relatório de dados · tabela 14 - processos criminais (justiça estadual) por modalidade de...
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Brasília, dezembro de 2017
RELATÓRIO NACIONAL SOBREO TRÁFICO DE PESSOAS:
DADOS 2014 A 2016
Este projeto é financiadopela Uniao Europeia
EXPEDIENTE
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Presidente da RepúblicaMichel Temer
Ministro de Estado da Justiça e Segurança PúblicaTorquato Lorena Jardim
Secretário Nacional de JustiçaAstério Pereira dos Santos
Diretor do Departamento de Políticas de JustiçaJorge da Silva
Coordenadora de Enfrentamento ao Tráfico de PessoasRenata Braz Silva
Equipe técnica de Enfrentamento ao Tráfico de PessoasAlyne Antunes Diogenes BessaJohnes dos Santos SalustianoMaria Celva Bispo dos ReisMaria Fernanda Jorquera BricenoMarina Soares Lima BorgesNatasha Barbosa Mercaldo de Oliveira
ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME (UNODC)
Representante do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no BrasilRafael Franzini
Coordenador da Unidade de Estado de DireitoNívio Nascimento
Oficial de ProgramaFernanda Patricia Fuentes Munoz
Consultora UNODCAlline Pedra Jorge Birol (Doutora)
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD)
Representante-Residente Interino do PNUD no BrasilJosé Eguren
Representante-Residente Assistente e Coordenadora da Área ProgramáticaMaristela Baioni
Chefe de Operações para o BrasilCaroline Brito Fernandes
Chefe da Unidade de Paz e GovernançaMoema Freire
SUMÁRIO
Resumo 10
1. Introdução 12
1.1.NotasSobreoTráficodePessoas 12
1.2.MarcoLegaleConceitual(NacionaleInternacional)doTráficodePessoas 13
1.3.QuantificandooTráficodePessoas–ParteI:AsFontesdeInformação 15
1.3.1.DasEstatísticasdoPoderJudiciárioeoTráficodePessoas 16
1.3.2.DasEstatísticasdoSistemaPenitenciárioeoTráficodePessoas 17
1.3.3.DasEstatísticasdaPolíciaeoTráficodePessoas 18
1.4.AlémdasInstânciasdaJustiçaCriminal:OutrasFormasdeseCaracterizaroTráfico
dePessoas 20
1.5.QuantificandooTráficodePessoas–ParteII:ConsideraçõesacercadasEstatísticas
CriminaisedeEnfrentamentoaoTráficodePessoas 26
1.6.MetodologiadeConstruçãodoRelatórioNacionaldeTráficodePessoas–
Dados2014a2016 29
2. Dorelatórionacionaldetráficodepessoas:Principaisconstatações 32
2.1.EsclarecimentosIntrodutóriosparaainterpretaçãodosdados 32
2.2.Dainexistênciadeumperfilespecíficodevítimaedacondiçãodevulnerabilidade
destas 33
2.3.Dasformasdeexploraçãoedademanda 39
2.4.Doperfildosautores 42
2.5.Dacausalidadeentreassupostas“rotas”eosníveisdedesenvolvimento.
Daflexibilidadeedaconstanterenovaçãodomodusoperandi. 44
2.6.Dasubnotificaçãocomoaúnicacerteza 47
Notasfinaiserecomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - VariáveiscontidasnosSistemasdeInformação/RegistrosManuaisdasinstituiçõespesquisadas 24
Tabela 2 - AtoresdaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas 29
Tabela 3-AtoresdaRededeAssistênciaàsVítimasdeTráficodePessoas 29
Tabela 4 -TipoPenaldoTráficodePessoassegundooCódigoPenal(atédezembrode2016) 30
Tabela 5 -TiposPenaisCorrelatosaoTráficodePessoas 32
Tabela 6 -PerfildaVítima-SexoversusModalidadedaExploraçãoSexualsegundodadosdoLigue180 34
Tabela 7 -PerfildaVítima-SexoversusModalidadedoTrabalhoEscravosegundodadosdoLigue180 34
Tabela 8 -PerfildaVítima-SexosegundodadosdoMinistériodaSaúde 35
Tabela 9 -PerfildaVítima-SexosegundodadosdoDisque100 35
Tabela 10 -PerfildaVítima-IdadesegundodadosdoMinistériodaSaúde 36
Tabela 11 -PerfildaVítima-IdadesegundodadosdoDisque100 36
Tabela 12 - PerfildaVítima-NacionalidadesegundodadosdaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)doDisque100 37
Tabela 13 -Inquéritos/IdiciamentosporModalidadedeExploraçãosegundoaPolíciaFederal-Dadosde2007a2016 40
Tabela 14 -ProcessosCriminais(JustiçaEstadual)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça-dadosde2014a2016 40
Tabela 15 -ProcessosCriminais(JustiçaFederal)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça 41
Tabela 16 -IndiciamentosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdaPF-Dadosde2007a2016 42
Tabela 17 -PresosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdoDEPEN-Dadosde2014. 43
Tabela 18 - ProváveisAutoresdaCondutaporSexosegundoMinistériodaSaúde 43
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - ElementosdoTráficodePessoas 14
Figura 2 - PaísesdeOrigemeDestinodePessoasTraficadas 44
CENSO SUAS–CensodoServiçoÚnicodeAssistênciaSocial
CENTROSPOP–CentrodeReferênciaEspecializadoparaPopulaçãoemSituaçãodeRua
CETP–CoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas
CNJ –ConselhoNacionaldeJustiça
CNMP–ConselhoNacionaldoMinistérioPúblico
CPI–ComissãoParlamentardeInquérito
CRAS–CentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial
CREAS–CentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial
DAC–DivisãodeAssistênciaConsular
DANTPS–DepartamentodeVigilânciadeDoençaseAgravosnãoTransmissíveise
PromoçãodaSaúde
DEMIG–DepartamentodeMigrações
DEPAID–DepartamentodePesquisaeAnálisedaInformação
DEPEN–DepartamentoPenitenciárioNacional
DETRAE–DivisãodeFiscalizaçãoparaErradicaçãodoTrabalhoEscravo
DPJUS–DepartamentodePolíticasdeJustiça
DPU–DefensoriaPúblicadaUnião
DRCI–DepartamentodeRecuperaçãodeAtivoseCooperaçãoJurídicaInternacional
ICMPD-InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment(CentroInternacionalpara
oDesenvolvimentodePolíticasMigratórias)
IOM–InternationalOrganizationforMigration(OrganizaçãoInternacionalparaas
Migrações)
IPEA–InstitutodePesquisaEconômicaAplicada
MDH–MinistériodosDireitosHumanos
MDS–MinistériodoDesenvovlimentoSocial
MJSP–MinistériodaJustiçaeSegurançaPública
MPF–MinistérioPúblicoFederal
MRE–MinistériodasRelaçõesExteriores
MS–MinistériodaSaúde
LISTA DE ABREVIATURASE SIGLAS
MT–MinistériodoTrabalho
OIT–OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho
PAEFI–ServiçodeProteçãoeAtendimentoEspecializadoaFamíliaseIndivíduos
PF–PolíciaFederal
PFDC–ProcuradoriaFederaldosDireitosdosCidadãos
PNUD–ProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento
DPRF–DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal
RMA–RegistroMensaldeAtendimentos
SDH–SecretariadeDireitosHumanos
SENASP–SecretariaNacionaldeSegurançaPública
SINAN–SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação
SINESP–SistemaNacionaldeInformaçõesdeSegurançaPública,Prisionaisesobre
Drogas
SINIC–SistemaNacionaldeInformações
SINPRO–SistemaNacionaldeProcedimentos
SIT –SecretáriadeInspeçãodoTrabalho
SNAS–SecretariaNacionaldeAssistênciaSocial
SNJ–SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania
SPM–SecretariaNacionaldePolíticasparaMulheres
SUSP–SistemaÚnicodeSegurançaPública
SVS–SecretariadeVigilânciaemSaúde
TP–TráficodePessoas
VIVA–SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes
UNODC –UnitedNationsOfficeonDrugsandCrime(EscritóriodasNaçõesUnidas
sobreDrogaseCrime)
10
RESUMOOtráficodepessoas,nostermosdalegislaçãobrasileiramaisrecente1,consisteem“agenciar, aliciar, recrutar,
transportar,transferir,comprar,alojarouacolherpessoa,mediantegraveameaça,violência,coação,fraudeouabu-so,comafinalidadede:I-remover-lheórgãos,tecidosoupartesdocorpo;II-submetê-laatrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravo;III-submetê-laaqualquertipodeservidão;IV-adoçãoilegal;ouV-exploraçãosexual.Estaéaprevisãolegalouotipopenalquedefineascondutasespecificadasnoart.149-AdoCódigoPenal,enquantocrime.
Alémdalegislaçãonacional,existeaprevisãointernacionaldoconceitodetráficodepessoas,quenostermosdoProtocolodePalermoé“orecrutamento,otransporte,atransferência,oalojamentoouoacolhimentodepes-soas,recorrendoàameaçaouaousodaforçaouaoutrasformasdecoação,aorapto,àfraude,aoengano,aoabusodeautoridadeouàsituaçãodevulnerabilidadeouàentregaouaceitaçãodepagamentosoubenefíciosparaobteroconsentimentodeumapessoaquetenhaautoridadesobreoutraparafinsdeexploração.Aexplora-çãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeexploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”
Marcosregulatóriosdefinidos,énecessárioconheceradimensãodofenômeno.
Tráficodepessoaséumdoscrimessubnotificados,ouseja,cujoíndicededenúnciasaosistemadese-gurançapúblicaouaoutrosintegrantesdarededeenfrentamento,ébaixo,porrazõestaiscomooreceiodavítimadeserdiscriminadaouincriminada,avergonha,odesconhecimentodesuacondiçãodevítima,afaltadeinformaçãosobreosmecanismosdedenúnciaeomedoderepresáliasporpartedoagressor.Étambémumcrimepraticadoàsescondidas,oudissimulado,praticadodebaixodosnossosnarizes,masdeformaquenãosejafacilmenteidentificado.
Afaltadeconhecimentodosprofissionaisqueatendemasvítimasdetráficodepessoasemreconhecê--lascomovítimasétambémumdosfatoresquecontribuiparaqueesseeventocriminosopassedesperce-bido.Ouseja,aindaqueo/aofendidoacionedealgumamaneiraosistemadesegurançapúblicaoujustiçacriminal,seestenãoestivercapacitadoparareconhecê-lo/lacomovítimadetráficodepessoas,atendê-lo,eassisti-lo/la,ofenômenocontinuaránacriminalidadeoculta.
Finalmente,quandoessanotíciadecrimee/ousuavítimachegamnosistemadesegurançapública,najustiçacriminalouemoutrainstituiçãodarededeenfrentamento,etambémquando,finalmente,avítimaéidentificada,osistemadeveestarbempreparadoparaatenderessapessoaepararegistrarcorretamenteoeventocriminoso,fazendocomqueosdadosfornecidosporesteouestapossamsetransformareminfor-maçãoe,posteriormente,conhecimentosobreofenômeno.Ouseja,umadasprincipaisferramentasparaaimplementaçãodeumapolíticapúblicaéacoletadedadoseaproduçãodeestatísticas,quetransformadoseminformação,geramconhecimentosobrearealidadeepermitemoaprimoramentodaspolíticaspúblicas.Podem,inclusive,servirdeferramentade“accountability”dosistemadejustiçacriminal(Lima,2009,66).
Masestalógicanãoécompletamenteverdadeira.Sim,ébemverdadequeváriosavançosnossistemasdesegurançapúblicaedajustiçacriminaltêmsidoregistrados.Há,porexemplo,umapreocupaçãomaiordasdiver-sasinstâncias,estaduaisefederais,edasdiversaspolícias,militar,civilefederal,emoferecerumatendimentohumanizadoaoscidadãosqueprocuramessesserviçoseemregistraradequadamenteainformaçãofornecida,nointuitonãosomentedecolaborarcomostrabalhosdeinvestigaçãodapolíciajudiciária,mastambémdereunirdadosconfiáveisemaispróximosdarealidade.Masasiniciativasaindaestãopulverizadasedesarticuladas.
Somadaaessadesarticulação,aconstanteconfusãoentretráficodepessoas,contrabandodemigranteseimigraçãoirregular,alémdaconfusãoentreoqueseriatrabalhoescravo,servidão,exploraçãosexualouexercíciodaprostituição,fazcomqueofenômenofiqueaindamaisdesconhecido.
1 Lei n. 13.344 de 06 de outubro de 2016 que alterou o art. 149 do Código Penal.
11
Porvezes,vítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexualsãoidentificadascomoimigrantesilegaisqueestãoexercendoaprostituição.Issoseagravanotráficointernodevidoaausênciadefronteirasedeinstânciasdecontroleàliberdadedelocomoção,permitindoquerecrutadores,aliciadoresetraficantestransitemcomsuasvítimaspeloterritórionacionalcomumacertafacilidade.
Odesconhecimentoserefletenasestatísticascriminaisque,muitotímidas,nãoretratamofenômenodotráficodepessoasadequadamente,fazendocomqueondeanosapósoDecretoqueaprovouaPolíticaNacionaldeEnfrenta-mentoaoTráficodePessoasaindanãotenhamosadimensãodaincidênciadotráficodepessoas2noBrasil.
Feitas estas considerações, oMinistériodaJustiça eSegurançaPública (MJSP), atravésdaSecreta-riaNacionaldeJustiçaeCidadania,emaisespecificamentedaCoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas, temenvidadoesforçoshercúleos,desdeaaprovaçãodoDecretonº5.948/06,de26/10/2006,queinstituiuaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,paraproduziresta-tísticas,estudos,análises,ouseja,conhecimentosobreofenômenodotráficodepessoasinternoeinterna-cionalnoBrasil.EsteRelatórioéumdestes,cujointuitofoiodesistematizarosdadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasnosúltimosdoisanos,cobrindooperíodode2014a2016.
Oobjetivoprincipalfoiodeanalisarosdadossecundários,especialmenteoscoletadosedisponibiliza-dospelasinstituições3quefizerampartedaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas4
Nãomenos,esterelatórioservecomoumtermômetroquantoaimplementaçãodaMetodologia Integra-da de TP,postoquefezpartedoseuprocessodeelaboraçãoacoletadeinformaçãojuntoaosórgãosquefizerampartedesuaconstruçãoeassinaramProtocolodeIntenções.
Trazaindaalgumasconsideraçõessobreindicadores,dados,estatísticascriminaisefontesdedadosdetráficodepessoasnoBrasil,comoobjetivodeauxiliaroleitornainterpretaçãodoprópriorelatório,considerandoqueaapresen-taçãodosdadosdisponíveisnãorefletearealidadedofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.E,finalmente,trazrecomendaçõesparaoaprimoramentodacoletadedadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasnoBrasil.
OrelatórioéfrutodecooperaçãotécnicanoâmbitodoProjetoBRA/015/007,firmadoentreaSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadaniaeoProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD),comaparticipaçãodoEscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC).
Desejamosumaboaleitura!
2 Decreto nº 5.948/06, de 26/10/2006.3 VejaosatoresnaTabela2.AlistaelencaasinstituiçõesquefizerampartedaconstruçãoeassinaramProtocolodeInten-çõesem01deabrilde2014.Outrasinstituiçõesgovernamentais-MinistériodoDesenvolvimentoSocial/SecretariaNacionaldeAssistênciaSocial/DepartamentodeProteçãoSocialEspecial(MDS/SNAS/DPSE);MinistériodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissíveis(MS/SVS/CGDANT);MinistériodasRelaçõesExteriores/DivisãodeAssistênciaConsular(MRE/DCA)-eOrganismosInternacionais-EscritóriodasNaçõesUnidasdeDrogaseCrime(UNODC);OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)-participaramdaconstrução,masnãofirmaramProtocolodeInten-çõespoisoobjetivodaMetodologiafoiodeintegrarasinstituiçõesdosistemadesegurançapúblicaejustiçacriminal.Dequalquersorte,foramsolicitadosdadosasseguintesinstituiçõesquefazempartedarededeatendimentoàsvitimasdetráficodepesssoas:MinistériodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissí-veis(MS/SVS/CGDANT);MinistériodasRelaçõesExteriores/DivisãodeAssistênciaConsular(MRE/DCA);MinistériodoDesenvolvi-mentoSocial/SecretariadeAvaliaçãoeGestãodaInformação(MDS/SAGI).ASAGIdoMDSéaresponsávelpelatabulaçãoeanali-sedosdadosrecolhidospelasSecretariasdoMDS,inclusiveaSecretariaNacionaldeAssistenciaSocial(SNAS)queficaafrentedoatendimemtoàsvítimasatravésdosCentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial(CRAS)eCentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial(CREAS).4 DoravanteMetodologia Integrada de TP. A Metodologia Integrada de TPtemoobjetivodesuperarosobstáculosaoconhe-cimentodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil,coordenandoosórgãosresponsáveispeloseuenfrentamentonoâmbitodoSistemadeSegurançaPúblicaeJustiçaCriminal,deformaqueseussistemasdeinformaçãopossamcoletarosmesmostiposdedadosnoquedizrespeitoaotráficointernoeinternacionaldepessoas.Viadeconsequência,éobjetivodaMetodologia Integrada de TP,ocompromissodequeessasinstituiçõespossamgerarrelatóriosestatísticosconfiáveis,proporcionandoacompreensãodotráficodepessoasnoBrasileaformulaçãodepolíticaspúblicasmaisresponsivasaofenômeno.
12
1. INTRODUÇÃO1.1.NotasSobreoTráficodePessoas
TráficodePessoaséumadasmaisantigasformasdeviolaçãodedireitoshumanos.Registroshistóricosdemonstramque,desdeacolonizaçãodasAméricasatéaaboliçãodaescravatura,ne-grosafricanoseram transportadosdeseuspaísese forçadosa trabalhar emvários lugaresnoterritóriobrasileiro.Indígenastambémforamvítimasdeexploraçãoesujeitosaescravidãonessemesmoperíodo(Fausto,2008).Noentanto,nessaépoca, tantootransportecomoaexploraçãodestessereshumanoserampermitidosporlei.
DandoumsaltoparaoséculoXXI,comaexpansãodaglobalizaçãoeaintensificaçãodamo-bilidadehumana,observa-seoressurgimentodotransportedepessoasparafinsdeexploração,sendocodinomedotermo“tráficodepessoas”aexpressão“escravidãodostemposmodernos”.Ouseja,cercade130anosapósaaboliçãodaescravaturanoBrasil,apráticacontinua,fazendo-nosrelembrarqueestaéumadasformasdeviolaçãodedireitoshumanosquenuncadeixoudeexistir.5
Razõesparaaperpetuaçãodestaformadeviolênciaseriam:(a)diferençaseconômicasentrepaísesdesenvolvidosepaísesemdesenvolvimento,emtransiçãooupós-conflito,oque levaaspessoasadeixaremseuspaísesdeorigemembuscademelhoresoportunidades(Dijck,2005);(b)políticasmigratóriasmuitorestritasnospaísesdesenvolvidosquerecriminamediscriminamomigrante(Dijck,2005);e(c)relativaineficáciadajustiçacriminalquenãoestáaindapreparadaparaidentificareenfrentarassituaçõesdetráficodepessoas(Dijck,2005).Demandaporserviçosse-xuaiseoutrosserviços,taiscomoserviçosdomésticosenosetordeturismo,atuamcomofatoresdeatraçãoparaospaísesdedestino,assimcomoaviolênciafamiliar,odesemprego,problemasfinanceiros,dentreoutros,atuamcomofatoresdeexpulsãonospaísesdeorigem(Dijck,2005;Pe-draJ.B.,2008).
