renan 1 capÍtulo

49
1 FACULDADES DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS DE DIAMANTINO UNED – UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DE DIAMANTINO CURSO DE DIREITO RENAN SILVA A ADOÇÃO NA COMARCA DE DIAMANTINO - MT

Upload: biliato

Post on 28-Nov-2015

23 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RENAN 1 CAPÍTULO

1

FACULDADES DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS DE DIAMANTINO

UNED – UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DE DIAMANTINOCURSO DE DIREITO

RENAN SILVA

A ADOÇÃO NA COMARCA DE DIAMANTINO - MT

Diamantino - MT2013

Page 2: RENAN 1 CAPÍTULO

2

RENAN SILVA

A ADOÇÃO NA COMARCA DE DIAMANTINO - MT

Monografia apresentada ao Curso de Direito das Faculdades de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Pérsio Oliveira Landim

Diamantino - MT2013

Page 3: RENAN 1 CAPÍTULO

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

RENAN SILVA

A ADOÇÃO NA COMARCA DE DIAMANTINO

Monografia apresentada ao Curso de Direito das Faculdades de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovado em 2013.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Orientador: Pérsio Oliveira LandimUNED/Diamantino

Prof. UNED/Diamantino

Diamantino – MT2013

Page 4: RENAN 1 CAPÍTULO

4

A minha família que acreditou em mim e por estar sempre ao meu lado. Em especial a minha mãe. Aos meus colegas da turma que estiveram comigo nesta caminhada.

Page 5: RENAN 1 CAPÍTULO

5

Dedico a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste trabalho. Ao meu orientador Pérsio Oliveira Landim.

Page 6: RENAN 1 CAPÍTULO

6

“O rio só alcança seu destino porque aprendeu a contornar os obstáculos.”

Mao Tsé

Page 7: RENAN 1 CAPÍTULO

7

SUMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO................................................................................................

10

2. BREVE LINEAMENTO HISTÓRICO DA

ADOÇÃO........................................

11

2.1 A adoção a luz do Código Civil de

1916.......................................................

11

2.2 O Código civil de 1916 e a extinção da adoção

civil.....................................

11

2.3 O novo Código Civil - (Lei nº 10.406, de

10/01/2002)...................................

12

2.4 Conceitos e abordagens acerca da

adoção..................................................

12

2.5 Família

substituta..........................................................................................

14

2.6 Adoção no estatuto da criança e do

adolescente.........................................

15

2.7 A função social da

adoção............................................................................

17

2.8 Procedimentos da

adoção.............................................................................

19

2.9 Adoção e seus

conceitos..............................................................................

20

2.10 Tipos de

adoção..........................................................................................

22

2.10.1 Adoção

simples........................................................................................

28

2.10.2 Adoção

plena...........................................................................................

29

2.11 Família

substituta........................................................................................

29

Page 8: RENAN 1 CAPÍTULO

8

3. LÓCUS DA

PESQUISA...................................................................................

3.1 Material e

métodos........................................................................................

3.2 Área de

Estudo..............................................................................................

4. ANÁLISE DOS DADOS

COLETADOS...........................................................

CONSIDERAÇÕES

FINAIS................................................................................

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS....................................................................

RESUMO

A adoção é uma ficção jurídica que cria o parentesco civil. É um ato jurídico

bilateral que gera laços de paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal

relação inexiste naturalmente. Desta forma, alguns autores têm definido a adoção

como um instituto que dá ao filho adotivo status idêntico ao do filho legítimo. A

adoção como o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho, na qualidade de filho.

Desta forma não parece perfeita a definição, porque o vocábulo aceita, não reflete

bem o comportamento do adotante. Na adoção é uma forma artificial de filiação que

visa igualar a filiação natural, portanto, ser conhecida como filiação civil, assim

sendo, não resulta de uma relação biológica, mas sim de um impulso de vontade,

Page 9: RENAN 1 CAPÍTULO

9

logo que o sistema do Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual

sistema do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), bem como no

corrente Código.

Palavras – Chave: Adoção. Código Civil. Família Substituta.

ABSTRACT

Adoption is a legal fiction that creates kinship civil. It is a legal act that generates

bilateral ties paternity and filiation between people for whom such a relationship does

not exist naturally. Thus, some authors have defined adoption as an institute which

gives the foster child status identical to the legitimate son. Adopting as the civil act by

which someone accepts a stranger, as a child. Thus it does not seem perfect setting

because the word accept, does not reflect well the behavior of the adopter. The

adoption is an artificial form of membership which aims to match the natural filiation,

therefore, be known as civil affiliation, therefore, not the result of a biological

relationship, but a boost of will, as soon as the system of the Civil Code of 1916, or in

Page 10: RENAN 1 CAPÍTULO

10

judicial decisions, the current system of the Statute of Children and Adolescents (Law

No. 8.069/90), and in the current code.

Words - Key: Adoption. Civil Code . Substitute Family .

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo abordará a adoção na Comarca de Diamantino - MT além

de compreender a conceituação de adoção como um ato jurídico, qual uma pessoa

aceita a outra como parte da família se tornando-o como filho (a), sem haver

qualquer tipo de parentesco consangüíneo ou a fim.

A adoção como o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade

de filho. Assim, o referido conceito não foi inserido no Código que regulava a matéria

nos seus artigos 368 a378 (Cap. V, Título IV, Livro I "Do Direito de Família"), ao

aplicar o instituto da adoção o Código, de início, fê-lo com sérias barreiras, pois

Page 11: RENAN 1 CAPÍTULO

11

apenas permitia aos maiores de 50 anos, sendo, o pai ou mãe civil, mais velho que o

filho 18 anos, pelo menos.

Analisa que, a adoção moderna é, portanto, um ato ou negócio jurídico que

cria relações de paternidade e filiação entre duas pessoas.

O ato da adoção faz com que uma pessoa passe a gozar do estado de filho

de outra pessoa, independentemente do vínculo biológico.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Descrever através de um estudo de caso a adoção na Comarca de

Diamantino – MT.

2.2 Específicos

Page 12: RENAN 1 CAPÍTULO

12

Analisar quais os procedimentos jurídicos acerca da adoção;

Compreender o que é adoção;

Demonstrar através de um estudo de caso como acontece a adoção na

Comarca de Diamantino.

3. BREVE LINEAMENTO HISTÓRICO DA ADOÇÃO

O direito através do Código Civil de 1916 estabeleceu nos seus rol de artigos,

a adoção nos respectivos artigos 368 e 378, mas limitava o direito sucessório do

adotado, que mais tarde sofrera mudanças com a Constituição Federal de 1988.

