resenha crítica do texto “a imagem-movimento” de gilles deleuze

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Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP Curso de Pós-Graduação em Design Gráfico: Conceito e Aplicação Aluno: Edson Neiva Mutran Jr. Matrícula: 2113102007 Disciplina: Design Animado Professor: Flavio Luiz Matangrano Atividade Domiciliar - Resenha crítica do texto “A Imagem- Movimento” de Gilles Deleuze O texto que aqui se pretende analisar tem como objetivo problematizar as proposições de Henri Bergson (1859-1941) acerca de suas teses sobre o movimento. O amplo interesse do autor pelas matérias, como filosofia, cinema e literatura, o conduziu ao desenvolvimento de um método de análise multidisciplinar para compor suas teses acerca deste objeto tão intrigante: a relação entre imagem e movimento. Ao longo do texto, Gilles Deleuze (1925-1995) pretende resgatar as três teses bergsoniana sobre o movimento. O intuito do autor é nos apresentar as teses bergsonianas de forma a compreender como o estudo deste objeto fez necessária uma reflexão muito mais ampla, se expandindo até a um novo background teórico- filosófico, para analisar a relação entre arte e imagem. Desta forma o papel das novas questões colocadas pelo autor possui grande importância na análise cinematográfica e como se passou a pensar as transformações tecnológicas da modernidade. O surgimento de um método como o da filmagem foi capaz de modificar a visão do homem sobre o tempo e o espaço, assim como o que por eles transita. O movimento tornou-se 1

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Trabalho da disciplina Design Animado.

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Fundao Armando Alvares Penteado FAAPCurso de Ps-Graduao em Design Grfico: Conceito e AplicaoAluno: Edson Neiva Mutran Jr. Matrcula: 2113102007Disciplina: Design AnimadoProfessor: Flavio Luiz MatangranoAtividade Domiciliar - Resenha crtica do texto A Imagem-Movimento de Gilles DeleuzeO texto que aqui se pretende analisar tem como objetivo problematizar as proposies de Henri Bergson (1859-1941) acerca de suas teses sobre o movimento. O amplo interesse do autor pelas matrias, como filosofia, cinema e literatura, o conduziu ao desenvolvimento de um mtodo de anlise multidisciplinar para compor suas teses acerca deste objeto to intrigante: a relao entre imagem e movimento. Ao longo do texto, Gilles Deleuze (1925-1995) pretende resgatar as trs teses bergsoniana sobre o movimento. O intuito do autor nos apresentar as teses bergsonianas de forma a compreender como o estudo deste objeto fez necessria uma reflexo muito mais ampla, se expandindo at a um novo background terico-filosfico, para analisar a relao entre arte e imagem.Desta forma o papel das novas questes colocadas pelo autor possui grande importncia na anlise cinematogrfica e como se passou a pensar as transformaes tecnolgicas da modernidade. O surgimento de um mtodo como o da filmagem foi capaz de modificar a viso do homem sobre o tempo e o espao, assim como o que por eles transita. O movimento tornou-se ento um novo paradigma, pois sua reproduo previa o conflito entre sua prpria essncia, o mover-se, e seu retrato em imagens.A partir deste problema, Deleuze segue sua interpretao afirmando o movimento como algo impossvel de ser retratado de forma cartesiana, isto , a captura do movimento no supe que esta seja obtida como uma reproduo exata dos tempos. O movimento no pode ser retratado atravs do simples concatenar das aes. Este problema tambm se estende ao espao que, por sua vez, tambm no pode ser reduzido ao que os olhos podem ver. O autor nos requere uma ateno especial para compreender como, atravs do cinema, a proposta a criao de um mtodo interpretativo da realidade, de seu tempo e espao e que esta nunca ser idntica a ela.A imagem , portanto, uma construo e possui na arte cinematogrfica sua expresso de forma ilusria. na montagem de um movimento, atravs em cortes instantneos, que a iluso se forma, como uma espcie de verso que o autor da sua histria. A histria do cinema se identifica com os questionamentos dos dois autores. Pois, ao incio do sculo XX, as capturas com pouco quadros e poucos recursos de imagem obtiveram, com o passar das dcadas, o desenvolvimento de mtodos de filmagem to aprimorados que estas iluses de tempo e espao nos parecem hoje to prximas da realidade.Esta mesma sequncia pode ser identificada quando Bergson se prope a analisar o pensamento. Com base em uma filosofia em que o entendimento de nossa realidade tambm compreende um processo de montagem, isto , de forma anloga composio cinematogrfica, o pensamento ou as percepes de um indivduo somente so efetivadas atravs de recortes da viso, de um momento ou situao, que ajudam a recriar um ponto no espao e no tempo.[footnoteRef:1] [1: (...)tiramos fotografias da realidade dinmica que transcorre e logo compomos o que deve ser por meio de um movimento abstrato no aparato do conhecimento. (Traduo nossa) (MARTIN, 2010, p.53)]

