repórter do marão

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Nº 1272 | fevereiro ' 13 | Ano 30 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA FEVEREIRO ’ 13 Prémio GAZETA repórter do marão + norte Estado só deverá resgatar a obra depois de decisão judicial Já ninguém acredita que A4 chegue a Vila Real antes de 2016 Quebra de tráfego põe em causa sustentabilidade Candidatos autárquicos de vila real e bragança escolhidos | proder com elevada taxa de execução no DOURO Tâmega "PARQUES COM VIDA" PARA VALORIZAR TERRITÓRIOS | lei QUE LIMITA mandatos é clara mas autarcas e partidos querem mudá-la

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Revista Mensal de Informação. Tiragem média de 20 a 30 mil exemplares. Distritos do Porto, Vila Real e Bragança e parte dos de Viseu, Aveiro e Braga. Regiões do Douro, Tâmega e Sousa, Trás-os-Montes

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Page 1: Repórter do Marão

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repórterdomarão+ norte

Estado só deverá resgatar a obra depois de decisão judicial Já ninguém acredita que A4 chegue a Vila Real antes de 2016 Quebra de tráfego põe em causa sustentabilidade

Candidatos autárquicos de vila real e bragança escolhidos | proder com elevada taxa de execução no DOURO Tâmega "PARQUES COM VIDA" PARA VALORIZAR TERRITÓRIOS | lei QUE LIMITA mandatos é clara mas autarcas e partidos querem mudá-la

Túnel sem luz!

Page 2: Repórter do Marão

Com obras paradas há quase dois anos, a Concessão Túnel do Marão, que fora entregue pelo Governo anterior a um consórcio liderado pela Somague, deverá continuar ainda mais algum tempo sem uma solução. “Atado de pés e mãos”, como se diz na gíria popular, o Governo tem uma alternativa pronta a utilizar, mas que carece de garantia jurídica, dado o desencontro de posições entre o consórcio construtor e o Estado – tomar conta da empreitada por abandono do concessionário. Aparentemente, a obra foi abandonada – não há construção física visível no troço entre Amarante e Vila Real há mais de 20 meses – mas o grupo construtor e o sindicato bancário que financiou a obra alegam o contrário: que foi o Estado que entrou em incumprimento, precisamente devido às primeiras duas paragens forçadas. Assim, tudo indica que o Estado não deverá [não poderá]

avançar com o resgate da concessão antes de proferida uma primeira decisão

dos tribunais.

Estado só deverá conta da empreitada depois de uma decisão do tribunal a confirmar o abandono do consórcio

Muita obra por fazer ainda na autoestrada do Marão

02 fevereiro'13 | repórterdomarão

desenvolvimento

Passados tantos meses de indefinição – o atraso global da obra é de 28 meses, se contabilizar-se as duas paragens por ordem dos tribunais, após as providências cautelares contra a obra, apresentadas por uma empresa de embalamento de águas, em Ansiães, Amarante (Água do Marão) – e peran-te a crítica de tantos setores, dos sindicatos aos partidos, quer da Esquer-da quer do interior do partido governamental (os deputados do PSD tam-bém recomendaram há poucos dias a retoma da empreitada), o Governo vai adiando qualquer decisão mais drástica, aguardando um sinal da justiça.

Fonte conhecedora do processo, que o tem acompanhado desde a for-mação do atual Governo, adianta ao RM que os atuais governantes do setor – quer o secretário de Estado Sérgio Monteiro, que titula as obras públicas, quer o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira – não querem arriscar submeter o Estado a pesadas indemnizações por eventuais atos contrários à lei, se decidirem tomar conta da obra por abandono da concessão.

Processo nos tribunais pode arrastar-se, decisão do tribunal arbitral por conhecer

Com o atual Governo a não querer arriscar avançar, por enquanto, com o resgate da obra (uma das alternativas lançada há dias pelo Partido Socia-

lista e que está prevista no contrato de concessão) antes de uma decisão judicial, o processo pode arrastar-se meses e

meses. As últimas informações disponíveis rela-tam a recolha de estudos e pareceres por

parte do Ministério das Obras Pú-blicas, que sustente

Page 3: Repórter do Marão

Estado só deverá conta da empreitada depois de uma decisão do tribunal a confirmar o abandono do consórcio

Muita obra por fazer ainda na autoestrada do Marãouma decisão governamental.

A nossa fonte adianta que o concessionário da Autoestrada do Marão – um consórcio formado por empresas dos grupos Somague e MSF, que por sua vez constituiu um agrupamento construtor da obra, a Infratúnel – também não está a facilitar, alegando que o incumprimento é do Estado. Ou seja, não reconhece o abandono da obra, até porque em causa estarão também as duas paragens forçadas em 2009 e 2010, devido a ações apre-sentadas em tribunal pela empresa Água do Marão, com esta a reivindicar alegados prejuízos que a perfuração do túnel pode causar no aquífero que abastece a unidade de enchimento de água de Ansiães.

Com a construção, grosso modo, a pouco mais de meio, sobretudo o tú-nel, a obra de arte mais complexa – duas galerias gémeas, com o compri-mento de 5,6 quilómetros –, o problema atual resume-se ao esgrimir de res-ponsabilidades pelo estado a que chegou a concessão.

Segundo as nossas fontes, em junho de 2012 foi pedida a rescisão do contrato pelo consórcio e a decisão do caso passou para a alçada de um tri-bunal arbitral, que não terá ainda proferido uma decisão.

Verba cativa na reprogramação do QRENPela construção do túnel e da autoestrada de Amarante a Vila Real (um

troço de 26 km, prolongamento da A4), o concessionário deveria receber o mínimo de 13 milhões de euros anuais ao longo dos 30 anos da concessão.

Contudo, tudo indica que já haverá dinheiros públicos injetados na obra mas cujo montante se desconhece.

Por outro lado, há uma verba cativa no QREN, de cerca de 200 milhões de euros, que provavelmente dará para concluir o troço da A4 entre o nó de Mosteiro e Parada de Cunhos,

onde começa a Concessão da AutoEstrada Transmontana, da responsabili-dade da AutoEstradas XXI, uma via que deverá ficar concluída no segundo semestre do corrente ano, apesar do atraso de quase um ano, também justi-ficado pelos condicionalismos de financiamento.

Só para concluir as galerias do túnel é preciso mais um ano

A última visita de governantes às obras do túnel ocorreu há dois anos, em fevereiro de 2011, feita pelo então primeiro-ministro José Sócrates e foi o responsável pelo consórcio que estabeleceu o ponto dos trabalhos de es-cavação. Francisco Silva, presidente do Conselho de Administração da Auto-estrada do Marão, comprometeu-se nessa altura com Sócrates a concluir a ligação entre as duas frentes do túnel [entre Ansiães, do lado de Amarante e a Campeã, do lado de Vila Real] no prazo de um ano.

Contudo, mesmo depois de concluídos os trabalhos de escavação, have-rá muita obra para realizar no interior das galerias. A estimativa de conclu-são da obra nessa altura era de 22 meses, ou seja, novembro de 2012, mas como a obra só parou definitivamente em junho daquele ano, é ideia geral que a conclusão da empreitada necessita de um prazo entre 20 meses e dois anos, até porque se estima que algumas estruturas terão de ser recuperadas, depois de paradas tanto tempo. Além disso, a reposição de todas as estru-turas das várias frentes de obra também demorará o seu tempo, apesar de

haver garantias de que as obras mínimas de segurança e manu-tenção das estruturas têm vindo a ser

realizadas. Quanto às restantes obras

de arte, estima-se

repórterdomarão | fevereiro'13 | 03

Cordão de viadutosda embocadura do

túnel do lado poente, em Candemil e Ansiães, próximo da pousada do

Marão, em Amarante.

Page 4: Repórter do Marão

Os impactes negativos da paragem da obra do Túnel do Marão não se resumem aos mais de mil postos de trabalho que fo-ram destruídos com a suspensão da em-preitada, precisamente num setor muito afetado. Houve um efeito de cascata em torno do fim da obra e os apertos orça-mentais impostos pelo Governo e pela troi-ka desde o início de 2012 só agravaram – dezenas de pequenas empresas locais definharam e acabaram por encerrar.

O partido “Os Verdes”, na interpelação que fez na Assembleia da República, fala em 40 empresas. Foram subempreiteiros que faliram mas também fornecedores da obra e pequenos negócios de restauração e serviços de apoio à obra que viram os clientes desaparecer de um momento para o outro, do aluguer de casas ou quartos aos cafés e mercearias na área das obras.

A crise é tão profunda na zona do Marão que o único restaurante localiza-do numa precária área de serviço, em Espi-nheiro, também a única entre Amarante e Vila Real, fechou há muitos meses. Por seu turno, o posto de combustíveis contíguo, que dispunha de bar de apoio além do pos-to de combustível, também já surgiu várias vezes fechado à noite, tal é a escassez de clientes no IP4.

desenvolvimento

que estejam globalmente construídas entre 50 e 70 por cento, pelo menos a aferir por aquelas que são mais visíveis: a ponte viaduto de Gondar, onde começa o novo troço portajado da A4, está no início da se-gunda plataforma, e o cordão de viadutos da embocadura do túnel do lado poente, em Candemil e Ansi-ães [foto na página anterior] também estará sensivelmente nessa fase de construção, entre metade e dois terços de obra. Anote-se que além da conclusão dos viadutos ainda há alguma obra de escavação para fazer nas ligações entre os vários viadutos, nomeadamente neste troço que antecede a embocadura po-ente do túnel do Marão, apesar de tecnicamente serem considerados trabalhos sem grande grau de di-ficuldade ou complexidade.

Os viadutos do lado nascente, entre Campeã e Parada de Cunhos, estão aparentemente na mesma fase construtiva e apenas gera alguma apreensão a construção do nó de Parada de Cunhos (interseção do IP4 com a nova autoestrada A4), ligação desta concessão com a Transmontana por a empreitada ter saído do âmbito daquela concessão (por via da redução de custos com as PPP rodoviárias que o Gover-no empreendeu no ano passado) e ter passado para a responsabilidade da Estradas de Portugal, o que significa que neste momento a obra nem está concessionada nem adjudicada, sendo necessário execu-tar todo o processo concursal.

Obras arrastam-se há quase 4 anosAs iniciativas para forçar o Governo a recomeçar as obras, iniciadas em junho de 2009, com duas in-

terrupções pelo meio até pararem definitivamente em junho de 2011, têm vindo da parte do Partido Ecologista “Os Verdes” e do Partido Socialista, que chefiava o governo durante as últimas obras realiza-das na empreitada e que pararam por via da crise financeira e da intervenção da troika.

O PS defende o resgate da concessão: "Ainda não ouvi nenhum membro do Governo dizer que o consórcio devia cumprir o seu contrato e que tinha essa obrigação, ainda não ouvimos dizer. Essa seria a primeira solução, visto que a obra está contratada", salientou Pedro Silva Pereira, antigo “braço direito” de Sócrates e deputado eleito por Vila Real.

O parlamentar socialista acrescentou que "é preciso ou substituir o financiamento que está contrata-do ou então resgatar a obra". "É ao Governo que compete fazer essas escolhas. Agora não nos conforma-mos com a ausência de solução", sublinhou Pedro Silva Pereira.

Mesmo que seja possível tomar uma decisão até ao verão, além dos dois anos para conclusão da obra, ainda será necessário juntar-se mais alguns meses para a preparação do processo de concurso e de adjudicação do que falta para concluir a empreitada. É óbvio que um acordo entre o Estado e a con-cessionária do Túnel do Marão facilitaria todo o processo de recomeço da obra, mas quase todas as fon-tes ouvidas pelo RM garantem que esse cenário é irrealizável.

Ou seja, ainda que o processo seja desbloqueado este ano, a conclusão da autoestrada A4 entre Por-to e Bragança – fundamental para concluir a rede viária entre o litoral e a região transmontana, além da significativa melhoria da segurança rodoviária – nunca ocorrerá antes do final de 2015 ou início de 2016. Na melhor das hipóteses, só daqui a três [longos] anos…

Durante os próximos três anos (ou mais...), a travessia do Marão vai continua a fazer-se exclusivamente pelo atual e sinuoso IP4, com os constrangimentos conhecidos, sobretudo no inverno. Além da frágil segurança rodoviária, apesar das melhorias que foram implementadas depois da mortandade (!) ocorrida entre os anos de 2000 e 2006...

04 fevereiro'13 | repórterdomarão

Pequenosnegóciosencerram

Page 5: Repórter do Marão

A exemplo das autoestradas e outras vias complementares, o tráfego no IP4 sofreu uma quebra acentuada nos últimos anos. Relativamente ao troço entre Amarante e Vila Real, o tráfego médio no IP4 caiu cerca de 1000 veículos por dia no último ano, revelam os gráficos da Estradas de Portugal.