Observa-se,noentanto,queacondiçãodevulnerabilidadeéofatorquemaiscomumentelevaaspessoasasesubmeteremasituaçõesdetráfico.
Eo tráficodepessoasenquantoviolaçãodedireitohumanonuncaganhou tantavisibilidadecomonosúltimos17anos, comaaprovaçãodoProtocoloAdicional àConvençãodasNaçõesUnidascontraoCrimeOrganizadoTransnacionalRelativoàPrevenção,RepressãoePuniçãodoTráficodePessoas,emEspecialMulhereseCrianças,conhecidocomoProtocolodePalermo,em15denovembrode20006,ratificadonoBrasilporintermédiodoDecretonº5.017de2004.GanhoutambémvisibilidademaisrecentementecomacrisehumanitáriaqueseinstalouempaísescomooHaitieaSíria,dondepessoasemextremasituaçãodevulnerabilidadebuscamsairdequalquermaneiraesubmetem-seasituaçõesdetráficoeexploração,acreditandoqueestãofugindodami-serabilidadeedatragédia.
5 Aexpressão“escravidãodostemposmodernos”éinclusiveoslogandoFreedoomProjectfinanciadopelarededetelevisãointernacionalCNN.Outraexpressãocomumenteutilizadaé“escravidãocontemporânea.”VejaJustinGuay,TheEconomicFounda-tionsofContemporarySlavery.6 OProtocolodePalermofoiadotadopelaAssembleiaGeraldasNaçõesUnidas,Resolução55/25,eentrouemvigorem25dedezembrode2003.FoiratificadoporboapartedospaísesmembrosdasNaçõesUnidas.Nadatade06desetembrode2016,171paísesmembrosdasNaçõesUnidaseramestados-partedoProtocolo.Vejaem:https://treaties.un.org/pages/ViewDetails.aspx?sr-c=TREATY&mtdsg_no=XVIII-12-a&chapter=18&clang=_en.
13
1.2.MarcoLegaleConceitual(NacionaleInternacional)doTráficodePessoas
NostermosdoProtocolodePalermo,que,porsuavez,foiadotadocomseusdevidosajustespelaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,tráficodepessoasé:“orecrutamen-to,otransporte,atransferência,oalojamentoouoacolhimentodepessoas,recorrendoàameaçaouaousodaforçaouaoutrasformasdecoação,aorapto,àfraude,aoengano,aoabusodeautori-dadeouàsituaçãodevulnerabilidadeouàentregaouaceitaçãodepagamentosoubenefíciosparaobteroconsentimentodeumapessoaquetenhaautoridadesobreoutraparafinsdeexploração.Aexploraçãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeex-ploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”
Jánostermosdalegislaçãopenal,art.149-AdoCódigoPenal,tráficodepessoasconsisteem“agenciar, aliciar,recrutar,transportar,transferir,comprar,alojarouacolherpessoa,mediantegraveameaça,violência,coação,fraudeouabuso,comafinalidadede:
I-remover-lheórgãos,tecidosoupartesdocorpo;
II-submetê-laatrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravo;
III-submetê-laaqualquertipodeservidão;
IV-adoçãoilegal;ou
V-exploraçãosexual.
Vê-sequea legislaçãopenalmanteveo textodoProtocolodePalermoeacrescentououtrostrêsverbosoucondutasquepodemtambémconfigurarotráficodepessoas,quersejamagenciar,aliciarecomprar.
Consideraolegisladoracondutamaisgraveainda,aumentandoapena,se:
I-cometidaporfuncionáriopúbliconoexercíciodesuasfunçõesouapretextodeexercê-las;
II-cometidacontracriança,adolescenteoupessoaidosaoucomdeficiência;
III-oagenteseprevalecerderelaçõesdeparentesco,domésticas,decoabitação,dehos-pitalidade,dedependênciaeconômica,deautoridadeoudesuperioridadehierárquicainerenteaoexercíciodeemprego,cargooufunção;ou
IV-avítimadotráficodepessoasforretiradadoterritórionacional.
Ouseja,otráficodecriançaseadolescentes,queantestinhamprevisãonoEstatutodaCriançaedoAdolescente,passaaserprevistopelopróprioCódigoPenal.Eotráficointernacionaldepessoastambémestáprevistonestemesmoart.149-A,diferentedalegislaçãoanteriorqueestabeleciaumtipopenalparaotráficointernoeoutroparaotráficointernacional.
14
Alémdisso,aleitambémprevêqueseoagenteforprimárioenãointegrarorganizaçãocrimino-sa,apenaseráreduzida.Istoporqueomaiscomuméqueascondutasqueacabamporconfigurarotráficodepessoassejampraticadasporagentesqueintegramorganizaçõescriminosas,postoquecondutasplurais.Sãováriasaçõespraticadasporváriossujeitosemcooperaçãoquepermitemaconcretizaçãodocrimedetráficodepessoas.Mashácasosemqueoagentepraticaacondutaisoladamente,porexemplo, recrutandooualiciandoesporadicamentee recebendoalgumpaga-mentoporaqueleserviço,massemfazerpartedeorganizaçãocriminosa,daíanecessidadedepreverreduçãodepena.
Finalmente,observa-sequetantonostermosdoProtocolodePalermo,comodaPolíticaNacio-naledoCódigoPenal,trêselementossãonecessáriosparaqueacondutasejaconsideradacomotráficodepessoas,ouseja,aação,omeioeafinalidade,segundoaFigura1:
Figura 1 – Elementos do Tráfi co de Pessoas
Aaçãoconsistenosatosdeagenciar,aliciar,recrutar,transportar,transferir,comprar,alojarouacolher,nãonecessariamentenestamesmaordem,nemcumulativamente.Ouseja,bastaqueoagenterecrute,outransporte,oualojeparaqueoelementoaçãoseconfigure.Osegundoelementoéomeioqueconsistenagraveameaça,aviolência,acoação,afraudeouoabuso.Acoaçãopodeserfísica,moraloupsicológica.Afraudeacontecequandootraficanteusadeartifíciosfraudulen-toscomocontratosdetrabalhofalsos,promessasdeemprego,casamento,paraobtersuaconcor-dância.Oabusoocorrequandooagenteusadoseupoder(porexemplo,numarelaçãohierárquica)oudaposiçãodevulnerabilidadedapessoaasertraficada(dificuldadefinanceiraoufamiliar)paracoagi-laaaderirasuaconduta.
Emsendoavítimacriançaouadolescente,omeioéirrelevante,hajavistaaincapacidadelegaldacriançaedoadolescentedefazersuasescolhasetomarsuasdecisõesousuacondiçãodepessoavulnerável,emsendomenorde18anos.Ouseja,acriançaeoadolescentesãosujeitostuteladosepeladoutrinadaproteçãointegralnãopodemconsentir.Bastam,portanto,aAÇÃOea
15
FINALIDADEdaexploraçãoparaquecriançaouadolescenteencontradoemsituaçãodetráficosejaconsideradavítimadetráficodepessoas.
Eoterceiroelementoéaexploração.TantooProtocolodePalermocomoaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoasnãosão taxativosquantoàs formasdeexploração.OProtocoloexpressamentetrazque:“aexploraçãoincluirá,nomínimo,aexploraçãodaprostituiçãodeoutremououtrasformasdeexploraçãosexual,otrabalhoouserviçosforçados,escravaturaoupráticassimilaresàescravatura,aservidãoouaremoçãodeórgãos.”Ouseja,ambosestãoabertosaoutrasformasdeexploração.Pesquisasdecampotêm,inclusive,identificadooutrasmodalida-desdetráficodepessoas,taiscomootráficodepessoasparafinsdemendicância7.Ouotráficodepessoascomafinalidadedeobrigaravítimaapraticarcrimestaiscomoocultivoouotráficodepequenasquantidadesdesubstânciasentorpecentes,ocontrabandooudescaminho8.(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013).
Aleipenal, inclusive,nãoexigequeaFINALIDADEdaexploraçãoaconteçaefetivamenteparaqueodelitosejaconsumado,ouseja,nãoexigequeavítimadetráficodepessoassejaefetivamen-teexplorada.
Jáanovaredaçãodoart.149-AdoCódigoPenaldeixaclaroqueolegisladorpátriopreferiures-tringirasmodalidadesdeexploração,quersejam:remoçãodeórgãos,tecidosoupartesdocorpo;submissãoaotrabalhoemcondiçõesanálogasàdeescravoeaservidão;adoçãoilegaleexplora-çãosexual.
Doutromodo,éumenormeavançoemmatériadedireitopenaltendoemvistaque,desdeaaprova-çãodoProtocolodePalermoem2004,luta-senoBrasilparaaaprovaçãodeummarcolegalregulatórioquecontemplasseoutrasformasdeexploração.Destaca-sequeatéaaprovaçãodaLein.13.344de06deoutubrode2016,quealterouoCódigoPenal,aúnicamodalidadedeexploraçãoprevistaeraasexual.Outrostipospenaiseramutilizadossubsidiariamente,taiscomooart.149doCódigoPenal,nocasodetrabalhoescravo.Atipificaçãopenal,portanto,eraequivocadaeincompleta.9
1.3.QuantificandooTráficodePessoas–ParteI:AsFontesdeInformação
Dentreasinstituiçõesdasegurançapúblicaejustiçacriminal,apolícia,opoderjudiciárioeasautoridadespenitenciáriassãoasqueinternacionalmentecontabilizamcrime.Alémdisso,servem
7 Mendicânciaconsisteematividadesdiversasatravésdasquaisumapessoapedeaumestranhodinheiro,sobajustifica-tivadesuapobrezaouembenefíciodeinstituiçõesreligiosasoudecaridade.Avendadepequenositenscomofloresedocesnossinais,limparvidros,estacionarouvigiarcarros,auxiliarcomascomprasemsupermercado,apresentaçõesartísticas(circenses,to-carinstrumentosmusicais)nasruaspodemsertambémconsideradoscomomendicância.Destacamos,todavia,queamendicânciacomoformadeexploraçãoseconfiguraquandogrupoorganizadoouindivíduostransportamecoagempessoas,principalmentecriançaseadolescentes,masnãosó,paraquefiquemnasruaspedindodinheirooucomercializandopequenosprodutos,restringin-dosualiberdadeeretendo,todoouemparte,ofrutodestamendicância(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).8 Nostermosdoart.334doCódigoPenal,deacordocomanovaredaçãodadapelaLein.13.008,de26.6.2014,ocrimedeDescaminhoconsisteem:Art.334.Iludir,notodoouemparte,opagamentodedireitoouimpostodevidopelaentrada,pelasaídaoupeloconsumodemercadoria.Nostermosdoart.334-AdoCódigoPenal,tambémdeacordocomaLein.13.008,de26.6.2014,ocrimedeContrabandoconsisteem:Art.334-A.Importarouexportarmercadoriaproibida.9 Equivocada,inclusive,poisdiscriminavaoexercíciodaprostituição–ouos/asprofissionaisdosexo,apesardeprevistaenquantoocupaçãonaClassificaçãoBrasileiradeOcupações,aopreverenquantocrime“apromoçãooufacilitaçãodaentrada,noterritórionacional,dealguémqueneleviesseaexerceraprostituição”ou“asaídadealguémqueváexercê-lanoestrangeiro”,aoinvésdeserestringiràssituaçõesdeexploraçãosexual.
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comoumtermômetrodedadasociedade,dacriminalidadeedaconfiançaqueestadepositana-quelasinstituições.
1.3.1 Das Estatísticas do Poder Judiciário e o Tráfico de Pessoas
OPoderJudiciárioéainstituiçãomaisantigae,portanto,pioneiranolevantamentodeestatísticascriminais.AsestatísticasdoPoderJudiciáriosãotãoantigasquantoaprópriainstituiçãoecomeçaramasercoletadasepublicadasatémesmoumséculoantesdasestatísticasdapolícia.SegundoKillias(2001),asestatísticasjudiciáriasnaEuroparemontamaoperíodopósguerrasnapoleônicas.
Correspondemaonúmerodeprocessoscriminais,condenaçõeseabsolviçõespordeterminadocrimee,alternativamente,descrevemascaracterísticasdaspartesenvolvidasnosprocessoscri-minais.São,noentanto,dereduzidavalidadecomoindicadordecriminalidade,poismedemocri-menumestágiojámuitoavançadodoprocessopenal.Massãoasúnicasquenospermitemumaperspectivahistóricaouumaanálisedaevoluçãodacriminalidadesobreumlongoperíodo,dadaasuaantiguidade(Killias,2001).
NosEstadosUnidos,asestatísticascriminaisdopoderjudiciário,conhecidascomoStateCourtProcessingStatistics(SCPS),vemsendocompiladasemnívelnacionaldesde198810.NaSuíça,asestatísticascriminaisdoPoderJudiciáriovemsendocompiladasdesde1984,numníveldedeta-lhamentoextraordinário11
NoBrasil,osTribunaisouPoderesJudiciáriosEstaduaiseFederaiscoletamepublicamestatís-ticassobresuasatividadeseadministraçãodosseusrecursos,principalmente,desdeacriaçãodoConselhoNacionaldeJustiça(CNJ)pelaEmendaConstitucionalnº45,de30dedezembrode2004.Noentanto,somenteapartirde2014équesepôdeconsultarpublicamentedadosrelativosaonú-merodeprocessosesuasrespectivasjurisdições,portipopenal,inclusiveonúmerodeprocessosdetráficodepessoas,nostermosdoantigoart.231e231-A;trabalhoescravo,nostermosdoart.149,dentreoutros.OinstrumentodisponibilizadoparatantoéoJustiçaemNúmerosDigital12
É,semsombradedúvida,umavanço,dadoquequandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoasestainformaçãonemerapública.Aépoca,inclusive,oCNJ,assimcomooConselhoNacionaldoMinistérioPúblico(CNMP),estavamseesforçandoparaaimplemen-taçãodaschamadas“tabelasunificadas”,queconsistiamnumlevantamentopadronizado,emto-dosostribunaisdopaís,dedadoscominformaçõessobreoandamentoprocessual,mastambémdadossobreaspessoaseosconflitosqueconsistiamnosfatosgeradoresdosprocessos,istoemmatériasdiversas,nãosomentecriminal(civil,tributário,trabalhista,execução,etc.).
OJustiçaemNúmeroDigitaltem,noentanto,suaslimitações.Primeiro,registrasomenteonú-merodecasosnovosdorespectivoano.Ouseja,olevantamentoqueserávistomaisadiantedizrespeitosomenteaosnovoscasosdetráficodepessoasqueforamdistribuídosnajustiçaestadualefederalnosanosde2014,2015e2016.
10 Paramaisformações,vejaositedoBureauofJusticeStatistics:http://bjs.ojp.usdoj.gov/index.cfm?ty=dcdetail&iid=282.11 Paramaisformações,vejaositedoOfficeFédéraldelaStatistique:http://www.bfs.admin.ch/bfs/portal/fr/index/the-men/19/03/03/key/straftaten/haeufigste_delikte.html12 ConsulteastabelasprocessuaisdoJustiçaemNúmerosem:http://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?documen-t=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT
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Depois,porqueinformaçõesprocessuaisimportantescomoonúmerodeabsolvições,condena-ções,ouinformaçõesgenéricassobreascaracterísticasdaspartes–vítimase/ouacusados-nãoestãoaindadisponíveisonlineesuspeitamosquenãosejamregistradasnasbasesdedados,tendoemvistaovolumedetrabalhoedificuldadescartoráriasqueasvarasjudiciáriasenfrentam.Devemconstardosprocessoscriminaismanuaisoudigitalizadosindividualmente,oquedemandaumapesquisadocumental,decampo,paraolevantamentodestesdados.Ouseja,osdadosdisponíveisonlinetêmmuitomaiscaracterísticasdeindicadoresprocessuaisdoquedeindicadoresquepos-samdescreverfenômenoscriminais.
OutrainstituiçãoquecontribuiparaaproduçãodeestatísticasjudiciáriaséoEscritóriodasNa-çõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC).OCaseLawDataBaseéumacompilaçãodeinforma-çõesextraídasdassentençascriminaisdetráficodepessoasenviadaspeloPoderJudiciáriodospaísesquefazempartedestabasededados.Asinformaçõesextraídascobremostrêselementosdotráficodepessoas,quersejam:aação(sehouverecrutamento,transporte,abrigamentoetc.),omeioutilizado(sefraude,engano,sequestro,etc.)eotipodeexploração(separaexploraçãosexu-al,trabalhoescravo,servidão,etc.).Cobremtambémquestõescomosetráficointernacionalouna-cional,osetordaeconomiaondeaexploraçãoocorreu,sehouvecooperaçãointernacional,eaindainformaçõesdiversassobreoprocessocriminal,dadosdavítimaedoacusado,secondenadoouabsolvido,otipoetempodapena,eoutrasquestõessobreorecurso,sehouver13
AbasededadoscontéminformaçõessobresentençasprolatadasnoBrasilentre1996e2013,numtotalde166sentençascriminais.
Osistemaébastantecompletoepoderáviraserinstrumentointeressantedepesquisaedadossobretráficodepessoas,sehouveraamplacooperaçãodoPoderJudiciáriocomoenvioregularerepresentativodassentençascriminais.
1.3.2. Das Estatísticas do Sistema Penitenciário e o Tráfico de Pessoas
Contaronúmerodepessoasencarceradase liberadasduranteumcertoperíodode tempoepublicaressasestatísticaséalgoqueacontecenaSuíçadesde189014(Killias,2001),nosEstadosUnidosdesde1920enaAlemanhadesde1960(Kuhn,2000).Essetipodeestatísticapermitequeseconheçaonúmerodeencarceradose,consequentemente,onúmerodepessoasliberadasnumdeterminadoperíodo;onúmerodepessoascumprindopenaprivativadeliberdade,nosdiversosregimes(fechado,semiaberto,aberto);onúmerodepessoasemlivramentocondicionalouprisãopreventiva.Permiteaindacompararapopulaçãopenitenciáriadediversospaíses,mediraduraçãodapenaouonúmerodecondenaçõesecompreenderseesteouaquelepaístemumamaioroume-nortendênciaaoencarceramentoenquantopolíticacriminal,inclusivedependendodotipopenal.
NoBrasil,éoDepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)querecebeessasinformaçõesdossistemaspenitenciáriosadministradospelasUnidadesdaFederaçãoequeanalisaepublicaessesdadossobaformaderelatórios,desde2005.Ocrimedetráficodepessoaséumadasvariáveis,ouseja,podemoscontar,atravésdosrelatóriosdoDEPEN,onúmerodepessoaspresaspelotipopenaldotráficodepessoas,inclusiveoscrimescorrelatos(e.g.adoçãointernacional,submissãoàcondiçãoanálogaadeescravo,remoçãodeórgãos,etc.),alémdosexodestesapenados.
13 Vejamaisinformaçõesem:https://www.unodc.org/cld/v3/sherloc/cldb/14 Tendosofridoumintervaloentre1941e1982,quandoessetipodeestatísticafoiretomada.
