jurisprudência, que diferentemente dos dispositivos legais

se atualiza constantemente, será de grande valia para o desenvolvimento da

presente pesquisa, uma vez que trata incessantemente do tema proposto.

Ademais, verifica-se que o código civil, legislação pertinente

às indenizações decorrentes de ato ilícito, aí considerado o acidente de trabalho,

será exaustivamente trazido à pesquisa, ante a especificidade do tema.

No que se trata da Consolidação das Leis do Trabalho,

tendo em vista que não trata especificamente dos acidentes de trabalho,

contribuirá com o fornecimento do processo a ser aplicado.

Ainda, a Constituição da República Federativa do Brasil,

com a Emenda Constitucional n. 45, irá determinar a competência da Justiça do

Trabalho para processar e julgar as ações relativas ao acidente de trabalho,

motivo pelo qual será subsidiariamente utilizada.

Para tanto, serão utilizadas como base legal o Decreto-Lei

n. 5.452 de 1943, a Lei n. 10.406 de 2002, e a Constituição da República

Federativa do Brasil.

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Como o tema mostra-se complexo e controvertido na

Justiça brasileira, revela-se como apropriado para a realização de monografia

para colação de grau no curso de direito, além de sua notória relevância social.

xii

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a análise da

responsabilidade civil do empregador na ocorrência do acidente de trabalho

O seu objetivo é a análise das diversas modalidades de

responsabilidade civil no acidente de trabalho, seus efeitos e aplicação prática.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do

empregador, suas diferentes espécies, conceitos e atividades.

No Capítulo 2, tratando de acidente de trabalho, o que vem a

ser, como ocorre, as diferentes formas.

No Capítulo 3, tratando de responsabilidade civil, onde são

aplicados os conceitos dos capítulos 1 e 2, relacionados entre sí, analisando-se

ainda a responsabilidade civil num todo.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre a responsabilidade civil do empregador no acidente de trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

A responsabilidade a ser aplicada é a subjetiva, tendo em vista a previsão legal existente.

A empresa poderá ser condenada a indenizar o empregado por danos morais, materiais e estéticos.

O empregador poderá ser isentado de responsabilidade na ocorrência de culpa exclusiva das vítimas.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

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o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

2

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ΧΑΠ⊆ΤΥΛΟ 1

O EMPREGADOR

1.1CONCEITO

Para efeitos de estudo didático do tema proposto, antes de

mais nada se faz necessária a análise do artigo 2.°, caput, da CLT, que assim

estabelece:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.4

Argumenta DELGADO, que “Tratando-se de conceito

estritamente relacional, a caracterização da figura do empregador importa na

simples apreensão e identificação dos elementos fático-jurídicos da relação de

emprego, aduzindo-se aduzindo-se que o tipo legal do empregador estará

cumprido por aquele que se postar no pólo passivo da relação empregatícia

formada.”5

Segundo entendimento firmado pelo nobre doutrinador

colacionado acima, o termo “empresa”, expresso no artigo 2. da CLT estaria

tecnicamente equivocado, tendo em vista que, para a caracterização do

empregador, bastaria a análise da existência ou não do vínculo empregatício

havido entre as partes.

O vínculo empregatício, por sua vez, é tratado no artigo 3.°

da CLT:

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

4 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 23 abr. 2008.5 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 393.

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Nessa linha de pensamento, em havendo a subordinação,

não-eventualidade e salário, indiferente a pessoa que contrata, seja ela física ou

jurídica, este será considerado, para efeitos conceituais, empregador.

1.2EMPRESA

Como o dispositivo infraconstitucional destacou de forma

proposital a pessoa jurídica como empregadora, merece exposição à empresa.

Segundo MARTINS, a empresa pode ser definida da

seguinte maneira:

“A empresa é a atividade organizada para a produção ou circulação de bens e serviços para o mercado, com fito de lucro.

O essencial em qualquer empresa, por natureza, é que ela é criada com a finalidade de se obter lucro na atividade. Normalmente, o empresário não tem por objetivo criar empresa que não tenha por finalidade o lucro. A exceção à regra, são as associações beneficentes, as cooperativas, os clubes, etc. Lógico também que a empresa pode ter por finalidade a obtenção de outros fins, mas o principal é o de alcançar o lucro; mas também é possível dizer que a finalidade principal da empresa não é o lucro, pois este constitui o resultado da atividade empresarial.”6

Para efeitos de conceituação à luz do direito comercial,

REQUIÃO expõe:

“[...] é o complexo de bens materiais e imateriais e relações jurídicas que se reúnem como um todo unitário, em função dinâmica e finalidade econômica fixadas por seus titulares. É a organização dos fatores de produção (bens, relações, direitos e obrigações) a serviço de um fim econômico previamente definido.”7

Não obstante o empregador não seja a empresa, esta e o

seu estabelecimento comercial possuem grande significância no direito do

trabalho, pois em diversas oportunidades, como na caracterização do grupo

econômico, ou mesmo da sucessão de empresas, o complexo de bens materiais

e imateriais acentuam a integração objetiva da relação de emprego.

6 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 176.7 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 1.° Volume, 22.ª ed., São Paulo: Saraiva, p. 57.

4

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Salienta-se desde já que a empresa poderá ser nacional ou

estrangeira, pública (devendo então seguir normas específicas para a

contratação), ou privadas, unipessoais ou coletivas, locais, regionais, nacionais ou

multinacionais, não importando sua classificação para o estudo do direito do

trabalho, no que corresponde a conceituação.

1.3ESPÉCIES DE EMPREGADOR

Dentro do gênero empregador, que engloba várias espécies

de empregadores, alguns deles são citados de forma individualizada.

1.3.1Empresa de Trabalho Temporário

De acordo com MARTINS, “A empresa de trabalho

temporário é a pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade consiste em

colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores,

devidamente qualificados e por ela assistidos, [...].”8

Desde já se exclui a possibilidade de contrato temporário no

âmbito rural, uma vez que a própria Lei que regulamenta o assunto, a de n.

6.019/74, expressamente definiu como urbana a empresa.

Ressalte-se desde já que a Lei autoriza a contratação de

profissionais em caráter temporário em certas situações, senão vejamos o artigo

2.°:

“Art. 2º - Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou à acréscimo extraordinário de serviços.”9

É necessária a necessidade transitória de substituição de

pessoal permanente ou acréscimo extraordinário de serviço, sendo que, em

8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 180.9 BRASIL. Lei Ordinária nº 6.019 de 03 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6019.htm. Acesso em 23 abr. 2008.

5

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inexistindo qualquer ima dessas situações, poderá ser pleiteada a anulação do

contrato temporário firmado, pleiteando-se o vínculo empregatício diretamente

com a empresa tomadora do serviço.

1.3.2Empregador Rural

O empregador rural é conceituado pelo artigo 3.° da Lei n.°

5.889/73:

“Art. 3º - Considera-se empregador, rural, para os efeitos desta Lei, a pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agro-econômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados.”10

Para MARTINS, o conceito é mais amplo:

“Empregador rural não é apenas a pessoa que está na área rural. O sítio pode estar no âmbito urbano e o empregador ser rural. Logo, o importante é a atividade exercida pelo empregador, atividade agroeconômica, de agricultura ou pecuária.”11

Diferencia-se o empregador rural da família que possui uma

pequena propriedade no âmbito rural, pela exploração ou não da atividade

econômica, enquanto o empregador rural explora a atividade na área rural, e o

empregador urbano na cidade.

1.3.3Empregador Doméstico

Para MARTINS, o empregador doméstico é:

“[...] a pessoa ou família que, sem finalidade lucrativa, admite empregado doméstico para lhe prestar serviços de natureza contínua para seu âmbito residencial”12

O empregador doméstico deverá ser, necessariamente,

pessoa física, vedada a possibilidade de contratação por pessoa jurídica, sendo

necessário ainda que a atividade desempenhada não objetive o lucro.

10 BRASIL. Lei Ordinária nº 5.889 de 08 de junho de 1973. Estatui normas reguladoras do trabalho rural. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5889.htm. Acesso em 23 abr. 2008.11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 18112 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 181

6

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1.3.4Grupo de Empresas

A Legislação Trabalhista conceitua o grupo de empresas no

artigo 2.°, §2.°, a seguir transcrito:

“Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiver sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.”13

O conceito de grupo de empresas é fornecido por

DELGADO:

“[...] a figura resultante da vinculação jus trabalhista que se forma entre dois ou mais entes favorecidos direta ou indiretamente pelo mesmo contrato de trabalho, em decorrência de existir entre esses entes laços de direção ou coordenação em face de atividades industriais, comerciais, financeiras, agroindustriais ou de qualquer outra natureza econômica.”14

Necessário se faz para a formação do grupo econômico a

existência de duas ou mais empresas, interligadas entre sí.

Essa análise torna-se mais fácil quando há uma empresa-

mãe, e suas subsidiárias, formando-se uma holding, onde aquela possui

interferência direta nas demais.

O contrato de trabalho firmado pelo empregado com uma

empresa deverá aproveitar as demais, pois o empregador em sí pode ser

considerado uma empresa, havendo a possibilidade de transferências sem

qualquer intervenção.

Contudo, não há possibilidade de início do processo de

conhecimento em desfavor de uma delas, e a execução recair sobre outra, que

não foi parte integrante daquela lide originária.

13 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 23 abr. 2008.14 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 399.

7

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1.3.5Consórcio de Empregadores Rurais

A modalidade de empregadores rurais consorciados possui

previsão na Portaria n.° 1.964 de 1.° de dezembro de 1999, do Ministério do

Estado do Trabalho e do Emprego.

Apesar de anteriormente o consórcio não pode ser

reconhecido como empregador, após a edição da Lei n. 10.256/01, essa realidade

modificou-se.

O artigo 25 A do referido Diploma Legal estabelece:

“Equipara-se ao empregador rural pessoa física o consórcio simplificado de produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado em cartório de títulos e documentos.”15

Os consorciados deverão ainda indicar um gerente, com

plenos poderes para administrar a colocação de trabalhadores, o qual poderá ser

o preposto em eventual ação trabalhista, bem como deverá ser indicado endereço

para citação na reclamatória.

Em havendo o cumprimento fiel dos dispositivos inerentes

ao consórcio, possível a caracterização do vínculo empregatício, que será

auferido pela presença, em especial, da pessoalidade na prestação da atividade.

1.3.6Dono de Obra

Via de regra, o dono da obra não pode ser considerado

como empregador, uma vez que não assume os riscos da atividade econômica.

MARTINS esclarece:

“O dono de obra não pode ser considerado empregador, pois não assume os riscos da atividade econômica, nem tem o intuito de

15 BRASIL. Lei Ordinária nº 10.256, de 9 de julho de 2001. Altera a Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, a Lei no 8.870, de 15 de abril de 1994, a Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e a Lei no

9.528, de 10 de dezembro de 1997. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10256.htm. Acesso em 29 out. 2008

8

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lucro na construção ou reforma de sua residência. O aumento de patrimônio, em razão da construção realizada, não pode ser considerado risco da atividade econômica, nem se enquadra o dono da obra no conceito de empresa.”16

No caso, as atividades exercidas pelo dono da obra são

destinam-se ao mercado com o fito lucrativo, mas sim a necessidade de sua

moradia.

Existem ressalvas quando o dono da obra são construtoras

ou incorporadoras, quando então o lucro da atividade é o interesse do tomador do

serviço, arcando assim com o risco da atividade e, conseqüentemente, com o

vínculo empregatício.

1.4EMPREGADOR POR EQUIPARAÇÃO

O §1.° do artigo 2.° da CLT trata dos empregadores por

equiparação:

“Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.”17

De forma teleológica, a CLT define que pessoas físicas, aí

entendidas os profissionais liberais, ou as instituições de beneficência, as

associações recreativas ou outras instituições que não objetivam o lucro são

considerados empregadores por equiparação.

Isso ocorre porque no artigo 2. °, caput, da CLT, foi definido

como empregador nato a pessoa jurídica, excluída a física, e também aquela que

explora atividade econômica.

Salienta-se que essa equiparação ocorre somente para

efeitos trabalhistas, conforme destacado por MARTINS, Sérgio Pinto:

16 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 18917 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 24 abr. 2008

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“Dessa forma, embora não sejam empresas no sentido estrito da palavra o profissional autônomo, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, como os sindicatos, se admitirem empregados, serão equiparados a empregador, exclusivamente para os efeitos da relação de emprego.”18

De forma genérica e usual, o empregador será assim

considerado se houver a existência do vínculo empregatício, tratado no artigo 3.°

da CLT, pouco importando se tratar de pessoa física ou jurídica.

1.5SUCESSÃO DE EMPREGADORES

A CLT possui dois artigos que tratam do tema proposto. O

artigo 10 e o artigo 448, que assim dispõem, sucessivamente:

“Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados.”19

“Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.”20

DELGADO conceitua a sucessão de empregadores da

seguinte forma:

“Consiste no instituto jus trabalhista em virtude do qual se opera, no contexto da transferência de titularidade de empresa ou estabelecimento, uma completa transmissão de créditos e assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos.”21

De forma prática, SAAD explica:

“A sucessão de empregador – a rigor – concretiza-se quando há uma substituição de sujeito na mesma relação jurídica. A vende a B seu estabelecimento comercial ou industrial. B substitui A na relação jurídico-laboral em que o outro pólo (ou sujeito) é o empregado. A norma do art. 10 (como a do art. 448 da CLT) é de ordem pública, e por isso, sobrepõe-se a qualquer disposição contratual ou acordo de vontades. Destarte, quando A vende a B seu estabelecimento e declara que permanece responsável por

18 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 190.19 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 26 abr. 200820 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 26 abr. 200821 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 409.

10

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todas as obrigações de natureza trabalhista, os empregados ignorarão tal ajuste para exigir de B (o novo empregador) o que lhes for devido por lei. Aquela obrigação é válida entre as duas partes – A e B, apenas; os empregados ficam alheios.”22

Importante ressaltar que na esfera trabalhista, onde os

Princípios da Continuidade e especialmente da Proteção imperam, as disposições

contratuais firmadas entre o alienante e adquirente não surtirão efeito,

especialmente por se tratarem de disposições inter partis, não atingindo os

direitos dos trabalhadores.

