resenha a questão social no brasil - a difícil construção da cidadania

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7/21/2019 Resenha A Questão Social No Brasil - A Difícil Construção Da Cidadania http://slidepdf.com/reader/full/resenha-a-questao-social-no-brasil-a-dificil-construcao-da-cidadania 1/10 A questão social no Brasil: a difícil construção da cidadania  Amélia Cohn nos coloca que temas como: violência, pobreza, desemprego, trabalho infantil, criminalidade, etc, são identificados pelo senso comum como problemas sociais, ou como uma questão social. Porém, termos como questão social , cidadania e cidadão, são empregados em diversas situa!es com certa imprecisão e simplismo, sendo estes temas comple"os. #econhecendo tal comple"idade, a autora em seu te"to visa $sintetizar os v%rios conte&dos ' e suas consequências ' que a questão social  assume no decorrer deste século( )cabe ressaltar que o te"to da autora é de *+++. -/0123 03C4A5: 6/ P#375/8A 03C4A5 A 379/13 6A P3514CA Questão social , na maioria das vezes, é entendida enquanto mazelas sociais, sendo então sin;nimo de $problemas sociais(. /stes, por sua vez, seriam fen;menos sociais que ultrapassariam uma condião de $normalidade( )ou condião de $aceitaão(, obedecendo determinados critérios. 3s critérios podem ser tanto éticos )fome, pobreza, analfabetismo infantil, velhice desamparada, etc como morais  )violência, tr%fico e consumo de drogas, homic<dios, latroc<nio, etc. /m verdade, as dimens!es = ética e moral  ' estão imbricadas, portanto, estando interligadas quando diante de quest!es sociais ou problemas sociais.  A autora ressalta que é frequente a associaão estabelecida $entre a presena de determinada questão social e o que ela representa, em termos reais mas também potenciais, enquanto ameaa > seguridade social(. Porém, cabe aqui colocarmos uma distinão constatada pela autora. ?en;menos sociais como pobreza, fome, entre outros, tende a ser indese@%veis e inaceit%veis, porém, tais situa!es não são entendidas no imagin%rio social como ameaa > ordem social, sendo então toler%veis. 9% fen;menos como homic<dio, latroc<nio, entre outros, são identificados no imagin%rio como $ameaa > ordem social e, portanto > segurana individual do cidadão(, sendo assim intoler%veis, devendo então ganhar especial atenão no seu enfrentamento. Assim $determinados fen;menos tidos como mais ou menos indese@adas, porém toler%veis, tendem a se tornar socialmente intoler%veis(

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O texto coloca a discussão em relação à ideia de questão social, e como ela foi se modificando historicamente, apontando as direções pelas quais a cidadania no Brasil veio (e ainda vem) sendo construída, ainda que (como o título mesmo elucida) como uma construção de difícil andamento.

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7/21/2019 Resenha A Questão Social No Brasil - A Difícil Construção Da Cidadania

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A questão social no Brasil: a difícil construção da cidadania

 Amélia Cohn nos coloca que temas como: violência, pobreza,

desemprego, trabalho infantil, criminalidade, etc, são identificados pelo senso

comum como problemas sociais, ou como uma questão social. Porém, termos

como questão social , cidadania  e cidadão, são empregados em diversas

situa!es com certa imprecisão e simplismo, sendo estes temas comple"os.

#econhecendo tal comple"idade, a autora em seu te"to visa $sintetizar os

v%rios conte&dos ' e suas consequências ' que a questão social  assume no

decorrer deste século( )cabe ressaltar que o te"to da autora é de *+++.

-/0123 03C4A5: 6/ P#375/8A 03C4A5 A 379/13 6A P3514CA

Questão social , na maioria das vezes, é entendida enquanto mazelas

sociais, sendo então sin;nimo de $problemas sociais(. /stes, por sua vez,

seriam fen;menos sociais que ultrapassariam uma condião de $normalidade(

)ou condião de $aceitaão(, obedecendo determinados critérios. 3s critérios

podem ser tanto éticos  )fome, pobreza, analfabetismo infantil, velhice

desamparada, etc como morais  )violência, tr%fico e consumo de drogas,

homic<dios, latroc<nio, etc. /m verdade, as dimens!es = ética e moral  ' estão

imbricadas, portanto, estando interligadas quando diante de quest!es sociais

ou problemas sociais.