PEREZ (2006, p.71), no Brasil, a adoção data do nosso Direito pré-codificado,

quando no Império vigoravam as Ordenações Portuguesas. Com a promulgação do

Código Civil de 1916, a adoção foi contemplada, com base no Direito Romano, salvo

quanto à passagem do adotado à família do adotante, pois mantinham-se os

Page 13: RENAN 1 CAPÍTULO

13

vínculos com a família biológica. Em conseqüência, permaneciam os direitos e

deveres que resultam do parentesco natural, exceto o pátrio poder que passa para o

pai adotivo. O Código Civil de 1916 disciplinou o instituto da adoção nos arts. 368 a

378, definindo-o como um ato jurídico estabelecedor de laços de filiação legal, a

partir da manifestação de vontade. Não obstante, a lei civil discriminava os filhos

adotivos, impondo-lhes limitações no direito sucessório, que foram banidas pela

Constituição de 1988, por força do princípio da igualdade entre os filhos, que os

equiparou para todos os fins.

3.1 A adoção a luz do Código Civil de 1916

Vale salientar que é imprescindível que sempre voltemos ao passado, pois

entende-se que a história é mestra, principalmente em relação ao Código de 1916,

que auxilia na resolução de problemas nos dias atuais.

Alude VENOSA (2004, p. 332), continuaram em vigor esses dispositivos para

as adoções não reguladas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A adoção do

Código Civil antigo continuou aplicável para quem tivesse mais de 18 anos. O art.

377, atinente a direitos sucessórios, fora revogado pela Carta Constitucional de 1988

(art. 227, § 62) que igualou todos os direitos de filiação, independentemente de sua

natureza. Como percebemos, foi rara a utilidade do instituto da adoção para os

maiores de idade no passado. Analise-se, portanto, o conteúdo da adoção civil,

estatuída no provecto Código, com a advertência ora feita.

VENOSA (2004, p. 332):

“Outro ponto que merece atenção prévia era a possibilidade prevista no

Código de 1916 de adoção do nascituro, conforme expressa disposição no

art. 372. Parte da doutrina entendia que essa possibilidade fora revogada não

somente em razão da nova ordem constitucional, que determina que a

adoção deve ser assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que

estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros

(art. 227, § 5º), como também pelo fato de o Estatuto da Criança e do

Adolescente discriminar uma série de exigências estritas para adoção de

menores, a qual somente se perfaz por decisão judicial”

Page 14: RENAN 1 CAPÍTULO

14

A definição de adoção como um ato civil de alguém que aceita um estranho

na qualidade de filho, é um pouco quanto contraponto, pois vai contra ao que o

adotante quer na sua maioria o adotante é quem busca o caminho da adoção.

Como alude SIQUEIRA (2004, p. 40):

“O autor do projeto do Código Civil, Clóvis Bevilacqua, define a adoção como

o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade de filho. Este

conceito não foi inserido no Código que regulava a matéria nos seus artigos

368 a378 (Cap. V, Título IV, Livro I "Do Direito de Família"). Ao consagrar o

instituto da adoção o Código, de início, fê-lo com sérias limitações, pois

apenas permitia aos maiores de 50 anos, sendo, o pai ou mãe civil, mais

velho que o filho 18 anos, pelo menos. Conta-se que as dificuldades para o

disciplinamento do instituto, assim como as restrições ponderáveis anteriores,

deveram-se aos imperativos da Igreja, pois que era comum, naquela época,

pessoas ricas morrerem, sem filhos ou herdeiros, deixando todo o legado

para as congregações religiosas. É evidente que, com a adoção, isto não

ocorreria”

VENOSA (2004, p. 337) alude que:

“Já não podiam ser admitidas as restrições estampadas no Código de 1916,

após a carta de 1988. Na verdade, o legislador posterior deveria ter-se

preocupado com a questão da adoção como um todo e não unicamente com

a adoção de menores. Se equiparados os adotados civilmente, sem

discriminação de modalidade, essa relação terá reflexos com relação a

terceiros ligados ao grupo familiar, não mais se limitando a adotante e

adotado. Há incongruências no cotejo de ambos os sistemas que ficaram

relegadas à interpretação dos tribunais. Melhor seria que simplesmente

tivessem sido revogadas as disposições do Código Civil, não mais se

permitindo a adoção de maiores por escritura pública, tendo em vista sua

inutilidade e possibilidade de fraudes”.

Com a promulgação da Lei 3.133 de maio de 1957, foram introduzidas

alterações no capítulo das adoções acertando os artigos conforme as necessidades

exigidas pelos fatos sociais ocorrentes assim, com a operacionalidade com a nova

lei há modificações profundas. Pois o que antes predominava o interesse do

Page 15: RENAN 1 CAPÍTULO

15

adotante que desejava ter um filho com a nova lei o objetivo-fim é a assistência ao

adotado no sentido de melhorar sua condição sócio-familiar.

SIQUEIRA (2004, p. 41) aduz:

“Lendo-se a exposição de motivos do Projeto de Lei nº 16/53, que lhe deu

origem, compreenderemos, perfeitamente, as razões que levaram o legislador

a postular as alterações dos artigos 368 a 378 do Código Civil, mesmo porque

lançados em 1916, ano de sua promulgação, depois de um longo caminho na

Câmara e no Senado”.

3.2 O Código civil de 1916 e a extinção da adoção civil

Percebe-se que, o art. 373 que o adotado, quando menor de idade, ou

interdito, poderia desligar-se da adoção no período imediato ao que cessasse a

interdição, ou a menoridade, assim, como tal modalidade de adoção exclusivamente

era facultada presentemente aos maiores, o dispositivo exauriu-se. Portanto, de

acordo com o art. 374, o vínculo da adoção civil exauria-se por ato bilateral ou sendo

de ambas as partes e nos casos em que fosse acolhida a deserdação. Desta forma,

a extinção bilateral se produzia igualmente por escritura pública.

VENOSA (2004, p. 338) aduz que:

“Tratava-se de resilição bilateral da relação jurídica, por mera conveniência

das partes. Notamos aqui mais um inconveniente dessa forma de adoção

que podia dar margem a fraudes e prejuízos a terceiros. A noção moderna de

adoção não mais se coaduna com o conceito de revogabilidade. Ao imitar a

natureza, a adoção deve ser irrevogável. Como, no caso, a adoção era

negócio jurídico entre maiores e capazes, a lei possibilitava seu

desfazimento. Acentuamos nesse ponto mais um argumento em favor da

extinção dessa forma de adoção em nossa legislação, que não fará falta

alguma ao ordenamento. Aliás, o legislador do estatuto menorista deveria ter-

se manifestado a respeito de sua revogação”.

