renata junqueira mostÉrio o trabalho médico na...

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva Instituto de Saúde/SES-SP RENATA JUNQUEIRA MOSTÉRIO O trabalho médico na Estratégia de Saúde da Família: limites e possibilidades na região de Cidade Ademar do município de São Paulo. São Paulo - SP 2016

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  • SECRETARIA DE ESTADO DA SADE DE SO PAULO

    COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS

    Programa de Mestrado Profissional em Sade Coletiva

    Instituto de Sade/SES-SP

    RENATA JUNQUEIRA MOSTRIO

    O trabalho mdico na Estratgia de Sade da Famlia: limites

    e possibilidades na regio de Cidade Ademar do municpio

    de So Paulo.

    So Paulo - SP

    2016

  • RENATA JUNQUEIRA MOSTRIO

    O trabalho mdico na Estratgia de Sade da Famlia: limites

    e possibilidades na regio de Cidade Ademar do municpio

    de So Paulo.

    Dissertao apresentada ao Programa

    de Mestrado Profissional em Sade

    Coletiva da Coordenadoria de

    Recursos Humanos da Secretaria de

    Estado da Sade de So Paulo, para

    obteno do ttulo de Mestre em

    Sade Coletiva.

    So Paulo - SP

    2016

  • RENATA JUNQUEIRA MOSTRIO

    O trabalho mdico na Estratgia de Sade da Famlia: limites

    e possibilidades na regio de Cidade Ademar do municpio

    de So Paulo.

    Dissertao apresentada ao Programa

    de Mestrado Profissional em Sade

    Coletiva da Coordenadoria de

    Recursos Humanos da Secretaria de

    Estado da Sade de So Paulo, para

    obteno do ttulo de Mestre em

    Sade Coletiva.

    rea de concentrao: Gesto e

    Prticas de Sade

    Orientadora: Prof Dr Luiza Sterman

    Heimann

    So Paulo - SP

    2016

  • FICHA CATALOGRFICA

    Mosterio, Renata Junqueira O trabalho do mdico na Estratgia de Sade da Famlia: limites e possibilidades

    na regio de Cidade Ademar no municpio de So Paulo, SP/ Renata Junqueira Mostrio. So Paulo, 2016. 161p.

    Dissertao (mestrado) Programa de Mestrado Profissional em Sade Coletiva da Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Sade de So Paulo. rea de concentrao: Gesto e Prticas de Sade Orientadora: Luiza Sterman Heimann

    1.Ateno Primria Sade 2.Estratgia de Sade da Famlia 3.Trabalho Mdico em Organizao Social de Sade

  • expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da tese/dissertao

  • Agradecimentos

    minha orientadora, Luiza Sterman Heimann, que competentemente

    me conduziu pelo meu primeiro caminho na pesquisa cientfica.

    Aos meus parceiros fiis, pessoal e profissional, Daniel Vince e

    Lidiane Melo, que tantas vezes leram minhas sentenas por sobre meus

    ombros sempre contribuindo pro seu aprimoramento.

    As gestoras da OS Santa Catarina Mirela Gomes e Marcia Boacnin

    que, reconhecendo a importncia do aprimoramento profissional, tornaram a

    execuo desse trabalho possvel.

  • O bom mdico aquele que sabe que a doena representa um extraordinrio desafio (...), mas tambm sabe, como Hipcrates, que preciso enfrentar o desafio com os meios que esto ao seu alcance.

    Moacyr Scliar

  • Dicionrio de Siglas

    AB Ateno Bsica

    AE Ambulatrio de Especialidades

    AMA Assistncia Mdica Ambulatorial

    AMB Associao Mdica Brasileira

    APS Ateno Primria Sade

    BPA Boletim de Produo Ambulatorial

    CAPS Centro de Assistncia Psicossocial

    CEO Centro de Especialidades Odontolgicas

    CFM Conselho Federal de Medicina

    CROSS Central de Regulao de Ofertas de Servios de Sade

    DAB Departamento de Ateno Bsica

    ESF Estratgia de Sade da Famlia

    MFC Mdico de Famlia e Comunidade

    NASF Ncleo de Apoio Sade Famlia

    NIR Ncleo Integrado de Reabilitao

    OS Organizao Social

    PACS Programa de Agentes Comunitrios de Sade

    PAMG Programa de Auto Monitoramento Glicmico

    PMM Programa Mais Mdicos

    PNAB Poltica Nacional de Ateno Bsica

    PROESF Projeto de Expanso e Consolidao da Sade da Famlia

    SACA Superviso Santo Amaro Cidade Ademar

    SCMFC Sociedade Brasileira de Medicina de Famlia e Comunidade

    SIAB Sistema de Informao da Ateno Bsica

    SIGA Sistema Integrado de Gesto da Assistncia

    SUS Sistema nico de Sade

    UAD Unidade de Assistncia Domiciliar

    UBS Unidade Bsica de Sade

    URSI Unidade de Referncia a Sade do Idoso

  • Sumrio

    INTRODUO e JUSTIFICATIVA ........................................................... 14

    OBJETIVOS ............................................................................................. 25

    METODOLOGIA ...................................................................................... 26

    CRITRIOS DE ESCOLHA DO CASO ................................................... 27

    LOCAL DA INVESTIGAO ................................................................... 27

    CONSIDERAES TICAS ................................................................... 35

    FONTES DE DADOS ............................................................................... 35

    . Aplicao dos Instrumentos e coleta de dados em campo .................... 37

    PLANO DE ANLISE ............................................................................... 38

    RESULTADOS ......................................................................................... 39

    . Dimenso da ateno sade ............................................................... 39

    PERCEPO DO MDICO DA ESF NO EXERCCIO DE

    SUA FUNO .......................................................................................... 44

    PERCEPO DOS GERENTES DA ESF QUANTO AO EXERCCIO DA

    FUNO DO MDICO ............................................................................ 56

    DIMENSO DA GESTO DO SISTEMA ................................................. 68

    PERCEPO DOS MDICOS NA ESF SOBRE OS MECANISMOS E

    INSTRUMENTOS DE GESTO DO SEU PROCESSO

    DE TRABALHO ....................................................................................... 69

    PERCEPO DOS GERENTES DA ESF SOBRE A GESTO DO

    TRABALHO DO MDICO: PROCESSOS, MECANISMOS E

    INSTRUMENTOS .................................................................................... 77

    PERCEPO DOS GESTORES DA OS SANTA CATARINA SOBRE O

    TRABALHO DO MDICO: PROCESSOS, MECANISMOS E

    INSTRUMENTOS .................................................................................... 85

    PERCEPO DOS GESTORES DA SECRETARIA MUNICIPAL

    DE SADE/SACA E COORDENADORIA SUL SOBRE O TRABALHO

    DO MDICO: PROCESSOS, MECANISMOS E INSTRUMENTOS ........ 97

    DISCUSSO .......................................................................................... 112

    CONCLUSO ........................................................................................ 129

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................... 132

    ANEXOS ................................................................................................ 137

  • Mostrio RJ. O trabalho mdico na Estratgia de Sade da Famlia: limites e

    possibilidades na regio de Cidade Ademar do municpio de So Paulo.

    [Dissertao de Mestrado]. Programa de Mestrado Profissional em Sade

    Coletiva da CRH/SES-SP, So Paulo: Secretaria de Estado da Sade; 2016.

    Resumo

    Introduo e Justificativa: A Constituio Federal de 1988 define a sade

    como direito do cidado e dever do Estado e institui o Sistema nico de

    Sade1. Estudos reforam a importncia da Ateno Primria Sade (APS)

    como estruturante dos sistemas. No Brasil, a nova Poltica Nacional de

    Ateno Bsica (PNAB) considera este nvel de ateno como ordenador

    das redes de servios e a Estratgia de Sade da Famlia (ESF) como

    prioritria para expanso e consolidao da APS. No municpio de So

    Paulo a gesto da APS realizada em parceria com as Organizaes

    Sociais de Sade OSS. A dificuldade de provimento e fixao de mdicos

    para atuarem na ESF da OS Santa Catarina despertou interesse em realizar

    esta pesquisa. Objetivo: Analisar os limites e possibilidades da atuao do

    profissional mdico da ESF na OS Santa Catarina na regio de Cidade

    Ademar do municpio de So Paulo. Metodologia: Qualitativa atravs da

    tcnica de Estudo de Caso. A coleta de dados foi realizada com fontes

    primrias e secundrias. Como primrias foram elaborados roteiros de

    entrevistas semiestruturadas para gestores da OS Santa Catarina e

    Secretaria Municipal de Sade (SMS) e questionrio on-line para os mdicos

    e gestores locais das Unidades Bsicas estruturadas pela ESF. Como fontes

    secundrias foram analisadas base documental e reviso bibliogrfica.

    Resultados e Discusso: O perfil do mdico da ESF jovem, com pouco

    tempo de formao, sem especializao e alta rotatividade no cargo. Apesar

    deles se considerarem qualificados para realizar suas funes, gestores

    locais da OSS e da SMS no o consideram e referem no existir programa

    de qualificao sistemtico eficaz para este profissional. H insatisfao do

    mdico em relao ao seu processo de trabalho especialmente na

  • distribuio das atividades em sua agenda semanal, prejudicando o

    cumprimento da PNAB. Essa insatisfao reconhecida pelos gerentes,

    mas ambos no tm autonomia para ajust-la realidade loco-regional. As

    atividades mais realizadas pelos mdicos so consultas individuais,

    matriciamento e visitas e consultas domiciliares, que tem horrio garantido

    na agenda e/ou meta assistencial regulada pelo contrato de gesto. Os

    mecanismos/instrumentos adequados para a regulao das atividades

    realizadas pelos mdicos so escassos e as metas estabelecidas pelo

    contrato de gesto, alm de no terem na sua elaborao pactuao ou

    participao da categoria mdica e das OSS, no so consideradas

    adequadas pela gesto da OSS e SMS. A gesto do trabalho mdico

    verticalizada e fragmentada com a OS reproduzindo esse modelo da SMS. O

    gerente local fiscalizador do cumprimento do contrato de gesto e a gesto

    SMS se distancia das realidades locais padronizando as decises nos nveis

    centrais. Concluso: O mdico da ESF tem grande potencialidade de

    trabalhar os princpios do SUS, em particular a integralidade. Entretanto, o

    trabalho do mdico ainda tem excessivo foco na ateno individual, limitado

    por questes de formao e capacitao, mercadolgicas, de regulao e

    gerenciais. Potencial de Aplicabilidade: Se dar atravs da socializao

    dos resultados para a comunidade cientfica, de classes e diferentes nveis

    de gestores a fim de introduzir mudanas no processo de trabalho mdico.

