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RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA ELEIT ELEIT ELEIT ELEIT ELEITORAL ORAL ORAL ORAL ORAL Nova Série TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA 2009 VOLUME 17 Florianópolis – Santa Catarina

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ELEITELEITELEITELEITELEITORALORALORALORALORALNova Série

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA

2009

VOLUME 17

Florianópolis – Santa Catarina

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RESENHA ELEITORAL - Nova Série

Este periódico é especializado em Direito Eleitoral, contendo doutrina, jurispru-dência, pareceres, comentários e notícias, podendo incluir, igualmente, matériasconstitucionais e administrativas.Os conceitos aqui emitidos são de inteira responsabilidade de seus autores, quegozam de ampla liberdade de opinião, crítica e estilo.

Tribunal Regional Eleitoral de Sant a CatarinaRua Esteves Júnior, 68 - CentroFlorianópolis (SC) - CEP 88015-130Fone (48) 3251-3714 / Fax (48) [email protected]://www.tre-sc.gov.br

Comissão EditorialPresidente: Juiz Márcio Luiz Fogaça Vicari

Coordenação: Clycie Damo BertoliIlenia Schaeffer SellRodrigo Camargo Piva

Editoração eletrônica: Edmar Sá

Revisão: Daniella Mara Z. CamposEllen Carina Araújo de CarvalhoMaria Cecy Ferreira ArrospideRogério Camargo PivaSilvana Helena V. Garcia Deitos

Suplentes: Adriano Ferreira RamosHugo Frederico Vieira NevesJean da Silva Oliveira

Resenha eleitoral : nova série. -v. 1, n. 1 (1994) - . Florianópolis: TribunalRegional Eleitoral de Santa Catarina, 1994- .

Anual

Continuação de: Resenha eleitoral (1949-1951)

ISSN: 0104-6152

1. Direito Eleitoral - Periódicos. I. Santa Catarina.Tribunal Regional Eleitoral.

CDU 342.8(816.4)(05)

Imagem da cap aHASSIS (CORRÊA, Hiedy de Assis), Folclore Ilhéu, 1972. 1 original de arte, têm-pera sobre eucatex, 280 cm x 365 cm (3 painéis de 280 cm x 121,5 cm). Coleção:Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.

Capa

Rodrigo Camargo Piva

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA

PresidenteCláudio Barreto Dutra

Vice-PresidenteCorregedor Regional Eleitoral

Newton Trisotto

Juízes EfetivosMárcio Luiz Fogaça Vicari

Oscar Juvêncio Borges NetoOdson Cardoso Filho

Eliana Paggiarin MarinhoSamir Oséas Saad

Juízes SubstitutosSérgio Torres PaladinoJosé Mazoni FerreiraHeitor Wensing Júnior

Julio Guilherme Berezoski SchattschneiderFrancisco José Rodrigues de Oliveira Neto

Vânia Petermann Ramos de Mello

Procurador Regional EleitoralClaudio Dutra Fontella

Procurador Regional Eleitoral SubstitutoAndré Stefani Bertuol

Diretor-GeralSamir Claudino Beber

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SUMÁRIO

COMPOSIÇÃO DO TRESC, 3

ABREVIATURAS E SIGLAS, 7

DOUTRINA, 9

Coligações partidárias após a EC n. 52/2006 – PEDRO ROBERTODECOMAIN, 11

A introdução das eleições biométricas no Brasil – GUSTAVOMORMESSO DE ABREU, 35

Argüição judicial da ausência de desincompatibilização de servidorespúblicos municipais: análise à luz das eleições municipais –CARLOS VALÉRIO GERBER WIETZIKOSKI, 47

Considerações acerca da PEC n. 338/2009 – AYRTON DE MENDONÇATEIXEIRA, 71

Direitos fundamentais aplicados à fidelidade partidária – FLÁVIAQUEIROZ BARBOSA, 83

Eleições e liberdade de imprensa – RENATA BEATRIZ DE FÁVERE, 113

O exercício do direito de voto e a participação do preso provisório noprocesso eleitoral na sociedade brasileira e catarinense – JULIANALOBO CAMARGO, 127

O negócio da Justiça Eleitoral: processo eleitoral – GILBERTO KILIANDOS ANJOS, 151

Perda de cargo eletivo oriunda de infidelidade partidária: uma questãode hermenêutica constitucional – SIVANILDO DE ARAÚJODANTAS, 161

Vida pregressa do candidato – RITA DE CÁSSIA G. LIMA DA CRUZ, 171

ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES, 179

ÍNDICE, 247

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ABREVIATURAS E SIGLAS

Ac. acórdão

ADI ação direta de inconstitucionalidade

ADPF ação de descumprimento de preceito fundamentalAg agravo de instrumento

AgRg agravo regimental

AIJE ação de investigação judicial eleitoralAIME ação de impugnação de mandato eletivo

AIRC ação de impugnação de registro de candidatura

art. artigoCE Código Eleitoral

CF Constituição Federal

Cesusc Centro de Ensino Superior de Santa CatarinaCLT Consolidação das Leis do Trabalho

CPC Código de Processo Civil

CTN Código Tributário NacionalDEM Democratas

Des. DesembargadorDJU Diário da Justiça da União

EC emenda constitucional

ed. ediçãofl. folha

IBET Instituto Brasileiro de Estudos Tributários

julg. julgadoLC Lei Complementar

LPP Lei dos Partidos Políticos

Min. Ministro(a)MS mandado de segurança

n. número

OAB Ordem dos Advogados do Brasilorg. organizador

pág./p. página

PC do B Partido Comunista do BrasilPDS Partido Democrático Social

PDT Partido Democrático Trabalhista

PEC proposta de emenda constitucional

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PFL Partido da Frente Liberal

PL Partido Liberal

PMDB Partido do Movimento Democrático BrasileiroPP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular SocialistaPR Partido da República

PRB Partido Republicano Brasileiro

PRONA Partido da Reedificação da Ordem NacionalPSB Partido Socialista Brasileiro

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PSOL Partido Socialismo e LiberdadePT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RCED recurso contra expedição de diplomaRE recurso extraordinário

Rel. relator(a)

REsp recurso especialREspe recurso especial eleitoral

Res. resolução

RJTSE Revista de Jurisprudência do Tribunal Superior EleitoralRO recurso ordinário

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de JustiçaTCE/SC Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina

TCU Tribunal de Contas da União

TRE/ES Tribunal Regional Eleitoral do Espírito SantoTRE/RJ Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro

TRE/RS Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul

TRESC Tribunal Regional Eleitoral de Santa CatarinaTRF4 Tribunal Regional Federal da 4a Região

TSE Tribunal Superior Eleitoral

UFMG Universidade Federal de Minas GeraisUFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFU Universidade Federal de Uberlândia

Univali Universidade do Vale do ItajaíUnisul Universidade do Sul de Santa Catarinav. volume

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DOUTRINA

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DOUTRINA

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 9-178, 2009

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COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS APÓS A EC N. 52/2006

Pedro Roberto Decomain*

1 O DISCIPLINAMENTO LEGAL DAS COLIGAÇÕES PARTIDÁRIASNO BRASIL – ART. 6o DA LEI N. 9.504/1997. 2 A “VERTICALIZAÇÃODAS COLIGAÇÕES”: RESOLUÇÃO TSE N. 21.002/2002 (CONSULTAN. 715); RESOLUÇÃO TSE N. 20.993/2002 (QUE DISPÕE SOBRE AESCOLHA E O REGISTRO DOS CANDIDATOS NAS ELEIÇÕES DE2002) E RESOLUÇÃO TSE N. 22.156/2006 (QUE DISPÕE SOBRE AESCOLHA E O REGISTRO DE CANDIDATOS NAS ELEIÇÕES DO ANODE 2006). 3 A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 52/2006. 4 REFLE-XOS (OU NÃO) DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 52 SOBRE A IN-TERPRETAÇÃO A SER DADA AO CAPUT DO ART. 6o DA LEI N. 9.504/1997. 4.1 INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA APLICADA AO TEMA PRE-SENTE. 4.2 INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA APLICADA AO TEMAPRESENTE. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 O disciplinamento legal das coligações p artidárias no Brasil –art. 6 o da Lei n. 9.504/1997

O art. 6o da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, que dispõesobre as eleições (e que também será designada, doravante, comoLei das Eleições), trata das coligações partidárias.

A redação do caput desse artigo é a seguinte:

Art. 6o É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma circunscri-ção, celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, ou paraambas, podendo, neste último caso, formar-se mais de uma coligaçãopara a eleição proporcional dentre os partidos que integram a coliga-ção para o pleito majoritário.

* Promotor de Justiça em Santa Catarina. Mestre em Ciência Jurídica pelaUniversidade do Vale do Itajaí (Univali). Professor de Direito Eleitoral naUniversidade do Contestado, Campus Mafra, Santa Catarina, e na Escola dePreparação e Aperfeiçoamento do Ministério Público de Santa Catarina.

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DOUTRINA

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 9-178, 2009

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Inicialmente, resulta do dispositivo que, dentro de uma mesma cir-cunscrição eleitoral,1 os partidos podem formar coligações para as elei-ções que se realizam apenas pelo sistema eleitoral majoritário, ousomente para as com observância do sistema eleitoral proporcional,ou para ambas.

Num segundo momento, do caput do artigo emana que, em ha-vendo coligação formada para eleição que obedeça ao sistema majo-ritário, os partidos que a integram podem, entre si, formar diferentescoligações para concorrerem juntos às eleições que obedeçam ao sis-tema proporcional. Todavia também emana do artigo em questão quepartidos estranhos à coligação formada para a eleição para o cargoobediente ao sistema majoritário não podem integrar coligação, paracargo sujeito à eleição pelo sistema proporcional, com partido que in-tegre aquela primeira coligação.

Num exemplo, envolvendo eleições municipais, se três partidos –A, B e C – se reúnem em coligação para concorrerem juntos aos car-gos de prefeito e vice-prefeito, podem reunir-se também os três paraconcorrerem em conjunto à eleição para o cargo de vereador; podemtambém coligar-se, para tal eleição, os partidos A e B, ou A e C, ou Be C; podem ainda decidir que concorrerão isolados na eleição para ocargo de vereador. O que o caput do art. 6o da Lei n. 9.504/1997 nãopermite, todavia, é que um partido D, que não integra a hipotética co-ligação para a eleição aos cargos de prefeito e vice-prefeito municipal,forme coligação, na eleição para o cargo de vereador, com qualquerdos três partidos que integram a coligação na eleição obediente aosistema majoritário. Assim, uma coligação entre os partidos A, B, C eD (este último não integrante da coligação para a eleição para prefei-to) mostra-se inviável, ante os termos do mencionado artigo da Leidas Eleições.

1Nos termos do art. 86 do Código Eleitoral, nas eleições presidenciais (para oscargos de presidente e vice-presidente da República), a circunscrição eleitoralcorresponde ao País todo; nas eleições federais (para os cargos de senadore de deputado federal), cada Estado (e bem assim o Distrito Federal)corresponde a uma circunscrição, o mesmo ocorrendo nas eleições estaduais(governador, vice-governador e deputado estadual) e distritais (governador evice-governador do Distrito Federal e deputado distrital), embora estas últimasnão sejam mencionadas pelo artigo em referência. Nas eleições municipais(para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador) cada municípiocorresponde a uma circunscrição eleitoral.

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A propósito do tema das coligações partidárias, em proposta deinterpretação do caput do art. 6o da Lei n. 9.504/1997, já tivemos oca-sião de ponderar o seguinte (DECOMAIN, 2004, p. 34-35):

As coligações partidárias poderão ser diferentes em cada circunscri-ção. Assim, nas eleições para Presidente e Vice-Presidente da Repú-blica poderão coligar-se determinados partidos, os quais, todavia, po-dem formar coligações diferentes para as eleições ao Senado, aosGovernos dos Estados ou Distrito Federal, à Câmara Federal e àsAssembléias ou Câmaras Legislativas. Não existe obrigatoriedade deque os partidos coligados para concorrerem junto à eleição presiden-cial celebrem nos Estados coligações idênticas para os demais car-gos em disputa naquela eleição. Também não existe a obrigação deque, coligados certos partidos num determinado Estado, para concor-rerem juntos ao respectivo Governo, formem coligação idêntica paraas eleições parlamentares, quer relativas ao Senado, quer à Câmarados Deputados, quer à Assembléia ou Câmara Legislativa Estadual.[...] Finalmente, também não existe obrigação de que os mesmos par-tidos repitam as mesmas coligações, em diferentes Estados. Quandose tratar de eleições municipais, os partidos podem coligar-se apenaspara a eleição de Prefeito, ou apenas para a de Vereadores, ou paraambas. Também nas eleições municipais não existe qualquer obriga-ção de que os partidos celebrem coligações idênticas em todos osMunicípios. As coligações partidárias celebradas em uma dadaMunicipalidade podem ser completamente diferentes daquelas firma-das nos Municípios vizinhos.

Nesse sentido, inclusive, a decisão do TSE respondendo à Con-sulta n. 358-DF, relator o eminente ministro Néri da Silveira, no pontoque aqui se releva:

[...] 6. O que não se tem por admissível, em face do art. 6o da Lei n.9.504/1997, existente coligação majoritária, é a inclusão de partido aela estranho, para formar com integrantes do referido bloco partidárioaliança diversa destinada a disputar eleição proporcional. [...] [TSE,1998].

Sem embargo, ainda a propósito da amplitude conferida à possibi-lidade de composição de coligações pelo mencionado artigo da Lei,também deixamos escrita a seguinte crítica (DECOMAIN, 2004, p. 35):

Tudo isso certamente não contribui para o fortalecimento dos partidospolíticos brasileiros, cuja solidez e cujo papel de efetivamente repre-sentarem correntes mais ou menos homogêneas de pensamento polí-tico e administrativo não parecem desempenhar de modo muito claro.Nossos partidos infelizmente são antes agrupamentos de pessoas li-gadas por momentâneas conveniências comuns em torno da simples

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conquista do poder, do que agremiações a reunir pessoas que tenhampensamento mais ou menos uniforme em torno dos problemas admi-nistrativos, econômicos, sociais e políticos nacionais.

2 A “verticalização das coligações”: Resolução TSE n. 21.002/2002(Consult a n. 715); Resolução TSE n. 20.993/2002 (que dispõesobre a escolha e o registro dos candidatos nas eleições de 2002)e Resolução TSE n. 22.156/2006 (que dispõe sobre a escolha e oregistro de candidatos nas eleições do ano de 2006)

A despeito da amplitude com que a formação de coligações foi tra-tada pelo art. 6o da Lei n. 9.504/1997, o colendo TSE, respondendo àConsulta de n. 715-DF, decidiu que

Os partidos políticos que ajustarem coligação para eleição de presi-dente da República não poderão formar coligações para eleição degovernador de estado ou do Distrito Federal, senador, deputado esta-dual ou distrital com outros partidos políticos que tenham, isoladamen-te ou em aliança diversa, lançado candidato à eleição presidencial2

[TSE, 2002].

A consulta, à qual a Corte respondeu da forma assim resumidapela ementa, tinha o seguinte conteúdo:

Pode um determinado partido político (partido A) celebrar coligação, paraeleição de presidente da República, com alguns outros partidos (partidoB, C e D) e, ao mesmo tempo, celebrar coligação com terceiros partidos(E, F e G, que também possuem candidato à presidência da República)visando à eleição de governador de estado da Federação?

A decisão teve por fundamento, entre outros, o caráter nacionaldos partidos, exigência constante no art. 17, inciso I, da ConstituiçãoFederal de 1988, consoante se depreende do voto condutor do emi-nente ministro relator, Garcia Vieira, do qual é oportuno que se trans-creva a seguinte passagem:

2Também disponível na Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 13, Tomo2, p. 389. Deve-se registrar que a decisão foi majoritária, tendo havido votosvencidos dos eminentes ministros Sepúlveda Pertence e Sálvio de FigueiredoTeixeira. Votaram juntamente com o relator, no sentido da resposta negativa àconsulta, os eminentes ministros Nelson Jobim, Fernando Neves, Luiz CarlosMadeira e Ellen Gracie.

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Não podemos nos esquecer de que, como o legislador constitucionalexige (art. 17, I), tenham os partidos políticos caráter nacional, e nãoestaduais ou municipais e isso ocorreria se permitíssemos que umpartido (A), após celebrar coligação para a eleição de presidente daRepública com outros partidos (B, C e D) e, ao mesmo tempo, cele-brasse coligação com terceiros partidos (E, F e G) que também pos-suem candidatos a presidente da República. É claro que os candida-tos a presidente podem ser diversos e, então, ocorreria o absurdo determos uma coligação com diversos candidatos a presidente da Re-pública.

Já o ministro Nelson Jobim, em seu voto vencedor na resposta àmesma consulta, sobre fundamentá-lo também no caráter nacional dospartidos, invocando para tanto não somente a Constituição Federal,como também o art. 5o da Lei n. 9.095/1995 (Lei dos Partidos Políti-cos), que das agremiações partidárias exige “ação nacional”, ancorouo raciocínio que desenvolveu também na expressão “dentro da mes-ma circunscrição”, contida no caput do art. 6o da Lei das Eleições.

De acordo com seu raciocínio, a circunscrição para a eleição pre-sidencial, que corresponde ao País todo, contém as circunscrições paraas eleições estaduais (cada Estado forma uma, segundo já visto), ca-bendo acrescentar que nesta circunscrição para a eleição presiden-cial (País todo) fica contida também a circunscrição para as eleiçõesdo Distrito Federal (formando ele próprio a referida circunscrição).

Diante disso, o que o art. 6o da Lei n. 9.504/1997 estava a exigir,segundo consignado no voto do eminente ministro, era a consistênciapolítica entre as coligações nacional e estadual, em que a coligaçãonacional haveria de ser o paradigma.

Concluiu, então, o ministro Nelson Jobim que “Admitir coligaçõesestaduais assimétricas com a decisão nacional é se opor ao ‘caráternacional’ e à ‘ação de caráter nacional’, que a Constituição e a lei im-põem aos partidos”.

Esta exigência de que as coligações estaduais refletissem as coli-gações formadas para a eleição presidencial passou, a partir de en-tão, a ser conhecida como “verticalização das coligações”.3

3 A expressão “verticalização” foi inclusive utilizada pelo colendo TSE, entreoutros feitos, no Recurso Especial Eleitoral n. 27.108, na Representação n.1.161 e na Medida Cautelar n. 1.906.

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Na sequência da resposta à Consulta n. 715 seguiram-se váriasoutras, abordando, desta feita, aspectos peculiares inerentes à temática(TSE, 2002).

Firmado então o entendimento do TSE, no sentido da “verticaliza-ção” das coligações, servindo a coligação para a eleição presidencialcomo parâmetro para as demais, a exigência nesse sentido veio arefletir-se nas instruções expedidas pela Corte relativamente à esco-lha e ao registro de candidatos para as eleições a serem realizadasem 2002.

Tais instruções foram veiculadas por meio da Resolução n. 20.993,de 26 de fevereiro de 2002, cujo § 1o do art. 4o dispôs que

os partidos políticos que lançarem, isoladamente ou em coligação,candidato/a à eleição de presidente da República não poderão formarcoligações para eleição de governador/a de Estado ou do Distrito Fe-deral, senador/a, deputado/a federal e deputado/a estadual ou distritalcom partido político que tenha, isoladamente ou em aliança diversa,lançado candidato/a à eleição presidencial.

Nas instruções em apreço foram invocados como fundamentos parareferido enunciado tanto o art. 6o da Lei das Eleições, quanto, tam-bém, a resposta que a Corte havia ofertado à Consulta n. 715.

O mesmo enunciado foi depois reiterado, quando da expedição dasinstruções do TSE para a escolha e o registro dos candidatos às elei-ções ocorridas em 2006, consoante se verifica do § 1o do art. 3o daResolução n. 22.156/2006, por intermédio da qual aludidas instruçõesforam veiculadas.

O § 1o do art. 4o da Resolução TSE n. 20.993, que consagrou averticalização em tema de coligações partidárias para as eleições ocor-ridas no ano de 2002, foi objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade(ADI) n. 2.626-DF, aforada perante o Supremo Tribunal Federal peloPartido Comunista do Brasil (PCdoB), pelo Partido Liberal (PL), peloPartido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido Socialista Brasileiro(PSB).

A Corte não conheceu daquela ação, ante o reconhecimento deque o ato, do qual o dispositivo inquinado de violador do texto consti-tucional fazia parte, configurava ato normativo secundário, configuran-do-se violação indireta ao texto normativo maior, a impedir o exercíciodo controle abstrato de constitucionalidade.

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A ementa do v. acórdão relativo àquela ADI tem o seguinte teor:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PARÁGRAFO 1O DOARTIGO 4O DA INSTRUÇÃO N. 55, APROVADA PELA RESOLUÇÃO N.20.993, DE 26.02.2002, DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. ART.6O DA LEI N. 9.504/1997. ELEIÇÕES DE 2002. COLIGAÇÃO PARTIDÁ-RIA. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTIGOS 5O, II E LIV, 16, 17, § 1O,22, I, E 48, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ATO NORMATIVOSECUNDÁRIO. VIOLAÇÃO INDIRETA. IMPOSSIBILIDADE DO CON-TROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE. Tendo sido o dispo-sitivo impugnado fruto de resposta à consulta regularmente formuladapor parlamentares no objetivo de esclarecer o disciplinamento das coli-gações tal como previsto pela Lei 9.504/1997 em seu art. 6o, o objeto daação consiste, inegavelmente, em ato de interpretação. Saber se essainterpretação excedeu ou não os limites da norma que visava integrarexigiria, necessariamente, o seu confronto com essa regra, e a Casatem rechaçado as tentativas de submeter ao controle concentrado o delegalidade do poder regulamentar. Precedentes: ADI n. 2.243, Rel. Min.Marco Aurélio; ADI n. 1.900, Rel. Min. Moreira Alves; ADI n. 147, Rel.Min. Carlos Madeira. Por outro lado, nenhum dispositivo da Constitui-ção Federal se ocupa diretamente de coligações partidárias ou estabe-lece o âmbito das circunscrições em que se disputam os pleitos eleito-rais, exatamente os dois pontos que levaram à interpretação pelo TSE.Sendo assim, não há como vislumbrar ofensa direta a qualquer dosdispositivos constitucionais invocados. Ação direta não conhecida. De-cisão por maioria [STF, 2004].

3 A Emenda Constitucional n. 52/2006

Em reflexo ao pensamento esposado pelo TSE, a partir da respos-ta à Consulta n. 715-DF, uma vez definido que o perfil das coligaçõescelebradas pelos partidos políticos em âmbito nacional, para as elei-ções presidenciais, deveria refletir-se nas eleições realizadas no âm-bito dos Estados ou do Distrito Federal (para os cargos de governadore vice-governador, senador, deputado federal e deputado estadual oudistrital), o Congresso Nacional promulgou, em 8 de março de 2006, aEmenda Constitucional n. 52.

Por seu intermédio promoveu-se a alteração do texto do § 1o do art.17 da Constituição Federal de 1988, cuja redação, após a aludidaemenda, passou a ser a seguinte:

Art. 17. [...]

§ 1o É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir suaestrutura interna, organização e funcionamento e p ara adot ar os cri-

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térios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, semobrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbitonacional, est adual, distrit al ou municip al, devendo seus estatutosestabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. [Sem negritosno original.]

A passagem em destaque não constava do texto original do pará-grafo, sendo a ele acrescida justamente pela EC n. 52/2006. Daí per-cebe-se que a emenda constituiu, sem dúvida, uma reação parlamen-tar ao entendimento anteriormente firmado pelo TSE acerca da neces-sidade de que as coligações para as eleições federais (senador e de-putado federal) e estaduais ou distritais (governador e vice-governa-dor e deputado estadual ou deputado distrital) obedecessem ao perfilresultante das coligações que os partidos houvessem (ou não) estabe-lecido para candidatura à eleição presidencial.

O art. 2o daquela emenda afirmou que o disposto nela seria aplicá-vel inclusive às eleições já ocorridas no ano de 2002.4

A emenda constitucional em tela foi objeto da ADI n. 3.685-8-DF,perante o Supremo Tribunal Federal, na qual se decidiu, dando-lheinterpretação, conforme a Constituição, que o § 1o do art. 17 do textoconstitucional, na redação que lhe fora conferida pela emenda, nãoseria ainda aplicável às eleições do ano de 2006.

Trata-se, então, agora, de verificar qual a influência (se é que exis-te) da nova redação conferida ao § 1o do art. 17 da Constituição, pelaEmenda Constitucional n. 52, sobre o disposto no caput do art. 6o daLei das Eleições. Este é o tema a ser debatido no tópico seguinte.

4 Reflexos (ou não) da Emenda Constitucional n. 52 sobre a inter-pretação a ser dada ao caput do art. 6 o da Lei n. 9.504/1997

Como indicado anteriormente, o caput do art. 6o da Lei n. 9.504/1997, Lei das Eleições, cuida de disciplinar a formação de coligações.

Da redação daquele dispositivo, ao referir-se à formação de coli-gações numa mesma circunscrição, o Supremo Tribunal Federal ex-traiu a conclusão, como apontado particularmente no voto do eminen-

4 Embora a Emenda Constitucional n. 52 seja de 8 de março de 2006, o seu art.2

o tem a seguinte curiosa redação: “Art. 2

o Esta Emenda Constitucional entra

em vigor na data de sua publicação, aplicando-se às eleições que ocorrerãono ano de 2002”.

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te ministro Nelson Jobim, que, compreendida a coligação das eleiçõesfederais e estaduais (senador, deputado federal, governador e vice-governador e deputado estadual ou deputado distrital) dentro da co-ligação maior (o País inteiro) na qual transcorria a eleição presidenci-al, as coligações formadas para essa última haveriam de servir debalizamento para aqueles que viessem a se formar nos Estados ou noDistrito Federal.

Nesse aspecto, não remanesce dúvida de que a modificação trazidapela Emenda Constitucional n. 52/2006 ao § 1o do art. 17 da Constitui-ção Federal teve por propósito afastar a necessidade de que as coli-gações para a eleição presidencial fossem tidas como parâmetro paraque viessem a formar-se nos Estados.

Resulta essa conclusão do afirmado no § 1o do art. 17 da CF, com anova redação que lhe conferiu a emenda constitucional em referência.

Com efeito, a partir do momento em que o aludido parágrafo, apósa emenda constitucional, passou a conferir liberdade às agremiaçõespartidárias para escolha e registro de suas coligações eleitorais, “semvinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distritalou municipal”, a “verticalização” preconizada pelo colendo TribunalSuperior Eleitoral foi afastada.

Afinal, importava ela em vinculação entre as coligações formadaspara a eleição presidencial e as que viessem a se formar para as de-mais eleições a ocorrer na mesma data (eleições federais, isto é, parasenador e deputado federal, e estaduais ou distritais, quer dizer, paragovernador e vice-governador e deputado estadual ou distrital).

De outra perspectiva, todavia, e como já foi anteriormente discuti-do, numa primeira abordagem resultava do caput do art. 6o que, espe-cificamente numa eleição municipal, se houvesse coligação entre de-terminados partidos para concorrerem juntos à eleição para os cargosde prefeito e vice-prefeito municipal, poderiam concorrer todos isola-dos na eleição para vereador, ou poderiam concorrer todos coligadosou, ainda, formar coligações entre si, embora não compreendendo to-dos eles em uma única coligação.

Ademais, o que também constava no dispositivo era a vedação deque partido estranho à coligação para a eleição majoritária formassequalquer coligação, na eleição para vereador, com partido que inte-grasse a coligação para as eleições para os cargos de prefeito e vice-prefeito.

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Teria essa interpretação do caput do art. 6o da Lei das Eleições sidoafetada pela nova redação conferida pela EC n. 52/2006 ao § 1o do art.17 da CF/1988?

O Min. Nelson Jobim havia registrado – no voto proferido quandoda resposta, pelo TSE, à Consulta n. 715-DF – não representarem aseleições municipais uma preocupação no âmbito da “verticalização”das coligações, uma vez que se tratava de eleições “solteiras”, por nãoocorrerem na mesma data das demais.

A nova redação do § 1o do art. 17 da CF/1988, mais do que afirmara inexistência de vinculação, no atinente à formação de eventuais co-ligações partidárias, entre as candidaturas em âmbito nacional, esta-dual ou distrital, afirmou também a inexistência de vinculação entre ascandidaturas em âmbito municipal.

As eleições presidenciais, federais e estaduais ou distritais reali-zam-se em determinado ano, mas as eleições municipais sempre emano diverso (há sempre dois anos de distanciamento, grosso modo,entre tais eleições – as últimas eleições municipais ocorreram no anode 2004; as presidenciais, federais, estaduais e distritais, em 2006, oque irá ocorrendo assim, sucessivamente, exceto se sobrevier emen-da constitucional alterando duração de mandatos para fazer coincidirtodas as eleições). Diante disso, poder-se-ia supor que não fizessesentido falar em vinculação entre candidaturas em eleições nacionais,estaduais e municipais, já que as primeiras ocorreriam sempre em datasdiversas das últimas.

Mesmo assim, não é de se descartar de todo a possibilidade deque essa vinculação existisse. É que se poderia afirmar – embora nun-ca se o tivesse feito, nem mesmo no âmbito do TSE, quando se deci-diu pelo reconhecimento da exigência da “verticalização” – que naseleições municipais as coligações devessem ser formadas com obser-vância daquelas que eventualmente houvessem existido na eleiçãopresidencial realizada dois anos antes. A prevalecer entendimento dessasorte, nas eleições municipais de 2008 as coligações haveriam de obe-decer àquelas que existiram na eleição presidencial de 2006.

A partir do momento em que o § 1o do art. 17 da CF/1988, em suaatual redação, dispensa qualquer vinculação no âmbito da formaçãodas coligações partidárias entre as candidaturas nas eleições nacio-nais, estaduais ou municipais, semelhante raciocínio haveria de serdescartado. Em suma, nem nas eleições presidenciais e estaduais oudistritais a ocorrer em uma mesma data há mais necessidade de que

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nos Estados e no Distrito Federal sejam repetidas as coligações for-madas para a eleição presidencial, nem se pode exigir que, na eleiçãomunicipal imediatamente seguinte, as eventuais coligações municipaisobservassem os moldes resultantes das coligações que se houves-sem formado para a eleição presidencial de dois anos antes.

Todavia, como já restou apontado, a redação do caput do art. 6o daLei das Eleições comporta a conclusão de que, em determinada cir-cunscrição eleitoral, partidos que se acham coligados para a eleiçãoobediente ao sistema majoritário podem coligar-se entre si para a elei-ção pelo sistema proporcional, formando, sempre entre si, as coliga-ções que entenderem mais propícias. Todavia, partidos que não parti-cipem da coligação para a eleição pelo sistema majoritário, não po-dem se aliar a partidos que a ela pertençam para concorrerem juntosna eleição que obedece ao sistema proporcional.

Assim, se três partidos se reúnem para concorrerem juntos à elei-ção para prefeito, então podem reunir-se os três, ou dois deles, con-correndo o terceiro isolado, ou ainda concorrer todos os três isolados,na eleição para vereador. Partido que não estivesse na coligação for-mada para a eleição para o cargo de prefeito, todavia, não poderia, naeleição para o de vereador, reunir-se a partido que da primeira fizesseparte.

O mesmo é válido, quando se olha para a redação do caput do art.6o da Lei das Eleições, em face de coligação que se formasse para aeleição de governador. Na eleição para deputado estadual ou distritalpoderiam coligar-se como melhor lhes aprouvesse os partidos quecompusessem a coligação para a eleição de governador. Partido a elaestranho, porém, não poderia coligar-se com nenhum deles na de de-putado estadual ou distrital. Mais que isso, como as eleições federais(para senador e deputado federal) possuem como circunscrição tam-bém o Estado ou o Distrito Federal, então a coligação formada para aeleição do governador seria, observada a redação do mencionado ar-tigo da Lei das Eleições, o norte para todas essas coligações.

A atual redação do § 1o do art. 17 da CF/1988 comporta duas inter-pretações. Na primeira delas, a tônica estaria na desnecessidade davinculação entre candidaturas em eleições nacional, est adual, distrit alou municip al, a apontar simplesmente no sentido de que as coliga-ções formadas para a eleição presidencial não seriam mais paradigmaobrigatório para as coligações que pretendessem os partidos celebrarnas eleições estaduais ou distritais, menos ainda nas municipais.

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Todavia, noutra linha de interpretação, a tônica poderia ser coloca-da não mais nas palavras “nacional, estadual, distrital ou municipal”,mas, sim, na própria palavra “candidaturas”.

Se prevalente essa segunda maneira de compreender o parágrafo,então as coligações formadas para eleições pelo sistema proporcionalnão precisariam mais ficar restritas aos partidos que, na mesma circuns-crição e na mesma eleição, formaram coligação para a eleição majori-tária, podendo, pois, partido que não integra esta última formar coliga-ção com partido que dela faz parte, para concorrerem juntos à eleiçãoproporcional.

Mais que isso, partidos com candidatos diversos, concorrendo cadaqual isoladamente na eleição majoritária, poderiam coligar-se paraconcorrerem juntos na eleição proporcional. Partidos adversários naseleições para o cargo de prefeito municipal estariam coligados nas elei-ções para o de vereador. Partidos adversários na eleição para gover-nador de Estado ou do Distrito Federal poderiam coligar-se na eleiçãopara senador, concorrer isolados na eleição para deputado federal e,ainda, coligar-se na eleição para os cargos de deputado estadual oudistrital.

Haveria de ser essa a interpretação a conferir ao atual § 1o do art.17 da Constituição Federal? Ou, formulando a indagação de outro modo,teria a Emenda Constitucional n. 52, de 2006, modificado parcialmenteo art. 6o da Lei n. 9.504/1997 (reconhecendo-se, como se reconheceperfeitamente possível, revogação de norma infraconstitucional poremenda à Constituição)?

4.1 Interpret ação histórica aplicada ao tema presente

Poderiam as coligações formar-se de todo e qualquer modo, sematenção a nenhum parâmetro, ficando seu estabelecimento na depen-dência unicamente de eventuais conveniências de momento, na purae simples busca do poder, servindo a filiação partidária (e, a rigor, aprópria existência de partidos) unicamente como formal condição deelegibilidade, sem mais nenhum significado substancial?

Certamente não haverá de ser esta a melhor exegese do disposi-tivo constitucional aventado.

Vários são os métodos ou técnicas preconizados pela doutrina aolongo dos tempos para fazer a interpretação dos preceitos normativoscontidos em lei. Uma delas é conhecida como interpretação histórica.

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Baseia-se, segundo Diniz (2004, p. 431), “na averiguação dos an-tecedentes da norma”, referindo-se

ao histórico do processo legislativo, desde o projeto de lei, sua justifi-cativa ou exposição de motivos, emendas, aprovação e promulgação,ou às circunstâncias fáticas que a precederam e que lhe deram ori-gem, às causas ou necessidades que induziram o órgão a elaborá-la,ou seja, às condições culturais ou psicológicas sob as quais o preceitonormativo surgiu (occasio legis).

No dizer de Maximiliano (1979, p. 141), discorrendo acerca da mes-ma técnica ou método de interpretação,

Além do elemento histórico propriamente dito, constituído pelo Direitoanterior do qual o vigente é apenas um desdobramento, existe, sob amesma denominação geral, outro fator de exegese, que os autoresdesignam com as expressões – Materiais Legislativos ou TrabalhosPreparatórios. Esta espécie tem menos valor que a descrita anterior-mente, muito menos; entretanto, é invocada com freqüência maior noBrasil, sobretudo a respeito de leis recentes. Compreende anteproje-tos; os Projetos e as respectivas Exposições de motivos; Mensagensdirigidas pelo Executivo às Câmaras; memoriais e representações en-viadas ao Congresso; relatórios das comissões nomeadas pelo Go-verno; pareceres e votos em separado emitidos oralmente, ou por es-crito, no seio das comissões parlamentares, especiais ou permanen-tes; emendas aceitas ou rejeitadas; debates tribunícios em sessõesplenárias de cada um dos ramos do Poder Legislativo.

Ou ainda, como apontado por Bester (2005, p. 172), embora lem-brando também que, pela interpretação histórica, não se deve aprisio-nar o futuro ao passado, dito método ou técnica de interpretação “bus-ca o sentido da lei, os motivos que fundamentaram o seu surgimento,através do conhecimento dos trabalhos legislativos a ela preparatóri-os”, lembrando também que, em relação às Constituições (ousa-sedizer que vale o mesmo quando se trata de emendas constitucionais),“os anais constituintes devem obrigatoriamente ser consultados pelointérprete”, visando esse esforço retrospectivo “revelar a vontade his-tórica do legislador (mens legislatoris = vontade do legislador), não sóde suas intenções quando da edição da norma, como também con-templar a especulação sobre qual seria a sua vontade se estivesseciente das idéias e dos fatos contemporâneos”.

Por derradeiro, nas palavras de Machado Paupério (1969, p. 279),o método histórico de interpretação do preceito normativo “funda-sena chamada ocasio [sic] legis e procura atender sobretudo às concep-

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ções e à atmosfera sentimental e de interesses da época de promul-gação da lei”.

Todavia, como também foi lembrado pelo próprio Machado Paupério(1969, p. 279), não se trata, na interpretação histórica, apenas de bus-car elementos da occasio legis para compreender o significado de umpreceito normativo.

Isso foi apontado também por Engisch (1977, p. 177):

Não pode tratar-se [a interpretação histórica] apenas de investigar osurgir de um preceito a partir dos projectos e modelos contidos emoutras leis ou no Direito consuetudinário, nem tão-só de trazer à luz ascausas políticas, econômicas e ideológicas das disposições legais,nem ainda de simplesmente destacar a mais ou menos casual “occasiolegis”. Trata-se antes – para usar as palavras de Windscheid – “de,tendo em atenção todos os elementos dentro do nosso alcance, pene-trar o mais completamente possível no espírito do legislador” e, a maisdisso, tomar em linha de conta “a situação jurídica existente no mo-mento em que a lei foi editada, situação essa que é de se presumir olegislador teve presente”.

Para a compreensão do conteúdo do § 1o do art. 17 da Constitui-ção, com a redação que lhe foi conferida pela EC n. 52/2006, o ele-mento histórico, como desenhado acima, presta colaboração das maissignificativas. Não apenas na perspectiva da occasio legis, como tam-bém, principalmente, na comparação que se faça entre a norma ante-rior e o conteúdo que lhe foi conferido pelo TSE em tema de coligaçõespartidárias e o seu conteúdo atual. A análise dos dois elementos –conteúdo anterior do preceito, com o alcance que lhe foi conferido peloTSE, e trabalhos preparatórios (occasio legis) – será empreendida emconjunto, servindo como um primeiro elemento na busca da melhorcompreensão do dispositivo em apreço.

A Emenda Constitucional n. 52, embora aprovada apenas em 2006,resultou de um projeto já apresentado no ano de 2002. Tratou-se deproposta de emenda constitucional originada no Senado, tendo comoprimeiro de seus subscritores o senador Bernardo Cabral, e que naCâmara dos Deputados tomou posteriormente o número 548, de 2002.

Uma passada de olhos sobre alguns pronunciamentos de eminen-tes senadores, proferidos quando da decisão do TSE pela“verticalização” das coligações e, mais tarde, quando da discussão eda aprovação da PEC no Senado, já permitirá um vislumbre do propó-sito com o qual foi apresentada e, por isso mesmo, do alcance que sedeve atribuir à emenda constitucional que em tal proposta teve origem.

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A propósito dessas manifestações, cabe registrar, inclusive, que che-gou a ser apresentado no Senado Federal um projeto de decretolegislativo, sustando a resolução do Superior Tribunal de Justiça quehavia determinado a observância da “verticalização”.5

Referindo-se todos à decisão tomada pelo colendo Tribunal Supe-rior Eleitoral no ano de 2002, proclamando a assim denominada“verticalização das coligações” e pronunciando-se, em face do tema,alguns senadores a favor e outros em oposição à aprovação da PEC,tem-se um quadro que bem mostra o objetivo da proposta: afastar anecessidade da dita “verticalização”.6

Veja-se também a seguinte passagem do voto do eminente depu-tado Inaldo Leitão, relator da proposta de Emenda Constitucional n.548, de 2002, na Câmara dos Deputados, aonde foi ter após aprova-ção pelo Senado Federal e que finalmente viria a desaguar da Emen-da Constitucional n. 52, de 2006:

[...]

A proposta sob comento revela o propósito de fixar a melhor inteli-gência ao § 1o do art. 17 da Constituição Federal, espancando qual-quer dúvida quanto ao alcance da norma e restabelecendo a liberda-de e autonomia dos partidos políticos em face da discutível decisão

5 Assim, pronunciando-se da tribuna do Senado favoravelmente à aprovaçãoda emenda e, pois, contrariamente à “verticalização”, antes e depois darespectiva aprovação, os eminentes senadores Antonio Carlos Valadares(pronunciamento datado de 19 de abril de 2002), Roberto Requião(pronunciamento datado de 18 de março de 2002), Renan Calheiros(pronunciamento datado de 6 de março de 2002) e José Jorge(pronunciamentos datados de 26 de janeiro de 2006 e 8 de março de 2006,data da promulgação da Emenda Constitucional n. 52). Proferindomanifestações favoráveis à “verticalização”, os eminentes senadores CarlosPatrocínio (pronunciamento datado de 22 de março de 2002), Carlos Wilson(pronunciamento datado de 18 de março de 2002), Lúdio Coelho(pronunciamento datado de 26 de abril de 2002), Pedro Simon (pronunciamentodatado de 9 de junho de 2006) e Leonel Pavan (pronunciamento datado de 2de fevereiro de 2006). Já um pronunciamento do eminente senador Luiz Otávio,realizado da tribuna do Senado em 19 de abril de 2002, embora nãomanifestando opinião favorável ou contrária, dá conta também da polêmicacriada pela decisão do TSE nesse sentido.

6 Todos os pronunciamentos transcritos foram obtidos junto à página do SenadoFederal na Internet: http://www.senado.gov.br.

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do Tribunal Superior Eleitoral, que, através de resolução, impôs averticalização nas coligações partidárias nas eleições de 2002. [...]

Na mesma esteira, o parecer do eminente senador José Fogaça,acerca da Proposta de Emenda Constitucional n. 4, de 2002, que viriadepois a resultar na Emenda Constitucional n. 52/2006:

[...] De outra parte, quanto ao mérito, igualmente, manifestamo-nospela aprovação da presente Proposta de Emenda à Constituição. Efe-tivamente a Carta Magna, corretamente, exige dos partidos políticosque eles tenham caráter nacional. No entanto, partidos políticos comcaráter nacional são partidos com existência legal na maior parte doterritório brasileiro.

Trata-se de comando regulamentado pela Lei n. 9.096, de 19 de se-tembro de 1995, a Lei dos Partidos Políticos, cujo § 1o do art. 7o esta-belece que:

[...]

Apesar disso, está-se entendendo que a exigência do caráter nacionalconduz à verticalização das coligações eleitorais em todas as unida-des da Federação. Ora, supor que o caráter nacional dependa de co-ligações eleitorais é desconhecer o dinamismo histórico das questõessociais e políticas. A eleição é episódica, circunstancial.

Isto é, a exigência de caráter nacional se aplica aos partidos políticos,que são entidades perenes e devem, sempre, ter expressão nacional,para que sejam evitadas agremiações de natureza estritamente regio-nal, como foi típico durante a chamada República Velha. Essa regranão se aplica às coligações, que nada mais são do que alianças tem-porais entre os vários partidos políticos e que não têm estrutura per-manente.

Ao fim e ao cabo, essa verticalização leva a uma verdadeira ditaduradas cúpulas nacionais, a uma forma de intervenção nos órgãos esta-duais dos partidos políticos.

Ademais a própria Lei Eleitoral, a Lei 9.504, de 30 de setembro de1997, no seu art. 6o, contraria essa interpretação ao disciplinar exclu-sivamente as coligações dentro da mesma circunscrição, não tratan-do daquelas que sejam feitas em circunscrições diversas. Ocorre quea eleição presidencial é a única que ocorre em circunscrição nacional,enquanto as demais têm lugar em nível estadual, distrital ou munici-pal, conforme art. 86 do Código Eleitoral, a Lei no 4.737, de 15 de julhode 1965:

[...]

Ou seja, as circunscrições são legalmente distintas, logo não há comoestabelecer qualquer forma de vínculo entre as candidaturas respectivas.

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O princípio fundamental da Constituição é o da liberdade e autonomiados partidos políticos, quer dizer, o partido pode, mediante decisão emconvenção nacional, impor a verticalização, com efeito legal. Mas serásempre objeto de decisão autônoma do partido, nunca uma imposiçãoda lei.

Isso porque a decisão sobre com quem coligar e em que circunscriçãoestá afeta à autonomia dos partidos políticos, à sua ideologia. E so-mente os respectivos órgãos diretivos e os eleitores têm o direito defiscalizar a ideologia dos partidos políticos e sua coerência ideológica.Os primeiros deliberando sobre o tema e, no caso da direção nacional,intervindo nos diretórios regionais que descumprirem as diretrizes par-tidárias, e os segundos pelo voto.

Nenhum órgão estatal pode ser fiscal da ideologia ou da coerênciados partidos ou substituir os seus órgãos diretivos nas decisões quesó a eles cabem. A Constituição de 1988, em seu art. 17, deu aospartidos políticos a natureza de entidades de direito privado, com am-pla autonomia, e impor-lhes a vinculação das coligações atinge o cernedesse comando, na medida em que tenta ditar-lhes determinado com-portamento para obrigá-los a uma imaginada coerência ideológica.Trata-se, nesse ponto, de uma violência contra o Estado de Direito, ademocracia e a liberdade de opinião.

Assim, parece-nos que a presente proposta, indiscutivelmente, cami-nha no sentido de viabilizar o cumprimento do inciso V do art. 1o danossa Lei Maior, que erige como um dos fundamentos da RepúblicaFederativa do Brasil o pluralismo político. [...]

Não há dúvida, portanto, de que todo o debate travado em torno daPEC que resultou finalmente na EC n. 52/2006 teve por norte apoio ourepúdio à decisão acerca da “verticalização” das coligações, exigida porresoluções do TSE disciplinando escolha e registro de candidatos eformação de coligações para as eleições que tiveram lugar em 2002 e2006. Com toda certeza essa circunstância, inerente à occasio legisreferida pelos ilustres autores anteriormente citado, deve desempenharpapel de relevo na exegese do § 1o do art. 14 da Constituição, na reda-ção que lhe foi conferida por aquela emenda.

Tanto a evolução do preceito anterior (§ 1o do art. 17 da CF, na suaredação original) – com a interpretação que lhe conferiu o TSE nas duasresoluções anteriormente mencionadas – quanto, finalmente, pronun-ciamentos no âmbito do processo legislativo que resultaram na modi-ficação do texto do preceito, levam então a uma só conclusão: o únicoobjetivo da emenda constitucional foi deixar clara a inexigibilidade daverticalização das coligações.

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Disso se extrai então a conclusão de que a emenda em questão,com a modificação que trouxe para o § 1o do art. 17 da Constituição,não altera a exegese que se vinha fazendo do art. 6o da Lei n. 9.504/1997, no disciplinamento que faz das coligações partidárias. Desta sorte,especificamente em âmbito municipal, partidos que se acham coliga-dos para juntos concorrerem à eleição para os cargos de prefeito e vice-prefeito municipal, podem celebrar, para as eleições para os cargos devereador, as coligações que entendam convenientes. Não se afiguraviável, todavia, que partido estranho à coligação formada para a elei-ção majoritária municipal, venha a coligar-se com qualquer agremiçãopartidária que integre aquela coligação, para concorrerem juntos àseleições para os cargos de vereador.

4.2 Interpret ação teleológica aplicada ao tema presente

Além do argumento histórico, todavia, também a partir de uma pers-pectiva teleológica se pode chegar à mesma conclusão.

Pelo emprego da técnica teleológica de interpretação, busca-seestabelecer o significado da mensagem normativa contida no texto, apartir da descoberta do motivo pelo qual esse texto normativo foi apro-vado. Em outras palavras, busca-se a finalidade pela qual a norma foiinserida no ordenamento.

Resta saber, todavia, o que significa a finalidade pela qual a nor-ma foi inserida em dado ordenamento jurídico.

Com todo e qualquer texto normativo se procura disciplinar fatos,à luz de valores (como bem posto por Miguel Reale – o Direito é fato,valor e norma).

Assim, para descobrir o significado de um dado texto normativo, oque significa descobrir também o universo dos fatos aos quais a nor-ma pode ser aplicada, é necessário que se identifique com precisãoqual o valor que se procurou proteger pela sua inclusão no ordena-mento.

Dessa sorte, para além da simples busca da compreensão do sig-nificado do texto normativo com emprego do método gramatical ouliteral, é da essência da interpretação que, para se saber qual é estesignificado, se compreenda também, claramente, qual o valor que anorma procura proteger.

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Nas palavras de Maximiliano (1979, p. 151), discorrendo acercada técnica teleológica de interpretação da lei e mostrando inclusiveque este pensamento acerca da necessidade de buscar o propósitocom o qual o texto normativo foi editado não é recente:

Segundo os Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1772, desco-brem-se o sentido e o alcance de uma regra de Direito, com examinaras circunstâncias e os sucessos históricos que contribuíram para amesma, e perquirir qual seja o fim do negócio de que se ocupa o texto;põem-se em contribuição, portanto, os dois elementos – a Occasiolegis e a Ratio legis. Conclui o repositório de ensinamentos jurídicos:“este é o único e verdadeiro modo de acertar com a genuína razão dalei, de cujo descobrimento depende inteiramente a compreensão doverdadeiro espírito dela”.

E acrescenta mais à frente o notável autor e ex-ministro do Supre-mo Tribunal Federal (1979, p. 151-152):

Considera-se o Direito como uma ciência primariamente normativa oufinalística; por isso mesmo a sua interpretação há de ser, na essência,teleológica. O hermeneuta sempre terá em vista o fim da lei, o resulta-do que a mesma precisa atingir em sua atuação prática. A norma enfeixaum conjunto de providências protetoras, julgadas necessárias parasatisfazer a certas exigências econômicas e sociais; será interpretadade modo que melhor corresponda àquela finalidade e assegure plena-mente a tutela de interesse para a qual foi regida.

Convém, inclusive, que o método histórico e o teleológico sejam em-pregados em conjunto. Daí a observação de Bonavides (2004, p. 446):

Seu emprego insulado [o do método histórico] serviria ao historiador,não ao jurista; esclareceria negócios jurídicos, não leis. Daqui a ne-cessidade de associá-lo ou vinculá-lo intimamente ao elementoteleológico, que indaga acerca do fim especial da norma, que só sealcança talvez mediante aquele mergulho preconizado por Windscheid,ou seja, quando o intérprete, “debaixo da consideração de todos osmomentos acessíveis, se imagina da forma mais plena possível naalma do legislador [...]”.

Agora, para que se chegue a melhor compreensão do motivo peloqual existe na Lei n. 9.504/1997 o seu art. 6o, disciplinando a formaçãodas coligações como o faz, e, em consequência, para que a partir des-se motivo se possa também evidenciar não haver a exegese daqueledispositivo sido alterada pela Emenda Constitucional n. 52/2006, é in-teressante que se busque, primeiro, uma definição, ainda que breve,do significado dos próprios partidos políticos.

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A propósito da teoria filosófico-jurídica dos partidos políticos, seráneste passo muito útil o recurso ao ensinamento de Radbruch (1979,p. 139-141), apresentado nos seguintes termos:

1. Vamos tratar agora das diferentes concepções partidárias, isto é,das diferentes ideologias de partido. Poderá dizer-se contra nós, tal-vez, que, focando as ideologias dos partidos políticos, não focamosafinal estes pelo seu lado essencial. Poderá dizer-se que na vida de-les só o interesse partidário é uma realidade e que as suas ideologiasnão passam dum simples pretexto ou fachada, embora por vezes bela,para encobrir esse interesse.

Aceitemos por um momento que assim seja e admitamos que um par-tido político não tenha de facto outro fundamento além dos simplesinteresses políticos, sem a intervenção de quaisquer idéias desinte-ressadas. Mesmo assim – note-se – esse partido não poderia, porvirtude duma necessidade de natureza sociológica, deixar de criar ime-diatamente uma ideologia ou, pelo menos, de apresentar como inte-resse de toda a colectividade o seu próprio interesse. Uma semelhan-te ideologia partidária não seria, certamente, neste caso – a princípio,pelo menos – mais que um “véu diáfano da fantasia” para um partidoencobrir com ele a “nudez forte” dos seus interesses materiais. É con-veniente, porém, notar que, mesmo na hipótese de isto ser assim e aprincípio, também por uma invencível necessidade sociológica das coi-sas, uma tal ideologia de fachada não tardará em ser alguma coisamais do que isso. Com efeito, a ideologia dum partido não é somenteum elemento de luta contra os seus adversários; é também um instru-mento de captação para a conquista de novos adeptos. Em torno donúcleo central que representa inicialmente o partido, no aspecto dosseus interesses materiais, não tardarão em se agrupar novos elemen-tos, novos correligionários, cuja adesão será determinada, não sim-plesmente pelo interesse, mas pelas idéias apregoadas oficialmentepor esse mesmo partido. Estes elementos serão assim quem passaráa exigir a realização coerente e completa dessas idéias, mesmo à cus-ta dos interesses iniciais do partido, e quem irá prender doravanteeste às mesmas ideais que começaram por os trazer para dentro dele.

Além disso, ainda duma outra maneira a ideologia dum partido trans-borda para fora do quadro dos seus interesses materiais. É sabidoque os exércitos da luta política têm também necessidade de estendero mais possível a sua linha de frente ideal, a fim de evitar a surpresade serem envolvidos. A constante luta entre eles obriga-os necessari-amente a terem uma solução programática para todos os problemasda vida pública, inclusive para aqueles que pouco ou nada têm quever com os seus interesses originários. Assim se explica que, por fim,os partidos políticos venham, muitas vezes, a incluir nos seus progra-mas um número cada vez maior de exigências e reclamações que se

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acham ideologicamente determinadas pela idéia, embora não sociolo-gicamente condicionadas pelos interesses.

É sabido também que no momento em que um interesse material invocauma idéia espiritual, esse interesse entrega-se completamente nas mãosdessa idéia e à lógica desta, a qual continuará a desenrolar-se segundoas suas leis próprias e, muitas vezes, até contra o próprio interesse que atinha invocado para fazer dela um instrumento ao seu serviço.

Na verdade, se é sempre possível invocar livremente espíritos e fan-tasmas, o que nem sempre é fácil é mandá-los embora e libertarmo-nos deles ao sabor da nossa vontade. Os interesses não podem utili-zar as idéias sem, por seu turno, lhes pagarem largo tributo e se colo-carem também ao seu serviço. Os interesses tornam-se deste modotambém, sem o saberem, veículos das ideais. Chamava a isto Hegelas “astúcias da razão” que fazem com que, mesmo contra a sua von-tade, os interesses tenham freqüentemente de servir as idéias.

De certa forma, vai no mesmo rumo o ensinamento de Kelsen (1992,p. 287), acerca ao menos da origem dos partidos:

a. O partido político. Em uma democracia parlamentar, o indivíduo iso-lado tem pouca influência sobre a criação dos órgãos legislativos eexecutivos. Para obter influência, ele tem de se associar a outros quecompartilhem as suas opiniões políticas. Desse modo, surgem os par-tidos políticos. Em uma democracia parlamentar, o partido político éum veículo essencial para a formação da vontade pública. O princípiode maioria, essencial à democracia, pode funcionar apenas se aintegração política resultar em um grupo que compreende mais dametade dos votantes. Se nenhum partido político alcança a maioriaabsoluta, dois ou vários deles têm de cooperar.

Fácil ver, portanto, que na raiz da idéia de partido está a de ideolo-gia. Disso decorre a principal função dos partidos políticos. Devem serveículos pelos quais as diferentes correntes de opinião pública acercadas linhas gerais da condução dos assuntos de Estado se organizam,fazendo-se ouvir, na proporção dos votos obtidos, nos parlamentos paraos quais integrantes seus sejam eleitos. Não importa, inclusive, nesteponto, uma vez que inexiste diferença de essência, se o sistema degoverno é parlamentarista ou presidencialista. A distinção é, aí, apenasde grau, na medida em que, no primeiro sistema, da maioria parlamen-tar é que será haurido o governo (capitaneado pelo primeiro ministro,chanceler, ou qualquer outra denominação que se lhe reserve). Tal,porém, não afasta a necessidade de que os partidos representem or-ganizações que se façam porta-vozes do pensamento geral comum dosseus integrantes. No dizer de Ferreira Filho (2005, p. 87-88), “os parti-dos políticos são, atualmente, o canal oficial por que se exprime a opi-

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nião pública, melhor dizendo, as diversas correntes de opinião”, embo-ra tenha o autor mostrado também a enorme influência que osabrangentes meios de comunicação social contemporâneos exercemna conformação desta opinião pública.

Ou ainda, como lembrado por Silva (2004, p. 400),

a doutrina, em geral, admite que os partidos têm por função fundamen-tal organizar a vontade popular e exprimi-la na busca do poder, visandoa aplicação de seu programa de governo. Por isso, todo partido políticodeveria estruturar-se à vista de uma ideologia definida e com um pro-grama de ação destinado à satisfação dos interesses do povo.

Daí a definição de Ribeiro (1976, p. 203): “o partido político é umgrupo social de relevante amplitude destinado à arregimentação cole-tiva, em torno de idéias e de interesses, para levar seus membros acompartilharem do poder decisório nas instâncias governativas”. Ao quese poderia acrescentar que a mera prevalência dos interesses, volta-dos pura e simplesmente para a conquista do poder, sem o influxo dasidéias, cuja implementação haverá de ser por esse exercício alcançada,desnatura os partidos e os torna meros aglomerados de pessoas quedesejam exercer poder, mas, não podendo fazê-lo senão por meio dospartidos, agregam-se a este ou àquele, conforme a conveniência domomento, não havendo entre elas liame mais forte que o da momentâ-nea colaboração, que se mostrou, ao menos em tese, capaz de condu-zir a todos ao poder.

Partidos com tal conformação são extremamente frágeis. Não háelemento mais forte que prenda seus integrantes, senão a conveniên-cia da conquista e do exercício do poder. Ao menor flutuar dessa con-veniência (que pode, inclusive, flutuar muito), alteram-se as lealdadese composições partidárias. Daí para o governo de pessoas e não deidéias tem-se um passo. Ademais, fica o eleitor sem qualquer critérioseguro e válido pelo qual possa mesmo guiar-se no momento de deci-dir a quem atribuir o sufrágio.

Certo serem os partidos, também, organizações por intermédio dasquais os cidadãos se congregam na busca do exercício do poder noâmbito dos diversos organismos do Estado cujos integrantes sejameleitos. Nem por isso, todavia, como foi lembrado por Radbruch, a ideo-logia deixa de existir ou de desempenhar um papel.

Supondo então que os partidos não sejam meros aglomerados for-tuitos (vale dizer, de composição meramente casual), que se formamcom o único propósito de que alguns, que se sobressaiam em face dosdemais, possam galgar os postos que lhes permitam o exercício do

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poder, mas, sim, que cada partido se distinga dos demais por traçosespecíficos, ainda quando possam ter e, freqüentemente, na práticatenham pontos de pensamento político em comum, então as coligaçõespartidárias devem refletir o que de comum haja no pensamento dospartidos que nela se reúnem, não se limitando a formar um aglomera-do heterogêneo vincado pelo único propósito de que os seus integran-tes tenham facilitada a pura e simples conquista do poder.

Essa é a razão de ser do preceito contido no art. 6o da Lei n. 9.504/1997: as coligações devem refletir homogeneidade de pensamento, nãose permitindo que partido estranho à coligação formada na circunscri-ção para a eleição majoritária (o que leva a concluir que afinidade comos partidos que a integram na verdade não existe) forme coligação compartidos que fazem parte daquela aliança.

