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RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM SÃO TOME E PRÍNCIPE 2014 A qualidade de liderança como factor inibidor da instabilidade política e promotor do desenvolvimento humano: o papel da Sociedade Civil e da Juventude Equipa de preparação do Relatório de Desenvolvimento Humano em São Tomé e Príncipe Supervisão do Representante Residente do PNUD em STP: José Salema

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RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

EM SÃO TOME E PRÍNCIPE 2014

A qualidade de liderança como factor inibidor da instabilidade política

e promotor do desenvolvimento humano: o papel da Sociedade Civil e

da Juventude

Equipa de preparação do Relatório de Desenvolvimento Humano em

São Tomé e Príncipe

Supervisão do Representante Residente do PNUD em STP:

José Salema

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Direcção Técnica do Assistente do Representante Residente para o Programa:

António Viegas

Consultores Internacionais:

José María Caller Celestino – coordenação de Investigação, elaboração da introdução

“A sociedade civil como fator chave para a estabilidade política e o desenvolvimento

humano. Juventude, inovação e lideranças” e tratamento ao conteúdo das “Conclusões

do RDH 2014: O potencial da juventude e da sociedade civil organizada”

Dade Said – elaboração do capítulo “Desenvolvimento Humano e os Objectivos do

Milénio”

Consultores Nacionais:

Celiza Lima – elaboração do capítulo “Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da

transparência e a segurança jurídica.”

Juvenal Rodrigues - elaboração do capítulo “A liderança da comunicação social para

o desenvolvimento humano. O impacto de dar voz a uma sociedade civil livre.”

Nilda Borges - elaboração do capítulo “A sociedade civil em STP: tipologia das

organizações e necessidades para desenvolver sua liderança.”

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Prefácio

Um dos maiores desafios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é

elaborar um Relatório de Desenvolvimento Humano que, para além de proporcionar

uma correcta informação socioeconómica e a sua análise em profundidade, estimule

fortemente os cidadãos a serem os verdadeiros responsáveis e protagonistas do seu

desenvolvimento.

A apropriação do desenvolvimento humano por parte da população é a garantia maior

da sustentabilidade de todos os resultados obtidos e da sua permanente melhoria.

É por isso bem-vinda a exigência da sociedade são-tomense para assumir o seu papel na

busca de lideranças que possam por fim à estagnação política e tentar focalizar os

esforços de todos os atores políticos, sociais e económicos, numa estratégia sólida de

desenvolvimento humano sustentável.

O presente Relatório de Desenvolvimento Humano, o quarto de São Tomé e Príncipe,

presta assim uma atenção especial aos anseios da sociedade de se dotar de organizações

civis com líderes e capacidade necessária para participar com plenitude nos processos e

atingir os objetivos estratégicos de desenvolvimento.

Neste despertar da sociedade civil para o desenvolvimento humano, a juventude são-

tomense deve desempenhar um papel fundamental, na medida em que a mesma

constitui um potencial ainda muito pouco explorado e com um extraordinário porvir

latente. Se algo tem comprovado as pesquisas feitas e descritas neste Relatório é a

ineficiente utilização das capacidades duma juventude cada vez mais ansiosa para

provar as suas competências e com vontade inquebrantável de sair duma posição

socioeconómica imerecida, em especial as jovens, pois há ainda muito trabalho a ser

feito no âmbito da equidade de género.

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Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas

lideranças da sociedade civil é uma prioridade não só para favorecer o desenvolvimento

do país, mas também para converter um possível foco de instabilidade social, numa

referência de orgulho para a são-tomensidade.

E por que estaríamos a nos referir explicitamente a esta identidade? Já tínhamos

constatado num dos Relatórios anteriores, e parece confirmar-se uma vez mais, que é

perentório satisfazer a necessidade de se construir uma identidade são-tomense que

valorize a cultura dos são-tomenses. A juventude actual tem capacidade e vontade de

recuperar o melhor da cultura tradicional são-tomense e de articulá-la com uma cultura

de desenvolvimento humano do século XXI; e uma cultura integradora de ambas

facilitaria a criação duma identidade da qual os são-tomenses se sentiriam orgulhosos.

Um obstáculo claro para essa identidade aglutinadora de passado e presente, capaz de

impulsionar o país desde as suas raízes até ao desenvolvimento humano pleno, é a

corrupção. A cidadã e o cidadão são-tomenses, de todos os estratos económicos e

sociais, com baixo ou alto nível académico, percebem a corrupção e, de maneira

especial a elite, como algo inadmissível.

Este Relatório ocupa-se também, e em profundidade, deste problema e da imperiosa

urgência em se abordar a Reforma da Justiça, como almeja o comum dos cidadãos e os

próprios atores do sistema judiciário, desde o Supremo Tribunal de Justiça passando

pela Ordem dos Advogados. O Exmo. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,

aquando da abertura do ano judicial 2014, ressaltou que “A continuidade da existência

do Estado de Direito depende da existência dum Sistema de Justiça forte, credível e

Independente”.

Em todos os Relatórios de Desenvolvimento Humano, os indicadores mais importantes

têm sido atualizados e comparados com os do relatório anterior.

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Abreviaturas e Siglas

ACEP Associação para a Cooperação Entre os Povos

ADAPPA Associação para o Desenvolvimento Agro-Pecuário e Protecção do

Ambiente

AMEP-STP Associação de Mulheres Empresárias e Profissionais de São Tomé e

Príncipe

ARCAR Associação para a Reinserção de Crianças Abondonadas e em situação de

Risco

BISTP Banco Internacional de São Tomé e Príncipe

CDC Convenção dos Direitos da Criança

CNJ Conselho Nacional da Juventude

CST Companhia Santomense de Telecomunicações

EITI Iniciativa de Transparência das Insdústrias Extrativas

ENRP Estratégia Nacional de Redução da Pobreza

FBCF Formação bruta de capital fixo

FMI Fundo Monetário Internacional

FONG-STP Federação das Organizações Não Governamentais em São Tomé e Príncipe

GSTP Governo de São Tomé e Príncipe

IDHAD Índice de desenvolvimento humano ajustado à desigualdade

IDH Índice de desenvolvimento humano

IDHG Índice de desenvolvimento do género

IDHAD Índice de desenvolvimento humano ajustado à desigualdade

IDS Inquérito demográfico de saúde

INE Instituto Nacional de Estatística

IOF Inquérito aos orçamentos familiares

IPH-1 Índice de pobreza humana

MLSTP Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe

NU Nações Unidas

OGE Orçamento Geral do Estado

OMD Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organizações Não-Governamentais

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OSC Organização da Sociedade Civil

PASS Projecto de Apoio ao Sector Social

PCI Programa de Comparação Internacional

PIB Produto interno bruto

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

OIT Organização Internacional do Trabalho

PPC Paridade de poder de compra

REDSAN- Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na

CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

RESCSAN- Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional

de São Tomé e Príncipe

RGDH Relatório Global de Desenvolvimento Humano

RGPH Recenseamento geral da população e habitação

RNB Rendimento nacional bruto

RNDH Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano

STP São Tomé e Príncipe

UNDP United Nations Development Program (Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento)

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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ÍNDICE

Prefácio, pelo Representante Residente do PNUD --------------------------------------- 1

Abreviaturas ------------------------------------------------------------------------------------- 4

Capítulo I, por José María Caller

A sociedade civil como fator chave para a estabilidade política e o desenvolvimento

humano. Juventude, inovação e lideranças. ------------------------------------------------- 12

Capítulo II, por Saide Dade

Desenvolvimento Humano e os Objetivos do Milênio ------------------------------------- 29

1. Introdução ----------------------------------------------------------------------------------- 29

2. O Contexto Económico em São Tomé e Príncipe -------------------------------------

3. O que Revelam os Indicadores de Desenvolvimento Humano de STP?-------------

3.1 Índice de desenvolvimento humano------------------------------------------------------

Progresso nas dimensões do desenvolvimento humano

São Tomé e Príncipe na Perspectiva Global --------------------------------------------

3.2 O Género e o Desenvolvimento Humano em STP -------------------------------------

O Índice de Desenvolvimento do Gênero

Outros Indicadores de Desigualdade do Género ----------------------------------------

Mulher no Mercado de Trabalho----------------------------------------------------------

Mulher e Participação nos Órgão de Decisão

Mulher e Acesso à Educação---------------------------------------------------------------

4. Desenvolvimento Humano e Pobreza Humana -----------------------------------------

5. O Desenvolvimento Humano e os Objectives do Milénio ----------------------------

Juventude e o Desenvolvimento Humano --------------------------------------------

Juventude e Mercado de Trabalho

6. Conclusão ------------------------------------------------------------------------------------

Bibliografia ----------------------------------------------------------------------------------

Capítulo III, por Celiza Lima

Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da transparência e a seguridade jurídica.

------------------------------------------------------------------------------------------------------ 67

Nota Introdutória --------------------------------------------------------------------------------

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1. Resumo das Conclusões e Recomendações Constantes do Programa de Reforma do

Sector da Justiça ---------------------------------------------------------------------------------

2. Impacto da Implementação das Medidas Constantes do Programa de Reforma do

Sistema Judiciário sobre o Desenvolvimento Humano -------------------------------------

2.1. Nível Político ---------------------------------------------------------------------------

2.2. Nível Económico -----------------------------------------------------------------------

2.3. Nível Social -----------------------------------------------------------------------------

2.4. Nível Ambiental ------------------------------------------------------------------------

2.5. Combate à Corrupção ------------------------------------------------------------------

2.6. Sociedade Civil, Transparência e Boa Governação -------------------------------

3. Conclusão -----------------------------------------------------------------------------

Capítulo IV, por Juvenal Rodrigues

A liderança da comunicação social para o desenvolvimento humano. O impacto de dar

voz a uma sociedade civil livre. -------------------------------------------------------------- 98

1. Caracterização da Comunicação Social em STP ----------------------------------------

2. Órgãos de Comunicação Social em STP -------------------------------------------------

2.1. Órgãos estatais ---------------------------------------------------------------------------

Recursos humanos

2.2. Órgãos privados da Comunicação Social ---------------------------------------------

3. Acesso à Informação e o exercício da liberdade de imprensa em STP --------------

4. A Comunicação Social, a Sociedade Civil e o Desenvolvimento Humano ---------

5. Conclusões ---------------------------------------------------------------------------------- -

Capítulo V, por Nilda Borges

A sociedade civil em STP: tipologia das organizações e necessidades para desenvolver

sua liderança ----------------------------------------------------------------------------------- 125

1. Contexto -------------------------------------------------------------------------------------

2. Enquadramento teórico -------------------------------------------------------------------

3. Breve história sobre a Organização da Sociedade Civil em STP --------------------

4. Tipologia das Organizações da Sociedade Civil em São Tomé e Príncipe ---------

4.1. Tipologia de Organizações da Sociedade Civil ----------------------------- ---------

4.2. Tipologia de Organizações da Sociedade Civil em São Tomé e Príncipe ---------

5. Que liderança para as Organizações da Sociedade Civil em STP --------------------

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6. Conclusão ------------------------------------------------------------------------------------

Bibliografia -------------------------------------------------------------------------------------

Capítulo VI, por José María Caller

Conclusões do RDH 2014: O potencial da juventude e a sociedade civil organizada-149

Anexos --------------------------------------------------------------------------- -------------

Notas técnicas ---------------------------------------------------------------------------------

Nota Técnica 1 – Cálculo do índice de desenvolvimento humano (IDH) e de Género

(IDHG) ------------------------------------------------------------------------------------------

Nota Técnica 2 – Metodologia de cálculo do índice de pobreza humana (IPH-1) ----

Nota Técnica 3 – Metodologia de Cálculo do Progresso em Direcção a Cada

Objectivo ----------------------------------------------------------------------------------------

Quadros -----------------------------------------------------------------------------------------

Capítulo II ---------------------------------------------------------------------------------------

Quadro 1. Desempenho económico por sectores de actividade, 2005 – 2013 (%) ----

Quadro 2. Índice de desenvolvimento humano e de género e seus componentes,

2004-2013 ---------------------------------------------------------------------------------------

Quadro 3. População de 22 anos e mais por condição perante actividade económica,

2012 (%) -----------------------------------------------------------------------------------------

Quadro 4. Índice de Pobreza Humana (IPH-1), 2006 – 2012 ----------------------------

Quadro 5. Progresso de STP em direcção às metas dos ODM, 2013 -------------------

Quadro 6. Perfil de idades da população de STP por regiões e País, 2012 (%) -------

Capítulo V -------------------------------------------------------------------------------------- -

Quadro 1 – Principais áreas específicas de intervenção das OSC em STP -------------

Quadro 2 – Área geral de intervenção das OSC em STP ---------------------------------

Lista de ONG ----------------------------------------------------------------------------------

Caixas -------------------------------------------------------------------------------------------

Caixa 1. Objectivos do Desenvolvimento do Milénio ------------------------------------

Gráficos -----------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 1. STP na Perspectiva Global, 2011 ($PPC) --------------------------------------

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Gráfico 2. Contribuição dos Sectores na Economia Média 2005 - 2012 (%) ----------

Gráfico 3. Inflação Acumulada 2007 - 2013 (%) ------------------------------------------

Gráfico 4. Niveis de Preços de STP na Perspectiva Global (África = 100) ------------

Gráfico 5. Contribuição dos Componentes do IDH, 2004 e 2013 ----------------------

Gráfico 6. STP na Perspectiva Regional IDH, IDHAD e Perda, 2013 -----------------

Gráfico 7. Índice de Desenvolvimento Humano Masculino e Feminino e Total -----

Gráfico 8. Taxa de Desemprego da População de 15 Anos e Mais, 2001 e

2012 (%) ----------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 9. Participação da Mulher no Parlamento, 2013 (%) ----------------------------

Gráfico 10. Distribuição das Famílias Segundo o Sexo do Chefe do Agregado

Familiar por Nível de Instrução, 2012 (%) -------------------------------------------------

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Capítulo I

A sociedade civil como factor chave para a estabilidade política

e o desenvolvimento humano. Juventude, inovação e lideranças.

A instabilidade política tornou-se em

São Tomé e Príncipe (STP) num dos

principais problemas identificados de

forma recorrente para o

desenvolvimento do país. Esta

identificação é partilhada não só pelos

próprios são-tomenses de distintos

sectores sociais, políticos e económicos

consultados, mas também por

numerosos especialistas de entidades

estrangeiras convidados a analisar a

situação de STP. Esta coincidência de

opinião de cidadãos de diferentes

sensibilidades resulta do facto de

nenhum Governo ter sido capaz de

cumprir quatro anos de mandato,

revelando-se a situação agravada por

uma crónica descontinuidade na

implementação de políticas

fundamentais – como as que mais

afectam o desenvolvimento humano -

que deveriam ser de longo prazo.

Deve-se sublinhar que esta incapacidade

de dar continuidade às políticas não

parece resultar de discrepâncias

substantivas nem no diagnóstico dos

principais problemas e necessidades de

STP, nem nas possíveis soluções que se

propõem para resolvê-los da melhor

maneira, com êxito. Os são-tomenses

enfatizam a ausência de um

compromisso claro em relação a uma

estratégia de desenvolvimento que seja

respeitada pelos políticos, a não

responsabilização dos dirigentes - que

são vistos como carentes de sentido de

Estado - e a falta de uma sociedade civil

forte, responsável e activa.

Para ilustrar melhor a anterior

asseveração, nada mais adequado que

fazer uma leitura dos resultados das

numerosas pesquisas realizadas desde a

introdução da democracia, e muito

especialmente, dos que reflectem de

maneira explícita a visão que se tem do

País, as aspirações dos santomenses e as

medidas propostas para se atingir o STP

que desejam.

Ver, por exemplo, o Relatório Nacional

sobre o Desenvolvimento Humano em

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13

São Tomé e Príncipe 2008 (RDH 2008),

o Estudo Nacional de Perspectiva a

Longo Prazo – Reflexão Estratégica

2025 (NLSTP), São Tomé e Príncipe

2030. O País que queremos (STP 2030)

ou o Relatório de Consulta Nacional

Agenda de Desenvolvimento Pós 2015.

São Tome e Príncipe (RP 2015).

Todos os estudos manifestam a

imperiosa necessidade de se alcançar a

estabilidade política e estabelecer

estratégias para o desenvolvimento que

sejam respeitadas. Diz-se no RP 2015,

p. 9 (o sublinhado é nosso):

Os são-tomenses desejam a

estabilidade política

Ao longo da auscultação, quase

todos os entrevistados

focalizaram a problemática da

instabilidade política que se vem

assistindo e que tem conduzido

ao atraso do país, na medida em

que o desenvolvimento é um

processo contínuo. Por isso,

sublinham a necessidade de se

encontrar mecanismos que

conduzam à estabilidade política

e ao estabelecimento de

estratégias concertadas para a

promoção do desenvolvimento.

Realçaram o facto de o país ter

beneficiado de vários projectos

de desenvolvimento, porém,

devido à instabilidade política

constante, nunca chegaram a

atingir os objectivos

preconizados.

E no documento STP 2030 (o

sublinhado também é nosso):

As consultas temáticas

realizadas proporcionaram um

espaço para reflexão

retrospectiva e prospectiva

sobre os caminhos a serem

trilhados para um futuro melhor

para os são-tomenses. Nesse

contexto, os resultados da

consulta constituíram a base

para a definição da visão

comum no horizonte de 2030, a

qual visa mobilizar todos os são-

tomenses em torno da

estabilidade política e a

realização de progressos para o

desenvolvimento nacional.

Também mostram com firmeza a

importância de uma sociedade civil

forte e a sua relação com o próprio

Estado nesses mesmos documentos.

Veja-se:

STP 2030, p.10:

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14

Constatou-se igualmente que os

são-tomenses desejam uma

sociedade civil activa e

responsável, na medida em que

consideram que uma sociedade

civil forte é um veículo promotor

de um Estado igualmente forte e

mais justo.

E RP 2015, pp.12-13:

Os são-tomenses querem uma

sociedade civil activa e

responsável

Ficou expresso, durante as

auscultações, que os são-

tomenses desejam o

fortalecimento da sociedade

civil, como instrumento

fundamental para a existência

de um Estado forte.

Ficou, igualmente plasmado,

que o desenvolvimento de uma

Nação depende da atitude dos

seus cidadãos, pelo que apelam

à elaboração de um código de

conduta em que figurem regras

de boa educação e valores

cívicos e morais do país.

Uma sociedade civil activa e

responsável contribui para o

fortalecimento do sentimento

patriótico dos são-tomenses,

para que defendam e valorizem

mais o que de bom se tem no

país. Para que tal aconteça, é

necessário que se desenvolvam

acções que levem a uma

mudança de mentalidade, de

postura, de atitude e de carácter

da mulher e do homem são-

tomenses.

A democracia é o produto de

uma sociedade civil forte e não a

sua criadora. Uma sociedade

civil forte gera dirigentes

responsáveis e honestos,

enquanto uma sociedade civil

frágil gera um governo fraco

irresponsável que mantém, por

sua vez, a sociedade civil fraca.

“Uma cidadania activa e

responsável é a base para o

desenvolvimento”

No RDH 2008, pp.135-136, já se

enfatizava nas aspirações:

Um Estado de Direito

Democrático consolidado e

estabilidade política e uma

Sociedade Civil esclarecida,

organizada, participativa e

dinâmica.

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15

Para escolher o tema do presente

Relatório, além desses questionamentos

fundamentais sobre a instabilidade

política e a sociedade civil, houve

também um interesse muito marcado na

situação da justiça, no estado da

juventude e o seu papel no

desenvolvimento, bem como na

necessidade de inovação em STP.

Em relação à Justiça, não cabe dúvida

que os santomenses estão conscientes

de que não pode existir um Estado

moderno e democrático nem se pode

falar do verdadeiro desenvolvimento

humano se não se dispõe de uma justiça

real. Há ainda uma forte ligação entre o

funcionamento eficaz do sistema

judicial e a estabilidade da sociedade no

seu conjunto.

O início do discurso do Presidente do

Supremo Tribunal de Justiça (PSTJ), na

cerimónia de abertura do Ano Judicial

2014 é ilustrativo:

A continuidade da existência do

Estado de Direito depende da

existência dum Sistema de

Justiça forte, credível e

independente, sendo a sua

feitura um exercício de suprema

responsabilidade, pois, é a

partir dela que os cidadãos

encontram a afirmação

incondicional dos seus direitos,

liberdades e garantias

fundamentais

constitucionalmente

consagrados.

Também salienta a relação entre o

investimento, a instabilidade política e a

justiça:

Não será que o que na verdade

poderá desestimular o

investimento em São Tomé e

Príncipe, sobretudo estrangeiro,

é a instabilidade política de

algum modo verificada, é o

problema da concorrência

desleal, é a falta de incentivos

ao investimento estrangeiro, é a

falta de honestidade por parte de

certos parceiros nacionais com

que os mesmos se associam, é o

deficiente serviço jurídico

prestado a esses investidores, é

a forma desrespeitosa e

agressiva com que têm-se

referido sobre os Tribunais,

sobre a justiça e sobre os

Juízes?

A descrição das deficiências e

necessidades do sistema judicial é

também feita com muita clareza (PSTJ,

p.6):

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16

Porquê mais um Debate

Nacional sobre a Justiça e que

objectivo cumprirá esse Debate,

quando os problemas da Justiça

em São Tomé e Príncipe já estão

devidamente identificados, se

tivermos em conta a realização

do Fórum apelidado de Estados

Gerais da Justiça, no ano 1995,

e recentemente, o Encontro

Nacional de Justiça com a

participação e o envolvimento

de todos os Operadores

Judiciários, cujo relatório

integrando as conclusões e

recomendações é de

conhecimento de todos e, mais

recente ainda, o Programa de

Reforma do Sector da Justiça

elaborado por uma Consultora

Internacional de renome,

devidamente paga pelo PNUD?

Quem tirará proveito de mais

um Debate Nacional sobre a

Justiça? Será que todos estes

trabalhos não servem para

nada, não são actuais, ou não

satisfazem a vontade dos

pretendentes do novo Debate, ou

é puro capricho estratégico sob

interesses inconfessos? Como

pretender atirar para as

calendas gregas todos esses

trabalhos, quando os mesmos

nem sequer foram testados a

implementação para se aferir da

sua importância e eficácia?

Enfatizar a necessidade de implementar

as recomendações dos trabalhos

realizados com tanto esforço e recursos

se ajusta às exigências dos cidadãos

consultados. Parece evidente que deve-

se dar maior visibilidade e máxima

relevância às relações entre a justiça e o

desenvolvimento humano. Pode-se dizer

sem temor que não há verdadeiro

desenvolvimento humano sem justiça e

seria um grave erro ignorar as

limitações dos indicadores mais

quantitativos. É por isso que a inclusão

da justiça e sua relação com a

estabilidade política e o

desenvolvimento humano é um tema

obrigatório neste Relatório.

No âmbito desta análise da justiça a

corrupção é um tema recorrente. Ela é

vista pelos cidadãos como uma das

principais causas - mesmo a principal

para muitos entrevistados - do

deficiente funcionamento do Estado. O

epítome da corrupção no imaginário

coletivo são-tomense é a classe política.

E a sua manifestação mais evidente, a

impunidade. Mas se a classe política

resume a melhor representação da

corrupção, o pernicioso fenómeno não é

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17

património dos políticos. Uma parte

significativa da sociedade e da

administração pública compartem essas

formas de atuação. Convém salientar

que esse comportamento tão estendido

(ramificado) tem um impacto

devastador sobre o desenvolvimento

humano do país. É necessário refletir

profundamente sobre este assunto.

Um país com uma parte significativa de

políticos, administração pública e

sociedade identificados como corruptos

desalenta o investimento nacional e,

sobretudo, o investimento estrangeiro,

imprescindível para um estado como

STP. Também tem um efeito desastroso

na livre concorrência e, por

conseguinte, na possibilidade de se ter

empresas mais eficazes nos projetos e

sectores estratégicos.

Se o impacto direto sobre a economia

é importante e se traduz a médio e longo

prazos numa limitação evidente sobre o

nível económico dos cidadãos, as

consequências sobre outras

componentes do desenvolvimento

humano, como a educação, a saúde ou a

equidade de género, são ainda mais

deprimentes.

Como se pode esperar que os cidadãos

depositem grandes esforços na

educação, se percebem que a formação

adquirida não tem relação com as

oportunidades de atingir uma posição

social, económica e simbólica que

corresponda ao sacrifício realizado? Se

para obter, por exemplo, uma bolsa de

estudo vale mais ter relações estreitas

com a classe política do que resultados

académicos prévios, como não vão estar

desencorajados os concorrentes sem

privilégios? Se uma parte considerável

dessas bolsas vai para os familiares da

classe dirigente que não regressam à

pátria depois de terminar a formação

num país estrangeiro, quando

consomem uma grande parte dos

recursos totais para a educação em STP,

como esperar que os cidadãos apoiem a

política educativa?

Se para ter um posto de

responsabilidade na administração

pública, um cidadão considera que os

títulos académicos e a experiência

profissional de um candidato não

podem competir com o clientelismo

político e que são os partidos no

Governo os que vão impor os seus

candidatos, porque deveria se esforçar

numa educação contínua e de

qualidade? As pessoas que começam a

trabalhar, sabendo que cada mudança de

Governo pode significar a perda ou a

anulação de projetos iniciados, mesmo

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18

se a qualificação entretanto adquirida e

os resultados sejam excelentes, podem

questionar se vale a pena aprofundar

conhecimentos. Que credibilidade no

sistema educativo, famílias e pessoal

docente podem partilhar, se os valores

transmitidos não correspondem à

realidade social?

Se os efeitos perniciosos da corrupção

sobre a educação podem ser observados

sem dificuldade, no âmbito da saúde

também são muito importantes, muito

embora a sua visibilidade seja menos

direta.

Em primeiro lugar, a corrupção causa

estragos no desenvolvimento

económico de um país e os recursos

financeiros e sociais que poderiam ser

utilizados para melhorar o sistema de

saúde pública ficam seriamente

afectados. Em STP, onde a grande

maioria da população carece de meios

para financiar as despesas mínimas para

se tratar de uma doença, as carências do

sistema público têm um impacto directo

na qualidade e esperança de vida dos

cidadãos. A corrupção não afecta só os

recursos disponíveis. Tem também

incidência na própria política de

intervenção no sector, afetando as

infraestruturas e os serviços. Quanto

maior é a corrupção, maior é a

necessidade de recursos para tudo e

menor o controlo de qualidade dos

processos e dos resultados. As compras,

fundamentais num país que importa a

quase totalidade de equipamentos e

medicamentos, podem encarecer e

atrasar, sem justificação, as obras. Estas

podem eternizar-se sem garantia

nenhuma de cumprimento de

objectivos. Paralelamente, os

profissionais têm que desempenhar as

suas funções em situação de

precariedade agravada. Essa corrupção

incide, por conseguinte, na saúde da

população e no seu desenvolvimento

humano.

A frustração do são-tomense aumenta

ainda mais, ao observar que a classe

política resolve os seus problemas de

saúde no estrangeiro.

No que respeita à equidade de género,

a corrupção contribui para perpetuar as

desigualdades. São os homens da classe

dirigente que impõem um modelo onde

as mulheres têm limitações de acesso ao

poder político. Se os princípios de

mérito e igualdade de oportunidades são

violados de maneira flagrante na função

pública e na classe política, não é

verosímil confiar num avanço notável

na igualdade noutros âmbitos da

sociedade. A corrupção impõe uma taxa

adicional de marginalização das

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19

mulheres, já que não se pode construir o

desenvolvimento humano com

semelhante disparidade de

oportunidades. Como mostram os

resultados dos Objetivos do Milénio

(ODMs) e confirmam os dados deste

Relatório com o Índice de

Desenvolvimento do Género (IDHG),

bem como as análises realizadas (ver o

capítulo II), a equidade de género é um

desafio cujo cumprimento ainda está

longe em STP.

A juventude, o seu papel no

desenvolvimento e a inovação são

temas estreitamente ligados e também

fundamentais para o comum dos atores

consultados.

STP conta com uma população muito

jovem, que é a principal interessada no

futuro do país. É impensável continuar a

projetar as possíveis alternativas de

desenvolvimento a longo prazo, sem

contar com os que vão viver nas

próximas décadas. Do mesmo modo, a

participação de STP no mundo do

século XXI vai depender em boa

medida da capacidade de inovação da

sociedade e, de maneira muito especial,

desses jovens que têm tido a

possibilidade de obter uma formação

académica de primeira ordem e uma

visão muito mais global dos desafios

que se apresentam.

A participação dos jovens não só é

imperativa pelos motivos mencionados,

mas também por constituir a maior

garantia de estabilidade social. Manter

uma grande parte da juventude em

situação precária pode ser uma fonte de

conflitos graves, sobretudo entre os

quadros mais formados. Os jovens

podem compreender as dificuldades e

limitações económicas de STP,

particularmente numa conjuntura

internacional actual desfavorável, mas

dificilmente aceitarão serem excluídos

de participar na tentativa de resolver os

problemas que lhes afectam

diretamente.

Fazer com que a juventude seja parte

activa na solução dos problemas e não

um problema em si mesmo constitui

uma prioridade para o futuro de STP.

Nesse sentido, há que se considerar a

sua integração nas organizações da

sociedade civil e a sua potencialidade

como líderes do desenvolvimento

humano. É preciso clarificar agendas

que contribuam para garantir uma

participação entusiasta e eficaz no seu

futuro.

Page 20: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

20

A inovação não é uma opção, mas uma

necessidade básica para poder

participar, competir e aproveitar todas

as vantagens dum mundo moderno onde

as inter-relações são cada vez mais

complexas e rápidas. Precisa-se

introduzir as novas tecnologias em

todos os âmbitos, tanto do Estado como

do sector privado. Porém, a inovação

não pode ser só material. Deve-se

mudar a mentalidade para poder

participar nas múltiplas redes

internacionais já existentes e criar no

país as redes necessárias para atingir os

objetivos propostos. É um grande repto

propor uma mudança profunda na

mentalidade de uma sociedade num

curto espaço de tempo. É ainda mais

difícil numa conjuntura económica

adversa e com imagens coletivas

próprias muito fragmentadas e

deterioradas. Os são-tomenses precisam

construir uma imagem de si mesmos

como povo, como nação, que seja

encomiástica, elogiosa. Têm que dotar-

se de uma mentalidade do século XXI,

mas numa perspectiva colectiva,

adquirida no tempo e com opções de

mudança de acordo com os seus sonhos.

Fortalecer a sociedade civil para

desempenhar todas as suas funções,

fazer visível a relação entre um sistema

judicial moderno e o desenvolvimento

humano, dotar a juventude de um

roteiro básico para participar de maneira

eficaz no desenvolvimento, tanto de

STP como do mundo, introduzir a

inovação em todos os âmbitos, são

contribuições chaves para limitar a

instabilidade política com que com tanta

razão se preocupam os são-tomenses.

Contudo, uma questão central se coloca

peremptoriamente em relação a tudo o

que foi anteriormente dito: que pessoa

ou pessoas podem liderar essas

mudanças tão significativas? STP tem

ou pode ter, num prazo razoável, líderes

com a dimensão de um Nelson Mandela

ou de um Gandhi, capazes de aglutinar

as diferentes sensibilidades sociais e

políticas com vista a se atingir

objectivos de interesse comum muito

mais estratégicos? E se o país não

dispõe na actualidade de figuras

individuais tão insignes, que entidades,

grupos, sectores, poderiam gerar essas

lideranças?

Considerando que os partidos políticos

são percebidos pelos são-tomenses

como parte principal do próprio

problema da instabilidade política

(percepção que corresponde às

contínuas mudanças de Governo e a

impossibilidade durante todos os anos

de democracia de cumprir as

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21

legislaturas completas), pode-se

entender o generalizado cepticismo da

população em relação à vontade dos

políticos de superar os interesses

partidários e liderar a estabilidade como

exigem os grandes temas de Estado.

Se esta percepção corresponde à

necessidade crescente de dar maior

protagonismo à sociedade civil, parece

lógico a priori tentar encontrar as

lideranças nas organizações sociais que

possam desempenhar um papel exigente

no cumprimento dos objetivos

estratégicos. Mas para uma função

estabilizadora em STP, perante as já

habituais tendências ou visões políticas

de curto prazo, precisa-se de várias

condições que se propõe apontar e

analisar detalhamente neste Relatório.

Que organizações da sociedade civil

têm capacidade suficiente para

impulsionar esse processo? Que tipo de

apoio necessitam para cumprir os

objetivos de maneira eficiente e

sustentável? Como evitar consequências

indesejáveis por assumir um papel de

liderança em espaços onde a classe

política tem exercido um controlo quase

absoluto até a atualidade? Como se

pode obter apoios dessa mesma classe

política para que essas organizações da

sociedade civil possam actuar, sem que

pretendam coartá-las? Existe uma

intelectualidade capaz de gerar ideias,

análises, debates, etc. que possam

contribuir para o fortalecimento da

sociedade civil e facilitar o seu encontro

com a classe política? Se ainda não se

dispõe dessa massa crítica fundamental,

onde e como criá-la?

Não são perguntas fáceis de responder

num país com limitadíssimos recursos

para as organizações civis, com uma

tradição democrática recente, uma

qualidade educativa pobre e uma classe

política pouco predisposta a ser

fiscalizada. No entanto, STP dispõe

desse privilegiado recurso, a juventude,

que com o apoio inteligente pode liderar

a sociedade civil para fixar o

desenvolvimento humano como

objetivo permanente.

Nas conclusões deste Relatório tentar-

se-á estabelecer um roteiro viável para

que a juventude possa desempenhar

esse papel chave.

Este Relatório foi estruturado, tomando

em consideração tanto o tema

selecionado pelos são-tomenses para ser

abordado em profundidade - isto é, o

problema da instabilidade política, as

possibilidades de liderança na sociedade

civil para seu controlo e o papel da

juventude nessa mudança e no futuro

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22

desenvolvimento de STP - como as

exigências próprias dos Relatórios de

Desenvolvimento Humano do PNUD,

que tentam refletir com um conjunto de

análises e indicadores a situação do país

com o decorrer dos anos e em

comparação com os outros estados.

O momento da sua da sua elaboração

coincide com a proximidade da data

fixada para se atingir os denominados

Objectivos do Milénio (ODM), pelo que

se introduziu uma análise do seu

cumprimento e, especialmente, na sua

relação com o DH.

Este primeiro capítulo primeiro

pretende ser uma introdução do

conjunto do Relatório, com ênfase em

questões centrais que são a crónica

instabilidade política, o problema da

corrupção, a importância da sociedade

civil e da juventude para contribuir no

seu controlo e impulsionar o

desenvolvimento humano.

Recorre-se a citações de actores chave

no mundo da justiça para explicitar a

identificação das relações entre esses

temas. As primeiras ligações entre

justiça e desenvolvimento humano

podem ser apreciadas através dos

efeitos da corrupção na economia, na

educação, na saúde e na equidade de

género. Quer dizer, dá-se uma sucinta

visão de como as diferentes partes do

sistema são afetadas pelo problema

recorrente da condição duma classe

política incapaz, até hoje, de dotar o

país de estabilidade governativa e da

moral necessária no exercício do poder

e no uso da coisa pública.

Na sequência, aborda-se outro assunto

mais cotado na escolha participativa do

tema principal do Relatório: a juventude

e seu papel no desenvolvimento.

Destaca-se o seu protagonismo social,

algumas das suas vantagens e limitações

para liderar mudanças fundamentais e o

seu possível papel nas organizações.

Parte-se de uma primeira hipótese de

que a mudança chegará através duma

sociedade civil forte, organizada e com

participação imprescindível da

juventude. Mas ao longo do Relatório

explora-se as possibilidades de

desenvolvimento dessa juventude e as

possíveis rotas para atingir um papel

fundamental no futuro de STP. Os

diferentes perfis dos capítulos

contribuem para a reflexão, partindo de

perspectivas várias, não só sobre a

instabilidade política, mas também

sobre a própria juventude; abordando a

economia, a sociedade, a comunicação

social, a justiça e o desenvolvimento

humano dispõe-se de visões parciais

que, tomadas no seu conjunto, permitem

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23

compreender a complexidade do

problema e a importância de tomar

medidas substantivas para fazer com

que seja realidade a estabilidade política

e uma participação cidadã muito mais

ativa no futuro.

O Capítulo II centra-se no

Desenvolvimento Humano e nos

Objetivos do Milénio, mas ressalta

também o papel da sociedade civil no

desenvolvimento de STP e o perfil da

juventude em relação ao DH,

respondendo ao tema escolhido pelos

são-tomenses para este Relatório. Por

conseguinte, destaca-se que:

(...) inclui uma análise do estado

de desenvolvimento humano em

STP no contexto dos Objectivos

de Desenvolvimento do Milénio,

uma análise que olha o

desenvolvimento como um

processo não só de aumento da

renda, como também de

satisfação das necessidades

básicas, cuja meta é alargar as

capacidades e opções das

pessoas e da sociedade como um

todo. (...)

Este Relatório é também único

porque é pela primeira vez que

aborda especificamente as

percepções e o papel da

sociedade civil no processo de

desenvolvimento sustentável de

STP. Ao tema central – “A

qualidade de liderança como

factor inibidor da instabilidade

política e promotor do

desenvolvimento humano” - está

associado o tema “Juventude e o

seu papel no desenvolvimento”,

um dos quatro temas que, na

escolha participativa do tema

principal, foram os mais

cotados. Este capítulo inclui

assim uma análise do perfil da

juventude em STP na

perspectiva de perceber a

qualidade de vida desta camada

da população e os níveis de

privação através de um roteiro

centrado nos aspectos como

educação, saúde, género,

pobreza, emprego e sua

participação na sociedade.

O resto do capítulo está

estruturado da seguinte forma.

Depois da introdução segue-se

uma análise das condições

económicas que prevaleceram

em STP ao longo dos últimos

anos. Em seguida, faz uma

apresentação e avaliação do

progresso no desenvolvimento

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humano desde a última edição

do RNDH, particularmente em

torno dos seus componentes. A

avaliação é feita considerando

não só em termos da evolução

do emblemático índice no

período considerado, como

também em termos do

posicionamento de STP no

contexto global. A terceira parte

estende a análise anterior e

ajusta a realização média nas

dimensões do IDH de acordo

com as disparidades nas

realizações das mulheres e dos

homens tal como referido no

Relatório Global de

Desenvolvimento Humano. O

perfil da pobreza é discutido na

parte quatro e enfatiza a

pobreza na perspectiva de

privação das necessidades

básicas consideradas essenciais.

A quinta secção avalia o

desenvolvimento humano no

contexto dos objectivos do

desenvolvimento do milénio. A

sexta secção faz um roteiro

sobre a juventude e seu papel no

desenvolvimento. A sétima e

última secção apresentam as

conclusões do capítulo.