A todo instante, o autor e seu comentador esto preocupados em relatar como a relao entre dinamismo e esttica pode ser reconhecida na relao entre imagem e movimento. Ambos apontam para a mudana que a modernidade nos traz; no passado a imagem de um movimento seu retrato possuam um carter muito mais singular do que podemos encontrar hoje. Pensemos no cinema novamente: a revoluo trazida pela arte cinematogrfica foi obtida atravs da captura de momentos especficos, como o voo de uma pomba. Cada nuance e mudana de posio podiam ser identificadas e significavam o reconhecimento de algo singular e nunca visto. No momento em que a arte cinematogrfica passa a integrar um sistema industrial, de produo em massa, os momentos singulares parecem perder sua essncia de unicidade. Isto no significa que eles no possuem sentido, mas que j passam a integrar algo comum. [footnoteRef:2] [2: (...) a cincia antiga cr conhecer suficientemente seu objeto quando nota seus momentos privilegiados, enquanto a cincia moderna o considera qualquer momento. (Traduo nossa) (BERGSON apud MARTIN, 2010, p.55)]

O autor caminha, ento, para a ltima questo colocada por Bergson neste trecho, afirma que o movimento sempre se refere a uma mudana qualitativa. Um simples corte no tempo a fim de capturar o movimento s produz uma iluso, enquanto um movimento com corte mvel nos apresenta uma mudana qualitativa de sua sequncia. [footnoteRef:3] Desta forma, para compreender a relao dos acontecimentos, tambm de seu tempo e espao, necessrio compreender o seu conjunto. O todo no mais algo dado e esttico, pelo contrrio, algo dinmico e que composto medida em que se amplia a percepo do objeto e seu ambiente. Quando delimitamos um conjunto de imagens, movimentos ou mesmo conhecimento, no produzimos fronteiras meramente artificiais, mas sim delimitaes baseadas em conceitos concretos.[footnoteRef:4] [3: DELEUZE, 1985, p.10] [4: O quadro a determinao de um sistema provisoriamente fechado, o plano ou imagem-movimento a determinao do movimento que se estabelece no sistema fechado e a montagem a determinao do todo. Deste modo, o plano o intermedirio entre a concepo do conjunto e a montagem do todo. (Traduo nossa) (MARTIN, 2010, p.57); (DELEUZE, 1985, p.12).]

Deleuze passa, assim, pelas trs teses sobre o movimento e consegue estabelecer uma relao entre os fundamentos de uma filosofia bergsoniana e a percepo humana da arte e seu pensamento. A discusso que ambos nos colocam de grande valor no que se refere ao estudo do cinema e como com seus mtodos de filmagem o autor/diretor capaz de recuperar uma memria, pensamento ou acontecimento atravs de uma complexa reconstruo temporal e espacial em cujo movimento podemos identificar o seu protagonista. Da mesma forma que o objeto provoca mudanas na interpretao de seu ambiente, o ambiente influencia a forma com este objeto compreendido. Atravs das teses de bergson, o autor nos prope uma viso mais ampla para nossas anlises acerca da imagem, do cinema e da arte de forma mais ampla.

BibliografiaDELEUZE, Gilles. A Imagem-Movimento. So Paulo: Ed.Brasiliense, 1985. MARTIN, Jorge. La imagen-movimiento: Deleuze y la relacin Beckett-Bergson.Aret[online]. 2010, vol.22, n.1, pp. 51-68.2