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Moda Documenta: Museu, Memória e Design – 2015 ISSN: 2358-5269 Ano II - Nº 1 - Maio de 2015 RELATOS DE MEMÓRIAS DA MODA NO PIAUÍ: Cenário da moda piauiense no período de 1930 a 1980. Camila Maria Albuquerque Aragão (UNINOVAFAPI) [email protected] Carla Moura Ferreira (UNINOVAFAPI) [email protected] Resumo: O presente artigo trata do cenário da moda piauiense no período compreendido entre os anos 1930 e 1980. A pesquisa aborda a relação do cotidiano e os eventos sociais com as formas de produção do vestuário, destaca a chegada da calça comprida feminina neste Estado, relata os primeiros passos da moda como um negócio no Piauí e seu crescimento, visto que se tornou uma das bases da economia. Como metodologia utilizou-se entrevistas, além de fontes documentais, hemerográficas e iconográficas pesquisadas no Arquivo Público do Estado do Piauí e Sindicato da Indústria do Vestuário do Piauí. Palavras-chave: Memória, Moda, Piauí. Abstract: The present article treats the scenery of the fashion from Piaui in the period understood between the 1930 years and 1980. The enquiry boards the relation of the daily life and the social events with the forms of production of the clothing, point out the arrival of the feminine long pants in this State, it reports the first steps of the fashion as a business in the Piauí and its growth, seeing as it became one of the bases of the economy. As a methodology was used interviews, besides documentary sources, newspapers and periodicals and iconographic investigated in the Public Archive of the State of the Piauí and Clothing Industry Labor Union of the Piauí. Key words: Memory, Fashion, Piauí. 1. INTRODUÇÃO A roupa tem acompanhado o homem desde a pré-história, anteriormente acreditava-se que ela servia apenas como proteção contra as intempéries, porém, conforme os estudos sobre a indumentária e os modos de vestir iam avançando, foi percebendo-se que a roupa reflete muito mais do que se imagina. Atualmente, entende-se moda como um fenômeno do qual envolve cultura, sociedade e tempo. O que a roupa reflete sobre a cultura de um povo? Porque esta transforma-se com o passar do tempo? Como uma sociedade se representa através de uma roupa? Segundo Treptow (2013), o surgimento da moda se dá no momento histórico em que o homem passa a valorizar-se pela diferenciação dos demais através da aparência, o que pode-se traduzir em individualização. Portanto, essa diferenciação de uns, visa a uma identificação com outros, pois a moda se dá através da cópia do estilo daqueles a quem se admira. Com isto podemos entender que a roupa e o simples ato de “vestir-se” são dotados de significados que se relacionam diretamente com o lugar em

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Moda Documenta: Museu, Memória e Design – 2015

ISSN: 2358-5269 Ano II - Nº 1 - Maio de 2015

RELATOS DE MEMÓRIAS DA MODA NO PIAUÍ:

Cenário da moda piauiense no período de 1930 a 1980.

Camila Maria Albuquerque Aragão (UNINOVAFAPI)

[email protected]

Carla Moura Ferreira (UNINOVAFAPI)

[email protected]

Resumo: O presente artigo trata do cenário da moda piauiense no período compreendido entre os anos 1930 e 1980. A pesquisa aborda a relação do cotidiano e os eventos sociais com as formas de produção do vestuário, destaca a chegada da calça comprida feminina neste Estado, relata os primeiros passos da moda como um negócio no Piauí e seu crescimento, visto que se tornou uma das bases da economia. Como metodologia utilizou-se entrevistas, além de fontes documentais, hemerográficas e iconográficas pesquisadas no Arquivo Público do Estado do Piauí e Sindicato da Indústria do Vestuário do Piauí. Palavras-chave: Memória, Moda, Piauí.

Abstract: The present article treats the scenery of the fashion from Piaui in the period understood between the 1930 years and 1980. The enquiry boards the relation of the daily life and the social events with the forms of production of the clothing, point out the arrival of the feminine long pants in this State, it reports the first steps of the fashion as a business in the Piauí and its growth, seeing as it became one of the bases of the economy. As a methodology was used interviews, besides documentary sources, newspapers and periodicals and iconographic investigated in the Public Archive of the State of the Piauí and Clothing Industry Labor Union of the Piauí. Key words: Memory, Fashion, Piauí.

1. INTRODUÇÃO

A roupa tem acompanhado o homem desde a pré-história, anteriormente acreditava-se que ela

servia apenas como proteção contra as intempéries, porém, conforme os estudos sobre a indumentária

e os modos de vestir iam avançando, foi percebendo-se que a roupa reflete muito mais do que se

imagina. Atualmente, entende-se moda como um fenômeno do qual envolve cultura, sociedade e tempo.

O que a roupa reflete sobre a cultura de um povo? Porque esta transforma-se com o passar do tempo?

Como uma sociedade se representa através de uma roupa?

