remediação de solo contaminado com hidrocarbonetos ... · início: agosto de 2011 / término: ......

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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA EMANUEL JOSÉ NASCIMENTO MARQUES REMEDIAÇÃO DE SOLO CONTAMINADO COM HIDROCARBONETOS DERIVADOS DE COMBUSTÍVEIS UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA ORIENTADOR: PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA POR EMANUEL JOSÉ NASCIMENTO MARQUES, E ORIENTADA PELO PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM. _______________________ Assinatura do Orientador CAMPINAS, 2012 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE QUÍMICA DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM QUÍMICA NA ÁREA DE QUÍMICA ANALÍTICA.

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  • i

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE QUMICA

    EMANUEL JOS NASCIMENTO MARQUES

    REMEDIAO DE SOLO CONTAMINADO COM HIDROCARBONETOS DERIVADOS DE COMBUSTVEIS

    UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA

    ORIENTADOR: PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL DA DISSERTAO DEFENDIDA POR EMANUEL JOS NASCIMENTO MARQUES, E ORIENTADA PELO PROF. DR. WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM.

    _______________________

    Assinatura do Orientador

    CAMPINAS, 2012

    DISSERTAO DE MESTRADO APRESENTADA AO

    INSTITUTO DE QUMICA DA UNICAMP PARA

    OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM QUMICA

    NA REA DE QUMICA ANALTICA.

  • ii

  • iv

  • v

    Hoje Sim

    Ontem passado. Amanh futuro.

    Hoje agora.

    Ontem promessa. Amanh probabilidade.

    Hoje ao.

    Ontem parecia. Amanh quem sabe?

    Hoje sem dvida. Ontem anseio.

    Amanh mudana. Hoje oportunidade.

    Ontem sementeira.

    Amanh colheita.

    Hoje seleo.

    Ontem no mais.

    Amanh talvez. Hoje sim.

    Ontem foi. Amanh ser. Hoje .

    Ontem experincia adquirida. Amanh lutas novas.

    Hoje, porm, a nossa hora de fazer e de construir.

    Poema do esprito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Livro Ideal

    Esprita.

  • vi

  • vii

    Dedico este trabalho minha esposa Aline, por

    sempre estar ao meu lado, me apoiando em

    momentos difceis e dividindo toda a alegria a

    cada nova conquista.

    Dedico tambm ao meu grande irmo Caetano,

    que cumpriu sua misso e nos deixou com saudade

    muito cedo. Sempre vou lembrar-me de sua

    alegria, que contagiava todos que tiveram o

    prazer de conhec-lo.

  • viii

  • ix

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Wilson, por me conceder a oportunidade de trabalhar no

    LQA, pela orientao, pela pacincia ao longo do perodo em que desenvolvi o

    trabalho de mestrado e, principalmente, pelo seu exemplo de profissionalismo e

    tica.

    minha esposa Aline, que sempre me apoiou e contribuiu com

    conselhos e correes durante o desenvolvimento deste trabalho.

    Aos meus familiares pela confiana e apoio durante o mestrado.

    CAPES, pela bolsa concedida.

    Aos professores Jos Roberto Guimares e Fbio Augusto, que

    contriburam muito, com suas correes e sugestes, para a verso final deste

    trabalho.

    Ao pessoal da Secretaria de Ps-Graduao: Bel, Miguel e Gabriela, que

    me ajudaram muito durante a etapa de finalizao do trabalho.

    professora Maria Isabel Felisberti, pela resoluo de problemas

    relacionados a documentos e prazos.

    Aos funcionrios da biblioteca do Instituto de Qumica.

    Ao pessoal do LQA e do GIA: Marco, Matheus, Fernando, Nvea,

    Glauciene, Cassiana, Dbora, Cludia, Cristiane, Amanda, Anderson, Igor,

    Carolina, Alexandre, Juliana, Lvia, Klcia, Slvia e Kssio, pela amizade, ajuda

    e valiosa troca de conhecimentos.

    Ao pessoal da Repblica Fite de Bordke e agregados, pelos

    momentos de alegria, msica e discusses interminveis sobre qumica e

    assuntos diversos.

    A todos que, direta ou indiretamente, contriburam para minha formao

    profissional.

    queles que esqueci-me de colocar aqui, minhas sinceras desculpas.

  • x

  • xi

    CURRICULUM VITAE

    Emanuel Jos Nascimento Marques

    [email protected]

    FORMAO ACADMICA

    Ps-Graduao

    Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Qumica Laboratrio de Qumica Ambiental Mestrado em Qumica Analtica Incio: Maro de 2008 / Trmino: Julho de 2012 Orientador: Prof. Dr. Wilson de Figueiredo Jardim

    Graduao

    Universidade de So Paulo USP Instituto de Qumica de So Carlos IQSC Bacharelado em Qumica com Atribuies Tecnolgicas Incio: Fevereiro de 2003 / Trmino: Dezembro de 2007

    ATUAO PROFISSIONAL

    Universidade Federal do Vale do So Francisco UNIVASF

    Professor temporrio, Carga horria: 20 h. Curso de Licenciatura em Cincias da Natureza, Campus: Senhor do Bonfim - BA, Nvel: Graduao. Disciplinas ministradas: - Fundamentos de Qumica II (teoria e prtica); - Fsico-Qumica (teoria e prtica). Incio: Agosto de 2011 / Trmino: Janeiro de 2012

    Universidade Estadual de Campinas UNICAMP

    - Participao em projetos de pesquisa na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA/UNICAMP). Projetos de pesquisa: Dinmica da perda e formao de volteis odorferos durante a concentrao de suco de caju; e Perda e formao de volteis na concentrao de suco de caju. Incio: Novembro de 2010 / Trmino: Janeiro de 2012

  • xii

    - Auxiliar Didtico/Monitoria da disciplina Qumica II para Engenharia de Alimentos. Programa de Estgio Docente (PED). Incio: Fevereiro de 2009 / Trmino: Agosto de 2009 - Projeto de Iniciao Cientfica - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC/UNICAMP). Orientador: Prof. Dr. Bruno Coraucci Filho. Bolsa IC - PROSAB - CNPq. Incio: Setembro de 2007 / Trmino: Dezembro de 2007

    Produqumica Indstria e Comrcio S.A Produqumica

    Pesquisador, Setor privado - Regime CLT, Carga horria: 40 h. Incio: Setembro de 2009 / Trmino: Novembro de 2010

    PRODUO CIENTFICA

    Trabalhos completos publicados em anais de congressos

    MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. On site soil remediation using Fenton-like oxidative washing. In: 2nd European Conference on Environmental Applications of Advanced Oxidation Processes, 2009, Nicosia. Abstracts, 2009.

    Resumos publicados em anais de congressos

    BIASOTO, A. C. T.; SAMPAIO, K. L.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Reprodutibilidade de diferentes tcnicas no isolamento de compostos volteis importantes para o aroma de suco de caju. In: XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos, 2012, Campinas, SP. Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos. Campinas, SP: SBCTA, 2012. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perfil de compostos volteis em polpa pasteurizada de caju (Anacardium Occidentale L.). In: XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos, 2012, Campinas, SP. Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Cincia e Tecnologia de Alimentos. Campinas, SP: SBCTA, 2012. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Quantitative study of ester recovery during the concentration of cashew apple (Anacardium Occidentale L.) juice in a thermal-siphon type evaporator operating in a closed system. In: Book of abstracts XIII Weurman Flavour Research Symposium. Zaragoza, Spain: University of Zaragoza, 2011. v. 1. p. 148-148.

  • xiii

    BIASOTO, A. C. T.; SAMPAIO, K. L.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perda de steres durante a concentrao do suco de caju (Anacardium Occidentale L.) e alteraes do perfil sensorial do produto. In: Anais do 9 SLACA - Simpsio Latino Americano de Cincia de Alimentos. Campinas, So Paulo, Brasil: 2011. v. 1. SAMPAIO, K. L.; BIASOTO, A. C. T.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Identificao e quantificao dos volteis odorferos perdidos por evaporao durante a concentrao de suco de caju. In: Anais do 9 SLACA - Simpsio Latino Americano de Cincia de Alimentos. Campinas, So Paulo, Brasil: 2011. v. 1. MARQUES, E. J. N.; JARDIM, W. F. Otimizao de reao de Fenton modificada para remediao de solo contaminado com leos combustveis. In: 32 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Qumica, 2009, Fortaleza, CE. Livro de Resumos da 32 RASBQ, 2009. MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. Remediao ex-situ de solo contaminado com hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) oriundos de leos combustveis. In: 32 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Qumica, 2009. Livro de Resumos da 32 RASBQ, 2009. BIASOTO, A. C. T.; NETTO, F. M.; MARQUES, E. J. N.; DA SILVA, M. A. A. P. Perfil sensorial e fsico-qumico de vinhos tintos de mesa paulistas. In: VII Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages, 2008, Lorena, SP. Book of abstract of the VII Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages. Lorena : Escola de Engenharia de Lorena - EEL/USP, 2008. v. 1. p. 95-95. MARQUES, E. J. N.; REZENDE, M. O. O. Caracterizao fsico-qumica e determinao de metais pesados em biosslido proveniente de tratamento aerbio de esgoto para uso agrcola. In: 15 Simpsio internacional de iniciao cientfica da USP - SIICUSP, 2007, So Carlos, SP. 15 Simpsio Internacional de Iniciao Cientfica da Universidade de So Paulo, 2007. Apresentao de trabalho

    MARQUES, E. J. N.; LOCATELLI, M. A. F.; JARDIM, W. F. On site soil remediation using Fenton-like oxidative washing. In: 2nd European Conference on Environmental Applications of Advanced Oxidation Processes, 2009 (apresentao oral). ORGANIZAO DE EVENTOS

    JARDIM, W. F.; SODR, F. F.; LOCATELLI, M. A. F.; MONTAGNER, C. C.; MARQUES, E. J. N. III Escola de Qumica Ambiental do IQ-UNICAMP. 2008.

  • xiv

  • xv

    RESUMO

    REMEDIAO DE SOLO CONTAMINADO COM HIDROCARBONETOS

    DERIVADOS DE COMBUSTVEIS UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA

    Neste trabalho foi avaliado um processo de lavagem de solo utilizando

    soluo oxidante, visando a remediao de reas contaminadas com

    hidrocarbonetos provenientes combustveis. O processo foi denominado de

    lavagem oxidativa e consistiu na mistura de H2O2 com um catalisador de

    Fenton modificado, chamado Fentox. A lavagem oxidativa foi aplicada em solo

    contaminado artificialmente com leo diesel em laboratrio, a fim de avaliar as

    mudanas ocorridas no perfil de distribuio dos hidrocarbonetos

    remanescentes no solo tratado e verificar as condies experimentais que

    resultassem em mxima remoo destes contaminantes. Foi possvel obter

    remoo de 90% para alcanos totais, 69% para hidrocarbonetos policclicos

    aromticos (HPA) totais, e 86% para hidrocarbonetos totais de petrleo (HTP).

