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1 2019 / 2020 RELATÓRIO FINAL BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE 2021

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2019 / 2020

RELATÓRIO FINAL

BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE 2021

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EXPEDIENTE

GOVERNO FEDERALMinistério da Economia / Ministro Paulo Guedes

Fundação pública vinculada ao Ministério da Economia, o Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais – possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros – e disponibiliza, para a sociedade, pes-quisas e estudos realizados por seus técnicos.

Presidente / Carlos von DoellingerDiretor de Desenvolvimento Institucional / Manoel Rodrigues JuniorDiretora de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia / Flávia de Ho-landa SchmidtDiretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas / José Ronaldo de Castro Souza JúniorDiretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais / Nilo Luiz Saccaro JúniorDiretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura / André Tortato RauenDiretora de Estudos e Políticas Sociais / Lenita Maria TurchiDiretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais / Ivan Tiago Machado OliveiraAssessor-chefe de Imprensa e Comunicação / André Reis Diniz

Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoriaURL: http://www.ipea.gov.br

Gestão ANADEP (2021-2023)

CONSELHO DIRETORDiretor Presidente / Rivana Barreto Ricarte (AC)Diretora Vice-Presidente Institucional / Rita Lima (DF)Diretor Vice-Presidente Jurídico-Legislativo / Flávio Wandeck(MG)Diretor Vice-Presidente Administrativo / Augusto Barbosa (SP)Diretor de Relações Internacionais / Antonio Maffezoli (SP)

Diretora adjunta de Relações Internacionais / Juliana Lintz (RJ)Diretor para Assuntos Legislativos / Allan Joos (GO)Diretor Adjunto para Assuntos Legislativos / Pedro Coelho (ES)Diretora Jurídica / Juliana Lavigne Coelho (RS) Diretora de Comunicação / Giovanna Burgos (AP)Diretor de Eventos / Andrea Sena (RJ)Diretora1ª Secretária / Elaina Rosas (BA)Diretor 2º Secretário / Igor Raphael (BA)Diretora1ª Tesoureira / Mariana Py Muniz (RS)Diretor 2º Tesoureiro / Rodrigo Cavalcante (SE) Diretora de Articulação Social / Vivian Almeida (ES) Diretora das Aposentadas e Aposentados / Adriana Burger (RS)Diretor Adjunto de Aposentadas e Aposentados / Fábio Liberalino (PB)

COORDENAÇÕES REGIONAISDiretora Coordenadora da Região Norte / Marcus Vinícius (PA)Diretor Coordenador da Região Nordeste / Vinícius Araújo (RN)Diretora Coordenadora da Região Sul / Tauser Ximenes (SC) Diretora Coordenadora da Região Sudeste / Fernando Martelleto (MG)Diretora Coordenadora da Região Centro-Oeste / Linda Maria (MS)

CONSELHO CONSULTIVOArlindo Gonçalves (AM)Arthur Loureiro (AM)Guilherme Vilela (TO)Joanara Hanny (MS)Thaísa Oliveira (PR)Wilton José (PE)

ESCOLA NACIONAL DAS DEFENSORAS E DEFENSORES PÚBLICOS - ENADEPDiretora / Ludmilla Paes Landim (PI)Diretora Adjunta / Amélia Rocha (CE)

CONSELHO FISCALTITULARES:Cristiano Matos (MA)Frederico Encarnação (RR)João Paulo (MT)SUPLENTESAryne Cunha (AC)Edmundo Siqueira (PE)Valmir Júnior (RO)

ESTRUTURA ADMINISTRATIVAAdministrativo / Virgínia Maria Motta da SilvaAuxiliar Administrativa / Marina NunesResponsável pelo Financeiro / Ana Amélia MaiaAuxiliar Financeiro / Rodrigo Lopes MatiasAuxiliar Financeiro / Guilherme RibeiroAssessora de Comunicação Social (Coordenadora) / Karyne GrazianeAssessora de Comunicação Social / Stephanny Guilande

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Equipe de Pesquisa

Redação e Análises Danilo Santa Cruz Coelho, IPEARosier Batista Custódio (coord., 2019), Consultora Rute Imanishi Rodrigues (coord., 2020/21), IPEASalvador Teixeira Werneck Vianna, IPEA

Cartografia e dados em nuvemKarolina Chacon Armstrong, IPEA

Mapa DigitalAdemar Guedes, IPEA

Atlas do Estado BrasileiroErivelton Pires Guedes, IPEAFelix Garcia Lopes, IPEA

ColaboraçãoDaniel Ricardo de Castro Cerqueira, IPEA

Equipe ANADEP

Rivana Ricartepresidenta da ANADEP

Rita Limavice-presidenta institucional da ANADEP

Augusto Barbosavice-presidente administrativo

Pedro Coelhodiretor adjunto para assuntos legislativos

da ANADEP

Karyne Grazianecordenadora de comunicação da ANADEP

Stephanny Guilandeassessora de comunicação

Diagramação e arte

Bah Comunicação

FICHA TÉCNICA

SUMÁRIO

Apresentação IPEA

Apresentação ANADEP

Introdução

PARTE IMapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil

1.1. CARGOS EXISTENTES E PROVIDOS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

1.2. ALOCAÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORES NAS COMARCAS

1.3. ATRIBUIÇÕES DAS DEFENSORAS E DEFENSORES

PARTE IIMapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil

2.1. GRAU DE COBERTURA POPULACIONAL E DÉFICIT DE DEFENSORES-Comarcas com “déficits de defensoras e defensores” -Comarcas não atendidas por defensoras e defensores-Comarcas atendidas apenas por defensores e defensoras em acumulação ou itinerantes-Comarcas atendidas por pelo menos uma defensora ou defensor público lotado-Déficit de defensoras e defensores nas ufs: quadro geral

2.2. GRAU DE COBERTURA DAS UNIDADES JUDICIÁRIAS

2.3. DISTRIBUIÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORES VERSUS IDHSMUNICIPAIS

PARTE IIIMetodologia

3.1. DEFINIÇÃO DAS COMARCAS

3.2. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS DEFENSORAS E DEFENSORES PÚBLICOS - Defensores(as) em efetivo exercício da atividade fim- Localização das defensoras e defensores

3.3. REVISÃO DE DADOS PELA DPEs em 2020

3.4. OUTRAS FONTES DE DADOS

3.5. BASES DE INFORMAÇÕES DAS COMARCAS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

MAPA DIGITAL

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Se em 2013 uma das seções iniciais do I Mapa da Defensoria Pública no Brasil era dedicada a explicar as razões que motivaram a realização daquele projeto à época, os efeitos e repercussões daquela primeira edição hoje certamente dispensam justificativas mais extensas para a presente publicação. Assim, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, por meio da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest), e em parceria com a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos, disponibili-za nesta obra a segunda edição do Mapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil.

Trata-se de uma publicação com algumas características diferenciadas que me-recem destaque e são motivo de especial reconhecimento para o Ipea e para a Diest, sobretudo. Criada na última restruturação organizacional ampla do Ipea em 2010, sendo, assim, uma das unidades organizacionais mais recentes do instituto, a Diretoria encontra-se em um momento histórico de revisitar a traje-tória de seu primeiro decênio e a publicação do II Mapa é um dos marcos impor-tantes desse momento.

Destaco a natureza colaborativa do processo de organização deste importante documento entre as duas instituições, sem a qual a sua realização seria inviabili-zada. A construção de diálogos interinstitucionais é uma das características dis-

APRESENTAÇÃO

tintivas da atuação da Diest desde a sua criação, em que mais de 60 parcerias foram desenvolvidas. A continuidade da parceria com a ANADEP, que já havia resultado na edição pioneira publicada em 2013, aponta para a consistência dessa natureza sinérgica de inserção institucional em que nos aproximamos dos atores envolvidos e alavanca o nosso potencial de inserção na qualificação do debate público.

Aos diálogos ampliados no nível institucional, cabe somar a atuação coletiva dentro da própria diretoria, visto que o projeto do Mapa agregou mais uma vez um grupo significativo de pesquisadores da Diest, a quem dedico um especial agradecimento em nome do Ipea. O trabalho a muitas mãos, sempre destacado nas análises da atuação da diretoria ao longo do tempo, amplia a potência da produção e segue sendo uma diretriz importante para o futuro.

A aplicabilidade, o alcance e o impacto da produção técnica da Diest também têm no Mapa um exemplo bastante caro para a trajetória da diretoria: o déficit de mais de 10 mil defensores(as) no país apontado na primeira edição do Mapa foi um subsídio importante para a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC Defensoria para Todos - Emenda Constitucional 80/2014. Assim, a publicação do II Mapa, que revisita os dados para os anos de 2019 e 2020, serve como importante ponto para o monitoramento dos efeitos da PEC.

Para o Ipea, um think tank governamental cuja missão é aprimorar as políti-cas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro, por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da assessoria ao Estado, a concretização desta publicação, que estará também integrada à plataforma Atlas do Estado brasileiro, é uma realização estratégica, ao disponibilizar aos decisores evidên-cias robustas para uma atuação focada e efetiva; para a Diest, este II Mapa da Defensoria Pública Estadual e Distrital no Brasil em 2019-2020 não apenas traz novas luzes sobre a organização e o funcionamento da justiça no país como in-forma a sociedade sobre as reais condições de acesso da população a um direi-to fundamental previsto na Constituição Federal de 1988: a assistência jurídica a todas as pessoas em situação de vulnerabilidade, a ser prestada pelo Estado por meio da Defensoria Pública.

Desejamos uma boa leitura a todos e a todas.

FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT Diretora de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia

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Com intuito de dar continuidade à série de pesquisas sobre a Defensoria Pública no Brasil, é com imensa satisfação que a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos apresenta o II Mapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil, oito anos após o lançamento do primeiro levantamento com essa finalidade.

Em 2013, quando foi editado o primeiro “Mapa da Defensoria Pública no Bra-sil”, a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos, reforçando a premissa de que a Defensoria Pública deve estar onde o povo está, se fez as seguintes perguntas: “até onde vai a Defensoria Pública? Onde é mais necessá-ria a sua presença e o que é preciso para que ela vá mais longe, alcançando a todos?” (2013:9).

Estas questões fomentaram debates locais e nacionais que, subsidiados pelos aportes do “Mapa da Defensoria Pública no Brasil”, renderam vários frutos. Talvez o mais significativo deles tenha sido a edição da Emenda Constitucional nº 80/2014 que, entre outros pontos, acrescentou o artigo 98 ao Ato das Dis-posições Constitucionais Transitórias, dispondo em seu caput: “O número de defensores(as) públicos(as) na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população” e em seu parágrafo primeiro que: “No prazo de 8 (oito) anos, a União, os Estados e o

APRESENTAÇÃO

1. É importante ressaltar que os dados para o II Mapa foram coletados em 2019/2020, assim nas tabelas e gráficos que serão apresentados no relatório o número de defensoras e defensores públicos apontado é de 6027 cargos providos e 5913 cargos em atuação-fim. Atualmente, em razão de concursos públicos e nomeações ocorridas entre maio de 2020 a maio de 2021, o Brasil já alcançou o número de 6235 defensoras e defensores estaduais e distrital.

Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observado o disposto no caput deste artigo”.

Neste sentindo, as perguntas feitas em 2013 seguem atuais e pertinentes. Re-gistrar o momento atual, refletindo sobre o passado e prospectando cenários futuros é, portanto, o principal objetivo desta nova edição do Mapa das Defen-sorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil. A nova edição, inclusive para efei-tos de comparabilidade, segue as mesmas decisões metodológicas adotadas em 2013 e a mesma moldura conceitual, embora traga inovações nas informações.

O material é uma importante avaliação sobre os resultados alcançados quan-to à expansão e ao fortalecimento da Defensoria Pública após a EC 80/2014 (PEC das Comarcas). Alguns aspectos de antemão são celebrados. Em 2013, os estados de Santa Catarina e Paraná, embora possuíssem Defensoria Pública, estavam em processo de realização dos seus primeiros concursos públicos. Já o caso de Goiás chamava atenção porque, embora criada, só passou a existir efetivamente nos moldes constitucionais em 2015 com a nomeação e posse das primeiras defensoras e defensores públicos. No Amapá, isso só veio a acontecer em 2019.

Percebe-se também um incremento na realização de concursos públicos, o que impacta no salto quantitativo de cargos providos. Se em 2013 havia 5054 car-gos ocupados, em 2021 essa quantidade salta para 62351 cargos providos de defensoras e defensores.

Quanto à análise de presença da Defensoria Pública nas comarcas, verifica-se que o número exato destas não é constante ao longo do tempo, na medida em que os Tribunais de Justiça podem agregar e desagregar as comarcas existen-tes. Note-se também, que o mesmo pode ocorrer com os municípios que com-põem as comarcas. No caso do Distrito Federal, as subdivisões da Defensoria Pública no território correspondem às circunscrições judiciárias. Dos dados co-letados, tem-se que em 2013, o país possuía 2680 comarcas, das quais apenas 754 (ou seja, 28%) eram atendidas pela Defensoria Pública. Em 2019/2020, considerando as 2762 comarcas que compreendiam todo o território nacional, as Defensorias Públicas estaduais e distrital prestavam atendimento em cerca de 1162 comarcas, ou 42% do total.

Os dados produzidos também buscam revelar a disposição espacial destas de-fensoras e defensores públicos a partir do cruzamento da base territorial com informações socioeconômicas e indicadores selecionados. Assim, o trabalho busca qualificar as leituras disponíveis sobre a estruturação das Defensorias e contribuir com três objetivos estratégicos para a instituição e para o campo do

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RIVANA BARRETO RICARTE DE OLIVEIRAPresidenta da Associação Nacional das Defensoras e Defebsores Públicos

acesso à justiça no Brasil: a) aferir a presença e a posição desses elementos no espaço; b) produzir reflexão sobre como otimizar essa presença c) planejar a expansão e a organização dos serviços das Defensorias.

