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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ESTUDO PRODUZIDAS POR PAIS, PROFESSORES E ALUNOS EM REDES SOCIAIS DA INTERNET KOGA, Viviane Terezinha (UEPG) 1 ROSSO, Ademir José (UEPG) 2 Agencia financiadora: Capes e CNPq Introdução As questões relacionadas à forma como os alunos estudam, bem como o seu crescente desinteresse pelo estudo e a falta de motivação e participação dos alunos nas atividades escolares são algumas das questões que atualmente vem sendo muito discutidas entre os professores. (PREDIGER, BERWANGER, MÖRS, 2009). É frequente em escolas e até mesmo em cursos de formação de professores ouvirmos reclamações acerca da “falta de participação e interesse dos alunos durante as aulas, ausência no cumprimento das tarefas, conversas entre colegas [...]”, entre outras. (BINI, PABIS, 2008, p.3). Considerando esse contexto os professores se veem cada vez mais assustados, estressados e desprotegidos (AQUINO, 1997). Rosso e Camargo (2011) ao pesquisarem as representações sociais de 128 professores de escolas estaduais do Paraná, verificaram que a causa do sofrimento e desgaste no trabalho docente está vinculada a sentimentos de emoção e afetividade. O desinteresse dos alunos pelo estudo aparece entre os elementos que possivelmente compõem o núcleo central e, portanto se constitui como uma das situações que mais interfere e causa desgaste no trabalho docente. Segundo os autores, o desinteresse dos 1 Licenciada em Ciências Biológicas. Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa, Paraná, Brasil. 2 Licenciado em Ciências e Biologia. Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor da Licenciatura de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa, Paraná, Brasil.

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ESTUDO PRODUZIDAS POR

PAIS, PROFESSORES E ALUNOS EM REDES SOCIAIS DA

INTERNET

KOGA, Viviane Terezinha (UEPG)1

ROSSO, Ademir José (UEPG)2

Agencia financiadora: Capes e CNPq

Introdução

As questões relacionadas à forma como os alunos estudam, bem como o seu

crescente desinteresse pelo estudo e a falta de motivação e participação dos alunos nas

atividades escolares são algumas das questões que atualmente vem sendo muito

discutidas entre os professores. (PREDIGER, BERWANGER, MÖRS, 2009). É

frequente em escolas e até mesmo em cursos de formação de professores ouvirmos

reclamações acerca da “falta de participação e interesse dos alunos durante as aulas,

ausência no cumprimento das tarefas, conversas entre colegas [...]”, entre outras. (BINI,

PABIS, 2008, p.3). Considerando esse contexto os professores se veem cada vez mais

assustados, estressados e desprotegidos (AQUINO, 1997).

Rosso e Camargo (2011) ao pesquisarem as representações sociais de 128

professores de escolas estaduais do Paraná, verificaram que a causa do sofrimento e

desgaste no trabalho docente está vinculada a sentimentos de emoção e afetividade. O

desinteresse dos alunos pelo estudo aparece entre os elementos que possivelmente

compõem o núcleo central e, portanto se constitui como uma das situações que mais

interfere e causa desgaste no trabalho docente. Segundo os autores, o desinteresse dos

1 Licenciada em Ciências Biológicas. Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa, Paraná, Brasil. 2 Licenciado em Ciências e Biologia. Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor da Licenciatura de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa, Paraná, Brasil.

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alunos é recebido pelos professores como negação e indiferença ao seu trabalho o que

dificulta o desenvolvimento das atividades em sala de aula.

Para Oliveira (2009), o desinteresse origina-se: de conteúdos escolares ensinados

de forma fragmentada e descontextualizada; das metodologias utilizadas que não

condizem com as expectativas dos alunos, da dificuldade de motivação para aprenderem

determinados conteúdos; e, dos conflitos existentes entre alunos e professores, que

fazem como que os alunos passem a ver o estudo como uma obrigação, e não como uma

contribuição ao seu desenvolvimento pessoal.