    O aumento na proporo entre fase lquida e fase slida resultou em maior

    eficincia na remoo dos contaminantes. A lavagem do solo utilizando o

    agente tensoativo dodecil benzeno sulfonato de sdio (DBSS) foi outro aspecto

    investigado em laboratrio. Verificou-se que em solo com baixa concentrao

    inicial de HPA o uso do tensoativo no favoreceu a solubilizao dos

    contaminantes. Alm disso, a adio de tensoativo durante a lavagem oxidativa

    do solo no contribuiu para melhorar o desempenho do processo de

    remediao. O processo de lavagem oxidativa juntamente com soluo de

    tensoativo foi aplicado em solo contaminado com leos combustveis em uma

    rea localizada na cidade de So Paulo, a fim de remover os hidrocarbonetos

    presentes no local. Foi obtida reduo de aproximadamente 87% do parmetro

    HPA total, sendo que a extenso da remoo individual dos HPA apresentou

    variaes, principalmente em funo da hidrofobicidade caracterstica de cada

    composto. A lavagem oxidativa mostrou-se uma alternativa vivel sob o ponto

    de vista tcnico, considerando que os resultados obtidos em campo foram

    comparveis queles obtidos em laboratrio.

  • xvi

  • xvii

    ABSTRACT

    REMEDIATION OF CONTAMINATED SOIL WITH HYDROCARBONS

    DERIVED FROM FUELS USING OXIDATIVE WASHING

    In this work a soil washing process using oxidizing solution was

    evaluated, aiming the remediation of contaminated areas with hydrocarbons

    derived from fuels. The selected process was called oxidative soil washing and

    consists in the use of H2O2 with a modified Fentons catalyst, called Fentox.

    The oxidative washing was applied first in a laboratory diesel oil contaminated

    soil in order to evaluate changes in the distribution profile of hydrocarbons

    remaining in the treated soil and to set the experimental conditions that resulted

    in maximum removal of these contaminants. It was possible to obtain removals

    of 90% for total alkanes, 69% for polycyclic aromatic hydrocarbons (PAH), and

    86% for total petroleum hydrocarbons (TPH). The increase in the liquid-solid

    ratio resulted in increase of the contaminant removal. The oxidative soil

    washing using the surfactant sodium dodecyl benzene sulphonate (SDBS) was

    another aspect investigated in the laboratory. It was found that in soil having low

    initial PAH concentration, the use of surfactant did not increase the

    contaminants solubilization. Furthermore, the surfactant addition during the soil

    oxidative washing did not improve the performance of the remediation process.

    The oxidative soil washing in the presence of the surfactant solution was

    applied in a fuel contaminated soil to remove hydrocarbons. Results indicated

    removal around 87 % for total PAH, with different rates according to the

    hydrophobicity of each compound. Oxidative soil washing proved to be a

    feasible alternative under the technical point of view, considering that results

    obtained on site were comparable to the ones obtained under laboratory

    conditions.

  • xviii

  • xix

    NDICE

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ...................................................... xxiii

    LISTA DE TABELAS .................................................................................... xxv

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................. xxvii

    INTRODUO ................................................................................................ 1

    OBJETIVOS .................................................................................................... 3

    OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 3

    OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................................... 3

    CAPTULO 1 ...................................................................................................... 5

    1 REVISO BIBLIOGRFICA ..................................................................... 5

    1.1 COMBUSTVEIS DERIVADOS DE PETRLEO ...................................... 5

    1.1.1 GASOLINA ............................................................................................ 7

    1.1.2 LEO DIESEL ....................................................................................... 8

    1.1.3 LEOS COMBUSTVEIS PESADOS .................................................... 9

    1.2 HIDROCARBONETOS PROVENIENTES DE DERIVADOS DE

    PETRLEO .................................................................................................. 10

    1.2.1 HIDROCARBONETOS TOTAIS DE PETRLEO HTP ..................... 13

    1.2.2 HIDROCARBONETOS POLICCLICOS AROMTICOS HPA .......... 17

    1.3 REAS CONTAMINADAS: PROBLEMTICA DA CONTAMINAO POR

    POSTOS DE ABASTECIMENTO, TRANSPORTADORES,

    REVENDEDORES E RETALHISTAS DE COMBUSTVEIS ......................... 22

    1.4 CONTAMINAO DO SOLO POR VAZAMENTOS DE COMBUSTVEIS

    ...................................................................................................................... 25

  • xx

    1.4.1 CARACTERSTICAS DO SOLO .......................................................... 25

    1.4.2 DINMICA DOS HIDROCARBONETOS NO SOLO ............................ 28

    1.5 REMEDIAO DE REAS CONTAMINADAS ....................................... 32

    1.5.1 PROCESSOS OXIDATIVOS AVANADOS POA ............................ 36

    1.5.2 REAO DE FENTON ........................................................................ 39

    1.5.3 USO DE TENSOATIVOS EM PROCESSOS DE REMEDIAO ........ 42

    1.6 LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE POSTOS E SISTEMAS

    RETALHISTAS DE COMBUSTVEIS E QUALIDADE DE SOLOS E GUAS

    SUBTERRNEAS ........................................................................................ 44

    1.7 REFERNCIAS ................................................................................... 48

    CAPTULO 2 .................................................................................................... 61

    2 TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO COM LEO DIESEL EM

    LABORATRIO ............................................................................................ 61

    2.1 INTRODUO ........................................................................................ 61

    2.2 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 62

    2.2.1 PRESERVAO DAS AMOSTRAS .................................................... 63

    2.2.2 PREPARO DAS AMOSTRAS .............................................................. 64

    2.2.2.1 Extrao e concentrao das amostras ........................................ 64

    2.2.2.2 Cleanup dos extratos .................................................................... 64

    2.2.2.3 Sntese da slica bsica ................................................................. 65

    2.2.2.4 Preparo da slica ativada lavada com diclorometano .................... 65

    2.2.2.5 Preparo do cobre ativado .............................................................. 65

    2.2.3 ANLISE CROMATOGRFICA........................................................... 66

    2.2.4 DETERMINAO DE UMIDADE DAS AMOSTRAS DE SOLO .......... 69

    2.2.5 TESTES DE RECUPERAO ............................................................ 69

  • xxi

    2.2.6 TRATAMENTO DE SOLO UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA ....... 69

    2.3 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 71

    2.3.1 CARACTERIZAO DO SOLO........................................................... 71

    2.3.1.1 Distribuio dos hidrocarbonetos aps contaminao do solo ...... 72

    2.3.2 TESTES DE RECUPERAO ............................................................ 77

    2.3.3 TRATAMENTO DE SOLO UTILIZANDO LAVAGEM OXIDATIVA ....... 79

    2.3.3.1 Alcanos individuais ........................................................................ 85

    2.3.3.2 HPA individuais ............................................................................. 90

    2.4 CONCLUSES ....................................................................................... 93

    2.5 REFERNCIAS ...................................................................................... 94

    CAPTULO 3 .................................................................................................. 101

    3 USO DE TENSOATIVOS NO TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO

    - EXPERIMENTOS EM LABORATRIO .................................................... 101

    3.1 INTRODUO ...................................................................................... 101

    3.2 MATERIAL E MTODOS ..................................................................... 104

    3.2.1 DETERMINAO DA CMC DO TENSOATIVO................................. 104

    3.2.2 LAVEGEM DO SOLO UTILIZANDO SOLUO DE TENSOATIVO .. 105

    3.2.3 USO DE TENSOATIVO COMO AGENTE AUXILIAR DURANTE A

    LAVAGEM OXIDATIVA DO SOLO ............................................................. 106

    3.3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................ 107

    3.3.1 DETERMINAO DA CMC DO TENSOATIVO................................. 107

    3.3.2 LAVEGEM DO SOLO UTILIZANDO SOLUO DE TENSOATIVO .. 110

    3.3.3 USO DE TENSOATIVO COMO AGENTE AUXILIAR DURANTE A

    LAVAGEM OXIDATIVA DO SOLO ............................................................. 115

  • xxii

    3.4 CONCLUSES ..................................................................................... 118

    3.5 REFERNCIAS .................................................................................... 119

    CAPTULO 4 .................................................................................................. 123

    4 ESTUDO DE CASO: TRATAMENTO DE SOLO CONTAMINADO COM

    LEOS COMBUSTVEIS EM REA LOCALIZADA NA VILA CARIOCA EM

    SO PAULO ............................................................................................... 123

    4.1 INTRODUO ...................................................................................... 123

    4.2 MATERIAL E MTODOS ..................................................................... 125

    4.3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................ 128

    4.4 CONCLUSES ..................................................................................... 138

    4.5 REFERNCIAS .................................................................................... 138

    CAPTULO 5 .................................................................................................. 141

    5 CONSIDERAES FINAIS E PERSPECTIVAS .................................. 141

  • xxiii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Bicombustveis

    ATSDR Agncia para o Registro de Substncias Txicas e Doenas, do ingls, Agency for Toxic Substances and Disease Registry

    CERCLA

    Ao de Responsabilidade, Compensao e Resposta

    Ambiental Compreensiva, do ingls, Comprehensive

    Environmental Response, Compensation, and Liability Act

    CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo

    CG-EM Cromatografia Gasosa acoplada Espectrometria de Massas

    CMC Concentrao Micelar Crtica

    CMCef Concentrao Micelar Crtica Efetiva

    COT Carbono orgnico total

    cP Centipoise

    DBSS Dodecil benzeno sulfonato de sdio

    DNAPL Fase livre no aquosa densa, do ingls, Dense Non-aqueous Phase Liquid

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    GAC Grupo Gestor de reas Crticas

    HPA Hidrocarbonetos Policclicos Aromticos

    HTP Hidrocarbonetos Totais de Petrleo

    IARC Agncia Internacional para Pesquisa sobre o Cncer, do ingls, International Agency for Research on Cancer

    KOW Coeficiente de Partio Octanol-gua

  • xxiv

    LNAPL Fase livre no aquosa leve, do ingls, Light Non-aqueous Phase Liquid

    MO Matria orgnica

    NAPL Fase livre no aquosa, do ingls, Non-aqueous Phase Liquid;

    NFE Nonilfenol etoxilado

    leo BPF leo de baixo ponto de fluidez

    POA Processos Oxidativos Avanados

    PVC Policloreto de vinila, do ingls, polyvinyl chloride

    RPM Rotaes por minuto

    SIM Monitoramento Seletivo de ons, do ingls, Selective Ion Monitoring

    TPHCWG Grupo de Trabalho sobre Hidrocarbonetos Totais de Petrleo, do ingls, Total Petroleum Hydrocarbons Criteria Working Group