    Descritores: Ateno Primria Sade, Estratgia de Sade da Famlia,

    Trabalho Mdico em Organizao Social.

  • Mostrio RJ. The Medical work process in the Family health strategy: limits

    and possibilities in a region of So Paulo city. (Dissertation for Masters

    Degree) Professional Masters Program in Collective Health of CRH/SES-SP,

    So Paulo: State Department of Health, 2016

    Abstract

    Introduction: The 1988 Federal Constitution defines health as a citizen's

    right and the States duty and it establishes the National Health System.

    Studies reinforce the importance of structuring health systems through

    Primary Health Care (PHC). In Brazil, the new National Primary Care Policy

    (NPCP) considers this level of attention as originator of health care network

    and the Family Health Strategy (FHS) as a priority for expansion and

    consolidation of PHC. In So Paulo the management of PHC is held in

    partnership with Health Social Organizations - OSS. The difficulty of

    provisioning and securing doctors to work in the FHS in OS Santa Catarina

    aroused interest in conducting this research. Objective: To analyze the limits

    and possibilities of action of the FHS medical professional in OS Santa

    Catarina in Cidade Ademar region of So Paulo. Methodology: Qualitative

    through the Case Study technique. Data collection was performed with

    primary and secondary sources. As primary sources semi-structured

    interviews were developed with managers of OS Santa Catarina and

    Municipal Health Secretariat (MHS) and on-line questionnaire with physicians

    and local managers of Basic Units structured by the FHS. As secondary

    sources evidence base and literature review were analyzed. Results and

    Discussion: The profile of FHS Doctors is young, with little graduation time,

    without specialization and high turnover in the job. Although they consider

    themselves qualified to perform their professional functions; local managers,

    OS managers and SMS managers do not consider them qualified and refer

    to a non-existence of an effective systematic training program for them.

    These doctors are dissatisfied with their work process, especially with the

    distribution of activities in their weekly schedule, jeopardizing the fulfillment of

  • NPCP. Local managers recognize this dissatisfaction, but both of them do

    not have the autonomy to adjust it to the local and regional reality. The most

    commonly activities performed by doctors are individual consultations,

    collaborative care activities and home visits and consults, activities that have

    warranted time on the weekly schedule and/or assistance target set by the

    management agreement. Appropriate mechanisms/instruments to regulation

    of the activities performed by doctors are scarce and the targets set by the

    management agreement are not considered adequate by OS and MHS

    managers and, in addition, the medical category and the OS managers have

    no involvement in its preparation. The management of medical work is

    vertical and fragmented with the OS replicating this model from SMS. Much

    of the local management is summarized in inspect the compliance the

    management agreement and SMS management is distant from local realities

    standardizing the decisions on central levels. Conclusion: the FHS doctor

    has great potential to work the National Health Systems principles,

    particularly integrality. However, the doctor's work still has excessive focus

    on individual attention and is limited by issues of education and training,

    marketing, regulation and management. Potential Applicability: Itll be

    given through the socialization of results to the scientific community, class

    societies and different levels of the health systems managers to introduce

    changes in medical work process.

    Key Words: Primary health care, Family health strategy, Medical work in

    social health organization.

  • 14

    INTRODUO E JUSTIFICATIVA:

    A Constituio Federal de 1988 define trs grandes referenciais para

    o sistema de sade do Brasil: um conceito ampliado de sade, a sade

    como direito do cidado e dever do Estado e a instituio de um Sistema

    Nacional de Sade (GUSSO e LOPES, 2012). Esse sistema baseia-se nos

    princpios da universalidade, integralidade, participao social e

    descentralizao, regionalizao e hierarquizao, resultado do movimento

    da reforma sanitria que objetivava construir um sistema universal de sade

    para o pas (GUSSO e LOPES, 2012).

    Quatro princpios nortearam a reforma: um princpio tico normativo,

    que insere a sade como parte dos direitos humanos; um princpio cientfico,

    que compreende a determinao social do processo sade-doena; um

    princpio poltico, que assume a sade como um direito universal inerente

    cidadania em uma sociedade democrtica e um princpio sanitrio, que

    compreende a proteo da sade de forma integral promoo, preveno,

    ao curativa e reabilitao (FLEURY, 2009).

    Diversas linhas de pesquisa reforam a importncia de priorizar a

    Ateno Primria Sade (APS) como estruturante dos sistemas de sade.

    STARFIELD (2005) mostra que pases com maiores escores de Ateno

    Primria apresentam efeitos sobre o sistema de sade na efetividade, na

    eficincia e na equidade.

    Podemos chamar de Ateno Primria, segundo GIOVANELLA

    (2010), a ateno ambulatorial de primeiro nvel, isto , os servios de

    primeiro contato do paciente com o sistema de sade, direcionados a cobrir

    as afeces e condies mais comuns, e resolver a maioria dos problemas

    de sade de uma populao.

    Barbara Starfield define a Ateno Primria como a prestao de

    servios de primeiro contato, a assuno de responsabilidade longitudinal

    pelo paciente (continuidade da relao mdico-paciente ao longo da vida)

    independente da ausncia ou presena de doena, a garantia de cuidado

  • 15

    integral a partir da considerao dos mbitos fsicos, psquicos e sociais da

    sade dentro dos limites de atuao do profissional de sade, e,

    coordenao das diversas aes e servios necessrios para resolver

    necessidades menos freqentes e mais complexas (STARFIELD, 2002).

    Assim, os servios de ateno primria requerem estar orientados para a

    comunidade conhecendo suas necessidades de sade, centrar-se na famlia

    para bem avaliar como responder s necessidades e ter competncia para

    reconhecer culturalmente as diferentes necessidades dos grupos

    populacionais (OS - Santa Catarina, 2014).

    Segundo GRVAS (2006), Ateno Primria forte aquela em que

    mdicos generalistas tm a valorizao social e profissional, tm formao

    adequada, so ativos na pesquisa e investigao, so remunerados

    adequadamente, tem auto-estima e trabalham em um sistema de sade com

    regulamentos pr-coordenao do cuidado, tais como o filtro ou "porta de

    entrada" (gatekeeping) que promovam a cooperao entre os profissionais

    da rede de cuidados (GERVAS e FERNANDEZ, 2006).

    No contexto brasileiro, segundo o MINISTRIO DA SADE (2012), a

    APS caracteriza-se por um conjunto de aes de sade, no mbito individual

    e coletivo, que abrange a promoo e a proteo da sade, a preveno de

    agravos, o diagnstico, o tratamento, a reabilitao, a reduo de danos e a

    manuteno da sade com o objetivo de desenvolver uma ateno integral

    que impacte na situao de sade e autonomia das pessoas e nos

    determinantes e condicionantes de sade das coletividades. desenvolvida

    por meio do exerccio de prticas de cuidado e gesto, democrticas e

    participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populaes de

    territrios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitria,

    considerando a dinamicidade existente no territrio em que vivem essas

    populaes. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem

    auxiliar no manejo das demandas e necessidades de sade de maior

    frequncia e relevncia em seu territrio, observando critrios de risco,

    vulnerabilidade, resilincia e o imperativo tico de que toda demanda,

    necessidade de sade ou sofrimento devem ser acolhidos. desenvolvida

  • 16

    com o mais alto grau de descentralizao e capilaridade, prxima da vida

    das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usurios, a principal porta

    de entrada e centro de comunicao da Rede de Ateno Sade. Orienta-

    se pelos princpios da universalidade, da acessibilidade, do vnculo, da

    continuidade do cuidado, da integralidade da ateno, da responsabilizao,

    da humanizao, da equidade e da participao social. A APS considera o

    sujeito em sua singularidade e insero sociocultural, buscando produzir a

    ateno integral. As Unidades Bsicas de Sade instaladas perto de onde

    as pessoas moram, trabalham, estudam e vivem desempenham um papel

    central na garantia populao de acesso a uma ateno sade de

    qualidade.

    A nova Poltica Nacional de Ateno Bsica (PNAB) (MINISTRIO DA

    SADE, 2012) atualizou conceitos e introduziu elementos ligados ao papel

    desejado da Ateno Bsica (AB) na ordenao das Redes de Ateno,

    centralizando na Sade da Famlia sua estratgia prioritria para expanso e

    consolidao da Ateno Primria Sade (APS).

    Segundo a PNAB, a APS no Brasil tem como fundamentos e

    diretrizes:

    Ter territrio adscrito de forma a permitir o planejamento, a

    programao descentralizada e o desenvolvimento de aes setoriais e

    intersetoriais com impacto na situao, nos condicionantes e nos

    determinantes da sade das coletividades que constituem aquele territrio,

    sempre em consonncia com o princpio da equidade;

    Possibilitar o acesso universal e contnuo a servios de sade

    de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada aberta e

    preferencial da rede de ateno, acolhendo os usurios e promovendo a

    vinculao e corresponsabilizao pela ateno s suas necessidades de

    sade. O estabelecimento de mecanismos que assegurem acessibilidade e

    acolhimento pressupe uma lgica de organizao e funcionamento cujo

    princpio de que a unidade de sade deva receber e ouvir todas as

    pessoas que procuram os seus servios, de modo universal e sem

  • 17

    diferenciaes excludentes. O servio de sade deve se organizar para

    assumir sua funo central de acolher, escutar e oferecer uma resposta

    positiva, capaz de resolver a grande maioria dos problemas de sade da

    populao e/ou de minorar danos e sofrimentos desta, ou ainda se

    responsabilizar pela resposta dada pelos demais servios do sistema,

    mesmo que sejam dadas em outros pontos de ateno da rede. A

    proximidade e a capacidade de acolhimento, vinculao, responsabilizao e

    resolutividade so fundamentais para a efetivao da ateno bsica como

    contato e porta de entrada preferencial da rede de ateno;

    Adscrever os usurios e desenvolver relaes de vnculo e

    responsabilizao entre as equipes e a populao adstrita, garantindo a

    continuidade das aes de sade e a longitudinalidade do cuidado;

    Coordenar a integralidade em seus vrios aspectos, a saber:

    integrando as aes programticas e demanda espontnea; articulando as

    aes de promoo sade, preveno de agravos, vigilncia sade,

    tratamento e reabilitao e manejo das diversas tecnologias de cuidado e de

    gesto necessrias a estes fins e ampliao da autonomia dos usurios e

    coletividades; trabalhando de forma multiprofissional, interdisciplinar e em

    equipe; realizando a gesto do cuidado integral do usurio e coordenando-o

    no conjunto da rede de ateno;

    Estimular a participao dos usurios como forma de ampliar

    sua autonomia e capacidade na construo do cuidado sua sade e das

    pessoas e coletividades do territrio, no enfrentamento dos determinantes e

    condicionantes de sade, na organizao e orientao dos servios de

    sade a partir de lgicas mais centradas no usurio e no exerccio do

    controle social.

