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PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 12/03/2004 4 | REPORTAGEM ESPECIAL ZERO HORA Destruição: em um dos dias mais tristes da história de Madri, equipes de resgate cobriram corpos com sacos pretos e os enfileiraram em frente aos escombros da estação de Atocha, no coração da cidade O 11 DE MARÇO Um dia de terror Em um dos piores atentados terroristas da história da Europa, 10 bombas explodiram na rede ferroviária de Madri Exatamente dois anos e meio depois dos ataques de 11 de Setembro nos EUA, a Europa sofreu ontem um dos piores aten- tados terroristas de toda a sua História. Foi no coração de Madri, na Espanha, na hora do rush da manhã. Dez bombas explodiram em trens lotados. Eram pes- soas a caminho do trabalho. O número de vítimas fatais até ontem era de 190. Cerca de 1,4 mil ficaram feridas – entre elas pe- lo menos um brasileiro. Os relatos de quem estava na Espanha mis- turavam choque e raiva. – O dia 11 de março de 2004 já ocupa um lugar na História da infâmia – desabafou o premier espanhol, José María Aznar. – É como uma zona de guerra. É tamanha a crueldade que nem se pode descrever – dis- se a advogada Carmen Perez. A seqüência de terror teve início às 7h39min (3h39min em Brasília), quando três mochilas carregadas com entre oito e 15 qui- los de Titadine (dinamite industrial) explodi- ram em um trem que chegava a Atocha, prin- cipal estação de Madri, matando 49 pessoas. Passados menos de três minutos, quatro bombas foram detonadas em outra composi- ção, a cerca de 800 metros de Atocha. Desta vez, 59 pessoas foram mortas. Quase simulta- neamente, uma bomba explodiu na estação de Santa Eugenia, matando 15 pessoas. Outras duas foram detonadas em El Pozo, onde 67 pessoas morreram. O 11 de Março eu- ropeu poderia ter sido bem pior. Ou- tras três bombas fo- ram encontradas pela polícia e desa- tivadas. O governo espa- nhol se apressou em dizer que a ação carregava a marca do grupo separatis- ta Pátria Basca e Li- berdade (ETA). Mas o braço político da orga- nização negou a autoria e apontou o dedo pa- ra “células de resistência árabes”. Já anoitecia em Madri quando o ministro do Interior, An- gel Acebes, finalmente admitiu que o ETA não é o único inimigo do governo espanhol que poderia ser responsável pelos ataques. Ao lado da Grã-Bretanha, a Espanha foi uma das principais aliadas dos EUA na guerra contra o Iraque. Em outubro passado, em uma fita de áudio atribuída à Al-Qaeda, a rede de Osama bin Laden, a Espanha foi citada como alvo. A versão que relacionava as explosões à Al-Qaeda foi ganhando força, e não somente pelas coincidências en- volvendo a data do ata- que na Espanha e a do 11 de Setembro nos EUA. Foi encontrado um furgão na periferia de Madri com sete de- tonadores e uma fita gravada em árabe com versículos do Alcorão. Outras fitas em árabe foram achadas perto da estação de Alcalá de Henares, de onde partiu um dos trens atingidos. Pouco depois, em uma carta, a Al-Qaeda assumia a autoria dos ataques. A autenticidade da carta, entretanto, não havia sido comprovada até ontem. Enquanto policiais corriam atrás de pistas, outros retiravam corpos queimados e ensan- güentados dos locais das explosões. – O trem se partiu como uma lata de atum. Nunca vimos algo assim – descreveu Enrique Sanchez, motorista de uma das primeiras am- bulâncias a chegar em Atocha. Hospitais de Madri ficaram superlotados. Em uma onda de solidariedade, moradores da cidade responderam em massa ao chamado para doar sangue e socorrer feridos. Ativistas tomaram pontos turísticos como a Puerta del Sol, marco zero da capital. Prisão perpétua aos assassinos era o pedido mais moderado. – Nem animais fazem isso – desabafou o taxista Alberto Martin, 34 anos, sem recordar dia tão triste na história da cidade. Os ataques ocorreram a apenas 72 horas das eleições gerais espanholas, marcadas para domingo. Com o país em luto pelo pior aten- tado já registrado na Espanha, partidos cance- laram comícios e encerraram a campanha. Países europeus, o papa João Paulo II e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão en- tre os que condenaram os ataques. O porta- voz da Casa Branca, Sean McCormack, disse que George W. Bush telefonou para Aznar. PETER DEJONG, AP/ZH SUSANA VERA, REUTERS/ZH Más notícias: parentes choram e se abraçam Veja as imagens da tragédia em zh.clicRBS.com.br

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PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 12/03/20044 |

REPORTAGEMESPECIAL ZERO HORA

Destruição: em um dos dias mais tristes da história de Madri, equipes de resgate cobriram corpos com sacos pretos e os enfileiraram em frente aos escombros da estação de Atocha, no coração da cidade

O 11 DE MARÇO

Um dia de terrorEm um dos piores atentados terroristas da história da Europa, 10 bombas explodiram na rede ferroviária de

◆ Madri

Exatamente dois anos e meio depois dosataques de 11 de Setembro nos EUA, aEuropa sofreu ontem um dos piores aten-tados terroristas de toda a sua História.

Foi no coração de Madri, na Espanha,na hora do rush da manhã. Dez bombasexplodiram em trens lotados. Eram pes-soas a caminho do trabalho. O número devítimas fatais até ontem era de 190. Cercade 1,4 mil ficaram feridas – entre elas pe-lo menos um brasileiro.

Os relatos de quem estava na Espanha mis-turavam choque e raiva.

– O dia 11 de março de 2004 já ocupa umlugar na História da infâmia – desabafou opremier espanhol, José María Aznar.

– É como uma zona de guerra. É tamanhaa crueldade que nem se pode descrever – dis-se a advogada Carmen Perez.

A seqüência de terror teve início às7h39min (3h39min em Brasília), quando trêsmochilas carregadas com entre oito e 15 qui-los de Titadine (dinamite industrial) explodi-ram em um trem que chegava a Atocha, prin-

cipal estação de Madri, matando 49 pessoas. Passados menos de três minutos, quatro

bombas foram detonadas em outra composi-ção, a cerca de 800 metros de Atocha. Destavez, 59 pessoas foram mortas. Quase simulta-neamente, uma bomba explodiu na estação deSanta Eugenia, matando 15 pessoas. Outrasduas foram detonadas em El Pozo, onde 67pessoas morreram.O 11 de Março eu-ropeu poderia tersido bem pior. Ou-tras três bombas fo-ram encontradaspela polícia e desa-tivadas.