    TRR Transportadores, revendedores e retalhistas de combustveis

    USEPA Agncia de Proteo Ambiental dos Estados Unidos, do ingls, United States Environmental Protection Agency

  • xxv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1.1: Classificao dos leos combustveis utilizada no Brasil em funo

    do teor de enxofre e viscosidade (adaptado de PETROBRS, 2009-b). ......... 10

    Tabela 1.2: Classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios de acordo com a

    USEPA (IARC, 2010). ...................................................................................... 19

    Tabela 1.3: Valores de massa molar, solubilidade e log KOW para os 16 HPA

    prioritrios pela EPA (NIST, 2011a; NIST, 2011b; JONSSON et al., 2007). .... 21

    Tabela 1.4: Sistemas tpicos de POA (HUANG, citado por TEIXEIRA &

    JARDIM, 2004). ................................................................................................ 37

    Tabela 1.5: Classificao e estrutura qumica de alguns agentes tensoativos

    (MANIASSO, 2001). ......................................................................................... 42

    Tabela 1.6: Relao de normas da ABNT aplicveis revenda de combustveis

    (adaptado de ABNT, 2011; DA SILVA, 2010)................................................... 46

    Tabela 1.7: Valores de referncia para alguns hidrocarbonetos presentes em

    solo e gua subterrnea (adaptado de CONAMA n 420, 2009; CETESB,

    2006b; CETESB, 2005b). ................................................................................. 47

    Tabela 2.1: Parmetros cromatogrficos utilizados para anlise de HPA,

    alcanos e HTP. ................................................................................................. 66

    Tabela 2.2: ndices de reteno e ons selecionados para deteco de cada

    HPA. ................................................................................................................. 67

    Tabela 2.3: Parmetros experimentais utilizados nos ensaios. ........................ 70

    Tabela 2.4: Caractersticas do solo utilizado nos experimentos. ...................... 72

    Tabela 2.5: Concentrao e distribuio relativa dos alcanos presentes no solo

    contaminado. .................................................................................................... 73

  • xxvi

    Tabela 2.6: Concentrao e distribuio relativa dos HPA presentes no solo

    contaminado ..................................................................................................... 74

    Tabela 2.7: Concentraes de HPA e HTP encontradas em solos utilizados em

    diferentes trabalhos. ......................................................................................... 76

    Tabela 2.8: Recuperao mdia dos surrogates no solo em estudo (n=3)1. .... 77

    Tabela 2.9: Recuperao mdia dos surrogates obtidas em outros estudos

    utilizando mtodos analticos similares1. .......................................................... 78

    Tabela 2.10: Concentrao dos alcanos, HPA e HTP presentes no solo

    contaminado e aps cada ensaio de remediao. ........................................... 80

    Tabela 2.11: Remoo dos contaminantes, valores utilizados para razo slido-

    lquido e concentrao de H2O2 nos ensaios. .................................................. 83

    Tabela 2.12: Remoo obtida para cada alcano nos diferentes ensaios. ........ 85

    Tabela 2.13: Remoo obtida para cada HPA em diferentes ensaios. ............ 92

    Tabela 3.1: Solubilidade em gua e concentrao dos HPA presentes no solo

    contaminado utilizado no experimento (NIST, 2011a). ................................... 112

    Tabela 4.1: Concentrao (mg kg-1 solo seco) dos HPA avaliados no solo

    contaminado e remanescentes aps a primeira e terceira aplicao de H2O2.

    ....................................................................................................................... 130

    Tabela 4.2: Valores de solubilidade, log KOW e porcentagem remoo obtida

    para cada HPA aps a terceira aplicao de H2O2 (NIST, 2011a; NIST, 2011b;

    ZANDER, 1983). ............................................................................................ 133

    Tabela 4.3: Remoo de HPA utilizando processos baseados no reagente

    Fenton em trabalhos encontrados na literatura. ............................................. 137

  • xxvii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Distribuio das reas contaminadas cadastradas no Estado de So

    Paulo, por atividade em dezembro de 2011 (adaptado de CETESB, 2011). ..... 1

    Figura 1.1: Produtos provenientes da destilao fracionada do petrleo

    (adaptado de DA SILVA, 2008). ......................................................................... 6

    Figura 1.2: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alifticos ou alcanos. ..... 11

    Figura 1.3: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alicclicos ou cicloalcanos.

    ......................................................................................................................... 11

    Figura 1.4: Exemplos de hidrocarbonetos insaturados presentes no petrleo. 12

    Figura 1.5: Exemplos de hidrocarbonetos aromticos. .................................... 12

    Figura 1.6: Exemplos de hidrocarbonetos policclicos aromticos. .................. 12

    Figura 1.7: Exemplos de compostos no-hidrocarbonetos, contendo

    heterotomos e pertencentes a outros grupos funcionais. ............................... 13

    Figura 1.8: Cromatograma de uma mistura contendo diversos hidrocarbonetos,

    mostrando as faixas caractersticas para cada produto derivado de petrleo

    (adaptado de SENN & JOHNSON, 1987). ....................................................... 14

    Figura 1.9: Cromatogramas obtidos em anlise para determinao de HTP em

    amostra de petrleo e de seus produtos derivados (gasolina, nafta, querosene,

    querosene de aviao JP-5 e diesel), ilustrando as diferenas em relao ao

    perfil cromatogrfico (adaptado de TESTA & WINEGARDNER, 2000). ........... 15

    Figura 1.10: Estrutura dos 16 HPA prioritrios de acordo com a EPA. ............ 18

    Figura 1.11: Estrutura dos compostos benzo[a]antraceno (A), benzo[a]pireno

    (B) e dibenzo[ah]antraceno (C), com suas regies de baa destacadas. ......... 20

  • xxviii

    Figura 1.12: Distribuio dos acidentes atendidos pela CETESB durante o

    perodo de 1984 a 2010, considerando separadamente as ocorrncias em

    postos e sistemas retalhistas de combustveis, e casos envolvendo outras

    atividades excluindo postos e sistemas retalhistas de combustveis (CETESB,

    2010; CETESB, 2009; CETESB, 2008; CETESB, 2007; CETESB, 2006;

    CETESB, 2005). ............................................................................................... 23

    Figura 1.13: Caracterizao esquemtica das zonas do subsolo quanto

    presena de gua (BORGHETTI et al., 2004). ................................................. 26

    Figura 1.14: Formao de LNAPL e DNAPL aps vazamento de tanque

    contendo produtos qumicos (adaptado de PARIA, 2008). .............................. 29

    Figura 1.15: Distribuio das fases de contaminao originadas por vazamento

    de combustveis derivados de petrleo (adaptado de TESTA &

    WINEGARDNER, 2000). .................................................................................. 31

    Figura 1.16: Nmero de reas e tcnicas de remediao aplicadas, de acordo

    com o ltimo levantamento de reas contaminadas e reabilitadas no Estado de

    So Paulo (adaptado de CETESB, 2011). ....................................................... 33

    Figura 1.17: Representao ilustrativa de uma molcula de tensoativo

    (MESQUITA, 2004). ......................................................................................... 43

    Figura 1.18: Organizao das molculas de tensoativo abaixo e acima da CMC

    (MANIASSO, 2001). ......................................................................................... 44

    Figura 2.1: Cromatograma obtido aps anlise do solo contaminado com leo

    diesel, mostrando a distribuio dos HTP. ....................................................... 75

    Figura 2.2: Eficincia de remoo dos contaminantes em funo da razo

    slido-lquido utilizada nos ensaios. ................................................................. 81

    Figura 2.3: Distribuio dos n-alcanos (C10 at C18, incluindo pristano e fitano)

    no solo contaminado e aps realizao dos diferentes tratamentos (ST = solo

  • xxix

    sem tratamento, E-1 = ensaio 1, E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4,

    E-5 = ensaio 5). ................................................................................................ 86

    Figura 2.4: Distribuio dos alcanos (C19 at C30) no solo contaminado e aps

    realizao dos diferentes tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1 = ensaio

    1, E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4, E-5 = ensaio 5). ................. 87

    Figura 2.5: Distribuio relativa de alcanos remanescentes no solo

    contaminado e aps aplicao dos tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1

    = ensaio 1, E-5 = ensaio 5). ............................................................................. 89

    Figura 2.6: Distribuio relativa dos alcanos remanescentes no solo

    contaminado e aps aplicao dos tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1

    = ensaio 1, E-5 = ensaio 5). ............................................................................. 89

    Figura 2.7: Distribuio dos HPA remanescentes no solo contaminado e aps

    aplicao de diferentes tratamentos (ST = solo sem tratamento, E-1 = ensaio 1,

    E-2 = ensaio 2, E-3 = ensaio 3, E-4 = ensaio 4, E-5 = ensaio 5)...................... 91

    Figura 3.1: Representao grfica da condutividade especfica de uma soluo

    em funo da concentrao de tensoativo mostrando o ponto de interseco

    entre as duas regies lineares, utilizado para a determinao da CMC do

    tensoativo (adaptado de ZANETTE et al., 2006). ........................................... 103

    Figura 3.2: Determinao da CMC do DBSS a partir do ponto de interseco

    entre as retas, utilizando uma soluo do tensoativo em gua desionizada. . 108

    Figura 3.3: Determinao da CMC do DBSS a partir do ponto de interseco

    entre as retas, utilizando soluo de detergente comercial e solo em

    suspenso, na proporo mssica solo:gua de 1:5 (o crculo destaca a regio

    onde, possivelmente, ocorre adsoro inicial de molculas do tensoativo no

    solo). .............................................................................................................. 110

    Figura 3.4: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) remanescentes no solo

    aps lavagem somente com gua desionizada e lavagem com solues de

  • xxx

    tensoativo em diferentes concentraes, aps 24 h sob agitao (DBSS =

    dodecil benzeno sulfonato de sdio). ............................................................. 111

    Figura 3.5: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) remanescente no solo

    aps testes de lavagem com diferentes tensoativos e durao de 1, 8 e 12 h

    (Solo cont. = solo contaminado; DBSS = dodecil benzeno sulfonato de sdio;

    NFE-1 = nonilfenol etoxilado, fabricante 1; NFE-2 = nonilfenol etoxilado,

    fabricante 2). .................................................................................................. 114

    Figura 3.6: Concentrao de HPA (mg kg-1 solo seco) no solo contaminado e

    remanescentes aps aplicao dos seguintes tratamentos: (1) lavagem

    oxidativa sem uso de tensoativo; (2) lavagem oxidativa com adio de

    tensoativo no incio do tratamento, sem pr-adio; e (3, 4 e 5) lavagem

    oxidativa com etapa prvia de lavagem com soluo de tensoativo durante 2, 6

    e 24 h (LO = lavagem oxidativa; T = tensoativo). ........................................... 116

    Figura 4.1: Vista area obtida por satlite destacando a rea contaminada.