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1.3.3. Das Estatísticas da Polícia e o Tráfico de Pessoas
Finalmente, aPolícia é a terceira instituiçãonoquesitoantiguidadenacoletadeestatísticascriminais.Nãoobstante,nomundointeiroapolíciafoiumdosúltimosorganismosapublicares-tatísticascriminaisedesuasatividades.NosEstadosUnidos,oprimeirorelatórionacionalfoipu-blicadoem1929sobotítulodeUniform Crime Report.(Rantala,2000).NamaiorpartedospaísesdaEuropa,osprimeirosRelatóriosNacionaisdatamde1945(Killias,2001).AlgunspaísesinclusivenãopublicavamessesdadosporentenderqueseriasegredodeEstado(Killias,1989).
Asestatísticasdapolíciasão,emregra,compostaspelonúmerodeocorrências (ounoticiascriminis),otipopenal,característicasdoagressoredavítima,onúmerodeinquéritosinstaurados,etc.Podemoscitaralgunsexemplos:nosEstadosUnidos,éoBureauofJusticeStatistics15quefazessetrabalho,coletandoeanalisandonãosomenteestatísticasdapolíciamastambémdajustiça.NaSuíça,éoOfficeFédéraledeStatistique16quetemessafunção,departamentoestequeérespon-sávelpelasestatísticasdepolíciaejustiçacriminal,mastambémpelasestatísticassocioeconômi-cas.NoCanadá,éumescritóriocentral(efederal)deestatísticas,chamadodeStatisticsCanadá17,quefazessetrabalho,recolhendodadosoutrosquenãosomentedepolíciaejustiça,assimcomonaSuíça.
Osorganismosinternacionaiseintergovernamentais,porsuavez,acompanharamessemovimentodaspolíciasnacionaise,paulatinamente,começaramaimplementarmetodologiascomparativas,quepudessemcompilarestatísticascriminaisdosmaisdiversospaísesnumúnicodocumento,medirecompararcriminalidadeinternacionalmente.OprimeirorelatóriodasNaçõesUnidasfoi,portanto,publi-cadoem1948sobotítuloStatistical Report on the State of Crime 1937-194618.Masotrabalhoregulardecoletadeestatísticascriminaisedadossobreasatividadesdosistemadejustiçacriminalemdiversospaísesdomundocomeçaefetivamenteem1970,apósaResolução3021,XXVIIdaAssembleiaGeraldasNaçõesUnidas(UnitedNationsOfficeonDrugsandCrime,2010).
Umpoucomais tarde,em1993, foiavezdoConselhodaEuropasepreocuparcomacoletadeestatísticascriminais,designandoumcomitêdeespecialistasparaprepararumestudosobreestatísticaspoliciaisedopoderjudiciárionospaíseseuropeus.EsseestudoresultounaprimeiraediçãodoEuropean Sourcebook of Crime and Criminal Justice Statistics.OEuropeanSourcebookfoipublicadoem1999ecobriu36países.Ainiciativacontinuasendoimplementadapelosseguintesparceiros:HomeOfficedoReinoUnido,MinistériodaPesquisaemJustiçaeCentrodeDocumenta-çãodaHolanda,easUniversidadesdeLausanneeZurique19.OEuropeanSourcebookéatualmenteumadasreferênciasmetodológicasmundiaisparaacomparaçãodeestatísticasdapolíciaedajustiçacriminalentrepaíses.
NoBrasil,éimportantecompreenderqueapolíciaéconstitucionalmentedivididaemtrêsesfe-rasdecompetência,quersejamapolíciafederal(incluindoapolíciarodoviáriafederal),apolíciamilitareapolíciacivil.Cadaumadelaséindependente;temseusprópriossistemasdeestatísticascriminaisesãotãosomentesubordinadasaopoderexecutivodesuasjurisdições.
15 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://bjs.ojp.usdoj.gov/index.cfm.16 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://www.bfs.admin.ch/bfs/portal/fr/index.html.17 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:http://www.statcan.gc.ca/start-debut-eng.html18 UnitedNationsSocialCommission,EconomicandSocialCouncil,StatisticalReportontheStateofCrime1937-46,E/CN.5/204(1950).19 Paramaisinformações,visiteowebsite:www.europeansourcebook.org
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APolíciaFederalé,portanto,subordinadaaoMinistériodaJustiçaeSegurançaPública(MJSP)easPolíciasCiviseMilitaressãosubordinadasaosgovernosdassuasrespectivasunidadesdafederação.
Portanto,acompilaçãodasestatísticascriminaisdaspolíciasnoBrasilsempreteveinúmerasdifi-culdades,resultandonainexistência,defato,deumSistemaNacionaldeEstatísticasCriminais,apesardasinúmerastentativas.Agestãodaspolíticasdesegurançapúblicasempreevidenciouumaausênciademecanismosinstitucionaisdeincentivoàcooperaçãoearticulaçãosistêmicaentreosórgãosdesegurançapública,dentreelasagestãodoconhecimentoemsegurança(Durante,s.d.).
Desde2003,aSecretariaNacionaldeSegurançaPública(SENASP)teminvestidoesforçosnaimplantaçãodeumSistemaÚnicodeSegurançaPública(SUSP),cujoProgramadeGestãodoCo-nhecimentovisa“estabelecerpolíticasdecomunicaçãoecooperaçãoverticalentreestados,muni-cípiosegovernofederal,bemcomoemumsentidohorizontaldentrodecadaumdosníveis,estabe-lecerpolíticasdecoleta,integraçãoedivulgaçãodainformaçãoparaosórgãos/setoresenvolvidoslocalmentenasaçõesdeSegurançaPública”(Beato,2009,23).
Noanode2006,oprimeiroMapaCrimeNacionalfoipublicado,apartirdeumesforçodoMi-nistériodaJustiçaemreunireanalisarestatísticascriminaisenviadaspelas27políciascivisexis-tentesnoBrasil,cobrindoasocorrênciasregistradas,perfildevítimas,perfildosagressores,raçaeatividadesexecutadaspelapolícia,nosanosde2004e2005(MinistériodaJustiça,2006).
Em2012, foicriadopelaLeinº12.681,de4de julho,oSistemaNacionalde InformaçõesdeSegurançaPública,PrisionaisesobreDrogas(SINESP)comoobjetivodepadronizareorganizarofluxodosdadoscriminaisjuntoaspolíciasdasunidadesdafederação,apartirdosprocedimentosderegistrodasocorrênciascriminais.SuagestãoéderesponsabilidadedoDepartamentodePes-quisaeAnálisedaInformação(DEPAID)daSENASPecontacomotrabalhodegestoresestaduaisquetemaresponsabilidadedeenviarevalidarosdadossistematicamente20.OSINESPvemsendoimplementadoemmódulose,atualmente, reúneeanalisa informaçõessobreocorrênciascrimi-naiseatividadesdesegurançapública,visandoretrataracriminalidadeeidentificarasatividadesdosórgãosdesegurançapúblicanopaís(ocorrênciasregistradas,inquéritosabertoseconcluídos,açõesdeprevenção,etc.).Porora,ostipospenaisqueestãodisponíveisparaconsultapúblicasão:estupro,homicídiodoloso,lesãocorporalseguidademorte,furtoeroubo(deveículo),roubosegui-dodemorte(latrocínio)21.MasosistemasegueoCódigoPenal,entãoháprevisãodoregistrodocrimedotráficodepessoas,eposteriorpublicização.Bastasaberseaspolíciascivisemilitaresestãodevidamentecapacitadaspararealizaresteregistroeidentificarasvítimasnosterritóriosequandoestesdadosestarãofinalmentedisponíveis.
Natentativatambémdecompilareanalisarestatísticascriminaisdapolícia,aSENASPtemhámuitosanosumaparceriacomoFórumBrasileirodeSegurançaPública,queéumaorganizaçãosemfinslucrativos22,equepublicaanualmenteoAnuárioBrasileirodeSegurançaPública23.OutraparceriaentreaSENASP,oInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA)eoFórumBrasileirode
20 Paramaisinformaçãovisiteowebsite:https://www.sinesp.gov.br/estatisticas-publicas21 ODEPAID,emrespostaaoficioenviadopelaCNETPparaaconfecçãodestesRelatorioinformouque“considerandoaatualfasedoSINESP,nãoépossívelextrairdadoseinformaçõesquesubsidiemaelaboraçãodeestatísticasnacionaisparaotemaTráfi-codePessoas.”22 Comamissãodeatuarcomoumespaçopermanenteeinovadordedebate,articulaçãoecooperaçãotécnicaparaasegu-rançapúblicanoBrasil.23 VejaoAnuário2016em:http://www.forumseguranca.org.br/storage/10_anuario_site_18-11-2016-retificado.pdf
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SegurançaPúblicaresultounoAtlasdaViolência24.Ofoco,noentanto,continuasendonaanálisedoscrimesconsideradosmaisviolentos,taiscomohomicídiosdolosos,lesõescorporaisseguidasdemorte, latrocínios,suicídios,mortesdecorrentesde intervençõesdepoliciaiscivisemilitaresmortosemconfrontoemserviço.Asferramentasdisponíveisonlinereproduzemtabelasestatísti-cascomasfrequênciasdestestipospenais,porunidadedafederação.Asvariáveisgêneroeraçatambémtêmsidofrequentementeanalisadasemrelatóriosepublicaçõesdestasinstituições25
Destaforma,nãoexistenoBrasilumsistemaúnico,integradoeconfiáveldeestatísticascrimi-nais.ParaaproduçãodeumDiagnósticoNacional,énecessáriaapadronizaçãoeumdosproble-masquecomprometeaconsistênciadeanálisescomparativasé,ainda,aheterogeneidadedascategoriasecritériosadotadosparaclassificarasocorrênciastantonostrabalhosdaspolíciascivilemilitar,apesardosavançosdaimplementaçãoemmódulosdoSINESP.
Soma-seaestasdificuldades,ofatodeaPolíciaFederalterotratamentodasestatísticascri-minaisgeradaspelassuassuperintendênciasde formacompletamente independentee isolada,inclusiveemsistemaspróprios,quersejamoSistemaNacionaldeProcedimentos(SINPRO),queabrangetodososprocedimentosinstauradospelapolíciafederal,eoSistemaNacionaldeInforma-ções(SINIC),queabrangetodososindiciamentos26
APolíciaFederalnãodisponibilizapublicamenteestesdados,masfornecesesolicitada,coletan-doeanalisandodadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasdesde2007,incluindoinformaçõescomoonúmerodeprocedimentosinstaurados(inquéritospoliciais),onúmerodeindiciamentoseorespectivosexo,idadeepaísdenascimentodosindiciados.
APolíciaRodoviáriaFederal(PRF)tambémtemseuprópriosistemaderegistrodeacidentes,infraçõeseocorrênciascriminais27.Maséespecialmenteduranteasoperaçõesdeenfrentamentoaexploraçãosexualdecriançaseadolescentes,atravésdoProjetoMapear,porexemplo,eduran-teoapoionasoperaçõesdefiscalizaçãodaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(MT)juntoaosfiscaisdotrabalho,queaPRFacabaidentificandosituaçõesdetráficodepessoas.Oscrimes identificadospelaPRFsãoregistradosemboletinsdeocorrência,ondesãolevantadasvariáveiscomootipodetráfico(seinternacionalouinterno),sexo,idade,etnia,escola-ridadeeseestrangeirooubrasileiro,davítimaoudoacusado.
1.4.AlémdasInstânciasdaJustiçaCriminal:OutrasFormasdeseCaracte-rizaroTráficodePessoas
Porsercrimesubnotificado,otráficodepessoasdevesermedidoatravésdeoutrasmetodologiasquenãosomenteasestatísticascriminais.Doexpostonoitem1.3,ficaaindamaisevidenteestaneces-
24 Paramaisinformações,veja:http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/atlas-da-violencia-2017/25 Paramaisinformações,veja:http://www.forumseguranca.org.br/publica/26 Indiciamentoéoatodeimputaràdeterminadapessoaapráticadeumfatopunível(crimeoucontravenção)noinquéritopolicial,bastandoparatantoquehajaindíciosrazoáveisdaautoria,enãocerteza.Representaoresultadoconcretodaconvergênciadeindíciosqueapontemdeterminadapessoacomopraticantedeatotidopelalegislaçãopenalemvigorcomotípico,antijurídicoeculpável.Oselementosdotipopenaljádevemestar,nomínimo,indicadosnaprovacolhidaduranteoinquérito,paraembasaroindiciamento.Umamesmapessoapodeserindiciadaduasoumaisvezes,porissoonúmerototaldeindiciamentosésuperioraonúmerodeindiciados.27 Apesardoseufocoserafiscalizaçãodotrânsitonasrodoviasfederais,estatemcolaboradosobremaneiracomaseguran-çapúblicanopaís,prevenindoereprimindo,dentreoutros,otráficodearmasededrogas,otráficodesereshumanos,aexploraçãosexualdecriançaseadolescentesetrabalhoescravo,quesãocrimescorrelacionadosequeseconsumampelasrodoviasdoBrasil.
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sidade,postoque,amaneirapelaqualasinstituiçõesdasegurançapúblicaejustiçacriminalnoBrasilcoletamdadosnãocontemplaasnecessidadesdeconhecimentodestefenômeno.FoiporestemotivoqueaMetodologiaIntegradadeTPfoielaborada,inclusivecomaparticipaçãodetodosestesatores.Nãofoi,noentanto,identificadonenhumavançonasuaimplementação,sendoobservadoqueossiste-mascontinuammedindoecontando“crimes”damesmaformacomoofaziamnoanode2012,quandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas.
Destaforma,atoresdaRededeAtendimentoàsVítimasdeTráficodePessoastambémforne-cemdadosdeenfrentamentoaotráficodepessoas.Vejamosalgunsdestes,minimamenteasins-tituiçõesgovernamentaisquedesempenhamestepapel.
1.4.1. Das estatísticas da Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores (DAC/MRE) – recorte do Tráfico Internacional
Desde2005,motivadospelaconstruçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas,aDivisãodeAssistênciaConsulardoMinistériodasRelaçõesExteriores(DAC/MRE)temquantifica-dooscasosdetráficointernacionaldepessoasqueporventurachegamnaredeconsularbrasileiranoestrangeiro.UmavezqueosConsuladosBrasileirostêmopapeldeoferecerapoioeassistênciaaosbrasileirosnoexterior,hácasosemqueaprópriavítimaprocuraoConsuladosolicitandoapoiopararetornaraoBrasil,porexemplo,ouparaemitirnovopassaporte,dentreoutrasrazões.Inclusi-ve,oItamaratyelencaavitimizaçãoportráficodepessoascomoumasituaçãodeemergência28 e sugereàvítimaqueentreemcontatocomoplantãoconsularparamelhororientaçãoedenúncia,dadaagravidadedestetipodecrime.
Sãocasosquechegam,portanto,esporadicamente,nãohavendobuscaativa.Destaforma,oscasosregistradosnotificadosnaredeconsularchegamaDACque,porsuavez,compilaistoemformadedadostaiscomoolocalondeforamencontradas(postoconsular,país),resumodocasoeseudesfecho,aformadeexploração(sexualoutrabalhoescravo).Dadossobreoperfildasvítimasnãosãoregistradosembancos,masconstamdosregistrosmanuais(resumosdoscasos).
1.4.2. Das estatísticas da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho (SIT/MT) – re-corte do Trabalho Escravo
OMinistériodoTrabalho,atravésdaDivisãodeFiscalizaçãoparaErradicaçãodoTrabalhoEscravo(DETRAE)daSecretariadeInspeçãodoTrabalho(SIT/MT),,éresponsávelpelasoperaçõesdefiscaliza-çãodeempregadoresurbanoserurais,inclusiveaquelesquetenhamsidopreviamentemapeados,comoobjetivodeidentificarasubmissãodetrabalhadoresacondiçõesanálogasàsdeescravoepromoveroresgatedasvítimas,nostermosdodispostonoart.2º-CdaLei7998/90(LeidoSeguroDesemprego)29
AsoperaçõessãoexecutadaspelosFiscaisdoTrabalho,comoapoiodaPolíciaFederal,daPo-líciaRodoviáriaFederale/oudaPolíciaMilitarnamaioriadasvezes.Avisitaaosestabelecimentosvisaaregularizaçãodosvínculosempregatíciosdostrabalhadoresencontradose/ousualiberta-28 VejaasorientaçõesdoItamaratyaoBrasileirovítimadetráficodepesssoasnoexteriorem:http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/emergencias.29 Art.2o-C.Otrabalhadorquevieraseridentificadocomosubmetidoaregimedetrabalhoforçadooureduzidoacondiçãoanálogaàdeescravo,emdecorrênciadeaçãodefiscalizaçãodoMinistériodoTrabalhoeEmprego,serádessasituaçãoresgatadoeterádireitoàpercepçãodetrêsparcelasdeseguro-desempregonovalordeumsaláriomínimocada,conformeodispostono§2odeste artigo
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ção,casosejaidentificadasituaçãodereduçãoasituaçãoanálogaadeescravo,maspodeserumavisitaregularoumotivadapelorecebimentodedenúnciadetrabalhoescravo.
É,portanto,duranteestasoperaçõesquevítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodotrabalhoescravopodemserpotencialmenteidentificadas30.Destaforma,variáveiscomoonú-merodetrabalhadoresresgatados,seurbanoourural,semenorde16anos,setementre16e18anos,seestrangeiro,podemserlevantadasdobancodedadosreferenteàsaçõesdefiscalização,queculminamcomoresgatedevítimasdetrabalhoescravo.
1.4.3. Das estatísticas da Secretaria Nacional de Assistência Social / Departamento de Proteção Social Especial do Ministério do Desenvolvimento Social (SNAS/MDS) – recorte dos ciclos de vida
OMinistériodoDesenvolvimentoSocial(MDS)registracasosdetráficodepessoasatravésdoRegistroMensaldeAtendimentos(RMA).ORMAconsisteemsistemaondesãoregistradasmen-salmenteasinformaçõesrelativasaosserviçosofertadoseovolumedeatendimentosnosCentrosdeReferênciadaAssistênciaSocial(CRAS),CentrosdeReferênciaEspecializadosdeAssistênciaSocial(CREAS)eCentrodeReferênciaEspecializadoparaPopulaçãoemSituaçãodeRua(CentrosPOP).Noquedizrespeitoaotráficodepessoas,porseratendimentoespecializado,érealizadonoCREAS,portanto,estaéabasequedeveserpesquisada31
NodicionáriodevariáveisdoRMA,constaaseguintepergunta:“pessoasvítimasdetráficosdese-reshumanosatendidasnoServiçodeProteçãoeAtendimentoEspecializadoaFamíliaseIndivíduos(PAEFI),duranteomêsdereferência.”Asvariáveisquepodemseranalisadasconjuntamentecomestaperguntasão:unidadedafederação,município,ciclosdevida(0a12,13a17,18a59emaisde60anos)esexo(masculinoefeminino).Ouseja,éumbancodedadosquepodedescrevercomdetalhesolocaldeidentificaçãodasvítimas(nãonecessariamenteolocaldaexploração),osexoeociclodevítima32
Atéoanode2012,noentanto,estasinformaçõesconstavamdoquestionáriodoCensodoSer-viçoÚnicodeAssistênciaSocial(CensoSUAS)33,queservecomoumdiagnósticodosserviçoseestruturadoCREAS,CRASeCentrosPOPnosterritórios,masoníveldedetalhamentoerainferior.
Eainda,oregistroésomentenomêsdereferência,nãodurantetodooanoemquestão,ouseja,háquesefazerumaprojeçãodonúmerodepessoasatendidasnoanoaseranalisado.OuopróprioMDSpoderiaelaborarumafórmulaquecalculasseumamédiadonúmerodepessoasatendidasporano,combasenomêsdereferência,paraqueaquantificaçãodasvítimasfossemaisadequada.