O II Mapa da Defensoria Pública Estadual e Distrital no Brasil em 2019-2020 traz outra novidade que se relaciona à necessidade de se manter como uma pesquisa em permanente atualização e aprimoramento. Por isso, está sendo lan-çado ainda, o mapa digital, fazendo parte agora da Plataforma Atlas do Estado Brasileiro do IPEA.

Para tornar esse projeto uma realidade, foi indispensável a atuação interinstitu-cional e colaborativa, envolvendo a disposição das Defensorias Públicas-Gerais dos estados e do distrito federal, a articulação política da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP) e a parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, instituição pública de notória qualidade técnica, bem como a participação das pesquisadora Rosier Batista Custódio, na primeira fase do trabalho, não podendo deixar de reconhecer também o grande empenho da equipe de funcionários da ANADEP.

A Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos espera que esta pesquisa seja uma importante ferramenta para ajudar na universalização da atu- ação da Defensoria Pública e impulsionar o crescimento dela. Boa leitura!

A Constituição Federal de 1988 definiu explicitamente o papel da Defensoria Pública como “instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbin-do-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados”. A independência funcional, administrativa e orçamentária das Defensoria Públi-cas estaduais e distrital foi um processo longo e demorado, e que atualmente se encontra em vias de consolidação. O principal desafio para o permanente aperfeiçoamento da prestação do serviço jurisdicional das Defensorias Públicas estaduais e distrital reside em buscar compreender, a partir da delimitação de quem é o público-alvo da Defensoria Pública, qual é a demanda e onde é preciso alocar mais defensoras e defensores para satisfazer as necessidades da popu-lação.

Neste trabalho, pretende-se disponibilizar ao público interessado – e principal-mente às gestoras e gestores das próprias Defensorias estaduais e distrital – um conjunto de dados e evidências relevantes para a pesquisa e o planejamento da atuação institucional das Defensorias. Para isso, na parte I, apresenta-se os quantitativos de defensoras e defensores públicos por estados e para cada co-marca, e aborda-se suas principais atribuições. Já na parte II, são apresentados indicadores que buscam aproximar-se dos conceitos que definem o objeto a ser medido, qual seja, a demanda por serviços da Defensoria Pública, que envolve as unidades jurisdicionais, a população e as características socioeconômicas das comarcas, entre outros fatores.

INTRODUÇÃO

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BREVESCONSIDERAÇÕESMETODOLÓGICAS

Os dados analisados neste relatório foram fornecidos pela Associação Nacio-nal das Defensoras e Defensores Públicos e Defensorias Públicas-Gerais dos Estados e Distrito Federal, no período de abril a junho de 2019, com revisão de números de defensoras e defensores públicos em 2020. Com relação aos dados das Comarcas, coletados junto ao Poder Judiciário, isso se deu no período de agosto e setembro de 2019. Desta forma, qualquer alteração ocorrida após essa data não está retratada nesta versão da pesquisa. Neste período vários estados realizaram novos concursos públicos e, portanto, quando da publicação deste relatório o número de cargos providos será maior que o número aqui reportado2.

Para a análise da atuação das defensoras e defensores públicos, não foram con-siderados aqueles que estavam afastados de modo perene. Nesse sentido, há, invariavelmente, uma diferença entre os cargos providos e número de defenso-ras e defensores levados em consideração neste relatório, uma vez que, nessa situação, foram computados apenas os(as) defensores(as) que estão atuando na atividade-fim.

2. Neste sentido, vale anotar que toda pesquisa retrata a realidade do momento da coleta de dados (2019-2020). Por esta razão, sua periódica atualização é tão importante.

Com efeito, a Emenda Constitucional nº 80, de 04 de junho de 2014, inseriu o seguinte artigo no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

“Art. 98. O número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população.§ 1º No prazo de 8 (oito) anos, a União, os Estados e o Distrito Federal de-verão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observado o disposto no caput deste artigo.§ 2º Durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos ocorrerá, prioritariamente, atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional.”

Dentre os objetivos almejados pela Defensoria Pública para aprimorar seus servi-ços prestados à sociedade, podem-se destacar, portanto: i) a proporcionalidade entre o número de defensores(as), a demanda por seus serviços e a população; ii) a meta principal de atender a todas as unidades jurisdicionais e, iii) priorizar as regiões com piores indicadores socioeconômicos e de maior população.

Os dados analisados refletem a distribuição espacial dos cargos criados e provi-dos nas comarcas nos estados e a distribuição espacial das defensoras e defen-sores nas comarcas, identificando suas respectivas atribuições temáticas. Nesse ponto, tendo em vista a diversidade de identificação das divisões temáticas de atribuição entre os estados, foi necessário criar categorias que representassem as atuações de modo mais uniforme. Para tanto, as temáticas foram agregadas em grandes áreas do direito. Essa opção prejudica a identificação ativa realizada por parte de alguns estados e pode diluir especificações que permitam aferir a atuação das defensoras e defensores em áreas temáticas bastante sensíveis. No entanto, a medida foi importante para facilitar a comparabilidade entre as unidades da federação. Neste sentido, a pesquisa trabalhou com 11 (onze) ca-tegorias analíticas: (i) atribuição itinerante; (ii) atuação em todas as áreas; (iii) segunda instância e tribunais superiores; (iv) cível; (v) família e sucessões; (vi) fazenda pública; (vii) infância e juventude; (viii) violência doméstica e familiar contra mulher (atuação pela vítima); (xi) criminal; (x) execução penal e (xi) ou-tras atuações especializadas. O detalhamento das opções de como o dado foi agregado está na Nota Metodológica.

Em relação às comarcas com Defensoria Pública, foram consideradas aquelas em que havia ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a), enquanto que as comarcas atendidas por itinerância são aquelas acumuladas por defensores(as) públicos(as) lotados(as) em outras comarcas.

No que diz respeito ao público-alvo da Defensoria Pública, o critério conside-rado foi a população com dez anos ou mais e rendimento mensal de até três salários-mínimos. E este corte populacional também foi utilizado para o cálculo das estimativas de déficit de defensores(as) públicos(as) nos estados. De modo geral, estas foram as premissas utilizadas na pesquisa e que estão mais bem detalhadas na Nota Metodológica.

Vale lembrar, no entanto, que a falta de padronização prévia das Defensorias Públicas sobre as informações coletadas não desmerece os esforços empreen-didos individualmente pelas instituições e nem mesmo os dados coletados, mas apenas evidenciam a importância da sistematização regular e constante dos dados das Defensorias Públicas do Brasil.

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PARTE I

MAPA DA DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL E DISTRITAL EM 2019-2020

1.1. CARGOS EXISTENTES E PROVIDOS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

Quando da realização do primeiro “Mapa da Defensoria Pública no Brasil”, em 2013, havia no país 5.054 cargos de defensoras e defensores públicos provi-dos e 8.489 cargos existentes . Ou seja, um percentual de apenas 59,5% dos cargos criados por lei estavam ocupados, sendo que naquele período os estados de Santa Catarina, Paraná, Goiás e Amapá ainda não haviam concluído seus processos de implementação da Defensoria Pública. Cada estado, por circuns-tâncias próprias, estava em vias de implementação. O Amapá, embora tivesse com a legislação promulgada, não havia realizado concurso público para dar pro-vimento aos cargos. Santa Catarina e Paraná estavam realizando seus primeiros concursos e Goiás estava com o concurso suspenso naquele momento.

Passados seis anos, todas as Defensorias Públicas estão criadas e implemen-tadas, e o país conta com 9.043 cargos existentes3. Dados coletados entre os meses de abril e junho de 2019 apontavam para 6.027 cargos providos. É importante destacar que no período de 2019-2020, vários estados realizaram novos concursos públicos. Por conseguinte, quando da publicação deste relató-rio, o número de cargos providos já é maior que o número reportado4. Em seis anos, portanto, os quadros existentes cresceram na ordem de 554 e os provi-dos na ordem de 973, como pode ser observado a seguir na Tabela 1, em que também é possível observar o percentual de cargos providos em cada unidade da federação, e no Gráfico 1. Trata-se de número muito aquém das demandas para promover um efetivo acesso a direitos e à justiça, especialmente quando territorializado na divisão das comarcas brasileiras.

Fonte: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA.

3. Cargos existentes é a nomenclatura que utilizamos para indicar os cargos criados em lei e cargos providos são os cargos existentes preenchidos nos termos legais, ou seja, por meio de realização de concurso público de provas e títulos.4. É importante ressaltar que os dados para o II Mapa foram coletados em 2019/2020, assim nas tabelas e gráficos que serão apresentados no relatório o número de defensoras e defensores públicos apontado é de 6027 cargos providos e 5913 cargos em atuação-fim. Atualmen-te, em razão de concursos públicos e nomeações ocorridas entre maio de 2020 a maio de 2021, o Brasil já alcançou o número de 6235 defensoras e defensores estaduais e distrital

TABELA 1.Cargos existentes e providos de defensoras e defensores públicos em 2019

Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Brasil

Cargos existentes 61 84 232 60 583 467 240 269 130 197 1200 306 255 360 328 377 458 582 805 102 145 58 464 120 100 900 160 9043

Cargos providos 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111 6027

% de cargos providos 73,8 100,0 45,7 66,7 58,7 67,2 94,2 57,2 64,6 93,4 53,6 67,0 74,5 71,4 71,6 73,7 25,3 17,7 95,8 62,7 49,0 75,9 86,9 95,8 92,0 83,3 69,4 66,6

Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Brasil

Cargos existentes 61 84 232 60 583 467 240 269 130 197 1200 306 255 360 328 377 458 582 805 102 145 58 464 120 100 900 160 9043

Cargos providos 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111 6027

% de cargos providos 73,8 100,0 45,7 66,7 58,7 67,2 94,2 57,2 64,6 93,4 53,6 67,0 74,5 71,4 71,6 73,7 25,3 17,7 95,8 62,7 49,0 75,9 86,9 95,8 92,0 83,3 69,4 66,6

Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Brasil

Cargos existentes 61 84 232 60 583 467 240 269 130 197 1200 306 255 360 328 377 458 582 805 102 145 58 464 120 100 900 160 9043

Cargos providos 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111 6027

% de cargos providos 73,8 100,0 45,7 66,7 58,7 67,2 94,2 57,2 64,6 93,4 53,6 67,0 74,5 71,4 71,6 73,7 25,3 17,7 95,8 62,7 49,0 75,9 86,9 95,8 92,0 83,3 69,4 66,6

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O estado com o maior número de cargos existentes é o estado de Minas Ge-rais, que junto com São Paulo e Bahia, integra, como se detalhará a seguir, o grupo dos três estados com maior número de comarcas instaladas. Portanto, a universalização dos seus serviços, a se analisar pelo número de comarcas, tor-na-se mais desafiadora e demanda maior provimento de cargos, como pode ser observado na Figura 1 do déficit. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são os com maior número de cargos existentes depois de Minas Gerais.

Quando se observa os cargos providos, o Rio de Janeiro apresenta o maior nú-mero, seguido de São Paulo e Minas Gerais. O cenário em 2019, tanto no que diz respeito aos cargos existentes e providos, segue o mesmo de 2013. Um mo-vimento positivo de expansão de cargos parece ser o do estado do Amazonas que dobrou a quantidade de cargos no período analisado (ver Gráfico 2), embora em números absolutos de crescimento de outros estados tenha sido superior, como São Paulo e Bahia.

GRÁFICO 2.Cargos providos de defensoras e defensores públicos (2013 e 2019)

O percentual de preenchimento dos cargos varia razoavelmente, embora, com poucas exceções, todos os estados apresentam mais de 50% de provimento de seus cargos existentes.

GRÁFICO 1.Cargos existentes e providos de defensoras e defensores públicos em 2019

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TOCargos existentes 61 84 232 60 583 467 240 269 130 197 1200 306 255 360 328 377 458 582 805 102 145 58 464 120 100 900 160Cargos providos 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111

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1400

Cargos existentes Cargos providos

Fonte: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA.

GRÁFICO 3.Cargos providos de defensoras e defensores públicos (2003 a 2019)

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO2013 49 72 47 0 224 293 208 150 0 110 596 153 143 280 271 270 86 10 796 40 41 37 385 0 86 610 972019 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

2013 2019

Fonte: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA.

O Gráfico 3 a seguir ilustra a evolução dos quadros providos desde 2003 quan-do houve os primeiros esforços de sistematização destas informações com a realização dos Diagnósticos das Defensorias Públicas, material elaborado pelo Ministério da Justiça.

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO2003 34 40 28 0 102 157 80 93 0 24 425 135 60 199 340 230 24 0 698 0 32 27 257 0 69 0 402005 40 35 52 0 97 145 113 92 0 37 545 152 74 184 342 218 56 0 674 0 57 39 271 0 74 0 402008 60 30 57 0 201 252 160 127 0 46 474 148 117 212 327 245 62 0 720 0 25 38 345 0 95 397 852009 56 30 55 0 200 250 171 95 0 43 408 148 117 205 327 245 90 0 750 0 26 37 357 0 93 391 852013 49 72 47 0 224 293 208 150 0 110 596 153 143 280 271 270 86 10 796 40 41 37 385 0 86 610 972019 45 84 106 40 342 314 226 154 84 184 643 205 190 257 235 278 116 103 771 64 71 44 403 115 92 750 111

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

2003 2005 2008 2009 2013 2019

Fonte dos anos 2013 a 2019: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA. Fonte dos anos anteriores: Ministério da Justiça, I, II e III Diagnóstico da Defensoria Pública.