O governo espa-nhol se apressouem dizer que a açãocarregava a marcado grupo separatis-ta Pátria Basca e Li-berdade (ETA). Mas o braço político da orga-nização negou a autoria e apontou o dedo pa-ra “células de resistência árabes”. Já anoiteciaem Madri quando o ministro do Interior, An-gel Acebes, finalmente admitiu que o ETAnão é o único inimigo do governo espanhol

que poderia ser responsável pelos ataques. Aolado da Grã-Bretanha, a Espanha foi uma dasprincipais aliadas dos EUA na guerra contra oIraque. Em outubro passado, em uma fita deáudio atribuída à Al-Qaeda, a rede de Osamabin Laden, a Espanha foi citada como alvo.

A versão que relacionava as explosões àAl-Qaeda foi ganhando força, e não somente

pelas coincidências en-volvendo a data do ata-que na Espanha e a do11 de Setembro nosEUA. Foi encontradoum furgão na periferiade Madri com sete de-tonadores e uma fitagravada em árabe comversículos do Alcorão.Outras fitas em árabeforam achadas perto daestação de Alcalá de

Henares, de onde partiuum dos trens atingidos. Pouco depois, emuma carta, a Al-Qaeda assumia a autoria dosataques. A autenticidade da carta, entretanto,não havia sido comprovada até ontem.

Enquanto policiais corriam atrás de pistas,outros retiravam corpos queimados e ensan-

güentados dos locais das explosões. – O trem se partiu como uma lata de atum.

Nunca vimos algo assim – descreveu EnriqueSanchez, motorista de uma das primeiras am-bulâncias a chegar em Atocha.

Hospitais de Madri ficaram superlotados.Em uma onda de solidariedade, moradores dacidade responderam em massa ao chamadopara doar sangue e socorrer feridos. Ativistastomaram pontos turísticos como a Puerta delSol, marco zero da capital. Prisão perpétuaaos assassinos era o pedido mais moderado.

– Nem animais fazem isso – desabafou otaxista Alberto Martin, 34 anos, sem recordardia tão triste na história da cidade.

Os ataques ocorreram a apenas 72 horasdas eleições gerais espanholas, marcadas paradomingo. Com o país em luto pelo pior aten-tado já registrado na Espanha, partidos cance-laram comícios e encerraram a campanha.

Países europeus, o papa João Paulo II e opresidente Luiz Inácio Lula da Silva estão en-tre os que condenaram os ataques. O porta-voz da Casa Branca, Sean McCormack, disseque George W. Bush telefonou para Aznar.

PETER DEJONG, AP/ZH

SUSANA VERA, REUTERS/ZH

Más notícias: parentes choram e se abraçam

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PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 12/03/2004 | 5

O mais longo 11 demarço dos espanhóis

Estação Hospital

Necrotério

Cenário de guerra: espalhados pelas estações de Atocha, Santa Eugenia e El Pozo, feridos com expressão de dor, desespero e desolação foram atendidos por médicos voluntários e equipes de resgate

Instantes de pânico: clima de desespero em Atocha, minutos depois da primeira explosão

na EspanhaMadri, matando pelo menos 190 pessoas e ferindo aproximadamente 1,4 mil

Bombeiros conversavam sobre oestado dos corpos que encontravamquando a faxineira Rosalyn Serenacomeçou a gritar em frente à estaçãode Atocha.

Pelo horário de Madri, era meio-dia – quatro horas e meia depois dasexplosões no local –, e Rosalyn nãoconseguia informações sobre a filhade 12 anos, ainda desaparecida. Ner-vosa e chorando, culpava as equipesde emergência.

– Acalme-se e ligue para o 112 –aconselhou um bombeiro.

– Não posso esperar meia hora poruma resposta. Trata-se da minha filha– rebateu a mulher.

– Em casos graves, o atendimentoé rápido. É o único jeito de ajudar-mos – contestou o bombeiro.

– São mais de cem mortos. Issopor si só não é grave? – continuouRosalyn.

A faxineira era uma entre as cen-tenas que tentavam encontrar fami-liares no local dos piores atentadosjá registrados na história do país.Mas a prioridade da polícia era iso-lar as áreas atingidas e retirar feri-dos. Por isso, havia também muitareclamação e frustração em relaçãoao trabalho das equipes de resgate.

Diante dos seis vans funerárias es-tacionadas em frente à estação deAtocha, um jornalista da rádio OndaCero fazia plantão ao lado de umacentena de colegas espanhóis. Aoouvir o número de vítimas aumentara cada instante, Ignácio Jarillo, 38anos, levava a mão à boca, balan-çando a cabeça negativamente.

– Cubro atentados na Espanha háquase 20 anos. Nunca vi nada pare-cido com isso – disse o madrilenho.

No início da noite de ontem, familiares e amigos dedesaparecidos continuavam chegando ao Ifema, com-plexo destinado a feiras empresariais no norte de Madri.Ali foi montado um depósito de cadáveres, à espera dequem os identificasse.

No pavilhão número seis foram colocados os corpos.Nos de número oito e 10, voluntários perguntavam aosfamiliares por nomes, sinais característicos, descriçãode roupas. Os voluntários faziam então a comparação,em uma tentativa de afastar as famílias de um macabrosalão com dezenas de mortos.

A tia da recepcionista Mirian Alonso, 22 anos, sumiuna estação Santa Eugenia, onde diariamente pegava otrem para ir trabalhar.

– Mataram pessoas inocentes, que moravam em umadas regiões mais pobres da cidade. Não se pode enten-der isso – balbuciava Mirian.

Os atentados uniram nobres e plebeus na Espanha.Nos hospitais, os holofotes da imprensa internacionalderam prioridade à visita aos feridos da rainha Sofia edo príncipe Felipe. Na saída do Hospital 12 de Outubro,a sul de Madri, indagada sobre como estava a situaçãodos feridos, a rainha foi lacônica:

– Bien, bien (bem, bem). No saguão de espera das emergências, a união de

classes ia além da visita formal da realeza. Jovens detênis e trajes punk choravam ao lado de executivosde terno.

Uma das vítimas das explosões, com um espara-drapo no lado direito da testa e cortes de estilhaçospelo rosto, disse praticamente não lembrar do mo-mento da explosão.

– Vi muita fumaça, tentei retirar alguém, mas logofui puxado para fora – lembrou.

As linhas Cercanias, que ligam localidades vizi-nhas à rede de metrô de Madri, são o principal meiode acesso à capital.

SEGUE

FOTOS AP/ZH

PABLO TORRES GUERREO, EL PAÍS/AP

O dia 11 de março de 2004 aindanão acabou para os espanhóis.Milhares atravessaram a madrugadade hoje acordados, pensando emamigos e familiares quesimplesmente desapareceram nasexplosões que atingiram Madri. Portoda a cidade, familiares com o rostoavermelhado pelo choro respondiamao celular com a mesma frase: “Nãosei se está vivo. Só avisaram que nãochegou ao trabalho”.

A angústia multiplicou o efeito das

bombas sobre Madri e, em três locais,o clima ficou bastante pesado durantetodo o dia: na estação Atocha, noHospital 12 de Outubro e no Ifema,um dos maiores necrotériosimprovisados na cidade. O repórter deZH Rodrigo Cavalheiro, que desde odia 1º de fevereiro está em Madri,onde participa de um programa parajornalistas da Fundação Carolina,entidade vinculada ao governoespanhol, conta um pouco sobre comofoi o dia de ontem nestes lugares.

