rememoração, subjetividade e as bases neurais da memória autobiográfica

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    PSIC. CLIN., RIODE JANEIRO, VOL.15, N.2, P.X Y, 2003

    35ISSN 0103-5665

    PSIC. CLIN., RIODE JANEIRO, VOL.18, N.1, P.35 47, 2006

    35ISSN 0103-5665

    REMEMORAO, SUBJETIVIDADEEASBASESNEURAISDAMEMRIAAUTOBIOGRFICA

    Jean Frank*

    J. Landeira-Fernandez**

    RESUMONesta reviso abordamos o sistema de memria autobiogrfica como um processo

    de rememorao subjetiva graas ativao de um substrato neural prprio para esta qua-lidade mnemnica. A rememorao autobiogrfica recruta vias corticais extensas tendocomo ponto de convergncia a regio frontal e suas interconexes, culminando com a reaorbitofrontal. Trata-se de um processamento neural complexo capaz de integrar diferentes

    aspectos da evocao, tais como auto-identidade, controle, seletividade e emoo.Analisamos tambm a noo de amnsia orgnica e amnsia funcional com base em

    achados recentes sobre os efeitos do estresse no crebro. Dentre estas evidncias, destacam-se as alteraes morfolgicas e neuroqumicas no crebro produzidas por estmulosestressantes assim como o alvio destes efeitos atravs da psicoterapia. Este conhecimentorepresenta um avano considervel nos conceitos de psicopatologia, abrindo caminhospara a compreenso das bases neurais da personalidade.

    Palavras-chave: memria, crtex associativo, subjetividade, neuropsicologia

    ABSTRACTREMEMBERING, SUBJECTIVITYANDTHENEURALBASISOFTHEAUTOBIOGRAPHICMEMORY

    This review addresses autobiographical memory as a subjective process supported by a

    neural system appropriate for a personal recall capacity. Autobiographical recall activates extensive

    * Professor do Departamento de Psicologia, PUC-Rio, Instituto de Neurologia de Goinia,

    Bolsista de ps-doutorado do CNPq.

    **Professor do Departamento de Psicologia, PUC-Rio, Curso de Psicologia Universidade Estcio

    de S, Bolsista de produtividade do CNPq.

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    cortical pathways that converge to the frontal region and its interconnections culminating in

    the orbitfrontal area. It is a complex neuronal system capable of integrating different aspects of

    recall such as: self-identity, control, selectivity and emotion. We also analyze the notion of

    organic amnesia and functional amnesia based on recent findings of changes in the brain

    related to stress and psychological trauma. Among these evidences, we highlight the morphological

    and neurochemical disturbances in the brain caused by stressful stimuli. These data and concepts

    represent a considerable advancement regarding concepts of psychopathology and opens avenues

    for the understanding of the neurological bases of personality.

    Keywords: memory, cortex, subjectivity, neuropsychology

    INTRODUO

    A evoluo dos conhecimentos sobre a relao mente-crebro nas ltimasdcadas atingiu os vrios domnios do saber que tratam da questo do comporta-mento, personalidade e psicopatologia (Halligan e David, 2001). Como umachave para a abertura de novos caminhos, os estudos sobre mente e crebro somuito promissores. So sedutores por desvendar mistrios encerrados no corpo

    humano e suas possveis relaes com a nossa atividade mental. Acenam com apossibilidade do sempre buscado controle sobre processos complexos por intro-duzir uma abordagem por vezes considerada mais objetiva, advinda das cinciasbiolgicas. E, mais ainda, oferecem ao sujeito a oportunidade de ser objeto de siprprio ao abordar a mente como algo externo a ser observado, um rgo docorpo para ser analisado e investigado.

