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RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS: DADOS 2014 A 2016

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RELATÓRIO NACIONAL SOBREO TRÁFICO DE PESSOAS:

DADOS 2014 A 2016

Brasília, dezembro de 2017

RELATÓRIO NACIONAL SOBREO TRÁFICO DE PESSOAS:

DADOS 2014 A 2016

Este projeto é financiadopela Uniao Europeia

EXPEDIENTE

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Presidente da RepúblicaMichel Temer

Ministro de Estado da Justiça e Segurança PúblicaTorquato Lorena Jardim

Secretário Nacional de JustiçaAstério Pereira dos Santos

Diretor do Departamento de Políticas de JustiçaJorge da Silva

Coordenadora de Enfrentamento ao Tráfico de PessoasRenata Braz Silva

Equipe técnica de Enfrentamento ao Tráfico de PessoasAlyne Antunes Diogenes BessaJohnes dos Santos SalustianoMaria Celva Bispo dos ReisMaria Fernanda Jorquera BricenoMarina Soares Lima BorgesNatasha Barbosa Mercaldo de Oliveira

ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME (UNODC)

Representante do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no BrasilRafael Franzini

Coordenador da Unidade de Estado de DireitoNívio Nascimento

Oficial de ProgramaFernanda Patricia Fuentes Munoz

Consultora UNODCAlline Pedra Jorge Birol (Doutora)

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD)

Representante-Residente Interino do PNUD no BrasilJosé Eguren

Representante-Residente Assistente e Coordenadora da Área ProgramáticaMaristela Baioni

Chefe de Operações para o BrasilCaroline Brito Fernandes

Chefe da Unidade de Paz e GovernançaMoema Freire

SUMÁRIO

Resumo 10

1. Introdução 12

1.1.NotasSobreoTráficodePessoas 12

1.2.MarcoLegaleConceitual(NacionaleInternacional)doTráficodePessoas 13

1.3.QuantificandooTráficodePessoas–ParteI:AsFontesdeInformação 15

1.3.1.DasEstatísticasdoPoderJudiciárioeoTráficodePessoas 16

1.3.2.DasEstatísticasdoSistemaPenitenciárioeoTráficodePessoas 17

1.3.3.DasEstatísticasdaPolíciaeoTráficodePessoas 18

1.4.AlémdasInstânciasdaJustiçaCriminal:OutrasFormasdeseCaracterizaroTráfico

dePessoas 20

1.5.QuantificandooTráficodePessoas–ParteII:ConsideraçõesacercadasEstatísticas

CriminaisedeEnfrentamentoaoTráficodePessoas 26

1.6.MetodologiadeConstruçãodoRelatórioNacionaldeTráficodePessoas–

Dados2014a2016 29

2. Dorelatórionacionaldetráficodepessoas:Principaisconstatações 32

2.1.EsclarecimentosIntrodutóriosparaainterpretaçãodosdados 32

2.2.Dainexistênciadeumperfilespecíficodevítimaedacondiçãodevulnerabilidade

destas 33

2.3.Dasformasdeexploraçãoedademanda 39

2.4.Doperfildosautores 42

2.5.Dacausalidadeentreassupostas“rotas”eosníveisdedesenvolvimento.

Daflexibilidadeedaconstanterenovaçãodomodusoperandi. 44

2.6.Dasubnotificaçãocomoaúnicacerteza 47

Notasfinaiserecomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - VariáveiscontidasnosSistemasdeInformação/RegistrosManuaisdasinstituiçõespesquisadas 24

Tabela 2 - AtoresdaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas 29

Tabela 3-AtoresdaRededeAssistênciaàsVítimasdeTráficodePessoas 29

Tabela 4 -TipoPenaldoTráficodePessoassegundooCódigoPenal(atédezembrode2016) 30

Tabela 5 -TiposPenaisCorrelatosaoTráficodePessoas 32

Tabela 6 -PerfildaVítima-SexoversusModalidadedaExploraçãoSexualsegundodadosdoLigue180 34

Tabela 7 -PerfildaVítima-SexoversusModalidadedoTrabalhoEscravosegundodadosdoLigue180 34

Tabela 8 -PerfildaVítima-SexosegundodadosdoMinistériodaSaúde 35

Tabela 9 -PerfildaVítima-SexosegundodadosdoDisque100 35

Tabela 10 -PerfildaVítima-IdadesegundodadosdoMinistériodaSaúde 36

Tabela 11 -PerfildaVítima-IdadesegundodadosdoDisque100 36

Tabela 12 - PerfildaVítima-NacionalidadesegundodadosdaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)doDisque100 37

Tabela 13 -Inquéritos/IdiciamentosporModalidadedeExploraçãosegundoaPolíciaFederal-Dadosde2007a2016 40

Tabela 14 -ProcessosCriminais(JustiçaEstadual)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça-dadosde2014a2016 40

Tabela 15 -ProcessosCriminais(JustiçaFederal)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça 41

Tabela 16 -IndiciamentosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdaPF-Dadosde2007a2016 42

Tabela 17 -PresosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdoDEPEN-Dadosde2014. 43

Tabela 18 - ProváveisAutoresdaCondutaporSexosegundoMinistériodaSaúde 43

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - ElementosdoTráficodePessoas 14

Figura 2 - PaísesdeOrigemeDestinodePessoasTraficadas 44

CENSO SUAS–CensodoServiçoÚnicodeAssistênciaSocial

CENTROSPOP–CentrodeReferênciaEspecializadoparaPopulaçãoemSituaçãodeRua

CETP–CoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas

CNJ –ConselhoNacionaldeJustiça

CNMP–ConselhoNacionaldoMinistérioPúblico

CPI–ComissãoParlamentardeInquérito

CRAS–CentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial

CREAS–CentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial

DAC–DivisãodeAssistênciaConsular

DANTPS–DepartamentodeVigilânciadeDoençaseAgravosnãoTransmissíveise

PromoçãodaSaúde

DEMIG–DepartamentodeMigrações

DEPAID–DepartamentodePesquisaeAnálisedaInformação

DEPEN–DepartamentoPenitenciárioNacional

DETRAE–DivisãodeFiscalizaçãoparaErradicaçãodoTrabalhoEscravo

DPJUS–DepartamentodePolíticasdeJustiça

DPU–DefensoriaPúblicadaUnião

DRCI–DepartamentodeRecuperaçãodeAtivoseCooperaçãoJurídicaInternacional

ICMPD-InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment(CentroInternacionalpara

oDesenvolvimentodePolíticasMigratórias)

IOM–InternationalOrganizationforMigration(OrganizaçãoInternacionalparaas

Migrações)

IPEA–InstitutodePesquisaEconômicaAplicada

MDH–MinistériodosDireitosHumanos

MDS–MinistériodoDesenvovlimentoSocial

MJSP–MinistériodaJustiçaeSegurançaPública

MPF–MinistérioPúblicoFederal

MRE–MinistériodasRelaçõesExteriores

MS–MinistériodaSaúde

LISTA DE ABREVIATURASE SIGLAS

MT–MinistériodoTrabalho

OIT–OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho

PAEFI–ServiçodeProteçãoeAtendimentoEspecializadoaFamíliaseIndivíduos

PF–PolíciaFederal

PFDC–ProcuradoriaFederaldosDireitosdosCidadãos

PNUD–ProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento

DPRF–DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal

RMA–RegistroMensaldeAtendimentos

SDH–SecretariadeDireitosHumanos

SENASP–SecretariaNacionaldeSegurançaPública

SINAN–SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação

SINESP–SistemaNacionaldeInformaçõesdeSegurançaPública,Prisionaisesobre

Drogas

SINIC–SistemaNacionaldeInformações

SINPRO–SistemaNacionaldeProcedimentos

SIT –SecretáriadeInspeçãodoTrabalho

SNAS–SecretariaNacionaldeAssistênciaSocial

SNJ–SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania

SPM–SecretariaNacionaldePolíticasparaMulheres

SUSP–SistemaÚnicodeSegurançaPública

SVS–SecretariadeVigilânciaemSaúde

TP–TráficodePessoas

VIVA–SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes

UNODC –UnitedNationsOfficeonDrugsandCrime(EscritóriodasNaçõesUnidas

sobreDrogaseCrime)

10

RESUMOOtráficodepessoas,nostermosdalegislaçãobrasileiramaisrecente1,consisteem“agenciar, aliciar, recrutar,

transportar,transferir,comprar,alojarouacolherpessoa,mediantegraveameaça,violência,coação,fraudeouabu-so,comafinalidadede:I-remover-lheórgãos,tecidosoupartesdocorpo;II-submetê-laatrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravo;III-submetê-laaqualquertipodeservidão;IV-adoçãoilegal;ouV-exploraçãosexual.Estaéaprevisãolegalouotipopenalquedefineascondutasespecificadasnoart.149-AdoCódigoPenal,enquantocrime.

Alémdalegislaçãonacional,existeaprevisãointernacionaldoconceitodetráficodepessoas,quenostermosdoProtocolodePalermoé“orecrutamento,otransporte,atransferência,oalojamentoouoacolhimentodepes-soas,recorrendoàameaçaouaousodaforçaouaoutrasformasdecoação,aorapto,àfraude,aoengano,aoabusodeautoridadeouàsituaçãodevulnerabilidadeouàentregaouaceitaçãodepagamentosoubenefíciosparaobteroconsentimentodeumapessoaquetenhaautoridadesobreoutraparafinsdeexploração.Aexplora-çãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeexploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”

Marcosregulatóriosdefinidos,énecessárioconheceradimensãodofenômeno.

Tráficodepessoaséumdoscrimessubnotificados,ouseja,cujoíndicededenúnciasaosistemadese-gurançapúblicaouaoutrosintegrantesdarededeenfrentamento,ébaixo,porrazõestaiscomooreceiodavítimadeserdiscriminadaouincriminada,avergonha,odesconhecimentodesuacondiçãodevítima,afaltadeinformaçãosobreosmecanismosdedenúnciaeomedoderepresáliasporpartedoagressor.Étambémumcrimepraticadoàsescondidas,oudissimulado,praticadodebaixodosnossosnarizes,masdeformaquenãosejafacilmenteidentificado.

Afaltadeconhecimentodosprofissionaisqueatendemasvítimasdetráficodepessoasemreconhecê--lascomovítimasétambémumdosfatoresquecontribuiparaqueesseeventocriminosopassedesperce-bido.Ouseja,aindaqueo/aofendidoacionedealgumamaneiraosistemadesegurançapúblicaoujustiçacriminal,seestenãoestivercapacitadoparareconhecê-lo/lacomovítimadetráficodepessoas,atendê-lo,eassisti-lo/la,ofenômenocontinuaránacriminalidadeoculta.

Finalmente,quandoessanotíciadecrimee/ousuavítimachegamnosistemadesegurançapública,najustiçacriminalouemoutrainstituiçãodarededeenfrentamento,etambémquando,finalmente,avítimaéidentificada,osistemadeveestarbempreparadoparaatenderessapessoaepararegistrarcorretamenteoeventocriminoso,fazendocomqueosdadosfornecidosporesteouestapossamsetransformareminfor-maçãoe,posteriormente,conhecimentosobreofenômeno.Ouseja,umadasprincipaisferramentasparaaimplementaçãodeumapolíticapúblicaéacoletadedadoseaproduçãodeestatísticas,quetransformadoseminformação,geramconhecimentosobrearealidadeepermitemoaprimoramentodaspolíticaspúblicas.Podem,inclusive,servirdeferramentade“accountability”dosistemadejustiçacriminal(Lima,2009,66).

Masestalógicanãoécompletamenteverdadeira.Sim,ébemverdadequeváriosavançosnossistemasdesegurançapúblicaedajustiçacriminaltêmsidoregistrados.Há,porexemplo,umapreocupaçãomaiordasdiver-sasinstâncias,estaduaisefederais,edasdiversaspolícias,militar,civilefederal,emoferecerumatendimentohumanizadoaoscidadãosqueprocuramessesserviçoseemregistraradequadamenteainformaçãofornecida,nointuitonãosomentedecolaborarcomostrabalhosdeinvestigaçãodapolíciajudiciária,mastambémdereunirdadosconfiáveisemaispróximosdarealidade.Masasiniciativasaindaestãopulverizadasedesarticuladas.

Somadaaessadesarticulação,aconstanteconfusãoentretráficodepessoas,contrabandodemigranteseimigraçãoirregular,alémdaconfusãoentreoqueseriatrabalhoescravo,servidão,exploraçãosexualouexercíciodaprostituição,fazcomqueofenômenofiqueaindamaisdesconhecido.

1 Lei n. 13.344 de 06 de outubro de 2016 que alterou o art. 149 do Código Penal.

11

Porvezes,vítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexualsãoidentificadascomoimigrantesilegaisqueestãoexercendoaprostituição.Issoseagravanotráficointernodevidoaausênciadefronteirasedeinstânciasdecontroleàliberdadedelocomoção,permitindoquerecrutadores,aliciadoresetraficantestransitemcomsuasvítimaspeloterritórionacionalcomumacertafacilidade.

Odesconhecimentoserefletenasestatísticascriminaisque,muitotímidas,nãoretratamofenômenodotráficodepessoasadequadamente,fazendocomqueondeanosapósoDecretoqueaprovouaPolíticaNacionaldeEnfrenta-mentoaoTráficodePessoasaindanãotenhamosadimensãodaincidênciadotráficodepessoas2noBrasil.

Feitas estas considerações, oMinistériodaJustiça eSegurançaPública (MJSP), atravésdaSecreta-riaNacionaldeJustiçaeCidadania,emaisespecificamentedaCoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas, temenvidadoesforçoshercúleos,desdeaaprovaçãodoDecretonº5.948/06,de26/10/2006,queinstituiuaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,paraproduziresta-tísticas,estudos,análises,ouseja,conhecimentosobreofenômenodotráficodepessoasinternoeinterna-cionalnoBrasil.EsteRelatórioéumdestes,cujointuitofoiodesistematizarosdadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasnosúltimosdoisanos,cobrindooperíodode2014a2016.

Oobjetivoprincipalfoiodeanalisarosdadossecundários,especialmenteoscoletadosedisponibiliza-dospelasinstituições3quefizerampartedaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas4

Nãomenos,esterelatórioservecomoumtermômetroquantoaimplementaçãodaMetodologia Integra-da de TP,postoquefezpartedoseuprocessodeelaboraçãoacoletadeinformaçãojuntoaosórgãosquefizerampartedesuaconstruçãoeassinaramProtocolodeIntenções.

Trazaindaalgumasconsideraçõessobreindicadores,dados,estatísticascriminaisefontesdedadosdetráficodepessoasnoBrasil,comoobjetivodeauxiliaroleitornainterpretaçãodoprópriorelatório,considerandoqueaapresen-taçãodosdadosdisponíveisnãorefletearealidadedofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.E,finalmente,trazrecomendaçõesparaoaprimoramentodacoletadedadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasnoBrasil.

OrelatórioéfrutodecooperaçãotécnicanoâmbitodoProjetoBRA/015/007,firmadoentreaSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadaniaeoProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD),comaparticipaçãodoEscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC).

Desejamosumaboaleitura!

2 Decreto nº 5.948/06, de 26/10/2006.3 VejaosatoresnaTabela2.AlistaelencaasinstituiçõesquefizerampartedaconstruçãoeassinaramProtocolodeInten-çõesem01deabrilde2014.Outrasinstituiçõesgovernamentais-MinistériodoDesenvolvimentoSocial/SecretariaNacionaldeAssistênciaSocial/DepartamentodeProteçãoSocialEspecial(MDS/SNAS/DPSE);MinistériodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissíveis(MS/SVS/CGDANT);MinistériodasRelaçõesExteriores/DivisãodeAssistênciaConsular(MRE/DCA)-eOrganismosInternacionais-EscritóriodasNaçõesUnidasdeDrogaseCrime(UNODC);OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)-participaramdaconstrução,masnãofirmaramProtocolodeInten-çõespoisoobjetivodaMetodologiafoiodeintegrarasinstituiçõesdosistemadesegurançapúblicaejustiçacriminal.Dequalquersorte,foramsolicitadosdadosasseguintesinstituiçõesquefazempartedarededeatendimentoàsvitimasdetráficodepesssoas:MinistériodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissí-veis(MS/SVS/CGDANT);MinistériodasRelaçõesExteriores/DivisãodeAssistênciaConsular(MRE/DCA);MinistériodoDesenvolvi-mentoSocial/SecretariadeAvaliaçãoeGestãodaInformação(MDS/SAGI).ASAGIdoMDSéaresponsávelpelatabulaçãoeanali-sedosdadosrecolhidospelasSecretariasdoMDS,inclusiveaSecretariaNacionaldeAssistenciaSocial(SNAS)queficaafrentedoatendimemtoàsvítimasatravésdosCentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial(CRAS)eCentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial(CREAS).4 DoravanteMetodologia Integrada de TP. A Metodologia Integrada de TPtemoobjetivodesuperarosobstáculosaoconhe-cimentodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil,coordenandoosórgãosresponsáveispeloseuenfrentamentonoâmbitodoSistemadeSegurançaPúblicaeJustiçaCriminal,deformaqueseussistemasdeinformaçãopossamcoletarosmesmostiposdedadosnoquedizrespeitoaotráficointernoeinternacionaldepessoas.Viadeconsequência,éobjetivodaMetodologia Integrada de TP,ocompromissodequeessasinstituiçõespossamgerarrelatóriosestatísticosconfiáveis,proporcionandoacompreensãodotráficodepessoasnoBrasileaformulaçãodepolíticaspúblicasmaisresponsivasaofenômeno.

12

1. INTRODUÇÃO1.1.NotasSobreoTráficodePessoas

TráficodePessoaséumadasmaisantigasformasdeviolaçãodedireitoshumanos.Registroshistóricosdemonstramque,desdeacolonizaçãodasAméricasatéaaboliçãodaescravatura,ne-grosafricanoseram transportadosdeseuspaísese forçadosa trabalhar emvários lugaresnoterritóriobrasileiro.Indígenastambémforamvítimasdeexploraçãoesujeitosaescravidãonessemesmoperíodo(Fausto,2008).Noentanto,nessaépoca, tantootransportecomoaexploraçãodestessereshumanoserampermitidosporlei.

DandoumsaltoparaoséculoXXI,comaexpansãodaglobalizaçãoeaintensificaçãodamo-bilidadehumana,observa-seoressurgimentodotransportedepessoasparafinsdeexploração,sendocodinomedotermo“tráficodepessoas”aexpressão“escravidãodostemposmodernos”.Ouseja,cercade130anosapósaaboliçãodaescravaturanoBrasil,apráticacontinua,fazendo-nosrelembrarqueestaéumadasformasdeviolaçãodedireitoshumanosquenuncadeixoudeexistir.5

Razõesparaaperpetuaçãodestaformadeviolênciaseriam:(a)diferençaseconômicasentrepaísesdesenvolvidosepaísesemdesenvolvimento,emtransiçãooupós-conflito,oque levaaspessoasadeixaremseuspaísesdeorigemembuscademelhoresoportunidades(Dijck,2005);(b)políticasmigratóriasmuitorestritasnospaísesdesenvolvidosquerecriminamediscriminamomigrante(Dijck,2005);e(c)relativaineficáciadajustiçacriminalquenãoestáaindapreparadaparaidentificareenfrentarassituaçõesdetráficodepessoas(Dijck,2005).Demandaporserviçosse-xuaiseoutrosserviços,taiscomoserviçosdomésticosenosetordeturismo,atuamcomofatoresdeatraçãoparaospaísesdedestino,assimcomoaviolênciafamiliar,odesemprego,problemasfinanceiros,dentreoutros,atuamcomofatoresdeexpulsãonospaísesdeorigem(Dijck,2005;Pe-draJ.B.,2008).

