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Comunicações GT 7 – IMAGEM, MEMÓRIA E FONTES DIGITAIS 1081 XIII Encontro Cearense de Historiadores da Educação ECHE III Encontro Nacional do Núcleo de História e Memória da Educação – ENHIME III Simpósio Nacional de Estudos Culturais e Geoeducacionais – SINECGEO ISBN 978-85-8126-065-5 ENTENDIMENTOS GEOGRÁFICOS ENTRE CINEMA E EDUCAÇÃO RENATO CÉSAR ARAGÃO MENDES JÚNIOR Graduando do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. E-mail: [email protected] Introdução O século XXI, que surge marcado pela produção da infor- mação em um ritmo extremamente acelerado, pela intensificação das trocas sociais e econômicas, pela diluição das fronteiras terri- toriais e o rápido crescimento e propagação dos inventos tecnoló- gicos, emerge exigindo dos processos e meios educativos escolares, uma resposta que seja lançada pela e dentro da escola como forma de acompanhar esse universo informacional e colocá-lo diante do seu aluno, para que juntos, num processo de construção coletiva do aprendizado, consigam elevar a informação ao nível do conheci- mento útil para a vida dos próprios alunos, instrumentalizando-os e preparando-os para questionarem e refletirem sobre sua realida- de e arranjos espaciais em que vivem. Neste sentido, pontua-se que a escola deve, enquanto “agen- te” educativo primordial do processo de formação humana e inte- lectual do aluno, encontrar meios que auxiliem na tarefa de ajuda-lo a interpretar esta gama de informações que surgem por intermédio dos meios de comunicação presentes global ou localmente em sua realidade. Albuquerque (2009, p. 348), nessa perspectiva, nos faz uma ressalva importante sobre a relação que a escola deve construir no trato dessas informações em sala, pois, “se a realidade social em que está inserido o adolescente não for levada em consideração, no processo de ensino/aprendizagem ele não encontra identidade entre si próprio e o conteúdo oferecido pela escola”. Admite-se que o conjunto dessas informações, dispersas no cotidiano do aluno, podem tornar-se verdadeiros agentes potencializadores de ganhos pedagógicos em sala de aula, se entendidas dessa forma pela escola.

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1081XIII Encontro Cearense de Historiadores da Educação – ECHEIII Encontro Nacional do Núcleo de História e Memória da Educação – ENHIME

III Simpósio Nacional de Estudos Culturais e Geoeducacionais – SINECGEOISBN

978-85-8126-065-5

ENTENDIMENTOS GEOGRÁFICOS ENTRE CINEMA E EDUCAÇÃO

RENATO CÉSAR ARAGÃO MENDES JÚNIORGraduando do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. E-mail: [email protected]

Introdução

O século XXI, que surge marcado pela produção da infor-mação em um ritmo extremamente acelerado, pela intensificação das trocas sociais e econômicas, pela diluição das fronteiras terri-toriais e o rápido crescimento e propagação dos inventos tecnoló-gicos, emerge exigindo dos processos e meios educativos escolares, uma resposta que seja lançada pela e dentro da escola como forma de acompanhar esse universo informacional e colocá-lo diante do seu aluno, para que juntos, num processo de construção coletiva do aprendizado, consigam elevar a informação ao nível do conheci-mento útil para a vida dos próprios alunos, instrumentalizando-os e preparando-os para questionarem e refletirem sobre sua realida-de e arranjos espaciais em que vivem.

Neste sentido, pontua-se que a escola deve, enquanto “agen-te” educativo primordial do processo de formação humana e inte-lectual do aluno, encontrar meios que auxiliem na tarefa de ajuda-lo a interpretar esta gama de informações que surgem por intermédio dos meios de comunicação presentes global ou localmente em sua realidade. Albuquerque (2009, p. 348), nessa perspectiva, nos faz uma ressalva importante sobre a relação que a escola deve construir no trato dessas informações em sala, pois, “se a realidade social em que está inserido o adolescente não for levada em consideração, no processo de ensino/aprendizagem ele não encontra identidade entre si próprio e o conteúdo oferecido pela escola”. Admite-se que o conjunto dessas informações, dispersas no cotidiano do aluno, podem tornar-se verdadeiros agentes potencializadores de ganhos pedagógicos em sala de aula, se entendidas dessa forma pela escola.

