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Antonia Oliveira Silva Brigido Vizeu Camargo (Organizadores) REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO E NVELHECIMENTO E DA SAÚDE

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  • Antonia Oliveira Silva Brigido Vizeu Camargo

    (Organizadores)

    REPRESENTAES SOCIAIS DO ENVELHECIMENTO E DA SADE

  • SOBRE O LIVRO

    Este livro oferece estudos tericos e pesquisas recentes, produzidas por pesquisadores brasileiros, portugueses, argentinos, italianos e franceses, sobre o pensamento cotidiano a respeito da sade, do envelhecimento e de temas correlatos. O ponto em comum a utilizao de um dos legados que Serge Moscovici nos deixou: a teoria das representaes sociais. Nessa, contempla-se uma das principais caractersticas do trabalho cientfico desse importante pensador: a pluralidade de referncias e recursos para se trabalhar com cincia, ou seja, o cuidado para a ortodoxia epistemolgica no empobrecer a busca de respostas para as dvidas que caracterizam o trabalho da cincia. Os prprios trabalhos de Serge Moscovici envolveram influncias epistemolgicas diversificadas; teorias oriundas no apenas de diferentes disciplinas, mas tambm de tradies tericas plurais; delineamentos metodolgicos que envolveram experimentos, surveys, anlise documental, estudo de casos, dentre outros; e anlises tanto quantitativas como qualitativas. Essa posio no ortodoxa contribuiu para que ele aprofundasse sua reflexo no mbito da Filosofia da Cincia.

    Esta publicao expressa a articulao entre centros de pesquisa, grupos de programas de ps-graduao e laboratrios em torno da pesquisa cientfica sobre representaes sociais em sade e temas conexos, promovida pela Rede Internacional de Pesquisa sobre Representaes Sociais de Sade (RIPRES). Criada em 2010, por um acordo de cooperao entre o Laboratrio Europeu de Psicologia Social (LEPS), o Centro de Investigao em Cincias e Tecnologias da Sade (CICTS) da Universidade de vora Portugal e o Laboratrio de Psicologia Social da Comunicao e Cognio (LACCOS) da Universidade Federal de Santa Catarina Brasil, atualmente, faz parte do Rseau Mondial Serge Moscovici da Fondation Maison des Sciences de lHomme de Paris Frana. O Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Universidade Federal da Paraba teve um papel central na criao da RIPRES, por meio de um slido programa de intercmbio luso-brasileiro desenvolvido por essa formao de ps-graduao.

  • CONSELHO CIENTFICO E EDITORIAL

    Ana Escoval UL/ENSP/Portugal

    ngela Arruda UFRJ

    Antonia Oliveira Silva UFPB

    Brigido Vizeu Camargo UFSC

    Cllia Nascimento-Schulze UFSC

    Denise Jodelet EHESS/Frana

    Edson Alves de Souza Filho UFRJ

    Felismina Mendes U/Portugal

    Jorge Correia Jesuno ISCTE/Portugal

    Lgia Amncio ISCTE/Portugal

    Luiz Fernando Rangel Tura UFRJ

    Manuel Jos Lopes ESEE/Portugal

    Margot Campos Madeira UNESA

    Maria de Lurdes Rangel Tura UFRJ

    Maria do Cu Marques U/Portugal

    Maria do Socorro Costa Feitosa Alves UFRN

    Maria Filomena M. Gaspar ESEMFR/Portugal

  • AUTORES

    Adriana Coler (Bunker Hill Community College, Boston, USA)

    Adriane Roso (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)

    Alberta Contarello (Universit di Padova, Itlia)

    Andr Augusto Diniz Lira (Universidade Federal de Campina Grande,Brasil)

    Andra Barbar S. Bousfield (Universidade Federal de Santa Catarina,Brasil)

    Annamaria Silvana De Rosa (Sapienza University of Rome, International/Italy)

    Antonia Oliveira Silva (Universidade Federal da Paraba, Brasil)

    Brigido Vizeu Camargo (Universidade Federal de Santa Catarina,Brasil)

    Clia Soares (Instituto Politcnico de Setbal, Portugal)

    Claudia Menseguez (Universidad Nacional de Lujn, Argentina)

    Cludio Fontana (Universit Popolare AUSER/Liceo scientifico Paolo Giovio, Como, Itlia)

    Cllia Maria Nascimento Schulze (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)

    Daniela Barros da Silva Freire Andrade (Universidade Federal do Mato Grosso, Brasil)

    Denise Jodelet (cole des Hautes tudes en Sciences Sociales/Fondation Maison des Sciences de lHomme, France)

    Diego Romaioli (Universit di Padova, Itlia)

    Edson A. de Souza Filho (Universidade Federal do Rio de Janeiro,Brasil)

  • Edwirde Luiz Silva (Universidade Federal de Campina Grande, Brasil)

    Enrico Marcolungo (Universit di Padova, Itlia)

    rica Nayla Harrich Teibel (Universidade Federal do Mato Grosso,Brasil)

    Felismina Mendes (Universidade de vora, Portugal)

    Jorge Correia Jesuno (Instituto Universitrio de Lisboa/Universidade de vora, Portugal)

    Las Santos Barbosa de Souza (Universidade Federal de Campina Grande, Brasil)

    Laura Dryjanska (Sapienza University of Rome, International/Italy)

    Liliana Gastron, Gloria Lynch (Universidad Nacional de Lujn,Argentina)

    Luiza Gutz (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)

    Manuel Jos Lopes (Universidade de vora, Portugal)

    Mrcia de Assuno Ferreira (Universidade Federal do Rio de Janeiro,Brasil)

    Maria Adelaide Silva Paredes Moreira (Universidade Federal da Paraba, Brasil)

    Maria do Socorro Costa Feitosa Alves (Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil)

    Maria Eliane Ligio Mato (PUC de Gois, Brasil)

    Maurcio Machado Moraes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)

    Olvia Galvo Lucena Ferreira (Universidade Federal da Paraba,Brasil)

    Pedrinho Guareschi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Brasil)

  • Pedro Humberto Faria Campos (UNESA/PUC de Gois, Brasil)

    Rafael Celestino da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro,Brasil)

    Raquel Bertoldo (Universit Aix-Marseille, France)

    Silvana Stabile (Universidad Nacional de Lujn, Argentina)

    Stefano Cavalli (Centre of Competence on Aging, University of Applied Sciences and Arts of Southern, Switzerland)

    Tatiana de Lucena Torres (Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil)

    Vernica Bem dos Santos (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)

  • ReitoraVice-Reitor

    Diretoria Administrativa da EDUFRN

    Conselho Editorial

    Secretria de Educao a Distncia da UFRNSecretria Adjunta de Educao

    a Distncia da UFRNCoordenadora de Produo de

    Materiais DidticosCoordenadora de Reviso

    Coordenador EditorialGesto do Fluxo de Reviso

    Reviso Lingustico-textual

    Reviso ABNT

    Reviso Tipogrfica

    DiagramaoCapa

    ngela Maria Paiva CruzJos Daniel Diniz Melo

    Luis lvaro Sgadari Passeggi (Diretor)Wilson Fernandes de Arajo Filho (Diretor Adjunto)Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretria)

    Luis lvaro Sgadari Passeggi (Presidente)Ana Karla Pessoa Peixoto BezerraAnna Emanuella Nelson dos S. C. da RochaAnne Cristine da Silva DantasChristianne Medeiros CavalcanteEdna Maria Rangel de SEliane Marinho SorianoFbio Resende de ArajoFrancisco Dutra de Macedo FilhoFrancisco Wildson ConfessorGeorge Dantas de AzevedoMaria Aniolly Queiroz MaiaMaria da Conceio F. B. S. PasseggiMaurcio Roberto Campelo de MacedoNedja Suely FernandesPaulo Ricardo Porfrio do NascimentoPaulo Roberto Medeiros de AzevedoRegina Simon da SilvaRichardson Naves LeoRosires Magali Bezerra de BarrosTnia Maria de Arajo LimaTarcsio Gomes FilhoTeodora de Arajo Alves

    Maria Carmem Freire Digenes Rgo

    Ione Rodrigues Diniz Morais

    Maria Carmem Freire Digenes RgoMaria da Penha Casado AlvesJos Correia Torres NetoRosilene PaivaCristinara Ferreira dos Santos Emanuelle Pereira Diniz Fabiola Barreto Gonalves Margareth Pereira Dias Jlia Ribeiro FagundesLisane Maridne Melo de PaivaCristiane Severo da Silva Vernica Pinheiro da SilvaEdineide da Silva MarquesLeticia TorresRenata Ingrid de Souza PaivaMara Caroline Freitas dos SantosMara Caroline Freitas dos Santos

  • Catalogao da Publicao na Fonte. Bibliotecria Vernica Pinheiro da Silva CRB-15/692.

    Representaes sociais do envelhecimento e da sade [recurso eletrnico] /Organizado por: Antonia Oliveira Silva e Brigido Vizeu Camargo. Natal: EDUFRN, 2017.

    1 PDF

    ISBN 978-85- 425-0752- 2

    Modo de acesso: http://repositorio.ufrn.br

    1. Sade pblica. 2. Representaes sociais. 3. Envelhecimento. I. Silva, Antonia Oliveira. II. Camargo, Brigido Vizeu. III. Ttulo.