Impensável há três ou quatro anos: uma equipa de reportagem do RM fez todo o percurso entre Vila Real e Amarante, ao início da noite de um dia de semana de janeiro, sem cruzar ou ultrapassar qualquer viatura e mesmo depois, entre Ama-rante e Penafiel, já em plena A4, o número de veículos com que se cruzou (contan-do obviamente as duas faixas de rodagem) não ultrapassou a dezena.

Tráfego cai em todas as autoestradasEstes números estão em linha com a redução de tráfego nas autoestradas por-

tuguesas desde 2011, inferior nas vias tradicionais que já cobravam portagem e muito mais acentuado nas antigas vias sem custos (ex-SCUT) e que naquele ano começaram a cobrar.

Enquanto nas principais autoestradas da Brisa (A1, A2, A3 e A4) a queda de trá-fego ronda os 10 por cento, segundo a associação de concessionários de autoes-tradas, esse índice chega aos 50 por cento em algumas das antigas SCUT.

Só em setembro de 2012 o decréscimo chegou a 15,7% de circulação face ao mesmo período do ano anterior, ou seja, foram contabilizados menos 245 mil veí-culos nestas vias do que em setembro de 2011.

Os números referentes às ex-SCUT são ainda mais significativos: desaparece-ram cerca de 50% dos veículos destas estradas entre setembro de 2011 e o mes-mo mês de 2012.

O pagamento de portagens nestas vias cuja circulação era, antes, gratuita (e numa primeira fase de cobrança tiveram um custo unitário por quilómetro supe-

rior às outras vias) estará na origem do afastamento dos automobilistas e por con-seguinte de tamanha queda de tráfego.

O sistema de cobrança, por pórticos, que obriga a custos acrescidos a quem não possui via verde ou dispositivo eletrónico de matrícula, também não será alheio a esta fuga dos carros das antigas SCUT.

Por outro lado, o decréscimo de circulação também está intimamente ligado ao aumento vertiginoso do preço dos combustíveis. A redução de vendas de com-bustíveis situa-se também entre 10 e 15 por cento, segundo as próprias empresas do setor. Literalmente, os portugueses encostaram os automóveis e só os usam em situação de muita necessidade.

Túnel do Marão: outro fiasco como a A24?Este abaixamento brusco de tráfego nas vias nacionais, que também se nota

há algum tempo na estrada de penetração ao interior transmontano, põe até em causa a sustentabilidade da própria autoestrada A4, sobretudo do troço portaja-do entre Amarante e Vila Real.

Concessionada em maio de 2008 por 30 anos, embora o arranque das obras só tenha começado em junho de 2009, o prolongamento da A4 vai ter de ser assu-mido pelo Estado, a confirmar-se o fim da concessão, pois não será aconselhável fazer uma nova PPP para aquela obra, quer pela possibilidade de o concurso ficar deserto quer pelas condições financeiras insustentáveis que os eventuais conces-sionários pediriam se viessem a concorrer.

Relevando a sua importância no capítulo da segurança rodoviária, sobretudo no período de inverno, a futura A4 até Vila Real poderá vir a constituir mais um “buraco financeiro”, a exemplo de outras PPP rodoviárias, cujas vias não têm trân-sito que justifique o investimento (e consequentemente o perfil de autoestrada,

Tráfego no IP4 abaixo do mínimo exigido para uma autoestrada

A4 só chegará a Vila Real lá para o ano de 2016

Em fevereiro de 2011, na última visita oficial às obras da empreitada Túnel do Marão, ainda havia sorrisos entre o Estado e o concessionário. Na imagem, o então primeiro-ministro José Sócrates e Francisco Silva, presidente do CA da Autoestrada do Marão, um consórcio liderado pela Somague. A A4 deveria ter sido aberta ao tráfego em novembro. passado...

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desenvolvimento

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para o qual se requer o mínimo de 10.000 veículos de TMDA (Tráfego Médio Diário Anual), casos da A7 e da A24, só para falar de dois casos de concessões e ex-SCUT no interior norte do país.

Na concessão agora em causa, o troço entre Amarante e Vila Real seria pago “por disponibilidade” – os tais 13 milhões por ano que a concessionária teria direi-to a receber e que constituía o montante mais baixo entre os cinco consórcios que concorreram à obra. Mas seja qual for o modelo de cobrança que venha a ser im-plementado naquele troço da A4, é garantido que cada passagem nos 5,6 km do túnel vai custar aos contribuintes uma "pequena fortuna"… a exemplo do que o Estado já paga por cada veículo que circula na A24 – qualquer coisa como 79 euros!

Note-se que são os documentos oficiais da EP que reconhecem que a cobran-ça de portagens na A24 apenas cobre 9 por cento do custo. E como será no futu-ro túnel do Marão?

Contribuintes financiarão milhões de eurosO buraco financeiro que a nova autoestrada vai acarretar para o país dá hoje ra-

zão aos que defendiam em 2004, quando se discutiram os estudos ambientais de prolongamento da A4, que aquele corredor, "paralelo" ao IP4, era um erro colossal, que ficaria muito caro ao país. Defendia-se outro corredor, parcialmente pelo canal do IC26 até às proximidades de Mesão Frio e que depois infletia para Santa Marta de Penaguião e entroncava na A24, que não concorresse diretamente com o IP4, mas os poderosos lobis da construção, entre outros, forçaram a escolha de um tra-çado que obrigava a escavar um túnel de quase seis quilómetros, o "maior da Pe-nínsula Ibérica"...

Anote-se que os quilómetros de via a construir eram muito próximos: entre o percurso mais curto e escolhido (o de túnel do Marão, 26, 3 km) e o mais longo, contabilizando as várias variantes de traçado apresentadas, havia uma diferença de pouco mais de 7 (sete!) quilómetros. Os autarcas do Douro e do Tâmega ainda chegaram a fazer uma petição ao Governo para escolher o traçado de penetração pelo Douro e que contornava o Marão pelo lado sul – que ainda tinha a vantagem de sobrepor-se a mais de metade do traçado proposto para o IC26 entre Amaran-te e a Régua – mas o Governo fez orelhas moucas.

O alargamento de alguns troços do IP4 era também uma solução apontada na época para melhorar o corredor entre Amarante e Vila Real (que ficou bastan-te mais seguro com as restrições de ultrapassagem nas zonas mais sensíveis e com a melhoria do piso, medidas que baixaram drasticamente a sinistralidade desde 2006), mas o Governo de Sócrates sempre insistiu no prolongamento da A4 pelo Marão e foi a posição que vingou.

E para justificar a obra, inflacionaram-se os estudos de tráfego. O RECAPE (Re-latório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução) do troço que inclui o túnel apontava um tráfego médio diário anual (TMDA) de quase 11 mil veículos na altura da abertura da autoestrada e de, pasme-se, 43.344 veículos em 2038. Al-

guém acreditará nestes números?Nesta altura, cabe perguntar: qual será o índice de tráfego na futura autoestra-

da do Túnel do Marão, com pagamento de portagem, sabendo-se que os auto-mobilistas vão ter o atual IP4 como alternativa gratuita no percurso Amarante-Vila Real, a via que já usam desde a sua abertura ao tráfego, em 1988, e que se tornou bastante mais segura depois das obras realizadas em 2005?

Ninguém conhece ainda o valor da portagem, mas os 26 km entre Padronelo e Parada de Cunhos deverão custar entre dois e três euros (o preço médio por km na A4 é de 0,82 euros a valores de 2013 e o contrato de concessão falava em 0,7 euros mais IVA), sem contar com a variante a Vila Real, também portajada, que entronca na A24, antes de prosseguir para o interior transmontano.

Fuga generalizada às portagensO que vai acontecer no troço do Túnel do Marão daqui a três anos (e em breve

na também portajada Variante de Vila Real), com uma alternativa razoável gratui-ta (IP4), descontando dois ou três dias por ano, quando a neve interrompe a circu-lação no Alto de Espinho, não deve andar longe do que se verifica atualmente na variante de Bragança. No nó Oeste da cidade nordestina, apenas 10 a 15 por cen-to dos automobilistas pagam o pórtico e utilizam a autoestrada aberta há meses em direção à fronteira de Quintanilha – TMD de 374 veículos em janeiro deste ano.

Os indicadores de tráfego no troço do atual IP4 correspondente à nova autoes-trada são também demonstrativos de que não há tráfego suficiente para uma au-toestrada – o TMD, no sensor de contagem de Aboadela, com exceção dos meses de julho a setembro, não anda longe dos 8400 veículos, nos dois sentidos, índice em que os pesados representam apenas 9 por cento do total.

Deveria ter-se enveredado por uma solução mais barata, do tipo das "autovias" construídas em Espanha, com faixas duplas em cada sentido mas com velocida-des inferiores, entre 70 e 90 km/h, quer para o prolongamento da A4 entre Ama-rante e Bragança, quer para outras vias no interior do país que estão muito longe dos TMDA mínimos, os tais 10 mil veículos por dia.

São os casos das deficitárias A24 (a média diária não vai além de 3/4 mil veícu-los, na maioria dos troços, de Viseu a Chaves, com ligeiro aumento no verão), A7 (4 a 5 mil/dia, entre Fafe e a A24), A11 (5 a 7 mil/dia, nas zonas de Lousada e Felguei-ras), A41 (2 a 5 mil/dia, nos troços entre a A42, Gandra (A4) e Aguiar de Sousa/Me-das/Sandim). Nesta autoestrada, que liga a A1 à A42 e A3, sem passar pelo Porto, foram construídos dois túneis, de três faixas cada um, para um tráfego médio de 4 mil veículos. É o tal lanço em que quase dá para jogar à bola ou aterrar um avião...

Ainda voltando à A4, de salientar que o tráfego internacional que cruza a pon-te de Quintanilha, em Bragança, onde não há pórticos por enquanto, atingiu em janeiro valores inacreditáveis – 959 veículos/dia – um TMD que justifica que o Go-verno de Espanha tenha adiado "sine diæ" o prolongamento da autoestrada entre Zamora e a fronteira portuguesa. J.S.

Tráfego atual no IP4 é pouco mais de metadedos estudos apresentados no projeto inicial

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repórterdomarão | fevereiro'13 07

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Page 8: Repórter do Marão

territórios

A dois anos do termo do quadro comunitário, como está a execução do programa PRODER no ter-ritório Douro Verde?

O programa PRODER no território Douro Verde assis-te atualmente a uma franca recuperação dos atrasos que caracterizaram a generalidade do subprograma 3, ten-do boa parte dessa demora sido motivada pela inércia associada ao arranque do próprio quadro comunitário. No momento atual a Dolmen superou já os 52% de exe-cução efetiva e tem uma taxa de compromisso de 87%, prevendo-se para muito breve a aproximação aos 100%. Considerando que o arranque efetivo do financiamento, com a assinatura dos primeiros contratos, ocorreu já em 2010, a taxa de execução é plenamente adequada. Re-gisto que presentemente a Dolmen ocupa, no país, os lugares cimeiros em taxa de execução nos grupos con-géneres que gerem o subprograma 3 do PRODER.

Apesar da crise e das dificuldades de financia-mento, todos os promotores têm conseguido con-cluir os seus projetos?

A generalidade dos beneficiários têm conseguido concluir os seus projetos. Apenas em casos pontuais se verificou a redução do investimento previsto inicialmen-te, como forma de ajustamento aos tempos de dificul-dades que hoje se vivem. Isto é bastante revelador da resiliência dos investidores do território Douro Verde às atuais condições adversas.

Há algum projeto relevante para a região que as dificuldades de financiamento inviabilizaram ou atrasaram a execução?

É difícil relacionar qualquer das desistências verifica-das diretamente com as dificuldades de financiamento

mas, com toda a certeza, esse fator tem condicionado a rapidez com que os projetos são  implementados. É no-tória a dependência dos beneficiários do recebimento dos reembolsos para dar continuidade aos investimen-tos em curso. É de salientar que em resposta a estas di-ficuldades de financiamento foi legislado recentemente, para os beneficiários dos projetos de desenvolvimento rural, uma nova linha de crédito para financiamento de projetos de investimento no âmbito do PRODER, atra-vés de um protocolo estabelecido entre o IFAP e a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo. É, assim, mais um in-centivo para os beneficiários poderem executar os seus projetos.

No final deste quadro comunitário, que melho-rias vai o território disponibilizar aos visitantes e so-bretudo aos residentes?

