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Janeiro2018 Revista Mensal • 2 Euros Parceiro do Plano Nacional de Saúde 2014 Relatórios Anuais do SICAD 2016: Novos desafios se colocam à Rede de Referenciação/ Articulação Depressão e funcionamento: Novas moléculas para o tratamento da depressão mantêm eficácia e melhoram perfil de tolerabilidade do fármaco

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Parceiro do Plano Nacional de Saúde 2014

Relatórios Anuais do SICAD 2016:Novos desafios se colocam à Rede

de Referenciação/Articulação

Depressão e funcionamento:Novas moléculas

para o tratamento da depressão mantêm eficácia e melhoram

perfil de tolerabilidade do fármaco

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O milagre da planta

FICHA TÉCNICA Propriedade, Redacção,Direcção e morada do Editor: News-Coop - Informação e Comunicação, CRL; Rua António Ramalho, 600E; 4460-240 Senhora da Hora Matosinhos; Publicação periódica mensal registada no ICS

com o nº 124 854. Tiragem: 12000 exemplares. Contactos: 220 966 727 / 916 899 539; [email protected];www.dependencias.pt Director: Sérgio Oliveira Editor: António Sérgio Administrativo: António Alexandre

Colaboração: Mireia Pascual Produção Gráfica: Ana Oliveira Impressão: Multitema, Rua Cerco do Porto, 4300-119, tel. 225192600 Estatuto Editorial pode ser consultado na página www.dependencias.pt

Vi, li, ouvi e confesso que não per-cebi como e em que condições os consumidores de canábis pretendem plantar aquela folha para consumo medicinal. Talvez por ignorância, não tenha ainda entendido como pode uma planta ser utilizada para fins me-dicinais, sem que os seus utilizadores tenham os devidos conhecimentos farmacológicos e, o que se afigura de maior gravidade, a ignorância quanto à forma e quantidade que cada um pode utilizar.

Afinal de contas, quando falamos de canábis, estamos a falar de quê? Da potência do THC e das suas proprieda-des psicoativas? Ou ficaremos pelo CBD, cujos efeitos eufóricos são nulos mas cuja evidência parece demonstrar utilidade terapêutica? Em suma, re-creação ou terapia? Ou estamos a falar de uma substância que todos sabem não ser inócua, que é uma planta tóxica cujo consumo continuado produz de-pendência, prejudicial para a saúde? Por isso, não entendo como uma subs-tância que faz mal à saúde pode ser plantada e usada para fins terapêuticos pelos utilizadores…

Confesso que tenho muitas dúvidas quanto à forma como se está a discutir este tema. Por um lado, tenta ignorar os malefícios da canábis, alguns com mui-tas e sérias consequências para os consumidores, como os sintomas psi-

cóticos, delírio e transtornos mentais, a depressão e crises de angústia. Não sei qual é a ideia de tentar ignorar a evi-dência que mostra que as pessoas que fumam canábis têm uma maior probabi-lidade de abusar de outras drogas, in-cluindo o álcool…

E, como acontece com qualquer outra droga legal ou ilegal, a maior ou menor acessibilidade à substância é determinante para aumentar ou dimi-nuir o consumo. Em Portugal, dupli-cou o número de consumidores de ca-nábis e verificou-se igualmente um agravamento significativo da depen-dência do consumo de canábis na po-pulação em geral. Por isso, não en-tendo como algumas pessoas querem transformar esta planta “como a plan-ta dos milagres que cura todas as ma-leitas…” Até parece estarmos perante aquelas seitas religiosas que, para to-dos os males, o remédio é pagar o dí-zimo, é levantar as mãos ao pastor que ele se encarregará do milagre…

O problema é que estamos a falar de coisas sérias, e com as quais não podemos permitir experimentalismos e muito menos “enganos”, que podem custar caro a uma geração que espe-ra de nós uma clara e inequívoca evi-dência sobre o que é e que efeitos produz a canábis. Que produz efeitos no cérebro de quem consome está claro e ninguém o pode negar. Que

produz alterações e modificações, de-vidas a determinados componentes daquela droga, principalmente o THC, também não. Que, por vezes, essas modificações podem conduzir a sinto-mas de ansiedade, paranóia e pânico, igualmente. Esquecer os efeitos da in-toxicação aguda produzida pelo con-sumo de canábis ou os episódios psi-cóticos caracterizados pelo apareci-mento de ideias delirantes, alucina-ções, confusão, amnésia, ansiedade e agitação só é possível por ignorân-cia ou má-fé.

Como por má-fé se confunde lega-lização para efeitos terapêuticos com o cultivo individual de medicamen-tos… Haverá mais quem defenda o “cultivo” de outros medicamentos? Uma vez mais: uma coisa é discutir o fim da descriminalização, já consegui-da relativamente ao uso e posse para uso, outra é discutir a liberalização to-tal do uso recreativo (e aqui não per-ceberia por que incluir apenas a caná-bis), outra ainda é discutir a necessi-dade de utilização de alguns canabi-nóides para uso terapêutico e, outra ainda, mais questionável, é permitir plantá-la em casa, para uso terapêuti-co… Ainda se fosse para uso recreati-vo…

Sérgio Oliveira,

director

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Sessão teve lugar no dia 7 de fevereiro:

Relatórios Anuais do SICAD 2016

apresentados à Assembleia da República

Estes relatórios são fruto do trabalho do SICAD (Serviço de Intervenção nos Compor-tamentos Aditivos e nas Dependências), no âmbito da execução do Plano Ação para a Redução dos Comportamentos Aditivos e Dependências, em estreita colaboração os diversos serviços-fonte nacionais que provi-denciam informação sobre as suas áreas es-pecíficas, abordando não só o problema do ponto de vista da Procura como da Oferta. Estes documentos permitem-nos conhecer a situação do país, mas igualmente avaliar e monitorizar a evolução das metas definidas no Plano Nacional para a Redução dos Com-portamentos Aditivos e Dependências, numa lógica de Saúde em todas as políticas.

As principais conclusões que podemos retirar vão no sentido de um aumento gene-ralizado do consumo de cannabis na popula-ção geral, sendo que 50% dos novos utentes em tratamento tem como consumo principal a mesma substância; Em relação ao álcool, identifica-se uma ainda insuficiente fiscaliza-ção da venda a menores e um aumento de consumo no género feminino e nos grupos etários mais velhos, tendo aumentado o nú-mero de utentes em tratamento com Proble-mas Ligados ao Álcool; Revertendo a evolu-ção dos últimos anos, verificou-se um au-mento das mortes por acidente de viação;

Na área da droga são de destacar a des-cida dos indicadores relacionados com as in-feções por VIH e SIDA associadas à toxico-dependência e com a mortalidade. De um modo geral, também foram atingidas as me-tas definidas para os indicadores relaciona-dos com os consumos dos mais jovens, em particular no que respeita à cannabis (perce-ção dos riscos do consumo, o retardar a ida-de do início dos consumos e a prevalência do consumo recente). Os recentes resultados do IV Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Ge-ral, Portugal 2016/17 evidenciaram o não cumprimento das metas relacionadas com os consumos na população geral de 15-74 anos, devido ao agravamento do consumo de can-

nabis - ao nível das prevalências de consumo recente, das frequências mais intensivas e da dependência -, sendo de notar, a particu-laridade dos agravamentos no grupo femini-no e nos 25-34 anos e 35-44 anos. É igual-mente possível perceber a evolução positiva de alguns indicadores na área do álcool, como a perceção de menor facilidade de acesso a bebidas alcoólicas em idades infe-riores às mínimas legais e o retardar das ida-des de início dos consumos em populações jovens (o que não será alheio ao investimen-to na implementação da legislação produzida neste ciclo), a diminuição do consumo per capita, e importantes ganhos em saúde seja ao nível da morbilidade, em particular a dimi-nuição dos internamentos hospitalares com diagnóstico principal hepatite ou cirrose al-coólicas, seja ao nível da mortalidade, no-meadamente as diminuições na mortalidade por doenças atribuíveis ao álcool e em aci-dentes de viação. Em contrapartida, alguns indicadores apontam para um agravamento dos consumos de risco ou dependência na população geral de 15-74 anos, e outras evo-luções negativas preocupantes em alguns subgrupos populacionais, como no feminino e nas faixas etárias mais velhas. Estas evolu-ções colocam grandes desafios para o próxi-mo ciclo de ação, nomeadamente no âmbito da Rede de Referenciação/Articulação, uma das medidas estruturantes no domínio da re-dução da procura, e cuja implementação fi-cou aquém do desejável no decorrer do ciclo de ação 2013-2016.

A Situação do País em matéria de Drogas e Toxicodependências: Consumos e problemas relacionados

Desde o início do ciclo de ação 2013-2016, foram realizados diversos estudos na-cionais na área das drogas e toxicodepen-dência, alguns deles inseridos em projetos já iniciados, que têm permitido a análise de ten-

dências e a comparabilidade da situação na-cional no contexto europeu e internacional, e outros realizados pela primeira vez no atual ciclo estratégico.

Entre 2012 e 2016/17 verificou-se um agravamento do consumo de cannabis, ao nível das prevalências de consumo recente e das frequências mais intensivas: maior nú-mero de pessoas a consumir e mais com pa-drões de consumo diário (mais de três quin-tos dos consumidores recentes). Embora mais ligeiro, há também um agravamento da dependência do consumo de cannabis na po-pulação, apesar de tal não se verificar nas proporções de dependência entre os consu-midores recentes (cerca de um quinto com sintomas de dependência), reflexo do au-mento dos consumidores que não apresen-tam estes sintomas. É de notar, os agrava-mentos no grupo feminino e nos 25-34 anos e 35-44 anos. Em relação à maioria das ou-tras drogas, os consumos mantiveram-se es-táveis, tendo mesmo diminuído em alguns casos.

Portugal continua a surgir abaixo dos va-lores médios europeus relativos às prevalên-cias de consumo recente de cannabis, de co-caína e de ecstasy (e ainda mais quando se trata da população de 15-34 anos), as três substâncias ilícitas com maiores prevalên-cias de consumo recente em Portugal.

Os Açores e o Norte foram as regiões (NUTS II) que apresentaram as prevalências de consumo recente e atual de qualquer dro-ga mais elevadas na população de 15-74 anos, sendo que na população de 15-34 anos foram também estas regiões, a par do Centro e de Lisboa.

No contexto das populações escolares, os estudos nacionais evidenciaram que o consumo de drogas que vinha aumentando desde os anos 90 diminuiu pela primeira vez em 2006 e 2007. Em 2010 e 2011 houve um aumento a que se seguiu, em 2014 e 2015, novamente uma diminuição destes consu-mos. Nos estudos realizados em 2014 e

O auditório Dr. Almeida Santos da Assembleia da República foi palco, no dia 7 de fevereiro, da apresentação dos documentos que refletem o quadro nacional relativamente aos Comportamentos Aditivos e Dependências, para o ano de 2016: Relatório Anual sobre a Situação do País em

Matéria de Drogas e Toxicodependência, Relatório Anual em Matéria de Álcool e Respostas e Intervenções no âmbito dos Comportamentos Aditivos e Dependências.

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2015, a cannabis continuava a ser a droga preferencialmente consu-mida.

No âmbito do tratamento da toxicodependência, em 2016 esti-veram em tratamento 27 834 utentes com problemas relaciona-dos com o uso de drogas no ambulatório da rede pública. Dos 3 294 que iniciaram tratamento no ano, 1 365 eram readmitidos e 2 024 novos utentes. Em 2016 houve um acréscimo de utentes em tratamento no ambulatório, contrariando a tendência de decrésci-mo registada desde 2009. Apesar de o número de novos utentes em 2016 ter sido o mais elevado desde 2010, não apresenta va-riações relevantes no último quadriénio (+5% entre 2013 e 2016 e +3% entre 2015 e 2016), por comparação aos acréscimos verifi-cados entre 2010 e 2012.

No que respeita à mortalidade relacionada com o consumo de drogas, segundo o INE, I.P., em 2015 ocorreram 54 mortes se-gundo o critério do OEDT (+46% do que em 2014). Destes, 80% foram atribuídos a intoxicação (acidental ou intencional), sobretu-do devido a opiáceos e à cocaína. São de assinalar, embora com cautelas nesta leitura uma vez que só em 2014 foi concluída a im-plementação em todo o território nacional do certificado médico online, os aumentos registados entre 2013 e 2015 no número destes óbitos.

Quanto à informação dos registos específicos do INMLCF, I.P., em 2016, dos 208 óbitos com a pelo menos uma substância ilícita ou seu metabolito e com informação sobre a causa de mor-te, 27 (13%) foram considerados overdoses. Após os aumentos nos dois anteriores, em 2016 diminuíram as overdoses (-33%), mantendo-se os valores dos últimos seis anos aquém dos regista-dos entre 2008 e 2010. Nestas overdoses é de destacar a presen-ça de opiáceos (44%), a de metadona (37%) e a de cocaína (33%). Uma vez mais, na maioria (89%) foram detetadas mais do que uma substância, sendo de destacar em associação com as drogas ilícitas, o álcool (44%) e as benzodiazepinas (41%). Em relação às outras causas das mortes com a presença de drogas

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Em termos financeiros globais foram atribuídos 4 589 029,89 € (quatro milhões, quinhentos e oitenta e nove mil e vinte nove euros e oitenta e nove cêntimos), 66,19% dos pagamentos realizados no ano 2016 foram alocados ao eixo da RRMD, seguido do eixo da prevenção com 15,77%, a eixo da reinserção com 15% e o tratamento com 3,04%.

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(181), foram atribuídas a acidentes (39%), morte natural (35%), suicídio (16%) e homicídio (4%).

No que se refere à mortalidade relacionada com o VIH, se-gundo o INSA, em 2016 foram notificados 95 óbitos ocorridos no próprio ano em casos de infeção por VIH associados à toxicode-pendência. Verifica-se uma tendência decrescente no número de mortes ocorridas a partir de 2002, e a um ritmo mais acentuado nos casos associados à toxicodependência. É de notar que, para os óbitos ocorridos em 2016, 81% dos associados à toxicodepen-dência ocorreram mais de 10 anos após o diagnóstico inicial da infeção, enquanto nos restantes óbitos só 42% apresentaram in-tervalos de tempo equivalentes, o que evidencia o investimento no acompanhamento da população toxicodependente com VIH.

A Situação do País em matéria de Álcool: Consumos e problemas relacionados

No INPG 2016/17 - IV Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral, Portugal 2016/17 - realizado na população de 15-74 anos residente em Portugal, as prevalências de consumo de qualquer bebida alcoólica foram de 85% ao longo da vida, 58% nos últimos 12 meses e 49% nos últi-mos 30 dias, sendo um pouco inferiores as do grupo de 15-34 anos (83%, 52 e 41%).

Entre os consumidores atuais, o consumo diário/quase diário de alguma bebida alcoólica era de 43% (20% dos inquiridos), com 35% dos consumidores a ingerirem diariamente vinho e 15% cerveja, nos últimos 30 dias.

As prevalências de consumo binge e de embriaguez severa nos últimos 12 meses foram de 10% e 5% nos 15-74 anos (17% e 9% dos consumidores), e de 11% e 7% nos 15-34 anos (22% e 14% dos consumidores).

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A Direção Geral de Educação (DGE) priorizou a promoção de intervenções preventivas em contexto escolar, de carácter universal, seletivo e indicado, para o desenvolvimento de fatores de proteção individuais, familiares, sociais e ambientais.

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Quanto a padrões de consumo abusivo ou dependência de álcool, em 2016/17, cerca de 2,8% da população de 15-74 anos residente em Portugal (4,9% dos consumidores) tinha, nos últi-mos 12 meses, um consumo de álcool considerado de risco ele-vado/nocivo e 0,8% (1,3% dos consumidores) apresentava sinto-mas de dependência (AUDIT), sendo as proporções correspon-dentes nos 15-34 anos de 2,4% e 0,4% (4,7% e 0,7% dos consu-midores).

Em comparação com 2012, é de destacar que, apesar da re-lativa estabilidade das prevalências de consumo recente e atual e das de consumo binge e embriaguez na população geral de 15-74 anos, aumentou a frequência do binge e houve um agrava-mento dos consumos de risco ou dependência. Por outro lado, este padrão global de evolução encobre evoluções negativas particulares preocupantes, como as do grupo feminino e das fai-xas etárias mais velhas, e que são por vezes compensados por evoluções positivas no masculino e nos mais jovens, o que deve-rá ser tido em consideração no planeamento do ciclo de ação 2017-2020.

Para além deste panorama nacional, é de notar que persis-tem relevantes heterogeneidades regionais, que deverão ser consideradas para uma maior adequação das intervenções loco--regionais. Em 2016/17, os Açores destacaram-se com os valo-res mais elevados ao nível das prevalências de consumo binge, embriaguez e dos consumos de risco ou dependência, quer na população geral de 15-74 anos, quer na de 15-34 anos.

De um modo geral, os resultados do INPG, 2016/17 sobre vá-rios indicadores chave do consumo de álcool foram próximos aos verificados no RARHA SEAS, 2015 e inferiores aos do INS, 2014.

De um modo geral, não se constataram diferenças significati-vas entre os sexos nas prevalências de consumo recente, e nas práticas de consumo nocivo acrescido, as diferenças foram mais evidentes nos 17 e 18 anos, com os rapazes a declararem mais este tipo de práticas.