Grande parte dos alunos não estuda e se o faz é somente no período de provas,

motivados apenas pelas notas e pela cobrança dos pais e professores. Esses motivos se

caracterizam como fatores externos que nem sempre favorecem o aprendizado e a

autonomia. (NUNES, 2006). Para que esta seja desenvolvida é necessário que se

estabeleçam relações entre iguais que possibilitem com que o individuo conquiste a sua

consciência autônoma, a qual só é possível por meio de relações de cooperação. “Pode-

se dizer que há autonomia moral quando a consciência considera como necessário um

ideal racional, independentemente de qualquer pressão exterior” (FREITAS, 2003, p.

92).

Por outro lado a heteronomia que representa a primeira forma encontrada pela

criança para regular a ação é oriunda de relações de coação instituídas entre elas e os

adultos. Como o próprio nome diz a norma proveniente do outro é que diz o que o

sujeito deve ou não fazer. Segundo, Vinha e Tognetta (2009) “a heteronomia, a

obediência ao princípio ou regra não se mantém, pois depende de fatores exteriores, ou

seja, a regulação é externa: em alguns contextos a pessoa segue determinados valores, e

em outros não mais os segue” (p.529). Por exemplo, se o aluno corre o risco de ser

punido, por meio de notas ou até mesmo devido à pressão dos pais, ele estuda,

entretanto se essa regulação externa desaparece, ele não mais o faz. Essa moral

predomina entre as crianças e em especial no período da adolescência, no qual o

individuo tende a rejeitar, ou pelo menos revisar tudo o que lhe foi imposto, como uma

forma de construir uma representação do mundo e um projeto de vida, próprios.

(FREITAS, 2003).

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De acordo com Nunes (2006) para que o aluno desenvolva a autonomia é

necessário um trabalho desde o inicio da escolarização que vise à criação do hábito de

estudo e que ultrapasse os limites da sala de aula, pois como já apontado por Ramalho

(2001) a falta de hábitos de estudo reflete negativamente no rendimento escolar, alunos

que tem condições de obter sucesso na escola, não o tem devido à ausência de hábitos

de estudo. Segundo Magro (1979), grande parte dos determinantes do fracasso escolar

correspondem à falta de organização do tempo e das atividades escolares, nesse sentido

os hábitos de estudo merecem uma atenção especial, ao passo que contribuem para

melhorar o desempenho escolar e desenvolver a autonomia do aluno. Mesmo assim é

pequena a exigência em relação aos hábitos de estudo dos alunos, tanto que eles não

levam o estudo a sério e chegam até a acreditar que o aluno não precisa estudar, basta ir

à escola. Portanto, cabe à escola orientar o aluno para o estudo e estimular a criação de

hábitos de estudo. (SOUZA, 1985).

Os resultados negativos do PISA3, ao longo de mais dez anos (OCDE, 2000;

2003; 2006; 2009), as crescentes reclamações dos professores acerca do desinteresse

dos alunos pelo estudo, a falta de hábitos de estudo e de autonomia dos alunos apontam

para a necessidade de desvelar quais são as representações que os envolvidos nesse

processo, pais, professores e alunos, têm sobre o estudo, portanto este trabalho tem

como objetivo identificar as representações deixadas por esses sujeitos em redes sociais.

Segundo Moscovici (1978) e Jodelet (2001), a mídia tem um papel fundamental na

construção das representações sociais, pois produzem e veiculam imagens sobre a

escola e o estudo que são generalizadas e passam a integrar as representações sociais

acerca desses temas. (SALLES, 1995). Entende-se por redes sociais as diferentes formas

de relações sociais estabelecidas entre as pessoas que interagem em favor de uma causa

ou em beneficio de algo, mediada ou não pela informática. Essas interações se

3 PISA (Programa Internacional para Avaliação de Alunos), é uma avaliação realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) da qual participam países membros como Alemanha, Coréia do Sul, EUA, Japão, etc e países convidados, como é caso do Brasil. Esse programa compara internacionalmente, a cada três anos o desempenho de alunos de 15 anos em conhecimentos de matemática, ciências e leitura, bem como avalia as suas competências e habilidades. A cada aplicação é enfatizada uma das áreas, em 2000 foi a Leitura, em 2003 Matemática, em 2006 Ciências e em 2009 foi novamente a Leitura. A área com maior ênfase ocupa 60% da avaliação e os 40% restantes são divididos entre as outras duas.

