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Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NOS QUADRINHOS DA BARBIE MAGALI FERNANDES COELHO Faculdade de Letras Centro de Linguagem e Comunicação [email protected] MARIA INÊS GHILARDI LUCENA Grupo de Pesquisa Estudos do Discurso Centro de Linguagem e Comunicação [email protected] Resumo: Este trabalho analisa histórias em quadri- nhos da Barbie, publicação recente da editora Alto Astral. A principal personagem é a (boneca) Barbie, ícone de gerações de mulheres do mundo ocidental, que simboliza uma garota bonita, inteligente, amiga, companheira, meiga e politicamente correta, bastante conhecida por ter influenciado gerações de crianças e adolescentes com sua imagem e figurino. O gibi destina-se ao público feminino de 9 a 13 anos. As histórias curtas, de entretenimento juvenil, mostram a personagem em seu relacionamento com o namora- do e com os (as) amigos (as). O material foi analisa- do sob suporte teórico da Análise do Discurso de linha francesa, possibilitando a compreensão da(s) forma(s) como a sociedade vê os homens e as mu- lheres, bem como o entendimento de suas inter- relações e das relações com a sociedade em geral. O discurso humorístico, por sua vez, circula em mui- tos lugares sociais, mostrando o que outros tipos de discurso não ousam mostrar. Objetivamos compre- ender a representação feminina por meio da boneca Barbie, agora transformada em personagem. Ela re- presenta o modelo de mulher bela e jovem presente no imaginário coletivo e a ser seguido pelas meninas, tentando estabelecer um padrão de comportamento considerado adequado socialmente. O mundo em que ela vive, com suas atividades e amigos, é extre- mamente belo e “correto”, ressaltando o lado meigo e dócil da mulher, sempre educada, solidária, quase nunca irritada. Essa imagem da “boneca- personagem” indica não só o que a sociedade espera das mulheres, mas também demonstra uma tentativa de colocar Barbie, sempre condenada pelo apelo consumista e pela ditadura da magreza, acima de qualquer suspeita. Dessa forma, Barbie continua per- to das meninas: nas prateleiras, nas bancas, nos su- permercados. Ser a melhor amiga delas é a sua for- ma de sobreviver ao avanço da tecnologia do mundo dos brinquedos e continuar a ser um recorde em vendas. Palavras-chave: discurso, gênero feminino, Barbie. Área do Conhecimento: Linguística, Letras e Artes – Teoria e Análise Linguística . 1. INTRODUÇÃO Este texto procura refletir, sob o suporte teórico da Análise do Discurso de linha francesa, sobre a repre- sentação do gênero feminino na revista da Barbie. O corpus compõe-se de duas revistas, nº2 e nº3. Não foi possível adquirir a revista nº1, que se encontra esgotada e o numero seguinte, o nº4, não foi publi- cado. Para analisar a HQ da Barbie, é interessante ter uma visão panorâmica do surgimento das famo- sas HQs e da própria Barbie. As histórias em quadri- nhos têm sua origem no século XIX. Em 1820, na França, vendiam-se as chamadas "canções de ce- go", tanto em edições populares quanto com luxuo- sas iconografias. As Imagens de Epinal, contos infan- tis com vinhetas e legendas, já tinham até heróis de capa e espada, com o propósito de dar ao povo a chance de se transferir para a vida romanceada de seus ídolos. Em 1823, em Boston (EUA), um almanaque publica- do por Charles Ellms trouxe, pela primeira vez, entre passatempos e anedotas, algumas historietas engra- çadas — surgiu daí o termo comics, pois as primeiras tiras eram sempre humorísticas. Em 1846, apareceu, em Nova Iorque, a primeira revista exclusiva de his- torietas, intitulada Yankee Doodle. Enquanto isso, os europeus liam os Rebus (historietas de conteúdo so- cial) e os japoneses contavam com as histórias da dinastia Meigi ilustradas em quadrinhos. No Brasil, em 1865, Olavo Bilac traduziu Os Garotos Traves- sos, dos alemães Max e Moritz, publicados aqui co- mo Juca e Chico. O italiano radicado no Brasil, Ange- lo Agostini, desenhou e publicou, no dia 30 de janeiro de 1869, na revista Vida Fluminense, os quadri- nhos As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte. Em 1895, o francês Georges Colomb criou A Família Fenouillard, que inovou trazendo balõezinhos con- tendo as falas dos personagens e a ação fragmenta- da e sequenciada, as tirinhas, iniciando uma nova

