resÍduo eletrÔnico, fruto da modernidade. … · o “e-lixo” ainda é desconhecido, é...

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MARCIAL PAULO DANIEL RESÍDUO ELETRÔNICO, FRUTO DA MODERNIDADE. DIAGNÓSTICO DO USO DA INFORMÁTICA NA PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA ENTRE OS ANOS DE 1993 A 2014. LONDRINA 2014

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MARCIAL PAULO DANIEL

RESDUO ELETRNICO, FRUTO DA MODERNIDADE. DIAGNSTICO DO USO DA INFORMTICA NA PREFEITURA

MUNICIPAL DE LONDRINA ENTRE OS ANOS DE 1993 A 2014.

LONDRINA

2014

MARCIAL PAULO DANIEL

RESDUO ELETRNICO, FRUTO DA MODERNIDADE: DIAGNSTICO DO USO DA INFORMTICA NA PREFEITURA

DE LONDRINA ENTRE OS ANOS DE 1993 A 2014.

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Geocincias da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Hirata.

LONDRINA

2014

MARCIAL PAULO DANIEL

RESDUO ELETRNICO, FRUTO DA MODERNIDADE: DIAGNSTICO DO USO DA INFORMTICA NA PREFEITURA DE

LONDRINA ENTRE OS ANOS DE 1993 A 2014.

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Geocincias da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Hirata.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Hirata

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof. Ms. Rosely Maria de Lima

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof. Dr. Osvaldo Coelho Pereira

Universidade Estadual de Londrina UEL

Londrina, de 2014.

Dedico este trabalho a Minha Amada

Esposa e Filhos. e minha Me que

hoje est junto de Deus.

AGRADECIMENTO (S)

Agradeo ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Alberto Hirata no s

pela constante orientao neste trabalho, mas sobretudo pela sua amizade e

compreeno nos momentos mais dificeis que passei durante o desenvolvimento

desse trabalho.

Ao Professor. Dr. Osvaldo Coelho Pereira e a Professora Ms. Rosely

Maria Lima, ambos pessoas a qual admiro muito, no s pelo conhecimento

demonstrado mas pelo exemplo mostrado em sala de aula e nos trabalhos de

campo.

Aos colegas que sempre me apoiaram e me deram fora, muito

obrigado.

Gostaria de agradecer tambm algumas pessoas que contriburam

para a concluso de meu trabalho, como meu Irmo Arnaldo que sempre esteve

presente principalmente em um dos momentos mais dificeis de minha vida, quando

ingressei na Universidade, e o Meu Pai Simo Daniel e Minha falecida Me Eunice

Izabel Daniel, que agora pode admirar a face de Deus.

No posso deixar de agradecer em especial Minha amada Esposa

Elizete Mie Hayashi Daniel, meu grande amor, minha verdadeira parceira no

transcorrer de mais de vinte e cinco anos e meus amados filhos Tiago e Gustavo.

DANIEL, Marcial Paulo. Resduo eletrnico, fruto da modernidade: diagnstico do uso da Informtica na Prefeitura de Londrina entre os anos de 1993 a 2014. 2014. 83 f. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Bacharel em Geografia) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014.

RESUMO

O mundo contemporneo no qual vivemos est cercado por objetos tcnicos informacionais.Um smbolo da modernidade: os computadores, os celulares, e tantos outros equipamentos ligados a eletrnica e a informtica esto inseridos no dia a dia de bilhes de pessoas por todo o mundo. Esses equipamentos ao final de sua vid til ou com a obsolescncia, se tornam um grande problema, fruto da modernidade, o e-lixo, um resduo eletrnico est sendo descartado de forma incorreta no meio ambiente, ocasionando vrios impactos ambientais, contaminando o ar, o solo e a gua, e por fim, como um ciclo, acaba contaminando todos os seres vivos do seu entorno. Esse estudo visa fazer um diagnstico do uso da informtica na Prefeitura Municipal de Londrina PML, entre os anos de 1993 a 2014, apresentando sugestes de como separar e descartar seu resduo eletrnico, sempre observando as legislaes existentes sobre o assunto. E assim oferecer PML uma relao de empresas que coletam e tratam esse tipo de resduo eletrnico, empresas certificadas e licenciadas pelos rgos ambientais. Para conhecer como se deu a informatizao da PML no perodo compreendido de 1993 a 2014, foi elaborado dois questionrios para dois setores ligados a informtica da PML, o primeiro foi para a Diretoria de Tecnologia da Informao DTI, e o segundo foi para Diretoria de Gesto de Bens Municipais/Secretaria Municipal de Gesto Pblica. Os resultados obtidos dos questionrios nos revelaram o quanto o assunto ainda novo dentro de um rgo pblico. O e-lixo ainda desconhecido, encarado como um resduo qualquer, sem valor comercial, pois ainda no segregado sendo vendido no meio da sucata comum. A PML deve implantar um sistema de armazenamento e segregao do e-lixo visando no s atender a questo ambiental, evitando seu descarte em qualquer lugar, mas estocar e vender um resduo que possui um valor comercial considervel, como tambm participar de projetos ligados a logstica reversa.

Palavras-chave: Objeto tcnicos informacionais. Obsolecncia. Desenvolvimento. Meio ambiente. Resduo eletrnico.

DANIEL, Martial Paulo. Electronic waste, fruit of modernity: diagnosis of the use of IT in Londrina Prefecture between the years 1993 to 2014. 2014 83 f. Work Completion of course (Bachelor Degree in Geography) - State University of Londrina, Londrina, 2014.

ABSTRACT

The contemporary world we live in is surrounded by technical objects informacionais. A modernity symbol of: computers, cell phones, and many other equipment connected to electronics and the computer are included in the daily lives of billions of people around the world. Such equipment at the end of its useful life or obsolescence, become a big problem, the result of modernity, the "e-waste", an electronic waste is being disposed of improperly in the environment, causing various environmental impacts, contaminating air, soil, water, and finally, as a cycle, just contaminating all living beings from their surroundings. This study aims to make a diagnosis of computer use in the Municipality of Londrina - PML, between the years 1993 to 2014, with suggestions for how to separate and dispose of your electronic waste, always observing existing laws on the subject. And so, offer to the PML a list of companies that collect and treat this type of electronic waste, certified companies and licensed by environmental agencies. To know how was the computerization of PML in the period 1993-2014, has been prepared two questionnaires for two sectors linked to information of PML, the first was for the Directorate of Information Technology - DTI, and the second was to Board management of Municipal Estate / Municipal Public management. The results of the questionnaires showed us how much it is still new within a public agency. The "e-waste" is still unknown, is regarded as waste any, of no commercial value because it is not yet segregated being sold in the middle of the common junk. The PML must deploy a storage system and segregation of "e-waste" aimed not only meet the environmental issue, avoiding its disposal anywhere, but stock and sell a residue having considerable commercial value, but also participate in related projects reverse logistics. Keywords: informational technical object. Obsolescence. Development. Environment. Electronic waste.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 Em Gana, recicladores queimam parte de monitores ao ar livre ............ .30

Figura 2 Efluente do processo de dissoluo de cobre em circuitos eletrnicos vai

para um rio em Taizhou - China ............................................................................... .33

Figura 3 Mapa Temtico, Gana na frica recebe o e-lixo Americano ................ .42

Figura 4 rea de descarte de eletrnicos em Acra, capital de Gana, na frica .... .52

Figura 5 Mapa temtico representando as escalas e mapa do Municpio de

Londrina .................................................................................................................. .54

Figura 6 Depsito da ONG E-LIXO ...................................................................... .59

Figura 7 Telefones Celulares obsoletos ................................................................ .60

Figura 8 Despejo irregular de resduos Av. Braslia em Londrina ...................... .61

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Elementos qumicos presentes nos Equipamentos Eletrnicos ........... .35

Quadro 2 Histrico da Comercializao de Telefones Celulares no Brasil ........... .36

Quadro 3 Mercado de PCs no perodo de 2006 a 2013 ....................................... .37

Quadro 4 E-Waste - Informaes relacionados ao e-lixo lanado no mundo em

2014 ..........................................................................................................................38

Quadro 5 Viso geral do e-lixo no Brasil 2012 ................................................ .51

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Amostragem da Populao Mundial ..................................................... 39

Grfico 2 Equipamentos Eletro Eletrnicos colocado no mercado em 2012 ........ 40

Grfico 3 E-Lixo gerado no Planeta em 2012 .................................................... 41

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABINEE Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

BBC British Broadcasting Corporation

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CNUMAD Conferencia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPD Centro de Processamento de Dados

DTI Diretoria de Tecnologia da Informao

EEE Equipamentos Eletro Eletrnicos

EUA Estados Unidos da Amrica

EU Unio Europeia

EMPA Laboratrio Federal Para Cincia e Tecnologia de Materiais da Sua

GPS Sistema de Posicionamento Global

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

LCD Tela de Cristal Liquido

MMA Ministrio do Meio Ambiente

NBR Norma Brasileira

ONU Organizao das Naes Unidas

ONG Organizaes no Governamentais

OSCIPs Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico

PML Prefeitura Municipal de Londrina

PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

PVC Polyvinyl Chloride

SEMA Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hdricos

UBS Unidade Bsica de Sade

WEEE Waste Electrical And Electronic Equipment Directive

SUMRIO

INTRODUO .......................................................................................................... 13

OBJETIVOS .................................................................................................................. 14

HIPTESES ................................................................................................................. 14

JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 15

1 METODOLOGIA ............................................................................................. 18

2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................... 19

3 TEMPOS MODERNOS: A INFORMTICA E OS NOVOS

DESAFIOS PARA A HUMANIDADE ............................................................. 25 3.1 AVANOS TECNOLGICOS ................................................................................. 25

3.2 O MUNDO VIRTUAL GLOBAL ............................................................................... 26

3.3 OBSOLESCNCIA PROGRAMADA E O RESDUO ELETRNICO ................................. 27

3.4 O QUE SO RESDUOS ELETRNICOS ................................................................ 28

3.4.1 FORMAS DE MITIGAR O PROBLEMA .................................................................... 31

3.5 GLOBALIZAO, MODERNIDADE E SUSTENTABILIDADE ....................................... 32

3.6 LIXO ELETRNICO FORMADO POR COMPUTADORES E CELULARES ....................... 34

3.7 LEGISLAES, ONGS ....................................................................................... 43

4 O ESPAO VIRTUAL, FONTE REAL DE PROBLEMAS E SOLUES .................................................................................................... 48

5 OS RESDUOS ELETRNICOS NA PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA ........................................................................................................54

5.1 CARACTERSTICA DA CIDADE DE LONDRINA .......................................................... 54

5.2 UM BREVE HISTRICO DE COMO/QUANDO INICIOU O PROCESSO DE INFORMATIZAO NA PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA .................................. 55

CONCLUSO ........................................................................................................... 63

REFERNCIAS ......................................................................................................... 65

ANEXOS.....................................................................................................................70

APNDICES ............................................................................................................. 77

13

INTRODUO

O Gegrafo deve contribuir com a sociedade, compartilhando sua viso de

mundo, no estudo do espao e suas complexidades, procurando ser mediador das

relaes conflituosas existentes entre um meio natural e um espao cada vez mais

artificializado dentro de um contexto sociolgico que envolve a questo ambiental.