    Coordenadas globais: Coordenada sul: 23 36 02; Coordenada oeste: 46 35

    08 (Imagem obtida por meio do software Google Earth verso 6.2, em outubro

    de 2011). ........................................................................................................ 123

    Figura 4.2: Interior das instalaes da empresa desativada, no local onde

    anteriormente localizavam-se os tanques de armazenamento de combustveis

    (imagem obtida em outubro de 2008). ........................................................... 124

    Figura 4.3: Tanques abertos impermeabilizados com mantas de PVC utilizados

    para realizao da lavagem oxidativa do solo (imagem obtida em outubro de

    2008). ............................................................................................................. 126

    Figura 4.4: Solo contaminado sendo escavado e transferido para o local de

    tratamento (imagem obtida em outubro de 2008). ......................................... 127

    Figura 4.5: Processo de lavagem oxidativa on-site do solo em andamento

    (imagem obtida em outubro de 2008). ........................................................... 128

  • xxxi

    Figura 4.6: Remoo obtida para HPA total e para os HPA avaliados aps a

    primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 131

    Figura 4.7: Aparncia do solo antes (A) e depois (B) do tratamento (imagens

    obtidas entre outubro e novembro de 2008)................................................... 132

    Figura 4.8: Evoluo da concentrao (mg kg-1 solo seco) dos HPA contendo

    diferentes nmeros de anis no solo contaminado e remanescentes aps a

    primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 134

    Figura 4.9: Evoluo da concentrao individual (mg kg-1 solo seco) dos HPA

    contendo cinco e seis anis no solo contaminado e remanescentes aps a

    primeira e terceira aplicao de H2O2. ........................................................... 135

  • xxxii

  • 1

    INTRODUO

    A contaminao de solos e, consequentemente, guas subterrneas por

    derivados de combustveis uma questo ambiental relevante no cenrio atual.

    Segundo o levantamento realizado em dezembro de 2011 pela Companhia de

    Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB) foram

    identificados 3217 postos de combustveis com contaminao, representando 78%

    de todas as reas contaminadas do Estado (CETESB, 2011). Alm de postos de

    abastecimento, outra fonte de contaminao so empresas retalhistas1 de

    combustveis, responsveis por inmeros casos de vazamentos. Na Figura 1

    mostrada a distribuio das reas contaminadas no Estado de So Paulo,

    separadas por atividade, segundo o ltimo levantamento realizado pela CETESB

    em dezembro de 2011.

    Figura 1: Distribuio das reas contaminadas cadastradas no Estado de So

    Paulo, por atividade em dezembro de 2011 (adaptado de CETESB, 2011). 1 Empresas que desempenham a atividade de transportador-revendedor-retalhista (TRR).

    Suas atividades compreendem: aquisio de combustveis a granel, de leos lubrificantes e de graxas envasados; armazenamento, transporte e revenda a retalho com entrega ao consumidor; e o controle de qualidade e a assistncia tcnica ao consumidor quando da comercializao de combustveis (ANP, 2008).

  • 2

    Segundo a CETESB (CETESB, 2011), de um total de 4131 reas

    contaminadas, alm dos postos de combustveis, com 3217 registros, foram

    cadastradas reas que correspondem a atividades industriais, com 577 registros;

    atividades comerciais, com 179 registros; instalaes para destinao de resduos,

    com 121 registros; e casos de acidentes e fontes de contaminao de origem

    desconhecida, com 37 registros.

    Estes dados evidenciam a situao preocupante relacionada aos casos de

    contaminaes provenientes de postos de abastecimento e outras atividades

    ligadas ao transporte, armazenagem e comercializao de combustveis. Neste

    cenrio, clara a necessidade de medidas adequadas para a preveno de novos

    casos de contaminao e aplicao de tcnicas adequadas para o tratamento das

    reas contaminadas.

    O tratamento de solos e guas subterrneas tem representado um grande

    desafio, pois estas matrizes so complexas e apresentam grande afinidade por

    diversos compostos, sendo necessrio o uso de processos eficientes para a

    remoo dos contaminantes. Em muitos casos, as tcnicas de tratamento

    adotadas no permitem a remoo dos compostos ou a reduo de suas

    concentraes dentro de valores estabelecidos pela legislao. Assim, o interesse

    pelo desenvolvimento de novas tecnologias de remediao tem aumentando nos

    ltimos anos. Neste cenrio destacam-se os chamados Processos Oxidativos

    Avanados (POA), que tm atrado grande interesse da comunidade cientfica e

    industrial (NOGUEIRA et al., 2007), j que so eficientes na degradao de

    diversos compostos txicos e recalcitrantes, alm de apresentarem baixos custos

    operacionais. Os POA so caracterizados pela gerao de radicais hidroxila

    (OH), que so altamente oxidantes e permitem a completa degradao de uma

    ampla variedade de contaminantes, resultando em produtos como gua, dixido

    de carbono e ons inorgnicos.

    Neste contexto, outra tcnica que vem sendo utilizada com sucesso nos

    ltimos anos, isoladamente ou em conjunto com outras tecnologias de

    remediao, a lavagem de solo utilizando solues de tensoativos (PARIA,

    2008). O uso de tensoativos durante o tratamento pode aumentar a solubilidade e

  • 3

    favorecer a dessoro dos contaminantes, melhorando o desempenho do

    processo de remediao.

    OBJETIVOS

    OBJETIVO GERAL

    O objetivo principal deste trabalho foi aplicar um processo de lavagem de

    solo utilizando soluo oxidante, visando a remediao de reas contaminadas

    com hidrocarbonetos provenientes de combustveis.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Aplicar o processo de lavagem oxidativa em solo contaminado

    artificialmente com leo diesel em laboratrio, a fim de verificar as condies

    experimentais que promovessem a mxima remoo dos contaminantes. Nesta

    etapa, foram avaliadas as mudanas ocorridas no perfil de distribuio dos

    hidrocarbonetos remanescentes no solo tratado e a eficincia de remoo destes

    compostos em funo das diferentes propores entre solo, gua e H2O2

    utilizadas nos experimentos.

    - Avaliar se o uso de tensoativos durante o tratamento do solo poderia

    favorecer a remoo dos contaminantes, melhorando o desempenho do processo

    de remediao.

    - Aplicar o processo de lavagem oxidativa, juntamente com soluo de

    tensoativo, em solo contaminado com leos combustveis em uma rea localizada

    na cidade de So Paulo, a fim de remover os hidrocarbonetos presentes no local.

  • 4

  • 5

    CAPTULO 1

    1 REVISO BIBLIOGRFICA

    1.1 COMBUSTVEIS DERIVADOS DE PETRLEO

    O petrleo um material natural fssil, que vem se mantendo como

    principal insumo energtico da sociedade industrializada. Em seu estado natural

    uma mistura complexa de compostos orgnicos formada principalmente por

    hidrocarbonetos, que podem alcanar at 96% da composio total em alguns

    tipos de leo (ALBERS, 2003; TESTA & WINEGARDNER, 2000). Os constituintes

    encontrados em menores quantidades so compostos contendo oxignio,

    nitrognio e enxofre; alm de metais, como nquel, vandio e ferro (WANG et al.,

    1999). Os hidrocarbonetos presentes no petrleo so classificados de acordo com

    suas caractersticas estruturais e normalmente so divididos em trs grupos

    principais: (1) alcanos (parafinas); (2) cicloalcanos (naftenos); e (3) arenos

    (aromticos) (ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998). A

    proporo relativa entre os diferentes grupos de hidrocarbonetos pode variar

    amplamente dependendo do reservatrio de origem do leo, j que sua

    composio extremamente influenciada por condies fsico-qumicas,

    biolgicas e geolgicas do ambiente de formao. Assim, praticamente

    impossvel defini-la precisamente (TESTA & WINEGARDNER, 2000; FREEDMAN,

    1995).

    O petrleo no utilizado diretamente em seu estado natural, sendo

    convertido em produtos com aplicao comercial, tais como combustveis e

    matrias-primas utilizadas em diversos segmentos industriais. O processo para

    obteno dos derivados de petrleo, comumente conhecido como refino,

    realizado por meio de destilao fracionada, alm de outros processos

  • 6

    complementares, tais como craqueamento cataltico, craqueamento trmico,

    hidrocraqueamento, reforma cataltica, hidrotratamento, entre outros; que tm

    como finalidade promover transformaes especficas na composio qumica das

    fraes obtidas por destilao fracionada, alm de remover impurezas que podem

    inibir o processo de refino ou prejudicar o desempenho dos combustveis

    produzidos (WANG & BROWN, 2008; SPEIGHT, 2002; TESTA &

    WINEGARDNER, 2000).

    Figura 1.1: Produtos provenientes da destilao fracionada do petrleo (adaptado

    de DA SILVA, 2008).

  • 7

    O petrleo separado em vrias fraes durante o processo de destilao,

    que so obtidas em intervalos de temperatura e presso definidos. Estas fraes

    correspondem a diferentes produtos comerciais, e so usualmente classificadas

    de acordo com o nmero de tomos de carbono de seus componentes e faixa de

    ebulio (KAIPPER, 2003). Na Figura 1.1 mostrado um esquema simplificado do

    processo de destilao fracionada do petrleo e os produtos provenientes de cada

    frao.

    Atualmente, cerca de 90% do petrleo comercializado no mundo utilizado

    para produo de combustveis que, consequentemente, representam uma classe

    de produtos de grande relevncia (PETROBRS, 2008). Dentre os combustveis

    derivados de petrleo que apresentam grandes demandas atualmente, destacam-

    se a gasolina, leo diesel e leos combustveis pesados, que sero tratados mais

    detalhadamente a seguir (ANP, 2010; ALBERS, 2003).

    1.1.1 GASOLINA

    A gasolina automotiva tem notvel destaque dentre os combustveis

    derivados do petrleo, j que grandes quantidades so utilizadas para abastecer a

    frota automotiva. No ano de 2010 foram consumidos no Brasil cerca de 30 milhes

    de metros cbicos de gasolina C (ANP, 2011). A gasolina automotiva uma

    mistura complexa de hidrocarbonetos volteis contendo entre 5 a 12 tomos de

    carbono e outros aditivos qumicos, possuindo faixa de ebulio entre 30 a 225C

    (MONTEIRO et al., 2009; TAKESHITA et al., 2008). A predominncia de

    compostos com baixa massa molar resulta em elevada volatilidade, baixa

    viscosidade, e moderada solubilidade em gua (DA SILVA, 2008; SACORAGUE,

    2004; TESTA & WINEGARDNER, 2000). As refinarias brasileiras produzem e

    fornecem para as distribuidoras um combustvel denominado gasolina A, que

    um produto obtido diretamente do processo de refino do petrleo, sem aditivos.

