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RESGATE HISTÓRICO Ao completar 52 anos, Campo Bom presta uma homenagem a homens e mulheres que fizeram a diferença na construção de cada etapa da cidade. Por meio delas homenageia-se também a todos que atuaram anonimamente e continuam se doando a Campo Bom, integrando sua trajetória de conquistas e sucesso. (www.campobom.rs.gov.br)

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Page 1: RESGATE HISTóRICO - Prefeitura Municipal de Campo Bom Historico 2011.pdf · Campo Bom – e em nome delas reco- ... Roberto Linden; Suely Teresinha da Silveira Pazin; Telga Bohrer;

RESGATE HISTóRICO

Ao completar 52 anos, Campo Bom presta uma homenagem a homens e mulheres que fizeram a diferença na construção de cada etapa da cidade. Por meio delas homenageia-se também a todos que atuaram anonimamente e continuam se doando a Campo Bom, integrando sua trajetória de conquistas e sucesso.

(www.campobom.rs.gov.br)

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Pelo terceiro ano consecutivo, a Ad-ministração Municipal de Campo Bom realiza o evento Resgate Histórico com a finalidade de permitir que pormenores da vida e do desenvolvimento da cidade sejam resgatados sob a ótica de seus pro-tagonistas. Sabe-se que uma cidade não se faz sozinha e que em cada canto há gente que faz diferença em seus bairros, profissões, entidades e iniciativas. São essas pessoas que o projeto quer home-nagear e que são ‘garimpadas’ perante indicação de suas próprias comunidades e pares. Além de ouvir delas ‘sua parte da história’, o projeto registra em vídeo as impressões, depoimentos e narrati-vas de cada um dos participantes, mate-rial que passa a integrar o acervo da Bi-blioteca Municipal, ficando disponível como fonte de pesquisa. São narrativas únicas e impressões pitorescas. Na edi-ção de 2011, a exemplo das duas ante-riores, há ricas narrativas sobre Campo Bom de 50, 60 e até 80 anos atrás. Perce-be-se, numa leitura geral dos depoimen-tos, fatos comuns a todos e histórias que se repetem, mas que em cada família, empresa, profissão, repercutiu de for-ma diferente. A dificuldade de atraves-sar o Rio do Sinos para uma professora, transformou-se em oportunidade de im-plantar uma balsa para outro morador. A pouca infraestrutura nas estradas que di-ficultava o envio de lenha para olarias,

foi ganha-pão para quem se dedicou ao ofício do transporte. A crise do calçado nos anos 90, significou o fim de muitos negócios para alguns, mas novas oportu-nidades a outros e certamente um grande desafio para todos. Ser professor na ci-dade na década de 40, quando nem ener-gia havia e as escolas eram ‘algumas sa-las feitas de madeira’, como conta uma das narrativas, nos permite medir o es-forço pessoal pelo sucesso profissional. E por aí vai.

Mais do que homenagear pessoas que fizeram e fazem a diferença na vida de Campo Bom – e em nome delas reco-nhecer a tantas outras que anonimamen-te deram sua contribuição para a cidade – o evento Resgate Histórico é um pro-jeto prazeroso e reconfortante. Hoje, pe-ríodo em que a comodidade da internet (até sem fio) e as tecnologias digitais fa-cilitam tanto o dia a dia é que se perce-be como as relações comunitárias e de vizinhança foram imprescindíveis para para construir Campo Bom. Com tanta tecnologia a nosso dispor, torna-se ain-da mais imensurável a contribuição des-tas pessoas que se dedicaram a fazer di-ferença. A estes campo-bonenses - de nascimento ou de coração – nosso sin-gelo reconhecimento.

editorial

Uma justa homenagemabelino abílio Beck – 68 anos

Há uns 40 anos me apelidaram de Teixeirinha, e co-mo eu tive que fazer um registro de artista quando

entrei na rádio, quis registrar Teixeirinha Segundo, mas a censura federal não deixou, então me perguntaram meu sobrenome e por isso meu apelido ficou Beckinha, pare-cido com Teixeirinha. Não sou natural de Campo Bom, e decidi vir pra cá porque onde nasci não tinha nem es-trada e pra sair de lá só de carreta de boi. Um dia resol-vi pegar uma sacola com roupa e vim pra Campo Bom, gostei e fiquei. Naquela época aqui no Imigrante, con-

tava-se nos dedos o número de moradores, acho que não tinha 20. Sou fundador e presi-dente da associação de moradores que teve na escola Santos Dumont sua primeira sede. Já fui cobrador de ônibus, tive barbearia, depois comecei a cantar, toquei em baile e num conjunto que não tinha nem nome. Depois formamos um grupo, tocamos na rádio, tevê e até no programa Fogo de Chão. Fiquei 18 anos na música e na rádio. Parei quando com-prei um ônibus pra começar a minha empresa.” (morador bairro Imigrante)

adão elemar de Moraes – 46 anosCom 12 anos de idade descobri meu talento para rá-dio. Estava vendo um jogo de futebol num campinho

perto de casa quando peguei uma madeira do chão que fiz de microfone e comecei a narrar o jogo. Nunca fui narrador de futebol e nunca essa ideia havia me atraído, até aquele dia. Meu primeiro trabalho em comunicação foi com meus irmãos que trabalham com som fazendo aquelas festinhas de garagem e também serviço de alto falantes. Um dia fui com eles fazer som num evento, e ao chegar na cida-de ouvi uma rádio chamada Repórter e achei aquelas

músicas muito fúnebres. Desci do carro, e sem avisar meus irmãos, fui até a rádio onde pe-di pra fazer um teste, fui contratado a partir daquele instante. Já a Rádio Urbana é um pro-jeto que eu criei, é minha filha. Em 1994 enviei ao Ministério das Comunicações o primeiro pedido para uma rádio em Campo Bom, mesmo sabendo que as dificuldades técnicas eram muito grandes. Tive uma rádio poste na cidade, até que em 2001 chegou a concessão para instalarmos a Rádio Urbana em Campo Bom.” (Rádio Urbana 87.5FM)

adriano Mathias Schmitz – 88 anosCheguei em Campo Bom em 31 de março de 1955, para a Escola Rural de Quatro Colônias. Na ocasião

era orientador das escolas rurais de toda região e queria uma escola para residir, então fui enviado para Campo Bom que, nesta época, tinha poucos habitantes e não tinha luz. Com o passar do tempo, consegui junto às lideranças da cidade que chegasse luz à escola de Quatro Colônias. Comecei a lecionar em 1960, porque antes disso eu viaja pelas escolas da região para orientar os professores. Os alunos naquela época eram muito bons, nos tratávamos

como amigos. Nós brincávamos com eles, jogávamos handebol. Nestes anos todos de ma-gistério, já lecionei sozinho numa escola para 200 alunos, pois as outras professoras pediram transferência. Para ser um bom professor tem que ter vocação e amor pela profissão, porque se lida com os pequenos que estão se formando, por isso é preciso muito cuidado. Se eu pu-desse voltar no tempo, escolheria ser professor novamente, sem pestanejar.” (professor)

aládio Sebastião Pedrozo – 73 anosVim para Campo Bom a procura de trabalho e o en-contrei em dois dias, na época eu tinha 20 anos. Co-

mecei a trabalhar como funileiro, profissão que já exercia an-tes de vir pra cá. Decidi ser funileiro porque vi um profissional desta área trabalhando e achei muito bonito, porque naque-la época tudo era feito manualmente, e por isso um trabalho artístico. Não tinha idéia de ser artista, mas da funilaria eu gostaria de ser. Comecei a trabalhar como aprendiz com 14 anos, e naquela época antes de 5 anos de experiência você não era considerado profissional, embora mostrasse bom

trabalho, então não recebia salário. Naquele tempo, enquanto um profissional não desse lucro para a empresa, tinha que trabalhar pagando para aprender. Na época era feito tudo com folha de aço, porque não existia nada de plástico, fazíamos bacia, banheiras, regador, chuveiros, baldes e outros utensílios. Nossos produtos eram todos vendidos em Campo Bom.” (funileiro)