Segundo Treptow (2013), o surgimento da moda se dá no momento histórico em que o homem

passa a valorizar-se pela diferenciação dos demais através da aparência, o que pode-se traduzir em

individualização. Portanto, essa diferenciação de uns, visa a uma identificação com outros, pois a moda

se dá através da cópia do estilo daqueles a quem se admira. Com isto podemos entender que a roupa e

o simples ato de “vestir-se” são dotados de significados que se relacionam diretamente com o lugar em

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que se vive, a cultura e que muda com o passar do tempo, pois, quando uma forma de vestir - que

podemos entender por “tendência” - já está massificada, ou seja, foi aceita e consumida pela grande

maioria, surge a necessidade de inovar como forma de diferenciação social.

Quando se fala na representação da moda e das formas de vestir dentro do Brasil, analisando

seus vieses e observando esta como um reflexo da cultura do nosso povo e da nossa sociedade, chega-

se a um entrave, existem obras que retratam a relação indumentária/moda com o contexto histórico em

diversos países, porém, no Brasil as produções acadêmicas na maioria dos casos não historicizam as

representações sociais construídas sobre a moda. Os estudos nesta área ainda são escassos, não é

tarefa muito fácil encontrar obras brasileiras capazes de perceber os movimentos da moda e seus

códigos genéticos que promovem revoluções no modo de vestir e na forma de usar, como afirma

Chataignier (2010).

Diante de tal realidade, percebe-se que existe uma lacuna na produção historiográfica sobre a

construção do cenário da moda no Piauí. Este Estado tornou-se um importante produtor no setor de

confecção de vestuário, entretanto, pouco se sabe sobre a construção do cenário da moda no Piauí,

especialmente no que diz respeito à sua história, como se desenvolveu este cenário, quem teve

participação nesse processo, dentre outros fatores relevantes.

Em levantamento sobre a situação atual da moda no estado do Piauí, de acordo com dados do

Sindicato das Indústrias do Vestuário do Piauí (SINDVEST-PI), nos dias de hoje há o total de 1.147

indústrias de confecção de moda no estado. Por mês, essas indústrias produzem cerca de 597 mil peças,

movimentando mais de R$ 204 milhões ao ano. No que diz respeito à geração de empregos, são mais

de 18 mil postos de trabalho no estado. Pode-se verificar também o crescente número de instituições de

ensino ofertando cursos e o aumento do número de profissionais atuando no setor.

O crescimento econômico do setor no Piauí é notável, porém, os questionamentos que permeiam

esse crescimento ainda não têm respostas. Nem no aspecto econômico, nem no aspecto social e cultural

que são transversais a este desenvolvimento e propiciaram o atual cenário do estado.

Para esta pesquisa, foi delimitado o recorte temporal entre a década de 1930 e 1980, já que,

entre as fontes utilizadas, a maior referência neste artigo são os depoimentos de três pessoas que

viveram neste período, nos concedendo os relatos de suas memórias.

Nesse sentido, a pesquisa aqui apresentada aborda alguns pressupostos teóricos, acerca da

temática, as quais nortearão a pesquisa, tais como: de que maneira os “modismos” e as tendências de

moda mundiais e nacionais chegavam ao estado do Piauí e como estas influenciavam as mulheres da

sociedade local? De que forma estas mulheres faziam ou adquiriam a sua indumentária? Quais seus

referenciais e os formadores de opinião neste aspecto? Quais os primeiros passos da moda como um

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negócio no estado? Como a primeira boutique de roupas surgiu no estado? Como se deu os primeiros

eventos de moda e as primeiras indústrias?

2. OS EVENTOS SOCIAIS E A FORMA DE PRODUÇÃO DO VESTUÁRIO NAS DÉCADAS DE 30 A

INÍCIO DOS ANOS 60

O psicólogo social Serge Moscovici (2012), explica que as representações sociais são produtos

das relações entre as pessoas e o grupo, ou seja, entre o indivíduo e a cultura. Deste modo, as

representações sociais são compreendidas como estados subjetivos, percepções, valores e ideias que

circulam no interior do coletivo, numa dialética entre grupo e indivíduo. Deste modo, a moda não é apenas

um produto industrial, com finalidades de comércio, ela está também circunscrita na esfera do simbólico.

Neste sentido, de acordo com o pensamento de Sales (2007), podemos inferir que o traje, o vestuário e,

em linhas gerais, a moda funciona como um instrumento de inserção no grupo, um jeito de pertencimento

ao social, ao clã, aos guetos, à família, à empresa, à instituição.

Durante o período compreendido entre a década de 1930 até o início dos anos 1960, não se

encontrava no Piauí lojas de confecções como as que atualmente existem, oferecendo roupas prontas

para o uso. Havia estabelecimentos que vendiam desde tecidos até aviamentos, como a Bon Marche e

a Samaritana localizadas em Teresina. Nelas era possível encontrar desde os tecidos de algodão rústico

aos mais elaborados como rendas francesas, tafetás e seda pura, trazidos diretamente da Europa, estes

últimos eram os mais procurados para a confecção de roupas de festa naquele período.