O Gegrafo tem conhecimento e ferramentas necessrias para poder analisar

e interpretar as relaes desses fenmenos sociolgicos de interao entre o meio

natural e o meio artificialmente criado pela sociedade, na busca de mitigaes

desses impactos no meio ambiente.

Este estudo geogrfico teve como objetivo geral diagnosticar como se deu, o

uso da Informtica na Prefeitura de Londrina entre os anos de 1993 a 2014, atravs

de uma discusso complementar sobre os - Resduos eletrnicos como fruto da

modernidade. Nela, pretendeu-se discutir alguns aspectos das transformaes que a

sociedade atual sofre e provoca nas relaes com natureza, em especial, na

problemtica do uso e destinaes dos resduos eletrnicos derivados de

computadores.

O Desenvolvimento inicia-se, na primeira seo, com a temtica Tempos

modernos: a informtica e os novos desafios para a humanidade onde se discute o

volume crescente da produo de novos equipamentos de informtica e eletrnicos

a nvel global e seus efeitos ao ambiente.

Na segunda seo discute-se o tema O Espao virtual, fonte real de

problemas e solues onde apresentada uma anlise sobre a dependncia dos

objetos tcnico-cientfico-informacional que a sociedade contempornea vive,

atrelado modernidade.

J na terceira seo - Os resduos eletrnicos na Prefeitura Municipal de

Londrina , apresentado o levantamento de como se deu a informatizao da

Prefeitura Municipal de Londrina (PML) no perodo de 1993 a 2014.

Como resultado desse diagnstico, atravs da anlise geogrfica de

derivaes sociolgicas, pode-se compreender como ocorreu a dinmica da

informatizao da PML, como exemplo de um rgo pblico, no contexto temporal

das transformaes tecnolgicas do mundo global.

14

Esse estudo se fez relevante, pois tratou da problemtica do resduo

eletrnico no intuito de contribuir para melhor compreenso sobre esta problemtica

e, de propiciar estudos que possam auxiliar no processo de transformao dos

resduos eletrnicos em algo bom para os diversos setores de nossa economia.

Promovendo o to sonhado desenvolvimento sustentvel, priorizando o bem estar

humano e, acima de tudo, preservando nosso ambiente e os recursos naturais, para

que continuemos a viver em nosso planeta de forma digna e segura, ns e as

futuras geraes.

OBJETIVOS

Geral

Analisar como a sociedade trata seus obsoletos equipamentos de informtica,

os chamados de lixo-eletronico, e sua destinao final.

Especficos

Construir um resgate histrico do processo da informatizao da PML;

Apresentar sugestes sobre como descartar seu resduo eletrnico,

observando as legislaes existentes;

Oferecer a PML uma relao de empresas que coletam e tratam de forma

correta o Lixo Eletrnico.

HIPTESES

Apesar de ser funo dos rgos pblicos elaborar e promover polticas

ambientais para a sociedade, em especial para destinao de resduos slidos, a

Prefeitura do Municpio de Londrina ainda no o fez em relao aos resduos

eletrnicos .

JUSTIFICATIVA

Este estudo se faz relevante quando apresenta a problemtica dos resduos

eletrnicos e seu descarte no meio ambiente, o e-lixo como conhecido

internacionalmente, o qual causa impactos negativos se no tratados de forma

correta. O que se percebe que a sociedade contempornea vive dentro de um

15

processo de globalizao, onde a principio ningum uma ilha, ningum pode viver

sem o seu celular, ou o seu notebook.

Como faramos sem a internet, sem os e-mails, sem as redes sociais que nos

aproximam mesmo estando distantes fisicamente? Esse mundo novo formado pelos

objetos tcnicos informacionais no reconhecem as barreiras fsicas, muito menos

as barreiras polticas. Reconhecemos as vantagens desse progresso, somente

possvel com o uso dos objetos tcnicos, que possibilitaram a globalizao. Mas,

como nem tudo perfeito, a sociedade deve lidar tambm com os impactos

provenientes dessa globalizao desigual e transformadora das paisagens e da vida

social de bilhes de pessoas na face da terra.

A sociedade contempornea passa a conhecer o e-lixo depois da juno da

tcnica e da cincia. A humanidade cria objetos tcnicos informacionais, com o qual

possvel criar um novo espao. Segundo Pierre Lvy, o ciberespao definido

como o espao de comunicao aberto pela interconexo mundial dos

computadores e das memrias dos computadores (LVY, 1999, pg. 92). A

Internet uma ferramenta do ciberespao, nome idealizado por William Gibson, em

1984, no livro Neuromancer, referindo-se a um espao novo criado de forma virtual,

composto por cada computador e usurio conectados em uma rede mundial.

Na juno de dois espaos, um geogrfico e outro virtual, a sociedade

contempornea produz seus frutos, como tambm seus resduos, o lixo eletrnico,

que fruto de nossos avanos tecnolgicos desenvolvidos no espao virtual. O

desafio est na destinao desse tipo de resduo slido, pois segundo o relatrio das

Naes Unidas (ONU, 2012), a populao mundial atual de 7,2 bilhes e tem uma

projeo de crescimento de 1 bilho nos prximos 12 anos. Segundo essa mesma

projeo, o aumento populacional, apontada pela ONU, deve ocorrer em pases em

desenvolvimento, ou seja, pases que ainda esto sendo inserido dentro de um

contexto tecnolgico, um mercado carente de objetos tcnicos informacionais, que

deve presenciar um florescimento, um boom no aumento desses objetos tcnicos

informacionais, como tambm na ecloso dos resduos de informtica, o e-lixo.

Mesmo antes desse processo de desenvolvimento e integrao dos pases

pobres, em um contexto de ascenso tecnolgica, eles j sofrem dos malefcios

provocados pela degradao e obsolescncia dos equipamentos de informtica dos

pases ricos. Muitos pases pobres tm recebido de algumas empresas

16

inescrupulosas seus resduos eletrnicos como se fossem equipamentos bons, que

deveriam atender a projetos de incluso social dos menos favorecidos.

Esses resduos de alta tecnologia e toxidade acabam gerando um grave

problema nos pases pobres, que passam a tratar desse resduo sem nenhum

conhecimento prvio, muito menos possui uma regulamentao que iniba a contnua

entrada desses produtos. O e-lixo afeta o meio ambiente, mas tambm a vida e

sade das pessoas envolvidas nos processos de garimpagem existentes nesses

pases.

A compreenso dessa problemtica do e-lixo est ligada diretamente na

relao existente entre a sociedade contempornea e os objetos tcnicos

informacionais, que viabilizam a globalizao e suas transformaes do espao de

vivncia de bilhes de pessoas mundo a fora. O Resduo Eletrnico, Fruto da

Modernidade uma reflexo sobre como a sociedade se desfaz de seus

computadores, celulares, e tantos outros, e como esse descarte desordenado pode

acarretar srios problemas ambientais e sociais, pois o e-lixo composto por

materiais txicos, como mercrio, chumbo, arsnio, entre outros.

Conhecer a realidade o primeiro passo para trabalharmos de forma intensa

nas pesquisas que visem mitigao dos problemas ambientais, decorrentes da

destinao incorreta dos resduos eletrnicos, no meio ambiente. O e-lixo, presente

na sociedade contempornea, reconhecido como um grave problema devido ao

seu grande volume e ser um material de difcil reciclagem, pois sua composio

complexa, demandando um processo de igual tecnologia no seu tratamento e

descarte final.

Dentro de uma escala local, podemos observar como se d o processo de

desfazimento do e-lixo em um rgo pblico, a Prefeitura Municipal de Londrina, a

segunda maior cidade do Estado do Paran. Conhecer as legislaes que regulam o

desfazimento do e-lixo e sua destinao torna-se importante, pois a sua grande

quantidade motivo de preocupao quanto a seu descarte, relevante que haja

uma regulamentao por parte dos rgos pblicos, visando o desfazimento e o

cumprimento das legislaes pertinentes a esse tipo de resduo slido.

Sendo assim, o e-lixo fruto da sociedade contempornea e sua disperso

pelo mundo se d atravs de relaes comerciais e sociais. Conforme a BBC Brasil

(2013), Pases pobres so destino de 80% do lixo eletrnico de naes ricas. Isto

mostra que de um total de 40 bilhes de toneladas de lixo eletrnico produzidos

17

anualmente, estima-se que 70% dos produtos eletrnicos descartados e exportados

todos os anos v parar na China e que esta proporo estaria aumentando. Esse

processo se agrava em virtude da globalizao que ocorre de forma desigual, onde

possvel constatar a presena do e-lixo em grandes quantidades nos pases mais

pobres, que utilizam esse resduo como fonte de subsistncia de sua populao

local, em detrimento de seu meio ambiente e da qualidade de vida social.

18

1 METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido atravs do levantamento bibliogrfico e pesquisa

na rede (internet) sobre o tema ligado a modernidade e seus novos desafios: os

resduos slidos eletrnicos, conhecidos internacionalmente com E-Waste ou e-

lixo. So equipamentos que no possuem reparos ou que se tornaram obsoletos,

dentro de um processo de obsolescncia programada, pois os objetos tcnicos

informacionais tm o seu tempo de vida reduzida em favor de outros com mais

tecnologia.