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Page 1: REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NOS QUADRINHOS DA … · QUADRINHOS DA BARBIE MAGALI FERNANDES COELHO ... O gibi destina-se ao ... Análise do Discurso de linha francesa, sobre a repre-

Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

25 e 26 de setembro de 2012

REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NOS QUADRINHOS DA BARBIE

MAGALI FERNANDES COELHO Faculdade de Letras

Centro de Linguagem e Comunicação [email protected]

MARIA INÊS GHILARDI LUCENA Grupo de Pesquisa Estudos do Discurso

Centro de Linguagem e Comunicação [email protected]

Resumo: Este trabalho analisa histórias em quadri-nhos da Barbie, publicação recente da editora Alto Astral. A principal personagem é a (boneca) Barbie, ícone de gerações de mulheres do mundo ocidental, que simboliza uma garota bonita, inteligente, amiga, companheira, meiga e politicamente correta, bastante conhecida por ter influenciado gerações de crianças e adolescentes com sua imagem e figurino. O gibi destina-se ao público feminino de 9 a 13 anos. As histórias curtas, de entretenimento juvenil, mostram a personagem em seu relacionamento com o namora-do e com os (as) amigos (as). O material foi analisa-do sob suporte teórico da Análise do Discurso de linha francesa, possibilitando a compreensão da(s) forma(s) como a sociedade vê os homens e as mu-lheres, bem como o entendimento de suas inter-relações e das relações com a sociedade em geral. O discurso humorístico, por sua vez, circula em mui-tos lugares sociais, mostrando o que outros tipos de discurso não ousam mostrar. Objetivamos compre-ender a representação feminina por meio da boneca Barbie, agora transformada em personagem. Ela re-presenta o modelo de mulher bela e jovem presente no imaginário coletivo e a ser seguido pelas meninas, tentando estabelecer um padrão de comportamento considerado adequado socialmente. O mundo em que ela vive, com suas atividades e amigos, é extre-mamente belo e “correto”, ressaltando o lado meigo e dócil da mulher, sempre educada, solidária, quase nunca irritada. Essa imagem da “boneca-personagem” indica não só o que a sociedade espera das mulheres, mas também demonstra uma tentativa de colocar Barbie, sempre condenada pelo apelo consumista e pela ditadura da magreza, acima de qualquer suspeita. Dessa forma, Barbie continua per-to das meninas: nas prateleiras, nas bancas, nos su-permercados. Ser a melhor amiga delas é a sua for-ma de sobreviver ao avanço da tecnologia do mundo dos brinquedos e continuar a ser um recorde em vendas.

Palavras-chave: discurso, gênero feminino, Barbie.

Área do Conhecimento: Linguística, Letras e Artes – Teoria e Análise Linguística .

1. INTRODUÇÃO Este texto procura refletir, sob o suporte teórico da Análise do Discurso de linha francesa, sobre a repre-sentação do gênero feminino na revista da Barbie. O corpus compõe-se de duas revistas, nº2 e nº3. Não foi possível adquirir a revista nº1, que se encontra esgotada e o numero seguinte, o nº4, não foi publi-cado. Para analisar a HQ da Barbie, é interessante ter uma visão panorâmica do surgimento das famo-sas HQs e da própria Barbie. As histórias em quadri-nhos têm sua origem no século XIX. Em 1820, na França, vendiam-se as chamadas "canções de ce-go", tanto em edições populares quanto com luxuo-sas iconografias. As Imagens de Epinal, contos infan-tis com vinhetas e legendas, já tinham até heróis de capa e espada, com o propósito de dar ao povo a chance de se transferir para a vida romanceada de seus ídolos.