RODRIGO CAVALHEIRO◆ Madri

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ZERO HORARS

R$ 3,00SC/PR

R$ 3,50ANO 40 - Nº 14.083 PORTO ALEGRE, DOMINGO, 14 DE MARÇO DE 2004

zh.clicrbs.com.br

CRISE DO ESTADO

Os 14 dias maisangustiantes dogoverno Rigotto

SEGURANÇA

Nova lei fez cair número de gaúchos armados

Noites maldormidas, dias tensose madrugadas de insônia marca-ram o período entre 20 de feve-reiro e 10 de março. Página 11

Polícia Civil constatou que Esta-tuto do Desarmamento reduziuapreensões de armas e facilitou aprisão de criminosos. Página 42

Expectativa de safra recorde de maçãs em Vacaria exige que empresas da região recrutem 13 miltrabalhadores temporários gaúchos e catarinenses num raio de 600 quilômetros. Páginas 34 e 35

ÁRVORES QUE DÃO EMPREGOSEMÍLIO PEDROSO/ZH

ARTE DE LEANDRO M

ACIEL SOBRE FOTO DE ALONSO GON

ZALEZ, REUTERS/ZH

O aposentado Ramon Lo-bo, que viveu a GuerraCivil Espanhola, diz nun-ca ter visto resposta popu-lar igual a um massacrecomo a de 11 de Março.

“Somos todos espa-nhóis”, fazem ecoar oseuropeus em meio aoscadáveres e escombrosprovocados pelas bombasdetonadas em Madri.

Há quem acredite que éapenas uma questão detempo até a nova táticade terrorismo mundial –como a da Espanha – de-sembarcar em Londres.

Páginas 4 , 5 e 24

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PORTO ALEGRE, DOMINGO, 14/03/20044 |

REPORTAGEMESPECIAL ZERO HORA

O 11 DE MARÇO

FERNANDO EICHENBERG◆ Especial/Paris

“Somos todos america-nos”, lançou o tradicionalvespertino francês Le Mondeno título de seu editorial nodia seguinte aos atentados de11 de setembro de 2001 nosEstados Unidos.

“Somos todos espanhóis”,fazem ecoar os europeus emmeio aos cadáveres e escom-bros provocados pelas bom-bas detonadas em 11 de mar-ço de 2004, em Madri.

O sentimento instantâneo deintegração revela duplamentea solidariedade na hora do so-frimento e o temor de ser apróxima vítima. “A Europa e a democracia fo-ram atacadas” ou “o terrorismo em grande esca-la atingiu o continente” são frases reverberadaspelas mídias locais desde a última quinta-feira.A caminho do trabalho, com um pensamentonas vítimas madrilenhas e outro no seu cotidia-no, o cidadão comum europeu admite, em umtom indefeso:

– Isso pode acontecer a qualquer um de nós.Atos terroristas não são estranhos à

recente história européia. Em umatrágica coincidência, no mesmo

dia da barbárie ocorrida na Es-panha, uma emissora de TVfrancesa exibia, à noite, o fil-me Em Nome do Pai, estrela-

do por Daniel Day-Lewis e dirigido por JimSheridan, história baseada em um atentado àbomba de autoria do Exército Republicano Ir-landês, o IRA, em 1975. Em cartaz atualmentenos cinemas de Paris, outro filme, o elogiadoBuongiurno Notte, de Marco Bellocchio, reme-mora o terrorismo italiano praticado pelas Bri-gadas Vermelhas nos anos 70, em uma tramaenvolvendo o assassinato de Aldo Moro, entãopresidente da Democracia Cristã.

A violência promovida pelo temível grupoalemão Baader-Meinhof, pelos extremistas revo-lucionários das Brigadas Vermelhas, pelos na-cionalistas bascos do Pátria Basca e Liber-dade (ETA) e pelos irlandeses do IRAou, em menor grau, pelos independen-

tistas da Córsega, deixaramsuas marcas nos europeus. Asduas centenas de mortos nostrens espanhóis, no entanto,deram uma nova dimensão aodrama. Em um átimo, a tragé-dia de Nova York ficou muitopróxima, e a Europa se sentiuincluída no mapa do chamadohiperterrorismo, definido co-mo aquele que busca o maiornúmero possível de vítimas. O11 de Março terá, na Europa,efeito similar ao provocadopelo 11 de Setembro nos Esta-dos Unidos?

– Há realmente esse efeitode que as pessoas começam ase dizer que amanhã, talvez,vai ocorrer aqui, em uma es-cala semelhante ao 11 de Se-tembro. Os europeus se deram

conta de que o perigo existe – disse a Zero Horao filósofo francês Pierre Hassner, estudioso dacena internacional e pesquisador da FondationNationale des Sciences Politiques e do Centred’Etudes et de Recherches Internationales.

Pierre Hassner receia não apenas a crescenteousadia terrorista, mas também a reação daUnião Européia frente às novas ameaças:

– Apesar de tudo, a Itália atravessou os anos dechumbo sem se tornar uma ditadura. Hoje, impul-sionada pelo governo George W. Bush nos EUA, aideologia da segurança foi intensificada. A nova lei

francesa contra a criminalidade é bastante pe-rigosa nesse sentido, por exemplo.

Esperemos que a democracia pos-sa resistir a tudo isso.

PETER DEJONG, AP/ZH

Pacifismo: em uma reação quase imediata, milhares de espanhóis saíram às ruas das principais cidades do país, como Madri (foto), para pedir o fim do terrorismo, o respeito à Constituição e um mundo sem guerras

Lembranças: diante dos trens destruídos em Madri, espanhóis ficaram cara a cara com o terror

A sombra do terror Os ataques de que aEspanha foi vítima naquinta-feira lançaramum alerta sobre todo ocontinente europeu. Omedo e a angústia quese seguiram lembramas sensações vividasnos EUA pós-11 deSetembro. Neste sábado, onúmero de mortos natragédia espanholasubiu para 200. Osrepórteres FernandoEichenberg, de Paris,Johanna Kleine, deLondres, e RodrigoCavalheiro, de Madri,descrevem as reaçõesao 11 de Marçoeuropeu.

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JOHANNA KLEINE◆ Especial/Londres

A preocupação com segurança na ca-pital britânica não aumentou depoisdas explosões desta semana em Madri.Por uma simples razão: há mais de umano a Grã-Bretanha já está em nível dealerta alto (apenas um nível abaixo domáximo). Sir John Stevens, chefe dapolícia metropolitana de Londres, de-clarou na quinta-feira, dia dos ataquesem Madri, que os acontecimentos naEspanha não seriam motivo para au-mentar ainda mais a vigilância.