Analisar a legislao que regula o descarte dos resduos slidos no Brasil,

principalmente da rea da informtica, e conhecer como um rgo pblico, a

Prefeitura Municipal de Londrina (PML), faz com seu resduo eletroeletrnico, onde

armazena e qual a forma de desfazimento, para isso foi desenvolvido questionrio

endereado as pessoas responsveis pelos setores ligados com a informtica.

Dentro de uma abordagem local, o estudo se deu na PML onde foram

aplicados questionrios ao Sr. Edvaldo de Alcntara Oliveira, da Diretoria de

Tecnologia da Informao (DTI da PML), e a Sr. Mirian Born, da Diretoria de Gesto

de Bens Municipais/Secretaria Municipal de Gesto da PML, a fim de conhecer a

realidade local e construir um breve-histrico da informtica na Prefeitura.

O questionrio encaminhado para o Sr. Edvaldo (Anexo 1), foi formulado por

um conjunto de oito perguntas subjetivas e seis objetivas as quais vo delinear o

incio e o desenvolvimento da microinformtica na PML, que se deu da dcada de

1990 at os dias atuais. As respostas compem uma historicidade, junto com os

nmeros, quantidade de equipamentos, microcomputadores, que mostram o

crescimento ocorrido em duas dcadas na PML.

Quanto ao questionrio encaminhado para a Sr Miriam (Anexo 2), era

composto de um conjuntode seis perguntas subjetivas e trs objetivas. O resultado

do questionamento nos mostra quais so os procedimentos adotados na PML

quanto a destinao do seu e-lixo.

A resposta do questionamento feito s duas Diretorias, nos possibilitou criar

um relato histrico da evoluo da informtica da PML, nos dando nmeros reias do

crescimento da informtica em suas dependencias, como tambm, expor a

problemtica dos resduos eletrnicos, o e-lixo, como os computadores, obsoletos

pelo tempo, e sua destinao final.

19

2 REVISO BIBLIOGRFICA

A PML deve dar o exemplo para a sociedade cumprindo as Legislaes

Ambientais e, se possvel, ser o maior incentivador de politicas pblicas objetivando

a busca de solues de como fazer o descarte adequado do e-lixo e seu

reaproveitamento atravs da logstica reversa.

A informtica e seus equipamentos so um conjunto formado por programas

de computadores (softwares) e equipamentos (hardwares). Na interpretao de

Santos (2006, p. 158): O perodo tcnico v a emergncia do espao mecanizado.

Os objetos que formam o meio no so, apenas, objetos culturais; eles so culturais

e tcnicos, ao mesmo tempo. Essa modernidade est articulada dentro de um

perodo geogrfico, quando Santos (2006, p. 157) afirma que o meio tcnico-

cientfico-informacional, o meio geogrfico atual, onde os objetos mais

proeminentes so elaborados a partir dos mandamentos da cincia e se servem de

uma tcnica informacional.

A gide do mercado capitalista estimula os objetos tcnicos informacionais

dentro de uma lgica global, assim as reas, os espaos, tornam-se cada vez mais

sofisticados e mais carregados de artifcios. Segundo Santos (2006, p. 158), os

objetos tcnicos e o espao maquinizado so locus de aes superiores graas

sua superposio triunfante s foras naturais.

Segundo Milton Santos (apud RIBEIRO, 2002), o mundo est conectado de

forma instantnea, como se fosse uma aldeia global. Entretanto, fala-se em mundo

global, mas algumas consideraes devem ser ressalvadas. Por exemplo, Milton

Santos aponta que nesse contexto: O espao se globaliza, mas no mundial

como um todo seno como metfora. Todos os lugares so mundiais, mas no h

um espao mundial. Quem se globaliza mesmo so as pessoas. (SANTOS, 1994, p.

31). Examinando o exposto, a globalizao se d dentro de um processo de

expanso capitalista, visa atender principalmente as naes ditas ricas, ps-

modernistas que usam o meio tcnico-cientfico-informacional como forma de

integrar os mais diversos mercados internacionais, dentro da geografia da

globalizao.

A Globalizao em sua composio seletiva, pois define os lugares que

devem ser inseridos dentro dessas relaes humanas que valorizam a singularidade

em meio totalidade, ou seja, o econmico sobrepondo, segregando pessoas e

20

pases, integrando pases ricos, com sua tecnologia de aproximao/integrao

virtual, deixando de fora os pases perifricos. A globalizao fragmentao ao

expressar no lugar os particularismos tnicos, nacionais, religiosos e os excludos

dos processos econmicos com objetivo de acumulao de riqueza ou de fomentar o

conflito (RIBEIRO, 2002, p. 2).

A globalizao se faz presente nos pases que buscam a aproximao por

vrios fatores: econmicos, polticos, sociais, culturais, superando as distncias

fsicas, o ciberespao. Este nome foi idealizado por William Gibson, em 1984, no

livro Neuromancer, referindo-se ao novo espao virtual, composto por cada

computador e usurio conectados em uma rede mundial.

A internet como uma rede mundial de computadores, utilizando-se das vias

lgicas de comunicao no ciberespao, esse mundo novo virtual, possibilitou a

aproximao e interao de bilhes de pessoas pelo mundo de forma instantnea,

presena clara do avano tecnolgico presente na sociedade contempornea.

Com efeito, a globalizao se beneficia da internet, presena da tecnologia

em nosso cotidiano, essa ferramenta que nos auxilia nas diversas reas do

conhecimento humano com suas interaes virtuais como os e-mails, as redes

sociais e o famoso Google.

Com tamanha tecnologia, observam-se diariamente os avanos das indstrias

tecnolgicas com sua modernizao e diversificao de seus produtos eletrnicos,

proporcionando s indstrias a possibilidade de produzirem mais em menor rea,

como Santos (2006, p. 161) afirma: reduo da rea necessria produo das

mesmas quantidades havia sido prevista por Marx, que a esse fenmeno chamou de

reduo da arena. Graas aos avanos da biotecnologia, da qumica....

Com maior produo em uma rea menor, tornou-se possvel a reduo dos

custos de produo, ampliao dos estoques dos produtos tecnolgicos e,

consequentemente, proporcionou ao consumidor final, a reduo dos preos. Com

efeito, houve um incremento no consumo, principalmente das camadas que ficavam

s margens da sociedade digital, pois passaram a consumir mais equipamentos de

informtica como celulares, computadores, notebooks, entre outros. A indstria

eletrnica prospera, pois seu pblico no est restrito a um lugar apenas, com a

globalizao o mercado possui uma escala planetria, um mercado promissor de

pessoas e pases ainda s margens do mundo tecnolgico.

21

O processo de incluso digital no pra todos, os pases mais pobres s so

includos quando recebem equipamentos atravs de doaes junto com a esperteza

(uma conduta ilegal) de alguns pases ricos, quando se utiliza da doao de

equipamentos de informtica, como meio de descarte do seu e-lixo. Isso ocorre

devido falta de uma legislao prpria e controle dos pases pobres em relao

identificao do que so realmente produtos que podem ser reutilizados daqueles

que no podem mais serem utilizados, como o e-lixo.

O comrcio mundial, a globalizao, mais os objetos tcnicos informacionais,

criaram a possibilidade de interao entre vrias partes do mundo, mesmo que

distantes, pois a hegemonia dos pases ricos viabilizou toda a transformao

necessria para a reproduo de um mundo cada vez mais artificial, tecnolgico.

Portanto, esse espao construdo artificialmente, segundo Santos (2006), mais

especializado, graas aos avanos das tcnicas que produzem os objetos tcnico-

informacionais, mais eficientes e indispensveis no alargamento dos espaos, no

s na produo como tambm na circulao, distribuio e consumo.

Essa realidade se globaliza, os objetos informacionais se alastram e passam

a integrar o cotidiano de bilhes de pessoas mundo afora. Dentro de uma lgica de

expanso capitalista, a incluso digital uma das portas de entrada de objetos

tcnico-informacionais, como os computadores, tablets, notebooks, celulares entre

outros. Toda essa tecnologia se mostra virtuosa pelos benefcios oferecidos quando

aproximam as pessoas, quando aumentam os fluxos financeiros, fortalecendo ainda

mais a hegemonia capitalista detentora dos meios tcnico-informacionais.

Mas a globalizao trouxe tambm outros problemas, os objetos tcnico-

informacionais como os computadores e celulares, se alastraram por todo o mundo

de diferentes formas, nos pases ricos eles so ferramentas utilizadas em diversas

reas do saber, da produo industrial, da pesquisa, enfim so utilizados para o bem

estar de seu povo. J nos pases pobres eles podem ser fontes de recursos

financeiros, quando seu povo trabalha nos garimpos dos resduos eletrnicos. O lixo

eletrnico armazenado, oriundo dos pases ricos, j so obsoletos, danificados e

descartados. Esse lixo tem seu ingresso facilitado nos pases pobre, pois no

existem legislaes que regulem ou impeam a entrada desses materiais de pouco

proveito em seu territrio, trazendo consequncias no s de ordem de sade

pblica como tambm de danos ao meio ambiente.

22

Com o passar do tempo e o grande nmero de equipamentos informacionais,

o descarte desses equipamentos torna-se inevitvel, agravando a problemtica do

lixo eletrnico, pois esse resduo faz parte do atual momento vivido por nossa

sociedade contempornea, em seu estgio final os objetos tcnicos informacionais

podem gerar graves problemas para o meio ambiente e toda a sociedade no seu

entorno.

Outro grave problema est na lgica empregada pelo capitalismo, quando

gera um processo denominado de obsolescncia programada, conforme Marcus

Eduardo de Oliveira do site Mercado tico:

Obsolescncia programada um conceito que preconiza diminuir a vida til de um produto para forar o consumo de verses mais recentes ou modernas, estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse termo originrio do processo de descartalizao criado a partir da dcada de 1930 por algumas economias capitalistas europeias no intuito de movimentar a mquina econmica com mais produo, uma vez que o estoque de produtos que se encontrava totalmente parado nas fbricas e, principalmente, nos portos, devido Grande Depresso Econmica de 1929, fez travar o giro da economia. (OLIVEIRA, 2013).

A sociedade evoluiu e criou novas tecnologias, buscando melhorias em todos

os setores, assim o mundo contemporneo imprime um ritmo intenso e incansvel

na busca por eficincia em todas as reas, uma delas que dever se desenvolver

a logstica reversa, o retorno dos produtos obsoletos para indstria como fonte de

matria prima.

