remediação de solo contaminado com hidrocarbonetos ... · início: agosto de 2011 / término: ......
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE QUMICA
EMANUEL JOS NASCIMENTO MARQUES
REMEDIAO DE SOLO CONTAMINADO COM HIDROCARBONETOS DERIVADOS DE COMBUSTVEIS
UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA
ORIENTADOR: PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL DA DISSERTAO DEFENDIDA POR EMANUEL JOS NASCIMENTO MARQUES, E ORIENTADA PELO PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM.
_______________________
Assinatura do Orientador
CAMPINAS, 2012
DISSERTAO DE MESTRADO APRESENTADA AO
INSTITUTO DE QUMICA DA UNICAMP PARA
OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM QUMICA
NA REA DE QUMICA ANALTICA.
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Hoje Sim
Ontem passado. Amanh futuro.
Hoje agora.
Ontem promessa. Amanh probabilidade.
Hoje ao.
Ontem parecia. Amanh quem sabe?
Hoje sem dvida. Ontem anseio.
Amanh mudana. Hoje oportunidade.
Ontem sementeira.
Amanh colheita.
Hoje seleo.
Ontem no mais.
Amanh talvez. Hoje sim.
Ontem foi. Amanh ser. Hoje .
Ontem experincia adquirida. Amanh lutas novas.
Hoje, porm, a nossa hora de fazer e de construir.
Poema do esprito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Livro Ideal
Esprita.
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Dedico este trabalho minha esposa Aline, por
sempre estar ao meu lado, me apoiando em
momentos difceis e dividindo toda a alegria a
cada nova conquista.
Dedico tambm ao meu grande irmo Caetano,
que cumpriu sua misso e nos deixou com saudade
muito cedo. Sempre vou lembrar-me de sua
alegria, que contagiava todos que tiveram o
prazer de conhec-lo.
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Wilson, por me conceder a oportunidade de trabalhar no
LQA, pela orientao, pela pacincia ao longo do perodo em que desenvolvi o
trabalho de mestrado e, principalmente, pelo seu exemplo de profissionalismo e
tica.
minha esposa Aline, que sempre me apoiou e contribuiu com
conselhos e correes durante o desenvolvimento deste trabalho.
Aos meus familiares pela confiana e apoio durante o mestrado.
CAPES, pela bolsa concedida.
Aos professores Jos Roberto Guimares e Fbio Augusto, que
contriburam muito, com suas correes e sugestes, para a verso final deste
trabalho.
Ao pessoal da Secretaria de Ps-Graduao: Bel, Miguel e Gabriela, que
me ajudaram muito durante a etapa de finalizao do trabalho.
professora Maria Isabel Felisberti, pela resoluo de problemas
relacionados a documentos e prazos.
Aos funcionrios da biblioteca do Instituto de Qumica.
Ao pessoal do LQA e do GIA: Marco, Matheus, Fernando, Nvea,
Glauciene, Cassiana, Dbora, Cludia, Cristiane, Amanda, Anderson, Igor,
Carolina, Alexandre, Juliana, Lvia, Klcia, Slvia e Kssio, pela amizade, ajuda
e valiosa troca de conhecimentos.
Ao pessoal da Repblica Fite de Bordke e agregados, pelos
momentos de alegria, msica e discusses interminveis sobre qumica e
assuntos diversos.
A todos que, direta ou indiretamente, contriburam para minha formao
profissional.
queles que esqueci-me de colocar aqui, minhas sinceras desculpas.
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CURRICULUM VITAE
Emanuel Jos Nascimento Marques
FORMAO ACADMICA
Ps-Graduao
Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Qumica Laboratrio de Qumica Ambiental Mestrado em Qumica Analtica Incio: Maro de 2008 / Trmino: Julho de 2012 Orientador: Prof. Dr. Wilson de Figueiredo Jardim
Graduao
Universidade de So Paulo USP Instituto de Qumica de So Carlos IQSC Bacharelado em Qumica com Atribuies Tecnolgicas Incio: Fevereiro de 2003 / Trmino: Dezembro de 2007
ATUAO PROFISSIONAL
Universidade Federal do Vale do So Francisco UNIVASF
Professor temporrio, Carga horria: 20 h. Curso de Licenciatura em Cincias da Natureza, Campus: Senhor do Bonfim - BA, Nvel: Graduao. Disciplinas ministradas: - Fundamentos de Qumica II (teoria e prtica); - Fsico-Qumica (teoria e prtica). Incio: Agosto de 2011 / Trmino: Janeiro de 2012
Universidade Estadual de Campinas UNICAMP
- Participao em projetos de pesquisa na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA/UNICAMP). Projetos de pesquisa: Dinmica da perda e formao de volteis odorferos durante a concentrao de suco de caju; e Perda e formao de volteis na concentrao de suco de caju. Incio: Novembro de 2010 / Trmino: Janeiro de 2012
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- Auxiliar Didtico/Monitoria da disciplina Qumica II para Engenharia de Alimentos. Programa de Estgio Docente (PED). Incio: Fevereiro de 2009 / Trmino: Agosto de 2009 - Projeto de Iniciao Cientfica - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC/UNICAMP). Orientador: Prof. Dr. Bruno Coraucci Filho. Bolsa IC - PROSAB - CNPq. Incio: Setembro de 2007 / Trmino: Dezembro de 2007
Produqumica Indstria e Comrcio S.A Produqumica
Pesquisador, Setor privado - Regime CLT, Carga horria: 40 h. Incio: Setembro de 2009 / Trmino: Novembro de 2010
PRODUO CIENTFICA
Trabalhos completos publicados em anais de congressos
MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. On site soil remediation using Fenton-like oxidative washing. In: 2nd European Conference on Environmental Applications of Advanced Oxidation Processes, 2009, Nicosia. Abstracts, 2009.
Resumos publicados em anais de congressos
BIASOTO, A. C. T.; SAMPAIO, K. L.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Reprodutibilidade de diferentes tcnicas no isolamento de compostos volteis importantes para o aroma de suco de caju. In: XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos, 2012, Campinas, SP. Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos. Campinas, SP: SBCTA, 2012. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perfil de compostos volteis em polpa pasteurizada de caju (Anacardium Occidentale L.). In: XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos, 2012, Campinas, SP. Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos. Campinas, SP: SBCTA, 2012. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Quantitative study of ester recovery during the concentration of cashew apple (Anacardium Occidentale L.) juice in a thermal-siphon type evaporator operating in a closed system. In: Book of abstracts XIII Weurman Flavour Research Symposium. Zaragoza, Spain: University of Zaragoza, 2011. v. 1. p. 148-148.
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BIASOTO, A. C. T.; SAMPAIO, K. L.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perda de steres durante a concentrao do suco de caju (Anacardium Occidentale L.) e alteraes do perfil sensorial do produto. In: Anais do 9 SLACA - Simpsio Latino Americano de Cincia de Alimentos. Campinas, So Paulo, Brasil: 2011. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Identificao e quantificao dos volteis odorferos perdidos por evaporao durante a concentrao de suco de caju. In: Anais do 9 SLACA - Simpsio Latino Americano de Cincia de Alimentos. Campinas, So Paulo, Brasil: 2011. v. 1. MARQUES, E. J. N.; JARDIM, W. F. Otimizao de reao de Fenton modificada para remediao de solo contaminado com leos combustveis. In: 32 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Qumica, 2009, Fortaleza, CE. Livro de Resumos da 32 RASBQ, 2009. MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. Remediao ex-situ de solo contaminado com hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) oriundos de leos combustveis. In: 32 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Qumica, 2009. Livro de Resumos da 32 RASBQ, 2009. BIASOTO, A. C. T.; NETTO, F. M.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perfil sensorial e fsico-qumico de vinhos tintos de mesa paulistas. In: VII Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages, 2008, Lorena, SP. Book of abstract of the VII Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages. Lorena : Escola de Engenharia de Lorena - EEL/USP, 2008. v. 1. p. 95-95. MARQUES, E. J. N.; REZENDE, M. O. O. Caracterizao fsico-qumica e determinao de metais pesados em biosslido proveniente de tratamento aerbio de esgoto para uso agrcola. In: 15 Simpsio internacional de iniciao cientfica da USP - SIICUSP, 2007, So Carlos, SP. 15 Simpsio Internacional de Iniciao Cientfica da Universidade de So Paulo, 2007. Apresentao de trabalho
MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. On site soil remediation using Fenton-like oxidative washing. In: 2nd European Conference on Environmental Applications of Advanced Oxidation Processes, 2009 (apresentao oral). ORGANIZAO DE EVENTOS
JARDIM, W. F.; SODR, F. F.; LOCATELLI, M. A. F.; MONTAGNER, C. C.; MARQUES, E. J. N. III Escola de Qumica Ambiental do IQ-UNICAMP. 2008.
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RESUMO
REMEDIAO DE SOLO CONTAMINADO COM HIDROCARBONETOS
DERIVADOS DE COMBUSTVEIS UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA
Neste trabalho foi avaliado um processo de lavagem de solo utilizando
soluo oxidante, visando a remediao de reas contaminadas com
hidrocarbonetos provenientes combustveis. O processo foi denominado de
lavagem oxidativa e consistiu na mistura de H2O2 com um catalisador de
Fenton modificado, chamado Fentox. A lavagem oxidativa foi aplicada em solo
contaminado artificialmente com leo diesel em laboratrio, a fim de avaliar as
mudanas ocorridas no perfil de distribuio dos hidrocarbonetos
remanescentes no solo tratado e verificar as condies experimentais que
resultassem em mxima remoo destes contaminantes. Foi possvel obter
remoo de 90% para alcanos totais, 69% para hidrocarbonetos policclicos
aromticos (HPA) totais, e 86% para hidrocarbonetos totais de petrleo (HTP).