Observa-se,noentanto,queacondiçãodevulnerabilidadeéofatorquemaiscomumentelevaaspessoasasesubmeteremasituaçõesdetráfico.

Eo tráficodepessoasenquantoviolaçãodedireitohumanonuncaganhou tantavisibilidadecomonosúltimos17anos, comaaprovaçãodoProtocoloAdicional àConvençãodasNaçõesUnidascontraoCrimeOrganizadoTransnacionalRelativoàPrevenção,RepressãoePuniçãodoTráficodePessoas,emEspecialMulhereseCrianças,conhecidocomoProtocolodePalermo,em15denovembrode20006,ratificadonoBrasilporintermédiodoDecretonº5.017de2004.GanhoutambémvisibilidademaisrecentementecomacrisehumanitáriaqueseinstalouempaísescomooHaitieaSíria,dondepessoasemextremasituaçãodevulnerabilidadebuscamsairdequalquermaneiraesubmetem-seasituaçõesdetráficoeexploração,acreditandoqueestãofugindodami-serabilidadeedatragédia.

5 Aexpressão“escravidãodostemposmodernos”éinclusiveoslogandoFreedoomProjectfinanciadopelarededetelevisãointernacionalCNN.Outraexpressãocomumenteutilizadaé“escravidãocontemporânea.”VejaJustinGuay,TheEconomicFounda-tionsofContemporarySlavery.6 OProtocolodePalermofoiadotadopelaAssembleiaGeraldasNaçõesUnidas,Resolução55/25,eentrouemvigorem25dedezembrode2003.FoiratificadoporboapartedospaísesmembrosdasNaçõesUnidas.Nadatade06desetembrode2016,171paísesmembrosdasNaçõesUnidaseramestados-partedoProtocolo.Vejaem:https://treaties.un.org/pages/ViewDetails.aspx?sr-c=TREATY&mtdsg_no=XVIII-12-a&chapter=18&clang=_en.

13

1.2.MarcoLegaleConceitual(NacionaleInternacional)doTráficodePessoas

NostermosdoProtocolodePalermo,que,porsuavez,foiadotadocomseusdevidosajustespelaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,tráficodepessoasé:“orecrutamen-to,otransporte,atransferência,oalojamentoouoacolhimentodepessoas,recorrendoàameaçaouaousodaforçaouaoutrasformasdecoação,aorapto,àfraude,aoengano,aoabusodeautori-dadeouàsituaçãodevulnerabilidadeouàentregaouaceitaçãodepagamentosoubenefíciosparaobteroconsentimentodeumapessoaquetenhaautoridadesobreoutraparafinsdeexploração.Aexploraçãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeex-ploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”

Jánostermosdalegislaçãopenal,art.149-AdoCódigoPenal,tráficodepessoasconsisteem“agenciar, aliciar,recrutar,transportar,transferir,comprar,alojarouacolherpessoa,mediantegraveameaça,violência,coação,fraudeouabuso,comafinalidadede:

I-remover-lheórgãos,tecidosoupartesdocorpo;

II-submetê-laatrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravo;

III-submetê-laaqualquertipodeservidão;

IV-adoçãoilegal;ou

V-exploraçãosexual.

Vê-sequea legislaçãopenalmanteveo textodoProtocolodePalermoeacrescentououtrostrêsverbosoucondutasquepodemtambémconfigurarotráficodepessoas,quersejamagenciar,aliciarecomprar.

Consideraolegisladoracondutamaisgraveainda,aumentandoapena,se:

I-cometidaporfuncionáriopúbliconoexercíciodesuasfunçõesouapretextodeexercê-las;

II-cometidacontracriança,adolescenteoupessoaidosaoucomdeficiência;

III-oagenteseprevalecerderelaçõesdeparentesco,domésticas,decoabitação,dehos-pitalidade,dedependênciaeconômica,deautoridadeoudesuperioridadehierárquicainerenteaoexercíciodeemprego,cargooufunção;ou

IV-avítimadotráficodepessoasforretiradadoterritórionacional.

Ouseja,otráficodecriançaseadolescentes,queantestinhamprevisãonoEstatutodaCriançaedoAdolescente,passaaserprevistopelopróprioCódigoPenal.Eotráficointernacionaldepessoastambémestáprevistonestemesmoart.149-A,diferentedalegislaçãoanteriorqueestabeleciaumtipopenalparaotráficointernoeoutroparaotráficointernacional.

14

Alémdisso,aleitambémprevêqueseoagenteforprimárioenãointegrarorganizaçãocrimino-sa,apenaseráreduzida.Istoporqueomaiscomuméqueascondutasqueacabamporconfigurarotráficodepessoassejampraticadasporagentesqueintegramorganizaçõescriminosas,postoquecondutasplurais.Sãováriasaçõespraticadasporváriossujeitosemcooperaçãoquepermitemaconcretizaçãodocrimedetráficodepessoas.Mashácasosemqueoagentepraticaacondutaisoladamente,porexemplo, recrutandooualiciandoesporadicamentee recebendoalgumpaga-mentoporaqueleserviço,massemfazerpartedeorganizaçãocriminosa,daíanecessidadedepreverreduçãodepena.

Finalmente,observa-sequetantonostermosdoProtocolodePalermo,comodaPolíticaNacio-naledoCódigoPenal,trêselementossãonecessáriosparaqueacondutasejaconsideradacomotráficodepessoas,ouseja,aação,omeioeafinalidade,segundoaFigura1:

Figura 1 – Elementos do Tráfi co de Pessoas

Aaçãoconsistenosatosdeagenciar,aliciar,recrutar,transportar,transferir,comprar,alojarouacolher,nãonecessariamentenestamesmaordem,nemcumulativamente.Ouseja,bastaqueoagenterecrute,outransporte,oualojeparaqueoelementoaçãoseconfigure.Osegundoelementoéomeioqueconsistenagraveameaça,aviolência,acoação,afraudeouoabuso.Acoaçãopodeserfísica,moraloupsicológica.Afraudeacontecequandootraficanteusadeartifíciosfraudulen-toscomocontratosdetrabalhofalsos,promessasdeemprego,casamento,paraobtersuaconcor-dância.Oabusoocorrequandooagenteusadoseupoder(porexemplo,numarelaçãohierárquica)oudaposiçãodevulnerabilidadedapessoaasertraficada(dificuldadefinanceiraoufamiliar)paracoagi-laaaderirasuaconduta.

Emsendoavítimacriançaouadolescente,omeioéirrelevante,hajavistaaincapacidadelegaldacriançaedoadolescentedefazersuasescolhasetomarsuasdecisõesousuacondiçãodepessoavulnerável,emsendomenorde18anos.Ouseja,acriançaeoadolescentesãosujeitostuteladosepeladoutrinadaproteçãointegralnãopodemconsentir.Bastam,portanto,aAÇÃOea

15

FINALIDADEdaexploraçãoparaquecriançaouadolescenteencontradoemsituaçãodetráficosejaconsideradavítimadetráficodepessoas.

Eoterceiroelementoéaexploração.TantooProtocolodePalermocomoaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoasnãosão taxativosquantoàs formasdeexploração.OProtocoloexpressamentetrazque:“aexploraçãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeexploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”Ouseja,ambosestãoabertosaoutrasformasdeexploração.Pesquisasdecampotêm,inclusive,identificadooutrasmodalida-desdetráficodepessoas,taiscomootráficodepessoasparafinsdemendicância7.Ouotráficodepessoascomafinalidadedeobrigaravítimaapraticarcrimestaiscomoocultivoouotráficodepequenasquantidadesdesubstânciasentorpecentes,ocontrabandooudescaminho8.(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013).

Aleipenal, inclusive,nãoexigequeaFINALIDADEdaexploraçãoaconteçaefetivamenteparaqueodelitosejaconsumado,ouseja,nãoexigequeavítimadetráficodepessoassejaefetivamen-teexplorada.

Jáanovaredaçãodoart.149-AdoCódigoPenaldeixaclaroqueolegisladorpátriopreferiures-tringirasmodalidadesdeexploração,quersejam:remoçãodeórgãos,tecidosoupartesdocorpo;submissãoaotrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravoeaservidão;adoçãoilegaleexplora-çãosexual.

Doutromodo,éumenormeavançoemmatériadedireitopenaltendoemvistaque,desdeaaprova-çãodoProtocolodePalermoem2004,luta-senoBrasilparaaaprovaçãodeummarcolegalregulatórioquecontemplasseoutrasformasdeexploração.Destaca-sequeatéaaprovaçãodaLein.13.344de06deoutubrode2016,quealterouoCódigoPenal,aúnicamodalidadedeexploraçãoprevistaeraasexual.Outrostipospenaiseramutilizadossubsidiariamente,taiscomooart.149doCódigoPenal,nocasodetrabalhoescravo.Atipificaçãopenal,portanto,eraequivocadaeincompleta.9

1.3.QuantificandooTráficodePessoas–ParteI:AsFontesdeInformação

Dentreasinstituiçõesdasegurançapúblicaejustiçacriminal,apolícia,opoderjudiciárioeasautoridadespenitenciáriassãoasqueinternacionalmentecontabilizamcrime.Alémdisso,servem

7 Mendicânciaconsisteematividadesdiversasatravésdasquaisumapessoapedeaumestranhodinheiro,sobajustifica-tivadesuapobrezaouembenefíciodeinstituiçõesreligiosasoudecaridade.Avendadepequenositenscomofloresedocesnossinais,limparvidros,estacionarouvigiarcarros,auxiliarcomascomprasemsupermercado,apresentaçõesartísticas(circenses,to-carinstrumentosmusicais)nasruaspodemsertambémconsideradoscomomendicância.Destacamos,todavia,queamendicânciacomoformadeexploraçãoseconfiguraquandogrupoorganizadoouindivíduostransportamecoagempessoas,principalmentecriançaseadolescentes,masnãosó,paraquefiquemnasruaspedindodinheirooucomercializandopequenosprodutos,restringin-dosualiberdadeeretendo,todoouemparte,ofrutodestamendicância(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).8 Nostermosdoart.334doCódigoPenal,deacordocomanovaredaçãodadapelaLein.13.008,de26.6.2014,ocrimedeDescaminhoconsisteem:Art.334.Iludir,notodoouemparte,opagamentodedireitoouimpostodevidopelaentrada,pelasaídaoupeloconsumodemercadoria.Nostermosdoart.334-AdoCódigoPenal,tambémdeacordocomaLein.13.008,de26.6.2014,ocrimedeContrabandoconsisteem:Art.334-A.Importarouexportarmercadoriaproibida.9 Equivocada,inclusive,poisdiscriminavaoexercíciodaprostituição–ouos/asprofissionaisdosexo,apesardeprevistaenquantoocupaçãonaClassificaçãoBrasileiradeOcupações,aopreverenquantocrime“apromoçãooufacilitaçãodaentrada,noterritórionacional,dealguémqueneleviesseaexerceraprostituição”ou“asaídadealguémqueváexercê-lanoestrangeiro”,aoinvésdeserestringiràssituaçõesdeexploraçãosexual.

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comoumtermômetrodedadasociedade,dacriminalidadeedaconfiançaqueestadepositana-quelasinstituições.

1.3.1 Das Estatísticas do Poder Judiciário e o Tráfico de Pessoas

OPoderJudiciárioéainstituiçãomaisantigae,portanto,pioneiranolevantamentodeestatísticascriminais.AsestatísticasdoPoderJudiciáriosãotãoantigasquantoaprópriainstituiçãoecomeçaramasercoletadasepublicadasatémesmoumséculoantesdasestatísticasdapolícia.SegundoKillias(2001),asestatísticasjudiciáriasnaEuroparemontamaoperíodopósguerrasnapoleônicas.

Correspondemaonúmerodeprocessoscriminais,condenaçõeseabsolviçõespordeterminadocrimee,alternativamente,descrevemascaracterísticasdaspartesenvolvidasnosprocessoscri-minais.São,noentanto,dereduzidavalidadecomoindicadordecriminalidade,poismedemocri-menumestágiojámuitoavançadodoprocessopenal.Massãoasúnicasquenospermitemumaperspectivahistóricaouumaanálisedaevoluçãodacriminalidadesobreumlongoperíodo,dadaasuaantiguidade(Killias,2001).

NosEstadosUnidos,asestatísticascriminaisdopoderjudiciário,conhecidascomoStateCourtProcessingStatistics(SCPS),vemsendocompiladasemnívelnacionaldesde198810.NaSuíça,asestatísticascriminaisdoPoderJudiciáriovemsendocompiladasdesde1984,numníveldedeta-lhamentoextraordinário11

NoBrasil,osTribunaisouPoderesJudiciáriosEstaduaiseFederaiscoletamepublicamestatís-ticassobresuasatividadeseadministraçãodosseusrecursos,principalmente,desdeacriaçãodoConselhoNacionaldeJustiça(CNJ)pelaEmendaConstitucionalnº45,de30dedezembrode2004.Noentanto,somenteapartirde2014équesepôdeconsultarpublicamentedadosrelativosaonú-merodeprocessosesuasrespectivasjurisdições,portipopenal,inclusiveonúmerodeprocessosdetráficodepessoas,nostermosdoantigoart.231e231-A;trabalhoescravo,nostermosdoart.149,dentreoutros.OinstrumentodisponibilizadoparatantoéoJustiçaemNúmerosDigital12

É,semsombradedúvida,umavanço,dadoquequandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoasestainformaçãonemerapública.Aépoca,inclusive,oCNJ,assimcomooConselhoNacionaldoMinistérioPúblico(CNMP),estavamseesforçandoparaaimplemen-taçãodaschamadas“tabelasunificadas”,queconsistiamnumlevantamentopadronizado,emto-dosostribunaisdopaís,dedadoscominformaçõessobreoandamentoprocessual,mastambémdadossobreaspessoaseosconflitosqueconsistiamnosfatosgeradoresdosprocessos,istoemmatériasdiversas,nãosomentecriminal(civil,tributário,trabalhista,execução,etc.).

OJustiçaemNúmeroDigitaltem,noentanto,suaslimitações.Primeiro,registrasomenteonú-merodecasosnovosdorespectivoano.Ouseja,olevantamentoqueserávistomaisadiantedizrespeitosomenteaosnovoscasosdetráficodepessoasqueforamdistribuídosnajustiçaestadualefederalnosanosde2014,2015e2016.

10 Paramaisformações,vejaositedoBureauofJusticeStatistics:http://bjs.ojp.usdoj.gov/index.cfm?ty=dcdetail&iid=282.11 Paramaisformações,vejaositedoOfficeFédéraldelaStatistique:http://www.bfs.admin.ch/bfs/portal/fr/index/the-men/19/03/03/key/straftaten/haeufigste_delikte.html12 ConsulteastabelasprocessuaisdoJustiçaemNúmerosem:http://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?documen-t=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT

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Depois,porqueinformaçõesprocessuaisimportantescomoonúmerodeabsolvições,condena-ções,ouinformaçõesgenéricassobreascaracterísticasdaspartes–vítimase/ouacusados-nãoestãoaindadisponíveisonlineesuspeitamosquenãosejamregistradasnasbasesdedados,tendoemvistaovolumedetrabalhoedificuldadescartoráriasqueasvarasjudiciáriasenfrentam.Devemconstardosprocessoscriminaismanuaisoudigitalizadosindividualmente,oquedemandaumapesquisadocumental,decampo,paraolevantamentodestesdados.Ouseja,osdadosdisponíveisonlinetêmmuitomaiscaracterísticasdeindicadoresprocessuaisdoquedeindicadoresquepos-samdescreverfenômenoscriminais.

OutrainstituiçãoquecontribuiparaaproduçãodeestatísticasjudiciáriaséoEscritóriodasNa-çõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC).OCaseLawDataBaseéumacompilaçãodeinforma-çõesextraídasdassentençascriminaisdetráficodepessoasenviadaspeloPoderJudiciáriodospaísesquefazempartedestabasededados.Asinformaçõesextraídascobremostrêselementosdotráficodepessoas,quersejam:aação(sehouverecrutamento,transporte,abrigamentoetc.),omeioutilizado(sefraude,engano,sequestro,etc.)eotipodeexploração(separaexploraçãosexu-al,trabalhoescravo,servidão,etc.).Cobremtambémquestõescomosetráficointernacionalouna-cional,osetordaeconomiaondeaexploraçãoocorreu,sehouvecooperaçãointernacional,eaindainformaçõesdiversassobreoprocessocriminal,dadosdavítimaedoacusado,secondenadoouabsolvido,otipoetempodapena,eoutrasquestõessobreorecurso,sehouver13

AbasededadoscontéminformaçõessobresentençasprolatadasnoBrasilentre1996e2013,numtotalde166sentençascriminais.

Osistemaébastantecompletoepoderáviraserinstrumentointeressantedepesquisaedadossobretráficodepessoas,sehouveraamplacooperaçãodoPoderJudiciáriocomoenvioregularerepresentativodassentençascriminais.

1.3.2. Das Estatísticas do Sistema Penitenciário e o Tráfico de Pessoas

Contaronúmerodepessoasencarceradase liberadasduranteumcertoperíodode tempoepublicaressasestatísticaséalgoqueacontecenaSuíçadesde189014(Killias,2001),nosEstadosUnidosdesde1920enaAlemanhadesde1960(Kuhn,2000).Essetipodeestatísticapermitequeseconheçaonúmerodeencarceradose,consequentemente,onúmerodepessoasliberadasnumdeterminadoperíodo;onúmerodepessoascumprindopenaprivativadeliberdade,nosdiversosregimes(fechado,semiaberto,aberto);onúmerodepessoasemlivramentocondicionalouprisãopreventiva.Permiteaindacompararapopulaçãopenitenciáriadediversospaíses,mediraduraçãodapenaouonúmerodecondenaçõesecompreenderseesteouaquelepaístemumamaioroume-nortendênciaaoencarceramentoenquantopolíticacriminal,inclusivedependendodotipopenal.

NoBrasil,éoDepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)querecebeessasinformaçõesdossistemaspenitenciáriosadministradospelasUnidadesdaFederaçãoequeanalisaepublicaessesdadossobaformaderelatórios,desde2005.Ocrimedetráficodepessoaséumadasvariáveis,ouseja,podemoscontar,atravésdosrelatóriosdoDEPEN,onúmerodepessoaspresaspelotipopenaldotráficodepessoas,inclusiveoscrimescorrelatos(e.g.adoçãointernacional,submissãoàcondiçãoanálogaadeescravo,remoçãodeórgãos,etc.),alémdosexodestesapenados.

13 Vejamaisinformaçõesem:https://www.unodc.org/cld/v3/sherloc/cldb/14 Tendosofridoumintervaloentre1941e1982,quandoessetipodeestatísticafoiretomada.