    CDU 614 R425

    Todos os direitos desta edio reservados EDUFRN Editora da UFRNAv. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitrio

    Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasile-mail: [email protected] | www.editora.ufrn.br

    Telefone: 84 3342 2221

  • SUMRIO

    APRESENTAOANTONIA OLIVEIRA SILVA; BRIGIDO VIZEU CAMARGO 13

    PREFCIO - PARCOURS DE VIE ET PERCEPTIONS DANS LTUDE DU VIEILLISSEMENT ET DE LA SANTSTEFANO CAVALLI 16

    PARTE I: REPRESENTAES SOCIAIS E ENVELHECIMENTO

    CAPTULO 1 - A CATEGORIA SABEDORIA NOS ESTUDOS SOBRE REPRESENTAES SOCIAIS DO ENVELHECIMENTO: UMA REVISO DO CONCEITO E DE ESTUDOS RELACIONADOSCLLIA MARIA NASCIMENTO-SCHULZE 26

    CAPTULO 2 - CONTRIBUIES PARA UMA GERONTOLOGIA CRTICAJORGE CORREIA JESUNO; TATIANA DE LUCENA TORRES CLIA CASACA SOARES; ANTONIA OLIVEIRA SILVA 59

    CAPTULO 3 - SABEDORIA E ENVELHECIMENTO: A ARTE DE SOBREVIVER EM DIFERENTES MUNDOSFELISMINA MENDES 84

  • CAPTULO 4 - CONCEPES DE ESPIRITUALIDADE DE PESSOAS NA 4 IDADEBRIGIDO VIZEU CAMARGOLUIZA GUTZ 100

    CAPTULO 5 - EL ENVEJECIMIENTO Y EL CURSO DE LA VIDALILIANA GASTRON; GLORIA LYNCH; CLAUDIA MENSEGUEZ; SILVANA STABILE 122

    CAPTULO 6 - REPRESENTAES SOCIAIS SOBRE ENVELHECIMENTO ATIVO DE PESSOAS IDOSAS COM E SEM O DIAGNSTICO DE HIV/AIDSOLVIA GALVO LUCENA FERREIRA; TATIANA DE LUCENA TORRES MARIA DO SOCORRO COSTA FEITOSA ALVES; MARIA ADELAIDE SILVA PAREDES MOREIRA 144

    CAPTULO 7 - A VELHICE NA VISO DE ESTUDANTES UNIVERSITRIOS DE CINCIAS HUMANAS, CINCIAS DA SADE E CINCIA & TECNOLOGIA DA UFCGANDR AUGUSTO DINIZ LIRA; LAS SANTOS BARBOSA DE SOUZAEDWIRDE LUIZ SILVA 177

    CAPTULO 8 - INVECCHIARE LAVORANDO. VERSO UNA RAPPRESENTAZIONE SOCIALE DELLINVECCHIAMENTO TRA ESPERIENZA E LOGORIOENRICO MARCOLUNGO; DIEGO ROMAIOLI; ALBERTA CONTARELLO 199

    CAPTULO 9 - ALGUMAS DIMENSES REPRESENTACIONAIS DA VIOLNCIA CONTRA IDOSOS EM PORTUGAL E NOS EUAADRIANA COLER; MANUEL LOPES; ANTONIA OLIVEIRA SILVA 219

    CAPTULO 10 - ANZIANI VITTIME DI VIOLENZA. LAPPROCCIO DELLE RAPPRESENTAZIONI SOCIALI E IL PARADIGMA DELLA GIUSTIZIA RIPARATIVA-239CLUDIO FONTANA 239

  • PARTE II: REPRESENTAES SOCIAIS E SADE

    CAPTULO 11 - LE SAVOIR EXPRIENTIEL DES PATIENTS, SON STATUT PISTMOLOGIQUE ET SOCIALDENISE JODELET 270

    CAPTULO 12 - SABERES E PRTICAS DE CUIDADO EM SADE E RELAES COM A CLNICA DO CUIDADO DE ENFERMAGEMMRCIA DE ASSUNO FERREIRA; RAFAEL CELESTINO DA SILVA 295

    CAPTULO 13 - PROJETO REPRESENTACIONAL E NARRATIVA: PELA VISIBILIDADE SOCIAL DA CRIANA NA ENFERMARIA PEDITRICA DE UM HOSPITAL UNIVERSITRIODANIELA BARROS DA SILVA FREIRE ANDRADE; RICA NAYLA HARRICH TEIBEL 313

    CAPTULO 14 - SOCIAL REPRESENTATIONS, HEALTH AND COMMUNITY: VISUALIZING SELECTED RESULTS FROM THE META-THEORETICAL ANALYSIS THROUGH THE GEOMAPPING TECHNIQUEANNAMARIA SILVANA DE ROSA; LAURA DRYJANSKA 338

    CAPTULO 15 - RISCOS COLETIVOS: UM OLHAR PSICOSSOCIALANDRA BARBAR S. BOUSFIELD; RAQUEL BERTOLDO 367

    CAPTULO 16 - REPRESENTAES SOCIAIS, AVALIAO DE RISCO E PRTICAS SOCIAIS NA DETERMINAO SOCIAL DA AIDSMARIA ELIANE LIGIO MATO

    PEDRO HUMBERTO FARIA CAMPOS 389

  • CAPTULO 17 - VIOLNCIA E REPRESENTAES SOCIAIS: REFLEXES SOBRE SEUS ASPECTOS DE SADE MENTALEDSON ALVES DE SOUZA FILHO 416

    CAPTULO 18 - (IN)TOLERNCIA E POVOS ORIGINRIOS EM REAS URBANAS: SINALIZAES ACERCA DE REPRESENTAES SOCIAISADRIANE ROSO; PEDRINHO GUARESCHI; MAURCIO MACHADO MORAES; VERNICA BEM DOS SANTOS 435

  • APRESENTAO

    ANTONIA OLIVEIRA SILVA(Universidade Federal da Paraba, Brasil)

    BRIGIDO VIZEU CAMARGO(Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)

    A ortodoxia epistemolgica, metodolgica, indis-

    pensvel e mesmo desejvel na prtica cientfica

    ou artstica? [...]No temos certeza disto. Por outro

    lado, a ortodoxia, deste ponto de vista, seja ela qual

    for, pode ser um obstculo

    Serge Moscovici no seminrio Epistemologie et

    reprsentations sociales em 29/04/1994 (EHESS

    -1994 Paris)1.

    Este livro oferece estudos tericos e pesquisas recentes, produ-zidas por pesquisadores brasileiros, portugueses, argentinos, italianos e franceses, sobre o pensamento cotidiano a respeito da sade, do envelhecimento e de temas correlatos. O ponto em comum a utilizao de um dos legados que Serge Moscovici nos deixou: a teoria das representaes sociais. Nessa, contempla-se uma das principais caractersticas do trabalho cientfico desse importante pensador: a pluralidade de referncias e recursos para se trabalhar com cincia, ou seja, o cuidado para a ortodo-xia epistemolgica no empobrecer a busca de respostas para

    1 Est-ce que l'ortodoxie epistemologique, methodologique, est-elle indis-pensable, et mme souhaitable dans la pratique scientifique ou artis-tique? [...] Cela n'est pas certain. D'autre part, l'orthodoxie de ce point de vue l, quelque soit, peut tre un obstacle (gravao, transcrio e traduo do segundo autor).

  • APRESENTAO

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    as dvidas que caracterizam o trabalho da cincia. Os prprios trabalhos de Serge Moscovici envolveram influncias episte-molgicas diversificadas; teorias oriundas no apenas de dife-rentes disciplinas, mas tambm de tradies tericas plurais; delineamentos metodolgicos que envolveram experimentos, surveys, anlise documental, estudo de casos, dentre outros; e anlises tanto quantitativas como qualitativas. Essa posio no ortodoxa contribuiu para que ele aprofundasse sua reflexo no mbito da Filosofia da Cincia.

    Esta publicao expressa a articulao entre centros de pesquisa, grupos de programas de ps-graduao e labo-ratrios em torno da pesquisa cientfica sobre representa-es sociais em sade e temas conexos, promovida pela Rede Internacional de Pesquisa sobre Representaes Sociais de Sade (RIPRES). Criada em 2010, por um acordo de coopera-o entre o Laboratrio Europeu de Psicologia Social (LEPS), o Centro de Investigao em Cincias e Tecnologias da Sade (CICTS) da Universidade de vora Portugal e o Laboratrio de Psicologia Social da Comunicao e Cognio (LACCOS) da Universidade Federal de Santa Catarina Brasil, atualmen-te, faz parte do Rseau Mondial Serge Moscovici da Fondation Maison des Sciences de lHomme de Paris Frana. O Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Universidade Federal da Paraba teve um papel central na criao da RIPRES, por meio de um slido programa de intercmbio luso-brasileiro desen-volvido por essa formao de ps-graduao.

    A maior parte dos captulos decorreu da participao da RIPRES organizando simpsios no IV Colquio Luso-Brasileiro sobre Sade, Educao e Representaes Sociais (CLBSERS) e na 12 Conferncia Internacional sobre Representaes Sociais (CIRS), realizada em julho de 2014 em So Paulo, objetivando

  • APRESENTAO

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    discutir questes relacionadas sade, educao, s repre-sentaes sociais e ao envelhecimento. Alm disso, agrega-ram-se outros captulos de colegas do Grupo de Trabalho Representaes Sociais, da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psicologia (ANPEPP), pioneiro no mbito da ps-graduao em Psicologia do Brasil no que se refere aos estudos sobre as representaes sociais (RS).

    O livro est organizado em duas partes: a primeira sobre representaes sociais e envelhecimento e a segunda sobre representaes sociais e sade. Os captulos da primei-ra parte envolvem trabalhos que compuseram o Simpsio Sabedoria e Senso Comum, acrescidos de outros trabalhos a respeito de RS e envelhecimento de colegas da RIPRES e/ou do Grupo de Trabalho Representaes Sociais, da ANPEPP. Os captulos da segunda parte referem-se aos trabalhos apre-sentados nos simpsios Transformao das prticas em sade, Vulnerabilidades contemporneas e Curso de vida e RS, acres-cidos de trabalhos sobre RS e sade do GT da ANPEPP.

    Com este livro, espera-se oferecer aos estudiosos da rea e aos estudantes que comearam a se dedicar ao estudo das relaes entre representaes sociais, sade e envelhecimento elementos consistentes para a multiplicao de novas pesquisas e para a qualificao das aes de interveno.

  • PREFCIOPARCOURS DE VIE ET PERCEPTIONS DANS LTUDE

    DU VIEILLISSEMENT ET DE LA SANT

    STEFANO CAVALLI (University of Applied Sciences and Arts of Southern Switzerland)

    Vieillissement et sant sont deux concepts souvent associs, le premier comportant une dtrioration de la seconde. Sous linfluence du regard biomdical, dans les socits occiden-tales, nous tendons concevoir le vieillissement sur le mode du dclin, comme un processus de snescence marqu par le ralentissement et laffaiblissement des fonctions vitales. De nos jours, cette reprsentation ngative coexiste avec une concep-tion plus favorable qui considre quil est possible de bien vieillir, de connatre un vieillissement russi (ROWE; KAHN, 1987). En fait, il sagit dune image qui mane de la prcdente, le bien vieillir sous-entendant quil faut sefforcer dchapper au dclin, quil faut prendre soin de soi travers une alimen-tation suffisante et quilibre, une activit physique rgulire, etc. pour prvenir la dpendance. Le risque est alors den faire une injonction, de rendre les individus seuls responsables de leur destin et, par la mme occasion, de considrer les vulnra-bilits du grand ge comme des checs (CARADEC, 2012). Ces visions voquent les deux ples imaginaires de la vieillesse qui ont travers lhistoire: dcrpite ou ingrate dune part, en sant ou panouie de lautre; limage positive tant moins rpandue, voire rserve une minorit, et construite par opposition celle qui est ngative (HUMMEL, 1999).

