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DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 1 REQUERIMENTO DE COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO Nº 1/2009 Deputado(a) Stela Farias + 38 Deputado(s) Excelentíssimo Senhor Deputado Ivar Pavan Presidente da Assembléia Legislativa Senhor Presidente Os Deputados signatários, com fundamento nos arts. 83 a 88 do Regimento desta Casa Legislativa, vêm à presença de Vossa Excelência requerer a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com funcionamento no prazo regimental de 120 dias, prorrogáveis por mais 60, para apurar os fatos determinados abaixo narrados, de interesse deste Estado e sujeitos a fiscalização desta Assembléia Legislativa: a- Ações e inquéritos no âmbito da Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério Público Federal, com escopo na atuação de autoridades e titulares de cargos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e jurídicas investigados por fraudes financeiras e atos lesivos ao interesse público, enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1, V e VIII que trata dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção, formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), crimes contra a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa (art. 333 do Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, bem como a Secretaria de Obras Públicas, analisadas no âmbito da “Operação Solidária” da Polícia Federal. b- A conexão entre fatos investigados no âmbito da “Operação Solidária” envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação judicial decorrente da “Operação Rodin”, que tramita na Vara Federal de Santa Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas pela Operação Solidária foram compartilhadas no processo da judicial da Operação Rodin, conforme decisão do TRF da 4ª região, noticiada pelo Jornal Zero Hora de 10/02/09. c – As revelações públicas da viúva de Marcelo Calvalcante, Magda Koenigkan, apontando para existência de irregularidades financeiras, com a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto, insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para o pagamento carecem de procedência plausível. d – A interferência irregular de agentes públicos ou particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a exoneração - a pedido - de sua Presidenta, delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém, ratificado de imediato pela senhora governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação do débito da Secretaria de Transparência do Governo Estadual, revelando uma anomalia administrativa que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento foi sustado mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul. e- As afirmações da Deputada Federal Luciana Genro e do Vereador de Porto Alegre Pedro Ruas em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009, de que existem provas documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração Publica do Estado, e que estariam em poder do Ministério Público Federal integrando uma delação premiada de Lair Ferst. Reforça a necessidade de apuração dos fatos as declarações do Vice-governador Paulo Afonso Feijó, que declarou publicamente a conveniência de instalação de uma CPI frente a irregularidades e ilegalidades

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DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 1

REQUERIMENTO DE COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO N º 1/2009Deputado(a) Stela Farias + 38 Deputado(s)

Excelentíssimo Senhor Deputado Ivar Pavan

Presidente da Assembléia Legislativa

Senhor Presidente

Os Deputados signatários, com fundamento nos arts. 83 a 88 do Regimento desta Casa Legislativa, vêm à presença de Vossa Excelência requerer a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com funcionamento no prazo regimental de 120 dias, prorrogáveis por mais 60, para apurar os fatos determinados abaixo narrados, de interesse deste Estado e sujeitos a fiscalização desta Assembléia Legislativa:

a- Ações e inquéritos no âmbito da Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério Público Federal, com escopo na atuação de autoridades e titulares de cargos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e jurídicas investigados por fraudes financeiras e atos lesivos ao interesse público, enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1, V e VIII que trata dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção, formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), crimes contra a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa (art. 333 do Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, bem como a Secretaria de Obras Públicas, analisadas no âmbito da “Operação Solidária” da Polícia Federal.

b- A conexão entre fatos investigados no âmbito da “Operação Solidária” envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação judicial decorrente da “Operação Rodin”, que tramita na Vara Federal de Santa Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas pela Operação Solidária foram compartilhadas no processo da judicial da Operação Rodin, conforme decisão do TRF da 4ª região, noticiada pelo Jornal Zero Hora de 10/02/09.

c – As revelações públicas da viúva de Marcelo Calvalcante, Magda Koenigkan, apontando para existência de irregularidades financeiras, com a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto, insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para o pagamento carecem de procedência plausível.

d – A interferência irregular de agentes públicos ou particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a exoneração - a pedido - de sua Presidenta, delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém, ratificado de imediato pela senhora governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação do débito da Secretaria de Transparência do Governo Estadual, revelando uma anomalia administrativa que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento foi sustado mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.

e- As afirmações da Deputada Federal Luciana Genro e do Vereador de Porto Alegre Pedro Ruas em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009, de que existem provas documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração Publica do Estado, e que estariam em poder do Ministério Público Federal integrando uma delação premiada de Lair Ferst.

Reforça a necessidade de apuração dos fatos as declarações do Vice-governador Paulo Afonso Feijó, que declarou publicamente a conveniência de instalação de uma CPI frente a irregularidades e ilegalidades

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 2

dos quais se diz testemunha. Esta alta autoridade do Estado afirma ainda ser detentor de relevantes informações para o deslinde dos fatos.

Os fatos acima narrados apontam fortes indícios de improbidade administrativa e de crime de responsabilidade, sem prejuízo da apuração de irregularidades administrativas de competência desta Casa, objetivando-se com esta Comissão Parlamentar de Inquérito, dar cumprimento efetivo à missão constitucionalmente atribuída a Assembléia de fiscalizar os atos da Administração Pública e propugnar pelo bem da comunidade Rio-grandense, oferecendo subsídios às ações de competência dos Poderes, no que eventualmente lhes couberem, em especial do Ministério Público, da Administração Pública e do próprio Parlamento.

Ao iniciar a investigação, pretende-se ainda o acesso imediato a documentos, processos e expedientes relativos aos fatos acima elencados, e que deverão servir de suporte para as demais diligências que se fizerem necessárias como, por exemplo, a oitiva de testemunhas.

Palácio Farroupilha, 20 de maio de 2009.

Deputado(a) Stela Farias

Deputado(a) Abílio dos Santos Deputado(a) Adão Villaverde

Deputado(a) Adolfo Brito Deputado(a) Adroaldo Loureiro

Deputado(a) Alberto Oliveira Deputado(a) Alceu Moreira

Deputado(a) Alexandre Postal Deputado(a) Aloísio Classmann

Deputado(a) Álvaro Boessio Deputado(a) Cassiá Carpes

Deputado(a) Daniel Bordignon Deputado(a) Dionilso Marcon

Deputado(a) Edson Brum Deputado(a) Elvino Bohn Gass

Deputado(a) Fabiano Pereira Deputado(a) Francisco Appio

Deputado(a) Frederico Antunes Deputado(a) Gerson Burmann

Deputado(a) Gilberto Capoani Deputado(a) Gilmar Sossella

Deputado(a) Giovani Cherini Deputado(a) Heitor Schuch

Deputado(a) Jerônimo Goergen Deputado(a) João Fischer

Deputado(a) Kalil Sehbe Deputado(a) Luis Augusto Lara

Deputado(a) Luiz Fernando Záchia Deputado(a) Mano Changes

Deputado(a) Marisa Formolo Deputado(a) Marquinho Lang

Deputado(a) Miki Breier Deputado(a) Nelson Härter

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 3

Deputado(a) Paulo Azeredo Deputado(a) Paulo Borges

Deputado(a) Raul Carrion Deputado(a) Raul Pont

Deputado(a) Ronaldo Zülke Deputado(a) Sandro Boka

JUSTIFICATIVA

Excelentíssimo Senhor Deputado Ivar Pavan

Presidente da Assembléia Legislativa

Partido da Social Democracia Brasileira, por sua representante legal, vem através deste a presença de Vossa Excelência, expor e requer o quanto abaixo segue.

Foi dirigido a Vossa Excelência, como é de conhecimento público, requerimento, firmado por Deputados Estaduais, solicitando a instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito.

No corpo do requerimento em questão são apontados os fundamentos que, segundo os signatários, seriam aptos a dar suporte à pretensão de abertura de CPI.

Do teor do requerimento em questão, ainda que difuso seu conteúdo, percebe-se que pretendem os Senhores Deputados requerentes deflagrarem, grosso modo, investigação em torno da lisura de atos Governo Estadual.

O PSDB, como é fato público e notório, comanda o Governo Estadual, daí seu interesse jurídico no desate da questão.

Frente a esse quadro, face à investidura que titulo, vejo-me, em defesa da Ordem Jurídica, forçada a dirigir-lhe considerações, com o propósito de evitar violação ao Estado Democrático de direito.

Assim, cumpre destacar a medida requerida, ainda que em tese juridicamente possível, não deve nascer envolvida pelo arbítrio e apenas se justifica se presentes estiverem os requisitos legais de admissibilidade.

No caso posto à apreciação, a iniciativa, máxima vênia, apresenta vícios e deficiências insuperáveis e que devem ser necessariamente enfrentados na apreciação do requerimento por Vossa Excelência, pena de afronta à ordem legal e constitucional.

Com efeito, de logo, do exame do teor do requerimento, identifica-se a possibilidade de violação do ordenamento jurídico, face à ausência de apontamento de fato determinado e a pretensão de violação da garantia constitucional da segurança jurídica, circunstâncias que ferem de morte a iniciativa.

1. A inépcia do requerimento inicial. Ausência de descrição de fato ilícito e determinado. Violação de garantia constitucional.

A disciplina legal dos pressupostos de aptidão de requerimento para instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito estabelece, como sabido, a presença de fato ilícito e determinado (art. 58, § 3, da Constituição Federal).

A exigência de tal pressuposto pela ordem jurídica, à evidência, transfere para os requerentes o ônus de descrever claramente o chamado fato determinado. É, pois, circunstância essencial a validação da iniciativa.

E, ao assim clausular, a ordem jurídica não o faz por capricho, mas sim em atenção à garantia constitucional de ampla defesa (art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal), com fito de afastar o arbítrio.

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 4

Realmente, exige-se, dos requerentes, descrição precisa do fato. E que seja este apto a ensejar a instauração de uma CPI, sob pena de inépcia do requerimento, face à circunstância de ser esta a única forma capaz de não gerar prejuízo à defesa de eventuais investigados de envolvimento com o fato a ser esclarecido. Isto por que aquele que potencialmente poderá ser responsabilizado pelas futuras conclusões de uma CPI desfruta (também nesta sede!) da sagrada garantia do direito constitucional de ampla defesa e para que esta se aperfeiçoe, à evidência, deve o investigado saber exatamente do que se defende. Necessita, pois, conhecer precisamente a acusação que contra si pesa.

Do exame do teor do requerimento, verifica-se que este possui conteúdo difuso, pois não descreve fato concreto e determinado e, por decorrência, não atende a exigência legal. Na verdade, perde-se em apontar condutas típicas que supostamente teriam ocorrido e/ou notícias vagas, circunstância que viola claramente a disciplina legal para instauração de uma CPI, razão pela qual merece rejeição, pena de se assim não for procedido, caracterizar violação da ordem jurídica legal e constitucional, colorindo o arbítrio.

2. A garantia constitucional do ne bis in idem e o princípio da finalidade. Violação dos princípios da eficiência e economicidade.

Da análise do teor do requerimento, ainda que não aponte fato ilícito, concreto e determinado, emerge a clara tentativa de envolver o Governo do Estado com fatos já investigados pela Polícia Federal, Ministério Público Federal e – hoje - segundo tornou-se público e notório, também objeto de demandas submetidas ao Poder Judiciário, quer na seara criminal, quer na área da improbidade administrativa.

É sabido que no Estado Democrático de Direito ninguém poderá ser processado ou investigado pelo mesmo fato, salvo sob circunstâncias novas, por mais de uma vez, pena de ser gerada insegurança jurídica e, por decorrência, instabilidade social.

A proposta de instauração de CPI posta à apreciação de Vossa Excelência, ainda que imprecisa, faz transparecer o desejo de exclusivamente re-investigar fatos já esgotados nas searas competentes, vez que objeto de inquéritos policiais e/ou de processos judiciais, como é de domínio público.

Assim, representam verdadeiro bis in idem e, por decorrência, se vier a ser dado curso à pretensão, além de configurar violação da garantia constitucional da segurança jurídica (art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal), violará também os princípios da eficiência e economicidade, insculpidos no artigo 37 da Constituição Federal, face à ausência de finalidade prática da iniciativa, uma vez que o esforço empreendido a custa do erário, desde antes, sabe-se, será incapaz de gerar situação apta a justificar a iniciativa e estar-se-á impondo ao Estado custos injustificadas, diante dos propósitos e limites de uma CPI, na medida em que esta tem por objeto, justamente, recolher subsídios a serem submetidos aos órgãos com atribuição para responsabilização dos eventuais envolvidos, o que, no caso, já ocorreu.

Assim, Senhor Presidente, requeiro, face os argumentos objetivamente deduzidos, a rejeição da pretensão formulada, com a conseqüente não instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito, vez que o acolhimento desta imporá em clara violação da Ordem Jurídica do Estado Democrático de Direito.

N. Termos

P. Deferimento

Porto Alegre, 7 de agosto de 2009.

Deputada Zilá BreitenbachLíder do PSDB

______________________________________________

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 5

Ref. ao pedido de instauração de CPI, de 20/05/2009.

Promoção n.º 28.707

Senhor Presidente:

1. A Presidência da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul encaminha para exame por esta Procuradoria o requerimento de instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito pela Excelentíssima Senhora Deputada Stela Farias e mais trinta e oito parlamentares estaduais. É solicitada manifestação quanto à identificação dos requisitos regimentais e constitucionais viabilizadores da constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito requerida.