30 Inclusive,nostermosdaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,art.2,§3°,aexpressão“escravaturaoupráticassimilaresàescravatura”deveserentendidacomo:I-acondutadefinidanoart.149doDecreto-Leino2.848,de1940,referenteàreduçãoàcondiçãoanálogaadeescravo.EaInstruçãoNormativanº91,daSecretariadeInspeçãodoTrabalho,emseuart.6°,extendeaexigênciadorespeitoaosdireitostrabalhistasaostrabalhadoresencontradosemsituaçãodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodetrabalhoemcondiçãoanálogaàdeescravo.31 Abasededadosbrutaetratadaestádisponívelonlineem:http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php.Nãohárelatóriopúblicoanalisandoosprincipaisindicadores,especificamentenoquedizrespeitoaotráficodepessoas.Portanto,opesquisadorquetiverinteressepoderáacessarasbasesemformatoexcel,masdeveráanalisarumvolumeimensodeinformações.Aexemplo,somenteparaoanode2016sãocercade29000registros.32 Éimportanteregistrarumacríticaafaixaetáriade18a59anos,quereúnejovenseadultosnumaúnicavariável,sendoqueascaracterísticas,porexemplo,dafaixaetáriade18a29sãodiferentesdafaixaetáriade29a40,eassimpordiante.Aexemplo,ociclopotencialmentereprodutivodamulhervaiemmédia(biologicamentefalando)dos18aos40anos,tendosuasparticularidadesparaanáliseeimplementaçãodepolíticaspúblicas.33 OCensoSUAS,regulamentadopeloDecreto7.334/2010,consisteemlevantamentoanualquecoletainformaçõessobrearededeassistênciasocial,permitindooacompanhamentodasunidadesgestoraseprestadorasdeserviçosdoSUAS,bemcomodocontrole social.
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1.4.4. Das estatísticas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde (DANTPS) do Ministério da Saúde (MS) – da notificação compulsória
Em200734,foicriadaecomeçouaimplementaçãodanotificaçãocompulsória,queconsisteemaçãoeestratégiaparamonitoramentoetomadadeaçõesfrenteàsdoençasqueconstamemListaNacionaldeNotificaçãoCompulsória,publicadaperiodicamenteporPortariadoMinistériodaSaú-de(MS)35.Anotificaçãoéacomunicaçãodaocorrênciadedeterminadadoençaouagravoàsaúde,feitaàautoridadesanitáriaporprofissionaisdesaúdeouqualquercidadão,parafinsdeadoçãodemedidas.Temsidohistoricamenteconsideradacomoumasdasprincipaisfontesdevigilânciaepidemiológica.Asformasdeviolênciasãoconsideradascomoagravos36àsaúdee,dentreestas,constaotráficodepessoas.
Dentreosdadossolicitadosnomomentodopreenchimentodafichadenotificaçãocompulsória,estãovariáveissobreasvítimas,comosexo,faixaetária, raça/cor,escolaridade,situaçãoconju-gal,tipoderelaçãosexual,segestante,zonaderesidência.Solicita,ainda,quesejampreenchidasvariáveissobreoeventocriminoso,taiscomolocalezonadeocorrência,tipoemeiodeagressão,naturezadalesãoeoutras,esobreosprováveisautoresdaagressão,taiscomoosexoearelaçãocomavítima.Ouseja,éumbancodedadosimportanteparaoestudodotráficodepessoasnoBra-sil,mastemalcancelimitado,postoqueregistra,porrazõesóbvias,somenteoscasosquechegamaoSistemadeSaúde.
1.4.5. Dos Mecanismos de Denúncia - Ligue 180 da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM) e Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos (SDH)
OLigue180daSecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheres(SPM)daPresidênciadaRe-públicaéoutrosistemaqueregistracasosdetráficodepessoas,apartirdasligaçõesrecebidas.Alémderegistrarpedidosdeinformaçãosobretráficodepessoas,registratambémdenúnciasdetráficoefazencaminhamentos,oqueéumdiferencial,poisacabanãosomenteservindocomome-canismodeinformação,mastambémdedenúncia.ÉimportantedestacarqueaprimeirafinalidadedoLigue180foiainformação.Todavia,aprópriasociedadecivilacaboudandoessaroupagemdeDisqueDenúnciaaoLigue180daSPM.OLigue180registratambémamodalidadedeexploração,osexo,aescolaridade,afaixaetária,acorearaçadavítimaedoagressor.
OutroserviçoimportanteéoDisqueDenúncia100daSecretariadeDireitosHumanos(SDH)doMinistériodosDireitosHumanos(MDH),quefoiimplementadoem2003originalmentecomodis-quedenúnciaemcasodeviolênciacontracriançaeadolescenteeque,posteriormente,foiamplia-doparadisquedenúnciaemcasodeviolênciacontraasseguintespopulaçõesvulneráveis:criança
34 Vejaqueosdadosestãodisponíveispublicamenteapartirde2001-http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?a-rea=0203&id=30009921,,maséem2007queasviolênciassãoincluídas-http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?are-a=0203&id=29878153.SegundoinformaçãodoMS,quandodaelaboraçãodoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoas,en-tre2007e2009,acoletadestesdadosaindaestavaincipiente,sendorealizadasomenteemalgunsmunicípiosconsideradospilotos.Foisomenteapartirde2010queoSistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação(SINAN)foiimplementadoemnívelnacional.35 AmaisrecenteéaPortarian.204de2016.36 Nostermosdoart.2,daPortarian.204de2016,quedefineaListaNacionaldeNotificaçãoCompulsóriadedoenças,agravoseeventosdesaúdepúblicanosserviçosdesaúdepúblicoseprivadosemtodooterritórionacional,“parafinsdenotificaçãocompulsóriadeimportâncianacional,serãoconsideradososseguintesconceitos:I-agravo:qualquerdanoàintegridadefísicaoumentaldoindivíduo,provocadoporcircunstânciasnocivas,taiscomoacidentes,intoxicaçõesporsubstânciasquímicas,abusodedrogasoulesõesdecorrentesdeviolênciasinterpessoais,comoagressõesemaustratos,elesãoautoprovocada.
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eadolescente,LGBT,idosoepessoacomdeficiência.Opropósitoéregistraradenúncia,fazeroencaminhamentoaoórgãocompetentecomoaPolícia,oMinistérioPúblicoouaDefensoriaPúbli-ca,eacompanharocasoatravésdaOuvidoriadeDireitosHumanos.Ouseja,éumserviçoquenãoseencerracomofimdaligaçãotelefônica.
Osistemaestáaptopararegistraramodalidadedeexploração,setráficointernoouinternacio-nal,osexo,aidentidadedegênero,araça/cor,aidade,eseavítimatemalgumtipodedeficiência.Quantoaoacusado,registraosexo,aidadeeraça/cor.
1.4.6. Da Assistência Judiciária da Defensoria Pública da União (DPU)
OutrainstituiçãoquecontribuiparaaproduçãodeestatísticasdeenfrentamentoaotráficodepessoaséaDefensoriaPúblicadaUnião(DPU)queatuaemparceriacomoMinistériodoTrabalhonasoperaçõesdecombateaotrabalhoescravo.Alémdisso,emjulhode2011,foicriadaaAsses-soriaJurídicaInternacionalcujafinalidadeéprestarassistênciajurídicaejudiciáriaaosbrasileiros,queprecisemdeadvogadosnoexteriorouestrangeirosqueprecisemdeadvogadosnoBrasil,plei-teando,quandonecessário,medidasdeproteçãolegalereparaçãocivil.NocasoespecíficodasvítimasdetráficodepessoasencontradasnoBrasil,opedidomaisfrequenteéoderegularizaçãodepermanêncianopaís,queéfeitoperanteoDepartamentodeMigrações(DEMIG)37 Mas as es-tatísticassãoaindageradasdosrelatóriosdeatendimentoouprocessosindividuaisdeassessoriajurídica,ouseja,devemsercompiladasmanualmentesemprequesolicitado.
Porfim,aTabela1resumeasvariáveisqueestãopresentesemcadaumdossistemasdasins-tituiçõesqueenviaramdadosparaesteRelatóriooucujosdadosestãodisponíveisonlineeforambaixadoseanalisados,senãovejamos:
Tabela 1.Variáveis contidas nos Sistemas de Informação/Registros Manuais das instituições pesquisadas
ATOR ESTRATÉGICO VARIÁVEISMinistério da Justiça e Segurança Pública
PolíciaFederal(PF) Inquéritos/IndiciamentosporTráficointernacionaldePessoas,Reduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,TráficoInternacionaldeCriançaseAdoles-centeseComercializaçãodetecidos,órgãosepartesdocorpohumano
DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal(DPRF)
Ocorrências/LocaldasOcorrências/Sexodaspessoasenvolvidas(Teste-munha,Autor,Vítima)
DepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)
PresospelostipospenaisdoCódigoPenal,inclusiveTráficodepessoas/Reduçãoacondiçãoanálogadeescravo/Sexo
37 AResoluçãoNormativan.93de2010doConselhoNacionaldeImigraçãopermiteaconcessãodevistopermanenteoupermanênciaaoestrangeiroqueestejanoBrasilemsituaçãodevulnerabilidadeporseroutersidovítimadetráficodepessoas,independentementedecolaboraçãocomoprocessocriminal.
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SecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheres/Ligue18038 (SPM)
Tráficointernacional/internodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/exploraçãodotrabalho/remoçãodeórgãos/adoçãoRelaçãodotraficantecomavítimaSexo,FaixaEtária,Raça,Cordavítima/agressor
Ministério das Relações ExterioresDivisãodeAssistênciaConsular(DAC/MRE)
Vítimadetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/Trabalhoescravo.PostoConsular(país)ondefoiidentificada
Ministério do TrabalhoSecretariadeInspeçãodoTrabalho(SIT/MT)39
Trabalhadoresresgatados/Escravourbano/Estrangeirosresgatados/Trabalhadormenorde16anos/Trabalhadorentre16e18anos
Ministério do Desenvolvimento SocialSecretariaNacionaldeAssistênciaSo-cial/DepartamentodeProteçãoSocialEspecial(SNAS/DPSE/MDS)40
PessoasvítimasdetráficosdesereshumanosatendidasnoPAEFI,duranteomêsdereferência/Sexo/Faixasetáriasde0a12anos,13a17anos,18a59anoseMaisde60anos
MinistériodaSaúde/SecretariadeVi-gilânciaemSaúde/Coordenação-GeraldeVigilânciadeAgravoseDoençasNãoTransmissíveis(CGDANT/SVS/MS)42
SobreaVítima:Sexo/Faixaetária/Raça,cor/Escolaridade/Situaçãoconjugal/Segestante/DeficiênciaMental/ZonaderesidênciaSobreoscasos:LocaleZonadeOcorrência.Sobreosprováveisautoresdaagressão:Númerodeenvolvidos/Sexo/Relaçãocomavítima/Suspeitadeusodeálcool
Ministério dos Direitos HumanosSecretariadeDireitosHumanos(SDH/MDH)42
Tráficointernacional/internodepessoasparafinsdeexploraçãosexual/exploraçãodotrabalho/remoçãodeórgãos/adoçãoSexo,IdentidadedeGênero,Raça,Cor,FaixaEtária/TipodedeficiênciadaVítimaSexo,Raça,Cor,FaixaEtáriadoAgressor
Outras InstituiçõesConselhoNacionaldeJustiça(CNJ) Tipopenal/Tribunal(Estadual/Federal/JustiçaEspecial)/GraudeJurisdi-
ção(1ºGrau,2ºGrau,JuizadoEspecialeTurmaRecursal)
38Osdadosestãodisponíveis,emformaderelatóriosanuais,em:http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/ligue-180-cen-tral-de-atendimento-a-mulher39Algunsdadosestãodisponíveispublicamenteem:http://trabalho.gov.br/fiscalizacao-combate-trabalho-escravo/resulta-dos-das-operacoes-de-fiscalizacao-para-erradicacao-do-trabalho-escravo.40Algunsdadosestãodisponíveispublicamenteem:http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php41Osdadosestãodisponíveisem:http://www.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0203&id=2987815342Osdadosestãodisponíveisonlineemformadebalançossemestrais.Veja,porexemplo,obalançode2016em:http://www.sdh.gov.br/noticias/2017/abrc/ministerio-dos-direitos-humanos-divulga-balanco-do-disque-100-nesta-terca-11.
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1.4.7. Dos dados qualitativos
Alémdisso,arededeNúcleosePostosdeEnfrentamentoaoTráficodePessoaseasorgani-zaçõesnãogovernamentaisqueprestamatendimentoàsvítimassãopotenciaisfontesdeinfor-mação,especialmentequalitativa, sobre tráficodepessoas,masnão foramconsultadasparaaconstruçãodesteRelatório,postoqueofocodosRelatóriosNacionaistemsidonolevantamentoeanálisededadosquantitativoseoficiais,ouseja,dadosprovenientesdasinstituiçõespúblicas,especialmentedasquefizerampartedaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTP.
1.5.QuantificandooTráficodePessoas–ParteII:ConsideraçõesacercadasEstatísticasCriminaisedeEnfrentamentoaoTráficodePessoas
DesdeaaprovaçãodoProtocolodePalermo,osatoresnoenfrentamentoao tráficodepessoastentamquantificarestaformadeviolaçãodedireitoshumanos.Salt(2000),noiníciodoséculoXXI,jámencionavaacarênciadedadosoficiaissobretráficodepessoasedestacavaquesuacoletaerareali-zadaporinstituições,metodologiasetecnologiasdistintas,emtemposdiferentes,oqueimpossibilitavaasistematizaçãoeacomparaçãodentrodeummesmopaís,quediráentrepaísesdiversos.
Estadificuldadeexiste,emverdade,noquedizrespeitoàsestatísticascriminaisemgeral.ComoressaltamvanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol(2014),aprimeirarazãoparatantoéaclandes-tinidade.Fatospuníveis,contráriosalei,são,poressência,praticadosàsescondidas,oquesigni-ficaquemuitosdestesnãochegamàsautoridadeseque,aquelesquechegam,refletemsomenteumapequenaparcela.Acriminalidadeocultaouascifrasocultasnocasodocrimedetráficodepessoastendeaseraindamaiordoquenosoutroscrimes(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Cam-pistol,2014).Dentreasrazões,destaca-seadesconfiançadosistemadepolíciaejustiça;oreceiodapessoatraficadadeserdiscriminadaouincriminada,particularmentecomoimigranteirregular;nos casosde tráfico internacional, omedode ser deportadoouexpulso; a vergonhaeomedodahumilhação(Aebietal.,2010;Anti-SlaveryInternational,2002;Goodey,2003;UNODC,2008);odesconhecimentodavítimasobreasuacondição;afaltadeinformaçãosobreosmecanismosdedenúncia;eatémesmoomedoderepresálias(PedraJ.B.,2008).
Osautores(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol,2014)tambémalertamparaanaturezaemotivadodiscursopúblicosobrecrimeejustiçacriminaledoconteúdopolíticododiscursoso-breinsegurançaepunibilidade.Nãoobstante,odebatepúblicosobreotráficodepessoastendeaseremocionalmentecarregado.Seporumlado,otráficodepessoasévistocomoumasériavio-laçãodedireitoshumanos,poroutro,aindanãoésuficientementereconhecidooupriorizadopelasautoridades(vanDijk,vanderKnaap,Aebi&Campistol,2014).Epodeserinfluenciadoporoutrasagendastambéminflamadas,comoasagendasdamigraçãoirregularoudaprofissãodosexo.
Estatísticasdetráficodepessoassãoaindamaisdesafiadorasdoqueoutrasestatísticascriminais,metodologicamente,ecomumenteutilizadasemdiscursospolíticos inflamados.Estimativasexage-radaspodemprovocarestóriassensacionalistasdamídia,provocandorespostasepolíticaspúblicasmotivadasmaispelocalordodebatedoquepelaempiria.Podemtambémserutilizadaserroneamenteparaapromoçãodeagendasmigratóriasdiscriminatóriasouabolicionistasdasformasdeprostituição.Ouseja,estaéumacombinaçãoperigosa,querequercautelanasinterpretações.
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Nãoaomenos,ossistemasdasinstituiçõesdesegurançapúblicaejustiçacriminalsãoconstru-ídosnointuitodeotimizarassuasnecessidadesoperacionais,fazendocomqueosdados,quesão,porventura,coletados,tenhamcomofocoaproduçãodeindicadoresinstrumentaisouprocessu-ais,nãoderesultado(UNODC,2009).Vejamosindicadoresutilizadospelossistemasmencionadosnesterelatório,aexemplo,onúmerodeprocessosjudiciaisnoanoXouYcoletadospeloCNJouonúmerodeindiciamentosoudeinvestigaçõescoletadospelaPolíciaFederal,dentreoutros.
Finalmente,omarcolegal,ousuaausência,tambémcontribuiparaesteverdadeirocaosqueécoletardadosdetráficodepessoas.Em2008,oViennaForumofUN.GIFTjárelatavaserimpos-sívelacomparaçãodeestatísticascriminaisdetráficodepessoas,poismuitosdospaísessigna-táriosestavamaindanafasedeadaptaçãodesuaslegislaçõesinternasaoProtocolodePalermo.Vejaque,noBrasil,somenterecentementefoiaprovadoomarcolegaldotráficodepessoas4338edocontrabandodemigrantes,4439emacordocomalegislaçãointernacional.
Emnívelnacional,odesconhecimentodosindicadoresdetipospenaiscomootráficodepes-soaseocontrabandodemigrantestornaessatarefaárduapois,“naponta”ounosequipamentospúblicosondeasvítimasbatemàporta,estanãoéidentificadacomovítima.
Muitasforam,econtinuamsendo,astentativascomointuitodeaprimorarolevantamentodedadosdetráficodepessoas,4540emnívelnacionaleinternacional.
Veja, por exemplo, osmanuais produzidos por organismos internacionais como objetivo deconstruirmetodologiasintegradasoudeharmonizaracoletadedados(IOM,2007;IOM&FederalMinistryoftheInteriorofAustria,2009;ICMPD,2010).
Alémdosrelatóriosnacionaissobretráficodepessoas,cujofocotemsidonosdadosquantita-tivos(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a,2014,2015),onúmerodepesquisasrealizadaspelaacademia,ONGserelatóriosdeorganismosinternacionaisproduzidosdesdeoProtocolodePalermonoBrasilétambémvasto.Veja,porexem-plo:Leal&Leal,2002;Colares,2004;Cacciamali&Azevedo,2006;SecretariaNacionaldeJustiça,2005,2006;SecretariaNacionaldeJustiça&OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho,2007;Hazeu,2008,2011;InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2011;Peterke,Sven,etal.,2012;Piscitelli,2013;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013;SecretariaNacionaldeJustiça,Es-critóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&ONGRepórterBrasil,2014;PedraJ.B.,2016;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&AssociaçãoBrasileiradeDefesadaMulher,daInfânciaedaJuventude(s.d.).4641Sãoestudos,emsuamaioriaqualitativos,quepermitemoconhecimentoeoreconhecimentodofenômenodotráficodepesso-
43 Comodito,nostermosdaLein.13.344de06deoutubrode2016.44 Nostermosdalein.13.445de24demaiode2017,queprevêocrimedepromoçãodemigraçãoilegal,nosseguintestermos:Art.323-AdoCódigoPenal-Promover,porqualquermeio,comofimdeobtervantagemeconômica,aentradailegaldeestrangeiroemterritórionacionaloudebrasileiroempaísestrangeiro.Pena-reclusão,de2(dois)a5(cinco)anos,emulta.§1oNamesmapenaincorrequempromover,porqualquermeio,comofimdeobtervantagemeconômica,asaídadeestrangeirodoterritó-rionacionalparaingressarilegalmenteempaísestrangeiro.45 AimportânciadoassuntoédestaquenaUniaoEuropeia,quandoemDiretivan.36de2011doConselhoEuropeuparaaprevençãoeoenfrentamentoaotráficodepessoaseparaaproteçãodasvítimas,adotadaem05deabrilde2011,enfatizaqueaUniãoEuropeiadeverácontinuaradesenvolvertrabalhosemmetodologiasparaacoletadedadoseproduçãodeestatísticasdetráficodepessoasquepermitamacomparabilidade46 Estalistanaoéexaustiva.Limita-seadestacaralgumasdasreferênciasbibliográficasproduzidassobreoassuntonoperí-odocitado.Nãofoiobjetodesterelatórioolevantamentosistemáticodepesquisasrealizadassobreotema.