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caracterizam como movimentos articulados nos quais não predominam indivíduos, mas

“representações” da coletividade. (AGUIAR, 2007).

As representações sociais caracterizam-se por expressarem a relação existente

entre o sujeito e objeto; o sujeito ao reproduzir um determinado objeto, o reconstrói, e o

atribui um sentido próprio. Ao deparar-se com um objeto novo, o sujeito aproxima-o do

seu universo, dos conhecimentos de que dispõem instituindo-se assim uma linguagem

particular assentada em valores e em conceitos. (MOSCOVICI, 1978; ALVES-

MAZZOTTI, 2008). Logo, as RS não são, apenas, “opiniões sobre” ou “imagens de”

um determinado objeto, mas são “teorias coletivas destinadas à interpretação e

elaboração do real” e conceitos que “determinam o campo das comunicações possíveis

dos valores ou das ideias presentes nas visões compartilhadas pelos grupos e regem

subsequentemente, as condutas desejáveis ou admitidas”. (MOSCOVICI, 1978, p.51).

Por isso as RS são importantes na medida em que nos guiam na definição e

classificação conjunta dos diversos aspectos que nos cercam, contribuindo para a nossa

interpretação e tomada de posição frente a um objeto novo. (JODELET, 2001).

Na educação, essa teoria vem ganhando força desde os anos 80, porque os

sujeitos que compõem o ambiente escolar, alunos, pais e professores, carregam consigo

e constroem conhecimentos sociais que influenciam as práticas escolares ao marcar as

suas interpretações acerca dos papéis que devem desempenhar na escola, o que por

vezes se contradiz as práticas acadêmicas. (MENIN; SHIMIZU, 2005). Segundo Gilly

(2001), a teoria das RS vem contribuindo significativamente para a educação, uma vez

que ela se concentra nos significados que os sujeitos atribuem à situação e dessa forma

possibilita ao pesquisador encontrar algumas explicações para as condutas dos sujeitos.

De acordo com Jodelet (2007), para estudar a constituição de uma RS de sujeitos

ou grupos sociais, deve-se prestar atenção a três esferas de pertencimento: esfera da

subjetividade, a da intersubjetividade e a da transubjetividade. A primeira está

relacionada não à compreensão de um sujeito isolado, mas de sujeitos sociais ativos,

distintos devido a sua inscrição na vida cotidiana e ao contexto social a que pertencem,

sendo que nesse contexto o sujeito compartilha interações com os outros sujeitos por

meio da comunicação.

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A esfera da intersubjetividade nos remete a ocasiões nas quais o contexto

contribui para que os sujeitos compartilhem as RS. Nesse caso os sujeitos se comunicam

e de forma negociada transmitem informações, constroem saberes, fazem acordos ou

expressam divergências sobre um objeto de interesse comum, possibilitando com isso a

construção de significados e ressignificações consensuais e a transubjetividade é

composta de elementos que cruzam tanto a esfera da subjetividade quanto a da

intersubjetividade, portanto abrange os sujeitos, os contextos nos quais a interação

acontece, e ainda as situações de interação. Essa esfera refere-se aos espaços sociais no

quais as RS circulam que vão desde os meios de comunicação, passam pelas

instituições, chegando à ideologia dominante e as relações de poder. Espaços esses onde

os sujeitos estão imersos. Além disso, ela compreende as formas de pensamento e

atuação, os valores e as normas peculiares de uma cultura que de certa forma norteiam

as praticas dos sujeitos.