Alertas de bombas no transporte públicosão coisas que os britânicos conhecembem. Em 30 anos de campanhas separatis-tas, o grupo terrorista Exército Republica-no Irlandês (IRA) conseguiu atacar comsucesso 19 alvos em estações e trilhos detrem e metrô na Grã-Bretanha. O primeiroataque, em 1973, resultou em explosões si-multâneas nas estações de King’s Cross eEuston, duas das mais movimentadas deLondres. Os atentados do IRA, entretanto,diferentemente dos que têm ocorrido mun-dialmente nos últimos anos, eram mais fo-cados em provocar destruição física na re-de de transporte do que em causar mortesem massa.

Apesar disso, conferiram aos britânicosuma longa experiência em combater terro-rismo em trens. Stevens, o chefe da políciametropolitana, assegurou que o metrô deLondres, por onde circulam mais de 3 mi-lhões de pessoas por dia, é constantementemonitorado por mais de 6 mil câmeras ecentenas de policiais.

Mas as autoridades de transporte públi-co admitem que risco de terrorismo existe

e consideram praticamente impossível im-plantar um sistema de segurança mais rí-gido, semelhante aos dos aeroportos, emtodas as 2,5 mil estações de trem do país.A maior preocupação na Grã-Bretanhadepois da tragédia em Madri parece sercom a segurança na própria Espanha. Opaís ibérico é o principal destino turísticodos súditos da rainha Elizabeth II: cercade 12,5 milhões de britânicos descem àscidades e praias espanholas a cada ano.

Apesar de expressarem solidariedadeem relação aos ataques terroristas ocorri-dos na Espanha no dia anterior, os usuá-rios de trem e metrô londrinos estavammais preocupados em não se atrasar parao trabalho do que com a possibilidade deexplosões semelhantes em Londres.

– Acho que estamos mais ou menosacostumados com a ameaça de ataquesterroristas. Tivemos de lidar com o IRApor décadas – resumiu o analista de mar-keting Michael Seddon, 44 anos, enquantosaía de um trem proveniente de um subúr-bio de Londres e se encaminhava para seuescritório no centro da capital britânica.

Seddon, que presenciou várias dessasameaças, todas falsas, acha que é apenasuma questão de tempo até que a nova ondade terrorismo mundial chegue a Londres.

– Estou surpreso que isso ainda não te-nha acontecido. Com o aumento da segu-rança nos aeroportos desde 2001, me pare-cia que as ferrovias seriam o próximo alvodos terroristas, por causa da quantidade depessoas que usam esse meio de transporte.Se eu pudesse, iria para o trabalho de ôni-bus, mas levaria muito mais tempo – disse.

Como ele, os londrinos, em geral, de-monstram preocupação com a crescenteonda de insegurança, mas acreditam quenão há muito que se possa fazer para evi-tar se tornar a próxima vítima.

paira sobre a EuropaBritânicos resistem ao medo

PORTO ALEGRE, DOMINGO, 14/03/2004 | 5

RODRIGO CAVALHEIRO◆ Especial/Madri

Os atentados de 11 de Setembro contraas torres gêmeas foram chocantes, maspareciam distantes. É preciso passar porisso para entender o que eles sentiram.

É assim que o designer madrilenhoCarlos García, 25 anos, resume o senti-mento da multidão que parou Madri nanoite de sexta-feira em protesto contra oterrorismo.

Os atentados de 11 de Março levaram osespanhóis a sentirem uma dor inédita. Pormais que a população estivesse habituada achorar devido às ações do grupo Pátria Bas-ca e Liberdade (ETA), desta vez o baque foidiferente. Não apenas pelos 199 cadáveres,mas por vitimar pessoas entre as quais pode-ria estar qualquer um dos 2,3 milhões que nasexta-feira saíram às ruas de Madri para gri-tar por justiça.

Não há consenso sobre a conseqüência des-te novo tipo de sofrimento entre a população.Encharcado pela chuva, García antevê um ti-po perigoso de nacionalismo em resposta aosatentados, enquanto enrola a bandeira espa-nhola – usada pela primeira vez, três anos de-pois da compra.

– Todos com que falo têm medo, seja depegar o metrô ou o trem. Estamos descon-fiando uns dos outros – diz.

A professora primária Blanca Diez, 45anos, fala em impotência e raiva para descre-ver o que sente. Mas repete três vezes a pala-vra esperança para projetar o futuro. Esfor-çando-se para manter acesas duas velas sob a

proteção de um guarda-chuva, ela aposta naretomada lenta da normalidade.

– Uma manifestação como a de hoje (sexta-feira) mostra que estamos unidos contra o ter-rorismo, que a maioria é contra isso. Isso dáforça para continuarmos nossas vidas – expli-ca Blanca.

Conduzindo sob a chuva os três filhos – detrês e seis anos, além de um bebê de 15 me-ses –, o advogado Juan Oliveros, 42 anos,também promete não ceder espaço ao medo.

– É importante que as crianças estejamaqui. Que vejam isso como uma forma de se-guir em pé – resume.

Mesmo diante da determinação em nãodeixar que o terror interfira em suas roti-nas, mudanças parecem inevitáveis na vi-da dos espanhóis. É certo que as medidasde segurança serão ampliadas pelo gover-no, a exemplo do que ocorreu nos EstadosUnidos. A dúvida é se isso evitará um no-vo massacre, em território espanhol ou noresto da Europa.

– Não será o último atentado que tere-mos aqui. Tentamos mudar algo nos reu-nindo, mas não acho que vá ter efeito prá-tico – admite a vendedora de flores MartaGómez Pastrana, 31 anos.

O aposentado Ramón Lobo tinha oitoanos em 1936, durante a guerra civil quematou pelo menos 300 mil espanhóis. Diznunca ter visto resposta igual a um massa-cre como o de 11 de Março e aposta naunião dos países europeus como a formade anular o terrorismo.

– Na Espanha, ainda precisamos demais vivência democrática. Eu já estou nofim, mas temos que lutar por quem vempor aí – conclui.

Solidariedade: britânicos lembraram os mortos de Madri durante homenagem silenciosa, em Londres

Silêncio: milhares de pessoas acenderam velas nas ruas de Madri, em memória das vítimas do terror

TOBY MELVILLE, REUTERS/ZH

Leia mais sobre os atentados na Espanha na página 24

BERNAT ARMAQUE, AP/ZH

Uma dor inédita para os espanhóis

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PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 15/03/20044 |

REPORTAGEMESPECIAL ZERO HORA

A vitória socialista: eleitores de Zapatero, provável futuro primeiro-ministro, comemoraram odesempenho do PSOE com bandeiraços em frente ao comitê central de campanha, em Madri

O 11 DE MARÇO

De luto, Espanha castiga AznarSob impacto dos atentados terroristas, eleitores rejeitam Partido Popular e elevam socialistas ao poder

◆ Madri

Fortemente marcados pelos atentadosterroristas da última quinta-feira, os es-panhóis desfecharam um duro castigoao governo do primeiro-ministro JoséMaría Aznar nas eleições de ontem e ele-varam os socialistas ao poder na Espa-nha, depois de oito anos de hegemoniado Partido Popular (PP).