Assim sendo, o art. 374 fazer referência ainda à dissolução do vínculo da

adoção nos casos em que fosse acolhida a deserdação, portanto, a deserdação

permite, no direito das sucessões, que os herdeiros necessários sejam afastados da

herança em sua porção legítima (art. 1.961; antigo, art. 1.741). Destarte sua causa

Page 16: RENAN 1 CAPÍTULO

16

apenas deve ser declinada em testamento (art. 1.964; antigo, art. 1.742) e a

exclusão do herdeiro é conforme a sentença judicial em ação proposta pelo herdeiro

que foi instituído, ou àquele que aproveite a deserdação, onde terá de ser

constatado o motivo da deserdativa, tendo como pena de ineficácia da cláusula

testamentária (art. 1.965, parágrafo único; antigo, art. 1.743, parágrafo único).

VENOSA (2004, p. 338) ensina que:

“A matéria pertence ao estudo do direito das sucessões, onde deve ser

aprofundada (ver nosso Direito civil: direito das sucessões, Capítulo 18). O

art. 1.962 (antigo, art. 1.744) descrevia, em número fechado, as hipóteses de

deserdação, que podiam ser utilizadas para a dissolução do vínculo da

adoção. Também tem aplicação o art. 1.963 (antigo, art. 1.745). As causas de

deserdação utilizadas para a dissolução do vínculo da adoção civil também

deviam ser provadas em ação judicial, sustentando-se uma das hipóteses

descritas nesses dispositivos. A legitimidade para essa ação era do pai ou

filho adotivo. Nessas situações, portanto, somente a sentença poderia

decretar a dissolução da ação”.

3.3 O novo Código Civil - (Lei nº 10.406, de 10/01/2002)

Percebe-se que, os acontecimentos sociais são dinâmicos e evolutivos, para

as mudanças que se agem na sociedade, como na sua estrutura, ou conteúdo, na

sua cultura, exige do legislador uma atenção constante e do aplicador da lei, uma

interpretação consciente.

Ensina-nos SIQUEIRA (2004, p. 56):

“O seguimento dos fatos sociais exige uma atenção profícua dos legisladores

e dos operadores do direito, o direito civil desenvolve-se, normalmente, no

sentido de mais acentuada socialização e alargamento de seus quadros,

determinada pela marcha da civilização, que suscita sempre situações novas

e as mais adequadas relações jurídicas". Dúvidas não temos, de que o novo

Código Civil apresenta profundas transformações na ordem social, em

específico, no Direito de Família, pinçando-se a temática que abordamos, que

é a adoção, nos seus artigos 1618 e 1629”.

RODRIGUES (2002, p. 389) ensina que:

Page 17: RENAN 1 CAPÍTULO

17

“A adoção projetada pela nova legislação conserva traços do Código de 1916

com a sua mais recente redação, reproduzindo, inclusive, alguns de seus

artigos, mas também assume várias regras e princípios do instituto tal qual

apresentado no Estatuto da Criança e do Adolescente. Significativo

certamente será o trabalho da doutrina e jurisprudência para interpretar a

nova legislação, retocada e muito nesse aspecto, distanciando o capítulo da

forma originalmente prevista, ou daquela vigente no Código de 1916, ao

mesmo tempo que avança no campo da adoção dos menores de 18 anos que

já estava satisfatoriamente regulamentada pelo Estatuto próprio”.

SIQUEIRA (2004, p. 41):

Há uma grande, profunda transformação no Direito de Família, toda voltada a

deixar de lado o que era a grande preocupação econômica, o tratamento do

Direito de Família, para dar ênfase ao tratamento do sentimento, a

valorização do papel da mulher, a extinção do pátrio poder, a criação do

poder familiar, as decisões. As senhoras desembargadoras estavam

preocupadas com quanto vai se acumular de questões.Todas essas

preocupações que assaltavam a cada momento, me permitam, por

estimativas da Presidência da República, naquela época, levantamentos que

fiz, o nosso Ordenamento inclui 15 a 17 mil leis, incluídas as ordinárias,

complementares, delegadas, não computadas as Medidas Provisórias não

apreciadas pelo Legislativo, as Emendas Constitucionais, os Decretos

Legislativos e as Resoluções das duas Casas do Congresso".

No entendimento da adoção há muitas críticas de autores acerca dos

enunciados existentes no Novo Código, nada obstante, a realidade nos dirige à

entendimentos de que não existe lei perfeita e acabada, mesmo porque os trinta

anos de tramitação nas Casas Legislativas somem na velocidade para as

transformações necessárias dos fatos sociais.

3.4 Conceitos e abordagens acerca da adoção

Ensina-nos VENOSA (2004, p. 327), a adoção é modalidade artificial de

filiação que busca imitar a filiação natural. Daí ser também conhecida como filiação

civil, pois não resulta de uma relação biológica, mas de manifestação de vontade,

conforme o sistema do Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual

Page 18: RENAN 1 CAPÍTULO

18

sistema do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei ns 8.069/90), bem como no

corrente Código. A filiação natural repousa sobre o vínculo de sangue, genético ou

biológico; a adoção é uma filiação exclusivamente jurídica, que se sustenta sobre a

pressuposição de uma relação não biológica, mas afetiva. A adoção moderna é,

portanto, um ato ou negócio jurídico que cria relações de paternidade e filiação entre

duas pessoas. O ato da adoção faz com que uma pessoa passe a gozar do estado

de filho de outra pessoa, independentemente do vínculo biológico.

WEBER (2008, p. 223) alude:

“O conceito de adoção tem variado ao longo da história, tanto de maneira

legal (Código de Hammurabi, Código de Napoleão, Lei Comum Inglesa)

quanto de maneira informal. As definições jurídicas de adoção apresentam

algumas diferenças semânticas interessantes: "gerar laços de paternidade",

"criar laços de filiação", "receber um estranho como filho", "permitir que um

estranho tenha o mesmo nível de filiação de um filho biológico", entre outras.

Desde a criação das leis sobre adoção, elas sempre permitiram acentuada

discriminação entre filhos adotivos e filhos biológicos e isso foi incorporado ao

pensamento popular, de modo que até os dias de hoje, especialmente no

Brasil, acredita-se que essa é uma filiação de "segunda categoria" porque

nela inexiste o "laço de sangue" que, desde tempos imemoriais, sempre

possibilitou a composição familiar e a distribuição de bens e terras”.

