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Psychê ISSN: 1415-1138 [email protected] Universidade São Marcos Brasil Rudge, Ana Maria Reseña de "A criança e o infantil em psicanálise. Psicanálise de criança" de Silvia Abu-Jamra Zornig Psychê, vol. V, núm. 8, julho-dezembro, 2001, pp. 215-216 Universidade São Marcos São Paulo, Brasil Available in: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=30700817 How to cite Complete issue More information about this article Journal's homepage in redalyc.org Scientific Information System Network of Scientific Journals from Latin America, the Caribbean, Spain and Portugal Non-profit academic project, developed under the open access initiative

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Page 1: Reseña de" A criança eo infantil em psicanálise. Psicanálise de

Psychê

ISSN: 1415-1138

[email protected]

Universidade São Marcos

Brasil

Rudge, Ana Maria

Reseña de "A criança e o infantil em psicanálise. Psicanálise de criança" de Silvia Abu-Jamra Zornig

Psychê, vol. V, núm. 8, julho-dezembro, 2001, pp. 215-216

Universidade São Marcos

São Paulo, Brasil

Available in: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=30700817

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Psychê — Ano V — nº 8 — São Paulo — 2001 — p. 215-216

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ZORNIG, Silvia Abu-Jamra. A criança e o infantil em psi-

canálise. Psicanálise de criança. São Paulo: Escuta, 2000.

ISBN 85-7137-163-6.

Em seu livro recém-lançado, A criança

e o infantil em psicanálise, SilviaZornig, psicanalista com vasta experiên-cia na clínica com crianças, expõe e ana-lisa, com rigor e sensibilidade, muitas dasquestões fundamentais surgidas nessecampo, fundado há muitos anos pelos tra-balhos de Anna Freud – filha dileta dofundador da Psicanálise – e de MelanieKlein – talvez a mais influente figura napsicanálise inglesa. A partir das diferen-tes propostas apresentadas por essas duasanalistas, pioneiras no atendimento psi-canálitico a crianças, surgiram muitascontrovérsias que até hoje não perderamsua atualidade e que, historicamente, di-vidiram a Sociedade Britânica de Psica-nálise entre a posição de Klein – analistavienense, com formação em Budapeste eBerlim, a ela filiada desde 1927 – e a deAnna Freud que, tendo se mudado paraLondres na companhia de seu pai, em1938, fugindo da ocupação hitlerista daÁustria, imediatamente tornou-se mem-bro desta sociedade.

Para Anna Freud, a dependência dacriança inviabilizaria uma verdadeira aná-lise, já que sua intensa ligação afetiva aospais interferiria na possibilidade da for-mação de um vínculo amoroso ao analis-ta – a transferência – necessário ao trata-mento. Preconizava uma intervenção decunho pedagógico, que Klein recusava.Para esta, a análise de crianças pequenasé possível nos mesmos moldes que a dosadultos, pois são as fantasias inconscien-tes, concebidas como relativamente inde-pendentes dos pais reais, que ela visa

decifrar através das brincadeiras infan-tis, modo de expressão simbólica que con-sidera equivalente à associação livre dosadultos.

Posicionado-se de uma forma origi-nal em relação a esta controvérsia, alémde estender suas reflexões aos seus des-dobramentos na literatura atual, a auto-ra chega a demonstrar que o atendimen-to psicanálitico a crianças constitui umaverdadeira análise, já que a criança, as-sim como o adulto, possui também umpassado, desejos e fantasias. Por outrolado, embora discorde da associação dapsicanálise com medidas educacionais,Silvia reconhece a especificidade da aná-lise com crianças, que envolve necessaria-mente os pais – não apenas por conduzi-rem a criança ao tratamento e pagarempor ele – mas em razão de seu papel ex-tremamente importante no mundo psíqui-co da criança. Essa peculiaridade exigedo analista toda uma sensibilidade clíni-ca e disponibilidade afetiva, não só noatendimento da criança, mas também nocontato com seus pais. Trata-se de umtrabalho que apresenta contornos diver-sos da análise com adultos.

Sabe-se que a criança ocupa um lu-gar, no discurso e no desejo de seus pais,que estrutura seu psiquismo. Freud jádemonstrara como o amor dos pais pelosfilhos baseia-se no narcisismo, isto é, emseus próprios ideais que foram, durantea vida, esbarrando em obstáculos e so-frendo limitações. A possibilidade de fan-tasiarem sobre o filho e sobre seu futuropermite, tanto à mãe quanto ao pai, a ale-

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gria de recuperarem uma imagem maisluminosa de si mesmos, através de “SuaMajestade, o bebê”. Estas fantasias sobreo bebê são fundamentais para dotá-lo deuma história e um futuro, indispensáveisà constituição psíquica do ser humano.Para o analista, essa constelação tornaimprescindível o ofício de escutar aten-tamente os pais e suas demandas, já quetodo filho é portador de uma história porseus pais. Agrega-se a isso o fato de queé a partir de uma desilusão quanto às ex-pectativas que alimentaram sobre ascrianças, geralmente articuladas à ideo-logia e aos valores de seu tempo e suacultura, que os pais se dispõem a levarseus filhos à análise.

Mas é preciso cuidado, nos lembraSilvia: a par de ouvir os adultos responsá-

veis pela criança, é também fundamentalque o analista possa abrir-se à expressão,à voz da criança, valorizando sua experi-ência singular e seu sofrimento. Ao apos-tar na subjetividade da criança, como nãopermitindo concebê-la como um simplessintoma dos pais, Silvia mostra, a partirde sua experiência clínica, que é possíveldesarticulá-la do discurso parental, toman-do-a como sujeito de um discurso próprio.Assim, ao final de seu livro, têm-se umavisão clara de como ela chega, através deuma pesquisa minucio-sa e rigorosa, a va-lorizar a psicanálise com crianças comouma verdadeira prática de subjetivação.

Ana Maria Rudge

Psicanalista; Professora na PUC-RJ.e-mail: [email protected]