2. A Deputada Estadual Stela Farias e mais trinta e oito Deputados Estaduais assinaram requerimento endereçado ao Excelentíssimo Senhor Deputado Presidente da Assembléia Legislativa solicitando, com fundamento nos artigo 83 a 88 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa (Resolução n.º 2.288/91) a instituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

É o teor integral do pedido formulado:

“Os Deputados signatários, com fundamento nos arts. 83 a 88 do Regimento desta Casa Legislativa, vêm à presença de Vossa excelência requerer a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com funcionamento no prazo regimental de 120 dias, prorrogáveis por mais 60, para apurar fatos determinados abaixo narrados, de interesse deste Estado e sujeitos a fiscalização desta Assembléia Legislativa:

a- Ações e inquéritos no âmbito do Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério Público Federal, com escopo na atuação de autoridades e titulares de cargos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e jurídicas investigadas por fraudes financeiras e atos lesivos ao interesse público, enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1, V e VIII que trata dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção, formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), crimes contra a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa (art. 333 do Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, bem como a Secretaria de obras Públicas, analisadas no âmbito da ‘Operação Solidária’ da Polícia Federal.

b- A conexão entre fatos investigados no âmbito da ‘Operação Solidária’ envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação judicial decorrente da ‘Operação Rodin’, que tramita na Vara Federal de Santa Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas pela Operação Solidária foram compartilhadas no processo judicial da Operação Rodin, conforme decisão do TRF da 4.ª Região, noticiada pelo Jornal Zero Hora de 10/02/09.

c- As revelações públicas da viúva de Marcelo Cavalcante, Magda Koenigkan, apontando para existência de irregularidades financeiras, como a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto, insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para o pagamento carecem de procedência plausível.

d- A interferência irregular de agentes públicos ou particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a exoneração – a pedido – de sua Presidenta, delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém, ratificado de imediato pela senhora governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação do débito da Secretaria de Transparência do Governo Estadual, revelando uma anomalia administrativa que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento foi sustado mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 6

e- As afirmações da Deputada Federal Luciana Genro e do Vereador de Porto Alegre Pedro Ruas em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009, que existem provas documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração Público do Estado, e que estariam em poder do Ministério Público Federal integrando uma delação premiada de Lair Ferst.

Reforça a necessidade de apuração dos fatos as declarações do Vice-governador Paulo Afonso Feijó, que declarou publicamente a conveniência de instalação de uma CPI frente a irregularidades e ilegalidades dos quais se diz testemunha. Esta alta autoridade do Estado afirma ainda ser detentor de relevantes informações para o deslinde dos fatos.

Os fatos acima narrados apontam fortes indícios de improbidade administrativa e de crime de responsabilidade, sem prejuízo da apuração de irregularidades administrativas de competência desta Casa, objetivando-se com esta Comissão Parlamentar de Inquérito, dar cumprimento efetivo à missão constitucionalmente atribuída a Assembléia de fiscalizar os atos da Administração Pública e propugnar pelo bem da comunidade Rio-grandense, oferecendo subsídios às ações de competência dos Poderes , no que eventualmente lhes couberem, em especial do Ministério Público, da Administração Pública e do próprio Parlamento.

Ao iniciar as investigações, pretende-se ainda o acesso imediato a documentos, processos e expedientes relativos aos fatos acima elencados, e que deverão servir de suporte para as demais diligências que se fizerem necessárias como, por exemplo, a oitiva de testemunhas.

Palácio Farroupilha, 20 de maio de 2009”

3. São os dispositivos constitucionais e regimentais aplicáveis às Comissões Parlamentares de Inquérito.

Constituição Federal de 1988, artigo 58, § 3º:

“Art. 58. ...

...

§ 3º. As Comissões Parlamentares de Inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.”

Constituição Estadual de 1989, artigo 56, § 4º:

“Art. 56 - ...

...

§ 4º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos no Regimento, serão criadas para apuração de fato determinado e por prazo certo, mediante requerimento de um terço dos Deputados.”

Regimento Interno da Assembléia Legislativa (Resolução n.º 2.288/91), artigo 83 e § 1º:

“Art. 83 - A Assembléia Legislativa., a requerimento de, no mínimo, um terço dos seus membros, instituirá Comissão Parlamentar de Inquérito para, por prazo certo, apurar fato determinado, ocorrido na área sujeita a seu controle e fiscalização.

§ 1º - A Comissão Parlamentar de Inquérito terá poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos neste Regimento.”

4. Consoante o § 2° do artigo 83 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa, cabe ao Presidente, recebido o requerimento de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, verificar a presença dos requisitos legais exigíveis para a sua instituição. No caso dos requisitos estarem presentes, o requerimento

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será publicado no Diário da Assembléia Legislativa; por outro lado, caso inexistentes ou incompletos, será o requerimento devolvido ao Deputado Estadual autor, podendo este apresentar recurso ao Plenário da Assembléia Legislativa, hipótese em que haverá sempre a anterior manifestação da Comissão de Constituição e Justiça (Regimento Interno da Assembléia Legislativa, artigo 83, § 4º).

5. São os requisitos legais para a instituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito:

a) Requerimento ser assinado por, no mínimo, um terço dos membros da Assembléia Legislativa, ou seja, por 19 Deputados Estaduais (total de 55 Deputados);

b) ter prazo certo;

c) ter o fato ocorrido na área sujeita ao controle e fiscalização da Assembléia Legislativa;

d) ter fato determinado a ser investigado.

6. No caso concreto do Requerimento de autoria da Deputada Stela Farias, ora em exame, este foi subscrito por mais trinta e oito Deputados Estaduais, conforme identificação de assinaturas realizada pela Superintendência Legislativa. O primeiro requisito legal, assim, estaria cumprido.

7. No tocante ao prazo da CPI, ainda conforme o Requerimento, foi solicitado o prazo legal, ou seja, o prazo regimental previsto pelo artigo 84 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa:

“Art. 84 - A Comissão terá o prazo de cento e vinte dias, prorrogável por mais sessenta por deliberação do Plenário, para conclusão dos trabalhos.”

Foi, assim, solicitado o prazo de 120 dias, sendo possível sua prorrogação, na hipótese de, na forma regimental, ser solicitada sua prorrogação por mais sessenta dias. De tal sorte, o segundo requisito legal estaria igualmente atendido.

8. O terceiro requisito relaciona-se à obrigatoriedade de o fato a ser investigado estar dentro da área sujeita ao controle e fiscalização da Assembléia Legislativa.

O inciso XIX do artigo 53 da Constituição Estadual de 1989 dispõe que compete exclusivamente ao Poder Legislativo:

“XIX - exercer a fiscalização e o controle dos atos do Poder Executivo, inclusive na administração indireta, através de processo estabelecido nesta Constituição e na lei;”

Tal dispositivo constitucional estadual permite, expressamente, que o Poder Legislativo realize a fiscalização e o controle da Administração Pública direta e indireta do Estado do Rio Grande do Sul.

9. Resta, agora, o exame do último requisito constitucional, qual seja o “fato determinado”.

Cabe, inicialmente, a referência a documento apresentado, em 07 de agosto último, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), através do qual suscita o não-atendimento deste derradeiro requisito, “face à ausência de apontamento de fato determinado e a pretensão de violação da garantia constitucional da segurança jurídica, circunstâncias que ferem de morte a iniciativa”.

É suscitada a inépcia do requerimento inicial, por ausência de descrição de fato ilícito e determinado, ônus dos requerentes para a validação da iniciativa apresentada. Aponta a necessidade de uma “descrição precisa do fato”, “sob pena de inépcia do requerimento”, como forma de ser evitado prejuízo à defesa de eventuais investigados, sendo, assim, garantido o princípio constitucional da ampla defesa, pois estes devem “saber exatamente do que se” defendem.

Em crítica à narrativa do fato constante do pedido de CPI formulado, é apontado possuir este conteúdo difuso, não descrevendo fato concreto e determinado. Acrescenta:

“Na verdade, perde-se em apontar condutas típicas que supostamente teriam ocorrido e/ou notícias vagas, circunstância que viola claramente a disciplina legal para instauração de uma CPI, razão pela qual merece rejeição, pena de se assim não foi procedido, caracterizar violação da ordem jurídica legal e constitucional, colorindo o arbítrio.”

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, segunda-feira, 17 de agosto de 2009. PRO 8

Mais adiante suscitam a garantia constitucional do “ne bis in idem”, bem como o princípio da finalidade, sendo violados os princípios da eficiência e da economicidade.

Pelo que é apontado:

“Da análise do teor do requerimento, ainda que não aponte fato ilícito, concreto e determinado, emerge a clara tentativa de envolver o Governo do Estado com fatos já investigados pela Polícia Federal, Ministério Público Federal e – hoje – segundo tornou-se público e notório, também objeto de demandas submetidas ao Poder Judiciário, quer na seara criminal, quer na área da improbidade administrativa.

É sabido que no Estado Democrático de Direito ninguém poderá ser processado ou investigado pelo mesmo fato, salvo sob circunstâncias novas, por mais de uma vez, pena de ser gerada insegurança jurídica e, por decorrência, instabilidade social.”

A proposta de instalação de CPI, como alega a contestação protocolada, seria imprecisa, tendo como objetivo “exclusivamente re-investigar fatos já esgotados nas searas competentes, vez que objeto de inquéritos policiais e/ou de processos judiciais, como é de domínio público”.

Pelos fundamentos que apresentou, postulou a não-instalação da CPI ora pretendida, por ausência de finalidade prática da iniciativa.

10. Passamos, agora, ao exame do último requisito, qual seja o de que o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito contenha um fato ou mais fatos determinados.

Neste ponto, cabe a apresentação de algumas considerações a respeito do denominado “fato determinado”, do ponto de vista da definição da competência material de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ou seja, relacionado-a com o tema da esfera de fiscalização e controle do Poder Legislativo. É importante ser ressaltado que o fato determinado a ser apurado deve estar abrangido dentro da esfera de controle e fiscalização do Poder Legislativo estadual, tendo em vista expressa imposição da parte final do caput do artigo 83 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa. Não pode o Poder Legislativo apontar, como fato determinado, matéria da exclusiva competência federal, podendo, no entanto, utilizar a questão federal como “fator determinante”, podendo ser abordado durante os trabalhos investigativos, mas jamais sendo seu objeto finalístico. Acrescenta-se que o fato determinado, como já mencionado anteriormente, deve estar dentro da área sujeita ao controle e fiscalização do Poder Legislativo, por outro lado, os fatores determinantes não estão, necessariamente, abarcados por essa mesma sujeição, até mesmo em razão de ser, muitas vezes, imperativo uma maior abrangência na investigação para que se possa alcançar o desiderato de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Iniciado um trabalho investigativo, este, no seu desenrolar, pode, eventualmente, abranger situações diversas, em que pese sempre relacionadas ao objeto principal, consoante reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. De tal forma, é necessário que a Comissão Parlamentar de Inquérito, a ser instaurada, tenha o cuidado de, durante os seus trabalhos, objetivar, precipuamente, uma análise voltada ao permissivo do inciso XIX do artigo 53 da Constituição Estadual de 1989, pois é este que determina a área de fiscalização e controle do Estado sobre a matéria.

O que se quer aduzir é que as investigações e as conclusões finais da Comissão Parlamentar de Inquérito podem tratar até mesmo de matérias de competência final, mas não o seu fato determinado, o que, por força regimental, deve estar dentro da área de controle e fiscalização da Assembléia Legislativa. É por isso que os fatos determinados apontados devem ser entendidos dentro do âmbito do inciso XIX do artigo 53 da Constituição Estadual de 1989. Ou seja, os fatos determinados relacionados são o ponto de partida a ser tomado pela Comissão Parlamentar de Inquérito, sendo que, como já esclarecido em outras oportunidades, é possível que a mencionada Comissão, diante de fatos revelados no decorrer da investigação – e relacionados aos fatos inicialmente apontados -, amplie sua área de atuação, sempre respeitando, como apontado acima, que a matéria esteja localizada dentro do âmbito de investigação e controle do Poder Legislativo. Eventuais fatos verificados, mas alheios ao limite ora exposto, podem ser objeto de referência

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final ou de encaminhamento pela própria Comissão ao conhecimento e providências das autoridades públicas eventualmente competentes.

Convém, neste ponto, a transcrição de lição de Tarciso Aparecido Higino de Carvalho, existente no trabalho intitulado “A produção de provas no inquérito parlamentar na Câmara dos Deputados”:

“Agassiz Almeida (2000, p.9) assevera que, recentemente, as comissões parlamentares de inquérito vêm se destacando, principalmente, no que concerne à fiscalização e à salvaguarda do erário público, bem como aos interesses coletivos e difusos. Cabe, porém, ressaltar que as CPIs, ao longo dos anos, têm sido criadas para investigar temas mais complexos, do ponto de vista jurídico. Tal possibilidade encontra abrigo na interpretação que se construiu acerca do conceito de “fato determinado”. Para Pontes de Miranda (apud Alaor Barbosa, 1988, p.94), por exemplo, fato determinado se refere a “um acontecimento concreto com relevância e repercussão na ordem jurídica constitucional do País e sob seus efeitos”. Essa interpretação, bastante elástica, permitiu que fossem constituídas, por exemplo, CPIs para investigar os seguintes casos: em 1953, a existência de jogos de azar em todo o território nacional; em 1973, as causas do tráfico e o uso de substâncias alucinógenas; em 1991, a impunidade de traficantes de drogas no País, bem como o crescimento do consumo; em 1991 e 1993, crimes de “pistolagem” nas regiões Centro-Oeste e Norte, especialmente, na chamada área do “Bico do Papagaio”; em 1999, o avanço e a impunidade do narcotráfico.