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Em 2016 estiveram em tratamento no ambulatório da rede pública, 13 678 utentes com problemas relacionados com o uso de álcool. Dos que iniciaram tratamento em 2016, 686 eram read-mitidos e 3 759 novos utentes. Constata-se desde 2009 um acréscimo do número de utentes em tratamento, registando-se no último quadriénio uma tendência de aumento dos novos uten-tes (+12% entre 2012 e 2016) e, em contrapartida, uma diminui-ção dos utentes readmitidos (-45% entre 2012 e 2016). Contra-riamente aos acréscimos consecutivos entre 2012 e 2015, em 2016 registou-se uma descida no número de internamentos por problemas relacionados com o uso de álcool em Unidades de Al-coologia/Unidades de Desabituação, mantendo-se a tendência de aumento do número de internamentos em Comunidades Tera-pêuticas (rede pública e licenciada).

Segundo o INE, I.P., em 2015 registaram-se em Portugal 2 307 óbitos por doenças atribuíveis ao álcool, representando 2,12% do total de óbitos e um ligeiro decréscimo em relação a 2014 (-2%). A maioria era do sexo masculino (79%). A taxa de mortalidade padronizada para todas as idades foi de 15,7 óbitos por 100 000 habitantes, sendo inferior para as idades abaixo dos 65 anos (11,1) e bastante superior para as idades de 65 e mais anos (52,8). Em 2015, o número médio de anos potenciais de vida perdidos por doenças atribuíveis ao álcool foi de 13,1 anos (13,2 nos homens e 12,3 nas mulheres). De um modo geral, os valores registados entre 2013 e 2015, para os vários indicadores aqui considerados, foram inferiores aos verificados entre 2009 e 2012.

Em 2015 registaram-se em Portugal 84 óbitos atribuídos a perturbações mentais e comportamentais devidas ao uso de ál-cool e 643 óbitos atribuídos a doença alcoólica do fígado, repre-sentando 3,6% e 28% dos óbitos por doenças atribuíveis ao ál-cool. Os decréscimos de óbitos em 2015 nestas duas categorias (-6% e -10% face a 2014), reforçam a tendência manifestada

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Embora a idade mínima para ser referenciado a uma comissão por indício de prática de contraordenação seja 16 anos, as CDT enquanto serviços do Ministério da Saúde que operam na área dos CAD, estando na presença de situações de risco, acolhem, avaliam e sinalizam os menores de 16 anos para as estruturas competentes.

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desde 2011, sendo os valores dos últimos três anos os mais bai-xos desde 2009.

Nos registos específicos do INMLCF, I.P., em 2016, dos 810 óbitos positivos para o álcool e com informação sobre a causa de morte, 33% destes óbitos foram atribuídos a acidente (incluindo os de viação), 33% a morte natural, 17% a suicídio e 6% a intoxi-cação alcoólica. Cerca de 53% dos 45 óbitos atribuídos a intoxi-cação alcoólica apresentaram resultados positivos só para o ál-cool, e em 38% dos casos foram detetados só álcool e medica-mentos, em particular benzodiazepinas. Das 163 vítimas mortais de acidentes de viação que estavam sob a influência do álcool (TAS ≥ 0,5g/l), cerca de 69% eram condutores, 24% peões e 7% passageiros. 71% destas vítimas tinham uma TAS ≥ 1,2g/l. Ape-sar do aumento entre 2015 e 2016 no número de vítimas mortais de acidentes de viação sob influência do álcool (+15%), no qua-driénio 2013-16 verificou-se uma diminuição no número destas vítimas por comparação com o quadriénio anterior (-33%), desig-nadamente na situação de condutor (-30%).

No âmbito da criminalidade registada diretamente relacionada com o consumo de álcool, em 2016 registaram-se 20 849 crimes por condução com TAS ≥ 1,2g/l, representando 48% do total de crimes contra a sociedade e 6% da criminalidade em 2016. Após a tendência de aumento destes crimes entre 2009 e 2012, cons-tatou-se no último quadriénio uma diminuição dos valores, por comparação com o período homólogo anterior.

A 31/12/2016 estavam em reclusão 348 indivíduos por crimes de condução em estado de embriaguez ou sob a influência de es-tupefacientes/substâncias psicotrópicas, ou por embriaguez e in-toxicação, representando um acréscimo face a 2015 (+28%) e o valor mais elevado desde 2009. Os valores do último quadriénio foram tendencialmente superiores aos do anterior.

Em 2016 foram registadas pelas Forças de Segurança 27 291 participações de violência doméstica, 41% das quais com sinali-zações de problemas relacionados com o consumo de álcool por parte do denunciado. Esta proporção não tem sofrido oscilações relevantes nos últimos sete anos.

Também os resultados de estudos são ilustrativos da im-portância da criminalidade relacionada com o consumo de ál-cool, designadamente a cometida sob o efeito de álcool. No IN-CAMP, 2014, 28% dos reclusos declararam estar sob o efeito de álcool quando cometeram o/os crime/s que motivaram a re-clusão. Entre os crimes cometidos sob o efeito do álcool, des-tacaram-se o roubo, o furto e as ofensas à integridade física, seguindo-se-lhes os crimes de condução, homicídio e tráfico de drogas, sendo de um modo geral crimes mais violentos e com penas mais pesadas por comparação aos crimes cometi-dos sob o efeito de drogas. No Inquérito sobre comportamen-tos aditivos em jovens internados em Centros Educativos, 2015, 42% dos jovens disseram ter estado sob o efeito de ál-cool em algumas situações em que cometeram crimes que le-varam alguma vez à presença em Centro Educativo.

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A intervenção em Reinserção realizada nos Centros de Respostas Integradas (CRI) identificou a empregabilidade como a prioridade para a grande parte dos cidadãos com CAD.

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João Goulão

Olhando para os resultados deste rela-

tório, em que medida terão falhado os

programas de prevenção?

João Goulão (JG) – Penso que não… Não vivemos numa ilha, existem tendên-cias que verificamos de uma forma trans-versal e temos, nos últimos anos, algumas intercorrências que é preciso ter em linha de conta, nomeadamente a grave crise económica e social que afetou o nosso país e concidadãos. Ao nível dos consumos pro-blemáticos, diria que estas são franjas par-ticularmente sensíveis a essas flutuações. É abusivo estabelecer qualquer relação di-reta de causa efeito mas que existe uma coincidência temporal, existe e estou certo que esse fator tem algum peso nesta evolu-ção dos consumos. Como tal, não falaria propriamente em falhanços. Estamos a li-dar com fenómenos extremamente mutá-veis, trata-se de um alvo em movimento a que temos que apontar a todos o tempo e haverá afinações a fazer e novas formas de abordagem para encontrar. Constata-se, por exemplo, um agravamento dos consu-mos problemáticos de álcool entre os mais velhos… Focamos muito a intervenção pre-ventiva nos jovens – e é importante que continuemos a fazê-lo – mas, se calhar, os grupos etários mais adiantados foram um pouco esquecidos nestas estratégias. Fala-mos muito da dependência mas eventual-mente pouco sobre as múltiplas conse-quências, enquanto determinante de saú-de, que o abuso de álcool pode ter. Se ca-lhar, precisamos de intervir mais intensamente do que temos feito noutros contextos, nomeadamente em ambiente la-boral, envolvendo a medicina do trabalho e colaborando mais intensamente no sentido de referenciar o mais precocemente possí-vel pessoas com uso excessivo. Como digo, há algumas afinações a fazer mas não falaria num falhanço. Se olharmos para as últimas duas décadas, observamos uma evolução francamente positiva dos fenóme-nos relacionados com o uso de substâncias ilícitas e, mesmo em relação ao álcool, em que temos um mandato mais recente, as evoluções têm sido de forma geral positi-vas.

O que tem a dizer relativamente ao uso

de canábis para fins medicinais?JG – O uso de canábis para fins medici-

nais, felizmente, é uma questão que está a ser discutida de forma separada do uso re-creativo. Durante muito tempo, houve algu-mas iniciativas, mesmo parlamentares, que não faziam claramente essa separação. Creio tratar-se de um ganho significativo o facto de as propostas aparecerem agora de forma separada. Existem propostas, no-meadamente do BE e do PAN no sentido

da legalização de produtos de canábis para fins terapêuticos, questão que, em bom ri-gor, diz muito mais respeito à Agência Por-tuguesa do Medicamento e à Ordem dos Médicos. É um assunto que não é propria-mente do escopo de intervenção do SI-CAD. O que vínhamos a assistir era uma mistura que dificultava a seriedade neste debate. Ambas as discussões terão segu-ramente que ser tratadas na sociedade portuguesa mas cada uma a seu tempo. Nada temos rigorosamente contra o uso te-rapêutico de canábis, desde que haja evi-dência científica das suas vantagens em determinadas situações.

Também à luz destes números, como

avalia a situação do jogo em Portu-

gal?

JG – Diria que estamos ainda numa fase relativamente incipiente da abordagem, da criação de conhecimento, do contacto de al-guns países que estão mais avançados nes-tas respostas mas já fizemos progressos, no-meadamente ao nível da formação de profis-sionais que vão estando já equipados, ao ní-vel do terreno, para darem resposta a quem procura os serviços por problemas relaciona-dos com o jogo. Em 2016, reportámos 135 ci-dadãos que buscaram as unidades de trata-mento dos comportamentos aditivos por pro-blemas predominantemente relacionados com o jogo. Vamos tendo já algumas aborda-gens e respostas e, estando ainda numa fase relativamente incipiente mas igualmente de-cidida a oferecer cada vez melhores serviços nesta área.

Vimos que diminuiu o número de inter-

namentos mas aumentou o número de

pessoas em tratamento… O que pode-

rá isto significar?JG – É verdade que aumentou o número

de pessoas em tratamento e vamos verifican-

do uma maior preponderância de pessoas com problemas ligados ao álcool. Esse nú-mero vai subindo paulatinamente à medida que o número de pessoas com problemas re-lacionados com substâncias ilícitas vai des-cendo paulatinamente… Significa que o dis-positivo está a conseguir responder às ne-cessidades do cidadão como elas se mani-festam. Também significa que o estigma que inicialmente os serviços dedicados à toxico-dependência encerravam em si próprios e que afastavam de alguma forma pessoas com problemas ligados ao álcool se vai des-vanecendo e estas já recorrem aos serviços. A diminuição dos internamentos tem muito a ver com as características e as substâncias consumidas. Vemos por exemplo que a pre-ponderância da heroína, que motivava mui-tos destes internamentos, vai felizmente de-crescendo e é possível tratar estas pessoas em ambulatório na maior parte dos casos.

E relativamente aos tempos de espera,

tem dados atuais?

JG – Não tenho… Como sabe, face às al-terações estruturais que aconteceram nesta área, o SICAD não tem a competência de acompanhar diretamente as unidades no ter-reno, que se encontra nas ARS. Tentamos ter uma perceção desses tempos de espera, te-mos consciência de que existem dificulda-des, porque as unidades vão tendo recursos humanos cada vez mais limitados, mas não consigo quantificar.

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Alerta ante la banalización del consumo de marihuana

La Sociedad Científica Española para el estudio del Alcohol y las Drogas, SOCIDRO-GALCOHOL, alerta sobre las múltiples evi-dencias científicas que prueban que el con-sumo de marihuana puede producir daños para la salud corporal y también para la salud mental.

El consumo de marihuana puede produ-cir:

ADICCIÓN, que induce un aumento progresivo de su consumo en cantidad y frecuencia, lo cual redunda en una mayor TOXICIDAD. Cuando una persona consu-midora de marihuana intenta dejar de con-sumirla pueden aparecer síntomas de abs-tinencia, del tipo irritabilidad, mal humor, in-somnio, disminución del apetito, ansiedad y deseo intenso de fumar nuevamente; que suelen persistir durante varios días y que

pueden conducir a un nuevo consumo, in-tensificando de este modo la conducta adictiva de fumar marihuana. El 10 por ciento de las personas que han fumado marihuana desarrollan un consumo excesi-vo o incluso una adicción, asociados a con-secuencias negativas.

Deterioro de la coordinación motora y la toma de decisiones, funciones imprescindi-bles para poder conducir con seguridad, aumentando al doble el RIESGO de ACCI-DENTES de tráfico, laborales y domésti-cos. Un riesgo que se multiplica, cuando el fumador de marihuana ha ingerido además bebidas alcohólicas, medicamentos tran-quilizantes, pastillas para dormir u otras drogas.

Disminución de las capacidades de CON-CENTRACIÓN, MEMORIZACIÓN y APREN-

DIZAJE, todas ellas imprescindibles para po-der estudiar y para poder realizar la mayoría de trabajos. Esto favorece el DETERIORO del RENDIMIENTO ACADÉMICO, LABO-RAL y también DEPORTIVO, sobretodo en jóvenes y adolescentes.

Un incremento en la probabilidad de apa-rición de SÍNTOMAS PSICÓTICOS, como ideas delirantes persecutorias y trastornos perceptivos, sobretodo en personas predis-puestas a ello. Aumenta también la probabili-dad de padecer depresión y crisis de angus-tia e interfiere en la recuperación de pacien-tes en tratamiento por estos trastornos psi-quiátricos.

Aumento de la probabilidad de abusar de otras drogas, incluido el alcohol. Las perso-nas que fuman “porros” suelen hacer también “atracones” de bebida y es más probable que consuman otras drogas, como cocaína. Y, para las personas que han desarrollado adic-ción al alcohol o las drogas, el consumo con-tinuado de marihuana puede interferir en la recuperación de su adicción a estas sustan-cias.

Asimismo, es importante advertir algunos aspectos:

Como ocurre con cualquier droga legal o ilegal, la mayor o menor accesibilidad a la sustancia es determinante para aumentar o disminuir el consumo. En nuestro país, la fá-cil accesibilidad al cannabis constituye un factor facilitador tanto del inicio en su consu-mo a edades tempranas, como del elevado número de consumidores. España es uno de los países europeos en los que la accesibili-dad percibida por los jóvenes es de las más altas. Por este motivo, aquellas medidas que llevan a disminuir el acceso de los adoles-centes al cannabis deben ser especialmente bienvenidas y puestas en práctica.

Los procedimientos de selección del culti-vo de plantas que producen la marihuana han dado lugar a la producción de nuevas plantas, con una concentración de alcaloides psicotóxicos mucho mayor que la de hace unos años. Esto incrementa la probabilidad de sufrir –ahora más que antes- las mencio-nadas consecuencias negativas del consumo de marihuana.

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Investigação científica

Marihuana: Hechos que

los padres deben saber

¿Qué es la marihuana?¿Existen diferentes tipos?

La marihuana es una mezcla de color ver-de, café o gris de hojas trituradas, tallos, semil-las y flores secas del cáñamo o la planta de Cannabis Sativa. Cannabis es un término que se refiere a la marihuana y a otras drogas deri-vadas de la misma planta. Entre las formas de cannabis más potentes están: la sinsemilla, ha-chís (“hash” para abreviar) y el aceite de hachís. Existen muchos términos diferentes para referir-se a la marihuana y, al igual que sucede con otras drogas, cambian rápidamente y varían de región a región. Pero sin importar su forma o su etiqueta, todas las preparaciones de cannabis contienen una sustancia química que altera la mente (psicoactiva) llamada THC (delta-9-te-trahidrocannabinol). También contienen más de otras 400 sustancias químicas.

¿Cómo se consume la marihuana?

La mayoría de los consumidores la enrollan en forma de cigarrillo (llamado “toque”) o la fu-man en una pipa o una pipa de agua, a veces conocida como “bong”. Algunas personas mez-clan la marihuana con alimentos o la utilizan para preparar un té. Otro método es abrir un ci-garro y sustituir el tabaco con marihuana, crean-do lo que se conoce como “caño”. Los cigarrillos de marihuana o caños a veces se mojan con PCP o se mezclan con otras sustancias, por ejemplo la cocaína crack.

¿Cuántas personas consumen ma-rihuana?

Antes de la década de los 60’, muchos esta-dounidenses nunca habían oído hablar de la marihuana, pero hoy en día es la droga ilegal de mayor consumo en los Estados Unidos. De acuerdo con una encuesta nacional realizada en el 2012, más de 111 millones de estadouni-denses mayores de 12 años habían probado la marihuana al menos una vez, y casi 19 millones habían consumido la droga durante el mes an-terior a la encuesta.

Los investigadores han descubierto que, por lo general, el consumo de marihuana y otras drogas alcanza su pico máximo durante los últimos años de la adolescencia y se ex-

tiende hasta aproximadamente los veinticinco años. Luego disminuye en años posteriores. Por lo tanto, el consumo de marihuana entre los jóvenes sigue siendo una preocupación natural para los padres, así como el foco de investigaciones actuales, sobre todo en cuan-to a su impacto en el desarrollo del cerebro, que continúa hasta aproximadamente los ve-inticinco años de edad.

La encuesta anual del NIDA, Estudio de Observación del Futuro, informa que entre los estudiantes de 8º, 10º y 12º grado, el consumo de marihuana ha aumentado en los últimos 5 años. Este mayor consumo va de la mano de una reducción en las percepciones sobre los riesgos de la marihuana. En el 2013, un 12.7 por ciento de los estudiantes de 8º grado mani-festó haber consumido marihuana en el último año, y el 7 por ciento consumían marihuana (en el mes antes de la encuesta). Entre los estu-diantes de 10º grado, el 29.8 por ciento había consumido marihuana en el último año, y el 18 por ciento consumían marihuana. Entre los es-tudiantes de 12º grado, el consumo durante el año antes de hacer la encuesta se mantuvo igual y el 22.7 por ciento consumían marihuana.

¿Cómo funciona la marihuana?

Cuando se fuma marihuana, sus efectos se sienten casi inmediatamente. Esto se debe a que el THC (ingrediente psicoactivo de la ma-rihuana) alcanza rápidamente todos los órga-nos del cuerpo, incluyendo el cerebro. Cuando se fuma, los efectos de la marihuana pueden durar de 1 a 3 horas. Si se consume con alimen-tos, los efectos aparecen más lentamente y pueden durar menos tiempo.