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1.3.3. Das Estatísticas da Polícia e o Tráfico de Pessoas

Finalmente, aPolícia é a terceira instituiçãonoquesitoantiguidadenacoletadeestatísticascriminais.Nãoobstante,nomundointeiroapolíciafoiumdosúltimosorganismosapublicares-tatísticascriminaisedesuasatividades.NosEstadosUnidos,oprimeirorelatórionacionalfoipu-blicadoem1929sobotítulodeUniform Crime Report.(Rantala,2000).NamaiorpartedospaísesdaEuropa,osprimeirosRelatóriosNacionaisdatamde1945(Killias,2001).AlgunspaísesinclusivenãopublicavamessesdadosporentenderqueseriasegredodeEstado(Killias,1989).

Asestatísticasdapolíciasão,emregra,compostaspelonúmerodeocorrências (ounoticiascriminis),otipopenal,característicasdoagressoredavítima,onúmerodeinquéritosinstaurados,etc.Podemoscitaralgunsexemplos:nosEstadosUnidos,éoBureauofJusticeStatistics15quefazessetrabalho,coletandoeanalisandonãosomenteestatísticasdapolíciamastambémdajustiça.NaSuíça,éoOfficeFédéraledeStatistique16quetemessafunção,departamentoestequeérespon-sávelpelasestatísticasdepolíciaejustiçacriminal,mastambémpelasestatísticassocioeconômi-cas.NoCanadá,éumescritóriocentral(efederal)deestatísticas,chamadodeStatisticsCanadá17,quefazessetrabalho,recolhendodadosoutrosquenãosomentedepolíciaejustiça,assimcomonaSuíça.

Osorganismosinternacionaiseintergovernamentais,porsuavez,acompanharamessemovimentodaspolíciasnacionaise,paulatinamente,começaramaimplementarmetodologiascomparativas,quepudessemcompilarestatísticascriminaisdosmaisdiversospaísesnumúnicodocumento,medirecompararcriminalidadeinternacionalmente.OprimeirorelatóriodasNaçõesUnidasfoi,portanto,publi-cadoem1948sobotítuloStatistical Report on the State of Crime 1937-194618.Masotrabalhoregulardecoletadeestatísticascriminaisedadossobreasatividadesdosistemadejustiçacriminalemdiversospaísesdomundocomeçaefetivamenteem1970,apósaResolução3021,XXVIIdaAssembleiaGeraldasNaçõesUnidas(UnitedNationsOfficeonDrugsandCrime,2010).

Umpoucomais tarde,em1993, foiavezdoConselhodaEuropasepreocuparcomacoletadeestatísticascriminais,designandoumcomitêdeespecialistasparaprepararumestudosobreestatísticaspoliciaisedopoderjudiciárionospaíseseuropeus.EsseestudoresultounaprimeiraediçãodoEuropean Sourcebook of Crime and Criminal Justice Statistics.OEuropeanSourcebookfoipublicadoem1999ecobriu36países.Ainiciativacontinuasendoimplementadapelosseguintesparceiros:HomeOfficedoReinoUnido,MinistériodaPesquisaemJustiçaeCentrodeDocumenta-çãodaHolanda,easUniversidadesdeLausanneeZurique19.OEuropeanSourcebookéatualmenteumadasreferênciasmetodológicasmundiaisparaacomparaçãodeestatísticasdapolíciaedajustiçacriminalentrepaíses.

NoBrasil,éimportantecompreenderqueapolíciaéconstitucionalmentedivididaemtrêsesfe-rasdecompetência,quersejamapolíciafederal(incluindoapolíciarodoviáriafederal),apolíciamilitareapolíciacivil.Cadaumadelaséindependente;temseusprópriossistemasdeestatísticascriminaisesãotãosomentesubordinadasaopoderexecutivodesuasjurisdições.

15 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://bjs.ojp.usdoj.gov/index.cfm.16 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://www.bfs.admin.ch/bfs/portal/fr/index.html.17 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://www.statcan.gc.ca/start-debut-eng.html18 UnitedNationsSocialCommission,EconomicandSocialCouncil,StatisticalReportontheStateofCrime1937-46,E/CN.5/204(1950).19 Paramaisinformações,visiteowebsite:www.europeansourcebook.org

19

APolíciaFederalé,portanto,subordinadaaoMinistériodaJustiçaeSegurançaPública(MJSP)easPolíciasCiviseMilitaressãosubordinadasaosgovernosdassuasrespectivasunidadesdafederação.

Portanto,acompilaçãodasestatísticascriminaisdaspolíciasnoBrasilsempreteveinúmerasdifi-culdades,resultandonainexistência,defato,deumSistemaNacionaldeEstatísticasCriminais,apesardasinúmerastentativas.Agestãodaspolíticasdesegurançapúblicasempreevidenciouumaausênciademecanismosinstitucionaisdeincentivoàcooperaçãoearticulaçãosistêmicaentreosórgãosdesegurançapública,dentreelasagestãodoconhecimentoemsegurança(Durante,s.d.).

Desde2003,aSecretariaNacionaldeSegurançaPública(SENASP)teminvestidoesforçosnaimplantaçãodeumSistemaÚnicodeSegurançaPública(SUSP),cujoProgramadeGestãodoCo-nhecimentovisa“estabelecerpolíticasdecomunicaçãoecooperaçãoverticalentreestados,muni-cípiosegovernofederal,bemcomoemumsentidohorizontaldentrodecadaumdosníveis,estabe-lecerpolíticasdecoleta,integraçãoedivulgaçãodainformaçãoparaosórgãos/setoresenvolvidoslocalmentenasaçõesdeSegurançaPública”(Beato,2009,23).

Noanode2006,oprimeiroMapaCrimeNacionalfoipublicado,apartirdeumesforçodoMi-nistériodaJustiçaemreunireanalisarestatísticascriminaisenviadaspelas27políciascivisexis-tentesnoBrasil,cobrindoasocorrênciasregistradas,perfildevítimas,perfildosagressores,raçaeatividadesexecutadaspelapolícia,nosanosde2004e2005(MinistériodaJustiça,2006).

Em2012, foicriadopelaLeinº12.681,de4de julho,oSistemaNacionalde InformaçõesdeSegurançaPública,PrisionaisesobreDrogas(SINESP)comoobjetivodepadronizareorganizarofluxodosdadoscriminaisjuntoaspolíciasdasunidadesdafederação,apartirdosprocedimentosderegistrodasocorrênciascriminais.SuagestãoéderesponsabilidadedoDepartamentodePes-quisaeAnálisedaInformação(DEPAID)daSENASPecontacomotrabalhodegestoresestaduaisquetemaresponsabilidadedeenviarevalidarosdadossistematicamente20.OSINESPvemsendoimplementadoemmódulose,atualmente, reúneeanalisa informaçõessobreocorrênciascrimi-naiseatividadesdesegurançapública,visandoretrataracriminalidadeeidentificarasatividadesdosórgãosdesegurançapúblicanopaís(ocorrênciasregistradas,inquéritosabertoseconcluídos,açõesdeprevenção,etc.).Porora,ostipospenaisqueestãodisponíveisparaconsultapúblicasão:estupro,homicídiodoloso,lesãocorporalseguidademorte,furtoeroubo(deveículo),roubosegui-dodemorte(latrocínio)21.MasosistemasegueoCódigoPenal,entãoháprevisãodoregistrodocrimedotráficodepessoas,eposteriorpublicização.Bastasaberseaspolíciascivisemilitaresestãodevidamentecapacitadaspararealizaresteregistroeidentificarasvítimasnosterritóriosequandoestesdadosestarãofinalmentedisponíveis.

Natentativatambémdecompilareanalisarestatísticascriminaisdapolícia,aSENASPtemhámuitosanosumaparceriacomoFórumBrasileirodeSegurançaPública,queéumaorganizaçãosemfinslucrativos22,equepublicaanualmenteoAnuárioBrasileirodeSegurançaPública23.OutraparceriaentreaSENASP,oInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA)eoFórumBrasileirode

20 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:https://www.sinesp.gov.br/estatisticas-publicas21 ODEPAID,emrespostaaoficioenviadopelaCNETPparaaconfecçãodestesRelatorioinformouque“considerandoaatualfasedoSINESP,nãoépossívelextrairdadoseinformaçõesquesubsidiemaelaboraçãodeestatísticasnacionaisparaotemaTráfi-codePessoas.”22 Comamissãodeatuarcomoumespaçopermanenteeinovadordedebate,articulaçãoecooperaçãotécnicaparaasegu-rançapúblicanoBrasil.23 VejaoAnuário2016em:http://www.forumseguranca.org.br/storage/10_anuario_site_18-11-2016-retificado.pdf

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SegurançaPúblicaresultounoAtlasdaViolência24.Ofoco,noentanto,continuasendonaanálisedoscrimesconsideradosmaisviolentos,taiscomohomicídiosdolosos,lesõescorporaisseguidasdemorte, latrocínios,suicídios,mortesdecorrentesde intervençõesdepoliciaiscivisemilitaresmortosemconfrontoemserviço.Asferramentasdisponíveisonlinereproduzemtabelasestatísti-cascomasfrequênciasdestestipospenais,porunidadedafederação.Asvariáveisgêneroeraçatambémtêmsidofrequentementeanalisadasemrelatóriosepublicaçõesdestasinstituições25

Destaforma,nãoexistenoBrasilumsistemaúnico,integradoeconfiáveldeestatísticascrimi-nais.ParaaproduçãodeumDiagnósticoNacional,énecessáriaapadronizaçãoeumdosproble-masquecomprometeaconsistênciadeanálisescomparativasé,ainda,aheterogeneidadedascategoriasecritériosadotadosparaclassificarasocorrênciastantonostrabalhosdaspolíciascivilemilitar,apesardosavançosdaimplementaçãoemmódulosdoSINESP.

Soma-seaestasdificuldades,ofatodeaPolíciaFederalterotratamentodasestatísticascri-minaisgeradaspelassuassuperintendênciasde formacompletamente independentee isolada,inclusiveemsistemaspróprios,quersejamoSistemaNacionaldeProcedimentos(SINPRO),queabrangetodososprocedimentosinstauradospelapolíciafederal,eoSistemaNacionaldeInforma-ções(SINIC),queabrangetodososindiciamentos26

APolíciaFederalnãodisponibilizapublicamenteestesdados,masfornecesesolicitada,coletan-doeanalisandodadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasdesde2007,incluindoinformaçõescomoonúmerodeprocedimentosinstaurados(inquéritospoliciais),onúmerodeindiciamentoseorespectivosexo,idadeepaísdenascimentodosindiciados.

APolíciaRodoviáriaFederal(PRF)tambémtemseuprópriosistemaderegistrodeacidentes,infraçõeseocorrênciascriminais27.Maséespecialmenteduranteasoperaçõesdeenfrentamentoaexploraçãosexualdecriançaseadolescentes,atravésdoProjetoMapear,porexemplo,eduran-teoapoionasoperaçõesdefiscalizaçãodaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(MT)juntoaosfiscaisdotrabalho,queaPRFacabaidentificandosituaçõesdetráficodepessoas.Oscrimes identificadospelaPRFsãoregistradosemboletinsdeocorrência,ondesãolevantadasvariáveiscomootipodetráfico(seinternacionalouinterno),sexo,idade,etnia,escola-ridadeeseestrangeirooubrasileiro,davítimaoudoacusado.

1.4.AlémdasInstânciasdaJustiçaCriminal:OutrasFormasdeseCaracte-rizaroTráficodePessoas

Porsercrimesubnotificado,otráficodepessoasdevesermedidoatravésdeoutrasmetodologiasquenãosomenteasestatísticascriminais.Doexpostonoitem1.3,ficaaindamaisevidenteestaneces-

24 Paramaisinformações,veja:http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/atlas-da-violencia-2017/25 Paramaisinformações,veja:http://www.forumseguranca.org.br/publica/26 Indiciamentoéoatodeimputaràdeterminadapessoaapráticadeumfatopunível(crimeoucontravenção)noinquéritopolicial,bastandoparatantoquehajaindíciosrazoáveisdaautoria,enãocerteza.Representaoresultadoconcretodaconvergênciadeindíciosqueapontemdeterminadapessoacomopraticantedeatotidopelalegislaçãopenalemvigorcomotípico,antijurídicoeculpável.Oselementosdotipopenaljádevemestar,nomínimo,indicadosnaprovacolhidaduranteoinquérito,paraembasaroindiciamento.Umamesmapessoapodeserindiciadaduasoumaisvezes,porissoonúmerototaldeindiciamentosésuperioraonúmerodeindiciados.27 Apesardoseufocoserafiscalizaçãodotrânsitonasrodoviasfederais,estatemcolaboradosobremaneiracomaseguran-çapúblicanopaís,prevenindoereprimindo,dentreoutros,otráficodearmasededrogas,otráficodesereshumanos,aexploraçãosexualdecriançaseadolescentesetrabalhoescravo,quesãocrimescorrelacionadosequeseconsumampelasrodoviasdoBrasil.

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sidade,postoque,amaneirapelaqualasinstituiçõesdasegurançapúblicaejustiçacriminalnoBrasilcoletamdadosnãocontemplaasnecessidadesdeconhecimentodestefenômeno.FoiporestemotivoqueaMetodologiaIntegradadeTPfoielaborada,inclusivecomaparticipaçãodetodosestesatores.Nãofoi,noentanto,identificadonenhumavançonasuaimplementação,sendoobservadoqueossiste-mascontinuammedindoecontando“crimes”damesmaformacomoofaziamnoanode2012,quandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas.

Destaforma,atoresdaRededeAtendimentoàsVítimasdeTráficodePessoastambémforne-cemdadosdeenfrentamentoaotráficodepessoas.Vejamosalgunsdestes,minimamenteasins-tituiçõesgovernamentaisquedesempenhamestepapel.

1.4.1. Das estatísticas da Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores (DAC/MRE) – recorte do Tráfico Internacional

Desde2005,motivadospelaconstruçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas,aDivisãodeAssistênciaConsulardoMinistériodasRelaçõesExteriores(DAC/MRE)temquantifica-dooscasosdetráficointernacionaldepessoasqueporventurachegamnaredeconsularbrasileiranoestrangeiro.UmavezqueosConsuladosBrasileirostêmopapeldeoferecerapoioeassistênciaaosbrasileirosnoexterior,hácasosemqueaprópriavítimaprocuraoConsuladosolicitandoapoiopararetornaraoBrasil,porexemplo,ouparaemitirnovopassaporte,dentreoutrasrazões.Inclusi-ve,oItamaratyelencaavitimizaçãoportráficodepessoascomoumasituaçãodeemergência28 e sugereàvítimaqueentreemcontatocomoplantãoconsularparamelhororientaçãoedenúncia,dadaagravidadedestetipodecrime.

Sãocasosquechegam,portanto,esporadicamente,nãohavendobuscaativa.Destaforma,oscasosregistradosnotificadosnaredeconsularchegamaDACque,porsuavez,compilaistoemformadedadostaiscomoolocalondeforamencontradas(postoconsular,país),resumodocasoeseudesfecho,aformadeexploração(sexualoutrabalhoescravo).Dadossobreoperfildasvítimasnãosãoregistradosembancos,masconstamdosregistrosmanuais(resumosdoscasos).

1.4.2. Das estatísticas da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho (SIT/MT) – re-corte do Trabalho Escravo

OMinistériodoTrabalho,atravésdaDivisãodeFiscalizaçãoparaErradicaçãodoTrabalhoEscravo(DETRAE)daSecretariadeInspeçãodoTrabalho(SIT/MT),,éresponsávelpelasoperaçõesdefiscaliza-çãodeempregadoresurbanoserurais,inclusiveaquelesquetenhamsidopreviamentemapeados,comoobjetivodeidentificarasubmissãodetrabalhadoresacondiçõesanálogasàsdeescravoepromoveroresgatedasvítimas,nostermosdodispostonoart.2º-CdaLei7998/90(LeidoSeguroDesemprego)29

AsoperaçõessãoexecutadaspelosFiscaisdoTrabalho,comoapoiodaPolíciaFederal,daPo-líciaRodoviáriaFederale/oudaPolíciaMilitarnamaioriadasvezes.Avisitaaosestabelecimentosvisaaregularizaçãodosvínculosempregatíciosdostrabalhadoresencontradose/ousualiberta-28 VejaasorientaçõesdoItamaratyaoBrasileirovítimadetráficodepesssoasnoexteriorem:http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/emergencias.29 Art.2o-C.Otrabalhadorquevieraseridentificadocomosubmetidoaregimedetrabalhoforçadooureduzidoacondiçãoanálogaàdeescravo,emdecorrênciadeaçãodefiscalizaçãodoMinistériodoTrabalhoeEmprego,serádessasituaçãoresgatadoeterádireitoàpercepçãodetrêsparcelasdeseguro-desempregonovalordeumsaláriomínimocada,conformeodispostono§2odeste artigo

22

ção,casosejaidentificadasituaçãodereduçãoasituaçãoanálogaadeescravo,maspodeserumavisitaregularoumotivadapelorecebimentodedenúnciadetrabalhoescravo.

É,portanto,duranteestasoperaçõesquevítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodotrabalhoescravopodemserpotencialmenteidentificadas30.Destaforma,variáveiscomoonú-merodetrabalhadoresresgatados,seurbanoourural,semenorde16anos,setementre16e18anos,seestrangeiro,podemserlevantadasdobancodedadosreferenteàsaçõesdefiscalização,queculminamcomoresgatedevítimasdetrabalhoescravo.

1.4.3. Das estatísticas da Secretaria Nacional de Assistência Social / Departamento de Proteção Social Especial do Ministério do Desenvolvimento Social (SNAS/MDS) – recorte dos ciclos de vida

OMinistériodoDesenvolvimentoSocial(MDS)registracasosdetráficodepessoasatravésdoRegistroMensaldeAtendimentos(RMA).ORMAconsisteemsistemaondesãoregistradasmen-salmenteasinformaçõesrelativasaosserviçosofertadoseovolumedeatendimentosnosCentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial(CRAS),CentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial(CREAS)eCentrodeReferênciaEspecializadoparaPopulaçãoemSituaçãodeRua(CentrosPOP).Noquedizrespeitoaotráficodepessoas,porseratendimentoespecializado,érealizadonoCREAS,portanto,estaéabasequedeveserpesquisada31

NodicionáriodevariáveisdoRMA,constaaseguintepergunta:“pessoasvítimasdetráficosdese-reshumanosatendidasnoServiçodeProteçãoeAtendimentoEspecializadoaFamíliaseIndivíduos(PAEFI),duranteomêsdereferência.”Asvariáveisquepodemseranalisadasconjuntamentecomestaperguntasão:unidadedafederação,município,ciclosdevida(0a12,13a17,18a59emaisde60anos)esexo(masculinoefeminino).Ouseja,éumbancodedadosquepodedescrevercomdetalhesolocaldeidentificaçãodasvítimas(nãonecessariamenteolocaldaexploração),osexoeociclodevítima32

Atéoanode2012,noentanto,estasinformaçõesconstavamdoquestionáriodoCensodoSer-viçoÚnicodeAssistênciaSocial(CensoSUAS)33,queservecomoumdiagnósticodosserviçoseestruturadoCREAS,CRASeCentrosPOPnosterritórios,masoníveldedetalhamentoerainferior.