    A Estratgia de Sade da Famlia no Brasil teve incio em 1994,

    voltada, em um primeiro momento, para estender a cobertura assistencial

    em reas de maior risco social. Desde 1999, considerada pelo Ministrio

    da Sade uma estratgia estruturante dos sistemas municipais de sade,

  • 18

    visando reorientar o modelo assistencial e a dinmica na organizao dos

    servios e aes de sade (ESCOREL et al, 2014).

    O modelo da ESF preconiza uma equipe de sade da famlia de

    carter multiprofissional, com a equipe nuclear composta por Mdico

    Generalista (ou Mdico de Famlia), Enfermeiro, Auxiliar de Enfermagem e

    Agente Comunitrio de Sade e uma equipe de apoio (Ncleo de Apoio a

    Sade da Famlia NASF) que pode conter os seguintes profissionais:

    Assistente Social, Farmacutico, Fisioterapeuta, Fonoaudilogo,

    Nutricionista, Educador Fsico, Psiclogo, Terapeuta Ocupacional,

    Profissional com formao em arte e educao. recomendado que cada

    equipe nuclear fique responsvel por entre 600 e 1 000 famlias (2400 a

    4500 habitantes) (OS - SANTA CATARINA, 2014).

    A equipe deve conhecer as famlias da sua rea de abrangncia,

    identificar os problemas de sade e as situaes de risco existentes na

    comunidade, elaborar um programa de atividades para enfrentar os

    determinantes do processo sade/doena, desenvolver aes educativas e

    intersetoriais relacionadas com os problemas de sade identificados e

    prestar assistncia integral s famlias sob sua responsabilidade no mbito

    da ateno bsica (ESCOREL et al, 2014). Dessa forma, a equipe de sade

    da ESF deve ser responsvel pelo gerenciamento dos cuidados de sade na

    sua comunidade, pelo uso racional dos equipamentos de sade disponveis

    na rede (McWHINNEY e FREEMAN, 2010), pelo planejamento de aes e

    pela organizao do servio prestado de modo a garantir um acesso de

    qualidade pautado nos princpios do SUS; a efetividade do servio prestado

    na ESF no pautada apenas nos servios clnicos oferecidos, mas tambm

    em uma administrao e planejamento eficientes. Administrao

    inadequada de um servio de atendimento leva a uma prestao de servio

    ruim, insatisfao da populao adstrita e desmoralizao das equipes de

    sade (McWHINNEY e FREEMAN, 2010).

    Todos os membros da equipe tem papel fundamental na Estratgia de

    Sade da Famlia, mas queremos destacar nesse estudo o papel do mdico.

  • 19

    Poucos trabalhos se aprofundam no papel do mdico na ESF.

    Segundo o Caderno de Ateno Bsica no1, do MINISTRIO DA SADE

    (2000) - Programa de Sade da Famlia, o papel do mdico da ESF

    partilhar as atribuies da equipe e atender as seguintes atribuies

    especficas:

    Executar as aes de assistncia integral, aliando a atuao

    clinica sade coletiva. Assistir as pessoas em todas as fases e

    especificidades da vida: criana, adolescente, mulher grvida,

    adulto, trabalhador portador de deficincia especfica e idoso;

    Realizar atendimentos de primeiros cuidados nas urgncias;

    Realizar pequenas cirurgias ambulatoriais, se as condies locais

    o permitirem;

    Realizar partos, se as condies locais o permitirem.

    As atribuies da equipe que devem ser partilhadas entre seus

    membros, entre eles o mdico, esto listadas tambm no Caderno de

    Ateno Bsica no1 - Programa de Sade da Famlia:

    Conhecer a realidade das famlias pelas quais so responsveis,

    com nfase nas suas caractersticas scio-econmicas, psico-

    culturais, demogrficas e epidemiolgicas;

    Identificar os problemas de sade mais comuns e as situaes de

    risco aos quais a populaes est exposta;

    Elaborar, com a participao da comunidade, um plano local para

    o enfrentamento dos fatores que colocam em risco a sade;

    Programar as atividades e reestruturar o processo de trabalho;

    Executar, de acordo com a qualificao de cada profissional, os

    procedimentos de vigilncia a sade nos diversos ciclos de vida.

    Atuar no controle de doenas transmissveis [...], de doenas

    infectocontagiosas, de doenas crnicas degenerativas e de

    doenas relacionadas ao trabalho e meio ambiente;

  • 20

    Valorizar a relao com o usurio e com a famlia para favorecer a

    criao de vnculo de confiana, que fundamental no processo

    de cuidar;

    Resolver a maior parte dos problemas de sade detectados e,

    quando isso no for possvel, garantir a continuidade do

    tratamento atravs da adequada referncia do caso;

    Prestar assistncia integral, respondendo de forma contnua e

    racionalizada demanda, buscando contatos com indivduos

    sadios ou doentes, visando promover sade atravs de educao

    sanitria;

    Desenvolver processos educativos atravs de grupos voltados

    recuperao da autoestima, troca de experincias, apoio mtuo e

    melhoria do auto-cuidado;

    Promover aes intersetoriais e parcerias com organizaes

    formais e informais existentes na comunidade para o

    enfrentamento conjunto dos problemas;

    Promover, atravs da educao continuada, a qualidade de vida e

    contribuir para que o meio ambiente torne-se mais saudvel;

    Discutir de forma permanente, junto equipe e comunidade, o

    conceito de cidadania, enfatizando os direitos de sade e as bases

    legais que o legitimam;

    Incentivar a formao e a participao ativa nos Conselhos Locais

    de Sade e no Conselho Municipal de Sade.

    Segundo CAPOZOLLO (2003), o mdico tem papel fundamental seja

    na avaliao da demanda do paciente, dos riscos individuais do adoecer,

    como na elaborao de um projeto teraputico para responder s

    necessidades de ateno, desde a preveno at a reabilitao. Alm disso,

    tem que incorporar no seu atendimento individual aspectos referentes ao

    emocional, ao familiar, ao social e preveno. Junto com as aes de

    assistncia, o mdico deve realizar aes educativas, coletivas e

  • 21

    comunitrias em conjunto com os demais profissionais da equipe, bem como

    participar do planejamento e organizao do processo de trabalho. A ESF

    estipula como atividades semanais dos mdicos o atendimento de consultas

    na unidade, atividades educativas de grupo, reunies de equipe e

    atendimento domiciliar, compreendido como importante para a aproximao

    dos profissionais com a realidade do local onde vivem as famlias, e ainda

    estipula instrumentos que permitem avaliar a cobertura da populao e a

    produo dos profissionais.

    Em 2003, diante da considervel expanso de cobertura pela

    Estratgia Sade da Famlia e dos novos desafios decorrentes da sua

    implantao, especialmente nos centros urbanos com populao superior a

    100 mil habitantes, instituiu-se a Coordenao de Acompanhamento e

    Avaliao da Ateno Bsica (CAA/DAB), objetivando fortalecer o papel da

    avaliao enquanto importante instrumento para a gesto do Sistema nico

    de Sade (SUS) com vistas criao de uma cultura avaliativa nas trs

    esferas de governo. No ano de 2004 realizou-se uma chamada pblica pelo

    Departamento de Ateno Bsica (DAB) para o desenvolvimento de estudos

    avaliativos - Linhas de Base - como parte de um dos componentes do

    Projeto de Expanso e Consolidao da Sade da Famlia (PROESF),

    financiado pelo Banco Mundial. O propsito da realizao dos estudos foi

    subsidiar e fortalecer a institucionalizao do monitoramento e avaliao na

    Ateno Bsica Sade, o planejamento local em sade e compreender os

    diversos "movimentos de expanso" e possveis transformaes decorrentes

    da implantao da Estratgia Sade da Famlia (ALMEIDA e GIOVANELLA,

    2008). Foram estudados 168 municpios com mais de 100.000 habitantes, o

    que corresponde a um territrio com populao de 75 milhes de habitantes.

    Seus achados mostraram que o Programa de Sade da Famlia (PSF) e o

    Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS) se expandiram com

    muita aceitao em municpios de pequeno porte, no interior do pas, mas

    nos municpios maiores sua presena era pequena, principalmente nos

    grandes conglomerados urbanos (BODSTEIN et al, 2006).

  • 22

    Segundo CARNEIRO (2011), as caractersticas dos grandes

    aglomerados urbanos oferecem dificuldades implantao da ESF

    destacando-se concentraes populacionais; dficit expressivo na oferta de

    servios de sade; fragmentao urbana nas grandes cidades com

    desigualdades intraterritoriais e discriminaes sociais; periferizao da

    violncia e pobreza, gerando como consequncia a dificuldade de fixao de

    profissionais de sade, especialmente mdicos; situao territorial e predial

    das cidades metropolitanas com extensas reas no regularizadas e imveis

    sem ttulo de propriedade, impedindo que a administrao pblica construa

    ou alugue um imvel em territrios com essas condies; concentrao da

    medicina privada nos aglomerados urbanos, provocando tenso no modelo

    de ateno sade (CARNEIRO JUNIOR et al, 2011).

    No municpio de So Paulo, a gesto da Ateno Primria no SUS ,

    em sua maioria, realizada atravs de parcerias entre o Estado e

    organizaes da sociedade: as Organizaes Sociais de Sade - OSS.

    Sendo assim, um ttulo que o Estado concede a uma entidade privada,

    sem fins lucrativos, para que ela possa receber determinados benefcios do

    Poder Pblico (como doaes oramentrias, isenes fiscais, etc...) para

    realizao de seus fins, que devem ser necessariamente de interesse da

    comunidade (GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO, 2014). As OSS

    atuam em parceria formal com o Estado e colaboram, de forma

    complementar, para a consolidao do Sistema nico de Sade, conforme

    previsto pela lei no 9.637, de 15 de maio de 1998, que dispe sobre a

    qualificao de entidades como organizaes sociais: O Poder Executivo

    poder qualificar como organizaes sociais pessoas jurdicas de direito

    privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino,

    pesquisa cientfica, ao desenvolvimento tecnolgico, proteo e

    preservao do meio ambiente, cultura e sade (GOVERNO DO

    ESTADO DE SO PAULO, 2014).

    Segundo CARNEIRO (2015), parcerias do governo local com

    entidades no lucrativas surgem como novas alternativas de gesto para

    garantir flexibilidade e agilidade diante do cumprimento das exigncias

  • 23

    colocadas pelo governo federal como condio para o financiamento da

    ESF. Para atender aos prazos e s metas de cobertura estabelecidas com a

    agilidade requerida pelas normas e portarias, especialmente nos grandes

    aglomerados urbanos, parcerias com entidades privadas tm sido

    realizadas, viabilizando principalmente a contratao de agentes

    comunitrios de sade e demais profissionais de sade; aluguel de imveis

    para transform-los em unidades de atendimento em reas urbanas

    irregulares; reformas e adequaes de imveis; aquisio gil de materiais e

    equipamentos; realizao de capacitaes; reposio de profissionais devido

    alta rotatividade; incentivo salarial para mdicos atuarem nas periferias das

    cidades; entre outros (CARNEIRO JUNIOR et al, 2011).