    Quen est-il dans la ralit? Le vieillissement est-il indissociable de lide de dclin, qui est lorigine de craintes

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    tant sur le plan individuel (peur de lavenir, notamment de lvolution de sa propre sant) que collectif (discours sur les consquences nfastes du vieillissement dmographique ou sur lexplosion des cots de la sant)? Sil est indniable que vieillir comporte une rduction, progressive ou par -coups, des rserves physiologiques, si le risque de souffrir de mala-dies, accidents et incapacits augmente avec lge, depuis un certain nombre dannes la recherche en grontologie a bien montr quel point le vieillissement est un phnomne complexe aux multiples facettes.

    Un premier constat est que les conditions de vie et de sant des personnes ges varient dans le temps et lespace. Au cours des dernires dcennies, dans les pays occidentaux de lhmisphre nord (mais, de plus en plus, cela concerne aussi de vastes rgions du Sud), la vie des personnes ges a connu une transformation sans prcdent: non seulement les ans vivent plus longtemps, mais ge gal ils bnficient dune meilleure sant, de mme que de conditions matrielles et dexistence plus confortables, que les gnrations antrieures. Cest ainsi que lon a assist une progressive sparation entre le moment du passage la retraite et lge de la snescence, qua merg cette nouvelle tape de la vie appele troisime ge (LASLETT, 1989). Ces changements ne vont pas sans poser un certain nombre de questions: la vieillesse est-elle compose de deux moments successifs ou plutt repousse vers un ge toujours plus avanc? Comment nommer ces tapes et les personnes qui les habitent? Naissent alors diffrentes distinctions smantiques, entre troisime ge et quatrime ge en Europe, entre young old et old old (voire mme oldest old) en Amrique du Nord, ou encore entre idoso et velho en langue portugaise. Il y a aussi un risque: considrer le troisime ge comme celui de

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    toutes les possibilits et le quatrime ge comme celui de tous les maux (BALTES; SMITH, 2003).

    Do la question de savoir si, somme toute, les reprsenta-tions positives et ngatives de la vieillesse portent sur le mme objet social, ou si les premires sont rserves ceux qui ne sont pas (encore) vieux.

    Deuxime constat, la vieillesse et mme la grande vieil-lesse nest pas synonyme de maladie et de dpendance (tout comme de solitude, abandon ou pauvret). La caractristique partage de la population trs ge est la fragilit, cest--dire cet tat qui, suite la perte de ressources lie lge, affecte la rsilience dune personne, savoir sa capacit prserver un quilibre avec son environnement ou le rtablir la suite dv-nements perturbateurs (LALIVE DEPINAY; SPINI, 2008). Cette fragilit a des implications importantes dans plusieurs aspects de la vie quotidienne et se manifeste de manire trs diversifie dune personne lautre. Nous retrouvons ici un autre attribut de la vieillesse, son htrognit, au point quil ny a pas dautres moments dans la vie o les diffrences, voire les ingalits, entre les individus sont si marques ingalits qui ont leurs origines dans les processus daccumulation des avantages et des incon-vnients au cours de lexistence (DANNEFER, 1987).

    Pour mieux saisir ces phnomnes, que sont le vieillis-sement des individus et la sant, jestime particulirement fcond de sinscrire dans la perspective des parcours de vie et dadopter une dmarche qui prenne en compte la perception subjective des individus. Le paradigme des parcours de vie sest dvelopp partir des annes 1970, en Amrique du Nord et en Europe centrale, pour tudier le droulement des vies humaines dans leur extension temporelle et dans leur cadrage sociohis-torique (LALIVE DEPINAY et al., 2005; MARSHALL; MUELLER,

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    2003). Il nous enseigne quil faut considrer le dveloppement de lindividu dans sa totalit, de la naissance la mort, et le concevoir comme un processus multidimensionnel ( la fois biologique, psychologique et social), englobant les diffrentes sphres dans lesquelles se droule lexistence (famille, travail, formation, etc.), comportant chaque ge de la vie la fois des gains (des croissances) et des pertes (des dclins); par ailleurs, les trajectoires des individus doivent tre ancres dans des contextes sociaux particuliers. Il en dcoule que la manire dont une personne fait lexprience du vieillissement, ou de la sant, dpend de ses ressources, des expriences passes, du contexte socital et historique, des normes et valeurs, ainsi que des reprsentations sociales en vigueur.

    Les changements intervenant dans la vie des individus peuvent tre identifis soit dune manire qui se veut objective par un observateur extrieur une dmarche objectivante, qui se base sur des donnes factuelles , soit de manire subjective par les individus eux-mmes. Et ce qui reprsente un change-ment pour lobservateur nest pas forcment vcu comme tel par lacteur, et vice-versa. Puisque, comme nous la appris William I. Thomas, la dfinition dune situation comme relle va avoir des consquences relles (MERTON, 1995), pour apprhender les parcours de vie il convient dtudier aussi la faon dont les individus les peroivent. Sintresser aux interprtations que les personnes ges proposent de leur vieillissement ou de leur trajectoire de sant aide, par exemple, mieux comprendre comment des individus atteints dans leurs capacits physiques et fonctionnelles sont relativement heureux et satisfaits de leur vie.

    Prenons deux exemples. Premirement, si nous deman-dons une personne ge dvaluer sa sant, elle ne le fera pas dans labsolu, mais en regard de ce quelle peut raisonnablement

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    attendre compte tenu de sa situation et de son ge avanc. Les rpondants peuvent alors soit fonder leur avis sur la conception quils se font de la bonne sant, soit recourir la comparai-son sociale qui consiste se mesurer dautres personnes se trouvant dans une situation analogue pour conclure que leurs problmes sont moins importants que ceux rencontrs par beaucoup de contemporains, soit encore attribuer une partie des ennuis physiques au vieillissement du coup, leur ge, il leur

    parat normal davoir quelques soucis de sant. En ce sens, les strotypes sur la vieillesse auraient un effet bn-fique, puisque le dcalage entre sa situation personnelle et les attentes ngatives engendres par de tels clichs inviterait la personne ge porter un regard satisfait sur son sort. Tous ces mcanismes contribuent expliquer le dcalage croissant, avec lavance en ge, entre un tat de sant qui se dgrade clai-rement et une perception de la sant plus ou moins stable (ou qui en tout cas dcline moins fortement). Dans la littrature scientifique, on peroit cela comme un paradoxe (HENCHOZ; CAVALLI; GIRARDIN, 2008).

    Le deuxime exemple a trait la conscience dtre vieux. Dlimiter les frontires de la vieillesse nest pas chose aise, il peut alors tre intressant de demander des personnes trs ges de sexprimer sur leur propre vieillissement. Surprise, nombre doctognaires et de nonagnaires, en dpit de leur grand ge chronologique, ne se sentent pas vieux (BALARD, 2011; CAVALLI; HENCHOZ, 2009). gs oui, mais pas vieux! Quelques-uns ont jusquici t pargns par les maladies et les accidents et mnent leur vie en toute autonomie; dautres, en mauvaise sant, nient la ralit pour tenter dy chapper, sachant aussi que se reconnatre vieux signifie avoir conscience que lon est entr dans la dernire tape de sa vie; la plupart,

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    travaills par la fragilit, considrent que les vieux ce sont les autres, ils essaient de sen distinguer et de se dfendre de cette dsignation quils jugent dvalorisante. En gnral, ceux qui ne se sentent pas vieux tiennent un discours qui tablit une continuit avec le pass, tandis que ceux qui reconnaissent quils sont vieux ont le sentiment davoir vcu une rupture dans leur existence (CARADEC, 2003), mme sils ne parviennent pas toujours la dater. Parfois, elle est associe un vnement dclencheur, le plus souvent un accident de sant, mais il se peut aussi que le passage du troisime au quatrime ge se prsente comme un processus sourd et presque invisible, ce quune approche autobiographique permet tout de mme dap-prhender (CAVALLI; HENCHOZ, 2009).

    Louvrage que vous tenez entre les mains sinscrit plusieurs gards dans ces perspectives et la richesse des travaux, la fois thoriques et empiriques, qui y sont contenus concourt une meilleure comprhension du vieillissement et de la sant. Il faut saluer le choix des diteurs les professeurs Antonia Oliveira Silva et Brigido Vizeu Camargo davoir runi des crits originaux et varis o ces thmatiques sont abor-des travers la thorie des reprsentations sociales (dont, je dois avouer, je ne suis pas un spcialiste), tout en faisant ici et l des clins dil au paradigme des parcours de vie, aux inte-ractions entre biographies individuelles et structures sociales. De plus, loin de se limiter aux discours et aux catgories four-nis par les experts il est ici question du regard du dedans, de la vision des individus sur eux-mmes, sur leur vieillisse-ment et leur sant. Ceci permet dexaminer la manire dont les individus participent la construction de ces formes de connaissance socialement labores et partages que sont les reprsentations sociales (JODELET, 1989), mais surtout de voir

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    comment ils sen approprient dans la vie de tous les jours, afin de donner un sens lexprience de lavance en ge ou pour faire face aux multiples changements et transformations qui jalonnent les parcours de vie.

    Au fil des pages, le lecteur sapercevra de lintrt dune analyse mene sous langle de la thorie des reprsentations sociales. En effet, limage qui en ressort rend compte de la complexit des phnomnes tudis, de le leurs multiples facettes. Le vieillissement, par exemple, nest pas assimil au seul dclin, mais des gains sont possibles jusqu un ge avanc, tant au niveau comportemental que cognitif. Par ailleurs, une ample place est faite aux notions, parfois oublies, de sagesse, dexprience et de spiritualit. Le recours aux concepts de fragi-lit et de vulnrabilit, quant lui, met laccent sur des situa-tions, dont les reprsentations sont encore relativement peu tudies, caractrises par une raret

    de ressources qui expose au risque de subir les cons-quences ngatives dvnements indsirables sans tre en mesure de les affronter de manire efficace. On laura compris, les apports de ce livre collectif sont nombreux et divers, et son caractre international ne fait qutendre son rayonnement. Il sinscrit aussi dans une srie douvrages parus ces dernires annes au Brsil et au Portugal sur les reprsentations sociales du vieillissement qui tmoignent dun champ de recherche particulirement vivant et stimulant.