1.5.1Espécies de sucessões

GODINHO explica:

“A sucessão trabalhista verifica-se segundo fórmulas variadas de modificações empresariais. Distintas, são, pois, as situações-tipo de sucessão de empregadores, todas submetendo-se à regência dos arts. 10 e 448 da CLT. O essencial para a CLT é que as modificações intra ou interempresariais não afetem os contratos de trabalho dos respectivos empregados.”23

Nesse sentido, cabe a análise das diferentes situações-tipo

existentes na CLT, que prevêem a sucessão de empregadores.

1.5.1.1 Situações-tipo Tradicionais de Sucessão

A primeira situação-tipo em destaque diz respeito “alteração

na estrutura formal da pessoa jurídica que contrata empregaticiamente a força de

trabalho.”24

Essa modalidade trata da incorporação, cisão, fusão, da

modificação da modalidade societária, englobando-se, inclusive, a modificação de

firma individual para empresa societária.

A segunda forma de situação-tipo concerne à “substituição

do antigo titular passivo da relação empregatícia (o empregador) por outra pessoa

física ou jurídica.”25

22 SAAD, Eduardo Gabriel, et all; CLT comentada. 41. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 91.23 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 411.24 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 410.25 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 410.

11

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Nesta hipótese, ocorre a mudança da pessoa jurídica que

anteriormente dirigia o negócio, enquanto naquela, esta pessoa jurídica era

aumentada, diminuída, mas não substituída.

1.5.1.2Situações-tipo Novas de Sucessão

Essa nova interpretação dos dispositivos celetistas já

transcritos no trabalho, garantem que “qualquer mudança intra ou interempresarial

não poderá afetar os contratos de trabalho.”26

Nessa linha de pensamento moderno, a sucessão trabalhista

ocorreria com a transmissão de parte significativa do estabelecimento ou da

empresa de modo a afetar significativamente os contratos de trabalho.

1.5.2Requisitos da sucessão trabalhista

A sucessão trabalhista envolve, via de regra, dois requisitos

básicos, conforme MARANHÃO expõe: “a) que uma unidade econômico jurídica

seja transferida de um para outro titular, b) que não haja solução de continuidade

na prestação de serviços pelo obreiro.”27

1.5.2.1Transferência de unidade econômico-jurídica

A princípio, ou a transferência diz respeito ao controle da

sociedade ou ao conjunto desta, que se transfere como um todo.

Portanto, há sucessão trabalhista quando ingressa na

relação outro sujeito passivo, seja ele controlador de parte ou de todo o

estabelecimento.

Noutro norte, não há, pois, sucessão de empregadores

“no caso de venda de máquinas ou coisas singulares. A sucessão pressupõe a transferência de uma ara outra titular de uma organização produtiva, ainda que parte de um estabelecimento destacável como unidade econômica.”28

26 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 412.27 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 412.28 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 414.

12

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O título jurídico utilizado para efetuar a transferência é, em

princípio, indiferente. “Qualquer título jurídico hábil a operar transferência de

universalidades no Direito brasileiro (logo, compra e venda, arrendamento, etc.) é

compatível com a sucessão de empregadores.”29

Existem três situações interessantes para o direito do

trabalho: a primeira diz respeito a sucessão ocorrida na empresa concessionária

de serviço público. A segunda aos efeitos do arrendamento, e a terceira na

aquisição de acervos empresariais em hasta pública.

Na primeira, GODINHO explica:

“[...] prepondera entendimento de que, assumindo a nova empresa concessionário o acervo da anterior ou mantendo parte das relações jurídicas contratadas pela concessionária precedente, submete-se às regras imperativas dos dois preceitos celetistas, impositivos de obrigações e direitos trabalhistas prévios.”30

Na segunda hipótese, não existe qualquer óbice ao

reconhecimento da sucessão trabalhista, tendo em vista, especialmente, que o

título utilizado para a transferência do estabelecimento é indiferente.

Em se tratando de aquisição em hasta pública, o tema é

extremamente controvertido.

SAAD defende:

“Falência e arrematação de bens. Ausência de responsabilidade trabalhista do arrematante: Conforme o art. 141, da atual Lei de Falência, Lei n. 11.101, de 9.2.05, na falência, quando ocorrer a alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, (a) todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83, desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do ativo e (b) o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidente de trabalho.”31

29 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 414.30 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 414.31 SAAD, Eduardo Gabriel, et all; CLT comentada. 41. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 91.

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O Tribunal Superior do Trabalho já decidiu que “inexiste a

sucessão trabalhista, quando o acervo da empresa falida é adquirido em hasta

pública e repassado, sem qualquer ônus sobre ele incidente, para um terceiro

adquirente.”32

Por outro lado, DELGADO defende:

“É que objetivamente não há diferenciação substantiva entre esta e as demais situações em que se transfere a titularidade do estabelecimento ou empresa, preservando-se as relações de trabalho contratadas. Mas o título jurídico enfocado é tido como excepcional – submetido ao interesse de materializar a coisa julgada a que se refere -, sendo hábil, portanto, a neutralizar a regra geral jus trabalhista. Esclareça-se, contudo, que ainda assim emerge como relevante ao efeito elisivo aqui mencionado a previsão nos editais de hasta pública da ruptura propiciada pela aquisição do patrimônio a ser arrematado.”33

Conclui-se, portanto, que o tema é controverso, sendo

necessária a análise do edital de venda antes de qualquer conclusão precipitada.

1.5.2.2Continuidade na prestação laborativa

Apesar de não ser um requisito necessariamente obrigatório,

ele é muito importante para análise de inúmeras situações jurídicas.

DELGADO leciona:

“É que a presença do segundo requisito (ao lado, é claro, do primeiro já examinado), torna inquestionável a incidência do tipo legal celetista. Verificando-se a continuidade laborativa em cenário de transferência interempresarial haverá, indubitavelmente, sucessão de empregadores com respeito ao novo titular da empresa ou estabelecimento STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 147o.”34

Contudo, a falta da continuidade da prestação laborativa, faz

com que seja necessária análise mais cuidadosa do tipo de transferência

ocorrida, fazendo com que somente aquelas que afetarem de modo significativo

as garantias anteriores do contrato de emprego.

32 Trata-se de texto de ementa do Acórdão TST, 2. T., Processo RR-2.859/86; rel. Min. Barata Silva; DJ n. 238/86.33 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 415.34 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 416.

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1.5.3Efeitos da sucessão trabalhista

A ordem jurídica objetiva, com a sucessão trabalhista, a

manutenção dos efeitos dos contratos já existentes, e que esses não sejam

afetados no contexto intra ou interempresarial.

Duas são as análises necessárias para dimensionar os

efeitos da sucessão trabalhista: aqueles contraídos pelo novo empregador e

aqueles existentes pela empresa sucedida.

1.5.3.1Posição Jurídica do sucessor empresarial

A empresa sucessora, para efeitos na esfera trabalhista,

assume os direitos e obrigações da sucedida, por força de disposição legal.

Opera-se, portanto, a automática assunção dos contratos trabalhistas pelo novo

empregador.

MARTINS, explica em efeitos processuais:

“A empresa sucessora assume as obrigações trabalhistas da empresa sucedida e a sua posição no processo. Podem os bens da sucessora ser penhorados no processo, pois o empregador é a empresa, independentemente da mudança na sua estrutura ou na sua propriedade.”35

Maurício Godinho DELGADO vai além, explicando que

“Trata-se, assim, de efeitos jurídicos plenos, envolvendo tempo de serviço,

parcelas contratuais do antigo período, pleitos novos com relação ao período

iniciado com a sua transferência, etc.”36

1.5.3.2Posição Jurídica do empregador sucedido

Apesar do tema não ser pacífico, DELGADO expõe a sua

visão:

“Contudo, a jurisprudência também tem inferido do texto genérico e impreciso dos arts. 10 e 448 da CLT a existência de responsabilidade subsidiária do antigo empregador pelos valores resultantes dos respectivos contratos de trabalho, desde que a modificação ou transferência empresariais tenham sido aptas a

35 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.23. ed.São Paulo: Atlas, 2006, p. 191.36 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 422.

15

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afetar (arts. 10 e 448) os contratos de trabalho. Ou seja, as situações de sucessão trabalhista propiciadoras de um comprometimento das garantias empresariais deferidas aos contratos de trabalho seriam, sim, aptas a provocar a incidência da responsabilização subsidiária da empresa sucedida.”37

Significa dizer então, que a jurisprudência tem ampliado as

possibilidades de responsabilização subsidiária do antigo titular do

empreendimento, além das situações de fraude.

1.5.4Cláusula de Não-responsabilidade

É comum no meio empresarial a estipulação de cláusula de

não responsabilidade no ato da aquisição de estabelecimentos comerciais em sua

universalidade, prevendo-se que o adquirente responderá na esfera trabalhista

somente a contar da transferência efetiva do estabelecimento.

Para efeitos jus trabalhistas, referida cláusula não opera

qualquer direito.

DELGADO assevera:

“Tais cláusulas restritivas da responsabilização trabalhista não têm qualquer valor para o Direito do Trabalho.

À medida que o instituto sucessório é criado e regulado por normas jurídicas imperativas, torna-se irrelevante para o Direito do Trabalho a existência de cláusulas contratuais firmadas no âmbito dos empregadores envolvidos sustentando, por exemplo, que o alienante responderá por todos os débitos trabalhistas, até a data da transferência, sem responsabilização do adquirente. À luz da CLT, tais débitos transferem-se, sim, imperativamente ao adquirente.”38

Ressalte-se que apesar de não surtirem efeitos perante as

relações trabalhistas, ainda sim as cláusulas mostram-se importantes para efeitos

civis e comerciais, entre o adquirente e o alienante.

37 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 423.38 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2007, p. 422

16

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Tanto é verdade que aquelas garantias contratuais podem

assegurar ao adquirente o ressarcimento, através de ação de regresso, dos

prejuízos advindos do período anterior a aquisição.

ΧΑΠ⊆ΤΥΛΟ 2

O ACIDENTE DE TRABALHO

1.6SUSCINTO HISTÓRICO DAS LEIS ACIDENTÁRIAS

O incremento da industrialização à partir do século XIX deu

azo a ocorrência mais significativa de acidentes em decorrência da atividade

desenvolvida pelo obreiro, fazendo com que a Alemanha fosse pioneira na

elaboração de uma lei específica para tratar dos acidentes de trabalho.

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No Brasil, desde o início do século XX, diversos projetos

versavam sobre a instituição de uma lei específica para tratar do tema, advindo

daí o Decreto Legislativo n. 3.724 de 15 de janeiro de 1919, considerada a

primeira Lei acidentária brasileira.

O autor Hertz Costa descreveu essa lei como “significou a

emancipação da infortunística do cordão umbilical que a mantinha de alguma

forma presa ao direito comum, reforçando sua autonomia do direito trabalhista

específico, não obstante as resistências dos saudosistas da monarquia.”39

Quando da edição da segunda lei acidentária, o Decreto n.

24.637 de 10 de julho de 1934, o conceito de acidente passou a englobar também

as doenças profissionais atípicas, determinando o pagamento de seguro ou

depósito junto ao Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal para garantir o

pagamento das indenizações.

Dez anos após, com a edição da terceira lei acidentária, o

Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944, passou a incorporar as

concausas e o acidente in itinere, determinando ainda que o empregador

proporcionasse o máximo de segurança aos seus funcionários, tendo em vista

que muito mais valia a prevenção do que o pagamento de indenizações

posteriores, que não compensavam a perda do ente querido.

A quarta lei acidentária sobre os acidentes de trabalho, o

Decreto-lei n. 293 de 28 de fevereiro de 1967, foi na realidade um verdadeiro

retrocesso, tendo em vista que foi baixado por força de Ato Institucional,

atribuindo ao seguro de acidente caráter exclusivamente privado, permitindo ao

então INPS concorrer com as sociedades seguradoras.

Em 14 de setembro de 1967, foi promulgada a quinta lei

acidentária, de n. 5.316, restaurando diversos dispositivos do Decreto-lei 7.036,

transferindo novamente ao INPS o monopólio do seguro de acidente de trabalho,

criando plano específico de benefícios previdenciários acidentários.

39 COSTA, Hertz J. Acidentes do trabalho na atualidade, 2003, p. 44

18

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Ocorreu nova mudança em 19 de setembro de 1976, quando

foi promulgada a sexta Lei sobre o assunto, n. 6.367, mantendo as mesmas

diretrizes da lei anterior, aprimorando os conceitos de acidente de trabalho e

concausas. Inovou acrescentando a doença proveniente da contaminação

acidental do pessoal da área médica como situação equiparada a acidente do

trabalho.

Atualmente, está em vigor a Lei n. 8.213 de 24 de julho de

1991, considerada a sétima Lei acidentária, sendo disciplinados os temas

referentes ao acidente do trabalho nos artigos 19 a 23, regulamentados pelo

Decreto n. 3.048 de 06 de maio de 1999.

1.7ESPÉCIES LEGAIS DE ACIDENTE DE TRABALHO

Como ressaltado no tópico anterior, a legislação brasileira

não prevê de forma específica o acidente de trabalho em Legislação própria. Ele é

encontrado, a despeito do entendimento de diversos autores, juntamente com a

Legislação previdenciária.

