resenha 1 - deleuze logica do sentido - prologo primeira e segunda serie de proposiçoes

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

    DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

    RESENHA 1 LGICA DO SENTIDO (GILLES DELEUZE)

    ALUNA: RENATA DE C. NARDELLI

    PROFESSOR(A): ANA CLAUDIA MONTEIRO

    DISCIPLINA: ESTUDOS COMPLEMENTARES EM TEORIAS E SISTEMAS PSICOLGICOS

  • Nesses trs captulos iniciais da obra intiulada Lgica do Sentido, Gilles Deleuze nos

    apresenta uma releitura da teoria dos esticos para embasar sua proposio sobre o devir se

    importando, mais epsecificamente, sobre as cpias e simulacros, ideias advindas das consideraes

    platnicas.

    O platonismo inaugura o domnio da representao, definido numa relao instrnseca ao

    modelo e fundamento (original). Isto , era proposto um mundo ideal, considerado o modelo e a

    partir deste, tudo aquilo presente no mundo vivvel apresenta-se como cpia daquele disposto no

    mundo ideal. Nesse sentido, havendo representao de algo existente nesse mundo vivvel, isto

    entendido como a cpia da cpia, ou seja, simulacro. Pensando desta forma, quanto maior a

    quantidade de cpias, maior a distncia do ideal, do modelo.

    Sob esse aspecto, quando Deleuze analisa o simulacro, definido por Plato, prope uma

    inverso, direcionada criao, positivando a noo de simulacro. Para tanto, ele faz um recuo

    terico-conceitual teoria dos estoicos e foca-se nos efeitos de superfcie.

    Cabe, de modo breve, recuperar as consideraes de Brhier, ao nos mostrar o embate entre

    o que Plato identificava como propriedade de um ser a presena de uma Ideia e o esforo dos

    esticos em contrap-lo de modo a afirmar que no h interveno externa qualidade do estado

    corporal, uma vez que para estes as propriedades tambm so corpos.

    Pensando essa perspectiva, Deleuze nos indica, ainda, que os esticos entendem, em sentido

    geral, que tudo corpo, porm, reservam para o exprimvel, o vazio, o lugar e o tempo a condio

    de elementos incorporais. Ele dir ainda:

    os esticos, por sua vez, distinguiam duas espcies de coisas: 1) os

    corpos, com suas tenses, suas qualidades fsicas, suas relaes, suas aes

    e paixes e os estados de coisas correspondentes () s os corpos

    existem no espa e s o presente no tempo. 2) todos os corpos so causas

    uns para os outros, uns com relao aos outros, mas de que? So causas de

    certas coisas de uma natureza completamente diferente (DELEUZE, 1969:

    p.5).

    A partir dessa citao possvel entender ao que Deleuze se refere no item 2. So na

    verdade os efeitos de superfcie, os incorporais, os acontecimentos. Isto , o resultante do encontro

    entre dois corpos.

    Para alm do resgate terico da perspectiva estica, vale destacar o que Deleuze comenta na

    primeira parte do texto sobre devir para posterior articulao com a sua inverso da teoria platnica.

    Para o autor, o devir nunca , uma vez que ele sempre remete uma temporalidade que no pode ser

    paralisada, que est sempre em relao.

    Quando se fala que o devir no suporta a separao nem a distino do antes e do depois

  • ou que o paradoxo a afirmao dos dois sentidos ao mesmo tempo cria-se, ao meu ver, uma

    noo de algo que est sendo puxado em dois sentidos (opostos) com uma mesma fora para ambos

    os lados e que, consequentemente, no sai do lugar. Pensando sobre isso, entende-se que o

    movimento do devir justamente esse, paradoxal, que habita e d condio de possibilidade para

    que ambos os sentidos coexistam. Porm essa paralisao artificial, ficcional, geradora de

    violncia forjada por sua vez de uma nova quebra, possibilidade para garantir a continuidade do

    devir.

    Nesse sentido, a vida est em constante transformar-se, mas ns, as vezes, paralisamos esse

    constante devir, quando damos sentido as coisas, atravs da linguagem. O mesmo pode ser

    observado no conto de Ulisses ao no sucumbir ao canto das sereias, amarrado no barco. A

    paralisao, portanto, o memento em que nos fixamos aos sentidos para destinar nossas angstias

    e outros (demais) sentimentos, em ultima e grosseira anlise, nossa existncia.

    A linguagem, por sua vez, tem carter paradoxal uma vez que funciona ao mesmo tempo

    como estrutura e ferramenta, permitindo a organizao e apropriao de sentido, mas tambm

    possibilita os deslises com a ironia e o humor.

    Sob esse aspecto, o sentido que damos as coisas tambm pode assumir carter paradoxal

    pois sempre comporta o no-sentido, necessariamente. Ou seja, para tudo aquilo que designamos e

    destinamos um sentido, perdemos as possibilidades de ser outras coisas.

    Por fim, Deleuze est focado nos efeitos de superfcie uma vez que se fala-se de profundezas

    intui-se por algo que permanece. Mas, ao contrrio, ele est interessado justamente naquilo que est

    em constante movimento (puro devir). Para tanto, s possvel perceb-lo na superfcie, uma vez

    que nesta que se forjam os acontecimentos.