La marihuana funciona cuando el THC se adhiere a sitios específicos en las células ner-viosas que se encuentran en el cerebro y en otras partes del cuerpo. Estos sitios se llaman receptores cannabinoides (cannabinoid recep-tors — CBR, en inglés), porque fueron descu-biertos por científicos que trataban de entender la manera en la que la marihuana, o el canna-bis, ejerce su efecto. El THC es químicamente similar a una clase de sustancias químicas que nuestro cuerpo produce en forma natural, llama-das endocannabinoides, y la marihuana inter-rumpe la función normal de este sistema. Los receptores cannabinoides se encuentran en

áreas del cerebro que influyen en el placer, la memoria, el pensamiento, la concentración, el movimiento, la coordinación, el apetito, el dolor y la percepción sensorial y temporal. Debido a la amplia influencia de este sistema sobre mu-chas funciones críticas, no es de extrañar que la marihuana pueda tener múltiples efectos, no sólo en el cerebro, sino también en la salud ge-neral de un consumidor. Algunos de estos efec-tos están relacionados con la intoxicación agu-da, mientras que otros pueden acumularse con el tiempo y causar problemas más persistentes, incluyendo la adicción.

¿Cuáles son los efectos de la ma-rihuana a corto plazo?

Los siguientes son algunos de los efectos que puede producir el consumo de marihuana:

Euforia (sensación narcótica). El THC activa el sistema de recompensas de la misma mane-ra que casi todas las drogas adictivas, ya que estimula las células del cerebro para liberar do-pamina.

Deterioro de la memoria. El THC altera la manera en la que se procesa la información en el hipocampo, un área del cerebro relacionada con la memoria. El consumo regular puede afectar las habilidades de aprendizaje y el rendi-miento académico, incluida la memoria a corto plazo y las tareas complejas que requieren con-centración.

Reacciones mentales adversas en algunas personas. Entre ellas, la ansiedad, el miedo, la desconfianza o el pánico, sobre todo en los nuevos consumidores o los que la consumen en un entorno extraño. Algunos pueden incluso experimentar psicosis, la cual incluye alucina-ciones, delirios, paranoia y pérdida del sentido de la identidad personal.

Cambios físicos. Los consumidores podrían tener los ojos enrojecidos o con derrames, au-mento del apetito (“antojos”), elevación del ritmo cardíaco y problemas para dormir.

¿Qué determina la manera en la que la marihuana afecta a una persona?¿Qué tan importante es la potencia de la marihuana?

Al igual que con cualquier otra droga, los efectos de la marihuana en una persona de-

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penden de una serie de factores tales como la experiencia previa de la persona con la droga (u otras drogas), la biología (por ejemplo, los genes), el género, cómo se consume la droga (si se fuma o se ingiere por vía oral) y la po-tencia de la droga.

La potencia, determinada por la cantidad de THC que contiene la marihuana, ha sido objeto de mucha atención últimamente debi-do a que ha aumentado en forma constante. En el 2012, las concentraciones de THC en la marihuana tenían un promedio de 14.5 por ciento, en comparación con aproximadamen-te 4 por ciento en la década de los 80. En el momento, algunos tipos de marihuana contie-nen hasta un 30 por ciento de THC. Esto se basa en los análisis que se han hecho de las muestras de marihuana confiscadas por las agencias del orden público.

Entonces, ¿qué significa esto realmente? Para un nuevo consumidor, esto podría signi-ficar estar expuesto a concentraciones más altas de THC, y a una probabilidad más alta de presentar una reacción adversa o impre-decible. El aumento de la potencia de THC podría explicar el incremento en las visitas a las salas de emergencia relacionadas con el consumo de marihuana. Para los consumido-res experimentados, podría significar un ma-yor riesgo de adicción si se exponen a altas dosis en forma regular. Sin embargo, no se comprende bien el amplio espectro de conse-cuencias asociadas con una mayor potencia de la marihuana, ni se sabe si los consumido-res de marihuana se adaptan al aumento de la potencia consumiendo menos.

¿Puede llevar el consumo de la ma-rihuana al uso de otras drogas?

Estudios a largo plazo de los patrones de consumo de drogas en estudiantes de secun-daria demuestran que la mayoría de las perso-nas jóvenes que consumen otras drogas han probado la marihuana, el alcohol o el tabaco pri-mero. Por ejemplo, los jóvenes que han consu-mido marihuana corren un mayor riesgo de con-sumir cocaína que los que no lo han hecho. También sabemos, gracias a estudios realiza-dos en animales, que las ratas a las que se les había administrado THC previamente mostra-ron mayor activación cerebral, no sólo cuando se les expuso a aún más THC, sino también al exponerlas a otras drogas como la morfina.

Este fenómeno es conocido como “sensibiliza-ción cruzada”, y no sucede únicamente con la marihuana. Los investigadores están exami-nando la posibilidad de que la exposición a la marihuana en la adolescencia pueda causar cambios en el cerebro que hacen que una per-sona sea más vulnerable a volverse adicta a la marihuana o al riesgo de convertirse adicta a otras drogas, como el alcohol, los opiáceos o la cocaína.

No obstante, es importante señalar que no hay estudios que expliquen totalmente cada uno de estos efectos, los cuales son complejos y podrían implicar una combinación de factores biológicos, sociales y psicológicos.

¿Fumar marihuana causa cáncer de pulmón?

Todavía no lo sabemos. Los estudios no han concluido si existe un mayor riesgo de contraer cáncer de pulmón en los que fuman marihuana, en comparación con los que no la fuman. Sin embargo, el humo de la marihua-na irrita los pulmones y aumenta la probabili-dad de que surjan otros problemas respirato-rios a través de la exposición a carcinógenos y otras toxinas. La exposición repetida al humo de la marihuana puede causar tos cró-nica y la producción excesiva de flema, una mayor frecuencia de enfermedades torácicas agudas y un mayor riesgo de padecer de in-fecciones pulmonares. La marihuana también afecta el sistema inmunológico, aunque sus implicaciones en el cáncer no son claras. Por otra parte, muchas personas que fuman ma-rihuana también fuman cigarrillos, los cuales sí causan cáncer. Dejar el tabaco también puede ser más difícil si la persona fuma ma-rihuana.

Debido a que la marihuana puede ser adictiva, ¿es posible que produz-

ca síntomas de abstinencia cuando alguien deja de consumirla?

Sí. Cuando dejan de consumir la droga, mu-chos de los que han usado la droga por un largo tiempo experimentan síntomas que son simila-res en tipo y gravedad a los de la abstinencia de nicotina: irritabilidad, dificultad para dormir, an-siedad y necesidad de consumir. A menudo, es-tos factores desencadenan una recaída. Los síntomas de abstinencia alcanzan su punto má-ximo a los pocos días después de haber inter-rumpido su consumo y desaparecen en aproxi-madamente 2 semanas. Aunque estos sínto-mas no presentan una amenaza inmediata para la salud, estos pueden hacer que sea más difícil dejar la droga.

¿Es el “Spice” (o “marihuana sinté-tica”) tan nocivo como la marihua-na?

Sí. El Spice, a veces también llamado K2 o Marihuana Falsa, está compuesto por plantas secas desmenuzadas que han sido rociadas con productos químicos diseñados para actuar sobre los mismos receptores de las células del cerebro que el THC, pero son a menudo mucho más potentes e impredecibles. Los productos Spice están etiquetados como “no aptos para el consumo humano”, y muchos ahora son ilega-les. Pero sus fabricantes constantemente crean nuevos compuestos químicos para evadir las restricciones legales. Sus efectos secundarios, al igual que sus ingredientes, suelen variar, pero las salas de emergencia informan que un gran número de jóvenes se presenta con el ritmo car-díaco acelerado, vómito, agitación y alucinacio-nes después de consumir estas sustancias.

¿Existen tratamientos para las per-sonas adictas a la marihuana?

En la actualidad, no existen medicamen-tos aprobados por La Administración de Ali-mentos y Medicamentos (Food and Drug Ad-ministration—FDA) para eltratamiento de la adicción a la marihuana, pero se están reali-zando investigaciones prometedoras para en-contrar medicamentos para el tratamiento de los síntomas de abstinencia y aplacar la nece-sidad de consumir y otros efectos subjetivos de la marihuana. Existen terapias conduc-

Más del 45% de los adolescentes ha consumido marihuana antes de graduarse de la escuela secundaria.

La marihuana puede ser adictiva. Aproximadamente 1 de cada 6 personas que comienzan a fumar en su adolescencia, y entre el 25 y el 50 por ciento de las personas que la consumen a diario, se vuelven adictas a la marihuana.

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tuales, similares a las que se utilizan para el tratamiento de la adicción a otras sustancias. Estas se enfocan en motivar a las personas para que participen en el tratamiento; terapias cognitivo-conductuales que enseñan estrate-gias para evadir el consumo de drogas, los factores que incitan al uso de las drogas, cómo manejar el estrés; y el uso de incenti-vos, como cupones o pequeños premios como recompensa por abstenerse prolonga-damente de consumir drogas. Desafortuna-damente, las tasas de éxito del tratamiento son más bien modestas, lo que indica que la adicción a la marihuana, al igual que ocurre con otras adicciones, podría requerir un trata-miento a largo plazo que varíe en intensidad dependiendo de la necesidad de la persona y el cambio de sus necesidades.

¿Sobre qué otros riesgos relaciona-dos con la marihuana debería estar al tanto mi hijo(a)?

Aquí se encuentran algunos que tal vez ni usted ni su hijo(a) habían tenido en cuenta:

Al igual que con la mayoría de las drogas, el consumo de marihuana interfiere con el jui-cio, lo que puede significar una mayor proba-bilidad de participar en comportamientos ries-gosos y de experimentar sus consecuencias negativas (como contraer una enfermedad de transmisión sexual, conducir en estado de ebriedad o dejar que conduzca alguien que está intoxicado y verse involucrado en un ac-cidente automovilístico).

Además de la psicosis, el consumo regular de marihuana ha sido asociado con varios efec-tos psicológicos, como depresión, ansiedad, pensamientos suicidas y trastornos de persona-lidad. Uno de los efectos más frecuentes es el “síndrome amotivacional” caracterizado por una disminución o falta de anhelo para participar en actividades que antes resultaban gratificantes. La cuestión sobre si este síndrome es un tras-torno en sí mismo o es un subtipo de depresión asociada con el consumo de marihuana sigue siendo controversial. Todavía no se sabe si esto es causado por la marihuana o si esto surge como respuesta al usarla. Es necesario seguir haciendo investigaciones científicas para confir-mar y entender mejor estos vínculos.

El consumo de marihuana durante el em-barazo podría hacerle daño al feto durante su desarrollo. Las investigaciones que se han

hecho sugieren que los bebés de las mujeres que consumen marihuana durante el embara-zo pueden padecer alteraciones neurológicas complejas, y más adelante durante su infan-cia, pueden mostrar una reducción en sus ha-bilidades para resolver problemas, memorizar y prestar atención. Sin embargo, el hecho de que las mujeres embarazadas que consumen marihuana puedan estar también fumando ci-garrillos o bebiendo alcohol, hace que sea más difícil determinar exactamente qué parte de estos efectos son atribuibles específica-mente a la marihuana.

¿Es la marihuana un medicamento?

Se ha debatido mucho sobre el uso médico de la marihuana para ciertas afecciones, por ejemplo, para tratar las náuseas causadas por la quimioterapia en pacientes con cáncer y para estimular el apetito en algunos pacientes con SIDA. En la actualidad, 20 estados han legaliza-do el consumo de marihuana en cigarrillos con fines médicos, pero la FDA, que evalúa la segu-ridad y eficacia de los medicamentos, no ha aprobado la marihuana como un medicamento. No ha habido suficientes ensayos clínicos a gran escala que muestren que los beneficios de fumar marihuana pesen más que los riesgos que esta puede tener en aquellos pacientes para los cuales se usaría como un tratamiento. Además, para ser considerada un medicamen-to legítimo, una sustancia debe tener ingredien-

tes bien definidos y medibles que sean consis-tentes en cada dosis (como una pastilla o una inyección). Aparte del THC, la hoja de la ma-rihuana contiene más de 400 compuestos quí-micos, que podrían tener diferentes efectos en el organismo y que varían de una planta a otra. Esto hace que sea difícil considerar el consumo de la marihuana como un medicamento aunque algunos de sus componentes puedan proveer algunos beneficios.

Sin embargo, el THC sí es un medica-mento aprobado por la FDA. Los medicamen-tos presentes en el mercado actual ofrecen los beneficios del THC sin los peligros y la im-previsibilidad de fumar marihuana. Los cientí-ficos continúan investigando las propiedades medicinales del THC y otros cannabinoides para evaluar mejor y aprovechar su capaci-dad para ayudar a los pacientes que sufren de una amplia gama de afecciones, evitando al mismo tiempo los efectos negativos de fu-mar marihuana.

¿Cómo puedo saber si mi hijo(a) ha estado consumiendo marihuana?

Los padres deben estar al tanto de los cam-bios en el comportamiento de sus hijos, como la falta de interés en el aseo personal, los cambios de humor y el deterioro de las relaciones con fa-miliares y amigos. Asimismo, los cambios en el rendimiento académico, faltar a una clase o a la escuela, la pérdida de interés en los deportes u otras actividades favoritas, cambios en el grupo de amistades, en sus hábitos alimenticios o de sueño, y estar involucrados en problemas en la escuela o con la ley, podrían estar relacionados con el uso de drogas — o indicar que existen otros problemas. Consulte la lista de señales de advertencia específicas al consumo de ma-rihuana que se encuentra a continuación.

La marihuana puede ser adictiva. Aproximadamente 1 de cada 6 personas que comienzan a fumar en su adolescencia, y entre el 25 y el 50 por ciento de las personas que la consumen a diario, se vuelven adictas a la marihuana.

El consumo regular de marihuana se ha asociado con varios efectos psicológicos, entre ellos depresión, ansiedad, pensamientos suicidas y trastornos de personalidad.

Si su hijo(a) consume marihuana, podría:

• Parecer inusualmente risueño o tener menos coordinación

• Tener los ojos enrojecidos o con derrames, o usar gotas para los ojos con frecuencia

• Tener dificultad para recordar las cosas que acaban de suceder• Tener drogas o parafernalia de drogas, como pipas y papeles para enrollar (quizás

argumenta que pertenecen a un amigo si se le confronta al respecto)

• Tener olores extraños en la ropa o el dormitorio

• Utilizar incienso y otros desodorantes

• Usar ropa o joyas o tener carteles que promueven el consumo de drogas

• Tener mucho o poco dinero sin alguna explicación

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Bloco de Esquerda organizou sessão pública dedicada à legalização da canábis para efeitos terapêuticos:

Legalizar para tratar: Médicos defendem aprovação como medicamento

Fala-se aqui em legalizar para tratar… Não é uma função do Infarmed avaliar se um medicamento deve ser disponibiliza-do para tratamento?Moisés Ferreira (MF) – No nosso projeto,

não queremos substituir-nos ao Infarmed. Na

verdade, um dos artigos que existe no nosso

projeto lei consiste precisamente em dar ao In-

farmed toda a competência regulatória sobre o

processo. Aquilo que queremos é que a decisão

ou indecisão política não impeça um clínico de

prescrever esta terapêutica. O queremos trans-

mitir é que esta terapêutica deve estar disponí-

vel a um clínico e, depois, o resto dependerá do

discernimento e da decisão clínica de cada um.

Do fundamento da proposta do Bloco de Esquerda consta a possibilidade do cultivo próprio para consumo dos doen-tes… Estarão as pessoas habilitadas a plantar e a fazerem um medicamento para tratarem da sua saúde?MF – Acreditamos que a esmagadora

maioria das pessoas não enveredará por

esse caminho se estiver disponível na farmá-

cia… Ainda assim, tendo em conta alguma ju-

risprudência que existe em países como o

Canadá, o Brasil ou a Alemanha, em que

existem tribunais que dão razão a algumas

pessoas que requereram o seu direito ao cul-

tivo para acesso a esta terapêutica, o que

pretendemos é que essa acessibilidade pos-

sa estar também disponível, de forma alta-

mente regulada. Por isso é que dizemos que

deve acontecer mediante autorização do Mi-

nistério da Saúde e esse processo ainda deve

ser posteriormente regulado, através de um

decreto regulamentar onde se definem condi-ções de acesso, como se instrui esse requeri-

mento, quem pode ser autorizado, em que

condições, etc. O que pretendemos é que

haja acessibilidade à terapêutica. Que possa

estar disponível em farmácia e, em determi-

nados casos que o Ministério da Saúde ache

que faz sentido, ela possa estar também dis-

ponível na própria casa da pessoa.

Depois, existem questões como a for-ma de disponibilização em farmácia

do produto… Por outro lado, já exis-tem canabinóides presentes em medi-camentos… Que novos medicamentos à base de canábis serão necessários para complementar esta resposta de saúde?MF – A nossa proposta aponta para que

seja disponibilizada a planta e algumas prepa-

rações da mesma, sendo que o óleo é o mais

comum. É nesse formato que propomos que

seja disponibilizado, nomeadamente o de CBD.

Esperamos que se explorem igualmente as

possibilidades de dispensa das flores desidrata-

das, por exemplo, ou de outros preparados que

advenham da planta.

A evidência científica demonstra que existe um potencial de surgimento de surtos psicóticos e outros no âmbito da saúde mental associado ao uso prolon-gado de canábis em determinados con-textos… Em que medida deveremos te-mer que isto possa afetar os nossos jo-vens?MF – Estamos a falar de uma prescrição e

dispensa que é altamente regulada, portanto,

é um médico que considera que, para aquela

pessoa, com determinada sintomatologia, pa-

tologia e situação, aquilo faz sentido. Esse

discernimento e decisão será sempre de um

clínico. Claro que o consumo de canábis tem

consequências, riscos e efeitos secundários,

como outros medicamentos e substâncias.

