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Monografia - Trabalho Final de Graduação. O objetivo desse projeto é romper o processo de decadência da área central, considerando como estratégia, o pensamento de Solá-Morales (2001) do qual determina que as experiências mais eficazes na reestruturação desses centros urbanos, é a atuação de projetos de fora para dentro, ou seja, no rompimento dos limites do centro em suas bordas, seja os limites claramente visíveis, ou entrelaçados com o entorno por meio da reordenação dessa área, através da requalificação espacial da morfologia urbana, da reciclagem dos equipamentos existentes e da reurbanização do espaço, na tentativa de criar incentivos e atrativos para a volta da população a este local. As propostas elaboradas serão materializadas em um desenho urbano para área em questão, sendo que, o objetivo é estabelecer uma relação teórica e prática, em busca da adaptação do projeto a situação atual , na idéia de uma requalificação urbana eficiente e viável.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

ELAINE SARAIVA CALDERARI

REVITALIZAÇÃO URBANA

EM RIBEIRÃO PRETO - SP

Monografia apresentada ao Curso de

Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, da Universidade

Federal de Uberlândia, como requisito para

obtenção do título de arquiteta urbanista.

Orientadora: Profª. Ms. Maria de Lourdes Pereira

Fonseca.

UBERLÂNDIA

2006

“As cidades falam, dizem-nos onde estamos e como podemos ir de um lugar para outro.

Algumas falam com fluência, outras confundem. A facilidade ou a dificuldade de

compreendê-las depende muito mais de suas formas, de possuírem configurações únicas,

capazes de cunhar sua identidade”. (KOHLSDORF, 1996)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe, pelo exemplo de ser humano: única, singular e insubstituível na minha vida, pela sua luta e

perseverança em me proporcionar a conclusão dessa faculdade, pelo apoio e incentivo, pela forca e dedicação,

enfim por ser aquela pessoa que haja o que houver, custe o que custar, estará sempre ao meu lado, acreditando e

incentivando os meus projetos tanto profissional como pessoal. Por ela, tenho um respeito e uma eterna gratidão;

Agradeço a toda minha família: pai, irmãos, cunhadas, sobrinhas, avós, tio, tias, primos, primas pelo incentivo e

apoio;

Agradeço meus mentores espirituais, sempre presente em minha vida, através de minha crença;

Agradeço a todos os meus amigos;

- Fora da arquitetura: Aqueles que conquistei em Uberlândia, principalmente as meninas da Republica, que

souberam entender as minhas horas de “stress”, a bagunça dos materiais de maquetes, o incentivo na horas

dificieis e que se tornaram uma extensão da minha família; e os que permanecem em Ribeirão Preto, amigos de

longas datas, pelo apoio e estimulo, que souberam entender e compreender minha falta em alguns momentos;

Em especial ao amigo Geraldo pela ajuda, apoio e incentivo em todas as horas que precisei;

- Dentro da arquitetura: Aqueles que me ajudaram, em especial: o Julio César, a Leonor e a Vanessa, que foram

meus grandes companheiros, tanto nas horas de lazer, como nos diversas dias e noites de trabalho.

-Agradeço ao Anderson, que entrou recentemente em minha vida, mas que ocupou um espaço enorme nela,

sempre me apoiando e incentivando;

Agradeço a todos os professores e funcionários do curso de Arquitetura e Urbanismo, que proporcionaram o meu

crescimento e desenvolvimento profissional.

Em especial a duas professoras e também amigas que conquistei e que me conquistaram: Giovanna e Maria de

Lourdes, que despertaram o urbanismo em minha vida, seja nas aulas teóricas ou nos inúmeros projetos de

extensão, que participamos juntas.

A todos os profissionais de Ribeirão Preto, que me ajudaram na coleta de dados e levantamento da área, em

especial a Tânia do Arquivo Publico e o pessoal da Secretaria de Gestão Ambiental e de Planejamento Urbano.

E novamente a minha orientadora Maria de Lourdes, mas agora com um parágrafo só para ela, que ficou ao final

porque tenho muito que agradecer. Agradeço pela colaboração e incentivo durante esse trabalho, pela

compreensão durante sua estruturação, pela dedicação em buscar informações e principalmente pelos

empréstimos dos seus queridos livros espanhóis, pelas cobranças e criticas que ajudaram no meu crescimento

profissional, pelo tempo tomado corrigindo os meus textos e tantos outros que agora me faltam palavras. Por tudo

isso, só tenho o meu agradecimento e reconhecimento.

E agradeço a todos que de alguma forma me ajudaram durante essa fase, mas que pela correria não tenha sido

citado, Mas nunca esquecidos.

INDICE

CAPITULO 1: O PROJETO URBANO NAS ÁREAS CENTRAIS

1.1 – A EVOLUÇÃO URBANA DAS ÁREAS CENTRAIS URBANAS

1.1.1- FORMAÇÃO DAS ÁREAS CENTRAIS URBANAS

........................................................................................01

1.1.2 –PROCESSO DE DETERIORIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÂO

......................................................................04

1.1.3- INTERVENÇÕES URBANAS: CONCEITUAÇÕES

1.1.3.1– EMBELEZAMENTO

URBANO.........................................................................................07

1.1.3.2– RENOVAÇÃO

URBANA...............................................................................................12

1.1.3.3– REVITALIZAÇÃO

URBANA.......

.....................

.....................

.....................

.....................

...16

1.2 - O PROJETO URBANO

1.2.1 – DEFINIÇÕES..........................................................................................................................................19

1.2.2 – PARÂMETROS

1.2.2.1 – TEMPO.......................................................................................................................21

1.2.2.2 – AGENTES....................................................................................................................22

1.2.2.3 –

NORMATIVAS..............................................................................................................23

1.2.2.4 – DESENHO...................................................................................................................23

1.3- ESTUDOS DE CASOS

1.3.1 – BARCELONA –

ESPANHA........................................................................................................................25

1.3.2 – BILBAO – ZORROZAURE –

ESPANHA........................................................................................................43

1.3.3 – SANTO ANDRÉ – SÃO PAULO –

BRASIL....................................................................................................53

1.3.4 – RECIFE-OLINDA –- PERNAMBUCO –

BRASIL............................................................................................64

1.3.4 – RESULTADOS..........................................................................................................................................64

CAPITULO 2: A FORMAÇÂO DA CIDADE ENTRE RIOS: RIBEIRÃO PRETO

2.1 - LOCALIZAÇÃO E

ACESSOS...........................................................................................................72

2.2 – HISTÓRICO DA CIDADE: FOCO: ÁREA CENTRAL

2.2.1 – O PROCESSO DE

ORIGEM.....................................................................................................................77

2.2.2- O PROCESSO DE CRESCIMENTO

URBANO...............................................................................................80

2.2.3 – O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA E

SETORIZAÇÃO..........................................................................90

2.3 –ÁREA EM ESTUDO

2.3.1 – CARACTERIZACAO DO

ESPAÇO...........................................................................................................93

2.3.2 – PROJETOS EXISTENTES

2.3.2.1 – PLANO DIRETOR DE

1945...........................................................................................97

2.3.2.2 – PROJETO VALE DOS

RIOS............................................................................................99

2.3.2.3 – PLANO DE

DESENVOLVIMENTO.................................................................................102

2.3.2.4 – PROJETO DE

MACRODRENAGEM.............................................................................104

CAPITULO 3: ANALISE E DIRETRIZES DA ÁREA EM ESTUDO

3.1 – FUNCIONAIS

3.2.1 – OPERATIVA..........................................................................................................................................107

3.2.2 – RELACIONAL.......................................................................................................................................123

3.2 – TOPOCEPTIVOS

3.2.1– PERCEPÇÃO........................................................................................................................................126

3.2.2 – IMAGEM

MENTAL.................................................................................................................................132

3.3 –

BIOCLIMÁTICOS..................................................................................................................................137

3.3.1- CONFORTO

HIGROTÉRMICO................................................................................................................142

3.3.2 – CONFORTO QUALIDADE DO

AR..........................................................................................................147

3.3.3. – CONFORTO

LUMINOSO......................................................................................................................149

3.3.4 - CONFORTO

ACÚSTICO........................................................................................................................152

CAPITULO 4: PROPOSTAS DE PROJETO

4.1 – ZONA DE INTERVENÇÃO

INDIRETA..............................................................................................156

4.2 – ZONA DE INTERVENÇÃO

DIRETA.................................................................................................160

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................17

6

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

1

INTRODUÇÃO

O centro urbano na história pode ser caracterizado como uma referência

máxima aos moradores, aos visitantes e aos estrangeiros, dando um caráter a

cidade e à qualificando espacialmente; pode ser um nó, como um ponto de

condensação ou convergência de relações diversas e conectadas entre si, ou com

outros espaços; pode ser uma novidade, pois representa o antigo e ao mesmo

tempo a imagem do novo, da novidade urbana, com as substituição das

centralidades, onde cada novo centro significa uma idéia inovadora, ou um

progresso; pode ser a representação do patrimônio histórico, sendo o lugar da

apreciação da história, da memória e da identidade da cidade; pode ser o local

do espaço público, pois possui o papel de reunir e criar a possibilidade do encontro

entre as pessoas e pode ser o espaço de cultural e lazer,já que normalmente é um

lugar de concentração de museus, teatros, bibliotecas e casas de espetáculos,

ocupando edifícios antigos, facilitado pela acessibilidade que o local oferece para

toda a cidade.

O que é um centro? O centro é por definição aquilo que esta

no meio. É neste meio geográfico da cidade que se agrupam

antigamente as atividades que precisavam de maior acessibilidade.

Com o aprofundamento da divisão de trabalho, o número de

atividades que precisam dessa maior acessibilidade, aumentou, o

que acarretou ao mesmo tempo o adensamento e a

multifuncionalidade dos centros. (...) Com isso, foram atraídas as

novas infra-estruturas de transporte realimentando o adensamento e

a centralização.(Ascher,2001).

Nota-se que a área central durante seu processo de formação adquiriu uma

importância significativa na estruturação da cidade, mas que em um determinado

momento, perdeu o seu interesse, com a transferência de suas atividades e o

abandono da população para novos espaços atrativos, equipados e estruturados.

Sendo assim, esse trabalho surge de uma tentativa em elaborar um projeto

de requalificação urbana, através do estudo de uma área central da cidade de

Ribeirão Preto/SP, sendo essa o trecho completo da avenida Jerônimo Gonçalves e

uma parte da avenida Caramuru.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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O objetivo desse projeto é romper esse processo de decadência da área

central, considerando como estratégia, o pensamento de Solá-Morales (2001) do

qual determina que as experiências mais eficazes na reestruturação desses centros

urbanos, é a atuação de projetos de fora para dentro, ou seja, no rompimento dos

limites do centro em suas bordas, seja os limites claramente visíveis, ou entrelaçados

com o entorno por meio da reordenação dessa área, através da requalificação

espacial da morfologia urbana, da reciclagem dos equipamentos existentes e da

reurbanização do espaço, na tentativa de criar incentivos e atrativos para a volta

da população a este local.

Para isso o trabalho foi reestruturado em duas etapas:

-Fundamentação teórica: estudo da origem e da formação dessas áreas

centrais na história urbana, assim como seus processos de decadência e

descentralização; a conceituação do projeto urbano, com seus processos de

origem e as suas definições e parâmetros e os estudos de casos, que exemplificam

como esses projetos urbanos estão atuando nas cidades contêmporâneas.

-Análise da área: estudo da história da formação da área central de Ribeirão

Preto, como os processos de crescimento e expansão da cidade, visando

contextualizar e estabelecer o significado desta área dentro da cidade; a

caracterização desses espaços e as análises urbanas: funcional, topoceptiva e

bioclimática, que funcionam como parâmetros para a elaboração de um

diagnostico.

O estudo da fundamentação teórica promove a estruturação dos desafios e

das estratégias a serem adotadas e a análise da área resulta em diretrizes e

programas associados aos parâmetros do projeto urbano. Ambas estabelecem a

base para a elaboração das propostas de intervenção.

As propostas elaboradas serão materializadas em um desenho urbano para

área em questão, sendo que, o objetivo é estabelecer uma relação teórica e

prática, em busca da adaptação do projeto a situação atual , na idéia de uma

requalificação urbana eficiente e viável.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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CAPITULO 1: O PROJETO URBANO NAS ÁREAS CENTRAIS

1.1 – A EVOLUÇÃO URBANA DAS ÁREAS CENTRAIS URBANAS

1.1.1- FORMAÇÃO DAS ÁREAS CENTRAIS URBANAS

A cidade, desde suas origens, está ligada à formação de uma estrutura

interna equipada para armazenar e transmitir os bens da civilização em uma área

limitada e condensada. A cidade surge como um meio de expressão em termos

concretos do poder sagrado e secular, ampliando as dimensões materiais e

simbólicas existentes. Desta forma, permitiu-se não somente a ampliação do

intercurso social e as trocas materiais, como também a constituição de um lugar de

qualidades sagradas, um cosmos que reproduz o próprio céu na terra, visto que,

para o homem antigo, a cidade era criada pro meios da inspiração divina.

Essa manifestação sagrada da cidade surge da necessidade

do homem antigo em fundar ontologicamente o mundo [...] Sua

fundação decorre da escolha do espaço sagrado, o qual possui um

valor existencial para o homem religioso, porque nada pode

começar nada pode se fazer, sem orientação previa, e toda

orientação implica a aquisição de um ponto fixo, o Centro. (Eliade,

1992)

A fundação da cidade, antiga implica, então, na fixação de um ponto fixo a

partir do qual se desenvolve e estende-se na direção dos quatro pontos cardeais.

Este ponto, revestido de um grande simbolismo é o lugar mais próximo do Céu

porque permite uma comunicação do sagrado com a cidade. Em todas as

épocas, até a cidade industrial, este ponto caracteriza-se como núcleo central ou

área central, sendo este o local mais privilegiado da cidade.

Historicamente, esta área foi ocupada por símbolos de exaltação a Deus, do

Estado e da classe dominante, estando, portanto associada à organização da

sociedade, em seus aspectos essenciais: a vida econômica (os mercados,

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

4

comércios, trocas), a vida política (palácios, grandes praças), a vida religiosa

(templos) e a defesa do território. (Villaça, 2003).

Com o desenvolvimento da cidade, a área central passa a aglomerar as

instituições fundamentais na organização da sociedade, não só devido a sua

importância simbólica, mas também material, porque se constituem no ponto do

espaço que permite otimizar os tempos gastos nos deslocamentos sistemáticos1 dos

membros dessa sociedade, necessários para a realização das tarefas essenciais da

vida em comum.

Pode-se considerar, portanto, a área central ou o centro da cidade, o local

que desempenha um papel ao mesmo tempo integrador e simbólico. Nessa área

as atividades urbanas estão concentradas, coordenadas e direcionadas, tornando-

se o ponto principal de referência da cidade.

A cidade capitalista, segundo Villaça (2003), será a única cujo centro não

exaltará nem Deus e nem o Estado, mas este seguira abrigando funções essenciais

da vida cotidiana. Essa situação decorre da difusão e do domínio da propriedade

privada da terra urbana e do mercado imobiliário, que subjugou a

monumentalidade e a simbologia encontrada nas cidades anteriores à capitalista.

No entanto, a cidade capitalista, marcada por um fluxo intenso de capitais,

mercadorias, pessoas e idéias, continuou privilegiando a existência de um ponto

estratégico, associado à acessibilidade, mobilidade e intercâmbio de produtos.

O mesmo autor afirma que “dominar o centro e o acesso a ele representa

não só uma vantagem material concreta, mas também o domínio de toda uma

simbologia”. Os centros urbanos são, portanto, pontos altamente estratégicos para

o exercício da dominação, pois, dominar o centro representa um importante

elemento de disputa ideológica, o domínio da lógica do mercado e de obtenção

de lucro. Em resumo tudo o que a cidade capitalista busca para se concretizar.

Para entender o significado e a importância dessa dominação Castells

(2000), descreve a relação que a centralidade adquiriu nos setores das sociedades

neste período. Segundo o autor, em relação ao nível econômico, o centro não

define a estrutura urbana, mas há influência, podendo ser tomada como um

1 Para Villaça (2003), o deslocamento sistemático surge à medida que o povoado se constitui em uma sociedade organizada, ou seja, seus membros são interdependentes e isso requer uma organização social, com o intercâmbio de produtos, entre locais que minimizassem o desperdício de tempo e de energia humana.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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indicador de fronteiras já que é nessa área que se situam as pessoas e as instituições

altamente especializadas, que exercem um papel de direção e de coordenação

sobre as atividades de mercado do conjunto da região metropolitana. Portanto, “o

centro se configura como intermediário entre os processos de produção e

consumo”.

Em nível político-institucional, o autor afirma que a centralidade política

define-se, sobretudo pelo “estabelecimento das formas urbanas, cuja lógica é servir

de canais para os processos internos ao aparelho institucional: eles constituem os

nos correspondentes à estrutura institucional do espaço”. Entretanto essa

centralidade ostenta ainda mais “os pontos fortes do aparelho do Estado: o

aparelho repressivo (rede de comissariados), o aparelho ideológico (rede de

estabelecimentos escolares, implantação as casas dos estudantes), o aparelho

econômico (distribuição ecológica das percepções, etc), entres outros”.

O autor ainda considera a dominação em nível ideológico, já que a cidade

é “uma estrutura simbólica, um conjunto de signos, que permite a passagem entre a

sociedade e espaço, que estabelece uma relação entre natureza e cultura”, e,

portanto, a organização do espaço deve marcar ritmos e as atividades, a fim de

permitir a identificação entre si e com referência a seus quadros de vida, quer dizer,

a comunicação não de funções, mas de representações.

E ainda existe a dominação em nível social, do qual o centro torna-se um

“espaço provido de uma virtude quase mágica de inovação social, de produção

de novos tipos de relação, em nome da simples interação e densidade entre os

indivíduos e os grupos heterogêneos”. Assim, o centro se afasta da visão de espaço

de liberdade, para se ampliar ao conjunto das situações, articulando-se entre a

estrutura urbana e relações sociais.

Com a consolidação do centro como instrumento de poder, a cidade

capitalista passa a usufruir as possibilidades que essa área representa como

também modificá-lo de acordo com seus interesses, sendo as mudanças mais

nitidamente percebidas, nas estruturas físicas,

já que o centro passa a não se caracterizar mais por edifícios

monumentais produzidos pelo Estado, nem por grandes

perspectivas, mas por um sistema viário uniforme (perde-se o caráter

simbólico-monumental para adquirir uma função utilitária de servir o

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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trafego) e o intenso uso do solo por parte de atividades privadas: o

comércio varejista e os serviços. Os parques e as praças perdem o

caráter estético-simbolico, tornando-se meramente funcionais para

lazer e recreação da população. (VILLAÇA, 2003).

1.1.2 - O PROCESSO DE DETERIORIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÂO

O advento da Revolução Industrial permitiu o crescimento e a expansão não

só do centro, mas de toda a cidade, incentivados pela especulação imobiliária2 e

pelos meios de transporte em massa, que permitiram o deslocamento de

trabalhadores para os subúrbios, nas cidades européias do inicio do século.

(Sennett, 1997).

O aumento da mobilidade da classe dominante, permitida pelo uso do

automóvel3 a partir dos anos 30, nas cidades americanas e no pós-guerra nas

européias, foi um segundo passo decisivo para a expansão da cidade e o destino

das áreas centrais.

Singer (1978) descreve que o crescimento urbano e o aumento da

população que demanda de um número maior de serviços e comércio implicam

naturalmente em uma reestruturação do uso das áreas já ocupadas. No entanto, o

processo de expansão do centro não acontece apenas pela agregação de novas

áreas, pois a organização espacial das atividades de produção e circulação segue

sua própria lógica, a qual implica na aglomeração das atividades para um melhor

aproveitamento, seja pela complementaridade entre elas, ou para oferecer aos

clientes opções de escolha.

Esta expansão do centro atinge os bairros residenciais de maior renda que o

circundam, determinando mudanças de uso e estimulando o deslocamento de

seus moradores para áreas residenciais “exclusivas”, providencialmente criadas

pelos promotores imobiliários. O anel residencial que circundava o centro principal

2 A especulação imobiliária é uma das características do capitalismo, devido ao seu dinamismo destruidor. Seus interesses encontravam nas áreas livres para a expansão de seus métodos, em busca da transação do lucro. Nas cidades americanas e posteriormente no Brasil, foram adotadas duas alternativas: a fuga para os subúrbios (livres de restrições municipais) ou a demolição e substituição das velhas estruturas centrais existentes, ocupando-as com uma densidade muito maior do que aquela para o qual tinham sido projetadas. MUNFORD (1998). 3 O transporte de massa, inicialmente realizado pelos trens, modifica-se completamente com o surgimento do automóvel. Esse transporte facilitou o deslocamento não apenas das pessoas, mas também o transporte de bens e serviços. JACKSON, J.B apud RYBCZYNSKI (1996) comenta que o automóvel, principalmente o de uso comercial – o caminhão, a caminhonete, o furgão, o mini-furgão e o jipe – trouxeram uma nova ordem de espaço físico, já que esses veículos têm (e distribuem) não só uma nova forma de encarar o trabalho mas novos usos do tempo e do espaço, novas formas de fazer contatos de uma forma direta com os consumidores e os fornecedores e novas técnicas de resolver problemas. RYBCZYNSKI (1996) conclui que a “mobilidade pessoal alterava não só onde as pessoas trabalhavam, mas também como trabalhavam”.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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se desvaloriza e passam a ser ocupado por serviços inferiores, caracterizados por

uso misto, edificações decadentes, instabilidade e mudança geral, além de ampla

variedade de tipos e níveis de funções.

Segundo o autor, essas edificações abandonadas são ocupadas por esses

serviços inferiores – bares populares, casas de prostituição, pensões de baixa

categoria, entre outros - e pelas classes sociais baixas. Isso se deve ao desinteresse

do mercado imobiliário em promover um reaproveitamento das edificações

existentes, já que esta área não possui mais vantagens locacionais de um distrito

central de negócios e nem as condições prontamente adaptáveis a um padrão

amplamente desejável a vida residencial. Decorre também do fato de que as

classes sociais mais privilegiadas sejam por novas alternativas ou pela comodidade,

preferem formar comunidades que se segregam no espaço e a ocupar novas

áreas. Nas grandes cidades e metrópoles, as antigas mansões transformam-se em

cortiços, com a subdivisão de seus espaços em númerosos cubículos e passa a

reforçar, juntamente com a presença dos serviços inferiores, o processo de

obsolescência da região central.

O envolvimento do centro principal por uma área em decomposição social

cria condições para que a especulação imobiliária ofereça aos serviços centrais da

cidade novas áreas de expansão, sendo formados novos focos de valorização do

espaço urbano, normalmente localizados próximos aos bairros residenciais das

elites.

Villaça (1998) defende a idéia de que o processo de “decadência” dos

centros urbanos tem como causa, e não como conseqüência, o abandono destas

áreas como locais de residência, trabalho e consumo da classe dominante e

grande parte da classe média, devido ao um interesse por outras áreas da cidade

e a facilidade da mobilidade territorial proporcionada pelo automóvel.

Segundo o autor, deve-se destacar, que, desde o inicio, o centro principal

das cidades brasileiras se divide em duas partes bem caracterizadas, porém

contíguas: “uma atendendo a freguesia de alta renda e voltada para seus bairros

residenciais, e a outra voltada para o atendimento das camadas populares e

localizadas no extremo oposto, nas áreas abandonadas pela primeira”. E em um

determinado momento, ocorre a ruptura entre essas duas partes contíguas. O

comércio e os serviços orientados pelas camadas populares ocupam totalmente o

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

8

centro antigo, agora abandonado pela elite. Em contrapartida a elite cresce em

áreas distantes e promove o surgimento de um novo centro para si, denominado de

novo centro, do qual começa a se diluir e apresentar enormes dimensões.

Esses novos centros tornam-se uma área com o “melhor comércio, os

melhores serviços, o conforto, o dinheiro que gera investimentos e empregos”

(Toledo apud Attux, 2001), proporcionando uma melhor acessibilidade à população

das classes altas. Essa situação agrava-se com a implantação dos “shoppings

centers”, aonde trabalho e lazer, compras e diversão e serviços para a

comunidade, se unem em um único espaço. Estes empreendimentos são

localizados em áreas que garantem o fácil acesso, através de vias rápidas de

transito e de amplos estacionamentos oferecidos aos seus usuários.

Villaça (1998) ainda destaca que o surpreendente é que esse processo é

normalmente seguido pelo deslocamento das sedes dos aparelhos de Estado na

mesma direção, comportando-se exatamente como as atividades econômicas,

localizando-se de acordo com a lógica do mercado.

Os novos centros são agora os novos espaços públicos da classe dominante,

oferecendo como atrativo a garantia de respeito e a liberdade individual. E com

esse processo da consolidação de novas centralidades, nota-se nas cidades

brasileiras, que os centros tradicionais tendem a tornarem-se áreas deterioradas,

sendo sua principal função “atender as camadas populares, abrigando atividades

e serviços de menor rentabilidade, informais, e, por muitas vezes ilegais práticadas

por usuários e moradores com menor ou quase nenhum poder aquisitivo”. (Vargas e

Castilho, 2006; Villaça, 2003).

Vale a pena destacar que esse processo de abandono dos centros pelas

elites, é um fenômeno típico de paises em desenvolvimento, como o Brasil. Nas

cidades americanas e européias, se observa também um processo de decadência

das áreas centrais, com um esvaziamento em função do processo de

suburbanização, agravado pelas grandes intervenções urbanísticas nos EUA e pela

destruição ocasionada durante a guerra na Europa, deteriorando ainda mais esses

espaços urbanos.

Em decorrências das diversas mudanças no planejamento, nas políticas

urbanas e nos interesses do capital imobiliário, os centros tradicionais foram

perdendo sua característica de centralidade para outras áreas. No entanto, nota-

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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se o interesse e a volta da população para as áreas centrais durante as

intervenções de renovação urbana, durante o processo de “gentrification”4.

1.1.3- INTERVENÇÕES URBANAS

As intervenções urbanas podem ser definidas como um conjunto de

programas e projetos públicos ou iniciativas privadas que incidem sobre os tecidos

urbanizados dos aglomerados antigos ou recentes, com a finalidade de reestruturar

ou revitalizar atividades e redes de serviços, recuperar ou reabilitar a arquitetura

(edificações e espaços públicos), e reapropriar socialmente e culturalmente grupos

sociais que habitam ou trabalham em tais estruturas, relações de propriedade e

troca, atuações no âmbito da segurança social, educação, tempos livres, entre

outros. (PORTAS, 1986).

Segundo Simões Jr. apud Attux (2001), os processos de intervenção em

centros urbanos, historicamente podem ser divididos em três períodos:

- EMBELEZAMENTO URBANO – Realizadas durante o século XIX e inicio do século XX.

- RENOVAÇÃO URBANA – Ocorridas nas décadas de 1950 e 1960.

- REVITALIZAÇÃO URBANA - Ocorrida a partir do inicio da década de 1970. No Brasil,

esse período, segundo Vargas e Castilho (2006) pode ser separado entre

PRESERVAÇÃO URBANA, ocorrido durante as décadas de 1970 e 1980 e a

REIVENÇÃO URBANA, iniciada por volta de 1990, até os dias atuais.

1.1.3.1– EMBELEZAMENTO URBANO

Os planos de melhoramentos e embelezamentos são herdeiros da forma

urbana monumental que exaltava a burguesia e que destruiu a forma urbana

medieval (e colonial, no caso do Brasil). Nesse momento o centro é o alvo principal

das ações, sendo o lugar mais importante, já que é onde a elite reside e trabalha, e,

portanto sua imagem a própria síntese da cidade, ou seja, seu cartão-postal.

Seu conceito estava baseado na implantação de um novo padrão de

estética urbana, onde a beleza e os melhoramentos técnicos em infra-estrutura

representavam não só a ascensão da burguesia no espaço urbano, mas também o

4 O termo será explicado no item sobre Renovação Urbana.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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impacto segregador na instauração da modernidade, afirmando os valores e a

soberania dessa nova classe social perante toda a população. (SIMÕES JR, 1994).

São exemplos dessa época os projetos das cidades de Versalhes, de

Washington, de Paris e do Rio de Janeiro.A intervenção realizada em Paris, sob o

comando do barão Eugène Haussmann, a pedido de Napoleão III, foi o primeiro

projeto de adaptação urbana desde período. Haussmann se autodefinia,

sugestivamente, como “artista demolidor”: suas reformas profundas e terrivelmente

traumatizantes para os parisienses modificaram por completo a fisionomia da

capital.

O projeto de Haussmann compreendeu em uma ”relação oriunda do próprio

sistema econômico-produtivo e a organização físico-espacial” (MEYER, 2001),

através de aberturas de grandes e largas artérias, que “rasgaram” a cidade do

centro à periferia, com desapropriações e demolições que cederam lugares aos

“boulevares” nas avenidas e nas ruas largas e, aos parques urbanos, sobrepondo-se

ao tecido existente.

Foram criados novos serviços primários: o aqueduto, o esgoto, a instalação

da iluminação a gás, a rede de transportes públicos com o ônibus puxados a

cavalo; novos serviços secundários: as escolas, os hospitais, os colégios, os quartéis e

a uma nova estrutura administrativa: o cinturão alfandegário do séc. XVIII é abolido,

e uma série de comunas periféricas anexadas a Comuna de Paris, através da

divisão em 20 distritos, parcialmente autônomos.

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FIGURA 1 – CIDADE DE PARIS – ANTERIOR AOS TRABALHOS DE HAUSSMANN 1853. FIGURA 2 - PLANO DE PARIS - EM DETAQUE AS INTERVENÇÕES DE HAUSSMANN. FONTE: BENEVOLO, Leonardo. História da cidade. São Paulo, Editora Perspectiva, 1997.

O projeto provocou a expulsão dos mais pobres, com as demolições

realizadas nos bairros centrais, a população desfavorecida teve que se mudar e

concentrou-se em volta da capital, na periferia próxima, formando uma espécie de

anel do outro lado das fortificações de Paris, onde a vida era mais econômica, pois

inúmeros produtos eram ali isentos de impostos (a chamada “cintura vermelha”,

periferia operária). Em 1860, Haussmann reformula sua proposta e decide anexar

toda essa periferia, estendendo a barragem de impostos mais adiante, expulsando

pela segunda vez a população desfavorecida que ali viera se refugiar.

O objetivo de Haussmann foi enobrecer o novo ambiente urbano com os

instrumentos urbanísticos tradicionais: a busca da regularidade, a escolha de um

edifício monumental antigo ou moderno como referência de cada nova rua, a

obrigação de manter uniforme a arquitetura das fachadas nas praças e nas ruas

mais importantes.

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FIGURA 3 – PARIS -CHAMPS ELYSÉES 1889. FONTE: BENEVOLO, Leonardo. História da cidade. São Paulo, Editora Perspectiva, 1997.

FIGURA 4 - CHAMPS ELYSÉES COM O PLANO DE HAUSSMANN – FOTO RECENTE. FONTE: OLANDA, Frederico. Brasília – A Trajetória Perversa ou como danificar qualidades e amplificar problemas. Palestra UFU, 2004.

A influência do plano Haussmann atinge um caráter universal e se traduz em

reformas realizadas não só em diversas cidades da França como em Roma, Viena,

Madri, Barcelona, Cidade do México, Chicago, Nova Delhi e outras. Assim, o

modelo de civilização industrial e urbana implantado nas potências capitalistas

européias tornou-se o objetivo a ser alcançado pelas novas elites intelectuais e

políticas de todos os lugares, inclusive das brasileiras.

Essa vontade se concretizou no Brasil no século XIX, realizada pelo governo

federal e pelas mãos do Prefeito Pereira Passos (1902-1906) na cidade do Rio de

Janeiro, e representou do ponto de vista de seus dirigentes, a oportunidade de

colocar o país em compasso com as transformações tecnológicas e

organizacionais que vinham ocorrendo nos principais centros da Europa.

O objetivo do plano proposto, em 1903, por Pereira Passos, denominado de

“Embelezamento e Saneamento da Cidade”, era de “dar maior fluidez ao trafego

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nas ruas da cidade substituindo as vielas por ruas arborizadas, promover melhores

condições estéticas e higiênicas para as construções urbanas, sanear, embelezar”

(Guaranys; Souza, s/d), através da abertura de grandes eixos de circulação visando

à ligação entre o setor central e o setor portuário.

O sistema viário implantado foi o radiocêntrico e a abertura das avenidas foi

o principal instrumento do plano. A Zona portuária foi ampliada, “rasgaram-se”

avenidas como a Rodrigues Alves, a Avenida Central (atual Rio Branco) e a Beira-

Mar, praças antigas foram reformadas e novas áreas foram criadas. Os

monumentos arquitetônicos edificados nesses espaços identificam a força da

intervenção do poder público: com a construção do Teatro Nacional, a Biblioteca

Nacional e os novos prédios da Avenida Central, entre outros.

Com a implantação dos traçados acadêmicos, das amplas avenidas, dos

edifícios governamentais ecléticos, a capital assumiu, assim, a importância e a

monumentalidade de acordo com a escala continental e do desejo da elite

dominante do Brasil.

FIGURA 5 - ÁREAS DO PLANO DE INTERVENÇÃO DE PEREIRA PASSOS. FONTE:GUARANYS, Marcos Benevides; SOUZA, Vicente Custodio Moreira. Preservação do patrimônio arquitetônico da cidade do Rio

de Janeiro relacionada à qualidade de vida e a organização do espaço urbano, s/d.

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1.1.3.2– RENOVAÇÃO URBANA

A renovação urbana (“urban renewal”) surge em 1929 nos EUA, relacionada

a uma política de substituição de habitações precárias existentes nas cidades

norte-americanas. Mas foi com o fim da Segunda Guerra que se tornou corrente

face à necessidade de reconstruir as cidades européias destruídas pelo conflito e

responder ao déficit habitacional acumulado ao longo das décadas anteriores.

(Compans, s/d)

Em 1951 foi realizado o CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura

Moderna) que introduzido o tema intitulado O Coração da Cidade, o qual

sistematizou um conjunto de diretrizes para a afirmação dos centros urbanos em

conformidade com os postulados fundadores do Movimento Moderno, sintetizados

na Carta de Atenas.

O movimento modernista propunha o redesenho da cidade que a um só

tempo servisse à sua humanização e à sua densificação, por meio da previsão de

espaços verdes e de áreas destinadas ao lazer e ao convívio social, da

verticalização dos edifícios, do ordenamento do uso do solo e da circulação viária

segundo os critérios de funcionalidade e eficiência. (Compans, s/d).

No entanto, o que realmente se concretizou nas cidades americanas foi

inicialmente a instalação caótica de muitos cartazes publicitários e que ao longo

dos tempos evoluiu para intervenções mais bem organizadas e financiadas. Estas

intervenções podem ser agrupadas em quatro áreas principais:

• Criação de espaços de uso exclusivo de pedestres nas principais ruas

comerciais;

• Reconversão de edifícios históricos em lojas de especialidades, restaurantes e

locais de lazer;

• Construção de centros comerciais nas áreas centrais das cidades;

• Construção de empreendimentos de usos mistos que vão desde hotéis e

palácios de congressos até terminais de transportes.

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FIGURA 6 - CENTRO CIVICO EM NOVA YORK - LINCOLN CENTER FONTE: http://www.newyorkmetro.com/images/travel/01/10/lincoln_center_400.jpg - SEM AUTOR

Além destas quatro tipologias principais há, ainda, um conjunto de meios

mais ecléticos que não se enquadram bem nestas tipologias. Entre estes

encontramos como intervenções nos centros históricos: o programa da Rua Central

(”The Main Street Program”), a construção de passagens aéreas ou subterrâneas

unindo vários edifícios comerciais, a gestão comercial centralizada (com ou sem o

aparecimento das Áreas de Desenvolvimento Econômico – BIDs), e a transformação

do centro da cidade num centro corporativo tendo por base a componente de

escritórios e serviços. (Balsas, 2000).

FIGURA 7 - PLANO DE RENOVAÇÃO URBANA DE BOSTON – MASSACHUSETTS – 1961. FONTE: http://www.pcfandp.com/a/p/6102/2.html - SEM AUTOR.

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FIGURA 8 - IMAGENS ANTES E DEPOIS DA INTERVENÇÃO DE RENOVAÇÃO URBANA BOSTON – MASSACHUSETTS – 1961.

FONTE: http://www.pcfandp.com/a/p/6102/2.html - SEM AUTOR

Ainda nos anos 60, alguns autores observaram novas transformações que

vinham ocorrendo nos centros das grandes cidades norte-americanas e em

algumas metrópoles européias. Os centros históricos começavam a serem

lentamente reocupados por alguns setores mais abastados das classes médias. Eles

retornavam ao centro em busca das vantagens advindas da proximidade

oferecida pelos centros. Moradia, trabalho, lazer e consumo estavam disponíveis

nos quarteirões vizinhos para aqueles que se dispusesse a morar no centro da

cidade. Associava-se a isso o valor que se começava a agregar aos imóveis mais

antigos, muitos deles considerados de interesse para preservação histórica. O

retorno desses “pioneiros urbanos se dava concomitantemente à chegada de

novos usos que agregavam ainda mais “valores culturais” às áreas centrais” (SMITH

apud RUBINO, 2004). Galerias de arte, ateliês de artistas novos ou em ascensão,

restaurantes e cafés refinados iam surgindo, formando seu público e reafirmando a

conquista do território central.

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FIGURA 9 - CHARGE HUMORÍSTICA SOBRE O PROCESSO GENTRIFICAÇÃO DA RENOVAÇÃO URBANA. FONTE: http://web.rollins.edu/~jchambliss/class5.html - SEM AUTOR.

Em 1964, esse processo recebeu o nome de “gentrification”, dado pela

socióloga Ruth Glass em sua obra “Introduction to London: aspects of change”

(COMPANS, s/d). Em seguida, o termo foi utilizado na descrição de diversos

processos semelhantes de requalificação dos centros históricos das grandes

cidades. Para Smith apud Rubino (2004), o processo inicialmente tinha algo de

espontâneo, mas foi conduzido pelo mercado imobiliário, pois o autor salienta que

a renovação só foi possível, não porque se tratava da volta das pessoas ao centro,

e sim, do capital.

Pode-se concluir que as intervenções realizadas nesse período estiveram mais

condicionadas as demolições de áreas consideráveis do tecido urbano e a

reconstruções, e, portanto recebeu, de alguns estudiosos, a definição de “bulldozer

days”, que significa um arrasamento de quarteirões, recebendo inúmeras criticas.