As análises incluem a nova metodologia

adotada em 2010 para medir o

Desenvolvimento Humano, tanto na

educação (agora com o acesso ao

conhecimento medido pela média de

anos de escolaridade e anos de

escolaridade esperados – antes se media

com a taxa de alfabetização de adultos

com peso de 2/3 e taxa combinada de

matrícula do primário, secundário e pré-

universitário com peso de 1/3 - como no

rendimento (a partir de 2010

rendimento nacional bruto per capita

em dólares PPC e antes PIB per capita).

O Índice de Desenvolvimento

Humano de São Tomé e Príncipe

passou de 0,506 em 2004 para 0,559 em

2013 e situa o arquipélago no grupo de

países com índice de desenvolvimento

humano médio, mas o IDH das

mulheres representa 89,8% do índice de

desenvolvimento humano dos homens.

No que corresponde aos Objetivos do

Milénio, os progressos são assinaláveis

na universalização do ensino primário,

redução da mortalidade infantil de

menores de 5 anos e melhoria da saúde

materna. Porém, existem limitações nos

restantes objetivos, especialmente nos

relacionados com a erradicação da

pobreza e da fome e a promoção da

igualdade do género.

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25

No que se refere à Pobreza Humana, a

análise salienta a lentidão da melhoria.

Passou de 23,7% em 2006 para 22,1%

em 2012.

O capítulo finaliza com uma exposição

sobre o perfil da juventude são-

tomense e as opções consideradas

chaves para superar a apreciável falta de

educação, a deficiente absorção

tecnológica e os desajustes entre a

procura do mercado de trabalho e

os perfis da oferta do

sistema educativo e de formação

profissional.

O Capítulo III aborda as estreitas

relações entre a justiça e o

desenvolvimento humano, com especial

ênfase no omnipresente problema da

corrupção. Um dos objetivos principais

deste capítulo é refletir sobre o valor da

transparência e a segurança jurídica.

Mostra que um primeiro passo

iniludível para controlar a instabilidade

política é exigir a aprovação de

instrumentos legais destinados a

prevenir, fiscalizar, punir e combater a

corrupção. Esta exigência deve ser

acompanhada de apoio continuado à

implementação das acções

recomendadas no quadro do Programa

de Reforma do Sector da Justiça para

obter uma justiça célere, eficaz e

acessível a todos os cidadãos. Os efeitos

dessa implementação afetariam todos os

âmbitos.

A nível político fortaleceria a confiança

dos cidadãos na própria actividade

política, com impacto subsequente no

funcionamento do sistema democrático.

A nível económico a segurança jurídica

teria um forte impacto na criação de

riqueza, no investimento directo

estrangeiro em áreas económicas

consideradas prioritárias e no

desenvolvimento económico do

conjunto do país.

A nível social reduziria as

desigualdades actualmente existentes no

seio da sociedade são-tomense,

assegurando o acesso à justiça a todos

os cidadãos, independentemente da sua

condição económica, social ou cultural.

Permitiria ao Estado conferir maior

protecção a menores e crianças em

risco, evitando o abandono escolar, o

abuso sexual, a exploração do trabalho

infantil e muitas outras formas de

violência contra as crianças. Teria

também um impacto positivo

relativamente às questões do género

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26

com o aumento da consciencialização

da mulher e do seu empoderamento

Os efeitos no campo ambiental seriam

notáveis, pois a reforma contribuiria de

maneira decisiva para que as

instituições públicas, privadas e a

população em geral visualizassem a

necessidade da protecção do meio

ambiente nas suas mais diversas

vertentes, a saber: a gestão de resíduos e

particularmente de resíduos tóxicos, a

protecção das águas e dos solos, as

alterações climáticas, a protecção da

natureza e da biodiversidade como

forma de garantir o desenvolvimento

sustentável do país.

Em suma, apoiar a reforma da justiça

com a implementação do Programa de

Reforma seria um bom princípio para

dotar a sociedade civil do protagonismo

que se precisa no processo de garantir

uma estabilidade política mínima para o

desenvolvimento humano do país.

O Capítulo IV inicia com uma

exposição sobre as características da

comunicação social em STP para fazer

mais compreensível depois as relações e

contribuições entre os meios de

comunicação social e o

desenvolvimento humano.

Na perspetiva apresentada assume-se

que:

O paradigma da Comunicação

Social em São Tomé e Príncipe

deve ser revisto. Os órgãos

estatais e privados necessitam

assumir-se de forma decidida

como veículos de circulação de

ideias que promovam o

desenvolvimento humano,

reforcem a unidade e destaquem

exemplos positivos.

Contempla a necessidade de abrir

espaços aos diversos actores sociais, de

modo a haver maior equilíbrio com a

presença permanente dos actores

políticos:

Será conveniente reduzir-se o

monopólio que os actores

políticos e os conteúdos dessa

natureza ocupam nos Media

santomenses, reequilibrando

com as acções e opiniões de

intervenientes sociais, sejam eles

colectivos ou individuais.

Também analisa o acesso à informação

e o exercício da liberdade de imprensa

em STP e algumas das relações

potencialmente positivas entre a cultura

são-tomense e a comunicação social

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para activar a sociedade civil e reduzir a

instabilidade política.

O Capítulo V está centrado na

sociedade civil são-tomense e na

capacidade e necessidades de suas

organizações para responder aos

desafios colocados neste Relatório.

Assim:

(...) pretende-se saber qual é o

papel que as Organizações da

Sociedade Civil (OSC) podem

desempenhar para o

desenvolvimento sustentável em

São Tomé e Príncipe.

Para tal, dois objectivos

principais norteiam o estudo:

primeiro, vai se concentrar na

tipologia das OSC existentes;

segundo, efectuar uma análise

sobre a liderança das OSC no

país.

Mas, considerando importante

conhecer qual foi a trajectória

das OSC em São Tomé e

Príncipe, antes de se debruçar

sobre os dois objectivos

principais do estudo, uma breve

história será apresentada, e será

feito ainda o enquadramento

teórico dos conceitos sociedade

civil e a organização da

sociedade civil.

O capítulo mostra como as OSC mudam

a partir dos anos 80 e, sobretudo, com a

chegada do regime democrático, quais

são os níveis de independência destas

organizações, em que áreas se

concentram, as relações entre elas e com

outras entidades, que papel desempenha

a cooperação internacional e o Estado

no seu desenvolvimento, que forças e

debilidades têm mostrado ao longo

destes anos de democracia. Por outras

palavras, se faz uma exposição, um

quadro o mais completo e significativo

possível para poder entender melhor o

ponto onde se encontram hoje e as

opções realistas para intervir de maneira

eficaz para fomentar o desenvolvimento

sustentável e contribuir na estabilidade

social e política do país.

Toda a descrição e análise dessas

organizações vão precedidas de uma

apresentação dos conceitos mais

importantes relacionados com a própria

sociedade civil e o enquadramento

jurídico das organizações até o presente,

onde se destaca a Lei n.º 8/2012 que

aborda o Regime Jurídico de

Constituição e Funcionamento das

Organizações Não Governamentais.

O capítulo finaliza com a exposição de

algumas das opções que existem para

que essas OSC possam melhorar as

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oportunidades de exercer as suas

funções e diminuir a notável

dependência de determinadas fontes de

financiamento.

Com o objetivo de facilitar a visão

detalhada das ONGs existentes em STP,

apresenta-se em anexo uma lista das que

fazem parte da FONG.

O Capítulo VI apresenta as conclusões

do RDH 2014. Inclui uma breve

referência ao ponto onde se encontram

os são-tomenses em termos de

desenvolvimento humano e aos avanços

conseguidos para atingir os Objetivos

do Milénio. Ffocaliza a atenção na

sociedade civil organizada e o potencial

da juventude para contribuir para a

estabilidade política e impulsionar o

desenvolvimento humano.

Aborda igualmente o assunto fulcral do

desenvolvimento das lideranças e o

possível roteiro para que a juventude

possa desempenhar esse papel chave.

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Capítulo II

O Desenvolvimento Humano e os Objectivos do Milénio

1. Introdução

São Tomé e Príncipe tem estado a

notabilizar-se na arena regional e

internacional pela sua luta contínua pelo

desenvolvimento, cujo caminho está

previsivelmente pavimentado por reais

desafios estruturais, caracterizados por

uma economia pouco diversificada

herdada do período colonial e baseada

na monocultura do cacau, uma estrutura

económica totalmente dependente do

exterior, infraestruturas sociais e

produtivas deficientes, uma balança de

pagamento cronicamente deficitária, um

elevado peso da dívida externa que em

2012 representa cerca de 77% do seu

Produto Interno Bruto (PIB)1, depois do

pico de cerca de US$355,5 milhões de

dólares atingidos antes do alívio em

2006, uma elevada vulnerabilidade a

choques externos, devido à forte

dependência externa – mais de 93% do

investimento público depende da ajuda

externa -, e um tecido empresarial ainda

embrionário e com fraca capacidade de

criação de emprego, entre outros.

1 Dívida externa pública e com garantia pública

de STP, de médio e longo prazo, segundo o FMI

(2014)

Associado a estes desafios, está aquele

que diz respeito ao padrão de vida

excepcionalmente baixo na maioria da

população. Cerca de 2/3 da população

santomense estimada em 163,8 mil

habitantes em 2010, segundo o

Inquérito aos Orçamentos Familiares

(IOF 2010), viviam na situação de

pobreza, com uma despesa média per

capita inferior a 30,1 mil Dobras por

dia, com fortes desequilíbrios regionais.

Segundo o mesmo inquérito, cerca de

20,6 mil habitantes encontravam-se na

extrema pobreza, com menos de 12,3

mil Dobras diários per capita, o que

coloca uma certa incerteza na realização

dos Objectivos de Desenvolvimento do

Milénio (ODM), sobretudo no que diz

respeito à erradicação da pobreza

extrema e da fome.

Estes condicionalismos estruturais e

outros conjunturais têm suscitado algum

debate entre os parceiros económicos e

sociais sobre como lidar com o

problema de desenvolvimento em STP.

Existe alguma aceitação de que a

mitigação dos problemas estruturais

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30

rumo ao desenvolvimento e

cumprimento dos ODM passa

necessariamente por estabilidade

política, gestão macroeconómica sólida

e transparente, que encoraje e atraia

investimento privado, sobretudo na

agricultura e no turismo, melhoria dos

serviços públicos, visando o acesso a

electricidade, educação, saneamento e

saúde, alargamento das relações

comerciais e diplomáticas com os

parceiros emergentes, para além dos

seus parceiros tradicionais (INE, 2010).

À semelhança dos anteriores, este

RNDH inclui uma análise do estado de

desenvolvimento humano em STP no

contexto dos Objectivos de

Desenvolvimento do Milénio, uma

análise que olha o desenvolvimento

como um processo não só de aumento

da renda, como também de satisfação

das necessidades básicas, cuja meta é

alargar as capacidades e opções das

pessoas e da sociedade como um todo.

Como diria Amartya San (1989), o

fundamento para alargar as escolhas das

pessoas baseia-se “nas capacidades

humanas, ou seja, a série de coisas que

as pessoas são capazes de fazer ou

estar”, operacionalizadas em dimensões

humanas diversas, sobretudo, aquelas

que se afiguram imediatamente

imprescindíveis para a existência do

indivíduo: o anseio de viver vida longa

e saudável, ter acesso ao saber e aos

recursos necessários para um padrão de

vida decente.

Este Relatório é também único porque,

pela primeira vez, aborda

especificamente as percepções e o papel

da sociedade civil no processo de

desenvolvimento sustentável de STP.

Ao tema central – “A qualidade de

liderança como factor inibidor da

instabilidade política e promotor do

desenvolvimento humano” - está

associado o tema “Juventude e o seu

papel no desenvolvimento”, um dos

quatro que, na escolha participativa do

tema principal, foram os mais quotados.

Este capítulo inclui assim uma análise

do perfil da juventude em STP, na

perspectiva de perceber a qualidade de

vida desta camada da população e os

seus níveis de privação, através de um

roteiro focalizado nos aspectos como

educação, saúde, género, pobreza,

emprego e sua participação na

sociedade.

O resto do capítulo está estruturado da

seguinte forma. Depois da introdução

segue-se uma análise das condições

económicas que prevaleceram em STP

ao longo dos últimos anos. Em seguida,

faz-se uma apresentação e avaliação do

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31

progresso no desenvolvimento humano

desde a última edição do RNDH,

particularmente em torno dos seus

componentes. A avaliação é feita

considerando não só a evolução do

emblemático índice no período

considerado, como também o

posicionamento de STP no contexto

global. A terceira parte estende a análise

anterior e ajusta a realização média nas

dimensões do IDH de acordo com as

disparidades nas realizações das

mulheres e dos homens, tal como

referido no Relatório Global de

Desenvolvimento Humano. O perfil da

pobreza é discutido na parte quatro e

enfatiza a pobreza na perspectiva de

privação das necessidades básicas

consideradas essenciais. A quinta

secção avalia o desenvolvimento

humano no contexto dos Objectivos do

Desenvolvimento do Milénio. A sexta

secção faz um roteiro sobre a juventude

e seu papel no desenvolvimento. A

sétima e última secção apresenta as

conclusões do capítulo.

2. O Contexto Económico em São

Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe é um país com

uma economia das mais pequenas de

África. O seu PIB representa apenas

0,012% do PIB de África o que coloca o

país no 49.º lugar numa lista de 50

países, de acordo com o ranking do

Banco Africano de Desenvolvimento no

quadro da Ronda 2011 do Programa de

Comparação Internacional (PCI)2

recentemente divulgado, superando

apenas as Ilhas Comores que apresenta

uma participação no PIB de África de

0,011%. Contudo, no âmbito do mesmo

programa, STP aparece entre os 21

países com mais alto PIB real per

capita, estimado em 3 045 dólares PPC.

A média africana é de 4 044 dólares

PPC. Está entre os 15 países com mais

alto consumo individual actual3,

estimado em 3 340 dólares PPC. A

média africana situa-se nos 2 786

dólares PPC. O mais importante ainda é

que o arquipélago está colocado entre os

20 países com altos níveis de

investimento medido pela formação

bruta de capital fixo (FBCF), com 553

dólares PPC, quando a média africana é

de 710 dólares PPC (Gráfico 1).

2O Programa de Comparação Internacional

(PCI) é uma iniciativa estatística do mundo

estabelecida para produzir níveis de preços e

estimativas de paridade de poder de compra

(PPC) com o objectivo de comparar, em termos

reais, o produto interno bruto (PIB) dos países. 3 O consumo individual actual é a soma do

consumo individual das famílias, das

instituições sem fins lucrativos ao serviço das

famílias (ISFLSF) e do governo,

Page 32: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Apesar deste quadro aparentemente

favorável, a crise financeira

internacional que vem fustigando o

mundo desde 2008, tem vindo a afectar

STP de forma particular, com impacto

negativo nas diversas áreas da vida

nacional, principalmente nas esferas

económica e social, devido à sua forte

dependência do exterior, tanto em

termos das necessidades básicas em

bens alimentares, energéticos e de

equipamentos, como também no plano

do financiamento da economia em

geral. Mais de 93% do investimento

público dependem de recursos externos

constituídos por donativos (53%) e os

restantes 47% por via do crédito. O

atraso ou falta do desembolso destes

recursos tem condicionado a execução

de vários projectos de investimento,

com reflexos negativos, tanto no sector

produtivo como no social.

Devido a estes condicionalismos, a

economia santomense tem vindo a

crescer de forma muito tímida. Depois

de um crescimento robusto de 8,1% em

2008, a economia retraiu, estabilizando-

se nos níveis de 4,4% ao ano, conforme

ilustra o Quadro 1, ligeiramente abaixo

do crescimento médio da África

Subsaariana estimado em 5,1% em

2012. Perspectivas menos optimistas

apontam para um crescimento da

economia em torno dos 4,5% em 2013,

para uma inflação de 7,1%. Mesmo

assim, tem-se uma perspectiva de

crescimento económico abaixo da

média da África Subsaariana, estimada

em 4,8% para uma inflação de 6,9%.

Page 33: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Quadro 1. Desempenho económico por sectores de actividade, 2005 – 2013 (%)

Descrição 2005 2006 2007 2008 2009 2020 2011 2012 2013*

Sector Primário 1,6 5,9 2,8 8,5 3,9 -1,1 1,0 -0,1

Agricultura 1,7 7,3 2,7 11,2 4,4 -2,9 0,3 -1,3

Pescas 1,4 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,5

Indústria extractiva 2,6 6,7 2,8 3,9 4,6 5,0 0,9 -1,0

Sector Secundário 3,9 6,4 4,1 5,9 0,3 2,3 1,8 4,5

Indústria transformadora 3,6 5,0 3,2 7,7 2,7 0,5 3,9 8,4

Electricidade e água 10,5 9,6 3,8 5,9 8,0 9,6 12,7 14,9

Construção 2,6 7,0 5,1 4,2 -3,9 2,0 -3,6 -3,3

Sector Terciário 11,8 7,1 -1,1 5,1 2,9 4,7 2,1 1,8

Comércio 6,6 9,6 1,3 9,7 1,0 6,3 0,8 3,1

Alojamento e restauração 0,8 8,6 0,0 1,2 -1,9 -2,5 4,5 4,7

Transporte e comunicações 32,3 2,7 -7,4 1,1 8,0 4,1 3,0 -2,2

Outros serviços 3,9 7,6 1,3 1,4 2,0 3,1 3,4 3,2

Produto Interno Bruto (PIB) 7,1 9,1 0,6 8,1 4,0 4,5 4,8 4,5 4,0-4,5

Inflação 17,2 24,6 27,6 24,8 16,1 12,9 11,9 10,4 7,1

Fonte: Instituto Nacional de Estatística; * Previsão do Banco Central de STP

Com uma economia

predominantemente de serviços,

representando mais de 60% no PIB

(Gráfico 2), face a todos os

condicionalismos externos e internos,

não admira que seja este o sector mais

dinâmico com um crescimento médio

de 4,3% ao ano, induzido

principalmente pelos serviços de

Transporte e Comunicações que

cresceram 5,2% ao ano, seguido dos

serviços de Comércio, com cerca de

4,8%. O potencial turístico que o

arquipélago exibe está ainda longe de

ser aproveitado para favorecer o

crescimento. Captado parcialmente no

sistema de contas nacionais pelo sector

de Hotéis e Restauração com um peso

de 1,4% no PIB, teve um crescimento

médio de apenas 1,9% por ano nos

últimos oito anos.

Page 34: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

O sector secundário, incluindo

electricidade, água e construção, que em

conjunto contribuem com cerca de 17%

no PIB, foi o segundo sector mais

dinâmico na economia, com

crescimento médio de 3,6% induzido

por electricidade e água com um

crescimento médio de 9,4% e indústria

transformadora essencialmente limitada

ao processamento de alimentos de

pequena escala que teve um

crescimento médio de 4,4% ao ano.

Acredita-se que é improvável que este

cenário venha a mudar a curto e médio

prazo, devido sobretudo ao facto de ser

estruturalmente constrangido pelo

reduzido tamanho da força de trabalho

local. De realçar que este sector é de

mão-de-obra intensiva. Por outro lado,

nota-se uma aparente contradição entre

a imagem que emerge dos resultados da

Ronda 2011 do Programa de

Comparação Internacional que coloca

STP entre os 20 países de África com

altos níveis de investimento, medido

pela formação bruta de capital fixo

(FBCF) com uma despesa per capita de

553 $PPC, e a estagnação constatada

nos resultados oficiais. Contudo, se

considerarmos os estímulos resultantes

dos investimentos privados em grande

escala no sector do turismo e do

incipiente sector de petróleo, pode-se

inferir que o país está a melhorar

gradualmente o seu potencial de

crescimento para o futuro.

Em contrapartida, a Agricultura que

constitui a maior fonte de divisas e

emprega cerca de 18% da população

economicamente activa, segundo o

RGPH 2012, representa o sector que

menos tem vindo a crescer. Também a

sua participação no PIB tem vindo a

reduzir-se nas últimas duas décadas,

devido fundamentalmente à natureza

vulnerável e irregular do setor: forte

Page 35: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

35

dependência de um reduzido número de

produtos primários, fraca produtividade

e vulnerabilidade a factores exógenos,

tais como flutuações de preços no

mercado internacional do cacau, seu

principal produto de exportação. Por

conseguinte, reformas económicas são

necessárias neste sector como motor da

produção nacional e da diversificação

dos restantes sectores da economia. Os

ganhos poderiam ser sentidos não

somente em termos de crescimento

económico, mas também na criação de

emprego e, por conseguinte, na redução

da pobreza.

A baixa performance na agricultura teve

reflexos nas exportações, dominadas

principalmente pela cultura do cacau

que representou cerca de 93% das

exportações em 2013. Embora, em

termos nominais, as exportações tenham

crescido cerca de 90% entre 2008 e

2013, ao passar de 6.8 milhões de

dólares em 2007 para cerca de 12,9

milhões de dólares em 2013, o aumento

não foi suficiente para compensar o

aumento das importações, dominadas

maioritariamente por bens alimentares e

de investimento e necessidades

energéticas, que no conjunto passaram

de 92,2 milhões de dólares em 2008

para 128,3 milhões de dólares em 2013,

agravando ainda mais a já deficitária

balança comercial.

A situação económica descrita reflecte-

se no nível do custo de vida medida

pelo índice de preços no consumidor

que, embora com tendência decrescente,

continua dos mais altos da região

(Gráfico 3) e põe em evidência a

volatilidade da conjuntura interna

condicionada por diferentes factores

exógenos. A inflação passou de 27,6%

em 2007 para 10,4% em 2012. Contudo,

devido a uma política monetária

prudente que tem em vista o objectivo

da inflação baixa, num regime de taxa

de câmbio fixo, e de crescimento real

robusto, a inflação finalmente fixou-se

ao nível de um dígito: 7,1% em 2013.

Mesmo assim, acima da média de

África subsaariana, estimada em 6,8%.

Page 36: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Os altos níveis de inflação dos últimos

oito anos justificam também o 26.º lugar

que o país ocupa entre os 50 países

africanos considerados em termos do

nível de preços. De acordo com os

resultados da Ronda 2011 do Programa

de Comparação Internacional, o nível de

preços da despesa total em termos de

paridade de poder de compra em STP

está 6,5 pontos percentuais acima da

média africana (Gráfico 4).

A situação é mais grave para os níveis

inferiores da despesa, que inclui os

seguintes componentes do PIB:

consumo individual actual, consumo

individual da família e consumo

colectivo. Portanto, olhando para o

consumo individual actual, os preços

são, em média, superiores em 16.9

pontos percentuais, induzidos pelos

preços do consumo individual das

famílias que estão 20,6 pontos

percentuais acima da média africana.

De recordar que o PIB é a soma de

vários componentes: Consumo

individual actual (Consumo individual

das famílias + consumo das insituições

sem fins lucrativos ao serviço das

famílias + consumo individual do

governo), Consumo colectivo;

Formação bruta de capital; Exportações

e Importações.

Os preços dos restantes níveis de

despesas para STP se encontram todos

abaixo da média africana, com destaque

para as despesas do consumo individual

e colectivo do governo com níveis de

preços 30,7 e 33,7 pontos percentuais

abaixo da média africana

respectivamente.

Page 37: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

37

3. O que revelam os Indicadores de

Desenvolvimento Humano de

STP?

Desde o lançamento do primeiro RGDH

em 1990, o desenvolvimento humano

tem sido definido como um processo de

alargamento das escolhas das pessoas

que, embora possua múltiplas

dimensões, foi operacionalizado

naquelas que se afiguram

imediatamente imprescindíveis para a

existência do indivíduo: ter uma vida

longa e saudável, adquirir conhecimento

e ter acesso aos recursos necessários

para um padrão de vida decente.

Esta secção apresenta e avalia o

progresso do desenvolvimento humano

através do emblemático índice de

desenvolvimento humano (IDH) e

alguns dos seus bem conhecidos índices

complementares: o índice de

desenvolvimento humano ajustado à

desigualdade (IDHAD) e o

recentemente introduzido índice de

desenvolvimento do género (IDHG).

Cada um destes índices fornece o estado

da vida das pessoas nas várias

dimensões referidas acima.

3.1 Índice de desenvolvimento humano

O índice de desenvolvimento humano

(IDH) é uma medida composta usada

para avaliar o progresso dos países no

desenvolvimento humano. Ele é um

indicador abrangente de medição do

progresso que, embora não forneça uma

visão totalmente completa do

desenvolvimento humano, procura ir

para além do velho paradigma que

olhava o desenvolvimento como um

processo de incremento da riqueza

material de uma sociedade como

fundamento para atingir maiores níveis

de bem-estar de um país. O argumento é

que, embora o crescimento económico

tenha o potencial para expandir a

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38

habilidade para desenhar acções

públicas que facilitem o

desenvolvimento humano, ele é apenas

um meio para melhorar a vida das

pessoas, mas não é por si só um fim. O

IDH ao incluir no seu cálculo as

dimensões que enriquecem plenamente

a vida das pessoas, reflecte a tese

central de que “As pessoas são a

verdadeira riqueza de uma nação”.

Assim, o IDH reflecte a realização

média do desenvolvimento humano em

três dimensões básicas:

Uma vida longa e saudável

medida pela esperança de vida à

nascença;

Acesso ao conhecimento medido

pela média de anos de

escolaridade e anos de

escolaridade esperados4 (antes

de 2010 esta dimensão era

medida pela taxa de

alfabetização de adultos com

peso de 2/3 e taxa combinada de

matricula do primário,

4 Segundo o PNUD (2010), a média de anos de

escolaridade é o número de anos de educação

recebidos pelas pessoas de idade a partir dos 25

anos, durante o seu tempo de vida e os anos de

escolaridade esperados representa o número de

anos de escolaridade que uma criança em idade

de entrada na escola pode esperar receber, se os

padrões prevalecentes das taxas de matrícula

por idades permanecerem iguais ao longo da sua

via.

secundário e terciário com peso

de 1/3) 5;

Um padrão de vida decente

medido pelo rendimento

nacional bruto per capita em

dólares PPC (PIB per capita

$PPC na metodologia anterior a

2010)

No último RNDH de STP, o IDH foi

calculado como média simples das suas

três dimensões. Este relatório adopta

escrupulosamente a nova metodologia

(vide a Nota Técnica 1), na qual o IDH

é calculado como média geometrica dos

índices normalizados das três

dimensões6. O quadro 2 apresenta as

estimativas do IDH e sua desagregação

entre mulheres e homens para o período

2004 e 2013 e reflecte a disponibilidade

de dados para o cálculo dos índices nele

apresentados.

5 Argumenta-se que os novos indicadores

capturam melhor o conceito de educação e do

padrão de vida que as variáveis anteriores e

possuem grande poder discriminatório entre

países (UNDP, 2010). 6 É importante ter presente a diferença entre as

duas metodologias porque em termos práticos,

os valores do IDH nos dois relatórios não são

directamente comparáveis, devido em parte a

pequenas diferenças nos dados, mas sobretudo,

devido a mudanças na metodologia de cálculo.

Page 39: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Quadro 2. Índice de desenvolvimento humano e de género e seus componentes, 2004-

2013

Descrição 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Dados Básicos

Esperança de vida à nascença (anos)

Mulheres

Homens

64,3

66,1

62,5

64,6

66,5

62,8

64,9

66,8

63,1

65,2

67,1

63,3

65,5

67,4

63,6

65,7

67,6

63,8

65,9

67,8

64,0

66,0

68,0

64,1

66,1

68,2

64,2

66,3

68,3

64,3

Média de anos de escolaridade (anos)

Mulheres

Homens

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

Anos de escolaridade esperados (anos)

Mulheres

Homens

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,8

10,9

10,7

10,8

10,9

10,7

10,8

10,9

10,7

11,1

11,2

11,0

11,3

11,4

11,2

11,3

11,4

11,2

Rendimento per capita (dólares PPC)

Mulheres

Homens

1.994

1.296

2.708

2.135

1.387

2.903

2.329

1.511

3.171

2.343

1.519

3.193

2.532

1.639

3.454

2.634

1.704

3596

2.751

1.935

4.092

2.882

2.045

4.332

3.012

1.991

4.055

3.132

2.062

4.201

Cálculo de Índices

Índice de esperança de vida

Mulheres

Homens

0,682

0,671

0,692

0,686

0,676

0,697

0,691

0,682

0,701

0,695

0,686

0,705

0,700

0,691

0,709

0,703

0,694

0,712

0,706

0,698

0,715

0,708

0,700

0,717

0,710

0,702

0,719

0,712

0,705

0,720

Índice de educação

Mulheres

Homens

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,457

0,436

0,479

0,457

0,436

0,479

0,457

0,436

0,479

0,465

0,445

0,488

0,471

0,450

0,493

0,471

0,450

0,493

Índice do rendimento

Mulheres

Homens

0,443

0,390

0,483

0,450

0,397

0,491

0,454

0,400

0,495

0,479

0,426

0,520

0,483

0,429

0,524

0,490

0,436

0,531

0,510

0,456

0,551

0,517

0,463

0,559

0,517

0,466

0,555

0,520

0,469

0,559

Índice de desenvolvimento humano

Mulheres

Homens

Índice de desenvolvimento do género

0,506

0,471

0,534

0,883

0,511

0,476

0,539

0,885

0,517

0,483

0,544

0,887

0,518

0,484

0,546

0,887

0,538

0,503

0,567

0,888

0,541

0,506

0,570

0,889

0,545

0,514

0,577

0,892

0,551

0,522

0,584

0,893

0,556

0,523

0,583

0,897

0,559

0,525

0,585

0,898

Fonte: PNUD, RGDH para indicadores de educação e PNB per capita, este último ajustado ao tamanho da população conforme

publicado pelo INE de STP; INE, para esperança de vida

A imagem que emerge do quadro acima

é de que o índice de desenvolvimento

humano de São Tomé e Príncipe vem

evoluindo positivamente ao longo dos

anos, apesar dos diversos desafios

estruturais e conjunturais que

condicionam o seu desenvolvimento,

tendo passado de 0,506 em 2004 para

0,559 em 2013, o que representa um

crescimento de 10,4% para uma média

de crescimento anual de 1,1%,

colocando assim STP no grupo de

países com índice de desenvolvimento

humano médio.

Progresso nas dimensões do

desenvolvimento humano

Page 40: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

40

O IDH não foi desenhado para avaliar o

progresso do desenvolvimento humano

no curto prazo porque dois dos seus

indicadores – esperança de vida e

educação - não reagem às políticas de

curto prazo. Por conseguinte, a melhor

maneira de realçar as alterações reais do

desenvolvimento humano é comparando

o progresso a médio e longo prazo dos

seus componentes.

Em princípio, o progresso nos

indicadores básicos de desenvolvimento

de STP foi consistente ao longo do

período em análise. Conforme ilustra o

gráfico 5, o país registou progressos em

todos os indicadores do

desenvolvimento humano e os efeitos

cumulativos das suas variações

resultaram na melhoria progressiva do

valor do IDH. Por exemplo, durante o

período em análise, a dimensão que

captura uma vida longa e saudável

representada pelo índice de esperança

de vida à nascença teve um crescimento

acumulado de 4,5%, podendo ser

considerado de robusto, tendo em conta

a sua natureza estrutural.

No mesmo período, o índice da

dimensão que captura o conhecimento

cresceu 11,9%, tendo passado de 0,421

em 2004 para 0,471 em 2013,

constituindo assim uma das ferramentas

mais efectivas para aumentar as

realizações das pessoas, suas liberdades

e capacidades, devido principalmente

aos seus efeitos multiplicadores. Os

resultados na educação podem

fortalecer a possibilidade de induzir o

progresso em outras dimensões. O

Page 41: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

41

expressivo crescimento na dimensão do

conhecimento foi induzido

principalmente pelos anos de

escolaridade esperados que passaram de

8,2 anos em 2004 para 11,3 anos em

2013, o que representa um aumento de

3,1 anos em pouco menos de uma

década. Em contrapartida, o modesto

aumento de apenas 0,5 anos na média

de anos de escolaridade, reflecte a

natureza estrutural deste indicador. Ao

não tomar em consideração, por

exemplo, os programas de alfabetização

e educação de adultos torna

praticamente impossível observar os

seus ganhos a curto prazo. Mesmo

assim, se considerarmos o gap entre a

média de anos de escolaridade e número

de anos esperados, podemos inferir que

STP está a progredir em termos de

provisão dos serviços da educação rumo

ao ensino primário universal

considerado já uma realidade em alguns

distritos do país. Exemplos destes

progressos incluem, segundo o Governo

de STP (2014): a gratuidade do ensino

básico desde 2005/06, a oferta educativa

em construções de salas de aulas e de

escolas do segundo ciclo do ensino

básico e a alimentação escolar, que

permitiu reduzir ou quase eliminar o

abandono escolar neste ciclo de ensino.

Embora os anos de escolaridade

esperados e a média de anos de

escolaridade capturem melhor o

conceito de educação que os anteriores,

eles não avaliam a qualidade de

educação, um factor crítico no sistema

educacional em STP.

Por outro lado, a dimensão que

representa o padrão de vida das pessoas

também teve um crescimento robusto.

Seu índice passou de 0,443 em 2004

para 0,520 em 2013 para um

crescimento acumulado no período de

17,4% e reflecte os ganhos económicos

referidos na secção anterior que se

traduziram no crescimento médio de

4,4% ao ano.

São Tomé e Príncipe na Perspectiva

Global

O índice de desenvolvimento humano

(IDH) permite aos países não só

monitorar a realização do nível de

desenvolvimento humano ao longo do

tempo, como também colocar cada país

no mundo numa perspectiva global,

identificando aqueles que estão mais

avançados e os que se encontram

atrasados em matéria do

desenvolvimento humano7.

7 Segundo PNUD (2014), os países de todo o

mundo são classificados em três grupos: (i)

Países com baixo desenvolvimento humano

(IDH entre 0 e 0.550); (ii) Países com

desenvolvimento humano médio (IDH entre

0.550 e 0.699); Países com desenvolvimento

humano elevado (IDH entre 0.700 e 0.799);

Países com desenvolvimento humano muito

elevado (IDH igual ou superior a 0.800);

Page 42: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

42

O posicionamento de STP no grupo de

países com desenvolvimento humano

médio é consistente com os resultados

publicados no Relatório Global de

Desenvolvimento Humano do PNUD de

20148 que colocam STP no 142.º lugar

numa lista de 182 países com um IDH

igual a 0,558 que, embora abaixo da

média do IDH neste grupo de países

estimada em 0,614, ele está muito acima

da média dos países da África

Subsaariana estimada em 0,502,

deixando para atrás muitos países da

região, conforme ilustra o Gráfico 6 que

compara a performance dos Estados em

termos do índice de desenvolvimento

humano (IDH), índice de

desenvolvimento humano ajustado à

desigualdade (IDHAD), bem como da

perda no desenvolvimento humano

potencial devido à desigualdade

(Perda). O IDHAD para STP foi

calculado em 0,384 em 2013 o que

representa uma perda do

desenvolvimento humano potencial em

31,2%. A desigualdade no

desenvolvimento humano entre

mulheres e homens é mais acentuada no

rendimento com um coeficiente de

8 Os valores do IDH calculados para este

Relatório diferem dos publicados no PNUD

(2014) devido fundamentalmente à diferença no

rendimento e reflecte o velho problema da

discrepância entre os dados nacionais e das

Agencias das Nações Unidas.

desigualdade estimado em 44,2%,

seguida pela desigualdade na esperança

de vida com 26,9% e finalmente na

educação com um coeficiente igual a

20% para um coeficiente de

desigualdade humana global de 30,4%.

Fonte: PNUD (2014) - Relatório Global de

Desenvolvimento Humano 2014

Page 43: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Mais do que o valor do IDH em si e da

posição que o país ocupa na perspectiva

global, importa realçar o progresso real

de redução das carências em

desenvolvimento humano em STP,

medido pela distância entre o valor

actual do IDH relativamente ao valor

máximo possível fixado em 1 que

representa a distância que o país tem de

percorrer para reduzir o défice em

desenvolvimento humano. Entre 2004 e

2013, a redução do défice entre o valor

actual do IDH e o máximo possível foi

de cerca de 11%. Em termos relativos,

este valor pode, à primeira vista, parecer

irrisório, mas evidencia a natureza do

próprio desenvolvimento humano que

como foi sublinhado em UNDP

(2007/8), é um processo lento e o seu

indicador é, devido à sua composição,

pouco propício a grandes alterações no

curto prazo.

3.2 O Género e o Desenvolvimento

Humano em STP

O paradigma do desenvolvimento

humano define o desenvolvimento

como alargamento das escolhas das

pessoas independentemente do sexo,

porque segundo o PNUD (1990) o

desenvolvimento deve ser visto como

um processo não só de aumento da

renda, como também de satisfação das

necessidades básicas, cuja meta é a

expansão das capacidades e opções das

pessoas e da sociedade no seu conjunto.

Alargar as opções e escolhas das

pessoas implica maior acesso ao

conhecimento e habilidades, melhor

nutrição e saúde e melhor acesso aos

serviços sociais básicos. Porém, a

realidade revela-nos que os diferentes

grupos desfrutam de forma diferenciada

essas opções e escolhas que permitem

melhorias no bem-estar social. A

exclusão e / ou marginalização da

mulher em vários processos políticos,

económicos e sociais é o exemplo mais

eloquente dessa diferenciação. Um dos

méritos do desenvolvimento humano foi

ter despertado para esta realidade,

muitas vezes ofuscada nas estatísticas

agregadas, tal como o faz o índice de

desenvolvimento humano. Com efeito,

o IDH ao avaliar somente a realização

média em três dimensões básicas do

desenvolvimento humano, não reflecte a

desvantagem devido à desigualdade

com base no género e não permite

medir o gap que o género pode produzir

nas realizações das referidas dimensões.

Para revelar estas diferenças e medir o

referido gap, o PNUD introduziu no seu

RGDH novos índices que vêm

complementar o emblemático IDH.

Trata-se do índice de desigualdade de

género (IDG), introduzido em 2010, que

Page 44: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

44

aperfeiçoou de forma inovadora o

índice de desenvolvimento humano

ajustado ao género, dando lugar ao

índice de desenvolvimento do género

(IDHG), publicado no Relatório de

2014. Devido à falta de dados para

compilar o IDG, este Relatório inclui

apenas o progresso no desenvolvimento

humano entre homens e mulheres,

captado pelo índice de desenvolvimento

do género (IDHG).

O índice de desenvolvimento do género

O índice de desenvolvimento do género

(IDHG) é um novo índice introduzido

no RGDH de 2014 para medir o gap

que o género pode produzir nas

realizações do desenvolvimento

humano em três dimensões básicas:

saúde (medida pela esperança de vida

feminina e masculina), educação

(medida pelos anos de escolaridade dos

adultos de 25 anos e mais, e anos de

escolaridade esperados das crianças

ambos do sexo feminino e masculino) e

o controlo sobre os recursos (medido

pela estimativa do rendimento nacional

bruto per capita feminino e masculino).

