reprovações

Gregório de Matos

Reprovações

Satirus

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Copyright © 2015 by Maria Isabel da Silva (nº USP 7245117)

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Preparação

Maria Isabel da Silva

Revisão

Danilo C. Gusmão

Capa e diagramação

Estúdio Galactica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Matos, Gregório de, 1636-1696. Reprovações / Gregório de Matos. — São Paulo: Satirus Editorial, 2015.

1. Poesia brasileira i. Silva, Maria Isabel. ii. Título.

15-0001 cdd-869.91

Índice para catálogo sistemático:1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

Satirus EditorialRua dos Alfeneiros, 4Little Whinging,Surrey.


SumárioPrefácio..........................................................................5

Reprovações..................................................................7

Bibliografia..................................................................15


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GreGório de Matos Guerra, também conhecido pela alcunha de Boca do inferno, nasceu em 1636, na cidade de Salvador. Sua obra versa sobre o tipo local, no caso o homem colonial do século XVII, da capital do Brasil. Possui grande influência dos escritores espanhóis da Época de Ouro, como Góngora e Quevedo, e é considerado o poeta mais importante da literatura barroca de língua portuguesa. Sua obra é composta por poesia lírica, sacra, erótica e satírica, esta última é a pela qual possui mais reconhecimento.

Em seu sumário, a edição de Poemas escolhidos de Gregório de Matos, da Cia. das Letras, classificou o poema “Reprovações” como poesia de circunstância satírica, ou seja, é uma sátira da realidade. A partir de contrários, característica principal do Barroco, Gregório de Matos constrói o poema desta edição, criando uma sátira da visão da sociedade baiana, que, de maneira superficial e hipócrtia, julgava a tudo e a todos que a habitavam.

Prefácio


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Nesta edição, priorizou-se em explicar o vocabulário do poema, por meio de notas de rodapé, para, assim, facilitar a leitura e compreensão do poema para um leitor atual. A versão utilizada foi a que consta no livro de Segismundo Spina, A poesia de Gregório de Matos, publicado pela Edusp, em 1995.


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Reprovações


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Se sois homem valeroso,Dizem que sois temerário,Se valente, espadachim1,E atrevido, se esforçado.

Se resoluto, – arrogante,Se pacífico, sois fraco,Se precatado2, – medroso,E se o não sois, – confiado.

Se usais justiça, um Herodes3,Se favorável, sois brando,Se condenais, sois injusto,Se absolveis, estais peitado4.

Se vos dão, sois um covarde,E se dais, sois desumano,Se vos rendeis, sois traidor,Se rendeis, – afortunado.

1 Indivíduo brigão, valentão (pejorativo).2 Que tem muita cautela e precaução.3 Referência ao personagem bíblico, um rei tirano e cruel, que mandou matar as crianças recém- nascidas de Belém, pois tinha sido revelado a ele que dentre essas crianças estava o Rei dos Judeus, o qual tomaria seu trono. 4 Aquele que é gratificado ilegalmente por meio de suborno.


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Se sois plebeu, sois humilde,Soberbo, se sois fidalgo,Se sois segundo, sois pobre,E tolo se sois morgado5.

Se galeais6, sois fachadaE se não, – não sois bizarro,Se vestis bem, sois grã-moda,Se mal vestis, sois um trapo.

Se comeis muito, guloso,E faminto, se sois parco7,Se comeis bem, regalão8,E se mal, nunca sois farto.

Se não sofreis, imprudente,Se sofreis, sois um coitado,Se perdoais, sois bom homem,E se não sois – um tirano.

5 Aquele que deixa os bens que foram herdados.6 Galear: vestir-se luxuosamente.7 Que é modesto e econômico.8 Regalo: prazer, satisfação, contentamento.


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Se brioso9, tendes fumos,E se não, sois homem baixo,Se sois sério, – descortês,Se cortês, afidalgado.

Se defendeis, sois amigo,Se o não fazeis, sois contrário,Se sois amigo, suspeito,Se o não sois, – afeiçoado.