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    REFERNCIAS

    BALARD, F. Vivre et dire la vieillesse plus de 90 ans, se sentir vieillir mais ne pas tre vieux: Ambivalence des reprsentations du grand ge par les personnes trs ges. Grontologie et Socit, n. 138, p. 231-244, mar. 2011.

    BALTES, P. B.; SMITH, J. New frontiers in the future of aging: From successful aging of the young old to the dilemmas of the fourth age. Gerontology, Innsbruck- Austria, n. 49, p. 123-135, mar./abr. 2003.

    CARADEC, V. Etre vieux ou ne pas ltre. LHomme et la socit, Paris, n. 147, p. 151-167, jan. 2003.

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  • PREFCIO

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  • PARTE I REPRESENTAES SOCIAIS E ENVELHECIMENTO

  • CAPTULO 1A CATEGORIA SABEDORIA NOS ESTUDOS SOBRE

    REPRESENTAES SOCIAIS DO ENVELHECIMENTO: UMA REVISO DO CONCEITO E DE ESTUDOS RELACIONADOS

    CLLIA MARIA NASCIMENTO-SCHULZE(Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)

    INTRODUO

    Considerando que uma reviso terica sobre as categorias cons-trutivas do conceito de envelhecimento contribui para o avano do conhecimento na rea, sero visitados, neste captulo, alguns resultados empricos a respeito das representaes do envelhe-cimento que j apontavam para a centralidade da categoria sabedoria. Alm disso, sero discutidas algumas contribuies tericas e empricas, de orientao sociocognitiva, que suportam o debate sobre as representaes da sabedoria. Finalmente, sero apresentados exemplos atuais que evidenciam a importncia da mdia e particularmente da internet na construo de repre-sentaes sobre o envelhecimento, em que sabedoria se coloca como um elemento central.

    Primeiramente, necessrio ressaltar o carter mais negativo das associaes feitas em relao ao envelhecimen-to. Se verificarmos as produes na rea da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia Social e da Gerontologia, pode-mos notar uma tendncia forte de se enfatizar os aspectos negativos relativos a essa etapa de vida. Tal nfase esteve parti-cularmente presente nas dcadas finais do sculo passado, sendo que, a partir dos anos 2000, houve um esforo por parte dos

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    pesquisadores no apenas no sentido de demonstrar a existncia desses esteretipos e de seus efeitos nefastos, mas tambm de focalizar seus estudos em um marco terico mais promissor, que fosse alm da questo das perdas e das doenas.

    Em um trabalho voltado para as representaes de enve-lhecimento e envelhecimento positivo, com enfoque nas relaes entre grupos etrios, Nascimento-Schulze (2011) fez uma reviso de estudos de cunho internacional sobre as representaes de envelhecimento que antecedem a publicao das polticas pbli-cas globais do incio desse sculo. Verificou-se que, em geral, as pesquisas examinadas apontavam para representaes negati-vas frente ao envelhecimento e ao idoso. Ainda na reviso terica desse artigo, Nascimento-Schulze (2011) considera o fenmeno da estereotipia e a sua ameaa sobre a realidade social quoti-diana do idoso.

    Levy et al. (2002), por exemplo, discutiram os efeitos negativos da estereotipia sobre a autopercepo e o desempe-nho dos idosos, demonstrando em estudos experimentais que os esteretipos sociais so internalizados e podem impactar na conduta sem mesmo que os sujeitos idosos o percebam. Alm disso, descobriram que os esteretipos relacionados ao idoso so adquiridos na infncia e se estabelecem dcadas antes que o sujeito entre em idade mais avanada. Os autores enfatizaram, por fim, nos resultados, o fato de que, quanto mais positivas as autopercepes de envelhecimento, mais os participantes idosos manifestaram desejo de viver. De fato, estudos realizados anos mais tarde apontaram que tais respostas estiveram associadas sobrevida dos participantes. Nozek, Banaji e Greenwald (2002) tambm encontraram indicadores de esteretipos associados internalizao de categorias negativas por parte dos idosos, quando se comparavam com grupos de indivduos mais jovens.

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    Tais estudos foram concomitantes a vrios outros sobre representaes sociais revistos por Nascimento-Schulze (2011), os quais apresentam verses negativas de representaes de envelhecimento e velhice. Esses dados, em conjunto, podem ser considerados como indcios de uma viso tipificada e estereo-tipada de envelhecimento e velhice, que, ao ser compartilhada, teve um efeito nocivo sobre o desempenho cognitivo de idosos, reforando um contexto social debilitante.

    PARADIGMA DE ENVELHECIMENTO

    importante ressaltar o quanto ficou perceptvel, ao fazermos essa reviso, seguindo uma linha cronolgica das publi-caes, que um novo paradigma de envelhecimento comea a surgir. Consideramos paradigmas como concepes construti-vas que auxiliam na interpretao da realidade, no sentido de fornecer elementos cognitivos para a tomada de posio frente a tpicos abrangentes, e que esto relacionadas s representaes sociais. Em estudos anteriores (NASCIMENTO-SCHULZE et al., 2002; NASCIMENTO-SCHULZE; GARCIA; ARRUDA, 1995), adota-mos a viso de paradigmas em estudos sobre a sade e o meio ambiente. Presentemente, utilizamos o conceito de paradigma para definir posicionamentos e representaes que percebem o envelhecimento como um processo do desenvolvimento humano.

    Um antigo paradigma de envelhecimento se refere a vises, prticas sociais, escolhas de conduta, decises e estra-tgias de interaes sociais concernentes aos idosos. Tal viso enfatiza a doena, a perda e o decaimento fsico e cognitivo. Um novo paradigma de envelhecimento ressalta a sade, focali-za-se nos ganhos e considera o idoso alm do seu corpo e de suas

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    funes biolgicas. O enfoque biopsicossocial. Admitimos, contudo, que a dimenso espiritual tambm deveria ser includa nesse enfoque, j que os dados que emergem das respostas dos prprios idosos frequentemente se relacionam experincia espiritual do respondente.

    De fato, os modelos terico-cientficos mais atuais tm seguido essas caractersticas atribudas ao novo paradigma de envelhecimento, concentrando-se mais nos aspectos positivos do envelhecimento, e no primordialmente nas perdas rela-tivas ao corpo e ao crebro. Podemos tomar como exemplo a viso de Baltes (1987), que verifica empiricamente a relao entre ganhos e perdas na idade madura, bem como o modelo de Gergen e Gergen (2002), que dirige a ateno a aspectos positivos do envelhecimento. Essa nova viso tambm inspira os pressu-postos apresentados pela Organizao Mundial de Sade (OMS). As publicaes apoiadas pela Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura (UNESCO) e pelo Conselho da Unio Europeia tambm se posicionam claramente quanto insero do idoso na sociedade.

    Roger e Le Ribault (1999) lanam um livro de imagens e poemas sobre o envelhecimento, subsidiado pela UNESCO, e que serve de prenncio para as polticas globais na Europa, as quais foram transformadas em aes durante a primeira dcada do novo milnio. importante notar que, dentre as categorias inspiradoras do livro, est sabedoria, que marca a contribui-o do idoso s outras geraes.

    Em 2002, a OMS lanou o conceito de envelhecimen-to positivo, que foi descrito inicialmente como o processo de otimizao das oportunidades em relao sade, da parti-cipao social e da segurana, com o objetivo de implementar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem (WHO, 2002).

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    Vale a pena destacar que, em 2010, o Conselho da Unio Europeia j publicava suas concluses sobre o envelhecimento ativo e sugeria que fossem adotadas como parte das polticas pblicas globais e nacionais. Destaca-se o reconhecimento de que a pessoa idosa prov auxlio essencial aos outros membros da sociedade e deve, portanto, ser encorajada a continuar ativa e independente, sendo essa uma prioridade para que o manejo sustentvel dos efeitos do envelhecimento sobre a economia e a sociedade seja bem-sucedido. O Conselho ainda encoraja a solidariedade entre os diversos grupos geracionais e declara a discriminao com base na idade como sendo inaceitvel.

    Paralelamente, durante a primeira dcada deste sculo, algumas linhas de pesquisa significantes a respeito do envelhe-cimento passaram a ter um novo olhar subjacente, que busca-va ir alm dos aspectos negativos mencionados. Por exemplo, Blanchard-Fields, Horhota e Mienaltowski (2008), em um livro sobre envelhecimento cognitivo, argumentam que a nfase dada ao declnio cognitivo pode no estar refletindo acurada-mente a amplitude potencial das habilidades dos idosos e de seu conhecimento. Ressaltam tambm que, quando so consi-derados aspectos situacionais, emoes e tudo o que define o contexto cotidiano, os idosos tm uma boa atuao nas tarefas medidas nos estudos acerca da cognio do idoso. Estaremos retornando a esse aspecto mais adiante, ao revermos os estudos de Castel e Grossmann.

    Hertzog et al. (2009) seguem a linha de pensamento de um novo paradigma, na medida em que se concentram no conceito de envelhecimento ativo. Os autores buscam responder ques-to de se a capacidade funcional dos idosos pode ser preserva-da e melhorada e trazem evidncias para o argumento de que comportamentos individuais e contextos ambientais podem

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    melhorar o funcionamento cognitivo e o desenvolvimento na idade adulta e na velhice. Oferecem uma contribuio valiosa ao enfoque do envelhecimento ativo, uma vez que examinam o impacto da atividade fsica sobre o crebro e o enriquecimen-to cognitivo, ou seja, a cincia por trs da afirmao de que a atividade fsica e o exerccio so benficos mente e ao crebro.

    Pesquisa realizada sobre representaes sociais do enve-lhecimento ativo e positivo demonstrou claramente a fora da categoria sabedoria como elemento central nas representaes sociais encontradas. Nascimento-Schulze (2011), em um estudo intergeracional a respeito de envelhecimento positivo com quatro grupos etrios, utilizou-se da tcnica de evocao livre de palavras. Sabedoria emergiu como a categoria mais frequente e central.

    Figura 1 Representaes Sociais de envelhecimento no Nordeste.Fonte: autoria prpria.

