resoluÇÃo do simulado dissertatvio prova d-2 … · gonçalves dias, primeiros cantos. canto do...

6
SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017 01. (UNESP) Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento. (Georges Duby. Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos, 1998.) O texto refere-se à peste que atingiu a Europa no século XIV. Indique dois fatores, além da falta de defesa dos organismos dos europeus, que ajudaram na propagação da doença, e explique a associação, feita pelo texto, da peste com o progresso. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Biologia] A peste bubônica e a pneumônica são causadas pela bactéria Yersina pestis e transmitida pela picada da pulga de ratos (Xenopsilla cheops). A propagação da doença na Europa, no século XIV foi favorecida pelas péssimas condições dos aglomerados populacionais e a inexistência, na época, de meios de tratamento da infecção. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Um conjunto de fatores pode ser considerado para a contribuição da propagação, como a precariedade das condições de higiene nas cidades, a precariedade de hábitos de higiene pessoal ou o desconhecimento das causas da doença. O comércio europeu atravessava um momento de grande desenvolvimento, conduzido principalmente por mercadores italianos que passaram a dominar as rotas e portos do Mar mediterrâneo. Na Europa havia grande efervescência do comércio e da vida urbana. 02. (FUVEST) O café passou a ser o produto das grandes fazendas doadas em sesmarias, enquanto a corte portuguesa residia no Rio de Janeiro. Na verdade, o café foi a salvação da aristocracia colonial. Foi também a salvação da corte imperial cambaleante, que, assediada por rebeliões regenciais e duramente pressionada a pagar pelas burocracias civil e militar necessárias para consolidar o Estado, foi resgatada pelas receitas do café que afluíam para a alfândega do Rio de Janeiro. Caso as condições de cultivo tivessem sido mais favoráveis ao café nas distantes e rebeldes cidades do Recife, Porto Alegre ou São Luís, seriam geradas forças centrífugas que teriam dividido o Brasil. Warren Dean, A ferro e fogo. A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira, 1996. Adaptado. A partir do texto, a) indique a localização geográfica da cultura do café no Império do Brasil, mencionando qual foi sua maior zona produtora; b) caracterize a economia das províncias que, entre 1835 e 1845, rebelaram-se contra o poder central do Império. a) Vale do Paraíba, na região Sudeste. b) Bahia: agricultura. Pará: extrativismo. Rio Grande do Sul: pecuária. Maranhão: agricultura. São Paulo: agricultura. Minas Gerais: agricultura. 03. (UNESP) Leia o trecho do romance Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis (1839-1908), em que o personagem Bento apresenta ao amigo Escobar os bens de sua família. Não, agora não voltamos mais [a viver na fazenda]. Olhe, aquele preto que ali vai passando, é de lá. Tomás! Nhonhô! Estávamos na horta da minha casa, e o preto andava em serviço; chegou-se a nós e esperou. É casado, disse eu para Escobar. Maria onde está? Está socando milho, sim, senhor. [...] Bem, vá-se embora. Mostrei outro, mais outro, e ainda outro, este Pedro, aquele José, aquele outro Damião... Todas as letras do alfabeto, interrompeu Escobar. Com efeito, eram diferentes letras, [...] distinguindo-se por um apelido ou da pessoa [...] ou de nação como Pedro Benguela, Antônio Moçambique. E estão todos aqui em casa? perguntou ele. Não, alguns andam ganhando na rua, outros estão alugados. Não era possível ter todos em casa. Nem são todos os da roça: a maior parte ficou lá. Dom Casmurro, 1994. RESOLUÇÃO DO SIMULADO DISSERTATVIO PROVA D-2 GRUPO EXTN

Upload: dangbao

Post on 11-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

01. (UNESP) Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da

seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento.

(Georges Duby. Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos, 1998.) O texto refere-se à peste que atingiu a Europa no século XIV. Indique dois fatores, além da falta de defesa dos organismos dos europeus, que ajudaram na propagação da doença, e explique a associação, feita pelo texto, da peste com o progresso.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de Biologia] A peste bubônica e a pneumônica são causadas pela bactéria Yersina pestis e transmitida pela picada da pulga de ratos (Xenopsilla cheops). A propagação da doença na Europa, no século XIV foi favorecida pelas péssimas condições dos aglomerados populacionais e a inexistência, na época, de meios de tratamento da infecção. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História]