    No municpio de So Paulo, na regio de Cidade Ademar cabe a OSS

    Associao Congregao Santa Catarina (OS - Santa Catarina) a

    administrao de uma rede de ateno sade, inclusive a Ateno

    Primria. Esto sob sua gesto 6 Unidades Bsicas de Sade (UBS)

    tradicionais, 12 UBS Estratgia de Sade da Famlia (ESF), totalizando 99

    equipes de ateno bsica, 6 Unidades de Assistncia Mdica Ambulatorial

    (AMA), 1 AMA especialidades, 1 Ambulatrios de Especialidade (AE), 2

    Centros de Assistncia Psicossocial infantil e adulto - (CAPS), 1 unidade

    de assistncia domiciliar (UAD), 1 Centro de Especialidades Odontolgicas

    (CEO) e 1 Ncleo Integrado de Reabilitao (NIR) (OS SANTA

    CATARINA, 2014). Tambm administra 1 UBS Integral (UBS em que

    coexistem equipes de ESF, pediatras e ginecologistas/obstetras em um

    mesmo territrio), mas que no se encontra no territrio de Cidade Ademar.

    A rede gerenciada pela OS se integra com os equipamentos de sade de

    administrao direta do municpio de So Paulo, como a Unidade de

    Referncia Sade do Idoso (URSI) e com equipamentos de sade

    Estaduais referncia para a regio (apesar de estarem locados em territrio

    adjacente), como o Hospital geral de Pedreira (HGP) e o AE Jardim dos

    Prados. A distribuio desses equipamentos de sade no territrio est

    ilustrada nos anexos 1 (Equipamentos de Sade por Tipo de Servio) e 2

    (Equipamentos de Sade por tipo de gesto).

  • 24

    Assim, os Servios de Sade na regio de Cidade Ademar se

    articulam entre si e com os recursos estaduais e municipais, tendo como

    sistemas articuladores, respectivamente, a Central de Regulao de Ofertas

    de Servios de Sade (CROSS) e o Sistema Integrado de Gesto da

    Assistncia Sade (SIGA Sade); ambos os sistemas operam em rede

    online, o CROSS congregando aes voltadas para a regulao do acesso

    na rea hospitalar e ambulatorial para os servios estaduais e o SIGA

    permitindo integrao com outros sistemas e otimizando e qualificando as

    seguintes funes nos servios municipais: cadastro de usurios,

    profissionais e servios de sade; agendamentos locais, regulados e contra

    referenciados, registro de atendimentos, boletim de produo ambulatorial

    (BPA) e acompanhamento de programas municipais como a Me Paulistana

    e o Programa de Auto Monitoramento Glicmico (PAMG).

    As 12 UBS-ESF da regio de Cidade Ademar sob administrao da

    OS Santa Catarina contam com 71 equipes. Dessas apenas 52 contam com

    mdicos, sendo desses apenas 37 (52%) com carga horria completa

    (jornada semanal de 40 horas), segundo dados do Sistema de Informao

    da Ateno Bsica (SIAB17) de maro, 2014.

    A crnica falta de mdicos na Ateno Bsica um problema atual

    em pauta na sociedade brasileira e um importante entrave para o bom

    funcionamento do SUS. A partir da dificuldade de provimento e fixao de

    mdicos generalistas ou especialistas em Sade da Famlia para atuao na

    Estratgia de Sade da Famlia e a consequente dificuldade de consolidao

    da rede de Ateno Bsica proposta para o SUS pela PNAB; e,

    considerando-se sua importncia para a estruturao e bom funcionamento

    do Sistema de Sade, despertou-se o interesse de investigar na OS Santa

    Catarina e nas suas Unidades Bsicas de Sade (UBSs) limites e

    possibilidades do trabalho do profissional mdico em sua atuao na

    Estratgia de Sade da Famlia.

  • 25

    PERGUNTAS DE PESQUISA:

    As questes norteadoras da pesquisa foram:

    Quais as caractersticas do perfil profissional do mdico da ESF na

    OS Santa Catarina?

    Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo Mdico da ESF na

    OS Santa Catarina no exerccio de sua funo?

    O processo de seleo (recrutamento); contratao; plano de

    cargos, carreiras e salrios; regulao e qualificao do mdico da ESF na

    OS Santa Catarina adequado para cumprir os objetivos propostos para

    Ateno Bsica segundo a PNAB?

    As metas contratuais estabelecidas para os mdicos da ESF so

    compatveis com o exerccio de suas funes?

    OBJETIVO GERAL:

    Analisar os limites e possibilidades da atuao do profissional mdico

    da Ateno Primria na Estratgia de Sade da Famlia na OS Santa

    Catarina na regio de cidade Ademar do municpio de So Paulo.

    OBJETIVOS ESPECFICOS:

    Descrever e analisar o perfil do profissional mdico da ESF da regio

    de Cidade Ademar da OS Santa Catarina.

    Descrever e analisar a gesto do trabalho do profissional mdico na

    ESF na OS Santa Catarina na Regio de Cidade Ademar.

  • 26

    Descrever e analisar as atividades realizadas pelo profissional mdico

    na ESF na OS Santa Catarina e suas principais dificuldades.

    Identificar e analisar a adequao entre a dimenso da gesto e da

    ateno no trabalho do mdico da ESF da OS Santa Catarina.

    METODOLOGIA:

    A metodologia empregada ser qualitativa atravs da tcnica Estudo

    de Caso. Segundo YIN (2010), os estudos de caso representam a estratgia

    preferida quando o foco se encontra em fenmenos contemporneos

    inseridos em algum contexto da vida real, pois permite uma investigao

    preservando suas caractersticas significativas, como nos processos

    organizacionais e administrativos. No estudo de caso o pesquisador pode se

    utilizar de uma variedade de dados coletados em diferentes momentos

    atravs de variadas fontes de informao, entre elas: documentos, registros

    em arquivos, entrevistas, observao direta e observao participante. A

    coleta de dados, assim, utiliza vrias fontes de evidncia, e no apenas uma

    (YIN, 2010; GODOY, 1995).

    O estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa cujo

    objeto uma unidade que se analisa profundamente (GODOY, 1995). Ainda

    segundo Godoy (1995), o pesquisador deve preocupar-se em mostrar a

    multiplicidade de dimenses presentes em uma determinada situao, uma

    vez que a realidade sempre complexa. Dessa forma, para uma apreenso

    mais completa do fenmeno em estudo, preciso enfatizar as vrias

    dimenses em que ele se apresenta, assim como o contexto em que se

    situa.

    Assim, um fenmeno pode ser melhor compreendido no contexto em

    que ocorre e do qual parte, devendo ser analisado numa perspectiva

    integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando captar o

    fenmeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas,

  • 27

    considerando todos os pontos de vista relevantes. Vrios tipos de dados so

    coletados e analisados para que se entenda a dinmica do fenmeno

    (GODOY, 1995).

    CRITRIOS DE ESCOLHA DO CASO:

    O caso selecionado tem como objeto de estudo o trabalho do mdico

    na ESF no contexto das Organizaes Sociais na Regio de Cidade

    Ademar. Os principais critrios para a escolha do caso foram:

    A escassez de estudos prvios acerca desse tema.

    A viabilidade do desenvolvimento da pesquisa no tempo disponvel

    para o programa de Mestrado Profissional.

    A insero da pesquisadora na rede de Ateno Bsica da OS

    Santa Catarina como um fator motivador e facilitador do

    desenvolvimento da pesquisa, bem como a possibilidade de

    incorporao dos resultados.

    LOCAL DA INVESTIGAO:

    Cidade Ademar um distrito localizado na zona sul do municpio de

    So Paulo. Tem este nome devido a Adhemar de Barros, que a nomeou

    distrito em 1946. A regio se originou como bairro-dormitrio, com o

    crescimento populacional decorrente da exploso industrial da dcada de

    1960. Na dcada de 1970, o processo de xodo rural contribuiu para o

    aumento da populao na regio, com novos moradores sendo atrados pelo

    parcelamento dos lotes e a possibilidade de possuir sua prpria terra. O

    distrito pertence regio administrativa de Santo Amaro/Cidade Ademar e a

  • 28

    regio administrativa responde pelo territrio de Pedreira/Cidade Ademar

    (prefeitura municipal de So Paulo, 2014b). A populao

    predominantemente jovem, com maior concentrao ataria na faixa de 20 a

    39 anos e uma discreta predominncia do gnero feminino em relao ao

    masculino, como podemos observar no grfico a seguir:

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade

    Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em:

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    Os chefes de famlia tem um rendimento cerca de 53% menor do que

    a mdia do MSP como podemos observar no quadro a seguir. Devido

    indisponibilidade de documentos mais recentes por conta do nvel de

    desagregao de informaes em subdistritos, apresentam-se dados de

    2004.