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    Outro estudo realizado com sujeitos do Nordeste, em que foi utilizada a mesma metodologia e que investigou as repre-sentaes de envelhecimento ativo e positivo (NASCIMENTO-SCHULZE et al., 2009), tambm encontrou a categoria sabedoria em posio de destaque. Como pode ser observado nas Figuras 1 e 2, nas respostas dadas palavra estmulo envelhecimento, as categorias experincia e sabedoria aparecem no primeiro quadrante (Figura 1). Nos dados sobre envelhecimento ativo, que se refere mais ao fator atividade, em especial atividade fsica, sabedoria aparece em um dos quadrantes perifricos. Todavia, quando se fala de envelhecimento positivo, sabedoria aparece como a categoria mais frequente no primeiro quadrante (Figura 2). Esses resultados acompanham os encontrados no sul do pas (NASCIMENTO-SCHULZE, 2011).

    Figura 2 Representaes Sociais de Envelhecimento Positivo no Nordeste.Fonte: autoria prpria.

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    Os estudos realizados com uma populao do Nordeste e do Sul do Brasil no tinham como foco central a questo da sabe-doria, porm, merecem ser destacados porque essa categoria surge nos resultados como um elemento de centralidade e, alm disso, os resultados evidenciam mudanas em direo a uma viso mais positiva do envelhecimento. Em ambos os estudos, os respondentes de diferentes idades foram expostos a definies sobre envelhecimento positivo e envelhecimento ativo, inspira-das no conceito de envelhecimento ativo da OMS e na definio de envelhecimento positivo de Gergen e Gergen (2002).

    Alm dessas, trs outras contribuies sero mencionadas a seguir, porque enriquecem o conceito de sabedoria e trazem elementos empricos importantes para a estruturao de um programa de pesquisa sobre representaes do envelhecimento. Nessa mesma perspectiva, o estudo intercultural e as linhas de pesquisa apresentam novas nuances para a construo de um marco terico mais complexo.

    Lockenhoff et al. (2009) consideram a contribuio da teoria das representaes sociais no estudo do envelhecimen-to, uma vez que as vises sobre o envelhecimento mantidas em uma dada cultura constituem formas de representaes sociais compartilhadas. Segundo os autores, tais representaes compem sistemas de ideias, valores e costumes relacionados ao envelhecimento, que so tratados pelos membros da socie-dade como se fossem verdades estabelecidas. Pressupe-se que as percepes de envelhecimento sejam multidimensionais por natureza e, portanto, envolvem aspectos positivos e negativos, assim como vises acuradas e distorcidas.

    Os autores no esperavam diferenas significativas entre as culturas nos resultados, pois se referiam a aspectos mais biolgicos do envelhecimento. Porm, contavam com diferenas

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    interculturais acentuadas no que dizia respeito s questes que tratavam de caractersticas socioemocionais e do status social. Implcito estava o pressuposto de que o nvel de desenvolvimen-to socioeconmico, os valores culturais e as crenas tm um impacto sobre as diferenas interculturais respectivas s atitu-des sobre o envelhecimento.

    O estudo envolveu 3.500 estudantes de 26 pases e 6 conti-nentes. Dentre vrios instrumentos de medida, foi utilizado um questionrio com 8 categorias que deveriam ser apreciadas numa escala. Era perguntado ao respondente se a categoria em questo aumentava, diminua ou ficava estvel medida que as pessoas envelheciam. Em geral, os escores foram negativos frente a vrias categorias, como atrao fsica e facilidade para novas aprendizagens. Todavia, foram consistentemente positi-vos para as categorias conhecimento, sabedoria e respeito. Essas categorias foram percebidas como estando correlacionadas positivamente com a idade, aumentando ao passo que a idade aumentava. Esse resultado ocorreu para os grupos de sujeitos de todas as culturas. Respondentes de culturas com uma populao mais idosa e mais educada endossaram ainda mais a ideia de que a sabedoria aumenta com a idade.

    Esses resultados foram interpretados segundo a teoria de modernizao de Inglehart, a partir da qual existe uma asso-ciao entre o desenvolvimento social avanado e as mudanas culturais na direo de valores que privilegiam o racional, a tolerncia e a participao ampla de vrios segmentos sociais.

    A incluso das linhas de pesquisa de Castel e Grossmann pertinente aqui, porque, alm de trabalharem com uma sequn-cia de estudos que envolvem ampla amostragem, os autores introduzem um novo marco conceitual que coloca a discus-so sobre sabedoria novamente em destaque, fortalecendo um

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    conceito que, em um passado recente, foi abandonado por ser visto como fuzzy, ou seja, pouco claro, nebuloso.

    SELETIVIDADE E METACOGNIO

    Castel, Mc Gillivray e Friedman (2012) introduzem o conceito de metacognio no somente dentro de sua contri-buio terico-cientfica, mas tambm para o pblico em geral. Semelhante a Herzog e outros cientistas norte-americanos, ele traduz seu trabalho cientfico para a populao por meio de um blog e de uma revista eletrnica, Psychology Today, que informa o pblico sobre as novidades da cincia psicolgica numa lingua-gem acessvel e palatvel, o que no significa que no estejam fazendo um trabalho de ponta que primeiramente publicado em revistas cientficas, depois em livros e por fim divulgado eletro-nicamente para o pblico.

    Castel et al. (2011) examinam a seletividade cognitiva em estudos experimentais de laboratrio, observando como a habi-lidade de lembrar estrategicamente de informao relevante, a que se atribui valor, muda em funo da idade, assim como investigam o fenmeno da infncia velhice. Os estudos consi-deram grupos geracionais, com variao de idade de 5 a 96 anos, analisando as variveis estudadas ao longo da vida. Buscaram tambm notar diferenas na seletividade cognitiva, conside-rando as diferenas mais marcantes para cada grupo etrio.

    No procedimento utilizado, os pesquisadores podiam medir tanto a quantidade como a capacidade da memria. Assim, eram considerados o nmero de palavras lembradas e a eficincia e seletividade da memria. Nesse caso, seletividade se refere lembrana de itens com alto valor em relao aos

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    itens com baixo valor. Diferenas concernentes idade foram encontradas para a varivel capacidade de memria, uma vez que os adultos jovens se lembraram de mais palavras do que os outros grupos. No entanto, tanto os adultos de idade mdia como os adultos mais velhos foram mais seletivos do que os adolescentes e as crianas.

    O que notamos, ento, que h uma dissociao entre os dois processos (memorizar em quantidades e em qualidade com seletividade) ao longo do trajeto de vida. Essa dissociao ilustra importantes diferenas relacionadas idade em termos de capacidade de memria e da habilidade de lembrar seletiva-mente de uma informao que altamente valorada.

    Cabe introduzir aqui que Blanchard-Fields, Horhota e Mienaltowski (2008), em seu captulo sobre envelhecimento cognitivo, admitem que dados de pesquisa com responden-tes idosos apresentam um declnio no desempenho de tarefas cognitivas associadas aos mecanismos bsicos de cognio. Os autores argumentam que, se por um lado importante detectar esse declnio, por outro, esses estudos podem no estar refletindo acuradamente a amplitude potencial das habilidades dos idosos e de seu conhecimento.

    Castel et al. (2011) sugerem uma dissociao entre a capacidade de memorizar grandes quantidades de estmulos e a capacidade de selecionar os estmulos a serem memorizados. Desse modo, se nos estudos sobre diferenas de desempenho os idosos tm resultados inferiores aos de sujeitos mais jovens, nas tarefas que contemplam a seletividade de estmulos a serem memorizados, eles se distinguem pela habilidade de selecio-nar bem as informaes que lhes so teis para a resoluo de problemas e tomada de decises importantes.

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    Essas colocaes propem uma mudana de cenrio, pois o fato de que em vrios estudos os idosos no tm um desempe-nho expressivo na reteno de novos contedos fica ofuscado pelo sucesso na seletividade dos estmulos prvia memori-zao, sendo essa uma habilidade importante na conduo de decises sbias.

    Como passos para futuras investigaes, Castel et al. (2011) tambm sugerem que a seletividade e o controle estrat-gico da memria sejam associados a diferenas na funcionalida-de e nas conexes entre as regies do crebro, especificamente a rea frontal e o hipocampo, j que so essas conexes que mudam com a idade. Assim, as mudanas ocorridas ao longo da vida de uma pessoa tambm so acompanhadas de mudanas neuropsicolgicas. Consequentemente, as formas de lidar com as mudanas de memria, ou seja, a metacognio, podem estar associadas questo da seletividade sbia.

    Castel et al. (2011) apontam ainda para a necessidade de se compreender como e por que a informao importante mais bem codificada e lembrada. Para tanto, faz-se necessrio que se compreendam os fatores que moderam o efeito. Como os idosos aprendem a identificar e lembrar-se de informaes importantes uma questo que fica em aberto. Uma sugesto para investigaes futuras a de se verificar at que ponto a seletividade est diretamente relacionada com a experincia de vida, a cultura e a sabedoria.

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    UM CAMINHO PARA O BEM-ESTAR: INTELIGNCIA VERSUS RACIOCNIO SBIO

    Nesse momento, recorremos literatura de Grossmann (2012), cujo conjunto de estudos experimentais adota os concei-tos de sabedoria e raciocnio sbio em contextos interindividuais e intergrupais que envolvem questes de conflito, assumindo-se que as habilidades superiores de raciocnio levem a um maior bem-estar. Porm, segundo Grossmann (2012), os pesquisadores que o antecederam no deram conta da tarefa de demonstrar claramente tal pressuposto (CAMPBELL; CONVERSE; ROGERS, 1976; DIENER; FUJITA, 1995). O autor supe que tal fracasso se deva ao fato de que os colegas que o antecederam se concentra-ram na noo de raciocnio analtico e no na de pensamento sbio. Alm disso, critica os estudos anteriores por no inclurem em seus instrumentos a questo da habilidade de participao e negociao nas relaes sociais, bem como tpicos e assuntos reais e importantes aos participantes.

    Ele aceita o pressuposto de que o raciocnio superior possa estar relacionado com o bem-estar, mas, alm disso, acei-ta que a premissa seja verdadeira para o raciocnio pragmtico, opondo-se ao abstrato. O raciocnio pragmtico se caracteri-za por ser influenciado pelas experincias de vida e por estar situado num contexto social especfico.

