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IV EDIPE – Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino 2011 1 REORIENTAÇÃO CURRICULAR NA PRÁTICA ARTES VISUAIS 1 Fernanda Moraes de Assis Resumo O processo de reorientação curricular 2010 teve como demanda implementar o currículo nas 38 subsecretarias regionais do estado e nos municípios a elas jurisdicionados. Neste relato apresento como foi o processo desenvolvido com professores da rede de diversas realidades. A pauta do curso teve como demanda a apresentação do currículo publicado, o caderno 5 das matrizes curriculares, os cadernos das sequencias didáticas 6 e 7 e o desenvolvimento da escrita de sequencias didáticas por parte do professor. A reorientação curricular aconteceu em todos os municípios e teve como foco a especificidade das áreas, nesse sentido os cursistas de artes visuais puderam centralizar seus estudos na arte e nas visualidades, conhecer o contexto histórico, aprofundar nas modalidades, na abordagem metodológica, nos conceitos que são na verdade o objeto de estudo da área, envolvendo os sujeitos dentro da cultura que lhe é própria. A reorientação curricular faz parte da formação continuada do professor, nesse sentido Nesse sentido os cursos ministrados seguiram uma unidade no que se refere à metodologia de trabalho, ou seja, todas as quatro áreas decidiram concentrar um mesmo formato de curso, com carga horária de 90 horas, oferecendo aos professores cursistas um cronograma de conteúdos por módulos. Ocorreram oficinas de produção de gravura e desenho foi desenvolvido além de a pauta contemplar momentos de visitas aos espaços culturais como incentivo e estimulo aos professores no intuito de subsidiar sua prática em sala de aula. Para a finalização de curso o professor cursista ao escrever a sequencia didática, aplicou-a na sua realidade e apresentou relato de sua experiência aos demais cursistas. O presente relatório pretende descrever brevemente algumas das interações e observações e apresentar avaliativamente as aulas do curso Reorientação Curricular na Prática: Artes Visuais, ministrado no ano de 2010, no Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte. Apresentando como um dos objetivos a implementação o currículo específico da área 1 Integra a equipe de desenvolvimento curricular do centro de estudos e Pesquisa Ciranda da Arte. Professora efetiva da rede estadual de educação. Licenciada em Artes Visuais, Faculdade de Artes Visuais Universidade Federal de Goiás.

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IV EDIPE – Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino ‐ 2011 

 

REORIENTAÇÃO CURRICULAR NA PRÁTICA

ARTES VISUAIS

1 Fernanda Moraes de Assis

Resumo

O processo de reorientação curricular 2010 teve como demanda implementar o currículo nas

38 subsecretarias regionais do estado e nos municípios a elas jurisdicionados. Neste relato

apresento como foi o processo desenvolvido com professores da rede de diversas realidades.

A pauta do curso teve como demanda a apresentação do currículo publicado, o caderno 5 das

matrizes curriculares, os cadernos das sequencias didáticas 6 e 7 e o desenvolvimento da

escrita de sequencias didáticas por parte do professor. A reorientação curricular aconteceu em

todos os municípios e teve como foco a especificidade das áreas, nesse sentido os cursistas de

artes visuais puderam centralizar seus estudos na arte e nas visualidades, conhecer o contexto

histórico, aprofundar nas modalidades, na abordagem metodológica, nos conceitos que são na

verdade o objeto de estudo da área, envolvendo os sujeitos dentro da cultura que lhe é própria.

A reorientação curricular faz parte da formação continuada do professor, nesse sentido Nesse

sentido os cursos ministrados seguiram uma unidade no que se refere à metodologia de

trabalho, ou seja, todas as quatro áreas decidiram concentrar um mesmo formato de curso,

com carga horária de 90 horas, oferecendo aos professores cursistas um cronograma de

conteúdos por módulos. Ocorreram oficinas de produção de gravura e desenho foi

desenvolvido além de a pauta contemplar momentos de visitas aos espaços culturais como

incentivo e estimulo aos professores no intuito de subsidiar sua prática em sala de aula. Para a

finalização de curso o professor cursista ao escrever a sequencia didática, aplicou-a na sua

realidade e apresentou relato de sua experiência aos demais cursistas.