Geralmente, as roupas eram produzidas em casa, pelas mulheres, como relatado na entrevista realizada com Maria Genoveva de Aguiar Moraes Correia1, mais conhecida em Teresina como Dona Genu Moraes, que afirma:

“As mulheres eram prendadas. Naquele tempo, minha mãe fazia as minhas roupas em casa quando eu era criança. Sempre muito vaidosa, aos sete anos eu saia toda faceira com o vestido novo para a casa do Tio Antonino2 logo aqui no quarteirão ao lado, só para me mostrar toda arrumada, ele achava o máximo e me apelidou de Miss Avenida”

Neste período as mulheres costumavam confeccionar suas roupas em casa, porém, isto não

significava que não havia tendências de uma repetição dos padrões, ou seja, moda. A busca pela

1 Entrevista realizada em 25 de Fevereiro de 2013.

2 Antonino Freire da Silva (1878-1934) foi um engenheiro civil, funcionário público e governador do Piauí. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonino_Freire_da_Silva> Acesso em 13/03/2013.

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inserção no grupo em que viviam as levava a buscar informações e retirar os modelos de revistas de

moda nacionais e internacionais que vinham com os desenhos de roupas, muitas delas acompanhadas

dos moldes. Uma das revistas nacionais mais conceituada que abordava assuntos como moda,

comportamento, receitas, poemas, economia doméstica e assuntos relacionados ao mundo feminino era

o Jornal das Moças, que circulou no Brasil de 1914 a 1965, com edições semanais. Destas revistas, as

piauienses retiravam informações preciosas e se inspiravam para a elaboração de seus trajes. Dessa

forma o Jornal das Moças se tornou uma das referências em moda no Piauí.

De acordo com Sales (2007), ao afirmar o pensamento de Lipovetsky (2005,2006), o vestuário

não é apenas um sinal de luxo, do supérfluo, do efêmero, mas situa-se dentro de um mundo que não se

contenta apenas em resguardar o corpo, mas também, sobretudo, em exibi-lo, comunicar, transmitir uma

mensagem. A autora ao citar Carol Garcia (2002), afirma que a moda é um fenômeno da cultura, é um

símbolo da própria cultura. Sales (2007) afirma que o homem culturalmente tem a necessidade de cobrir-

se e ao fazê-lo ele perde as marcas individuais - que o corpo natural lhe dá - para entrar no mundo da

marca estabelecida pela cultura. Portanto, a moda (e aqui não só roupas, mas todo o universo que a

permeia: atitudes, comportamentos, vestuário e até mesmo objetos) não está ligada diretamente ao luxo

e sim à necessidade de inclusão e diferenciação no grupo social ao qual pertence.

Além das revistas, as mulheres, interessadas nas tendências da moda feminina e movidas pela

necessidade de diferenciação social, também buscavam inspiração para o seu vestuário nos modelos

usados pelas famosas atrizes de cinema de Hollywood nas telas, como relata Dona Genu de Moraes.

Estes foram os principais veículos de comunicação que influenciaram a forma de vestir neste período.

Munidas com estas informações, elas então compravam a “fazenda” - como chamavam os cortes de

tecido, inclusive era muito comum presentear ou trazer de lembrança de uma viagem uma “fazenda” para

uma dama – e com o tecido escolhido procuravam a modista para executar a roupa.

Pode-se destacar algumas modistas que influenciaram a moda no estado neste período, entre

elas, Isaura Le Lonnés, Didita Pacheco e Benedita Bonfim. A modista Isaura Le Lonnés, casada com um

francês, sempre que viajava para a França trazia cortes de tecidos e novidades para as mulheres da

cidade. Estas profissionais eram constantemente procuradas, principalmente para fazer as roupas de

festas das mulheres da época que iam para os eventos mais importantes da sociedade piauiense, como

as festas em benefício da igreja e os bailes no Clube dos Diários3, estas ocasiões eram acontecimentos

que movimentavam o mundo da moda no Piauí. Ainda segundo a entrevista de Dona Genu Moraes, a

3 O Clube dos diários foi inaugurado como sede própria da Sociedade Recreativa Club dos Diários em 1927, o local era o ponto de diversão da alta sociedade teresinense noutros tempos áureos. <http://180graus.com/cultura/clube-dos-diarios-leia-a-historia-do-grande-centro-cultural-552689.html> Acesso em 13/03/2013.

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preparação para um baile ou festa começava semanas antes, desde a escolha do tecido até a roupa ficar

pronta, o que demorava, pois não havia tanta tecnologia disponível em maquinário de costura e algumas

etapas da produção ainda eram feitas de forma manual, como caseados, bainhas invisíveis, colocação

de zíper e os bordados.