Uma das maiores crítica contra esse modelo urbanístico, foi feita por Jane

Jacobs em seu livro “The Death and Life of Great American Cities”, que argumentou

essencialmente em defesa do ambiente das ruas ricamente conectadas e

continuamente acessíveis, com mistura de funções e altas densidades de uso. Estes

ambientes eram contrapostos aos centros culturais e cívicos subutilizados e aos

subúrbios monótonos e sem vida; eles também eram vistos como solução em

relação aos projetos de melhoria habitacional.

O ano de 1974 marca o fim do movimento de renovação urbana e do

urbanismo modernista, cuja critica aos seus postulados inicia nos anos 60, e se

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intensifica, sob a argumentação de que sua aplicação é responsável pela

construção de paisagens urbanas monótonas e estritamente funcionais. Suas caixas

de concreto destituídas de ornamentos, a separação funcional e a social estiveram

sempre presente nas propostas de cidade, e levou à expulsão de segmentos

populares e minorias étnicas das áreas centrais e sua apropriação por grupos de

maior poder aquisitivo, incorporadores imobiliários, bancos e empresas

transnacionais.

1.1.3.3– REVITALIZAÇÃO URBANA

Com a crítica ao modernismo racionalista e a resistência contra a expulsão

da classe baixa, conseqüência da execução de projetos de renovação urbana,

surge um novo movimento intelectual denominado por alguns autores de

“contextualismo”, ou como denomina Vargas e Castilho (2006) de Preservação

Urbana. Esse movimento visava à valorização do tecido histórico e a “reconquista

social da cidade”. Seu enfoque estava na reabilitação do centro histórico a partir

de sua destinação a novos usos e possibilidades produtivas, na reconversão dos

edifícios antigos e na manutenção dos antigos moradores.

Entretanto, o esforço progressista de “salvação da cidade” e da vida pública

perdida foi pouco a pouco se transformando no seu contrário. O erro dos

“contextualistas”, segundo alguns críticos, foi de acreditar que tudo é passível de

associação simbólica e que todas as referências a práticas e a tradições locais

devem ser preservadas.

Segundo Arantes (1998) as valorizações da cultura e das identidades locais

deram lugar a uma ideologia da diversidade na qual conflitos são escamoteados

por uma espécie de estetização do heterogêneo, revelando-se uma maneira de

administrar contradições, manter o “status quo” e esconder a miséria. O centro

“requalificado” torna-se inviável para seus antigos moradores devido à valorização

imobiliária, convertendo-se em mero cenário, em formas e símbolos vazios diante da

impossibilidade de ressuscitar a vida urbana que lhe dava sentido.

Durante esse período, a autora denominou de dinâmica de reivenção

urbana, que é simultamente uma conseqüência e um elemento chave na

formação da nova economia global. As mudanças possuem suas origens na crise

do fordismo e nos processos de reestruturação e globalização que transformaram o

desenvolvimento urbano no final do século XX. Essas mudanças são resultados

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estruturais e institucionais que operaram em escalas espaciais diversas através de

interações mutuas.

A erosão da base fiscal dos Estados Nacionais, que resultou da combinação

da estagnação econômica, da internacionalização crescente da produção e da

extensão da cobertura dos benefícios assistenciais (necessária para conter os

movimentos políticos e as ondas de greves), levaram os governos dos países centrais

a se engajar num processo de reestruturação pragmática, caracterizado pela

contenção de gastos públicos, que atingiu diretamente o financiamento de

programas de renovação urbana.

No intuito de atrair investidores, os governos locais norte-americanos

ampliaram os incentivos fiscais ao setor imobiliário, ofereceram contrapartidas em

terrenos, infra-estruturas e regras mais flexíveis para viabilizar empreendimentos e se

lançaram na formação de “parcerias” com empresas privadas para a promoção

de projetos de renovação urbana.

A forma privilegiada de “parceria público-privado” neste período foi a de

agências de desenvolvimento. Elas obtinham financiamentos mediante contrato,

escolhiam terrenos apropriados aos novos empreendimentos, definiam programas

financeiros, obras de infra-estrutura e vantagens a serem acordadas com os

investidores, além de negociar contrapartidas, como a melhoria dos transportes

públicos, a manutenção do nível de emprego, a formação profissional dos

trabalhadores ou ações concernentes à preservação do meio ambiente.

Portanto, neste momento, em vez de buscar ordenar o crescimento urbano,

interessava agora circunscrever projetos a áreas específicas, como as áreas centrais

ou as antigas zonas industriais e portuárias, nas quais se pudesse garantir uma

rentabilidade atraente ao investimento privado. A subordinação à lógica do lucro

privado resultou na crescente seletividade e na fragmentação espacial da

intervenção pública na cidade, levando ao abandono gradativo do planejamento

normativo, com planos diretores e leis de zoneamento, e à sua substituição por

acordos oportunistas negociados com investidores “projeto a projeto”.

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FIGURA 10 - DOCKLANDS – INGLATERRA – 1970. FONTE: http://www.olhares.com/docklands/foto51807.html – SEM AUTOR.

As administrações municipais foram levadas a adotar estratégias

competitivas para atrair empresas, turistas e investidores, na expectativa de uma

“salvadora” inserção nos fluxos econômicos globais. Nesse momento surge a

expressão e modelo da “city marketing”, ou seja, a promoção da cidade mediante

a construção e a divulgação de uma imagem “de marca”, positiva e sólida, capaz

de facilitar a venda de seus “produtos”, sejam mercadorias, recursos humanos ou

serviços, sua crescente incorporação à política urbana.

Autores como Borja e Forn (1996) descrevem que “vender a cidade

converteu-se em uma das funções básicas dos governos locais e em um dos

principais campos de negociação público-privado”, a “espetacularização” da vida

urbana não só deve ser perseguida por intermédio da arquitetura e dos

monumentos culturais e simbólicos, como no passado, mas também mediante a

oferta de infra-estrutura de qualidade em termos de acessibilidade, segurança e de

serviços turísticos (centros de convenções, hotéis, restaurantes, equipamentos de

lazer etc.), além da realização de eventos culturais e esportivos, da reabilitação de

bairros históricos e do “design” urbano, que agora substitue o planejamento.

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FIGURA 11 - PORTO MADERO - BUENOS AIRES – 2005 RECUPERAÇÃO DA ORLA FLUVIAL PARA O USO PÚBLICO DE CONVIVIO, DE ENCONTROS E DE CONSUMO.

FONTE: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq054/arq054_03.asp - AUTOR Estudio Alberto Varas.

1.2 - O PROJETO URBANO

1.2.1 – DEFINIÇÕES

O conceito de projeto urbano surge como um conjunto arquitetônico-

urbanístico, de dimensão limitada e realizada dentro de um prazo relativamente

curto, com o objetivo estratégico de revitalização de áreas centrais, como também

de grandes áreas urbanas degradadas e inutilizadas, como as áreas portuárias e

industriais.

Essa nova forma de intervenção na cidade insere-se como uma expressão

crítica e de substituição às formas de planejamento (planos) que marcaram um

período de crescimento iniciado nos anos 60 do século XX, e que se caracterizaram

pelo esquematismo, fragmentação e pela justaposição de lógicas setoriais.

(Roncayolo, 2002).

O projeto urbano encontrou seu fundamento teórico no conceito de

"cidade-colagem" de Colin Rowe (1975), que emprega a técnica de colagem

como uma estratégia que permite tratar as utopias urbanas como uma imagem em

fragmentos e não in toto, enfatizando a morfologia dos edifícios para alcançar

coerência espacial. A viabilização do projeto urbano ocorreu em Nova Iorque após

a aprovação da lei de parceria público-privada, no final dos anos 70, com a

criação do “Battery Park City Authority”, a entidade que incorporou e gerenciou a

reabilitação da área oeste ao sul da ilha de Manhattan, à beira do Rio Hudson,

onde antigamente localizavam-se inúmeros piers. (Rowe; Koetter, 2006).

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A implantação desses projetos urbanos, intensificando-se, na década de

1980, em países como França, Alémanha, Espanha e EUA, sendo decorrente de três

questões principais. Em primeiro lugar, da demanda do capital privado, favorecido

pela liberalização econômica e pela expansão do capital financeiro, o qual

redirecionou o foco de atuação para o consumo da imagem das cidades, ao invés

dos investimentos nas grandes obras de infra-estrutura, conforme havia ocorrido em

fases anteriores do desenvolvimento capitalista. Em segundo lugar, da adesão do

poder público municipal ao "planejamento estratégico urbano", o qual, segundo

discurso dominante, tratava-se da única forma possível de atuação, face às

mudanças políticas e econômicas na cidade contêmporânea. Em terceiro lugar,

da completa adesão de arquitetos, os quais, após anos de planejamento

burocrático e da monotonia funcional do modernismo, foram completamente

"seduzidos" por esses investimentos privados. (Lobo, 2006).

Para Tsiomis (1996), a reflexão sobre o projeto urbano se colocaria entre a

definição de uma nova estratégia para a reconquista da cidade e um "novo"

projeto de embelezamento, ou seja, entre questões metodológicas e questões

teóricas. Para o autor, o projeto urbano é contextualizado e portanto, não utiliza

modelos formais, e demanda da participação dos atores dentro de uma atmosfera

de confrontação, negociação e parceria.

Sendo assim, o projeto urbano é tanto um urbanismo de correção como de

gênese do novo, ou seja, “ele é articulador entre o antigo e o novo, entre o social e

o espacial, como também um urbanismo de articulação dos agentes econômicos

e financeiros, um urbanismo de coordenação das ações públicas e privadas".

A concepção do projeto urbano para Portas (1996), surge como uma nova

alternativa ao se apresentar conjuntamente com a noção de estratégia urbana

que é "a escolha do modo de conseguir chegar aos fins, num ambiente de

incerteza – que existe não só sobre os fins, mas também sobre os meios, isto é, os

recursos potenciais e mobilizáveis". Esta característica atribuída ao projeto urbano

implica que ele tenha alguns elementos do plano, na medida em que, sendo

projeto, também terá que assumir incertezas que subsistirão para além da sua

projeção inicial, já que não estará de todo definido e que deverá articular

mecanismos que possam absorver a definição de projetos futuros.

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Portanto, os projetos urbanos podem ser definidos por uma revalorização de

um determinado espaço, através da redefinição do seu desenho urbano, com

normativas flexíveis, levando em consideração tanto seu contexto de atuação

como os atores e os agentes envolvidos e que, devido a sua complexidade, se

estrutura como uma ação no tempo.

1.2.2 – PARÂMETROS

1.2.2.1 – TEMPO

A introdução da questão do tempo na concepção e na gestão das cidades

parece favorecer a compreensão dos processos envolvidos no desenvolvimento do

projeto urbano. O projeto urbano é uma atividade que deve ser construída com o

tempo: o tempo da montagem, da colagem, da edificação, da gestão, da

substituição, e assim por diante. O domínio ou a perícia em manejar estes tempos

possui, por sua vez, atores diversos, lógicas profissionais às vezes semelhantes e

economias de escala muitas vezes contraditórias. E, embora não se pretenda

colocar estas lógicas nas mãos de um único ator, reconhece-se que a

coordenação de algumas delas é que podem permitir melhoras nos resultados.

Para Roncayolo (2002) as relações entre as formas sociais e as formas

urbanas se modificam no tempo, já que o trabalho de concepção em suas

diferentes manifestações revela a complexidade das relações que o urbanista deve

dar conta no momento de concepção de um projeto. Desta maneira, deve-se

considerar a concepção espacial também como um processo social que engloba

uma série de indivíduos e grupos. Assim, também, a concepção deve ser entendida

como uma etapa entre uma série de processos, sejam eles relativos à evolução dos

usos ou das práticas sociais.

O autor ainda indica a qualidade de multi-temporalidades urbanas que o

projeto urbano agrupa. A utilização deste conceito em relação ao projeto urbano

consiste, no fato de que qualquer ação sobre os espaços urbanos se efetua através

de negociações, cujas condições só podem ser apreendidas através da noção de

tempo. Mas vai além, ao destacar que estes tempos não são os mesmos, primeiro

porque eles se sucedem e, sobretudo, porque as ações e os objetos a que eles se

referênciam obedecem a temporalidades diferentes. Estes descompassos, ou

intervalos temporais, por sua vez, também tocam as estruturas materiais da cidade,

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cujo ritmo de vida é também variável e que resultam de uma série de

circunstâncias dificilmente identificáveis.

Por fim, o autor refere-se à noção de trajetória, ou seja, da evolução não

sincrônica do projeto urbano. O problema reside na relação entre as diferentes

maneiras de conceber o tempo: tempo dos criadores, o das projeções, das ciências

sociais e, sobretudo o tempo dos ajustes entre as formas e a sociedade, cujos

cruzamentos escapam ao nosso determinismo e à nossa previsibilidade. Isto é, esta

conjugação impõe uma concepção de tempo que não é para ser entendida

como oposição entre passado e futuro, presente e futuro.

1.2.2.2 – AGENTES

Segundo Fontes (2004) se considerarmos o projeto urbano como um jogo de

carta, poderemos definir as táticas como às estratégias, a mesa como à cidade, as

cartas aos elementos manipulados, como os espaços públicos e privados, e os

jogadores aos agentes do desenvolvimento urbano (governo, empresas,

população).

Os agentes do desenvolvimento urbano envolvem o pensamento e a ação,

representados pelos arquitetos, urbanistas e demais profissionais envolvidos na

concepção das idéias, assim como os responsáveis pela sua implementação, como

o governo e as empresas privadas. Portanto, a requalificação dos espaços centrais,

ou o reforço das centralidades, dentro de uma lógica de projetos urbanos, além da

articulação projetos/políticas, conforme já mencionado, são alcançados através

do uso de recursos públicos e privados simultaneamente. A nova modalidade de

intervenção pressupõe que público e privado são complementares e edificados ao

mesmo tempo supondo uma sinergia entre ambos, onde ocorre uma mútua

valorização.

1.2.2.3 – NORMATIVAS

A determinação de regras baseadas nas particularidades locais, ao invés de

parâmetros rígidos, permite o gerenciamento negocial. Portas (1996) defende a

inclusão da negociação e da adaptabilidade como processos integrantes do

planejamento. Dessa forma, através da articulação desses processos, o projeto

urbano pode concretizar-se de fato, principalmente em um contexto complexo,

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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como um vazio urbano em uma área central que sofre com uma legislação

desfavorável.

O projeto urbano é que deve ser o responsável pela fixação das regras

mínimas que ligam a construção ao espaço público, ou seja, deve definir os

domínios público-privado, como alinhamentos e gabaritos. A legislação restritiva

deve ser aplicada somente em locais estratégicos, e não desrespeitando-se as

particularidades e avaliando-se cada lugar, caso a caso. Assim, as regras

arquitetônicas aplicadas aos edifícios vão estar diretamente ligadas aos espaços

públicos que junto com eles compõem a cidade.

1.2.2.4 - DESENHO

O projeto urbano tem como característica fundamental voltar-se para as

intervenções físicas na cidade. O termo desenho urbano apareceu inicialmente em

1950 e estabeleceu-se como conceito onde a qualidade de vida nos espaços

públicos é prioridade, tanto como elemento físico quanto sócio-cultural, responsável

pela produção de lugares que possibilitem as pessoas aproveitá-los e usá-los em sua

máxima capacidade. (Izaga,2006).

No desenho urbano, o "urbano" é um termo que possui um amplo significado,

onde se inclui não somente as cidades, mas as vilas, bairros e distritos, enquanto

"desenho", ao invés de ser uma mera interpretação estética, é muito mais a efetiva

solução e/ou o processo de produção e organização dos espaços.

Assim, o desenho urbano contêmporâneo é, ao mesmo tempo, preocupado

com o desenho dos espaços como uma entidade estética e também como

cenário de comportamentos e atividades. Ele é focado na diversidade de

atividades que ajudarão a criar espaços urbanos concretos e, em particular, como

essa estrutura física suportará as funções e atividades que lá existirão. Esse conceito

traz junto à noção de desenho urbano como desenho e gestão do espaço público.

1.3- ESTUDOS DE CASOS

Os estudos de casos foram selecionados de acordo com o seu significado no

contexto urbano. Serão analisados quatro projetos, sendo dois internacionais

(Barcelona e Bilbao) e dois nacionais (Santo André e Recife-Olinda).

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Os internacionais pretendem evidenciar como a questão urbana vem sido

elaborada em países desenvolvidos5, sendo que, serão observadas as suas teorias e

as implantações das suas propostas. No caso, o chamado “Modelo Barcelona” é o

grande exemplo de intervenção urbana em grande escala, e suas experiências são

uma referência em boa parte do mundo. Bilbao também passou por uma

intervenção significativa, no entanto neste momento o intuito desse trabalho é

introduzir o projeto urbano, ou seja, a intervenção estrategicamente pontual.

Os casos nacionais foram introduzidos como uma maneira de demonstrar

como esses princípios de projeto urbano que, inicialmente, foram inseridos em

contextos americanos e europeus, foram absorvidos e executados no Brasil. Vale

destacar a contêmporaneidade de todos os projetos escolhidos, já que a idéia

deste trabalho é aproximar-se ao máximo de uma proposta autêntica e viável.

Para a análise foram determinadas seis categorias de estudo:

- Características da área: inserção da história política, econômica, social e o

contexto urbano, planos anteriores e o sitio urbano.

- Estratégias de implantação: demonstração do cenário urbano do projeto,

viabilização desenvolvimento e a aplicação.

- Variações de usos: tipos de usos e atividades propostas e sua forma principal e

complementar.

- Espaços Públicos: configuração espacial e uso dos domínios públicos

- Sistema de fluxos: sistematização dos viários e de pedestres.

- Estrutura Interna: principais projetos implantados que assumiram caráter de marcos

visuais e pontos focais.

1.3.1 – BARCELONA – ESPANHA

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

A transformação pela qual passou Barcelona, de uma cidade de

importância regional, cuja economia era baseada na indústria, para uma 5 A importância de analisar os projetos urbanos elaborados nos paises desenvolvidos, diferentemente dos subdesenvolvidos, é que a maioria destes projetos consegue obter um resultado mais eficaz e próximo ao que foram propostos, devido suas experiências urbanísticas teóricas e práticas, a mão de obra altamente especializada, o uso de técnicas e de materiais de alta tecnologia, e a presença de recursos financeiros.

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“metápolis” 6 efervescente com um enorme poder de atração, não foi casual, mas

fruto das políticas públicas e culturais adotadas nos últimos 25 anos. O chamado

“Modelo Barcelona” é considerado um marco nas transformações urbanas do

século XX e uma referência em boa parte do mundo ocidental, notadamente na

América Latina.

A cidade de Barcelona, desde suas origens foi se desenvolvendo segundo as

necessidades impostas pelas transformações sociais, políticas e econômicas de seus

habitantes. O processo de urbanização surge mais claramente durante os séculos

XIV e XV, com um parcelamento dividido em dois grupos: grandes parcelas feudais

agrícolas ou urbanas e pequenas parcelas eminentemente agrícolas. Essas

subdivisões em parcelas e a concentração de residências caracterizavam as ruas

em meros espaços residuais, sem uma lógica, apenas acompanhando a geografia

existente ou a limitação e divisão de propriedades.

Em meados do século XIX, Barcelona encontrava-se ainda cercada pelas

muralhas, com altos índices de adensamento e de congestionamento, sendo que

tal situação impedia sua expansão e integração aos municípios vizinhos. Após a

derrubada das muralhas, surge uma nova situação urbanística e a constatação é

destacada com a carência de um plano para expansão da cidade. Nesse

contexto surgem duas correntes dispostas a solucionar essa situação: uma

expansão representava por um crescimento orgânico da cidade velha,

apresentada pelo arquiteto Rovira i Trias; e a de um crescimento homogêneo,

igualitário e contextualista, apresentada pelo engenheiro Cerdá.

Em 1860, foi à proposta de Cerda7 aprovada pelo governo, visando uma

expansão no sentido mar-montanha, cuja finalidade era a integração entre antigas

vilas de origem rural à zona urbana.

6 O termo Metápolis é um novo conceito para a metrópole digital que emerge “por entre a metrópolis da era industrial. “A cidade é agora um lugar de lugares, onde diversos modelos coexistem, cada um com as suas qualidades intrínsecas que os diferenciam dos restantes”. (Metapolis Dictionary of Advanced Architecture: City, Technology and Society in the Information Age. Actar, setembro/2003). 7 Os elementos marcantes desse plano foram às ruas e os quarteirões, onde a primeira desempenhava a função de movimento e a segunda a de descanso. Para isso, o sistema viário recebeu um traçado racionalista, constituído de uma malha ortogonal sobre uma superfície de 3 a 7 quilômetros, que circundava a cidade antiga e, segundo Lampugnani “com uma orientação através de idéias higienistas, com a bissetriz entre meridianos e paralelos terrestres”. Já os quarteirões eram compostos em um formato quadricular, do qual as construções deveriam situar-se em torno de um centro livre, com a finalidade de proporcionar as moradias um espaço coletivo, além de insolação, ventilação e iluminação.

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FIGURA 12- PLANO DE CERDÁ 1858. FONTE: http://es.wikipedia.org/wiki/Distrito_del_Ensanche - SEM AUTOR.

A discussão sobre a temática urbana utilizada por Cerdá movimentou a vida

cultural da Catalunha8 nas décadas de 20, 30 e 50 com o surgimento de um

movimento de arquitetos racionalistas denominado de “Grupo de Arquitectos y

Técnicos Españoles para el Progeso de la Arquitectura Contêmporánea”. Em 1930,

Le Corbusier, que então representava a vanguarda com sua teoria da cidade

funcional, recebeu patrocínio do Governo da Catalunha para realizar um plano

para Barcelona, conhecido como “Plan Macia”, não aplicado devido a Guerra

Civil Espanhola e a ditadura do general Franco. (Sanchez, 2003).

Em 1953, a atualização do plano de Cerdá tornou-se essencial, para isso foi

elaborado o denominado Plano Comarcal, sendo seu principal objetivo a

identificação, delimitação e classificação do espaço urbano, do uso do solo, e das

tipologias arquitetônicas. O Plano Comarcal propiciou uma reserva de amplas áreas

para infra-estrutura, equipamentos e áreas verdes.

No final dos anos 70, ocorreu a instauração de uma nova ordem institucional

na Espanha após a queda do regime franquista, determinando uma maior

autonomia política e econômica às cidades espanholas através de novas

competências em matéria urbanística e uma ampliação na sua participação no

gasto público total.

Foram três fatos importantes caracterizaram a fase de transição (1976-1979):

a chegada da democracia e dos novos valores para os representantes das

municipalidades com a entrada da Espanha na Comunidade Européia, o

8 Barcelona é a capital da Catalunha, uma região cuja sociedade esta em permanente luta de auto-afirmação dentro da Espanha. Essa característica que deve ser levada em conta no entendimento da gênese das políticas atuais do governo municipal para o reposicionamento da cidade dentro da rede urbana da Comunidade Européia e como referência internacional.

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crescimento econômico e o fim da crise industrial, e a irrupção de novas

tecnologias e a rápida tradução em novas atividades produtivas. Os novos valores

urbanos da democracia reavaliaram a realidade de muitas das municipalidades e

iniciam a consolidação de realidades urbanas já concebidas em cidades

compactas, integradas e com uma identidade cívica renovada.

Durante o período de transição política, também ocorreu um fortalecimento

da cidadania e dos movimentos sociais urbanos, sobretudo uma efetiva

participação pública da sociedade civil nas propostas relativas às políticas urbanas.

Destacando-se a atuação da “Federación de Asociaciones de Vecinos de

Barcelona (FAVB)”, traduzida como Associações de Vizinhos, que além de buscar

melhores condições de vida, fazia parte de um movimento de resistência, em um

processo paralelo ao movimento dos trabalhadores nas fábricas e ao movimento

intelectual da universidade. Poucos dias antes das eleições municipais, a FAVB

elaborou e apresentou publicamente um relatório descrevendo os principais

problemas da cidade e as reivindicações dos movimentos de bairro, dentre elas a

priorização nas áreas de educação, saúde publica, transporte coletivo, política

referente ao patrimônio municipal do solo, habitação, urbanização ao entorno dos

conjuntos habitacionais, áreas verdes e lazer. (Sanchez, 2003).

Em 1976 foi aprovado o Plano Geral Metropolitano (PGM), cujo conteúdo

estava articulado em torno de dois elementos fundamentais: os usos do solo e o

traçado viário. Tratava-se de um plano de ordenamento de atividades e usos na

cidade de Barcelona, o qual determinava também suas áreas de expansão, não

tratando com o mesmo empenho todo o território metropolitano. Nota-se o

começo de uma estratégia territorial de transformação do espaço urbano da

cidade - pólo em espaço de gestão e consumo, promovendo a produção industrial

em outras áreas da região metropolitana, entretanto em um primeiro momento,

trata-se de um “urbanismo defensivo”, que buscava basicamente resgatar a

normalidade administrativa e a ética na gestão.

Em 1979 foi eleito o primeiro governo municipal democrático, em um

contexto de forte retração econômica que afetava principalmente os setores

têxteis e de serviços juntamente com um alto índice de desempregos. Com a falta

de recursos para investimentos em grandes equipamentos e infra-estruturas, o inicio

deste governo foi marcado pela motivação do Plano Geral Metropolitano,

centrado na contenção dos processos especulativos e de gestão publica dos

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vazios urbanos, objetivando a implantação de equipamentos sociais e espaços

públicos, visando um equilíbrio entre a área central e a periferia. (Sanchez, 2003).

No final dos anos 80, a equipe de direção da área de Urbanismo,

coordenada pelo arquiteto Oriol Bohigas, juntamente com vários jovens profissionais

formados durante os anos críticos de transição e também o grupo de trabalho do

Laboratório de Urbanismo da Escola de Arquitetura dirigido por Manuel Sola -

Morales iniciaram a formulação de uma política urbana baseada em uma análise

projetiva do território, complementando as análises gerais do PGM com planos

especiais de reforma interior (PERI).O PERI possuía como principal fundamentação a

idéia de reconstrução do existente e suas propostas atendiam especificamente

cada bairro, nesta etapa a FABV teve um papel efetivo no seu desenvolvimento e

elaboração. Suas reivindicações foram votadas em assembléias e pelas próprias

associações sob orientação técnica de profissionais e, garantiram que os

investimentos em infra-estrutura fossem também investimentos socialmente

redistributivos, em termos de equalização das condições de vida urbana nos

espaços da cidade. (Bohigas, s/d).

Em 1986, foi criado o programa “Áreas de Nueva Centralidad (ANC)” com o

objetivo de promover a renovação urbana de dez diferentes regiões da cidade,

tendo como antecedente o estudo para a definição de “áreas olímpicas”, quando

da proposição da candidatura aos Jogos Olímpicos, em 1983. Este programa se

inscrevia na dupla estratégia de modernização e internacionalização da economia

local – que almejava fazer de Barcelona a capital do noroeste do Mediterrâneo – e

de aproveitar a realização das Olimpíadas de 1992 para pôr em marcha um

processo de reestruturação urbana global. A filosofia da ação da municipalidade

fundava-se na premissa de seu papel como indutor das atuações privadas,

cabendo a ela a escolha prévia das “oportunidades”, a elaboração do plano e o

aporte inicial de recursos, de modo a “impulsionar” os investimentos privados

subseqüentes.

A implementação deste programa obedeceu a um cronograma agrupando-

os em três fases distintas, dos seguintes projetos:: 1º) “Calle Tarragona”; 2º) Diagonal

– “Sarrià”; 3º) “Puerto Urbano”; 4º) Carlos I – Av. Icaria (“Villa Olympica”);5º) “Nova

Plaza Cerda”; 6º) “Vall d’Hebron”; 7º) “Plaza de las Gloria”s; 8º) “Renfe-Meridiana”;

9º) Diagonal – “Prim”; 10º) “Sant Andreu– La Sagrera”.Os cinco primeiros projetos

deveriam ter sido concluídos até 1992 (entre eles a “Villa Olympica”), outros três até

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meados da década e os dois restantes até o ano 2008. O questionamento que se

fazia no começo dos anos 90 era quanto à manutenção do interesse privado em

participar do programa e quanto à sua viabilidade posteriormente à realização dos

Jogos Olímpicos, já que até 1991 apenas um terço dos apartamentos da vila

olímpica haviam sido comercializados. (Grau, 2004).

A elaboração do “Plan Estratégic Economic i Social de Barcelona (PEESB)”,

entre 1988 e 1990, foi o elemento central da construção de um consenso em torno

das ações que pudessem assegurar a transformação econômica e urbana

coerente como desejo de internacionalização da cidade, também motivado pela

necessidade de ampliar a base social do governo, como forma de evitar as

derrotas eleitorais do Partido Socialista, que já vinham ocorrendo em outras partes

da Espanha.

No ano de 1996, pela primeira vez Barcelona recebeu mais turistas em busca

de suas atrações do que homens de negócios. Houve um grande aumento no setor

de serviços e indústrias se deslocam para o interior ou simplesmente fecham suas

portas. O slogan adotado – Barcelona, a cidade do conhecimento – procura

expressar os pontos principais da nova estratégia, no qual a cultura é vista como

geradora de riqueza, fator de coesão social e elemento de promoção

internacional. Este novo plano foi implementado a partir de 1999 com o nome de

plano estratégico para a Sociedade da Informação o qual preconizou a

patrimonialização da cidade e a incorporação das manifestações culturais à nova

era digital. As atividades culturais procuraram ser auto-sustentáveis e vistas como

atração turística para a cidade. Um papel relevante neste processo foi ocupado

pelo Instituto de Cultura de Barcelona (ICB) que passa a gerenciar e divulgar de

forma centralizada os eventos de iniciativa pública e privada.

ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO

As propostas contidas no PGM (1976) priorizam a implantação de

equipamentos e áreas verde e a ordenação do sistema viário, com otimização de

todos os tipos de fluxos, principalmente ao fluxo de passagem, bem como a

eliminação do trânsito ineficiente dentro dos bairros. A população de Barcelona

apoiou o PGM através da associação de vizinhos, cientes da degradação física da

cidade e da urgência das medidas que deveriam ser tomadas para a sua

recuperação.

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Duas propostas quanto à metodologia a ser utilizada nas intervenções

urbanísticas foram apresentadas pela equipe da diretoria do PGM.

1 – Baseada no “estructural plans” ingleses, que repensa a metrópole a partir de

seus elementos articuladores – vias, equipamentos, etc., deixando o restante para

desenvolvimento posterior.

2 – Mais abrangente, pela qual o Plano controlaria tudo, desde auto-pistas até as

tipologias de edifícios.

O resultado foi um plano mesclado, com diversas propostas, métodos e

idéias,

e a nível geral, foi uma proposta viária herdada da rede arterial

elaborada pelos tecnocratas do Ministério de Obras Públicas, um

esquemas de auto-pistas urbanas como reserva maximalista de solo

para grandes obras como modelo organizativo da trama urbana:

umas tiras de reservas para zonas verdes e equipamentos

aproveitando as últimas oportunidades que restavam no interior da

cidade; e uma divisão de zonas do tecido urbano que queria

recuperar as lógicas anteriores à especulação, aos tipos

arquitetônicos originais e ajustar mecanismos de transformação de

cada elemento em relação à arquitetura de cada tecido.(Piê,1997).

A década de 1980 foi marcada pela política urbana de Barcelona com um

programa urbanístico simples e de fácil execução. Zapatel (1998) distingue dois

momentos no processo de transformação urbana em Barcelona.O primeiro

(1980/1987) foi marcado pelas intervenções feitas mediantes projetos pontuais e

mediadas que visavam atender problemas prioritários, básicos, a curto prazo e com

recursos públicos, melhorando as condições de habitabilidade, principalmente nos

bairros novos, tais como o transporte público, a coleta de lixo, a criação de áreas

verdes e equipamentos comunitários e intervenções de maior escala, por meio dos

PERI.

A segunda etapa foi marcada pelo advento dos jogos olímpicos, períodos

compreendidos entre 1986 e 1992, Nesse momento foram realizadas intervenções

de maior envergadura, envolvendo estratégias de reestruturação urbana em nível

metropolitano, tais como a organização do sistema viário e a criação de áreas de

centralidade, visando o equilíbrio e novas relações entre partes urbanas.

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A transformação do espaço da cidade sob o impulso das obras olímpicas

mostra esse período como altamente rentável e representativo das estratégias do

estado e dos agentes hegemônicos para superação da baixa rentabilidade da

organização espacial anterior. Nesse momento iniciou-se uma política para atrair

capital público e privado para a construção das obras. As propostas resultantes do

processo de negociação entre os grupos considerados os mais representativos da

cidade, que compunham o Comitê Executivo9 , os representantes de 193

instituições, que formavam o Conselho Geral, e os 520 diretores de empresas

privadas, públicas de instituições diversas, que constituíam as Comissões Técnicas,

foram agrupadas em 6 grandes linhas estratégicas, com o objetivo maior de

“consolidar Barcelona como metrópole empreendedora européia, com uma forte

incidência na região em que está situada, com qualidade de vida moderna,

socialmente equilibrada e fortemente arraigada na cultura mediterrânea”.

(Foxà,1993).

FIGURA 13 – IMAGEM ILUSTRADA DOS PRINCIPAIS BAIRROS E PONTOS TURISTICOS DE BARCELONA. FONTE: http://rentals-barcelona.com/phplinks/index.php - SEM AUTOR.

VARIAÇÕES DOS USOS

Os PERI (Plano Setoriais de Reforma Interior) englobam a reabilitação de

distritos ou setores urbanos, tendo como principal objetivo, a reestruturação da

9 “Ayuntamiento de Barcelona; Câmara de Comércio e Industria; Foment del Treball; Comissions Obreres; Unión General de Treballadors; Universidad de Barcelona; Círculo de Economia; Puerto Autonomo; Feira de Barcelona e Consorcio de la Zona Franca”.

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forma física. Suas intervenções podem ser classificadas de acordo com o grau de

complexidade em três diferentes escalas:

- Projetos de reabilitação urbana de espaços degradados, que contêmplaram

operações de restaurações e recuperação da morfologia urbana, bem como a

racionalização das áreas destinadas a circulação e estacionamento.

- Projetos de qualificação urbana, executados na região periférica, que envolveram

adequações das edificações para novos usos e criação de espaços públicos.

- Projetos estruturadores, que contêmplaram o uso de pequenos espaços públicos,

por meio de sua qualidade, quantidade e localização estratégica.

No primeiro período de intervenções, denominadas de pontuais, foram

programadas modificações de acordo com as necessidades locais de cada área,

denominadas de “acupunturas urbanas” 10, constituindo-se em usos específicos

como praças, parques e escolas, espalhados em toda a malha urbana e

implantados nos vazios urbanos de alta densidade demográfica.

As edificações deterioradas que foram construídas sem os devidos

afastamentos, provocando grande adensamento nos bairros, foram demolidas e

construídos novos edifícios e espaços públicos, acarretando na formação de uma

nova centralidade na cidade antiga e na valorização do centro histórico.

Na parte interna dos quarteirões de Cerdá, idealizadas como núcleos

centrais, durante os anos, foram construídas varias edificações descaracterizando a

idéia original. Para esse caso, os PERI previam a demolição gradativa dessas

edificações, e segundo Zapatel (1998), a legislação aprovada previa a liberação

dessas áreas para ajardinamentos somente quando da substituição ou de reformas

nos edifícios existentes, resgatando o que era previsto no Plano de Cerdá com a

criação de espaços públicos e áreas de permeabilidade nesses quarteirões.

Nos bairros tradicionais, a intenção dos planos setoriais centrou-se na

redução da densidade construída e na definição de projetos de intervenção com

forte qualidade urbana, já que cada bairro possuía uma conformação especifica

de tipologia de residências, distribuição e uso de comércio e equipamentos. Um

exemplo é a modificação das vias com a manutenção da hierarquia nos valores de

uso comercial e de serviços, sendo às vezes, oportuno a redução do trafego e 10 Expressão usada por Solá-Morales (2001).

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travessias para um caráter local, como por exemplo, as vias de “Gracia”, “Sarria”,

“Sant Andreu”, “la Rambla del Poblenou”, “la Rambla del Carmel” .

Em outras áreas ocorreram transformações urbanísticas no melhoramento da

infra-estrutura, como o caso das substituições das antigas fábricas e espaços em

desusos para novos espaços de atratividade e interesse locais e a valorização em

espaços centrais para a circulação de pedestres. Como exemplo os parques da

fábrica em “Sant Andreu”, “Paperera” em “Poble Nou”, “Vapor Vell” em “Sants” e

FECSA em “Poble Séc”.

Para os bairros novos, constituídos dos chamados “Polígonos” (Conjuntos

habitacionais) e de “áreas de urbanização marginal”, consolidados durante as

décadas de 60 e 70, foi prevista a integração dessas áreas marginalizadas com a

malha urbana existente através de conexões viárias. Nesses bairros, os espaços

públicos tanto como a arquitetura que os cercam nunca possuíram um caráter

urbano e, portanto era necessário reordenar e urbanizar esses espaços com critérios

de centralidade, conferindo-lhes os valores significativos da coletividade, aqueles

valores existentes na cidade histórica, conferindo-lhes uma qualidade urbana.

No segundo momento, a partir de 1986, a idéia de estruturação urbana

partiu de um sistema policêntrico, que aumentasse o equilíbrio e a homogeneidade

do território. A inovação do programa ANC (“Áreas de Nueva Centralidad”)

consistiu no pressuposto da combinação de usos múltiplos e no engajamento do

setor privado na gestão e na execução dos projetos.

A prefeitura de Barcelona identificou grandes espaços existentes entre um

distrito e outro, denominado de espaços residuais, devido à falta de infra-estrutura e

a indefinição desses espaços, e propôs intervenções que iam desde a

reestruturação do sistema viário, acessibilidade ao transporte público e o

redescobrimento da fachada marítima – incluindo a reutilização das praias,

separadas da cidade havia decênios por instalações industriais e portuárias – até a

construção de edifícios de escritórios e de apartamentos, criação de parques e de

áreas verdes, conectando-os aos espaços qualificados e aos sistemas de

informação e comunicação.

Dentre essas operações urbanas podemos destacar:

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- “Praça de les Glories Catalanes”: Nesse projeto foi implantado um novo pólo de

centralidade e o local caracterizou-se como setor terciário e de Equipamentos, tais

como o Teatro Nacional de Catalunha, o auditório de Barcelona, o Arquivo

Municipal, a Estação Central de Ônibus e um Quartel da Guarda - Urbana.