O presente relatório pretende descrever brevemente algumas das interações e

observações e apresentar avaliativamente as aulas do curso Reorientação Curricular na

Prática: Artes Visuais, ministrado no ano de 2010, no Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda

da Arte. Apresentando como um dos objetivos a implementação o currículo específico da área

                                                            1 Integra a equipe de desenvolvimento curricular do centro de estudos e Pesquisa Ciranda da Arte. Professora efetiva da rede estadual de educação. Licenciada em Artes Visuais, Faculdade de Artes Visuais Universidade Federal de Goiás.  

IV EDIPE – Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino ‐ 2011 

 

de arte nas 38 subsecretarias regionais do estado e municípios a elas jurisdicionados,

buscando contribuir e subsidiar a prática dos educadores que atuam nas diferentes realidades

do estado, o trabalho de formação continuada com os professores iniciou por mapeamento,

levantamento de expectativas destes professores a respeito do processo da reorientação e

implementação do currículo.

Inicialmente as aulas centralizaram nas reflexões acerca da atuação de cada docente

em sua realidade e buscou relacionar muitos de seus aspectos com a discussão que o próprio

documento aponta: aproximar os sujeitos ao universo da arte e da imagem, possibilitando a

eles contatos com a diversidade das infinitas visualidades, seja da arte institucionalizada dos

museus, galerias, ateliers, da arte produzida pelas manifestações populares, no cotidiano e da

cultura visual, ou seja, dos artefatos culturais de nosso tempo. Tivemos oportunidade de

apresentar as concepções que regem a área, de qual é o objeto de estudo e da importância de

conhecermos sobre a história do ensino das artes visuais no Brasil, fundamentando, desta

maneira, a área. Nesse sentido, os encontros se tornaram momentos de discussões reflexivas,

de aprendizagens construídas e constituídas.

Nesse sentido determinou-se que os cursos ministrados seguissem uma unidade, no

que se refere à metodologia de trabalho, ou seja, todas as quatro áreas decidiram concentrar

um mesmo formato de curso, com carga horária de 90 horas, oferecendo aos professores

cursistas um cronograma de conteúdos por módulos, sendo eles em número de três. Os

módulos I, II e III deram ênfase na produção, na contextualização e na compreensão crítica. A

produção centrou em atividades coletivas, como por exemplo, na escrita da sequencia

didática, na experimentação de atelier de gravura ao qual foi proposto experimentação de

gravura com técnicas de monotipia, xilogravuras e carimbo, produção de desenho, em que os

professores cursistas puderam ter contato direto com o artista goiano Rodrigo Godá e a sua

produção. Consequente, a estas experiências os professores puderam ter uma possibilidade

didática a mais, vindo somar a escrita das aulas da sequencia didática na escola ao qual atua, e

vislumbrar os resultados obtidos diante da aplicação da sequencia em suas realidades. Sobre a

contextualização, o percurso iniciou na apresentação da proposta do curso, na reflexão

conjunta sobre o mesmo, e se configurou na apresentação das orientações curriculares

descritas no caderno 5, das orientações da área de arte, além da parte específica.

Complementando este curso e estudo, unimos nossas observações aos documentos: cadernos

6 e 7 das sequencias didáticas que, em seu princípio, tem como pressuposto subsidiar aspectos

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teórico-práticos dos professores. Ambos os cadernos foram apresentados, analisados e

discutidos. A sequencia didática foi amplamente apresentada e esclarecida, conforme as

questões estruturais, das fontes de pesquisa, relativo à abordagem metodológica, aos temas,

aos eixos temáticos, aos conceitos e modalidades a serem “destrinchados” na escrita, ou seja,

pesquisados e estudados mais profundamente e configurando-se em aulas. Muitas foram as

interações e estas puderam contribuir para a retomada de uma consciência mais autônoma, a

qual cada professor pode estabelecer com a área e rever a sua pesquisa, no intuito de

aperfeiçoar sua escrita, direcionando com significado seu trabalho em sala de aula. Outro

aspecto que também muito contribuiu foi a socialização das sequencias didáticas entre os

grupos de professores de diferentes contextos e do diálogo estabelecido entre os mesmos,

relativos às sugestões de outras possibilidades educativas, estéticas e de práticas