    A evocao da informao autobiogrfica um processamento significativopara a noo de auto-identidade. Lembramos os detalhes da nossa histria pessoal

    com todo o seu colorido emocional associado a imagens com simbologia prpria.Esse sistema permite tambm a permanncia e continuidade do eu atravs dotempo e, principalmente, a adaptao da pessoa ao seu meio interior e exterior. Oesquecimento, por outro lado, oferece ao indivduo a oportunidade de selecionare de adequar-se aos eventos que em determinado momento lhe so mais impor-tantes. Esquecer e lembrar so processos centrais nas psicoterapias dinmicas,pois refletem o acervo pessoal. Neste artigo, vamos nos valer da anlise dos dadosda neuropsicologia da memria autobiogrfica para abrir caminhos visando a

    compreenso da relao mente-crebro como um fenmeno configurado em rela-o conscincia do eu resultante da experincia pessoal e com significado pr-prio para o sujeito.

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    Abordaremos dois aspectos da neuropsicologia da memria autobiogrficapor sua repercusso sobre a subjetividade, sendo estes: i) anlise das bases neuraisda memria autobiogrfica como uma representao do passado pessoal; ii) con-sideraes, luz das investigaes com neuroimagem funcional, da neuropsicologiada memria autobiogrfica e da amnsia retrgrada focal. Abriremos a exposiocom conceitos fundamentais sobre os mltiplos sistemas de memria para emseguida destacar a importncia da memria autobiogrfica na origem de proces-sos subjetivos.

    OSMLTIPLOSSISTEMASDEMEMRIA

    A noo de memria tem uma representao popular marcante, particular-mente por sua propriedade de tornar o passado presente. Para fins da propostadeste artigo, conceituaremos a memria como sendo um processo cognitivo es-truturado por um conjunto de operaes que respondem a regras de integraocom o meio ambiente com substratos neurais especficos. Este processo de interaoresulta no registro, permanente ou no, de uma experincia atravs do tempo e emmudana no comportamento relativamente duradoura. Permite a continuidadedo indivduo, preservando sua identidade, ao longo das variaes que compem

    as experincias do cotidiano (Frank, 2002).A memria pode ser dividida em relao ao tempo e ao contedo (Markowitsch,

    2003). Em geral, a dimenso temporal entendida como memria de curtssimoprazo, memria de curto prazo, memria de longo prazo e memria de longussimoprazo. A memria de curtssimo prazo responsvel pelo armazenamento muitorpido (na ordem de alguns milissegundos), geralmente com uma representaoauditiva ou visual (Cowan, 1996). A informao na memria de curto prazo mais duradoura (na ordem de minutos), permitindo a realizao de trabalho mais

    elaborado sobre a informao inicialmente codificada. A memria operacional,conforme descrita por Baddely (2000), um tipo de memria de curto prazo qued condio para a manipulao de informaes armazenadas de forma conscien-te. Exemplos clssicos da memria operacional so a permanncia da informaopara o trabalho de deciso rpida como em certos tipos de escolha, realizao declculo mental, aplicao de regras para resolver problemas. o componente dosistema de informao humano que permite ao indivduo manter-se conscienteao longo dos eventos e das demandas mltiplas na interao com o meio. A me-

    mria de longo prazo est relacionada com informaes que foram consolidadas earmazenadas por um perodo de tempo bem mais longo (na ordem de dias emeses). Estas informaes so consolidadas dentro de uma janela de tempo e ar-

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    mazenadas nos crtices de associao de acordo com as suas propriedades e moda-lidades (McGaugh, 2000). Finalmente, memrias de longussimo prazo podemficar armazenadas por um perodo de tempo quase que ilimitado. So informa-es que foram consolidadas e podem ficar armazenadas por praticamente todauma vida.

    A diviso da memria segundo o contedo refere-se organizao das infor-maes hierarquicamente estruturadas em relao ao momento e ao local ou con-texto onde foram adquiridas (Markowitsch, 1999; Tulving, 1987). Neste sentido,a memria pode ser episdica ou semntica. A memria episdica refere-se aopassado, sendo mais especfica em termos do contexto e do tempo, ou seja, ondee quando. Atravessa o tempo, permitindo a continuidade da identidade individu-

