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Relatos da Prática CADEIAS PRODUTIVAS, SUSTENTABILIDADE E TRABALHO José Antônio Borghi Vieira; José Rubens Guido Junior ; Juliana Andrade Moura; Noêmia de Carvalho Garrido; Rodrigo Neris; Vagner Oliveira Duarte. CEMEFEJA PIERRE BONHOMME 1T, 2T, 3T e 4T Campinas, 2019

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Relatos da Prática

CADEIAS PRODUTIVAS, SUSTENTABILIDADE E TRABALHO

José Antônio Borghi Vieira; José Rubens Guido Junior; Juliana Andrade Moura; Noêmia de Carvalho Garrido; Rodrigo Neris;

Vagner Oliveira Duarte.

CEMEFEJA PIERRE BONHOMME1T, 2T, 3T e 4T

Campinas, 2019

RESUMO

Este trabalho aborda as questões relacionadas à sustentabilidade e o trabalho envolvido em cadeias produtivas de um modo geral, fomentando uma reflexão sobre os impactos das etapas de produção em nossas vidas e no meio ambiente considerando os aspectos econômicos, sociais e artísticos. Também aborda os aspectos históricos, desde a revolução industrial, paralelamente promovendo uma reflexão sobre a utilização de recursos naturais, uso de energias renováveis ou não renováveis nas etapas de produção; escolha das matérias primas, direitos trabalhistas e segurança no trabalho, processos de criação, comparação das produções de subsistência sustentável e agronegócio. A partir do tema norteador, “Cadeias produtivas, Sustentabilidade e Trabalho”, os professores e alunos envolvidos no projeto, desenvolveram frentes de pesquisa, incluindo: “O mundo do trabalho”; “Sustentabilidade e Sobrevivência”; “Fontes de Energia e as Cadeias Produtivas”; “Artesanato: sua importância e sua presença na sociedade atual” e “Latifúndio, Monocultura e Escravismo no Brasil: da colônia ao agronegócio”. No desenvolvimento da pesquisa, as metodologias ativas apropriadas pelos professores durante o curso Pesco forneceram subsídios para a ampla discussão e reflexão dos vários subtemas durante as aulas de cada componente curricular, assim também como o uso de geotecnologias em sala de aula e materiais didáticos relacionados ao tema como o Atlas Escolar da Região Metropolitana de Campinas. Os resultados foram satisfatórios e os alunos, com seus relatos, textos produzidos e trabalhos, se apresentaram como protagonistas na construção do conhecimento, apesar dos vários desafios e obstáculos que surgiram nesse percurso.

Palavras-chave: trabalho, sustentabilidade, produtividade, agricultura, energia, artesanato, interdisciplinaridade.

CONTEXTO DA PESQUISA:

Uma das grandes preocupações dos Jovens e adultos nos dias de hoje é com relação ao universo do

trabalho, considerando as perspectivas e disponibilidade de emprego, a qualificação profissional e as

escolhas econômicas importantes para garantir a sobrevivência e o sustento da família.

As novas tecnologias contribuem muito para as mudanças no trabalho. Muitas empresas investem por

exemplo em robótica, o que exige mão de obra bem especializada e diminuição dos postos de trabalho.

Compreender as características e exigências de qualificações específicas do atual mercado de trabalho

pode contribuir para que esses jovens e adultos estejam melhor preparados. Enfim, conhecimentos sobre

o mundo para que eles possam atuar de maneira mais consciente, crítica e digna no mundo.

Paralelamente, a sustentabilidade está cada vez mais presente nas cadeias produtivas, uma vez que

há uma preocupação e pressão mundial com as questões relacionadas à escassez de recursos naturais,

produção de energia renovável, poluição, desmatamento ambiental e a destinação da imensa quantidade

de resíduos sólidos produzidos diariamente.

Para desenvolver o tema proposto no presente trabalho é de extrema importância um resgate histórico da

estrutura produtiva implementada no Brasil pelos colonizadores portugueses. Desde o início da

colonização, o modelo de produção agroexportador contemplou os objetivos de lucro da Coroa, dos

comerciantes e da nobreza portuguesa. A monocultura, o latifúndio e o escravismo foram o tripé da

produção de riquezas coloniais, deixando um legado histórico de concentração de terras e de rendas,

assim como de superexploração do trabalho. É certo que estes problemas se apresentam como os

principais problemas sociais do Brasil contemporâneo. Esse modelo persiste nos dias atuais com uma

nova roupagem: o Agronegócio. Aclamado por economistas e pela grande imprensa como o grande motor

da economia nacional, responsável por 21% do PIB, o agronegócio tem sido responsável, na mesma

medida, por produzir grandes problemas sociais e ambientais.

Dentro da temática “cadeias produtivas, sustentabilidade e trabalho”, alguns possíveis problemas devem se

apresentar como geradores de pesquisa entre os alunos, como: Qual a relação entre o modelo de

produção agrícola brasileiro atual com o modo de produção do Brasil colonial? Quais foram os impactos

sociais e ambientais do modelo de produção agroexportador colonial? Quais são os impactos desse

modelo na atualidade? Quanto o país já perdeu, em termos de vegetação e biodiversidade?

Quais são os impactos sociais, principalmente em relação à exploração do trabalho e a concentração

fundiária? Como ocorrem as disputas por terras e os conflitos no campo? Existem maneiras de conciliar

desenvolvimento econômico, no atual modelo, e preservação do meio ambiente?