diferenciadas. Sobre a compreensão crítica, as orientações se direcionaram na importância do

arte educador fraquentar os espaços artístico-culturais e, em contrapartida a esta postura,

também viabilizar, estender estas experiências aos estudantes e à escola como um todo, visto

que é de suma importância alimentar o repertório imagético dos sujeitos, pois ações assim

colaboram na dissolução de um pensamento mais crítico, seletivo e aprimorado do olhar, além

de contribuir na aprendizagem tanto para o educador quanto dos estudantes em suas

produções. Neste ínterim é que procuramos disponibilizar, no cronograma do curso de

reorientação curricular, espaço para as visitas destes profissionais aos espaços culturais.

O documento das orientações curriculares, Currículo em Debate: matrizes

curriculares, Caderno 5, foi retomado em todos os momentos, lido e amplamente discutido

entre os professores, que assim puderam estabelecer interlocuções para o reforço na

compreensão das concepções, nas questões conceituais e procedimentais das orientações para

área de arte, da reorientação curricular do 1° ao 9° ano. Como já foi citado inicialmente, o

grupo de professores formadores da Ciranda da Arte, de acordo com a coordenação da casa,

decidiu um cronograma para esta formação, que procurou discutir, estudar, pesquisar e

compreender juntamente com os professores cursistas o entendimento dos documentos e de

como os mesmos se desenharão na realidade de cada sala de aula, além de possibilitar

diálogos com as possíveis questões de ensino de artes visuais frente às metodologias pós-

modernas, ou seja, da cultura visual, e das demais visualidades.

Conhecer e compreender a proposta de sequencia didática é direcionar para uma

discussão construtiva e colaborativa, na qual os sujeitos se envolvem com a escola e a

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comunidade local e possam integrar e dialogar com a mesma. Esta discussão reafirma a

importância e o compromisso da comunidade no espaço escolar, conhecendo a escola e o seu

funcionamento, participando das aprendizagens dos estudantes que lá estão inseridos. Os

professores que participaram do curso puderam ter o conhecimento da matriz curricular, em

sintonia com a escrita da sequência didática e de como a mesma se torna operante na escola,

de como seus projetos de trabalho vão refletir na sala de aula, com seus estudantes. Os

elementos do gráfico da matriz curricular, quando articulados às sequencias didáticas ganham

sentido quando analisadas no gráfico e estas quando aplicadas aos interesses dos educadores,

além dos saberes prévios e do que os estudantes querem aprender em arte são reforçados e

reisignificados. Salientamos que no transcorrer do curso procuramos exercitar possibilidades

de articulação dos elementos da matriz com as modalidades, ao ano específico, ao eixo

temático integrados aos conceitos da área das artes visuais, a arte e a imagem, aos quais

inserem os sujeitos na cultura que lhe é particular.

O trabalho com a formação com o grupo de professores teve um apoio que

complementou nossas discussões, nossas pesquisas, nossos estudos. O ambiente de

aprendizagem virtual, o moodle da Ciranda da Arte, veio somar com as interações que se

complementam ao aprendizado presencial. Os professores tiveram a oportunidade de conhecer

outra forma de constituírem suas aprendizagens e de escreverem seus projetos, na escrita

coletiva das sequencias didáticas, além do atendimento em suas dúvidas e necessidades,

somando as discussões, as aprendizagens já constituídas dos encontros presenciais. Todo o

processo da reorientação curricular, os cadernos 5, 6 e 7 apontam para um currículo vivo,

dialógico, que visam práticas de justiça social, de igualdade de direitos culturais, fortalecendo

a liberdade intelectual e a imaginação criativa dos sujeitos envolvidos no processo.