Essas investigações se referem a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais e a processos judiciais. Porém, entende o Ministro Celso de Mello (2001, p.91) não haver impedimento à realização de inquéritos parlamentares dessa natureza, desde que “sejam respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição”. Assim procedendo, as comissões parlamentares de inquérito se configuram como órgão deflagrador de uma ação judicial, colaborando, de forma prévia, com o Ministério Público. Nesse sentido, entendeu o Ministro Nelson Jobim (2001, p.36) tratar-se de economia processual o envio ao Ministério Público de documentos reunidos por comissão parlamentar de inquérito, inclusive os que envolvam sigilo fiscal ou de operações financeiras.

Esses documentos não se caracterizam apenas como fontes de informação, apresentam-se, também, como provas que servem à formação de convicção dos membros das comissões parlamentares de inquérito. Assim, buscou-se, neste estudo, identificar, descrever e classificar as tipologias de provas produzidas por essas comissões no desempenho de suas atividades.”

11. Para a análise mais aprofundada deste último requisito - fato determinado - urge a apresentação de algumas considerações mais aprofundadas.

J. Cretella Jr., em sua obra “Comentários à Constituição de 1988” (Editora Forense Universitária, 2ª edição, 1997, volume V, página 2.700), aduz o segue a respeito do requisito do fato determinado:

“A criação de Comissões Parlamentares de Inquérito sobre fatos determinados remonta à Constituição de 1934, art. 36, cabendo, na época, a tarefa fiscalizadora à Câmara dos Deputados, tão só, o que é absurdo, dada a importância da Câmara Alta na apuração de fatos que lhe digam respeito. Corrigida a omissão, na Constituição de 1964, art. 53, o Senado Federal passou a ter competência para criar tais comissões, orientação mantida nas Cartas Políticas subseqüentes, como na 1967, art. 39, na de 1969, art. 37 e na de 1988, art. 58.

A Constituição de 1988 reitera a expressão fato determinado, ou "assunto previamente determinado", sobre o qual deverá incidir a investigação parlamentar, o que já constava das Cartas Políticas anteriores, como na de 1934, art. 36 ("fatos determinados"), na de 1946, art. 53 ("assunto previamente determinado"), na de 1967, art. 39 e na 1969, art. 37 ("fato determinado"). Fato determinado é fato concreto, específico, bem delineado, de modo a não deixar dúvidas sobre o objeto a ser investigado. A Constituição de 1988, no art. 58, § 22,1 a VI, resolveu enumerá los. Quanto aos Ministros, os fatos, além de determinados, devem ser pertinentes às funções ministeriais. Deve o fato determinado relacionar se com

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o momento constitucional vivido, recaindo a investigação apenas sobre eventos que se relacionem numa sucessão encadeada de causa e efeito.”

Roberto Barcellos de Magalhães, por sua vez, na obra “Comentários à Constituição Federal de 1988” (Editora Liber Juris, 1ª edição, 1993, 2º volume, página 78), aborda com maior profundidade a questão específica que envolve a necessidade de haver unicidade ou a possibilidade de existir uma pluralidade de fatos a serem investigados pela comissão parlamentar de inquérito, desde que, obviamente, guardem entre si alguma conexão lógica. Convém a transcrição da seguinte passagem:

“Limitação notável no mesmo texto constitucional quando determina incida a atividade das Comissões em `fato determinado'. As Comissões Parlamentares de Inquérito é certo que se apresentam como `verdadeiras autoridades superiores'. (Hans Kelsen, Haschek e Anscrutez, in Carlos Maximiliano, Comentários à Constituição Brasileira, 5@1 ed., vol. II, pág. 80). Mas o campo de sua ação conhece balizas inultrapassáveis e elas têm como objetivo, em face do texto da Lei Maior, fato determinado. Não se dirá, em interpretação ‘more indaico’, que um só fato determinado é que há de constar do inquérito.

Podem ser múltiplos os fatos. Todos, porém, devem ser determinados. Uma das razões de impugnação à atividade inqueritual do Parlamento reside justamente nos excessos suscitados pela falta de precisão do objetivo do inquérito.

Não bastam, assim, indicações genéricas, menções imprecisas, vagas ou gerais, pois nelas não se pode precisar o `fato determinado', único que, por exigência do Constituinte, pode formar, objetivo do inquérito."

Consoante o citado autor, a expressão constitucional “fato determinado” não deve ser interpretada no sentido da existência de tão-somente um fato a ser investigado, admitindo a possibilidade de o requerimento de instauração de comissão parlamentar de inquérito descrever diversos fatos. O que é impositivo, no entanto, é que todos os fatos sejam devidamente descritos, não contendo indicações genéricas ou imprecisas. Neste ponto, torna-se importante que o requerimento de comissão parlamentar de inquérito seja acompanhado de documentação instrutória necessária a embasar o próprio pedido formulado, ou que seja ela devidamente referida.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho também se manifestou sobre o tema em seu livro “Comentários à Constituição Brasileira de 1988” (Editora Saraiva, 1ª edição, 1992, volume 2, páginas 70 a 71):

“Além disto, as comissões de inquérito devem ter objeto determinado, de modo preciso. É para indicá-lo que a Constituição se refere a "fato determinado". Como observa Pontes de Miranda, "não se pode abrir inquérito... sobre crises in abstracto" (Comentdrios à Constitúição de 1967, com a Emenda n. 1 de 1969, t. 3, p. 50).

Isto melhor se compreende quando se leva em conta a distinção formulada pela doutrina italiana entre inchiesta legislativa e inchiesta politica (cf. Alessandro Pace, Inchiesta Parlamentare. Enciclopedia del Diritto, Milão, Giuffrè, 1970, v. 20).

A primeira destina-se a "adquirir informações e dados necessários para o exercício da função legislativa". Realmente, o Legislativo, no mundo contemporâneo, tem necessidade de um volume crescente de informações. Com efeito, no Estado de Bem-Estar, deparam os Parlamentos com problemas de elevada tecnicidade e complexidade, que dele esperam solução no que concerne à disciplina normativa. Esta é, por assim dizer, uma justificativa de ordem técnica.

A segunda é de ordem política. Por força de seu caráter eminentemente representativo, o Congresso posiciona se naturalmente como órgão de controle dos negócios públicos em geral. Incumbe-se do que Loewenstein denomina de policy control, distinta da policy decision e da policy execution (Political power and the governmental process, 2. ed., Chicago, Univ. Chicago, 1965, p. 42).”

Por fim, no âmbito da doutrina, cabe ser feita referência a duas lições de autoria de Pinto Ferreira, contidas na obra “Comentários à Constituição Brasileira” (Editora Saraiva, 1ª edição, 1992, volume 3º, páginas 103 e 125):

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Página 103:

“Amplo é o limite em que se desdobra a esfera de aplicação das comis¬sões de inquérito. Através dela uma Assembléia olha diretamente os pro¬blemas da vida nacional, a fim de examiná-los de modo mais acurado. A finalidade do inquérito não é só a apuração de responsabilidades. Ele tem também o objetivo de coligir material para a obra legislativa, material útil para as resoluções e leis, porém, de outro lado, ainda se agrega o trabalho na investigação de fatos econômicos, sociológicos, financeiros, e finalmente serve como medida de controle do Legislativo sobre o Executivo.

Se a princípio era mais limitado o campo de atuação das comissões de inquérito, hoje ele se estende cada dia mais largamente, abrangendo o inquérito sobre qualquer fato determinado que interessa à vida constitucional do País, que necessita de ser mais amplamente estudado, para sobre ele se tomar a providência necessária e oportuna.”

Página 125:

“Na Constituição vigente (art. 58, § 3 °), as comissões parlamentares de inquérito são criadas "para a apuração de fato determinado". O fato determinado deve possuir uma característica própria, a fim de não incidir em rota de colisão com outros dispositivos constitucionais.

Tais fatos podem ser especificados como aqueles referentes à ordem pública, política, econômica, social, bem determinados e caracterizados no próprio requerimento de sua constituição; deve ser um fato objetivo, claro, preciso, determinado.”

Necessário aduzir que a expressão “fato determinado” se caracteriza como um conceito jurídico indeterminado, cujo conteúdo preciso é verificado em cada caso concreto, variando, de tal modo, no tempo e no espaço, sendo seu conceito informado, no entanto, com idéias fundantes, constitucionalmente estabelecidas.

Não interessa abordar, neste estudo, ponderações a respeito do preenchimento, em concreto, do conteúdo do conceito jurídico indeterminado do “fato determinado”, cabendo, no entanto, ser aduzido que, consoante a jurisprudência nacional, está cada vez mais reduzido o espaço de preenchimento discricionário, ganhando relevo o princípio da motivação das ações desenvolvidas pelas comissões parlamentares de inquérito.

12. O Supremo Tribunal Federal apresenta algumas decisões a respeito da questão do “fato determinado” em comissões parlamentares de inquérito, entendendo, embora indiretamente, no sentido da admissibilidade de mais de um fato ser investigado dentro do conceito constitucional insculpido no § 3º do artigo 58 da Constituição Federal de 1988.

Foi a ementa do Habeas Corpus n.º 71.231, julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 05 de maio de 1994, cuja decisão foi publicada no Diário da Justiça de 31 de outubro de 1996 (página 42.014):

“CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO: FATO DETERMINADO E PRAZO CERTO. C.F., ARTIGO 58, § 3º. LEI 1.579/52. ADVOGADO. TESTEMUNHA. OBRIGAÇÃO DE ATENDER À CONVOCAÇÃO DA CPI PARA DEPOR COMO TESTEMUNHA. C.F., ARTIGO 133; CPP, ART. 207; CPP, ART. 406; CÓD. PENAL, ART. 154; LEI 4.215, DE 1963, ARTIGOS 87 E 89.

I. - A Comissão Parlamentar de Inquérito deve apurar fato determinado. C.F., art. 58, § 3º. Todavia, não está impedida de investigar fatos que se ligam, intimamente, com o fato principal.

II. - Prazo certo: o Supremo Tribunal Federal, julgando o HC n.º 71.193-SP, decidiu que a locução "prazo certo", inscrita no § 3º do artigo 58 da Constituição, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura, nos termos da Lei 1.579/52.

...

IV. - H.C. indeferido.”(o grifo é nosso)

Interessa a transcrição de trecho do voto do Ministro Carlos Velloso:

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“O Sr. Ministros CARLOS VELLOSO (relator): São três os fundamentos da impetração: a Comissão Parlamentar de Inquérito deve apurar fato certo e estaria extrapolando do motivo real de sua constituição; [...]

Quanto ao primeiro fundamento – a CPI estaria extrapolando do motivo real de sua constituição – assim se manifestou o Ministério Público Federal, no parecer da lavra do Subprocurador-Geral Cláudio Lemos Fonteles:

‘3. Indubitável que a Resolução 46/93 instituiu Comissão Parlamentar de Inquérito ‘destinada a investigar irregularidades nas concessões de benefícios previdenciários’.

4. Todavia, injurídico o argumento restritivo, que engessa o trabalho investigatório, que o próprio texto constitucional - § 3º, do artigo 58 -, indica amplo, (‘poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros ...’).

5. Assim, se no procedimento apuratório linhas de perquirição são abertas, dentro da motivação basilar, que no caso está na segurança do sistema previdenciário, nada impede sejam exploradas tais vias integradas ao objetivo maior.

A C.P.I., apurando o fato que determinou a sua constituição - irregularidades nas concessões de benefícios previdenciários – não está impedida de investigar fatos que se ligam, intimamente, com o fato principal. As informações prestadas pelo Presidente da C.P.I., no particular, deixam expresso que as investigações não se distanciam do fato que determinou a sua constituição, mas que, ao contrário, a ele estão intimamente ligadas.”

Podemos lançar mão, ainda, da decisão proferida pelo mesmo órgão judicial do Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança n.º 23.639, julgado em 16 de novembro de 2000, publicado no Diário da Justiça de 16 de fevereiro de 2001 (página 91). É o trecho de interesse à discussão:

“(...)

AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. Doutrina.”

Convém, a transcrição de passagem do voto do Ministro Celso de Mello, no referido julgado:

“Cabe referir, ainda, que a existência de procedimento penal em curso perante órgão judiciário competente do Estado do Espírito Santo não tem, só por si, o condão de inibir a atividade investigatória da CPI, se esta, agindo nos estritos limites delineados pelo fato motivador de sua constituição, busca estabelecer conexão entre o evento delituoso em causa (delito de homicídio pelo qual o impetrante está sendo processado) e a eventual participação do autor deste writ na alegada prática de atos relacionados ao narcotráfico, objeto específico do inquérito parlamentar instaurado no âmbito da Câmara dos Deputados.”

Menciona-se o Habeas Corpus n.º 71.039, julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 07 de abril de 1994, cuja decisão foi publicada no Diário da Justiça de 06 de dezembro de 1996 (página 48.708):

“(...)