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as,porumlado.Apesardesuaslimitaçõesmetodológicas,semestaspesquisas,levantamentosediagnósticos,muitopoucosesaberiasobreofenômenodotráficodepessoasnoBrasilenomun-do,poisdescrevemqualitativamente,ecombastanteriqueza,casosquenãochegamnosistemaoficialdejustiçaesegurançapública.Poroutrolado,suscitamdúvidasequestionamentosquantoasuaconfiabilidadeevalidade,hajavistaseremdadosextraoficiais(vanDijck,2005),sembaseempíricaquantitativaerepresentatividade.
Alémdisso, em2011 foi instauradapeloSenadoFederalComissãoParlamentarde Inquérito(CPI)destinadaainvestigarotráficonacionaleinternacionaldepessoasnoBrasil.(SenadoFede-ral,2011).
Emsíntese,emcatorzeanosdevigênciadoProtocolodePalermo,muitascoisasavançaramnoquedizrespeitoàsaçõesdeprevençãoerepressãoaotráficodepessoaseàsaçõesdeassis-tênciaàsvítimas,masoregistrodestecrimeedesuasvariáveisporpartedasinstituiçõesoficiaiscontinuaincipiente.
NoBrasil,ocenárioéoseguinte:diversasinstituiçõestrabalhandoarduamentenoenfrentamen-toaotráficodepessoas;algumasdelasregistrandooscasosquebatemàssuasportas,aindaquemanualmente;poucasdelasanalisandoerefletindosobreastendências,ascausas,asconsequ-ências;todaselascomseusmétodospróprioseseminterlocuçãoumascomasoutras.Ainterlo-cuçãoaconteceemníveldeplanejamentoestratégicoparaaimplementaçãodaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,masnãonoquedizrespeitoàsestatísticasdocrimedetráficodepessoas.Fatoéque,seessesdadoscontinuamsendoregistradose/oucoletadospormetodologiasdistintas,vãotambémgerarestatísticasdiversasedificultar,quiçáimpossibilitar,acomparaçãoouanáliseintegradadosdados.
OprimeiroDiagnósticoBrasileirosobreTráficodePessoas,realizadopelaSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a),combaseexclusivamenteemestatísticasoficiaisregistradasnoperíodode2005a2011,jádestacavaafragilidadedossistemasdeinformaçãodasinstituiçõesdasegurançapú-blicaejustiçacriminalnoBrasil.FoinestaesteiraquefoielaboradaaMetodologiaIntegradadeTP(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013b)que,comovisto,passapordificuldadesparasuaimplementação.
Istotudointensificaaausênciadedadossobreumfenômenoque,alémdeontologicamentesubnotificado,éregistradoimpropriamente,fazendocomqueocrimepermaneçaoculto,aome-nos estatisticamente.
Apresentadas, resumidamente,asdificuldadesnacionaise internacionaisparasedescreveremedirotráficodepessoasdeformaválidaereal,traremososmaisrecentesdadoscoletadospelasinstituiçõesdasegurançapúblicaedajustiçacriminalnoBrasil,edealgumasdasinstituiçõesdarededeassistênciaàsvítimas,conformeTabelas2e3,noitem1.6.Oitem1.6explicaaindaameto-dologiadeconstruçãodesteRelatório,trazendoesclarecimentosquantoasfontesdeinformação,epermitindosuareplicaçãonosanosseguintes,paraaconstrução,sedesejado,deanálisehistórica.
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1.6.MetodologiadeConstruçãodoRelatórioNacionaldeTráficodePessoas–Dados2014a2016
OobjetivodesteRelatórioécoletareanalisardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoas.Hajavistaaexperiênciadeanosanteriores,naconstruçãodosrelatóriosnacionais,ametodologiaimplementadafoiamesma.Alémdosatoresdeenfrentamentodasegurançapúblicaejustiçacri-minal,queregistramdadosdetráficodepessoasemdiferentesformatos,ouatravésdedistintasvariáveis,vimostambémqueoutrasinstituiçõesdarededeassistênciaàsvítimas(governamen-tais)tambémregistramdadossobreestetipodeviolaçãodedireitoshumanos.
Portanto,seguindoopadrãodosrelatóriosconstruídosnosperíodos2005-2011,2012e2013,foramoficiadasasinstituiçõesdaMetodologiaIntegradadeTPeasinstituiçõesgovernamentaisqueprestamassistênciaàsvítimas,dentreaquelasqueforamidentificadasduranteaconstruçãodoprimeiroRelatórioNacional,solicitandodadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasdope-ríodode2014a2016.Algumasinstituiçõesdisponibilizamosdadosonline,portanto,permitemaconsultapública,outrasnão.Destaforma,todasasinstituiçõesdasTabelas2e3foramoficiadas.
Tabela 2.Atores da Metodologia Integrada de Coleta e Análise de Dados e Informações sobre Tráfico de Pessoas
MinistériodaJustiçaeSegurançaPública
1.SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania(SNJ)a)DepartamentodePolíticasdeJustiça/CoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas(CETP)b)DepartamentodeRecuperaçãodeAtivoseCooperaçãoJurídicaInternacional(DRCI)
2.SecretariaNacionaldeSegurançaPública(SENASP)/SistemaNacionaldeInformaçõesdeSegurançaPública,PrisionaisesobreDrogas(SINESP)3.PolíciaFederal(PF)4.DepartamentodePolíciaRodoviáriaFederal(DPRF)5.DepartamentoPenitenciárioNacional(DEPEN)
6.ConselhoNacionaldeJustiça(CNJ)7.ConselhoNacionaldoMinistérioPúblico(CNMP)8.MinistérioPúblicoFederal(MPF)/ProcuradoriaFederaldosDireitosdosCidadãos(PFDC)9.SecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)
Tabela 3. Atores da Rede de Assistência às Vítimas de Tráfico de Pessoas
MinistériodasRelaçõesExteriores(MRE)1.DivisãodeAssistênciaConsular(DAC)/MinistériodaSaúde(MS)2.CoordenaçãoGeraldeDoençaseAgravosNãoTransmissíveis/DepartamentodeVigilânciadeDoençaseAgravosnãoTransmissíveisePromoçãodaSaúde/SecretariadeVigilânciaemSaúde/SecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheresdaPresidênciadaRepública(SPM)3.CoordenaçãodaCentraldeAtendimentoàMulher–Ligue180/SecretariadeEnfrentamentoàViolênciacontraasMulheres/MinistériodosDireitosHumanos(MDH)4.SecretariaEspecialdeDireitosHumanos/Coordenação-GeraldoDisqueDireitosHumanos-Disque100
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AsinstituiçõesdaTabela3fizerampartedaconstruçãoeassinaturadeProtocolodeIntençõesdaMetodologiaIntegrada.Destacamosque,duranteaconstruçãodesteRelatório,foiobservadoqueestasinstituiçõestiveramdificuldadesnaimplementaçãodaMetodologiaIntegradadeTP,nãopermitindoaconstruçãodeumRelatórioNacionalqueenglobassetodososelementosprevistosnaqueledocumen-toequecontribuiriamparaadescriçãomaiscompletadofenômenodotráficodepessoas.
Tendoemvista,ainda,acomplexidadeeamulticausalidadedofenômeno,foramconsultadasoutrasinstituiçõesquereconhecemaimportânciadoenfrentamentoaocrimedetráficodepesso-aseadaptaramseussistemasdeinformaçãoparaoregistrodestaviolaçãodedireitoshumanosdeformamaisadequadaecompleta.
Noquediz respeitoaomarco legal, é importantemencionarque, comoesteRelatório temoobjetivodeanalisardadosdoperíodode2014a2016,alegislaçãodereferênciacontinuasendooCódigoPenal,arts231e231-A,revogadosexpressamentepelaLein.13.344de06deoutubrode2016,quetipificamotráficointernacionaleinternodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,comaseguinteredação:
Tabela4.TipoPenaldoTráficodePessoassegundooCódigoPenal(atédezembrode2016)
Tráficointernacional Art. 231 Código Penal -Promoveroufacilitaraentrada,noterritórionacional,dealguémquenelevenhaaexerceraprostituiçãoououtraformadeexploraçãosexual,ouasaídadealguémqueváexercê-lanoestrangeiro.-Agenciar,aliciar,comprarapessoatraficada.-Transportar,transferir,alojarapessoatraficadatendoconhecimentodestacondição.
Tráficointerno Art. 231-A Código Penal -Promoveroufacilitarodeslocamentodealguémdentrodoterritórionacionalparaoexercíciodaprostituiçãoououtraformadeexploraçãosexual.-Agenciar,aliciar,comprarapessoatraficada.-Transportar,transferir,alojarapessoatraficadatendoconhecimentodestacondição.
Serãoconsideradostambémostipospenaiscorrelatosaotráficodepessoas,quesãoaquelesco-metidosemparalelooucomomeioparasealcançarofim,queseriaaexploração.Essestipospenaisvi-nhamsendoaplicadosparaasoutrasmodalidadesdeexploraçãonãoprevistasnotipopenaldotráficodepessoas–trabalhoescravo,remoçãodeórgãos,tecidosoupartesdocorpo,adoçãointernacional,servidão–naausênciadelegislaçãoespecífica,responsabilizandoaquelesquepratiquemotráficodepessoascomoutrasfinalidadesquenãoaexploraçãosexual.
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Tabela5.TiposPenaisCorrelatosaoTráficodePessoas
Redução a condição análogaàdeescravo
Art. 149 Código Penal -Reduziralguémacondiçãoanálogaàdeescravo,quersubmetendo-oatrabalhosforçadosouajornadaexausti-va,quersujeitando-oacondiçõesdegradantesdetrabalho,querrestringindo,porqualquermeio,sualocomoçãoemrazãodedívidacontraídacomoempregadoroupreposto.
Crimes contra a criança e oadolescente
Art.238ECA -Prometerouefetivaraentregadefilhooupupiloatercei-ro,mediantepagaourecompensa.
Art.239ECA -Promoverouauxiliaraefetivaçãodeatodestinadoaoenviodecriançaouadolescenteparaoexteriorcomino-bservânciadasformalidadeslegaisoucomofitodeobterlucro.
Crimes contra a Lei deTransplante
Art.15daLein°9.434/97 -Comprarouvendertecidos,órgãosoupartesdocorpohumano.-Promover,intermediar,facilitarouauferirvantagemcomatransação.
Noquedizrespeitoàanálise,foramaindautilizadasalgumaspesquisasqualitativasconduzidasso-breotema,especialmentenoperíodode2011a2016,comoobjetivodeampliaradiscussãoeservirdepanodefundoparaumaanálisemaiscomplexa,quepossairalémdosdadosquantitativos.Osdadosoficiaisequantitativosnãosãosuficientesparadescreverofenômenodotráficodepessoas,dadasuacaracterísticadesubnotificação,aindaquetenhamosconsideradonesterelatórioosdadosdasinstitui-çõesqueprestamatendimentoàsvítimas.Otráficodepessoaséfenômenocomplexoquerequerpes-quisaqualitativa,assimoutrasreferênciasquenãosomenteosdadosquantitativosfornecidospelasinstituiçõesforamutilizadas,permitindoatriangulação.47 42
EsteRelatório,portanto,teveumdiferencialemrelaçãoaosrelatóriosanteriores,equebraoparadig-madaapresentaçãodasestatísticasoficiais,separadamentedasestatísticasnãooficiais,concluindoqueatriangulaçãodasfonteséamelhorformadeseanalisarofenômenodotráficodepessoas.
É,então,divididoemitenstemáticos,dondepoderãoserextraídasasmaisrecentesestatísticasofi-ciaisfornecidaspelasinstituiçõescitadasnaTabela3,eondeserãoreferenciadasasmaisrecentespes-quisasnacionaisconduzidassobreoassunto,publicadasentre2011e2016,equeajudamainterpretarofenômenodotráficodepessoassobremaneira.
47 Atriangulaçãoéautilizaçãodenomínimotrêsdiferentesferramentas(quantitativasouqualitativas)noprocedimentodepesquisaparasecoletarainformaçãonecessária.SugeridaporautorescomoAebi(2006),StrausseCorbin(1998),Francis(2000),Maxwell(1996),Merriametal.(2002)ePatton(1990),atriangulaçãopermiteaopesquisadorconfirmarasinformaçõesfornecidaspelasferramentasutilizadas.Asinformaçõesfornecidasporentrevistas,porexemplo,confirmamoureproduzemasinformaçõesprovenientesdosdadosestatísticos,queporsuavezconfirmamasinformaçõeslevantadasemrevisãobibliográfica.Asinforma-çõespodemsertambémcontraditadasumaspelasoutras,trazendoparaapesquisaariquezadodebateentreosmétodos.
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2. Do Relatório Nacional de Tráfico de Pessoas: Principais Constatações2.1.EsclarecimentosIntrodutóriosparaainterpretaçãodosdados
ORelatórionãoapresentatabelascomparativas,porexemplo,entreosdadoscolhidosnosperíodosanteriores-2005a2011,2012e2013–ecolhidosnoperíodode2014a2016,ouentreasinstituiçõesquecoletaramestesdados,pois:
• Manualidade:avalidade/qualidadedosdadosquantitativossobretráficodepessoasnoBrasiléquestionável.Observa-seamanualidadenoregistrodosdadosemalgumasinstituiçõesouamanualidadenomomentodesegerarrelatórios.Ademias,houvemudançasnaformadecoletaouregistrodedadosentreosperíodos,impossibilitandoacomparação;
• AusênciadeVariáveisimportantes:apesardaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTPsu-gerindoummínimodevariáveis,nãohásistemasdeinformaçãocapazesderegistrardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasadequadamente,ouquecontempleascaracterísticasqueconstituemocrime.Particularmente,ossistemasdajustiçacriminalsãoosmaisprecáriosemtermosdeníveldedetalhamento;
• Diferençasnosconceitos:assimcomoobservadonoRelatórioNacionalquecobriuoperíodode2005a2011,cadatermopodeterumadefiniçãodiferenteemcadasistemadeinformação,impossibilitandoacomparação.Exemplificando:oconceitodetráficodepessoasadotadopelapolíciaéoprevistonoCódigoPenal,queconsideretráficodepessoasexclusivamentequandoafinalidadedaexploraçãoésexual.Jáoconceitoadotadopelasinstituiçõesqueassistemàsvíti-maséodaPolíticaNacional,queenglobadiversasmodalidadesdeexploração.OMinistériodoTrabalho,porsuavez,contabilizaoscasosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,quenemsempresãocasosdetráficodepessoas.Comaprevisãodotipopenaldotráficodepessoasepelomenosquatromodalidadeseexploração,nostermosdaredaçãodoart.149-A,dadapelaLein.13.433/2016,eemacordocomoProtocolodePalermoecomaPolíticaNacional,épossívelqueesteobstáculosejavencido,casoossistemasseadequemaesteconceito;Diferençanosperíodosdecoleta:as instituiçõesestãoemdescompassotemporal.Há instituiçõesquenãoconcluíramotratamentodosdadoscolhidosem2015,porissonãopublicizaram,enquantoqueháoutrasinstituiçõesquejágeraramrelatóriosatédosdadoscolhidosem2016;
• Formadeapresentaçãodosdadosinadequada:muitasinstituiçõesaindafornecem,enquantodados,númerosexatosemseusrelatórios,enquantoqueoidealparaefeitodeanáliseoucom-parabilidadeseriamasporcentagensouastaxas,porexemplo,porXmilhabitantes.NãosepodecompararonúmerodecasosdetráficodepessoasregistradosemSãoPaulocomonúmerodecasosregistradosnoAcre,poisadiferençapopulacionalentreestesdoisestadoséconsiderável.Obviamente,haverãomaiscasosemSãoPaulo.
• Margemdeerro:nossistemasemquehouvealgumavançoemrazãoda implementaçãodaMetodologiaIntegradadeTP,naquantidadedevariáveisparaexplicarofenômeno,os“nãoinfor-
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mados”aindaconstituemnumagrandeparcela,contabilizandoaté40%.Paraefeitodecálculosestatísticos,os“nãoinformados”deveriamserexcluídosdaamostranahoradoscálculos,masistoimplicarianareduçãodouniversoparapoucomaisdametade.Ouseja,amargemdeerroparaqualqueranálisedefrequênciaoucomparativaémuitogrande,nãodevendoserfeitaporquepodeinduziraerrograve;
• Ausênciadeperiodicidadenolevantamentodasinformações:nãoháperiodicidadenaanálisedosdadosdetráficodepessoaspelasprópriasinstituições.Aanálise,aindaqueinterna,acon-tecemotivadapordemanda,aexemplo,pedidodaCoordenaçãoNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,dedadosdetráficodepessoasparaaelaboraçãodesteRelatórioNacional.Issoimplicanaausênciadeconhecimentointernodosdadoscolhidos,naausênciadeanálisedaqualidadeounacríticadosseusprópriosdadosparaaprimoramento;
• Inconsistênciadosdados:ainconsistênciadosdadoséumameraconsequênciadosproblemasaquilistados.Foiobservado,porexemplo,queonúmerototaldecasosdifere,nummesmoano,adependerdavariávelestudada.
Ascomparações,então,poderiamtambéminduziraerrogravedeinterpretação,àelaboraçãodehipótesesdistorcidasedestoadasdarealidade,ainferênciasincorretaseinadequadas.Ouseja,acom-parabilidadefoiusadacomométododeanáliseexcepcionalmente,ousemprequepossível.E,preferen-cialmente,nãodeveserfeitapeloleitor,poisalertamosdaprobabilidadedeinduçãoaerrocrassoedaconstruçãodeconclusõessemvalidade.
2.2.Dainexistênciadeumperfilespecíficodevítimaedacondiçãodevul-nerabilidadedestas
Umadasprimeirasinquietaçõesnoquedizrespeitoaotráficodepessoaséoperfildavítima,princi-palmenteparaaelaboraçãodepolíticasdeprevenção.Sefossemoscontarsomentecomasestatísti-cascriminais,nãosaberíamosnadasobreoperfildasvítimas.Istoporquequasenenhumadaspolíciaslevantaascaracterísticasdasvítimasquandodoregistrodasocorrências,nemsequerogênero.Épos-sívelqueoregistrodainformaçãosejafeitonosboletinsdeocorrência,masestedadonãoconsisteemumadasvariáveisdossistemasdeinformação,deondesãoextraídososrelatóriosquantitativos.Excepcionalmente,aPRFregistraalgumasinformaçõessobreavítimacomosexo,idade,etnia,escola-ridade,eseestrangeiro.