    al, a evocao de fatos da histria pessoal, como na memria autobiogrfica. Amemria semntica voltada para o presente e contm o acervo de fatos e infor-maes sobre o mundo do indivduo, desde o conjunto de conhecimentos sobresua linguagem, vocabulrio, regras de gramtica, como conceitos e significadosdiversos. um acervo dinmico de informaes, mas no geral no requer a evoca-o temporal e de detalhes contextuais. muito duradoura e bem mais refratriaa disfunes corticais. Exemplificando, os relatos sobre um determinado acidentede automvel so dados episdicos, j a explicao sobre acidentes de automveis

    uma informao de teor semntico e menos rica de evocao episdica. As fron-teiras entre estes sistemas de memria so sujeitas a mudanas pela vontade dosujeito. Por exemplo, podemos iniciar um relato com dados mais semnticos,presentes, e dar continuidade evocando instncias especficas que requerem umacesso episdico aos dados do passado. Portanto, memria autobiogrfica temelementos semnticos, como aqueles que se referem noo do eu, e aspectosepisdicos como a rememorao de fatos contextuais (datas, faces, nomes, deta-lhes, locais) da experincia do sujeito.

    H ainda todo um sistema de memria que independe de processamentoconsciente. Destaca-se a a memria perceptual, que se refere ao julgamento defamiliaridade, o fenmeno de pr-ativao ou priming que permite o processa-mento no consciente de informaes anteriormente percebidas, e a memria deprocedimento, que responsvel pelo armazenamento de habilidades sensrio-motoras (Markowitsch, 2003). Estes tipos de memria, segundo a taxonomia avan-ada por Endel Tulving (1987), no sero alvo deste artigo por fugirem temticaproposta.

    A concepo da memria como um fenmeno neurocognitvo estruturadopor mltiplos sistemas oferece uma base conceitual importante para os dadosclnicos nos casos de amnsia. Em geral, observamos uma dissociao entre os

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    tipos de amnsia, sendo comum a debilidade da memria recente com preserva-o da memria remota. Esta dissociao indica a existncia de circuitos neuraisespecficos em relao aos diferentes sistemas de memria. Outros fenmenos dedissociao tm sido observados na investigao clnica como o esquecimentoautobiogrfico com a memria antergrada preservada, usualmente denominadode amnsia retrgrada focal. So os casos de amnsia acompanhados ou no deoutras alteraes cognitivas e de personalidade (Markowitsch, 2003). Estaremosabordando esta classe de amnsia mais adiante neste artigo.

    A memria autobiogrfica uma evocao episdica de datas, eventos e in-cidentes pessoais atravs do tempo e da relao espacial e temporal entre eles(Greenberg e Rubin 2003). mais do que uma mera evocao de fatos do passa-

    do, pois a pessoa que lembra tem conscincia da evocao como uma experinciada sua histria pessoal. Como realam Greenberg e Rubin, a memria autobio-grfica consiste numa rememorao com a conscincia de que o fato ocorreu an-teriormente consigo prprio. Neste sentido, um processo de memria que com-bina elementos de memria semntica e memria episdica. Envolve a memriasemntica, pois necessrio primeiramente um conhecimento de si prprio paraque os dados tenham significado como pertencentes ao indivduo em particular.Incorpora tambm a qualidade episdica por serem narrativas pessoais de situa-

    es, nomes, faces que foram vividos, conhecidos pelo sujeito no seu passado.Greenberg e Rubin (2003), apoiados por autores da rea, distinguem entre a

    evocao de fatos autobiogrficos, que so dados sobre a histria pessoal, e a mem-ria autobiogrfica propriamente dita, relacionada com a evocao de informaesacompanhada da sensao de rememorao dos fatos como parte da conscinciado eu. Esta experincia de rememorao enfatiza a natureza da emoo que acom-panha a conscincia da evocao autobiogrfica. Neste caso, a memria autobio-grfica acompanhada por um estado emocional prprio defamiliaridadecom o

    contexto e com o momento em que estas informaes foram adquiridas. Possivel-mente a integrao temporo-espacial entre os dados da memria autobiogrficaseja facilitada pela experincia emocional de familiaridade com o tom de perten-cimento ao eu. Em casos de demncias, conforme a patologia invade o crtex,comeam a surgir falhas no processo de evocao de informaes remotas. Estasdistores da realidade passada podem ocorrer sobre a rememorao do passadopessoal. So fatos do passado pessoal evocados com a qualidade de rememoraoconfabulada provavelmente por falhas nas vias cerebrais frontotemporais respon-

    sveis pela facilitao do acesso a informaes remotas. H falha tanto na qualida-de do dado evocado, como no colorido emocional que lhe auferido, pois ocorreum falso sentimento de rememorao dos fatos.