Os homenageados de 2010: Adalberto Fett; Ademar Antonio Machado; Ademar Edgar Trein; Ai-da Maria Corrêa de Aguiar Viana; Alvery Silveira Castro; Arlindo de Castro; Benno Walter Schuck; Breno Oscar Thoen; Carlos Alberto von Reisswitz; Célia Heidrich; Cesar Augusto Ramos; Claricia Hermann; Darci Arno Lauck; Débora Kehl Trierweiler; Delmar Teixeira de Moraes; Eduardo Storck; Eldo Ivo Klein; Elemar Becker; Elio Martin; Flavio Oscar Maurer; Francisco Dias Lopes; Geovane Delmar Schell; Germano Nicolau Lenhard; Glody Elsa Hilgert; Isolina Constante da Silva; Ithon Jose Fritzen; Jair Reinheimer; Jefferson Eroni de Oliveira Gonçalves; João Carlos Ternes; Juarez Rodolfo Dreyer; Liane Bauer; Luis Fernando Trieweiler; Luiz Möller; Marco Aurélio Feltes; Maria dos Anjos da Costa da Silva; Maria Lenira Dias Lessa; Maria Lory Hack Lauer; Marlise Therezi-nha Riegel; Nair Ritzel; Paula da Silva Paz; Pedro de Oliveira Amador; Raul Gilberto Blos; Reme Oscar Blos; Remi Steigleder; Remy Eloy Schmidt; Ria Blos; Roberto Linden; Suely Teresinha da Silveira Pazin; Telga Bohrer; Wilson Francisco Conceição; Wolfram Nicolau Metzler.

exPedienteJornal Resgate Histórico de Campo BomTiragem: 15 mil exemplaresUma publicação da Prefeitura Municipal de Campo BomJornalista Responsável: Sílvia [email protected]. Independência, 800 - Centro (51) 3598-8600 - R. 8609 e 8610A Prefeitura de Campo Bom agradece a colaboração de todas as pessoas que cederam fotos, documentos e suas experiências, tornando possível essa publicação.Os depoimentos aqui contidos são de responsabilidade de seus autores. Permitida reprodução desde que preservada a fonte

Sílvia trovoEditora

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Almerindo da Costa – 63 anosSou natural de Roca Sales e moro em Campo Bom desde 1975, quando vim trabalhar em fábrica de calçados. Nos finais de se-

mana, durante cerca de seis meses, trabalhei em táxi. Gostei tanto que comprei uma placa pra mim. Já faz 30 anos e desde então essa é minha profissão. Na época em que vim morar pra cá, Campo Bom era uma cida-de pequena e jogávamos futebol onde hoje é o bairro Celeste, na época era só mato de eucaliptos. Aqui na Cohab Sul onde eu moro, era tudo ba-nhado. Campo Bom se desenvolveu muito rápido. Gosto de morar aqui, é bom. O trânsito de hoje é muito diferente daquela época, que era muito

mais calmo. O primeiro táxi que dirigi foi um Corcel, e o primeiro que comprei foi um Fusca. Naquela épo-ca era preciso ter a carteira assinada como taxista, e como trabalhava durante a semana numa empresa, não podia assinar duas vezes. Resolvi fazer outra carteira e tudo se resolveu até o momento em que com-prei meu táxi, quando não precisei mais de carteira assinada. Na época havia poucos táxis, mas logo que comecei mais placas foram liberadas, pois faltavam táxis em Campo Bom.“ (taxista)

Alósios Edgar Schwarz – 73 anos Vim para Campo Bom em 1940 quando a cidade estava se desenvol-

vendo. Nesta época tinham aqui uns dois mil habitantes, um lugar pe-queno e que estava evoluindo com o calçado. Trabalhei com esquadrias e depois fui para o ramo de madeiras. A madeireira começou com seis sócios, cada tinha uma tarefa: parte administrativa, depósito, entrega e para mim sobrou o trans-porte de madeira, que era um serviço pesado. A madeira daquela época mudou em relação a hoje, se usava madeira de pinho, depois cedrinho e madeira de lei, que agora é proibido o corte. Agora voltou a madeira eucalipto, de repo-sição, plantadas, que não são de matas virgens. Nossas madeiras foram até exportadas na década 60 de tão boas que eram. Hoje, exceto a madeira nati-

va, é mais fácil conseguir esta matéria prima. Eu sempre digo que quem mantém as portas abertas, seja com comércio ou indústria, é um herói e nossa madeireira completa 51 neste ano.” (madeireira Campo Bom)

Alice Olívia Dietrich – 80 anosSou natural aqui de Campo Bom e na minha infância havia pou-cas pessoas morando aqui. O Edifício Gerhardt é uma homenagem

ao meu pai, Lodário Gerhardt que por mais de 80 anos morou onde hoje é o edifício. E foi nessas redondezas do Centro que cresci. No lugar onde ho-je moro, antes de construirmos a casa, era tudo plantação. Quando tinha 13 anos comecei a trabalhar na calçados Reichert e fiquei lá por quase 10 anos, saindo para trabalhar em casa, costurando. Depois tivemos por 10 anos um mini mercado chamado RC Dietrich, na esquina da rua onde mo-ramos hoje. Era uma época muito boa, tínhamos bons clientes, mas de-

pois com a chegada de mercados maiores, paramos com o nosso negócio. Meu esposo e eu resolvemos fa-zer parte der grupos de dança e fundamos um grupo só para baile. Hoje integramos o Recordar é Viver e o Saber Viver. Sou fundadora do Grupo Oasis, que tem 60 anos e que, no início, se encontrava para chás e para cantar em casamentos.” (fundadora do grupo Oasis)

Anete Martins Espíndula – 62 anosNasci em Campo Bom, e em 1980 vim mo-rar no bairro Cohab Leste. Minha mãe conta

que desde pequena eu andava com lápis e papel na mão para ser professora. Inicialmente achei que se-ria contadora, porque gostava de trabalhar com pa-péis e parte burocrática. Mas sempre tive vontade de ser professora. Em março de 1964 meu pai chegou em casa e disse que no outro dia eu ia começar a tra-balhar numa fábrica de calçado. Não acreditei, mas meu pai me levou lá e comecei a trabalhar no setor

de almoxarifado no dia 1o de abril. Em 1966 fiz concurso para professora e passei em primeiro lugar, então pude escolher a escola que queria trabalhar. Optei pela então escola Isolada Santos Dumont, no bairro Imigrante, e comecei a lecionar em 1967, com 18 anos. Fiquei por cinco anos, depois por oito anos na Borges de Medeiros. Então ganhamos essa casa aqui na Cohab e fui trabalhar na agora Ca-sa da Criança. Ser professora pra mim foi uma coisa muito boa porque gostava e fui cada vez mais me aperfeiçoando e tendo mais didática. ” (professora)

Aparício Renner da Silva – 43 Anos Em março de 2010 assumi o comando da Briga-da Militar em Campo Bom, uma cidade que me

recebeu muito bem e onde o efetivo trabalha de forma diferenciada e veste de fato a camisa. Escolhi entrar na polícia por influência de um primo que ingressou na Bri-gada e me disse das possibilidades de crescimento den-tro desta profissão. Me inscrevi para soldado, me for-mei, fiz concurso para oficial, passei, fiquei quatro anos na academia, e em 1996, quando me formei vim co-mo aspirante para Campo Bom. A dificuldade na área

é que cada ocorrência é peculiar, diferente uma da outra. O policial é o juiz no local do fato e responderá se tomar uma decisão errada, por isso o policial tem que estar bem preparado. Os policiais de Campo Bom têm vontade de trabalhar, se desdobram a qualquer hora. De fato eles vestem a farda.” (capitão da Brigada Militar)

Arlete Masiero – 51 anosNasci em Campo Bom e nestes anos de vida, apenas dois estive fora da cidade onde comecei

trabalhando na indústria calçadista, depois em escritó-rio de contabilidade, até que aos 21 anos fiz concurso público para a Caixa Federal, passei, e assumi no banco de Campo Bom, onde fiquei por 27 anos. Quando me aposentei, tinha uma colega já aposentada que traba-lhava na Liga, e fui ajudá-la em um trabalho e estou até hoje. Quem trabalhou a vida toda não quer ficar parado e precisa se sentir útil. Me encontrei na Liga

que trabalha com prevenção da doença e ajudando aos pacientes que tem câncer. Ado-ro Campo Bom, nunca pensei em fazer minha vida longe daqui, pois minha turma, ami-gos e família são daqui. Até já briguei por Campo Bom que é a minha cidade e eu vou defender o que é meu.” (presidente Liga Feminina de Combate ao Câncer)