Em 1823, em Boston (EUA), um almanaque publica-do por Charles Ellms trouxe, pela primeira vez, entre passatempos e anedotas, algumas historietas engra-çadas — surgiu daí o termo comics, pois as primeiras tiras eram sempre humorísticas. Em 1846, apareceu, em Nova Iorque, a primeira revista exclusiva de his-torietas, intitulada Yankee Doodle. Enquanto isso, os europeus liam os Rebus (historietas de conteúdo so-cial) e os japoneses contavam com as histórias da dinastia Meigi ilustradas em quadrinhos. No Brasil, em 1865, Olavo Bilac traduziu Os Garotos Traves-sos, dos alemães Max e Moritz, publicados aqui co-mo Juca e Chico. O italiano radicado no Brasil, Ange-lo Agostini, desenhou e publicou, no dia 30 de janeiro de 1869, na revista Vida Fluminense, os quadri-nhos As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte.

Em 1895, o francês Georges Colomb criou A Família Fenouillard, que inovou trazendo balõezinhos con-tendo as falas dos personagens e a ação fragmenta-da e sequenciada, as tirinhas, iniciando uma nova

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forma de expressão. Novos sinais gráficos aparece-ram nas aventuras de Os Sobrinhos do Capitão, em 1897, criação de Rudolph Dirks. Os desenhos eram, até então, divididos em quadros acompanhados de legendas, dando continuidade às ações.

Quando Walt Disney lançou o Mickey Mouse, em 1928, os quadrinhos já sofriam a influência direta do cinema, com cortes rápidos, angulação variada e ação seriada dos episódios. Mas eram tão importan-tes que não demorou muito para o ratinho migrar do desenho animado para as revistas.

O sucesso das histórias de aventuras levou o jor-nal Chicago Tribune a encomendar os quadrinhos do detetive Dick Tracy (1931) a Chester Gould, o qual influenciou, com seus traços, os cineastas Alain Resnais e Jean-Luc Godard. Por sua vez, o cinema expressionista alemão e os cineastas Alfred Hitch-cock e John Ford influenciaram os quadrinhos de Alex Raymond, que criou o Flash Gordon em 1933; de Milton Caniff, que criou Terry e os Piratas em 1934; e de Hal Foster, pai do Príncipe Valente, de 1937. Mas a revolução aconteceu na revista Action Co-mics n.º 1, de 1938, quando os desenhistas Joe Shuster e Jerry Siegel lançaram o Super-Homem para o mundo. Em maio de 1939, no rastro do su-cesso do homem de aço, a revista Detective Comics n.º 27 lançou o Batman. Durante a Segunda Guerra Mundial, era fácil encon-trar os super-heróis lutando contra os nazistas e os japoneses. A onda nacionalista ajudou a criar o Capi-tão América, o Capitão Marvel e até a Mulher-Maravilha. Todos faziam parte das fileiras america-nas contra o fascismo.

As décadas de 1950 e 1960 acabaram por consolidar a maioria dos heróis mais populares até hoje — Ho-mem-Aranha, X-Men, os 4 Fantásticos e Hulk, por exemplo —, que, juntamente com seus criadores — como Bob Kane (Batman) e Stan Lee (Homem-Aranha) —, tornaram-se verdadeiras celebridades.

A boneca Barbie, por sua vez, foi lançada no merca-do em 1959, por Ruth e Elliot Handler, fundadores da empresa norte-americana de brinquedos Mattel. A precursora de Barbie chamava-se Lilli e era o estere-ótipo de mulher alemã derrotada do pós-guerra que tentava se reerguer seduzindo homens ricos. Desti-nada ao público masculino, Lilli era vendida em bares e tabacarias; Ruth Handler viu na mascote alemã a possibilidade de desenvolver, com as devidas adap-tações para o público infantil, uma boneca com corpo adulto que atendesse aos padrões culturais dos Es-tados Unidos.