Conforme ilustra o Gráfico 7, o índice

de desenvolvimento do género estimado

em 0,898 em 2013 reflecte o diferencial

no desenvolvimento humano das

mulheres e dos homens, estimado em

0,525 e 0,585 respectivamente. Por

outras palavras, o índice de

desenvolvimento humano das mulheres

representa 89,8% do índice de

desenvolvimento humano dos homens e

reflecte, sem dúvida, um progresso

notável, se tomarmos em conta que a

plena igualdade é conseguida com

IDHG igual a unidade. Contudo, apesar

de STP se encontrar a uma distância de

10,2 pontos percentuais para atingir essa

paridade, a redução da distância entre

2004 e 2013, tem vindo a ser

conseguida a uma taxa muito modesta

de 0,2% ao ano. Para ter uma ideia do

esforço necessário para atingir a

igualdade no desenvolvimento humano

entre mulheres e homens, se as

tendências correntes prevalecerem e

assumindo a hipótese de progressão

linear, seria necessária uma taxa de

redução de 2,4% ao ano para, por

exemplo, atingir a igualdade em 2025,

ou seja, um esforço adicional 12,8 vezes

superior ao actual.

Page 45: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

45

Fonte: Quadro 2. Índice de desenvolvimento humano e de género

O valor do IDHG estimado neste

relatório para 2013 é 0,4 pontos

percentuais superiores ao publicado no

PNUD (2014) que coloca STP no 115.º

lugar entre os 148 países incluídos no

cálculo deste índice e acima tanto da

média da África Subsariana com IDHG

igual a 0,867 como no grupo dos países

com índice de desenvolvimento humano

médio estimado em 0,875 no qual STP

se encontra.

Outros Indicadores de Desigualdade

do Género

Existem muitas outras dimensões que

reflectem a desigualdade do género e

que não são capturadas pelo respectivo

índice. Embora os dados estatísticos

disponíveis não permitam calcular uma

medida composta que forneça uma

visão totalmente completa de

desigualdade como o faz o índice de

desigualdade de género introduzido na

edição do 20.º aniversário do índice de

desenvolvimento humano, evidências

com base nos poucos dados disponíveis

extraídos do RGPH 2012 e de outras

fontes administrativas, sistematizadas

no Quadro 3, mostram que a exclusão

no processo de desenvolvimento é

muito evidente em STP, sempre

associada com alguma forma de

descriminação, sendo a mais evidente

aquela que diz respeito ao género.

Page 46: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Quadro 3. População de 22 anos e mais por condição perante actividade económica,

2012 (%)

H M H M H M

Condição perante actividade económica 49,5 50,5 48,5 51,5 51,7 48,3

Empregada 61,8 38,2 59,8 40,2 66,2 33,8

Desempregada 40,9 59,1 37,5 62,5 50,9 49,1

Inactiva 39,1 60,9 39,2 60,8 39,1 60,9

Participação da População Residente empregada

com 10 anos e mais

61,8 38,2 59,8 40,2 66,2 33,8

Poderes Legislativo e Executivo, Directores e Gestores

Executivos

75,6 24,4 72,7 27,3 91,3 8,7

Especialistas das Actividades Intelectuais 56,0 44,0 55,7 44,3 57,8 42,2

Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio 68,6 31,4 66,6 33,4 78,6 21,4

Pessoal Administrativo 53,9 46,1 50,9 49,1 67,2 32,8

Pessoal de Serviços e Vendedores 41,1 58,9 37,5 62,5 51,1 48,9

Agricultores e Trabalhadores Qualificados da

Agricultura, Pesca e Florestas

83,5 16,5 90,9 9,1 77,5 22,5

Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 94,4 5,6 94,4 5,6 94,6 5,4

Trabalhadores Não Qualificados 29,2 70,8 28,6 71,4 30,6 69,4

População Residente nos Alojamentos familiares

Desempregada que já Trabalhou com 15 anos e

43,1 56,9 39,3 60,7 54,5 45,5

Distribuição das Familias segundo Sexo do

responsável da familia por Nivel de Instrução

58,8 41,2 55,7 44,3 64,8 35,2

Sem Nivel 28,3 71,7 23,7 76,3 34,6 65,4

Pre-Escolar 33,3 66,7 0,0 100,0 50,0 50,0

Ensino Básico 59,5 40,5 54,3 45,7 67,6 32,4

Alfabetização 40,7 59,3 42,3 57,7 36,4 63,6

Secundário 65,4 34,6 62,6 37,4 73,2 26,8

Profissional/Técnico 80,0 20,0 77,3 22,7 97,6 2,4

Superior 77,9 22,1 77,3 22,7 86,0 14,0

DescriçãoTotal Urbano Rural

Fonte: Estimativas com base nos resultados do RGPH de 2012;

Para perceber melhor a dimensão do

problema em STP, o que se segue é um

roteiro pelas diferentes áreas onde a

exclusão da mulher é observada, com

destaque para o mercado do trabalho,

participação nos órgãos de decisão e

acesso à educação.

Mulher no Mercado de Trabalho

As mulheres em STP, tal como acontece

em vários países da região, continuam

sendo severamente desfavorecidas no

mercado de trabalho, com uma

participação ainda muito reduzida

comparativamente aos homens.

Segundo o RGPH 2012, de uma

população de 125,6 mil com 10 anos e

mais, menos de metade (45,2%) tem

emprego formal. Se bem que o reduzido

número de pessoas com emprego formal

demonstra a fragilidade da economia,

realça também a marginalização da

mulher com uma participação de apenas

38,2% contra 61,8% da sua contraparte

masculina. Em contrapartida, da

população desempregada e inactiva que

Page 47: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

47

representa respectivamente 7,3% e

47,5% do universo populacional na

faixa etária de 10 anos e mais, mais de

metade são mulheres, representando

pouco mais de 59% e 61%

respectivamente. Esta situação é ainda

mais crítica na zona rural onde a

participação da mulher no mercado de

trabalho foi estimada em 33,8% contra

66,2% dos homens.

Ainda no âmbito do mercado de

trabalho, segundo os resultados do

Inquérito aos Orçamentos Familiares

(IOF 2010), realizado pelo Instituto

Nacional de Estatística, cerca de 30,1%

dos rendimentos recebidos pelo

trabalhador são pagos abaixo do salário

mínimo9. A situação das mulheres é

muito mais dramática, com 44,5%

contra apenas 20,8% para os homens. O

desemprego constitui um desafio para

as autoridades santomenses, apesar da

sua ligeira redução entre 2001 e 2012

(Gráfico 8). Os níveis de desemprego

continuam ainda elevados, afectando

cerca de 13,6% da população e com

maior incidência na população activa

feminina com 19,7% contra 9,3% dos

homens.

9 Para avaliação objectiva sobre o rendimento da

população empregada em São Tomé e Príncipe

o IOF 2010 estimou em 822 255 Dobras o

salário mínimo (III Avaliação dos ODM).

Page 48: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Fonte: RPGH 2001 e 2012

A imagem que emerge do gráfico 8

confirma a preocupante situação de

oferta de emprego no mercado de

trabalho para as mulheres registado já

em 2010, quando os resultados do IOF

mostraram que a taxa de emprego

estimada em 30,5% estava

sistematicamente a favor dos homens

(36,9% contra 24,6% para as mulheres).

A situação mais crítica é aquela que diz

respeito ao emprego vulnerável10,

estimado em 40,1% ao nível nacional

com uma situação mais precária para as

mulheres (50,8%) em comparação com

os homens (33,5%).

10 Definido como a proporção dos trabalhadores

por conta própria e dos trabalhadores familiares

não remunerados no total do emprego. Mede a

situação vulnerável no Mercado de trabalho, ou

seja, o estatuto dos trabalhadores por conta

própria e trabalhadores familiares não

remunerados.

Mulher e Participação nos Órgãos de

Decisão

A participação da mulher nos órgãos de

decisão em São Tomé e Príncipe

constitui também um longo caminho a

percorrer. Segundo o RGPH de 2012,

dos 1470 indivíduos com funções ao

nível dos poderes Legislativo e

Executivo, incluindo Directores e

Gestores, apenas 358 são mulheres, o

que representa 24,4% do universo com

aquelas funções. A situação é mais

crítica na zona rural onde apenas 20

mulheres exercem funções nos referidos

órgãos de decisão, o que representa

menos de 1,5% do total do universo no

país e 8,7% do total de vagas nestes

cargos ocupadas na zona rural. A nível

Legislativo, dos 55 assentos que

constituem a Assembleia Nacional de

STP nesta última legislatura, apenas 10

eram ocupados por mulheres o que

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49

representa 18,2%, muito abaixo da meta

nacional fixada em 30% e a meta

internacional de 50%. A participação da

mulher no poder legislativo, embora

encorajador se considerarmos o salto

dado comparativamente à legislatura

anterior, ela é ainda insuficiente para a

proporção de mulheres na população e

está aquém da média da África

Subsariana, estimada, segundo o PNUD

(2014), em 21,7%. Mesmo assim,

encoraja saber que ela supera muitos

países com índice de desenvolvimento

humano médio, segundo a classificação

do RGDH 2014, conforme ilustra o

Gráfico 9.

O poder de decisão relativo à utilização

do rendimento da mulher é considerado

como um dos indicadores directos do

estatuto da mulher, porque ele permite

medir o seu nível de autonomia

financeira. De acordo com o Inquérito

Demográfico de Saúde (IDS 2008-09),

quase a totalidade das mulheres casadas

ou em união de facto em STP decide

sobre a utilização do dinheiro que elas

ganham pelo seu trabalho, quer por si

próprias (74%), quer de forma conjunta

com o seu marido ou companheiro

(17%). A decisão conjunta sobre a

utilização do rendimento ganho pela

mulher varia de região para região. Na

região do Príncipe, 38% das mulheres

casadas ou em união de facto

declararam que a utilização do dinheiro

por elas ganho é tomada conjuntamente

com o seu marido/companheiro, seguida

pela região Sul com 31% e finalmente a

região Norte com 30% dos casos. A

proporção de mulheres que decide sobre

Page 50: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

50

a utilização do rendimento ganho é

maior no meio urbano (81%) e para as

mulheres que têm um nível de instrução

do secundário ou mais (86%), o que

reforça o argumento de que a educação

da mulher constitui um dos principais

requisitos para a sua plena

emancipação.

Mulher e Acesso à Educação

A educação nas suas diversas vertentes

pode permitir que a mulher obtenha as

habilidades necessárias que a ajudem a

eliminar qualquer privação desde a mais

elementar como a fome até alcançar a

plena participação na esfera das

políticas públicas. Evidências empíricas

demonstraram existir uma forte

correlação entre pobreza e educação. A

análise dos índices de pobreza por sexo,

segundo o Inquérito aos Orçamentos

Familiares de 2010, mostra que a

educação constitui a maior determinante

da pobreza. Mais de 72% dos pobres

não possuem qualquer instrução e cerca

de 95,5% têm um nível de educação não

superior à primária e sem grandes

diferenças entre homens e mulheres.

Por outro lado, embora exista uma

melhoria na paridade em relação ao

ensino básico e secundário, o que

reforça a possibilidade de eliminar a

disparidade de género até 2015 no

contexto dos Objectivos do Milénio, os

resultados do Gráfico 10 ilustram que as

mulheres são particularmente mais

desfavorecidas que os homens,

sobretudo no que se refere ao ensino

técnico-profissional e superior. Dos 305

chefes de agregados familiares com

educação técnico-profissional e dos

1260 com formação superior, apenas

20% e 22% respectivamente são

mulheres.

Page 51: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

51

Em contrapartida, dos 9 649

trabalhadores não qualificados, mais de

70% são mulheres e destas, cerca de

67,9% vivem na zona urbana. Dos 14

584 trabalhadores que exercem

actividade de serviços e vendedores,

mais de metade (58%) são mulheres,

vivendo maioritariamente na zona

urbana (77,9%).

A eliminação da desigualdade exige

estudos aprofundados sobre as bases

culturais, sociais e políticas que

sustentam a descriminação. Porém, a

batalha pela igualdade e equidade do

género só será totalmente ganha se for

baseada numa vontade política de

conceber, implementar e avaliar

periodicamente políticas sensíveis à

equidade e igualdade. Como defendido

no PNUD (2001), a vontade política

mostrou ser, ao longo do tempo, o

instrumento mais eficaz no combate a

privações baseadas na segregação das

mulheres do que a abundância de

riqueza material.

4. Desenvolvimento Humano e

Pobreza Humana

O índice de desenvolvimento humano,

ao medir o progresso geral do

desenvolvimento humano de um país ou

região, pode esconder a distribuição

desigual deste progresso e da pobreza.

O argumento é que a pobreza é um

fenómeno multidimensional, que

engloba aspectos ligados ao acesso aos

serviços básicos como educação, saúde,

abastecimento de água, etc., cuja

negação reflete, normalmente, no estado

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52

da desnutrição, baixas taxas de

sobrevivência, baixos níveis de

educação, condições precárias de saúde,

para além de níveis baixos de renda,

entre outros. Se o desenvolvimento

humano é o processo de alargamento

das escolhas, é através da negação das

oportunidades e escolhas que a pobreza

se manifesta.

Existem diferentes medidas de pobreza

bem como do impacto que cada uma

das medidas tem nas estatísticas de

pobreza. As diferentes avaliações da

pobreza em STP inspiram-se nas

abordagens de pobreza absoluta,

baseada no custo das necessidades

essenciais, ou seja, a despesa de

consumo final per capita harmonizada

dos agregados familiares, e reflectem as

realidades das diferentes condições de

vida das famílias, olhando para pobreza

como a falta de renda para a satisfação

de necessidades alimentares e não

alimentares, segundo os padrões de vida

da sociedade, ou pobreza relativa (INE,

2012). Pese embora tenham sido já

realizadas duas avaliações usando estas

duas abordagens, a última avaliação diz

respeito ao longínquo ano de 2010 e não

só não reflecte a situação dos últimos

anos, como também não existe

informação para sua actualização. Uma

abordagem alternativa explorada na

literatura é aquela que define a pobreza

como “negação das oportunidades

básicas e das necessidades de escolha

consideradas essenciais ao

desenvolvimento humano, sendo as

mais críticas aquelas que condicionam a

pobreza humana: viver uma vida longa

e saudável, ser educado e desfrutar de

um padrão de vida decente” (PNUD,

1997). Esta abordagem enfatiza as

privações relativas às três dimensões

essenciais da vida humana incluídas no

IDH:

Privação à sobrevivência, definida

como vulnerabilidade à morte numa

idade relativamente prematura e

medida pela probabilidade à

nascença de não viver até aos 40

anos;

Privação do conhecimento,

entendida como a exclusão do

mundo de leitura e das

comunicações e medida pela taxa de

analfabetismo de adultos; e

Privação do padrão de vida

adequado, entendida como a falta de

acesso ao aprovisionamento

económico global e medida pela

média ponderada de três

indicadores: proporção da

população sem acesso sustentável a

uma fonte de água melhorada,

proporção da população sem acesso

sustentável aos serviços de saúde; e

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percentagem de crianças menores de

5 anos com peso deficiente para a

idade;

A combinação destas privações fornece

uma medida alternativa ao conceito de

pobreza na perspectiva do rendimento, o

índice de pobreza humana (IPH-1).

Assim, o IPH-1 é uma medida

multidimensional de pobreza,

introduzida em 1997, para reflectir a

privação das escolhas e das

oportunidades que permitem aos

indivíduos ter uma vida longa e

saudável, conhecimento e

aprovisionamento económico. Contudo,

devido à falta de dados nacionais

requeridos para o cálculo do IPH-1, as

estimativas neste relatório só foram

possíveis combinando elementos de

diversas fontes que permitiram obter as

estimativas para os anos 2006 a 2012,

conforme ilustrado no Quadro 4. A

metodologia de cálculo do IPH-1 está

ilustrada na Nota Técnica 2, anexa a

este Relatório.

Quadro 4. Índice de Pobreza Humana (IPH-1), 2006 - 2012

Período1

Índice de

Pobreza

Humana

Privação de

Sobrevivência

(% de pessoas que

não deverão

ultrapassar os 40

anos)

Privação de

Conhecimento

(% de pessoas

adultas

analfabetas)

Composto

da Privação

de Padrão

de Vida

Adequado

(%)

Privação de Condições de Vida

Adequadas

População sem

Acesso a (%)

Crianças < 5

anos c/ Peso

deficiente

Agua

Potável

Serviços

Sanitários

IPH-1 P1 P2 P3 P3.1 P3.2 P3.3

2006

2008

2010

2012

23,7

22,9

20,9

22,1

15,1

15,1

13,9

13,9

15,6

12,1

10,8

9,9

31,9

31,4

28,6

30,6

13,8

11,0

5,9

16,4

71,9

70,0

66,9

65,6

10,0

13,1

13,1

9,9

1 Dados referem-se ao período em referência ou ao ano mais próximo,

Fontes: obtidos de diversas fontes: INE (IDS 2008-09; MICS 2006; RGPH 2012; IDS 2010; IOF 2010; e 3º Relatório dos

ODM)

Duas ilações se podem extrair destes

resultados. A primeira é que a pobreza

humana, medida na perspectiva de

negação das oportunidades e das

necessidades de escolha consideradas

essenciais ao desenvolvimento humano,

está a reduzir de forma gradual, tendo

passado de 23,7% em 2006 para 22,1%

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54

em 2012. A pobreza em 2012 representa

uma ligeira subida, comparativamente

ao ano de 2010 quando foi estimada em

20,9%, explicada fundamentalmente

pelo agravamento da proporção da

população sem acesso à água potável

que passou de 5,9% em 2010 para quase

o triplo em 2012. Mesmo assim, o valor

de 2012 representa uma redução de

cerca 1,6 pontos percentuais,

comparativamente ao longínquo ano de

2006, e reflecte mormente os ganhos

dos investimentos na área da educação

que se traduziram não só na sua

expansão, como também numa maior

aproximação da população beneficiária.

Com efeito, o sector da educação

constitui uma das áreas prioritárias do

governo, conforme demonstrado na

alocação de recursos públicos que

segundo o Banco Mundial (2012)

passaram de 2,7% do PIB em 2002 para

8,8% em 2010. No mesmo período, a

despesa corrente aumentou de 17,3%

em 2002 para 37,9% em 2010, o que

coloca o país no topo de entre os países

da África Subsariana nesta categoria11.

Por outro lado, segundo os resultados

do IDS 2008/09, cerca de 94% da

população usam água proveniente de

fontes melhoradas, embora com ligeiras

11 Projecto STP Quality Education for all:

Report No PID7787

diferenças entre o meio urbano (99%) e

o meio rural (89%). Desta população,

cerca de 26% dispõem de uma fonte de

abastecimento de água potável no

alojamento e 46% precisam menos de

30 minutos para aceder a uma fonte de

abastecimento, sendo 39,2% no meio

urbano e 52,4% no meio rural. Em

contrapartida, apenas 34,6% da

população dispõem de instalações

sanitárias adequadas12, sendo 42,5% no

meio urbano e 26,6% no meio rural.

Como consequência, a privação de

condições de vida adequadas dos

santomenses, reflectida neste relatório

pela proporção da população sem

acesso aos serviços básicos (água

potável e serviços sanitários) e crianças

menores de 5 anos com peso deficiente,

reduziu ligeiramente, tendo passado de

31,9% em 2006 para 30,6% em 2012.

No mesmo período, a probabilidade de

morrer antes dos 40 anos passou dos

15,1% para 13,9%, o que traduz os

investimentos na saúde, em particular

na medicina preventiva. A privação do

conhecimento, medida pela taxa de

analfabetismo, também reduziu

consideravelmente, tendo passado de

15,6% em 2006 para 9,9% em 2012 e

12 Definidas como sendo as casas de banho de

água ligadas a um sistema de esgotos ou a uma

fossa séptica, latrinas melhoradas e ventiladas,

as latrinas com cobertura e sanitário seco.

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55

traduz as acções desenvolvidas no

âmbito da alfabetização e educação para

jovens e adultos nos últimos 15 anos

pelo Governo, com a colaboração de

diversos parceiros, entre os quais o

governo brasileiro, que permitiram aos

jovens com idade superior a 15 anos

aceder à educação formal e ainda

ampliar os seus conhecimentos e

desenvolver o seu potencial (Governo

de STP, 2014). Apesar destes ganhos, o

número médio de pessoas que

simultaneamente sofrem da privação do

conhecimento, longevidade e serviços

básicos continua preocupante para o

tamanho da população de STP,

conforme ilustra o Quadro 4. Por outras

palavras, em 2012 cerca de 26 mil

santomenses estavam privados de viver

para além dos 40 anos, 18,5 mil

privados do acesso ao conhecimento, e

57,4 mil não tinham acesso aos serviços

básicos como o acesso à água potável e

serviços sanitários, incluindo crianças

menores de 5 anos com peso deficiente

para a idade.

A segunda ilação é a discrepância entre

a pobreza humana e o rendimento.

Segundo a abordagem do rendimento

usada na avaliação oficial da pobreza

em STP, cerca de 108,4 mil indivíduos

em 2010 encontravam-se incapacitados

de assegurar para si e para os seus

dependentes um conjunto de condições

básicas mínimas para a sua subsistência

e bem-estar. Em contrapartida, no

mesmo ano e pela abordagem de

privações, apenas 41,4 mil indivíduos

encontravam-se privados das

oportunidades básicas e das

necessidades de escolha consideradas

essenciais ao desenvolvimento humano.

Embora as duas abordagens da pobreza

não sejam directamente comparáveis, a

diferença nos resultados realça as

fraquezas da abordagem utilitarista que

privilegia o nível de satisfação dos bens

materiais, negligenciando o aspecto

multidimensional da pobreza que

engloba aspectos ligados ao acesso aos

serviços básicos como educação, saúde,

abastecimento de água, etc., cuja

negação reflecte normalmente no estado

da desnutrição, baixas taxas de

sobrevivência, baixos níveis de

educação, condições precárias de saúde,

entre outras.

5. O Desenvolvimento Humano e os

Objectives do Milénio

Em 1990 as Nações Unidas e as

Agências de Ajuda Multilateral se

comprometeram com uma agenda

específica para reduzir a pobreza, em

resposta à sua deterioração ao nível

global. A agenda foi acordada em

Setembro de 2000, altura em que 189

Page 56: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

56

Caixa 1. Objectivos do Desenvolvimento do Milénio

1. Erradicar a Extrema Pobreza e a Fome

1.1 Reduzir para metade a proporção da população com

renda inferior a 1 dólar paridade de poder de compra;

1.2 Reduzir para metade a proporção da população que

sofre de fome;

2. Alcançar o Ensino Primário Universal

2.1 Garantir que todas as crianças, de ambos os sexos,

terminem um ciclo completo de ensino primário;

3. Promover a Igualdade entre Sexos e a Autonomias das

Mulheres

3.1 Eliminar as disparidades entre os sexos no ensino

primário;

3.2 Eliminar as disparidades entre sexos no ensino

secundário;

4. Reduzir a Mortalidade de Crianças Menores de 5 Anos

4.1 Reduzir em dois terços taxa de mortalidade de crianças

menores de 5 anos;

5. Melhorar a Saúde Materna

5.1 Reduzir em três quartos o índice de mortalidade

materna;

5.2 Alcançar o acesso universal à saúde reprodutiva

6. Combater o HIV/SIDA, a Malária e outras doenças

6.1 Parar a proporção do VIH/SIDA e começar a inverter

a tendência presente;

6.2 Estagnar a incidência da malária e de outras doenças

importantes e começado a inverter a tendência actual;

7. Garantir a Sustentabilidade Ambiental

7.1 Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentável à uma fonte de água melhorada;

7.2 Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentável ao saneamento melhorado;

8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o

Desenvolvimento

8.1 Em cooperação com o sector privado, tornar

acessíveis os benefícios das novas tecnologias, em

especial, das tecnologias de informação e de

comunicação;

Chefes de Estados e Governos de 191

Estados membros adoptaram a

Declaração do Milénio (DM) que,

segundo UNDP (2002), realça a sua

“responsabilidade colectiva para suster

os princípios da dignidade humana,

equidade e igualdade ao nível global” e

fixa oito objectivos para os países

alcançarem em 15 anos. Na literatura,

tais objectivos se encontram

consolidados e quantificados num único

documento sob a designação de

Objectivos de Desenvolvimento do

Milénio (ODM).

Para cada um dos objectivos foram definidas metas numéricas com indicadores

apropriados, alguns dos

quais sistematizados na

Caixa 1, para monitorar o

progresso de cada um deles

até 2015, remetendo à

responsabilidade dos

governos fazer, de tempo a

tempo, o seguimento dos

progressos realizados.

Aproximando-se o prazo

limite para a sua realização,

os ODM estão no centro das

atenções nos países em

desenvolvimento e os

governos destes países estão

a mobilizar-se para atingir as

metas definidas até 2015.

Esta secção faz uso

dos dados oficiais

disponíveis e mais

actualizados para avaliar o

progresso em direcção a

cada objectivo, comparando,

de acordo com o PNUD

(2004), o progresso anual actual, se as tendências correntes prevalecerem até 2015, com

o progresso anual necessário para atingir a meta, assumindo a hipótese do progresso

Page 57: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

linear. Não se pretende aqui

fazer uma avaliação exaustiva da

evolução de todos os indicadores

definidos em cada objectivo, tanto mais

que a disponibilidade de informação

limita tal propósito. Os resultados

apresentados no Quadro 5, referem-se

apenas aos objectivos para os quais

existe informação com algum grau de

actualidade para os respectivos

indicadores.

Os resultados revelam que entre 2000 e

2012 STP fez progressos assinaláveis

em alguns dos objectivos com boas

perspectivas para atingir as metas até

2015, com destaque para os objectivos

relacionados com a universalização do

ensino primário, a redução da

mortalidade infantil de menores de 5

anos e a melhoria da saúde materna. As

taxas de progresso actual dos

indicadores associados a estes

objectivos são superiores às do

progresso requerido para atingir as

metas em 2015, se as tendências actuais

prevalecerem. No caso específico da

universalização do ensino primário, as

perspectivas reflectem os esforços dos

Governos em termos de provisão dos

serviços da educação aos seus cidadãos,

com destaque para maior oferta

educativa, através da construção de

salas de aulas e de escolas do segundo

ciclo do ensino básico, oferta de

alimentação escolar e gratuidade do

ensino básico, o que permitiu reduzir ou

quase eliminar o abandono escolar neste

ciclo de ensino.

A perspectiva de reduzir em 2/3 a

mortalidade de menores de 5 anos

traduz os esforços das autoridades e dos

parceiros de desenvolvimento na

expansão dos cuidados primários de

saúde, progressos assinaláveis na luta

contra o paludismo, obtidos através da

distribuição de mosquiteiros

impregnados e maior integração e

colaboração entre programas que se

ocupam da saúde e sobrevivência das

crianças, com destaque para o programa

nacional de imunização, a promoção do

aleitamento materno e distribuição da

vitamina A, entre outros.

Quadro 5. Progresso de STP em

direcção às metas dos ODM, 201313

13 Segundo o PNUD (2004), os objectivos são

classificados em três categorias: (i) Alcançado –

se o país já alcançou o objectivo, (ii) A caminho

– se a taxa de crescimento do indicador for igual

ou superior à taxa de crescimento necessário

para atingir a meta, e (iii) Lento ou reversível -

se a taxa de crescimento do indicador for

inferior à taxa de crescimento necessário para

atingir a meta em 2015.

Page 58: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Indicador

Valores do

indicador

para

(t0)

Valores do

indicador

para

(t1)

Ano que se

deve atingir

a meta

(tODM)

Taxa de

Progresso

Anual

Actual

Taxa anual

de

Progresso

Requerido

Classificação

do Progresso

Reduzir para metade a proporção da populacao com

rendimnto inferior a 1 dolar PPC por dia53,8 49,6 2015 -0,9% -3,6%

Lento ou

Reversível

Reduzir para metade a proporção de pessoas que vivem em

extrema pobreza15,1 11,5 2015 -3,5% -3,6%

Lento ou

Reversível

Prevalencia de baixo peso entre crianças com menos de 5 anos 13,0 13,1 2015 0,1% -3,3%Lento ou

Reversível

Taxa liquida de escolarizacao Primária (1o + 2o Ciclo) 80,2 99,1 2015 4,3% 4,0% A caminho

Taxa de alfabetizacao dos 15 aos 24 anos, mulheres e homens 30,0 90,1 2015 3,9% 4,0%Lento ou

Reversível

Eliminar a disparidade do género no ensino primário e

secundário49,0 99,0 2015 8,2% 7,1% A caminho

Proporcao de mulheres exercendo mandatos no Parlamento

Nacinal7,3 18,2 2015 0,7% 4,8% Lento ou

Reversível

Reduzir em 2/3 a taxa de mortalidade de criamcas menores de

5 anos89,0 30,2 2015 -11,5% -3,3% A caminho

Reduzir em três quartos o índice de mortalidade materna 189,3 58,0 2015 -17,4% -5,0% A caminho

Alcançar o acesso universal à saúde reprodutiva 47,3 45,2 2015 -0,4% 9,1% Lento ou

Reversível

Parar a proporção do VIH/SIDA e começar a inverter a

tendência presente1,0 1,5 2015 0,1% 7,1%

Lento ou

Reversível

Estagnar a incidência da malária e de outras doenças

importantes e começado a inverter a tendência actual400,0 50,0 2015 -38,9% -5,0% A caminho

Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentavel à uma fonte de água melhorada73,9 83,6 2015 1,1% -3,6%

Lento ou

Reversível

Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentavel ao saneamento melhorado74,9 57,4 2015 -2,8% -3,6%

Lento ou

Reversível

4. Reduzir a Mortalidade Crianças Menores de 5 Anos

5. Melhorar a Saúde Materna

6. Combater o HIV/SIDA, Malária e Outras Doenças

7. Garantir a Sustentabilidade Ambiental

1. Erradicar a Extrema Pobreza e Fome

2. Universalizar a Educação Primária

3. Promover a Igualdade enter Sexos e a Autonomia das Mulheres

Se bem que a perspectiva de atingir as

metas em 2015 seja possível nos

objectivos acima referidos, constitui

ainda um grande desafio para STP o

alcance dos restantes objectivos, sendo

os mais críticos os relacionados com a

Erradicação da Pobreza e da Fome e a

Promoção da Igualdade do Género.

Com efeito, mais de 81 mil santomenses

vivem com menos de 1,25 dólar de

paridade de poder de compra, com

fortes desequilíbrios regionais, e outros

20,5 mil são extremamente pobres, ou

seja, vivem com menos de 12.260

Dobras diárias per capita, o que não

lhes permite comprar o mínimo de

alimentos para a subsistência. Embora

as perspectivas de redução da pobreza

contida na Estratégia Nacional de

Redução da Pobreza II, que cobre o

período de execução de 2012 à 2016,

sejam ainda válidas, reflectindo o

engajamento do Governo no

compromisso de cumprimento das

Page 59: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

59

metas no contexto dos ODM, torna-se

necessária uma segunda meta real para

o período pós-2015. Esta deve

contemplar necessariamente a criação

de oportunidades de emprego digno

para os jovens, priorizando um

crescimento económico inclusivo e

sustentável.

6. A Juventude e o Desenvolvimento

Humano

O RNDH de 2014 é único porque, pela

primeira vez, aborda especificamente as

percepções e o papel da sociedade civil

no processo de desenvolvimento

sustentável de STP. Ao tema central –

“A qualidade de liderança como factor

inibidor da instabilidade política e

promotor do desenvolvimento humano”

- estão associados quatro temas que, na

escolha participativa do tema principal,

foram os mais quotados:

O papel da Sociedade Civil

organizada no processo de

desenvolvimento

sustentável;

Inovação: mobilizar S. Tomé

e Príncipe para inovar na

forma de pensar e fazer;

Refundação e melhoria do

sistema judicial;

Juventude e seu papel no

desenvolvimento;

Esta secção analisa o perfil da juventude

em STP na perspectiva de perceber a

qualidade de vida desta camada da

população e os seus níveis de privação,

através de um roteiro focalizado nos

aspectos como educação, saúde, género,

pobreza, emprego e sua participação na

sociedade. A análise baseia-se nos

resultados do Inquérito Demográfico de

Saúde (IDS 2008/09), do Inquérito aos

Orçamentos Familiares (IOF 2010) e do

Recenseamento Geral da População e

Habitação (2012) que fornecem

informação relativa à faixa etária

específica da juventude.

Não existe uma definição universal do

termo juventude. Ela depende do

contexto socioeconómico e cultural,

institucional e até geográfico. Sem

prejuízo das definições dos países

membros, as Nações Unidas (NU)

definem juventude como indivíduos

com idade compreendida entre os 15 e

24 anos, considerado o tempo de

transição entre o período de

desenvolvimento de habilidades e

conhecimentos e a fase de sua

integração nas esferas da vida

económica, social e política. As NU

reconhecem também outras definições

das diversas Agências e Organizações

Regionais a ela associadas. Por

Page 60: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

60

exemplo, a Organização Mundial da

Saúde (OMS) e o Fundo das Nações

Unidas para a Infância definem a

juventude como todos os indivíduos na

faixa etária compreendida entre os 10 e

24 anos. Não existindo em STP um

instrumento legal que define e delimita

a camada da população juvenil, este

relatório adopta a definição contida na

Carta Africana da Juventude14 que

define “juventude ou jovem como todo

o indivíduo com idade entre 15 e 35

anos”.

Com base nesta última definição, a

juventude constitui um vibrante

segmento da sociedade santomense. De

acordo com o RGPH de 2012 (Quadro

7), existiam em STP cerca de 64 mil

jovens com a idade compreendida entre

os 15 e 35 anos, o que corresponde a

35,8% de toda a população santomense,

com uma distribuição quase equitativa

entre homens e mulheres.

14A Carta Africana da Juventude é um

documento legal que define as

responsabilidades dos Estados-membros no

desenvolvimento da juventude. Foi adoptada na

Cimeira de Chefes de Estado e de Governo na

sua sessão em Banjul, em Julho de 2006.

Page 61: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

Quadro 6. Perfil de idades da população de STP por regiões e País, 2012 (%)

Regiões

Juventude Urbano 15-24 PEA

Total Mulher Total Mulher Total Mulher Total Mulher

Água – Grande

Mé-Zóchi

Cantagalo

Caue

Lobata

Lemba

R. A. Príncipe

TOTAL - STP

40,2

25,2

9,2

3,1

10,7

7,7

3,8

35,8

52,2

49,7

47,4

45,8

48,1

47,2

49,4

50,0

37,0

25,4

10,0

3,5

11,1

8,7

4,2

45,4

50,9

50,3

50,2

49,7

50,3

49,2

49,6

50,4

39,0

25,7

9,5

3,3

10,8

7,9

3,7

55,7

51,9

48,9

46,8

45,4

47,7

48,2

51,9

49,7

40,4

24,8

9,3

3,2

10,6

7,8

4,0

63,0

52,2

50,3

47,9

46,5

48,3

47,6

48,2

62,7

Fonte: INE: Resultados Nacionais - Recenseamento Geral da População e Habitação, 2012

A imagem que emerge do Quadro 6 é

que cerca de 2/3 da população juvenil

vivem nos distritos Água Grande

(40,2%) e Mé-Zóchi (25,2%). Tratando-

se de distritos onde se encontram as

duas maiores cidades, justifica também

a grande concentração desta camada da

população na zona urbana onde vivem

mais de 45% da população jovem e

desta, cerca de 62,4% moram nestes

dois distritos. Do ponto de vista do

desenvolvimento humano, a

concentração cada vez mais crescente

de jovens no meio urbano acarreta

consigo problemas sociais como o

desemprego e exclusão aos serviços

básicos como a educação e a saúde.

Mais de metade da população juvenil

está na faixa etária dos 15 a 24 anos

(55,7%), ou seja, na faixa de transição

entre o período de desenvolvimento de

habilidades e conhecimentos e o de sua

integração nas esferas da vida

económica, social e política. Se estes

são excluídos do acesso a estes serviços

básicos como a educação, a

consequência mais grave é a sua

exposição à marginalidade e à violência.

A educação constitui um componente

crítico do capital humano porque

influencia as habilidades, o

conhecimento e a saúde, ferramentas

determinantes para acabar com o círculo

vicioso da exclusão social e

proporcionar o alcance dos melhores

níveis de bem-estar de qualquer camada

social. A falta de educação limita o

desenvolvimento de capacidades e

oportunidades para que as pessoas

possam optar pelo estilo de ser e estar e

Page 62: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

62

conquistar melhores níveis de

desenvolvimento humano.

Segundo o INE (2014), embora a

maioria da população juvenil

santomense seja alfabetizada, quer

dizer, saiba pelo menos ler e escrever,

mais de metade (58%) possui como

nível de instrução o ensino básico, 37%

o secundário e menos de 2% o nível

técnico-profissional e superior, sendo a

maioria na faixa etária dos 25 – 35 anos

e com uma distribuição quase equitativa

entre homens (50,9%) e mulheres

(49,5%). Importa mencionar que no

ensino secundário, cerca de 86% dos

jovens com idade relevante inscrevem-

se na 7ª classe, mas apenas 16,8%

chegam ao final deste ciclo. Uma boa

parte dos jovens enfrenta muitas

dificuldades em continuar os seus

estudos após o término do ensino

secundário. Das três instituições de

ensino superiores, duas são de natureza

privada e com custos das propinas que

desencorajam os jovens a frequentarem

esses estabelecimentos de ensino

privado devido, por um lado, à

insuficiência de bolsas de estudo e, por

outro, à fraca capacidade financeira dos

familiares.

Juventude e Mercado de Trabalho

Segundo o RGPH de 2012, a população

economicamente activa (PEA), de

acordo com a definição da Organização

Internacional do Trabalho (OIT) que

considera todos os indivíduos na faixa

etária dos 15 a 64 anos, era de 88,5 mil

indivíduos, o que representa 54,8% de

toda a população santomense. Mais de

3/4 da PEA são constituídas por jovens,

representando, por isso, um grande

potencial de força de trabalho. Contudo,

a sua absorção constitui

simultaneamente uma oportunidade e

sério desafio ao desenvolvimento de

STP. Mais de 8% dos jovens estão

desempregados, sendo 6,9% entre os

homens e 9,5% entre as mulheres. O

desemprego é mais acentuado entre os

jovens nas faixas etárias dos 20-24 anos

e 25-29 anos com 10,5% e 9,3%

respectivamente. Grande parte dos

desempregados é constituída por uma

população activa com baixos níveis de

qualificação profissional, jovens à

procura do primeiro emprego e

mulheres chefes de família.