 A autora ressalta que é frequente a associaão estabelecida $entre a

presena de determinada questão social e o que ela representa, em termos

reais mas também potenciais, enquanto ameaa > seguridade social(. Porém,

cabe aqui colocarmos uma distinão constatada pela autora. ?en;menossociais como pobreza, fome, entre outros, tende a ser indese@%veis e

inaceit%veis, porém, tais situa!es não são entendidas no imagin%rio social

como ameaa > ordem social, sendo então toler%veis. 9% fen;menos como

homic<dio, latroc<nio, entre outros, são identificados no imagin%rio como

$ameaa > ordem social e, portanto > segurana individual do cidadão(, sendo

assim intoler%veis, devendo então ganhar especial atenão no seu

enfrentamento. Assim $determinados fen;menos tidos como mais ou menosindese@adas, porém toler%veis, tendem a se tornar socialmente intoler%veis(

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quando associados a fen;menos que ameacem a ordem social, conforme

apresentado acima. m e"emplo bem ilustrativo dessa ocorrência é o caso de

associaão frequente que se faz entre pobreza e violência, assim como é

comum a associaão da pobreza > problemas sociais. @ustamente a partir 

desse tipo de associaão $que a Bquestão social é equacionada, traduzida em

programas e pol<ticas sociais, e implementada(.

Da sequência a autora traz um histErico da questão social no pa<s a

partir do final do século F4F. Ao final deste século, marcado por um movimento

inicial de industrializaão do pa<s com a formaão de conglomerados urbanos,

os problemas sociais são ligados a dois elementos b%sicos: carência de

recursos, tanto materiais como intelectuais, o que impediria os indiv<duos de

sobreviverem por conta prEpriaG pobreza entendida como um problema

individual, sendo o seu combate também pertencente > esfera individual e

privada de cada um. Assim, como coloca a autora, a questão social e os

$problemas sociais são da esfera da responsabilidade da filantropia(, portanto,

das a!es $benevolentes( das elites para com os desassistidos. H esfera

p&blica, o /stado, cabia > manutenão da ordem social e a segurana dos

cidadãos )estes que eram somente >s elites econ;micas e pol<ticas do pa<s, a

oligarquia agr%ria.

3 pobre nesse conte"to era $@% o criminoso, o violento, o que ameaa a

ordem p&blica e vai ao encontro dos bons costumes, dada sua situaão de

Bcarência(, tanto material como intelectual e cultural. /m s<ntese, naquela

época, a $questão social era algo pertinente > esfera privada(, de assistência

filantrEpica )a@uda aos necessitados, pobres, uma vez que não era uma

questão do /stado )este que atendia apenas as demandas e interesses dos

considerados cidadãos IelitesJ, estando os pobres fora da condião decidadãos.

Das três décadas iniciais do século FF )até a #evoluão de KLM+, o

7rasil passa por transforma!es econ;micas e sociais, com intensificaão do

processo de urbanizaão e industrializaão, emergência de novos segmentos

sociais )tendo destaque para as classes assalariadas urbanas, estas formadas

em grande parte por imigrantes europeus com fortes tradi!es na luta oper%ria

de inspiraão anarquista. /sse per<odo foi marcado por intensas greves detrabalhadores )destaque para o movimento oper%rio, lutando para obtenão de

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direitos b%sicos com vistas a melhorarem suas $condi!es de vida e trabalho(.

6entro deste conte"to, em que pese a atuaão episEdica e pontual do /stado

no que tange >s quest!es sociais, a responsabilidade filantrEpica ainda segue

predominando sobre a questão.