    0

    20.000

    40.000

    60.000

    80.000

    100.000

    120.000

    Distribuio etria da populao em Cidade Ademar no ano de 2014

    Homens

    Mulheres

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

  • 29

    Rendimento mensal dos Chefes de Famlia MSP, Regio de

    Cidade Ademar- 2004

    % Cidade Ademar % MSP

    Sem Rendimento 15,83 10,43

    At 5 salrios mnimos 57,13 47,55

    De 5 a 20 Salrios

    Mnimos

    24,29 32,58

    Mais que 20 salrios

    mnimos

    2,75 9,44

    Rendimento mdio dos

    chefes de famlia (R$)

    709,92 1325,43

    Prefeitura Municipal de So Paulo, Sumrios de dados 2004. Cidade Ademar: regio Sul. [acesso em 28 ago 2014]. Disponvel em: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdf

    POPULAO EM SITUAO DE MORADIA EM AGLOMERADOS

    SUBNORMAIS Municpio de So Paulo (MSP), Regio de Cidade

    Ademar 2010

    Tipo Cidade Ademar Municpios de SP

    Nmero de aglomerados 17.022 355.756

    Populao 60.613 1.280.585

    % vivendo em

    aglomerados

    22.7 13.2

    Prefeitura Municipal de So Paulo. Informaes Socioambientais e Geoprocessamento. [homepage na internet]. [acesso

    em 12 dez 2014] Disponvel em:

    http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/informacoes_socioambientais/index.

    php?p=8452

    A regio tem uma porcentagem de habitantes residindo em reas de

    aglomerados subnormais maior do que a mdia do Municpio de So Paulo

    (MSP), como observamos no quadro anterior.

    http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdfhttp://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/informacoes_socioambientais/index.php?p=8452http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/informacoes_socioambientais/index.php?p=8452

  • 30

    Quanto ao saneamento bsico, observamos carncias sociais tanto

    no abastecimento de gua quanto no destino do esgoto. Apesar de mais de

    90% da regio ter acesso saneamento de gua e esgoto provido pelo

    governo estadual (SABESP), mais de 1/3 da gua utilizada nos domiclios

    no tratada e cerca de 15% do destino do esgoto cu aberto, como pode

    ser observado nos grficos a seguir:

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    55,97

    0,6

    5,9

    37,54

    Saneamento em Cidade Ademar no ano de 2014

    Tratamento de gua no Domicilio

    Filtrada

    Fervida

    Clorao

    Sem Tratamento

    76,42

    8,48 15,09

    Saneamento em Cidade Ademar no ano de 2014

    Destino do Esgoto

    Esgoto Sistema

    Esgoto Fossa

    Esgoto Cu Aberto

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.phphttp://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

  • 31

    Os equipamentos de cultura e esporte so escassos, destacando-se a

    ausncia de clubes, equipamentos especiais de esportes (estdios, centro

    olmpico), bibliotecas, centros culturais, casas histricas e teatros, como

    observamos nos quadros a seguir. Devido indisponibilidade de

    documentos mais recentes por conta do nvel de desagregao de

    informaes em subdistritos, apresentam-se dados de 2004.

    Equipamentos de esportes MSP, Regio de Cidade Ademar - 2004

    Tipo Cidade Ademar Municpio de SP

    Clubes da Cidade 0 41

    Clubes Desportivos Municipais

    (CDMs)

    4 197

    Equipamentos Especiais

    (Estdios, Autdromos, Centro

    Olmpico)

    0 6

    Total 4 244 Prefeitura de So Paulo, Sumrios de dados 2004, disponvel no site: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdf

    Equipamento de cultura MSP, Regio de Cidade Ademar 2004

    Tipo Cidade Ademar Municpio de SP

    Biblioteca 0 64

    Centros culturais 0 16

    Casas Histricas 0 12

    Teatros 0 8

    Total 0 100 Prefeitura de So Paulo, Sumrios de dados 2004, disponvel no site: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdf

    A escolaridade acompanha a do municpio de So Paulo: na faixa

    etria de 7 14 anos 98,91% das crianas esto matriculadas na escola e a

    http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdfhttp://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZS_CIDADE_ADEMAR_Caderno11.pdf

  • 32

    populao maior de 15 anos conta com mais de 90% de alfabetizados,

    segundo dados auto-referidos do SIAB, que observamos no grfico a seguir:

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    Os equipamentos de sade de maior complexidade so escassos e

    insuficientes para as demandas da populao, destacando-se a ausncia de

    hospitais e leitos de internao no territrio.

    Equipamento de Sade do CNES, Municpio de So Paulo, Regio de

    Cidade Ademar 2016

    Hospitais

    Cidade Ademar

    Leitos SUS

    Cidade Ademar

    Leitos Total MSP

    Leitos

    SUS

    0 0 22.586

    Leitos

    Privados

    0 0 19.191

    Prefeitura Municipal de So Paulo. Equipamentos de Sade do CNES - Municpio de So Paulo. [homepage na internet]. [acesso em 12 jan 2016]. Disponvel em: http://tabnet.saude.prefeitura.sp.gov.br/cgi/tabcgi.exe?secretarias/saude/TABNET/cnes/equip.def

    Por fim, a populao apresenta condies crnicas de sade, como

    Hipertenso Arterial Sistmica (HAS) e Diabetes Mellitus (DIA) na mesma

    27.628

    303

    159.013

    5.527

    0

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    Na Escola Fora da Escola Alfabetizadas No Alfabetizadas

    ESCOLARIDADE Crianas ESCOLARIDADE Adultos

    Escolaridade na populao de 7 - 14 anos e > 15 anos em Cidade Ademar no ano de 2014

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.phphttp://tabnet.saude.prefeitura.sp.gov.br/cgi/tabcgi.exe?secretarias/saude/TABNET/cnes/equip.def

  • 33

    proporo do MSP, uma populao de gestantes adolescentes superior

    mdia do MSP, (principalmente menores de 20 anos de idade) e doenas

    infecto contagiosas, como Tuberculose e Hansenase, tambm acima da

    mdia do MSP (embora ainda abaixo da meta prevista pelo Ministrio da

    Sade de incidncia e prevalncia). Segue um grfico que apresenta as

    principais doenas e condies referidas para essa populao:

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    Est sob a gesto da OS Santa Catarina na regio de Cidade Ademar

    uma rea com populao de 215.000 pessoas, equivalente a mais de 80%

    da populao do distrito de Cidade Ademar, com 250.000 pessoas. As UBSs

    ESF se distribuem no territrio conforme mostrado no grfico abaixo. A

    populao coberta pelas UBSs varia de 12.175 a 24.056 habitantes,

    proporcional ao nmero de equipes em cada UBS, como podemos ver no

    grfico a seguir, sendo que os nmeros apresentados entre parnteses nas

    legendas correspondem ao nmero de equipes de ESF presentes em cada

    UBS.

    1740 181 1528

    8825

    437

    26512

    9 74 1958

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    Nmero de casos de Doenas e Condies Referidas em Cidade Ademar

    2014

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

  • 34

    Ministrio da Sade. SIAB - Sistema de Informao da Ateno Bsica. Condensado de Informaes. Cidade Ademar / Capela do Socorro. Verso V512, maro 2014. [acesso em 28 ago 2014] Disponvel em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

    O mapa com a localizao das UBS ESF na regio estudada se

    encontra no Anexo 3 UBS por Modelo de Ateno.

    Seguem as unidades relacionadas que participaram do estudo por

    serem as unidades da OS Santa Catarina na Regio de Cidade Ademar

    orientadas apenas pela ESF:

    o UBS/PSF Cidade Jlia

    o UBS/PSF Jardim Apur

    o UBS/PSF Jardim Laranjeiras

    o UBS/PSF Jardim Niteri

    o UBS/PSF Mar Paulista

    o UBS/PSF Mata Virgem

    o UBS/PSF So Carlos

    12.715

    19.399

    18.202

    13.892

    17.016

    20289 24.056

    18.465

    17.442

    18.047

    18.031 17.653

    Distribuio da Populao por UBS em Cidade Ademar no ano de 2014

    Jd Apur (4)

    Mata Virgem(6)

    Vila Aparecida (6)

    Mar Paulista (5)

    Vl Guacuri (6)

    Jd Niteri (7)

    Vila Imprio (8)

    Cid. Julia (6)

    Laranjeiras (5)

    So Carlos (6)

    So Jorge (6)

    Selma (6)

    http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php

  • 35

    o UBS/PSF Vila Guacuri

    o UBS/PSF Vila Aparecida

    o UBS/PSF Vila Imprio II

    o UBS/PSF Jardim So Jorge

    o UBS/PSF Jardim Selma

    CONSIDERAES TICAS:

    O estudo foi realizado mediante consentimento livre e esclarecido dos

    indivduos a serem entrevistados.

    Durante todo o perodo da pesquisa foi assegurado o direito de tirar

    qualquer dvida ou pedir qualquer outro esclarecimento atravs de contato

    com o pesquisador ou com o Conselho de tica em Pesquisa. Foi

    assegurado tambm o direito do indivduo no aceitar participar da pesquisa

    ou de retirar sua permisso, a qualquer momento, sem nenhum tipo de

    prejuzo ou retaliao por essa deciso. As informaes da pesquisa sero

    confidencias e divulgadas apenas em eventos ou publicaes cientficas,

    no havendo identificao dos voluntrios, a no ser entre os responsveis

    pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre sua participao e sobre os

    dados fornecidos nos questionrios ou entrevistas.

    FONTES DE DADOS

    ELABORAO DOS INSTRUMENTOS E SELEO DOS PARTICIPANTES

    NA PESQUISA

  • 36

    Como fonte primria da coleta de dados de pesquisa, foram

    elaborados diferentes instrumentos.

    Para a coleta de dados primrios com os mdicos da ESF e com os

    gestores locais (gerentes) da OS - Santa Catarina foram elaborados

    questionrios em formulrio digital (anexos: Questionrio Mdicos ESF e

    Questionrio Gerentes ESF). Foram pesquisados formulrios digitais para

    auto aplicao on-line e, por conta de suas caractersticas de fcil

    elaborao, manejo, envio e armazenamento de dados, optou-se pela

    utilizao do google forms. Uma vez completados e confirmados o

    preenchimento dos formulrios via e-mail, o sistema de captao de

    respostas organiza as informaes em banco de dados virtual. Durante a

    elaborao dos questionrios os mesmos foram submetidos a testes, com

    profissionais das categorias objeto de estudos da pesquisa, porm no

    pertencentes ao local de investigao, at sua verso final.

    Para coleta de dados primrios com gestores da OS Santa Catarina

    e com gestores da SMS foram elaborados roteiros de entrevista (anexos:

    roteiro de entrevista gesto OS e roteiro de entrevista gesto SMS).

    Aplicados em data e local oportunos com os profissionais da gesto da OS

    Santa Catarina e da gesto da SMS (Superviso Santo Amaro Cidade

    Ademar SACA e Coordenadoria Sul de Sade de So Paulo) foram

    selecionados para participao na pesquisa os profissionais que executavam

    funes relacionadas ao trabalho do mdico na ESF, quais sejam, seleo,

    contratao, regulao e qualificao do trabalho mdico.

    Para todos os sujeitos da pesquisa na coleta de dados primrios foi

    apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foi

    devidamente esclarecido, preenchido e assinado.

    Foram selecionadas e analisadas fontes secundrias de dados, a fim

    de aprofundar a anlise do trabalho do mdico, listadas a seguir: contrato de

    Gesto entre a OS Santa Catarina e o municpio de So Paulo, diretrizes

    de estruturao de agendas da Superviso Sul de Sade, Poltica Nacional

    de Ateno Bsica, textos da Poltica de Sade do Municpio, cadernos de

    Ateno Bsica e reviso bibliogrfica da literatura.