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Dessa forma, reconhecendo que essas várias transformações que se sucederam ao longo das últimas décadas, materializaram-se no espaço geográfico de diversas formas, concluímos que o ensino da Geografia enriquecer-se-á, se esta, enquanto disciplina escolar, tomar as alterações provocadas no espaço por essas transforma-ções, como objeto de estudo e reflexão da nova ordem mundial em voga, ou seja, os adventos do sistema capitalista, em especial, o pro-cesso de industrialização.

No entanto, reportando-se mais especificamente ao ensino de geografia, faz-se necessário a adoção de um conjunto plural de lin-guagens, visando mediar o processo de construção do conhecimento no educando em sala de aula. Com base nesta orientação, o presente trabalho credencia-se a fazer reflexões no campo teórico, revisitando a bibliografia existente, e também no plano prático, através de expe-rienciações, lançando a ideia do cinema como mecanismo mediador do processo de ensino/aprendizagem nas aulas de geografia ao tra-balhar conteúdos sobre Industrialização. Ao final, são apresentados os resultados da oficina sobre a utilização do vídeo nas aulas de ge-ografia, onde foi trabalhado o tema Industrialização em Sobral apli-cada à uma turma do 2º Ano do ensino médio na Escola Estadual de Educação Profissional e Médio São José em Sobral – CE.

O esforço reflexivo que ora se apresenta, resulta da experi-ência como bolsista no interior do Programa Institucional de Bol-sas de Iniciação à Docência – PIBID, da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil, oportuni-dade em que leituras e reflexões puderam ser aprofundadas em sua dimensão teórica, mas que, também, puderam ser confrontadas na prática, ou seja, no exercício em sala de aula.

A escola e as novas tecnologias: um diálogo necessário

A existência de um consenso por parte daqueles que militam no campo da educação, e aqui nos restringimos ao debate acadêmi-

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co, em que afirmam a necessidade de haver a readequação da esco-la aos novos padrões exigidos pelas mudanças, sobretudo, sociais e politicas que vêm acontecendo na sociedade apelo menos três ou quatro décadas aqui no Brasil.

Padrões estes, que exigem da escola atual uma postura dife-rente, tanto no plano político, no sentido de entender o seu papel nessa nova sociedade, quanto no terreno prático, adotando em seu ambiente, recursos inovadores que possam superar aquelas velhas metodologias de aprendizagem, características do tradicionalismo educacional herdado dos jesuítas, ainda nos tempos de colônia. Dessa forma, uma renovação de sua prática pedagógica faz-se ne-cessário, e esta renovação começa pelo diálogo que deve ser trava-do entre a escola e as novas tecnologias que surgiram paralelamen-te no contexto de ebulição dessa sociedade da informação.

Comungando das reflexões de Pontuschka; Paganelli; Cacete (2007), estas afirmam que:

A escola, nesse contexto, cumpre papel importante ao apropriar-se das várias modalidades de linguagens como instrumentos de comunicação, promovendo um processo de decodificação, análise e interpretação das informações e desenvolvendo a capacidade do aluno de assimilar as mu-danças tecnológicas que, entre outros aspectos, implicam também, novas formas de aprender. (p. 261-262).

Inferimos que a readequação da escola aos moldes desta nova sociedade, no âmbito tanto politico, enquanto instituição so-cial, quanto pedagógico, no sentido de haver a renovação da sua prática pedagógica, é lançada enquanto esforço coletivo e neces-sário à criação de uma ou várias metodologias, que consigam em sua essência, incorporar essa pluralidade de informações que ve-mos diariamente sendo difundidas através dos diversos meios de comunicação. Neste sentido, acreditamos que a escola, ao passo que flexibiliza suas estruturas politica e curriculares, no intuito de incorporar em sua nova prática as novas linguagens que surgiram

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recentemente, como é o caso da televisão, da propaganda, da in-ternet e do cinema, avança readquirindo e afirmando que possui ferramentas subsidiárias capazes de desenvolver nos seus alunos, as competências e habilidades que lhes são exigidas para a convi-vência nesta sociedade caracterizada pelo(s) movimento(s).