Como dita razão de ser persiste atual, tem-se que a Emenda Cons-titucional n. 52 nada altera na interpretação do art. 6o da Lei n. 9.504/1997.

Naturalmente que esse raciocínio serviria também de suporte para oreconhecimento de que a “verticalização” das coligações era o caminhocorreto. Esse, porém, é tema que, além de resolvido em âmbito consti-tucional pela Emenda n. 52/2006, não é o que norteia este trabalho.

Aqui, somente se buscava demonstrar, e se acredita ter consegui-do, que a Emenda Constitucional n. 52, de 2006, não modificou aexegese do art. 6o da Lei n. 9.504/1997, que até a sua vigência vinhasendo feita, o qual continua merecendo o mesmo entendimento queantes lhe era conferido.

Aliás, nesse sentido cabe noticiar inclusive que o colendo TribunalSuperior Eleitoral, nas instruções expedidas para a escolha e registrode candidatos para as eleições de 2008, que constam da Resolução n.22.717, de 28 de fevereiro de 2008, em seu art. 3o reiterou o contido noart. 6o da Lei n. 9.504/1997, adaptando apenas a redação às peculiari-dades da eleição municipal. Assim:

Art. 3o É facultado aos partidos políticos, dentro do mesmo município,celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, ou paraambas, podendo, neste último caso, formar-se mais de uma coligaçãopara a eleição proporcional entre os partidos políticos que integram acoligação para o pleito majoritário (Lei n. 9.504/1997, art. 6o, caput;Resolução n. 20.121, de 12.3.1998).

5 Referências bibliográficas

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BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Pau-lo: Malheiros, 2004.

DECOMAIN, Pedro Roberto. Eleições (comentários à Lei n. 9.504/1997).2. ed. São Paulo: Dialética, 2004.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. Tradução de J.Baptista Machado. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.

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KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. Tradução de LuísCarlos Borges. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito. 9. ed. Riode Janeiro: Forense, 1979.

PAUPÉRIO, A. Machado. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-ro: Forense, 1969.

RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. Tradução de L. Cabral deMoncada. 6. ed. Coimbra: Armênio Amado – Editor, sucessor, 1979.

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TSE. Resolução n. 21.002, Consulta n. 715-DF, Classe 5a, Rel. Min.Garcia Vieira, DJU, Seção 1, 15.3.2002, p. 183).

______. Resolução n. 21.045, Consulta n. 758, Classe 5a, DF, Rel. Min.Fernando Neves, DJU, Seção 1, 19.4.2002, p. 192; TSE. Resolução n.21.046, Consulta n. 759, Classe 5a, DF, Rel. Min. Fernando Neves, DJU,Seção 1, 19.4.2002, p. 192; TSE. Resolução n. 21.047, Consulta n. 760,Classe 5a, SP, Rel. Min. Fernando Neves, DJU, Seção 1, 19.4.2002, p.192; TSE. Resolução n. 21.048, Consulta n. 762, Classe 5a, DF, Rel. Min.Fernando Neves, DJU, Seção 1, 19.4.2002, p. 192; TSE. Resolução n.21.049, Consulta n. 766, Classe 5a, SP, Rel. Min. Fernando Neves, DJU,Seção 1, 19.4.2002, p. 193.

______. Resolução n. 21.121. Consulta n. 358-DF, Rel. Min. Néri daSilveira. DJU, Seção 1, 16.4.1998, p. 76.

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A INTRODUÇÃO DAS ELEIÇÕES BIOMÉTRICAS NO BRASIL

Gustavo Mormesso de Abreu *

1 INTRODUÇÃO. 2 BIOMETRIA. 2.1 AS IMPRESSÕES DIGITAIS.2.2 APLICAÇÕES GOVERNAMENTAIS. 3 O EMPREGO DABIOMETRIA NO PROCESSO ELEITORAL. 4 A ELEIÇÃO BIOMÉTRICABRASILEIRA. 4.1 AS CIDADES. 4.2 OS PROCEDIMENTOS. 4.3 AHORA DO VOTO. 4.4 AS NOVAS URNAS BIOMÉTRICAS. 5 CONCLU-SÃO. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

O tema eleitoral por certo não é novo em terras verde-amarelas.Desde a época colonial, quando representantes dos Conselhos Muni-cipais eram eleitos por uma restrita parcela da população das vilas edas cidades, até os dias de hoje, em que eleitores de todo o país livre-mente escolhem seus representantes para os principais postos do po-der, muita coisa mudou.

Nesse começo de século, distante pouco mais de vinte anos doprocesso de redemocratização no País, pouco se duvida da legitimida-de do processo eleitoral brasileiro. As fraudes foram eliminadas ousignificantemente reduzidas; o sufrágio passou a ser universal; seueleitorado, hoje, constitui o terceiro maior do globo; e a tecnologia, porfim, estabeleceu critérios de segurança e celeridade nunca antes vis-tos (NICOLAU, 2002).

A introdução da urna eletrônica, utilizada pela primeira vez no anode 1996, representou revolucionário e precursor avanço no processoeleitoral, incrementando sua segurança, facilitando ao eleitor o voto eacelerando de maneira notável o processo de apuração.

As circunstâncias atuais indicam o prenúncio do que pode vir aconstituir novo marco na história eleitoral brasileira. E é novamente atecnologia que, movida pelo ritmo exponencial de seu avanço, apre-senta aos cidadãos do presente as eleições do futuro. Nesta nova eta-pa da história da Justiça Eleitoral brasileira, a novidade atende por umnome: biometria.

* Analista Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul ePós-Graduando em Direito Público.

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2 Biometria

Biometria é a designação técnica atribuída ao ramo da ciência quepermite estabelecer a identidade de um indivíduo através de seus atri-butos físicos, químicos ou comportamentais (JAIN, FLYNN & ROSS,2007). Impressões digitais, características faciais, reconhecimento deíris, verificação de assinatura e reconhecimento de voz são apenasalguns dos muitos exemplos de características hoje utilizadas nosmodernos procedimentos de identificação.

A utilização de sistemas biométricos é consideravelmente mais pre-cisa do que os métodos tradicionais – senhas de acesso e cartõespessoais –, além de muito mais conveniente. Seu usuário não neces-sita portar nenhum instrumento nem depende de sua memória. Alémdo mais, o método tem se tornado cada vez mais aceito e barato (JAIN,FLYNN & ROSS, 2007).

Seu emprego é heterogêneo e abrangente. Procedimentosbiométricos de identificação são hoje utilizados internacionalmente emáreas bastante diversas, como aeroportos, prédios governamentais,documentos de identificação, computadores portáteis e até mesmoacademias de ginástica ou supermercados (BROWN, 2006).

Considera-se que um bom sistema biométrico é aquele capaz denão apenas permitir o uso por pessoas autorizadas, mas também de-tectar e impedir com eficácia tentativas de burlá-lo por meio detecnologia ou amostras artificiais (RATHA & GOVINDARAJU, 2007).

2.1 As impressões digit ais

Impressão digital é o nome dado ao padrão formado por pequenaselevações na pele, denominadas papilas, originado por uma combina-ção de fatores genéticos e ambientais. O DNA fornece instruções paraque o desenvolvimento da pele no feto e fatores aleatórios, como asua posição no útero e a composição e densidade do líquido amniótico,garantam o caráter totalmente único ao seu formato (JAIN, FLYNN &ROSS, 2007).

O reconhecimento através de impressões digitais é um dos méto-dos mais conhecidos e empregados entre as tecnologias biométricas.Utilizado nos mais diversos ramos, do entretenimento ao governa-mental, está disponível comercialmente no mercado internacionaldesde o começo da década de 1970. Hoje, só nos Estados Unidos,

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há mais de 121 empresas de reconhecimento por impressões digitais(VACCA, 2007).

Há um número considerável de técnicas próprias para a captura deuma impressão. Métodos óticos, térmicos, ultra-sônicos e porradiofreqüência são empregados, cada qual com suas particularidades,vantagens e deficiências (RATHA & GOVINDARAJU, 2007).

2.2 Aplicações governament ais

Governos de todo o mundo já iniciaram a implantação da biometriaem procedimentos de segurança e identificação positiva através de umavasta gama de programas, em sua maioria relacionados a documen-tos de identificação (RATHA & GOVINDARAJU, 2007).

Presentes em emissões de visto, controles de fronteira, carteiras dehabilitação, acesso a áreas seguras, o uso da tecnologia solidifica-se acada ano. Ainda controverso e bastante debatido, sobretudo na Euro-pa, o desafio atual dos programas biométricos governamentais consis-te em balancear a privacidade da população e a segurança da docu-mentação (Ibid.).

Conforme a população aumenta, identificar os cidadãos e prevenirque ocorram fraudes em eleições locais e nacionais – a coleta de im-pressões digitais é particularmente forte nessa área – tem sido tarefaconferida à biometria (ZHANG, 2002).

No Brasil, o governo vem utilizando, desde o final de 2006, atecnologia de coleta de impressões digitais em seu novo modelo depassaporte, implantado em algumas capitais do país, conforme diretri-zes e normas internacionais estabelecidas pela International CivilAviation Organization (ICAO).

3 O emprego da biometria no processo eleitoral

No intuito de aumentar a segurança que envolve o processo eleito-ral e garantir a almejada máxima “um eleitor, um voto”, muitos paísesdo mundo têm apresentado importantes inovações na elaboração dosdocumentos eleitorais e nos procedimentos de votação.

Desde o início do séc. XXI, tecnologias biométricas vêm sendointroduzidas, em caráter experimental, em eleições nos cinco conti-nentes. Dentre as técnicas utilizadas, tem especial destaque a impres-são digital, uma das mais difundidas e, por isso mesmo, econômicas.

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A primeira experiência documentada nesse sentido ocorreu naRepública Islâmica da Mauritânia, país africano situado no extremooeste do continente, próximo ao arquipélago de Cabo Verde.

Na eleição legislativa de outubro de 2001, um cartão de identifica-ção com amostra da impressão digital, baseado em tecnologia providapor uma empresa francesa, foi implantado pelo governo local, que criouum banco de dados biométricos de toda a sua população. Através deum terminal portátil a digital do eleitor era validada mediante compara-ção com a previamente colhida, possibilitando o voto (KABLENET, 2002;Computer Business Review, 2002).

No ano de 2002, como parte do projeto europeu de voto eletrônicoE-Poll, financiado pela Comissão Européia, a prefeitura de Mérignac,comuna francesa e maior subúrbio de Bordeaux, situada na regiãoadministrativa da Aquitânia, decidiu experimentar, dentro de um de seusescritórios, um dispositivo de voto que utilizaria dados biométricos. Oprocedimento, implantado a título de pesquisa, deu-se nas eleiçõespresidenciais e legislativas de primavera e contou com o auxílio deeleitores voluntários (GUERRIER & CORNELIE, 2005; FRANÇA, Deli-beração n. 2-015, 2002).

A identificação e a liberação do voto eram feitas, ambas, pelo con-fronto da impressão digital do eleitor, através da leitura computadorizadados padrões impressos no dedo indicador. A comprovação da votaçãoficava automaticamente registrada no documento eletrônico portadopelo cidadão.

Em 2004, no México, foi assinado um contrato entre o Instituto Fede-ral Electoral (IFE), responsável pelo sistema eleitoral no país, e a empre-sa Digimarc Corporation, com o fim de produzir e fornecer documentosde identificação eleitoral seguros ao seus cidadãos (DIGIMARC, 2007).

O novo título eleitoral mexicano, além de uma série de medidas de se-gurança, é dotado de informações biométricas – no caso, impressões di-gitais. Uma lista com as fotos de todos os eleitores e a marcação com tintaindelével no dedo polegar dos votantes são outras estratégias adotadaspelo governo na consecução do objetivo referido (LA TIMES, 2006).

A mesma Digimarc foi designada para a realização das eleições de2006 no Haiti, o primeiro pleito democrático realizado desde a sua in-dependência. O contrato, assinado pelo Provicional Electoral Councildo país, permitiu o fornecimento de quatro milhões de títulos eleitorais“seguros”, documentos que, após o pleito, tornaram-se as comprova-ções oficiais de identificação nacional.

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O documento eleitoral haitiano incluiu uma foto digital, a assinaturado eleitor, o endereço e informações de suas impressões digitais, alémde outros instrumentais de segurança (SCHIMIDT, 2005; DIGIMARC,2007).

Na América do Sul, experiência eleitoral pioneira teve vez naVenezuela, que, além de adotar um sistema touch screen desde 2002,implantou a biometria nas eleições de seus prefeitos e governadores,em 2004, e nas das assembléias, nacional e municipais, em 2005.

Ainda em vigor, a validação pela impressão digital é associada, nopaís, a outros métodos de segurança, como a assinatura e a marcaçãodo dedo mínimo do votante com tinta indelével.

No continente asiático, o governo de Bangladesh, jovem repúblicaparlamentar situada entre a Índia e Burma, contratou a empresa Tiger ITpara o cadastramento biométrico de seus eleitores visando às eleiçõesparlamentares de 2008, a ocorrer em dezembro, que utilizará pioneira-mente o reconhecimento facial (SECURITY PRODUCTS, 2007).

Nos últimos anos, uma série de países africanos têm implantadoprojetos biométricos experimentais no âmbito eleitoral. É o caso daZâmbia, cujas eleições presidenciais e parlamentares de 2006 empre-garam a validação da impressão digital do polegar direito(FINDBIOMETRICS, 2006); do Sénegal, que utilizou título eleitoral comfotografia e código de barras com a digital nas eleições presidenciaisde 2007 (InternetActu, 2007); da Nigéria, que implantou a biometriapor impressão digital no pleito de 2007 (Eyenetwatch.com); e da GuinéaConacri, que prevê a utilização da fotografia e da impressão digital deseus eleitores nas eleições presidenciais de 2008.

4 A eleição biométrica brasileira

O ano de 2008 representou um largo passo capaz de colocar nova-mente o Brasil na vanguarda tecnológica dos processos eleitorais detodo o mundo. Pela primeira vez na história do País, a integral popula-ção de três municípios foi autorizada a votar mediante a confirmaçãoeletrônica de suas impressões digitais.

O objetivo da Justiça Eleitoral com a introdução do novo sistema,cuja implantação se pretende estender ao longo das próximas elei-ções, é tornar o processo democrático ainda mais seguro, excluindoqualquer possibilidade de uma pessoa votar em lugar de outra. Acredi-ta-se, também, que o procedimento possa contribuir significativamen-

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te para a redução das revisões eleitorais, que consomem do orçamen-to público cerca de R$ 2 milhões a cada ano (TSE, 2008).

A utilização da biometria nas eleições é prevista no país desde o anode 2005, quando o ministro Carlos Velloso, então presidente da supre-ma corte eleitoral, manifestou-se sobre a implantação de título eleitoralcom retrato, impressão digital e CPF (PEREIRA, 2005).

O procedimento inovador foi autorizado pelo Tribunal Superior Elei-toral e inicialmente regulamentado pela Resolução TSE n. 22.688/2008.Nessa primeira etapa, foram experimentalmente selecionadas três ci-dades, situadas em diferentes regiões do País, que atendiam aos cri-térios previamente estabelecidos.

4.1 As cidades

A escolha dos municípios participantes para realizar as eleiçõesbiométricas no ano de 2008 teve como base seis fatores: que fossemsede de zona eleitoral; que tivessem um número aproximado a 16.000eleitores; que estivessem próximos às capitais dos estados; que esti-vessem na iminência de passar por um processo de revisão do eleito-rado; que atendessem a variabilidade necessária aos testes; e querepresentassem diferentes regiões do país (TSE, 2008).

Atestando a existência de cada um desses requisitos, três cidadesforam destacadas à missão: São João Batista, em Santa Catarina;Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul, e Colorado d’Oeste, emRondônia. Tais municípios, apesar de apresentarem dimensões e ca-racterísticas similares, contam com significativas diferençaspopulacionais, necessárias à variabilidade pretendida.

São João Batista, cidade catarinense de 22.089 habitantes e 14.100eleitores, possuía, na época da revisão, quase metade de sua popula-ção na faixa dos 25 a 44 anos. A escolaridade predominante era baixa– pouco mais da metade não sabe ler ou não concluiu o ensino funda-mental – e apenas 1,5% da população tinha ensino superior completo.

A cidade agrícola de Fátima do Sul, por sua vez, constituída por18.789 habitantes, caracterizava-se pela baixa parcela de adolescen-tes entre seus 13.877 eleitores. Das escolhidas, levou vantagem emrelação ao número de votantes com nível superior completo: 516, ouquase 35% de seu total.

Já Colorado d’Oeste foi, dentre os citados, o município que apre-sentou o mais baixo índice de escolaridade. Com 11.834 eleitores, os

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analfabetos representavam 11,04% de seus 17.644 habitantes, índicetrês vezes superior ao do município catarinense.

Estima-se que a tecnologia biométrica se estenda a novos e dife-rentes municípios, podendo, de acordo com o pronunciamento do mi-nistro Carlos Ayres Britto, chegar a atingir 4 milhões de eleitores naseleições de 2010 (JB ONLINE, 2009).

4.2 Os procedimentos

Objetivando o aperfeiçoamento das estratégias de segurança queenvolvem o processo eleitoral, a Justiça Eleitoral do Brasil utiliza-se,em suas eleições biométricas, de dois instrumentos: a coleta e utiliza-ção das impressões digitais e da fotografia de seus votantes.

Durante o necessário recadastramento, o eleitor, convocado para oprocesso de revisão eleitoral, é recebido por um servidor da Justiçamunido de uma série de equipamentos, apelidados de Kit Bio. O con-junto, cada qual adquirido por R$ 13.500,00 através de processolicitatório bastante concorrido, é constituído por uma maleta e uma pastagrande, onde são armazenados um computador portátil, uma câmeradigital, um scanner e um mini-estúdio fotográfico com assento (TSE,2008; TV CULTURA, 2008).

O processo inicia-se da maneira de uma revisão habitual, atravésda atualização de todos os dados cadastrais – documentos, endereço,nível de escolaridade, etc. Em seguida é tirada uma fotografia do elei-tor, que é armazenada nos servidores do TSE e incorporada aos da-dos recém-colhidos ou atualizados.

Um programa de computador automaticamente corrige os erros deposicionamento, foco e iluminação das fotos, fazendo com que asmesmas possam ser capturadas de maneira rápida, prática e sem queo serventuário necessite passar por treinamento específico.

Logo em seguida é feita a coleta das impressões digitais. Com oauxílio de um scanner de alta definição, os padrões de todos os dezdedos são digitalmente armazenados, registrando-se também as even-tuais situações especiais – amputação, síndromes, e quaisquer outrascausas que impeçam o sucesso da coleta.

O procedimento de captura datiloscópica é consideravelmente si-milar ao realizado pela Polícia Federal quando da elaboração dos no-vos passaportes brasileiros. Tal experiência motivou, quando do expe-

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rimento piloto realizado em 2008, o estabelecimento de uma coopera-ção técnica entre o Tribunal Superior Eleitoral e o Ministério da Justiça,possibilitando a participação de 60 papilocopistas do Instituto Nacionalde Identificação no auxílio aos trabalhos de revisão eleitoral realizadosnos três municípios participantes.

4.3 A hora do voto

As novas medidas tecnológicas também importam mudanças nomomento do sufrágio, alterando a já conhecida rotina de eleitores eagentes convocados ao trabalho eleitoral.

Uma das grandes novidades é a inserção da fotografia do eleitor,que passa a constar nos cadernos de votação e pode ser consultadapelos mesários como mais um instrumento de identificação, além daapresentação do documento eleitoral e a confrontação digital.

Tendo em vista que, atualmente, a qualquer eleitor é permitido vo-tar mediante a mera apresentação do título, documento destituído deregistro fotográfico, autoridades eleitorais acreditam que essa simplesmedida configura importante incremento na segurança do pleito, pre-venindo falsificações ou votos-fantasmas (TSE, 2008).

No momento de votação, o eleitor continua a dirigir-se à sessãomunido obrigatoriamente de documento oficial. Após a apresentaçãodo título e a assinatura do caderno de votação, tem-se a liberação daurna para votação, que se dá não mais através de procedimento exe-cutado pelo mesário, mas pela própria impressão digital do eleitor.

Após a inserção do dedo indicador no scanner acoplado à urna, umsoftware faz a comparação entre seus padrões datiloscópicos e aque-les registrados em seu banco de dados. Com a identificação positiva,o eleitor é reconhecido e habilitado a votar.

4.4 As novas urnas biométricas

Para a implantação do novo sistema, o Tribunal Superior Eleitoraladquiriu, no ano de 2007, vinte e cinco mil urnas originais de fábrica,ao custo unitário de US$ 890,00. Cada uma delas possui um scannerpara identificação digital, que será utilizado para a autenticaçãobiométrica do eleitor (TSE, 2008).

Concebido pela equipe de engenharia do Tribunal Superior Eleito-ral, o novo modelo foi fabricado em parceria com a contratada Diebold

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Inc, empresa americana de quem o tribunal usualmente compra osaparelhos (JB ONLINE, 2008).

Caso o modelo biométrico passe a vigorar em caráter definitivo, asurnas antigas, para adequar-se ao sistema, não necessitarão substi-tuição. Será possível atualizá-las mediante acoplamento de uma uni-dade de leitor biométrico e o respectivo software de leitura de digitais,que custam, em média, cerca de quinze dólares (TSE, 2008).

As novas urnas operaram nas eleições de 2008 com mais umacomemorada inovação: em lugar de seu sistema operacional VirtuOs,desenvolvido pela Microbase, e do Windows CE, utilizado em algunsmodelos, todas elas passaram a funcionar com o sistema Linux, gra-tuito e de código aberto. Além de aprimorar a segurança dos dados egerar considerável economia para os cofres públicos, tal transição vi-sou o pleno atendimento da legislação brasileira, que determina o usode tecnologia não proprietária em áreas críticas (ZMOGINSKI, 2008).

Nas eleições municipais de outubro de 2008, início oficial do proce-dimento biométrico em território nacional, trinta unidades foram utiliza-das em cada um dos três municípios selecionados (TSE, 2008).

5. Conclusão

Mais uma vez a Justiça Eleitoral brasileira, assumindo o carátervanguardista que lhe é peculiar, e atenta às complexas necessidadesque envolvem os procedimentos de segurança de informação, inova namaneira de conduzir e sedimentar a democracia no país.

Assim como se deu na introdução da eleição digital em décadapassada, holofotes internacionais mais uma vez direcionaram seusfocos à República do Brasil. Em apenas alguns meses, representantesde mais de vinte países vieram conhecer o novo modelo de votação.Alguns Estados, como México e Paraguai, já negociam com o governobrasileiro possível transferência de tecnologia ou doação de materiais(ÚLTIMO SEGUNDO, 2008).

O sucesso da empreitada, apesar de provável, figura incerto, a de-pender de uma rede complexa de variáveis, tais como vontade políticae disponibilidade orçamentária.

O emprego de tecnologias biométricas por esferas governamentais,apesar de não representar unanimidade e ser encarado com ressalvapor parcela significativa das populações, dá-se, no âmbito internacio-nal, de modo cada vez mais freqüente.

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Na área eleitoral, iniciativas experimentais já foram propostas porquase uma dezena de nações. É imperativo que, nesse momento his-tórico, seus resultados sejam estudados com verdadeira atenção eesforços sejam direcionados – pela administração pública, academia,indústria e imprensa – para a busca conjunta do pretendido equilíbrioentre o respeito à privacidade dos indivíduos e a segurança que asnovas tecnologias podem oferecer aos cidadãos.

Feitas as considerações, uma certeza se destaca: nas eleições oufora delas, a biometria veio para ficar.

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ARGÜIÇÃO JUDICIAL DA AUSÊNCIA DEDESINCOMPATIBILIZAÇÃO DE

SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAISAnálise à luz das eleições municip ais

Carlos V alério Gerber W ietzikoski*

1 INTRODUÇÃO. 2 INELEGIBILIDADE. 3 INCOMPATIBILIDADE EDESINCOMPATIBILIZAÇÃO. 4 CARACTERIZAÇÃO E DESINCOM-PATIBILIZAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS. 5 DOS PRAZOS PARADESINCOMPATIBILIZAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS MUNICI-PAIS. 6 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA(AIRC). 7 RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA (RCED).8 CONCLUSÃO. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

Este artigo versa sobre a argüição judicial da incompatibilidade deservidores públicos municipais para o pleito municipal.

Inicialmente, pretende-se abordar os principais aspectos dainelegibilidade, incluída aí sua caracterização e distinções para com ascausas de elegibilidade. Em seguida busca-se identificar a incompati-bilidade, bem como sua superação mediante o ato dedesincompatibilização. Trata-se, ainda, do conceito de servidor públicoe dos prazos exigidos para afastamento para disputa dos cargos deprefeito, vice-prefeito e vereador.

Na última parte são apresentadas as duas ações cabíveis para ar-güição judicial da ausência de desincompatibilização, a Ação deImpugnação de Registro de Candidatura (AIRC) e o Recurso ContraExpedição de Diploma (RCED).

2 Inelegibilidade

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 o processoeleitoral brasileiro adquire contornos mais democráticos, se compara-do com os modelos coronelistas e ditatoriais da recente história pátria.

* Analista Judiciário e Especialista em Direito Eleitoral pelo Curso deEspecialização TeleVirtual em Direito Eleitoral (Unisul/Rede LFG).

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E a inelegibilidade foi erigida como um dos ícones da probidade admi-nistrativa, pois visa excluir ab initio o ingresso de potenciais lesadoresdo bem público1.

Inelegibilidade ou ilegibilidade é o “impedimento ao exercício dacidadania passiva, de maneira que o cidadão fica impossibilitado deser escolhido para ocupar cargo político-eletivo” (GOMES, 2008, p.137).São hipóteses previstas na Constituição Federal e em lei complemen-tar cuja ocorrência impede o exercício da capacidade eleitoral passivado nacional.

Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2005, p. 116), o surgi-mento de hipóteses de inelegibilidade no Direito pátrio remonta à Cons-tituição de 1934, cuja preocupação, na época, era a de prevenir e im-pedir o uso abusivo de cargos públicos.

Hoje, as hipóteses de inelegibilidade são acrescidas de novas in-cumbências que, nos termos do art. 14, § 9o, da Constituição Federalde 1988, dizem respeito à normalidade e à legitimidade das eleiçõescontra a influência do poder econômico e político.

José Afonso da Silva (2006, p. 388) reconhece um fundamento éti-co para as inelegibilidades, que devem estar sempre pautadas pelosvalores democráticos, sob pena de se tornarem ilegítimas. Afinal, “seusentido ético correlaciona-se com a democracia, não podendo ser en-tendido como um moralismo desgarrado da base democrática do regi-me que se instaure”.

No Estado Democrático de Direito, as limitações aos direitos políti-cos devem ser mínimas, de modo que se permita participar do proces-so eleitoral o maior número possível de cidadãos. Em respeito aosprincípios da segurança jurídica e da legalidade, as causas deinelegibilidade não podem incorrer em casuísmos, sob pena de fla-grante inconstitucionalidade.

Pedro Roberto Decomain (2004, p. 9) desenvolve notável lição paracontextualizar a inelegibilidade no Estado Democrático de Direito. Par-

1Para exemplificar a atual importância atribuída à inelegibilidade basta relembrara repercussão nacional do julgamento pelo STF da Ação de Descumprimentode Preceito Fundamental (ADPF) n. 144, ocorrido durante o período eleitoraldas eleições municipais de 2008. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federaldecidiu, com efeito vinculante, que o art. 14, § 9

o, da CF não é auto-aplicável,

exigindo para a produção integral de seus efeitos a edição de lei complementar

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tindo da premissa de que “todo poder emana do povo, que o exerce pormeio de representantes eleitos ou diretamente” (parágrafo único do art.1o da CF) e que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio uni-versal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos” (art. 14,caput, CF), conclui que a essência da Democracia representativa é aescolha dos governantes pelo próprio povo, por meio de eleições livres.

Prossegue o autor afirmando que a alternância no poder pelos ocu-pantes de determinados cargos e/ou funções é inerente à forma repu-blicana de governo. Sendo os responsáveis pelo exercício desse po-der escolhidos pela população, torna-se necessário, portanto, definir re-gras sobre: a) quem escolhe as pessoas que irão ocupar tais cargos eexercer tais funções; b) que condições os candidatos devem necessa-riamente preencher e em que circunstâncias não devem incorrer parapleitearem acesso aos mandatos eletivos.

Dessa forma, percebe-se que há dupla exigência para o exercícioda capacidade eleitoral passiva: a existência de condições mínimas ea ausência de causas impeditivas. Trata-se, respectivamente, dasdenominadas condições de elegibilidade e causas deinelegibilidade .

Para contextualizar a matéria, é imperioso ressaltar que o direito desufrágio, núcleo dos direitos políticos, é caracterizado pela capacida-de eleitoral ativa (capacidade de ser eleitor, de votar) e pela capaci-dade eleitoral p assiva (direito de ser votado), esta subdividida emcondições de elegibilidade e causas de inelegibilidade .

A capacidade eleitoral ativa é a garantia ao nacional de votar emeleições, plebiscitos e referendos. O exercício do sufrágio ativo ocorrecom o exercício do voto , que pressupõe: a) alistamento eleitoral (art.42, Código Eleitoral – Lei n. 4.737, de 15.7.1965); b) nacionalidadebrasileira (art. 14, § 2o, CF); c) não ser conscrito (art. 14, § 2o, CF); d)idade mínima de 16 anos (art. 14, § 1o, II, “c”, CF).

A capacidade eleitoral passiva – ou elegibilidade – é o direito de ocidadão-eleitor receber votos e ser eleito. Em outras palavras, é “o di-reito público subjetivo atribuído ao cidadão de disputar cargos público-eletivos” (GOMES, 2008, p. 125).

A elegibilidade comporta duas modalidades de regras: as de cará-ter positivo , que definem quais quesitos os candidatos devem neces-sariamente preencher, denominadas “condições de elegibilidade”; e asde caráter negativo , nas quais eles não podem incorrer, denomina-das “causas de inelegibilidade”.

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As condições de elegibilidade encontram-se descritas no § 3o doart. 14 da Constituição Federal:

Art. 14 [...]

§ 3o São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I – a nacionalidade brasileira;

II – o pleno exercício dos direitos políticos;

III – o alistamento eleitoral;

IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;

V – a filiação partidária;

VI – a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Repúblicae Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Dis-trito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ouDistrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para vereador.

As causas de inelegibilidade estão previstas na Constituição Fede-ral e em lei complementar. A distinção entre ambas é essencial em razãodos efeitos que delas decorrem, em especial quanto ao tempo e modode argüição judicial. Como se verá adiante (itens 7 e 8), será salutarpara o correto manejo de Ação de Impugnação de Registro de Candi-datura e de Recurso Contra Expedição de Diploma.

As inelegibilidades constitucionais estão previstas no art. 14, §§ 4o

a 7o, da Constituição Federal, a seguir transcrito:

§ 4o São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

§ 5o O Presidente da República, os Governadores de Estado e doDistrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi-tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um únicoperíodo subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucionaln. 16, de 1997.)

§ 6o Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República,os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devemrenunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

§ 7o São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge eos parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por ado-

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ção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Territó-rio, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituídodentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de man-dato eletivo e candidato à reeleição.

As inelegibilidades infraconstitucionais ou legais são aquelas pre-vistas em lei complementar. Têm por fundamento o art. 14, § 9o, daConstituição Federal, que dispõe o seguinte:

§ 9o Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade eos prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administra-tiva, a moralidade para exercício de mandato considerada vidapregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleiçõescontra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício defunção, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Reda-ção dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994.)

Optou o constituinte em permitir a ampliação do rol mediante a edi-ção de lei complementar. Dessa forma, novos casos de inelegibilidadepodem adentrar o universo jurídico, desde que pautados pelos princí-pios constitucionais insculpidos no citado artigo, a saber: a) proteçãoda probidade administrativa; b) proteção da moralidade para exercíciodo mandato, considerada vida pregressa do candidato; c) preservaçãoda normalidade e legitimidade das eleições em face do poder econô-mico ou abuso de função, cargo ou emprego na Administração Diretaou Indireta.

As inelegibilidades legais se encontram previstas na Lei Comple-mentar n. 64, de 18.5.1990. Editada em regulamentação ao art. 14, §9o, da CF, prevê extenso elenco de casos de inelegibilidade e respec-tivos prazos para cessação.

Não sendo objeto desse estudo discorrer sobre cada hipótese deinelegibilidade, importa mencionar a classificação existente quanto aograu de abrangência, que distingue as inelegibilidades em absolut as,quando geram impedimento para qualquer cargo político; e relativas ,quando se voltam para determinados cargos.

Assim, são tidas por absolutas as causas previstas na Lei dasInelegibilidades, no art. 1o, inciso I, alíneas “a” até “i”, e relativas às domesmo artigo, incisos II a VII.

3 Incomp atibilidade e desincomp atibilização

No processo eleitoral brasileiro, as inelegibilidades tutelam, entreoutros aspectos, a probidade administrativa e a lisura do pleito.

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Na esteira de se evitar que candidatos ocupantes de cargos públi-cos utilizem a máquina pública em favor de suas campanhas, o queprejudica não só o desempenho da atividade administrativa, mas tam-bém o equilíbrio eleitoral, é vedada a sua permanência no serviçopúblico, sendo-lhes exigido o afastamento para a disputa eleitoral.

Nesse contexto, é considerado inelegível aquele que, detendo car-go, emprego ou função públicos, concorre a um dos cargos eletivossem o devido afastamento. Este impedimento é causa da inelegibilidadedenominada “incompatibilidade”.

Marcos Ramayana (2007, p. 153/154) define incompatibilizaçãocomo a “restrição à capacidade eleitoral passiva (direito de ser vota-do), porque o interessado deixou de providenciar seu afastamento tem-porário ou definitivo dentro do prazo legal”. O autor ressalta ainda queincide sobre o incompatível uma presunção jure et de jure de que uti-lizará a máquina da administração pública em seu favor.

A inelegibilidade decorrente da incompatibilidade só é superada pormeio de ato de desincompatibilização, que consiste na “faculdade dadaao cidadão para que se desvincule do cargo de que é titular, no prazoprevisto em lei, tornando assim possível sua candidatura” (FERREIRAapud GOMES, 2008, p. 138).

Na lição de Joel José Cândido (2008, p. 219), desincompatibilizaçãoé a saída voluntária de uma pessoa, “em caráter provisório ou precá-rio de direito ou de fato, de um cargo, emprego ou função, pública ouprivada, pelo prazo exigido em lei, a fim de elidir inelegibilidade que,se removida, impede essa pessoa de concorrer a um ou mais manda-tos eletivos”.

O afastamento do servidor pode se dar com vistas a elidir sua pró-pria inelegibilidade, situação denominada pela doutrina de autodesin-comp atibilização , ou para favorecer terceira pessoa, cônjuge ou pa-rente, situação em que ocorre a heterodesincomp atibilização .

A desincompatibilização pode afastar o candidato de suas atribui-ções de modo definitivo ou temporário. O afastamento definitivo podese dar mediante renúncia ao mandato eletivo, pedido de exoneraçãodos ocupantes de funções de confiança ou aposentadoria. Já o afas-tamento temporário se manifesta por meio de licença especial.

Em regra, a prova da desincompatibilização é exigida no momentodo registro de candidatura. Assim como em eleições anteriores, comoas de 2004 e 2006, o Tribunal Superior Eleitoral exigiu para as eleições

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municipais de 2008 a comprovação do afastamento no momento deprotocolização do requerimento de registro de candidatura (RRC).

Consta no art. 29, inciso V, da Resolução TSE n. 22.717/2008, quedispôs sobre a escolha e registro de candidaturas para aquele pleito,o seguinte:

Art. 29. A via impressa do formulário Requerimento de Registro deCandidatura (RRC) será apresentada com os seguintes documentos:

[...]

V – prova de desincompatibilização, quando for o caso.

4 Caracterização e desincomp atibilização de servidores públicos

As normas que tratam da incompatibilização tem por destinatáriosaqueles que estão ligados à Administração Direta ou Indireta, ou queexercem atividade de algum modo agraciada pelo orçamento público.

Uma das hipóteses que demandam desincompatibilização para dis-puta de cargos eletivos é a dos servidores públicos, estatutários ounão, prevista no art. 1o, II, “l”, da LC n. 64/1990, a seguir transcrito:

Art. 1o São inelegíveis:

II [...]

l) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou enti-dades da Administração Direta ou Indireta da União, dos Estados, doDistrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das funda-ções mantidas pelo poder público, não se afastarem até 3 (três) me-ses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus ven-cimentos integrais.

A Constituição Federal de 1988 emprega a expressão “servidorespúblicos”, no capítulo atinente à Administração Pública, ora em senti-do amplo, para designar as pessoas físicas que prestam serviços aoEstado e à Administração Indireta, ora em sentido restritivo, que excluios que prestam serviços às entidades com personalidade jurídica dedireito privado.

Na lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2008, p. 487), o conceitode servidores públicos abrange “as pessoas físicas que prestam servi-ço ao Estado e às entidades de Administração Indireta, com vínculoempregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos”.

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Compreende os servidores estatutários, empregados públicos e os ser-vidores temporários.

Servidores estatutários são ocupantes de cargos públicos subme-tidos ao regime estatutário, que não permite a alteração do regimejurídico disciplinador pela vontade das partes (Administração e servi-dor). As normas disciplinadoras são estabelecidas por cada entidadeda Federação.

Empregados públicos são pessoas contratadas que ocupam em-prego público e são regidos pelas leis trabalhistas, e servidores tem-porários são aqueles que não se encontram vinculados a cargo ou aemprego público, exercem apenas função, sendo contratados por tem-po determinado para atenderem a “necessidade temporária de excep-cional interesse público” (art. 37, IX, CF).

Para fins de desincompatibilização da Lei Complementar n. 64/1990,o sentido a ser atribuído ao termo “servidores” deve ser amplo, de modoque servidores da Administração Direta e Indireta, sendo estatutários,empregados públicos ou temporários necessitam se afastar para dis-puta dos cargos eletivos.

Sobre o tema, Pedro Roberto Decomain (2004, p. 277) ensina compropriedade, nos seguintes termos:

A expressão servidores públicos está sendo utilizada aqui [refere-seao art. 1o, II, “l”, da LC 64/90] pelo dispositivo de modo amplo. Querela significar não apenas os servidores ou funcionários públicos pro-priamente ditos, isto é, os que prestam serviços ao ente estatal cen-tral (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), ou às suasautarquias, em regime estatutário, segundo o previsto na Constitui-ção, mas também os empregados públicos, tanto do ente central,quanto das suas autarquias, empresas públicas e sociedades deeconomia mista, e também das fundações mantidas pelo Poder Pú-blico, ainda que legalmente sejam consideradas pessoas jurídicasde Direito Privado (como ocorre, para citar apenas um exemplo, coma Fundação Nacional do Índio – FUNAI), cujo vínculo com seus em-pregadores (e aqui o termo é o mais adequado) seja regido não peloestatuto dos funcionários públicos civis, mas sim pela Consolidaçãodas Leis do Trabalho – CLT, e mais diplomas relativos ao contrato detrabalho e à relação de emprego.

Assim, ocupando o pré-candidato um dos cargos ou exercendo de-terminada função previstos entre as hipóteses da LC n. 64/1990 e/ou

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da Constituição Federal, deverá dele se afastar mediante renúncia ousimples licenciamento temporário.

Convém distinguir as formas e os efeitos pelos quais a desincom-patibilização de servidores se opera. Isso porque pode ser exigida arenúncia , a exoneração ou o licenciamento temporário , conformea natureza do cargo ocupado ou função desempenhada na adminis-tração pública.

Na lição de José Afonso da Silva (2006, p. 392/393), renúncia eexoneração cabem a quem ocupe função ou cargo de chefe do Exe-cutivo ou cargo de confiança. Para os servidores efetivos, é previsto oafastamento temporário mediante licença. Assim, passado o pleito enão tendo sido eleito, retorna o servidor às suas atividades ordinárias,mantendo sua remuneração durante o período eleitoral.

Aos servidores efetivos a jurisprudência pacificou entendimento deque, por se tratar de afastamento temporário, é suficiente para a ca-racterização da desincompatibilização o mero afastamento de fato .

Portanto, mesmo que o pré-candidato não formule pedido formalde desincompatibilização, não incorrerá em inelegibilidade se, na prá-tica, não desenvolver suas atividades ordinárias. Basta se afastarmaterialmente do desempenho de seu cargo ou função.

Assim, segundo entendimento do TSE, a exigência do art. 29, decomunicação formal e tempestiva de afastamento, gera reflexos ape-nas para fins de percepção de vencimentos do servidor, “pois o queimporta não é o rigoroso formalismo documental da prova dadesincompatibilização” (RAMAYANA, 2007, p. 157).

Nesse sentido, decisão do Tribunal Superior Eleitoral (REC 12.890):

DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO. AFASTAMENTODE FATO, DENTRO DO PRAZO. COMUNICAÇÃO FEITA À REPARTI-ÇÃO, JÁ APÓS A DATA-LIMITE. IRRELEVÂNCIA.

O AFASTAMENTO DO SERVIDOR DE SUAS FUNÇÕES, PARA EFEI-TO DE DESINCOMPATIBILIZAÇÃO, DEVE SE OPERAR NO PLANOFÁTICO, SENDO A COMUNICAÇÃO RELEVANTE TÃO SOMENTEPARA GARANTIR A PERCEPÇÃO DE SEUS VENCIMENTOS.

ASSENTANDO AS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE O AFASTAMEN-TO SE VERIFICOU COM OBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL,DESCABE O REEXAME DE MATÉRIA EM RECURSO ESPECIAL(SÚMULA 279 - STF).

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5 Dos prazos p ara desincomp atibilização de servidores públicosmunicip ais

As hipóteses de incompatibilidade previstas tanto na ConstituiçãoFederal como na Lei Complementar n. 64/1990 determinam prazos paraque pré-candidatos promovam seu afastamento – definitivo ou tempo-rário –, que podem variar de três a seis meses antes do pleito. Uma vezidentificado o cargo ou a função desempenhada, impõe-se a contagemdo prazo.

A lei eleitoral não dispõe expressamente o modo pelo qual se dá aaferição do prazo, sendo regido, portanto, pelo art. 2o da Lei n. 810, de6.9.1949, que tem a seguinte redação: “Considera-se mês o períodode tempo contado do dia do início ao dia correspondente do mês se-guinte”.

O dia de referência é o da realização do primeiro turno das eleições.Tomando como exemplo o pleito de 2008, que ocorreu em 5 de outu-bro (primeiro domingo do mês de outubro), os prazos de três, quatroou seis meses aplicados retroativamente recaíram em 5 de julho, 5 dejunho e 5 de abril, respectivamente. No caso, exigiu-se o afastamentoaté o dia imediatamente anterior, qual seja, dia quatro.

A leitura desavisada do complexo art. 1o da LC n. 64/1990 podesugerir contradição entre prazos de desincompatibilização, se não in-terpretados sistematicamente. Em relação aos cargos do Poder Exe-cutivo, sua estrutura e lógica reside em discorrer longo rol de situaçõesaos cargos de presidente e vice-presidente da República (inciso II), pararemeter aos demais cargos de governador e vice-governador, de Esta-do e do Distrito Federal, prefeito e vice-prefeito, “no que lhes for aplicá-vel, por identidade de situações”, as hipóteses do inciso mencionado.

De igual modo ocorre com os cargos legislativos para o SenadoFederal, Câmara dos Deputados, Assembléia e Câmara Legislativase Câmara Municipal, todas vinculadas às situações dos cargos exe-cutivos.

Para os cargos de prefeito e vice-prefeito, a lei complementar pre-vê prazo de quatro meses para desincompatibilização, nos termos doart. 1o, inciso IV:

Art. 1o São inelegíveis:

[...]

IV – para Prefeito e Vice-Prefeito:

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a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveispara os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Gover-nador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, observado oprazo de 4 (quatro) meses para a desincompatibilização;

Remetendo o inciso IV ao inciso II, que versa sobre inelegibilidadeaos cargos de presidente e vice-presidente, tem-se em sua alínea “l” oprazo menor de três meses:

II – para Presidente e Vice-Presidente da República

[...]

l) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou enti-dades da Administração Direta ou Indireta da União, dos Estados, doDistrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das funda-ções mantidas pelo poder público, não se afastarem até 3 (três) me-ses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus ven-cimentos integrais.

A indagação reside, portanto, em qual o prazo aplicado para adesincompatibilização de servidores públicos municipais que preten-dam concorrer ao cargo de prefeito ou de vice-prefeito. Ademais, porque a legislação exigiria prazo maior ao Executivo municipal que aoExecutivo federal (quatro e três meses, respectivamente)?

A resposta se encontra na interpretação sistemática do instituto dadesincompatibilização, em consonância com o sentido atribuído ao deservidores públicos apresentado.

Já se afirmou que na inelegibilidade decorrente da ausência dedesincompatibilização há presunção legal de que o incompatível utili-zará a máquina pública em seu benefício. Na estrutura organizacionalda Administração Pública há cargos que detêm maior influência nasdecisões administrativas e que, por conseguinte, podem promoverações que influenciarão mais significativamente o eleitorado.

Por essa razão, o inciso II do art. 1o prevê especificamente hipóte-ses de desincompatibilização de cargos e/ou funções que o legislador,com fundamento no art. 14, § 9o, da CF, julgou serem as mais relevan-tes ao pleito. O escopo não poderia ser outro que o de afastar candida-tos cuja mantença em suas atribuições poderia potencialmente afetaro equilíbrio na disputa eleitoral.

Assim, distinguem-se duas categorias de servidores públicos (emsentido amplo): a) os que detêm cargos ou funções especificamentedetalhados nos incisos e alíneas do art. 1o da LC n. 64/1990; e b) osque detêm cargos ou funções não especificados.

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A distinção é relevante para fins de aplicação do prazo legal dedesincompatibilização, já que a solução passa pela indagação: há ounão previsão específica para determinado cargo ou função?

Havendo previsão específica, o prazo de seis meses exigido aocargo de presidente ou vice-presidente da República passará a quatromeses quando se pretender concorrer ao cargo de prefeito ou de vice-prefeito.

Inexistindo previsão, o prazo então será o ordinário de três meses,nos termos do art. 1o, inciso II, alínea “l” da LC n. 64/1990.

Nesse sentido, Pedro Henrique Távora Niess (1994, p. 92) ensina:

Especialmente no que concerne aos servidores públicos em geral,o prazo de afastamento do cargo ou função deve ser de três me-ses, como previsto na letra “l” do inciso II, se neste inciso, noutraalínea, não for previsto prazo maior, hipótese em que prevalecemos quatro meses a que se refere o inciso IV, letra “a”. É que numainterpretação sistemática verifica-se que em todos os demais ca-sos o prazo de desincompatibilização é sempre maior para Presi-dente e Vice-Presidente da República do que para prefeito, ou pelomenos igual, nada justificando que, especificamente nesse caso,haja a inversão da regra.

De igual modo, o raciocínio desenvolvido aplica-se àdesincompatibilização de servidores públicos municipais para a dispu-ta dos cargos da Câmara Municipal. A distinção para os cargos do Exe-cutivo municipal, entretanto, reside no prazo que passa de quatro paraseis meses.

Dispõe o art. 1o, VII, da LC n. 64/1990:

VII – para a Câmara Municipal:

a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveispara o Senado Federal e para a Câmara dos Deputados, observado oprazo de seis meses para a desincompatibilização;

b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de seis meses para adesincompatibilização.

Em suma, servidores públicos municipais que pretenderem con-correr aos cargos de prefeito e vice deverão promover suadesincompatibilização no prazo de quatro meses anteriores ao pleito,caso suas funções tenham identidade com as situações arroladas noinciso II do art. 1o da LC n. 64/1990; ou no de três meses, caso não haja

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previsão específica. Para disputa do cargo de vereador, o prazo paradesincompatibilização passa para seis meses.

6 Ação de impugnação de registro de candidatura (AIRC)

A argüição judicial da ausência de desincompatibilização de servi-dores públicos pode se dar pelo manejo da Ação de Impugnação deRegistro de Candidatura (AIRC) ou do Recurso Contra Expedição deDiploma (RCED).

A utilização de um ou outro instrumento processual depende danatureza da inelegibilidade, se constitucional ou infraconstitucional (le-gal). Isso, como se verá adiante, em razão do art. 259 do Código Elei-toral, que dispõe que “são preclusivos os prazos para interposição derecurso, salvo quando neste se discutir matéria constitucional”.

A Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC) é umincidente no processo de registro, que visa o indeferimento do pedidoformulado pelo pré-candidato.

A AIRC mantém relação acessória com o registro de candidatura(RCAN), devendo ambos tramitar nos mesmos autos ou de modoapensado, sendo resolvidos em um mesmo ato com a prolação de umasó decisão.

Sua causa de pedir funda-se na ausência de uma ou mais condi-ções de elegibilidade, ou na existência de causa de inelegibilidade.Todavia não é cabível, em sede de AIRC, alegar inelegibilidade decor-rente de abuso de poder econômico ou político que não tenha sido aindaobjeto de apreciação, cabendo apenas quando já decretada ainelegibilidade do agente.

Assim, é vedado o manejo de AIRC para apurar abusos, uma vezque para tal fim há a Ação de Investigação Judicial Eleitoral de que tra-ta o art. 22 da LC n. 64/1990.

A AIRC encontra-se prevista no art. 3o da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 3o Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ouao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publica-ção do pedido de registro de candidato, impugná-lo em petição funda-mentada.

São legitimados ativos os partidos, coligações, candidatos e Minis-tério Público Eleitoral. Não estando presente no pólo ativo, cabe aoseleitores dar ciência ao Juiz ou ao Promotor Eleitoral de fatos que de-vem ser conhecidos de ofício.

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O rito da AIRC é denominado de “ordinário eleitoral”, por ser o maisdilatado das ações eleitorais. Entretanto, mesmo assim contém prazosexíguos decorrentes da celeridade que o processo eleitoral demanda,previstos nos arts. 3o a 7o da LC n. 64/1990.

Dispõe a Lei Complementar que uma vez publicado edital dandociência do pedido de registro, abre-se prazo para que os legitimadosofereçam a impugnação em cinco dias. Recebida a inicial, tem o im-pugnado, após a devida notificação, sete dias para apresentar contes-tação, promovendo, desde logo, a indicação do rol de testemunhas, jun-tada de documentos e o requerimento para produção de outras provas.

A notificação do impugnado pode ocorrer por meio de mandado aser cumprido por oficial de justiça ou, como normalmente ocorre na prá-tica, por notificação encaminhada via fac-símile, cujo número é de indi-cação obrigatória no momento do registro da candidatura.

Contestada a impugnação, o Juízo Eleitoral poderá prolatar sentençanas hipóteses de se tratar apenas de matéria de direito ou, sendo rele-vante a prova protestada, designar audiência para inquirição de teste-munhas nos quatro dias seguintes. Todas as testemunhas, tanto da partedo impugnante como do impugnado, serão ouvidas numa única assen-tada.

Concluída a inquirição, poderão ser realizadas, nos cinco dias sub-seqüentes, as diligências determinadas de ofício ou requeridas pelaspartes. Após dilação probatória, as partes e o Ministério Público Eleito-ral, ainda quando não for parte, poderão apresentar alegações no pra-zo comum de cinco dias.

Encerrado o prazo para alegações, e em se tratando de eleiçõesmunicipais, os autos serão conclusos ao Juiz Eleitoral, que deverá apre-sentar sentença em Cartório no prazo de três dias contados da conclu-são, quando passará a correr prazo igualmente de três dias parainterposição de recurso ao Tribunal Regional Eleitoral.

Na hipótese de se prolatar sentença antes do prazo de três dias, oprazo recursal não altera, contando-se como se a sentença houvessesido apresentada no último dia. Nesse sentido, o Tribunal Superior Elei-toral há muito editou a Súmula n. 10/1992 “a contagem do prazo derecurso não se altera quando a sentença é entregue antes dos três diasprevistos”.

Por outro lado, quando apresentada a sentença após os três diasda conclusão, o prazo recursal passará a contar a partir da publicaçãoda decisão em Cartório, através de edital.

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Protocolizado o recurso, passará a correr prazo de três dias para orecorrido, querendo, oferecer as contra-razões, quando serão os au-tos remetidos às instâncias superiores para decisão.

Questão importante na ação de impugnação de registro de candi-datura é o efeito atribuído ao recurso interposto em face de sentençade indeferimento do pedido de registro. Na hipótese de procedênciada AIRC, o candidato que buscar a reforma da decisão nas instânciassuperiores poderá continuar realizando atos de campanha como secandidato deferido fosse.

Para as eleições municipais, trata-se da aplicação do art. 43 daResolução n. 22.717/2008, a seguir transcrito:

Art. 43. O candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrerda decisão por sua conta e risco e, enquanto estiver sub judice, pros-seguir em sua campanha e ter seu nome mantido na urna eletrônica,ficando a validade de seus votos condicionada ao deferimento de seuregistro por instância superior.

É a denominada “teoria da conta e risco” recepcionada pelo Tribu-nal Superior (AgRRE n. 33.519):

1. O art. 43 da Res.-TSE 22.717 estabelece que o candidato que tiverseu registro indeferido poderá recorrer da decisão por sua conta e riscoe, enquanto estiver sub judice, prosseguir em sua campanha e ter seunome mantido na urna eletrônica, ficando a validade de seus votos con-dicionada ao deferimento de seu registro por instância superior.

2. Em face do que expressamente dispõe essa disposição regulamen-tar, torna-se desnecessária a atribuição de efeito suspensivo a recur-so especial pretendido por candidato em processo de registro.

Agravo regimental a que se nega provimento.

No tocante à inelegibil idade decorrente da ausência dedesincompatibilização, deve-se atentar se a causa de inelegibilidadese encontra ou não prevista no texto constitucional, isso em razão doart. 259 do Código Eleitoral, que determina que “são preclusivos osprazos para interposição de recurso, salvo quando neste se discutirmatéria constitucional”.

As incompatibilidades constitucionais possuem tratamento diversodas infraconstitucionais quanto à preclusão, pois a primeira pode seralegada em dois momentos distintos do processo eleitoral, a saber:pedido de registro de candidatura e diplomação.

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Marcos Ramayana (2007, p. 155) explica os efeitos decorrentes donão manuseio tempestivo da AIRC em relação às inelegibilidades pre-vistas apenas em lei complementar:

[...] se um pré-candidato não deixa de afastar-se e este fato não éalegado no seu pedido de registro, a questão simplesmente ficarápreclusa de argumentação (decairá o direito de invocar-se esta causade inelegibilidade infraconstitucional). Assim, poderá o “inelegível” exer-cer o mandato eletivo, não sendo o caso de ajuizamento de ação deimpugnação ao mandato eletivo ou de recurso contra a diplomação,porque a matéria não é considerada de natureza constitucional,incidindo o disposto no art. 259, parágrafo único, do Código Eleitoral.

Estando prevista, no art. 1o, inciso II, alínea “l”, da LC n. 64/1990 anecessidade de afastamento de servidores públicos, a AIRC torna-sea via processual cabível para argüição da inelegibilidade legal.

A preclusão atinge inclusive os órgãos da Justiça Eleitoral, a quemcompete conhecer de ofício a inelegibilidade. Verificada a ausência dedesincompatibilização de hipótese infraconstitucional, não poderá serdeclarada ex officio posteriormente ao pedido de registro.

Pedro Roberto Decomain (2004, p. 256) explica a questão, nosseguintes termos:

Essa desincompatibilização deve ser verificada no momento do regis-tro da candidatura. Pode de sua falta conhecer de ofício o órgão daJustiça Eleitoral a quem cabe promover o registro dos candidatos, mastambém pode a ausência de desincompatibilização ser motivo paraimpugnação ao registro da candidatura, pelos legitimados, incluídosaí o Ministério Público Eleitoral. Efetivamente, verificado, emimpugnação ao pedido de registro de candidatura, ou mesmo de ofí-cio, pelo órgão da Justiça Eleitoral encarregado desse registro, queaquele que deveria ter-se desincompatibilizado em certo prazo, não ofez, deverá o pedido de registro de sua candidatura ser negado. Nega-do o registro da candidatura, ter-se-á candidato não registrado, comnulidade de todos os votos a ele conferidos, a teor do art. 175, § 3o, doCódigo Eleitoral. Se a votação recebida por esse candidato (na verda-de, um não candidato) é nula, porque não foi ele registrado, tem-seque foi ele, pelo indeferimento do registro de sua candidatura, basea-do em ausência de oportuna desincompatibilização, tornado inelegívelpara aquela eleição.

Por fim, se a inelegibilidade for decorrente de previsão constitucio-nal expressa ou superveniente ao registro de candidatura, não incide oefeito preclusivo do art. 259, podendo a questão ser atacada, em mo-mento oportuno, nos prazos e formas do Recurso Contra a Expediçãode Diploma.

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7 Recurso contra expedição de diploma (RCED)

A doutrina aponta que o Recurso Contra Expedição de Diplomanão é propriamente recurso, mas uma ação eleitoral autônoma. Issoporque, o expediente processual em apreço não visa impugnar algu-ma decisão judicial, tampouco é manejado dentro de um processo en-tre partes já constituído – aspectos essenciais à caracterização de umrecurso processual.

É cediço que o ato de diplomação é atividade administrativa, medi-ante a qual é certificado oficialmente o resultado final do processo elei-toral. Não se trata de decisão judicial, embora seja comandado pelaautoridade judicial eleitoral.

Tendo em vista que o RCED busca atacar o ato de diplomação,com o intuito de desconstituir o ato administrativo, não há, de fato, quese falar em insurgência a uma decisão judicial. Trata-se, portanto, deação autônoma com objetivo específico de reverter a concessão dodiploma.

José Jairo Gomes (2008, p. 356) aduz que a doutrina e os tribunaispátrios adotam atualmente a compreensão que o RCED é ação denatureza constitutiva negativa do ato administrativo de diplomação.

Previsto no art. 262 do Código Eleitoral, o recurso contra diplomaçãopossui quatro hipóteses de cabimento, cujo rol é taxativo:

Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nosseguintes casos:

I – inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato;

II – errônea interpretação da lei quanto à aplicação do sistema de re-presentação proporcional;

III – erro de direito ou de fato na apuração final quanto à determinaçãodo quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos e classificaçãode candidato, ou a sua contemplação sob determinada legenda;

IV – concessão ou denegação do diploma, em manifesta contradiçãocom a prova dos autos, nas hipóteses do art. 222 desta Lei, e do art.41-A da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. [Redação dada pelaLei n. 9.840, de 28.9.1999.]

Em que pese a relevância das questões aduzidas nos demaisincisos, interessa ao desenvolvimento do presente estudo apenas oprimeiro, que permite o ingresso da ação eleitoral para atacar adiplomação em decorrência de inelegibilidade ou incompatibilidade.

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Como visto no item anterior, as inelegibilidades e as incompatibili-dades devem ser aferidas no momento do registro de candidatura, sejaex officio, pelo Juízo Eleitoral, ou via AIRC. Decorrido o prazo paraimpugnação, tem-se, em regra, a preclusão da matéria não suscitada.

Entretanto, a teor do disposto no art. 259 do Código Eleitoral, asinelegibilidades constitucionais não sofrem efeito da preclusão quan-do não alegadas em AIRC. Resta, no tocante à incompatibilidade, apossibilidade de atacar a diplomação de candidato eleito, com base noart. 14, § 7o, da Constituição Federal. Trata-se das inelegibilidades re-flexas decorrentes do não afastamento de cônjuge ou parentes.

Em sede de inelegibilidade infraconstitucional, há uma única possi-bilidade: a superveniente. Trata-se de “inelegibilidade surgida no perío-do compreendido entre o registro de candidatura e o pleito” (GOMES,2008, p. 140). Ocorre em situações em que o candidato preenche ascondições legais no momento de seu pedido de registro de candidatu-ra, e, após deferimento e antes do dia do pleito, torna-se inelegível.