Temos clareza quanto ao empenho e dedicao na construo de novas

tecnologias e equipamentos, o que est faltando mesmo dar conta, de como a

sociedade vai agir/reagir com a problemtica do lixo eletrnico, um problema ainda

desconhecido por muitos, mas muito presente nos pases pobres. Com legislaes

ambientais mais rigorosas, os pases desenvolvidos enfrentam problemas no

desfazimento de seu lixo eletrnico, assim a reutilizao dos objetos tcnicos-

informacionais com a logstica pode ser uma das sadas ambientalmente correta.

A sociedade est diante de mais um desafio, o descarte de forma correta do

seu lixo eletrnico, a busca por solues se faz necessria, pois estamos nos

referindo a um mercado gigantesco com indstrias de alta tecnologia, dentro de

produes em escala mundial dos objetos tcnicos informacionais, e o descarte

23

desses produtos deve ser orientado por legislaes que visem proteo do meio

ambiente e de toda a sociedade.

Conforme Anah Aradas, do site da BBC Brasil (2012), em uma de suas

matrias sobre o lixo eletrnico, com o titulo: Minerao urbana pode ser fonte de

ouro no lixo, afirma que o processo de reciclagem e segregao do lixo eletrnico,

pode ser um excelente negcio, pois no seu resduo encontram-se materiais valiosos

como o ouro, a prata, o cobre, a platina, o alumnio, o ao, as terras raras e at

mesmo os plsticos.

Segundo Aradas do site da BBC Brasil:

Um estudo recente da Universidade das Naes Unidas no Japo estima que a fabricao de equipamentos tecnolgicos receba o equivalente a US$ 16 bilhes de ouro e US$ 5 bilhes de prata. De acordo com a pesquisa, apenas 15% deste material reaproveitado via reciclagem (ARADAS, 2012).

Com tanta tecnologia existente somado ao trabalho de conscientizao e

enfrentamento da problemtica referente grande quantidade de lixo eletrnico

produzido, o desafio da humanidade a transformao de um problema em soluo.

Compor o lado das alternativas viveis e possveis, utilizando a matria prima vinda

de programas de sustentabilidade, no emprego da tecnologia, o lixo eletrnico deve

ser reinventado tornando-se parte da soluo que compe a sustentabilidade do

planeta terra, preservando nossas reservas naturais.

A conscientizao e o descarte de forma correta de um grande nmero de

equipamentos de informtica o objetivo do parque instalado da PML, no s de

seu prprio material, mas de toda a sociedade Londrinense. Este seria um projeto

inovador que proporcionaria a PML visibilidade Nacional, dentro de Aes ou

Projetos conhecidos como Verdes um conceito de Responsabilidade Scio-

Ambiental, ligados a sustentabilidade ambiental. Conceito esse compreendido como

forma de suprir as necessidades atuais, sem afetar a habilidade das geraes

futuras de suprir as suas, segundo o Relatrio de Brundtland (RELATRIO..., 2014).

Quanto sustentabilidade existe um rico material da Organizao das Naes

Unidas (ONU) quando realizou, no Rio de Janeiro em 1992, a Conferncia das

Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD). Nessa

Conferncia, a Rio 92, estavam 179 pases participantes que acordaram e

assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ao baseado num documento de

24

40 captulos, que constitui a mais abrangente tentativa j realizada de promover, em

escala planetria, um novo padro de desenvolvimento, denominado

desenvolvimento sustentvel. O termo Agenda 21 foi usado no sentido de

intenes, desejo de mudana para esse novo modelo de desenvolvimento para o

sculo XXI.

A partir das diretrizes da Agenda 21 Global, foi criada a Agenda 21 Brasileira

e a Agenda 21 Local, que vem ao encontro com a necessidade de se construir

instrumentos de gesto e planejamento para o desenvolvimento sustentvel.

A Agenda 21 Local um instrumento de planejamento de polticas pblicas

que envolve tanto a sociedade civil e o governo em um processo, amplo e

participativo, de consulta sobre os problemas ambientais, sociais e econmicos

locais e o debate sobre solues para esses problemas atravs da identificao e

implementao de aes concretas que visem o desenvolvimento sustentvel local.

25

3 TEMPOS MODERNOS: A INFORMTICA E OS NOVOS DESAFIOS PARA A HUMANIDADE

A construo de um mundo que seja mais sustentavel uma nova pauta que

se insere em nossa sociedade contempornea. Nesse sentido, em consulta ao site

do Ministrio do Meio Ambiente (MMA) sobre a Agenda 21 Global, a Organizao

das Naes Unidas (ONU) realizou, na cidade do Rio de Janeiro, a Rio 92 -

Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

(CNUMAD). Essa conferncia teve como objetivo promover, em escala planetria,

um novo padro de desenvolvimento das relaes da sociedade com a natureza,

atravs do estabelecimento de uma agenda para o sculo XXI, Agenda 21.

A Agenda 21 um instrumento norteador de aes que visam o

desenvolvimento sustentavel, em trs escalas geogrficas: local, nacional e global,

construindo uma viso de futuro entre os diferentes atores envolvidos, na busca do

fortalecimento de processos contnuos de sustentabilidade, descentralizao do

poder e mais controle social, numa viso de aplicao multidisciplinar em todas as

etapas do processo.

E nesse contexto, apresentam-se novos cenrios cotidianos que devem ser

melhor compreendidos como a informtica, em especial os resduos eletrnicos e a

busca por solues para os impactos ambientais provenientes da obsolescncia dos

objetos tcnicos informacionais. Devem-se encontrar processos que possam mitigar

esse problema ambiental e social, j que ele afeta, diretamente, aos pases pobres

que possuem pouco ou nenhuma tecnologia para o tratamento desse resduo.

3.1 AVANOS TECNOLGICOS

Para efeito de recorte espacial, a sociedade contempornea refere-se aos

ltimos vinte anos, e pode-se considerar a marca desta poca, o fenmeno da

globalizao ou da mundializao, segundo Daisy Peccinini (Mdulo VII

Contemporaneidade) do Museu de Arte Contempornea da Universidade de So

Paulo.

nesse perodo que a sociedade contempornea se desenvolve e so

estabelecidos, definitivamente, os avanos tecnolgicos, quando as redes

computacionais proporcionaram um fluxo continuo de informaes distncia, tendo

26

como suporte a tecnologia avanada da informao, a informtica, que organiza a

vida econmica, poltica e social, segundo uma ordem mundial, cruzando o planeta,

sem controle e sem limites.

No esteio desse avano temos, como exemplo, o telefone celular como um

smbolo de mobilidade na comunicao entre pessoas, seguido pelos

microcomputadores, notebooks, tablets, fazendo a ponte do mundo natural para o

mundo virtual, possibilitando a insero de bilhes de pessoas no mundo virtual.

Nas linhas automotivas, a adoo da tecnologia se faz presente nos

equipamentos como os aparelhos multimdias e GPS, nos setores de sade,

segurana e na educao, as TVs, monitores, roteadores, switch, e outros que

fazem parte de um mundo dos objetos tcnicos informacionais, passam a ser

indispensveis em nossa sociedade contempornea.

Outro objeto tecnolgico indispensvel so os Satlites em rbita da Terra,

verdadeiros guardies do espao, executando as mais diversas funes to

necessrias em nosso dia a dia, como as previses climticas, o sensoriamento

remoto, comunicao entre pontos distantes do globo como a interligao entre as

diversas redes mundiais de computadores.

3.2 O MUNDO VIRTUAL GLOBAL

A globalizao se deu com a integrao da tcnica e da cincia, que

favoreceu a ampliao e desenvolvimento das relaes capitalistas pelo mundo.

Essa globalizao que afeta a todos de diferentes formas, intensifica a diviso social

do trabalho aproximando as naes hegemnicas (os pases ricos) e deixando a

margem os pases perifricos (os mais pobres).

Com a juno da cincia e da tcnica informacional, a humanidade perplexa

viu pela primeira vez a superao das distncias fsicas, com o emprego dos objetos

tcnicos/informacionais. Os computadores passam a integrar reas de diversos

setores: financeiros, sade, militar, educacional, aeronutico entre outros.

Um exemplo do processo de Globalizao o comrcio digital, o e-

commerce. Segundo o site E-Commerce News, que em portugus significa comrcio

eletrnico, uma modalidade de comrcio virtual, onde as empresas realizam, com

seus clientes, transaes financeiras de compra e venda atravs das chamadas

27

lojas virtuais, acessadas por plataformas eletrnicas, atravs de computadores e

celulares.

Vivencia-se atravs desse tipo de comrcio de transaes inteiramente

virtual, dois mundos, um real com seus produtos e outro inteiramente ciberntico,

totalmente virtual, instantneo, fato inexistente em outros momentos do

desenvolvimento da sociedade. Como exemplo desse E-Commerce, apresentam-se

os grandes fabricantes internacionais como IBM, DELL, SONY, APPLE, KYOCERA,

e tantos outros presentes nas redes mundiais.

Esses grandes fabricantes de equipamentos so base do comrcio digital na

comercializao sem fronteiras, tornando possvel a venda de produtos atravs da

internet e o recebimento desses, vindos da China, Japo, Estados Unidos ou de

qualquer outra parte do mundo.

O E-Commerce e as Notas Fiscais Eletrnicas, adotadas no Brasil

recentemente, so exemplos de mudanas ocorridas com o emprego dos objetos

tcnicos informacionais dentro de nossa sociedade contempornea. Segundo Milton

Santos (apud RIBEIRO, 2002), estamos diante de um novo perodo da histria da

humanidade, sendo o progresso tcnico a mola propulsora de novos tempos

apoiada pelo capitalismo em sua acumulao desenfreada.

Nesse contexto de desenvolvimento aparece o e-lixo, um produto de uma

sociedade capitalista que passa a ser objeto de transformao da paisagem nos

pases em desenvolvimento, quando se tornam espao de descarte desse tipo de

lixo eletrnico. Um problema grave, mas que pode ser amenizado se os pases

desenvolvidos investirem mais em tecnologias de reutilizao desse tipo de resduo

slido, ou ainda, desenvolverem equipamentos com maior longevidade evitando

assim a obsolescncia e o descarte prematuro motivado pelo consumismo

desenfreado.