Arthur Luiz Leuck – 78 anos Vim para Campo Bom por acaso, em 1955, para tentar trabalhar Uma semana depois de ter che-

gado, como não arranjava emprego, estava na estação para voltar para Taquara, minha terra natal, quando um homem apareceu e me ofereceu emprego. Comecei a trabalhar e logo vim de muda para Campo Bom on-de aprendi a ser cortador de couro. Fiquei numa fábrica por dois anos, e por ter ficado até o fechamento da em-presa, os donos mesmo procuraram um novo emprego pra mim, na Vetter e pouco tempo depois fui trabalhar

no Reichert, quando a empresa não tinha nem 100 funcionários e os homens e as mulheres ficavam separados na produção, inclusive para bater o ponto. Fiquei no Reichert por 50 anos e cinco meses. Trabalhei em todos os setores. Cheguei ali, enraizei, e fiquei lá todo esse tem-po porque sempre fui bem tratado, gostava de trabalhar, aprendi coisas diferentes e realizei lá um sonho antigo que tinha: ser motorista.” (funcionário Reichert Calçados)

1982 - Darcy Constante Cambruzzi recebe a placa de distinção em vendas da Pepsi

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Verdadeiras declarações de amor a Campo Bom estão con-tidas nos depoimentos que com-põem as páginas desta edição do jornal Resgate Histórico. A exem-plo de 2009 e 2010, quando os homenageados também externa-ram em seus depoimentos essa paixão à primeira vista pela ci-dade, os relatos de 2011 também são unânimes na forma como nar-

ram o amor imediato por Campo Bom e a forma como foram ‘fis-gados’ pela cidade diferente, on-de além de oportunidades de tra-balho, encontraram bons amigos, vizinhança participativa e ‘algo de mágico’ no ar. É como diz Dani-lo Benno Saft em seu depoimen-to (página 5): “É a pegada. Tem cola no rastro do pé que não me deixa sair daqui”.

Tem cola no péAstor Willy Blos – 67 anosCresci bem no centro da cidade, quando Campo Bom era uma vila, praticamente toda cidade era

sem paralelepípedo. O tempo foi passando e as pessoas influentes alterando esse cenário, e nós temos que agra-decer as pessoas que contribuíram para o crescimento e a emancipação, que idealizaram tudo isso. Em 1961 come-cei a cursar Técnico Comercial Contábil, hoje o curso não existe mais e eu fui um dos últimos a ganhar este diplo-ma, terminei o curso em 1965. Quando me formei fui

trabalhar no escritório de contabilidade do meu sogro, que teve o primeiro escritório de conta-bilidade da cidade. Em 1974 surgiu a empresa Organizações Contábeis Blos Ltda, na Avenida Brasil, que existe até hoje. Desde a minha formação muitas coisas mudaram na contabilida-de, e hoje é gratificante olhar os sistemas que temos disponíveis em comparação àquela épo-ca. Quando comecei a trabalhar, fazíamos à mão os diários, as entradas e saídas, o que dava um trabalho muito grande, só quem passou para saber. A vida a cada dia nos ensina coisas novas, a gente não pode parar nunca.” (Organizações Contábeis Blos)

Aurélio Leandro Dall’onder – 36 anosA nossa igreja existe a 107 anos no Brasil. No ano de 1936 um grupo de sete famílias fundou a Co-

munidade da Paz aqui de Campo Bom, uma cidade que gosto muito. Era pastor em outra comunidade no interior do estado, mas numa assembléia meu nome foi escolhido para vir ser pastor da congregação de Campo Bom. Acei-tei o chamado e estou há três anos aqui. Meus pais con-tam que quando eu era criança subia na mesa e fazia de conta que era pastor. Mas depois, conforme os estudos foram avançando, um pastor da minha congregação de

origem me incentivou, então no ano de 1992 ingressei no seminário, me formando em 1997 e desde então atuo como pastor na Igreja Luterana que tem como livro base a bíblia sagrada, de onde tiramos nossa doutrina. Acreditar em Jesus Cristo como salvador nos permite viver uma vida muito mais feliz. Bom é Campo Bom, bom é sempre onde nós estamos, chamados e colocados por Deus.” (pastor da igreja Luterana – Comunidade da Paz)

Beti Maria Hoffmann – 66 anosVim para Campo Bom, aqui no bairro Operária, quando fui trabalhar em fábrica de calçados, onde

fiquei por mais de 20 anos e me aposentei. Antes já tinha tra-balhado como professora em Taquara, minha cidade natal. Quando vim para cá, era preciso sair de casa uma hora antes da hora do trabalho, pois se fazia tudo à pé e quando chovia tinha barro até os joelhos. Precisava até trocar de sapato de-pois da caminhada. Foi com esse esforço, com o dinheiro do nosso trabalho, que conseguimos comprar o terreno e casa onde moramos. Sou muito envolvida com o bairro. Ajudo

na creche e no colégio costurando capas de coberta e almofadas para as crianças. Quando estou com elas sento nas cadeirinhas para a hora do lanche e observo muito os pequenos. Já empres-tei minha casa para um culto que aconteceu aqui no bairro, para encerramento do ano letivo do colégio, com amigo secreto e tudo. Mesmo não tendo mais filhos e nem netos na escola, gosto de conversar com as professoras e a diretora. As vezes os próprios pais não vão em reuniões do colégio e eu vou. Participo também da gincana de bairros” (moradora bairro Operária)

Bianca Goede Giesch – 32 anosEm 2005 fui enviada pela minha igreja para assu-mir o ministério pastoral nesta comunidade. Decidi

ser pastora no final de 1997 porque gosto do contato humano e tinha uma vivência comunitária muito grande. Em 1998 es-tudei bacharelado em Teologia, mas a minha mãe conta que quando eu tinha em torno de seis anos, pegava um casaco grande dela e brincava com as minhas irmãs de fazer culto. Quando cheguei a Campo Bom, vim de ônibus juntamente com meu marido, para uma entrevista inicial, para um culto de apresentação pra ver se a comunidade iria gostar de mim.

Chegando em frente a nossa igreja, me espantei com o tamanho, com o espaço físico da comunida-de. A estética de Campo Bom me chamou muito atenção também, uma cidade limpa e agradável. Sou a primeira pastora da nossa comunidade Evangélica, foi um rompimento de padrões até ali, pois fui também a primeira pessoa a sair direto do período de formação acadêmica para o exercício do ministério, e eu tinha 25 anos. A nossa igreja é a mais antiga de Campo Bom, te-mos um jornal guardado que traz a data de 03 de fevereiro de 1828, o que significa que neste ano comemoramos 183 anos na cidade.” (pastora da IECLB em Campo Bom)

Celene Iris Adam Thoen – 67 anos Lembro de Campo Bom quando a Avenida Adriano Dias era só trilho de

trem e não existiam edifícios. Cheguei aqui e fui estudar, fiz o curso de téc-nico em contabilidade e trabalhei no INPS, onde me tornei conhecida. Em seguida o Hélio Martin assumiu a Prefeitura e me convidou para trabalhar no departa-mento de assistência social. Na época éramos três funcionários e tinha uma Kom-bi que servia de ambulância. Nessa época também não existia postos de saúde do município, só do Estado. Em 1983 assumiu o novo prefeito que me convidou para permanecer no cargo, sendo que nesta época o departamento se transformou em uma secretaria, quando foi construído o primeiro posto de saúde, lá no bairro Rio Branco. O segundo posto foi no bairro Aurora, quando transformamos um

bar em posto. Fui candidata a vereadora em 1988, e para minha surpresa, me elegi com 434 votos. Na época eu era bem inocente e ingênua, mas aprendi rápido”. (vereadora de 1989 a 1992)

Braulio Blos – 75 anosTrabalhei em uma cerâmica, que era de propriedade do meu pai e mais tar-de me tornei sócio. Um dia, no antigo bar do cinema, vi gente trabalhando,

consertando refrigeradores e então pensei em quão interessante era aquela ativida-de. Então em 1959 aprendi e comecei a trabalhar em refrigeração, numa época em que esta área engatinhava no estado. Já trabalhei também em diferentes ramos como comércio e de vacas leiteiras. Depois de 16 anos sem estudar, aos 38 anos fui fazer faculdade, e resolvi cursar educação física e ali me achei. Não tive dificuldade porque fui atleta e tive facilidade em aprender esportes. Fui da primeira turma que se formou na Feevale e depois de formado, comecei a lecionar no colégio 25 de Julho, em Novo Hamburgo, onde permaneci por 14 anos. A única escola em que

dei aula aqui na cidade onde nasci foi a Fernando Ferrari, onde lecionei por 7 anos. O que eu mais gostava era de preparar equipes, tanto no futebol, quanto no vôlei, handebol e basquete.” (professor)