No nível subjetivo as RS têm a função expressar os significados que os sujeitos

dão ao objeto de acordo com seus interesses e objetivos. No nível intersubjetivo as RS

funcionam como uma forma de compreender as interpretações e os significados que são

compartilhados pelos sujeitos sobre um determinado objeto. E finalmente, no nível

transubjetivo as RS dizem respeito ao aparato sociocultural, bem como ao conjunto de

normas e valores impostos pela sociedade, nesse nível as RS evidenciam o repertório

que torna possível a visualização dos significados compartilhados socialmente.

(JODELET, 2007).

Coleta e análise dos dados

Esse trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, com caráter

descritivo, na qual foi realizado um levantamento dos comentários sobre o estudo

deixados, espontaneamente, pelas pessoas em redes sociais na internet.

Foram coletados 135 comentários em cinco sites diferentes, conforme consta na

tabela 1. Esses comentários foram deixados pelas pessoas como uma forma de expressar

seus conhecimentos, experiências e atitudes acerca de textos introdutores que eram

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apresentados nesses sites e aventavam formas para superar a preguiça e o desinteresse

dos alunos pelo estudo. No site 1, o texto era mais voltado para questão da infraestrutura

das aulas, preparo dos materiais e equipamentos, além de chamar a atenção para as

particularidades de cada aluno (EAPRENDER, 2012). Já o site 2, 3 e 4 apresentavam

questões acerca do estudo enquanto conhecimento, o site dois era mais relacionado à

libertação, capacidade de pensamento e conquista da autonomia. (REVISTA

CRESCER, 2012). Enquanto, o site três e quatro, eram mais ligados ao estudo enquanto

possibilidade de conseguir um bom emprego e de ser alguém na vida. (TUDOLINK,

2012; BEM PARANÁ, 2012) No site cinco, o texto trazia os embates existentes ente

pais e filhos ligados ao estudo, principalmente no período da adolescência no qual a

vontade de estudar diminui. (SOCIEDADE CIVIL, 2012)

Tabela 1: Número de comentários por site

Site 01 02 03 04 05

N° de comentários 42 11 17 24 41

Fonte: Os autores.

A partir desse conjunto de comentários foi montado o corpus, cada comentário

foi considerado como uma unidade de contexto inicial (UCI) precedida de uma linha de

comando composta pelas variáveis: comentário (com= 135), site (site= 1, 2, 3, 4, 5),

sexo (masculino ou feminino), profissão (prof= alunos, pais ou professores).

Os dados foram analisados com o apoio do software ALCESTE (Analyse

Lexicale por Context d´um Esemble de Segments de Texte), desenvolvido por Reinert

em 1998. Esse programa é utilizado para a análise de banco de dados textuais, pois ele

realiza a análise lexicográfica mostrando os contextos textuais (UCE), caracterizados

pelas palavras, e por segmentos de textos que compartilham essas palavras. O corpus

inicial é dividido em classes que podem indicar as RS sobre determinados objetos.

(CAMARGO, 2007; CAMARGO, 2009).

A figura 1 apresenta as três classes de segmentos de textos obtidas pela

classificação hierárquica descendente do conjunto de comentários. Inicialmente o

corpus foi dividido em dois subcorpus, o primeiro deu origem a classe 1 (68,31%) e o

segundo foi subdividido originado as classes 2 (14,44%) e 3 (17,25%). As 135 UCIs

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originaram 284 UCEs. Sendo que para a apresentação das classes foram consideradas a

frequência mínima de 4 palavras e o X² 3,84.

ANÁLISE DOS COMENTÁRIOS, 135

UCIs, 284 UCEs, 81,14 %

Classe 1, 194 UCEs, 68,31%, Estudo na escola.

Palavras N X² Classe 2, 41 UCEs,

14,44%, O que fazer para que meu filho estude?

Classe 3, 49 UCEs, 17,25 %, Estudo em casa.