    Sabedoria tem sido definida de vrias formas, mas h tambm um consenso, conforme Grossmann, de que ela envolve o uso de certos tipos de raciocnios pragmticos, que so pr-sociais e ajudam o indivduo a navegar atravs dos desafios da vida social. O Paradigma da Sabedoria de Berlim definiu sabedoria como um conhecimento til para lidar com os problemas da vida, inclusive uma conscincia dos vrios

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    contextos de vida e de como estes variam ao longo do tempo, reconhecendo as incertezas da vida e as formas de lidar com elas e que valores e objetivos diferem entre as pessoas.

    Os neopiagetianos Basseches (1980) e Kramer (1983, 2000) encaram o raciocnio como um conjunto de esquemas cogniti-vos que tambm esto envolvidos no pensamento sbio e que incluem: o reconhecimento do ponto de vista do outro, a apre-ciao de contextos mais amplos do que o tpico que est sendo tratado, a sensibilidade no que tange possibilidade de mudana nas relaes sociais, o reconhecimento da probabilidade de mlti-plos desfechos em um conflito, a preocupao com a resoluo de conflitos e a preferncia pelo compromisso entre os pontos de vista opostos. Esses autores influenciaram o pensamento de Grossmann (2012), que decidiu investigar mais a fundo a relao entre bem-estar e pensamento sbio, criando um conjunto de categorias que suprem os pontos criticados. Assim, encarando sabedoria como sendo parte de um processo, Grossmann (2012) conceitua sabedoria como um conjunto de estratgias de racio-cnio que podem ser aplicveis e benficas ao longo de um amplo nmero de conflitos sociais. Nesse caso, sabedoria vista no como um conhecimento esttico sobre um determinado conflito, mas, sim, como o uso de um raciocnio dinmico e de estratgias que podem ser utilizadas em vrios domnios.

    Os estudos que compuseram sua tese de doutorado fize-ram parte de um programa de pesquisa mais amplo, realizado no Laboratrio de Zajonc, em Michigan (GROSSMANN, 2012). Tais estudos foram conduzidos em ambientes socialmente agra-dveis e confortveis. Foi tomado um cuidado especial para no levar os sujeitos a sentirem pnico frente s tarefas de testes de habilidade cognitiva e possvel ameaa ligada a esteretipos relacionados idade (ageism).

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    Grossmann se utiliza de entrevistas estruturadas para chegar a um construto social de sabedoria a ser considerado e medido a partir da descrio de um material rico em realida-de de conflitos sociais, sendo que os raciocnios implcitos so levados em conta num questionrio que engloba as dimenses desejadas, operacionalizadas em frases que contemplam situa-es reais. Foram medidas seis amplas estratgias de raciocnio sbio na anlise de contedo dos respondentes. Os componentes encontrados se caracterizaram como o reconhecimento: 1) das perspectivas das pessoas envolvidas no conflito; 2) da possibi-lidade de mudana; 3) dos possveis mltiplos desdobramen-tos do conflito; 4) da incerteza e dos limites do conhecimento; 5) da importncia de buscar um compromisso entre os pontos de vista opostos e 6) da importncia de prever a resoluo de conflitos. A validade dessas medidas de raciocnio sbio foi demonstrada num estudo recente que envolveu pesquisadores e conselheiros experts na questo da sabedoria.

    Participaram 241 adultos, metade homens e metade mulheres, de trs cohorts (25-40, 41-59 e 60-90 anos de idade). O material estmulo consistia em jornais e recortes de artigos a respeito de conflitos. Os tpicos versavam sobre diferenas tnicas, recursos naturais e poltica. Os sujeitos eram entrevis-tados e motivados a expor seu ponto de vista segundo questes como: o que voc acha que vai ocorrer depois disso? Algo mais? Por que voc acha que vai ocorrer dessa forma? Numa prxima sesso, os sujeitos liam trs cartas que descreviam um dilema pessoal (entre amigos, esposos e vizinhos), selecionadas de uma coluna de jornal famosa que discutia com o leitor sobre seus problemas, oferecendo conselhos. Cada sesso durava em mdia 30 minutos.

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    Na codificao dos resultados, foram utilizados juzes que desconheciam as hipteses e no tinham acesso idade dos respondentes. As respostas foram analisadas por meio das das seis dimenses mencionadas a seguir: 1) considerar as perspec-tivas de todos os envolvidos; 2) reconhecer a possibilidade de mudana; 3) elencar as mltiplas possibilidades de como um conflito pode se desenvolver; 4) avaliar os limites do prprio conhecimento e reconhecer a incerteza; 5) buscar compromisso e 6) prever resoluo de conflito.

    Cabe ressaltar que, em condies de conflito intergrupal, resultados relativos rapidez no processamento de tarefas esti-veram negativamente correlacionados com o raciocnio sbio, enquanto as habilidades verbais cognitivas apresentaram uma associao positiva com ele. Alm disso, raciocnio sbio esteve associado a maior satisfao de viver, com menos afetos nega-tivos, com relacionamentos mais resolvidos, com menor tempo envolvido com depresso e pensamentos recorrentes e com um uso mais elevado de palavras positivas e longevidade. As duas linhas de pesquisa consideradas so exemplos do uso do mtodo experimental na construo de um marco terico articulado e estruturado, que vem trazer uma contribuio positiva e um novo status para a teorizao sobre sabedoria, a qual recebeu no passado certo descaso por parte da comunidade acadmica por ser vista como um conceito amplo e pouco explicativo.

    A seguir, retomaremos algumas das contribuies passa-das e diretamente relacionadas com o conceito de sabedoria. Tais contribuies tm sido retomadas pela mdia, j que a gera-o baby boomer, que entra agora na terceira idade, cada vez mais exige da sociedade, da cincia e da mdia uma insero clara no cenrio social.

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    O CONCEITO DE SABEDORIA REVISITADO

    Os jornais e a internet tm ocupado um papel de difuso dos contedos cientficos e suas aes interessam de perto aos investigadores voltados questo das representaes sociais. Especificamente nesta pesquisa, interessa-nos observar como a divulgao cientfica sobre a sabedoria e o envelhecimento pode contribuir na construo do senso comum. Um jorna-lismo srio e bem informado tem praticado a divulgao das descobertas cientficas sobre o envelhecimento e a sabedoria, num contexto norte-americano e internacional, auxiliando na recuperao de contedos que tm funes especficas em nossas sociedades atuais.

    Hall (2007), em um artigo bastante mencionado e publi-cado h oito anos no The New York Times, profetizava acerca do surgimento de uma nova maneira de envelhecer quando se refe-riu nova maturidade e hiptese de que, quanto mais velho, mais sbio. O autor faz uma resenha de todos os estudiosos que, de uma forma ou de outra, estiveram relacionados entre si e mantiveram tradies de estudo que estavam diretamente ligadas pesquisa a respeito de sabedoria ou contemplavam marcos tericos prximos ao conceito.

    No artigo a respeito da contribuio de Erik Erikson, Hall (2007) inicia abordando tratado do terico sobre as fases de desenvolvimento de vida, o qual identificou sabedoria como sendo um produto do processo de envelhecimento, embora no floresa necessariamente na vida de cada indivduo. Ele apon-ta o primeiro estudo formal acerca do envelhecimento num contexto acadmico como tendo sido o realizado por Vivian Clayton, que foi inspirada pelo pai e pela av como mode-los de sabedoria em sua vida. Entre os anos de 1976 e 1982,

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    Clayton publicou artigos que so reconhecidos como sendo os pioneiros no que diz respeito sugesto de um estudo cient-fico da sabedoria. Durante esses anos, ela manteve uma proxi-midade com Paul Baltes, que trabalhava na Universidade do Estado da Pensilvnia.

    Baltes monitorou e incentivou os trabalhos de Clayton at quando ela publicou seu ltimo artigo, em 1982, e abandonou a academia de vez. Os estudos sobre sabedoria passaram ento a ser desenvolvidos pela equipe de Baltes, o qual se mudou para Berlim em 1980 para se tornar diretor do Max Planck Institute for Human Development.

    O Paradigma de Berlim definia sabedoria como um siste-ma de conhecimento especializado respectivo pragmtica fundamental da vida. Tratavam da sabedoria em ao, estan-do pouco interessados nas questes ligadas personalida-de. Embora bastante respeitada, a produo sobre sabedoria sempre se manteve distante na admirao dos acadmicos, que consideravam o conceito como sendo elusivo e nebuloso.

    Hall (2007) segue seu artigo mostrando as ligaes de outros acadmicos que at hoje tm uma participao forte na produo de pesquisa norte-americana e que tiveram o incio de suas carreiras marcadas pelos interesses de Clayton e Baltes, quais sejam: Laura Carstensen e Monika Ardelt.

    Laura Carstensen professora de Psicologia na Universidade de Stanford e diretora fundadora do Centro de Estudos de Stanford sobre Longevidade. Quando foi menciona-da por Hall em seu artigo no The New York Times, em 2007, seu trabalho se destacava principalmente pela pesquisa que exami-nava o papel regulador das emoes e o desempenho dos idosos em tal controle. Carstensen e os pesquisadores associados ao seu trabalho descobriram, em seus estudos dentro e fora do

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    laboratrio de pesquisa, que, apesar do declnio cognitivo bem documentado associado idade avanada, as pessoas idosas parecem ter a chave para lidar com suas emoes de uma forma importante. Os idosos apresentam maior resilincia e tendem a focalizar mais nos aspectos positivos das situaes, quando comparados com sujeitos mais jovens. Embora no esteja inte-ressada nas questes diretamente ligadas sabedoria, ela admi-te na entrevista dada a Hall que as regulaes emocionais vistas nos sujeitos idosos, em suas pesquisas, so consistentes com as qualidades identificadas pelos pesquisadores interessados em sabedoria. Admite, ento, que a positividade observada nas respostas dos idosos teve consequncias sobre sua longevidade. Carstensen obteve seu doutorado em um programa fundado por Baltes. Uma das crticas que ela reconhece como sendo feita ao trabalho desenvolvido na escola de Berlim que eles deixaram a emoo de fora.

    Ardelt (2003), de origem alem, passa a ser conhecida pela escala por ela desenvolvida para a mensurao de sabe-doria. Ela comeou seu trabalho a partir do legado de Vivian Clayton, para a qual a emoo faz parte central de sua pesqui-sa sobre sabedoria. Em 1997, recebeu um financiamento para desenvolver um teste que acessasse sabedoria e se aproximasse do conceito de resilincia, ou seja, tinha a inteno de respon-der a questo de como alguns idosos so capazes de lidar com a adversidade e retornar a um equilbrio emocional anterior, enquanto outros no o conseguem. Ela reconhece que o fato de que a pessoa lide bem com uma crise indica um caminho para que talvez possa se tornar sbia. Desenvolve a escala tridimen-sional de sabedoria que envolve aspectos cognitivos, reflexivos e emocionais. A escala original tinha 132 questes. Na atuali-dade, ela conta com 32 itens.