O autor Cláudio Brandão, ao analisar o tema, discorre:

“A análise do texto legal possibilita que seja classificado o infortúnio laboral em espécies distintas:

a) acidente-tipo;

b) doenças ocupacionais, que compreendem:

- doenças profissionais;

- doenças do trabalho;

- doenças provenientes de contaminação acidental;

c) acidentes por equiparação, ocorridos no ambiente e no horário de trabalho:

- doenças provocadas por concausas;

- lesões provocadas por terceiros;

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- danos provocados por agressão injusta, sabotagem ou terrorismo;

- ofensas físicas intencionais, por causa ligada ao trabalho;

- acidentes causados por culpa de terceiro;

- lesões provenientes de pessoa privada no uso da razão;

- acidentes provocados por força maior;

d) acidentes por equiparação, ocorridos fora do ambiente e do horário de trabalho:

- na execução de ordem ou na realização de serviço sob autoridade do empregador;

- na prestação de serviço para evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

- em viagem de serviço;

- acidente de percurso;

- nos períodos de refeição e descanso;

- nos períodos em que estiver satisfazendo as necessidades biológicas.”40

Verifica-se que existem diversas modalidades de acidente

de trabalho, todos devidamente tratados na Lei de Benefícios Previdenciários.

1.7.1Acidente tipo

O acidente tipo é conceituado pelo artigo 19 da Lei 8.213,

que assim determina:

“Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução da capacidade, permanente ou temporária, para o trabalho.”41

40 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed.São Paulo: LTr, 2006, p. 119/12041 BRASIL. Lei Ordinária nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil.htm. Acesso em 07 maio 2008.

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Referida regra permanece praticamente inalterada desde a

edição do Decreto-lei n. 7.036 de 10 de novembro de 1944, definindo o critério de

acidente pelo efeito e não pela lesão.

Monteiro assim leciona:

“Trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de conseqüências geralmente imediatas, não sendo essencial a violência, podendo ocorrer sem provocar alarde ou impacto, ocasionando, meses ou anos depois de sua ocorrência, danos graves e até fatais, exigindo-se, apenas, o nexo de causalidade e lesividade.”42

Brandimiller vai além, esmiuçando o tema:

“No sentido genérico, acidente é o evento em si, a ocorrência de determinado fato em virtude da conjugação aleatória de circunstâncias causais. No sentido estrito, caracteriza-se também pela instantaneidade: a ocorrência é súbita e a lesão imediata. Os acidentes ocasionam lesões traumáticas denominadas ferimentos, externos ou internos, podendo também resultar em efeitos tóxicos, infecciosos ou mesmo exclusivamente psíquicos.

O acidente comporta causas e conseqüências, contudo não pode ser definido, genericamente, nem pelas causas nem pelas conseqüências. As circunst6ancias causais permitem classificar os acidentes em espécies: acidentes do trabalho, acidentes de trânsito, etc. As conseqüências também classificam os acidentes: acidentes com ou sem danos pessoais, acidentes com ou sem danos materiais, acidente grave, acidente fatal, etc.

Embora o termo dano pessoal seja juridicamente mais amplo, em infortunística refere-se às conseqüências físicas ou psíquicas decorrentes do acidente. O acidente do trabalho considerado pela regulamentação legal do Seguro de Acidentes do Trabalho é, portanto, toda ocorrência causa, fortuita e imprevista eu atende conjugadamente os seguintes requisitos: quanto à causa: o acidente que decorreu do exercício do trabalho a serviço da empresa – o que justifica o tipo: acidente do trabalho; quanto à conseqüência: o acidente que provocou lesão corporal ou perturbação funcional causando a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”43

42 MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 10.43 BRANDIMILLER, Primo A. Perícia Judicial em acidentes e doenças do trabalho, 1996, p. 145-146.

21

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Geralmente, o fato gerador do acidente típico mostra-se

como evento súbito, inesperado, externo ao trabalhador e fortuito no sentido de

que não foi provocado pela vítima.

Conforme o entendimento de Brandão, pode-se concluir por

acidente tipo o seguinte:

“É assim, um evento, em regra, súbito, ocorrido durante a realização do trabalho por conta alheia, que acarreta danos físicos ou psíquicos à pessoa do empregado, capazes de gerar a morte ou a perda, temporária ou permanente, de sua capacidade laboral.”44

Pode-se falar ainda como acidente puro, ocorrido durante as

atividades normais do empregado, que acarreta danos a sua saúde, seja ela física

ou psíquica.

1.7.1.1Caracterização

Para que seja caracterizado o acidente de trabalho típico, é

necessária a presença de alguns requisitos, dentre os quais a lesão corporal ou

mesmo perturbação funcional, sem os quais, não haverá acidente de trabalho.

OLIVEIRA, em seu ensinamento, escreve:

“É da essência do conceito de acidente do trabalho que haja lesão corporal ou perturbação funcional. Quando ocorre um evento sem que haja lesão ou perturbação física ou mental do trabalhador, não haverá, tecnicamente, acidente do trabalho. [...]. No entanto, nem sempre a perturbação funcional é percebida de imediato, podendo haver manifestação tardia com real demonstração do nexo etiológico com o acidente ocorrido.”45

Acrescenta ainda o mesmo autor, ao discorrer sobre o

assunto, que é necessária a morte, a perda ou redução da capacidade laborativa,

ao relatar:

44 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed.São Paulo: LTr, 2006, p. 123.45 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 45.

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“Além da lesão ou perturbação funcional, é necessário, para completar o conceito de acidente do trabalho, que o evento acarrete a morte, ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. A incapacidade temporária não significa necessariamente afastamento do trabalho, pode ser mesmo apenas o tempo para realizar um pequeno curativo ou da visita a um hospital, [...].”46

Necessária se faz, então, a comprovação do prejuízo havido,

sem o qual não ocorrerá acidente de trabalho

1.7.1.2Fato Causador

Em se tratando do fato causador, o autor Octávio Bueno

Magano elenca três requisitos:

“a) exterioridade, que corresponde à causa que não diz respeito à constituição org6anica da vítima, muito embora admita, excepcionalmente, que possa ter origem no esforço do trabalhador, como no caso das hérnias;

b) subitaneidade, que se relaciona à rapidez do acontecimento, ainda que a lesão tenha possibilidade de surgir posteriormente;

c) violência, significando o fato que se exterioriza de modo material, como numa explosão ou queda. Reconhece, todavia, ser possível ocorrer, de forma excepcional, gradualmente, como na inalação lenta de um gás ou mesmo num choque sonoro”47

O autor Brandão, ao citar obra de Álvaro Zocchio, destaca a

participação do homem neste certame:

“Álvaro Zocchio atribui a Heinrich a teoria que analisa a participação do homem na seqüência do acidente, que resulta dele e do meio, Daquele, em virtude de hereditariedade ou influências do meio social, que poderá torná-lo portador de caracteres negativos de personalidade, de caráter,de educação, delas advindo falhas que, no campo técnico, administrativo ou mesmo em trabalhos braçais, dão origem aos dois principais elos na cadeia do acidente: os atos inseguros, praticados pelas pessoas no desempenho de suas funções, e as condições inseguras, criadas ou mantidas no ambiente, resultando de ambos, de forma combinada ou não, o infortúnio, uma vez que representam as suas causas diretas. Do meio, em virtude dos riscos que lhe são próprios, ou que nele são criados, e que exigem ações corretas por parte do homem para que sejam

46 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 45.47 MAGANO, Octávio Bueno. Lineamentos de infortunística. Porto Alegre: José Bushatsky, 1976, p. 30/37.

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controlados, neutralizados e não se tornem fontes de acidentes.”48

Poder-se-ia admitir, ainda, a existência da causa direta, que

“[...] o nexo fica caracterizado quando o acidente ocorre pelo exercício do

trabalho a serviço da empresa. Nota-se uma vinculação imediata entre a

execução das tarefas e o acidente ou doença que afetou o empregado.”49

Ainda, pode-se considerar causalidade indireta, nos

seguintes termos:

“na causalidade indireta o fato gerador do acidente não está ligado à execução do serviço num sentido estrito, mas para oferecer maior proteção ao empregado, [...] podem ser enquadrados na causalidade indireta a agressão praticada por terceiro contra o empregado no local de trabalho; os acidentes decorrentes de desabamento, incêndio, casos fortuitos ou de força maior; os acidentes de trajeto, no deslocamento da residência para o trabalho ou deste para aquele e etc.”50

Levanta-se uma terceira hipótese, como sendo a concausa,

onde “o acidente continua ligado ao trabalho, mas ocorre por múltiplos fatores,

conjugando causas relacionadas ao trabalho, com outras extra laborais.”51

2.2.2 Nexo epidemiológico

Através do Decreto n. 6.042/2007, que alterou as

disposições da Lei n. 8.213/91, foi acrescentado o nexo epidemiológico como uma

das modalidades de acidente do trabalho.

O artigo 337, §3.° da referida Lei estabelece:

48 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed.São Paulo: LTr, 2006, p. 13349 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 13250 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 13351 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 45

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“O acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo.

Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID) em conformidade com o disposto na Lista B do Anexo II deste Regulamento.”52

Segundo as alterações trazidas, quando constatado que a

atividade do empregado possui uma grande quantidade de ocorrência de

determinada doença, restará comprovado o nexo de causalidade e por derradeiro,

o acidente de trabalho.

2.3 CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO

Muitos são os conceitos apresentados para definir-se

acidente de trabalho, dentre os quais, Irineu Antônio Pedrotti destaca:

“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporário.”53

O médico Brandimiller ensina:

“No sentido genérico, acidente é o evento em si, a ocorrência de determinado fato em virtude da conjugação aleatória de circunstâncias causais. No sentido estrito, caracteriza-se também pela instantaneidade: a ocorrência é súbita e a lesão imediata. Os acidentes ocasionam lesões traumáticas denominadas ferimentos, externos ou internos, podendo também resultar em efeitos tóxicos infecciosos ou mesmo exclusivamente psíquicos.O acidente comporta causas e conseqüências, contudo não pode ser definido, genericamente, nem pelas causas nem pelas conseqüências. As circunstâncias causais permitem classificar os

52 BRASIL. Decreto n.º 6.042, de 12 de fevereiro de 2007. Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999, disciplina a aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção - FAP e do Nexo Técnico Epidemiológico, e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6042.htm. Acesso em 29 outubro 2008.53 PEDROTTI, Irineu Antônio. Acidentes do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Universitária, 1998, p. 202.

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acidentes em espécies: acidentes do trabalho, acidentes de trânsito, etc. As conseqüências também classificam os acidentes: acidentes com ou sem danos pessoais, acidentes com ou sem danos materiais, acidente grave, acidente fatal, etc.”54

Maria Helena Diniz o vê como o “evento danoso que resulta

do exercício do trabalho, provocando no empregado, direta ou indiretamente,

lesão corporal, perturbação funcional ou doença que determine morte, perda total

ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”55

Nas palavras de Jayme Aparecido Tortorello, é o:

“[...] acidente sofrido pelo trabalhador, a serviço da empresa, e que ocorre pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho.”56

Apesar das diferentes conceituações, o acidente de trabalho

necessita, em sua essência, da demonstração do fato, dano e nexo de

causalidade.

2.3.1 Requisitos

O acidente de trabalho assenta-se em três requisitos, quais

sejam, causalidade, prejudicialidade e nexo causal

2.3.1.1 Causalidade

54 BRANDIMILLER, Primo A. Perícia Judicial em acidentes e doenças do trabalho. 1996, p. 145-14655 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 43356 TORTORELLO, Jayme Aparecido. Acidentes do Trabalho: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 9

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Pedrotti define a causalidade “Porque o acidente do

trabalho é um acontecimento, um evento que não é provocado, ao menos em

princípio, mas que acontece normalmente por acaso e, assim, não há dolo.”57

2.3.1.2 Prejudicialidade

Irineu Antônio Pedrotti ainda destaca a prejudicialidade

“Porque provoca lesão corporal ou perturbação funcional que pode causar a

morte, ou a perda, ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para

o trabalho.”58

2.3.1.3 Nexo etiológico ou causal

Neste, o autor Irineu A. Pedrotti jusitifica que “Consiste na

relação de causa e efeito entre o trabalho e o acidente típico (ou doença

profissional ou do trabalho equiparada ao acidente do trabalho). A ligação entre

ambos, id est, o fato de que o trabalho é a causa do infortúnio”59

2.4 DOENÇAS OCUPACIONAIS

As doenças ocupacionais, também conhecidas com LER

(Lesão por Esforço Repetitivo), vêm se tornando mais comuns no ambiente de

trabalho, atingindo grande parte da população, em seu período mais produtivo, na

maioria dos casos.

Esclarece Oliveira:

“O fenômeno da LER é hoje um fato incontestável e vem desafiando profissionais de diversas áreas do conhecimento científico, gerando perplexidade, debates acalorados, conclusões antagônicas , revisão de conceitos, muitas indagações e poucas certezas.

No entanto, independentemente das discussões dos especialistas, a síndrome das LER chegou, teima em permanecer e já conta

57 PEDROTTI, Irineu Antônio. Acidentes do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Universitária, 1998, p. 20358 PEDROTTI, Irineu Antônio. Acidentes do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Universitária, 1998, p. 20359 PEDROTTI, Irineu Antônio. Acidentes do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Universitária, 1998, p. 203

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com milhares de vítimas, atingindo dimensões de verdadeira epidemia.”60

Pela forma como o Mestre trata o assunto acima levantado,

verifica-se claramente a sua importância para o direito, em especial para as

regras de acidente de trabalho, onde a Lesão por esforço Repetitivo pode ser

enquadrada.

Júlio César de Sá da Rocha, em sua obra, demonstra que

esse problema é antigo, e de muito já se preocupava com as condições de

trabalho dos empregados, senão vejamos:

“No século XVIII, a preocupação esteve voltada para a melhoria da saúde de algumas profissões, a exemplo dos marinheiros na Inglaterra, França e Alemanha, sobretudo na erradicação do escorbuto e de outras doenças, embora somente tenha passado a ser objeto de reivindicação pelos trabalhadores a partir da Revolução Industrial”61

Os problemas havidos pelas doenças ocupacionais não se

mostram atuais, muito pelo contrário, reporta-se a períodos antigos.

2.4.1. Conceito

A Norma Técnica atual, baixada pela Ordem de Serviço da

Diretoria de Seguro Social n. 606, de 5 de agosto de 1998, prevê:

“Entendemos Lesões por Esforço Repetitivos – LER como uma síndrome clínica, caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não por alterações objetivas e que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrência do trabalho.