Da década de KL*+, e sobretudo na década de KLM+, sob o Noverno

Oargas, depois das muitas lutas oper%rias nas décadas anteriores, se cria a

concepão de associar a questão social  ao trabalho. Desse conte"to, cidadão

)inserido via trabalho se diferencia dos pobres. A questão social dos

trabalhadores )urbanos torna=se $uma questão de cidadania(. Aqueles que

estão fora do mercado de trabalho ' os pobres ' continuam sendo

dependentes das a!es filantrEpicas. 0endo assim, a questão social da

pobreza continua sendo de responsabilidade da esfera privada.

Portanto, é $via trabalho  que determinados  problemas sociais  da

realidade brasileira transformam=se em questão social , e como algo pertinente

> esfera p&blica, )... ao mbito da pol<tica(, sendo agora de responsabilidade

do /stado, que agiria de modo regulamentado e permanente. Assim tem=se

uma diferenciaão entre problemas sociais e quest!es sociais: $enquanto os

primeiros dizem respeito a coisas e fen;menos indese@%veis, porém aceit%veis

de com eles se conviver )portanto os problemas sociais seguem sob

responsabilidade da filantropia, as segundas remetem > esfera do

reconhecimento de alguns desses fen;menos como legítimos, e como tal

devendo ser enfrentados pela coletividade, constituindo=se e regulando=se

assim determinados padr!es de solidariedade social(.

-/0123 03C4A5 / 64#/4130 03C4A40: C46A6AD4A / 1#A7A5Q3

Do que tange > questão social, o /stado brasileiro sempre evitou onerar 

os cofres p&blicos. Portanto, nunca houve um pacto distributivo dos recursos.

9unto a isso, tem=se a questão de que no 7rasil, a questão social ao estar 

vinculada ao mercado de trabalho, não sendo, portanto, vinculada > ideia de

cidadania )em um sentido amplo e universal, acabou por criar uma perversa

situaão nas pol<ticas sociais implementadas.

0egunda a autora, $os direitos sociais no 7rasil até ho@e )ano *+++traduzem=se em pol<ticas e programas sociais que se dirigem a dois p&blicos

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distintos: os cidadãos e os pobres(. Aos cidadãos )contribuintes garantem=se

direitos sociais, como um sistema de proteão social, por e"emplo, a

previdência social. Aos pobres )não contribuintes restam as $pol<ticas e

programas sociais de car%ter filantrEpicos eRou focalizados em determinados

grupos reconhecidos como mais carentes e Bsocialmente mais vulner%veis(.

Do pa<s configuram=se três tipos de pol<ticas sociais: as dependentes

dos recursos da nião, como sa&de p&blicaG as que dependem do oramento

da nião, mas com recursos previamente vinculados, caso da educaãoG e as

com $recursos não provenientes dos cofres p&blicos, como é o caso da

previdência social(.

6esse modelo de configuraão de pol<ticas sociais )vinculado aos

recursos da nião que emerge a construão de um trao paternalista e

clientelista do /stado brasileiro em relaão > questão social. Assim, $as

pol<ticas sociais do /stado reproduzem a subalternidade dos segmentos mais

pobres da populaão, reforando assim seu auto=reconhecimento como

su@eitos dependentes dos favores personalizados do /stado ou indiv<duos de

membros das elites pol<ticas, locais, estaduais eRou nacionais(.

0egunda a autora, duas caracter<sticas marcam o modo como $a

questão social é enfrentada no pa<s(: a relaão antin;mica )ou antag;nica

entre pol<ticas econ;micas e pol<ticas sociaisG e o car%ter centralizador do

/stado, que ao implementar pol<ticas sociais verticalizadas, concebe=se como o

$agente modernizador da sociedade(, sendo, portanto, um /stado de car%ter 

tutelar.

Com relaão ao /stado tutelar, tem=se uma herana permanente no

sistema de proteão social, que em decorrência do vinculo do trabalho >

questão social  acabou por colocar as classes assalariadas em condião desubalternidade em relaão ao /stado, impossibilitando uma cidadania plena,

tendo=se no lugar, pois, uma cidadania regulada.