Mesmo com tanta dedicação e as dificuldades do processo de produção do vestuário, que

acarretavam muita demora para a confecção de uma peça de roupa, existia uma espécie de convenção

social, a qual orientava as mulheres ao fato de que na ocorrência de outros bailes não se podia repetir o

traje, pois havia o “sereno da festa”. No relato de Dona Genu de Moraes, a mesma afirma que mulheres

da alta sociedade, que muitas vezes o marido não as acompanhava à festa, pagavam um “menino” pra

reservar um lugar do lado de fora com um banquinho à beira da janela do clube, daí o nome sereno.

Quando o baile começava, elas podiam observar a chegada e o fervilhar da festa, a intenção era

comentar no dia seguinte os mínimos detalhes do vestuário de cada convidada e seus pares.

O período carnavalesco era outro momento que movimentava a vida social da capital piauiense

e a produção de fantasias para os desfiles nos blocos da cidade. Havia três blocos: o que desfilavam

somente senhoras casadas, o bloco dos senhores da sociedade - neste bloco os homens se vestiam de

baiana e iam acompanhados das esposas, que por sua vez vestiam roupa normal - deixando a atenção

voltada para eles - e por fim o bloco dos jovens. Todos produziam com antecedência as suas fantasias,

as preferidas eram de Pierrot, Colombina e Bailarina.

Dona Genu, frenquentadora assídua dos bailes carnavalescos, relata que as fantasias eram

“inocentes” e bem menos ricas em detalhes que as de hoje, o que se entende pela falta de oferta de

insumos como aviamentos no mercado local. No que se refere à produção das fantasias, pode-se apontar

que, de acordo com as entrevistas realizadas, a maioria das peças era feita em casa, pelas mãos das

prendadas mulheres. Nesse processo, as modistas também eram bastante solicitadas para a produção

destas fantasias para o período de carnaval.

3. A CHEGADA DA CALÇA COMPRIDA FEMININA EM TERESINA NA DÉCADA DE 40

Continuando a discussão sobre a produção de roupas, aponta-se agora para um período no qual

uma peça surgiu e juntamente com ela as polêmicas que foram desencadeadas quando a mesma passa

a fazer parte do guarda-roupa feminino. Entre saias e vestidos, uma peça veio para ocasionar reviravoltas

no vestuário feminino e na vida de algumas mulheres que resolveram aderir a essa tendência, a calça

comprida.

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A história da moda mostra que por volta de 1890 já se tem o conhecimento de mulheres que

usavam calças. No entanto, os maiores esforços realizados pela moda para inserção da calça no

vestuário feminino vêm desde o início do século XX. Costuma-se dizer que o primeiro modelo de “calças

femininas” foi lançado em 1909, por Paul Poiret4, conhecido como “calça odalisca”, que vinha folgada e

afunilava nos tornozelos. Mas o uso de calças entre as mulheres, ainda se assemelhando ao modelo

usado pelos homens, começou a se difundir com a Primeira Guerra Mundial. Com a ida dos homens à

guerra, algumas mulheres começaram a ocupar os postos de trabalho na sociedade, seja em fábricas,

hospitais, correios e diversos outros locais, além de dirigir automóveis e andar de bicicleta.

“Com a nova e dura realidade da guerra, a vida social ficou limitada, os espetáculos praticamente desapareceram e as mulheres viram-se frente à necessidade de usar toaletes menos elaboradas e ornadas. Algumas atividades de tão regulares, obrigaram a facção feminina da sociedade a usar verdadeiros uniformes, e muitas mulheres passaram a usar calças.” (MOUTINHO; VALENÇA, 2000, p. 66)

Assim, inevitavelmente houve a necessidade de uso da peça “bifurcada”, o que se intensificou

na Segunda Guerra Mundial. Mas, ao contrário do que se pode pensar, os modelos de calças para

mulheres lançados nesta época não eram somente para uniformes de trabalho, eram também calças de

passeio, visando atender uma vida feminina mais livre: a mulher agora tinha um pouco mais de

independência, liberdade para circular sozinha pelas ruas e participar de atividades esportivas.

Mesmo o Brasil não tendo sofrido tais influências com a guerra, tampouco o Piauí, já que os

homens permaneceram em seus postos e não houve a necessidade da mulher ser inserida no mercado

de trabalho, a proposta de calças compridas para mulheres era de dimensão mundial, chegando, com

certa demora, também ao estado do Piauí. Na década de 1920 a estilista francesa Coco Chanel já havia

lançado no mercado as calças compridas femininas, assim como Paul Poiret. A Europa, especialmente

a França, nesse momento, era o “berço da moda” e ditava as tendências, as revistas de moda da época

divulgavam e dessa forma a calça comprida chegou ao mundo e ao Brasil.

