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08305 Ceratocystis paradoxa OCORRENDO EM PALMEIRAS FRUTÍFERAS E ORNAMENTAIS DO VALE DO RIBEIRA Ceratocystis paradoxa OCCURRING IN RIBEIRA VALLEY’S ORNAMENTAL AND FRUIT PALMS Patrícia Aparecida de Carvalho, Wilson da Silva Moraes, Otávio Luiz Gomes Carneiro, Tales Giorgeto Pereira e Juliana Domingues Lima. – Campus Experimental de Registro – Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira – Engenharia Agronômica – [email protected] Palavras-chaves: resinose, Chalara; Thielaviopsis paradoxa. Keywords: stem bleeding disease; Chalara, Thielaviopsis paradox. 1. INTRODUÇÃO O coqueiro (Cocos nucifera) é uma cultura que vem aumentando sua contribuição na formação do valor bruto da produção agrícola no Norte e no Nordeste. O coqueiro tem usos e finalidades variados, destacando-se em áreas de alimentação, habitação, movelaria, indústria de cosméticos, sabão, fibra e artesanato. Contudo, a produtividade média do coqueiro no Brasil é dependente de diversos fatores, dentre eles o manejo da cultura, o plantio de variedades adequadas, distribuição regular de chuvas e, também, ocorrência de pragas e doenças (GASPAROTTO et al., 2005). No Vale do Ribeira, litoral sul do Estado de São Paulo, algumas tentativas de exploração desta palmeira tem desafiado os produtores, em função da adaptabilidade às condições climáticas da região e a incidência de pragas e doenças. A pupunheira (Bactris gasipes) é uma espécie tropical originária do continente americano e é cultivada há séculos pelas populações indígenas (FONSECA, 2001). No Brasil seu habitat natural é a região Amazônica e seus frutos, muito ricos nutricionalmente, fazem parte da dieta alimentar dos povos da região Norte do país. Esta palmeira possui grande potencial econômico e vem sendo explorada em vários estados brasileiros devido a sua precocidade, capacidade de perfilhamento, altos rendimentos e adaptação às condições adversas (GASPAROTTO et al., 2005). Introduzida no Vale do Ribeira, a pupunheira corresponde a mais recente alternativa de produção de palmito da região, apresentando rentabilidade comprovada, o que reduz a pressão sobre as demais palmeiras nativas. A cultura vem apresentando um aumento crescente, posicionando a região do Vale do Ribeira como a maior produtora do Estado (BOVI, 1998). As palmeiras são plantas pertencentes à família Aracaceae (Palmae), representadas por mais de 240 gêneros e cerca de 3.000 espécies. As ornamentais são muito importantes na composição do paisagismo nacional, as quais juntamente com as árvores, gramados e arbustos são utilizadas pelos paisagistas na formação de parques e jardins. São as plantas mais características da flora tropical, que transmitem ao meio onde cultivadas uns aspectos luxuriantes e fascinantes, típicos das regiões tropicais. No Vale do Ribeira, o mercado dessas palmeiras cresceu consideravelmente nos últimos anos, sendo muitas espécies diferentes cultivadas, tanto por viveiristas como por produtores (RUSSOMANNO; KRUPPA, 2009). Contudo, os problemas sanitários começaram a aparecer, necessitando da utilização, pelos produtores, de técnicas mais apropriadas ao manejo tanto das palmeiras para fins alimentícios quanto das palmeiras ornamentais. A Resinose, por exemplo, é uma doença conhecida de quase todas as áreas produtoras de palmeiras no mundo. É causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa, anamorfo do ascomiceto Ceratocystis paradoxa. Nos coqueirais brasileiros, a ocorrência desta doença foi registrada em 2004 e, desde então, tem se disseminado gradualmente para outras áreas de produção (MOURA et al., 2007). Nesta cultura, o fungo também causa a podridão-negra-do- fruto ou podridão-do-fruto-maduro provocando perdas devido à queda prematura dos frutos jovens e também dos frutos mais desenvolvidos (HERNÁNDEZ; MENDES, 2009). O fungo foi encontrado em palmeiras ornamentais exibindo um sangramento de cor escuro ao longo do estipe,

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Ceratocystis paradoxa OCORRENDO EM PALMEIRAS FRUTÍFERAS E ORNAMENTAIS DO VALE DO RIBEIRA

Ceratocystis paradoxa OCCURRING IN RIBEIRA VALLEY’SORNAMENTAL AND FRUIT PALMS

Patrícia Aparecida de Carvalho, Wilson da Silva Moraes, Otávio Luiz Gomes Carneiro, TalesGiorgeto Pereira e Juliana Domingues Lima.