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    O artigo de Hall tem a funo de divulgar aspectos de uma linha de trabalho que est sendo retomada atualmente pela importncia que se tem atribudo ao nmero crescente de idosos com idade mais avanada. Quando o artigo foi lanado, em 2007, o The New York Times j considerava como palavras--chave associadas ele: baby boomers, envelhecimento, sabedoria, idade madura, medicina e sade. Todavia, o autor no termina o artigo com consideraes futuras sobre a populao idosa, mas sim com uma srie de questes que ficam em aberto.

    Em maro de 2014, o The New York Times lanou outro arti-go seminal a respeito da questo do envelhecimento, dessa vez, a nica palavra-chave que o guiava era aposentadoria.

    Korkki se utiliza da mesma chamada que Stephen Hall, ou seja, a hiptese do quanto mais velho, mais sbio (The Older and Wiser Hypothesis), porm, no cabealho, ela se refere cin-cia por detrs da hiptese (The Science of Older and Wiser). Essa nuance na chamada do artigo reflete as mudanas que as desco-bertas cientficas sobre a sabedoria trouxeram tanto no mbito da cincia, ou seja, nas atitudes dos cientistas frente ao conceito sabedoria, como no mbito das polticas pblicas e aplicaes da pesquisa na rea. Tudo isso est muito relacionado com o fato de que a gerao baby boomer atinge a idade da aposen-tadoria exatamente agora, em torno de 2015, e necessrio que se tenha uma estratgia clara acerca de como agir com esse grupo geracional que tem causado um impacto em vrias dimenses na sociedade norte-americana em especfico, mas tambm em indivduos da mesma faixa etria que participam da cultura global.

    Korkki (2014) revisita rapidamente a produo cientfi-ca dos personagens mencionados por Hall, tais como Clayton, Carstenten e Ardelt, em entrevistas, mas a nfase do artigo

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    est na desconstruo da ideia de que o crebro velho menos eficiente. A autora no questiona o status cientfico do termo sabedoria, contudo aponta para um consenso entre os psic-logos na definio de sabedoria como estando associada manuteno de um bem-estar positivo e amabilidade frente aos desafios, sendo essa uma das importantes qualidades para envelhecer com sucesso. Korkki (2014) recorre s pesquisas mais atuais, que sugerem que o funcionamento cognitivo dos idosos mais lento. Deve-se ponderar que velocidade no tudo, j que a cincia cognitiva vem apontando para o fato de que os idosos tm mais informao armazenada em seus crebros do que os jovens, alm do que a qualidade de informao no crebro mais velho repleta de nuances.

    Os artigos atuais voltados divulgao de aspectos rele-vantes da cincia, publicados na internet, permitem que se visi-tem vrios links associados. Nessa perspectiva, Korkki (2014) se utiliza de uma linguagem palatvel e simples, levando o leitor que j possui um nvel de alfabetizao cientfica mais acura-da no assunto a visitar outras opes mais informativas, como jornais cientficos e livros especializados. Alm disso, o leitor tambm pode ter acesso a outros artigos cientficos escritos por jornalistas que informam sobre assuntos bastante prximos aos do seu interesse.

    No caso de artigo cientfico jornalstico ligado ao tpi-co, podemos mencionar Benedict Carey (2014), que se refere Nova Velhice (The New Old Age). Carey enfatiza que os testes psicolgicos usados em experimentos para medir a rapidez de respostas dadas por jovens e idosos podem ser em grande parte considerados enviesados em direo aos jovens. Uma das razes que a mente dos cidados mais velhos organiza informaes diferentemente dos jovens. Para embasar o seu estudo, o autor

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    menciona artigos que corroboram tais afirmaes como o caso do estudo de Ramscar et al. (2014). Publicado no jornal Topics in Cognitive Science, esse artigo utiliza um modelo que lida com um grande nmero de dados, palavras e frases. Assume-se que o idoso educado, em geral, sabe mais palavras do que o jovem, simplesmente porque tem mais tempo de vida do que o ltimo. O estudo experimental simula o que ocorre quando um crebro mais cheio de informao busca uma palavra. Ramscar et al. (2014) confessam que as palavras dficit e declnio no so as mais adequadas para serem usadas nesse contexto. Os auto-res admitem que os neurocientistas tm razo em acreditar que a velocidade do processamento neural, assim como outros reflexos, diminui atravs dos anos, contudo os estudos sobre a anatomia do crebro mostram que ele passa por mudanas estruturais que podem afetar a memria e o seu processamen-to. Um dos pontos relevantes levantados que a inteligncia cristalizada (vocabulrio, expertise, conhecimento) concorre com a inteligncia fluida (memria de curto prazo, raciocnio analtico, ateno). Nos idosos, a inteligncia cristalizada dimi-nui a fluida. como se a mente mais velha fosse uma mente mais cheia. Assim, pode-se concluir que os idosos no so mais lentos, mas sim que eles sabem muito.

    Um autor que acrescenta s ideias aqui expostas Goldberg (2005), que discute o paradoxo da sabedoria. Ele argumenta que se por um lado algumas habilidades mentais declinam quando a mente envelhece, por exemplo, a evocao da memria recente, por outro lado, h momentos de extrema lucidez e clareza mental que o crebro maduro manifesta e que esto relacionadas com a sua habilidade em reconhecer padres baseados em experincias anteriores. A sabedoria estaria na base desse novo poder mental e fruto do desenvolvimento de

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    estruturas que o crebro desenvolve ao longo do curso de vida. Goldberg se declara um neurocientista que faz parte da gerao baby boomer. Admite que o aumento acentuado do nmero de nascimentos ps-guerra um fenmeno universal que pode ser reconhecido em vrios pases. Como todos os membros de sua gerao, preocupa-se com o envelhecimento e com aspectos relacionados sade e participao social dos idosos. Em seu trabalho, limita-se a analisar a sabedoria apenas na dimenso cognitiva, observando e teorizando sobre o que ele chama de reconhecimento de padres.

    Uma recente publicao de Poo (2015), que dentre vrios prmios se destaca por receber o prmio Time, oferecido s pessoas mais influentes no mundo, trata do cuidado interge-racional. Poo (2015), em seu livro The Age of Dignity (A idade da dignidade), alerta para os impactos do que ela chama de explo-so de idosos. A exploso demogrfica (baby boom) ocorrida no perodo ps-guerra, entre 1946 e 1964, nos Estados Unidos da Amrica, ocasiona o grande nmero de aposentadorias exata-mente agora em 2015. Poo (2015) chama a ateno para o fato de que a cada oito segundos um cidado americano completa 65 anos de idade. Muitos idosos esto vivendo at os 90 anos ou mais, devido ao avano tecnolgico e s descobertas cientficas que tiveram um efeito sobre o cuidado e a sade.

    Se esse fato for estendido a outros pases, temos em nvel global um grande desafio, que se resume em encontrar formas de dar assistncia a idosos que carecem de apoio parcial ou total no suprimento de suas necessidades. No caso dos idosos inde-pendentes, o desafio consiste em buscar maneiras de insero social para que possam colocar seus conhecimentos e capaci-dades a servio de suas comunidades.

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    Poo (2015) argumenta que, se conseguirmos encarar essa mudana demogrfica com positividade e v-la como uma beno, esse aumento significativo de pessoas da terceira idade que chegam aposentadoria pode ser um evento poderoso que trar muitas oportunidades sociedade. Muito mais pessoas tero de ser treinadas para oferecer apoio e a sociedade ter de se reorganizar para atender a essas necessidades. Alm disso, os valores e as crenas sociais precisaro ser discutidos para acolher essas mudanas de forma que todos os cidados possam viver com dignidade, incluindo os idosos dependentes e semi-dependentes. Em contrapartida, deve haver um esforo coletivo na incluso social dos idosos, garantindo seu direito de parti-cipao ativa em atividades sociais que tratem de seus interes-ses, o que implica repensar relaes como: mdico-paciente, cuidador-paciente e familiar-paciente. A dignidade do idoso est relacionada diretamente com a possibilidade de manter sua autonomia e independncia at onde for possvel, aspectos que demandam um esforo coletivo.

    Em um captulo escrito por Jouet, Flora e Las Vergnas (2010), os autores discutem, entre outros, o conceito de saber experiencial dos doentes. Eles tratam da construo e do reco-nhecimento dos saberes experienciais dos pacientes, espe-cialmente nos casos de doenas crnicas. O conceito remete questo do empoderamento (empowerment) e a uma verso mais democrtica da sade, em que os estudos apontam para maior adeso no tratamento, maior qualidade de vida, autonomia e participao nas decises.

    Bandura (2010) reconhece a importncia da autorregu-lao na promoo da sade. Nessa tica, d-se mais nfase promoo da sade e menos ao manejo da doena.

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    Admite-se, desse modo, que h menos custos envolvidos quando o paciente treinado para se tornar o ator e agente de sua vida, influenciando, assim, suas mudanas de hbitos de sade. Nessa abordagem, os conceitos de autocuidado e de autorregulao so centrais. O autor reconhece que o senti-mento de eficcia experimentado pelo paciente age sobre o seu metabolismo de forma positiva, mencionando, inclusive, casos em que h regresso biolgica da doena, reduo da dor e melhoria na qualidade de vida. Essas ideias j esto sendo colocadas em prtica no sistema de sade francs e podem ser instrumentais se migrarem para um marco terico voltado ao cuidado do idoso. Alm disso, o conceito de saber experiencial pode ser enriquecido pelas noes de sabedoria e de pensamen-to sbio anteriormente revistas.

    CONCLUSES

    A categoria sabedoria tem aparecido nos estudos sobre representaes sociais do envelhecimento e surge com mais fora nos dados a respeito de representaes sociais de envelhecimento positivo (NASCIMENTO-SCHULZE, 2011; NASCIMENTO-SCHULZE et al., 2009). Dentro de um novo para-digma de envelhecimento, a categoria sabedoria ocupa posio de destaque. Aparece nas propostas da UNESCO e da OMS como elemento central na justificativa de que ocorrero ganhos para a sociedade como consequncia da incluso dos idosos nas rela-es intergeracionais.

