renovação ou modernização de máquinas agrícolas

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Page 1: Renovação ou modernização de máquinas agrícolas

AGRIWORLD�

Renovação ou modernização de máqunas agrícolas?

A TECNOLOGIA AGRÍCOLA

A agricultura brasilei-ra não seria a mesma se não fosse o desen-

volvimento da mecanização agrícola. O número de má-quinas no campo e a incor-poração de novas tecnolo-gias têm aumentado ano a ano, fazendo com que a pro-dutividade agrícola atinja ní-veis cada vez melhores, de-monstrados pela diferença entre as taxas de crescimen-to da produção em relação ao incremento na área cul-tivada.

Apesar dos diferentes ru-mores de crise mundial, exis-te uma forte demanda por produtos agrícolas e seus de-rivados, uma evidência disso é o aumento de 34% no fa-turamento do setor de máqui-nas e implementos agrícolas no ano de 2011 em relação ao ano anterior, conforme informações da Associação

Brasileira das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (ABIMAQ).

Esta demanda por ali-mentos, fibras, bioenergia e outros materiais como ma-deira, borracha, fármacos e uma infinidade de produtos obtidos pelo cultivo do solo atuam em diversas frentes e induzem ao aumento da pro-dução. Frente a este contex-to, o pensamento conven-cional vislumbra, primeira-mente, a expansão da área cultivada; porém, expandir sem antes ter condições de executar bem suas atividades significa aumentar os riscos e a possibilidade de insucesso. Desta forma, somente a mo-dernização da agricultura po-derá atender a necessidade de aproveitar esta oportuni-dade de crescimento.

A escassez crescente de mão-de-obra, provocada

pela forte urbanização e, so-bretudo com a superpopula-ção dos grandes centros, exi-ge que os processos agrícolas devam ser bem elaborados e organizados para atingir um nível mínimo de eficiência e essa evolução passa, obri-gatoriamente, pela mecani-zação e, consequentemente, pela aquisição de máquinas e implementos.

O aumento do número de máquinas tem sido impul-sionado pelo financiamento oficial. Desde que começou a ser oferecido tem recebi-do diversas adequações que permitem atingir um número maior de segmentos agrícolas. A partir da década de 90 tive-mos o FINAME AGRÍCOLA, o PRONAF, o MODERFROTA, o MAIS ALIMENTOS, o FINA-ME PSI, entre outros. Tais pro-gramas ajudaram a reduzir a idade média da frota de trato-

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res e colhedoras, que segun-do dados da AGROCONSULT está em torno de 11 anos para tratores e 8 anos para colhe-doras. Além disso, favorece-ram a aquisição de máqui-nas de maior potência, com tecnologia embarcada e com dispositivos de segurança in-corporados.

Entretanto, apesar da am-pliação e modernização do parque de máquinas, as linhas de financiamento ainda não atuam para retirar do campo as máquinas em mau estado de conservação, inseguras e poluentes. Inúmeros tratores e máquinas ainda em uso no campo não dispõem de estru-tura de proteção a capotagem (epc), não propiciam confor-to ao operador, apresentam freios e sinalização em mau estado, motores com proble-mas e requerem manutenção muito frequente, provocando gastos extras. Máquinas de-ficientes apresentam baixo rendimento, consomem mais combustível e emitem alto ín-dice de gases poluentes.

O fato de o financiamen-to facilitar a aquisição de má-quinas novas não significa que estamos substituindo as mais antigas. Estamos ape-nas ampliando o parque de máquinas. Neste sentido o nome do programa MODER-FROTA é bem adequado. En-tretanto, moderniza, mas não renova, considerando-se o entendimento de que “reno-vação” significa substituição ou reforma de alguma coisa. Quando renovamos o guarda roupa significa que compra-

mos roupas novas e nos des-fazemos das velhas.