O aumento na proporo entre fase lquida e fase slida resultou em maior
eficincia na remoo dos contaminantes. A lavagem do solo utilizando o
agente tensoativo dodecil benzeno sulfonato de sdio (DBSS) foi outro aspecto
investigado em laboratrio. Verificou-se que em solo com baixa concentrao
inicial de HPA o uso do tensoativo no favoreceu a solubilizao dos
contaminantes. Alm disso, a adio de tensoativo durante a lavagem oxidativa
do solo no contribuiu para melhorar o desempenho do processo de
remediao. O processo de lavagem oxidativa juntamente com soluo de
tensoativo foi aplicado em solo contaminado com leos combustveis em uma
rea localizada na cidade de So Paulo, a fim de remover os hidrocarbonetos
presentes no local. Foi obtida reduo de aproximadamente 87% do parmetro
HPA total, sendo que a extenso da remoo individual dos HPA apresentou
variaes, principalmente em funo da hidrofobicidade caracterstica de cada
composto. A lavagem oxidativa mostrou-se uma alternativa vivel sob o ponto
de vista tcnico, considerando que os resultados obtidos em campo foram
comparveis queles obtidos em laboratrio.
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ABSTRACT
REMEDIATION OF CONTAMINATED SOIL WITH HYDROCARBONS
DERIVED FROM FUELS USING OXIDATIVE WASHING
In this work a soil washing process using oxidizing solution was
evaluated, aiming the remediation of contaminated areas with hydrocarbons
derived from fuels. The selected process was called oxidative soil washing and
consists in the use of H2O2 with a modified Fentons catalyst, called Fentox.
The oxidative washing was applied first in a laboratory diesel oil contaminated
soil in order to evaluate changes in the distribution profile of hydrocarbons
remaining in the treated soil and to set the experimental conditions that resulted
in maximum removal of these contaminants. It was possible to obtain removals
of 90% for total alkanes, 69% for polycyclic aromatic hydrocarbons (PAH), and
86% for total petroleum hydrocarbons (TPH). The increase in the liquid-solid
ratio resulted in increase of the contaminant removal. The oxidative soil
washing using the surfactant sodium dodecyl benzene sulphonate (SDBS) was
another aspect investigated in the laboratory. It was found that in soil having low
initial PAH concentration, the use of surfactant did not increase the
contaminants solubilization. Furthermore, the surfactant addition during the soil
oxidative washing did not improve the performance of the remediation process.
The oxidative soil washing in the presence of the surfactant solution was
applied in a fuel contaminated soil to remove hydrocarbons. Results indicated
removal around 87 % for total PAH, with different rates according to the
hydrophobicity of each compound. Oxidative soil washing proved to be a
feasible alternative under the technical point of view, considering that results
obtained on site were comparable to the ones obtained under laboratory
conditions.
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NDICE
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ...................................................... xxiii
LISTA DE TABELAS .................................................................................... xxv
LISTA DE FIGURAS .................................................................................. xxvii
INTRODUO ................................................................................................ 1
OBJETIVOS .................................................................................................... 3
OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 3
OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................................... 3
CAPTULO 1 ...................................................................................................... 5
1 REVISO BIBLIOGRFICA ..................................................................... 5
1.1 COMBUSTVEIS DERIVADOS DE PETRLEO ...................................... 5
1.1.1 GASOLINA ............................................................................................ 7
1.1.2 LEO DIESEL ....................................................................................... 8
1.1.3 LEOS COMBUSTVEIS PESADOS .................................................... 9
1.2 HIDROCARBONETOS PROVENIENTES DE DERIVADOS DE
PETRLEO .................................................................................................. 10
1.2.1 HIDROCARBONETOS TOTAIS DE PETRLEO HTP ..................... 13
1.2.2 HIDROCARBONETOS POLICCLICOS AROMTICOS HPA .......... 17
1.3 REAS CONTAMINADAS: PROBLEMTICA DA CONTAMINAO POR
POSTOS DE ABASTECIMENTO, TRANSPORTADORES,
REVENDEDORES E RETALHISTAS DE COMBUSTVEIS ......................... 22
1.4 CONTAMINAO DO SOLO POR VAZAMENTOS DE COMBUSTVEIS
...................................................................................................................... 25
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xx
1.4.1 CARACTERSTICAS DO SOLO .......................................................... 25
1.4.2 DINMICA DOS HIDROCARBONETOS NO SOLO ............................ 28
1.5 REMEDIAO DE REAS CONTAMINADAS ....................................... 32
1.5.1 PROCESSOS OXIDATIVOS AVANADOS POA ............................ 36
1.5.2 REAO DE FENTON ........................................................................ 39
1.5.3 USO DE TENSOATIVOS EM PROCESSOS DE REMEDIAO ........ 42
1.6 LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE POSTOS E SISTEMAS
RETALHISTAS DE COMBUSTVEIS E QUALIDADE DE SOLOS E GUAS
SUBTERRNEAS ........................................................................................ 44
1.7 REFERNCIAS ................................................................................... 48
CAPTULO 2 .................................................................................................... 61
2 TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO COM LEO DIESEL EM
LABORATRIO ............................................................................................ 61
2.1 INTRODUO ........................................................................................ 61
2.2 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 62
2.2.1 PRESERVAO DAS AMOSTRAS .................................................... 63
2.2.2 PREPARO DAS AMOSTRAS .............................................................. 64
2.2.2.1 Extrao e concentrao das amostras ........................................ 64
2.2.2.2 Cleanup dos extratos .................................................................... 64
2.2.2.3 Sntese da slica bsica ................................................................. 65
2.2.2.4 Preparo da slica ativada lavada com diclorometano .................... 65
2.2.2.5 Preparo do cobre ativado .............................................................. 65
2.2.3 ANLISE CROMATOGRFICA........................................................... 66
2.2.4 DETERMINAO DE UMIDADE DAS AMOSTRAS DE SOLO .......... 69
2.2.5 TESTES DE RECUPERAO ............................................................ 69
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xxi
2.2.6 TRATAMENTO DE SOLO UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA ....... 69
2.3 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 71
2.3.1 CARACTERIZAO DO SOLO........................................................... 71
2.3.1.1 Distribuio dos hidrocarbonetos aps contaminao do solo ...... 72
2.3.2 TESTES DE RECUPERAO ............................................................ 77
2.3.3 TRATAMENTO DE SOLO UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA ....... 79
2.3.3.1 Alcanos individuais ........................................................................ 85
2.3.3.2 HPA individuais ............................................................................. 90
2.4 CONCLUSES ....................................................................................... 93
2.5 REFERNCIAS ...................................................................................... 94
CAPTULO 3 .................................................................................................. 101
3 USO DE TENSOATIVOS NO TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO
- EXPERIMENTOS EM LABORATRIO .................................................... 101
3.1 INTRODUO ...................................................................................... 101
3.2 MATERIAL E MTODOS ..................................................................... 104
3.2.1 DETERMINAO DA CMC DO TENSOATIVO................................. 104
3.2.2 LAVEGEM DO SOLO UTILIZANDO SOLUO DE TENSOATIVO .. 105
3.2.3 USO DE TENSOATIVO COMO AGENTE AUXILIAR DURANTE A
LAVAGEM OXIDATIVA DO SOLO ............................................................. 106
3.3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................ 107
3.3.1 DETERMINAO DA CMC DO TENSOATIVO................................. 107
3.3.2 LAVEGEM DO SOLO UTILIZANDO SOLUO DE TENSOATIVO .. 110
3.3.3 USO DE TENSOATIVO COMO AGENTE AUXILIAR DURANTE A
LAVAGEM OXIDATIVA DO SOLO ............................................................. 115
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xxii
3.4 CONCLUSES ..................................................................................... 118
3.5 REFERNCIAS .................................................................................... 119
CAPTULO 4 .................................................................................................. 123
4 ESTUDO DE CASO: TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO COM
LEOS COMBUSTVEIS EM REA LOCALIZADA NA VILA CARIOCA EM
SO PAULO ............................................................................................... 123
4.1 INTRODUO ...................................................................................... 123
4.2 MATERIAL E MTODOS ..................................................................... 125
4.3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................ 128
4.4 CONCLUSES ..................................................................................... 138
4.5 REFERNCIAS .................................................................................... 138
CAPTULO 5 .................................................................................................. 141
5 CONSIDERAES FINAIS E PERSPECTIVAS .................................. 141
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xxiii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Bicombustveis
ATSDR Agncia para o Registro de Substncias Txicas e Doenas, do ingls, Agency for Toxic Substances and Disease Registry
CERCLA
Ao de Responsabilidade, Compensao e Resposta
Ambiental Compreensiva, do ingls, Comprehensive
Environmental Response, Compensation, and Liability Act
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo
CG-EM Cromatografia Gasosa acoplada Espectrometria de Massas
CMC Concentrao Micelar Crtica
CMCef Concentrao Micelar Crtica Efetiva
COT Carbono orgnico total
cP Centipoise
DBSS Dodecil benzeno sulfonato de sdio
DNAPL Fase livre no aquosa densa, do ingls, Dense Non-aqueous Phase Liquid
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
GAC Grupo Gestor de reas Crticas
HPA Hidrocarbonetos Policclicos Aromticos
HTP Hidrocarbonetos Totais de Petrleo
IARC Agncia Internacional para Pesquisa sobre o Cncer, do ingls, International Agency for Research on Cancer
KOW Coeficiente de Partio Octanol-gua
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xxiv
LNAPL Fase livre no aquosa leve, do ingls, Light Non-aqueous Phase Liquid
MO Matria orgnica
NAPL Fase livre no aquosa, do ingls, Non-aqueous Phase Liquid;
NFE Nonilfenol etoxilado
leo BPF leo de baixo ponto de fluidez
POA Processos Oxidativos Avanados
PVC Policloreto de vinila, do ingls, polyvinyl chloride
RPM Rotaes por minuto
SIM Monitoramento Seletivo de ons, do ingls, Selective Ion Monitoring
TPHCWG Grupo de Trabalho sobre Hidrocarbonetos Totais de Petrleo, do ingls, Total Petroleum Hydrocarbons Criteria Working Group
TRR Transportadores, revendedores e retalhistas de combustveis
USEPA Agncia de Proteo Ambiental dos Estados Unidos, do ingls, United States Environmental Protection Agency
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xxv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1: Classificao dos leos combustveis utilizada no Brasil em funo
do teor de enxofre e viscosidade (adaptado de PETROBRS, 2009-b). ......... 10
Tabela 1.2: Classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios de acordo com a
USEPA (IARC, 2010). ...................................................................................... 19
Tabela 1.3: Valores de massa molar, solubilidade e log KOW para os 16 HPA
prioritrios pela EPA (NIST, 2011a; NIST, 2011b; JONSSON et al., 2007). .... 21
Tabela 1.4: Sistemas tpicos de POA (HUANG, citado por TEIXEIRA &
JARDIM, 2004). ................................................................................................ 37
Tabela 1.5: Classificao e estrutura qumica de alguns agentes tensoativos
(MANIASSO, 2001). ......................................................................................... 42
Tabela 1.6: Relao de normas da ABNT aplicveis revenda de combustveis
(adaptado de ABNT, 2011; DA SILVA, 2010)................................................... 46
Tabela 1.7: Valores de referncia para alguns hidrocarbonetos presentes em
solo e gua subterrnea (adaptado de CONAMA n 420, 2009; CETESB,
2006b; CETESB, 2005b). ................................................................................. 47
Tabela 2.1: Parmetros cromatogrficos utilizados para anlise de HPA,
alcanos e HTP. ................................................................................................. 66
Tabela 2.2: ndices de reteno e ons selecionados para deteco de cada
HPA. ................................................................................................................. 67
Tabela 2.3: Parmetros experimentais utilizados nos ensaios. ........................ 70
Tabela 2.4: Caractersticas do solo utilizado nos experimentos. ...................... 72
Tabela 2.5: Concentrao e distribuio relativa dos alcanos presentes no solo
contaminado. .................................................................................................... 73
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xxvi
Tabela 2.6: Concentrao e distribuio relativa dos HPA presentes no solo
contaminado ..................................................................................................... 74
Tabela 2.7: Concentraes de HPA e HTP encontradas em solos utilizados em
diferentes trabalhos. ......................................................................................... 76
Tabela 2.8: Recuperao mdia dos surrogates no solo em estudo (n=3)1. .... 77
Tabela 2.9: Recuperao mdia dos surrogates obtidas em outros estudos
utilizando mtodos analticos similares1. .......................................................... 78
Tabela 2.10: Concentrao dos alcanos, HPA e HTP presentes no solo
contaminado e aps cada ensaio de remediao. ........................................... 80
Tabela 2.11: Remoo dos contaminantes, valores utilizados para razo slido-
lquido e concentrao de H2O2 nos ensaios. .................................................. 83
Tabela 2.12: Remoo obtida para cada alcano nos diferentes ensaios. ........ 85
Tabela 2.13: Remoo obtida para cada HPA em diferentes ensaios. ............ 92
Tabela 3.1: Solubilidade em gua e concentrao dos HPA presentes no solo
contaminado utilizado no experimento (NIST, 2011a). ................................... 112
Tabela 4.1: Concentrao (mg kg-1 solo seco) dos HPA avaliados no solo
contaminado e remanescentes aps a primeira e terceira aplicao de H2O2.