Eainda,oregistroésomentenomêsdereferência,nãodurantetodooanoemquestão,ouseja,háquesefazerumaprojeçãodonúmerodepessoasatendidasnoanoaseranalisado.OuopróprioMDSpoderiaelaborarumafórmulaquecalculasseumamédiadonúmerodepessoasatendidasporano,combasenomêsdereferência,paraqueaquantificaçãodasvítimasfossemaisadequada.

30 Inclusive,nostermosdaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,art.2,§3°,aexpressão“escravaturaoupráticassimilaresàescravatura”deveserentendidacomo:I-acondutadefinidanoart.149doDecreto-Leino2.848,de1940,referenteàreduçãoàcondiçãoanálogaadeescravo.EaInstruçãoNormativanº91,daSecretariadeInspeçãodoTrabalho,emseuart.6°,extendeaexigênciadorespeitoaosdireitostrabalhistasaostrabalhadoresencontradosemsituaçãodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodetrabalhoemcondiçãoanálogaàdeescravo.31 Abasededadosbrutaetratadaestádisponívelonlineem:http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php.Nãohárelatóriopúblicoanalisandoosprincipaisindicadores,especificamentenoquedizrespeitoaotráficodepessoas.Portanto,opesquisadorquetiverinteressepoderáacessarasbasesemformatoexcel,masdeveráanalisarumvolumeimensodeinformações.Aexemplo,somenteparaoanode2016sãocercade29000registros.32 Éimportanteregistrarumacríticaafaixaetáriade18a59anos,quereúnejovenseadultosnumaúnicavariável,sendoqueascaracterísticas,porexemplo,dafaixaetáriade18a29sãodiferentesdafaixaetáriade29a40,eassimpordiante.Aexemplo,ociclopotencialmentereprodutivodamulhervaiemmédia(biologicamentefalando)dos18aos40anos,tendosuasparticularidadesparaanáliseeimplementaçãodepolíticaspúblicas.33 OCensoSUAS,regulamentadopeloDecreto7.334/2010,consisteemlevantamentoanualquecoletainformaçõessobrearededeassistênciasocial,permitindooacompanhamentodasunidadesgestoraseprestadorasdeserviçosdoSUAS,bemcomodocontrole social.

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1.4.4. Das estatísticas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde (DANTPS) do Ministério da Saúde (MS) – da notificação compulsória

Em200734,foicriadaecomeçouaimplementaçãodanotificaçãocompulsória,queconsisteemaçãoeestratégiaparamonitoramentoetomadadeaçõesfrenteàsdoençasqueconstamemListaNacionaldeNotificaçãoCompulsória,publicadaperiodicamenteporPortariadoMinistériodaSaú-de(MS)35.Anotificaçãoéacomunicaçãodaocorrênciadedeterminadadoençaouagravoàsaúde,feitaàautoridadesanitáriaporprofissionaisdesaúdeouqualquercidadão,parafinsdeadoçãodemedidas.Temsidohistoricamenteconsideradacomoumasdasprincipaisfontesdevigilânciaepidemiológica.Asformasdeviolênciasãoconsideradascomoagravos36àsaúdee,dentreestas,constaotráficodepessoas.

Dentreosdadossolicitadosnomomentodopreenchimentodafichadenotificaçãocompulsória,estãovariáveissobreasvítimas,comosexo,faixaetária, raça/cor,escolaridade,situaçãoconju-gal,tipoderelaçãosexual,segestante,zonaderesidência.Solicita,ainda,quesejampreenchidasvariáveissobreoeventocriminoso,taiscomolocalezonadeocorrência,tipoemeiodeagressão,naturezadalesãoeoutras,esobreosprováveisautoresdaagressão,taiscomoosexoearelaçãocomavítima.Ouseja,éumbancodedadosimportanteparaoestudodotráficodepessoasnoBra-sil,mastemalcancelimitado,postoqueregistra,porrazõesóbvias,somenteoscasosquechegamaoSistemadeSaúde.

1.4.5. Dos Mecanismos de Denúncia - Ligue 180 da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM) e Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos (SDH)

OLigue180daSecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheres(SPM)daPresidênciadaRe-públicaéoutrosistemaqueregistracasosdetráficodepessoas,apartirdasligaçõesrecebidas.Alémderegistrarpedidosdeinformaçãosobretráficodepessoas,registratambémdenúnciasdetráficoefazencaminhamentos,oqueéumdiferencial,poisacabanãosomenteservindocomome-canismodeinformação,mastambémdedenúncia.ÉimportantedestacarqueaprimeirafinalidadedoLigue180foiainformação.Todavia,aprópriasociedadecivilacaboudandoessaroupagemdeDisqueDenúnciaaoLigue180daSPM.OLigue180registratambémamodalidadedeexploração,osexo,aescolaridade,afaixaetária,acorearaçadavítimaedoagressor.

OutroserviçoimportanteéoDisqueDenúncia100daSecretariadeDireitosHumanos(SDH)doMinistériodosDireitosHumanos(MDH),quefoiimplementadoem2003originalmentecomodis-quedenúnciaemcasodeviolênciacontracriançaeadolescenteeque,posteriormente,foiamplia-doparadisquedenúnciaemcasodeviolênciacontraasseguintespopulaçõesvulneráveis:criança

34 Vejaqueosdadosestãodisponíveispublicamenteapartirde2001-http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?a-rea=0203&id=30009921,,maséem2007queasviolênciassãoincluídas-http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?are-a=0203&id=29878153.SegundoinformaçãodoMS,quandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas,en-tre2007e2009,acoletadestesdadosaindaestavaincipiente,sendorealizadasomenteemalgunsmunicípiosconsideradospilotos.Foisomenteapartirde2010queoSistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação(SINAN)foiimplementadoemnívelnacional.35 AmaisrecenteéaPortarian.204de2016.36 Nostermosdoart.2,daPortarian.204de2016,quedefineaListaNacionaldeNotificaçãoCompulsóriadedoenças,agravoseeventosdesaúdepúblicanosserviçosdesaúdepúblicoseprivadosemtodooterritórionacional,“parafinsdenotificaçãocompulsóriadeimportâncianacional,serãoconsideradososseguintesconceitos:I-agravo:qualquerdanoàintegridadefísicaoumentaldoindivíduo,provocadoporcircunstânciasnocivas,taiscomoacidentes,intoxicaçõesporsubstânciasquímicas,abusodedrogasoulesõesdecorrentesdeviolênciasinterpessoais,comoagressõesemaustratos,elesãoautoprovocada.

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eadolescente,LGBT,idosoepessoacomdeficiência.Opropósitoéregistraradenúncia,fazeroencaminhamentoaoórgãocompetentecomoaPolícia,oMinistérioPúblicoouaDefensoriaPúbli-ca,eacompanharocasoatravésdaOuvidoriadeDireitosHumanos.Ouseja,éumserviçoquenãoseencerracomofimdaligaçãotelefônica.

Osistemaestáaptopararegistraramodalidadedeexploração,setráficointernoouinternacio-nal,osexo,aidentidadedegênero,araça/cor,aidade,eseavítimatemalgumtipodedeficiência.Quantoaoacusado,registraosexo,aidadeeraça/cor.

1.4.6. Da Assistência Judiciária da Defensoria Pública da União (DPU)

OutrainstituiçãoquecontribuiparaaproduçãodeestatísticasdeenfrentamentoaotráficodepessoaséaDefensoriaPúblicadaUnião(DPU)queatuaemparceriacomoMinistériodoTrabalhonasoperaçõesdecombateaotrabalhoescravo.Alémdisso,emjulhode2011,foicriadaaAsses-soriaJurídicaInternacionalcujafinalidadeéprestarassistênciajurídicaejudiciáriaaosbrasileiros,queprecisemdeadvogadosnoexteriorouestrangeirosqueprecisemdeadvogadosnoBrasil,plei-teando,quandonecessário,medidasdeproteçãolegalereparaçãocivil.NocasoespecíficodasvítimasdetráficodepessoasencontradasnoBrasil,opedidomaisfrequenteéoderegularizaçãodepermanêncianopaís,queéfeitoperanteoDepartamentodeMigrações(DEMIG)37 Mas as es-tatísticassãoaindageradasdosrelatóriosdeatendimentoouprocessosindividuaisdeassessoriajurídica,ouseja,devemsercompiladasmanualmentesemprequesolicitado.

Porfim,aTabela1resumeasvariáveisqueestãopresentesemcadaumdossistemasdasins-tituiçõesqueenviaramdadosparaesteRelatóriooucujosdadosestãodisponíveisonlineeforambaixadoseanalisados,senãovejamos:

Tabela 1.Variáveis contidas nos Sistemas de Informação/Registros Manuais das instituições pesquisadas

ATOR ESTRATÉGICO VARIÁVEISMinistério da Justiça e Segurança Pública

PolíciaFederal(PF) Inquéritos/IndiciamentosporTráficointernacionaldePessoas,Reduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,TráficoInternacionaldeCriançaseAdoles-centeseComercializaçãodetecidos,órgãosepartesdocorpohumano

DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal(DPRF)

Ocorrências/LocaldasOcorrências/Sexodaspessoasenvolvidas(Teste-munha,Autor,Vítima)

DepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)

PresospelostipospenaisdoCódigoPenal,inclusiveTráficodepessoas/Reduçãoacondiçãoanálogadeescravo/Sexo

37 AResoluçãoNormativan.93de2010doConselhoNacionaldeImigraçãopermiteaconcessãodevistopermanenteoupermanênciaaoestrangeiroqueestejanoBrasilemsituaçãodevulnerabilidadeporseroutersidovítimadetráficodepessoas,independentementedecolaboraçãocomoprocessocriminal.

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SecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheres/Ligue18038 (SPM)

Tráficointernacional/internodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/exploraçãodotrabalho/remoçãodeórgãos/adoçãoRelaçãodotraficantecomavítimaSexo,FaixaEtária,Raça,Cordavítima/agressor

Ministério das Relações ExterioresDivisãodeAssistênciaConsular(DAC/MRE)

Vítimadetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/Trabalhoescravo.PostoConsular(país)ondefoiidentificada

Ministério do TrabalhoSecretariadeInspeçãodoTrabalho(SIT/MT)39

Trabalhadoresresgatados/Escravourbano/Estrangeirosresgatados/Trabalhadormenorde16anos/Trabalhadorentre16e18anos

Ministério do Desenvolvimento SocialSecretariaNacionaldeAssistênciaSo-cial/DepartamentodeProteçãoSocialEspecial(SNAS/DPSE/MDS)40

PessoasvítimasdetráficosdesereshumanosatendidasnoPAEFI,duranteomêsdereferência/Sexo/Faixasetáriasde0a12anos,13a17anos,18a59anoseMaisde60anos

MinistériodaSaúde/SecretariadeVi-gilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissíveis(CGDANT/SVS/MS)42

SobreaVítima:Sexo/Faixaetária/Raça,cor/Escolaridade/Situaçãoconjugal/Segestante/DeficiênciaMental/ZonaderesidênciaSobreoscasos:LocaleZonadeOcorrência.Sobreosprováveisautoresdaagressão:Númerodeenvolvidos/Sexo/Relaçãocomavítima/Suspeitadeusodeálcool

Ministério dos Direitos HumanosSecretariadeDireitosHumanos(SDH/MDH)42

Tráficointernacional/internodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/exploraçãodotrabalho/remoçãodeórgãos/adoçãoSexo,IdentidadedeGênero,Raça,Cor,FaixaEtária/TipodedeficiênciadaVítimaSexo,Raça,Cor,FaixaEtáriadoAgressor

Outras InstituiçõesConselhoNacionaldeJustiça(CNJ) Tipopenal/Tribunal(Estadual/Federal/JustiçaEspecial)/GraudeJurisdi-

ção(1ºGrau,2ºGrau,JuizadoEspecialeTurmaRecursal)

38Osdadosestãodisponíveis,emformaderelatóriosanuais,em:http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/ligue-180-cen-tral-de-atendimento-a-mulher39Algunsdadosestãodisponíveispublicamenteem:http://trabalho.gov.br/fiscalizacao-combate-trabalho-escravo/resulta-dos-das-operacoes-de-fiscalizacao-para-erradicacao-do-trabalho-escravo.40Algunsdadosestãodisponíveispublicamenteem:http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php41Osdadosestãodisponíveisem:http://www.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0203&id=2987815342Osdadosestãodisponíveisonlineemformadebalançossemestrais.Veja,porexemplo,obalançode2016em:http://www.sdh.gov.br/noticias/2017/abrc/ministerio-dos-direitos-humanos-divulga-balanco-do-disque-100-nesta-terca-11.

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1.4.7. Dos dados qualitativos

Alémdisso,arededeNúcleosePostosdeEnfrentamentoaoTráficodePessoaseasorgani-zaçõesnãogovernamentaisqueprestamatendimentoàsvítimassãopotenciaisfontesdeinfor-mação,especialmentequalitativa, sobre tráficodepessoas,masnão foramconsultadasparaaconstruçãodesteRelatório,postoqueofocodosRelatóriosNacionaistemsidonolevantamentoeanálisededadosquantitativoseoficiais,ouseja,dadosprovenientesdasinstituiçõespúblicas,especialmentedasquefizerampartedaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTP.

1.5.QuantificandooTráficodePessoas–ParteII:ConsideraçõesacercadasEstatísticasCriminaisedeEnfrentamentoaoTráficodePessoas

DesdeaaprovaçãodoProtocolodePalermo,osatoresnoenfrentamentoao tráficodepessoastentamquantificarestaformadeviolaçãodedireitoshumanos.Salt(2000),noiníciodoséculoXXI,jámencionavaacarênciadedadosoficiaissobretráficodepessoasedestacavaquesuacoletaerareali-zadaporinstituições,metodologiasetecnologiasdistintas,emtemposdiferentes,oqueimpossibilitavaasistematizaçãoeacomparaçãodentrodeummesmopaís,quediráentrepaísesdiversos.

Estadificuldadeexiste,emverdade,noquedizrespeitoàsestatísticascriminaisemgeral.ComoressaltamvanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol(2014),aprimeirarazãoparatantoéaclandes-tinidade.Fatospuníveis,contráriosalei,são,poressência,praticadosàsescondidas,oquesigni-ficaquemuitosdestesnãochegamàsautoridadeseque,aquelesquechegam,refletemsomenteumapequenaparcela.Acriminalidadeocultaouascifrasocultasnocasodocrimedetráficodepessoastendeaseraindamaiordoquenosoutroscrimes(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Cam-pistol,2014).Dentreasrazões,destaca-seadesconfiançadosistemadepolíciaejustiça;oreceiodapessoatraficadadeserdiscriminadaouincriminada,particularmentecomoimigranteirregular;nos casosde tráfico internacional, omedode ser deportadoouexpulso; a vergonhaeomedodahumilhação(Aebietal.,2010;Anti-SlaveryInternational,2002;Goodey,2003;UNODC,2008);odesconhecimentodavítimasobreasuacondição;afaltadeinformaçãosobreosmecanismosdedenúncia;eatémesmoomedoderepresálias(PedraJ.B.,2008).

Osautores(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol,2014)tambémalertamparaanaturezaemotivadodiscursopúblicosobrecrimeejustiçacriminaledoconteúdopolíticododiscursoso-breinsegurançaepunibilidade.Nãoobstante,odebatepúblicosobreotráficodepessoastendeaseremocionalmentecarregado.Seporumlado,otráficodepessoasévistocomoumasériavio-laçãodedireitoshumanos,poroutro,aindanãoésuficientementereconhecidooupriorizadopelasautoridades(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol,2014).Epodeserinfluenciadoporoutrasagendastambéminflamadas,comoasagendasdamigraçãoirregularoudaprofissãodosexo.

Estatísticasdetráficodepessoassãoaindamaisdesafiadorasdoqueoutrasestatísticascriminais,metodologicamente,ecomumenteutilizadasemdiscursospolíticos inflamados.Estimativasexage-radaspodemprovocarestóriassensacionalistasdamídia,provocandorespostasepolíticaspúblicasmotivadasmaispelocalordodebatedoquepelaempiria.Podemtambémserutilizadaserroneamenteparaapromoçãodeagendasmigratóriasdiscriminatóriasouabolicionistasdasformasdeprostituição.Ouseja,estaéumacombinaçãoperigosa,querequercautelanasinterpretações.

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Nãoaomenos,ossistemasdasinstituiçõesdesegurançapúblicaejustiçacriminalsãoconstru-ídosnointuitodeotimizarassuasnecessidadesoperacionais,fazendocomqueosdados,quesão,porventura,coletados,tenhamcomofocoaproduçãodeindicadoresinstrumentaisouprocessu-ais,nãoderesultado(UNODC,2009).Vejamosindicadoresutilizadospelossistemasmencionadosnesterelatório,aexemplo,onúmerodeprocessosjudiciaisnoanoXouYcoletadospeloCNJouonúmerodeindiciamentosoudeinvestigaçõescoletadospelaPolíciaFederal,dentreoutros.

Finalmente,omarcolegal,ousuaausência,tambémcontribuiparaesteverdadeirocaosqueécoletardadosdetráficodepessoas.Em2008,oViennaForumofUN.GIFTjárelatavaserimpos-sívelacomparaçãodeestatísticascriminaisdetráficodepessoas,poismuitosdospaísessigna-táriosestavamaindanafasedeadaptaçãodesuaslegislaçõesinternasaoProtocolodePalermo.Vejaque,noBrasil,somenterecentementefoiaprovadoomarcolegaldotráficodepessoas4338edocontrabandodemigrantes,4439emacordocomalegislaçãointernacional.

Emnívelnacional,odesconhecimentodosindicadoresdetipospenaiscomootráficodepes-soaseocontrabandodemigrantestornaessatarefaárduapois,“naponta”ounosequipamentospúblicosondeasvítimasbatemàporta,estanãoéidentificadacomovítima.

Muitasforam,econtinuamsendo,astentativascomointuitodeaprimorarolevantamentodedadosdetráficodepessoas,4540emnívelnacionaleinternacional.

Veja, por exemplo, osmanuais produzidos por organismos internacionais como objetivo deconstruirmetodologiasintegradasoudeharmonizaracoletadedados(IOM,2007;IOM&FederalMinistryoftheInteriorofAustria,2009;ICMPD,2010).

