reportagem_como os jovens vêem a política nacional 2

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Informada e esclarecida so- bre o contexto económico em que Portugal se encontra, Mariana não se mostra mini- mamente esperançada quan- to ao futuro, mas aponta uma solução que, do seu ponto de vista, poderia minimizar a situação em que o País se encontra. «A renegociação da dívida é fundamental porque o valor de juros exigido não é compatível com o nível de crescimento económico pre- visto, portanto, nem sequer é possível pagar a dívida com os níveis de crescimento ac- tuais. Depois, parte dessa dívida resulta de muitas com- ponentes que nem sequer são legais, como a manipula- ção de mercado por parte das agências de rating, e outros factores como a configuração da união monetária que re- sultaram num empolamento dos juros exigidos à divida portuguesa que tem que ser revisto.» E O FUTURO, É AGORA? Pegando nestas opiniões de jovens estudantes que estão atentos ao panorama social e político – contrariamente às críticas que com regularidade se ouvem quanto ao desinte- resse da juventude sobre o estado da Nação – percebe-se que há uma ideia que percor- re todos os discursos. A ideia de que urge criar uma coisa completamente nova, um mo- vimento ou entidade regula- dora à margem dos partidos políticos que possa, realmen- te, trazer uma mudança signi- ficativa a Portugal. PORTUGUESES ATRAVESSAM. PREOCUPADOS COM A EDUCAÇÃO, RESCALDO DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS FOMOS SABER A OPINIÃO tica, toda!» OS RECADOS DOS ESTUDANTES SE PASSASSES UMA TARDE COM O PRIMEIRO-MINISTRO O QUE LHE DIRIAS? «Diria para ele olhar mais para o País em vez de olhar para si.» Mónica Borges, 19 anos, estudante de Direito na Universidade de Lisboa «Para começar a pensar mais na educação e na parte cultural da sociedade portuguesa.» Igor Furão, 27 anos, estudante de mestrado em Estudos Comparativos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa «Diria uma coisa óbvia: para ir buscar receita. Por exem- plo, a nível do arrendamento. Há imensos estudantes que alugam casa por todo o País e cujos senhorios não passam recibo. Vai tudo para o bolso de quem está a arrendar. Eram milhões e milhões que entravam no bolso do Estado.» Laurent Duarte, 25 anos, estudante de Geologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa «Para estudar economia política e não se basear nos dogmas que não têm funcionado e que são evidentes nos casos da Grécia, Espanha, Irlanda.» Mariana Santos, 25 anos, estudante de Mestrado em Economia no ISCTE «Diria: ponha a mão na consciência e veja, à imagem dos líderes europeus e do resto do mundo, se se acha capaz de governar este País.» Pedro Nancy, 20 anos, estudante de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa É URGENTE RENEGOCIAR A DÍVIDA Já a Mariana Santos parece ter uma opinião bastante clara e bem formada sobre o assunto. Para a estudante de mestrado em Economia no ISCTE, é inevi- tável não falar na dívida exter- na. Para ela esse é o problema mais grave e que acaba por afectar tudo o resto. «A inter- venção externa do FMI não vai produzir aquilo que nos dizem que vai produzir. Vai só trazer mais crise e criar mais desem- prego. Tenho muitas dúvidas sobre a eficácia desse progra- ma, aliás, tenho certezas da sua ineficácia», diz a estudante de 25 anos, assertivamente. PEDRO NANCY, 20 ANOS Estudante de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa «O desgoverno, a incapacidade de governar, falta de honestidade e sinceridade são os maiores problemas do País. Aqui na faculdade, devido às bolsas que foram cortadas este ano, muitos estudantes nem dinheiro têm para pagar o almoço. Há estudantes que têm cadastro por cometerem actos de prostituição para pagar a facul- dade. É uma situação complicada. Eu quero acreditar que os técnicos que estudam a economia portuguesa e euro- peia têm consciência e capacidade para fazer alterações profundas. Não sei quais são as melhores medidas, mas com certeza que algumas terão efeitos muito positivos se forem cumpridas a sério e se houver um acordo gover- namental. Quero acreditar que as coisas vão mudar.» ANTÓNIO GAMA, 20 ANOS Estudante de Matemática Aplicada, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa «Desemprego a crescer e economia estagnada são os maiores problemas neste momento. Temos de ser muito organizados, ter uma estratégia definida, saber prever o que pode acontecer, utilizarmos os nossos recursos e evitar irmos buscar aos outros países. Temos de ser mui- to unidos. Mas se temos que pagar mais coisas, à partida deve ser pior. As pessoas estão sujeitas a impostos al- tíssimos de tudo e mais alguma coisa. Acho que vai ser muito complicado.» MÓNICA BORGES, 19 ANOS Estudante de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa «O que me preocupa mais é a falta de apoio social. Se pudesse fazer alguma coisa, tentava ir ao encontro das soluções que a Troika criou para desenvolver em Portu- gal porque são pessoas que têm mais experiência. Já no passado estiveram em Portugal e o País melhorou. Acho que pode vir a ser positivo.» Mariana Santos

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«para começar a pensar mais na educação e na parte cultural da sociedade portuguesa.» Igor furão, 27 anos, estudante de mestrado em estudos comparativos da faculdade de letras da universidade de lisboa ortugueses AtrAvessAM. PreocuPADos coM A eDucAção, escAlDo DAs eleIções legIslAtIvAs foMos sAber A oPINIão Estudante de matemática Aplicada, Faculdade de Ciências da Universidade de lisboa E o futuro, é agora? Estudante de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de lisboa

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Page 1: Reportagem_como os jovens vêem a política nacional 2

Informada e esclarecida so-bre o contexto económico em que Portugal se encontra, Mariana não se mostra mini-mamente esperançada quan-to ao futuro, mas aponta uma solução que, do seu ponto de vista, poderia minimizar a situação em que o País se encontra. «A renegociação da dívida é fundamental porque o valor de juros exigido não é compatível com o nível de crescimento económico pre-visto, portanto, nem sequer é possível pagar a dívida com os níveis de crescimento ac-tuais. Depois, parte dessa dívida resulta de muitas com-ponentes que nem sequer são legais, como a manipula-ção de mercado por parte das agências de rating, e outros factores como a configuração da união monetária que re-sultaram num empolamento dos juros exigidos à divida portuguesa que tem que ser revisto.»