– Campus Experimental de Registro – Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira – Engenharia Agronômica –[email protected]

Palavras-chaves: resinose, Chalara; Thielaviopsis paradoxa.Keywords: stem bleeding disease; Chalara, Thielaviopsis paradox.

1. INTRODUÇÃOO coqueiro (Cocos nucifera) é uma cultura que vem aumentando sua contribuição na

formação do valor bruto da produção agrícola no Norte e no Nordeste. O coqueiro tem usos e finalidades variados, destacando-se em áreas de alimentação, habitação, movelaria, indústria de cosméticos, sabão, fibra e artesanato. Contudo, a produtividade média do coqueiro no Brasil é dependente de diversos fatores, dentre eles o manejo da cultura, o plantio de variedades adequadas, distribuição regular de chuvas e, também, ocorrência de pragas e doenças (GASPAROTTO et al., 2005). No Vale do Ribeira, litoral sul do Estado de São Paulo, algumas tentativas de exploração desta palmeira tem desafiado os produtores, em função da adaptabilidade às condições climáticas da região e a incidência de pragas e doenças.

A pupunheira (Bactris gasipes) é uma espécie tropical originária do continente americano e é cultivada há séculos pelas populações indígenas (FONSECA, 2001). No Brasil seu habitat natural é a região Amazônica e seus frutos, muito ricos nutricionalmente, fazem parte da dieta alimentar dos povos da região Norte do país. Esta palmeira possui grande potencial econômico e vem sendo explorada em vários estados brasileiros devido a sua precocidade, capacidade de perfilhamento, altos rendimentos e adaptação às condições adversas (GASPAROTTO et al., 2005). Introduzida no Vale do Ribeira, a pupunheira corresponde a mais recente alternativa de produção de palmito da região, apresentando rentabilidade comprovada, o que reduz a pressão sobre as demais palmeiras nativas. A cultura vem apresentando um aumento crescente, posicionando a região do Vale do Ribeira como a maior produtora do Estado (BOVI, 1998).

As palmeiras são plantas pertencentes à família Aracaceae (Palmae), representadas por mais de 240 gêneros e cerca de 3.000 espécies. As ornamentais são muito importantes na composição do paisagismo nacional, as quais juntamente com as árvores, gramados e arbustos são utilizadas pelos paisagistas na formação de parques e jardins. São as plantas mais características da flora tropical, que transmitem ao meio onde cultivadas uns aspectos luxuriantes e fascinantes, típicos das regiões tropicais. No Vale do Ribeira, o mercado dessas palmeiras cresceu consideravelmente nos últimos anos, sendo muitas espécies diferentes cultivadas, tanto por viveiristas como por produtores (RUSSOMANNO; KRUPPA, 2009).

Contudo, os problemas sanitários começaram a aparecer, necessitando da utilização, pelos produtores, de técnicas mais apropriadas ao manejo tanto das palmeiras para fins alimentíciosquanto das palmeiras ornamentais. A Resinose, por exemplo, é uma doença conhecida de quase todas as áreas produtoras de palmeiras no mundo. É causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa, anamorfo do ascomiceto Ceratocystis paradoxa. Nos coqueirais brasileiros, a ocorrência destadoença foi registrada em 2004 e, desde então, tem se disseminado gradualmente para outras áreas de produção (MOURA et al., 2007). Nesta cultura, o fungo também causa a podridão-negra-do-fruto ou podridão-do-fruto-maduro provocando perdas devido à queda prematura dos frutos jovens e também dos frutos mais desenvolvidos (HERNÁNDEZ; MENDES, 2009). O fungo foi encontrado em palmeiras ornamentais exibindo um sangramento de cor escuro ao longo do estipe,

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sendo o responsável pelo bloqueio dos vasos condutores de seiva, mas pode estar associado à queda prematura de frutos. De modo geral, as palmeiras são suscetíveis à Resinose e sujeitas a grandes devastações (MOURA et al., 2007). Ceratocystis paradoxa é um patógeno onívoro, existindo registros de incidência em mais de 10 espécies de famílias de plantas diferentes, além do gênero Musa (HERNÁNDEZ; MENDES, 2009).

2. OBJETIVOSEste trabalho teve por objetivo relatar a ocorrência de Ceratocystis paradoxa (Thielaviopsis

paradoxa) em palmeiras frutíferas e ornamentais cultivadas no Vale do Ribeira.

