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REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS CAPAS DA REVISTA “ELLE”
Jéssica Miranda Euflausino (Faculdade Maringá)
Ronaldo Nezo (Faculdade Maringá)
Resumo
Nesta pesquisa serão abordados os temas feminismo e machismo por meio da análise das quatro capas da edição de dezembro de 2015 da revista de moda Elle. O objetivo é mostrar a necessidade de discutir sobre tais assuntos em toda a mídia. O estudo, de abordagem histórico-semiótica, retoma algumas noções presentes em estudos feministas. Pode-se concluir ao final do artigo que, apesar de ainda haver um longo caminho a ser percorrido, os meios de comunicação tradicionais estão se atentando às transformações e lutas sociais e, aos poucos, fazendo refletir acerca das temáticas envolvendo a mulher e a liberdade de seus corpos.
Palavras-chave: Elle; Feminismo; Moda; Mulher Negra; Vestuário Feminista.
Introdução
Em uma sociedade que vive de aparências, parece ser uma conquista para as
lutas feministas quando uma revista de moda – um dos maiores segmentos de
formação do imaginário de perfeição – aborda um tema que remete ao
empoderamento das mulheres e a liberdade de seus corpos.
A presente pesquisa surgiu da necessidade de responder a problemática:
“Qual a importância de uma revista internacionalmente conhecida tratar de assuntos
como feminismo?”.
Acredita-se, ao atentar ao contexto histórico em questão, que as edições em
estudo tenham sofrido exponencial adesão e repercussão, principalmente nas
mídias digitais, em mesmo ou maior patamar das edições “tradicionais” da marca.
Desenvolvimento
O machismo e o sexismo são conceitos antigos de superioridade do homem
acima da mulher e que definem os papéis e lugares sociais de ambos os sexos,
fazendo com que ainda hoje existam diferenças relacionadas a vantagens, cargos
(principalmente de liderança), salários etc. (MENDES; SILVA, 2015, p. 90).
O machismo é cultural no Brasil, situação ainda mais visível quando
percebemos que até algumas mulheres ainda vivem de forma muitas vezes
misógina e patriarcal, segundo Wolf (1992).
Por outro lado, as mídias são ferramentas que explicitam um modo de vida e
uma aparência perfeita a ser seguida, principalmente pelas mulheres (FERNANDEZ,
PRITCHARD, 2012). Wolf (1992) conceitua que uma revista feminina não é
simplesmente uma revista, mas um material de construção social, pois traz uma
cultura, beleza e corpos ideais próprios.
Como reflexo disto, as revistas de moda – mídia que estabelece certo vínculo
emocional com o leitor, de acordo com o discorrido por Benetti (2013) – ditam
tendências e informações sobre beleza, saúde e entretenimento voltadas a este
público. Tais conteúdos fazem parte do processo de criação das representações
sociais – uma verdade pessoal e interpretativa –, que são construídas dentro do
convívio social, de maneira coletiva (ABRANCHES et al., 2017, p. 553).
Vejamos a seguir as capas publicadas pela Elle:
Figura 1: Capas da edição de dezembro de 2015
Analisando o plano de expressão das capas no nível topológico, segundo
Floch (1995), percebemos que as quatro mulheres têm o físico que a sociedade
atual considera o ideal: um corpo esquelético, denominado de “mito da beleza” por
Wolf (1992) e inatingível para muitas brasileiras (conhecidas, geralmente, pelas
curvas de seus corpos).
A magreza das modelos é evidente nas quatro capas, mesmo em tal
manifesto feminista, pois vivemos na sociedade da lipofobia, segundo Del Priori
(2000). Sociedade esta que busca diversos tratamentos estéticos e dietas dos mais
variados tipos a fim de se encaixar no padrão estético proposto pelos instrumentos
midiáticos.
As tarjas vermelhas são colocadas propositalmente em lugares estratégicos
da imagem, como na linha dos seios e da pelve para direcionar o olhar do leitor da
revista. Além de marcar tais regiões do corpo das mulheres, estão em cores
contrastantes para chamar atenção para ambas os elementos textuais.
Os rostos das modelos estão direcionados para o centro óptico, dando a
impressão que estão olhando diretamente para os olhos dos leitores, a fim de fixar o
olhar e fazê-lo percorrer por mais tempo em cada elemento apresentado. Além
disso, as poses representam a independência e a força da mulher (CASTRO 2017,
p. 44).
As roupas também fazem parte da construção de sentido do manifesto e
caracteriza a manifestação do crescente individualismo da mulher. As roupas
escolhidas representem o gosto pessoal do que elas querem transmitir (CASTRO,
2017, p. 45). São peças curtas, decotadas e com recortes estratégicos, deixando
seios, ombros e pernas a mostra.
As frases em destaque em cada uma das capas se configuram em favor do
manifesto feminista que a revista está defendendo. A escolha foi dada em
consequência de uma sociedade que ainda precisa ser alertada sobre a clara
necessidade de não legalidade de se inferiorizar a mulher, em qualquer âmbito de
sua vida, por ser crime, além de ser carregado de tantas outras conotações
negativas. As frases ainda configuram a busca pelos direitos das mulheres, direitos
esses de igualdade perante os conquistados pelos homens. Considerações finais
O estudo em desenvolvimento permitiu percebermos que o caminho para o
fim do machismo e desconstrução da imagem estereotipada (e idealizada) de beleza
na sociedade ainda é longo. Ao mesmo tempo, podemos perceber que os meios de
comunicação tradicionais estão aderindo tal luta, apesar de ainda esbarrarem nos
modelos de beleza e padrões de perfeição.
A revista Elle, por sua vez, acertou na aposta da edição de 2015, pois abriu
espaço para discussões na mídia a respeito da problemática que envolve. Observa-
se ainda a lacuna que fica, talvez para outro estudo, sobre a aparição de uma
modelo negra em uma das capas, sendo necessário adentrar no tema “feminismo
negro”.
Referências ABRANCHES, M. et al. Ideal, saudável e submisso: o corpo feminino em capas de revistas. (Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde). 10. Rio Paraíba: Universidade Federal de Viçosa, 2017. BENETTI, M. Revista e jornalismo: conceitos e particularidades. In. TAVARES, Frederico Mello B; SCHWAAB, R. (Org.). A revista e seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013. CASTRO, L. O Feminismo está na moda: as capas do manifesto feminista da revista Elle Brasil. Prâksis, Rio Grande do Sul, v. 1, a. 14, p. 37-50, jan. / jun. 2017. FERNANDEZ, S., PRITCHARD, M. (2012). Relationships between self-esteem, media influence and drive for thinness. Eating Behaviors,13, 321–325. FLOCH, J-M. Sémiotique, marketing et communication. 2. ed. Paris: PUF, 1995.
MENDES, O. M.; SILVA, M. C. As marcas do machismo no cotidiano escolar. Caderno Espaço Feminino. Minas Gerais, v. 28, n. 1, p. 90-99, 2015. WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.