....................................................................................................................... 130
Tabela 4.2: Valores de solubilidade, log KOW e porcentagem remoo obtida
para cada HPA aps a terceira aplicao de H2O2 (NIST, 2011a; NIST, 2011b;
ZANDER, 1983). ............................................................................................ 133
Tabela 4.3: Remoo de HPA utilizando processos baseados no reagente
Fenton em trabalhos encontrados na literatura. ............................................. 137
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xxvii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distribuio das reas contaminadas cadastradas no Estado de So
Paulo, por atividade em dezembro de 2011 (adaptado de CETESB, 2011). ..... 1
Figura 1.1: Produtos provenientes da destilao fracionada do petrleo
(adaptado de DA SILVA, 2008). ......................................................................... 6
Figura 1.2: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alifticos ou alcanos. ..... 11
Figura 1.3: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alicclicos ou cicloalcanos.
......................................................................................................................... 11
Figura 1.4: Exemplos de hidrocarbonetos insaturados presentes no petrleo. 12
Figura 1.5: Exemplos de hidrocarbonetos aromticos. .................................... 12
Figura 1.6: Exemplos de hidrocarbonetos policclicos aromticos. .................. 12
Figura 1.7: Exemplos de compostos no-hidrocarbonetos, contendo
heterotomos e pertencentes a outros grupos funcionais. ............................... 13
Figura 1.8: Cromatograma de uma mistura contendo diversos hidrocarbonetos,
mostrando as faixas caractersticas para cada produto derivado de petrleo
(adaptado de SENN & JOHNSON, 1987). ....................................................... 14
Figura 1.9: Cromatogramas obtidos em anlise para determinao de HTP em
amostra de petrleo e de seus produtos derivados (gasolina, nafta, querosene,
querosene de aviao JP-5 e diesel), ilustrando as diferenas em relao ao
perfil cromatogrfico (adaptado de TESTA & WINEGARDNER, 2000). ........... 15
Figura 1.10: Estrutura dos 16 HPA prioritrios de acordo com a EPA. ............ 18
Figura 1.11: Estrutura dos compostos benzo[a]antraceno (A), benzo[a]pireno
(B) e dibenzo[ah]antraceno (C), com suas regies de baa destacadas. ......... 20
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xxviii
Figura 1.12: Distribuio dos acidentes atendidos pela CETESB durante o
perodo de 1984 a 2010, considerando separadamente as ocorrncias em
postos e sistemas retalhistas de combustveis, e casos envolvendo outras
atividades excluindo postos e sistemas retalhistas de combustveis (CETESB,
2010; CETESB, 2009; CETESB, 2008; CETESB, 2007; CETESB, 2006;
CETESB, 2005). ............................................................................................... 23
Figura 1.13: Caracterizao esquemtica das zonas do subsolo quanto
presena de gua (BORGHETTI et al., 2004). ................................................. 26
Figura 1.14: Formao de LNAPL e DNAPL aps vazamento de tanque
contendo produtos qumicos (adaptado de PARIA, 2008). .............................. 29
Figura 1.15: Distribuio das fases de contaminao originadas por vazamento
de combustveis derivados de petrleo (adaptado de TESTA &
WINEGARDNER, 2000). .................................................................................. 31
Figura 1.16: Nmero de reas e tcnicas de remediao aplicadas, de acordo
com o ltimo levantamento de reas contaminadas e reabilitadas no Estado de
So Paulo (adaptado de CETESB, 2011). ....................................................... 33
Figura 1.17: Representao ilustrativa de uma molcula de tensoativo
(MESQUITA, 2004). ......................................................................................... 43
Figura 1.18: Organizao das molculas de tensoativo abaixo e acima da CMC
(MANIASSO, 2001). ......................................................................................... 44
Figura 2.1: Cromatograma obtido aps anlise do solo contaminado com leo
diesel, mostrando a distribuio dos HTP. ....................................................... 75
Figura 2.2: Eficincia de remoo dos contaminantes em funo da razo
slido-lquido utilizada nos ensaios. ................................................................. 81
Figura 2.3: Distribuio dos n-alcanos (C10 at C18, incluindo pristano e fitano)
no solo contaminado e aps realizao dos diferentes tratamentos (ST = solo
-
xxix
sem tratamento, E-1 = ensaio 1, E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4,
E-5 = ensaio 5). ................................................................................................ 86
Figura 2.4: Distribuio dos alcanos (C19 at C30) no solo contaminado e aps
realizao dos diferentes tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1 = ensaio
1, E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4, E-5 = ensaio 5). ................. 87
Figura 2.5: Distribuio relativa de alcanos remanescentes no solo
contaminado e aps aplicao dos tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1
= ensaio 1, E-5 = ensaio 5). ............................................................................. 89
Figura 2.6: Distribuio relativa dos alcanos remanescentes no solo
contaminado e aps aplicao dos tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1
= ensaio 1, E-5 = ensaio 5). ............................................................................. 89
Figura 2.7: Distribuio dos HPA remanescentes no solo contaminado e aps
aplicao de diferentes tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1 = ensaio 1,
E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4, E-5 = ensaio 5)...................... 91
Figura 3.1: Representao grfica da condutividade especfica de uma soluo
em funo da concentrao de tensoativo mostrando o ponto de interseco
entre as duas regies lineares, utilizado para a determinao da CMC do
tensoativo (adaptado de ZANETTE et al., 2006). ........................................... 103
Figura 3.2: Determinao da CMC do DBSS a partir do ponto de interseco
entre as retas, utilizando uma soluo do tensoativo em gua desionizada. . 108
Figura 3.3: Determinao da CMC do DBSS a partir do ponto de interseco
entre as retas, utilizando soluo de detergente comercial e solo em
suspenso, na proporo mssica solo:gua de 1:5 (o crculo destaca a regio
onde, possivelmente, ocorre adsoro inicial de molculas do tensoativo no
solo). .............................................................................................................. 110
Figura 3.4: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) remanescentes no solo
aps lavagem somente com gua desionizada e lavagem com solues de
-
xxx
tensoativo em diferentes concentraes, aps 24 h sob agitao (DBSS =
dodecil benzeno sulfonato de sdio). ............................................................. 111
Figura 3.5: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) remanescente no solo
aps testes de lavagem com diferentes tensoativos e durao de 1, 8 e 12 h
(Solo cont. = solo contaminado; DBSS = dodecil benzeno sulfonato de sdio;
NFE-1 = nonilfenol etoxilado, fabricante 1; NFE-2 = nonilfenol etoxilado,
fabricante 2). .................................................................................................. 114
Figura 3.6: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) no solo contaminado e
remanescentes aps aplicao dos seguintes tratamentos: (1) lavagem
oxidativa sem uso de tensoativo; (2) lavagem oxidativa com adio de
tensoativo no incio do tratamento, sem pr-adio; e (3, 4 e 5) lavagem
oxidativa com etapa prvia de lavagem com soluo de tensoativo durante 2, 6
e 24 h (LO = lavagem oxidativa; T = tensoativo). ........................................... 116
Figura 4.1: Vista area obtida por satlite destacando a rea contaminada.