O problema gerador presente na temática central desta pesquisa, desdobra-se nas aulas de arte,

para a investigação do artesanato - sua importância e sua presença na sociedade na atualidade, como

forma de compreensão da significativa mudança na forma de produção dos bens de consumo, das

oficinas e ateliês dos artesãos do passado - um saber passado de geração em geração - à produção em

escala industrial dos dias atuais. Essa produção é vista dentro de um contexto de consumismo que gera

falsas necessidades de consumo, grande quantidade de lixo e que também afeta as condições e

possibilidades de trabalho: de um fazer artesanal, em que o homem dominava todo o processo de

produção, para um fazer mecânico e alienante das etapas de produção dos sistemas produtivos atuais,

no qual o trabalhador torna-se apenas mais uma peça descartável e substituível numa grande

engrenagem chamada indústria.

Outro fator que perpassa o artesanato nos dias atuais é a sua relação com o reuso de materiais

recicláveis. Nessa perspectiva, a descoberta da existência da primeira Usina de Reciclagem de bitucas de

cigarro do mundo, na cidade de Votorantim, interessou-nos sobremaneira, porque em sua cadeia de

produção - a desintoxicação dos resíduos tóxicos da bitucas de cigarro -, a massa celulósica que resulta do

processo alimenta a produção de uma outra cadeia, a da produção de blocos de anotação e flores de papel

reciclado, produtos manuais criados nas oficinas do Cândido Ferreira, instituição de Campinas que

desenvolve relevantes trabalhos na área da saúde mental.

O curso Pesco 2019, por meio dos conteúdos e discussões relacionados às metodologias ativas,

letramentos e uso das tecnologias em sala de aula, forneceu subsídios para o desenvolvimento dessa

temática com os alunos. Durante as aulas dos diferentes componentes curriculares envolvidos, discussões

pautadas no letramento científico e cartográfico seguiram paralelamente ao trabalho proposto, fornecendo

conceitos e elementos relevantes para a qualidade da pesquisa.

A prática de algumas metodologias ativas como Rotação por Estações e Debate Inteligente no contexto

da pesquisa foram de fundamental importância, pois auxiliaram no aprofundamento dos temas e

fomentaram as discussões e reflexões para que, de fato, ocorresse a construção do conhecimento.

A escolha do tema de pesquisa “Cadeias produtivas, Sustentabilidade e Trabalho” se deu no decorrer

do curso Pesco a partir de conversas informais com os alunos em sala de aula, os quais apontavam suas

ansiedades, dúvidas e preocupações com relação a esse tema. Dessa forma, levando em consideração

todos esses aspectos, os alunos do Cemefeja Pierre Bonhomme, juntamente com os professores cursistas

do Pesco, desenvolveram o presente trabalho de forma interdisciplinar, durante o ano letivo de 2019,

envolvendo os seguintes componentes curriculares: Arte (Prof. Rodrigo Neris); Ciências (Prof. Vagner

Oliveira Duarte); Geografia (Prof. Juliana Andrade Moura e Prof. José Rubens Guido Júnior); História (Prof.

José Antônio Borghi Vieira) e Fumec (Prof. Noêmia de Carvalho Garrido). Cada professor especialista

trabalhou um assunto pertinente à sua disciplina dentro do tema amplo. As pesquisas foram desenvolvidas

sob a orientação e tutoria da Prof. Maria Amelia de Jesus Piton, professora de Ciências na unidade escolar

e tutora do Pesco desde 2015. Assim, como objetivos específicos do projeto, destacam-se:

Objetivos específicos: ARTE

- Pesquisar e compreender o conceito de artesanato, sua importância e sua presença na sociedade na

atualidade em nossa cultura e nas culturas indígenas;

- Compreender as relações entre os diferentes conceitos presentes na temática central com o artesanato;

- Visitar a Usina de Reciclagem de bitucas de cigarro e compreender o seu processo de descontaminação;

- Conhecer e entrevistar artesãos e produtores de peças manuais locais, obtendo informações sobre sua

produção, sua formação e sua relação com o cliente e com o mercado;

- Conhecer as oficinas artesanais do Cândido Ferreira;

- Conhecer a técnica de reciclagem de papéis e a pesquisa com tingimento com pigmentos naturais e

tintas;

- Conhecer e explorar as técnicas de produção de blocos e flores com papel artesanal;

- Conhecer e explorar a técnica de criação de esculturas figurativas com palha de milho.

Objetivos específicos: CIÊNCIAS e PAA FUMEC

- Fazer o levantamento, descrição e a realização de todo o processo da agricultura familiar ou de

subsistência em área urbana;

- Caracterizar e descrever a propriedade a ser utilizada;

- Identificar os alimentos a serem cultivados;

- Descrever e identificar a montagem dos canteiros, adubação e manejo das espécies;

- Identificar os fatores que determinam a produção da agricultura de subsistência e o autoconsumo;

- Analisar todo o processo de autoconsumo e a agricultura de subsistência dentro do perímetro urbano,

caracterizar e descrever todos os fatores sociais, econômicos e culturais que desencadeiam esse

processo.