3.3 OBSOLESCNCIA PROGRAMADA E O RESDUO ELETRNICO

A obsolescncia programada segundo Oliveira (2013) um conceito que

preconiza diminuir a vida til de um produto para forar o consumo de verses mais

recentes ou modernas, estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o

conserto.

28

A obsolescncia programada, de forma proposital, possui uma curta vida til,

e se configura como forma de aumentar a fluidez de mercado, movimentando assim

a mquina econmica, tornando o ciclo mais rpido, uma verdadeira estratgia de

mercado em prol do consumismo.

Empresas de vrios segmentos produtivos descartam projetos cujo foco era a

durabilidade de seus produtos e passam focar mais no seu designer, que tendem a

estimular o consumo do novo, deixando o anterior defasado em pouco tempo, como

os celulares e notebooks. Outra forma de obsolescncia so as mudanas de

sistemas operacionais como o novo Windows 8 ou o Windows 9 (softwares) que

necessitam de computadores mais rpidos, mais memria, capacidade de

processamento maior e resoluo de vdeo superior.

Esse novo pacote de tecnologia afeta diretamente todos os computadores j

fabricados, pois para continuarem no mercado devem atender as exigncias do novo

software. Com isso muitos computadores tornaram-se obsoletos por no atenderem

a essa inovao do software.

A obsolescncia programada se d em virtude dos avanos tecnolgicos e da

necessidade construda no consumo de bens novos e mais atuais, um modismo s

vezes, trazendo como consequncia a obsolescncia de grande nmero de

equipamentos. Esses agora pertencem a um novo status, o de obsoletos, e esto

prontos para serem descartados, gerando com isso um grave problema, os resduos

eletrnicos, que crescem de forma geomtrica em todo o planeta.

3.4 O QUE SO OS RESDUOS ELETRNICOS

Os resduos eletrnicos so os objetos tcnicos informacionais que depois de

um tempo de uso no servem mais para seus usurios, por vrias razes. Uma

delas pode ser por defeito ou queima do produto, uma geladeira eletrnica que

queimou ou um forno de micro-ondas que no esquenta mais. J na rea da

informtica, os fatores so diferentes, um celular mudou o modelo, um notebook s

funciona se tiver mais memria e mais HD, pois saiu um Windows mais novo e exige

mais do equipamento, um mercado bastante dinmico, sendo um dos fatores de

substituio e possvel causa da obsolescncia dos mesmos que gera o resduo

eletrnico.

29

Devemos conceituar o que lixo e o que resduo, para melhor compreenso

quando nos referimos ao e-lixo produzido por nossa sociedade contempornea.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hdricos (SEMA), em seu

Programa Desperdcio Zero criado pelo Governo do Estado do Paran em 2005, a

palavra lixo derivada do termo latim lix, significa cinza e conceituada como

sendo sobras, ou restos. Atualmente o conceito de lixo significa tudo que no pode

ser reaproveitado ou reciclado.

Quanto a resduo, referem-se aos materiais heterogneos, inertes, minerais

e orgnicos, resultante das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser

parcialmente ou totalmente utilizados, gerando entre outros aspectos proteo a

sade pblica e economia dos recursos naturais.

Para efeito de entendimento, o mercado mundial adotou a nomenclatura de

lixo eletrnico, o e-lixo ou e-waste, para os Equipamentos Eletro Eletrnicos

(EEE), mas na verdade todo produto danificado, quebrado ou obsoleto um resduo

de informtica, o qual deve ser tratado de forma diferenciada, pois so constitudos

de elementos qumicos txicos, os quais devem ser reciclados.

Os resduos eletrnicos so compostos por todo o tipo de equipamento que

envolve alta tecnologia ou no, e seus agregados como as baterias. Exemplo:

monitores de computadores, os prprios computadores, telefones celulares e sua

bateria, televisores de tubo e LCD, aparelhos de fax, cmeras fotogrficas,

impressoras, micro ondas, mquinas de lavar roupas, mquinas de lavar pratos,

enfim, a caracterstica fundamental dos equipamentos eletrnicos est na

possibilidade da interao do homem com a mquina.

O Laboratrio Federal para Cincia e Tecnologia de Materiais da Sua

(EMPA) registrou os principais centros de reciclagem informal de lixo eletrnico em

11 pases do mundo, segundo o site Signis Brasil (2011), Na China e na ndia, os

maiores pases receptores [...]. Na sia trabalhadores manuseiam as pilhas de lixo

eletrnico sem nenhum material de proteo, e utilizam de meios inapropriados para

a separao dos metais da placa de circuito, que liberam resduos txicos no solo e

nos rios.

O lixo eletrnico diferente de todo o resduo produzido pelo homem por ser

formado de alta tecnologia, os equipamentos possuem substncias qumicas como

(chumbo, cdmio, mercrio, berlio, etc.) em suas composies, os quais devem ser

30

tratados antes de serem descartados de forma incorreta, evitando assim a

contaminao do solo, da gua e do ar.

Segundo o site da BBC Brasil (2011) Em Gana, [...], testes feitos em uma

escola prxima a um centro de reciclagem informal mostraram nveis de chumbo,

cdmio e outros poluentes cerca de 50 vezes acima dos nveis considerados

seguros.

Figura 01 Em Gana, recicladores queimam parte de monitores ao ar livre.

Segundo (MOREIRA, 2007), reprter do IDG Now, em sua reportagem: Um

vago de carga de um trem capaz de dar uma volta completa no mundo. Essa a

quantidade de lixo eletrnico produzido pela humanidade todos os anos, de acordo

com estimativas da organizao no governamental Greenpeace. So mais de 50

milhes de toneladas de lixo eletrnico produzidos.

Compreender e reconhecer que estamos diante de um srio problema, o lixo

eletrnico, fruto da sociedade contempornea torna-se um srio problema ambiental

devido a sua quantidade e sua complexidade. Sua destinao final e adequada o

grande desafio, embora tenhamos internacionalmente a conveno de Basilia,

elaborada na Sua em 1989, como objetivo de estabelecer mecanismos

internacionais de proibio e controle do transito de produtos perigosos e resduos

entre os pases. A Figura 01 mostra que esse problema de fato ainda no foi

solucionado.

Fonte: BBC Brasil - Gana frica 2011.

31

Em nosso Pas, internamente, o Governo Brasileiro promulgou a Poltica

Nacional de Resduos Slidos (PNRS), Lei n 12.305, de dois de agosto de 2010

conforme o site do MMA. Com a promulgao da PNRS ficou proibida

definitivamente a importao de resduos perigosos conforme artigo transcrito a

seguir:

Art. 49. proibida a importao de resduos slidos perigosos e rejeitos, bem como de resduos slidos cujas caractersticas causem dano ao meio ambiente, sade pblica e animal e sanidade vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reuso reutilizao ou recuperao. BRASIL (2010).

O Brasil est procurando enfrentar os desafios de um desenvolvimento que

leve em conta o bem estar social ligado qualidade de vida e a preservao

ambiental dos recursos naturais.

3.4.1 Formas de Mitigar o Problema.

Utilizando-se de medidas que possam contribuir e mitigar esse tipo de

descarte prematuro dos objetos tcnicos informacionais, foram elaborados projetos

ligados a sustentabilidade, como os 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), aes

ligadas ao desenvolvimento sustentvel do planeta como forma de mitigar os

impactos provenientes do descarte feito de qualquer forma no meio ambiente.

A Educao Ambiental com o uso da Agenda 21 tornou-se uma ferramenta

muito importante na conscientizao e fomento de aes mitigadoras desse

problema, j que ela atua nas trs escalas do espao local, nacional e global.

Outra forma que se apresenta a logstica reversa um processo que a

Indstria deve utilizar, pois pode haver escassez de metais para a construo de

equipamentos eletrnicos, no futuro. Segundo o site da BBC Brasil, (2011): O

EMPA estima que em 100 mil celulares haja cerca de 2,4 quilos de ouro, mais de

900 quilos de cobre e 25 quilos de prata, que valeriam mais de US$ 250 mil (R$ 430

mil) se fossem completamente recuperados, ento a implantao da Logsticas

Reversa se justifica nem que seja para atender o lado econmico.

32

3.5 GLOBALIZAO, MODERNIDADE E SUSTENTABILIDADE

A globalizao do processo capitalista uma mola propulsora da rea

tecnolgica, pois proporciona indstria um mercado consumidor no mais local,

mas sim global, ampliando muito seus horizontes.

A modernidade nos trouxe muitas facilidades, o desenvolvimento tecnolgico

proporcionou, indstria, a capacidade de produzir muito, fazendo com que seu

custo final ficasse mais barato. Com isso ampliou-se a quantidade e a variedade dos

produtos tecnolgicos, antes restritos a classes mais abastadas, agora presentes

tambm na base da cadeia consumidora.

O uso de equipamentos de informtica como a telefonia mvel, se justifica

no mais pelo status como foi no inicio da telecomunicao mvel, e sim pela

extrema necessidade que se tem hoje, de estarmos interligados. Dentro de um

processo inovador, a incluso digital abre as portas do mundo para um espao novo,

o virtual, com a finalidade de aproximao de pessoas e empresas, transpondo o

espao fsico existente entre eles, tornando mais fcil a interao dentro do sistema

capitalista o qual estamos inseridos.

Considerando o exposto acima, o uso da informtica dever crescer levando-

se em conta o nmero da populao mundial, conforme os dados quantitativos que a

ONU (Organizao das Naes Unidas) divulgou em seu site:

A populao mundial atual de 7,2 bilhes projetada para aumentar em 1 bilho nos prximos 12 anos e chegar a 9,6 bilhes em 2050, segundo um relatrio das Naes Unidas lanado hoje, que aponta que o crescimento ser principalmente nos pases em desenvolvimento, com mais do que metade em frica. (ONU, 2013).

Ao analisar os dados da ONU e sua projeo para os prximos 12 anos,

verificamos um aumento de 1 bilho na populao mundial, sendo que esse

crescimento populacional deve ocorrer com mais intensidade nos Pases em

desenvolvimento. Os Pases em desenvolvimentos so carentes de tecnologias, o

que deve agravar muito o problema do e-lixo.