Não é por determinada substância ou medi-

camento ter efeitos secundários que o mes-

mo deixa de existir na farmacopeia ou como

ferramenta terapêutica. Aqui, o clínico fará

sempre o julgamento entre o benefício e o

malefício, pelo que considero estarmos pe-

rante uma área em que a decisão política não

deve intervir, por se tratar precisamente de

uma decisão clínica. A área onde a interven-

ção política deve intervir, pelo que o Bloco de

Esquerda propõe, é na definição do princípio de poder estar ou não disponível para prescri-

ção. Aí, achamos que sim.

Não estaremos perante um recuo quan-do o Bloco de Esquerda apresentou, no

passado, na Assembleia da República, um projeto que não foi aprovado e que visava a legalização do consumo recrea-tivo da canábis?MF – O primeiro projeto que o Bloco de

Esquerda apresentou na Assembleia da Re-

pública sobre canábis aconteceu em 2003,

exatamente para fins medicinais. Depois, apresentou muitos outros mas, o que aconte-

ceu aqui, foi que ouvimos muitas entidades,

inclusivamente outros partidos e outras enti-

dades, a dizerem publicamente que estariam

disponíveis para debaterem a legalização

para fins medicinais e que até não teriam oposição de princípio. Mas não queriam que

as discussões entre consumo recreativo e

medicinal fossem feitas em conjunto e, por

isso, separámos as duas e apresentámos um

projeto apenas para as medicinais. Chegá-

mos à conclusão que existem argumentos di-

ferentes, somos favoráveis à legalização para

todos os fins e queremos fazer esses debates em tempos diferentes. E não queremos que a

discussão para um fim possa contaminar ou prejudicar a discussão para outro fim. Neste momento, estamos a falar de legalização

para fins medicinais. E não precisamos de ilu-

dir ninguém porque toda a gente sabe qual é

a nossa posição de princípio.

Porquê eleger apenas como missão a legalização da canábis e deixar outras substâncias de fora?MF – Muitas delas já existem depois na

farmacopeia…

Mas também existe a canábis…MF – Sim, é verdade… Como começam a

surgir estudos noutros países que falam até

de outras drogas ilegais, introduzidas na for-

ma terapêutica, é verdade… Pareceu-nos

que, com maior evidência científica, com maior historial de consumo e até de aplicação

terapêutica, existe a canábis. E se conjugar-

mos a evidência científica que existe e a ex-

periência internacional, a canábis é um passo

seguro para poder fazer-se. As outras, vere-

mos… É preciso esperar para vermos tam-

bém as experiências internacionais.

O Bloco de Esquerda organizou, no dia 2 de fevereiro, a sessão pública “Legalizar para tratar”, iniciativa promovida no IPO/Porto e que recolheu depoimentos de alguns participantes, enquanto a lei se encontra em processo de discussão na

especialidade no parlamento. A sessão contou com as participações de Bruno Maia, médico neurologista, Henrique Barros, médico e presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Laranja Pontes, médico e presidente do IPO

Porto, Moisés Ferreira, deputado do Bloco de Esquerda, e Teresa Summavielle, investigadora e diretora do laboratório Biologia da Adição. Dependências marcou presença no evento, onde entrevistou o deputado José Soeiro.

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11ªs Jornadas de Atualização em Doenças Infeciosas do Hospital Curry Cabral – CHLC:

“A inversão da percepção

de risco é um grande perigo”

Graça Freitas, Diretora Geral da Saúde

Começando por este evento em parti-

cular, que importância atribui à reali-

zação destas jornadas subordinadas

à atualização em doenças infeciosas?

Graça Freitas (GF) – Estas jornadas são muito importantes pela continuidade e por-que são transversais. Ou seja, trazem orado-res e assistentes de várias áreas da medicina e de outras profissões médicas, de jovens médicos, sendo muito importante para os in-ternos, contam com associações de doentes, com representantes da sociedade civil, com os cidadãos e, portanto, há onze anos que assistimos a umas jornadas muito inclusivas, que abordam temas muito importantes, com os das doenças infeciosas mas também tra-zem vários públicos. São pois jornadas aber-tas, transversais, multidisciplinares, inclusi-vas e, sobretudo, muito importantes para jo-vens profissionais.

Falamos de uma área em que Portugal

apresentou uma evolução muito posi-

tiva ao longo dos últimos anos, par-

ticularmente se falarmos em VHC ou

VIH… Haverá ainda muito por fazer?

GF – Há sempre muito a fazer mas já fi-zemos, de facto, um longo percurso e esta-mos no bom caminho. Grandes ameaças à saúde pública e à saúde individual do pas-sado terminaram graças à vacinação, o que não quer dizer que, se não continuarmos a vacinarmo-nos, todos e muito, as mesmas não voltem a acontecer. Não podemos in-terromper a prevenção e temos exemplos de países que o fizeram com a falsa segu-rança de que já tinham dominado determi-nadas doenças, que voltaram a emergir. As doenças infeciosas têm este problema: apenas estarão controladas enquanto con-tinuarmos a controlá-las… senão, reapare-cem. Passado o grande desafio de contro-lar doenças com a vacinação, como suce-

deu com o VIH/SIDA, que foi importantíssi-mo, estamos de facto no bom caminho. Tornou-se uma doença crónica, cada vez temos menos novos casos, temos hoje a hipótese de fazer terapêutica preventiva, outro grande passo em frente… Também a questão da Hepatite C, em que a tecnolo-gia permitiu identificar um vírus e encontrar um tratamento que leva à cura. Trata-se de um brutal investimento em termos financei-ros mas que assegura um retorno em quali-dade e esperança de vida, revelando-se portanto um bom investimento. Relativa-mente às outras hepatites, a A resolveu-se com as boas condições higio-sanitárias do país, a B quase desapareceu pela vacina-ção, o que significa que, dentro das hepati-tes víricas, a situação também está contro-lada. Temos depois, as questões, essas ainda muito importantes, das infeções as-sociadas à prestação de cuidados de saú-de, em que Portugal está a melhorar mas terá que continuara a fazê-lo para se apro-ximar de países que têm melhores taxas…

E presumo que também as associadas

ao consumo de álcool…

GF – Também, exatamente! Portanto, temos aqui ainda muitos desafios. Em suma, em relação às doenças infeciosas, não podemos baixar a guarda, começando pela prevenção primária, secundária e ter-ciária, tratar bem os doentes, acompanhá--los até ao fim se for caso disso e, depois, já a própria prevenção quaternária, no que concerne às infeções assocadas aos cuida-dos de saúde.

No caso do VIH/SIDA, parece verificar--se uma ameaça que tem a ver com a

diminuição da percepção de risco, re-

sultante da cronicidade da doença e da

eficácia dos tratamentos…GF – A inversão da percepção de risco é

um grande perigo e quando uma doença é controlada ou se torna crónica, como sucede

A NUGEDIL (Associação de Estudos, Núcleo e Grupo de Doenças Infeciosas de Lisboa) organizou, nos dias 25 e 26 de janeiro, 11ªs Jornadas de Atualização em Doenças Infeciosas do Hospital Curry Cabral – CHLC. O evento, que decorreu na Culturgest, em Lisboa, sob a presidência de

Fernando Maltez, diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de Curry Cabral, atraiu cerca de três centenas de participantes interessados em temas como a terapêutica antirretrovírica, medicina do viajante, hepatites víricas, antibióticos, infeção por VIH/SIDA, tuberculose, infeções emergentes e casos clínicos. Dependências esteve presente no encontro, onde teve a oportunidade de entrevistar Graça Freitas, recentemente nomeada para o cargo

de Diretora Geral da Saúde, um desafio que assume com a consciência de que existem boas práticas que há que manter mas que há também muito a melhorar, tal como ajudou a fazer num histórico de 22 anos ao serviço da DGS, marcado por algumas rupturas de sucesso.

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com o VIH/SIDA, as pessoas que antes ti-nham muito medo da doença e aderiam mui-to bem a medidas preventivas e a tratamen-tos, tendem a ter uma inversão dessa per-cepção do risco. Deixam de ter medo da doença, ou porque desapareceu no caso da-quelas que têm vacinas eficazes ou porque, como no caso da infeção VIH/SIDA, não é tão rapidamente letal. E, muitas vezes, as boas estratégias de saúde são vítimas do seu próprio sucesso porque levam a essa po-sição mais complacente em relação à pre-venção e ao tratamento. Temos que estar to-dos muito atentos e dizer às pessoas o que dizia um epidemiologista famoso: é melhor estar vivo e saudável do que doente ou morto e, mesmo para uma doença crónica, o me-lhor é não a ter. A prevenção primária é, de facto, a melhor arma de todas.

Recentemente, assumiu formalmente

funções que, diga-se, já desempenha-

va a “mais de meio tempo”… Como

tem sentido esta experiência?

GF – Estou a sentir-me bem… O mais importante para se ocupar um cargo é gos-tar-se do que se faz e, como gosto do que faço, sinto-me bem. Obviamente, tenho muito trabalho e muitos desafios, sinto tam-bém que estou bem acompanhada de pes-soas, organizações e grupos profissionais ou não profissionais que me dão muito apoio a nível particular e à Direção Geral enquanto organização e, portanto, sinto-me confortável com esta posição. Obviamente, é um grande desafio e veremos se levo a bom porto a maior parte das tarefas e dos objetivos a que me proponho. Tentarei fa-zer o meu melhor, com bastante gosto e bastante acompanhada. Cultivo o fazer com o outro e não para o outro.

Sendo que já integrava há vários anos

a Direção Geral, será legítimo esperar-

-se um exercício de continuidade?

GF – Não totalmente… Confesso que não aprecio particularmente a continuida-de. Estou na Direção Geral da Saúde há

quase 22 anos e fui fazendo rupturas. A continuidade tem ciclos e existem coisas que é importante manter, nomeadamente as boas práticas mas há sempre que inovar e melhorar e, nesta minha nova função e ciclo, o que tentarei é manter as boas práti-cas anteriores adaptadas ao século XXI, beneficiando das tecnologias, beneficiando da comunicação e de tudo o que este mun-do novo nos pode dar, mantendo alguns ru-mos e avançando para novos desafios. No-meadamente, na área das infeciosas, o grande desafio de reduzir a incidência e a prevalência das infeções relacionadas com os cuidados de saúde. É de facto um gran-de desafio e, com todos os mecanismos técnicos, tecnológicos e comunicacionais que temos ao nossos dispor, temos o impe-rativo ético de continuar nessa senda para melhorar todos os anos os nossos valores. Portanto, não é apenas a continuidade. É continuar estratégias que são boas, de for-ma diferente, mais ágil, mais moderna e efi-ciente e assumir novos desafios.

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Associação Portuguesa de Adictologia elege novos corpos sociais:

APEDD pretende desenvolver programa

de formação na área dos CAD

A Associação Portuguesa de Adicto-

logia acaba de eleger a sua nova di-

reção, tendo a lista presidida pelo Dr.

Rocha Almeida colhido unanimidade

entre os associados presentes hoje

em Aveiro... Que linhas estratégicas

definirão a ação da APED nestes pró-

ximos anos?

Rocha Almeida (RA) – Como sabe, so-

mos uma associação com poucos anos de

vida e, para o próximo mandato, pretende-

mos dar continuidade ao trabalho realizado

pela anterior direção. Nesse sentido, vamos

procurar trazer cada vez mais associados à

APEDD para participarem nas suas ativida-

des, desenvolver um programa de formação

na área dos comportamentos aditivos e das

dependências, promover mais ativamente a

revista Adictologia, que está na página da

APEDD e é de acesso gratuito, participar em

trabalhos de investigação científica com enti-dades nacionais e internacionais e manter e

reforçar a relação internacional através da

presença na Federação Europeia de Asso-

ciações de Adictologia (EUFAS- European

Federation of Adicttion Societies).

Curiosamente, ou talvez não, a reu-

nião deste dia 13 de janeiro não se

destinou apenas à apresentação do

programa da lista que concorria à

eleição e ao sufrágio, tendo sido rea-

lizada, em simultâneo, a sessão pú-

blica Competências em Adictologia...

O que se pretendeu em concreto com

esta realização?

RA – A sessão que estamos a realizar

neste dia de eleições tem dois objetivos im-

portantes: Por um lado, possibilitar aos as-

sociados uma sessão de debate com um

tema que consideramos atual face ao mo-

mento de indefinição que os serviços públi-cos com intervenção nesta área estão a

passar, e assim não se deslocarem a Avei-

ro apenas para votar. Por outro lado, sensi-

bilizar as várias ordens e associações pro-

fissionais no sentido de assegurar que os seus profissionais tenham as competências

necessárias na área dos comportamentos

aditivos, providos com qualificação e expe-

riência para o exercício das funções clíni-

cas. Foi neste sentido que a APEDD solici-

tou à Ordem dos Médicos que fosse criada

a Competência em Adictologia. Por orienta-

ção do Bastonário da Ordem dos Médicos,

foi constituído um grupo de trabalho que a

APEDD integra com dois associados que já

elaborou um documento que está agora em

avaliação pelos vários colégios de especia-

lidade. Seria importante que outras estrutu-

ras avançassem com um processo seme-

lhante, já que o objetivo final é dar aos utentes e às famílias que nos procuram o

direito de terem acesso a técnicos com for-

mação e competência em matéria de adi-

ções.

Numa altura em que continua a eterni-

zar-se uma discussão em torno do mo-

delo organizativo para a intervenção

em CAD, com sucessivas promessas

de mudança e invariáveis recuos po-

Após o ato eleitoral do dia 13 de janeiro, a lista encabeçada por Rocha Almeida passa a dirigir

a Associação Portuguesa de Adictologia. A APEDD fez coincidir a data de sufrágio com a realização de uma sessão pública subordinada ao tema Competências em Adictologia, evento

que decorreu na Casa da Comunidade Sustentável, em Aveiro. Devem ou não os

serviços de saúde assegurar que os profissionais que neles trabalham tenham as competências

necessárias na área dos comportamentos aditivos, providos com qualificação e

experiência, para o exercício das funções clínicas? Justifica-se que os doentes tenham

direito a ter acesso a técnicos com formação e competência em matéria de adições? Foi em trono de questões como estas que cerca de 40

profissionais afetos a diferentes áreas concomitantes com os CAD dedicaram mais um

sábado das suas vidas…Dependências associou-se ao evento,

entrevistando no final o novo presidente da APEDD, Rocha Almeida.

19

líticos, que tipo de ações tem desen-

volvido e visa desenvolver no futuro

a APED no sentido de contribuir para

uma concepção que reúna consenso

técnico nesta matéria, sendo esta uma

Associação que visa ser representa-

tiva dos profissionais que trabalham na área das dependências e contribuir

para a dignificação do seu trabalho, independentemente da sua escola ou

orientação ?

RA – Temos participado neste debate

sempre que somos solicitados. Os serviços

públicos com intervenção nas adições es-

tão, desde 2011, numa situação de indefini-ção em relação ao modelo de organização

que se pretende. A verdade é que Portugal

dispõe de uma rede de serviços públicos com intervenção na comunidade, através

de ações de prevenção e de redução de

riscos e minimização de danos e de inter-

venção no tratamento e reinserção. Estes

serviços contam com um conjunto de pro-

fissionais qualificados, com experiência e formação, tendo em consideração que es-

tamos perante um fenómeno em perma-

nente mudança. Precisamos saber para

onde vamos e nesse sentido a definição de

políticas públicas para as adições deve ser primordial para definir qual o rumo a seguir no futuro.

Um dos fundamentos da existência da

APED tem a ver com a partilha de co-

nhecimentos científicos e de práticas sustentadas em evidência na área dos

CAD. A este nível, como pretende a As-

sociação chegar a mais públicos, tor-

nando essa partilha mais útil para os

serviços do país?

RA – Promovendo a divulgação da APE-

DD junto de instituições públicas e privadas e seus profissionais ligados direta ou indireta-

mente com as adições: unidades de saúde, IPSS, estabelecimentos de ensino, centros

de investigação... Estamos também a pensar

na área da formação, até porque temos rece-

bido pedidos de profissionais que pretendem adquirir competências nesta área. É justo

também realçar o papel que a revista Depen-

dências tem tido na promoção e divulgação

das atividades da APEDD.

Em que medida tem a APED projetado

a sua internacionalização e fomenta-

do contactos com outras congéneres

mundiais, também nesse sentido da

partilha?

RA – Através da EUFAS, temos manti-

do colaboração/articulação com outras so-

ciedades de outros países. Por exemplo, a

ideia da competência em Adictologia na Or-

dem dos Médicos surge após algumas so-

ciedades avançarem com esse mesmo pro-

cesso no seu país de origem. Também a ní-

vel científico e de formação, estamos a co-

laborar com algumas sociedades. Temos

uma maior afinidade com a sociedade es-

panhola Socidrogalcohol, já reunimos com

a direção e estabelecemos algumas parce-

rias a nível da formação, da colaboração

científica, vamos organizar uma mesa nas Jornadas Nacionais que se vão realizar em

Toledo e haverá também colaboração no

desenvolvimento das revistas Adicciones e

Adictologia.

Que atividades científicas estão pro-

gramadas para os próximos tempos no seio da APED?

RA – Brevemente, daremos notícias a

este respeito. Temos alguns projetos em

andamento mas ainda nada está defini-

do…

20

Laboratório da Policia Cientifica da PJ partilha conhecimentos em encontro internacional:

“Drogas e Sociedade Contemporânea

– Uma visão da criminalística e das

ciências policiais e forenses”

Qual a importância cientifica do XI

Encontro de Investigadores?

