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AT\1104369PT.doc AP101.794v04-00 PT PT ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO–LATINO-AMERICANA RESOLUÇÃO: O financiamento dos partidos políticos na União Europeia e na América Latina com base no parecer da Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos Direitos Humanos Correlatores: Ángel Rozas (Parlatino) Beatriz Becerra Basterrechea (Parlamento Europeu) Quinta-feira, 22 de setembro de 2016 - Montevideu

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AT\1104369PT.doc AP101.794v04-00

PT PT

ASSEMBLEIA PARLAMENTAREURO–LATINO-AMERICANA

RESOLUÇÃO:

O financiamento dos partidos políticos naUnião Europeia e na América Latinacom base no parecer da Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos DireitosHumanos

Correlatores: Ángel Rozas (Parlatino)Beatriz Becerra Basterrechea (Parlamento Europeu)

Quinta-feira, 22 de setembro de 2016 - Montevideu

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PT

EUROLAT - Resolução de 22 de setembro de 2016 - Montevideu[com base no parecer da Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos DireitosHumanos]

O financiamento dos partidos políticos na União Europeia e na América Latina

A Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana,

– Tendo em conta a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção,

– Tendo em conta a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas asFormas de Discriminação contra as Mulheres,

– Tendo em conta a Carta Democrática Interamericana,

– Tendo em conta as conclusões do Encontro do Parlamento Latino-Americano sobre «Ademocracia, a governação e os partidos políticos na América Latina», realizado emjulho de 2004,

– Tendo em conta a Resolução intitulada «Financiamento dos partidos políticos e dascampanhas eleitorais: transparência e prestação de contas», da 124.ª Assembleia daUnião Interparlamentar, realizada em 20 de abril de 2011, na Cidade do Panamá(República do Panamá),

– Tendo em conta a Resolução da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americanaintitulada «Participação dos cidadãos e democracia na América Latina e na UniãoEuropeia», aprovada em 29 de março de 2014, em Atenas (Grécia),

A. Considerando que os partidos políticos são uma instituição fundamental da democraciarepresentativa e que cumprem uma função pública de suma importância enquantoinstrumentos de representação e participação política;

B. Considerando que o reforço dos partidos políticos enquanto instrumentos departicipação e representação requer a aplicação, em benefício dos cidadãos, demecanismos de financiamento transparentes, proporcionados e sustentáveis e que osrecursos económicos são imprescindíveis para exercer com independência e eficácia asua função, embora na ausência de regulamentação suficiente possam também falsear oprocesso democrático;

C. Considerando que os partidos políticos transmitem as reivindicações dos cidadãos àsinstituições e que a transparência do seu financiamento é necessária para a prestação decontas, um pilar fundamental das instituições democráticas;

D. Considerando que a democracia gera e exige a ponderação das necessidades de todos oscidadãos em condições de igualdade, o que obriga a assegurar o acesso equitativo aosrecursos, a tornar transparente a origem do apoio económico e a evitar todos os conflitosde interesse, as pressões e as interferências, nomeadamente os que possam estarrelacionados com dinheiros de proveniência duvidosa ou ilícita;

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E. Considerando que as lacunas da regulação do financiamento político podem afetarnegativamente a qualidade da democracia, comprometer a confiança pública nasinstituições governamentais e proporcionar oportunidades para a criminalidadeorganizada influenciar a gestão pública, pelo que a regulamentação do financiamentopolítico se reveste de uma importância fundamental para a preservação da democracia;

F. Considerando que a distribuição desigual de recursos afeta de forma variável asoportunidades de os partidos e os candidatos fazerem chegar as suas propostas aoscidadãos, de participarem nas eleições e/ou de serem eleitos;

G. Considerando a possibilidade de surgirem conflitos de interesse nos processos derecolha de fundos, bem como a eventualidade de doadores privados, quando nãosujeitos a um sistema transparente que limite a possibilidade de contribuir para aatividade política dos partidos, utilizarem o financiamento político como instrumentopara influenciar o processo de decisão, atentando contra o princípio da igualdadedemocrática;

H. Considerando a importância da liberdade de imprensa, do pluralismo, da qualidade e daproteção das informações, e do acesso a estas, bem como o direito dos cidadãos a seremcorretamente informados; que a objetividade dos meios de comunicação socialrepresenta uma garantia do direito a uma informação verídica, suficiente e imparcial;que a imprensa desempenha um trabalho essencial de difusão das opiniões políticas eque é necessário assegurar o acesso equitativo dos partidos políticos aos meios decomunicação para divulgar as suas candidaturas e propostas políticas;

I. Considerando que a falta de transparência e de fiscalização dos recursos privadosobtidos pelos partidos políticos e pelas fundações torna muito difícil pôr fim aosconflitos de interesse, às «portas giratórias» e ao financiamento ilegal das campanhaseleitorais;