  • 37

    APLICAO DOS INSTRUMENTOS E COLETA DE DADOS EM CAMPO

    Para a aplicao do questionrio dos mdicos da OS - Santa Catarina

    foi solicitado aos gestores da OS o contato de e-mail de todos os mdicos

    contratados para as equipes de ESF. De um total de 75 equipes de ESF, 63

    (84% das equipes) contavam com mdicos contratados efetivos na ocasio

    da coleta de dados (julho/agosto de 2015). Do total de 63 mdicos

    contratados, foram recebidos os e-mails de 60 mdicos (95,24%). Do total

    de 60 mdicos que disponibilizaram seus e-mails para a pesquisadora, todos

    os 60 (100%) foram contatados e convidados a participar da pesquisa

    atravs do preenchimento do questionrio on-line, dos quais 24 (40%) foram

    respondidos.

    Para a aplicao do questionrio dos gerentes foi repetido o mesmo

    procedimento realizado com os mdicos. De um total de 13 unidades, todas

    as unidades contavam com gerentes contratados e todos os 13 gerentes

    (100%) disponibilizaram seus e-mails e foram contatados via

    correspondncia eletrnica e convidados a participar da pesquisa atravs do

    preenchimento do questionrio on-line.

    Tanto para os mdicos quanto para os gerentes o e-mail de convite

    participao na pesquisa contava com uma carta de apresentao do projeto

    de pesquisa com o TCLE, a autorizao do CEP, dos gestores locais e da

    SMS para a execuo da pesquisa, bem como o questionrio auto aplicvel

    anexo para preenchimento em tempo oportuno.

    Para a execuo das entrevistas com a gesto da OS Santa

    Catarina foi contatado o departamento de Recursos Humanos (RH), que

    identificou os colaboradores que exerciam funo relacionada com o

    processo de trabalho do mdico na ESF: seleo, contratao, regulao e

    qualificao. Foram identificados cinco colaboradores com perfil e exerccio

    de funo adequados para participao na pesquisa. O contato foi feito

    atravs de carta de apresentao do projeto de pesquisa com o TCLE, com

    a autorizao do CEP, dos gestores locais e da SMS para a sua execuo.

    Todos os cinco colaboradores (100%) concordaram em participar da

  • 38

    pesquisa e foram entrevistados. Com a autorizao dos colaboradores, as

    entrevistas foram gravadas em dispositivo de voz e posteriormente

    transcritas em texto.

    Para a execuo das entrevistas na SMS (SACA e Coordenadoria

    Sul) foram contatados os departamentos de desenvolvimento de pesquisas

    dessas unidades. Junto a esses departamentos foram identificadas as reas

    tcnicas e os servidores cujas funes se relacionavam com o processo de

    trabalho do mdico na ESF: seleo, contratao, regulao ou qualificao

    do trabalho desse mdico. Na SACA foram identificados nove servidores

    com perfil e exerccio adequados e na Coordenadoria Sul foram identificados

    mais sete. Os departamentos de desenvolvimento de pesquisas dessas

    unidades forneceram os e-mails desses servidores se repetiu processo de

    contato com esses profissionais. Dos nove servidores elegveis para

    participao na pesquisa na SACA, sete (77,8%) foram entrevistados e na

    Coordenadoria Sul dos sete elegveis, cinco (71,5%) foram entrevistados.

    Com a autorizao dos servidores, as entrevistas foram gravadas em

    dispositivo de voz e posteriormente transcritas em texto.

    PLANO DE ANLISE

    Tendo-se como referncia a Poltica Nacional da Ateno Bsica e

    objeto da pesquisa, o trabalho mdico na Estratgia da Sade da Famlia, as

    dimenses selecionadas para anlise foram a Ateno Sade e a Gesto

    do Sistema.

    Na dimenso da ateno sade identificamos, atravs das fontes

    secundrias, as atividades que o profissional executa e na dimenso da

    gesto identificamos, os mecanismos e instrumento utilizados para o

    recrutamento, controle, avaliao e qualificao do profissional mdico das

    ESF.

    Utilizamos como categoria de anlise do material emprico o Processo

    de Trabalho que nos permitiu explicar o que est sendo produzido, os

  • 39

    limites/dificuldades para a produo da sade e apontar sugestes de

    mudanas.

    RESULTADOS

    I DIMENSO DA ATENO SADE

    Uma vez que o processo de trabalho do mdico na ESF, segundo a

    PNAB, realizado atravs de aes da ateno curativa, preventiva, de

    promoo e recuperao da sade (consulta mdica, visitas e consultas

    domiciliares, aes de vigilncia sade, educativas, intersetoriais e de

    participao social), assim como da gesto do trabalho em nvel local

    atravs do planejamento da prtica clnica, de aes de coordenao do

    cuidado do indivduo na rede de ateno sade, matriciamento e aes

    multiprofissionais, estas foram consideradas variveis do estudo.

    Os indicadores selecionados que nos permitissem identificar os limites

    e possibilidades da operacionalizao da PNAB nas Unidades Bsica de

    Sade com a ESF foram: a pertinncia da realizao destas aes, tempo

    disponvel, qualificao e satisfao na realizao das aes.

    Os resultados obtidos sero apresentados segundo os atores

    selecionados: mdicos e gerentes locais.

    I PERFIL DOS MDICOS DA ESF E DOS GERENTES LOCAIS:

    1 - Mdicos

    Buscou-se caracterizar o perfil dos mdicos atravs de dados

    pessoais segundo sua faixa etria, gnero, cor e dados profissionais pela

    sua formao e qualificao.

  • 40

    1.1.1. Dados Pessoais

    O perfil etrio dos mdicos jovem, sendo que 29,2% tem idade entre

    25 e 30 anos e a maior parte dos mdicos com idade entre 30 e 40 anos

    (37,5%). Apenas 1 mdico tem idade inferior a 25 anos e 29,2 % tem idade

    superior a 40 anos. Assim, chama a ateno que cerca de 70% dos mdicos

    tem idade inferior a 40 anos.

    Quanto ao gnero, 54% so do gnero feminino e 46% do gnero

    masculino. Quanto etnia, 75% se consideram da cor branca, 17% preto ou

    pardo e 8% amarelo. Quanto nacionalidade, 87,5% so brasileiros, 8,3%

    cubanos e 4,2% de outras nacionalidades:

    1.1.2. Dados Profissionais:

    Buscou-se traar o perfil profissional atravs da graduao, ps-

    graduao e especializao dos mdicos, bem como sua participao em

    congressos, atividades cientficas e em organizaes relacionadas com a

    prtica mdica e participao social em sade.

    Quanto instituio de formao profissional, 62,5% dos mdicos se

    formaram em instituio privada, 12,5% em instituio Nacional Federal,

    16,7% em instituio Nacional Estadual e 8,3% em instituio Internacional.

    Dos mdicos que se formaram em instituies privadas 4 % tiveram

    apoio do Programa Universidade para Todos (PROUNI), 4% tiveram apoio

    financeiro de outros programas e os demais custearam seus prprios

    estudos (90%).

  • 41

    Quanto unidade da federao em que fizeram sua graduao,

    66,7% se formou no Estado de So Paulo. Outros 8,3% se formaram nos

    estados vizinhos: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paran, e apenas 4,2% se

    formaram em estados do Nordeste.

    Quanto continuidade de sua formao aps a graduao 54,2%

    informaram ter realizado alguma atividade e 45,8% no realizaram.

    Dos que fizeram atividades complementares de sua formao para

    atuarem como profissionais, 81 % obtiveram ttulo de especializao, 31%

    de residncia mdica e 12,5% de mestre.

    Quanto rea de especializao, 68,8% so especializados em

    Sade da Famlia e 31,2% so especializados em outras reas: doenas

  • 42

    paliativas, homeopatia, acupuntura, endocrinologia e doenas infecciosas e

    parasitrias.

    Quanto participao do mdico em congressos cientficos 50%

    participou de 1 ou mais nos ltimos dois anos, 25% participou de congressos

    h mais de dois anos e 25% no participou de nenhum. Dos mdicos que

    participaram em congressos, 55,6% foram em congressos de Sade da

    Famlia, 16,7% em reas relacionadas APS e 27,8% em congressos de

    outras reas.

    Quanto participao dos mdicos em sociedades de classes 66,7%

    participam de sociedades e 33,3% no participam. Dos mdicos que

    participam, todos (100%) participam da Sociedade Brasileira de Medicina de

    Famlia e Comunidade (SBMFC).

  • 43

    Quanto participao em Organizaes da Sociedade Civil 78,9%

    relata no participar de nenhuma organizao, 15,8% participam de

    organizaes relacionadas Sade e 5% participam de outras

    organizaes.

    2. Perfil Pessoal e Profissional dos Gerentes

    Quanto idade, 72,7% dos gerentes informam ter idade entre 30 e 40

    anos e 27,3% entre 40 e 60 anos. No gnero, 72,7% so mulheres e 27,3%

    so homens. Quanto cor, 72,7% se consideram da cor branca, 18,2%

    preto ou pardo e 9,1% amarelo.

    Segundo a formao acadmica, 36,4% so enfermeiros, 27,3% so

    administradores, 18,2% so odontlogos, 9,1% so pedagogos e 9,1% so

    filsofos.

  • 44

    I.2 - PERCEPO DO MDICO DA ESF NO EXERCCIO DE

    SUA FUNO

    Para facilitar a compreenso da dimenso da ateno no trabalho

    mdico, de acordo com as atividades previstas na PNAB, num primeiro

    momento sero apresentados os resultados dos indicadores pertinncia

    funo e tempo disponvel na agenda, e posteriormente a qualificao e

    satisfao em realiza-las.

    I.2.1 - PERTINNCIA E TEMPO NA AGENDA PARA REALIZAO DAS

    AES PREVISTAS NA PNAB

    1. Consulta Mdica: O tempo de 15 minutos estabelecido para

    realizao de uma consulta, 87,5% dos mdicos o consideram inadequado

    por ser insuficiente e 12,5% o consideram adequado. J o tempo

    disponibilizado na agenda semanal para a realizao de consultas 42% dos

    mdicos o consideram adequado, 33% o consideram insuficiente e 25% o

    consideram excessivo.

  • 45

    2. Planejamento da prtica clnica: Segundo a PNAB, pode-se

    entender por Planejamento da Prtica Clnica a identificao dos problemas

    de sade mais comuns e situaes de risco s quais a populao est

    exposta, a elaborao de um plano local, programao de atividades e do

    processo de trabalho para o enfrentamento dos fatores que colocam em

    risco a sade. Quanto ao planejamento da prtica clnica 79,2% dos mdicos

    realizam essa atividade e consideram-na pertinente no escopo de funes

    de mdico da ESF, 8,3% realizam mas no a consideram pertinente e 12,5%

    no realizam, mas consideram-na pertinente. A razo da no realizao da

    atividade falta de tempo na agenda semanal (66,7%) e sobrecarga com

    outras funes (33,3%). Na agenda semanal o tempo para realizao desta

    funo, para 71,5% dos mdicos o considera inadequado por ser insuficiente

    e 28,5% consideram-no adequado. Vale ressaltar que apesar da maior parte

    dos mdicos referir executar e considerar pertinente o planejamento da

    prtica clnica, no existem documentos da OS ou SMS que padronizem a

    atividade nem instrumentos ou mecanismos que avaliem a sua realizao.