Objetivos específicos: GEOGRAFIA

- Compreender as diferentes etapas de funcionamento do capitalismo, da matéria-prima ao consumo,

atentando para a pressão sobre os recursos naturais e o descarte dos resíduos;

- Analisar as especificidades do trabalho industrial no início do século XX;

- Analisar as mudanças na legislação trabalhista após reforma aprovada pelo parlamento brasileiro em 2017;

- Compreender as relações entre trabalho, saúde e os direitos do trabalhador;

- Identificar as diferentes características do trabalho formal e do trabalho informal;

- Analisar algumas categorias de trabalhadores informais como os vendedores ambulantes, entregadores de

comida delivery e os catadores de materiais reciclados;

- Identificar a importância da energia para o desenvolvimento das diferentes sociedades na história;

- Compreender as diferentes fontes de energia;

- Diferenciar energias renováveis e não renováveis;

- Observar e analisar os impactos produzidos no meio ambiente;

- Conscientizar sobre o consumo de energia elétrica;

- Produzir uma maquete destacando fontes de energia utilizada em diferentes cadeias produtivas.

Objetivos específicos: HISTÓRIA

- Compreender o processo histórico de desenvolvimento do sistema de produção nas sociedades capitalistas;

- Compreender como esse sistema de produção foi introduzido no Brasil, no período colonial, assim como seus

impactos no território brasileiro;

- Comparar o modo de produção introduzido pelos colonizadores portugueses com o modo de produção

utilizado pelos povos nativos do território brasileiro;

- Analisar a relação entre produção e degradação ambiental;

- Compreender a relação dos povos indígenas e dos trabalhadores do campo com a terra, a produção e o

consumo, no passado colonial e nos dias atuais;

- Refletir sobre as reais necessidades de consumo na sociedade capitalista e como se construiu uma cultura

consumista;

- Analisar a relação entre concentração de terras, desigualdade social, desemprego e conflitos no campo;

- Analisar as relações de trabalho no campo;

- Refletir sobre os impactos ambientais do consumismo;

- Buscar soluções e alternativas para a relação entre consumo e preservação do meio ambiente.

DESENVOLVIMENTO:

Durante a elaboração da pesquisa, cada professor, dentro do seu componente curricular, desenvolveu o

tema proposto utilizando as metodologias e ferramentas pertinentes com o intuito de alcançar os objetivos

específicos, sempre com a preocupação de fornecer ao aluno a visão ampla do “todo” e não apenas focando

os conteúdos das disciplinas isoladamente. A partir do tema geral norteador, “Cadeias produtivas,

Sustentabilidade e Trabalho”, os professores e alunos envolvidos no trabalho, desenvolveram frentes de

pesquisa, incluindo “O mundo do trabalho”; “Sustentabilidade e Sobrevivência”; “Fontes de Energia e as

Cadeias Produtivas”; “Artesanato: sua importância e sua presença na sociedade atual” e “Latifúndio,

Monocultura e Escravismo no Brasil: da colônia ao agronegócio”. As Metodologias Ativas e os Estudos do

Meio foram os destaques nessa etapa de desenvolvimento da pesquisa, pois auxiliaram nas discussões,

reflexões e aprofundamento dos temas. O desenvolvimento da pesquisa em cada subtema está descrito a

seguir.

Subsistência e sustentabilidade

Este trabalho foi desenvolvido juntamente com a equipe de professores do CEMEJEJA “Pierre

Bonhomme”, cursistas do PESCO, nas diferentes áreas do conhecimento, e especificamente com a área de

Ciências.

Adentrando na questão da alfabetização, ao perceber as dificuldades que os alunos adultos enfrentam

para compreender as noções básicas dos instrumentos escolares (medidas, leituras e interpretações) o

projeto se estende no desenvolvimento de poder proporcionar uma leitura crítica da realidade envolvida, no

que tange à sustentabilidade e sobrevivência.

O trabalho de pesquisa oferecido pelo Pesco renovou a visão com relação às mudanças ocorridas nos

tempos atuais quando é preciso utilizar novas ferramentas no processo de aprendizagem do aluno na

atualidade. A tecnologia e o trabalho de pesquisa são os grandes parceiros mediante as inovações

oferecidas pelo mundo do trabalho e a sociedade. Todavia é necessário que façam parte da formação

continuada do professor para que ele possa atualizar seus conhecimentos, buscando novas maneiras de

atuar profissionalmente em sua prática pedagógica.

Neste projeto de pesquisa planejamos, juntamente com os demais professores da CEMEFEJA

“Pierre Bonhomme”, o projeto em si e as atividades que seriam realizadas com os alunos, tanto nos

espaços de sala de aula como nas visitas externas envolvendo o tema proposto “Trabalho,

Sustentabilidade e sobrevivência”.

O trabalho, centrado no processo de letramentos múltiplos, sobretudo no uso da tecnologia em sala

de aula, contribuiu para motivação e desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos.

As Metodologias Ativas apresentam-se como uma forma de aprendizagem dos alunos nas fases que

acompanham as atividades de criar e pensar, dentre outras; além de aprimorar argumentações de

convencimentos. Isso tudo trouxe mudanças à prática pedagógica planejada e aplicada ativamente. Neste

projeto de pesquisa foram parceiros os alunos, professores, gestores e os funcionários da escola.

Um dos problemas que encontramos no percurso do trabalho foi a conclusão da aluna na EJA II,

Iracema Maria de Miranda, que possui uma pequena propriedade rural onde cultiva produtos para a sua

subsistência.