Ajustiça,porsuavez,provavelmentetambémtenhaestainformaçãonosprocessosjudiciais,mas,damesmaforma,nãodisponibilizanoseubancodedados.Ouseja,apesardosesforçosparaaconstru-çãodaMetodologiaIntegrada,adificuldadedeinformaçõessobreasvítimaspermanece,porquestõesoperacionais,certamente,mastambémontológicas,lembrandoqueajustiçacriminalsurgiunointuitodeexcluirasvítimasdoprocessocriminalederetirar-lheoconflito(Christie,1977),nãoregistrandoquasenadasobreasvítimas.
Portanto,parasedescreveroperfildavítimaháqueserecorrernecessariamenteàsoutrasfontes,taiscomoosdadoslevantadospelasinstituiçõesconsideradascomodeassistênciaàsvítimas.
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SEXO DA VÍTIMA
ASecretariaNacionaldePolíticasparaasMulheresrevelaumnúmeroexpressivodemulheresvíti-masdetráficodepessoas,parafinsdeexploraçãosexualetrabalhoescravo.Dadosde2014a2016contabilizam317mulheresvítimasdetráficodepessoas(internoeinternacional)parafinsdeexplora-çãosexualesomentecincohomens.VejaTabela6: Tabela6.PerfildaVítima–SexoversusModalidadedaExploraçãoSexualsegundodadosdoLigue180
TRÁFICODEPESSOASPARAFINSDEEXPLORAÇÃOSEXUALPORANO/SEXO
FEMININO MASCULINO N/I48 TOTAL
2014 56 1 43 1002015 139 0 76 2152016 122 4 47 173
TOTAL 317 5 166 488
Fonte:MJSP/SPM/Ligue180
Estainformação,noentanto,deveserrelativizadaporduasprincipaisrazões:1.OLigue180temoobjetivodereceberdenúnciasdecrimescontraasmulheres,apesardetambémregistrarsituaçõesdeviolênciacontrahomens.Portanto,onúmerodenotificaçõesdetráficodepessoascujavítimasejaumamulherseráobviamentesuperioraonúmerodenotificaçõescujavítimasejaumhomem.
Jánoquedizrespeitoaotrabalhoescravo,aconotaçãodegênerojácomeçaaserevelar,indicando,maisumavez,queogêneropossaestaratreladoaformadeexploração.Vejaquesão123mulheresví-timasdetrabalhoescravoe52homens,numbancodedadosvoltadoparaorecebimentodedenúnciasdecrimescontramulheres.VejaTabela7:
Tabela7.PerfildaVítima–SexoversusModalidadedoTrabalhoEscravosegundodadosdoLigue180
TRÁFICODEPESSOASPARAFINSDETRABALHOESCRAVOPORANO/SEXODA VÍTIMA
FEMININO MASCULINO N/I TOTAL
2014 10 3 12 252015 50 19 42 1112016 63 30 28 121
TOTAL 123 52 82 257
Fonte:MJSP/SPM/Ligue180
48ParaN/Iemtodasastabelas,leia-seoN.depessoasquenãoinformaramounãorespoderamaestapergunta.
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Novamente,estainformaçãodeveseranalisadacomcautela,poisonúmerodepessoasquenãoinformaramosexo,nasduasmodalidadesdeexploração,ébastanteexpressivo,ouseja,cercade40%.
OsdadosdoMinistériodaSaúde,umdosmaisconfiáveis,assimcomoemanosanteriores,revelamumamaioriademulheres(n=301,75%)dasvítimas,assimcomonaTabela8:
Tabela8.PerfildaVítima–SexosegundodadosdoMinistériodaSaúde
TRÁFICODEPESSOASPORANO/SEXO DA VÍTIMA FEMININO MASCULINO TOTAL
2014 94 18 1122015 94 40 1342016 113 40 162
TOTAL 301 107 408
Fonte:MinistériodaSaúde(MS)/SecretariadeVigilânciaemSaúde(SVS)/SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotifica-ção(SINAN)/SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes(VIVA)
OsdadosdaSDHrevelamtambémumamaioriademulheres(n=166),mascontabilizaramcercade30%(n=157)depessoasquenãoinformaramosexo.Ouseja,amargemdeerroémuitogrande.
Tabela9.PerfildaVítima–SexosegundodadosdoDisque100
TRÁFICODEPESSOAS/SEXODAVÍTIMA FEMININO MASCULINO N/I TOTAL
2014 63 30 72 1652015 49 35 45 1292016 54 25 40 119
TOTAL 166 90 157 413
Fonte:MDH/SDH/Disque100
JáosdadosdoMinistériodoDesenvolvimentoSocial,noquedizrespeitoaonúmerodepessoasvítimasdetráficoatendidaspeloPAEFInosCREAS,revelamumagrandemaioriadehomens.Das843pessoasidentificadascomovítimasdetráfico,631sãohomens.Istonumuniversodecercade29milatendimentosregistradospeloCREASatravésdoPAEFInoanode2016.49 43
Finalmente,oRelatórioGlobaldoUNODC(2012)reforçaqueotráficodepessoaséumcrimecomumaforteconotaçãodegênero,sendoaprincipalparceladevítimasidentificadasconstituídapormu-lheresadultas(UNODC,2012a:26),chegandoatéa50%dasvítimasmulheres(UNODC,2014).Pelosda-doslevantadosentre2014e2016noBrasil,comexceçãodosdadosdoMDS,onúmeromaisexpressivoédefinitivamentedevítimasdosexofeminino.Alémdisso,asbasesdedados,comexceçãodaSDH,nãonospermitemidentificaraidentidadedegênero,mastãosomenteosexo.50 44
49 Nãoobstante,asubnotificaçãodevítimasdosexomasculinodeveserestudadamaisaprofundadamente.Osestudosviti-mológicosindicamqueémenosprovávelqueumhomemsereconheçacomovítimadeumtipopenalpoisistosignificareconhecerfragilidades,fraquezas,viaderegranãopermitidasenquantoatributosdogêneromasculinonassociedadespatriarcais50 Emesmoassim,nolevantamentofeitode2014a2016,aidentidadedegêneronãofoiinformadaem100%doscasos.Restasaberseporvontadedavítimaouseporfaltadehabilidade/capacitaçãodoatendenteparalevantarestedado.Nãoobstante,osatendi-mentossãofeitosportelefoneentãoestaéumaquestãobastantesensíveldesertratadaatravésdestemétododelevantamento.
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IDADE DA VÍTIMA
Quantoàidadedasvítimas,osdadosdoMS,umdospoucosquerevelamaidadedavítimadema-neiraconfiável,5145apresentamumnúmeroconsideráveldepré-adolescentes,adolescentesejovens.Afaixaetáriaentre10e29anosconsisteemcercade50%,senãovejamosnaTabela10:52 46
Tabela10.PerfildaVítima–IdadesegundodadosdoMinistériodaSaúde
Faixaetária(anos) 0 - 9 anos 10 - 19 anos
20 a 29 anos
30 a 59 anos
60 anos e mais TOTAL
2014 15 28 31 35 3 1122015 18 39 25 44 8 1342016 24 37 40 54 7 162
TOTAL 57 104 96 133 18 408
Fonte:MinistériodaSaúde(MS)/SecretariadeVigilânciaemSaúde(SVS)/SistemadeInformaçãodeAgravosdeNotificação(SINAN)/SistemadeVigilânciadeViolênciaseAcidentes(VIVA)
Afaixaetáriade10a19anosconsisteem20%dasvítimas.IstojáhaviasidoapontadopeloRelatóriode2005-2011(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2013a),reforçandoaconstataçãodoRelatórioGlobal,segundooqualos/asadolescentessomamde15%a20%dasvítimasmundialmente(UNODC,2012a).
OsdadosdaSDHtambémrevelamumnúmerobemimportantedecriançaseadolescentesvítimasdetráficodepessoas,especialmentenasfaixasetáriasde0a3anos(n=70),de04a11anos(n=63),ede12a17anos(n=83),senãovejamos Tabela11:
Tabela11.PerfildaVítima–IdadesegundodadosdoDisque100
Ano/Fai-xaetáriadavítima
Nascituro –RecémNascido
0 -3 anos
04–11anos
12–17anos
18–30anos
30 anos e mais N/I TOTAL
2014 9 29 21 27 5 0 74 1652015 12 20 25 20 8 3 41 1292016 10 21 17 36 3 1 31 119
TOTAL 31 70 63 83 16 4 146 413
Fonte:MDH/SDH/Disque100
51 OsdadosdoMDSrevelamumnúmeroconsideravelmentemaiordehomens,algodiferentedopadrãodosoutrossistemasaquiestudados.Háqueseinvestigarmaisaprofundadamenteaosmenosduashipótesespodemserlevantadas:1.QueasvítimasquechegamnoSistemaÚnicodeAssistênciaSocialsãodosexomasculinopoisrepresentaparcelaconsideráveldas‘vitimasdetrabalhoescravo,quesãotambémmaiscomumentedosexomasculino;2.QueoSistemaÚnicodeAssistênciaSocialpossaestarsequivocandonomomentodoregistroeconfundindoconceitoscomotráficodepessoasetráficodedrogas.Osdadostambémrevelamaidadedasvítimas,masnãodemaneiraconfiável.Umadasfaixasetáriasémuitolarga,quersejados18aos59anos,en-globandociclosdevidamuitodistintos(jovens(18a29anos)adultos(30a54anos),beirandoosidosos(apartirde55anos,sendoqueserãoconsideradaspessoasidosasaquelasapartirde60anos)).52 OMSincluiasidadesde10,11e18anosnafaixaetáriaquevaiaté19,certamentetendoemvistaasnecessidadesdaspolíticasdesaúde.Noentanto,nostermosdoEstatutodaCriançaedoAdolescente,seráconsideradoadolescentepessoanafaixaetáriade12a18anos.
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Noentanto,damesmaformaquenainterpretaçãodosdadosdaSPM,estesdevemserflexibilizadospois:1.ODisque100foicriado,aprincípio,comoobjetivodereceberdenúnciasdeviolaçõescontracriançaseadolescentes,revelando,obviamente.Ummaiornúmerodevítimasentre0e17anos;2.Onúmerodepessoasquenãoinformaramaidadenoperíodolevantadocontabiliza35%.Ouseja,amar-gemdeerrotambémémuitogrande,assimcomonosdadosdaSPM.
NACIONALIDADE DA VÍTIMA
Avariável“nacionalidadedavítima”équasequeinexistentenosdadoslevantados.Ouseja,nãoháumapreocupaçãoemregistrá-la.Noentanto,aliteraturatemdemonstradoquecomaprojeçãodoBrasilnocenáriointernacional,amelhoriadaeconomia,asgrandescriseshumanitáriaseasdificuldadesdedesenvolvimentoeconômicodospaísesvizinhosdaAméricadoSul,maisemaisestrangeirosestãosendovítimasdetráficodepessoasparaoBrasil.
Porexemplo,osdadosdoMTrevelamquantosdostrabalhadoresencontradosemsituaçãodetra-balhoescravoqueforamresgatados,sãoestrangeiros.Noanode2014,cercade8%dostrabalhadoresresgatadoseramestrangeiros.Nosanosde2015e2016,temos4,4%e5,4%respectivamente,senãovejamosTabela12.
Tabela12.PerfildaVítima–NacionalidadesegundodadosdaSecretariadeInspeçãodoTrabalhodoMinistériodoTrabalho(SIT/MT)doDisque100
ANO N. DE TRABALHADO-RESALCANÇADOS
N. DE TRABALHADORES EMCONDIÇÃO
ANÁLOGA À DE ESCRAVO
ESTRANGEIROS RESGATADOS
(N/%)
2014 1.752 1.560 119(7,6%)2015 8.680 1.199 53(4,4%)2016 8.082 946 52(5,4%)
TOTAL 18.514 3705 224
Fonte:MT/SIT
Ouseja,foramencontrados,somentepeloMinistériodoTrabalho,224estrangeirosemsituaçãoaná-logaàdeescravo.Sabemos,portanto,quesãoestrangeirosquemigraramparaoBrasilembuscademelhorescondiçõesdevida,masnãosabemosanacionalidade.Estudosqualitativostentamlevantarestetipodeinformaçãonocampo.Porexemplo,oDiagnósticosobreTráficodePessoasnaÁreadeFronteirarevelouapresençadebolivianosqueestãosendotraficadosparaoBrasilparafinsdetraba-lhoescravooudeparaguaiasparafinsdeservidão,alémdeperuanos,chinesesebengalis(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMi-grationPolicyDevelopment,2013).Cacciamali&Azevedo(2006)tambémestudaramasituaçãodasvítimasdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravo,sobretudodosbolivianosnaindústriatêxtilemSãoPaulo.
PesquisamaisrecentedoProjetoMigraçõesTransfronteiriçasrevelouasituaçãodosimigranteshai-tianosque,fugindodagravecrisehumanitáriaquepersistenaquelepaísporlongosanos,estãosendo
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vítimasdetráficodepessoasparaoBrasilparafinsdetrabalhoescravo(Fernandes,Castro,Faria,Silva&Rezende,2016;PedraJ.B.,2016).
VULNERABILIDADE
Oconhecimentodoconceitodevulnerabilidadee,portanto,oseureconhecimento,sãoelementosessenciaisparaoentendimentodosdadosdetráficodepessoas.Vulnerabilidadeésituaçãoindividualoudeumgrupo,preexistenteoucriada,quesignificafragilidadee,porisso,potencializaapossibilidadedapessoadeseencontraremsituaçõesderiscooudeexploração(Pedra.J.B.&Barbosa,2014).
Avulnerabilidadepodeserpessoal,situacionaloucircunstancial.Vulnerabilidadepessoaléaquelarelacionadaàscaracterísticasindividuaisdedeterminadapessoa,podendoser,porexemplo,oprópriosexo,aidentidadedegênero,aorientaçãosexual,aidade,aetnia,ouumadeficiênciamentaloufísica,dentreoutros.Avulnerabilidadesituacionaléadquirida,estárelacionadaàspessoaseaomomentopeloqualestejampassando.Podeexemplo,podeestarrelacionadaaofatodapessoaestarindocumentadaempaísestrangeiro,estarsocialmenteoulinguisticamenteisolada.Eavulnerabilidadecircunstancialdizrespeitoaumaparticularidade,porexemplo,asituaçãoeconômica,odesemprego,apobreza,ade-pendênciadesubstânciasentorpecentesoudoálcool(UNODC,2012a).
Aliteraturadestacajáhámuitosanosqueopontocomumentreasvítimaséasituaçãodevulnera-bilidadenaqualestãomergulhadas,oqueasempurraparaotráfico.Sãooschamados“pushfactors”segundoaliteraturamaisantiga(Dijck,2005).OsdadosdoMDS,cujonúmerodevítimassomenteem2016ébastanteexpressivo (n=843) requeremumestudomaisaprofundado.5347Aparentemente,osCREASsãoumaimportanteportadeentradaparaasvítimas.NememtrêsanosoMS,aSPMouaSDHsomaramonúmerodevítimasidentificadaspeloMDSemumano.Algunsestadosmerecem,inclusi-ve,destaque:Paraná(85),MinasGerais(153),MatoGrossodoSul(162)eSãoPaulo(212).Istopodeindicarumaquantidademaiordecasosefetivamentenestasregiões,mastambémqueasequipesdosCREASdestesestadosestãomelhorcapacitadasparaidentificaroscasos.
Equempodeestaremsituaçãodevulnerabilidade?Criançaseadolescentes,naturalmente,porumaquestãodedesenvolvimentopessoal,sãovulneráveis.Mulheres,emalgumassociedades,maisdoqueemoutras.Istodependedograudeempoderamento,acessoàeducaçãoeaotrabalho,acessoaosdireitoscivis,políticosesociais,quediferememcadasociedade.Migrantesemgeraltambémsãocon-sideradoscomoumpúblicovulnerável,principalmenteaquelesqueestãoemsituaçãoirregular(UNO-DC,2012b).Minoriasétnicas,indígenas,pessoascomdeficiênciaeapopulaçãoLGBTpodemtambémestaremsituaçãodevulnerabilidadeemalgunscontextos(InternationalCentre forMigrationPolicyDevelopment,2011).
Háaindaaquelesgruposquesãomaisvulneráveisadependerdamodalidadedeexploração.Porexemplo,adolescentesdosexomasculino(homossexuaiseheterossexuais)sãotraficadosparafinsdeexploraçãosexualemdeterminadoslocais.Pessoascomdeficiênciaspodemestarmaisvulneráveisàmodalidadedotráficoparafinsdeexploraçãonamendicância.Refugiadospolíticoseambientais,pelofatodeestaremnacondiçãoderefugiados,sãomaisvulneráveisqueoutraspessoas(UNODC,2012).
53 OsdadosdoRMA_CREAS2014e2015apresentaraminconsistênciasporissonãoforamutilizadosnesteRelatório.
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2.3.Dasformasdeexploraçãoedademanda
Osrelatóriosinternacionais,nacionaiseoutraspesquisasrealizadasinformamqueaformadeex-ploraçãomaisidentificadaéasexual.ORelatórioGlobalde2014informaque,nasAméricas,EuropaeÁsiaCentral,ÁfricaeMeioOriente,casosidentificadosdeexploraçãosexualcontamde48a66%doscasos;enquantoque,noSuleLestedaÁsiaenoPacífico,sãooscasosdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravoquesãomaisdetectados–64%doscasos(UNODC,2014).
NoBrasil,aomenosnoquedizrespeitoaotráficointernacional,apredominânciadamodalidadedeexploraçãosexualfoiconfirmadapordadosdaDAC/MRE,reveladosnoDiagnósticoNacionalde2013e2015(SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime2013a;2015),bemcomoemdadosmaisrecentesinformadospelaprópriaDivisão.Foram10vítimasdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexualecincovítimasdetráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravonoperíodocompreendidoentre2014e2016.54 48
DadosdaSPM,comovistonasTabelas5e6,tambémdemonstramumamaiorincidênciadetráficodepessoas(internoeinternacional)parafinsdeexploraçãosexual.Emtrêsanos,foraminformados488casosdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,dosquais189sãodetráficointernacio-nale299sãodetráficointerno,e257parafinsdetrabalhoescravo.
JáosdadosdaPolíciaFederalparaoperíodode2007a2014revelam285indiciamentos5549em137inquéritosinstauradosportráficointernacionalparafinsdeexploraçãosexual,enquantoquesão1383indiciamentosem754inquéritospelocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,númeromuitosuperioraoprimeiro.
Ressaltamosqueoart.149doCódigoPenal,apesardenãocorresponderaotipopenaldotráficodepessoas,dadaaausênciadelegislação–atéoutubrode2016–quedescrevesseaformadeexplora-çãodotrabalhoescravocomoelementodotipopenaldotráficodepessoas,évistopelateoriacomotipopenalcorrelato(comojámencionadonoitem...desterelatório)poismuitocomumentetemsidoobservadonaspesquisaseinvestigaçõesdecampo(inquéritospoliciais,inspeçõesdosauditoresfis-caisdotrabalhoquesãoosdocumentosiniciaisdosprocessoscriminaisoumeiosdeprova)queasaçõeselementaresdoconceitodetráficodepessoas–recrutamento,aliciamento,alojamento–estãopresentesnoscasosidentificados.Porexemplo,otrabalhadoreschegamaoslocaisdeexploraçãoemgruposcoordenadosporindivíduo/squeosrecruta/mparaotrabalho,vulgarmenteconhecidocomo“gato.”Aindaassim,nãoépossívelafirmarquehásempretráficodepessoasnassituaçõesidentifica-dasdeexploraçãodotrabalho,portantoháqueserelativizarestasinterpretações.5650Nãoéválidotam-bém,paraefeitosestatísticos,somaronúmerodecasosenomeá-lostodoscomocasosdetráficodepessoas.Devem,necessariamente,seranalisadosemseparado.