    3. Aes educativas: Segundo a PNAB, entende-se por aes

    educativas quaisquer aes individuais ou coletivas que so realizadas com

    o objetivo de educao em sade, como o desenvolvimento de processos

    educativos atravs de grupos voltados recuperao da autoestima, troca

    de experincias, apoio mtuo e melhoria do autocuidado. As UBS/ESF

    estudadas contam como atividade de rotina a realizao de grupos

  • 46

    educativos de diversos temas apoiados pelo Ncleo de Apoio Sade da

    Famlia (NASF). A participao dos mdicos nestas aes foi referida por

    58% que consideram pertinente funo, 37,5% no participam mas

    consideram pertinente funo e 4,5% participam mas no consideram

    pertinente funo. A razo da no realizao dessa atividade falta de

    tempo na agenda semanal para essa funo (100%). Quanto ao tempo

    dedicado na agenda semanal 80% dos mdicos o consideram inadequado

    por ser insuficiente e 20% consideram-no adequado.

    4. Aes de Vigilncia Sade: Na PNAB as atividades de

    vigilncia sade incluem aes no controle de doenas transmissveis na

    populao, de doenas infectocontagiosas, de doenas crnicas

    degenerativas e de doenas relacionadas sade e ao meio ambiente nos

    diferentes ciclos da vida bem como aes que incidem sobre seus

    determinantes sociais. A realizao de aes de vigilncia sade referida

    por 87,5% dos mdicos considerando pertinente para a funo e 12,5% no

    realizam mas consideram pertinente para a funo. A razo da no

    realizao dessa atividade falta de tempo na agenda semanal (100%).

    Quanto ao tempo dedicado na agenda semanal 71,4% dos mdicos o

    considera inadequado por ser insuficiente e 28,6% consideram-no

    adequado. Ressalta-se, novamente, que apesar da maior parte dos mdicos

    referem executar aes de vigilncia sade e 100% considerar a atividade

    pertinente funo do mdico da ESF, no existem instrumentos ou

    mecanismos que avaliem a sua realizao.

  • 47

    5. Aes de coordenao do cuidado do indivduo na rede de

    ateno sade: A Coordenao do Cuidado, na PNAB, define essa ao

    como a resoluo da maior parte dos problemas de sade detectados

    atravs da APS e, quando isso no for possvel, a garantia da continuidade

    do tratamento atravs da adequada referncia do caso, bem como e a

    manuteno do contato e seguimento de forma integrada com os outros

    nveis de ateno. Quanto realizao de aes de coordenao do

    cuidado 79,2% dos mdicos realizam e consideram pertinente para a funo

    e 20,8% no realizam, mas consideram pertinente para a funo. A razo da

    no realizao dessa atividade falta de tempo na agenda semanal (75%) e

    outros (25%). Quanto ao tempo dedicado na agenda semanal para essa

    funo 68,4% dos mdicos o considera inadequado por ser insuficiente e

    31,6% consideram-no adequado. Chama a ateno que no existem

    instrumentos sistemticos para o contato continuado do mdico da ESF com

    os profissionais dos outros nveis de ateno e a execuo dessa atividade,

    referida pela maioria, se resume ao cuidado de manter o paciente em

    seguimento longitudinal na APS e, na maior parte dos casos, com relatos do

    prprio paciente a respeito das aes executadas em outros nveis de

    ateno.

  • 48

    6. Aes de matriciamento em sade: Entende se por

    matriciamento o suporte realizado por profissionais de diversas reas dado a

    uma equipe interdisciplinar, com o intuito de ampliar o campo de atuao e

    qualificar suas aes. Todas UBS/ESF estudadas, para o matriciamento

    contam com Psiquiatras e Psiclogos para a Sade Mental e o Ncleo de

    Apoio Sade da Famlia (NASF) com Nutricionista, Terapeuta

    Ocupacional, Fisioterapeuta, Educador Fsico, Assistente Social e

    Fonoaudilogo. Ambas as equipes matriciais contam com horrios de

    reunio peridicos garantidos na agenda do mdico e do enfermeiro da

    equipe da ESF para gerenciamento colaborativo da ateno sade de

    casos individuais e coletivos. Quanto realizao de aes de

    matriciamento, em sade, 100% dos mdicos realizam e consideram

    pertinente para a funo. Quanto ao tempo dedicado na agenda semanal

    para essa funo 45,8% dos mdicos o considera inadequado por ser

    insuficiente e 54,2% consideram-no adequado.

  • 49

    7. Visitas e consultas domiciliares: Segundo a PNAB, na visita

    domiciliar o mdico deve conhecer a realidade das famlias pelas quais so

    responsveis, com nfase nas suas caractersticas socioeconmicas,

    psicoculturais, demogrficas e epidemiolgicas, bem como realizar consultas

    clnicas. Quanto realizao de visitas e consultas domiciliares 95,8% dos

    mdicos realizam e consideram pertinente para a funo 4,2% realizam, mas

    no consideram pertinente para a funo. Quanto ao tempo dedicado na

    agenda semanal 54,2% dos mdicos o considera inadequado por ser

    insuficiente e 45,8% consideram-no adequado. Ressalta-se que todos os

    mdicos realizam visitas e consultas domiciliares, mas os

    instrumentos/mecanismos existentes para avaliar a realizao dessa

    atividade resumem-se em contabilizar o nmero de vezes que o mdico se

    deslocou at um domiclio sem avaliar o contedo das atividades realizadas.

    8. Aes Multiprofissionais (consultas e grupos compartilhados,

    planejamento em equipe, reunies peridicas multiprofissionais):

    Quanto realizao de aes multiprofissionais 79,2% dos mdicos

    realizam e consideram pertinente para a funo e 20,8% no realizam, mas

    consideram pertinente para a funo. A razo da no realizao dessa

    atividade falta de tempo na agenda semanal (75%) e outros (25%). O

    tempo dedicado na agenda semanal para essa funo 52,6% dos mdicos o

    considera inadequado por ser insuficiente e 47,4% consideram-no

    adequado.

  • 50

    9. Aes intersetoriais (em escolas, ONGs, instituies

    religiosas, associaes de bairro): Na PNAB aes intersetoriais so

    aquelas desenvolvidas em parceria com organizaes formais e informais

    existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto de problemas. As

    aes intersetoriais so realizadas por 12,5% dos mdicos e consideram

    pertinente para a funo 83,3% no realizam, mas consideram pertinente

    para a funo e 4,2% no realizam e no considera pertinente para funo.

    A razo da no realizao dessa atividade falta de tempo na agenda

    semanal (100%). O tempo dedicado na agenda semanal para essa funo,

    para 80% dos mdicos considerado inadequado por ser insuficiente e 20%

    consideram-no adequado. Chama a ateno a pequena proporo dos

    mdicos que realizam essa atividade.

    10. Aes de participao social: Segundo a PNAB, o mdico da

    ESF deve incentivar a formao e participao ativa nos Conselhos Locais

    de Sade e no Conselho Municipal de Sade, bem como discutir de forma

  • 51

    permanente junto equipe e a comunidade o conceito de cidadania,

    enfatizando os direitos de sade e as bases legais que o legitimam. Quanto

    realizao de aes de participao social, 4,2% dos mdicos realizam e

    consideram pertinente para a funo, 87,5% no realizam mas consideram

    pertinente para a funo e 8,3% no realizam e no considera pertinente

    para funo. A razo da no realizao dessa atividade falta de tempo na

    agenda semanal (95,5%) e outros (4,5%). Quanto ao tempo dedicado na

    agenda semanal para essa funo 100% dos mdicos o considera

    inadequado por ser insuficiente. Assim como aes intersetoriais, ressalta-se

    a pequena proporo dos mdicos que realizam essa atividade.

    Apresentamos abaixo, o Quadro Sntese:

  • 52

    Quadro 1 Realizao das Aes de Sade previstas na PNAB para o

    mdico da ESF segundo Pertinncia e Tempo na Agenda, em Percentuais

    Pertinente Tempo na Agenda

    Atividades Sim

    *Reali** R

    No Adequado Insuficiente Excessivo

    Consulta Mdica 100 0 42 33 25

    Planejamento da Prtica Clnica

    91,7

    79,2 12,5

    8,3 28,5 71,5 0

    Aes Educativas 95,5

    58 37,5

    4,5 20 80 0

    Vigilncia Sade 100

    87,5 12,5

    0 28,6 71,4 0

    Coordenao do Cuidado do Indivduo na Rede

    100

    79,2 20,8

    0 31,6 68,4 0

    Aes de Matriciamento

    100 0 54,2 45,8 0

    Visitas e consultas Domiciliares

    100

    95,8 4,2

    0 45,8 54,2 0

    Aes Multiprofissionais

    100

    79,2 20,8

    0 47,4 52,6 0

    Aes Intersetoriais

    95,8

    12,5 83,3

    4,2 20 80 0

    Participao Social

    91,7

    4,2 87,5

    8,3 0 100 0

    *Realiza ** No Realiza

    O quadro evidencia que das aes previstas na PNAB todas so

    percebidas como pertinentes com alta frequncia (entre 91,7% a 100%).

    Embora pertinentes as que so realizadas com maior frequncia so:

    consulta mdica e matriciamento (100%) seguidas de visitas e consultas

    domiciliares (95,8%), vigilncia sade (87,5%) e planejamento da prtica

    clnica, coordenao do cuidado do indivduo na Rede e aes

    multiprofissional (79,2%). As aes educativas so realizadas com

  • 53

    frequncia mdia (58 %) e as menos frequentes so as aes intersetoriais

    (12,5%) e as de participao social (4,2%).

    I.2.2 - PERCEPO DOS MDICOS SEGUNDO A QUALIFICAO E SUA

    SATISFAO PROFISSIONAL

    O estudo dos indicadores qualificao e satisfao do mdico da ESF

    no exerccio de sua funo considerou as mesmas variveis, j

    apresentadas anteriormente, quais sejam: consulta mdica, planejamento da

    prtica clnica, aes educativas, de vigilncia sade, de coordenao de

    cuidado, de matriciamento, de visitas e consulta domiciliares,

    multiprofissionais, intersetoriais e de participao social.