Aluno 80 16,67 Palavras N X² Palavras N X²

Formação 20 9,98 Filho 18 44,22 Casa 15 40,33

Trabalho 22 8,64 Ano 14 33,81 Horas 9 33,41

Professor 48 8,33 Gostaria 8 31,48 Televisão 5 24,41

Conhecimento 16 7,87 Interesse 13 31,31 Vou 5 24,41

Motivação 18 6,57 Artigo 5 30,17 Emprego 6 23,56

Preguiça 69 6,01 Gostei 8 17,36 Ir 5 14,75

Deve 24 5,84 Quer 11 16,71 Concentrem 4 14,04

Importante 12 5,81 Notas 7 15,08 Escrever 4 14,04

Causa 11 5,31 Fazer 14 15,07 Trocando 4 14,04

Conteúdos 11 5,31 Saber 10 13,37 Tenho 10 13,28

Educação 10 4,81 Ajudar 5 12,72 Chegam 6 13,27

Maneira 10 4,81 Sei 5 12,72 Muita 6 13,27

Parte 10 4,81 Vai 6 11,1 Prova 8 12,74

Falta 21 4,46 Particular 4 10,6 Tempo 10 12,06

Aprendizagem 9 4,31 Série 4 10,6 Conversas 5 11,8

Informações 9 4,31 Ficar 8 9,28 Falar 5 11,8

Pessoas 9 4,31 Poder 5 8,91 Estudar 28 11,59

Principalmente 9 4,31 Estudo 23 8,48 Pensar 9 10,41

Questão 9 4,31 Prática 4 8,43 Querer 10 8,18

Sociedade 9 4,31 Tira 4 8,43 Frente 4 8,00

Existem 13 4,1 Difícil 5 7,52 Tarefas 5 6,37

Família 13 4,1 Médio 6 6,37 Dedicando 4 6,18

Adolescência 5 5,4 Vezes 8 6,1

Ler 5 4,58 Conseguir 6 5,74

Dizem 4 4,45 Fazer 12 4,85

Figura 1: Dendograma da classificação hierárquica descendente. Fonte: Os autores.

A classe 1 contempla 68,31% do total das informações analisadas, recebeu a

denominação “estudo na escola”. Essa classe teve sua maior contribuição dos

professores, do sexo masculino, e se diferenciou das demais porque os seus

elementos fazem referencia a questão do estudo e do interesse do aluno

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relacionados ao espaço escolar, mais precisamente ao trabalho do professor. Nesse

sentido entre os sujeitos podem ser destacados os elementos aluno, professor,

trabalho, conhecimento, conteúdos, informação, educação, pessoas, sociedade e

família. As ações são expressas pelos verbos formação e dever que denota a

obrigação relacionada ao trabalho do professor. Além do adjetivo importante que

diz respeito à necessidade do professor trabalhar desenvolvendo estratégias que

chamem a atenção, motivem e estimulem o aluno. Vejamos alguns segmentos de

texto que compõem as UCEs dessa classe: Nos muitos anos de atuação em sala de aula percebi que a preguiça, muitas vezes é causada por falta de estimulo de alguns colegas professores. O aluno precisa estar estimulado a aprender e a desenvolver as atividades em sala de aula e fora dela. É nosso dever, como professores estimular de todas as maneiras possíveis os alunos. Os alunos não tem preguiça de fazer atividades ou tarefas que lhes são propostas, se isso acontece, infelizmente é falta de motivação e interesse do professor em promover uma aula dinâmica e agradável. O professor é a mola mestra para motivar seus alunos na realização das atividades escolares que nem sempre são atrativas. No caso de uma criança, pode estar faltando o apoio e o incentivo por parte da família. Qualquer que seja o motivo, o professor sempre esta na linha de frente para observar os sinais.