Associados aos baixos níveis de

qualificação profissional que

condicionam a participação cidadã

consciente e responsável no

desenvolvimento de iniciativas

empreendedoras para a criação de

riqueza e bem-estar da população em

Page 63: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

63

geral e da juventude em particular,

existem outros constrangimentos que

esta camada da população enfrenta,

muitos dos quais associados aos

aspectos socioculturais e políticos que

influenciam de uma maneira ou de outra

a sua maneira de ser e estar. Segundo o

INE (2014), alguns destes

constrangimentos incluem:

Pouca aposta em medidas e

acções que promovam a

emergência de uma cultura

empresarial e o florescimento

de um tecido vivo de iniciativas

empresariais jovens;

Falta de programas sustentáveis

de empreendedorismo Jovem;

Inexistência de uma política de

formação profissional;

Inexistência de um Programa de

Inserção e Emprego Jovem e

sua integração com os

diferentes programas nacionais

e de cooperação internacional;

Falta de incentivos fiscais

especiais que estimulem o

jovem empresário a capacitar-se

e fixar-se na sua região de

origem, o que poderia gerar

mais emprego directo ou

indirecto;

Falta de incentivos para a

operacionalização do

Associativismo Juvenil,

recentemente criado como

modelo de organização e espaço

de desenvolvimento integral dos

jovens, de aprendizagem, de

princípios e valores essenciais

ao desenvolvimento de um

espírito de convivência e de

vivência democráticas.

Constituiria também um fórum

de partilha de ideias e

concretização das mesmas, na

perspectiva de luta por uma

democracia política, económica,

social e cultural que vá de

encontro à expectativa de todos

os jovens são-tomenses;

Pouca diversidade de programas

de sensibilização relacionados

com questões de saúde sexual e

reprodutiva e

formação/capacitação para o

mercado de trabalho;

Falta de uma política de

habitação para jovens. Muitos

dos que residem no país ou que

regressam após formação no

exterior são hoje confrontados

com falta de alojamento próprio

e necessariamente têm que

coabitar com os pais ou

familiares com todas as

frustrações que advêm desta

situação.

Page 64: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

64

Resultante destes constrangimentos,

uma força urbana da juventude tem

vindo a crescer com muitas dificuldades

para encontrar trabalho digno, situação

determinada em parte pelos baixos

níveis de qualificação profissional, mas

sobretudo pela fragilidade da estrutura

económica. Assim vêem-se remetidos

ao sector informal dinamizado por

mulheres e jovens, vendendo

mercadoria diversa ou como taxistas de

motorizadas, vulgo “motoqueiros”,

como alternativa não só de

sobrevivência, dada a incapacidade do

mercado nacional de oferecer

oportunidades decentes, como também

pelo facto de representar a única

alternativa para a satisfação das suas

aspirações.

Hoje, parece constituir consenso geral

que o sistema de educação em STP, em

todo o seu edifício, carece de reformas

de fundo, que promovam a rápida

absorção tecnológica e melhorem as

habilidades, principalmente dos jovens,

na perspectiva de o país maximizar o

seu potencial. Daí que um ensino

técnico-profissional robusto e um

ensino superior de alta qualidade são

centrais para a promoção de emprego

digno e sustentável. Face às limitações

financeiras tanto do governo como das

famílias, a implementação das reformas

referenciadas só será possível quando

baseadas em parcerias inteligentes entre

os poderes públicos, o sector

empresarial e as instituições de ensino,

visando a definição de políticas e

estratégias de educação adequadas,

consentâneas com as necessidades do

mercado.

7. Conclusão

Neste capítulo analisou-se o estado de

desenvolvimento humano em STP, uma

análise que olha o desenvolvimento

como um processo não só de aumento

da renda, como também de satisfação

das necessidades básicas, cuja meta é

alargar as capacidades e opções das

pessoas e da sociedade como um todo.

Da análise as seguintes conclusões

podem ser extraídas:

Apesar dos diversos desafios

estruturais e conjunturais e de um

quadro económico aparentemente

desfavorável que se traduziram num

crescimento económico abaixo da

média do continente, a realização

média no desenvolvimento humano

de STP é dos mais robustos do

continente, com um IDH que o

qualifica no grupo de países com

desenvolvimento humano médio.

Porém, os resultados revelam que as

mulheres e os homens desfrutam de

Page 65: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

65

forma diferenciada a realização

média nas diferentes dimensões do

desenvolvimento humano. O

desenvolvimento humano das

mulheres não só está 10,2 pontos

percentuais abaixo da sua

contraparte dos homens como

também a redução do fosso está a

ser conseguida a uma modesta taxa

de 0,2% ao ano, ou seja, 12,8 vezes

inferior ao que seria necessário para

se conseguir a plena igualdade em

2025. A desigualdade faz-se sentir

fundamentalmente no mercado do

trabalho e nos órgãos de decisão. No

mercado de trabalho, o desemprego

incide sobre 19,7% da população

feminina contra 9,3% dos homens.

Do ponto de vista da sua

participação nos órgãos de decisão,

24% das mulheres exercem funções

nos Poderes Legislativo e Executivo

contra 76% dos homens. A maior

discrepância verifica-se ao nível do

Poder Legislativo onde apenas

18,2% dos assentos na Assembleia

Nacional são ocupados por mulheres

na última legislatura, embora supere

muitos países na região.

Do ponto de vista da pobreza,

embora 2/3 da população são-

tomense vivessem na situação da

pobreza em 2010, com uma despesa

média per capita inferior a 31 mil

Dobras diárias, apenas 20,9%

estavam privadas do acesso aos

serviços básicos como educação,

saúde, abastecimento de água e cuja

negação reflecte normalmente no

estado de desnutrição, baixas taxas

de sobrevivência, condições

precárias de saúde, entre outros.

No contexto dos Objectivos do

Milénio, o capítulo mostrou que

para STP o progresso em direcção

às metas continua ainda modesto.

Na hipótese de progresso linear, se

as tendências actuais prevalecerem,

dos 14 indicadores avaliados neste

capítulo, menos de metade apresenta

taxas de progresso anual superiores

às requeridas para atingir as metas

em 2015, sendo os mais críticos os

que dizem respeito à erradicação da

pobreza extrema e da fome, bem

como à promoção da igualdade do

gênero, particularmente na

facilidade de facultar a conquista do

poder pela mulher.

O capítulo mostrou também que a

juventude constitui um vibrante

segmento da sociedade são-tomense.

Representando mais de 63% da

população economicamente activa,

constituindo, por isso, um grande

potencial de força de trabalho, a sua

absorção é simultaneamente uma

Page 66: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

66

oportunidade e sério desafio ao

desenvolvimento de STP, devido

aos baixos níveis de qualificação

profissional, mas principalmente

devido à incapacidade do mercado

nacional de oferecer oportunidades

de emprego decente, como

consequência da fragilidade da

estrutura económica, remetendo

uma grande parte desta camada

populacional ao sector informal.

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68

Capítulo III

Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da transparência e a

segurança jurídica.

NOTA INTRODUTÓRIA

Antes de mais, importa referir que na

avaliação do nível de desenvolvimento

humano de um país, devem ser tidos em

conta, para além das múltiplas variáveis

macroeconómicas, também o seu

sistema político, o grau de respeito pela

dignidade da pessoa humana, o acesso

aos cuidados de saúde, educação etc.

É sabido que apenas os sistemas

democráticos, pelas caraterísticas que

apresentam, asseguram o respeito pelos

direitos, liberdades e garantias dos

cidadãos, designadamente a liberdade

de expressão e a liberdade de

associação, enquanto direitos

fundamentais. Daí decorre a

importância determinante dos Tribunais,

enquanto órgão de soberania incumbido

de administrar a justiça em nome do

povo, afigurando-se irrefutável que

existe uma relação direta entre a

qualidade da democracia de um Estado

e o funcionamento do seu sistema

judiciário. Assim, a implementação da

reforma do sector judiciário, hoje

consensualmente reclamada por todos,

terá seguramente um impacto positivo

na vida do país e contribuirá de maneira

decisiva para o seu desenvolvimento

político, económico e social.

Esta abordagem incidirá sobre a

necessidade de reforma do sector da

justiça em São Tomé e Príncipe à luz do

estado atual do sector, tendo em conta

os documentos recentes apresentados

sobre a matéria, mormente o Programa

de Reforma do Sector da Justiça.

Analisar-se-á, por conseguinte, o

impacto que poderá ter no

desenvolvimento humano a cabal

implementação das conclusões e

recomendações extraídas dos estudos

realisados e de que forma poderão

contribuir para a edificação de um São

Tomé e Príncipe alicerçado em valores

universais do respeito pela dignidade da

pessoa humana, onde haja uma justiça

mais justa, mais célere e

verdadeiramente ao serviço do cidadão,

com os Tribunais como verdadeiro

garante da Democracia e do Estado de

Direito Democrático.

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Por conseguinte, serão seriadas, em

primeiro lugar, algumas das medidas

necessárias ao sucesso da reforma do

sistema judiciário são-tomense e,

seguidamente, será apresentada uma

análise do impacto da implementação

das recomendações da reforma do

sector judiciário sobre o nível do

desenvolvimento humano em São Tomé

e Príncipe, a qual incluirá uma

avaliação sectorial do impacto da

reforma. Na conclusão serão realçados

os aspetos mais relevantes que, ao

serem implementados conforme o

Programa de Reforma, terão um grande

impacto no nível do desenvolvimento

humano em São Tomé e Príncipe.

1 – RESUMO DAS CONCLUSÕES E

RECOMENDAÇÕES CONSTANTES

DO PROGRAMA DE REFORMA DO

SETOR JUDICIÁRIO

São Tomé e Príncipe comemorou em 12

de Julho deste ano, o trigésimo nono

aniversário da proclamação da sua

independência, ocasião propícia para

uma reflexão sobre o estado atual do

país, sobre os recuos e avanços, sobre as

grandes aspirações, desafios e

conquistas alcançadas, com destaque

para as reformas estruturais

reclamadas..

A inventariação das mudanças

desencadeadas pela independência

nacional obriga a que uma particular

atenção seja conferida ao setor da

justiça, alvo de algumas melhorias,

sobretudo após a implantação do regime

democrático.

Com a aprovação e entrada em vigor da

nova Constituição, São Tomé e Príncipe

tornou-se um Estado de direito

democrático, baseado no respeito pelo

primado da lei. Essa nova realidade

impôs a revogação de algumas leis,

tornadas inconstitucionais, e alteração

de outras, de forma a se adequarem à

nova moldura jurídica do Estado.

A exigência de novos pacotes

legislativos para preencher o vazio

então existente estendeu-se ao setor

judiciário que beneficiou de algumas

alterações legislativas.

Contudo, essas alterações não

corresponderam a uma reforma

estrutural profunda, facto que conduziu

à crise do sistema, o que levou o

Governo, em 2009, a organizar, com o

financiamento do Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento,

PNUD, o Encontro Nacional da Justiça.

No fórum, em que tomaram parte todos

os operadores judiciários, foi feita uma

análise detalhada do panorama

judiciário são-tomense. Das conclusões,

foi extraído um conjunto de

recomendações que constam do

Pprograma de Reforma do Setor

Judiciário, elaborado em função das

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70

prioridades detetadas e que deve ser

implementado pelo Estado.

Dentre as recomendações saídas do

Encontro Nacional de Justiça destacam-

se as seguintes:

a) Adoção de medidas tendentes a

reduzir as desigualdades sociais

quanto ao acesso à justiça e ao

direito e a garantir a tutela

efetiva dos legítimos interesses

dos cidadãos e dos agentes

económicos.

b) Revisão de todo o processo

legislativo, elegendo-se como

prioridade a revisão dos Códigos

das Custas Judiciais, Penal,

Processo Penal, Processo Civil e

o Código das Sociedades

Comerciais.

c) Elaboração e aprovação da Lei

de Menores e Jovens em Risco e

de um Estatuto da Criança, da

Lei de Adoção e a ratificação da

Convenção sobre a Adoção

Internacional.

d) Implementação da justiça de

proximidade, através da criação

de julgados de paz ou juizados

especiais para julgarem os

processos cíveis de valor

económico reduzido e pequena

criminalidade, permitindo a

administração da justiça de

forma célere e eficaz.

e) O descongestionamento dos

Tribunais Judiciais (a

desjudicialização de conflitos)

através do desenvolvimento da

justiça arbitral, nas áreas do

Direito Civil, Comercial e

Laboral e da mediação.

f) A seleção e recrutamento dos

magistrados, mediante critérios

baseados exclusivamente no

mérito e na competência e

idoneidade, de forma a garantir a

administração da justiça de

forma objetiva, isenta e

imparcial por parte dos

magistrados.

g) A criação de uma escola de

formação e de investigação

jurídica e judiciária que permita

a formação dos magistrados e de

outros profissionais do setor da

justiça.

h) A criação de um serviço

autónomo de inspeção, formado

por um corpo de inspetores em

regime de exclusividade, que

permita a avaliação do

desempenho dos magistrados,

para que apenas permaneçam no

sistema os magistrados e

funcionários judiciários cujo

resultado da avaliação seja

positivo.

i) A revisão do mapa judiciário.

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j) A humanização da execução de

penas e adoção de verdadeiras

políticas de reinserção social (a

construção de um

estabelecimento prisional na

Região Autónoma do Príncipe,

bem como a educação e

formação dos reclusos).

k) A descentralização dos Serviços

de Registo e Notariado.

l) A adoção de medidas

legislativas que visem o

melhoramento do ambiente de

negócios em São Tomé e

Príncipe, através da

simplificação de procedimentos

administrativos na concessão de

alvarás, licenças e autorizações

para o exercício da atividade

empresarial e da aprovação de

um pacote de incentivos fiscais

ao investimento estrangeiro.

m) O combate à corrupção e à

impunidade da classe política e

dirigente (necessidade da

aprovação de uma Lei sobre a

Responsabilidade Penal dos

titulares dos cargos Políticos) e a

moralização da classe.

n) Adoção de mecanismos eficazes

de fiscalização e controlo do

processo eleitoral, visando a

punição dos crimes eleitorais,

nomeadamente a compra do

voto, através do método

vulgarmente conhecido por

“banho”.

Importa, porém, deixar claro que desde

a data da realização dos eventos e

estudos que resultaram na elaboração do

Programa de Reforma do Sector da

Justiça em São Tomé e Príncipe,

algumas das ações inseridas nas

conclusões do referido documento já

foram implementadas, por sucessivos

governos constitucionais,

nomeadamente o XIII, o XIV e o XV.

Tais ações consistiram, principalmente,

na criação do juízo de execução de

penas, na aprovação da Lei da

Assistência Judiciária e Consulta

Jurídica violência doméstica e na

criação do Guichet Único de Empresas,

cujo impacto se faz sentir no dia-a-dia

dos agentes económicos que operam no

país. Convém ressaltar, no entanto, que

a grande maioria das ações

recomendadas no quadro do Programa

de reforma ainda aguarda

implementação, facto que poderá

ocorrer nos próximos tempos. Por

conseguinte, pretende-se na segunda

parte do presente trabalho relevar o

impacto que resultaria da

implementação das ações recomendadas

no Programa de reforma sobre vários

sectores da sociedade.

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2 – O IMPACTO DA

IMPLEMENTAÇÃO DAS

MEDIDAS CONSTANTES DO

PROGRAMA DE REFORMA DO

SECTOR JUDICIÁRIO SOBRE O

DESENVOLVIMENTO HUMANO.

Na abordagem da presente temática,

pretende-se apresentar os impactos

positivos que adviriam da

implementação da reforma do sector da

justiça, nomeadamente para os sectores

político, económico e social de São

Tomé e Príncipe, bem como as

expectativas dos são-tomenses quanto à

implementação dessas medidas.

Nesse sentido, parte-se de princípio que

a melhoria do funcionamento do

sistema judiciário, um dos pilares do

Estado de direito democrático, gera, por

inerência, impactos reais no

funcionamento de um Estado moderno,

designadamente sobre as questões de

natureza política, económica, social e

ambiental, bem como as que se

prendem com o fortalecimento da

sociedade civil, o exercício da

transparência na gestão da coisa pública

e a prática da boa governação em geral.

2.1. Nível Político

Sendo o Estado o lugar privilegiado de

fenómenos, decisões e factos políticos

inerentes ao seu funcionamento, a

implementação das conclusões e

recomendações constantes do Programa

de Reforma do Sector da Justiça

repercutir-se-á, de forma positiva, na

qualidade das decisões e,

consequentemente, no conjunto da

praxis política são-tomense.

Pela natureza das suas funções, pelos

poderes de que estão investidos e pela

universalidade dos destinatários das

suas decisões, a actividade dos

Tribunais tem repercussões políticas

profundas em todos os tecidos da

sociedade, ao ponto de determinar ou

influenciar fortemente o acesso e o

exercício de um direito fundamental,

condicionando não só a perceção que os

cidadãos têm do Estado, como a sua

própria relação com o Estado.

Garante dos direitos dos cidadãos, a

qualidade de funcionamento dos

Tribunais e a forma como estes

administram a justiça podem ser

tomadas como medidas fundamentais de

aferição da qualidade global de um

regime democrático. Na medida em que

neles recai o poder de julgar conflitos

ou diferendos entre instâncias do poder

e também entre os cidadãos (ou entre

aquelas e estes), as suas decisões

concorrem para a conflitualidade ou

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para a estabilidade e a harmonia,

conforme sejam consideradas justas ou

injustas.

Sendo consensual que a corrupção

constitui um dos maiores bloqueios ao

desenvolvimento de qualquer país, o

quadro prevalecente em São Tomé e

Príncipe afigura-se, deveras,

preocupante, reclamando a adoção de

medidas suscetíveis de travar e inverter

o estado de coisas. Assim, a aprovação

e entrada em vigor de uma lei sobre a

responsabilidade penal dos titulares dos

cargos políticos serviria não só para pôr

termo ao vazio legal atualmente

existente no ordenamento jurídico são-

tomense no que toca à tipificação de

condutas ilícitas praticadas por titulares

de cargos políticos, como também para

estancar as constantes violações do

princípio da igualdade, ínsito na

Constituição da República.

Sendo os Tribunais o órgão de

soberania investido do poder de

administrar a justiça para todos os

cidadãos e um dos pilares do Estado de

Direito Democrático cuja atuação se

repercute ao nível de todo o aparelho do

Estado e de toda a sociedade, parece

judicioso começar por destacar os

impactos positivos que poderiam advir,

ao nível político, da implementação das

medidas constantes do Programa de

Reforma do Sistema Judiciário.

Os santomenses esperam que a

implementação daquelas medidas venha

contribuir para:

a) o fortalecimento e a

consolidação do sistema

democrático e o cumprimento

das regras que o regem;

b) a estabilidade política e

governativa;

c) reforçar e garantir o

cumprimento da legislação

eleitoral de um modo geral;

d) conferir eficácia à punição dos

crimes eleitorais, mais

concretamente o fenómeno

designado por “banho”;

e) devolver ao cidadão a confiança

no funcionamento do sistema

democrático e a importância do

voto nas eleições;

f) restaurar a confiança dos

cidadãos na classe política e o

reconhecimento da importância

da atividade política.

2.2. Nível Económico

Numa perspetiva económica, torna-se

importante sublinhar, antes de tudo, a

importância da aprovação e entrada em

vigor das legislações relativas ao crime

contra a propriedade e o património.

Com efeito, o reconhecimento e a

proteção dos direitos dos cidadãos à

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propriedade privada têm no

ordenamento jurídico santomense uma

legitimidade constitucional desde a

Constituição de 1991, podendo a

requisição e a expropriação apenas

ocorrer com fundamento na utilidade

pública e com base na lei.

Importa igualmente sublinhar a

importância que representa a entrada em

vigor de diplomas sobre a simplificação

dos procedimentos administrativos na

concessão de alvarás, licenças e

autorizações para o exercício da

atividade empresarial ou profissional e

que têm como resultado o

melhoramento do ambiente de negócio

em São Tomé e Príncipe.

Particularmente nas áreas de cariz

económico, a desjudicialização de

conflitos, graças ao desenvolvimento da

justiça arbitral, ao ser implementada

enquanto uma das recomendações do

Programa de reforma, terá, certamente,

um impacto positivo no nível de

investimento e da criação de valores na

economia são-tomense.

Sublinhe-se ainda a relevância da

aprovação e entrada em vigor de um

código de benefícios fiscais, nos termos

do qual incentivos fiscais seriam

atribuídos aos investidores, potenciando

o aumento do nível de investimento,

particularmente o investimento direto

estrangeiro e em áreas económicas

consideradas prioritárias. Sendo

indisputável que um Estado de direito

democrático, com uma justiça credível e

eficaz, atrai muito mais facilmente

investimento estrangeiro na medida em

que dá garantias de segurança ao

investidor, a implementação das

recomendações do Programa de reforma

terá, necessariamente, um forte impacto

na criação de riqueza e no

desenvolvimento económico.

Em síntese, a implementação cabal das

ações do Programa de Reforma é vista

pelos são-tomenses como um

instrumento que permitirá dinamizar a

economia, permitindo, nomeadamente:

a) a melhoria inequívoca do

ambiente de negócios;

b) a atração de investimentos

estrangeiros diretos e indiretos;

c) uma maior certeza e segurança

no tráfego jurídico-comercial;

d) a dinamização e fluidez do

comércio jurídico.

2.3. Nível Social

Um dos índices de avaliação do nível de

desenvolvimento humano de um país é

o grau de respeito das instituições

públicas e privadas pelos direitos

humanos, entendidos no seu conjunto e

transversalidade e englobando,

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designadamente, direitos políticos,

civis, económicos, sociais e culturais.

Uma avaliação do estudo sobre a

Reforma do Sistema de Justiça permite

constatar que a efetiva implementação

das ações recomendadas teria um

impacto positivo direto na área dos

direitos humanos, correspondendo a

aspirações expressas pelos são-

tomenses, nomeadamente, quando

recentemente auscultados no âmbito da

Agenda de Desenvolvimento pós-2015.

Nesse documento, os cidadãos

auscultados deixaram claro que querem

uma justiça funcional e acessível a

todos. Recorde-se que os autores do

referido estudo constataram que ‘’as

instituições judiciais são encaradas com

grande desconfiança pelos cidadãos e

que ‘’a diferenciação entre as várias

franjas da sociedade na aplicação da lei

resulta em graves desigualdades de

oportunidades.’’

A aprovação da Lei de Acesso ao

Direito e aos Tribunais, bem como a

regulamentação da Lei que aprova o

Estatuto da Ordem dos Advogados

vieram, assim, de encontro a reiteradas

preocupações dos são-tomenses,

relativamente à necessidade de uma

maior igualdade no acesso à justiça,

independentemente da condição

económica, região de origem ou de

residência, posição social, cultural ou de

outra natureza. Ao concluir pela

‘’adoção de medidas tendentes a reduzir

as desigualdades sociais quanto ao

acesso à justiça e ao direito e a garantir

a tutela efetiva dos legítimos interesses

dos cidadãos’’, as recomendações

constantes do Programa de reforma

respondem, na letra e no espírito, à

reivindicação generalizada de um

direito limitado, entre outros fatores,

por lacunas e deficiências legislativas.

Do mesmo modo, a recomendação de

revisão de todo o processo legislativo,

elegendo como prioridade a revisão dos

Códigos das Custas Judiciais, Penal,

Processo Penal e Processo Civil, pugna

pela remoção de entraves penalizadores

dos cidadãos mais desfavorecidos. As

duas leis acima referidas surgem, assim,

como instrumentos de defesa dos

direitos humanos e potenciadores da

diminuição de desigualdades sociais,

abrindo caminho a um maior acesso de

todos os cidadãos à justiça.

Nesse domínio, a efetiva

implementação do processo de reforma

resultaria igualmente numa

reconciliação da sociedade com as

instituições judiciárias, no

empoderamento dos cidadãos, através

de condições que lhes assegurariam o

exercício de um direito fundamental,

permitindo-lhes reverem-se em decisões

judiciais que seriam reconhecidas como

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justas e imparciais, dando satisfação a

uma profunda aspiração da sociedade.

In fine, a realização bem-sucedida das

ações recomendadas devolveria

prestígio e credibilidade ao sistema.

Numa perspetiva eminentemente social,

a avaliação do impacto da

implementação de algumas

recomendações do Programa de

Reforma no desenvolvimento humano

aponta para outros ganhos muito

significativos, designadamente para

uma maior humanização das condições

de execução de penas, a adoção de

medidas de reabilitação e

ressocialização do recluso, uma vez

cumprida a pena, bem como, num plano

mais global, para a redução das

desigualdades atualmente existentes.

Nesse domínio, é de inegável relevância

a mudança positiva que representou a

promulgação da Lei Orgânica dos

Serviços Prisionais e de Reinserção

Social, a qual tem em devida conta

aspetos relacionados com a reinserção

social do recluso, viabilizando, a partir

da fixação de uma moldura legal, a

inversão de um estado de coisas

consensualmente reputado como

indesejável, porque atentatório da

dignidade humana e do desígnio de uma

sociedade mais coesa, mais justa e mais

harmoniosa.

A situação atual do sistema

penitenciário reclama a adoção de

medidas urgentes, com vista ao seu

melhoramento, destacando-se, em

primeiro lugar, a necessidade de

humanização dos moldes de

funcionamento, norteada pelo objetivo

de devolver à sociedade cidadãos

verdadeiramente reabilitados, úteis a si

próprios, às suas famílias e à

comunidade. A ocupação dos presos em

regime fechado, a sua educação,

formação e capacitação orientadas para

a integração no mercado de emprego,

uma vez em regime de liberdade,

configuram medidas de proteção e

defesa da integridade humana dos

reclusos e de defesa da integridade da

própria sociedade.

Partindo deste pressuposto, convém

ressaltar, como necessidade urgente, a

previsão de construção de mais dois

estabelecimentos prisionais,

respetivamente na Região Autónoma do

Príncipe, para suprir uma grave e antiga

lacuna, e na ilha de São Tomé, para

resolver os múltiplos problemas

resultantes da sobrelotação da única

prisão do país. A situação dos reclusos

originários da ilha do Príncipe configura

um agravamento do isolamento já

imposto pelo regime de reclusão, na

medida em que são obrigados a cumprir

pena na ilha de São Tomé. A construção

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de um estabelecimento prisional na

região iria permitir a esses reclusos

beneficiar da visita de familiares e

amigos, cumprindo as suas penas em

condições aceitáveis, do ponto de vista

humano.

Destaque-se, igualmente, a importância

da implementação de outras ações

consentâneas com o cumprimento de

pena que respeitem padrões mínimos

exigíveis de dignidade da pessoa

humana.

Ao nível da execução da pena, sublinhe-

se a importância de que se reveste a

recente criação do Juízo de Execução de

Penas o qual, tendo por função ocupar-

se exclusivamente desta matéria, vem

permitir um acompanhamento de

controlo da observância dos direitos,

liberdades e garantias dos reclusos,

sendo expectável que o pleno

funcionamento desta instância se venha

a traduzir num impacto positivo na área

dos direitos humanos e,

consequentemente, do desenvolvimento

humano.

Outrossim, a implementação de uma

justiça de proximidade, através da

criação de julgados de paz, como

resultado da revisão do mapa judiciário,

visa melhor adaptar a oferta do distrito

judiciário às necessidades da população

em geral e permitir a administração da

justiça de maneira célere e eficaz.

Em resumo, a efetiva implementação

destas recomendações da reforma

conduziria à reabilitação de grande parte

da população prisional e ao

cumprimento do objetivo de prevenção

especial ou ressocialização, enquanto

uma das finalidades da pena,

concretizando uma expectativa dos são-

tomenses em relação ao seu sistema

judiciário.

Uma avaliação do impacto da reforma

ficaria incompleta, caso não fosse

referida a importância que teria o

estabelecimento do quadro do pessoal

da Direção Geral dos Registos e

Notariado, bem como a

descentralização dos serviços,

estendendo-os a distritos mais

vulneráveis e a cidadãos atualmente

com acesso limitado. A inexistência de

um cadastro da maioria dos

funcionários afetos quer aos serviços da

Direção Geral dos Registos e Notariado,

quer aos serviços centrais do Ministério

da Justiça, a falta de formação e de

capacitação dos funcionários, bem

como a ausência do quadro do pessoal

afeto aos serviços, provocam

insatisfação e enfraquecem o

desempenho dos funcionários no

exercício das suas atribuições,

constituindo, por isso, uma situação

com forte impacto social e,

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consequentemente, forte impacto no

desenvolvimento humano.

Outro impacto de grande alcance para o

desenvolvimento humano que resultará

de uma efetiva implementação da

reforma, prende-se com a aprovação e a

entrada em vigor de legislações sobre a

proteção de menores, particularmente

de menores em risco. Torna-se

importante precisar que tal desiderato

de proteção de crianças e menores em

risco passa igualmente pela ratificação,

pelo Estado são-tomense, da Convenção

de Haia de 1993 sobre a Proteção das

Crianças e a Cooperação em Matéria de

Adoção Internacional.

Num contexto de pobreza extrema para

muitas famílias, a falta de instrumentos

legais de proteção de menores e a

ausência ou fragilidade de instituições

públicas de acompanhamento e de

fiscalização de crianças em risco,

resultaram no surgimento de muitos

casos de mendicidade, cujas

consequências são o abandono escolar,

e, não raras vezes, o abuso sexual, a

delinquência e a exploração do trabalho

infantil.

Este quadro, que transformou São Tomé

e Príncipe num ‘’paraíso’’ para adoções

internacionais, por vezes com contornos

muito questionáveis, poderá ser alterado

com a plena implementação da Reforma

do Sector da Justiça.

Tendo em conta os efeitos

multiplicadores nefastos resultantes da

não proteção de crianças e menores,

particularmente de menores em risco, o

exercício pelo Estado das suas

prerrogativas e obrigações de defender

os direitos deste segmento populacional

está em sintonia com os desígnios de

um desenvolvimento humano

equilibrado e harmonioso, almejado

pelos são-tomenses. Daí o impacto

positivo de uma efetiva implementação

da Reforma do Sistema de Justiça.

No domínio da proteção e do respeito

das minorias, são igualmente muito

significativas as expectativas dos são-

tomenses quanto ao impacto positivo de

uma efetiva implementação da Reforma

do Sector da Justiça na esfera dos

direitos individuais e coletivos de

pessoas portadoras de deficiências.

Embora a Constituição e as leis

estabeleçam a plena igualdade entre os

cidadãos, valores culturais e carências

económicas conjugaram-se com o vazio

legislativo, ao longo de décadas, para

cercear direitos, nomeadamente o

direito ao ensino.

Os são-tomenses esperam que a

realização da reforma se venha a

traduzir numa maior consciencialização

das instâncias de decisão e da sociedade

em geral, contribuindo para a criação de

condições que eliminem a

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estigmatização e a discriminação social

destes cidadãos, lhes permitam o pleno

usufruto dos seus direitos e concorram

para uma cultura verdadeiramente

respeitadora da igualdade na diferença.

Na análise do quadro atual em São

Tomé e Príncipe e no âmbito do

levantamento que suporta esta

abordagem, não foram registadas

situações que traduzam desigualdade ou

diferenciação de direitos em prejuízo de

minorias raciais, étnicas ou religiosas.

Estando em apreciação o impacto ao

nível social, parece-nos igualmente

relevante ressaltar que as defesas

oficiosas normalmente praticadas no

sistema judicial são-tomense, com vista

a uma boa administração da justiça, já

atenuam significativamente as

desigualdades sociais existentes,

afigurando-se pacífica a perceção

generalizada de que tais desigualdades

não se baseiam em questões raciais ou

étnicas, decorrendo fundamentalmente

da centralização excessiva das questões

de cariz político, económico e cultural.

Sendo aquele onde o disfuncionamento

do sistema judicial se reflete com maior

evidência, o setor social suscita, por

maioria de razão, as maiores

expectativas, por parte dos são-

tomenses, quanto ao impacto positivo,

destacando-se as seguintes:

a) Que o sistema judiciário seja

mais justo, mais funcional e

mais credível aos olhos dos

seus operadores e da

sociedade em geral;

b) Que a justiça seja mais

barata e mais acessível ao

cidadão e que a condição

económica deixe de ser um

fator de restrição do acesso à

justiça;

c) Maior consciencialização

das autoridades públicas e

privadas no respeito pelos

direitos humanos;

d) Redução da conflitualidade

social decorrente da demora

das instâncias judiciárias na

resolução dos conflitos que

lhes são submetidos.

2.4. Nível Ambiental

A entrada em vigor de um conjunto de

diplomas sobre o meio ambiente e do

novo Código Penal veio preencher

lacunas flagrantes até então existentes

no ordenamento jurídico são-tomense

relativamente ao sector. O

preenchimento dessas lacunas

demonstrou a preocupação do Estado

são-tomense relativamente à questão

ambiental, tendo ficado reforçadas a

proteção e a preservação do meio

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80

ambiente, enquanto património e bem

de uso coletivo.

Aprofundando esta linha de abordagem,

assume especial relevância a estreita

ligação estabelecida entre o Meio

Ambiente e dois dos três componentes

do Índice de Desenvolvimento Humano,

a saber, a Saúde e o PIB per capita.

À semelhança de outras pequenas ilhas,

um dos mais graves problemas de

índole ambiental com que se confronta

São Tome e Príncipe prende-se com o

acondicionamento do lixo e resíduos

domésticos, sólidos e líquidos,

incluindo descargas de esgotos, situação

agravada pela escassez de condições

sanitárias ao nível habitacional. Embora

tenham sido desenvolvidos esforços nos

últimos anos, através, designadamente,

da colocação de contentores nos

principais centros urbanos, a recolha do

lixo doméstico continua a constituir um

problema, tanto nas áreas urbanas como

rurais. Desse estado de coisas resulta a

poluição do meio ambiente devido à não

recolha ou à recolha tardia do lixo ou

existência de lixeiras a céu aberto

próximas de zonas habitacionais, bem

como a contaminação das águas dos rios

e de outras fontes de abastecimento,

afetando a saúde e podendo provocar

doenças e até mortes.

Um dos dilemas que o país defronta tem

a ver com a urgente necessidade de

captação de investimentos estrangeiros,

por um lado, e, por outro, com a

exigência de cumprimento das normas

relativas ao impacto ambiental dos

projetos de investimento na

biodiversidade do país.

Apesar de ser hoje unanimemente

reconhecido que o desenvolvimento

sustentável tem que ter como condição

imprescindível a proteção da natureza e

do meio ambiente, São Tomé e Príncipe

ainda está longe de conseguir esta

harmonização, pese embora os esforços

encetados nesse sentido.

Não de somenos importância para

assinalar o significado da introdução

das primeiras medidas legislativas em

defesa do meio ambiente e pugnar pelo

aprofundamento e o cumprimento do

quadro legislativo é o impacto positivo

que poderão ter ao nível da economia.

Num país pequeno e insular como São

Tomé e Príncipe, a necessidade de

proteção e preservação do meio

ambiente como património coletivo,

fator de desenvolvimento sustentável e

responsabilidade das presentes gerações

para com as gerações futuras tem vindo

a entrar na esfera de preocupações de

um número de cidadãos e dirigentes,

com os já referidos reflexos na moldura

legal. Estas preocupações inscrevem a

indispensabilidade do desenvolvimento

de uma consciência da esgotabilidade

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81

dos recursos naturais e de uma cultura

respeitadora e protetora do meio

ambiente, como condição para um

desenvolvimento sustentável, baseado,

por um lado, na defesa dos recursos

ambientais existentes e, por outro, na

utilização e exploração equilibrada e

duradoura desses mesmos recursos.

À identificação consensual do turismo

como aposta estratégica de

desenvolvimento e fonte de receitas,

veio juntar-se, nos últimos tempos, a

defesa do turismo ecológico ou

necessidade da proteção do meio

ambiente na definição e execução de

políticas. No seio da sociedade cresce a

consciência de que o negligenciamento

ou a deterioração do meio ambiente

teriam um impacto muito negativo

nessa área e muito especialmente para a

ilha do Príncipe, declarada reserva

mundial da biosfera.

A exiguidade territorial de São Tomé e

Príncipe e o crescimento da população

justificam, igualmente, a adoção e a

implementação de medidas legais de

preservação dos recursos agrícolas,

tendo em conta, entre outros fatores, a

percentagem de são-tomenses deles

dependentes, bem como a necessidade

de se garantir a segurança alimentar da

população em geral. O esgotamento dos

recursos agrícolas devido a fatores

ambientais colocaria o país

completamente na dependência de

produtos importados, com as

decorrentes implicações económicas e

orçamentais.

Os recursos marinhos suscitam as

mesmas considerações, convindo

registar a emergência de esforços para

conscientizar os cidadãos acerca da sua

importância, das vantagens da pesca

responsável, dos riscos da poluição para

as espécies e da necessidade de proteção

de espécies ameaçadas, nomeadamente

das tartarugas, espécie já sob proteção.

A necessidade de proteção das faixas

costeiras tem vindo a ser, igualmente,

realçada de forma crescente.

No que respeita aos recursos florestais,

importa sublinhar que, representando, à

partida, um avanço as disposições legais

e regulamentadoras já adotadas (e a

adotar), dependerão, em termos de

impacto positivo, de uma efetiva

implementação. Da preservação dos

recursos florestais depende não apenas a

subsistência económica de um número

considerável de são-tomenses, mas o

próprio equilíbrio dos ecossistemas,

causando a sua redução ou destruição

uma diminuição dos índices de

pluviosidade, erosão dos solos e perda

de habitat para espécies muitas vezes

ameaçadas.

Neste sector, um dos maiores impactos

resultantes da reforma da justiça será a

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elevação do grau de consciencialização

das instituições públicas, privadas e da

população em geral para a necessidade

de proteção do meio ambiente, nas suas

mais diversas refrações, como uma

medida da consciência cidadã e um

fator crucial de desenvolvimento

sustentável. Sem consciência cívica não

será possível assegurar a proteção do

meio ambiente. Mas, sem um quadro

jurídico apropriado, será muito mais

difícil tomar as medidas necessárias.

Porém, apesar da entrada em vigor do

Código Penal e dos acima referidos

diplomas de cariz ambiental, constata-se

um enorme vazio legal no que toca à

tipificação de crimes ambientais,

revelando-se insuficientes as sanções

administrativas previstas pelo legislador

para a repressão das infrações

cometidas contra o meio ambiente. Por

isso, torna-se necessário elevar as

questões inerentes à proteção do meio

ambiente à categoria de bem jurídico

digno de tutela penal e,

consequentemente, proceder à

criminalização das condutas que violem

esse património e bem jurídico, através

da tipificação de crimes ambientais. De

qualquer modo, pelo seu pioneirismo,

esses diplomas podem ser considerados

como um marco jurídico a carecer de

aprofundamento.

Nesse sentido, os são-tomenses esperam

que, ao nível ambiental, a execução das

medidas previstas no Programa de

Reforma contribua para que:

a) na tomada de decisão quanto à

escolha dos projetos

estruturantes para o

desenvolvimento do país seja

tida em conta a necessidade de

proteção da natureza e do meio

ambiente;

b) a população no seu dia-à-dia se

torne cada vez mais amiga do

ambiente, evitando

comportamentos suscetíveis de

causar danos ambientais;

c) haja maior atuação das

organizações da sociedade civil

vocacionadas para a defesa do

ambiente enquanto bem

coletivo;

d) seja cada vez maior e mais

eficaz a punição de

comportamentos causadores de

danos ambientais.