Coordenadas globais: Coordenada sul: 23 36 02; Coordenada oeste: 46 35
08 (Imagem obtida por meio do software Google Earth verso 6.2, em outubro
de 2011). ........................................................................................................ 123
Figura 4.2: Interior das instalaes da empresa desativada, no local onde
anteriormente localizavam-se os tanques de armazenamento de combustveis
(imagem obtida em outubro de 2008). ........................................................... 124
Figura 4.3: Tanques abertos impermeabilizados com mantas de PVC utilizados
para realizao da lavagem oxidativa do solo (imagem obtida em outubro de
2008). ............................................................................................................. 126
Figura 4.4: Solo contaminado sendo escavado e transferido para o local de
tratamento (imagem obtida em outubro de 2008). ......................................... 127
Figura 4.5: Processo de lavagem oxidativa on-site do solo em andamento
(imagem obtida em outubro de 2008). ........................................................... 128
-
xxxi
Figura 4.6: Remoo obtida para HPA total e para os HPA avaliados aps a
primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 131
Figura 4.7: Aparncia do solo antes (A) e depois (B) do tratamento (imagens
obtidas entre outubro e novembro de 2008)................................................... 132
Figura 4.8: Evoluo da concentrao (mg kg-1 solo seco) dos HPA contendo
diferentes nmeros de anis no solo contaminado e remanescentes aps a
primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 134
Figura 4.9: Evoluo da concentrao individual (mg kg-1 solo seco) dos HPA
contendo cinco e seis anis no solo contaminado e remanescentes aps a
primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 135
-
xxxii
-
1
INTRODUO
A contaminao de solos e, consequentemente, guas subterrneas por
derivados de combustveis uma questo ambiental relevante no cenrio atual.
Segundo o levantamento realizado em dezembro de 2011 pela Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB) foram
identificados 3217 postos de combustveis com contaminao, representando 78%
de todas as reas contaminadas do Estado (CETESB, 2011). Alm de postos de
abastecimento, outra fonte de contaminao so empresas retalhistas1 de
combustveis, responsveis por inmeros casos de vazamentos. Na Figura 1
mostrada a distribuio das reas contaminadas no Estado de So Paulo,
separadas por atividade, segundo o ltimo levantamento realizado pela CETESB
em dezembro de 2011.
Figura 1: Distribuio das reas contaminadas cadastradas no Estado de So
Paulo, por atividade em dezembro de 2011 (adaptado de CETESB, 2011). 1 Empresas que desempenham a atividade de transportador-revendedor-retalhista (TRR).
Suas atividades compreendem: aquisio de combustveis a granel, de leos lubrificantes e de graxas envasados; armazenamento, transporte e revenda a retalho com entrega ao consumidor; e o controle de qualidade e a assistncia tcnica ao consumidor quando da comercializao de combustveis (ANP, 2008).
-
2
Segundo a CETESB (CETESB, 2011), de um total de 4131 reas
contaminadas, alm dos postos de combustveis, com 3217 registros, foram
cadastradas reas que correspondem a atividades industriais, com 577 registros;
atividades comerciais, com 179 registros; instalaes para destinao de resduos,
com 121 registros; e casos de acidentes e fontes de contaminao de origem
desconhecida, com 37 registros.
Estes dados evidenciam a situao preocupante relacionada aos casos de
contaminaes provenientes de postos de abastecimento e outras atividades
ligadas ao transporte, armazenagem e comercializao de combustveis. Neste
cenrio, clara a necessidade de medidas adequadas para a preveno de novos
casos de contaminao e aplicao de tcnicas adequadas para o tratamento das
reas contaminadas.
O tratamento de solos e guas subterrneas tem representado um grande
desafio, pois estas matrizes so complexas e apresentam grande afinidade por
diversos compostos, sendo necessrio o uso de processos eficientes para a
remoo dos contaminantes. Em muitos casos, as tcnicas de tratamento
adotadas no permitem a remoo dos compostos ou a reduo de suas
concentraes dentro de valores estabelecidos pela legislao. Assim, o interesse
pelo desenvolvimento de novas tecnologias de remediao tem aumentando nos
ltimos anos. Neste cenrio destacam-se os chamados Processos Oxidativos
Avanados (POA), que tm atrado grande interesse da comunidade cientfica e
industrial (NOGUEIRA et al., 2007), j que so eficientes na degradao de
diversos compostos txicos e recalcitrantes, alm de apresentarem baixos custos
operacionais. Os POA so caracterizados pela gerao de radicais hidroxila
(OH), que so altamente oxidantes e permitem a completa degradao de uma
ampla variedade de contaminantes, resultando em produtos como gua, dixido
de carbono e ons inorgnicos.
Neste contexto, outra tcnica que vem sendo utilizada com sucesso nos
ltimos anos, isoladamente ou em conjunto com outras tecnologias de
remediao, a lavagem de solo utilizando solues de tensoativos (PARIA,
2008). O uso de tensoativos durante o tratamento pode aumentar a solubilidade e
-
3
favorecer a dessoro dos contaminantes, melhorando o desempenho do
processo de remediao.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
O objetivo principal deste trabalho foi aplicar um processo de lavagem de
solo utilizando soluo oxidante, visando a remediao de reas contaminadas
com hidrocarbonetos provenientes de combustveis.
OBJETIVOS ESPECFICOS
- Aplicar o processo de lavagem oxidativa em solo contaminado
artificialmente com leo diesel em laboratrio, a fim de verificar as condies
experimentais que promovessem a mxima remoo dos contaminantes. Nesta
etapa, foram avaliadas as mudanas ocorridas no perfil de distribuio dos
hidrocarbonetos remanescentes no solo tratado e a eficincia de remoo destes
compostos em funo das diferentes propores entre solo, gua e H2O2
utilizadas nos experimentos.
- Avaliar se o uso de tensoativos durante o tratamento do solo poderia
favorecer a remoo dos contaminantes, melhorando o desempenho do processo
de remediao.
- Aplicar o processo de lavagem oxidativa, juntamente com soluo de
tensoativo, em solo contaminado com leos combustveis em uma rea localizada
na cidade de So Paulo, a fim de remover os hidrocarbonetos presentes no local.
-
4
-
5
CAPTULO 1
1 REVISO BIBLIOGRFICA
1.1 COMBUSTVEIS DERIVADOS DE PETRLEO
O petrleo um material natural fssil, que vem se mantendo como
principal insumo energtico da sociedade industrializada. Em seu estado natural
uma mistura complexa de compostos orgnicos formada principalmente por
hidrocarbonetos, que podem alcanar at 96% da composio total em alguns
tipos de leo (ALBERS, 2003; TESTA & WINEGARDNER, 2000). Os constituintes
encontrados em menores quantidades so compostos contendo oxignio,
nitrognio e enxofre; alm de metais, como nquel, vandio e ferro (WANG et al.,
1999). Os hidrocarbonetos presentes no petrleo so classificados de acordo com
suas caractersticas estruturais e normalmente so divididos em trs grupos
principais: (1) alcanos (parafinas); (2) cicloalcanos (naftenos); e (3) arenos
(aromticos) (ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998). A
proporo relativa entre os diferentes grupos de hidrocarbonetos pode variar
amplamente dependendo do reservatrio de origem do leo, j que sua
composio extremamente influenciada por condies fsico-qumicas,
biolgicas e geolgicas do ambiente de formao. Assim, praticamente
impossvel defini-la precisamente (TESTA & WINEGARDNER, 2000; FREEDMAN,
1995).
O petrleo no utilizado diretamente em seu estado natural, sendo
convertido em produtos com aplicao comercial, tais como combustveis e
matrias-primas utilizadas em diversos segmentos industriais. O processo para
obteno dos derivados de petrleo, comumente conhecido como refino,
realizado por meio de destilao fracionada, alm de outros processos
-
6
complementares, tais como craqueamento cataltico, craqueamento trmico,
hidrocraqueamento, reforma cataltica, hidrotratamento, entre outros; que tm
como finalidade promover transformaes especficas na composio qumica das
fraes obtidas por destilao fracionada, alm de remover impurezas que podem
inibir o processo de refino ou prejudicar o desempenho dos combustveis
produzidos (WANG & BROWN, 2008; SPEIGHT, 2002; TESTA &
WINEGARDNER, 2000).
Figura 1.1: Produtos provenientes da destilao fracionada do petrleo (adaptado
de DA SILVA, 2008).
-
7
O petrleo separado em vrias fraes durante o processo de destilao,
que so obtidas em intervalos de temperatura e presso definidos. Estas fraes
correspondem a diferentes produtos comerciais, e so usualmente classificadas
de acordo com o nmero de tomos de carbono de seus componentes e faixa de
ebulio (KAIPPER, 2003). Na Figura 1.1 mostrado um esquema simplificado do
processo de destilao fracionada do petrleo e os produtos provenientes de cada
frao.
Atualmente, cerca de 90% do petrleo comercializado no mundo utilizado
para produo de combustveis que, consequentemente, representam uma classe
de produtos de grande relevncia (PETROBRS, 2008). Dentre os combustveis
derivados de petrleo que apresentam grandes demandas atualmente, destacam-
se a gasolina, leo diesel e leos combustveis pesados, que sero tratados mais
detalhadamente a seguir (ANP, 2010; ALBERS, 2003).
1.1.1 GASOLINA
A gasolina automotiva tem notvel destaque dentre os combustveis
derivados do petrleo, j que grandes quantidades so utilizadas para abastecer a
frota automotiva. No ano de 2010 foram consumidos no Brasil cerca de 30 milhes
de metros cbicos de gasolina C (ANP, 2011). A gasolina automotiva uma
mistura complexa de hidrocarbonetos volteis contendo entre 5 a 12 tomos de
carbono e outros aditivos qumicos, possuindo faixa de ebulio entre 30 a 225C
(MONTEIRO et al., 2009; TAKESHITA et al., 2008). A predominncia de
compostos com baixa massa molar resulta em elevada volatilidade, baixa
viscosidade, e moderada solubilidade em gua (DA SILVA, 2008; SACORAGUE,
2004; TESTA & WINEGARDNER, 2000). As refinarias brasileiras produzem e
fornecem para as distribuidoras um combustvel denominado gasolina A, que
um produto obtido diretamente do processo de refino do petrleo, sem aditivos.