Carlos Farinha (CF) – O encontro de

Investigadores do Instituto Universitário de

Investigação em Ciências Policiais (IUICP)

da Universidade de Alcalá, é uma confe-

rencia anual, que congrega a participação

de diversos convidados (externos e inter-

nos à Universidade de Alcalá), refletindo

sobre um tema escolhido. Na edição de

2018 o tema foi “Drogas e Sociedade Con-

temporânea – Uma visão da criminalística

e das ciências policiais e forenses”; o audi-

tório é habitualmente composto por estu-

dantes dos diferentes cursos e graus de

ensino (doutoramentos, mestrados e licen-

ciaturas) e por profissionais relacionados

com a temática escolhida.

Além da atualização e troca de conhe-

cimentos, decorrente das diversas origens

e perspetivas, o debate é normalmente

vivo, motivando o enriquecimento quer dos

profissionais quer dos académicos envolvi-

dos.

Por outro lado, o facto do IUICP ter

uma forte presença de alunos oriundos do

espaço ibero-americano, traduz-se numa

maior abrangência das discussões, face às

diferentes origens nacionais dos partici-

pantes. Frequentemente, os temas aca-

bam por ser aproveitados para estudos

académicos, na âmbito da atividade uni-

versitária.

Como vê o investigador a criminali-

zação do consumo das drogas?

CF – Em 2000, com a lei 30/2000 de

29/11, descriminalizou-se – em Portugal - o

consumo.

Definitivamente o toxicodependente

passou a ser visto como um doente, a pre-

cisar de ajuda para enfrentar a adição;

esta decisão de descriminalização facilitou

o acesso de inúmeros toxicodependentes

aos serviços de saúde, sendo notório o au-

mento de processos de tratamento, A par

da descriminalização foram criadas comis-

sões de dissuasão, visando promover a re-

dução da procura de estupefacientes e au-

mentar a consciencialização da nocividade

do consumo.

Foi estabelecido como critério de pos-

se de estupefaciente para consumo, o

equivalente ao cálculo do número de do-

ses que não excedesse 10 dias. Contudo,

a tabela de conversão dos princípios ativos

das substâncias foi a que tinha sido fixada,

em 1996, para a avaliação individual da to-

xicodependência, o que pode comportar e

comporta – ainda hoje – distorções.

De todo o modo, este Diploma veio per-

mitir uma maior intervenção pedagógica,

ultrapassado que estava o risco de estig-

matização social, pela prática de um crime.

A par da redução da procura e da opção

por soluções de recuperação e terapia, ve-

rificou-se uma maior higienização de com-

portamentos, designadamente pela distri-

buição de seringas e pela redução do con-

sumo da heroína injetável. Sem por em

causa a opção da descriminalização do

consumo, a redução da censura penal foi

acompanhada de um aumento de exigên-

cia laboratorial, pela maior e mais profunda

intervenção que atualmente é exigida. De

alguma forma, transferiu-se para a ciência

forense o ónus de medir o desvalor da

ação

O Encontro tratou de realidades

como o cultivo o consumo e o tráfi-

co. São realidades distintas?

CF – Um dos temas muito interessantes

foi apresentado por James Valência, subdi-

retor do Instituo de Medicina Legal e Ciên-

cias Forenses da Colombia, evidenciando os

contextos de cultivo – sobretudo da cocaína

O interesse, a procura do saber policial e forense que suscita a problemática da droga e as suas consequências no mundo, levou os investigadores de

diversos países a discutir na perspectiva académica, policial e judicial uma mais forte colaboração com os distintos saberes. Dependência quis saber um

pouco dos resultados deste encontro e falou com Dr. Carlos Farinha Director do Laboratório da Policia Cientifica da PJ.

21

– bem como as medidas governamentais im-

plementadas para contrariar a produção e a

oferta motivada pelo tráfico.O consumo situa-se no plano da procu-

ra, concluindo o ciclo; para que a interven-

ção contra o fenómeno resulte eficaz, terá

de ter caracter global, com capacidade de

promover a redução dos diferentes seg-

mentos – cultivo, trafico e consumo.

Quais as dificuldades na deteção e

análise das novas substâncias?

CF – As Novas substancias Psicoati-

vas, pelas suas características inovadoras

no plano químico, pela fácil mutabilidade,

pela ausência de padrões laboratoriais que

permitam uma rotina de identificação, pela

ausência de testes expeditos de deteção,

pela semelhança morfológica com outras

substancias, mas sobretudo pela estraté-

gia de criação de alternativas com efeitos

semelhantes mas ainda não incluídas nas

listagens proibidas, colocam dificuldade

adicionais no plano da deteção e análise,

bem como – suponho – colocarão no plano

da resposta terapêutica.

No que tange ao LPC, a solução tem

passado pelo aproveitamento da investiga-

ção cientifica, ou seja, pela implementação

de protocolos de cooperação com institui-

ções académicas, nomeadamente a Facul-

dade de Ciências de Lisboa e a Faculdade

de Farmácia do Porto, desde 2014, poste-

riormente incluindo o INML-CF a partir de

2015.; Esta estratégia de articular siner-

gias, permitiu identificar novas substan-

cias, bem como obter padrões a partir da

respetiva purificação. Permitiu igualmente

proporcionar informação e conhecimento,

quer ao sistema policial e de Justiça, quer

ao observatório europeu, através do SI-

CAD.

Qual o tema que destacaria como

mais interessante no encontro?

CF – Na generalidade as intervenções

foram interessantes e enriquecedoras. Pa-

receu-me interessante a coincidência dos

diferentes oradores, apesar de serem

oriundos de realidades distintas, na inven-

tariação dos problemas – cariz internacio-

nal da problemática, necessidades de coo-

peração institucional, exigências qualitati-

vas e quantitativas no plano laboratorial e

cientifico, convocação dos sistemas de

Saúde e de Justiça.

Destaco, contudo, até por se tratar de

um evento num contexto académico, duas

comunicações relativas a um problema

muito sentido em Espanha e que se traduz

na chamada Submissão Química, ou seja,

situações de abuso de género resultantes

da administração de produtos entorpecen-

tes ou inibidores da vontade, sobretudo em

ambientes recreativos. Foram apresenta-

dos vários casos e identificadas as subs-

tancias usadas para o efeito, bem como fo-

ram apresentados várias estratégias pre-

ventivas em curso.

A realidade policial e atividade do

controle da droga em Portugal foi o

tema da sua comunicação. Que ava-

liação faz do “modelo Português”?

CF – Procurei, na comunicação apre-

sentada, transmitir a factualidade histórica

das Drogas em Portugal, desde a sua rari-

dade nos anos sessenta e inicio dos anos

setenta, à explosão a que assistimos no fi-

nal dos anos setenta e nas décadas de oi-

tenta e noventa.

O inicio do seculo vinte e um trouxe-

-nos uma nova estratégia a que chamamos

“O modelo português”. Inquestionavelmen-

te tem servido de exemplo a vários países,

que adotam formas de o replicar. É portan-

to um modelo com sucesso. Naturalmente

que, como todas as realidades tem mar-

gem de otimização, até pela própria dinâ-

mica da sociedade e da evolução global do

fenómeno.

Olhando a problemática a partir das

competências e da intervenção do LPC/PJ,

pareceu-me, relevante evidenciar a per-

centagem de solicitações, atualmente mais

de 20% da casuística recebida no Setor de

Drogas e Toxicologia da Sede e na Delega-

ção na Diretoria do Norte, garantida em

cinco dias uteis ou oito consecutivos, mer-

cê dos Protocolos procedimentais existen-

tes com as Autoridade Judiciárias e com o

empenho, quer da GNR quer da PSP.

Ou seja, um contributo efetivo para a

celeridade da Justiça, na medida em que

se viabiliza a realização de Julgamentos

sumários, nas situações bagatelares de

pequeno tráfico.

Tal como foi oportuno sublinhar os co-

nhecimentos técnico-científicos que a coo-

peração com as Universidades têm pro-

porcionado, na identificação de substan-

cias, na obtenção de informação sobre as

mesmas, suas características e efeitos.

É sempre importante enfatizar as lições

aprendidas, nomeadamente o reconheci-

mento das intervenções conjuntas, articu-

ladas e coordenadas, de vários sistemas e

entidades.

Bem como é importante ter a capacida-

de de antecipar tendências, por forma a or-

ganizar respostas adequadas, nos diferen-

tes planos de exigência.

22

XIII Congresso Nacional de Psiquiatria decorreu de 25 a 27 de janeiro em Vilamoura:

O normal e o patológico:

conceitos, modelos e práticas clínicas

Marques Teixeira, Presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental

O que traz de novo este XIII Congresso

Nacional de Psiquiatria?

Marques Teixeira (MT) – Desde logo, o tema… Trabalhar o normal e o patológico é fundamental, difícil e estamos a ver como é complexo porque temos assistido a comuni-cações altamente controversas, que se reve-lam muito importantes para lançarmos a dis-cussão e mudarmos alguma coisa. Por outro lado, temos cada vez mais palestrantes es-trangeiros que vêm contribuir neste congres-so com o seu conhecimento; a participação, que é um pouco superior à do ano passado, ilustra o interesse que as pessoas continuam a demonstrar pela organização deste con-gresso… Mas, de novo neste congresso, destacaria o tema, o deste ano e o dos outros anos anteriores, porque discutimos sempre

aspetos que sejam de grande importância para o avanço da psiquiatria.

Ainda se discutem hoje grandes pro-

blemas que envolvem a saúde mental,

como o estigma?

MT – Claro que sim… Ainda no ano pas-sado perguntei ao presidente da WPA por que motivo essa instituição gasta milhões du-rante um ano na luta contra o estigma e o mesmo não desaparece… Ao que me res-pondeu ser uma boa questão mas não ter resposta… É tão complexo… O estigma é algo contra o que temos que lutar permanen-temente. Existem alguns níveis emaranha-dos entre si quando falamos em estigma: um é a representação social da doença mental, que está muito enraizada e ainda é vista como qualquer coisa que não é deste mundo, assusta as pessoas; depois, a psiquiatria e a doença mental também têm uma representa-ção mental junto dos políticos que não pare-ce ser a mais adequada. Basta ver, a dota-ção de verbas para a Psiquiatria que é sem-pre muito inferior à das outras especialidades médicas…Chega a dar a impressão que o doente mental não é um doente como os ou-tros. Parece-me que prevalece a convicção de que a doença mental não é algo tão com-plexo e grave como, por exemplo, uma hepa-tite crónica ou uma diabetes; por outro lado, a atividade social e política dos doentes men-tais é muito limitada. É uma espécie de gru-po silencioso que vai sendo mais ou menos esquecido.

Existe prevenção primária para a pro-

blemática da doença mental?

MT – Sim, existem alguns aspetos de prevenção, nomeadamente em todas as va-

riáveis ambientais que sabemos que interfe-rem e muito no eclodir da doença mental. Re-firo-me concretamente a aspetos de higiene de sono, de natureza educativa nas famílias, da prevenção individual, do burnout nas em-presas…. Existe uma série de situações de natureza contextual que é possível prevenir ou preparar as pessoas para lidarem com elas ou intervir ecologicamente no sentido de diminuir o risco.

Em que medida poderia essa interven-

ção precoce iniciar-se no médico de

família?

MT – Deve começar pelo médico de famí-lia! Isso é saúde mental! O médico de família deve estar preparado para fazer a promoção da saúde em geral, o que também significa promover a saúde mental… As escolas tam-bém têm um papel importante na prevenção e na promoção da saúde mental, assim como as autarquias e as várias especialidades mé-dicas. Isto sim, é saúde mental. Psiquiatria é para a doença. Cada vez mais se considera que a doença mental existe porque existe a conjugação de fatores ambientais e fatores genéticos, sem a qual a prevalência diminui-ria, portanto, é também muito importante atuar nos fatores ambientais.

A sociedade ainda vê o doente mental

como o “maluquinho da rua”?

MT – Acabou de vir ao encontro do que eu disse: saúde mental é saúde, o doente mental é doente e, quanto o facto de a socie-dade ainda pensar no doente mental como o “doente da rua”… acho que está a mudar, embora ainda se pense em dois extremos: o doente mental grave, vulgo psicótico, ainda é visto como alguém que é diferente e assusta

O XIII Congresso Nacional de Psiquiatria resultou num fórum de actualização e de reflexão critica sobre os principais temas psiquiátricos com avanços científicos significativos quer na área clínica, quer nas múltiplas perspectivas da terapêutica psiquiátrica. O evento, organizado pela Sociedade

Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental e patrocinado pela Associação Mundial de Psiquiatria teve lugar no Centro de Congressos Tivoli Marina de Vilamoura entre 25 e 27 de janeiro, elegendo como tema central o Normal e o Patológico em Psiquiatria. De acordo com os responsáveis, este tema tem uma enorme importância para a psiquiatria, permitindo manter o debate sobre as fronteiras entre as vivências e comportamentos considerados dentro do “normal” e as formas de expressão desses mesmos comportamentos e vivências já no domínio da patologia mental. Por outro lado permitiu também

discutir outras questões importantes, como as perturbações da personalidade, a nosologia psiquiátrica considerando os modelos categoriais e dimensionais, as questões relacionadas com factores patoplásticos, como os de natureza cultural, bem como múltiplas outras questões em aberto que a psicopatologia e a psicologia social têm investigado mais recentemente. A Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, enquanto organismo representativo da comunidade psiquiátrica, assume no Congresso Nacional o seu ponto mais alto e Dependências aceitou o repto, marcando presença

no evento, onde entrevistou alguns dos profissionais que enriqueceram um programa científico em que sobressaiu um novo fármaco dedicado ao tratamento da depressão. De acordo com Augusta Vieira-Coelho, a Vortoxietina contribui para uma melhor eficácia do tratamento, para uma maior

selectividade sobre as aminas alvo e para uma melhoria do perfil de tolerabilidade do fármaco.

23

João GoulaoComportamentos Aditivos

Numa mesa presidida por Carlos Ramalheira e Ana Feijão, sobre os com-portamentos aditivos e dependências, substâncias, indivíduos e as aborda-gens, João Goulão o estratega da ENL-CD falou sobre o Modelo Português, e levou a plateia pelo decurso da história da intervenção nas drogas e na toxico-dependência.

O fenómeno da droga em Portugal, nos anos noventa era um grave pro-blema social e de saúde pública, em particular no que dizia respeito ao consumo problemático de heroína. Na altura as estimativas apontavam para um número muito próximo dos 100 mil utilizadores de heroína. Tratava-se de uma população altamente fragilizada sob o ponto de vista social, e o seu consumo era na sua esmagadora maioria por via endovenosa. Talvez isto explique o facto do problema da toxicodependência ser na altura uma das principais preocupações dos por-tugueses. Hoje, pouco ou nada se fala desta problemática.

Portugal é um exemplo para o mun-do, é reconhecido e admirado interna-cionalmente, mas, muitas vezes ostraci-zado e até maltratado internamente…Não se pode ignorar a história e o traba-lho destes profissionais que baseiam toda a sua intervenção na centralidade no cidadão, reconhecendo os princípios basilares da dignidade humana e na salvaguarda e defesa dos direitos hu-manos, no conhecimento, inovação, pragmatismo, cooperação, confiança e transparência.

e é aí que reside parte do estigma; a doença mental ou psiquiátrica do dia-a-dia, como a depressão ou a ansiedade, que origina tan-tos ou mais dias de baixa do que as outras, é vista ainda como uma espécie de falha de carácter e não como doença.

Como avalia o estado da arte da saúde

mental em Portugal?

MT – É bom! Estamos ao nível dos es-trangeiros. Uma coisa é o que fazemos e o reconhecimento que temos nos pares inter-nacionais, outra é a organização que temos no país para que, por exemplo, a investiga-ção tenha produção visível lá fora… isso fal-ta. Falta uma rede nacional de investigação na psiquiatria e na saúde mental que nos ha-bilite, por exemplo, a concorrermos a fundos em paridade de oportunidades com outros colegas de países que têm essas redes.

Quer dizer que o poder político não

está preocupado com a saúde mental?

MT – É capaz de estar preocupado mas não o mostra.

Manuela Fraga

Da sua comunicação emerge uma dú-

vida: será o consumidor um doente ou

ficará este doente por consumir?Manuela Fraga (MF) – A apresentação

começa exatamente por aí: saber o que está antes e depois do consumo, é doente ou fica doente?. Sabemos que nem sempre é uma coisa ou outra… por vezes, até são as duas em simultâneo, no mesmo doente… Às ve-zes, percebemos que existe uma doença prévia que promove o consumo de substân-cias, do mesmo modo que sabemos que tam-bém existe doença desencadeada pelo con-sumo de substâncias. E, às vezes, as duas coisas coexistem na mesma pessoa. Temos que observar o doente, colocar o foco no mesmo e perceber o que se passou naquela circunstância especial: se foi a doença que

promoveu o consumo ou se a doença foi de-sencadeada por alguma substância.

Recorrendo a uma temática que está

na ordem dia, será afinal a canábis inó-

cua ou não?

MF – Não é inócua, de todo! Não é por acaso que está inscrita na categoria de aluci-nogénio… em muitas circunstâncias, promo-ve o surgimento de doença psicótica ou de, pelo menos, um quadro psicótico agudo, às vezes mantido no tempo. Os estudos apon-tam claramente para uma relação entre o consumo diário de doses elevadas de caná-bis e o surgimento de um quadro psicótico, revelando que estas pessoas estão cinco ve-zes mais propícias ao surgimento da doença psicótica do que alguém que não consuma, o que já é significativo. O facto de haver ou não depois uma patologia residual terá, na minha opinião, muito a ver com a vulnerabilidade do indivíduo, com um fenótipo especial para de-sencadear uma doença psicótica que seria despoletada então pelo consumo da canábis.