2.5. Combate à Corrupção

Sendo consensual que a corrupção

constitui um dos maiores bloqueios ao

desenvolvimento de qualquer país, o

quadro prevalecente em São Tomé e

Príncipe suscita preocupações

generalizadas, expressas pelos mais

diversos quadrantes da sociedade. A

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escassez de índices oficiais não impede

a constatação de que o fenómeno tem

vindo a atingir proporções elevadas nos

diferentes escalões do aparelho do

Estado, havendo sinais que apontam

mais para a sua expansão do que para a

sua redução.

Atualmente, a classe política e dirigente

é identificada, sobretudo pelo cidadão

comum, como elemento e fator

principal da corrupção e principal

beneficiária do fenómeno, o qual tem

sido classificado como um flagelo

transversal a toda a sociedade são-

tomense, tendo-se generalizado ao

ponto de assumir, hoje, contornos

institucionais.

O exercício da atividade política tornou-

se desprestigiante e instalou-se uma

perceção que relaciona a instabilidade

política e governativa, marcante ao

longo do regime multipartidário, com a

defesa de interesses de indivíduos e de

grupos que encaram o exercício do

poder, na esfera do Estado, como

oportunidade para o enriquecimento

ilícito. Consequentemente, muitos são-

tomenses entendem não haver, da parte

da maioria dos dirigentes políticos,

qualquer empenho em pôr fim ao mau

funcionamento e desregramento da

administração pública. Uma das

principais aspirações expressas pelos

são-tomenses auscultados no âmbito da

elaboração da Agenda para o

Desenvolvimento pós 2015 é que o país

tenha dirigentes honestos e

responsáveis, o que reclama a adoção de

medidas suscetíveis de travar e inverter

o estado de coisas.

Assim, a aprovação e entrada em vigor

de uma lei sobre a responsabilidade

penal dos titulares dos cargos políticos

serviria não só para pôr termo ao vazio

legal existente no ordenamento jurídico

são-tomense no que toca à tipificação de

condutas ilícitas, como também para

estancar as constantes violações ao

princípio da igualdade, ínsito na

Constituição da República. Neste

sentido, um dos impactos positivos da

Reforma do Sector da Justiça seria o

fim da impunidade generalizada

reinante no seio da sociedade e a

responsabilização dos agentes

administrativos, os quais seriam

induzidos e coagidos, na sua atuação, a

dar primazia à prossecução do interesse

público. De igual modo, a

responsabilização financeira, civil e

criminal dos dirigentes políticos e

agentes administrativos constituiria um

fator dissuasor da prática de corrupção e

da má gestão, potenciando uma cultura

de respeito e salvaguarda da res

pública. A referida lei teria como

consequência ou efeito expectável os

titulares dos cargos políticos e

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administrativos tormarem-se mais

prudentes, mais probos e mais sérios na

gestão da coisa pública. Mudanças

positivas resultariam, igualmente, da

implantação de uma cultura de

prestação de contas da classe política

aos seus representados, não como um

exercício meramente formal e

inconsequente, mas como um dever do

qual resultaria um crescente nível de

responsabilização.

A entrada em vigor e efetiva

implementação da lei sobre a

responsabilidade penal dos titulares dos

cargos políticos, bem como a eficaz

responsabilização financeira, civil e

criminal dos dirigentes e agentes

administrativos são dois instrumentos

que poderiam contribuir, em grande

medida, para o saneamento do aparelho

do Estado, expurgando do seu seio

práticas iníquas, daí decorrendo a

moralização e a credibilização da classe

política e dirigente, no âmbito da

implementação das recomendações da

reforma.

O reconhecimento unânime, por todos

os decisores políticos e instituições

judiciárias, da necessidade de um

combate sem tréguas a este fenómeno

nacional, aliado a uma crescente

consciencialização dos cidadãos da

necessidade urgente de se moralizar a

classe política e dirigente, desembocaria

na aprovação de instrumentos legais

destinados a prevenir, fiscalizar, punir e

combater a corrupção, o que implicaria

a criação de instituições vocacionadas,

especificamente, para cuidar desta

matéria.

Um dos maiores impactos da

implementação da reforma do setor

judiciário esperado pelos são-tomenses

é, sem dúvidas, o combate sem tréguas

à corrupção, permitindo a canalização

dos recursos disponíveis para a agenda

do desenvolvimento e para a satisfação

do bem-estar coletivo.

Neste setor, os são-tomenses esperam,

unanimemente, que a implementação

das medidas com impacto positivo

tenha como resultados:

a) a redução dos índices de

corrupção, nepotismo e

clientelismo reinantes no país.

b) uma cultura política e

administrativa respeitadora e

protetora da coisa pública.

2.6. Sociedade Civil,

Transparência e Boa

Governação

O conceito de sociedade civil abarca o

conjunto de instituições e organizações

sociais não-governamentais que,

paralelamente ao Estado, contribuem

para a organização da sociedade. O seu

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papel e importância num Estado de

direito democrático têm vindo a ser

encarados como essenciais, pela sua

capacidade, se devidamente organizada,

de elevar os níveis de participação

pública e influenciar a definição e a

execução da agenda de políticas

públicas, ajudando os decisores

políticos a fazer escolhas responsáveis,

orientadas para a prossecução do

interesse público e, nessa medida,

contribuindo para melhores práticas

governativas. Conjugando a capacidade

de pressão ao exercício da advocacia, a

sociedade civil tem a vocação de elevar

os níveis de prestação de contas do

Governo e de outras instâncias de

decisão, exigir melhor qualidade dos

serviços públicos e a observância e o

respeito dos direitos políticos, civis,

sociais, culturais e de credo. Assim,

uma sociedade civil ativa e devidamente

organizada tem a capacidade de se

constituir em fator de consolidação do

regime democrático, tornando-se o seu

nível de organização e de intervenção

uma medida da qualidade do regime.

Em São Tomé e Príncipe, organizações

não-governamentais sem fins lucrativos,

associações comunitárias, associações

ou ordens profissionais, organizações

femininas, de defesa e proteção de

menores e religiosas, têm pela frente o

desafio de se fortalecer para

desempenhar o papel, depois do

surgimento de uma federação de

ONG’s, o que foi entendido como um

avanço significativo, pela possibilidade

que abriu de conjugação e

complementaridade de sinergias.

Num estudo editado em Abril de 2014 e

intitulado ‘’Sociedade Civil,

Comunicação e Advocacia’’, a

Federação das Organizações não-

governamentais de São Tomé e

Príncipe, FONG-STP, recomenda como

condições para esse fortalecimento:

* Pensar os Media num sentido plural e

abrangente, investindo em novos

formatos;

* Adaptar os suportes e as mensagens à

diversidade de públicos-alvo;

* Afirmar-se como ‘’emissoras’’, isto é,

saber fazer-se ouvir para poder

influenciar as agendas públicas e

política;

* Ganhar competências de monitoria e

técnicas (p.ex. finanças públicas, gestão

dos recursos humanos.)

No conjunto das recomendações sobre a

Reforma do Sistema de Justiça,

identifica-se o potencial impacto

positivo direto sobre a sociedade civil

da recomendação sobre ‘’o combate à

corrupção e à impunidade da classe

política e dirigente, sobre a necessidade

de moralização da classe e ainda sobre a

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necessidade de uma Lei de

Responsabilidade Penal dos titulares

dos cargos políticos’’. A competente

implementação dessa recomendação

daria fundamento legal a ações da

sociedade civil, orientadas para uma

maior fiscalização da utilização dos

recursos públicos, para uma maior

transparência na gestão destes recursos

e para a responsabilização dos gestores,

ao mesmo tempo que a protegeria de

eventuais represálias. Por outro lado,

essa recomendação justificaria e

fundamentaria iniciativas, por parte da

sociedade civil, visando a criação de

mecanismos legais que assegurassem a

obtenção de informações sobre a gestão

das finanças públicas em geral e, em

particular, da percentagem distribuída

às organizações a elas afetas.

Outrossim, entende-se que a efetiva

implementação da reforma, no seu

conjunto, criaria um quadro legal mais

favorável à intervenção da sociedade

civil, com impacto positivo na sua

dinamização, funcionalidade e

consolidação. Uma justiça mais eficaz,

mais célere e menos onerosa, facilitaria,

por exemplo, a criação de fundações e

associações sem fins lucrativos, a

regulamentação ou eventual atualização

do quadro jurídico que as rege e a

adoção de instrumentos para

monitorizar a utilização dos recursos

destinados a ações a favor da luta contra

a pobreza e do desenvolvimento.

Outro impacto positivo decorrente de

um sistema judiciário justo, isento e

imparcial que tutelasse efetivamente os

legítimos interesses dos cidadãos, seria

a garantia do cumprimento das leis

relativas a um conjunto de direitos,

nomeadamente o direito à manifestação,

à reunião, à livre associação e à

liberdade de expressão, caso esses

direitos fossem postos em causa. Em

resumo, a implementação da Reforma

da Justiça teria um impacto positivo

sobre a sociedade civil porque

constituiria um fator de empoderamento

dos cidadãos organizados e dos seus

níveis de participação pública,

fortalecendo a qualidade da cidadania e

da democracia.

Espera-se que a implementação das

medidas inseridas no Programa de

Reforma do setor Judiciário permita:

a) que haja uma sociedade civil

cada vez mais ativa, responsável

e consciente do seu papel;

b) o reforço da capacidade da

sociedade civil de influenciar e

monitorizar a agenda das

políticas públicas.

Nos últimos tempos, tornou-se

consensual a noção de que a boa

governação implica processos e

mecanismos políticos e institucionais

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conducentes a resultados que, no seu

conjunto, visam atingir as metas do

desenvolvimento, sendo-lhe inerentes

princípios como a legitimidade, a

participação, a transparência, a

responsabilidade, a prestação de contas

e a eficiência na resposta às

necessidades dos cidadãos.

A materialização destes princípios

implica, entre outros, que os cidadãos

tenham voz nos processos de tomada de

decisão e que interesses divergentes

sejam mediados, visando um interesse

de base alargada. Implica, igualmente,

uma capacidade de liderança orientada

para o desenvolvimento humano, a

existência de instituições e de

mecanismos aptos para gerir com

eficiência os recursos disponíveis em

benefício do coletivo, a

responsabilização de decisores políticos,

privados e da sociedade civil perante o

público, um grau de transparência que

permita a circulação de informação e a

sua monitorização, bem como o

princípio da igualdade de

oportunidades, o primado da lei e o

respeito pelos direitos humanos.

Acareado com estes princípios e

pressupostos, São Tomé e Príncipe é

ainda um Estado frágil, a necessitar,

urgentemente, de melhorar a sua

performance no campo da boa

governação e da transparência.

As principais aspirações dos são-

tomenses expressas na Agenda para o

Desenvolvimento pós 2015 indicam,

claramente, um juízo muito negativo

das instituições e dos resultados que por

elas têm vindo a ser obtidos.

Sendo irrefutável que a boa governação

depende da existência de instituições e

práticas que capacitem o Estado a

prosseguir, com êxito, os objetivos da

eliminação da pobreza e do

desenvolvimento sustentável, emerge,

em primeiro lugar, o impacto positivo

que a efetiva implementação global das

recomendações para a Reforma do

Sistema de Judiciário teria na esfera da

boa governação, considerando que um

sistema justo, isento e imparcial

habilitaria o Estado a desempenhar com

maior eficácia, uma das suas obrigações

fundamentais.

Analisando, separadamente, o impacto

de cada uma das recomendações,

destaca-se a adoção de mecanismos

eficazes de fiscalização e controlo do

processo eleitoral, visando a punição

dos crimes eleitorais, nomeadamente a

compra do voto, através do método

vulgarmente conhecido por ‘’banho’’.

Existe uma relação entre essa

recomendação e um dos princípios

fundamentais da boa governação que é

o da legitimidade. Uma efetiva

implementação permitiria elevar os

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níveis de transparência dos processos

eleitorais e, consequentemente,

fortaleceria a legitimidade e a perceção

de legitimidade dos órgãos eleitos por

sufrágio universal.

Parece importante ressaltar também

que, dada a relação entre boa

governação e o respeito pelos direitos

humanos e constituindo os Tribunais

um garante do cumprimento dos

direitos, liberdades e garantias dos

cidadãos, as recomendações para a

Reforma do Sistema de Justiça

concorreriam para a prática da boa

governação, na medida em que levariam

a um respeito mais escrupuloso desses

direitos.

Por outro lado, ao pugnar por medidas

tendentes a reduzir as desigualdades

sociais e a garantir o acesso de todos à

justiça, assegurando a tutela efetiva dos

legítimos interesses dos cidadãos e dos

agentes económicos, a implementação

das recomendações para a Reforma do

Sistema de Justiça terá um impacto

positivo, desde logo, porque viabilizará

o cumprimento do princípio da

igualdade de oportunidade para todos,

inseparável da prática da boa

governação.

Um maior acesso traduzir-se-ia no

empoderamento dos cidadãos ou grupos

de cidadãos organizados, facilitando-

lhes o recurso à justiça, sempre que

necessário, para fazer ouvir a sua voz

em relação, por exemplo, a métodos ou

processos questionáveis de tomada de

decisão. Ao pugnar por uma justiça

mais célere e mais eficaz, ao serviço dos

legítimos interesses dos cidadãos, as

recomendações para a Reforma do

Sistema de Justiça vão de encontro à

participação, um dos princípios da boa

governação. Perante uma decisão

injusta ou iníqua do Estado ou de outro

decisor, um cidadão, uma organização

da sociedade civil ou um agente

económico sentir-se-á mais motivado a

recorrer à Justiça, se esta for credível,

defendendo assim os seus direitos e

revertendo, por via judicial, uma

medida injusta, contribuindo deste

modo para a prática da boa governação.

Finalmente, há que se referir às

repercussões da implementação da

recomendação sobre o combate à

corrupção e à impunidade da classe

política e dirigente e sua moralização,

bem como sobre a necessidade de

aprovação de uma Lei sobre a

Responsabilidade Penal dos titulares

dos cargos políticos. Implicando a boa

governação a existência de instituições

capazes de gerir, com eficiência e

transparência, os recursos disponíveis

em proveito do coletivo e ao serviço dos

objetivos do desenvolvimento, bem

como a responsabilização dos decisores

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políticos, privados e da sociedade civil,

o impacto da efetiva implementação

dessa recomendação sobre o

funcionamento das instituições,

nomeadamente sobre os critérios que

norteiam os processos e métodos de

tomada de decisão na gestão dos

recursos e património coletivos poderá

ser muito positivo.

Nesse âmbito, a efetiva implementação

da reforma e a implantação de um

sistema de justiça rigoroso poderia

conduzir a uma maior capacitação do

Estado na esfera administrativa, através

da mudança de comportamentos e

mentalidade dos seus agentes e a uma

consequente melhoria dos processos e

métodos de liderança, concorrendo para

o estabelecimento de uma cultura de

boa governação.

Neste sentido os santomenses aspiram:

c) um Estado forte e uma

democracia mais sólida;

d) um país com dirigentes

honestos, responsáveis e que

sejam verdadeiros líderes;

e) o desenvolvimento de uma

cultura que premeie o trabalho, o

mérito, e a competitividade;

f) o desenvolvimento de uma

cultura de rigor e

responsabilização dos dirigentes

e do cidadão;

g) a emergência de uma cultura de

liderança, quer a nível

comunitário, local, regional e

nacional;

3. - CONCLUSÃO:

Após a realização do Encontro Nacional

de Justiça, foi elaborado o Programa de

Reforma do Setor de Justiça, o qual

compilou as conclusões e

recomendações extraídas daquele

encontro. Hoje, a sua cabal execução

depende, fundamentalmente, da

capacidade de apropriação do mesmo

por parte dos dirigentes e governantes

são-tomenses. Por sua vez, o grau de

apropriação e de execução estará

indissociavelmente ligado à qualidade

das lideranças, pressupondo essa

qualidade a capacidade de inclusão e de

diálogo, a capacidade de fortalecimento

do Estado e de empoderamento dos

cidadãos, a capacidade de mobilização

do homem e da mulher são-tomenses

para a concretização dos grandes

desígnios nacionais.

A má qualidade de liderança ou a sua

ausência é uma fonte potenciadora de

instabilidade política e um obstáculo ao

desenvolvimento humano.

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Capítulo IV

A liderança da comunicação social para o desenvolvimento humano. O

impacto de dar voz a uma sociedade civil livre.

O paradigma da Comunicação Social

em São Tomé e Príncipe deve ser

revisto. Os órgãos estatais e privados

necessitam assumir-se de forma

decidida como veículos de circulação de

ideias que promovam o

desenvolvimento humano, reforcem a

unidade e destaquem exemplos

positivos.

Por outro lado, será conveniente

reduzir-se o monopólio que os actores

políticos e os conteúdos dependentes do

mesmo ocupam nos Media

santomenses, reequilibrando com as

acções e opiniões de intervenientes

sociais, sejam eles coletivos ou

individuais.

“Os são-tomenses desejam uma

participação mais consciente e

responsável de todos, nos diferentes

níveis e escalões da sociedade, de modo

a se capitalizar os frutos de um maior

protagonismo colectivo no processo de

desenvolvimento do país”, lê-se em

“São Tomé e Príncipe 2030 O País que

Queremos” (p. 15).

Na era das Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação, na Idade da

Revolução Digital, os órgãos de

Comunicação Social devem deixar de

sonhar em serem o chamado “quarto

poder”. Há muita informação e opiniões

a circular na Internet. A estratégia,

particularmente em São Tomé e

Príncipe, deveria estar dirigida no

sentido de influenciar e contribuir para

o desenvolvimento e crescimento do

país nas suas diferentes vertentes.

Este capítulo, além de caracterizar os

Media locais, propõe igualmente pistas

para que a comunicação social são-

tomense desempenhe um papel de

charneira no processo de

desenvolvimento humano e sustentável.

1. Caracterização da

Comunicação Social em STP

O suporte legal para a Comunicação

Social são-tomense ainda está

incompleto.

Na lei fundamental, o artigo 29.º

(Liberdade de expressão e informação)

reza que “todos têm o direito de

exprimir e divulgar livremente o seu

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pensamento pela palavra, pela imagem

ou por qualquer outro meio”.

Acrescenta que “as infracções

cometidas no exercício deste direito

ficam submetidas aos princípios gerais

de direito criminal, sendo a sua

apreciação da competência dos

tribunais”.

Significa que deve-se respeitar o direito

dos outros. Se houver extrapolação, são

os tribunais a aplicar as sanções. Por

outras palavras, há limites na liberdade

de expressão através da imprensa,

impostos por lei. Actuam como medidas

de prevenção contra eventuais abusos

dessa liberdade e para salvaguardar a

integridade moral dos cidadãos, garantir

a isenção, a objectividade e a veracidade

da informação, defender o interesse e a

moral públicos, bem como a ordem

democrática.

O artigo 30.º (Liberdade de imprensa)

diz, por sua vez, que “na República

Democrática de São Tomé e Príncipe é

garantida a liberdade de imprensa, nos

termos da lei”. E ainda que “o Estado

garante um serviço público de imprensa

independente dos interesses de grupos

económicos e políticos”.

Pode-se deduzir que a livre expressão

do pensamento através da imprensa não

está cerceada por qualquer forma de

censura ou autorização prévia. O que

acontece na prática, vai-se ver mais

adiante.

Está disponível a Lei de Imprensa (n.º

2/93) que destaca na sua introdução que

“o processo democrático em São Tomé

e Príncipe deve ter como um dos seus

princípios fundamentais a liberdade de

expressão do pensamento através dos

meios de comunicação social”.

O diploma reitera que a “liberdade de

expressão do pensamento através dos

órgãos de comunicação social que se

integra no direito fundamental dos

cidadãos a uma informação livre e

isenta, constitui um dos princípios

fundamentais da prática democrática,

paz social e progresso em São Tomé e

Príncipe”.

Porém, esta lei precisa ser actualizada

para ter em conta a evolução

tecnológica que permitiu o surgimento

da imprensa digital ou “online”.

Em Junho de 2001 foram aprovadas a

Lei da Televisão e a Lei da Rádio.

Evocaram-se articulados da

Constituição Política e da Lei de

Imprensa que “estabelecem o quadro

constitucional e jurídico basilar da

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92

liberdade de expressão do

pensamento”.

Elas surgem também pela necessidade

de “definir o quadro jurídico-legal

regulador da liberdade de imprensa, no

tocante à criação de estações privadas

de radiodifusão, por forma a garantir-

se, em termos efectivos, um maior

pluralismo e democraticidade na

comunicação social”.

O mesmo argumento é utilizado em

relação à televisão, mas sem especificar

se é estatal ou privada. Talvez porque

na ocasião não se previa os avanços

tecnológicos que se assiste actualmente

e pensava-se que os custos inerentes à

criação de um canal de televisão

privado, face à exiguidade do mercado,

seriam extremamente onerosos e,

portanto, desencorajadores para grupos

económicos.

O Conselho Superior de Imprensa como

“alta autoridade para a promoção da

liberdade de imprensa, do pluralismo e

da independência da comunicação

social”, segundo a Lei de Imprensa, está

em funções. É um “órgão independente”

e funciona junto da Assembleia

Nacional.

Se a legislação actualmente em vigor

garante os princípios de liberdade de

expressão, de informação e de

imprensa, é preciso que outros diplomas

ainda em projectos há vários anos sejam

aprovados. Entre eles, o Estatuto do

Jornalista, o Código Deontológico e o

Regulamento da Carteira Profissional.

O Sindicato de Jornalistas e Técnicos da

Comunicação Social Santomense (SJS)

tem vontade de liderar a conclusão

desse processo. Porém, vários

obstáculos e imprevistos têm retardado

a aprovação desses documentos

essenciais, que podem contribuir para

unir a classe.

2. Órgãos de Comunicação

Social em STP

A rede de comunicação social em São

Tomé e Príncipe é caracterizada por

órgãos estatais, privados, bem como

emissões de canais de rádio e televisão

em sinal aberto e online, nomeadamente

estrangeiros.

2.1. Órgãos estatais

A Rádio Nacional de São Tomé e

Príncipe é a mais antiga e com maior

raio de cobertura. A TVS, Televisão

Santomense, em pouco mais de duas

décadas, tornou-se mais importante,

pela força das imagens.

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93

A agência noticiosa STP-Press não

cumpre o papel clássico atribuído a esse

meio de comunicação, ou seja, de

fornecedor de matéria-prima para os

demais órgãos. Adaptando-se aos

tempos modernos e à realidade

nacional, a agência produz o seu diário

online, que também aproveita conteúdos

de outros órgãos, nomeadamente

estatais.

«Tendo em conta a característica

específica da agência nós focalizamos

factos que têm interesse também fora do

país. Nem tudo o que é notícia a nível

interno é aproveitado para publicar na

agência. A nossa agência de

informação tem ainda como vertente a

promoção do próprio Estado», explica

um profissional da STP-Press.

«Com a Internet, hoje já é difícil

separar o que é informação para

consumo interno e o externo. Se não nos

adaptarmos, corremos o risco de

sermos ultrapassados por outros jornais

digitais ou o que circula nas redes

sociais», analisou.

«Hoje, a agência é equiparada a outros

órgãos como a rádio e a televisão para

a difusão de conteúdos», acrescenta.

Carências diversas marcam o quotidiano

desses órgãos. Os diferentes governos

com as suas dificuldades económicas

não têm feito os investimentos

necessários de forma programada para a

melhoria de condições técnico-materiais

relativamente adequadas à realidade de

um país em vias de desenvolvimento.

As diferentes estratégias delineadas

dificilmente foram implementadas.

As linhas orçamentais previstas

raramente são executadas. Ora por falta

de mobilização de recursos financeiros,

ora por desvio de verba para outros

sectores ou situações consideradas mais

prioritárias. O Orçamento Geral do

Estado depende em cerca de noventa

por cento da ajuda externa.

Para os fazedores da informação, este

cenário de penúria ao longo de todos

esses anos traduz, de forma geral, falta

de vontade política dos executivos com

o objectivo de mantê-los bastante

dependentes, vulneráveis e sujeitos à

manipulação.

A taxa audiovisual praticada em muitos

países há longos anos e que era uma

realidade no período colonial, abolida

com a independência, só recentemente

foi finalmente aprovada pelo XV

Governo Constitucional. A sua

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94

implementação vai ser um bom balão de

oxigénio para os Média.

«No dia em que se melhorar as

condições profissionais da

comunicação social, esses problemas

serão ultrapassados», manifestou um

líder da sociedade civil.

Por outro lado, para que “a

comunicação social, pelo menos a

pública, possa contribuir ela própria

precisa de se organizar. O sector não

está devidamente organizado para

responder às exigências que se

colocam. Precisa ser reestruturado,

reorganizado com pessoas capazes de

atender as demandas da sociedade»,

admite o responsável de um órgão

estatal.

Recursos humanos

Os recursos humanos, com formação

sólida no sector da comunicação social,

seja média ou superior, escasseiam.

Desse grupo, pouquíssimos tiveram a

oportunidade de aprofundar a sua

experiência em órgãos de comunicação

internacionais, o que sempre é uma

mais-valia, particularmente no plano

organizativo.

Por outro lado, banalizou-se muito os

critérios de recrutamento do pessoal. As

relações familiares, a amizade e a

simpatia política têm predominado, em

vez do conhecimento e competência

técnica. Tudo isso, combinado com a

excessiva politização dos organismos da

administração pública e o

sobredimensionamento dos órgãos,

influencia a qualidade dos produtos

oferecidos pela comunicação social

estatal.

Outro aspecto a considerar e com

influência no trabalho dos órgãos da

comunicação social é a ausência de um

Plano Estratégico Nacional para o

sector. Foi elaborado um para o período

2008/2012 com o apoio da UNESCO,

mas não passou de projecto.

Um plano desse tipo ajudaria, entre

outros aspectos, a incorporar

documentos importantes como o

Programa do Governo, a Estratégia

Nacional de Redução da Pobreza, os

Objectivos de Desenvolvimento do

Milénio, e o seu Plano de Acção

assumiria de forma consciente

conteúdos com vista a monitorar os

objectivos preconizados. Também

permitiria actualizações com as

propostas mais recentes, como a

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95

Agenda de Desenvolvimento Pós 2015

ou a Visão 2030.

2.2. Órgãos privados da

Comunicação Social

Para a imprensa escrita e as rádios

privadas a situação não é melhor.

A imprensa escrita privada é marcada

por irregularidade. Títulos surgem e

desaparecem. Uns mais rapidamente

que outros. Apenas um tem conseguido

manter-se no mercado há cerca de duas

décadas.

No período eleitoral alguns desses

jornais, que saem em formato A4,

ressuscitam e voltam a ser enterrados

após a conclusão do processo com os

resultados conhecidos e a composição

do novo executivo.

Os factores fundamentais responsáveis

por este cenário são: ausência de um

parque gráfico que facilite a impressão a

preços aceitáveis, exíguo mercado

publicitário, pouco hábito de leitura e

falta de apoio do Estado.

Constata-se que, regra geral, não há

redacções formalmente constituídas. O

director acumula as funções de editor e

jornalista. Pode ter alguns

colaboradores, na sua maior parte

voluntários.

A alternativa aos semanários ou

quinzenários impressos são os diários

digitais. Enfermam de problemas

idênticos, mas os seus responsáveis que

têm vínculos com outras empresas ou

instituições jornalísticas procuram ser

mais regulares na actualização do seu

jornal online.

As rádios privadas são temáticas, de

vocação religiosa, com algum serviço

noticioso. Uma generalista que também

tentou ressuscitar como tal, não resistiu

por falta de recursos financeiros.

Quanto à televisão, as experiências

privadas no ramo socorrem-se

igualmente da Internet.

O país está a dar os primeiros passos

para a inclusão digital com a instalação

da fibra ótica, cuja rede está em

processo de alargamento. De momento,

o acesso à internet é relativamente mais

fácil na cidade capital. Com excepção

da cidade de Santo António, na Região

Autónoma do Príncipe, a internet ainda

não é de sinal aberto em praças e

parques para que os jovens possam

aceder livremente.

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96

Os jovens, que procuram passar um

bom tempo na internet, lamentam o

facto de haver poucos conteúdos, por

exemplo, relacionados com temas

culturais são-tomenses nos sites, blogs

ou redes sociais. Essa dificuldade pode

também ter como origem a falta de

divulgação. Entretanto, ainda não

desenvolveram iniciativas para colmatar

essa lacuna que identificaram. É a

mentalidade de se esperar que alguém

faça.

Os órgãos audiovisuais estatais ainda

têm limitações na utilização plena dessa

plataforma para colocar os seus

conteúdos, nomeadamente para que a

diáspora possa acompanhar

regularmente os acontecimentos no

país.

Porém, o grande público, no quadro da

cooperação, tem acesso aos canais de

televisão com emissões dirigidas para

África em sinal aberto. Como exemplos,

estão a RTP África e Internacional e a

TV5 Monde/Afrique.

O mesmo se passa com a rádio: RDP

África, Rádio France Internacional

(RFI) e Voz de América (VOA). As

duas últimas, além de português,

emitem nas respectivas línguas, ou seja,

francês e inglês.

A Voz da Alemanha, DW, optou por ter

acordo com a católica Rádio Jubilar,

para o seu serviço em português para

África. O argumento foi não ter

condições de responder às exigências

colocadas pela então Direção da Rádio

Nacional.

Nos últimos anos, as contrapartidas para

os órgãos oficiais são-tomenses

derivadas destes entendimentos foram

mínimas.

Por outro lado, os que podem pagar

serviços fornecidos através de satélites

instalam parabólicas e têm acesso a

outros canais de rádio e televisão

internacionais.

3. Acesso à informação e o exercício

da liberdade de imprensa em STP

Portanto, São Tomé e Príncipe não é um

Estado fechado neste capítulo de

informação. É um dos resultados da

democratização.

Porém, o exercício da liberdade de

imprensa prevista na lei fundamental

tem uma relação directa com o acesso

às fontes de informação por parte dos

jornalistas.

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97

Nos termos da lei, o jornalista tem o

livre acesso a todos os actos públicos e

às fontes de informação. Para isso, as

entidades estatais ou privadas prestarão

a ajuda necessária e facilitarão o seu

acesso às fontes de informação para o

pleno cumprimento da sua missão, salvo

em casos especiais.

Estes abrangem os processos em

segredo de justiça, os documentos

classificados ou protegidos ao abrigo de

legislação específica, os dados pessoais

que não sejam públicos dos documentos

nominativos relativos a terceiros, os

documentos que revelem segredo

comercial, industrial ou relativo à

propriedade literária, artística ou

científica, bem como os documentos

que sirvam de suporte a actos

preparatórios de decisões legislativas ou

de instrumentos de natureza contratual.

Nesse domínio, admite-se que há

barreiras. As causas são diversas.

É sabido que o exercício do poder

depende do controlo da informação.

Mas também não é menos verdade que

a partilha da informação estabelece uma

relação de confiança, reduz o nível de

eventuais tensões sociais e pode ajudar

a mobilizar consciências para a solução

de problemas.

A nível de várias entidades públicas e

privadas a tendência é mais para o

controlo. Não têm em conta que a

dinâmica da comunicação social é mais

intensa do que a administrativa.

Particularmente nos sectores públicos, a

directiva é que o subordinado não fala

sem a autorização do director e este, por

sua vez, não diz nada sem ter o aval do

(a) ministro (a).

Contudo, esse procedimento pode ser

contornado, dependendo do nível de

confiança que o jornalista inspira.

Algumas fontes, por exemplo, recusam

dar informações com receio de que as

mesmas sejam deturpadas.

Porém, a maior parte de profissionais da

comunicação social, bem como

responsáveis de organizações da

sociedade civil coincidem em que existe

liberdade de expressão.

«Existe liberdade de expressão e de

pensamento e muitas vezes de forma

exagerada. Neste caso deveria se

chamar a atenção das pessoas para

esse liberalismo excessivo, mas não se

faz. A liberdade de expressão existe em

São Tomé e Príncipe contrariamente a

muitos países africanos que conheço»,

garante um activista da sociedade civil.

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98

«Um jornalista tem que ser ousado.

Não deve sentir-se intimidado. Há

liberdade de imprensa, de expressão,

mas na prática tal não acontece. De

facto, a liberdade de opinião é exercida

por algumas pessoas aventureiras»,

defende o responsável de um órgão

privado.

«Não tenho sentido pressão nenhuma.

Há questões que são de

responsabilidade. O que posso realçar é

que o respeito, nomeadamente em

relação a determinados órgãos e

entidades deve prevalecer na

elaboração da matéria. Tendo em conta

a maneira como a nossa sociedade está

bastante diminuída no que concerne à

educação ou comportamento cívico…

algumas pessoas pensam que fazendo

uma correcção para que o texto se

enquadre nos parâmetros adequados, a

liberdade de imprensa está a ser posta

em causa. Esta confusão pode ser

propositada», afirma um dirigente de

um órgão estatal.

«Cada jornalista tem a sua forma de

escrever, procura o seu ângulo de

abordagem. Cada jornalista em si

acaba por se limitar. No seu processo

de formação habitua-se a estar preso a

este ou aquele aspecto e daquela

imagem de não haver liberdade de

imprensa. Mas ela existe. Qualquer

jornalista tem liberdade, desde que

escreva dentro das regras. Muitas

vezes, ele por si só acaba por se auto

censurar», admite um profissional

independente.

4. A Comunicação Social, a

Sociedade Civil e o

Desenvolvimento Humano

Todos reconhecem a importância e a

influência que os meios de

Comunicação Social podem ter na vida

dos cidadãos. Como alguém já definiu é

uma “arma de dois gumes”. Da forma

como é utilizada contribui para moldar

comportamentos e atitudes, para o bem

e para o mal. Naturalmente que veicular

informação e outros conteúdos que

primem pelo rigor, profundidade,

diversidade e com carácter educativo

ajuda na formação de opiniões livres e

independentes. É um suporte

incontornável na formação de cidadãos

conscientes, construtivos e pró-activos.

O contrário pode concorrer para

adulterar o desenvolvimento da

personalidade de indivíduos.

«O ideal seria que os meios de

comunicação e as pessoas procurassem

encontrar maneiras de usar o poder da

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comunicação de uma forma mais

produtiva e menos egoísta (que visa

apenas seus próprios benefícios/lucros).

Ações reflexivas e bem articuladas com

a acção social ajudariam a diminuir o

índice de violência física e emocional

que a população vem sofrendo e

desinstalaria o caos social. Com acções

articuladas, a sociedade teria maior

chance de se tornar saudável e alcançar

um melhor equilíbrio emocional,

minado pelas pressões e dificuldades,

que agridem os valores morais e

éticos», lê-se num texto na Internet

sobre “A influência da comunicação de

massa no desenvolvimento da

personalidade e no comportamento dos

indivíduos” de Maria Ester Cambréa

Alonso (Domínios de Linguagem IV –

2004).

O desenvolvimento humano, de acordo

com o Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD), “é

aquele que situa as pessoas no centro

do desenvolvimento, trata da promoção

do potencial das pessoas, do aumento

de suas possibilidades e o desfrute da

liberdade de viver a vida que eles

valorizam”.

«O desenvolvimento humano é o

processo pelo qual uma sociedade

melhora a vida dos seus cidadãos

através de um aumento de bens com os

que pode satisfazer suas necessidades

básicas e complementares, e a criação

de um entorno que respeite os direitos

humanos de todos eles. Também é

considerado como a quantidade de

opções que tem um ser humano em seu

próprio médio, de ser ou fazer o que ele

deseja ser ou fazer. O desenvolvimento

humano também pode ser definido

como uma forma de medir a qualidade

média da vida humana que se

desenvolve, e uma variável chave para

a classificação de um país ou região».

Em sentido genérico, “o

desenvolvimento humano é a aquisição

de parte dos indivíduos, comunidades e

instituições, da capacidade de participar

efectivamente na construção de uma

civilização mundial que é próspera tanto

no sentido material como espiritual”.

Como se sabe, o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) é uma

medida de desenvolvimento humano do

país. Este índice é elaborado pelo

Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD). O IDH é um

indicador social estatístico composto

por três parâmetros: Vida longa e

saudável, Educação e Nível de vida.

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Como já foi dito no início deste

capítulo, a acção dos Media em São

Tomé e Príncipe deveria estar dirigida

no sentido de influenciar e contribuir

para o desenvolvimento e crescimento

sustentado do país nas suas diferentes

vertentes.

Um dos grandes entraves ao

desenvolvimento do país e reconhecido

por todos é a instabilidade política. As

causas apontadas são diversas, entre

elas, a defesa de interesses pessoais e de

grupos.

Alguns estudiosos, por outro lado,

defendem que a tendência para a

conflituosidade entre os são-tomenses

remonta a séculos e porque o sentido de

Nação são-tomense ainda não está

consolidado.

Albertino Bragança na sua palestra

sobre a “Identidade Cultural e

Santomensidade”, no âmbito da

celebração do trigésimo sexto

aniversário da independência, afirma

(p.1):

«Delinearam-se projectos,

arquitectaram-se planos, proliferaram

os estudos de diagnóstico e os

programas de governo, empenhou-se a

classe política na procura das soluções

mais susceptíveis de evitar o fosso em

que o país se ia progressivamente

afundando, sem que de tal esforço se

tenha chegado a resultados palpáveis».

E depois questiona: “será que tal

insucesso se deve apenas à escassez de

recursos (humanos, materiais,

financeiros e outros) com que o país

tradicionalmente se debate ou existe

algo mais a perturbar a via do

desenvolvimento sustentado do nosso

país, que é, no final de contas o que

todos almejamos?”

«Não será que, face aos

condicionalismos atrás citados, se torna

premente abordar as questões de fundo

que se colocam à nossa identidade

enquanto comunidade específica

inserida no mundo, de modo a

viabilizar, da melhor forma, o nosso

percurso colectivo pelos caminhos do

futuro?»

«Não será tempo de nos preocuparmos

com um problema que parece afectar

sobremaneira o nosso desenvolvimento

e avançarmos, decididos, na reflexão

profunda sobre o papel da cultura na

construção do Estado e a relação entre

a cultura e o desenvolvimento?» (p.8)

«Como caracterizar a situação de um

Estado como o santomense em que, por

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vicissitudes históricas, tudo parece

indicar que a Nação está ainda em

formação e a Cultura, por inibição,

insensibilidade ou incompreensão das

elites, está muito longe de assumir o

papel aglutinador que dela se

esperaria?»

E conclui: “se a Cultura é o embrião

fortificador da Nação e esta o

sustentáculo imprescindível do Estado,

é tempo de debatermos sobre a nossa

identidade, na perspectiva do

desenvolvimento de uma política

cultural que tenha em conta as

particularidades do tecido social

santomense e do reforço e consolidação

do Estado de direito democrático ora

em construção».