Parte da pesquisa incluiu uma visita à chácara desta aluna. Embora a aluna continuasse frequentando a

escola no curso da FUMEC “Consolidando”, enfrentamos alguns desencontros para obter mais dados

para a pesquisa. No entanto, podemos elencar positivamente alguns aspectos:

1. Pesquisa do espaço para o plantio de legumes na chácara da aluna;

2. Atividades em sala de aula relacionadas à sustentabilidade e sobrevivência;

3. Entrevista com a aluna sobre as dificuldades enfrentadas com relação ao trabalho; condições de vida

e dos estudos (entrevista apresentada no vídeo do evento);

4. Visita à Fábrica de Reciclagem de Bituca de cigarro;

5. Desenvolvimento de atividades em sala de aula relacionadas ao aprendizado: “Sustentabilidade e

Qualidade de vida”;

6. Visita à Oficina de Reciclagem no Cândido Ferreira.

Chácara da aluna Iracema Foto: Noêmia de Carvalho Garrido

Pesquisando o espaço do plantioFoto: Noêmia de Carvalho Garrido

Aluna Iracema Maria de MirandaFoto: Noêmia de Carvalho Garrido

Cultivo de mandiocaFoto: Noêmia de Carvalho Garrido

Latifúndio, monocultura e escravismo: da colônia ao agronegócio

O tema de trabalho “Cadeias produtivas, sustentabilidade e trabalho” surgiu a partir de levantamento

realizado por todos os professores do Cemefeja “Pierre Bonhomme” que participam do PESCO, junto aos

seus alunos. Esse levantamento foi realizado através de pesquisa de interesse e o interesse por meio

ambiente, trabalho no campo e produção foi bastante mencionado. Os professores atenderam os

interesses dos alunos, buscando envolver os diferentes componentes curriculares e o projeto pedagógico

da escola na pesquisa.

Neste projeto atual, inserimos, de forma mais sistemática, o uso de metodologias ativas, como a sala

de aula invertida e a rotação de estações, o que melhorou bastante o resultado das aulas com pesquisa,

com temas específicos. Pudemos, também, trabalhar melhor os conceitos de letramento científico e

cartográfico nas aulas de história, possibilitando que os alunos fizessem uma reflexão sobre o processo de

construção do conhecimento científico e ter um olhar mais apurado na utilização de mapas.

Durante as aulas de história, o tema “Cadeias produtivas, sustentabilidade e trabalho” foi desenvolvido com

foco na produção e trabalho no campo, uso dos recursos naturais e consequências históricas do modelo de

exploração agrícola, implementado no Brasil desde a época da colonização portuguesa até os dias atuais.

Com o 3° termo, começamos fazendo uma análise sobre o modelo de ocupação realizado pelos

portugueses no Brasil, baseado na grande lavoura canavieira para exportação. Os alunos puderam, através

da análise de documentos, ter uma dimensão dos impactos ambientais, econômicos e sociais desse modelo,

como a concentração de terras devido à divisão do território em latifúndios, a quase aniquilação da

vegetação, principalmente a Mata Atlântica e a imposição de uma cultura patriarcal, que estimulou uma

cultura de corrupção, com poder e prestígio social exclusivo de um único grupo social, homem branco,

proprietário de terras.

A partir desse estudo, começamos a problematizar a questão da produção agrícola no Brasil atual, que

segue o mesmo modelo criado no Brasil colonial, baseado na monocultura e no latifúndio, que produz,

prioritariamente para exportação, o chamado ‘Agronegócio”.

A partir de notícias de jornais, textos do Geoatlas e de buscas na internet, os alunos realizaram um

levantamento dos principais problemas relacionados a esse modelo de produção. Parte primordial do

processo de pesquisa foi realizada com o uso de geomonitoramento, através da ferramenta do Geoatlas,

do material disponibilizado pelo INPE, na plataforma Terrabrasilis e pelo material disponibilizado pela

plataforma do “SOS Mata Atlântica”. Através desses recursos, pudemos ter acessos a mapas e imagens de

satélites que foram referência no desenvolvimento da pesquisa e nas conclusões desenvolvidas pelos

estudantes.

A etapa final da pesquisa foi a questão do trabalho e dos conflitos no campo, a partir da relação entre

o trabalho escravo colonial e a exploração do trabalhador braçal nas grandes lavouras brasileiras e a luta

pela posse da terra.

Para finalizar, fizemos um levantamento dos modelos de produção alternativos e sustentáveis, que

existem atualmente no Brasil.

Para realizar este trabalho, utilizamos como metodologia a leitura e análise de documentos históricos,

atividades em grupo, com apresentação de resultados, seguindo o conceito de metodologias ativas;

pesquisa de reportagens na internet ou impressas; uso de mapas e imagens de satélite; produção de

painéis e cartazes; e produção de vídeo com os resultados. Na etapa final, para apresentar os resultados

construídos durante os estudos, os alunos foram organizados em duplas, que ficaram responsáveis pela

apresentação dos subtemas trabalhados durante a pesquisa. Cada dupla ficou responsável por buscar,

utilizando fontes digitais, dados, imagens e reportagens que reforçassem as ideias trabalhadas durante a

pesquisa teórica. Ao final, cada dupla elaborou um cartaz, com o resumo dos conteúdos trabalhados

durante o desenvolvimento da pesquisa, com reportagens e dados que corroboravam os argumentos e

expuseram para a sala aquilo que tinham pesquisado.