Também parece ter ficado claro, a par-tir da sua apresentação, que estamos

perante uma substância que causa de-

pendência…

MF – Causa uma dependência psicológi-ca e é muitas vezes usada como automedi-cação… Por outro lado, também causa de-pendência porque os efeitos que tem, ao ní-vel da dopamina, por exemplo, levam a que, com a continuidade do consumo, exista uma depleção da dopamina e um défice cognitivo que daí resulta leva a que a pessoa fique mais apática. É o tal síndrome amotivacional que se associa muitas vezes ao consumo da canábis e que origina também, muitas vezes, um consumo mais regular… Enfim, é um ci-clo vicioso que incapacita a pessoa para os desafios da vida. Aniquilando o eu-stress boi-cota o auto-desenvolvimento.

Temos assistido a uma discussão na

sociedade portuguesa em torno dos

benefícios potenciais do uso de ca-

nábis, estando presentes contextos

como o uso fumado, recreativo e tera-

pêutico… Que visão tem sobre esta te-

mática?

MF – Está provado que alguns dos ele-mentos que compõem a canábis melhoram alguns sintomas, como a espasticidade devi-do à esclerose em placas da doença neuroló-gica, tendo também um efeito anti emético nas náuseas provocadas pela quimiotera-pia… Haveria algumas circunstâncias, que se estenderão ainda ao glaucoma ou a epi-lepsia, em que poderíamos obter benefício a partir do uso de alguns alcalóides, não de to-dos. Não estamos a falar de uma planta, daí não ser favorável à legalização e ao consu-mo banalizado da canábis enquanto planta mas reconheço alguns efeitos benéficos nal-guns elementos contidos na canábis.

24

Nesse sentido, o que lhe parece esta

ideia de o próprio doente poder plantar

em sua casa a canábis?

MF – Muito sinceramente, acho um dis-parate! É colocar mesmo no mesmo saco be-nefícios terapêuticos e questões políticas que nada têm a ver com a saúde das pes-soas ou sequer com a necessidade da legali-zação.

Finalmente, classificou ali a canábis como uma substância com potenciais

efeitos alucinogénios…

MF – Porque poderá, de facto, desenca-dear surtos psicóticos, caracterizados pelo delírio de conteúdo persecutório, com muita agitação associada. São essas ideias deli-rantes e absurdas, porque o indivíduo não tem crítica, acreditando verdadeiramente na-quela realidade, que podem resultar nalguns comportamentos hétero-agressivos como tentativa de defesa pessoal.

Alexandra Almeida

Retive da sua comunicação que a abs-

tinência é impossível ou, pelo menos,

praticamente impossível… Assim sen-

do, qual será a alternativa?

Alexandra Almeida (AA) – Não se trata de a abstinência ser impossível… Em termos de consenso científico, o que se diz hoje em dia é que, de facto, uma pessoa que seja muito dependente do álcool tem muito pouca probabilidade de vir a retornar um consumo dito “normal”. Portanto, para ele, o mais indi-cado é a abstinência total. Agora, o que sa-bemos é que muitos doentes não aceitam como opção a abstinência total. E enquanto, de alguma forma, pelo modelo médico estes doentes eram postos de parte por não esta-rem muito motivados, estas abordagens mais pragmáticas dizem-nos que mais vale come-çar a trabalhar com este doente no sentido de reduzir o consumo. Até porque esta é mui-tas vezes uma forma de ele se aperceber

que não consegue reduzir o consumo e que terá de deixar de beber. E mesmo que não passe para uma segunda etapa, a abstinên-cia total, a verdade é que ao diminuir o con-sumo está a diminuir danos para si e para os outros. É sempre uma melhoria da saúde e da qualidade de vida e permite uma abertura dos serviços a um maior leque da população que nos procura. Muitos desses doentes vêm obrigados, por medidas judiciais, a submeter--se a uma avaliação, mercê de processos de condução sob o efeito do álcool ou de violên-cia doméstica. São pessoas que vão aos ser-viços muito contrariadas, que acham que não têm um problema e seria completamente de-sadequado que a primeira abordagem con-sistisse em dizer-lhes que nunca mais pode-rão beber. Desde logo, têm que ser motiva-dos a perceberem qual é a sua relação com o álcool e o que poderão fazer para a melhorar. No caso da violência doméstica, procuramos estabelecer claramente a relação entre o comportamento de consumo e o aumento da resposta violenta. O que pretendemos, nesse caso, é deixar a porta aberta para que o doente perceba que existem formas mais saudáveis para lidar com os problemas, que o álcool não é uma resposta e que beber me-nos lhe dá mais liberdade.

Quer dizer que é possível fazer-se re-

dução de danos no álcool?

AA – Esta é uma das formas. Para as pessoas que não conseguem ou não querem deixar de beber, a redução de danos passa por estratégias para reduzir os consumos e suas consequências, sob o primado do pragmatismo e do humanismo. Da mesma forma, nos doentes já fisicamente muito de-bilitados, deve-se minimizar as consequên-cias orgânicas do consumo excessivo, por exemplo prescrevendo tiamina, ou procu-rando-se diminuir a probabilidade de vir a contrair doenças infeciosas, ou providen-ciar suportes sociais tratando que tenham alimentação e cuidados básicos através de estruturas de apoio. Mas as estratégias de redução de danos vão muito além desta perspetiva, de alguma forma nova no cam-po do álcool. As medidas de redução de da-nos podem também passar por, em deter-minados bares, substituir os copos ou gar-rafas de vidro normal por vidro temperado para diminuir danos resultantes da agressi-vidade. Passam também, pelas medidas restritivas sobre nomeadamente a condu-ção e o uso de álcool, e que têm feito muito pela diminuição do seu consumo e para que este seja visto pela população em ge-ral de outra forma. A atestar a importância deste trabalho a OMS tem, desde há vários anos, uma estratégia global que visa reduzir os danos relacionados com o consumo de risco do álcool.

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Simpósio Patrocinado LUNDBECK: Depres-são e funcionamento

Novas moléculas para o

tratamento da depressão

mantêm eficácia e melhoram perfil de

tolerabilidade do fármaco

Autora: Augusta Vieira-Coelho

Augusta Vieira-Coelho foi uma das prele-tores convidadas a partilhar conhecimentos e práticas no âmbito do XIII Congresso Nacio-nal de Psiquiatria. É doutorada em Medicina (área de Farmacologia), docente na FMUP e Psiquiatra no Departamento de Psiquiatria do Centro hospitalar de S. João Apresentou a comunicação Serotonina e cognição: rele-vância dos antidepressores multimodais. De-pendências conversou, no final, com a do-cente da Faculdade de Medicina da Universi-dade do Porto.

Do que estamos a falar, afinal de con-

tas, quando elegemos como tema a de-

pressão?

Augusta Vieira-Coelho (AC) – Esta-mos a falar de uma doença, que tem um conjunto de sintomas e que tem um grande impacto na funcionalidade dos doentes, nas suas emoções e no sofrimento que causa. Sendo uma doença, tem tratamento e está padronizada uma série de antide-pressores eficazes para o seu tratamento. Como médicos, creio que devemos tam-bém pensar que a depressão tem que ser tratada até ao fim. A pessoa tem que ficar bem sob todos os pontos de vista: se, além de se sentir melhor, voltou ao seu trabalho, se sente bem em família, se consegue di-vertir-se, concentrar-se…

Em que medida urge que esses sinto-

mas sejam detetados logo ao nível do

médico de família?

AC – Claro que sim. São aliás os médi-cos de família que vêem pela primeira vez estes sintomas e estas pessoas que recor-rem aos cuidados de saúde primários, como aliás considero que deve ser. E, mui-tas vezes, a depressão pode ser tratada por esses clínicos. Se o doente não res-ponde adequadamente, no tempo certo ou não remite totalmente, então considero im-portante o acompanhamento na especiali-dade. É óbvio que, da vertente farmacológi-ca, um psiquiatra está dotado de outras competências e capacidades para ajudar no tratamento do doente, sendo que a psi-coterapia também presta aqui um papel fundamental… O ideal seria termos a pos-sibilidade de toda a gente com depressão ter acesso a um tratamento com psiquia-tra…

Acredita ser possível prevenir a de-

pressão?

AC – Pode prevenir-se… Creio que de-pende da natureza da depressão e acres-centaria que todos nós deveríamos estar atentos e pensar de que forma poderemos prevenir a depressão: com vertentes com-portamentais, atividade física regular, estar com a família e organizar o tempo também em função do tempo dedicado a quem as pessoas amam… Agora, haverá também pessoas, num contexto mais marcado pela carga genética e pela hereditariedade, que, mesmo que tudo esteja a correr bem, po-dem deprimir… por vezes até de forma muito grave, o que designamos como de-pressão endógena… E não sei se essas se podem prevenir… Haverá aqui duas popu-lações e diria que nem sempre se pode prevenir. Mas entendo que se deve divulgar ao máximo o que é a depressão como doença e que comportamentos pode o ser humano adotar para a evitar.

Em que medida contribui hoje a farma-

cologia para uma melhor intervenção

sobre a depressão?

AC – Gostava que tivéssemos mais fár-macos. Ainda não temos muitos… Acho que ainda trabalhamos com fármacos que têm muitos anos de existência, quatro dé-cadas, o que, se por um lado representa uma vantagem porque os conhecemos bem quanto a efeitos benéficos e adversos, a verdade é que não se evoluiu muito. Refi-ro-me a aspetos como a causalidade da doença ou de novos alvos… Mais recente-mente, temos visto algumas moléculas que são mais “puras” ou precisas na sua forma de atuação. Não sendo tão “sujas”, aju-dam-nos mais porque os doentes têm me-nos efeitos adversos. Antigamente, para curar uma depressão, a pessoa tomava medicamentos que lhe deixavam a boca

seca, ficava com obstipação, com sono, se-dada… não conseguia funcionar. Hoje em dia, embora não tenhamos elevado o grau de eficácia, mantemos um doente que pode ser totalmente funcional, porque não está “a dormir”, a aumentar o peso, não se sen-te sedado, tonto ou obstipado… E isso é muito bom. Em suma, temos hoje em dia medicamentos mais limpos e com alvos muito mais seleccionados, colocando de lado outros receptores que não revelavam qualquer interesse para o tratamento. Des-ta forma, mantemos a eficácia e melhora-mos o perfil de tolerabilidade do fármaco, o que é muito positivo para o tratamento da depressão.

Ainda do ponto de vista farmacológi-

co, e não só, do tratamento da depres-

são, que sentido fará prestar uma es-

pecial atenção à prevenção da recaí-

da?

AC – Sim, prevenir a recaída é funda-mental. E muitas vezes os doentes abando-nam a medicação porque se sentem bem… É um trabalho que o próprio médico tem que fazer com o doente. Neste caso em particu-lar, existem estudos que demonstram que, ao contrário do que sucede relativamente a ou-tras patologias, é importante manter a medi-cação durante algum tempo, pelo menos um ano depois de o doente estar bem, especial-mente no primeiro episódio. E existem doen-tes que já tiveram mais do que um ou dois episódios para os quais a grande maioria dos estudos aponta para uma utilização mais pro-longada.

O que traz de novo a este congresso

através da sua comunicação?

AC – Vou tentar explicar algo difícil em termos farmacológicos… Quando tratamos a depressão, basicamente, os médicos preten-dem aumentar os níveis de aminas no cére-bro, entre as quais, a mais importante, a se-rotonina… Existem muitas maneiras de au-mentarmos os níveis de serotonina no cére-bro e quase todos os antidepressores o fazem. O que vou tentar explicar é que os no-vos fármacos tentam fazer algo mais: apon-tam para os alvos mais importantes da sero-tonina. Adotando aqui uma analogia com a caça, diria que se trata de utilizar uma arma e um tiro de menor calibre mas de muito maior precisão, com muitos menos efeitos adver-sos em termos de alvo… Basicamente, vou falar sobre estes novos fármacos, que se chamam multimodais porque atuam em vá-rios locais de formas diferentes. E foram de-senvolvidos para a depressão mas também para melhorar aspetos específicos da mes-ma, nomeadamente a cognição: a memória, a flexibilidade de pensamento, a rapidez. É algo novo, A Vortoxietina tem a vantagem de ser um fármaco totalmente único no merca-do. Acho que os investigadores tiveram algu-ma sorte e nós também.

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FNAS – Fórum Nacional Álcool e Saúde:

“Cada vez mais, o farmacêutico é

considerado um elemento integrante

das equipas de cuidados de saúde”

Em que medida pode uma Secção Re-

gional de uma Ordem Profissional con-

tribuir para a promoção da saúde pú-

blica?

Ema Paulino (EP) – O que nós, Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Or-dem dos Farmacêuticos, procuramos fazer é contribuir direta e indiretamente para a pro-moção da saúde pública. Indiretamente, atra-vés dos nossos próprios membros, dos far-macêuticos, uma vez que, enquanto Ordem Profissional, temos a responsabilidade de contribuir para o seu desenvolvimento profis-sional contínuo e para a adequação da sua intervenção às necessidades de saúde públi-ca. Nessa perspetiva, proporcionamos um quadro de competências que os farmacêuti-cos deverão desenvolver de forma a estarem adaptados às necessidades da população que servem, contribuindo, através destes, para a saúde pública. Por outro lado, en-quanto Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos,

temos projetos de intervenção na comunida-de em que, diretamente, contribuímos tam-bém para a promoção da saúde e prevenção da doença. Refiro-me a projetos que temos desenvolvido nos últimos anos e que procu-ram, por um lado, valorizar a profissão farma-cêutica na perspetiva de dar a conhecer o farmacêutico à sociedade como um profissio-nal de saúde a quem a população pode re-correr sempre que tiver questões relaciona-das com a saúde mas, por outro lado, passar também mensagens de promoção de estilos de vida saudáveis desde a mais tenra idade.

Nessa perspetiva, considera a profis-

são farmacêutica devidamente dignifi-

cada e reconhecida em Portugal?

EP – Creio que podemos abordar essa questão de duas formas… Uma delas, muitíssi-mo importante, tem a ver com a perspetiva da população, que valoriza claramente o farma-cêutico e o reconhece, nomeadamente o far-macêutico comunitário, com o qual interage mais frequentemente, como alguém com quem pode contar. Na verdade, a farmácia é muitas vezes a porta de entrada no sistema de saúde, portanto, nessa perspetiva, há uma valorização do papel do farmacêutico porque existe essa confiança depositada pela população. Por ou-tro lado, temos vindo a defender uma maior va-lorização e integração deste papel do farma-cêutico no sistema de saúde de uma forma mais formal. A título de exemplo, o farmacêuti-co ainda não tem acesso à Plataforma Dados em Saúde, o que seria importantíssimo para podermos obter informação útil ao acompanha-mento daquela pessoa e registarmos informa-ção que recolhemos e que seria também útil para os outros profissionais de saúde. Do pon-to de vista operacional, falha por vezes esta in-tegração e reconhecimento que favoreceria a articulação e o acompanhamento da pessoa. Por outro lado, há o reconhecimento dos servi-ços que o farmacêutico presta nas farmácias comunitárias, por exemplo, em que não existe uma remuneração direta associada.

Falamos do Ato Farmacêutico…

EP – Exatamente. Temos um serviço que já é remunerado, relativamente ao qual já houve um avanço desde janeiro do ano pas-sado, o serviço de troca de seringas, que as

farmácias já disponibilizavam há vários anos e em que os farmacêuticos se envolveram de forma muito afincada mas existem muitos ou-tros serviços que os farmacêuticos desenvol-vem e que não são remunerados. A remune-ração passa pela dispensa dos medicamen-tos, um acto que também acrescenta valor mas existem outros serviços que apenas são sustentáveis por um lado integrados no siste-ma de saúde, com comunicação com os ou-tros profissionais e, por outro, se forem remu-nerados diretamente. No ano passado, tive-mos uma conquista resultante de uma luta de três décadas, a carreira farmacêutica no SNS, nomeadamente para os farmacêuticos hospitalares, o que se traduziu em mais um passo na valorização do papel do farmacêuti-co no SNS. Temos dado pequenos passos, ainda há muito a fazer mas, cada vez mais, o farmacêutico é considerado um elemento in-tegrante das equipas de cuidados de saúde, mesmo por parte dos outros profissionais de saúde. Tem havido muita colaboração com médicos, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais na procura da forma mais efi-ciente de trabalharmos em conjunto mas diria que ainda há caminho pela frente.

Um dos grandes passos que os far-

macêuticos têm dado e que decorrem

mesmo da sua habilitação legal para o

exercício, resultam da constante fre-

quência de formação e, a esse nível, as

secções regionais têm desempenhado

um papel de excelência. Em que medi-

da tem a Secção Regional do Sul e Re-

giões Autónomas da Ordem dos Far-

macêuticos procurado contribuir para

este desígnio?

EP – É importante recordar que a Ordem dos Farmacêuticos reconheceu, há mais de dez anos atrás, o desenvolvimento profissional contínuo como absolutamente fundamental para manter a relevância da intervenção farma-cêutica e, nessa perspetiva, criou uma obriga-toriedade desse desenvolvimento profissional contínuo e um sistema de creditação de ativi-dades de formação que possibilitam ao farma-cêutico ir atualizando os seus conhecimentos e adaptando-os à mais recente evidência técni-co-científica. Nessa perspetiva, o papel das secções regionais tem sido identificar áreas em

27

que existem lacunas, disponibilizando ações de formação para que os farmacêuticos pos-sam fazer a revalidação dos seus conhecimen-tos. No entanto, reconhecemos que este papel da Ordem não se faz sozinho… Existem, feliz-mente, muitas outras entidades que desenvol-vem ações de formação contínua para farma-cêuticos nas suas várias áreas de atividade e, nessa perspetiva, a Ordem tem o Conselho de Qualidade e Admissão, que analisa essas ações de formação e as credita com vista à re-validação das carteiras profissionais. Portanto, o papel da Ordem, do ponto de vista da dispo-nibilização de ações de formação, é comple-mentar ao que existe no mercado e torna-se mais importante na identificação de áreas que não estão tão exploradas. Na Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos identificámos as diferentes áreas de atividade, com a farmácia comunitá-ria, a farmácia hospitalar, a distribuição farma-cêutica, a indústria farmacêutica, a área regula-mentar e a área das análises clínicas, e consti-tuímos, grupos de trabalho que analisaram o que estava disponível e o que fazia falta, dese-nhando um plano de formação que a Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Or-dem dos Farmacêuticos se encontra a opera-cionalizar.