Jovens estudantes estão também

preocupados com o rumo que está a

tomar a herança cultural são-tomense ou

falta dele.

Por outro lado, dizem sentir-se

influenciados pelos meios de

comunicação social, porque a tendência

é quererem saber mais, estarem

informados.

«Por exemplo, em relação à cultura,

vamos a Internet não vemos quase nada

sobre a cultura do nosso país. Os

valores que poderão nos ajudar no

futuro não vemos nos órgãos de

comunicação social. A pouca

divulgação dos nossos valores por parte

dos órgãos tem influenciado muito os

jovens. Estamos a aderir mais a cultura

estrangeira e o que é nosso de raiz está

a perder-se cada dia que passa»,

reclamam.

«Criticam-nos, falam da má educação

dos jovens de hoje, mas os mais velhos

esquecem-se que também têm a sua

parte de responsabilidade. Os valores

morais e culturais estão a perder-se. A

própria educação em casa é

influenciada. “Quinté glandji” (grande

quintal que reúne vários membros da

família) é uma tradição que também se

perdeu, não se vê. Deveríamos resgatar

este costume. Para isso, é necessário

que os meios de comunicação social

trabalhem, façam referência a isso,

chamem a atenção das pessoas».

Há um canal na Web TV que tem uma

plataforma com esse nome. Facilita a

transmissão de valores, através da

interacção. Os seus gestores consideram

que as novas tecnologias no âmbito das

redes sociais podem potenciar ainda

mais essa tradição de “Quinté glandji”.

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No documento de Política Cultural de

2012, do Ministério da Educação e

Cultura e Formação, diz-se que “pela

importância de que se reveste para a

sustentabilidade do desenvolvimento

humano, a cultura deve ser objecto de

uma atenção por parte do Estado,

fundamentalmente quando, na prática

dos encontros e reencontros que as

disponibilidades de convivência global

e pacífica modelam, corre-se o risco de

perda da sua especificidade, podendo

dar lugar à descaracterização da

identidade que pelos seus traços

característicos se constitui e através

dos quais diferentemente se afirma”.

(p.6)

Alertou-se ainda para a necessidade de

definição de “uma política cultural que

oriente sobre as formas de expressão e

as alternativas de intervenção que, no

respeito pela diversidade cultural,

contribuam para valorizar, incentivar e

salvaguardar as manifestações

culturais nacionais como expressão

própria da santomensidade e em

correspondência com as aspirações de

desenvolvimento da população”. (p.6)

A política cultural é entendida como

“um instrumento de orientação” dos

procedimentos que sustentam as

intervenções nesse domínio com o

objectivo de corrigir o que de errado se

tem constatado, de modo a evitar a sua

maior degradação para que “os

santomenses reencontrem pontos de

convergência para o reforço da sua

identidade”.

«Nessa ótica, é pensada tendo em conta

os conceitos de direitos humanos,

diversidade cultural, pertença cultural,

identidade cultural e cidadania

participativa e postula parâmetros de

organização e de gestão que geram

dinâmicas de lazer e de ocupação de

tempos livres, bem como oportunidades

de ocupações produtivas e geradoras de

rendimento», acrescenta-se no texto

(p.7).

Alguns princípios foram propostos para

serem adoptados, entre os quais se

destacam: “defesa da cultura como

instrumento de afirmação da identidade

nacional”; “valorização da cultura

como factor de desenvolvimento social,

económico e crescimento intelectual”;

“liberdade de expressão cultural e

artística e intercâmbio cultural como

contributo para promoção da

compreensão, respeito e convivência

pacífica”. (pp 8-9)

Apesar de diversas declarações no

sentido de se acabar de uma vez por

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todas com a instabilidade, até então a

classe política, de uma forma geral,

parece continuar a ter dificuldades em

encontrar pontos de entendimento, eixos

aglutinadores rumo ao desenvolvimento

humano.

Nota-se na sociedade uma certa

saturação com esse estado de coisas que

impede o arranque definitivo do País.

A alternativa pode passar por uma

comunicação social mais dinâmica e

uma sociedade civil mais actuante,

tendo o suporte cultural ou a são-

tomensidade como alavanca. É a

principal plataforma que tem condições

de servir como fator de coesão social,

promotor da confiança entre os cidadãos

e de autoestima coletiva. Ignorar o

contexto cultural é praticamente

condenar ao fracasso os projetos de

desenvolvimento.

Segundo um dirigente de organizações

da sociedade civil “os nossos

responsáveis políticos traçam as

políticas e as executam. Não há espaço

intermédio para consultar a sociedade

civil, para que o consenso seja mais

amplo. O país tem tido várias políticas

públicas, mas quando se faz a avaliação

o resultado não é o desejado. Vemos

que há sempre algo que falha. A ideia é

tentar criarmos um espaço para

podermos nos posicionar e influenciar

os nossos decisores, até que eles se

consciencializem que têm de arranjar

espaço para dialogar com a sociedade

civil, de modo a desenvolver uma

democracia mais participativa”.

A sociedade civil organizada está num

período de transição. As ONG’s não

querem ser chamadas apenas para

executar projectos. Pretendem ter uma

palavra na monitorização de políticas

públicas e antes disso, participar tanto

na sua concepção como na fase de

avaliação.

Como diz o estudo “Sociedade Civil,

Comunicação e Advocacia em São

Tomé e Príncipe” (p.13) as

Organizações da Sociedade Civil

necessitam “reforçar a capacidade

institucional (capacidade de

negociação, comunicação, mobilização

de diversos actores e articulação com

outros) bem como a capacidade

financeira (infra-estruturas adequadas

e recursos para cobrir as necessidades

operacionais inerentes às actividades

de monitoria). Num contexto de parcos

recursos, a colaboração e busca de

complementaridades entre as OSC é

essencial para conseguirem ganhar

voz”.

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O “ganhar voz” passa também por

granjear espaço nos Media locais, em

primeiro lugar.

Qual é a apreciação das Organizações

da Sociedade Civil em relação aos

Órgãos de Comunicação Social são-

tomenses?

Alguns dos seus representantes

auscultados pensam que os Media

podiam fazer mais, apesar das

limitações que enfrentam.

«Eu acho que a sociedade civil, na

medida em que há coisas para serem

difundidas, vai ao encontro da

comunicação social. Quando eu refiro

de que pode ser mais, estou a pensar

também no sentido inverso. Que a

comunicação social vá ao encontro

dessas preocupações das organizações

da sociedade civil e desta forma poder

ajudá-las a promover as suas acções, as

suas actividades e as suas necessidades.

Isso contribuiria bastante para que

houvesse o tal casamento, o casamento

mais efectivo entre as organizações da

sociedade civil e a comunicação social

nacional».

«É preciso reunir forças, elementos com

capacidade para poder informar com

pesquisa prévia. Estão muito limitados

em matéria de investigação. Muitas

vezes mandam uma matéria para o ar e

surgem aquelas situações que

assistimos. Acho que é importante fazer

com que todos os órgãos de

comunicação social tenham condições

para irem ao terreno, fazer a

investigação, levando o tempo que levar

mas que seja uma informação com

seriedade, informação com verdade».

Por outro lado, “existem organizações

da sociedade civil que precisam de

algum reforço de capacidade

institucional, organizacional e

funcional, dai que esses conteúdos

poderiam ser melhorados. Seja como

for, as mensagens passam. Quando

alguma organização da sociedade civil

quer fazer passar alguma mensagem vai

atrás da comunicação social e essas

mensagens passam com alguma

frequência e bem”.

Outros responsáveis das ONG’s pensam

que a comunicação social dá “mais

prioridade a questões políticas. Factos

relacionados com a sociedade civil não

são abordados numa perspectiva

abrangente, mais aprofundada. Faz-se

a divulgação da notícia, mas não se

tenta perceber o que está por detrás da

mesma. Falta melhorar a abordagem de

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questões de desenvolvimento que a

sociedade civil apresenta”.

A FONG-STP está a desenvolver um

projecto que se chama “Sociedade civil

para o Desenvolvimento”, com três

componentes: comunicação,

capacitação e advocacia. O objectivo é

melhorar a capacidade de diálogo

político social das Organizações da

Sociedade Civil.

O convite é que “a comunicação social

comece a acompanhar esse processo

para que através dela a sociedade civil

possa influenciar os decisores numa

perspectiva de provocarem a mudança.

Ainda precisamos trabalhar nessa

vertente de entrosamento entre a

comunicação social e a sociedade civil.

Para que isso aconteça é necessário

haver disponibilidade de jornalistas em

participar nas formações que a FONG

promove a nível de transparência,

eficácia política e próprio

desenvolvimento, no sentido de se

apropriarem desta abordagem e

perceber que a sociedade civil é um

agente de desenvolvimento interessado

em participar no diálogo sobre as

políticas exprimindo as suas

perspetivas”.

«A comunicação tem um peso

fundamental. A estrutura actual dos

órgãos de comunicação social - eu

acredito - não permite que se faça

muita coisa. A população é pobre. O

mercado publicitário é fraco. Esses

órgãos não conseguem muitos meios

para fazer face às suas necessidades.

Por outro lado, coloca-se a questão de

formação, mais especialização. E se

houvesse isso, as abordagens seriam

outras».

«Quer privado, quer público as

questões de sociedade civil têm sido

poucas. Algumas ONG têm tido acções

importantes nesse processo de

desenvolvimento mas a abordagem nos

órgãos de Comunicação Social não tem

sido a melhor. Passam a divulgação do

evento, mas não se vai muito a fundo

para dar informação de qualidade

sobre aquilo que as ONG estão a fazer.

Mas é verdade que quando a ONG tem

recurso e solicita a colaboração desses

órgãos, eles participam».

«O facto de os jornalistas terem um

rendimento muito baixo é fácil serem

influenciados por partidos políticos. Se

melhorassem este aspecto acho que as

coisas seriam melhores. Os próprios

órgãos devem proporcionar uma

aproximação, abrindo espaços para que

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106

a sociedade civil possa através da

comunicação social influenciar as

políticas públicas e provocar um

desenvolvimento com maior eficácia».

Os jovens, por sua vez, afirmam que

estão profundamente ligados aos meios

de comunicação social, porque têm sede

de informação. Além disso, o país é

insular, o que aumenta mais esta

necessidade de estar em contacto com o

mundo.

«Às vezes realizamos pequenos

encontros para discutir algumas

questões ligadas aos jovens, mas não

vemos essa presença dos meios de

comunicação. Tentamos ir à procura da

TVS, mas há sempre um pequeno

embaraço. Acho que é negativo porque

são essas pequenas coisas que amanhã

se transformam em coisas grandes».

«A Rádio Nacional e a TVS só

trabalham em função do governo A ou

B. Há governo que é mais controlador

do que outro».

Como é que a Comunicação Social, por

sua vez, aprecia a Sociedade Civil?

De acordo com os profissionais de

órgãos de informação privados e

temáticos ouvidos “os assuntos

relacionados com a sociedade civil

ocupam um lugar de destaque ao lado

dos órgãos de soberania”.

Nos órgãos estatais, alguns jornalistas

consideram que “a sociedade civil não

está devidamente estruturada e essas

organizações estão associadas aos

partidos políticos”

Admitem que os temas relacionados

com a sociedade civil não têm grande

espaço no serviço informativo. E a

cobertura dada é sobretudo de eventos.

Por outro lado, a sociedade em geral

não dá muitas alternativas, quando se

pretende analisar de forma mais

profunda uma determinada questão.

Para os fazedores da comunicação

social, “as OSC têm um acesso muito

limitado à informação e, por isso, o

interesse é reduzido para os Media

como fonte”.

As universidades, por exemplo, não têm

quadros autónomos que alimentem a

reflexão pública sobre variadas

questões.

Por sua vez, o Conselho Superior de

Imprensa entende que “a Sociedade

Civil em termos de Comunicação Social

ainda não tem expressão que

quantifique um efectivo aproveitamento.

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107

Portanto, ainda é muito incipiente.

Pode-se, referenciar alguma presença

da FONG no programa da TV Linha

Directa; algum aparecimento na rádio,

mas carecendo de consolidação. Há

tentativas, mas os passos ainda são um

tanto titubeantes”.

Algumas organizações têm usado as

antenas da rádio para fazer programas

sobre o meio-ambiente, em que os

agricultores manifestam opiniões sobre

os seus afazeres, enfim, projecto de vida

de combate à pobreza, ou relacionada

com a saúde, no quadro de campanhas

contra a Sida ou gravidez precoce.

«Para afirmar a sua presença,

sobretudo para convencer e conquistar

a liderança, a Sociedade Civil precisa

de aparecer mais, de modo a crescer

para ser mais interessante», manifesta o

CSI.

5. Conclusões

Para a comunicação social assumir a

liderança no contexto do

desenvolvimento sustentado de São

Tomé e Príncipe terá, em primeiro

lugar, que definir uma Estratégia e

ajustar as políticas editoriais dos órgãos

a este grande objectivo, respeitando

obviamente a diversidade, considerando

que do ponto de vista legal existem

condições para o exercício de liberdade

de expressão, de pensamento e de

imprensa.

Porém, os instrumentos referidos não

serão suficientes sem recursos humanos

capazes de entender e interpretar os

fenómenos que ocorrem, tanto no seio

dos Media como na sociedade em geral.

Contudo, o trabalho deve ser feito e

procurar-se suprir lacunas com

contribuições de são-tomenses com

capacidade na diáspora e de estudiosos

sobre São Tomé e Príncipe.

Ouve-se várias vezes dizer que o Estado

são-tomense não valoriza os seus

quadros, sobretudo na elaboração de

programas e projectos. Por enquanto,

são poucos os que estão disponíveis

para um pronunciamento crítico. O

leque é tão limitado que a recomendável

diversidade de opiniões sobre um

determinado assunto fica estreita.

Seja como for, os Media locais têm de

se organizar, no sentido de criarem a

sua rede que facilite lidar com aspectos

relevantes do desenvolvimento humano

em execução no país, e acompanhar e

monitorar os mesmos, abrindo espaços

aos seus protagonistas, contribuindo

assim para se criar um movimento

multiplicador de boas práticas, atitudes

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108

cívicas, inovações e iniciativas na busca

de soluções.

Paralelamente, no quotidiano da sua

acção, devem ter presentes os

documentos essenciais já produzidos, de

modo a fortalecer a argumentação,

assim como a realidade cultural do país.

A propósito, a cultura pode e deve

contribuir, como se diz no Documento

de Política Cultural do Ministério da

Educação, Cultura e Formação, para

que “os são-tomenses reencontrem

pontos de convergência para o reforço

da sua identidade”.

Ela tem ramificações nos “conceitos de

direitos humanos, diversidade cultural,

pertença cultural, identidade cultural e

cidadania participativa e postula

parâmetros de organização e de gestão

que geram dinâmicas de lazer e de

ocupação de tempos livres, bem como

oportunidades de ocupações produtivas

e geradoras de rendimento”.

Como já foi dito, face à dificuldade da

classe política em encontrar consensos

que garantam a estabilidade e o

desenvolvimento humano, o contributo

para se atingir esses desideratos pode

passar por uma comunicação social

mais dinâmica e uma sociedade civil

mais atuante, tendo o suporte cultural

ou a são-tomensidade como alavanca. É

a principal plataforma que tem

condições de servir como fator de

coesão social, promotor da confiança

entre os cidadãos e de autoestima

coletiva. Ignorar o contexto cultural é

praticamente condenar ao fracasso os

projetos de desenvolvimento.

Tendo em conta que a maior parte da

população é jovem, é de toda a

conveniência motivar e envolver esses

cidadãos no aprofundamento da

realidade cultural. Esse processo deve

envolver jovens em idade escolar, das

áreas urbanas e das comunidades rurais.

O campo para a descoberta é vasto.

Abrange hábitos, costumes e tradições;

a música, a dança, as artes plásticas, a

gastronomia e o próprio património.

Por exemplo, através da “Tafua”, uma

dança praticada por descendentes de

contratados em Monte Café, poder-se-ia

reconstituir a realidade colonial naquela

roça, ouvindo alguns protagonistas

ainda em vida e seus descendentes. Esse

roteiro poderia ser enriquecido

contando-se histórias que envolvem o

património colonial.

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109

Porque não tentar entender o significado

do ritual pagão que envolve a

celebração do Santo Isidoro ou San

Zudón, padroeiro dos agricultores

adotado pelos cidadãos de Ribeira

Afonso? Vários acreditam que é um

santo protetor e ajuda a melhorar a vida

das pessoas.

Seria igualmente pertinente criar

movimentos de defesa e recuperação de

Plomón Deçu, do Quiná, do Bligá, da

Ússua e do já desaparecido Lundú. Não

seria apenas no sentido de proteger

manifestações folclóricas são-tomenses,

mas sobretudo embrenhar-se na

filosofia, nos ensinamentos e valores

que lhes estão subjacentes.

Na gastronomia, por exemplo, conhecer

e divulgar os vegetais que entram na

confeção de alguns pratos tradicionais

como o calulú ou djogó e que inclusive

têm influência na saúde.

No artesanato, a experiência

interrompida de alguns projetos indica

que o país pode aproveitar a sua flora

para produzir papel, tintas de tingimento

e outros derivados para criar produtos

“Made in STP”.

Por que não admitir que os pequenos

fabricantes de seus próprios brinquedos

como trotinete, carros de arame ou de

caule de bananeira com rodas de fruta-

pão, se bem orientados, poderiam

integrar equipas de inovadores?

Os jovens da Associação de Estudantes

de Liceu reclamam falta de informação

na rede global sobre temas culturais

são-tomenses. Podem ser pró-ativos,

constituindo grupos de ativistas virados

para essas questões, investigando e

promovendo eventos de divulgação.

Os jovens e organizações de sociedade

civil podem estruturar-se para realizar

esse tipo de ações, sem esperar por

condições especiais. Iniciativas podem

ser facilitadas com a rentabilização das

novas tecnologias de informação e

comunicação.

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Capítulo V

A sociedade civil em STP: tipologia das organizações e necessidades

para desenvolver a sua liderança.

1. Contexto

Ao lado da perene instabilidade política,

São Tomé e Príncipe convive,

economicamente, com uma situação de

dependência externa.

Com cerca de 180 mil habitantes15, mais

de 50% da população vive em situação

de pobreza e cerca de 15% vive na

extrema pobreza.

O país já elaborou duas Estratégias

Nacionais de Redução da Pobreza

(ENRP), sendo a primeira em 2002, que

foi revista pelo Governo em 2005 a fim

de englobar os Objectivos de

Desenvolvimento do Milénio (OMD)16,

15 Fonte: INE, Recenceamento Geral da

População e Habitação 2012. 16 Os Objectivos de Desenvolvimento do

Milénio são 8, a saber: Eliminar a extrema

pobreza e a fome; Assegurar uma educação

primária para todos; Promover a igualdade dos

sexos e a autonomia das mulheres; Reduzir a

mortalidade de crianças de menos de 5 anos;

Melhorar a saúde materna; Combater o

VIH/SIDA, o paludismo e outras doenças;

Assegurar um meio ambiente durável; e

Implementar uma parceria mundial para o

tendo em conta que o Estado

Santomense também adoptou a

Declaração do Milénio das Nações

Unidas aquando da Cimeira realizada

em Setembro de 2000.

De acordo com o segundo relatório

nacional de seguimento, realizado em

2008, apesar dos progressos verificados,

apenas três17 dos oito OMD poderão ser

alcançados por São Tomé e Príncipe em

2015.

Relativamente à primeira ENRP, a

execução ficou aquém do previsto,

conforme os relatórios de seguimento e

avaliação dos impactos das medidas e

programas implementados.

desenvolvimento. Os países aderentes deveriam

atingi-los todos em 2015. 17 A saber: Assegurar uma educação primária

para todos; Reduzir a mortalidade de crianças de

menos de 5 anos; Combater o VIH/SIDA, o

paludismo e outras doenças.

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111

Em 2012, foi adoptada a Estratégia

Nacional de Redução da Pobreza II,

num horizonte 2012-2016.

Com o presente trabalho pretende-se

saber qual é o papel que as

Organizações da Sociedade Civil (OSC)

podem desempenhar para o

desenvolvimento sustentável em São

Tomé e Príncipe.

Para tal, dois objectivos principais

norteiam o estudo: primeiro, vai se

concentrar na tipologia das OSC

existentes; segundo, efectuar uma

análise sobre a liderança das OSC no

país.

Mas, considerando importante conhecer

qual foi a trajectória das OSC em São

Tomé e Príncipe, antes de se debruçar

sobre os dois objectivos principais do

estudo, será feito o enquadramento

teórico dos conceitos sociedade civil e

organização da sociedade civil e um

breve historial será apresentado.

2. Enquadramento teórico

Antes de mais, importa clarificar o que

se entende por sociedade civil e por

organização da sociedade civil.

Existem várias definições de sociedade

civil. A primeira foi a do filósofo

escocês, Adam Ferguson, que escreveu

a primeira obra a respeito da sociedade

civil em 1767, intitulada "Ensaio Sobre

a História da Sociedade Civil".

Tendo em conta o objectivo do presente

estudo, a definição de sociedade civil

utilizada é a que foi formulada pelo

filósofo e antropólogo Ernest Gellner.

Segundo Gellner, “a sociedade civil é

um conjunto de instituições não-

governamentais, capazes de

contrabalançar o Estado e que, embora

não obstem ao seu papel de regulador

de interesses e de reserva coerciva

atinente à preservação da paz social,

podem impedi-lo de hegemonizar e

atomizar a sociedade.”

Portanto, a sociedade civil abarca uma

grande variedade de organizações não

estatais organizadas que pretendem

limitar os poderes abusivos do Estado e

do Governo, ajudando, por um lado, a

construir uma sociedade mais justa e

menos assimétrica e, por outro,

chamando a atenção para os excessos

praticados pelo Governo e pelo Estado

com vista à garantia dos direitos e

deveres dos cidadãos.

No seio da sociedade civil tem-se as

ONG (Organizações Não

Governamentais), as organizações

religiosas, os sindicatos, os grupos

indígenas, organizações de caridade,

grupos comunitários, associações

profissionais e fundações.

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112

A OSC (Organização da Sociedade

Civil), segundo Nildo Viana, sociólogo

brasileiro, é "uma mediação burocrática

entre sociedade civil e estado"18.

Contudo, importa salientar que o termo

para a designação destas organizações

não é consensual e é usual a utilização

de diferentes expressões,

designadamente: Economia Social,

Economia Solidária, Terceiro Sector,

Sector não Lucrativo, Economia

Popular, entre outras.

As diferentes designações pressupõem

diferentes quadros teóricos e contextos

históricos, aos quais não importa agora

aludir, mas também “interpretações

distintas acerca do papel que

desempenham essas práticas e/ou

iniciativas na sociedade, especialmente

ao lugar que elas devem ocupar em

relação às esferas do Estado e do

mercado”19. Contudo, há traços comuns

entre as diferentes acepções que nos

permitem concluir que o fenómeno é

caracterizado por duas constatações:

refere-se a uma dimensão social na

medida em que se debruça sobre a

resolução de questões sociais de

populações excluídas ou vulneráveis;

18 Cf. Viana, Nildo“Estado, Democracia e

Cidadania”, Rio de Janeiro:Achiamé, 2003. 19 Cf. França Filho, Genauto Carvalho de,

“Terceiro Sector, Economia Social, Economia

Solidária e Economia Popular: traçando

fronteiras conceituais”, Bahia, Análise e Dados,

Salvador, pp.9-19, Junho 2002.

constitui uma forma alternativa de fazer

economia, na medida em que pressupõe

a produção de bens e serviços numa

lógica de solidariedade.

Relativamente às características

institucionais das OSC, elas são

caracterizadas como:

- organizadas;

- privadas (com fins públicos);

- sem fim lucrativo;

- auto-governadas;

- voluntárias (embora possam e devam

ter algum nível de profissionalização

em termos de pessoal contratado).

3. Breve história sobre a

Organização da Sociedade Civil

em STP

Nos últimos anos pôde-se constatar o

fenómeno de crescimento de

Organizações da Sociedade Civil (OSC)

a nível mundial, e em São Tomé e

Príncipe não foi excepção, uma vez que

cresceu no seio da sociedade organizada

a ideia de participar na gestão dos

assuntos do Estado sem o substituir,

tornando num parceiro forte para a

solução de vários problemas sociais,

económicos e políticos dos seus países.

Actualmente, as OSC são consideradas

por muitos como sendo o terceiro

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113

sector20, e têm provado ser, segundo

estudos realizados, uma força

económica relevante em países como

Estados Unidos da América, Holanda,

Bélgica.

Mas a história das OSC em São Tomé e

Príncipe é relativamente recente, se

considerarmos que a maioria foi criada

a partir da década de 90.

Após a independência (a 12 de Julho de

1975), concretamente a partir dos anos

80 foram constituídas algumas

associações informais de trabalhadores

rurais, forçados a um duplo

desempenho, sendo o de assalariados

das empresas agrícolas e o de

camponeses com acesso não autorizado

a terra mais ou menos abandonada,

apesar do regime de partido único no

pós-independência revelar-se avesso ao

associativismo e à organização da

sociedade civil, tendo em conta a

vocação tutelar do Estado dirigido pelo

Movimento de Libertação de São Tomé

e Príncipe (MLSTP).

Em meados dos anos 80, o Estado

santomense demitiu-se do seu papel de

garante dos meios de vida e o

desemparo social atingiu em primeiro

20 Não estão ligadas ao Estado (o primeiro

sector) e ao mercado capitalista (o segundo

sector). São privadas com funções públicas, ou

seja, nascem de iniciativa de sectores da

sociedade civil, para cumprir funções

normalmente assumidas pelo Estado

Providência.

lugar os trabalhadores das roças

nacionalizadas em 1975.

Durante aquele período, no lugar de

associações surgem então as

organizações de massas, como a de

trabalhadores, de mulheres, de jovens e

de pioneiros, política e ideologicamente

controladas pelo partido único.

Mas, ainda na era do partido único,

aparecem no país algumas ONG

estrangeiras21, cuja instalação dependia

de um diálogo prévio com o poder

político sobre o âmbito da sua acção,

bem como algumas ONG nacionais22.

Só a partir dos anos 90, com a mudança

do sistema político e a democratização

em curso, é que em São Tomé e

Príncipe assiste-se à criação em

“massa” de OSC.

Numa primeira fase, surgem as

associações socio-professionais de

horticultores, pescadores, etc, e a seguir

foram criadas numerosas OSC actuando

em várias áreas, como a educação,

saúde, social, desporto, cultura,

ambiente, agricultura, pesca, etc.

Apesar da fragilidade do ponto de vista

institucional, organizacional e

financeiro (dependem muito do Estado

e da ajuda pública ao desenvolvimento),

21 Podemos citar por exemplo, CARITAS de

São Tomé e Príncipe, criada em 1981. (Fonte:

FONG-STP) 22 Podemos citar por exemplo, a Cruz Vermelha

de São Tomé e Príncipe, criada em 1976.

(Fonte:FONG-STP)

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114

foram assumindo contornos que

permitiram a criação da FONG-STP

(Federação das Organizações Não

Governamentais em São Tomé e

Príncipe)23, a 19 de Abril de 2001.

De acordo com os dados obtidos através

da FONG-STP, estão filiadas na

Federação cerca de 85 OSC.

A nível do ordenamento jurídico, só em

Setembro de 2012 foi finalmente

aprovada a Lei n.º 8/2012, Regime

Jurídico de Constituição e

Funcionamento das Organizações Não

Governamentais, que além de

estabelecer as regras de funcionamento

de associações, fundações e outras

instituições de direito privado sem fins

lucrativos, define também as respectivas

áreas de intervenção (Artigo 4.º da Lei

n.º 8/2012).

4. Tipologia de Organizações da

Sociedade Civil em São Tomé e

Príncipe

Antes de se debruçar sobre a tipologia

das OSC em São Tomé e Príncipe, há

necessidade de se fazer uma breve

23 A FONG-STP é uma plataforma

representativa das ONG que actuam em São

Tomé e Príncipe, que dentre outras funções

deve promover uma maior cooperação e

coordenação entre as ONG nacionais,

estrangeiras e o Governo, bem como com

doadores e outras instituições envolvidas nos

processos de desenvolvimento do país.

análise à lista dos membros da FONG-

STP, fornecida pela Federação, pelo

facto de todas as OSC serem

classificadas como ONG.

É verdade que a definição textual de

ONG (aquilo que não é do Governo) é

tão ampla que inclui qualquer

organização de natureza não-estatal, o

que faz com que esta admita muitas

interpretações.

Pelo facto de não existir uma definição

exacta de ONG, pode-se verificar que o

título da Lei n.º 8/2012 - Regime

Jurídico de Constituição e

Funcionamento das Organizações Não

Governamentais, que estabelece as

regras de funcionamento de OSC em

São Tomé e Príncipe faz menção a

ONG e não a OSC.

No entanto, na parte referente ao

enquadramento teórico, viu-se que no

seio de OSC existem as ONG, as

organizações religiosas, os sindicatos,

os grupos indígenas, organizações de

caridade, grupos comunitários,

associações profissionais e fundações.

Apesar das ONG possuírem

características instituicionais (formais,

privadas com fins públicos,

independentes, voluntária, sem fim

lucrativo), idênticas as demais OSC,

elas têm algumas particularidades que

lhes são próprias. As ONG não possuem

apenas uma função social, mas sim

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115

socio-política24; elas não são

representativas, ou seja, não

representam o interesse particular de um

grupo específico, como por exemplo as

cooperativas que são organizações

constituídas por membros de

determinado grupo económico ou

social, e que objectiva desempenhar, em

benefício comum, determinada

actividade económica. Ao contrário, as

ONG trabalham com determinadas

causas que são tratadas universalmente,

como a luta contra a pobreza e a

injustiça social, a preservação do meio

ambiente, defesa de determinadas

etnias, e outras.

Mais, existem organizações que são

não-estatais mas não são públicas e sim

corporativas, como é o caso, por

exemplo, dos sindicatos.

4.1. Tipologia de Organizações da

Sociedade Civil

As tipologias tradicionais fazem a

diferenciação das OSC através de vários

critérios, como actividade (saúde,

educação, etc), finalidade (fornecer

serviço, realizar campanhas para

mudança, etc), fonte de recursos (venda,

subsídios, doações, taxas mensais) e

composição do Conselho Directivo.

24 As ONG procuram influenciar e democratizar

as políticas públicas.

Mas, alguns estudiosos defendem que a

diferenciação baseada nestes critérios

negligencia a questão da diversidade

organizacional de OSC.

Assim, proponhem uma tipologia

baseada na diversidade organizacional,

pelo que apresentam 4 (quatro) tipos de

organização:

Organização sem fins lucrativos;

Organização voluntária;

Organização de ajuda mútua;

Organização social.

Portanto, pode-se verificar que não

existe ainda uma teoria organizacional

própria à OSC.

4.2. Tipologia de Organizações da

Sociedade Civil em São Tomé e

Príncipe

Considerando o exposto no ponto

anterior, e tendo em conta a realidade

são-tomense, para o presente trabalho

baseou-se naquilo que mais caracteriza

as OSC em São Tomé e Príncipe (por

exemplo, natureza, actividade, fonte de

recursos,etc).

Actualmente são membros da FONG-

STP cerca de 85 OSC. Dentre as 85

OSC, verificou-se que 86% são

nacionais e 14% internacionais25.

25 Encontra-se no grupo das OSC internacionais

as OSC estrangeiras bem como aquelas que não

estão ligadas a nenhum país específico (por

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116

No geral, são todas organizações sem

fins lucrativos e prestam serviço à

comunidade sem nenhuma interferência

dos beneficiários nas suas decisões,

salvo algumas excepções (por exemplo,

associações de moradores).

Relativamente à área de intervenção,

constata-se que as acções são

desenvolvidas no domínio da

agricultura, saúde, educação,

HIV/SIDA, saneamento do meio,

crianças/jovens em risco, juventude,

cultura, nutrição, ambiente, pecuária,

pesca, direitos humanos, desporto,

mulher (questão do género), violência

contra as mulheres, desenvolvimento

rural e comunitário, família e

comunidade, idosos, pessoas

vulneráveis, micro-finanças, e outros.

Em São Tomé e Príncipe,

aparentemente, nenhuma OSC elegeu a

actividade política como área de

intervenção. Mas, pode-se constatar que

a FONG-STP manisfesta a vocação de

se afirmar como parceiro político,

mormente como instância de

acompanhamento da governação.

Porém, as principais áreas específicas

de actuação são: a saúde; a educação;

crianças/jovens em risco; ambiente;

familia e comunidade; cultura;

exemplo a Caritas). São OSC estrangeiras

aquelas que têm origem e sede estatutária fora

do território nacional com representação no

país, como ALISEI e a AMI.

saneamento do meio; e idosos,

conforme o Quadro 1:

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Quadro 1 – Principais áreas específicas de intervenção das OSC em STP

Ord. Principais áreas de Intervenção Nº de OSC %

1 Saúde 20 23,5%

2 Educação 20 23,5%

3 Crianças/Jovens em risco 20 23,5%

4 Ambiente 14 16,4%

5 Família e Comunidade 12 14%

6 Cultura 12 14%

7 Saneamento do Meio 11 12,9%

8 Idosos 9 10,5%

Nota: Deve-se ter como base 85 OSC filiadas na FONG-STP.

É de frisar que 7% das OSC intervêm

no domínio da mulher (questão de

género), e igualmente 7% desenvolvem

acções a favor do desenvolvimento rural

e comunitário.

Contudo, ao efectuar-se a análise por

áreas gerais, verifica-se que o social

ocupará o primeiro lugar de actuação,

como demonstra o Quadro 2:

Quadro 2 – Área geral de intervenção das OSC em STP

Ord. Área Geral Áreas específicas Nº de OSC %

1

Social

Família e comunidade

33

38,8%

Idosos

Mulheres (género)

Pessoas vulneráveis

Mulheres vitímas de maus

tratos

2

Saúde

Saúde

29

34% Nutrição

HIV/SIDA

3

Ambiente e saneamento

Ambiente

25

29% Saneamento do meio

4 Infância e Juventude Crianças e jovens em risco 24 28%

Jovens

5 Educação Educação

20

23,5% Formação

6 Desenvolvimento rural e

pescas

Agricultura

16

18,8% Pecuária

Pesca

Desenvolvimento rural e

comunitário

7 Cultura e lazer Cultura

13

15% Arte

8 Direitos humanos ---------------------------------- 5 5,8%

Nota: Deve-se ter como base as 85 OSC filiadas na FONG-STP.

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A fim de evitar alguma confusão com

os resultados obtidos, deve-se

considerar que uma mesma OSC actua

em diversas áreas, facto demonstrado

também com o resultado do estudo

diagnóstico feito em 2010, pela FONG-

STP e ACEP. Portanto, as OSC no país

muitas vezes diversificam e alargam a

sua intervenção noutras áreas, para além

de possuírem um domínio principal de

actuação. Daí a necessidade de se

trabalhar no sentido de incentivar as

OSC que actuam no país a se

especializarem numa determinada área.

As acções desenvolvidas nas áreas

acima mencionadas são no âmbito de

projectos próprios da organização ou

colaborando com o Governo na

implementação de programas

financiados pelos parceiros de

cooperação.

Pode-se constatar que a maior parte das

OSC desenvolvem as suas acções a

nível nacional, cerca de 75%, tendo as

restantes uma actuação mais focalizada.

Normalmente, dependem de recursos

específicos ligados a projectos, fundos

ou programas estabelecidos pelo

Governo ou pelos organismos

financiadores internacionais, e se

posicionam muito mais como simples

executoras das acções previstas no

quadro dos Projectos.

Ainda em termos de recursos

financeiros, algumas OSC possuem o

sistema de quota, mas os membros não

efectuam o pagamento, o que lhes

impossibilita suportar mesmo as

pequenas despesas relacionadas com o

funcionamento da organização.

Aquando da entrevista realizada, em

separado, com 3 (três) representantes de

OSC que têm a quota como um dos

meios de obtenção de fundo, em

resposta à pergunta “Porquê os

membros não pagam a quota”, todos

deram como resposta: “não existe no

país a cultura de pagamento de quota”.

Querendo conhecer os valores de quota

praticados por cada uma das OSC,pôde-

se verificar que mesmo tratando-se de

valores simbólicos (por exemplo, STD

20.000,00), os associados têm muita

dificuldade em cumprir com o seu

dever.

Em termos de recursos humanos, a

maior parte das OSC trabalha com

pessoal voluntário, que nem sempre são

os mais capacitados, e normalmente

oferecem o seu trabalho em função da

sua disponibilidade.

Não quer dizer que a sua contribuição

seja menos importante. O voluntário é o

tipo de colaborador que, para além de

ter grande envolvimento com a causa

que a organização representa, adiciona

ainda amor ao seu trabalho.

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119

Outro aspecto que convém realçar, é o

facto de algumas OSC, em particular as

mais activas, terem adoptado práticas

administrativas próprias de empresas

tradicionais, e estarem com uma

mentalidade voltada essencialmente

para a eficiência da prestação de

serviços à comunidade. Esta realidade

resulta do facto dos financiadores

exigirem hoje uma maior

profissionalização das OSC, que se

traduz evidentemente no

estabelecimento de várias práticas

tradicionais na administração privada e

pública, como planeamento financeiro,

recursos humanos, liderança, entre

outros, a fim de permitir uma melhor

eficiência e uma melhor utilização dos

recursos investidos.

Tendo em conta as acções em curso, sob

a responsabilidade da FONG-STP, cuja

finalidade é proporcionar uma melhoria

nos planos organizacional e

institucional às OSC no país, é provável

que nos próximos anos se venha a ter

novos elementos para a caracterização

das mesmas.

5. Que liderança para as

Organizações da Sociedade Civil

em STP

À luz das circunstâncias sociais,

políticas e económicas em que se vive

hoje em São Tomé e Príncipe, as

Organizações da Sociedade Civil (OSC)

podem ser um parceiro credível para o

desenvolvimento sustentável do país.

Em vários países, as OSC participam

nos processos de tomada de decisão,

formação e execução de políticas

públicas. Portanto, verifica-se uma

dupla função das OSC: servir como um

contrapeso ao Estado, propondo

caminhos alternativos quando esse se vê

sem saídas em vários assuntos e um

colaborador assíduo do mesmo sem o

substituir.

O papel das OSC é hoje

consensualmente reconhecido. Em

Setembro de 2008, aquando do 3.º

Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da

Ajuda, que teve lugar em Accra, Gana,

foi adoptada a Agenda de Acção de

Accra, na qual se apela os Governos dos

países em desenvolvimento a

colaborarem com as OSC.

Portanto, é necessário que todos os

actores do desenvolvimento trabalhem

em parcerias mais abrangentes, de modo

a que os esforços combinados tenham

um maior impacto no processo de

desenvolvimento de cada país.