A classe 2, que recebeu a denominação “o que fazer para que meu filho

estude?”, correspondeu a 14,44 % das informações analisadas. Essa classe que teve

maior contribuição das mães evidencia as avaliações positivas frente aos temas ligados a

questão do desinteresse dos alunos pelo estudo. Aparecem como sujeitos: filho,

interesse, ano, oitava, série, notas, estudo, adolescência, computador, artigo e dicas. As

ações estão ligadas aos verbos: gostaria, gostei, saber, receber, tirar, ajudar, ler,

manifestam o desejo de obter maiores informações sobre esse tema. Quanto aos

adjetivos aparecem os elementos particular e difícil, indicando que possivelmente a

avaliação positiva dos artigos se deve a presença dos filhos, com os quais essa questão

do estimulo ao estudo vem se configurando como uma tarefa árdua, que vem exigindo

muito dos pais que não estão sabendo como lidar com essa situação. Isso pode ser

claramente percebido nos segmentos de texto que compõem as UCEs dessa classe:

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Gostaria muito de receber algumas dicas para poder ajudar meu filho adolescente que não quer fazer o segundo grau. Ele é ótimo aluno, vai bem nas prova, tira notas altas, mas não quer mais estudar. Gostaria de saber como devo fazer para ajudar o meu filho de dezessete anos a se interessar pelo estudo, pois ele esta desestimulado já repetiu a oitava série e possivelmente vai repetir novamente. Oi, gostaria de saber o que fazer, pois meu filho tem dezesseis anos está no primeiro ano do ensino médio e perdeu completamente o interesse pelos estudos, só quer saber de jogos de computadores. Gostei muito do artigo acima e concordo plenamente. Infelizmente nossas escolas precisavam incluir os estudos no cotidiano dos alunos. Gostaria muito de receber algumas dicas para poder ajudar meu filho adolescente que não quer terminar o segundo grau.

Finalmente, a classe 3 denominada “Estudar em casa”, correspondeu a 17,25 %

e recebeu uma contribuição significativa dos alunos. No dendograma podem ser

destacados os sujeitos: casa, horas, televisão, emprego, prova, tempo, faculdade, livros,

tarefas. A ação relacionada ao estudo é expressa pelos verbos: vou, concentrar, escrever,

ter, chegar, falar, estudar, pensar, jogar, querer, dedicar, fazer, esforçar, conseguir,

sendo esse ultimo relacionado as possibilidades do estudo. Quanto aos adjetivos

podemos destacar: muita e imensa, ambos se referindo à preguiça de estudar.

A partir dos elementos da classe 3, encontrados nos segmentos textuais,

podemos verificar que essa classe diz respeito ao estudo fora do âmbito escolar, mais

precisamente o estudo em casa. Além disso, há uma dualidade nesses elementos. De um

lado eles apontam para a materialidade e para as possibilidades do estudo e de outro

para as questões funcionais ou práticas ligadas ao estudo, como por exemplo, a questão

da preguiça. Vejamos os segmentos de texto que compõem as UCEs dessa classe: Tenho muita preguiça de estudar, penso que com o estudo vou conseguir um emprego bom, ganhar bem, mas às vezes a preguiça é maior e acabo trocando os livros pela televisão. Eu tenho muita preguiça de estudar e isso me incomoda muito. O mal de muitos alunos é não estar habituados à exigência. Querem tudo feito como eles esperam, sem precisar se esforçar muito. O que eu não consigo entender é como esses alunos conseguem chegar até a faculdade, sem um método de estudo, só estudando nas vésperas das provas.

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Na minha humilde opinião, para perder a preguiça de estudar ou ler é bem simples, basta pensar que para você ser alguém na vida você tem que estudar e se dedicar a isso, que estudando e se dedicando você terá mais chances de ter um bom emprego.

Considerações finais

Por meio desse trabalho foi possível localizar diversos comentários relacionados

ao desinteresse dos alunos pelo estudo (N=135), com isso pudemos evidenciar que há

nas redes sociais uma representação social sobre esse tema, nas quais visualizamos os

conhecimentos, imagens e atitudes dos pais, professores e alunos que expressam as suas

relações com o estudo. Assim, foi possível identificar quais são os conhecimentos

sociais edificados por esses sujeitos que acabam influenciando as práticas escolares.