Alémdosrelatóriosnacionaissobretráficodepessoas,cujofocotemsidonosdadosquantita-tivos(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a,2014,2015),onúmerodepesquisasrealizadaspelaacademia,ONGserelatóriosdeorganismosinternacionaisproduzidosdesdeoProtocolodePalermonoBrasilétambémvasto.Veja,porexem-plo:Leal&Leal,2002;Colares,2004;Cacciamali&Azevedo,2006;SecretariaNacionaldeJustiça,2005,2006;SecretariaNacionaldeJustiça&OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho,2007;Hazeu,2008,2011;InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2011;Peterke,Sven,etal.,2012;Piscitelli,2013;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013;SecretariaNacionaldeJustiça,Es-critóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&ONGRepórterBrasil,2014;PedraJ.B.,2016;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&AssociaçãoBrasileiradeDefesadaMulher,daInfânciaedaJuventude(s.d.).4641Sãoestudos,emsuamaioriaqualitativos,quepermitemoconhecimentoeoreconhecimentodofenômenodotráficodepesso-

43 Comodito,nostermosdaLein.13.344de06deoutubrode2016.44 Nostermosdalein.13.445de24demaiode2017,queprevêocrimedepromoçãodemigraçãoilegal,nosseguintestermos:Art.323-AdoCódigoPenal-Promover,porqualquermeio,comofimdeobtervantagemeconômica,aentradailegaldeestrangeiroemterritórionacionaloudebrasileiroempaísestrangeiro.Pena-reclusão,de2(dois)a5(cinco)anos,emulta.§1oNamesmapenaincorrequempromover,porqualquermeio,comofimdeobtervantagemeconômica,asaídadeestrangeirodoterritó-rionacionalparaingressarilegalmenteempaísestrangeiro.45 AimportânciadoassuntoédestaquenaUniaoEuropeia,quandoemDiretivan.36de2011doConselhoEuropeuparaaprevençãoeoenfrentamentoaotráficodepessoaseparaaproteçãodasvítimas,adotadaem05deabrilde2011,enfatizaqueaUniãoEuropeiadeverácontinuaradesenvolvertrabalhosemmetodologiasparaacoletadedadoseproduçãodeestatísticasdetráficodepessoasquepermitamacomparabilidade46 Estalistanaoéexaustiva.Limita-seadestacaralgumasdasreferênciasbibliográficasproduzidassobreoassuntonoperí-odocitado.Nãofoiobjetodesterelatórioolevantamentosistemáticodepesquisasrealizadassobreotema.

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as,porumlado.Apesardesuaslimitaçõesmetodológicas,semestaspesquisas,levantamentosediagnósticos,muitopoucosesaberiasobreofenômenodotráficodepessoasnoBrasilenomun-do,poisdescrevemqualitativamente,ecombastanteriqueza,casosquenãochegamnosistemaoficialdejustiçaesegurançapública.Poroutrolado,suscitamdúvidasequestionamentosquantoasuaconfiabilidadeevalidade,hajavistaseremdadosextraoficiais(vanDijck,2005),sembaseempíricaquantitativaerepresentatividade.

Alémdisso, em2011 foi instauradapeloSenadoFederalComissãoParlamentarde Inquérito(CPI)destinadaainvestigarotráficonacionaleinternacionaldepessoasnoBrasil.(SenadoFede-ral,2011).

Emsíntese,emcatorzeanosdevigênciadoProtocolodePalermo,muitascoisasavançaramnoquedizrespeitoàsaçõesdeprevençãoerepressãoaotráficodepessoaseàsaçõesdeassis-tênciaàsvítimas,masoregistrodestecrimeedesuasvariáveisporpartedasinstituiçõesoficiaiscontinuaincipiente.

NoBrasil,ocenárioéoseguinte:diversasinstituiçõestrabalhandoarduamentenoenfrentamen-toaotráficodepessoas;algumasdelasregistrandooscasosquebatemàssuasportas,aindaquemanualmente;poucasdelasanalisandoerefletindosobreastendências,ascausas,asconsequ-ências;todaselascomseusmétodospróprioseseminterlocuçãoumascomasoutras.Ainterlo-cuçãoaconteceemníveldeplanejamentoestratégicoparaaimplementaçãodaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,masnãonoquedizrespeitoàsestatísticasdocrimedetráficodepessoas.Fatoéque,seessesdadoscontinuamsendoregistradose/oucoletadospormetodologiasdistintas,vãotambémgerarestatísticasdiversasedificultar,quiçáimpossibilitar,acomparaçãoouanáliseintegradadosdados.

OprimeiroDiagnósticoBrasileirosobreTráficodePessoas,realizadopelaSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a),combaseexclusivamenteemestatísticasoficiaisregistradasnoperíodode2005a2011,jádestacavaafragilidadedossistemasdeinformaçãodasinstituiçõesdasegurançapú-blicaejustiçacriminalnoBrasil.FoinestaesteiraquefoielaboradaaMetodologiaIntegradadeTP(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013b)que,comovisto,passapordificuldadesparasuaimplementação.

Istotudointensificaaausênciadedadossobreumfenômenoque,alémdeontologicamentesubnotificado,éregistradoimpropriamente,fazendocomqueocrimepermaneçaoculto,aome-nos estatisticamente.

Apresentadas, resumidamente,asdificuldadesnacionaise internacionaisparasedescreveremedirotráficodepessoasdeformaválidaereal,traremososmaisrecentesdadoscoletadospelasinstituiçõesdasegurançapúblicaedajustiçacriminalnoBrasil,edealgumasdasinstituiçõesdarededeassistênciaàsvítimas,conformeTabelas2e3,noitem1.6.Oitem1.6explicaaindaameto-dologiadeconstruçãodesteRelatório,trazendoesclarecimentosquantoasfontesdeinformação,epermitindosuareplicaçãonosanosseguintes,paraaconstrução,sedesejado,deanálisehistórica.

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1.6.MetodologiadeConstruçãodoRelatórioNacionaldeTráficodePessoas–Dados2014a2016

OobjetivodesteRelatórioécoletareanalisardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoas.Hajavistaaexperiênciadeanosanteriores,naconstruçãodosrelatóriosnacionais,ametodologiaimplementadafoiamesma.Alémdosatoresdeenfrentamentodasegurançapúblicaejustiçacri-minal,queregistramdadosdetráficodepessoasemdiferentesformatos,ouatravésdedistintasvariáveis,vimostambémqueoutrasinstituiçõesdarededeassistênciaàsvítimas(governamen-tais)tambémregistramdadossobreestetipodeviolaçãodedireitoshumanos.

Portanto,seguindoopadrãodosrelatóriosconstruídosnosperíodos2005-2011,2012e2013,foramoficiadasasinstituiçõesdaMetodologiaIntegradadeTPeasinstituiçõesgovernamentaisqueprestamassistênciaàsvítimas,dentreaquelasqueforamidentificadasduranteaconstruçãodoprimeiroRelatórioNacional,solicitandodadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasdope-ríodode2014a2016.Algumasinstituiçõesdisponibilizamosdadosonline,portanto,permitemaconsultapública,outrasnão.Destaforma,todasasinstituiçõesdasTabelas2e3foramoficiadas.

Tabela 2.Atores da Metodologia Integrada de Coleta e Análise de Dados e Informações sobre Tráfico de Pessoas

MinistériodaJustiçaeSegurançaPública

1.SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania(SNJ)a)DepartamentodePolíticasdeJustiça/CoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas(CETP)b)DepartamentodeRecuperaçãodeAtivoseCooperaçãoJurídicaInternacional(DRCI)

2.SecretariaNacionaldeSegurançaPública(SENASP)/SistemaNacionaldeInformaçõesdeSegurançaPública,PrisionaisesobreDrogas(SINESP)3.PolíciaFederal(PF)4.DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal(DPRF)5.DepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)

6.ConselhoNacionaldeJustiça(CNJ)7.ConselhoNacionaldoMinistérioPúblico(CNMP)8.MinistérioPúblicoFederal(MPF)/ProcuradoriaFederaldosDireitosdosCidadãos(PFDC)9.SecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)

Tabela 3. Atores da Rede de Assistência às Vítimas de Tráfico de Pessoas

MinistériodasRelaçõesExteriores(MRE)1.DivisãodeAssistênciaConsular(DAC)/MinistériodaSaúde(MS)2.CoordenaçãoGeraldeDoençaseAgravosNãoTransmissíveis/DepartamentodeVigilânciadeDoençaseAgravosnãoTransmissíveisePromoçãodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/SecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheresdaPresidênciadaRepública(SPM)3.CoordenaçãodaCentraldeAtendimentoàMulher–Ligue180/SecretariadeEnfrentamentoàViolênciacontraasMulheres/MinistériodosDireitosHumanos(MDH)4.SecretariaEspecialdeDireitosHumanos/Coordenação-GeraldoDisqueDireitosHumanos-Disque100

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AsinstituiçõesdaTabela3fizerampartedaconstruçãoeassinaturadeProtocolodeIntençõesdaMetodologiaIntegrada.Destacamosque,duranteaconstruçãodesteRelatório,foiobservadoqueestasinstituiçõestiveramdificuldadesnaimplementaçãodaMetodologiaIntegradadeTP,nãopermitindoaconstruçãodeumRelatórioNacionalqueenglobassetodososelementosprevistosnaqueledocumen-toequecontribuiriamparaadescriçãomaiscompletadofenômenodotráficodepessoas.

Tendoemvista,ainda,acomplexidadeeamulticausalidadedofenômeno,foramconsultadasoutrasinstituiçõesquereconhecemaimportânciadoenfrentamentoaocrimedetráficodepesso-aseadaptaramseussistemasdeinformaçãoparaoregistrodestaviolaçãodedireitoshumanosdeformamaisadequadaecompleta.

Noquediz respeitoaomarco legal, é importantemencionarque, comoesteRelatório temoobjetivodeanalisardadosdoperíodode2014a2016,alegislaçãodereferênciacontinuasendooCódigoPenal,arts231e231-A,revogadosexpressamentepelaLein.13.344de06deoutubrode2016,quetipificamotráficointernacionaleinternodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,comaseguinteredação:

Tabela4.TipoPenaldoTráficodePessoassegundooCódigoPenal(atédezembrode2016)

Tráficointernacional Art. 231 Código Penal -Promoveroufacilitaraentrada,noterritórionacional,dealguémquenelevenhaaexerceraprostituiçãoououtraformadeexploraçãosexual,ouasaídadealguémqueváexercê-lanoestrangeiro.-Agenciar,aliciar,comprarapessoatraficada.-Transportar,transferir,alojarapessoatraficadatendoconhecimentodestacondição.

Tráficointerno Art. 231-A Código Penal -Promoveroufacilitarodeslocamentodealguémdentrodoterritórionacionalparaoexercíciodaprostituiçãoououtraformadeexploraçãosexual.-Agenciar,aliciar,comprarapessoatraficada.-Transportar,transferir,alojarapessoatraficadatendoconhecimentodestacondição.

Serãoconsideradostambémostipospenaiscorrelatosaotráficodepessoas,quesãoaquelesco-metidosemparalelooucomomeioparasealcançarofim,queseriaaexploração.Essestipospenaisvi-nhamsendoaplicadosparaasoutrasmodalidadesdeexploraçãonãoprevistasnotipopenaldotráficodepessoas–trabalhoescravo,remoçãodeórgãos,tecidosoupartesdocorpo,adoçãointernacional,servidão–naausênciadelegislaçãoespecífica,responsabilizandoaquelesquepratiquemotráficodepessoascomoutrasfinalidadesquenãoaexploraçãosexual.

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Tabela5.TiposPenaisCorrelatosaoTráficodePessoas

Redução a condição análogaàdeescravo

Art. 149 Código Penal -Reduziralguémacondiçãoanálogaàdeescravo,quersubmetendo-oatrabalhosforçadosouajornadaexausti-va,quersujeitando-oacondiçõesdegradantesdetrabalho,querrestringindo,porqualquermeio,sualocomoçãoemrazãodedívidacontraídacomoempregadoroupreposto.

Crimes contra a criança e oadolescente

Art.238ECA -Prometerouefetivaraentregadefilhooupupiloatercei-ro,mediantepagaourecompensa.

Art.239ECA -Promoverouauxiliaraefetivaçãodeatodestinadoaoenviodecriançaouadolescenteparaoexteriorcomino-bservânciadasformalidadeslegaisoucomofitodeobterlucro.

Crimes contra a Lei deTransplante

Art.15daLein°9.434/97 -Comprarouvendertecidos,órgãosoupartesdocorpohumano.-Promover,intermediar,facilitarouauferirvantagemcomatransação.

Noquedizrespeitoàanálise,foramaindautilizadasalgumaspesquisasqualitativasconduzidasso-breotema,especialmentenoperíodode2011a2016,comoobjetivodeampliaradiscussãoeservirdepanodefundoparaumaanálisemaiscomplexa,quepossairalémdosdadosquantitativos.Osdadosoficiaisequantitativosnãosãosuficientesparadescreverofenômenodotráficodepessoas,dadasuacaracterísticadesubnotificação,aindaquetenhamosconsideradonesterelatórioosdadosdasinstitui-çõesqueprestamatendimentoàsvítimas.Otráficodepessoaséfenômenocomplexoquerequerpes-quisaqualitativa,assimoutrasreferênciasquenãosomenteosdadosquantitativosfornecidospelasinstituiçõesforamutilizadas,permitindoatriangulação.47 42

EsteRelatório,portanto,teveumdiferencialemrelaçãoaosrelatóriosanteriores,equebraoparadig-madaapresentaçãodasestatísticasoficiais,separadamentedasestatísticasnãooficiais,concluindoqueatriangulaçãodasfonteséamelhorformadeseanalisarofenômenodotráficodepessoas.

É,então,divididoemitenstemáticos,dondepoderãoserextraídasasmaisrecentesestatísticasofi-ciaisfornecidaspelasinstituiçõescitadasnaTabela3,eondeserãoreferenciadasasmaisrecentespes-quisasnacionaisconduzidassobreoassunto,publicadasentre2011e2016,equeajudamainterpretarofenômenodotráficodepessoassobremaneira.

47 Atriangulaçãoéautilizaçãodenomínimotrêsdiferentesferramentas(quantitativasouqualitativas)noprocedimentodepesquisaparasecoletarainformaçãonecessária.SugeridaporautorescomoAebi(2006),StrausseCorbin(1998),Francis(2000),Maxwell(1996),Merriametal.(2002)ePatton(1990),atriangulaçãopermiteaopesquisadorconfirmarasinformaçõesfornecidaspelasferramentasutilizadas.Asinformaçõesfornecidasporentrevistas,porexemplo,confirmamoureproduzemasinformaçõesprovenientesdosdadosestatísticos,queporsuavezconfirmamasinformaçõeslevantadasemrevisãobibliográfica.Asinforma-çõespodemsertambémcontraditadasumaspelasoutras,trazendoparaapesquisaariquezadodebateentreosmétodos.

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2. Do Relatório Nacional de Tráfico de Pessoas: Principais Constatações2.1.EsclarecimentosIntrodutóriosparaainterpretaçãodosdados

ORelatórionãoapresentatabelascomparativas,porexemplo,entreosdadoscolhidosnosperíodosanteriores-2005a2011,2012e2013–ecolhidosnoperíodode2014a2016,ouentreasinstituiçõesquecoletaramestesdados,pois:

• Manualidade:avalidade/qualidadedosdadosquantitativossobretráficodepessoasnoBrasiléquestionável.Observa-seamanualidadenoregistrodosdadosemalgumasinstituiçõesouamanualidadenomomentodesegerarrelatórios.Ademias,houvemudançasnaformadecoletaouregistrodedadosentreosperíodos,impossibilitandoacomparação;

• AusênciadeVariáveisimportantes:apesardaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTPsu-gerindoummínimodevariáveis,nãohásistemasdeinformaçãocapazesderegistrardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasadequadamente,ouquecontempleascaracterísticasqueconstituemocrime.Particularmente,ossistemasdajustiçacriminalsãoosmaisprecáriosemtermosdeníveldedetalhamento;

• Diferençasnosconceitos:assimcomoobservadonoRelatórioNacionalquecobriuoperíodode2005a2011,cadatermopodeterumadefiniçãodiferenteemcadasistemadeinformação,impossibilitandoacomparação.Exemplificando:oconceitodetráficodepessoasadotadopelapolíciaéoprevistonoCódigoPenal,queconsideretráficodepessoasexclusivamentequandoafinalidadedaexploraçãoésexual.Jáoconceitoadotadopelasinstituiçõesqueassistemàsvíti-maséodaPolíticaNacional,queenglobadiversasmodalidadesdeexploração.OMinistériodoTrabalho,porsuavez,contabilizaoscasosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,quenemsempresãocasosdetráficodepessoas.Comaprevisãodotipopenaldotráficodepessoasepelomenosquatromodalidadeseexploração,nostermosdaredaçãodoart.149-A,dadapelaLein.13.433/2016,eemacordocomoProtocolodePalermoecomaPolíticaNacional,épossívelqueesteobstáculosejavencido,casoossistemasseadequemaesteconceito;Diferençanosperíodosdecoleta:as instituiçõesestãoemdescompassotemporal.Há instituiçõesquenãoconcluíramotratamentodosdadoscolhidosem2015,porissonãopublicizaram,enquantoqueháoutrasinstituiçõesquejágeraramrelatóriosatédosdadoscolhidosem2016;

• Formadeapresentaçãodosdadosinadequada:muitasinstituiçõesaindafornecem,enquantodados,númerosexatosemseusrelatórios,enquantoqueoidealparaefeitodeanáliseoucom-parabilidadeseriamasporcentagensouastaxas,porexemplo,porXmilhabitantes.NãosepodecompararonúmerodecasosdetráficodepessoasregistradosemSãoPaulocomonúmerodecasosregistradosnoAcre,poisadiferençapopulacionalentreestesdoisestadoséconsiderável.Obviamente,haverãomaiscasosemSãoPaulo.

• Margemdeerro:nossistemasemquehouvealgumavançoemrazãoda implementaçãodaMetodologiaIntegradadeTP,naquantidadedevariáveisparaexplicarofenômeno,os“nãoinfor-

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mados”aindaconstituemnumagrandeparcela,contabilizandoaté40%.Paraefeitodecálculosestatísticos,os“nãoinformados”deveriamserexcluídosdaamostranahoradoscálculos,masistoimplicarianareduçãodouniversoparapoucomaisdametade.Ouseja,amargemdeerroparaqualqueranálisedefrequênciaoucomparativaémuitogrande,nãodevendoserfeitaporquepodeinduziraerrograve;

• Ausênciadeperiodicidadenolevantamentodasinformações:nãoháperiodicidadenaanálisedosdadosdetráficodepessoaspelasprópriasinstituições.Aanálise,aindaqueinterna,acon-tecemotivadapordemanda,aexemplo,pedidodaCoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,dedadosdetráficodepessoasparaaelaboraçãodesteRelatórioNacional.Issoimplicanaausênciadeconhecimentointernodosdadoscolhidos,naausênciadeanálisedaqualidadeounacríticadosseusprópriosdadosparaaprimoramento;

• Inconsistênciadosdados:ainconsistênciadosdadoséumameraconsequênciadosproblemasaquilistados.Foiobservado,porexemplo,queonúmerototaldecasosdifere,nummesmoano,adependerdavariávelestudada.

Ascomparações,então,poderiamtambéminduziraerrogravedeinterpretação,àelaboraçãodehipótesesdistorcidasedestoadasdarealidade,ainferênciasincorretaseinadequadas.Ouseja,acom-parabilidadefoiusadacomométododeanáliseexcepcionalmente,ousemprequepossível.E,preferen-cialmente,nãodeveserfeitapeloleitor,poisalertamosdaprobabilidadedeinduçãoaerrocrassoedaconstruçãodeconclusõessemvalidade.