DINIZ (1998, p. 346) alude que:

“A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos

legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de

parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo

para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é

estranha. Dá origem, portanto, a uma relação jurídica de parentesco civil

entre adotante e adotado!". É uma ficção legal que possibilita que se constitua

entre o adotante e o adotado um laço de parentesco de 1 º grau na linha

reta”.

Nesta visão, a adoção, é uma instituição de caráter humanitário, que tem por

um lado, dar filhos àqueles a quem a natureza negou e por outro lado uma finalidade

assistencial, estabelecendo um meio de melhorar a condição moral e material do

adotado.

Page 19: RENAN 1 CAPÍTULO

19

RODRIGUES (2002, p. 380) ensina que:

“A adoção como o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho, na qualidade

de filho. Não me parece perfeita a definição, porque o vocábulo “aceita”,

usado pelo consagrado mestre, não reflete bem o comportamento do

adotante. Em geral, este é quem toma a iniciativa do negócio. Assim, melhor

se diria que a adoção é o ato do adotante pelo qual traz ele, para sua família

e na condição de filho328, pessoa que lhe é estranha”.

FARIAS (2004, p. 21-22), diz que, a adoção é a inclusão em uma nova família

de forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio de filiação de uma

criança/adolescente cujos pais morreram, aderiram expressamente ao pedido, são

desconhecidos ou mesmo não podem ou não querem assumir suas funções

parentais, motivando a que a Autoridade Judiciária em processo regular lhes tenha

decretado a perda do pátrio poder. Por muito tempo o objetivo da adoção no Brasil

foi atender aos interesses de casais que não podiam ter filhos biológicos, deixando

de lado os interesses do adotado. O Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei

que assegura igualdade de direitos tanto para os filhos biológicos quanto os

adotados.

Portanto, o conceito mais abrangente e sucinto é que a adoção trata-se de um

ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outro como filho, independente de existir

entre elas qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim.

3.5 Família substituta

SIQUEIRA (2004, p. 76), alude que, o novo Código não faz referência à

família substituta, a exemplo do Estatuto nos artigos 28 a 32, que é antecedente do

conseqüente como a guarda, tutela e adoção. Para melhor desenvolvimento didático

da temática, antes de penetrarmos no instituto da adoção faremos algumas

considerações.

SIQUEIRA (2004, p. 76) apresenta-nos que:

Page 20: RENAN 1 CAPÍTULO

20

“Art. 28. A colocação em família substituta dar-se-á mediante guarda, tutela

ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou

adolescente, nos termos desta Lei.

§ 1º - Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente

ouvida e a sua opinião devidamente considerada.

§ 2º - Na apreciação do pedido, levar-se-ão em conta o grau de parentesco e

a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as

conseqüências decorrentes da medida”.

Para tanto, a expressão mais adequada de família substituta usada pelo

legislador, que seguiu o princípio exposto no art. 19 do Estatuto, entendendo que

toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua

família e, excepcionalmente, em família substituta, garantida a convivência familiar e

comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes. O Código de Menores usava a "colocação em lar

substituto", sendo mais correta a do Estatuto, pois o objetivo desejado é a família.

ROMERA (2013, p. 01) ensina que:

“Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069) tem por embasamento a

proteção integral da criança e do adolescente, segundo direito fundamental

de que cada um deles deve ser criado no seio de sua família e,

excepcionalmente, em família substituta (ECA, art. 19 e CF, art. 227). Assim,

são estabelecidas três formas de colocação de criança e de adolescente em

família substituta: guarda, tutela e adoção (ECA, art. 28). A guarda é objeto

deste trabalho, sendo regrada, especificamente, nos artigos 33 a 35, e

genericamente nos artigos 28 a 32, todos do ECA”.

3.6 Adoção no estatuto da criança e do adolescente

Observa que a Lei nº 8.069/90 instituiu uma adoção com roupagens novas

sendo ela impregnada de afeto e amor. O estatuto menorista, no atalho da

Constituição de 1988, no art. 41, confere a condição de filho ao adotado, com os

mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo

com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

VENOSA (2004, p. 344) aduz:

Page 21: RENAN 1 CAPÍTULO

21

“A adoção segundo o estatuto não somente iguala os direitos sucessórios dos

adotivos como também estabelece reciprocidade do direito hereditário entre o

adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e

colaterais, até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária (art. 41, §

2º). Superam-se, portanto, todos os resquícios de discriminação na adoção,

existente até a Constituição de 1988”.

SIQUEIRA (2004, p. 56), relata-nos que:

Antes de examinarmos as alterações efetivadas pelo novo Código Civil no

Estatuto há necessidade de fazermos breves considerações.

O art. 1 º enuncia que "toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem

civil".

O art. 2º do Código de 1916 prescrevia que "todo homem é capaz de direitos

e obrigações na ordem civil".

Desta forma, pode-se verificar com nítida clareza que a nova redação

substituiu "todo homem" por "toda pessoa", ponderando que a ordem jurídica acolhe

duas espécies de pessoas: as pessoas naturais, também chamadas pessoas físicas

e as pessoas jurídicas. Portanto, as pessoas naturais são os seres humanos. As

pessoas jurídicas são entidades que têm personalidade. Desta forma, à capacidade,

derivado do latim capacitas é aptidão, idoneidade, qualidade para certo fim, é a

capacidade de fato que está dependente à capacidade de direito. Para tanto

entende-se que, a capacidade de direito que está subordinada à capacidade de fato.

SIQUEIRA (2004, p. 56), aduz:

“Pode ser plena ou limitada. Não se pode exercer um direito sem ser capaz

de adquiri-lo. Pode-se ter capacidade de direito sem capacidade de fato,

adquirir o direito e não poder exercê-lo. Exemplo: quem não atingiu os 18

anos não pode adotar. Estado - é o que define a situação da pessoa na

família e na sociedade. O estado da pessoa é regulado por preceitos de

ordem pública, não podendo ser modificados pela vontade particular. O

estado é uno e indivisível. Ninguém pode ter, ao mesmo tempo, estados que

se opõem ou se graduam. Incapacidade - absoluta e relativa. Para todos os

atos ou alguns. Aquele que é absolutamente incapaz dever ser representado

e o relativamente incapaz, assistido”.

Page 22: RENAN 1 CAPÍTULO

22

VENOSA (2004, p. 344) ensina:

“Da tutela, outra modalidade de colocação em família substituta disciplinada

no Estatuto da Criança e do Adolescente, devemos nos ocupar em capítulo

autônomo, analisando também os dispositivos do Código Civil. A adoção é

tratada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente nos arts. 39 a 52. No

Código Civil de 2002, a matéria é disciplinada nos arts. 1.618 a 1.629.