O subprograma 3 do PRODER disponibilizou para o Território Douro Verde mais de 8 milhões de euros que permitiram apoiar projetos de desenvolvimento rural nas mais variadas áreas. O Agroturismo e as Casas de Campo ficarão disponíveis em abundância nos 6 conce-lhos onde a Dolmen intervém (Amarante, Baião, Cinfães, Marco de Canaveses, Penafiel e Resende). No âmbito das microempresas são claramente reforçados os servi-ços de apoio ao meio rural nas mais diversas atividades como espaços para eventos, restauração, entretenimen-to, comércio de carnes de raças autóctones e fumeiros tradicionais, pão e doçaria tradicional, serviços agrícolas e veterinários, novas tecnologias e publicidade, saúde e bem estar. Os residentes vêem também fortalecidas as estruturas comunitárias de lazer, cultura, valorização am-biental e ainda as valências de apoio social com especial

enfoque para a terceira idade. Em 2009, falava-se em 20 a 25 milhões de investi-

mento total. Vai atingir-se esse montante?Analisando-se apenas as medidas 3.1 e 3.2 do Eixo

3 do PRODER que, como se sabe, é gerido localmente pela DOLMEN, os projetos aprovados até à data nestas duas medidas totalizam cerca de 18 milhões de euros para todo o nosso território de intervenção. Estamos a falar apenas de projetos aprovados, pois há intenções de candidatura, neste momento, e por conseguinte interes-se dos nossos beneficiários em investir no nosso territó-rio. No entanto, já não há cabimentação orçamental para a abertura de novos concursos e respetiva aprovação de novos projetos. Houvesse reforço de verbas no Eixo 3 do PRODER, haveria certamente, mais investimento no nos-so território.

Alguns promotores têm-se queixado que as ele-vadas taxas de juro – sobretudo devido aos gran-des spreads pedidos pelos bancos – podem pôr em causa alguns investimentos. Há casos de constrangi-mentos deste tipo na região do Tâmega?

Tal como referi, foi legislado recentemente, para os beneficiários dos projetos de desenvolvimento rural, uma nova linha de crédito, com taxas de juro bonifica-das, para financiamento de projetos de investimento no âmbito do PRODER, através de um protocolo estabele-cido entre o IFAP e a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo. A linha de crédito surge, assim, com o objetivo de permitir ultrapassar as atuais dificuldades de financia-mento dos beneficiários e garantir a execução de proje-tos já aprovados no âmbito do PRODER,  o que poderá ser uma excelente ferramenta de apoio aos investidores e à execução dos respetivos projetos.

Verificam-se diversos investimentos em Turismo em Espaço Rural (TER), como o agroturismo ou as ca-sas de campo. Não está a região a ficar saturada de oferta nesse domínio ou ainda há margem para cres-cer na oferta turística da região, nomeadamente no alojamento?

Na realidade temos apoiado muitos projetos ligados ao TER, mas não concordo que a região esteja saturada. No entanto, temos de exigir novas abordagens na ofer-ta turística, apostando em parcerias efetivas com outras casas de turismo, museus, restaurantes, associações am-bientais e de fruição da natureza, entre outras, permitin-do disponibilizar aos turistas o que de melhor a nossa região pode oferecer, apostando em todo o vasto poten-cial que a nossa região tem e é reconhecido pela maioria dos nossos visitantes.

Que prioridades devem ser destacadas no próxi-mo quadro comunitário do Proder para este território?

As negociações do próximo quadro comunitário de apoio já estão em curso. Neste momento, as perspeti-vas é para haver uma redução do orçamento comunitá-rio para o apoio ao desenvolvimento rural, o que afetará inevitavelmente o nosso País. No que se refere ao desen-volvimento rural (onde se insere o PRODER) é importan-te e prioritário ter uma abordagem/intervenção multi-fundos (pequenos projetos agrícolas, entre outros), a par do reforço dos programas existentes. Possibilidade dos GAL's poderem vir a apoiar projetos de âmbito agríco-la na vertente da produção e comercialização, comple-mentares (ou não) a outros projetos, tais como na ver-tente de apoio a infraestruturas. Era ainda essencial o financiamento dos referidos projetos com verbas, por projeto, superiores ao que hoje se verifica no Eixo 3 do

Dolmen no 'pódio' da execução do Programa PRODERA Cooperativa Dolmen, que na zona do Tâmega faz a gestão do Programa PRODER, está colocada entre os líderes da perfomance de execução financeira dos cerca de meia centena de Grupos de Ação Local (GAL), contabilizado o volume de investimento assumido e despesa pública realizada. Segundo a estrutura nacional do programa, a 31 de dezembro, a Dolmen apresentava uma taxa de execução de 47% mas até meados de fevereiro esse índice passou para 52%. O presidente da direção da Dolmen, Telmo Pinto, faz o balanço do atual programa no Douro Verde e traça os horizontes do futuro quadro comunitário.

ENTREVISTA | Telmo Pinto defende que próximo quadro deve apoiar projetos de âmbito agrícola na vertente da produção e comercialização

08 fevereiro'13 | repórterdomarão

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PRODER – abordagem LEADER – de forma a criar uma base de sustentação, redimensionamento e melhores condições ao desenvolvimento das suas atividades. Só assim se criarão condições de produção e comercializa-ção dos seus produtos, fixação das populações aos terri-tórios rurais e melhoria da qualidade de vida e poder de compra das nossas populações. Deverá ainda haver uma relação direta entre a criação líquida de postos de traba-lho e a aprovação dos futuros projetos, para combater este flagelo que é o desemprego.  

Considera que há falta de oferta de animação? Quem visita o Tâmega não dispõe de um programa integrado que incentive o visitante a permanecer al-guns dias na região, a menos que exista algum pro-grama preparado pelo próprio hotel ou unidade de alojamento. De que forma poderá ser incrementado esse plano de reforço da animação?

Terá de haver uma aposta primordial e principal na vertente da complementaridade e de atividades que possibilitem a animação e entretenimento ao próprio turista, que se encontra alojado nos empreendimen-tos TER ou hotéis. Apoio a empresas que se dediquem a ocupar o turista durante a estadia e que organizem ro-teiros turísticos com os mesmos. É ainda necessário criar “calendários” locais de eventos que assegurem o enri-quecimento da experiência do turista, bem como as-segurar animação local que “prenda” o turista ao nosso território por um maior número de dias e que preten-dam revisitar-nos. Adaptar os instrumentos financeiros às necessidades locais para um melhor enquadramen-to dos projetos e gestão dos mesmos, direcionados para o desenvolvimento sustentável e com impacto visível

nos territórios. Terá de haver uma aposta nas atividades complementares ao turismo, de forma a fixar o turista na nossa Região; Atuar ao nível dos agentes locais: mobili-zar, capacitar as entidades regionais do turismo; Integrar esta informação numa rede em contacto com entidades e agentes locais; As ADL implementaram e acompanha-ram os projetos, neste momento é necessário disponibi-lizar um novo serviço – informatizar dados, de forma a cruzar e a serem usados pelos diferentes intervenientes; Formação ao nível do atendimento por parte de quem lida com o turista e de guias turísticos.

Em que medida poderá no futuro a Dolmen lide-rar um organismo, em parceria com os agentes hote-leiros e de restauração, para incrementar essa oferta (nomeadamente quanto a transporte fluvial no Dou-ro e Tâmega, bem como visitas guiadas na rota do ro-mânico e/ou no segmento de desportos de evasão)?

A Dolmen estará sempre ao serviço da região, deve ser um dinamizador e catalisador de oportunidades de investimento e de desenvolvimento e não promotor úni-co de uma iniciativa particular, disponibilizando-se para em parceria incrementar uma oferta vasta e estratégica, onde destaco a possibilidade de criar condições de ofer-ta de transporte fluvial que sirva em plenitude a região.

A oferta deste recurso turístico permitiria ultrapassar a lacuna existente, uma vez que a região do Douro Tâme-ga, hoje, não tira nenhum proveito dos barcos e dos tu-ristas que sobem e descem o rio Douro. Precisamos que os turistas que passeiam no Douro também nos visitem e isso não está a acontecer.

A Dolmen, como se previa em 2009, acabou por tornar-se numa espécie de agência de investimento

na região. A ligação com os parceiros estratégicos – i.e. câmaras, investidores, associados, entidades cul-turais, como a FEQ ou a Rota do Românico, etc. – tem sido a suficiente ou há caminho para um relaciona-mento ainda maior?

A cooperação entre entidades da região e do país e mesmo com entidades/parceiros internacionais tem tido nos últimos anos grande desenvolvimento, no en-tanto é sempre possível fazer mais e melhor. Estou cer-to que temos de atuar cada vez mais nas parcerias, mo-bilizando todos os atores locais, criando condições para promover a nossa economia e garantir a criação de ri-queza e de postos de trabalho.

A Dolmen tem hoje um quadro técnico e um ca-pital de conhecimento de grande relevo no Tâmega. De que modo pode este pólo de conhecimento man-ter-se para lá do atual QREN e continuar a trabalhar o desenvolvimento deste território no âmbito do novo quadro comunitário 2014-2020?

A seguir ao PRODER, e no âmbito do desenvolvi-mento rural, haverá um novo programa (abordagem LEADER) que se iniciará no novo QEC – Quadro Estra-tégico Comum - 2014-2020. Este novo programa pre-visto possibilitará fixar “massa critica” na Região Douro Verde e a continuação de um quadro técnico com um capital de conhecimento, um saber adquirido da nos-sa Região e um “Know-How” de grande relevo para o Douro Tâmega.

O trabalho desenvolvido nos últimos anos habilita--nos e responsabiliza-nos para, conjuntamente com os parceiros regionais, continuar a  trabalhar o desenvolvi-mento deste vasto território.  J.S.

Dolmen no 'pódio' da execução do Programa PRODERENTREVISTA | Telmo Pinto defende que próximo quadro deve apoiar projetos de âmbito agrícola na vertente da produção e comercialização

repórterdomarão | fevereiro'13 09

Telmo Pinto, presidente da Dolmen, na abertura da nova sede e loja no Marco (à esquerda, com os presidentes das câmaras de Marco de Canaveses e de Baião) e numa visita a um dos promotores de uma casa de turismo em Cinfães.

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sustentabilidade

Porém, nem sempre esta visibilidade tem sido capitalizada pe-los territórios em geral e pelos atores locais em particular. A ofer-ta desintegrada, desqualificada e desorganizada existente, a par da frequente falta de sensibilidade dos atores locais relativamen-te aos valores e princípios intrínsecos aos Parques, são alguns dos

problemas claramente identificados nos territórios abrangidos por áreas protegidas no Norte do país. Mas outros problemas se observam nestes territórios, nomeadamente as parcas fontes de rendimento económico das zonas de montanha, que contribuem para o despovoamento e o envelhecimento do seu tecido rural,

A Marca "Parques Com Vida", uma estratégia coletiva de valorização dos territóriosMarca “Parques Com Vida”, contexto da sua conceção

Os Parques na Região do Norte de Portugal são uma mais-valia, onde a biodiversidade coabita com um conjunto de sistemas agro-silvo--pastoris de longa tradição, promotores de serviços de ecossistema importantes e de produtos de qualidade certificada, que importa manter, como condição essencial à sustentabilidade dos princípios e elementos ambientais, económicos, sociais e culturais, presentes nestes territórios. A visibilidade turística destas áreas é assinalável, decorrente dos seus valores naturais, paisagísticos, históricos e culturais (Figura 1), bem como das condições de oferta que já apresentam.

Alexandra Marta-Costa (1); Luís Tibério (1); Artur Cristovão (1); Vitor Sousa (2)

(1) UTAD/CETRAD; Vila Real; [email protected] (2) APCV; Ponte da Barca; [email protected]

10 fevereiro'13 | repórterdomarão

Figura 1– Imagens dos parques: 1-Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG); Parques Naturais: 2-Montesinho (PNM), 3-Douro Internacional (PNDI), 4-Alvão (PNA).

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com inevitáveis reflexos ambientais.O desenvolvimento da atividade turística pode ser aqui uma

importante solução para os problemas verificados, pois é respon-sável (direta ou indiretamente) por aproximadamente 10% do PIB europeu e por cerca de 20 milhões de postos de trabalho. É tam-bém considerada como um fator de desenvolvimento económico, capaz de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos visi-tantes e das comunidades que os acolhem (Grupo para a Susten-tabilidade do Turismo - GTS, 2007).

Em Portugal, por exemplo, os números apontam para um se-tor relevante e em franca evolução, com impactes positivos ao ní-vel do emprego e do desenvolvimento regional, representando 11% do PIB (2004), com tendência para um crescimento gradual, acompanhando as perspetivas de crescimento económico para o mercado mundial, de acordo com o Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT, 2007). Ainda neste documento, é destacado o “Tu-rismo de Natureza” como um produto turístico estratégico de ele-vado potencial. O desafio para Portugal neste campo, ao nível das Áreas Classificadas (que representam 21% do território nacional), deverá basear-se no desenvolvimento de uma oferta que respei-ta o ambiente. Para tal, são apontados dois objetivos estratégicos: produtos vendáveis turisticamente e preservação das áreas prote-gidas (PENT, 2007 e GST, 2007).

