resenha_midia_modernidade

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    Ano VII, n. 05 Maio/2011

    Resenha

    A mdia e a modernidade - uma teoria social da mdia(THOMPSON, John B. A mdia e a modernidade. Petrpolis, RJ: Vozes, 2009)

    Joo Batista FIRMINO1

    A mdia e a modernidade - uma teoria social da mdia uma obra que reflete

    um conjunto de questes acerca do processo miditico e seus impactos na sociedade.

    John B. Thompsontraz a tona o que j havia proposto em um trabalho anterior 2, isto ,

    busca entender as tendncias mais recentes da indstria da comunicao, avaliando uma

    ligao entre as mudanas institucionais que perfizeram o mundo moderno e o

    desenvolvimento da mdia.

    Disso, podemos nos perguntar quais as consequncias da atual organizao

    social do poder simblico e, na necessidade de uma resposta e de novas perguntas,

    encontrarmos toda uma investigao pautada no poder interativo entre os indivduos -

    suas relaes sociais e formas de relacionamento consigo e com outros - diante do

    desenvolvimento de novas redes de comunicao e seus fluxos; todo um processo visto

    metodicamente pelo autor, que lida com a problemtica esmiuando-a em diversas

    partes constitutivas bem distribudas por oito captulos.

    Ento, em um primeiro captulo, tem-se a necessidade de um retorno s origens

    da produo e troca de informaes e de contedo simblico. Nesse ponto, o

    pesquisador percorre as diferentes formas de poder, com base em instituies

    paradigmticas concentrando poder econmico, poltico, coercitivo ou simblico. O

    autor expe, tambm, seu prprio conceito de comunicao - basicamente como

    um tipo distinto de atividade social que envolve a produo, a transmisso e a recepo

    de formas simblicas (p.25). Esse tipo de atividade, que a comunicao, se presta a

    recursos variados, detalhados pelo autor que, posteriormente, esmia a chamada

    1 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao PPGC/UFPB2

    THOMPSON, John B. Ideology and Modern Culture: critical social theory in the era of masscommunication. U.S.A.: Stanford University Press, 1990

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    comunicao de massa, os bens simblicose todo um conjunto de caractersticas; e

    aponta deficincias em pesquisas antigas, aborda o carter mundano da atividade

    receptiva - que, justamente, passa a ser vista como uma atividade.

    Mais adiante, aps uma longa digresso histrica sobre a mdia e o

    desenvolvimento das sociedades modernas no segundo captulo, Thompson aborda o

    advento da interao mediada e a transformao da visibilidade - ambos, terceiro e

    quarto captulos, respectivamente.

    Em se tratando da interao mediada, tem-se uma diviso entre interao face-a-

    face (dialgica), mediada (tambm dialgica) e a quase-interao mediada

    (monolgica), ampliando os padres tradicionais de interao social. Novos tipos de

    relaes sociais, com base nisso e em outras informaes, so criadas a partir dessas

    experincias apontadas pelo autor sob a forma de trs estruturas correspondentes a esses

    tipos de interao e devidamente ilustradas nas pginas do livro. O pesquisador, alm

    disso, aprofunda-se nas diferenas entre destino receptor, cotidiano mediado, eventos

    mediados e ao ficcional, com consequncias sociais certamente imprevisveis e que

    partem do pressuposto de que a mdia se envolve ativamente na construo do mundo

    social.

    A questo da visibilidade e sua relao com o poder (bem como do poder

    inerente do olhar) abordada em seguida, com a relao entre pblico e privado,

    evocando uma natureza do carter pblico transformado pelo desenvolvimento da

    mdia. O autor tambm reconstri a evoluo das relaes histricas entre poder e

    visibilidade. Tudo isso abarcando, inclusive, os novosusos da publicidade, que

    alteraram profundamente a forma como o poder poltico exercido, mesmo diante de

    gafes, escndalos e vazamentos.A obra ainda nos traz um dos aspectos mais evidentes da comunicao no

