relatorio ufrgs parque tancredo neves 28-04-2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PARQUE DOUTOR TANCREDO NEVES, MUNICÍPIO
DE CACHOEIRINHA, RS
RELATÓRIO FINAL DA DISCIPLINA PRÁTICA INTEGRADA DE CAMPO [ECAP – 088]
Dezembro, 2007
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EQUIPE TÉCNICA Equipe *
Profª Drª Teresinha Guerra 1
Profª Drª Sandra Cristina Müller 1
Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Rodrigues 1
Prof. Dr. Eduardo Dias Forneck 2
Doutoranda Judite Guerra 1
Mestranda Letícia Casarotto Troian 1
Mestrando Marcelo Gules Borges 1
Doutoranda Márcia Isabel Käffer 1
Mestranda Vera Ribeiro Troian 1
Acadêmica de Biologia Fabiana Corrêa (estagiária da Prefeitura de Cachoeirinha)
Clodomiro Santos da Silva (Funcionário Parque Municipal Dr. Tancredo Neves)
*Este relatório faz parte da disciplina Prática Integrada de Campo 2007/1 do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. 2 Professor do Centro Universitário La Salle, Canoas, RS, Brasil.
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 4 2 ÁREA DE ESTUDO 5 3 MATERIAIS E MÉTODOS 6 3.1 Levantamento florístico da vegetação e da micota liquenizada 6 3.2 Levantamento fitossociológico do estrato arbóreo 7 3.3 Levantamento fitossociológico do estrato arbustivo 8 3.4 Levantamento da artropofauna 8 3.5 Levantamento da avifauna ................................................................................... 9 3.6 Qualidade da Água .............................................................................................. 9 3.7 Caracterização e Determinação da Capacidade de Carga Turística das Trilhas. 10 3.8 Diagnóstico Sócio-ambiental................................................................................ 15 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 16 4.1 Levantamento florístico da vegetação e da micota liquenizada 16 4.2 Levantamento fitossociológico do estrato arbóreo .............................................. 21 4.3 Levantamento fitossociológico do estrato arbustivo ........................................... 26 4.4 Levantamento da artropofauna ............................................................................ 29 4.5 Levantamento da avifauna .................................................................................. 31 4.6 Qualidade da Água ............................................................................................. 35 4.7 Caracterização e Determinação da Capacidade de Carga das Trilhas ................. 38 4.7.1 Trilha do Lago .................................................................................................... 38 4.7.2 Trilha da Vovó .................................................................................................... 39 4.7.3 Trilha da Ginástica............................................................................................... 40 4.8 Diagnóstico Sócio-ambiental ............................................................................... 42 5 CONSIDERAÇÕES .......................................................................................... 53 6 SUGESTÕES ..................................................................................................... 56 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 57
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1. INTRODUÇÃO
A transformação da paisagem em um cenário urbano passa por modificações dos elementos
naturais (solo, clima, ar, água, flora e fauna). Tradicionalmente a relação homem - meio ambiente
ocorre por meio da utilização e consumo de recursos, entretanto é crescente a necessidade de
conservação e restauração ambiental para a própria sobrevivência humana. A partir disto, surge a
necessidade de recuperação e aproveitamento de áreas alteradas e marginais nas cidades, envolvendo
princípios de ecologia e inserção de áreas verdes urbanas.
O aumento principalmente em centros urbanos da população e da urbanização tem resultado
em perda de espécies animais e vegetais, em mudança da composição de espécies para conjuntos
mais cosmopolitas, em alterações das interações, principalmente, entre animais e plantas e de
processos ecossistêmicos, entre outras conseqüências que acabam influenciando fatores abióticos
locais e globais (e.g., clima). Estudos de comunidades vegetais afetadas pelo desenvolvimento das
atividades humanas, relacionadas à urbanização, são importantes ferramentas para a geração de
subsídios ao manejo e manutenção destes ecossistemas. Embora fragilizados, por se encontrarem
geralmente isolados na malha urbana, tais ambientes têm grande valor econômico, estético e social
(Primack 2001), pois ainda mantêm características ambientais próprias de um meio natural não-
urbano.
No Estado do Rio Grande do Sul, ainda podemos encontrar resquícios de ecossistemas
florestais em bom estado de conservação, porém o percentual de cobertura vegetal nativa tem
diminuído anualmente. A cobertura florestal que correspondia, inicialmente, a 40% do território,
encontra-se reduzida atualmente a apenas 6,8% da original (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/ISA
1998). Devido à redução de áreas florestais em proporções aceleradas, tem sido intensificado a
criação de unidades de conservação da natureza pelo poder público municipal. Tais práticas têm sido
elementos propulsores de uma política ambiental ampla, incluindo entre seus objetivos a melhoria da
qualidade ambiental das áreas urbanas e servindo de corredores ecológicos entre estes e ecossistemas
naturais.