Foi neste contexto que surgiu a marca “Parques Com Vida”, como uma estratégia coletiva de valorização dos territórios, que tem em conta a diversidade, as sinergias e a complementarida-de entre os espaços, os seus serviços e os atores locais, potencian-do uma oferta turística completa e de elevada qualidade, e consti-tuindo uma nova abordagem de desenvolvimento rural das áreas que a integram. Apresenta como lema: “Promover o território fora do território e vender o território no território!” Trata-se de uma so-lução enquadrada no paradigma global da sustentabilidade, em que a idoneidade ecológica, em articulação com a procura da via-bilidade económica e a responsabilidade social de todos os ato-res, são dimensões essenciais do desenvolvimento rural dos terri-tórios abrangidos pela marca.

“Parques Com Vida”, uma marca com sentido

A marca “Parques Com Vida”, fruto do Projeto EQUAL “Parques Com Vida”, nasceu em 2005, de um processo de debate, envolvi-mento, auscultação e corresponsabilização, entre agentes econó-micos locais, entidades públicas e associações de desenvolvimen-to local. Consiste numa imagem amiga do ambiente, cujo objetivo basilar é a promoção e divulgação das quatro áreas protegidas do Norte do país - Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e Parques

Naturais do Alvão (PNA), Montesinho (PNM) e do Douro Interna-cional (PNDI). É uma marca coletiva, cujo logotipo se apresenta na figura 2, que pode ser atribuída a empresas de restauração, alo-jamento, animação turística e/ou ambiental, bem como a pontos de venda ao público de produtos artesanais e agroalimentares de qualidade, nos 13 concelhos dos Parques referidos.

A sua estratégia passa pela valorização de produtos (bens e serviços) e pelo estímulo à realização de pontes concretas de cooperação entre estes setores, com vista à qualificação e ao escoamento de produtos locais. Por outro lado, com a marca “Parques Com Vida” pretende-se, a longo prazo, que os empre-sários e os outros atores locais aderentes capitalizem as mais--valias associadas à visibilidade turística do Parque onde se in-serem, por via de uma discriminação positiva dos serviços de qualidade nele prestados.

Figura 2 – Logotipo da Marca “Parques Com Vida” (Associação Parques Com Vida - APCV, 2007)

O compromisso “Parques Com Vida” é um conjunto de regras subscritas pelos agentes económicos, que se organizam em dois níveis e quatro eixos. A um primeiro nível, coloca-se um conjunto de requisitos de adesão, como condição prévia de entrada no sis-tema da marca. A um segundo nível, o aderente tem de assumir um programa de melhoria, de natureza temporal e corresponden-te ao período de outorga da marca, dois anos, durante os quais o aderente assume um plano individual de ações de melhoria do seu desempenho (Figura 3).

A Marca "Parques Com Vida", uma estratégia coletiva de valorização dos territórios Alexandra Marta-Costa (1); Luís Tibério (1); Artur Cristovão (1); Vitor Sousa (2)

(1) UTAD/CETRAD; Vila Real; [email protected] (2) APCV; Ponte da Barca; [email protected]

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crónicasustentabilidade

Figura 3 – Síntese do processo de adesão à marca PCV (APCV, 2007)

A conceção da marca “Parques Com Vida” tem subjacentes quatro pressupostos básicos, como se visualiza pela consulta do seu Regulamento (APCV, 2007): a participação dos atores locais; a comunicação do território; o turismo de referência; e a inovação. A marca “Parques Com Vida” é um instrumento que tem potencia-do uma cultura de envolvimento, participação e agregação, sen-do os seus recetores e participantes os seus verdadeiros coauto-res. São eles, também, os melhores veículos do posicionamento ambicionado para o território e os embaixadores por excelência da própria marca.

A unificação e agregação dos esforços de formação, comunica-ção e de marketing de uma série de agentes económicos com ser-viços ou produtos de qualidade, mas de dimensão económica re-duzida, promovidos pela marca “Parques Com Vida”, proporciona resultados incomparavelmente melhores do que a comunicação isolada de cada um desses mesmos agentes. No fundo, é a rede de atores que dá sentido à marca.

A postura profissional, a atitude empresarial, bem como os com-promissos necessários a respeitar pelos agentes económicos, im-postos pela marca, quer na fase de adesão quer na fase posterior de melhoria, conferem aos territórios uma dinâmica que, a médio-lon-go prazo, lhes pode permitir ser referência enquanto destinos de turismo de natureza a nível Europeu, dada a excelência dos seus re-cursos naturais e humanos.

A marca “Parques Com Vida” representa, em si mesma, uma es-tratégia de atuação inovadora, abrangendo territórios com estatu-to de proteção ambiental, com características e necessidades espe-cíficas. Para além de ser o primeiro produto do género em Portugal, corresponsabiliza os agentes locais no cumprimento do regula-mento geral da marca e introduz exigências em quatro campos:

•Território - a estratégia da marca assenta na valorização do território;•Qualidade - apenas a aposta na qualidade dos serviços prestados

pode constituir uma real mais-valia no mercado da oferta turística;•Ambiente - o respeito pelo ambiente, conservação da natureza

e biodiversidade são condições base para a sustentabilidade

das atividades locais; e•Social - a dimensão social da marca, traduzida na rede de atores e

no trabalho em parceria, confere-lhe coesão interna.

Um novo passo, a Rede de Comércio Sustentável "Parques Com Vida"

A intervenção da marca “Parques Com Vida” assume-se como um instrumento de agregação, organização e promoção dos territórios abrangidos, possuidores de elevado potencial turístico. A sua visibi-lidade poderá aumentar de forma sustentada, tendo em vista a cria-ção e sustentação de vantagens competitivas e a concretização de uma forma inovadora de desenvolvimento, através, entre outras ini-ciativas, da criação de uma “Rede de Comércio Sustentável Parques Com Vida”.

Com esta Rede pretende-se que os associados estabeleçam contactos de proximidade e protocolos de colaboração e possam desenvolver sinergias e complementaridades de negócio no que diz respeito ao escoamento dos seus bens e serviços. Ela permitirá consolidar, numa vertente operacional, a rede inicial da marca “Par-ques Com Vida”, entre o setor público, os aderentes e a Associação Parques Com Vida (APCV).

A constituição da “Rede de Comércio Sustentável Parques Com Vida em territórios abrangidos por Área Protegida no Norte de Por-tugal” é um projeto que está em curso (APCV, 2011), financiado pela iniciativa comunitária promovida pelo Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e cofinancia-da pelo FEADER, no âmbito do Programa da Rede Rural Nacional, desenvolvido pela APCV em parceria com a Universidade de Trás--os-Montes e Alto Douro (UTAD), a Douro Superior - Associação de Desenvolvimento, a Associação de Desenvolvimento dos Conce-lhos da Raia Nordestina (CoraNE), e o Instituto de Desenvolvimento Agrário da Região Norte (IDARN).

Pretende-se, com esta iniciativa, por um lado, disseminar a mar-ca “Parques Com Vida” a todo o Norte de Portugal e, por outro, ci-mentar a rede promocional conjunta, alargada e coesa, de bens e serviços prestados nos territórios abrangidos pelas Áreas Protegi-das no Norte de Portugal, por forma à sua otimização enquanto re-cursos turísticos e promotores de um desenvolvimento integrado.

O Projeto “Rede de Comércio Sustentável Parques Com Vida” em territórios abrangidos por Área Protegida no Norte de Portugal, aca-ba de completar um ciclo de quatro Workshops, realizados nos úl-timos três meses em Bragança, Vila Real, Ponte da Barca e Freixo de Espada à Cinta. Os Workshops visaram apresentar o Projeto e deba-ter com atores locais ligados à restauração, hotelaria, animação e comércio as formas de dinamizar uma “Rede de Comércio Sustentá-vel Parques Com Vida”.

BibliografiaAssociação Parques Com Vida (APCV, 2007). Regulamento Geral da Marca “Parques Com Vida”. Associação Parques Com Vida, Freixo de Espada à Cinta.Associação Parques Com Vida (APCV); Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD); Douro Superior, Associação de Desenvolvimento; Associação de Desenvolvi-mento dos Concelhos da Raia Nordestina (CoraNE) e Instituto de Desenvolvimento Agrário da Região Norte (IDARN) (2011). “Rede de Comércio Sustentável Parques Com Vida” em territórios abrangidos por Área Protegida no Norte de Portugal”. Candidatura de projeto ao Programa da Rede Rural Nacional.Grupo para a Sustentabilidade do Turismo (GST, 2007). Plano de Ação para um Turismo Europeu mais Sustentável. Disponível em: http://www.ccdr-alg.pt.Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT, 2007). Para o Desenvolvimento do Turis-mo em Portugal. Lisboa: Ed. Turismo de Portugal, I.P.

"Parques Com Vida"

12 fevereiro'13 | repórterdomarão

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repórterdomarão | fevereiro'13 13

Autarcas do Douro Superior e do Vale do Côa consideram que a suspensão das obras do Túnel do Marão e a cobrança de porta-gens nas antigas SCUT afetam a afluência de turistas que acorrem às festividades da Amendoeira em Flor, o principal cartaz tu-rístico daquela região, mas a diminuição de turistas estará sobretudo ligada à crise que afeta a generalidade da economia. O Douro Superior é constituído pelos municípios de Mogadouro, Torre de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta e Vila Nova de Foz Côa.

Os cartazes da Amendoeira em Flor, que se estendem a Figueira de Castelo Rodrigo, decorrem até 24 de março. A CP reeditou as excursões aos sábados, com partida do Porto.

regiões

Penafiel promove lampreia

O festival da lampreia de Entre-os-Rios, em Penafiel, na quinta edição, volta a promover a dose por 10 euros. O evento realiza-se nos fins de semana de 8 a 10 e de 15 a 17 de março, no cais de Entre-os-Rios, numa tenda gi-gante com cinco restaurantes.

A degustação pode ser feita entre dois tipos de pre-paração – lampreia à mesa com arroz ou à bordalesa – e o montante cobrado inclui três postas de lampreia, ar-roz como acompanhamento e um copo de vinho.

Amendoeiras do Douro lutam

contra a crise

Prémio do Douroavalia 69 projetos

O júri do Prémio Douro Empreendedor vai anali-sar 69 candidaturas às três categorias do concurso que pretende distinguir projetos inovadores na região du-riense. O prémio, no montante de cinco mil euros em cada categoria, será entregue em maio.

O Douro Empreendedor foi lançado pela Rede Em-preenDouro, que envolve 26 entidades públicas e pri-vadas. Além do turismo e do vinho, apresentaram-se a concurso candidaturas nas áreas da biotecnologia, multimédia e design, ambiente e economia verde, cul-tura, produtos naturais, lazer ou serviços de saúde.

O júri deverá ainda distinguir uma personalidade emblemática do Douro.

Posto da GNR de Celorico de Basto requalificado

A Câmara Municipal de Celorico de Bas-to anunciou que o posto da Guarda Nacio-nal Republicana (GNR), situado no centro da vila, vai ser requalificado, obra que permitirá dotar o edifício daquela força de segurança de melhores condições de trabalho. Segun-do a fonte, foi celebrado um protocolo entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e o Município, que permite a execução das obras de remodelação do edifício.

A requalificação das instalações da GNR será da responsabilidade da autarquia, es-tando previsto que as obras comecem em abril. O investimento é de 300 mil euros.

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14 fevereiro'13 | repórterdomarão

Com a entrada em vigor da nova legislação, os autarcas com três ou mais mandatos consecutivos não podem recandidatar-se. Assim, a continuidade de 16 autarcas da região fica inviabilizada. Na maio-ria dos casos, os vice-presidentes surgem como os le-gítimos sucessores.

Em metade das autarquias do distrito de Bragan-ça haverá mexidas na presidência. O socialista Aires Ferreira é o verdadeiro “dinossauro” autárquico, lide-rando a câmara de Torre de Moncorvo há 28 anos. Segue-se o edil de Vila Flor, Artur Pimental, que ocu-pa o cargo desde 1993. O social-democrata Jorge Nunes chegou à presidência da câmara municipal de Bragança em 1997, estando, portanto, a cumprir o quarto mandato. Os autarcas de Macedo de Cavalei-ros (Beraldino Pinto, do PSD/CDS-PP), de Mogadouro (Moraes Machado, do PSD) e de Vimioso (José Rodri-gues, do PSD) estão no poder há 12 anos.

Em 10 dos 14 concelhos de Vila Real, os autarcas terão de ser substituídos por imposição da lei. O pri-meiro mandato do social-democrata Francisco Ta-vares à frente do município de Valpaços remonta ao ano de 1985. Há duas décadas que Fernando Cam-pos e Manuel Martins, ambos do PSD, lideram os executivos de Boticas e de Vila Real (respetivamen-te). Os socialistas Fernando Rodrigues (em Monta-legre) e Francisco Ribeiro (em Santa Marta de Pena-guião) conquistaram o poder autárquico em 1997. Já os presidentes de Alijó (Artur Cascarejo, do PS), Cha-ves (João Batista, do PSD), Murça (João Teixeira, do PSD), Ribeira de Pena (Agostinho Pinto, do PSD) e Vila Pouca de Aguiar (Domingos Dias, do PSD) cumprem o terceiro mandato.