Em São Tomé e Príncipe, pode-se

verificar que um dos programas do Eixo

Estratégico I - Reforma das Instituições

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120

Públicas e Reforço da Política de Boa

Governação, da Estratégia Nacional de

Redução da Pobreza II, 2012-2016,

consiste em promover a sociedade civil

e o seu envolvimento participativo.

O n.º1 do art.º16 da Lei n.º8/2012 -

Regime Jurídico de Constituição e

Funcionamento das Organizações Não

Governamentais - reconhece o direito às

OSC de pronúncia sobre questões

relativas à definição de políticas

nacionais ou decisões administrativas

nas áreas em que atuam, seja por

iniciativa própria ou por consulta dos

órgãos da administração pública.

Assim, verifica-se que as OSC têm

participado de forma activa e com o

concurso dos parceiros internacionais na

materialização dos projectos de

desenvolvimento no país, nas áreas

como a educação, a saúde, o

HIV/SIDA, o meio ambiente, a

agricultura, a pesca, etc.

Por vezes, as OSC são chamadas a

participar também no processo de

elaboração de um ou outro ante-projecto

de lei, bem como de algumas estratégias

para o desenvolvimento do país.

A título de exemplo, no que concerne à

Juventude, o Conselho Nacional da

Juventude (CNJ), organização que

congrega as associações juvenis

existentes no país, foi convidado pelo

Governo, através do Ministério da

Juventude e Desporto, a fazer parte da

equipa que vem trabalhando sobre a

Estratégia Nacional da Juventude.

Portanto, houve progressos no

relacionamento com o Estado, embora

não sejam suficientes.

Devido à falta de meios, quer financeiro

quer material, bem como de recursos

humanos capacitados nalguns casos,

verifica-se que as actividades de várias

OSC são avulsas e que há um impacto

muito limitado da acção das OSC no

que concerne à monitoria de políticas

públicas. Essa monitoria poderia ser

feita de duas formas: seja através de

acções de advocacia antes e durante o

processo de definição de uma política

ou do Orçamento Geral de Estado

(OGE); seja como observador

interveniente da aplicação efectiva de

uma determinada política.

Quanto ao OGE, as OSC poderiam

influenciar na definição de prioridades

de investimento, alertando, por

exemplo, para questões ligadas à luta

contra a pobreza e à promoção dos

direitos, entre outras.

É verdade que algumas personalidades

mostram-se cépticas quanto ao papel

das OSC em São Tomé e Príncipe, pelo

facto da sociedade civil ainda não ter a

necessária influência, preparação e

compreensão para funcionar como

elemento de controlo e força de pressão,

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121

por se verificar que existe um certo

centralismo do Estado quando se trata

da gestão dos recursos e do

delineamento de políticas públicas e

porque as OSC dependem muito no

plano financeiro do Estado e dos

parceiros de cooperação.

No entanto, a FONG-STP tem tido

algumas intervenções relevantes no

âmbito da promoção da boa governação.

Em Março de 2008, no quadro da

alteração da Lei-Quadro das receitas

petrolíferas, cuja proposta do Governo

conduziria a uma menor rigidez de

procedimentos na atribuição de blocos

para pesquisa e exploração, a FONG-

STP conjuntamente com outras ONG,

em particular, a ONG santomense na

diáspora, Webeto, conseguiu alertar o

Governo de que essa alteração

acarretaria menor transparência nas

decisões relativas à exploração dos

recursos petrolíferos, tendo o Governo

na altura desistido de alterar a Lei em

causa.

Importa frisar que em Dezembro de

2007 a FONG-STP foi escolhida para

integrar o Comité Nacional da EITI

(Iniciativa de Transparência das

Indústrias Extrativas), cuja atribuição

consiste em acompanhar a aplicação das

receitas petrolíferas no desenvolvimento

do país e na redução da pobreza26.

No âmbito das suas competências, a

FONG-STP, com o apoio de parceiros

de cooperação, tem vindo a realizar

várias acções de formação a favor dos

seus membros, com o objectivo de

reforçar a capacidade institucional e

organizacional dos mesmos. Foram

realizadas formações nos domínios de

contabilidade, elaboração de projectos,

etc.

Actualmente existe no país um número

elevado de OSC, mas estudos revelam

que a maior parte estão inactivas, ou

seja, não desenvolvem novos projectos,

estando algumas apenas a gerir

projectos antigos em curso, como é o

caso Associação de Mulheres

Empresárias e Profissionais de São

Tomé e Príncipe (AMEP-STP), uma das

OSC entrevistadas sobre a questão do

crédito concedido aos membros da

Associação. É importante realçar que a

linha de crédito a favor das associadas

concedida pelo Governo foi o resultado

de uma boa advocacia feita na altura

pela AMEP-STP.

De acordo com a Presidente da AMEP-

STP, nos últimos anos não têm

26 Cf. Despacho nº17/07, de 13 de Dezembro de

2007, publicado no Boletim Informativo da

Agência Nacional do Petróleo de São Tomé e

Príncipe, nº6, cuja cópia se anexa.

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122

conseguido desenvolver novos projectos

por falta de apoios.

Conscientes da necessidade de melhorar

as práticas das OSC em prol do

desenvolvimento de São Tomé e

Príncipe, a FONG-STP em conjunto

com a Associação para a Cooperação

entre os Povos, decidiu implementar o

projecto “Sociedade Civil pelo

Desenvolvimento, Comunicação e

Advocacia em São Tomé e Príncipe”

que, por um lado, “visa criar espaços de

debates e instrumentos de informação e

sensibilização sobre temas relacionados

com a boa governação e, por outro lado,

reforçar as capacidades de monitoria de

políticas públicas e advocacia da

FONG-STP e dos seus membros”, bem

como espaços de articulação entre OSC,

Media e decisores políticos.

O referido projeto, financiado pela

União Europeia e Cooperação

Portuguesa, tem a duração de três anos,

de 2013 a 2016.

Os resultados esperados com a

execução do projecto são os seguintes:

capacidade de monitoria de

políticas públicas e de advocacia

das OSC reforçadas;

jornalistas e “opinion makers”

mais sensibilizados e com

acesso à informação de

qualidade;

capacidades de trabalho em rede

das ONG reforçadas e criadas

redes temáticas sobre boa

governação, género e

desenvolvimento, meio

ambiente e, em geral, sobre as

temáticas da eficácia do

desenvolvimento, em articulação

com redes temáticas

internacionais;

canais e materiais de

comunicação reforçados e OSC

e populações regularmente

informadas e sensibilizadas.

No entanto, uma vez reforçada a

capacidade institucional e

organizacional das OSC filiadas na

FONG-STP e da própria Federação,

urge questionar o seguinte: como

conseguirão ultrapassar os

constrangimentos de ordem financeira?

De acordo com o resultado do estudo

diagnóstico efectuado em 201027, das 72

ONG inqueridas num universo total de

98 filiadas na FONG-STP, 25% refere

que o maior obstáculo à realização das

suas actividades é de natureza

financeira, facto também sublinhado por

responsáveis de algumas OSC membros

da FONG em entrevistas realizadas.

27 Estudo feito pela Federação das ONG em São

Tomé e Príncipe (FONG-STP) e pela

Associação para a Cooperação Entre os Povos

(ACEP).

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123

Há consciência de que mesmo

desenvolvendo acções de monitoria, as

OSC terão que suportar algumas

despesas, e sabe-se que as ONG em São

Tomé e Príncipe estão muito

dependentes do apoio facultado pelo

Estado e pelos parceiros de

desenvolvimento (Portugal, França,

Taiwan, Espanha, PNUD, UNICEF,

União Europeia, entre outros).

Tendo em conta as limitações

financeiras do Estado, o apoio às OSC

não tem sido prioridade, e assim o

funcionamento da maior parte das

mesmas depende da dinâmica da

cooperação internacional actuante no

país.

É de salientar que as OSC que possuem

o sistema de quota não conseguem

garantir o valor necessário para as

despesas de funcionamento, uma vez

que os seus membros não efectuam o

pagamento, situação que se verifica

também no seio da FONG-STP.

Portanto, nota-se que as OSC em São

Tomé e Príncipe têm muita dificuldade

em garantir a sustentabilidade da

instituição e dos seus projectos.

O apoio do sector privado é quase

inexistente, as empresas nacionais estão

ausentes de investimentos de vulto nas

áreas sociais. Hoje, é mais frequente o

apoio do Banco Internacional de São

Tomé e Príncipe (BISTP) e da

Companhia Santomense de

Telecomunicações (CST) que, de

acordo com alguns entrevistados,

também oferece gratuitamente o serviço

de telefone e de internet a algumas

OSC.

Apesar de as OSC terem ganho uma

visibilidade crescente no país,

colaborando activamente na

implementação de vários programas no

quadro, por exemplo, do Projecto de

Apoio ao Sector Social (PASS),

verifica-se um certo descrédito em

relação a algumas por falta de

transparência no que concerne à

apresentação das contas.

Portanto, hoje mais do que nunca, tendo

em conta que alguns doadores têm tido

dificuldade em garantir a verba de ajuda

aos países em desenvolvimento,

situação resultante da crise financeira e

económica mundial, e dado o contexto

de crescente exigência na aplicação dos

fundos doados, a capacidade de prestar

contas afigura-se fundamental para a

sobrevivência das OSC.

Assim, há necessidade das OSC em São

Tomé e Príncipe tornaram-se mais

autónomas e mais sustentáveis, devendo

para isso desenvolver estratégias de

mobilização de recursos inovadoras e

criativas. A FONG-STP poderá

desempenhar aqui um importante papel

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124

organizando ateliês de mobilização de

recursos.

O facto de existir no país uma

diversidade de OSC pode ser visto

como uma mais-valia, mas com a

condição das mesmas aceitarem o

desafio de se especializarem e

trabalharem em conjunto quando se

trata do assunto relacionado com sua

especialidade, sendo assim possível

tornarem-se grandes líderes na defesa

dessa ou aquela causa.

Com as entrevistas foi possível

constatar que existe uma certa

rivalidade entre as OSC, e muito

individualismo. Por exemplo, o facto do

fundo ser atribuído a uma determinada

OSC para a realização de um projecto

em que participaram várias

organizações pode causar mal-estar.

Apesar de se debaterem ainda com

diversas fragilidades e

constrangimentos, nalguns domínios,

existem OSC que podem ser

consideradas como referência tendo em

conta o impacto das acções

desenvolvidas.

A nível de protecção das crianças e

jovens em risco, por exemplo, pode-se

citar a ARCAR, Fundação Novo Futuro,

Santa Casa da Misericórdia e Fundação

da Criança e Juventude, que poderão

juntas desenvolver acções que exigem

um esforço colectivo, como monitorizar

as políticas públicas destinadas à

infância, à luz dos compromissos

assumidos com a adopção pelo país de

alguns instrumentos internacionais,

como a Convenção dos Direitos da

Criança (CDC).

Tendo em conta que ainda há muito por

fazer no campo jurídico, em conjunto

poderão desempenhar um papel crucial

para a actualização e a aprovação de

diplomas que garantam a efectiva

protecção das crianças e jovens. Hoje,

sabe-se que há necessidade urgente de

revisão dos Estatutos de Assistência

Jurisdicional aos Menores, Decreto n.º

417/71. Trata-se de um diploma da

época colonial e muitas das normas

previstas encontram-se desfasadas da

realidade.

Há ainda a possibilidade de trabalharem

em conjunto, através da criação de redes

temáticas, o que já vem sendo efectuado

nalgumas áreas. No domínio da

agricultura, foi criada a Rede da

Sociedade Civil para a Segurança

Alimentar e Nutricional de São Tomé e

Príncipe (RESCSAN-STP), a fim de

estimular o sector agrícola no país.

A RESCSAN-STP é por sua vez

membro da Rede da Sociedade Civil

para a Segurança Alimentar e

Nutricional na Comunidade dos Países

de Língua Portuguesa (REDSAN-

CPLP).

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125

O responsável da Associação para o

Desenvolvimento Agro-Pecuário e

Protecção do Ambiente (ADAPPA), um

dos membros da RESCSAN-STP e,

consequentemente, membro da

REDSAN-CPLP, questionado sobre os

benefícios de fazer parte de uma Rede,

afirmou que “para além de proporcionar

outras vantagens, há uma maior

facilidade em termos de acesso a

financiamentos.”

No quadro do projecto “Sociedade Civil

pelo Desenvolvimento, Comunicação e

Advocacia em São Tomé e Príncipe”,

desenvolvido pela FONG-STP e pela

ACEP, foi criada recentemente a Rede

da Sociedade Civil para a Boa

Governação, que terá a função de

definir eixos prioritários de actuação e

da implementação de iniciativas de

advocacia e monitoria de políticas.

As Associações de Moradores também

têm desempenhado um papel importante

na sociedade santomense. A Associação

dos Moradores de Boa Morte, em

parceria com os Leigos para o

Desenvolvimento, tem oferecido apoio

pedagógico aos alunos da Escola Básica

do Bairro, tendo a Escola sido

classificada em primeiro lugar em

termos de aproveitamento, no ano

lectivo 2013-201428.

28 Informação fornecida pelo Presidente da

Associação dos Moradores de Boa Morte.

Da relação com os meios de

comunicação, nota-se que as acções

desenvolvidas por Associações de

Moradores e outras OSC não têm tido a

devida cobertura dos órgãos da

comunicação social, em particular da

Televisão pública, muitas vezes

justificada por insuficiência de

equipamentos daquela instituição.

Assim, a maior parte dos trabalhos

desenvolvidos pelas OSC não tem a

difusão e reconhecimento que podia ter

e merecer.

Porém, deve-se reconhecer também que

não tem sido prática, as OSC

desenvolverem estratégias de

comunicação junto dos meios de

comunicação existentes no país. Sabe-se

que para além de divulgar o trabalho

que é feito, há possibilidade de

despertar o interesse da pessoa que

recebe a informação ao ponto de estar

disposta a apoiar uma iniciativa.

A FONG-STP, no quadro do projecto

Sociedade Civil pelo Desenvolvimento

– Comunicação, Capacitação e

Advocacia, criou um programa

radiofónico, que é transmitido

mensalmente na Rádio Nacional, que

para além de informar os cidadãos sobre

as actividades desenvolvidas pela

Federação e suas associadas,

proporciona também debates sobre

temas que são muito pouco trabalhados

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126

no país, como a transparência, a

governação, e outros.

É verdade que são poucos os meios de

comunicação29, mas as OSC deveriam

servir-se mais da internet. Em muitos

países, as OSC recorrem a este meio

para mostrarem o que fazem, bem como

para obterem financiamentos, mesmo de

um cidadão comum, para a execução de

um determinado projecto.

Hoje, mesmo as OSC que não têm sede

própria30 nem condições financeiras

para suportar os custos inerentes ao uso

de internet têm a oportunidade de

recorrer ao Centro de Recurso criado

pela FONG-STP. O Centro instalado na

sede da Federação serve para dar apoio

aos membros que necessitam de

informação, de contactar com os

doadores, de produzir e elaborar

materiais de informação, de ter acesso

ao computador ligado à internet, entre

outros.

A FONG-STP já possui um Website,

onde é feita a divulgação das

actividades desenvolvidas pela

29 No país, tem-se uma rádio e uma televisão

pública; cerca de três rádios privadas, sendo

duas religiosas; e uma rádio regional na Ilha do

Príncipe. Quanto a imprensa escrita, hoje,

apenas um jornal é publicado. 30 O estudo diagnóstico das ONG efectuado em

2010, pela FONG-STP e ACEP, verificou que a

maior parte das ONG inquiridas (56%) não tem

sede própria. Algumas desenvolvem as suas

actividades na Comunidade, outras nas

Paróquias ou nas Escolas.

Federação e suas associadas, mas não é

um portal interactivo, e tudo leva a

pensar que os membros ainda não se

apropriaram da “poderosa” ferramenta

posta à disposição dos mesmos.

Um outro aspecto relevante é o ponto da

situação quanto à parceria com o poder

local. Apesar de existir alguma

dinâmica, há ainda necessidade de

reforçar o relacionamento entre as OSC

e o poder local.

A nível de cada Distrito, as OSC, com o

apoio da FONG-STP, poderiam

estabelecer redes temáticas, bem como

monitorar a implementação das políticas

públicas.

Espera-se que a FONG-STP contribua,

através da implementação do projecto

em curso31, para o fortalecimento das

capacidades das OSC e do seu

engajamento na monitoria e advocacia

da governação.

Mas, independentemente do apoio da

FONG-STP, cada OSC poderá, através

dos meios que já estão à disposição,

trabalhar no sentido de deixarem de ser

meros executores de projectos e

passarem a ser agentes activos na

construção de uma cidadania

participativa.

31 “Sociedade Civil pelo Desenvolvimento –

Comunicação, Capacitação e Advocacia”.

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127

6. Conclusão

A proliferação no país de OSC, que se

assistiu a partir dos anos 90, demonstra

a disponibilidade da sociedade civil em

colaborar com o Estado na resolução de

vários problemas sociais, económicos e

políticos.

Apesar dos constrangimentos, da

fragilidade organizacional e

institucional de uma grande parte das

OSC, bem como do cepticismo de

algumas entidades, verifica-se que têm

sido parceiras incontestáveis do Estado

e dos financiadores na implementação

de projectos de desenvolvimento.

Mesmo no quadro das suas próprias

actividades, o impacto junto do público-

alvo tem sido positivo.

Contudo, há ainda uma certa inércia, as

OSC em São Tomé e Príncipe não

desempenham de facto o papel fulcral

na formação da consciência de

cidadania, na gestão de conflitos

sociopolíticos, no desenvolvimento

económico nacional e na construção da

identidade nacional. A justificação

sempre apresentada é a falta de meios

financeiros.

Assim, é condição sine qua non o

desenvolvimento de estratégias de

mobilização de recursos inovadoras e

criativas para pôr fim à forte

dependência em relação aos apoios

concedidos pelo Estado e pelos

parceiros de cooperação.

A especialização das OSC no país

também deve ser promovida, para evitar

a dispersão de fundos e a realização de

acções avulsas que em nada contribuirá

para o desenvolvimento sustentável do

país.

A prática de criação de redes temáticas

deve também ser incentivada, tarefa que

poderá ser assumida pela FONG-STP.

Ao nível do ordenamento jurídico, viu-

se que as OSC têm o “caminho aberto”

para desenvolverem as suas acções.

Portanto, caberá as OSC se apropriarem

de todos os meios disponíveis para que

possam ajudar a reinventar o diálogo

político e social em São Tomé e

Príncipe.

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128

Bibliografia

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Príncipe, STP. 2012

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Dados, Salvador, pp.9-19, Junho 2002.

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Legislação

Lei n.º1/2003, Constituição da República Democrática de São Tomé e Príncipe.

Lei n.º8/2012, Regime Jurídico de Constituição e Funcionamento das Organizações Não

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Website

www.anp-stp.gov.st

www.ces.uc.pt

www.fong-stp.net

www.ine.st

www.oecd.org

www.secretariageral.gov.br

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Capítulo VI

Conclusões do RDH 2014:

O potencial da juventude e a sociedade civil organizada.

Antes de passar à discussão das

conclusões sobre o problema central

deste Relatório, convém que seja feita

uma sucinta referência ao ponto onde se

encontram os são-tomenses em termos

de desenvolvimento humano e nos

avanços conseguidos para se atingir os

denominados Objetivos do Milénio.

O Índice de Desenvolvimento

Humano de São Tomé e Príncipe

passou de 0,506 em 2004 para 0,559 em

2013. Constata-se uma evolução

positiva que situa o país no grupo de

países com índice de desenvolvimento

humano médio. O IDH das mulheres

representa 89,8% do índice de

desenvolvimento humano dos homens.

A redução da distância entre 2004 e

2013 é conseguida a uma taxa muito

modesta: 0,2% ao ano. A desigualdade

no desenvolvimento humano entre

mulheres e homens é mais acentuada no

rendimento, com um coeficiente de

desigualdade estimado em 44,2%,

seguida pela desigualdade na esperança

de vida, com 26,9%, e, finalmente, na

educação, com um coeficiente igual a

20% para um coeficiente de

desigualdade humana global de 30,4%,

enquanto a exclusão da mulher é

observada com destaque no mercado de

trabalho, na participação nos órgãos de

decisão e no acesso à educação.

No que se refere aos Objetivos do

Milénio, entre 2000 e 2012, STP fez

progressos assinaláveis na

universalização do ensino primário, na

redução da mortalidade infantil de

menores de 5 anos e na melhoria da

saúde materna. Mas constitui ainda um

grande desafio para STP alcançar os

restantes objetivos, especialmente os

que estão relacionados com a

erradicação da pobreza e a fome, bem

como a promoção da igualdade do

género.

A Pobreza Humana, medida na

perspetiva da negação de oportunidades

e das necessidades de escolha

consideradas essenciais ao

desenvolvimento humano, passou de

23,7% em 2006 para 22,1% em 2012.

Em 2012, cerca de 26 mil são-tomenses

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não tinham uma esperança de vida para

além dos 40 anos, 18,5 mil estavam

limitados no acesso ao conhecimento e

57,4 mil não beneficiavam do acesso

aos serviços básicos, como água potável

e serviços sanitários.

Pode-se dizer, portanto, que os avanços

são moderados e STP precisa de fazer

esforços adicionais para incluir a parte

da população à margem nesse

desenvolvimento humano médio e pôr

fim à desigualdade entre mulheres e

homens.

Quanto ao tema principal deste RDH,

não há dúvidas que a sua eleição pelos

são-tomenses está mais do que

justificada.

A instabilidade política são-tomense e a

percepção de inadmissíveis níveis de

corrupção entre a classe política e na

administração pública não podem

continuar de forma indefinida como se

fossem inerentes ao sistema. Podem e

devem ser abordadas, não só por

critérios éticos, mas pela necessidade

imperiosa de fortalecer o Estado, o que

é imprescindível para se criar condições

adequadas que permitam um autêntico

desenvolvimento humano. O

estabelecimento e a viabilidade das

estratégias a longo prazo não podem

continuar a depender de semelhantes

limitações. Se a classe política e a

burocracia não são capazes de alterar a

sua prática de privilegiar os benefícios

particulares em vez de atuar a favor do

conjunto de cidadãos - como estes têm

estado reiteradamente a reclamar -,

então é a sociedade civil, e de forma

especial a juventude, através de

organizações eficazes, que deve

contribuir de modo decisivo para a

estabilidade política e a regeneração

ética na função pública.

STP dispõe de uma juventude com

vontade de impulsionar as mudanças

necessárias para se atingir um maior

desenvolvimento humano e apoiar tanto

o fortalecimento do Estado para chegar

a ser moderno e transparente, como a

estabilidade dos governos responsáveis

como um bem comum para o futuro do

país. Mas a vontade é uma condição

imprescindível, mas não suficiente.

Nas pesquisas realizadas para a

elaboração deste Relatório constatou-se

que, na atualidade, a sociedade civil

organizada é ainda muito frágil e os

jovens encontram–se numa posição

económica demasiado dependente das

redes clientelistas, em que a classe

política ocupa um lugar privilegiado. À

fragilidade económica dos jovens e das

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131

próprias organizações há que somar

uma limitadíssima massa crítica no

mundo intelectual, uma carência de

ligações internas e internacionais para

se organizar e potenciar avanços em

todos os campos, uma utilização

mínima das tecnologias do século XXI e

um sentido coletivo, como nação,

demasiado frágil para se sacrificar pelo

bem-estar comum e pelas gerações

vindouras. Todos esses factores

apontados se completam com uma

ausência de lideranças claras que

possam dirigir a sociedade em geral e os

jovens, em particular, rumo ao

desenvolvimento humano que o país

precisa.

O que fazer para ultrapassar todas essas

limitações e desenvolver as lideranças

no seio da sociedade civil?

A estratégia de ação passa por abordar o

repto a partir de várias frentes, tendo em

conta que o seu sucesso e

sustentabilidade dependem em grande

medida da apropriação por parte do

conjunto da sociedade são-tomense do

conceito de desenvolvimento humano e

sustentável. Se a sociedade assume a

mentalidade que implica essa ideia de

desenvolvimento e o incorpora nas suas

próprias vidas, a classe política e a

função pública estarão muito mais

condicionadas nas suas actuações. As

lideranças que STP precisa poderiam

desenvolver-se no próprio processo de

divulgação, implantação e assunção do

desenvolvimento humano, processo em

que a juventude deveria ter um papel

chave.

A primeira frente é impulsionar a

implementação do Programa de

Reforma da Justiça.

Como se expôs na introdução deste

Relatório e no capítulo focalizado na

Reforma da Justiça, não se pode falar de

desenvolvimento humano sem uma

legislação que responda a um Estado de

Direito moderno. Também não é

possível que o cidadão adopte uma

mentalidade democrática se percebe que

a corrupção está enraizada no próprio

Estado, incluindo no sistema judiciário.

A aprovação de instrumentos legais

destinados a prevenir, fiscalizar, punir e

combater a corrupção em todos os

âmbitos e, muito especialmente, na vida

política é uma condição iniludível.

Supõe também contribuir para uma

justiça célere, eficaz e acessível a todos

os cidadãos.

Uma Justiça real limitaria, por

conseguinte, a corrupção e a

instabilidade política e aumentaria a

credibilidade dos cidadãos no sistema

democrático.

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132

A cidadania deve mobilizar e apoiar as

OSC implicadas no processo para

garantir a implementação da Reforma

da Justiça e essas OSC devem ser

capazes de canalizar de forma eficaz o

apoio popular. É fundamental no âmbito

dessa cooperação entre as OSC e os

cidadãos criar mecanismos eficazes de

comunicação, tentando não depender de

forma permanente dos meios públicos.

As novas tecnologias e as redes sociais

permitem desenvolver novos canais

com grande eficácia.

A segunda frente fundamental para a

nova mentalidade e a construção de

lideranças para o desenvolvimento

humano é a mudança da comunicação

social e do paradigma de acesso à

informação e à formação.

No século XXI, os meios de

comunicação social têm experimentado

mudanças profundas como

consequência das novas tecnologias e,

de maneira especial, pelo uso massivo

da Internet. Mesmo num país como

STP, ainda limitado nas suas conexões e

nas possibilidades económicas de uma

grande parte da população, é cada vez

mais fácil o acesso às novas fontes de

informação e à comunicação entre

diferentes atores nacionais e

internacionais.

Os meios convencionais de

comunicação social em STP têm estado

muito condicionados pelos fatores

acima, entre os quais se pode sublinhar

o poder omnímodo da classe política

sobre esses Media. Num país tão

pequeno, com poucos recursos

económicos e com uma notável

dependência de relações clientelistas é

muito complicado abstrair-se da

conjuntura política e poder analisar e

comunicar a realidade com plena

independência de critérios. Se a

discrepância com o poder político tem

consequências diretas sobre o

comunicador ou o seu círculo, a

ausência de censura formal não implica

o pleno exercício livre da comunicação

nos meios públicos.

Esta limitação poderia ser ultrapassada

atuando numa dupla direção:

1) implicando todos os atores

políticos num acordo estratégico

para garantir a participação livre

e continuada da sociedade civil

nos meios de comunicação

pública, pelo menos em temas

relacionados com o

desenvolvimento humano.

2) facilitando o acesso às novas

tecnologias para que qualquer

cidadão ou organização possa

obter e transmitir informação e

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133

formação das fontes existentes

na internet e dispor da

possibilidade de criar ou

participar nas redes globais.

Reflictindo com um pouco mais de

atenção sobre essas propostas:

Como dar voz livre à sociedade civil

nos meios de comunicação públicos?

Concedendo espaços de forma regular,

com temas de interesse geral

relacionados com o bem-estar da

população, com debates abertos onde os

cidadãos e as organizações sociais

possam apresentar as suas preocupações

e contribuir para encontrar soluções;

onde se desenvolvam modelos de

discussão construtiva que ajudem a

população a pensar sob diferentes

perspectivas e ampliem as

possibilidades de reflexão e criação;

onde os políticos e a sociedade se

encontrem para dialogar e chegar a

consensos; onde se fomente, através da

interação construtiva, uma cultura de

pertença a uma nação que partilhe

valores enraízados na própria tradição e

no desenvolvimento humano

sustentável para todos os são-tomenses.

Por outras palavras, significa que os

meios mais importantes da comunicação

social no país contribuam para a

mudança de mentalidade, dando

oportunidades de participação livre e

real à sociedade para trocar ideias, fazer

propostas, abrir novos caminhos,

dialogar com os poderes públicos,

aproximar o político do cidadão,

conceber a diversidade ideológica em

todos os campos como uma riqueza e

não como uma ameaça e estar

consciente das capacidades que tem o

povo são-tomense de atingir objetivos,

que é capaz de multiplicar ideias e

esforços, em vez de manter uma atitude

de indiferença ou enfrentamento.

Se os meios de comunicação são-

tomenses podem e devem ser

percebidos como parte de todos os são-

tomenses e não apenas da classe

política, é igualmente importante que os

cidadãos olhem para o mundo exterior e

possam ter acesso a todas as ideias,

fontes, avanços científicos, educativos,

entre outras formas de conhecimento

disponíveis.

A interação entre os são-tomenses e o

mundo exterior deve nutrir-se das

oportunidades que a Internet oferece. A

possibilidade de aceder de forma livre e

regular a todo tipo de fontes e em todos

os campos facilitaria a mudança

profunda de mentalidade que requer o

século XXI. Na rede global, é possível

consultar-se notícias e opiniões diversas

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134

sobre um assunto, evitando assim as

versões da informação demasiado

condicionadas internamente. A

diversidade de opiniões e análises não

só favorece uma compreensão mais

holística de qualquer fenómeno, mas

também pode abrir caminhos de

conhecimento que não estão a

desenvolver-se num país tão pequeno e

com limitadíssima atividade científica.

A Internet oferece opções de formação

para quase todos os campos e cada vez

há mais oferta gratuita. É um lugar

privilegiado para que os jovens possam

saciar a sede de conhecimentos em

qualquer disciplina, sem ter que

depender das contadas bolsas que se

disponibilizam no país para estudar,

sem preocupações económicas

imediatas. Na mesma rede também se

pode procurar fundos para aprofundar

estudos no exterior, financiar pesquisas

em STP ou noutros países ou para

desenvolver os mais variados projetos.

Se a Internet pode ser uma fonte

inesgotável de informação e formação,

também oferece um espaço privilegiado

para multiplicar as relações

interpessoais e internacionais dos são-

tomenses. Pode-se afirmar, sem risco de

erro, que existem pessoas, grupos e

organizações de todo o tipo na rede de

redes. Esses interlocutores podem dar

um estímulo importante à população

são-tomense, e muito especialmente à

juventude, em qualquer campo do saber

ou de intervenção sobre problemas

concretos. Podem estabelecer-se

relações, por exemplo, para reproduzir

modelos de negócio existentes noutros

países ou para criar movimentos de

solidariedade em defesa, por exemplo,

dos direitos humanos ou do património

cultural são-tomense.

Também relativamente à corrupção, um

dos problemas colocados neste

Relatório, as relações internacionais

podem ser de grande utilidade. As

organizações externas não estão sujeitas

a grandes pressões ao realizar e publicar

as pesquisas e podem exercer uma

apreciável influência, sobretudo, sobre a

opinião pública, as empresas e os

partidos políticos dos próprios países

doadores. As redes interpessoais

permitem ao mesmo tempo que os

activistas e organizações locais possam

encontrar-se em contínua interlocução

com pessoas de diversas origens. Nada

mais útil para adaptar a mentalidade no

contexto de um mundo globalizado que

desenvolver relações com pessoas de

todos os lugares que, além disso, nos

apoiam de maneira incondicional.

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135

A terceira frente incontornável é

melhorar a situação socioeconómica

da população que se encontra na

precariedade. Quando se vive numa

condição de extrema marginalidade, a

mudança rumo a uma nova mentalidade

só se vai produzir, na maioria dos casos,

se houver impactos concretos positivos

nas condições básicas de vida das

pessoas.

Há que se perguntar, como dotar todos

os cidadãos de condições de vida

dignas? Ou, pelo menos, iniciar já o

caminho para se obter essas condições?

Seria pouco realista apresentar como

solução imediata que o Estado

disponibilize os meios necessários para

que essa população possa sair desse

nível de marginalidade económica,

porquanto a actual situação desse

mesmo Estado ainda não permite

garantir satisfatoriamente a

disponibilização desses meios. Basta

dizer que ainda é crónica a dependência

da cooperação para o desenvolvimento.

A mudança requer um período

prolongado e uma melhoria acentuada

da posição económica.

No entanto, pode-se esperar, a curto

prazo, a criação de condições legais

adequadas que permitam dar segurança

jurídica ao investimento nacional e

estrangeiro, lutar contra a corrupção de

maneira eficaz, dar benefícios fiscais a

determinados investimentos e doações

de particulares e empresas, garantir o

cumprimento das leis relativas ao meio

ambiente, entre outras.

Porém, a legislação mais adequada não

é suficiente para reverter a

marginalidade. Precisa-se que a

economia são-tomense melhore de

forma substancial e que a própria

sociedade são-tomense assuma um

papel decisivo para promover políticas

de protecção social e envolver o

conjunto de cidadãos no processo de

inclusão social.

Seguindo essa linha de reflexão no

contexto do presente Relatório (que

inclui a evolução de parâmetros

económicos, mas não como melhorar

substancialmente a economia), pode-se

sugerir a possibilidade de depositar na

sociedade civil são-tomense, e de

modo especial, na juventude, o peso

das acções para ter impactos

significativos nessa população

marginalizada.

Para que isto seja realidade é

necessário, em primeiro lugar, que a

juventude são-tomense deixe de

esperar que o Estado resolva muitos

dos problemas básicos e tome as rédeas

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136

dos desafios inadiáveis que podem ser

enfrentados sem grandes dificuldades.

Os anos em que o Estado pretendia

ocupar-se de tudo, da economia

inclusivé, passou à história. A ideia de

permanecer à margem de muitas

intervenções que podem melhorar a

qualidade de vida porque “é o Estado

quem deve fazê-las” só tem perpetuado

a marginalidade.

Se o Estado, por exemplo, no campo

educativo – parte essencial do DH -, não

disponibiliza recursos para alfabetizar

os idosos ou as pessoas que não tiveram

oportunidade de receber adequada

formação académica, por que não tomar

iniciativas para que sejam os próprios

jovens a dedicar um pouco de seu

tempo a participar nesse processo de

educação e, nesse contexto, poder

eventualmente beneficiar de outro tipo

de qualificação por parte desses idosos?

Se o Estado não consegue informação

ou acordos suficientes para obter bolsas

no estrangeiro, o que impede os jovens

de utilizar as novas tecnologias para

serem eles mesmos a procurar essas

bolsas?

Se a formação académica regular no

país é deficiente ou não existe em certos

níveis, ou não se dão aulas em

determinadas línguas estrangeiras, por

que não utilizar os inúmeros recursos

gratuitos existentes através da Internet,

que incluem cursos em universidades de

primeiro nível? Por que não utilizar os

portais de Internet gratuitos para

aprender outras línguas?

O que dizer da participação em grupos

académicos ou de investigação, cuja via

principal de comunicação é a Internet?

Por que depender do Estado são-

tomense para abrir blogs, publicar

artigos ou criar recursos úteis para

melhorar o nível educativo da

população?

Os exemplos da educação são

extensivos praticamente a todos os

campos. Nada impede que os cidadãos

possam introduzir algumas melhorias

nos serviços mais básicos. Todaviaseria

de muita utilidade ter em devida conta e

cumprir com a maioria das

recomendações que se seguem.

Em segundo lugar, o teoricamente

arraigado individualismo são-tomense

deve deixar espaço a formas de

cooperação em grupo ou em equipa,

principalmente quando se trata de

aspectos básicos de desenvolvimento

humano. As OSC, onde a juventude

desempenha um papel central, podem

dinamizar essa cooperação.

Mesmo se cada pessoa dispõe de

capacidade para melhorar o seu entorno,

uma grande parte das mudanças na

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137

qualidade de vida exige participação

colectiva. Muitos dos entrevistados

consideram que o individualismo é uma

característica idiossincrática dos são-

tomenses e são cépticos sobre os

projectos que impliquem trabalhar em

equipa. Independentemente do acertado

dessa caracterização, é evidente que os

são-tomenses cooperam em muitas

áreas no dia-a-dia para o funcionamento

da actividade privada e pública. Se não

fosse assim, os serviços não

funcionariam. Talvez seja mais

apropriado dizer que muitos são-

tomenses percebem que os interesses

particulares se sobrepõem aos coletivos.

Isso não implica que não possam

colaborar. Para obter benefícios

pessoais, em muitas ocasiões, é

necessário cooperar e beneficiar todo

um grupo.

Para obter melhorias no

desenvolvimento humano os outros são-

tomenses não devem ver-se como

concorrentes, mas como aliados; não só

porque é mais fácil atingir os objectivos

com a soma de muitas pessoas, mas

também porque o aumento da qualidade

de vida das pessoas ou grupos

adjacentes é benéfico para todos. É

conveniente explicitar: se o bairro

próximo não tem lixo nas ruas, menos

problemas ambientais e de saúde para

os vizinhos. Se o crescimento

económico é forte, surgem mais opções

de emprego e serviços para todos e

aumenta a possibilidade de consumo

dos nossos produtos.

Por outro lado, a captação de recursos

nacionais e estrangeiros e a

implementação de projectos de

envergadura requerem a participação de

equipas. Do mesmo modo, qualquer

inovação tecnológica é resultado da

cooperação em equipa.

Os jovens, sobretudo aqueles que

obtiveram formação académica superior

e experiência internacional, dispõem de

capacidades para desenvolver esta

filosofia de trabalho em equipa e de

articulação de esforços de diferentes

grupos.

Em terceiro lugar, deve-se impulsionar

o voluntariado, que oferece grandes

vantagens não só para os receptores

directos dos apoios e para o conjunto da

sociedade, mas também para os próprios

voluntários.

O voluntariado confronta-se com outra

imagem muito comum em STP.

Ninguém faz nada sem receber uma

compensação económica.

Mais uma vez, a realidade é outra e,

naturalmente, pode ser alterada.

A juventude são-tomense já mostrou

que está disponível a colaborar de forma

desinteressada em projectos sociais.

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138

Basta falar com membros da

Associação de Estudantes do Liceu para

confirmar a sua participação em vários

deles. O que lamentam é a escassa

visibilidade que se lhes dá nesse tipo de

actividades, ao contrário de políticos e

autoridades, que sempre aparecem nos

meios de comunicação. Também

insistem na ausência de apoios mínimos

para desenvolver a sua cooperação.

Não só os jovens têm feito trabalhos

como voluntários. Já existem

precedentes em OSC focalizadas em

direitos humanos, transparência ou

saúde. Inclusive algumas ONG’s têm

conseguido voluntários par a

rehabilitação da principal avenida da

capital e associações de moradores têm

colaborado na remoção do lixo.