Para essas hipóteses, havendo causa de inelegibilidade no lapsotemporal apontado, o candidato então elegível será tido por inelegível,tendo seu diploma cassado. Ocorre, por exemplo, com trânsito em jul-gado de condenação criminal, a rejeição de contas havida após o diacinco de julho e antes do primeiro domingo do mês de outubro.

Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral épacífica:

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo Regimental. Registro deCandidato. Contas rejeitadas após o pedido de registro. Fatosuperveniente. Recurso Especial. Provimento.

1. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade sãoaferidas no momento do pedido de registro.

2. Fatos supervenientes ao pedido de registro podem ser suscitadosno recurso contra expedição de diploma, nas hipóteses previstas noart. 262 do Código Eleitoral.

3. Agravos regimentais desprovidos.

Em relação aos aspectos processuais, o RCED deve ser interpostono prazo decadencial de três dias, contados da sessão de diplomação.Aplica-se à espécie o art. 132 do Código Civil, sendo excluído o dia doinício (da diplomação) e incluído o do vencimento, podendo começar,inclusive, em sábado, domingo ou feriado. Outrossim, caso vença emferiado, será considerado prorrogado até o primeiro dia útil.

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Quanto à legitimidade ativa, podem ingressar com RCED partidopolítico (ainda que tenha sido coligado), candidato eleito e diplomado,bem como suplente, Ministério Público Eleitoral e, segundo entendimen-to do TSE, coligação. Também conforme o TSE, são excluídos da legi-timidade ativa: eleitor, pré-candidato cujo registro restou indeferido ediretório municipal em relação às eleições estaduais.

Podem integrar o pólo passivo o candidato apenas eleito e diploma-do, além do suplente. Em 2008, o Tribunal Superior Eleitoral reviu suaposição quanto à necessidade de formação de litisconsórcio entre titu-lar e vice. O entendimento até então pacificado afirmava que titular evice poderiam formar litisconsórcio unitário facultativo. Atenta ao fatode que eventual deferimento do recurso atingiria a esfera jurídica do vice,a Corte decidiu que deve ser formado litisconsórcio unitário necessá-rio, devendo o vice integrar a relação jurídica processual, sob pena denulidade na constituição do processo.

Precedente no RCED n. 703/SC, do TSE:

BRASIL. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. PROCESSO - RELA-ÇÃO SUBJETIVA - LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO - CHAPA - GO-VERNADOR E VICE-GOVERNADOR - ELEIÇÃO - DIPLOMAS - VÍ-CIO ABRANGENTE - DEVIDO PROCESSO LEGAL.

A existência de litisconsórcio necessário – quando, por disposição delei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide demodo uniforme para todas as partes – conduz à citação dos que pos-sam ser alcançados pelo pronunciamento judicial. Ocorrência, naimpugnação a expedição de diploma, se o vício alegado abrange asituação do titular e do vice.

O RCED, conforme reiteradas decisões do Tribunal Superior Elei-toral, não comporta desistência da parte autora. O fundamento é ocaráter eminentemente público do objeto tratado, podendo o MinistérioPúblico Eleitoral assumir o pólo ativo da relação processual.

Convém ressaltar que não se configura litispendência entre RCEDe as ações de investigação judicial eleitoral, impugnação de mandatoeletivo, ação por captação ilícita de sufrágio ou por conduta vedada,ainda que os fatos narrados na causa de pedir sejam idênticos, pois ospressupostos e as consequências são distintos.

Nos termos do art. 267 do Código Eleitoral, sendo o recorrido inti-mado do recurso, poderá apresentar defesa no prazo de três dias.Carreados aos autos novos documentos, será dada vista à parte auto-ra no prazo de quarenta e oito horas.

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Tendo como causa de pedir a existência de inelegibilidade ou incom-patibilidade, o RCED deve ser instruído com prova pré-constituída oua ser produzida pela via cautelar (produção antecipada da prova). Emcontrapartida, cabe ao recorrido requerer em sua defesa a produçãode contraprova.

Requerido pelo autor ou réu a produção probatória, caberá ao relator,no tribunal, apreciar o pedido em vinte e quatro horas da conclusão dosautos e, uma vez deferida, deverá ser realizada no lapso de cinco dias.

Na decisão, a manifestação será pela procedência ou improcedên-cia do feito, não se utilizando “recurso provido” ou “não provido”, pois oRCED, como visto, é ação autônoma.

Por força do art. 216 do Código Eleitoral, em caso de procedênciado recurso, o candidato cassado permanece em suas funções até ulte-rior julgamento e publicação da decisão pelo TSE acerca do RCED. Éa regra contida no art. 216 do CE: “Art. 216. Enquanto o Tribunal Supe-rior não decidir o recurso interposto contra a expedição do diploma,poderá o diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude”.

Trata-se de exceção à regra geral do art. 257, que dispõe que “osrecursos eleitorais não terão efeito suspensivo”.

8 Conclusão

O estudo demonstrou que a inelegibilidade decorrente da incompa-tibilidade de servidor público municipal deve ser argüida judicialmentepor meio de Ação de Impugnação de Registro de Candidatura ou viapropositura do Recurso Contra a Expedição de Diploma.

Partindo do conceito apresentado de inelegibilidade, demonstrou-se que a incompatibilização é espécie de inelegibilidade relativa, supe-rada apenas pela desincompatibilização, que se consubstancia na sa-ída de pré-candidato de cargo ou função cuja permanência possa afe-tar o resultado do pleito pela influência decorrente de seu exercício, nostermos do art. 14 da CF e da LC n. 64/1990.

Focado o estudo nos aspectos da desincompatibilização de servi-dores públicos na esfera municipal, tem-se que o conceito de servidorpúblico é amplo, abrangendo servidores estatutários ou não.

Em razão do regime ao qual os servidores podem estar sujeitos,há que se exigir, na desincompatibilização, a renúncia, exoneração oulicenciamento. Nas duas primeiras hipóteses o vínculo é cessado mes-mo após o pleito, independentemente de se o servidor logrou ou não

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ser eleito. Ao servidor de cargo efetivo é permitido licenciar-se do car-go para fins de disputa eleitoral, mantida a percepção de seus venci-mentos.

Os prazos exigidos pela Lei Complementar n. 64/1990 e as hipóte-ses de desincompatibilização devem ser interpretados de maneira sis-temática. A forma de construção do art. 1o do diploma legal e as refe-rências de prazo de um cargo ao outro podem sugerir conflito aparen-te entre as hipóteses, questão superada se assim entendido: a) o pra-zo de desincompatibilização de servidores públicos municipais paradisputa aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador são, em regra,de três meses anteriores ao pleito, nos termos do art. 1o, inciso II, alí-nea “l”, da LC n. 64/1990; b) para disputa dos cargos de prefeito evice-prefeito e ocupando o servidor cargo para o qual, no que lhe foraplicável por identidade de situações, há previsão expressa deinelegibilidade (presidente e vice-presidente da República, governa-dor e vice-governador de Estado e do Distrito Federal), o prazo paradesincompatibilização será de quatro meses, nos termos do art. 1o,inciso IV, alínea “a”, da LC n. 64/1990; e, por fim: c) para disputa doscargos de vereador e ocupando o servidor cargo para o qual, no quelhe for aplicável por identidade de situações, há inelegibilidade (Sena-do Federal e para a Câmara dos Deputados), observado o prazo deseis meses para a desincompatibilização, bem como, em cada muni-cípio, os inelegíveis para os cargos de prefeito e vice-prefeito, obser-vado o prazo de seis meses para a desincompatibilização, nos termosdo art. 1o, inciso VII, alíneas “a” e “b”, da LC n. 64/1990.

Ao final, afirmou-se que as hipóteses de desincompatibilização pre-vistas na Lei Complementar n. 64/1990 devem ser alegadas em juízomediante propositura de: a) Ação de Impugnação de Registro de Can-didatura (AIRC), ocasião em que devem ser suscitadas as incompatibi-lidades constitucionais e infraconstitucionais, sob pena de preclusão des-sa última, nos termos do art. 259 do Código Eleitoral; b) Recurso ContraExpedição de Diploma, para alegar incompatibilidades constitucionaisnão levantadas em AIRC ou incompatibilidades infraconstitucionaissupervenientes, ocorridas entre o registro e o pleito.

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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PEC N. 338/2009

Ayrton de Mendonça T eixeira*

1 INTRODUÇÃO. 2 DA REDAÇÃO DA PEC N. 338/2009 E DE SUAJUSTIFICAÇÃO. 3 CONSIDERAÇÃO PROPEDÊUTICA ACERCA DOSJUÍZES ELEITORAIS. 4 DOS PONTOS SENSÍVEIS DA PEC. 4.1 DOPERÍODO ELEITORAL COMO MARCO TEMPORAL. 4.2 DAS GA-RANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO E DOS MAGISTRADOS. 4.2.1DAS GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO PODER JUDICIÁRIO. 4.2.2GARANTIAS FUNCIONAIS. 4.2.2.1 GARANTIAS FUNCIONAIS DEINDEPENDÊNCIA. 4.2.2.2 GARANTIAS FUNCIONAIS DE IMPARCI-ALIDADE. 4.3 DA RELAÇÃO COM O § 1o DO ART. 121 DA CF. 4.4 DAALTERAÇÃO DO ART. 107 DA CF. 5 CONCLUSÃO. 6 REFERÊNCI-AS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

Relevante voltar-se a atenção da sociedade para a Proposta deEmenda Constitucional (PEC) n. 338/2009 que intenta a criação decargos de juiz eleitoral a serem providos por concurso público. A Pro-posta parte da premissa de que a jurisdição eleitoral, no primeiro grau,seria acometida como mera função a juízes estaduais, cumulativamen-te às atribuições afetas à Justiça Estadual comum.

O presente trabalho colaciona o texto da PEC ora analisada, apre-sentando considerações iniciais acerca do atual regime jurídico relati-vo aos juízes eleitorais, passando ao tratamento dos pontos mais crí-ticos da Proposta, especialmente em relação às garantias afetas aoPoder Judiciário e aos magistrados, para, ao final, concluir.

2 Da redação da PEC n. 338/2009 e de sua justificação

Antes de avançar no tema objeto do presente artigo, impende tra-zer à colação os enunciados a serem analisados, pelo que segue oteor da referida PEC e de sua justificação:

* Bacharel em Direito pela UFRGS. Especialista em Direito Tributário pelo IBET.Analista Judiciário do TRESC.

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PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO N. DE 2008

(Do Sr. Ribamar Alves e outros)

Altera os artigos 107 e 118 da Constituição Federal.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos ter-mos do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emen-da ao texto constitucional:

Art. 1o. O artigo 107 da Constituição Federal passa a vigorar com aseguinte redação:

Art. 107 [...]

I - [...]

II - um quinto, mediante promoção de Juízes Federais com mais decinco anos de exercício, por antiguidade e merecimento,alternadamente; e

III – três quintos dentre Juízes Eleitorais.

§ 1o [...]

§ 2o [...]

§ 3o [...]

Art. 2o. O artigo 118 da Constituição Federal passa a vigorar acrescidodos §§ 1o e 2o com a seguinte redação:

Art. 118 […]

I - [...]

II - [...]

III - [...]

IV - [...]

§ 1o A investidura no cargo de Juiz Eleitoral será mediante aprovaçãoprévia em concurso público de provas ou de provas e títulos.

§ 2o Em períodos não eleitorais, o Juiz Eleitoral gozará das prerrogati-vas dos Juizes Federais elencadas nos artigos 95 e 109 estando habi-litados a exercer as funções jurisdicionais e administrativas nos ór-gãos da Justiça Federal.

Art. 3o. Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data da suapublicação.

JUSTIFICAÇÃO

Característica marcante da Justiça Eleitoral no Brasil é não possuirum quadro próprio de juízes no que se refere às eleições. Não temos,

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portanto, uma Magistratura Eleitoral. Já o citado Ministro Mário Guima-rães observa:

‘Verdadeiramente, pois, não se dirá que existem juízes eleitorais – hájuízes de direito em funções cumulativas eleitorais.’

Ao falar sobre as características institucionais da Justiça Eleitoral,dentre as quais ressalta essa falta de quadro próprio de juízes, escla-rece FÁVILA RIBEIRO: Trazendo por empréstimo de outras áreas, in-gressam os magistrados na Justiça Eleitoral com o elenco de garanti-as constitucionais que não lhes devem faltar para que possam retribuirà coletividade com destemerosa atuação

O Código Eleitoral (Lei 4.737, de 15.01.1965) trata dos Juízes Eleito-rais no Título III, da Parte Segunda, compreendendo os arts. 32 a 35.No art. 35 estão elencadas as atribuições dos Juízes Eleitorais. Sãodezenove incisos que delimitam toda a sua competência. Essa enu-meração, entretanto, não é exaustiva, pois as Resoluções do TSE e asleis extravagantes em matéria eleitoral sempre trazem novas atribui-ções.

O Juiz Eleitoral é, para a maioria das pessoas, um ilustre desconheci-do, assim como um juiz bissexto que só aparece de eleição em elei-ção, para assinar títulos e apurar votos. Para alguns políticos é umincômodo que, intitulando-se representante da Lei e da Justiça, difi-culta seus objetivos e suas táticas eleitorais.

Responsável pelo êxito ou pelo desastre de uma eleição, passa seutrabalho diuturno despercebido da maioria da população. No fim, di-ploma os eleitos, coroando-os pela vitória eleitoral alcançada, comoum estranho naquele ninho festivo. E depois, o que recebe? O iníciode uma estafa, as imprecações dos derrotados e a expectativa de terseu trabalho criticado com os eventuais recursos. Esporadicamenteouve uns tímidos louvores pelo seu comportamento.

As sucessivas etapas de um calendário eleitoral, culminando com umaapuração, é um trabalho que exige muito de um Juiz Eleitoral, às ve-zes além de suas forças físicas. Notadamente quando ele acumuladuas ou três Zonas.

Ressalto esses aspectos para reclamar mais reconhecimento, maisvalorização e mais garantia ao trabalho do Juiz Eleitoral. Afinal, é so-bre esse funcionário quase anônimo, caluniado, que vai cair a respon-sabilidade última de viabilizar o tão alardeado instrumento das demo-cracias: as eleições.

Face sua importância para o bom andamento do processo eleitoral,por que não definir sua escolha mediante aprovação em concursopúblico? Para que não recaia a crítica da ociosidade em períodos nãoeleitorais, o Juiz Eleitoral concursado poderia exercer funções

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jurisdicionais e administrativas nos diversos órgãos da justiça, semprecarentes de magistrados em número suficiente para o melhoramentoda celeridade processual.

Diante do exposto, esperamos contar com o apoio de nossos ilustresPares no Congresso Nacional para a aprovação desta Proposta deEmenda à Constituição.

Sala das Sessões, em

Deputado Ribamar Alves, PSB/MA

3 Consideração propedêutica acerca dos juízes eleitorais

Ainda que não seja cerne do tema analisado, cabe consignar apon-tamentos em relação ao entendimento majoritário, segundo o qual oordenamento atual não possuiria cargos de juiz eleitoral, mas funções.

Sem a pretensão de esgotar o assunto, mas em face da pertinênciatemática, lançamos questões que se nos afiguram úteis ao tratamentoacerca do tema por parte do leitor.

Por concisão, partimos do ensinamento de Costa (2008, p. 257),que expressa que os juízes eleitorais:

[...] são magistrados togados, pertencentes à carreira da Justiça Esta-dual. Exercem a função eleitoral quando lotados em comarcas de úni-ca vara, que sejam sede de zona eleitoral, ou quando sejam designa-dos pelo TRE, no caso de comarca com mais de uma vara. O exercícioda função eleitoral deve ser feita [sic] por magistrado de posse detodas as garantias constitucionais da investidura no cargo, sendoexercida contemporaneamente à atividade jurisdicional comum, nadaobstante, em data fixada no calendário eleitoral, devam os primeirosfeitos ter preferência sobre os últimos.

Já a respeito do conceito cargo , Di Pietro (2008, p. 480-481) cita aseguinte lição de Celso Antônio Bandeira de Mello: “[...] os órgãos ‘nadamais significam que círculos de atribuições, os feixes individuaisde poderes funcionais rep artidos no interior da personalidade es-tatal e expressados através dos agentes neles providos ’” (Grifosno original.)

De forma mais analítica, Mello (1998, p. 155) diz que:

Cargos são as mais simples e indivisíveis unidades de competênciaa serem expressadas por um agente, previstas em número certo,com denominação própria, retribuídas por pessoas jurídicas deDireito Público e criadas por lei, salvo quando concernentes aos ser-

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viços auxiliares do Legislativo, caso em que se criam por resolução,da Câmara ou do Senado, conforme se trate de serviços de uma oude outra destas Casas.

É fato que, por previsão constitucional, o exercício da função elei-toral, nas zonas eleitorais, é conferido a magistrados estaduais togados,sim, mas à míngua de concurso público específico para a função elei-toral e em caráter temporário. Tal constatação, por si só, não podelevar à conclusão de que qualificá-lo como cargo incorreria em impro-priedade terminológica. Isso porque, adotando-se tal lógica, por via deconsequência todos os cargos de nomeação sem concurso públicoseriam meras funções.

De outra banda, é possível argumentar que não pode dar azo àinterpretação de que não se trata de cargo o fato de atualmente a cria-ção não se dar por lei. Nesse sentido, a questão constituiria exceçãoque deve ser somada àquela relativa aos serviços auxiliares doLegislativo identificada por Celso Antônio Bandeira de Mello.

Assim, não é de todo impossível a defesa de que os magistradosestaduais, no exercício da jurisdição eleitoral, não apenas exercem afunção eleitoral como estão na posse de um cargo público. Isso por-que o juiz eleitoral encarna a mais simples e indivisível unidade decompetência expressada por um agente, prevista em número certo,com denominação própria, retribuída por pessoas jurídicas de DireitoPúblico e criada por meio do diploma normativo hábil.

4 Dos pontos sensíveis da PEC

Restringindo-se a análise à suma da justificação da PEC em co-mento, afigurar-se-ía que a Proposta prestigia a jurisdição eleitoral.Tendo-se em mente, porém, a necessária distinção entre menslegislatoris e mens legis, há de se avançar a análise ao âmbito dosenunciados prescritivos propostos e, mais especificamente, à correla-ção destes com o sistema jurídico.

Assim é que a redação do § 2o que se pretende, incluído ao art. 118da Constituição da República Federativa do Brasil (CF) enuncia que,durante o período não eleitoral, atribuir-se-íam aos juízes eleitorais “asprerrogativas dos Juízes Federais elencadas nos artigos 95 e 109”.Em interpretação a contrario sensu – e sem o emprego do métodosistemático –, possível é a conclusão de que a inovação constitucionalimportaria na criação de cargos com a denominação juiz eleitoral, aserem preenchidos por concurso público, destituídos seus

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empossados, porém, das prerrogativas da magistratura durante operíodo eleitoral . E daí resulta que a Proposta possui pontos críticos,sensíveis, que serão tratados mais detidamente.

4.1 Do período eleitoral como marco temporal

Impende salientar que o termo período eleitoral não é unívoco,sendo, mais do que ambíguo, vago, visto que possuidor de um rol deacepções superior a duas.

Encerrado o período eleitoral, ações judiciais concernentes às elei-ções próximas passadas podem ainda ser propostas; valendo denotar(I) as ações de investigação por captação e gastos ilícitos para finseleitorais (Lei 9.504/1997, art. 30-A) e (II) as ações de investigaçãojudicial eleitoral (Lei Complementar n. 64/1990, art. 22). Em relação àsações de investigação judicial eleitoral, embora o art. 22, inciso XV, daLei Complementar n. 64/1990 preveja as eleições como o marco final,o Tribunal Superior Eleitoral tem, na expressão do DesembargadorCerello (2002), “alongado esse termo final até a sessão de diplomação”.

Quer seja intencional ou não, a ausência de delimitação semânticado conceito período eleitoral , por parte do constituinte derivado, nãopode ser reputada como defeito, embora configure questão relevantea ser enfrentada. Efeito da constatação exposta é que, caso aprovadaa PEC com a redação original, a expressão eleita como descrimencarecerá de definição até que o Legislativo e/ou Judiciário o delimitem,afastando a vagueza.

Lançadas tais considerações inaugurais, cabe tratar das implica-ções da Proposta em face das garantias dos magistrados.

4.2 Das garantias do Poder Judiciário e dos magistrados

Como ponto de partida, cabe salientar a distinção entre as garanti-as do Poder Judiciário e as dos magistrados. Para Silva (2001, p. 578):

Essas garantias assim se discriminam: (1) garantias institucionais ,as que protegem o Poder Judiciário como um todo, e que se desdo-bram em garantias de autonomia orgânico-administrativa e finan-ceira ; (2) garantias funcionais ou de órgãos, que asseguram a inde-pendência e a imparcialidade dos membros do Poder Judiciário, pre-vistas, aliás, tanto em razão do próprio titular mas em favor ainda daprópria instituição. [Grifos no original.]

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4.2.1 Das garantias institucionais do Poder Judiciário

As garantias institucionais, de acordo com Moraes (2009, p. 504-505):

Dizem respeito à Instituição como um todo, ou seja, garantem a in-dependência do Poder Judiciário no relacionamento com os demaisPoderes.

Tão importantes são as garantias do Poder Judiciário que a própriaConstituição considera crime de responsabilidade do Presidente daRepública atentar contra seu livre exercício, conforme o art. 85, pois,como afirma Carlos S. Fayt, as imunidades da magistratura não cons-tituem privilégios pessoais, mas relacionam-se com a própria funçãoexercida e o seu objeto de proteção contra os avanços, excessos eabusos dos outros poderes em benefício da Justiça e de toda a Na-ção. A magistratura se desempenha no interesse geral e suas garanti-as têm fundamento no princípio da soberania do povo e na formarepublicana de governo , de modo que todo avanço sobre a indepen-dência do Poder Judiciário importa em um avanço contra a própriaConstituição [Grifos no original.]

4.2.2 Garantias funcionais

As garantias funcionais atribuídas constitucionalmente aos juízesvisando a propiciar a independência e a imparcialidade que esse munuspúblico exige, segundo Silva (2001, p. 580): “[...] podem ser agrupadasem duas categorias: a) garantias de independência dos órgãos ju-diciários ; b) garantias de imp arcialidade dos órgãos judiciários ”.

No mesmo sentido, Moraes (2009, p. 504), ao asseverar:

As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm assimcomo condão conferir à instituição a necessária independência para oexercício da Jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativoe do Executivo, não se caracterizando, pois, os predicamentos damagistratura como privilégio dos magistrados, mas sim como meio deassegurar o seu livre desempenho, de molde a revelar a independên-cia e autonomia do Judiciário. Hamilton, no Federalista, comparava asgarantias dos Juízes às do Presidente da República norte-americana.Dizia que os juízes, por serem vitalícios, necessitam de garantias maisfortes e duradouras que o Presidente.

4.2.2.1 Garantias funcionais de independência

As garantias de independência, de acordo com José Afonso da Sil-va, são a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de venci-mentos, e estão presentes no texto constitucional no art. 95 da CF.

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Importa frisar que as garantias da magistratura, entretanto, nãodevem ser confundidas com as prerrogativas legais do juiz, previstasno art. 33 da Lei de Organização da Magistratura Nacional. Isso por-que as prerrogativas legais do juiz se destinam à proteção da sua figu-ra como agente público e pessoa natural.

4.2.2.2 Garantias funcionais de imp arcialidade

Imparcialidade significa adoção de uma postura equidistante emrelação às partes na relação processual.

Ainda que existente a correlação de mútua implicação entre inde-pendência e imparcialidade, explica ROCHA (1995, p. 30) que:

Independência e imparcialidade, embora conceitos conexos, eis queservem ao mesmo valor de objetividade do julgamento, no entantotêm significações diferentes. Enquanto a imparcialidade é um modelode conduta relacionado ao momento processual, significando que ojuiz deve manter uma postura de terceiro em relação às partes e seusinteresses, devendo ser apreciada em cada processo, pois, só então épossível conhecer a identidade do juiz e das partes e suas relações, aindependência é uma nota configuradora do estatuto dos membros doPoder Judiciário, referente ao exercício da jurisdição em geral, signifi-cando ausência de subordinação a outros órgãos.

E, apesar de escólios no sentido de que não se confundem o con-ceito independência do Poder Judiciário, tomado como instituição - temaafeto à separação dos Poderes –, e o de independência dos juízes, aPEC em comento possui pontos críticos. Com efeito, pode-se asseve-rar que o conceito de jurisdição é indissociável, em nosso ordenamento,das garantias afetas à magistratura, que vêm em defesa daconcretização da Justiça, e não dos juízes.

A partir da premissa insculpida, vale consignar que: (I) as garan-tias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios sãoatinentes à magistratura como um todo – ao contrário do que enunciaa justificação da comentada PEC –, e não específicos da magistratu-ra federal; e (II) sem desmerecer competências dos demais ramos doPoder Judiciário, as garantias da magistratura – que, como é cediço,não são retiradas dos juízes estaduais quando atualmente exercema jurisdição eleitoral – são tanto mais, e não menos, necessárias exa-tamente quando do exercício da função jurisdicional eleitoral: isso por-que garantem a independência do magistrado, ao não temer abusos– especialmente do poder político, mas também do econômico – emretaliação a suas convicções jurídicas externadas; e, mais, garantin-

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do-se a independência, potencializada resta a concretização da im-parcialidade.

Em reforço ao exposto, as seguintes considerações de Ramayana(2007, p. 16-20) acerca do Direito Eleitoral e do papel do Poder Judici-ário em face das ameaças à Democracia:

O Direito Eleitoral deve ser considerado uma pedra angular naedificação dos regimes democráticos e o único capaz de defender,com eficácia – se amoldado corretamente e dotado de imediata inci-dência –, a liberdade na votação e a autonomia individual do eleitor,principalmente, através de mecanismos prévios, concomitantes e pos-teriores das candidaturas e do mandato eletivo, criando-se um sensoeleitoral como meio eficaz de moralização das urnas, escoimando-sedos vilipêndios, ilegalidades abusivas e manipulação do eleitorado coma fabricação de representantes políticos.

[...]

A normatividade do Direito Eleitoral lastreia-se numa realidadeinafastável, na medida em que as questões e os litígios eleitorais ne-cessitam ser resolvidos de forma imparcial, e com intervenção absolu-tamente independente dos pronunciamentos exclusivamente partidá-rios e políticos, em especial, quando são atingidos direitos sociais,difusos e que dizem respeito à lisura do processo democrático.

[...]

A imperiosa e inafastável conclusão de assegurar-se a maior lisura doprocesso democrático é a base fundamental de deixar ao Poder Judi-ciário o controle das fases do processo eleitoral (alistamento, votação,apuração e diplomação), bem como as lides concernentes ao examedos abusos, desvios e vícios dos mandatos eletivos.

Não há, portanto, como subtrair da apreciação jurisdicional a matériaeleitoral ou formatar-se sistema que possua um caráter híbrido, misto,deixando que o Judiciário e o Legislativo apreciem as questões eleito-rais, quando estas estiverem fora das fronteiras meramente partidári-as – interna corporis; até porque se deve trazer o caso a juízo para ter-se a certeza da natureza da questão posta em apreciação.

4.3 Da relação com o § 1 o do art. 121 da CF

Delineada a relevância das garantias da magistratura no desempe-nho da função judicante de cunho eleitoral, cabe referir que a PECanalisada não altera o teor do § 1o do art. 121 da CF, que segue:

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competên-cia dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

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§ 1o Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantesdas juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes foraplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.

Do ponto de vista lógico, em face da correlação temática, a PECsob análise deveria ter atentado para o dispositivo. Com efeito, man-tendo-se o texto atual da PEC n. 338/2009, o texto da Carta Constitu-cional passaria a conter discrepância terminológica entre a nova car-ga significativa da expressão juízes eleitorais , como cargo providopor concurso público, e a expressão juízes de direito contida no § 1o

do art. 121 da CF.

Mais relevante, porém, do que a discrepância terminológicaidentificada é a argumentação de que, ainda que eventualmente apro-vada a Proposta com sua atual redação, a aplicação do método sis-temático tenderá a acarretar, por incidência do § 1o do art. 121 daCF, a interpretação de que gozarão os juízes eleitorais de plenasgarantias e inamovibilidade. E, mais, que tais plenas garantias einamovibilidade são referidas às garantias constantes do art. 95 eseus dispositivos da CF.

4.4 Da alteração do art. 107 da CF

Por fim, vale assinalar que a referida PEC propõe alteração do art.107 da CF, que trata da composição dos tribunais regionais federais,que passaria a ser a seguinte: 1/5 dentre advogados e membros doMinistério Público Eleitoral, alternadamente, mero 1/5 dentre os juízesfederais e, excessivos, 3/5 de egressos da “magistratura” eleitoral. Dafórmula proposta, salta à percepção a probabilidade de que relaçãode proporção entre juízes federais e futuros “juízes” eleitorais consteinvertida na proposta, sendo provável que tenha decorrido de equívo-co, pelo que destoaria do real querer do deputado.

Especulativamente, porém, pode-se arriscar que o pretendido fos-se alteração do art. 120 da Constituição, que trata da composição dostribunais regionais eleitorais – o que, inclusive, conferiria mais coerên-cia ao propalado intento da proposta: criação dos cargos de juiz elei-toral, sim, mas como meio de atribuir mais prestígio à jurisdição eleito-ral. E, seguindo-se a mesma lógica do período frásico anterior, a for-ma de constituição do TSE também – embora não haja relação dedecorrência lógico-jurídica necessária – tenderia a ser modificada, aípor meio de alteração da redação do art. 119 da CF.

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5 Conclusão

As questões aqui abordadas, notadamente as apontadas comopontos sensíveis da PEC n. 338/2009, não nulificam a relevância eatualidade da discussão acerca de eventual criação do cargo por con-curso público e da carreira de juiz eleitoral.

É exatamente a importância do tema e o interesse da superveniênciade um substrato mais adequado à discussão que torna mister frisarque eventual aprovação da referida PEC, com redação que mantenhaas proposições normativas aqui apontadas como críticas, ao contráriode fortalecer, pode acarretar duro golpe à Justiça Eleitoral. Isso desdeque não se atente para a necessidade de aplicação do § 1o do art. 121da CF ou que o resultado jurídico de sua aplicação resulte num espec-tro de garantias mais restrito do que aquele decorrente do art. 95 daConstituição. O que deve ser de todo evitado é a pior hipótese, qualseja, a de uma redação da PEC que implique a substituição no exercí-cio da jurisdição eleitoral dos juízes estaduais – que exercem a funçãoeleitoral como agentes políticos e no gozo das garantias da magistra-tura –, por meros servidores. Em tal hipótese, o emprego da expres-são “funcionários” para designar os juízes eleitorais, constante da jus-tificação da mencionada PEC, mais do que impropriedade terminológica,poderia se tornar infeliz destino jurídico imposto à (I) magistratura e à(II) jurisdição eleitorais. E, efeito reflexo, o emprego de ambos os vo-cábulos destacados em associação expressa ou implícita ao termo elei-toral acarretaria expressões que, em rigorosa linguagem técnico-jurí-dica, passariam a requerer grafia entre aspas.

6 Referências bibliográficas

CERELLO, Anselmo. Ação de investigação judicial eleitoral. RESENHAELEITORAL - Nova Série, Florianópolis, v. 9, n. 2, jul./dez. 2002. Dis-ponível em: http://www.tre-sc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/biblioteca/doutrinas/anselmo3.ht. Acesso em: 24 jun. 2009.

COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 7. ed. Riode Janeiro: Lumen Juris, 2008.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21. ed. SãoPaulo: Atlas, 2008.

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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas,2009.

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ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. SãoPaulo: Malheiros, 1995.

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DIREITOS FUNDAMENTAIS APLICADOSÀ FIDELIDADE PARTIDÁRIA

Flávia Queiroz Barbosa*

1 DA DEMOCRACIA. 1.1 CONCEITO E MODALIDADES. 1.2 DADEMOCRACIA MODERNA À DEMOCRACIA ELEITORAL. 1.3 DA DE-MOCRACIA MATERIAL E DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 1.4 DADEMOCRACIA DE PARTIDOS. 2 DA FIDELIDADE PARTIDÁRIA. 2.1DEFINIÇÃO. 2.2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA NA LEGISLAÇÃO BRA-SILEIRA. 2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESOLUÇÃO TSE N.22.610/2007. 2.4 DOS MANDATOS ELETIVOS E DA FIDELIDADEPARTIDÁRIA. 2.5 A VISÃO DOS TRIBUNAIS. 2.6 O SISTEMA ELEI-TORAL CONSTITUCIONAL E A FIDELIDADE PARTIDÁRIA. 3 DA IN-FIDELIDADE PARTIDÁRIA E DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 3.1DA RELAÇÃO ENTRE FILIADO E PARTIDO POLÍTICO. 3.2 MÉTO-DOS DE SOLUÇÃO PARA OS CONFLITOS ENTRE DIREITOS FUN-DAMENTAIS. 3.3 A PERDA DO MANDATO ELETIVO POR INFIDELI-DADE PARTIDÁRIA E O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. 4CONCLUSÃO. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1. Da democracia

1.1 Conceitos e modalidades

Democracia, no sentido etimológico do termo, é governo ou poderdo povo.

Segundo a memorável fórmula de Lincoln, a democracia se carac-teriza como “governo do povo, pelo povo, para o povo”.

Na Antiguidade, sobretudo na Grécia Antiga, a democracia eraexercida com plenitude. O grego era o homem-cidadão, desconheciao individualismo da vida civil e reunia-se em praça pública, a fim dediscutir questões do Estado pertinentes ao bem comum (BONAVIDES,2001).

Dadas as várias transformações que a humanidade sofreu, princi-palmente após a Revolução Industrial e todas suas fases, o homem

* Bacharela em Direito pela UFU-MG. Especialista em Direito Constitucionalpela Unisul-SC

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passou a se preocupar mais com as necessidades domésticas cotidia-nas e cada vez menos com a coisa pública. O homem moderno éacessoriamente político, afirma Bonavides (2001). A democracia atualé exercida de modo indireto por representantes. O crescimentopopulacional, as preocupações contemporâneas, envolvendo o traba-lho, a família e as relações sociais de modo geral, assim como outrosfatores condicionantes da sociedade moderna, impossibilitam o exer-cício direto da democracia.

Posteriormente à Primeira Guerra Mundial, criou-se uma terceiraforma de democracia, conhecida como “semidireta”, que mescla asformas direta e indireta. O povo elege seus representantes (democra-cia indireta) e também legisla ele próprio (democracia direta), o que, noBrasil, é feito pelos instrumentos: referendo (arts. 14, II, e 49, XV, CF/1988), iniciativa popular (arts 14, II, e 61, § 2o, CF/1988), e plebiscito(art. 14, I, e 18, §§ 3o e 4o, CF/1988).

1.2 Da democracia moderna à democracia eleitoral

Dizia Tocqueville que a democracia “é universal, durável e todos osacontecimentos, como todos os homens, servem ao seu desenvolvi-mento”. Cada nação promove seu próprio desenvolvimento democrá-tico, e, mesmo percorrendo caminhos diversos, todos levam à buscada igualdade de condições – o ponto gerador da democracia. E acres-centa: “Nessa diversidade de caminhos que as nações podem percor-rer para a realização da democracia, o fator mais importante para defi-ni-los é a ação política de seu povo” (TOCQUEVILLE apud WEFFORT,Org., 1999, p. 154).

Com efeito, essa ação política, quando bem organizada e com vis-tas ao interesse coletivo, leva à realização do bem comum e, portanto,ao maior bem-estar coletivo.

Para Rousseau apud Weffort (1999), um Estado bem constituído ea felicidade comum estão intimamente relacionados. Os indivíduosbuscam e se preocupam mais com os negócios públicos do que comos particulares, e disso decorre uma maior participação nasassembleias. Todavia, ao se subjugar a vontade geral aos interessesparticulares, indicia-se a má direção da pólis, fato que deságua no de-sinteresse do povo pelos negócios do Estado, e atesta sua perdição.Quando essa situação se instala no seio social, abre-se espaço para afalta de amor à pátria, e o interesse particular somado aos abusos dogoverno passa a sobrepujar o interesse público.

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Atualmente, esse sentimento se faz presente, sobretudo, no perío-do eleitoral, com a observância, pelos eleitores, da postura dos admi-nistradores e parlamentares eleitos. O sentimento de que a vontadegeral é subjugada e traída faz da eleição ato político de manifestaçãocoletiva organizada e fundada nas ideias de liberdade e de igualdade,um momento penoso de descrédito na própria democracia.

A dúvida acerca da natureza humana e de suas fraquezas parece tersido um dos fundos justificadores que levou aquele filósofo a afirmar que:

O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois o é somentedurante a eleição dos membros do parlamento; logo que estes sãoeleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos desua liberdade, o uso que dela faz, mostra que bem merece perdê-la[ROUSSEAU apud WEFFORT, Org., 1999, p. 235].

Todavia, no que pese a afirmação de Rousseau de que o homemsó é livre quando vai às urnas, o próprio movimento de alternância deopinião do eleitor, que observa a concretização dos projetos de gover-no lançados em bases eleitoreiras, configura-se como afirmação daliberdade.

Kelsen apud Sartori (1994, p. 55) assim apreendeu: “Nem aqueleque vota com a maioria está inteiramente sujeito à sua vontade após avotação. Tem consciência disso quando muda de opinião [...]”.

E, como explica Sartori (1994), há maioria democrática quando háalternância no exercício do poder. Se a maioria é permanente, impos-sibilita-se a minoria de se tornar maioria, logo, não há democracia.

A democracia numa sociedade autodirigida pressupõe que a liber-dade de um seja a liberdade de todos – o respeito aos direitos da mi-noria condiciona a manutenção do processo democrático.

Atualmente, a democracia não é vista apenas no sentido formal,limitada ao princípio da maioria. Conjuga-se, sobretudo, seu sentidomaterial: observam-se os direitos das minorias. É preciso permitir queas minorias de hoje se tornem a maioria de amanhã, e isso não só emrelação à representação política, mas também quanto ao diálogo emespaço público aberto à busca do bem comum e da promoção da ver-dadeira cidadania.

Nesse ínterim, vê-se que há duas formas de participação no poder:a direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de governo, e arepresentativa baseada no princípio eleitoral (SILVA, 2006).

Uma das facetas da democracia ocidental, sobretudo da brasileira,é a democracia eleitoral, baseada na representatividade política.

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Segundo a teoria eleitoral da democracia, esta “a) [...] postula umaopinião pública autônoma, b) que dá sustentação através das eleições,a governos consentidos, c) os quais, por sua vez, são receptivos àsopiniões do público”, explica Sartori (1994, p. 155).

É certo que os eleitores gozam de certo poder de decisão. Todaviaa democracia, hoje, não se restringe apenas às eleições. De fato, es-sas a compõem, mas o processo democrático também permeia os de-bates, ações políticas dos cidadãos e atuações dos três Poderes queconstituem o Estado Democrático de Direito. E, para a realização de umademocracia participativa, é indispensável que o processamento dessesfatores conjugue dois direitos fundamentais do homem: liberdade eigualdade.

1.3 Da democracia material e dos direitos fundament ais

A democracia pode ser concebida, nas lições da jurista Leitão (1989),como um processo filosófico e político. Na qualidade do primeiro, a de-mocracia é um meio de que o Estado se utiliza para promover a dignida-de do ser humano e seus direitos fundamentais. Na do segundo, a de-mocracia é o princípio de organização dos instrumentos políticos, com oconsentimento dos indivíduos na participação do poder.

Enquanto o processo filosófico caracteriza a democracia substan-cial (material), o processo político configura a democracia instrumen-tal. Ambas as concepções são inseparáveis, uma leva à realização daoutra. A democracia se sustenta sobre as bases da dignificação dohomem como fim precípuo do Estado (democracia substancial) e daparticipação popular na realização do processo político (democraciainstrumental).

Tal participação popular interage com a democracia representativa,substituta da democracia direta de moldes gregos, e contribui para adilatação da cidadania que, através de um processo dialético, leva asociedade, em todos seus estratos, à maior participação nas tomadasde decisão que envolvem o poder e suas ramificações.

Destaca-se que o maior avanço alcançado pelas experiências so-cial e jurídica na articulação da prática política foi o de reconhecer àdemocracia o valor de direito fundamental.

Os direitos fundamentais representam o espelho dos valores quecerta sociedade atribui à expressão humana. A doutrina classifica-osem gerações ou dimensões, todas coexistentes. Bonavides (2000)

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elenca como direitos fundamentais de primeira geração os decorren-tes da liberdade, de segunda geração aqueles provenientes da igual-dade, de terceira geração os relacionados à fraternidade e como dequarta geração a pluralidade, situando nesse espaço a democracia.

Esse insigne constitucionalista ergue a democracia ao status dedireito fundamental de quarta geração, ao lado do direito à informaçãoe do direito ao pluralismo. A democracia apenas se desenvolve quan-do permeada pela divulgação de informações com seriedade e pelorespeito às diversas formas de pensamento e ideologias. O jurista de-fende que a sociedade aberta do futuro depende da concretizaçãodesses direitos e acrescenta ainda:

[...], há de ser também uma democracia isenta já das contaminaçõesda mídia manipuladora, já do hermetismo de exclusão, de índole auto-crática e unitarista, familiar aos monopólios do poder. Tudo isso, obvi-amente, se a informação e o pluralismo vingarem por igual como direi-tos paralelos e coadjutores da democracia; esta, porém, enquanto di-reito do gênero humano, projetado e concretizado no último grau desua evolução conceitual [BONAVIDES, 2000, p. 525].

A democracia, nesse patamar dos direitos fundamentais, busca ajustiça social por meio da qual a dignidade do ser humano, a cidadaniae todos os direitos humanos deixam de ser meras especulações parase tornarem realidade.

Nessa esteira, é o magistério de José Afonso da Silva (2006, p. 132):

Assim, a democracia – governo do povo, pelo povo e para o povo –aponta para a realização dos direitos políticos, que apontam para arealização dos direitos econômicos e sociais, que garantem a realiza-ção dos direitos individuais, de que a liberdade é a expressão maisimportante. Os direitos econômicos e sociais são de natureza igualitá-ria, sem os quais os outros não se efetivam realmente. É nesse senti-do que também se pode dizer que os direitos humanos fundamentaissão valores da democracia. Vale dizer: ela deve existir para realizá-los, com o que estará concretizando a justiça social.

Para que essa realização atinja seu ápice, imprescindíveis os meioslegítimos de adesão popular no funcionamento do poder. O cume, porora admitido pelo atual estágio histórico, é a democracia de massas,onde há espaço para manifestação de opiniões e comunicações políti-cas de diversos segmentos, até mesmo antagônicos.

Nesse sentido o Estado reconheceu a institucionalização de parti-dos políticos (LEITÃO, 1989). A essas organizações, ao se perpassarpor conflitos políticos e ideologias opostas, cumpre o papel de promo-

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ver a forma mais ampla de democracia: o reconhecimento da igualda-de substancial de uns em relação aos outros, respeitando-lhes a diver-sidade, na plenitude de suas liberdades de opiniões e manifestações.

1.4 Da democracia de p artidos

A preocupação de Tocqueville (apud WEFFORT, Org., 1999) com afragilidade da liberdade, fator indispensável ao processo universal emque se constitui a democracia, levou-o a concluir, em defesa dela, quenão basta sua institucionalização como direito. Há necessidade da açãopolítica do cidadão e de sua participação nos negócios públicos, atra-vés da organização de associações políticas, com o fim de defender acidadania ou por meio de grandes partidos.

Os partidos políticos são associações com natureza de pessoa ju-rídica de direito privado, amparados constitucionalmente, cuja funçãosocial é bem conduzir a democracia. Estão catalogados na Lei Maiorentre os direitos fundamentais e, para a doutrina, juntamente com osdireitos políticos, categorizam-se como direitos de participação: “o indi-víduo desfruta de competência para influir na vontade do Estado”(BRANCO, 2007), realização alcançada através da cidadania plena.

Sob o aspecto legal, a Lei Orgânica dos Partidos Políticos, Lei n.9.096/1995, no seu art. 1o, impõe-lhes a finalidade de atender aos inte-resses do regime democrático, à autenticidade do sistema representa-tivo e à defesa dos direitos fundamentais.

Aos partidos compete, de acordo com Ferreira Filho (1966), para arealização da autodeterminação social, despertar e formar a opiniãopública, auxiliando na passagem da autodeterminação pessoal à auto-determinação social. Enfim, extrair uma vontade geral de um feixe devontades particulares.

E, do ponto de vista da representação política, segundo aquele autor,as agremiações partidárias desempenham papel indispensável na de-mocracia representativa, apresentando-se como fiadoras das qualida-des pessoais dos candidatos que disputam as eleições. No que se re-fere à representação no Poder Legislativo, em qualquer esfera que seja,viabilizam a manifestação ideológica da minoria e dão corpo à oposi-ção, com vistas a atrair a atenção do povo, titular do poder, para as açõesdo governo.

Os partidos de oposição têm seu fundamento no princípio dopluripartidarismo acolhido pela Lei Maior. O dissenso e a alternância nopoder naturam o pluralismo.

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Mas, atente-se: a par de suas contribuições para a democracia, ospartidos podem igualmente corrompê-la. O uso da máquina estatal, paraatender aos interesses particulares, menosprezando o bem comum ea vontade geral, carreia o divórcio entre os representantes e o povosoberano. Nesse ponto, a atuação dos partidos deixa de ser legítima,explica Ferreira Filho (1966).

O “troca-troca” de partidos é exemplo que espelha bem a circuns-tância em que a vontade geral é ignorada. O representante eleito des-virtua a democracia representativa ao promover, sem justa causa, amudança de agremiação partidária. E, nessas circunstâncias, as omis-sões partidárias desatendem sua própria finalidade existencial.

2 Da fidelidade p artidária

2.1 Definição

O termo fidelidade tem origem no latim fidelitas, e significa atributoou qualidade de quem ou do que matém ou preserva suas caracterís-ticas originais, ou quem ou o que se guarda fiel à sua origem. Implicaconfiança entre dois indivíduos, entre sujeito e objeto – abstrato ouconcreto. E, do ponto de vista político, é o atributo ou qualidade quedetermina um vínculo entre afiliado e partido político , entre partidos,no interesse mútuo, ou entre eleitor e candidato .

Restringindo-se à fidelidade partidária, para Farhart apud Silva, JoséA. (2006), ela é baseada

na adesão intelectual do membro do partido – filiado ou representanteeleito, no Governo, no Congresso, nas assembléias legislativas esta-duais ou nas câmaras municipais – à filosofia do partido, sua concep-ção de sociedade e dos métodos, caminhos e meios para realizar suasidéias a esse respeito.

2.2 Trajetória histórica na legislação brasileira

A fidelidade partidária adquiriu status constitucional pela primeira vezcom a Emenda Constitucional n. 1/1969, que deu nova redação à Cons-tituição Federal de 1967. Disciplina o art. 152 dessa Constituição:

Perderá o mandato no Senado Federal, na Câmara dos Deputados,nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais quem, poratitudes ou pelo voto, se opuser às diretrizes legitimamenteestabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou deixar o partidosob cuja legenda foi eleito (BRASIL, 2008).

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Posteriormente, a Emenda Constitucional n. 11, de 13 de outubrode 1978, aperfeiçoou o disposto no art. 152 da Constituição de 1967,acrescentando a ressalva de que o desligamento do partido não impli-caria em perda do mandato quando a finalidade fosse participar comofundador de novo partido.

Retrocedeu, todavia, a norma constitucional brasileira quandoadveio a Emenda Constitucional n. 25, de 15 de maio de 1985, quesuprimiu daquela o instituto da fidelidade partidária.

Com a Constituição Federal de 1988, art. 17, § 1o, o instituto emquestão, por meio de uma interpretação sistêmica, pode ser admitidono ordenamento brasileiro. Essa interpretação e os princípios constitu-cionais, notadamente o estabelecido pelo art. 1o, parágrafo único, daCarta Magna vigente, acerca da democracia adotada no Brasil, e peloart. 14, caput, do mesmo diploma, que trata da soberania popular, res-paldam o resultado hermenêutico.

Em nível infraconstitucional, o instituto da fidelidade partidária tam-bém esteve presente no ordenamento jurídico brasileiro.

A revogada Lei n. 5.682, de 21 de junho de 1971, antiga Lei Orgâ-nica dos Partidos Políticos, dispunha expressamente sobre o tema noTítulo VI – “Da Disciplina Partidária”, em específico no Capítulo II – “DaPerda do Mandato por Infidelidade Partidária”. O art. 72 dessa lei ca-racteriza a infidelidade partidária da seguinte forma:

Art. 72. O Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ou Verea-dor que, por atitude ou pelo voto, se opuser às diretrizes legitimamen-te estabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou deixar o partidosob cuja legenda for eleito, perderá o mandato.

Parágrafo único. Equipara-se à renúncia, para efeito de convocaçãodo respectivo suplente, a perda do mandato a que se refere este artigo[BRASIL, 1976].

Já a atual Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9096/1995) deixou ao cargodas próprias agremiações partidárias o estabelecimento, em seus esta-tutos respectivos, de regras sobre disciplina e fidelidade partidárias, bemcomo o processo para apuração de infrações e aplicação de penalida-des aos filiados, assegurada a ampla defesa (art. 15, V, Lei n. 9.096/1995).

O Código Eleitoral vigente – Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965 –nada tratou sobre partidos políticos e disposições pertinentes.

Após a promulgação da Constituição, até os dias atuais, circularamna Câmara dos Deputados várias proposições de alteração doordenamento vigente acerca do tema.

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O Projeto de Lei Complementar n. 127/1989, de autoria do deputa-do do PDS/BA, Arbage (1989), propunha alteração na antiga Lei deInelegibilidades (Lei Complementar n. 5/1970), para declarar inelegívelo titular de cargo eletivo que abandonasse o partido político pelo qualse elegera. Todavia, o projeto não prosperou e foi arquivado em 2 defevereiro de 1991.

Quanto aos Projetos de Lei n. 107/1991, de autoria do deputadoMotta, do PDS/RS, e n. 3.166/1997, de autoria do deputado Gibson,do PSB/PE, ambos com o objetivo de restabelecer a fidelidade parti-dária, além de outros fins, também não foram aprovados. Este foi ar-quivado em 2 de fevereiro de 1999, e aquele em 21 de agosto de2007.

Em 2009, sob as pungências da reforma política, por iniciativa doPoder Executivo, foi apresentado à Câmara dos Deputados o PL n.4635/2009, que propõe alterações na Lei n. 9.096/1995 e na Lei n.9.504/1997, para dispor sobre o tema em análise.

Já em relação aos projetos de emenda à constituição, estes aindapersistem. Tratam da perda do mandato por infidelidade partidária osseguintes projetos que, apensados à PEC n. 85/1995 (MOTTA, 1995),tramitam em conjunto na Câmara: n. 90/1995, n. 137/1995, n. 215/1995, n. 542/1997, n. 24/1999, n. 27/1999, n. 143/1999 e n. 242/2000.Além desses, também versam sobre fidelidade partidária, mas compropostas de alterações apenas no art. 55 da Constituição Federal, asseguintes proposições que, apensadas à PEC n. 42/1995 (CAMATA,1995), seguem com tramitação conjunta: n. 51/1995, n. 60/1995 e n.4/2007.

A mais recente proposta de emenda à constituição – a PEC n. 4/2007, de autoria de Dino et al, deputados do PCdoB-MA, visa discipli-nar a perda do mandato em virtude de infidelidade partidária, masadmite três exceções à regra: participar da criação de novo partidopolítico; alterações essenciais nos programas e estatutos formalmen-te registrados; e mudanças no período de trinta dias imediatamenteanterior ao término do prazo de filiação partidária para candidatura àeleição subsequente. Conforme esse projeto, a perda será decididapela Justiça Eleitoral, mediante iniciativa do representante do Ministé-rio Público competente (para parlamentares do Legislativo Federal,atuará o Procurador-Geral da República; para parlamentares da esfe-ra estadual ou municipal, atuará o Procurador Regional Eleitoral) oupartido político representado na Casa a que pertencer o parlamentar.

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A par da função típica do Poder Legislativo, o Poder Judiciário foiinstado sobre o tema e, no uso de suas funções atípicas, legislou arespeito da fidelidade partidária.

Por meio da Resolução n. 22.610/2007, alterada pela ResoluçãoTSE n. 22.733/2008, o Tribunal Superior Eleitoral, no uso das atribui-ções que lhe foram conferidas pelo art. 23, XVIII, do Código Eleitoral, ena observância do que decidiu a Suprema Corte, nos Mandados de Se-guranças n. 26.602, n. 26.603 e n. 26.604, resolveu disciplinar o pro-cesso de perda de cargo eletivo, bem como de justificação de desfiliaçãopartidária.

2.3 Considerações sobre a Resolução TSE n. 22.610/2007

De acordo com a referida legislação eleitoral, o partido político inte-ressado pode pedir à Justiça Eleitoral, no prazo de trinta dias, quedecrete a perda do mandato daquele que se desfiliou sem justa causa.

Configura-se justa causa quando está demonstradaa incorporação ou fusão de partido, ou criação de novo partido, oumudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário, ou agrave discriminação pessoal a motivar a desfiliação partidária.

Conforme resposta do TSE, em 7 de abril de 2009, à Consulta n.1678, feita pelo Democratas, de relatoria do Ministro Marcelo Ribeiro,o simples ajuizamento de pedido de reconhecimento de justa causa paradesfiliação futura, perante a Justiça Eleitoral, não implica em cancela-mento de filiação partidária para os efeitos da resolução em tela (http:www.tse.gov.br, em 31.5.2009).

Insta observar ainda, como bem asseverou o TSE, no Agravo Re-gimental na Petição n. 2.778, decidido em abril de 2009, que:

O processo instituído pela Res.-TSE n. 22.610/2007 tem caráter dúpliceporque, uma vez julgada improcedente a ação, pelo reconhecimentoda justa causa, atestada estará a regularidade da migração partidária,sendo desnecessária e incabível a formulação de ‘pedido contraposto’[http://www.tse.gov.br, em 31.5.2009].

Quanto à legitimidade ad causam, a agremiação partidária não é aúnica legitimada para peticionar a decretação de perda de mandatoeletivo do infiel. Passado in albis o referido prazo para o grêmio parti-dário legítimo, abre-se a possibilidade de formulação desse pedido pelojuridicamente interessado, a exemplo do suplente à vaga ocupada peloparlamentar que se desfila, sem justa causa, do partido de origem, oupelo Ministério Público Eleitoral.

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Recaindo o requerimento sobre mandato federal, a competência doórgão julgador se restringe ao TSE e, para os demais casos (deputa-dos estaduais ou distritais e vereadores), é competente o Tribunal Re-gional Eleitoral do respectivo Estado.

Essa legislação, juntamente com a Resolução TSE n. 22.733/2008,foram submetidas ao controle de constitucionalidade perante a Supre-ma Corte através das malogradas ADIs n. 3.999, proposta pelo PartidoSocial Cristão (PSC), e n. 4.086, proposta pelo procurador-geral daRepública. Veja-se a ementa dessas:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÕES DOTRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 22.610/2007 e 22.733/2008. DIS-CIPLINA DOS PROCEDIMENTOS DE JUSTIFICAÇÃO DADESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA E DA PERDA DO CARGO ELETIVO. FI-DELIDADE PARTIDÁRIA.

1. Ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra as Resoluções22.610/2007 e 22.733/2008, que disciplinam a perda do cargo eletivoe o processo de justificação da desfiliação partidária.

2. Síntese das violações constitucionais argüidas. [...]

3. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Man-dados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 reconheceu a existên-cia do dever constitucional de observância do princípio da fidelidadepartidária. Ressalva do entendimento então manifestado pelo minis-tro-relator.

4. Não faria sentido a Corte reconhecer a existência de um direito cons-titucional sem prever um instrumento para assegurá-lo.

5. As resoluções impugnadas surgem em contexto excepcional e tran-sitório, tão-somente como mecanismos para salvaguardar a observân-cia da fidelidade partidária enquanto o Poder Legislativo, órgão legiti-mado para resolver as tensões típicas da matéria, não se pronunciar.

6. São constitucionais as Resoluções 22.610/2007 e 22.733/2008 doTribunal Superior Eleitoral. Ação direta de inconstitucionalidade co-nhecida, mas julgada improcedente. [http://www.stf.jus.br, em31.5.2009.]

No que se refere à transitoriedade da norma atacada, destaca-se aresponsabilidade do Poder Legislativo quanto à regulamentação dotema. A resolução em comento representa resposta à omissãolegislativa. E diga-se, é permissivo do próprio legislador. Basta que vejao disposto pelo Código Eleitoral:

Art. 23. Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior:

[...]

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IX – expedir as instruções que julgar convenientes à execução desteCódigo;

[...]

XII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe foremfeitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacionalde partido político;

[...]

XVIII – tomar quaisquer outras providências que julgar conveni-entes à execução da legislação eleitoral. [Grifo nosso.]

Todavia, em que pesem as disposições legais, não é recomendá-vel que o Poder Judiciário invada a esfera do Legislativo. O princípioda separação dos poderes deve ser preservado. Mas, quando há ne-cessidade de se concretizar direitos fundamentais e, portanto, a pró-pria Magna Carta, aos Tribunais Superiores cabe uma conduta pró-ativa. A inatividade do Legislativo não pode justificar restrição a direitose valores constitucionalmente resguardados.

Foi o que ocorreu com a fidelidade partidária e os direitos a elaentrelaçados. O julgamento da ADI n. 3.999 é uma interpretação cons-trutiva do tema, que vivifica a própria Constituição. A Resolução n.22.610/2007 do TSE configura típico ativismo judicial.

Como ensina Barroso (2009), o ativismo judicial, cuja raiz remontaao Direito norte-americano, é uma forma de interpretar valores e finsconstitucionais com maior interferência na esfera dos outros Poderes.Ocorre, em regra, quando há atuação tímida do Poder Legislativo fren-te às exigências de solução efetiva das demandas da sociedade. Ma-nifesta-se por meio das seguintes condutas:

(I) a aplicação direta da Constituição a situações não expressamentecontempladas em seu texto e independentemente de manifestação dolegislador ordinário; (II) a declaração de inconstitucionalidade de atosnormativos emanados do legislador, com base em critérios menos rí-gidos que os de patente e ostensiva violação da Constituição; (III) aimposição de condutas ou de abstenções ao Poder Público,notadamente em matéria de políticas públicas.

É o oposto da autocontenção judicial, que limita a incidência daConstituição em prol de instâncias tipicamente políticas.

Trata-se de novo direcionamento da democracia contemporâneaconduzido pelo Judiciário através da concretização de princípios cons-titucionais. Isso é o que representa a mencionada resolução do TSE.

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Enquanto o legislador não elabora a lei pertinente à fidelidade par-tidária, a situação se regula, provisoriamente, pela citada legislação.Frisa-se: a regulação da fidelidade partidária pelo TSE não é caso deusurpação de competência, mas, sim, de um papel do Judiciário, res-guardado pela ordem constitucional atual de velar pelo respeito à so-berania popular exercida por meio do sufrágio universal. Remonta aResolução TSE n. 22.610/2007 à concretização de nada mais do que oprincípio da moralidade, envolvendo o mandato eletivo e o sistemarepresentativo brasileiro.

Vê-se, portanto, que a decisão do excelso Tribunal foi acertada.Defendeu a concretização do direito constitucional do partido políticoao mandato eletivo e suas implicações práticas.

2.4 Dos mandatos eletivos e da fidelidade p artidária

A fidelidade partidária remonta à ideia do mandato que lhe é intrínseca.

A natureza do mandato pode assumir dois aspectos: representati-vo ou imperativo (BONAVIDES, 2001).

O mandato representativo tem origem na Revolução Francesa. NaFrança de 1791, o rei era o legítimo representante da nação; e quemera eleito para exercer algum cargo ou função dentro da administraçãopública não recebia esse título de representante; estava intimamenterelacionado com o princípio da soberania nacional, para o qual o re-presentante é o depositário da soberania, representa toda a nação.Todavia nesse tipo de mandato predomina essencialmente a doutrinada duplicidade.

