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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA (CURADORIA DA EDUCAÇÃO) Lorenna Raysse de Macedo Barbosa, (qualificação). Lucas Rafael Galdino de Araújo Lucena, (qualificação). Mayza de Araújo Batista, (qualificação). Rafaella Mayana Alves Almeida Cardins, (qualificação). Ayrton Magno de Oliveira, (qualificação). Jimmy Matias Nunes, (qualificação). Lorena Sales Araújo(qualificação). Divalcy Reinaldo Ramos Cavalcante, (qualificação). Jefferson Ferreira Lino, (qualificação). Felipe Robalinho Cavalcanti Barbosa, (qualificação). Francisco Eudo Brasileiro Júnior, (qualificação). Raquel de Góes Pontes, (qualificação). Mônica Jannine Alencar Nobrega, (qualificação). Jáder Melquíades de Araújo, (qualificação); Wollney Niermeson Ribeiro Félix, (qualificação). Maria Isabel da Silva Salú, (qualificação). Marília Andrade Bezerra, (qualificação). Morgana Rosa Leite Gurjão, (qualificação). Camile Viana Leal, (qualificação). Caio Ricardo Gondim Cabral de Vasconcelos, (qualificação), apresentamo-nos diante de V. Ex.a para oferecer a seguinte: R E P R E S E N T A Ç Ã O com fulcro no art. 127, caput, e art. 129, I e III, ambos da Constituição Federal, no art. 5º, II, “c”, da Lei Complementar nº. 75/93, e no art. 6º da Lei 7.347/85, requerendo, desde já, a manifestação do Ministério Público Estadual, no sentido de buscar, junto ao Tribunal de Justiça da Paraíba, a decretação da ilegalidade da

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Representação elaborada por estudantes de direito da UEPB e encaminhada ao Ministério Público da Paraíba, a fim de que o órgão interviesse na greve declarada pelos docentes da universidade, pedindo, na justiça, a decretação de sua ilegalidade.

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Page 1: Representação MP - UEPB-W 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA

(CURADORIA DA EDUCAÇÃO)

Lorenna Raysse de Macedo Barbosa, (qualificação).Lucas Rafael Galdino de Araújo Lucena, (qualificação).Mayza de Araújo Batista, (qualificação).Rafaella Mayana Alves Almeida Cardins, (qualificação).Ayrton Magno de Oliveira, (qualificação).Jimmy Matias Nunes, (qualificação).Lorena Sales Araújo(qualificação).Divalcy Reinaldo Ramos Cavalcante, (qualificação).Jefferson Ferreira Lino, (qualificação).Felipe Robalinho Cavalcanti Barbosa, (qualificação).Francisco Eudo Brasileiro Júnior, (qualificação).Raquel de Góes Pontes, (qualificação).Mônica Jannine Alencar Nobrega, (qualificação).Jáder Melquíades de Araújo, (qualificação);Wollney Niermeson Ribeiro Félix, (qualificação).Maria Isabel da Silva Salú, (qualificação).Marília Andrade Bezerra, (qualificação).Morgana Rosa Leite Gurjão, (qualificação).Camile Viana Leal, (qualificação).Caio Ricardo Gondim Cabral de Vasconcelos, (qualificação), apresentamo-nos diante

de V. Ex.a para oferecer a seguinte:

R E P R E S E N T A Ç Ã O

com fulcro no art. 127, caput, e art. 129, I e III, ambos da Constituição Federal, no art. 5º, II, “c”, da Lei Complementar nº. 75/93, e no art. 6º da Lei 7.347/85, requerendo, desde já, a manifestação do Ministério Público Estadual, no sentido de buscar, junto ao Tribunal de Justiça da Paraíba, a decretação da ilegalidade da greve dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba; o que fazemos nos seguintes termos e fundamentos jurídicos.

I – HISTÓRICO DA GREVE DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

Page 2: Representação MP - UEPB-W 1

Em 21 de fevereiro de 2013, apenas três dias após o início das atividades

acadêmicas semestrais da Universidade Estadual da Paraíba, a Associação dos Docentes da Universidade

Estadual da Paraíba – ADUEPB, entidade sindical dos professores da UEPB, convocou para o dia 26 de

fevereiro assembleia da categoria para deliberar acerca da possibilidade de paralisação das atividades da

categoria.

Na pauta de deliberação, estavam incluídos temas tais como o crescimento

quantitativo da UEPB, a precarização da educação, as más instalações físicas da universidade, bem como

o reajuste salarial em percentual de 17,7%.

Ocorre que, na assembleia, à representação sindical aprouve declarar greve por

tempo indeterminado, até que suas reivindicações fossem atendidas pela Administração da UEPB ou pelo

Estado da Paraíba – situação em que se encontra até o momento.