Entretanto, práticas de destruição do patrimônio natural são freqüentes nas sociedades atuais
e, com o intuito de coibir a destruição desenfreada do meio ambiente, alguns mecanismos foram
criados em nível nacional, estadual e municipal. São leis e códigos que estabelecem regras de uso dos
sistemas naturais. No Estado do Rio Grande do Sul, o Decreto Estadual Nº. 34.256, de 02 de abril de
1992 cria o Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC, contemplando os Parques
Naturais Municipais como Unidades de Proteção Integral. De acordo com a legislação sobre as
Unidades de Conservação, no seu Art.8 “Cada Unidade de Conservação, dentro de sua categoria,
disporá sempre de um Plano de Manejo, no qual se definirá o zoneamento da unidade e sua
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utilização, sendo vedadas quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização estranhas
ao respectivo Plano”. Desta forma este trabalho teve por objetivo realizar o diagnóstico ambiental do
Parque Doutor Tancredo Neves como subsídio para a elaboração do plano de manejo, tendo como
metas (l) a caracterização da vegetação arbóreo-arbustiva, (ll) o conhecimento da artropofauna e
avifauna, (lll) a avaliação da capacidade de suporte das trilhas, (lv) a caracterização física, química e
biológica dos recursos hídricos e, (v) a realização de um diagnóstico sócio-ambiental do entorno da
área.
2. ÁREA DE ESTUDO
O Parque Municipal Doutor Tancredo Neves está situado no município de Cachoeirinha,
região metropolitana de Porto Alegre, na região fisiográfica da Depressão Central, situada nas
coordenadas geográficas 29º57’04’’ de latitude sul e 51º05’38’’ de longitude oeste (Fig. 1). O Parque
é uma Unidade de Conservação da Natureza, reconhecida pelo município desde 1985 (Lei Municipal
No 811/1985), classificada como Unidade de Proteção Integral, na categoria de uso indireto, cujo
objetivo básico é a preservação ambiental, permitindo, tão somente, o uso indireto do ambiente, salvo
as exceções legais (SNUC 2000). O Parque foi cadastrado no Sistema Estadual de Unidades de
Conservação em 16 de março de 2007 pelo Parecer No 010/2007 da Divisão de Unidades de
Conservação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Possui uma área de área de 17,7 ha, onde são encontradas espécies nativas e introduzidas. O
clima da região é subtropical úmido, tipo Cfa, segundo sistema de Koeppen, com temperatura média
anual de 19,7 ºC e pluviosidade média anual de 1.538 mm. Segundo o Plano Ambiental do Município
(2007), a vegetação do Parque enquadra-se em Floresta Estacional Semidecidual.
No Estado, as florestas estacionais distribuem-se no noroeste (região do Alto Uruguai), na
região central (encostas meridionais da Serra Geral e Depressão Central) e na metade sul, a leste, nas
encostas orientais da Serra do Sudeste (Teixeira et al. 1986).
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Figura 1. Mapa de localização do Parque Municipal Dr. Tancredo Neves. Fonte: Plano Ambiental do Município 2007.
3. MATERIAL E MÉTODOS O levantamento de dados a campo foi realizado no período de 26 de setembro a 17 de
outubro de 2007 no interior e no entorno do Parque Municipal Doutor Tancredo Neves, situado no
município de Cachoeirinha, RS.
3.1 Levantamento florístico da vegetação e da micota liquenizada
O levantamento florístico da vegetação foi realizado durante todo o período de realização dos
trabalhos de campo no Parque, através das amostras sistematizadas (fitossociologia, vide abaixo), de
coletas aleatórias de espécies arbóreas, arbustivas, herbáceas, trepadeiras e epífitas, e pela
identificação direta no local das espécies já conhecidas pelos pesquisadores. As espécies não
identificadas no local foram coletadas e posteriormente identificadas com auxílio de bibliografia
especializada (Sobral et al. 2006), de consulta a especialistas ou por comparação com exsicatas do
acervo do Herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(ICN). A classificação das espécies em famílias botânicas seguiu o APG II (2003).