Década de 80 - Reunião realizada na sede do clube Oriente, quando Teresinha de Oliveira estava iniciando como funcionária na Prefeitura de Campo Bom

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Experiências de infância com-põem muitos dos relatos conti-dos nestas páginas e que nos per-mitem medir a alegria dos então ‘pequenos filhos de Campo Bom’. Feita de atos simples, como o nar-rado na página 8 por Erni João Hilgert (que tinha por hábito ouvir música junto com os pais e vizi-nhos) ou de gestos que já aponta-vam um talento (como o do locu-tor Adão Moraes na página 2, que brincava de narrar futebol usando um toco de madeira como micro-fone), a infância usava de criati-vidade. Relatos como o da pro-fessora Lizane Tomiello (página 10), que brincava de dar aula pa-ra os sobrinhos e o de Oscar Fai-

fer (página 11), sobre os desafios de atravessar o rio em tempos de cheia e de estiagem, indicam si-tuações cotidianas e felizes como garante Daniel Schimer (página 5) ao relatar que teve uma infância “que só quem cresceu em uma ci-dade do interior sabe o quão boa é”. De todos os depoimentos re-lacionados às crianças que vive-ram momentos felizes em Campo Bom, nenhum supera o de Ruy Ju-arez Corrêa (página 11) que con-ta ter vivido momentos de ‘peral-tices’ quando colocava sabão no trilho do trem só para ver a derra-pagem na subida da lomba. Quem na infância não aprontou das suas, que jogue a primeira pedra!

Infância para ser criança Daniel Schirmer – 56 anosMinha infância aqui na cidade foi muito boa. Eu cresci às voltas do posto Schirmer,

com uma infância que só quem cresceu em uma ci-dade do interior sabe o quão boa é. Comecei a tra-balhar com meus pais e tios atendendo no posto de gasolina, mas quando era criança, brincava com aviãozinho e acredito que tudo começa com brin-cadeiras de criança. Tinha um amigo do meu pai que era engenheiro de vôo da Varig e conversa-va muito com ele. Isso me deixava curioso sobre

o mundo lá fora. Outra pessoa que não posso esquecer é o Celomar Hoffmeister, pi-loto do Aeroclube que me convidou pra dar uma volta num Teco-teco. Me apaixo-nei, voltei para casa e decidi começar o curso, e assim foi meu início, com 18 anos. Aos 19 anos eu já era piloto comercial. Também fiz curso de piloto agrícola. Prestei concurso para a Rio Sul Linhas Aéreas e 1988 ingressei nesta empresa como co-pi-loto, e em seguida fui promovido a comandante. Assim como o primeiro dia, o úl-timo dia de vôo a gente nunca esquece. Que Campo Bom continue no rumo que se-gue deste a sua emancipação, de progresso e conquistas.” (aeronauta)

Danilo Benno Saft – 60 anosQuando começamos o CTG ele era na esco-la Tiradentes, e se chamava Grupo Folclóri-

co da Juventude Evangélica. Começamos a participar de bailes, a nos apresentar pela cidade e região. Em abril de 1968 decidimos fundar o CTG, que come-çou em um prédio alugado. Me envolvi com ele até 1972, mas até hoje me sinto em casa quando chego lá, pois sempre fui apaixonado pelas tradições gaú-chas. Nasci em Campo Bom e sempre morei aqui. É a pegada, tem cola no rastro do pé que não me deixa

sair daqui. Na minha época, íamos nas casas à noite atrás de pessoas para integrar os grupos mirins e adultos do CTG. Eu ia na casa das pessoas de bicicleta e vestindo uma bombacha que badalava no vento, e não sentia vergonha de botar o meu traje e correr por essas ruas. Gostaria neste aniversário da cidade de pedir às crianças que se moti-vem para levar adiante nossas tradições. (fundador do CTG Campo Verde)

Darcy Constante Cambruzzi – 70 anos Sou natural de Rolante e sai de lá há 35 anos pra

tentar melhorar a vida vindo para Campo Bom, no bairro Porto Blos, onde abri um comércio de bebidas e trabalhei por quase 18 anos. Lembro que quando che-guei aqui encontrei apenas duas ruas, poucas casas e um colégio que funcionava há pouco tempo. Comecei então a me envolver com a escola pois queria o melhor para as crianças. Na primeira reunião no colégio fiquei surpreso com as condições do prédio, cheio de buracos nas pare-des, o que era ruim para as crianças no frio do inverno.

Tomei a decisão de procurar o prefeito que um dia apareceu aqui em casa e me convidou para a ir a Porto Alegre com ele, pois tinha conseguido dinheiro para arrumar a escola. Foi assim que conseguimos construir as primeiras salas de aula da escola e garantir mais conforto para as crianças estudar.” (morador do bairro Porto Blos)

Emílio Lopes De Brito – 89 anosSou natural de Rolante e quando cheguei em Campo Bom vim pra trabalhar na roça e nun-

ca mais arredei o pé daqui. Quando vim morar aqui no bairro Santa Lúcia não tinha vizinhos, era só mato. Faz muitos anos que sou envolvido com a comunidade cató-lica do bairro, já fui ministro na igreja e me sinto bem em poder ajudar as pessoas. Quando tinha pouco ser-viço na roça, ia até a casas de pessoas doentes aqui no bairro, ajudar a cuidar de quem precisasse. Na época que vim morar aqui no bairro, já tinha luz, e as casas

que foram surgindo depois um vizinho ajudava o outro. O que um não sabia fazer o ou-tro sabia, e quase não precisamos pagar alguém pra construir. Tenho muitos amigos aqui no bairro, bons vizinhos e gosto de Campo Bom porque tem bastante trabalho e acho di-fícil que tenha lugar melhor que esta cidade.“ (morador bairro Santa Lúcia)

Daltro Viega da Rocha – 57 anosVim para Campo Bom em 1978 abrir uma loja chamada Julinha Ma-gazine que encerrou as atividades em 2005. Desde jovem eu já atu-

ava no CDL em Novo Hamburgo e estendi minha participação como associa-do. Nesta época para se ter informações de serviço de proteção ao crédito, a empresa tinha que enviar uma funcionária com uma ficha, que vinha corren-do buscar informações do cliente. Foi então que 20 associados da CDL se uni-ram para comprar uma central para fazer linha direta, e assim implantou-se a primeira linha direta em Campo Bom, isso na década de 80. Assim come-çou uma participação maior das pessoas que faziam parte do CDL e em 2001 fui convidado a assumir, pela primeira vez, a presidência da CDL. Em 2007

assumi novamente a presidência, indo meu mandato até dezembro deste 2011. Participando da presidência da CDL temos a oportunidade de colocar ações que seriam impossíveis se estivésse-mos sozinhos, sem a proteção de uma entidade. ”(presidente da CDL)

Celestino Fritzen – 59 anosCampo Bom é uma cidade muito jovem, e tem características bem in-teressantes, pois é um lugar acolhedor que dá atenção especial à cul-

tura, à educação e que tem escolas bem equipadas e estruturadas, o que é importante para promover o estudo. A gente visita as escolas - e até rezamos missa em algumas – e nestas ocasiões me chamou muita atenção o esforço que a cidade faz para promover a educação. Chama atenção também a in-tegração entre a igreja e o poder público. Me sinto bem acolhido em Campo Bom, claro que as comunidades e a paróquia são grandes, mas as lideran-ças são muitos boas, um trabalho muito abençoado. Fui ordenado padre em dezembro de 1980. (padre Igreja Católica)“

Daniel Schirmer (esq) na década de 50 no antigo posto que pertencia à família

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Déc. de 60 - Rio dos Sinos - Barrinha

1967 - Escola Isolada Santos Dumont participa daParada da Mocidade em Campo Bom 1972 - Inauguracão da Escola isolada D.Pedro I

Déc. 60 - alunos da professora Vania Olívia Schmidt Pacheco desfilando

em 7 de setembro - escola Borges de Medeiros Déc. 60 - Sede da Madeireira Campo Bom

Grupo Escolar Genuíno Sampaio de Campo Bom

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14.11.1978 - Ismar Reichert recebe o Prêmio Belfort Duarte

1963 - Desfile cívico de 7 de Setembro - escola Borges de Medeiros

1972 - Inauguracão da Escola isolada D.Pedro I Antiga Sociedade Concórdia. Hoje sede social do Clube 15 de Novembro

Déc. 60 - Sede da Madeireira Campo Bom10.11.1964 - Igreja Luterana –

Comunidade da Paz de Campo Bom Grupo Escolar Municipal D. Pedro II

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A leitura atenta dos relatos per-mite uma constatação: Campo Bom é uma terra de oportunidades. Foi atrás dela que grande parte dos mo-radores veio. Além de empregos no setor calçadista, em franca ex-pansão, muito filhos adotados por Campo Bom, enxergaram na cida-de alternativas de encontrarem uma profissão. Uns vieram para traba-lhar na roça, outros para produzir calçados, há quem veio para lecio-nar, para pregar a palavra de Deus e os que se dedicaram a garantir a

segurança dos demais. Assim a ci-dade foi se formando, num ciclo de chegadas e novas demandas. Den-tre tantas, há quem quase perdeu a oportunidade de ficar, mas encon-trou o futuro quando partia na esta-ção do trem. “Estava na estação pa-ra voltar para Taquara quando um homem apareceu e me ofereceu em-prego. Comecei a trabalhar e logo vim de muda para Campo Bom”, conta o sapateiro Arthur Luiz Leu-ck (pag 3), funcionário por mais de 50 anos da empresa Reichert.