Um conjunto de fatores pode ser considerado para a contribuição da propagação, como a precariedade das condições de higiene nas cidades, a precariedade de hábitos de higiene pessoal ou o desconhecimento das causas da doença. O comércio europeu atravessava um momento de grande desenvolvimento, conduzido principalmente por mercadores italianos que passaram a dominar as rotas e portos do Mar mediterrâneo. Na Europa havia grande efervescência do comércio e da vida urbana. 02. (FUVEST) O café passou a ser o produto das grandes fazendas doadas em sesmarias, enquanto a corte portuguesa residia

no Rio de Janeiro. Na verdade, o café foi a salvação da aristocracia colonial. Foi também a salvação da corte imperial cambaleante, que, assediada por rebeliões regenciais e duramente pressionada a pagar pelas burocracias civil e militar necessárias para consolidar o Estado, foi resgatada pelas receitas do café que afluíam para a alfândega do Rio de Janeiro. Caso as condições de cultivo tivessem sido mais favoráveis ao café nas distantes e rebeldes cidades do Recife, Porto Alegre ou São Luís, seriam geradas forças centrífugas que teriam dividido o Brasil.

Warren Dean, A ferro e fogo. A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira, 1996. Adaptado.

A partir do texto, a) indique a localização geográfica da cultura do café no Império do Brasil, mencionando qual foi sua maior zona produtora; b) caracterize a economia das províncias que, entre 1835 e 1845, rebelaram-se contra o poder central do Império.

a) Vale do Paraíba, na região Sudeste. b) Bahia: agricultura. Pará: extrativismo. Rio Grande do Sul: pecuária. Maranhão: agricultura. São Paulo: agricultura. Minas Gerais: agricultura. 03. (UNESP) Leia o trecho do romance Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis (1839-1908), em que o personagem Bento

apresenta ao amigo Escobar os bens de sua família. – Não, agora não voltamos mais [a viver na fazenda]. Olhe, aquele preto que ali vai passando, é de lá. Tomás! – Nhonhô! Estávamos na horta da minha casa, e o preto andava em serviço; chegou-se a nós e esperou. – É casado, disse eu para Escobar. Maria onde está? – Está socando milho, sim, senhor. [...] – Bem, vá-se embora. Mostrei outro, mais outro, e ainda outro, este Pedro, aquele José, aquele outro Damião... – Todas as letras do alfabeto, interrompeu Escobar. Com efeito, eram diferentes letras, [...] distinguindo-se por um apelido ou da pessoa [...] ou de nação como Pedro Benguela, Antônio Moçambique. – E estão todos aqui em casa? perguntou ele. – Não, alguns andam ganhando na rua, outros estão alugados. Não era possível ter todos em casa. Nem são todos os da roça: a maior parte ficou lá.

Dom Casmurro, 1994.

RESOLUÇÃO DO SIMULADO DISSERTATVIO

PROVA D-2 GRUPO EXTN

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

O enredo de Dom Casmurro transcorre na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império brasileiro. A partir da análise do trecho, explicite a visão do proprietário sobre os seus escravos, as origens desses escravos e os tipos de exploração escravista na sociedade brasileira do século XIX.

Fica claro que, para Bento, os escravos são propriedades, fazendo parte do patrimônio familiar. O texto também deixa claro que os escravos são de origem africana e trabalham em 4 frentes: (1) lavoura/roça, (2) casa (escravos domésticos), (3) atividades urbanas remuneradas (escravos de ganho) e (4) cedidos a terceiros mediante pagamento (escravos de aluguel). 04. (FUVEST)

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

[...] Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias, Primeiros cantos.

Canto do regresso à pátria

Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra

[...] Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo. Oswald de Andrade, Pau-Brasil.

a) Considerando que os poemas foram escritos, respectivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos históricos sob os

pontos de vista político e social. b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença estética e uma diferença ideológica entre ambos.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de História]

a) Em 1843 o Brasil atravessa um período de fim da Regência e início do Segundo Reinado. A ascensão de d. Pedro II ao trono acabou por acalmar os ânimos políticos e sociais do Império. Em 1924 o país atravessava um período de questionamentos acerca do governo oligárquico. A maior marca desses questionamentos foram os Levantes Tenentistas. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Português]