E o futuro, é agora?Pegando nestas opiniões de jovens estudantes que estão atentos ao panorama social e político – contrariamente às críticas que com regularidade se ouvem quanto ao desinte-resse da juventude sobre o estado da Nação – percebe-se que há uma ideia que percor-re todos os discursos. A ideia de que urge criar uma coisa completamente nova, um mo-vimento ou entidade regula-dora à margem dos partidos políticos que possa, realmen-te, trazer uma mudança signi-ficativa a Portugal.

AfIrMAM que votAM seMPre, MAs estão DesIluDIDos coM o estADo Do PAís e AcreDItAM que só uMA reforMA coMPletA Do sIsteMA resolverIA os ProbleMAs que os Portugueses AtrAvessAM. PreocuPADos coM A eDucAção, A culturA e o DeseMPrego, os uNIversItárIos Não têM esPerANçA quANto Ao futuro, MAs IDeIAs Não lhes fAltAM PArA tIrAr PortugAl DA fossA eM que se eNcoNtrA. No rescAlDo DAs eleIções legIslAtIvAs foMos sAber A oPINIão Dos estuDANtes sobre A sItuAção ecoNóMIcA e PolítIcA Do MoMeNto e As suAs exPectAtIvAs PArA o que Aí veM.

«Eliminava esta classe política, toda!»

OS RECADOS DOS ESTUDANTES SE pASSASSES UmA TARDE COm O pRimEiRO-miNiSTRO O qUE lhE DiRiAS?

«Diria para ele olhar mais para o país em vez de olhar para si.»Mónica borges, 19 anos, estudante de Direito na universidade de lisboa

«para começar a pensar mais na educação e na parte cultural da sociedade portuguesa.»Igor furão, 27 anos, estudante de mestrado em estudos comparativos da faculdade de letras da universidade de lisboa

«Diria uma coisa óbvia: para ir buscar receita. por exem-plo, a nível do arrendamento. há imensos estudantes que alugam casa por todo o país e cujos senhorios não passam recibo. Vai tudo para o bolso de quem está a arrendar. Eram milhões e milhões que entravam no bolso do Estado.»laurent Duarte, 25 anos, estudante de geologia na faculdade de ciências da universidade de lisboa

«para estudar economia política e não se basear nos dogmas que não têm funcionado e que são evidentes nos casos da Grécia, Espanha, irlanda.»Mariana santos, 25 anos, estudante de Mestrado em economia no Iscte

«Diria: ponha a mão na consciência e veja, à imagem dos líderes europeus e do resto do mundo, se se acha capaz de governar este país.»Pedro Nancy, 20 anos, estudante de Direito na faculdade de Direito da universidade de lisboa

é urgEntE rEnEgociar a dívidaJá a Mariana santos parece ter uma opinião bastante clara e bem formada sobre o assunto. Para a estudante de mestrado em economia no Iscte, é inevi-tável não falar na dívida exter-na. Para ela esse é o problema mais grave e que acaba por afectar tudo o resto. «A inter-venção externa do fMI não vai produzir aquilo que nos dizem que vai produzir. vai só trazer mais crise e criar mais desem-prego. tenho muitas dúvidas sobre a eficácia desse progra-ma, aliás, tenho certezas da sua ineficácia», diz a estudante de 25 anos, assertivamente.

PEdro nancy, 20 anos

Estudante de Direito, Faculdade de Direito

da Universidade de lisboa

«o desgoverno, a incapacidade de governar, falta de honestidade e sinceridade são os maiores problemas do País. Aqui na faculdade, devido às bolsas que foram cortadas este ano, muitos estudantes nem dinheiro têm para pagar o almoço. há estudantes que têm cadastro por cometerem actos de prostituição para pagar a facul-dade. É uma situação complicada. eu quero acreditar que os técnicos que estudam a economia portuguesa e euro-peia têm consciência e capacidade para fazer alterações profundas. Não sei quais são as melhores medidas, mas com certeza que algumas terão efeitos muito positivos se forem cumpridas a sério e se houver um acordo gover-namental. quero acreditar que as coisas vão mudar.»

antónio gama, 20 anosEstudante de matemática Aplicada, Faculdade de Ciências da Universidade de lisboa

«Desemprego a crescer e economia estagnada são os maiores problemas neste momento. temos de ser muito organizados, ter uma estratégia definida, saber prever o que pode acontecer, utilizarmos os nossos recursos e evitar irmos buscar aos outros países. temos de ser mui-to unidos. Mas se temos que pagar mais coisas, à partida deve ser pior. As pessoas estão sujeitas a impostos al-tíssimos de tudo e mais alguma coisa. Acho que vai ser muito complicado.»

mónica BorgEs, 19 anosEstudante de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de lisboa

«o que me preocupa mais é a falta de apoio social. se pudesse fazer alguma coisa, tentava ir ao encontro das soluções que a troika criou para desenvolver em Portu-gal porque são pessoas que têm mais experiência. Já no passado estiveram em Portugal e o País melhorou. Acho que pode vir a ser positivo.»

Mariana santos