As farmácias portuguesas revelaram-

-se uma plataforma pioneira na redu-

ção de danos, através da adesão ao

Programa de Troca de Seringas, con-

tribuindo para a minimização de um

grande problema de saúde pública, en-

tretanto aderiram também ao progra-

ma de substituição opiácea e, mais re-

centemente, chegam à área do álcool.

Em que medida resulta este envolvi-

mento nos comportamentos aditivos e

nas dependências da identificação de uma necessidade no terreno?

EP – Sim, sem dúvida! Nós, enquanto far-macêuticos e enquanto profissional de saúde que está muito perto da comunidade, sentimos como responsabilidade própria contribuir para uma melhor saúde da população que servimos. O facto de termos uma rede tão bem distribuída pelo território nacional e quem tem uma porta aberta muitas vezes durante mais horas do que outras estruturas de saúde existentes na zona ou mesmo com farmácias existentes em zonas onde não existem outras estruturas de saúde representa também uma responsabilidade para que programas de redução de danos e de pre-venção da doença cheguem à população. Este envolvimento das farmácias, tanto no Progra-ma de Troca de Seringas como na substituição opiácea acaba por ser uma resposta que tinha de ser dada e que, muito provavelmente, algu-mas populações não teriam se não fossem pro-porcionadas pelas farmácias. Há aqui também uma responsabilidade social evidente e, por exemplo, no que toca ao álcool, enquanto es-truturas próximas da comunidade que estabe-lecem uma relação de grande proximidade e

confiança com as pessoas, identificamos deter-minados sinais e são-nos colocadas questões, pelo que o farmacêutico também sente essa necessidade de adquirir conhecimentos para poder responder de uma forma mais informada e construtiva.

É nesse sentido que surge a vossa

adesão ao FNAS…

EP – Exatamente… Ainda há dias partici-pava numa reunião do FNAS em que dizia que, na minha farmácia, tenho um expositor em que os alcoólicos anónimos costumam afixar materiais e contactos e esses são os folhetos que mais saem… Efetivamente, há uma procura de informação por parte da po-pulação e nós sabemos que existe um pro-blema. Nessa perspetiva, faz todo o sentido que Ordem dos Farmacêuticos se envolva, por um lado para capacitar o farmacêutico para dar resposta sempre que é confrontado com uma questão, uma dúvida ou um pedido de ajuda e, por outro lado, para prevenirmos este tipo de situações. Sabendo-se que te-mos uma população que começa a consumir bebidas alcoólicas muito precocemente e tendo nós uma grande tradição de idas às escolas desenvolver inúmeras ações em di-versas temáticas, faz todo o sentido alargar-mos também essa intervenção ao álcool.

Faria sentido a criação de uma via de

referenciação do farmacêutico para o

médico de família, atual “responsável”

pela referenciação para os cuidados

especializados em comportamentos

aditivos e dependências?

EP – Sem dúvida! Essa é uma das nos-sas propostas e até um dos compromissos que assumimos: trabalhar com o SICAD no sentido de desenvolver um fluxograma de atuação para os farmacêuticos, em que estes saibam como atuar mas também como refe-renciar, definindo linhas de orientação espe-cíficas e disponibilizando aos farmacêuticos que estão nas farmácias comunitárias infor-mação relativamente aos centros para onde podem encaminhar as pessoas.

Que ações tem desenvolvido a Secção

Regional do Sul e Regiões Autónomas

da Ordem dos Farmacêuticos no âmbi-

to do FNAS?

EP – No âmbito do FNAS, temos participa-do em todas as reuniões no sentido de perce-ber como podemos adaptar alguns projetos que temos desenvolvido para contribuirmos para o atingimento dos objetivos do FNAS. Nesse âmbito, temos um projeto, a Geração Saudável, que se enquadra no eixo da promo-ção da saúde e já desenvolvemos há seis anos, no seio do qual abordamos várias temáti-cas nas escolas. Começámos pela alimenta-ção saudável, estamos atualmente na área da Diabetes e na área do Uso Responsável do Medicamento. Há três anos atrás, quando ini-

ciámos esta parceria com o SICAD e a partici-pação nos Fóruns, identificámos a área das de-pendências como uma das temáticas a traba-lhar igualmente junto das escolas. Desenvolve-mos uma série de vídeos, nomeadamente sobre álcool e tabaco, dirigidos a crianças do 5.º e 6.º ano que procuram alertar para a ques-tão dos pares, para a importância da aquisição de competências de decisão e da elevação da autoestima e da adopção de comportamentos saudáveis. Em cada ano letivo, visitamos cerca de 60 escolas e abrangemos aproximadamen-te 15 mil alunos. Atualmente, temos também o projeto Geração Saudável Sénior, em que nos propomos fazer uma adaptação destes mate-riais para uma população mais idosa, sabendo que temos também bastantes problemas de al-coolismo nesta faixa etária. Partindo das abor-dagens que desenvolvemos no âmbito dos workshops de formação que versam áreas como a Diabetes e o Uso Responsável do Me-dicamento, poderemos proceder também a uma caracterização do consumo de álcool nes-ta população e passar mensagens, que gosta-ríamos de desenvolver em parceira com o SI-CAD, no sentido de alertar para os sinais de um consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de poder dar informações úteis a pessoas que sentem que necessitam de ajuda.

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Mundipharma introduz nova “ferramenta” de redução de riscos:

Naloxona de inalação nasal poderá chegar

aos utilizadores até ao próximo verão

Fale-nos um pouco da Mundipharma

Salvador López (SL) A Mundipharma, além, de ser uma multinacional americana, com presença em todos os continentes e mais de 50 países no mundo e um nível de facturação a rondar os 4 mil milhões de dóla-res, é uma empresa que veio para Portugal para mudar o paradigma do sector farmacêu-tico. É para nós um motor de energia saber-mos que estamos a fazer algo para além de vendermos medicamentos. Todos os colabo-radores da Mundipharma estão unidos por um desígnio comum, que consiste em deixar um legado às próximas gerações que garan-ta um sistema de saúde melhor do que aque-le que existia antes de chegarmos. Os valo-res da Companhia podem resumir-se em três pilares, um é o espírito guerreiro, que signifi-ca que temos que ser ambiciosos e exigir o máximo de nós, saindo da nossa zona de conforto e fazendo o que ninguém teve ainda a coragem de fazer; outro pilar resume-se na expressão coração prestativo e tem a ver com o apoio que prestamos uns aos outros, com o trabalho em equipa e com o facto de podemos oferecer aos nossos clientes e par-ceiros ajuda em parcerias e projetos de que possa resultar um bem maior, neste caso para os doentes e pessoas que usam drogas; e o terceiro pilar é a atitude de diversão. Não faz sentido, para nós, um trabalho sem um ambiente descontraído, sem a procura da fe-licidade e de a obtermos através da partilha dos momentos em que estamos juntos.

Sendo a Mundipharma uma multina-

cional americana, o que acaba de afir-mar parece ser contrário ao tradicional

espírito individualista do país…

SL - Talvez se deva à influência do líder, do fundador em Portugal… Os valores que estamos a implementar em Portugal têm muito a ver com a minha experiência pes-

soal e profissional e com a influência que recebi, entre outros, dos fundadores, os ir-mãos Sackler, dois irmãos que emigraram da Europa de Leste para os EUA e que, graças ao seu espírito empreendedor, com-praram um laboratório farmacêutico, inicia-ram a sua atividade e espalharam o negó-cio por todo o mundo. Mas o espírito e os valores que estas pessoas tinham foram transmitidos a todos os líderes da organiza-ção, geração após geração e, podemos re-sumir que, para eles, o mais importante foi incutir nos colaboradores que devem gerir o negócio como se fosse próprio. Por isso, designamos aqui todos os profissionais como directores gerais, seja em relação a uma função ou a um território, dotando-os da devida autonomia e responsabilidade quanto à tomada de decisão e assunção de risco. Esta filosofia de sair da zona de con-forto e de fazer coisas diferentes, que tra-gam um valor acrescentado vem dos pró-prios fundadores, que também evidencia-ram essa diferença nos EUA. Também por isso, pretendemos chegar a Portugal e dife-renciar-nos da restante indústria farmacêu-tica.

No seio dessa diferença, gostaria que

nos falasse sobre esse medicamento

inovador, que poderá evitar mortes por

overdose…

SL - A Naloxona em solução para pulveri-zação nasal, aprovada na Europa e mais re-centemente, em Portugal, será um medica-mento que fará toda a diferença, uma vez comparticipado pelo Estado. Um dos maiores orgulhos que os colaboradores da Mundi-pharma terão será poder trazer ao mercado um medicamento que poderá salvar uma vida. Nem todos os medicamentos poderão representar isso e, para nós, é muito impor-tante podermos contribuir para a sociedade e

para as pessoas que usam drogas, através de um fármaco que, no caso de acontecer um erro, como sucedem, que os pares pos-sam ajudar, evitando uma morte por overdo-se, problemática que tem vindo a crescer.

Em suma, aguardam apenas a compar-

ticipação do medicamento para que o

mesmo se encontre disponível…

SL - Exatamente. Já foi autorizado, falta a negociação com o Infarmed para que o mes-mo seja comparticipado.

O que justifica essa comparticipação?SL - Obviamente, a mais valia deste pro-

duto é poder estar com as pessoas e nos lo-cais onde é necessário. A Naloxona existe no mercado, injectável, mas representa o pro-blema de apenas ser utilizada pelo INEM ou nos hospitais. E não é atualmente possível a

É pelo menos expectável que, a partir do próximo verão, os utilizadores de drogas em território nacional venham a dispor de um dispositivo que permitirá reduzir o número de mortes por overdose. A utilização é simples e intuitiva, traduzida num dispositivo de inalação nasal de naloxona, já

autorizado no seio das agências europeia e nacional do medicamento. Basicamente, em caso de emergência de overdose, bastará a inalação numa ou em duas vezes, do composto para inalação à base de Naloxona, para que muitas mortes se evitem, numa altura em que Portugal continua a evidenciar registos bem negativos a este nível. Uma das possíveis desvantagens de acessibilidade a este fármaco inovador, é que este dispositivo continuará a ser considerado um medicamento, o que poderá constituir uma barreira à sua mais adequada distribuição e utilização, uma vez que continuará sujeito a prescrição médica. Uma estratégia de distribuição mais direta a utilizadores de opiáceos ou em contextos problemáticos de uso seria provavelmente a

forma mais eficaz de chegar a quem mais precisa mas, pelo menos numa primeira fase, o dispositivo deverá ser distribuído através das equipas de rua e outras estruturas de redução de danos, bem como nos CRI (Centros de Resposta Integrada). Dependências foi conhecer melhor esta nova ferramenta

terapêutica, numa visita à Companhia Farmacêutica que a está a introduzir no mercado, a Mundipharma.

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utilização deste medicamento num tempo adequado e num lugar adequado.

Como funciona este medicamento?SL - O spray nasal de Naloxona desti-

na-se a administração imediata, como tera-pêutica de emergência para uma sobredo-sagem por opiáceos conhecida ou suspei-ta, pode reverter uma overdose nos locais onde estas acontecem, ou seja, onde as pessoas usam drogas, contextos não clíni-cos e de cuidados de saúde. Trata-se de um spray de utilização muito simples, bas-tando colocar-se no nariz e pressionar um “botão”. O pack é constituído por dois inala-dores, obedecendo a uma informação cien-tífica que nos indica que, a dose recomen-dada em adultos e adolescentes com idade igual ou superior a 14 anos é de 1,8 mg, a ser administrada numa narina (uma pulveri-zação nasal). Em alguns casos, poderão ser necessárias doses adicionais. Se o doente não responder, deverá ser adminis-trada a segunda dose após 2-3 minutos.

Quem pode administrar este spray na-

sal?SL - Este medicamento é sujeito a pres-

crição médica mas pode ser dispensado por qualquer pessoa que seja testemunha de uma overdose.

Presumo que possa particularmente

ser útil, por exemplo, no âmbito da in-

tervenção das equipas de rua…

SL - Sim, e creio que é por aí que temos que trabalhar, neste sentido. E se quisermos resolver este assunto, devíamos dar mais po-der às equipas de rua, disponibilizando-lhes mais recursos, não só económicos mas tam-bém humanos. São estes técnicos que estão presentes no dia-a-dia dos utilizadores proble-máticos de drogas, são seus interlocutores de

confiança e serão obviamente os mais habilita-dos para os auxiliar. Mas também entendo que este medicamento deveria estar disponível nos CRI, nas eventuais salas de consumo e, obvia-mente, em todos os lugares em que habitam todas estas pessoas que usam drogas. É utópi-co pensar que as pessoas que usam drogas entrarão no circuito “oficial”…

Está prevista a realização de ações de

formação por parte da Mundipharma,

no sentido de habilitar profissionais para a administração deste medica-

mento?SL - Sim, para além de disponibilizar este

produto, a Mundipharma assumirá o compro-misso de “ensinar e educar” os utilizadores, quer sejam os Profissionais de Saúde, quer sejam os próprios doentes. Obviamente, também teremos uma responsabilidade junto dos profissionais de várias especialidades das equipas de rua, dos CRI e das ET mas devo acrescentar que este é um dispositivo de muito simples utilização e muito intuitivo. A própria forma do dispositivo é sugestiva rela-tivamente à utilização nasal e, com as indica-ções gráficas que o pack apresenta, diria que quem contacta com este medicamento per-cebe claramente que não existe qualquer ou-tra forma de o utilizar senão a adequada. Contudo, indo ao encontro da sua questão, devo realçar que o mais importante de tudo é “ensinar” as pessoas a reconhecerem uma overdose. A utilização do dispositivo é muito simples, a dificuldade estará na identificação de uma overdose e, por isso, entendemos que as equipas de rua terão as pessoas mais indicadas para desenvolverem esse trabalho e, também por isso, referia a necessidade de alocar mais recursos a estas estruturas. Hoje em dia, as equipas de rua não integram um médico e seria muito útil incorporar este tipo de profissional de saúde, nomeadamente

para poderem fazer a prescrição e adminis-tração de determinados medicamentos, como este.

Que avaliação poderá a Mundipharma

partilhar relativamente a prévios en-

saios com este medicamento?SL - Como saberá, todos os medicamen-

tos, para serem aprovados, têm que ser su-jeitos a ensaios clínicos. Este medicamento foi aprovado pela EMA (Agência Europeia do Medicamento) e também pelo Infarmed, após revisão dos ensaios clínicos de eficácia e se-gurança, portanto, trata-se de um medica-mento eficaz e seguro para reverter a over-dose.

Onde e como poderá ser este medica-

mento disponibilizado?SL - Os timings dependerão do Infar-

med. Estamos à espera, sendo que a nos-sa vontade é disponibilizar o produto o mais rapidamente possível. Existem proce-dimentos regulamentares de “fast track” ou de uma comparticipação mais rápida do que a habitual e creio que este medicamen-to deveria seguir esse percurso, após ter-mos demonstrado a eficiência do fármaco. A lei prevê isso e estamos numa situação em que acrescentamos o risco de morte a cada dia que passa porque temos um medi-

Produtos de substituição deveriam ter uma comparticipação especial

“As pessoas que usam drogas experi-mentam, a cada momento, substâncias no-vas, como tem vindo a suceder recente-mente com o Fentanilo. Creio que, a nível político, devíamos tentar que essas pes-soas possam consumir substâncias segu-ras. Há muitas formas de consegui-lo, seja através das equipas que testam a qualidade das drogas, quer através da implementação de salas de consumo que, espero, sejam implementadas até ao final do ano, quer através dos drop in… Em suma, é funda-mental que consigamos que estas pessoas consumam substâncias “oficiais” e seguras para poderem estar, dentro do possível, in-seridas na sociedade. A metadona é hoje um medicamento fabricado pelo próprio la-boratório militar e disponibilizado de forma gratuita mas não é propriamente uma solu-ção. As pessoas que usam metadona têm que a ir buscar todos os dias, algumas co-mercializam ilegalmente parte da mesma, o mesmo sucedendo com a buprenorfina e o que devíamos tentar é que os programas de substituição se tornassem também gra-tuitos e termos uma comparticipação espe-cial para os produtos de substituição, que permitirão que os doentes tenham uma vida mais “normal”, evitando muitos riscos de consumos de substâncias ilegais. O meu apelo às autoridades vai então para uma

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André Tadeu realizou o estudo, no seio do ISPUP:

Utilizadores de drogas

mais problemáticos preferem

serviços especializados

Portugal tem vindo a revelar-se um case study no que concerne à aproximação dos utilizadores de drogas (UD’s) de alto risco aos Serviços Nacionais de Saúde. No entanto, e de acordo com um estudo realizado por André Tadeu, investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

(ISPUP), junto de 321 UD’s, 52 por cento dos utilizadores de drogas não frequentam os Centros de Saúde, optando por serviços especializados, onde podem beneficiar nomeadamente de tratamentos de substituição e de consultas da especialidade hospitalar de infeciologia. Em suma, percebe-se que os

cuidados de saúde primários não beneficiam do desenho mais apelativo para a captação de grupos minoritários. De acordo com André Tadeu, as principais barreiras identificadas prendem-se com a perceção, uma vez que os inquiridos referiram não sentir necessidade de recorrer aos centros de

saúde e existirem serviços alternativos que melhor respondem às suas necessidades. No entanto, muitos UD’s não estão inscritos nos centros de saúde e não têm médico de família. O Usodrogas.pt é um estudo nacional que elege como objetivo recolher informação sobre os padrões de consumo de drogas, o estado de saúde física e mental e o nível de utilização dos serviços de saúde dos utilizadores de drogas em Portugal. Com esta informação, espera-se

obter uma imagem realista do uso de drogas em Portugal e assim fundamentar tomadas de decisão sobre políticas de saúde pública relacionadas com a utilização de drogas. Dependências foi conhecer o estudo, apresentado em entrevista por André Tadeu.