Fontes de energia e cadeias produtivas

Este subtema de trabalho foi desenvolvido com três turmas da EJA durante as aulas de Geografia:

uma sala multisseriada (tarde), um segundo e um quarto termo do período noturno. Cada sala teve sua

especificidade e abordou a temática “energia e cadeia produtiva” de forma distinta. Para o

desenvolvimento do trabalho, os alunos discutiram e decidiram fazer as maquetes a partir de materiais

que fossem recicláveis, pois evitariam o consumo de energia que é gasto para fazer novos produtos.

Confecção de maquetesFoto: José Rubens Guido Junior

O processo de montagem foi difícil, à medida que, para muitos

alunos, esse foi o primeiro contato com esse tipo de trabalho. Em grupo

pesquisaram as fontes de energia e protótipos de maquetes, fizeram

esboços e estabeleceram estratégias de trabalho. Cada integrante tinha

uma tarefa específica. As salas foram divididas em três e quatro grupos.

Houve uma colaboração mútua entre todos. Ao fim do trabalho, os alunos

concluíram que, mesmo com as dificuldades, há outras possibilidades de

aprendizagem, que possibilitam uma participação mais ativa, seja através

da pesquisa, do estudo em grupo ou da confecção de maquetes.

O mundo do trabalho

Ainda durante as aulas de Geografia, para que pudessem compreender as diferentes etapas de

funcionamento do modo de produção capitalista, da matéria-prima ao consumo, realizamos a leitura de “Marx

em quadrinhos” e do filme/documentário “Ilha das Flores” seguido de roda de conversa sobre as questões de

entendimento e compreensão dos aspectos levantados pelos alunos, tais como a divisão de classes e as

desigualdades sociais, o consumismo e a produção de resíduos sólidos. Após esse momento, realizamos

leituras de textos e sistematização de conceitos sobre o tema. Uma atividade de pesquisa interessante foi a

leitura e análise de rótulos de embalagens de produtos industrializados para a identificação da planta

produtora, da marca do produto, das principais matérias-primas envolvidas na produção. Os alunos também

construíram esquemas ilustrados envolvendo as etapas da produção: a extração da matéria-prima,

transformação na indústria, transporte, comércio e descarte dos resíduos.

No estudo das especificidades do trabalho industrial no início do século XX assistimos a um trecho do

filme: “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, em que o trabalho enfadonho, repetitivo e alienado leva a

personagem a um quadro de adoecimento psíquico.

Refletimos sobre as consequências para o trabalhador de hoje sobre a necessidade do capitalismo em

elevar os lucros aumentando a produtividade. Lemos e conversamos sobre as principais doenças ocupacionais

atuais: físicas (LER, DORT, dermatoses, perdas auditivas, câncer relacionado ao trabalho) e mentais

(ansiedade, depressão e síndrome de Bournout). Os alunos, pesquisaram no site da campanha “A dor pode te

marcar” sobre cada uma dessas doenças ocupacionais e socializaram em sala os resultados da pesquisa.

Em relação à reforma trabalhista, a professora apresentou para cada aluno, por escrito, a descrição de um

artigo da Consolidação das Leis do trabalho – CLT e do mesmo artigo da lei trabalhista alterada após reforma

de 2017. Era tarefa do aluno ler, interpretar a lei e socializar com os demais a informação apreendida. Foi um

momento muito rico de troca de informações e reflexões.

A questão do trabalho formal e informal foi trabalhada em diversas aulas com metodologias bastante

diversificadas. A partir da leitura de poemas sobre a vida dos camelôs, textos jornalísticos sobre a “uberização

do trabalho”, reflexões a partir do documentário “O homem do saco”, que trata sobre a importância e as

dificuldades enfrentadas pelos catadores de materiais recicláveis na cidade de São Paulo, nossos alunos

elaboraram e aplicaram questionários aos trabalhadores informais visando conhecer melhor as condições de

trabalho dessas pessoas e suas percepções.

Importante destacar as duas saídas de campo relacionadas às questões ambientais: a visita ao Museu

da Água em Indaiatuba, onde os alunos puderam receber muitas informações sobre a importância da água

no sistema terrestre, observar os objetos que contam a história do primeiro sistema de captação do

município e tiveram a oportunidade de beber água fresca no primeiro manancial da cidade e a visita ao

Aterro Sanitário de Paulínia, empresa que recebe os resíduos sólidos de 35 municípios da região, o que

enriqueceu as reflexões sobre a velocidade do descarte da maioria das coisas que consumimos

cotidianamente e os desafios para o gerenciamento destes resíduos.

Visita ao Aterro Sanitário em Paulínia - Maquete onde puderam visualizar a diferença entre Aterro Sanitário e Lixão. Foto: Juliana A. Moura.

Painel interativo no Museu da Água em Indaiatuba. Foto: Juliana A. Moura.

Metodologias Ativas: pesquisa por rotação de estações. Foto: Juliana A. Moura.

Artesanato: sua importância e sua presença na sociedade atual

Durante as aulas de Arte, após iniciar o trabalho de maneira tímida ainda, no 2º módulo do semestre

anterior, quando a turma estava no 2º termo, o vídeo “O método científico” de “O mundo de Beakman” foi

apresentado para subsidiar uma conversa sobre pesquisa e suas etapas; num segundo momento, foi

apresentada para os estudantes a temática central desse projeto de pesquisa “cadeias produtivas,

sustentabilidade e trabalho”, propondo-lhes quatro possibilidades de investigação: pesquisar sobre o universo da

publicidade e o estímulo ao consumo; pesquisar sobre o design e sua relação com os hábitos de consumo;

pesquisar sobre o artivismo de artistas na denúncia dos problemas ambientais provocados pelas ações danosas

dos meios de produção sobre a natureza; e pesquisar sobre o artesanato, sua importância, sua presença e suas

possibilidades como mercado de trabalho. Após conversarmos sobre as possibilidades de desdobramentos de

cada subtema, os estudantes optaram por investigar a última temática.