2.2.Dainexistênciadeumperfilespecíficodevítimaedacondiçãodevul-nerabilidadedestas

Umadasprimeirasinquietaçõesnoquedizrespeitoaotráficodepessoaséoperfildavítima,princi-palmenteparaaelaboraçãodepolíticasdeprevenção.Sefossemoscontarsomentecomasestatísti-cascriminais,nãosaberíamosnadasobreoperfildasvítimas.Istoporquequasenenhumadaspolíciaslevantaascaracterísticasdasvítimasquandodoregistrodasocorrências,nemsequerogênero.Épos-sívelqueoregistrodainformaçãosejafeitonosboletinsdeocorrência,masestedadonãoconsisteemumadasvariáveisdossistemasdeinformação,deondesãoextraídososrelatóriosquantitativos.Excepcionalmente,aPRFregistraalgumasinformaçõessobreavítimacomosexo,idade,etnia,escola-ridade,eseestrangeiro.

Ajustiça,porsuavez,provavelmentetambémtenhaestainformaçãonosprocessosjudiciais,mas,damesmaforma,nãodisponibilizanoseubancodedados.Ouseja,apesardosesforçosparaaconstru-çãodaMetodologiaIntegrada,adificuldadedeinformaçõessobreasvítimaspermanece,porquestõesoperacionais,certamente,mastambémontológicas,lembrandoqueajustiçacriminalsurgiunointuitodeexcluirasvítimasdoprocessocriminalederetirar-lheoconflito(Christie,1977),nãoregistrandoquasenadasobreasvítimas.

Portanto,parasedescreveroperfildavítimaháqueserecorrernecessariamenteàsoutrasfontes,taiscomoosdadoslevantadospelasinstituiçõesconsideradascomodeassistênciaàsvítimas.

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SEXO DA VÍTIMA

ASecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheresrevelaumnúmeroexpressivodemulheresvíti-masdetráficodepessoas,parafinsdeexploraçãosexualetrabalhoescravo.Dadosde2014a2016contabilizam317mulheresvítimasdetráficodepessoas(internoeinternacional)parafinsdeexplora-çãosexualesomentecincohomens.VejaTabela6: Tabela6.PerfildaVítima–SexoversusModalidadedaExploraçãoSexualsegundodadosdoLigue180

TRÁFICODEPESSOASPARAFINSDEEXPLORAÇÃOSEXUALPORANO/SEXO

FEMININO MASCULINO N/I48 TOTAL

2014 56 1 43 1002015 139 0 76 2152016 122 4 47 173

TOTAL 317 5 166 488

Fonte:MJSP/SPM/Ligue180

Estainformação,noentanto,deveserrelativizadaporduasprincipaisrazões:1.OLigue180temoobjetivodereceberdenúnciasdecrimescontraasmulheres,apesardetambémregistrarsituaçõesdeviolênciacontrahomens.Portanto,onúmerodenotificaçõesdetráficodepessoascujavítimasejaumamulherseráobviamentesuperioraonúmerodenotificaçõescujavítimasejaumhomem.

Jánoquedizrespeitoaotrabalhoescravo,aconotaçãodegênerojácomeçaaserevelar,indicando,maisumavez,queogêneropossaestaratreladoaformadeexploração.Vejaquesão123mulheresví-timasdetrabalhoescravoe52homens,numbancodedadosvoltadoparaorecebimentodedenúnciasdecrimescontramulheres.VejaTabela7:

Tabela7.PerfildaVítima–SexoversusModalidadedoTrabalhoEscravosegundodadosdoLigue180

TRÁFICODEPESSOASPARAFINSDETRABALHOESCRAVOPORANO/SEXODA VÍTIMA

FEMININO MASCULINO N/I TOTAL

2014 10 3 12 252015 50 19 42 1112016 63 30 28 121

TOTAL 123 52 82 257

Fonte:MJSP/SPM/Ligue180

48ParaN/Iemtodasastabelas,leia-seoN.depessoasquenãoinformaramounãorespoderamaestapergunta.

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Novamente,estainformaçãodeveseranalisadacomcautela,poisonúmerodepessoasquenãoinformaramosexo,nasduasmodalidadesdeexploração,ébastanteexpressivo,ouseja,cercade40%.

OsdadosdoMinistériodaSaúde,umdosmaisconfiáveis,assimcomoemanosanteriores,revelamumamaioriademulheres(n=301,75%)dasvítimas,assimcomonaTabela8:

Tabela8.PerfildaVítima–SexosegundodadosdoMinistériodaSaúde

TRÁFICODEPESSOASPORANO/SEXO DA VÍTIMA FEMININO MASCULINO TOTAL

2014 94 18 1122015 94 40 1342016 113 40 162

TOTAL 301 107 408

Fonte:MinistériodaSaúde(MS)/SecretariadeVigilânciaemSaúde(SVS)/SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotifica-ção(SINAN)/SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes(VIVA)

OsdadosdaSDHrevelamtambémumamaioriademulheres(n=166),mascontabilizaramcercade30%(n=157)depessoasquenãoinformaramosexo.Ouseja,amargemdeerroémuitogrande.

Tabela9.PerfildaVítima–SexosegundodadosdoDisque100

TRÁFICODEPESSOAS/SEXODAVÍTIMA FEMININO MASCULINO N/I TOTAL

2014 63 30 72 1652015 49 35 45 1292016 54 25 40 119

TOTAL 166 90 157 413

Fonte:MDH/SDH/Disque100

JáosdadosdoMinistériodoDesenvolvimentoSocial,noquedizrespeitoaonúmerodepessoasvítimasdetráficoatendidaspeloPAEFInosCREAS,revelamumagrandemaioriadehomens.Das843pessoasidentificadascomovítimasdetráfico,631sãohomens.Istonumuniversodecercade29milatendimentosregistradospeloCREASatravésdoPAEFInoanode2016.49 43

Finalmente,oRelatórioGlobaldoUNODC(2012)reforçaqueotráficodepessoaséumcrimecomumaforteconotaçãodegênero,sendoaprincipalparceladevítimasidentificadasconstituídapormu-lheresadultas(UNODC,2012a:26),chegandoatéa50%dasvítimasmulheres(UNODC,2014).Pelosda-doslevantadosentre2014e2016noBrasil,comexceçãodosdadosdoMDS,onúmeromaisexpressivoédefinitivamentedevítimasdosexofeminino.Alémdisso,asbasesdedados,comexceçãodaSDH,nãonospermitemidentificaraidentidadedegênero,mastãosomenteosexo.50 44

49 Nãoobstante,asubnotificaçãodevítimasdosexomasculinodeveserestudadamaisaprofundadamente.Osestudosviti-mológicosindicamqueémenosprovávelqueumhomemsereconheçacomovítimadeumtipopenalpoisistosignificareconhecerfragilidades,fraquezas,viaderegranãopermitidasenquantoatributosdogêneromasculinonassociedadespatriarcais50 Emesmoassim,nolevantamentofeitode2014a2016,aidentidadedegêneronãofoiinformadaem100%doscasos.Restasaberseporvontadedavítimaouseporfaltadehabilidade/capacitaçãodoatendenteparalevantarestedado.Nãoobstante,osatendi-mentossãofeitosportelefoneentãoestaéumaquestãobastantesensíveldesertratadaatravésdestemétododelevantamento.

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IDADE DA VÍTIMA

Quantoàidadedasvítimas,osdadosdoMS,umdospoucosquerevelamaidadedavítimadema-neiraconfiável,5145apresentamumnúmeroconsideráveldepré-adolescentes,adolescentesejovens.Afaixaetáriaentre10e29anosconsisteemcercade50%,senãovejamosnaTabela10:52 46

Tabela10.PerfildaVítima–IdadesegundodadosdoMinistériodaSaúde

Faixaetária(anos) 0 - 9 anos 10 - 19 anos

20 a 29 anos

30 a 59 anos

60 anos e mais TOTAL

2014 15 28 31 35 3 1122015 18 39 25 44 8 1342016 24 37 40 54 7 162

TOTAL 57 104 96 133 18 408

Fonte:MinistériodaSaúde(MS)/SecretariadeVigilânciaemSaúde(SVS)/SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação(SINAN)/SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes(VIVA)

Afaixaetáriade10a19anosconsisteem20%dasvítimas.IstojáhaviasidoapontadopeloRelatóriode2005-2011(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a),reforçandoaconstataçãodoRelatórioGlobal,segundooqualos/asadolescentessomamde15%a20%dasvítimasmundialmente(UNODC,2012a).

OsdadosdaSDHtambémrevelamumnúmerobemimportantedecriançaseadolescentesvítimasdetráficodepessoas,especialmentenasfaixasetáriasde0a3anos(n=70),de04a11anos(n=63),ede12a17anos(n=83),senãovejamos Tabela11:

Tabela11.PerfildaVítima–IdadesegundodadosdoDisque100

Ano/Fai-xaetáriadavítima

Nascituro –RecémNascido

0 -3 anos

04–11anos

12–17anos

18–30anos

30 anos e mais N/I TOTAL

2014 9 29 21 27 5 0 74 1652015 12 20 25 20 8 3 41 1292016 10 21 17 36 3 1 31 119

TOTAL 31 70 63 83 16 4 146 413

Fonte:MDH/SDH/Disque100

51 OsdadosdoMDSrevelamumnúmeroconsideravelmentemaiordehomens,algodiferentedopadrãodosoutrossistemasaquiestudados.Háqueseinvestigarmaisaprofundadamenteaosmenosduashipótesespodemserlevantadas:1.QueasvítimasquechegamnoSistemaÚnicodeAssistênciaSocialsãodosexomasculinopoisrepresentaparcelaconsideráveldas‘vitimasdetrabalhoescravo,quesãotambémmaiscomumentedosexomasculino;2.QueoSistemaÚnicodeAssistênciaSocialpossaestarsequivocandonomomentodoregistroeconfundindoconceitoscomotráficodepessoasetráficodedrogas.Osdadostambémrevelamaidadedasvítimas,masnãodemaneiraconfiável.Umadasfaixasetáriasémuitolarga,quersejados18aos59anos,en-globandociclosdevidamuitodistintos(jovens(18a29anos)adultos(30a54anos),beirandoosidosos(apartirde55anos,sendoqueserãoconsideradaspessoasidosasaquelasapartirde60anos)).52 OMSincluiasidadesde10,11e18anosnafaixaetáriaquevaiaté19,certamentetendoemvistaasnecessidadesdaspolíticasdesaúde.Noentanto,nostermosdoEstatutodaCriançaedoAdolescente,seráconsideradoadolescentepessoanafaixaetáriade12a18anos.

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Noentanto,damesmaformaquenainterpretaçãodosdadosdaSPM,estesdevemserflexibilizadospois:1.ODisque100foicriado,aprincípio,comoobjetivodereceberdenúnciasdeviolaçõescontracriançaseadolescentes,revelando,obviamente.Ummaiornúmerodevítimasentre0e17anos;2.Onúmerodepessoasquenãoinformaramaidadenoperíodolevantadocontabiliza35%.Ouseja,amar-gemdeerrotambémémuitogrande,assimcomonosdadosdaSPM.

NACIONALIDADE DA VÍTIMA

Avariável“nacionalidadedavítima”équasequeinexistentenosdadoslevantados.Ouseja,nãoháumapreocupaçãoemregistrá-la.Noentanto,aliteraturatemdemonstradoquecomaprojeçãodoBrasilnocenáriointernacional,amelhoriadaeconomia,asgrandescriseshumanitáriaseasdificuldadesdedesenvolvimentoeconômicodospaísesvizinhosdaAméricadoSul,maisemaisestrangeirosestãosendovítimasdetráficodepessoasparaoBrasil.

Porexemplo,osdadosdoMTrevelamquantosdostrabalhadoresencontradosemsituaçãodetra-balhoescravoqueforamresgatados,sãoestrangeiros.Noanode2014,cercade8%dostrabalhadoresresgatadoseramestrangeiros.Nosanosde2015e2016,temos4,4%e5,4%respectivamente,senãovejamosTabela12.

Tabela12.PerfildaVítima–NacionalidadesegundodadosdaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)doDisque100

ANO N. DE TRABALHADO-RESALCANÇADOS

N. DE TRABALHADORES EMCONDIÇÃO

ANÁLOGA À DE ESCRAVO

ESTRANGEIROS RESGATADOS

(N/%)

2014 1.752 1.560 119(7,6%)2015 8.680 1.199 53(4,4%)2016 8.082 946 52(5,4%)

TOTAL 18.514 3705 224

Fonte:MT/SIT

Ouseja,foramencontrados,somentepeloMinistériodoTrabalho,224estrangeirosemsituaçãoaná-logaàdeescravo.Sabemos,portanto,quesãoestrangeirosquemigraramparaoBrasilembuscademelhorescondiçõesdevida,masnãosabemosanacionalidade.Estudosqualitativostentamlevantarestetipodeinformaçãonocampo.Porexemplo,oDiagnósticosobreTráficodePessoasnaÁreadeFronteirarevelouapresençadebolivianosqueestãosendotraficadosparaoBrasilparafinsdetraba-lhoescravooudeparaguaiasparafinsdeservidão,alémdeperuanos,chinesesebengalis(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMi-grationPolicyDevelopment,2013).Cacciamali&Azevedo(2006)tambémestudaramasituaçãodasvítimasdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravo,sobretudodosbolivianosnaindústriatêxtilemSãoPaulo.

PesquisamaisrecentedoProjetoMigraçõesTransfronteiriçasrevelouasituaçãodosimigranteshai-tianosque,fugindodagravecrisehumanitáriaquepersistenaquelepaísporlongosanos,estãosendo

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vítimasdetráficodepessoasparaoBrasilparafinsdetrabalhoescravo(Fernandes,Castro,Faria,Silva&Rezende,2016;PedraJ.B.,2016).

VULNERABILIDADE

Oconhecimentodoconceitodevulnerabilidadee,portanto,oseureconhecimento,sãoelementosessenciaisparaoentendimentodosdadosdetráficodepessoas.Vulnerabilidadeésituaçãoindividualoudeumgrupo,preexistenteoucriada,quesignificafragilidadee,porisso,potencializaapossibilidadedapessoadeseencontraremsituaçõesderiscooudeexploração(Pedra.J.B.&Barbosa,2014).

Avulnerabilidadepodeserpessoal,situacionaloucircunstancial.Vulnerabilidadepessoaléaquelarelacionadaàscaracterísticasindividuaisdedeterminadapessoa,podendoser,porexemplo,oprópriosexo,aidentidadedegênero,aorientaçãosexual,aidade,aetnia,ouumadeficiênciamentaloufísica,dentreoutros.Avulnerabilidadesituacionaléadquirida,estárelacionadaàspessoaseaomomentopeloqualestejampassando.Podeexemplo,podeestarrelacionadaaofatodapessoaestarindocumentadaempaísestrangeiro,estarsocialmenteoulinguisticamenteisolada.Eavulnerabilidadecircunstancialdizrespeitoaumaparticularidade,porexemplo,asituaçãoeconômica,odesemprego,apobreza,ade-pendênciadesubstânciasentorpecentesoudoálcool(UNODC,2012a).

Aliteraturadestacajáhámuitosanosqueopontocomumentreasvítimaséasituaçãodevulnera-bilidadenaqualestãomergulhadas,oqueasempurraparaotráfico.Sãooschamados“pushfactors”segundoaliteraturamaisantiga(Dijck,2005).OsdadosdoMDS,cujonúmerodevítimassomenteem2016ébastanteexpressivo (n=843) requeremumestudomaisaprofundado.5347Aparentemente,osCREASsãoumaimportanteportadeentradaparaasvítimas.NememtrêsanosoMS,aSPMouaSDHsomaramonúmerodevítimasidentificadaspeloMDSemumano.Algunsestadosmerecem,inclusi-ve,destaque:Paraná(85),MinasGerais(153),MatoGrossodoSul(162)eSãoPaulo(212).Istopodeindicarumaquantidademaiordecasosefetivamentenestasregiões,mastambémqueasequipesdosCREASdestesestadosestãomelhorcapacitadasparaidentificaroscasos.

Equempodeestaremsituaçãodevulnerabilidade?Criançaseadolescentes,naturalmente,porumaquestãodedesenvolvimentopessoal,sãovulneráveis.Mulheres,emalgumassociedades,maisdoqueemoutras.Istodependedograudeempoderamento,acessoàeducaçãoeaotrabalho,acessoaosdireitoscivis,políticosesociais,quediferememcadasociedade.Migrantesemgeraltambémsãocon-sideradoscomoumpúblicovulnerável,principalmenteaquelesqueestãoemsituaçãoirregular(UNO-DC,2012b).Minoriasétnicas,indígenas,pessoascomdeficiênciaeapopulaçãoLGBTpodemtambémestaremsituaçãodevulnerabilidadeemalgunscontextos(InternationalCentre forMigrationPolicyDevelopment,2011).

Háaindaaquelesgruposquesãomaisvulneráveisadependerdamodalidadedeexploração.Porexemplo,adolescentesdosexomasculino(homossexuaiseheterossexuais)sãotraficadosparafinsdeexploraçãosexualemdeterminadoslocais.Pessoascomdeficiênciaspodemestarmaisvulneráveisàmodalidadedotráficoparafinsdeexploraçãonamendicância.Refugiadospolíticoseambientais,pelofatodeestaremnacondiçãoderefugiados,sãomaisvulneráveisqueoutraspessoas(UNODC,2012).

53 OsdadosdoRMA_CREAS2014e2015apresentaraminconsistênciasporissonãoforamutilizadosnesteRelatório.

39

2.3.Dasformasdeexploraçãoedademanda

Osrelatóriosinternacionais,nacionaiseoutraspesquisasrealizadasinformamqueaformadeex-ploraçãomaisidentificadaéasexual.ORelatórioGlobalde2014informaque,nasAméricas,EuropaeÁsiaCentral,ÁfricaeMeioOriente,casosidentificadosdeexploraçãosexualcontamde48a66%doscasos;enquantoque,noSuleLestedaÁsiaenoPacífico,sãooscasosdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravoquesãomaisdetectados–64%doscasos(UNODC,2014).

NoBrasil,aomenosnoquedizrespeitoaotráficointernacional,apredominânciadamodalidadedeexploraçãosexualfoiconfirmadapordadosdaDAC/MRE,reveladosnoDiagnósticoNacionalde2013e2015(SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime2013a;2015),bemcomoemdadosmaisrecentesinformadospelaprópriaDivisão.Foram10vítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexualecincovítimasdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravonoperíodocompreendidoentre2014e2016.54 48

DadosdaSPM,comovistonasTabelas5e6,tambémdemonstramumamaiorincidênciadetráficodepessoas(internoeinternacional)parafinsdeexploraçãosexual.Emtrêsanos,foraminformados488casosdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,dosquais189sãodetráficointernacio-nale299sãodetráficointerno,e257parafinsdetrabalhoescravo.

JáosdadosdaPolíciaFederalparaoperíodode2007a2014revelam285indiciamentos5549em137inquéritosinstauradosportráficointernacionalparafinsdeexploraçãosexual,enquantoquesão1383indiciamentosem754inquéritospelocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,númeromuitosuperioraoprimeiro.