A comissão parlamentar de inquérito encontra na jurisdição constitucional do Congresso seus limites. Por uma necessidade funcional, a comissão parlamentar de inquérito não tem poderes universais, mas limitados a fatos determinados, o que não quer dizer não possa haver tantas comissões quantas as necessárias para realizar as investigações recomendáveis, e que outros fatos, inicialmente imprevistos, não possam ser aditados aos objetivos da comissão de inquérito, já em ação. O poder de investigar não é um

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fim em si mesmo, mas um poder instrumental ou ancilar relacionado com as atribuições do Poder Legislativo.”

O Supremo Tribunal Federal realizou um exame mais aprofundado dessa questão quando do exame do Mandado de Segurança n.º 22.494, julgado em 29 de dezembro de 1996, cuja decisão foi publicada no Diário da Justiça de 27 de junho de 1997 (página 30.238). Nesta oportunidade, em que pese a abordagem sobre a questão do “fato determinado”, a Corte Maior deixou de examinar o seu mérito, tendo em vista questão prejudicial reconhecida pela maioria dos Ministros. Mesmo assim, convém a transcrição de algumas passagens do relatório do Excelentíssimo Ministro Maurício Corrêa:

“20. Como bem lançado no parecer daquela Comissão, invocando o mestre Pontes de Miranda, fato determinado é qualquer fato da vida constitucional do País para que dele tenha conhecimento preciso e suficiente, a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal, e possa tomar as providências que lhes couberem.

21. Sem dúvida, o inquérito parlamentar, na tradição do nosso direito Constitucional, ê uma prerrogativa do Poder Legislativo para apuração de fato ou fatos relevantes e determinados, no que se refere à atividade administrativa do Poder Executivo. Assim, sua criação está subordinada à ocorrência de determinado fato que necessariamente constituirá seu objeto. E, obviamente, sem a precisa determinação da matéria a ser investigada corre-se o risco de abuso de poder parlamentar, máxime quando uma comissão de inquérito foi criada para investigar fatos abstratos ou situações de contornos indefinidos.

22. No requerimento para criação da comissão Parlamentar de Inquérito em apreço não foi indicado fato determinado nem prazo certo para sua apuração, conforme exige o art. 58, § 3°, da Constituição da República. Pedem os interessados na instauração da CPI, genericamente, a investigação de prática de atividades ilícitas relacionadas com o Sistema Financeiro Nacional, que possam ter causado prejuízos à União Federal, em especial ao Banco Central do Brasil. E o requerimento, por outro lado, caracteriza-se pela imprecisa limitação temporal da pretendida Comissão Parlamentar de Inquérito ao usar a expressão "a partir de 1995".

23. Verifica-se assim que, in casu, não restaram preenchidos os requisitos constitucionais para a criação e funcionamento de uma comissão Parlamentar de Inquérito, previstos no § 3° do artigo 58 da Lei Maior.

24. O Eminente Ministro CELSO DE MELLO enfatiza que "constitui verdadeiro abuso instaurar-se inquérito legislativo com o fito de investigar fatos genericamente enunciados, vagos ou indefinidos" (in Justitia 121/150 e ss., órgão do Ministério Público de São Paulo, ano 45, abril-junho/83). Há, portanto, necessidade de fundamentação da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para o seu regular funcionamento, de acordo com a Constituição.

25. Parece-nos oportuno transcrever, por seus relevantes fundamentos jurídicos, trechos do parecer emitido sobre a matéria, em 1988, ainda na vigência da ordem constitucional anterior (mas relativamente a normas análogas), pelo então Consultor Geral da República, Dr. Saulo Ramos, in verbis:

`6. O OBJETO DO INQUÉRITO PARLAMENTAR SÓ PODE SER FATO DETERMINADO.

A CPI, enquanto instrumento de ação investigatória do Poder Legislativo, só pode ter por objeto, consoante impõe o texto constitucional, FATO DETERMINADO. Ê o que se dessume, claramente, da regra consubstanciada no artigo 37, da Constituição Federal:

`Art. 37 - A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, em conjunto ou separadamente, criarão comissões de inquérito sobre fato determinado e por prazo certo, mediante requerimento de um terço de seus membros.'

Essa exigência da Carta Federal é reiterada, no plano infraconstitucíonal, pela Lei n° 1.579, de 18 de março de 1952 (artigo 1°), que dispõe sobre a atuação das Comissões Parlamentares de Inquérito.

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Identicamente, o Regimento Interno do Senado Federal, ao disciplinar o processo de formação e de funcionamento das comissões de Inquérito, também enfatiza, em alguns preceitos, a necessidade de serem determinados os fatos investigados:

`Art. 168 - A Comissão de Inquérito tem por fim a apuração de fato determinado constante do ato que der origem à sua criação (Const., art. 37).

(...)

Art. 170 - (...)

§ 3° - No ato ou no projeto de criação, devem ser indicados, com precisão, o número dos membros da Comissão, o prazo de duração e o fato ou fatos a apurar:

(...)

Art. 176 - Se forem diversos os fatos objeto de inquérito, a Comissão dirá, em separado, sobre cada um, podendo faze-lo antes mesmo de finda a investigação das demais.'

EM SUMA: somente fatos determinados, concretos e individuados, que sejam de relevante interesse para a vida política, econômica, jurídica e social do Pais, e que são passíveis de investigação parlamentar. Constitui abuso instaurar se inquérito parlamentar com o fito de investigar fatos genericamente enunciados, vagos ou indefinidos. O Legislativo não dispõe de poderes gerais e indiscriminados de investigação. A Constituição impõe que o inquérito parlamentar objetive atos, ações ou fatos concretos. Não há, no ordenamento constitucional brasileiro, investigações difusas. O objeto de investigação da comissão de inquérito há de ser preciso. Nesse sentido, cf. NELSON DE SOUZA SAMPAIO, "Do Inquérito Parlamentar", p. 35, 1964, FGV; PONTES DE MIRANDA, "Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n° 1, de 1969", tomo III, p. 49, 2' ed., 1970, RT; JOSÉ CELSO DE MELLO FILHO, "Constituição Federal Anotada", p. 172, 2' ed., 1966, Saraiva.

A falta de objetividade, enfatiza GEORGE VEDEL, tem sido a causa maior da descaracterização e da ineficácia das investigações parlamentares (v. `Manuel Elementaire de Droit Constitutionnel', p. 456, 1949, Lib. Recueil Siray, Paris).

A resolução do Senado Federal em questão alude a denúncias de irregularidades, inclusive corrupção. Mas, quais irregularidades, concretamente? Quais fatos caracterizadores de corrupção, objetivamente? Em que setores da Administração Pública, especificamente?

As respostas a tais indagações conformariam a resolução do Senado à exigência constitucional formulada no preceito referido. 'De outra maneira, o inquérito se transformaria em uma devassa somente...', adverte FRANCISCO CAMPOS, ao analisar o conteúdo e a extensão do poder de investigar das Casas Legislativas (v. RF 195/90)' (vide Parecer n° SR 55, de 28 de março de 1988, emitido no Processo N° 00835.000018/88, item 6).'”

É importante mencionar que a hipótese da decisão supra mencionada versa sobre posição tomada pelo Senado Federal no sentido de arquivar o requerimento atinente à instauração da “CPI dos Bancos”, por falta de indicação de “fato determinado” e do “limite das despesas a serem realizadas”. Nessa feita, entendeu o Senado Federal que o requerimento era genérico, não contendo fato efetivamente determinado. Vale a transcrição do teor do requerimento da “CPI dos Bancos”:

“Requeremos a Vossa Excelência, nos termos do parágrafo 3° do art. 58 da Constituição Federal e na forma do artigo 145 e seguintes do Regimento Interno do Senado Federal, a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito composta de 13 membros e igual número de suplentes, obedecido o princípio da proporcionalidade partidária, destinada a, no prazo de 180 dias, apurar:

A responsabilidade civil e criminal de agentes públicos ou privados do Sistema Financeiro Nacional que, por ação ou omissão possam ter causado prejuízo à União - em especial ao Banco Central do Brasil - e cujos bancos tenham sido atingidos, a partir do ano de 1995, por 'intervenção ou colocados em regime de administração especial, bem como investigar em profundidade a prática, denunciada pela imprensa, de

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atividades ilícitas relacionadas com empréstimos e balancetes fictícios, já analisados ou em análise, pelo Banco Central do Brasil e, assim, também, a remessa ilegal de moeda para o exterior.

Requerem, ainda, apurados os fatos, sejam as conclusões da CPI encaminhadas ao Ministério Público para os fins previstos em Lei, assim como a apresentação de sugestões visando a adoção de novos procedimentos legais que impeçam a prática de atos lesivos ao Erário que possam ser praticados por funcionário públicos e demais agentes vinculados ao Sistema Financeiro Nacional.

Sala das Sessões, em 29 de fevereiro de 1995.”

Por fim, no que tange às decisões do Supremo Tribunal Federal, interessa a decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes, no Agravo na Suspensão de Segurança n.º 3.591/São Paulo (14/08/2008):

“Ao deferir o pedido de suspensão de segurança formulado pela Câmara Municipal de São Paulo, entendi demonstrado o risco de grave lesão à ordem pública, em face da decisão judicial que impediu, de modo peremptório, o funcionamento in totum de Comissão Parlamentar de Inquérito (fls. 191-195). Contra esta decisão, a Associação Brasileira das Empresas de Leasing (ABEL), a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI) e a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) interpuseram agravo regimental (fls. 201-398), sustentando que a instauração de CPI, no âmbito da referida casa legislativa, não teria observado o requisito previsto nos arts. 58, § 3º, da CF/88, 33 da Constituição do Estado de São Paulo e 33, § 2º, da Lei Orgânica do Município de São Paulo, consistente na indicação de fato determinado a ser apurado. Segundo os agravantes, a liminar suspensa pela decisão recorrida não se afiguraria lesiva à ordem pública, pois teria como escopo apenas a tutela do direito líquido e certo dos associados dos agravantes de não comparecerem e prestarem depoimento perante Comissão Parlamentar de Inquérito criada sem a indicação de fato determinado. Os agravantes afirmam que, se a CPI “não pode existir, a sua suspensão não pode violar a ordem pública, senão que, dando-se consecução a ela, lesam-se particulares que a ela devem comparecer sob pena de condução coercitiva” (fl. 212). Razão assiste aos agravantes. Sabe-se que, na análise de pedido de suspensão de decisão judicial, não é vedado à Presidência deste Supremo Tribunal Federal proferir juízo mínimo de delibação a respeito das questões jurídicas presentes na ação principal, conforme tem entendido a jurisprudência desta Corte, na qual se destacam os seguintes julgados: SS 846-AgR/DF, Rel. Sepúlveda Pertence, DJ de 29.05.96; SS 1.272-AgR/RJ, Rel. Carlos Velloso, DJ de 18.05.2001. Caso constatado, em análise meramente superficial, que a tese sustentada pelo requerente carece de plausibilidade, há óbice intransponível ao deferimento da medida de contracautela. É o que ocorre no caso. Diante das razões trazidas pelos agravantes, é razoável entender que, na instalação da comissão parlamentar de inquérito, o Poder Legislativo do Município de São Paulo não observou o requisito do art. 58, § 3º, da CF/88, consistente na indicação de fato determinado a ser investigado. Segundo Nelson de Souza Sampaio, “fatos vagos ou imprecisos, que não se sabem onde nem quando se passaram, são meras conjecturas que não podem constituir objeto de investigação” (SAMPAIO, Nelson de Souza. Do Inquérito Parlamentar. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1964, p. 35). No mesmo sentido, o Ministro Celso de Mello, em obra doutrinária, asseverou o seguinte: “Mencione-se, desde logo, que somente fatos determinados, concretos e individuados, ainda que múltiplos, que sejam de relevante interesse para a vida política, econômica, jurídica e social do Estado, são passíveis de investigação parlamentar. Constitui verdadeiro abuso instaurar-se inquérito legislativo com o fito de investigar fatos genericamente enunciados, vagos ou indefinidos. O objeto da comissão de inquérito há de ser preciso” (MELLO, José de Celso. Investigação parlamentar estadual: as comissões especiais de inquérito. Justitia, ano 45, v. 121, p. 150. Cumpre salientar que a Constituição, ao determinar que a CPI tenha por objeto fato determinado, tem por escopo garantir a eficiência dos trabalhos da própria comissão e a preservação dos direitos fundamentais. Ficam impedidas, dessa forma, devassas generalizadas. Se fossem admitidas investigações livres e indefinidas, haveria o risco de se produzir um quadro de insegurança e de perigo para as liberdades fundamentais. Somente a delimitação do objeto a ser investigado pode garantir o exercício, pelo eventual investigado, do direito à ampla defesa e ao contraditório. Acusações vagas e imprecisas, que impossibilitam ou dificultam o exercício desses direitos, são proscritas pela ordem constitucional. No caso, a CPI foi instalada com a finalidade de apurar “os fatos relativos ao não-recolhimento ou ao recolhimento incorreto, pelas