As possibilidades que o voluntariado

oferece para elevar o desenvolvimento

humano num país tão limitado de

recursos públicos como STP são

enormes. Sensibilizar os jovens dos

benefícios pessoais e sociais que

representam dedicar uma pequena parte

do seu tempo e talento a melhorar a vida

de outras pessoas é um desafio

obrigatório. Com iniciativas adequadas

e o devido reconhecimento, estes jovens

são-tomenses podem converter-se em

impulsionadores desta filosofia

colaborativa.

Em quarto lugar, há que criar uma

sociedade-rede, a mais ampla e diversa

possível. Quanto mais ligações locais,

nacionais e internacionais estiverem em

conexão, haverá mais oportunidades de

abrir caminhos e menos vulnerabilidade

face aos problemas complexos.

Um dos grandes problemas que tem

STP é a insularidade, que não é só uma

característica geográfica, mas também

um problema de mentalidade. Para uma

grande parte da população, o mundo

está restringido a um espaço físico e

simbólico muito reduzido e sem opções

para ser ultrapassado. Nessa concepção,

há tendência de guardar os recursos,

incluindo os conhecimentos, em vez de

reproduzi-los. Na maioria dos casos, a

sua divulgação apenas acontece no

quadro de relações clientelistas, com

frequência ligadas aos partidos

políticos. Os efeitos imediatos são a

exclusão social de quem não pertence a

essas relações e o empobrecimento

colectivo. Pois, o que não se transmite e

analisa não pode ser melhorado.

Pelo contrário, a fragilidade de cada

pessoa ou comunidade diminui na

medida em que se multiplicam as redes

ao seu redor. Essas redes podem ser

benéficas em muitos âmbitos, pois há

pessoas, grupos informais e

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139

organizações em quase todos os

campos, desde os mais teóricos aos

mais aplicados. Uma boa rede elaborada

para, por exemplo, prevenir epidemias

ou actuar em caso das mesmas, como

poderia ocorrer com o Ébola, salvaria

numerosas pessoas da doença. Não só

poderia agir como veículo de

comunicação imediata, mas também

como lugar de formação, meio de

aquisição de materiais para se relacionar

com os doentes, busca de profissionais

adequados para lidar com a doença,

informação sobre a evolução dentro e

fora do país, possibilidades de encontrar

fundos, lugares onde tratar os doentes,

pesquisas científicas em curso, etc. Uma

rede bem organizada pode converter o

caos em ordem e os jovens com as

novas tecnologias, como os telefones

inteligentes, podem desenvolvê-las sem

grandes problemas.

Se o exemplo da importância de boas

redes para casos de epidemia pode ser

bem visível num presente marcado por

Ébola em alguns países da África

ocidental, são inúmeras as opções em

outras áreas.

Podem criar-se, por exemplo, redes

internacionais para proteger a

biodiversidade de STP, gerar espaços de

pesquisa, ligar com centros de

investigação e universidades

estrangeiras e trazer investigadores ao

país, organizar eventos em STP com

essa temática, fazer documentários e

divulgá-los através dessa rede,

assegurar os lugares protegidos, através

da compra de uma parte dos mesmos

por conservacionistas (como já se tem

feito noutros lugares do mundo, como

no Chile, por exemplo).

Criar uma simples e efectiva rede para

se assegurar que todas as mulheres

maltratadas de STP tenham a

oportunidade de falar com alguém sobre

a sua situação.

Em quinto lugar, é urgente e

imprescindível a criação de uma vida

cultural interna, pró-activa, estimulante

e aglutinadora de esforços para dar

sentido de pertença a uma nação, com

uma identidade forte e valorizadora do

património cultural são-tomense.

A cultura tem que servir tanto para o

desenvolvimento intelectual como para

canalizar o legado emocional do povo

são-tomense. Pode ser também o lugar

de encontro entre são-tomenses de

distintas ideologias políticas e funcionar

como espaço privilegiado para aglutinar

sensibilidades e somar capacidades. E

deve ser um símbolo de diálogo e

articulação entre as distintas gerações,

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140

pois a cultura liga o passado ao

presente.

A valorização da cultura pode se iniciar

com uma recolha e sistematização de

qualidade do património físico e

intelectual são-tomense. Há que

recuperar o saber transmitido por

tradição oral, e reconhecer as crenças e

valores, os rituais, os costumes e as

diversas expressões artísticas. Há que

reconstruir a história étnica e as

biografias exemplificativas para as

novas gerações. A juventude deve estar

activa e interessada nesta recuperação

cultural, pois ser-lhe-á de grande

utilidade para construir uma identidade

para o futuro do país que inclua as

contribuições do passado.

Se a tradição cultural é importante para

construir uma identidade como nação,

as novas formas culturais têm também

que se desenvolver para atender as

necessidades de expressão e ócio da

juventude atual.

Há que promover grupos de criação e

investigação e tentar que o teatro, o

cinema, a música, a escrita, etc. façam

parte do quotidiano.

A vida artística e o estímulo científico

também favorecerão a estabilidade em

STP e o desenvolvimento humano, pois

ciência e arte contribuem para o

desenvolvimento das capacidades e

abrem numerosas oportunidades.

Em sexto lugar, há que potenciar as

organizações da sociedade civil para

que existam interlocutores visíveis e

com personalidade jurídica capazes de

desenvolver com eficácia todos os

pontos anteriores. Nessas OSC, a

juventude deve encontrar e abrir

espaços para lideranças que

impulsionem o país rumo ao

desenvolvimento humano sustentável e

contribuam para estabilização da vida

política e social de STP.

Para que as OSC em STP possam

ultrapassar a situação de fragilidade,

deveem aplicar as recomendações já

mencionadas: deixar de esperar que o

Estado resolva os seus problemas

básicos e desenvolver as suas próprias

inovadoras e criativas estratégias de

mobilização de recursos, esquecer os

interesses individuais e desenvolver

formas de cooperação em grupo ou em

equipa, impulsionar o voluntariado,

criar redes amplas e diversificadas –

tanto locais, como nacionais e

internacionais – e contribuir para a

criação de uma vida cultural e uma

identidade forte e valorizadora do

património cultural são-tomense e

aberta à cultura do século XXI,

incluindo a ciência, a arte e as novas

tecnologias.

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141

ANEXOS

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142

NOTAS TÉCNICAS

Nota Técnica 1 – Cálculo do índice de desenvolvimento humano (IDH) e de Género

(IDHG)

a) Cálculo do IDH

A construção do índice de desenvolvimento humano baseou-se na nova

metodologia de cálculo introduzida na edição do 20.º aniversário do Índice de

desenvolvimento humano.

Para o cálculo do IDH, os parâmetros utilizados foram tomados do PNUD

(2014), que fixa os seguintes de valores mínimos e máximos (limites) observados:

Indicadores Mínimo Máximo

Esperança de vida à nascença 20 85

Média de anos de escolaridade 0 15

Anos de escolaridade esperados 0 18

RNB per capita ($PPC) 100 75.000

Com base nos valores mínimos e máximos observados, procedeu-se ao cálculo

dos sub-índices da seguinte forma:

imValorimoValor

imoValorobservadoValoroaensdeIndice

minmax

min~dim

(1)

Tomando como exemplo a esperança de vida à nascença de STP em 2013 (66,3 anos), o

índice de esperança de vida para este ano seria:

712,00,200,85

0,203,66

EVI

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143

O cálculo do índice de educação envolve dois passos: o primeiro consiste em

aplicar a equação (1) a cada um dos indicadores operacionalizados nesta dimensão para

criar sub-índices. O índice de educação é obtido aplicando a média aritmética simples

dos sub-índices resultantes;

Tomando como exemplo a média de anos de escolaridade e anos de escolaridade

esperados de STP em 2013 (4,7 e 11,3 anos respectivamente), os respectivos sub-

índices e o índice de educação para este ano seria:

6278,000,18

03,11

AEEI 3133,0

00,15

07,4

MAEI

471,02

6278,03133,0

2

AEEMAE

E

III

Tomando como exemplo o RNB per capita $PPC de STP em 2013 ($PPC

3132,2), o índice de rendimento para este ano seria:

520,0)100()75000(

)100()2,3132(

LnLn

LnLnI y

Uma vez obtidos os índices, nomeadamente o índice de esperança de vida, o índice de

educação e o índice do rendimento, calculou-se o IDH como uma média geométrica dos

três índices.

559,0471,0*6278,0*3133,0 IDH

b) Cálculo do IDHG

O cálculo do IDHG, segue os mesmos procedimentos usados para o cálculo do

IDH, mas utiliza os seguintes valores mínimos e máximos para mulheres e homens

tomados do PNUD (2014) para transformar os indicadores em índices entre 0 e 1:

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Indicadores Mínimos Máximos

Mulheres Homens Mulheres Homens

Esperança de vida à nascença32 22,5 17,5 87,5 82,5

Média de anos de escolaridade 0 0 15 15

Anos de escolaridade esperados 0 0 18 18

RNB per capita ($PPC) 100 100 75.000 75.000

Cálculo do Rendimento das mulheres e dos homens

Os valores do RNB per capita $PPC para as mulheres e homens, são calculados

a partir da parcela feminina da remuneração salarial (Sf) utilizando o rácio do salário

feminino (wf) e masculino (wm)33 e as parcelas percentuais da população

economicamente activa feminina (EAf) e masculina (EAm) da população

economicamente activa (PEA):

mfmf

fmf

fEAEAWW

EAWWS

*)/(

*)/(

Assumindo que o RNB divide-se entre mulheres e homens de acordo com (Sf),

teremos:

RNBSRNB ff * fmm SxRNBSRNB 1*

O RNB per capita das mulheres (RNBf) e dos homens (RNBm) obtêm-se

dividindo respectivamente pela população feminina e masculina do país. Os índices dos

rendimentos tanto para mulheres (IRNBf) como para homens (IRNBm) é tratado do mesmo

modo como na construção do IDH, isto é:

)()(

)()()

minmax

min

RNBLogRNBLog

RNBLogRNBLogI

f

RNBf

)()(

)()(

minmax

min

RNBLogRNBLog

RNBLogRNBLogI m

RNBm

32 A esperança de vida à nascença das mulheres é ajustada segundo o PNUD (2014)

para reflector os cinco anos de vantagem biológica das mulheres sobre os homens; 33 PNUD (2014) estima em 80%. Este valor significa que o salário médio das mulheres é 20% inferior a

dos homens.

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145

O índice de desenvolvimento de género é simplesmente o rácio entre o IDH das

mulheres e dos homens.

IDHm

IDHfIDHG

Um IDHG inferior a unidade significa que o desenvolvimento humano favorece os

homens.

Nota Técnica 2 – Metodologia de cálculo do índice de pobreza humana (IPH-1)

O IPH-1 mede as privações em três dimensões básicas do desenvolvimento

humano captadas no IDH:

Vulnerabilidade à morte numa idade relativamente prematura medida pela

probabilidade à nascença de não viver até aos 40 anos (P1);

Exclusão do mundo da leitura e das comunicações, medida pela taxa de

analfabetismo de adultos (P2);

Falta de acesso ao aprovisionamento económico global, medida pela média

não ponderada de três indicadores: a percentagem da população sem acesso

sustentável a uma fonte de água melhorada e a percentagem da população

sem acesso aos serviços e saúde e crianças menores de 5 anos com peso

deficiente moderada ou severa (P3);

Uma vez obtidos os indicadores de privação, calcula-se o IPH-1 através da

seguinte fórmula:

3

1

3213

11

PPPIPH

Onde: α = 3 é o valor utilizado para dar um peso adicional, mas não excessivo, às áreas

de privação mais aguda.

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146

Nota Técnica 3 – Metodologia de Cálculo do Progresso em Direcção a Cada

Objective

Segundo o Relatório Global do Desenvolvimento Humano (PNUD, 2004), o

progresso em direcção a cada objectivo é avaliado comparando o progresso anual

actual, se as tendências correntes prevalecerem até 2015, com o progresso anual

necessário para atingir a meta, assumindo a hipótese de progresso linear.

A taxa de progresso anual actual é calculada utilizando a fórmula geral:

01

101

tt

xxxactualanualprogressodeTaxa

ttt

Onde t0 é 1990 ou o ano mais próximo de 1990, para o qual existem dados disponíveis;

t1 é o ano mais recente, para o qual existem dados disponíveis; xto e xt1 são os valores do

indicador para esses anos respectivamente.

Para taxas de fome, pobreza e mortalidade de menores de cinco anos, para os

quais o valor mais desejável é 0, a fórmula aplica-se sem modificação. Para a taxa de

escolarização primária líquida, igualdade de género na educação (rácio das raparigas em

relação aos rapazes) e a percentagem da população com acesso a água potável e

saneamento, para os quais o valor mais desejável é 100%, o progresso é expresso como

“relação de carência”, de acordo com a seguinte formula:

01

001100/

tt

xxxactualanualprogressodeTaxa

ttt

Para uma avaliação do progresso requerido, a taxa de progresso requerido para

atingir a meta em 2015 (em 2005 para a igualdade de género na educação) é

determinada pela meta: Os valores para α são: -1/2 para a pobreza e fome, água potável

e saneamento; -2/3 para a mortalidade de menores de cinco anos e 1 para a

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147

escolarização primária e igualdade de género da educação. A taxa anual de progresso

requerido é, então, calculada de forma simples, dividindo α pelo número de anos entre o

ano tODM, ano em que se deve atingir a meta e t0 o ano mais próximo de 1990 para o

qual existem dados disponíveis. Formalmente:

0ttrequeridoprogressodoanualTaxa

ODM

Quadros

Capítulo II

Quadro 1. Desempenho económico por sectores de actividade, 2005 – 2013 (%)

Descrição 2005 2006 2007 2008 2009 2020 2011 2012 2013*

Sector Primário 1,6 5,9 2,8 8,5 3,9 -1,1 1,0 -0,1

Agricultura 1,7 7,3 2,7 11,2 4,4 -2,9 0,3 -1,3

Pescas 1,4 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,5

Indústria extractiva 2,6 6,7 2,8 3,9 4,6 5,0 0,9 -1,0

Sector Secundário 3,9 6,4 4,1 5,9 0,3 2,3 1,8 4,5

Indústria transformadora 3,6 5,0 3,2 7,7 2,7 0,5 3,9 8,4

Electricidade e água 10,5 9,6 3,8 5,9 8,0 9,6 12,7 14,9

Construção 2,6 7,0 5,1 4,2 -3,9 2,0 -3,6 -3,3

Sector Terciário 11,8 7,1 -1,1 5,1 2,9 4,7 2,1 1,8

Comércio 6,6 9,6 1,3 9,7 1,0 6,3 0,8 3,1

Alojamento e restauração 0,8 8,6 0,0 1,2 -1,9 -2,5 4,5 4,7

Transporte e comunicações 32,3 2,7 -7,4 1,1 8,0 4,1 3,0 -2,2

Outros serviços 3,9 7,6 1,3 1,4 2,0 3,1 3,4 3,2

Produto Interno Bruto (PIB) 7,1 9,1 0,6 8,1 4,0 4,5 4,8 4,5 4,0-4,5

Inflação 17,2 24,6 27,6 24,8 16,1 12,9 11,9 10,4 7,1

Fonte: Instituto Nacional de Estatística; * Previsão do Banco Central de STP

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148

Quadro 2. Índice de desenvolvimento humano e de género e seus componentes,

2004-2013

Descrição 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Dados Básicos

Esperança de vida à nascença (anos)

Mulheres

Homens

64,3

66,1

62,5

64,6

66,5

62,8

64,9

66,8

63,1

65,2

67,1

63,3

65,5

67,4

63,6

65,7

67,6

63,8

65,9

67,8

64,0

66,0

68,0

64,1

66,1

68,2

64,2

66,3

68,3

64,3

Média de anos de escolaridade (anos)

Mulheres

Homens

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,2

3,6

4,9

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

4,7

4,0

5,5

Anos de escolaridade esperados (anos)

Mulheres

Homens

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,1

10,2

10,0

10,8

10,9

10,7

10,8

10,9

10,7

10,8

10,9

10,7

11,1

11,2

11,0

11,3

11,4

11,2

11,3

11,4

11,2

Rendimento per capita (dólares PPC)

Mulheres

Homens

1.994

1.296

2.708

2.135

1.387

2.903

2.329

1.511

3.171

2.343

1.519

3.193

2.532

1.639

3.454

2.634

1.704

3596

2.751

1.935

4.092

2.882

2.045

4.332

3.012

1.991

4.055

3.132

2.062

4.201

Cálculo de Índices

Índice de esperança de vida

Mulheres

Homens

0,682

0,671

0,692

0,686

0,676

0,697

0,691

0,682

0,701

0,695

0,686

0,705

0,700

0,691

0,709

0,703

0,694

0,712

0,706

0,698

0,715

0,708

0,700

0,717

0,710

0,702

0,719

0,712

0,705

0,720

Índice de educação

Mulheres

Homens

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,421

0,402

0,441

0,457

0,436

0,479

0,457

0,436

0,479

0,457

0,436

0,479

0,465

0,445

0,488

0,471

0,450

0,493

0,471

0,450

0,493

Índice do rendimento

Mulheres

Homens

0,443

0,390

0,483

0,450

0,397

0,491

0,454

0,400

0,495

0,479

0,426

0,520

0,483

0,429

0,524

0,490

0,436

0,531

0,510

0,456

0,551

0,517

0,463

0,559

0,517

0,466

0,555

0,520

0,469

0,559

Índice de desenvolvimento humano

Mulheres

Homens

Índice de desenvolvimento do género

0,506

0,471

0,534

0,883

0,511

0,476

0,539

0,885

0,517

0,483

0,544

0,887

0,518

0,484

0,546

0,887

0,538

0,503

0,567

0,888

0,541

0,506

0,570

0,889

0,545

0,514

0,577

0,892

0,551

0,522

0,584

0,893

0,556

0,523

0,583

0,897

0,559

0,525

0,585

0,898

Fonte: PNUD, RGDH para indicadores de educação e PNB per capita, este último ajustado ao tamanho da população conforme

publicado pelo INE de STP; INE, para esperança de vida

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149

Quadro 3. População de 22 anos e mais por condição perante actividade

económica, 2012 (%)

H M H M H M

Condição perante actividade económica 49,5 50,5 48,5 51,5 51,7 48,3

Empregada 61,8 38,2 59,8 40,2 66,2 33,8

Desempregada 40,9 59,1 37,5 62,5 50,9 49,1

Inactiva 39,1 60,9 39,2 60,8 39,1 60,9

Participação da População Residente empregada

com 10 anos e mais

61,8 38,2 59,8 40,2 66,2 33,8

Poderes Legislativo e Executivo, Directores e Gestores

Executivos

75,6 24,4 72,7 27,3 91,3 8,7

Especialistas das Actividades Intelectuais 56,0 44,0 55,7 44,3 57,8 42,2

Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio 68,6 31,4 66,6 33,4 78,6 21,4

Pessoal Administrativo 53,9 46,1 50,9 49,1 67,2 32,8

Pessoal de Serviços e Vendedores 41,1 58,9 37,5 62,5 51,1 48,9

Agricultores e Trabalhadores Qualificados da

Agricultura, Pesca e Florestas

83,5 16,5 90,9 9,1 77,5 22,5

Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 94,4 5,6 94,4 5,6 94,6 5,4

Trabalhadores Não Qualificados 29,2 70,8 28,6 71,4 30,6 69,4

População Residente nos Alojamentos familiares

Desempregada que já Trabalhou com 15 anos e

43,1 56,9 39,3 60,7 54,5 45,5

Distribuição das Familias segundo Sexo do

responsável da familia por Nivel de Instrução

58,8 41,2 55,7 44,3 64,8 35,2

Sem Nivel 28,3 71,7 23,7 76,3 34,6 65,4

Pre-Escolar 33,3 66,7 0,0 100,0 50,0 50,0

Ensino Básico 59,5 40,5 54,3 45,7 67,6 32,4

Alfabetização 40,7 59,3 42,3 57,7 36,4 63,6

Secundário 65,4 34,6 62,6 37,4 73,2 26,8

Profissional/Técnico 80,0 20,0 77,3 22,7 97,6 2,4

Superior 77,9 22,1 77,3 22,7 86,0 14,0

DescriçãoTotal Urbano Rural

Fonte: Estimativas com base nos resultados do RGPH de 2012;

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150

Quadro 4. Índice de Pobreza Humana (IPH-1), 2006 - 2012

Período1

Índice de

Pobreza

Humana

Privação de

Sobrevivência (% de pessoas que

não deverão

ultrapassar os 40

anos)

Privação de

Conhecimento (% de pessoas

adultas

analfabetas)

Composto

da Privação

de Padrão

de Vida

Adequado

(%)

Privação de Condições de Vida

Adequadas

População sem

Acesso a (%)

Crianças < 5

anos c/ Peso

deficiente

Agua

Potável Serviços

Sanitários

IPH-1 P1 P2 P3 P3.1 P3.2 P3.3

2006

2008

2010

2012

23,7

22,9

20,9

22,1

15,1

15,1

13,9

13,9

15,6

12,1

10,8

9,9

31,9

31,4

28,6

30,6

13,8

11,0

5,9

16,4

71,9

70,0

66,9

65,6

10,0

13,1

13,1

9,9

1 Dados referem-se ao período em referência ou ao ano mais próximo, Fontes: obtidos de diversas fontes: INE (IDS 2008-09; MICS 2006; RGPH 2012; IDS 2010; IOF 2010; e 3º Relatório dos

ODM)

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151

Quadro 5. Progresso de STP em direcção às metas dos ODM, 201334

Indicador

Valores do

indicador

para

(t0)

Valores do

indicador

para

(t1)

Ano que se

deve atingir

a meta

(tODM)

Taxa de

Progresso

Anual

Actual

Taxa anual

de

Progresso

Requerido

Classificação

do Progresso

Reduzir para metade a proporção da populacao com

rendimnto inferior a 1 dolar PPC por dia53,8 49,6 2015 -0,9% -3,6%

Lento ou

Reversível

Reduzir para metade a proporção de pessoas que vivem em

extrema pobreza15,1 11,5 2015 -3,5% -3,6%

Lento ou

Reversível

Prevalencia de baixo peso entre crianças com menos de 5 anos 13,0 13,1 2015 0,1% -3,3%Lento ou

Reversível

Taxa liquida de escolarizacao Primária (1o + 2o Ciclo) 80,2 99,1 2015 4,3% 4,0% A caminho

Taxa de alfabetizacao dos 15 aos 24 anos, mulheres e homens 30,0 90,1 2015 3,9% 4,0%Lento ou

Reversível

Eliminar a disparidade do género no ensino primário e

secundário49,0 99,0 2015 8,2% 7,1% A caminho

Proporcao de mulheres exercendo mandatos no Parlamento

Nacinal7,3 18,2 2015 0,7% 4,8% Lento ou

Reversível

Reduzir em 2/3 a taxa de mortalidade de criamcas menores de

5 anos89,0 30,2 2015 -11,5% -3,3% A caminho

Reduzir em três quartos o índice de mortalidade materna 189,3 58,0 2015 -17,4% -5,0% A caminho

Alcançar o acesso universal à saúde reprodutiva 47,3 45,2 2015 -0,4% 9,1% Lento ou

Reversível

Parar a proporção do VIH/SIDA e começar a inverter a

tendência presente1,0 1,5 2015 0,1% 7,1%

Lento ou

Reversível

Estagnar a incidência da malária e de outras doenças

importantes e começado a inverter a tendência actual400,0 50,0 2015 -38,9% -5,0% A caminho

Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentavel à uma fonte de água melhorada73,9 83,6 2015 1,1% -3,6%

Lento ou

Reversível

Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso

sustentavel ao saneamento melhorado74,9 57,4 2015 -2,8% -3,6%

Lento ou

Reversível

4. Reduzir a Mortalidade Crianças Menores de 5 Anos

5. Melhorar a Saúde Materna

6. Combater o HIV/SIDA, Malária e Outras Doenças

7. Garantir a Sustentabilidade Ambiental

1. Erradicar a Extrema Pobreza e Fome

2. Universalizar a Educação Primária

3. Promover a Igualdade enter Sexos e a Autonomia das Mulheres

34 Segundo o PNUD (2004), os objectivos são classificados em três categorias: (i) Alcançado – se o país

já alcançou o objectivo, (ii) A caminho – se a taxa de crescimento do indicador for igual ou superior à

taxa de crescimento necessário para atingir a meta, e (iii) Lento ou reversível - se a taxa de crescimento

do indicador for inferior à taxa de crescimento necessário para atingir a meta em 2015.

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152

Quadro 6. Perfil de idades da população de STP por regiões e País, 2012 (%)

Regiões

Juventude Urbano 15-24 PEA

Total Mulher Total Mulher Total Mulher Total Mulher

Água – Grande

Mé-Zóchi

Cantagalo

Caue

Lobata

Lemba

R. A. Príncipe

TOTAL - STP

40,2

25,2

9,2

3,1

10,7

7,7

3,8

35,8

52,2

49,7

47,4

45,8

48,1

47,2

49,4

50,0

37,0

25,4

10,0

3,5

11,1

8,7

4,2

45,4

50,9

50,3

50,2

49,7

50,3

49,2

49,6

50,4

39,0

25,7

9,5

3,3

10,8

7,9

3,7

55,7

51,9

48,9

46,8

45,4

47,7

48,2

51,9

49,7

40,4

24,8

9,3

3,2

10,6

7,8

4,0

63,0

52,2

50,3

47,9

46,5

48,3

47,6

48,2

62,7

Fonte: INE: Resultados Nacionais - Recenseamento Geral da População e Habitação, 2012

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153

Capítulo V

Quadro 1 – Principais áreas específicas de intervenção das OSC em STP

Ord. Principais áreas de Intervenção Nº de OSC %

1 Saúde 20 23,5%

2 Educação 20 23,5%

3 Crianças/Jovens em risco 20 23,5%

4 Ambiente 14 16,4%

5 Família e Comunidade 12 14%

6 Cultura 12 14%

7 Saneamento do Meio 11 12,9%

8 Idosos 9 10,5%

Nota: Deve-se ter como base 85 OSC filiadas na FONG-STP.

Quadro 2 – Área geral de intervenção das OSC em STP

Ord. Área Geral Áreas específicas Nº de OSC %

1

Social

Família e comunidade

33

38,8%

Idosos

Mulheres (género)

Pessoas vulneráveis

Mulheres vitímas de maus

tratos

2

Saúde

Saúde

29

34% Nutrição

HIV/SIDA

3

Ambiente e saneamento

Ambiente

25

29% Saneamento do meio

4 Infância e Juventude Crianças e jovens em risco 24 28%

Jovens

5 Educação Educação

20

23,5% Formação

6 Desenvolvimento rural e

pescas

Agricultura

16

18,8% Pecuária

Pesca

Desenvolvimento rural e

comunitário

7 Cultura e lazer Cultura

13

15% Arte

8 Direitos humanos ---------------------------------- 5 5,8%

Nota: Deve-se ter como base as 85 OSC filiadas na FONG-STP.

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154

LISTA DE ONGS

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155

N Nome Abreviatura EMail

Telefone Áreas de intervenção

1

ADAPPA ADAPPA [email protected]

2225180/9921871 1 Agricultura

2 Pecuária

2 Adeventist Development and Relief

Agency ADRA-STP [email protected]

2224324 / 9930544 1 Agricultura

2 Educação

3

ALISEI ALISEI [email protected]

2223346 / 9908737 1 Saúde

2 Saneamento de meio

4

ARCAR ARCAR

[email protected] /

[email protected]

2221780/9909993 1Crianças/Jovens.R

2Familia e comuni

5

Assistência Médica Internacional AMI [email protected]

2261116 / 9930565 1 Saúde

2 Nutrição

6

Associação Amigos da Sara ACAS [email protected]

2222229/9905090 11 Saúde

2Pessoas HIV/SIDA

7

Associação COTO COTO

9927803 1Crianças

2Criança/Jovens.R

8 Associação Cultural e Recreativa de

Guadalupe ACRG [email protected]

9904944/9950057 1Cultura

2 Saneamento de meio

9

Associação Cultural Os Divertidos Os Divertidos [email protected]

9913025 1Educação

2 Cultura

10

Associação Cultural Santomense ACS [email protected]

9904430 1Cultura

2 P. de valores cultural

11 Associação da Medicina Tradicional

de STP AMTSTP

9918394 1 Saúde

2 Educação

12

Associação das Mulheres de Mé-Zoc FEMPENHO

9909457 1Crianças/Jovens.R

13 Associação de Apoio e Defesa dos

Surdos-mudos ASM [email protected];

2251140 / 9927822 1 Direitos Humanos

2 Educação

14 Associação de Defesa do Ambiente e ADADER [email protected]

9918808 1 Ambiente

Page 156: RELATÓRIO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EM … STP/RELATÓRIO...Abrir espaços para canalizar o potencial da juventude e facilitar a sua participação nas ... de desenvolvimento

156

de Desenvolvimento Rural 2 Educação Agricultura

15 Associação de Estudantes para o

Desenvolvimento Club UNESCO AEMZ

9931552 / 9903116 1 Educação

2 Cultura

16

Associação de Jovens do Príncipe AJP

9905784 1 Desporto

2 Saúde

17 Associação de Moradores de Boa-

Morte AMBM

9921806/9920907 1 Saneamento de meio

18

Associação de Mulheres do Príncipe AMP

9906457 1Mulheres (género)

2 Desnv.rural e comunit

18

Associação de Mulheres Empresárias

e Profissionais AMEP-STP [email protected]

9903678 / 9914250 1 Saneamento de meio

2 Mulheres (género)

19 Associação de Técnicos ligados à

Infância ATEI [email protected]

9905230 1 Educação

2 Família e comunidade

20 Associação Doadores envolos de

Sangue UNDABESA [email protected]

9906234 1Sensibilização dádiva

de Sangue

21 Associação dos Amigos do Rei

Amador AARA [email protected]

9904456 / 9911271 1Direitos humanos

2 Ambiente

22 Associação dos Artistas Plásticos

Santomenses AAPLAS

9910358 / 9910017 1 Arte

2 Educação

23 Associação dos Deficientes Físicos de

STP ADFSTP [email protected]

9920159 / 9788941 1 Pessoas vulneráveis

2 Outros

24 Associação dos Desempregados de

STP ADESTP

9978724 1 Pessoas vulneráveis

2 Desempregados

25 Associação dos Estudantes do

Instituto Superior Politécnico AEISP

1 Educação

26 Associação dos Jovens Santomenses

com Iniciativa Empresarial AJEIE [email protected]

9904212 / 2222592 1 Comércio e Indústria

2 Jovens

27 Associação dos Moradores de AMAR [email protected]

991264 1Saneamentos do meio

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157

Reboque Capital 2 Saúde

28 Associação dos Naturais e Amigos de

Santo Amaro ANASA

9830803/ SELSO

9922569/ Joaquim

1 Construção Civil

2 Saneamento do meio

29 Associação dos Protectores do Meio

Ambiente da Ilha do Príncipe ASPROMA [email protected]

9907903 /

927308 Admar

1 Ambiente

2 Saneamento do meio

30 Associação Iniciativas de

Desenvolvimento AID

2227529 / 9953273 1 Informática

2 Inglês

31 Associação Instituto Sócio-Educativo

da Criança AISEC [email protected]

2224908 /

MILA 9953273

1Crianças Jovens em.R

2 Educação

32

Associação Intercultura AIC

1cultura 2Educação

33 Associação Jovens Unidos de

Montalvão AJUM [email protected]

9909563 / 9904374 1Saneamento do meio

Educação

34 Associação Jovens Unidos para o

Progresso AJUP [email protected]

9920157 \9920029 1Desnv.rural e comunit

2Idosos

35 Associação Nacional de Enfermeiras

Parteiras de São Tomé e Príncipe ANEP [email protected]

9934959 1 Saúde

2 Pessoas HIV/Sida

36 Associação para o Desenvolvimento

da Pecuária ADEP Jafede-42hotmail.com

9934852 1Pesca

2 Ambiente

37

Associação para o Desenvolvimento e

Preservação do Ambiente AMBIDESE

9911337 1Saneamento do meio

2Desnv.rural e comunit

38 Associação para o Desenvolvimento e

Progresso de Madalena

LÉGI-

CABONGUÉ [email protected]

9961468 1Saude

2 Construção Civil

39 Associação Regional para a Protecção

Socio-Ambiental ARPA

[email protected]/

[email protected]

9906269 1Saneamento do meio

2 Ambiente

40 Associação Santomense de Micro-

finanças e Dsenvolv MICONDÓ

9908418 / 9903510

41 Associação Santomense para o

Planeamento Familiar ASPF [email protected]

2224325 \ 9903959 1Saude

2Crianças Jovens em.R

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158

42

CARITAS- STP CARITAS- STP [email protected]

9927507 / 2222565 1Social

Crianças Jovens em.R

43

CAUSA-JOVEM

CAUSA-

JOVEM

9916482 / 9923727 1Crianças

2 Jovens

44

Cooperativa Josina Machel CJM

2221174 1Mulheres (género)

2Cultura

45 Cruz Vermelha de São Tomé e

Príncipe CVSTP [email protected]

2222305 / 2222469 1Idosos

2 Saúde

46

Fórum da Mulher Santomense FoMS

9905230 / 9903296 1Mulheres (género)

2 Mulheres vitimas maus

tratos

47

France Volontaires FV

1Sociadade Civil

2 Ambiente

48

Fundação da Criança e da Juventude FCV [email protected]

2227830 / 9918925 1 Crianças

2 Ambiente

49

Fundação Mãe Santomense FMS [email protected]

2222070 1 Crianças

2 Educação

50

Fundação Novo Futuro FNF [email protected]

2224086/9903225 1 Crianças

2Crianças Jovens em.R

51

INÉM MIGO PLÉ

INÉM MIGO

PLÉ [email protected]

9906455 1 Ambiente

2 Saneamento do meio

52

Instituto de Apoio á Crianças IAC [email protected]

9905143 1Crianças Jovens em.R

53

Instituto KITÊMBÚ KITÊMBÚ [email protected]

9905004 1 Luta contra pobreza

questões género

2 Família e comunidade

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159

54

Instituto Marquês de Valle Flôr IMVF

[email protected] 2227911/9903512

1 SAUDE 2 Educação

55

Internacional Alert Internacional [email protected]

9909474 1Prevenção conflito Pet

2Boa governação

56

Jetú Muála Jetú Muála [email protected]

9927725 1Comercio

2 Educação

57

Leigos para o Desenvolvimento LEIGOS [email protected]

2222698 / 9976813 1Educação

2 Jovens

58 Liga dos Defensores dos Pacientes

Mentais LDPM

2221222 / 9905543 1Saúde

59

MAQUEQUE MAQUEQUE

9922963 1 Agricultura

2 Pecuária

60

MARAPA MARAPA [email protected]

2222792 1Pesca

2 Ambiente

61 Médicos do Mundo - Portugal MDM-P [email protected] 2225363 / 2227960 1Saúde

62

Natcultura Natcultura [email protected]

9917009 1Desenvolvimento sustentável

2 Cultura e Educação

63 Núcleo da Federação das Mulheres

Paz Mundial NFMPM [email protected]

2223860\ 9934778 1Familia e Comunidade

2Mulheres (género)

64 Organização da Juventude

Santomense OJS [email protected]

9903863 1Ambiente

2 Direitos humanos

65

Organização Santomense dos Direitos

Humanos OSDH [email protected]

2227637/ 9904384 1Direitos humanos

2 Pessoas portadora de

deficiente

66 Qua Tela Qua-Tela [email protected]

9904114\2227633 1Desenvolvimento económico

67 Pica-Pau Pica-Pau 9928391/ 9904866 1cultura 2Ambiente

68

PLIVINI PLIVINI

9909330 / 9925956 1Saude

2 Pessoas HIV/ Sida

69 Santa Casa da Misericórdia SCM [email protected]

2227311/2227312 1Idosos

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2Familia e comunidade

70

STEP-UP STEP-UP

[email protected]/

[email protected]

2222185\ 9915353 1Educação

2 Deficiência

71

ULAJE Clube UNESCO ULAJE [email protected]

980570 / 2222483 1Cultura

2Direito humano

72

ZATONA ADIL

ZATONA

ADIL

[email protected]/

[email protected]

9904862/2223363 1 Agricultura

2 Saúde

73

ZOOVET ZOOVET [email protected]

2224739\ 9903876 1Saude

2Pecuaria

74 Associação santomense de mulheres

jurista ASMJ [email protected]

9912243\9931169

75 ASCOJES ASCOJES [email protected] 9904618 1Saude educação e social

76 Associação de promoção

socioeconómica da mulher São-

tomense

CAFÉ

COMAROMA

DE MULHER [email protected]

9913126

77 Associação para a cooperação e

desenvolvimento de STP

TERRA

CRIOLA [email protected]

2222023

78 We Are changing together WACT [email protected] 9852570

79 Associação para o desenvolvimento

pela tecnologia TESE [email protected]

9903707

80 Associação Helpo HELPO [email protected] 9866950

81 Associação de Micro crédito e

Empreendedores MOVE [email protected]

2225135

82

Terra Verde

TERRA

VERDE [email protected]

9992837

83 Centro de integridade publica boa

governação Transparência integridade CIP STP [email protected]

9911116

84 Associação para cultura e

desenvolvimento

ROÇA

MUNDO roç[email protected]

9930235/2225135

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161

Caixas

1. Erradicar a Extrema Pobreza e Fome

1.1 Reduzir para metade a proporção da população com renda inferior a 1 dólar paridade de poder de

compra;

1.2 Reduzir para metade a proporção da população que sofre de fome;

2. Alcançar o Ensino Primário Universal

2.1 Garantir que todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino

primário;

3. Promover a Igualdade entre Sexos e a Autonomias das Mulheres

3.1 Eliminar as disparidades entre os sexos no ensino primário;

3.2 Eliminar as disparidades entre sexos no ensino secundário;

4. Reduzir a Mortalidade de Crianças Menores de 5 Anos

4.1 Reduzir em dois terços taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos;

5. Melhorar a Saúde Materna

5.1 Reduzir em três quartos o índice de mortalidade materna;

5.2 Alcançar o acesso universal à saúde reprodutiva

6. Combater o HIV/SIDA, a Malária e outras doenças

6.1 Parar a proporção do VIH/SIDA e começar a inverter a tendência presente;

6.2 Estagnar a incidência da malária e de outras doenças importantes e começado a inverter a

tendência actual;

7. Garantir a Sustentabilidade Ambiental

7.1 Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso sustentável à uma fonte de água

melhorada;

7.2 Reduzir para metade, o número de pessoas sem acesso sustentável ao saneamento melhorado;

8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento

8.1 Em cooperação com o sector privado, tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias, em

especial, das tecnologias de informação e de comunicação;

Caixa 1. Objectivos do Desenvolvimento do Milénio

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Gráficos

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