Para início de discussão da temática, a turma foi organizada em grupos para que levantassem problemas

que lhes interessassem ou ainda algumas hipóteses que orientassem a pesquisa. Ao acompanhar os grupos, a

percepção de que a conversa não fluía, nem tampouco com a mediação do professor, fizemos uma conversa

com toda a turma. Nessa conversa os estudantes revelaram que a escolha do artesanato como tema, foi por

acharem que seria o assunto mais fácil e de menos trabalho, pois seria apenas a produção de algo artesanal.

Também foi possível descobrir que os estudantes mais jovens não gostavam de artesanato, em geral o

achavam feio e desnecessário, preferindo os produtos de marca. No entanto, esse problema não era

reconhecido como mobilizador da pesquisa pela turma. Seria preciso mudar as estratégias.

No início do segundo semestre letivo, o trabalho com a turma, agora no 3º termo, foi iniciado com uma

dinâmica do laboratório rotacional, para o qual foram separados 4 textos encontrados na internet e 2 vídeos

do YouTube, com os quais teriam contato em seis estações de trabalho por 10 minutos. Naquele dia, visando

integrar adultos e adolescentes (grupos que haviam apresentado posturas e ideias bem diferentes na relação

com a temática), optou-se pela criação de duplas compostas por um adolescente e um adulto. A qualidade da

participação e dos debates nessa atividade foram surpreendentes. Os estudantes haviam descoberto a

diferença entre produção manual e artesanato, a existência de uma legislação federal brasileira que define

artesanato e fomenta a atividade do artesão e a diferenciação dos modos de produção antes e após a

revolução industrial. Ao final da atividade foram apresentados alguns trechos de vídeos para contextualizar os

conceitos em discussão: uma cena de “2001 uma odisseia no espaço” e uma cena de “Tempos Modernos” de

Chaplin.

Dada a presença da Feira de Artesanato do Cambuí, decidiu-se criar um questionário para investigar

o conhecimento das pessoas que vendiam seus produtos na Feira, bem como mapear se faziam de fato

artesanato ou produtos manuais. A criação das perguntas foi difícil no início, em especial, porque os

estudantes nunca haviam criado um questionário. O trabalho nas duplas facilitou a criação das perguntas.

Da análise das perguntas, os estudantes encontraram 4 subtemas: a produção do artesanato ou produto

manual, a formação do artesão, sua relação com o cliente e com o mercado.

Num sábado pela manhã os estudantes foram entrevistar 17 expositores da Feira de Artesanato do

Cambuí. Na aula seguinte, começou a tabulação dos dados das entrevistas.

Visitamos a Usina de Reciclagem de bitucas de cigarro de Votorantim - tecnologia nacional única no

mundo. Nessa visita os estudantes puderam conhecer o processo para desintoxicação das bitucas e criação

da massa celulósica que, doada para o Cândido Ferreira, vira material base para as oficinas de Cartonagem

e de Flores da instituição.

Depois visitamos o Cândido Ferreira para que conhecessem as oficinas artesanais e o trabalho com

saúde mental desenvolvido pela instituição no município. Os estudantes voltaram impressionados com a

visita, seja pelas descobertas em relação ao trabalho da instituição na área de saúde mental, seja pela

relevância que o artesanato possui para o tratamento dos pacientes e para a arrecadação de fundos para a

instituição a partir das vendas em uma loja, cuja beleza, encantou os estudantes.

Na sequência foi realizada uma oficina de papel reciclado. Foi uma manhã intensa de aprendizado e

experimentação das possibilidades de produção com a utilização de diferentes técnicas e telas, matéria

base - sulfite, jornal e massa celulósica resultante da desintoxicação das bitucas de cigarro.

Após a oficina, um pequeno grupo foi ao Cândido Ferreira participar das oficinas de cartonagem e

de flores para depois ensinar aos demais estudantes da turma durante uma oficina na escola.

Por fim, participaram de uma oficina para aprender, com a artesã Alice Oliveira, a produção de

esculturas figurativas com palha de milho.

A partir daí o trabalho se concentrou na organização de todos os dados e na preparação do material

para o Fórum Estudantil de Pesquisas.

Etapas da Pesquisa

Laboratório RotacionalFoto: Rodrigo Neris

Entrevistas na Feira do CambuíFoto: Rodrigo Neris

Oficina de papel recicladoFoto: Rodrigo Neris

Oficina de cartonagem na escolaFoto: Rodrigo Neris Oficina de Flores no Cândido

Foto: Rodrigo Neris Oficina de Escultura com palha de milhoFoto: Rodrigo Neris

RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES

Subsistência e sustentabilidade

No presente trabalho, pôde-se analisar os fatores que determinam e direcionam o indivíduo a realizar o

processo de agricultura de subsistência, pois essa modalidade é de grande importância para a população

que se encontra fora do mercado de trabalho, além das questões sociais, econômicas e culturais, agravadas

pela baixa estima, o baixo nível de escolaridade, a renda reduzida e o baixo índice de educação. Mesmo

nesse cenário, essa modalidade de agricultura destaca-se como um importante instrumento para a

diminuição da miséria nesta faixa desassistida da população brasileira.