Segundo essa doutrina, há duas vontades distintas a serem consi-deradas: a do representante e a dos representados. Estes consentemàquele o poder de governá-los de acordo com suas próprias convic-ções. No mandato representativo, de acordo com Bonavides (2001),há autonomia da vontade; o representante tem vontade própria, po-dendo divergir da vontade dos representados; ele não pode ser desti-tuído; seus atos não precisam ser ratificados pela vontade nacional.

Um dos maiores defensores desse mandato é Montesquieu. No “Es-pírito das Leis”, afirma que o povo é incapaz de gerir a coisa pública,cabe-lhe apenas escolher os representantes. São suas as palavras:

O povo é admirável para escolher aqueles a quem deve confiar partede sua autoridade. Somente pode decidir-se por coisas que não podeignorar, e por fatos que se apresentam aos seus sentidos. [...]. Contu-

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do, saberá o povo conduzir um negócio, conhecer os lugares, as oca-siões, os momentos, e aproveitá-los? Não, não o saberá. A grandevantagem dos representantes é que estes são capazes de discutir asquestões públicas. O povo não é, de modo algum, apto para isso, fatoque constitui um dos grandes inconvenientes da democracia[MONSTESQUIEU, 2002, p. 24/169].

Já em relação ao mandato imperativo, este adveio do pluralismoda sociedade de grupos, do declínio da doutrina da duplicidade com oprincípio da disciplina partidária, munida da sanção de perda do man-dato. Baseia-se a imperatividade especialmente na doutrina da identi-dade. Conforme a própria nomenclatura sugere, lastreia-se na exis-tência de uma só vontade: a vontade do representante atrela-se à von-tade dos representados. O mandatário deve guardar fidelidade paracom o mandante, sob pena de revogação do mandato. Despontamnesse os princípios da soberania popular e do sufrágio universal. Opovo soberano elege e controla seus representantes, os quais assu-mem a responsabilidade de bem conduzir o mandato, em consonânciacom os compromissos eleitorais e partidários assumidos, que cativa-ram a confiança do eleitor (BONAVIDES, 2001).

Nesses moldes de imperatividade, os partidos políticos, no sistemarepresentativo, são de grande relevância, já que, deles emergem candi-datos a representantes do povo. Assim, se eleitos, assumem o dever defidelidade e, se descumprido, sujeitam-se à perda do mandato.

2.5 A visão dos tribunais

Após anos de debate improfícuo no Poder Legislativo sobre disci-plina e fidelidade partidária, o Poder Judiciário foi chamado a se pro-nunciar sobre o tema.

O partido Democratas (DEM) formulou a Consulta n. 1.398 ao Tri-bunal Superior Eleitoral, a fim de definir a quem pertence o mandatoeletivo, se ao próprio parlamentar ou ao partido político. Quanto ao sis-tema eleitoral majoritário, o Tribunal foi também provocado por meio daConsulta n. 1.407, feita pelo deputado federal Nilson Mourão, eleito peloPartido dos Trabalhadores (PT).

Em ambos os casos, o TSE respondeu que a detenção de taismandatos, tanto para o Poder Legislativo quanto para Poder Executi-vo, recai sobre os partidos políticos.

Posteriormente, o STF foi acionado e, julgando em conjunto osMandados de Segurança n. 26.602, n. 26.603 e n. 26.604, acolheu a

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posição do TSE e decidiu que o eleito, ao abandonar a legenda pelaqual se elegeu, renuncia tacitamente ao mandato.

Quanto à Consulta n. 1.398, respondida em 27 de março de 2007,os ministros do TSE fundamentaram seus votos utilizando-se de prin-cípios constitucionais, tais como: a moralidade administrativa, a sobe-rania popular, o sufrágio universal, entre outros. Além de dispositivosda própria Magna Carta (art. 14, 17 e 37, caput), basearam-se tambémem diplomas infraconstitucionais (Código Eleitoral, Lei dos Partidos Po-líticos e Lei das Eleições).

O ministro-relator Cesar Asfor Rocha, nessa consulta, destacou ostatus constitucional dos partidos políticos, a necessidade de filiaçãopartidária como condição de elegibilidade, a utilização de umahermenêutica constitucional que confere aplicabilidade imediata aosprincípios constitucionais, fazendo menção expressa à moralidadeadministrativa. Em sua manifestação, esclarece que “o vínculo de umcandidato ao partido pelo qual se registra e disputa uma eleição é o maisforte, se não o único elemento de sua identidade política”. O candidatonão existe fora do partido e, se eleito, não é de modo algum possuidorde parte da soberania popular. E o mandato eletivo, função política epública, não há de ser usado no interesse particular, sob pena de afrontaao princípio da moralidade.

Outro voto afirmativo à Consulta n. 1.398 foi o do ministro CezarPeluzo. Através de abordagem constitucional e infraconstitucional dosistema representativo proporcional, ressaltou que a legitimidade domandato impõe ao representante fidelidade ao eleitor. Ao partido cabeo papel de intermediário entre o povo e o Estado. E, quanto ao eleito,é mero particular na execução do mandato, devido à grandeza da fun-ção pública exercida em proveito dos interesses do cargo, e não dapessoa que o ocupe.

Votou vencido o ministro Marcelo Ribeiro, segundo quem não hánorma expressa no ordenamento pátrio sobre fidelidade partidária.

No tocante ao sistema eleitoral majoritário, também houve respos-ta do TSE no sentido de que o eleito deve respeitar a fidelidade parti-dária, sob pena de perder o mandato. Foi relator da Consulta n. 1.407ao TSE, decidida em 16 de outubro de 2007, o ministro Carlos AyresBritto. Segundo ele, apesar da tendência de o prestígio pessoal preva-lecer sobre o partidário, não há, para a eleição majoritária, a indepen-dência de ideologia político-partidária. O mandato eletivo se vincula aoregime representativo – o povo e os partidos políticos são a fonte delegitimação eleitoral.

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Frente às decisões do STF e do TSE, insurgiram-se inúmeras vo-zes, sob o argumento de arbitrariedade e inconstitucionalidade.

Para os advogados Abreu (2007), Leite Neto (2007) e Montalvão(2007), a Constituição Federal de 1988, no art. 55, é taxativa quantoaos casos de perda do mandato, o que não autoriza o Poder Judiciárioa dar-lhe interpretação extensiva, nem o legitima a legislar.

Em relação ao art. 55 da CF/1988, alerta o ministro Cezar Peluzo,em seu voto na Consulta n. 1.398, que esse dispositivo constitucionaltem a natureza sancionadora, o que não se coaduna com a naturezada fidelidade partidária. Estipula sanções para atos ilícitos praticadospor parlamentares.

E, quanto ao argumento de que o Poder Judiciário legislou acercado tema, não há o que refutar. Mas, atente-se: sob o contexto ocorrido,outra não poderia ser a postura dos Tribunais (STF e TSE). A democra-cia em nada se abalou.

À luz do pensamento de Barroso (2009), a separação dos Podereshá de ser vista com temperamentos. Juízes e tribunais são coadjuvan-tes na criação do Direito. E, nesse caso, foi o que se vislumbrou com ainterpretação sobre o mandato eletivo, o sistema representativo e afidelidade partidária. E, ainda, a omissão legislativa e a falta de funcio-nalidade do Poder Legislativo são os fomentadores de uma jurisdiçãoconstitucional criativa e expansiva.

O caso em tela configurou resposta judicial caracterizada por umarelação de compromisso entre os Tribunais Superiores e a soberaniapopular. Portanto, a favor da democracia.

O Judiciário foi demandado acerca do tema fidelidade partidária, esobre ele respondeu. A decisão foi legítima; todavia, devido ao enfra-quecimento do Legislativo, foi ativista, expansionista.

E, nesse sentido, sem querer substituir aos eleitos para a funçãolegiferante, aguarda-se a legislação proveniente do Congresso Nacio-nal, bem como a concretização da reforma política pertinente.

2.6 O sistema eleitoral constitucional e a fidelidade p artidária

A Lei Maior protege a liberdade de expressão, de pensamento e deassociação, logo a mudança de partido é permitida. Todavia, o que osistema eleitoral constitucional veda é candidatura fora de bandeirapartidária.

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Assim, é defeso ao eleito a mudança de filiação partidária, masisso implica em renúncia ao mandato pelo qual se elegeu às custasdo partido que o acolheu nas disputas eleitorais.

Nesse sentido, o ministro-relator Carlos Ayres Britto, na Consultan. 1.407 ao TSE, afirmou que é necessária e imprescindível a inser-ção dos partidos políticos no sistema representativo brasileiro, umavez que “ninguém em particular é candidato de si mesmo”.

Ressalta-se, quanto ao sistema eleitoral proporcional, que a vagado parlamentar só é alcançada caso o partido tenha atingido os quoci-entes eleitoral e partidário que lhe garantam certo número de cadeirasna Casa do Poder Legislativo. Esses quocientes seguem as regrasdos arts. 106 a 109 do Código Eleitoral.

Explica-se: o quociente eleitoral define os partidos e/ou coligaçõesque têm direito a ocupar as vagas em disputa nas eleições proporcio-nais. É o resultado da divisão do número de votos válidos pelo de lu-gares a preencher na respectiva circunscrição. Apenas os partidos oucoligações cuja soma dos votos válidos atinja esse quociente alcan-çam a distribuição de vagas.

Já o quociente partidário é alcançado pela divisão do quocienteeleitoral pelo número de votos válidos para a legenda; tem a funçãode determinar a quantidade de vagas para cada partido que tenhaobtido o quociente eleitoral.

Portanto, consideram-se eleitos a quantidade de candidatosregistrados por partido (ou coligação), indicada pelo quociente parti-dário, obedecendo à ordem de votação nominal.

A par dessas elucidações, conclui-se que o candidato que se ele-ge não o consegue fora de uma agremiação partidária, que arregimentatodos os recursos possíveis para o sucesso daquele que é depositáriode sua confiança.

Mas, de outro lado, após eleito, o titular do mandato eletivo deveestar atrelado às diretrizes do partido a que se filiou para concorrer aopleito? Não goza ele de liberdade de expressão e de associação?

Vislumbra-se, diante disso, um suposto conflito de normas consti-tucionais – a colisão entre o direito fundamental da manifestação dopensamento e de associação versus o sistema representativo.

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3 Da infidelidade p artidária e dos direitos fundament ais

3.1 Da relação entre filiado e p artido político

Após ser eleito, vários eventos podem ocorrer de forma a minar arelação entre o detentor do mandato eletivo e o partido político peloqual foi lançada sua candidatura nas eleições em que se tornou vitorio-so: dissensões políticas; alterações nas diretrizes partidárias; negati-va em seguir a ideologia partidária, seja no parlamento ou no gover-no; apoio aos oponentes partidários e perseguições políticas. Inúme-ras são as situações que podem levar o eleito a procurar filiação emoutra bandeira partidária.

Diante disso, diga-se que, em nível constitucional, a desfiliaçãopartidária é permitida. É direito de todos a manifestação do pensa-mento, a liberdade de consciência, assim como ninguém é obrigado ase associar ou a permanecer associado. A liberdade de pensamento ede associação são direitos fundamentais garantidos pela ConstituiçãoFederal, em seu art. 5o, VI, VIII e XVII a XXI.

Com efeito, a liberdade, na qualidade de direito fundamental deprimeira geração, é um direito de resistência ou de oposição ao Esta-do. Ao mesmo tempo em que deve se abster de condutas que a res-trinjam, o Estado deve também observar os meios necessários a torná-la efetiva, real (BRANCO, 2007). Assim sendo, não cabe ao Estadointervir na escolha das convicções políticas de cada cidadão, e muitomenos utilizar de subterfúgios que o coíbam a adotar certa ideologiapolítico-partidária.

Seja qual for o aspecto da liberdade, por meio desse direito funda-mental o homem expande sua personalidade, concretizando o princí-pio da dignidade do ser humano, um dos princípios fundamentais doEstado Democrático de Direito, disciplinado pelo art. 1o, III, da CartaPolítica brasileira.

Ademais, a liberdade é um dos componentes essenciais à demo-cracia. E, no tocante à questão da filiação partidária, a liberdade polí-tica figura-se imprescindível à realização humana como móvel da dou-trina dos partidos políticos.

Todavia, a questão da filiação partidária se torna complexa ao en-volver os homens públicos que estão no poder, ocupando mandatoseletivos.

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A Constituição Federal de 1988 assegura às agremiações político-partidárias o direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito aorádio e à televisão, na forma da lei (art. 17, § 3o), ambos direitos funda-mentais de prestação. E, de outro lado, exige filiação partidária comocondição de elegibilidade para as disputas eleitorais (art. 14, § 3o, V,CF/1988).

Desde as convenções partidárias, que são realizadas até 30 dejunho do ano eleitoral (Lei n. 9.504/1997, art. 8o), o partido passa ainvestir naqueles que, escolhidos pelos convencionais, identificam-secom as suas ideologias político-partidárias e se dispõem a lutar, sob asigla da respectiva grei, pelo mandato eletivo.

Para a disputa eleitoral, o partido deve efetuar, na Justiça Eleitoral, oregistro de candidatura dos escolhidos em convenção, cujo prazo paraas agremiações é até 5 julho do ano em que se realizarem as eleições(Lei n. 9.504/1997, art. 11) e até o dia 7 do mesmo mês para o candidatoprejudicado pelo não requerimento do partido ou coligação partidáriaacerca de seu registro como tal (Lei n. 9.504/1997, art. 11, § 4o).

A partir de então, o partido político aloca todos seus recursos emfavor dos respectivos candidatos, distribuindo entre estes cotas do fundopartidário (art. 44 da Lei n. 9.096/1995 e art. 20 da Lei n. 9.504/1997),horários para propaganda no rádio e na televisão (art. 46 da Lei n.9.504/1997), além de outros gastos eleitorais (art. 26 da Lei n. 9.504/1997). Logo, o candidato, obviamente, não tem como alcançar o man-dato eletivo sem o concurso de uma grei.

A reivindicação das agremiações desfalcadas com a infidelidadepartidária remonta à crise de representatividade, abalando a essênciado Estado Democrático de Direito, visto que a democracia representa-tiva concretizada através dos partidos políticos é o modelo constitucio-nal de democracia adotada pelo ordenamento brasileiro.

Esta crise de representatividade remete ao conflito entre o direitofundamental à liberdade de pensamento, de manifestação política pormeio da desfiliação partidária contraposta ao direito fundamental àdemocracia representativa, supostamente fraudada com a migraçãopartidária dos eleitos.

3.2 Métodos de solução p ara os conflitos entre direitos fundament ais

O ordenamento jurídico possui um caráter unitário e sistemático,conferido-lhe pela Constituição, que, na qualidade de norma funda-

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mental, funciona como ligação entre os diversos elementos normativosque constituem o ordenamento estatal.

Porém, considerando que a sociedade brasileira é uma sociedadeplural, supõem-se a existência de interesses e valores conflitantes,sobretudo colisões entre direitos fundamentais. Nesse ínterim, emer-ge o princípio da unidade da Constituição, apto a conformar e harmoni-zar valores e bens jurídicos em colisão.

Leciona Barroso (1996) que a Carta Fundamental do Estado é umproduto dialético de interesses e aspirações distintos, quando não an-tagônicos. Em virtude dessa pluralidade de concepções é que a unida-de da interpretação se torna imprescindível.

Para atingir o equilíbrio entre eventuais colisões e antinomias, into-leráveis pelo direito, ainda é necessária a utilização de antigos méto-dos de interpretação e aplicação de normas do ordenamento vigente,mas figuram insuficientes para atender a complexidade dos conflitosque emergem do interior da Constituição.

A velha hermenêutica baseada nos critérios da hierarquia,temporalidade, especialidade, segundo a doutrina em geral, realiza umainterpretação mais estática que dinâmica acerca dos direitos funda-mentais, com nível de concretização aquém das exigências advindasdas transformações sociais.

E, conforme assevera Bonavides (2000, p. 585), “são esses direi-tos fundamentais à Constituição mesma em seu máximo teor dematerialidade”. Para dar-lhes efetividade, é necessário umahermenêutica operante, criativa, capaz de conferir à normaconcretização de valores e princípios.

Enquanto a velha hermenêutica efetua uma operação lógica, semnada acrescentar ao conteúdo da norma, a nova hermenêutica inter-preta com acréscimo.

A tarefa de interpretação que incumbe ao juiz constitucional implicaproteção e concretização dos direitos fundamentais. Sustenta Huberapud Bonavides (2000) que concretizar esses direitos implicaexaurimento e aperfeiçoamento dos conteúdos constitucionais, exe-cutando-os em consonância com o tempo e as mudanças ocorridas nasociedade.

Dada a complexidade das relações sociais contemporâneas, nãoraro há o choque entre direitos fundamentais de titulares diferentes. Comvista à solução pontual de eventuais colisões, Hesse apud Mendes (2004)

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considera que o juízo de ponderação adequado perpassa pela concor-dância prática, de modo a atribuir realidade a cada um dos valores jurí-dicos em conflito.

Conforme Alexy (1998), esse processo de ponderação passa portrês níveis, respectivamente: a delimitação da intensidade da interven-ção; a relevância da justificativa para o ato, e a ponderação em sentidoestrito e específico. Elucida que, quanto mais intensa a intervençãonum direito fundamental, mais fortes devem ser os argumentosjustificadores dessa intervenção.

Além da ponderação de valores, Alexy (1998) apresenta como so-lução de conflito entre direitos fundamentais a força vinculante destese a adoção da teoria dos princípios.

Quanto à força vinculante dos direitos fundamentais, há de serrechaçada qualquer tendência ou ideia de não judicialização dessesdireitos, pois tal entendimento afeta diretamente a força da Constitui-ção. Uma constituição cujo rol dos direitos fundamentais não passa denormas programáticas seria uma constituição sem conteúdo material.

Já a aplicação da teoria dos princípios implica a otimização dasnormas constitucionais; não excluem a utilização de regras, postula-dos definitivos, mas impedem o esvaziamento dos direitos fundamen-tais; dilatam ou restringem seu conteúdo normativo.

A nova hermenêutica amparada em métodos de ponderação devalores, na força vinculante dos direitos fundamentais e na aplicaçãodos princípios constitucionais aos casos práticos, implica interpretaçãodinâmica e concretista dos valores amparados constitucionalmente.

Portanto, há de ser incentivada como o melhor método para a solu-ção de conflitos envolvendo direitos fundamentais.

3.3 A perda do mandato eletivo por infidelidade p artidária e o prin-cípio da proporcionalidade

Visto que a solução para o conflito entre direitos fundamentais passapela ponderação de valores, de modo que cada um tenha a máximaconcretude possível, vejamos o caso concreto.

Segundo o Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2007) e, no mes-mo sentido, o Tribunal Superior Eleitoral, com a edição da Resoluçãon. 22.610/2007, o eleito que se desfilia do partido pelo qual se elegeu

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perde o mandato eletivo, salvo nos casos de justa causa (art. 1o, §1o,Resolução-TSE n. 22.610/2007).

Conflita-se, nessas posições dos tribunais, o direito fundamentaldo candidato eleito à liberdade de pensamento e de associação e odireito do partido à vaga ocupada pelo trânsfuga, com implicações di-retas sobre o direito fundamental à democracia representativa.

Que liberdade é essa que adstringe, sob pena de perda do manda-to, o eleito ao partido originário, pelo qual disputou as eleições para serrepresentante do povo, seja no Poder Executivo ou no Legislativo?Não seria essa restrição contrária aos ditames democráticos?

Não, não é. Através da teoria dos princípios tem-se a solução.

Sobre essa teoria, em especial quanto à proporcionalidade, Alexy(1998) afirma a necessidade de se analisar a questão sob a ordem detrês postulados, os quais devem ser observados necessariamente umapós o outro, sendo que o primeiro é o da adequação do meio utilizadopara a persecução do fim almejado; o segundo recai sobre a averigua-ção da necessidade desse meio, devendo ser este o mais suave e omenos restritivo possível; e o terceiro postulado é o da ponderação(proporcionalidade em sentido estrito).

Do ponto de vista do partido, este se vê em prejuízo com a infideli-dade partidária daquele que se elegeu às suas custas. Já pela ótica dademocracia brasileira, essencialmente representativa, a questão apre-senta viés mais tênue.

A Lei Fundamental da República do Brasil, no seu art. 1o, parágrafoúnico, elege a democracia representativa e a participação direta comoprincípios fundamentais e, no art. 14, caput, a soberania popular comodireito político, componente dos direitos fundamentais listados pelopoder constituinte originário. Nesse sentido, a democracia apresentadois princípios primários: o da soberania popular, segundo o qual opovo é a única fonte do poder, e o da participação deste no poderatravés da expressão da vontade popular, sendo que, quando a parti-cipação é indireta, caracteriza-se o princípio da representação popular(SILVA, José Afonso da, 2006, p. 131).

Desta feita, a democracia representativa apresenta como elementobásico o mandato político representativo, gerado pela eleição em favordo eleito. O povo, portador da soberania popular, realiza sua participa-ção indireta por meio do sufrágio universal, concedendo ao eleito re-presentante um mandato eletivo.

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No entanto, para ser eleito há circunstâncias a serem obedecidas.É cediço que o sistema constitucional brasileiro não admite candidatu-ras avulsas. A filiação partidária é condição de elegibilidade (art. 14, §3o, V, CF/1988). Diante disso, os partidos políticos assumem papelindissociável da democracia brasileira; compõem um dos instrumen-tos de coordenação e expressão da vontade popular.

Por conseguinte, a base do mandato político há de assumir caráterpopular, democrático e, cada vez, mais interligado às reivindicaçõesdo povo, principalmente àquelas pelos quais o eleito realizou suas ba-ses eleitorais. Há tendência de que as relações entre os mandatários eo povo se tornem, progressivamente, mais e mais estreitas (SILVA,José A. da, 2006), isso especialmente, com a atuação dos partidospolíticos, que imprimem aos eleitos e demais filiados normas de disci-plina partidária. A vinculação do povo aos seus representantes e, por-tanto, aos partidos políticos tende a dar feição imperativa ao mandatoeletivo, implicando a assunção pelo eleito conduta que reflita sua fide-lidade com o partido, mormente com o povo que o elegeu.

Insta destacar ainda: é dever dos ocupantes de cargos eletivos ozelo pelo prestígio, aprimoramento e valorização das instituições de-mocráticas e representativas, bem como o exercício do mandato comdignidade e respeito à coisa pública e à vontade popular, agindo comboa-fé, zelo e probidade (Código de Ética e de Decoro Parlamentar daCâmara dos Deputados, art. 3o, III e IV).

Visto isso, pode-se avaliar a questão da infidelidade partidária comperda do mandato eletivo versus o direito fundamental do eleito à liber-dade de pensamento, de convicção política e de associação, da se-guinte maneira:

A perda do mandato atende à adequação pertinente aorestabelecimento das diretrizes democráticas que, pautadas numa de-mocracia partidária, faz do mandato eletivo concedido pelo soberano aseus representantes, instrumento apto a concretizar políticas públicascorrespondentes às discursadas na disputa eleitoral. O mandato políti-co pertence ao povo soberano que o exerce através das agremiaçõespartidárias. E, na fase atual do processo político, não se conhece outramedida capaz de implementar uma democracia representativa semescamoteações que não essa.

Quanto à necessidade do meio empregado, foi observado que, en-quanto a liberdade individual, no sentido de liberdade político-partidá-ria, é intocável, a vontade popular há de ser igualmente protegida. Não

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há como impedir a liberdade de um eleito à migração partidária, porémo respeito à vontade popular e à democracia representativa culminacomo dever constitucional. Por conseguinte, a perda do mandato eletivoé medida necessária para a preservação das instituições democráti-cas e representativas atingidas pela infidelidade partidária.

Ademais, a decretação da perda do mandato eletivo pela infideli-dade partidária passa pelo devido processo legal – também um direitofundamental. A Justiça Eleitoral decretará a respectiva perda obser-vando o contraditório e a ampla defesa. A medida disciplinada pelaResolução-TSE n. 22.610/2007, atende aos parâmetros constitucio-nais pertinentes, inclusive em obediência ao comando das decisõesnos mandados de segurança que lhe deram origem (MS n. 26.602, MSn. 26.603 e MS n. 26.604).

Nessa linha, posicionou-se o ministro Cezar Peluzo, na ADI n. 3.999,que declarou constitucional a citada resolução. Segundo ele, o devidoprocesso legal agasalha o processo decorrente de outras fontesnormativas que não apenas a lei. E, assim, pronunciou-se:

[...] a necessidade da disciplina do procedimento, que foi a razão daedição da resolução ou das razões ora impugnadas, advém de outrafonte constitucional, a eficácia da coisa julgada material de um acórdãodo Supremo Tribunal Federal. Noutras palavras, se esta Corte, emdecisão recoberta pela autoridade da coisa julgada material, determi-na ao Tribunal Superior Eleitoral que, para dar eficácia prática ao obje-to da sua decisão, deva disciplinar o modo de concretização de seucomando, a atuação do Tribunal Superior Eleitoral não pode deixar deser considerada como expressão de um devido processo legal, de fonteconstitucional, porque nasce exatamente de eficácia da coisa julgadamaterial que a Constituição lhe garante. [http://www.stf.jus.br, em31.5.2009.]

O eleito, diga-se, tem a oportunidade de provar que sua desfiliaçãofoi por justa causa e que, por consequência, não traiu a vontade doeleitor nem feriu a democracia representativa.

Vê-se, então, que a restrição é dotada de caráter pontual, necessá-rio, afastando métodos escusos que denegririam a imagem do EstadoDemocrático de Direito. Com o devido processo legal – instrumento deJustiça – conclui-se, nesse ínterim, que a perda do mandato eletivo émedida equilibrada e capaz de frear, com precisão, as subjugações po-lítico-partidárias que afetam a representatividade da soberania popular.

O terceiro critério – proporcionalidade em sentido estrito – tam-bém é atendido, visto que a ponderação de valores sub judice é razo-

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ável. A democracia representativa no Brasil, portando-se nos moldespartidários, para evitar descrédito, é necessário que se erga sobrepartidos fortes, com ideologias sólidas e bem distintas. Meras fac-ções políticas, umas em oposição às outras, com apenas aparênciade distinções no conteúdo e na forma de agir, mais se aproximandode lutas mesquinhas pelo poder que da realização do bem comum,em nada contribuem para a concretização dos direitos fundamentaise fortalecimento da democracia.

Diga-se, ainda, pelo fato de o povo se utilizar dos partidos políticospara a realização da democracia representativa, a ruína destes é aprópria ruína da democracia. Logo, é condição de existência dos parti-dos a imposição de disciplina e fidelidade partidária.

Nas sábias lições de Ferreira Filho (1966), a democracia não serealiza em sua essência senão através dos grupos políticos. Mas, setais partidos podem ser ótimos instrumentos para a formação da de-mocracia, podem também deformá-la e matá-la. O sufrágio universalquando corrompido e a vontade do eleitor traída pela vontade particu-lar do eleito – que, na alternância frenética de partidos políticos, maispara satisfação de sua ganância e ambição do que para promover obem comum – levam o cidadão a se desinteressar pelos negócios pú-blicos, o que, no dizer daquele autor, configura fato mortal para a de-mocracia.

O mandato não é atributo pessoal do eleito; é instrumento para arealização das convicções filosóficas e político-partidárias, através dasquais se promoveu durante as disputas eleitorais. E o povo, por tê-lasacolhido como as mais convenientes ao contexto vivido, legitima o re-presentante a cumpri-las. Assim, não é à outra convicção ou projeto aque está adstrito, senão àqueles autorizados pelo soberano. O eleitoque viva internamente um conflito de convicções, deve migrar de partidoe deixar que seu suplente na grei concretize as propostas eleitorais.

A liberdade de pensamento e de associação do eleito não foi tolhi-da, ele pode escolher a grei que melhor represente seus ideais políti-cos e filosóficos. Não lhe é permitido, todavia, levar consigo para outraagremiação o mandato que lhe fora emprestado pelo povo paraconcretização de ideais que serviram à sua base eleitoral.

Nesse sentido, vale destacar as palavras de Burdeau:

A escolha de um governante não lhe atribui carta branca; é apenasuma forma indireta de expressão da vontade política do povo. O eleitornão vota, via de regra, num homem por causa de suas qualidades

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pessoais que, comumente, desconhece, ele vota no homem queencarna ou que reflete uma visão política determinada, notadamentepor pertencer a um grupo político. Mais concretamente, ele atribui aesse homem um mandato, encarregando-o de tomar esta ou aquelamedida precisa, e deixando-lhe certa latitude em face dos problemasimprevistos, ou quanto ao acessório (sic) [BURDEAU apud FERREIRAFILHO, 1966, p.104].

Pertinente ao direito fundamental do eleito à liberdade em todassuas formas de expressão, Mendes (2004) elucida que “nem tudo quepratica no suposto exercício de determinado direito encontra abrigo noseu âmbito de proteção”.

O direito não tolera abusos. É permitido ao eleito migrar de siglapartidária, mas ele deve ter consciência e responsabilidade pelos seusatos frente ao corpo político que o elegeu.

Dessa forma, considerando que o mandato eletivo não é um bemparticular do eleito, mas instrumento público para realização do bemcomum, a ponderação entre valores foi atingida com grande plenitude.A liberdade (de pensamento e de associação) e a democracia – ambosdireitos fundamentais – encontram-se realizadas em seus respectivosconteúdos, sem que a perda do mandato por infidelidade partidáriaimplique negação recíproca de tais direitos.

A evidência do respeito à fidelidade partidária fortalece os partidospolíticos e areja a democracia brasileira, corroborando a dignificaçãoda soberania popular.

Vê-se, portanto, que a colisão em tela foi apenas aparente.

4 Conclusão

Constatou-se que o direito fundamental à liberdade de pensamen-to e de associação do eleito não colide com o direito fundamental àdemocracia, realizada através da representação político-partidária.

A representação política é o método pelo qual a democracia flui,mas, cabe ao povo a autoridade do poder. Dada a impossibilidade doexercício da democracia grega na íntegra, este governa por represen-tantes, que, por sua vez, hão de conduzir o governo para o povo.

A democracia é indissociável da liberdade e, portanto, propulsorada dignidade do ser humano, que se determina com autonomia e res-ponsabilidade.

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Nesse passo, o eleito representante goza da liberdade em toda suaextensão. Todavia, ao exercê-la, há de ser responsável, o que pressu-põe a consciência de seus atos quanto ao mandato eletivo que não lhepertence. Afinal, a soberania é do povo.

Assim, tem autonomia no exercício de suas convicções políticas,através do partido político que lhe convém, sem que o exercício livrede sua escolha partidária afete o grau de representatividade do regimedemocrático brasileiro.

As agremiações partidárias, na função social que lhes cabe, de-vem estar atentas a todos os atos de seus filiados que desrespeitemou fraudem a vontade do soberano, impondo-lhes disciplina e fidelida-de partidária.

Salienta-se que esse raciocínio é fruto da aplicação da novahermenêutica constitucional, sobretudo na utilização de princípios cons-titucionais. Os direitos fundamentais em questão foram interpretadosde modo a se atingir a máxima otimização possível, dentro doordenamento jurídico brasileiro e da realidade social a que se aplica.

Diante disso, concluiu-se que a perda do mandato eletivo pela infi-delidade partidária é medida razoável na preservação dos valores cons-titucionais materializados pelos direitos fundamentais.

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ELEIÇÕES E LIBERDADE DE IMPRENSA

Renata Beatriz de Fávere*

1 INTRODUÇÃO. 2 HISTÓRICO NORMATIVO. 3 CENÁRIO ATUAL.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

A partir de 5 de julho dos anos eleitorais, passam a vigorar disposi-tivos legais que restringem atividades ordinariamente admitidas emoutros períodos, com o objetivo principal de garantir a normalidade e alegitimidade do voto contra a influência do poder político e econômicoou do uso indevido dos meios de comunicação social.

Tanto no meio jurídico como no meio jornalístico são travadas in-tensas discussões a respeito das restrições aplicáveis a jornais, rádiose televisões por serem consideradas limitadoras à garantia de liberda-de de comunicação social prevista na Constituição da República.1

Por essa ótica, propõe-se a reflexão sobre a normatização hoje vi-gente, que atinge a livre manifestação de órgãos jornalísticos e seu al-cance em um Estado Democrático de Direito, que defende constituci-onalmente, como direito fundamental, a livre manifestação do pensa-mento (Constituição de República, art. 5o, IV e XIV).

2 Histórico normativo

Segundo o autor Wolney Ramos (2005, p.131), a primeira regula-mentação sobre propaganda eleitoral no rádio foi trazida pela Lei n.1.164, de 24 de julho de 1950, que instituiu o terceiro Código EleitoralBrasileiro.

* Especialista em Direito Constitucional, Analista Judiciária do TRESC.1

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e ainformação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquerrestrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1o Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena

liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicaçãosocial, observado o disposto no art. 5

o, IV, V, X, XIII e XIV.

[...]

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Naquela oportunidade já se registrava a vedação aos jornais ofi-ciais, estações de rádio e tipografias de propriedade da União, dos Es-tados, do Distrito e dos Territórios Federais, dos Municípios, dasautarquias e das sociedades de economia mista, de fazerem propagan-da política favorável ou contrária a qualquer cidadão ou partido, comodireito e garantia ao exercício do voto.2

2 Lei n. 1.164, de 24 de julho de 1950:

[...]

Art. 129. São assegurados aos eleitores os direitos e garantias de exercíciodo voto, nos termos seguintes:

1) ninguém poderá impedir ou embaraçar o exercício de sufrágio;

2) nenhuma autoridade poderá, desde cinco dias antes e até quarenta e oitohoras depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor,salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória porcrime inafiançável;

3) desde quarenta e oito horas antes, até vinte e quatro horas depois daeleição, não se permitirá propaganda política mediante radiodifusão, comíciosou reuniões públicas;

4) os membros das mesas receptoras e os fiscais de partido, durante o exercíciodas suas funções, não poderão ser detidos ou presos, salvo o caso de flagrantedelito; da mesma garantia gozarão os candidatos desde quinze dias antes daeleição;

5) é proibida, durante o ato eleitoral, a presença de força pública, no edifícioem que funcionar a mesa receptora, ou nas mediações, observado o dispostono art. 83, parágrafo único;

6) a realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, quedeva ter lugar em recinto aberto, fica apenas subordinada a comunicação porofício ou telegrama à autoridade competente, que somente poderá designaro local para a reunião, contanto que, assim procedendo, não a fruste ouimpossibilite;

7) é vedado aos jornais oficiais, estações de rádio e tipografias de propriedadeda União, dos Estados, Distrito e Territórios federais, municípios, autarquias esociedades de economia mista, a propaganda política favorável ou contráriaa qualquer cidadão ou partido;

8) as estações de rádio, mencionadas no inciso, precedente, nos quinze diasanteriores a uma eleição, proporcionarão meia hora diária de irradiação aosórgãos da Justiça Eleitoral, para a divulgação de esclarecimentos referentesao processo eleitoral.

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A mesma norma garantia o uso de espaço em rádio a todos ospartidos e candidatos mediante pagamento, garantida criteriosarotatividade.3

Posteriormente, em 1962 (Lei n. 4.115, de 22 de agosto de 1962),foi instituído o programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão paraevitar, segundo Ramos, que apenas candidatos ricos e poderosos ti-vessem acesso a esses meios de comunicação, sem, contudo, excluira propaganda paga, como se vê:

Art. 11. A Justiça Eleitoral fará ampla divulgação pela imprensa e pelaradiodifusão onde houver bem assim por meio de cartazes afixadosem lugares públicos das relações dos nomes e dos números corres-pondentes dos candidatos registrados, com indicação do partido ouda coligação a que pertençam.

[...]

§ 2o É permitida aos partidos políticos a divulgação a que se refereeste artigo e seu § 1o.

§ 3o As estações de radiodifusão e televisão de qualquer potência,inclusive as de propriedades da União, dos Estados, Distrito Federal eTerritórios, Municípios, Autarquias Sociedades de Economia e Funda-ções, nos 60 (sessenta) dias anteriores às 48 (quarenta e oito) horasdo pleito de cada Circunscrição Eleitoral do País, reservarão diaria-mente duas (2) horas para propaganda política gratuita, sendo umadelas durante o dia entre as 13 (treze) e as 18 (dezoito) horas e outraà noite entre as 20 (vinte) e as 22 (vinte e duas) horas sob critério derigorosa rotatividade aos diferentes partidos, e distribuídos entre êlesna proporção das respectivas legendas no Congresso Nacional e nasAssembléias Legislativas Estaduais e, Câmaras Municipais.

[...]

§ 10. As estações de rádio e televisão é vedado cobrar, na publicida-de, política, preços superiores aos que tenham vigorado, nos 6 (seis)meses anteriores, para a publicidade comum.

[...]

3Art. 130. As estações de rádio, com exceção das referidas no artigo anterior edas de potência inferior a dez kilowats, nos noventa dias anteriores às eleiçõesgerais de todo o País ou de cada circunscrição eleitoral, reservarão diariamenteduas horas à propaganda partidária, sendo uma delas pelo menos à noite,destinando-as, sob rigoroso critério de rotatividade, aos diferentes partidos,mediante tabela de preços iguais para todos.

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§ 12. Fora dos horários da propaganda gratuita de que trata o § 3o

deste artigo é proibida nos trinta dias que precedem as eleições adivulgação de propaganda individual ou partidária em qualquer locali-dade do território nacional, através do rádio ou da televisão ressalva-da apenas a transmissão ou retransmissão não mais de uma vez, decada comício público realizado nos locais permitidos pela autoridadecompetente, na forma da lei.

Apenas a partir de 1974 a publicidade eleitoral ficou restrita, norádio e na televisão, aos programas gratuitos, direito que veio a sergarantido definitivamente pela Constituição de 1988.

A partir daí foram editadas leis ordinárias a cada eleição, podendo-se observar a evolução da normatização ao longo dos anos:

Lei n. 7.773, de 8 de junho de 1989 – dispõe sobre a eleição parapresidente e vice-presidente da República:

[...]

Art. 16. A propaganda eleitoral no rádio e televisão restringir-se-á, uni-camente, ao horário gratuito disciplinado pela Justiça Eleitoral, para operíodo de 15 de setembro a 12 de novembro, com geração de Brasília,em cadeia nacional, e expressa proibição de qualquer propagandapaga.

Art. 25. Os candidatos, após o registro, ficam impedidos de apresentarou participar de quaisquer programas em emissoras de rádio e televi-são, ressalvado o horário de propaganda eleitoral gratuita, os debatesorganizados de acordo com esta Lei e os noticiários jornalísticos regu-lares.

Lei n. 8.214, de 24 de julho 1991 – estabelece normas para a realiza-ção das eleições municipais de 3 de outubro de 1992 e dá outras pro-vidências:

[...]

Art. 43. Nenhuma estação de radiodifusão de propriedade da União,dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, e de qualquer outraentidade de direito público, ou nas quais possuam eles maioria decotas ou ações, bem assim qualquer serviço de alto-falante mantidopelas mesmas pessoas, poderão ser utilizados para fazer propagandapolítica ou difundir opiniões favoráveis ou contrárias a qualquer parti-do ou coligação, seus órgãos, representantes ou candidatos, ressal-vada, quanto às estações de radiodifusão, a propaganda gratuita deque trata esta lei.

Lei n. 8.713, de 30 de setembro de 1993 – estabelece normas para aseleições de 3 de outubro de 1994:

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[...]

Art. 66. A partir da escolha de candidatos em convenção, é vedado àemissora, na sua programação normal:

I – transmitir pesquisa ou consulta de natureza eleitoral em que sejapossível ou evidente a manipulação de dados;

II – utilizar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo,ou produzir ou veicular programa, que possa degradar ou ridicularizarcandidato, partido ou coligação;

III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou con-trária a candidato, partido ou coligação, ou seus órgãos ou represen-tantes.

Parágrafo único. A não-observância do disposto neste artigo enseja asuspensão das transmissões da emissora por uma hora no mesmohorário em que a infração foi cometida, dobrado o tempo em caso dereincidência.

Art. 67. As emissoras de rádio e televisão ficam obrigadas a dar trata-mento equânime a todos os candidatos em sua programação normale seus noticiários.

§ 1o A manifesta preferência, na programação normal de emissora derádio ou televisão, em favor de algum candidato ou em detrimento deoutro, acarretará a suspensão das transmissões da emissora por umdia, por determinação da Justiça Eleitoral mediante denúncia de parti-do político, de candidato, ou do Ministério Público, ficando o responsá-vel pela empresa sujeito às penalidades previstas no art. 323 do Códi-go Eleitoral, e multa de cinco mil a dez mil UFIR.

§ 2o A reincidência implica a duplicação da penalidade aplicada nostermos deste artigo.

Lei n. 9.100, de 29 de setembro de 1995 – estabelece normas para arealização das eleições municipais de 3 de outubro de 1996, e dá ou-tras providências:

[...]

Art. 64. A partir de 1o de julho de 1996, é vedado às emissoras, em suaprogramação normal e noticiário:

I – transmitir, ainda que em forma de entrevista jornalística, imagensde realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popularde natureza eleitoral, em que seja possível a identificação do entrevis-tado, ou manipulação de dados;

II – utilizar trucagem, montagem ou outro recurso de vídeo ou áudio,ou produzir ou veicular programa que possa degradar ou ridicularizarcandidato, partido ou coligação;

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III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou con-trária a candidato, partido ou coligação, ou seus órgãos ou represen-tantes;

IV – dar tratamento privilegiado a candidatos, partidos ou coligações;

V – veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outroprograma que faça alusão ou crítica que prejudique candidato, partidopolítico ou coligação, mesmo que de forma dissimulada.

§ 1o A não observância do disposto neste artigo sujeitará o responsá-vel pela empresa às penalidades previstas no art. 323 do Código Elei-toral e a multa de 10.000 a 20.000 UFIR, além da suspensão das trans-missões da emissora, conforme o disposto no art. 59 (Revogado pelaLei n. 9.504, de 1997).

§ 2o A reincidência implica a duplicação da penalidade.

§ 3o Incorre nas sanções deste artigo a emissora que, nos sessentadias que antecederem a realização do pleito, transmitir programa apre-sentado ou comentado por candidato ou divulgar nome de programa,ainda quando preexistente, se coincidente com variação nominal ado-tada por candidato.

3 Cenário atual

A Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, editada em caráterpermanente, dedicou capítulo específico à propaganda eleitoral na im-prensa escrita e outro àquela veiculada por meio de rádio e televisão.

No que se refere aos jornais impressos, embora a lei apenas regu-lamente a propaganda paga, as resoluções do Tribunal Superior Elei-toral editadas a partir do ano de 2002 fizeram inserir dispositivo queadmite

a divulgação de opinião favorável a candidato/a, a partido político ou acoligação pela imprensa escrita, mas os abusos e os excessos, assimcomo as demais formas de uso indevido do meio de comunicação,serão apurados nos termos do art. 22 da Lei Complementar n. 64, de1990 [Resolução-TSE n. 20.562, de 2 de março de 2002].

Esse dispositivo é originário de entendimento sedimentado pelaCorte Superior que distingue os limites entre a atividade jornalísticaexpressa por mídia escrita daquela veiculada por rádios e televisões.

A construção jurisprudencial considera que as restrições impostasaos jornais são menos severas por conta das características intrínse-

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cas ao exercício dessa atividade, como se extrai de excerto do votodo ministro Fernando Neves, relativo à eleição de 2000:

Quando se trata de publicação em veículo impresso de comunicação,para usar a terminologia adotada pelo constituinte, de propriedade deempresa privada, é diferente, na medida em que a legislação eleitoralnão impede que um jornal defenda uma ou outra linha doutrinária. Daípor que considero que os veículos impressos de comunicação podemassumir posição em relação aos pleitos eleitorais e a seus participan-tes, sem que tal, por si só, caracterize propaganda eleitoral ilícita [TSE.Recurso Especial Eleitoral. Ac. n. 18.802, de 8.2.2001. Rel. Min.Fernando Neves da Silva].

Portanto, entende-se que esse meio – mídia impressa – tem al-cance limitado a um número restrito de pessoas e suas informaçõessó estão disponíveis àqueles que voluntariamente a isso se propõem.Ademais, trata-se de ramo de exploração comercial privada, fugindoao controle governamental, e que, por tal motivo, pode atuar com mar-gem de liberdade distinta daquela observada pelas rádios e televisões.

Por outro lado, diverso é o enfoque que se empresta ao poder deinfluência de emissoras de rádio e televisão.

Para esses meios de comunicação, vigem severas restrições à pro-gramação usual, reacendendo, a cada pleito, a discussão acerca dalimitação à liberdade de expressão que deve ser assegurada à im-prensa em um Estado Democrático de Direito.

O texto legal assim dispõe:

Art. 45. A partir de 1o de julho do ano da eleição, é vedado às emisso-ras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário:

I – transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagensde realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popularde natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ouem que haja manipulação de dados;

II – usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que,de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido oucoligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito;

III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável oucontrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou repre-sentantes;

IV – dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;

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V – veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer ou-tro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político,mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou de-bates políticos;

VI – divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido emconvenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com onome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendoo nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a suadivulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro.

§ 1o A partir do resultado da convenção, é vedado, ainda, às emissorastransmitir programa apresentado ou comentado por candidato esco-lhido em convenção.

É claro na norma que a atividade jornalística no rádio e na televisão– e não só essa, já que o artigo atinge programas de entretenimento –é limitada, nos três meses que antecedem o pleito, com fundamentona proteção à legitimidade da eleição.

A doutrina especializada manifesta sua preocupação com a ques-tão (AMARAL, 2002, p. 209):

A ação da televisão, intervindo no andamento do processo eleitoral,manifesta-se, contemporaneamente, não apenas mediante seus noti-ciários (telejornais) – nos quais políticos, partidos e temas são privile-giados ou omitidos –, ou debates, mesas-redondas e programas simi-lares, com convidados selecionados segundo os interesses políticosda empresa, mas, igualmente, com a mesma eficiência persuasiva,em seus programas de entretenimento, como os humorísticos, as no-velas e minisséries, também usados para ridicularizar adversários outemas.

Alexis de Tocqueville, na sua obra datada de 1835 (1998, p. 141),já reconhecia o poder que a imprensa detém na influência do povo:

A liberdade de imprensa não faz sentir seu poder apenas sobre asopiniões políticas, mas ainda, sobre todas as opiniões dos homens.Não modifica somente leis, mas os costumes.

Por outro lado, o mesmo autor (1998, p. 141) defende a importân-cia da liberdade de expressão em um Estado Democrático:

Num país onde reina ostensivamente o dogma da soberania do povo,a censura não é apenas um perigo, mas ainda, um grande absurdo.Quando se concede a cada um o direito de governar a sociedade, énecessário reconhecer também a sua capacidade de escolher entreas diferentes opiniões que agitam seus contemporâneos e de apreciaros diferentes fatos cujo conhecimento pode guiá-los. A soberania deum povo e a liberdade da imprensa são pois, duas coisas inteiramente

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correlatas. A censura e o voto universal, pela contrário, são duas coi-sas que se contradizem e não podem encontrar-se muito tempos nasinstituições políticas de um mesmo povo.

Por tal ótica é que se questiona o impedimento a que informações,dados, ou mesmo a opinião de comentaristas especializados cheguemao eleitorado trazendo elementos que possam, sim, alterar sua vonta-de, na medida em que esclarecem e informam a respeito da condutado candidato.

A doutrina constitucional assim trata da importância de assegurar-se a liberdade de expressão aos organismos midiáticos (MORAES,2002, p. 677):

O direito de receber informações verdadeiras é um direito de liberdadee caracteriza-se essencialmente por estar dirigido a todos os cida-dãos, independentemente de raça, credo ou convicção político-filosó-fica, com a finalidade de fornecimento de subsídios para a formaçãode convicções relativas a assuntos públicos.

A proteção constitucional às informações verdadeiras também englo-ba aquelas eventualmente errôneas ou não comprovadas em juízo,desde que não tenha havido comprovada negligência ou má-fé porparte do informador.

A Constituição Federal não protege as informações levianamente nãoverificadas ou astuciosas ou propositadamente errôneas, transmitidascom total desrespeito à verdade, pois as liberdades públicas não po-dem prestar à tutela de condutas ilícitas.

A proteção constitucional à informação é relativa, havendo a necessi-dade de distinguir as informações de fatos de interesse público, davulneração de condutas íntimas e pessoais, protegidas pelainviolabilidade à vida privada, e que não podem ser devassadas deforma vexatória ou humilhante.

Jean François Revel faz importante distinção entre a livre manifesta-ção de pensamento e o direito de informar, apontando que a primeiradeve ser reconhecida inclusive aos mentirosos e loucos, enquanto osegundo, diferentemente, deve ser objetivo, proporcionando a infor-mação exata e séria.

O campo de interseção entre fatos de interesse público e vulneraçãode condutas íntimas e pessoais é muito grande, quando de trata depersonalidades públicas

Nessa mesma linha é a doutrina de Pedro Roberto Decomain (2004,p. 273) ao defender a possibilidade da veiculação de crítica a candida-tos em programas jornalísticos:

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É preciso distinguir, então, até para compatibilizar os dois dispositivos,a crítica da pura e simples difusão de opinião contrária a candidato,partido ou coligação.

A crítica será o comentário a respeito de fato envolvendo o candidato,manifestando aspectos negativos desse fato. Já a simples difusão deopinião contrária ao candidato significa apenas dizer, de algum modo,que sua candidatura tem essa ou aquela desvantagem, ou não seriarecomendável por essa ou aquela razão. A crítica, simplificando, é aanálise de um fato concreto envolvendo o candidato. A opinião desfa-vorável representará apenas o pensamento da própria emissora, oude agente seu, que a leva ao ar, a respeito da candidatura. O comen-tário sobre o fato, ainda que para destacar aspectos negativos dele,esse é possível. Mas a pura manifestação contra a candidatura, o par-tido, ou a coligação, o que significa opinião contrária a eles, essa évedada.

Com efeito, a Justiça Eleitoral já tem se posicionado para restringirsomente os comprovados excessos, garantindo a defendida liberdadede expressão, como se vê:

Representação. Comentário transmitido por meio de rádio duranteperíodo eleitoral.

A liberdade de imprensa constitui garantia constitucional, e os jornalis-tas podem evidentemente manifestar sua opinião sobre debate entreos candidatos realizado por meio de rede nacional de televisão, por-que tudo que melhore a informação dos eleitores é útil para o aperfei-çoamento da vida política nacional.

Não obstante isso, o Estado deve podar os excessos cometidos emnome da liberdade de imprensa sempre que possam comprometer oprocesso eleitoral.

Quando, no período que antecede o segundo turno da eleição presi-dencial, o jornalista falando por rádio (mídia que propaga idéias mastambém transmite emoções), vê um candidato com óculos de lentescor de rosa, e faz a caricatura do outro com expressões que denigrem(“socialismo deformado”, “populismo estadista”, “getulismo tardio”), aliberdade de imprensa é mal utilizada, e deve ser objeto de controle.

Representação julgada procedente. [TSE. Rel. Min. Ari Pargendler.Acórdão n. 1.256, de 17.10.2006.]

Propaganda eleitoral. Artigo 45, III e V, da Lei n. 9.504/97. Comentárioem programa jornalístico.

1. Não malfere a disciplina da Lei n. 9.504/1997 a opinião de comenta-rista político feito em programa jornalístico em torno de notícia verídi-ca alcançando determinado candidato, partido ou coligação.

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2. A liberdade de imprensa é essencial ao estado democrático e amanifestação dos jornalistas sobre determinados fatos, comentandoas notícias do dia, embora subordinada à liberdade de expressão e acomunicação ao princípio da reserva legal qualificada, não pode serconfundida com o disposto no art. 45, III, da Lei n. 9.504/1997.

3. Agravo regimental desprovido. [TSE. Ac. n. 1.000, de 29.8.2006.Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.]

Entretanto, o autor Wolney Ramos (2005, p.141), citado anterior-mente, ressalta outros pontos controvertidos:

Alguns pontos, entretanto, ainda são discutidos, principalmente o es-paço dedicado aos candidatos em campanha, onde os canais de di-vulgação privilegiam os primeiros colocados em detrimento dos de-mais. Entendemos, porém, que como compete à imprensa noticiar oque acontece e é de interesse da sociedade, é desta forma, perfeita-mente admissível e coerente que se dedique maior espaço para oscandidatos que disputam os primeiros lugares na preferência popularou para os fatos que são de maior interesse para o público. Nenhumcandidato deve ser excluído da cobertura feita pelos veículos de co-municação social, mas ele deve ser noticiado conforme o espaço querealmente ocupa no processo eleitoral, nem mais, nem menos.

Assim, como se vê, o equilíbrio entre a garantia da liberdade deexpressão e a proteção à legimitidade da eleição é tênue e continua-mente alvo de discussões teóricas e judiciais.

4 Considerações finais

As discussões sobre a matéria são, de fato, justificáveis.

De um lado temos o direito à informação, à livre expressão do pen-samento como corolário imprescindível a uma sociedade que se con-sidera democrática. De outro, há a imperiosa necessidade de assegu-rar a legitimidade e a normalidade do pleito, livrando-o de quaisquerinfluências que possam desequilibrar a disputa – outro dos pilares doEstado Democrático de Direito.

É inegável a influência que a mídia – em especial rádio e televi-são – tem sobre a população, sendo capaz de alterar opiniões, pre-ferências, linguagem e até comportamentos sociais, o que tem servi-do de justificativa para a imposição de limites à sua atuação no perí-odo eleitoral.

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Entretanto, é importante distinguir a atuação midiática com contor-nos tendenciosos ou francamente partidários a uma ou outra linha da-quela que se insere na disseminação de informações reais e fundamen-tadas a provocar a reflexão do eleitorado.

À imprensa deve ser garantido o papel que a sociedade lhe impõee que o jornalismo responsável exerce com competência: o de infor-mar com seriedade e imparcialidade, devendo o Poder Judiciário agircom firmeza para coibir a atuação parcial e excessiva.

5 Referências bibliográficas

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______. Lei n. 9.100, de 29 de setembro de 1995. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/sicon/ExecutaPesquisaLegislacao.action>. Aces-so em 10 ago. 2008

______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Disponível em: <http://intranet.tre-sc.gov.br/site/legislacao-e-jurisprudencia/normas-eleitorais/lei-das-eleicoes/index.html>. Acesso em 5 ago. 2008

______. Tribunal Superior Eleitoral. Acórdão n. 1.000, de 29.8.2006. Rel.Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Publicado em Sessão, em29.8.2006.

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______. Tribunal Superior Eleitoral. Acórdão n. 1.256, de 17.10.2006.Rel. Min. Ari Pargendler. Publicado em Sessão, em 17.10.2006.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral. Acórdãon. 18.802, de 8.2.2001. Rel. Min. Fernando Neves da Silva. Revista deJurisprudência do TSE, v. 12, t. 4. 337 p.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 20.562, de 2 de mar-ço de 2002. Diário de Justiça, 27 mar. 2000. 44 p.

DECOMAIN, Pedro Roberto. Eleições – comentários à Lei n. 9.504/1997. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004. 273 p.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: AtlasJurídico, 2002. 835 p.

RAMOS, Wolney. Regime jurídico da propaganda política. São Paulo:Companhia Mundial de Publicações, 2005. 300 p.

TOCQUEVILLE, Alexis. A democracia na América. 4. ed. São Paulo:Itatiaia, 1998. 597 p.

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O EXERCÍCIO DO DIREITO DE VOTO E A PARTICIPAÇÃODO PRESO PROVISÓRIO NO PROCESSO ELEITORAL NA

SOCIEDADE BRASILEIRA E CATARINENSE

Juliana Lobo Camargo*

1 INTRODUÇÃO. 2 DEMOCRACIA E ESTADO DEMOCRÁTICO DEDIREITO: O AMBIENTE DO EXERCÍCIO DE VOTO PELO PRESOPROVISÓRIO. 3 CIDADANIA COMO FUNDAMENTO DO ESTADO DE-MOCRÁTICO DE DIREITO. 4 GARANTIAS DO ESTADO DEMOCRÁ-TICO DE DIREITO: DIREITOS POLÍTICOS, PRESUNÇÃO DE INO-CÊNCIA E PRISÕES CAUTELARES. 5 O EXERCÍCIO DE VOTO DOPRESO PROVISÓRIO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITOBRASILEIRO. 6 CONCLUSÕES. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

Este texto é parte do trabalho de conclusão de curso apresentadoao Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal de SantaCatarina, no dia 11 de agosto de 2008, como requisito parcial à obten-ção do título de Bacharel em Direito. Aquele trabalho foi orientado pelaprofa Dra Vera Regina Pereira de Andrade e co-orientado pela profa

MSc. Yuri Frederico Dutra. Obteve aprovação, com nota dez, atribuídapela banca examinadora composta pelo Procurador da República emSanta Catarina, Dr. Claudio Dutra Fontella, e pela advogada DanielaFélix Teixeira. O artigo a seguir, derivado do trabalho de conclusão decurso, contém atualizações referentes às eleições de 2008.

Justamente no último pleito, em outubro de 2008, eleitores brasilei-ros foram às urnas escolher quem os representaria nos Poderes Exe-cutivo e Legislativo municipais pelos quatro anos seguintes. Entretan-to, contrariando a Constituição Federal de 1988 e seus preceitos fun-damentais, muitos foram excluídos desse processo e nem sequer tive-ram a chance de expressar, nas urnas, sua participação na históriapolítica do País.

Viver em um Estado Democrático significa ter espaços para lutarpor condições mínimas de dignidade e justiça social, participando davida pública, direta ou indiretamente. Apesar de o Brasil ser considera-

* Bacharela em Direito, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina.

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do, na teoria, um Estado Democrático de Direito, o que se observa, naprática, é a exclusão de todas as formas de participação das pessoasdiscriminadas e que vivem à margem da democracia. No Estado De-mocrático, o Direito tem a responsabilidade de regular as relações en-tre os indivíduos, as relações entre o indivíduo e o Estado, entre osdireitos civis e os deveres cívicos, e entre os direitos e deveres dacidadania, definindo as regras de como viver de maneira democrática.

A cidadania é um caminho para novos espaços de liberdade e iden-tifica o indivíduo como fração ou parte de um povo. Fazer parte dopovo de determinado Estado significa estar numa situação jurídica nãosó de deveres, mas também de direitos. Exatamente em função dessacorrespondência é que os presos provisórios, sujeitos de deveres pe-rante o Estado, não podem ser impedidos de exercerem seus direitosde cidadãos. Os encarcerados não têm voz nem representação, sãoneutralizados perante a sociedade. Constituem um peso abandonadonas prisões, destinados aos maus-tratos, doenças, fome e abandono.

Ocorre que o sufrágio universal está garantido pela legislação bra-sileira, conforme preceituam a Constituição Federal, em seu art. 14, eo Código Eleitoral, em seu art. 136. Nesse trecho da Constituição Fe-deral, o dispositivo determina que a soberania popular será exercidapelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igualpara todos. Já no Código Eleitoral há previsão de que deverão serinstaladas seções nos estabelecimentos de internação coletiva, ondehaja, pelo menos, cinqüenta eleitores.

O direito dos presos provisórios ao voto foi regulamentado tambémpelas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas eleições de2008, por exemplo, seções eleitorais foram instaladas em alguns Esta-dos, a pedido de juízes dos tribunais regionais eleitorais, em conjunto comMinistério Publico e representantes de movimentos sociais.

O objetivo deste trabalho, portanto, é expor o entendimento dostribunais brasileiros sobre a não-aplicação do art. 136 do Código Elei-toral e das resoluções do TSE acerca do exercício do direito de voto dopreso provisório. Ademais, também busca verificar quais os argumen-tos utilizados pelos juízes do Tribunal Regional Eleitoral de SantaCatarina (TRESC) para justificar sua posição.

Assim, primeiramente, será definido o conceito de cidadania e suastrês dimensões (civil, política e social). Partindo do exercício da cida-dania política, em seguida serão observados os direitos políticos, emespecial o direito de sufrágio universal. Depois, será exposto o princí-

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pio da presunção de inocência, previsto no art. 5o, LVII, da ConstituiçãoFederal, e será feita uma breve explicação das prisões processuais,analisadas a partir de entendimentos doutrinários.