18 19

GRÁFICO 4.Variação do número de cargos providos de defensoras e defensores públicos entre 2013 e 2019

Fonte para os anos 2013 e 2019: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA.Fonte para os anos anteriores: Ministério da Justiça, I, II e III Diagnóstico da Defensoria Pública.

As variações de cargos providos ocorridas entre 2013 e 2019, datas de pu-blicação dos “Mapas da Defensoria Pública no Brasil”, e ao longo do período de 2003 a 2019, período no qual existem dados consolidados quanto a estas informações, podem contribuir com a visualização da evolução das Defensorias Públicas estaduais e distrital (gráficos 4 e 5). É importante notar, mais uma vez, que toda pesquisa retrata a realidade do momento da coleta de dados. Por conta disso, sabe-se que o número exato de defensoras e defensores públicos na data de publicação deste relatório já sofre alteração tanto com redução de números, em razão de exonerações e aposentadorias (é o caso de AC, DF, RJ, MG, PA, PB, PI, RR, SC, SE, TO), como de incremento através de novas nomeações (como é o caso de AP, AM, BA, CE, ES, MA, MT, PR, PE, RN, RS, RO, SP).

750

240 218160 157 146 146 130 115 103 92 84 78 73 71 70 64 61 58 48 44 40 39 23 17 11

-105-200

-100

0

100

200

300

400

500

600

700

800

SP BA MG MA CE DF RS MT SC PR PI GO AM RJ TO MS RN ES PA PE AL AP RO SE RR AC PB

Ao analisar-se todo o período para o qual existe a informação consolidada, as extremidades representadas por São Paulo e pela Paraíba se destacam e mere-cem ser contextualizadas. A Defensoria Pública de São Paulo foi uma daquelas tardiamente implementadas – o que ocorreu apenas em 2006 –, mas que ao longo destes 15 anos de existência conseguiu assegurar uma evolução signi-ficativa de cargos em números absolutos. Já a Defensoria Pública da Paraíba passou por longos anos sem a realização de concurso público e os quadros da carreira jurídica que se incorporaram à Defensoria Pública, quando da sua cria-ção, foram se desligando de suas funções ao longo deste período. O estado da Paraíba empossou defensoras e defensores públicos em seu primeiro concurso apenas em 2017 e, por conta desse processo, houve decréscimo de cargos ocupados na carreira.

GRÁFICO 5.Variação do número de cargos providos de defensoras e defensores públicos entre 2013 e 2019

Fonte: Defensorias Públicas estaduais, consolidação ANADEP e IPEA.

140

118 115

9384

74

5952 47 47

4030 30

24 21 18 18 14 12 8 7 6 4

-4

-23 -25-36

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

SP BA SC PR GO MA AM MS MG MT AP PI RO RN CE DF RS TO AL PE RR SE ES AC PA RJ PB

Como muitas das outras Defensorias Públicas já estavam criadas, algumas in-clusive com número significativo de quadros e boa cobertura de comarcas, como o Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, a variação se mostra de maneira menos acentuada ao longo do período.

Nos últimos seis anos, período que dista a primeira e a segunda edições do “Mapa da Defensoria no Brasil”, os estados de São Paulo e da Bahia se desta-cam, seguidos por Santa Catarina, Paraná e Goiás – que implementaram suas Defensorias Públicas logo após a edição do primeiro “Mapa” (ver Gráfico 5, acima).

No período dos últimos oito anos, é possível observar um pequeno decrésci-mo nos quadros de quatro Defensorias Públicas: Acre, Pará, Rio de Janeiro e Paraíba. Esta variação negativa, por se tratar de um número pequeno, muito provavelmente representa o afastamento corriqueiro de profissionais, em decor-rência de aposentadoria ou mesmo pelo desligamento a pedido. Estas situações demandam apenas a recomposição dos quadros com o preenchimento a partir do chamamento de aprovados(as) em concurso ainda vigente ou por meio da realização de novos concursos.

No decurso de realização desta segunda edição do “Mapa” e após prestarem as informações aqui consolidadas, as Defensorias Públicas dos estados de Per-nambuco, Rondônia, Rio de Janeiro e Espírito Santo, por exemplo, concluíram novos concursos públicos e deram posse a novos quadros. Além disso, outros estados estão com concursos em andamento.

20 21

1.2. ALOCAÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORES NAS COMARCAS

Na seção anterior, abordou-se a provisão de cargos de defensoras e defensores nos Estados e no Distrito Federal. Nesta seção, discorre-se sobre a alocação destes profissionais nas comarcas de cada Unidade da Federação.

A presença das Defensorias Públicas estaduais e distrital no território pode ser analisada através da distribuição das defensoras e defensores pelas comarcas do país. Em 2019/2020, considerando as 2.7625 comarcas que compreendiam todo o território nacional – seja representando apenas um município, um con-junto de municípios ou ainda regiões do Distrito Federal – as Defensorias Públi-cas estaduais e distrital prestavam atendimento em cerca de 1.162 comarcas, ou 42% do total, como se observa no Gráfico 1.

Note-se, entretanto, que em 8% das comarcas este atendimento era feito por defensoras e defensores atuando simultaneamente em mais de uma comarca (atendimento por acumulação ou itinerante). O Mapa 1 ilustra a distribuiçãogeográfica das comarcas por tipo de atendimento.

Denomina-se, neste trabalho, atendimento permanente o atendimento realiza-do por quadros da Defensoria Pública que se dedicam apenas àquela comarca na qual estão fixados territorialmente. O atendimento por acumulação é aquele em que as defensoras e defensores públicos estão lotados em mais de uma comarca, mas existe um serviço fixo naquele território. Já o atendimento por itinerância é uma forma menos permanente de prestação dos serviços que se realiza por meio da presença de defensoras e defensores públicos lotados em outras comarcas, no entanto sem a rotina que se observa nas comarcas por acumulação.

5. O número exato de comarcas não é constante ao longo do tempo, na medida em que os Tribunais de Justiça podem agre-gar e desagregar as comarcas existentes. Note-se também, que o mesmo pode ocorrer com os municípios que compõem as comarcas. No caso do Distrito Federal, as subdivisões da DPE no território correspondem a circunscrições judiciárias.

MAPA 1.Comarcas da Justiça Estadual, do Brasil por tipo de Atendimento das DPEs (2019-2020)

22 236. ver Resolução CSDPE nº 3/2016, texto atualizado até a CSDPE nº 11/2019.

Desde a edição do primeiro “Mapa”, já se destacava a necessidade de observar os casos de acumulação e, sobretudo de itinerância, com muita cautela e aten-ção a fim de avaliar em que medida estas escolhas representam escassez de profissionais ou racionalização dos serviços em comarcas com baixa demanda ou em situações específicas.

Avaliando os dados de 2019/20, destaca-se que a experiência de itinerância indica não comprometer a qualidade dos serviços prestados. Ao contrário, esse sistema permite a qualificação da atuação e, portanto, trata-se de uma escolha racional na distribuição dos profissionais. É o caso da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul que constituiu “equipes itinerantes do júri”6.

Essas equipes são compostas pelas defensoras e defensores lotados no júri da capital e que se deslocam para atuarem na realização das plenárias de júri no interior do estado. Essa situação parece consistir em uma opção de racionali-dade do serviço, pois investe na especialização da sua equipe de júri e qualifica a atuação da atividade finalística em uma demanda que é possível conciliar as pautas de realização da plenária com certa tranquilidade.

Causa preocupação, por outro lado, comarcas como a de Cametá, no estado do Pará. O censo de 2010 já apresentava uma população residente de mais de 120 mil pessoas, sendo que deste total 90 mil pessoas eram público-alvo da Defen-soria Pública. Pelos dados fornecidos, Cametá conta com uma única defensoria e que, no momento da coleta dos dados, estava vaga. A atuação, então, era realizada apenas por itinerância. Esta é uma situação que chama a atenção pelo tamanho populacional da comarca e pelas limitações que estas condições po-dem impor à prestação de serviços.

Nos casos em que há atendimento apenas por acumulação, observa-se que a maior parte das comarcas assim atendidas são pequenas. Evidentemente, alme-ja-se a universalização do atendimento presencial permanente das Defensorias Públicas estaduais, mas estas situações não causam tanta preocupação.

A distribuição territorial deste atendimento pode ser observada na Tabela 2 que apresenta o número de comarcas atendidas pela Defensoria Pública, por UF e tipo de atendimento.

Nome UFNúm. Perc. Núm. Perc. Núm. Perc. Núm. Perc.

Rondônia 22 96% 1 4% 0% 23 100%Acre 7 39% 11 61% 0% 18 100%Amazonas 8 13% 25 41% 28 46% 61 100%Roraima 8 100% 0% 0% 8 100%Pará 29 26% 18 16% 66 58% 113 100%Amapá 12 100% 0% 0% 12 100%Tocantins 16 38% 26 62% 0% 42 100%Maranhão 39 35% 0% 73 65% 112 100%Piauí 30 32% 6 6% 58 62% 94 100%Ceará 34 23% 10 7% 106 71% 150 100%Rio Grande do Norte 15 23% 0% 50 77% 65 100%Paraíba 49 62% 20 25% 10 13% 79 100%Pernambuco 67 44% 20 13% 64 42% 151 100%Alagoas 22 39% 33 58% 2 4% 57 100%Sergipe 9 23% 1 3% 30 75% 40 100%Bahia 40 16% 6 2% 209 82% 255 100%Minas Gerais 112 38% 0% 184 62% 296 100%Espírito Santo 25 36% 3 4% 41 59% 69 100%Rio de Janeiro 75 91% 7 9% 0% 82 100%São Paulo 43 13% 1 0% 276 86% 320 100%Paraná 18 11% 0% 143 89% 161 100%Santa Catarina 24 22% 0% 87 78% 111 100%Rio Grande do Sul 121 73% 37 22% 7 4% 165 100%Mato Grosso do Sul 51 93% 0% 4 7% 55 100%Mato Grosso 36 46% 13 16% 30 38% 79 100%Goiás 5 4% 0% 122 96% 127 100%Distrito Federal 16 94% 0% 1 6% 17 100%

BRASIL 929 34% 233 8% 1605 58% 2762 100%(1) Comarcas com pelo menos 1 defensor/defensora público (a) lotado na unidade

Fonte: ANADEP/IPEA

NORDESTE

NORTE

Tipo de Atendimento

(3) Comarca atendida em determinados dias da semana por defensor/defensora lotado(a) em outra unidade.

(2) Comarcas sem defensor/defensora lotado(a) na unidade, porém, atendida por acumulação de atribuição de defensor/defensora lotado em outra unidade

CENTROESTE

Ao menos um Defensor Lotado na Comarca (1)

Apenas Defensor (s) em acumulação (2) ou

Itinerancia (3)

Não atendidas por Defensores

Públicos Total Comarcas

SUL

SUDESTE

TABELA 2.Comarcas por uf e tipo de atendimento (2019-2020)

24 25

A presença das Defensorias Públicas no território nacional, no entanto, está di-ferenciada entre as unidades da federação (UFs), como pode ser visto na Figura 1. Em apenas 6 estados, as DPEs estavam presentes em todas as comarcas: Rondônia, Acre, Roraima e Amapá, que são UFs relativamente pequenas, e To-cantins e Rio de Janeiro, onde a presença em 100% das comarcas era garantida com parte das defensoras e defensores atuando simultaneamente em mais de uma comarca (atendimento por acumulação). Dos estados que apontam para a presença em 100% das comarcas, o Acre chama atenção por ser o estado em que a maior parte da cobertura se dá em atendimento por acumulação. Além destas, algumas UFs apresentavam cobertura territorial relativamente alta, em-bora sem atingir a totalidade do território, como Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. Com exceção do Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, esses estados garantiam uma cobertura territorial mais abrangente com parte das defensoras e defensores atuando em mais de uma comarca (atendimento por acumulação).

Nas demais UFs, mais de 40% das comarcas de cada estado não contavam com a presença das DPEs. Em vários estados, cerca de 70% ou mais das comarcas não eram atendidas pelas DPEs, como Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Ser-gipe, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Goiás.

FIGURA 1.Tipo de atendimento nas comarcas, por UF, 2019-2020

Fonte: Defensorias Públicas Estaduais. Consolidação Anadep e Ipea.

Entre 2013 e 2019/2020, a presença das DPEs nas comarcas de todo o país evoluiu positivamente, tanto em termos de número de comarcas atendidas, quanto em termos de número de defensoras e defensores em atuação. Com efeito, o número de comarcas atendidas (por defensoras e defensores lotados, em acumulação ou itinerância) passou de cerca de 750 para cerca de 1.162 e o número de defensoras e defensores prestando atendimento nestas comarcas passou de cerca de 4.500 para 5.913, o que significou aumentos de cerca de 45% e 33%, respectivamente.

É importante observar que o número de defensoras e defensores em atuação não corresponde ao número de cargos providos, pois o primeiro exclui determi-nados tipos de afastamentos e licenças (ver metodologia)7.

O Mapa 1B ilustra a evolução territorial das DPEs no período considerado. Essa comparação mostra a expansão das DPEs para áreas ainda não atendidas, so-bretudo nos estados do Sul, mas também no Nordeste, no Norte e no Centro--Oeste. Essa comparação também mostra mudanças relativas no tipo de atendi-mento das DPEs (defensoras e defensores lotados, itinerantes ou acumulação).

7. Ressalta-se ainda que, na data de fechamento deste estudo, em razão de concursos públicos e nomeações ocorridas entre maio de 2020 a maio de 2021, o Brasil já alcançava o número de 6.235 cargos providos de defensoras e defensores estaduais e distrital, o que certamente indica acrescimento também para o número de atuação.