    mundo moderno, o fato de tudo acontecer numa escala cada vez mais global - no quinto

    captulo. Entende-se que a globalizaosurge somente quando as atividades ocorrem

    numa arena global, sua organizao e planejamento tambm so globais, e quando tudo

    isso envolve algum grau de reciprocidade e interdependncia, permitindo que uma

    atividade numa parte do mundo seja modelvel por outras atividades em outras partes

    do mundo (mais detalhes na p.135). E no podemos deixar de fora que feita uma

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    reavaliao das teorias como a do imperialismo cultural e, depois, sai-se em busca de

    uma teoria da globalizao da mdia.

    No sexto captulo, o autor incisivo quanto ao que significa, no mundo de hoje,

    uma ancoragem da tradio- ou a tradio em si. Thompson evita certos equvocos, que

    pensam a tradio como uma coisa do passado, e demonstra que no h,

    necessariamente, um declnio dela - que j foi, antigamente, pensada como inimiga do

    pensamento iluminista e da dinmica das sociedades modernas. Surge, ento, a

    explicao de que a tradio precisa ser compreendida, antes de tudo, em seu aspecto

    hermenutico (enquanto estruturao mental ou esquema interpretativo), aspecto

    normativo (com seus princpios morais orientadores), aspecto legitimador (para o

    exerccio de tipos de poder como a autoridade legal, carismtica e tradicional) e aspecto

    identificador (trazendo uma auto-identidade ou uma identidade coletiva).

    O stimo captulo dedicado natureza do eu (self) e a experincia cotidiana

    num mundo mediado, ou, mais precisamente, em um mundo repleto de uma quase-

    interao mediada. Nesse ponto, Thompson nos explica que o self est mais reflexivo e

    aberto, e que os materiais simblicos mediados no destroem o local compartilhado.

    Indo alm disso, nos diz que o self surge, finalmente, como um projeto simblico que o

    indivduo constri ativamente. Contudo, esse mesmo self atingido negativamente,

    neste nosso mundo, pela intruso mediada de mensagens ideolgicas, pela dupla

    dependncia mediada, pelo efeito desorientador da sobrecarga simblica e pela sua

    absoro total nessa quase-interao mediada.

    Ao se falar de intimidade e de experincia, vemos que, na quase-interao

    mediada, a primeira no recproca, e que a segunda se divide entre experincia vivida

    e experincia mediada, ajudando a dissolver o self, que vive a iluso onde um mundodeliberativo , necessariamente, dialgico.

    O ltimo captulo dedicado reinveno da publicidade, reinventada diante de

    novas formas de vida pblica fora da competncia do estado e da localidade -mesmo

    que seja uma atividade de mais abertura e visibilidade, sem necessariamente envolver o

    compartilhamento de um local comum.

    Muito sobre o assunto enriquecido, culminando em uma proposta de tica de

    responsabilidade global, capaz de abastecer o que ele chama de frgil sentido de

    responsabilidade pela humanidade e pelo mundo coletivamente habitado (p.228).

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    O que vemos, enfim, so oito captulos ricos em uma anlise criteriosa da

    relao entre o que h hoje em termos de organizao social do poder simblico e suas

    consequncias para o nosso mundo.

    Todavia, alm de ter faltado no livro uma bibliografia mais visvel, mais

    organizada numa seo prpria - tendo o autor preferido a aridez da seo notas -, o

    livro poderia ter dedicado mais espao reinveno da publicidade e relao entre

    interao mediada e a transformao da visibilidade, sobretudo usando a internet como

    campo de pesquisa, algo que o autor no faz nesse seu trabalho.

    Assim, apesar de ser uma obra til, densa e madura, esses espaos que ns

    citamos carecem de mais informaes e complementaes, exigindo do jovem

    pesquisador a garra necessria para ele mesmo descobrir e produzir o que faltou,

    principalmente sobre o universo hipermiditico da internet, um mundo cuja trilha

    pautada nas sociedades modernas e suas transformaes.