Contudo, admitindo que nem todos os esforços teóricos al-cançados nos bancos acadêmicos conseguiram ser incorporados à estrutura política e pedagógica da escola nos últimos tempos, temos aí um descompasso na perspectiva de entendimento acima exposta, que foi e ainda é verificado na contemporaneidade, que se trata da negligência por parte da escola em reconhecer o potencial didáti-co e pedagógico de ensino/aprendizagem que pode ser explorado a partir da inserção dessas novas tecnologias dentro do ambiente escolar. Não raro ouvimos falar ou até mesmo já realizamos essa prática, onde as novas tecnologias são às vezes entendidas como “tapa buracos” na falta de um professor em muitas escolas.

A bibliografia existente dá conta de analisar e apontar as consequências de tal entendimento pragmático, a ponto de reco-nhecer que, a não inserção dessas novas tecnologias por parte da escola empobrece suas estruturas políticas e pedagógicas, e esta por sua vez, poderá comprometer a formação dos discentes, ga-nhando contornos de um aprendizado acrítico e defasado, que certamente, por questões ideológicas em sua essência, estará con-dicionando seus alunos a adotarem um comportamento passivo diante das transformações e mudanças pelas quais a sociedade frequentemente sofre, ou seja, temos um aluno incapaz de analisar criticamente as ações governamentais que se materializam no es-paço geográfico onde está inserido, pois, em relação à escola, Oli-veira (2010), ressalta que “a sua história tem sido a de valorização dos grandes projetos governamentais, de modo a ir construindo na mente das crianças conceitos de Estado, nação, governo, território, país, como realidades definidas e definitivas do ponto de vista do Estado capitalista”.

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Diante desta ressalva, e com base no que os escritos em tela propõe, direcionamentos e reflexões devem ser dispensados na tentativa de pensar, dialeticamente, a utilização dessas novas tec-nologias como a televisão, a internet, os jogos eletrônicos e o cine-ma, dentro do ambiente escolar visando tão somente, a construção de bases e elementos de uma pedagogia que venha a contribuir na formação de um sujeito provido de senso crítico, capaz de contextu-alizar as ações desencadeadas no seu arranjo espacial. A utilização dessas novas tecnologias dentro do ambiente escolar se faz urgen-te, não apenas para fins de reestruturação curricular, pois, presen-ciamos a emergência de uma sociedade dinâmica e em movimento, que produz a todo instante uma profusão de informações desco-nexas e descontextualizadas de qualquer análise de procedência e veracidade científicas, que chegam ao aluno, sem que este saiba ao menos processá-la de maneira reflexiva, mas, sobretudo, pelo que nos diz Pontuschka; Paganelli; Cacete (2007):

Na era da globalização, em que as informações chegam de forma muito rápida por meio da televisão, do cinema, do rádio, do vídeo, do computador, o trabalho pedagógico do professor enriquecer-se-á se ele utilizar todos esses recur-sos para a produção de um conhecimento que ajude o aluno a compreender o mundo em que vive. (p. 263)

Portanto, auxiliada dessas novas linguagens, algumas com alto poder educativo como o caso do filme, a escola tem a seu dispor bases e orientações pedagógicas que lhe credenciam a desenvolver uma maneira diferente de trabalhar essas informações, com aulas dinâmicas e interessantes em sala.

Com isso, podemos falar numa ressignificação do ensino, em especial do ensino da geografia, pois, além de facilitar o trabalho do professor dinamizando as aulas, a inserção dessas novas lingua-gens no ambiente escolar, vêm materializar a nova identidade que a escola oportunamente incorporou nestas últimas décadas, que é a possibilidade de romper gradativamente com as raízes do tradi-

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cionalismo, pedagogia de ensino externalizada historicamente pela cultura educacional de nosso país, mesmo nos dias atuais.

Ensino de geografia: entendimentos a partir do uso do cinema

O ensino de geografia tem como objetivo contribuir para uma visualização crítica acerca das espacialidades onde está inseri-do o aluno. Partindo dessa perspectiva de entendimento, tornar-se necessário incorporar as novas tecnologias educacionais no ensino de geografia, de forma a haver um diálogo que reconheça os ganhos pedagógicos que podem surgir dessa ação. Agindo neste sentido, o ensino de geografia estará provocando uma atualização de suas práticas e metodologias de ensino/aprendizagem, que por sua vez, possibilitará ao aluno, fontes diversificadas de compreender o es-paço onde vive, sendo capaz de refletir as contradições estabeleci-das no espaço geográfico.