- Setores Olímpicos: Esses setores foram planejados para recebera edificações para

a realização de eventos esportivos, cada qual com sua especificidade, e dentre

eles, destaca-se a Vila Olímpica, complexo que previa o crescimento dos bairros em

direção a orla marítima.

- Reestruturação da Orla Marítima: Esse projeto surgiu de uma necessidade de

ordenação da orla e a definição de uma fachada marítima para a cidade. Para

isso foi aplicada à construção de um novo setor habitacional na Vila Olímpica,

sendo que o quarteirão continuou com o espaço central, seguindo uma releitura ao

Plano de Cerda, destinado ao uso comum, porem agregando outros tipos de

atividades como o comércio estacionamento para veículos.

- Infra-Estrutura Urbana: Toda a infra-estrutura urbana de Barcelona passou por

transformações e ampliações, em que foram beneficiados os sistemas viários,

ferroviário, drenagem e a evacuação de águas residuais, por meio de planos

específicos.

ESPAÇOS PÚBLICOS

Os planos e projetos propostos para os espaços públicos na cidade de

Barcelona foram capazes de proporcionar uma fundamentação convincente à

sociedade e, suas idéias se materializaram no slogan de Requalificação Urbana

baseada na valorização da cidade através de uma transformação e atualização

de si mesma.

Segundo Solá - Morales (2001) a experiência do uso público em Barcelona,

“foi orientada para aproveitar esses espaços e criar uma imagem

nova da cidade, um estilo e uma lógica diferente, e isto se

conseguiu com notável sucesso -nem tanto pelo acerto dos

desenhos, mas porque a impressão em ver mudar a paisagem

urbana a partir de seus vazios, em contraposição ao quieto e

pesado corpo edificado, era uma experiência nova e

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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rejuvenescedora para qualquer um. Na cidade, alguns não

quiseram reconhecê-los; de fora, todos admiravam”.

Podemos classificá-los em varias escalas e intensidades de intervenção:

- Parques Urbanos: Foram projetados em vazios urbanos imersos no tecido urbano,

com uma dimensão entre seis e dez hectares, do qual deveriam atender as

necessidades especificas de cada área e entorno a serem implantados.

* Ocupação de áreas industriais e de serviços em desuso e/ou obsoletos. São

exemplos: “El Escorxador” (Antigo Matadouro), “La Espana”, “El Clot”, “Pegaso” e

RENFE-Meridiana, entre outros.

* Ocupação de áreas não propensas a este tipo de uso, muito das vezes altamente

contaminadas, cujo objetivo principal era a sua reabilitação em curto prazo,

através de novos equipamentos de lazer e recreação.

FIGURA 14 - PRAÇA DA ESPANHA. FONTE: http://biztravels.net/biztravels/pix/pix.php?p=420&l=230 – SEM AUTOR.

- Praças e Jardins: Foram operações de pequenas intervenções, totalmente

integradas nos diferentes tecidos urbanos residenciais da cidade, sendo que em

poucos anos, mais de 100 praças foram construídas. Denominadas de intervenções

estruturadoras, não por sua escala, mas por sua intensidade e profusão, sua

finalidade era criar novos espaços públicos, complementados com equipamentos e

infra-estrutura.

Suas funções eram variadas, sendo que a maioria dos projetos procurou

resgatar valores simbólicos, incorporando elementos especiais como as esculturas,

outros buscaram superar condições de um contexto desfavorável a sua

implantação, principalmente nas áreas residenciais periféricas construídas durante

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o “boom” do movimento especulativo dos anos 60. São exemplos: a Praça Soller, a

Robacols e outras.

Algumas praças funcionaram como verdadeiros parques públicos como a

Praça de “Salvador Allente”, a Baixa de “Sant Peri”, a “Sant Augustí Vell” e a “la

Mercê”. Outras adotaram um sistema aberto articulado (Praça de “Gracia”, “Via

Pentagonal de Sant Andreu” e algumas praças da Cidade Velha), através da

reabilitação integral de pequenas praças juntamente com o desenvolvimento

suburbano do local, com a instalação de equipamentos e serviços – mercados,

igrejas, estacionamentos – que funcionavam como um subcentro cívico.

- Jardins Equipados: Subtipo do item anterior e incluía uma serie de áreas privadas

que passaram a ser utilizadas como espaços públicos na cidade. As edificações

existentes foram convertidas para uso do equipamento coletivo, sendo os exemplos

desse tipo: Can Altamira, Vila Sicília, Torre Groga, La Tamarita, entre outros.

FIGURA 15 E 16 – JARDINS CAN ALTAMIRA E LA TAMARITA. FONTE: http://www.epdlp.com/fotos/bcn0584.jpg - SEM AUTOR.

- Parques de grande escala: Correspondem aquelas atuações de maiores

proporções no esquema global de áreas verdes de Barcelona. Deve-se destacar

que a construção desses grandes parques em um curto período de tempo apenas

foi possível graças ao programa olímpico de 1992. São eles: a Frente Marítima, com

sua transformação em um grande parque linear com praças de acesso público; o

“Montjuic”, que se abre para o delta do Rio “Llobregat”, onde foram instalados

equipamentos esportivos olímpicos; o “Valle de Hebrón”, situado na zona norte da

cidade, em área residencial, com equipamentos para uso dos setores mais denso e

o parque da Diagonal, que completa a grande área esportiva da cidade.

SISTEMAS DE FLUXOS

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A estrutura de fluxos de Barcelona se forma a partir das seguintes hipóteses:

1- Caráter diferencial das diversas áreas constituídas a partir de uma rede viária

específica, buscando um esquema geral de conexão entre zonas.

2- A articulação viária se reproduz a partir de 4 níveis:

a) Rede principal e rede primária: são compostas pelos antigos cinturões de

ronda que atuam como grandes rondas distribuidoras conectadas à rede

secundária, favorecendo uma conexão entre as áreas centrais e os bairros. Seu

desenho apresenta um traçado fragmentado que tem como objetivo distribuir o

tráfego, formando nos nas zonas de forte configuração urbana.

b) Rede secundária: apresenta grandes canais e bulevares cujo objetivo

fundamental é aumentar o valor das vias locais. É um importante elemento para o

transporte público e para atividades terciárias e publicitárias (“banners” e

“outdoors”), comportando espaços equipados com passeios e atividades próprias.

c) Rede interna: referente às ruas que complementam o tecido urbano dos

bairros, correspondem às vias de nível local e características variáveis de acordo

com a sua localização.

d) Passagem de pedestres: refere-se a elementos interiores de áreas

consolidadas os quais dão prioridade ao uso dos pedestres, diversificando

atividades nas diferentes zonas tradicionais da cidade.

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FIGURA 17 - PRINCIPAIS VIAS AMARELO: REDE PRINCIPAL (OS CINTURÕES), VERMELHO: DIAGONAL, ROSA: MERIDIANAL, AZUL: “GRAN VIA”

FONTE : ORGANIZADO PELO AUTORA.

Segundo Sanches (2003), na década de 1970, a construção de um eixo

viário, o Segundo Cinturão teve suas obras paralisadas devido a grandes pressões e

conquistas políticas de um conjunto de associações de vizinhos que se sentiram

prejudicados com a obra. Desde essa época, as auto-pistas, ou vias de trânsito

rápido se tornaram impopulares por causa de seus impactos, fragmentação do

tecido urbano dos bairros, expropriações e reassentamentos, assim como o

favorecimento do transporte privado ao público.

Na década de 80, grandes operações urbanas se iniciaram com a seleção

da capital Catalunha para sediar os jogos olímpicos de 1992, principalmente as

obras viárias, como os “cinturones de ronda”, que se caracterizavam por serem

projetados para tráfego rápido a fim de aumentar a mobilidade e conexões

urbano-metropolitanas. Em 1987 o Segundo Cinturão teve suas obras retomadas.

Com a identificação e desenvolvimento de novas centralidades, a infra-

estrutura viária e o transporte público foram alvo de intervenções a fim de favorecer

a acessibilidade a esses locais, conectando-os aos espaços urbanos qualificados e

aos sistemas de informação, combinados a atividades terciárias, escritórios e

espaços livres.

Dentre os principais fluxos destacam-se:

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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1- “Praças de Lês Glories Catalanes”: é um espaço residual, sendo ponto de

confluência de três importantes vias: Meridiana, Diagonal e “Gran Via”. Foi

projetado com a construção de um anel elíptico em dois níveis, conectando as

avenidas Meridiana e “Gran Via” com a trama local, dando continuidade à

Avenida Diagonal em direção à orla marítima.

2- Setores Olímpicos: Os setores olímpicos são constituídos do Anel Olímpico,

Diagonal, “Vale d’Hebron” e Vila Olímpica, e distam 4 km um do outro.

3- Fachada Marítma ou” Moll de la Fusta”: inicia-se no “Moll de la Fusta”,

continua pelo bairro “Barceloneta” e é alargada pelo trajeto práticamente virgem

pelo o conjunto de praias do “Poble Nou”.

ESTRUTURA INTERNA

O plano apontava para dois grandes eixos de atuação: um maior incentivo

ao setor de serviços e o estímulo ao turismo. Para isso a cidade ‘precisava’ ter novos

equipamentos culturais modernos e atrativos que se apresentassem como marcos

visuais e pontos focais. As principais intervenções no espaço urbano que tiveram

esse objetivo foram: A Vila Olímpica, “Moll de la Fusta” (remodelação da área

portuária), a Ilha Diagonal e as requalificações dos bairros “Gracia”, “Eixample” e

Cidade Velha.

A Vila Olímpica e a “Moll de la Fusta”

FIGURA 18 E 19 – VISTA ÁEREA E IMAGEM DA VILA OLÍMPICA. FONTE: http:// earth.google.com/ - IMAGEM SATELITE e http://www.donquijote.org – SEM AUTOR.

Embora integrasse o programa “Áreas de Nueva Centralidad”, o projeto da

Vila Olímpica fazia parte de uma grande operação integrada de iniciativa

municipal conhecida como “Remodelación del Frente Marítimo del Poble Nou (Moll

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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de la Fusta)” de Barcelona. A região de “Poble Nou” – que fora durante o século XIX

uma das principais zonas de implantação da primeira industrialização catalã –

encontrava-se práticamente abandonada. As fábricas, armazéns e linhas férreas

separavam a cidade do mar. A conversão de parte desta zona em vila olímpica

envolveu grandes dificuldades de natureza técnica, gerencial e financeira.

A aquisição dos terrenos, nos anos de 1986 e 1987, significou uma gigantesca

operação de compra ou expropriação de 304 unidades imobiliárias. Até mesmo as

obras de demolição, iniciadas em 1987, e a remoção do entulho necessitaram ser

planejadas, uma vez que resultaram em 1 milhão de m³ de material a ser

transportado.

As obras de urbanização,começaram em 1988, concomitantemente à

construção das edificações. O projeto previa a implantação de dois parques (um

deles junto à praia), a construção de 2 mil unidades residenciais (destinadas ao

alojamento dos atletas durante a realização dos Jogos Olímpicos, sendo depois

comercializadas para particulares), oito edifícios de escritórios, um hotel, um centro

de convenções e um centro comercial e de negócios.

Para sua execução foi estabelecida uma relação contratual entre um

conglomerado de organismos públicos11, uma companhia de seguro e uma cadeia

de hotéis norte-americana. Uma das principais tarefas da nova empresa consistia

em coordenar a multiplicidade de atores envolvidos na operação. Além de

organismos públicos de diversas esferas governamentais responsáveis pelas grandes

infra-estruturas (porto, ferrovias, rodovias, saneamento, comunicações etc.) e pela

elaboração, análise e licenciamento dos planos de urbanização e dos projetos de

construção, a construção das edificações mobilizou 26 equipes de arquitetura e 11

promotores que executavam, simultaneamente, as obras de 70 prédios com mais

de 600 modelos de residência diferentes.

Depois da realização dos Jogos Olímpicos, a sociedade pública procedeu à

cessão de ativos ao “Ayuntamiento” de Barcelona, cabendo a este a manutenção

dos espaços públicos. As sociedades privadas ou mistas assumiram a

comercialização restante e a manutenção dos espaços privados que se

constituíram em condomínios.

11 A “Villa Olympica S.A”, composta pelo “Ayuntamiento de Barcelona” (Prefeitura de Barcelona), a RENFE (Estatal responsável pelas ferrovias espanholas), o Ministério de Obras Públicas e Urbanas, o Ministério de Transportes e Comunicações, a “Generalitat de Catalunya” (Governo Estadual) e a “Corporación” Metropolitana de Barcelona.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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Já a remodelação da frente marítima proporcionou uma mudança radical

na paisagem urbana. A aparição de quatro novas praias e de 50 ha de áreas

verdes, além da construção de um parque esportivo à beira-mar e de uma marina

para 750 embarcações ampliaram as opções de lazer e, inegavelmente, a

atratividade turística de Barcelona, traduzindo-se em aumento da atividade

econômica e de arrecadação tributária.

FIGURA 20 - REMODELAÇÃO DA FRENTE MARÍTIMA DE MOLL DE LA. FONTE http://www.planetware.com/i/photo/moll-de-la-fusta-barcelona-ebl16.jpg - SEM AUTOR.

1.3.2 – BILBAO – ZORROZAURE - ESPANHA

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

Bilbao possui uma população de 368.000 habitantes, é uma das cidades mais

importantes do Norte da Espanha, pertencente à região autônoma denominada

País Basco,e a capital da Comunidade Autônoma de Euskadi, na província de

Biskaia.

O projeto de recuperação e revitalização da metrópole de Bilbao é um

extenso programa de gestão urbana que tem atuado desde 1992 sobre áreas

tradicionais da cidade, e ainda está em andamento, com resultados positivos

desde sua implantação. Mais do que a simples revitalização do espaço físico da

cidade, o Plano Geral de Ordenação Urbana tem como principal meta recuperar a

cidade de sua crise estrutural ocorrida durante a década de 1970, devido ao fato

de seu modelo industrial ter sido ultrapassado com a evolução tecnológica. Dois

objetivos principais foram formulados: a revitalização física e sócio-econômica de

toda a área do baixo Rio Nervión, rio que corta a cidade, desembocando no

Oceano Atlântico. Dentro do campo do urbanismo, dois princípios norteiam o

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

44

desenvolvimento do projeto: a acessibilidade exterior e mobilidade interna da

metrópole, e a requalificação do meio ambiente e urbano, criando uma imagem

contêmporânea e atrativa para a cidade.

Em 1987, o “Ayuntamiento de Bilbao” (Prefeitura de Bilbao) desenvolveu o

primeiro Plano Geral de Ordenação Urbana, em que já se assinalava o potencial de

desenvolvimento de áreas históricas degradadas na metrópole, como

Abandoibarra e Ametzola. A partir de então, se iniciou a formação de uma

sociedade sem fins lucrativos e independente de investimentos públicos, a

chamada Bilbao Ría 2000, através da colaboração entre várias instâncias da

administração pública e empresas privadas. As intervenções iniciaram-se em 1988 e

permanecem em andamento até o presente ano.

Antes da intervenção, as áreas, que outrora apresentaram importância

econômica para a população citadina, concentrando atividades industriais e de

armazenagem, portuária e de comércio atacadista, se encontravam degradadas.

As antigas linhas de ferro e os galpões de armazenagem constituíam barreiras

físicas que impediam o acesso a áreas importantes da região metropolitana e

atravancavam a vida social e econômica de bairros tradicionais.

O objetivo geral do projeto é recuperar tais áreas (que podem ser municípios

da metrópole), promovendo como conseqüência o desenvolvimento equilibrado

da cidade e a melhoria da coesão urbana. Para isto foram elaborados vários

projetos com objetivos específicos, sendo os principais: a transformação da área

de Abandoibarra em um centro ativo; a valorização de Ametzola, de caráter

residencial; a melhoria da infra-estrutura de transporte em toda a área interferida,

facilitando o acesso a ela; a recuperação de Barakaldo, área anteriormente

ocupada por indústria siderúrgica; a recuperação e reintegração de Bilbao Vieja, o

bairro mais tradicional de Bilbao e a criação de uma nova identidade para

Zorrozaure. Para a concretização destes projetos, vultosos investimentos foram

disponibilizados por empresas acionistas e pela União Européia, sem que a

população fosse onerada com o processo – o lucro obtido com a valorização das

áreas foi revertido para a intervenção de outras. Sendo assim, foram instituídos

vários concursos e contratados arquitetos, artistas plásticos e outros profissionais da

região e do mundo.

Neste trabalho será analisada a área de Zorrozaure, uma importante

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

45

península que, após a abertura do canal de Deusto, tornara-se um bairro-ilha de

Bilbao, sendo esta área unida a três importantes trechos de desenvolvimento

urbano na cidade: San Ignácio, Deusto e Olabeaga.

Os desafios e as oportunidades para o desenvolvimento do plano piloto de

Zorrozaure abrangem a melhoria na infra-estrutura e a construção de espaços

abertos e de lazer, entre outros.

Para tentar solucionar essas questões, foi encomendado um projeto ao

escritório da arquiteta Zaha Hadid, hoje indicada como uma referência em

projetos urbanos contêmporâneos para revitalização de uma área de 800.000

metros quadrados.

FIGURA 21 – IMAGEM ATUAL DE ZORROZAURE, NO SENTIDO NORTE-SUL. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO

Como Zorrozaurre está localizado em um ponto estratégico, era muito

importante que a área se comunicasse com as demais regiões em seu entorno e

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

46

não se comportasse mais como uma barreira. Afinal, apesar de o limite ser bem

marcado pela água, essa área deveria possuir o papel de união entre as partes da

cidade de Bilbao.

Segundo a arquiteta Zaha Hadid, o projeto partiu de cinco posições de

planejamento: 1 - continuidade da audácia com a qual Bilbao mudou a direção

do Rio Nervión, tanto como um meio organizador da cidade como um marco

visual de vitalidade; 2 - ocupação do rio com uma área de intensa ocupação,

sinalização e transição, trabalhando a magia do rio para definir compromissos

importantes através de linhas de visão, padrões de separação e conexões; 3 -

revitalizar as áreas ocupadas por antigas indústrias de modo que elas se integrem

ao todo, formando um novo modo de organização urbana; 4 – comportamento

efetivo em relação ao restante da cidade e direcionamento de investimentos para

a melhoria do transporte e intensificação do alto poder hidrológico do lugar; 5 –

manutenção da tradição da cidade de Bilbao de ser uma “Walking City”, ou seja,

um lugar onde as pessoas se locomovem a pé.

Se Zorrozaure se apresenta como uma chave para desenvolvimento regional

e local, sua desconexão atual aumenta o grau de desafio. Para isso, foram

trabalhadas diversas soluções de transporte, e junto com várias possíveis

densidades e tipos de desenvolvimento. Entretanto, se é o rio Nervión que

atualmente isola o local, também é a água que dá a este local seu caráter futuro e

identidade.

O plano piloto desse local requeriu a integração íntima de conciliação entre

arquitetura e planejamento estratégico. A inovação no desenho urbano ofereceu

a melhor resposta possível a desafios desta magnitude, e para isto foi preciso definir

o caráter e uma identidade para Zorrozaure, através da geração de um

planejamento sustentável e a criação de parcerias público - privado, como

também com a própria população, para a obtenção do sucesso em longo prazo,

através da definição de uma Estratégia Urbana para essa área.

O projeto pretende promover uma rede de nova-economia, encorajando o

desenvolvimento econômico através das conexões entre morar e trabalhar para

complementar o padrão residencial e tipologias de escritórios.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

47

FIGURA 22 – MAPA DO ENTORNO DE ZORROZAURE. FONTE: PLANO BILBAO RIA 2000, DISPONIVEL EM http://www.bilbaoria2000.org/ria2000/index.htm E ORGANIZADA PELA AUTORA.

INFORMAÇÕES DA FIGURA 23

ELEMENTOS PREENCHIDOS LINHAS

COR ESPECIFICAÇÃO COR ESPECIFICAÇÃO

ROXO ÁREA DE INTERVENÇÃO VERMELHO C/ AMARELO NO

MEIO AUTOPISTAS

VERMELHO VIAS PRINCIPAIS

LARANJA VIAS COLETORAS

AMARELO VIAS LOCAIS VERDE

CENTRO HISTORICO DE BILBAO E

LOCALIZAÇÃO DO MUSEU

GUGGENHEIM ROSA TRACEJADO VIAS A IMPLANTAR

VARIAÇÃOS DE USOS

O projeto combina o uso residencial e dos setores terciários nas áreas

desocupadas e inutilizadas. Serão construídas 5.300 vagas para essas atividades e

10 e/ou 12 pontes e passarelas conectando a futura ilha de Zorrozaure ao resto da

cidade de Bilbao. Também será construído um pavilhão de basquetebol, um porto

poliesportivo, um aquário, um hotel, novos canais de transito, novas linhas de

transporte, uma "cidade da moda", entre outros.

O projeto consiste em 3 distritos:

- Distrito Sul: Torres para uso residencial e/ou escritórios. Esta área encontra-se

próxima aos bairros de Ensanche (centro de Bilbao) e Abandoibarra e possuem

uma ocupação extremamente densa.

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FIGURA 23 - PLANTA DO SETOR SUL. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

FIGURAS 24 e 25– SIMULAÇÃO COM MAQUETE ELETRÔNICA E CORTE ESQUEMÁTICO. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

- Distrito Central: É a área histórica da “ilha”, onde fica localizada a maioria dos

edifícios com interesse histórico e de preservação. Nas áreas desocupadas serão

instalados área de lazer e recreação, como também a “cidade da moda”, o

parque linear, um porto poliesportivo e um estádio de basquetebol.

FIGURA 26 – PLANTA DISTRITO CENTRAL –AMARELO: AS EDIFICAÇÕES COM INTERESSE HISTÓRICO, LARANJA: CIDADE DA MODA, VERDE: PARQUE LINEAR, ROSA: POLIESPORTIVO.

FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

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FIGURAS 27 e 28 - SIMULAÇÃO COM MAQUETE ELETRONICA E EIXOS DOS FLUXOS DE LIGAÇÃO COM O ENTORNO. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

- Distrito Norte: Essa área será práticamente residencial e na ponte norte estará

situado um aquário.

FIGURA 29- CORTE ESQUEMÁTICO DO DISTRITO NORTE. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

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FIGURA 30 – SIMULAÇÃO EM MAQUETE ELETRONICA DO DISTRITO NORTE. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

ESPAÇOS PÚBLICOS

No total dos 800.000 metros quadrados de intervenções, serão dedicados

541.000 para residências, 124.000 para serviços e 32.000 para o comércio. Os

equipamentos públicos ocuparão uma área de 57.000 metros quadrados, sendo

24.000 dedicados ao setor privado.

A arquiteta Zaha Hadid mostrou que não contêmplou nenhum padrão

prévio para seu design, apesar de que em muitos países de Europa as áreas de

porto possuem leituras semelhantes.

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FIGURA 31 – ESPAÇOS PÚBLICOS– VERDE: PARQUE LINEAR E ÁREAS VERDES, AMARELO: CIRCULAÇÃO, AZUL: MARINA E PORTO POLIESPORTIVO, LARANJA: SISTEMA VIÁRIO INTERNO.

FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

SISTEMA DE FLUXOS

O projeto propõe uma reformulação nos fluxos da área, através de um novo

desenho para a malha urbana, com conexões internas entre os edifícios no nível

térreo ou em passarelas e pontes/passarelas em conexões externas com as áreas

em seu entorno.

As passarelas encontram-se distribuídas pela ilha. As conexões são realizadas

em diversos níveis, e em alguns casos, chegam a avançar sob a água, em

conexões internas ou transpõem para outras regiões.

FIGURA 32 - CONEXÕES INTERNAS ENTRE AS EDIFICAÇÕES NO DISTRITO CENTRAL.

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FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

FIGURA 33 – PASSARELA DE LIGAÇÃO ENTRE OS PARQUES NO DISTRITO CENTRAL. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

As pontes encontram-se no Distrito Norte. Seu desenho arrojado e

monumental define o local, tornando-se marcos visuais na paisagem, sendo o

principal objetivo a criação de uma identidade ao local.

FIGURA 34 – EM DESTAQUE A CIRCULAÇÃO MARGEANDO O RIO E AO FUNDO AS PONTES DE LIGAÇÃO NO DISTRITO NORTE.

FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

ESTRUTURA INTERNA

A estrutura interna foi proposta com a preocupação em elaborar edifícios de

grande porte, com formas que promovessem um ambiente para o uso de novas

tecnologias. Para isso foi projetado pela arquiteta Zaha Hadid um aquário, um hotel

e os equipamentos nos espaços públicos como: o parque linear, estádio de

basquetebol e p porto poli esportivo.

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FIGURAS 35 e 36 – ÁQUARIO NO DISTRITO NORTE E HOTEL NO DISTRITO SUL. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

FIGURAS 37 e 38 – ESTÁDIO DE BASQUETEBOL E O PARQUE LINEAR NO DISTRITO CENTRAL. FONTE: http://skyscrapercity.com/showthread.php?t=147523 – SEM AUTOR.

1.3.3 – SANTO ANDRÉ – SÃO PAULO - BRASIL

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

O município de Santo André localiza-se na região metropolitana da cidade

de São Paulo, no Estado de São Paulo – Brasil. Hoje possui indicadores econômicos e

de qualidade de vida (PIB per capita de US$ 9,8 mil e Índice de Desenvolvimento

Humano/IDH de 0,8739) que permitem classificá-la entre as melhores cidades da

região. Deve-se considerar ainda que o município possui sérias restrições à

expansão urbana, já que mais da metade de sua área total (61%) pertence à

Macrozona de Proteção Ambiental, na qual inclui-se a "Área de Proteção aos

Mananciais", regulamentada por legislação estadual, onde está localizado o

Reservatório Billings.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

54

FIGURA 39 – LOCALIZAÇÃO DO ABC PAULISTA NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=226 – SEM AUTOR.

Historicamente, as décadas de 40 e 50 marcaram um forte crescimento

populacional da cidade de São Paulo e a expansão da mancha urbana de forma

conurbada, unindo os municípios no seu entorno. Essa configuração metropolitana

deu-se principalmente por algumas características, dentre as quais a formação do

novo parque industrial na Região do Grande ABC12, do qual o município de Santo

André faz parte, no eixo do rio Tamanduatehy, hoje ladeado pela Avenida do

Estado.

FIGURA 40 - LOCALIZAÇÃO DO EIXO TAMANDUATEHY NA CIDADE DE SANTO ANDRÉ, NA REGIÃO DO ABC PAULISTA, NO ESTADO DE SÃO PAULO E NO BRASIL.

FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=226 – SEM AUTOR.

O entorno do rio Tamanduatehy é conhecido como Eixo Tamanduatehy e

tem uma ocupação industrial, que corresponde a uma segunda fase da

industrialização em São Paulo (aprox. década de 30 a 60). Corresponde a um novo

território industrial, que se aproveitou da relação privilegiada com o Porto de Santos

e acessos ferroviários (Ferrovia Santos-Jundiaí) e rodoviários (Rodovia Anchieta e

Imigrantes), da proximidade da Represa Billings, fonte de água e energia, e

12 O ABC é conhecido pela área que envolve os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. A importância do ABC não surgiu na década de 50, pois suas potencialidades já haviam atraído a atividade industrial desde os anos 20. Entretanto a década de 50 é importante pois privilegia o território do ABC para a instalação do novo parque industrial brasileiro.. A implantação da indústria automobilística acontece com a instalação da primeira montadora na região, em 1946, a General Motors do Brasil, que em 1956 ganha uma escala produtiva extraordinária. Alguns dados sobre o ABC: em 1954 a produção correspondia a 11,4% do total do Estado; de 1938 a 1950 o crescimento no número de fábricas foi 232% (de 178 para 413 unidades); o crescimento no número de operários correspondeu a 283% (de 1.773 para 49.160 operários). Análises específicas do período evidenciam que houve uma efetiva estabilidade política e um substancial desenvolvimento econômico, objetivos contidos no Plano de Metas de 1956 do então Presidente Juscelino Kubitchek.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

55

principalmente, da contigüidade com o município de São Paulo, mais importante

mercado consumidor.

No entanto, esse período de crescimento industrial e econômico alterou-se

substancialmente nas décadas de 80 e 90, quando ocorreu um processo de

reestruturação industrial com a migração de grandes empresas para municípios

que ofereciam impostos mais baixos ou muitas vezes até doavam o terreno. Essa

migração ocorreu também em função das dificuldades e deseconomias internas à

Região Metropolitana, como por exemplo, o trânsito intenso gerando viagens

demoradas, a má condição das estradas e dificuldade de fluxo, além do número

considerável de roubo de cargas. Concomitantemente, alterava-se o número de

empregados do setor secundário (industrial), que se modernizava e implantava

novos processos produtivos e novas tecnologias.

FIGURA 41 - IMAGEM ATUAL DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DO EIXO TAMANDUATEHY. FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=226 – SEM AUTOR.

Essa alteração econômica promoveu o esvaziamento de uso de grandes

áreas industriais bem estruturadas e centrais para a metrópole, em especial o Eixo

Tamanduatehy, e uma série de tentativas apontando principalmente à transição

econômica do setor secundário (indústrias) para o setor terciário (comércio e

serviços), visando renovar a dinâmica econômica, mas também a garantia de

permanência das indústrias que já estavam estabelecidas na região e dos

empregos gerados por elas.

Em 1998, o governo municipal do PT (Partido dos Trabalhadores) em Santo

André, promoveu uma mudança de rumo nas diretrizes do Partido, já que até então

(desde as eleições municipais de 1989), as políticas públicas empreendidas pelos

governos municipais do PT estiveram voltadas para a "inversão de prioridades", ou

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

56

seja, intervenções em áreas de baixa renda, particularmente com investimentos em

infra-estrutura social, compreendendo educação, saúde e saneamento básico.

Com uma queda considerável na arrecadação municipal e o aumento do

desemprego, o Partido do PT nesse momento, passa também a privilegiar ações de

revitalização e estética urbana, a partir do binômio novas centralidades/grandes

projetos urbanos, na tentativa de promover um dinamismo econômico no

município. Nesse contexto, a despeito das políticas públicas de inclusão social,

também implementadas na gestão 1997-2000, teve-se o lançamento do projeto

"Eixo Tamanduatehy", de caráter nitidamente empresarial, revelando a opção

política o governo local de Santo André pelo "planejamento estratégico urbano",

voltado prioritariamente para o atendimento das demandas de mercado.

A viabilização do projeto irá se sustentar, até 2020, prazo preestabelecido

para conclusão do mesmo, na participação efetiva de todos os

segmentos:governo local, comunidade, instituições e iniciativa privada.

FIGURA 42 – ETAPAS DO PROJETO EIXO TAMANDUATEHY. FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=226 – SEM AUTOR.

ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÂO

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

57

O "Eixo Tamanduatehy" é um projeto de "requalificação urbana", ou seja,

investimento implementado pelo poder público, em parceria com o setor privado,

sobre área urbanisticamente consolidada, considerada ociosa e estratégica do

ponto de vista da competitividade da cidade. Esta área, de uso

predominantemente industrial (conforme lei de uso e ocupação do solo de 1976), é

conformada por grandes glebas vazias e/ou desocupadas, em processo de

redimensionamento das atividades existentes, bem como de alteração de uso.

A concepção urbanística deste projeto está baseada na existência de um

eixo linear, com área de 12,8 km2 e 10,5 km de extensão, conformado pelo rio

Tamanduateí (que atravessa o ABC e deságua no rio Tietê) e pelo sistema de

transporte, composto pela antiga ferrovia Santos-Jundiaí e pela avenida dos

Estados. Tem-se, dessa forma, a utilização do conceito clássico de "eixo urbano",

entendido como modo principal de organização do crescimento da cidade,

geralmente representado por uma grande avenida, servindo para desencadear

processos de transformação interna.

O projeto buscava viabilizar o processo de democratização e socialização,

tendo adotado como conceito-chave o "urbanismo includente e participativo", o

qual teve como objetivo a "captação pública das mais-valias imobiliárias e

fundiárias para promoção da requalificação urbana da área com ações

integradas de participação popular, desenvolvimento econômico e inclusão social"

(Disponivel em: http://www.santoandre.sp.gov.br).

A concepção do projeto foi resultado da associação entre as propostas,

sendo que essas propostas não foram projetos e sim apresentação de cenários

urbanos possíveis para a área, elaborados por quatro equipes transnacionais,

coordenadas pelos urbanistas Cândido Malta (Brasil), Christian Portzamparc

(França), Eduardo Leira (Portugal), Juan Busquets (Espanha) e as contribuições

dadas pelos técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André,

pelos representantes da comunidade local, pelos empreendedores regionais e

pelos demais órgãos de representação dos vários segmentos da sociedade. As

principais idéias defendidas pelos urbanistas foram bastante variadas, mas

continham pontos comuns, tais como a preocupação com a acessibilidade e

parcelamento do solo, além do desejo de fazer da área de estudo um marco da

cidade. São elas:

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

58

- Cândido Malta: criação de eixos de acessibilidade, com especial atenção e

potencialização da ferrovia; criação de grandes estações intermodais; construção

de vias elevadas e edifícios-ponte multifuncionais sobre a ferrovia e o rio

Tamanduateí; implantação de equipamentos de destaque, tais como mega-torres,

centro de eventos metropolitanos e praias artificiais; elaboração de novo arranjo

fundiário, desconsiderando os lotes existentes.

- Eduardo Leira: elaboração de um projeto motor, um empreendimento de porte

metropolitano que induzisse o desenvolvimento local, gerando uma nova

centralidade para o Grande ABC (Santo André, São Bernardo, São Caetano).

Considerava também a acessibilidade em escala macro, através da diagonal

ABC, da ferrovia e do anel viário. Quanto á questão fundiária, propunha a sua

alteração através da urbanização consorciada.

FIGURAS 44 E 45 – PROPOSTAS DE CÂNDIDO MALTA (ESQUERDA) E DE EDUARDO LEIRA (DIREITA). FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo.asp?cod=5590.

- Juan Busquets: urbanização consorciada e implantação de quadras de uso misto,

ortogonais e intercaladas com áreas verdes. A interligação entre as diferentes

formas de ocupação do solo, com eixos de continuidade e a configuração da

Avenida dos Estados como Parque Linear.

- Christian Portzamparc: uso da quadra aberta; a base fundiária coletiva; incentivos

aos pequenos empreendedores; a urbanização consorciada; a valorização da

tipologia local com reparcelamento do solo e a participação do poder público na

implantação de equipamentos públicos diversos e abundantes.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

59

FIGURAS 46 E 47 – PROPOSTAS DE JUAN BUSQUETS (ESQUERDA) E CHRISTIAN PORTZAMPARC (DIREITA). FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo.asp?cod=5590.

Tais propostas estavam vinculadas à tentativa de cumprimento do objetivo

maior estabelecido para o Projeto do Eixo Tamanduatehy, definido como o

incentivo à identificação de valores materiais (propriedade e renda) e simbólicos

(gestão democrática e participativa) no ambiente em que se vive, de modo que

seja garantida a sustentabilidade social, econômica e ambiental e conseqüente

melhoria da qualidade de vida para as atuais e futuras gerações. Para os criadores

do projeto, é de fundamental importância que todos os cidadãos exerça o seu

direito irrestrito à cidade.

VARIAÇÃO DE USOS

O Projeto Eixo Tamanduatehy propôs conciliar, no mesmo território, a

presença conjunta de comércio, serviços, habitação e indústria; de

empreendimentos grandes, médios e pequenos, dos diversos níveis de renda, com

inclusão social bem como integrar os referênciais novos: nova rodoviária de Santo

André e Nova Praça Santa Terezinha e os tradicionais: Moinho São Jorge, praça

News Sellers, Diário do Grande ABC e 18 do Forte, tendo o espaço público de

qualidade como elemento articulador.

O objetivo do projeto foi viabilizar investimentos, principalmente ao longo da

Avenida Industrial e da Avenida dos Estados, ou seja, em áreas já "atraentes" para o

mercado imobiliário, tendo como resultado a implantação de mega-

empreendimentos comerciais (shopping, hotéis, hipermercados, universidade

privada), através, principalmente da flexibilização de índices urbanísticos, da

doação/permuta de terrenos públicos (associado à isenção de IPTU) e de

contrapartidas viárias.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

60

Para isso, foram propostas a criação de um contexto favorável à atividade

econômica e à qualidade de vida, com (a) adequada infra-estrutura de

comunicações, energia elétrica, coleta e destinação de resíduos e drenagem, bem

como de áreas verdes e corpos d' água despoluídos; (b) a inclusão social através

da convivência territorial dos diversos níveis de renda, recuperação das áreas

favelizadas e um banco de terras para habitação de interesse social e (c) a

potencialização de investimentos públicos dos diversos níveis de governo,

integrando as respectivas políticas setoriais, assim como os investimentos privados,

estes por meio de parcerias que produzam um ambiente urbano qualificador tanto

para a área como para os empreendimentos.

ESPAÇOS PÚBLICOS

Quanto à produção do "novo" espaço público no Eixo Tamanduatehy esta

foi condicionada por duas questões políticas principais: a valorização do

"paisagismo" e a opção pela diretriz urbanística de implantação do "espaço privado

de uso público". Quanto à primeira questão, tem-se que a partir da gestão

1997/2000, o "paisagismo" passou a ser utilizado amplamente como elemento de

identificação e de produção de uma linguagem visual de "cidade agradável",

baseada na concepção do embelezamento urbano e da produção de um belo

cenário. Buscava-se, dessa forma, diferenciar Santo André das demais cidades da

região do ABC, de situação urbana precária e desqualificada, desvinculando-a da

imagem de "cidade industrial", decorrente do auge do período fordista.

A segunda questão está diretamente relacionada com a tendência

contêmporânea da parceria entre público e privado, decorrente das

transformações políticas e econômicas sob o predomínio do neoliberalismo. O setor

privado, através de uma postura pragmática e conceitual, vem se apropriando do

discurso relativo à retomada do espaço público, traduzindo-o, principalmente no

"espaço privado de uso público", através do tratamento das áreas abertas de

entorno ou externas aos empreendimentos. Obtém-se, desse modo, um melhor

tratamento estético-formal destes espaços que passam a funcionar, sob a ótica do

lucro e da rentabilidade econômica, como um atrativo potencial nas estratégias de

venda. No caso dessa operação urbana, esta tendência foi reforçada pelo próprio

poder público, ao delegar ao setor privado a implantação destes espaços,

mediante a negociação de benefícios e contrapartidas.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

61

A ambiência estaria sendo promovida através de mosaicos verdes:

constituição progressiva de massas e contínuos lineares verdes, a valorização da

água como elemento constituinte da paisagem, o controle visual da paisagem:

incentivo a formas organizadas de comunicação visual e sistemas de mobiliário

urbano e o Monitoramento da qualidade ambiental.