Entretanto, devido s leis brasileiras vigentes, esta gasolina no comercializada
nos postos de abastecimento. Desta forma, as distribuidoras adicionam etanol
anidro gasolina A, originando um combustvel chamado gasolina C
-
8
(MONTEIRO et al., 2009; TAKESHITA et al., 2008; SACORAGUE, 2004). O
volume de etanol adicionado pode variar em funo dos perodos de safra e
entressafra da cana e ao comportamento dos mercados global e interno de etanol,
mantendo-se normalmente entre 20 e 25% na mistura. Em 2011 o e etanol anidro
foi adicionado na proporo de 20% em volume nos meses de fevereiro a abril e
25% em volume nos demais meses (ANP, 2011).
1.1.2 LEO DIESEL
O leo diesel o principal combustvel comercializado no mercado
brasileiro. utilizado principalmente nos transportes de cargas e de passageiros,
nas mquinas agrcolas e locomotivas (PETROBRS, 2009-a). Em 2010 seu
consumo alcanou cerca de 49 milhes de metros cbicos (ANP, 2011). O leo
diesel composto principalmente por hidrocarbonetos contendo entre 10 a 20
tomos de carbono e pequena quantidade de enxofre, nitrognio e oxignio,
apresentando uma faixa de ebulio entre 125 a 380 C (SACORAGUE, 2004;
EPA, 1996).
Atualmente a Petrobrs fornece trs tipos de leo diesel automotivo, que
apresentam diferentes teores de enxofre e so disponibilizados de acordo com o
tamanho da frota de veculos presente em cada cidade: (1) leo diesel
metropolitano, que possui concentrao de enxofre de 500 mg kg-1 de leo
(0,05%) e est presente nos centros urbanos, onde h grande circulao de
veculos; (2) leo diesel de interior, que apresenta concentrao de enxofre de
1800 mg kg-1 de leo (0,18%), sendo encontrado nos municpios brasileiros com
menor frota de veculos; e (3) leo diesel S50, com uma concentrao de enxofre
de 50 mg kg-1 de leo (0,005%) e que est sendo introduzido nos grandes centros
urbanos, proporcionando grande reduo das emisses de material particulado
(PETROBRS, 2009-a).
-
9
1.1.3 LEOS COMBUSTVEIS PESADOS
leos combustveis pesados, tambm chamados de leo combustveis
residuais, so constitudos pelo material remanescente da destilao direta do
petrleo ou fraes resultantes de processos de craqueamento do petrleo para
obteno de gasolina e outros produtos (LEIVA, 2005). Atualmente, os leos
combustveis pesados comercializados so produzidos a partir de misturas entre
leos residuais e leo diesel ou outros combustveis mais leves, visando
obteno de produtos com viscosidade adequada para uso martimo ou industrial
(WANG & BROWN, 2008). Assim, a composio bastante complexa destes leos
no depende somente do petrleo que os originou, mas tambm do tipo de
processo e misturas que sofreram nas refinarias, para atender s exigncias do
mercado consumidor numa ampla faixa de viscosidade (PETROBRS, 2009-b).
Os leos combustveis pesados so amplamente utilizados em indstrias
para aquecimento de fornos e caldeiras, ou em motores de grande porte e baixa
rotao, como os motores de grandes navios. No Brasil, so classificados de
acordo com a portaria n 80 da Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e
Bicombustveis (ANP) de 30 de abril de 1999 (ANP, 1999). Os principais
parmetros utilizados para classificao destes leos so viscosidade e teor de
enxofre. Em relao ao teor de enxofre, so classificados em dois grupos (A e B),
sendo cada grupo subdividido em 9 tipos de leo de acordo com suas
viscosidades. leos combustveis pertencentes ao grupo A possuem um teor de
enxofre mximo de 5,5% em massa, exceto para leo 1A que deve possuir 5% de
enxofre em massa. Os leos pertencentes ao grupo B possuem baixo teor de
enxofre e devem apresentar no mximo 1% deste elemento em massa (ANP,
1999). Na Tabela 1.1 mostrada a classificao dos leos combustveis utilizada
no Brasil em funo do teor de enxofre e viscosidade.
-
10
Tabela 1.1: Classificao dos leos combustveis utilizada no Brasil em funo do
teor de enxofre e viscosidade (adaptado de PETROBRS, 2009-b).
Viscosidade1
(SSF2 a 50C)
leo tipo A
(alto teor de enxofre)
leo tipo B
(baixo teor de enxofre)
600 1A3 1B
900 2A 2B
2.400 3A 3B
10.000 4A 4B
30.000 5A 5B
80.000 6A 6B
300.000 7A 7B
1.000.000 8A 8B
> 1.000.000 9A 9B 1Viscosidade cinemtica determinada em viscosmetro do tipo Saybolt Furol. A
viscosidade determinada em viscosmetros que se baseiam no tempo de escoamento
de um dado volume de leo a temperatura constante; 2Segundos Saybolt Furol; 3Tambm
conhecido como leo de baixo ponto de fluidez - BPF (BIZZO, 2003).
1.2 HIDROCARBONETOS PROVENIENTES DE DERIVADOS DE
PETRLEO
Os produtos derivados de petrleo, assim como o petrleo original, tambm
so misturas complexas constitudas principalmente por hidrocarbonetos, alm de
compostos contendo enxofre, nitrognio, oxignio, e pequena quantidade de
metais. Normalmente, estes constituintes so classificados em dois grupos:
hidrocarbonetos e no-hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos ainda podem ser
subdivididos em grupos contendo compostos com caractersticas estruturais e
comportamento qumico semelhante, tais como hidrocarbonetos saturados,
insaturados e aromticos (ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP,
1998).
-
11
Os hidrocarbonetos saturados so os compostos encontrados em maiores
quantidade nos derivados de petrleo e so divididos em dois grupos: (1)
hidrocarbonetos saturados alifticos, que podem apresentar cadeia carbnica
linear ou ramificada (Figura 1.2); (2) hidrocarbonetos saturados alicclicos, tambm
chamados de cicloalcanos, que possuem cadeia carbnica cclica, formadas por
um ou mais anis, que tambm podem conter cadeias carbnicas laterais lineares
(Figura 1.3) (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING
GROUP, 1998).
Figura 1.2: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alifticos ou alcanos.
Figura 1.3: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alicclicos ou cicloalcanos.
Os hidrocarbonetos insaturados no so encontrados naturalmente no
petrleo bruto, sendo originados durante os processos de craqueamento, onde
molculas saturadas de maior massa molar e complexas so quebradas
originando molculas menores. Durante a quebra pode ocorrer formao de
ligaes duplas, principalmente quando no h quantidade de hidrognio
suficiente para saturao das novas estruturas formadas. Os hidrocarbonetos
insaturados podem apresentar cadeias lineares, ramificadas ou cclicas (Figura
-
12
1.4) (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING
GROUP, 1998).
Figura 1.4: Exemplos de hidrocarbonetos insaturados presentes no petrleo.
Os compostos aromticos constituem uma classe especial de
hidrocarbonetos insaturados, nos quais a estrutura molecular formada por anis
benznicos (Figura 7). Alguns compostos desta classe podem ter um ou mais
tomos de hidrognio substitudos por cadeias carbnicas laterais e so
chamados genericamente de alquil benzenos (Figura 1.5), enquanto outros
apresentam dois ou mais anis benznicos conjugados e so conhecidos como
hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) (Figura 1.6) (WANG & BROWN,
2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998).
Figura 1.5: Exemplos de hidrocarbonetos aromticos.
Figura 1.6: Exemplos de hidrocarbonetos policclicos aromticos.
-
13
Os compostos minoritrios, tambm chamados de no-hidrocarbonetos,
so encontrados no petrleo e em seus produtos derivados em quantidades muito
inferiores aos hidrocarbonetos. So representados por substncias orgnicas
contendo heterotomos como enxofre, nitrognio e oxignio, tais como cidos,
teres, entre outros (Figura 1.7). Durante o processo de refino estes compostos
so concentrados nas fraes mais pesadas, logo, produtos que possuem alto
ponto de ebulio podem apresentar quantidades mais significativas destes
compostos (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING
GROUP, 1998).
Figura 1.7: Exemplos de compostos no-hidrocarbonetos, contendo heterotomos
e pertencentes a outros grupos funcionais.
1.2.1 HIDROCARBONETOS TOTAIS DE PETRLEO HTP
A composio dos derivados de petrleo pode variar amplamente, de forma
que cada produto possui uma distribuio nica de hidrocarbonetos, que
resultado de caractersticas intrnsecas do processo de fabricao, como
intervalos de temperatura e presso em que so obtidos, alm de outros
processos complementares aplicados durante o refino. Na Figura 1.8 mostrada,
por meio de um cromatograma obtido de uma mistura de compostos encontrados
no petrleo, a faixa de hidrocarbonetos caracterstica de alguns de seus produtos
derivados.
-
14
Figura 1.8: Cromatograma hipottico de uma mistura contendo diversos
hidrocarbonetos, mostrando as faixas caractersticas para cada produto derivado
de petrleo (adaptado de SENN & JOHNSON, 1987).
Os hidrocarbonetos derivados de petrleo so frequentemente tratados pelo
termo hidrocarbonetos totais de petrleo (HTP), que utilizado para descrever
uma grande famlia contendo centenas de compostos qumicos, provenientes do
petrleo natural ou de seus derivados. Desta forma, este termo contempla todos
os hidrocarbonetos presentes em um determinado produto (ATSDR, 2011; TPH
CRITERIA WORKING GROUP, 1998). Na Figura 1.9 so mostrados os perfis
cromatogrficos obtidos em anlises para determinao de HTP em amostra de
petrleo e de alguns de seus produtos derivados.
A complexa composio destes produtos torna difcil a anlise individual de
seus constituintes que, em muitos casos, no um procedimento prtico para ser
adotado em estudos ambientais. Assim, o uso dos HTP como parmetro para
avaliao de uma rea contaminada uma opo mais simples e rpida. Alm
disso, um parmetro normalmente avaliado pelos rgos de fiscalizao
ambiental para verificao da qualidade de solo e gua (ATSDR, 2011; TPH
CRITERIA WORKING GROUP, 1998).
-
15
Figura 1.9: Cromatogramas obtidos em anlise para determinao de HTP em
amostra de petrleo e de seus produtos derivados (gasolina, nafta, querosene,
querosene de aviao JP-5 e diesel), ilustrando as diferenas em relao ao perfil
cromatogrfico (adaptado de TESTA & WINEGARDNER, 2000).