No que diz respeito à inserção do uso da calça comprida no Piauí, no início dos anos 1940, Dona

Genu Moares, que muito apreciava andar a cavalo, em uma viagem ao Rio de Janeiro comprou algumas

calças compridas. Ao chegar à capital Teresina, logo vestira a novidade e foi para um passeio a cavalo

na principal avenida da cidade, a Av. Frei Serafim. Dessa maneira Dona Genu, orgulhosamente relata

4 Paul Poiret (1879-1944) Estilista parisiense. “[...] Paul Poiret, criador das mais originais e revolucionárias invenções da

Belle Époque. Ele procurava atender aos anseios de muitas mulheres cansadas; das vestimentas formais e desconfortáveis

que eram obrigadas à usar.” (MOUTINHO; VALENÇA, 2000, P.39)

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que foi a primeira mulher a usar calças compridas no Piauí e segundo sua entrevista, o uso da peça

provocou desconforto à todos, os piauienses julgavam uma ousadia e desrespeito aos bons costumes.

Figura 1 - Dona Genu vestindo calças compridas na década de 1940.

Fonte: acervo pessoal de Maria Genoveva de Aguiar Morais Correia

Em um momento de sua entrevista, a mesma lembra de um fato em especial, ao passar pela

Avenida Frei Serafim em Teresina, em frente ao Colégio das Irmãs, as moças que assistiam aula

avistaram-na e correram para as janelas, observando a sua passagem a cavalo usando calças

compridas, tão logo as freiras repreenderam as alunas para retornarem aos seus lugares e não fazerem

plateia pra a “ousadia de Genu”.

Dona Genu foi a personagem que começou a inserir na mentalidade piauiense apegada às

rígidas convenções sociais, os ideais de novos tempos, quebrando conceitos pré-estabelecidos. A época

conspirava a favor desta modificação no vestuário feminino em todo o resto do mundo, as mulheres

ansiavam uma maior liberdade de expressão e comportamento.

“As mudanças da moda dependem da cultura e dos ideais de uma época. Sob a rígida organização das sociedades, fluem anseios psíquicos subterrâneos de que a moda pressente a direção.” (SOUZA. 1987, p. 25)

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Em análise ao trecho citado, cabe a seguinte reflexão: a indumentária desde a pré-história5 é

considerada um meio pelo qual nos comunicamos, neste momento da história em questão no estudo,

trazer uma peça do vestuário masculino para o universo feminino comunicava, mesmo que

inconscientemente, uma ressignificação da peça e da posição da mulher na sociedade. O desconforto

inicial causado pelo uso da calça comprida por Dona Genu leva à uma lenta quebra dessas barreiras

para que se chegue à aceitação e, consequentemente, à incorporação massificada da peça ao guarda-

roupa feminino em anos posteriores.

As expressões sociais responsáveis por estabelecer códigos culturais através da linguagem

possibilitam normatizações em relação ao comportamento da moda. É possível visualizar esses ditames

ao utilizarmos a memória enquanto categoria analítica da moda de uma época. De acordo com

Halbwachs (1990), o pensamento social é essencialmente uma memória, constituída de lembranças

coletivas, mas dessas lembranças somente permanecem aquelas que a sociedade, ao trabalhar sobre

seus quadros atuais, pode reconstruir. A moda é produto de um tempo e espaço, reflexo da sociedade

que a determinou com seus valores e conflitos. Ela é também memória, pois nela está a marca de uma

época, de um grupo que a produziu. Para Ulpiano Bezerra de Meneses (2007), toda memória é uma

experiência de comunidade.

4. OS PRIMEIROS PASSOS DA MODA COMO UM NEGÓCIO NO ESTADO

Entre as décadas de 1950 e 1960, iniciou-se em Teresina a prática de ter um profissional dentro

das lojas de tecidos disponível para desenhar modelos de roupas para as clientes, o que hoje é

denominado de desenhista de moda ou estilista. O Senhor Roberto Broder6 relata que as lojas

Pernambucanas, uma grande rede varejista com uma filial então instalada na capital, contratou um

estilista de Parnaíba, chamado Miguel Pro, que já desenvolvia este trabalho em sua cidade, cuja sua

demissão ocorreu tempos depois devido o estilista se recusar a desenhar para uma senhora que, como

muitas da época, procurou seu serviço na loja, alegando que ela era “desprovida de beleza” e que nada

lhe resolveria. Miguel não sabia que a senhora era esposa de um importante funcionário da alfândega.

5 Durante a pré-história, o uso de alguns adornos, entre eles, comunicava bravura, quanto ao caráter de magia, o uso de

alguns objetos representava a aquisição de poderes fora do normal, como cita o trecho: “A cobertura corporal humana teve início já na Pré-História [...] A movimentação para isso, segundo a bíblia, foi o caráter de pudor, embora existam diversas outras interpretações, que apontam para o caráter de adorno, magia e também de proteção.” (Apostila HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA. 2009, p.3) 6 Entrevista concedida em 25 de Fevereiro de 2013.