O curso, em sua grande maioria, foi frequentado por uma diversidade de

professores, alguns iniciando com a disciplina Arte pela primeira vez, alguns já veteranos na

disciplina da área e de outros cursos da Ciranda da Arte. Resumindo, o início do curso gerou

ansiedade, processo normal ao nosso entendimento, pois se tratava de um currículo a ser

apresentado e agora parte do cotidiano do professor, agora mais claro, com abordagens mais

flexíveis, mais inovadora, democrática e nada prescritiva. É certo que ainda persistem em

algumas realidades práticas pouco significativas, que ainda não permitem os estudantes de se

verem nos currículos elaborados, como aponta Silva (2000) levar os sujeitos a experimentar e

vivenciar artefatos e manifestações culturais de grupos e segmentos sociais minoritários,

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suscitando discussões, reflexões e interpretações críticas em torno de especificidades ligadas,

por exemplo, ao universo feminino, homossexual, afro-brasileiro, indígena, da classe

trabalhadora, da cultura infanto-juvenil e dos sujeitos com necessidades especiais,

extrapolando, assim, as aprendizagens para além do universo branco, masculino e europeu, de

classe alta, que tradicionalmente dominaram os currículos escolares e, mais especificamente,

os temas e focos de estudo das artes. Nesse sentido, é compreensível que se espera currículos

de sala de aula escrito com transparência, com significado e que amplie de fato os desejos dos

professores e dos estudantes, pontuando temáticas da pós-modernidade, como por exemplo, a

cultura juvenil.

É visível a mudança de postura, na fala e no pensamento dos professores que

conhecem agora os documentos. Isso tem refletido nas salas de aula de muitas realidades, no

depoimento de muitos. Seguem alguns depoimentos: "Trabalhar com a Arte é sempre um

desafio. Tenho aprendido muito ultimamente e acredito que mudei bastante o meu modo de

lidar com esta disciplina. Há algum tempo atrás a arte era trabalhada sem nenhum conexão

com a vida do aluno e com o conhecimento. Era simplesmente para passar o tempo,

descontrair, divertir e descansar os alunos das outras matérias. Para isso, o mais fácil era fazer

desenhos livres, desenho cego, tarefas rodadas, sucata, enfeites para as festas da escola e

outros. Hoje, com as Orientações Curriculares as coisas mudaram muito. As aulas de Arte são

tão importantes quanto as outras e acrescentam conhecimento à aprendizagem dos alunos. Em

minhas aulas procuro levar aos meus alunos conteúdos que são do seu interesse e que

chamam a atenção deles, mas de um jeito contextualizado, crítico e produtivo." Professora

Ivani Terezinha Rezende Faustino. "A disciplina de Arte infelizmente é vista na maioria das

escolas como um "tapa buraco", como disciplina onde quem não se adapta a sala de aula pode

ministrar, como a aula onde se apenas desenha e faz lembrancinhas para datas comemorativas.

O professor de Arte sofre, pois não encontra subsídios para direcionar suas aulas. Com a

reorientação curricular, surge uma luz, um caminho para que as aulas de arte se tornem

prazerosas de ensinar e aprender. Não é mais aquela repetição de atividades em todos os anos

escolares. Creio que o ensino de Arte e também das demais disciplinas ganharam em seu

contexto pedagógico mais uma ferramenta para auxiliar o trabalho docente. Procuro sempre

visualizar os elementos do gráfico e utilizá-los quando possível em minha sala de aula".

Professora Guiomar Pereira de Oliveira.

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O curso também proporcionou ampliar o lado social, as amizades, além de

estabelecer trocas e diálogos com os profissionais da rede, de diversas localidades. A Ciranda

da Arte é um espaço de todos que estão envolvidos com as questões da arte educação em

Goiás, isso nos fortalece e nos possibilita pensar que, cada vez mais, não podemos

permanecer sozinhos, pois estar com um colega de profissão que vivencia a sala de aula em

uma localidade da qual possui uma cultura própria, um modo diferenciado de compreender e

articular saberes de arte, que ultrapassam as meras ideias formadas, é algo muito enriquecedor

e que colabora cada vez mais para busca de melhorias nas ações do trabalho que pretendemos

continuar nos anos que virão.

Referências Bibliográficas

Arte: um currículo voltado para a diversidade cultural e formação de identidades. In:

GOIÁS. Secretaria de Educação – SEDUC. Currículo em debate: Matrizes curriculares.

Caderno 5. Goiânia: SEDUC, 2009.

SILVA, T. T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T. (org.). Stuart

Hall, Kathryn Woodward. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

Artes Visuais – Licenciatura - Ensino á distância. 2. Artes Visuais - Estudo e ensino-

Tecnologia Educacional. 3 Educação á distância I. Centro Integrado de Aprendizagem em

Rede (CIAR) II. Título. Módulo I.