A definio do termo HTP depende do mtodo analtico adotado, j que
reflete a concentrao total de hidrocarbonetos extrados e determinados
utilizando um mtodo particular. O resultado normalmente obtido pela soma de
-
16
todos os compostos eludos dentro de uma faixa pr-definida de acordo com o
mtodo utilizado. Desta forma, um resultado que representa uma mistura de
compostos. Assim, se a mesma concentrao de HTP for encontrada em duas
amostras distintas, uma anlise individual dos compostos pode revelar diferenas
em suas composies e, portanto, diferentes riscos sade humana e ao
ambiente. Neste contexto, pode-se citar como exemplo o caso em que duas reas
contaminadas apresentam concentrao de HTP de 500 mg kg-1, mas uma anlise
detalhada revela que uma rea contm compostos carcinognicos, enquanto a
outra possui hidrocarbonetos menos txicos. Alm disso, no existe um nico
mtodo analtico estabelecido para determinao dos HTP. Logo, a mesma
amostra pode produzir resultados diferentes, no sendo possvel estabelecer uma
correlao entre os valores obtidos por mtodos analticos distintos. Estas
caractersticas tm gerado controvrsias sobre o uso dos HTP como parmetro
para apoiar decises importantes durante processos de remediao
(NASCIMENTO et al., 2008; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998; IRWIN et
al., 1997).
O uso de informaes individuais sobre os poluentes presentes em uma
rea contaminada pode ser a abordagem mais adequada, mas em geral, vivel
somente em locais contaminados com uma quantidade relativamente pequena de
compostos. Em locais onde um grande nmero de substncias est presente,
como o caso de reas contaminadas com derivados de petrleo, a avaliao dos
hidrocarbonetos por faixas especficas pode representar uma opo adequada.
Este tipo de avaliao tem carter mais prtico e pode proporcionar resultados
satisfatrios, como pode ser verificado no trabalho realizado pelo TPHCWG (do
ingls, Total Petroleum Hydrocarbons Criteria Working Group), que desenvolveu
um estudo sistemtico onde mais de 200 hidrocarbonetos foram agrupados em um
pequeno nmero de fraes, contendo compostos com propriedades fsico-
qumicas similares. Estas fraes podem ser utilizadas para obteno de
informaes mais confiveis e realistas durante a avaliao de uma rea
contaminada (TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1997).
-
17
1.2.2 HIDROCARBONETOS POLICCLICOS AROMTICOS HPA
Os hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) so compostos muito
relevantes em estudos relacionados contaminao por derivados de petrleo,
pois apresentam elevada toxicidade e so persistentes no ambiente. Os HPA
constituem uma classe de compostos orgnicos que apresentam dois ou mais
anis aromticos conjugados. No so produzidos intencionalmente e so
originados como subprodutos de processos naturais ou antrpicos, em geral, a
partir da combusto incompleta ou pirlise de matria orgnica (RIVAS, 2006). Os
HPA tambm so encontrados naturalmente no petrleo e em seus derivados
(ALBERS, 2003). Estes compostos so amplamente distribudos no ambiente e as
principais fontes de emisses naturais so erupes vulcnicas
(STRACQUADANIO et al., 2003), incndios florestais de origens naturais,
afloramentos de petrleo (SERUTO et al., 2005) e snteses biolgicas (WILCKE et
al., 2003). As emisses antrpicas so resultantes de processos de combusto de
biomassa e combustveis fsseis. Acidentes ambientais envolvendo petrleo e
derivados, tais como vazamentos em petroleiros ou tanques de armazenamento
de combustveis, tambm representam um importante aporte destes
contaminantes no ambiente (LOCATELLI, 2006).
Os HPA so considerados os compostos potencialmente carcinognicos
mais amplamente distribudos no ambiente (RIVAS, 2006). Muitos destes
compostos so legislados, j que apresentam comprovada toxicidade e
carcinogenicidade para seres humanos e animais (IARC, 2010). Em 1997, a
ATSDR (do ingls, Agency for Toxic Substances and Disease Registry)
juntamente com a USEPA (do ingls, United States Environmental Protection
Agency) formularam uma lista, conhecida como CERCLA Priorit List, classificando
substncias potencialmente txicas para os seres humanos. Os critrios utilizados
em sua elaborao foram: frequncia de ocorrncia, toxicidade e potencial de
exposio humana. Assim, cada um destes fatores recebeu pontos que no final
foram somados, e o resultado foi utilizado na classificao das substncias.
Aquelas que obtiveram maior pontuao ocuparam os primeiros lugares. A
-
18
CERCLA Priorit List atualizada a cada dois anos, quando h uma reviso das
pontuaes e incluso de novas substncias (ATSDR, 2011b; LOCATELLI, 2006).
A partir desta lista a EPA passou a priorizar 16 HPA em seus estudos. Atualmente
o conjunto destes HPA ocupa a 9 posio na lista (ATSDR, 2011a). Na Figura
1.10 so exibidas as estruturas dos 16 HPA prioritrios pela EPA.
Figura 1.10: Estrutura dos 16 HPA prioritrios de acordo com a EPA.
-
19
A Agncia Internacional para Pesquisa sobre o Cncer (IARC, do ingls,
International Agency for Research on Cancer) responsvel por classificar
diversos compostos qumicos com potencial cancergeno ao homem. As
substncias so divididas em cinco grupos, de acordo com sua toxicidade:
Grupo 1 - substncias cancergenas ao homem;
Grupo 2A substncias provavelmente cancergenas ao homem;
Grupo 2B substncias possivelmente cancergenas ao homem;
Grupo 3 substncias no cancergenas ao homem;
Grupo 4 substncias provavelmente no cancergenas ao homem.
Tabela 1.2: Classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios de acordo com a
USEPA (IARC, 2010).
Compostos Grupo IARC Potencial cancergeno
Naftaleno 2B
Acenaftileno No classificado
Acenafteno No classificado
Fluoreno 3
Fenantreno 3
Antraceno 3
Fluoranteno 3
Pireno 3
Benzo[a]antraceno 2A
Criseno 3
Benzo[b]fluoranteno 2B
Benzo[k]fluoranteno 2B
Benzo[a]pireno 2A
Indeno[123-cd]pireno 2B
Dibenzo[ah]antraceno 2A
Benzo[ghi]perileno 3
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20
Dentre os 16 HPA prioritrios pela USEPA, os compostos mais txicos so
benzo[a]antraceno, benzo[a]pireno e dibenzo[ah]antraceno, que so classificados
pela IARC como substncias provavelmente cancergenas ao homem. A
classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios pela USEPA mostrada na
Tabela 1.2.
A toxicidade dos HPA est associada a caractersticas estruturais. Os
compostos mais txicos apresentam uma regio de baa em suas molculas, que
favorece a ocorrncia de uma srie de reaes associadas a efeitos mutagnicos
e carcinognicos no organismo. A regio de baa a regio exterior cncava de
um HPA, formado, no mnimo por trs anis aromticos (VIANA, 1981). Na Figura
1.11 so mostradas as estruturas de alguns HPA e suas regies de baa. A ao
txica dos HPA deve-se a alta reatividade de metablitos oxigenados, tais como
epxidos e dihidrodiis, que so formados quando determinados HPA so
metabolizados pelo organismo humano ou de outros animais. Estes metablitos
podem se ligar a protenas celulares e bases nitrogenadas do DNA, causando
danos celulares, que podem originar mutaes e tumores cancergenos
(LOCATELLI, 2006; ALBERS, 2003).
Figura 1.11: Estrutura dos compostos benzo[a]antraceno (A), benzo[a]pireno (B) e
dibenzo[ah]antraceno (C), com suas regies de baa destacadas.
-
21
Os HPA possuem baixa solubilidade em gua, onde o naftaleno, que o
composto mais solvel, apresenta solubilidade de 31,3 mg L-1. O aumento da
quantidade de anis aromticos na estrutura, com consequente aumento da
massa molar, resulta em diminuio da solubilidade destes compostos. Outra
caracterstica importante so os altos valores do coeficiente de partio octanol-
gua (KOW), mostrando a forte tendncia dos HPA em permanecerem adsorvidos
no material particulado, especialmente associados frao orgnica do solo
(ZHOU & ZHU, 2005). A Tabela 1.3 mostra os valores de massa molar,
solubilidade e log KOW para os 16 HPA prioritrios pela USEPA.
Tabela 1.3: Valores de massa molar, solubilidade e log KOW para os 16 HPA
prioritrios pela EPA (NIST, 2011a; NIST, 2011b; JONSSON et al., 2007).
Composto Massa molar
(g mol-1)
Solubilidade
(g L-1)
Log KOW
Naftaleno 128,17 31300 3,40
Acenaftileno 152,19 3970 3,94
Acenafteno 154,21 3930 3,92
Fluoreno 166,22 1980 4,18
Fenantreno 178,23 1290 4,60
Antraceno 178,23 73 4,50
Fluoranteno 202,25 260 5,22
Pireno 202,25 135 5,18
Benzo[a]antraceno 228,29 14 5,61
Criseno 228,29 2 5,91
Benzo[b]fluoranteno 252,31 1,2 6,29
Benzo[k]fluoranteno 252,31 0,55 6,59
Benzo[a]pireno 252,31 3,8 6,50
Indeno[123-cd]pireno 276,33 2,7 6,58
Dibenzo[ah]antraceno 278,35 0,5 6,70
Benzo[ghi]perileno 276,33 0,26 7,10
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22
1.3 REAS CONTAMINADAS: PROBLEMTICA DA
CONTAMINAO POR POSTOS DE ABASTECIMENTO,
TRANSPORTADORES, REVENDEDORES E RETALHISTAS DE
COMBUSTVEIS
Em maio de 2002, a CETESB divulgou pela primeira vez uma lista contendo
a relao das reas contaminadas no Estado de So Paulo, registrando a
existncia de 255 reas com algum tipo de contaminao. Esta lista atualizada
periodicamente, sendo a ltima atualizao realizada em dezembro de 2011,
resultando num total de 4131 registros na relao de reas contaminadas e
reabilitadas no Estado. Segundo a CETESB (2011), o aumento no nmero de
registros de reas contaminadas durante o perodo de 2002 a 2011 deve-se,
principalmente, ao rotineira de fiscalizao e licenciamento de postos de
combustvel e outras atividades potencialmente poluidoras. Cabe ressaltar que o
grande nmero de reas contaminadas identificadas atualmente est diretamente
relacionado ao desconhecimento ou desrespeito, em dcadas passadas, de
procedimentos seguros para o manejo de substncias perigosas, alm de
inmeros acidentes ou vazamentos ocorridos durante o desenvolvimento de
processos produtivos, transporte ou armazenamento de matrias primas e
produtos (CETESB, 2011).