Entretanto, se considerarmos a quantidade de queixas dos professores acerca da

falta de motivação, participação e interesse dos alunos nas aulas, podemos constatar que

esses temas não receberam a devida atenção nas redes sociais da internet. Uma vez que

a maior parte, dos textos que foram encontrados, se restringe em apresentar dicas para a

superação da preguiça de estudar, sendo que apenas em um dos sites foi levantada a

discussão do estudo enquanto conquista do conhecimento e da autonomia do aluno. Isso

mostra que a população possui uma representação social técnica do desinteresse dos

alunos pelo estudo.

Ao levarmos em consideração que o interesse decorre da interação entre o aluno

e o estudo, destaca-se a sua natureza intrínseca. Entretanto, na maioria dos comentários

encontrados há a representação do interesse pelo estudo ligado a fatores externos como:

infraestrutura e trabalho do professor; possibilidades e utilidade do estudo; e ainda

relacionado à família. Apesar de serem elementos importantes, que devem ser levados

em conta, pois contribuem para originar o desinteresse dos alunos pelo estudo, eles não

são os únicos e exclusivos determinantes. Segundo Nunes (2006), esses fatores são

externos e não favorecem o aprendizado e a conquista da autonomia.

Os resultados desse trabalho, a partir da análise do ALCESTE, mostraram a

constituição de três classes, a classe 1 denominada “Estudo na Escola”, correspondeu a

68,31% do total das informações analisadas, portanto a mais significativa, faz referencia

ao estudo no espaço escolar, condicionado exclusivamente do trabalho do professor.

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Esses resultados mostram uma forte correlação com o trabalho de Oliveira (2009), para

o qual o desinteresse dos alunos pelo estudo é resultado de conteúdos

descontextualizados, metodologias inapropriadas e conflitos existentes entre professores

e alunos. No entanto, como já discutido anteriormente esses fatores se configuram como

exteriores ao aluno e podem influenciar o interesse pelo estudo, mas não podem ser

considerados como determinantes do desinteresse.

A classe 2 “O que fazer para que meu filho estude?” (14, 44%), está relacionada

a questão da família, especificamente às mães que avaliaram positivamente os textos

apresentados pelos sites e que manifestaram o desejo de obter mais informações sobre o

tema. Como apontado por Nunes (2006), para a construção de hábitos de estudo é

necessário um trabalho que ultrapasse os limites da sala de aula, nesse contexto os pais

se veem como atores no desempenho escolar dos seus filhos e a partir dos elementos

que constituíram essa classe podemos perceber que eles não estão sabendo como lidar

com esse tema. Além disso, essa classe evidencia que possivelmente há uma forte

heteronomia dos alunos durante o estudo, pois mostra a grande preocupação e cobrança

dos pais em relação às notas dos alunos.

Ligada a classe 2 aparece a classe 3, “Estudar em casa” (17,255). Essa classe faz

referencia a questões funcionais ligadas ao estudo, como a preguiça de estudar e as

horas dedicadas ao estudo em casa. Além disso, alguns elementos dessa classe

assinalam para as possibilidades e para a utilidade do estudo. Isso mostra que os alunos

que mais contribuíram para a composição dessa classe analisam o estudo a partir de

duas esferas distintas. Uma delas está ligada à subjetividade, se refere à forma como os

alunos, sujeitos sociais ativos, compreendem o estudo na prática e expressam os

significados de acordo com os seus interesses e objetivos. O outro lado faz referencia a

transubjetividade, na qual o estudo circula pelos meios de comunicação, passa pelas

escolas e sofre influencia direta da ideologia dominante na qual estudar é importante

para ser alguém na vida, nessa esfera o estudo é projetado como uma possibilidade de

mudança de vida no futuro, portanto essa representação do estudo se refere ao conjunto

de normas e valores impostos pela sociedade. (JODELET, 2007).

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