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    BASESNEURAISDAMEMRIAAUTOBIOGRFICA

    Este um tema efervescente na rea de neurocincias. Faremos referncia anoes j bem estabelecidas na literatura. O conceito de sistemas de memria,conforme descrito acima, advm da psicologia cognitiva, tendo oferecido basesconceituais para a compreenso da organizao funcional de reas corticais. Emtermos do que ocorre no crebro, podemos falar em etapas de operaes relacio-nadas ao processamento dos mltiplos sistemas de memria. Estas etapas so,respectivamente, codificao, consolidao e evocao e so bem conhecidas na lite-ratura experimental com animais e com humanos (Zola-Morgan e Squire, 1990).A codificao refere-se s operaes de elaborao da informao para serem ar-

    mazenadas. Geralmente envolve passagem por estruturas da regio lmbica docrebro (McGaugh, 2000; Squire, Knowlton e Mussen, 1993; Markowitsch, 1995).A etapa de consolidao tem durao limitada e permite a reteno da informaopara a elaborao e armazenamento. Envolve primordialmente vias da regio tem-poral mdia, particularmente uma estrutura chamada hipocampo. Esta estruturatem propriedade de processamento em conjuno com o crtex que permite areverberao da informao ao ser armazenada. Esta ao de reverberao essen-cial ao processo de consolidao. McGaugh (2000) faz uma reviso histrica dos

    achados sobre estas operaes de formao de memria luz de dados dasneurocincias. Este artigo oferece evidncias que refletem a fundamentao bemestabelecida no laboratrio, na clnica e na teoria desta etapa na formao dememria.

    A evocao a etapa de acesso ao material armazenado. As vias cerebrais deevocao no so as mesmas onde esto armazenadas as informaes (Markowitsch,1995). Como descrevem Greenberg e Rubin (2003), apoiados por achados comneuroimagem funcional, a regio primariamente responsvel pela evocao a

    regio frontotemporal, diferente das regies do armazenamento, que ocorre emreas corticais mais posteriores. Em relao memria autobiogrfica, a maioriados autores concorda que as vias frontotemporais coordenam a ativao entrereas extensas do crtex, produzindo um padro de atividade neural semelhantequele presente na ocasio da experincia original. reas extensas do neocrtexprximas aos crtices sensoriais provavelmente tm competncia para armazenarinformaes, principalmente aps muitas exposies aos dados, eventos, mas aextenso desta habilidade no suficientemente conhecida (Kapur e Maclelland,

    1992). Este padro de ativao bastante coerente com o conhecimento atual arespeito da organizao cortical funcional. O lobo frontal e temporal tem funona associao complexa e na formao de novas memrias (Markowitsch, 1995),

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    na conscincia do eu (Knight e Grabowecky, 2000) e na auto-identidade (Keenan,Wheeler, Gallup Jr., e Pascual-Leone, 2000) e tem sido associado a distrbios depersonalidade (Raine, Lencz Bihrle, LaCasse e Colletti, 2000); portanto, nadamais justificado do que o recrutamento destas regies no processamento da evoca-o da histria pessoal remota.

    Outras propriedades neurocognitivas da regio frontal tambm colaboramno sentido da individuao. O envolvimento da regio frontal e suas conexescom o lobo temporal permitem a seletividade por inibio e ativao um pro-cessamento crucial para o acesso aos padres de ativao cortical adequados evocao de informaes remotas do acervo pessoal. O gerenciamento do proces-samento pelas vias frontais coordena a experincia de evocao consciente de da-

    dos do passado autobiogrfico como qualificado anteriormente, seletivamenteacionando padres relevantes e inibindo os irrelevantes.