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Além do aparecimento de um profissional, com atividade mais específica relacionada ao

desenho das peças, neste período ainda, houve o surgimento singelo de pequenas confecções no

estado, dentre elas a Confecção Bel, em Parnaíba, de Maria Madalena Broder, esta foi uma das primeiras

confecções de moda masculina do estado, fabricava camisas e bermudas de tecido, chegando a vender

para outros estados, como conta o Sr. Roberto Broder.

Ainda em seu relato, ele lembra da falência de muitas destas pequenas confecções piauienses.

Com a abertura de crédito para grandes grupos empresariais do Ceará e Rio Grande do Norte, através

da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), grupos estes produzindo peças em

larga escala e à baixos preços. Um dos grupos que recebeu o incentivo com capital da SUDENE foi a

Guararapes, de Natal (RN), que através desse crédito construiu mais duas grandes fábricas, uma em

Fortaleza (CE) e outra em Mossoró (RN). O crescimento acelerado proporcionou ao grupo adquirir as

cadeias de lojas Riachuelo e Wolens em apenas 3 anos após a abertura das duas mega fábricas. Neste

contexto, as pequenas confecções piauienses, ainda sem incentivos como este da SUDENE, não tiveram

potencial para concorrer no mercado, o que levou muitas à fechar as portas.

Em 1972, ao tempo em que essas pequenas confecções fechavam as portas, surgia a

Guadalajara, uma grande indústria de confecção, do Grupo Claudino, o maior conglomerado de

empresas do Piauí. Segundo o Sr. Francisco Marques de Melo, atual presidente do SINDVEST PI

(Sindicato da Indústria do Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecidos do Piauí), o grupo Claudino

recebeu incentivos fiscais da SUDENE e BNDES em troca de cursos de capacitação e formação de mão

de obra no setor de confecção, promovendo o início de um desenvolvimento industrial no setor de

vestuário no estado, já tardio se comparado à maioria dos outros estados do país, principalmente o

estado vizinho, Ceará.

A chegada da Guadalajara possibilitou treinamento de pessoal para que estes trabalhassem na

fábrica, já que profissionais capacitados na área eram escassos no Piauí, muitos dos que foram atraídos

para o trabalho na fábrica do grupo Claudino vinham de outras áreas e neste momento tiveram o primeiro

contato com o trabalho na indústria de confecção. Foi uma espécie de “escola”, já que muitos desses

profissionais anos após rumaram para outras pequenas confecções que surgiram levando a experiência

e o conhecimento adquiridos na fábrica do grande grupo.

5. SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS BOUTIQUES E DESFILES DE MODA NO PIAUÍ

Um outro ramo relacionado à moda que também veio a contribuir para a construção do cenário

atual do setor no Estado foi o das Boutiques. Na década de 1960 surge a primeira boutique de moda do

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Piauí, denominada Biscuit, de propriedade de Graça Mota, que trabalhava juntamente com a irmã. A

Boutique Biscuit era voltada para a “garota moderna”, como descrevia em suas propagandas publicadas

no Jornal “O Dia”7 da época, a loja oferecia roupas prontas, compradas em outros locais como Belo

Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, além de peças confeccionadas pelas duas irmãs proprietárias

das loja.

Figura 2 – Propaganda da Boutique Biscuit/

Fonte: Arquivo Público do Piauí. Jornal o Dia. Coluna Elvira Raulino. p, 5. 17 de janeiro de 1969.

O anúncio da Biscuit no jornal já declarava: “para a garota moderna”, denotando o espírito do

tempo, que muito foi influenciado pela cultura jovem, como cita João Braga (2008. p, 48): “Os anos 60,

por sua vez, chegaram introduzindo muitas mudanças na moda. De fato, foi o início da influência dos

jovens para o comportamento da moda. Os tempos eram verdadeiramente outros.”

Poucos anos depois, em 1968, é inaugurada a Boutique Baú, de Dourila Machado Veiga de

Carvalho, localizada na Rua Desembargador Freitas, no centro da cidade de Teresina. Dourila Carvalho

assim como Graça Mota também viajava para outros estados, que já eram considerados polos de

produção industrial de moda no Brasil, e vendiam no atacado. Como o Piauí ainda não estava

acompanhando o desenvolvimento industrial no setor de confecção, ao passo que já estava acontecendo

em outros estados, estas lojas traziam os produtos produzidos em outras regiões do país e

comercializavam, como lojas multimarcas.

7 O Jornal O Dia é um jornal periódico que circula na cidade de Teresina, no Estado do Piauí. Pertence ao Sistema O Dia de

Comunicação. [...] O presente periódico foi fundado no dia 1º de fevereiro de 1951, pelo professor Leão Monteiro.