Advertimos que o art. 23 é expresso no sentido de afirmar que "a falta ou a

carência de recursos materiais não' constitui motivo suficiente para a perda

ou suspensão do pátrio poder"? O estado de pobreza, portanto, não é

elemento definitivo para possibilitar a adoção. A destituição do pátrio poder

deve anteceder a adoção, ainda que decretada na mesma sentença.

Tratando-se de menor abandonado, todos os esforços devem ser envidados

para localização dos pais. Conforme o art. 24 do estatuto, a perda e a

suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em processo

contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese

de descumprimento dos deveres e obrigações a que alude o art. 22”.

O mencionado art. 22 leva ao dever de sustento, guarda e educação dos

filhos, já o art. 1.638 (antigo, art. 395) do Código Civil emite ainda causas de perda

do poder familiar. Conseqüentemente, não é admitido que o magistrado conceda a

supressão do pátrio poder ou poder familiar sem maiores cuidados, sob a égide de

proporcionar condições melhores à criança e ao adolescente. Conquanto o interesse

destes seja conveniente, não podemos negligenciar do direito dos pais biológicos,

que podem validamente opor-se à adoção, portanto, em princípio, os pais devem

admitir com a adoção, demonstrando sua vontade.

3.7 A função social da adoção

Conforme menciona WALD (2000, p. 200), “a impressão que nos dá o estudo

da adoção, no direito estrangeiro e na história do direito, é que sob o mesmo nome

conhece duas espécies de adoções”. Neste caso uma lembrança do direito romano,

paliativo utilizado por casais estéreis, exigindo uma idade já madura por parte do

adotante, tendo natureza contratual, que encontramos nas legislações do século

passado, aproximando-se da instituição de herdeiro e tendo finalidade discutível. A

outra é a que surge ainda em forma tímida, a partir da segunda metade do século

Page 23: RENAN 1 CAPÍTULO

23

XX, na França, no México, na Argentina, no Uruguai e no Brasil, concebida como

instituto exclusivo ou preponderantemente assistencial, protegendo o adotado e

destinando-se a dar um lar a menores, criando, para eles,um ambiente familiar e

equiparando o adotado ao filho legítimo.

Segundo PARODI (2013, p. 02), “o Direito passou, e vem passando, por

vigorosas transformações, que impõem a sua leitura e aplicação, de acordo com os

direitos humanos, fator que influencia diretamente o exercício da liberdade de

iniciativa dos seus operadores”. Existe uma função social para as adoções, que

precisa ser observada, notadamente, quando se põe em risco a estabilidade

emocional e o desenvolvimento de um menor. Compete a cada cidadão o direito-

dever ao desenvolvimento, em sentido abrangente.

WALD (2000, p. 200), nos diz que “hoje a adoção superou a fase

individualista e egoísta para ser um instituto de solidariedade social, de auxílio

mútuo, um meio de repartir por maior número de famílias os encargos de proles

numerosas. A dualidade da adoção, à qual os referimos, reflete-se na legislação

brasileira, na qual encontramos as duas formas. De um lado, a adoção de maiores

de 18 anos, que continua regida pelo Código Civil e pela Lei n. 3.133, de 8-5-1957,

e, de outro, a de menores até 18 anos, que atualmente obedece às disposições do

Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13-7-1990).

3.8 Procedimentos da adoção

A adoção de criança pode ser feita por qualquer pessoa casada, solteira,

viúva, divorciada ou separada, desde que seja maior de 18 anos e que a diferença

de idade entre a criança e o adotante seja maior que 16 anos. Ou seja, uma pessoa

de 20 anos não pode adotar uma criança de 5 anos, pois não tem a referida

diferença de 16 anos entre ambos.

Para que a adoção seja feita por duas pessoas é preciso que sejam marido e

mulher ou vivam em união estável, como determina do Código Civil. Por este motivo

que no Brasil não é permitida a adoção por casais homossexuais. Além disso, os

divorciados ou separados podem adotar em conjunto desde que seja estabelecido

com quem ficará a guarda da criança e o regime de visitas pelo outro adotante.

Porém cabe lembrar que o juiz irá decidir pela família que apresentar a melhor

situação para educar a criança, caso haja mais de uma interessada na adoção.

Page 24: RENAN 1 CAPÍTULO

24

Segundo FURLANETTO (2013, p. 10), “o instituto da adoção está regulado

pelo Novo Código Civil e pelo ECA; todavia, o primeiro não trata corretamente do

procedimento adotivo, já que é lei substantiva e não processual”, assim, limitando-se

a afirmar, em seu artigo 1.623, que a adoção obedecerá a processo judicial; o

segundo, por sua vez, também não o faz com clareza, inserindo a adoção entre seus

procedimentos específicos, no Capítulo III, do Título VI, do Livro II, quando trata da

colocação em família substituta. Importa destacar que, o processo de adoção pode

ser dar através de procedimento de jurisdição voluntária ou contenciosa.

Não havendo litígio, situação em que há o consentimento dos pais, ou, sendo

os progenitores falecidos, ou, ainda, quando já houverem sido destituídos do pátrio

poder, previamente, a jurisdição é voluntária. Nestes casos, a instrução judiciária

inicia-se com a petição inicial apresentada por advogado.

Salienta-nos FURLANETTO (2013, p. 10):

“Todavia, por exceção à regra, nos termos do artigo 166 do Estatuto, o pedido

poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos

próprios requerentes, no caso de pais falecidos ou que tiverem sido

destituídos do pátrio poder ou ainda, houverem aderido expressamente ao

pedido de colocação em família substituta. Nessa hipótese não haverá

necessidade da presença de advogado e o impulso oficial será dado pelo

magistrado, com a anuência do Ministério Público. A petição inicial conterá os

requisitos do artigo 165, devidamente instruída com a documentação

necessária, inclusive com a aquiescência dos pais do adotando. Na falta

destes, será necessária a aquiescência do representante legal do adotando”.

Ouvidos os pais ou representante legal do adotando pelo juiz e pelo órgão

ministerial, será redigido termo de consentimento (artigo 166, parágrafo único).

Recebida a inicial, a pedido das partes ou ex officio, o juiz determinará a realização

de estudo psicossocial ou perícia por Equipe Interprofissional, decidindo outrossim,

acerca da concessão de guarda provisória e de realização de estágio de

convivência. Apresentado o laudo pericial, ou estudo psicossocial, será dada vista

ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, consoante leitura do artigo 168,

decidindo o julgador no mesmo prazo.