26 27

MAPA 1A E 1B.Evolução das comarcas atendidas por tipo de atendimento (defensoras e defensores lotados, itinerantes ou acumulação) entre 2013 e 2019/20.

AR

BL

PE

CI

CO

PA

VE

UY

NSGY

FG

Coordinate System: GCS SIRGAS 2000Datum: SIRGAS 2000

Mapa da Defensoria 2020

Atendimento nas Comarcas

¯

0 250 500 750 1.000125Km

21

Tipo de AtendimentoAo menos um (a) defensor (a) público (a) lotado (a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

Não atendida por defensor (a) público (a)

2019/2020

28 29

Região Unidade da Federação

Número Comarcas

2013 (a)

Número Comarcas

2019/20 (b)

Variação (b-a)

Número Comarcas

Atendidas 2013

(c)

Número Comarcas

Atendidas 2019/20

(d)

Variação (d-c)

Número Defensores

Atuantes 2013

(e)

Número Defensores

Atuantes 2019/20

(f)

Variação (f-e)

Rondônia 22 23 1 12 23 11 36 68 32Norte Acre 15 18 3 15 18 3 44 43 -1

Amazonas 60 61 1 2 33 31 42 114 72Roraima 7 8 1 7 8 1 37 44 7

Pará 107 113 6 56 47 -9 253 224 -29 Amapá 12 12 0 0 12 12 0 49 49

Tocantins 42 42 0 40 42 2 93 109 16Maranhão 124 112 -12 15 39 24 101 184 83

Piauí 94 94 0 17 36 19 76 106 30Nordeste Ceará 136 150 14 48 44 -4 252 292 40

Rio Grande do Norte 65 65 0 7 15 8 39 67 28Paraíba 78 79 1 50 69 19 264 235 -29

Pernambuco 151 151 0 15 87 72 131 280 149Alagoas 57 57 0 29 55 26 0 87 87Sergipe 37 40 3 12 10 -2 70 80 10

Bahia 278 260 -18 24 46 22 208 347 139Minas Gerais 295 296 1 105 112 7 591 623 32

sudeste Espírito Santo 65 69 4 26 28 2 142 136 -6 Rio de Janeiro 81 82 1 75 82 7 732 740 8

São Paulo 272 320 48 41 44 3 573 768 195Paraná 156 161 5 0 18 18 0 99 99

sul Santa Catarina 110 111 1 0 24 24 0 95 95Rio Grande do Sul (*) 163 165 2 70 158 88 301 424 123

Mato Grosso do Sul 54 55 1 40 51 11 126 206 80centro Mato Grosso 79 79 0 36 49 13 135 187 52oeste Goiás 119 127 8 0 5 5 0 75 75

Distrito Federal 1 17 16 1 16 15 188 231 43BRASIL 2680 2748 68 754 1101 347 4434 5913 1479Fonte: ANADEP/IPEA.

A evolução da Defensoria Pública em cada região e UF, entretanto, apresentou diferenças importantes, como pode ser visto na tabela a seguir (Tabela 3).

TABELA 3.Evolução das DPEs entre 2013-2019/20: Número de Comarcas, Comarcas Atendidas e Número de Defensores em Atuação

MAPA 2.Comarcas da Região Norte por tipo de atendimento, 2019/2020

Segundo o Mapa 2, na região Norte, a expansão das DPEs no território e em número de defensoras e defensores ficou por conta dos estados do Amazonas, Amapá e Rondônia, enquanto o Acre e Pará reduziram o número de defensoras e defensores. No Pará ocorreu também uma diminuição no número de comar-cas atendidas. No caso do Amapá, a Defensoria Pública do Estado do Amapá, de fato, só veio a ser instalada nos moldes constitucionais em 25 de março de 2019, com a nomeação e posse das primeiras defensoras e dos primeiros de-fensores aprovados em concurso público8.

8.Ver:https://anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=40310https://anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=403449. Ver Moura, Tatiana Whately et. al. , op. cit..

O Mapa 3 mostra que na região Nordeste houve aumento do número de comar-cas atendidas e de defensoras e defensores em quase todos os estados, com exceção do Ceará e de Sergipe, que apresentaram pequena redução no número de comarcas atendidas, e da Paraíba, que apresentou redução de cerca de 11% do número de defensoras e defensores em atuação. No caso de Pernambuco até comparação como nota de rodapé, que apresenta uma variação extraordinária no número de membros, é importante fazer a ressalva de que em 2013 este es-tado não informou para a ANADEP a lotação de 139 defensoras e defensores, impossibilitando a comparação.9

Estados

LEGENDA

Tipo de Atendimento

Ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a)

Não atendida por defensor(a) público(a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

30 31

MAPA 3.Comarcas da região Nordeste, por tipo de atendimento, 2019/2020

Estados

LEGENDA

Tipo de Atendimento

Ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a)

Não atendida por defensor(a) público(a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

MAPA 4.Comarcas da região Sudeste, por tipo de atendimento, 2019/2020

Estados

LEGENDA

Tipo de Atendimento

Ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a)

Não atendida por defensor(a) público(a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

32 33

Já na região Sul, como mostra o Mapa 5, houve crescimento vigoroso tan-to das comarcas atendidas quanto no número de defensoras e defensores, devido a instalação das DPEs do Paraná e Santa Catarina após 2013.

MAPA 5.Comarcas da região Sul, por tipo de atendimento, 2019/2020

10. A Defensoria Pública de Goiás foi criada em 2005 (Lei Complementar nº 51/2005). Muito embora instituída em termos legais em 2005, somente no ano de 2011 a Defensoria passa a tomar corpo com a nomeação do primeiro defensor públi-co-geral (que não pertencia aos quadros da instituição). Em 2013 foi nomeado o primeiro defensor público-geral integrante dos quadros da Defensoria Pública, após enquadramento dos servidores da antiga e extinta Procuradoria de Assistência Judiciária. Em 2015, foram empossados(as) os(as) primeiros(as) defensoras e defensores públicos concursados.

Finalmente, no Centro-oeste, representado no Mapa 6, observou-se crescimento territorial das DPEs, principalmente no Mato Grosso do Sul, e um crescimento bem maior no número de defensoras e defensores, inclusive no estado de Goiás, que também passou pela instalação tardia da Defensoria Pública, que só teve defensoras e defensores públicos empossados e nomeados em 201510.

MAPA 6 Comarcas da região Centro-Oeste, por tipo de atendimento, 2019/2020

Estados

LEGENDA

Tipo de Atendimento

Ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a)

Não atendida por defensor(a) público(a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

Estados

LEGENDA

Tipo de Atendimento

Ao menos um(a) defensor(a) público(a) lotado(a)

Não atendida por defensor(a) público(a)

Apenas atendimento itinerante ou por acumulação

34 35

1.3. ATRIBUIÇÕES DAS DEFENSORAS E DEFENSORES

11. Estas atribuições representam a agregação das atribuições reportadas pelas DPEs. para uma definição das áreas perten-centes a cada “atribuição” ver: Moura, Tatiana Whately et. al. Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Anadep-Ipea. Brasília: 2013.

Como pode ser observado no gráfico da Figura 2, em 2019 as atribuições mais frequentes das defensoras e defensres públicos eram nas seguintes áreas: civil, criminal, família e sucessões.11 Além disso, parte relevante dos(as) defenso-res(as) atendiam a todas as áreas em suas respectivas comarcas (varas únicas).

FIGURA 2.Principais atribuições das defensoras e defensores públicos estaduais e distrital, 2019

Fonte: Ipea/Anadep. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil, 2019.

TABELA 4.Número de defensoras e defensores por área de atuação, por UF, 201912

12. Para esta tabela, utilizou-se os dados coletados até junho de 2019, que não passaram pela revisão de 2020. Por isto, o total difere das tabelas onde os dados se referem à 2019/2020.

A Tabela 4 mostra as áreas de atuação das defensoras e defensores públicos estaduais e distritais para cada unidade da federação.

36 37

O Mapa 7 mostra a atribuição mais frequente em cada comarca do país. Nele, a atribuição “cumulativa” (em todas as áreas) se destaca, uma vez que nas comarcas pequenas a maior parte das defensoras e defensores não tem atribui-ções específicas e atendem a todas as áreas.

MAPA 7.Área de atuação mais frequente das defensoras e defensores públicos estaduais e distritais, por comarca, 2019

PARTE II

INDICADORES DE COBERTURA DAS DEFENSORIAS ESTADUAIS E DISTRITAL NAS

COMARCAS EM 2019/2020

38 39

2.1. GRAU DE COBERTURA POPULACIONAL E DÉFICIT DE DEFENSORES

Nesta parte do relatório apresentam-se dois indicadores relacionados ao grau de cobertura das Defensorias Públicas Estaduais (DPEs) e Distrital no território: um indicador de cobertura populacional e um indicador de cobertura do Poder Judiciário. Complementarmente, apresenta-se um exercício que relaciona o Ín-dice de Desenvolvimento Humano (IDH) para cada comarca, calculado como a média ponderada do IDH nos municípios que as integram, com os indicadores de cobertura das DPEs.

Nesta seção, aborda-se a relação entre o número de defensoras e defensores e o público alvo das DPEs, medido pela população de baixa renda em cada co-marca.

Assim, para medir o grau de “cobertura populacional” das DPEs em cada co-marca, construiu-se um indicador que relaciona o número de defensoras e de-fensores à população de baixa renda em cada comarca. Porém, como os dados disponíveis sobre a população e a renda nos municípios eram muito defasados (censo de 2010), optou-se por utilizar estimativas destas variáveis. Assim, fo-ram utilizadas as estimativas do IBGE para a população dos municípios em 2019, agregadas por comarca e, para a população de baixa renda, utilizou-se uma estimativa construída pela equipe de pesquisa.13

Os indicadores de cobertura populacional de 2019/20 foram então calculados como o número de defensoras e defensores lotados em cada comarca dividido pela população de baixa renda estimada em cada comarca.

Os resultados desses indicadores, apresentados na Tabela 5 e no Mapa 8, mos-tram que na maioria das UFs, a cobertura populacional das DPEs situava-se aquém do ideal, considerando-se os números recomendáveis de 1 defensor para cada 10 mil ou 15 mil habitantes de baixa renda14. O “déficit” de defensores por UF, considerando o parâmetro de um defensor para cada 10 mil habitantes, é ilustrado na Figura 2.

13. Ver metodologia. 14. De acordo com o Diagnóstico do Ministério da Justiça de 2015, o ideal é um(a) defensor(a) público(a) para atender cada grupo de 15 mil pessoas, adotando apenas o critério do rendimento. Ver https://www.justica.gov.br/seus-direitos/politicas--de-justica/publicacoes/Biblioteca/ivdiagndefens publicav9.pdf/

TABELA 5.Cobertura Populacional das DPEs: Número de Defensores, população, indicadores de cobertu-ra e déficit de defensores, por UF (2019/2020)

Nome UF

Número de Defensores (as) para cada 10 mil habitantes com

renda até 3 salários mínimos

(IC_10mil)

Número de Defensores (as) para cada 15 mil habitantes com

renda até 3 salários mínimos

(IC_15mil)

Número de defensores (as) necessários para

atingir 1: 10 mil hab de baixa renda =

N_def[(1/IC_10mil)-1]

Número de defensores (as) necessários para

atingir 1: 15 mil hab de baixa renda =

N_def[(1/IC_15mil)-1]

Rondônia 68 1.777.225 1.314.180 0,52 0,78 63 20Acre 43 881.935 632.303 0,68 1,02 20 -1 Amazonas 114 4.144.597 2.992.286 0,38 0,57 185 85Roraima 44 605.761 423.815 1,04 1,56 -2 -16 Pará 224 8.602.865 6.446.996 0,35 0,52 421 206Amapá 49 845.731 590.634 0,83 1,24 10 -10 Tocantins 109 1.572.866 1.166.713 0,93 1,40 8 -31 Maranhão 184 7.058.436 5.400.026 0,34 0,51 356 176Piauí 106 3.273.227 2.585.241 0,41 0,62 153 66Ceará 292 9.157.151 7.280.954 0,40 0,60 436 193Rio Grande do Norte 67 3.506.853 2.738.385 0,24 0,37 207 116Paraíba 235 4.018.127 3.170.614 0,74 1,11 82 -24 Pernambuco 280 9.557.071 7.487.913 0,37 0,56 469 219Alagoas 87 3.337.357 2.568.294 0,34 0,51 170 84Sergipe 80 2.298.696 1.770.840 0,45 0,68 97 38Bahia 347 14.800.000 11.600.000 0,30 0,45 813 426Minas Gerais 623 21.200.000 16.300.000 0,38 0,57 1007 464Espírito Santo 136 4.018.650 2.994.380 0,45 0,68 163 64Rio de Janeiro 740 17.300.000 12.600.000 0,59 0,88 520 100São Paulo 768 45.900.000 32.900.000 0,23 0,35 2522 1425Paraná 99 11.400.000 8.396.736 0,12 0,18 741 461Santa Catarina 95 7.164.788 5.137.253 0,18 0,28 419 247Rio Grande do Sul (*) 424 11.400.000 8.380.335 0,51 0,76 414 135Mato Grosso do Sul 206 2.778.986 2.041.291 1,01 1,51 -2 -70 Mato Grosso 187 3.487.128 2.563.386 0,73 1,09 69 -16 Goiás 75 7.018.354 5.234.130 0,14 0,21 448 274Distrito Federal 231 3.015.268 1.893.068 1,22 1,83 -42 -105

Brasil 5913 210.121.072 156.609.772 0,38 0,57 9748 4528(1) Somatório da população das comarcas. Estimativas populacionais para os municípios em 2019, IBGE.(2) Proporção da população cujo chefe da familia tinha renda até 3 salários mínimos em 2010 multiplicada pela população estimada em 2019, por comarca.

NORTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

CENTROESTE

Déficit de Defensores (as)Indicadores de Cobertura

População estimada até 3

salários mínimos em

2019 (2)

População estimada em

2019 (1)

Número de Defensores (as)

40 41

MAPA 8.Grau de Cobertura Populacional das DPEs nas comarcas: (1:15 mil)

42 43

FIGURA 3.Relação entre número de defensoras e defensores e déficit para alcançar 1:10 mil habitantes de baixa renda, por UF (2019/2020)

44 45

Com efeito, em 2019/20, observavam-se 0,37 defensoras e defensores para cada 10 mil e 0,55 defensoras e defensores para cada 15 mil habitantes de baixa renda, respectivamente, em média para todo o país. Para atingir os limites máximo (1: 10 mil) e mínimo (1: 15 mil) de cobertura populacional faltavam – ou havia “escassez relativa” – de cerca de 9,9 mil e 4,7 mil defensoras e defen-sores, respectivamente.15

Feitas estas considerações, e utilizando o parâmetro de 1 defensor(a) para cada grupo de 15 mil habitantes de baixa renda, observava-se grande variedade en-tre as UFs, com algumas superando e outras apresentando grau de cobertura populacional muito aquém deste valor. Com efeito, quatro UFs do Norte, Acre, Roraima, Amapá e Tocantins, um estado do Nordeste, Paraíba, e três estados do Centro-Oeste, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal apresentaram números de defensores(as) superior ao limite mínimo de 1: 15 mil habitantes de baixa renda. Por outro lado, treze estados apresentavam grau de cobertura aci-ma de 0,5 e menor que 1, e cinco estados apresentavam cobertura menor que 0,5, com destaque para São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Goiás.

A Figura 4 ilustra a relação entre a população de baixa renda e o número de defensoras e defensores em atuação em 2019/20, por Unidade da Federação. Observa-se que apenas 4 UFs apresentavam menos de 10 mil pessoas de baixa renda para cada defensora e defensor em atuação.

15. É importante fazer a ressalva de que no presente estudo pretende-se medir o “grau” de cobertura populacional, que pode ser um número fracionário. Também foi calculado a “escassez relativa de defensores”, mas não foi feito o cálculo para torná-lo um número não fracionário para cada uma das comarcas, pois isso significaria definir a priori a fração mínima correspondente a 1 defensor, não só para comarcas com menos de 15 mil habitantes, mas também para todas as outras. Nas tabelas apresentadas no presente estudo os déficits aparecem sempre como números inteiros, pois trata-se do arredon-damento dos números mostrados em cada situação.

46 47

FIGURA 4.População de baixa renda por defensor (a), 2019-2020

48 49

COMARCAS COM “DÉFICITS DEDEFENSORAS E DEFENSORES”

16. Este cálculo implicaria em dividir o tempo de trabalho dos defensores que atuavam em mais de uma comarca atribuir uma parcela do trabalho a cada local, o que apenas poderia ser feito através de um exercício de simulação de hipóteses, já que os valores da distribuição do tempo de trabalho não eram conhecidos.

Note-se que os Indicadores de cobertura populacional incorporam: i) as comar-cas atendidas por defensores(as) ali lotados(as); ii) aquelas atendidas apenas por defensores(as) lotados(as) em outra comarca (acumulação ou itinerância); iii) as comarcas não atendidas por defensores(as) públicos(as). É importante ressaltar que as comarcas que eram atendidas de forma itinerante ou por acu-mulação não tinham defensores(as) “fixados(as)” naquele território de acordo com a metodologia utilizada no presente estudo. Assim, embora contabilizadas como “comarcas atendidas”, não se registrou no presente estudo um “número de defensores (as)” definido para estas comarcas.16

Feitas estas ressalvas, podemos distinguir os “déficits” de defensores(as) em dois grupos de comarcas, de acordo com o grau de cobertura populacional: i) as comarcas sem defensores (as) lotados(as), onde o indicador de cobertura populacional é zero; ii) as comarcas com defensores(as) lotados(as), onde o indicador de cobertura populacional é maior que zero e menor que 1, ou seja, abaixo do ideal. No primeiro caso, trata-se de fixar defensoras e defensores em áreas ainda não cobertas, ou cobertas apenas por acumulação ou itinerância e, no segundo caso, adensar o número de defensores(as) em áreas já cobertas com defensores (as) lotados(as), mas em número insuficiente.

Nesta seção apresenta-se os resultados da escassez relativa de defensoras e defensores de acordo com tipo de atendimento e o tamanho populacional das comarcas. Esta subdivisão das comarcas por tamanho populacional é importan-te no sentido de compreender a heterogeneidade das comarcas do país, sendo o tamanho populacional um dos fatores mais relevantes para essas diferenças.

Para tanto, além da classificação por tipo de atendimento, as comarcas foram classificadas de acordo com o tamanho populacional, em três grupos: i) comar-cas com população até 100 mil habitantes; ii) comarcas com população maior que 100 mil até 500 mil habitantes; iii) comarcas com população maior que 500 mil habitantes.

A seguir, apresentam-se os resultados para cada tipo de atendimento e tamanho populacional das comarcas.

COMARCAS NÃO ATENDIDAS PORDEFENSORAS E DEFENSORES

17. O déficit refere-se ao número de defensoras e defensores reportados na presente pesquisa. Este número, porém, deve ser alterado devido aos concursos públicos ocorridos posteriormente à coleta e revisão dos dados.

Segundo a Tabela 6, em 2019/20, cerca de 1600 comarcas não contavam com atendimento por defensoras e defensores públicos, e representavam cer-ca de 58 milhões de pessoas. Observa-se que 95% destas comarcas eram de pequeno porte – até 100 mil habitantes – e compreendiam uma população total de 46,7 milhões de pessoas. Apenas 5% das comarcas não atendidas por defensores(as) públicos(as) tinham porte médio – entre 100 mil e 500 mil habitantes – e compreendiam uma população total de 12,4 milhões de pes-soas. Assim, 80% da população não atendida por defensores(as) públicos(as) estava em comarcas de pequeno porte, e 20% em comarcas de porte médio.Note-se que nas comarcas de grande porte, acima de 500 mil habitantes, todas as comarcas eram atendidas pelas DPEs.

Para que as comarcas ainda não atendidas pelas DPEs em 2019/20 atingissem o nível de 1 defensor(a) para cada 15 mil habitantes de baixa renda seriam necessários cerca de 3000 defensores(as) a mais no país, ou seja, esta era a dimensão do “déficit” nacional de defensoras e defensores para este grupo de comarcas em 2019/20.17 A composição desse déficit era de cerca de 2400 de-fensores(as) nas comarcas de pequeno porte e cerca de 600 defensores(as) nas comarcas de porte médio.

50 51

TABELA 6.Número de Comarcas, População e Déficit de Defensores (1:15mil hab. baixa renda) por Tipo de Atendimento, 2019/2020

Tamanho Populacional

Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc.Até 100 mil hab 625 68% 236 99% 1510 95% 2371 86%

entre 100 e 500 mil hab 244 27% 2 1% 80 5% 326 12%mais de 500 mil hab 48 5% 0 0% 0 0% 48 2%

Total 917 100% 238 100% 1590 100% 2745 100%Pop. Com. Perc. Pop. Com. Perc. Pop. Com. Perc. Pop. Com. Perc.

Até 100 mil hab 28088976 20% 6032976 95% 46057083 79% 80179035 39%entre 100 e 500 mil hab 49834983 35% 299017 5% 12279176 21% 62413176 30%

mais de 500 mil hab 64164434 45% 0 0% 0 0% 64164434 31%Total 142088393 100% 6331993 100% 58336259 100% 206756645 100%

Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc.Até 100 mil hab 448 35% 312 96% 2403 80% 3163 69%

entre 100 e 500 mil hab 858 67% 13 4% 605 20% 1476 32%mais de 500 mil hab -25 -2% 0% 0% -25 -1%

Total 1281 100% 326 100% 3008 100% 4614 100%(1) Comarcas com pelo menos 1 defensor/defensora público (a) lotado na unidade

Não inclui o DF, por falta de informação sobre a população nas comarcasFonte: ANADEP/IPEA. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais no Brasil, 2019/20.

(3) Comarca atendida em determinados dias da semana por defensor/defensora lotado(a) em outra unidade. Apenas o

Ao menos um Defensor Lotado na Comarca (1)

Apenas Defensor (s) em acumulação (2) ou

Itinerancia (3)

Não atendidas por Defensores Públicos

Total

(2) Comarcas sem defensor/defensora lotado(a) na unidade, porém, atendida por acumulação de atribuição de defensor/defensora lotado em outra unidade

A tabela 7 apresenta as comarcas de porte médio que ainda não eram atendidas pelas DPEs em 2019/20. Note-se que boa parte delas situava-se no estado de São Paulo seguido por Paraná e Goiás.

TABELA 7.População e déficit estimado de defensores (1:15 mil hab. Baixa renda) em comarcas de porte médio (entre 100 mil e 500 mil habitantes) não atendidas pelas DPEs em 2019/2020

UF Nome da Comarcapopulação estimada

2019

déficit estimado de defensores*

UF Nome da Comarcapopulação estimada

2019

déficit estimado de defensores

PA São Félix do Xingu 128481 7 SP Paulínia 109.424 5PA Tailândia 106.339 5 SP Penápolis 104.848 5MA Grajaú 104.673 5 SP Pindamonhangaba 168.328 8MA Santa Luzia 131.639 7 SP Poá 117.452 6BA Campo Formoso 103.154 6 SP Ribeirão Pires 123.393 6MG Araçuaí 106.947 6 SP Salto 118.663 6MG Coronel Fabriciano 119.173 6 SP Santa Bárbara D'Oeste 193.475 10MG Itabira 134.637 7 SP Santana de Parnaíba 139.447 6MG Manhuaçu 143.515 7 SP São Roque 113.380 5MG Nova Serrana 123.472 6 SP Sertãozinho 168.495 8SP Americana 239.597 11 SP Sumaré 282.441 14SP Araras 134.236 7 SP Suzano 297.637 15SP Assis 128.164 6 SP Taboão da Serra 289.664 14SP Atibaia 168.209 8 SP Tatuí 148.688 8SP Barueri 293.077 14 SP Valinhos 129.193 6SP Birigui 145.955 8 SP Várzea Paulista 121.838 6SP Botucatu 152.932 7 SP Votorantim 122.480 6SP Caçapava 100.865 5 SP Votuporanga 113.713 6SP Caieiras 101.470 5 PR Almirante Tamandaré 147.941 7SP Catanduva 168.589 8 PR Arapongas 129.854 7SP Cotia 249.210 12 PR Araucária 143.843 7SP Cubatão 130.705 6 PR Cambé 106.533 5SP Embu 273.726 14 PR Campo Largo 144.943 7SP Francisco Morato 175.844 9 PR Colombo 243.726 12SP Guaratinguetá 121.798 6 PR Fazenda Rio Grande 136.449 7SP Hortolândia 230.851 12 PR Paranaguá 154.936 7SP Indaiatuba 251.627 12 PR Paranavaí 101.294 5SP Itanhaém 113.147 6 PR Pinhais 132.157 6SP Itapecerica da Serra 222.962 11 PR Piraquara 113.036 6SP Itapeva 126.405 6 PR Toledo 152.528 8SP Itapevi 237.700 12 SC Balneário Camboriú 142.295 6SP Itatiba 134.480 6 GO Águas Lindas de Goiás 212.440 11SP Itu 173.939 8 GO Catalão 120.417 6SP Jandira 124.937 6 GO Formosa 132.267 6SP Leme 107.894 5 GO Itumbiara 104.742 5SP Mairiporã 100.179 5 GO Jataí 114.178 6SP Mogi Guaçu 163.192 8 GO Luziânia 208.299 10SP Moji Mirim 128.892 6 GO Novo Gama 115.711 6SP Olímpia 100.610 5 GO Rio Verde 243.903 12SP Ourinhos 127.414 6 GO Senador Canedo 119.175 6

GO Valparaíso de Goiás 168.468 8Fonte: Ipea/Anadep. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais, 2019.* Número de defensores necessários para atingir a proporção de 1 para 15 mil habitantes de baixa renda

52 53

COMARCAS ATENDIDAS APENAS POR DEFENSORES E DEFENSORAS EM ACUMULAÇÃO OU ITINERANTES

COMARCAS ATENDIDAS POR PELO MENOS UMA DEFENSORA OU DEFENSOR PÚBLICO LOTADO

A Tabela 6 mostra também que cerca de 240 comarcas eram atendidas apenas por defensoras e defensores em acumulação ou unidades itinerantes, correspon-dendo a 6,3 milhões de habitantes. Quase a totalidade destas comarcas eram de pequeno porte, 99%, e apenas duas comarcas eram de tamanho médio.

O conceito de “déficit” de defensores(as), nestes casos, deve ser visto com cau-tela, pois estas comarcas eram atendidas por defensoras e defensores públicos, embora não seja possível quantificar o número de defensores(as) ali atuando, o que impossibilita calcular o déficit efetivo de defensores(as). Em outras pala-vras, devido à metodologia utilizada neste trabalho, contabilizamos como zero o número de defensores(as) nestas comarcas para calcular o “déficit” mostrado na tabela, de cerca de 320 defensores(as).

Porém, como será discutido a seguir, em 2019/20 tal déficit era, provavelmente, parcialmente coberto por defensoras e defensores lotados em comarcas de mé-dio ou grande porte que atuavam em mais de uma comarca simultaneamente.