Considerando o Direito comparado em matéria de financiamento político nos países daassociação birregional, que inclui regulamentação sobre o financiamento privado epúblico, as despesas, a prestação de contas, a auditoria e as sanções;

K. Considerando que a dificuldade de acesso aos recursos, devido a diferentes fatores,nomeadamente de ordem cultural, é uma limitação de facto para a participação e oacesso das mulheres, dos jovens, das populações autóctones, das minorias étnicas, daspessoas LGBTI e das pessoas com deficiência, entre outras minorias ou setoresexcluídos, a cargos de representação;

L. Considerando que os partidos políticos são essenciais para lograr uma participação dehomens e mulheres em igualdade de condições e de oportunidades na vida política, eque a igualdade de género e a emancipação das mulheres são componentes fulcrais dequalquer sistema político democrático, pelo que nenhuma medida destinada a promovera participação das mulheres pode ser considerada discriminatória;

M. Considerando que, devido ao princípio da igualdade democrática, é indispensável ter emconta eventuais mecanismos complementares de financiamento indireto dos partidospolíticos;

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N. Considerando que o desenvolvimento das redes sociais permite a reformulação dosprocessos tradicionais de financiamento político, nomeadamente através domicrofinanciamento e da identificação de voluntários, o que obriga a adaptar ascampanhas eleitorais e a promover quadros regulamentares que abordem estas novasferramentas;

1. Solicita o reforço dos partidos políticos enquanto mecanismos de representaçãodemocrática e de participação política, garantindo eficazmente os recursos adequados(diretos e indiretos) para que possam funcionar sempre de forma eficaz e ética,garantindo assim uma concorrência real e equitativa;

2. Considera que a regulação adequada do financiamento político – com base em rigorososcritérios de transparência, controlo e prestação de contas – é sempre uma tarefa urgentepara as democracias da América Latina e da União Europeia, uma vez que a regulaçãodo financiamento político e a democratização do funcionamento interno dos partidosreforçam a democracia, o Estado de direito, a boa governação e a confiança doscidadãos nos seus representantes e nas instituições;

3. Reconhece a importância de criar mecanismos de controlo, por meio dos quais oscidadãos possam conhecer a origem e utilização dos recursos financeiros recebidospelos partidos políticos;

4. Considera que é essencial estabelecer um sistema de financiamento misto (público-privado) equilibrado, devidamente regulado pelas legislações nacionais, e um sistema decontrolo do financiamento que criminalize, penalize e reprima o financiamento ilegal,dotado de órgãos supervisores de controlo, independentes dos partidos, que realizemauditorias e fiscalizem;

5. Considera desejável a criação nos países de um sistema de incentivos fiscais regressivosrelativamente ao financiamento privado dos partidos;

6. Salienta que os partidos políticos devem não só utilizar os seus recursos de formaeficiente e responsável na execução de campanhas eleitorais, mas também afetarrecursos específicos para atividades de reforço das capacidades, formação política,promoção da participação política e desenvolvimento institucional, abstendo-se, aomesmo tempo, de criar redes privilegiadas e de as utilizar para qualquer tipo de despesaa título particular, e respeitando sempre as especificações que as legislações nacionais eos regulamentos dos partidos deverão contemplar;

7. Salienta a necessidade de assegurar a transparência do sistema democrático,promovendo diretrizes vinculativas para a apresentação anual de relatórios financeiros,cujo acesso público deve ser assegurado de modo oportuno e fiável, e que incluam,entre outras rubricas, a repartição da origem e do destino dos fundos recebidos, asdespesas dos partidos, a identidade dos doadores, e cujo incumprimento ou apresentaçãotardia implique uma sanção; no caso dos fundos utilizados nos processos eleitorais, ainstituição nacional responsável pelo controlo de despesas eleitorais publicará,atempada e adequadamente, todas as informações relativas ao financiamento e despesasdos partidos políticos na campanha eleitoral;

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8. Propõe a criação de instituições de controlo internas e externas aos partidos políticospara fomentar a cooperação interinstitucional, melhorar a uniformização das formaçõese a experiência em matéria de auditoria ao financiamento político, e assim aumentar atransparência, dado que a transparência no financiamento político é fundamental parareforçar a confiança no sistema;

9. Recomenda a criação de um sistema de publicação na Internet, a fim de que asdemonstrações financeiras dos candidatos, dos representantes públicos eleitos e dospartidos sejam obrigatórias e facilmente acessíveis, colocando à disposição dos cidadãosa informação pormenorizada sobre as fontes de financiamento, os relatórios financeirose as auditorias aos partidos e suas fundações, realizadas pelas autoridades competentes;