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instituições bancárias, do Imposto sobre Serviços (ISS)”. Em juízo de mera delibação, próprio dos incidentes de contracautela, é razoável entender que o ato instituidor da mencionada CPI veicula apenas enunciados genéricos, não apontando sequer um fato concreto e individualizado que possa dar ensejo ao exercício, pelo Poder Legislativo municipal, de sua função fiscalizadora. Por fim, não é ocioso reafirmar a natureza excepcional das medidas de contracautela, cujo deferimento se condiciona à efetiva demonstração de ofensa à ordem, saúde, segurança e economia públicas. A aferição da ocorrência desses pressupostos não se faz, contudo, de forma totalmente apartada da análise das questões jurídicas suscitadas na ação principal, pois somente a partir dessa análise, ainda que superficial, pode-se, de fato, constatar a ocorrência de lesão a um dos interesses públicos protegidos. Nesse sentido, o seguinte julgado: “(...) A aferição da tese conducente à suspensão quer de liminar, de tutela antecipada ou de segurança não prescinde do exame do fundamento jurídico do pedido. Dissociar a possibilidade de grave lesão à ordem pública e econômica dos parâmetros fáticos e de direito envolvidos na espécie mostra-se como verdadeiro contra-senso. É potencializar a base da suspensão a ponto de ser colocado em plano secundário o arcabouço normativo, o direito por vezes, e diria mesmo, na maioria dos casos, subordinante, consagrado no ato processual a que se dirige o pedido de suspensão. Não há como concluir que restou configurada lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas, fazendo-o à margem do que decidido na origem, ao largo das balizas do ato processual implementado à luz da garantia constitucional de livre acesso ao Judiciário. Na prática de todo e qualquer ato judicante, em relação ao qual é exigida fundamentação, considera-se certo quadro e a regência que lhe é própria, sob pena de grassar o subjetivismo, de predominar não o arcabouço normativo que norteia a atuação, mas a simples repercussão do que decidido. Na espécie dos autos, o juiz natural houve por bem adotar medida acauteladora dada a relevância das razões da impetração - não se teria individualizado o objeto da Comissão Parlamentar de Inquérito, já que ausente a explicitação de fato determinado. Tudo recomenda, assim, a observância da organicidade própria ao Direito, aguardando-se o julgamento do mandado de segurança. Indefiro a suspensão pretendida”. (SS 2.030, Rel. Marco Aurélio, DJ de 08.02.2002) Ante o exposto, reconsidero a decisão de fls. 191-194, com o conseqüente indeferimento do pedido de suspensão de segurança. Publique-se. Brasília, 14 de agosto de 2008. Ministro Gilmar Mendes Presidente”

Resta, assim delineado, que a definição e a concretização do fato determinado de uma Comissão Parlamentar e Inquérito, enquanto conceito jurídico indeterminado, se estabelece diante do caso concreto, sendo, no entanto, necessário que, mesmo na hipótese de multiplicidade de fatos envolvidos, que haja alguma ligação estabelecida, a qual pode se dar tanto nos termos do próprio pedido da Comissão, como nos procedimentos concretamente adotados pela Comissão.

Importante salientar que atuação difusa, desguarnecida da necessária vinculação aos termos dos fatos descritos, pode ensejar a invocação da atuação do Poder Judiciário, tal como estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal.

13. Consoante a petição apresentada, são estes os pontos a investigar:

“a- Ações e inquéritos no âmbito do Polícia Federal, justiça Federal e Ministério Público Federal, com escopo na atuação de autoridades e titulares de cargos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, bem como de pessoas físicas e jurídicas investigadas por fraudes financeiras e atos lesivos ao interesse público, enquadráveis na Lei 9.631/98, art. 1, V e VIII que trata dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção, formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), crimes contra a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) e corrupção ativa (art. 333 do Código Penal). Destaque para a ocorrência de informações privilegiadas em processos licitatórios envolvendo a Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, bem como a Secretaria de obras Públicas, analisadas no âmbito da ‘Operação Solidária’ da Polícia Federal.

b- A conexão entre fatos investigados no âmbito da ‘Operação Solidária’ envolvendo a atuação de agentes políticos, servidores públicos e réus da ação judicial decorrente da ‘Operação Rodin’, que tramita na Vara Federal de Santa Maria, com fatos investigados pela CPI do DETRAN, eis que provas coletadas

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pela Operação Solidária foram compartilhadas no processo judicial da Operação Rodin, conforme decisão do TRF da 4.ª Região, noticiada pelo Jornal Zero Hora de 10/02/09.

c- As revelações públicas da viúva de Marcelo Cavalcante, Magda Koenigkan, apontando para existência de irregularidades financeiras, como a ocorrência de crimes conexos com a campanha eleitoral de 2006. Neste contexto, insere-se a aquisição de imóvel cujo preço informado é discrepante de seu valor de mercado, além do que, conforme afirmou Magda, a origem dos recursos para o pagamento carecem de procedência plausível.

d- A interferência irregular de agentes públicos ou particulares na gestão do Detran, e que culminaram com a exoneração – a pedido – de sua Presidenta, delegada Estella Maris Simon, cuja motivação vincula-se a um passivo financeiro não admitido pela mesma, sendo este porém, ratificado de imediato pela senhora governadora. A suposta credora, empresa Atento Ltda. cobrou a liquidação do débito da Secretaria de Transparência do Governo Estadual, revelando uma anomalia administrativa que precisa ser esclarecida, sendo o pagamento foi sustado mediante óbice do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.

e- As afirmações da Deputada Federal Luciana Genro e do Vereador de Porto Alegre Pedro Ruas em entrevista coletiva do dia 19 de fevereiro de 2009, que existem provas documentais, áudios e vídeos que comprovam crimes ocorridos no seio da Administração Público do Estado, e que estariam em poder do Ministério Público Federal integrando uma delação premiada de Lair Ferst.”

Convém, tendo em vista ponderação apresenta contra o pedido ora em exame, transcrever o objeto da já finda CPI do Detran:

“a) o alto valor cobrado pelo Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN/RS para realização dos exames práticos de habilitação para conduzir veículos automotores no Estado do Rio Grande do Sul, cujo custo mínimo é de R$ 805,71, o terceiro mais caro entre os 10 maiores Estados do país.

b) o índice de reprovação nestes mesmos exames, que atualmente está em torno de 48% dos candidatos à licença;

c) a contratação pelo DETRAN/RS, com dispensa de licitação, de fundações privadas para aplicação destes exames, bem como a transferência, por tais fundações, das tarefas contratadas com Estado para empresas privadas, as quais eram repassadas a quase totalidade da remuneração recebida do DETRAN/RS, o que pode representar fraude a Lei de Licitações;

d) o beneficiamento financeiro de pessoas, servidores e dirigentes estaduais responsáveis pelo DETRAN/RS e pela execução do referido contrato por pare destas empresas privadas, fato que configura, em tese, crime tributário, contra a administração pública e improbidade administrativa, todos praticados contra interesses deste Estado;

e) a participação de várias pessoas, inclusive servidores estaduais, em possível esquema criminoso de desvio de recursos públicos relacionado com os referidos contratos realizados pelo DETRAN/RS, conforme ficou evidenciado pela investigação realizada pelo Departamento de Polícia Federal, através da operação RODIN.

f) a contratação e o credenciamento de empresas para execução dos serviços de remoção, depósito e guarda de veículos, sucatas e similares, inclusive sua execução, controle e fiscalização pelo DETRAN/RS.”

14. Podemos referir diversas outras Comissões Parlamentares de Inquérito e seus respectivos objetos (fato ou fatos determinados).

Eram os fatos na CPI dos Pedágios:

“Os Deputados signatários, ao abrigo do Regimento desta Casa Legislativa, com fundamento nos arts. 45, II, 83 a 88, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que denominar-se-á “CPI dos Pólos de Pedágios”, para apurar fatos determinados, todos relacionados com as licitações, os respectivos contratos de concessões

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rodoviárias, firmados entre o Poder Concedente Estadual, através do DAER/RS e as empresas concessionárias em virtude das Leis nºs 10.698, 10.699, 10.700, 10.701, 10.702, 10.703, 10.704, 10.705 e 10.706, todas de 12 de janeiro de 1996, e suas alterações, o Termo Aditivo nº 1, Lei nº 11.545, de 22 de novembro de 2000, sua prorrogação através da Lei nº 12.204, de 29 de dezembro de 2004 e da Lei 12.304, de 08 de julho de 2005, e seus corolários, pelos fatos que a seguir relacionam:

Fato nº 1: As tarifas praticadas nos contratos de concessão, conforme recente pesquisa realizada pela AGERGS, são consideradas elevadas por mais de 78 % dos usuários das rodovias, e destes, 77,1% pregam redução do preço e melhorias para garantir a qualidade das estradas, pois evidente o total descompasso entre os encargos impostos aos usuários e as contraprestações das concessionárias.

O crescimento das tarifas para automóveis e veículos de carga foi superior ao crescimento do PIB e PIB per-capita do Rio Grande do Sul, dos salários das diversas categorias profissionais e das remunerações dos servidores do Estado. Mesmo com a queda do volume do tráfego pedagiado a partir de 2001, houve crescimento significativo da receita dos concessionárias, o que motiva, com urgência, a revisão do equilíbrio contratual, sendo a sua inobservância prejudicial aos usuários, que suplicam por respostas e, por isso, recorrem a esta Casa para restabelecer seus direitos.

Além disso, e nessa seara, imperioso destacar a existência de dúvidas acerca da data-base da tarifa, que influencia substancialmente nos reajustes, elevando os valores pagos pelos usuários.

O montante de recursos envolvidos é vultoso, tornando obrigatória a apresentação aos gaúchos de cabal demonstração dos cálculos e dos processos de revisão de tarifas praticadas, desde o início do PECR, conforme previsão contida na Lei nº 10.086, de 24 de janeiro de 1994, art. 13, § 3° e na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 - Código de Defesa do Consumidor -, art. 6°, inciso VIII.

Fato nº 2: A inobservância no processo licitatório dos dispositivos normativos contidos especialmente no art. 15, inciso II, da Lei Federal nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que prevê, para os Editais de Concorrência dos pólos, ser o tipo de licitação o ‘da maior oferta de pagamento’.

Fato nº 3: A ocorrência de um tipo de combinação condenada pelo art. 90 da Lei nº 8.666/93, envolvendo os pólos disputados pela CONVIAS, METROVIAS E SULVIAS, todas entreameadas pelos mesmos sócios, o que evidencia a quebra de confidencialidade na realização do certame;

Fato nº 4: A introdução de novos trechos de rodovias e novas praças de arrecadação, violando a legislação que criou o Programa Estadual de Concessão Rodoviária – PECR, bem como a inadequada localização das praças de pedágios, que, inobstante proibição expressa no edital, foram instalados em áreas urbanas, algumas inclusive entre bairros.

Fato nº 5: A adequação dos serviços prestados aos usuários, a equidade na forma de cobrança das tarifas, a correção da estrutura tarifária, a efetiva prestação dos serviços correspondentes a tarifa paga no momento do uso da via, a correspondência entre a extensão do trecho pedagiado e a extensão da viagem com o valor da tarifa cobrada, são questões que devem ser apuradas para salvaguardar a regularidade dos contratos, bem como o direito dos cidadãos, face a sua hipossuficiência e fragilidade ante os contratos em situação de monopólio privado.

Fato nº 6: A existência de disparidades entre os valores constantes nas propostas comerciais contratadas e aqueles indicados nos projetos de engenharia econômica, para cada Pólo de Concessão Rodoviária do Estado, impõe a apuração de ocorrência de superfaturamento na contratação de serviços e insumos. Justifica a necessidade desta averiguação, o Relatório de Auditoria Especial nº 006-28/99 (págs. 6 a 9) exarado pela Contadoria e Auditoria-Geral do Estado – CAGE.

Fato nº 7: A AGERGS, em seu parecer, quando da análise das medidas de reequilíbrio dos contratos do Programa de Concessões Rodoviárias do Rio Grande do Sul, concluiu:

“Investimentos não realizados. Conforme diagnóstico, as concessionárias deixaram de realizar a totalidade de investimentos para a restauração e manutenção, não alcançando em razão disso os níveis previstos na qualidade da rodovia, bem como deixaram de executar investimentos de melhorias previstas

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em contratos. Os investimentos não realizados são considerados desequilíbrios contratuais, devendo ser corrigidos.”

Mostra-se, dessa forma, necessário investigar, ano a ano, a execução dos investimentos contratados e os quantitativos de serviços realizados em comparação com os propostos. Constatados inadimplementos no que tange a investimentos não realizados, ou má qualidade das rodovias, deverão ser identificadas as causas e as conseqüências para os usuários e consumidores.

Fato n° 8: Ineficácia do sistema de fiscalização dos contratos, dos procedimentos adotados de verificação e auditagem das informações sobre o fluxo de veículos, os custos de operação do sistema e a arrecadação de tarifas, informados pelas próprias Concessionárias.

A disponibilidade desses dados e a sua precisão são elementos indispensáveis à permanente monitoração do equilíbrio do contrato e da modicidade da tarifa. Existem relatos de que solicitações dos usuários e pedidos de informações, oriundos inclusive desta Casa, não recebem resposta adequada e oportuna.

Esta realidade é muito grave, pois a falta de transparência e publicidade dos atos da administração nega à coletividade e aos usuários das rodovias pedagiadas o direito legal e contratual ao recebimento das informações essenciais para a defesa dos seus interesses, dificultando o cumprimento da fiscalização pela sociedade e por esta Casa Legislativa.