O termo LER é genérico, e o médico deve sempre procurar determinar o diagnóstico específico. Como se refere a diversas patologias distintas, torna-se difícil estabelecer o tempo necessário para uma lesão persistente passar a ser considerada como crônica. Além disso, até que a mesma patologia pode se instalar e evoluir de forma diferente, dependendo dos fatores etiológicos.

60 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 283.61 ROCHA, Júlio César de Sá da. Direito Ambiental do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 29.

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Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as lesões causadas por esforços repetitivos são patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, em conseqüência de trabalho realizado de forma inadequada. Assim, o nexo é a parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde a proposta da nova terminologia Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT”.62

Para Hertz Costa, são:

“[...] afecções, perturbações funcionais, lesões agudas ou crônicas de que podem se vitimar os trabalhadores, por força da atividade, de um trabalho ou profissão, na manipulação de materiais empregados ou por influência das condições e processos especiais de industrialização, produzindo dano físico ou psíquico, que os incapacita para a atividade laboral.”63

Maria Helena Diniz destaca ser uma “deficiência sofrida pelo

operário, em razão de sua profissão, que o obriga a estar em contato com

substâncias que debilitam o seu organismo ou exercer a sua tarefa, que envolve o

fato insalubre”.64

2.4.2 Espécies de doenças ocupacionais

Existe, de forma mais específica, a subdivisão da doença

ocupacional em doenças profissionais, doenças do trabalho, e também doenças

provenientes da contaminação acidental.

O artigo 20 da Lei n. 8.213/91 estabelece:

62 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL – LER: Lesões por esforços repetitivos – Normas Técnicas para avaliação da incapacidade, 1993, p. 763 COSTA, Hertz J. Acidentes do Trabalho na atualidade. Porto Alegre: Síntese, 2003, p. 7664 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 17, p. 433.

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“Art. 20. Consideram-se acidentes do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

III – a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade.”65

Essas subdivisões mostram-se importantes pela

especificidade trazidas pelos mais diferentes conceitos legais.

2.4.2.1 Doença profissional

A doença profissional, segundo Sebastião Geraldo de

Oliveira, é:

“aquela peculiar a determinada atividade ou profissão,

também chamada de doença profissional típica, tecnopatia ou ergopatia. O

exercício de determinada profissão pode produzir ou desencadear certas

patologias, sendo que, nessa hipótese, o nexo causal da doença com a atividade

é presumido.”66

Russomano destaca que, para serem assim caracterizadas,

exigem a presença de algumas características patogênicas, tais como:

“a) aparecimento dos sintomas de forma idêntica em vários trabalhadores que se dedicam à mesma profissão, no mesmo estabelecimento ou em estabelecimentos distintos;

b) ficar evidenciado que a doença tem como causa a atividade desenvolvida pelo trabalhador na empresa, seja pelas condições de serviço (subsolo, por exemplo), seja pelos métodos

65 BRASIL. Lei Ordinária nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm. Acesso em 23 abr. 2008.66 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 47

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(levantamento de peso pela força muscular), seja pelos materiais utilizados (tóxicos).”67

É necessário, então, que alguns requisitos sejam

devidamente demonstrados, conforme elencados acima.

2.4.2.2 Doença do trabalho

Humberto Theodor Júnior conceitua como “doenças comuns,

que, no entanto, numa determinada hipótese foram, excepcionalmente, geradas

pelas condições momentâneas do trabalho”68

Para a sua caracterização, é importante a análise de todas

as situações laborais em que era o empregado exposto, segundo entendimento

de Brandão:

“Na caracterização da enfermidade do trabalho e da prova pericial com o exame de todas as condições em que o labor era executado revela-se de importância fundamental. Isso porque os males que se incluem no seu conceito são passíveis de serem confundidos com doenças comuns, que não guardam correspondência com o serviço nem mesmo causadas ou agravadas pela execução, destacando-se, na sua caracterização, o período de tempo em que ocorreu a exposição ao agente agressivo.”69

Nesse contexto, a análise das condições de trabalho do

empregado mostram-se imprescindíveis.

2.4.2.3 Doenças provenientes de contaminação acidental

O Legislador, atento para a hipótese de o empregado

adquirir acidentalmente, infecção ou doença na execução da atividade, foi

67 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à lei de acidentes do trabalho. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, v. I, p. 26/27.68 THEODORO JÚNIO, Humberto. Acidentes do trabalho e responsabilidade civil comum. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 769 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 163

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esclarecido o seu conceito para que também fosse alcançado no caso de

contaminação ocasional.

Brandão esclarece que:

“é a situação de contágio, infecção ou de doença adquirida pelo empregado de forma imprevista, casual, fortuita durante a execução de suas tarefas, no local e em horário de trabalho ou outra circunstância amparada pelo legislador, que amplia o conceito de infortúnio (trajeto, durante as refeições, nos intervalos, dentre outros.)”70

Mesmo em se tratando de caso fortuito ou força maior, será

considerado acidente de trabalho.

2.5 NORMAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Vários foram os motivos que desencadearam a necessidade

de melhoria de condições de trabalho dos obreiros, dentre os quais podem ser

citados fatores como o militarismo existente na época.

Inicialmente, a CLT estabelece no artigo 157:

“Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.“71

Arnaldo Süssekind destaca:

“[...] motivos até mesmo de natureza militar, em virtude do grandes contingentes de trabalhadores serem declarados inaptos para o serviço militar, diante da precariedade do seu estado de saúde, motivado pelas deficientes condições de trabalho e de

70 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 16571 BRASIL. Decreto-lei nº5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em 23 abr. 2008.

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vida, provocando deterioração das forças armadas e de parte importante da população.”72

Cláudio Brandão pensa da mesma forma:

“As precárias condições de vida da classe trabalhadora, que originaram a questão social, propiciaram o incremento das discussões em torno do tema, em virtude de representarem uma grave ameaça à estabilidade das instituições liberais, comprometendo o processo de desenvolvimento econômico, aliado ao apoio da igreja, a partir da formulação da doutrina social baseada na tese do bem comum, de São Tomás de Aquino, ao lado da doutrina clássica do direito natural e da dignidade do trabalho como elemento essencial para a vida humana.”73

Apesar do estado possuir uma postura não intervencionista,

diante de todo o emaranhado de situações criadas, pouco a pouco foi-se

alterando essa estrutura, face a necessidade diante da comoção social, com a

criação da OIT, conforme relata Oliveira:

“As manifestações dos operários e as reivindicações estabelecidas em diversos congressos de trabalhadores, durante a Primeira Grande Guerra, levaram a conferência da Paz de 1919, da Sociedade das Nações, a criar pelo Tratado de Versailles a Organização Internacional do Trabalho – OIT -, com o propósito de dar às questões trabalhistas um tratamento uniformizado, com fundamento na justiça social.”74

Desde então, a Organização Internacional do Trabalho vem

realizando trabalhos para proteger a saúde do empregado.

2.5.1 Organização Internacional do Trabalho

Sobre sua finalidade, Flávia Piovesan ressalta:

“A finalidade desse organismo foi a de universalizar a justiça social nos aspectos relacionados ao trabalhador, sendo visto como um dos primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos humanos, além de representar o fim da época em que o Direito Internacional se restringia, em

72 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 3873 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 3974 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 63

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regra, ao tratamento das relações entre Estados, no âmbito estritamente governamental.”75

Merece destaque a entidade Internacional, segundo

Süssekind, pela sua atuação, pois:

“[...] a atividade da OIT também é marcada pela adoção de programas mundiais em temas de grande importância na atualidade e deve ser assinalada, no que toca à proteção ao trabalho, a elaboração , em 1976, do Programa Internacional para Melhorar as Condições de Trabalho e Meio Ambiente de Trabalho – PIACT, com objetivos amplos e variados, dentre os quais se destacam a prevenção ao acidente de trabalho e a adaptação do meio ambiente do trabalho às capacidades físicas e mentais dos trabalhadores, às formas de organização racional de trabalho, à ergonomia e às condições do meio onde vive o trabalhador (habitação, alimentação, saúde, educação, os serviços sociais, lazer, etc...)76

Verifica-se, portanto, que a atuação da OIT tem sido de

grande valia para garantir a segurança e saúde do trabalhador.

2.5.1.1 Eficácia jurídica das Convenções da OIT

Para que uma Convenção da OIT passe a ter eficácia

jurídica no direito Brasileiro, deve-se seguir um processo de integração no

Ordenamento Jurídico.

Sebastião Geraldo de Oliveira explica de forma geral o

processo de integração:

“A OIT realiza conferências com a participação de quatro delegados de cada Estado-Membro, sendo dois representantes do governo, um dos empregados e outro dos empregadores, reunidos em assembléia geral. Nessas assembléias são votadas as convenções e as recomendações.

75 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São paulo: Max Limonad, 2002, p. 12576 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 295

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As convenções adotadas pela OIT devem ser apresentadas ao órgão competente de cada Estado-Membro para fins de apreciação, sendo que, no caso do Brasil, essa competência é exclusiva do Congresso Nacional. Se for ratificada, a Convenção tem força normativa e passa a integrar o direito positivo do Estado-Membro.”77

Após todo o processo de incorporação das Convenções no

Sistema Jurídico Brasileiro, esses passam a fazer efeito nas normas Nacionais.

2.5.1.2 Principais convenções sobre saúde do trabalhador

É oportuno destacar algumas das convenções de maior

destaque para o estudo do tema proposto.

A Convenção n. 148, adotada na 63, reunião da Conferência

Internacional do Trabalho, realizada no ano de 1977, aprovada no Brasil pelo

Decreto Legislativo n. 56/81, ratificada em 14 de janeiro de 1982 e entrou em

vigor um ano após, em 14 de janeiro de 1983. Foi então promulgada pelo Decreto

n. 93.413/86.

Oliveira a resume o tema tratado como:

“[...] tem o propósito de prevenir e limitar os riscos profissionais no local de trabalho, provenientes da contaminação do ar, do ruído e vibrações. Para proteger os trabalhadores contra tais riscos, a legislação deverá adotar as medidas técnicas adequadas.”78

A própria convenção prevê a possibilidade do empregado

buscar informações sobre os riscos que está exposto, com as instruções a que

está exposto, com as instruções adequadas para se proteger, ou para a

prevenção e limitação dos riscos.

A Convenção n. 155, adotada na 67. Conferência

Internacional; do Trabalho, realizada em Genebra no ano de 1981. Foi aprovada

pelo Brasil pelo Decreto Legislativo n. 2/92, ratificada em 18 de maio de 1993, e

promulgada pelo Decreto n. 1.254/94.

77 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 8478 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 90

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OLIVEIRA destaca aspectos importantes:

“A Convenção determina que o país deve instituir uma política nacional em matéria de segurança, saúde dos trabalhadores e o meio ambiente de trabalho. Há três exigências para essa política: primeiramente, há que ser coerente; e em segundo lugar, deve ser colocada em prática e finalmente deve ser reexaminada periodicamente.”79

SÜSSEKIND avalia que “[...] é da citada Convenção a regra

que assegurou ao empregado o direito de por motivos razoáveis, interromper o

trabalho que acarretar perigo iminente ou representar gravidade para a sua vida”80

2.5.2 Constitucionalização do direito à proteção à saúde do trabalhador

Em oposição ao Constitucionalismo antigo, que possuía como

característica “a existência de direitos estamentais perante o monarca e

limitadores do seu poder”81, surge o constitucionalismo moderno, que é

conceituado como:

“[...] movimento político, social e cultural que, sobretudo a partir de meados do século XVIII, questiona nos planos políticos, filosófico e jurídico os esquemas tradicionais de domínio político, sugerindo, ao mesmo tempo, a invenção de uma nova fase de ordenação e fundamentação do poder político”82

Assim, nasce a criação de direitos humanos em gerações,

que não substituem umas as outras, mas servem juntas num processo de

integração.

2.5.2.1 Direitos Constitucionais de primeira geração

SARLET destaca:

“A primeira fase, porém, caracteriza-se pela afirmação e garantia da liberdade individual, além da organização do Poder Político e definição de instrumentos de sua limitação. Direitos e liberdades são os alicerces do constitucionalismo de então, mostrando-se

79 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 9180 SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. São Paulo: LTr, 1998, p. 39381 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 2002, p. 5282 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 2002, p. 52

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como direitos de defesa, demarcando ma zona de não-intervenção do Estado e uma esfera de autonomia individual em face de seu poder, [...]”83

São características dessa geração os “[...] direitos civis e

políticos, que, em grande parte, correspondem [...] à fase inicial do

constitucionalismo do ocidente”84

2.5.2.2 Direitos Constitucionais de segunda geração

Ingo Wolfgang Sarlet destaca que, nessa fase, os direitos:

“[...] podem ser considerados uma densificação do princípio da justiça social, além de corresponderem à reivindicação das classes menos favorecidas, de modo especial, a classe operária, a título de compensação, em virtude da extrema desigualdade que caracterizava (e, de certa forma, ainda caracteriza) as relações da classe empregadora, notadamente detentora de um maior ou menor grau de poder econômico”85

São desdobramentos dos direitos fundamentais,

concretizados em normas que objetivam prestações positivas estatais, buscando

condições de vida mais favoráveis aos trabalhadores e ao povo, com a finalidade

de promover um “crescente nivelação das distinções da classe entre os homens,

igualizar desigualdades, possibilitar uma mais ampla e real desigualdade social”86

Cláudio Brandão encerra o tema destacando:

“O fato é que, a partir desse momento da história jurídico-política, os direitos sociais passam a integrar, em definitivo, o constitucionalismo e inter-relacionamento entre os fatos sociais, imprimindo rumo decisivo na sua marcha em busca do reconhecimento, cada vez mais amplo, do homem como centro das preocupações, apesar de a maior parte dos direitos sociais, que são exibidos brilhantemente em todas as declarações nacionais e internacionais, haver permanecido no papel, [...]”87

83 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 5184 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 51885 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 5386 FERREIRA, Pinto. Manual de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 6387 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 72

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Com base nesses direitos Constitucionais de segunda

geração, preocupa-se mais com o homem ser social do que outros direitos

garantidos na Carta Primavera.