a) O contexto histórico de consolidação do Estado nacional brasileiro explica o nacionalismo ufanista de Gonçalves Dias, postura comum aos poetas da época, que tinham como propósito a construção de uma literatura verdadeiramente nacional, que refletisse a identidade da jovem nação brasileira. Nesse contexto se insere o Modernismo, iniciado a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922. O propósito dos poetas dessa época, entre eles Oswald de Andrade, era de revolucionar a literatura brasileira. Há, nesse período, também uma tendência nacionalista, mas não o nacionalismo ufanista dos românticos, mas um nacionalismo crítico, capaz de expressar a complexidade da realidade brasileira. b) Diferenças estéticas: o primeiro poema, de Gonçalves Dias, possui rimas e métrica de sete sílabas poéticas – trata-se de uma redondilha maior. Além disso, é uma obra original que descreve a terra brasileira em seus aspectos naturais. O segundo poema, de Oswald de Andrade, estrutura-se predominantemente em sete sílabas poéticas também, com exceção do segundo verso, que possui seis; no entanto, não possui rimas. A temática é urbana e ele parodia “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. Diferenças ideológicas: o primeiro poema pertence ao Romantismo e apresenta um nacionalismo ufanista. Já o segundo é da primeira fase do modernismo e caracteriza-se pela iconoclastia – o que justifica a paródia ao poema do Romantismo –, pela irreverência e pela criticidade.

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

05. (PUC RJ)

Fumicultura brasileira: distribuição fundiária –

2011/2012

Hectares Famílias %

Sem Terra 30.720 24,0

De 1 a 10 58.710 35,6

De 11 a 20 42.230 25,6

De 21 a 30 16.540 10,0

De 31 a 50 6.250 3,8

Mais de 50 1.720 1,0

TOTAL 165.170 100,0

AFUBRA, SEAB-DERAL, 2013. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/fumo_2012_13.pdf>. Acesso em: 14

out. 2013. Adaptado.

a) O tabagismo está em queda no Brasil nos últimos anos. Porém, uma queda mais expressiva não ocorre, pois o Brasil é grande produtor e exportador de fumo. Em estados como o Rio Grande do Sul, o fumo é produzido principalmente em pequenas e médias propriedades familiares (1 até 10 hectares), além de gerar numerosos empregos rurais para trabalhadores sem terra. Assim, a proibição da produção ou qualquer medida radical traria impactos econômicos e sociais. b) Houve um aumento da produção de fumo em alguns países subdesenvolvidos e emergentes (a exemplo do Brasil) devido à elevação das exportações em direção a países emergentes como a China, onde o tabagismo está em crescimento. A entrada de transnacionais do setor em países subdesenvolvidos da África e Ásia também estimula o crescimento do cultivo de fumo. 06. (UNIFESP) Em uma cidade no interior do Estado de São Paulo, a atividade dos jardineiros da prefeitura é menor em

determinada estação do ano: a grama e os arbustos dos jardins têm o crescimento reduzido, exigindo menos podas. a) Cite a estação do ano em que ocorre essa redução de crescimento e a caracterize com relação à pluviosidade e à temperatura. b) Cite um outro fator ambiental característico dessa estação do ano e explique como esse fator contribui para que a grama e os

arbustos tenham o crescimento reduzido.

a) O crescimento reduzido da grama e arbustos corresponde ao inverno que no clima tropical é caracterizado por médias térmicas mais baixas e pluviosidade menor. b) Outro fator ambiental característico do inverno é a redução da luminosidade solar que por sua vez reduz a fotossíntese resultando em menor crescimento das plantas. 07. (FUVEST) Leia o seguinte texto:

Pense antes de compartilhar

Cada vez mais pessoas interagem por meio de redes sociais. O crescimento dessas comunidades reforça uma das principais discussões relativas à internet: a privacidade.

Época, 15/04/2011.

a) A última palavra que encerra a matéria expressa a preocupação do jornalista relativamente ao direito à privacidade que, muitas vezes, é prejudicado pelo excesso de compartilhamento de dados pessoais através de redes sociais da internet. b) No verbete “privacidade” do Dicionário Houaiss da língua portuguesa, faz-se referência a “anglicanismo”, ou seja, ao uso de palavra, expressão ou construção estrangeira em vez da correspondente na língua portuguesa, o que é apontado nas gramáticas normativas como um vício de linguagem, classificado como estrangeirismo ou barbarismo, no caso de haver expressão vernácula equivalente. Neste caso, a palavra “privacidade” poderia ser substituída por intimidade.