Em 2019/20, havia cerca de 900 comarcas com pelo menos uma defensora ou defensor lotado, que atendiam a 142 milhões de pessoas, ou cerca de 70% da população do país. Ao contrário dos casos anteriores, neste grupo as comarcas de tamanho médio e grande representavam a maior parte da população. Com efeito, quase metade da população neste grupo, 45%, estava em comarcas de grande porte, 35% estavam em comarcas de tamanho médio, e 20% em co-marcas pequenas.

No cômputo geral do país, o déficit de defensoras e defensores neste grupo era de cerca de 1300 e estava concentrado nas comarcas de tamanho médio, que demandavam cerca de 860 defensores(as), seguido das comarcas de pequeno porte, com déficit de cerca de 450 defensores(as). Já as comarcas de grande porte apresentavam, na contagem geral do país, um número maior de defenso-ras e defensores do que o necessário para atingir o patamar de um defensor(a) para cada 15 mil habitantes de baixa renda.

Porém, como já observado, parte deste aparente “excesso” de defensoras e defensores nas grandes comarcas, provavelmente, prestava serviços simultane-amente em comarcas de pequeno e médio porte, como se deduz dos números apresentados na tabela a seguir. Ou seja, o atendimento por acumulação ou itinerante em comarcas pequenas pode dever-se ao acúmulo de atribuições por parte de defensoras e defensores lotados em comarcas de grande porte. Note--se também, que parte desses defensores(as) em “excesso” nas grandes comar-cas poderia prestar atendimento em comarcas onde já existiam defensores(as) lotados, mas em número insuficiente como visto na tabela 6.

DÉFICIT DE DEFENSORAS E DEFENSORES NAS UFS:QUADRO GERAL

A Tabela 8 revela que apenas 7 estados não apresentavam déficits de defenso-ras e defensores em 2019/20, sendo eles: quatro UFs da região Norte; no Nor-deste, a Paraíba; e na região Centro-Oeste Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Na região Norte, destacavam-se os déficits de defensores(as) nos estados do Pará e Amazonas, em grande parte concentrados em municípios de pequeno porte. Na região Nordeste, os déficits de defensores(as) também eram elevados na maior parte dos estados com destaque para Bahia, Pernambuco, Ceará e Ma-ranhão. Nota-se também que, no Nordeste, a maior parte das UFs apresentavam mais de um defensor ou defensora para cada 15 mil habitantes de baixa renda nas grandes comarcas, mas no cômputo geral do estado apresentavam déficit de defensores(as). Esta situação pode indicar que as defensoras e defensores das grandes comarcas supriam parcialmente os déficits nas comarcas pequenas e médias por acumulação, onde as DPEs já estavam presentes, mas o número de defensoras e defensores não era suficiente para expandir os serviços das DPEs para as comarcas ainda não atendidas.

Nota-se que as comarcas de pequeno porte não atendidas se espalhavam por todo o país, enquanto o Sudeste e o Sul concentravam cerca de 80% do défi-cit de defensoras e defensores em comarcas médias ainda não atendidas, com destaque para os estados de São Paulo e Paraná.

Na região Sudeste, destacava-se o estado de São Paulo, com déficit de cerca de 1400 defensoras e defensores, inclusive em comarcas grandes, seguido por Minas Gerais, com cerca de 460 defensores(as) aquém do ideal. No do Rio de Janeiro, o número relativamente alto de defensoras e defensores nas grandes comarcas não era suficiente para suprir os déficits de defensores(as) nas comar-cas de pequeno e médio porte já atendidas, porém, com número insuficiente de defensores(as). Na região Sul, todos os estados apresentavam déficits elevados,

54 55

TABELA 8.Déficit de defensores (as) para atingir 1: 15 mil hab. de baixa renda, por Tipo de Atendimento e Tamanho da Comarca, 2019/2020

Todos os tipos de Atendimento

até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

mais de 500 mil hab

Déficit Com. Def. Lot.

até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

Déficit Com. Itin/Acum.

até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

Déficit Com. Não Atend.

Défcit Defensores na UF

Rondônia 16 10 -7 19 1 1 0 20Acre -1 -12 -13 12 12 0 -1Amazonas -3 0 20 17 28 28 40 40 85Roraima 1 -17 -16 0 0 -16Pará 23 40 -28 35 38 7 45 114 12 126 206Amapá -5 1 -6 -10 0 0 -10Tocantins -13 -43 -56 24 24 0 -31Maranhão 33 36 -28 41 0 123 12 135 176Piauí 26 2 -12 16 7 7 43 43 66Ceará 46 34 -68 12 15 15 166 166 193Rio Grande do Norte 22 22 8 51 0 64 64 116Paraíba 13 -4 -70 -61 29 29 9 9 -24Pernambuco 58 75 133 28 28 85 85 246Alagoas 19 3 5 27 55 55 1 1 84Sergipe 4 3 -22 -15 2 2 51 51 38Bahia 30 60 -19 70 11 11 329 329 411Minas Gerais 62 142 -94 110 0 319 33 351 462Espírito Santo 5 -4 15 16 6 6 41 41 64Rio de Janeiro 26 86 -17 95 5 5 0 100São Paulo 0 177 397 574 6 6 462 382 844 1424Paraná 4 104 49 157 0 219 85 303 461Santa Catarina 24 54 11 89 0 152 6 158 247Rio Grande do Sul (*) 76 71 -56 91 36 36 8 8 135Mato Grosso do Sul -8 -1 -65 -74 0 4 4 -70Mato Grosso -12 -4 -40 -57 14 14 27 27 -16Goiás 1 23 29 53 0 145 76 221 274Distrito Federal nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd

BRASIL 448 858 2 1308 312 13 326 2403 605 3008 4641(1) Comarcas com pelo menos 1 defensor/defensora público (a) lotado na unidade(2) Comarcas sem (3) Comarca Fonte: ANADEP/IPEA. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais no Brasil, 2019.

CENTROESTE

Não atendidas por Defensores Públicos

Apenas Defensor (s) em acumulação (2) ou Itinerancia (3)

Tipo de atendimento / tamanho da comarca

Ao menos um Defensor Lotado na Comarca (1)

NORTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

2.2. GRAU DE COBERTURA DAS UNIDADES JUDICIÁRIAS

Nesta seção apresentamos um exercício exploratório para um “indicador de cobertura do Poder Judiciário”, relacionando o número de defensoras e defen-sores em cada comarca ao número de unidades judiciárias (UJs) localizadas nas mesmas, de acordo com os dados do CNJ para a justiça estadual em 2019.18 O indicador de cobertura das UJs pode ser relevante para avaliar a quantidade de defensores(as) necessários(as) nas comarcas de grande porte, sobretudo as capitais, pois estas concentram grande número de UJs.

com destaque para o Paraná e Santa Catarina, ambos com déficits de defenso-res e defensoras inclusive em comarcas de grande porte. Na região Centro-Oes-te, por outro lado, apenas Goiás apresentava déficit de defensores(as), inclusive nas grandes comarcas. A Tabela 8 a seguir sintetiza esses resultados.

TABELA 9.Unidades Judiciárias da Justiça Estadual por tipo de unidade, 2019

18. Veja-se Metodologia.

Como visto na seção anterior, o número de defensoras e defensores nas gran-des comarcas em termos de cobertura da população de baixa renda está, em muitos casos, dentro dos parâmetros recomendáveis. Porém, este resultado tende a não ser confirmado quando se observam também as unidades judiciá-rias, que têm forte correspondência com as atividades do poder judiciário.

Cabe observar que a base de dados disponível – Painel de Produtividade Men-sal do CNJ - tem limitações quanto ao preenchimento das informações, que é desigual entre os estados, e quanto aos critérios de classificação das unidades judiciárias, que aparentemente apresenta algumas divergências entre as UFs. Assim, ressalta-se que 10% das UJs não estão classificadas quanto ao tipo de unidade e podem referir-se a unidades que demandam defensoras e defensores públicos, ou a unidades de apoio. Por outro lado, nos casos de unidades como os “Centros Judiciários de Solução de Conflitos”, algumas unidades aparecem como de “primeiro grau” e outras como “áreas de apoio direto à atividade judi-cante”. Estas considerações estão sintetizadas na Tabela 9.

56 57

A Tabela 10 mostra as rubricas compreendidas em cada “tipo de unidade judi-ciária” de acordo com os dados do Painel CNJ utilizado para a construção do indicador de cobertura das Unidades Judiciárias no presente estudo.

TABELA 10.Unidades judiciárias da Justiça Estadual por classificação e tipo, 2019

Feitas estas considerações, apresentamos a seguir os resultados para o indica-dor de cobertura das unidades judiciárias, considerando 2 casos: i) o total de unidades judiciárias, ii) apenas as unidades judiciárias de primeiro e segundo grau ou Tribunais Superiores. No primeiro caso, evitamos o erro de desconsi-derar unidades importantes que não foram classificadas e, no segundo caso, evitamos o erro de incluir unidades irrelevantes no cálculo. Cabe ressaltar que a rigor esses erros podem ser corrigidos, ou amenizados, através de uma melhor classificação das unidades judiciárias pelos próprios Tribunais Estaduais, ou ain-da, por um trabalho de reclassificação das unidades pelos usuários dos dados, que pode ser desenvolvido em outras pesquisas.

Quando consideramos o grau de cobertura da Defensoria Pública com relação ao Poder Judiciário como o número de defensoras e defensores dividido pelo total de unidades judiciárias, o resultado é que apenas um estado, Roraima, apresenta grau de cobertura maior que 1. É importante ressaltar que quando consideramos apenas as unidades judiciárias de primeiro e segundo grau ou Tribunais Superiores, alguns estados apresentam dados inconsistentes, devido a erros ou insuficiência de dados classificados de acordo com tipos de unidade judiciária (UJs).

Feitas estas ressalvas, e considerando como número ideal 1 defensora ou defen-sor para cada UJ de primeiro ou segundo grau ou Tribunais Superiores, obser-va-se um déficit de quase 5,6 mil defensoras e defensores no cômputo geral do país. Observa-se também que todos os estados, com exceção de Roraima, tam-bém apresentam grau de cobertura inferior a 1, mesmo consideradas apenas as unidades judiciarias classificadas como de primeiro e segundo grau ou tribunais superiores. Na composição do déficit de defensoras e defensores com relação as UJs de primeiro e segundo grau ou Tribunais Superiores, 20% correspondem a comarcas de grande porte, 25% de médio e 55% de pequeno porte. Assim, embora o maior peso do déficit permaneça nas comarcas menores, inverte-se o sinal nas grandes comarcas que passam também a apresentar déficits de de-fensoras e defensores. As Tabelas 11-13 e o mapa 8 a seguir sintetizam estes resultados.

Classificação da Unidade

Unidades judiciárias de

primeiro grau

Unidades judiciárias de segundo grau ou tribunais superiores

Áreas de apoio direito à atividade judicante

Total

AM - Auditoria Militar; 7 0 0 7 Arq - Setor de Arquivo; 0 0 6 6 CC - Centrais de Conciliação; 0 0 1 1 CEJUSC - Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania; 86 0 42 128 CM - Centrais de Mandados; 0 0 1 1 Cont - Contadoria; 0 0 2 2 Corr - Gabinete da Corregedoria 0 1 0 1 Câm - Câmaras (2º grau ou tribunais superiores) 0 92 0 92 Dist - Distribuição; 0 0 31 31 Gab1º - Gabinete de juiz de primeiro grau; 61 0 0 61 Gab2ºS - Gabinete de desembargador ou de ministro (exceto presidência, vice-presidência ou corregedoria) 0 945 0 945 JE - Juizado Especial; 1410 0 0 1410 JI - Juizado Itinerante; 63 0 0 63 O1º - outras unidades judiciárias de primeiro grau 379 0 0 379 O2ºS - outros órgãos de 2º grau ou de tribunais superiores 0 4 0 4 OAADJ - outras áreas de apoio direto à atividade judicante. 0 0 112 112 OE - Órgãos Especiais (2º grau ou tribunais superiores) 0 3 0 3 PA - Postos Avançados; 41 0 0 41 Pl - Plenário (2º grau ou tribunais superiores) 0 5 0 5 Prec - Precatórios; 0 0 1 1 Presi - Gabinete da Presidência 0 15 0 15 Prot - Protocolo; 0 0 1 1 SJ - Secretaria; 0 0 17 17 SJ2º - Secretaria Judiciária de 2º grau ou de tribunais superiores 0 1 0 1 Sec - Seções (2º grau ou tribunais superiores) 0 17 0 17 TR - Turma Recursal; 394 0 0 394 Tur - Turmas (2º grau ou tribunais superiores) 0 28 0 28 V - Vara; 7361 0 0 7361 VJE - Vara com juizado especial adjunto; 704 0 0 704 VP - Gabinete da Vice-Presidência 0 14 0 14 Informação faltante 0 0 0 1329 Total 10506 1125 214 13174 Fonte: Painel do CNJ - Produtividade Mensal - Mapa. Acesso em 4/11/2019

58 59

TABELA 11.Número de Comarcas, Número de Unidades Judiciárias de primeiro e segundo grau ou tribunais superiores, e déficit de defensores (1: 1 UJ) por tamanho da comarca, 2019/2020

Tamanho Populacional

Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc. Núm. Com. Perc.Até 100 mil hab 625 68% 236 99% 1510 95% 2371 86%

entre 100 e 500 mil hab 244 27% 2 1% 80 5% 326 12%mais de 500 mil hab 48 5% 0 0% 0 0% 48 2%

Total 917 100% 238 100% 1590 100% 2745 100%UJ. Com. Perc. UJ. Com. Perc. UJ. Com. Perc. UJ. Com. Perc.