Se obrais mal, sois ignorante,Se bem obrais, foi acaso,Se não servis, sois isento,E se servis, sois criado.

Se virtuoso, – fingido,E hipócrita se beato,Se zeloso, – impertinente,E se não, sois um pastrano10.

9 Aquele que é cheio de sentimento da própria dig- nidade e valor.10 Indivíduo rústico e grosseiro.


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Se sois sisudo, – intratável,Se sois devoto, sois falso,Pertinaz11, se defendente,Se arguinte12, porfiado13.

Se discreto, – prevenido,E se não, sois insensato.Se sois modesto, sois simples,E se o não sois, sois um diabo.

Se sois gracioso, sois fátuo,E se o não sois, um marmanjo,Se sois agudo, – tresledes14,E se o não sois, sois um asno.

Se não compondes, sois néscio15,Se escreveis, sois censurado,Se fazeis versos, sois louco,Se o não fazeis, sois parvo16.

11 Quem é persistente, perseverante.12 Forma antiga de arguente, que é aquele que ques- tiona com argumentos.13 Que persiste; obstinado; teimoso.14 Treler: manter conversa despretensiosa, sem com- promisso.15 Que não sabe nada, ignorante, incapaz.16 Pessoa que tem pouca inteligência e capacidade de entender as coisas.


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Se previsto, – feiticeiro,E se não, desmazelado,Se verdadeiro, – bom homem,Muito humilde, se sois lhano17.

Se robusto, sois grosseiro,Se delicado, sois brando,Se descansado, – ocioso,Se pára pouco, sois tranco18.

Se sois gordo, sois balofo,Sois tísico, se sois magro,Se pequeno, sois anão,E gigante, se sois alto.

Se sois nobre, sois pelão19,E se oficial, sois baixo,Se solteiro, – extravagante,Se noivo, sois namorado.

17 Que é sincero, verdadeiro.18 Puxão brusco que retarda ou faz parar.19 Sujeito rico e sem grande importância.


13

Se corado, figadal,Descorado, se sois alvo,Se grande nariz, – judeu,Se trigueiro20, sois mulato.

Se liberal, sois perdido,E se o não sois, sois escasso,Se sois pródigo, vicioso,E avarento, se poupado.

Se não despendeis, – mesquinho,Se despendeis, sois um largo,Se não gastais, – miserável,Se gastais, – esperdiçado.

Se honesto sois, não sois homem,Impotente, se sois casto,Se não namorais, fanchono21,Se o fazeis, sois estragado.

20 De cor similar à do trigo maduro, escuro, moreno21 Homem que mantém relações sexuais e amoro- sas com outros homens.


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Se não luzis, não sois gente,Se luzis, sois mui pregado,Se pedis, sois pobretão,E se não, fazeis Calvários22.

Se andais devagar, – mimoso,Se depressa, sois cavalo,Mal encarado, se feio,Se gentil, efeminado.

Se falais muito, palreiro23,Se falais pouco, sois tardo24,Se em pé, não tendes assento,Preguiçoso, se assentado.

E assim não pode viverNeste Brasil infestado,Segundo o que vos refiroQuem não seja reprovado.

22 Sofrimento prolongado. Pode-se referir também ao local em que Jesus Cristo foi crucificado, em Jerusalém.23 Aquele que palra, que fala demais, tagarela.24 Que faz tudo devagar, lento, vagaroso.


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Academia Brasileira de Letras. Gregório de Matos: biografia. Rio de Janeiro, [s.d]. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=873&sid=190>. Acesso em: 10 jun. 2015.

Bosi, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cul-trix, 1994.

iDicionário Aulete. Rio de Janeiro: Lexikon, [s.d]. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/>. Acesso em: 8 jun. 2015.

Matos, G. Poemas escolhidos. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

Spina, S. A poesia de Gregório de Matos. São Paulo: Edusp, 1995.

Bibliografia


1ª edição Satirus Editorial [2015]

Esta obra foi composta pelo Estúdio Galactica em Crimson Text [ficha catalográfica], Minion Pro [texto] e Sorts Mill Goudy [título].


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