Dessa forma, tanto as histórias em quadrinhos quan-to a boneca Barbie se tornaram populares e próxi-mas da população: o humor, característica típica desse tipo de discurso, permite a abordagem de te-mas delicados de forma leve e despreocupada: para isso, a linguagem é ferramenta essencial: por meio dela, os personagens abordam, respaldados pela liberdade do discurso humorístico, temas correntes e importantes para a sociedade que representam. Es-ses temas, geralmente são: casamento, política, dife-renças entre o comportamento masculino e feminino. Como o discurso humorístico difundiu-se pelo mundo inteiro, a boneca mais vendida teria, obrigatoriamen-te, que possuir uma revista em quadrinhos em que pudesse espalhar seu mundo (Figura 1).

Figura 1: Capas nº 2 e 3 da Revista da Barbie.

Assim, sendo uma personagem com voz própria e um círculo de amizades, Barbie pode permanecer em contato com seu público de forma bem eficiente. A-pesar de já ser protagonista em vários filmes, a bo-neca, ao possuir uma revista em quadrinhos só para ela, tem a seu favor um diálogo mais frequente com as leitoras, um diálogo em que a linguagem é a fer-ramenta mais importante. Como sabemos,

a linguagem não é vista apenas como ins-trumento de comunicação, de transmissão de informação ou como suporte do pensa-mento: linguagem é interação, um modo de ação social. [1] (p.91)

Qual seria, então, a ideologia presente no discurso de Barbie? Essa é uma resposta que este trabalho procurou responder.

2. BARBIE NOS QUADRINHOS A seguir, apresentamos temas discutidos a partir do material analisado.

2.1 Barbie e suas amigas Em sua revista, a boneca transformada em persona-gem possui um vasto círculo de amizades que cultiva com sua personalidade sempre meiga e dócil. É fácil

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perceber que todas as amigas de Barbie a veneram de forma praticamente unânime. Porém, percebemos, durante a pesquisa, que as mu-lheres da HQ, identificadas como as melhores ami-gas de Barbie, não possuem uma identidade própria: são todas uma cópia física e psicológica da protago-nista: altas, magras, bem-vestidas, sempre fazendo compras ou atividades de lazer como dança e espor-tes.

Essa representação do feminino como uma cópia, sem marcas de individualidade, mostra uma tentativa de reproduzir Barbie em todas as personagens femi-ninas da HQ. Assim, ela está sempre presente, seja no tipo físico ou no discurso das amigas. E as ami-gas do mundo real de Barbie, as leitoras, veem na boneca a realização de sonhos considerados tipica-mente femininos:

Ser modelo, desfilar, tirar fotos, estampar anúncios, aparecer na televisão e cantar em programas de calouros: tudo isso representa o grande sonho de milhares de meninas e das próprias mães. Para isso, há uma indús-tria que incessantemente fabrica esses dese-jos na tentativa de comercializar o corpo in-fantil, apresentado num misto de ingenuida-de e sedução. [2] (p.8)

Assim, Barbie (e seu cenário maravilhoso) é uma representação, em quadrinhos, da boneca de plásti-co com seus acessórios.

2.2 A sociedade dos sonhos Analisando o mundo criado para a ação de Barbie e seus amigos, foi possível constatar a homogeneiza-ção do ponto de vista social. A adolescente magra e ícone de beleza é também dona de uma confortável mansão cor-de-rosa. Piscinas, carros e roupas ele-gantes também são parte do cenário desse mundo maravilhoso.

Dessa forma, se as diferenças sociais estão ausen-tes do cenário, também estão ausentes do discurso. Os diálogos entre Barbie e seus amigos, nas revistas analisadas, não chegam perto de qualquer menção a problemas econômicos e todos os personagens pa-recem pertencer à mesma classe social.

Esse “mundo economicamente perfeito” mostrado por Barbie reflete o sonho de homens e mulheres que, numa sociedade de consumo, esperam poder adquirir um modo de comprar o que “está na moda” e assim acompanhar a nova ordem social: “ter e ser”, ao invés de “ser e ter”.