No entanto, a simples adoção pelo professor dessas novas linguagens no ensino de geografia não garante o aprendizado dos alunos. Enxergar dessa forma é politicamente perigoso e pedagogi-camente um retrocesso na empreitada educacional. Conforme Sou-sa (2011), “torna-se necessário incomodar os alunos com a proble-matização de acontecimentos sociais” (p.3). Esse deve ser o papel do ensino de geografia, fornecer ao estudante bases necessárias de entendimento da relação sociedade e natureza, numa perspectiva de compreensão dialética e reflexiva das ações que frutificam desse modelo de sociedade em que vivemos atualmente, qual seja, a so-ciedade capitalista. Partindo das contradições sociais que materia-lizam-se no espaço geográfico, acreditamos que surge neste ínterim um campo fértil de trabalho a ser explorado no ensino de geografia, e a incorporação dessas novas linguagens vêm favorecer a constru-ção de um aprendizado de grande importância para a vida do aluno.

Dentre as diversas linguagens existentes, destacamos a con-tribuição que o cinema pode oferecer ao ensino de geografia, por

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tratar-se de um recurso pedagógico de alto valor didático e possível de ser utilizado nas aulas de geografia ao tratar dos mais variados temas geográficos. Acreditamos que a sua inserção no ensino de geografia pode fornecer valiosas contribuições para a construção de um pensamento crítico dos alunos em sala, pois, segundo Quei-roz Filho (2011),“assistir a um filme é uma experiência geográfica” (p.68). Sendo assim, partindo da visão de que os alunos já possuem uma predisposição de aceitação ao filme, julgamos ser este recurso, um instrumento potencialmente facilitador do processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos em geografia.

Nosso objetivo tenciona a utilização do filme em sala de aula, mas não por ele mesmo, pois, seria empobrecê-lo pedagogi-camente, mas sim, por entender as possibilidades que faz gerar em termos de conhecimento a partir das reflexões que podem ser re-alizadas tendo por bases as espacialidades do filme. Sobre o papel que o filme pode desempenhar em sala, Barbosa (2006) nos dá sua contribuição:

O papel do filme na sala de aula é o de provocar situações de aprendizagem para alunos e professores. A imagem cinema-tográfica precisa estar a serviço da investigação e da crítica a respeito da sociedade em que vivemos (p. 112).

Afirmando que vivemos numa sociedade de classes, e por-tanto, permeada de contradições e conflitos sociais, estes por sua vez, vão implicar em mudanças no espaço geográfico em que vive-mos, provocando novos ordenamentos espaciais que vão rebater inevitavelmente no cotidiano do estudante, e neste momento, o en-sino da geografia deve se fazer presente na tentativa de levar o seu aluno a compreender o contexto em que estas transformações vão aparecendo. E o uso do filme em sala de aula pode ajudar na media-ção entre a leitura desta realidade e o aluno, pois, segundo Queiroz Filho (2011), “ao ser captado pela câmera e transformado em ima-gem, o “real” deixa “evidências”, do tempo, do lugar, das relações

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sociais e culturais de onde ele foi capturado”(p.64). É neste sentido que o filme pode facilitar o trabalho do professor, mas, sobretudo do aluno no processo de compreensão da realidade geográfica.

Sousa (2011) afirma que “a ideia é instigar as reflexões es-paciais a partir das “espacialidades do filme” (p. 9), ou seja, ao pas-so que o professor leva o filme para sala no intuito de trabalhar determinado conteúdo, é necessário que o professor faça o papel de mediador, de provocador de situações de aprendizagem a partir das imagens do filme, este, refletindo cenograficamente as realida-des geográficas mais diversas que se fazem presentes, mas também distantes da realidade do educando.

Além do caráter didático do qual se reveste a utilização do filme no ensino de geografia, é importante ressaltar, que do ponto de vista metodológico e mesmo do ensino/aprendizagem, configu-ra-se como um avanço, ou uma ressignificação de sua prática, uma vez que possibilita uma dinamização das formas de aprender, tor-nando o aprendizado algo prazeroso e instigante.