Por fim, será examinada a recepção do art. 136 do Código Eleito-ral e das resoluções do TSE, a partir da interpretação dos tribunaisregionais nos Estados brasileiros onde ocorre efetivamente o exercí-cio do voto pelo preso provisório. Será descrito também o perfil doscriminalizados em Santa Catarina, e o entendimento do Tribunal Re-gional Eleitoral catarinense com relação ao exercício do voto pelospresos provisórios.

É conveniente ressaltar que este trabalho prioriza o enfoque nosdireitos humanos, com base nos estudos de cidadania e cárcere. Bus-ca propor que os direitos dos reclusos provisórios não podem ser ne-gados, já que retirar o direito de sufrágio dessas pessoas seria, dianteda sociedade, excluir o seu direito de cidadania.

2 Democracia e Est ado Democrático de Direito: o ambiente doexercício de voto pelo preso provisório

Depois de 24 anos de ditadura (período de 1964 a 1988), quando oEstado detinha o poder e controlava a vida da sociedade através daviolência e de proibição a qualquer idéia contrária ao modelo de gover-no proposto, a sociedade brasileira, por meio de seus representantes,produziu a Constituição Federal de 1988, a chamada Constituição Ci-dadã, que consagra o Brasil como um Estado Democrático de Direito.

Conforme preceitua o art. 1o da Carta, a República Federativa doBrasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito e tem comofundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa huma-na, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismopolítico. O parágrafo único do mesmo dispositivo expressa que “todo opoder emana do povo, que o exerce por meio de representantes elei-tos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Entende-se porpovo todos os nacionais, ou seja, brasileiros natos e naturalizados,detentores do poder exercido pelos representantes escolhidos de ma-neira direta ou indireta.

O Estado Democrático de Direito desenvolveu-se com a tentativade unir o ideal democrático ao Estado de Direito, amparado pelas con-quistas democráticas, as garantias jurídico-legais e a preocupaçãosocial, tendo como princípios: a vinculação a uma constituição como

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instrumento básico de garantia jurídica, a sociedade organizada de-mocraticamente, um sistema de direitos fundamentais individuais ecoletivos, a justiça social como uma maneira de corrigir as desigualda-des, a igualdade como forma de compor uma sociedade mais justa, adivisão de poderes ou funções, a legalidade como medida do Direito emodo de evitar o abuso de direito e a segurança e certeza jurídicas.

Segundo Streck e Morais (2003), a forma democrática do Estadode Direito tem como objetivo a igualdade, a transformação do statusquo, a lei surgindo como meio de transformação da sociedade e apretensão de reestruturar constantemente as relações sociais. Comisso, o liberalismo e a democracia se fundem, ocorrendo a reduçãoaparente das diferenças econômicas e sociais, baseado numa consti-tuição onde deve preponderar o interesse da maioria. Entretanto, ob-serva-se que na prática acontece o contrário, como ilustram Streck eMorais (2003, p. 155):

Sabemos que a maioria do povo é capaz de esmagar ”democratica-mente” a minoria, em nome do interesse nacional. Ou – o que é cemvezes pior – que a minoria, detentora do poder de controle social, pode-se utilizar periodicamente do voto majoritário popular, para legitimartodas as exclusões sociais, em nome da democracia.

Ademais, de acordo com Streck e Morais (2003), a democracia exigejustiça social, não sendo possível falar em democracia quando os indi-cadores econômico-sociais apontam para uma maioria abaixo da linhade pobreza. A seguir, passa-se a conceituar a cidadania, um dos fun-damentos do Estado Democrático de Direito contemplado pela nossaConstituição.

3 Cidadania como fundamento do Est ado Democrático de Direito

Segundo Andrade (2003, p. 66), para a cultura jurídica dominanteno Brasil, uma cultura jurídica positivista de inspiração liberal, o temarelativo à cidadania confunde-se com o tema da nacionalidade, ou ci-dadania restringe-se, muitas vezes, somente aos direitos políticos, odireito de votar e ser votado.

Desta forma, o conceito de cidadania, que é um elemento constitutivode tal cultura [cultura jurídica positivista de inspiração liberal] é tributá-rio de suas matrizes e, em especial, do liberalismo, razão pela qual éconcebida (tal como nessa matriz) com o direito à representação polí-tica e o cidadão definido como indivíduo nacional titular de direitoseleitorais (votar e ser votado) e do direito de exercer cargos públicos.

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Tal conceito vincula-se, por sua vez, a um modelo específico de demo-cracia, fazendo com que a cidadania seja dela dependente e inexistafora do seu interior. Trata-se da democracia representativa ou indireta,originada da mesma matriz liberal. O conceito moderno de cidadaniaaparece, assim, umbilicalmente ligado ao conceito de democracia epor ele moldado.

Entretanto, observa-se que a cidadania não é somente um concei-to que pode ser reduzido a ser nacional ou a ter direitos políticos. Otema referente à cidadania é mais amplo, e restringi-lo a parcos con-ceitos é o mesmo que reduzi-lo ao autoritarismo. Sobre isso, esclareceAndrade (1993, p. 29):

Ao aprisionar conceitualmente a cidadania como categoria estática ecristalizada – tal qual sua inscrição nas Cartas Constitucionais –dogmatiza seu significado, reduzindo-a a um sentido unívoco. Nessaperspectiva, esvazia-se sua historicidade, neutraliza-se sua dimensãopolítica em sentido amplo e sua natureza de processo social dinâmicoe instituinte.

A cidadania é um tema discutido pelos movimentos sociais dosEstados Democráticos, que reivindicam para seus membros melhorescondições de nível econômico, político, social e cultural. Ser cidadãoimplica ter direitos e deveres. A Declaração Universal dos Direitos Hu-manos, um dos documentos básicos da Organização das Nações Uni-das (ONU), assinada em 1948, enumera os direitos que todos os sereshumanos possuem.

A Declaração foi baseada nas Cartas de Direito dos EUA (1776) eda Revolução Francesa (1798). E expõe que todos os homens sãoiguais perante a lei sem discriminação de raça, credo ou cor, bem comotodo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de serpresumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada deacordo com a lei. Ademais, todo ser humano tem o direito de fazerparte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de repre-sentantes livremente escolhidos.

Atualmente, após a luta contra o regime ditatorial e o estabeleci-mento da Constituição Federal de 1988, a sociedade brasileira encon-tra-se vivendo em um Estado Democrático de Direito, que expõe, teo-ricamente, os deveres e garantias dos cidadãos. Entretanto, os movi-mentos sociais ligados aos direitos humanos das minorias trabalhamincansavelmente para que esses direitos e deveres sejam realmentepostos em prática, conseqüentemente efetivando a cidadania, de for-ma ampla e irrestrita.

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Considerando que a sociedade brasileira está dividida em classes,grupos, movimentos, organizações sociais com interesses diferentes;que tem um aparato institucional burocrático, lento e formalista, comavanços e retrocessos consideráveis no que diz respeito aos direitosadquiridos, é importante observar a união de pequenos grupos e a sualuta por direitos que surgem com as transformações da sociedade.Segundo Andrade (1993), a luta de classes influencia diretamente odesenvolvimento da cidadania, e vice-versa. Dessa maneira, não só atransformação da cidadania causou impacto sobre o conflito entre asclasses, mas também esses conflitos afetam diretamente a questão dacidadania.

Inspirada nesses elementos e em sua relação dialética, Andrade(1993) desenvolve a hipótese de que o discurso da cidadania é politi-camente complexo e tem dois sentidos: um sentido autoritário e outrodemocrático. Para ela (1993, p. 71-73), o sentido autoritário é aqueleque “defende o discurso único da cidadania e, nesse sentido, aprisio-na seu significado, neutraliza seus componentes políticos e sua natu-reza de processo social contraditório”. Dessa forma, o sentido autoritá-rio impede a ampliação da cidadania em seus diversos sentidos.

Já o discurso da cidadania se torna democrático quando

enunciado pelos sujeitos sociais e políticos, visando erigi-lo em espa-ço político reivindicatório de direitos – seja de velhos direitosestratificamente reconhecidos, ou de novos direitos – bem como emespaço de exercício de direitos, estatais e paraestatais.

Assim, para o discurso da cidadania se definir entre autoritário e/oudemocrático, dependerá de qual o tipo de sociedade e a ideologia quese tem por base, além do momento histórico em que esta sociedadeestá inserida.

Ainda, segundo Andrade (1993, p. 79), a formação dos direitos po-líticos ocorreu no século XIX, impulsionada pelas realizações no âmbi-to da cidadania civil. “A criação e ampliação dos direitos políticos rumoà universalização do direito político de sufrágio, processou-se na estei-ra das próprias potencialidades democráticas da cidadania civil, ou seja,na esteira dos direitos civis enunciados.”

Para que houvesse essa ampliação do direito político de sufrágiofoi necessária muita luta dentro do Estado capitalista, já que ampliar acidadania política significa ampliar institucionalmente o Estado capita-lista liberal em democrático-representativo, trazendo à tona a caracte-rística ambígua da cidadania, ou seja, seus sentidos autoritário e de-mocrático. Andrade (1993, p. 80) afirma que:

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[...] por um lado, o sufrágio universal, com o mínimo de restrição pos-sível, instaura a democracia política, incorporando sujeitos historica-mente excluídos do direito de sufrágio, forjando a concretização daliberdade e igualdade políticas firmadas discursivamente pelo princí-pio democrático.

Com isso, o sentido democrático do direito ao sufrágio universal nademocracia liberal se enfraquece no momento em que a democracia évista somente como sistema político e a cidadania apenas como direi-to à representação, passando a subsistir como uma circunstância dedominação das classes de maneira legitimada. De acordo com Andrade(1993, p. 81), as classes terem acesso à participação no poder é umagrande conquista, no entanto a sociedade somente se preocupa com acidadania política quando não a tem.

A igualdade de acesso à participação no poder, que a cidadania políti-ca reivindica, representa, efetivamente, uma conquista histórica, so-bretudo se comparada à não-participação do escravo e do servo. Esua importância política evidencia-se com maior ênfase, paradoxal-mente, onde se encontra suprimida: nos regimes autoritários.

A forma como o modelo de democracia representativa liberal estáposto – como condição de dominação social e política no Estado capi-talista – estabelece a hipótese de opções limitadas, mas plurais, em faceda liberdade que o cidadão possui de eleger seus representantes. Dessaforma, tem-se que os governantes escolhidos foram, ao menos, aque-les que a maioria dos cidadãos, que votam, escolheu.

Para Andrade (2003, p. 69), a cidadania reduzida ao exercício dovoto significa a redução da participação da sociedade ao momentoeleitoral, indicando aos cidadãos quando podem participar na esferapública. Isso explica o conceito liberal de cidadania restrito apenas àrepresentação, em prejuízo à participação.

Ao reduzir o exercício da cidadania ao fenômeno eleitoral, ou seja, aoinstante periódico do voto, reduz o fazer política, na sociedade civil, aomomento eleitoral, designando aos cidadãos onde, como e quandoestão autorizados a fazê-la e a ter acesso ao espaço público. [...] Ex-plica-se, assim, porque o conceito liberal de cidadania circunscreve-se ao âmbito da representação em detrimento da participação. É queesta implica a necessidade de associação dos cidadãos (o que fere opressuposto liberal do homem atomizado) e implica, também, a parti-cipação da sociedade civil (o que fere o pressuposto liberal da socie-dade civil como lugar destinado às relações econômicas privadas),pois significa introduzir a política num lugar onde é indevida nessemodelo, minando por sua vez a pureza da separação Estado/socieda-de civil. Socializar ou politizar o espaço privado implica, enfim, diluir oslimites que o separam do espaço público.

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Para Andrade (2003), o cidadão é aquele que possui direitos e de-veres iguais perante a lei, sendo que o direito político significa ter par-ticipação na formação da lei e dos poderes públicos, elegendogovernantes que podem agir a favor da cidadania. Essa ação dependedos governantes ou dos cidadãos, que podem evocar os meios corre-tos para se protegerem de certos abusos por parte dos que estão nopoder. A lei é um instrumento que, se bem utilizado, faz valer os direi-tos dos cidadãos, mesmo que por meio de lutas sociais, fazendo comque a sociedade se transforme e busque um ideal comum.

O tema relativo à cidadania não pode ser utilizado somente poraqueles que detêm o poder. Esse tema também deve ser aproveitadopelas classes marginalizadas, sendo reconstruída em seu sentido uni-versal, servindo de fato a essas classes. Mas isso depende, de acordocom Andrade (2003, p. 73), de uma luta que tem como protagonistasnão só os agentes tradicionais da política, como também movimentossociais e demais organizações que trabalham para a ampliação da ci-dadania.

[...] os protagonistas da luta através da qual o conteúdo da cidadaniavem historicamente se ampliando não são apenas os agentes tradici-onais da política, ou seja, os partidos políticos e, a seguir, as organiza-ções sindicais. Paralelamente a estes, movimentos sociais ou comu-nitários de base, organizações profissionais, comitês de bairros, asso-ciações de moradores e de defesa dos direitos humanos, comunida-des eclesiais de base, organizações de auxílio mútuo, organizaçõesnão-governamentais (e sua articulação em redes, em nível local ouplanetário) fazem parte de uma longa lista de organizações que têmencontrado, na micropolítica, uma nova forma de politizar o tratamen-to das questões sociais.

Conforme Andrade (2003, p. 27), a expansão do sistema penal é umobstáculo para a construção da cidadania e um risco para o diálogodemocrático do poder, já que a exclusão e a criminalização dos pobrese excluídos, selecionados pelo sistema penal, aumentam a desigual-dade na sociedade.

As implicações para a cidadania – e a democracia – são significati-vas. Quanto mais se expande e legitima publicamente o sistema pe-nal, chegando ao ponto, muitas vezes, do extermínio socialmentelegitimado, mais obstáculos à construção da cidadania e mais riscospara a gestão dialogal e democrática do poder, eis que o binômioexclusão-criminalização, que faz dos pobres e dos excluídos social-mente os selecionados penalmente (criminalizados) radicaliza a es-cala vertical da sociedade (a desigualdade e as assimetrias),potencializando que a sociedade excludente se torne, cada vez mais,abortiva e exterminadora.

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O capítulo seguinte tratará de uma das garantias trazidas pela ci-dadania e pela democracia no âmbito do Estado Democrático de Di-reito: os direitos políticos. Em decorrência do princípio da presunçãode inocência, serão observadas as prisões processuais e sua passa-gem de exceção do ordenamento jurídico para regra nas decisões ju-diciais.

4 Garantias do Est ado Democrático de Direito: direitos políticos,presunção de inocência e prisões cautelares

Tratando dos direitos e garantias fundamentais, a Constituição Fe-deral, em seu art. 5o, consagra o princípio da isonomia com a expres-são de que “todos são iguais perante a lei”. Mais adiante, o inciso LVIIdo mesmo artigo dispõe que “ninguém será considerado culpado atéo trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.

O art. 14, § 1o, I, da Constituição Federal torna obrigatório o votopara os cidadãos maiores de 18 anos, no gozo dos direitos políticos,inclusive para os presos provisórios. Segundo Moraes (2005, p. 542),direitos políticos “são o conjunto de regras que disciplina as formas deatuação da soberania popular”. Essas regras permitem que o indiví-duo exerça a liberdade de participação nos negócios políticos do Es-tado, contribuindo para o exercício da cidadania política.

O sufrágio é um direito que decorre diretamente do princípio deque todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de represen-tantes eleitos ou diretamente. É a instituição fundamental da demo-cracia representativa. No sufrágio consubstancia-se o consentimentodo povo que legitima o exercício do poder. Essa é a função primordialdo sufrágio, da qual decorrem as funções de seleção e nomeação daspessoas que hão de exercer as atividades governamentais.

O exercício do direito do voto deve ser garantido a todos oscriminalizados pelo sistema penal, independentemente de serem pro-visórios ou condenados, pois mantém as pessoas vinculadas às ques-tões políticas mais importantes do País, como cidadãos, titulares dedireitos e obrigações. Além disso, a melhoria do sistema carceráriobrasileiro poderia, por exemplo, dar-se a partir da aprovação ou recu-sa de propostas de políticas públicas na área criminal e penitenciária,mensuradas pela eleição ou derrota de certos legisladores no pleito.Afinal, os votos viriam dos cidadãos encarcerados, que conhecem arealidade desse sistema melhor que vários legisladores.

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Contudo, o presente trabalho objetiva expor a situação dos indi-víduos encarcerados provisoriamente, cuja sentença ainda não tran-sitou em julgado, devendo-se levar em consideração, dessa forma,os princípios e garantias constitucionais, como o princípio da pre-sunção de inocência, disposto também nas declarações e pactosinternacionais.

Entre as aplicações do princípio da presunção de inocência estáaquela em que o acusado deve ser tratado como inocente durante oandamento processual. O fato de o indivíduo ser considerado acusadodurante a investigação por si só já é uma forma de constrangimento.Por isso as medidas coercitivas que forem inevitáveis durante o pro-cesso só podem ser tomadas na exata medida de sua necessidade,adotando-se, durante a investigação, meios que não tragam constran-gimentos ao investigado.

Assim sendo, os que estão encarcerados provisoriamente devemser tratados como inocentes e, portanto, se eleitores, capazes de exer-cer seu direito de sufrágio universal por meio do voto. Além do que,aqueles que aguardam o andamento da investigação ou processo emliberdade exercem, como previsto em lei, seus direitos políticos.

Outra aplicação do princípio da presunção de inocência é a de queo acusado não pode ser exposto de maneira humilhante nos veículosde comunicação. O modo como a mídia aborda casos que estão sen-do investigados pode prejudicar o acusado, que às vezes já é apre-sentado como culpado, influenciando o resultado da apuração proces-sual. De acordo com Batista (2002, p. 275), a mídia não só informacomo também investiga e pune:

[...] quando o jornalismo deixa de ser uma narrativa com pretensão defidedignidade sobre a investigação de um crime ou sobre um proces-so em curso, e assume diretamente a função investigatória ou promo-ve uma reconstrução dramatizada do caso – de alcance e repercus-são fantasticamente superiores à reconstrução processual –, passoua atuar politicamente.

Nesse contexto, a mídia aborda a violência de maneira sensaciona-lista e faz disso uma das formas de atrair a atenção da grande popula-ção, além de ser o tema principal que move seu conteúdo informativo.Cada vez mais programas de variedades adotam formas judiciais e fa-zem seu próprio julgamento, deixando de lado entrevistas bem-compor-tadas que não aumentam a audiência, conforme Batista (2002, p. 283):

Em nosso país, a televisão aberta do chamado horário nobre intoxicao povo com diversos programas de variedades: informações inconse-

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qüentes, tricas e futricas de bastidores, números musicais no geralindignos do nível que alcançamos nessa arte, entrevistas bem com-portadas, tempo gasto no inócuo e na mesmice.

Assim, tanto os jornais quanto a televisão exibem não só progra-mas de entretenimento como também veiculação da prisão de indiví-duos que nem sequer foram processados e têm sua privacidade inva-dida pelos textos e imagens exibidos, encenando uma sociedade queé comandada pela criminalidade e selecionando com seus holofotesquais serão condenados, como ensina Andrade (2003, p. 24):

A mídia encarrega-se de encenar, entre o misto do drama e do espetá-culo, uma sociedade comandada pelo banditismo da criminalidade, ede construir um imaginário social amedrontado. À mídia, incumbe acen-der os holofotes, seletivamente, sobre a expansão da criminalidade efirmar o jargão da necessidade de segurança pública como senso maiscomum de nosso tempo.

Também deve ser levado em consideração o modo como as notíciassão abordadas pela mídia. Em vez de instruir o público leigo sobre osdetalhes do sistema penal, a mídia expõe de maneira simples e sensa-cionalista o fato de o indivíduo entrar algemado em uma viatura policial,tratando-o como inimigo da sociedade.

Nesse sentido, de acordo com Zaffaroni (2007, p. 87), o discursodos meios de comunicação influencia os juízes a tomarem decisõesque estejam de acordo com o que é veiculado pela mídia. Caso a sen-tença discorde do que é proferido, o juiz corre o risco de envolver-seem sérias dificuldades.

Pouco importa o que as constituições e o direito internacional dos di-reitos humanos disponham se os juízes não podem aplicar suas dis-posições, sob pena de serem denunciados e perseguidos pela pres-são dos meios de comunicação, pelos corpos colegiados das própriasestruturas judiciais, pelos políticos que aproveitam para eliminar osmagistrados incômodos, para fazer publicidade ou, simplesmente, porseus próprios colegas empenhados em desprestigiar um possível com-petidor em uma promoção ou intrigas palacianas.

Contudo, essas são apenas algumas aplicações do princípio da pre-sunção de inocência, cabendo novas interpretações orientadas no sen-tido de que o acusado seja considerado como sujeito de direitos e deve-res perante o Estado, ao contrário de um mero objeto de investigação.

Adentrando no outro tópico, tem-se que as prisões cautelares sãotambém chamadas de prisões processuais, ou prisões provisórias,adotadas no curso do processo, antes de a sentença penal condenatória

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transitar em julgado. Esse tipo de medida é provisório e deve durar so-mente enquanto persistirem os motivos que justifiquem sua decretação.

De acordo com Barreto (2007), os tratados internacionais admitema possibilidade da prisão provisória, desde que respaldada por quatrogrupos de exigências: requisitos materiais que autorizem a prisão, con-trole judicial da prisão, condições materiais do cumprimento da priva-ção de liberdade e limitação temporal do cumprimento da medida pri-vativa.

Em decorrência dos princípios constitucionais, a prisão provisóriadeve ser bem fundamentada, utilizada somente em casos excepcio-nais e ser, no mínimo, proporcional à pena que será aplicada em casode condenação. O juiz deve demonstrar sua necessidade (fumus boniiuris e periculum libertatis), justificando a decretação nos requisitos pre-vistos em lei, afinal, teoricamente, a prisão provisória não é uma pena,nem mesmo sua antecipação. Portanto, esse tipo de medida tomadano curso do processo é vista como violenta e odiosa, já que cerceia aliberdade de um indivíduo que nem sequer foi condenado.

Segundo Zaffaroni (2007, p. 70), na América Latina, as medidascautelares são a característica mais destacada do poder punitivo, ocor-rendo uma inversão do sistema penal formal, pois a punição é exercidana forma da privação de liberdade sem sentença. Dessa maneira, parao autor, a medida cautelar transforma-se em pena e, por cautela, todossão “condenados” em processos intermináveis, tornando-se a liberda-de provisória uma forma de absolvição.

A medida cautelar é pena cautelar, ou seja, por precaução, o poderpunitivo é exercido condenando-se materialmente todos os acusadosa uma medida e revisando-se com grande parcimônia essas condena-ções, num processo que se arrasta anos a fio, com o intuito de verifi-car se corresponde a uma pena formal. O desencarceramento ou acessação da prisão preventiva ou provisional representa uma absolvi-ção, pois corresponde a quase todos seus efeitos.

Neste contexto, as seguintes espécies de prisões cautelares estãoprevistas no ordenamento jurídico brasileiro: prisão em flagrante (art.5o, LXI, da CF); prisão temporária (Lei n. 7.960/1989); prisão preventi-va (art. 311 do CPP); prisão decorrente de pronúncia (art. 408, § 1o, doCPP); e prisão decorrente de sentença condenatória recorrível (art.393, I, do CPP).

A prisão cautelar não serve para antecipar a condenação. Qual-quer prisão cautelar deve ser decretada apenas quando amparada pelos

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requisitos legais, devendo ser privilegiada a presunção de inocênciaante a culpabilidade. Seu uso exagerado faz com que se perca o cará-ter de exceção para se tornar regra, violando os princípios e garantiaslegais.

Há uma tendência dos juízos em violar o princípio da presunção deinocência e suas aplicações. Na prática, não há controle judicial dasprisões provisórias; a excepcionalidade e a razoabilidade dos prazosnão são respeitadas, além de os requisitos que deveriam fundamentara decretação da prisão provisória (garantia da ordem pública e da or-dem econômica, conveniência da instrução criminal e necessidade deassegurar a aplicação da lei penal) não serem obedecidos, levando auma antecipação da sanção penal.

De acordo com Barreto (2007), há mecanismos que influenciamsignificativamente na redução da violação do princípio da presunçãode inocência, como o controle judicial efetivo das prisões em flagrante,a celeridade e observância dos prazos processuais ligados àrazoabilidade e a proporcionalidade na duração dos processos. Dessaforma, Barreto (2007, p. 122) conclui que:

O controle judicial do flagrante e o respeito ao limite máximo do tempode prisão provisória não solucionam definitivamente o problema douso indiscriminado da custódia cautelar, mas reduzem a patamaresmenos graves a violação ao princípio da presunção de inocência.

Enquanto esses mecanismos não são colocados em prática, ob-serva-se que o princípio da presunção de inocência fica restrito aosdiscursos, ao mesmo tempo em que as modalidades de prisão provi-sória passam de exceção à regra no sistema penal, com o propósitode uma antecipação da pena.

A seguir, será analisada a recepção do art. 136 do Código Eleitoral edas resoluções do TSE, conforme a interpretação dos tribunais regio-nais, nos Estados brasileiros com o efetivo exercício do voto pelo presoprovisório. Será descrito também o perfil do criminalizado em SantaCatarina e o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral desse Estadocom relação ao exercício do voto pelo preso provisório.

5 O exercício de voto do preso provisório no Est ado Democráticode Direito brasileiro

Segundo o Relatório Estatístico-Analítico do sistema prisional doBrasil, em junho de 2008, o País mantinha sob custódia 440.013 pes-

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soas. Estavam encarceradas das seguintes formas: 29,71% em regi-me provisório, 37,40% em regime fechado, 13,70% em regime semi-aberto, 4,89% em regime aberto e 0,89% submetidas a medidas desegurança. Do total de presos, 82% eram homens e 18% mulheres. ORelatório Estatístico-Analítico dimensiona em 277.847 as vagas no sis-tema prisional brasileiro.1 Os dados oficiais demonstram que um terçoda população carcerária brasileira que está presa provisoriamente so-fre a antecipação da pena e, muitas vezes, quando recebe a conde-nação, já cumpriu a pena à qual é submetida; ou, quando é absolvida,passou uma eternidade encarcerada, perdendo o emprego, a famíliae a credibilidade perante a sociedade.

O sistema penitenciário não está inserido na discussão das políti-cas públicas. Com isso, os criminalizados deixam de ser convocadosa participar desse processo, ficando à margem da sociedade. Paraserem ouvidos, eles se utilizam da ferramenta que chama a atençãodas pessoas para suas reivindicações: as rebeliões, forma de expres-são visível da realidade vivida nos estabelecimentos penais do País.Entretanto, a ampliação do rol de pessoas legitimadas a participar dasdiscussões relativas às políticas públicas diz respeito ao direito de votodo preso, seja provisório, seja condenado.

A Resolução n. 14/1994 do Conselho Nacional de Política Criminale Penitenciária (CNPCP) fixou as Regras Mínimas para o Tratamentodo Preso no Brasil e assegura os direitos políticos dos presos provisó-rios em seu art. 63: “são assegurados os direitos políticos ao presoque não está sujeito aos efeitos da condenação criminal transitada emjulgado”.

Já o Código Eleitoral, em seu art. 136, expõe que deverão ser ins-taladas seções eleitorais em estabelecimentos de internação coletivaonde haja pelo menos cinqüenta eleitores. Entende-se por estabeleci-

1 Dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informação Penitenciária (InfoPen),apresentados em junho de 2008. O InfoPen é um programa de computador(software) de coleta de dados do Sistema Penitenciário no Brasil, formadopara criar um banco de dados federal e estaduais sobre os estabelecimentospenais e populações penitenciárias, além de integrar os órgãos e a execuçãode ações das administrações penitenciárias de todo o Brasil. O Sistema foicriado e é gerenciado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), éalimentado pelas Secretarias Estaduais com informações estratégicas sobreos estabelecimentos penais e a população prisional e é atualizado a cadaseis meses.

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mentos de internação coletiva os locais onde se encontram indivíduosprivados de sua liberdade, de forma provisória ou para o cumprimentode pena.

O Tribunal Superior Eleitoral emitiu resoluções sobre o voto do pre-so provisório em resposta a consultas,2 bem como em atos preparató-rios de eleições, acerca da possibilidade de instalação de seções elei-torais em estabelecimentos penitenciários, em virtude do disposto noart. 136 do Código Eleitoral.

Nessas resoluções reeditadas a cada ano de eleição, o Tribunal Su-perior Eleitoral indica que o preso provisório deve votar se possível .Porém é inconcebível que o exercício de um direito político seja subor-dinado a qualquer condição – por falta de dinheiro ou problemas deinformática. Nada pode impedir as pessoas de exercerem o direito desufrágio por meio de voto.

Percebe-se que existem diversos argumentos frágeis para impedir,ou pelo menos dificultar, o acesso ao direito de voto. Argumentaçõestécnicas que, certamente, poderiam ser contornadas principalmente pelocaráter excepcional da situação. Com isso, os juízes de alguns Esta-dos, inclusive os de Santa Catarina, não cumprem o disposto no art.136 do Código Eleitoral e nas resoluções do TSE, além de justificaremsua omissão com argumentos inconsistentes e incoerentes.

Entre as manifestações contrárias ao exercício de voto do presoprovisório, considera-se o sistema do domicílio eleitoral, conjugado àsurnas eletrônicas, um entrave à instalação de seções eleitorais noslocais em que se encontram os encarcerados. Nesse pensamento, aspessoas presas provisoriamente não podem votar fora do seu domicí-lio declarado e constante dos títulos eleitorais, além do que uma even-tual transferência do título de eleitor para uma seção instalada em umpresídio talvez não fosse eficaz, já que o preso pode não estar mais noestabelecimento, no dia da eleição, devido à transferência de um pre-sídio para outro. Com relação às urnas eletrônicas, o eleitor não podevotar em outra seção, senão naquela em que se encontra inscrito, poisos nomes dos inscritos constam da memória de cada urna designadapara cada seção eleitoral.

2 Nesse caso, consultas são questionamentos realizados por pessoas e partidospolíticos a tribunais eleitorais (regionais ou superior) ou entre os própriostribunais (regional consulta o superior). O endereçamento da consulta dependeda competência do tribunal, analisando o caso concreto. Dessas consultasresultam as resoluções emitidas pelos tribunais.

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Além disso, aquele que está preso provisoriamente não tem comojustificar o voto enquanto está encarcerado, o que lhe traz problemasquando está fora dos estabelecimentos penais, pois muitas vezes nãoconsegue explicar para a Justiça Eleitoral por que não votou, sofrendoas consequências previstas no art. 7o do Código Eleitoral.

Para evitar este constrangimento, o diretor de cada estabelecimen-to prisional poderia, por exemplo, oficiar ao tribunal respectivo infor-mando quais pessoas estavam sob sua custódia no dia da votação.Essa simples medida já faria com que, pelo menos, muitas pessoasnão tivessem o título cancelado pela Justiça Eleitoral.

Com isso, nota-se a possibilidade de medidas simples seremadotadas, pelo menos em relação às justificativas. Isso impediria que apessoa, ao sair da prisão, tivesse dispêndio de tempo e dinheiro indo aorespectivo tribunal eleitoral provar que estava presa. Além da questãodo gasto, é simplesmente humilhante, estando já em liberdade, ter que irprovar que estava preso para ficar em dia com a Justiça Eleitoral.

Outro modo de solucionar esses problemas seria alterar o CódigoEleitoral no sentido de flexibilizar o domicílio eleitoral e considerar comodomicílio o local em que a pessoa está encarcerada provisoriamente.Assim, ao instalar as seções nos presídios, dar-se-ia a oportunidadede o preso provisório votar onde quer que estiver encarcerado ou atémesmo justificar sua ausência.

A seguir, será exposto o exercício do direito de sufrágio por meio dovoto pelos presos provisórios no Brasil, bem como a luta de algunsEstados para que presos sejam cadastrados, tirem o título de eleitor,possam justificar o voto ou até mesmo votar nas seções especiais ins-taladas nos estabelecimentos penitenciários.

Para que se possa avaliar a dimensão da questão envolvendo odireito de sufrágio do eleitor que está preso, é interessante citar umamatéria publicada em 12 de setembro de 2008 (CRIPPA), informandoque, segundo o TRE de São Paulo, é impossível garantir que os pre-sos provisórios votem. De acordo com a notícia, a alta rotatividade dospresos e os gastos envolvidos no procedimento tornam inviável a pos-sibilidade de instalar seções eleitorais nos locais onde as pessoas seencontram encarceradas provisoriamente. No Relatório Estatístico-Analítico do sistema prisional do Estado de São Paulo, tem-se que onúmero de presos nesse estado, em junho de 2008, era de 154.096pessoas, sendo 30,22% dos presos provisórios homens, não especifi-cando o número de mulheres nessa condição.

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Argumento muito utilizado pelas autoridades é de que os indivídu-os que estão encarcerados seriam massa de manobra a serviço deorganizações criminosas, pessoas vinculadas a partidos políticos oudo próprio governo, pois o cerceamento da liberdade seria suficientepara interferir na livre escolha do eleitor preso. Entretanto, esse argu-mento não deve prosperar, pois, a partir do momento em que exercerseu direito de voto, o preso poderá exigir daquele candidato escolhidoque dê atenção aos que estão encarcerados, exigindo melhores con-dições de tratamento por meio do voto e não de rebeliões ou outrostipos de manifestações violentas.

Outra situação contra o exercício do direito de sufrágio pelo votopor parte dos presos provisórios seria que o Estado não tem condi-ções de garantir a transparência dos processos eleitorais que ocor-rem em presídios e penitenciárias, ou transportar os presos até seuslocais de votação. Contudo, observa-se a falta de interesse por par-te dos que podem tornar prático um direito que já está previsto emlei. Para garantir o voto do eleitor preso é necessário o trabalho emgrupo entre diretores de presídios, secretários da área e juízes elei-torais.

No Espírito Santo, por exemplo, os presos provisórios votaram emoutras eleições; entretanto, nas eleições de 2008, esse direito não foigarantido. O TRE/ES alegou dificuldades em garantir a execução doprocedimento por exigir um esquema muito rigoroso de segurança. Afragilidade e inconsistência dos argumentos mostram com nitidez queneste País as regras prevalecem sobre os princípios. Além disso, par-tindo do princípio que no nosso País o voto é obrigatório, o Estadodeveria não só permitir que as pessoas presas provisoriamente votas-sem, mas também cobrar esses votos.

A dificuldade em garantir o exercício do voto do preso provisório foiresolvida em alguns Estados brasileiros. Em 2008, os seguintes esta-dos informaram que garantiriam o direito de voto aos presos: Amazo-nas, Amapá, Acre, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Sul, Rio de Janei-ro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Pernambuco.

No Acre, as seções eleitorais são instaladas nos presídios desde2002. Em 2008, 148 presos provisórios estavam inscritos para a vota-ção. No Amazonas, os presos provisórios na unidade prisional doPuraquequara e na cadeia pública Desembargador Raimundo VidalPessoa exercem seu direito de voto. No Amapá, os presos provisóriosvotam em duas seções da Capital. Nesse ano, três detentos foram es-colhidos para serem mesários.

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No Maranhão, foram instaladas seções eleitorais nos estabelecimen-tos penitenciários de três municípios. No Ceará, seções eleitorais fo-ram instaladas nos estabelecimentos penitenciários de Juazeiro doNorte. No Rio Grande do Norte, onde foram instaladas seções eleito-rais nos presídios das cidades de Natal e Caicó, os presos provisóriosvotam desde o ano de 2006. Em alguns municípios de Pernambuco,os presos provisórios votam há três eleições. Sergipe foi um dos pio-neiros, com seções eleitorais instaladas nos presídios desde 2000.

No Rio de Janeiro, pela primeira vez, após a mobilização de entida-des ligadas aos Direitos Humanos e o abaixo-assinado de duzentaspessoas encarceradas na 52a Delegacia de Polícia, em Nova Iguaçu,os presos provisórios votaram em uma seção eleitoral localizada na de-legacia. O TRE/RJ emitiu 102 títulos de eleitor aos presos que preen-chiam os requisitos previstos em lei. Até a data da eleição, quatro pre-sos foram condenados, com sentença transitada em julgado e, por isso,tiveram seus direitos políticos suspensos. O resultado: 54 presos pro-visórios votaram e 194 pessoas justificaram o voto. Quarenta e trêseleitores estavam em liberdade e não compareceram à seção, mas oitopessoas que estavam livres regressaram à delegacia e fizeram ques-tão de votar (GONDIM).

No Rio Grande do Sul, 415 presos do Presídio Central de Porto Ale-gre votaram nas eleições de 2006, além de 21 mulheres do PresídioMadre Pelletier. Este ano, o TRE/RS cadastrou 103 presos provisórios.

A decisão de incluir as informações sobre o voto do preso provisó-rio nessas unidades da Federação tem o intuito de mostrar que, ape-sar da quantidade reduzida de votos recolhidos naquelas seções elei-torais, ficam desqualificados de forma contundente quaisquer argumen-tos acerca da impossibilidade material da instalação de urnas nos es-tabelecimentos penais.

A seguir, será exposto o perfil do criminalizado que se encontraencarcerado em Santa Catarina e a análise do Tribunal Regional Elei-toral do Estado quanto à possibilidade de os presos provisórios exer-cerem seu direito de sufrágio através do voto.

Segundo o Relatório Estatístico-Analítico do sistema prisional doEstado de Santa Catarina, em junho de 2008, o Estado mantinha sobcustódia 11.943 pessoas. Estavam encarceradas das seguintes formas:35,61% em regime provisório, 27,44% em regime fechado, 20,72% emregime semi-aberto, 11,59% em regime aberto e 0,85% submetidas amedidas de segurança. Do total de presos, 92,88% são homens e7,11%, mulheres. O Relatório Estatístico-Analítico dimensiona em 6.308as vagas no sistema prisional catarinense.

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O Estado possui cinco penitenciárias, uma colônia agrícola, duascasas de albergado, vinte e sete presídios e unidades prisionais avan-çadas e um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico.

O perfil do criminalizado que se encontra encarcerado no Estado éum espelho da situação nacional, no que se refere à escolaridade, fai-xa etária, duração da pena, número de condenações. Em SantaCatarina, dos encarcerados, 46,80% possuem ensino fundamental in-completo e 33,81% estão na faixa etária entre 18 e 24 anos; 20,01%cumprem pena entre quatro e oito anos e 29,85% são réus primárioscom uma única condenação. A diferença para o perfil dos três ‘p’ (po-bre, preto e prostituta) é que o maior número de pessoas encarcera-das (em SC) possui a cor da pele branca (57,79%), o que se explicadevido à colonização européia ocorrida no Sul do País. A maioria estáencarcerada pelo crime de tráfico de entorpecentes (25,05%), seguidopelo crime de roubo qualificado (13,16%), furto qualificado (14,23%) efurto simples (10,47%).3

Santa Catarina é um dos Estados em que os presos provisórios nãoexercem o direito de sufrágio através do voto. No entanto, o TribunalRegional Eleitoral garante a justificativa aos encarcerados, por meio deum formulário enviado ao Secretário de Segurança Pública do Estadonos meses que antecedem as eleições, para que este o repasse aosdiretores dos estabelecimentos penitenciários, a fim de que o preen-cham e enviem ao Cartório Eleitoral responsável. Dessa forma, se opreso possui título eleitoral e está apto a votar, tem sua justificativa feitaautomaticamente e não precisará pagar multa ou sofrer o ônus por nãoter justificado. Esta não é a solução ideal, pois ainda existe o impedi-mento do exercício de seus direitos políticos.

Destarte, observa-se que os argumentos utilizados pelos magistra-dos não possuem base legal, sendo incoerentes e facilmente refutáveisquando comparados com a realidade dos Estados onde os presos pro-visórios exercem o direito de sufrágio através do voto.

6 Conclusões

Diante do exposto neste estudo, tratou-se de demonstrar que oexercício do voto é um direito que decorre da democracia e da cidada-nia, princípios do Estado Democrático de Direito brasileiro que devem

3 Dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informação Penitenciária (InfoPen),apresentado em junho de 2008, considerando o total de 11.943 presos.

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ser garantidos a todos. Segundo a Constituição de 1988, o direito desufrágio é universal e não deve ser privilégio de poucos indivíduoseconomicamente ou culturalmente abastados, mas, sim, pertencer àsociedade, que tem a liberdade de escolher quem irá representá-la.Com isso, restringir o exercício de voto dos encarcerados significa sus-tentar medidas antidemocráticas e excludentes, negando ao preso seuexercício de cidadania, tratando-o como desnecessário à vida em so-ciedade.

Contrariando dispositivos constitucionais, na maioria dos Estadosbrasileiros é negado o exercício dos direitos políticos ao cidadão pre-so provisoriamente e devidamente habilitado como eleitor. O impedi-mento ao exercício pleno da cidadania ao preso provisório constituiaplicação de pena antecipada de suspensão de direitos, desrespei-tando o princípio da presunção de inocência inscrito na ConstituiçãoFederal.

Por isso, procurou-se destacar neste estudo que o princípio da pre-sunção de inocência (art. 5o, LVII, da Constituição Federal) deve serrespeitado, já que “ninguém será considerado culpado até o trânsito emjulgado da sentença penal condenatória”. Dessa forma, as pessoas quesofrem qualquer tipo de prisão processual são inocentes e preservamseus direitos políticos, devendo o Estado proporcionar meios de osencarcerados exercerem esses direitos.

Ademais, destacou-se o art. 1o da Constituição Federal, que expõeos fundamentos do Estado Democrático de Direito, entre outros a ci-dadania e a dignidade da pessoa humana. O parágrafo único do mes-mo dispositivo expressa que “todo o poder emana do povo, que o exercepor meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos destaConstituição”, estando inclusos no vocábulo “povo” também os presosprovisórios.

Conforme exposto, o perfil dos encarcerados é composto porcriminalizados provenientes das camadas sociais mais discriminadase estigmatizadas, e que, em decorrência da exclusão social, não pos-suem perspectiva de melhora nas condições de vida ou de participa-ção nas escolhas efetuadas pela sociedade, ficando à sua margem,sendo apenas sujeitos de deveres e não exercendo seus direitos.

Proporcionando a todos os encarcerados a efetivação de um direi-to, reverte-se em seu benefício fazer parte da comunidade em que vivee ter o poder de escolher quem poderá representá-los nas esferas degoverno, resgatando valores tanto no sentido de ser humano, quantono sentido de inserção na sociedade. Com isso, o exercício da cidada-

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nia não fica restrito somente à política, podendo ser estendido a outrasvertentes de discussão.

Ao garantir o exercício de voto dos criminalizados, alcançam-se doisobjetivos. Primeiramente, o direito de cidadania, integrando o preso àsociedade, se não inteiramente, ao menos parcialmente. Em conjuntocom o primeiro objetivo, o exercício do voto atrai as autoridades para acrise que o sistema carcerário atravessa, pois, a partir do momento emque os presos são vistos como eleitores pelos candidatos a represen-tantes do povo, passam a ter o problema carcerário inserido em pro-postas de governo.

No entanto, para que o preso provisório exerça seu direito de votar,é necessária vontade por parte de quem detém a capacidade de colo-car em prática esse direito. Os juízes eleitorais são os principais agen-tes capazes de colocar em prática o exercício do voto do preso provi-sório, fortalecendo a cidadania, concedendo àqueles que estão provi-soriamente encarcerados a possibilidade de cumprirem seu dever eexercerem seu direito de votar.

Entretanto, diante do exposto neste estudo, não basta somente avontade dos juízes eleitorais para que o exercício do voto pelo presoprovisório aconteça. É necessária também a participação de colabora-dores, como o Ministério Público, juízes das varas de execuções, or-ganizações não-governamentais, secretarias ligadas aos direitos huma-nos e também movimentos sociais interessados no problema.

Há dificuldade em colocar o exercício do voto do preso provisórioem prática, já que há a necessidade de se contar os presos provisórioseleitores e, se for o caso, alistá-los, como fizeram os tribunais regionaiseleitorais dos Estados que efetivaram o exercício desse direito. Alémdisso, alguns presos precisarão transferir o seu título de eleitor e, seforem colocados em liberdade antes da eleição, retornar ao local ondeestiveram encarcerados para votar. Também aqueles que forem pre-sos após os prazos previstos na legislação eleitoral para alistamento etransferência de domicílio não estarão contemplados.

Ademais, questões relacionadas aos setores de informática dos tri-bunais regionais eleitorais, aos recursos humanos necessários à em-preitada, aos aspectos de segurança tanto da população carcerária quan-to daqueles que estarão lá para proporcionar a lisura das eleições, sãopreocupações consideráveis na hora de transformar em realidade o queprevêem a legislação eleitoral e a Constituição Federal. Mas tais empe-cilhos não foram suficientes para impedir que os Estados citados nestetrabalho dessem essa amostra de prática de democracia e cidadania.

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Esses são os maiores obstáculos enfrentados pela Justiça Eleitoralpara o cumprimento das normas e preceitos expressos nas legisla-ções, bem como nas resoluções proferidas pelo Tribunal Superior Elei-toral, mas que não podem ser usados como obstáculos para garantir odireito ao voto dos presos.

Nesse contexto, entende-se que o preso condenado com sentençapenal transitada em julgado jamais deixou de ser um cidadão, deven-do ser garantido a ele o exercício do direito político positivo (o de vo-tar), devendo esse direito ser viabilizado, caso aprovada a proposta deemenda constitucional que tramita no Congresso Nacional (PEC n. 65/2003). Por ser um dever e não uma opção, o Estado não pode isentaro preso provisório de votar, alegando a necessidade de punição.

Diante do que foi demonstrado neste estudo, apresentam-se asseguintes propostas com a finalidade de assegurar a participação dospresos provisórios, em especial os de Santa Catarina, no processopolítico-eleitoral, como garantia dos direitos fundamentais previstos naConstituição Federal:

1 A possibilidade de instalação de mesas receptoras de justificati-vas que permitam ao preso justificar seu voto ou o envio de formulári-os aos diretores de estabelecimentos penitenciários, como faz o Esta-do de Santa Catarina. Apesar de não ser a solução ideal, já que opreso não poderia efetivamente exercer o direito de voto, seria umaforma de evitar humilhações futuras e multas impostas pela JustiçaEleitoral em razão da obrigatoriedade do voto.

2 A divulgação para outros tribunais do modo como trabalham ostribunais regionais eleitorais onde são instaladas seções eleitorais es-peciais, garantindo, dessa forma, a viabilização do exercício do votonos estabelecimentos penitenciários de todos os Estados brasileiros.

3 A flexibilização do domicílio eleitoral, com o intuito de facilitar o alista-mento dos presos provisórios que se encontram fora de seu domicílio.

4 O levantamento de todos os presos dos Estados brasileiros a cadaperíodo pré-eleições para verificar os presos que podem votar nasseções especiais, outorgando títulos de eleitor aos que não o possu-em, seja por impossibilidade física, financeira ou de conhecimento deseus direitos e deveres.

5 A ida de membros dos tribunais regionais eleitorais aos estabele-cimentos penitenciários para informar sobre a importância do voto, bemcomo a união de esforços de juízes de execução, juízes eleitorais,membros do Ministério Público, organizações não-governamentais e

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demais entidades interessadas no voto dos encarcerados, com o obje-tivo de garantir o direito de voto dos presos provisórios.

Este estudo não teve, em absoluto, a pretensão de esgotar o temaproposto, mas chamar a atenção para sua relevância e contribuir pararepensar a transformação. A comunidade inicia o processo de mudan-ça quando os iguais se inserem na perspectiva do problema e passama olhar do ponto de vista de quem sofre a situação. As sociedadescontemporâneas, que vivem à luz do Estado Democrático de Direito,devem assumir o desafio de isonomia e tratar seus cidadãos comopreconiza o texto constitucional. Além disso, são imprescindíveis paraessas sociedades aqueles que não se cansam de lutar. Aqueles que,podendo falar, brigam incessantemente pelos que não têm voz.

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O NEGÓCIO DA JUSTIÇA ELEITORALProcesso eleitoral

Gilberto Kilian dos Anjos*

1 INTRODUÇÃO. 2 O CONCEITO DE NEGÓCIO PELA ÓTICA DOPLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. 3 VÁRIOS NEGÓCIOS PARA UMAJUSTIÇA ELEITORAL. 4 O NEGÓCIO DA JUSTIÇA ELEITORAL: PRO-CESSO ELEITORAL. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 6 REFERÊNCI-AS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

Em termos de reflexão acerca do planejamento estratégico, muitose debate no tocante à diretriz correta sobre o negócio da Justiça Elei-toral, ou seja, o norte de atuação primordial do trabalho desta JustiçaEspecializada na sociedade contemporânea. De fato, algumas defini-ções sobrelevam, tais como direitos políticos, processo eleitoral, sobe-rania popular, regime democrático, dentre outras. No entanto, o estudoem tela objetivará a demonstração dos possíveis acertos e desacertosdas descrições em apreço, como a síntese da atividade de uma Justi-ça que se preocupa, sobretudo, com uma clientela diferenciada: o elei-torado. Certo que, ao contrário do título do trabalho, não se quer esta-belecer uma verdade absoluta, mas, sim, o estímulo ao pensamentoquanto ao negócio da denominada Justiça Especializada.

2 O conceito de negócio pela ótica do planejamento estratégico

Em conformidade com o ensinamento de Nério Amboni (2006,mímeo): “Definir o negócio é explicar o âmbito de atuação/finalidade daorganização”. Com efeito, ainda na linha de caracterização da defini-ção, Mauro Calixta Tavares (1991, p. 82) salienta que:

O negócio de uma organização define-se pelos desejos ou necessida-des que ele satisfaz quando o usuário ou o consumidor compra seusprodutos ou utiliza seus serviços, e não se deve ater à sua razão soci-al, contratos ou estatutos.

Assim, o negócio de uma corporação não se confunde com os pro-dutos ou serviços que ela oferece no mercado, mas, sim, traduz a as-piração que os clientes esperam como satisfação de suas próprias ne-cessidades e desejos.

* Analista Judiciário do TRESC.

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Dessa perspectiva, o negócio de uma corporação é pautado pordois planos que seguem unidos. De um lado, o plano externo, cujosignificado se refere ao contentamento da clientela para além de umadinâmica relacionada simplesmente na fruição dos produtos ou servi-ços de uma organização. Sob outra ótica, o plano interno, que cuida dasituação do negócio no próprio âmbito da corporação, isto é, o alinha-mento somado ao elemento valorativo que deve indicar o caminho paraque haja o oferecimento do grau de excelência nos préstimos para aclientela. Tal distinção é bem demonstrada por Rui Otávio Bernardesde Andrade e Nério Amboni (2007, p. 3-5) quando estabelecem a dife-rença entre eficiência, eficácia e efetividade numa organização. Issoporque registram que a eficiência é uma medida de racionalidade en-tre custo/benefício, uma simples equação matemática em termos quan-titativos. Já a eficácia é algo que excede, quer dizer, o grau racionalquantitativo agregado ao diferencial qualitativo no que tange aos pro-dutos ou serviços postos à disposição do mercado; em resumo, o al-cance dos objetivos propostos pela empresa. Por derradeiro, quanto àefetividade, explicam que é ainda mais que a eficácia, pois correspondeà impressão que os produtos ou serviços causam na sociedade, o graude satisfação social que a clientela tem ao usufruir o trabalho dacorporação.

Por conseguinte, observa-se que o negócio resulta do amálgamados dois planos e que em nenhum momento se pode confundi-lo comos serviços ou os produtos disponibilizados no mercado. Tanto é ver-dade que a corporação deve perseguir a perfeita sintonia entre os pla-nos inerentes ao negócio para atingir a expressão do contentamentoda clientela no consumo dos produtos ou serviços, somada à satisfa-ção dos integrantes da corporação em oferecê-los no mercado. Em talorientação, Nério Amboni (2006, mímeo) exemplifica que uma empre-sa de cascalho e asfalto poderia centrar o seu negócio em fabricarprodutos relacionados a cascalho e asfalto. Todavia, dentro dessa vi-são simplista e míope, o autor lembra que, após alguma reflexão sobrea sua atuação no mercado, a empresa observaria que exerce um pa-pel muito mais importante na sociedade do que apenas ofertar produ-tos de asfalto e cascalho. Realmente, fecha o ensinamento lecionandoque, dentro de uma percepção mais aguçada, a empresa chegaria àconclusão de que oferece, no mercado, significativo benefício na vidadas pessoas, na medida em que melhora a qualidade das construçõesrealizadas pelo homem. Desse modo, numa visão estratégica, o negó-cio de uma corporação não se finda nos produtos ou serviços ofertados,decorrência do alcance de um olhar turvo do administrador, mas, sim,

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se relaciona à função social que esses mesmos produtos ou serviçosexercem no mercado. Isto é, o grau de valor do contentamento da cli-entela acrescido da satisfação dos que compõem a empresa. Outrasexemplificações poderiam ser salientadas. A loja que vende brinque-dos não tem como negócio os produtos que oferta no mercado, e, sim,a alegria. A fábrica de cosméticos não detém como norte estratégicoos produtos que oferece; diversamente, o seu negócio é a beleza.

Apresentado o substrato teórico acerca do negócio na representa-ção do planejamento estratégico, tratar-se-á, no próximo tópico, dasvárias possibilidades de negócio para a Justiça Eleitoral, bem como seé possível lançar um negócio para a Administração Pública, tal qualutilizado para a iniciativa privada.

3 Vários negócios p ara uma Justiça Eleitoral

Apesar de não ter o negócio claramente explicitado, vê-se que, pelaanálise da missão, o Tribunal Superior Eleitoral infere que o seu negó-cio se encerra na manifestação da vontade da sociedade, por intermé-dio do direito de votar e de ser votado, traduzindo a caracterização dedireitos políticos. Em sentido semelhante, pinçando o negócio da mis-são, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre induz que o seu negócio é oexercício pleno dos direitos políticos. Por outro lado, pela análise damissão do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, deduz-se que o seunegócio seria a soberania popular. Também se poderia defender que onegócio de determinada Justiça Eleitoral, levando-se em conta o seuaspecto de abrangência, se pauta no regime democrático. Entretanto,com todo o respeito aos posicionamentos adotados, e considerandoque os negócios foram devidamente extraídos das missões dos plane-jamentos estratégicos das esferas das respectivas Justiças Eleitorais,compreende-se que não alcançam toda a esfera do conceito de negó-cio da Justiça Eleitoral, ainda que não estejam incorretos, mas, talvez,na humilde opinião aqui perfilhada, sejam ou estreitos ou excessivos.Deveras, melhor analisá-los isoladamente.

Como registra Manoel Jorge e Silva Neto (2008, p. 747), os direitospolíticos são conceituados como “[...] os direitos fundamentais ineren-tes à participação do indivíduo na vida política do Estado”. Diante des-sa acepção, colhe-se na doutrina que os direitos políticos podem assu-mir um conceito restritivo ou extensivo. Na primeira noção, os direitospolíticos se limitariam à capacidade eleitoral ativa e passiva, isto é, odireito de votar e ser votado. Já na segunda idéia, os direitos políticos

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compreenderiam, além dessa pedra angular, o direito de ingressar comação popular, a possibilidade de iniciativa popular, bem como a organi-zação e participação de partidos políticos. Nesse sentido, Alexandrede Moraes (2008, p. 225-226) anota: “Podemos, igualmente, incluircomo exercício da soberania e pertencente aos direitos políticos docidadão: ajuizamento de ação popular e organização e participação departidos políticos”. Ora, em ambos os conceitos, tanto restritivo quantoextensivo, entende-se que os direitos políticos não cabem na concep-ção de negócio da Justiça Eleitoral. De um lado, na orientação restritiva,o atributo principal, direito de votar e ser votado, não é negócio daJustiça Especializada, porquanto quer parecer que nessa perspectivao negócio é reduzido a uma visão simplista, não traduzindo a comple-xidade das atividades realizadas para a finalidade do pleito eleitoral.Por outro lado, no direcionamento extensivo, a Justiça Eleitoral nãoabrange a competência para a iniciativa popular e para a organizaçãoe participação de partidos políticos, concebendo-se na área internacorporis, muito embora, noutra quadra, o Supremo Tribunal Federal játenha decidido pela jurisdição eleitoral para a ação popular, quando amatéria for pertinente ao ramo em comentário, apesar de a situaçãonão ser muito habitual. Portanto, pedindo-se vênia aos que pensamem contrário, pontua-se não serem o negócio da Justiça Eleitoral osdireitos políticos.

Quanto à soberania popular se caracterizar como negócio da Justi-ça Eleitoral, correto tecer alguns comentários. Conforme Maria HelenaDiniz (1998, p. 388), o conceito de soberania do povo, ou popular, é:“SOBERANIA DO POVO. Ciência política. 1. Direito que tem o povo deautogovernar-se, escolhendo os seus representantes, seus governantese o governo. 2. Princípio segundo o qual todo o poder emana do povo,e em seu nome é exercido”. Salienta-se, ainda, que a soberania popu-lar é um dos pilares do regime democrático. Isso é muito claro se ob-servado o ensinamento de José Afonso da Silva (2002, p. 131):

A democracia, em verdade, repousa sob dois princípios fundamentaisou primários, que lhe dão a essência conceitual: a) o da soberaniapopular, segundo o qual o povo é a única fonte do poder, que se expri-me pela regra de que todo o poder emana do povo; b) a participação,direta ou indireta, do povo no poder, para que este seja efetiva expres-são da vontade popular; nos casos em que a participação é indireta,surge um princípio derivado ou secundário: o da representação.

Dessa forma, partindo da premissa de que é um dos princípios inte-grantes do regime democrático, a soberania popular não deve sinteti-zar o negócio da Justiça Eleitoral. Isso porque, com a parcela que lhe é

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cabível, a Justiça Eleitoral contribui para a garantia da soberania popu-lar, bem como para que haja a concretização da expressão da vontadepopular. No entanto, ainda que possa soar forte, acredita-se que a Jus-tiça Eleitoral não tem como proporcionar a soberania popular, no seutodo, em termos do conceito que se insere na democracia, por meio darealização das eleições. Então, verifica-se que um dos objetivos – nãonegócio – da Justiça Eleitoral é assegurar a soberania popular somadaà garantia da participação do povo no poder, tanto na manifestaçãodireta, quanto na indireta. Evidentemente, na medida de suas possibi-lidades e competência. Assim, não é o negócio da Justiça Eleitoral asoberania popular. É um dos seus objetivos.

Deveras, a soberania popular é garantida por diversas outras for-mas. Para tanto, necessário observar outro fato que se atrela aos prin-cípios do regime democrático: os valores. Anota-se, por oportuno, queos valores da democracia são a igualdade e a liberdade, na escorreitalição de José Afonso da Silva (2002, p. 131-132). Nesse sentido, osprincípios deles não podem ser dissociados. Veja-se, assim, que asoberania popular, poder que é, revela-se conduzida pela igualdade epela liberdade. Logo, como já dito, se reflete de várias maneiras. Paratornar mais convincente o argumento, nada melhor que a apresenta-ção de exemplos: a) quando um juiz profere uma sentença, fazendoprevalecer a liberdade e a igualdade na interpretação da lei numa situ-ação litigiosa, em última análise efetiva o regime democrático, que temcomo um dos princípios a soberania popular; b) a soberania popular e,conseqüentemente, o regime democrático podem ser realizados pelasForças Armadas quando algum cidadão queira tomar o poder de formacoativa, num verdadeiro golpe de Estado e é impedido prontamentepelos militares; c) o Poder Legislativo também faz valer a sua contribui-ção para a soberania popular e, reflexamente, para a democracia, naproporção em que edita leis que estejam alinhadas com a igualdade ea liberdade.