    Greenberg e Rubin (2003) acrescentam que a memria semntica essen-cial para a evocao autobiogrfica, graas sua propriedade de integrar conheci-mentos e formar laos com a simbologia particular. Apesar de as informaesprovavelmente estarem armazenadas em crtices sensoriais especficos, evidnciascom pacientes que apresentam demncias semnticas sugerem que regies tempo-rais laterais podem tambm armazenar informaes semnticas.

    Estudos com neuroimagem funcional mostraram um funcionamentoassimtrico na ativao da regio frontal nas operaes de evocao. O lobo fron-tal esquerdo tem grande participao na organizao da informao para a evoca-o tardia (Fletcher, Shallice, Frith, Frackowiak e Dolan, 1998), enquanto que aregio homloga contralateral parece ter relao com a forma pela qual uma de-terminada informao evocada (Wheeler, Stuss e Tulving, 1997). De fato,Markowitsch (2003) documentou, em diversos estudos com neuroimagem, aimportncia da regio frontotemporal direita na evocao de dados autobiogrfi-

    cos. Este autor afirma que a regio lateral frontotemporal esquerda recebe infor-maes semnticas, enquanto que a regio contralateral ativada durante a evoca-o de informaes episdicas autobiogrficas. Esta lateralizao da evocaoautobiogrfica para o hemisfrio direito provavelmente tem relao com a quali-dade emocional da rememorao, visto a importncia deste hemisfrio em pro-cessos emocionais (Davidson e Irwin, 1999).

    Vrios autores tm investigado diferenas entre a evocao de informaesnegativas e positivas. Esta dimenso qualitativa acerca da valncia emocional da

    informao evocada tem sido alvo de toda uma linha de pesquisa sobreneuropsicologia das emoes (Davidson e Irwin, 1999; Markowitsch, 2003; Franke Tomaz, 2004). Sabe-se que a amgdala tem uma funo peculiar na modulao

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    emocional e no realce da informao para um armazenamento com as proprieda-des emocionais (Cahill e McGaugh, 1995; Adolphs, Cahill, Schul e Babinsky,1997). Entretanto, ainda no est bem esclarecida a participao desta estruturana evocao de informaes autobiogrficas. Alguns estudos indicam que a ativa-o da amgdala direita (Fink, Markowitsch, Reinkmeir, Bruckbauer, Kessler eHeiss, 1996) e esquerda (Lane, Reiman et al., 1997), entre outras estruturas, estenvolvida na evocao de dados autobiogrficos. A capacidade de modulao podemodificar a recuperao da memria autobiogrfica, apesar de talvez no ter aodireta na operao de evocao. A amgdala tem conexes subcorticais com oscrtices de associao incluindo regio frontal, tendo, portanto, vrias vias paraexercer esta ao de realce da evocao autobiogrfica. Como a evocao da infor-

    mao envolve tambm uma reativao da rede neural formada na ocasio doprocessamento da informao, possvel que haja uma reativao da amgdala naetapa de rememorao.

    A memria autobiogrfica rica em imagens, tendo, portanto, uma impor-tante qualidade visual. Estudos com neuroimagem indicam que a evocao deuma histria pessoal envolve a ativao da regio occipital (Greenberg e Rubin,2003), uma rea especializada no processamento visual primrio e secundrio. Adestruio do crtex occipital pode levar amnsia retrograda. Portanto, esta re-

    gio deve ser considerada quando buscamos definir as bases neurais da memriaautobiogrfica.

    NEUROPSICOLOGIADAAMNSIARETRGRADA

    Tcnicas modernas de neuroimagem vem possibilitando o conhecimentodas diferentes formas de amnsia e seus correlatos cerebrais. Estes avanos permi-tem esclarecer uma srie de controvrsias entre amnsias orgnicas e amnsias

    psicognicas, atualmente denominadas de amnsias dissociativas, ou seja, aquelasque ocorrem na ausncia de uma leso neural especfica. Sabe-se hoje que estmu-los estressantes presentes no meio ambiente podem prejudicar o funcionamentoda memria graas a alteraes estruturais e qumicas do crebro e que a melhorada memria atravs da psicoterapia pode estar relacionada a ganhos no metabolis-mo cerebral. Por exemplo, Markowitsch (2003) descreveu o caso de um pacienteque, aps sofrer um trauma psquico, apresentou amnsia retrograda e autobio-grfica, manifestando tambm alteraes no funcionamento padro em determi-

    nadas regies neurais envolvidas na memria. Aps tratamento psicolgico bem-sucedido da amnsia, o paciente voltou a apresentar os padres esperados nestasregies neurais.