Apesar de ser um dos países protagonistas na luta contra o tabagismo no mundo, com uma legislação bastante rigorosa em relação ao consumo de cigarros, o Brasil, há 20 anos, tornou-se o segundo produtor e o maior exportador de tabaco do planeta. a) Com base na tabela apresentada, explique por que o combate

ao tabagismo no país não é tão eficaz como poderia ser. b) Indique duas causas para o aumento da produção\exportação

do fumo dos países mais pobres para os mais ricos

emergentes na atualidade.

a) Qual a razão apresentada por essa matéria jornalística para aconselhar seus leitores a “pensar antes de compartilhar”?

b) No verbete “privacidade”, do Dicionário Houaiss da língua portuguesa, lê-se: trata-se de ang. de empréstimo recente na língua, sugerindo-se em seu lugar o uso de ................ .

Por que o dicionário sugere que se evite o uso de “privacidade”? Que palavra pode ser usada em seu lugar?

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

08. (UERJ)

A posição tanto da China quanto dos Estados Unidos no primeiro gráfico difere daquela que esses países assumem no segundo, o qual apresenta a proporção da fonte hidráulica em relação ao total de eletricidade gerada pelas diversas fontes produtoras. Explique essa diferença com base na economia desses dois países. Apresente, ainda, uma vantagem e um problema, ambos de caráter ambiental, para os países com os mais elevados percentuais de utilização de energia hidrelétrica.

Embora China e Estados Unidos tenham a maior capacidade hidrelétrica instalada, o percentual de geração elétrica na composição da matriz é baixo em razão do carvão mineral representar mais da metade do consumo energético da China e dos combustíveis fósseis, em especial o petróleo, representar a fonte energética mais utilizada nos Estados Unidos. A energia hidrelétrica apresenta como vantagens ser uma fonte renovável e limpa (sem emissão de gases poluentes) e como problemas, a desconstrução de grandes áreas de paisagens naturais causando alagamento, perda de terras aráveis e deslocamento de população indígena e ribeirinha. 09. (UERJ) - O DISCURSO

Natividade é que não teve distrações de espécie alguma. Toda ela estava nos filhos, e agora especialmente na carta e no

discurso. Começou por não dar resposta às 1efusões políticas de Paulo; foi um dos conselhos do conselheiro. Quando o filho

tornou pelas férias tinha esquecido a carta que escrevera. O discurso é que ele não esqueceu, mas quem é que esquece os discursos que faz? Se são bons, a memória os grava

em bronze; se ruins, deixam tal ou qual amargor que dura muito. 2O melhor dos remédios, no segundo caso, é supô-los

excelentes, e, se a razão não aceita esta imaginação, consultar pessoas que a aceitem, e crer nelas. A opinião é um velho óleo incorruptível.

Paulo tinha talento. O discurso naquele dia podia pecar aqui ou ali por alguma ênfase, e uma ou outra ideia vulgar e exausta. Tinha talento Paulo. Em suma, o discurso era bom. Santos achou-o excelente, leu-o aos amigos e resolveu transcrevê-lo nos jornais.

3Natividade não se opôs, mas entendia que algumas palavras deviam ser cortadas.

– Cortadas, por quê? perguntou Santos, e ficou esperando a resposta. – Pois você não vê, Agostinho; estas palavras têm sentido republicano, explicou ela relendo a frase que a afligira. Santos ouvia-as ler, leu-as para si, e não deixou de lhe achar razão. Entretanto, não havia de as suprimir. – Pois não se transcreve o discurso. – Ah! isso não! O discurso é magnífico, e não há de morrer em S. Paulo; é preciso que a Corte o leia, e as províncias

também, e até não se me daria fazê-lo traduzir em francês. Em francês, pode ser que fique ainda melhor. – Mas, Agostinho, isto pode fazer mal à carreira do rapaz; o imperador pode ser que não goste... Pedro, que assistia desde alguns instantes ao debate, interveio docemente para dizer que os receios da mãe não tinham

base; era bom pôr a frase toda, e, a rigor, não diferia muito do que os liberais diziam em 1848. – Um monarquista liberal pode muito bem assinar esse trecho, concluiu ele depois de reler as palavras do irmão. – Justamente!

4assentiu o pai.

5Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer

Paulo. Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia trechos do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais novas, cantando as mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo com tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão do discurso foi resolvida. Também se tirou uma edição em folheto, e o pai mandou encadernar ricamente sete exemplares, que levou aos ministros, e um ainda mais rico para a Regente.

MACHADO DE ASSIS Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.