SISTEMA DE FLUXOS

A reurbanização da faixa do território do município, entre a Avenida dos

Estados, a Ferrovia e Avenida Industrial, estaria sendo promovida pela reordenação

dos fluxos, visando a policentralidade metropolitana, regional e municipal. Para isso,

foi proposta a criação de um diferencial de acessibilidade, por meio da

transformação do transporte ferroviário de passageiros em trem metropolitano

moderno, integrado ao futuro ramal ABC do metrô, e da ligação da Avenida dos

Estados ao Rodoanel, bem como pelo aperfeiçoamento da circulação relacionada

à malha viária do município e da região.

A integração dos territórios da cidade que hoje se encontram cortados pela

estrada de ferro, por grandes terrenos e pelo Rio Tamanduateí, passaria por

modificações por meio de transposições de vários tipos (viadutos, passarelas, túneis

e áreas verdes em continuidade paisagística), produzindo assim continuidade e

coesão urbana, inclusive com o reaproveitamento planejado das áreas antes

vinculadas à Ferrovia.

O sistema de fluxos foi direcionado para criação de eixos revitalizadores, que

atuem como desencadeadores da transformação de toda a área abrangida pelo

Projeto. São eles: a Ferrovia com a remodelação e criação de novas estações,

eliminação das barreiras visuais e integração da Ferrovia com a cidade; a Avenida

dos Estados com a recuperação, redesenho integrado com a cidade,

transposições, drenagem e parque linear e o Rio Tamanduateí com sua

despoluição, redesenho com características de rio urbano, nova configuração das

margens, arborização e iluminação adequada.

ESTRUTURA INTERNA

As operações urbanas e parcerias implantadas no perímetro do Eixo foram:

Industrial I (shopping ABC Plaza), Industrial II (complexo hoteleiro Íbis/Mercure); Pirelli

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

62

(centro empresarial Cidade Pirelli); Universidade UniABC; Pão de Açúcar e Carrefour

(comércio varejista); Terminal Rodoviário de Santo André, e o Global Shopping.

O projeto "Cidade Pirelli" trata da conversão de parte de área industrial para

comercial, com a oferta de serviços e a implantação de edifícios empresariais,

shopping centers, restaurantes e hotel. Com a institucionalização desta operação

urbana, a empresa obteve a solução para um dos principais entraves à viabilização

do projeto: a aprovação pela Câmara Municipal de mudança de zoneamento da

área – de industrial para misto. Dessa forma, além dos usos previstos na Zona

Industrial I, foram autorizados, mediante outorga onerosa, os usos residencial,

comercial, prestação de serviço comercial, institucional ou artesanal e

estacionamento comercializado.

A parceria com o grupo Pão de Açúcar resultou, para o empreendedor, na

autorização para ampliação de suas instalações, localizada entre a linha férrea e a

avenida dos Estados. Como contrapartida, obteve-se a execução da

reestruturação da praça pública "18 do Forte", com área de aproximadamente 15

mil m², próxima ao hipermercado.

Já a parceria realizada com o hipermercado Carrefour resultou na

autorização para construção em área anteriormente ocupada pelo ADC Rhodia

(clube de funcionários da indústria química). Sob o aspecto da produção de

espaço público tem-se a implantação de "parque" em área de 10.000 m2 (25% da

área total do empreendimento), constando da execução de passeio público

arborizado e equipamentos permanentes, como playground, bancos, mesas e

pergolado.

O novo Terminal Rodoviario de Santo André teve seu projeto premiado pelo

IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), implantado por meio de concessão para

exploração dos serviços pela iniciativa privada.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

63

FIGURAS 48 E 49 – IMAGEM ATUAL DA REURBANIZAÇÃO DE PARTE DA AVENIDA DOS ESTADOS COM A IMPLANTAÇÃO DO HIPERMECADO CARREFOUR (ESQUERDA) E IMAGEM ATUAL TERMINAL RODOVIÁRIO DE SANTO ANDRÉ (DIREITA).

FONTE: http://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo.asp?cod=5595 – SEM AUTOR.

1.3.4 - RECIFE-OLINDA – PERNAMBUCO - BRASIL

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

O projeto Recife-Olinda é um plano de desenvolvimento

urbano de escala metropolitana que busca a reabilitação urbana e

ambiental através da melhoria das infra-estruturas; da mobilidade,

dos transportes e da rede de equipamentos coletivos e serviços à

comunidade; valorização do espaço público; valorização

paisagística; salvaguarda e proteção dos ecossistemas naturais e

constituição da estrutura ecológica urbana (margens, áreas

permeáveis e áreas plantadas); salvaguarda e proteção do

patrimônio cultural (sítios, edifícios, ocorrências, etnografia);

valorização das frentes de água consideradas "fundo de quintal";

ampliação da centralidade metropolitana, atração de novos

residentes e fixação dos atuais, através da melhoria das condições

de habitabilidade da população existente e criação de novos

empregos. (Disponível em: http://www.cidades.br, visitado em

agosto/2006).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

64

FIGURA 50 – SIMULAÇÃO EM MAQUETE ELETRÔNICA DO PROJETO RECIFE-OLINDA. FONTE: REVISTA AU- Arquitetura e Urbanismo, Projeto Urbano Recife-Olinda, Editora Pini, agosto de 2006.

As diretrizes urbanísticas e as estratégias de implementação foram definidas

em conjunto pelos governos federal e estadual e pelas prefeituras de Recife e

Olinda. O trabalho também contou com a participação e consultoria da

Organização Social Núcleo de Gestão do Porto Digital e da empresa pública

portuguesa Parque ExpoProjeto.

Esta articulação se dá de forma pioneira, não só entre diferentes esferas da

Federação, mas também, entre os setores envolvidos dentro de cada um deles –

desenvolvimento urbano, turismo, cultura, desenvolvimento econômico, entre

outros. Através do Convênio para implementação do plano do Complexo Turístico

Cultural Recife-Olinda, foi constituído um Conselho Político (Núcleo Gestor).

Esse projeto tem previsão de inicio em 2007 e deve ocorrer em um período de

15 a 20 anos, sendo sua execução realizada através de parcerias públicas e

privada.

ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO

O projeto prevê a requalificação de um trecho de 8 km que se estende da

Colina Histórica de Olinda até o Parque da ex-Estação Rádio Pina, no Recife.

E foi projetado sobre um território caracterizado pelas zonas de Intervenção,

de Enquadramento e de Abrangência, segundo a participação de cada uma na

operação urbana proposta:

- ZONA DE INTERVENÇÃO (ZI): Áreas predominantemente ociosas ou com usos

passíveis de desativação e ocupadas por assentamentos precários, distribuídas em

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

65

setores, sendo que cada um possui um projeto especifico, com uma nova proposta

urbanística (quando vazios) e/ou de urbanização e/ou de reabilitação urbana.

- ZONA DE ENQUADRAMENTO (ZE): Áreas imediatamente contíguas às de

Intervenção e ao longo da rodovia PE-15, com características morfológicas e

tipológicas diversas, que poderão ser objeto de futuras operações urbanas ou que

serão consideradas e/ou requalificadas na nova proposta urbanística.

- ZONA DE ABRANGÊNCIA (ZA): Áreas do entorno das Zonas de Intervenção e de

Enquadramento, que serão consideradas na análise e na articulação de

investimentos e programas, inserindo e relacionando as Zonas de Intervenção em

um contexto mais amplo. Coincide com o polígono do Complexo Turístico Cultural

Recife-Olinda.

VARIAÇÔES DE USOS

A Zona de Intervenção foi dividida em 12 setores, com uma área total de

2.803.662 m². Os setores 2, 3, 4, 6, 7, 10, 11 e 12 totalizam uma área de 2.003.134 m²

(71,45%), e fazem parte do município de Recife e os setores 1, 5, 8 e 9 somam uma

área de 800.528 m² (28,59%) e fazem parte do município de Olinda. Apesar de

cada um ser objeto de projetos específicos, é possível classificar as intervenções em

dois tipos:

- Áreas de renovação urbana: Setores subutilizados e ociosos, desabitados ou sem

população fixa, mas que possuem um grande potencial para a renovação urbana.

Enquadram-se neste item a área portuária obsoleta (Porto do Recife) e antigas

linhas férreas desativadas (Cais José Estelita e Santa Rita). A idéia gerar atratividade

para novos residentes ou fixar os atuais e melhorar a acessibilidade dessas áreas

com suas frentes de água. Setores 1, 2, 3, 4 e 8.

- Áreas de requalificação urbana: Assentamentos informais, de baixa renda, que

devem ser integrados a cidade (inclusão sócio-territorial), através da instalação de

estruturas habitacionais, de equipamentos coletivos e de infra-estrutura. Outros

objetivos são as melhorias da mobilidade, transporte público e geração de

empregos.

Setores: 1, 5, 6, 7, 9, 10, 11 e 12.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

66

FIGURA 51– PLANO DE INTERVENÇÃO DO PROJETO RECIFE-OLINDA. FONTE: REVISTA AU- Arquitetura e Urbanismo, Projeto Urbano Recife-Olinda, Editora Pini, agosto de 2006.

ESPAÇOS PÚBLICOS

O projeto prevê uma área de 1,5 milhões de m² de áreas livres, sendo que

em todos os setores foi destinada uma porção para a instalação de equipamentos

turísticos e de lazer.

Vale destacar, no setor 3, na Vila Naval a proposta de uma praça de água

de Santo Amaro e de passeios públicos com a valorização do patrimônio histórico

(Cemitério dos Ingleses, Igreja de Santo Amaro das Salinas e Hospital de Santo

Amaro). No setor 5, Ilha de Maruim, a instalação de um píer de apoio aos

pescadores, com a recuperação e a urbanização da orla e no setor 12, Brasília

Teimosa, a reestruturação de uma antiga intervenção que substituiu as palafitas por

uma via litorânea e que adicionou novas faixas de praias, potencializando essa

área já consagrada com a instalação de mais equipamentos coletivos e de lazer.

ESTRUTURA INTERNA

Como já foi dito anteriormente, a intervenção urbana está dividida em 12

setores, sendo eles: 1 – Istmo e Coqueiral (renovação urbana) e Milagres

(requalificação urbana); 2 – Vila Naval, 3 – Porto do Recife, 4 - Cais José Estelita e

Cais de Santa Rita; 5 - Ilha do Maruim; 6 - Santo Amaro; 7 – Pilar; 8 – Salgadinho; 9 –

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

67

Azeitona; 10 - Coque; 11- Coelhos e 12- Brasília Teimosa.

Apenas o setor 1 será detalhado, devido a sua área de abrangência

relacionar tanto intervenções de renovação urbana, quanto de requalificação

urbana. Neste setor a área de renovação urbana deverá abrigar

empreendimentos de porte metropolitano, com a criação de novos empregos

favorecendo a inclusão social. O Istmo, uma área de preservação, terá uso apenas

contêmplativo, sem áreas edificantes.Foi proposto uma abertura de acesso à

frente de água e a recuperação da área estuarina do Rio Beberibe, para a

urbanização da orla.

Já a área de Milagres, o projeto propõe uma requalificação urbana, com a

criação de passeios públicos, a articulação entre Recife e Olinda e a manutenção

dos usos existentes. Também estão previstas a configuração da porta de acesso

Norte a Olinda, a transferência de habitações degradadas e a valorização do

patrimônio histórico urbano (Igreja e a Praça dos Milagres).

FIGURA 52 – PROJETO DERENOVAÇÃO URBANA - SETOR 1 – ISTMO. FONTE: REVISTA AU- Arquitetura e Urbanismo, Projeto Urbano Recife-Olinda, Editora Pini, agosto de 2006.

FIGURA 53 -PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA –SETOR 1 – MILAGRES. FONTE: REVISTA AU- Arquitetura e Urbanismo, Projeto Urbano Recife-Olinda, Editora Pini, agosto de 2006.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

68

1.3.4 – ANÁLISE

A análise desses estudos de casos levaram a separação deles em dois

grupos: o primeiro é composto por Barcelona e Recife-Olinda, já que seus projetos

visam à criação de uma atratividade turística, com a reformulação de suas

fachadas marítimas, juntamente com a reestruturação de algumas áreas internas,

cujo principal objetivo é proporcionar um sistema unitário na cidade.

Já os casos de Santo André e Zorrozaure, demostraram que são projetos

específicos em apenas uma determinada região desocupada e deteriorada dentro

da cidade, que, no entanto possue um grande potencial econômico, e

diferentemente que o grupo anterior, o principal objetivo é criar estratégias de

atratividade para a instalação de grandes empreendimentos comerciais e de

serviços.

No primeiro grupo a questão da centralidade metropolitana se soma à

tradicional, através da instalação de equipamentos no espaço urbano de múltiplas

funções - transportes, serviços, residências, universidade, escritórios, infra-estruturas

de lazer, comércio etc, que funcionam em um sistema de complementação com a

área central.

Seus projetos demonstram a preocupação de intervenções em áreas

excluídas da cidade, com as inserções tanto físicas, econômicas e sociais dessas

áreas, no todo da cidade. A intenção não é melhorar apenas um determinado

local, e sim costurar aqueles espaços deficientes em algum quesito com os espaços

já consolidados, na tentativa da concepção de uma cidade única, equilibrada e

igualitária.

Em Recife-Olinda, diferentemente de Barcelona que estruturou um plano

para a cidade toda, foi estabelecida uma faixa de intervenção, divididos em

núcleos de requalificação, mas que a intenção é integrar toda essa faixa, para

posteriormente transforma-la em sistema singular, potencializando as duas cidades

ao mesmo tempo.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURAS 54 E 55 – ESQUEMAS DE ORGANIZAÇÃO DOS PROJETOS DE RECIFE-OLINDA E BARCELONA FONTE: AUTORA.

No segundo grupo as atividades instaladas são mais especificas em

determinado setor, não existe uma relação clara e estratégica desses espaços com

o centro urbano tradicional. Suas funções são independentes das atividades que

funcionam nos centros urbanos, formando núcleos isolados.

Em Zorrozaure existiu a intenção de elaborar uma relação com as áreas do

entorno, através da reprodução dos padrões de deslocamento entre uma área e

outra. Para isso foi definido que cada área ao seu redor atua-se como campos

magnéticos e as vias como linhas de conexão entre esses campos, que se

sobrepõem e que, juntos, formam um todo que parece em constante movimento.

A materialização dessa idéia proporcionou a elaboração do desenho

urbana do projeto, criando trajetos relativos à transição entre as diversas áreas

tanto internas como as externas. Mas, no entanto, toda essa concepção estrutura-

se apenas no traçado urbano e nas formas das edificações. A própria configuração

do local, como uma futura ilha, já demonstra que esse bairro será auto-suficiente.

Outro fator é a multifuncionalidade das atividades propostas, formando o eixo de

morar, trabalhar e lazer, em uma mesma área, demonstrando uma característica e

uma identidade local e independente de outras áreas.

Já em Santo André, a definição é clara em relação à falta de relação, como

também a falta de intenção em estabelecer uma ligação com o centro tradicional.

A instalação de mega-empreendimentos privados e a proposta da criação dos

espaços públicos em virtude dos interesses deste setor, demonstram a fragilidade do

projeto, em estabelecer uma relação com o centro, já que este não é o foco de

interesse de setores privados. O projeto parece estar mais voltado para a

reestruturação interna, do que estabelecer qualquer vinculo com entorno.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

70

FIGURAS 56 E 57 – ESQUEMAS DE ORGANIZAÇÃO DOS PROJETOS DE ZORROZAURE E SANTO ANDRE FONTE: AUTORA

O fato é que, independente do projeto, a finalidade e a intenção de todos

os casos analisados foi à criação de estratégias para a requalificação desses

espaços decadentes, buscando reestruturá-los de uma maneira eficaz, do qual o

objetivo é a inclusão desses espaços à cidade.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

71

CAPITULO 2: A FORMAÇÃO DA CIDADE ENTRE RIOS: RIBEIRÃO PRETO

2.1 – LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

O município de Ribeirão Preto situa-se a N-NE (norte-nordeste) do Estado de

São Paulo, distante aproximadamente 313 km da capital, São Paulo, estando a

sede situada ao redor das coordenadas geográficas 21º10’ 42” de Latitude S e

47º48’24” de Longitude W. Limita-se com os municípios de Brodowski, Cravinhos,

Dumont, Guatapará, Jardinópolis, Pradópolis, Serrana e Sertãozinho.

FIGURA 58 – LOCALIZAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO NO TERRITÓRIO BRASILEIRO E LOCALIZAÇÃO DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DENTRO DO ESTADO E SUA DISTANCIA DA CAPITAL.

FONTE: http://neuron.ffclrp.usp.br/ribeirao_preto.htm - ORGANIZADA PELA AUTORA

FIGURA 59 – LOCALIZAÇÃO DE RIBEIRÃO PRETO E OS MUNICIPIOS NO ENTORNO. FONTE: http://www.igc.sp.gov.br/Imagens/mapRas/ra_ribeirao_med.gif - SEM AUTOR.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

72

A área total do município compreende 627 km², sendo a área do perímetro

urbano de aproximadamente 140,3 Km², e a área de expansão urbana

correspondente a 139,1 Km². O município é constituído pelo Distrito-Sede e o Distrito

de Bonfim Paulista, com uma população de 542.912 habitantes, segundo dados do

IBGE do ano de 2004.

A cidade é a sede da sexta região administrativa e sede de região de

governo do Estado, sendo composta de 23 municípios e 10 distritos, em uma área

total de 9.357 Km2.

Ribeirão Preto caracteriza-se hoje como um importante centro de múltiplos

pólos que lhe confere significativa importância socioeconômica e cultural no

cenário regional e nacional, se destaca pelo elevado grau de polarização que

exerce sobre a maioria dos municípios. Localizada em um dos centros mais

desenvolvidos do Brasil, constitui-se numa das âncoras da economia do Estado

através de um PIB de US$ 22 bilhões de dólares, com uma das rendas per capita

mais altas do país.

FIGURA 60 – IMAGEM AÉREA ATUAL DE RIBEIRÃO PRETO. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTÓRICO DE RIBEIRÁO PRETO – SEM AUTOR.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 61 - MANCHA URBANA ATUAL E VETORES DE CRESCIMENTO DO MUNICIPIO DE RIBEIRÂO PRETO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 62 – PRINCIPAIS ACESSOS DO MUNICIPIO DE RIBEIRÃO PRETO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 63 – ÁREAS VERDES E RIOS/CORRÉGOS DO MUNICIPIO DE RIBEIRÃO PRETO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 64 – PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS URBANOS E ATIVIDADES DO MUNICIPIO DE RIBEIRÃO PRETO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

2.2 – HISTÓRICO DA CIDADE

2.2.1 – O PROCESSO DE ORIGEM

O antigo povoado de Ribeirão Bonito, em cujas terras se desenvolveram o

atual município de Ribeirão Preto, foi ocupado em meados do século XIX por

fazendas de criação de gado, pertencentes ao então distrito de São Simão. Essas

terras pertenciam aos irmãos Reis, e estavam organizadas em cinco fazendas numa

grande área denominada Fazenda Rio Pardo.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

77

FIGURA 65 – LIMITES DAS FAZENDAS – DSITRITO DE SÃO SIMÃO. Fazenda Barra do Retiro (Atual região central e bairros como Higienópolis e Jardim Paulista); Fazenda Monte Alegre (Atual sede da USP: Universidade de São Paulo); Fazenda das Palmeiras (Atual Zona Leste); Fazenda Pontinha ou do

Ribeirão Preto (Atual Zona Norte, Campos Elíseos e uma parte da Vila Tibério) e a Fazenda Retiro (Atual Zona Sul).

FONTE: JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO. Folha Ribeirão. Ribeirão, 150 anos – Ribeirão nasce na Fazenda do Rio Pardo, São Paulo, 18 de junho de 2006.

O gradual crescimento da população levou à construção de uma capela na

região, já que nesta época a fundação das cidades coloniais portuguesas

confundia-se com a história da Igreja Católica, e normalmente com a construção

de uma igreja como marco inicial, sendo este ato fruto de decisões estratégicas de

ordem política ou iniciativa dos próprios moradores da região. (Faria,2001).

Na região, coube ao fazendeiro José Mateus dos Reis as doações das

primeiras terras para formação do patrimônio de São Sebastião de Ribeirão Preto,

marco inicial da fundação da cidade de Ribeirão Preto. As terras doadas faziam

parte da menor das fazendas, a fazenda Barra do Retiro, sendo 66 alqueires doados

entre 1852 a 1853.

Segundo Faria (2001) alguns históriadores da cidade apontam o fervor

religioso dos fazendeiros como principal motivo que os levaria a doar terras para a

construção da nova capela, e assim ajudar a população das imediações do

desconforto que representavam o deslocamento até São Simão no cumprimento

de seus deveres religiosos. Já outros históriadores apontam que com Lei de Terras de

1850, estabelecendo a compra como a única forma de aquisição de terras, veio a

dificultar o acesso dos homens sem recursos à propriedade privada, mas abria um

precedente às posses “mansas e pacíficas” que promovessem a produtividade da

terra. Segundo um históriador da região, Lages apud Faria (2001),

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

78

“uma saída mais fácil para estes homens de posses sem títulos

passava pela devoção de um “santo forte”. As doações de terra a

Igreja para constituição quase sempre de um patrimônio

eclesiástico que garantisse a construção e manutenção de uma

capela eram registrados em livros paróquias, registros esses que

passavam a ter valor legal como titulo de propriedade. Doando

terras á Igreja, os posseiros asseguravam para si o direito de primeiros

ocupantes do terreno. “Sacrossanta aliança entre o céu e o

latifúndio”.

Desta forma, José Matheus dos Reis, com a suas doações de terras, estaria

tentando legitimar a posse de parte da Fazenda das Palmeiras, que estava sendo

disputada entre sua família e a família de Dias Campos, outro fazendeiro importante

da região, desde 1834.

Enfim, a capela ficaria pronta somente em 9 de janeiro de 1868, mas parece

ter criado condições para o início do desenvolvimento administrativo de Ribeirão

Preto. Em 2 de abril de 1870, foi, então, criada a freguesia de Ribeirão Preto em

terras do município de São Simão. Apenas um ano mais tarde, em 12 de abril de

1871, tornou-se vila.

A autonomia política e a existência de solos bastante férteis fizeram com que

muitas famílias se deslocassem para a região, expandindo a agricultura e o

comércio. Mas foi a partir de 1876, quando o Dr. Luís Pereira Barreto introduziu o

café tipo “bourbon”, que a cidade experimentou um crescimento acelerado.

Com a decadência da cultura cafeeira no Vale do Paraíba e demais áreas

do estado de São Paulo, juntamente com a perfeita adaptação desse tipo de café

àquelas terras levaram as lavouras a se transformarem, em curtíssimo tempo, em

grandes cafezais. A cidade de Ribeirão Preto tornou-se, já no final do século XIX, o

centro de convergência de fazendeiros, no desenvolvimento da lavoura do café,

favorecida pela chamada Terra Roxa.

Em 7 de abril de 1879, seu nome foi alterado para Entre Rios e, em 30 de

junho de 1881, passou definitivamente para o nome atual. Dois anos depois, em

1883, chegaram os trilhos de Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, o que deu

novo impulso a Ribeirão Preto, que recebeu foros de cidade em 1º de abril de 1889.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

79

O relato de Jardim apud Faria (2001), em relação a sua vinda a cidade, nos

mostra na visão de um simples morador, a situação em que se encontrava Ribeirão

Preto neste período:

Em 1905 aportei em Ribeirão Preto, para morar ai. Estava este

período de vida intensa. Lavoura, na sua maior pujança;comércio,

movimento e prospero; a pequena industria, com oficinas

mecânicas e congêneres, por igual. Tudo fartura. Dinheiro,

superabundante e de verdadeiro poder aquisitvo.Era assim a

“Capital da Terra Roxa”.

Convertida em pólo econômico de atração e irradiação de atividades,

possuía uma região de influência que abrangia boa parte do interior de São Paulo e

parcelas de Minas Gerais e do Estado de Goiás.

2.2.2 - O PROCESSO DE CRESCIMENTO URBANO

Com os limites das terras do patrimônio da cidade de Ribeirão Preto

definidos, foi delimitada no ponto mais alto da gleba, uma área de 100mx400m

para a construção da Igreja Matriz, localizada no centro do que se denominou de

Largo da Matriz. Foi adotado o traçado regular de quadriculas e imposto a primeira

ordenação urbanística para a ocupação do entorno, tanto dos arruamentos que

começaram a se formar a partir do quadrilátero do Largo, quanto das edificações

que surgiriam alinhadas ao mesmo.

FIGURAS 66 E 67 – DELIMITAÇÃO DO LARGO DA MATRIZ E A IGREJA AO CENTRO - SÉC. XIX. ESSA QUADRA SERÁ LOCAL DE ISNTALAÇÃO DOS EDIFICIOS DO QUARTEIRÃO PAULISTA

FONTE: CALIL, Ozório Jr. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)– Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São

Carlos, 2003 ORGANIZADA PELA AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

80

Essa ordenação estabelecia algumas normas sobre os terrenos, dimensões e

nomenclaturas de ruas, localização dos primeiros equipamentos, problemas de

higiene, entre outras, que foram oficialmente elaboradas e aplicadas a partir da

constituição da primeira Câmara Municipal, em 1874.

Neste período, o crescimento urbano encontrava-se limitado ao entorno da

Igreja Matriz, e contido entre os Córregos do Retiro e do Ribeirão Preto. Apenas a

partir do ano de 1883, com a implantação da Linha Férrea da Companhia

Mogiana, que foi instalada nas margens do Córrego do Ribeirão Preto, é que ocorre

o rompimento dos limites naturais e a expansão em direção as terras até então

ocupadas pelo café. Essa expansão é considerada a segunda orientação no

crescimento urbano na cidade.

A área de instalação da ferrovia era considerada como fundo, em relação a

posição do edifício da Igreja Matriz, e neste momento sofre uma intensa

transformação, no que se diz respeito ao uso do solo urbano, como também de

todo o ambiente construído.

A ferrovia colocou a cidade em contato direto com a rota do café em

direção ao porto de Santos, integrando-se há uma rede de cidades em intenso

processo de urbanização, e que significou, na época, o próprio progresso e símbolo

da técnica moderna. Tal acontecimento propiciou um aumento populacional,

através das primeiras correntes migratórias para a região, sendo que neste período

a população do município que contava em 1886, com 10420 habitantes, passa

para 59195 habitantes em 1900. (Faria, 2001).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

81

FIGURA 68 – VETORES DE CRESCIMENTO URBANO. FONTE: SANCHES, Kátia. As leis urbanísticas da cidade de Ribeirão Preto entre 1874 a 1935. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano) Programa de

pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. ORGANIZADO PELA AUTORA

FIGURA 69 – IMAGEM DA RUA DA ESTAÇÃO ATÉ O CORREGO RIBEIRÃO PRETO, PROLONGAMENTO DA RUA GENERAL OSÓRIO.

FONTE: CALIL, Ozório Jr. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)– Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São

Carlos, 2003.

Optou-se, primeiramente, pela transformação da imagem da cidade, pela

consolidação do ambiente urbano burguês europeizado, sendo a intenção do

poder público em priorizar as questões de embelezamento, legitimada pelo

moderno discurso da higiene, beleza e consciente ação disciplinar social. Assim, a

cidade configura-se em duas áreas: a área central, protegida pelas águas do Retiro

e do Ribeirão Preto, e outra periférica, além das margens opostas dos mesmos

córregos, ocupada por bairros de trabalhadores.

Os melhoramentos urbanos foram definidos como prioridade pela

administração municipal, sendo estabelecido como primeira área merecedora das

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

82

maiores atenções, a região central, ou seja, o Largo da Matriz e arredores. A

escolha dessa área evidencia tanto sua importância urbanística, organizadora e

definidora do desenho da cidade, quanto como território de “sociabilidade” 13 para

“toda” 14 a população urbana e rural. O Largo assume ao mesmo tempo, uma

função vinculada às atividades religiosas, como também de espaço mercantil,

dedicados à devoção do consumo, ainda que na época fosse de subsistência, mas

que em um determinado período é transformado em centro de consumo de

produtos e mercadorias européias. Pode-se perceber, com a delimitação dessa

área, uma primeira intenção em estabelecer algum tipo de zoneamento, no caso,

uma zona comercial através das principais ruas da região central.

Foi proposto a limpeza urbana das principais ruas comerciais do município e

um conjunto de obrigações e deveres por parte dos habitantes, para a

manutenção de um ambiente urbano salutar e propício à realização das atividades

desenvolvidas naquelas ruas. Neste momento, o ordenamento urbano atinge

também o interior dos lotes, estabelecendo limites e critérios tanto para as questões

sanitárias quanto estéticas das construções, definindo-se como primeira legislação,

mesmo que ainda não determinada enquanto código de posturas municipais.

Na medida em que o processo de urbanização se intensificou em direção a

consolidação da cidade modernizada, as atividades sociais, de lazer e comércio

sofreram profundas modificações.

“O lazer e a sociabilização que ocorriam nos pátios, terreiros e

armazéns foram tomando lugar nas ruas, feiras, praças e jardins

públicos. Cabe ressaltar que este processo de urbanização do lazer,

mais do que uma migração, pode ser qualificada como uma

diversificação das atividades de entretenimento, pois as tradicionais

atividades rurais continuariam a ocorrer no campo, ao mesmo

tempo em que passaram a dividir o espaço com festas urbanas na

cidade.” (Silva, 2000).

No entanto, os processos de melhorias urbanas eram extremamente lentos e

não acompanhavam os ritmos de crescimento populacional, de expansão da

malha urbana e da economia cafeeira exportadora e, por isso, a vida nas 13 O termo de sociabilidade é citado por Caldeira apud Faria (2001), para expressar que o espaço-praça (central), surgido inicialmente, de forma espontânea,, como uma extensão das edificações religiosas, obteve sua importância mais associada as atividades que iriam desenvolver nas edificações do seu entorno do que a noção de lugar-simbolo da cidade. 14 O termo TODA engloba a classe dominante (burguesa), já que nessa época era evidente a ocupação segmentada do espaço público, pois a área mais urbanizada, com as melhores condições de infra-estrutura, no caso a área central, não era um lugar para “pessoas de cor” (negros), provocando uma segregação social no espaço bem definida.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

83

fazendas, principalmente dos grandes coronéis, ainda era considerada mais

atraente, pois simbolizava poder, riqueza e status.

A consolidação da vida urbana ocorreu devido a dois fatores: a imigração e

o trabalho assalariado, já que são esses dois processos que solidificam a economia

capitalista da cidade, proporcionando o desenvolvimento de outras atividades,

além da monocultura do café.

À medida que a cidade vai se urbanizando, que novos serviços são abertos

entre o eixo da Praça XV de Novembro15 e a Estação Mogiana, toda aquela área

caracterizada nos primórdios da ocupação do Largo, por uso quase que

estritamente religiosa, torna-se intensamente comercial, sobretudo no eixo da Rua

General Osório.

Em 1897, essa área consagra-se como o ambiente do mundo moderno,

principalmente com a construção do Teatro Carlos Gomes. O Teatro simboliza a

imposição ao ambiente urbano dos desejos da elite cafeeira dominante, assim

como a representação, através de uma arquitetura monumental, da sua

capacidade, de viabilização e, mais ainda, de legitimação do seu projeto de uma

cidade moderna. Neste momento as elites procuram à cidade não apenas como

um local de passagem para compra, mas também como cenários de lazer e

habitação, sendo construídos os primeiros palacetes urbanos, pelos fazendeiros.

Esse processo acelera a ruptura com a antiga condição rural que

caracterizada toda aquela região, e tornasse necessário à reformulação das

imposições de ordenamento, através da criação de códigos legislativos, leis

urbanísticas e novos projetos de melhoramentos e embelezamentos. O primeiro

desses grandes instrumentos seria o Código de Posturas da Câmara Municipal, em

1889.

Este código evidenciava uma hierarquização das vias urbanas, dispondo

larguras mínimas para as ruas e as avenidas, e reforçava o traçado ortogonal. O

Artigo 1º do Código de Posturas da Câmara Municipal, de 1889, estipulava que “as

praças e largos deverão ser sempre, que o terreno o permitir, quadrados, retângulos

perfeitos, ou outras figuras regulares e simétricas”.

O conteúdo do código também continha exigências em relação ao

alinhamento dos edifícios, à regularização das fachadas e questões relativas à

drenagem urbana, com a disposição adequada aos perfis das vias, e a execução

15 Antigo Larga da Matriz, agora denominada de Praça XV de Novembro.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

84

de guias, sarjetas, passeios, bem como edifícios particulares, que deveriam

apresentar calhas e conduzir as águas pluviais até as sarjetas ou além das guias.

Outra norma especifica e importante foi o destaque dado aos aspectos

estéticos das fachadas, exigindo uma forma arquitetônica que fosse harmônica e

satisfatória. Entretanto, o texto não deixa suficientemente claro como seria avaliada

e quais os critérios para estabelecer essa “harmonia”.

Paralelamente, começam a ocorrer com maior freqüência os processos de

especulação imobiliária, provenientes da valorização da região central decorrente

do surgimento de grandes construções, que representavam novas formas de

investimentos para a renda gerada no auge do café.

Os processos de melhoramentos e embelezamentos urbanos continuavam

intensos até os anos 1920, por um caminho único: o desejo de modernização seja

sanitária, “estética” 16 e material. Esse caminho é o exemplo que permanecia com

um discurso único, fechado em idéias da elite dominante e partilhado por todos, na

busca pela construção da metrópole do interior capitalista, ou da Capital do Oeste

como era denominada na época.

Na mesma ordem das grandes obras que começaram a transformar o

espaço visual da cidade, iniciadas pontualmente com a construção do Teatro

Carlos Gomes, passando para o edifício da Sociedade Recreativa, estariam

direcionadas as atenções da municipalidade e da sociedade para a construção

do Quarteirão Paulista17, no inicio de 1930. (Calil, 2003).

Esse importante empreendimento foi implementado com os recursos

financeiros da iniciativa privada, no caso, não mais restritos ao capital agrário

proveniente do café, mas também do capital urbano das atividades comerciais e

fundamentalmente industriais, como a Companhia Antarctica e a Cervejaria

Paulista inauguradas, em 1911 e 191418, juntamente com a construção do edifício

Diederichsen19.(Calil, 2003).

16 É importante lembrar que neste período quando se fala estética, refere-se ao conjunto arquitetônico e quando se fala sobre embelezamento, incorporam-se as questões urbanísticas. 17 O Quarteirão Paulista é um complexo composto pelo Palace Hotel, Confeitaria Paulicéia Nova (Atual Choperia Pingüim) e o Teatro Dom Pedro II. As fachadas laterais encontram-se nas ruas Duque de Caxias e General Osório e fachada frontal voltada para a Praça XV de Novembro. 18 A Cervejaria Antarctica Paulista foi fundada por Adan D. Von Bulow e Antonio Zerrener em 1891, com sede na capital paulista. Em 1911, instala uma filial em Ribeirão Preto, sendo uma das primeiras grandes indústrias na cidade. (CALIL, 2003). Em 1914, é inaugurada a Companhia Cervejaria Paulista, construída as margens do Ribeirão Preto, próxima à estação da Cia Mogiana, na margem oposta da fábrica da Cia Antarctica Paulista, sua principal concorrente durante anos. 19 O edifício Diederichsen foi à primeira construção vertical da cidade, com 6 andares em 1930.(CALIL,2003).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

85

FIGURA 70 – EDIFICIO DA CERVEJARIA PAULISTA. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTORICO DE RIBEIRÃO PRETO.

A partir dessa época, a fisionomia da cidade transforma-se

novamente, não só com as novas edificações que contrastavam, por suas

dimensões e estilos arquitetônicos, com aqueles existentes até então, mas

também como a diversificação das atividades centrais e o aumento tanto

populacional quanto dos estabelecimentos comerciais e de serviços.

FIGURA 71 – AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES EM DIAS DE FESTA, AO FUNDO A ESTAÇÃO MOGIANA – 1940. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTORICO DE RIBEIRÃO PRETO.

Esse aumento de atividades foi fruto primeiramente da migração dos

trabalhadores rurais para a cidade, que assumiam uma nova condição, a de

operários, vendedores, ambulantes, trabalhadores braçais em geral; e de pessoas

que se transferiam para a cidade, induzidas pelas oportunidades de trabalho que

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

86

surgiam provenientes das imagens divulgadas textualmente e iconograficamente,

por meios da imprensa local20, mostrando o progresso da metrópole do interior.

Para demonstrar o aumento das atividades e o aumento populacional, os

dados do IBGE nos mostram que neste período a taxa de urbanização já era de

71,8%, chegando em 81.7% em 1950. Entre 1940-1950 a população cresceu 15.5%

passando de 79.711 hab. para 92.160 hab, no final de 1950. (Calil, 2003).

O crescimento da atividade comercial, a construção de novas edificações e

o surgimento de novas atividades, resultou numa disputa de espaço do centro.

Sendo que, é exatamente neste momento que as elites dominantes deslocarqm-se

para área sul da cidade, com a criação do bairro Higienópolis (loteamento

aprovado em 1923).

Tal processo de deslocamento é considerado o terceiro movimento de

expansão da cidade, sendo este uma conseqüência de um novo estilo de viver e

morar que surgiu na época, influenciado pelo estilo europeu de Haussmann

proposto na reestruturação de Paris, já mencionado no capitulo 1 desse trabalho.

Esse novo loteamento foi implantado em um local próximo do centro, em uma área

de chácaras arborizadas, localizadas em cotas mais altas, com subdivisões em lotes

bem maiores, viabilizando a construção de grandes residências (suntuosos

palacetes residenciais) com jardins nos recuos laterais e frontais, com o objetivo de

proporcionar vistas bucólicas associadas à tranqüilidade e à melhoria na qualidade

de vida de seus moradores.

O bairro Higienópolis foi concebido com um traçado continuo das vias do

centro, mantendo-se as mesmas dimensões das quadriculas, com a implantação

de espaços verdes dispostos a garantir uma melhor circulação e ainda apresentou

a implantação de uma serie de equipamentos coletivos, como hospitais, colégios,

clubes, entre outros.