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Além das venda das confecções, Graça Mota e Dourila Carvalho promoveram os primeiros

desfiles de moda na capital, eram grandes eventos com a presença dos mais renomados da sociedade

local, desde empresários importantes com suas esposas, à políticos, incluindo prefeito e governador.

Dourila Carvalho relata em sua entrevista que os desfiles da Boutique Baú aconteciam na própria

loja, em uma área ampla ao ar livre onde havia um espelho d’água, que ela chamava de lago. A

empresária trouxe modelos nacionais famosas para as passarelas da Boutique Baú em Teresina, tais

como: Monique Evans, as irmãs Luma de Oliveira e Ísis de Oliveira, além de Marlene Silva e Maria Rosa,

estas últimas faziam parte do elenco do programa Planeta dos Homens, exibido na TV Globo entre 1976

a 1982.

A presença dessas celebridades atraía o público. Segundo a entrevista concedida por Dourila

Carvalho, os desfiles da Boutique Baú eram organizados com 75 entradas no total, ou seja, eram 75

looks diferentes apresentados durante o evento. Dourila Carvalho faz questão de lembrar que eram feitos

cabelos e maquiagens diferentes para cada entrada, todos elaborados, sob o comando de Mariano

Marques que fazia um belo trabalho, com muita competência e com a rapidez que o backstage de um

grande desfile exige.

Figura 3- Desfile da Boutique Baú /

Fonte: Acervo pessoal de Dourila Machado Veiga de Carvalho

Saindo das boutiques, os desfiles ganharam as ruas. Graça Mota por sua vez, realizou pela

primeira vez na capital de Teresina um desfile de moda na rua. O que veio a ocorrer em frente à loja

Biscuit, na Rua Lisandro Nogueira, no centro da cidade. A empresária promovia muitos desfiles da

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Boutique Biscuit, a lista de convidados sempre contava com os nomes mais importantes da capital. Assim

como os de Dourila Carvalho, Graça Mota também trouxe para a passarela local, modelos nacionais

como: Luiza Brunet e Xuxa Meneghel.

A empresária Graça Mota foi além de peças do vestuário, ousou verticalizando sua linha de

produtos, lançando um perfume e um vinho com o seu nome, de forma que essa estratégia agregou valor

à sua marca. Durante todo esse período a Boutique Biscuit e a Boutique Baú ficaram conhecidas como

as melhores lojas de artigos femininos do estado. Após estas duas, várias boutiques começaram a surgir

em Teresina, na mesma linha da Biscuit e da Baú, como multimarcas.

Em uma breve análise, pode-se entender que a falta de produção local, o que levava à compra

de marcas de fora do estado, gerou a cultura do piauiense de hiper valorização do que é de fora. Anos

mais tarde, quando se intensificou a produção de confecções locais - ainda limitadas pela dificuldade de

acesso à matérias-primas e insumos por questão de lojistica, além da falta de profissionais formados

para atuar no setor de criação a fim de concorrer ao mesmo nível com as indústrias de fora do estado –

estas passaram a produzir peças mais simples e a grande maioria voltada para o público C e D. Pode-

se atribuir à este fato, a mentalidade que se instalou na concepção do piauiense com relação ao que é

produzido no estado, ainda hoje nota-se preconceito e desvalorização do produto que é produzido no

Piauí, da parte dos próprios piauienses.

6. ANOS 80: A INTENSIFICAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO NO PIAUÍ

A década de 1980 marca um grande crescimento no setor têxtil e de confecção em todo o país,

a moda passa a ser vista como um negócio altamente rentável o que propiciou o aumento no número de

indústrias e investimentos no setor,

“outro enfoque dos anos 80 é a profissionalização verificada no setor têxtil e de confecção em nosso País. A moda deixou de ser considerada como assunto fútil, passando a receber tratamento sério, discutível e discutida.” (THAMER, 1987/1988, p.6)

No Piauí nota-se, neste período, o surgimento de inúmeras pequenas confecções, a grande

maioria de empreendedores por necessidade, sem um plano de negócio e planejamento estratégico para

o crescimento da empresa.

À frente da maior parte dessas empresas estavam mulheres, que começaram com uma

pequena produção em casa. Ao iniciar, não imaginavam a grande demanda do mercado em ascensão,

o que lhes proporcionou possibilidade de crescimento. Por meio do BNDES (Banco Nacional de

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Desenvolvimento), essas pequenas empresárias puderam financiar créditos e assim aplicar seus

investimentos em maquinário, estrutura física, compra de matéria-prima, dentre outros, se tornando

indústria e consequentemente gerando emprego e renda para a população.