2.5.2.3 Direitos Constitucionais de terceira geração

Apesar de Antônio Augusto Cançado Filho criticar a noção

de gerações de direitos humanos, a terceira delas é considerada:

“[...] entre as distintas ‘categorias’ de direitos – individuais e sociais ou coletivos – só pode haver complementaridade e não antinomia, o que revela a artificialidade da noção simplista da chamada ‘terceira geração’ de direitos humanos: os chamados direitos de solidariedade, historicamente mais recentes, mas que interagem com direitos individuais e sociais e não os ‘substituem’”88

Referido direito trata de forma mais ampla e geral, sob o

enfoque ambiental da qualidade de vida, que não vem a ser o enfoque do

trabalho.

2.5.3 Proteção à saúde sob enfoque constitucional

A proteção à saúde do empregado é objeto de vários

dispositivos Constitucionais, que abordam o tema, seja de forma direta ou

indireta.

O artigo 7.° da Carta Magna possui diversos incisos tratando

do tema:

“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

88 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 41

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XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

[...]

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;”89

Ainda, o artigo 201, §10, da Constituição Federal determina:

“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:

[...]

§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo regime geral de previdência social e pelo setor privado.”90

Vale aqui apontar a observação de Arnaldo Süssekind, “para

que o alcance maior do direito à proteção não reside tão-somente na redução dos

riscos decorrentes do trabalho, mas na sua total eliminação, mediante a remoção

ou neutralização das causas.”91

Sidnei Machado discorre:

“[...] a eliminação do risco já está contida implicitamente na norma e, portanto, não comporta restrição em norma infraconstitucional. Mas quando não for possível a eliminação do risco devido às limitações fáticas, deve-se reafirmar o direito do trabalhador a não suportar o risco supostamente inerente ao trabalho, na maioria das vezes artificialmente produzido por máquinas barulhentas, ambientes insalubres e organizações do trabalho opressivas. [...] o direito do trabalho, garantido em norma de direito fundamental, vinculativa do legislador e o Judiciário, a prestar serviços em ambiente de trabalho em condições que

89 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em 15 jul. 200890 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em 15 jul. 200891 SÜSSEKIND, Arnaldo, et al. Comentários à constituição. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990, v. 1, p. 439

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preservem a sua saúde (física e mental) e garantam a sua segurança física”92

De forma muito significativa, o disposto no inciso XXVIII

prevê a responsabilidade civil do empregador no caso de dolo ou culpa,

presumindo-se daí a responsabilidade subjetiva. Para Antônio Lago Júnior, “a

responsabilidade civil decorrente do acidente do trabalho progrediu sempre no

sentido de não deixar o trabalhador [...] vítima do infortúnio laboral, entregue à

própria sorte”93

Já não bastasse, o §10 do artigo 201 relaciona-se

claramente com o inciso XXVIII, pois prevê o custeio do acidente do trabalho por

parte da previdência social, conforme entende BRANDÃO:

“Significa, em outras palavras, a autorização dada, no plano constitucional, para o afastamento da exclusividade da cobertura dos danos porventura ocasionados pelo infortúnio laboral, que passarão também a ser cobertos por meio de seguros privados, a ser regulamentado em sede de lei ordinária, o que representa o triunfo da tese privatista em detrimento da cobertura proporcionada pelo Poder Público, cujas conseqüências podem ser danosas para a coletividade, a exemplo do que já ocorre com os planos de saúde.”94

Verifica-se, portanto, que a própria Norma Constitucional

busca a prevenção dos acidentes de trabalho, regulando, de forma expressa, até

mesmo o tipo de responsabilidade a ser aplicada, de forma geral.

92 MACHADO, Sidnei. O direito à proteção ao meio ambiente de trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2001, p. 86/8793 LAGO JÚNIOR, Antônio. A responsabilidade civil decorrente do acidente do trabalho. In: LEÃO, Adroaldo. PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário (Coord.). Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 49 94 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 103

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CAPÍTULO 3

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

3.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O debate acerca do conceito de responsabilidade civil é

atemporal e muito complexo, conforme ressaltado por OLIVEIRA:

“O instituto da responsabilidade civil, apesar de suas raízes longínquas, continua desafiando os estudiosos e ocupando espaço considerável na literatura jurídica, pelas inúmeras discussões que ainda suscita. Antigas idéias são invocadas a todo momento para solucionar novas ocorrências, mantendo a efervescência saudável do debate jurídico.”95

95 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 225

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Marton, citado por Aguiar Dias, define a responsabilidade

“como a situação de quem, tendo violado uma norma qualquer, se vê exposto às

conseqüências desagradáveis decorrentes dessa violação, traduzidas em

medidas que a autoridade encarregada de velar pela observação do preceito lhe

imponha [...]”96

O núcleo da responsabilidade civil no ordenamento jurídico

pátrio é encontrado especificamente nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil,

que assim dispõem, respectivamente:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”97

Asseveram Carlos Alberto Menezes Direito e Sérgio

Cavalieri, que “a responsabilidade civil opera a partir do ato ilícito com o

nascimento da obrigação de indenizar, tendo por finalidade tornar o indemne o

lesado, colocar a vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato

danoso.”98

Nessa perspectiva, vale a análise em separado do abuso de

direito e do ato ilícito como obrigações de indenizar.

3.1.1 Abuso de direito como fundamento da obrigação de indenizar

96 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 1995, v. 1, p. 397 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 16 jul. 2008.98 DIREITO, Carlos Alberto Menezes; CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao novo Código Civil, v. 13, 2004, p. 48

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A adoção do abuso de direito como um dos fundamentos da

obrigação de indenizar, indubitavelmente foi uma grande conquista para o

Ordenamento jurídico pátrio, segundo Rui STOCO:

“Reitera-se que a adoção do abuso do direito como fundamento da obrigação de indenizar, equiparado que foi ao ato ilícito, constituiu um ato de coragem e o resgate de uma omissão antiga. É, sem dúvida, uma das maiores conquistas do Direito Brasileiro.”99

Existem, contudo, discussões acerca da aplicação subjetiva

ou objetiva do abuso de direito como fato causador da obrigação de indenizar.

O mesmo autor, ainda, citando Cláudio Soares Levada,

obtempera:

“A doutrina tem sido massiva em vislumbrar na nova norma modalidade de ilícito objetivo, isto é, a ser aferido em razão das conseqüências do ato em si, sem preocupações com a intenção de o agente causar ou não dano deliberado à vítima. Trata-se de mero exame a eventual desvio de finalidade da lei (social ou econômica), ou ainda aos deveres impostos pela chamada boa-fé objetiva, como os de lealdade ou colaboração. Não é preciso, repita-se, intenção de causar dano por parte do ofensor.”100

E continua:

“No entanto, o parágrafo 2.° do art. 1.228 do CC de 2002 parece desdizer grande parte dessa objetividade, ao prever, quanto ao direito de exercício da propriedade, que são defesos so atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem”101

Por outro lado, existe a corrente defendida pelo próprio

STOCO:

“No campo da culpabilidade, se o ato for praticado com a intenção deliberada de prejudicar, de causar dano ou de obter vantagem ilícita – ainda que para isso possa o terceiro ser prejudicado – ressuma claro que a obrigação de responder por este ato mostra-se evidente.

O dolo, ainda que eventual – quando o agente assume o risco de produzir o resultado –, emprenha obrigação.

99 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 124100 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 127101 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 127

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Não importa, ainda, que o dolo seja específico ou genérico. Mas no plano da culpa (stricto sensu), em sede de abuso do direito, quer parecer que a chamada ‘graduação da culpa’ assume importância.”102

Como a teoria da graduação da culpa pode ser utilizada

tanto para tratar-se do abuso de direito como de ato ilícito, será abordada em

tópico separado.

3.1.2 O ilícito como fato gerador da responsabilidade

O cometimento de ato ilícito, conforme determinação do

artigo 186 do Código Civil, já citado acima, gera também o dever de indenizar.

STOCO ensina:

“Isso significa que, em suas interações na sociedade, ao alcançar direito de terceiro, ou ferir valores básicos da coletividade, o agente deve arcar com as conseqüências, sem o que impossível seria a própria vida em sociedade.

Nasce, assim, então, a teoria da responsabilidade, que se espraia por dois campos distintos, consoante os bens jurídicos ofendidos e o respectivo vulto na escala de valores do direito posto: o civil e o penal.”103

Verifica-se assim, que o ato ilícito adentra na esfera de

responsabilização penal, ao configurar como fato típico e antijurídico, bem como

na esfera civil, ao causar o dano a outrem.

Segundo Rui Stoco:

“Esse comportamento gera, para o autor, a responsabilidade civil. Que traz, como conseqüência, a imputação do resultado à sua consciência, traduzindo-se, na prática, pela reparação do dano ocasionado, conseguida, normalmente, pela sujeição do patrimônio do agente, salvo quando possível a execução específica. Por outras palavras, é o ilícito figurando como fonte geradora de responsabilidade.”104

Isto é, na ocorrência do ato ilícito, gera na esfera civil o

dever de indenizar, além da tutela penal a ser invocada, nos casos especificados

na Norma Penal.102 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 127103 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 129104 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 129

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3.1.3 Teoria da Graduação da Culpa

Verifica-se a importância da graduação da culpa pelo texto

do artigo 944, parágrafo único, do Código Civil:

“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”105

Tanto é verdade que Yussef Cahali escreveu:

“a) a determinação da responsabilidade do agente não prescindo do dolo, ao qual se equiparam a culpa grave, a má-fé, a malícia, enfim, a Bösswilligkeit dos alemães: em outros, será suficiente a simples culpa, ainda que levíssima, havendo mesmo aqueles em que o dever de indenizar exsurge objetivamente, em função da simples causalidade; b) a presença do elemento subjetivo do dolo ou da culpa determina o agravamento da responsabilidade, com a adição de um plus à indenização ressarcitória.”106

Nesse sentido, STOCO finaliza:

“Casos haverá, ainda, em que a maior gravidade da culpa (em sentido lato) do agente irá refletir-se no agravamento de sua responsabilidade indenizatória, de modo a influir na determinação do quantum debeatur. Impõe-se concluir, portanto, que em sede de abuso do direito a culpa levíssima mostra-se irrelevante para efeito de responsabilização, ou seja, não é suficiente para induzir responsabilidade, sabido que, no conceito de culpa, em sentido amplo, o erro que ganha relevo será apenas aquele inescusável, que não pode ser relevado.”107

As três diferentes graduações de culpa mostram-se de

extrema importância para a configuração da responsabilidade civil, em especial

no que tange ao quantum a ser fixado pelo Douto Magistrado.

3.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A idéia central da responsabilidade civil é infringir dever

jurídico, causando dano a outrem.

105 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 16 jul. 2008.106 CAHALI, Yussef Said. Indenização segundo a gravidade da culpa. Revista da Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, n. 1, p. 22, set.-dez. 1996107 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 128

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Cabe, por oportuno, destacar as diferentes espécies de

responsabilidade civil, para o estudo do tema proposto.

3.2.1 Responsabilidade civil subjetiva

Oliveira a entende como:

“Pela concepção clássica da responsabilidade civil subjetiva, só haverá obrigação de indenizar o acidentado se restar comprovado que o empregador teve alguma culpa no evento, mesmo que de natureza leve ou levíssima. A ocorrência do acidente ou doença proveniente do risco normal da atividade da empresa não gera automaticamente o dever de indenizar, restando à vítima, nessa hipótese, apenas a cobertura do seguro de acidente do trabalho, conforme as normas da Previdência social”108

Como requisitos, segue o mesmo autor:

“na responsabilidade subjetiva só caberá a indenização se estiverem presentes o dano (acidente ou doença), o nexo de causalidade do evento com o trabalho e a culpa do empregador. Esses pressupostos e são indicados no art. 186 do Código Civil e a indenização correspondente no art. 99927 do mesmo diploma legal, com apoio maior no artigo 7., inciso XXVIII, da Constituição da República. Se não resta comprovada a presença simultânea dos pressupostos mencionados, não vinga a pretensão indenizatória, valendo registrar que, nesse caso, o ônus da prova é atribuído ao autor.”109

Verifica-se, portanto, que o marco divisor a responsabilidade

civil subjetiva, também chamada de aquiliana, é a presença do elemento culpa,

que será tratado no tópico pertinente.

GODINHO afirma:

“O terceiro requisito é, finalmente, a culpa empresarial. De maneira geral, segundo a doutrina e jurisprudência dominantes desde o momento a afirmação jurídica de tais tipos de indenização, a contar da Constituição de 1988, é necessária a configuração da culpa do empregador ou de suas chefias pelo ato ou situação que provocou o dano no empregado.”110

108 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 94109 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 95110 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 620.

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Dessa forma, em sendo evidenciados os requisitos

elencados, restará caracterizada a responsabilidade civil na modalidade subjetiva.

3.2.2 Responsabilidade civil objetiva

Apesar da necessidade de demonstração de culpa, muitas

vezes deixa o lesado sem a devida reparação, segundo STOCO, ao citar Alvino

Lima, criou-se uma nova figura jurídica:

“A jurisprudência, e com ela a doutrina, convenceram-se de que a responsabilidade civil fundada na culpa tradicional não satisfaz e não dá resposta segura à solução de numerosos casos. A exigência de provar a vítima o erro de conduta do agente deixa o lesado sem a reparação, em grande número de casos. Com esta conotação, a responsabilidade, segundo a corrente objetivista, ‘deve surgir exclusivamente do fato’”111

Assim, firma-se uma tendência na responsabilização civil em

face do risco, em suas diversas espécies.

Arremata Maria Helena Diniz:

“A responsabilidade objetiva funda-se num princípio da equidade, existente desde o direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes [...]. Essa responsabilidade tem como fundamento a atividade exercida pelo agente, pelo perigo que pode causar dano à vida, à saúde, ou a outros bens, criando risco de danos para terceiros”112

Essa teoria veio corresponder à idéia de socialização do

risco, recaindo a responsabilidade, independente de culpa, aquele que lucra com

a atividade.