Apresenta-se, a seguir, fundamentação jurídica que embasa a incompatibilidade

da greve com o Ordenamento jurídico pátrio.

II – DA AUSÊNCIA DE CAUSA JUSTIFICADA PARA A GREVE

II.1 - Da Suficiente Remuneração dos Docentes

Ab initio, impende ressaltar que, a despeito de suscitarem os grevistas

reivindicações para que retornem às atividades, tais pedidos não são legítimos, posto que são infundados e

abstratos.

De fato, entre as reivindicações, exigem os grevistas aumento salarial no

patamar de 17,7%, alegando que seus salários estão defasados, e que o percentual exigido serviria apenas

como forma de devolver o valor real dos vencimentos dos docentes.

Todavia, tal argumentação não merece prosperar. Decerto, a verdade é que a

remuneração dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba é a melhor das universidades públicas da

região Nordeste, conforme se percebe da leitura do último Edital de contratação de docentes - em que o

Page 3: Representação MP - UEPB-W 1

salário inicial para o cargo de professor doutor T-40 era no importe de R$ 6.126,52 (seis mil cento e vinte

e seis reais e cinquenta e dois centavos)1.

Tal remuneração chega a superar a paga pela Universidade de São Paulo -

USP2, a mais renomada instituição de ensino brasileira, segundo recentes rankings internacionais. Nesta

Instituição de Ensino Superior, um professor doutor inicia sua carreira ganhando 5.193,32 (cinco mil,

cento e noventa e três reais e trinta e dois centavos), cerca de R$1.000 reais a menos que um colega da

UEPB de mesmo título.

Vê-se, portanto, que os salários pagos pela universidade paraibana estão longe

de ser considerados irrisórios, a ponto de poderem ensejar um movimento grevista. Pelo contrário,

superam os pagos pelas melhores universidades do Brasil, que detém, em sua maioria, um orçamento

infinitamente maior que o da UEPB, a exemplo da USP, que se encontra ainda situada numa metrópole

com um dos mais elevados custos de vida do país.

Não se está dizendo, todavia, que os professores paraibanos devam ter seus

soldos reduzidos, ou desmerecendo a classe. Longe disso: apenas nos insurgimos contra o motivo da

greve.

Não têm razão os grevistas em afirmarem que são mal-pagos pelo governo

paraibano. Já foi demonstrado que estão entre os professores universitários mais valorizados do país. E

isso num Estado feito o nosso, pobre de fundos, quando comparado com outros integrantes da Federação.

Para se ter ideia, um paraibano médio fechou o ano de 2010 ganhando o menor salário de todo o

Brasil: R$ 626,80, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego.3

Aduzir, portanto, que carecem os docentes de reajuste salarial chega a ser

afrontoso ante toda a comunidade paraibana, a real financiadora da Instituição de Ensino Superior

paraibana, que com tão parcos recursos vive a duras penas, encontrando-se, ainda, privada de desfrutar

dos serviços gratuitos prestados pela UEPB.

1 http://santaritafm.com/index.php?option=com_content&view=article&id=356:universidade-estadual-da-paraiba-abre-230-vagas-para-professor-salario-de-r-8577-inscricoes-ate-171211&catid=41:concurso

2 http://www.direito.usp.br/faculdade/arquivos_concursos/antigos/edital_fd_11_2012.pdf

3 http://www.fsindical.org.br/portal/noticia.php?id_con=11326

Page 4: Representação MP - UEPB-W 1

II.2 - Do Viés Político da Greve

É de se mencionar, outrossim, que a greve desponta como sendo de um viés

político, e não classista. O movimento deflagrou-se poucos meses após as eleições e escolha do novo

reitor da universidade, sendo apontado o professor Antônio Rangel Júnior para tal função, pelo

governador da Paraíba, Ricardo Coutinho.

Na corrida pelo cargo, saiu derrotado o candidato José Cristovão de Andrade,

em segundo lugar, perdendo justamente para o candidato nomeado pelo Chefe do Executivo Estadual.

Andrade, como é conhecido, é justamente o presidente da Associação de Docentes da Universidade

Estadual da Paraíba, sendo o líder do movimento grevista reclamado aqui.

Salta à vista que, das reinvidicações suscitadas pela classe paralisada, constem

tópicos tais como a manutenção de salas de aula em campi do interior do Estado, pugnando também por

melhorias na infraestrutura da UEPB, e também lutando contra a “precarização da educação” - esta última

uma vaguíssima reivindicação, que incumbe mais à classe docente que à Administração da UEPB...