FURLANETTO (2013, p. 11), “todavia, na hipótese de pais conhecidos, mas

ausentes, situação na qual não é conhecido o paradeiro dos genitores, ainda se dará

Page 25: RENAN 1 CAPÍTULO

25

a adoção por procedimento de jurisdição voluntária, sendo os pais do adotando,

citados por Edital, obedecidas, neste caso, as regras do Código de Processo Civil”.

Em seguida o transcurso do prazo editalício, iniciar-se-á a contagem do prazo legal,

de dez dias, para impugnação do pedido.

Por último, tratando-se ainda de jurisdição voluntária, quando os pais do

adotando forem falecidos, a inicial deverá ser instruída com a certidão de óbito,

sendo analisados pelo magistrado os pressupostos processuais e requisitos

específicos. Ao final será decretada a extinção do pátrio poder, nos termos do artigo

1.635, inciso I, do Código Civil em vigência, concedendo-se a adoção postulada.

De outro modo, questão tormentosa aos adotantes é a destituição do pátrio

poder. Isto porque, havendo litigiosidade pela resistência dos pais do adotando ou

em virtude dos mesmos se encontrarem em lugar incerto ou não sabido, a jurisdição

será contenciosa. Nestes casos, o pedido de adoção será cumulado com o de perda

do poder familiar, devendo a petição inicial conter os requisitos dos artigos 155, 156

c/c artigo 165, todos do Estatuto.

Para FURLANETTO (2013, p. 12):

“consoante previsão do artigo 155, que o pedido para perda ou suspensão do

poder familiar terá início por provocação do Ministério Público ou quem tiver

legítimo interesse. O requerente da adoção, em princípio, detém legitimidade

para intentar referida ação. Havendo pedido de destituição do pátrio poder,

poderá ser deferida pelo juízo a concessão de liminar de suspensão do poder

familiar, após a oitiva do Ministério Público, nos moldes do artigo 157, da

norma estatutária. Além disso, o procedimento da adoção é composto pelo

estudo social, também denominado de laudo pericial. A investigação

psicossocial compreende o inquérito social e exames médicos–psicológicos

relativos à personalidade do adotante, do adotando e respectivo mundo

circundante, como a situação do menor no lar adotante e na família de

origem.

Como menciona FURLANETTO (2013, p. 14), “tal investigação é realizada

pela Equipe Interprofissional que atua como serviço auxiliar junto às Varas de

Infância e Juventude, consoante previsão constitucional – artigo 96, I, alínea “b”. A

Equipe Interprofissional é formada por assistentes sociais e psicólogos, que visam

buscar o perfil completo das partes, no plano social, familiar e psicológico. Através

dessa pesquisa busca-se a idoneidade moral e financeira do adotante, bem como

Page 26: RENAN 1 CAPÍTULO

26

suas capacidades para o encargo, verificando-se as possibilidades de adaptação do

adotando, e as reais vantagens no ato”.

Ao final do estudo, será entregue ao juízo, laudo pericial, emitindo as

conclusões a que chegaram os membros da Equipe, mostrando-se este

imprescindível para formar a convicção do juiz da Infância e Juventude, no

deferimento ou não do pedido de adoção. No entanto, não está o magistrado adstrito

ao laudo pericial, pois seu conhecimento é soberano, e pode até ir de encontro com

o concluído pelo expert.

Além disso quanto ao procedimento adotivo, há que se falar acerca do estágio

de convivência. Consoante previsão do artigo 46, da regra estatutária: “a adoção

será precedida de estágio de convivência, com a criança ou adolescente, pelo prazo

que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso.” O estágio

de convivência tem por finalidade seja constatada a adaptação do adotando na

futura família, mediante estudo social do contexto em que se insere o menor,

abrangendo sua personalidade e a sua vida pregressa, bem como a dos adotantes,

com vistas a garantia de seu sucesso.

FURLANETTO (2013, p. 14) relata:

“O estágio de convivência é o período em que propicia às partes interessadas

o conhecimento mútuo e preparo para a vinculação familiar. É na verdade, um

período probatório, com o fim de verificar se o relacionamento de ambos

adotante e adotando – vingou de forma satisfatória. Assim, pode-se dizer que

referido período visa a verificar também os verdadeiros motivos do pedido de

adoção, afastando, sempre que evidenciadas, pretensões que não são

condizentes com a natureza do instituto”.

O acompanhamento desse estágio é realizado pela Equipe Interprofissional,

visando ao entendimento de questões relevantes ligadas ao: desenvolvimento

psicossocial das crianças e adolescentes; abandono e suas seqüelas; patologias

individuais e familiares; estrutura dinâmica familiar e uma série de outros aspectos

que são observados e trabalhados durante a avaliação do período de convivência

entre adotante e adotando.

Posteriormente o período determinado pelo juízo, os técnicos elaboram um

relatório emitindo parecer a respeito da interação entre os interessados e

prognóstico acerca da adoção. O trabalho de avaliação exige responsabilidade

Page 27: RENAN 1 CAPÍTULO

27

técnica e embasamento teórico, uma vez que o estudo realizado dará subsídios ao

julgador, o qual decidirá se os pretendentes estão ou não aptos à adoção naquele

momento.

No entanto, há casos em que a lei dispensa este período de convivência entre

as partes, conforme prevê o §1º, do artigo 46, do ECA. A primeira hipótese de

dispensa é aplicável quando o adotando não tiver mais de um ano de idade. Isso

porque, sendo uma criança recém-nascida ou de tenra idade, sua adaptação

geralmente será mais fácil e tranqüila, pois uma criança nesta faixa etária integra-se

mais facilmente na família estranha.

FURLANETTO (2013, p. 14), a previsão da alínea b, do § 1º, do artigo 46,

prescinde de estágio de convivência, quando o menor já se encontra na companhia

do adotante, antes mesmo da formalização do pedido. A lei exige, porém, que o

adotando esteja na companhia do adotante durante tempo suficiente para poder se

avaliar a conveniência da constituição do vínculo. Não basta, portanto, que a

criança ou adolescente esteja na companhia do adotante por tempo determinado,

mas sim, é preciso que o tempo de convivência entre ambos seja suficientemente

apto para o estabelecimento de vínculos.