Paulo de Tarso Vieira Sanseverino a define como:

“[...] uma imputação atribuída por lei a determinadas pessoas de ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o

111 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 150112 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 43

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dano sofrido pela vítima e a situação de risco criada pelo agente.”113

Exemplifica AZEVEDO, elucidando suas idéias:

“[...] se, por um fato jurídico (tufão), um recipiente de ácido (instalado com toda segurança) é arrastado a um rio, causando danos ecológicos, a obrigação de indenizar existe, como também por ato lícito, de uma empresa poluente, que está autorizada à sua atividade, dentro de certos parâmetros, controlados por órgãos públicos. [...] A indenização existe, portanto, tão-somente por causa da atividade de risco, [...].”114

Conforme verifica-se pelos apontamentos, o risco da

atividade é que determina a aplicação da responsabilidade civil objetiva. Contudo,

esse risco pode dar-se de várias formas diferentes, conforme será analisado.

3.2.2.1 Risco-proveito

Baseia-se na afirmação de que o responsável pela

obrigação “é aquele que tira proveito da atividade danosa, com base no princípio

de que, onde está o ganho, aí reside o encargo.”115

Alvino Lima, considerando uma conquista a

responsabilidade civil objetiva ressalta:

“[...] nas suas múltiplas atividades, são os criadores de riscos, na busca de proveitos individuais. Se destas atividades colhem os seus autores todos os proventos, ou pelo menos agem para conseguí-los, é justo e racional que suportem os encargos, que carreguem com o ônus, que respondam pelos riscos disseminados [...]. Não é justo, nem racional nem tampouco equitativo e humano, que a vítima, que não colhe os proveitos da atividade criadora dos riscos e que para tais riscos não concorreu, suporte os azares da atividade alheia. A questão da responsabilidade, que é mera questão de reparação dos danos, de proteção do direito lesado, de equilíbrio social, deve, pois, ser resolvida atendendo-se somente àquele critério objetivo; quem guarda os benefícios que o acaso da sua atividade lhe proporciona deve, inversamente, suportar os males decorrentes desta mesma atividade.”116

113 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 47114 AZEVEDO, Álvaro Vilaça. Teoria geral das obrigações: responsabilidade civil. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 283/284115 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 146116 LIMA, Alvino. Culpa e risco. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 119

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Em tirando proveito o empregador do trabalho exercido pelo

empregado, restará devidamente evidenciada a sua responsabilidade,

independente da demonstração da culpa.

3.2.2.2 Risco profissional

Compreende o dever de indenizar à partir dos danos

ocorridos na atividade laboral desenvolvida, conforme ensina BRANDÃO, ao

relatar que “ a teoria do risco profissional compreende o dever de indenizar a

partir do prejuízo ocasionado no desempenho de atividade laborativa ou

profissão. Foi concebida especificamente para fundamentar os casos de

acidentes de trabalho, ocorridos sem culpa do empregador.”117

Arremata CAVALIERI FILHO:

“A responsabilidade fundada na culpa levava, quase sempre, à improcedência da ação acidentária. A desigualdade econômica, a força de pressão do empregador, a dificuldade do empregado de produzir provas, sem se falar nos casos em que o acidente decorria das próprias condições físicas do trabalhador, quer pela sua exaustão, quer pela monotonia da atividade, tudo isso acaba por dar lugar a um grande número de acidentes não indenizados, de sorte que a teoria do risco profissional veio afastar esses inconvenientes.”118

Dessa forma, com base no próprio Princípio da Proteção, o

empregado resta devidamente abrigado pela Lei, que garantirá uma indenização

independente da comprovação da culpa.

3.2.2.3 Risco de autoridade

Ela é vinculada a ordem direta do empregador ao

empregado, que acaba acidentando-se em decorrência do comando, segundo

Antônio Carlos Araújo de Oliveira: “fundada na idéia de que, se o empregado se

acidenta, ao cumprir ordem do empregador, foi vítima do ato patronal

117 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 222118 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 146

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subordinante. O que marca o infortunado é a sua obediência às ordens recebidas

do empregador.”119

Ela é calçada na “mera condição de subordinação do

empregado ao empregador, pelo contrato de trabalho.”120

3.2.2.4 Risco excepcional

Embasada nas atividades de grande risco, como energia

nuclear ou alta tensão.

CAVALIERI FILHO destaca que “a reparação é devida

sempre que o dano é conseqüência de um risco excepcional, que escapa à

atividade comum da vítima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente

exerça.”121

BRANDÃO exemplifica:

“Essa teoria atribui o dever de indenizar a partir da constatação de que algumas atividades acarretam excepcional risco, o que pode ser exemplificado com as atividades de energia elétrica de alta tensão, exploração de energia nuclear, transporte de explosivos, material radioativo, etc.”122

Em sendo desenvolvida atividade que, por sí, gera risco a

saúde do empregado, aí residirá o dever de indenizar.

3.2.2.5 Risco criado

Segundo Cláudio Brandão, “nessa modalidade, o dever de

indenizar é gerado quando, em razão de atividade ou profissão, o perigo é criado,

[...].”123

119 OLIVEIRA, Antônio Carlos Araújo de. A responsabilidade civil do empregador eplo acidente do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 48.120 FERNANDES, Aníbal. Os acidentes do trabalho: do sacrifício do trabalho à prevenção e à reparação. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 52121 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 146/147122 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 223123 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 223

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Sua diferenciação das demais teorias do risco é a seguinte,

segundo BRANDÃO:

“Não se cogita do fato de ser o dano correlativo de um proveito ou vantagem para o agente e não há, por conseguinte, subordinação do dever de reparar ao pressuposto da vantagem. É suficiente a análise da atividade em si, independentemente do resultado que venha a proporcionar para quem a desenvolve.”

Pode ser considerada uma ampliação do risco proveito, e ao

caracterizá-la, Antônio Elias de Queiroga explica:

“Se, em decorrência dessa atividade, alguém vem a sofrer um dano, surge a obrigação de reparar, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. [...] se o fato decorreu, objetivamente, da ação, imputa-se a responsabilidade ao autor, ainda que este não tenha agido culposamente.”124

Nessa situação, pouco importa se houve o proveito

econômico ou não do empregador, mas simplesmente a existência da atividade

com finalidade lucrativa, que restará caracterizado o dever de indenizar.

3.2.2.6 Risco integral

Define Sílvio de Salvo Venosa:

“[...] modalidade extremada que justifica o dever de indenizar até mesmo quando não existe nexo causal. O dever de indenizar estará presente tão-só perante o dano, ainda que com culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior, [...]”125

BRANDÃO exemplifica:

“[...] embora reconheça o caráter excepcional dessa forma de responsabilidade, aplicável somente em determinadas situações, a exemplo da cobertura proporcionada pelo seguro obrigatório de veículos automotores, [...]. Pode também ser mencionada, como exemplo, a indenização por acidente do trabalho a cargo da Previd6encia Social, que é devida mesmo quando resultarem presentes as causas excludentes do nexo de causalidade; a concessão do auxílio-doença acidentário, na hipótese de afastamento do empregado a partir do décimo - sexto dia, em

124 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade civil e o novo código civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 12.125 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 284.

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virtude de acidente laboral é encargo suportado pela Previdência.”126

A teoria do risco integral abrange as mais diversas situações

de responsabilidade. Haverá o dever de indenizar mesmo na inexistência do nexo

causal, culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior.

3.3 NATUREZA DOS DANOS DECORRENTES DO ACIDENTE DE TRABALHO

Como já destacado, o dano é pressuposto indispensável

para o deferimento de qualquer indenização decorrente do acidente do trabalho,

daí afirmar CAIO MÁRIO que o dano “é o elemento ou requisito essencial na

etiologia da responsabilidade civil”.127

Rui Stoco, com a mesma opinião relata que “se não houver

prova do dano, falta fundamento para a indenização. Não se admite o dano

incerto, improvável ou eventual, o dano condicional e nem mesmo o dano

hipotético.”128

Verifica-se, portanto, que os danos são pressupostos

indispensáveis ao deferimento da indenização, e podem ser de várias espécies, a

seguir tratadas, conforme ressalta OLIVEIRA: “O acidente do trabalho ou as

situações equiparáveis pode provocar danos de natureza material, moral e/ou

estética.”129

3.3.1 Danos materiais

Humberto Theodoro Júnior o conceitua da seguinte forma:

“O dano material é o prejuízo financeiro efetivo sofrido pela vítima, causando por conseqüência uma diminuição do seu patrimônio, avaliável monetariamente. O dinheiro é a forma e o padrão natural de dimensioná-lo e o instrumento idôneo para bem repará-lo.”130

126 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. 2. ed. São Paulo: LTR, 2006, p. 225127 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 2002, p. 37128 STOCO, Rui. Tratado de Responsabildade civil. RT: São Paulo, 2004, p. 1181.129 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 200130 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao novo Código Civil. V III, 2002, p. 62

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Enfatiza Maria Helena Diniz que:

“O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável.”131

Tem-se no Código Civil, em seu artigo 402:

“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”132

Pela determinação expressa do próprio Código Civil, existem

duas sub-espécies de danos materiais, os danos emergentes e lucros cessantes,

como salienta OLIVEIRA:

“O Código Civil estabelece no art. 402 que o ressarcimento dos danos abrange parcelas de duas naturezas: o que efetivamente o lesado perdeu e o que razoavelmente deixou de ganhar. Na apuração do que a vítima efetivamente perdeu temos os chamados danos emergentes ou danos positivos; na avaliação do que deixou de ganhar estaremos diante dos lucros cessantes ou danos negativos.”133

Nessa situação, pouco importa se houve o proveito

econômico ou não do empregador, mas simplesmente a existência da atividade

com finalidade lucrativa, que restará caracterizado o dever de indenizar.

3.3.1.1 Dano emergente

Sebastião Geraldo de Oliveira conceitua da seguinte forma:

“O dano emergente é aquele prejuízo imediato e mensurável que surge em razão do acidente do trabalho, causando uma diminuição do patrimônio do acidentado. É o prejuízo mais visível porque representa dispêndios necessários e concretos cujos valores são apuráveis nos próprios documentos de pagamento, [...].”134

131 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. v. 7, 2002, p. 62132 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 21 jul. 2008.133 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 201134 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 201

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Como exemplo, o mesmo autor cita:

“[...] tais como: despesas hospitalares, honorários médicos, medicamentos, aparelhos ortopédicos, sessões de fisioterapia, salários para acompanhantes no caso de a vítima necessitar de assistência permanente de outra pessoa ou, nos casos de óbito, os gastos com funeral, luto, jazigo, remoção do corpo, etc.”135

O Código Civil, em seus artigos 948 e 949, traz um rol

exemplificativo, sem excluir as demais indenizações que podem ser

comprovadas:

“Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.”136

Dano emergente, portanto, divide-se em dano emergente,

aquele em que se comprovam as despesas, e o lucro cessante, onde é apurado o

quanto o acidentado deixou de ganhar.

3.3.1.2 Lucro cessante

OLIVEIRA entende:

“Além das perdas efetivas dos danos emergentes, a vítima pode também ficar privada dos ganhos futuros, ainda que temporariamente. Para que a reparação do prejuízo seja completa, o art. 402 do Código Civil determina o cômputo dos lucros cessantes, considerando-se como tais aquelas parcelas cujo recebimento, dentro da razoabilidade, seria correto esperar. Assim, como ponto de equilíbrio, não pode ser considerada a mera probabilidade de alguma renda, nem se exige, por outro lado, certeza absoluta dos ganhos.”137

135 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 201136 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 21 jul. 2008137 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 202

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Existe, portanto, um critério de razoabilidade que deve ser

seguido, pautado no bom senso e pela expectativa do que efetivamente deveria

ocorrer.

Pontua Agostinho Alves que “o credor haveria de lucrar

aquilo que o bom senso diz que lucraria. Há aí uma presunção de que os fatos se

desenrolariam dentro do seu curso normal, tendo-se em vista os antecedentes.”138

Para tanto, a recomendação de Sérgio Cavalieri é

importante:

“Deve o juiz mentalmente eliminar o ato ilícito e indagar se aquilo que está sendo pleiteado a título de lucro cessante seria a conseqüência do normal desenrolar dos fatos; se aquele lucro poderia ser razoavelmente esperado, caso não tivesse ocorrido o ato ilícito.”139

Rui Stoco, citando Pontes de Miranda, de forma muito sábia,

ressalta ainda que “para que ocorra o direito aos lucros cessantes, a título de

perdas e danos, deve-se comprovar haver, com certeza, algo a ganhar, uma vez

que só se perde o que se deixa de lucrar”140

3.3.2 Danos morais

3.3.2.1 Dispositivos legais

O dano moral é legalmente abrangido pela Constituição

Federal, em seu artigo 5. incisos V e X:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

138 ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas consequências. 1972, p. 190139 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 2005, p. 98140 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 1216.

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X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”141

Também o é pelo Código Civil, no artigo 186:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”142

Apesar dos dispositivos legais serem abrangentes, pode-se

entender o dano moral como a ofensa a um direito de personalidade.

3.3.2.2 Conceito

Rodolfo Pamplona Filho entende ser o “[...] prejuízo ou lesão

de interesses e bens, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente

redutível a dinheiro, como é o caso dos direitos da personalidade ou dos atributos

da pessoa.”143

Valdir Florindo entende como “aquele decorrente de lesão à

honra, à dor-sentimento ou física, aquele que afeta a paz interior do ser humano,

enfim, ofensa que cause um mal, com fortes abalos na personalidade do

indivíduo.”144

Yussef Said Cahali, em rol exemplificativo, destaca vários

eventos que podem causar o dano moral:

“tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da

141 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em 21 jul. 2008142 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 21 jul. 2008143 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Dano moral na relação de emprego. São Paulo: LTr, 1998, p. 02144 FLORINDO, Valdir. O dano moral e o direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2002, p. 53

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privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral.”145

Na ocorrência de qualquer uma das situações que infrinjam

um dos direitos da personalidade, haverá direito a reparação pelo dano causado.