    Entretanto, devido s leis brasileiras vigentes, esta gasolina no comercializada

    nos postos de abastecimento. Desta forma, as distribuidoras adicionam etanol

    anidro gasolina A, originando um combustvel chamado gasolina C

  • 8

    (MONTEIRO et al., 2009; TAKESHITA et al., 2008; SACORAGUE, 2004). O

    volume de etanol adicionado pode variar em funo dos perodos de safra e

    entressafra da cana e ao comportamento dos mercados global e interno de etanol,

    mantendo-se normalmente entre 20 e 25% na mistura. Em 2011 o e etanol anidro

    foi adicionado na proporo de 20% em volume nos meses de fevereiro a abril e

    25% em volume nos demais meses (ANP, 2011).

    1.1.2 LEO DIESEL

    O leo diesel o principal combustvel comercializado no mercado

    brasileiro. utilizado principalmente nos transportes de cargas e de passageiros,

    nas mquinas agrcolas e locomotivas (PETROBRS, 2009-a). Em 2010 seu

    consumo alcanou cerca de 49 milhes de metros cbicos (ANP, 2011). O leo

    diesel composto principalmente por hidrocarbonetos contendo entre 10 a 20

    tomos de carbono e pequena quantidade de enxofre, nitrognio e oxignio,

    apresentando uma faixa de ebulio entre 125 a 380 C (SACORAGUE, 2004;

    EPA, 1996).

    Atualmente a Petrobrs fornece trs tipos de leo diesel automotivo, que

    apresentam diferentes teores de enxofre e so disponibilizados de acordo com o

    tamanho da frota de veculos presente em cada cidade: (1) leo diesel

    metropolitano, que possui concentrao de enxofre de 500 mg kg-1 de leo

    (0,05%) e est presente nos centros urbanos, onde h grande circulao de

    veculos; (2) leo diesel de interior, que apresenta concentrao de enxofre de

    1800 mg kg-1 de leo (0,18%), sendo encontrado nos municpios brasileiros com

    menor frota de veculos; e (3) leo diesel S50, com uma concentrao de enxofre

    de 50 mg kg-1 de leo (0,005%) e que est sendo introduzido nos grandes centros

    urbanos, proporcionando grande reduo das emisses de material particulado

    (PETROBRS, 2009-a).

  • 9

    1.1.3 LEOS COMBUSTVEIS PESADOS

    leos combustveis pesados, tambm chamados de leo combustveis

    residuais, so constitudos pelo material remanescente da destilao direta do

    petrleo ou fraes resultantes de processos de craqueamento do petrleo para

    obteno de gasolina e outros produtos (LEIVA, 2005). Atualmente, os leos

    combustveis pesados comercializados so produzidos a partir de misturas entre

    leos residuais e leo diesel ou outros combustveis mais leves, visando

    obteno de produtos com viscosidade adequada para uso martimo ou industrial

    (WANG & BROWN, 2008). Assim, a composio bastante complexa destes leos

    no depende somente do petrleo que os originou, mas tambm do tipo de

    processo e misturas que sofreram nas refinarias, para atender s exigncias do

    mercado consumidor numa ampla faixa de viscosidade (PETROBRS, 2009-b).

    Os leos combustveis pesados so amplamente utilizados em indstrias

    para aquecimento de fornos e caldeiras, ou em motores de grande porte e baixa

    rotao, como os motores de grandes navios. No Brasil, so classificados de

    acordo com a portaria n 80 da Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e

    Bicombustveis (ANP) de 30 de abril de 1999 (ANP, 1999). Os principais

    parmetros utilizados para classificao destes leos so viscosidade e teor de

    enxofre. Em relao ao teor de enxofre, so classificados em dois grupos (A e B),

    sendo cada grupo subdividido em 9 tipos de leo de acordo com suas

    viscosidades. leos combustveis pertencentes ao grupo A possuem um teor de

    enxofre mximo de 5,5% em massa, exceto para leo 1A que deve possuir 5% de

    enxofre em massa. Os leos pertencentes ao grupo B possuem baixo teor de

    enxofre e devem apresentar no mximo 1% deste elemento em massa (ANP,

    1999). Na Tabela 1.1 mostrada a classificao dos leos combustveis utilizada

    no Brasil em funo do teor de enxofre e viscosidade.

  • 10

    Tabela 1.1: Classificao dos leos combustveis utilizada no Brasil em funo do

    teor de enxofre e viscosidade (adaptado de PETROBRS, 2009-b).

    Viscosidade1

    (SSF2 a 50C)

    leo tipo A

    (alto teor de enxofre)

    leo tipo B

    (baixo teor de enxofre)

    600 1A3 1B

    900 2A 2B

    2.400 3A 3B

    10.000 4A 4B

    30.000 5A 5B

    80.000 6A 6B

    300.000 7A 7B

    1.000.000 8A 8B

    > 1.000.000 9A 9B 1Viscosidade cinemtica determinada em viscosmetro do tipo Saybolt Furol. A

    viscosidade determinada em viscosmetros que se baseiam no tempo de escoamento

    de um dado volume de leo a temperatura constante; 2Segundos Saybolt Furol; 3Tambm

    conhecido como leo de baixo ponto de fluidez - BPF (BIZZO, 2003).

    1.2 HIDROCARBONETOS PROVENIENTES DE DERIVADOS DE

    PETRLEO

    Os produtos derivados de petrleo, assim como o petrleo original, tambm

    so misturas complexas constitudas principalmente por hidrocarbonetos, alm de

    compostos contendo enxofre, nitrognio, oxignio, e pequena quantidade de

    metais. Normalmente, estes constituintes so classificados em dois grupos:

    hidrocarbonetos e no-hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos ainda podem ser

    subdivididos em grupos contendo compostos com caractersticas estruturais e

    comportamento qumico semelhante, tais como hidrocarbonetos saturados,

    insaturados e aromticos (ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP,

    1998).

  • 11

    Os hidrocarbonetos saturados so os compostos encontrados em maiores

    quantidade nos derivados de petrleo e so divididos em dois grupos: (1)

    hidrocarbonetos saturados alifticos, que podem apresentar cadeia carbnica

    linear ou ramificada (Figura 1.2); (2) hidrocarbonetos saturados alicclicos, tambm

    chamados de cicloalcanos, que possuem cadeia carbnica cclica, formadas por

    um ou mais anis, que tambm podem conter cadeias carbnicas laterais lineares

    (Figura 1.3) (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING

    GROUP, 1998).

    Figura 1.2: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alifticos ou alcanos.

    Figura 1.3: Exemplos de hidrocarbonetos saturados alicclicos ou cicloalcanos.

    Os hidrocarbonetos insaturados no so encontrados naturalmente no

    petrleo bruto, sendo originados durante os processos de craqueamento, onde

    molculas saturadas de maior massa molar e complexas so quebradas

    originando molculas menores. Durante a quebra pode ocorrer formao de

    ligaes duplas, principalmente quando no h quantidade de hidrognio

    suficiente para saturao das novas estruturas formadas. Os hidrocarbonetos

    insaturados podem apresentar cadeias lineares, ramificadas ou cclicas (Figura

  • 12

    1.4) (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING

    GROUP, 1998).

    Figura 1.4: Exemplos de hidrocarbonetos insaturados presentes no petrleo.

    Os compostos aromticos constituem uma classe especial de

    hidrocarbonetos insaturados, nos quais a estrutura molecular formada por anis

    benznicos (Figura 7). Alguns compostos desta classe podem ter um ou mais

    tomos de hidrognio substitudos por cadeias carbnicas laterais e so

    chamados genericamente de alquil benzenos (Figura 1.5), enquanto outros

    apresentam dois ou mais anis benznicos conjugados e so conhecidos como

    hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) (Figura 1.6) (WANG & BROWN,

    2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998).

    Figura 1.5: Exemplos de hidrocarbonetos aromticos.

    Figura 1.6: Exemplos de hidrocarbonetos policclicos aromticos.

  • 13

    Os compostos minoritrios, tambm chamados de no-hidrocarbonetos,

    so encontrados no petrleo e em seus produtos derivados em quantidades muito

    inferiores aos hidrocarbonetos. So representados por substncias orgnicas

    contendo heterotomos como enxofre, nitrognio e oxignio, tais como cidos,

    teres, entre outros (Figura 1.7). Durante o processo de refino estes compostos

    so concentrados nas fraes mais pesadas, logo, produtos que possuem alto

    ponto de ebulio podem apresentar quantidades mais significativas destes

    compostos (WANG & BROWN, 2008; ALBERS, 2003; TPH CRITERIA WORKING

    GROUP, 1998).

    Figura 1.7: Exemplos de compostos no-hidrocarbonetos, contendo heterotomos

    e pertencentes a outros grupos funcionais.

    1.2.1 HIDROCARBONETOS TOTAIS DE PETRLEO HTP

    A composio dos derivados de petrleo pode variar amplamente, de forma

    que cada produto possui uma distribuio nica de hidrocarbonetos, que

    resultado de caractersticas intrnsecas do processo de fabricao, como

    intervalos de temperatura e presso em que so obtidos, alm de outros

    processos complementares aplicados durante o refino. Na Figura 1.8 mostrada,

    por meio de um cromatograma obtido de uma mistura de compostos encontrados

    no petrleo, a faixa de hidrocarbonetos caracterstica de alguns de seus produtos

    derivados.

  • 14

    Figura 1.8: Cromatograma hipottico de uma mistura contendo diversos

    hidrocarbonetos, mostrando as faixas caractersticas para cada produto derivado

    de petrleo (adaptado de SENN & JOHNSON, 1987).

    Os hidrocarbonetos derivados de petrleo so frequentemente tratados pelo

    termo hidrocarbonetos totais de petrleo (HTP), que utilizado para descrever

    uma grande famlia contendo centenas de compostos qumicos, provenientes do

    petrleo natural ou de seus derivados. Desta forma, este termo contempla todos

    os hidrocarbonetos presentes em um determinado produto (ATSDR, 2011; TPH

    CRITERIA WORKING GROUP, 1998). Na Figura 1.9 so mostrados os perfis

    cromatogrficos obtidos em anlises para determinao de HTP em amostra de

    petrleo e de alguns de seus produtos derivados.

    A complexa composio destes produtos torna difcil a anlise individual de

    seus constituintes que, em muitos casos, no um procedimento prtico para ser

    adotado em estudos ambientais. Assim, o uso dos HTP como parmetro para

    avaliao de uma rea contaminada uma opo mais simples e rpida. Alm

    disso, um parmetro normalmente avaliado pelos rgos de fiscalizao

    ambiental para verificao da qualidade de solo e gua (ATSDR, 2011; TPH

    CRITERIA WORKING GROUP, 1998).