Oficina: a industrialização em Sobral, a partir do curta-metragem a ilha nas aulas de geografia

O esforço teórico dispensado a analisar a utilização do cine-ma no ensino de geografia, pontuando as possibilidades de ganhos pedagógicos que pode oferecer a esta disciplina, transcorreu tam-bém para o campo da prática. A experiência oportunizada aconte-ceu na forma de uma oficina, aplicada a uma turma do 2º Ano “B” do ensino médio, na Escola de Educação Profissional e Médio São José, Sobral-Ce, no turno da tarde, no segundo semestre de 2013.

Tendo em vista que o processo de industrialização adentrou tardiamente às fronteiras dos países periféricos, este por sua vez, quando se materializou nesses territórios causou profundas mu-danças, tanto econômicas e culturais, refletidas nos novos padrões da sociedade, quanto espaciais, externalizada pelo aparecimento

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de uma nova paisagem, com indústrias, empresas, redes de teleco-municação, dentre outros.

Frente a isso, a ideia que defendemos tenciona, não a criação, mas a efetivação de uma proposta de ensino/aprendizagem que ve-nha possibilitar ao professor de geografia, mecanismos necessários para provocar nos seus alunos, a curiosidade em tentar entender essa paisagem, gerar perguntas que os levem a enxergar de outra maneira a essência dessa paisagem, poder gerar hipóteses que os levem a pensar que a industrialização não é um fenômeno estático, mas sim, fruto de determinações do movimento da própria socieda-de em tempos passados.

Neste sentido, a oficina idealizada teve o objetivo de traba-lhar por intermédio do uso do filme, o processo de industrialização em Sobral, haja vista que este conteúdo estava em consonância com o planejamento da disciplina. Na oficina, analisamos o potencial di-dático proporcionado pelo uso do filme no entendimento de temas geográficos, e também a importância do entendimento do processo de industrialização para a vida dos alunos.

O esforço compreendeu primeiro a realização de um plane-jamento das atividades, onde num primeiro encontro, entre a pro-fessora de geografia, os alunos da turma e o autor desses escritos, foram acordados como seriam as atividades. É importante ressaltar que os alunos mostraram interesse na proposta que lhes foi apre-sentada o que facilitou ainda mais o processo de elaboração da ativi-dade. Após realizado o primeiro contato, na tentativa de fazer um re-conhecimento dos diversos sujeitos envolvidos no processo (alunos, professor, escola), partimos para a prática, estruturando métodos e metodologias que seriam aplicados no andamento da atividade.

Após uma rápida busca no campo do audiovisual, escolhe-mos o curta-metragem “A ilha”,1 obra cinematográfica fértil nas pos-

1 Sinopse: Gênero: Animação, Aventura, Comédia, Infanto-juvenil.Diretor: Alê Camargo

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sibilidades que faz gerar em termos de conhecimento em relação ao tema industrialização. De uma linguagem acessível aos alunos, este filme tem o caráter potencializador do ensino/aprendizagem por meio das suas imagens.

A oficina foi dividida em dois momentos, onde inicialmente foi realizado a exibição do curta-metragem com os alunos na sala de vídeo da escola, orientando-os a ficarem bem atentos com rela-ção às imagens e os lugares da trama. E na segunda etapa, os alunos da sala foram divididos em quatro grupos com quatro componen-tes cada, e selecionados quatro subtemas para serem trabalhados pelos discentes. Os subtemas foram divididos entre os grupos for-mados, ficando cada grupo responsável por montar um cartaz com imagens de acordo com o tema escolhido.

Os subtemas foram: Empresas em Sobral; Meios de trans-porte em Sobral; Internet em Sobral; Meios de comunicação em Sobral.

A partir daí, os alunos munidos de jornais, livros e revistas, e com base nas imagens do curta-metragem exibido, partiram para a prática, procurando imagens que revelassem o seu entendimento em relação ao subtema solicitado. A ideia é a de provocar os alunos a partir das imagens do curta-metragem, despertando assim, a von-tade em entender o processo de industrialização em suas variadas instâncias, formas e aparências. Assistindo ao filme, o aluno têm a possibilidade de externalizar por meio da confecção do cartaz o conhecimento adquirido nas aulas anteriores de geografia, como também, o conhecimento empírico que ele já possui em torno do tema, adquirido por meio da sua vivência no dia a dia.