Bragança: seis recandidaturas

Na oficialização dos candidatos ao distrito bri-gantino, o PS está na dianteira, faltando-lhe apenas anunciar o nome que concorrerá à câmara de Miran-dela. O presidente da Federação Distrital, Jorge Go-mes, admite que o escolhido possa ser apresentado até ao final de fevereiro.

Até ao momento, o PSD desvendou oito dos doze candidatos no distrito. Em Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro, Torre de Moncorvo e Vi-nhais, ainda decorrem os processos ao nível das con-celhias, mas o presidente da distrital laranja, José Sil-vano, garante que até 30 de março serão conhecidos todos os candidatos.

O CDS-PP ainda só oficializou os candidatos às câmaras de Carrazeda de Ansiães, Mirandela e Mace-do de Cavaleiros, mas terá lista própria às autarquias

de Bragança, Mogadouro e Vimioso.Alfândega da Fé: Eleita em 2009, a socialista

Berta Nunes vai candidatar-se a um segundo man-dato. A escolha do PSD recai sobre o presidente da concelhia, Artur Aragão, que já exerceu funções de vereação entre 1997 e 1999.

Bragança: Hernâni Dias, que integra o atual exe-cutivo camarário, vai encabeçar a lista do PSD. O ve-reador dos pelouros do Desporto e do Urbanismo é, também, presidente da concelhia. O PS aposta em Júlio Meirinhos, vice-presidente da entidade de Tu-rismo do Porto e Norte de Portugal. Em 1979, Júlio Meirinhos tornou-se o presidente camarário mais jovem do país, à frente da autarquia de Miranda do Douro, onde permaneceu durante quatro manda-tos. Foi ainda deputado da Assembleia da Repúbli-ca e Governador Civil de Bragança. Humberto Rocha, vereador no atual mandato, volta a avançar sozinho, depois de ter conquistado a confiança de 16% do eleitorado nas autárquicas de 2009. O candidato in-dependente foi vice-presidente da câmara de Bra-gança entre 1990 e 1998, quando o PS era poder.

Carrazeda de Ansiães: O presidente da autar-quia, o social-democrata José Luís Correia, concorre a um segundo mandato. O PS aponta o independen-te João Sampaio para um concelho onde os socialis-tas nunca chegaram ao poder. Esta será a terceira vez que este candidato entra na corrida autárquica. Já a escolha do CDS-PP recai sobre o independente Fer-nando Reis.

Freixo de Espada à Cinta: Pela terceira vez, José Santos, o atual presidente, volta a recandidatar-se. Se o candidato socialista vencer, cumprirá o seu último mandato.

Macedo de Cavaleiros: A lista do PSD é encabe-çada pelo vice-presidente do executivo, Duarte Mo-reno. Pelo PS, será candidato o líder da concelhia, Rui Vaz, que concorre pela segunda vez. Rui Costa tam-bém está na corrida, como independente, embora conte com o apoio do CDS-PP.

Miranda do Douro: A comandar os destinos da autarquia desde 2009, o socialista Artur Nunes recan-didata-se.

Mirandela: António Branco chegou à presidên-cia da autarquia em 2011 e é a escolha natural do PSD. O CDS-PP aposta no independente Carlos Pires, vice-presidente no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. João Teixeira, o atual presidente da câmara de Murça, poderá vir a avançar como independen-te, caso haja a possibilidade dos autarcas que atingi-ram o limite de mandatos se poderem candidatar a outros municípios.

Mogadouro: António Pimentel é o nome apon-tado pelo PSD. Além de presidente da concelhia, o candidato é vereador dos pelouros das Obras Públi-cas, Desenvolvimento Rural e Ambiente há três man-datos consecutivos. Francisco Guimarães é o rosto do PS na corrida eleitoral.

Torre de Moncorvo: O PS faz avançar o vice-pre-sidente da autarquia, José Aires, nas próximas elei-ções. Há sete mandatos consecutivos que o candida-to desempenha funções de vereação.

Vila Flor: O vice-presidente da autarquia, Fer-nando Barros, foi indigitado pelo PS e disputará a

A dança dos cargos autárquicosAvizinham-se mudanças inevitáveis nas câmaras dos distritos de Bragança e de Vila Real, em virtude da aplicação da nova lei de limitação de mandatos. As principais forças partidárias já começaram a oficializar os nomes que concorrem às eleições de 06 ou 13 de outubro, as datas mais prováveis. Patrícia Posse traça o quadro de candidatos dos principais partidos.

Eleições nos Distritos de Bragança e Vila Realpoder local

Hernani Dias

PSDBragança

Júlio Meirinhos

PSBragança

António Branco

PSDMirandela

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presidência do município com Fernando Almeida, o candidato aprovado pelos sociais-democratas.

Vimioso: O candidato do PSD é o atual vice-pre-sidente do município, Jorge Fidalgo, enquanto que Amílcar Martins é o número 1 do PS. Natural de San-tulhão, o candidato socialista é, desde 1997, pre-sidente da Junta de Freguesia de São Brás, no con-celho da Amadora, tendo já atingido o limite de mandatos.

Vinhais: O autarca socialista Américo Pereira ar-risca num terceiro mandato. O candidato chegou ao poder em 2005, depois de ter sido vereador duran-

te 16 anos e deputado na Assembleia da República.

Vila Real: PS já definiu a sua estratégia

A Federação Distrital do PS já anunciou os candi-datos dos 14 concelhos do distrito vila-realense. Da parte do PSD, ainda não foram oficializados os can-didatos às câmaras de Alijó, Mesão Frio, Mondim de Basto, Montalegre, Régua, Ribeira de Pena e Vila Real. A CDU já fez saber o rosto que concorre a Vila Pou-ca de Aguiar e apresentará o candidato à autarquia flaviense a 25 de fevereiro. Ainda sem data marcada, comunicará ainda os indigitados às câmaras de Vila Real e de Peso da Régua.

Alijó: José Manuel Gouveia, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alijó, é o rosto que poderá manter o PS no poder. O candidato já exerceu os car-gos de vereador e de vice-presidente da câmara.

Boticas: Empenhado em permanecer no co-mando do município, o PSD faz avançar o atual vice--presidente Fernando Queiroga, que lidera também a Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real. A opção socialista é Ana Luísa Monteiro, subdireto-ra do Agrupamento de Escolas Gomes Monteiro. No campo político, a candidata preside à concelhia do PS, pertence ao secretariado do Departamento  Fe-derativo das Mulheres Socialistas de Vila Real e, en-tre 2006 e 2009, foi vereadora da câmara municipal.

Chaves: A desempenhar funções desde 2002, o vice-presidente António Cabeleira vai tentar chegar ao topo da hierarquia. O candidato social-democrata foi deputado na Assembleia da República entre 2009 e 2011. Na corrida está também a presidente da Co-missão Política do PS de Chaves, Paula Barros. Depois de ter sido vereadora na autarquia em 2001, a candi-data foi eleita deputada à Assembleia da República em 2005, cargo que exerceu durante dois mandatos, tendo assumido a vice-presidência da bancada par-lamentar do PS. Em 2011, foi eleita para a Comissão Nacional do PS.

Mesão Frio: Em 2009, o socialista Alberto Perei-ra tornou-se edil de uma câmara que desde o 25 de Abril era liderada pelos sociais-democratas. Agora, o autarca vai recandidatar-se. Falta conhecer o candi-dato do PSD a uma autarquia que só virou socialis-ta em 2009.

Mondim de Basto: Foi com Humberto Cerquei-ra que, em 2009 e depois de três candidaturas, o PS conquistou pela primeira vez a câmara municipal. Por isso, a recandidatura do atual autarca está dada como certa.

Montalegre: Orlando Alves, o atual vice-presi-dente, encabeça a lista do PS para permanecer no poder autárquico.

Murça: O atual nº 2 do executivo, José Maria Cos-ta, é designado pelo PS. O candidato acumula ainda as funções de vereador dos pelouros da Educação, Cultura e Ação Social. Como adversário terá o social--democrata Pedro Barroso Magalhães, líder da con-celhia, vereador desde 2009 e diretor financeiro da

Segurança Social.Peso da Régua: Manuel Ramos Paiva foi o últi-

mo nome a ser anunciado pela estrutura partidária socialista. Durante duas décadas, o candidato de-sempenhou o cargo de chefe de divisão de sanea-mento básico e serviços urbanos na autarquia.

Ribeira de Pena: O atual presidente da conce-lhia e vereador do PS, Rui Vaz Alves, foi indigitado como candidato. Esta é a segunda vez que concorre à presidência do município, tendo sido chefe de divi-são e adjunto do presidente da câmara.

Sabrosa: O PS volta a apostar na recandidatu-ra do atual edil, José Marques. Nas últimas eleições, o candidato conquistou a câmara para os socialistas depois de, em 2005, a ter vencido na qualidade de independente. O PSD aprovou o nome de António Araújo, que foi comandante da corporação dos bom-beiros de Sabrosa durante 20 anos e ocupou cargos dirigentes na Federação Distrital dos Bombeiros e na Liga dos Bombeiros Portugueses.

Santa Marta de Penaguião: Para continuar a li-derar a edilidade, o PS designou o vereador sem pe-louros José Alberto Araújo. Entre 1996 e 1997, o can-didato foi adjunto do presidente da câmara. Já o PSD apostou em Luís Bastos que, atualmente, exerce as funções de chefe de divisão administrativa e jurídi-ca da câmara de Vila Real. O candidato social-demo-crata é conhecido por ter sido um dos fundadores da Associação de Utilizadores do Itinerário Principal 4.

Valpaços: O PSD, partido que comanda a autar-quia desde 1974, apoia a candidatura do vice-presi-dente Amílcar Castro de Almeida. De 1997 a 2005, o candidato foi presidente da Junta de Freguesia de Fornos do Pinhal e, posteriormente, vereador e vice--presidente. No seu currículo político regista-se ain-da uma passagem pela câmara de Murça, onde de-sempenhou as funções de técnico superior jurista e de chefe de divisão da área administrativa. Afonso Castro Videira é indigitado pelo PS, tendo já sido can-didato à presidência em 1997, altura em que conse-guiu o melhor resultado do PS no concelho.

Vila Pouca de Aguiar: O cabeça de lista social--democrata é o vice-presidente Alberto Machado, que trabalha na autarquia desde 2002. O candidato é também presidente da concelhia do PSD e, para já, tem como adversário José Carlos Rendeiro (PS), ad-vogado de profissão e ainda diretor de um quinze-nário, e José Luís Ferreira (CDU), deputado do Partido Ecologista “Os Verdes” na Assembleia da República.

Vila Real: O presidente da Federação Distrital do PS, Rui Santos, é candidato à autarquia da capital de distrito pela segunda vez consecutiva. Em 2009, o ve-reador e deputado da Assembleia da República con-quistou 35% do eleitorado, contra os 51% do PSD. Do lado do PSD, a Concelhia ainda não escolheu o can-didato, sendo apontados três possíveis sucessores de Manuel Martins: o deputado e professor da UTAD Luís Ramos, o atual vereador Madeira Pinto e Elói Ri-beiro, um "histórico" dos sociais-democratas de Vila Real e antigo governador civil.

A dança dos cargos autárquicosEleições nos Distritos de Bragança e Vila Real

António Cabeleira

PSDChaves

Luís Bastos

PSDStª Marta Penaguião

Orlando Alves

PSMontalegre

Page 16: Repórter do Marão

22 outubro'12 | repórterdomarão

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22 outubro'12 | repórterdomarão

MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004

PRODER apoia realização da Feira do Fumeiro de Baião

Inaugurado no Marcoum centro social para servir três freguesias Baião acolherá alguns milhares de pessoas durante a Feira do Fumeiro e do

Cozido à Portuguesa, um evento apoiado pela Dolmen e que decorre de 22 a 24 de março. Além da promoção dos vários tipos de fumeiro tradicional e do vinho verde, entre outros produtos locais, o evento reúne no recinto os principais restau-rantes do concelho, que aproveitam os três dias da feira para vender alguns milha-res de refeições e promover as suas casas.

Nos eventos anteriores, têm sido vendidas, em média, cerca de oito mil refei-ções e 9.000 garrafas de vinho verde. Além dos enchidos, do salpicão e do presun-to, a feira promove a venda da laranja, da broa de milho e do biscoito da Teixeira, bem como de licores, compotas e outros doces regionais.

Um Centro Social Interfreguesias, integrado com um Centro de Saúde, foi inaugurado em Tabuado, Marco de Canaveses, para servir a população de vá-rias freguesias – Tabuado, Várzea de Ovelha e Alivia-da e Folhada.

O equipamento social, que custou meio milhão de euros e beneficiou do apoio financeiro do PRODER no montante de 200 mil euros, resultou «da união e da concertação de esforços» entre várias entidades e que vai dar resposta social a cerca de 1.200 habitantes com mais de 65 anos das três freguesias. Funcionará como Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário.