Nocasodetráficointernacionaldecriançaseadolescentes,foram47inquéritose77indiciamentos.
54 NoprimeiroRelatórioNacionaldeTráficodePessoasaDAC/MREdeclarouoregistrode475vítimasdetráficodepessoas.Osnúmeroparaoperíodode2014a2016forammuitoinferiores.Seriaimportanteumolharmaisqualificadosobreestesdadosou.umaconsultamaisprofundaparacompreenderoporquêdeumareduçãotãosignificativanonúmerodecasos.55 Onúmerodeindiciamentospodesersuperioraonúmerodeinquéritospostoquepodehavermaisdeumindiciadopelocrimedetráficodepessoasporinvestigação.56 Nãoobstante,aInstruçãoNormativan.91doMT,quedispõesobreafiscalizaçãoparaaerradicaçãodotrabalhoemcon-diçõesanálogasàdeescravo,garanteàpessoaencontradaemsituaçãodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãodetrabalhotodososdireitosfundamentaisetrabalhistasprevistosnestemesmotextolegal,equiparandoasvítimas.
40
Tabela13.Inquéritos/IndiciamentosporModalidadedeExploraçãosegundoaPolíciaFederal–Dadosde2007a2016
MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/N.PROCEDIMENTO
TráficoInternacional de PessoasparafinsdeExploração
Sexual
Redução a Condição Análoga
àdeEscravo
TráficoInternacional de Crianças e Adolescentes
Comercializaçãode tecidos,
órgãosepartesdocorpohumano
N.Inquéritos 137 754 47 21N.Indiciamentos 285 1.383 77 0
Fonte:SINIC–SistemaNacionaldeInformaçõesCriminais
OutrafontequepodenosajudaracompreenderasformasdeexploraçãomaisoumenosfrequentessãoosdadosdoConselhoNacionaldeJustiça,querevelam,maisumavez,umnúmeroquatrovezesmaiordecasosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,senãovejamosTabelas14e15:57 51
Tabela14.ProcessosCriminais(JustiçaEstadual)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça–dados2014a201658 52
MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/
GRAU DE JURISDIÇÃO
TráficoInternacionaldePessoas
TráficoInternodePessoas
Redução a Condição AnálogaàdeEscravo
1ºGrau 246 259 3.1942ºGrau 209 224 129
Total 455 483 3.493
Fonte:CNJ–JustiçaemNúmerosDigital
57 OsdadosapresentadosnasTabelasdizemrespeitosomenteaonúmerodecasosnovosregistradosnosTribunaisEstadu-aisenosTribunaisFederaisnosanosde2014a2016.Osnúmerosnãocontemplamosprocessosemandamentoanteriormenteaesteperíodo,nemháoregistrocumulativo,ouoestoque,entreosanosde2014e2016.58 Importanteregistrarqueastabelasgeradasinformavamaindaumnúmerode1018processoscriminaisdetráficodepessoas(internoeinternacional)ereduçãoacondiçãoanálogaadeescravosendoprocessadosperanteJuizadoEspecialeTurmaRecursal.Hajavistaambosnãoseremcrimesdemenorpotencialofensivo,acreditamosterhavidoumerrodedigitaçãonoregistrodosdadosporpartedosTribunaisdoAmazonasedoParaná,queregistraramestainformação,portantoexcluímosestenúmerodototal.
41
Tabela15.ProcessosCriminais(JustiçaFederal)porModalidadedeExploraçãosegundooConselhoNacionaldeJustiça–dados2014a201659 53
MODALIDADE DE EXPLORAÇÃO/
GRAU DE JURISDIÇÃO
TráficoInternacionaldePessoas
TráficoInternodePessoas
Redução a Condição AnálogaàdeEscravo
1ºGrau 297 50 2.4782ºGrau 73 12 318
Total 370 62 2.796
OTribunalFederalquemaisteveprocessosdereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravofoioTRFda1°região,quecompreendeosestadosdodoAcre,Amapá,Amazonas,Bahia,DistritoFederal,Goiás,Maranhão,MinasGerais,MatoGrosso,Pará,Piauí,Rondônia,RoraimaeTocantins,com1871processosdos2796.NocasodosTribunaisestaduaisforamregistradosmaiscasosdereduçãoacondiçãoaná-logaàdeescravonoDistritoFederal.
Nocasodocrimedetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,excluindoosestadosdoAmazonaseParaná,hajavistaoprovávelerronoregistrodosseusnúmeros,osestadosdeSãoPauloeMinasGeraisforamosqueacusaramomaiorregistrodeprocessosnoperíodo.
Estadiferençanonúmerodecasos,considerandoquenosmecanismosdeapoioàsvítimassãoidentificadasmaissituaçõesdetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual,apontaparaasse-guinteshipóteses:
1.Aprevalênciadosesforçosdasinstituiçõesdasegurançapúblicaedajustiçacriminalnoen-frentamentoaotipopenaldoart.149doCódigoPenal,queconsistenocrimedereduçãoacondi-çãoanálogaàdeescravo.60 54
2.Queamaioriadasvítimasdeexploraçãosexualprocuraoué identificadamaiscomumentepelosequipamentosdeassistência(saúde,educação,direitoshumanosedamulher)enquantoqueasvítimasdeexploraçãolaboralnãoprocuramounãoconseguemchegaraestesespaços.
Outrasmodalidades,comootráficoparafinsderemoçãodeórgãos(equiparadoaoart.15daLein.9434/97)sãoraramenteidentificados.SegundooRelatórioGlobal,otráficoparafinsderemoçãodeórgãosconsisteem0.3%doscasosefoidetectadoem12países(UNODC,2014).Alémdepoucoidenti-ficados,ainstruçãoeproduçãodeprovasébastantecomplexa.VejanaTabela13queaPolíciaFederal,entre2007e2016,instauram21inquéritoscomoobjetivodeinvestigararemoçãodeórgãos,masnãoindiciounenhuminvestigado,possivelmenteporfaltadeprovas.
Noquedizrespeitoaonexocausalentreasformasdeexploraçãoeoperfildavítima,osúltimoses-tudosqualitativostêmdestacadoestacausalidade,nãohavendo,portantoumperfil,masperfis(Pedra
59 AtabelageradaparaocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravonosprocessosperanteaJustiçaFederalapre-sentouumprocessoemJuizadoEspecialqueseacreditatersidoumerrodedigitaçãodoTRFda1°região,hajavistanãosercrimedemenorpotencialofensivo,portantoesteumprocessofoiexcluídodototal.60 Nostermosdalegislaçãovigenteatéofinalde2016.
42
J.B.,Alline(Coord.),2016;SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013).
Aexemplo,pessoastraficadasdosexomasculinosãomaiscomumenteidentificadasnamodalida-detrabalhoescravo/trabalhoforçado,segundooRelatórioGlobaldoUNODC(2012;2014).OsdadosdaSPMnasTabelas3e4indicamparaestainterpretação.
Nãoaomenos,pesquisanaáreadefronteirarevelouquemulheresestãosendotraficadasparaoBrasilparafinsdetrabalhoescravonaindústriatêxtileparaservidãodoméstica(SecretariaNacionaldeJustiça,EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime&InternationalCentreforMigrationPolicyDevelopment,2013),ouseja,atividadesque,emumasociedadepatriarcal,seriameminentementecon-sideradascomofemininas.
2.4.Doperfildosautores
Jáem2005,pesquisadestacavaas“teiasfemininasformadasporamigas,conhecidas,vizinhaseparentes,tias,sobrinhas,irmãs,sogras,“convidando”,informando,estabelecendoconexões”(SecretariaNacionaldeJustiça,2005:57).Pesquisapublicada,em2008(Hazeu),especificamentesobreotráficodepessoasdoBrasilparaoSuriname,tambémrevelaumamaiorincidênciademulheresaliciadoras.ODiagnósticoNacional2005-2011revelouque,dosdadosregistradospelaPolíciaFederal,foiconstatadamaiorincidênciademulheresaliciadoras(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUni-dassobreDrogaseCrime,2013a).
DadosmaisrecentesdaPolíciaFederal6155reforçamaconotaçãodegênerodocrimedetráficodepessoas,dependendodamodalidadedeexploração.Numuniversode1344pessoasindiciadasportráficodepessoase/outipospenaiscorrelatos,6256hámaismulheresdoquehomensemcasodetráficodepessoasparafinsdeexploraçãosexual.Jánocrimedereduçãoacondiçãoanálogaàdeescravo,amaioriadosindiciamentosédehomens.
Tabela16.IndiciamentosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdaPF–Dadosde2007a2016
NÚMERODEINDICIAMENTOS/MODALIDADEDEEXPLORAÇÃO FEMININO MASCULINO TOTAL
N.IndiciamentosporTráficoInterna-cionaldePessoasparafinsdeExplo-raçãoSexual
147 138 285
N.IndiciamentosporReduçãoaCon-diçãoAnálogaàdeEscravo
99 1.284 1.383
N.IndiciamentosporTráficoInterna-cional de Crianças e Adolescentes
32 45 77
61 OsdadosenviadospelaPoliciaFederalcobremoperíodode2007a2016,enãoestãodesmembradosporano.Portanto,trouxemosparaaTabela12osdadosdoperíodocompleto.62 VejaTabela5paraostipospenaiscorrelatos.
43
Diferentemente,dadosdoDEPEN6357revelamquemaishomensdoquemulheresestãopresosportráficodepessoas(SecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(2013a),assimcomoosdadosdoRelatórioGlobal(UNODC,2014),segundooqualentresuspeitosecondenados,homensvãode62a72%emulheresvãode38a28%.
Tabela17.PresosporSexoversusModalidadedeExploraçãosegundodadosdoDEPEN–Dadosde2014
NÚMERODEPRESOS/MODALIDADEDEEXPLORAÇÃO FEMININO MASCULINO
PresosporTráficodeInternacionaldePessoasparafinsdeExploraçãoSexual 6 230
PresosporTráficoInternodePessoasparafinsdeExploraçãoSexual
0 8
TOTAL 6 238
Estedadorevelaqueoshomenssão,commaisfrequência,alvodeinvestigaçõesecondenações.Podemseramaioriadosautoresdocrimedetráficodepessoas,maséinformaçãoquenãopodesergeneralizadadadaafragilidadedosdados,dentreoutrosfatores.64 58
Dadosdarededeassistênciatambémrevelamalgumasdascaraterísticasdosalgozes,masare-presentatividadeébastanteprecária,domesmomodoqueosdadosdajustiçacriminal,hajavistaasubnotificação.
Tabela18.ProváveisAutoresdaCondutaporSexosegundoMinistériodaSaúde65 59
NÚMERODEPROVÁVEISAU-TORESDACONDUTA/SEXO FEMININO MASCULINO N/I TOTAL
2014 18 72 22 1122015 16 87 31 134
TOTAL 34 159 53 246
O International Centre for Migration Policy Development (ICMPD)destacaasituaçãodaspessoastraficadasquesetornaramaliciadoras:“Redesquetransformampessoasantesexploradasemalicia-doras,emumaestratégiaque,alémdefacilitarocontato,nãoexporiaosverdadeirosfinanciadoresdotráfico”(ICMPD,2011:56).Hazeujáobservavaistoem2008,quandodiziaemsuapesquisasobretráfi-codepessoasdoBrasilparaoSurinameque“emgeralsãooutrasmulheres,quejáviveramsituaçãodetráficoeque“ascenderam”nahierarquiadaorganizaçãocriminosa.Essaascensãosedácomumenteporumnamoro,casamentoouenvolvimentoafetivocomodonodoclubeoualgumfuncionário”(Ha-zeu,2008:85).
63 OsdadosdoDEPENsãosomentedoanode2014.Osdadosreferentesaosanosde2015e2016aindaestãosendopro-cessados.64 Outrofatorquenãonospermitegeneralizaréofatodequeacriminalidadefemininaétemaqueaindaenvolvemuitostabus,dentreestesadiscussãosobreospapéisdohomemedamulhernasociedade.Háteoriasqueafirmamquehámulheresquedelinquem,masquetendoemvistaseupapelpré-determinadonasociedade,estassãocommenosfrequênciaalvodedesconfian-çaedeinvestigaçõesdapolícia.65 OMinistériodaSaúdenãoapresentouestedadoparaoanode2016.
44
Epesquisanaáreadefronteiradestaca,principalmente,aidentificaçãodaprópriavítimacomoagres-sor,numaespéciedeSíndromedeEstocolmo,queéumestadopsicológicodesenvolvidoemvítimasdesequestroesegundooqualavítimaseidentificaesimpatizacomoseuagressor.Éfenômenocomumnoscasosdasvítimastransexuaisdeexploraçãosexual,queacreditamestarpagandoum“preçojusto”pelosprováveisbenefíciosqueterãonolocaldaexploração,taiscomoaprometidacirurgiaderedesig-naçãodesexo.Eatémesmonocasodostrabalhadoresvítimasdetrabalhoescravo,quevêmnoseuexploradorumasaídaparaasuacondiçãodedesempregoouextremapobreza(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).
2.5.Dacausalidadeentreassupostas“rotas”eosníveisdedesenvolvimen-to.Daflexibilidadeedaconstanterenovaçãodomodusoperandi.66 60
Tem-sediscutidoarelaçãoentreasrotasdotráficodepessoas,osfluxosmigratórios,osmodosdeexploraçãoeconômicaeademandaporserviçosebensdeconsumo,eosníveisdedesenvolvimento.AFigura1demonstraqueosmaioresfluxosdepessoastraficadasidentificadastêmorigemnospaísesemdesenvolvimentooupós-conflito,comdestinoparaospaísesdesenvolvidos.67 61
Figura 2 –:Países de Origem e de Destino de Pessoas Trafi cadas
Fonte:UNODC,2014.
Boapartedosfluxosidentificadosestãodentrodeumamesmaregião,ouseja,paísesdeummesmocontinente.Somenteumquartodoscasosdetráficodepessoasaconteceentrediferentesregiões(porexemplo,daAméricadoSulparaaEuropa).
66 Omodus operandi éumaexpressãodolatimquesignificamododeoperação”,quenocontextodotráficodepessoaséamaneirapelaqualosautoresdacondutadotráficodepessoasouosgruposorganizadosoperameexecutamsuasatividades.67 Valenotar,noentanto,queospaísesdesenvolvidostêmtambémumamaiorcapacidadedeidentificareregistrarcasosdetráficodepessoas.
45
Ouseja,osfluxosindicamparaarelaçãocausalentreavulnerabilidadedaorigemdavítimaeainci-dênciadotráfico.
Jánoquedizrespeitoàsrotas,asprimeiraspesquisassobretráficodepessoastinhamcomoobjetivomapeá-las.Umadasprimeiraspesquisasdecamporealizadassobretráficodepessoasidentificou240ro-tasem19estadoseDistritoFederal(Leal&Leal,2002).6862Leal&Leal(2002,71)diziamquebastavaidentifi-car“as cidades próximas às rodovias, portos e aeroportos, oficiais ou clandestinos, ou seja, “os pontos de fácil mobilidade”, que casos de tráfico de pessoas podem ser identificados. As vias utilizadas são as mais diversas, ou quase todas as vias disponíveis: terrestres, aéreas, hidroviárias e marítimas”(Leal&Leal,2002,71).Excep-cionam-seasviasferroviáriasque,noBrasil,raramentetransportampessoas.
Aospoucos,adiscussãosobre“rotas”foiseampliandoeaprimorando.Pesquisasde2002e2004demonstraramque,aparentemente,arotadeterminavaosperfisdaspessoastraficadas.Porexemplo,criançaseadolescentestraficadaseramobservadascommaisfrequêncianasrotasintermunicipaiseinterestaduais,enasrodovias,dadaafacilidadedetrânsitoeaausênciadecontroledaspolícias(Leal&Leal,2002;Colares,2004).APRF,inclusive,iniciousuasoperaçõesdecombateaexploraçãosexualcomoprojetoMapearem2007,apartirdestaconstatação,contribuindotambémparaoenfrentamentoaotráficodepessoas.
Pesquisasqualitativascomeçaramareforçaraexistênciadetráficodepessoasparafinsdeexplora-çãosexual,inclusivedecriançaseadolescentes,emáreadefronteira(SecretariadeDireitosHumanosdaPresidênciadaRepública&AssociaçãoBrasileiradeDefesadaMulher,daInfânciaedaJuventude,2012;SecretariaNacionaldeJustiça,2013).AproximidadegeográficacomospaísesfronteiriçosdaAméricadoSuleogerenciamentoprecáriodasnossasáreasdefronteiracontribuem,semsombradedúvida,paraotráficodepessoase,especialmentedecriançaseadolescentes,nestasregiões.AlinhadivisóriaentreoBrasilealgunspaísesdaAméricadoSuléinexistente.Omarcoéopostodecontroledapolíciaoudareceitafederale,nascidadesgêmeasoutrigêmeas,alinhadivisóriaéumaruadacida-de,semcontrolealgum.Ademais,“cruzarfronteiras”éumatotãoordinárionessasregiõesetãopoucovigiado,quecriançaseadolescentestransitamdeumpaísparaoutroaleatoriamente,semqueadocu-mentaçãonecessáriasejasolicitada.(SecretariaNacionaldeJustiça,2013).
Ouseja,asrotasmapeadasem2002jánãoerammaissuficientesparadescreverotráficodepessoasnoBrasil.Cadavezmaisseconstruíaahipótesedequeasrotassãotransitórias(ICMPD,2011),queacompanhamoscicloseconômicos,osmodosdeexploração,osfluxosdamobilidadehumana,nãohavendomaisumpadrãoapartirdoséculoXXI,emvirtudedaglobalizaçãoedaatualdimensãodosmovimentosmigratórios.
Fontesquepoderiamfornecerindicadoressobreasrotas,fluxos,modusoperandinoBrasil,seriamosinquéritospoliciaiseosprocessosjudiciais,ondeadescriçãodofenômenocriminalacontececomriquezadedetalhes.Pensandonissoinclusive,aMetodologiaIntegradadeTPfoidivididaemcategoriasevariáveisqueenglobamosmaisvariadosaspectosdofenômenodotráficodepessoas,nasuadimen-sãointernaeinternacional,edaspartesenvolvidas.Eumadascategorias,acategoria“experiênciadotráfico”,visaobterindicadoressobreaexperiênciadocrimeapartirdosenvolvidos,visandocompreen-dercomoasvítimassãorecrutadas,comootransporteéfeitoeaqualtipodeexploraçãoeviolênciaestãosubmetidas.Ouseja,criouvariáveisquepudessemrevelarosmodusoperandi:asrotas,ascarac-terísticaspreferenciaisdasvítimas,asformasdeexploraçãoeviolênciaeosmeiosparaexecutá-las.
68 Acre,Amapá,Amazonas,Pará,Rondônia,Roraima,Tocantins,RiodeJaneiro,SãoPaulo,RioGrandedoSul,Paraná,Bahia,Pernambuco,Ceará,Maranhão,RioGrandedoNorte,MatoGrosso,MatoGrossodoSuleGoiás.