Muitas dessas indústrias que surgiram na década de 1980, como exemplo podemos apontar a

empresa de confecção Gota D’água e MCA localizadas em Teresina, que segundo destaca o presidente

do SINDVEST PI, Francisco Marques, permanecem até hoje no mercado a pleno vapor, como empresas

em destaque em vendas e produção. Estas e outras empresas iniciadas nos anos 1980, que conseguiram

crescer com muito esforço - mesmo sem contar com um planejamento inicial, com uma estrutura com

profissionais pensando estrategicamente em políticas de mercado e publicidade, dentre outros aspectos

relevantes para uma empresa e com a resistência ao produto genuinamente piauiense que se enfrenta

com a população do estado - proporcionaram um grande crescimento no setor de confecção de moda

em relação à outros setores dentro da economia do estado, ganhando destaque, contribuindo

diretamente para o cenário atual da moda no Piauí.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O recurso metodológico utilizado para a realização dessa pesquisa foi a história oral8. Para

FREITAS (2006), a “Nova História” foi um importante movimento que contribuiu para a mudança dos

procedimentos na pesquisa de fontes para se reconstruir a História (dentre estas fontes, o depoimento

oral) ressaltando ainda que “o tema da memória, juntamente com o da cultura, passou a ser, para os

historiadores, um desafio e motivo de renovada criação”. Segundo a autora, a história oral fornece

documentação para reconstruir o passado recente, legitima o presente e privilegia a voz dos indivíduos,

permitindo captar, a partir de reminiscências, o que as pessoas vivenciaram e experimentaram.

Dentro desta perspectiva, como objetivo deste empreendimento, analisou-se o discurso extraído

das entrevistas sobre o cenário da moda no Piauí, mais especificamente as entrevistas realizadas com

pessoas que se destacaram na sociedade piauiense e que vivenciaram experiências dentro do recorte

temporal em estudo. Além deste método, utilizou-se também fontes iconográficas - com a finalidade de

8 A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem

testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea.

Começou a ser utilizada nos anos de 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no México, e

desde então difundiu-se bastante. Ganhou também cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a

praticam: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros.

Essas informações foram retiradas do site CPDOC. www.cpdoc.fgc.br/acervo/historiaoral

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registrar a indumentária e momentos relevantes para esta pesquisa dentro do contexto piauiense - fontes

hemerográficas e, para entrelaçar os dados coletados com teorias e o contexto social, político e

econômico, abordou-se bibliografias como referências. Em relação à tipologia de pesquisa, tratou-se de

investigação descritiva acerca do tema.

De acordo com Bourdieu (2003), as mulheres trazem uma contribuição decisiva à produção e à

reprodução do capital simbólico da família expressando o capital simbólico do grupo doméstico que

concorre para sua aparência. Neste sentido, Bourdieu ressalta a importância do traje e da aparência

feminina para a família dentro da sociedade, contendo signos e significados que se relacionam

diretamente com as influências sociais.

Submergindo nesta teoria, foi analisado dentro do contexto piauiense como se deu essa estrutura

de aparências e influências, conhecendo mais sobre a trajetória da moda em no Piauí, tornando esta

pesquisa uma contribuição acadêmica, tendo em vista a carência de estudos que abordem

especificamente sobre o cenário e o mercado de moda no Piauí ao longo do século XX. No ambiente

acadêmico existem disciplinas e discussões que tratam da história da moda, mas, somente sob o

espectro global e no que se referem a Brasil, as bibliografias existentes abordam somente a região

sudeste. Portanto, o artigo aqui apresentado tem valor acadêmico, social e histórico, almejando aquecer

as discussões sobre esta temática e incentivando a produção de bibliografias especializadas no tema.

8. REFERÊNCIAS

8.1 Entrevistas:

CARVALHO, Dourila Machado Veiga de. Entrevista concedida. Teresina - PI, Brasil, fevereiro de 2013.

CORREIA, Maria Genoveva de Aguiar Moraes. Entrevista concedida. Teresina - PI, Brasil, fevereiro de 2013.

BRODER, Roberto. Entrevista concedida. Teresina - PI, Brasil, fevereiro de 2013.

8.2 Fontes documentais

Dados do Sindicato da Indústria do Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecidos do Piauí-SINDVEST PI, 2012, cedidos pelo presidente, Sr. Francisco Marques de Melo.

8.3 Fontes hemerográficas

Arquivo Público do Piauí. Jornal O Dia. p, 5. 17 de janeiro de 1969.

8.4 Bibliografia:

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BOURDIEU, Pierre (1930‐2002). A Dominação Masculina. Trad. Maria Helena Kühner.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, 160p. Nação Masculina.

BRAGA, João. Reflexões sobre a moda. Volume I / 4ª Ed. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2008.

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FREITAS, Sonia Maria de. História Oral: possibilidades e procedimentos / Sônia Maria de Freitas. 2 ed. – São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006.

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SALES, Gabriela Maroja Jales. Representações sociais da cultura de moda regional [online] disponível na internet: www.coloquiomoda.com.br/anais/anais3-colóquio-de-moda_2007/4_02. Pdf. Arquivo capturado em 08.09.2014.

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