Para o Presidente da Câmara Municipal do Mar-co de Canaveses, a obra traduz "a concretização de uma ambição antiga das populações locais e que tan-to mereciam".

"Nesse sentido trabalhamos em conjunto e con-seguimos na candidatura ao PRODER, através da Dol-men, um apoio de 200 mil euros. A Câmara Munici-pal também comparticipou com 70 mil euros e com o projeto inicial de arquitetura, além da mão amiga dos marcoenses que têm contribuído de forma generosa nas várias angariações de fundos realizadas nas três freguesias", sublinhou Manuel Moreira.

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BAIÃO: DOLMEN - Centro de Promoção Produtos Locais | Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

PRODER financia recuperação da estação de Gatão

O Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), liderado na zona do Tâmega pela Dolmen, vai apoiar a recuperação do antigo apeadeiro de caminho de ferro da linha do Tâmega de Gatão, no concelho de Amarante, com um incentivo financeiro de quase 90 mil euros. A Câmara de Amarante, que submeteu o pro-jeto à medida 3.2.1, já anunciou a adjudicação da obra (por 153 mil euros mais IVA), que deverá ficar concluída em seis meses. A recuperação e requalificação do antigo apeadeiro vai servir sobretudo de apoio à ecopista do Tâmega, aberta ao público há cerca de dois anos (abril de 2011).

A ecopista – equipamento utilizável para passeios de bicicleta, skate ou patins, ou sim-plesmente para correr ou caminhar – resultou do aproveitamento do antigo canal da via fér-rea e tem uma extensão de 9,4 quilómetros, estendendo-se desde o centro de Amarante até ao limite do concelho, na Chapa.

É no âmbito do contrato de cedência entre o Município de Amarante e a REFER que as antigas estações da linha serão recu-peradas.

No caso da estação de Gatão será recu-perado o edifício principal, o armazém e as instalações sanitárias, de uso público, a pen-sar sobretudo nos utilizadores da ecopista, e criado um bar.

A Câmara de Amarante propõe também a criação de um centro interpretativo relacio-nado com as duas referências da freguesia de Gatão – o antigo caminho de ferro e a pro-dução vinícola. O armazém dará lugar a uma sala para exposições temporárias.

Festa das Papas em OloNo âmbito do programa de promoção do território do Douro Verde, a Dol-

men vai continuar a apoiar, em 2013, a realização de eventos nos concelhos da sua área de intervenção. Foi o caso, em fevereiro, da sétima edição da Feira das Papas, um evento apoiado pela Dolmen e organizado pela Junta de Freguesia de Olo, em Amarante.

A organização preparou dois dias de degustação de um menú tradicional daquela aldeia do Marão, que inclui papas de sarrabulho, de nabiças e couve.

Em simultâneo foi promovida uma exposição/venda de produtos locais, que incluiu diversos tipos de fumeiro, mel, compotas e artesanato.

O evento atrai a Olo muitos forasteiros e alguns filhos da terra emigrados.

Page 18: Repórter do Marão

poder local

18 fevereiro'13 | repórterdomarão

Está instalada a confusão acerca da lei de limitação de mandatos. Se havia antes algumas dúvidas de interpretação, quanto a muitos especialistas sem qualquer sentido, a questão levantada recentemente sobre a divergência entre a lei apro-vada e a publicação no Diário da República só veio baralhar mais as pessoas. Contudo, segundo diversas declarações públicas, a lei é clara quanto à limitação de mandatos de todos os que já cumpriram três ou mais mandatos consecutivos. Mais importante que a divergência entre o “de” ou o “da”, a lei 46/2005 é que o n. 2 da referida lei fala claramente em “funções” e não em autarquias, mandatos ou outra situação que aponte para um determinado local geográfico. Este ponto tem sido, intencionalmente ou não, totalmente esquecido e deverá ser aqui que os tribunais vão fun-damentar a sua decisão. As ações de associações de cidadãos que entraram nos tribunais deverão fa-zer alguma luz entre março e abril, quando se conhecerem as primeiras decisões.

Interessado em candidatar alguns presi-dentes que atingiram o limite de mandatos, o PSD é o partido que mais tem defendido a clari-ficação da lei na Assembleia da República, mas o PS não tem qualquer vontade de colaborar nesta “trans-figuração” da lei aprovada em 2005 e só poderia ser al-terada nos 60 dias subsequentes à publicação no DR.

Também não se entendeu o significado da “descober-ta”, oito anos depois, da chamada gralha do “de” pelo “da” na Presidência da República e da sua comunicação ao Par-lamento… embora seja verdade que a lei aprovada pelo Parla-mento no decreto nº 15/X, em 28 de julho de 2005, tem “da” e não “de” quando se refere aos autarcas de câmara municipal e de junta de freguesia. A cor-reção da ortografia, aliás, já foi esclarecida pela entidade responsável pelo Diário da República e será uma prática corrente.

Porém, o espírito e a letra da lei sempre foram o de travar os autarcas que se eternizam no poder e contribuir para a renovação dos atores políticos. A redação do nº 2 da lei diz textualmente o seguinte: “2 — O presidente de câmara mu-nicipal e o presidente de junta de freguesia, depois de concluídos os man-datos referidos no número anterior, não podem assumir aquelas funções durante o quadriénio imediatamente subsequente ao último mandato con-secutivo permitido”.

Uma das organizações que apresentou ações de impugnação nos tribunais – a associação cívica Transparência e Integridade – preten-de antecipar-se ao período de entrega das candida-turas, em que o prazo é demasiado curto para ob-ter qualquer decisão em tempo útil nos tribunais.

“As candidaturas que se têm vindo a anunciar de alguns autarcas que cumpriram os três mandatos e agora têm intenção de se candidatarem a um quar-to são candidaturas claramente ilegais”, tem insis-tido Paulo Morais, para quem a lei de limitação de mandatos é “simples e clara”.

Segundo o antigo vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, o objetivo da ação, que preten-de abranger municípios e freguesias, é impedir que “as candidaturas se concretizem, mas também inibir as pessoas de poderem anunciar algo que é ilegal”. “Esta tentativa de violar a lei enganando os portu-gueses não é admissível num Estado democráti-co”, acrescentou. Paulo Morais diz ainda que a ação apresentada pela sua associação é de "âmbito mais geral", razão pela qual irá mantê-la, e nota que ago-ra o problema está nas mãos "do procurador" que analisará o processo e, "em última instância, do Mi-nistério Público".

Paulo Morais sublinha que "esta gralha parece ser muito oportuna e dá jeito àqueles que que-rem interpretar uma lei de forma contrária ao es-pírito e letra da lei. Situação mais estranha quan-

do o erro tem oito anos".É o PSD que mais tem mostrado interesse em “driblar” a lei aprovada em 2005,

porventura pelo peso político que têm no seio do partido os dois principais bene-ficiários da confusão instalada: Luís Filipe Menezes que anunciou

candidatar-se ao Porto, depois de ter esgotado os manda-tos na autarquia de Gaia e o ainda presidente de Sintra, Fernando Seara, que o PSD pretende candidatar à câ-

mara de Lisboa.Alguns especialistas na área crêem até que há uma

campanha deliberada de dirigentes e importantes figuras do PSD em trazer este assunto para a frente do debate

público, de modo a suscitar um amplo debate político que sirva os interesses do partido, ao invés de a deci-

são ficar exclusivamente na esfera dos tribunais.Marcelo Rebelo de Sousa, que tem mostra-

do simpatia pela interpretação que o PSD faz da lei, desvaloriza a questão da preposição e adianta que, na sua interpretação, a lei só se refere a determinada autarquia, permitindo a

apresentação de candidaturas num município ou junta de freguesia ao lado. Na TVI, Marcelo considerou que tratando-se de

uma restrição a um direito (de apresentar candidatu-ra) se aplica o artº 18 da Constituição que manda que

“as restrições devem ser interpretadas restritivamente”, ou seja, “deve aplicar-se a interpretação que restringe me-

nos os direitos”. Defende, igualmente, que havendo dúvidas o Provedor de Jus-

tiça pode levar a questão ao Tribunal Constitucional (TC), evitando-se que tenha de aguardar-se por decisões “tribunal a tribunal” (que têm recurso pre-cisamente para o TC), após a entrega das candidaturas nos tribunais de comarca.

Além das candidaturas de Seara e Menezes, há ainda outros casos de menor projeção pública entre autarcas sociais-democratas desejosos de mudar de câ-mara municipal.

Curiosamente, ou talvez não, recentemente veio também o PCP dar apoio à interpretação dos dirigentes do PSD, eventualmente pelo interesse que tem em “exportar” alguns dos seus “dinossauros”, que tem saído ganhadores em câmaras alentejanas. O PP, por seu turno, tem tido um comportamente erróneo, embora alguns dirigentes insistam para que se aclare a lei. Veja-se: apoia Fernando Seara em Seara e nega-o a Menezes no Porto, como se a lei que vigora na capital não

fosse a mesma que na cidade banhada pelo Douro…Para o coordenador autárquico do Bloco de Es-

querda, Pedro Soares, o partido vai recorrer aos tri-bunais de comarca para pedir a impugnação das candidaturas de autarcas que atingiram o limite de mandatos e concorram a outros municípios.

"Qualquer iniciativa judicial terá de ser feita após a entrega das candidaturas [de todos os partidos] nos respetivos tribunais de comarca, o que só acon-tecerá lá para julho”, afirmou.

Finalmente, o PS também é favorável à lei que li-mita os mandatos e garantiu já que os socialistas não apresentarão nenhum candidato nessas con-dições. Um destacado dirigente socialista no norte do país, garantia há dias que “a opção do Partido So-cialista de não permitir candidaturas de presiden-tes de Câmara em situação de limitação de manda-tos noutros municípios foi uma decisão política, por questões éticas, independentemente da interpreta-ção da lei e isso não muda. Não se baseava numa in-terpretação legal”.

António José Seguro também já afirmou que o PS não muda de interpretação de uma lei que foi feita no início da governação de José Sócrates pre-cisamente para permitir a renovação dos eleitos lo-cais, tanto nas câmaras municipais como nas jun-tas de freguesia.

Interpretações divergentes na limitação de mandatos (Lei 46/2005)

Lei n.o 46/2005 de 29 de AgostoEstabelece limites à renovação sucessiva de mandatos dos presidentes dos órgãos

executivos das autarquias locaisA Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.o da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.oLimitação de mandatos dos presidentes dos órgãos execu-

tivos das autarquias locais1 — O presidente de câmara municipal e o presidente de junta de freguesia só podem ser eleitos para três mandatos consecutivos, salvo se no momento da en-trada em vigor da presente lei tiverem cumprido ou estiverem a cumprir, pelo menos, o 3.o mandato con-secutivo, circunstância em que poderão ser eleitos para mais um mandato consecutivo.2 — O presidente de câmara municipal e o presidente de junta de freguesia, depois de concluídos os manda-tos referidos no número anterior, não podem assumir aquelas funções durante o quadriénio imediatamente subsequente ao último mandato consecutivo permitido.3 — No caso de renúncia ao mandato, os titulares dos órgãos referidos nos números anteriores não podem candidatar-se nas eleições imediatas nem nas que se realizem no quadriénio imediatamente subsequente à renúncia.

Letra da lei refere-se às funções

Page 19: Repórter do Marão

crónica

repórterdomarão | fevereiro'13 19

RESPIGOS I1. O Doutor Carlos Reis, pro-

fessor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e um dos mais destacados defensores do Acordo Ortográfico (coinci-dência que nunca deixará de me causar espécie, porque sempre pensei que fossem condições mutuamente exclusivas), assina no Expresso de 9 de Fevereiro de 2013 um artigo triunfalista sobre o cada vez mais resoluto avanço do Acordo Ortográfico. É natural: combateu aquele combate e o seu lado da trincheira venceu — por isso canta vitória. Mas fá-lo com uma pontinha de pesporrência que não sei se lhe fica bem.

Sobretudo é pena que não diga que essa vitória foi conseguida à custa de algumas batotas. Cito duas (podia citar mais):

A batota da sobreposição ilegal de uma Resolução do Conselho de Ministros a um Decreto; e a batota da Microsoft, que abusi-vamente instalou nos computa-dores um conversor impondo o execrando e execrado Acordo, que sublinha (isto é, censura) a vermelho a ‘velha’ ortografia, sem curar de saber se os usuários estavam nisso interessados.

Com golpadas destas, é fácil ganhar.

2. Pergunto-me a mim mesmo que raio de número calçarão os pés de Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar, para com as suas botifarras esmagarem impiedosa-mente dez milhões de portugue-ses.

Tem que ser um número mui-to alto. Mas não suficientemente alto, segundo o banqueiro Fer-nando Ulrich, que, indiferente ao sofrimento e miséria que lavram no país, acha que os portugue-ses ainda aguentariam o peso de umas botifarras maiores.