Após a exibição do curta-metragem, que trabalhou questões relacionadas ao processo de industrialização, tais como: redes de comunicação, empresas e indústrias, transportes, tentando enten-

Duração: 9 min Ano: 2008 País: Brasil Cor: Colorido Sinopse: Um rapaz preso numa ilha. Ação e coragem para enfrentar os desafios da cidade grande, em especial, o trânsito.

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der dialeticamente, a materialização deste fenômeno no espaço ge-ográfico, acontece a preparação dos alunos para a segunda etapa da oficina.

Nesta etapa, exercitando a arte da pesquisa, os alunos reu-nidos em grupos, começam a pesquisar as imagens que lhes foram exigidas para a confecção do cartaz. Nesta fase, o professor deve se fazer presente na atividade, mas exercendo um papel de mediador, deixando o aluno livre para externar o conhecimento que adquiriu. Acreditamos que, ao passo que o aluno tem liberdade para ir a bus-ca do conhecimento, este se realiza enquanto ser social, pois, está sendo um sujeito ativo na condução do processo de produção de sua existência.

Finalizando a confecção do cartaz, as equipes apresentam os resultados obtidos através da atividade, explicando o significado de cada imagem inserida no cartaz. Enquanto as equipes explicam as imagens, o professor deve mediar a atividade lançando provo-cações aos discentes, indagando-os sobre qual a relação que pode haver entre as imagens vistas no curta-metragem, as imagens colo-cadas no cartaz, com a realidade sócio espacial de cada um, estimu-lando o aluno a refletir sobre o seu arranjo espacial.

Quando todos apresentam os seus trabalhos, um momento oportuno e também produtivo surge como possibilidade de uma maior interdisciplinaridade em sala de aula, e o professor nova-mente, deve agir no sentido de suscitar questionamentos que ex-trapolem mesmo as fronteiras do conhecimento geográfico, dando maior chances a construção de um conhecimento amplo, fazendo com que o aluno entenda, que o todo, ou o global, nada mais é do que a junção de vários locais, como o dele.

Considerações finais

Vimos que as novas tecnologias estão aí, disponíveis e ao al-cance da escola, sobretudo do professor. Saber explorar o potencial

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didático destes recursos é peça fundamental na busca de uma edu-cação que leve o aluno a ser um sujeito ativo na produção existen-cial de si e da sociedade da qual faz parte.

Diante dos desafios que a educação, em especial o ensino de geografia ainda vêm a enfrentar neste século XXI, acreditamos que a flexibilização política e pedagógica da escola vem favorecer a en-trada cada vez mais intensa destas novas tecnologias no ambiente escolar, e consequentemente, estará mais preparada qualitativa-mente para lidar com tais desafios.

O relato acima mostra que um diálogo entre cinema e geo-grafia já se faz presente na atualidade, e que se refaz a cada nova experiência, oficina, etc. O uso do cinema no ensino de geografia, se reveste de uma profunda polissemia, entendendo-o pelas várias formas e significados que pode assumir, dependendo dos objetivos da disciplina e em maior grau, do professor.

Referencial teórico

ALBUQUERQUE, Maria Adailza M. de. Escola e Televisão. In. Nídia N. Pontuska, Ariovaldo U. de Oliveira (Org.). Geografia em Pers-pectiva: ensino e pesquisa. 3. Ed. – 1º reimpressão – São Paulo: Contexto, 2009.BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e cinema: em busca de aproxima-ções e do inesperado. In: CARLOS, Ana Fani A. (Org.). A geografia na sala de aula. 8. ed. – São Paulo: Contexto, 2006. 144p.OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Educação e Ensino de Geografia na Realidade Brasileira. In: Ariovaldo Umbelino de Oliveira. (Orgs.). Para onde vai o ensino de Geografia? . – 9 ed., 2ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2010. 144p.Para Aprender E Ensinar Geografia/ Nidia Nacib Pontuschka, To-moko Iyda Paganelli, Nuria Anglei Cacete. 1º Ed. São Paulo: Cortes, 2007. (Coleção Docência Em Formação). Serie Ensino Fundamental.

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GT 7 – IMAGEM, MEMÓRIA E FONTES DIGITAIS

1093XIII Encontro Cearense de Historiadores da Educação – ECHEIII Encontro Nacional do Núcleo de História e Memória da Educação – ENHIME

III Simpósio Nacional de Estudos Culturais e Geoeducacionais – SINECGEOISBN

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