3.3.2.3 Aferição dos danos morais

Sob a forma legal, existem a Lei de Imprensa e o Código

Brasileiro de telecomunicações que poderiam fornecer critérios para a aferição do

dano moral.

Contudo, por se tratarem de legislações altamente

específicas, fica prejudicada sua aplicação analógica, motivo pelo qual GODINHO

utiliza os seguintes critérios:

“Em síntese, os critérios orientadores do órgão judicante no exame da ocorrência do dano moral são os seguintes:

a) no tocante ao ato ofensivo em si: sua natureza (se é um tipo civil apenas ou, ao contrário, um tipo penal, por exemplo; a forma como se deu o ato, etc.); sua gravidade (a natureza já induz à conclusão sobre a gravidade, embora esta possa derivar também de outros fatores, como, por exemplo, a permanência no tempo dos efeitos da ofensa); o tipo de bem jurídico tutelado que a ofensa atinge (honra, intimidade, vida privada, por exemplo);

b) no tocante à relação do ato com a comunidade: a repercussão do ato (seja quanto à intensidade da repercussão – profunda, leve, etc. – seja quanto à sua abrangência: larga, restrita, etc.);

c) no tocante à pessoa do ofendido: a intensidade de seu sofrimento ou desgaste; a posição familiar, comunitária ou política do ofendido, seu nível de escolaridade;

d) no tocante à pessoa do ofensor: sua posição socioeconômica (tratando-se de empregador pessoa física, evidentemente deve-se tomar também em consideração os aspectos individuais do ofensor); a ocorrência (ou não) de práticas reiteradas de ofensas da mesma natureza e gravidade; a intensidade do dolo e culpa do praticante do ato ou por ele responsável;

e) a existência (ou não) de retratação espontânea e cabal pelo ofensor e a extensão da reparação alcançada por esse meio pelo ofendido. Registre-se, a propósito, que a retratação não

145 CAHALI, Yussef Said. Dano moral, 2005, p. 22-23

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necessariamente exclui a responsabilidade pela reparação, embora atenue o valor reparatório a ser fixado.”146

Mostram-se, portanto demasiadamente específicos e

complexos os requisitos para aferição dos danos morais.

3.3.2.4 Valor Indenizatório

O critério fixado para o pagamento dos danos materiais não

pode ser utilizado para o valor referente aos danos morais, especialmente porque

aqueles pautam-se em requisitos objetivos, e estes em subjetivos.

Tanto é que OLIVEIRA descreve:

“O pagamento da indenização dos danos morais, no entanto, não obedece ao mesmo critério aplicado aos danos materiais. Em vez de estabelecer um valor mensal na forma de pensionamento, os danos morais devem ser arbitrados para pagamento imediato, em parcela única, como forma rápida de amenizar o sofrimento e propiciar alguma melhoria de vida para a vítima, considerando as suas condições pessoais.”147

Nesse sentido, observou o juiz Páris Pena, do Tribunal de

Alçada de Minas Gerais, que:

“Em matéria de dano moral, o valor da indenização há de ser suficiente tanto para facilitar a que o ofendido obtenha lenitivos para a sua dor, não pela quantificação em termos materiais, como, também, porque, mercê da indenização respectiva, poderá cercar-se de condições de sobrevivência mais compatíveis com sua dignidade de pessoa humana, tornando-a mais apta ao enfrentamento diuturno de sua deficiência. Além disso, tal condenação tem o efeito pedagógico, no sentido de tornar a sociedade efetivamente mais humana, colocando-a sob a égide dos princípios éticos impedientes e dissuasivos de condutas quais a que teve a ré”148

Após a verificação dos requisitos elencados pela Doutrina e

Jurisprudência, deve o julgador fixar, de forma moderada, fixar a justa

indenização.

146 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 624-625147 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 215148 Cf. MINAS GERAIS. TAMG. 1. Câm. Civ. Ap. Civel 213.381-9, Rel. Juiz Páris Pena, julgada em 11 jun. 1996.

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3.3.3 Dano estético

Para conceituar o dano estético, Maria Helena Diniz escreve:

“O dano estético é toda alteração morfológica do indivíduo, que, além do aleijão, abrange as deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto um afeamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgastante ou num permanente motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade laborativa.”149

José de Aguiar Dias entende como:

“[...] consiste na penosa sensação de ofensa, na humilhação perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos efeitos puramente psíquicos e sensoriais experimentados pela vítima do dano, em conseqüência deste, seja provocada pela recordação do defeito ou da lesão, quando não tenha deixado resíduo mais concreto, seja pela atitude de repugnância ou de reação ridícula tomada pelas pessoas que o defrontam.”150

Verifica-se, portanto, que havendo a ofensa a beleza da

pessoa humana, será indenizável através do dano estético.

3.3.3.1 Cumulação com danos morais

Muito discute-se acerca da cumulação ou não dos danos

morais com danos estéticos.

OLIVEIRA defende a sua cumulação, nos seguintes termos:

“No entanto, mesmo estando o dano estético compreendido no gênero dano moral, a doutrina e a jurisprudência evoluíram para deferir indenizações distintas quando esses danos forem passíveis de apuração em separado, com causas inconfundíveis. O dano estético está vinculado ao sofrimento pela deformação com seqüelas permanentes, facilmente percebidas, enquanto o dano moral está ligado ao sofrimento e todas as demais conseqüências nefastas provocadas pelo acidente.”151

Tanto é verdade que o Superior Tribunal de Justiça, em

julgamento recente, vem decidindo pela possibilidade de cumulação:

149 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 2002, p. 73. 150 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 743151 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 220

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““INDENIZAÇÃO. "DANOS ESTÉTICOS" OU "DANOS FÍSICOS". INDENIZABILIDADE EM SEPARADO.1. A jurisprudência da 3ª Turma admite sejam indenizados, separadamente, os danos morais e os danos estéticos oriundos do mesmo fato. Ressalva do entendimento do relator.2. As seqüelas físicas decorrentes do ato ilícito, mesmo que não sejam visíveis de ordinário e, por isso, não causem repercussão negativa na aparência da vítima, certamente provocam intenso sofrimento. Desta forma, as lesões não precisam estar expostas a terceiros para que sejam indenizáveis, pois o que se considera para os danos estéticos é a degradação da integridade física da vítima, decorrente do ato ilícito.3. Os danos morais fixados pelo Tribunal recorrido devem ser majorados pelo STJ quando se mostrarem irrisórios e, por isso mesmo, incapazes de punir adequadamente o autor do ato ilícito e de indenizar completamente os prejuízos extra patrimoniais sofridos pela vítima.4. Provido o recurso especial da parte que pretendia majoração dos danos morais, fica prejudicado o recurso especial da parte que pretendia a redução da indenização. ATO ILÍCITO. VÍTIMA. PERDA DA CAPACIDADE LABORATIVA. PRESUNÇÃO. POSSIBILIDADE. PENSÃO. FIXAÇÃO. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. NECESSIDADE. SÚMULA 313.1. Presume-se a redução da capacidade laborativa da vítima de ato ilícito que sofre graves seqüelas físicas permanentes, evidentemente limitadoras de uma vida plena. 2. O só fato de se presumir que a vítima de ato ilícito portadora de limitações está capacitada para exercer algum trabalho não exclui o pensionamento, pois a experiência mostra que o deficiente mercado e trabalho brasileiro é restrito mesmo quando se trata de pessoa sem qualquer limitação física.3. Sem provas do exercício de atividade remunerada, tampouco de eventual remuneração recebida antes do ato ilícito, a vítima tem direito a pensão mensal de 1 (um) salário mínimo, desde o evento danoso até o fim de sua vida.4. A indicação de termo final do pensionamento só é cabível quando se pretende pensão por morte, pois deve-se presumir que a vítima, não fosse o ato ilícito, viveria tempo equivalente à expectativa média de vida do brasileiro.5. "Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado."6. É lícito ao juiz determinar que o réu constitua capital para garantir o adimplemento da pensão a que foi condenado, mesmo sem pedido do autor.LIMITES DA LIDE. JUIZ E TRIBUNAL QUE SE AFASTAM DO PEDIDO INICIAL. AUTORA QUE PRETENDE, EM RECURSO ESPECIAL, RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA EXTRA PETITA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Pedindo a autora a condenação da ré no pagamento de pensão mensal para custear futuros tratamentos médicos, remédios, exames e outros, não é lícito ao juiz julgar procedente

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o pedido para determinar que a ré pague plano de saúde para a autora.2. Reformada a sentença extra petita pelo Tribunal, para afastar condenação concedida pelo juiz , não é lícito à autora, ignorando o próprio pedido inicial, postular em recurso especial o restabelecimento da sentença. 3. Nessa situação, acolhido o pedido recursal, outorga-se tutela extra petita (porque a autora obterá o que não postulou na inicial). De outro lado, acolhido o pedido da inicial, a autora obterá o que não postulou no recurso especial. ”152

Resta claro e evidente que os Tribunais, manifestado pelo

entendimento do Superior Tribubal de Justiça, que são cumuláveis as

indenizações por danos estéticos e danos morais.

3.4 REQUISITOS PARA RESPONSABILIDADE INDENIZATÓRIA

Alguns requisitos, também chamados de requisitos

clássicos, são indispensáveis para a caracterização da responsabilidade civil, ou

mesmo dever de indenizar.

DELGADO explica que “há requisitos essenciais para a

responsabilização empresarial. Sem a conjugação unitária de tais requisitos, não

há que se falar responsabilidade do empregador por qualquer das indenizações

acima referidas.”153

E o mesmo autor continua, enumerando quais são esses

requisitos: “Tais requisitos, em princípio, são: dano, nexo causal; culpa

empresarial.”154

Com escopo no ensinamento do autor, passa-se a análise

dos três requisitos clássicos.

3.4.1 Dano

É da lição de DELGADO:152 BRASÍLIA. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 3. Turma. Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em 13 fev. 2007153 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 624-619154 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 624-619

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“No tocante ao dano alegado, é necessária a evidenciação de sua existência. Ainda que se saiba não ser essa evidência necessariamente material, ela tem de ser aferida, no caso concreto, com consistente segurança. É claro que no dano material resultante de lesão acidentária podem ser mensurados ou estimados com certa precisão os danos emergentes e os lucros cessantes, uma vez que vinculados a despesas já feitas ou a se fazer em virtude da lesão, vinculando-se ainda à perda patrimonial efetiva ou estimada em decorrência da restrição ou inviabilização laborativas. No dano à imagem também é possível, muitas vezes, estima com maior precisão o valor econômico do prejuízo causado.

Já no dano moral, no sentido estrito, no dano estético e em certas situações de dano à imagem torna-se mais subjetiva a aferição do dano e, desse modo, sua própria evidenciação processual. De todo modo, essa evidência tem de emergir do processo, sob pena de faltar um requisito essencial à incidência da indenização viabilizada pela ordem jurídica. É claro que certos danos, na presente seara temática, são, como se sabe, até mesmo auto-evidentes.”155

As espécies de danos, quantificações, provas, e outras

questões relevantes, já foram devidamente tratadas no Capítulo 3 deste trabalho.

3.4.2 Nexo causal

O nexo causal é um dos requisitos essenciais para a

responsabilização civil. CAVALIERI lembra que “o conceito de nexo causal não é

jurídico; decorre das leis naturais, constituindo apenas o vínculo, a ligação ou

relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado.”156

OLIVEIRA conceitua como:

“[...] o vínculo que se estabelece entre a execução do serviço (causa) e o acidente do trabalho ou doença ocupacional (efeito). Pode-se afirmar que esse pressuposto é o primeiro que deve ser investigado, porquanto se o acidente não estiver relacionado ao trabalho é desnecessário, por óbvio, analisar a extensão dos danos e a culpa patronal.”157

155 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 624-619-620156 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros Editores, 1996, p. 48157 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 220

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RUI STOCO destaca a importância do nexo de causalidade,

ao relatar que:

“É necessário, além da ocorrência dos dois elementos precedentes, que se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuridicidade da ação e o mal causado, ou, na feliz expressão de Demogue, ‘é preciso esteja certo que, sem este fato, o dano não teria acontecido. Assim, não basta que uma pessoa tenha contravindo a certas regras: é preciso que sem esta contravenção, o dano não ocorreria.”158

Existe, contudo, uma tendência de flexibilização dos

pressupostos da responsabilidade civil, com o propósito de aumentar a proteção

das vítimas de acidentes.

Tanto é verdade que a professo Gisela Sampaio escreve:

“Nos últimos tempos, acompanhando as transformações da responsabilidade civil, o conceito de nexo causal foi flexibilizado, com vistas a permitir a efetivação do princípio da reparação integral. Não é mais possível em alguns casos, à luz dos princípios constitucionais, exigir da vítima a prova cabal e absoluta da relação de causalidade. Dessa forma, apesar de o nexo causal ser, tal qual o dano, um dos elementos da responsabilidade civil, exige-se, com fundamento na nova ordem constitucional, que a prova da relação de causalidade seja flexibilizada em certas situações.”159

O nexo causal estabelece a relação de causa e efeito, sendo

que, em havendo a causa, deve conseqüentemente o efeito estar relacionado.