Dos temas acima, à exceção da última, conforme mencionado, percebe-se que

dizem respeito a competências e faculdades exclusivas da Reitoria.

Ora, tais reivindicações apenas apontam para supostas evidências de que estaria

o presidente da ADUEPB com intenções de interferir no cargo a que foi postulante derrotado, valendo-se

da posição que ora ocupa para atender suas pretensões.

Recrudescem tais suspeitas o fato de que o presidente do Sindicato sairia

beneficiado em tendo suas pretensões atendidas ou não. Decerto, caso o atual Reitor atenda as

reivindicações da ADUEPB, Andrade sairia fortalecido como líder da associação; todavia, em sendo as

exigências denegadas, o ex-postulante ao cargo de reitor sairia engrandecido como um nome que poderia

ter agido de forma melhor que Rangel, seu adversário político.

É de se mencionar que a busca da satisfação de interesses precipuamente

pessoais não condiz com o direito de greve. De fato, assim determina a Lei da Greve (Lei nº. 7.783/89),

ressaltando o caráter eminentemente coletivo da manifestação laboral:

Page 5: Representação MP - UEPB-W 1

Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.

Tais suspeitas foram não foram criação dos que agora representam, mas, sim,

são frutos de notícias que circulam na mídia estadual, dando conta de que o presidente da ADUEPB

estaria provocando, com a greve, o atual Reitor e então concorrente Rangel Júnior:

“Para Andrade, que brigou muito para estar no lugar de Rangel, ‘a reitoria tem

que ir ao governador Ricardo Coutinho cobrar mais recursos se não está

considerando suficiente o que tem’. Andrade não diz abertamente, mas insinua

que Rangel Júnior foi pro-reitor de planejamento da antecessora Marlene Alves

e que ficou calado quando ela brigava com o governo por mais recursos

simplesmente para não se prejudicar quando da indicação por parte do

governador”.4

Em assim sendo, tem-se que o movimento grevista em comento aponta para

interesses individuais, e não coletivos - estes últimos sim, defendíveis por meio de paralisação de trabalho.

III - DA ILEGALIDADE DO MOVIMENTO GREVISTA

III.1 - Da Violação ao Princípio da Continuidade

Ademais, merece destaque o fato de que o levante se enche de ilegalidade ao

afrontar, além das razões acima expostas, um dos princípios basilares ao qual a administração pública está

submetida: o princípio da continuidade.

Sobre o tema, salutar é a lição do professor José dos Santos Carvalho Filho5:

4 http://www.paraiba.com.br/2013/03/14/13292-em-greve-por-melhores-salarios-aduepb-provoca-reitor-agora-aguente

5 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

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“Os serviços públicos buscam atender aos reclamos dos indivíduos em determinados setores sociais. Tais reclamos constituem muitas vezes necessidades prementes e inadiáveis da sociedade. A consequência lógica desse fato é o de que não podem os serviços públicos ser interrompidos, devendo, ao contrário, ter normal continuidade.”(destacou-se)

No presente caso, a greve interrompe, integralmente, a prestação de serviços

públicos de educação. Trata-se de uma das mais importantes funções que o Estado Brasileiro atribuiu

para si, outorgando, inclusive, uma natureza de direito social - intangível por ser cláusula pétrea:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)”

Outrossim, a educação aparece em diversos outros dispositivos da Carta Magna,

o que só demonstra a sua importância:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;

Omissis

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

(...)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

Page 7: Representação MP - UEPB-W 1

§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

Não pode o movimento grevista interromper a prestação dos serviços de ensino,

nem servir de obstáculo ao exercício do direito à educação. Ao atuar assim, o levante confronta a própria

Constituição Brasileira.

Ademais, há clara violação também ao que estatui a Lei de Greve. Tal norma

dispõe em seu artigo 11 que “Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os

trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços

indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.”

Esse dispositivo, plenamente aplicável ao caso concreto, como aponta a

jurisprudência firma do Superior Tribunal de Justiça, não foi respeitado. A greve fez suspender todas as

atividades de ensino que a universidade proporcionava, deixando milhares de alunos, em todo o

Estado, sem poder usufruir de seu direito fundamental.

A informação de paralisação total, além de poder ser facilmente constatada

através dos veículos de comunicação no Estado6, encontra-se presente no próprio endereço eletrônico da

ADUEPB, que em uma matéria defende a “GREVE GERAL” e “paralisação das atividades”7.

Decerto, a violação ao princípio da continuidade é motivo bastante para a

declaração de ilegalidade de greve na Educação Pública. Tal idéia é consensual entre os Tribunais Pátrios.