Terra de oportunidadesErni João Hilgert – 83 anos Moro em Campo Bom desde 1932, quando meu pai, que era pedreiro, veio para traba-

lhar. Naquela época não exista asfalto na cidade e meu pai alugou uma casa na região central. Ele tinha uma vitrola e tínhamos um vizinho que era dentista e todo dia nos visitava para escutar um disco com a música Gauchinha. Foi assim que comecei a gostar de músi-ca, escutava muito em casa porque meu pai comprava muitos discos, e minha mãe tocava violão e meu pai flauta. Estudei um pouco de música e hoje toco cítara.

Também canto. Entrei no coral quando minha mãe era regente do coral da igreja evangélica e da igreja católica, e ela também cantava, era contralto, a segunda voz. Meu irmão e eu já gravamos um CD com músicas populares e natalinas. Hoje canto no coral de Bom Princípio e a música me traz muita alegria, acho que todas as pessoas que cantam ou tocam instrumen-tos são felizes, eu sou apaixonado pela música, toca no meu coração.” (músico)

Evanir Eloisa Martini – 53 anosCheguei em Campo Bom com cinco anos, quando meu pai, que era sapateiro, foi con-

vidado para trabalhar numa fábrica calçadista da cida-de. Anos mais tarde, eu já conhecia o Joelci, meu espo-so, quando surgiu a oportunidade dele adquirir o Jornal O Fato, e ele me convidou para trabalhar no jornal, por-que eu era de Campo Bom e conhecida da cidade. Es-tamos há 33 anos fazendo o jornal, e neste período já passamos por vários ciclos e temos que estar atentos às mudanças. As novas tecnologias estão aí, a evolução,

mas o jornal é algo palpável, que deixa registrado, e no que depender de mim não termi-nará. Um povo tem que ter sua história registrada, eu as vezes pego os jornais de tempos atrás e me surpreendo com as mudanças. Nós que fizemos jornal temos que somar na co-munidade, porque o meio de comunicação tem que ser responsável pelo que faz, temos que respeitar as pessoas, sem expô-las. Temos compromisso com a verdade, tendo a consciência de que estamos fazendo a coisa certa.” (jornal O Fato)

Flávio Selonir De Lima – 63 anosMeu envolvimento com a música sertaneja come-çou na adolescência, quando gostava muito de

acompanhar os programas de rádio. Meu pai tinha um rádio à bateria e a gente sentava a noite pra tomar chi-marrão e curtir os programas sertanejos. Depois come-cei a me interessar mais e surgiu a Rádio Cinderela em Campo Bom. Fui um dos primeiros comunicadores, is-so em 1978, e fiquei na rádio até a década de 90. Meus ídolos da música sertaneja sempre foram, e são até ho-je, Milionário e José Rico. Mas tive o prazer de ter no

meu programa duplas como Rony e Robson, Abel e Caim, e depois fui conhecendo outros ar-tistas de renome, e tive cada vez mais vontade de dar continuidade ao meu trabalho. A músi-ca sertaneja, que a gente chama de sertaneja mesmo, é aquela de viola e violão, que falava da caboclinha, da carreta de boi. Depois veio um sertanejo um pouco ‘americanizado’, que as vezes as frases não rimavam. Depois surgiram outras duplas que fizeram sucesso, que eu respeito, mas que pra mim passam longe do sertanejo de raiz.” (radialista)

Idor Breno Saft – 57 anosMoro desde 1978 no bairro 25 de julho on-de construí minha vida e família. Aos pou-

cos a gente foi se engajando na comunidade. Quando minha filha foi para o colégio, entrei no Círculo de Pais e Mestres (CPM) e depois, ajudando na Associa-ção de Moradores do bairro. Quando viemos morar aqui, não tínhamos água, luz e era só um campo. Fazíamos a missa na área coberta no colégio que eu também ajudei a construir pelo CPM. Aquele anti-go pavilhão de madeira do colégio 25 de Julho foi

construído com madeira doada que nós íamos buscar, cortar, descascar e até carregar num caminhão cedido pela Prefeitura. Assim construímos aquele pavilhão, com muti-rões. Em 1991 surgiu a vontade de termos uma capela, e começamos a pedir doações para construção. Não tínhamos terreno, não tínhamos nada. Chamamos um empresá-rio da cidade que nos doou um terreno e fomos pedir tijolos nas olarias e cimento en-tre os moradores. Hoje vejo aquela capela ali construída, o tamanho que ela tem hoje e lembro de tudo isso com muito orgulho.” (morador do bairro 25 de Julho)

Jair Hugo Steigleder – 57 anosEstou em Campo Bom desde quando tinha dois anos, data em que meu pai começou a trabalhar na farmácia, que se chamava Mercúrio na épo-

ca e era do meu avô. Em 1974 fui para faculdade cursar engenharia mecânica e meu pai me fez uma proposta para eu trabalhar na farmácia e aceitei o de-safio. Em 1976 comprei a primeira propriedade da farmácia, o terreno onde hoje fica a sede localizada na Avenida Brasil. Depois abrimos outras casas e a empresa começou a crescer. Hoje nossa empresa é bem estruturada, organiza-da e tenho excelentes profissionais trabalhando comigo. A farmácia existe há 55 anos, mas trata-se de um ramo muito dinâmico e que exige muito conhe-cimento. Ser um bom administrador e ter humildade, dedicação, e uma boa

relação com os fornecedores e clientes também é fundamental.” (farmácia Campo Bom)

Ismar Reichert – 63 anosNa minha adolescência comecei a jogar no clube 15 de novembro, meu time do coração. Na época além do 15, havia ainda o Oriente e o Rio-

grandense, mas todo o menino que gostava de jogar futebol tinha o desejo de ir para o 15. Jogava na posição de centro médio, que hoje é chamado de volante. A primeira oportunidade que o 15 teve de ganhar um título em ca-sa, no seu campo, perdeu. Foi um momento marcante e triste, mas de muito aprendizado. Encerrei minha carreira em 1977, e tive a felicidade de receber nestes anos de carreira o prêmio Belfort Duarte, dedicado a todo atleta que durante 10 anos e no mínimo 200 jogos não tenha sido expulso. O 15 sem-pre se caracterizou por ser uma equipe bastante disciplinada, tanto é que

não fui o único que recebeu este título. Desde menino também tive gosto pela odontologia e por isso cursei essa faculdade. Gosto de ser dentista porque esta profissão me faz ser útil para as pessoas, me sinto realizado.” (ex-jogador do 15 de novembro)

Década de 60 - Rio do Sinos em Campo Bom

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9João Batista Roveda – 85 anos

Vim para Campo Bom em 1951 e trabalhei durante dois meses como servente de pe-

dreiro lá no bairro Santa Lúcia. Naquele tempo não existiam máquinas para fazer o cimento, era tudo fei-to à mão, em caixas de madeiras. Fazia essa massa de cimento para dois pedreiros e ainda sentava tijolos. Foi quando aprendi a ser pedreiro. O primeiro cor-dão (meio fio), na frente da Câmara de Vereadores de Campo Bom fui eu que fiz. Conheci Campo Bom quando ainda era brejo e tudo que tenho é devido

ao meu trabalho nesta cidade que gosto muito e onde quero ficar para sempre, eu e minha família. Inclusive faz 23 anos que comprei quatro gavetas no cemitério daqui; fui um dos primeiros a comprar. Desejo que Campo Bom esteja cada vez melhor, por-que aqui é sempre bom”. (pedreiro)