Atragédia que enlutou o país teve papeldecisivo nas urnas e motivou uma vi-

rada na corrida eleitoral. Antes dos atenta-dos a bomba contra trens de passageirosem Madri, que mataram 200 pessoas, o PP,de Aznar, liderava todas as pesquisas de in-tenções de voto. O resultado demonstrauma punição a Aznar à medida que aumen-tam os indícios de que os ataques tenhamsido cometidos pela rede Al-Qaeda, deOsama bin Laden, e não pelo grupo espa-nhol Pátria Basta e Libertada (ETA), comoo governo espanhol se precipitou a acusarmomentos após a tragédia.

Com 98,45% dos votos apurados, o Parti-do Socialista Operário Espanhol (PSOE) as-segurava 163 cadeiras no Congresso. O PPtinha 148 assentos. Com a vitória, José LuisRodríguez Zapatero deve se tornar o novoprimeiro-ministro. Os conservadores reco-nheceram a derrota quando a apuração atin-gia 85% das urnas. Ao lado de um cabisbai-xo Aznar, Mariano Rajoy parabenizou o ad-versário. No discurso da vitória, Zapateroprometeu priorizar o combate ao terrorismo.

– Minha prioridade imediata é combatertodas as formas de terror – afirmou o lídersocialista, após pedir um minuto de silêncioem memória das vítimas da tragédia.

Os espanhóis participaram em grandenúmero na eleição, em uma demonstraçãode confiança na democracia após os atenta-dos. A taxa de participação foi de 77,28%.

Depois de votar, pela manhã, Aznar e ocandidato Mariano Rajoy foram vaiadospor manifestantes que os acusaram de res-ponsabilidade nos atentados de 11 deMarço. O grupo exibia cartazes com a pa-lavra “Paz” e gritava: “Os mortos da Espa-nha são os mortos do Iraque”.

Eles exigiram o retorno imediato ao paísdos 1,3 mil militares espanhóis que inte-gram a coalizão comandada pelos EUA noIraque. Os principais candidatos da oposi-ção também votaram pela manhã.

As eleições começaram sob o impacto danotícia de um vídeo, supostamente da redeAl-Qaeda, assumindo a responsabilidade pe-las explosões (veja na página ao lado). Oseleitores, muitos usando o símbolo de lutonacional desde o ataque, compareceram empeso às urnas, em número bem acima do re-gistrado na última eleição, em 2000, emmeio a um debate nervoso sobre quem estápor trás dos ataques – a rede de Osama binLaden ou o ETA, grupo separatista que lutapela independência do País Basco.

MARCELO DEL POZO, REUTERS/ZH

ANDREA COMAS, REUTERS/ZH

A vitória de José Luis Rodrí-guez Zapatero (foto à direita) põefim a oito anos de governo con-servador. Aos 43 anos, o líder doPartido Socialista Operário Espa-nhol (PSOE, oposição) chega aopoder prometendo combater o ter-rorismo. Durante a campanha, asprioridades eram retirar as tropasespanholas do Iraque e se concen-trar nos problemas de moradia ede desemprego no país.

Zapatero ganhou projeção nacio-

nal quando substituiu Felipe Gon-zález (primeiro-ministro de 1982 a1996) como líder socialista. Ele as-sumiu um partido afetado por umaesmagadora vitória do Partido Po-pular (PP, de José María Aznar) eque ainda luta contra escândalosde corrupção do tempo em que oPSOE esteve no governo.

Zapatero ainda mantém um re-trato de Gonzáles em seu escritó-rio, mas já conseguiu sair da som-bra do líder anterior.

Quem é o novo líder

O revés da mentira

A derrota de um dos pilares da tríplicealiança pela Guerra no Iraque – os governosda Espanha, da Grã-Bretanha e dos EUA –emitiu um sinal de alerta máximo para a Ca-sa Branca, cuja permanência ou troca de in-quilino será decidida em novembro.

O Partido Popular de José María Aznar,que estava à frente dos socialistas até a explo-são da bombas nos trens de Madri, na quinta-feira, não perdeu a eleição em razão dos aten-tados. Mariano Rajoy, o candidato de Aznar,foi mandado para casa porque seu governo,antes mesmo de os corpos esfriarem, mentiuao atribuir ao ETA a responsabilidade pelosataques que o resto do mundo, por deduçãológica, já começava a debitar na conta da Al-Qaeda.

Aznar cometeu o erro mais primário, im-perdoável, de um governante: procurou mani-pular a seu favor uma tragédia nacional. Elefoi pequeno na catástrofe e isso, por si só, jus-tifica sua aposentadoria e a de seu candidato.

George W. Bush, que também mentiu sobrearmas de destruição de massa no Iraque, ato-lou os EUA numa guerra sem fim. Agora, noinício da campanha pela reeleição, exibe emsua propaganda eleitoral imagens do 11 deSetembro, procurando associar sua figura aolíder capaz de vencer o fosso do terrorismo.Como seu viu ontem na Espanha, a manipula-ção de tragédias é um risco e tanto para polí-ticos. A virada na Espanha depois da derra-pagem do Partido Popular isola um poucomais Bush e o deixa falando a mesma lingua-gem dos tambores de guerra praticamenteapenas com Tony Blair e o folclórico primei-ro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.

Já para a Al-Qaeda, a leitura enviesada doque ocorreu domingo na Espanha pode servirde estímulo a novos ataques na véspera deeleições. Pela tradução do terror, as bombasderrotaram Aznar. Na verdade, Aznar foi der-rotado por ele próprio, mas isso os terroris-tas, pela soberba, alienação e fanatismo, difi-cilmente conseguirão enxergar.

Os resultados das eleições para o Congresso espanhol:

A nova composição

Participação nas eleições de 2004: 77,28% Obs.: resultados de 2004 depois de apurados 98,45% dos votos

PP(conservadores)

PSOE(socialistas) PSOE PP PSOE PP

Em 2004 Em 2000 Em 1996

37,67% 52,29%

Outros

42,65%

163 148

39

Outros

125 183

42

35,71% 40,29%

Outros

44,57%

156141

53

MARCELO RECH

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RODRIGO CAVALHEIRO◆ Especial/Madri

No sul de Madri, os cin-co companheiros de apar-tamento do brasileiro Sér-gio dos Santos Silva, 28anos, velam uma carteirae um telefone celular.

Os objetos foram encon-trados entre as ferragens do trem que se diri-gia à estação de Atocha, na manhã do dia 11.Como fazia diariamente, o paranaense de SãoTomé deixou às 6h50min (horário espanhol)o bairro de Vallecas para trabalhar como ins-talador de pisos no centro da capital.

– No dia do atentado, esperamos durantetoda a madrugada que aparecesse. Procura-

mos em todos os hospitaise nada. Já estamos confor-mados – afirma o ajudan-te de pedreiro Júlio Oli-verson Moraes, 27 anos.