20 Essa intenção de propagar uma imagem da cidade, através de uma simbologia, no caso, a da modernização, representada através de um discurso de higiene, beleza e disciplina, é a intenção que, na prática atual do Planejamento Estratégico Urbano, definiu-se como “marketing urbano”. Esse termo foi conceituado e analisado nos estudos de caso do capitulo 1 desse trabalho.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 72 – PROCESSOS DE CRESCIMENTO URBANO 1º ÁREA EM VERMELHO, 2º ÁREA EM AMARELO E 3º ÁREA EM AZUL

DESTAQUE EM CINZA PARA A ÁREA DE ESTUDO DO TRABALHO. FONTE: FOTO ÁEREA ATUAL – SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADO PELA AUTORA.

Desta em época em diante, surgiram outros inúmeros bairros ao redor da

área central, que deram continuidade a malha viária do centro. Nesses novos

bairros, os processos de parcelamento do solo aconteciam isoladamente, em áreas

muitas vezes equivalentes às das chácaras, que devido á crise do café, iam sendo

subdivididas, como fonte adicional de renda, e também para o assentamento

urbano da própria família, que crescia com o casamento dos filhos.

A zona sul, surgida a partir da implantação do bairro Higienópolis, expandiu-

se com grandes loteamentos destinados às classes altas. E as zonas norte e oeste,

com a consolidação de típicos bairros de classe média e baixa. A zona leste do

município permaneceu até meados da década de 90, apresentando baixos índices

de urbanização. Entretanto, devido ao relevo plano e ao baixo preço de mercado

do solo pouco produtivo da região, este se tornou o principal vetor de crescimento

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

88

para localização de empreendimentos habitacionais destinados à classe média-

baixa, tanto de iniciativa governamental (COHAB21) como particular.

FIGURA 73 – FORMAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO - MANCHAS URBANAS. FONTE: SECRETARIA DO PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

2.2.3 – O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA E SETORIZAÇÃO

As mudanças que ocorreram na área central, a partir de 1940, foram

marcadas pelos processos de expansão e setorização. Na décadas de 40, a

setorização foi caracterizada pelos tipos de atividades, com o setor da Praça XV de

Novembro, com os comércios e serviços diversificados, as atividades de lazer e

21 A Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo é um dos principais instrumentos de execução da política de habitação do Estado de São Paulo. A missão da COHAB é garantir acesso à moradia para a população de menor renda, desenvolvendo programas habitacionais e promovendo a construção de novas unidades com recursos provenientes do Fundo Municipal de Habitação e de convênios com agentes financeiros, como a Caixa Econômica Federal, outras entidades governamentais e iniciativa privada. Tem também como uma de suas atribuições a aquisição e comercialização de terrenos e glebas com a finalidade de provisão habitacional. (Disponível em http://www2.prefeitura.sp.gov.br/empresas_autarquias/cohab, visitado em agosto/2006).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

89

cultura, os órgãos públicos, as agencias bancarias, entre outros; e o setor da

estação Mogiana que abrigava o comércio atacadista, indústrias e atividades

correlatas à ferrovia.

Nos anos de 1940-1970, ocorreu um grande crescimento e desenvolvimento

econômico, ancorado na agroindústria e na indústria metal-mecânica,

transformando novamente a fisionomia da cidade, mas agora além de mudanças

nas estruturas físicas, ocorreram mudanças sociais.

As mudanças nas estruturas físicas decorreram do processo de verticalização

no centro, voltadas principalmente, para o comércio no período de 1950-1954 e

depois para a habitação, no inicio dos anos 1960. E as mudanças sociais ocorreram

na setorização de atividades marcada também pela diferenciação do

atendimento às diversas classes sociais, ou seja, setores de comércio e serviços

voltados para atender às camadas de menor renda e outros setores que

atenderam às camadas de alta renda.

O próprio crescimento urbano já espelhava a segregação social, ao dividir a

cidade nos vetores Sul e Sudeste, abrigando os bairros das camadas de alta renda,

e no quadrante Norte e Oeste, as camadas de media e baixa renda, expressado no

centro com a separação do comércio de luxo e popular.

Essa situação agrava-se com a transferência da estação Mogiana para a

periferia da cidade, no vetor Nordeste, e o deslocamento das atividades

relacionadas ao transporte ferroviário, como hotéis, pensões, restaurantes, bares,

entre outros, sobrando apenas o comércio e serviços populares no antigo setor da

estação, que aos poucos foram sendo transferidos, ou entraram em decadência ou

foram simplesmente eliminadas pela falta de consumidores.

Neste momento, com a falta de atratividade na área, os proprietários das

edificaçães deixaram de investir na manutenção das antigas construções,

alegando o baixo rendimento com os alugueis. Por outro lado, os novos inquilinos,

sem recursos para investir em melhorias, acabaram depreciando ainda mais as

edificações, e somado ao preconceito social em relação ao surgimento de casas

de prostituição nesta área, ocorreu uma grande desvalorização geral no setor.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

90

Esses fatores proporcionaram ao setor imobiliário a criação de centros

secundários nos bairros, com atrativos que pudessem atender o comércio e serviços

de luxo, bem como as atividades de lazer e entretenimento, sendo essas áreas

denominadas de “novos centros”.

Outro fator responsável por essa dispersão comercial foi à implantação das

avenidas expressas do Plano de Vias de 196022, que se constituíram em eixos viários

estruturadores do espaço urbano, direcionando a um atendimento em todas as

regiões da cidade, facilitando o acesso-bairro e a comunicação entre os bairros e,

conseqüentemente, a acessibilidade facilitada a esses novos centros, consagrando

essas áreas.

O centro, agora denominado de centro antigo ou centro histórico para

diferenciação dos novos centros, passa a abrigar a camada de baixa renda, que a

escolhe como residência devido à proximidade com o emprego, diminuindo o

gasto com transporte do trecho residência-trabalho, a proximidade com

equipamentos de saúde, escola, comércio, serviços, lazer, rodoviária e os baixos

preços dos alugueis.

FIGURA 74 - PLANO DE VIAS DE 1960

22 Esse plano foi elaborado pelo Departamento de Obras da Prefeitura, baseado no Plano de Prestes Maia. O plano consistia em duas vias perimetrais e oito radiais, sendo que a primeira via perimetral tangenciava o centro na Avenida Francisco Junqueira, contornando os setores centro e centro-sul; e a segunda perimetral é o próprio Anel Viário. Este delimitava a área urbana, excluindo os corredores onde foram implantadas as vias expressas. Já o conjunto de radiais convergia para o centro, reafirmando a importância do setor e garantindo a acessibilidade centro-periferia. Este plano estabeleceu um sistema hierarquizado de vias e ampliação da área urbana, através de uma estrutura viária cujo objetivo principal foi o direcionamento do crescimento urbano.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

91

EM AMARELO A 1ºPERIMETRAL, EM VERMELHO A 2º PERIMIETRAL (ANEL VIÁRIO), EM AZUL ÁREA DE ESTUDO DESTE TRABALHO.

FONTE: CALIL, Ozório Jr. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)– Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São

Carlos, 2003 ORGANIZADA PELA AUTORA

Os comerciantes impressionados com as mudanças que ele vinha sofrendo e,

conseqüentemente, a perda de seu prestigio, desenvolveram gestões junto ao

governo municipal para que se desenvolvesse alguma ação na tentativa de

reverter esse processo. Assim, em 1990, foi implantado o “calçadão”, que

compreendeu o fechamento de 8 quarteirões, visando apenas a criação de um

espaço de circulação de pedestres, comportando-se como um projeto pontual de

intervenção urbana.

Entretanto, esse projeto agravou os problemas de circulação de veículos no

centro, e por outro lado, não conseguiu reverter o processo de popularização do

mesmo.

FIGURA 75 – “CALÇADÃO” DA RUA GENERAL ÓSORIO EM AMARELO QUARTEIRÃO PAULISTA EM LARANJA

PRAÇA XV DE NOVEMBRO EM VERDE ÁREA EM ESTUDO EM VERMELHO

FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

2.3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

O limite urbanizado da cidade encontrava-se definido entre a cidade “intra-

rios” e a cidade “além-rios”, 23 sendo o limite da natureza (barreira geográfica) feita

pelo córrego Ribeirão Preto e o limite da técnica (barreira física) determinado pela

estrada de ferro. Esses limites definiam uma incompatibilidade física e social, entre a

cidade moderna, higiênica e embelezada, área de moradia da elite dominante e 23 Termos utilizados por FARIA (2003).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

92

da cidade pobre, feia e suja, moradia de grande parte da massa de

trabalhadores.

A área de estudo situa-se na faixa de transição entre as duas “cidades”

distintas, e compreende o trecho completo da Avenida Jerônimo Gonçalves, e

uma parte da Avenida Caramuru, ate sua intersecção com a Rua Primo Tronco,

abrangendo seu entorno imediato nas margens do Córrego Ribeirão. A área possui

aproximadamente uma área de 1.060.793,16 m², em um perímetro de 5.512,30 m², e

é hoje é denominada de a “Baixada” pelos moradores da cidade.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

93

FIGURA 77 – DELIMITAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO (HACHURADA EM AZUL) E OS LOTEAMENTOS DA ÁREA (LIMITES EM VERMELHO).

FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO - PMRP - ORGANIZADA PELA AUTORA.

OBS: O MAPA DE LOTEAMENTO DO MUNICIPIO NÃO DELIMITA OS BAIRROS COMO TAMBEM OS NOMES DAS ÁREAS DE FORMAÇÃO DA CIDADE COMO PODE SER OBSERVAOD ACIMA, E, PORTANTO SERÁ UTILIZADO O MAPA DE SETORES

DO IBGE (ANÁLISE FUNCIONAL) PARA FACILITAR A IDENTIFICAÇÃO DESSES DENTRO DO TRABALHO.

A Avenida Jerônimo Gonçalves inicia-se na confluência da Avenida Fábio

Barreto com a Avenida Dr. Francisco Junqueira e segue na direção sudeste,

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

94

paralela às ruas José Bonifácio e Augusto Severo, margeando o centro da cidade.

Foi denominada através da Lei n. 32 de 29 de junho de 1897, retificada através do

Ato n. 75, de 05 de setembro de 1939.

A avenida possui uma largura de aproximadamente 22 metros, sendo

construídas nas margens do córrego Ribeirão Preto, os “paredões” de pedras

devido a sua canalização, as muretas com balaústres e plantadas duas fileiras de

palmeiras imperiais.

As palmeiras foram plantadas por Max Bartsch, então funcionário contratado

pela Prefeitura Municipal, na função de jardineiro e por Cassiano Esteves,

funcionário da Prefeitura entre os anos de 1913 e 1916. Ambos foram responsáveis

também pela remodelação dos jardins da cidade nas praças: Carlos Gomes,

Praça XV de Novembro, Schmidt e das Bandeiras.

FIGURA 78 – VISTA DA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES E DA PRAÇCA DA ESTAÇÃO. FONTE: CALIL, Ozório Jr. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)– Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São

Carlos, 2003

As primeiras palmeiras plantadas nos arredores da Avenida Jerônimo

Gonçalves datam de 1903 e localizavam-se próximo ao Mercado Municipal

(primeiro mercado inaugurado em 1900 e destruído por um incêndio em 1942). As

palmeiras da avenida propriamente dita, foram plantadas entre os anos de 1912 e

1927.

A referida avenida foi um dos primeiros referênciais viários da cidade, e no

seu entorno foram instalados, ao longo do tempo, inúmeros edifícios, equipamentos

e complexos comerciais, industriais e de transporte, como por exemplo a estação

Ribeirão Preto da Cia. Mogiana e seus armazéns, rotunda, etc. ; fábricas de cerveja

(Antarctica e Paulista), Mercado Público Municipal, o primeiro hotel da cidade

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

95

(Hotel Brasil), entre outros.

FIGURA 79 – VISTA AÉREA DO COMPLEXO MOGIANA – DESTACADOS A ESTAÇÃO MOGIANA AS MARGENS DA

AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES E A ROTUNDA DO TREM – 1980. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTORICO DE RIBEIRÃO PRETO

As obras de intervenções urbanas realizadas na avenida e em seu entorno,

datam da década de 1880, segundo os documentos oficiais da Intendência e

Prefeitura Municipal, e responderam a princípio à necessidade de saneamento dos

córregos da cidade, em função da epidemia de febre amarela e, posteriormente,

aos postulados de "limpeza e embelezamento" empreendidos durante as décadas

de 1910 e 1920.

Essas obras incluem a canalização e retificações dos Córregos Ribeirão Preto e

Retiro Saudoso, instalação da luz elétrica, implantação da rede de esgoto e

pavimentações, transformando este local de poeira e lama, em um local aos moldes

dos princípios do plano de melhoramento e embelezamento.

A partir da década de 1930, após a decadência da economia cafeeira e o

declínio do transporte ferroviário, foram instalados novos equipamentos na avenida

como exemplo, o Pronto Socorro Municipal e o Terminal Rodoviário, e ao mesmo

tempo, foram mantidas algumas casas comerciais e o mercado público.

Apesar do intenso processo de transformação ocorrido a partir da década

de 1960, principalmente com a demolição do complexo ferroviário, a avenida

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

96

Jerônimo Gonçalves e as suas palmeiras mantêm-se como importante elemento de

representação cultural da cidade de Ribeirão Preto, sendo sua paisagem

apresentada, ainda nos dias de hoje, como o principal "cartão postal" da cidade.

FIGURA 80 – IMAGEM DO INICIO DA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES, 2006. FONTE: AUTORA.

Já a Avenida Caramuru, foi construída nas décadas de 1980, com a

finalidade da implantação das vias expressas Norte e Sul, contidas no Plano de Vias

dos anos 60. Essa via também foi implantada, margeando o Córrego Ribeirão Preto.

No entanto, preservando uma faixa de área verde, no entorno imediato do

córrego, sendo composta de quatro pistas, duas em cada sentido com um canteiro

central verde.

FIGURA 81 – IMAGEM DA AVENIDA CARAMURU,2006 FONTE: AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

97

2.3.2 - PROJETOS EXISTENTES

2.3.2.1 -PLANO DIRETOR DE 1945

Com o crescimento populacional que ocorreu nos anos de 1940 em 34,86%,

totalizando uma população de 46.946 habitantes de acordo com censo

demográfico, e, conseqüentemente a demanda pelos serviços urbanos, habitação

e infra-estrutura, o prefeito da época, Alcides de Araújo Sampaio, convidou o

engenheiro urbanista José de Oliveira Reis para elaborar o primeiro plano diretor de

Ribeirão Preto. Esse plano, não chegou a ser implementado, mas deixou registrado

o diagnostico do quadro urbano, além de propostas urbanísticas inovadoras para a

cidade.

Práticamente todas as propostas apresentadas estavam direcionadas aos

espaços não urbanizados e as áreas de expansão, não modificando locais já

consolidados, com exceção da transferência da Estação da Mogiana, localizada

no centro da cidade, para o limite entre os bairros Vila Tibério e Barracão, e foi

projetado para abrigar uma população de 400 mil habitantes.

Esse plano propôs a necessidade da consolidação de uma cidade

compacta, evitando-se a formação de vazios urbanos com a aprovação de

loteamentos dispersos pela cidade. Foram utilizados como modelo os princípios

adotados por Agache, na cidade do Rio de Janeiro, e, portanto, na formação de

quadras fechadas, onde uma rua contorna o bairro e o centro da quadra é

liberado para área de convivência, mantendo sua interioridade e identidade.

Segundo Calil (2003), a cidade foi divida em oito zonas, respeitando os

processos em curso: ao sul e sudeste, zona residencial 1, destinada as camadas de

maior renda; a nordeste, zona residencial 2, destinada as camadas de media

renda; e a oeste, zona residencial 3, destinada junto aos operários junto aos

operários da zona industrial.

A zona comercial foi dividida em duas categorias: zona comercial 1, que

compreendia o centro e a área de expansão do centro em direção a Estação

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

98

Mogiana; e a zona comercial 2, que abrangia os limites da zona anterior e as

quadras ao longo das ruas radiais e transversais, criando eixos comerciais para

atendimento aos bairros.

Foi proposta uma hierarquização do sistema viário, visando disciplinar o

trânsito no interior da malha urbana, e a implantação de vias radiais, perimetrais e

locais, respeitando o traçado das vias já executadas.

E a implantação de parques em áreas de fundo de vale, delimitada pelas

“parkways”, já que neste período os loteamentos existentes ocupavam as cotas

mais altas da cidade, e os vales ainda não se encontravam ocupados. Tal proposta

visava amenizar a temperatura e baratear a infra-estrutura necessária às áreas

alagadiças, preocupando-se com aspectos referentes à funcionalidade, a estética

e o saneamento da cidade.

O plano diretor de Oliveira Reis, ainda que não tenha sido aprovado, iria

influenciar nas propostas elaboradas nas décadas seguintes.

FIGURA 82 – PLANO DIRETOR DE 1945 ZONA COMERCIAL 1: VERMELHO ; ZONA COMERCIAL 2:LARANJA E ZONA RESIDENCIAL 3: AZUL

FONTE: CALIL, Ozório Jr. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)- Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São

Carlos, 2003

2.3.2.2 - PROJETO VALE DOS RIOS

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

99

O programa de Revitalização e Reurbanização da área Central da Cidade

de Ribeirão Preto é composto por duas etapas: intervenções nas praças 15 de

Novembro e Carlos Gomes e suas proximidades, e intervenções na Avenida

Jerônimo Gonçalves no entorno da atual Rodoviária.

Em abril de 1991, foi divulgado o resultado de um concurso para a primeira

intervenção, promovido pela prefeitura local, junto com a Coordenadoria de

Planejamento, Associação Comercial e Industrial e Companhia de Desenvolvimento

de Ribeirão Preto (CODERP). Os arquitetos Antônio Stefani, Carlos Stechhahn,

Constantino Sarantópoulos, Fátima Regina de Souza, Maria Lúcia Soubihe e Sérgio

Coelho tiveram seu trabalho escolhido.

O grupo vencedor apresentou seu trabalho, do ponto de vista conceitual,

como uma proposta de “agenciar espaços viários em espaços de apropriação

coletiva multifuncional, através da criação de calçadões, comércio 24 horas e a

reforma das praças 15 de Novembro e Carlos Gomes, com destino para novas

atividades, a fim de garantir o uso constante de seus espaços nos diversos horários”.

A segunda parte do programa foi elaborada pelo reconhecido arquiteto

João da Gama Filgueiras Lima (Lelé) e o antropólogo Roberto Pinho, e abrange o

trecho da Avenida Jerônimo Gonçalves, a Rua Guatapará e Avenida Francisco

Junqueira, denominando-o de Vale dos Rios.

Esse projeto foi elaborado para contrariar a crença de que os centros

urbanos das médias e grandes cidades são locais decadentes e desvalorizados,

portanto, este conjunto de obras funcionaria como um vetor de novos negócios e

serviços na zona central da cidade, capaz de reativar não apenas o comércio já

existente como de fazer florescer uma gama de novos empreendimentos,

transformando-o em novo pólo de negócios e lazer da cidade.

O projeto ainda contaria com a implantação em vários bairros da cidade

Bases de Apoio Comunitário, que contribuiriam para a descentralização de serviços

prestados à comunidade facilitando o acesso a população.

No programa, foi assinado um protocolo de trabalho com três faculdades de

arquitetura da cidade e a Associação de Engenharia e Arquitetura de Ribeirão

Preto. O protocolo estabelece a participação destas entidades no projeto da

Fábrica de Equipamentos Sociais, que funcionará como um centro tecnológico

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

para permitir o aperfeiçoamento dos profissionais de Ribeirão Preto, sendo assim

que uma parte do material utilizado no empreendimento será produzido na própria

Fábrica de Equipamentos Socais, com a geração de 60 empregos diretos e com a

formação de mão-de-obra especializada para estudantes e técnicos.

O projeto prevê a desapropriação de uma área de 779 mil metros quadrados

na região da baixada que seria utilizada no projeto da estação central e na

complementação do sistema viário. A área está localizada no quadrilátero formado

pelas ruas Saldanha Marinho, José Bonifácio, Lafaiete e Prudente de Moraes. O

projeto completo possui uma área de aproximadamente 300.000,00 m², sendo que

230.592,00 m² são áreas construídas.

Rodoviária

Parque Maurílio Biagi

Câmara Municipal

Córrego Ribeirão

Av. Jerônimo Gonçalves

Rua Guatapará

VViillaa TTiibbéérriioo

CCeennttrrooVViillaa VViirrggiinniiaa

FIGURA 83 - LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO DO PROJETO VALE DOS RIOS

FONTE: ORGANIZAÇÃO DA AUTORA

100

O projeto encontra-se estruturado nas seguintes etapas: Implantação de um

viaduto, interligando o sistema viário do Bairro Vila Tibério com a área central,

através respectivamente, das ruas Augusto Severo, Lafaiete e Florêncio de Abreu;

Implantação de uma estação de transbordo para ônibus urbanos, com plataformas

dotadas de abrigos contínuos protegendo os pedestres no desembarque; Conjunto

de escadas rolantes e elevadores para portadores de deficiência física, interligando

a via de pedestres no nível da plataforma do Viaduto com a Estação de

Transbordo; Implantação de duas passarelas interligando a faixa de pedestres do

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

101

Viaduto, respectivamente com o Parque Maurílio Biagi e o Edifício da atual Estação

Rodoviária; Reformulação do Parque Maurílio Biagi, com a construção de um lago

artificial e criação de um grande centro de cultura e lazer, a ser implantado no

prédio da atual Rodoviária, através de profundas reformas e adaptações, no qual a

nova Rodoviária será construída em outra área não definida no projeto, mas nas

imediações do quadrilátero central.

FIGURA 84 - PLANTA DE INTERVENÇÃO COM OS EQUIPAMENTOS PROPOSTOS FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO – PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO

Segundo o arquiteto Lelé,

“o projeto Vale dos Rios tem como objetivo fundamental criar um

espaço vital para a convivência espontânea de todas as camadas

da população de Ribeirão Preto. Para isto, foi determinante oferecer

as melhores condições possíveis de acesso e circulação, interna e

externa, para pedestres e veículos, dotando o espaço em uso de

total fluência”

FIGURA 85 – IMAGEM DA MAQUETE DO PROJETO VALE DOS RIOS FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO – PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO

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102

2.3.2.3 - PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO

O plano de desenvolvimento da cidade de Ribeirão Preto foi elaborado em

2001, com a finalidade de estabelecer um planejamento estratégico para o

crescimento da cidade. O principal objetivo foi de compatibilizar em uma visão

global os problemas encontrados até então, com ações localizadas no intuito de

restabelecer um equilíbrio entre o atendimento as necessidades básicas, os

problemas imediatos e o estabelecimento de bases que permitissem á médio e

longo prazo o desenvolvimento pleno do potencial do município.

Na área em estudo foram elaboradas as seguintes propostas:

- Avenida Jerônimo Gonçalves: Transferência da rodoviária para a área do

Educandário próximo ao parque permanente de exposições da cidade; abertura

da Avenida Rodrigues Alves, levando o trafego da Avenida Francisco Junqueira e

Via norte direto à Avenida de Contorno do Parque Maurílio Biagi; Complementação

do sistema da Avenida de contorno do Parque Maurílio Biagi; Inversão da mão de

direção da Rua Castro Alves;Retirada dos veículos pesados de carga, obrigando-os

a estacionar nas proximidades; Implantação de preferêncial da Rua Jose Bonifácio

como opção de trafego paralelo à Avenida; recuperação do paralelepípedo

conforme realizado na Avenida Nove de Julho; Implantação de ciclovias no

passeio central retirando-as do leito carroçável, desde o Parque Maurílio Biagi até a

Rotatória Amim Calil; valorização do pedestre, com a transformação da Avenida

nos finais de semana em área de lazer e Revitalização completa da “Baixada” e do

Mercadão.

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103

FIGURA 85 - ILUSTRAÇÃO DA AVENIDA. JERÔNIMO GONÇALVES NOS FINAIS DE SEMANA. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO

- Parque Maurílio Biagi: Criação de um Centro Cultural com Museu de Artes e

Pavilhão de Exposições com Usos Múltiplos, incorporando os espaço de exposições,

os espaços de uso comum da Câmara Municipal, bem como outros espaços livres

do Parque, através de parceiras publicas - privadas;

FIGURA 86 - ILUSTRAÇÃO COM A LOCALIZAÇÃO DO PARQUE MAURILIO BIAGI, AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES, AVENIDA FRANCISCO JUNQUEIRA E AVENIDA NOVE DE JULHO.

FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO

- Avenida Caramuru: Ligação da Caramuru com a Avenida Nove de julho

ascendente pela Avenida Santa Luzia e ligação descendente sobre o reservatório

do DAERP (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) da Rua Amador

Bueno ligando ao final da Rua Saldanha Marinho.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

104

FIGURA 87 - ILUSTRAÇÃO COM A LOCALIZAÇÃO DAS LIGAÇÕES ASCENDENTE E DESCENDENTE NA AVENIDA CARAMURU.

FONTE: ARQUIVO PÚBLICO E HISTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO

2.3.2.4 - PROJETO DE MACRODRENAGEM URBANA

O projeto de Macrodrenagem Urbana foi anunciado no ano de 2004 como

uma medida emergencial para conter as ocorrências constantes de enchentes na

região da “Baixada” de Ribeirão Preto, provocando enormes prejuízos à população

local, assim como para os comerciantes, gerando um grande contingente de

desabrigados e deteriorização da área.

A idéia do projeto existe a mais de 20 anos, mas nenhuma administração

anterior a de 2004, quis colocá-lo em prática. Ele passou por uma readaptação,

elaborada em conjunto pelos técnicos do DAEE (Departamento de Água e Energia

Elétrica) e das secretarias de Infra-estrutura e Planejamento e Gestão Ambiental.

Este projeto foi encaminhado ao Ministério Público para a avaliação e

discussão sobre os impactos ambientais conseqüentes das obras anti-enchentes, e

devido a essa situação as informações exatas sobre o projeto não puderam ser

concedidas.

As informações obtidas na Secretaria de Infra-Estrutura Urbana de Ribeirão

Preto, através do secretário Nilson Baroni, foram que, o projeto prevê a construção

de mais três barragens, sendo elas: no bairro “Royal Park”, no córrego Ribeirão; no

bairro Monte Alegre, no córrego Monte Alegre e na Serraria, no córrego com

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

105

mesmo nome, além das seis já existentes, sendo três delas no córrego Ribeirão Preto:

em Bonfim Paulista, no bairro Santa Tereza e no bairro Delboux; uma no córrego

Retiro Saudoso na Avenida Maurílio Biagi, próximo a Faculdade COC e mais duas no

córrego Vista Alegre.

A barragem de contenção no Royal Park devera conter 3,1 milhões de

metros cúbicos de água; a no córrego Monte Alegre, 1,6 milhão de metros cúbicos

e no córrego Serraria, perto da Mata Santa Tereza, com capacidade para 1,10

milhão de metros cúbicos. O projeto ainda prevê um “piscinão” para armazenar

200 mil metros cúbicos no córrego Laureano; um aumento da capacidade de

contenção das barragens da USP e do córrego Monte Alegre para armazenarem

200 mil metros cúbicos de água e uma lagoa no Retiro Saudoso, com capacidade

para 125 mil metros cúbicos.

Está previsto também o alargamento do canal e do leito dos córregos

Ribeirão Preto e Retiro Saudoso, sendo que no primeiro ocorreria um aumento de

oito para quatorze metros, o que aumentaria a vazão de 75 m³ para 150 m³, já o

alargamento do Córrego Retiro Saudoso não foi informado.

Outra obra importante deste projeto é a construção de uma “curva”, no

deságüe do Córrego Ribeirão Preto no Córrego Retiro Saudoso, que amenizaria o

impacto perpendicular de encontro entre as águas deste córregos, provocando um

aumento na vazão.

Essas obras funcionariam como formas de se evitar que as águas das chuvas

cheguem ao centro da cidade, no entanto a grande polêmica é a necessidade da

retirada das Palmeiras Imperiais (tombadas temporariamente pelo CONPACC) do

local para a concretização deste projeto, além da falta de verba para a finalização

de todas as obras previstas que gira em torno de 80 milhões de reais.

Enquanto é aguardado o parecer com um relatório sobre o projeto, o

município realiza obras pontuais e prioritárias. Segundo o promotor Marcelo Pedrodo

Goulart, o programa deveria conter um estudo global, já que o risco da execução

desse projeto em etapas é descobrir no futuro que o local ideal para a implantação

de uma barragem ou piscinão não ser ocupado porque pode estar com alguma

obra particular ou publica, já que um primeiro relatório técnico elaborado pela

promotoria já aponta três áreas importantes para a implantação de barragens

ameaçadas ou comprometidas.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

106

Um desses locais é um terreno na zona oeste, onde o DAERP (Departamento

de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) construiu um emissário de captação de

esgoto. Outro ponto esta na zona sul, no final da Avenida Independência, do qual o

local já é ocupado por uma escola particular, construída em uma área de

preservação, no entanto com autorização da prefeitura para funcionar no espaço.

A terceira área localiza-se entre as zonas sul e leste, na continuação da Avenida

Maurílio Biagi após o cruzamento com a Rodovia Anhanguera, do qual é uma área

em expansão imobiliária e liberada para construções. Esses exemplos demonstram

que a demora na aprovação deste projeto, proporciona a ocupação das áreas

propostas para outros fins.

FIGURAS 88 E 89– ENCHENTES EM 1927 – A PRIMEIRA NA RUA GENERAL OSÓRIO (NA ESQUINA O HOTEL BRASIL) E A SEGUNDA NA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES (AO FUNDO ANTIGA MERCADO MUNICIPAL)

FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO – PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO

FIGURAS 90 E 91 – ENCHENTES RECENTES- NAS MARGENS DO CORREGO RIBEIRÃO PRETO – A PRIMEIRA AO REDOR DO CORREGO NÃO CANALIZADO E A SEGUNDA NO CANAL DA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES.

FONTE: JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, RIBEIRÃO FOLHA, 26 DE MAIO DE 2005 E 5 DE JANEIRO DE 2005.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

107

CAPITULO 3: ANÁLISE DA ÁREA EM ESTUDO

3.1 – FUNCIONAIS

As categorias desse nível de análise foram sistematizadas por Holanda e G.

Kohlsdorf, descrito em Vieira (2002). Analisa o uso do solo da área escolhida, através

do estudo de sua estrutura funcional, tanto do solo privativo quanto do solo público,

e investiga a expectativa relacionada à adequação e a eficiência desses espaços

para as necessidades da população local.

O desempenho das atividades é classificado em duas categorias de análise:

operativa e relacional. A análise operativa busca determinar a finalidade para o

qual o espaço foi criado, em termos qualitativos e quantitativos, sendo que o

primeiro analisa a quantidade de espaços para o desempenho das diversas

funções e o segundo, a qualidade dos espaços destinados à atividade em si,

referente a adequabilidade da atividade na fração urbana, levando em conta a

estrutura funcional não só da área analisada, mas de todo o espaço.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

108

Já a análise relacional ou locacional pretende relacionar as diferentes

operações e/ou atividades que ocorrem na área de estudo, a partir de sua

localização, analisando relações como: proximidade, distância, compatibilidade,

complementaridade e diferenças.

3.1.1 – ANÁLISE OPERATIVA

A área em estudo, segundo a Lei de Parcelamento do Solo24, encontra-se na

área de ZUP- Zona de Urbanização Preferêncial, composta por áreas dotadas de

infra-estrutura e condições geomorfologicas propicias para a urbanização, onde

são permitidas densidades demográficas medias e altas. E esta dividida entre:

- ZUM I -

destina-se sem prejuízo da instalação de estabelecimentos de

menor potencial poluidor, a localização daqueles cujos resíduos

sólidos. líquidos e gasosos, ruídos, vibrações e radiações possam

causar perigo a saúde, bem estar e segurança da população,

mesmo depois da aplicação de métodos adequados de controle e

tratamento de efluentes.

- ZUM II -

a localização de estabelecimentos cujos processos produtivos sejam

complementares as atividades do meio urbano em que se situem, e

com elas se compatibilizem, independente de métodos especiais de

controle de poluição, não causando inconvenientes a saúde, ao

bem estar e segurança das populações vizinhas.

Essa região também esta inclusa nas áreas especiais do ACQ - Área especial

do Quadrilátero Central, que abrange as áreas situadas entre as avenidas Nove de

Julho, Independência, Francisco Junqueira e Jerônimo Gonçalves, que será objeto

de um programa de reestruturação e renovação urbana, segundo o Plano Diretor,

e a ABV – Área especial do Boulevard, composta pela área contida no polígono

compreendida entre a Avenida Nove de Julho, Avenida Antônio Diederchsen,

Avenida Presidente Vargas, Rua José Leal, Avenida Vereador Manir Calil, Rua

Moreira de Oliveira, Avenida Caramuru, Rua Conde Afonso Celso e Avenida Santa

Luzia até o ponto inicial.

24 Lei Complementar ao Plano Diretor nº 501/1996, de 20 de agosto de 2006.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

109

Em relação às restrições urbanísticas, o código de obras do município

determina que a taxa máxima de ocupação para edificações residenciais é de

75% e para não-residenciais é de 80%.O coeficiente de aproveitamento é de cinco

vezes a área do terreno, com exceção da área especial do quadrilátero (ACQ)

que é de três vezes a área do terreno.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

110

FIGURA 92 – MAPA DE USO E OCUPAÇÃO SO SOLO FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

111

FIGURA 93 – LOCALIZAÇÃO DO QUADRILATERO CENTRAL – CALÇADÃO – QUARTEIRÃO PAULISTA FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO

Devido à extensa dimensão da área e o alto número de nomes de ruas,

avenidas, bairros, setores, entre outros; essa área foi fragmentada em 4 setores, com

a intenção de melhorar a compreensão do leitor durante a descrição das análises.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

112

FIGURA 93 – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO FRAGAMENTADA FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

113

- SÓCIO- ECONÔMICO E SOCIAL

Segundo os dados do IBGE, é observado que as Avenidas Jerônimo

Gonçalves e Caramuru atuam também como elemento de separação entre

classes sociais.

A área de estudo localiza-se no centro das intersecções dos quatro setores,

como pode ser observado na figura abaixo. A população total nesses setores,

segundo o IBGE, somam 64.676 habitantes, sendo que,: 27.03% encontram–se no

setor Central, 32,15% no setor Sudoeste, 30,41% no setor Noroeste e 10,33% no setor

Sul.

FIGURA 94 – ÁREA DE ABRANGÊNCIA DOS SETORES DO IBGE FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO

Nos setores, Central e Sul, os índices de renda chegam respectivamente a

30,40% e 41,85% de sua população com rendimentos superiores a 20 salários

mínimos. Enquanto os setores Noroeste e Sudoeste, apresentam 27,20% e 23,60%

com rendimentos entre 5 a 10 salários mínimos, e 22,08% e 21,65% de 3 a 5 salários

mínimos. Esses índices são claramente notados na estrutura física desses setores,

quando analisamos a tipologia das edificações, os materiais de revestimento, entre

outros.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

114

Em relação aos anos de estudo, o setor, Central e Sul apresentam

respectivamente, 45,08% e 54,92% com sua população de ensino superior e/ou pós-

graduação, enquanto nos setores Noroeste e Sudoeste, 33,27% e 34,23% de seus

moradores possuem apenas de 4 a 7 anos de estudo, que significai apenas a

conclusão do ensino fundamental.

- USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

No setor central, são encontradas significativas edificações históricas da

cidade, como a fábrica da Antarctica e Companhia Paulista, o Hotel Brasil (primeiro

hotel da cidade) e o Mercado Municipal. E atividades essenciais tanto para a

cidade, como para os moradores da região, como o Terminal Rodoviário Manoel

Ache, a Unidade Básica de Saúde Central e o Centro Popular de Compras.

FIGURA 95 E 96 – IMAGEM DAfábrica DA ANTARTICA E DA COMPANHIA PAULISTA,2006. FONTE: AUTORA

FIGURA 97 E 98 – IMAGEM DO HOTEL BRASIL E DO MERCADO MUNICIPAL,2006. FONTE: AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

115

FIGURA 99 E 100 – IMAGEM DO TERMINAL RODOVIÁRIO E DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE,2006. FONTE: AUTORA

FIGURA 101 – IMAGEM DO CENTRO POPULAR DE COMPRAS, 2006. FONTE: AUTORA

Na avenida Jerônimo Gonçalves, o processo descrito referente ao seu

crescimento e estruturação é observado até os dias atuais, com a identificação de

duas partes distintas: uma, do lado central (Setor Central) e outra, no lado referente

à Vila Tibério (Setor Noroeste).

No setor central prevalecem as atividades de comércios e serviços inferiores,

como: bares populares, pensões, hotéis de baixa categoria, venda e manutenção

de motos e bicicletas. Nesta região encontram-se também os prédios do Hotel

Brasil, hoje desocupado e em processo de deteriorização; o anexo da Cervejaria

Antarctica, com suas chaminés, onde em uma parte do complexo funciona o

Núcleo de Cinema da cidade e o restante encontra-se completamente

desativado; o Mercado Municipal, inaugurado em 1958, abriga inúmeras atividades

comerciais ligadas à gastronomia popular, especiarias, produtos típicos, entre

outros; e o Centro Popular de compra, construído em 1994, numa tentativa de

diminuir o comércio ambulante da região.

Vale destacar que nesse setor prolifera a prática da prostituição, observa-se

a presença de pequenos estabelecimentos, principalmente na Rua Jose Bonifácio,

a primeira paralela à Avenida Jerônimo Gonçalves em direção ao centro.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

116

No setor Noroeste, predomina a área residencial, com pequenos comércios e

serviços para atendimento dos próprios moradores, como exemplo: armazéns,

salões de beleza, pequenos consultórios médicos e odontológicos, varejões,

farmácias, entre outros. Nesta área também estão localizados o Terminal Rodoviário

(15.000 m2), fundada em 1975, para os ônibus urbanos coletivos, os intermunicipais e

interestaduais; a Unidade Básica de Saúde atende pacientes não só da cidade,

mas de toda a região; e a Cervejaria Antarctica, que se encontra parcialmente

desativada apenas com alguns equipamentos e o setor administrativo em

funcionamento.

FIGURA 102 E 103 – IMAGEM DAS TIIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES DO SETOR NOROESTE,2006. FONTE: AUTORA

O Setor Sudoeste é caracterizado por pequenas habitações na área oeste

ao córrego Ribeirão Preto, sendo que algumas se encontram em situação precária.