José Carlos Breda – 57 anosFiz concurso para o poder judiciário e como me classifiquei em primeiro lugar, pude es-

colher a cidade onde trabalhar e optei por Campo Bom, isso em 1983. Comecei trabalhando no fórum antigo. Em 1988 fui escrivão eleitoral e no ano seguinte recebi o convite do então prefeito para ser secretário da Fa-zenda. Foi um período da minha vida dos mais gra-tificantes, pelas transformações que ocorreram na ci-dade e na gestão pública. Na administração seguinte fui também secretário da Fazenda, de Planejamen-

to, de Indústria e Comércio. Esta última criada em 1995, sendo eu o primeiro secretário da pasta. Naquela época enfrentamos um problema que vinha afetando todo o Vale dos Sinos, e Campo Bom novamente foi pioneira criando esta secretaria e políticas de diversi-ficação do parque econômico industrial da cidade. Sou um técnico que se tornou político. Foi uma honra ter sido vice-prefeito de Campo Bom. Guardo isso como uma das melho-res coisas da minha vida.” (vice-prefeito de 2001 a 2004)

José de Carvalho – 59 anosNasci em Campo Bom que está bem diferen-te da época em que eu era pequeno, quando

não havia empresas, metalúrgicas e os colégios eram poucos e formados por algumas salas de aula de ma-deiras. Sempre trabalhei com caminhão, e logo que comecei a trabalhar puxava lenha, com carreta de boi, lá para a fábrica dos Vetter. Nesta época íamos para o centro da cidade por volta das 7 da manhã e esperávamos um frete chegar, eu tinha 25 anos e levava fretes em Campo Bom e cidades vizinhas. A

ideia de ser caminhoneiro surgiu porque eu puxava muita lenha para as olarias, e nessa época usávamos carreta de boi. Chovendo, no frio e nós ali trabalhando. E foi pensan-do em melhorar um pouco de vida, que eu comecei no caminhão. Não lembro de quem eu comprei meu primeiro caminhão, mas lembro que era velho. Com o crescimento da cidade o trabalho melhorou e pude ir trocando de caminhão.” (caminhoneiro)

José Volmar Trescastro – 60 anosMeu apelido Zé Castro surgiu quando co-mecei a trabalhar na rádio Progresso, jun-

tamente com o caboclão Murici e com o peão serta-nejo Nelsinho. Fazíamos o programa Viola Sempre Viva, e por eu ter um nome muito extenso, ficou Zé Castro. Vim para Campo Bom em janeiro de 1968, juntamente com minha irmã e pais, pois tínhamos amigos aqui. Viemos trabalhar. Eu era do interior, da colônia, e me marcou muito chegar aqui e ver o número de pessoas que trabalhavam nas fábricas

e quantidade de bicicletas na cidade. Depois que fiz carteira de habilitação, na época só se fazia com 21 anos, fui para a estrada. Viajei muitos anos com entregas e conheço boa parte do RS, Santa Catarina e Paraná. Nesta época Campo Bom era praticamente dormitório para mim. E através disso veio o gosto pela música sertaneja, de tanto ouvir rádio nas madrugadas. Foi assim que cheguei no rádio, aí para trabalhar, há 22 anos. Pra quem quer ser radialista um conselho: vá em frente sem perder a humildade e o respeito pelo semelhante.” (morador do bairro Genuíno Sampaio)

João Alfredo Strottmann – 58 anosMeu pai foi o primeiro presidente do esporte Primavera e como acompa-nhava ele nos jogos, acabei querendo ser goleiro e com 16 anos come-

cei a jogar. Defendi também o 15 de Novembro, o Catléia e recebi proposta para jogar no Novo Hamburgo, mas não aceitei por receio de ir sozinho, depois me arrependi. Minha família sempre me apoiou pra seguir carreira, mas além do jogo tinha o trabalho na fábrica, por isso joguei até os 26 anos. O campeonato mais disputado que participei foi do Sesi, quando jogava pelo Catléia. As torci-das das fábricas participavam e isso me deixava nervoso, pois tinha um monte de gente olhando. O futebol nunca atrapalhou meu trabalho na fábrica, mesmo quando tinha que fazer hora extra aos sábados, me organizava, jogava, des-

cansava e ia trabalhar. Em todos os times que joguei fiz amigos. Até hoje, quando vejo uma turma jogando futebol me dá vontade de jogar, mas agora já não dá mais.” (ex-goleiro)

João Ademar De Quadros – 53 anosEstou em Campo Bom desde 1984, sou natural de São Francisco de Paula. Já andei por tantas cidades e acho que vir para Campo Bom

foi uma vontade de Deus, em busca de uma vida melhor. Acho que todo colo-no tinha essa vontade, porque a vida na colônia era muito difícil, e as pesso-as da cidade chegavam lá com a pele bonita, sempre bem vestidas, e esse foi o motivo que me trouxe pra cá. Comecei trabalhando em fábrica de calçado, depois fábrica de vidro. Fui jogador e treinador de futebol durante um tem-po e fiquei envolvido com este esporte por quatro anos, e depois a vida foi me levando mais para o lado da igreja, e nesta época fui catequista e funda-mos dois grupos de jovens, entre eles o Jovens Unidos Semeando Amor. Fui

conselheiro tutelar por dois mandatos, uma função que ameniza, mas não resolve os problemas. Meu pai gostava muito de tocar violão e eu sou cantador de Terno de Reis, desde quando a gente morava na roça. Onde posso levo alegria e vida para as pessoas” (morador bairro Celeste)

Déc. 90 - Colocação

da Pedra Fundamental

para construção da sede da

Associação de Moradores do

bairro Porto Blos

1960 - Primeira sede da Farmácia Campo Bom, localizada na Rua Voluntários da Pátria

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10Kall de França – 44 anos

Minha primeira experiência no rádio foi em maio de 1984, quando vim pra Campo Bom tra-

balhar na Rádio Cinderela, mas desde pequeno manifestava essa vontade ouvindo com meu pai os programas sertane-jos na rádio. Ingressei na rádio como DJ. Trabalhei na cen-tral técnica e depois surgiu a vontade de trabalhar diante do microfone. São 27 anos nesta trajetória e com uma gra-ta satisfação de ter iniciado meu trabalho em rádio aqui em Campo Bom. Uma história que não canso de contar é quando, numa transmissão de carnaval, fiquei apreensi-

vo quando puxei o fio do microfone para uma entrevista e vi que estava enrolado nos pés de um policial militar. Quando ele se aproximou, passou um monte de coisa pela minha cabeça, mas ele até me ajudou. A Cinderela surgiu em janeiro de 1978 e sem-pre inovou procurando acompanhar o progresso e desenvolvimento da cidade. A rádio tem 33 anos e nesta trajetória busca acompanhar tudo que acontece em Campo Bom e municípios vizinhos pois somos uma rádio comunitária.”(Rádio Cinderela)

Maria de Lurdes da Silva – 55 anosVim para Campo Bom trabalhar quando tinha 18 anos. Meu pai vendeu tudo que ele tinha lá em Mi-

nas do Butiá e quando chegou aqui na Paulista, trazendo a mudança, o caminhão não subiu a lomba porque chovia muito. Era muito barro, sendo que no caminhão estava tu-do o que tínhamos: a casa desmanchada, porcos, galinhas, cachorro, tudo. Daí meu pai fez uma barraca e ficou ne-la com minha mãe e um dos meu irmãos, enquanto eu e meus outros irmãos ficamos numa pensão. Depois meu pai fez negócio aqui no bairro, comprou uma casa e viemos

morar aqui também. Sempre foi maravilhoso morar na Paulista. Na época que viemos pa-ra cá a maior dificuldade era ir ao trabalho, pois não tinham ônibus como agora. Tínhamos que ir a pé, sair bem cedo de casa. Depois chegaram as bicicletas, daí íamos com elas para o Centro. Nesta época, nos finais de semana a gente saia para fazer piquenique e jogar bola na rua. Comecei a trabalhar na Escola Dom Pedro II quando uma funcionária estava doen-te. Fiquei na escola por quase 28 anos.” (moradora do bairro Paulista)

Marlene Seolino Kasper – 64 anosMeu marido, Ademar João Kasper adotou Campo Bom como terra dele e foi muito feliz porque aqui