O corpo de Silva ficoumutilado e sua identifica-ção teria sido feita pelaroupa. Um teste de DNAfeito com material retirado

da escova de dente de Silva confirmou suaidentificação. A chegada do corpo ao Brasilestá prevista para hoje. Há seis meses na Espa-nha, ele dividia um apartamento de três quar-tos com cinco brasileiros. Quatro deles ho-mens, que como ele ganhavam a vida em ser-viços braçais. Silva dormia em um colchão so-bre o piso e dividia o quarto com dois colegas.

– Ele só falava em juntar dinheiro e voltarpara o Paraná. Tinha saudade da família, masqueria ganhar o suficiente para pagar a cirur-gia para o filho, que tem os pés tortos – contao pedreiro Sidmar Ferreira Dias.

Silva deixa viúva Sara Alves da Silva, 21anos, e o filho Miquéia, de quatro anos. O diade folga era ocupado em uma igreja evangéli-ca. Na carteira achada sob as ferragens dotrem de Atocha, junto aos documentos deidentidade estava a inscrição: “Procura apre-sentar-te a Deus aprovado, como obreiro quenão tem de que se envergonhar e que manejabem a palavra da verdade”.

– Ele rezava todas as noites. Pedia o que to-dos os imigrantes pedem, emprego regular esaúde para a família. Agora, vários estão pen-sando em voltar – afirma Dias.

PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 15/03/2004 | 5

Mais uma suspeita sobre a Al-Qaeda

Governo ordenouembaixadores aacusarem o ETA

Protesto: manifestantes voltaram às ruas para criticar a relutância do governo em reconhecer os ataques como obra de grupos terroristas árabes

Desânimo: Sidmar mostra onde Sérgio dormia

◆ Madri

Uma ordem do governo espanhol expli-caria em parte a precipitação das autorida-des em atribuir a autoria dos atentados aogrupo separatista Pátria Basca e Liberda-de (ETA).

Segundo reportagem do jornal El País,publicada no sábado, o governo espanholinstruiu seus embaixadores, pouco depoisdos atentados de quinta-feira em Madri,para que difundissem a versão de que aorganização basca seria a responsável pe-los ataques.

– Vossa Excelência deverá aproveitar asocasiões para confirmar a responsabilida-de do ETA nestes atentados brutais, aju-dando assim a dissipar quaisquer tipos dedúvidas de certas partes interessadas – in-formou o jornal, citando o texto que teriasido enviado pela ministra das RelaçõesExteriores do país, Ana Palacio.

Na sede do PP, cobrançapela “verdade”

O governo se adiantou na quinta-feiraem apontar o ETA como o principal sus-peito pelos ataques aos trens, mas surgi-ram também outras linhas de investigação,depois que um grupo vinculado à rede ter-rorista Al-Qaeda teria assumido a autoriados atentados.

Além de garantir a segurança no país, aidentificação dos responsáveis pelas ex-plosões, na visão dos eleitores, era crucialpara as eleições de ontem. Responsabili-zar o ETA poderia beneficiar o PartidoPopular, que tem mantido uma posiçãofirme contra os integrantes da luta pela in-dependência basca.

Segundo o jornal El País, o Ministériode Relações Exteriores não quis comentaro telegrama de Ana Palacio ou confirmaro envio de outras instruções aos embaixa-dores. No sábado à noite, cerca de 5 milpessoas se reuniram em frente à sede doPartido Popular, em Madri, para “exigir averdade” sobre os atentados. Alguns ma-nifestantes acusaram o governo de ocultarinformações sobre possíveis ligações dosataques com grupos terroristas islâmicospor motivos eleitorais.

PETER DEJONG, AP/ZH

A polícia espanhola encontrou uma fitade vídeo na qual o grupo terrorista Al-Qae-da reivindica a autoria dos atentados quemataram 200 pessoas e deixaram feridosmais de 1,4 mil na última quinta-feira emMadri.

Afita está sendo analisada e sua autentici-dade ainda não foi confirmada. No dia

das explosões nas estações de trem foram en-contrados, na periferia da capital espanhola,sete detonadores e uma fita gravada em árabecom versos do Alcorão em uma van. O veícu-lo roubado foi localizado em Alcalá de Hená-res, de onde partiram os trens com as bombas.

No sábado, o governo espanhol prendeucinco muçulmanos por suspeita de participa-ção nos ataques. O ministro do Interior An-gel Acebes informou que os suspeitos – trêsmarroquinos e dois indianos – podem ter vín-culos com organizações radicais muçulmanas

no Marrocos.A fita de vídeo em árabe foi encontrada nu-

ma lata de lixo, perto de uma mesquita emMadri. Acebes afirmou que uma pessoa comsotaque árabe ligou para a rede de TV Tele-madrid e disse onde estava a fita. Nela, expli-cou o ministro, “um homem vestido como umárabe” falando “árabe com sotaque marroqui-no” reivindica os ataques em nome do porta-voz militar da Al-Qaeda na Europa, Abu Du-jan al-Afgani.

O grupo terrorista basco ETA, acusado pelogoverno num primeiro momento, reafirmouontem, em um comunicado publicado no jor-nal separatista basco Gara, que não tem “qual-quer responsabilidade” nos atentados. Causouestranheza o fato de a principal emissora espa-nhola, a estatal TVE, ter exibido na noite desábado um documentário sobre o ETA quenão estava previsto na programação, em subs-tituição de um programa de variedades.

Os principais trechos da supostamensagem da Al-Qaeda:

“Declaramos nossa responsabilidadepelo que aconteceu em Madriexatamente dois anos e meio depois dosatentados em Nova York e Washington. É uma resposta à colaboração daEspanha com os criminosos Bush e seusaliados.Esta é uma resposta aos crimes quevocês causaram no mundo,especificamente no Iraque e noAfeganistão, e mais está por vir, se Deusquiser.Esta é uma declaração do porta-vozmilitar da Al-Qaeda na Europa, AbuDujan al-Afghani.”

A ameaça

Brasileiro está entre os mortos dos atentadosFOTOS GISELE DOMINGUES, ESPECIAL/ZH

Leia mais sobre a Espanha na página 9

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PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA,16/03/2004

ZERO HORA

24 | MUNDO Editor: Luciano Peres ◆ [email protected] 3218-4345Editora Assistente: Rosane Torres ◆ [email protected] 3218-4346

☎☎

◆ Madri

No que promete ser um durogolpe contra os Estados Unidos,o futuro primeiro-ministro daEspanha, José Luis RodríguezZapatero, afirmou ontem quepretende retirar os 1,3 mil solda-dos espanhóis que estão no Ira-que, cumprindo uma promessade campanha.

A declaração foi feita menosde 24 horas depois de seu Parti-do Socialista Operário Espanhol(PSOE) ter derrotado o PartidoPopular (PP), do premier JoséMaría Aznar, em uma eleiçãosurpreendente, à sombra dosviolentos atentados de quinta-feira em Madri.