Fato n° 9: Existência de ação judicial, já em fase de liquidação de sentença, promovida contra o Estado, em descumprimento a compromisso expresso em parte integrante da proposição que originou a Lei nº 11.545, de 22 de novembro de 2000, nos seguintes termos:

“As concessionárias se comprometem a liquidar o passivo judicial com o Poder Concedente até a data da assinatura dos termos aditivos, renunciando, assim, a todo e qualquer direito que julguem possuir referente aos contratos de concessão, por atos ou fatos anteriores àquela data.”

Todos os fatos acima apontados possuem interligação, estando intimamente vinculados com o fato principal, ou seja, a concessão dos Pólos Rodoviários, mediante licitações amparadas nas supracitadas leis.”

Eram os fatos da CPI dos Combustíveis:

“Os Deputados que este subscrevem, com base no que dispõe o artigo 56, § 4º da Constituição Estadual e os artigos 83 e seguintes do Regimento Interno, vêm, respei-tosamente à presença de Vossa Excelência, expor e requerer o que segue:

1. No Estado do Rio Grande do Sul, não existe uma explicação lógica, para o enigma da disparidade nos preços dos combustíveis entre cidades vizinhas uma da outra.

2. Fatores como o custo do frete dos combustí-veis, diferenças de valores da mesma distribuidora para postos diferentes, a sonegação fiscal e a adulteração do produto, principalmente da gasolina (adição de álcool, ó-leo diesel ou solvente), são apontados como responsáveis pela significativa discrepância no preço dos combustíveis no Estado

3. Os constantes aumentos nos preços de combustí-veis têm-se verificado que em várias regiões do Estado a-plicam-se valores diferenciados no preço final do mesmo

4. Pelo exposto, os Deputados signatários vêm respeitosamente à presença de Vossa Excelência requerer a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito, no âmbi-to da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, a ser denominada CPI DOS COMBUSTÍVEIS, para apurar, no prazo regimental, as causas de tal situação e investi-gar indícios de prática de adulteração de combustível, práticas estas predatórias causando desequilíbrio no mer-cado.”

Era o objeto da CPI do Leite:

“... apurar, no prazo regimental, as causas da exclusão de produtores rurais da atividade leiteira e investigar indícios da prática de infrações da ordem econômica na cadeia produtiva do leite e seus

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derivados, com ênfase aos aspectos relacionados à formação do preço do leite recebidos pelos agricultores e pagos pelos consumidores finais.”

Era o pedido da CPI da Segurança Pública:

“Os Deputados signatários, com fundamento no artigo 56, § 40, da Constituição do Estado, e artigos 83 e seguintes do Regimento Interno desta Assembléia, comparecem respeitosamente à presença de Vossa Excelência a fim de requerer a instituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para no prazo regimental apurar os fatos apontados a seguir, na área de segurança pública do Estado:

DESESTRUTURAÇÃO DO APARELHO POLICIAL

1. Desde a sua criação, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e respectivas delegacias especializadas vinham mantendo nível razoável de combate à chamada criminalidade violenta. A partir de Julho de 2000, a determinação da transferência dessas atribuições para delegacias não especializadas vem ocasionando acréscimo à impunidade, em virtude da dificuldade e desaparelhamento destas últimas para a investigação criminal. A situação chegou a tal ponto que membros do Ministério Público que atuam na Vara do Júri da Capital denunciaram publicamente a falta de qualidade dos inquéritos policiais elaborados por delegacias distritais, inviabilizando o trabalho da Justiça.

2. A contenção da criminalidade considerada de baixo potencial ofensivo, regulada pela Lei Federal n0 9.099/95, que introduziu o ato de polícia judiciária na matéria, denominado de termo circunstanciado (art. 69), vem tendo da Polícia Civil, segundo dados disponíveis de seus Relatórios, o seguinte desempenho, desde então, pelas médias anuais respectivas,

1996 a 1998 1999 a 2000 Incremento

68.173 149.352 119,00%,

a explicar a atual dedicação quase exclusiva da polícia judiciária aos chamados delitos de bagatela, em detrimento dos crimes violentos, para o que é indispensável a qualificação e potencialização de seus meios humanos e materiais.

Assim, nos últimos dois (02) anos, a Polícia Civil entrega se quase que exclusivamente a atos cartoriais.

3. Sucateamento do Instituto Geral de Perícias, denunciado por especialistas e entidades representativas do setor, em março de 2001, com a acumulação de mais de cinco mil armas aguardando perícia no Departamento de Criminalística, sem qualquer segurança; inviabilização de perícias de incêndio; denúncia de manipulação de laudos feita pelo SINDIPERÍCIA perante a Comissão de Serviços Públicos desta Assembléia Legislativa.

4. Expedição de carteiras de identidade pelo Departamento de Identificação, sem pesquisa datiloscópica, dando margem a fraudes.

5. Termo de Convênio n.º 062/2000, celebrado entre a Secretaria da Justiça e da Segurança e o Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços Funerários do Rio Grande do Sul, estabelecendo a responsabilidade pelo traslado de corpos do local onde são encontrados até as dependências do Departamento Médico Legal a entidades privadas e pessoas não habilitadas, podendo gerar graves e irreparáveis prejuízos ao trabalho técnico e especializado dos peritos criminalísticos, convênio esse até a presente data não enviado ao Poder Legislativo.

6. O fechamento de delegacias regionais de polícia, com "desmonte das instituições que compõem o sistema de Segurança Pública do Estado", conforme denúncia da Federação das Entidades de Classe da Área de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul FECASP RS, representando 13 sindicatos e associações de servidores da área, consubstanciada em ofício de 13 de março último, onde solicitam uma CPI para "investigar os motivos que estão levando o Estado do Rio Grande do Sul a se encontrar em elevada e gritante condição de insegurança pública".

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7. A iminência de greve dos servidores da área de segurança pública, noticiada em documento encaminhado à Assembléia Legislativa.

8. A introdução da Brigada Militar na FEBEM, transgredindo a atribuição constitucional da Polícia Militar e, em conseqüência, desguarnecendo o policiamento das ruas.

DESPROPORÇÃO ENTRE O NÚMERO DE OCORRÊNCIAS E DE INQUÉRITOS POLICIAIS

9. A Lei Estadual 11.343, de 8 de Julho de 1999, que dispôs sobre o registro e divulgação dos índices de violência e criminalidade no Estado, vem sendo reiteradamente descumprida. Essa violação oculta da população e da fiscalização parlamentar o assustador incremento da criminalidade violenta, e a inoperância dos órgãos de segurança.

Com efeito, ao lado de não estarem disponíveis dados estatísticos a que se refere a mencionada Lei, inobstante, naqueles a que se pode ter acesso, já se pode constatar o quanto afirmado.

De fato e pelo teor dos elementos oriundos de Relatórios limitados à Polícia Civil, se pode verificar, por exemplo, quanto às médias de delitos levantados dos anos de 1994 a 1998 e, separadamente, dos anos de 1999 e 2000, largo incremento,

1994 a 1998 1999 e 2000 Incremento

Furto de veículos 13.692 21.262 55,28%

Roubos 28.886 45.292 56,79%

Arrombamentos 38.423 43.186 12,39%

e, no entanto, quanto a inquéritos policiais nos mesmos períodos, se observa a alarmante defasagem pelas seguintes médias,

1994 a 1998 1999 e 2000 Defasagem

151.414 106.054 29,95%

Urge verificar as causas e as autoridades responsáveis pelo paradoxo: enquanto os fatos delituosos se multiplicam, o número de inquéritos, que deveria crescer proporcionalmente ao incremento da criminalidade, diminui!

EMPREGO DE TÉCNICAS ILÍCITAS DE ESPIONAGEM

10. O Departamento de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Secretaria da Justiça e da Segurança adquiriu recentemente e vem fazendo uso, sem autorização judicial, de equipamentos eletrônicos de alta tecnologia na escuta e controle telefônico, inclusive digital, localizados em malas portáteis, aquisição essa provavelmente feita com recursos do Fundo Especial de Segurança Pública FESP.

A atuação dos chamados órgãos de inteligência, distribuídos pela própria Secretaria da Justiça e da Segurança, Brigada Militar e Polícia Civil, provoca permanente inquietude na sociedade, dada a completa ausência de controles públicos sobre suas atividades.

Na Secretaria, opera o Departamento de Inteligência e Assuntos Estratégicos (DIAE/SJS), integrado por oficiais e praças da Brigada Militar, delegados e agentes da Polícia Civil.

Na Brigada Militar, um contingente significativo de oficiais e praças, sob o comando de um Coronel PM, operam esse serviço secreto, a PM 2 ou 2a seção do Estado Maior, temido pelas práticas informais de atuação, freqüentemente delituosas, como escutas telefônicas sem autorização judicial, dispondo de arquivos secretos, recursos específicos, aparelhos eletrônicos de vigilância e frota de veículos discretos com seu pessoal operando em trajes civis. Na Polícia Civil, o órgão denomina se Serviço de Informações Especiais, ligado diretamente ao Chefe de Polícia e opera nas mesmas condições.

É impositivo o conhecimento e controle público desses serviços, cujo volume de recursos que movimenta é expressivo e que, geralmente, atua em duplicidade de esforço nas tarefas ordinariamente cometidas às Corregedorias da Polícia Civil e Brigada Militar.

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FUNDO ESPECIAL DE SEGURANÇA PÚBLICA FESP

11. A Lei Estadual n.º 10.839/96 autorizou a extinção de vários fundos, dentre eles o FUNDESP/RS Fundo Especial de Reaparelhamento de Segurança Pública (Lei 6.704 64), Fundo da Brigada Militar (Lei 9.706/92), Fundo da Polícia Civil (Lei n. 10.035/93) e criou o Fundo Especial da Segurança Pública FESP, para apoiar, em caráter supletivo, as atividades e projetos da Secretaria da Justiça e da Segurança. A referida lei determinou a destinação dos recursos do FESP às Instituições que integram a Secretaria, mensalmente, com a liberação efetiva, no mínimo, dos valores correspondentes às receitas por si geradas, ainda que oriundas de serviços terceirizados (artigo 40).

Contudo, tais aportes não têm sido feitos regularmente àquelas Instituições, em prejuízo de seu reaparelhamento e, assim, da eficiência na prestação dos serviços de segurança à população.

EMPRESAS DE SEGURANÇA PRIVADA

12. A imprensa seguidamente noticia o fato de policiais, civis e militares, principalmente estes últimos, vitimados ou feridos em confrontos com assaltantes, quando, de folga, trabalhavam particularmente para empresas de segurança privada ou assessorias de segurança, com remuneração mais elevada do que aquela obtida do Estado, que os habilitou para tal serviço.

Cansados da jornada dupla, quando trabalham para o Estado esses policiais não dão resposta adequada ao serviço público.

Essas empresas e assessorias, geralmente, são controladas por oficiais PM de alta patente e autoridades policiais, mas não se conhece controle das mesmas, nem do pessoal que contratam, revelando uma perigosa tendência para a privatização da segurança preventiva, que passa a ser privilégio de quem pode pagar, em detrimento do policiamento ostensivo voltado para a população em geral.

Tal fato também merece investigação.

A apuração dos fatos acima indicados, pois, visa a estabelecer as causas do aumento dos níveis da criminalidade no Estado, das insistentes notícias do desaparelhamento dos órgãos policiais e da incapacidade do Governo em atender às necessidades elementares de segurança da população do Estado, bem assim identificar as autoridades que, por ação ou omissão no cumprimento dos seus deveres, dão causa à situação existente para o fim de promover sua responsabilidade, criminal ou civil, nos termos da Constituição, das leis e dos interesses da coletividade rio-grandense.”

Era o objeto da CPI do Crime Organizado:

“... investigar e apurar, à luz dos princípios constitucionais que regem a administração pública, os fato relativos às ramificações do esquema do crime organizado no Estado do Rio Grande do Sul identificados preliminarmente pela CPI do Congresso Nacional, investigando-se a ação de quadrilhas envolvidas em tráfico de drogas, roubo de cargas, lavagem de dinheiro, acumulação de riqueza indevida, prática de fraude difusa, e apurando-se o uso de meios tecnológicos sofisticados por estas organizações criminosas, o esquema de recrutamento de pessoas e divisão funcional das atividades, suas conexões locais, regionais, nacionais ou internacionais com outras organizações de igual caráter e conexão estrutural ou funcional com poder público ou com agentes do poder público.”

Na CPI da Ford:

“... apurar o fato determinado que resultou na perda da montadora FORD, ...”

Na CPI da Invasão:

“... investigar e apurar os fatos, no prazo legal, que culminaram com a invasão do Plenário da Assembléia Legislativa no dia 23 de julho último, indicando os responsáveis diretos pela invasão e todos quanto dela participaram direta ou indiretamente, encaminhando-se afinal para o Ministério Público a fim de proceder a responsabilização dos envolvidos.”

E, por fim, na CPI do Detran, de 1997:

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“... investigar e apurar, à luz dos princípios constitucionais que regem a administração pública, os fatos relativos ao processo de autarquização e terceirização dos serviços do Departamento de Trânsito - DETRAN, inclusive quanto à participação de pessoas físicas e jurídicas, especialmente do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito - INST e da Federação Nacional das Seguradoras - FENASEG, bem como sobre a existência e natureza das relações dessas pessoas, de seus diretores e agentes, com disputantes nos processos licitatórios, credenciados para prestação dos serviços do órgão, e agentes públicos de qualquer nível.”