  • 15

    Figura 1.9: Cromatogramas obtidos em anlise para determinao de HTP em

    amostra de petrleo e de seus produtos derivados (gasolina, nafta, querosene,

    querosene de aviao JP-5 e diesel), ilustrando as diferenas em relao ao perfil

    cromatogrfico (adaptado de TESTA & WINEGARDNER, 2000).

    A definio do termo HTP depende do mtodo analtico adotado, j que

    reflete a concentrao total de hidrocarbonetos extrados e determinados

    utilizando um mtodo particular. O resultado normalmente obtido pela soma de

  • 16

    todos os compostos eludos dentro de uma faixa pr-definida de acordo com o

    mtodo utilizado. Desta forma, um resultado que representa uma mistura de

    compostos. Assim, se a mesma concentrao de HTP for encontrada em duas

    amostras distintas, uma anlise individual dos compostos pode revelar diferenas

    em suas composies e, portanto, diferentes riscos sade humana e ao

    ambiente. Neste contexto, pode-se citar como exemplo o caso em que duas reas

    contaminadas apresentam concentrao de HTP de 500 mg kg-1, mas uma anlise

    detalhada revela que uma rea contm compostos carcinognicos, enquanto a

    outra possui hidrocarbonetos menos txicos. Alm disso, no existe um nico

    mtodo analtico estabelecido para determinao dos HTP. Logo, a mesma

    amostra pode produzir resultados diferentes, no sendo possvel estabelecer uma

    correlao entre os valores obtidos por mtodos analticos distintos. Estas

    caractersticas tm gerado controvrsias sobre o uso dos HTP como parmetro

    para apoiar decises importantes durante processos de remediao

    (NASCIMENTO et al., 2008; TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1998; IRWIN et

    al., 1997).

    O uso de informaes individuais sobre os poluentes presentes em uma

    rea contaminada pode ser a abordagem mais adequada, mas em geral, vivel

    somente em locais contaminados com uma quantidade relativamente pequena de

    compostos. Em locais onde um grande nmero de substncias est presente,

    como o caso de reas contaminadas com derivados de petrleo, a avaliao dos

    hidrocarbonetos por faixas especficas pode representar uma opo adequada.

    Este tipo de avaliao tem carter mais prtico e pode proporcionar resultados

    satisfatrios, como pode ser verificado no trabalho realizado pelo TPHCWG (do

    ingls, Total Petroleum Hydrocarbons Criteria Working Group), que desenvolveu

    um estudo sistemtico onde mais de 200 hidrocarbonetos foram agrupados em um

    pequeno nmero de fraes, contendo compostos com propriedades fsico-

    qumicas similares. Estas fraes podem ser utilizadas para obteno de

    informaes mais confiveis e realistas durante a avaliao de uma rea

    contaminada (TPH CRITERIA WORKING GROUP, 1997).

  • 17

    1.2.2 HIDROCARBONETOS POLICCLICOS AROMTICOS HPA

    Os hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) so compostos muito

    relevantes em estudos relacionados contaminao por derivados de petrleo,

    pois apresentam elevada toxicidade e so persistentes no ambiente. Os HPA

    constituem uma classe de compostos orgnicos que apresentam dois ou mais

    anis aromticos conjugados. No so produzidos intencionalmente e so

    originados como subprodutos de processos naturais ou antrpicos, em geral, a

    partir da combusto incompleta ou pirlise de matria orgnica (RIVAS, 2006). Os

    HPA tambm so encontrados naturalmente no petrleo e em seus derivados

    (ALBERS, 2003). Estes compostos so amplamente distribudos no ambiente e as

    principais fontes de emisses naturais so erupes vulcnicas

    (STRACQUADANIO et al., 2003), incndios florestais de origens naturais,

    afloramentos de petrleo (SERUTO et al., 2005) e snteses biolgicas (WILCKE et

    al., 2003). As emisses antrpicas so resultantes de processos de combusto de

    biomassa e combustveis fsseis. Acidentes ambientais envolvendo petrleo e

    derivados, tais como vazamentos em petroleiros ou tanques de armazenamento

    de combustveis, tambm representam um importante aporte destes

    contaminantes no ambiente (LOCATELLI, 2006).

    Os HPA so considerados os compostos potencialmente carcinognicos

    mais amplamente distribudos no ambiente (RIVAS, 2006). Muitos destes

    compostos so legislados, j que apresentam comprovada toxicidade e

    carcinogenicidade para seres humanos e animais (IARC, 2010). Em 1997, a

    ATSDR (do ingls, Agency for Toxic Substances and Disease Registry)

    juntamente com a USEPA (do ingls, United States Environmental Protection

    Agency) formularam uma lista, conhecida como CERCLA Priorit List, classificando

    substncias potencialmente txicas para os seres humanos. Os critrios utilizados

    em sua elaborao foram: frequncia de ocorrncia, toxicidade e potencial de

    exposio humana. Assim, cada um destes fatores recebeu pontos que no final

    foram somados, e o resultado foi utilizado na classificao das substncias.

    Aquelas que obtiveram maior pontuao ocuparam os primeiros lugares. A

  • 18

    CERCLA Priorit List atualizada a cada dois anos, quando h uma reviso das

    pontuaes e incluso de novas substncias (ATSDR, 2011b; LOCATELLI, 2006).

    A partir desta lista a EPA passou a priorizar 16 HPA em seus estudos. Atualmente

    o conjunto destes HPA ocupa a 9 posio na lista (ATSDR, 2011a). Na Figura

    1.10 so exibidas as estruturas dos 16 HPA prioritrios pela EPA.

    Figura 1.10: Estrutura dos 16 HPA prioritrios de acordo com a EPA.

  • 19

    A Agncia Internacional para Pesquisa sobre o Cncer (IARC, do ingls,

    International Agency for Research on Cancer) responsvel por classificar

    diversos compostos qumicos com potencial cancergeno ao homem. As

    substncias so divididas em cinco grupos, de acordo com sua toxicidade:

    Grupo 1 - substncias cancergenas ao homem;

    Grupo 2A substncias provavelmente cancergenas ao homem;

    Grupo 2B substncias possivelmente cancergenas ao homem;

    Grupo 3 substncias no cancergenas ao homem;

    Grupo 4 substncias provavelmente no cancergenas ao homem.

    Tabela 1.2: Classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios de acordo com a

    USEPA (IARC, 2010).

    Compostos Grupo IARC Potencial cancergeno

    Naftaleno 2B

    Acenaftileno No classificado

    Acenafteno No classificado

    Fluoreno 3

    Fenantreno 3

    Antraceno 3

    Fluoranteno 3

    Pireno 3

    Benzo[a]antraceno 2A

    Criseno 3

    Benzo[b]fluoranteno 2B

    Benzo[k]fluoranteno 2B

    Benzo[a]pireno 2A

    Indeno[123-cd]pireno 2B

    Dibenzo[ah]antraceno 2A

    Benzo[ghi]perileno 3

  • 20

    Dentre os 16 HPA prioritrios pela USEPA, os compostos mais txicos so

    benzo[a]antraceno, benzo[a]pireno e dibenzo[ah]antraceno, que so classificados

    pela IARC como substncias provavelmente cancergenas ao homem. A

    classificao da IARC para os 16 HPA prioritrios pela USEPA mostrada na

    Tabela 1.2.

    A toxicidade dos HPA est associada a caractersticas estruturais. Os

    compostos mais txicos apresentam uma regio de baa em suas molculas, que

    favorece a ocorrncia de uma srie de reaes associadas a efeitos mutagnicos

    e carcinognicos no organismo. A regio de baa a regio exterior cncava de

    um HPA, formado, no mnimo por trs anis aromticos (VIANA, 1981). Na Figura

    1.11 so mostradas as estruturas de alguns HPA e suas regies de baa. A ao

    txica dos HPA deve-se a alta reatividade de metablitos oxigenados, tais como

    epxidos e dihidrodiis, que so formados quando determinados HPA so

    metabolizados pelo organismo humano ou de outros animais. Estes metablitos

    podem se ligar a protenas celulares e bases nitrogenadas do DNA, causando

    danos celulares, que podem originar mutaes e tumores cancergenos

    (LOCATELLI, 2006; ALBERS, 2003).

    Figura 1.11: Estrutura dos compostos benzo[a]antraceno (A), benzo[a]pireno (B) e

    dibenzo[ah]antraceno (C), com suas regies de baa destacadas.

  • 21

    Os HPA possuem baixa solubilidade em gua, onde o naftaleno, que o

    composto mais solvel, apresenta solubilidade de 31,3 mg L-1. O aumento da

    quantidade de anis aromticos na estrutura, com consequente aumento da

    massa molar, resulta em diminuio da solubilidade destes compostos. Outra

    caracterstica importante so os altos valores do coeficiente de partio octanol-

    gua (KOW), mostrando a forte tendncia dos HPA em permanecerem adsorvidos

    no material particulado, especialmente associados frao orgnica do solo

    (ZHOU & ZHU, 2005). A Tabela 1.3 mostra os valores de massa molar,

    solubilidade e log KOW para os 16 HPA prioritrios pela USEPA.

    Tabela 1.3: Valores de massa molar, solubilidade e log KOW para os 16 HPA

    prioritrios pela EPA (NIST, 2011a; NIST, 2011b; JONSSON et al., 2007).

    Composto Massa molar

    (g mol-1)

    Solubilidade

    (g L-1)

    Log KOW

    Naftaleno 128,17 31300 3,40

    Acenaftileno 152,19 3970 3,94

    Acenafteno 154,21 3930 3,92

    Fluoreno 166,22 1980 4,18

    Fenantreno 178,23 1290 4,60

    Antraceno 178,23 73 4,50

    Fluoranteno 202,25 260 5,22

    Pireno 202,25 135 5,18

    Benzo[a]antraceno 228,29 14 5,61

    Criseno 228,29 2 5,91

    Benzo[b]fluoranteno 252,31 1,2 6,29

    Benzo[k]fluoranteno 252,31 0,55 6,59

    Benzo[a]pireno 252,31 3,8 6,50

    Indeno[123-cd]pireno 276,33 2,7 6,58

    Dibenzo[ah]antraceno 278,35 0,5 6,70

    Benzo[ghi]perileno 276,33 0,26 7,10

  • 22

    1.3 REAS CONTAMINADAS: PROBLEMTICA DA

    CONTAMINAO POR POSTOS DE ABASTECIMENTO,

    TRANSPORTADORES, REVENDEDORES E RETALHISTAS DE

    COMBUSTVEIS

    Em maio de 2002, a CETESB divulgou pela primeira vez uma lista contendo

    a relao das reas contaminadas no Estado de So Paulo, registrando a

    existncia de 255 reas com algum tipo de contaminao. Esta lista atualizada

    periodicamente, sendo a ltima atualizao realizada em dezembro de 2011,

    resultando num total de 4131 registros na relao de reas contaminadas e

    reabilitadas no Estado. Segundo a CETESB (2011), o aumento no nmero de

    registros de reas contaminadas durante o perodo de 2002 a 2011 deve-se,

    principalmente, ao rotineira de fiscalizao e licenciamento de postos de

    combustvel e outras atividades potencialmente poluidoras. Cabe ressaltar que o

    grande nmero de reas contaminadas identificadas atualmente est diretamente

    relacionado ao desconhecimento ou desrespeito, em dcadas passadas, de

    procedimentos seguros para o manejo de substncias perigosas, alm de

    inmeros acidentes ou vazamentos ocorridos durante o desenvolvimento de

    processos produtivos, transporte ou armazenamento de matrias primas e

    produtos (CETESB, 2011).