Outras instituições trazem o seu fragmento contributivo para a so-berania popular, e outros poderiam ser os exemplos, Ministério Públi-co, imprensa, sociedade civil organizada. Entretanto, diga-se de pas-sagem, nenhuma delas deve ter como negócio a soberania popular,porque todas oferecem a sua parcela, mas, salienta-se, nenhuma ins-tituição pode assegurar isoladamente a soberania popular, indepen-dentemente do método utilizado. Destarte, as instituições até podemter como objetivo a soberania popular, mas não tê-la como negócio, ouseja, nenhuma delas deve ter como negócio a soberania popular, por-quanto todas ofertam a sua fração, porém, sublinha-se, nenhuma ins-

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tituição pode garantir separadamente a soberania popular, indepen-dentemente do modelo de atuação.

Em tal aspecto, coloca-se a manifestação de Gaetano Silvestri,membro da Corte Costituzionale della Repubblica Italiana, que no arti-go Sovranitá popolare e magistratura sintetiza o Estado como o modoou o meio pelo qual se instrumentaliza constitucionalmente a sobera-nia popular, por intermédio de suas mais variadas instituições, como,por exemplo, o Poder Judiciário, o Poder Executivo e o PoderLegislativo, ou seja, a soberania popular é fragmentada e defendidapelos inúmeros entes. Destaca-se o texto em comentário:

Nel costruire un modello giuridico di rapporti tra Stato e popolo, VezioCrisafulli osserva, in uno dei suoi saggi più famosi, che la Costituzioneitaliana del 1948 introduce una vera e propria rappresentanza direttadel secondo da parte del primo, nel senso che lo Stato-soggetto agiscenon soltanto per conto del popolo, ma anche nel suo nome.

‘La cosiddetta contemplatio domini, ossia la dichiarazione espressadell’agire per altri, che caratterizzerebbe la rappresentanza stricto sensu,si ritrova, infatti, nella disposizione della seconda parte dell’art. 1 (…).Dalla quale si ricava, precisamente, che la sovranità è e rimane delpopolo, e che lo Stato soggetto è dunque soltanto una tra le ‘forme’(rectius tra i mezzi) in cui essa viene costituzionalmente esercitata. Ciòche può considerarsi sufficiente a concretare il requisito dellacontemplatio domini, in linea generale, con riferimento, cioè, una voltaper tutte, all’intera parte della potestà di governo il cui esercizio èdemandato alla persona giuridica statale. Per talune manifestazioni,poi, della sovranità, esistono anche ulteriori più specifiche disposizioni,che ribadiscono tale requisito. Così, per la funzione giurisdizionale,l’art. 101, a termine del quale, ‘la giustizia è amministrata in nome delpopolo’; così, indirettamente, per la funzione legislativa, l’art. 67, siste-maticamente inquadrato nel complesso delle disposizioni concernentila formazione della legge (…).[V. CRISAFULLI, La sovranità popolarenella Costituzione italiana (note preliminari) (1954), ripubblicato in Statopopolo governo. Illusioni e delusioni costituzionali, Milano, 1985, p. 143].Dalle parole di Crisafulli emerge una concezione rigorosamente giuridicadel fondamento democratico dello Stato contemporaneo. Tutte le potestàstatuali, esplicazioni delle diverse funzioni, emanano da un’unica fontedi legittimazione, al tempo stesso giuridica e politica, il popolo, che siavvale di una pluralità di ‘mezzi’ per esercitare costituzionalmente lapropria sovranità. Le funzioni dello Stato non sono altro quindi che for-me dell’esercizio della sovranità popolare. Quest’ultima non si coagulain un punto specifico, non si concentra in un soggetto determinato, marisiede nel popolo, vale a dire nella comunità nazionale, ed acquistasembianza giuridica principalmente per il tramite dello Stato-soggettonel sue diverse manifestazioni funzionali.

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Portanto, ante os argumentos evidenciados, conclui-se que a so-berania popular, muito embora seja um dos objetivos proeminentes daJustiça Eleitoral, não se lança como negócio dessa Justiça Especi-alizada.

Por fim, em relação ao regime democrático caracterizar-se comonegócio da Justiça Eleitoral, aponta-se que o conceito se ressente dasmesmas problemáticas da idéia de soberania popular. O regime de-mocrático também é um dos objetivos que a Justiça Eleitoral desejaalcançar, mas não é o seu negócio em si. É algo que a Justiça Eleito-ral constrói com outras inúmeras instituições, pois pretender englobaro regime democrático como negócio da Justiça Especializada se de-monstra utópico e apenas servirá como alinhamento puramente abs-trato, tanto para os seus integrantes quanto para a sua clientela. Des-sa maneira, resta que o regime democrático igualmente não é o negó-cio da Justiça Eleitoral.

4 O negócio da Justiça Eleitoral: processo eleitoral

Como foi delineado inicialmente neste trabalho, não se quer apre-sentar um conceito fechado de negócio para a Justiça Eleitoral, algoque seja revelado à semelhança de uma verdade absoluta. No entan-to, na ordem do pensamento adotado, assinala-se que o negócio daJustiça Eleitoral é o processo eleitoral. Todavia, necessária a explica-ção do conceito para que haja a devida assimilação dessa idéia comonegócio da mencionada Justiça Especializada.

Com efeito, o processo eleitoral deve ser entendido numa vertenteformada por dois elementos indissociáveis, quais sejam, a fusão daseleições e da prestação jurisdicional. Realmente, as eleições se apre-sentam como todos os procedimentos necessários para preparação eexecução das eleições, desde o cadastramento eleitoral até a totalizaçãodos resultados. Assim, as eleições não se confundem com produtos ouserviços isolados dispostos no mercado e utilizados pela clientela. Damesma maneira, a prestação jurisdicional deve ser dimensionada nacondição de todos os atos que conduzem ao real significado da ex-pressão jurisdictio, que é dizer o direito. Por conseguinte, com todo orespeito às manifestações divergentes, já que o conceito chega a di-versas definições conforme o ponto de partida, entende-se que o pro-cesso eleitoral é a noção que mais se amolda como negócio da JustiçaEleitoral, haja vista que é aquilo que definitivamente ela oferta para omercado; é aquilo com que satisfaz a sua clientela.

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Por outro prisma, poder-se-ia objetar, no que tange ao conceitoexposto, notadamente devido à ausência de um valor, isto é, o anteri-ormente chamado contentamento da clientela no consumo dos produ-tos ou serviços adicionado à satisfação dos integrantes da instituiçãoem prestá-los ao mercado. Contudo, não há necessidade de que ocontentamento e a satisfação, respectivamente, da clientela e dos co-laboradores da instituição estejam no negócio, pois, no âmbito da Ad-ministração Pública, todos os benefícios são legais, diferentemente doque ocorre com a iniciativa privada. Na verdade, não existem benefíci-os fora do espírito da lei. Isso por uma razão muito simples: o Estadosomente pode agir respaldado pela lei. Vem à memória o ensinamentode Hely Lopes Meirelles (2003, p. 102) sobre o significado do poder-dever:

Pouca ou nenhuma liberdade sobra ao administrador público paradeixar de praticar atos de sua competência legal. Daí por que a omis-são da autoridade ou o silêncio da Administração, quando deva agirou manifestar-se, gera responsabilidade para o agente omisso e auto-riza a obtenção do ato omitido por via judicial, notadamente por man-dado de segurança, se lesivo de direito líquido e certo do interessado.

Pode-se levantar qualquer espécie dos ditos benefícios – transpa-rência, ética, celeridade, cortesia; todos, de uma forma ou de outra,são descritos pelas normas legais, seja pela caracterização de princí-pios jurídicos, como diretrizes que preenchem os denominados hardcases, seja pelo significado de regras, an all or nothing, na distinçãoestabelecida no pensamento de Ronald Dworkin (apud BONAVIDES,2006, p. 281-282), Mestre de Harvard, sendo a Constituição a ordembalizadora.

Ademais, para finalizar, a nosso ver, é ousado fazer a junção aoprocesso eleitoral dos aqui chamados objetivos da Justiça Eleitoral comose fossem benefícios. Destarte, não se afigura como ideal destacar,como noção de negócio, a designação de processo eleitoral para oregime democrático, ou processo eleitoral para a soberania popular.Em primeiro lugar, esses complementos ao processo eleitoral são asexpressões de alguns dos objetivos da Justiça Eleitoral e, também,apresentam-se como conceitos históricos e relativos, portanto não sãobenefícios. Discorrendo mais especificamente sobre a soberania, con-siderada em sua dimensão lato sensu, Paulo Bonavides (1986, p. 129-130) esclarece:

Considerável número de publicistas compreende nos dias presentes asoberania como um conceito histórico e relativo.

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Histórico, porquanto a antigüidade o desconheceu em suas formas deorganização política. Haja vista o exemplo da polis grega, do Estado-cidade na Grécia clássica. A soberania surge apenas com o adventodo Estado moderno, sem que nada por outra parte lhe assegure, defuturo, a continuidade.

Relativo, uma vez que tomado de início por elemento essencial doEstado – conforme sucedeu ainda entre juristas do século XIX – raro oautor hoje que após os trabalhos exaustivos de Jellinek ainda se ocu-pa da soberania sob o prisma do direito internacional, como de umdado essencial constitutivo do Estado. Há Estados soberanos e Esta-dos não soberanos. Do ponto de vista externo, a soberania é apenasqualidade do poder, que a organização estatal poderá ostentar ou dei-xar de ostentar.

Do ponto de vista interno, porém, a soberania como conceito jurídico esocial, se apresenta menos controvertida, visto que é da essência doordenamento estatal uma superioridade e supremacia, a qual, resu-mindo já a noção de soberania, faz que o poder do Estado se sobrepo-nha incontrastavelmente aos demais poderes sociais, que lhes ficamsubordinados.

Assim, conveniente deixar como negócio da Justiça Eleitoral o seunúcleo essencial, isto é, o processo eleitoral.

5 Considerações finais

A título de considerações finais, algumas conclusões são pertinen-tes. A primeira de todas é que o negócio de uma instituição é aquiloque se define como a essência do que ela proporciona ao mercado,não se confundido com os produtos ou serviços ofertados numa visãosimplista e reducionista. Nessa perspectiva, o negócio da Justiça Elei-toral não deve ser algo que fica aquém do que ela realmente proporci-ona, nem pode estar além, fragmentado em diversas instituições, sobpena, nesse caso específico, de o negócio ser de todos e não ser deninguém. Para tanto, observa-se que o negócio desta Justiça Especi-alizada deve ser o processo eleitoral, sintetizado no binário eleições eprestação jurisdicional, por ser efetivamente o núcleo essencial do tra-balho que a Justiça Eleitoral oferece ao mercado. Por sua vez, não hánecessidade de agregar benefícios ao processo eleitoral, porquantotodos eles podem ser legais, implícita ou explicitamente, diferente doque ocorre na iniciativa privada, onde uma corporação pode colocarcomo seu negócio a beleza ou alegria. Nesse caso, é livre para definiro que bem entender, ainda que o seu negócio seja manifestamente

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utópico. Por fim, cumpre ressaltar que a junção do negócio processoeleitoral aos objetivos da Justiça Eleitoral, tais como, regime democrá-tico e soberania popular, como se benefícios fossem, não se afiguracomo pertinente, porquanto além de se caracterizarem como objeti-vos, também são conceitos históricos e relativos, assim, definitivamente,não se enquadram na definição de benefícios.

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DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998. v.4.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 28. ed. SãoPaulo: Malheiros, 2003.

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NETO, Manoel Jorge e Silva. Curso de Direito Constitucional. 3. ed.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

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PERDA DE CARGO ELETIVOORIUNDA DE INFIDELIDADE PARTIDÁRIA

Uma questão de hermenêutica constitucional

Sivanildo de Araújo Dant as*

1 INTRODUÇÃO. 2 DISCUSSÃO DE HARD CASE E O TSE COMOLEGISLADOR POSITIVO. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 4 REFE-RÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

A pertinência do presente artigo com a temática Hermenêutica Cons-titucional reside no fato de que a interpretação da nossa Constituiçãoda República, assim como a de todo ordenamento infraconstitucionalbrasileiro, está submetida aos princípios constitucionais que fundamen-tam a ordem jurídica pátria, e o tema proposto, como se verá adiante,terá como parâmetro justamente esses princípios.

No particular, o que motivou nossas reflexões foi o critériointerpretativo empregado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no hardcase tratado nos Mandados de Segurança n. 26.602, n. 26.603 e n.26.604, todos do Distrito Federal, que, julgados em conjunto, confirma-ram entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), oriundo daConsulta n. 22.526, de 27 de março de 2007. Esse entendimento pau-ta-se no sentido de que a infidelidade partidária sem justa causa, porparte de detentor de mandato político eletivo – parlamentar ou execu-tivo –, gera a perda do cargo desse mandatário, e de que esse cargopertence à agremiação política à qual, até então, estava vinculado o re-presentante popular.

Apenas para contextualizar, tem-se que na supra referida consul-ta, cujo relator foi o ministro Cesar Asfor Rocha, a resposta acerca daperda do mandato eletivo foi fundamentada no art. 14, § 3o, V, da Cons-tituição da República. Esse parágrafo trata das condições de elegibili-dade para os cargos ali elencados, sendo que o referido inciso indicaa filiação partidária como uma delas.

* Mestre e especialista em Direito Constitucional. Professor de HermenêuticaJurídica e Direito Eleitoral. Autor de livros de Direito Eleitoral, articulista derevistas especializadas em Direito e sócio do Instituto Brasileiro de DireitoEleitoral (IBRADE).

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Em seguida, a Corte Suprema orientou que o Tribunal Superior Elei-toral expedisse instruções para efetivar esse entendimento. Em sintoniacom esse posicionamento, o TSE resolveu editar, em 30 de outubro de2007, a Resolução n. 22.610, dando competência a si mesmo paradecretar a perda do cargo do mandatário “infiel”.

Nesse passo, o art. 1o dessa resolução determina e elenca as hipó-teses de perda do cargo do mandatário político da seguinte forma:

Art. 1o O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Elei-toral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência dedesfiliação partidária sem justa causa.

§ 1o Considera-se justa causa:

I) incorporação ou fusão do partido;

II) criação de novo partido;

III) mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;

IV) grave discriminação pessoal.

Em seguida, em pouco mais de uma dezena de artigos, dispõe essaresolução sobre o rito a ser seguido para materializar as hipóteses dessedispositivo.

2 Discussão de hard case e o TSE como legislador positivo

Não desconhecemos o papel que o STF cumpre para preencher ovácuo legislativo oriundo da inércia do Congresso Nacional, especial-mente no que diz respeito à implementação de direitos e garantiasprevistos na Constituição. Nesse sentido, são apropriadas as palavrasdos doutrinadores Mendes, Coelho e Branco:

O STF desempenha um papel relevantíssimo no contexto de nossoprocesso institucional, estimulando-o, muitas vezes, à prática deativismo judicial, notadamente na implementação concretizadora depolíticas públicas definidas pela própria Constituição que são lamen-tavelmente descumpridas, por injustificável inércia, pelos órgãos esta-tais competentes. [2008, p. 155].

Mas, igualmente, não ignoramos que o ativismo judicial, tão em vogano Direito alienígena, especialmente no Direito norte-americano, encon-tra no Direito pátrio seus limites na própria Constituição republicanainterpretada.

Em princípio, no caso analisado, o STF não transbordou da suafunção ao interpretar e “recriar” a Constituição da República, atualizan-

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do-a. Tem essa Corte legitimidade constitucional para esse mister. Muitoembora não se desconheça que o agir hermenêutico cabe a todos,1 nasua concretização, particularmente nos casos sub judice, é o STF quemdetém a titularidade para, em última instância, após interpretar a Cons-tituição, aplicá-la.

Volvendo o tema, temos que, em descompasso com o ordenamentojurídico pátrio, a mais alta Corte Eleitoral do País editou uma resolu-ção, atribuindo a si mesma competência para, quando provocada porquem de direito, processasse e julgasse os casos referentes à perdade mandato dos cargos eletivos federais. Ainda segundo essa resolu-ção, aos tribunais regionais eleitorais coube a competência para pro-cessar e declarar a perda dos cargos eletivos estaduais e municipais.

Com essa iniciativa, entendemos que o Tribunal Superior Eleitoralultrapassou, em muito, a linha demarcatória que separa o Estado deDireito do Estado no rules, pois, inobservando o princípio constitucio-nal da separação de poderes da República, criou regras restritivas dedireitos, ao disciplinar a perda de cargo do mandatário político quetrocou de legenda partidária após o dia 27.3.2007. Dessa forma, o TSE,interpretando a Constituição, criou normas e, assim, agiu como legis-lador positivo.

Realmente, ao atuar como legislador, aquela Corte extrapolou oslimites de sua atuação institucional, mormente quando se trata de nor-mas restritivas de direito, pois a boa hermenêutica recomenda quenormas dessa natureza devem ser interpretadas de forma estrita, nun-ca alargada. No presente caso, a interpretação desse tribunal não foino sentido de restringir, mas de retirar um direito, o que é muito maisgrave.

Nunca é demais advertir que a competência do TSE é aquelaestabelecida no art. 23 do Código Eleitoral e neste não se encontra,em nenhum dos seus incisos, autorização para que esse tribunal de-crete a perda do cargo do mandatário político que mudou de agremiaçãopartidária. E, ainda que houvesse disposição nesse sentido, seriainconstitucional, pois feriria de morte o art. 17, § 1o, da CF, que dá a

1Apenas para argumentar, nunca é demais relembrar que a interpretaçãoconstitucional cabe a todos os cidadãos que vivem sob o seu manto. De acordocom os ensinamentos de Peter Häberle, todos os que vivem sob a égide deuma constituição são seus legítimos intérpretes, pois a interpretaçãoconstitucional não é de atuação exclusivamente estatal, cabendo também aopovo essa atividade.

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prerrogativa para tratar dessa matéria apenas aos partidos políticospor meio dos seus estatutos.

Na verdade, a competência atribuída ao TSE pelo CE restringe-sea expedir instruções para cumprimento da legislação eleitoral, o quenão pode ser confundido com “criação de leis eleitorais”, ainda queessa venha sob outro rótulo.

Por outro lado, não desconhecemos que a jurisprudência dessaJustiça Especializada é pacífica no sentido de que as resoluções doTSE têm força de lei, ensejando, até mesmo, a interposição de recursoespecial para quando o seu texto for violado.2 À parte esse entendi-mento de duvidosa constitucionalidade, uma vez que topologicamentenão se encontra essa autorização no rol do art. 59 da CF, a nosso ver,atribuir competência a um órgão da Justiça Eleitoral, só através de leicomplementar. Essa é a única exegese a ser extraída do art. 121, § 3o,da CF.

Na realidade, esse instrumento normativo editado pelo TSE,disciplinador da perda de cargo eletivo, utilizando uma terminologiaatribuída a Clèmerson Merlin Clévin, não passa pelo filtro constitucio-nal, pois fere o princípio da separação dos poderes insculpido no art.2o da Constituição da República. Nesse caso, o Poder Judiciário usur-pou as funções legislativas do Congresso Nacional, especialmente osarts. 22, I, 5a figura, e 48 da CF, pois àquele Poder cabe interpretar otexto constitucional e as leis pré-existentes no País, ampliando ou res-tringindo suas normas, nunca legislando positivamente. Inovar, ou seja,trazer ao mundo jurídico novas regras de convivência política e socialé atribuição do Poder Legislativo.

Essa iniciativa do TSE fere um princípio de interpretação constitucio-nal denominado, por J. J. Gomes Canotilho, de princípio da unidade daConstituição que, segundo esse doutrinador:

[...] quer significar que a constituição deve ser interpretada de forma aevitar contradições (antinomias, antagonismos) entre suas normas.Como “ponto de orientação”, “guia de discussão” e “fator hermenêuticode decisão”, o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar aconstituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaçosde tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar [...].

2Nesse sentido, temos os seguintes acórdãos do TSE: n. 823-RS, de 24.4.1952,Rel. Min. Pedro Paulo P. e Costa; n. 6477-PA, de 28.9.1978, Rel. Min. JoãoBaptista C. Guerra, e n. 167-MG, de 15.3.2001, Rel. Min. Waldemar Zveiter.

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Daí que o intérprete deva sempre considerar as normas constitucio-nais não como normas isoladas e dispersas, mas sim como preceitosintegrados num sistema interno unitário de normas e princípios. [2003,p. 1.223/4].

Depreende-se desse princípio que as normas constitucionais de-vem ser entendidas como inter-relação entre a parte e o todo, e nãoisoladamente, ou seja, as partes devem ser interpretadas pelo todo e otodo pela parte, como num verdadeiro círculo hermenêutico de quenos fala Friedrich Scheleiermacher.

É a hipótese do presente case, onde a parte foi compreendida iso-ladamente e fora do contexto da Constituição, gerando uma interpreta-ção equivocada.

Outro princípio constitucional violado pela interpretação dessasCortes Superiores no case analisado é o da correção funcional. Coroláriodo anterior, esse princípio, nas palavras de Mendes, Coelho e Branco:

[...] tem por finalidade orientar os intérpretes da Constituição no senti-do de que, instituindo a norma fundamental um sistema coerente epreviamente ponderado de repartição de competências, não podemos seus aplicadores chegar a result ados que perturbem o esque-ma organizatório-funcional nela est abelecido, como é o caso daseparação dos poderes , cuja observância é consubstancial à própriaidéia de Estado de Direito [2008, p. 116 – grifei].

Realmente, tanto na consulta respondida pelo TSE, quanto nos writsapreciados pelo STF, a Constituição brasileira foi interpretada ferindoo esquema organizatório-funcional nela instituído.

É de sabença geral que, dentro da divisão de função do poder unoestatal, cabe ao Judiciário a função de dizer o direito. Quanto à funçãode legislar, deve essa entidade limitar-se apenas ao suficiente paramantença de suas atribuições. A atividade legislativa stricto sensu cabepreponderantemente ao Poder Legislativo, que, no Brasil, em nível fe-deral, cabe ao Congresso Nacional.

Histórica e politicamente correta pode estar a mais alta Corte Elei-toral do País, bem como vem ao encontro de um apelo da sociedade,estando, ainda, conforme a ética. No entanto, esse ativismo judicialnão encontra respaldo constitucional, e a Constituição é o limite daatividade interpretativa do hermeneuta.

Realmente, voltando ao case analisado, a partir de uma interpreta-ção sistemática e teleológica da Constituição da República, e tambémcom base num sentido ético e ideológico da instituição partidária, pode-

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mos concluir que os mandatos eletivos pertencem ao partido político. Aperda do mandato do mandatário “infiel”, no entanto, requer maior refle-xão. Parece um paradoxo, mas longe está de ser.

Sendo o mandato eletivo uma extensão da soberania popularconferida pela Constituição da República, a sua perda também há deser outorgada pela própria Constituição e, nesse caso, não há autori-zação constitucional para tanto. Em verdade, se a Constituição quises-se, ela assim disporia. Exemplo disso é o art. 55, I a VI, da CF, queprevê a perda do cargo público eletivo do mandatário nas hipótesesque aponta. Em nenhum desses dispositivos mencionados há a previ-são de perda do cargo do mandatário político que mudar de agremiaçãopartidária.

Analisando o dispositivo constitucional fundamentador da consultado TSE, ou seja, o art. 14, § 3o, V, da Constituição da República, verifi-camos que nem com muito esforço interpretativo é possível extrair dessedispositivo a exegese colhida pelo ministro-relator, no sentido de queos mandatos eletivos pertencem aos partidos políticos e que, em casode troca de legenda partidária por parte do mandatário, este perde omandato.

Se tivesse de existir essa previsão na Constituição, o mais naturalé que o dispositivo indicador da perda do cargo estivesse hospedadono art. 17 ou no art. 55 da Constituição, nunca na parte da Constituiçãoque trata de elegibilidade.

A seguir, transcreveremos os artigos citados para que neles se façaum exame, ainda que breve, do que afirmamos. Prevê o art. 17, § 1o,da Constituição que:

É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estru-tura interna, organização e funcionamento, devendo seus est atutosestabelecer normas de fidelidade e disciplina p artidárias . [Grifei.]

Vemos, pelo dispositivo mencionado, que flui diretamente da CFpara os estatutos partidários a autorização para que as agremiaçõespartidárias prevejam normas de fidelidade e disciplina partidária, evi-dentemente com a conseqüente penalidade por tais infrações; penali-dades essas, no entanto, da esfera de conveniência e oportunidadedos próprios partidos políticos, sem que o Judiciário possa adentrar nomérito de sua discricionariedade.

Em verdade, da forma como se encontra o comando desse dispo-sitivo, os estatutos, nesse particular, funcionam como uma verdadeira

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lei complementar, não havendo margem para interpretação que per-mita o seu complemento, seja pelo Poder Judiciário, seja pelo legisla-dor ordinário ou pelo Chefe do Executivo. O próprio TSE, no Acórdãon. 15.384, de 4.9.1998, Rel. Min. Néri da Silveira, Rel. designado Min.Edson Vidigal, já firmou entendimento, no sentido de que:

1. A autonomia dos partidos políticos quanto a sua estrutura interna,organização e funcionamento flui diretamente da Constituição Federalpara os estatutos, como se estes fossem uma lei complementar. A leiordinária, port anto, não pode se sobrepor ao que estiver nos est a-tutos em se trat ando de estrutura interna, organização e funcio-namento . [Grifei.]

2. omissis.

3. omissis.

Por outro lado, dispõe o art. 55 da Constituição que:

Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;

II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parla-mentar;

III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terçaparte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licençaou missão por esta autorizada;

IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nestaConstituição;

VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

O artigo anterior a que se refere o inciso I diz respeito a questõesque não têm pertinência com fidelidade partidária. O inciso V, por suavez, é de clareza mediana, pois remete a perda do mandato para oscasos que a própria Constituição determina. E, em nenhuma hipóte-se, como se pode observar, ela determina a perda de mandato porinfidelidade partidária.

Nesse caso, da forma como se encontra o texto constitucional, nãohá muito o que fazer para satisfazer o anseio social acerca da perdado cargo de detentor de mandato eletivo que mudar de partido. A so-lução para atingir esse desiderato almejado pela sociedade deve sedar, a nosso ver, somente por meio de uma emenda constitucional.

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Com efeito, para criar direito novo, o Congresso Nacional precisalegislar. Para isso deverá, em princípio – modificando o art. 17, § 1o,da CF – incluir uma nova cláusula restritiva determinando os motivose as hipóteses da perda do mandato do detentor de cargo eletivo infielou, se desejar, remeter tal matéria para ser disciplinada por lei.

A propósito, o legislador ordinário disciplinou o referido instituto dafidelidade partidária nos arts. 23 a 26 da Lei n. 9.096, de 19 de setem-bro de 1995. Naquela oportunidade, sabiamente não tratou da perdado cargo do mandatário político que mudasse de partido, pois captouque esse comando foi dado pelo constituinte exclusivamente ao parti-do, para que esse o fizesse constar no seu estatuto. Nesse sentido,vejamos o que consta nos citados dispositivos:

Art. 23. A responsabilidade por violação dos deveres p artidáriosdeve ser apurada e punida pelo competente órgão, na conformi-dade do que disponha o est atuto de cada p artido.

§ 1o Filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição porcondut a que não esteja tipificada no est atuto do p artido político.

§ 2o Ao acusado é assegurado amplo direito de defesa.

Art. 24. Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido devesubordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários eprogramáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direçãopartidários, na forma do estatuto.

Art. 25. O estatuto do partido poderá estabelecer, além das medidasdisciplinares básicas de caráter partidário, normas sobre penalidades,inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão dodireito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogati-vas, cargos e funções que exerça em decorrência da representação eda proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa, ao parlamen-tar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamen-te estabelecidas pelos órgãos partidários.

Art. 26. Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, narespectiva Casa Legislativa, em virtude da proporção partidária, oparlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito.[Grifei.]

Vê-se, nesses dispositivos, por meio de uma simples leitura, semesforço maior, que o legislador ordinário não tratou da perda do cargodo mandatário que muda de legenda partidária. Até porque não haviaespaço para tal mister.

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3 Considerações finais

Não desconhecemos outras inconstitucionalidades na resolução doTSE aqui tratada, tal como a ausência do duplo grau de jurisdição. Re-conhecemos, por outro lado, a louvável iniciativa do ativismo judicial tãonecessário ao nosso País.

O que é inconcebível, entretanto, é que as instituições da República,na espécie, o Poder Judiciário, por interpretações pragmáticas, provo-quem rupturas na ordem jurídico-constitucional, ainda que em nome deuma causa nobre e ética como a tratada aqui, pois em um Estado De-mocrático de Direito, no particular o nosso, não pode existir instituiçãoque se sobreponha ao primado da Constituição da República.

Não concebemos, assim, que tribunais atuem como legisladorespositivos, criando comandos normativos abstratos para reger casosconcretos, restringindo direitos, inclusive com efeitos retroativos, fe-rindo ainda mais o texto constitucional no que se refere ao princípioda segurança jurídica.

Uma solução recomendável, a nosso ver, para resolver essa ques-tão, é o encaminhamento de uma proposta de emenda constitucionalao Congresso Nacional, por quem de direito (art. 60, I, II e III, da CF),no sentido de, reformando o § 1o do art. 17, incluir mais um inciso noart. 55 do texto constitucional para fazer constar expressamente a in-fidelidade partidária como um dos motivos da perda do mandato eletivo,o que só fortalecerá as instituições partidárias e o Estado Democráticode Direito.

Esse é o nosso entendimento. De qualquer forma, os dispositivosconstitucionais que embasaram os julgamentos do STF e do TSE es-tão aí a desafiar a argúcia dos hermeneutas constitucionais.

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VIDA PREGRESSA DO CANDIDATO

Rita de Cássia G. Lima da Cruz*

1 INTRODUÇÃO. 2 A REGULAMENTAÇÃO DA VIDA PREGRESSA.3 A NECESSIDADE DA APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DA VIDAPREGRESSA COMO CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. 4 REFERÊN-CIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1 Introdução

No decorrer de um ano eleitoral, com a proximidade de mais umpleito para escolher os ocupantes das funções do legislativo e executivomunicipais, volta ao debate o tema sobre a vida pregressa do candidatocomo condição de elegibilidade, a ser analisada na fase de registro decandidatura. Independentemente do posicionamento dos Tribunais Su-periores, pretendo fazer uma análise crítica acerca da matéria.

2 A regulament ação da vida pregressa

Estabelece o § 9o da Constituição Federal, com redação dada pelaEmenda Constitucional de Revisão n. 4, de 7 de junho de 1994:

§ 9o Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade eos prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administra-tiva, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vidapregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleiçõescontra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício defunção, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Primeira questão: a Lei Complementar n. 64/1990 (que prevê oscasos de inelegibilidades infraconstitucionais) não faz qualquer refe-rência à vida pregressa do candidato, visto que anterior à norma consti-tucional. A Lei n. 64/1990, na alínea “e” do inciso I do art. 1o, limita-se aconsiderar como inelegíveis os condenados criminalmente, com sen-tença transitada em julgado, pela prática de crimes contra a economiapopular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, omercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleito-rais, pelo prazo de três anos, após o cumprimento da pena.

A ausência de definição legal de “vida pregressa” do candidato temlevado as decisões jurisprudenciais a relegar tal requisito de elegibili-

* Especialista em Direito Eleitoral, Analista Judiciária do TRESC.

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dade, sob o argumento de necessidade de a lei complementar prevê-lo. Vejamos algumas decisões recentes da Justiça Eleitoral:

Em decisão do dia 4 de agosto de 2008, o Tribunal Regional Eleitoralde Santa Catarina, no Acórdão n. 22.334, relatora Juíza Eliana PaggiarinMarinho, decidiu que não estando suspensos os direitos políticos do pré-candidato, ante a ausência de condenação criminal ou por ato deimprobidade administrativa transitada em julgado, não há como rejeitaro pedido de registro de candidatura, pelo exame dos processos em cur-so, ainda que decididos em primeira instância. Em seu voto, a relatoraprofere que, na decisão da primeira instância, o magistrado teve comosuporte o voto proferido pelo eminente ministro Carlos Ayres Britto, naConsulta n. 1.621/2008, de que o recorrente, condenado criminalmente,não preenche a condição de elegibilidade implicitamente prevista no art.37, caput, da Constituição da República, que, numa “interpretaçãoevolutiva” do texto constitucional, se integra ao § 3o do art. 14, uma vezque, no seu entendimento, “aquele que possui contra si sentençacondenatória criminal, está infringindo o princípio constitucional damoralidade pública ao pretender candidatar-se”. Prosseguindo em seuvoto, a eminente relatora fala que a questão da vida pregressa é umaquestão nova. Segue a linha de entendimento do Tribunal Superior Elei-toral, resumido no enunciado da Súmula n. 13 daquela Corte:

Súmula 13: Não é auto-aplicável o § 9o do art. 14 da Constituição, coma redação da Emenda Constitucional de Revisão n. 4/1994.

A Resolução do TSE, resultante da resposta à Consulta n. 1.621,restou assim ementada:

ELEIÇÕES 2008. REGISTRO DE CANDIDATO. AFERIÇÃO. REQUI-SITOS. VIDA PREGRESSA DO CANDIDATO. INEXIGIBILIDADE.

O dispositivo da Resolução redigido ficou como segue:

Resolvem os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, re-ceber o Processo Administrativo como Consulta e respondê-la no sen-tido de que sem o trânsito em julgado de sentença penal condenatória,nenhum pré-candidato pode ter seu registro de candidatura recusadopela Justiça Eleitoral, nos termos do voto do Relator [Resolução n.22.842, de 10.6.2008, Rel. Min. Ari Pargendler].

Analisemos aqui o voto vencido do ministro Carlos Ayres Britto naConsulta n. 1.621: fervoroso defensor da desnecessidade de trânsito emjulgado para fins de se rejeitarem pedidos de registro de candidatura quandoos antecedentes do pretenso candidato recomendarem, argumenta que aJustiça Eleitoral pode “apreciar os pedidos de registro de candidatura acargo político-eletivo na perspectiva da vida moral pregressa do pré-can-

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didato”, uma vez que, pelo sistema constitucional em vigor, a idoneidademoral seria uma das condições de elegibilidade implícitas.

No voto da relatora do acórdão do Tribunal Regional Eleitoral deSanta Catarina, consignada está a discordância quanto aoposicionamento do ministro no que diz respeito à existência de condi-ção de elegibilidade implícita, pois, segundo a juíza da segunda instânciada Justiça Eleitoral de Santa Catarina, ainda que se reconheça a pre-ocupação da Carta Política com a questão da moralidade e da probi-dade para o exercício do mandato, vários dispositivos evidenciam notexto constitucional a opção pelo trânsito em julgado das decisõescondenatórias. Fundamentou ainda seu voto, com análise do art. 15 dotexto constitucional, onde o constituinte vedou a cassação de direitospolíticos, cuja perda ou suspensão só se dará nas estritas hipóteseselencadas, justificando assim que o direito de ser votado não está en-tre os requisitos previstos pelo constituinte enquanto a condenaçãocriminal em processo ainda estiver em curso. Com relação a essa ques-tão, conclui dizendo que:

A combinação do § 3o do art. 14 com o art. 15 da Constituição, a meusentir, afastam o entendimento de que a sentença penal condenatória,proferida em processo que ainda não tenha trânsito em julgado, possaser tida como condição de elegibilidade implícita. Se fosse essa suaintenção, haveria o constituinte de exigir expressamente como condi-ção de elegibilidade a inexistência de processo criminal em curso, oupelo menos com decisão condenatória, contra o pré-candidato, paraque dúvida não pairasse justamente por ainda não haver, nessa eta-pa, suspensão de direitos políticos.

Diante da inércia do legislador em proceder à nova regulamentação –necessária após a revisão constitucional –, tem sido esse o posicionamentodos tribunais ao decidir acerca da vida pregressa do candidato.

3 A necessidade da aplicação do critério da vida pregressa comocondição de elegibilidade

Embora a questão seja polêmica, é difícil decidir acerca dos critéri-os a serem adotados no que diz respeito ao quesito da “vida pregressa”,o clamor da sociedade é o da consagração da ética. Brilhante é oposicionamento de Djalma Pinto, em sua obra Elegibilidade no DireitoBrasileiro (Atlas, 2008):

O fato, cumpre reiterar, é que a Constituição já determinou que, pararesguardo da probidade administrativa e da moralidade exigida para oexercício do mandato, deve ser avaliada a vida pregressa daqueleque se propõe exercê-lo. Se o responsável pela produção das nor-mas, por conivência ou por reconhecer de antemão a ausência de

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bons antecedentes e de condições morais para o exercício da função,em alguns integrantes do Parlamento, deixou de elaborar a lei com-plementar recomendada pelo texto constitucional, o aplicador da Cons-tituição, que lhe deve incondicional subordinação, não pode negar-lhevigência.

[...] A ausência de lei complementar, no caso, jamais pode ser invocadapara que criminosos, com delitos filmados, aportem em cargos eletivos,invocando o argumento de que o Brasil não sabe o que é vida pregressaa que se reporta o seu texto constitucional.

[...] A recusa dos julgados do TSE, em avaliar a vida pregressa dequem se propõe exercer a representação popular, com liberação, emúltima análise, de todo e qualquer criminoso não definitivamente julga-do para investidura no mandato eletivo, acaba contribuindo para pro-vocar a impotência do Direito Eleitoral diante dos fatos. Resulta paten-te, pois, a prevalência da força dos detentores do poder político emdetrimento da força normativa da Constituição.

[...] A exigência do exame da vida pregressa foi introduzida, no textoconstitucional, por expressar a consagração de uma conquista éticada sociedade brasileira. Por isso mesmo, após passar a integrar aConstituição, deve ser aplicada irrecusavelmente a todos os casosconcretos em que alguém postula registro de candidatura, para impe-dir o acesso de marginais ao poder.

Solução plausível seria, talvez, o estabelecimento pelo legisladorconstitucional, com a maior brevidade possível, de critérios para definira vida pregressa, como bem definiu em seu voto, na já citada Consultan. 1.621, o Min. Ayres Britto:

Critérios que levem em conta, por hipótese, o número de processosjudiciais a que responda o pretenso candidato. Ou a distinção entreações de improbidade administrativa e processos criminais. Tambémassim, a circunstância de já haver condenação em primeira ou em se-gunda instância, ainda que pendente de recurso. Enfim, a concomitânciadesse ou daquele passivo processual com toda uma ambiência socialde notória má-fama do pré-candidato nos domínios da ética.

Do voto do Min. Joaquim Barbosa, também vencido nessa consul-ta, extrai-se uma interessante sugestão que também poderia ser ado-tada: colocar-se entre as condições de se negar o registro a con-denação em segunda instância. 1

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no dia 6 de agosto de2008, em sessão plenária, que a Justiça Eleitoral não pode negar re-gistro a candidato que seja réu em processo criminal ou de improbidade

1Site do TSE, em pesquisa efetuada em 11.6.2008.

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administrativa, ou tenha sido condenado em instância inferior, sem quea sentença tenha “transitado em julgado”, em virtude de recurso aindapendente em tribunal superior. Com essa decisão, que é definitiva e daqual não cabe mais recurso, todos os candidatos ao pleito de 2008 quetiveram registros negados, ou venham a tê-los, por tribunais regionaiseleitorais, em face da “vida pregressa” não recomendável, são elegí-veis, com base na presunção de inocência (art. 5o da ConstituiçãoFederal). No julgamento da ação de Argüição de Descumprimento dePreceito Fundamental (ADPF) proposta pela Associação dos Magistra-dos Brasileiros (AMB) – que pretendia a declaração, pelo STF, de nãoser necessária a existência da condenação definitiva, prevista na Leide Inelegibilidade (Lei n. 64/1990), para que o juiz eleitoral negue oregistro de candidatos que tenham “fichas sujas” –, seguiram o votovencedor do relator Celso de Mello, os ministros Menezes Direito, Cár-men Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Cezar Peluso, MarcoAurélio, Ellen Gracie e Gilmar Mendes. Foram vencidos os ministrosAyres Britto, presidente do TSE, e Joaquim Barbosa.

Argumentos do voto vencedor:

- O princípio da não-culpabilidade projeta-se além de uma dimensãoestritamente penal, alcançando quaisquer medidas restritivas de direi-tos, inclusive no campo do direito eleitoral;

- O sistema judicial brasileiro não tolera processos condenatóriosirrecorríveis e não aceita a transgressão do dogma da presunção deinocência;

- É preciso que haja título judicial definitivo para que se gere algumaconseqüência, sobretudo quando está em jogo a suspensão de direi-tos políticos, como o de ser votado.

Argumentos do voto vencido:

- A presunção de inocência não pode ser “absoluta”, já que, na Cons-tituição, ela teria como referência a área penal, e não a eleitoral.

- A vida pregressa do candidato deve ser analisada, sim, não comocondição de inelegibilidade, mas como de elegibilidade; assim, nãoestaria comprometida nem a Lei de Inelegibilidade, nem o princípioconstitucional da presunção de inocência.

Analisando-se os argumentos do voto vencido, avalio que a JustiçaEleitoral deveria posicionar-se mais objetivamente acerca da questãoda vida pregressa do candidato. Tendo um candidato uma “vidapregressa” incompatível com a dignidade do cargo em disputa, não seriaela motivo para torná-lo inelegível, e, sim, motivo para suprimir-lhe umacondição de elegibilidade implícita. Thales Tácito Cerqueira, ao anali-sar a questão, conclui:

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[...]

a) não pode a Justiça Eleitoral tratar a falta de moralidade eleitoralcomo inelegibilidade, porquanto não pode em resolução versar sobrematéria de lei complementar, apenas de lei ordinária. Com isso, so-mente o Legislativo pode regulamentar o artigo 14, § 9o, da CF/1988

b) todavia, em que pese a proibição acima, pode a Justiça Eleitoraltratar a falta de moralidade eleitoral (no seu aspecto público e nãoprivado) como CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE IMPLÍCITA, inclusivepermitindo ao TSE que baixe resolução para tal fim.

Em relação a essa nova teoria não vigora o princípio da inocência,e, sim, o princípio da moralidade constitucional (art. 37 da ConstituiçãoFederal), em face do princípio da supremacia do interesse público (amoralidade tem mais caráter social do que a inocência, cujo interesseé privado) e pelo fato de ambos os artigos, estando na própria Consti-tuição, terem a mesma hierarquia. Essa também é a conclusão a quechegaram Thales Pontes Luz de Pádua Cerqueira e Camila Medeirosde Albuquerque Pontes Luz de Pádua Cerqueira, no tomo IV de suaobra Tratado de Direito Eleitoral.

Analisando o outro argumento do voto vencido da decisão do Su-premo Tribunal Federal, defendo que a necessidade do trânsito emjulgado para que o candidato seja declarado inelegível não decorre daConstituição, uma vez que esta apenas se refere à necessidade detutela aos princípios da Administração Pública, determinando para issoque sejam inelegíveis aqueles que não atendam às condições demoralidade e probidade necessárias. Demonstrada está, na minhaopinião, a não incidência do Direito Penal na seara eleitoral; devem,sim, nela prevalecer os princípios que regem o Direito Administrativo,sobretudo no que tange à proteção à moralidade e probidade dos can-didatos, visto que estes, caso eleitos, serão os gestores da res publica.

É necessário adequar o dispositivo da Lei Complementar n. 64/1990 à diretriz constitucional, a fim de tornar desnecessária a exigên-cia do trânsito em julgado, conferindo ao art. 14, § 9o, da ConstituiçãoFederal eficácia plena e auto-executoriedade.

Outro argumento utilizado nas decisões jurisprudenciais, de que oeleitorado deverá fazer no momento de sua escolha a exclusão daque-les candidatos que não possuem uma vida pregressa ilibada, não me-rece resguardo, seja porque o aplicador da Constituição, que lhe deveincondicional subordinação, não pode negar-lhe vigência ante a inér-cia do responsável pela produção das normas, seja porque o eleitora-do, a despeito de deter o poder de escolha de seus representantes,

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ainda não dispõe, em sua maioria, de condições efetivas de análise davida pregressa do candidato. No atual sistema eleitoral brasileiro, ascampanhas políticas são predominantemente focadas na pessoa docandidato, que, na maioria dos casos, tem por trás de sua imagem todoum desenvolvimento de marketing pessoal, amplamente difundido pelosmeios de comunicação, que alcançam grande parte do eleitorado.

A avaliação da vida pregressa pelo eleitor é uma utopia diante doperfil de nossa sociedade, em grande parte analfabeta e que dispõecomo única fonte de informação, os chamados meios de comunicaçãode massa (rádio e televisão).

A análise da vida pregressa do candidato, prevista no art. 14, § 9o,da Constituição Federal deverá ser incluída entre as condições de ele-gibilidade. A interpretação do dispositivo da Lei Complementar n. 64/1990 que determina o trânsito em julgado de sentença penalcondenatória nos crimes contra a administração pública ou deimprobidade administrativa para que ocorra a inelegibilidade, deve serinterpretada de forma sistemática para permitir a autoaplicabilidade daConstituição, embora a decisão do Supremo Tribunal Federal não te-nha adotado tal interpretação. Assim, urge que seja publicada lei com-plementar que regulamente o § 9o do art. 14 da Constituição para quenão somente os delitos com trânsito em julgado sejam levados emconsideração no momento da análise da vida pregressa, mas tambéma folha corrida do candidato, a quantidade de eventuais processos deimprobidade administrativa e criminais contra a administração públicanos quais o candidato seja réu, além de outros fatos desabonadorespúblicos e notórios, que venham a revelar uma “vida pregressa” incom-patível com a moralidade para o exercício da função e com a dignida-de do cargo em disputa.

A ética e a moralidade são questões em evidência. Estamos viven-do numa nova era democrática e há uma consciência popular mais nítidade que aquele indivíduo que pretende se tornar um agente público, quedeverá zelar pela res publica, deverá ter uma vida pautada pelos prin-cípios básicos da honestidade, do bom caráter, da ética e da moralidade.

Em 1999 foi aprovada a Lei n. 9.840, que tornou possível a cassa-ção de milhares de políticos por compra de votos e uso eleitoral damáquina administrativa. Foi a primeira vez que a sociedade brasileiraapresentou e viu aprovado um projeto de lei de iniciativa popular emque se concedia à Justiça Eleitoral poderes mais amplos para aplicarpunições aos que praticam atos de corrupção eleitoral. Essa conquistafoi um grande passo, mas é preciso ir além. Muitos políticos respondema um grande número de processos criminais, muitas vezes envolven-

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do casos gravíssimos de desvios de recursos públicos, entre outros. Issonão impede, pela legislação atual, que eles sejam candidatos. É preci-so dar um basta nesse posicionamento adotado. É necessário que apopulação se mobilize novamente para aprovar um projeto de lei de ini-ciativa popular sobre a vida pregressa dos candidatos, para evitarmosos “oportunismos” daqueles que buscam em suas candidaturas nadamais do que a obtenção do foro privilegiado, que os coloca praticamente“a salvo” de qualquer condenação.

A análise da vida pregressa não é uma antecipação de culpa dequem ainda responde a processos criminais, é, sim, uma medida pre-ventiva, para impedir a viabilidade da candidatura, até que essespretensos candidatos se livrem das acusações. Os interesses públicosdevem prevalecer sobre os interesses particulares de possíveis prati-cantes de graves atos contrários à lei. Se de um lado está o aspiranteao cargo público, de outro estão a coletividade, o Estado e os indivídu-os componentes da coletividade. Analisemos Hugo Grócio, sob oenfoque de Paulo Emílio Vauthier Borges de Macedo (2008):

Segundo sua ótica [de Grócio], os direitos individuais só podem flores-cer numa sociedade bem ordenada; porém, uma sociedade só pode-ria florescer se os membros individuais se importassem não somentecom seu próprio bem-estar, mas com os de seus companheiros e detoda a comunidade.

4 Referências bibliográficas

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução TSE n. 22.842. Relator:Min. Ari Pargendler. Brasília, 10 de junho de 2008. Disponível em: <http://www.tse.gov.br/sadJudSjur/>. Acesso em: 4 ago. 2008.

______. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina. Acórdão TRESCn. 22.334. Rel. Juíza Eliana Paggiarin Marinho. Florianópolis, 4 de agos-to de 2008. Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/legislacao/>. Aces-so em: 6 ago. 2008.

CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua, et al. Tratado deDireito Eleitoral: processo civil eleitoral. São Paulo: Premier Máxima,2008. Tomo IV.

MACEDO, Paulo Emílio Vauthier Borges de. Hugo Grócio e o Direito: ojurista da guerra e da paz. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. Lex: Col.Primeiros Passos na Filosofia do Direito.

PINTO, Djalma. Elegibilidade no Direito brasileiro. São Paulo: Atlas, 2008.

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ÍNDICE TEMÁTICO DEACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Este índice temático consiste em uma relação dos acórdãos e re-soluções do TRESC proferidos no ano de 2008. Os textos que o com-põem estão organizados por assuntos de relevância no Direito Eleito-ral, e, por não constituírem transcrição literal das ementas, não têm va-lor de precedente.

ABUSO DE PODER

22.069 – Abuso do poder político. Distribuição de vales-combus-tível em troca de votos . Descaracterização. Ausência de provas ro-bustas e incontroversas.

22.723 – Abuso do poder econômico. Descaracterização. Suspos-ta compra de voto de convencional de outra agremiação. Necessida-de de potencialidade p ara influir no result ado do pleito .

No mesmo sentido: 23.208, 23.239, 23.274 e 23.294.

22.995 – Abuso do poder político. Inocorrência. Variação nominal.Eventual irregularidade. Menção da experiência adquirida por meiodo exercício de cargo político (art. 40 da Lei das Eleições).

23.055 – Abuso do poder político. Descaracterização. Utilizaçãoindevida dos meios de comunicação social . Distribuição de calen-dários. Divulgação. Rádio e televisão.

23.183 – Abuso do poder político. Conduta vedada a agente públi-co. O fato considerado como condut a vedada pode ser apreciadocomo abuso do poder de autoridade para gerar a inelegibilidade doart. 22 da Lei de Inelegibilidades.

23.208 – Abuso do poder político. Descaracterização. Utilização in-devida dos meios de comunicação social. Distribuição de p anfletodestacando obras, realizações e projetos . Necessidade de potenci-alidade para influir no resultado do pleito.

23.238 – Abuso do poder econômico. Eleição municipal. Renova-ção do pleito . Captação de sufrágio. Caracterização. Nulidade da vo-tação (art. 224 do Código Eleitoral).

23.239 – Abuso do poder político. Condut a vedada a agente pú-blico . A potencialidade de a conduta interferir no resultado das eleiçõesé requisito essencial à caracterização do ilícito eleitoral previsto no art.73 da Lei n. 9.504/1997.

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23.294 – Abuso de poder. É assente na jurisprudência, e não dis-sente a doutrina, que as hipóteses do art. 22 da Lei Complementar n.64/1990 – abuso de poder econômico, político, uso indevido de veícu-los ou meios de comunicação social – são qualificadas, matizadas pelapotencialidade de acometer a legitimidade do pleito eleitoral, o qualconstitui requisito indispensável p ara sua configuração .

No mesmo sentido: 23.208, 23.239, 23.274 e 23.294.

23.304 – Abuso do poder econômico. Divulgação de mensagemcom vocação subliminar de apelo eleitoral por meio de outdoors.Descaracterização. O uso indevido dos meios de comunicação socialexige que o veículo de imprensa, e não a informação por ele difundida,seja utilizado pelo candidato para desiquilibrar a disputa eleitoral.

23.351 – Abuso do poder político. Descaracterização. Uso de lo-gotipo e slogan não oficiais e vinculados à gestão do administrador.Ausência de demonstração de uso no período vedado e de uso exces-sivo no primeiro semestre do ano eleitoral. Pintura de imóvel público(policlínica) com a cor usada por partido político (vermelho). Fato iso-lado e entrega do prédio à comunidade em momento fora do períodovedado. Benefício relativo a transporte público conferido em anoanterior ao do pleito.

CAPTAÇÃO DE SUFRÁGIO

22.000 – Captação de sufrágio. Abuso de poder. Conduta vedada aagente público. Utilização de bens públicos . Descaracterização.

No mesmo sentido: 23.253.

22.359 – Captação de sufrágio. Conduta vedada a agente público.Utilização de bens públicos em camp anha condicionado a apoiode voto . Descaracterização. Acervo probatório insuficiente.

No mesmo sentido: 23.176.

23.234 – Captação de sufrágio. Promessas genéricas de campa-nha eleitoral em propaganda eleitoral. Descaracterização.

23.238 – Captação de sufrágio. Eleições. Eleição municipal. Reno-vação do pleito . Caracterização. Nulidade da votação (art. 224 doCódigo Eleitoral).

23.238 – Captação de sufrágio. Ilicitude. Benefício . É firme o en-tendimento, no âmbito da Corte Superior, de ser desnecessário para acaracterização da ilicitude que o ato tenha sido praticado diretamente

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pelo candidato, mostrando-se suficiente que, evidenciado o benefício,haja dele participado de qualquer forma ou com ele consentido.

23.306 – Captação de sufrágio. Ato praticado por terceiro . A atualjurisprudência do TSE considera configurada a captação ilícita mesmoque o ato se concretize por meio de interposta pessoa.

23.308 – Captação de sufrágio. Entrega de cest a básica . Eleitorparticipante de programa social de garantia de renda mínima familiar.A mera entrega de cesta básica a pessoa carente, participante de pro-grama social de garantia de renda mínima familiar, sem qualquer pedi-do de voto, não configura captação ilícita de sufrágio, conduta ilegalque exige, para a sua configuração, a existência de prova robusta eincontroversa do condicionamento eleitoral.

23.370 – Captação de sufrágio. Caracterização. Distribuição demedicamentos por advogados, obtidos por meio de ações judiciaispor ele ajuizadas em nome de pessoas carentes. Pedido de votos paracandidata e condicionamento da prestação de serviços e da entregade medicamentos à eleição da candidata.

23.375 – Captação de sufrágio. Descaracterização. Doação de car-teiras de habilitação. Ausência de comprovação dos fatos e da parti-cipação ou da conivência dos candidatos envolvidos no pleito.

COLIGAÇÕES

22.328 – Formação de coligação. Dissolução de comissão provisó-ria municipal e formação de nova comissão. Opção desta de compo-sição de coligação diversa . Ato interna corporis.

No mesmo sentido: 22.329, 22.412 e 22.413.

22.330 – Formação de coligação. Ilegalidade de adendo da exe-cutiva do p artido à decisão da convenção sobre coligações.

No mesmo sentido: 22.393.

22.383 – Formação de coligação. Desnecessidade de o partido inte-grante de coligação proceder ao registro de ao menos um candidato .

22.411 – Formação de coligação. Intempestividade de impugna-ção pelo Ministério Público . Contagem do prazo a partir da publica-ção do edital relativo ao pedido de registro de candidatura. Inexigibili-dade de intimação pessoal. Especialidade da Lei de Inelegibilidade emrelação à Lei Complementação n. 75/1993.

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22.411 – Formação de coligação. Divergências internas , entre pre-sidente de diretório e demais membros quanto à formação de coliga-ção. Matéria interna corporis. Incompetência da Justiça Eleitoral.

No mesmo sentido: 22.441 e 22.443.

22.426 – Formação de coligação. Regularidade. Validade da dele-gação à comissão executiva ou a outro órgão partidário para queescolha candidatos e celebre coligações até a data final para apresen-tação dos pedidos de registro de candidatura. Necessidade de consig-nação dessa prerrogativa na ata de convenção realizada no prazo pre-visto no art. 8o da Lei n. 9.504/1997.

22.592 – Formação de coligação. Anulação de convenção muni-cipal sobre coligação por ato da executiva de diretório estadual. Au-sência de comprovação de reunião e de quorum necessário para deci-dir sobre a anulação. Ausência de comprovação de que houve préviadeterminação sobre coligação ao órgão municipal.

No mesmo sentido: 22.593, 22.594 e 22.595.

22.604 – Formação de coligação. Possibilidade de decisão de ór-gão regional de partido político de vedar que órgãos municipais for-mem coligação com determinados partidos. Impossibilidade de o parti-do que não integra coligação para as eleições majoritárias formar coli-gação p ara o pleito proporcional com os partidos que a integram.

22.609 – Formação de coligação. Ausência de tempestiva deci-são relativamente a todos os partidos que comporiam a coligação.Exclusão de partidos.

No mesmo sentido: 22.604

22.647 – Formação de coligação. Competência da Justiça Eleitoralpara aferir a legitimidade das convenções partidárias. Convalidação decoligação apesar da ausência de expressa consignação em ata daintenção de se coligar.

22.693 – Formação de coligação. Impossibilidade de apreciação daalegada coação na convenção que deliberou a formação da coliga-ção. Ato interna corporis.

No mesmo sentido: 22.694.

22.713 – Formação de coligação. Regularidade. Partidos que comoutros formam coligação. Possibilidade de formar nova coligação p arao pleito proporcional . Possibilidade de escolha de candidato pelaexecutiva dos partidos após o prazo para a deliberação da coligação.

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22.725 – Formação de coligação. Impossibilidade de validação decoligação por dúvida sobre o que foi decidido em convenção.

No mesmo sentido: 22.749.

22.746 – Formação de coligação. Convalidação de coligação p arao pleito proporcional em razão de anterior convalidação de coligaçãoformada para as eleições majoritárias.

No mesmo sentido: 22.747.

22.756 – Formação de coligação. Manutenção de particip ação departido em coligação por superveniência de decisão da Justiça Co-mum de manutenção liminar da comissão provisória que decidiu sobrea participação.

22.772 – Formação de coligação. Possibilidade de revisão do en-tendimento do diretório regional quanto à escolha dos partidos comos quais pode haver coligação no âmbito municipal. Autonomia parti-dária.

22.779 – Formação de coligação. Exclusão de partido político decoligação por fraude em at a de convenção atribuída a dissidentesdo partido.

No mesmo sentido: 22.757.

22.781 – Formação de coligação. Exclusão de partido político decoligação por contradição entre deliberações const antes em at asdiversas.

CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO

22.000 – Conduta vedada a agente público. Descaracterização.Utilização de bens públicos .

No mesmo sentido: 23.063.

22.045 – Conduta vedada a agente público. Convênio. Transferên-cia de recursos no período vedado . Descaracterização. Existência deobrigação legal preexistente, bem como a continuidade de obras cujaexecução física já havia iniciado anteriormente ao prazo de vedação.

22.607 – Conduta vedada a agente público. Constitucionalidade doart. 73, § 5 o, da Lei n. 9.504/1997 .

No mesmo sentido: 22.652.

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22.885 – Conduta vedada a agente público. Publicidade institucio-nal. Descaracterização. A permanência de placas em obras públi-cas, antes do período vedado, é admissível , desde que nelas nãoconstem expressões que possam identificar autoridades, servidoresou administrações cujos dirigentes estejam em campanha eleitoral.

No mesmo sentido: 23.088 e 23.111.

22.888 – Conduta vedada a agente público. Contrat ação de servi-dores no período eleitoral . Matéria processual. Cerceamento de de-fesa. Ausência do contraditório. Nulidade.

23.063 – Conduta vedada a agente público. Utilização de benspúblicos . Descaracterização. A conduta vedada a agente público é delegalidade estrita, não comportando interpretação extensiva.

23.107 – Conduta vedada a agente público. Distribuição e utiliza-ção de bens públicos . Descaracterização. Ausência de potencialida-de de a conduta interferir no resultado do pleito.

No mesmo sentido: 22.000, 23.150, 23.212, 23.213, 23.214 e 23.290.

23.183 – Conduta vedada a agente público. Utilização de benspúblicos e de servidores públicos em camp anha eleitoral . Aplica-ção da pena pecuniária de multa.

23.236 – Conduta vedada a agente público. Depósito judicial devalores decorrentes de contrato . Incompetência da Justiça Eleitoral.

23.239 – Conduta vedada a agente público. Abuso do poder políti-co. A potencialidade de a condut a interferir no result ado das elei-ções é requisito essencial à caracterização do ilícito eleitoral previstono art. 73 da Lei n. 9.504/1997.

23.267 – Conduta vedada a agente público. Particip ação de can-didato em inauguração de obra pública . Inocorrência. A simples pre-sença do candidato majoritário em inauguração de obra pública, semparticipação ativa e na mera condição de munícipe, não contraria alegislação eleitoral.