Verifica-se, assim, que o proceder do Poder Legislativo, ao longo dos anos, tem conferido tratamento de cunho mais genérico à questão da determinação do objeto a ser investigado pelas Comissões Parlamentares de Inquérito, principalmente em razão de sua natureza, em que pese ser análoga, não se vincula aos estritos limites das investigações tipicamente policiais.

É de ser mencionada situação específica envolvendo o objeto pretendido para a então denominada CPI da Segurança Pública, na qual, entre os fatos dignos de investigação, havia situações envolvendo o exame de atos afeitos ao exercício do poder discricionário pelo Poder Executivo. Nessa ocasião, tendo em vista que o mérito administrativo, ou seja, os critérios próprios de oportunidade e conveniência dos atos administrativos não eram sindicáveis, à exceção de aspectos atinentes à competência da autoridade responsável e ao atendimento de requisitos legais e constitucionais de sua edição, foi apresentada ponderação quanto à necessidade de ser observada essa situação específica. Ressalta-se, porém, que não houve a exclusão de fatos propostos, mas sugestão quanto aos limites de sindicabilidade.

De interesse, transcrevemos o trecho pertinente da manifestação então produzida:

“9. Resta, no entanto, o último requisito, qual seja o de que o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito contenha um fato determinado. Consoante a petição de folhas 02 a 08, é o foco da comissão parlamentar de inquérito ora pretendida:

“...estabelecer as causas do aumento dos níveis da criminalidade no Estado, das insistentes notícias do desaparelhamento dos órgãos policiais e da incapacidade do Governo em atender às necessidades elementares de segurança da população do Estado, bem assim identificar as autoridades que, por ação ou omissão no cumprimento dos seus deveres, dão causa à situação existente para o fim de promover sua responsabilidade, criminal ou civil.”

Os fatos que ensejaram o pedido foram listados no requerimento, sendo um total de doze diferentes fatos, os quais foram organizados em cinco grupos distintos. São, sinteticamente, os fatos:

I - Desestruturação do aparelho policial:

1) transferência de atribuições do DEIC;

2) instituição dos termos circunstanciados;

3) situação do IGP;

4) expedição de carteiras de identidade;

5) serviços funerários;

6) fechamento de Delegacias Regionais;

7) possível greve;

8) Brigada Militar na FEBEM.

II - Desproporção entre o número de ocorrências e de inquéritos policiais:

9) registro e divulgação de índices estatísticos.

III - Emprego de técnicas ilícitas de espionagem:

10) serviços secretos.

IV - Fundo Especial de Segurança Pública - FESP:

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11) destinação de recursos.

V - Empresas de segurança privada:

12) empresas controladas por oficiais da Brigada Militar.

[...]

É forçoso reconhecer que o presente pedido de comissão parlamentar de inquérito, apresentado por 40 Deputados Estaduais, difere daquele supra transcrito, tendo em vista que os fatos apontados estão devidamente identificados, de forma que o âmbito das investigações já está determinado, não podendo ser modificado, salvo o surgimento de fatos novos decorrentes estritamente do resultado dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito.

12. Deve ser ressaltado, agora, que alguns dos fatos relacionados no Requerimento n.º 02/2001 dizem respeito com atribuições específicas do Poder Executivo de estabelecer, por seus critérios próprios de oportunidade e conveniência (mérito administrativo) a estrutura dos órgãos públicos estaduais.

Neste caso, as autoridades públicas investigadas não estariam sujeitas a qualquer punição, criminal ou civil, desde que tenham atuado dentro do âmbito já mencionado dos critérios de oportunidade e conveniência do Administrador Público. Se legais as decisões administrativas adotadas, no sentido de sua formalidade, fica dificultada qualquer penalização posterior de seus autores. Estão nesta situação os fatos relacionados nos itens n.º 1, n.º 2 e n.º 6.

Vale a transcrição de trecho de decisão proferida pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal no Habeas Corpus n.º 72.082, julgado em 19 de abril de 1995, cujo acórdão foi publicado no Diário da Justiça de 1º de março de 1996:

“II. A expulsão é ato discricionário do Poder Executivo. Não se admite, no entanto, ofensa à lei e falta de fundamentação. Contra o ato expulsório são possíveis recurso administrativo - pedido de reconsideração - e apelo ao Poder Judiciário. Quanto a este, o escopo de intervenção é muito estreito. Cuida o Judiciário apenas do exame da conformidade do ato com a legislação vigente. Não examina a conveniência e a oportunidade da medida, circunscrevendo-se na matéria de direito: observância dos preceitos constitucionais e legais (HHCC 58.926 - RTJ 98/1045 e 61.738 - RTJ 110/650, entre outros).”

Podemos apontar, nessa mesma linha de entendimento quanto à limitação ao exame do mérito administrativo, o Mandado de Segurança n.º 20.999, julgado, em 21 de março de 1990, igualmente pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, cuja decisão foi publicada no Diário da Justiça de 25 de maio de 1990 (página 4.605):

“Mandado de Segurança - Sanção disciplinar imposta pelo Presidente da República - Demissão qualificada - Admissibilidade do mandado de segurança - Preliminar rejeitada - Processo administrativo-disciplinar - Garantia do contraditório e da plenitude de defesa - Inexistência de situação configuradora de ilegalidade do ato presidencial - Validade do ato demissório - Segurança denegada.

1. A Constituição Brasileira de 1988 prestigiou os instrumentos de tutela jurisdicional das liberdades individuais ou coletivas e submeteu o exercício do poder estatal - como convém a uma sociedade democrática e livre - ao controle do Poder Judiciário. Inobstante estruturalmente desiguais, as relações entre o Estado e os indivíduos processam-se, no plano de nossa organização constitucional, sob o império estrito da lei. A “rule of law”, mais do que um simples legado histórico-cultural, constitui, no âmbito do sistema jurídico vigente no Brasil, pressuposto conceitual do Estado Democrático de Direito e fator de contenção do arbítrio daqueles que exercem o poder. É preciso evoluir, cada vez mais, no sentido da completa justiciabilidade da atividade estatal e fortalecer o postulado da inafastabilidade de toda e qualquer fiscalização judicial. A progressiva redução e eliminação dos círculos de imunidade do poder ha de gerar, como expressivo efeito conseqüencial, a interdição de seu exercício abusivo. O mandado de segurança desempenha, nesse contexto, uma função instrumental do maior relevo. A impugnação judicial de ato disciplinar, mediante utilização desse “writ” constitucional, legitima-se em face de três situações possíveis, decorrentes (1) da incompetência da autoridade, (2) da inobservância das formalidades essenciais e (3) da ilegalidade da sanção disciplinar. A pertinência jurídica do mandado de segurança, em

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tais hipóteses, justifica a admissibilidade do controle jurisdicional sobre a legalidade dos atos punitivos emanados da administração pública no concreto exercício do seu poder disciplinar. O que os juízes e tribunais somente não podem examinar nesse tema, ate mesmo como natural decorrência do principio da separação de poderes, são a conveniência, a utilidade, a oportunidade e a necessidade da punição disciplinar. Isso não significa, porém, a impossibilidade de o Judiciário verificar se existe, ou não, causa legitima que autorize a imposição da sanção disciplinar. O que se lhe veda, nesse âmbito, e, tão-somente, o exame do mérito da decisão administrativa, por tratar-se de elemento temático inerente ao poder discricionário da administração pública.”

De tal modo, o âmbito de investigação possível a uma comissão parlamentar de inquérito, no que tange a situações envolvendo decisões decorrentes de critérios próprios de oportunidade e conveniência do Administrador Público, ou seja, dentro do âmbito de sua discricionariedade administrativa, pode dar-se em face: (1) da incompetência da autoridade, ou (2) da inobservância das formalidades essenciais.

A discussão quanto ao mérito administrativo do Administrador Público refoge à competência constitucional das comissões parlamentares de inquérito, tendo em vista ser um de seus objetivos principais a apuração de responsabilidades civis e criminais para indicação ao Ministério Público (inciso III do artigo 88 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul - Resolução n.º 2.288, de 18 de janeiro de 1991).

Pode haver investigação, ressalta-se, se os atos foram praticados em discordância com as formalidades legais pertinentes ou provenientes de autoridade incompetente. A investigação da comissão parlamentar de inquérito ora em tela, quanto aos itens n.º 1, n.º 2 e n.º 6 deverá ser restrito a esse aspecto.

Por óbvio que a comissão parlamentar de inquérito, em seu relatório final, poderá apresentar todas as considerações e sugestões que entender concernentes - quanto a tais itens - à melhoria dos serviços policiais no Estado.

[...]

O Requerimento n.º 02/2001 dispõe que o objetivo da comissão parlamentar de inquérito é apurar as causas do aumento dos níveis de criminalidade no Estado, bem como as autoridades públicas eventualmente responsáveis. A eventualidade de greve é decorrência indireta da situação observada na segurança pública estadual.

Tal situação não prejudica a instauração da comissão parlamentar de inquérito quanto aos demais itens relacionados pelos senhores Deputados Estaduais.

14. Definido o âmbito de atuação da comissão parlamentar de inquérito, através dos focos descritos pelos fatos apontados no Requerimento n.º 02/2001, a modificação ou acréscimo de novos fatos - consoante iterativa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - pode dar-se na medida em que as novas situações guardarem relação direta com os fatos iniciais, devendo haver expressa justificativa quanto aos acréscimos pretendidos.”

Principiologicamente, na medida da própria importância constitucional do instituto das comissões parlamentares de inquérito, por óbvio que a interpretação de seus limites deve objetivar, ao máximo, a sua ampliação e não a sua restrição.

A adoção de um entendimento excessivamente restritivo em relação ao proceder reiterado desta Assembléia Legislativa representaria uma inovação injustificada, em que se estaria ultrapassando os limites possíveis ao exame ora pretendido.

15. As achegas apresentadas nos itens imediatamente anteriores são aplicáveis ao presente item, na medida em que a amplitude do trabalho investigativo - no que tange ao seu suporte constitucional - deve observar a competência determinada pela Constituição Estadual de 1989.

O objeto a ser investigado através do presente requerimento, observada a competência estadual, se enquadra, a rigor, na hipótese constitucional genérica, de forma que estaria presente o quarto e último requisito autorizador para a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito. É possível perceber que o foco da investigação, salvo melhor juízo, o qual é da competência exclusiva dos senhores Parlamentares,

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envolve o estabelecimento de um núcleo organizado de pessoas cujas ações teriam sido aventadas pelas investigações denominadas Operação Rodin e Operação Solidária, pois esta é a forma de perceber um fio central condutor para a investigação a ser realizada. Ressalta-se, no entanto, mais uma vez, que esse fio condutor é da exclusiva dos eventuais futuros integrantes da Comissão, cujas deliberações devem observar essa situação.

Assim, a adoção de uma leitura restrita ao requisito do fato determinado não estaria em consonância com o proceder reiterado desta Casa Legislativa, consoante os objetos das CPIs supra transcritas. E, importante, não se pode deixar de levar em conta que os fatos descritos envolvem, principalmente, documentos constantes de inquéritos ou feitos judiciais tramitando em sigilo de justiça, situação que impede, neste momento de exame prévio, a existência ou não de alguma ligação entre eles, o que será verificado com o eventual recebimento das informações nele constantes.

16. Assim, em uma resposta concreta ao questionamento apresentado pelo PSDB, levando-se em conta a trajetória deste Poder Legislativo no tocante à delimitação estabelecida para as comissões parlamentares de inquérito, não se observa que, no presente pedido, haja extrema indeterminação no objeto pretendido, a justificar o indeferimento do pedido, em que pese seja necessário que a futura Comissão adote, em seu proceder, cuidado na adoção de uma conduta que compatibilize os diferentes fatos narrados, sob pena de criar espaço sujeito a questionamentos judiciais.

Diversamente das decisões judiciais, as quais produzem o que se denomina de coisa julgada material, as investigações, em geral, e os inquéritos, em espécie, diversamente, não, ainda mais quando envolvidas eventuais novas provas ou analisadas questões anteriormente não suscitadas.

Além disso, eventual violação ao princípio do “ne bis in idem” acaba por ser viabilizado apenas no caso concreto, sendo extremamente difícil seu apontamento prévio. E, mais uma vez, deve ser levado em conta a inaplicabilidade do estabelecimento de coisa julgada material em procedimentos investigativos.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite o estabelecimento de uma relação de fatos determinados a disciplinar os objetivos de uma comissão parlamentar de inquérito, ponderando, no entanto, que essa possibilidade é admitida em situações nas quais se observa uma multiplicidade de fatores relacionados. O cuidado a ser adotado diz respeito ao estabelecimento de um procedimento que relacione, direta ou indiretamente, os diferentes fatos relatados, consoante o objetivo fundante do pedido apresentado.