Diante disso, tem-se que os casos de dispensa do estágio de convivência

estão em consonância com a natureza do instituto, pois exceção à regra, tão

somente prescindindo nos casos em que certamente haverá a adaptação do menor

na família substituta, seja porque é recém-nascido, ou porque já está familiarizado

com o ambiente, porquanto se encontra sob a guarda da nova família por período

suficiente modo a avaliar a relação mútua satisfatoriamente. Por fim, significa dizer

que o período de convivência nada mais é do que lapso temporal em que será

avaliada a efetiva adaptação das partes com a nova situação a que se propuseram,

verificados os requisitos essenciais para concessão do pedido, quais sejam, as reais

vantagens para o menor, e os motivos legítimos que levaram o requerente

(adotante) a manifestar interesse no pedido de adoção.

3.9 Adoção e seus conceitos

Entende-se que a adoção é uma forma artificial de filiação que visa igualar a

filiação natural, portanto, ser conhecida como filiação civil, assim sendo, não resulta

de uma relação biológica, mas sim de um impulso de vontade, logo que o sistema do

Page 28: RENAN 1 CAPÍTULO

28

Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual sistema do Estatuto da

Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), bem como no corrente Código.

Ensina-nos VENOSA (2004, p. 327):

“A filiação natural repousa sobre o vínculo de sangue, genético ou biológico; a

adoção é uma filiação exclusivamente jurídica, que se sustenta sobre a

pressuposição de uma relação não biológica, mas afetiva. A adoção moderna

é, portanto, um ato ou negócio jurídico que cria relações de paternidade e

filiação entre duas pessoas. O ato da adoção faz com que uma pessoa passe

a gozar do estado de filho de outra pessoa, independentemente do vínculo

biológico”.

WEBER (2008, p. 223), alude que:

O conceito de adoção tem variado ao longo da história, tanto de maneira legal

(Código de Hammurabi, Código de Napoleão, Lei Comum Inglesa) quanto de

maneira informal. As definições jurídicas de adoção apresentam algumas

diferenças semânticas interessantes: "gerar laços de paternidade", "criar

laços de filiação", "receber um estranho como filho", "permitir que um

estranho tenha o mesmo nível de filiação de um filho biológico", entre outras.

Desde a criação das leis sobre adoção, elas sempre permitiram acentuada

discriminação entre filhos adotivos e filhos biológicos e isso foi incorporado ao

pensamento popular, de modo que até os dias de hoje, especialmente no

Brasil, acredita-se que essa é uma filiação de "segunda categoria" porque

nela inexiste o "laço de sangue" que, desde tempos imemoriais, sempre

possibilitou a composição familiar e a distribuição de bens e terras”.

A adoção vem a ser o ato jurídico belíssimo pelo qual, analisados os

requisitos legais, sem que haja qualquer tipo de relação de parentesco, um vínculo

sentimental de filiação, deste modo, o adentrando em sua família como se nela

fosse gerado em forma de filho. Dessa forma, há uma relação jurídica de parentesco

civil entre adotante e adotado, sendo uma união legal que constitui e possibilita um

entrelaço o qual se torna de parentesco de 1º grau na linha reta.

DINIZ (1998, p. 346) alude que:

“Como se vê, é uma instituição de caráter humanitário, que tem por um lado,

por escopo, dar filhos àqueles a quem a natureza negou e por outro lado uma

Page 29: RENAN 1 CAPÍTULO

29

finalidade assistencial, constituindo um meio de melhorar a condição moral e

material do adotado”.

RODRIGUES (2002, p. 380) ensina que:

“A adoção como o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho, na qualidade

de filho. Não me parece perfeita a definição, porque o vocábulo “aceita”,

usado pelo consagrado mestre, não reflete bem o comportamento do

adotante. Em geral, este é quem toma a iniciativa do negócio. Assim, melhor

se diria que a adoção é o ato do adotante pelo qual traz ele, para sua família

e na condição de filho328, pessoa que lhe é estranha”.

FARIAS (2004, p. 21-22), diz que:

“A adoção é a inclusão em uma nova família de forma definitiva e com

aquisição de vínculo jurídico próprio de filiação de uma criança/adolescente

cujos pais morreram, aderiram expressamente ao pedido, são desconhecidos

ou mesmo não podem ou não querem assumir suas funções parentais,

motivando a que a Autoridade Judiciária em processo regular lhes tenha

decretado a perda do pátrio poder. Por muito tempo o objetivo da adoção no

Brasil foi atender aos interesses de casais que não podiam ter filhos

biológicos, deixando de lado os interesses do adotado. O Estatuto da Criança

e do Adolescente é a lei que assegura igualdade de direitos tanto para os

filhos biológicos quanto os adotados”.

Assim, pode-se compreender a conceituação de adoção como um ato

jurídico, qual uma pessoa aceita a outra como parte da família se tornando-o como

filho (a), sem haver qualquer tipo de parentesco consangüíneo ou a fim.

3.10 Tipos de adoção

3.10.1 Adoção simples

DINIZ (1998, p. 347), ensina que, a adoção simples, ou restrita, é a

concernente ao vínculo de filiação que se estabelece entre o adotante e o adotado,

que pode ser pessoa maior (RT, 628:229; Ciência Jurídica, 51:122) ou menor entre

18 e 21 anos (Lei n. 8.069/90, art. 2º, parágrafo único), mas tal posição de filho não

Page 30: RENAN 1 CAPÍTULO

30

será definitiva ou irrevogável. É regida pela Lei n. 3.133, de 8 de maio de 1957, que

atualizou sua regulamentação pelo Código Civil.

3.10.2 Adoção plena

Pode-se entender que a adoção plena é a um tipo de adoção pela qual o

menor adotado passa a ser filho legítimo dos pais adotantes, sem que haja qualquer

vínculo com os pais consangüíneos, salvo os impedimentos matrimoniais.

DINIZ (1998, p. 347) relata-nos que:

“A adoção plena ou legitimante foi a denominação introduzida, em nosso país,

pela Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Cód. de Menores), para designar

a legitimação adotiva, criada pela Lei n. 4.655/65, sem alterar, basicamente,

tal instituto. Com a revogação do Código de Menores pela Lei n. 8.069/90, art.

267, mantivemos essa nomenclatura jurídica por entendê-la conforme aos

princípios e efeitos da adoção regulada pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente e ante o fato dessa terminologia já estar consagrada

juridicamente, pois tem sido empregada desde a era de Justiniano, que

admitia tanto a adoptio plena como a adoptio minus plena, baseando tal

distinção no critério da irrevogabilidade”.

3.11 Família substituta

A mais ajustada à concepção e expressão "família substituta" usada pelo

legislador, que seguiu o princípio exposto no art. 19 do Estatuto, o qual determina

“que toda criança ou adolescente têm direito a ser criado e educado no seio de sua

família e, assim excepcionalmente em família substituta, certificada a convivência

familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes.” Para tanto, o Código de Menores usava a "colocação

em lar substituto", sendo mais correta a do Estatuto, pois o objetivo desejado é a

família.