 Assim, coloca a autora, $verifica=se no pa<s a consolidaão de um

sistema de proteão social que apesar de se desenvolver em duas vertentes

paralelas ' a dos direitos sociais e a da filantropia ' não as diferencia quanto

ao seu trao paternalista e conservador, associando a Bigualdade perante a lei

> pol<tica do favor, do compadrio, do favoritismo(.

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/m resumo, segundo Cohn, $o enfrentamento da Bquestão social no pa<s

é sempre estreitamente vinculado > modernidade atribu<da >s nossa elites

pol<ticas, e por consequência ao /stado 7rasileiro, que a regula e legitima

segundo seus prEprios interesses, preservando assim sempre Bpor antecipaão

a ordem social vigente(.

-/0123 03C4A5: C46A6AD4A / 8/#CA63

Do 7rasil, coloca a autora, vive=se uma situaão parado"al no que tange

>s pol<ticas sociais. 3 primeiro parado"o consiste no fato de que a

implementaão dos direitos sociais tenham ocorrido nos per<odos de regimes

autorit%rios. 9unto a esse parado"o que se construiu o parado"o seguinte: os

segmentos sociais que mais se beneficiam das pol<ticas e programas de

proteão social são respectivamente os não=pobres, depois os pobres, e em

seguida os mais pobres entre esses, caracter<stica essa do modelo criado

pelos regimes autorit%rios do pa<s. Com isso, v%rios analistas apontaram que

as pol<ticas sociais aqui implementadas $não sE reproduzem as desigualdades

sociais @% e"istentes )... como também reproduzem a subalternidade dos

dominados(.

/sse modelo criou no imagin%rio social de que direitos sociais devem ser 

pagos, e que servios gratuitos )servios estatais são caridade, filantropia do

/stado. Assim os usu%rios desses servios não se veem enquanto cidadãos,

portadores de direitos, mas sim enquanto carentes, que dependem da boa

vontade estatal. 0egundo a autora, em $nossa cultura pol<tica, as redes sociais

e as amizades transformam=se em valioso capital social, uma vez que é

através delas que o cidadão comum ter% alguma chance de acesso aos bensde consumo coletivo e aos benef<cios sociais b%sicos(.

Oe@amos agora como se estabeleceram as rela!es entre cidadania e

mercado ao longo da tra@etEria de pol<ticas sociais no 7rasil #epublicano.

/m KL*M, surge o sistema de proteão social, calcado na previdência

social via contribuião compulsEria de $setores assalariados urbanos da

iniciativa privada( e dos prEprios empregadores. Do pEs=KLM+ )com a criaão

da legislaão trabalhista passam a se organizar por ramos de atividade e nãomais por empresa. 1em=se assim, como padrão de proteão social: a

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previdência social, que institui $um padrão de solidariedade entre os

trabalhadores do setor privado da economia(G a legislaão trabalhista e sindical,

que regulamentam as rela!es entre capital e trabalho. /sse padrão tem o seu

n&cleo na condião do trabalho livre e assalariado, estando inserido no

mercado formal de trabalho. Porém, esse padrão ser% modificado no final da

década de KLL+, $quando as propostas de Breforma do /stado atingem esse

sistema de proteão social(, com a elite combatendo esse sistema que era

considerado oneroso para o modelo de fle"ibilizaão e competião da

economia global.

 A partir dos anos KLS+ tem=se uma nova forma de articulaão entre

cidadania e mercado. Desse conte"to a um processo de privatizaão dos

servios sociais com o /stado comprando $servios produzidos pela esfera

privada da economia(. 0egundo a autora, $através de subs<dios e da compra de

servios privados pelo /stado, floresce e se constitui um robusto setor privado

de produão de servios, cabendo > educaão e > sa&de os ramos de

atividade paradigm%ticos que ilustram esse processo(. Assim, o /stado

fomenta o mercado privado produtor desses servios )processo esse que se

acentua pEs=golpe de KLTU, contribuindo para o processo e acumulaão e

reproduão do capital.