3.4.2.1 Nexo concausal

Pode-se admitir, para efeitos de responsabilização civil, a

concausalidade, que para CAVELIERI é “[...] outra causa que, juntando-se à

principal, concorre para o resultado. Ela não inicia e nem interrompe o processo

causal, apenas o reforça, tal qual um rio menor que deságua em outro maior,

aumentando-lhe o caudal.”160

Anota Humberto Theodoro Júnior:

158 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 1216159 CRUZ, Gisela Sampaio da. O problema do nexo causal na responsabilidade civil. 2005, p. 347160 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 84

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“O problema da causalidade ultrapassa o terreno do direito e transita por vários planos como o da lógica e o das ciências naturais. Por mais que se tente em doutrina equacionar-se uma regra para a generalidade dos casos de ato ilícito, as soluções são sempre incompletas e servem apenas de um roteiro, cuja observância dependerá sempre de uma integração a cargo do juiz, que haverá de valer-se da prudência e da lógica do razoável, à luz dos detalhes do caso concreto.”161

Os Tribunais admitem a sua ocorrência:

“Em matéria de responsabilidade civil, havendo ‘causalidade múltipla’, cumpre precisar qual entre as circunstâncias fáticas é a causa eficiente do prejuízo. Se é certo que não se pode eleger arbitrariamente o fato gerador da responsabilidade, também não é adequado optar, de modo absoluto, em favor da chamada ‘equivalência das condições’. O meio-termo ilustrado pelo exame de cada caso concreto é a melhor solução. No caso específico, está evidenciado que os atos imputados à União (campanha publicitária utilizando o nome próprio ‘Bráulio’ para designar o órgão sexual masculino) não foram a causa única do dano moral alegado. Pelo contrário: outras circunstâncias de fato concorreram decisivamente, e quanto a estas cumpria ao autor o ônus da prova”162

O nexo concausal estabelece que o dano, apesar de não

estar relacionado diretamente com a conduta, esta auxiliou de forma indireta

naqueles.

3.4.2.2 Rompimento do nexo causal

O nexo causal pode ser rompido na ocorrência de caso

fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima, ou fato de terceiro, segundo a lição

de STOCO:

“Quando o sujeito passivo da relação processual afirma que o fato se deu em razão de caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima, ou até mesmo por fato de terceiro, em verdade está buscando demonstrar a inexistência de nexo de causa e efeito entre ele e o resultado, pois é possível que alguém se envolva em determinado evento sem que lhe tenha dado causa.”163

Em havendo uma das situações já descritas, não haverá o

nexo causal, sendo indevida qualquer indenização.

161 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao novo Código Civil. V III, t. 2, 2003, p. 94162 PORTO ALEGRE. Tribunal Regional Federal da 4. Região. 3 Turma. Apelação 2000.04.01.004115-1. Relator Teori Albino Zavascki. Julgado 27.04.2000.163 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 147.

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3.4.2.2.1 Culpa exclusiva da vítima

OLIVEIRA define a culpa exclusiva da vítima da seguinte

forma:

“Fica caracterizada a culpa exclusiva da vítima quando a causa única do acidente do trabalho tiver sido a sua conduta, sem qualquer ligação com o descumprimento das normas legais, contratuais, convencionais, regulamentares, técnicas ou do dever geral de cautela por parte do empregador.”164

Continua o mesmo autor, citando o seguinte exemplo:

“Se o empregado, por exemplo, numa atitude inconseqüente, desliga o sensor de segurança automática de um equipamento perigoso e posteriormente sofre acidente por essa conduta, não há como atribuir culpa em qualquer grau ao empregador, pelo que não se pode falar em indenização”165

Apesar do empregador dever resguardar a salubridade e

segurança no local de trabalho, em operando com dolo ou culpa o empregado,

que resulte em seu acidente, não haverá responsabilidade civil do empregador.

3.4.2.2.2 Caso fortuito ou força maior

CAVALIERI diferencia os dois institutos da seguinte forma:

“Estaremos em face do caso fortuito quando se tratar de evento imprevisível e, por isso, inevitável; se o evento for inevitável, ainda que previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como normalmente são os fatos da natureza, como as tempestades, enchentes, etc., estaremos em face da força maior, como o próprio nome diz. É o acto of God, no dizer dos ingleses, em relação ao qual o agente nada pode fazer para evitá-lo, ainda que previsível. A imprevisibilidade, portanto, é o elemento indispensável para a caracterização do caso fortuito, enquanto a inevitabilidade é da força maior.”166

Contudo, o caso fortuito ou força maior não é considerado

excludente de nexo causal quando o caso fortuito for gerado pela atividade

desempenhada pela empresa.

164 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 146165 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 147166 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 91

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Sílvio Rodrigues escreve que “quando o fato de que resultou

o acidente está ligado à pessoa, ou à coisa, ou à empresa do agente causador do

dano (o que se poderia chamar de fortuito interno), mais rigoroso deve ser para

com este o julgador, ao decidir a demanda proposta pela vítima.”167

3.4.2.2.3 Fato de terceiro

Caio Mário entende o fato de terceiro da seguinte forma:

“Conceitua-se em termos mais sutis a caracterização do terceiro como excludente de responsabilidade civil. Esta se decompõe, nos dois pólos ativo e passivo: as pessoas do agente e da vítima. Considera-se, então, terceiro qualquer outra pessoa, estranha a este binômio, que influi na responsabilidade pelo dano. Mas para que seja excludente, é mister que por sua conduta atraia os efeitos do fato prejudicial e, em conseqüência, não responda o agente, direta ou indiretamente, pelos efeitos do dano. Exemplifica-se, como não sendo terceiros, os filhos, os tutelados, os empregados, os aprendizes, os discípulos, os executores de um contrato, etc.”168

Apesar de não gerar responsabilização civil do empregador,

o fato de terceiro será segurado pela Previdência Social, conforme relata

OLIVEIRA:

“Como se vê, no acidente provocado por terceiros, a vítima terá o amparo dos benefícios previstos na legislação acidentária; contudo, não caberá a reparação civil por parte do empregador em razão da ausência do nexo causal do acidente com a prestação do trabalho. É certo, todavia, que o acidentado poderá, se for o caso, postular a devida indenização em face do terceiro causador do dano, porquanto em relação a ele estará presente o nexo causal direto.”

Novamente trata-se de inexistência do nexo causal entre a

conduta do empregador e os danos decorrentes, inexistindo a responsabilidade

do empregador.

3.4.3 Culpa

O estudo da culpa é indispensável para a fixação da matéria,

em que pesem os defensores da teoria do risco integral não utilizarem-na, a

167 RODRIGUES, Silvio. Responsabilidade civil, 2002, p. 175-176168 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil, 9 ed., 2002, p. 303

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jurisprudência e doutrina majoritária entendem pela responsabilidade civil

mediante a demonstração de culpa.

Após um estudo sobre o homem em sociedade, Carlos

Alberto Menezes Direito a conceitua:

“Vivendo em sociedade, o homem tem que pautar a sua conduta de modo a não causar dano a ninguém. Ao praticar os atos da vida, mesmo que lícitos, deve observar a cautela necessária para que de seu atuar não resulte lesão a bens jurídicos alheios. Essa cautela, atenção ou diligência, convencionou-se chamar de dever de cuidado objetivo.

A culpa tem sido definida como a conduta contrária à diligência ordinária e comumente usada. Por diligência entende-se o zelo, a cautela, o cuidado para cumprir o dever; o esforço da vontade exigível para determinar e executar a conduta necessária ao cumprimento do determinado dever.”169

A culpa é um dos pressupostos do dever de indenizar, e

reside, em diversas ocasiões, na ausência de diligência do empregador.

3.4.3.1 Modalidades de culpa

A culpa pode ser evidenciada em três modalidades.

Negligência, imprudência, ou imperícia.

Rui Stoco as define da seguinte forma:

“A culpa pode empenhar ação ou omissão e revela-se através da imprudência: comportamento açodado, precipitado, apressado, exagerado ou excessivo; negligência: quando o agente se omite deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo; e imperícia: a atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico que desqualifica o resultado e conduz ao dano.”170

Pode-se ainda estender a idéia, e acrescer a culpa in

eligendo, in vigilando e in committendo, in ommitendo, que segudo Rui Stoco são:

“Culpa in eligendo é a oriunda da má escolha do representante, ou do preposto. Caracteriza-a, exemplificadamente, o fato de

169 DIREITO, Carlos Alberto Menezes; CAVALIERI, Sérgio. Comentários ao novo código civil. V. XIII, 2004, p. 65170 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 136

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admitir ou de manter o proponente a seu serviço empregado não legalmente habilitado, ou sem as aptidões requeridas.

Culpa in vigilando é a que promana de ausência de fiscalização por parte do patrão, quer relativamente aos seus empregados, quer no tocante à própria coisa. É o caso da empresa de transportes, que tolera a saída de veículos desprovidos de freios, dando causa a acidentes.

Verifica-se a culpa in committendo, quando o agente pratica ato positivo (imprud6encia), enquanto a in omittendo decorre de abstenção (negligência).”171

Em havendo a caracterização de qualquer uma das

modalidades de culpa, restará demonstrada a responsabilidade do empregador,

desde que os demais requisitos estejam presentes.

3.4.3.2 Graus de culpa

A culpa pode ocorrer em três diferentes graus: levíssimo,

leve e grave.

A culpa será considerada grave quando “o causador do

acidente do trabalho tiver agido com extrema negligência ou imprudência, com

grosseira falta de cautela, atuando com descuido injustificável ao empregador

normal. Pode ser também chamada de culpa consciente, que se avizinha do dolo

eventual do Direito Penal”172

Segundo OLIVEIRA, a culpa leve e levíssima será “aquela

infração que o empregador médio teria evitado, ou seja, aquele patrão que adota

o nível de atenção ordinária, o equivalente ao bonus pater familias. Já a culpa

levíssima ficará caracterizada quando ocorre a falta cuja prevenção está acima do

padrão médio da sociedade, mas um empregador bastante diligente,

especialmente cuidadoso, tê-la-ia evitado.”173

Cabe ressaltar que para efeitos de responsabilidade civil do

empregador, pouco importa o grau de culpa:

171 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. RT: São Paulo, 2004, p. 136172 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 62173 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 147

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“O grau de culpa do empregador no acidente do trabalho não impede o direito à indenização devida ao acidentado, já que o art. 7.°, XXVIII, da Constituição, só exige a presença do dolo ou culpa, sem mencionar o qualificativo da culpa grave, como previsto na antiga Súmula n. 229 do STF, que ficou superada nesse aspecto.”174

Contudo, será relevante para o quantum fixado a título de

indenização, uma vez que o artigo 944 do Código Civil estabelece:

“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”175

Segundo OLIVEIRA:

“O julgamento por equidade, quando o dano decorrente do acidente for grande e a culpa do empregador mínima, permitirá ao juiz dosar ponderadamente a indenização, considerando todas as singularidades do caso concreto e até mesmo as posses do ofensor e da vítima, especialmente no que se refere ao arbitramento dos danos morais.”176

Os graus de culpa do empregador são de extrema

importância para a fixação do quantum indenizatório a ser deferido pelo

Magistrado.

3.4.3.3 Culpa concorrente da vítima

Dispõe o artigo 945 do Código Civil:

“Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.”177

No Código Civil de 1916 sequer havia previsão expressa da

concorrência de culpas, sendo essa uma adaptação doutrinária e jurisprudencial.174 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 183175 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 24 jul. 2008176 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 184.177 BRASIL. Lei ordinária nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em 24 jul. 2008

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Segundo Cunha Gonçalves, a partilha dos prejuízos deve

ser efetuada da seguinte forma:

“A melhor doutrina é a que propõe a partilha dos prejuízos: em partes iguais, se forem iguais as culpas ou não for possível provar o grau de culpabilidade de cada um dos co-autores; em partes proporcionais aos seus graus de culpa, quando estas forem desiguais.”178

Contudo, em sede de acidentes de trabalho, na maior parte

dos sinistros a culpa será atribuída com maior densidade ao empregador, que

possui os poderes diretivos, segundo entendimento de Sebastião de Oliveira:

“Está sedimentado o entendimento de que os acidentes do trabalho ocorrem em razão de uma rede de fatores causais, cujas variáveis são controladas, em sua maior parte, exclusivamente pelo empregador. Com isso, muitas vezes a culpa patronal absorve ou mesmo neutraliza a culpa da vítima, em razão das diversas obrigações preventivas que a lei atribui às empresas.”179

Podem ocorrer situações nas quais empregado e

empregador obraram com culpa. Contudo, em grande parte das situações, a

culpa do empregado é tão mínima que é absorvida pela culpa do empregador,

que possui maior grau de responsabilidade pela salubridade no ambiente de

trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo a análise da

responsabilidade civil do empregador no acidente de trabalho.

178 GONÇALVES, Cunha. Tratado de direito civil. V. XII, t II, p. 1906.179 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 187.

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Atualmente, em face as diversas modificações trazidas pela

Legislação Civil, interpretações jurisprudenciais e ensinamentos doutrinários, o

tema mostrou-se demasiadamente controvertido, e até mesmo novidade na

esfera do direito do trabalho, com a alteração da competência trazida pela

Emenda Constitucional n. 45.

Para o seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido

em três capítulos.

No primeiro capítulo restou estudado o empregador, sob os

mais diferentes aspectos, partindo-se do conceito, suas espécies, equiparação, e

os efeitos causados pela sucessão de empregadores.

No segundo capítulo foi tratado do tema acidente de

trabalho, onde realizou-se um sucinto estudo sobre o histórico das Leis

acidentários, espécies legais de acidente de trabalho, sua conceituação, as

doenças ocupacionais que são equiparadas ao acidente de trabalho, bem como

as normas de segurança do trabalho, exigidos pela CLT e Legislação esparsa.

No terceiro e último capítulo, foi analisada a

responsabilidade civil, sob o aspecto do direito do trabalho, com a conceituação

da responsabilidade civil, suas espécies, a natureza dos danos decorrentes do

acidente de trabalho, requisitos para a responsabilidade indenizatória.

Por derradeiro, retoma-se as hipóteses da pesquisa:

A responsabilidade a ser aplicada é a subjetiva, tendo em vista a previsão legal existente, que foi confirmada, tendo em vista a norma Constitucional do artigo 7., inciso XXVIII, ressalvada a ocorrência da responsabilização objetiva nos casos do risco causado pela atividade profissional.

A empresa poderá ser condenada a indenizar o empregado por danos morais, materiais e estéticos, sendo estes os três grandes grupos de espécies de indenização existentes,

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apesar de correntes doutrinárias entenderem que os danos estéticos são uma das espécies de dano moral.

O empregador poderá ser isentado de responsabilidade na ocorrência de culpa exclusiva da vítima, ou também na ocorrência de caso fortuito, força maior, além da responsabilidade de terceiro pelo fato danoso.

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