Se não, veja-se a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Piauí:

6http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2013/02/professores-entram-em-greve-por-tempo-indeterminado-na-uepb.html

7 in: http://www.aduepb.com.br/?p=2469

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Cuida-se de Dissídio Coletivo de Greve, suscitado pelo Estado do Piauí e Universidade Estadual do Piauí - UESPI, em face da ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, regularmente qualificados na peça de ingresso às fls. 02/24.Os Suscitantes alegam que os professores da instituição de ensino superior do Estado aderiram ao movimento paradista no dia 13 de agosto de 2012, sem que houvesse causa justificada, uma vez que a remuneração da grande maioria dos professores da Universidade Estadual superam, inclusive, a remuneração dos professores das Universidades Federais e, ademais, o Governo do estado ofereceu aumento linear, a todos os professores no patamar de 40% (quarenta por cento), sendo 10% a cada ano.(...)Além do mais, diz que o movimento afronta diretamente ao princípio da continuidade do serviço público, sobretudo quando se trata da prestação dos serviços educacionais, da da a sua relevância na formação da cidadania.(...)DEPREENDE-SE QUE A LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL TRATA A EDUCAÇÃO COMO BEM ESSENCIAL À SOCIEDADE, SENDO DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO E DA FAMÍLIA, SENDO, POIS, O DIREITO À EDUCAÇÃO UMA GARANTIA FUNDAMENTAL (ART. 6º, CF) E OS SERVIÇOS EDUCACIONAIS SÃO TIDOS COMO SERVIÇOS OBRIGATÓRIOS QUE DEVEM SER PRESTADOS DE FORMA CONTÍNUA E ININTERRUPTA.(...)Do exposto e o mais que dos autos consta, defiro a antecipação de tutela requestada para DETERMINAR A SUSPENSÃO DO MOVIMENTO PARADISTA DEFLAGRADO pela Associação Reclamada, em 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de multa diária que fixo, de logo, em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em caso de descumprimento da medida, a ser revestido em favor do Estado Reclamante.

(TJPI - Tribunal Pleno - Dissídio Coletivo de Greve nº. 2012.0001.005558-1 - Rel. Des. José James Gomes Pereira - Decisão Monocrática Concessiva de Tutela Antecipada - 29/08/2012)

A decisão foi reafirmada de forma unânime pela Corte de Justiça do Piauí,

quando do julgamento de agravo regimental interposto:

AGRAVO REGIMENTAL – DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE – APLICAÇÃO DA LEI Nº 7.783/89, CONFORME POSIÇÃO DO STF – EDUCAÇÃO DE NÍVEL SUPERIOR – ATIVIDADE ESSENCIAL – ABUSIVIDADE DEMONSTRADA – ILEGALIDADE DO MOVIMENTO – ANTECIPAÇÃO DE

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TUTELA – REQUISITOS PRESENTES – RECURSO IMPROVIDO. Conforme já decidido pelo STF ao julgar o MI nº 708/DF, aplica-se aos servidores públicos civis a lei nº 7.783/89. Pela complexidade e variedade dos serviços públicos e atividades do Estado, há outros serviços públicos, cuja essencialidade não está contemplada pela Lei nº 7.783/1989. CONSIDERANDO A INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS CONTIDAS NESSA LEI, TEM-SE COMO ILEGAL O MOVIMENTO PAREDISTA, DEVENDO, POIS, OS SERVIDORES GREVISTAS RETORNAREM AOS SEUS POSTOS DE TRABALHO.RECURSO IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME

Conclui-se, portanto, que não se coaduna o exercício do direito de greve em

violação ao princípio da continuidade da administração pública, sob pena de violação ao Ordenamento

Jurídico brasileiro.

III.2 - Da Violação a Direito Fundamental da Classe Estudantil

Ressalte-se, em aditivo, que a própria Lei da Greve (Lei nº. 7.783/89) veda

expressamente que o movimento grevista viole direitos ou garantias fundamentais alheios:

Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:

(...)

§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores

poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.

Omissis

De fato, nada impede que a classe docente busque, junto à Administração da

UEPB, o que ela bem entender - seja o pleito legítimo ou não. Todavia, tal ação não pode, de modo

algum, abalroar direitos fundamentais de outras classes, como a estudantil - que se encontra privada do

gozo do direito fundamental à educação, insculpido na própria Constituição Federal, conforme citado

alhures.

Em assim sendo, percebe-se haver mais uma clara violação à Lei da Greve, não

restando, data venia, outra opção ao Ministério Público que não buscar a decretação da ilegalidade da

greve dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba.