 A partir de meados da década de KLL+ )governo ?QC articula=se uma

nova relaão entre cidadania e mercado: não é mais via mercado de trabalho

que se estabelece os padr!es de solidariedade social, mas sim via mercado de

consumo. Desse conte"to também se promove a@ustes estruturais na

economia, que acarretou no processo de desinstitucionalizaão de direitos,

tanto da esfera do trabalho como aqueles que garantiam o acesso a bens

essenciais de consumo coletivo. /ssa fase foi marcada pela $fle"ibilizaão dasrela!es de trabalho(, terceirizaão de setores do processo produtivo )com

vista a diminuir $custos sociais( da produão, visando promover maior 

competitividade na economia global, medida essa que afetou e corroeu

direitos sociais que eram de responsabilidade do /stado. /sse a@uste realizado

na economia parte de dois pressupostos: reduão da atuaão do /stado na

economia )levando > terceiriza!es e privatiza!esG reduão dos gastos

p&blicos )estes que afetam diretamente os direitos sociais. 1em=se assim, umareforma no sistema de proteão social, onde passa prevalecer não mais a

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condião de cidadão no mercado de trabalho, mas sim a $condião de cidadão

enquanto capacidade de consumo e de poupana individual(. Com isso, $o

acesso > satisfaão de necessidades sociais b%sicas diferencia=se dos direitos

sociais, e torna=se funão da capacidade de poupana individual de cada um(.

6e um modelo de solidariedade social passa=se $para a lei de Bcada um por si,

retirando=se desse sistema de proteão social todo e qualquer car%ter de

solidariedade social redistributiva e compensatEria das desigualdades sociais(.

instigante o fato do $Bdesmonte dos direitos sociais b%sicos do

cidadão( ocorrer dentro da ordem democr%tica recém=reconstitu<da. 1al

ocorrência demonstra que as elites pol<ticas do pa<s ainda não enfrentam a

questão de articular democracia pol<tica > democracia social.

Como @% mencionado, com a destituião dos direitos sociais, esses

passam a pertencer > esfera individual. Com isso os direitos passam a ser 

individuais e não mais sociais, dependendo assim das condi!es de consumo

dos indiv<duos e sua capacidade de poupana para pagar pela garantia de

seus direitos, não levando em conta a condião de inserão dos indiv<duos no

mercado de trabalho. /m &ltima instancia o que vale é a condião de

contribuinte dos indiv<duos, sendo assim a proteão social não é mais um

direito, mas sim uma mercadoria a ser consumida por aqueles que podem

pagar.

/m s<ntese, $a Bquestão social no 7rasil )... não )é mais uma questão

de inclusão social via trabalho, )... mas via consumo, )... )prevalecendo novos

padr!es de regulaão social e que consistem e"atamente num processo de

desregulaão dos direitos de cidadania regulada  até então vigentes e de

ruptura de contratos sociais preestabelecidos(.

-/0123 03C4A5: A DA1#A54VAW23 6A P37#/VA

Do que tange > questão social, tem=se um deslocamento de $uma

an%lise global do sistema )... para uma perspectiva focalizada nos segmentos

mais vulner%veis da populaão(. 1al movimento gerou $uma simplificaão do

social por parte do coletivo( além de reforar a perda das identidades coletivas,

uma vez que se faz uma distinão interna entre os grupos considerados $mais

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vulner%veis( e os considerados cidadãos por se inserirem no sistema de

proteão social via mercado de consumo.

0egundo a autora, as desigualdades sociais no 7rasil tendem a se

acentuar, sendo percebidas enquanto $velha( pobreza )de car%ter estrutural de

longa duraão na nossa histEria e $nova( pobreza )est% gerada pelo a@uste

estrutural recente da economia.