Foi encontrada uma pequena quantidade de comércios e serviços, que se

restringem a bares e salões de beleza, atendendo apenas a população local. Nota-

se também ferros-velhos e galpões de armazenagem dos “catadores” de lixo, que

utilizam até “contaneirs” para este fim.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

117

FIGURA 104,105,106 E 107– IMAGEM DAS TIIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES DO SETOR SUDOESTE NAS MARGESN DO CORREGO RIBEIRÃO RPETO,2006.

FONTE: AUTORA

Ainda neste setor, do lado leste, margeando a Avenida Caramuru, foram

observados comércios e serviços diversificados, desde pequenos estabelecimentos

como também de grande porte, como uma unidade de uma rede de

supermercados da região. E nas margens do Córrego Ribeirão, foram encontrados

pequenas edificações residenciais, como também pequenos comércios e serviços.

O setor sul é predominante residencial, com edificações de alto padrão.

FIGURA 108 E 109 – IMAGEM DAS TIIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES DO SETOR SUDOESTE NA AVENIDA CARAMURU,2006. FONTE: AUTORA

- EDIFICAÇÕES

No setor central, devido ao processo de formação da cidade, prevalece à

presença de diversas edificações de interesse cultural, que eram antigas grandes

lojas ou como mansões da elite cafeeira, e que hoje se encontram utilizadas por

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

118

serviços impróprios e/ou inadequados à edificação, ou desocupadas e em

processo de deterioração. Suas fachadas estão praticamente ocupadas por

“banners” de propagandas, provocando uma sensação de desconforto visual para

os visitantes da área, além de danificar ainda mais os edifícios. Enfim, tal situação é

decorrente do fato de que a cidade não possui uma política de preservação do

patrimônio cultural, e não existe um inventário destes imóveis.

No entanto, com muito esforço da equipe do CONPPAC – Conselho de

Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural do Município, os edifícios da Rua

Caramuru nº.250, localizado no setor sudoeste; do Hotel Brasil e do Mercado

Municipal, localizados no setor central, foram tombados respectivamente em 1986,

1991, 1993. E encontra-se em processo de tombamento a Avenida Jerônimo

Gonçalves com suas palmeiras imperiais, e todo o quadrilátero central.

O Edifício da Rua Caramuru nº250, construído em 1850, de propriedade do Sr.

Waldemar Leão da Costa, já falecido, e hoje herdado pela família. Segundo

Cláudio Henrique Bauso, presidente da CONPAAC, tudo indica que esse edifício foi

sede de uma fazenda, construída para auxiliar no escoamento da colheita de café

em frente aos trilhos da Mogiana. Dentro da casa, existem afrescos pintados por um

artista italiano de nome Gregório.

FIGURA 110 – IMAGEM DO CASARÃO Nº 250, 2006. FONTE: AUTORA

O edifício do Mercado Municipal foi construído depois do incêndio que

destruiu o antigo mercado, e que provocou a mudança dos comerciantes para

barracas provisórias e apertadas na Avenida Francisco Junqueira. Devido à

proximidade do Córrego Ribeirão, que nesta época possuía um aspecto

desagradável, mau cheiro e poluição, os comerciantes como também a

população exigiram um novo mercado. Inaugurado em 1958, o projeto de autoria

do engenheiro Jaime Zeiger, que propôs uma arquitetura modernista e estruturado

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

119

em seis entradas com um grande vão que permitiu a distribuição dos boxes internos

de forma independente, com uma alameda central, que divide o edifício.

Nos demais setores percebem-se uma área de edificações de baixa renda,

principalmente ao redor do Córrego Ribeirão, na parte não canalizada (Setor

Sudoeste), e outra na Avenida Caramuru no lado referente ao Bairro Higienópolis

(Setor Sul), com construções de alto nível pertencentes a classe alta, que fazem

fundo à avenida com uma sucessão de altos muros no percurso.

FIGURA 111 E 112 – IMAGEM DAS TIIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES DO SETOR SUL.2006. FONTE: AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

120

FIGURA 113 - ATIVIDADES PREDOMIINANTES FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 114 – LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS URBANOS. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

122

- GABARITO

Nos setores central e noroeste prevalecem às edificações de apenas um

pavimento, as demais são de até três pavimentos, sendo que o térreo é utilizado

para o uso comercial/serviços e os pavimentos superiores para residencial, ou

alugado como quartos de pensão. A exceção dos hotéis que possuem em torno de

10 pavimentos.

No setor sudoeste nota-se a presença de alguns edifícios residenciais verticais

de grande porte. E o setor sul é predominante verticalizado, com mansões de ate

quatro pavimentos e grandes edifícios residenciais.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 115– MAPA DO GABARITO URBANO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

124

- ESPAÇOS PÚBLICOS

Os espaços públicos são constituídos por avenidas, ruas, passeios e áreas

verdes. Na área de estudo, as avenidas principais são a Jerônimo Gonçalves e a

Caramuru, objeto de estudo desse trabalho, sendo que a primeira recebe fluxos de

trafego das avenidas Francisco Junqueira (acessos aos setores norte e sul), do Café

(acesso a Universidade de São Paulo-USP) e dos Bandeirantes (acesso ao setor

nordeste e a rodovia em sentido a cidade de Sertãozinho); e a segunda da própria

Avenida Jerônimo Gonçalves e da Avenida João Fiusa (acesso ao Ribeirão-

Shopping).

As ruas possuem um traçado ortogonal nos setores central e nororeste, e um

traçado orgânico nas demais áreas. As principais vias que fazem ligação

centro/bairro(Vila Tibério) são respectivamente: Duque de Caxias – Luiz da Cunha,

General Osório - Martinico Prado, São Sebastião – Santos Dumont.

Já entre os setores sudoeste e sul, não existente transposição. Esta ligação foi

prevista no Plano de Vias de 1960, com a conexão Avenida Nove de Julho com a

Avenida Caramuru (1º perimetral), mas, que devido ao declive do local, tornou-se

inviável. No entanto, esse tema foi retomado no Plano de Desenvolvimento de 2001,

com as rampas ascendentes e descendentes, mas também não foi desenvolvido

devido à falta de recursos financeiros.

Vale destacar que o fluxo de trafego de veículos é bastante intenso

principalmente na Avenida Jerônimo Gonçalves, pois a mesma exerce o papel de

ligação entre os vários setores da cidade, como também á presença de ônibus

urbanos e rodoviários devido ao Terminal Rodoviário.

Segundo o DST - Departamento de Serviços de Trânsito, nos dias úteis, durante

o horário comercial, as velocidades médias é de 18 a 25 K m/h nas avenidas, e

entre 7 e 12 km/h nas ruas internas. A contagem de veículos apontou um

movimento de 1.800 a 3.000 veículos por hora nas vias principais, de 500 a 2.000

veículos por hora nas vias secundárias e de 450 a 600 veículos por hora nas demais

vias. Esse intenso fluxo causa graves problemas na fluidez do trafego, provocando a

lentidão do transito e/ou o congestionamentos nas avenidas e em determinados

cruzamentos nos horários de pico. (Na avenida Jerônimo Gonçalves com a avenida

Francisco Junqueira; nas transposições ente a centro e Vila Tibério: Rua Duque de

Caxias, Rua General Osório,Rua São Sebastião, Rua Florêncio de Abreu; na

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

125

passagem entre a Avenida Jerônimo Gonçalves e a Avenida Caramuru e na

transposição entre a Avenida do Café e Rua Lafaiete, entre outros com menores

intensidades).

A intensidade de fluxo de veículos pesados: ônibus e caminhões, também

provocam segundo o ecólogo Perci Guzzo, da Secretaria de Gestão Ambiental, o

“stress” das palmeiras imperiais da Avenida Jerônimo Gonçalves. Esse diagnostico é

realizado a cada dois anos, sendo o ultimo feito neste ano. Os resultados

demonstram a instabilidade dessa vegetação, que devido ao tremor constante e a

poluição de monóxido de carbono, diminuem o efeito de troca de nutrientes entre

as raízes e o solo, deixando-as muito fracas e desprotegidas.

A maioria das vias apresenta uma largura em média de sete metros de

largura e estão posicionadas em um único sentido. As avenidas Jerônimo

Gonçalves e Caramuru possuem sentido duplo, com duas pistas em cada sentido,

apenas a Caramuru possui uma área de estacionamento na lateral nas vias.

Os passeios possuem pavimentações diversas e são em média de 2.5 metros,

com exceção dos passeios nas margens do córrego Ribeirão e nas quadras da

Cervejaria Antarctica, na Avenida Jerônimo Gonçalves, que possuem em media de

4 metros. A maioria dos passeios não apresentam arborização, como também a

inexistência de pavimentações e sinalizações adequadas a acessibilidade de

portadores de deficiência física.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

126

FIGURA 116 – MAPA DO SISTEMA VIÁRIO. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

As áreas verdes podem ser divididas nos canteiros que acompanham o

sistema viário e as áreas de lazer e recreação como: o Parque Ecológico Maurílio

Biagi, o Parque Francisco Prestes e a Praça Schmidt.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

127

O Parque Ecológico Maurílio Biagi, foi construído nos anos 80, com a

“finalidade de preservar os valores ecológicos, culturais, históricos e urbanísticos da

comunidade, além de se definir prioritariamente, como área verde e de lazer”25. O

projeto desse parque, construído pela prefeitura, propunha uma composição

harmônica da paisagem urbana com a preservação de espécies nativas da região;

o plantio de árvores frutíferas para a constituição de um “habitat” natural para os

pássaros; a construção de uma concha acústica e um parque de esculturas; locais

de passeios, lazer e práticas esportivas; e uma área destinada ao Centro

Administrativo (Câmara Municipal, Fórum e Prefeitura Municipal) da cidade. Do

projeto, foram executados apenas os passeios e pistas para caminhada e corrida,

uma pista de “skate”, o parque das esculturas e o edifício da Câmara Municipal de

Ribeirão Preto, que são muito pouco utilizados, devido a falta de manutenção do

local, como também a falta de atratividade que esses equipamentos

proporcionaram ao parque.

PARQUE MAURLIO BIAGI FIGURA 117 – EQUIPAMENTOS PARA ALONGAMENTO

118- PISTA DE SKATE 119 E 120 - PARQUE DAS ESCULURAS,2006.

FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

25 Lei nº 4.233/82, de 25 de novembro de 1982, Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

128

FIGURA 121 E 122 – CORREGO LAUREANO E CÂMARA MUNICIPAL NO PARQUE MAURLIO BIAGI.,2006. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

O Parque Francisco Prestes está localizado ao redor da Unidade Básica de

Saúde, e foi chamado erroneamente de parque, já que devido suas dimensões e

equipamentos deve ser considerado uma praça. Sua área total é de 12.485,25 m2.

FIGURA 123 E 124 – PARQUE FRANCISCO PRESTES,, 2006. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

A Praça Schmidt, foi construída em 1902, com a transformação do local em

“um soberbo gramado e esplêndidos passeios de mosaicos de cor, instalações

artísticas balustradas de cimento e esbeltos suportes de ferro que sustentam belos

globos de luz elétrica”. (CALIL, 2001). Em 1925 foi construída uma pequena

edificação com instalações sanitárias e uma bomba para irrigação, e em 1927 foi

inaugurada o busto de Francisco Schmidt. A praça sofreu uma grande reforma em

1929, com a instalação de novos canteiros, bancos e um chafariz de água potável.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

129

FIGURA 125 E 126 – PRAÇA SCHMIDT,2006. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

Nos espaços públicos, ainda, é importante salientar a precariedade do

mobiliário urbano existente como: bancos, lixeiras, cabines telefônicas, ponto de

ônibus, placas de sinalizações, entre outros.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

130

FIGURA 127 – MAPA DAS ÁREAS VERDES – CORREGOS - TOPOGRAFIA.. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA.

- INFRA-ESTUTURA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

131

Em relação à infra-estrutura urbana, segundo a DAERP (Departamento de

Água e Esgoto de Ribeirão Preto) e os dados do IBGE, a região é dotada de uma

rede de distribuição de água completa, estando em estado regular, já que a

maioria é de ferro fundido. Entretanto, há ainda, uma pequena parte da rede em

ferro galvanizado, a mais antiga, cujas condições são inadequadas.

A rede de esgoto também é completa na região e foi executada em

cimento. Esse material sofre a ação dos gases produzidos, e, portanto necessita de

uma manutenção, assim, como o aumento da rede, que esta em vias de

saturação. Os interceptores de esgoto localizam-se ao longo das avenidas Jerônimo

Gonçalves e Caramuru e alguns deles apresentam problemas que culminam com o

lançamento de esgoto direto nos córregos. Essa situação foi amenizada com a

construção de uma estação, mas não foi suficiente. Portanto, está sendo estudada

a substituição de todos os tecidos problemáticos e a ampliação da rede, além da

construção de mais uma estação. Segundo a DAERP, tanto a rede de esgoto como

a rede de água não possuem previsão de substituição devido à falta de recursos

financeiros e de outras prioridades emergenciais na cidade.

A rede de micro-drenagem na região é composta por galerias convencionais

e “tubogs”. Os “tubogs” possuem grande capacidade de absorção bem mais

eficiente que as bocas de lobo comuns. No entanto, este equipamento apresenta

alguns problemas em relação à dimensão da grelha de escoamento, que possuem

o tamanho exato de latinhas de refrigerante e cerveja, causando sucessivos

entupimentos. Outro fator que prejudica o uso desse equipamento é a falta de

informação da população em relação ao seu funcionamento, pois é bastante

comum observar moradores fechando as aberturas do equipamento em frente suas

casas, por pensar que são falhas no asfalto.

A área possui também uma rede completa de distribuição de energia, e é

composta por um sistema radial que permite a interligação de varias

subestações.Uma dessas subestações encontra-se localizada na avenida Jerônimo

Gonçalves, opera em condições normais em níveis adequados de abastecimento.

Quanto a coleta de lixo, segundo o IBGE, são realizados diariamente direto

nas edificações, com um pequeno número coletados em caçambas. A região

também possui um sistema de telefonia, cabeamento de Internet e TV a cabo,

segundo a empresa responsável, a Telefônica.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

132

3.2.2 - RELACIONAL

A área de estudo não possui uma relação entre seus espaços funcionais.

Apesar de apresentar diversas atividades, elas atuam isoladamente, chegando a

prejudicar o desempenho delas próprias. Essa situação pode ser observada na

presença do parque, que não apresenta nenhuma continuidade e relação com o

entorno; o Mercado Municipal e o Centro Popular de Compras, que atuam como

concorrentes, devido as atividades de alimentação de ambas; o Terminal

Rodoviário, que é uma fonte de ruídos, ao lado de uma Unidade de Saúde, entre

outros.

A relação de complementaridade entre atividades existe somente em dois

casos: entre os hotéis/pensões e o Terminal Rodoviário, já que o número de

atividades hoteleiras é bastante elevado na região, devido à demanda de usuários

que é proporcionado pela proximidade do Terminal. Nota-se também a

precariedade das instalações dos hotéis na aenida Jerônimo Gonçalves, com infra-

estrutura inadequada e instalada em antigos casarões caracterizados como de

categorias inferiores, no entanto, os hotéis localizados no bairro setor Noroeste

pertencem a uma categoria melhor, de três a cinco estrelas, por serem construções

mais recentes. E a relação entre a rua José Bonifácio, onde prevalece a venda de

motos e bicicletas e a avenida Jerônimo Gonçalves, voltada para oficinas de

manutenção de motos e bicicletas e venda de acessórios.

O maior período de movimento de circulação de trânsito e de pessoas,

ocorre somente no horário comercial (8:00 hs as 18:00 hs), devido a existência do

“calçadão”, no centro da cidade, juntamente com a localização do Mercadão e

do Centro Popular de Compras. Essa situação modifica-se aos sábados, com o

aumento de fluxos durante toda a manhã, e aos domingo e feriados, essa área fica

praticamente abandonada, com um movimento extremamente baixo. Com

exceção do Terminal Rodoviário, a Unidade Básica de Saúde e das casas de

prostituição.

-DIRETRIZES DA ANÁLISE FUNCIONAL

A área analisada comporta-se como vários micro-universo, segregando os

espaços e deixando distinta a falta de relação entre as atividades instaladas, além

do comportamento de uma barreira tanto sociais, como econômicas, que as

avenidas assumiram durante os anos de formação do local.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

133

Foi observada a necessidade de um remanejamento das atividades

existentes, uma reformulação na malha de tráfego e um acompanhamento do

desenvolvimento habitacional da área, além de uma requalificação e melhora

ambiental do espaço que margeia o córrego Ribeirão Preto, assim como todas as

edificações que participam de alguma forma desta estrutura reestruturadas a fim

de atender a uma postura de desenvolvimento urbano e de apoio à população

residente nas proximidades.

O remanejamento das atividades deve-se a falta de atratividade nesse local

e, portanto é sugerida a instalação de centros culturais, centros comunitários, áreas

de lazer e recreação adequados e empreendimento maiores, tanto com a

construção de novas edificações, como o reaproveitamento através da

restauração dos edifícios históricos. Essas medidas possuem o objetivo de provocar

a variabilidade no local e a necessidade de permanência nessa área.

Quanto a malha urbana, nota-se a necessidade de uma reordenação tanto

de tecido como dos fluxos, com a criação de uma identidade local e a eliminação

de áreas em desuso. Nota-se a necessidade de uma reestruturação nos

cruzamentos existentes e a inserção de novas transposições entre os setores, na

tentativa de criar um acesso mais rápido e facilitado entre elas, assim como a

descentralização do fluxo de veículos. Outra medida importante seria a mudança

de rota para os veículos pesados e ônibus urbanos, principalmente na avenida

Jerônimo Gonçalves, para amenizar o impacto desses automóveis nas edificações,

nas palmeiras imperiais e no canal do córrego.

Outra medida importante, é a remodelação do mobiliário urbano, com a

substituição por modelos em formas leves e transferíveis, como uma maneira de

complementar o conjunto das vias para comodidade e conforto da população.

Tais como: elementos de informação, caixas postais, suportes de bicicleta, abrigos

em paradas de ônibus, brinquedos de parque infantis, bancos de praça, postes de

iluminação pública. Outra preocupação seria adequar e criar o acesso facilitado

nesses equipamentos para os deficientes físicos.

Em relação a requalificação ambiental, tanto o parque como as praças

devem ser reestruturados com o uso adequado, a construção de novos

equipamentos, assim como a introdução de um paisagismo mais atrativo e denso,

tanto nessas áreas como nas avenidas, formando um gradiente verde de

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

134

vegetação, e eliminando o isolamento e desconectividade desses espaços com o

entorno.

É importante também criar uma conscientização na população local sobre a

importância da recuperação de áreas de fundo de vale, como também sobre o

patrimônio histórico. Tal movimento pode ser introduzido através de oficinas,

palestras, programas educacionais, esportivos e artísticos, que integrem a

população num conceito de preservação ambiental e qualidade de vida, que

inclui maior solidariedade entre os membros da comunidade.

A idéia é criar uma grande campanha de divulgação das implicações

econômicas e sociais dos diferentes projetos possíveis de serem implantados nesta

área, com o objetivo de despertar o interesse dos habitantes, além de ajudar a

fortalecer os laços sociais e comunitários em relação aos moradores, com a

tentativa de amenização da segregação entre classes sociais.

3.2 - TOPOCEPTIVOS

Esta análise identifica a capacidade de apreensão do espaço urbano, pelo

usuário, ou seja, as condições para informar as pessoas onde elas estão, e como

podem deslocar-se de um lugar para outro, sem auxílio de outros elementos, como

placas de sinalização ou leitura de mapas.

Segundo o proposto por Kohlsdorf (1996), a observação dos efeitos

topoceptivos deve ser considerada em três níveis: percepção, formação da

imagem mental e representação geométrica secundária, e para que a orientação

dos indivíduos se processe com facilidade, o nível de informação oferecido pela

forma dos lugares não deve ser excessivo e nem escasso.

As duas primeiras são informações obtidas sensorialmente e a ultima através

de informações pertencentes a códigos fechados e restritos a grupos de

especialistas (arquitetos e urbanistas). Neste trabalho serão realizados apenas os

dois primeiros níveis: percepção e imagem mental.

3.2.1- PERCEPÇÃO

Nesse nível, as informações serão captadas pelo movimento em um percurso

e registradas sequencialmente. Serão destacadas apenas as cenas quando

possuem um nível de estimulo e informações suficientes para serem registradas. Nos

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

135

locais onde há registro perceptivo incidentes nas estações das mesmas e

percebem-se os campos visuais percebidos (lateral esquerdo – frontal ou central –

lateral direito). Nos campos visuais, são registrados os efeitos visuais existentes, que

podem ser topológicos (captados pelo corpo) ou perspectivos (captados pela

visão), como também a intensidade com que contribuem para a caracterização

dos lugares como espaços percebidos.

Segundo Kohlsdorf, os principais efeitos topológicos são: alargamento e

estreitamento, envolvimento e amplidão, alargamento lateral e estreitamento

lateral, preparação para alargamento, preparação para estreitamento,

preparação para envolvimento, preparação para amplidão, preparação para

alargamento lateral e preparação para estreitamento lateral. Os efeitos

perspectivos mais relevantes são: direcionamento, visual fechada, impedimento,

emolduramento, mirante, conexão, realce e efeito em Y.

As informações são registradas em uma pauta, denominada pauta

seqüencial.

A pauta seqüencial é a representação gráfica do espaço

percebido em movimento, que sintetiza os eventos gerais, campos

visuais e efeitos visuais. Dessa maneira, pode-se perceber por meio

das incidências das estações, intervalos, campos visuais, efeitos

topológicos e perspectivos, em certa pauta, o ritmo de informação

visual gerado pela configuração de determinado espaço durante o

deslocamento nele. (Kohlsorf, 1996).

O percurso utilizado para esta análise teve seu trajeto definido por meio da

seleção dos principais locais de concentração e/ou escassez de movimentos tanto

de pessoas como de veículos.

O trajeto foi percorrido a pé, totalizando uma hora e quarenta minutos de

percurso foram registrados os eventos gerais (as estações), os campos visuais e os

efeitos visuais captados, registrados através de uma câmara fotográfica, que

compõem a pauta seqüencial. (EM ANEXO).

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

136

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

137

FIGURA 128 – MAPA COM A LOCAÇÃO DAS ESTAÇÕES. FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

138

Os resultados obtidos foram sintetizados nas tabelas a seguir:

TOTAL DE EFEITOS VISUAIS NAS ESTAÇÕES TOTAL DE

ESTAÇÕES 1 EFEITO

VISUAL

2 EFEITOS

VISUAIS

3 EFEITOS

VISUAIS

4 EFEITOS

VISUAIS

5 EFEITOS

VISUAIS

65 33 19 09 03 01

TOTAL DE CAMPOS VISUAIS

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

38 44 34

RESULTADOS DOS EFEITOS VISUAIS

TIPOS EFEITOS TOTAL

MUITO

FORTE FORTE MÉDIO FRACO

ALARGAMENTO 18 - 12 05 01

ESTREITAMENTO 09 02 02 04 -

ENVOLVIMENTO - - - - -

AMPLIDÃO 07 04 02 - 01

ALARGAMENTO

LATERAL 03 - - 01 02

ESTREITAMENTO

LATERAL 07 - 03 03 01 EF

EITO

STO

POLO

GIC

OS

SUBTOTAL 44 06 19 13 05

DIRECIONAMENTO 12 04 06 02 -

VISUAL FECHADA 4 01 02 - 01

IMPEDIMENTO 4 01 02 01 -

EMOLDURAMENTO 2 01 - - 01

MIRANTE 1 - - - 01

CONEXÃO 32 01 02 26 03

REALCE 10 06 04 - -

EFEITO EM Y 9 01 05 01 02 EFEI

TOS

PERS

PEC

TIVO

S

SUBTOTAL 74 15 21 30 8

TOTAL 118 21 40 43 13

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

139

- EVENTOS GERAIS

Foram demarcadas 65 estações. A estação com maior efeito visual foi a

número 9, final da avenida Jerônimo Gonçalves no sentido norte-sul, no

crruzamento com a Rua Florência de Abreu, com 5 efeitos. Em seguida, as estações

36 e 37, com 4 efeitos visuais, localizados na transposição entre a avenida Caramuru

e o bairro Vila Guanabara (Setor Sudoeste), no cruzamento da Rua Primo Tronco

com o córrego Ribeirão Preto. No, entanto, predomina a incidência de 1 efeito

visual por estação.

As estações na avenida Jerônimo Gonçalves encontram uniformemente

distribuídas, destacando-se o efeito de realce, com intensidade forte. No restante

do percurso essa configuração modifica-se, as estações encontram dispersas, com

distâncias e intensidades variadas. Apenas na avenida Caramuru, elas voltam a

ganhar um ritmo aparentemente uniforme, mas seus efeitos são de médio á fracos,

não passando de uma sucessão de alargamentos, estreitamentos e conexões, com

exceção do direcionamento que é forte e significativo no local.

A uniformidade volta aparecer na Rua Augusto Severo, atrás do Terminal

Rodoviário e no final dela, próximo afábrica da Antarctica, mas com a mesma

sucessão de efeitos da Avenida Caramuru.

- CAMPOS VISUAIS

Nas estações predominou o campo visual frontal. O lateral esquerdo e o

lateral direito praticamente entraram em equilíbrio, apresentando uma pequena

diferença entre eles.

Foram registradas 7 estações com efeitos visuais nos três campos, 15 com

efeitos apenas no campo visual frontal, 14 apenas na lateral esquerdo e 11 apenas

na lateral direito. O trecho de maior incidência de efeitos no campo lateral

esquerdo, localiza-se no inicio da avenida Caramuru e na via que margeia o

córrego Ribeirão Preto, no setor Sudoeste, no bairro Vila Guanabara. Já no lateral

esquerdo, predominou o trecho na metade do percurso da Avenida Caramuru,

mas com efeitos visuais fracos, uma sucessão de alargamentos e estreitamentos

laterais.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

140

No campo visual frontal, o predomínio de efeitos, ocorreu no trecho de

ligação entre a avenida do Café e a avenida Jerônimo Gonçalves, na Rua Augusto

Severo, com efeitos de estreitamentos e direcionamentos que conduziram à parte

posterior do Terminal Rodoviário.

- EFEITOS VISUAIS

Foram registrados um total de 118 efeitos, predominando os efeitos do tipo

perspectivo, com 62,17% dos efeitos. Nesses as conexões obtiveram o maior

percentual, seguido pelo direcionamento. Isso revela as características de

formação regular do tecido urbano, já que os efeitos de conexões estão associadas

muitas vezes aos cruzamentos entre vias, quando ocorre a descontinuidade das

paredes laterais; e orgânico, pois o direcionamento é definido pela continuidade

longitudional do espaço por sua estrutura alongada.

Isso é comprovado quando verificamos a localização desses efeitos no mapa

urbano. Também foi analisada a intensidade com que os efeitos apareceram e,

neste caso, eles ficaram entre os níveis fortes e médios.

Destaque-se o efeito de realce, devido ao grande número de edificações

de caráter histórico, que se destaca devido a dimensão e diferenciação estética

deste em relação aos demais edifícios da área; e a presença de usos e atividades

especificas para a cidade, com edificações que realçam tanto pela dimensão,

como pelo movimento gerado. São os casos do Terminal Rodoviário, o Mercado

Municipal, Hotel Brasil, entre outros.

Já nos efeitos topológicos, os efeitos de alargamento e estreitamento foram

os mais significativos, demonstrando um alto índice de saliências horizontais na

massa edificada. Vale destacar a presença de um número relativamente alto em

amplidões na área de transição entre a Avenida Jerônimo Gonçalves e a Avenida

Caramuru. Nessa estruturação predominou a intensidade forte, já que os limites

laterais deslocam-se de maneira intensa.

DIRETRIZES DA PERCEPÇÃO

A pauta seqüencial necessita ser equilibrada, já que foi observado um

número elevado de estações na Avenida Jerônimo Gonçalves, com intensidades

fortes e ritmadas, enquanto na Avenida Caramuru, apesar do número elevado de

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

141

estações, os efeitos restringem-se a médios e fracos, predominando os efeitos

topológicos, significando a falta de atratividade nesse local, pois não são

encontrados efeitos que despertassem a atenção tanto dos moradores, como os

visitantes.

Nota-se a ausência do efeito de envolvimento, como também a de mirante

com intensidade mais significativa. É indicada também a criação de elementos que

controlem as amplidões, para que não proporcionem a sensação de abandono na

área.

O resultado da análise, é que o percurso realizado demonstra um mistura de

efeitos topológicos e perspectivos negativos, já que não apresentam uma

hierarquia, com efeitos visuais e intensidades bem definidas, contribuindo para uma

monotonia urbana e descaracterização do espaço, com exceção do trecho da

Avenida Jerônimo Gonçalves. O ideal seria a criação de novos elementos

anexados aqueles que já estruturam a forma urbana do local, e conseqüente

fortalecimento do toda a área perante a cidade.

3.2.2 - IMAGEM MENTAL

Esse nível de análise é baseado no mapa mental de Lynch (1970), cujos cinco

elementos são, por hipótese, constantes em todo e qualquer espaço urbano

existente e, portanto, pontos de estruturação da imagem de qualquer lugar. Os

elementos de análise propostos são: caminhos, bairros, limites, pontos focais e

marcos visuais.

A análise da imagem mental é a evocação do espaço percebido, quando o

individuo não está mais em sua presença, ou seja, a imagem do lugar que fica

registrada na sua mente. Essa técnica, proposta por Lynch (2000), organiza os

lugares mentalmente representados por intermédio de cinco elementos que, por

hipótese, são constantes em todo e qualquer espaço urbano existente.

Esses elementos são: os caminhos são os vários trajetos experimentados ou

potenciais, que o observador registra na imagem da área em estudo; os bairros são

as porções da área de diversas dimensões, concebidas como zonas temáticas na

estrutura da imagem; os limites são os próprios limites da área ou as bordas, e se

caracteriza como elemento linear, constituindo-se em rupturas entre duas partes

(bairros) do espaço urbano, ou realizam as fronteiras deste último com o entorno; os

pontos focais são focos ou nos, determinados como pontos estratégicos da área, e

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

142

constituem-se em focos intensivos de movimento e concentração (pontos de

encontro) de pessoas; e a os marcos visuais, que são pontos de referência na área

de estudo.

ANÁLISE NA ÁREA DE ESTUDO

FIGURA 129 – MAPA DA ANÁLISE DA IMAGEM MENTAL. FONTE: AUTORA.

- CAMINHOS – A análise confirma o caráter das vias Jerônimo Gonçalves e

Avenida Caramuru como caminhos de forte intensidade. Essas vias exercem um

papel de elementos estruturadores na malha viária apresentado-se também como

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

143

integradoras ao restante da cidade. São importantes ainda as ruas Duque de

Caxias, General Osório e São Sebastião que fazem a transposição entre o Centro e

a Vila Tibério; a Rua Augusto Severo e a Alameda Botafogo que fazem a ligação do

setor oeste a Avenida Jerônimo Gonçalves; as ruas Guatapará e Lafaiete que

realizam em conjunto a transposição entre o centro e o setor oeste e a Rua Primo

Tronco, que liga a Avenida Caramuru ao Bairro Vila Guanabara.

- BAIRROS - As porções apontadas apresentam-se com forte intensidade, em

conjuntos morfológicos com suficiente clareza e coerência, de modo à

distinguirem-se umas das outras. Foram encontradas nove porções de diversas

dimensões e formas, determinados em função da heterogeneidade de seus usos,

tipologias e aspectos sociais e concebidas como zonas temáticas na estrutura da

paisagem urbana da área em estudo.

Os bairros 1 e 2 possuem características muito semelhantes em relação ao uso,

entretanto distinguem-se pela tipologia de suas edificações e classes sociais, já que

o primeiro pertence a uma classe baixa, com edificações precárias, enquanto o

bairro 2 pertence a uma classe media-media e media-baixa e suas edificações se

diferenciam da anterior pela dimensão (maiores) e pela qualidade dos materiais

utilizados. O bairro 3 é composto pelo Parque Maurílio Biagi e a Câmara Municipal,

e representa uma "ilha" isolada no meio do tecido urbano, sem qualquer

continuidade com seu entorno, e o bairro 4 uma pequena "ilha" mais isolada do a

anterior, já que nota-se com clareza a desconectividade deste espaços com as

demais áreas da região.

O bairro 5 apresenta uma composição de marcos visuais e pontos focais, que

apesar de não interagirem entre si, com espaços bem contrastantes, provocam

uma sensação de continuidade entre eles. O bairro 6 é composto pelas fábricas

da Cervejaria Antártica, devido as suas grandes dimensões, com suas atividades

voltadas para dentro e os grandes "paredões" de divisa com a Avenida Jerônimo

Gonçalves, dão a percepção que são uma cidade dentro de outra, formando seu

próprio mundos, isolada do restante da área.

Os bairros 7, 8 e 9 possuem características diferenciadas seja pelo uso,

atividade e camadas sociais, entretanto não possuem um limite bem definido,

apenas com costuras bem suavizadas, chegando a justaposição entre eles.

-- LIMITES – Observou-se que diversos caminhos da localidade apresentaram

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

144

também importantes elementos de ruptura entre as partes do espaço,

contribuindo para a definição dos limites.

As barreiras possuem uma clara demarcação no desenho urbano seja pelo

aspecto geográfico ou pelo físico, são elas as avenidas Jerônimo Gonçalves e a

Caramuru. As costuras encontram-se na parte oeste da área de estudo, que apesar

de ter características físicas semelhantes, se diferenciam pelo uso e atividades que

predominam, além de serem segregadas por classes sociais distintas.

Em relação à clareza das articulações, as barreiras são realçadas, enquanto as

costuras são suavizadas, no entanto esse último fato não interfere no

reconhecimento dos mesmos. Nota-se que limites considerados internos na área

em estudo possuem uma maior hierarquia em relação aos externos.

- PONTOS FOCAIS - Como pontos focais, destacam-se: a Rodoviária, por gerar a

concentração de pessoas e atrair a passagem das mesmas; as Praças e os

Parques, como pontos de encontro e passagem; e o Mercado Municipal, o Centro

Popular de Compras e a Câmara Municipal, como espaços de movimentação e

geração de presença.

Todos os pontos focais mencionados acima possuem uma forte intensidade,

com um caráter global, já que reúnem pessoas de diversas regiões e representam

pontos estratégicos para toda a cidade.

Existem também uma passarela e uma alameda em frente à Rodoviária,

que funcionam como ligação entre o Terminal e o Centro da cidade, no entanto

possuem uma intensidade fraca, já que são utilizadas apenas para a passagem de

pessoas.

- MARCOS VISUAIS - Constatou-se que os marcos são de forte intensidade e

estão relacionados a características funcionais, destacando-se na paisagem

urbana. Possuem elementos que predominam por suas características individuais e

contrastantes.

A Avenida Jerônimo Gonçalves é destaque como o mais forte marco

referencial da área, devido sua configuração espacial, juntamente com o desenho

das palmeiras imperiais. Ainda destacam-se: as fábricas da Cervejaria Antarctica e

o Hotel Brasil pelo caráter histórico; a Unidade Básica de Saúde, o Terminal

Rodoviário, o Centro Popular de Compras e o Mercado Municipal, pelo uso e

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

145

atividade oferecidos. Já na Avenida Caramuru destaca-se o Casarão n° 250 pelo

caráter histórico e o supermercado Gimenes pela atividade.

DIRETRIZES DA IMAGEM MENTAL

- Transformação das avenidas em um bairro, com fortalecimento dos

pontos focais já existentes e a criação de alguns marcos visuais na

avenida Caramuru, para que a mesma não sirva apenas de costura

entre os bairros. Estabelecer a potencialização da identidade e

hierarquia da Avenida Jerônimo Gonçalves, estabelecendo uma

continuidade entre a mesma e a Avenida Caramuru, com a substituição

da barreira entre elas, por um tecido que proporcione uma unidade

morfológica;

- Criação de caminhos, principalmente transversais, para que o acesso

entre as avenidas e os bairros opostos se torne fácil e cotidiano;

- Fortalecimento dos pontos focais (praças, parque, Mercado Municipal,

Centro Popular de Compras, Terminal Rodoviário, posto de saúde...),

através de uma reestruturação , buscando melhorias e adequação ao

local. Como também a criação de mais pontos focais, com a

reutilização de edifícios e abandonados, como o do Hotel Brasil e a

fábrica da Antarctica.

- Remodelação nas margens do córrego Ribeirão Preto, no setor Sudoeste,

proporcionando a esse espaço uma identidade e qualidade de espaço,

com a criação de ponto focais e marcos visuais

- Reformular a divisão entre os bairros e reforçar suas características, para

que haja identidade e reconhecimento, através da costura entre eles.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

146

FIGURA 130– PROPOSTA DE IMAGEM MENTAL. FONTE: AUTORA.

3.3 - ANÁLISE BIOCLIMÁTICA

Esse nível de análise, busca correlacionar as expectativas de conforto físico

às características climáticas do meio em que se encontram os indivíduos. A

configuração dos lugares pode acentuar, potencializar, consolidar, amainar ou

minorar sensações de conforto, tanto fisiológico quanto mental.

Aborda as características da forma urbana condicionante do clima urbano,

resultantes da relação estabelecidas entre a morfologia da massa edificada e a

morfologia dos espaços exteriores de permanência e circulação e entre os

elementos morfológicos da forma urbana e a atmosfera urbana. Parte-se do

princípio que a forma urbana pode atuar, fraca ou intensamente, na configuração

do clima urbano através de maior ou menor influência no desempenho de um ou

mais elementos climáticos.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

147

Segundo Oliveira (1985), essa dimensão deve ser analisada pelas seguintes

categorias: conformação espacial (características do relevo e da massa edificada);

rugosidade (saliências e reentrâncias da forma urbana); porosidade (maior ou

menor permeabilidade às manifestações que ocorrem na atmosfera: ventos e

ruídos); densidade da construção (relação entre a massa edificada e a área total

considerada); tamanho (dimensões horizontais e verticais da forma urbana); usos e

ocupação do solo (concentração/dispersão, centralização/descentralização de

atividades); orientação (posição da malha em relação ao sol, às correntes de ar, os

elementos naturais ou artificiais, às fontes poluidoras e aos ruídos); permeabilidade

do solo (infiltração das águas pluviais); propriedades físicas dos materiais

constituintes (sua relação com a transmissão de calor ou de poluentes); vegetação

(disposição, porte, tipo, porosidade/fechamento e plasticidade/flexibilidade).

Os atributos da forma urbana são analisados em relação às expectativas de

conforto térmico, acústico, luminoso e qualidade do ar para o tipo de clima da

área em estudo.