    Quanto qualificao profissional para execuo da atividade

    consulta mdica 87,5% dos mdicos se consideram qualificados ou muito

    qualificados e 12,5% se consideram pouco qualificados. Todos os mdicos

    que se consideram pouco qualificados no tem especializao e no

    pretendem exercer atividade profissional na APS a longo prazo. Quanto

    satisfao profissional no exerccio dessa funo 79,2% se consideram

    satisfeitos ao exerc-la e 20,8% insatisfeitos. Os motivos de insatisfao

    foram: tempo insuficiente de consulta individual (citado por 100% dos

    mdicos), tempo dedicado consulta na agenda semanal (citado por 100%

    dos mdicos), dificuldade de acesso a outros nveis de ateno (citado por

    100% dos mdicos), dificuldade de gerenciamento de casos complexos

    (citado por 80% dos mdicos), quantidade de encaixes de consultas que

    sobrecarregam a agenda (citado por 80% dos mdicos) e outros (no

    especificados) citados por 20% dos mdicos.

    Para o planejamento da prtica clnica 85,5% dos mdicos que

    realizam essa atividade se consideram muito qualificados ou qualificados

    para sua execuo e 14,5% se consideram pouco qualificados. Quanto

    satisfao profissional no exerccio dessa funo, 67% se consideram

    satisfeitos ao exerc-la e 33% insatisfeitos.

  • 54

    Para as Aes Educativas 86,7% dos mdicos se consideram muito

    qualificados ou qualificados para sua execuo e 13,3% se consideram

    pouco qualificados. A satisfao profissional no exerccio dessa funo de

    67% e de 33% insatisfeitos.

    Quanto qualificao profissional para realizao de Aes de

    Vigilncia Sade 85,7% dos mdicos se consideram muito qualificados ou

    qualificados para sua execuo e 14,3% se consideram pouco qualificados.

    A satisfao profissional no exerccio dessa funo de 67% e de 33%

    insatisfeitos.

    Para a realizao das Aes de Coordenao do Cuidado do

    Individuo na Rede de Ateno Sade 94,7% dos mdicos se consideram

    muito qualificados ou qualificados e 5,3% se consideram pouco qualificados.

    Consideram-se satisfeitos ao exerc-la 73,7% dos mdicos e 26,3%

    insatisfeitos.

    J para as Aes de Matriciamento em Sade 70,8% dos mdicos se

    consideram muito qualificados ou qualificados para sua execuo e 29,2%

    se consideram pouco qualificados. A satisfao profissional no exerccio

    dessa funo de 67% e 33% de insatisfeitos.

    Em relao s Visitas e Consultas Domiciliares 95,8% dos mdicos se

    consideram muito qualificados ou qualificados para o exerccio desta funo

    e 4,2% se consideram pouco qualificados. A satisfao profissional de

    62,5% e 37,5% insatisfeitos.

    Quanto qualificao profissional para realizao de Aes

    Multiprofissionais (consultas e grupos compartilhados, planejamento em

    equipe, reunies peridicas multiprofissionais) 100% dos mdicos se

    consideram muito qualificados ou qualificados para sua execuo. A

    satisfao profissional no exerccio dessa funo de 73,7% e 26,3% de

    insatisfeitos.

    A qualificao profissional para realizao de Aes Intersetoriais (em

    escolas, ongs, instituies religiosas, associaes de bairro e outros)

    considerada por 86,7% dos mdicos como muito qualificados ou qualificados

    para sua execuo e 13,3% dos mdicos se considera pouco qualificado.

  • 55

    Quanto satisfao profissional no exerccio dessa funo 67% se

    consideram satisfeitos ao exerc-la e 33% insatisfeitos.

    Finalmente, para realizao de Aes de Participao Social 100%

    dos mdicos se consideram qualificados. Quanto satisfao profissional no

    exerccio dessa funo 100% se consideram insatisfeitos.

    Apresentamos a seguir o quadro sntese destes resultados.

    Quadro 2 Realizao das Aes de Sade previstas na PNAB para o

    mdico da ESF segundo sua Qualificao e Satisfao, em Percentuais.

    Atividades

    Qualificao Satisfao

    Qualificado ou

    Muito Qualificado

    Pouco

    Qualificado

    Satisfeito No

    Satisfeito

    Consulta Mdica 87,5 12,5 79,2 20,8

    Planejamento da

    Prtica Clnica

    85,5 14,5 67 33

    Aes

    Educativas

    86,7 13,3 67 33

    Vigilncia

    Sade

    85,7 14,3 67 33

    Coordenao do

    Cuidado na

    Rede

    94,7 5,3 73,7 26,3

    Aes de

    Matriciamento

    70,8 29,2 67 33

    Visitas e

    Consultas

    Domiciliares

    95,8 4,2 62,5 37,5

    Aes

    Multiprofissionais

    100 0 73,7 26,3

    Aes

    Intersetoriais

    86,7 13,3 67 33

    Participao

    Social

    100 0 0 100

    O quadro acima evidencia que, dentre as aes de ateno sade,

    os mdicos se consideram qualificados ou muito qualificados com maior

  • 56

    frequncia (100%) para realizarem aes multiprofissionais e de participao

    social, seguidas das visitas e consultas domiciliares (95,8%), depois as

    consultas mdicas (87,5%), e as aes educativas e vigilncia sade

    respectivamente com 86,7% e 85,7%.

    Chama a ateno que os mdicos se sintam mais preparados para

    executarem aes de preveno e promoo da sade do que a prtica

    clnica. Dentre as aes relacionadas gesto do trabalho em equipe se

    destaca a coordenao do cuidado (94,7%) em detrimento do planejamento

    da clnica (85,5%) e as aes de matriciamento (70,8%).

    Contrariamente, a maior satisfao do mdico, realizar consultas

    mdicas (79,2%) e a coordenao do cuidado (73,7%) e aes

    multiprofissionais. A maior insatisfao realizar aes de participao

    social (100%).

    I.2.3 - PERCEPO DOS GERENTES DA ESF QUANTO AO EXERCCO

    DA FUNO DO MDICO

    Buscou-se analisar a percepo dos gerentes, comparando-as com a

    percepo dos mdicos, utilizando-se as mesmas variveis e indicadores

    apresentados anteriormente, exceto a satisfao em realizar as aes

    previstas na PNAB.

    1. Consulta: Todos os gerentes referem que 100% dos mdicos

    realizam essa atividade. Quanto ao tempo de 15 minutos para a realizao

    de uma consulta, 72,7% dos gerentes consideram-no inadequado por ser

    insuficiente e 27,3% consideram-no adequado. O alto percentual de

    gerentes que consideram o tempo de 15 minutos insuficiente para a

    realizao de uma consulta concordante com a percepo dos mdicos

    que tem a mesma opinio (87,5%). Quanto ao tempo dedicado na agenda

    semanal do mdico para realizao dessa atividade 54,5% dos gerentes

    consideram o tempo inadequado por ser excessivo e 45,5% dos gerentes

    consideram o tempo adequado. Quanto qualificao dos mdicos para o

  • 57

    exerccio dessa atividade, 36,4% dos gerentes consideram que todos os

    mdicos tem qualificao adequada, 27,3% consideram que a maioria tem

    qualificao adequada, 37,3% considera que a mdia tem qualificao

    adequada e 9,1% considera que a minoria tem qualificao adequada.

    2. Planejamento da prtica clnica: Quanto ao planejamento da

    prtica clnica, 18,2% dos gerentes referem que todos os mdicos de sua

  • 58

    unidade realizam essa atividade, 27,3% dos gerentes referem que a maioria

    dos mdicos realiza essa atividade, 9,1% dos gerentes referem que a mdia

    dos mdicos realiza essa atividade e 45,5% dos gerentes referem que a

    minoria dos mdicos realiza essa atividade. Esse resultado contrasta com a

    percepo dos mdicos, j que apenas 12,5% deles referiram no realizar a

    atividade. Quanto ao tempo dedicado a essa atividade na agenda semanal

    do mdico, 81,9% dos gerentes consideram o tempo inadequado por ser

    insuficiente e 18,2% dos gerentes consideram o tempo adequado. Esse

    resultado concordante com a percepo dos mdicos, j que 71,5%

    tambm consideram o tempo na agenda semanal insuficiente para a

    realizao dessa atividade. Quanto qualificao dos mdicos para

    realizao dessa atividade, 9,1% dos gerentes consideram que todos tem

    qualificao adequada, 18,2% consideram que a maioria dos mdicos tem

    qualificao adequada, 18,2% dos gerentes consideram que a mdia dos

    mdicos tem qualificao adequada e 54,5% dos gerentes consideram que a

    minoria dos mdicos tem qualificao adequada para a realizao dessa

    atividade. Esse resultado discordante com a percepo dos mdicos j

    que 86,7% deles se consideram qualificados para a realizao do

    planejamento da prtica clnica.

  • 59

    3. Aes educativas: Quanto s aes educativas, 18,2% dos

    gerentes referem que todos os mdicos de sua unidade realizam essa

    atividade, 9,1% dos gerentes referem que a maioria dos mdicos realiza

    essa atividade, 63,6% dos gerentes referem que a minoria dos mdicos

    realiza essa atividade e 9,1% dos gerentes referem que nenhum mdico

    realiza essa atividade. Quanto ao tempo dedicado a essa atividade na

    agenda semanal do mdico, 63,6% dos gerentes consideram o tempo

    inadequado por ser insuficiente e 36,4% dos gerentes consideram o tempo

    adequado. Quanto qualificao dos mdicos para realizao dessa

    atividade, 36,4% dos gerentes consideram que todos tem qualificao

    adequada, 18,2% consideram que a maioria dos mdicos tem qualificao

    adequada, 18,2% dos gerentes consideram que a mdia dos mdicos tem

    qualificao adequada, 18,2% dos gerentes consideram que a minoria dos

    mdicos tem qualificao adequada para a realizao dessa atividade e

  • 60

    9,1% dos gerentes considera que nenhum mdico tem a qualificao

    adequada para realizao dessa atividade.

    4. Aes de vigilncia em sade: Quanto s aes de vigilncia em

    sade, 45,5% dos gerentes referem que todos os mdicos de sua unidade

    realizam essa atividade, 9,1% dos gerentes referem que a maioria dos

    mdicos realiza essa atividade, 18,2% dos gerentes referem que a mdia

    dos mdicos realiza essa atividade, 18,2% dos gerentes referem que a

    minoria dos mdicos realiza essa atividade e 9,1% dos gerentes referem que

    nenhum mdico realiza essa atividade. Comparando-se com a percepo

    dos mdicos, 62,5% dos mdicos referem realizar a atividade. Quanto ao

    tempo dedicado a essa atividade na agenda semanal do mdico, 72,7% dos

    gerentes consideram o tempo inadequado por ser insuficiente e 27,3% dos

    gerentes consideram o tempo adequado. Na percepo dos mdicos,

    tambm a maioria (80%) refere que o tempo para a realizao da atividade

  • 61

    insuficiente na agenda semanal. A qualificao dos mdicos p