Em sua primeira entrevista de-pois do pleito, Zapatero dei-

xou claro que a Espanha sairá doIraque se até 30 de junho a Orga-nização das Nações Unidas(ONU) não “assumir o controleda situação”. Na prática, a retiradados espanhóis não fará muita dife-rença no Iraque – afinal, trata-sede um contingente pequeno. Mas,simbolicamente, o peso da deci-são é grande, principalmente parao governo de George W. Bush. Ao

lado da Grã-Bretanha, a Espanhasob a gestão de Aznar era um dosprincipais aliados de Bush naguerra.

A mudança em relação ao Ira-que devido à troca de cadeiras napolítica espanhola ficou aindamais clara nas declarações que vi-riam adiante. Zapatero chamou aguerra de “um desastre seguidopor outro desastre, que é a ocupa-ção americana”. Ele disse aindaque Bush e o premier britânico,Tony Blair, deveriam fazer uma“reflexão e uma autocrítica” a res-peito do conflito. Só no fim, foi

cauteloso. Afirmou que pretendemanter “relações cordiais” com osEUA. Ontem, Bush telefonou aZapatero para felicitá-lo.

Mais indícios ligam osataques à Al-Qaeda

A reviravolta nas urnas – atéquinta-feira o partido de Aznar li-derava com folga as pesquisas –foi creditada pelos analistas aoimpacto dos atentados de quintaem Madri. Muitos eleitores consi-deraram os ataques um resultadodo apoio do governo espanhol aosEUA na guerra. No domingo, emalguns locais de votação, foramestendidas faixas nas quais se lia:“Sua guerra. Nossa morte”.

Ontem, aumentaram ainda maisos indícios de que a Al-Qaeda as-sinou os atentados em Madri. Apolícia espanhola confirmou quepelo menos um dos cinco homenspresos acusados de ligação comos ataques já havia sido vinculadoà rede de Osama bin Laden. Ja-mal Zougam, o suspeito em ques-tão, é marroquino. Ele teria víncu-los com o líder da célula da Al-Qaeda na Espanha que, segundoinvestigadores, ajudou a prepararos atentados de 11 de setembro de2001 nos EUA.

“Tive azar de ver o horror,mas sorte de fotografá-lo”

Zero Hora – O senhor imaginou que uma fotosua teria tanta repercussão?

Pablo Torres – Fiquei assombrado quando vi fo-tos minhas publicadas em vários países.

ZH – Uma delas, a mais publicada, foi alteradadigitalmente por alguns jornais. Qual sua opiniãosobre isso?

Torres – Tive o azar de ver aquele horror, mas asorte de fotografá-lo. Compreendo que alguns paí-ses ou jornais tenham regras para públicos menosacostumados a cenas como esta. O ideal é manter afoto intacta, mas neste caso aquele pedaço de carnenão acrescenta informação à foto. Não me ofendipor terem apagado uma parte, pintado ou, em al-guns casos, aplicado um título sobre ela. Talvez asolução ideal fosse incluir um texto que explicassea alteração.

ZH – O que era aquele pedaço?Torres – Um pedaço de músculo, uma perna.

ZH – Como estava a estação de Atocha quandoo senhor chegou lá?

Torres – Havia muitos corpos mutilados e um si-lêncio que não vou esquecer. No trem havia várioscadáveres pendurados, mas não pude entrar.

ZH – Por quanto tempo o senhor fotografou?Torres – Coloquei o fotômetro da câmera no mo-

do automático e fotografei por uma hora. Foi quan-do os policiais cercaram a área e mandaram sair. Ha-via risco de mais explosões.

ZH – O senhor chegou a ajudar feridos?Torres – Não. Não havia nada em que eu pudesse

ajudar. Estavam praticamente todos mortos.

No local dos ataques: acima, ojornalista Torres. Ao lado, a fotopolêmica

Socialista vencedor: Zapatero

Homenagem silenciosaEm solidariedade às vítimas do pior ataque terrorista da história da

Espanha, os europeus fizeram ontem três minutos de silêncio. Por vol-ta do meio-dia, uma multidão parou para a homenagem em váriascidades. Em Bruxelas, na Bélgica, a maior concentração foi em frenteà sede da União Européia (foto). Segundo o último balanço, as explo-sões em Madri, na quinta-feira, mataram 201 pessoas e deixaram 1,4mil feridos. Desses, pelo menos 19 permanecem em estado crítico.

VIRGINIA MAYO, AP/ZH

ENTREVISTA: Pablo Torres, jornalista

RODRIGO CAVALHEIRO◆ Madri

Como a maioria dos 201 mortos noatentado da última quinta-feira, ojornalista Pablo Torres usava a malhaferroviária de Madri para ir aotrabalho. Com uma câmera digitalque mal sabia operar, ele fez asprimeiras fotos do pior atentado dahistória da Espanha. Uma delasocupou a capa e páginas internas dealguns dos principais jornais domundo e gerou polêmica por ter sidoalterada por computador em algumasredações.

Na quinta-feira, Torres saiu de casaàs 6h50min. Estava em um trem queesperava a vez de entrar na estaçãode Atocha quando os explosivosforam detonados.

– Não ouvi barulho. Quando vi otrem ao lado com o teto arrombado,abri a saída de emergência. Só entãopensei em um atentado – contou.

Torres não é fotógrafo profissional.

Levava por acaso uma câmera digitalsimples, que ganhara da família emjaneiro, no seu aniversário de 50anos. A imagem foi vendida ao jornalEl País, que a publicou semmudanças na capa de sua edição desexta-feira. Jornais como The Times,The Daily Telegraph e The Suntambém usaram a foto, mas com umamodificação: um pedaço de um corpohumano que aparecia no cantoinferior esquerdo da imagem foipintado ou simplesmente eliminado.ZH publicou a foto na página 5 daedição de sexta-feira, semmodificações.

Torres lamenta não ter feito umafoto mais aproximada de um homemsentado sobre a linha do trem,segurando no colo uma mulher.

– Aquilo me marcou muito, mas euestava tão esgotado que nãofotografei. Não sei se ela sobreviveu.

Ontem à noite, Torres falou a ZHsobre a imagem dos atentados quemais gerou repercussão no mundo:

O 11 DE MARÇO

Novo premier tirará espanhóis do IraqueDepois da vitória surpreendente de domingo, o socialista Zapatero faz duras críticas à guerra e aos EUA

FOTOS PABLO TORRES/ZH

DENIS DOYLE, AP/ZH

ARQUIVO PESSOAL/ZH

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PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 19/03/2004

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RODRIGO CAVALHEIRO

◆ Madri

São 7h10min de 18 de março.Na estação de Alcalá de Hena-res, a sul de Madri, Espanha,abrem-se as portas do trem dedois andares que leva a Atocha.

Em uma mochila, levo um di-cionário e três livros. Poderia serdinamite, telefone celular e pre-gos, materiais que mataram 202passageiros em quatro trens que,há uma semana, corriam sobreos mesmos trilhos.