2.3 Os meninos na HQ da Barbie Com uma mulher como personagem principal, as revistas analisadas possuem poucos personagens masculinos: Ken (amigo-namorado de Barbie), Ryan (amigo e um dos poucos negros) e o irmão de Ra-quelle, que possui falas relevantes em apenas uma história. A voz masculina, portanto, é abafada pela feminina, nessas HQs.

Essa ausência masculina indica o domínio feminino em toda a revista, a começar pela sua cor dominan-te: o rosa, cor tipicamente feminina. Ao dominar a HQ, a mulher representada por Barbie domina tam-bém o mundo dos sonhos trazido pela boneca, onde os homens ficam sempre no segundo plano de ação.

Assim, o mundo cor de rosa da revista, apesar de não excluir os homens, subentende que o alvo é a menina leitora, que provavelmente já possui a Barbie em sua versão de plástico e que ainda não está na idade para se importar muito com a presença mascu-lina.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com um império de mais de 50 anos, a boneca mais famosa do mundo não podia deixar de ter uma histó-ria em quadrinhos para narrar suas aventuras e se tornar ainda mais próxima das meninas que são suas melhores amigas.

Barbie, com seus inúmeros acessórios e discurso leve, nos traz a mesma oferta das prateleiras, onde é vendida como boneca: um exemplo de mulher mei-ga, dócil, sem grandes surpresas em suas atitudes. Será esse exemplo uma mensagem do comporta-mento desejado e esperado pela sociedade?

A análise feita neste trabalho indica que sim. A revis-ta procura manter o lado consumista e a imagem superficial feminina presente no imaginário da socie-dade americana dos anos de 1950, imitado por gran-de parte das brasileiras. Sempre mudando a maneira de vestir de acordo com a moda, o comportamento de Barbie, porém, continua padronizado: raramente há raiva e, se há, é tão rápida que mal dura um ou dois quadrinhos. Dessa forma, Barbie personifica o estereótipo de mulher perfeita que existe no imaginá-rio de todos nós: sempre bela e elegante, quase nun-ca se irrita e, se o faz, a justificativa é evidente.

Entretanto, o mundo dos quadrinhos exige uma per-sonagem menos inalcançável: Barbie, em algumas ocasiões, precisa fracassar para se aproximar de suas melhores amigas, as leitoras. Mesmo assim, quando fracassa, fica claro que a culpa não é sua: não saber esquiar ou se atrapalhar na prova de hi-pismo são pequenos deslizes transformados em epi-sódios de HQ que mais se aproximam da comicidade

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característica do gênero. Não há nada com maior gravidade do que isso apresentado nas histórias ana-lisadas.

Com toda essa perfeição, a revista da Barbie obteve um resultado inesperado: a dificuldade para encon-trá-la nas bancas revelou certo desinteresse do pú-blico por mais esse produto da boneca. A revista de atividades da Barbie (cortar, colar etc), porém, é de fácil aquisição e parece fazer mais sucesso entre as leitoras, que podem colorir e fazer testes com essa versão.

Dessa forma, o mundo de Barbie nos quadrinhos, apesar de não fazer o sucesso estrondoso de seus filmes e desenhos, nos traz uma representação do seu mundo, de sua ideologia. A beleza estereotipada, o discurso amável e politicamente correto fazem da Barbie dos quadrinhos uma cópia da boneca de plás-

tico das prateleiras. Ao adquirir a possibilidade de falar (linguagem verbal), Barbie não mudou, apenas reafirmou sua posição no mundo: a típica garota nor-te-americana, consumista mas ao mesmo tempo meiga e sempre disposta a ajudar o próximo. A re-presentação do feminino nas revistas analisadas traz a boneca transformada nesta mulher que é o modelo ideal da sociedade ocidental.

REFERÊNCIAS [1] Brandão, H. N. (1993), Introdução à Análise do Discurso, 2. ed., Campinas, SP, Editora da Unicamp. [2] Roveri, F. T. A Boneca Barbie e a Educação das Meninas. Capturado em 12/06/2012 de <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT23-3154--Int.pdf>.