é muito bom de se viver. Viemos para cá em 1968, e Campo Bom era uma cidade muito pequena, bem simples mas aco-lhedora, todos ajudando a todos. Trabalhei como professora primária e depois de nove anos e meio de trabalho precisei sair para ajudar meu marido que tinha comércio. Ele era alfaiate e sempre trabalhou com isto. A Magazine Nápoles foi fundada em outubro de 1968, depois fundamos a Con-fecção Alex. Trouxemos pessoas de outros municípios para

trabalhar nos dois chalés que construímos. Naquela época vendíamos à crediário anotando numa ficha o nome do cliente e as fábricas grandes deixavam cobrar seus funcionários lá no departamento pessoal. Enviávamos uma lista com os nomes e eles descontavam direto do pagamento. Sempre estivemos atentos à evolução, gostamos do que fazemos e tenho a impressão que o talento que Deus dá é o que nos faz estar há tantos anos neste ramo. Viver em comunidade é fundamental e eu gosto de viver assim.” (Magazine Nápoles)

Olegário Trott – 60 anosSou natural de Campo Bom onde optei em ficar para desenvolver minha atividade profissional e onde já tinha amigos e família. Fui

o primeiro engenheiro de Campo Bom. Tive intenção de me especializar na área, mas não pude por falta de tempo e excesso de trabalho. Nossa empresa completa 35 anos em 2011 e já contabiliza mais de dois milhões de metros quadrados de construções, isso é muita obra. O foco maior foi em nosso es-tado, mas tivemos também obras fora. Minha primeira casa foi também mi-nha primeira obra e já troquei de casa 22 vezes, pois prefiro fazer uma nova que reformar.Como durante muito tempo fui o único engenheiro de Campo Bom, era muito solicitado, então nesta época eu não tinha final de semana

ou noite livre. Tinha que estar sempre à disposição e esse espírito de luta, trabalho e desprendimento nos colocou na posição que estamos hoje. Muitas obras construídas em Campo Bom nestes 35 anos da nossa empresa, tiveram a participação efetiva na construtora Modelo.” (construtora Modelo)

Nestor Ferreira Machado – 60 anosEm 1971 vim para Campo Bom para trabalhar em fábrica de calçados, on-de fiquei durante 5 anos. Depois passei por outras empresas de calçados até

que em 1983 comecei no táxi onde estou até hoje. Me dei bem nessa profissão e tudo que tenho eu agradeço ao meu trabalho. Quando comecei no táxi, era muito bom, tinham menos carros e menos táxis. Hoje está disputado, mas como sou antigo na praça, conquistei muitos clientes. No começo, trabalhava em finais de semana e à noite, mas agora só durante o dia, a não ser para conhecidos, pois já fui assaltado à noite. Tenho por hábito não puxar conversa com os passageiros, mas se eles co-meçam a conversar eu falo, se não vou quieto, mas sempre procurando atender bem. Hoje trabalho mais com pessoas idosas que chegam a me ligar num dia pa-

ra agendar corrida para o outro. Me considero filho de Campo Bom, é uma cidade ótima.“ (taxista)

Orvalina Cipriano da Cruz – 76 anosNasci na região que era chamada de Rua dos Gringos e com 10 anos co-mecei a trabalhar como doméstica. De lá pra cá nunca parei e hoje tra-

balho com reciclagem. Em 1961 vim para o Rio Branco, e chegando aqui só en-contrei matos, vacas, bois e cavalos. As primeiras mudanças, as que começaram a deixar o bairro bonito, foram quando cortaram os matos. Depois chegaram os vizinhos, construindo as casas. Nesta época Campo Bom não tinha luz nem água e aqui no bairro era só barro. À noite não se enxergava nada, era muito escuro, mas mesmo assim não tinha medo, pois naquela época não tinha assaltos. Tra-balhei também em curtumes e aqui no Rancho da Amizade trabalhei na cozi-nha. Desde pequena jogo bilboquê, um brinquedo de madeira e já fui rainha

nas Olimpíadas de Campo Bom. No bairro me dou bem como todo mundo, fui a primeira moradora, e pra mim é uma alegria ver as mudanças no bairro.” (moradora do bairro Rio Branco)

Lizane Isabel Tomiello – 52 anosDesde sempre quis ser professora. Brincava disso, dava aula para meus sete sobrinhos e tem uma

sobrinha minha, a mais velha, que foi alfabetizada nessas brincadeiras. Quando terminei o primeiro grau, meu pai não permitiu que fosse a Sapiranga estudar magistério, e em Campo Bom ainda não tinha o curso. Em 1986 não existia concurso público e fui trabalhar como secretária na escola Presidente Vargas e como naquela época as secre-tárias substituíam os professores quando estes faltavam, me sentia realizada. Um dia a direção da escola viu mi-

nha dedicação e me ajudou a organizar meu horário de trabalho para poder estudar magistério que eu queria muito. No curso fiz muitas amizades e assim que deu fiz con-curso, passei e fui chamada para a escola Presidente Vargas. Em dez anos eu realizei tudo que eu queria, fiz o magistério, adicionais em alfabetização e pedagogia em su-pervisão escolar. Trabalhei na supervisão e na direção de escola, mas pedi pra voltar pra sala de aula que é onde me realizo.“ (professora)

Mauri Spengler – 56 anosIniciei o Jornal A Gazeta com um grupo de amigos, vontade que surgiu quando trabalhávamos em uma empresa calçadista e fazíamos para

os funcionários a revista chamada Verde e Amarelo e nos empolgamos com a ideia. Já existia outro jornal na cidade e começamos a fazer um trabalho que nos empolgou, e que levou mais ou menos dois anos pra sair do papel. O co-meço foi muito difícil, virávamos a noite trabalhando, eu tinha na época dois filhos pequenos, um bom emprego e larguei este trabalho para me aventu-rar em um novo ramo. Mas a aceitação na cidade foi muito boa e em 2011 o jornal completa 25 anos. Temos hoje mais de 1530 edições impressas, todas devidamente encadernadas o que significa que temos uma história pra con-

tar, fazemos parte e temos documentada nas páginas do jornal quase a metade da história de Campo Bom. Gosto demais do que faço e estamos comprometidos com a nossa comunidade, papel efetivo da imprensa interiorana de fazer a diferença e publicar o que os outras não publicam da nossa cidade, por isso nosso slogan é ” (jornal A Gazeta)

1969 - Alunos da Escola isolada Santos Dumont

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11Teresinha de Jesus T. de Oliveira – 75 anos

Estou em Campo Bom desde 1969, quando meu marido Ari Serpa veio para fazer a hidráulica da

cidade. Depois de passar por outros bairros, fomos mo-rar em frente à capela mortuária, em 1973. Fui a pri-meira pessoa a trabalhar na capela e lá fiquei por 15 anos até me aposentar. Durante este período fiz de tu-do: recebia o cadáver, abria a capela, cobrava, acerta-va na Prefeitura e limpava a capela. Muitas vezes fu-nerárias de fora deixavam lá indigentes. Uma vez o IML foi lá para exumar um corpo que tinha suspeita

de que não fosse morte natural, e eu participei deste desenterro. Nada é coincidência, tu-do é providência, mas antes de trabalhar na capela, tinha medo de ir em velório à noite. Mas se Deus me colocou naquela função, foi para aprender e eu fui me acostumando que a morte faz parte da natureza.” (moradora do bairro Metzler)

Valter Foerster – 69 anosMinha lembrança mais remota de Campo Bom é da Avenida Andradas, quando tinha só

um trilho de carreta que dava acesso a uma empresa de caminhões. Tive a infelicidade de perder meu pai muito cedo e como estava fora para um período de estudos, voltei para assumir uma parte da olaria que meu pai era sócio e que foi fundada por meu bisavó há mais de cem anos. Esta empresa existe até hoje. Fiquei na empresa de 1963 até 1974 e neste período fui fazer o curso de arqui-tetura. Como tinha a olaria, convivia muito com obras

e por isso a escolha pela profissão foi natural, e se não estou enganado, fui o primeiro ar-quiteto formado de Campo Bom. Tenho projetos de hotel em várias cidades, até no Chuí. Quando comecei na área, a tecnologia que existia era um papel vegetal, onde tínhamos que desenhar e depois passar caneta nanquim, e a evolução foi enorme a partir de 1990 com a chegada da computação. Em 1992 me foi solicitado um projeto arrojado para Cam-po Bom, anos depois esta a obra saiu do papel e está aí, é o CEI.“ (arquiteto)

Vania Olívia Schmidt Pacheco – 69 anosSou natural de Campo Bom, e cresci numa ci-dade que era muito discreta, com poucas ca-

sas e poucos moradores. Desde criança meu sonho era ser professora. Em casa eu não tinha companhia pra brincar então brincava sozinha de professora, e com 18 anos fiz concurso para a área e passei. Fui chama-da para lecionar em Campo Bom, quando já era mu-nicípio. Minha primeira vaga foi em Santa Maria do Butiá, numa escola que ficava ao lado das olarias. Para chegar até lá, tinha que atravessar o Rio dos