‘Ai, aguentam, aguentam’, dis-se ele. Reparem: não disse ‘ai, aguentamos, aguentamos’, por-

que ele próprio, respaldado nos seus milhões, se encontra con-fortavelmente excluído do nú-mero dos esmagados ou em vias disso. Os outros, os destituídos, os desempregados sem subsídio de desemprego, os funcionários e reformados a quem a bocarra imoderada do Estado come me-todicamente salários e pensões, os cidadãos comuns que vêem diariamente a sua vida a andar para trás — esses aguentam. Ai, aguentam, aguentam. Que remé-dio têm eles.

Prostituta de sorte viver em Portugal e não ser banqueiro!

3. Como sinal dos tempos de vacas esqueléticas que correm, não vejo nenhum tão eloquente como a proliferação das lojas que compram ouro. São elas as no-víssimas casas de penhores, ou, na linguagem mais chã do povo, o novíssimo ‘prego’. Aqui, na cidadezinha que escolhi para vi-ver, não sabia de nenhuma antes da crise desabar sobre nós. Ou, se havia, eram recatadas à medida da discrição que estas coisas exi-gem.

Hoje, não. Instalaram-se umas quantas e são ostensivamente agressivas na sua gritante publi-cidade amarela. Onde vai o recato de outros tempos…

Que Deus me perdoe, mas lem-bra-me este novo tipo de comér-cio um bando de abutres que vêm ao cheiro da carniça.

E presto aqui comovida ho-menagem àqueles a quem a crise (por que não são responsáveis) obriga a desfazer-se, quem sabe com que estremecimento de alma, de velhas jóias de família, como modo de adiar (mas infe-lizmente não evitar) o recurso à caridade.

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Flávio Pereira e João Soares *

HAVAIO Havai é um arquipélago composto por 132 ilhas, localizado no Ocea-

no Pacífico. A população concentra-se maioritariamente no sudoeste do arquipélago, onde se locali-zam as 8 maiores, como por exemplo: Hawaii, Maui, Mo-lokai, Oahu, Niihau, Kauai, Mauna Kea e Mauna Lo.

Com belíssimas paisa-gens, praia, muito sol, dança, animação e desportos radi-cais, o Havai, quinquagésimo estado dos EUA, é a capital mais desejada e visitada pe-los turistas. Pesquisas realiza-

das mostram que este arquipélago tem um dos mais altos índices de apro-vação pelos turistas de todo o mundo.

O seu clima tropical é muito agradável e propí-cio à prática de turismo de sol e mar, pois a temperatu-ra varia entre os 23°C e 31°C de abril a outubro e entre os 18°C e 28°C de novembro a março.

Em termos de curiosida-de, Havai ocupa o 2.º lugar em número de habitantes por casa, o 3.º em número de matrimónios, o

14.º em número de habitantes por km² e o 30.º lugar em divórcios.

Este arquipélago é muito co-nhecido pelas danças nativas (tí-picas dos polinésios) e pela práti-ca do surf, pois possui praias com ondas altas durante quase o ano todo. Para além disso, Havai foi pal-co de um dos principais episódios da II Segunda Guerra Mundial: a 7 de dezembro de 1941, a base mi-litar norte-americana de Pearl Har-bor, situada na ilha havaiana de Oahu, foi atacada de surpresa por aviões japoneses.

* Alunos do 2º ano do curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses

Jorge Manuel Costa Pinheiro

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Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico.

Page 20: Repórter do Marão

Durante quase dez anos, Osama Bin Laden foi o homem mais procu-rado pelos serviços secretos norte-americanos. A caça ao homem come-çou logo que se confirmou que a Al-Qaeda e o seu mentor, Bin Laden, era inteiramente responsável pela agressão de 11 de Setembro de 2001, que provocou mais de três mil vítimas e prejuízos materiais incalculáveis.

“Caça ao homem, os dez anos de caça a Bin Laden desde o 11 de Se-tembro até Abbottabad”, por Peter L. Bergen, Publicações D. Quixote, 2012, é uma reportagem de grande envergadura, um texto cheio de sus-pense, muito bem articulado ao longo do processo de uma caçada hu-mana sem precedentes. O autor entrevistou Bin Laden nas montanhas do Afeganistão, em Março de 1967, tratava-se da sua primeira entrevis-ta televisiva para a CNN. Aí mesmo declarou guerra aos EUA, não foi se-riamente tido em conta, era inimaginável uma agressão tão ardilosa, tão bem concebida, tão secreta e até tão económica. Este encontro decorreu perto das montanhas de Tora Bora, região a partir da qual, cerca de qua-tro anos depois, pouco tempo a seguir ao 11 de Setembro, Bin Laden re-alizaria um desaparecimento que desnorteou os poderosos serviços se-cretos norte-americanos.

Bin Laden vivia num esconderijo perfeito, num bairro aprazível, de nome Bilal cercado por verdes colinas e compactas montanhas, numa ci-dade paquistanesa de meio milhão de habitantes, no sopé dos Himalaias, Abbottabad. Foi um homem conhecido por o Kuwaitiano quem adquiriu as parcelas do complexo onde Bin Laden se instalou em 2005. A dissimula-ção era praticamente perfeita, quem a concebeu esqueceu-se de um dado primário: se houvesse um golpe de mão por tropa de elite, Bin Laden não tinha por onde escapar, como aconteceu. Era um refúgio onde o foragido vivia em autorreclusão, mas muito longe das aeronaves teleguiadas ame-ricanas que, nas regiões tribais do Paquistão, iam abatendo metodicamen-te vários dos seus mais antigos colaboradores, a nata da Al-Qaeda. O au-tor descreve a composição da família do líder terrorista e da sua segurança.

A sua captura era uma questão de prestígio para Washington, depois da humilhação que o 11 de Setembro provocou. Depois das sucessivas decapitações, pós 11 de Setembro, sabia-se que Bin Laden dispunha de poucos trunfos. O autor descreve a natureza e o funciona-mento da Al-Qaeda e o modo como funcionava a hierar-quia. A verdade é que Bin Laden era descrente de que os EUA o fossem atacar diretamente no Afeganistão. O au-tor descreve o período talibã e como o líder se movimen-tou pelo país, como se refugiou em Tora Bora e daqui par-tiu para parte incerta. Quando fugiu, já tinha perdido o seu comandante militar de longa data, grande parte da família estava em fuga e com os serviços secretos à es-preita e o regime que lhe proporcionara santuário des-feito. Escapou milagrosamente ao cerco norte-america-no de Tora Bora, foi primeiro para Jalalabad, depois para Kunar, aqui desapareceu e enquanto se perdia o rasto a Al-Qaeda foi sistematicamente laminada. Entretanto, a operação Greystone, provavelmente o mais dispendioso programa de operações secretas da história da CIA, era posta em execução, bateram-se todas as pistas, montou--se a vigilância do ar, recorreu-se aos meios mais sofistica-dos, exploraram-se todas as informações dos capturados. E quando se julgava que a Al-Qaeda perdera capacida-de destruidora, vieram os atentados de Londres, tenta-ram mesmo, tempos depois, fazer explodir vários aviões de passageiros nas rotas entre o Reino Unido e os EUA e Canadá. Soube-se depois que o remanescente da Al-Qa-eda se reagrupara nas regiões tribais do Paquistão, graças a aviões teleguiados que patrulhavam os céus por cima destas regiões, foram desferidos ataques certeiros, mas o paradeiro do líder era mistério insondável.

Os analistas da CIA continuam a explorar todas as pis-tas possíveis e impossíveis até chegar a um perfil do cor-reio ideal, alguém que ligasse o líder às células terroristas: teria que poder deslocar-se no interior do Paquistão sem dar nas vistas, teria que falar árabe para comunicar pro-veitosamente com a liderança de Al-Qaeda e teria que ser um homem de confiança de Bin Laden. Assim se che-gou ao Kuwaitiano, começou a apertar-se o cerco. Oba-ma dera instruções para se intensificar a análise de todas as pistas. O autor agarra o leitor, não lhe dá tréguas, com a anatomia da pista, assim se chega a Abbottabad, e os sa-télites da Agência de Segurança Nacional passam a orbi-tar sobre o complexo. Depois o autor explica-nos como foram os últimos anos de Osama, como este comunica-va com os diferentes grupos, sem deixar rasto. O líder não usava nem permitia o uso no complexo habitacional de telefones de qualquer tipo, a eletrónica estava proibida. E

se a caçada vivia momentos de frustração, também Bin Laden já não era o que tinha sido, a maioria dos muçulmanos rejeitara categoricamente a Al-Qaeda e o seu longo cadastro de assassinato de civis islâmicos.

A leitura absorvente leva-nos para a organização das forças especiais, os SEAL, tropa altamente sofisticada, um misto de fuzileiros, paraquedis-tas e comandos, fica-se com uma imagem. A partir de Janeiro de 2011, monta-se o plano para chegar à casa onde se julga viver o líder, não há certeza alguma que ele lá esteja. A operação é delicada, teme-se que as relações com o Paquistão se degradem, com gravíssimas consequências para o apoio logístico às centenas de milhares de homens que os EUA têm a combater no Afeganistão. Obama é obrigado a decidir a opera-ção, ponderadas todas as consequências, inclusive a de que Bin Laden ali não vivesse. A operação foi delineada, o assalto seria feito com heli-cópteros furtivos, a tropa especial irromperia no complexo, teria menos de 30 minutos para capturar ou aniquilar Bin Laden e retirar sem deixar vestígios. E no final de Abril Obama disse sim à operação. Tudo decorreu em 1 de Maio, o leitor encontrará porventura uma reconstituição mui-to próxima à realidade dos factos. A surpresa foi absoluta, houve vários mortos, Bin Laden parecia paralisado, não reagiu, foi prontamente abati-do e o seu corpo transportado para um porta-aviões e daqui atirado ao mar. O livro descreve os problemas de diplomacia inerentes ao anúncio da morte de Bin Laden, principalmente com a resposta desagradada das autoridades do Paquistão. Depois especula sobre o crepúsculo da Al-Qa-eda, uma organização concebida e dirigida por Bin Laden desde 1998. A Al-Qaeda pode definhar mas há grupos militantes islâmicos que ado-taram a sua ideologia. Por exemplo, os talibãs paquistaneses enviaram para Barcelona uma equipa de candidatos a bombistas-suicidas para re-alizarem atentados no metropolitano. E há dados seguros que compro-vam que os ramos regionais de Al-Qaeda estão atuantes, são “lobos so-litários” que continuarão a tentar espalhar o caos, mas pode acontecer que já não tenham a capacidade de precipitar o “choque de civilizações” que Bin Laden almejava com o 11 de Setembro.

Uma reportagem avassaladora, altamente documentada.

O FORAGIDO MAIS PROCURADO DA HISTÓRIAopinião

Beja Santos Ex-Assessor D.G.Consumidor

20 fevereiro'13 | repórterdomarão

Page 21: Repórter do Marão

CAPOEIRA OU COLMEIA (?)A esperança num país diferente não morre na certeza, que espero

ocorra célere, de que será feita justiça aos que pagam inocentemente e como tal acusados de gastar acima das posses, e que serão corridos de cena os culpados. Já não tenha tanta, nem certeza nem esperança, de que a estes, a quem perdi o respeito, a Justiça se aplique. Honra a Timor que nisto não aprendeu connosco. Segundo o Público (27/1/2013), Lúcia Lo-bato, ministra da Justiça de Xanana Gusmão, cumpre 5 anos de prisão por corrupção, pela participação ilícita na compra de fardas para os guardas prisionais, ou seja, uns míseros tostões. Cá, de robalos a bancos de milha-res de milhões, só os furtos em supermercados são crime público e têm consequência rápida e eficaz. E se tenho de ouvir falar da “tralha socrática”, mais conhecida nos robalos, por que será esquecida a “tralha cavaquista” tão associada aos milhões evaporados e às reformas virtuais e vitalícias?

Outra coisa que me faz confusão é o real valor do dinheiro. Quando se fala em cortar 4 mil milhões à despesa do Estado parece muito, mas quando se fala em valor bem próximo do dobro, e só num banco (BPN), é-nos apresentado como irrisório porque somos “nós” a pagar. Nisto o governador do Banco de Portugal foi “acusado” de negligência por não ver o escondido, e surge um herói que não “viu” o que ajudou a esconder. Mas, e daí a não esperança, ambos foram premiados.

Quando o PEC 4 era uma «violência» para os portugueses, e correram com o governo de então por causa disso, a dívida andava pelos 80% do PIB. Com o assalto fiscal e às reformas a que os sucessores nos subme-teram já vamos perto dos 120%. Quanto mais cobram mais devemos.

Quando a dívida era pagável tivemos reformas, salários, férias, feria-dos, emprego, natal e carnaval, os “Polis”, o Magalhães, o cartão de cida-dão, os vários programas desburocratizantes, as novas oportunidades, o documento único automóvel, as lojas do cidadão, a empresa na hora, etc.etc.etc. Depois do assalto quase tudo acabou, e o abrir na hora pas-sou ao fechar no minuto.