No mesmo sentido: 23.303.

23.279 – Conduta vedada a agente público. Propaganda eleitoralirregular. Utilização na prop aganda eleitoral de imagens produzidascom recursos públicos . A difusão em material de campanha de foto-grafias produzidas com recursos do Erário – ainda que se encontremsob a guarda de arquivo público, ao qual qualquer interessado temacesso.

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23.289 – Conduta vedada a agente público. A conduta vedada pre-vista no art. 73, IV, da Lei das Eleições exige, para a sua configuração,o uso promocional de programa social em favor de candidato, partidoou coligação; assim, a mera utilização de foto de candidat a em pan-fleto de divulgação de programa social , o qual foi confeccionadomuito antes do período eleitoral e não traz qualquer identificação dacandidata, não caracteriza o ilícito, porque não vincula o programa so-cial à candidatura.

23.307 – Conduta vedada a agente público. Descaracterização.Reunião de agentes públicos fora do horário de expediente e emlocal particular. Ato preparatório.

23.309 – Conduta vedada a agente público. Demissão de servi-dor público no período vedado. A normatividade proibitiva previstapelo art. 73, V, da Lei n. 9.504/1997, que impede a dispensa de servi-dores no trimestre que antecede o pleito, somente é legítima se pre-sente justa causa ou se tratando de cargos demissíveis ad nutum.

23.310 – Conduta vedada a agente público. Administração públi-ca. Distribuição de brindes . Impossibilidade. A distribuição de brin-des pela Administração Pública, durante o período eleitoral, encontravedação expressa na Lei, implicando sua ocorrência, assim, empenalização ao agente público responsável.

23.316 – Conduta vedada a agente público. Permissão de usopromocional em favor de candidato . Descaracterização. Conteúdodivulgado sem vocação de promoção eleitoral.

23.327 – Conduta vedada a agente público. Instituição de progra-ma de recuperação de créditos e sua respectiva divulgação dirigidaaos contribuintes. Regularidade.

23.336 – Conduta vedada a agente público. Utilização de bens pú-blicos. Bens de uso comum. A vedação do uso de bem público, embenefício de candidato, não abrange bem público de uso comum .

23.347 – Conduta vedada a agente público. Doação de bens emano eleitoral . Na interpretação axiológica da lei eleitoral (art. 73, §10), embora esteja vedada, desde a Lei n. 11.300/2006, a distribui-ção de bens , valores ou benefícios no ano eleitoral, devem ser ex-cepcionadas da proibição legal aquelas feitas com nítido propósitoassistencial e sem conotação eleitoral.

No mesmo sentido: 23.377.

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23.352 – Conduta vedada a agente público. Material de propagan-da eleitoral que retrata realizações de prefeito candidato à reeleição ,produzido por particulares e com recursos particulares. Inocorrência deuso promocional de bens e serviços custeados pelo poder público napropaganda eleitoral. Inocorrência de propaganda institucional.

23.379 – Conduta vedada a agente público. Utilização de benspúblicos. Publicação de prop aganda institucional no site da prefei-tura nos três meses que antecedem o pleito. Caracterização.

CRIME ELEITORAL

22.024 – Crime eleitoral. Inquérito policial . Competência originá-ria. Arquivamento.

No mesmo sentido: 22.110, 23.255 e 23.337.

22.036 – Crime eleitoral (art. 299 do CE). Corrupção eleitoral . Dis-tribuição de vale-combustível. Captação irregular de sufrágio.

No mesmo sentido: 22.070, 23.047, 23.049 e 23.129.

22.057 – Crime eleitoral (art. 302 do CE e 11, III, da Lei n. 6.091/1974). Transporte irregular de eleitor . Dolo específico. Inexistência deprova de aliciamento de eleitor.

No mesmo sentido: 22.062, 22.066 e 22.148.

22.070 – Crime eleitoral (art. 299 do CE). Corrupção eleitoral. Dis-tribuição de vale-combustível. Captação irregular de sufrágio. Habeascorpus. Trancamento da ação penal . Denegação da ordem.

22.144 – Crime eleitoral (arts. 324 e 325 do CE). Calúnia/difama-ção . Ausência de imputação certa e pessoal. Descaracterização.

23.211 – Crime eleitoral (art. 299 do CE). Corrupção eleitoral . Dis-tribuição de cestas básicas. Comprovação do dolo específico. Configu-ração.

23.287 – Crime eleitoral. Pena restritiva de direito. Prest ação deserviços à comunidade . Decisão que não recepcionou período decumprimento penal em instituição diversa da determinada. Alteração deforma de cumprimento da pena alheia ao juízo de execução penal.

DESINCOMPATIBILIZAÇÃO

22.344 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Três meses. Secretário Municipal Adjunto. Cargo em comissão .

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22.346 – Registro de candidato. Deferimento. Presidente de asso-ciação civil sem fins lucrativos . Desnecessidade de desincompatibi-lização.

No mesmo sentido: 22.461, 22.466, 22.478, 22.482, 22.510, 22.511, 22.519,22.527, 22.596, 22.702, 22.776 e 22.785.

22.364 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Ausência de demonstração pelo impugnante do registro de que,no prazo vedado, houve exercício de fato da atividade de conselheirocomunitário de comissão municipal de defesa civil.

22.417 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Três meses. Diretor municipal de esportes. Ocupante de cargo emcomissão , no exercício de função de chefia de departamento ou dedivisão que compõe a estrutura administrativa de secretaria municipal.Equiparação a servidor público em sentido lato.

No mesmo sentido: 22.467 e 22.733.

22.420 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Três meses. Comissário de polícia .

22.449 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Seis me-ses. Presidente de associação de moradores subvencionada porrecursos de município.

22.469 – Registro de candidato. Deferimento. Professor de entida-de de ensino superior mantida por recursos privados. Desnecessida-de de desincompatibilização.

22.474 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Três meses. Ocupante de cargo em comissão. Controlador-Ge-ral do Município .

22.489 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Términodo prazo num sábado (5.7.2008). Possibilidade de protocolização dopedido de afastamento no dia útil seguinte (7.7.2008). Ausência deprova de que o candidato trabalhou nesse fim de semana.

22.513 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Desneces-sidade. Professor da rede municipal de ensino. Candidato em municí-pio diverso do seu local de trabalho.

22.532 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Três me-ses. Servidor municipal que exerce atividades junto ao corpo de bom-beiro milit ar.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

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22.533 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Três me-ses. Membro de conselho de administração de sociedade de econo-mia mist a.

22.543 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Três me-ses. Presidente de conselho municip al de segurança . Equiparaçãoa servidor público.

22.590 – Matéria processual. Registro de candidato. Deferimento.Alegação de inocorrência de desincomp atibilização . Ausência deprova de que a candidata, servidora pública de município diverso, exer-cia funções no município do pleito.

22.603 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Seis me-ses. Ocupante de cargo em comissão . Diretor de finanças vinculadoa secretaria de finanças municipal.

22.612 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Quatromeses. Dirigente de sindicato .

No mesmo sentido: 22.619.

22.614 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Três me-ses. Analista da Fazenda Est adual .

22.642 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Seis me-ses. Dirigente de associação de p ais e amigos dos excepcionais .Recebimento de recursos públicos.

22.646 – Registro de candidato. Desincompatibilização. Desneces-sidade. Administrador de empresa que mantém contrato de execu-ção de obras , de prestação de serviço ou de fornecimento de benscom órgão de poder público ou sob seu controle. Contrato já cumprido,pendentes apenas parcelas de pagamento do preço.

No mesmo sentido: 22.636.

22.652 – Registro de candidato. Desincompatibilização.Desnecessidade. Cargo inerente à atividade de prefeito . Conselhei-ro de conselho de desenvolvimento regional.

22.683 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibiliza-ção. Servidor público afastado com percepção de auxílio-doença. Pe-dido de licença para concorrer ao cargo eletivo formulado na datadevida. Análise do pedido de licença pela entidade somente após oretorno do afastamento por auxílio-doença, mas durante o período dedesincompatibilização.

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22.675 – Registro de candidato. Indeferimento. Desincompatibili-zação. Servidor público licenciado por acidente de trabalho com rea-bilitação aprazada para data no período de desincompatibilização.Ausência de prova do pedido de licença para concorrer ao cargoeletivo.

22.722 – Registro de candidato. Deferimento. Desincompatibilização.Servidor público municipal. Afast amento de fato .

No mesmo sentido: 22.552, 22.606, 22.742 e 22.773.

22.740 – Registro de candidato. Indeferimento. Desincompatibili-zação. Três meses. Servidor de sociedade de economia mist a.

23.128 – Registro de candidato. Indeferimento.Desincompatibilização. Três meses. Médico credenciado do DETRAN .Pedido de licença tempestivo. Demonstração de que o candidato con-tinuou no exercício de suas funções no período dedesincompatibilização.

23.383 – Registro de candidato. Deferimento. Desnecessidade dedesincompatibilização. Veterinária autônoma contrat ada para pres-tação de serviços para associação comercial e industrial. Ausênciade condição específica de servidor público.

DESMEMBRAMENTO DE ZONA ELEITORAL

23.084 – Pedido de criação e de recomposição de Zona Eleitoral .Município de Balneário Camboriú. Deferimento.

23.293 – Pedido de criação de Zona Eleitoral. Indeferimento. A cri-ação de Zona Eleitoral no interior do Estado exige, em regra, númeromínimo de cinquenta mil eleitores. Para excepcionar tal exigência, asnormas regulamentares estabelecem rígidos requisitos; não observa-dos, o pedido há de ser indeferido.

ELEIÇÕES

22.042 – Eleições. Mandado de segurança. Nulidade da votação.Eleições indiretas. A dupla vacância ocorrida no biênio final do manda-to dá ensejo à aplicação do § 1o do art. 81 da Constituição Federal.

23.033 – Eleições. Mesário. Pedido de dispensa para atuar comomesário. Ausência de justificativa válida.

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23.120 – Eleições. “Lei seca”. Portaria editada por Juiz Eleitoral. Élícita e correta a edição de ato normativo pela autoridade judiciária,mesmo que imponha limitações ao particular, quando se apresentemotivado e em defesa da regularidade do pleito.

No mesmo sentido: 23.283.

23.179 – Eleições. Agravo regimental. Manutenção da decisãomonocrática que concedeu efeito suspensivo. Necessidade de preser-var a vontade popular até o trânsito em julgado da decisão condenatória.Renovação das eleições. Impossibilidade.

23.202 – Eleições. Eleição municipal. Verificação de assinatura di-gital dos sistemas eleitorais. Ausência de fatos, indícios e circunstânci-as que justifiquem. Indeferimento.

No mesmo sentido: 23.180.

23.238 – Eleições. Eleição municipal. Renovação do pleito. Capta-ção de sufrágio. Caracterização. Nulidade da votação (art. 224 doCódigo Eleitoral).

23.256 – Eleições. Urna eletrônica. Pedido de realização de perí-cia. Preclusão.

No mesmo sentido: 23.257, 23.300 e 23.326.

23.270 – Eleições. Proclamação dos eleitos. Matéria sub judice.Indeferido o pedido de registro de candidato e estando pendente dedecisão o respectivo recurso, os votos não podem ser computados,tampouco deverá ser o candidato declarado eleito.

FIDELIDADE PARTIDÁRIA

22.007 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Ausência de interesseprocessual . Suplente de vereador.

No mesmo sentido: 22.022, 22.030, 22.031, 22.086 e 23.318.

22.015 – Fidelidade partidária. Mandado de segurança. Ato de pre-sidente de câmara de vereadores . Inexistência de previsão legal deforo especial por prerrogativa de função. Incompetência do TRE.

22.016 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Incidente de constitucio-nalidade . Res. TSE n. 22.610/2007. Constitucionalidade.

No mesmo sentido: 22.051, 22.072, 22.073, 22.075, 22.083, 22.094, 22.112,22.114, 22.122, 22123, 22.124, 22.129, 22.130, 22.137, 22.147, 22.153, 22.162,

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22.166, 22.169, 22.191, 22.209, 22.247, 22.249, 22.281, 22.293, 22.327, 22.358,22.580, 22.588, 23.068, 23.074, 23.085, 23.092, 23.093, 23.104, 23.122 e23.141.

22.016 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Minis-tério Público . Legitimidade.

No mesmo sentido: 22.075, 22.080, 22.081, 22.084, 22.086, 22.111, 22.112,22.114, 22.122, 22.135, 22.147, 22.161, 22.189, 22.197, 22.247, 22.250, 22.253,22.327, 22.588, 22.611, 22.889, 23.093, 23.182 e 23.187.

22.022 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Fungibilidade . Pedido dereconsideração . Recebimento como agravo regimental.

No mesmo sentido: 22.023, 22.030, 22.031 e 22.133.

22.023 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Desfiliação partidária. An-terioridade ao período vedado. Nova filiação em partido político diver-so. Carência da ação.

No mesmo sentido: 22.034, 22.046, 22.050, 22.076, 22.080, 22.081, 22.124,22.131, 22.169, 22.281, 23.105 e 23.122.

22.051 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual.Fungibilidade . Pedido de reconsideração . Recebimento como em-bargos de declaração . Ausência de omissão.

22.072 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Prazo .Ajuizamento da ação. Inocorrência de decadência .

No mesmo sentido: 22.073, 22.075, 22.111, 22.113, 22.122, 22.135, 22.137,22.161, 22.162, 22.189, 22.230, 22.247, 22.248, 22.250, 22.325, 22.370, 22.611,22.936, 23.074 e 23.093.

22.072 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Ausência de just a causa .Desfiliação p artidária . Anterioridade ao período vedado. Decretaçãoda perda do mandato . Vereador.

No mesmo sentido: 22.073, 22.074, 22.075, 22.084, 22.094, 22.100, 22.101,22.107, 22.111, 22.112, 22.113, 22.116, 22.123, 22,124, 22.129, 22.130, 22.131,22.134, 22.135, 22.137, 22.141, 22.142, 22.153, 22.161, 22.164, 22.166, 22.172,22.189, 22.190, 22,191, 22.197, 22.199, 22.209, 22.213, 22.230, 22.244, 22.245,22.247, 22.249, 22.250, 22.253, 22.293, 22.310, 22.325, 22.327, 22.358, 22.361,22.370, 22.580, 22.588, 22.936, 23.068, 23.074, 23.085, 23.086, 23.087, 23.092,

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23.093, 23.121, 23.125, 23.141, 23.182, 23.187, 23.188, 23.235, 23.266, 23.249,23.318 e 23.349.

22.073 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda de man-dato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Legitimida-de. Diretório Municip al. Convalidação dos atos. Diretório Regional.

No mesmo sentido: 22.074.

22.083 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Desfiliação. Just a causa:grave discriminação pessoal . Comprovação. Impossibilidade de cas-sação de mandato.

No mesmo sentido: 22.114, 22.147, 22.170, 22.171, 22.248, 22.272, 22.611e 23.104.

22.084 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Suplente . Legitimidade.

No mesmo sentido: 22.116, 22.138, 22.162, 22.190, 22.208, 22.244, 22.361,22.936, 23.068, 23.083, 23.092, 23.093, 23.121, 23.182 e 23.188.

22.084 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Justiça Eleitoral . Compe-tência.

No mesmo sentido: 22.094, 22.129, 22.153, 22.190, 22.240, 22.249, 22.580e 23.092.

22.094 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Normatização. Princípio daanterioridade da lei eleitoral . Inocorrência.

No mesmo sentido: 22.147, 22.162, 22.166, 22.588, 23.093, 23.104 e23.122.

22.101 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Prescrição da pretensãopunitiva . Prazo. Julgamento. Inocorrência.

No mesmo sentido: 22.248, 22.361 e 23.349.

22.107 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Nulida-de. Cerceamento de defesa . Inocorrência.

No mesmo sentido: 22.131, 22.141, 22.142, 22.153, 22.164, 22.172, 22.190,22.197, 22.197, 22.208, 22.213, 22.230, 22.244, 22.253, 22.281, 22.588, 23.074,23.085, 23.086 e 23.092.

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22.113 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Mudança de grei p artidá-ria no interior da coligação não elide a perda de mandato.

No mesmo sentido: 22.135, 22.138, 22.162, 22.208 e 23.104.

22.135 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Desistência da ação . Im-possibilidade.

No mesmo sentido: 22.189, 22.370 e 23.187.

22.140 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Efeito suspensivo da de-cisão . Impossibilidade.

22.153 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Nulida-de. Alegada ausência de cit ação da grei partidária. Inocorrência.

22.166 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Assis-tência judiciária gratuit a. Processo eleitoral. Possibilidade. Honorá-rios advocatícios . Inexistência de sucumbência .

22.209 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Legiti-midade . Comissão provisória municip al.

22.272 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Matéria processual. Inép-cia da inicial . Ausência do valor da causa. Inocorrência. Processo elei-toral. Inexistência. Pagamento de cust as.

22.889 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda demandato eletivo por infidelidade partidária. Vereador. Retorno ao p ar-tido político . Extinção do processo sem resolução do mérito.

No mesmo sentido: 23.085.

23.237 – Fidelidade partidária. Ação de decretação de perda de man-dato eletivo por infidelidade partidária. Pedido de reconsideração . Au-sência de previsão legal.

FILIAÇÃO PARTIDÁRIA

22.013 – Filiação partidária. Matéria processual. Intempestividade.A mera juntada de entrega de lista de filiados por diretório estadual em

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razão do afastamento de presidente de comissão provisória municipalé questão interna do p artido político .

22.017 – Filiação partidária. Remessa extemporânea da relaçãode filiados. Impossibilidade.

No mesmo sentido: 22.035.

22.037 – Filiação partidária. Duplicidade . Inocorrência. Compro-vação da comunicação ao partido político e ao juiz eleitoral.

No mesmo sentido: 22.096, 22.109, 22.156, 22.175, 22.176, 22.177, 22.182,22.183, 22.193, 22.200, 22.201, 22.202, 22.203, 22.204, 22.206, 22.207, 22.211,22.215, 22.216, 22.220, 22.221, 22.222, 22.225, 22.229, 22.241, 22.242, 22.264,22.267, 22.371, 22.470 e 22.731.

22.056 – Filiação partidária. Remessa extemporânea da relaçãode filiados. Obrigatoriedade de remessa eletrônica pelo Sistemade Filiação .

No mesmo sentido: 22.149.

22.095 – Filiação partidária. Duplicidade . Caracterização. Ausên-cia de comunicação ao partido político.

No mesmo sentido: 22.097, 22.139, 22.145, 22.146, 22.155, 22.158, 22.159,22.214, 22.266, 22.282, 22.294, 22.307, 22.308, 22.312, 23.003, 23.032, 23.298e 23.299.

22.117 – Filiação partidária. Duplicidade . Inocorrência. É válida acomunicação de desfiliação procedida pelo filiado, efetivada antesdo transcurso do prazo de um ano antes do próximo pleito.

22.132 – Filiação partidária. Matéria processual. Pedido de recon-sideração . Possibilidade. O cancelamento de filiação partidária é pro-cedimento de jurisdição voluntária, de cunho eminentemente adminis-trativo.

No mesmo sentido: 22.295.

22.184 – Filiação partidária. Duplicidade . Inocorrência. Incorpo-ração de p artidos políticos . Dúvida acerca da existência de duplici-dade de filiação partidária.

22.194 – Filiação partidária. Matéria processual. Intempestivida-de. Recurso. É intempestivo o recurso interposto após o prazo de trêsdias previsto no art. 258 do Código Eleitoral.

No mesmo sentido: 22.295, 22.309, 22.338 e 22.338.

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22.217 – Filiação partidária. Matéria processual. Capacidade pos-tulatória . Peça recursal que não foi subscrita por advogado. Conver-são do julgamento em diligência.

No mesmo sentido: 22.219.

22.221 – Filiação partidária. Duplicidade . Matéria processual. Nu-lidade. Possibilidade. Citação por edit al.

No mesmo sentido: 22.252.

22.252 – Filiação partidária. Duplicidade. Égide de legislações di-versas . Não configura duplicidade de filiação partidária adesão a par-tidos diversos ocorrida sob a égide de legislação distintas, devendo,nesse caso, prevalecer a mais recente.

No mesmo sentido: 22.362.

22.282 – Filiação partidária. Duplicidade. Transferência de domi-cílio eleitoral . A transferência de domicílio eleitoral não implica, ne-cessariamente, a desfiliação automática do partido político.

22.300 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de filia-ção partidária. Ficha de filiação assinada exclusivamente pela reque-rente. Ata de convenção partidária que não comprova filiação por umano.

No mesmo sentido: 22.333 e 22.427.

22.306 – Filiação partidária. Duplicidade. Equívoco no preenchi-mento da ficha . O vínculo partidário se formaliza na data do preenchi-mento da ficha de filiação partidária.

22.317 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência do nome dorequerente em list a de filiados . Filiação demonstrada por outros meios.

No mesmo sentido: 22.335, 22.345, 22.355, 22.356, 22.367, 22.376, 22.380,22.382, 22.403, 22.434, 22.435, 22.436, 22.450, 22.463, 22.483, 22.484, 22.516,22.551, 22.565, 22.569, 22.577, 22.586, 22.602, 22.615, 22.623, 22.632, 22.633,22.634, 22.640, 22.648, 22.649, 22.650, 22.699, 22.670 e 22.671.

22.343 – Filiação partidária. Mandado de segurança. Órgão p arti-dário regional . Expulsão de filiado. Inobservância das regras do esta-tuto partidário. Concessão da ordem.

22.365 – Filiação partidária. Anot ação no TRE . Deve-se procederà retificação das informações no cadastro eleitoral quando demonstra-do equívoco, má-fé ou desídia dos partidos políticos.

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22.389 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de duplafiliação p artidária . Demonstração da existência de requerimento dedesfiliação ao antigo partido antes da nova filiação.

No mesmo sentido: 22.440, 22.639, 22.665 e 22.738.

22.547 – Registro de candidato. Indeferimento. Candidato com fili-ação a partido diverso do requerente.

22.555 – Registro de candidato. Deferimento. Ficha de filiação edeclaração do partido comprobatórias da filiação há mais de um ano.Prevalência sobre o erro material de certidão de cartório eleitoral.

22.568 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de for-malização da filiação a um ano da data do pleito.

22.591 – Registro de candidato. Indeferimento. Duplicidade de fi-liação partidária. Decisão de cancelamento com trânsito em julgado.Impossibilidade de rediscussão da matéria em pedido de registro decandidato.

No mesmo sentido: 22.487, 22.497, 22.498, 22.566, 22.621, 22.668, 22.669e 22.729.

Ver: 22.600 e 22.601.

22.597 – Registro de candidato. Indeferimento. Duplicidade de filia-ção partidária. Ausência de comprovação da inexistência da duplicidade.

No mesmo sentido: 22.464, 22.480, 22.496, 22.600, 22.601, 22.605, 22.624,22.625, 22.626, 22.638, 22.774 e 22.775.

22.635 – Registro de candidato. Deferimento. Data da nova filiaçãoanterior à da desfiliação do antigo partido. Demonstração de ausênciade intenção de incorrer em duplicidade de filiação .

22.678 – Registro de candidato. Indeferimento. Candidato comfiliação a p artido não integrante da coligação requerente.

No mesmo sentido: 22.679, 22.680, 22.681, 22.782.

22.685 – Registro de candidato. Deferimento. Candidato conside-rado filiado a determinado partido segundo registro da Justiça Eleito-ral . Demonstração de militância em partido diverso.

22.719 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de filiaçãopartidária.

No mesmo sentido: 22.465, 22.488, 22.523, 22.571, 22.573, 22.620, 22.637,22.711, 22.714, 22.777.

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22.720 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de duplafiliação partidária. Demonstração de militância em um dos partidos pormais de dez anos.

No mesmo sentido: 22.515.

22.734 – Registro de candidato. Indeferimento. Candidato filiado hámenos de um ano por força de retificação de data de processo deduplicidade de filiação .

22.737 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência deduplicidade de filiação . Desnecessidade de comunicação de desfiliaçãoem caso de a filiação ter ocorrido na vigência da Lei n. 5.682/1971.

22.875 – Filiação partidária. A ação de investigação judicial elei-toral não tem por objeto a apuração da regularidade de filiação parti-dária.

INSCRIÇÃO ELEITORAL

22.089 – Inscrição eleitoral. Transferência. Domicílio eleitoral. Com-provação de vínculo afetivo, patrimonial ou econômico.

No mesmo sentido: 22.128, 22.143, 22.160, 22.179, 22.234, 22.262, 22.263,22.265, 22.313, 22.369 e 22.557.

22.235 – Inscrição eleitoral. Transferência . Comprovação da resi-dência mínima de três meses no novo município.

No mesmo sentido: 22.273, 22.274, 22.275, 22.277, 22.278, 22.279, 22.283,22.321, 22.322, 22.323, 22.324 e 22.354.

22.301 – Inscrição eleitoral. Transferência . Ausência de compro-vação da residência mínima de três meses no novo município.

No mesmo sentido: 22.301, 22.302, 22.303, 22.407, 22.408, 22.409, 22.610,22.929, 22.998, 23.000, 23.001, 23.002, 23.054 e 23.355.

22.340 – Inscrição eleitoral. Matéria processual. Ilegitimidade . Elei-tor. Não se conhece de recurso interposto à exclusão de eleitor se nãovem o recorrente na condição de prejudicado ou de delegado de parti-do político.

22.610 – Inscrição eleitoral. Matéria processual. Capacidade postu-latória . Eleitor. É firme a jurisprudência no sentido de que a exigência dea parte estar representada em Juízo por profissional legalmente habilita-do tem sido atenuada nos casos de transferência eleitoral ou de filiaçãopartidária, por não comportar matéria de natureza jurisdicional.

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MATÉRIA ADMINISTRATIVA

22.029 – Matéria administrativa. Programa à saúde dos servido-res . Participação financeira do TRESC no limite da disponibilidadeorçamentária no mês do vencimento da fatura. Pedido para pagar asdespesas realizadas com base na tabela de percentual de ressarci-mento em vigor na data da respectiva realização. Indeferimento.

22.061 – Matéria administrativa. Prestação de contas. Quitaçãoeleitoral . Definição. O conceito de quitação eleitoral reúne a plenitudedo gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto e a regularprestação de contas de campanha eleitoral, quando se tratar de can-didato.

22.099 – Matéria administrativa. Execução fiscal . Dívida ativadecorrente de multa eleitoral não-criminal. Competência do Juízo Elei-toral.

22.103 – Matéria administrativa. Remoção mediante permuta econcurso público para provimento de cargos. Concurso interno de re-moção. Impossibilidade de participação de servidores com menos detrês anos de efetivo exercício.

No mesmo sentido: 22.168, 22.186 e 22.243.

22.115 – Matéria administrativa. Pedido de reconsideração. Remo-ção . Reconsideração de parte da decisão a fim de que sejam con-siderados válidas as remoções por permuta já efetivamente realiza-das dentro do mesmo pólo.

No mesmo sentido: 22.168 e 22.186.

22.154 – Matéria administrativa. Licença p ara acomp anhamentode cônjuge . Dependência econômica não configura unidade familiar.Impossibilidade.

23.120 – Eleições. “Lei seca” . Portaria editada por Juiz Eleitoral.É lícita e correta a edição de ato normativo pela autoridade judiciária,mesmo que imponha limitações ao particular, quando se apresentemotivado e em defesa da regularidade do pleito.

No mesmo sentido: 23.283.

23.376 – Matéria administrativa. Mandado de segurança. Via ina-dequada para contestação de fatos discutidos em processo adminis-trativo disciplinar .

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MATÉRIA PROCESSUAL

22.042 – Matéria processual. Litisconsórcio p assivo . Câmara devereadores. O litisconsórcio necessário, à conta da natureza da rela-ção jurídica, tem lugar se a decisão da causa propende a acarretarobrigação direta para o terceiro, a prejudicá-lo ou a afetar o seu direitosubjetivo.

22.078 – Matéria processual. Ação de decretação de perda de man-dato eletivo. Recurso interposto por terceiro . Falta de comprovaçãode interesse recursal de partido político que deixou de propor a ação.

22.079 – Matéria processual. Ação de decretação de perda de man-dato eletivo. Decadência do direito de ação . Impossibilidade de pos-teriormente integrar a lide proposta por legitimado subsidiário.

22.102 – Matéria processual. Prestação de contas. Alegação demá-fé . É pacífico o entendimento de nossos tribunais de que a má-fénão se presume nem se colhe de indícios, mas de elementos que fir-mem fortemente a convicção do juiz quanto à intenção de fraudar a leie enganar a Justiça.

22.287 – Matéria processual. Ação cautelar propost a para atri-buir efeito suspensivo a recurso ainda não interposto. Ausência deinteresse processual. Pedido juridicamente impossível. Rejeição doagravo regimental interposto contra a decisão monocrática que indefe-riu a petição inicial da ação.

22.388 – Matéria processual. Mandado de segurança. Desprovi-mento. Impetração contra ato judicial do qual cabia recurso .

22.705 – Matéria processual. Cálculo do percentual p ara as can-didaturas de cada sexo. A fração a ser desprezada é aquela que ocor-rer no cálculo do percentual máximo.

22.730 – Matéria processual. Recurso sem assinatura do advo-gado interposto por fac-símile. Ato inexistente. Apresentação da via ori-ginal após o prazo recursal. Intempestividade.

No mesmo sentido: 22.655

22.873 – Matéria processual. Pesquisa eleitoral. Impugnação. Re-cebimento do recurso contra a sentença de improcedência apenas noefeito devolutivo. Divulgação dos resultados. Recurso prejudicado .

22.898 – Matéria processual. Agravo de instrumento interpostosem a gravação da propaganda eleitoral questionada. Requisito essen-

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cial. Negativa de seguimento. Rejeição do agravo regimental interpos-to contra a decisão que negou o seguimento.

No mesmo sentido: 22.984.

22.999 – Matéria processual. Impugnações a transferências eleito-rais. Determinação de retorno dos autos à primeira instância para au-tuação individual das impugnações.

23.043 – Matéria processual. Abuso de poder. Ausência deintimação de todas as partes do processo para a audiência de instru-ção. Nulidade.

23.148 – Matéria processual. Litigância de má-fé . Ingressar comrepresentação na Justiça Eleitoral, alterando a verdade dos fatos, ca-racteriza a má-fé e enseja a aplicação de sanção.

No mesmo sentido: 23.067.

23.177 – Matéria processual. Mandado de segurança. Despacho oudecisão judicial. Impossibilidade. Não cabe mandato de segurançacontra ato judicial p assível de recurso ou correição .

23.185 – Matéria processual. Ação de investigação judicial eleito-ral. Ação cautelar. Efeito suspensivo . Concessão.

23.356 – Matéria processual. Recurso contra expedição de diplo-ma. Ausência de interesse processual . Interposição anterior àdiplomação.

23.357 – Matéria processual. Duplicidade de filiação. Procedimen-to de natureza administrativa. Termo inicial do prazo de recurso contradecisão que indefere pedido de reconsideração, fundamentado emnovas provas, fixado na data de intimação dessa decisão.

23.362 – Matéria processual. Pedido de realização de perícia emurna . Preclusão por ausência de incidente na votação, apuração etotalização de votos, ou mesmo na fase preparatória das urnas.

23.374 – Matéria processual. Inocorrência de litigância de má-fépor litispendência. Possibilidade de erro do cartório eleitoral naprotocolização do fac-símile e da via original da petição inicial comoações distintas.

23.381 – Matéria processual. Cerceamento de defesa. Requerimen-to de prova pericial grafotécnica . Indeferimento. Não há cerceamen-to de defesa no indeferimento de perícia grafotécnica se a sua realiza-ção não era imprescindível para o deslinde do caso, não havendo quese falar em ofensa ao art. 5o, LV, da Constituição da República.

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MATÉRIA PROCESSUALAÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDA TO ELETIVO

22.082 – Matéria processual. Ação de impugnação de mandato ele-tivo. Representação. Prazo de decadência . O prazo não se suspendenem se interrompe. Possibilidade de prorrogação para o primeiro diaútil seguinte à cessação do impedimento. Período de recesso forense.

22.082 – Matéria processual. Ação de impugnação de mandato ele-tivo. Representação. Legitimidade ativa . Ex-candidato. Previsão le-gal (art. 22 da LC n. 64/1990).

23.274 – Matéria processual. Ação de impugnação de mandato ele-tivo. Litisconsórcio . O vice-governador é parte legítima para figurarno pólo passivo da ação de impugnação de mandato eletivo, na medi-da em que os efeitos da decisão atingem os candidatos que formam achapa majoritária.

23.274 – Matéria processual. Ação de impugnação de mandato ele-tivo. Coisa julgada . A ação de investigação judicial eleitoral e a açãode impugnação de mandato eletivo são autônomas, possuem requisi-tos legais próprios e consequências distintas.

MATÉRIA PROCESSUALEMBARGOS DE DECLARAÇÃO

22.180 – Matéria processual. Embargos de declaração . Rejeição .Não havendo, no acórdão, omissão, obscuridade, dúvida ou contradi-ção a ser sanada, impõe-se a rejeição dos embargos declaratórios.

No mesmo sentido: 22.044, 22.104, 22.167, 22.173, 22.174, 22.212, 22.285,22.377, 22.396, 22.410, 22.418, 22.437, 22.438, 22.491, 22.492, 22.493, 22.554,22.558, 22.559, 22.561, 22.564, 22.567, 22.579, 22,581, 22.662, 22.677, 22.682,22.687, 22.688, 22.701, 22.710, 22.758, 22.759, 22.783, 22.790, 22.796, 22.797,22.799, 22.800, 22.801, 22.807, 22.832, 22.833, 22.834, 22.835, 22.840, 22.849,22.850, 22.851, 22.864, 22.877, 22.953, 23.004, 23.010, 23.024, 23.035, 23.045,23.053, 23.070, 23.071, 23.106, 23.118, 23.130, 23.191, 23.192, 23.193, 23.194,23.195, 23.196, 23.197, 23.203, 23.204, 23.205, 23.206, 23.232, 23.233, 23.234,23.242, 23.243, 23.244, 23.245, 23.246, 23.248, 23.250, 23.251, 23.252, 23.258,23.259, 23.260, 23.261, 23.262, 23.263, 23.264, 23.282, 23.286, 23.301, 23.312,23.313, 23.331, 23.359, 23.363, 23.372 e 23.373.

22.786 – Matéria processual. Embargos de declaração. Não-co-nhecimento. Preclusão lógica . Interposição na mesma data dainterposição de recurso especial eleitoral.

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22.837 – Matéria processual. Embargos de declaração. Inconsis-tência textual configurada. Acolhimento para adequar a decisão àdeliberação da Corte.

No mesmo sentido: 23.291.

22.838 – Matéria processual. Embargos de declaração. Existên-cia de omissão apenas no que se refere à arguição deinconstitucionalidade material dos arts. 1o, 2o e 11 da Resolução TSEn. 22.610/2007. Acolhimento parcial.

23.125 – Matéria processual. Embargos de declaração. Acolhimen-to parcial para análise da tese defensiva omitida.

23.231 – Matéria processual. Embargos de declaração. Impossibi-lidade de interposição com fundamento em dúvida .

23.292 – Matéria processual. Embargos de declaração.Intempestividade . Prazo. O prazo para oposição de embargos dedeclaração, no caso de representação fundada no art. 96 da Lei dasEleições, é de vinte e quatro horas.

23.332 – Matéria processual. Embargos declaratórios. Erro mate-rial . Acolhimento para corrigir o equívoco. Republicação da decisão.

No mesmo sentido: 22.698.

MATÉRIA PROCESSUALEXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

22.920 – Matéria processual. Exceção de suspeição . Ação de in-vestigação judicial eleitoral. Participação de magistrado em entrevista.inocorrência de aconselhamento.

23.181 – Matéria processual. Exceção de suspeição . Ação de in-vestigação judicial eleitoral. Intempestividade.

MATÉRIA PROCESSUALINVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL

22.021 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Julga-mento após a eleição . Validade da cassação imediata do diploma.

22.105 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Prazo .A jurisprudência do TRESC é firme no sentido de que o marco inicial

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para a instauração da investigação judicial eleitoral é o pedido de re-gistro de candidatos .

No mesmo sentido: 22.121, 22.256 e 23.064.

22.863 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral.Intempestividade. Prazo . É firme o entendimento neste Tribunal de queo marco inicial para a instauração das investigações judiciais eleitoraisé o registro de candidaturas, na medida em que essa ação constituiinstrumento processual destinado a apurar condutas vedadas abusivascom potencial para beneficiar direta ou indiretamente determinadacandidatura.

22.875 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. O elei-tor é p arte ilegítima p ara pedir investigação judicial eleitoral .

22.920 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Exce-ção de suspeição . Participação de magistrado em entrevista.Inocorrência de aconselhamento.

22.995 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral.Preclusão . Registro. Variação nominal. Deferimento. Justiça Eleitoral.Ausência de impugnação em fase própria.

23.073 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Açãocautelar. Liminar. Concessão. Investigação judicial eleitoral conver-tida em represent ação por propaganda eleitoral irregular. Final doperíodo de propaganda eleitoral.

23.101 – Matéria processual. Habeas corpus. Ação de investigaçãojudicial eleitoral. Depoimento pessoal. Desobrigação de prest ar de-poimento pessoal . Concessão da ordem.

No mesmo sentido: 23.285.

23.127 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Ilegiti-midade. Assistente simples . Conformando-se o Ministério Público coma suspensão da eficácia da sentença proferida na ação de impugnaçãode mandato eletivo, não pode o assistente simples manejar recurso deforma autônoma, sobrepondo sua vontade à do assistido.

23.212 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Nuli-dade absolut a. Descaracterização. Ajuizamento da ação de investiga-ção judicial eleitoral pela coligação. Possibilidade.

23.238 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Ilegiti-midade. Listisconsórcio . Desnecessidade de inclusão do vice-prefei-to no pólo passivo da demanda.

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23.304 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Ilegiti-midade. Pessoa jurídica . A jurisprudência é pacífica no sentido de nãopoderem as pessoas jurídicas figurar no pólo passivo de investigaçãojudicial eleitoral que prevê como sanções, na hipótese de procedênciada representação, a declaração de inelegibilidade e a cassação doregistro do candidato beneficiado.

23.351 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Ausên-cia de cerceamento de defesa por indeferimento de carga dos au-tos . Prazo comum. Impossibilidade de composição ou de desistên-cia . Matéria de ordem pública.

23.361 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Ilegiti-midade ativa de partido político coligado. Impossibilidade de postularisoladamente.

23.368 – Matéria processual. Investigação judicial eleitoral. Recur-so de terceiro . Ilegitimidade. Ausência de demonstração de interesse.

MATÉRIA PROCESSUALPRESTAÇÃO DE CONTAS

22.010 – Matéria processual. Prestação de contas. Pedido dereconsideração . A decisão em processo de prestação de contas é denatureza administrativa e não faz coisa julgada, em que pese sujeitar-se aos efeitos da preclusão.

No mesmo sentido: 22.284.

22.090 – Matéria processual. Prestação de contas anual de parti-do político (PMDB de Rancho Queimado). Ausência de capacidadepostulatória .

22.102 – Matéria processual. Prestação de contas. Alegação demá-fé . É pacífico o entendimento de nossos tribunais de que a má-fénão se presume nem se colhe de indícios, mas de elementos que fir-mem fortemente a convicção do juiz quanto à intenção de fraudar a leie enganar a Justiça.

22.120 – Matéria processual. Prestação de contas. Notificação poredital. Possibilidade.

22.224 – Matéria processual. Prestação de contas anual de parti-do político. Cerceamento de defesa . A decisão que rejeita a presta-ção de contas sem oportunizar ao partido político manifestar-se sobre

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o parecer técnico por sua rejeição ofende o direito de defesa garanti-do pelo texto constitucional, impondo a anulação do processo a fim deque seja observado o adequado processamento.

22.251 – Matéria processual. Prestação de contas. Pedido dereconsideração. Intempestividade .

22.284 – Matéria processual. Prestação de contas. Açãodesconstitutiva . Inaplicabilidade.

MATÉRIA PROCESSUALREGISTRO DE CANDIDATO

22.304 – Matéria processual. Registro de candidato. Validade doprocesso. Ausência de intimação do Ministério Público em primeirainstância. Intimação na segunda instância. Unidade e indivisibilidadedo Ministério Público.

No mesmo sentido: 22.305, 22.314, 22.315, 22.328, 22.329, 22.345.

22.314 – Matéria processual. Registro de candidato. Cabimento derecurso inominado contra decisão que defere prazo para registro denovos candidatos em face de comunicação pelo diretório estadual deanulação de convenção municipal.

No mesmo sentido: 22.315.

22.320 – Matéria processual. Registro de candidato. Anulação desentença para análise conjunta dos pedidos de registro de prefeito evice-prefeito. Exigência de aptidão de ambos os candidatos para re-gularidade de chapa majoritária.

22.381 – Matéria processual. Registro de candidato. Ilegitimidadeativa do cidadão e do partido político integrante de coligação, que atueisoladamente.

No mesmo sentido: 22.464, 22.518, 22.659, 22.660, 22.661, 22.727.

22.384 – Matéria processual. Registro de candidato. Indeferimento.Pedido individual formulado após o prazo legal.

No mesmo sentido: 22.385, 22.386.

22.394 – Matéria processual. Registro de candidato. Ilegitimidadepara recurso contra decisão de deferimento do registro. Ausência deprévia impugnação.

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22.405 – Matéria processual. Registro de candidato. Deferimento.Prova da desincompatibilização apresentada em contra-razões. Pos-sibilidade de apresentação de documento novo perante a segundainstância.

22.455 – Matéria processual. Registro de candidato. Recebimentode recurso contra sentença com assinatura do represent ante da co-ligação. Posterior regularização por meio de juntada de procuração.

22.457 – Matéria processual. Registro de candidato. Renúncia decandidato . Perda de objeto do recurso interposto contra a sentençade indeferimento do registro.

No mesmo sentido: 22.518.

22.468 – Matéria processual. Registro de candidato. Recurso pre-judicado em razão da renúncia de candidato . Devolução dos autos àprimeira instância para homologação da renúncia.

22.490 – Matéria processual. Registro de candidato. Ilegitimida-de de pessoa não candidata para a impugnação ao registro de can-didatura.

22.507 – Matéria processual. Registro de candidato. Intempestivi-dade de recurso contra sentença.

No mesmo sentido: 22.751.

22.512 – Matéria processual. Registro de candidato. Intempestivi-dade de recurso contra sentença proferida antes do prazo de trêsdias para proferi-la. Início do prazo recursal após o prazo de três diaspara proferir a sentença. Interposição após o prazo recursal.

22.514 – Matéria processual. Registro de candidato. Tempestivi-dade de recurso contra sentença. Renovação do cômputo do prazorecursal em decorrência de intimação por fac-símile.

22.517 – Matéria processual. Formação de coligações. Tempesti-vidade de recurso contra sentença. Prazo iniciado a partir do termofinal do tríduo concedido ao magistrado para a prolação da sentença.

22.517 – Matéria processual. Formação de coligações. Legitimida-de do Ministério Público Eleitoral para impugnar. Intempestividadeda impugnação. Irrelevância de se tratar de parecer ministerial.

22.526 – Matéria processual. Registro de candidato. Intempestivi-dade de recurso contra sentença. Prazo iniciado a partir do termo finaldo tríduo concedido ao magistrado para a prolação da sentença.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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22.531 – Matéria processual. Registro de candidato. Impugnação.Falta de prova. Apresentação do parecer prévio do Tribunal de Contasdo Estado de rejeição de contas. Ausência de prova da decisão dacâmara municip al.

22.533 – Matéria processual. Registro de candidato. Desnecessi-dade de advogado para impugnação. Matéria que pode ser conhecidade ofício.

No mesmo sentido: 22.604

22.548 – Matéria processual. Registro de candidato. Ausência deinteresse recursal por falta de prévia impugnação.

22.562 – Matéria processual. Registro de candidato. Admissão derecurso subscrito por representante de coligação em razão de posteri-or ratificação por advogado .

22.574 – Matéria processual. Notícia de inelegibilidade. Ilegitimida-de do cidadão para interpor recurso.

No mesmo sentido: 22.575.

22.585 – Matéria processual. Registro de candidato. Descabimen-to de pagamento de cust as e de honorários advocatícios . Ausênciade litigância de má-fé.

22.604 – Matéria processual. Registro de candidato. Impugnação àformação de coligação. Desnecessidade de impugnação individuali-zada de candidatos.

22.622 – Matéria processual. Registro de candidato. Impugna-ção. Possibilidade de juntada, em sede de recurso, de documentoque deveria instruir o pedido de registro. Certidão de antecedentescriminais.

22.651 – Matéria processual. Registro de candidato. Inadequaçãoda via para discutir abuso de poder .

No mesmo sentido: 22.652 e 22.821.

22.708 – Matéria processual. Registro de candidato. Atendimentoaos requisitos legais .

No mesmo sentido: 22.715, 22.716 e 22.745.

22.732 – Matéria processual. Registro de candidato. Deferimento.Superveniência de acórdão do Tribunal sobre inocorrência deduplicidade de filiação em procedimento próprio. Reforma da sentença

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Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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proferida no pedido de registro que considerou haver duplicidade defiliação.

22.734 – Matéria processual. Registro de candidato. Possibilidadede análise de regularidade da candidatura. Irrelevância de ausência detrânsito em julgado em processo de duplicidade de filiação .

22.739 – Matéria processual. Registro de candidato. Possibilidade dereconhecimento, de ofício, de inelegibilidade . Rejeição de contas peloTribunal de Contas do Estado. Necessidade de contraditório e de prova.

22.753 – Matéria processual. Registro de candidato. Termo inicialdo prazo recursal do Ministério Público Eleitoral fixado na data do re-cebimento dos autos na Secretaria deste Tribunal.

22.764 – Matéria processual. Registro de candidato. Perda de ob-jeto de agravo de instrumento . Julgamento do processo principal.

22.768 – Matéria processual. Registro de candidato. Interposição deapelação contra sentença de indeferimento. Desistência de recurso .Impossibilidade de retratação da desistência mediante a interposiçãode nova apelação.

22.768 – Matéria processual. Registro de candidato. Impossibilida-de de alteração da coligação pela qual o candidato pretende recorrer.

No mesmo sentido: 22.769 e 22.770.

22.773 – Matéria processual. Registro de candidato.Desincomp atibilização demonstrada pela prova da entrega de reque-rimento de afastamento. Desnecessidade de término do trâmite ou dedeferimento. Ônus da prova do impugnante quanto à inocorrência doafastamento.

22.784 – Matéria processual. Registro de candidato. Inadequaçãoda via para discutir capt ação ilícit a de sufrágio .

22.785 – Matéria processual. Registro de candidato. Julgamentoantecip ado da lide em impugnação a registro de candidato.Desnecessidade de dilação probatória. Documento comprobatório derecebimento de recursos públicos por associação sem fins lucrativosque deveria ter sido pedido administrativamente pela impugnante.

23.027 – Matéria processual. Registro de candidato. Intempestividadede impugnação . Irrelevância de se tratar de alegação de falta de condi-ção de elegibilidade com fundamento na constituição.

23.128 – Matéria processual. Registro de candidato. Indeferimento.Intempestividade de impugnação. Possibilidade de conhecimento, de

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ofício, pelo juiz eleitoral, por se tratar de causa de inelegibilidade. Au-sência de desincompatibilização.

No mesmo sentido: 22.739.

23.307 – Matéria processual. Inocorrência de prova ilícit a. Provaque não se conforma com a realidade fática.

23.383 – Matéria processual. Tempestividade de recurso contrasentença proferida após o tríduo legal. Início do prazo a partir da publi-cação no Diário da Justiça Eleitoral de Santa Catarina.

MATÉRIA PROCESSUALREPRESENTAÇÃO – LEI DAS ELEIÇÕES

22.000 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Cabimento . Descaracterização. É cabível a representação fundada noart. 41-A (captação de sufrágio) da Lei das Eleições, mesmo após aseleições e até a dat a da diplomação .

No mesmo sentido: 22.021, 22.121 e 23.176.

22.000 – Matéria processual. Representação. Ausência de interesseprocessual . Caracterização. A representação por descumprimento denorma do art. 73 da Lei das Eleições deve ser proposta até a data darealização da eleição.

No mesmo sentido: 22.021 e 22.311.

22.339 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Prazo para publicação da sentença . Inobservância do art. 96, § 7o,da Lei das Eleições. Necessidade de intimação das partes.

No mesmo sentido: 22.854, 22.899 e 22.926.

22.359 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Inocorrência. Deficiência da inicial , por omitir endereço de recebimentode intimação havendo de ser desconsiderada em face do princípio dainstrumentalidade processual.

22.378 – Matéria processual. Representação. Ilegitimidade . Nãodetém legitimidade para atuar isoladamente em Juízo o partido políticoque integra coligação.

No mesmo sentido: 22.379, 22.535, 22.808, 23.099 e 23.350.

22.530 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Recurso. Prazo . Ocorrência.

No mesmo sentido: 22.342, 22.372, 22.598, 22.599, 22.648, 22.795 e23.241.

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22.804 – Matéria processual. Representação. Ausência de capaci-dade postulatória .

No mesmo sentido: 23.186.

22.820 – Matéria processual. Representação. Tempestividade. Oprazo p ara a interposição de agravo de instrumento é de vinte e qua-tro horas, o mesmo aplicável ao recurso cabível.

No mesmo sentido: 22.899, 22.926, 22.946, 23.199 e 23.648.

22.843 – Matéria processual. Representação. Tempestividade. Oprazo de recurso nas representações eleitorais em que se pede direi-to de resposta em decorrência de propaganda eleitoral é de vinte equatro horas e deve ser contado minuto a minuto.

22.855 – Matéria processual. Representação. Agravo de instrumen-to. Pedido de reconsideração. Ausência de documentos obrigatórios.Envio por fac-símile .

22.878 – Matéria processual. Representação. Agravo de instrumen-to. Pedido de reconsideração . Ausência de documentos obrigatórios.

22.885 – Matéria processual. Representação. Recurso. Prazo . AsInstruções do TSE estabelecem em vinte e quatro horas o prazo para orecurso ao TRE nas hipóteses de representações e reclamações ver-sando descumprimento à Lei das Eleições.

22.888 – Matéria processual. Representação. Cerceamento dedefesa . Ausência do contraditório quanto a juntada de novos docu-mentos. Nulidade.

22.896 – Matéria processual. Representação. Tempestividade. Oprazo para interposição da representação por invasão de propagandade candidato à eleição majoritária no programa reservado ao pleitoproporcional é de quarenta e oito horas.

22.897 – Matéria processual. Representação. Agravo de instrumen-to. Intempestividade .

22.903 – Matéria processual. Representação. Agravo de instrumen-to. Fungibilidade . O agravo de instrumento tem sido admitido contradecisões tomadas no curso de processos de representação por propa-ganda eleitoral alegadamente irregular.

22.916 – Matéria processual. Ação cautelar para concessão de efei-to suspensivo . Perda de objeto.

No mesmo sentido: 22.185 e 22.932.

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22.960 – Matéria processual. Ação cautelar. Carência de interes-se processual .

22.961 – Matéria processual. Representação. Agravo de instrumen-to. Ausência de cópia de procuração. Uma vez interposto o recurso,ocorre a preclusão consumativa em relação ao direito de recorrer,não se podendo admitir, no vigente regime do agravo de instrumento,a retificação do ato processual.

No mesmo sentido: 22.993.

22.981 – Matéria processual. Representação. Tempestiviade. O pra-zo para o ajuizamento de representação por suposta divulgação de opi-nião contrária a candidato em programação normal de rádio é de vinte equatro horas.

22.993 – Matéria processual. Agravo de instrumento. Ausência dedocumentos respectivos no instrumento . Certidão de intimação dadecisão não apresentada.

No mesmo sentido: 23.021.

23.025 – Matéria processual. Agravo regimental. Candidato que nãodetém qualidade de terceiro prejudicado . Embora seja autorizado ouso da via mandamental pelo terceiro que não integrou a lide, mostra-se razoável concluir que essa prerrogativa somente tem razão de serquando o prejudicado não teve condições de tomar ciência da deci-são, restando impossibilitado de se utilizar do recurso cabível no prazolegal.

23.036 – Matéria processual. Reclamação. Ausência de intimaçãopessoal do Ministério Público em processos eleitorais. Inexistência deprevisão legal.

23.048 – Matéria processual. Representação. Intempestividade derecurso contra sentença. Prazo de vinte e quatro horas.

23.067 – Matéria processual. Representação. Sucumbência . Con-denação em honorários advocatícios. Impossibilidade. Inexistesucumbência em se tratando de processo eleitoral.

23.072 – Matéria processual. Representação. Litigância de má-fé .Inocorrência. Para a configuração da litigância de má-fé, exige-se de-monstração segura do dolo da parte, sendo que a apresentação deprova defeituosa e incompleta sobre fato controvertido não enseja con-denação.

No mesmo sentido: 22.647, 23.274 e 23.322.

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23.082 – Matéria processual. Efeito suspensivo . É pacífico o en-tendimento de que os recursos eleitorais não possuem efeitosuspensivo (art. 257 do Código Eleitoral).

No mesmo sentido: 23.306.

23.111 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Recurso. Inocorrência. É cabível o recurso ainda que decorrido o pra-zo legal para sua interposição, ante equívoco const atado no edit aljudicial .

23.124 – Matéria processual. Representação. Intempestiviade. Oprazo para recurso contra sentença em representação por alegadadifusão de opinião contrária a candidato na imprensa escrit a é devinte e quatro horas contadas da publicação da sentença em cartório.

23.198 – Matéria processual. Representação. Ausência de identi-ficação das p artes . Nos processos concernentes às representaçõesque cuidam de propaganda eleitoral, faz-se indispensável que as par-tes estejam devidamente identificadas.

23.249 – Matéria processual. Representação. Cerceamento dedefesa . Ausência da devida publicação da sentença, intimação daspartes e processamento regular do recurso.

23.275 – Matéria processual. Representação. Ilegitimidade. Cida-dão que não seja candidato ou dirigente de p artido político ou co-ligação não tem legitimidade para propor representação por descum-primento da legislação sobre propaganda eleitoral.

23.288 – Matéria processual. Representação. Intempestividade.Prazo . É assente na jurisprudência a necessidade de atenção ao lap-so de quarenta e oito horas para as representações em face de infra-ção ao art. 45 da Lei n. 9.504/1997, prazo cuja finalidade é obstar atática retenção, o ardiloso armazenamento de fatos ilícitos, aguardan-do-se sua redução para momento político mais conveniente.

No mesmo sentido: 23.344.

23.292 – Matéria processual. Embargos de declaração. Intempesti-vidade. Prazo. O prazo p ara oposição de embargos de declaração ,no caso de representação fundada no art. 96 da Lei das Eleições, é devinte e quatro horas.

23.325 – Matéria processual. Representação. Transitada em julga-do sentença que reconheceu a irregularidade, mas não aplicou a mul-

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ta. Embargos de declaração intempestivos conhecidos e providospara aplicar a penalidade pecuniária. Impossibilidade.

MATÉRIA PROCESSUAL PENAL

22.036 – Matéria processual penal. Competência originária doTRE. Foro privilegiado. Secretário regional.

22.057 – Matéria processual penal. Inépcia da ação . Proferida asentença condenatória, resta superada a alegação de inépcia da de-núncia.

22.059 – Matéria processual penal. Denúncia . Rejeição. Ausênciade elementos probatórios a respaldar o juízo de admissibilidade.

22.060 – Matéria processual penal. Transação penal . A sentençahomologatória da transação penal tem natureza condenatória e geraeficácia de coisa julgada material e formal, obstando a instauraçãode ação penal contra o autor do fato, se descumprido o acordo homo-logado.

22.233 – Matéria processual penal. Transação penal . Cumprimen-to das condições impostas. Extinção da punibilidade.

22.423 – Matéria processual penal. Prescrição . Extinção da puni-bilidade.

22.958 – Matéria processual penal. Delito eleitoral. Legitimidade ativado Ministério Público Eleitoral . Inicial inepta. Nulidade absoluta.

No mesmo sentido: 23.066.

23.047 – Matéria processual penal. Habeas corpus. Crime eleito-ral. (art. 299 do CE). Prisão preventiva. Ausência de justificativa para amanutenção da prisão. Concessão da ordem.

No mesmo sentido: 23.049, 23.129 e 23.184.

23.101 – Matéria processual. Habeas corpus. Ação de investiga-ção judicial eleitoral. Depoimento pessoal . Desobrigação de prestardepoimento pessoal. Concessão da ordem.

No mesmo sentido: 23.285.

23.117 – Matéria processual penal. Habeas corpus. Pedido deexplicações. Denegação da ordem.

23.119 – Matéria processual penal. Habeas corpus. Deferimento deliberdade provisória pelo juízo a quo. Perda do objeto.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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23.123 – Matéria processual penal. Condenação criminal . Delitocontra a administração pública. Direitos políticos. Quitação eleitoral.Prevalência da suspensão dos direitos políticos passivos (direito deser votado). Inelegibilidade (três anos).

23.211 – Matéria processual penal. Prescrição . Não-ocorrência.

23.277 – Matéria processual penal. Conflito negativo de competên-cia. Nos feitos criminais, de regra, determinar-se-á a competência pelolugar da infração , aplicando-se, supletivamente, o art. 70 e seguintesdo Código de Processo Penal.

PESQUISA ELEITORAL

22.286 – Pesquisa eleitoral. Internet. Enquete. Divulgação em sítiode jornal. Ausência de afirmação de caráter não-científico .Descaracterização.

No mesmo sentido: 23.360.

23.284 – Pesquisa eleitoral. Responsabilidade pela realização edivulgação de pesquisa eleitoral . Autoria da realização e divulgaçãode enquete não confirmada.

23.317 – Pesquisa eleitoral. Divulgação de pesquisa eleitoral naimprensa escrita. Referência de caráter genérico . Ilícito não configu-rado.

23.348 – Pesquisa eleitoral. Divulgação de enquete no horárioeleitoral gratuito . Omissão de informações. Impossibilidade. A normaexige a informação de que não se trata de pesquisa, mas de merolevantamento de opiniões, sem controle de amostra, o qual não utilizamétodo científico para sua realização, dependendo, apenas, da parti-cipação espontânea do interessado.

23.371 – Pesquisa eleitoral. Divulgação de enquete sem esclare-cimento de que não se trata de pesquisa eleitoral. Intenção de confun-dir o eleitor. Aplicação de multa eleitoral.

PRESTAÇÃO DE CONTAS – CAMPANHA ELEITORAL

21.000 – Prestação de contas. Candidato. Utilização de recursosfinanceiros recebidos de fonte vedada . Rejeição.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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21.994 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a depu-tado federal/est adual não eleito . Contas aprovadas.

No mesmo sentido: 21.998, 21.999, 22.008, 22.012, 22.014, 22.026, 22.027,22.032, 22.033, 22.058, 22.067, 22.106, 22.108 e 22.239.

21.996 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputadofederal/estadual não eleito. Irregularidades não sanadas . Rejeição.

No mesmo sentido: 21.995, 22.126, 22.151, 22.163, 22.198, 22.205, 22.232,22.237, 22.238, 22.246 e 22.270.

21.997 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Renúncia . Contas prestadas e aprovadas.

22.004 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a senadorda República não eleito. Ausência de document ação comprobatóriados recursos arrecadados na modalidade estimável em dinheiro. Re-jeição.

No mesmo sentido: 22.181.

22.005 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deput a-do est adual não eleito . Ausência de documentação comprobatória dosrecursos arrecadados na modalidade estimável em dinheiro. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.006, 22.063, 22.088, 22.118 e 22.228.

22.009 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a sena-dor da República não eleito . Contas aprovadas.

No mesmo sentido: 22.064.

22.010 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Cessão de veículos . Tendo sido cedidos veículos emfavor de candidato para uso em campanha eleitoral, é necessária aapresentação dos respectivos termos de cessão, acompanhados daprova de propriedade dos bens.