Page 10: Representação MP - UEPB-W 1

Sobre o tema, em caso análogo, assim entende a Corte de Justiça Potiguar:

CONSTITUCIONAL. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. GREVE DOS

PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL. PEDIDO LIMINAR,

FORMULADO PELO ESTADO, A FIM DE SUSPENDER O MOVIMENTO

PAREDISTA. RESERVA DE PLENÁRIO DECORRENTE DA RELEVÂNCIA

DA MATÉRIA. HIPÓTESE DE HARD CASE . EDUCAÇÃO. SERVIÇO

PÚBLICO ESSENCIAL. ROL EXEMPLIFICATIVO DO ART. 10 DA LEI Nº

7.783/89. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RISCO DE

PERDA DO ANO LETIVO DEMONSTRADO, DENTRE OUTROS MEIOS,

PELO NOTICIÁRIO LOCAL. VIOLAÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL

DE ACESSO À EDUCAÇÃO. PRESENÇA DA VEROSSIMILHANÇA DA

ALEGAÇÃO E DO PERIGO NA DEMORA. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE

ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA QUE SE IMPÕE.

1. Considerando a relevância da matéria, bem como a complexidade da

questão, considero recomendado confiar a apreciação do pedido de liminar ao

Órgão Colegiado, conforme vem decidindo sedimentadamente o Supremo

Tribunal Federal (MS 25579 MC. Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE.

Relator p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA. Julgado em 19/10/2005)

2. Os casos difíceis são as hipóteses que não encontram solução pacífica no

ordenamento jurídico, em virtude da existência de conflitos entre as diversas

normas constitucionais incidentes sobre a matéria, conforme ocorre na espécie.

3. diferentemente do movimento paredista no setor privado, a greve estatutária

traz, em si, uma pesada carga de prejuízos a população como um todo.

4. A greve dos servidores da educação, há mais de 73 (setenta e três) dias está

causando à coletividade graves danos, inclusive com risco de perda do ano

letivo, conforme já vêm sendo noticiado por diversos periódicos locais.

5. O acesso ao ensino público é direito subjetivo da sociedade, podendo

qualquer cidadão exigi-lo, inclusive judicialmente, nos termos do art. 205 da

Constituição Federal.

6. A educação de qualidade é que proporciona desenvolvimento aos seres

humanos em diversos aspectos, como, por exemplo, o intelectual e o moral.

Page 11: Representação MP - UEPB-W 1

7. O rol do art. 10 da Lei n. 7.783/89 não é numerus clausus , nos termos da

decisão proferida pelo STF no Mandado de Injunção nº 708/DF.

8. O mesmo entendimento, no sentido de incluir a educação no rol de serviços

públicos essenciais, é adotado por outros Tribunais de Justiça.

9. Estando presentes ambos os requisitos necessários à concessão da tutela

antecipada, quais sejam, a verossimilhança da alegação e o perigo na demora,

impõe-se a concessão da medida liminar.

(TJRN - Tribunal Pleno - ACO 80.497 - Rel. Des. Virgílio Macêdo Júnior - Julg.

13/07/2011)

Assim, quando há violação a direitos fundamentais de outros, inaceitável é o

exercício do direito de greve, devendo esta arbitrariedade ser prontamente repudiada, sob pena de danos

irreparáveis a direitos fundamentais dos estudantes da UEPB.

IV - DO PEDIDO

Ante todos os argumentos expostos, reitera-se o pedido inicial, para que o Órgão

Ministerial, na tutela dos direitos coletivos e difusos da sociedade, tome as medidas cabíveis para requerer

judicialmente a ilegalidade do movimento grevista impugnado, buscando o retorno imediato às atividades

da classe docente da Universidade Estadual da Paraíba, sob pena de agravamento de danos causados à

comunidade, recrudescidos com o passar do tempo.

Nesses Termos,Representamos.

Campina Grande, 18 de março de 2013

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Lucas Rafael Galdino de Araújo Lucena Lorenna Raysse de Macedo Barbosa

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Morgana Rosa Leite Gurjão Wollney Niermeson Ribeiro Félix

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Felipe Robalinho Cavalcanti Barbosa Jáder Melquíades de Araújo

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Mônica Jannine Alencar Nobrega Marília Andrade Bezerra

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Mayza de Araújo Batista Rafaella Mayana Alves Almeida Cardins

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Ayrton Magno de Oliveira Jimmy Matias Nunes

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Lorena Sales Araújo Divalcy Reinaldo Ramos Cavalcante

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Jefferson Ferreira Lino Raquel de Góes Pontes

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Maria Isabel da Silva Salú Francisco Eudo Brasileiro Júnior

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Camile Viana Leal Caio Ricardo Gondim Cabral de Vasconcelos