    Segundo a ANP (ANP, 2011), em 2010 foram cadastrados no Brasil 38235

    postos de combustveis. Deste total, 41,7% encontrava-se na Regio Sudeste;

    20,8% na Regio Sul; 21,9 % na Regio Nordeste; 8,7% na Regio Centro-Oeste;

    e 7,0% na Regio Norte. So Paulo foi o Estado que concentrou o maior nmero

    de postos, totalizando 8962 estabelecimentos, correspondendo a 23,4% do total

    nacional. Alm de postos de abastecimento, outra fonte de contaminao so

    transportadores, revendedores e retalhistas de combustveis (TRR), que tambm

    realizam atividades ligadas ao transporte, armazenamento e comercializao

    destes produtos. Em 2010 foram cadastrados 387 TRR no pas, distribudos da

    seguinte forma: Regio Sudeste com 29,7% dos registros; Regio Sul com 37,2%

  • 23

    dos registros; Regio Nordeste com 5,7% dos registros; Regio Centro-Oeste com

    22,0% dos registros; e Regio Norte com 5,4% dos registros (ANP, 2011). Neste

    caso, o Estado de So Paulo tambm concentrou o maior nmero de empresas,

    totalizando 71 registros, correspondendo a 18,3% do total nacional.

    Figura 1.12: Distribuio dos acidentes atendidos pela CETESB durante o perodo

    de 1984 a 2010, considerando separadamente as ocorrncias em postos e

    sistemas retalhistas de combustveis, e casos envolvendo outras atividades

    excluindo postos e sistemas retalhistas de combustveis (CETESB, 2010;

    CETESB, 2009; CETESB, 2008; CETESB, 2007; CETESB, 2006; CETESB, 2005).

  • 24

    Os combustveis automotivos so normalmente armazenados em tanques

    subterrneos e vazamentos em postos e sistemas retalhistas so problemas que

    ocorrem com frequncia. Durante a dcada de 1970 houve um aumento

    significativo no nmero de postos de gasolina no pas, e como a vida til dos

    tanques de armazenamento de aproximadamente 25 anos, muitos j esto em

    fase de substituio. O envelhecimento e deteriorao destes sistemas podem

    aumentar ainda mais o nmero de casos de vazamentos e, consequentemente, de

    reas contaminadas (SOARES, 2008; FERREIRA, 2000). Assim, o nmero

    elevado de postos de abastecimento com tanques de armazenamento com

    possibilidade de vazamento tem sido objeto de crescente preocupao, haja vista

    os riscos associados a estes eventos, que podem afetar drasticamente a

    qualidade do solo e gua subterrnea, ameaando a segurana e sade da

    populao e meio ambiente (MINDRISZ, 2006). Alm do problema relacionado

    vida til dos tanques de armazenamento, outros fatores como a falta de

    manuteno de equipamentos e tubulaes, ou falhas operacionais devido ao

    despreparo de profissionais que atuam nos estabelecimentos, tambm contribuem

    de forma significativa para os casos de vazamentos (CETESB, 2005).

    Em muitos casos, a contaminao pode ocorrer lentamente, devido a

    vazamentos constantes ou intermitentes de pequenas quantidades de

    combustvel, que so de difcil identificao, passando despercebidos durante

    muito tempo. Em contrapartida, vazamentos causados por acidentes tambm

    contribuem significativamente para a contaminao do ambiente. Esta contribuio

    pode ser verificada por meio de informaes obtidas do setor de Operaes de

    Emergncia, que foi criado pela CETESB em 1978, e realiza o atendimento a

    situaes emergenciais que representam riscos populao e ao meio ambiente,

    ocasionados por eventos acidentais em atividades de produo, transporte,

    manipulao ou armazenamento de produtos qumicos. Durante o perodo de

    1984 a 2010, o nmero de ocorrncias emergenciais com vazamentos de

    combustveis automotivos em postos e sistemas retalhistas atendidas pela

    CETESB, correspondeu a 8,5% do total de casos registrados, correspondendo a

  • 25

    709 acidentes do total de 8387 emergncias registradas durante este perodo. Na

    Figura 1.12 pode-se verificar a quantidade de acidentes ambientais atendidos pela

    CETESB no perodo de 1984 a 2010 considerando o total de emergncias

    excluindo casos envolvendo postos e sistemas retalhistas de combustveis; e

    considerando somente os postos e sistemas retalhistas de combustveis.

    Apesar do relevante nmero de casos, nem todos os acidentes so

    registrados e tratados corretamente, pois na maioria das ocorrncias, aes

    corretivas so tomadas pelos prprios proprietrios dos estabelecimentos ou pelas

    distribuidoras, sem a devida comunicao CETESB (CETESB, 2005).

    1.4 CONTAMINAO DO SOLO POR VAZAMENTOS DE

    COMBUSTVEIS

    1.4.1 CARACTERSTICAS DO SOLO

    O solo um sistema complexo constitudo por trs fases: slidos, lquidos e

    gases. A frao slida formada por constituintes inorgnicos, como os

    argilominerais, que apresentam superfcie carregada negativamente e elevada

    capacidade de troca inica; e orgnicos, como cidos hmicos e flvicos, que

    podem interagir fortemente com diversos compostos orgnicos por meio de

    diversos mecanismos, tais como processos envolvendo soro, e contribuir para a

    reteno dos poluentes. H outras caractersticas importantes do solo, como

    dimetro e espessura dos poros, ou proporo entre gua e ar nos poros, que

    tambm so fatores que afetam a mobilidade dos contaminantes. Assim, pode-se

    considerar que o solo atua como um filtro, com capacidade de imobilizao de

    grande parte das impurezas depositadas. Entretanto, existe um limite para que

    este processo ocorra naturalmente, podendo ocorrer alteraes devido ao efeito

    cumulativo, resultante do aporte contnuo de contaminantes. Quando esta

    capacidade esgotada, os contaminantes atingem as guas subterrneas

    (CORRER, 2008; SOARES, 2008; MEURER, 2000).

  • 26

    O solo em sua subsuperfcie dividido em duas zonas verticais: saturada e

    no saturada, de acordo com a proporo relativa do espao poroso que

    progressivamente ocupado pela gua (FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997). A

    Figura 1.13 mostra a classificao das zonas do subsolo quanto presena de

    gua.

    Figura 1.13: Caracterizao esquemtica das zonas do subsolo quanto

    presena de gua (BORGHETTI et al., 2004).

    A zona no saturada, tambm chamada de zona de aerao ou vadosa,

    est situada entre a superfcie fretica e a superfcie do terreno onde os poros

    esto parcialmente preenchidos por gua e gases (principalmente ar e vapor

    dgua). A partir da superfcie do solo, essa zona divide-se em trs partes

    (SOARES, 2008; FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997):

    (1) Zona de umidade do solo ou zona de evapotranspirao: a parte mais

    superficial, onde a perda de gua de adeso para a atmosfera intensa. Em

    alguns casos muito grande a quantidade de sais que se precipitam na superfcie

    do solo aps a evaporao da gua, originando solos salinizados ou crostas

  • 27

    ferruginosas (laterticas). Esta regio est situada entre os extremos radiculares

    da vegetao e a superfcie do terreno. A sua espessura, portanto, pode variar de

    poucos centmetros (na ausncia de cobertura vegetal) at vrios metros em

    regies de vegetao abundante. Nesta regio as plantas utilizam a gua para as

    suas funes de transpirao e nutrio.

    (2) Zona Intermediria: regio compreendida entre a zona de umidade do

    solo e da franja capilar. A umidade existente nesta zona origina-se de evaporao

    de gua subterrnea e est localizada fora do alcance das razes.

    (3) Zona Capilar: a regio mais prxima ao nvel d'gua do lenol fretico,

    estende-se da superfcie fretica at o limite da ascenso capilar da gua. A sua

    espessura depende principalmente da distribuio de tamanho dos poros e da

    homogeneidade do terreno. Como a umidade decresce de baixo para cima, na

    parte inferior, prximo da superfcie fretica, os poros encontram-se praticamente

    saturados. J nas partes mais superiores, somente os poros menores encontram-

    se preenchidos com a gua, de modo que o limite superior desta zona tem uma

    forma irregular, denominada de franja capilar. Dependendo das caractersticas

    climatolgicas da regio ou do volume de precipitao e escoamento da gua, a

    franja capilar pode permanecer permanentemente a grandes profundidades, ou se

    aproximar da superfcie horizontal do terreno, originando as zonas encharcadas ou

    pantanosas.

    A zona saturada ou de saturao a regio localizada abaixo da zona no

    saturada onde os poros ou fraturas das rochas esto totalmente preenchidos por

    gua. Nesta regio, a gua corresponde ao excedente da zona no saturada que

    se move em velocidades muito lentas, formando um manancial subterrneo. Uma

    frao desta gua ir desaguar na superfcie dos terrenos, formando as fontes e

    nascentes. Esta zona pode ser dividida basicamente em duas regies (SOARES,

    2008; FEITOSA, 2000; FERNANDES, 1997):

  • 28

    (1) gua subterrnea: a regio localizada abaixo da superfcie fretica e

    nela todos os espaos vazios existentes no terreno esto preenchidos com gua.

    (2) gua em poros no conectados: a regio onde so formados

    acmulos de gua entre rochas constitudas de material pouco poroso existentes

    em camadas mais profundas do solo.