Segundo a ANP (ANP, 2011), em 2010 foram cadastrados no Brasil 38235
postos de combustveis. Deste total, 41,7% encontrava-se na Regio Sudeste;
20,8% na Regio Sul; 21,9 % na Regio Nordeste; 8,7% na Regio Centro-Oeste;
e 7,0% na Regio Norte. So Paulo foi o Estado que concentrou o maior nmero
de postos, totalizando 8962 estabelecimentos, correspondendo a 23,4% do total
nacional. Alm de postos de abastecimento, outra fonte de contaminao so
transportadores, revendedores e retalhistas de combustveis (TRR), que tambm
realizam atividades ligadas ao transporte, armazenamento e comercializao
destes produtos. Em 2010 foram cadastrados 387 TRR no pas, distribudos da
seguinte forma: Regio Sudeste com 29,7% dos registros; Regio Sul com 37,2%
-
23
dos registros; Regio Nordeste com 5,7% dos registros; Regio Centro-Oeste com
22,0% dos registros; e Regio Norte com 5,4% dos registros (ANP, 2011). Neste
caso, o Estado de So Paulo tambm concentrou o maior nmero de empresas,
totalizando 71 registros, correspondendo a 18,3% do total nacional.
Figura 1.12: Distribuio dos acidentes atendidos pela CETESB durante o perodo
de 1984 a 2010, considerando separadamente as ocorrncias em postos e
sistemas retalhistas de combustveis, e casos envolvendo outras atividades
excluindo postos e sistemas retalhistas de combustveis (CETESB, 2010;
CETESB, 2009; CETESB, 2008; CETESB, 2007; CETESB, 2006; CETESB, 2005).
-
24
Os combustveis automotivos so normalmente armazenados em tanques
subterrneos e vazamentos em postos e sistemas retalhistas so problemas que
ocorrem com frequncia. Durante a dcada de 1970 houve um aumento
significativo no nmero de postos de gasolina no pas, e como a vida til dos
tanques de armazenamento de aproximadamente 25 anos, muitos j esto em
fase de substituio. O envelhecimento e deteriorao destes sistemas podem
aumentar ainda mais o nmero de casos de vazamentos e, consequentemente, de
reas contaminadas (SOARES, 2008; FERREIRA, 2000). Assim, o nmero
elevado de postos de abastecimento com tanques de armazenamento com
possibilidade de vazamento tem sido objeto de crescente preocupao, haja vista
os riscos associados a estes eventos, que podem afetar drasticamente a
qualidade do solo e gua subterrnea, ameaando a segurana e sade da
populao e meio ambiente (MINDRISZ, 2006). Alm do problema relacionado
vida til dos tanques de armazenamento, outros fatores como a falta de
manuteno de equipamentos e tubulaes, ou falhas operacionais devido ao
despreparo de profissionais que atuam nos estabelecimentos, tambm contribuem
de forma significativa para os casos de vazamentos (CETESB, 2005).
Em muitos casos, a contaminao pode ocorrer lentamente, devido a
vazamentos constantes ou intermitentes de pequenas quantidades de
combustvel, que so de difcil identificao, passando despercebidos durante
muito tempo. Em contrapartida, vazamentos causados por acidentes tambm
contribuem significativamente para a contaminao do ambiente. Esta contribuio
pode ser verificada por meio de informaes obtidas do setor de Operaes de
Emergncia, que foi criado pela CETESB em 1978, e realiza o atendimento a
situaes emergenciais que representam riscos populao e ao meio ambiente,
ocasionados por eventos acidentais em atividades de produo, transporte,
manipulao ou armazenamento de produtos qumicos. Durante o perodo de
1984 a 2010, o nmero de ocorrncias emergenciais com vazamentos de
combustveis automotivos em postos e sistemas retalhistas atendidas pela
CETESB, correspondeu a 8,5% do total de casos registrados, correspondendo a
-
25
709 acidentes do total de 8387 emergncias registradas durante este perodo. Na
Figura 1.12 pode-se verificar a quantidade de acidentes ambientais atendidos pela
CETESB no perodo de 1984 a 2010 considerando o total de emergncias
excluindo casos envolvendo postos e sistemas retalhistas de combustveis; e
considerando somente os postos e sistemas retalhistas de combustveis.
Apesar do relevante nmero de casos, nem todos os acidentes so
registrados e tratados corretamente, pois na maioria das ocorrncias, aes
corretivas so tomadas pelos prprios proprietrios dos estabelecimentos ou pelas
distribuidoras, sem a devida comunicao CETESB (CETESB, 2005).
1.4 CONTAMINAO DO SOLO POR VAZAMENTOS DE
COMBUSTVEIS
1.4.1 CARACTERSTICAS DO SOLO
O solo um sistema complexo constitudo por trs fases: slidos, lquidos e
gases. A frao slida formada por constituintes inorgnicos, como os
argilominerais, que apresentam superfcie carregada negativamente e elevada
capacidade de troca inica; e orgnicos, como cidos hmicos e flvicos, que
podem interagir fortemente com diversos compostos orgnicos por meio de
diversos mecanismos, tais como processos envolvendo soro, e contribuir para a
reteno dos poluentes. H outras caractersticas importantes do solo, como
dimetro e espessura dos poros, ou proporo entre gua e ar nos poros, que
tambm so fatores que afetam a mobilidade dos contaminantes. Assim, pode-se
considerar que o solo atua como um filtro, com capacidade de imobilizao de
grande parte das impurezas depositadas. Entretanto, existe um limite para que
este processo ocorra naturalmente, podendo ocorrer alteraes devido ao efeito
cumulativo, resultante do aporte contnuo de contaminantes. Quando esta
capacidade esgotada, os contaminantes atingem as guas subterrneas
(CORRER, 2008; SOARES, 2008; MEURER, 2000).
-
26
O solo em sua subsuperfcie dividido em duas zonas verticais: saturada e
no saturada, de acordo com a proporo relativa do espao poroso que
progressivamente ocupado pela gua (FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997). A
Figura 1.13 mostra a classificao das zonas do subsolo quanto presena de
gua.
Figura 1.13: Caracterizao esquemtica das zonas do subsolo quanto
presena de gua (BORGHETTI et al., 2004).
A zona no saturada, tambm chamada de zona de aerao ou vadosa,
est situada entre a superfcie fretica e a superfcie do terreno onde os poros
esto parcialmente preenchidos por gua e gases (principalmente ar e vapor
dgua). A partir da superfcie do solo, essa zona divide-se em trs partes
(SOARES, 2008; FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997):
(1) Zona de umidade do solo ou zona de evapotranspirao: a parte mais
superficial, onde a perda de gua de adeso para a atmosfera intensa. Em
alguns casos muito grande a quantidade de sais que se precipitam na superfcie
do solo aps a evaporao da gua, originando solos salinizados ou crostas
-
27
ferruginosas (laterticas). Esta regio est situada entre os extremos radiculares
da vegetao e a superfcie do terreno. A sua espessura, portanto, pode variar de
poucos centmetros (na ausncia de cobertura vegetal) at vrios metros em
regies de vegetao abundante. Nesta regio as plantas utilizam a gua para as
suas funes de transpirao e nutrio.
(2) Zona Intermediria: regio compreendida entre a zona de umidade do
solo e da franja capilar. A umidade existente nesta zona origina-se de evaporao
de gua subterrnea e est localizada fora do alcance das razes.
(3) Zona Capilar: a regio mais prxima ao nvel d'gua do lenol fretico,
estende-se da superfcie fretica at o limite da ascenso capilar da gua. A sua
espessura depende principalmente da distribuio de tamanho dos poros e da
homogeneidade do terreno. Como a umidade decresce de baixo para cima, na
parte inferior, prximo da superfcie fretica, os poros encontram-se praticamente
saturados. J nas partes mais superiores, somente os poros menores encontram-
se preenchidos com a gua, de modo que o limite superior desta zona tem uma
forma irregular, denominada de franja capilar. Dependendo das caractersticas
climatolgicas da regio ou do volume de precipitao e escoamento da gua, a
franja capilar pode permanecer permanentemente a grandes profundidades, ou se
aproximar da superfcie horizontal do terreno, originando as zonas encharcadas ou
pantanosas.
A zona saturada ou de saturao a regio localizada abaixo da zona no
saturada onde os poros ou fraturas das rochas esto totalmente preenchidos por
gua. Nesta regio, a gua corresponde ao excedente da zona no saturada que
se move em velocidades muito lentas, formando um manancial subterrneo. Uma
frao desta gua ir desaguar na superfcie dos terrenos, formando as fontes e
nascentes. Esta zona pode ser dividida basicamente em duas regies (SOARES,
2008; FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997):
-
28
(1) gua subterrnea: a regio localizada abaixo da superfcie fretica e
nela todos os espaos vazios existentes no terreno esto preenchidos com gua.
(2) gua em poros no conectados: a regio onde so formados
acmulos de gua entre rochas constitudas de material pouco poroso existentes
em camadas mais profundas do solo.
1.4.2 DINMICA DOS HIDROCARBONETOS NO SOLO
Quando ocorrem vazamentos de produtos derivados de petrleo no
subsolo, seus constituintes tendem a percolar em direo ao lenol fretico sob
influncia da gravidade, foras capilares e difuso longitudinal. No caso de um
derramamento que no ultrapasse a capacidade de reteno do solo, os
contaminantes permanecem adsorvidos ou presos por capilaridade nas partculas
do solo, no atingindo o nvel da gua subterrnea. Entretanto, quando o volume
liberado no ambiente supera esta capacidade de reteno, a pluma de
contaminao alcana o nvel de gua, onde a massa de contaminantes se
acumula e lentamente transportada. Neste caso, dependendo da densidade de
seus componentes, pode ser formada uma pluma de contaminao sobre o nvel
de gua ou ocorrer a migrao dos contaminantes at um estrato menos
permevel, onde ficaro acumulados.