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Como surge esta sua ligação à área

dos comportamentos aditivos e de-

pendências?

André Tadeu (AT) – No seio do ISPUP, no âmbito da minha frequência no Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP), o Professor Henrique Barros solicitou uma co-laboração para a realização de um estudo que resultasse numa estimativa sobre a po-pulação utilizadora de drogas a céu aberto no Porto. Aceitei o desafio de participar como entrevistador o e, quando fui para o terreno, constatei que havia muitas imagens que ti-nha guardadas na memória desde a minha infância que se mantinham. Era minha obri-gação acabar este curso de especialização com um protocolo para começar a investigar no ano seguinte e propus que, para além da contagem, tentássemos perceber se estas pessoas careciam ou não de mais ajuda. En-tão, propus tentarmos perceber se as pes-soas estavam a ser bem seguidas em termos de saúde, nomeadamente no que concerne ao VIH, Hepatite C e saúde mental. -. Como base para percebermos se as pessoas esta-riam ou não a ser bem seguidas, havia que questioná-las, tentando medir os níveis de utilização dos serviços de saúde por parte destas pessoas que têm consumos de alto risco de drogas no Porto. Também era nossa intenção perceber com que barreiras se de-param e recolher dados sociodemográficos, de saúde e hábitos de consumo por forma a conhecermos as determinantes mais impor-tantes para as pessoas irem mais ou menos aos serviços. Como é óbvio, fiz também uma revisão bibliográfica, recolhi muitos artigos e escrevi um protocolo, que apresentei no final do ano passado, ao que se seguiu a devida preparação para a realização do estudo. Contactei instituições como a CASO, que veio comigo para o terreno, estabelecendo o

primeiro contacto com os utilizadores e ou-tras ONG que trabalham no terreno, bem como estruturas de saúde, onde procurámos perceber com que celeridade e através de que processos eram referenciadas, por exemplo, pessoas que não estavam a ser se-guidas mas que tinham feito um diagnóstico de Hepatite C ou VIH… Neste sentido, criá-mos um protocolo de referenciação com os Serviços de Infeciologia de três hospitais (Centro Hospitalar do Porto, Centro Hospita-lar São João e Centro Hospitalar V.N. Gaia--Espinho) e com o Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar São João para garantirmos uma reposta às necessidades dos UD’s parti-cipantes no estudo.

Entretanto, este trabalho de investiga-

ção foi premiado num congresso reali-

zado na Suécia…

AT – Sim, tratou-se do Congresso Euro-peu de Saúde Pública. Já tinha terminado a aplicação dos questionários no terreno e es-tava a introduzi-los na base de dados, quan-do a minha orientadora do ISPUP, Ana Isabel Ribeiro, me informou que haveria uma pré--conferência desse congresso cujos custos inerentes à minha eventual participação se-riam suportados pela organização caso en-viasse um abstract que fosse seleccionado. Acabei por ser seleccionado para apresentar um poster, entretanto terminei a introdução dos dados, fiz a análise e escrevi o relatório para o meu internato e construí o poster para participar no congresso. Esse poster foi pre-miado numa pré-conferência da Associação Europeia de Escolas de Saúde Pública (AS-PHER).

O que perguntavam em concreto aos

utilizadores de drogas e que principais

conclusões obtiveram acerca da ade-

são dos mesmos aos serviços de saú-

de?

AT – Nós perguntávamos às pessoas se tinham recorrido a algum serviço de saúde nos últimos 12 meses. Se respondessem afirmativamente, perguntávamos a quais, desde centro de saúde a hospital, o que in-cluía consulta, urgência e internamento, pú-blico e privado, serviços especializados dos Centro de Respostas Integradas (CRI), equi-pas de rua ou outro, nomeadamente aqueles prestados por ONG. Uma das conclusões é que as pessoas vão… Ou seja, o sistema funciona. Em 321 pessoas, 85 por cento te-rem ido pelo menos uma vez nos últimos 12 meses é muito bom, sobretudo numa popula-ção como esta, e comparando com estudos semelhantes realizados noutros países, nos quais não existem políticas de descriminali-zação de drogas nem estratégias tão fortes de redução de riscos e minimização de da-nos.

Parece-lhe que os mecanismos de re-

ferenciação estão a funcionar adequa-

damente?

AT – Pelo menos em parte sim… Mas temos que perceber que estes 85 por cento são alicerçados fundamentalmente em dois tipos de serviços: os serviços especializa-dos, nomeadamente os CRI e equipas de rua, e os serviços de especialidade hospi-talar, nomeadamente de infeciologia. E mais de metade da amostra negligencia os centros de saúde. Como determinantes para não irem aos centros de saúde, en-contrámos o facto de serem VIH positivos ou tomarem metadona, o que coincide com as barreiras constatadas, nomeadamente o facto de afirmarem não sentirem necessi-dade e considerarem que existem serviços alternativos que respondem melhor às suas necessidades. No entanto, insisto que tudo isto representa barreiras de perceção. Não será porque a pessoa não sente necessida-de que não é aconselhável ir… Até pelo en-velhecimento que estes utilizadores apre-sentam, em que 51 por cento tinham acima dos 45 anos, é importante começarem a ser acompanhados na sua saúde de forma mais holística e efetiva. Por outro lado, per-cebe-se que esta população, morrendo mais tarde do que acontecia há uns anos atrás, continua a morrer mais cedo e mais do que a população em geral. Mas, atual-mente, os UD’s morrem pelas mesmas cau-sas (doenças cérebro-cardiovasculares, tu-mores, doenças do aparelho respiratório, etc.) que afetam a população em geral atri-buíveis aos mesmos fatores de risco. Gra-ças às medidas de redução de riscos e mi-nimização de danos, diminuíram os estilos de vida de risco diretamente relacionados com as drogas e foi-se conseguido contro-lar determinadas infeções, aumentando a sobrevida das pessoas e dando azo ao sur-gimento destas patologias.

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II Congresso Internacional do Projeto Homem decorreu em Braga:

Ecologia(s) das dependências: Entre a utopia e a limitação

No âmbito do encerramento das comemorações dos 25 anos do Centro de Solidariedade de Braga, o Projecto Homem organizou, em

colaboração com a Universidade Católica de Braga, o II Congresso Internacional Do Projecto Homem, subordinado ao tema

“Ecologia(s) das dependências: Entre a utopia e a limitação”.

As últimas décadas foram marcadas por fortes mudanças a diversos níveis, com influência no percurso das pessoas. As mudanças sociais e

tecnológicas trouxeram oportunidades e utopias ao mesmo tempo que nos confrontam com os nossos próprios limites e limitações. As

dependências são, além de perturbações do comportamento, sinais e sintomas destas

alterações no sistema ecológico em que nos desenvolvemos. Se as mudanças ocorridas se

estendem a níveis diversos - da família, à escola, passando pelos avanços tecnológicos e

problemas sociais - também os contributos para a sua explicação e intervenção beneficiam do

diálogo interdisciplinar para uma compreensão mais profunda deste fenómeno complexo e

multideterminado.Cruzando saberes, num contexto

interdisciplinar e internacional, pretendeu-se promover a reflexão e o debate sobre os

desafios na compreensão e na intervenção junto de pessoas com dependências e comportamentos aditivos. Reunindo

especialistas na intervenção junto dos mais jovens aos mais velhos e às famílias, em

conferências e mesas redondas, pretendeu-se criar um contexto de encontro para a aprendizagem e a partilha, esperando

contributos para a melhoria das práticas da prevenção ao tratamento.

O encontro, que reuniu académicos, investigadores, instituições, comunidades e todos os interessados a contribuir para este debate sempre actual e desafiante, decorreu entre 4 e 5 de dezembro de 2017, pelas 10 horas, na Aula Magna da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, no Centro

Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa. Dependências esteve presente e

entrevistou Sara Leite, coordenadora dos projetos PORI que o Projeto Homem promove em Vila Nova de Famalicão e responsável pelo

Departamento de Investigação, Desenvolvimento e Inovação do Projeto

Homem.

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Que principais marcos destacaria nesta história de 25 anos de apoio socio-sanitá-rio que o Projeto Homem tem desenvolvi-do?Sara Leite (SL) – Numa fase inicial, destaca-

ria o facto de termos sido uma instituição pioneira na questão do tratamento das dependências, ini-cialmente químicas, sobretudo da heroína, que era o grande problema dos anos 80 e 90, sobretu-do na região norte, onde não havia uma resposta para esta população. E o facto de termos conse-guido, ao longo destes 25 anos, responder aos desafios que a própria sociedade nos foi lançan-do, face às transformações que foram acontecen-do. Deparámo-nos com a questão da mudança do perfil do consumidor, com a mudança do próprio consumo das substâncias, tivemos que nos adap-tar ao advento do consumo do álcool, que passou a ser tratado e olhado numa perspetiva diferente, a questão da problemática dos jovens e dos ado-lescentes, a questão da prevenção dos CAD e dos comportamentos de risco, a própria redução de danos, área em que nos focamos desde 2008… Fomos sempre tentando acompanhar os desafios impostos pela sociedade e estamos hoje, no encerramento do 25º aniversário, a apontar também para o futuro, refletindo sobre as mudan-ças da sociedade. Também temos que nos adap-tar perante uma sociedade que apresenta desa-fios próprios desta quarta revolução industrial, em que temos todas as novas tecnologias e um mun-do à distância de um clique. E começamos a pen-sar no desenho de novas respostas para a ques-tão destas dependências mais tecnológicas e comportamentais.

Quais são as respostas que o Projeto Ho-mem oferece atualmente na área dos CAD?SL – Atualmente, temos a comunidade tera-

pêutica com programas específicos: um geral, para as dependências clássicas, temos um pro-grama específico para pessoas com problemas relacionados com o álcool, um programa específi-co para menores - jovens e adolescentes - e rein-serção social, tudo isto em Braga. Em Vila Nova de Famalicão, temos três projetos PORI, um no

âmbito da prevenção, outro na redução de danos e outro na reinserção. Temos ainda algumas res-postas que desenvolvemos nos estabelecimentos prisionais de Braga e de Guimarães. Para o ano 2018, temos a perspetiva da abertura de uma co-munidade de longa duração porque o perfil dos consumidores mais velhos exige, de facto, uma resposta diferenciada da que é prestada pela co-munidade tradicional. Temos também a perspetiva do tratamento para as dependências comporta-mentais e sem substância e estamos a trabalhar no desenho de novas respostas para 2018.

Essa intenção da abertura de uma comu-nidade terapêutica para programas de lon-ga duração parece pertinente, sobretudo numa altura em que os consumidores clás-sicos são pessoas envelhecidas e a neces-sitarem de outros tipos de cuidados, com um maior foco na saúde e nem tanto na re-inserção… Em que medida estarão esses objetivos mais humanistas presentes na conceção do projeto?SL – É sobretudo a pensar nisso… De facto,

estamos perante uma população envelhecida, constituída pelos “velhos” heroinómanos e consu-midores de longa duração de álcool, pessoas que se situam entre os 50 e os 70 anos de idade e que carecem de uma intervenção absolutamente dife-renciada. E como se pode perspetivar a reinser-ção social de uma pessoa que tem 60 anos e que, seguramente, já não conseguirá assegurar um lu-gar no mercado de trabalho mas que, por outro lado, também é ainda novo demais para conseguir uma pensão por reforma ou invalidez? Temos que pensar numa resposta para acompanhar esta franja, mais humanista porque se dirige a uma po-pulação mais vulnerável, dimensionada na área da estimulação cognitiva, na área dos cuidados de saúde e numa perspetiva muito holística e multi-disciplinar.

O Projeto Homem tem, na sua génese, a ar-quidiocese de Braga… Em que medida tem sido possível combinar o binómio religião com a evidência científica e todos estes ta-

bus que têm que ser admitidos e supera-dos? Recordo que a Sara leite tem a seu cargo uma área de investigação e inova-ção na instituição…SL – Sim, é possível combinar e conseguimos

fazê-lo. A nossa génese é, de facto, a arquidioce-se de Braga e o Centro de Solidariedade de Braga tem esse cariz sócio caritativo da Igreja. Por outro lado, nos estatutos temos também o carácter aconfessional da nossa resposta, portanto, temos obviamente a perspetiva humanista que a Igreja nos dá mas não meramente assistencialista por-que pretendemos aportar algo mais a esta abor-dagem e, por outro lado ainda, temos a questão dos profissionais, que são treinados e formados. E temos ainda esta componente da investigação, do desenvolvimento e da inovação, ou seja, vamos beber sobretudo à ciência e à evidência científica para implementarmos as nossas respostas. E devo dizer que a avaliação é uma constante dos nossos projetos, quer através do SICAD, quer ao nível dos projetos PORI. Também com a criação deste Departamento de IDI, graças a uma parce-ria com a Universidade Católica, também preten-demos investir cada vez mais na avaliação do nosso desempenho, resultados e impacto.

Que avaliação faz deste encontro?SL – A avaliação é muito positiva. Primeiro,

por conseguirmos juntar um conjunto de saberes, desde a Antropologia à Filosofia, passando pelo Serviço Social ou pela Psicologia. Conseguimos trazer pessoas dos EUA, da Grã-Bretanha, de Itá-lia e de Espanha, o que também nos enriquece e à nossa perspetiva, sobretudo a partir dos vários Projeto Homem de Espanha e Itália, com os quais temos uma génese comum e um modelo de inter-venção biopsicossocial também comum. Portanto, o balanço é muito positivo, marcando o encerra-mento de um ciclo de 25 anos e abrindo a possibi-lidade de um novo ciclo, virado sobretudo para as mudanças da sociedade contemporânea e dos problemas que vão surgindo, aos quais temos que responder com eficácia, competência, rigor cientí-fico mas também com humanismo.

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Artigo de Opinião, Sónia Ratinho, Brand Manager, Genéricos Azevedos

Genéricos: Dedicação, literacia e confiança

Desde há alguns anos que o Ministério da Saúde e o Infarmed têm tomado um con-junto de medidas favoráveis ao desenvolvi-mento deste mercado. Incentivos às farmá-cias e campanhas de informação junto da po-pulação contribuíram em muito para o cresci-mento da quota de mercado dos MG. Os dados mais recentes do SNS espelham os resultados desta aposta: a quota de mercado de MG situa-se atualmente nos 47,5%, 7 em cada 10 comprimidos consumidos hoje pelos portugueses são genéricos. Os resultados do Relatório mensal do Infarmed, de Outubro de 2017 destacam também o crescimento no

consumo de MG antipsicóticos bem como para o tratamento da doença Alzheimer, mos-trando a força deste mercado em áreas tera-pêuticas cada vez mais específicas.

O trabalho de literacia da população as-segurado por médicos, farmácias, players da indústria farmacêutica e autoridades de saú-de assume especial importância para o es-clarecimento do conceito de medicamento genérico. Estando perante o mesmo padrão de qualidade, segurança e eficácia, existe uma vantagem extra: o preço. Os preços in-feriores do genérico face ao medicamento de referência democratizam o direito à saúde, reduzem as iniquidades no acesso e contri-buem para uma melhor gestão dos recursos. Para o utente, os genéricos apresentam a vantagem de contribuírem para a poupança direta, a curto e a longo prazo. A este facto junta-se o contributo para a adesão à tera-pêutica. No caso do doente crónico os encar-gos económicos associados à terapêutica são, muitas vezes, o principal fator que pro-

move a não adesão. A vontade do Ministério da Saúde em aumentar o número de MG dis-poníveis, tem permitido ao SNS poupar ver-bas e canalizar investimento para tratamen-tos e serviços de custos mais avultados, in-cluindo o financiamento à I&D. Os mais re-centes dados do Infarmed, divulgados na edição do Diário de Notícias de dia 26 de de-zembro de 2017, indicam uma poupança dos hospitais na ordem dos 30 milhões em com-paração com o ano passado, decorrente da maior utilização de medicamentos genéricos, sobretudo no tratamento do VIH, cancro ou na utilização de antibióticos.

A nível indireto, a existência de MG exer-ce uma pressão descendente e já comprova-da sobre o preço dos medicamentos de mar-ca, beneficiando também os utentes fiéis ao consumo do medicamento de marca. Este fato tem levado os fabricantes de medica-mentos de referência a centrarem-se em no-vas investigações que permitem novos medi-camentos patenteados.

O mercado dos Medicamentos Genéricos (MG) em Portugal tem sofrido várias alterações,

especialmente na última década, relacionadas com alteração de políticas e legislação, mas também

com o aumento do seu consumo, indissociável do acréscimo de confiança por parte dos portugueses. A evolução registada neste mercado resulta desta conjugação de fatores – legislação, confiança e utilização – sustentada pelas vantagens que os MG permitem ao Estado, aos doentes e ao Sistema

Nacional de Saúde (SNS).