Até 100 mil hab 1712 20% 353 97% 2117 81% 4182 37%entre 100 e 500 mil hab 2565 31% 12 3% 487 19% 3064 27%

mais de 500 mil hab 4085 49% 0% 0% 4085 36%Total 8362 100% 365 100% 2604 100% 11331 100%

Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc. Déficit Def. Perc.Até 100 mil hab 702 26% 353 97% 2117 81% 3172 56%

entre 100 e 500 mil hab 937 35% 12 3% 487 19% 1436 25%mais de 500 mil hab 1043 39% 0% 0% 1043 18%

Total 2682 100% 365 100% 2604 100% 5651 100%(1) Comarcas com pelo menos 1 defensor/defensora público (a) lotado na unidade

(3) Comarca atendida em determinados dias da semana por defensor/defensora lotado(a) em outra unidade. Apenas o estado do Pará Fonte: ANADEP/IPEA. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais no Brasil, 2019/20. Painel do CNJ - Produtividade Mensal - Mapa. Acesso em 4/11/2019

Ao menos um Defensor Lotado na Comarca (1)

Apenas Defensor (s) em acumulação (2) ou

Itinerancia (3)

Não atendidas por Defensores Públicos

Total

(2) Comarcas sem defensor/defensora lotado(a) na unidade, porém, atendida por acumulação de atribuição de defensor/defensora lotado em outra unidade

TABELA 12.Número de defensores (as), número de unidades jurisdicionais, indicadores de cobertura e dé-ficits de defensores, por UF, 2019 /2020

Numero de defensores para cada Unidade

Jurisdicional, de qualquer

tipo

Numero de defensores para cada Unidade

Jurisdicional de 1o e 2o

graus

Número de defensores (as)

necessários para atingir 1:

unidade jurisdicional de qualquer tipo

Número de defensores (as)

necessários para atingir 1:

unidade jurisdicional de

1o e 2o grausRondônia 68 126 126 0,54 0,54 58 58

Acre 43 84 67 0,51 0,64 41 24Amazonas 114 190 187 0,60 0,61 76 73

Roraima 44 43 43 1,02 1,02 -1 -1Pará 224 354 354 0,63 0,63 130 130

Amapá 49 74 0 0,66 - 25 -Tocantins 109 176 176 0,62 0,62 67 67Maranhão 184 313 313 0,59 0,59 129 129

Piauí 106 204 193 0,52 0,55 98 87Ceará 292 515 466 0,57 0,63 223 174

Rio Grande do Norte 67 239 228 0,28 0,29 172 161Paraíba 235 284 265 0,83 0,89 49 30

Pernambuco 280 722 642 0,39 0,44 442 362Alagoas 87 172 162 0,51 0,54 85 75Sergipe 80 173 173 0,46 0,46 93 93

Bahia 347 601 581 0,58 0,60 254 234Minas Gerais 623 1082 1082 0,58 0,58 459 459

Espírito Santo 136 357 357 0,38 0,38 221 221Rio de Janeiro 740 1079 1067 0,69 0,69 339 327

São Paulo 768 2599 2101 0,30 0,37 1831 1333Paraná 99 623 617 0,16 0,16 524 518

Santa Catarina 95 571 - 0,17 - 476 -Rio Grande do Sul (*) 424 1126 1087 0,38 0,39 702 663

Mato Grosso do Sul 206 289 290 0,71 0,71 83 84Mato Grosso 187 331 331 0,56 0,56 144 144

Goiás 75 478 420 0,16 0,18 403 345Distrito Federal 231 305 299 0,76 0,77 74 68

Brasil 5913 13110 11627 0,45 0,51 7197 5714Fonte: Ipea/Anadep. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais no Brasil, 2019. (1) e (2): Painel do CNJ - Produtividade Mensal - Mapa. Acesso em 4/11/2019

Total Unidades

Jurisdicionais (1)

NORTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

CENTROESTE

défcit de defensoresIndicadores de Cobertura

Unidades Jurisdicionais

de 1o e 2o graus

(2)

Número de Defensores

(as)

Ri

60 61

TABELA 13.Déficit de defensores(as) com relação ao Poder Judiciário (1:1 UJ), de acordo com o tipo de atendimento, tamanho da comarca e UF. 2019/2020

Região

Todos os tipos de

Atendimento

Nome UF até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

mais de 500 mil

hab

Déficit Com. Def. Lot.

até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

Déficit Com. Itin/Acum.

até 100 mil hab

entre 100 e 500 mil hab

Déficit Com. Não Atend.

Défcit Defensores na

UF

Rondônia 18 14 25 57 1 1 0 58Acre 1 9 10 14 14 0 24

Amazonas -4 -2 21 15 26 26 32 32 73Roraima 0 -1 -1 0 0 -1

Pará 8 14 14 36 18 2 20 71 3 74 130Amapá nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd

Tocantins 14 2 16 51 51 0 67Maranhão 4 20 27 51 0 74 4 78 129

Piauí 17 6 27 50 7 7 30 30 87Ceará 20 2 14 36 10 10 128 128 174

Rio Grande do Norte 20 26 68 114 0 47 47 161Paraíba 10 12 -24 -2 23 23 9 9 30

Pernambuco 32 83 161 276 21 21 65 65 362Alagoas 12 4 25 41 34 34 0 0 75Sergipe 2 0 23 25 1 1 67 67 93

Bahia 15 55 -7 63 9 9 164 164 236Minas Gerais 60 83 39 182 0 255 22 277 459

Espírito Santo 17 126 17 160 11 11 50 50 221Rio de Janeiro 138 77 85 300 27 27 0 327

São Paulo 8 183 154 345 10 10 662 316 978 1333Paraná 7 119 100 226 0 215 77 292 518

Santa Catarina nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd ndRio Grande do Sul (*) 235 110 219 564 82 82 17 17 663

Mato Grosso do Sul 61 8 7 76 0 8 8 84Mato Grosso 34 15 42 91 18 18 35 35 144

Goiás 1 22 70 93 0 187 65 252 345Distrito Federal nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd

BRASIL 730 987 1107 2824 353 12 365 2116 487 2603 5792(1) Comarcas com pelo menos 1 defensor/defensora público (a) lotado na unidade

Fonte: ANADEP/IPEA. Mapa das Defensorias Públicas Estaduais no Brasil, 2019/20. CNJ, Painel.(3) Comarca atendida em determinados dias da semana por defensor/defensora lotado(a) em outra unidade. Apenas o estado

CENTROESTE

Tipo de atendimento / tamanho da comarca

Não atendidas por Defensores Públicos

Apenas Defensor (s) em acumulação (2) ou Itinerancia

(3)

(2) Comarcas sem defensor/defensora lotado(a) na unidade, porém, atendida por acumulação de atribuição de

Ao menos um Defensor Lotado na Comarca (1)

NORTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

MAPA 9.Grau de cobertura das Defensoria Públicas com relação ao Poder Judiciário

62 63

2.3. DISTRIBUIÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORES VERSUS IDHS MUNICIPAIS

Com a finalidade de explorar fatores associados a possíveis desequilíbrios relati-vos entre comarcas no que toca à alocação de defensoras e defensores efetivos vis-à-vis suas demandas potenciais (ou seja, entre seus índices de escassez), procedeu-se à comparação desses indicadores com os Índices de Desenvolvi-mento Humano dos municípios.

Elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimen-to (PNUD), em parceria com o IPEA e Fundação João Pinheiro, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) brasileiro é uma medida com-posta de indicadores de três dimensões – longevidade, educação e renda – aplicada aos municípios, com posterior construção de um ranking. O ín-dice varia de zero a um, de modo que, quanto mais próximo um dado muni-cípio estiver da unidade (isto é, IDH = 1), maior será seu desenvolvimentohumano.

A hipótese é que outras variáveis, além da renda (variável determinante na delimitação da demanda potencial), podem influenciar o índice de escassez. Pela natureza de sua construção, o IDH amplia o escopo da análise, ao con-siderar as dimensões de acesso à educação e expectativa de vida. A questão que se coloca então é a seguinte: é possível estabelecer alguma relação en-tre os IDHs dos municípios e os índices de escassez das comarcas que a elescorrespondem?19

Ambas relacionam a taxa de defensores(as) por cem mil habitantes com os IDHs municipais; a diferença é que uma engloba todas as comarcas e a outra exclui as co-marcas onde não havia defensores(as) fixos (conforme figuras 5 e 6 na seção 3.6)20

Nos dois casos, aparece uma correlação positiva, a sugerir que a escassez de defensoras e defensores tende a ser menor em comarcas com IDH mais ele-vado (e vice-versa). É importante ressaltar que este resultado não implica uma relação de causa e efeito – que não foi objeto de análise, cabe afirmar –, nem possui validade geral. No entanto, a correlação existe, e é importante tê-la em mente ao se pensar na alocação mais eficiente das defensoras e defensores nos estados e no distrito federal. Em particular, deve-se atentar para o problema, documentado na esfera do poder judiciário, relativo à dificuldade de provimento (ou criação) de vagas em determinadas localidades.

19. Aqui, é necessário lembrar que algumas comarcas abarcam mais de um município. Nesses casos, os IDH foram cal-culados com base em médias ponderadas dos municípios que compõem a comarca, usando como pesos suas respectivas populações.20. Sobre os diagramas de correlação veja a seção 3.6 (metodologia)

PARTE III

METODOLOGIA

64 65

O Mapa das Defensorias Públicas estaduais e distrital no Brasil tem a comarca como área mínima. As comarcas do país correspondem às unidades territoriais definidas pelo Poder Judiciário, como se segue.

De acordo com o CNJ, a “comarca corresponde ao território em que o juiz de primeiro grau irá exercer sua jurisdição e pode abranger um ou mais municípios, dependendo do número de habitantes e de eleitores, do movimento forense e da extensão territorial dos municípios do estado, entre outros aspectos. Cada comarca, portanto, pode contar com vários juízes ou apenas um, que terá, no caso, todas as competências destinadas ao órgão de primeiro grau”. Ainda de acordo com o CNJ, a “vara judiciária é o local ou repartição que corresponde a lotação de um juiz, onde o magistrado efetua suas atividades. Em comarcas pequenas, a única vara recebe todos os assuntos relativos à Justiça” (http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comar-ca-vara-entrancia-e-instancia).

Assim, uma comarca pode corresponder a um ou mais municípios e a uma ou mais ‘vara judiciária’, e pode compreender às atividades de um ou mais juízes. Desta forma, as comarcas variam entre si, não apenas em termos populacionais, mas também quanto ao volume de atividades judiciárias que desempenham.

Cabe observar que as comarcas e seus respectivos municípios podem sofrer alterações ao longo do tempo, seja porque o Poder Judiciário pode alterar os municípios que compõem as comarcas, seja porque os municípios podem ser alterados (agregados, divididos).

No presente trabalho, utilizou-se como fonte primária para a definição das co-marcas uma tabela enviada pelo CNJ para a ANADEP, em meados de 2019, onde cada município do país (com respectivo código do IBGE) está associado a uma determinada comarca. Na tabela, o nome de cada comarca é o nome do município sede da mesma. Embora a relação de comarcas e municípios per-tencentes às mesmas esteja disponível na interface da web “Painel do CNJ”, a tabela enviada à ANADEP passou por apuração do departamento de pesquisas do CNJ, que atualizou alguns dados do painel.

21. Estas solicitações foram feitas por escrito no formulário elaborado pela equipe de pesquisa, e enviado às Defensorias Públicas estaduais e distrital e as informações coletadas até de abril a julho de 2019, com uma checagem feita em 2020.

3.1. DEFINIÇÃO DAS COMARCASEm 2019, para coletar os dados sobre as defensoras e defensores públicos es-taduais e distritais a ANADEP solicitou às Defensorias Públicas que enviassem para a equipe da pesquisa as seguintes relações :

i) Relação da distribuição de defensoras e defensores públicos por co-marca.ii) Relação da distribuição de defensoras e defensores públicos por ór-gão de atuação, indicando os afastamentos, quando houvesse. Nestes casos, deveria haver a indicação do tipo de afastamento e a indicação da defensora ou defensor público que estava substituindo.

Estas informações foram solicitadas para que fosse possível “localizar” os(as) defensores(as) nas comarcas do território nacional, assim como discriminar as áreas de atuação de cada defensor(a) (civil, criminal, etc.). Por outro lado, op-tou-se por excluir da base de dados os defensores(as) que não estavam exer-cendo funções de defensor(a) de forma permanente, para apurar a oferta efetiva de defensores(as) nas comarcas/áreas de atuação. Assim, a quantidade de de-fensoras e defensores públicos identificada com a atuação da atividade-fim, ou seja, a assistência jurídica, não coincide necessariamente com a quantidade de cargos providos em cada estado.

É importante ressaltar que, para “localizar” cada defensor(a) em uma única co-marca, foi necessário estabelecer critérios de alocação. Os critérios adotados foram os seguintes:

DEFENSORES(AS) EM EFETIVO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE FIMForam considerados apenas as defensoras e os defensores públicos com efetivo exercício na sua respectiva atribuição para o cômputo dos(as) de-fensores(as) localizados em cada comarca, e excluídos os afastamentos perenes.

Considerou-se como afastamentos perenes: afastamentos para o exercício de cargos da administração das Defensorias Públicas Gerais; cessões ou afastamentos para o exercício em outras instituições públicas; afastamen-tos para o exercício de mandato eletivo; afastamentos gerais sem vencimen-tos; afastamentos para estudo.

As defensoras e defensores públicos com os demais afastamentos, tais como férias e licenças médica, maternidade e especial, foram computados.

3.2. DISTRIBUIÇÃO DAS COMARCAS

66 67

LOCALIZAÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORESCada defensora ou defensor público foi localizado na comarca em que es-tava lotado.