22.011 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Procedimento de circularização . O uso de recursos fi-nanceiros para pagamentos de gastos eleitorais que não provenhamda conta específica da campanha implicará a desaprovação da presta-ção de contas do partido ou candidato. Rejeição.

22.018 – Prestação de contas. Eleições de 2006. Candidato a de-putado federal. Existência de despesas não quit adas na data da pres-tação das contas. Irregularidade insanável. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.003 e 22.043.

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22.020 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do federal. Existência de recursos não-cont abilizados . Os recursosprovenientes do Fundo Partidário indevidamente utilizados devem serressarcidos ao Erário. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.280.

22.025 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Utilização de recursos recebidos de fonte vedada (sin-dicato). Impossibilidade. Rejeição.

22.025 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Doações de recursos estimáveis em dinheiro do candi-dato para ele próprio, correspondente aos recibos eleitorais. Pagamentode despesas realizadas antes de iniciado o período eleitoral . Im-possibilidade. Rejeição.

22.028 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. A não-apresent ação dos extratos bancários que com-provam toda a movimentação dos recursos de campanha é improprie-dade grave e insanável que impede a análise da regularidade das con-tas prestadas pelo candidato. Rejeição.

22.038 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a gover-nador não eleito . Contas aprovadas.

22.048 – Prestação de contas. Eleições. 2006. Candidato a depu-tado estadual. Rejeição. Doação não comprovada. Gastos comcombustível não justificado.

22.049 – Prestação de contas. Candidato. Não se conforma ao con-ceito de prestação de contas a formalidade de preenchimento de for-mulários com valores zerados . Rejeição.

No mesmo sentido: 22.053 e 22.091.

22.052 – Prestação de contas. Eleições 2002. Alteração subst an-cial de informações inicialmente declaradas, no intuito de compensardivergências apuradas pelo órgão técnico e fornecer substrato aosesclarecimentos prestados, constitui manobra contábil flagrantementeatentatória à confiabilidade e à regularidade do procedimento de pres-tação de contas. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.068.

22.061 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Quit ação eleitoral . Definição. O conceito de quitação elei-toral reúne a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercí-

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cio do voto e a regular prestação de contas de campanha eleitoral,quando se tratar de candidato.

No mesmo sentido: 22.120, 22.218 e 22.316.

22.065 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Indeferimento de registro de candidato. Ausência demoviment ação financeira . Contas consideradas prestadas.

22.071 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a gover-nador. O uso de recurso financeiros p ara pagamentos de gastoseleitorais que não provenham da conta específica de campanha impli-cará a desaprovação da prestação de contas do partido ou candidato.Rejeição.

22.087 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Ausência de abertura de cont a bancária . Impossibilida-de. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.125.

22.102 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do estadual. Pagamento de despesa com recursos que não transi-taram pela cont a corrente de camp anha . Despesa de pequeno va-lor. Aprovação.

22.119 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a depu-tado estadual. Ausência de apresentação de canhotos de reciboseleitorais , extrato de cont a bancária e comprovação de doações .Rejeição.

22.150 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do federal/estadual. Ausência de prest ação de cont as de camp a-nha . Notificação. Contas prestadas. Aprovação.

No mesmo sentido: 22.240.

22.152 – Prestação de contas. Eleições 2006. Utilização de veícu-los próprios. Utilização de veículo na camp anha eleitoral sem a de-vida contabilização como recurso próprio estimável em dinheiro, nema respectiva emissão de recibos eleitorais. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.195.

22.157 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do federal/estadual. Renúncia . Necessidade de apresentação da con-tabilidade no período de participação da campanha eleitoral. Rejeição.

No mesmo sentido: 22.227 e 22.231.

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22.178 – Prestação de contas. Eleições. 2006. Candidato a depu-tado federal. Ausência de devolução da totalidade dos recibos eleito-rais , retirados e não utilizados.

22.192 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a deputa-do federal/estadual. Ausência de moviment ação financeira . Apresen-tação de recibos eleitorais. Não-utilizados e de extrato bancário da contaespecífica de campanha. Contas consideradas prestadas.

No mesmo sentido: 22.188.

22.210 – Prestação de contas. Eleições 2006. Candidato a gover-nador não eleito. Ausência de lançamento de despesa de camp anhaeleitoral , cujo pagamento deu-se com recursos que não transitarampela conta bancária específica. Rejeição.

PRESTAÇÃO DE CONTAS – PARTIDO POLÍTICO

22.019 – Prestação de contas anual de partido político (DiretórioMunicipal do PT). Doadores não identificados. Os partidos políticos têmobrigação legal de manter escrituração contábil que permita o co-nhecimento da origem de suas receitas e da destinação de suas des-pesas e da destinação de sua despesas, não podendo transferir talresponsabilidade a terceiros.

22.039 – Prestação de contas anual de partido político (PAN). Irre-gularidade insanável. Rejeição. Suspensão das quot as do fundopartidário por um ano da dat a da decisão .

No mesmo sentido: 22.054 (PV), 22.055 (PTB), 22.077 (PT de São José),22.085 (PDT), 22.092 (PMDB de Rancho Queimado), 22.127 (PT de Araranguá),22.223 (PT de Mafra), 22.236 (PSB de Mafra), 22.257 (PTN), 22.259 (PTC),22.268 (PSDB de Lages), 23.034 (PSDC) e 23.340 (PT do B).

22.041 – Prestação de contas anual de partido político (PT). Irre-gularidades sanadas . Aprovação.

No mesmo sentido: 23.311 (PSTU).

22.090 – Prestação de contas anual de partido político (PMDB deRancho Queimado). Matéria processual. Ausência de cap acidadepostulatória .

22.093 – Prestação de contas anual de partido político (PMDB).Rejeição. Ausência de abertura de cont a bancária . Apresentação deformulário zerado .

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22.224 – Prestação de contas anual de partido político (PP de SãoBento do Sul). Matéria processual. Cerceamento de defesa . A deci-são que rejeita a prestação de contas sem oportunizar ao partido polí-tico manifestar-se sobre o parecer técnico por sua rejeição ofende odireito de defesa garantido pelo texto constitucional, impondo a anula-ção do processo a fim de que seja observado o adequado processa-mento.

22.360 – Prestação de contas de partido político. Fundo Partidá-rio . Restrições para aplicação da verba. Restituição de quantia utiliza-da indevidamente para pagamento de multa de trânsito.

PROPAGANDA ELEITORAL

22.047 – Propaganda eleitoral extemporânea. Matéria processual.Promoção pessoal em outdoors. Conflito de competência. Juízo com-petente para julgar os feitos relativos à propaganda eleitoral.

22.136 – Propaganda eleitoral extemporânea. Promoção pessoalem outdoors. Mensagem . Propaganda irregular. Inocorrência.

22.165 – Propaganda eleitoral extemporânea. Promoção pessoalem outdoors. Mensagem com intenção subliminar de apelo políticoeleitoral. Propaganda irregular. Caracterização.

No mesmo sentido: 22.271, 22.326 e 22.472.

22.187 – Propaganda eleitoral extemporânea. Divulgação em úni-ca placa. Mensagem sem apelo político . Propaganda irregular. Des-caracterização.

22.226 – Propaganda eleitoral extemporânea. Promoção pessoalna imprensa escrit a. Jornal de circulação municipal. Mensagem defelicitação e fotografia. Propaganda irregular. Caracterização.

No mesmo sentido: 22.477.

22.254 – Propaganda eleitoral. Rádio e televisão. Reserva de tempo .Partido político. Diretório Municipal. Ilegitimidade.

No mesmo sentido: 22.255 e 22.261.

22.258 – Propaganda eleitoral extemporânea. Fundação. Divulga-ção de camp anha em “ outdoor ambulante” . Ausência de apelo polí-tico eleitoral. Propaganda irregular. Descaracterização. Propagandaeleitoral . Definição .

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22.260 – Propaganda eleitoral extemporânea. Entrevist as, deba-tes e encontros. Rádio e televisão . Pré-candidato . Permissão (TSE).Propaganda irregular. Novo regramento. Descaracterização.

Novo sentido: 22.473, 22.900 e 23.341.

22.276 – Propaganda eleitora. Empresa comercial. Divulgação decampanha em placas e na imprensa escrit a. Ausência de apelo po-lítico eleitoral. Propaganda irregular. Descaracterização.

22.286 – Propaganda eleitoral. Pesquisa eleitoral. Internet. Enquete .Divulgação em sítio de jornal. Ausência de afirmação de caráter não-cien-tífico. Descaracterização.

22.321 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Afixação de placascom dimensão total superior a 4m². Inocorrência de equip aração aoutdoor. Disposição dos artefatos em forma de cunha, sem possibili-dade de visualização simultânea.

22.390 – Propaganda eleitoral. Comitê eleitoral de candidato. Ar-tefato equip arado a outdoor. Placa superior a 4m². Impossibilidade.Propaganda eleitoral irregular. Caracterização.

No mesmo sentido: 22.803, 22.886, 22.941, 22.943 (ausência de compro-vação) e 23.052.

22.397 – Propaganda eleitoral. Plotagem em ônibus superior a4m². Propaganda eleitoral Irregular. caracterização.

No mesmo sentido: 22.439, 22.578, 22.676, 22.814 e 22.872 (caminhão),23.076 (kombi) e 23.081 (minibus).

22.439 – Propaganda eleitoral. Comitê eleitoral de candidato. Ins-talação em bem particular. Permissão. Propaganda regular.

No mesmo sentido: 22.421.

22.446 – Propaganda eleitoral. Bens de uso comum . Fixação deplaca. Estabelecimento comercial (desativado). Propaganda eleitoralirregular. Descaracterização.

No mesmo sentido: 22.865 (estacionamento), 22.902, 22.942 (retirada ime-diata), 23.102 (escritório de advocacia) e 23.323 (hotel).

22.536 – Propaganda eleitoral. Propaganda institucional irregular.Descaracterização. Divulgação de símbolo adot ado por candidato .

22.582 – Propaganda eleitoral extemporânea. Promoção pessoalna imprensa escrit a. Jornal. Mensagem com intenção subliminar de

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apelo político eleitoral. Propaganda irregular. Caracterização. Jornalde modesto porte econômico. Aplicação de advertência.

22.641 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Pedidode votos formulados pelos candidatos da eleição proporcional emfavor de candidato do pleito majoritário . Propaganda eleitoral irre-gular. Caracterização.

No mesmo sentido: 22.792, 22.793, 22.794, 22.795, 22.809, 22.810, 22.811,22.813, 22.825, 22.826, 22.830, 22.836, 22.852, 22.856, 22.857, 22.858, 22.859,22.860, 22.861, 22.862, 22.866, 22.867, 22.868, 22.869, 22.870, 22.871, 22.879,22.881, 22.882, 22.883, 22.925, 22.940, 22.985 (penalidade), 22.986, 22.987,22.988, 22.989, 22.991, 22.994, 22.997, 23.022, 23.028, 23.029, 23.031, 23.050e 23.062.

22.787 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Inserções.Imagens externas . Impossibilidade. Propaganda eleitoral irregular.Caracterização.

No mesmo sentido: 22.788, 22.802, 22.806 e 22.983 (possibilidade).

22.798 – Propaganda eleitoral. Panfleto. Símbolos, frases ou ima-gens associadas ou semelhantes utilizadas por órgãos públicos .Impossibilidade. Propaganda eleitoral irregular. Caracterização.

No mesmo sentido: 23.023, 23.026 e 23.046.

22.812 – Propaganda eleitoral. Candidato. Variação nominal . Nomeassociado ou semelhante utilizados por órgãos públicos. Impossibili-dade.

No mesmo sentido: 22.944 (possibilidade).

22.820 – Propaganda eleitoral. Representação. Agravo de instru-mento por fac-simile sem apresentação da gravação da propagandadita por irregular. Impossibilidade.

No mesmo sentido: 22.841 e 22.896.

22.831 – Propaganda eleitoral extemporânea. Panfleto. Divulga-ção da atuação de p arlament ar: projetos e realizações. Impossibili-dade. Propaganda eleitoral irregular. Caracterização.

22.854 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Artefato equip ara-do a outdoor. Placa. Dimensão superior a 4m². Impossibilidade. Apli-cação de multa.

No mesmo sentido: 22.952.

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22.863 – Propaganda eleitoral extemporânea. Propaganda insti-tucional . Município. Ocorrência. Impossibilidade de aplicação de mul-ta por conduta vedada ao ente público (pessoa jurídica).

No mesmo sentido: 23.305.

22.874 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Símbolosnacionais . Divulgação da imagem das bandeiras nacional, estadual emunicipal. Possibilidade.

No mesmo sentido: 22.927 e 23.069.

22.880 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Afirma-ção inverídica . Perda de tempo equivalente ao dobro do usado naprática do ilícito.

22.884 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Artefato equip ara-do a outdoor. Placa. Pluralidade. Justaposição. Dimensão superior a4m². Impossibilidade. Aplicação de multa.

No mesmo sentido: 22.901, 22.938, 23.030, 23.060, 23.078, 23.079, 23.080,23.094, 23.095, 23.096, 23.097, 23.098, 23.103, 23.108, 23.110, 23.114, 23.115,23.116, 23.142, 23.143, 23.144, 23.145, 23.146, 23.147, 23.170, 23.172, 23.173,23.189, 23.200, 23.207, 23.209, 23.210, 23.215, 23.216, 23.218, 23.219, 23.220,23.221, 23.222, 23.224, 23.225, 23.226, 23.227, 23.228, 23.229, 23.230, 23.247,23.265, 23.271, 23.272, 23.280, 23.281, 23.297, 23.297, 23.335, 23.353, 23.364,23.365, 23.366 e 23.367.

22.887 – Propaganda eleitoral. Camiset as e jalecos . Candidatos ecomitês. Impossibilidade na campanha eleitoral de distribuição, con-fecção e utilização.

No mesmo sentido: 22.923.

22.893 – Propaganda eleitoral. Internet. Site particular . Propagan-da positiva ou negativa de candidato. Impossibilidade. Determinação:retirada da notícia do ar.

No mesmo sentido: 22.924 e 23.223 (orkut).

22.894 – Propaganda eleitoral. Utilização de dados privativos damunicip alidade (monitoramento das áreas públicas). Impossibilidade.

22.895 – Propaganda eleitoral. Internet. Imprensa escrita. Páginaeletrônica de jornal . Propaganda positiva ou negativa de candidato.Terceiro. Impossibilidade. Aplicação de multa.

22.896 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Utiliza-ção comercial . Inocorrência.

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22.918 – Propaganda eleitoral extemporânea. Promoção pessoalna imprensa escrit a. Jornal de circulação municipal. Mensagem defelicitação. Propaganda irregular. Descaracterização.

No mesmo sentido: 22.939.

22.919 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Inserções.Recursos de mont agem e trucagem . Inocorrência.

No mesmo sentido: 23.018, 23.126 e 23.152.

22.921 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Utiliza-ção de mote de prop aganda da Justiça Eleitoral . Propaganda irre-gular. Inocorrência.

22.928 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Fixação de faixas.Lançamento de coligação . Propaganda eleitoral. Descaracterização.

22.937 – Propaganda eleitoral. Remuneração de pessoal . Atores.Não-comprovação.

No mesmo sentido: 22.982.

22.945 – Propaganda eleitoral. Imprensa escrita. Jornal. Tablóide.Candidaturas majoritárias e proporcionais. Inobservância da dimen-são legal .

No mesmo sentido: 22.962, 23.051, 23.059, 23.089, 23.190 e 23.302.

22.956 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Particip a-ção de integrante de p artido diverso . Impossibilidade.

22.959 – Propaganda eleitoral. Compromisso de camp anha ex-trapolando a competência do poder executivo municipal. Promessa mi-rabolante ou de impossível cumprimento. Possibilidade.

22.966 – Propaganda eleitoral. Panfleto. Divulgação de nominat ade candidatos . Ausência do nome da coligação. Impossibilidade.

22.990 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Inserções.Recursos de comput ação gráfica . Vedação.

22.992 – Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Inserções.Alegação de descumprimento pela emissora . Ausência de compro-vação.

22.996 – Propaganda eleitoral. Propaganda informando sobre a tra-mitação de processos judiciais por falta de cumprimento de compromis-sos financeiros e esclarecendo qual o responsável por instalação deempresa no município. Ausência de degradação e de ridicularização .

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23.042 – Propaganda eleitoral extemporânea. Internet. Site parti-cular. Divulgação da atuação p arlament ar. Possibilidade.

23.058 – Propaganda eleitoral. Liminar. Censura prévia . Impossi-bilidade.

No mesmo sentido: 23.149.

23.061 – Propaganda eleitoral. Bandeiras . Dimensão superior a4m². Permissão.

23.065 – Propaganda eleitoral. Bens públicos . Concessão de au-torização. Restrição legal. Não-incidência.

23.077 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Artefato equiparadoa outdoor. Placa. Pluralidade . Justaposição. Dimensão superior a4m². Inexistência .

No mesmo sentido: 23.100, 23.113, 23.171, 23.201, 23.217 e 23.378.

23.083 – Propaganda eleitoral. Bens públicos . Placa afixada emcaminhão estacionado em via pública. Propaganda irregular.Inexistência.

23.090 – Propaganda eleitoral. Bens públicos . Retirada no prazode defesa. Não-incidência da multa.

No mesmo sentido: 23.296.

23.091 – Propaganda eleitoral. Afixação de adesivos em veículos .Propaganda irregular. Inexistência. A afixação de adesivos em carrosparticulares não caracteriza propaganda eleitoral antecipada.

No mesmo sentido: 23.295 e 23.343.

23.174 – Propaganda eleitoral. Imprensa escrita. Jornal. Matériajornalística. Difusão de opinião a candidato . Inocorrência. A regula-mentação do TSE autoriza a imprensa escrita a realizar manifestaçõesde ordem política, liberdade que se estende à faculdade de opinar fa-vorável ou contrariamente a candidato ou agremiação partidária, des-de que não decorra de matéria paga e não configure abuso dos meiosde comunicação, a ser apurado e punido nos termos do art. 22 da LeiComplementar n. 64/1990.

No mesmo sentido: 23.269, 23.342 e 23.345.

23.178 – Propaganda partidária extemporânea. Publicidade veicu-lada em ônibus . Promoção pessoal. Propaganda irregular. Inexistência.

23.213 – Propaganda eleitoral. Adesivo . Veículo automotor. Esta-cionamento em bem público. Possibilidade.

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23.240 – Propaganda eleitoral. Placas. Ausente a intimação pré-via e tendo o responsável comprovado a retirada da propaganda noprazo de defesa, não incide a sanção de multa.

No mesmo sentido: 23.314.

23.254 – Propaganda eleitoral. Alegação de publicação de ofensana internet. Posterioridade ao pleito . Ausência de competência mate-rial eleitoral.

23.268 – Propaganda eleitoral extemporânea. Propaganda comer-cial . A difusão ostensiva de publicidade de natureza comercial fazendoreferência ao nome de candidato, antes de sua escolha em conven-ção, poderá caracterizar propaganda eleitoral irregular.

23.296 – Propaganda eleitoral. Placas. Fixação em faixa de domí-nio público junto à rodovias públicas. Impossibilidade.

No mesmo sentido: 23.296.

23.319 – Propaganda eleitoral. Bem particular. Artefato equiparadoa outdoor. Placa. Pluralidade. Justaposição. Suposta dimensão superi-or a 4m². Conversão do julgamento em diligência para que se pro-ceda a uma nova medição das placas.

23.320 – Propaganda eleitoral extemporânea. Entrevista radiofôni-ca concedida pelo atual prefeito, não candidato. Caracterização deprop aganda eleitoral positiva e negativa .

23.322 – Propaganda eleitoral. Imprensa escrita. Difusão de opi-nião favorável e trat amento privilegiado a candidato . Descaracteri-zação.

23.328 – Propaganda eleitoral. Responsabilidade . Toda prop a-ganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos p arti-dos e por ele p aga, imputando-se solidariedade nos excessos prati-cados pelos seus candidatos e adeptos.

23.329 – Propaganda eleitoral. Alusão indevida a coligação ma-joritária que não apóia candidatura ao pleito proporcional. Proibiçãoda reiteração da propanda e aplicação de multa.

23.334 – Propaganda eleitoral extemporânea. Veiculação de in-forme de realizações de p arlament ar. Caracterização.

23.338 – Propaganda eleitoral. Programa de televisão apresen-tado por pré-candidato . É permitida a apresentação de programa detelevisão por pré-candidato antes de ele ter sido escolhido em conven-

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ção, desde que não haja conotação eleitoral, com divulgação de candi-datura, exposição de plataformas e de projetos políticos.

23.358 – Propaganda eleitoral extemporânea. Inocorrência. Possi-bilidade de veiculação de entrevist a e de report agem sobre candida-to e pré-candidatos antes de 6 de julho, inclusive com exposição deplataforma e projeto político.

23.369 – Propaganda eleitoral extemporânea. Inocorrência. Vei-culação de matérias relativas a pré-candidato e de notícias negati-vas sobre a atual administração municip al. Ausência de referênciaà eleição.

23.380 – Propaganda eleitoral extemporânea. Afixação em elei-ção pretérit a. Ilegitimidade.

PROPAGANDA ELEITORAL – DIREITO DE RESPOSTA

22.296 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Imprensa es-crit a. Jornal. Texto que não contém resposta ao que foi publicado pelaimprensa escrita. Indeferimento.

22.332 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Imprensa escri-ta. Jornal. Ausência de apresent ação do texto da respost a. Indeferi-mento.

No mesmo sentido: 23.008.

22.424 – propaganda eleitoral. Direito de resposta. Imprensa escri-ta. Jornal. Coluna política . Opinião. Jornalista. Inexistência de fatosabidamente inverídico. Indeferimento.

No mesmo sentido: 22.451, 22.908 (rádio), 23.023 e 23.038.

22.563 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Imprensa escri-ta. Jornal. Matéria veiculada evidencia conteúdo ofensivo, difamató-rio e calunioso . Configuração.

22.583 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Programaçãonormal de emissora. Matéria veiculada evidencia conteúdo ofensivo,difamatório e calunioso . Configuração.

22.706 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Horário eleitoralgratuito. Inexistência de fato sabidamente inverídico . Indeferimento.

No mesmo sentido: 22.762, 22.805, 22.815, 22.818, 22.819, 22.822, 22.823,22.828, 22.844, 22.845, 22.846, 22.847, 22.892, 22.905, 22.906, 22.909, 22.910,

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22.911, 22.913, 22.914, 22.915, 22.934, 22.935, 22.947, 22.948, 22.949, 22.950,22.951, 22.955, 22.961, 22.964, 22.965, 22.969, 22.971, 22.972, 22.973, 22.974,22.975, 22.977, 22.979, 22.980, 23.005, 23.006, 23.011, 23.012, 23.013, 23.014,23.015, 23.016, 23.039, 23.040, 23.056, 23.112, 23.131, 23.132, 23.133, 23.134,23.135, 23.136, 23.137, 23.138, 23.151, 23.152, 23.153, 23.154, 23.157, 23.158,23.159, 23.160, 23.161, 23.163, 23.164, 23.165 e 23.169.

22.816 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Horário eleito-ral gratuito. Inicial indeferida por não haver sido apresent ada com agravação da prop aganda .

No mesmo sentido: 22.904.

22.817 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Horário eleito-ral gratuito. Análise crítica da atuação p arlament ar. Possibilidade.

No mesmo sentido: 22.853, 23.020, 23.169 e 23.175.

22.824 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Horário eleito-ral gratuito. Inexistência de fato sabidamente inverídico . Configura-ção. Deferimento.

No mesmo sentido: 22.839, 22.876, 22.891, 22.931, 22.933, 22.957, 22.963,22.967, 22.968, 22.970, 23.007, 23.017, 23.019, 23.037, 23.057, 23.155, 23.156,23.162, 23.166, 23.167 e 23.168.

22.827 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Imprensa escri-ta. Jornal. Crítica à administração pública . Possibilidade. Inexistên-cia de fato sabidamente inverídico. Indeferimento.

No mesmo sentido: 22.917, 22.922, 22.930 e 23.009.

22.829 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Matéria pro-cessual. Intempestividade. Prazo decadencial .

No mesmo sentido: 22.842, 22.890, 22.907, 22.912, 22.976 e 23.041.

22.845 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Matéria proces-sual. Pedido apresent ado por terceiro . Possibilidade.

22.848 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Matéria proces-sual. Agravo de instrumento. Liminar deferida pelo juízo a quo. Deci-são definitiva de mérito. Perda do objeto.

22.922 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Crítica admi-nistrativa e informação de melhor desempenho em debate . Inexis-tência de ofensa.

22.954 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Recurso de áudio.Caracterização. Montagem. Julgamento extra petita. Impossibilidade.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

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22.976 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Restituição dotempo . Terceiro. Impossibilidade.

22.978 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Restituição dotempo . Partido, coligação ou candidato. Possibilidade.

23.005 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Matéria proces-sual. Ilegitimidade p assiva de candidato .

No mesmo sentido: 23.006 e 23.139.

23.037 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Legitimidade .Delegado de p artido político . Representação na Justiça Eleitoral.

23.044 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Prejudicialida-de. Encerramento do horário eleitoral gratuito .

23.155 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Deferimento.Diversidade de inserções . Invibialidade da contagem ficta de tempoquando a ofensa não supere um minuto.

23.339 – Propaganda eleitoral. Direito de resposta. Suposto des-cumprimento da sentença concessiva do direito de respost a. Ine-xistência.

PROPAGANDA INSTITUCIONAL

22.536 – Propaganda institucional irregular. Propaganda eleitoral.Descaracterização. Divulgação de símbolo adot ado por candidato .

22.863 – Propaganda institucional. Município. Propaganda eleito-ral extemporânea. Ocorrência. Impossibilidade de aplicação de mult apor conduta vedada ao ente público (pessoa jurídica) .

No mesmo sentido: 23.305.

22.885 – Publicidade institucional. Conduta vedada a agente pú-blico. Descaracterização. A permanência de placas em obras públi-cas , antes do período vedado, é admissível, desde que delas nãoconstem expressões que possam identificar autoridades, servidoresou administrações cujos dirigentes estejam em campanha eleitoral.

No mesmo sentido: 23.088 e 23.111.

23.305 – Publicidade institucional. Campanha institucional de pre-feitura visando a aumentar a arrecadação de IPTU Regularidade.

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23.324 – Publicidade institucional. A investigação judicial eleito-ral não possui a natureza pré-processual de inquérito , ou seja, deprocedimento destinado a produzir provas que indiquem a autoria e amaterialidade de práticas ilegais. Constitui, em verdade, verdadeiraação eleitoral, pela qual se deduz em juízo a pretensão de fulminar aelegibilidade de determinado eleitor, devendo, por isso, narrar fatosque possam vir a caracterizar , em tese, algum abuso , bem comoapontar circunstâncias e indícios aptos a indicar a sua prática.

23.382 – Publicidade institucional. Divulgação em anos anterioresao ano eleitoral. Ausência de potencialidade p ara influenciar no re-sult ado do pleito .

PROGRAMA PARTIDÁRIO – PROPAGANDA PARTIDÁRIA

22.002 – Programa partidário. Propaganda partidária. Partido polí-tico (PSDB). Inserções. Cumprimento. Disposição legal. Deferimento .

No mesmo sentido: 22.040 (PPS), 22.471 (PT), 23.278 (DEM), 23.330 (PPS)e 23.346 (PP).

22.098 – Programa partidário. Propaganda partidária. Partido polí-tico (PCdoB). Inserções. Não-cumprimento. Disposição legal.Indeferimento.

22.269 – Programa partidário. Propaganda partidária. Partido polí-tico (PSB). Matéria processual. Intempestividade . Pedido dereconsideração. Preclusão.

RECURSO DE DIPLOMAÇÃO

21.895 – Recurso de diplomação. Captação de sufrágio e abuso dopoder econômico. Pretensão fundamentada em provas colhidas deprocedimento investigativo.

REGISTRO DE CANDIDATO

21.562 – Registro de candidato. Impugnação. Renovação de elei-ção . Renúncia. Participação de candidato que deu causa a anulaçãode eleição. Impossibilidade. Indeferimento.

21.723 – Registro de candidato. Impugnação. Filiação partidária.Duplicidade. Não-ocorrência. Verificação de erro na intimidade daJustiça Eleitoral .

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22.419 – Registro de candidato. Deferimento. Existência de conde-nação por prop aganda eleitoral irregular . Inocorrência de condena-ção por abuso do poder econômico ou político.

No mesmo sentido: 22.539 e 22.700.

22.503 – Registro de candidato. Deferimento. Suplente de verea-dor que substituiu o titular durante quase todo o mandato. Ausência deinelegibilidade por parentesco com o atual prefeito.

22.504 – Registro de candidato. Deferimento. Alegação de que ovice-prefeito, pai de candidato a vereador, assumiu a chefia do Execu-tivo municipal nos seis meses que antecedem o pleito. Ausência deprova da inelegibilidade .

22.576 – Número de vereadores. Impossibilidade de alteração dacomposição da câmara de vereadores por mero incremento popula-cional. Necessidade de prévia análise do tema em processo legislati-vo. Necessidade de publicação de lei municipal até a data final para arealização das convenções partidárias.

22.652 – Registro de candidato. Deferimento. Candidato com resi-dência em município diverso . Demonstração de vículos de naturezasocial, trabalhista e familiar no município em que está inscrito.

No mesmo sentido: 22.347 e 22.432.

22.664 – Registro de candidato. Indeferimento. Transferência cominscrição eleitoral há menos de um ano no município no qual preten-de concorrer. Irrelevância de residência no município há mais de umano.

22.724 – Matéria processual. Registro de candidato. Indeferimen-to. Candidato escolhido prefeito em eleição indireta e posteriormentereeleito prefeito pelo voto popular. Investidura definitiva no cargo pordois mandatos consecutivos. Impossibilidade de terceiro mandato .

22.733 – Registro de candidato. Deferimento. Insubsistência de ar-gumento de que o candidato reside em município diverso daquele noqual deseja disputar a eleição. Existência de inscrição eleitoral nestemunicípio desde 1986.

22.736 – Registro de candidato. Indeferimento por exclusão departido político de coligação . Possibilidade de o partido isoladamen-te pedir o registro do candidato.

No mesmo sentido: 22.735.

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22.750 – Registro de candidato. Indeferimento. Candidato com fili-ação a partido que não integra a coligação requerente.

22.765 – Registro de candidato. Indeferimento. Invalidade da con-venção .

No mesmo sentido: 22.766.

22.791 – Matéria processual. Registro de candidato. Indeferimen-to. Intempestividade do pedido de substituição de candidato que de-sistiu de concorrer ao cargo proporcional.

No mesmo sentido: 22.658.

23.140 – Registro de candidato. Prazo para substituição de can-didato que teve indeferido seu registro. Dez dias. Termo inicial na datado trânsito em julgado da decisão de indeferimento.

23.276 – Registro de candidato. Cancelamento. Atuação de candi-dato sob orient ação da coligação opositora . Impossibilidade de can-celamento por ausência de expulsão do partido.

23.384 – Registro de candidato. Tempestividade de substituiçãode candidato . Termo inicial do prazo de dez dias na data da protocoli-zação da renúncia da candidatura primitiva.

REGISTRO DE CANDIDATOALFABETIZAÇÃO

22.349 – Registro de candidato. Deferimento. Eleitor alfabetizado.Inexigibilidade de realização de avaliação de nível de conhecimento.

No mesmo sentido: 22.352, 22.353, 22.387 e 22.400.

22.350 – Registro de candidato. Deferimento. Eleitor alfabetizado.Apresentação de declaração de próprio punho e de comprovantede escolaridade .

No mesmo sentido: 22.351, 22.452, 22.458, 22.462, 22.538, 22.608 e22.717.

22.351 – Registro de candidato. Deferimento. Eleitor alfabetizado.Apresentação de declaração de próprio punho .

No mesmo sentido: 22.366, 22.375, 22.686 e 22.703.

22.448 – Registro de candidato. Indeferimento. Candidato não-alfa-betizado. Incapacidade de ler e de escrever de forma compreensível.

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22.506 – Registro de candidato. Deferimento. Erros gramaticaisem teste escrito. Teste com rigor excessivo.

22.508 – Registro de candidato. Deferimento. Apresentação de de-claração de próprio punho e realização de avaliação mediante có-pia de texto . Irrelevância de erros gramaticais.

No mesmo sentido: 22.704.

22.534 – Registro de candidato. Deferimento. Candidato semi-al-fabetizado . Capacidade para copiar texto. Interpretação benigna danorma constitucional

No mesmo sentido: 22.476.

22.789 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de apre-sentação de comprovante de escolaridade .

REGISTRO DE CANDIDATOCONTAS DE AGENTE PÚBLICO

22.292 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares pelo TCE . Equivalência à rejeição de contas.Irrelevância de haver aprovação pela câmara municip al.

No mesmo sentido: 22.392. Ver: 22.754.

22.331 – Registro de candidato. Indeferimento. Rejeição de presta-ção de contas de prefeito por câmara municipal. Ausência de deferi-mento de medida liminar ou de antecipação de tutela em ação des-constitutiva dessa decisão.

No mesmo sentido: 22.616

22.363 – Registro de candidato. Rejeição de contas de presidentede câmara de vereadores pelo TCE. Ausência de elementos de pro-va necessários a analisar se se trata de irregularidade insanável. Cas-sação da sentença para apreciação dos demais requisitos do registro.

22.392 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas julgadasirregulares pelo TCE em tomada de contas especial. Irrelevância deaprovação, por câmara municipal, do pagamento da multa e da recom-posição do Erário. Rejeição da preliminar de término do prazo de ine-legibilidade de cinco anos . Contagem desse prazo a partir do trânsitoem julgado, ocorrido só após da decisão de indeferimento de pedidode reconsideração.

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22.415 – Registro de candidato. Deferimento. Existência de pare-cer do Tribunal de Contas do Estado de rejeição de contas. Aprovaçãotácita do parecer pela câmara de vereadores, ato esse que constituiu omarco inicial da cont agem do prazo de inelegibilidade qüinqüenal.Propositura de ação anulatória da rejeição, ato esse que suspendeu oprazo qüinqüenal até o trânsito em julgado da decisão nela proferida.Retorno do cômputo do prazo e termo final antes do registro de candi-dato. Afastamento da alegação do Ministério Público de que o prazo foisuspenso antes do início de seu curso quando o interessado impetroumandado de segurança contra o parecer do Tribunal de Contas doEstado.

22.429 – Registro de candidato. Deferimento. Parecer do TCE derejeição de contas do executivo municipal. Superveniência de apro-vação pela câmara municip al. Prevalência desta.

22.431 – Registro de candidato. Deferimento. Parecer do TCE derejeição de contas do Executivo municipal. Inexistência de decisãoda câmara municip al até o momento.

22.445 – Registro de candidato. Rejeição de contas. Competênciada Justiça Eleitoral para analisar se a irregularidade ensejadora darejeição é sanável ou insanável.

No mesmo sentido: 22.363, 22.616, 22.653 e 22.754.

22.520 – Registro de candidato. Inclusão do nome deste em lista decontas rejeitadas encaminhada à Justiça Eleitoral pelo Tribunal de Con-tas do Estado. Ausência de irregularidade insanável . Retorno dos autosà origem para análise das demais condições de elegibilidade.

No mesmo sentido: 22.653.

22.572 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de presi-dente de câmara municipal julgadas irregulares pelo TCE. Irregulari-dades insanáveis . Decisão irrecorrível mesmo que existente pedidode revisão ou reexame naquele órgão.

No mesmo sentido: 22.445, 22.486, 22.525, 22.553, 22.584, 22.587, 22.643e 22.654.

22.589 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares pelo TCE em tomada de contas especial. Irregu-laridades insanáveis .

No mesmo sentido: 22.562, 22.690, 22.752 e 22.753.

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22.616 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares por câmara municipal. Irregularidades insanáveis .

No mesmo sentido: 22.645, 23.273, 22.689 e 22.692.

22.689 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares por câmara municipal. Irregularidades insanáveis.Contagem do prazo de cinco anos de inelegibilidade suspenso como ajuizamento de ação anulatória. Recontagem do prazo a partir dotrânsito em julgado da decisão provida nessa ação.

22.691 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares por câmara municipal. Decisão judicial de suspen-são da rejeição proferida em ação anulatória somente após o pedidode registro de candidato.

22.695 – Registro de candidato. Deferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares por câmara municipal. Decisão judicial suspensãoda rejeição proferida em ação desconstitutiva antes do pedido deregistro de candidato.

No mesmo sentido: 22.748.

22.712 – Registro de candidato. Indeferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares pelo TCE em tomada de contas especial. Irregu-laridades insanáveis. Irrelevância de haver aprovação pela câmaramunicipal.

Ver: 22.754.

22.728 – Registro de candidato. Deferimento. Decurso do prazo decinco anos desde a decisão do TCE que julgou irregulares contas deprefeito. Contas atuais regulares.

22.754 – Registro de candidato. Deferimento. Contas de prefeitojulgadas irregulares pelo TCE . Prevalência da aprovação das contaspor câmara municipal, em razão da competência privativa do p arlamen-to independentemente da natureza das contas, especial ou anual.

22.761 – Registro de candidato. Deferimento. Dúvida razoável so-bre o trânsito em julgado de decisão de rejeição de contas proferidapelo TCE.

22.771 – Registro de candidato. Deferimento. Contas de presiden-te de câmara municipal julgadas irregulares pelo TCE. Irregularidadessanáveis .

No mesmo sentido: 22.754.

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REGISTRO DE CANDIDATO – CONVENÇÕES

22.288 – Registro de candidato. Indeferimento. Dissolução de di-retório municip al. Realização de convenção por esse diretório sobamparo de decisão liminar em ação cautelar que veio a ser cassada.

No mesmo sentido: Acórdãos n. 22.289, 22.290 e 22.291.

22.304 – Registro de candidato. Indeferimento. Pedido formuladopor eleitor escolhido em convenção invalidada por órgão superior dopartido. Matéria interna corporis de escolha de candidatura.

No mesmo sentido: 22.305.

22.314 – Registro de candidato. Anulação de convenção munici-pal. Abertura de prazo para pedido de registro de novos candidatos .Possibilidade. Matéria interna corporis.

No mesmo sentido: 22.315.

22.341 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de indica-ção de número máximo de candidatos na convenção. Possibilidade deindicação de candidato pela executiva do p artido sem necessidadede aprovação pela convenção, até sessenta dias antes do pleito.

22.368 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de auto-rização do eleitor para a candidatura.

22.386 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de esco-lha em convenção partidária válida.

No mesmo sentido: 22.406, 22.741, 22.743 e 22.767.

22.430 – Registro de candidato. Deferimento. Escolha do candida-to em convenção. Ausência de registro no período oportuno por motivojustificado. Possibilidade de indicação como candidatura remanescen-te no prazo de sessenta dias antes do pleito.

No mesmo sentido: 22.447, 22.542 e 22.718.

22.505 – Registro de candidato. Deferimento. Pedido de registroformulado por partido político e coligação. Partido que não integroutempestivamente a coligação. Registro como candidato do p artido enão da coligação.

22.521 – Registro de candidato. Indeferimento. Dissolução de co-missão provisória municipal. Invalidade dos atos posteriores. Matériainterna corporis.

No mesmo sentido: 22.522 e 22.697.

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22.696 – Registro de candidato. Indeferimento. Indeferimento doregistro da coligação .

22.707 – Registro de candidato. Deferimento. Alegação de irregu-laridades na convenção . Nulidades sanadas. Atos interna corporis.

REGISTRO DE CANDIDATO – ESCOLHA DO NOME

22.494 – Registro de candidato. Variação nominal rejeitada por tersigla de empresa pública, “da Caixa” .

22.495 – Registro de candidato. Variação nominal rejeitada por tersigla de empresa pública, “da CELESC” .

22.528 – Registro de candidato. Variação nominal rejeitada por tersigla de órgão público, “do P AMM” , Posto de Atendimento MédicoMunicipal.

22.549 – Registro de candidato. Variação nominal deferida. Possi-bilidade de uso da expressão “100% Saúde” por candidato servidorde secretaria municipal de saúde.

22.570 – Registro de candidato. Variação nominal rejeitada porcoincidir com a denominação de subsidiária integral de sociedadede economia mist a, “da Liquigás” .

22.629 – Registro de candidato. Variação nominal deferida. Possi-bilidade de uso da palavra “Xerife” por candidato amplamente co-nhecido por esse apelido no município.

22.630 – Registro de candidato. Variação nominal deferida. Possi-bilidade de uso da palavra “Sargento” por inexistência de associa-ção ou semelhança com símbolo, frase ou imagem empregados porórgão público.

22.656 – Registro de candidato. Variação nominal rejeitada por teralcunha que associa o candidato ao poder judiciário mediante a ex-pressão “do Fórum” .

22.760 – Registro de candidato. Variação nominal deferida.Irrelevância da falt a de prenome do candidato.

22.812 – Representação. Improcedência. Impugnação da variaçãonominal complementada pela expressão “da Caixa” . Ausência deimpugnação no momento oportuno.

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REGISTRO DE CANDIDATOPRESTAÇÃO DE CONTAS DE CAMPANHA

22.319 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de quita-ção eleitoral no momento da protocolização do registro. Falta de pres-tação de cont as de camp anha .

No mesmo sentido: 22.357, 22.391, 22.398, 22.399, 22.416, 22.475, 22.479,22.537, 22.556, 22.644, 22.663, 22.672, 22.673 e 22.684.

22.428 – Registro de candidato. Deferimento. Falta de prest açãode cont as de camp anha . Precedente do Tribunal declarando sua des-necessidade em face do indeferimento da candidatura.

22.444 – Registro de candidato. Deferimento. Rejeição de cont asde camp anha referentes à eleição de 2006. Existência de norma doTSE que determina a negativa de certidão de quitação eleitoral a can-didato que teve rejeitadas as suas contas. Efeitos dessa norma aplicá-vel somente a partir das contas referentes à campanha de 2008.

22.550 – Registro de candidato. Indeferimento. Intempestividadeda prest ação de cont as de campanha de 2006. Responsabilidade docandidato pela apresentação.

No mesmo sentido: 22.540, 22.613 e 22.631.

REGISTRO DE CANDIDATOQUITAÇÃO ELEIT ORAL

22.297 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de quita-ção eleitoral no momento da protocolização do registro. Falta de paga-mento de mult a ou justificativa por não-comparecimento a votação.

No mesmo sentido: 22.298, 22.299, 22.401, 22.422, 22.433, 22.453, 22.454,22.485, 22.499, 22.501, 22.514, 22.529, 22.544, 22.545, 22.546, 22.617, 22.618,22.627, 22.628, 22.657, 22.666, 22.674, 22.709, 22.763, 22.778 e 22.780.

22.402 – Registro de candidato. Indeferimento. Ausência de quita-ção eleitoral. Mesário faltoso .

22.416 – Registro de candidato. Quitação eleitoral. Constitucionali-dade do art. 11, § 1o, VI, da Lei n. 9.504/1997 .

No mesmo sentido: 22.297.

22.455 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de paga-mento de mult a por falta a eleição. Falta de pagamento em razão de

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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certidão de quitação eleitoral emitida pelo cartório eleitoral. Pagamen-to após o pedido de registro.

22.459 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de compa-recimento no Referendo de 2005. Ausência de comunicação da deci-são de indeferimento da justificativa .

22.560 – Registro de candidato. Deferimento. Apresentação de jus-tificativa por ausência em votação. Referendo.

22.667 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de quita-ção eleitoral no momento da protocolização do registro. Equívoco docartório eleitoral .

22.778 – Registro de candidato. Indeferimento. Impossibilidade in-dicação p ara vaga remanescente de candidato que já tivera indefe-rido seu registro por falta de quitação eleitoral.

No mesmo sentido: 22.791.

22.784 – Registro de candidato. Deferimento. Quitação eleitoral emrazão do parcelamento do valor de mult a eleitoral antes do pedido deregistro.

REGISTRO DE CANDIDATOSUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS

22.318 – Registro de candidato. Deferimento. Condenação por cri-me de desacato transitada em julgado. Inocorrência de inelegibilidadetrienal.

22.348 – Registro de candidato. Indeferimento. Suspensão de di-reitos políticos em face de condenação criminal transit ada em jul-gado . Desnecessidade de previsão da suspensão na sentençacondenatória.

No mesmo sentido: 22.509.

22.373 – Registro de candidato. Deferimento. Término do prazode suspensão de direitos políticos por improbidade administrativa. Exis-tência de processos criminais que não interferem na elegibilidade.Exigência de lei para exame da vida pregressa.

No mesmo sentido: 22.334, 22.336, 22.337, 22.374, 22.395, 22.404, 22.414,22.415, 22.420, 22.442, 22.460, 22.500, 22.502, 22.520, 22.531, 22.585, 22.607,22.726, 22.754, 22.773 e 22.784.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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22.395 – Registro de candidato. Deferimento. Ausência de trânsi-to em julgado de sentença de suspensão dos direitos políticos porimprobidade administrativa.

No mesmo sentido: 22.414, 22.541, 22.653 e 22.773.

22.456 – Registro de candidato. Indeferimento. Sentença de sus-pensão dos direitos políticos por improbidade administrativa com trân-sito em julgado . Cômputo do período de suspensão a partir do trânsi-to em julgado.

22.460 – Registro de candidato. Deferimento. Condenação crimi-nal sem trânsito em julgado .

No mesmo sentido: 22.744.

22.481 – Registro de candidato. Indeferimento. Crime ambient al.Suspensão dos direitos políticos enquanto durarem os efeitos da con-denação.

22.500 – Registro de candidato. Deferimento. Candidato condena-do por improbidade administrativa por decisão com trânsito em julga-do. Ausência de determinação expressa de suspensão dos direitospolíticos .

No mesmo sentido: 22.425.

22.524 – Registro de candidato. Indeferimento. Condenação porcrime de estelionato contra a administração pública. Inelegibilidadetrienal a partir da extinção da pena.

No mesmo sentido: 22.755 e 23.123.

22.585 – Registro de candidato. Deferimento. Crime ambiental. Exis-tência de transação penal .

22.721 – Registro de candidato. Indeferimento. Condenação porcrime de responsabilidade. Condenação a pena privativa de liberdadee restritiva de direito. Prescrição da primeira pena. Incorrência de pres-crição da pena restritiva em razão de sua autonomia.

22.733 – Registro de candidato. Deferimento. Ação civil públicabuscando a suspensão dos direitos políticos . Ausência de trânsitoem julgado .

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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RESOLUÇÕES DO TRESC

7.562 – Dispõe sobre a revisão do eleitorado do Município deItapiranga.

No mesmo sentido: 7.563 e 7.564 (Itapiranga); 7.565, 7.566 e 7.567 (AnitaGaribaldi); 7.568 (Imaruí); 7.569 (Videira); 7.570 e 7.571 (São Carlos); 7.572 e7.573 (Palmitos); 7.574 (Palhoça); 7.575 (Xanxarê); 7.576 (São Lourenço doOeste); 7.577, 7.607, 7.623, 7.633, 7.634 e 7.646 (São Miguel do Oeste); 7.578,7.589, 7.590 e 7.612 (Maravilha); 7.579, 7.580 e 7.585 (Mondaí); 7.581, 7.582e 7.599 (Joaçaba); 7.583 e 7.584 (Quilombo); 7.586 (Tubarão); 7.587 e 7.630(Turvo); 7.588 (Aberlardo Luz); 7.591 e 7.592 (Rio do Sul); 7.593 e 7.594 (Cam-po Erê); 7.595 e 7.608 (Campos Novos); 7.596, 7.617, 7.621, 7.632 e 7.638(Ituporanga); 7.598, 7.610, 7.625 e 7.626 (Pinhalzinho); 7.600, 7.604 e 7.645(Santo Amaro da Imperatriz); 7.601 (Anchieta); 7.602 (Concórdia); 7.603 (BomRetiro); 7.605, 7.616 e 7.620 (Chapecó); 7.606 (São José do Cedro); 7.609(Brusque); 7.611 e 7.627 (Lages); 7.613 (Canoinhas); 7.614 (Caçador); 7.615,7.622 e 7.637 (Concórdia); 7.618 (Braço do Norte); 7.619 e 7.628 (São José doCedro); 7.624, 7.643 e 7.648 (Taió); 7.629 (São Joaquim); 7.630 e 7.636 (Sea-ra); 7.639 (Joaçaba); 7.640 (Tangará); 7.641 (São João Batista); 7.642 e 7.643(Pinhalzinho); 7.647 (Anchieta); 7.652 (São Domingos); 7.653 (Araranguá) e7.675 (São João Batista).

7.649 – Dispõe sobre a celebração de convênio p ara a realiza-ção de consult as plebiscitárias custeadas com recursos financeirosnão provenientes da União.

7.650 – Institui os serviços de gravação e veiculação ao vivo doaudiovisual das sessões plenárias do TRESC.

7.651 – Consulta. Registro de candidato. Servidor público muni-cipal que exerce funções laborais em município diverso daquele emque pretende concorrer ao cargo de vereador não está sujeito às re-gras da desincompatibilização.

No mesmo sentido: 7.684.

7.654 – Consulta. Caso concreto . Não-conhecimento.

No mesmo sentido: 7.656, 7.658, 7.660, 7.664, 7.666, 7.671, 7.676, 7.679,7.683, 7.687, 7.690, 7.695, 7.711, 7.723, 7.725, 7.730 e 7.736.

7.655 – Consulta. Ilegitimidade postulatória . Vice-prefeito. Não-conhecimento.

No mesmo sentido: 7.657.

7.659 – Revoga a Resolução TRESC n. 7.245, de 15.12.2000.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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7.661 – Consulta. Reeleição . O mandatário que já exerceu o cargode prefeito por dois mandatos consecutivos, ainda que renuncie, nãopoderá concorrer aos cargos de prefeito ou de vice-prefeito no pleitosubseqüente. Porém, caso tenha interesse em concorrer ao cargo devereador, deverá renunciar ao mandato de prefeito até seis meses an-tes das eleições, nos termos do § 6o do art. 14 da Constituição Federal.

7.662 – Dispõe sobre a transformação da especialidade de car-gos efetivos do Quadro de Pessoal do TRESC e altera os Anexos I eII da Resolução TRESC n. 7.459, de 16.1.2006.

7.663 – Altera o art. 1o da Resolução TRESC n. 7.541, de 2.7.2007,que autorizou a realização de concurso público para provimento decargos efetivos do Quadro de Pessoal do TRESC.

7.664 – Consulta. Legitimidade postulatória . Presidente de câ-mara de vereadores. Caso concreto. Não-conhecimento.

Ver: 7.669 e 7.673.

7.665 – Consulta. Condut as vedadas . A teor do disposto no § 10do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, à Administração Pública é vedada adistribuição gratuita de bens, valores ou benefícios, exceto nos casosde calamidade pública, de estado de emergência ou de programassociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercícioanterior.

Ver: 7.674, 7.686, 7.687 e 7.689.

7.667 – Consulta. Matéria já respondida pelo T ribunal . Não-co-nhecimento.

No mesmo sentido: 7.668, 7.677, 7.702, 7.707, 7.712, 7.715, 7.716 e 7.722.

7.669 – Consulta. Ilegitimidade postulatória . Presidente de câ-mara de vereadores. Não-conhecimento.

No mesmo sentido: 7.657, 7.672, 7.673, 7.680, 7.681, 7.718, 7.720 e 7.731.

7.670 – Consulta. Legitimidade postulatória. Delegado regional departido político. Desincomp atibilização . Servidor do fisco . O fiscalque tiver competência ou interesse, direta ou indireta ou eventual, nolançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas, contri-buições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicarmultas relacionadas com essas atividades, estará sujeito às regras pre-vistas no art. 1°, II, “d”, da LC n. 64/1990, tendo que se afast ar do cargosem remuneração, por quatro ou seis meses antes do pleito, conformeo cargo que pretende concorrer.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

244

7.674 – Consulta. Legitimidade postulatória. Secretário de Estado.Ausência de comprovação. Titularidade. Não-conhecimento. Tratan-do-se de consulta cuja resposta é decorrente de claro texto de lei,sem dificuldade interpret ativa , torna-se desnecessário qualquer es-clarecimento suplementar do Tribunal.

Ver: 7.694, 7.701, 7.712 e 7.726.

7.678 – Dispõe sobre as classes processuais e as siglas dosregistros processuais no âmbito do TRESC.

7.682 – Consulta. Desincomp atibilização . O assessor de p arla-mentar federal que pretende se candidatar a vereador necessita sedesincompatibilizar de suas funções três meses antes do pleito.

7.684 – Consulta. Desincomp atibilização . Secretário adjunto oudiretor . Exercício provisório nas funções de secretário municipal. Ne-cessidade de afastamento. Exoneração do cargo em comissão na cir-cunscrição do pleito. Membro de conselho tutelar municipal é equipa-rado a servidor público. O prazo de afastamento é de três meses.

7.685 – Consulta. Ilegitimidade postulatória . Presidente de parti-do político municipal. Não-conhecimento.

No mesmo sentido: 7.730 e 7.732.

7.686 – Consulta. Repasse de auxílios financeiros, contribuições ousubvenções . Entidades sem fins lucrativos e declaradas de utilidade pú-blica. Previsão em lei orçamentária. Lei n. 9.504/1997, art. 73, § 10.

7.688 – Consulta. Reeleição . Desnecessidade de desincompatibi-lização das funções exercidas em consórcio de direito público . Ca-racterísticas de atividades típicas do Chefe do Poder Executivo Muni-cipal.

7.689 – Autorização p ara repasse de verbas públicas . Inexistên-cia de previsão legal. Não-conhecimento.

7.691 – Consulta. Reeleição. O vice-prefeito que tenha sido ree-leito para o mesmo cargo e que em ambos os mandatos substituiu oprefeito, pode concorrer ao cargo de prefeito para o mandato imediata-mente seguinte. Veda-se apenas a elegibilidade se a substituição ocor-rer nos seis meses que antecedem o pleito.

7.692 – Altera a Resolução TRESC n. 7.554, de 28.11.2007, quetrata da indenização de transporte aos oficiais de justiça designa-dos para cumprimento de mandatos provenientes da Justiça Eleitoralde Santa Catarina.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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7.693 – Consulta. Cônjuge de titular de mandato eletivo em exercí-cio do cargo. Separação judicial e posterior união estável. Inelegibili-dade .

7.696 – Consulta. Ilegitimidade postulatória . Advogado. Não-co-nhecimento.

7.697 – Consulta. Indagação formulada que permite diversas in-terpret ações . Circunstância que impede resposta única. Não-conhe-cimento.

No mesmo sentido: 7.703, 7.706, 7.713, 7.714 e 7.721.

7.698 – Dispõe acerca das atribuições e responsabilidades dosservidores lot ados na zonas eleitorais.

7.699 – Dispõe sobre a fluência dos prazos processuais no perí-odo eleitoral relativamente às ações em que for adotado o rito da LCn. 64/1990.

7.700 – Consulta. Propaganda eleitoral. Há proibição legal de dis-tribuição de artigos que propiciem vant agem diret a ao eleitor .

7.704 – Consulta. Inelegibilidade. Parentesco. Vereador cunhadode prefeito é inelegível para concorrer ao cargo de prefeito.

7.705 – Dispõe sobre o plantão judicial durante o período elei-toral .

7.706 – Consulta. Prop aganda p artidária . Veiculação por meio decartazes, folhetos, outdoors e adesivos durante o período eleitoral.Restrições previstas na Lei n. 9.504/1997.

7.708 – Altera o caput do art. 5o da Resolução TRESC n. 7.347, de7.10.2003, que trata sobre os procedimentos a serem observados noprocesso administrativo disciplinar no âmbito do TRESC.

7.709 – Altera a alínea “b” do inciso I do art. 7o da Resolução TRESCn. 7.559, de 11.12.2007, que dispõe sobre a competência dos juízeseleitorais e a distribuição dos processos , bem como de outros pro-cedimentos no municípios sob a jurisdição de mais de uma zonaeleitoral.

7.710 – Consulta – Propaganda eleitoral. Internet. Vedação. A pro-paganda eleitoral na internet somente será permitida na página docandidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral.

No mesmo sentido: 7.713 e 7.714.

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ÍNDICE TEMÁTICO DE ACÓRDÃOS E RESOLUÇÕES

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 179-246, 2009

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7.717 – Consulta. Início do processo eleitoral . Não-conhecimento.

No mesmo sentido: 7.718, 7.719, 7.724, 7.725, 7.727, 7.733, 7.734 e 7.736.

7.728 – Consulta. Realização de comício em bem de uso co-mum . Possibilidade.

7.729 – Altera a Resolução TRESC n. 7.457, de 5.12.2005, quedefine critérios p ara o exercício da jurisdição eleitoral em primeirograu na circunscrição de Santa Catarina.

7.735 – Altera a Resolução TRESC n. 7.285, de 21.5.2002, queregulament a o uso da rede internet e do correio eletrônico no âm-bito do TRESC.

7.738 – Dispõe sobre o curso dos prazos e o funcionamento dascentrais de atendimento ao eleitor no feriado previsto no art. 62, inci-so I, da Lei n. 5.010, de 30.5.1966, na circunscrição de Santa Catarina.

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ÍNDICE

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ÍNDICE POR ASSUNTO

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 247-252, 2009

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ÍNDICE POR ASSUNTO

Aabuso de poder, 181ação de impugnação de mandato eletivo, 203ação de impugnação de registro de candidatura, 59

Bbiometria

ver t ambém eleições biométricasdefinição, 36emprego no processo eleitoral, 37

Ccandidato

ver registro de candidatocaptação de sufrágio, 182cidadania

conceito, 130coligação, 183

dentro de uma mesma circunscrição eleitoral, 12disciplinamento, 11eleições majoritárias e proporcionais, 12verticalização, 14

conduta vedada a agente público, 185

Ddemocracia

conceito, 83desincompatibilização, 188

servidores públicos, 53direito de resposta, 226direitos políticos, 135

Eelegibilidade (condição de)

vida pregressa do candidato, 171, 173eleições biométricas, 35embargos de declaração, 203exceção de suspeição, 204

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ÍNDICE POR ASSUNTO

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 247-252, 2009

250

Ffidelidade partidária, 192

definição, 89filiação partidária, 195

Ggarantias constitucionais

direitos políticos, 135presunção de inocência, 135, 136prisão cautelar, 135

Iimpressão digital

definição, 36infidelidade partidária, 100

perda do mandato, 161, 168inscrição eleitoral, 199investigação judicial eleitoral, 204

Jjuiz eleitoral (criação de cargos)

proposta de emenda constitucional, 71Justiça Eleitoral

o negócio da Justiça Eleitoral, 151

LLei das Eleições

representação, 211liberdade de expressão (eleições)

liberdade de imprensa, 113limitação, 119

Mmagistrados

garantias funcionais, 76, 77mandato eletivo

natureza, 95perda, 103

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ÍNDICE POR ASSUNTO

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 247-252, 2009

251

Ppartido político

definição, 32origem, 31

pesquisa eleitoral, 216Poder Judiciário

garantias institucionais, 77preso provisório

direito de voto, 127prestação de contas, 206

de campanha eleitoral, 216por partido político, 220

propaganda eleitoral, 221direito de resposta, 228no rádio (regulamentação), 113

propaganda institucional, 230propaganda partidária, 231

Rrecurso contra expedição de diploma, 63, 231registro de candidato, 207, 231

alfabetização, 233contas de agente público, 234convenções, 237escolha do nome, 238indeferimento por condenação em segunda instância, 174quitação eleitoral, 239suspensão de direitos políticos, 240vida pregressa do candidato, 171

resoluções do TSEforça de lei, 164

Sservidores públicos

desincompatibilização, 53argüição judicial, 59ausência de, 47prazos, 56

Supremo Tribunal Federalimplementação de direitos e garantias previstos na CF, 162

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ÍNDICE POR ASSUNTO

Res. eleit., Florianópolis, v. 17, p. 247-252, 2009

252

TTribunal Superior Eleitoral

competência, 164

Vverticalização

ver coligaçãovida pregressa do candidato

ver elegibilidadevoto (direito ao)

dos criminalizados pelo sistema penal, 135

Zzona eleitoral

desmembramento, 191