O trabalho de pesquisa oferecido pelo PESCO renovou a visão com relação às mudanças ocorridas nos

tempos atuais, pois é preciso utilizar novas ferramentas no processo de aprendizagem do aluno. A

tecnologia e a pesquisa são as grandes parceiras mediante as inovações oferecidas pelo mundo do trabalho

e a sociedade. Todavia é necessário que essas façam parte da formação continuada do professor para que

ele possa atualizar seus conhecimentos, buscando novas maneiras de atuar profissionalmente em sua

prática pedagógica.

O trabalho desenvolvido, centrado no processo de letramentos múltiplos, sobretudo com o uso da

tecnologia na sala de aula, contribuiu para motivação e desenvolvimento das competências e habilidades

dos alunos na fase da pesquisa. Podemos destacar que a Metodologia Ativa apresenta-se como uma

maneira de avanço dos alunos nas fases em que acompanham as atividades criativas de produzir, de

pensar e de desenvolver argumentações de convencimentos. Isso tudo faz parte das mudanças que

ocorrem diante da prática pedagógica planejada e aplicada ativamente.

Latifúndio, monocultura e escravismo: da colônia ao agronegócio

Desde 2015, o Programa Pesquisa e Conhecimento na escola (PESCO) faz parte do planejamento dos

professores envolvidos e do Projeto Político Pedagógico do “Pierre Bonhomme”, por desenvolver um

trabalho interdisciplinar e estimular o protagonismo dos estudantes, através da pesquisa escolar. O fato de

trabalharmos com eixos temáticos também facilitou a inserção no planejamento de cada disciplina dos

temas de pesquisa desenvolvidos coletivamente ao longo desses anos.

A participação no curso do PESCO tem contribuído de forma significativa para o processo de ensino e

aprendizagem, através de uma formação contínua dos docentes, que levam para a sala de aula práticas que

estimulam a participação ativa dos alunos, o uso de tecnologias, de metodologias inovadoras e,

principalmente, um processo contínuo de reflexão da prática docente.

A temática das “Cadeias produtivas, sustentabilidade e trabalho” foi desenvolvida nas aulas de História

com foco no “Latifúndio, monocultura e escravismo” e abriu espaço para que pudéssemos desenvolver

assuntos que estão na base da formação da nossa sociedade e que são determinantes para entendermos

nossos problemas sociais e econômicos, como a concentração de terras e de riquezas nas mãos de poucos,

nossa relação de utilização predatória dos recursos naturais, sem compromisso com as gerações futuras e

as relações de trabalho baseadas na superexploração do trabalhador com baixa remuneração.

As pesquisas foram realizadas a partir de busca na internet e de textos, pré-selecionados pelo professor

em publicações científicas. Vale ressaltar que dentro desse processo os alunos puderam entender o quanto

é importante a citação das fontes de pesquisa, para conferir credibilidade ao trabalho e, principalmente, fugir

da simples cópia daquilo que já está publicado, para se tornar autor daquilo que escreve.

Como fechamento de todo esse trabalho os

alunos organizaram painéis com o resumo de

todas as informações levantadas, para serem

expostas na escola e no FEP, nosso ponto alto

de todo este processo. Seguem abaixo os

resultados finais da pesquisa nas aulas de

História:

1) Desenvolvimento de estudos sobre o modo

de produção no Brasil Colonial.

2) Comparação entre o modo de produção

introduzido pelos europeus e o modo de

produção de comunidades indígenas,

desenvolvendo o conceito de agroecologia.

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Produção de cartazes.Foto: José Antônio Borghi Vieira.

Paineis Informativos.Foto: José Antônio Borghi Vieira.

3) Levantamento de dados, estatísticas, mapas e

imagens de satélites, através do Geoatlas e outras

ferramentas, sobre o impacto da agropecuária no

meio ambiente, em diferentes tempos históricos,

bem como na atualidade.

4) Pesquisa e produção de textos sobre as

condições de trabalho no campo no Brasil atual,

conflitos fundiários e sua relação com o passado

colonial e escravista.

5) Produção de painéis informativos com os

resultados da pesquisa realizada.

6) Participação e exposição dos trabalhos no FEP

2019, organizado pela equipe do PESCO. Imagem de satélite avaliada pelos alunos.Foto: José Antônio Borghi Vieira.

Fontes de energia e cadeias produtivas

Tivemos um resultado muito expressivo após todas as etapas desenvolvidas no projeto de pesquisa,

principalmente em relação à participação dos alunos, que realizaram as atividades pesquisando, fazendo

protótipos, levantando hipóteses e testando seus projetos para demonstrarem suas ideias em relação à

importância de diferentes fontes de energia para as cadeias produtivas e, consequentemente, para o

desenvolvimento social e ambiental.

Em relação às aulas, as dinâmicas propostas pelo curso do PESCO foram muito interessantes, pois

mesmo com uma resistência inicial, os estudantes interagiram mais, trocaram ideias e materiais para

resolverem problemas em relação aos seus trabalhos. Como resultado das atividades concluímos oito

maquetes, todas feitas com material reciclado, sendo divididas da seguinte maneira:

Período da tarde - Sala Multisseriada - Três maquetes (energia solar, termelétrica, e hidrelétrica);

Período Noturno - Segundo e Quarto Termos - Cinco maquetes (energia solar, termelétrica, hidrelétrica,

energia a partir do etanol, usina energia eólica).