3. MATERIAL E MÉTODOSOs diagnósticos das doenças foram realizados no Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal

de Registro, vinculado a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA Vale do Ribeira, SP, Brasil, em agosto de 2009. Os materiais vegetais exibindo sintomas típicos da doença foram coletados in loco durante visita técnica realizada nas áreas afetadas.

Materiais vegetais utilizados no diagnóstico: Coqueiro – inflorescências procedentes de Eldorado, SP, apresentando queda prematura dos frutos jovens e necrose na inserção do fruto no cacho; Pupunheira - plantas procedentes de Juquiá, SP, apresentando podridão da base do estipe com morte da folha-flecha e adjacentes; Palmeira “garrafa” (ornamental) – plantas procedentes de Registro, SP, apresentando sangramento lateral escurecido ao longo do caule (estipe) e podridão de raízes.

Para o diagnóstico, frutos jovens do coqueiro exibindo necroses, fragmentos das folhas-flecha de pupunheiras e fragmentos da transição entre a área sadia e necrosada do estipe da palmeira garrafa foram colocadas em câmara úmida por 48 horas para indução do crescimento de fungos associados e sua posterior identificação. No caso das palmeiras ornamentais, cortes longitudinais e transversais do estipe de plantas sintomáticas foram realizados para exibir os sintomas internos da doença e extração de fragmentos para o diagnóstico. Estes fragmentos foram extraídos, embalado em sacos plásticos e transportados até o laboratório para análise. Após 48 horas, os materiais vegetais foram examinados em microscópio estereoscópico (lupa) para observação de corpos de frutificação de fungos associados ao sintoma. Em seguida, lâminas de montagem foram confeccionadas com corante lactofenol + azul de trypan para a visualização de esporos do fungo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕESCom base nos sintomas das doenças e nos sinais típicos dos fungos associados aos sintomas

foi possível determinar as causas das doenças em seus respectivos hospedeiros.No caso do coqueiro, foi possível observar “in loco” os sintomas típicos da Resinose

descritos por Moura et al., 2007, caracterizados pelo aparecimento de um líquido marrom-avermelhado que escorre através de rachaduras pelo tronco (ponto de infecção do patógeno), redução na freqüência de emissão de folhas, afinamento do tronco próximo à copa, folhas amarelo-pardecentas frágeis e sujeitas à quebra, cachos e inflorescências enegrecidos e frutos amarronzados no estágio final da doença.

No laboratório, foi possível observar a presença de estruturas assexuais típicas do fungo Thielaviopsis paradoxa (sinônimo de Chalara paradoxa) e do seu teleomorfo ou forma sexuada Ceratocystis paradoxa. Na fase assexuada, observou-se a presença de conidióforos hialinos a marrom-claro crescendo livremente a partir de hifas septadas, produzido numerosos conídios hialinos, cilíndricos e retangulares (artroconídios), além de numerosos clamidósporos lisos, ovais e de coloração marrom-escuros, produzidos também a partir dos conidióforos. Na fase sexuada, foi possível observar a presença de numerosos peritécios de coloração marrom-escura, imersos no tecido necrosado, exibindo um longo pescoço (rostro) com filamentos de hifas associados na abertura. A partir da extremidade são liberados os ascósporos hialinos, asseptados, elipsóides com desiguais lados curvados, e cercados em uma bainha gelatinosa típicos do fungo, conforme Barnett

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et al. (1987) e Ploetz et al., 1994. Este corresponde ao primeiro relato da constatação desta doença na região, provocando a Resinose e a Queda prematura dos frutos da inflorescência.

No caso da pupunheira, os mesmos procedimentos foram adotados para a identificação dos sintomas da doença e dos sinais do patógeno associado aos sintomas. No Vale do Ribeira, a Podridão da base do estipe em pupunheiras tem sido causada pelo fungo Fusarium spp. e, ou Phytophtora palmivora em associação com a coleobroca da pupunheira conhecida como Metamasius sp. Porém, este é o primeiro relato da constatação de Ceratocystis paradoxa associado à Podridão da base do estipe nesta cultura e região, implicando na mais recente ameaça ao cultivo de pupunha, caso medidas preventivas não sejam adotadas. Freqüentemente, este patógeno está associado à Podridão-negra-dos-frutos de pupunha na região Amazônica, mas o presente estudo se estendeu a constatação deste patógeno também em frutos, implicando na possibilidade da sua transmissão via sementes, tanto das sementes importadas do Peru como daquelas produzidas na própria região.