SIQUEIRA (2004, p. 76), alude que:

Page 31: RENAN 1 CAPÍTULO

31

O novo Código não faz referência à família substituta, a exemplo do Estatuto

nos artigos 28 a 32, que é antecedente do conseqüente como a guarda, tutela

e adoção. Para melhor desenvolvimento didático da temática, antes de

penetrarmos no instituto da adoção faremos algumas considerações.

Art. 28. A colocação em família substituta dar-se-á mediante guarda, tutela ou

adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente,

nos termos desta Lei.

§ 1º - Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente

ouvida e a sua opinião devidamente considerada.

§ 2º - Na apreciação do pedido, levar-se-ão em conta o grau de parentesco e

a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as

conseqüências decorrentes da medida.

Portanto, pode-se dizer que o ECA artigo 19 e CF/88 artigo 227, tem a

premissa da proteção integral da criança e do adolescente, sendo que a criança e

adolescente dever-se-á ser criado em meio de sua família e, excepcionalmente, em

família substituta. Portanto o sentido destes artigos entende-se que, são

estabelecidas três formas de colocação de criança e de adolescente em família

substituta: guarda, tutela e adoção (ECA, art. 28).

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Área de Estudo

O município de Alto Paraguai, fundado no ano de 1948, pelo governador

Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Em 1948, a Lei n° 206 de 30 de novembro

de mesmo ano, distrito de Alto Paraguai, passa a categoria de município,

emancipando-se pelo Decreto n° 687 do município de Diamantino – MT. Os

aspectos econômicos do município caracterizam-se pela extração de minhoca e

agricultura de subsistência. Atualmente o município de Alto Paraguai IBGE (2012),

localizado na Região Médio Norte conta com uma população de 8.726 habitantes,

Page 32: RENAN 1 CAPÍTULO

32

faz limites com os municípios de Diamantino, Nobres, Rosário-Oeste, Barra do

Bugres, Denise, Nortelândia e Arenápolis.

4.2 Metodologia

Trata-se de um estudo de caso sobre a adoção na Comarca de Diamantino –

MT. Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, tendo por finalidade

analisar de que maneira acontece a adoção na Comarca de Diamantino – MT.

4.3 Analise de Dados

Os dados serão analisados e serão apresentados através de porcentagem e

apresentados em forma de gráfico do tipo setor (pizza) e tabelas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adoção é uma instituição de caráter humanitário, que tem por um lado, dar

filhos àqueles a quem a natureza negou e por outro lado uma finalidade assistencial,

estabelecendo um meio de melhorar a condição moral e material do adotado.

A definição de adoção como um ato civil de alguém que aceita um estranho

na qualidade de filho, é um pouco quanto contraponto, pois vai contra ao que o

adotante quer na sua maioria o adotante é quem busca o caminho da adoção.

A adoção vem a ser o ato jurídico belíssimo pelo qual, analisados os

requisitos legais, sem que haja qualquer tipo de relação de parentesco, um vínculo

sentimental de filiação, deste modo, o adentrando em sua família como se nela

Page 33: RENAN 1 CAPÍTULO

33

fosse gerado em forma de filho. Dessa forma, há uma relação jurídica de parentesco

civil entre adotante e adotado, sendo uma união legal que constitui e possibilita um

entrelaço o qual se torna de parentesco de 1º grau na linha reta.

A adoção como o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade

de filho. Assim, o referido conceito não foi inserido no Código que regulava a matéria

nos seus artigos 368 a378 (Cap. V, Título IV, Livro I "Do Direito de Família"), ao

aplicar o instituto da adoção o Código, de início, fê-lo com sérias barreiras, pois

apenas permitia aos maiores de 50 anos, sendo, o pai ou mãe civil, mais velho que o

filho 18 anos, pelo menos.

Portanto entendeu-se que, a adoção moderna é, portanto, um ato ou negócio

jurídico que cria relações de paternidade e filiação entre duas pessoas. O ato da

adoção faz com que uma pessoa passe a gozar do estado de filho de outra pessoa,

independentemente do vínculo biológico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: Publicada no Diário

Oficial da União n.º 191-A, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm> Acesso em:

22.04.2011

BRASIL, Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do

Adolescente: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> .

Acesso em: 22.04.2008

Page 34: RENAN 1 CAPÍTULO

34

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Maria Helena Diniz. São

Paulo: Saraiva, 1998.

FARIAS, Cristiano Chaves. Direito Constitucional à Família (ou famílias sociológicas

versus famílias reconhecidas pelo Direito: um bosquejo para uma aproximação

conceitual à luz da legalidade constitucional). Revista Brasileira de Direito de

Família, Porto Alegre, n. 23, p. 5-21, abr./maio 2004.

FURLANETTO, Carolina Dietrich. Adoção: aspectos jurídicos e sociais e a

viabilidade jurídica para os homossexuais. 2006. Disponível em <

http://www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2006_2/carolina.pdf> Acesso

em 23 de Outubrode 2013 às 08:00 horas.

PARODI, Ana Cecília. Função social das adoções & a responsabilidade social

dos Juristas. 2009. Disponível em < http://www.parana-online.com.br/canal/direito-

e-justica/news/382405/> Acesso em 23 de Outubro de 2013 às 18:00 horas.

PEREZ, Ana Paula Ariston Barion. A adoção por homossexuais: fronteiras da

família na pós-modernidade. Ana Paula Ariston Barion Peres. Rio de Janeiro,

Renovar, 2006.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: volume 6. 27 ed. etual. Por Francisco José

Cahali, com anotações ao novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002. São

Paulo: Saraiva, 2002.

ROMERA, Mario. O instituto da guarda no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id130.htm> Acesso em 29

Outubro de 2013 as 17:00horas.

SIQUEIRA, Libório. 1934. Adoção: doutrina e jurisprudência: Folha Carioca,

2004.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito da família. Sílvio de Salvo Venosa. 4

ed. São Paulo: Atlas, 2004.

Page 35: RENAN 1 CAPÍTULO

35

WALD, Arnold. O novo direito de família. 13 ed. ver.. atual e ampl. por Francisco

José Cahali, com anotações ao novo Código Civil (Lei10.406, de 10-01-2002). São

Paulo: Saraiva, 2000.

WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj. Pais e filhos por adoção no Brasil. 1ª. Ed. (ano

2001). 8ª reimpr. Curitiba: Jaruá, 2008.