Para evitar múltipla contagem de um mesmo defensor(a), cada defensor(a) foi localizado em apenas uma comarca. No caso dos defensores(as) cuja informação fornecida indicava atuação em mais de uma comarca, mas não indicava em qual comarca estava ‘lotado(a)’, ou em que comarca exercia atendimento por acumulação ou itinerância, considerou-se o(a) defensor(a) “localizado” na comarca de maior população, e com atuação ‘por acumula-ção ou itinerância’ nas demais comarcas em que atuava.As defensoras e defensores com atuação nos Tribunais Superiores, fora do estado, foram considerados “localizados(as)” na capital do estado da sua DPE.

i.Atendimento por itinerância ou acumulação

As comarcas sem defensoras e defensores “localizados” (de acordo com os critérios definidos acima), mas atendidas por um ou mais defensores(as) de forma “itinerante ou por acumulação”, foram consideradas “comarcas atendidas de forma itinerante”. Para estas comarcas não foram somados os defensores(as), mas apenas registrada a informação de haver ou não aten-dimento por itinerância ou acumulação.

Da mesma forma, foi necessário estabelecer critérios para agregar as áreas de atuação dos defensores(as), o que foi feito de forma compatível com a metodologia adotada no mapa da Defensoria de 2013. No que tange a especialização do atendimento é comum nas carreiras jurídicas que em co-marcas pequenas estes profissionais atuem cumulativamente. Em comarcas pequenas esta pode ser uma solução prática de gestão, mas em comarcas maiores as atribuições mistas podem impactar na qualidade dos atendimen-tos na medida em que está relacionada a capacidade de especialização e dedicação temática do profissional.

Algumas Defensorias Públicas fazem a opção de no interior prever uma atri-buição em todas as áreas, ou, como denominam algumas instituições, atri-buição mista. Outras Defensorias nomeiam seus quadros para uma titulari-dade específica e designam o mesmo profissional para cumular com outra temática. Três áreas de atuação se destacam na concentração de quadros: cível, família e criminal.

A compilação dos dados sobre a atuação dos(as) defensores(as) em cada co-marca produziu o que chamamos de “base de informações das Defensorias Públicas nas comarcas”. A partir desta base, foram agregadas informações de outras fontes, que são relacionadas a seguir.

i) IBGE:

a.Estimativa da população por município em 2019

b.População municipal, Censo de 2010

c.População em domicílios cujo chefe tinha renda até 3 salários-mínimos, Censo de 2010.

ii)CNJ:

a.Unidades Judiciárias da Justiça Estadual em 2019, de acordo com o “Pai-nel de produtividade mensal do CNJ”, por município/comarca.

iii)Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD/IPEA/FJP

a.IDH-M, 2010.

Posteriormente, em 2020, a relação dos municípios pertencentes a cada comarca foi enviada às Defensorias estaduais para validação ou revisão, e mais algumas informações foram atualizadas pelas DPEs. Entre as atualizações, procedeu-se a divisão do Distrito Federal em 17 localidades. Cabe observar, entretanto, que no caso do Distrito Federal estas subdivisões não são comarcas propriamente ditas, já que não há municípios no DF. Assim, no Distrito Federal, as subdivisões territoriais da justiça estadual referem-se a “circunscrições judiciárias”.

Até a edição do presente relatório, 16 DPEs haviam realizado a revisão ou atu-alização de seus dados (Mato Grosso, Rondônia, Paraná, Rio Grande do Norte, Sergipe, São Paulo, Distrito Federal, Acre, Amazonas, Amapá, Pernambuco, Ala-goas, Espírito Santo, Santa Catarina, Goiás). Por outro lado, 11 DPEs ainda não haviam feito a revisão ou atualização de seus dados (Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima e Tocantins).

3.3. REVISÃO DE DADOS PELAS DPES EM 2020

3.4. OUTRAS FONTES DE DADOS

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Uma vez agregadas estas outras informações, foram calculados “Indicadores de Cobertura” das Defensorias Públicas nas comarcas do Brasil, definidos a partir da razão entre o número de defensores(as) e a população das comarcas, e a razão entre o número de defensoras e defensores e o número de unidades judiciárias.

Os indicadores de cobertura populacional de 2019/20 foram calculados como o número de defensoras e defensores lotados em cada comarca dividido pela po-pulação de baixa renda estimada em cada comarca. A população de baixa renda em cada comarca foi considerada como a proporção da população em famílias de baixa renda sobre a população total em cada município em 2010 (dados do Censo) multiplicada pela população municipal estimada em 2019 (estimativas do IBGE), agregadas por comarca. Neste cálculo, foram consideradas famílias de baixa renda aquelas cujo chefe do domicílio tinha renda mensal de até 3 sa-lários-mínimos.

O indicador “déficit de defensores(as)” com relação à cobertura populacional utilizado no relatório de 2013, também foi calculado. Porém, no presente estu-do, ao nível das comarcas tal déficit não foi ajustado para compreender apenas números inteiros, o que implicaria na definição de um critério de arredondamen-to, a depender do qual o déficit total poderia variar significativamente. Assim, o déficit de defensores(as) calculado para cada comarca apresenta números não inteiros e, inclusive, valores menores que 1. Deve ser interpretado como uma medida de escassez relativa de prestação jurisdicional da Defensoria em deter-minada comarca vis-à-vis outra comarca com características socioeconômicas comparáveis, e não como uma métrica absoluta de ausência de defensoras e defensores em uma localidade.

Foi criada a variável “atribuição mais frequente” em cada comarca, para indicar qual área de atuação tinha maior peso em cada comarca do país. Note-se que essa variável é zero onde não há defensores(as) lotados(as) e também é igual a zero onde não existe uma área maior que todas as outras (empate de áreas).Também foram calculados os índices de desenvolvimento humano para cada comarca, como a média ponderada do IDH-M dos municípios pertencentes às mesmas.

É importante ressalvar que, no caso do Distrito Federal, devido à inexistência de municípios, não foi possível calcular os indicadores socioeconômicos para as comarcas de forma a torná-los comparáveis com as demais. Não obstante, registramos o número de comarcas, o tipo de atendimento e as unidades juris-dicionais em cada uma delas.

A partir das informações coletadas produziu-se, para cada unidade da federa-ção, uma planilha com todas as variáveis computadas para cada comarca, e o mapa das comarcas por UF. Estas planilhas e mapas serão disponibilizadas e atualizadas no Portal do Ipea, através do Atlas do Estado Brasileiro.

Diagramas de dispersãoOs diagramas de dispersão são representações de dados de duas (tipicamente) ou mais variáveis que são organizadas graficamente. O gráfico de dispersão uti-liza coordenadas cartesianas para exibir valores de um conjunto de dados. Os dados são exibidos como uma coleção de pontos, cada um com o valor de uma variável determinando a posição no eixo horizontal e o valor da outra variável determinando a posição no eixo vertical.

Nas figuras abaixo, as variáveis são o IDH-municipal (eixo horizontal) e a taxa de defensores(as) por 100 mil habitantes (eixo vertical). Cada ponto desses grá-ficos representa uma comarca. A Figura 5 difere da Figura 6.

O gráfico de dispersão pode sugerir correlações entre as variáveis (mas não relações de causa e efeito). Isso é feito por meio de uma regressão linear, deter-minando-se uma reta que aponta a correlação (positiva, negativa ou nula) entre as duas variáveis e indica a função que dá o comportamento da relação entre elas. As correlações positivas mencionadas no texto da seção 4 foram inferidas a partir do exame dessas retas. Em ambas as figuras se constata que, quanto maior o IDH-municipal, maior também tende a ser a taxa de defensores(as) por 100 mil habitantes.

3.5. BASES DE INFORMAÇÕES DAS COMARCAS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

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FIGURA 5.IDH e taxa de defensores(as) por 100 mil habitantes das comarcas (todas as comarcas)

FIGURA 6.IDH e taxa de defensores(as) por 100 mil habitantes das comarcas (comarcas com ao menos um(a) defensor(a))

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A presença das Defensorias Públicas no território nacional certamente tem con-tribuído para a democratização do acesso à justiça e à promoção da cidadania no Brasil. De certo, as Defensorias têm como atribuição fundamental assistir juridicamente aos necessitados, e promover os direitos humanos e sociais no campo e na cidade.

Neste estudo, mostrou-se que no biênio 2019-2020, as Defensorias Públicas estaduais e distrital já atendiam a pelo menos 1162 comarcas, através do traba-lho de cerca de mais de 5900 defensoras e defensores públicos. É sempre im-portante ressaltar que os dados para o II Mapa foram coletados em 2019/2020, assim foram apresentados no relatório o número de defensoras e defensores públicos de 6027 cargos providos e 5913 cargos em atuação-fim. Atualmente, em razão de concursos públicos e nomeações ocorridas entre maio de 2020 a maio de 2021, o Brasil já alcançou o número de 6235 defensoras e defenso-res estaduais e distrital. Não obstante, muito ainda seria preciso avançar para atender as 2750 comarcas e mais de 13 mil unidades judiciárias, abrangendo apenas a justiça estadual do país.

Considerando como parâmetro de cobertura populacional um defensor ou de-fensora para cada quinze mil habitantes de baixa renda, as estimativas deste trabalho mostram que, na maioria das unidades da federação, as Defensorias apresentam números muito aquém desta meta. Sem considerar as variações de renda, tal resultado deve-se, principalmente, à ausência de defensoras ou de-fensores lotados(as) em parte expressiva das comarcas pequenas, aquelas com população até cem mil habitantes, e em um número considerável de comarcas de tamanho médio, com população maior que cem mil e menor que quinhentos mil habitantes.

Ao se comparar a taxa de defensores(as) por cem mil habitantes com os IDHs municipais, aparece uma correlação positiva, a sugerir que a escassez de defen-sores(as) tende a ser menor em comarcas com IDH mais elevado (e vice-versa).

Note-se que as comarcas pequenas tendem a situar-se em áreas rurais, onde podem surgir disputas nas quais a atuação das Defensorias faz-se necessária, tais como conflitos possessórios, os relacionados a áreas de fronteira ou às populações tradicionais, como os indígenas, os quilombolas, os chamados ribei-rinhos entre outros grupos no âmbito de atuação das Defensorias. Ao mesmo tempo, estas comarcas tendem a apresentar níveis relativamente mais altos de privação, medidos pelo índice de desenvolvimento humano, exigindo, portanto, a atuação das Defensorias para promover os direitos sociais, tais como acesso condições dignas de trabalho, acesso aos programas sociais de renda mínima, à saúde, educação entre outros.

Porém, a carência de defensores e defensoras também se manifesta nas regi-ões metropolitanas e cidades com mais de quinhentos mil habitantes, tomando

como medida o atendimento de um defensor ou defensora para cada unidade judiciária. Com efeito, as unidades judiciárias concentram-se nas grandes cida-des, e embora as Defensorias estaduais e distrital estejam presentes em todas as grandes cidades do país, o número de defensores e defensoras nestas ci-dades ainda é insuficiente para atingir o mínimo adequado para a cobertura da demanda pelos serviços das Defensorias Públicas.

É bem sabido que os grandes centros urbanos apresentam níveis elevados de criminalidade, demandando os serviços da Defensoria para a garantia dos direi-tos dos réus e dos condenados, inclusive as ações relacionadas aos adolescen-tes em conflito com a lei, assim como para a promoção dos direitos humanos de forma mais geral. Também é nos grandes centros urbanos onde observam-se as maiores concentrações de ações de despejos e remoções forçadas, uma in-finidade de problemas relacionados à acessibilidade de pessoas com deficiência aos equipamentos públicos e transportes urbanos, entre outros conflitos urba-nos. Note-se que, embora as grandes cidades apresentem em geral índice de desenvolvimento humano mais elevado que as cidades pequenas, este indicador não é homogêneo entre os bairros e regiões da cidade, tal como evidenciados pelos baixíssimos níveis de IDH dos grandes complexos de favelas e outros bol-sões de pobreza nas metrópoles.

Embora o presente estudo tenha avançado no sentido de explorar os dados so-bre a distribuição das unidades judiciárias da justiça estadual e a presença das Defensorias, não se chegou a explorar a contento as áreas de atuação das De-fensorias e os níveis de trabalho envolvidos em cada uma destas áreas. Muito ainda resta por fazer para preencher esta lacuna de informações.

No âmbito do projeto Mapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital no Brasil, tendo em vista a complexidade das atividades judiciárias, seria preciso continuar os estudos e incorporar às bases de dados até aqui utilizadas, paula-tinamente, as informações relativas às áreas de atuação e volume de trabalho das Defensorias Públicas. Um caminho possível, que foi apenas esboçado no presente estudo através da seção sobre as unidades judiciárias, seria integrar (ou pelo menos criar uma chave de ligação) entre as bases de dados do CNJ o Mapa das Defensorias Públicas. Sugere-se aos órgãos estaduais o uso dos da-dos em formato aberto e padronizado (onde couber).

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MAPA DIGITAL

Esta pesquisa será atualizada periodicamente em ferramenta digital criada pelo IPEA: o portal Atlas do Estado Brasileiro.

Nele, qualquer pessoa pode obter informações consolidadas e atualizadas sobre todas as Defensorias Públicas Estaduais e Distrital do Brasil. A ferramenta do Ipea reúne em um só endereço informações acerca das comarcas, número de defensoras e defen-sores públicos, atendimentos, público-alvo, tipos de atendimentos e outras. Todos os dados podem ser baixados pelo usuário.

Acesse no endereço https://www.ipea.gov.br/atlasestado/ ou no QRCODE abaixo

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anadep.org.brANADEP - Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos

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