Sendo assim a demanda por novos equipamentos tecnolgicos faz com que

cresa a quantidade dos equipamentos no mercado em ascenso, o que elevar a

quantidade dos objetos tcnicos informacionais. Esse material posteriormente ser

transformado em lixo eletrnico, ampliando assim o quadro j desfavorvel na

33

produo do e-lixo ou ainda, WEEE (Waste Electrical and Electronic), como

conhecido internacionalmente.

Procurar formas de mitigar os impactos ocasionados pelos resduos

eletrnicos descartados de forma incorreta no meio ambiente ser de grande

importncia, pois com o crescente aumento da populao mundial, dentro de uma

lgica, aumentar tambm o consumo de objetos tcnico informacionais.

Figura 02 - Efluente do processo de dissoluo do cobre em circuitos eletrnicos vai para um rio em Taizhou China.

Construir um mundo melhor est relacionado a vrios aspectos, um deles

entender que vivemos em sociedade, e nossas aes repercutem, ecoam por todo o

espao de convivncia em nosso planeta. A Figura 02 um exemplo de como

nossas aes interferem no meio ambiente, na vida de milhes de pessoas e de

todo ser vivo presente em um dado lugar. Essa atividade exercida de forma

incorreta, sem tecnologia adequada, provoca contaminao do rio Taizhou China.

Um recurso natural que est sendo afetado por aes que visam apenas extrao

do cobre das placas eletrnicas, uma atividade econmica altamente impactante

naquele lugar.

Fonte: Laboratrio Federal para Cincia e Tecnologia de Materiais da Sua (EMPA) 2014.

34

Desta forma devemos nos preocupar em achar meios para solucionar esse

tipo de problema, a importncia e a conscientizao sobre os recursos naturais de

nosso planeta, se faz necessrio, pois com o aumento da populao a degradao

do meio ambiente expande-se a pontos de difcil recuperao. A busca pela

sustentabilidade nada mais do que procurarmos formas de mitigar os impactos

ambientais, como tambm acharmos formas alternativas que possibilitem a

regenerao do meio natural.

A sustentabilidade e o desenvolvimento parecem ser antagnicos dentro de

nossa sociedade contempornea. Segundo (SANTOS, 2006), quando fala do

terceiro perodo de desenvolvimento do Meio Tcnico-Cientifico-Informacional por

volta dos anos 70, nos pases de Terceiro Mundo a gide do mercado se beneficiou

da unio entre tcnica e cincia, com a criao e disseminao dos objetos tcnicos.

A compreenso do contexto de sustentabilidade muito profunda, mas j no

to desconhecida. Exemplo disso : se no cuidarmos de nossas fontes dgua

superficiais, no teremos gua potvel para o consumo dirio, para isso deve-se

evitar a contaminao das guas superficiais, um desafio para um mundo capitalista

que ignora que todos tm direitos ao mundo sustentvel e saudvel, principalmente

as geraes futuras.

3.6 LIXO ELETRNICO FORMADO POR COMPUTADORES E CELULARES.

O Lixo Eletrnico um material complexo que exige tratamento diferenciado

quanto a sua destinao final, isso devido a seus componentes. Alguns so txicos

como: Chumbo, Mercrio, Cdmio e Berlio. Seu destino final deve ser orientado

dentro de uma poltica ambiental, apoiada por Legislaes que regulamentem quais

so as formas corretas de se desfazer dos resduos slidos.

Conforme o site de Radiodifuso BBC Brasil, segundo Aradas (2012), o Lixo

eletrnico pode ser fonte de metais preciosos aps reciclagem. Um relatrio da

organizao ambientalista Greenpeace Argentina (uma organizao no

governamental relacionada preservao ambiental) afirma que, no ano de 2013, os

argentinos jogaram no lixo o equivalente a 228 kg de ouro, 1,7 mil kg de prata e 81

mil kg de cobre, por falta de reciclagem.

Segundo o Greenpeace, o material est presente em dez milhes de

celulares que so jogados fora por ano no pas, e que para piorar poluem a terra,

35

o ar e a gua. Fonte de riqueza como tambm de problemas, os elementos Chumbo,

Mercrio, Cdmio e Berlio presentes nos computadores, celulares e TVs de plasma

so classificados como Viles silenciosos. Conforme (MOREIRA, 2007): assim

que a engenheira ambiental Ftima Santos, gerente tcnica e comercial da empresa

de reciclagem de resduos qumicos Suzaquim, define os componentes txicos

presentes nos equipamentos eletrnicos e baterias.

Silenciosas so as formas de envenenamento que esses elementos qumicos

causam no individuo, e seu tratamento ser feito pelos sintomas e no pelo que

causou a doena. O que pode gerar um grave problema de sade pblica, pois a

doena pode demorar a se manifestar e muitas pessoas podem se contaminar.

Cntia Baio (2008), no site tecnologia UOL, descreve os principais problemas

dos elementos qumicos presentes nos equipamentos de informtica.

Fonte: Baio (2008).

O Estado deve promover o bem estar de sua populao, para isso deve

regulamentar as formas corretas do descarte e destinao final dos resduos slidos.

Entre eles o e-lixo, fruto da sociedade contempornea, composto pelos objetos

tecnolgicos informacionais presentes em grande parte do mercado mundial.

Elemento Qumico Aparelhos Danos na Sade

Mercrio Computador, monitor e TV de tela

plana. Danos no crebro e fgado

Cdmio Computador, monitores de tubo e

baterias de laptops. Envenenamento, problemas nos

ossos, rins e pulmes.

Arsnio Celulares Pode causar cncer no pulmo, doenas de pelo e prejudicar o

sistema nervoso.

Berlio Computadores e celulares Causa cncer no pulmo

Retardantes de chamas (BRT)

Usado para prevenir incndios em diversos eletrnicos

Problemas hormonais, no sistema nervoso e reprodutivo.

Chumbo Computador, celular e televiso. Causa danos ao sistema nervoso e

sanguneo

Brio Lmpadas fluorescentes e tubos Edema cerebral, fraqueza muscular,

danos ao corao, fgado e bao.

PVC Usado em fios para isolar corrente Se inalado, pode causar problemas

respiratrios.

Quadro 1 - Elementos qumicos presentes nos Equipamentos Eletroeletrnicos.

36

No Brasil a Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica (ABINEE),

em seu site, divulgou alguns dados que nos do uma ideia do tamanho desse

mercado nacional.

Os equipamentos de informtica como os celulares so exemplos de como se

d a obsolescncia dos objetos tecnolgicos no mercado brasileiro. No Quadro 2

vemos que no ano de 2011 foram produzidos e comercializados mais de cinquenta e

oito milhes de telefones celulares tradicionais, enquanto que o Smartphones perto

de nove milhes de equipamentos.

Em 2011, segundo Tagiaroli (2011) da UOL Tecnologia, um telefone

smartphone do fabricante Motorola era vendido ao preo de R$ 1.999,00 reais j

desbloqueados, enquanto um celular tradicional, como o Samsung Galaxy, custava

aproximadamente R$ 1.600,00 reais.

Com o passar dos anos a tecnologia evoluiu muito e tornou os equipamentos

mais baratos trazendo, como consequncia, a obsolescncia de vrios celulares,

como mostra a inverso ocorrida entre 2011 e 2014 no mercado de celulares

tradicionais e smartphones.

No ano de 2014 foram comercializados aproximadamente dezenove milhes

de aparelhos celulares tradicionais contra quarenta e seis milhes de celulares

smartphones. Essa diferena justificada devido reduo dos valores e aos

avanos tecnolgicos, pois nas operadoras pode-se comprar um aparelho de celular

tradicional pelo valor entre R$ 80,00 a R$ 120,00. J um smartphone pode ser

Fonte: ABINEE (2014), adaptado por DANIEL, Marcial (2014).

Quadro 2 Histrico da Comercializao de Telefones Celulares no Brasil. BBrasilBrasil.

37

adquirido por R$ 400,00 reais, com tendncia a ficar mais barato se a indstria

sinalizar que vai lanar um modelo novo, com mais tecnologia embarcada.

Com isso o Smartphone superou o celular tradicional, que embora continue a

funcionar muito bem, no est apto a concorrer com o rival, que possui mais

tecnologia embarcada e navega na internet. Assim aumenta o nmero de celulares

descartados, pois se tornaram obsoletos e sua destinao final ainda obscura.

O Quadro 3 nos da um indicativo de como se desenvolveu a incluso digital

brasileira no perodo entre 2006 a 2013, quando houve um crescimento de 80% de

equipamentos comercializados (Mercado Total de Pcs), conforme o quadro da

ABINEE, um dado importante que auxiliou o desenvolvimento do Brasil.

Quadro 3 - Mercado de PCs no perodo de 2006 a 2013.

Outro dado interessante presente no Quadro 3 diz respeito venda no

mercado interno, o aumento de vendas dos Pcs no mercado Oficial, ou seja, micros

ofertados por revendas nacionais, com garantia, pagamento parcelado, nota fiscal,

alavancaram as vendas desses objetos informacionais. Na comparao, as vendas

dos equipamentos Oficiais em 2013 em relao a 2006 tiveram um acrscimo de

mais de 300%. Enquanto isso, os produtos no oficiais, devido cotao do dlar

paralelo mais alto, falta de garantia e falta de nota fiscal, tiveram reduo de

aproximadamente 33% em suas vendas.

Fonte: ABINEE (2014), adaptado por DANIEL, Marcial (2014).

38

Outro fato relevante na rea econmica que o Brasil em 2006 passou a

fazer parte de um agrupamento de pases chamado BRICs, seus membros alm do

Brasil, so: Rssia, ndia, e China. Em 2011, por ocasio da III Cpula, a frica do

Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS.

Alm da institucionalizao vertical, o BRICS tambm se abriu para uma

institucionalizao horizontal, ao incluir em seu escopo diversas frentes de atuao

fazendo jus origem do grupo, a econmico-financeira, intensificando a

convergncia dos interesses comuns ao grupo econmico.

Na busca por competitividade em um mundo Globalizado, as informaes e o

conhecimento tm como aliados os objetos tcnicos informacionais, por isso que

percebemos o aumento do mercado de PCs, principalmente do mercado oficial em

detrimento do mercado informal dos produtos vindos para o Brasil de forma irregular.

O problema est na obsolescncia dos equipamentos, segundo Moreira

(2007): A exemplo do que ocorre em pases desenvolvidos, os ciclos de substituio

de produtos esto cada vez mais acelerados. O tempo mdio para troca dos

celulares [...] de menos de dois anos. J os computadores, tem tempo maior, so

substitudos a cada 4 anos nas empresas e a 5 anos pelos usurios domsticos.