10. Exorta a assegurar que os recursos necessários para as atividades partidárias e eleitoraisnão provenham de fontes questionáveis nem sejam obtidos por vias ilegais, pelo quedefende a divulgação obrigatória da identidade dos doadores, bem como oestabelecimento de normas que proíbam expressamente determinadas fontes;

11. Sugere a introdução de limites para os montantes recebidos de pessoas singulares ecoletivas, com o objetivo de limitar qualquer eventual distorção do princípio daigualdade democrática;

12. Insta os Estados a estabelecerem um quadro regulamentar relativamente à ação dosgrupos de pressão (lobbies) em todos os seus sistemas políticos, garantindo que aquelesdesenvolvem sempre as respetivas atividades de forma transparente, honesta e emconformidade com a lei;

13. Salienta a necessidade de promover as medidas necessárias para erradicar aquilo quehabitualmente se chama paraísos fiscais e o sigilo bancário;

14. Salienta que os partidos políticos devem indicar claramente perante o eleitorado e asautoridades competentes quem são as pessoas dos partidos responsáveis em termoseconómico-financeiros, bem como manter exercícios contabilísticos para apresentaranualmente às autoridades públicas;

15. Insta à união de esforços entre as autoridades estatais – governamentais, parlamentares ejudiciais – a fim de garantir uma justiça oportuna, rápida e independente, e a criação deautoridades oficiais de controlo independentes, eficazes e dotadas dos recursos públicosnecessários para cumprir esta tarefa, assegurando, deste modo, a conformidade com aregulamentação em vigor;

16. Insta à adoção de incentivos para que os partidos políticos canalizem recursosespecíficos destinados a reforçar a participação e a democracia interna, promovendolistas paritárias e a igualdade de condições e de oportunidades para a participação nosórgãos partidários e a apresentação de candidatos a eleições de mulheres, pessoasLGBTI, membros de povos indígenas, pessoas com deficiência e jovens, entre outrasminorias ou setores excluídos;

17. Insta a que se criem disposições nas normas que rejam o controlo do financiamentopúblico e os sistemas de contratação pública para evitar os conflitos de interesses entre

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quem contribui e o beneficiário da contribuição, que condicionam a contribuição àassunção de compromissos contrários à lei, como contrapartida ou retribuição dacontribuição entregue e recebida;

18. Exorta a que se regule, através de legislação nacional, a forma de utilização dos recursosobtidos pelos partidos políticos através de financiamento público e privado, proibindoque sejam usados na entrega de doações, presentes ou brindes aos cidadãos;

19. Incentiva a criação de novos paradigmas no acesso universal ao direito à informação,apelando a que os meios de comunicação procedam a mudanças e reformas conducentesa comportamentos éticos, plurais, imparciais e profissionais, no contexto de umaregulamentação que garanta o direito fundamental à diversidade das fontes deinformação e ao jornalismo de qualidade;

20. Insta os governos a garantirem o pluralismo político e a assegurarem que a legislaçãoem matéria de financiamento político não impeça o aparecimento de novosintervenientes políticos, sempre dentro dos limites estabelecidos pelas constituiçõesnacionais e pelos valores éticos universais;

21. Exorta à limitação dos custos das campanhas eleitorais, regulando e reduzindo aduração das mesmas, bem como promovendo mecanismos de financiamento inovadorese alternativos;

22. Insta à aprovação uma regulamentação clara e específica sobre o financiamento dequalquer forma de alianças eleitorais;

23. Insta os países que ainda não o fizeram a ratificarem a Convenção das Nações Unidascontra a Corrupção;

24. Sugere a criação de registos das empresas de sondagens e de inquéritos de opinião queobriguem estas empresas a informar sobre as especificações técnicas da metodologiautilizada, o tipo de inquérito ou sondagem, a dimensão e as características das amostras,o procedimento de seleção dos entrevistados, o erro estatístico, a data e o local dotrabalho de campo; propõe igualmente proibir a publicação, difusão ou reprodução deinquéritos eleitorais por qualquer meio de comunicação nos dias que antecedem aseleições;

25. Encarrega os seus copresidentes de transmitir a presente resolução ao Conselho daUnião Europeia e à Comissão Europeia, aos parlamentos dos Estados-Membros daUnião Europeia e de todos os países da América Latina e das Caraíbas, ao ParlamentoLatino-Americano, ao Parlamento Centro-Americano, ao Parlamento Andino, aoParlamento do Mercosul, ao Secretariado da Comunidade Andina, à Comissão deRepresentantes Permanentes do Mercosul, ao Secretariado Permanente do SistemaEconómico Latino-Americano e aos Secretários-Gerais da OEA, da UNASUL e dasNações Unidas.