O que fazer, então, para tirar do campo as máquinas obsoletas, inseguras e poluen-tes? Uma ideia interessante é a adotada pela Espanha des-de 2006. Lá foi instituído o PLAN RENOVE que regula a concessão de financiamento para renovação do parque de máquinas agrícolas. Este pla-no beneficia, com vários in-centivos, os proprietários que disponibilizem para o des-manche (“achatarramiento”)

seus tratores e máquinas au-topropelidas com mais de 15 anos e colhedoras com mais de 10 anos.

O objetivo é melhorar a segurança e as condições de trabalho dos operadores, au-mentar a eficiência energéti-

ca (maior rendimento, menor consumo), reduzir o impacto ambiental e promover a in-trodução de tratores e má-quinas com alta tecnologia, confiáveis e adequados para atender as demandas da agri-cultura moderna.

A ajuda básica oferecida é de 80 e/cv (+ ou - R$ 200,00/cv) da máquina submetida ao desmanche. Incentivos adicio-nais podem ser dados depen-dendo das características do solicitante, da exploração agrí-cola, do trator/máquina des-

cartada e do trator/máquina nova. Por exemplo, um agri-cultor jovem pode receber uma ajuda complementar de 25 e/cv (+ ou - R$ 63,00/cv); uma mulher proprietária, 10 e/cv (+ ou - R$ 25,00/cv); um trator sem estrutura de prote-

O fato de o financiamento facilitar a

aquisição de máquinas novas não

significa que estamos substituindo as

mais antigas

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A TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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ção a ser descartado pode re-sultar num adicional de 80 e/cv (+ ou - R$ 200,00/cv). A aquisição de máquina nova com maior eficiência energé-tica ou com menor emissão de gases poluentes também pro-picia adicional de 30 e/cv (+ ou - R$ 75,00/cv) se esta per-tence à categoria A de eficiên-cia energética e 10 e/cv (+ ou - R$ 25,00/cv) se pertencer à categoria B.

No Brasil, a criação e a adesão a um programa desta natureza não seria uma tarefa fácil, pois envolve a conver-gência de ao menos três seto-res, que não necessariamente compreendem a necessidade de ceder aos seus interesses diretos para o bem da ativida-de que os une, a agricultura.

Os órgãos governamen-tais e agentes financiadores teriam que abrir mão de par-te de seus impostos, taxas, tri-butos e margem de lucro para assumir os descontos corres-pondentes para que o descar-te de equipamentos obsole-tos seja incentivado.

Os fabricantes, distribui-dores, revendedores e presta-dores de serviços devem so-lidarizar-se com a questão e, para isso, bastaria que estes grupos buscassem a maior eficiência e menores custos para os seus produtos, pro-cessos e serviços tornando-

os mais atrativos. Com isso, a máquina seria adquirida pelo seu preço de mercado sem impor nenhum outro custo. Todo o setor deve se questio-nar sobre as relações custo-benefício, será que elas es-timulam a modernização do parque de máquinas?

Em relação aos agriculto-res, é necessário rever a cultu-ra de continuar reformando e reaproveitando o equipamen-to obsoleto. Para a maioria não parece ter sentido se desfazer de um bem que não tenha os recursos mais modernos, mas ainda está funcionando.

Num primeiro momen-to, é necessária a avaliação de seus motivos, pois com equi-

pamentos e empréstimos tão caros frente à sua remunera-ção, fica difícil convencer para que os riscos de endividamen-to sejam assumidos. Daí a ne-cessidade anterior da ação do governo e do mercado para melhorar estas relações e atrair o interesse do agricultor.

A partir daí a aceitação deste programa seria mais pro-vável com o desenvolvimento de uma outra maneira de olhar a situação, na qual o agricul-tor passe a indagar se cada má-quina de sua frota ainda é eco-nômica, se são confiáveis e se atendem aos padrões ambien-tais e de segurança que hoje são requeridos.

Vamos pensar nes ta ideia?.o

Ila Maria CorrêaMoises Storino

Pesquisadores CientífiCos do Cea/iaC - instituto

agronômiCo de CamPinas

O agricultor deve a indagar se cada

máquina de sua frota ainda é econômica,

se são confiáveis e se atendem aos

padrões ambientais e de segurança que

hoje são requeridos