A alternativa é suspender, parar, reformular, reorganizar, reestruturar, o que é normalmente o acabar, seja estrada, escola, comboio, saúde, tri-bunal, freguesia (e as câmaras?), etc. Os bancos já emprestaram dinhei-ro às empresas para criarem riqueza e emprego. Agora ou “oferecem” os

bancos a quem os quer ou emprestam-lhes dinheiro para fechar balcões e fazer despedimentos.

Analisando a questão ideológica, pois muitos fazem questão de dis-solver ou menosprezar em importância, e sem fazer o barómetro dife-rencial esquerda/direita - há de tudo em todos embora em escalas dife-rentes- vejo quem pense em grande nas obras que faz, enquanto outros cogitam na desmesura dos golpes que podem dar. Mas os exageros, em efeitos colaterais bem diversos, naqueles são para uso e a favor do Povo, e nestes para usufruto do próprio ou da comandita do dito.

Há uma certa ironia nos que, fazendo em grande (veja-se os exageros do túnel, pontes e viadutos da A4 de Amarante para cima), se deleitam com o aplauso dos que, em raciocínio rapace de que os substituirão, logo antevêem os proveitos que dali tirarão assacando-lhes as culpas.

Comparo aqui também os comportamentos e posturas das institui-ções e pessoas às colmeias e galinheiros. Na colmeia, com tantas tarefas rigorosamente distribuídas e cumpridas, não há exército que se lhe com-pare. Cada elemento, com a sua missão, tem como primeira e única pre-ocupação o bem estar da comunidade, esteja ele encarregue da limpe-za, defesa ou ida ao pólen, seja o de alimentar a rainha. Já na capoeira, o galo, comprado na feira pois raramente é da criação, convence-se que é ele que manda. Empoleirado, vai mostrando o seu “poder” ora galando franga ou galinha, ora condescendendo que franganote atrevido debi-que minhoca ou rebento. Mas se a dona arremessa uma mão cheia de milho, alvoroça-se a capoeira e só lá chega e abicha quem o galo deixa ou consegue rápida e esquiva fuga. E quando não há um só poleiro e um só galo, não faltam os galarispos a empinar a crista para se atirarem às frangas e ao milho que a dona lança, convencidos que chegam a líderes.

Já agora gostava de saber o que significa a inexplicável obsessão da ida aos mercados, e a vanglória que lhe atribuem e exploram os que se arrogam da proeza. Se o problema é a dívida, para quê endividar mais sem uma razão expressa clara e objectivamente? Mas, se é assim tão im-portante, perdoem-me a ironia dizendo aos responsáveis que, se que-rem ir aos mercados, venham a Vila Real (falsa terra natal do PM – talvez Valnogueiras) que há cá um todas as 3ª.s e 6.ªs feiras.

Armando MiroJornalista

OS FAMIGERADOS QUATRO MIL MILHÕESO país tem estado mergulhado no debate sobre o corte de 4 mil mi-

lhões de euros na despesa pública que o Governo se comprometeu a apresentar à troika. O número nasceu sem que ninguém assuma a sua paternidade e a razão de ser do mesmo, mas a meta é por si só suficiente para deixar os portugueses apreensivos.

Defendo desde há muito que o Governo deveria ter avançado com uma profunda reforma do Estado, aliando a redução da despesa pública ao redesenho das funções a cargo da administração central e local. Essa era uma tarefa que devia ter-se iniciado logo no início do mandato, com o envolvimento dos partidos da oposição e dos parceiros sociais, mas que é impossível de realizar à pressa, em meia dúzia de meses.

Porquê, então, um corte de 4 mil milhões de euros na despesa? Por que não 3 mil milhões ou 3,5 mil milhões? Ninguém sabe responder com certeza a esta questão. Creio bem que o valor terá surgido nas conversas anteriores com a troika em resultado das derrapagens orça-mentais que Vítor Gaspar não conseguiu evitar. Ao constatar que o Go-verno não conseguia cortar de forma efectiva na despesa, e antevendo que as metas estabelecidas para o défice nos próximos anos também não serão atingidas, a troika ditou as suas regras. Coincidência, ou tal-vez não, os 4 mil milhões de euros correspondem exactamente à dife-rença entre o défice previsto para 2013 (7,5 mil milhões) e 2015 (3,5 mil milhões de euros).

Contudo, é impossível caminhar para a consolidação orçamental com o foco centrado apenas na redução da despesa e no agravamento da carga fiscal. É necessário impulsionar o crescimento económico, sob pena de os cortes na despesa nunca serem suficientes para as metas fi-xadas. Além do mais, o Governo e a troika não podem esquecer o qua-dro económico e social que a Europa e Portugal vivem neste momento.

Nas últimas semanas ficámos a saber que a quebra do Produto In-terno Bruto em 2012 foi de 3,2 %, superior portanto às previsões do executivo, e que a taxa de desemprego no final do ano transacto atin-giu os 16,9%, abrangendo cerca de 923.000 portugueses. Estes nú-meros são preocupantes e acabam por ser também um reflexo da recessão que atinge a Europa, para onde se dirige mais de 70% das ex-portações nacionais.

Se contarmos com os activos que estão fora destas estatísticas, por já terem desistido de procurar emprego ou por não estarem disponí-veis, Portugal terá cerca de 1,2 milhões de pessoas sem emprego, dos quais pouco mais de 400.000 recebem subsídio de desemprego. Com os cortes entretanto introduzidos nas prestações sociais, que já deixa-ram um número elevado de pessoas sem quaisquer rendimentos, está formado um quadro verdadeiramente explosivo em Portugal, que re-comenda todas as prudências ao Governo no momento de desenhar a “refundação” do Estado.

Infelizmente, nos planos que têm vindo a público, não se vêem me-didas estruturantes que vão para além de um ataque cerrado às funções sociais do Estado, na educação, na saúde e na segurança social.

Prestes a iniciar-se uma nova ronda de negociações com os emissários da troika, exige-se por isso que o Governo seja capaz de se bater para que o nosso país não seja condenado à miséria e à exaustão, a curto prazo. No mínimo, deve pugnar por um faseamento na implementação das medi-das ao longo dos próximos anos, permitindo assim recuperar o envolvi-mento dos partidos da oposição e dos parceiros sociais disponíveis para o efeito.

A revelação de que será Paulo Portas o responsável pela coordenação do documento sobre a reforma do Estado parece uma tentativa de Pas-sos Coelho para dar um cariz mais político e menos economicista a es-sas propostas. Mas também houve quem não visse nessa decisão mais do que a vontade de comprometer o CDS com os planos anunciados.

O que deve fazer o PS perante uma proposta séria de diálogo e con-certação? Deve ir a jogo e defender a sua visão para a reforma do Es-tado. Não pode dar a imagem de que se furta ao debate por que não tem ideias sustentadas sobre uma reforma que é imprescindível para o nosso futuro colectivo.

Portugal tem um desafio pela frente que, por vezes, parece maior do que a capacidade daqueles que nos governam. Mas é nos momentos di-fíceis que se vê a massa de que são feitos os líderes. A quem está na opo-sição cabe demonstrar que não é movido pela política do quanto pior melhor e que tem uma perspectiva diferente quanto ao futuro do país. Os portugueses estarão atentos.

repórterdomarão | fevereiro'13 21

José Carlos PereiraGestor

Page 22: Repórter do Marão

Cartoons de Santiagu

As crises no Sporting e como enfrentá-las 2013

Publicação da IV Série

[Pseudónimo de António Santos]

O olharde...

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22 fevereiro'13 | repórterdomarão

Page 23: Repórter do Marão

LUZ e TOVIO meu pai dizia que só os ino-

centes é que cospem para o ar. Quando era pequena não per-

cebia muito bem o que ele que-ria dizer com aquilo. E punha--me a cuspir para o ar a ver o que acontecia. Claro que fazia essas experiências longe dos olhares de minha mãe, que me dizia que uma menina tem de saber com-portar-se. Uma menina não corre no meio da rua, uma menina não se pode sentar de qualquer ma-neira, tem de ter recato.

Recato? O que é isso, mamã? Recato é saber estar, é pas-

sar despercebida. Quando fores mais velha vais entender melhor, mas é de pequenino que se torce o pepino, essa é que é uma gran-de verdade. E eu quero que a mi-nha Luz seja uma menina muito bem-educada.

Para que é que se torce o pepi-no pequenino, mamã? Eu nun-ca vi um pepino torcido. O que é um pepino torcido? Quem é que torce o pepipo? A mamã está a falar de um pepino verdadeiro, ou está a falar de outra coisa?

Quando as perguntas come-çavam a ser muitas, minha mãe fazia de conta que não ouvia. Ás vezes eu ouvia as gargalha-das dificilmente reprimidas de meu pai, e rematava, muito se-nhora da importância dos meus sete ou oito anos: quem pergun-ta quer saber.

Eu estou a contar-lhe estas miudezas, comecei a falar-lhe do meu pai, que já cá não está há uns bons pares de anos, e pas-sei para a minha mãe, que foi a primeira a partir, enfim, perten-ço ao grupo dos tagarelas, sabe, eu sei que sou igual àqueles que falam, falam, e não dizem nada. Eu sei que há muitos como eu, mas eu não faço mal a ninguém. Sou uma Luz que não ensombra ninguém. Aceite as minhas des-culpes, mas já se sabe, cada um nasce com a sua peçazinha de-feituosa. E ainda bem que assim acontece.

Mas do que eu lhe queria falar era do meu Tovi e daquela con-versa do meu pai, que só os par-vos é que cospem para o ar.

Acontece que eu, quando era mais pequena fartava-me de rir

com os modos de uma tia sol-teira, a tia Alicinha, que andava sempre com um lulu atrás dela. Chamava-se Suspiro, o raio do cão, e tinha sido uma prenda do namorado, contava minha mãe, muito em segredo. O cão ficou a viver com ela uma catrefada de anos, o mesmo não aconteceu com o namorado, que desapare-ceu sem lhe dizer nada e foi viver com uma espanhola que se cha-mava Paloma.

E eu dizia: mamã, quando eu for grande não quero ser como a tia Alicinha. Eu não quero que se riam de mim.

Não sejas parva, menina, a tia Alicinha é muito boa pessoa, não faz mal a ninguém, se ela dor-me com o Suspiro, o problema é dela.

O meu pai, que não gostava muito da tia Alicinha, rematava: suspira-se por aquilo que não se tem. Eu não entendia, mas acha-va que era bonito dizer suspira--se por aquilo que não se tem.

Mais tarde, muito mais tarde, percebi tudo.

Também eu suspirei por não ter, por não encontrar, por não conseguir entrar na porta corre-ta, não ter chegado no tempo certo. Eu acredito no acaso.

Agora descobri que um cão é o nosso melhor companheiro.

Agora o meu grande compa-nheiro é o Tovi, um boxer amo-roso, que adora estar junto de mim. O Tovi também foi uma prenda do namorado que tive, a minha grande paixão. O Tovi já vive comigo há dez anos, o tem-po corre depressa.

E já agora, aqui entre nós, sabe como se chamava o homem que me deu o cão, e depois foi-se embora de repente, dizem que arrebatado por uma brasileira que sabia sambar? Chamava-se Tomás Vieira. Por isso o Tovi, en-tende?

O cão não teve culpa que apa-recesse a brasileira, e eu não fui capaz de lhe mudar o nome.

Resumindo: o recato não leva a lado nenhum e só os inocentes é que cospem para o ar.

António Mota

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A vila de Baião volta a ser palco de mais uma Feira do Fumeiro e do Cozido à Portuguesa, que se realizará de 22 a 24 de março no recinto habitual, um pavi-lhão instalado na Feira do Tigelinho.

O evento, patrocinado pelo PRODER/Dolmen e organizado pela Autarquia, deverá ser visitado por alguns milhares de pessoas, a exemplo das edições an-teriores.

Os apreciadores do fumeiro tradicional acorrem cada vez mais a este certame, o único que se realiza no território do Baixo Tâmega e Sousa, sobretudo os que querem comprar produto para consumo caseiro ou para servir na restauração.

Os produtores locais têm diversas variedades à escolha – salpicões, presuntos, alheiras, moiras, etc.

Na feira é possível ainda adquirir outros produtos locais, como broa de milho, biscoito da Teixeira, licores, compotas, citrinos da Pala e os famosos vinhos ver-des do concelho mais interior do distrito do Porto.

Mas o objetivo central da feira é promover a gastronomia local e nesse projeto participam diversos restaurantes concelhios que vão confecionar diversas igua-rias locais, mas sobretudo os conhecidos cozido à portuguesa e arroz de moira com grelos. A feira tem entrada livre e um programa de animação musical.

Fumeiro de Baiãoatrai apreciadores

eventos | crónica

repórterdomarão | fevereiro'13 23

Page 24: Repórter do Marão