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    Uma das explicaes para os quadros de amnsia retrgrada, associados aum trauma e sem dano cerebral, seria a liberao alterada ou um desequilbrio noshormnios do eixo hipofisrio-adrenal (glucocorticides, mineralocorticides) queatuariam bloqueando o processamento da memria autobiogrfica (Markowitsch,2003; McEwen, 2000). Nesse sentido, Anderson e colegas (2004) observaram queadultos, vtimas de abuso sexual na infncia, manifestaram mudanas na morfologiacerebral assim como certos distrbios de memria. Em referncia ao estudo deAnderson, Markowitsch (2003) afirma que provavelmente alteraes nos fatoresde crescimento cerebral gerados pelo desequilbrio destes neuro-hormnios cau-sariam a mudana na morfologia cerebral. No mesmo artigo, Markowitsch, apoi-ado por pesquisas com neuroimagem de pacientes amnsicos, prope que ambos

    os tipos de amnsia retrograda (orgnica ou dissociativa), envolvem processosdissociativos, gerando determinados bloqueios de memria. Este bloqueio ocor-reria pela dessincronizao do padro de evocao. No caso da amnsia orgnica,seria devido a processos estruturais, enquanto que na amnsia dissociativa estari-am envolvidas alteraes em processos neuroqumicos no nvel da comunicaosinptica. Em ambos os casos plenamente possvel que este bloqueio surja danecessidade do eu de proteger-se de contedos ameaadores. Esta concepo cer-tamente tem relao com o conceito de mecanismos de defesa proposto por Freud.

    No entanto, outras noes advindas das teorias psicanalticas ainda no encontra-ram respaldo na pesquisa da neuropsicologia da memria, como noes desimbologia pessoal relacionadas a contedo reprimido e o conceito de inconscien-te como depositrio desconhecido e potencialmente ameaador. Cabe salientarque amnsia a um fenmeno de esquecimento de informaes episdicas e daconscincia. Envolve processos autonoticos nos termos de Tulving (1987), ouseja, fenmenos em que existe uma conscincia do engajamento do eu no proces-so de evocao.

    CONSIDERAES FINAIS

    A memria autobiogrfica uma forma complexa de memria com basesneurais prprias e distintas de outros tipos de memria. Esta qualidade nicapossivelmente decorre do carter eminentemente auto-reflexivo da rememorao.Os estudos com neuroimagem tm identificado um padro de ativao fronto-temporal consistente na atividade de evocao do passado pessoal. Este padro

    atribui memria autobiogrfica qualidades de processamento com configuraosubjetiva dimensionada para aspectos emocionais especficos. O lobo frontal uma estrutura importante nos processos relacionados a auto-identidade, consci-

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    ncia, e auto-regulao da emoo (Markowitsch, 2003; Finket al., 1996; Keenan,Wheeler, Gallup e Pascual-Leone, 2000; Knight e Grabowecky, 2000). A regiolmbica contm vias altamente especializadas no processamento da emoo comona modulao emocional, no fortalecimento da memria e aprendizagemassociativa com estmulos emocionais (Zola-Morgan e Squire, 1990; McGaugh,2000; Cahill e McGaugh, 1995). A regio orbitofrontal est relacionada com amotivao e principalmente com processos de auto-regulao avanados, sendoum local de convergncia de informaes extero e interoceptivas (Bechara, Tranele Damsio, 2000). Estas propriedades funcionais permitem que a evocao auto-biogrfica seja seletiva com relao expresso de uma histria emocional, sujeitaa efeitos de bloqueios gerados por mudanas neuro-hormonais e com variaes de