Interessante a referência, neste ponto, a trecho da fundamentação utilizada pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, para negar a medida liminar pleiteada no Mandado de Segurança n.º 24.458:

“[...] Cabe relembrar, neste ponto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, reconheceu a possibilidade de qualquer das Casas do Congresso Nacional - agindo nos estritos limites de sua competência institucional - realizar investigações ou promover inquéritos e sindicâncias, com o objetivo de apurar fatos sujeitos a procedimentos incluídos em sua esfera de atribuições (precisamente como no caso), não obstante esses mesmos fatos possam constituir objeto de inquéritos policiais ou, até mesmo, de processos judiciais em curso: "AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. Doutrina. Precedente: MS 23.639-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno)." (MS 23.652/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Esse entendimento jurisprudencial reflete-se, por igual, no magistério de eminentes autores (JOÃO DE OLIVEIRA FILHO, "Comissões Parlamentares de Inquérito", in Revista Forense, vol. 151/9-22, 13; ALCINO PINTO FALCÃO, "Comissões Parlamentares de Inquérito - Seus Poderes Limitados - Relações com a Justiça - Testemunhas", in Revista Forense, vol. 185/397-399, item n. 4; JOSÉ LUIZ MÔNACO DA SILVA,

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"Comissões Parlamentares de Inquérito", p. 34-35, 1999, Ícone; ROGÉRIO LAURIA TUCCI, "Comissão Parlamentar de Inquérito (Atuação - Competência - Caráter investigatório)", in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 6/171-185, 180; CARLOS MAXIMILIANO, "Comentários à Constituição Brasileira de 1946", vol. 2/80, item n. 315, 5ª ed., 1954, Freitas Bastos): "Em virtude da natureza da investigação parlamentar, nada impede, entre nós, que ela se realize paralelamente com o inquérito policial ou o processo judiciário." (NELSON DE SOUZA SAMPAIO, "Do Inquérito Parlamentar", p. 45/46, 1964, Fundação Getúlio Vargas - grifei) Presentes todas as razões ora expostas, mas considerando, sobretudo, o precedente firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, "Caso Talvane Neto"), entendo que resulta descaracterizada, na espécie, a plausibilidade jurídica da pretensão mandamental ora deduzida. [...]”

Neste mesmo sentido a decisão proferida pela Ministra Cármen Lúcia na Reclamação n.º 7.451:

“[...] Neste sentido, a doutrina que este Supremo Tribunal Federal fixou a partir do julgamento do Mandado de Segurança 23.639, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, unânime, in DJ de 16/2/01, verbis: ‘O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa – sempre respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição – promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual.’” O fundamento ali aproveitado, à toda evidência, é válido na situação igual com os movimentos e instâncias invertidas: investigação, em inquéritos policiais ou processos judiciais, de fatos que também sejam objeto de investigação por Comissão Parlamentar de Inquérito. [...]”

Vê-se, assim, que o objeto de uma comissão parlamentar de inquérito pode abranger, inclusive, o trabalho desenvolvido em outros procedimentos investigados, face ao caráter abrangente conferido pela Constituição Federal às investigações conduzidas pelo Poder Legislativo.

17. Interessa, no presente estudo, a menção a quatro princípios essenciais para o bom desenrolar de comissões parlamentares de inquérito.

Podemos visualizar os seguintes princípios.

Em primeiro lugar, não há como se deixar de apontar o princípio – implícito, mas largamente reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência, inclusive do Supremo Tribunal Federal – de que as Comissões Parlamentares de Inquérito, alicerçadas no princípio democrático, constituem direitos constitucionais subjetivos das minorias parlamentares, razão pela qual a sua formação independe da vontade da maioria parlamentar e de deliberação do plenário da Assembléia Legislativa, salvo para sua eventual prorrogação. Importante mencionar, neste ponto, que o principal efeito decorrente da constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito é a ampliação dos poderes usualmente conferidos aos integrantes do Poder Legislativo – pertinentes á sua representação popular -, na medida em que, para a finalidade especificada da comissão temporária em tela, os Parlamentares adquirem poderes de investigação assemelhados aos conferidos pela Constituição Federal aos integrantes do Poder Judiciário.

Em segundo lugar, há o princípio do colegiado, ou seja, o princípio democrático de que, no decorrer das atividades da comissão, sempre deve haver respeito ao entendimento do consenso entre os seus integrantes, ou, ao menos, ao entendimento adotado pela maioria de seus componentes. Como já transcrito anteriormente Federal (“Aspectos jurídicas da escolha do Presidente e do Relator das Comissões Parlamentares de Inquérito”, Brasília, abril de 2005, de autoria de André Eduardo da Silva Fernandes e Luiz Fernando Bandeira, Consultoria Legislativa do Senado Federal):

“Como máxime democrático essencial a qualquer sistema moderno, o princípio formal básico a guiar as decisões em qualquer Parlamento e, por extensão, em quaisquer de suas comissões, é o da decisão colegiada. Claro, aqui não se faz referência aos princípios materiais, como o da legalidade ou da razoabilidade. Falamos tão-só do procedimento: de como são tomadas as decisões.

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A instruir o princípio da decisão colegiada, encontrar-se-á a noção de maio-ria absoluta, ou seja, a de que a vontade do colegiado é aquela expressada pelo número inteiro de seus membros imediatamente superior à metade da sua composição total. Subsidiariamente, a maioria simples poderá tomar decisões sempre que, havendo o quorum necessário para deliberar, a maior parte dos presentes decidam orientar-se por determinada decisão.”

Em outras palavras, é o princípio democrático de que, no decorrer das atividades da comissão, sempre deve haver respeito ao entendimento do consenso entre os seus integrantes, ou, ao menos, ao entendimento adotado pela maioria de seus componentes.

É importante que se faça, desde já, o seguinte comentário: diante da ampla liberdade individual conferida a cada Parlamentar, diante do princípio da representação popular, o princípio da decisão colegiada deve ser aplicado dentro dos limites das hipóteses em que se necessita a edição de decisão com o respaldo e a força coercitiva dos poderes especiais das Comissões Parlamentares de Inquérito, as quais são passíveis de obtenção tão-somente diante da deliberação da maioria do colegiado da Comissão. De ser apontado, ainda, que todos os Parlamentares integrantes de uma CPI continuam detentores de todos os poderes a eles conferidos pelo texto constitucional, podendo invocar, por exemplo, sua condição de Parlamentar para obter informações de repartições públicas. Por outro lado, quando essa informação for sigilosa e não puder ser obtida diante do poder tradicional dos Parlamentares, aí sim é que será necessária a força constitucional especial das CPIs, a qual necessidade de decisão colegiada para sua invocação.

O princípio da decisão colegiada é essencial em qualquer instituição democrática, no entanto, não pode ela ser utilizada como impedimento ao livre exercício dos poderes constitucionais individualmente conferidos aos Parlamentares.

Em terceiro lugar, há o princípio da convergência legislativa, segundo o qual, como já transcrito Federal (“Aspectos jurídicos da escolha do Presidente e do Relator das Comissões Parlamentares de Inquérito”, Brasília, abril de 2005, de autoria de André Eduardo da Silva Fernandes e Luiz Fernando Bandeira, Consultoria Legislativa do Senado Federal):

Tal conduta se deve ao princípio da convergência legislativa, típico de parlamentos multipartidários, como o brasileiro. Segundo esse princípio, as diferentes vertentes político-partidárias tendem a convergir a uma zona de acordo, de modo a viabilizar a atividade legislativa.

Explica-se: em qualquer parlamento existe uma correlação de forças que estabelece um grupo majoritário e um outro minoritário. Num contexto em que nenhum tipo de acordo é possível, o enfrentamento entre as diferentes correntes tende a dar-se no momento da votação, onde a minoria sabe que inevitavelmente perderá, salvo situações muito peculiares em que a maioria não consiga arregimentar todas as suas forças para participar da deliberação.

Seguindo esse raciocínio, seria, a princípio, sempre mais interessante para a maioria levar a discussão para o voto, de onde tenderia a sair sempre vitoriosa, salvo, novamente, em algumas excepcionais circunstâncias.

No entanto, a minoria consegue utilizar-se de mecanismos regimentais para retardar ao máximo as votações indesejadas, com isso ganhando força para qualificar-se perante a maioria como foco de resistência. Assim, de modo a viabilizar com mais rapidez seus interesses, a maioria tende a ceder em questões pontuais para contemplar os interesses da minoria, que, com o acordo, consegue levar as decisões para uma região mais próxima de sua zona de interesses.

Em outras palavras, as diferentes vertentes político-partidárias convergem para uma zona de acordo onde conseguem viabilizar, ao menos em parte, seus principais interesses. A isso se chama princípio da convergência legislativa, que, como dito, mostra-se ainda mais relevante em ambientes multipartidários, onde as maiorias são mais frágeis em virtude de defecções pontuais em sua base de apoio.

Com a utilização de tal princípio, desafogam-se os gargalos regimentais e resolvem-se muitos debates pontuais do Parlamento, deixando apenas o inconciliável para ser decidido no voto.

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Em quarto lugar, como já mencionado neste item, a Constituição Federal e o ordenamento jurídico conferem, individualmente, aos integrantes das Casas Legislativas, uma série de poderes especiais, os quais derivam exatamente do caráter representativo de seus mandatos parlamentares. Assim, independentemente da constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, todos os integrantes do Poder Legislativo, em suas diversas esferas, são dotados de determinados poderes, decorrentes da função de fiscalização e controle do Parlamento.

Como decorrência, o fato de integrar uma CPI não reduz ou condiciona os poderes individuais dos senhores Parlamentares e, da mesma forma, o princípio da decisão colegiada não pode interferir na ceara do exercício desses mesmos poderes individuais.

Pois bem, temos esses quatro princípios: princípio da decisão colegiada, princípio da convergência legislativa, princípio da representação parlamentar e, por fim, o princípio, segundo o qual, as Comissões Parlamentares de Inquérito constituem direitos subjetivos constitucionais das minorias parlamentares.

A necessidade é realizar uma aplicação adequada de todos os princípios, diante de critérios de ponderação, de forma a que sejam viabilizados os trabalhos da presente Comissão Parlamentar de Inquérito. A doutrina, para tal finalidade, muito tem se utilizados dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, inicialmente estabelecidos por Alexy, e que, na visão de Humberto Ávila, constituiriam meta-princípios, ou seja, postulados normativos aplicativos, tendentes a estruturar a aplicação dos princípios. Podemos ponderar, por fim, que, diante dos princípios da minoria parlamentar e da composição proporcional das comissões parlamentares, o critério da razoabilidade se define na medida da construção de uma zona de convergência legislativa, tendente à viabilização dos trabalhos.

18. Não se pode deixar de acrescentar que o presente processo versa sobre fato extremamente graves cujo conteúdo preciso, no entanto, não é plenamente conhecido em razão de algumas informações ainda estarem protegidas por sigilo.

Deve ser observado, consoante, em especial, a construção jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, objetivando evitar o surgimento de demandas judiciais, que a futura Comissão adote uma linha de convergência que permita

19. Estas são as considerações que cabiam ser aduzidas, no sentido da verificação da presença dos requisitos formais necessários à constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito ora proposta.

20. Em suma:

a) o requerimento encontra-se assinado por trinta e nove Deputados Estaduais, consoante verificação realizada pela Superintendência Legislativa, atendendo ao requisito quanto ao número mínimo de subscrições;

b) possui prazo certo, tendo em vista aduzir que sua duração será a do prazo regimental (120 dias), com a possibilidade de sua prorrogação, a critério do Plenário, por mais 60 dias;

c) os fatos, em tese, estão sujeitos ao controle e fiscalização da Assembléia Legislativa, de acordo com a disposição no inciso XIX do artigo 53, da Constituição Estadual de 1989 (nas matérias hoje protegidas por sigilo, a verificação dessa adequação se dará, em concreto, quando recebidas estas por este Poder Legislativo, devendo ser descartadas aquelas que eventualmente extrapolem esse limite);

d) a sistemática de apresentação dos fatos está em consonância com o modelo reiteradamente adotado por esta Casa Legislativa, através do qual são relacionados diferentes fatos, devendo todos estar vinculados a um fio central condutor para a investigação a ser realizada;

e) o requerimento de constituição aponta, dentre outros, uma série de fatos relacionados a inquéritos e processos judiciais submetidos a sigilo, de onde se pretende a verificação de um núcleo organizado de pessoas cujas ações teriam sido aventadas, em especial, pelas investigações denominadas Operação Rodin e Operação Solidária;

f) o proceder da Comissão Parlamentar de Inquérito deve, é de ser ressaltado, consoante entendimento do Supremo Tribunal Federal, se ater ao fio condutor estabelecido pelos fatos descritos no pedido de

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instalação, havendo, não obstante, ampla liberdade de inclusão de novos fatos, surgidos no transcorrer das investigações, desde que guardem, com aqueles, relação direta;

g) importante a observação do atendimento ao princípio da motivação a todas as proposições que, durante o transcorrer dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, contenham deliberações;

21. Assim, respondendo-se à consulta formulada pela Presidência da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, cumpre ser aduzido que o requerimento de constituição de comissão parlamentar de inquérito possui os requisitos legais mínimos para sua tramitação, observadas as considerações apresentadas no decorrer da presente exposição.

Procuradoria, em 14-08-2009.

Fernando Guimarães Ferreira,Procurador-Geral.

______________________________________________

Ref. ao pedido de instauração de CPI

Verificada a existência dos requisitos legais, previstos no § 3º do artigo 58 da Constituição Federal de 1988 e no artigo 83 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (Resolução nº 2.288, de 18 de janeiro de 1991), determino a instituição da Comissão Parlamentar de Inquérito solicitada através do requerimento subscrito pela senhora Deputada Stela Farias e mais trinta e oito Deputados Estaduais.

Publique-se o presente requerimento no Diário da Assembléia, abrindo-se o prazo na forma do artigo 85 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa, para que os Líderes de Bancada indiquem os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Porto Alegre, 14 de agosto de 2009.

Deputado Ivar Pavan,Presidente da Assembléia Legislativa