E também exposição de desenhos e mensagens sobre a importância do consumo consciente de

energia na própria escola. Atitudes pequenas que mudam o mundo.

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Foto

Maquetes: Termelétrica, energia solar e hidrelétrica. Alunos da Sala Multisseriada. Foto: José Rubens Guido Júnior.

Maquetes: Energia solar e bagaço da cana. Alunos do 4 Termo C. Foto: José Rubens Guido Júnior.

Maquetes da esquerda para a direita: bagaço da cana, eólica, hidrelétrica e termelétrica. Alunos do 2 Termo C. Foto: José Rubens Guido Júnior.

Mensagens feitas pelos alunos para conscientização e redução do consumo de energia na escola. Foto: José Rubens Guido Júnior.

As características da turma do 4o.Termo da EJA, por serem adultos trabalhadores levou-nos a

conduzir a pesquisa de uma maneira que trouxesse respostas para as principais inquietações apontadas

por esses alunos. Sendo assim, a turma fez a opção por trabalhar questões relacionadas ao mundo do

trabalho, pois esse tema perpassa suas principais angústias cotidianas.

Conseguimos juntos realizar importantes reflexões sobre o que eles questionam ser o fim dos

empregos formais com a carteira assinada, direitos trabalhistas garantidos e a prevalência das ocupações

informais, que traz consigo a ideologia da possibilidade de exercer um trabalho sem patrão, horários e

cobranças, mas que esconde incertezas, instabilidades e muitas inseguranças sobre o futuro. Lançar luz

sobre o discurso e a realidade contribui para a compreensão da precarização do trabalho a que estamos

todos sujeitos.

Os resultados do trabalho são subjetivos, não sendo de fácil mensuração o que cada aluno

apreendeu ao longo de todo esse processo. Mas, como produtos do trabalho com o Pesco, podemos

apontar como os mais relevantes e que, por este motivo, foram selecionados para serem levados ao FEP:

vídeo sobre as principais mudanças na legislação trabalhista - a elaboração do roteiro (na forma de um

telejornal), a filmagem e edição foram executadas pelos alunos. Esses também produziram cartazes sobre

as principais diferenças entre o trabalho formal e informal. Criaram um infográfico interativo a respeito das

principais etapas da economia capitalista: produção, distribuição e consumo. Além da criação e

apresentação de uma peça teatral que tinha como objetivo alertar aos trabalhadores para os riscos do

trabalho repetitivo.

Olhando de maneira crítica para o trabalho, percebemos que ainda há muito o que melhorar em

relação aos registros de todo o processo e também uma dificuldade pessoal em como transformar todas

as reflexões realizadas em sala em um produto concreto que possa ser apresentado. Com toda a certeza

o processo foi muito mais rico do que o que pode ser falado/ visualizado sobre ele.

Um dos expressivos resultados da pesquisa foi a elaboração de material didático pelos alunos que

consistiu na produção de um painel educativo sobre a cadeia produtiva das mercadorias que consumimos

diariamente. Esse painel facilitou a visualização dos principais etapas dos processos industriais, utilização

e descarte, chamando a atenção para o uso excessivo dos recursos naturais.

Durante o FEP, os alunos compartilharam o

conhecimento adquirido com outros estudantes

visitantes, utilizando este painel como ferramenta. A

pesquisa também proporcionou a oportunidade dos

alunos apresentarem o resultado de seus trabalhos na

forma de teatro com apresentações no Seminário dos

Alunos, no Salão Vermelho da Prefeitura e no Fórum

Estudantil de Pesquisa.

Apresentação teatral no Salão Vermelho da PrefeituraFoto: Juliana A. Moura.

Painel sobre cadeias Produtivas de mercadorias em exposição no FEP.Fotos: Maria Amelia de J. Piton

Artesanato: sua importância e sua presença na sociedade atual

• Aprendizado e Compreensão da pesquisa;• Compreensão do processo de construção de conhecimento pela pesquisa;• Descoberta – valorização e ressignificação – da importância do artesanato;• Descoberta de habilidades e saberes; • Elevação da auto-estima;• Melhora das relações interpessoais entre os estudantes de diferentes gerações;• Vivência do processo de aprendizado com um artesão;• Experimentação no processo de produção de produtos artesanais com diferentes matérias primas;• Valorização da autoria na produção de produções artísticas;• Vivência de diferentes processos de socialização de conhecimento;• Conhecimento dos relevantes trabalhos do Cândido Ferreira;• Conhecimento dos danos ambientais causados pelas bitucas de cigarro;• Conhecimento sobre o processo de descontaminação das bitucas;• Aprendizado sobre como criar questionários, fazer entrevistas e tabular resultados.

Considerando os trabalhos de pesquisa desenvolvidos na disciplina de Arte, incluindo todas as etapas

planejadas e executadas, os estudos do meio, as entrevistas realizadas, a produção de obras de arte

utilizando material reciclável a partir de resíduos de cigarro e palha de milho, e também as discussões

envolvendo o tema, podemos destacar os seguintes itens como relevantes resultados obtidos:

Diferentes momentos do FEP – estudantes pesquisadores conversando com visitantesFotos: Rodrigo Neris

Maquete elaborada pelos alunos da Multisseriada: “Usina de Reciclagem de Resíduos de Cigarro Poiato Recicla”Fotos: Maria Amelia de J. Piton

Referências

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