CARACTERISTICAS GERAIS DA CIDADE RIBEIRÃO PRETO

A região de Ribeirão Preto caracteriza-se como clima tropical úmido, bem

demarcado sazonalmente por uma estação de verão quente e chuvosa

(temperatura superior a 23ºC e mais de 250 mm de chuva no mês mais quente) e

uma estação inverna seca e amena (temperatura media nunca inferior a 18ºC e

precipitação menor que 30 mm no mês mais seco). Sabe-se que Ribeirão Preto é

uma das cidades mais quentes do estado de São Paulo, e, portanto no verão é

muito constante a temperatura aproximar-se de 40ºC. O índice pluviométrico anual

apresenta uma amplitude de 1100 a 1600 mm. A média da umidade relativa é de

76,4%.

Segundo Guzzo (1999), a região norte do Estado de São Paulo é considerada

de transição entre os domínios das massas de ar tropical, polar e equatorial. Essa

situação decorre na ocorrência de um período seco definido, coincidente com o

outono-inverno (abril-setembro) e um período chuvoso primavera-verão (outubro a

março). A participação dominante nessa região é de massa tropical atlântica

(normalmente superior a 50% em qualquer estação do ano), seguida da

participação das massas polar atlântica, polar atlântica velha, tropical continental

e equatorial. A maior parte das chuvas é atribuída à frente polar, que assume

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

148

liderança em todas as estações do ano. De acordo com dados fornecidos pela

Fazenda Experimental do Instituto Agronômico de Campinas, localizado na cidade

de Ribeirão Preto, os ventos predominantes na cidade deslocam-se no sentido SE-

NW, em intensidades que variam de 1,2m/s, observadas no mês de março e a 2,3

m/s no mês de setembro, resultando em uma media anual de 1,7 m/s26.

Ainda segundo o autor, a área urbana situa-se numa depressão, uma

espécie de “bacia”, com altitudes variando de 500 a 600 metros, apresentando

pequenas ondulações naturais, e essa condição física proporciona a instalação de

“ilhas de calor”, aumentando ainda mais a temperatura na área. A altitude máxima

encontrada na área urbana é de 650 metros, localizada no Campus da

Universidade de São Paulo, no setor oeste. Já a cota máxima do município é 805

metros, na divisa com o município de Cravinhos, próximo a Rodovia Anhanguera e

a cota mínima de 490 metros, localizada na divisa do município de Sertãozinho,

próximo ao Rio Pardo.

FIGURA 131 – PERFIL DA ILHA DE CALOR NAR ÁREAS CENTRAIS URBANAS FONTE: Coelba (2002)

FORMA URBANA DA ÁREA EM ESTUDO

A conformação espacial da área em estudo é caracterizada por uma

topografia em forma côncava, localizada em uma região determinada de fundo

26 Esses dados foram coletados entre anos os 1961 a 1990.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

149

de vale. Essa região sofreu uma forte degradação ambiental com o crescimento

urbano acelerado e desordenado, desrespeitando o meio ambiente natural e

devastando ao longo de seu trajeto.

Esse processo de crescimento urbano provou uma alta de taxa de

urbanização, com uma massa edificada muito densa, ocasionada devido a falta

de restrições urbanísticas na sua época de formação, apresentando a maioria das

edificações com pequenos ou nenhum espaçamento como: afastamentos mínimos

laterais, frontais e no fundo, como também uma taxa máxima de ocupação do

solo. Portanto, essa situação provocou uma menor porosidade entre as edificações

às manifestações que ocorrem na atmosfera (ventos, ruídos), restringindo os canais

de circulação as próprias ruas e avenidas.

A rugosidade é apresentada com pequenas saliências e muito poucas

reentrâncias, devido a proximidade das edificações e a homogeneização das

alturas das edificações no entorno imediato das Avenidas Jerônimo Gonçalves e

Caramuru, já que maioria dos edifícios possui uma altura relativamente baixa (em

torno de 1 a 3 pavimentos, com exceção de poucos edifícios). No entanto essa

configuração modifica-se para grandes saliências e o aumento de reentrâncias na

medida em que se transpõe na direção leste, já que essa região é ocupada por

edifícios de grande porte devido ao processo, já citado neste trabalho, de

verticalização sofrido pela cidade nas décadas de 60.

FIGURA 132 – IMAGEM DA VERTICALIZAÇÃO DO CENTRO – EM TRACEJADO A ÁREA DE ESTUDO.. FONTE: http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br – ORGANIZADO PELA AUTORA

A homogeneização também caracteriza o tamanho da área de estudo em

uma grande massa horizontal, e quando se aproxima na direção leste em uma

grande massa vertical.

A área em estudo localiza-se em uma zona de uso e o ocupação misto,

sendo a região oeste desta área determinada como zona de uso misto, ZUM I e a

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

150

região central, ZUM II, e a descrição destes já foi mencionado na análise funcional,

sendo acrescentado a descrição dos graus de risco ambiental dessas zonas. A ZUM I

possui grau 1,5 e a ZUM II, grau 1,00, e são classificadas como atividades de risco

leve, com nocividade de grau baixo, em razão dos efluentes hídricos e

atmosféricos, e incomodidade de grau médio, apresentando movimentação

tolerável de pessoal e trafego, bem como níveis toleráveis de efluentes e/ou ruídos.

A orientação malha urbana na região leste da área em estudo encontra-se

na mesma direção do vento predominante NW-SE da cidade. Essa situação permite

a penetração da ventilação em canais de circulação. O sol movimenta-se no

sentido centro - Higienópolis para Vila Tibério- Vila Virginia, e, porisso as avenidas

recebem a insolação critica do meio-dia.

A permeabilidade do solo é critica na área de estudo. A região central,

segundo Perci (1999) possui uma área de 2.118.568,96 m², sendo que desta área

7.51% pertencem às manchas de vegetação e 0.83% são de áreas não

impermeabilizadas. Apenas nas áreas de várzea, a impermeabilização do solo

chega a 16.000 m² na região central, já nas outras regiões não foram encontrados

dados relativos a essa categoria de análise. Somente a presença do Parque

Maurílio Biagi e das praças já citadas nesse trabalho amenizam o índice de

impermeabilização do solo.

Esses espaços são responsáveis também pela vegetação local, já que a

arborização urbana é precária, assim como a encontrada dentro dos lotes,

restringindo apenas a uma vegetação rasteira em alguns passeios e canteiros

centrais e isoladas ou agrupadas que acompanham o sistema viário, como as

árvores da espécie sibipirunas na Avenida Caramuru e as palmeiras imperiais na

Avenida Jerônimo Gonçalves.

Os materiais constituintes nesta área são de diversos tipos: a pavimentação

de ruas e avenidas é de asfalto, na cor grafite; nos passeios, foi encontrado o uso

de cimentados, pedras portuguesas, macaquinho, cerâmica, em diversas cores; as

edificações são de alvenaria, blocos de concreto, pré-moldado, entre outros em

diversas cores; nas coberturas, as telhas cerâmicas nas edificações antigas, fibro-

cimento em edificações mais simples e metálicas nas grandes edificações como

galpões, supermercados, entre outros, nas cores cinza e terra.

3.3.1-CONFORTO HIGROTÉRMICO

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

151

O conforto higrotérmico encontra-se associado às variações de temperatura

no clima urbano devido à modificação substancial na paisagem natural, a grande

concentração de áreas construídas, o adensamento populacional, a

pavimentação asfáltica, entre outros.

Na área de estudo, principalmente nas áreas de fundo de vale, a

modificação da paisagem natural, através da devastação do meio ambiente, a

impermeabilização do solo e a canalização/retificação dos córregos, provocaram

inúmeras modificações no micro-clima urbano, assim como alterações no ciclo

ecológico existente no local.

Segundo Vital (2003), os cursos d’ água dessas regiões “abrangem um

extenso e completo sistema de inter-relações com o meio em que se inserem”, já

que funcionam como um dreno natural, pois uma parte da água das chuvas escoa

imediatamente para essas regiões e por elas atinge os rios e posteriormente os

mares e uma outra parte infiltra-se no solo e por percolação ou por drenagem,

alcançam o mesmo destino. Além disso, as “matas galerias ao longo desses rios são

extremamente importantes na manutenção da heterogeneidade espacial e no

fluxo de matéria orgânica para estes sistemas”, pois possuem a função de evitar a

contaminação do ecossistema aquático, manter a integridade das margens dos

rios e contribuir para a manutenção da temperatura da água. (Tundisi, Tundisi,

Rocha apud Vital,2003).

FIGURA 133 E 134 – IMAGEM DAS MARGENS DO CORREGO RIBEIRÃO PRETO (LOCAL SEM CANALIZAÇÃO). FONTE: AUTORA.

De acordo com o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, as

matas ciliares na cidade de Ribeirão Preto têm apenas 3.89% da sua área coberta

com remanescente de vegetação natural, sendo assim, 96.11% já foram

desmatadas e são praticamente inexistentes na região central (área de estudo),

nos córregos Ribeirão Preto e Retiro Saudoso.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

152

Nota-se também a ocupação desses vales por meio da invasão e da

instalação de moradias precárias por excluídos sociais, que não possuem

alternativas a não ser ocupar essas faixas de terras publicas urbanas, sujeitando-se a

riscos precários de habitação, como acontece em algumas áreas do setor

Sudoeste.

FIGURAS 135 E 136 – IMAGEM DAS MARGENS DO CORREGO RIBEIRÃO PRETO (LOCAL SEM CANALIZAÇÃO) – HABITAÇÕES CLANDESTINAS.

FONTE: AUTORA.

A modificação desse complexo sistema através da impermeabilização do

solo e a retirada da vegetação natural altera essas condições naturais de

infiltração, ocasionando inundações, já que a diminuição do atrito da água com o

solo provoca aumento de velocidade do escoamento, provocando picos de

vazões e o surgimento de erosões devido ao impacto das precipitações em locais

sem cobertura vegetal, ocasionando grandes prejuízos à população local e da nos

estruturais à região. (Gonçalves, s/d).

Toda essa situação agravou-se ainda mais com a canalização dos córregos

e a utilização destes como coletores de esgotos a céu aberto, complementada

pela construção das vias marginais em faixas que deveriam ser áreas de

preservação ambiental.

FIGURA 137 E 138 – IMAGEM DAS MARGENS DO CORREGO RIBEIRÃO PRETO (COM CANALIZAÇÃO). FONTE: AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

153

Outra modificação no meio urbano importante foi o aumento de

temperatura devido à alta taxa de urbanização juntamente com a presença

elevada de veículos particulares e coletivos, além da grande absorção e reflexão

de calor ocasionada pelo concreto e o asfalto e cuja dispersão é dificultada pela

poluição do ar, acarretando no aumento da pressão atmosférica e provocando

grandes precipitações, as famosas “pancadas da água” e a redução da umidade

relativa do ar.

FIGURA 139 – SITUAÇÃO ENCONTARDA NA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES. FONTE: AUTORA.

As altas taxas de urbanização, com massas edificadas muito densas e

próximas entre si, provocam índices de rugosidade e de porosidade muito

pequenos, transformando-se em verdadeiros obstáculos a penetração dos ventos,

alterando seu movimento, prejudicando as trocas térmicas com o ambiente

atmosférico, impedindo o resfriamento das estruturas e o aumentando a

temperatura do ar.

FIGURA 140 – SITUAÇÃO ENCONTARDA NA AVENIDA CARAMURU. FONTE: AUTORA.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

154

FIGURA 141 – IMAGEM DO LOCAL AVENIDA CARAMURU,2006. FONTE: AUTORA.

DIRETRIZES DO CONFORTO HIGROTÉRMICO

Segundo Vital (2003), as áreas consideradas devem ser preservadas,

recuperadas e conservadas, já que apresentam a possibilidade de funcionar como

interface entre meio biótico e físico, através da utilização desses espaços como

laços ecológicos. De acordo com esse pensamento, propõe-se a elaboração de

um projeto de recuperação dessas áreas de fundo de vales, com a despoluição de

suas águas, a recuperação das áreas verdes em suas margens para evitar a erosão

e a inserção, nas áreas ainda não urbanizadas, de uma faixa de 30 metros de

preservação permanente. No entanto, para que não se transformem em grandes

áreas verdes abandonadas no meio da cidade, indica-se a criação de espaços

para uso público, com equipamentos de recreação e lazer, como parques ou

jardins públicos.

A despoluição das águas deve ser feitas com a instalação de um sistema

coletor de esgotos sanitários adequado e tratamento ao longo de todo o percurso

urbano do leito do curso d’ água, além de se retirar os detritos e resíduos sólidos.

Também é indicado um programa educacional com os moradores dessa região

para a importância e o significado dessa área, através de palestras e oficinas,

trazendo assim a própria comunidade como aliadas e auxiliares na preservação e

modificação deste espaço.

A construção de equipamentos previstos para o parque ou jardim, não

deverá descaracterizar a área verde como tal, isto é, não devem ser uma extensão

da zona urbana, mas um ambiente alternativo e melhor, com equipamentos e

mobiliários urbanos como bancos, brinquedos, lixeiras, etc. projetados de maneira

eficaz para atender a população.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

155

Para amenização da temperatura e o aumento da umidade do ar, além do

plantio de árvores e criação de grandes manchas verdes, são indicados a criação

de áreas com a presença do elemento água, com a construção de lagos, espelhos

d’ água e, principalmente, com a valorização do córrego existente em um canal

aberto, além de ser uma alternativa no controle de inundações.

Outra medida importante é o controle do uso do solo, para evitar o

adensamento urbano e a criação de restrições que proíbam ampliações nas áreas

mais problemáticas, provocando no futuro, o aumento de espaço entre as

edificações. Como também restrições em relação à altura dos edifícios, para evitar

que se formem barreiras em relação ao vento.

As superfícies pavimentadas devem ser substituídas, sempre que possível, por

superfícies permeáveis, como gramados ou, no mínimo, aquelas que garantam um

espaço permanente da vegetação.

Na pavimentação de ruas locais, onde o movimento de carros é menor,

existem boas técnicas que permitem que uma quantidade maior de água possa

infiltrar como: paralelepípedos, blocos de concreto, entre outros. Estas formas de

calçamento têm a vantagem de não contribuir para um maior aquecimento do

ambiente e também auxiliam eficazmente na drenagem e não aceleram o

escoamento das águas pluviais, pela rugosidade que apresentam. Devera ser

observado nos passeios o uso de uma faixa de gramado e nas áreas de

estacionamento o uso de um piso permeável e a existência de uma faixa mínima

pavimentada para a acessibilidade dos portadores de deficiência física.

3.3.2 - QUALIDADE DO AR

A qualidade do ar na cidade de Ribeirão Preto é controlada pela Cetesb

(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental-SP), com uma estação

localizada no bairro Campos Elíseos próximo a área de estudo. Foi realizada uma

visita à sede, mas o técnico não estava autorizado a repassar as informações

coletadas, apenas as informações oferecidas no “site” da empresa.

No “site” não foram encontrados muitos dados em relação à Ribeirão Preto,

apenas um relatório relativo aos meses de janeiro a julho de 2006, informando a

presença SO2 - Dióxido de enxofre no nível de 5 ppm e de MP10 - Partículas inaláveis.

Segundo Teles Filho (2003), o SO2 é considerado de insalubridade máxima pelo

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

156

quadro Nº 01 da Norma Regulamentadora Nº 15 do Ministério do Trabalho e

Emprego, quando atinge 4 ppm, expondo os trabalhadores dessa atividade à

grave e iminente risco para sua integridade física, caso a concentração do gás

atinja valor superior a 8 ppm (partes do gás por milhão de partes do ar

contaminado). A quantidade de dióxido de enxofre gerada pelos sulfitos em

dissolução, depende do PH e da temperatura.

A maior fonte segundo o departamento de química da Universidade Federal

da Paraná, de dióxido de enxofre é lançada na atmosfera na queima do petróleo,

constituindo cerca de 95% dos compostos de enxofre resultantes da combustão do

petróleo. No ambiente urbano a presença dos mesmos, pode levar a formação de

chuvas acidas, causar corrosão aos materiais e danos a vegetação.

Já o MP10 - Partículas inaláveis, são formadas em processos de combustão

(industrias e veículos automotores) e aerosol secundário, e no meio ambiente

podem causar danos na vegetação, deteriorização da visibilidade e

contaminação no solo.

Segundo a Secretaria de Gestão Ambiental da Prefeitura Municipal, a área

em estudo não apresenta grandes emissões de poluentes decorrentes de industriais,

já que hoje na indústria da Antarctica apenas permanece em funcionamento o

setor administrativo e a fábrica de Borracha localizada próxima a Avenida

Caramuru, encontra-se monitorada de acordo com índices estabelecidos pela

Cetesb.

A grande fonte poluidora nesta área de estudo é o monóxido de carbono

(CO) emitido pelos veículos: carros, caminhões e ônibus. O intenso fluxo de trânsito,

juntamente com a presença de materiais que absorvem o calor, a topografia em

forma de vale, a falta de vegetação e a massa edificada muito densa, dificultam a

dispersão desses poluentes atmosféricos. Durante o dia, os edifícios funcionam

como um labirinto de reflexão de calor nas camadas mais altas de ar aquecido e, à

noite, a poluição do ar impede a dispersão de calor.

Esses gases formam nuvens que permanecem perto da superfície, retendo

parte da radiação infravermelha responsável pelo aumento da temperatura e

formando "ilhas de calor", com variações térmicas que pode chegar até 7ºC entre

determinadas áreas e que pode ter vários picos de temperaturas espalhados pela

área.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

157

FIGURA 142 – INDICES DE ABSORÇÃO DOS MATERIAS FONTE: Coelba (2002)

DIRETRIZES DA QUALIDADE DO AR

É indicada a retirada e/ou a dispersão da concentração de fluxos de

veículos pesados nas avenidas, principalmente na Avenida Jerônimo Gonçalves,

para isso poderiam ser criados fluxos alternativos pela cidade, e mudança das rotas

dos ônibus urbanos.

Indica-se a recuperação das áreas verdes do Parque e das Praças além de

uma remodelação da arborização urbana e a criação de um grande parque ou

jardim público as margens do córrego Ribeirão Preto. A idéia é formar um gradiente

verde em toda a região, constituindo-se uma alternativa sustentável, pois reduziria

os efeitos da radiação solar, oferecendo conforto térmico aos seus habitantes, além

de reduzir a poluição do ar, diminuir drasticamente o desconforto das “ilhas de

calor”, aumentando a capacidade de infiltração das águas pluviais.

3.3.3 - CONFORTO LUMINOSO

O conforto luminoso é caracterizado através da conformação espacial dos

espaços exteriores e sua relação com os espaços interiores. A luz natural ocorre a

influencia no uso de cores e no efeito que elas produzem tais como o ritmo: com a

repetição de elementos luminosos; e o contraste, por meio de diferenciação entre

volumes e intensidade de iluminação.

Na área em estudo, as grandes contigüidades das edificações provocam

manchas de sombreamento em alguns períodos do dias nas vias publicas. Contudo

no restante do período de iluminação natural, ocorre uma grande insolação

principalmente ao meio-dia. Essa situação agrava-se com a falta de arborização

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

158

urbana nos passeios, provocando intensa radiação e reflexão dos raios,

ocasionando incômodo aos pedestres.

FIGURA 143 – REFLEXÃO DOS RAIOS SOLARES. FONTE: AUTORA.

Outro fator importante observado é que a baixa rugosidade e porosidade

provoca uma falta de aproveitamento da luz natural disponível, já que a forma

muito densa da massa edificada promove efeito de sombreamento nos espaços

livres entre um edifício e outro como também obstruções nos próprios edifícios

vizinhos, chegando a atingir níveis críticos.

Migliorini (1997) realizou estudos na área central de Ribeirão Preto. O estudo

da iluminação natural foi avaliado em dois períodos, às 10:00hs da manhã no

solstício de inverno, para estabelecer-se o maior índice de insolação, e às 15:00hs

no solstício de verão para verificar o maior nível de sombreamento. O resultado

obtido permitiu-lhe concluir que os volumes edificados tem menos influência, com

relação a insolação das áreas publicas, que a própria orientação do traçado das

ruas.

Nos solstícios de inverno, as vias que possuem sentido sudeste-noroeste,

provocam um sombreamento praticamente total das áreas de uso público,

reforçando o papel dos espaços livres para a melhoria do conforto térmico dessas

áreas Já nas vias de sentido sudoeste-nordeste, as áreas livres permanecem

inteiramente ensolaradas, independentemente do horário e da intensificação da

verticalização ocorrida nessas áreas. E no solstício de verão o comportamento é

praticamente o mesmo nas vias no sentido sudeste-noroeste, no entanto nas vias

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

159

sentido sudoeste-nordeste, os edifícios chegaram a sombrear os espaços da via

publica.

Já a iluminação artificial possui a função primordial de tornar a cidade um

ambiente confortável e esteticamente agradável, e constituem em dos vetores

importantes para a segurança pública nos centros urbanos, no que se refere ao

tráfego de veículos e de pedestres e à prevenção da criminalidade.

Em relação à esse item, na área em estudo é, importante observar a

modificação na Avenida Jerônimo Gonçalves. Nas margens do córrego, houve a

substituição dos postes de concreto por replicas antigas e fiação subterrânea, e na

margem oposta, a fiação continuou aérea e em postes de concreto. Os globos

desses postes de modelos antigos induzem uma iluminação indireta no local, ao

contrario dos outros.

Na Avenida Caramuru a iluminação publica é precária, devido sua extensa

dimensão e à presença de postes apenas em suas margens não são suficiente para

iluminá-la adequadamente, deixando principalmente o canteiro central, com baixo

nível de iluminamento.

Outra informação importante é a falta de iluminação e/ou a inadequação

desta nas praças da Avenida Jerônimo Gonçalves, e principalmente no Parque

Maurílio Miagi. A falta de iluminação no parque é um dos responsáveis pelo grande

índice de criminalidade no local, e conseqüentemente seu abandono por parte dos

moradores, transformado em um verdadeiro “deserto” no período noturno.

Nas demais áreas, a iluminação pública segundo dados da CPFL

(Companhia de Força e Luz do Estado de São Paulo), respeita a intensidade de luz

e o número de postes estabelecidos para a adequada iluminação das vias e

avenidas.

DIRETRIZES DO CONFORTO LUMINOSO

Para minimizar os efeitos da radiação solar direta no meio urbano seria

conveniente o plantio árvores de meio e grande porte nas áreas livres e vias de

pedestres, e segundo Coelba (2002) de maneira a garantir o sombreamento no

período da tarde, e rede elétrica deveria ficar do lado oposto, com a possibilidade

de plantio de árvores de pequeno porte abaixo dela.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

160

Sabe-se que a vegetação funciona como amortecedora do contraste entre

a iluminação de espaços internos e externos, portanto é indicada a escolha de

espécie especificas da vegetação para ajudar de forma significativa o controle

térmico das edificações, já que assim é possível controlar a incidência de

iluminação.

Segundo o estudo realizado por Migliorini (1997), nos edifícios verticais da

área central devido a grande temperatura encontrada na cidade nos meses de

verão, deveria ser construída uma proteção ao sol durante o período da tarde para

a constituição de um micro-clima agradável dentro desses ambientes. Também é

indicada a reestruturação das fachadas ao longo da avenida, com o uso de cores

neutras (nem muito claras e nem muito escuros) que diminuíssem a reflexibilidade

dos raios solares e o uso de materiais que possuíssem um nível menor de absorção

do calor.

A iluminação no parque e nas praças deve ser reformulada com fiação

elétrica aparente restrita aos passeios na margem do espaço.No interior dos

mesmos é aconselhável uma rede subterrânea, apenas com os postes de

iluminação e se possível com focos de luz no piso, evitando assim o vandalismo com

a degradação desses equipamentos no local.

Necessário também, a mudança da tipologia de iluminação nas vias

públicas, já que hoje o mercado possui lâmpadas mais eficazes para esse uso,

como as luminárias de alta eficiência que são direcionadas para a via, com vidros

(refratores) planos, e não curvos que evitam a má distribuição da iluminação com a

perda do fluxo luminoso.

3.3.4 - CONFORTO ACÚSTICO

O conforto acústico está associado à fatores ambientais como: a umidade, o

vento, a temperatura, a topografia e a vegetação. Na área em estudo, as grandes

fontes de ruído são o fluxo intenso de veículos e a concentração de atividades e

pessoas, em determinadas regiões (exemplos: ao longo das Avenidas Jerônimo

Gonçalves e Caramuru; nas praças; pista de skate no parque, entre outros) como

também em determinados locais isolados como: Mercado Municipal, Centro

Popular de Compras, Terminal Rodoviário, entre outros.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

161

A alta temperatura da região promove a redução da umidade relativa do

ar, diminuindo a quantidade de vapor d’ água não condensado no ar. Esse fator

provoca um ar seco e leve, diminuindo a velocidade de propagação, havendo

maior possibilidade de eco e de reverberações, fatores que provocam desconforto

acústico.

O nível de ruído também é intensificado pela movimentação dos ventos, já

que o sentido predominante desta região arrasta os ruídos gerados no centro da

cidade (calçadão) em direção as avenidas.

FIGURA 144 – FONTES DE RUIDOS NA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES. FONTE: AUTORA.

A forma côncava do terreno tende a concentrar e intensificar o ruído gerado

nas vias, como também as conduzidas pelo vento, vindas do centro da cidade.

Outro fator que agrava essa situação é a proximidade das edificações e sua

posição disposta em paralelo as avenidas, provocando a reflexão das ondas

sonoras, dificultando a sua dispersão no meio.

FIGURA 145 – FONTES DE RUIDOS NA AVENIDA CARAMIURU. FONTE: AUTORA.

A falta de rugosidades e porosidades entre os edifícios transforma as

edificações em uma grande massa horizontal, caracterizando-as como barreiras e

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

162

formando uma caixa de ressonância, tendendo a acentuar o ruído entre elas. Além

de criar, na parte posterior das mesmas uma zona silenciosa.

FIGURA 146 – FONTES DE RUIDOS NA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES FONTE: AUTORA

Outra característica marcante é grande densidade de atividades de

comércio e de serviços principalmente na área central, que provoca um maior nível

de poluição acústica. Isso, associado à alta densidade, aumenta o nível de ruído

desses espaços. Esse fator pode ser observado nos horários de pico, principalmente

nos sábados e feriados, em que ocorre um aumento significativo de atividades e

pessoas na área central.

Toda essa situação agrava-se com a falta de vegetação, já que este

elemento poderia contribuir para a diminuição da intensidade do som, absorvendo

esses ruídos.

DIRETRIZES DO CONFORTO ACÚSTICO

Segundo Homero (2002), a cidade é um complexo de formas urbanas de

elementos estáticos e dinâmicos: edificações, pedestres, carros, motocicletas,

aviões, helicópteros, entre outros. A tentativa de exclusão dos ruídos ocasionados

por estes elementos é praticamente impossível. No entanto, é possível amenizá-los

através da criação de uma paisagem sonora, com a formação de espaços

informativos da proximidade do som. Esses espaços são formados pelo espaço

longínquo, espaço próximo e espaço íntimo.

Os espaços íntimos, dentro dos edifícios ou em pátios e/ou aberturas, devem

ser mais calmos, através de áreas de amortecimento do som, seja com a

vegetação, ou com a própria forma do edifício, que pode funcionar como uma

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

163

barreira sonora. Em compensação os espaços públicos, serão destinados para os

espaços próximos, mais vibrantes, com o controle de ruídos, e as áreas amplas para

os espaços longínquo, com possibilidade de ruídos devido a facilidade de dispersão

do mesmo. (No caso, o Parque e as praças, e o entorno do córrego ainda não

canalizado) .

A vegetação deve ser utilizada sempre que possível como área de absorção.

Intercalando suas dimensões e densidades para a definição desses espaços

informativos, ocorrendo o mesmo em relação à iluminação natural.

Necessário também o cuidado com a desproteção das fachadas

perpendiculares as vias, assim sempre que possível às paredes-cegas devem estar

direcionadas para as vias mais poluídas acusticamente. No entanto, quando isso

não ocorre, deve-se providenciar a instalação de vidros duplos, já que este material

está associado às condições de climatização artificial interna.

Outra medida importante é o controle do fluxo de tráfegos nas avenidas, seja

pela criação de rotas alternativas, ou pelo controle da velocidade de transito, ou

restrição de veículos pesados, numa tentativa de amenizar a zona de ruídos.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

164

CAPITULO 4: PROPOSTAS DE PROJETO

A área de estudo foi analisada de acordo com a sua fragmentação em

quatro setores: central, sul, sudoeste e noroeste. Cada setor foi diagnosticado

através das analises funcionais, topoceptivas e bioclimáticas, resultando em

diretrizes, que juntamente com as premissas do projeto urbano, são o

embasamento teórico para a elaboração de um conjunto de propostas de

intervenções no local.

O objetivo principal na elaboração das propostas baseia-se na indicação de

direções e caminhos para a requalificação do espaço, através da articulação

entre as estratégias do projeto urbano juntamente com a fundamentação teórica

analisada e as diretrizes indicadas neste trabalho.

Segundo as teorias do projeto urbano, suas estratégias devem ser

organizadas em matrizes urbanas complementares, que se sobrepõem e abrem à

possibilidade de desenhos múltiplos dentro de suas várias combinações possíveis,

por meio de uma nova dinâmica urbana, mais flexível às demandas e aos

programas múltiplos a cidade contemporânea. (LEITE, s/d).

Para esse estudo foram propostas 7 matrizes: contexto, funções urbanas, uso

e ocupação, infra-estrutura, fluxos, eixo verde e estrutura interna. Sendo que cada

item propõe um conjunto de propostas e/ou diretrizes para toda a área em estudo.

Os resultados obtidos levaram a estruturação do projeto em uma zona de

intervenção direta e uma zona de intervenção indireta. A zona de intervenção

indireta possui um caráter único e global na área e as propostas foram elaboradas

para o uso em toda área, incluindo a zona de intervenção direta.

A zona de intervenção direta foi separada em vários núcleos reestruturadores

com a finalidade de elaborar propostas especificas para cada núcleo,

aumentando a escala de interferência, na tentativa da aproximação ao máximo

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

165

das necessidades de cada espaço e assim, proporcionando uma intervenção

sólida e eficaz.

FIGURA 147– MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS ZONAS DE INTERVENÇÕES FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELA AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

166

4. 1 – ZONA DE INTERVENÇÃO INDIRETA

1. CONTEXTO

Essa matriz possui a função de criar um diálogo critico com a cidade, na

intenção de estabelecer as áreas com maiores potenciais, apontando em direção

ao um caráter sistêmico, articulado a organização físico-espacial. (MEYER, 2001).

O seu papel é elaborar um planejamento estratégico para a ordenação do

território visando um crescimento equilibrado, através da dinamização dessas áreas

decadentes, como um centro irradiador do desenvolvimento.

A proposta neste item é inserir espaços que promovam a vida coletiva,

resgatando a idéia de um lugar natural de manifestações, através de um projeto

com clara legibilidade, tornando-se um espaço de referência e um espaço

acessível a todos. (MEYER, 2001).

De acordo com as diretrizes estruturadas nas análises, a área em estudo

demonstra a desconectividade entre os setores, seja pela situação

socioeconômico, infra-estrutura, equipamentos urbanos, tipologias das edificações,

entre outros. Sendo assim, torna-se necessário criar um e/ou vários elementos

capazes de promover o encontro, a troca de informações, o conhecimento e o

contato direto entre as pessoas, funcionando como integradores tanto para o lazer,

como para os negócios.

Segundo Solá-Morales (2001) e Ascher (2001), os espaços públicos são áreas

capazes de promover uma qualidade sensorial global, principalmente quando

ocorre a articulação entre espaço público e privado como um único espaço, na

defesa do híbrido, do mesclado, do coletivo. Sendo assim, esses espaços torna-se a

âncora desse projeto urbano, através da elaboração de um conjunto de

intervenção pontuais, cujo intuito é de consolidar o existente, além de criação de

novos espaços coletivos.

A escolha desses espaços surge com o cruzamento entre as diretrizes de

cada análise urbana realizada neste estudo, sendo que, foram priorizados os

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

167

espaços capazes de se fortalecem em conjunto e em sinergia, como grandes áreas

potenciais de desenvolvimento, no intuito de atender não somente a área de

estudo, mas a cidade como um todo.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

168

FIGURA 148– ESPAÇOS PÚBLICOS DETERMINADOS PARA INTERNENÇÃO FONTE: AUTORA

2.FUNÇÕES URBANAS

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

169

A reordenação das funções urbanas são estratégias para potencializar o uso

dos espaços já implantado, no intuito de evitar a continua dispersão da população

para periferias distantes devido ao processo de descentralização e deterioração,

como também de identificar novas áreas capazes de promover a integração entre

as atividades e sociabilização entre a população.

Devido ao caráter histórico da área em estudo, as atividades propostas

também pretendem estabelecer espaços capazes de fortalecer o papel de pólo

cultural, lugar único da história, sem abrir mão de suas potencialidades enquanto

espaço terciário, mas afastando a idéia de “museificação” nestes lugares. (MEYER,

2001).

Sendo assim, os espaços foram qualificados em relação à dinâmica urbana

que já exercem e fragmentados de acordo com a função que pretendem exercer

dentro da área de estudo.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

170

FIGURA 150– FRAGMENTAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO PARA ELABORAÇÃO DE PROPOSTAS FONTE: AUTORA

a) Áreas ocupadas consolidadas: caracterizam-se pela estabilidade da sua

forma e tipologia urbanas, em termos de ocupação e utilização do solo,

edificação e das suas funções.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

171

Essas áreas não sofrerão qualquer tipo de alteração ou intervenção

relacionadas ao uso de atividades, sendo que, poderão modificações,

estimuladas pela própria transformação da área após a finalização deste

projeto. Sendo assim, neste item permanecem os usos já existentes, sejam

eles: residenciais, comerciais, serviços, industriais, lazer e/ou entreterimento.

b) Áreas ocupadas a consolidar: caracterizam-se pela necessidade de

intervenções urbanísticas para melhorar os espaços e equipamentos de

utilização coletiva e o funcionamento da dinâmica urbana proposta.

Nessa área as estruturas físicas serão consolidadas, sendo que as tipologias

das edificações não serão modificadas, todavia seus usos serão redefinidos

e seus espaços poderão sofrer intervenções, ampliações, reformas e

demolições. Os casos específicos são:

- Unidade Básica de Saúde –UBS – A permanência desse equipamento é justificada

pela necessidade de sua instalação no local, pois é o único equipamento

relacionado ao setor da saúde na região central e atende não apenas a

população local, mas de toda a região. Portanto é proposta a sua reforma e

adequação a demanda existente, com possíveis ampliações verticais.

- Terminal Rodoviário – O Terminal Rodoviário permanece no local, devido à

demanda de ônibus intermunicipais serem significativas em relação aos

interestaduais, já que foi verificado que existente um número elevado de pessoas

que residem em cidades vizinhas e trabalham na cidade de Ribeirão Preto. Sendo

assim, a localização central do Terminal, torna-se essencial para essa

população,facilitando o acesso a qualquer outro ponto da cidade.

- Mercado Municipal- Esse edifício permanece com seu uso, mas sofrerá uma

reforma e remodelação de seus boxes comerciais.

- Espaço da cidadania; O espaço da cidadania é uma entidade não

governamental que auxilia e ajuda jovens carentes. Os edifícios ocupados são

históricos e portanto é proposto a restauração e adaptação para melhor atender

essa atividade.

- Avenida Jerônimo Gonçalves; Toda a extensão da avenida sofrerá uma

requalificação urbanística, desde da remodelação de seus passeios por pisos de

concreto intertravado, como também o uso de uma pavimentação

semipermeável, denominado de piso ecológico.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

172

- Anexo Fábrica Antártica – Neste espaço já funciona o Núcleo de Cinema da

cidade, administrado por uma entidade não governamental, a São Paulo Film

Comission cuja matriz encontra-se na cidade de São Paulo, desde de setembro de

2004, em uma acordo estabelecido pela Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto e a

Antártica.

As instalações estão precárias, sendo que, apenas uma pequena parte do

complexo foi reformada para a instalação do setor administrativo do Núcleo.

Portanto a idéia é restaurar os edifícios já existentes e adaptá-lo para a instalação

de uma estrutura física adequada para a realização das oficinas, como também a

criação de cenários para filmagens e aprendizado. Essas oficinas serão desde aulas

de fotografia, como sonoplastia, áudio-visual, direção de filmes, roteirista,

cenografia, arquitetura. Nos estúdios funcionaram gravações de curta-metragem,

clips de musicas, programas de TV e radio, ensaios fotográficos, entre outros.

Propõe-se também a parceria com escolas de ensino superior, sendo sugerido

inicialmente o Instituto de Áudio Visual da ECA, da Universidade de São Paulo, para

a reestruturação de alguns edifícios em salas de aulas para o ensino prático aos

seus alunos, além de promover oficinas para a população, na intenção de

promover a integração entre os usuários e profissionais.

- Incentivo fiscal para a instalação de serviços como bares e restaurantes em

prédios com caráter histórico, com a reutilização dessas estruturas urbanas,

promovendo a reativação do patrimônio existente [edifícios históricos que

permanecem como testemunhos da memória desse território), além de que, essas

atividades proporcionam o acesso da população nessas edificações, ao contrario

do que aconteceria caso tornam-se residências particulares.

No entanto, as novas atividades não devem transfigurar as edificações, e devem

manter as características originais da composição que essas estruturas promovem

na paisagem urbana local, objetivando a preservação da identidade e memória

da cidade. (SACARLATO, 1995)

c) Áreas ocupadas a reconverter: caracterizam-se pela sua elevada obsolência

funcional, econômica ou estrutural, podendo por isso substituir o seu uso

dominante por outro mais adequado à qualificação urbanística e ao

dinamismo econômico da área; podendo-se chegar a demolição da

edificação ou de parte dela.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

173

Nessa área as estruturas físicas serão reconvertidas, através de intervenções,

ampliações, reformas e demolições, assim como modificação de usos e

atividades existentes. Os casos específicos são:

- Fabrica da Antarctica - Neste local é proposta a instalação de um anexo do

complexo do SESC (Serviço Social do Comércio).