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Noentanto,vimosqueaspolícias,quandomuito,registramonúmerodeprocedimentos,inquéritosedeindiciados.Damesmaformaajustiçacriminal,quereúnenobancodedadosdoCNJsomenteonú-merodeprocessos,deacordocomostipospenaisprevistosnoCódigoPenalenalegislaçãoespecial.Dessaforma,conclui-sequeosdadosquantitativosouasestatísticascriminaisdisponíveisnoBrasilnãorevelaminformaçõessobrerotasoumodusoperandidocrimedetráficodepessoas.
Nãoobstante,aindaquerevelassem,nãoseriamrepresentativas,tendoemvistaasubnotificação.Bastarefletirsobredoisdoselementosdocrimedetráficodepessoasparasecompreenderquedadosquantitativosprovenientesderegistrosnuncaserãosuficientesparaexplicarasrotasouomodusope-randi:aaçãoeafinalidade(formasdeexploração).
Aaçãodotráficodepessoasindicamobilidade;indicaaexistênciademovimento,deumlugarparaoutro.Ocrimedetráficodepessoassegueadinâmicadamobilidadehumana,queporsuavez,nãotemregra,nãotemumpadrão,mastãosomentefluxossazonaisquesealteramdependendodoseventosdasociedade:fatoreshistóricos(guerras,conflitosinternos),fatoresdanatureza(eventosambientaisqueobrigamaspessoasasedeslocarem),fatoressócioeconômicos(empregooudesemprego,con-diçõesdetrabalho,qualidadedasformaçõesemdeterminadolocal).Alémdisso,ofatoresindividuaistambéminfluenciamnanecessidadededeslocamento(e.g.contextodeviolêncianasfamílias,interes-seemsefazerintercâmbioparaestudos,etc.).
Segue,ainda,adinâmicadomercado.Nopassado,aescravidãoeraumapráticaeconômicaau-torizada.Cruel,maspermitida,eseguiaasnecessidadesdomercado,porrazõesóbvias:aspessoaserammercadoriaseseusesforços/serviçospoderiamsermaisoumenosnecessários.Amesmalógi-casegueocrimedetráficodepessoase,piorainda,nãoháumapredeterminaçãoquantoaoperfildavítimaouumpadrão.Homens,mulheres,criançaseadolescentes,brancos,negros,pardos,indígenas,pessoascomdeficiência,atémulheresgrávidassãoeforamidentificadoscomovítimasdetráficodepessoas.Resumidamente,osregistrosnãoconseguemdimensionaroproblemaoualcançá-loearegraseguirásendoasubnotificação
Doisconceitosentãodevemficarbemclaros:oquesignificademandaeoquesignificaexploração,possivelmenteparaaprevisãodemarcolegal.Aexemplo,ademandaporserviçossexuaispodeinfluen-ciarouimpulsionarotráficodecriançaseadolescentes,mascuidadodevemosterparanãodiscriminaroexercíciodaprostituiçãodeformaregularouasprofissionaisdosexoadultas.Damesmaformaquearelaçãoentredemandaporroupasbarataseotráficodepessoasparafinsdeexploraçãodotrabalhoescravonaindústriatêxtiltemficadocadavezmaisevidentenomundointeiro.
Masnemtodademandapodeimplicaremumasituaçãodetráficodepessoas;portanto,arelaçãocausalnãoéabsoluta.Enemtodasituaçãodeexploraçãodotrabalhoescravoétráficodepessoasparafinsdetrabalhoescravo.Portanto,areferênciaàscausasdotráficodepessoascontinuasendomaisadequada.Emaisesforçosdevemserinvestidosnosentidodeseidentificarformasdeexploração.
Odebateinternacionalsobreambosostemassegue,apesardequesuadefiniçãoéessencialparaodesenvolvimentodeadequadaspolíticaspúblicasdeenfrentamentoaotráficoeàexploração(Vogel2017,Cyrus,2015).
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2.6.Dasubnotificaçãocomoaúnicacerteza
Onúmerodecasosdetráficodepessoasidentificadosaolongodaúltimadécadanosmaisdiversospaísesdomundotemsidomotivodepolêmica.CifrascomomilharesdevítimasemilhõesdedólarestêmsidolevantadasapartirdeestimativasfeitaspororganismosinternacionaiscomoaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)eoEscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(UNODC)natentativadesemensurarofenômeno.
Noentanto,pontopacíficoentreospesquisadoresegestorespúblicoséqueoscasosquechegamaosistemadesegurançapúblicaejustiçacriminalsãosomenteapontadoiceberg,sendoasubnotifi-cação,dentreoutrasquestõesapontadas,fatorquedificultaaidentificaçãodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.Alémdoque,osistemadejustiçacriminalfuncionacomoumfunil,ondeonúmerodecasosidentificadospelapolíciaéinferioraonúmerodecasosreais,onúmerodeprocessosdistribu-ídosnopoderjudiciárioétambéminferioraonúmerodeinquéritospoliciaisinstauradoseonúmerodecondenaçõeschegaaserdezvezesmenorqueonúmerodecasos.
Paraseexemplificar,oprimeiroRelatório Nacional de Tráfico de Pessoasrevelaqueonúmerodein-quéritospoliciaisinstauradosportráficointernacionaldepessoaséduasvezessuperioraonúmerodeprocessosjudiciaisdistribuídos.Nocasodotráficointerno,adiferençaédecercadeoitovezes.Revelatambémqueonúmerodeprocessosjudiciaisdistribuídospelocrimederedução análoga à condição de escravoécercadecincovezessuperioraocrimedetráficodepessoas(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime(2013a).Destaforma,pontodedestaqueéadificuldadedesemensurarotráficodepessoaseocuidadoextremoquesedeveterquandodadisse-minaçãodestesdados.
Dopontodevistadosdireitoshumanos,noentanto,éessencialenfrentaraexploraçãodossereshumanos,otrabalhoforçado,aescravidão.Nãodeveser,portanto,primordialsedescobriromeiopeloqualaspessoaschegaramnaquelacondição.Ouseja,sesãovítimasdetráficodepessoas,sesãomigrantescontrabandeadosouemsituaçãoirregular,sesãomigrantesdemaneirageral.Amaneiracorretadeseprosseguir,aomenosdopontodevistadosdireitoshumanos,éinvestiresforçosefocarnaspolíticasdeenfrentamentoàsconsequênciasdotráficodepessoaseaotrabalhoescravo.(Wijers,2015).
Aguisadeconclusão,resumidamente,umavezqueocrimedetráficodepessoasésubnotificado,osdadosnuncaserãoumretratodarealidade.Oquesabemos,porora,sobreestaviolaçãodedireitohumano,ébastantementesuficienteparaquepossamosinvestiresforçosnoseuenfrentamento.
Compreender,estudar,levantardadossobretráficodepessoascontinuasendoimportante,masnãomaisdoqueosinvestimentosquedevemserfeitosnapolíticadeenfrentamento,hajavistaqueháduascondiçõessinequanonnestecrime:avulnerabilidadedasvítimaseasubnotificação.
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NOTAS FINAIS E RECOMENDAÇÕESFoivistoqueasdificuldadesparasemensurarotráficodepessoasnoBrasilsãograndes,apesar
dasiniciativasnointuitodeaprimorá-las.Vimosqueacoletadedadosdeenfrentamentoaotráficodepessoascontinuasendoumdesafio,porrazõesdiversas:
• Manualidade:avalidade/qualidadedosdadosquantitativossobretráficodepessoasnoBrasilé,ainda,bastantequestionável.Observa-se,porexemplo,amanualidadenoregistrodosdadosemalgumasinstituiçõesouamanualidadenomomentodesegerarrelatórios;
• AusênciadeVariáveisimportantes:apesardaconstruçãodaMetodologiaIntegradadeTPsu-gerindoummínimodevariáveis,nãohásistemasdeinformaçãocapazesderegistrardadosdeenfrentamentoaotráficodepessoasadequadamenteouquecontemplesuascaracterísticas,taiscomocaracterísticasdavítima,doagressoredoprópriocrime(como,porquê,onde,dentreoutrasperguntasquesãoimportantesparadescreverofenômenocriminal).Comoexemplo,hásistemasquenãoregistramnemosexonemaidadedavítima,ouseja,variáveisbásicasquecontribuemparaoconhecimentodosfenômenoscriminaiscomootráficodepessoas.Particu-larmente,ossistemasdajustiçacriminalsãoosmaisprecáriosemtermosdedetalhamento;
• Diferençasnosconceitos:assimcomoobservadonoRelatórioNacionalquecobriuoperíodode2005a2011,cadaconceitoutilizadopodeserdiferenteemcadasistemadeinformação.Pegan-dooexemplomaissimples,oconceitodetráficodepessoasutilizadopelapolícianãoéomes-moqueéempregadopeloMinistériodoTrabalhooupelasinstituiçõesqueassistemàsvítimas,impossibilitandoacomparação.OconceitodetráficodepessoasutilizadopelasinstituiçõesdajustiçacriminaléodoCódigoPenal,jáoempregadopelasinstituiçõesdeassistênciaàsvítimassegueoProtocolodePalermoeaPolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas;
• Diferençanosperíodosdecoleta:asinstituiçõesestãoemdescompassotemporal.Háinstitui-çõesquenãoconcluíramaindaotratamentodosdadoscolhidosem2015,porissonãopublici-zaram;enquantoqueháoutrasinstituiçõesquejágeraramrelatóriosatédosdadoscolhidosnoprimeirosemestrede2017;
• Formainadequadadeapresentaçãodosdados:muitasinstituiçõesaindafornecememseusre-latórios,númerosexatosenquantodados.Ocorretoparaefeitodeanáliseoucomparabilidadeseriamasporcentagensouastaxas,porexemplo,porXmilhabitantes.NãosepodecompararonúmerodecasosdetráficodepessoasregistradosemSãoPaulocomonúmerodecasosregis-tradosnoAcre,poisadiferençapopulacionalentreestesdoisestadosémuitogrande;
• Margemdeerro:nossistemasemquehouvealgumavançonoquedizrespeitoaampliaçãodevariáveisparaexplicarofenômeno,os“nãoinformados”aindaconstituemumagrandeparcela,contabilizandoaté40%.Paraefeitodecálculosestatísticos,os“nãoinformados”deveriamserex-cluídosdaamostranahoradoscálculos,masistoimplicarianareduçãodouniversoparapoucomaisdametade.Ouseja,amargemdeerroparaqualqueranálisedefrequênciaoucomparativaémuitogrande,nãodevendoserfeitaporquepodeinduziraerrograve;
• Ausênciadeperiodicidadenolevantamentodasinformações:nãoháperiodicidadenaanálise
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dosdadosdetráficodepessoaspelasprópriasinstituições.Aanálise,aindaqueinterna,aconte-cemotivadapordemanda,oqueimplicanaausênciadeconhecimentosobreosdadoscolhidos,naausênciadeanálisedaqualidadeoucríticadosseusprópriosdadosparaaprimoramento;
• Inconsistênciadosdados:ainconsistênciadosdadoséumameraconsequênciadosproblemasaquilistados.Foiobservado,porexemplo,queonúmerototaldecasosdifere,nummesmoano,adependerdavariávelestudada.
Nãoobstante,ossistemasdasinstituiçõesdesegurançapúblicaejustiçacriminalsãoconstruídosnointuitodeotimizarassuasnecessidadesoperacionais(UnitedNationsOfficeonDrugsanCrime,2009).Portanto,asestatísticasqueeventualmentesejamgeradasdessessistemasofereceminforma-çãodiretasobreasatividadesdessesórgãos–sejapolícia,poderjudiciárioousistemapenitenciário–esomenteindiretasobreosfenômenospesquisados,taiscomoonúmerodeeventoscriminosos,vítimasouagressores.Nãoháumapreocupaçãodiretacomaproduçãodeestatísticascriminaisconcomitan-tementearealizaçãodasatividadesdessesórgãos,masprincipalmentederegistraroandamentodassuasatividadesousuaproatividade.
Masháaquelas instituiçõesque,dealgumaforma,quantificamosfenômenossociaisecaracte-rísticasdaspessoasenvolvidas.ODisque100eoLigue180geramestatísticassobredeterminadosfenômenossociais,inclusiveotráficodepessoas,esobreascaracterísticasdasvítimaseagressoreseasformasdeexploração.Damesmaforma,dosRelatóriosdeAtendimentoMensaisdosCREAS,pu-blicadospelooMDS/SNAS,podemserextraídosdadossobretráficodepessoas.OMT/SITtambémregistradadosdetrabalhadoresresgatados,etc.Finalmente,oSINANdoMSéumdossistemascomomaiornúmerodevariáveissobreofenômenodotráficodepessoasedaspessoasenvolvidas.
Vimos,noentanto,quedesdeoanode2012,aSecretariaNacionaldeJustiçaeCidadania,emcoo-peraçãotécnicacomoEscritóriodasNaçõesUnidasdeDrogaseCrimeeoapoiodeconsultores,tempreparadoepublicadoRelatóriosNacionaissobreTráficodePessoas.Forampublicadostrêsrelatórios:umrelatóriocomdadosde2005a2011(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUni-dassobreDrogaseCrime,2013a),umrelatóriocomdadosde2012(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2014),eoúltimocomdadosde2013(SecretariaNacionaldeJustiça&EscritóriodasNaçõesUnidassobreDrogaseCrime,2015).
Osrelatóriosconsistemnolevantamentomanualdedadosdetráficodepessoasjuntoaosórgãosdasegurançapúblicaejustiçacriminal,especialmente,mastambémjuntoaoutrosórgãosquepossamdealgumaformacontribuirparaadescriçãoequantificaçãodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.
Dizemosqueolevantamentoémanual,poissuametodologiaconsistenoenviodeofíciosparaestesórgãos,solicitandoosdadosquetenhamdisponíveissobretráficodepessoas.EaelaboraçãodestesRelatóriostemsidobemartesanalhajavistaque,pelaformacomoosdadossãogerados,porsistemasdistintos,6963quenãosecomunicam,quenãointeragem,cujasvariáveisesuasrespectivasdefiniçõessãotambémbemdistintas,nãopermitequalqueranáliseestatística,nemdefrequência.Nãopermitemaindacomparaçõesouanálisesmultivariadascomummínimodeconfiabilidade.
69 Istoquandogeradosporsistemasdeinformação,poisháórgãoscujosdadossãoaindacontabilizadosmanualmenteouemplanilhasdeexcel.
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Obviamentequeoesforçoéválido,poralgumasrazões:
1.Primeiroporquedestacaaprecariedadecomaqualaindasetrata,noBrasil,oregistrodedadoscriminaisnoformatoquantificado,tendocomoresultadoafragilidadedaproduçãodeinforma-çõeseconhecimentonestasearaeafragilidadedasestatísticascriminais;
2.Finalmente,porquedescrevem,aindaqueprecariamente,ofenômenodotráficodepessoasnoBrasil.Sãoestesrelatóriosquantitativosmaisrecentesqueinformam,porexemplo,operfildasvítimas,minimamenteidadeegênero,assimcomooperfildoagressor,onúmerodeprisõesreali-zadaspelocrimedetráficodepessoas,asmaisfrequentesformasdeexploração.Sãorelatóriosque,portanto,guardamsuaimportância.
Vimostambémque,comoobjetivodeaprimoraracoletadedadoseinformaçõessobretráficodepessoasnoBrasil,foiidealizadaeelaboradaaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInformaçõessobreTráficodePessoas.NostermosdaprópriaMetodologia:“parasuperar,aindaqueparcialmente,osobstáculosaoconhecimentodofenômenodotráficodepessoasnoBrasil,éindispen-sávelaintegraçãodosórgãosresponsáveispeloseuenfrentamento,mas,principalmente,aintegraçãodosbancosdedadosoudossistemasdeinformaçãoexistentesnaáreadeenfrentamentoaotráficodepessoas.”(SecretariaNacionaldeJustiça,2013b:12).
APolíticaNacionaldeEnfrentamentoaoTráficodePessoas,inclusive,prevêemseuart.8:
“Art. 8º. Na implementação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, caberá aos órgãos e entidades públicos, no âmbito de suas respectivas competências e con-dições, desenvolver as seguintes ações: (...)
m) organizar e integrar os bancos de dados existentes na área de enfrentamento ao tráfico de pessoas e áreas correlatas;(...).
EposteriormenteaelaboraçãodaMetodologiaIntegradaeaaprovaçãodaPolíticaNacional,aLein.13.344/16tambémpreviuemseuart.10que“oPoderPúblicoéautorizadoacriarsistemadeinforma-çõesvisandoàcoletaeàgestãodedadosqueorientemoenfrentamentoaotráficodepessoas.”
Nenhumdestesdispositivoslegaisfoisuficiente.Asinstituiçõescontinuamcoletandodadosasuama-neira.Nãoháintegraçãoentreasinformaçõeseasistematizaçãodosdadosdetráficodepessoassóacon-teceeventualmente,aexemplodopedidodedadospelosMinistérios,nãocomoestratégianecessáriadeanálisecriminalparaoconhecimentodosfenômenoseaelaboraçãodepolíticaspúblicasmaisadequadas.
Finalmente,vimosqueestenãoéumdesafiosódoBrasil.PaísesdaEuropapassamporproblemasparecidosnomomentodecoletadedadossobretráficodepessoas.
Destaforma,recomenda-se:
• ElaboraçãodeRelatóriosBianuaisdeTráficodePessoascomosdadosquantitativosdisponíveis,taiscomoestequeseapresenta,noentanto,integrando,comométodoparaaanálisedosdadosquantitativos,atriangulação,ouseja,autilizaçãodeoutrasfontesdeinformaçãotaiscomoentre-vistas(semprequepossívelcomvítimas),gruposfocais(especialmentecomatoresestratégicosdopoderpúblico)erevisãobibliográficadepesquisadecampooutroraconduzidas;
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• ImplementaçãoeavaliaçãodaMetodologiaIntegradadeColetaeAnálisedeDadoseInforma-çõessobreTráficodePessoas.Viu-sequeaMetodologiaIntegradadeTPnãoestásendoimple-mentada,apesardosavançosaomenosnoquedizrespeitoaampliaçãodasvariáveis,dossis-temasdeinformaçãodealgumasinstituições.AMetodologiaIntegradainclusivepassouporumprocessoderevisãologoapósapublicaçãodaLein.13.344/16,atualizando-aanovaprevisãodotipopenaldotráficodepessoas.Certamente,aMetodologiaIntegradapoderiaserométododosistemadeinformações,visandoàcoletaeàgestãodedadosqueorientemoenfrentamentoaotráficodepessoas,previstonoart.10damesmalei;
• Indicaçãodeum/umaRelator/aNacionalquecoletasse,acadabiênio,emparaleloaelaboraçãodoRelatórioNacionaldeDadosQuantitativos,dadosqualitativosdetráficodepessoas.Osrela-toressãopessoascomaltograudeexpertisesobredeterminadosassuntosque,comoapoiodarededeenfrentamentoaotráficodepessoas,incluindoatoresgovernamentaisenãogover-namentais,colheminformaçõessobretendênciasnotráficodepessoas,medemosresultadosdasmedidasdeenfrentamentoecoletamestatísticasquantitativascomoapoiodasongseso-ciedadecivilemgeral.Estesapresentamumanovadimensãoparaacoletadedadosdetráficodepessoas;
• Criaçãodeindicadoresinstrumentaismaisadequados,quepudessemmensurarasatividadesdeenfrentamentoaotráficodepessoasdeformamaisapropriadaeque,aindaqueindiretamente,pudessemmensurarocrime;
• Realizaçãodecapacitaçãoparaonovomarcolegalquealterouadefiniçãodotráficodepessoas,ampliandoasformasdeexploração;
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