1efusão − manifestação expansiva de sentimentos

4assentir − concordar

Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer Paulo. Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro l ia trechos do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais novas, cantando as mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo com tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão do discurso foi resolvida. (ref. 5) Nesse trecho, observa-se que Pedro, mesmo com posição política contrária à de Paulo, lê com entusiasmo o discurso do irmão, trocando de lugar com ele. Essa troca de papéis sugere uma crítica acerca da política daquela época. Explicite essa crítica. Aponte, ainda, a relação de sentido que a oração sublinhada estabelece com a anterior.

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

A crítica acerca da política daquela época que a troca de papéis sugere é que não há uma oposição nítida entre os discursos monarquista e republicano. A relação de sentido que a oração sublinhada estabelece com a anterior é de consequência. 10. (UNICAMP) O texto abaixo é parte de uma campanha promovida pela ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas).

Surfamos a Internet, Nadamos em revistas

A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam.

A Internet é passageira. Revistas são permanentes. E essas duas mídias estão crescendo.

Um dado que passou quase despercebido em meio ao barulho da Internet foi o fato de que a circulação de revistas aumentou nos últimos cinco anos. Mesmo na era da Internet, o apelo das revistas segue crescendo. Pense nisto: o Google existe há 12 anos. Durante esse período, o número de títulos de revistas no Brasil cresceu 234%. Isso demonstra que uma mídia nova não substitui uma mídia que já existe. Uma mídia estabelecida tem a capacidade de seguir prosperando, ao oferecer uma experiência única. É por isso que as pessoas não deixam de nadar só porque gostam de surfar.

(Adaptado de Imprensa, n. 267, maio 2011, p. 17.) a) O verbo surfar pode ser usado como transitivo ou intransitivo. Exemplifique cada um desses usos com enunciados que

aparecem no texto da campanha. Indique, justificando, em qual desses usos o verbo assume um sentido necessariamente figurado.

b) Que relação pode ser estabelecida entre o título da campanha e o trecho reproduzido a seguir? Como essa relação é sustentada dentro da campanha? A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam. A Internet é passageira. Revistas são permanentes.

a) O verbo “surfar” é usado como transitivo direto no título do texto da campanha e em sentido figurado, pois está relacionado à capacidade de transição entre sites acessíveis na internet. Na última frase, o mesmo verbo é usado como intransitivo e apresenta

significado literal, pois pertence ao mesmo campo lexical da palavra “nadar”. b) No trecho do enunciado, os termos verbais “empolga”, “agarra” e “passageira” associados à palavra “internet” sugerem uma ação intensa, apaixonante, mas efêmera, ao contrário do que acontece com os que estão ligados à palavra “revista”, menos intensos, mas mais duradouros (“envolvem”, ”abraçam”, “são permanentes”). O mesmo é sugerido no título, já que “surfar” é atividade esportiva moderna e “nadar”, uma modalidade tradicional. 11. (UNESP) - Examine as quatro tiras do cartunista americano Bill Watterson para responder à(s) questão(ões) a seguir.

SINGULAR ANGLO VESTIBULARES OUTUBRO/2017

O Dicionário Houaiss da língua portuguesa define “pergunta retórica” como “aquela que se formula sem objetivo de receber uma resposta, mas apenas para causar um efeito retórico”. Em quais tiras se verifica a ocorrência de perguntas retóricas? Justifique sua resposta.

Verifica-se a existência de perguntas retóricas na Tira 2 (terceiro quadro) e na Tira 4 (segundo quadro). Nos dois casos, a mãe de Calvin não espera uma resposta do filho. Na verdade, a pergunta é feita em tom de repreensão. No entanto, Calvin não entende assim, tanto que responde às perguntas da mãe sem demonstrar entender a censura feita. 12. Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio e só aquele estrape*, e o risco extenso d'água, de

parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: - "Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d'óleo não sobrenadam..." Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!

(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, p. 88-89.)

* instrumento de tortura

Diz Alfredo Bosi a respeito de Guimarães Rosa: "'Grande Sertão: Veredas' e as novelas de 'Corpo de Baile' incluem e revitalizam

recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, ousadias mórficas, elipses, cortes e

deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou de todo neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias,

fusão de estilos, coralidade".

(Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira, p. 430.)

Levando-se em conta a norma padrão do português do Brasil,

a) Como você caracteriza a variação linguística que aparece em "Me deu uma tontura"?

b) Como você redigiria essa frase de acordo com a norma padrão?

a) O uso de pronome oblíquo átono no início de uma oração é característico da variante informal, popular do Português.

b) Deu-me uma tontura.