Ressaltamosqueoart.149doCódigoPenal,apesardenãocorresponderaotipopenaldotráficodepessoas,dadaaausênciadelegislação–atéoutubrode2016–quedescrevesseaformadeexplora-çãodotrabalhoescravocomoelementodotipopenaldotráficodepessoas,évistopelateoriacomotipopenalcorrelato(comojámencionadonoitem...desterelatório)poismuitocomumentetemsidoobservadonaspesquisaseinvestigaçõesdecampo(inquéritospoliciais,inspeçõesdosauditoresfis-caisdotrabalhoquesãoosdocumentosiniciaisdosprocessoscriminaisoumeiosdeprova)queasaçõeselementaresdoconceitodetráficodepessoas–recrutamento,aliciamento,alojamento–estãopresentesnoscasosidentificados.Porexemplo,otrabalhadoreschegamaoslocaisdeexploraçãoemgruposcoordenadosporindivíduo/squeosrecruta/mparaotrabalho,vulgarmenteconhecidocomo“gato.”Aindaassim,nãoépossívelafirmarquehásempretráficodepessoasnassituaçõesidentifica-dasdeexploraçãodotrabalho,portantoháqueserelativizarestasinterpretações.5650Nãoéválidotam-bém,paraefeitosestatísticos,somaronúmerodecasosenomeá-lostodoscomocasosdetráficodepessoas.Devem,necessariamente,seranalisadosemseparado.

Nocasodetráficointernacionaldecriançaseadolescentes,foram47inquéritose77indiciamentos.

54 NoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoasaDAC/MREdeclarouoregistrode475vítimasdetráficodepessoas.Osnúmeroparaoperíodode2014a2016forammuitoinferiores.Seriaimportanteumolharmaisqualificadosobreestesdadosou.umaconsultamaisprofundaparacompreenderoporquêdeumareduçãotãosignificativanonúmerodecasos.55 Onúmerodeindiciamentospodesersuperioraonúmerodeinquéritospostoquepodehavermaisdeumindiciadopelocrimedetráficodepessoasporinvestigação.56 Nãoobstante,aInstruçãoNormativan.91doMT,quedispõesobreafiscalizaçãoparaaerradicaçãodotrabalhoemcon-diçõesanálogasàdeescravo,garanteàpessoaencontradaemsituaçãodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodetrabalhotodososdireitosfundamentaisetrabalhistasprevistosnestemesmotextolegal,equiparandoasvítimas.

40

Tabela13.Inquéritos/IndiciamentosporModalidadedeExploraçãosegundoaPolíciaFederal–Dadosde2007a2016

MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/N.PROCEDIMENTO

TráficoInternacional de PessoasparafinsdeExploração

Sexual

Redução a Condição Análoga

àdeEscravo

TráficoInternacional de Crianças e Adolescentes

Comercializaçãode tecidos,

órgãosepartesdocorpohumano

N.Inquéritos 137 754 47 21N.Indiciamentos 285 1.383 77 0

Fonte:SINIC–SistemaNacionaldeInformaçõesCriminais

OutrafontequepodenosajudaracompreenderasformasdeexploraçãomaisoumenosfrequentessãoosdadosdoConselhoNacionaldeJustiça,querevelam,maisumavez,umnúmeroquatrovezesmaiordecasosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,senãovejamosTabelas14e15:57 51

Tabela14.ProcessosCriminais(JustiçaEstadual)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça–dados2014a201658 52

MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/

GRAU DE JURISDIÇÃO

TráficoInternacionaldePessoas

TráficoInternodePessoas

Redução a Condição AnálogaàdeEscravo

1ºGrau 246 259 3.1942ºGrau 209 224 129

Total 455 483 3.493

Fonte:CNJ–JustiçaemNúmerosDigital

57 OsdadosapresentadosnasTabelasdizemrespeitosomenteaonúmerodecasosnovosregistradosnosTribunaisEstadu-aisenosTribunaisFederaisnosanosde2014a2016.Osnúmerosnãocontemplamosprocessosemandamentoanteriormenteaesteperíodo,nemháoregistrocumulativo,ouoestoque,entreosanosde2014e2016.58 Importanteregistrarqueastabelasgeradasinformavamaindaumnúmerode1018processoscriminaisdetráficodepessoas(internoeinternacional)ereduçãoacondiçãoanálogaadeescravosendoprocessadosperanteJuizadoEspecialeTurmaRecursal.Hajavistaambosnãoseremcrimesdemenorpotencialofensivo,acreditamosterhavidoumerrodedigitaçãonoregistrodosdadosporpartedosTribunaisdoAmazonasedoParaná,queregistraramestainformação,portantoexcluímosestenúmerodototal.

41

Tabela15.ProcessosCriminais(JustiçaFederal)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça–dados2014a201659 53

MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/

GRAU DE JURISDIÇÃO

TráficoInternacionaldePessoas

TráficoInternodePessoas

Redução a Condição AnálogaàdeEscravo

1ºGrau 297 50 2.4782ºGrau 73 12 318

Total 370 62 2.796

OTribunalFederalquemaisteveprocessosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravofoioTRFda1°região,quecompreendeosestadosdodoAcre,Amapá,Amazonas,Bahia,DistritoFederal,Goiás,Maranhão,MinasGerais,MatoGrosso,Pará,Piauí,Rondônia,RoraimaeTocantins,com1871processosdos2796.NocasodosTribunaisestaduaisforamregistradosmaiscasosdereduçãoacondiçãoaná-logaàdeescravonoDistritoFederal.

Nocasodocrimedetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,excluindoosestadosdoAmazonaseParaná,hajavistaoprovávelerronoregistrodosseusnúmeros,osestadosdeSãoPauloeMinasGeraisforamosqueacusaramomaiorregistrodeprocessosnoperíodo.

Estadiferençanonúmerodecasos,considerandoquenosmecanismosdeapoioàsvítimassãoidentificadasmaissituaçõesdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,apontaparaasse-guinteshipóteses:

1.Aprevalênciadosesforçosdasinstituiçõesdasegurançapúblicaedajustiçacriminalnoen-frentamentoaotipopenaldoart.149doCódigoPenal,queconsistenocrimedereduçãoacondi-çãoanálogaàdeescravo.60 54

2.Queamaioriadasvítimasdeexploraçãosexualprocuraoué identificadamaiscomumentepelosequipamentosdeassistência(saúde,educação,direitoshumanosedamulher)enquantoqueasvítimasdeexploraçãolaboralnãoprocuramounãoconseguemchegaraestesespaços.

Outrasmodalidades,comootráficoparafinsderemoçãodeórgãos(equiparadoaoart.15daLein.9434/97)sãoraramenteidentificados.SegundooRelatórioGlobal,otráficoparafinsderemoçãodeórgãosconsisteem0.3%doscasosefoidetectadoem12países(UNODC,2014).Alémdepoucoidenti-ficados,ainstruçãoeproduçãodeprovasébastantecomplexa.VejanaTabela13queaPolíciaFederal,entre2007e2016,instauram21inquéritoscomoobjetivodeinvestigararemoçãodeórgãos,masnãoindiciounenhuminvestigado,possivelmenteporfaltadeprovas.

Noquedizrespeitoaonexocausalentreasformasdeexploraçãoeoperfildavítima,osúltimoses-tudosqualitativostêmdestacadoestacausalidade,nãohavendo,portantoumperfil,masperfis(Pedra

59 AtabelageradaparaocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravonosprocessosperanteaJustiçaFederalapre-sentouumprocessoemJuizadoEspecialqueseacreditatersidoumerrodedigitaçãodoTRFda1°região,hajavistanãosercrimedemenorpotencialofensivo,portantoesteumprocessofoiexcluídodototal.60 Nostermosdalegislaçãovigenteatéofinalde2016.

42

J.B.,Alline(Coord.),2016;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013).

Aexemplo,pessoastraficadasdosexomasculinosãomaiscomumenteidentificadasnamodalida-detrabalhoescravo/trabalhoforçado,segundooRelatórioGlobaldoUNODC(2012;2014).OsdadosdaSPMnasTabelas3e4indicamparaestainterpretação.

Nãoaomenos,pesquisanaáreadefronteirarevelouquemulheresestãosendotraficadasparaoBrasilparafinsdetrabalhoescravonaindústriatêxtileparaservidãodoméstica(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013),ouseja,atividadesque,emumasociedadepatriarcal,seriameminentementecon-sideradascomofemininas.

2.4.Doperfildosautores

Jáem2005,pesquisadestacavaas“teiasfemininasformadasporamigas,conhecidas,vizinhaseparentes,tias,sobrinhas,irmãs,sogras,“convidando”,informando,estabelecendoconexões”(SecretariaNacionaldeJustiça,2005:57).Pesquisapublicada,em2008(Hazeu),especificamentesobreotráficodepessoasdoBrasilparaoSuriname,tambémrevelaumamaiorincidênciademulheresaliciadoras.ODiagnósticoNacional2005-2011revelouque,dosdadosregistradospelaPolíciaFederal,foiconstatadamaiorincidênciademulheresaliciadoras(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUni-dassobreDrogaseCrime,2013a).

DadosmaisrecentesdaPolíciaFederal6155reforçamaconotaçãodegênerodocrimedetráficodepessoas,dependendodamodalidadedeexploração.Numuniversode1344pessoasindiciadasportráficodepessoase/outipospenaiscorrelatos,6256hámaismulheresdoquehomensemcasodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual.Jánocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,amaioriadosindiciamentosédehomens.

Tabela16.IndiciamentosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdaPF–Dadosde2007a2016

NÚMERODEINDICIAMENTOS/MODALIDADEDEEXPLORAÇÃO FEMININO MASCULINO TOTAL

N.IndiciamentosporTráficoInterna-cionaldePessoasparafinsdeExplo-raçãoSexual

147 138 285

N.IndiciamentosporReduçãoaCon-diçãoAnálogaàdeEscravo

99 1.284 1.383

N.IndiciamentosporTráficoInterna-cional de Crianças e Adolescentes

32 45 77

61 OsdadosenviadospelaPoliciaFederalcobremoperíodode2007a2016,enãoestãodesmembradosporano.Portanto,trouxemosparaaTabela12osdadosdoperíodocompleto.62 VejaTabela5paraostipospenaiscorrelatos.

43

Diferentemente,dadosdoDEPEN6357revelamquemaishomensdoquemulheresestãopresosportráficodepessoas(SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(2013a),assimcomoosdadosdoRelatórioGlobal(UNODC,2014),segundooqualentresuspeitosecondenados,homensvãode62a72%emulheresvãode38a28%.

Tabela17.PresosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdoDEPEN–Dadosde2014

NÚMERODEPRESOS/MODALIDADEDEEXPLORAÇÃO FEMININO MASCULINO

PresosporTráficodeInternacionaldePessoasparafinsdeExploraçãoSexual 6 230

PresosporTráficoInternodePessoasparafinsdeExploraçãoSexual

0 8

TOTAL 6 238

Estedadorevelaqueoshomenssão,commaisfrequência,alvodeinvestigaçõesecondenações.Podemseramaioriadosautoresdocrimedetráficodepessoas,maséinformaçãoquenãopodesergeneralizadadadaafragilidadedosdados,dentreoutrosfatores.64 58

Dadosdarededeassistênciatambémrevelamalgumasdascaraterísticasdosalgozes,masare-presentatividadeébastanteprecária,domesmomodoqueosdadosdajustiçacriminal,hajavistaasubnotificação.

Tabela18.ProváveisAutoresdaCondutaporSexosegundoMinistériodaSaúde65 59

NÚMERODEPROVÁVEISAU-TORESDACONDUTA/SEXO FEMININO MASCULINO N/I TOTAL

2014 18 72 22 1122015 16 87 31 134

TOTAL 34 159 53 246

O International Centre for Migration Policy Development (ICMPD)destacaasituaçãodaspessoastraficadasquesetornaramaliciadoras:“Redesquetransformampessoasantesexploradasemalicia-doras,emumaestratégiaque,alémdefacilitarocontato,nãoexporiaosverdadeirosfinanciadoresdotráfico”(ICMPD,2011:56).Hazeujáobservavaistoem2008,quandodiziaemsuapesquisasobretráfi-codepessoasdoBrasilparaoSurinameque“emgeralsãooutrasmulheres,quejáviveramsituaçãodetráficoeque“ascenderam”nahierarquiadaorganizaçãocriminosa.Essaascensãosedácomumenteporumnamoro,casamentoouenvolvimentoafetivocomodonodoclubeoualgumfuncionário”(Ha-zeu,2008:85).

63 OsdadosdoDEPENsãosomentedoanode2014.Osdadosreferentesaosanosde2015e2016aindaestãosendopro-cessados.64 Outrofatorquenãonospermitegeneralizaréofatodequeacriminalidadefemininaétemaqueaindaenvolvemuitostabus,dentreestesadiscussãosobreospapéisdohomemedamulhernasociedade.Háteoriasqueafirmamquehámulheresquedelinquem,masquetendoemvistaseupapelpré-determinadonasociedade,estassãocommenosfrequênciaalvodedesconfian-çaedeinvestigaçõesdapolícia.65 OMinistériodaSaúdenãoapresentouestedadoparaoanode2016.

44

Epesquisanaáreadefronteiradestaca,principalmente,aidentificaçãodaprópriavítimacomoagres-sor,numaespéciedeSíndromedeEstocolmo,queéumestadopsicológicodesenvolvidoemvítimasdesequestroesegundooqualavítimaseidentificaesimpatizacomoseuagressor.Éfenômenocomumnoscasosdasvítimastransexuaisdeexploraçãosexual,queacreditamestarpagandoum“preçojusto”pelosprováveisbenefíciosqueterãonolocaldaexploração,taiscomoaprometidacirurgiaderedesig-naçãodesexo.Eatémesmonocasodostrabalhadoresvítimasdetrabalhoescravo,quevêmnoseuexploradorumasaídaparaasuacondiçãodedesempregoouextremapobreza(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).

2.5.Dacausalidadeentreassupostas“rotas”eosníveisdedesenvolvimen-to.Daflexibilidadeedaconstanterenovaçãodomodusoperandi.66 60

Tem-sediscutidoarelaçãoentreasrotasdotráficodepessoas,osfluxosmigratórios,osmodosdeexploraçãoeconômicaeademandaporserviçosebensdeconsumo,eosníveisdedesenvolvimento.AFigura1demonstraqueosmaioresfluxosdepessoastraficadasidentificadastêmorigemnospaísesemdesenvolvimentooupós-conflito,comdestinoparaospaísesdesenvolvidos.67 61

Figura 2 –:Países de Origem e de Destino de Pessoas Trafi cadas

Fonte:UNODC,2014.

Boapartedosfluxosidentificadosestãodentrodeumamesmaregião,ouseja,paísesdeummesmocontinente.Somenteumquartodoscasosdetráficodepessoasaconteceentrediferentesregiões(porexemplo,daAméricadoSulparaaEuropa).

66 Omodus operandi éumaexpressãodolatimquesignificamododeoperação”,quenocontextodotráficodepessoaséamaneirapelaqualosautoresdacondutadotráficodepessoasouosgruposorganizadosoperameexecutamsuasatividades.67 Valenotar,noentanto,queospaísesdesenvolvidostêmtambémumamaiorcapacidadedeidentificareregistrarcasosdetráficodepessoas.

45

Ouseja,osfluxosindicamparaarelaçãocausalentreavulnerabilidadedaorigemdavítimaeainci-dênciadotráfico.

Jánoquedizrespeitoàsrotas,asprimeiraspesquisassobretráficodepessoastinhamcomoobjetivomapeá-las.Umadasprimeiraspesquisasdecamporealizadassobretráficodepessoasidentificou240ro-tasem19estadoseDistritoFederal(Leal&Leal,2002).6862Leal&Leal(2002,71)diziamquebastavaidentifi-car“as cidades próximas às rodovias, portos e aeroportos, oficiais ou clandestinos, ou seja, “os pontos de fácil mobilidade”, que casos de tráfico de pessoas podem ser identificados. As vias utilizadas são as mais diversas, ou quase todas as vias disponíveis: terrestres, aéreas, hidroviárias e marítimas”(Leal&Leal,2002,71).Excep-cionam-seasviasferroviáriasque,noBrasil,raramentetransportampessoas.

Aospoucos,adiscussãosobre“rotas”foiseampliandoeaprimorando.Pesquisasde2002e2004demonstraramque,aparentemente,arotadeterminavaosperfisdaspessoastraficadas.Porexemplo,criançaseadolescentestraficadaseramobservadascommaisfrequêncianasrotasintermunicipaiseinterestaduais,enasrodovias,dadaafacilidadedetrânsitoeaausênciadecontroledaspolícias(Leal&Leal,2002;Colares,2004).APRF,inclusive,iniciousuasoperaçõesdecombateaexploraçãosexualcomoprojetoMapearem2007,apartirdestaconstatação,contribuindotambémparaoenfrentamentoaotráficodepessoas.

Pesquisasqualitativascomeçaramareforçaraexistênciadetráficodepessoasparafinsdeexplora-çãosexual,inclusivedecriançaseadolescentes,emáreadefronteira(SecretariadeDireitosHumanosdaPresidênciadaRepública&AssociaçãoBrasileiradeDefesadaMulher,daInfânciaedaJuventude,2012;SecretariaNacionaldeJustiça,2013).AproximidadegeográficacomospaísesfronteiriçosdaAméricadoSuleogerenciamentoprecáriodasnossasáreasdefronteiracontribuem,semsombradedúvida,paraotráficodepessoase,especialmentedecriançaseadolescentes,nestasregiões.AlinhadivisóriaentreoBrasilealgunspaísesdaAméricadoSuléinexistente.Omarcoéopostodecontroledapolíciaoudareceitafederale,nascidadesgêmeasoutrigêmeas,alinhadivisóriaéumaruadacida-de,semcontrolealgum.Ademais,“cruzarfronteiras”éumatotãoordinárionessasregiõesetãopoucovigiado,quecriançaseadolescentestransitamdeumpaísparaoutroaleatoriamente,semqueadocu-mentaçãonecessáriasejasolicitada.(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).

Ouseja,asrotasmapeadasem2002jánãoerammaissuficientesparadescreverotráficodepessoasnoBrasil.Cadavezmaisseconstruíaahipótesedequeasrotassãotransitórias(ICMPD,2011),queacompanhamoscicloseconômicos,osmodosdeexploração,osfluxosdamobilidadehumana,nãohavendomaisumpadrãoapartirdoséculoXXI,emvirtudedaglobalizaçãoedaatualdimensãodosmovimentosmigratórios.

Fontesquepoderiamfornecerindicadoressobreasrotas,fluxos,modusoperandinoBrasil,seriamosinquéritospoliciaiseosprocessosjudiciais,ondeadescriçãodofenômenocriminalacontececomriquezadedetalhes.Pensandonissoinclusive,aMetodologiaIntegradadeTPfoidivididaemcategoriasevariáveisqueenglobamosmaisvariadosaspectosdofenômenodotráficodepessoas,nasuadimen-sãointernaeinternacional,edaspartesenvolvidas.Eumadascategorias,acategoria“experiênciadotráfico”,visaobterindicadoressobreaexperiênciadocrimeapartirdosenvolvidos,visandocompreen-dercomoasvítimassãorecrutadas,comootransporteéfeitoeaqualtipodeexploraçãoeviolênciaestãosubmetidas.Ouseja,criouvariáveisquepudessemrevelarosmodusoperandi:asrotas,ascarac-terísticaspreferenciaisdasvítimas,asformasdeexploraçãoeviolênciaeosmeiosparaexecutá-las.

68 Acre,Amapá,Amazonas,Pará,Rondônia,Roraima,Tocantins,RiodeJaneiro,SãoPaulo,RioGrandedoSul,Paraná,Bahia,Pernambuco,Ceará,Maranhão,RioGrandedoNorte,MatoGrosso,MatoGrossodoSuleGoiás.