Uma semana após os atentados,velas vermelhas permanecem

acesas em frente à Estação de Al-calá de Henares, e ninguém entrasem antes passar por ali. Alguns re-zam, outros lêem em silêncio oscartazes em memória das vítimas.

Não há revista em Alcalá de He-nares. A vistoria mais rigorosa é adesconfiança de passageiros que es-caparam da morte ao acaso. Yolan-da Herrero, 28 anos, observa a mo-chila com um olhar fixo. A linha,que ela usa diariamente, foi a tercei-ra atingida em 11 de março. Estáviva porque, naquele dia, deixou osvagões duas estações antes de ElPozo, onde morreram 67 pessoas.

– Mesmo que não queira, tenhode pegar o trem – resume.

No percurso até a estação deAtocha, Yolanda tem suor nasmãos, na testa e no nariz. Explicaque é assim que seu organismoreage quando está tensa. A con-versa é interrompida por gritos,exatamente às 7h29min. No andarinferior, uma mulher loira, apa-rentando 30 anos, enfrenta umacrise nervosa. Chora ininterrupta-mente ao lado de outra passagei-ra, que recorre ao interfone e cha-ma a segurança. De outro vagão,surgem dois homens, trajando ter-no e gravata. Tentam uma conver-sa sobre temas amenos, sem re-sultado. A mulher não consegueresponder onde trabalha, nem pa-

ra onde vai. As mãos trememacentuadamente, enquanto enxu-ga as lágrimas. Ela corre até abolsa, deixada no chão. Busca umsaco plástico e, ofegante, tenta selivrar da sensação de enjôo.

– Calma, senhora, é natural sen-tir medo depois do que passou –diz um dos seguranças, enquanto ooutro relata o problema por rádio.

O pedreiro Cristian Anca, 25anos, assiste à cena no outro extre-mo do vagão, com cem assentosestofados. Há seis meses na Espa-nha, o romeno perdeu 11 compa-triotas nos atentados. Três deleseram amigos próximos, conhecidospor exercerem a mesma profissão.

– Tenho muito medo, sim, masnão há o que fazer. Qualquer umpode entrar com uma mochila eexplodir de novo – responde, en-

quanto o trem passa pela estaçãoEl Pozo, às 7h40min.

Ao lados dos imigrantes equato-rianos e marroquinos, os romenosformam o núcleo da força de tra-

balho braçal espanhola. Brasileiroscomo Sérgio Santos da Silva, 28anos, enterrado ontem no Paraná,são minoria. Devido à dificuldadecom a língua, conseguem emprego

com patrões brasileiros, que pa-gam menos que os chefes espa-nhóis. Silva não teve há uma sema-na a sorte de pegar o trem maistarde, como Anca. O romeno sou-be dos atentados dentro dos va-gões, pelo serviço de rádio dacompanhia ferroviária. Deixou otrem correndo, como os demaispassageiros.

Comportamento nasestações mudou

São 7h47min quando as portasabrem-se em Atocha. Os funcioná-rios levam a mulher – que agorachora mais baixo – a um escritório.Já Yolanda guarda o jornal emuma sacola e deixa o trem calada,em direção ao metrô. Anca segueno trem, rumo a outro bairro, coma mochila no colo.

Desde 11 de Março, Atochamais parece uma capela – tal é onúmero de velas espalhadas por to-dos os lados. Ali, seguranças queantes regulavam o entra-e-sai dospassageiros agora agem quase co-mo policiais. Estão atentos a tudo– bagagens, comportamentos con-siderados “suspeitos”, conversas. Eisso que, em cada plataforma daestação de Atocha, há agora pelomenos 10 policiais.

Percebe-se claramente que hámenos pessoas circulando pelas es-tações nas quais ocorreram as ex-plosões. A de Santa Eugenia, en-tretanto, é uma exceção – é quepor ali, não há metrô, e as linhasde ônibus também são mais restri-tas. Sem opções, é preciso apelarpara uma das “estações da morte”.

Dá para notar também que ocomportamento dos espanhóis nasestações de trem não é mais o mes-mo desde 11 de Março. Há uma se-mana, as plataformas ficavam lota-das minutos antes de o trem chegar.Agora, até 15 segundos antes, nin-guém se atreve a se aproximar dotrem. Só depois da certeza de quenão há surpresas, as pessoas cor-rem para pegar um lugar.

O 11 DE MARÇO

Uma viagem no “trem da morte”Uma semana depois, repórter de ZH refaz o percurso das composições atacadas em Madri

SUZANA VERA, REUTERS/ZH

◆ Madri

A polícia espanhola avançouontem um pouco mais nas in-vestigações dos atentados de 11de março em Madri. Outros cin-co suspeitos foram presos, ele-vando o total de detidos atéagora para 11.

Dos cinco, pelo menos três sãomarroquinos. A polícia acre-

dita que eles possam ter ligação

direta com os ataques de Madri eque, inclusive, podem ter partici-pado dos atentados de maio de2003 na cidade marroquina deCasablanca. Outros cinco suspei-tos – três marroquinos e dois es-panhóis de origem indiana – fo-ram detidos no sábado, sob sus-peita de envolvimento nos ata-ques. Investigadores espanhóistambém acreditam que Ali Am-rous, um argelino preso na cidadebasca de San Sebastián, poderia

saber antecipadamente dos planosterroristas em Madri.

Entre os 11 detidos desde os ata-ques, o marroquino Jamal Zougamé visto como o “suspeito-chave”.Nos últimos dias, eles têm passadopor constantes interrogatórios, maso governo espanhol não faz co-mentários sobre possíveis avanços.

Também ontem, uma imigranteperuana morreu em um hospital deMadri, aumentando o número demortos nos ataques para 202. Com

isso, os atentados na capital da Es-panha se igualam em número devítimas aos de outubro de 2002 emBali – considerados até então osmais violentos desde o 11 de Se-tembro. A 202ª vítima foi identifi-cada como Jacqueline Contreras,22 anos. Segundo fontes diplomáti-cas peruanas, ela tinha um pulmãoperfurado, queimaduras e fraturas.Jacqueline tinha chegado à Espa-nha havia dois anos. Morreram emconseqüência das explosões em

Madri cidadãos de 16 países, alémde espanhóis.

O governo da Espanha tornoupúblicos ontem documentos dosserviços secretos sobre os atenta-dos, na tentativa de provar que dis-se a verdade sobre a autoria das ex-plosões. O governo inicialmenteatribuiu a responsabilidade dos ata-ques ao grupo separatista PátriaBasca e Liberdade (ETA), emborajá fosse forte a suspeita de que aAl-Qaeda estivesse envolvida.

Espanha prende mais cinco suspeitos dos atentados

Indignação: parentes e amigos de vítimas choram durante manifestação em Atocha, uma semana depois dos atentados em Madri

Dor: mulher tem crise nervosa em trem que vai a Atocha e é consolada por passageiro

RODRIGO CAVALHEIRO/ZH