Na Palmeira “garrafa” (Hyphorbe lagenicaulirs) foi possível observar “in loco” os sintomas da doença, ocorrendo em palmeiras adultas de aproximadamente 15 anos de idade. Os sintomas foram caracterizados pela exsudação de um corrimento lateral escurecido com amarelecimento e morte parciais das folhas mais velhas. Estes sintomas são conseqüências do apodrecimento do carnoso estipe destas plantas, resultando no amolecimento dos tecidos do caule (“aguaceiro”), que são extravasados pelas rachaduras laterais ao longo do estipe. Em cortes longitudinais e transversais do estipe foi possível visualizar os sintomas internos, caracterizados pela podridão mole dos tecidos e presença de um crescimento micelial escurecido, devido à produção abundante de clamidósporos do fungo Thielaviopsis paradoxa. Em laboratório, foi possível visualizar a presença dos peritécios de C. paradoxa nos tecidos necrosados do caule e raízes de plantas afetadas. Neste caso, também foi possível observar a presença do inseto Metamasius sp. associado às plantas doentes, além de constatar que a prática de limpeza ou desfolha, realizadas com auxílio de instrumentos de corte,também contribuíram para abertura de portas de entrada para o fungo, uma vez que os sintomas deescurecimento interno coincidiram com a posição das folhas cortadas externamente.

Um fato comum observado na interação deste fungo com seus respectivos hospedeiros corresponde a associação de fatores predisponentes, os quais abrem portas de entrada para a invasão do fungo. Dentre estes fatores pode-se relacionar a presença de coleobrocas Metamasius sp. e o uso de instrumentos de cortes na prática de limpeza, que auxiliam na infecção e na disseminação do fungo entre plantas doentes e sadias.

Figura 1. Sintomas da Queda-prematura-dos-frutos em coqueiros (A), da Podridão mole doestipe em palmeira “garrafa” (B) e da Podridão-da-base-do-estipe em pupunheira (C).

A B C

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Figura 2. Sinais típicos de Thielaviopsis paradoxa(conídios em conidióforos e clamidósporos) (A) e de Ceratocystis paradoxa (peritécio) (B), associados aos sintomas em palmeiras frutíferas e ornamentais.

5. CONCLUSÕESCom base nestes estudos é possível relatar a ocorrência de Ceratocystis paradoxa

(Thielaviopsis paradoxa) em coqueiros, associado à Resinose e à Queda-prematura-dos-frutos; em pupunheiras, associado à Podridão-da-base-do-estipe e à Podridão-negra-dos-frutos; e em palmeira garrafa, associado à Podridão mole do estipe.

Referências BibliográficasBARNETT, H. L; HUNTER, B. B. Illustrated Genera of Imperfect Fungi. 4 ed. New York: Macmillam Publishing Company. 1987. 241p.BOVI, M.L.A. 1998. Palmito pupunha: informações básicas para cultivo. Instituto Agronômico, Campinas, 1998. 50 p. (Boletim técnico, 173)FONSECA, E. B. A.; MOREIRA, M. A.; CARVALHO, J. G. Cultura da Pupunheira. Lavras, 2001. Disponível em: http://www.editora.ufla.br/BolExtensao/pdfBE/bol_29.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2009.GASPAROTTO, L. et al. Doenças de Fruteiras da Amazônia. In: KIMATI, H. et al. Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. 4 ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005, v.2., 663p.HERNÁNDEZ, A. G.; MENDES, M. A. S. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 3 Set. 2009. MOURA, J. I. L.; VIEIRA, S. D.; BEZERRA, J. L. Resinose do Coqueiro. 2007. Disponível em: http://www.ceplac.gov.br/radar/RESINOSE%20DO%20COQUEIRO.pdf>. Acesso em: 25 Ago. 2009.PLOETZ, R. C. et al. Compendium of Tropical Fruit Diseases. Unites States of America: The American Phytopathological Society, 1994. p.27-28.RUSSOMANNO, O. M. R.; KRUPPA, P. C. Doenças fúngicas das palmeiras e seu controle. Centro de Pesquisa e Desenvolvimnto de Sanidade Vegetal / Jul. 2009. Disponível em: <http: http://mais.uol.com.br/view/f3y3fvakuqrn/doencas-fungicas-das-palmeiras-e-seu-controle 04023968CCA98346?types=A&>. Acesso em: 25 ago. 2009.

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