Os hidrocarbonetos so compostos menos densos que a gua e, portanto,
seus vazamentos originam plumas de contaminao que permanecem sobre o
nvel de gua (SANCHES, 2009; EPA, 1996). A diferena entre propriedades
fsicas e qumicas da gua e dos hidrocarbonetos resulta na formao de uma
fase lquida, imiscvel com gua, que comumente chamada de fase livre ou fase
livre no aquosa (NAPL, do ingls, Non-aqueous Phase Liquid). A fase livre pode
ser classificada como fase livre no aquosa leve (LNAPL, do ingls, Light Non-
aqueous Phase Liquid), quando os contaminantes apresentam densidades
menores que a da gua; ou em fase livre no aquosa densa (DNAPL, do ingls,
Dense Non-aqueous Phase Liquid), para contaminantes mais densos que a gua.
-
29
A Figura 1.14 ilustra a formao de LNAPL e DNAPL (SANCHES, 2009; EPA,
1995; EPA, 1990).
Figura 1.14: Formao de LNAPL e DNAPL aps vazamento de tanque contendo
produtos qumicos (adaptado de PARIA, 2008).
Alm da formao de fase livre, o vazamento de combustveis no solo pode
resultar na formao de outras diferentes fases de contaminao, nas quais os
compostos podem se distribuir, sendo a partio e permanncia em cada fase
determinadas por propriedades fsico-qumicas dos compostos e condies
ambientais (ABDANUR, 2005; EPA, 1996). Segundo Azambuja et al. (2000),
Sauck (2000) e EPA (1995), as fases de contaminao que se manifestam aps
vazamentos de combustveis so listadas a seguir. Na Figura 1.15 so mostradas
as possveis fases de contaminao originadas por vazamento de combustveis
derivados de petrleo.
(1) Fase livre: formada pela frao de hidrocarbonetos que no se dissolveram.
Estudos experimentais mostram que esta fase no composta somente por
hidrocarbonetos, que ocupam cerca de 50% dos vazios do solo, mas tambm por
gua e ar. Desta forma, no existe um limite bem definido entre fase livre e as
demais fases, mas uma faixa de transio que apresenta espessura varivel, de
acordo com a viscosidade dos hidrocarbonetos presentes, magnitude e frequncia
-
30
das oscilaes freticas, quantidade de oxignio disponvel, porosidade do solo e
o tempo transcorrido desde o vazamento, entre outros fatores intervenientes. A
fase livre representa uma fonte secundria de contaminao para as fases vapor,
dissolvida, residual e condensada.
(2) Fase adsorvida: caracteriza-se por uma fina pelcula de hidrocarbonetos
adsorvidos aos colides orgnicos e minerais do solo. Normalmente uma frao
do produto em fase lquida tambm permanece retida por foras capilares nos
interstcios do solo ou poros da zona no saturada, e recebe o nome de fase
residual. Devido a variaes naturais no nvel do lenol fretico, a fase adsorvida
ocupa uma faixa sobre o topo da fase livre. A extenso desta faixa depende da
viscosidade do produto, da porosidade do solo e das oscilaes do aqufero
fretico. Apresenta maior importncia em casos de vazamento de produtos mais
viscosos como o diesel, onde grande parte de seus constituintes permanece
adsorvida.
(3) Fase dissolvida: resultado da dissoluo de compostos que apresentam
maior solubilidade e fraes de hidrocarbonetos emulsionadas, que possuem
maior molhabilidade e se dissipam abaixo do nvel da gua subterrnea.
Apresenta maior importncia em casos de vazamento de fludos menos viscosos
como a gasolina. A quantidade de hidrocarbonetos dissolvidos depende das
condies de degradao ou bioconverso do produto, estando muito mais
relacionada participao da fase adsorvida e muito menos ligada espessura da
fase livre. A menor espessura da fase livre favorece a dissoluo de componentes,
porque o ambiente ideal para a ocorrncia do fenmeno deve ser oxigenado e
com pH mais baixo.
(4) Fase vaporizada: composta pela frao gasosa dos componentes volteis
dos combustveis que ocupa os poros solo. Est presente em meio s demais
fases, sendo mais significativa na regio no saturada do solo. Apresenta maior
-
31
importncia para os hidrocarbonetos de menor ponto de ebulio, como aqueles
presentes na gasolina.
(5) Fase condensada: normalmente ocorre em reas urbanas onde a
pavimentao do solo intensa, tornando-o pouco permevel. Caracteriza-se pelo
acmulo de produtos condensados sob o pavimento. semelhante fase
adsorvida, entretanto, apresenta composio diferente do produto original em
decorrncia do fracionamento seletivo dos compostos que ocorre durante a
vaporizao.
Figura 1.15: Distribuio das fases de contaminao originadas por vazamento de
combustveis derivados de petrleo (adaptado de TESTA & WINEGARDNER,
2000).
A dinmica de distribuio dos contaminantes entre as diferentes fases
determinada por mecanismos de transporte de massa, e os processos de maior
importncia so adveco, disperso e atenuao (AZAMBUJA et al., 2000; EPA,
1996). Quando a mistura de compostos presente no combustvel liberada no
solo, infiltrando-se na zona no saturada at atingir a zona saturada, o percurso
controlado por meio destes mecanismos, que promovem a partio dos
constituintes para as fases slida, lquida e gasosa (FERREIRA, 2000).
Durante o fenmeno de adveco os contaminantes migram junto ao fluxo
da gua subterrnea e, normalmente, no ocorre reduo da massa ou
concentrao dos contaminantes. o mecanismo principal na formao e
-
32
mobilizao da fase livre de hidrocarbonetos (KULKAMP, 2003; AZAMBUJA et al.,
2000).
A disperso responsvel pela diminuio da concentrao dos
contaminantes e ocorre por dois processos: disperso hidrodinmica e difuso
molecular. A disperso hidrodinmica responsvel pelo espalhamento de uma
pluma de contaminao em direes longitudinais e transversais direo da
migrao da pluma. Enquanto que a difuso molecular caracterizada pelo
movimento de uma substncia de uma rea de alta concentrao para outra de
baixa concentrao. um fenmeno de diluio de componentes solveis e o
principal processo formador da fase dissolvida (MINDRISZ, 2006; KULKAMP,
2003).
O processo de atenuao consiste na reduo da concentrao de
contaminantes transportados pela adveco ou disperso por meio de processos
qumicos, fsico-qumicos e biolgicos. As reaes de bioconverso, pelas quais
fraes dos hidrocarbonetos so transformadas em cidos orgnicos ou so
completamente oxidadas, apresentam grande importncia neste processo. A
atenuao qumica mais intensa na regio com maior disponibilidade de
oxignio e est intimamente associada ao biolgica. A atenuao fsico-
qumica responsvel pela formao da fase adsorvida e consiste no
aprisionamento de contaminantes que se aderem s partculas do solo. Em
associao com mecanismos de atenuao qumica, responsvel pela formao
de fase dissolvida (KULKAMP, 2003; AZAMBUJA et al., 2000; EPA, 1995b).
1.5 REMEDIAO DE REAS CONTAMINADAS
Nas ltimas dcadas ocorreram avanos significativos nos estudos
relacionados recuperao ambiental que, atualmente, fornecem subsdios para a
crescente demanda em relao ao gerenciamento de reas contaminadas.
Diversas tecnologias de remediao tm sido desenvolvidas e consolidadas em
muitos pases e, neste contexto, o Brasil recentemente comeou a desenvolver
suas prprias tecnologias e tambm a adaptar tecnologias j estabelecidas s
-
33
nossas condies ambientais. O Estado de So Paulo, em funo de sua intensa
industrializao, apresenta um grande nmero de reas contaminadas e,
atualmente, diversas aes para remediao destes locais esto em andamento
(MARIANO, 2006).
Figura 1.16: Nmero de reas e tcnicas de remediao aplicadas, de acordo
com o ltimo levantamento de reas contaminadas e reabilitadas no Estado de
So Paulo (adaptado de CETESB, 2011).
O ltimo levantamento realizado pela CETESB (CETESB, 2011)
contemplando as reas contaminadas e reabilitadas no Estado, mostrou que de
um total de 4131 reas cadastradas, 264 j foram reabilitadas e 787 encontram-se
em processo de monitoramento para reabilitao, correspondendo,
respectivamente, a 6% e 19% do total dos registros. Nestas reas, foi constatado
que as tcnicas mais empregadas para o tratamento de gua subterrnea (zona
-
34
saturada) foram: bombeamento e tratamento, recuperao de fase livre e extrao
multifsica; enquanto a remoo de solo/resduos e a extrao de vapores foram
as tcnicas mais utilizadas para tratamento de solo (zona no saturada). Outras
tcnicas empregadas podem ser visualizadas na Figura 1.16, que mostra o
nmero de reas onde cada tcnica de remediao foi aplicada. Cabe ressaltar
que mais de uma tcnica pode ter sido utilizada em uma mesma rea. Ainda,
segundo a CETESB (2011), considerando a continuidade do processo de
identificao de reas contaminadas e reabilitadas, das aes de fiscalizao e
licenciamento, haver uma tendncia de crescimento do nmero de reas
cadastradas nas prximas atualizaes destes registros.
A etapa de remediao de uma rea contaminada extremamente
importante, mas representa o ltimo passo de uma srie de procedimentos que
tem como objetivo final a descontaminao de uma rea de risco. Etapas como a
caracterizao da rea e tipo de contaminao, determinao dos valores-alvo
que devem ser atingidos e a eficincia dos mtodos de tratamento investigados
so determinantes para o sucesso da remediao propriamente dita. Alm disso, a
viabilidade econmica pode ser estimada com maior segurana se estas etapas
forem realizadas de forma criteriosa (SOARES, 2008; CETESB, 2001).
Atualmente, h um grande nmero de tecnologias disponveis para
descontaminao