    qualidade em funo do estado motivacional do presente.O direcionamento de processos de cima para baixo envolvidos na memria

    autobiogrfica e a verticalidade da ativao das vias neurais na evocao destesistema de memria ilustram outra dimenso significativa da relao entre concei-to do eu e a neurocognio. Esta configurao do padro da memria autobiogr-fica permite uma integrao dinmica entre o passado e o presente com as quali-dades vivenciadas no passado, mas modificadas pela motivao no momento daevocao. A rede neural converge para uma regio cerebral importante para a

    conscincia do eu (regio frontal), com o aporte de informaes de vias de regiotemporal lmbica e sublmbicas com conexes somato-sensoriais e com reas deprocessamento sensorial posteriores (lobo occipital no caso da memria autobio-grfica). Isto oferece condies para a integrao entre a rememorao do estadodo corpo, a imagem visual e o contedo das lembranas com a auto-regulaoproporcionada pelo estado emocional da pessoa no momento da evocao. Porexemplo, uma situao do passado vivida como uma ocasio festiva pode serrememorada com pesar e com qualidades de culpa e dor psquica num momento

    futuro, devido a um conflito interpessoal evoludo aps o evento festivo estepode ser o caso da recordao da cerimnia de casamento na fase da separaoconjugal. Esta ao do presente sobre o passado pode ser bem mais sutil, como oesquecimento de partes dos fatos ou at mesmo confabulaes que modificam osdados reais. Este padro valida a importncia da memria como um recurso im-portante na psicoterapia. Neste sentido, o processo de buscar re-vivenciar umadeterminada experincia pessoal durante o atendimento psicanaltico configura-se como uma verdadeira rememorao, incluindo aspectos sensoriais, viscerais,

    imagticos e conceituais.Entre as questes para pesquisa na neuropsicologia, destacamos a investiga-o sobre a possibilidade de uma assimetria funcional em relao evocao de

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    fatos negativos (hemisfrio direito) e positivos (hemisfrio esquerdo). Outro as-pecto em aberto na literatura o envolvimento de regio temporal mesial, parti-cularmente o hipocampo, na etapa de evocao (Markowitsch, 1999, 2003).Dvidas tambm esto presentes em termos do padro de ativao na evocao dedados do passado remoto. Esta questo advm de problemas metodolgicos einstrumentais. Isto porque as investigaes atravs da imagem funcional aindacarecem da preciso temporal do registro necessria para realmente poder-se afir-mar se as vias ativadas e as diferenas no metabolismo regional esto primaria-mente relacionadas ao processamento em questo ou se a ativao umepifenmeno de uma rede cortical ainda desconhecida.

    Finalmente, todos estes estudos indicam como a arquitetura cerebral foi sen-

    do esculpida atravs de um processo de seleo natural, resultando em uma vidapsquica dinmica, inter-relacionada com o meio interno e externo e com possibi-lidades de variaes conjugadas. Aspectos neuroanatmicos e funcionais seentrecruzam para permitir esta riqueza da nossa atividade mental. Por exemplo, adisposio do sistema lmbico em forma de anel formado por um conjunto deestruturas que evoluram atravs da sofisticao progressiva de circuitos ao redordo tronco cerebral permite a interconexo mais econmica entre reas corticais deassociao. Possibilita tambm a comunicao entre reas corticais especializadas

    com vias intermedirias de modulao sobre o aporte de informaes subcorticaisvia hipotlamo e tlamo. Com a origem de estruturas corticais progredindo emdireo s reas neocorticais, surgiram tambm circuitos neurais capazes de co-municar-se entre si, o que possibilitou uma representao do meio externo e in-terno mais rica e precisa, assim como sua associao com aspectos emocionais.Mais ainda, este processo de evoluo permitiu que mecanismos cognitivos pu-dessem alterar a forma pela qual estas informaes previamente armazenadas po-dem ser evocadas. nesta configurao que se insere a memria autobiogrfica

    como um fenmeno de interao entre cognio e emoo relacionado consci-ncia do eu.

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    Recebido em 8 de fevereiro de 2006Aceito para publicao em 16 de maro de 2006