Quadro 4 - E-waste Informaes relacionadas ao e-lixo lanado no mundo em 2014.

Fonte: StEP Initiative - Solving The E-Waste Problem Org. DANIEL, Marcial (2014).

39

2 EUA, 4,54%

3 BRASIL, 2,84%

4 Russia, 2,05%

1 India , 17,66%

5 frica do Sul, 0,74%

6 Ghana - frica, 0,36%

Comparativo da Populao Munidial entre: EUA - BRIC - Africa do Sul e Ghana

Segundo Spitzcovsky (2013), o primeiro mapa global de e-lixo nasceu de

uma aliana entre a StEP Initiative - Solving The E-Waste Problem com a ONU e

empresas, governos e ONGs de todo o mundo.

O Quadro 4 sobre E-waste foi montado com os dados retirados do Mapa

Global produzido pela Step-Initiative, nele possvel de se verificar pontos

importantes como as diferenas existentes entre pases ricos e pobres quando

analisamos o consumo de equipamentos Eletro Eletrnicos e o e-lixo gerado.

O Grfico 1 mostra o nmero de habitantes no Planeta em 2012, onde nota-

se que a ndia est em primeiro lugar com 17,66% do total de habitantes do Mundo,

em segundo vem os Estados Unidos com 4,54% de habitante no Planeta. Esses

dados so importantes na construo de uma anlise que leva em conta o nmero

de habitantes de um pas, qual o seu consumo e a quantidade de resduos slidos

gerados.

Grfico 1 Amostragem da Populao Mundial.

Fonte: Step-Initiative, Org. DANIEL, Marcial (2014).

40

1 EUA, 15,38%

4 BRASIL, 3,19% 3 Russia,

3,25%

2 India, 6,68%

5 frica do Sul, 0,78%

6 Ghana - frica, 0,12%

Proporo de Equip. Eletro Eletrnicos em Kilotoneladas (1Kt = 1.000t.) no Merado:

EUA - BRIC - Africa do Sul e Ghana

Grfico 2 Equipamento Eletro Eletrnico colocado no mercado em 2012.

Fonte: Step-Initiative, Org. DANIEL, Marcial (2014).

Analisando o Grfico 2, constata-se que os Estados Unidos, uma potncia

mundial, possui alto grau de consumo interno de equipamentos eletro eletrnicos,

ficando em primeiro lugar no grfico, enquanto que a ndia um dos pases em

desenvolvimento, pertencente ao Grupo dos BRICS, fica em segundo lugar embora

sua populao seja quase quatro vezes maior que a Americana. Um indicativo do

poder de compra e da cultura dos Estados Unidos, o consumo de objetos tcnicos

informacionais chega a 15,38% de tudo que produzido no mundo contra apenas

6,68% da ndia e 3,19% do Brasil, outro integrante dos BRICS.

O Grfico 3 deixa evidente o quanto a sociedade estadunidense

consumista, novamente fica em primeiro lugar, superando em trs vezes o segundo

lugar que novamente o da ndia, com quatro vezes mais o nmero de habitantes

que os Estados Unidos.

41

1 EUA, 19,14%

Brasil 2,84%

3 Russia, 3,02%

2 India, 5,63%

5 frica do Sul, 0,69%

6 Ghana - frica, 0,10%

Comparativo E-Lixo gerado entre: EUA - BRIC - Africa do Sul e Ghana

Grfico 3 E-Lixo gerado no Planeta em 2012.

Fonte: Step-Initiative, Org. DANIEL, Marcial (2014).

Analisando os trs Grficos, fica claro que o poder econmico de um pas faz

toda a diferena no quesito do consumo, como tambm na questo da gerao de

resduos slidos.

Outro fato que pode ser verificado que o consumo dos Estados Unidos

muito grande, assim a obsolescncia pode ser explicada pela elevada quantidade de

resduo produzido, 19,14% de e-lixo. Fazendo um comparativo com a Rssia, o

consumo de eletro eletrnico de 3,25% e o e-lixo produzido fica em 3,02%, quer

dizer tem consumo, mas a velocidade de troca do bem (tempo) maior se

comparado a dos Estados Unidos.

Na Figura 3, colocamos um mapa temtico que ilustra o caminho do e-lixo

produzido nos Estados Unidos que atravessa o Oceano Atlntico e encontra seu

destino final em Ghana na frica.

42

Figura 3 Mapa temtico, Gana na frica recebe o e-lixo Americano.

Fonte: Step-initiative, 2012. Org. DANIEL, Marcial (2014).

Esses dados a nvel mundial vm contribuir na analise da problemtica do e-

lixo produzido em larga escala, principalmente nos pases ricos como nos Estados

Unidos, onde os equipamentos obsoletos so descartados sem nenhum tratamento,

normalmente so exportados para pases pobres como Ghana na frica. Pas com

uma populao que representa apenas 0,36% do Planeta e que recebe o e-lixo de

pases como Estados Unidos e tantos outros, como o da Europa, que no se

preocupam com as condies de um povo ou de um pas pobre que no tem

tecnologia para tratar desse tipo de resduo.

A razo da exportao do e-lixo, dos Pases ricos, se d devido a uma

legislao mais rigorosa e atualizada em relao aos resduos eletrnicos, que

restringe seu descarte de qualquer forma no meio ambiente. Segundo Moreira

(2007), muitas empresas procuram burlar a legislao vigente em seus pases de

origem, no tratamento desse resduo, para isso muitos esto livrando-se desse e-

lixo atravs de doaes a pases subdesenvolvidos, que recebem esse material

tecnolgico em forma de incentivo a incluso digital. Como exemplo, a China tem um

43

enorme depsito de resduo eletrnico das empresas dos Estados Unidos da

Amrica e da Unio Europeia como Alemanha, Holanda, Sucia entre outros.

Confirmando as afirmaes acima, ao consultar o site da British Broadcasting

Corporation (BBC - Brasil Corporao Britnica de Radiodifuso), sobre o Impacto

Global do Lixo Eletrnico: Lidando com o Desafio, boa parte do lixo eletrnico o e-

lixo exportado para as naes em desenvolvimento enviado ilegalmente. Estes

detritos acabam indo parar em plantas de reciclagem informais, predominantemente

em pases como ndia, Gana, Nigria, China. No caso da China, esse lixo

reexportado para outros pases do Sudoeste asitico, como Camboja e Vietn.

Como podemos ver, a humanidade no estgio em que se encontra no pode

viver mais sem os objetos tcnicos informacionais, e o numero desses objetos s

vem crescendo, como tambm seus resduos, como o e-lixo. Existe uma

complexidade quando nos referimos ao desenvolvimento sustentvel, principalmente

quando analisamos as questes sociais e econmicas na preservao dos recursos

naturais e do meio ambiente. Esse o grande desafio para a humanidade, quando

tratamos nossos resduos slidos, em especial o lixo eletrnico.

3.7 LEGISLAES, ONGS

No Brasil a Lei n 12.305/10, que institui a Poltica Nacional de Resduos

Slidos (PNRS), bastante atual e contm instrumentos importantes para permitir o

avano necessrio ao Pas no enfrentamento dos principais problemas ambientais,

sociais e econmicos decorrentes do manejo inadequado dos resduos slidos.

Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Companhia

de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB):

Considera-se lixo tecnolgico (ou e-lixo) todo aquele gerado a partir de aparelhos eletrodomsticos ou eletroeletrnicos e seus componentes, incluindo os acumuladores de energia (pilhas e baterias), lmpadas fluorescentes e produtos magnetizados, de uso domstico, industrial, comercial e de servios, que estejam em desuso e sujeitos disposio final (CONAMA, 1999).

A Lei Federal 6.938, de 31/08/1981, instituiu a Poltica Nacional do Meio

Ambiente que um instrumento regulatrio do meio ambiente. Na legislao foi

conceituado o que o meio ambiente, no seu Artigo 3: por meio ambiente, o

44

conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e

biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, devendo os

rgos pblicos zelar para a sua efetiva fiscalizao e aplicao.

J no Artigo 5: As diretrizes da Poltica Nacional do Meio Ambiente sero

formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ao dos Governos da

Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios no que se

relaciona com a preservao da qualidade ambiental e manuteno do equilbrio

ecolgico observado os princpios estabelecidos no art. 2 desta Lei.

A Resoluo 401 do CONAMA de 2008, rgo ligado ao Ministrio do Meio

Ambiente (MMA) infere a necessidade de minimizar os impactos negativos causados

ao meio ambiente pelo descarte inadequado de pilhas e baterias. Embora o principal

foco dessa resoluo seja o descarte de pilhas e baterias, j indica um avano para

uma legislao de responsabilidade ambiental.

Conforme ao site da BBC Brasil (2013), um total de 40 bilhes de toneladas

de lixo eletrnico produzido anualmente. Como se v, o e-lixo uma realidade

de nossa sociedade contempornea, pois a tecnologia algo dinmico, que est

sempre em transformao e, consequentemente, tornando os equipamentos

existentes ultrapassados tecnologicamente, gerando cada vez mais equipamentos

obsoletos.

Entender este ciclo importante, tanto quanto saber como a legislao trata

esse assunto, para isso observe-se o que est contido, sobre os resduos slidos, na

Lei Federal n 12305/2010 em seu Art. 3, inciso VII:

VII - destinao final ambientalmente adequada: destinao de resduos que inclui a reutilizao, a reciclagem, a compostagem, a recuperao e o aproveitamento energtico ou outras destinaes admitidas pelos rgos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposio final, observando normas operacionais especficas de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos; (BRASIL, 2010).

Dentro de uma poltica pblica do meio ambiente, surge o Terceiro Setor um

aliado imprescindvel na estruturao e implantao do processo da logstica

reversa, pois com a coleta e separao dos resduos provenientes de nossa

sociedade, esses, tornam-se matria prima para a indstria na produo de novos

bens de consumo.

45

A Sociedade civil dividida em trs setores, primeiro, segundo e terceiro. O

Estado pertence ao primeiro setor, s indstrias e empresas privadas fazem parte do

segundo setor, j as associaes sem fins lucrativos pertencem ao terceiro setor.