“O SESC é uma instituição de caráter privado, no entanto sem fins

lucrativos e de âmbito nacional. Criado pelo empresariado do

comercio e serviços, que o mantem e administra, tem por finalidade

a promoção do bem estar social, do desenvolvimento cultural e da

melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores desses setores, de

suas famílias e comunidades em geral [...]. Sua missão permanente é

de inserir e integras as pessoas e grupos de diferentes idades e

estratos sociais ao universo cultural, entendido de forma ampla, isto

é, relacionado as expressões de arte, expressão corporal e esportiva,

turismo, educação ambiental, entre outros.”

(http://www.sescsp.org.br- Acessado em novembro/2006).

Essa proposta foi estruturada devido a fatores como: a proximidade do local com a

área em estudo, o vinculo da instituição com os setores estabelecidos na área

(comércio), como também a necessidade e desejo dessa instituição em ampliar

suas instalações na cidade.

Hoje, a instituição encontra-se com suas instalações limitadas e saturadas, no

conjunto construído na Av. Francisco Junqueira,a cinco quadras da Avenida

Jerônimo Gonçalves. A idéia é promover um espaço que funcione como um anexo

do complexo existente, mas que promova as atividades relacionadas ao setor

cultural, oferecendo uma grade de eventos para as oficinas, exposições,

apresentações teatrais, biblioteca, entre outros.

- Hotel Brasil; neste espaço é proposto à instalação do Museu de Imagem e Som de

Ribeirão Preto, que funcionará como uma atividade complementar ao Núcleo de

Cinema de Ribeirão Preto, no sentido de expor os trabalhos iconográficos

produzidos no espaço. O prédio devera atender a exposições e instalações, como

também salas de aulas para a estruturação de oficinas a população sobre a

valorização do patrimônio cultural. Também deverá ser adequado ao

funcionamento de serviços como cafeteria, livraria e/ou restaurante no piso

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

174

superior, sendo este escolhido de acordo com a procura de empresas privadas e

através de incentivos fiscais.

- Centro Popular de Compras; Neste edifício é proposta a permanência do uso,

sendo que, algumas alvenarias deveram ser demolidas e reestruturadas, com o

objetivo de abrir o espaço interno para via de pedestres, transformando-se em uma

galeria comercial aberta.

- Casarão nº250; O casarão será restaurado segundo as normas do IPHAN e

adaptado para a instalação de um restaurante, também licitado por empresas

privadas. Esse restaurante funcionará como um atrativo junto ao complexo de

torres, que em conjunto serão parte do parque linear também proposto na área.

- Avenida Caramuru; Essa avenida sofrerá modificações com a sua transformação

em uma via de sentido único (direção norte-sul). O canteiro central será retirado e

substituído por 3 faixas de vias, sendo que, essa área verde será transferida junto ao

passeio e ao calçadão proposto.

- Parque Maurílio Biagi; No parque é proposta a sua modificação tanto física como

também dos seus equipamentos. O parque será voltado para atividades culturais,

como shows, apresentações teatrais, danças, musicas, entre outros, através da

construção de um teatro de arena, auditório, escola profissionalizante, tendas para

shows e feiras itinerantes, no entanto preserva-se o edifício da Câmara Municipal, o

Parque das Esculturas e redesenham-se as pistas de caminhada e ciclovias.

- Torres de Serviços, Comércio e Habitação; Essas torres são propostas no intuito de

criar um novo pólo atrativo à área de estudo, além de relocar a população retirada

das áreas desapropriadas. A área de sua implantação foi escolhida devido a sua

localização entre duas áreas de espaços públicos, sendo assim, capaz de promover

o espaço coletivo (público e privado), através da liberação do térreo como uma

extensão do parque linear.

As torres são propostas no sentido de promover atividades para diversas classes

sociais, na intenção de criar a “cidade para todos”, sendo desenvolvido

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

175

juntamente com as torres de serviços, lâminas habitacionais de densidade média e

grande altura, através de volumes variados.

d) Vazios urbanos programados: caracterizam-se pela criação de espaços

considerados prioritários para a realização de obras de urbanização e

edificação, tendo em conta as necessidades de espaço construído para a

instalação das diversas funções urbanas.

Os vazios urbanos programados devem receber atividades atrativas e

- Entorno do Córrego Ribeirão Preto; A instalação do Parque Linear, cuja função é

proporcionar um espaço de lazer esportivo para a população, com uma área de

preservação em uma faixa de 30 metros nas margens do córrego, com o intuito da

recuperação da mata ciliar, a despoluição do córrego e a conservação do

ecossistema.

e) Vazios urbanos não-programados: constituem os lotes vagos da área em

questão, para expansão urbana, só devendo ser urbanizados e edificados

quando as necessidades habitacionais assim o exigirem.

Essas áreas serão destinadas à habitação e ao comércio nos casos em que houver

carência resultante da oferta insuficiente, ou inadequada, para satisfazer a procura

existente ou prevista.

Esses lotes vagos deverão ser cercados por grades ou alambrados (elementos

vazados), capinados e limpos. Sendo de responsabilidade do proprietário o

cumprimento desse item.

3. USO E OCUPAÇÃO

Essa matriz estabelece a diversificação e diferenciação das atividades, com

o uso da multifuncionalidade (negócios, comércio, habitação em diversas classes

sociais e equipamentos de recreação e lazer), já que a homogeneidade produz

espaços indistintos e pouco vitais. (ASCHER, 2001).

O uso e ocupação do solo deverão ser estruturados em face da existência

de uma forte concentração de um patrimônio histórico nesta área de estudo, e

portanto é proposto e elaboração de um conjunto de normas urbanísticas para o

controle do adensamento de edificações.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

176

4. INFRA-ESTRUTURAS

A remodelação das infra-estruturas existentes, como rede de água e esgoto,

energia elétrica, telefonia, coleta de lixo, entre outros, com o objetivo de atender

de maneira mais eficaz a área em estudo.

A utilização do projeto de Macrodrenagem, desenvolvido pela prefeitura

Municipal de Ribeirão Preto, com a construção das barragens de contenção, uma

represa no Parque Urbano Maurílio Biagi, o alargamento do córrego no Ribeirão

Preto, na área não canalizada e a construção de uma “curva” no deságüe do

córrego Ribeirão Preto no Córrego Retiro Saudoso.

Também é proposta a utilização de pisos semipermeáveis nas vias da

Avenida Jerônimo Gonçalves como também nos quarteirões de entorno, na

tentativa de amenizar o impacto causado pelas águas pluviais, causados pela

impermeabilização do solo.

5. FLUXOS

É proposta a reordenação dos fluxos, através da combinação dos projetos

de sistema de transportes: viário, de pedestres e coletivos, que resultem na

otimização do sistema, através da articulação entre os terminais, pontos e

circulação existentes do transporte público, como um ponto estratégico, já que são

“lugares comuns de referência, pela freqüência e volume do seu uso, ou pela

variedade do seu publico e pelo peso psicológico que adquirem como significantes

de vida.” (SOLÀ-MORALES, 2001).

A organização e administração desses fluxos são meios de criar condições

favoráveis para que a área central torne um espaço privilegiado para o usuário

desse sistema e para o pedestre.

Nesse sentido, propõe a adaptação da continuidade do tecido urbano,

permitindo a existência de uma articulação urbana entre a rede de fluxos contínua

do território (cidade) com suas bordas existentes e pré-configuradas.

6. PAISAGEM AMBIENTAL

Surgimento do eixo verde, ao longo de todo o território, cuja imagem final

constitua um gradiente verde que varie de densidade do corpo florestal central,

para a sua diluição nos territórios urbanizados. Articulado ao parque linear, um

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

177

conjunto de áreas em pontos que se apropriam dos vazios mais significativos e

articula-se aos equipamentos já existentes na área.

E a inserção do elemento da água, especialmente, como potente

catalisador através do aproveitamento de suas conotações simbólicas e

possibilidades lúdicas (LEITE, s/d). Uso de linhas, faixas e grandes espelhos d’água

para a captação das águas pluviais, contenção do fluxo de águas fluviais e

represas/lagos.

7. ESTRUTURA INTERNA

A estrutura interna será realizada através da criação de percursos

alternativos, promovendo a integração entre os espaços desconectados. A idéia é

reutilizar os espaços existentes, com a criação de novos lugares de permanência,

instigando a passagem do pedestre por eles, através de equipamentos,atividades e

estruturas atrativas.

Para isso foram elaborados quatro percursos: Circuito Cultural, Circuito de

Lazer, Circuito de Compras e Circuito Gastronômico. Esses circuitos se sobrepõem

uns aos outros, criando caminhos múltiplos entre esses espaços renovados,

proporcionando ao pedestre inúmeras opções de passeio seja qual for seu objetivo

na área.

Os circuitos foram formados seguindo um modelo de teia urbana, no qual se

estabelece diversos pontos de apoio, neste caso, os espaços públicos existentes,

ligando-os em caminhos entre si. Esse modelo permite explorar a diversificação e

gerar uma fluidez de percursos variados que promovam a ocupação e a

circulação no espaço urbano, somando-se variadas atividades de forma ordenada,

criando área de interesse e curiosidade aos moradores e visitantes locais,

respeitando o caráter simbólico da área e o seu papel como elemento estruturador

da área de estudo, valorizando as atividades comunitárias e a integração social.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

178

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

179

FIGURA 149 – ORGANOGRAMA DOS CIRCUITOS ALTERNATIVOS FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELO AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

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FIGURA 150– PERCUSOS DOS CIRCUITOS ALTERNATIVOS FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELO AUTORA

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4.2 – ZONA DE INTERVENÇÂO DIRETA

FIGURA 151– MAPA DA LOCALIZAÇÃO DOS NÚCLEOS REESTRUTURADORES FONTE: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO PMRP – ORGANIZADO PELO AUTORA

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

183

NUCLEO 1 – REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA JERÕNIMO GONCALVES

No núcleo 1 é proposto a requalfiicação urbana de toda a extensão da

Avenida Jerônimo Gonçalves, através da implantação de um passeio e uma

ciclovia, seguidas de faixas de áreas verdes e mobiliário urbano (bancos, postes,

placas, entre outros) no canteiro central, às margens do Córrego Ribeirão Preto,

que possibilitem ao pedestre o uso constante desse espaço, não só como

passagem, mas também como lazer.

Nos passeios paralelos são propostas a inserção do elemento verde, com a

vegetação rasteira e arbustos de médio porte, no entanto de espécies que não

interfira na paisagem visual proporcionada pela palmeiras imperiais.

Nas edificações paralelas a avenida, é posposto a pintura, limpeza e retirada

dos “banners” de “propaganda” das fachadas e criação de restrições com multas,

caso o proprietário não realize ou desobedeça as normas

O canal aberto do córrego Ribeirão Preto deverá ser recuperado, com a sua

limpeza e despoluição.

Outra medida importante na neste núcleo, é a elaboração de plano de

controle da taxa de uso e ocupação do solo e criação de restrições que proíbam

ampliações nas áreas mais problemáticas.

Entre o complexo da Antártica e o seu anexo, é proposto à criação de um

percurso alternativo, com a implantação de passarelas sobre o córrego que instigue

a curiosidade do pedestre, direcionando os sentidos desses caminhos alternativos.

Essas passarelas serão de vigas metálicas e o piso em uma grade quadriculada,

assim como o guarda-corpo em vidro, que possibilitem a visão do córrego e que

também não interfiram na área permeável do espaço.

No complexo da Fabrica da Antártica é proposto um Centro Cultural, sob a

supervisão do SESC, e nele funcionarão atividades ligadas a literatura, dança,

teatro, escultura e artesanato, com a instalação de salas de aulas, como também

de um espaço de produção para trabalhos práticos. Nesse espaço ainda é

proposto a instalação de um restaurantes e lanchonetes, galerias comerciais e uma

unidade da biblioteca.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

184

No Centro Cultural, ainda é proposto um canal artificial em forma de Y, de

acordo com o Projeto de Macrodrenagem da cidade, na tentativa de amenizar o

impacto provocado pelo encontro em T dos córregos Ribeirão Preto e Retiro

Saudoso. Nele será criado um pequeno reservatório, com a implantação de um

deck margeando-o e criando passarelas de acesso sobre o canal.

Vale destacar que todo o seu muro será retirado, abrindo totalmente esse

espaço para a população, sendo fechados apenas as edificações, sendo alguns

espaços reconectados à cidade, na forma de áreas verdes e praças.

O anexo da Fabrica da Antártica, onde já funciona o Núcleo de Cinema,

será reestruturado, a fim de atender com condições adequadas essa

atividade.Nesse espaço é proposto a restauração da prédio e adaptação as

instalações de estúdios, salas de aulas, oficinas, restaurante e/ou lanchonete, além

de uma sala de cinema popular.

O cinema popular deve ser uma parceria entre a organização não-

governamental e a prefeitura municipal e deverá exibir filmes alternativos e

produzidos no próprio local, sendo também utilizado na realização de festivais

nacionais e internacionais que ocorrem na cidade.

Foram criados 3 novos acessos, além dos 2 já existentes, que permaneceram

abertos para a população. No pátio interno também é proposta a instalação de

telões nas próprias paredes dos edifícios, para a exibição constante de filmes

diversificados e uma praça interna seca, com pequenas aberturas no piso para o

plantio de vegetações de pequeno a médio porte, além de bancos e mesas

formando uma área de alimentação.

No antigo Hotel Brasil, é proposto a permanência do Museu de Imagem e

Som, que hoje se encontra sem um local definido e apropriado para suas

instalações. Esse equipamento funcionará como apoio para a realização de

exposições produzidas nesse setor na cidade, como também para as atividades

realizadas tanto no Centro Cultural e no Núcleo de Cinema.

Também é proposto a requalificação das praças com a intenção de reforçar

esses pontos focais, transformando-as não só em locais de passagens, mais em

áreas que promovam o encontro, principalmente com a remodelação do

Mobiliário Urbano tanto nesses espaços como nas vias de circulação, com a

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

185

criação de um “design” singular e adequado e que possa criar uma identidade ao

local.

NUCLEO 2 - REMODELAÇÃO DO TERMINAL RODOVIÁRIO E ENTORNO

Neste núcleo é proposto a reeestruturação arquitetônica do edifício do

Terminal Rodoviário. A idéia é transformar o térreo em uma área de passagem livre,

ou seja, o permanece apenas os pilares, e assim, esse espaço tornam-se um

prolongamento da Praça Schimidt e do Parque Maurílio Biagi, criando uma

conexão entre esses equipamentos.Nesse espaço será criado uma praça coberta,

que funcionará tanto como descanso, como para lazer. O edifício ainda recebe

aberturas zenitais, para iluminação e ventilação de área verdes inseridas dentro da

edificação.

Também é criado um estacionamento publico e outro privado, o primeiro

para atender a demanda de embarque e desembarque do Terminal Rodoviário, e

o segundo para atender os equipamentos do entorno.

O estacionamento privado é proposto em uma estrutura paralela a praça,

sendo em sua maior parte coberto por uma armação metálica, esta que, no parte

superior torna-se o acesso aos ônibus, e o embaruqe/desembarque de passageiros.

Ocorre a transferência dos acessos aos automóveis, os veículos permanecem

com o acesso pela Avenida, no entanto os ônibus,são modificados para a via

paralela a Jerônimo Gonçalves, a rua XXXXXX, que possui acesso direto a Avenida

do Café. Essa transferência deve-se ao fato diagnosticado nas análises, em relação

ao “stress” e enfraquecimento das raízes, provocados nas palmeiras imperiais com a

passagem constante desses veículos.

Já os acessos aos veículos serão remodelados, no intuito de descongestionar

a entrada atual do T. Rodoviário, que em finais de semana e horários de picos,

transforma-se em um aglomerado de veículos e pessoas, dificultando o fluxo na

Avenida, como também causando a irritação nos usuários. Vale a destacar a

separação entre o acesso de veículos que iram apenas embarcar/desembarcar

passageiros, daqueles que irão estacionar e permanecer no espaço.

Esse novo acesso agora se torna exclusivo ao ônibus e provoca o

alargamento da via em mais 3,50 metros e a criação de um passeio projetado

sobre uma área verde proposta no piso do estacionamento privado. Neste local

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

186

haverá a plantio de palmeiras que farão menção as palmeiras imperiais, sendo que

essa proposta deve-se ao fato de não perder a visão do qual se tem na avenida

Jerônimo Gonçalves, na entrada à cidade.

O edifício do Terminal Rodoviário ainda recebe um mezanino, que se

prolonga em direção parque. Essa estrutura será utilizada para a criação de uma

área exclusiva de guichês na parte coberta do T. Rodoviário, além de dar o acesso

através de uma rampa e de elevadores para deficientes físicos, á área de

embarque/desembarque de passegeiros.

Já na área projetada sobre o parque funcionará, no piso superior, um área

de espera, como também o acesso ao pedestre na Avenida do Café, através de

um conjunto de rampas. E no piso térreo, uma serie de lanchonetes que farão

conjunto com outras localizados abaixo do Elevado proposto, transformando-se em

uma área de alimentação tanto para o Terminal Rodoviário como também para o

parque Maurílio Biagi.

Essas lanchonetes possuem posição central nessa estrutura, sendo estruturas

abertas, apenas com a presença de um balcão, já que a idéia é que elas

funcionem 24 horas do dia, no intuito de promover a permanência de pessoas neste

espaço.

Essa estrutura do mezanino, propõe inserir ao local o efeito mirante e o efeito

de envolvimento, além de promover o acesso direto entre no sentido leste/oeste,

como também de integrar o parque Maurílio Biagi, o Terminal Rodoviário e o

espaço da cidadania.

Outro equipamento proposto é a construção de um auditório para XXX

pessoas. Neste espaço além da área de palco e cadeiras, ainda possui uma área

para apoio, como camarins, sanitários e depósitos. O auditório é um componente

do conjunto de equipamentos culturais proposto na área de estudo, e funciona

como complemento as atividades realizadas no Centro Cultural, no Parque Maurílio

Biagi, no Núcleo de Cinema, entre outros.

Aqui, vale destacar o elemento estrutural criado, que possibilita a passagem

de pessoas em cima do auditório, transformando a cobertura em também um

acesso direto a Avenida Jerônimo Gonçalves, dissolvendo a barreira provocada

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

187

pela topografia existente entre a parte elevada da área e a avenida Jerônimo

Gonçalves.

No Mercado Municipal é proposta a reforma e a redefinição dos boxes no

sentido de promover no interior do edifício um acesso facilitado nos sentidos

ortogonais (norte/sul e leste/oeste), já que esses sentidos promovem um circuito

alternativo para a população.

O Centro Popular de Comprar, sofrerá reformas e a demolição de algumas

alvenarias, no intuito de transformá-la em uma galeria comercial aberta. Neste

caso, cria-se uma relação direta entre vendedor e o comprador, além de melhorar

o conforto ambiental (iluminação e ventilação), através dessas aberturas.

Nos quarteirões a seguir forma-se um circuito através de um calçadão com

áreas verdes e quiosques. Sendo esses, um caminho em direção a uma estrutura

proposta para a realização de feiras itinerantes. Pretende-se que as edificações ao

longo desse calçadão tenham os usos comerciais, especialmente de bares e

restaurantes, potencializado garantindo e promovendo a utilização do espaço

público no período diurno e noturno

NUCLEO 3 – REESTRUTURAÇÃO VIÁRIA

Nesse núcleo ocorre a reestruturação do sistema viário, com a inserção de

um elemento de transposição, através de um acesso rápido e facilitado, entre o

setor oeste e o setor central, com a ligação da Avenida do Café e a Rua Lafaiete.

A idéia é reformular o espaço, conectando esse equipamento ao seu entorno.

Esse elemento de transposição será um elevado, do qual inicia-se no

cruzamento com a avenida do café, ate a transposição do córrego Ribeirão Preto.

As rampas de acesso pelo centro, estarão localizadas no quarteirão circundado

pelas Ruas Lafaiete Prudente de Morais e Saldanha Marinho.

O elevado será estruturado em cabos de aços e em quatro pilões de apoio.

A escolha desse tipo de estrutura deve-se a dimensão dos vãos que ela oferece. A

inexistência de inúmeros pilares de apoio, promovem a sensação de leveza na

estrutura como também cria um acesso por meio do relevo, fazendo com o publico

desfrute visualmente de todas as atividades desenvolvidas na área. Vele destacar

que os dois pilões propostos na avenida Jerônimo Gonçalves, possuem a mesma

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

188

posição que as palmeiras imperiais, pois o intuito foi continuar com linearidade

promovida pela visão que elas proporcionam.

No nível do solo, a baixo do elevado é proposto uma área de circulação

para pedestres, e aproveita-se a estrutura para locar equipamentos

complementares como sanitários e lanchonetes.

Portanto, todo o complexo implantando (marquise, elevado, rampas)

buscam nesse núcleo, a intenção de fundir o construído e o natural numa

composição onde essa diferenciação perde a importância em favor de uma nova

forma da paisagem integrada a arquitetura e ao meio urbano.

NUCLEO 4 – RENOVAÇÃO DO PARQUE MAURILIO BIAGI

O parque Maurílio Biagi, deve passar por uma transformação tanto física

como em suas atividades. Com a construção do Parque Linear , ao lado desse

núcleo, o parque agora será dedicado a realização de eventos culturais,

promovendo uma referencia e um caráter único para ele na cidade.

A idéia foi inserir diversos equipamentos que funcionassem como

complementares as apresentações culturais desenvolvidas em toda cidade, mas

principalmente as produzidas no Centro Cultural, Núcleo de Cinema, Hotel Brasil,

entre outros.

Essas atividades ligadas ao teatro, dança, escultura, artesanato, musica

poderão ser apresentadas diariamente, através de um plano de atividades, que

estabeleça, eventos como por exemplo: Domingo com musica no parque, festival

de blues, quinta-feira de dança, além de ser um espaço para qualquer tipo de

shows e apresentações.

A idéia de implantação do programa seguiu o conceito de criar vários

espaços de permanência em todo o parque, sendo que no centro deverá ser

implantado o equipamento mais representativo e em suas extremidades

equipamentos que promovam a circulação neles.

Portanto, propõe-se uma estrutura composta por um palco e uma

arquibancada, no centro do parque e ao lado de uma represa, para fortalecer

esse espaço com um equipamento marcante. Nessa represa, ainda é proposto um

deck sobre ela, como elemento de contemplação e descanso.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

189

Em uma extremidade é proposta uma área de descanso, onde é criado um

canal artificial, que fortalece o elemento água na paisagem, criando uma espécie

de lago artificial, do qual o usuário pode deitar-se e sentar-se envolta dele.

Na outra extremidade deverá ser uma escola profissionalizante, que se

adapta ao desnível do terreno, sendo que em sua cobertura é proposta uma faixa

de rampa, que dá o acesso do parque a avenida do Café,e o restante receberá

aberturas de iluminação e ventilação, além de seixos rolados para amenizar os raios

solares na laje. A idéia dessa escola, é criar cursos ligada a inclusão digital para a

população do entorno, cursos ligados a ecologia, para conscientização da

população quanto a importância da preservação do meio ambiente, além de

cursos ligados a hotelaria e serviços ligados a escritórios , a fim de produzir mão de

obra para as torres propostas no núcleo 6.

Outro equipamento importante, e que esta localizada as margens da

Avenida Jerônimo Gonçalves são as tendas tensionadas, que poderão ou não

permanecer montadas, para funcionarem como apoio a um evento de shows,

podendo funcionar desde shows simultâneos aos que aconteceriam no palco

principal, como a realização de feiras itinerantes, como também a realização

oficinas, sendo que, elas também podem ser usadas por escolas da cidade, para

eventos como gincanas, programas educacionais ambientais e urbanos.

Ao lado dessas estruturas é proposto um deck de madeira e um canal

artificial que recebe água do córrego Laureano, ambos, paralelos à avenida de

Jerônimo Gonçalves, que funciona tanto como área de descanso e contemplativa,

como uma mini-arquibancada para os eventos que acontecerem nas tendas. No

outro lado, será implantado bicas d’ água, inserindo novamente o elemento água,

agora de forma recreativa para o uso da população.

O edifício da Câmara permanece em outra extremidade, sendo que seu

estacionamento é redefinido e aumentando o número de vagas, devido a existente

de um auditório no edifício. E será criado uma área de quiosques próximo a represa,

que funcionará tanto como área de alimentação para os funcionários da Câmara,

como para os usuários do parque. Na outra extremidade também será criado outro

estacionamento para atender a demanda de usuários da escola profissionalizante.

É proposta uma faixa de preservação de 30 metros da margem do córrego,

no entanto diferentemente do que ocorrerá no Parque Linear, essa faixa permite a

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

190

implantação de equipamentos recreativos e de alimentação, no entanto nota-se a

preocupação de que sejam equipamentos de pequenos porte, cuja a intenção é

apenas revitalizar a área.

Em todo o parque é proposta a recuperação da vegetação, como também

do plantio de novas espécies. Um circuito de caminhadas e ciclovias, com

pequenas ilhas com equipamentos para alongamentos e ginástica, e também uma

passarela com mirante sobre a represa.

Também é proposta a recuperação da iluminação, com a instalação de

uma rede em suas margens, e internamente uma rede subterrânea, sendo que, nos

equipamentos propostos, como o palco, a represa, os “deck”, as bicas d’água, as

tendas tencionadas, a escola profissionalizante e outros, deverão receber uma

iluminação estratégica para destacá-los no interior do parque. Além de a

iluminação promover o controle do vandalismo, que juntamente com a construção

de um mini-posto policial, dentro do Parque, com ronda 24 horas, deverão garantir

a segurança de todos os usuários.

NUCLEO 5 – REESTRUTURAÇÃO VIÁRIA

Nesse núcleo é criada uma conexão entre as Avenidas Jerônimo Gonçalves

e Caramuru, rompendo a barreira física que as separa, proporcionando a ligação

direta entre delas. Para isso, foi proposta a construção uma rotatória, que

possibilidade a conexão entre elas, como também funciona como amenizadora de

velocidade dos veículos, já que ela é a entrada da cidade no sentido sul-norte.

No centro dessa rotatória é proposta a construção de um marco visual, que

também promova a identificação imediata do local, através do nome da cidade

e/ou avenida principal.

NUCLEO 6 – RECUPERAÇÃO DO CORREGO RIBEIRÃO PRETO E

IMPLANTAÇÃO DO PARQUE LINEAR.

Nesse núcleo é proposta a implantação de um parque linear as margens do

córrego Ribeirão Preto.Para isso, é proposta uma faixa de 30 metros de

preservação, sendo essa área exclusiva para a elaboração de um programa de

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

191

recuperação da área de fundo de vale, através da despoluição das águas,

controle de erosões e a recuperação da mata galeria.

Essa faixa de preservação será subdividida em quatro faixas: núcleo,

preservação, transição 1 e transição 2. O núcleo é uma faixa destinada à

recuperação e preservação do meio ambiente; a de faixa de preservação permite

a implantação de vias de acesso a pedestres, a de transição 1 é uma faixa

destinada as áreas para equipamentos esportivos, recreativos, lazer, educação e

apoio e a faixa de transição 2, será permitido áreas verdes e de lazer, com

edificações

O desenho urbano definido para o parque segue a lógica da criação de

circuitos alternativos, dos quais foram estabelecidos pontos de apoio, que nesse

caso, foram às esquinas dos quarteirões no entorno ao parque, devido ao seu

significado de ponto de chegada dos pedestres, além de serem pontos de

encontros, instigando a travessia pelo parque.

Na faixa de núcleo, é proposto o plantio de vegetação que esteja

adequada ao clima local, ser de espécie nativa da região, possuir porte adequado

ao espaço disponível, ter desenvolvimento rápido, não apresentar princípios tóxicos

acentuados com baixa toxidade, não apresentar principio alérgicos; o córrego

deverá receber uma aumento de callha em toda sua extensão, além de

alargamentos que funcionaram como uma sucessão de lagos que se abrem e se

fecham, aumentando assim a capacidade de armazenamento na área, e também

deverá receber um tratamento de despoluição com a limpeza de suas margens,

como também a criação de oficinas para população de conscientização

ambiental.

Na faixa de preservação será inserida uma pista de caminhada e ciclovia,

juntamente com pequenas ilhas com equipamentos de alongamentos e ginásticas

e a inserção de áreas de descanso com bancos, bebedouros, pérgulas entre

outros. Os espaços serão diferenciados através do desenho de piso, sendo sugerido

o concreto intertravado com variações de cores.

Esses equipamentos permitem promover a integração entre toda área de

estudo através das margens do córrego Ribeirão Preto, desde do inicio da Jerônimo

Gonçalves, passando pelo Parque Maurílio Biagi e por toda a extensão do Parque

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

192

Linear, além de melhora a segurança no transito, de ser um meio de transporte não

poluente e expandir os eixos de circulação entre as áreas vizinhas.

Já na faixa de transição 1, foi proposta a definição de áreas precisas para as

funções recreativas e esportivas, imaginando-as como seqüências desenhadas no

chão, através de faixas ortogonais, marcadas pela diferenciação de pisos. Esses

espaços foram implantados de acordo com o cruzamento entre os circuitos

alternativos, sendo que essas áreas foram localizadas em virtude de estabelecer

uma interação entre as duas margens do córrego, sendo essa interação

promovidas pelo acesso através das passarelas-deck, além de determinação de

usos distintos e diferenciados em cada área de implantação desses

equipamentos.Esses equipamentos esportivos poderão ser quadras poliesportivas,

quadras de petecas, pista de skate, parque infantil, pista de patinação, entre

outros, além de centros de convivência, centros educacionais, entre outros.

Foram propostas quatro passarelas-deck, que possuem uma dimensão

suficiente para a permanência de usuários, com a implantação de bancos e

mesas, para áreas de pesca alimentação, entre outros. A passarela será o elemento

agregador não apenas do espaço de parque, mas de todo o conjunto construído.

De acordo com normas da Secretaria do Meio Ambiente, do qual exige vias

de trânsito margeando o Parque Linear, foi indicada a implantação de uma via em

sentido norte-sul, que fará margem ao Parque, juntamente com a avenida

Caramuru,a gora transformada em uma via de sentido único. Essa proposta só foi

possível com a reconversão da faixa de edificações existente entre o parque e a

avenida Caramuru, em uma área de transição 2.

Em toda a extensão dessas avenidas, como também na avenida Jerônimo

Gonçalves é proposta a aplicação de técnicas de “Traffic Calming”. As medidas

adotadas priorizam o conceito de acessibilidade universal assim como a segurança

e o conforto dos pedestres em seus percursos e travessias, eliminando as barreiras

arquitetônicas e ambientais, e favorecendo a integração social.

Mesmo com os esforços em contrário a tendência é de intensificação do uso de

veículos. Isso torna fundamental que os espaços urbanos sejam planejados de

forma a amenizar seu impacto na qualidade de vida local.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

193

Esses dispositivos combinados tornam as ruas mais seguras e calmas, seu uso

é socializado entre os moradores e visitantes do local e evita-se o predomínio do

fluxo de veículos e das correntes de tráfego.

O veículo deixa de ter livre acesso e passa a ter seu acesso controlado e sua

velocidade inibida por sinais, texturas e cores de piso, placas indicativas, ponto de

ônibus, e balizadores de trafego. Assim, os pedestres são estimulados a circular e a

sentir que o espaço passou a priorizar o pedestre, e não mais o veiculo.

Também é proposta a elevação do nível das esquinas, nivelando calçadas e

vias (traffic calm), pontuando e protegendo-as com balizadores de trafego,

promovendo assim, uma maior integração entre os parques e o entorno,

favorecendo a acessibilidade de pedestres em geral, sem, no entanto, prejudicar o

entendimento da hierarquia das possibilidades de ocupação dos espaços coletivos.

A faixa de transição 2, será reconvertida em torres de serviços e residências,

sendo que, os edifícios encontram-se sobre pilotis, deixando o térreo com livre

acesso, como se fosse uma extensão do parque linear, para a implantação de

áreas verdes, praças, laminas d’água, áreas de alimentação e estacionamentos. Já

as partes térreas edificadas, serão dedicadas, as entradas de cada edifício e

pequenas áreas comerciais que funcionaram como atrativos para uso e geração

de presença no espaço.

Vale destacar que também é proposto subsolo de estacionamentos para

atender tanto a área residencial, como a áreas de serviços e comerciais, sendo que

poderão ser tanto públicos como privados.

Nas torres de atividades ligadas a prestações de serviços possuem conexões

aéreas entre elas, formando terraços e varandas, com a finalidade de criar

mirantes, devido a visão proporcionada pela topografia para o parque linear,

gerando uma circulação interna entre eles. Já as torres residenciais serão

implantadas terraços e varandas individuais em cada apartamento e/ou coletivas

em cada edifício.

É importante ressaltar, que devido ao fato dessas torres encontram-se dentro

de um parque linear, elas seguiram os princípios da arquitetura sustentável, com a

inserção do elemento verde em toda a sua fachada, além do reaproveitamento

de água e luz, uso de materiais ecologicamente viáveis, entre outros.

REQUALIFICAÇÃO URBANA EM RIBEIRÃO PRETO - SP

194

No parque também deverá ser implantados mini-postos policiais, localizados

estrategicamente próximos às entradas, como também no interior do parque, e

deverá possuir uma ronda 24 horas, para garantir a segurança e tranqüilidade dos

seus usuários.

A iluminação será destacada do entorno em sódio pela tonalidade branca

em todo seu contorno, formando um contorno do parque e na circulação de

pedestres que traçam retas marcadas por esta luz, sendo todas em postes de

iluminação com fiação subterrânea. No interior do parque será utilizada uma

iluminação mais intensa, com tons mais frios nas áreas dos equipamentos esportivos

e recreativos. O local se transforma numa cena harmônica e hierárquica, onde

existem espaços mais e menos luminosos, agregando e transmitindo segurança às

pessoas.

Esse complexo do parque linear, será transformado em grande espaço

coletivo, que funcionará como referência para a cidade e será um lugar privilegiado

para a pluralidade social. A área foi estruturada em eixos, circulações, usos e funções,,

através de uma parceria entre público e privado, do qual além de reurbaniza-la,

possui o objetivo de criar um novo pólo de negócios para a região central da

cidade, atraindo novas empresas, como também a volta da população ao centro.

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

DIRECIONAMENTO MUITO FORTE

01

CONEXÃO MÉDIO

ESTREITAMENTO LATERAL FORTE

ESTREITAMENTO LATERAL FORTE

02

REALCE FORTE

03

ALARGAMENTO MÉDIO

CONEXÃO

MÉDIO

04

CONEXÃO MÉDIO

ALARGAMENTO FORTE

05

REALCE MUITO FORTE

CONEXÃO MÉDIO

REALCE FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

06

REALCE MUITO FORTE

CONEXÃO MÉDIO

PREPARAÇÃO ESTREITAMENTO

MÉDIO

REALCE MUITO FORTE

07 REALCE

MUITO FORTE ESTREITAMENTO LATERAL

MÉDIO

08

PREPARAÇÃO ALARGAMENTO

MÉDIO

ESTREITAMENTO MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

AMPLIDÃO MUITO FORTE

09

ALARGAMENTO FORTE

EFEITO EM Y FORTE

EFEITO EM Y FORTE

10

AMPLIDÃO MUITO FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

ESTREITAMENTO MÉDIO

11

EFEITO EM Y MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

12

REALCE MUITO FORTE

13

ESTREITAMENTO MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

14

DIRECIONAMENTO FORTE

IMPEDIMENTO FORTE

15

ESTREITAMENTO FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

16

ALARGAMENTO FORTE

EFEITO EM Y MUITO FORTE

17

ESTREITAMENTO MUITO FORTE

18

CONEXÃO MÉDIO

IMPEDIMENTO FORTE

19

VISUAL FECHADA MUITO FORTE

DIRECIONAMENTO MÉDIO

20

EMOLDURAMENTO MUITO FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

21

REALCE MUITO FORTE

22

CONEXÃO MÉDIO

23

DIRECIONAMENTO MUITO FORTE

24

CONEXÃO FRACO

25

ALARGAMENTO LATERAL FRACO

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

26 ESTREITAMENTO

FRACO

27

CONEXÃO MÉDIO

28

CONEXÃO FRACO

29

ALARGAMENTO LATERAL FRACO

30

ESTREITAMENTO FRACO

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

31

CONEXÃO MÉDIO

32

ALARGAMENTO FORTE

ESTREITAMENTO FORTE

33

REALCE FORTE

34

VISUAL FECHADA FORTE

35

CONEXÃO MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

DIRECIONAMENTO FORTE

36

AMPLIDÃO MUITO FORTE

ALARGAMENTO FORTE

AMPLIDÃO MUITO FORTE

CONEXÃO MÉDIO

37

DIRECIONAMENTO MUITO FORTE

EFEITO EM Y FRACO

DIRECIONAMENTO MUITO FORTE

38

ESTREITAMENTO LATERAL MÉDIO

39

ALARGAMENTO LATERAL MÉDIO

40

CONEXÃO FRACO

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

41

CONEXÃO MÉDIO

ESTREITAMENTO FORTE

42

CONEXÃO MÉDIO

43

DIRECIONAMENTO FORTE

ALARGAMENTO FORTE

44

VISUAL FECHADA FORTE

ESTREITAMENTO FRACO

45 CONEXÃO

FORTE DIRECIONAMENTO

MUITO FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

ESTREITAMENTO FORTE

46

DIRECIONAMENTO FORTE

CONEXÃO MÉDIO

47

IMPEDIMENTO MÉDIO

CONEXÃO MÉDIO

48

ESTREITAMENTO LATERAL MÉDIO

49

ALARGAMENTO MÉDIO

CONEXÃO FORTE

50

EFEITO EM Y FORTE

AMPLIDÃO FORTE

AMPLIDÃO FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

REALCE FORTE

51

ESTREITA ENTO FORTE

REALCE FRACO

52

ALARGAMENTO FORTE

EFEITO EM Y FORTE

53

EFEITO EM Y MÉDIO

54

ESTREITAMENTO FORTE

55

DIRECIONAMENTO MÉDIO

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

56

CONEXÃO MÉDIO

ALARGAMENTO MÉDIO

57

CONEXÃO MÉDIO

ESTREITAMENTO FORTE

58

ESTREITAMENTO LATERAL FORTE

IMPEDIMENTO FORTE

59

CONEXÃO MÉDIO

60 ALARGAMENTO

MÉDIO CONEXÃO

MÉDIO ALARGAMENTO

FORTE

CAMPOS VISUAIS ESTAÇÃO

LATERAL ESQUERDO FRONTAL LATERAL DIREITO

61

CONEXÃO MÉDIO

62

MIRANTE FRACO

63

IMPEDIMENTO FORTE

64

REALCE FORTE

CONEXÃO MÉDIO

DIRECIONAMENTO FORTE

65

VISUAL FECHADA FRACO