46

Noentanto,vimosqueaspolícias,quandomuito,registramonúmerodeprocedimentos,inquéritosedeindiciados.Damesmaformaajustiçacriminal,quereúnenobancodedadosdoCNJsomenteonú-merodeprocessos,deacordocomostipospenaisprevistosnoCódigoPenalenalegislaçãoespecial.Dessaforma,conclui-sequeosdadosquantitativosouasestatísticascriminaisdisponíveisnoBrasilnãorevelaminformaçõessobrerotasoumodusoperandidocrimedetráficodepessoas.

Nãoobstante,aindaquerevelassem,nãoseriamrepresentativas,tendoemvistaasubnotificação.Bastarefletirsobredoisdoselementosdocrimedetráficodepessoasparasecompreenderquedadosquantitativosprovenientesderegistrosnuncaserãosuficientesparaexplicarasrotasouomodusope-randi:aaçãoeafinalidade(formasdeexploração).

Aaçãodotráficodepessoasindicamobilidade;indicaaexistênciademovimento,deumlugarparaoutro.Ocrimedetráficodepessoassegueadinâmicadamobilidadehumana,queporsuavez,nãotemregra,nãotemumpadrão,mastãosomentefluxossazonaisquesealteramdependendodoseventosdasociedade:fatoreshistóricos(guerras,conflitosinternos),fatoresdanatureza(eventosambientaisqueobrigamaspessoasasedeslocarem),fatoressócioeconômicos(empregooudesemprego,con-diçõesdetrabalho,qualidadedasformaçõesemdeterminadolocal).Alémdisso,ofatoresindividuaistambéminfluenciamnanecessidadededeslocamento(e.g.contextodeviolêncianasfamílias,interes-seemsefazerintercâmbioparaestudos,etc.).

Segue,ainda,adinâmicadomercado.Nopassado,aescravidãoeraumapráticaeconômicaau-torizada.Cruel,maspermitida,eseguiaasnecessidadesdomercado,porrazõesóbvias:aspessoaserammercadoriaseseusesforços/serviçospoderiamsermaisoumenosnecessários.Amesmalógi-casegueocrimedetráficodepessoase,piorainda,nãoháumapredeterminaçãoquantoaoperfildavítimaouumpadrão.Homens,mulheres,criançaseadolescentes,brancos,negros,pardos,indígenas,pessoascomdeficiência,atémulheresgrávidassãoeforamidentificadoscomovítimasdetráficodepessoas.Resumidamente,osregistrosnãoconseguemdimensionaroproblemaoualcançá-loearegraseguirásendoasubnotificação

Doisconceitosentãodevemficarbemclaros:oquesignificademandaeoquesignificaexploração,possivelmenteparaaprevisãodemarcolegal.Aexemplo,ademandaporserviçossexuaispodeinfluen-ciarouimpulsionarotráficodecriançaseadolescentes,mascuidadodevemosterparanãodiscriminaroexercíciodaprostituiçãodeformaregularouasprofissionaisdosexoadultas.Damesmaformaquearelaçãoentredemandaporroupasbarataseotráficodepessoasparafinsdeexploraçãodotrabalhoescravonaindústriatêxtiltemficadocadavezmaisevidentenomundointeiro.

Masnemtodademandapodeimplicaremumasituaçãodetráficodepessoas;portanto,arelaçãocausalnãoéabsoluta.Enemtodasituaçãodeexploraçãodotrabalhoescravoétráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravo.Portanto,areferênciaàscausasdotráficodepessoascontinuasendomaisadequada.Emaisesforçosdevemserinvestidosnosentidodeseidentificarformasdeexploração.

Odebateinternacionalsobreambosostemassegue,apesardequesuadefiniçãoéessencialparaodesenvolvimentodeadequadaspolíticaspúblicasdeenfrentamentoaotráficoeàexploração(Vogel2017,Cyrus,2015).

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2.6.Dasubnotificaçãocomoaúnicacerteza

Onúmerodecasosdetráficodepessoasidentificadosaolongodaúltimadécadanosmaisdiversospaísesdomundotemsidomotivodepolêmica.CifrascomomilharesdevítimasemilhõesdedólarestêmsidolevantadasapartirdeestimativasfeitaspororganismosinternacionaiscomoaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)eoEscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC)natentativadesemensurarofenômeno.

Noentanto,pontopacíficoentreospesquisadoresegestorespúblicoséqueoscasosquechegamaosistemadesegurançapúblicaejustiçacriminalsãosomenteapontadoiceberg,sendoasubnotifi-cação,dentreoutrasquestõesapontadas,fatorquedificultaaidentificaçãodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.Alémdoque,osistemadejustiçacriminalfuncionacomoumfunil,ondeonúmerodecasosidentificadospelapolíciaéinferioraonúmerodecasosreais,onúmerodeprocessosdistribu-ídosnopoderjudiciárioétambéminferioraonúmerodeinquéritospoliciaisinstauradoseonúmerodecondenaçõeschegaaserdezvezesmenorqueonúmerodecasos.

Paraseexemplificar,oprimeiroRelatório Nacional de Tráfico de Pessoasrevelaqueonúmerodein-quéritospoliciaisinstauradosportráficointernacionaldepessoaséduasvezessuperioraonúmerodeprocessosjudiciaisdistribuídos.Nocasodotráficointerno,adiferençaédecercadeoitovezes.Revelatambémqueonúmerodeprocessosjudiciaisdistribuídospelocrimederedução análoga à condição de escravoécercadecincovezessuperioraocrimedetráficodepessoas(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(2013a).Destaforma,pontodedestaqueéadificuldadedesemensurarotráficodepessoaseocuidadoextremoquesedeveterquandodadisse-minaçãodestesdados.

Dopontodevistadosdireitoshumanos,noentanto,éessencialenfrentaraexploraçãodossereshumanos,otrabalhoforçado,aescravidão.Nãodeveser,portanto,primordialsedescobriromeiopeloqualaspessoaschegaramnaquelacondição.Ouseja,sesãovítimasdetráficodepessoas,sesãomigrantescontrabandeadosouemsituaçãoirregular,sesãomigrantesdemaneirageral.Amaneiracorretadeseprosseguir,aomenosdopontodevistadosdireitoshumanos,éinvestiresforçosefocarnaspolíticasdeenfrentamentoàsconsequênciasdotráficodepessoaseaotrabalhoescravo.(Wijers,2015).

Aguisadeconclusão,resumidamente,umavezqueocrimedetráficodepessoasésubnotificado,osdadosnuncaserãoumretratodarealidade.Oquesabemos,porora,sobreestaviolaçãodedireitohumano,ébastantementesuficienteparaquepossamosinvestiresforçosnoseuenfrentamento.

Compreender,estudar,levantardadossobretráficodepessoascontinuasendoimportante,masnãomaisdoqueosinvestimentosquedevemserfeitosnapolíticadeenfrentamento,hajavistaqueháduascondiçõessinequanonnestecrime:avulnerabilidadedasvítimaseasubnotificação.

48

NOTAS FINAIS E RECOMENDAÇÕESFoivistoqueasdificuldadesparasemensurarotráficodepessoasnoBrasilsãograndes,apesar

dasiniciativasnointuitodeaprimorá-las.Vimosqueacoletadedadosdeenfrentamentoaotráficodepessoascontinuasendoumdesafio,porrazõesdiversas:

• Manualidade:avalidade/qualidadedosdadosquantitativossobretráficodepessoasnoBrasilé,ainda,bastantequestionável.Observa-se,porexemplo,amanualidadenoregistrodosdadosemalgumasinstituiçõesouamanualidadenomomentodesegerarrelatórios;

• AusênciadeVariáveisimportantes:apesardaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTPsu-gerindoummínimodevariáveis,nãohásistemasdeinformaçãocapazesderegistrardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasadequadamenteouquecontemplesuascaracterísticas,taiscomocaracterísticasdavítima,doagressoredoprópriocrime(como,porquê,onde,dentreoutrasperguntasquesãoimportantesparadescreverofenômenocriminal).Comoexemplo,hásistemasquenãoregistramnemosexonemaidadedavítima,ouseja,variáveisbásicasquecontribuemparaoconhecimentodosfenômenoscriminaiscomootráficodepessoas.Particu-larmente,ossistemasdajustiçacriminalsãoosmaisprecáriosemtermosdedetalhamento;

• Diferençasnosconceitos:assimcomoobservadonoRelatórioNacionalquecobriuoperíodode2005a2011,cadaconceitoutilizadopodeserdiferenteemcadasistemadeinformação.Pegan-dooexemplomaissimples,oconceitodetráficodepessoasutilizadopelapolícianãoéomes-moqueéempregadopeloMinistériodoTrabalhooupelasinstituiçõesqueassistemàsvítimas,impossibilitandoacomparação.OconceitodetráficodepessoasutilizadopelasinstituiçõesdajustiçacriminaléodoCódigoPenal,jáoempregadopelasinstituiçõesdeassistênciaàsvítimassegueoProtocolodePalermoeaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas;

• Diferençanosperíodosdecoleta:asinstituiçõesestãoemdescompassotemporal.Háinstitui-çõesquenãoconcluíramaindaotratamentodosdadoscolhidosem2015,porissonãopublici-zaram;enquantoqueháoutrasinstituiçõesquejágeraramrelatóriosatédosdadoscolhidosnoprimeirosemestrede2017;

• Formainadequadadeapresentaçãodosdados:muitasinstituiçõesaindafornecememseusre-latórios,númerosexatosenquantodados.Ocorretoparaefeitodeanáliseoucomparabilidadeseriamasporcentagensouastaxas,porexemplo,porXmilhabitantes.NãosepodecompararonúmerodecasosdetráficodepessoasregistradosemSãoPaulocomonúmerodecasosregis-tradosnoAcre,poisadiferençapopulacionalentreestesdoisestadosémuitogrande;

• Margemdeerro:nossistemasemquehouvealgumavançonoquedizrespeitoaampliaçãodevariáveisparaexplicarofenômeno,os“nãoinformados”aindaconstituemumagrandeparcela,contabilizandoaté40%.Paraefeitodecálculosestatísticos,os“nãoinformados”deveriamserex-cluídosdaamostranahoradoscálculos,masistoimplicarianareduçãodouniversoparapoucomaisdametade.Ouseja,amargemdeerroparaqualqueranálisedefrequênciaoucomparativaémuitogrande,nãodevendoserfeitaporquepodeinduziraerrograve;

• Ausênciadeperiodicidadenolevantamentodasinformações:nãoháperiodicidadenaanálise

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dosdadosdetráficodepessoaspelasprópriasinstituições.Aanálise,aindaqueinterna,aconte-cemotivadapordemanda,oqueimplicanaausênciadeconhecimentosobreosdadoscolhidos,naausênciadeanálisedaqualidadeoucríticadosseusprópriosdadosparaaprimoramento;

• Inconsistênciadosdados:ainconsistênciadosdadoséumameraconsequênciadosproblemasaquilistados.Foiobservado,porexemplo,queonúmerototaldecasosdifere,nummesmoano,adependerdavariávelestudada.

Nãoobstante,ossistemasdasinstituiçõesdesegurançapúblicaejustiçacriminalsãoconstruídosnointuitodeotimizarassuasnecessidadesoperacionais(UnitedNationsOfficeonDrugsanCrime,2009).Portanto,asestatísticasqueeventualmentesejamgeradasdessessistemasofereceminforma-çãodiretasobreasatividadesdessesórgãos–sejapolícia,poderjudiciárioousistemapenitenciário–esomenteindiretasobreosfenômenospesquisados,taiscomoonúmerodeeventoscriminosos,vítimasouagressores.Nãoháumapreocupaçãodiretacomaproduçãodeestatísticascriminaisconcomitan-tementearealizaçãodasatividadesdessesórgãos,masprincipalmentederegistraroandamentodassuasatividadesousuaproatividade.

Masháaquelas instituiçõesque,dealgumaforma,quantificamosfenômenossociaisecaracte-rísticasdaspessoasenvolvidas.ODisque100eoLigue180geramestatísticassobredeterminadosfenômenossociais,inclusiveotráficodepessoas,esobreascaracterísticasdasvítimaseagressoreseasformasdeexploração.Damesmaforma,dosRelatóriosdeAtendimentoMensaisdosCREAS,pu-blicadospelooMDS/SNAS,podemserextraídosdadossobretráficodepessoas.OMT/SITtambémregistradadosdetrabalhadoresresgatados,etc.Finalmente,oSINANdoMSéumdossistemascomomaiornúmerodevariáveissobreofenômenodotráficodepessoasedaspessoasenvolvidas.

Vimos,noentanto,quedesdeoanode2012,aSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania,emcoo-peraçãotécnicacomoEscritóriodasNaçõesUnidasdeDrogaseCrimeeoapoiodeconsultores,tempreparadoepublicadoRelatóriosNacionaissobreTráficodePessoas.Forampublicadostrêsrelatórios:umrelatóriocomdadosde2005a2011(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUni-dassobreDrogaseCrime,2013a),umrelatóriocomdadosde2012(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2014),eoúltimocomdadosde2013(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2015).

Osrelatóriosconsistemnolevantamentomanualdedadosdetráficodepessoasjuntoaosórgãosdasegurançapúblicaejustiçacriminal,especialmente,mastambémjuntoaoutrosórgãosquepossamdealgumaformacontribuirparaadescriçãoequantificaçãodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.

Dizemosqueolevantamentoémanual,poissuametodologiaconsistenoenviodeofíciosparaestesórgãos,solicitandoosdadosquetenhamdisponíveissobretráficodepessoas.EaelaboraçãodestesRelatóriostemsidobemartesanalhajavistaque,pelaformacomoosdadossãogerados,porsistemasdistintos,6963quenãosecomunicam,quenãointeragem,cujasvariáveisesuasrespectivasdefiniçõessãotambémbemdistintas,nãopermitequalqueranáliseestatística,nemdefrequência.Nãopermitemaindacomparaçõesouanálisesmultivariadascomummínimodeconfiabilidade.

69 Istoquandogeradosporsistemasdeinformação,poisháórgãoscujosdadossãoaindacontabilizadosmanualmenteouemplanilhasdeexcel.

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Obviamentequeoesforçoéválido,poralgumasrazões:

1.Primeiroporquedestacaaprecariedadecomaqualaindasetrata,noBrasil,oregistrodedadoscriminaisnoformatoquantificado,tendocomoresultadoafragilidadedaproduçãodeinforma-çõeseconhecimentonestasearaeafragilidadedasestatísticascriminais;

2.Finalmente,porquedescrevem,aindaqueprecariamente,ofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.Sãoestesrelatóriosquantitativosmaisrecentesqueinformam,porexemplo,operfildasvítimas,minimamenteidadeegênero,assimcomooperfildoagressor,onúmerodeprisõesreali-zadaspelocrimedetráficodepessoas,asmaisfrequentesformasdeexploração.Sãorelatóriosque,portanto,guardamsuaimportância.

Vimostambémque,comoobjetivodeaprimoraracoletadedadoseinformaçõessobretráficodepessoasnoBrasil,foiidealizadaeelaboradaaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas.NostermosdaprópriaMetodologia:“parasuperar,aindaqueparcialmente,osobstáculosaoconhecimentodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil,éindispen-sávelaintegraçãodosórgãosresponsáveispeloseuenfrentamento,mas,principalmente,aintegraçãodosbancosdedadosoudossistemasdeinformaçãoexistentesnaáreadeenfrentamentoaotráficodepessoas.”(SecretariaNacionaldeJustiça,2013b:12).

APolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,inclusive,prevêemseuart.8:

“Art. 8º. Na implementação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, caberá aos órgãos e entidades públicos, no âmbito de suas respectivas competências e con-dições, desenvolver as seguintes ações: (...)

m) organizar e integrar os bancos de dados existentes na área de enfrentamento ao tráfico de pessoas e áreas correlatas;(...).

EposteriormenteaelaboraçãodaMetodologiaIntegradaeaaprovaçãodaPolíticaNacional,aLein.13.344/16tambémpreviuemseuart.10que“oPoderPúblicoéautorizadoacriarsistemadeinforma-çõesvisandoàcoletaeàgestãodedadosqueorientemoenfrentamentoaotráficodepessoas.”

Nenhumdestesdispositivoslegaisfoisuficiente.Asinstituiçõescontinuamcoletandodadosasuama-neira.Nãoháintegraçãoentreasinformaçõeseasistematizaçãodosdadosdetráficodepessoassóacon-teceeventualmente,aexemplodopedidodedadospelosMinistérios,nãocomoestratégianecessáriadeanálisecriminalparaoconhecimentodosfenômenoseaelaboraçãodepolíticaspúblicasmaisadequadas.

Finalmente,vimosqueestenãoéumdesafiosódoBrasil.PaísesdaEuropapassamporproblemasparecidosnomomentodecoletadedadossobretráficodepessoas.

Destaforma,recomenda-se:

• ElaboraçãodeRelatóriosBianuaisdeTráficodePessoascomosdadosquantitativosdisponíveis,taiscomoestequeseapresenta,noentanto,integrando,comométodoparaaanálisedosdadosquantitativos,atriangulação,ouseja,autilizaçãodeoutrasfontesdeinformaçãotaiscomoentre-vistas(semprequepossívelcomvítimas),gruposfocais(especialmentecomatoresestratégicosdopoderpúblico)erevisãobibliográficadepesquisadecampooutroraconduzidas;

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• ImplementaçãoeavaliaçãodaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInforma-çõessobreTráficodePessoas.Viu-sequeaMetodologiaIntegradadeTPnãoestásendoimple-mentada,apesardosavançosaomenosnoquedizrespeitoaampliaçãodasvariáveis,dossis-temasdeinformaçãodealgumasinstituições.AMetodologiaIntegradainclusivepassouporumprocessoderevisãologoapósapublicaçãodaLein.13.344/16,atualizando-aanovaprevisãodotipopenaldotráficodepessoas.Certamente,aMetodologiaIntegradapoderiaserométododosistemadeinformações,visandoàcoletaeàgestãodedadosqueorientemoenfrentamentoaotráficodepessoas,previstonoart.10damesmalei;

• Indicaçãodeum/umaRelator/aNacionalquecoletasse,acadabiênio,emparaleloaelaboraçãodoRelatórioNacionaldeDadosQuantitativos,dadosqualitativosdetráficodepessoas.Osrela-toressãopessoascomaltograudeexpertisesobredeterminadosassuntosque,comoapoiodarededeenfrentamentoaotráficodepessoas,incluindoatoresgovernamentaisenãogover-namentais,colheminformaçõessobretendênciasnotráficodepessoas,medemosresultadosdasmedidasdeenfrentamentoecoletamestatísticasquantitativascomoapoiodasongseso-ciedadecivilemgeral.Estesapresentamumanovadimensãoparaacoletadedadosdetráficodepessoas;

• Criaçãodeindicadoresinstrumentaismaisadequados,quepudessemmensurarasatividadesdeenfrentamentoaotráficodepessoasdeformamaisapropriadaeque,aindaqueindiretamente,pudessemmensurarocrime;

• Realizaçãodecapacitaçãoparaonovomarcolegalquealterouadefiniçãodotráficodepessoas,ampliandoasformasdeexploração;

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