Assim so criadas as Organizaes no Governamentais (ONGs), grupos

sociais organizados, sem fins lucrativos, constitudos formal e autonomamente,

caracterizados por aes de solidariedade no campo das polticas pblicas e pelo

legtimo exerccio de presses polticas em proveito de populaes excludas das

condies da cidadania, faz parte do chamado Terceiro Setor da economia.

A importncia do terceiro setor esta vinculada diretamente as organizaes de

classes sociais que buscam promover e apoiar polticas pblicas que visam

melhoria da qualidade de vida da populao e o cumprimento das leis por parte de

empresas privadas, estruturadas em Organizaes no Governamentais (ONGs) e

as Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIPs).

Os trabalhadores das ONGs, que compem o terceiro setor, podem contribuir

na conscientizao de nossos cidados no enfrentamento dos problemas ligados ao

resduo slidos, em especial ao resduo eletrnico e sua destinao.

O Terceiro Setor dentro de um contexto contemporneo faz parte de um

sistema complexo de relaes entre sociedade e natureza. Dentro de uma

globalizao que no reconhece as fronteiras fsicas, as ONGs e OSCIPs quando

organizadas, possuem um papel importante quando promovem a incluso social de

milhes de pessoas s margens da sociedade, promovendo a incluso da cidadania

dos menos favorecidos.

O Terceiro Setor em seu trabalho de reciclagem trabalha em prol da

sociedade e do meio ambiente, fazendo a segregao dos resduos slidos

produzidos em nossos centros urbanos, assim tem-se as condies necessrias

para continuar o processo de reaproveitamento energtico conforme os preceitos de

nossa legislao ambiental Lei Federal n 12305/2010.

O reaproveitamento energtico se traduz no reaproveitamento da matria

prima que hora chamada de resduo slido descartado pela sociedade, que

coletada pelas ONGs, e depois classificado e encaminhado para as indstrias

dentro de um processo conhecido como logstica reversa. Esse processo torna-se

imprescindvel em nossa sociedade, pois auxilia na soluo de vrios problemas no

s de ordem ambiental como tambm social.

46

Quando as ONGs coletam os resduos eletrnicos, o e-lixo, e tantos outros,

elas esto contribuindo com o meio ambiente, mas tambm promovendo a cidadania

com a incluso social de pessoas at ento marginalizadas pela sociedade. Em

Londrina PR, a ONG E-Lixo recolhe todo tipo de lixo eletrnico e d a destinao

correta, servindo como um posto avanado da indstria na coleta dos equipamentos

hoje inservveis.

O terceiro setor, representado pelas ONGs e regulado pelo poder pblico,

possui um mercado em ascenso, assim seu trabalho pode contribuir de forma

decisria na mitigao dos resduos eletrnicos quanto a sua destinao final.

Rodrigues (2011), quando escreve sobre as diferentes organizaes que

fazem bem ao mundo, afirma:

Terceiro Setor uma terminologia sociolgica utilizada para designar uma parcela organizada da sociedade civil sem fins lucrativos que busca solues para problemas e causas sociais, suprindo necessidades da populao que o governo e empresas privadas no conseguem satisfazer. (RODRIGUES, 2011).

Um setor importante, presente na sociedade contempornea, o Terceiro Setor

um elo essencial na implantao da logstica reversa, dentro da Poltica Nacional

de Resduos Slidos (PNRS), instituda pela Lei Federal n 12.305, de 2 de agosto

de 2010, regulamentada pelo Decreto Federal n 7.404 de 23 de dezembro de 2010,

que dispe sobre a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Segundo o Ministrio do Meio Ambiente (MMA):

A logstica reversa instrumento de desenvolvimento econmico e social caracterizado por um conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinao. (BRASIL, 2010).

Outro ponto importante na segregao dos resduos slidos est no combate

s prticas de descarte irregular em terrenos vazios, nos centros urbanos. Neste

sentido, o Estado do Paran incentiva a populao a ser responsvel pelo meio

ambiente, um exemplo prtico a luta contra o mosquito da dengue (Aedes aegypti).

Segundo a Secretaria da Sade (2014) [...] desde agosto do ano passado, 16.886

47

casos de dengue foram confirmados no Estado, sobretudo nas regies norte,

noroeste e oeste, neste perodo, 48 municpios atingiram patamares epidmicos.

Esse descarte irregular de objetos tcnicos tem seu fim quando todo o

material segregado e encaminhado para as recicladoras, no caso das indstrias a

logstica reversa fecha seu ciclo quando recebe da sociedade seu resduo,

especificamente no caso do lixo eletrnico, composto de alta tecnologia e toxidade,

livrando o meio ambiente desse danoso resduo.

Na cidade Londrina, no final de 2005, criou-se o Frum Permanente de

Planejamento Estratgico para o Desenvolvimento Sustentvel de Londrina, formado

por representantes de 36 entidades. Com o objetivo de aglutinar a sociedade

organizada e mobilizar a comunidade para o desenvolvimento sustentvel de

Londrina e regio, por meio de atividade permanente de prospeco de futuro e

planejamento estratgico, independente de poltica partidria (COMUNICAO,

2010).

O Terceiro Setor, bem organizado e estruturado parte integrante de um trip

de equilbrio scio espacial, dentro da sociedade contempornea, segundo

(RODRIGUES, 2011). Para efeito de conhecimento, o Primeiro Setor formado

pelos Governos Executivo, Legislativo e Judicirio, e o Segundo Setor por empresas

privadas com fins lucrativos, desta forma o Terceiro Setor veio como ponto de

equilbrio para preencher a lacuna existente entre os dois formadores das polticas

econmicas e sociais de um Estado de direito.

48

4 O ESPAO VIRTUAL, FONTE REAL DE PROBLEMAS E SOLUES

Ao considerar o espao, Santos (2002, p. 153) aponta como um conjunto de

relaes realizadas por meio de funes e de formas, as quais assumem papel de

testemunho de uma histria escrita por processos do passado e do presente. Logo,

o espao se define como um conjunto de formas representativas de relaes sociais

do passado e do presente, bem como uma estrutura formada por relaes sociais

que acontecem diante de nossos olhos e que se manifestam atravs de processos e

funes.

Sendo assim, conclui-se que hoje construmos o futuro, ou seja, todas as

aes prticas de hoje passam a ser um legado s prximas geraes. Essa

construo de futuro e de preservao do meio ambiente est atrelada diretamente

a questo do territrio, segundo Andrade (2004, pg.19): O conceito de territrio

no deve ser confundido como o de espao ou de lugar, estando muito ligado ideia

de domnio ou de gesto de determinada rea. Desta forma a sociedade

contempornea deve ser consciente das escalas existentes quando analisamos o

espao como um todo. O territrio a primeira escala onde nos encontramos, se

cuidarmos bem dela, por consequncia, teremos um futuro melhor para as prximas

geraes, conforme Andrade (2004, pg. 20): A formao de um territrio d s

pessoas que nele habitam a conscincia de sua participao, provocando o sentido

da territorialidade que, de forma subjetiva, cria uma conscincia de confraternizao

entre elas..

Segundo Carlos (1997, p.32), o espao geogrfico o produto de um dado

momento, do estado da sociedade, portanto, um produto histrico em constante

transformao, um espao novo dinmico construdo a todo instante. O trabalho

acumulado por geraes tende a transformar esse espao, humanizando-o,

tornando-o um produto cada vez mais distanciado do meio natural.

A construo do espao na viso de Milton Santos no pode ser encarada

sem conhecer as categorias de anlise:

Por isso nos pareceu oportuno distingui-lo da paisagem e da configurao territorial que, entretanto, comparecem como elementos fundamentais do seu entendimento. Essa compreenso passa pelo reconhecimento da crescente imbricao entre o natural e o artificial. (SANTOS, 1988, p. 4)

49

O autor supracitado analisa o espao como uma interao da paisagem e das

configuraes territoriais, ou seja, o espao produzido socialmente, por meio de

aes contraditrias que resultam nas metamorfoses do espao.

O espao produzido e reproduzido socialmente tem no Meio Tcnico-

Cientfico-Informacional a possibilidade de transpor definitivamente todas as

barreiras geogrficas, como tambm as territoriais existentes, graas a esse avano

tecnolgico o mundo, segundo Milton Santos se transforma.

O projeto de mundializar as relaes econmicas, sociais e polticas comeam com a extenso das fronteiras do comrcio no princpio do sculo XVI avana por saltos atravs dos sculos de expanso capitalista para finalmente ganhar corpo no momento em que uma nova revoluo cientfica e tcnica se impem e em que as formas de vida no Planeta sofrem uma repentina transformao: as relaes do Homem com a Natureza passam por uma--reviravolta, graas aos formidveis meios colocados disposio do primeiro. (SANTOS, 1988, p. 5)

Esse espao geogrfico torna-se passvel da internacionalizao graas ao

meio Tcnico-Cientfico-Informacional com um grande aparato de objetos tcnicos.

Segundo Milton Santos (2006), existe uma diferena entre coisas e objetos, coisas,

como sendo o produto de uma elaborao natural, enquanto os objetos seriam o

produto de uma elaborao social, ento os objetos so ferramentas que

transformam todas as paisagens por onde os homens se encontram.

Com a globalizao o mundo inteiro passa por um processo de subordinao

do capital hegemnico. A sociedade contempornea, conforme Milton Santos (2006,

pg. 159), utiliza-se do conhecimento tcnico e da cincia para subordinar o meio

natural sob a gide do mercado, transformando drasticamente o meio natural sob a

lgica de um mercado globalizado. As tcnicas so responsveis pela produo,

pela formao do capital e pela diviso internacional do trabalho, uma garantia da

universalidade, trazendo consigo um espao cada vez mais homogneo que serve a

um capital hegemnico.

A tecnologia foi uma ferramenta que possibilitou toda a expanso do sistema

hegemnico no planeta, dentro de um contexto capitalista, aproximaram-se pessoas

de diversos lugares do mundo atravs do seu ciberespao, das redes sociais. O

ciberespao, fruto da alta tecnologia de nossa sociedade contempornea, formado

por um espao diferente do qual conhecemos, a paisagem, o territrio o lugar, esto

50

presentes de forma diferente, em outra dimenso, uma que s possvel quando

estamos conectados via computadores atravs de uma rede global virtual.

Com o advento da globalizao, possvel atravs dos avanos tecnolgi