Sinos de barco ou balsa. Por isso quando tinha enchente não era possível chegar até a escola. Quando as águas baixavam, o então prefeito Adriano Dias colocava seu carro à disposição, um Jipe, e seu motorista, Alfredo Cafuncho, para nos levar até a escola. Eu e uma colega professora lecionávamos cinco turmas na mesma sala. Boas lembranças tenho daquele tempo quando os alunos eram crianças muito queridas e vinham nos encontrar na metade do caminho. Em 1962 fui lecionar na escola Borges de Medeiros, e em 1977 assumi a direção, onde fiquei por oito anos.” (professora)

Vera Maria Freitas – 57 anosFaz 27 anos que moro aqui no bairro. Quando cheguei aqui não tinha posto de saúde, e como

sempre gostei de ajudar as pessoas, os vizinhos vinham me pedir pra aplicar injeção, ajudar quando tinha crian-ça doente, levar no médico. Sempre que me pedem um favor eu ajudo, não tem hora, inclusive na madrugada. Hoje eu ganho por alguns dos trabalhos que eu faço, mas muito trabalhei sem ganhar, porque gosto do que faço. Meu marido faz parte da Pastoral da Criança e eu sem-pre ajudei. Uma história que me marcou foi com uma

criança de uma vizinha, que fui ajudar a socorrer, mas a criança não resistiu e morreu. Nesta época a gente não tinha nem luz em casa, eu tinha meus dois filhos mais velhos pequenos. Deixei os dois sozinhos em casa para socorrer esta criança que morreu no meu colo, e isto me dá força para cada vez mais querer ajudar. Muitas vezes deixo de estar com a minha família para cuidar de doentes. Mesmo que não precisasse trabalhar, eu faria essas ações. Campo Bom pra mim é tudo de bom e quando eu vou pra outras cidades, visitar paren-tes, chegando lá já me dá vontade de voltar.” (moradora bairro Aurora)

Silvio Reichert – 61 anosNasci em um casarão amarelo que mais parecia uma vagão de trem, bem no centro de Campo Bom. Durante todos meus anos de vida, só

estive fora da cidade por dois anos, depois nunca mais sai daqui, onde formei minha família. Trabalhei em fábricas de calçados, e um dia, quando tinha 19 anos, passei na Rua Voluntários da Pátria e vi uma placa escrito: `vende-se esta sapataria’, falei com meu sogro que topou uma sociedade. A sapataria custou mil cruzeiros e meu sogro vendeu uma vaca para poder entrar de sócio comigo. Trabalhamos um ano juntos, mas depois ele preferiu sair do negócio. Segui sozinho e depois comprei uma outra sapataria que tinha na cidade. Es-tou no negócio deste 1969 e agora trabalho com o meu filho. Me aposentei em

1994 mas não consigo parar de trabalhar porque aqui todo dia é uma novidade. O melhor da profissão é ter o prazer de consertar e ver as pessoas felizes pelo trabalho que eu realizei.” (sapateiro)

Ruy Juarez Corrêa – 53 anosSou do tempo em que havia trem em Campo Bom, o bonde que eu e minha mãe íamos para Novo Hamburgo e que em algumas ocasiões

eu fazia peraltices. Enchia os trilhos do trem de sabão na subida do morro só para ver ele patinar. Nasci nesta bela cidade e gostaria de ter sido várias coisas, e não fui. Queria ter sido guarda florestal, marinheiro e policial. Aos 18 anos fui ser taxista, profissão em que me achei, porque nela se vive um pouco de tudo. Já tentei largar a profissão, fazer outras coisas, mas voltei para o táxi, que é o que gosto de fazer e onde vou ficar até o fim. Aqui tu conversa com todo mundo, tem liberdade, anda por vários lugares. Tem corridas que são tão boas que se pudesse, não cobraria o passageiro, por-

que a conversa é tão boa, o cliente deixa a gente de bom astral. É por isso que gosto. Só vou parar de dirigir quando não puder mais entrar em um carro, e se eu só não puder mais trocar de marcha, com-pro um carro hidramático.” (taxista)

Pedro Dos Santos Dutra – 54 anosA igreja Assembléia de Deus está completando em 2011, 100 anos no Brasil, e destes, estamos 73 anos em Campo Bom onde cheguei por meio

de uma convenção de pastores da Assembléia de Deus no RS onde fui convidado para pastorear. Sou natural de Três de Maio e desde 1979 me dedico aos trabalhos da igreja e, exclusivamente ao pastorado, deste 1983. Pelo tempo que estou em Campo Bom, desde 1997, já me considero de campo-bonense e estou muito re-alizado e me sinto honrado por testemunhar o progresso fantástico deste municí-pio. Desejo que as pessoas sintam-se cada vez mais felizes por fazerem parte da história dos 52 anos de Campo Bom.” (pastor da igreja Assembléia de Deus)

Paulo Saenger (Bilú) – 59 anosEm 1969 fui trabalhar numa empresa calçadista e nesta época em Campo Bom existia um time chamado Santos Futebol Clube. Quan-

do recebi meu primeiro pagamento fui para o centro da cidade e encontrei com o então presidente deste time e me convidei para jogar. Sabia que eles precisam de jogadores e foi assim que comecei a participar do futebol. Es-tava com 16 anos e já comecei tarde, jogava como ponta direita, não tinha habilidade nenhuma, mas corria bastante. Depois me machuquei e fiquei dois meses afastado do futebol. Quando já estava recuperado, fui olhar um jogo do Santos no campo do 15, e ao chegar lá o meu time estava sem goleiro. Eu louco pra jogar pedi pra ser o goleiro e daquele momento em

diante nunca mais saí daquela posição. Em 1969 comecei a treinar também no juniores do clube 15 de novembro e joguei durante um tempo nos dois times, no Santos que foi o time que me revelou, e no 15, onde fiquei até 1989. Pelo Santos só disputei amistosos e pelo 15 tive a felicidade de ficar oito ve-zes campeão estadual e uma vez campeão Sul Brasileiro de amador. Naquela época se jogava futebol por amor a camiseta, não se recebia salário para vestir a camisa do time.” (ex-goleiro)

Oscar Carlos Faifer – 52 anosNasci em Campo Bom, no bairro Porto Blos. Meu pai tinha comércio, cria-ção de animais, serralheria, e desde os 8 anos já ajudava meu pai nos

afazeres dos negócios dele. Nesta época Campo Bom tinha duas ruas, a Avenida Brasil e a Presidente Vargas, e para sair do Porto Blos e ir para a Barrinha, não tínhamos a ponte que temos hoje. Daí atravessava por balsa, e em época de es-tiagem, para não pagar travessia, o pessoal atravessava o rio à pé, de carroça ou de carreta. Depois de um mês do nascimento do meu segundo filho, o Car-los, é que foi diagnosticado a síndrome dele que me levou a procurar a Apae. Enquanto as coisas acontecem na vida dos outros, a gente acaba não se envol-vendo, mas quando acontece com a gente é diferente. A Apae tem um papel

importante na formação dele em relação a quem é hoje, muito independente. A gente acaba se apaixo-nando pela Apae depois que se sabe o trabalho sério de uma instituição como esta”. (APAE)

Page 12: RESGATE HISTóRICO - Prefeitura Municipal de Campo Bom Historico 2011.pdf · Campo Bom – e em nome delas reco- ... Roberto Linden; Suely Teresinha da Silveira Pazin; Telga Bohrer;

RESGATE HISTÓRICO

1947 - Sr. e Sra. Katzenberg - doadores dos sinos da Igreja Luterana – Comunidade da Paz de Campo Bom

06.02.1977 - Banda Beckinha Show

Déc. 70 - Time Júnior do E.C. 15 de Novembro

27.06.1970 - Grupo Folclórico da Juventude Evangélica num baile no clube Oriente

05.04.70 - 1ª apresentação do Grupo Folclórico da Juventude Evangélica

1955 - Professora Sally Stoffel e seus alunos do 1º ano

da Escola Tirandentes de Campo Bom

Déc. 60 - Coral da Igreja Luterana – Comunidade da Paz de Campo Bom

09.12.78 - 15 de Novembro conquista o Tetra Campeonato Estadual de Amador - na Sociedade Concórdia

(www.campobom.rs.gov.br)