    Os estudos sobre sabedoria foram iniciados num contexto social em que havia preconceitos e esteretipos sociais nega-tivos em relao ao grupo de idosos (ageism). Tais esteretipos

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    foram demonstrados e amplamente rejeitados por outros estu-dos e pelos pressupostos da OMS, que props o conceito de enve-lhecimento ativo.

    Atualmente, vrias linhas de pesquisa buscam destacar os ganhos cognitivos trazidos com o envelhecimento. Um estu-do intercultural acerca do envelhecimento focado nas represen-taes sociais compartilhadas se utiliza de uma escala voltada sabedoria (LOCKENHOFF et al., 2012) e conclui que sabedoria vista por sujeitos de diferentes culturas como sendo um fator que aumenta com o passar dos anos. Os estudos comparativos intergeracionais retomam o conceito de sabedoria buscando dar-lhe mais clareza e operacionalidade (CASTELL et al., 2011; GROSSMANN et al., 2013). Por outro lado, pesquisas de linguis-tas e neurocientistas (GOLDBERG, 2005; RAMSCAR et al., 2014) sugerem que o idoso sabe muito e por isso mais lento, bem como que h mudanas estruturais no crebro, acompanhadas de outra forma de processar os dados. O crebro maduro reco-nhece padres dentre as inmeras experincias passadas que levam o idoso a tomar decises que podem ser consideradas como sendo sbias.

    Desde a ltima dcada, o conceito de sabedoria tem sido retomado pela mdia (jornais e internet), sendo que os resulta-dos de pesquisa na rea vm sendo divulgados com o aparente propsito de mudar as atitudes do pblico frente ao envelheci-mento. No caso dos EUA, a onda de aposentados que ocorrer em 2015 estar colocando em xeque o sistema de sade e as finan-as do pas. Os membros da sociedade civil e os rgos gover-namentais buscam responder aos baby boomers com propostas de incluso social e de assistncia digna aos idosos.

    Propostas futuras, que incluem respostas realidade brasileira, inclusive, podero estar inspiradas na experincia

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    francesa de gesto participativa na sade, em que os doentes so ouvidos e decidem sobre os passos do tratamento baseados em seu saber experiencial. A teoria das representaes sociais pode oferecer uma abordagem terico-metodolgica de apoio a essa problemtica, na medida em que as representaes sobre tpicos relevantes questo do envelhecimento e sabedoria dos idosos podem ser diagnosticadas, cotejadas e consequentemen-te discutidas com os prprios grupos sociais envolvidos, seja na gesto dos idosos quanto a suas prprias vidas, seja na utilizao dos saberes dos idosos na resoluo de problemas comunitrios.

    Baltes j havia percebido a vocao da teoria das repre-sentaes sociais no estudo da sabedoria, o que est registrado em uma publicao da revista American Psychologist, lanada na virada do milnio (BALTES; STAUDINGER, 2000). No incio do artigo, os autores reconhecem a iniciativa da revista ao permitir que o grupo de Berlim apresente os resultados de seus trabalhos sobre sabedoria, caracterizando tal atitude como tendo uma marca positiva, na medida em que possibilita que os estudos sobre sabedoria passem por um perodo de rejuvenescimen-to. Ao se referirem s teorias implcitas de sabedoria, Baltes e Staudinger (2000, p. 123) 1 confirmam a importncia dos estudos sobre representaes sociais, quando afirmam:

    [...] Aqui se coloca uma questo de como o

    termo sabedoria usado na linguagem cotidia-

    na e como as pessoas sbias so caracterizadas.

    1At stake here is the question of how the term wisdom is used in everyday language and how wise persons are characterized. In our assessment, results on implicit conceptions of wisdom and wise persons permit five conclusions about the concept of wisdom: (a) Wisdom is a concept that carries specific meaning that is widely shared and understood in its langua-ge-based representation [].

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    Nossos resultados sobre concepes implcitas

    de sabedoria e pessoas sbias permitem cinco

    concluses sobre o conceito de sabedoria:

    (a) Sabedoria um conceito que carrega um

    significado especfico que amplamente

    compartilhado e compreendido na sua repre-

    sentao baseada na linguagem [...]

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  • CAPTULO 2CONTRIBUIES PARA UMA GERONTOLOGIA CRTICA

    JORGE CORREIA JESUNO(Instituto Universitrio de Lisboa/ Universidade de vora, Portugal.)

    TATIANA DE LUCENA TORRES(Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil)

    CLIA CASACA SOARES(Instituto Politcnico de Setbal, Portugal.)

    ANTONIA OLIVEIRA SILVA(Universidade Federal da Paraba, Brasil.)

    RESUMO

    O argumento que procuramos apresentar articula-se em trs momentos: (1) enunciar os termos em que o envelhecimento hoje considerado um problema central nas sociedades contem-porneas desenvolvidas, (2) procurar medidas para fazer face ao envelhecimento, designadamente por meio da inovao social e (3) indicar algumas das barreiras de carter psicossociolgico que, em termos manifestos ou latentes, podero contribuir para dificultar uma desejvel aproximao intergeracional.

    POSIO DO PROBLEMA

    Vale a pena recordar as palavras to citadas do Papa Francisco em uma entrevista que concedeu, em 1 de outubro de 2013, ao polmico jornalista italiano Eugenio Scalfari, publi-cada no dirio La Repubblica.

  • CAPTULO 2

    60

    Os dois mais graves problemas que afligem

    o mundo nestes anos so a desocupao dos

    jovens e a solido em que vimos deixando os

    velhos. Os velhos tm necessidade de cuidados

    e de companhia, os jovens de trabalho e de

    esperana, mas no tm uma nem outra e o

    problema que deixaram de procurar.

    Os problemas sociais so cada vez mais de natureza sist-mica. Tudo se acha interligado, tornando-se difcil encontrar solues especficas para segmentos isolados da populao. As alteraes demogrficas resultantes dos progressos da tecnocincia se constituem certamente como benefcios de que somente ns podemos nos regozijar, alm de introduzir dese-quilbrios a vrios nveis, para os quais no parecem descorti-nar-se solues a curto prazo.

    A tradicional segmentao das idades da vida tornou-se problemtica, dando lugar a uma renovada reflexo dos filso-fos e cientistas sociais, que, em algumas expresses mais radi-cais, levam inclusivamente a pr em causa o prprio conceito de categoria etria (GULLETTE, 2004). Na verdade, as fronteiras tornaram-se mais fluidas, proporcionando uma discusso atual-mente sobre quando se d a transio da juventude para a idade adulta, bem como a respeito de quando comea a chamada tercei-ra idade, devido, em grande parte, multiplicidade de fatores contingenciais desafiando qualquer tentativa de periodizao consensual. Autores como Dechavanne e Tavoillot (2007) conside-ram, assim, que a prpria idade adulta, tradicionalmente estvel, possa sentir-se vulnervel ou mesmo com a sua identidade social ameaada, sobretudo nas zonas de fronteira.

  • CAPTULO 2

    61

    Hoje, responder questo de quando comea a terceira idade em termos meramente cronolgicos torna-se cada vez menos aceitvel do ponto de vista cientfico, ainda que poltica e administrativamente se persista no recurso a critrios rgidos e por isso mesmo mais simplistas. Alguns de nossos estudos empricos (TORRES, 2010; TORRES et al., 2015) tm demonstrado que a dificuldade em determinar o incio das fases da vida algo comum para diferentes grupos etrios, sendo que entrar na fase da velhice tem sido algo preterido, inclusive pelos prprios idosos. Parece que ningum quer envelhecer!

    Possivelmente, no haver alternativa, argumenta-se. Porm, vale a pena recordar Einstein, o qual, embora noutros domnios menos turbulentos, observava que tentar solues para novos problemas recorrendo a frmulas do passado conduz invariavelmente ao fracasso. necessria uma mudana de paradigma, noo ambgua, tornada como lugar comum, que se traduz em necessidade de mudana quando aquilo que o sistema possivelmente requer seria uma regulao da prpria mudana, de preferncia a retroaes em curto prazo.

    Pensar o envelhecimento enquanto problema, simulta-neamente novo e antigo, no dispensaria, assim, um enquadra-mento mais abstrato. Sem ir to longe, poderemos mant-lo como horizonte, ajudando a melhor entender os limites com que se debate a procura de solues para problemas que exigiriam uma imaginao sociolgica mais ambiciosa.

  • CAPTULO 2

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    INOVAO SOCIAL

    A inovao social constitui hoje em dia uma palavra de ordem. A inovao tornou-se o motor do desenvolvimento, seja no mundo empresarial, seja na tecnologia em estreita e mtua interdependncia. Alm disso, os problemas sociais reque-rem criatividade e inovao, em grande medida inexploradas, havendo que estimular e tornar manifesto o que se encontra latente em todo o tecido social, em termos individuais ou cole-tivos. A criatividade no mais do que uma modalidade da inteligncia e, dessa forma, acha-se distribuda de acordo com as leis da curva normal.

    Para fazer face aos problemas trazidos pelo acrscimo da longevidade, igualmente, tem-se invocado a necessidade de recorrer inovao social. Nomeadamente, 2012 foi o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo, constituindo essa noo de envelhecimento ativo o mote por excelncia da inovao social. A filosofia subjacente inovao social no domnio do envelhecimento no difere basicamente da que tem sido desen-volvida noutros domnios societais e organizacionais.

    A ideia bsica parece residir nas iniciativas locais, ou seja, na aposta da criatividade imanente de preferncia s solues hierarquicamente impostas de cima para baixo. Inverte-se a pirmide, uma imagem muito disseminada na retrica organiza-cional, em paralelo com uma resoluo significativa da distn-cia do poder. Por outro lado, coloca-se o acento na atividade, entendendo-se por tal um acrscimo da responsabilidade dos indivduos pela gesto de si prprios, seja no domnio da sade e bem-estar fsico e mental, seja na autonomizao crescente das suas atividades e da sua contribuio para a sociedade.

  • CAPTULO 2

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    A noo de envelhecimento ativo j se encontra, de resto, operacionalizada na Europa, mediante a criao de um ndice construdo a partir de dados objetivos, como: (1) taxas de emprego acima dos 55 anos, (2) participao na socieda-de (voluntariado, prestao de cuidados a crianas e idosos, participao poltica), (3) vida indepe