resenha: aprender, ensinar e relações étnico-raciais no brasil
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UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto ICHS - Instituto de Ciências Humanas e Sociais Docente: Dr. Erisvaldo Pereira dos Santos Disciplina: Relações Raciais e Educação – EDU-534 Discente: Waleska Medeiros de Souza
GONÇALVES, Petronilha Beatriz et al. Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil. Educação, v. 30, n. 3, 2007.
O Conselho Nacional de Educação (CNE), conhecedor das desigualdades e
discriminações que abrangem a população negra, convencido de sua função mediadora
entre o Estado, sistemas de ensino e demandas da população na sua diversidade social,
étnico-racial, interpretou as determinações da Lei 10.639/2003 que introduziu, na Lei
9394/1996 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a obrigatoriedade do ensino de
história e cultura Afro-Brasileira e Africana. Esta ação colocou no centro dos
posicionamentos, das recomendações, dos ordenamentos a educação das relações
étnico-raciais.
Neste contexto emergem as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que nos termos do Parecer CNE/CP
3/2004 e da respectiva Resolução CNE/CP1/2004, colocam a educação das relações
étnico-raciais, no centro dos projetos político-pedagógicos das instituições de ensino
dos diferentes graus de ensino.
A população brasileira oriunda de vários grupos étnico-raciais como indígenas,
africanos, europeus e asiáticos aprendemos a nos situar na sociedade por meio de
práticas sociais em que relações étnico-raciais, sociais, pedagógicas nos acolhem, nos
rejeitam ou nos querem modificar. Logo, edificamos nossas identidades seja nacional,
seja étnico-racial ou seja pessoal, desta forma apreendemos e transmitimos nossa visão
de mundo que se expressa nos nossos valores, nossas posturas e nossas atitudes nos
princípios que defendemos e ações que fazemos. Por sua vez, estes complexos
processos cultural, social e histórico brasileiro se alargam com o escopo de manter ou
superar o projeto de nação racializado, isto é, não há espaço para negros, indígenas e
mestiços, classificados ao longo dos séculos como pertencentes a raças bárbaras.
A tarefa é complexa ao tratar de processos de ensino e aprendizagem em
sociedades multiétnicas e pluriculturais, como é o caso do Brasil. Abordar o tema com
competência e sensatez requer dos pesquisadores(as) e dos professores(as) que não
façam vista grossa para as tensões inerentes as relações étnico-raciais que
“naturalmente” estão presentes no dia-a-dia do povo brasileiros. A sociedade brasileira
projeta-se como branca por este motivo este profissional deve estar atento para não
reduzir a diversidade étnico-racial da população a questões de simples ordem
econômico-social e cultural. Estes profissionais devem buscar desconstruir a equivocada
crença de que vivemos numa democracia racial.
Na história de construção do Brasil, os povos indígenas viram-se constrangidos
por tentativas de fazê-los esquecer sua língua, sua religião e sua cultura. Estas ações
esperavam que os índios esquecessem sua cultura ao ponto de adotar o cristianismo
como sua religião e de rejeitar hábitos e costumes de seus povos, passando a preferir o
aspecto português, dito “mais civilizado”.
Ao se pensar nas tentativas de assimilação, por parte da escolarização dos povos
submetidos política e ideologicamente aos sistemas dos colonizadores europeus, no
Brasil, além dos indígenas, também devemos ponderar a situação dos africanos escravizados e seus
descendentes. A estes sujeitos foram negados a possibilidade de aprender a ler e a escrever e quando
podiam aprender era com o intuito de incutir-lhes representações negativas de sua origem e
convencê-los de que deveriam ocupar lugares subalternos na sociedade, inerentes das relações de
poder. Para esta sociedade ser negro era visto como enorme desvantagem, utilizava-se a educação
para despertar e incentivar o desejo de ser branco.
O Estado brasileiro nem sempre ignora as discriminações provocadas pelo
ocultamento da diversidade da população, nem as consequências que estes problemas
acarretam. Desta forma, a promulgação da Constituição Nacional de 1934 repudiou a
discriminação racial, apesar de ter prescrito a eugenia. Já a promulgação da
“Constituição Cidadã”, de 1988, reconhece a diversidade da população brasileira e
garante o direito à cultura própria e ao conhecimento das demais culturas formadoras da
nação. A Constituição de 1988 torna o racismo um crime inafiançável e imprescritível.
Os brasileiros são originários de uma construção social que atribui aos brancos e
aos europeus a cultura que dizem clássica e a ser seguida. Muitas vezes ignoramos que
os egípcios eram um povo negro também, e que os conhecimentos que eles difundiram,
estão no nascedouro da filosofia e das ciências e que costumeiramente são atribuir aos
gregos e a outros europeus.
Este processo histórico, social e cultural que permeia os afrodescendentes nos
fazem descobrir que pessoas espezinhadas, que economicamente despossuídas, que
culturalmente desvalorizadas, que mesmo vivendo em circunstâncias de opressão são
capazes de reconstruir positivamente seus jeito de ser, viver, pensar, apoiados em
valores próprios a seu pertencimento étnico-racial. Este processo pode ocorrer de forma
mais perene desde que a sociedade quebre o paradigmas racial que acerca do
branqueamento dos povos.