Cohn coloca que, não prevalecendo mais o padrão de inclusãoRe"clusão

social pautado pelo trabalho, e com a impossibilidade de integraão social pelo

mercado de consumo, cria=se novas formas de polarizaão que vão além da

questão de classe social. Desse momento tem=se a polarizaão

globalizáveis/não-globalizáveis, ou se@a aqueles que estão inclu<dos no

processo de globalizaão econ;mica via mercado de consumo, e aqueles que

se encontram > margem desse sistema, portanto, os e"clu<dos.

6entro desse conte"to, a pobreza é naturalizada como fruto do processo

de globalizaão da economia. /sse discurso nos remete > volta do

entendimento da pobreza como um $problema social(, somente entendida

enquanto $questão social( quando est%, por meio de uma avaliaão técnica, é

considerada como ameaa > ordem social vigente. 0egundo a autora, a

$pobreza é então enfrentada por meio de pol<ticas p&blicas sociais focalizadas

naqueles grupos identificados segundo determinados parmetros técnicos

como Bsocialmente mais vulner%veis, conclamando o setor privado e a

sociedade para colaborarem nessa empreitada que busca promover o Bal<vio da

pobreza(.

Com o debate pol<tico voltado para a questão do $al<vio da pobreza(,

perde=se de vista a questão da desigualdade social vigente no pa<s. As

pol<ticas de combate a pobreza sempre são acompanhadas pelo discursosobre a escassez de recursos para prover tais programas, e para tanto, ao

dizer que o /stado não consegue fazer tudo, as elites pol<ticas conclamam >

esfera privada e a sociedade para au"iliar no combate da pobreza por meio de

a!es filantrEpicas como meio de $garantia da satisfaão de determinadas

necessidades sociais b%sicas(. /ssa é a medida que atua )ineficiente, ali%s

numa sociedade marcada por grande desigualdade social, fruto da enorme

concentraão de renda e"istente no pa<s.

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 A autora coloca que diante de tamanha desigualdade social, se torna

imprescind<vel a presena do /stado, devendo este atuar de forma a promover 

pol<ticas redistributivas. Assim, para autora, é urgente a presena de um

/stado que enfrente o desafio de conciliar democracia formal e democracia

real, democracia pol<tica e democracia social, comeando pela democratizaão

do prEprio /stado, para então se enfrentar o problema da desigualdade social.

C3D046/#AWX/0 ?4DA40: D/8 163 /01Y P/#6463

 A autora coloca que é necess%rio ultrapassarmos $as velhas fronteiras

cl%ssicas que delimitam o espao da pol<tica numa ordem burguesa(, que

destrEi o espao p&blico do pa<s. Assim, para Cohn, devemos lutar para a

$construão de uma ordem social mais democr%tica, em que se supere de vez

a subordinaão das quest!es sociais aos ditames dos parmetros

econ;micos(. Com isso torna=se necess%rio a consolidaão de uma ordem

democr%tica, para que se desloque $a questão social do mbito da pobreza

para o da desigualdade social(, transformando $a questão social numa questão

redistributiva de riqueza e poder(.

 Assim, a questão social est% na melhor distribuião de renda, como

elemento fundamental para a construão da cidadania plena, com os cidadãos

sendo entendidos como su@eitos que possuem direitos. Para tanto é preciso,

como @% mencionado, deslocar a questão social da pobreza )al<vio da pobreza

num curto prazo com pol<ticas focalizadas para o campo da desigualdade

social )visando resultados de superaão da pobreza Ino médio e longo prazoJ

estrutural gerada pela grande concentraão de renda, o que implica a aão do

/stado como agente de redistribuião de renda com vistas a combater >sdesigualdades sociais. 1ais medidas, segundo a autora, possibilitarão assim a

$constituião de novos espaos de construão de novas identidades sociais, e

de novos padr!es de integraão social(.

Z 1odos os trechos entre aspas são cita!es do te"to.

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C3QD, Amélia. A questão social no 7rasil: a dif<cil construão da cidadania. 4n:

831A, Carlos Nuilheme )org.. Viagem incompleta:  a e"periência brasileira

)KS++=*+++: a grande transaão. 0ão Paulo: 0/DAC, *+++.