    1.4.2 DINMICA DOS HIDROCARBONETOS NO SOLO

    Quando ocorrem vazamentos de produtos derivados de petrleo no

    subsolo, seus constituintes tendem a percolar em direo ao lenol fretico sob

    influncia da gravidade, foras capilares e difuso longitudinal. No caso de um

    derramamento que no ultrapasse a capacidade de reteno do solo, os

    contaminantes permanecem adsorvidos ou presos por capilaridade nas partculas

    do solo, no atingindo o nvel da gua subterrnea. Entretanto, quando o volume

    liberado no ambiente supera esta capacidade de reteno, a pluma de

    contaminao alcana o nvel de gua, onde a massa de contaminantes se

    acumula e lentamente transportada. Neste caso, dependendo da densidade de

    seus componentes, pode ser formada uma pluma de contaminao sobre o nvel

    de gua ou ocorrer a migrao dos contaminantes at um estrato menos

    permevel, onde ficaro acumulados.

    Os hidrocarbonetos so compostos menos densos que a gua e, portanto,

    seus vazamentos originam plumas de contaminao que permanecem sobre o

    nvel de gua (SANCHES, 2009; EPA, 1996). A diferena entre propriedades

    fsicas e qumicas da gua e dos hidrocarbonetos resulta na formao de uma

    fase lquida, imiscvel com gua, que comumente chamada de fase livre ou fase

    livre no aquosa (NAPL, do ingls, Non-aqueous Phase Liquid). A fase livre pode

    ser classificada como fase livre no aquosa leve (LNAPL, do ingls, Light Non-

    aqueous Phase Liquid), quando os contaminantes apresentam densidades

    menores que a da gua; ou em fase livre no aquosa densa (DNAPL, do ingls,

    Dense Non-aqueous Phase Liquid), para contaminantes mais densos que a gua.

  • 29

    A Figura 1.14 ilustra a formao de LNAPL e DNAPL (SANCHES, 2009; EPA,

    1995; EPA, 1990).

    Figura 1.14: Formao de LNAPL e DNAPL aps vazamento de tanque contendo

    produtos qumicos (adaptado de PARIA, 2008).

    Alm da formao de fase livre, o vazamento de combustveis no solo pode

    resultar na formao de outras diferentes fases de contaminao, nas quais os

    compostos podem se distribuir, sendo a partio e permanncia em cada fase

    determinadas por propriedades fsico-qumicas dos compostos e condies

    ambientais (ABDANUR, 2005; EPA, 1996). Segundo Azambuja et al. (2000),

    Sauck (2000) e EPA (1995), as fases de contaminao que se manifestam aps

    vazamentos de combustveis so listadas a seguir. Na Figura 1.15 so mostradas

    as possveis fases de contaminao originadas por vazamento de combustveis

    derivados de petrleo.

    (1) Fase livre: formada pela frao de hidrocarbonetos que no se dissolveram.

    Estudos experimentais mostram que esta fase no composta somente por

    hidrocarbonetos, que ocupam cerca de 50% dos vazios do solo, mas tambm por

    gua e ar. Desta forma, no existe um limite bem definido entre fase livre e as

    demais fases, mas uma faixa de transio que apresenta espessura varivel, de

    acordo com a viscosidade dos hidrocarbonetos presentes, magnitude e frequncia

  • 30

    das oscilaes freticas, quantidade de oxignio disponvel, porosidade do solo e

    o tempo transcorrido desde o vazamento, entre outros fatores intervenientes. A

    fase livre representa uma fonte secundria de contaminao para as fases vapor,

    dissolvida, residual e condensada.

    (2) Fase adsorvida: caracteriza-se por uma fina pelcula de hidrocarbonetos

    adsorvidos aos colides orgnicos e minerais do solo. Normalmente uma frao

    do produto em fase lquida tambm permanece retida por foras capilares nos

    interstcios do solo ou poros da zona no saturada, e recebe o nome de fase

    residual. Devido a variaes naturais no nvel do lenol fretico, a fase adsorvida

    ocupa uma faixa sobre o topo da fase livre. A extenso desta faixa depende da

    viscosidade do produto, da porosidade do solo e das oscilaes do aqufero

    fretico. Apresenta maior importncia em casos de vazamento de produtos mais

    viscosos como o diesel, onde grande parte de seus constituintes permanece

    adsorvida.

    (3) Fase dissolvida: resultado da dissoluo de compostos que apresentam

    maior solubilidade e fraes de hidrocarbonetos emulsionadas, que possuem

    maior molhabilidade e se dissipam abaixo do nvel da gua subterrnea.

    Apresenta maior importncia em casos de vazamento de fludos menos viscosos

    como a gasolina. A quantidade de hidrocarbonetos dissolvidos depende das

    condies de degradao ou bioconverso do produto, estando muito mais

    relacionada participao da fase adsorvida e muito menos ligada espessura da

    fase livre. A menor espessura da fase livre favorece a dissoluo de componentes,

    porque o ambiente ideal para a ocorrncia do fenmeno deve ser oxigenado e

    com pH mais baixo.

    (4) Fase vaporizada: composta pela frao gasosa dos componentes volteis

    dos combustveis que ocupa os poros solo. Est presente em meio s demais

    fases, sendo mais significativa na regio no saturada do solo. Apresenta maior

  • 31

    importncia para os hidrocarbonetos de menor ponto de ebulio, como aqueles

    presentes na gasolina.

    (5) Fase condensada: normalmente ocorre em reas urbanas onde a

    pavimentao do solo intensa, tornando-o pouco permevel. Caracteriza-se pelo

    acmulo de produtos condensados sob o pavimento. semelhante fase

    adsorvida, entretanto, apresenta composio diferente do produto original em

    decorrncia do fracionamento seletivo dos compostos que ocorre durante a

    vaporizao.

    Figura 1.15: Distribuio das fases de contaminao originadas por vazamento de

    combustveis derivados de petrleo (adaptado de TESTA & WINEGARDNER,

    2000).

    A dinmica de distribuio dos contaminantes entre as diferentes fases

    determinada por mecanismos de transporte de massa, e os processos de maior

    importncia so adveco, disperso e atenuao (AZAMBUJA et al., 2000; EPA,

    1996). Quando a mistura de compostos presente no combustvel liberada no

    solo, infiltrando-se na zona no saturada at atingir a zona saturada, o percurso

    controlado por meio destes mecanismos, que promovem a partio dos

    constituintes para as fases slida, lquida e gasosa (FERREIRA, 2000).

    Durante o fenmeno de adveco os contaminantes migram junto ao fluxo

    da gua subterrnea e, normalmente, no ocorre reduo da massa ou

    concentrao dos contaminantes. o mecanismo principal na formao e

  • 32

    mobilizao da fase livre de hidrocarbonetos (KULKAMP, 2003; AZAMBUJA et al.,

    2000).

    A disperso responsvel pela diminuio da concentrao dos

    contaminantes e ocorre por dois processos: disperso hidrodinmica e difuso

    molecular. A disperso hidrodinmica responsvel pelo espalhamento de uma

    pluma de contaminao em direes longitudinais e transversais direo da

    migrao da pluma. Enquanto que a difuso molecular caracterizada pelo

    movimento de uma substncia de uma rea de alta concentrao para outra de

    baixa concentrao. um fenmeno de diluio de componentes solveis e o

    principal processo formador da fase dissolvida (MINDRISZ, 2006; KULKAMP,

    2003).

    O processo de atenuao consiste na reduo da concentrao de

    contaminantes transportados pela adveco ou disperso por meio de processos

    qumicos, fsico-qumicos e biolgicos. As reaes de bioconverso, pelas quais

    fraes dos hidrocarbonetos so transformadas em cidos orgnicos ou so

    completamente oxidadas, apresentam grande importncia neste processo. A

    atenuao qumica mais intensa na regio com maior disponibilidade de

    oxignio e est intimamente associada ao biolgica. A atenuao fsico-

    qumica responsvel pela formao da fase adsorvida e consiste no

    aprisionamento de contaminantes que se aderem s partculas do solo. Em

    associao com mecanismos de atenuao qumica, responsvel pela formao

    de fase dissolvida (KULKAMP, 2003; AZAMBUJA et al., 2000; EPA, 1995b).

    1.5 REMEDIAO DE REAS CONTAMINADAS

    Nas ltimas dcadas ocorreram avanos significativos nos estudos

    relacionados recuperao ambiental que, atualmente, fornecem subsdios para a

    crescente demanda em relao ao gerenciamento de reas contaminadas.

    Diversas tecnologias de remediao tm sido desenvolvidas e consolidadas em

    muitos pases e, neste contexto, o Brasil recentemente comeou a desenvolver

    suas prprias tecnologias e tambm a adaptar tecnologias j estabelecidas s

  • 33

    nossas condies ambientais. O Estado de So Paulo, em funo de sua intensa

    industrializao, apresenta um grande nmero de reas contaminadas e,

    atualmente, diversas aes para remediao destes locais esto em andamento

    (MARIANO, 2006).

    Figura 1.16: Nmero de reas e tcnicas de remediao aplicadas, de acordo

    com o ltimo levantamento de reas contaminadas e reabilitadas no Estado de

    So Paulo (adaptado de CETESB, 2011).

    O ltimo levantamento realizado pela CETESB (CETESB, 2011)

    contemplando as reas contaminadas e reabilitadas no Estado, mostrou que de

    um total de 4131 reas cadastradas, 264 j foram reabilitadas e 787 encontram-se

    em processo de monitoramento para reabilitao, correspondendo,

    respectivamente, a 6% e 19% do total dos registros. Nestas reas, foi constatado

    que as tcnicas mais empregadas para o tratamento de gua subterrnea (zona

  • 34

    saturada) foram: bombeamento e tratamento, recuperao de fase livre e extrao

    multifsica; enquanto a remoo de solo/resduos e a extrao de vapores foram

    as tcnicas mais utilizadas para tratamento de solo (zona no saturada). Outras

    tcnicas empregadas podem ser visualizadas na Figura 1.16, que mostra o

    nmero de reas onde cada tcnica de remediao foi aplicada. Cabe ressaltar

    que mais de uma tcnica pode ter sido utilizada em uma mesma rea. Ainda,

    segundo a CETESB (2011), considerando a continuidade do processo de

    identificao de reas contaminadas e reabilitadas, das aes de fiscalizao e

    licenciamento, haver uma tendncia de crescimento do nmero de reas

    cadastradas nas prximas atualizaes destes registros.

    A etapa de remediao de uma rea contaminada extremamente

    importante, mas representa o ltimo passo de uma srie de procedimentos que

    tem como objetivo final a descontaminao de uma rea de risco. Etapas como a

    caracterizao da rea e tipo de contaminao, determinao dos valores-alvo

    que devem ser atingidos e a eficincia dos mtodos de tratamento investigados

    so determinantes para o sucesso da remediao propriamente dita. Alm disso, a

    viabilidade econmica pode ser estimada com maior segurana se estas etapas

    forem realizadas de forma criteriosa (SOARES, 2008; CETESB, 2001).

    Atualmente, h um grande nmero de tecnologias disponveis para

    descontaminao