Para a avaliação da micota liquenizada, os liquens foram registrados ao longo das trilhas e
nos pontos de trabalho dos componentes arbóreo e arbustivo. Os táxons não identificados em campo
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foram coletados e identificados no laboratório do Setor de Botânica do Museu de Ciências Naturais
da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul com o auxílio de microscópio esteroscópio e óptico,
fazendo-se secções anatômicas no talo e frutificações, assim como testes de coloração histo-químicos
comumente empregados em taxonomia de liquens, além do auxílio de bibliografia especializada e
consulta com material depositado no Herbário Dr. Alarich Schultz (HAS).
3.2 Levantamento fitossociológico do estrato arbóreo Para realizar o levantamento fitossociológico do estrato arbóreo foi utilizado o método de
quadrantes centrados em um ponto (Cottam & Curtis 1956; Filgueiras 1994). Para tanto, foram
demarcadas seis transecções dispostas perpendicularmente à borda da mata e/ou às trilhas, mais duas
transecções paralelas, dispostas na porção central do Parque. O comprimento das transecções variou
entre 50m e 90m, conforme a largura da mata nos locais de amostragem. Os pontos para o quadrante
centrado foram dispostos a cada 10 m ao longo de cada transecção. Para o componente arbóreo
foram amostrados os indivíduos com perímetro à altura do peito (PAP) igual ou superior a 30 cm.
Para cada indivíduo foi mensurado o PAP, a distância do ponto e a altura total, estimada em
intervalos de um metro. As espécies não identificadas no local foram coletadas para serem
identificadas, conforme descrito acima.
Os parâmetros fitossociológicos estimados para a comunidade arbórea foram: freqüência
absoluta e relativa, densidade absoluta e relativa, cobertura basal absoluta e relativa e índice de valor
de importância (soma dos parâmetros relativos dividido por três) (Mueller-Dombois & Ellenberg
1974, Martins 1993). Além disso, foi calculado o índice de diversidade de Shannon (Magurran 1988)
para a comunidade de arbóreas. Histogramas de alturas e de diâmetros e a relação da riqueza e
densidade total por famílias botânicas também foram projetados para caracterização da comunidade
estudada.
3.3 Levantamento fitossociológico do estrato arbustivo
Para a avaliação do estrato arbustivo foi utilizado o método de parcelas (Mueller-Dombois &
Ellenberg 1974). Foi realizado um total de 34 parcelas de 2 x 2m, estabelecidas próximo aos pontos
de amostragem do componente arbóreo das seis transecções perpendiculares às bordas florestais e/ou
trilhas. O critério de amostragem foi considerar todos os indivíduos lenhosos, arbustivos ou arbóreos,
acima de 1m de altura, mas inferiores a 3m enraizados no interior das parcelas. Para cada espécie foi
mensurada a altura máxima e estimada a cobertura de projeção da copa sobre a parcela, segundo a
escala de cobertura-dominância de Daubenmire (Braun-Blanquet 1979). A escala corresponde às
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seguintes classes de percentagem de cobertura aérea: 1= <5%, 2= 5-25%, 3= 25-50%, 4= 50-75%, 5=
75-95%, 6= >95%. As espécies não identificadas no local foram coletadas para posteriormente serem
identificadas de acordo com a metodologia anteriormente citada. Para o componente arbustivo os
parâmetros fitossociológicos calculados foram: freqüência absoluta e relativa, cobertura absoluta e
relativa, e o índice de valor de importância (soma dos parâmetros relativos dividido por dois)
(Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). O índice de diversidade de Shannon (H') para a comunidade
arbustiva também foi calculado (Brower et al. 1997).
3.4 Levantamento da artropofauna
A avaliação da fauna de Arthropoda associada à vegetação do estrato arbustivo foi realizada
através do método de parcelas, utilizando-se o guarda-chuva entomológico. A escolha da disposição
das parcelas na área de estudo foi a mesma adotada na descrição do estrato arbustivo (veja descrição
acima), com o intuito de realizar análises de relação entre o habitat deste estrato com a artropofauna.
Em cada uma das 32 parcelas de 2 x 2m foi utilizado o método do guarda-chuva entomológico, que
consiste na coleta da artropofauna através de batidas na vegetação com o auxílio de um bastão de
cerca de um metro de comprimento sobre um tecido branco de 1 x 1m. A artropofauna foi amostrada
em toda a vegetação arbustiva localizada dentro das parcelas, conforme os critérios de inclusão
apresentados acima. O esforço amostral aplicado foi de vinte batidas em cada estrutura de vegetação.
Os indivíduos coletados foram armazenados em frascos contendo álcool 70% e posteriormente
identificados em nível de Ordem sob estereomicroscópio óptico em laboratório.
3.4 Levantamento da avifauna
A amostragem da avifauna foi realizada através do método ad libitum. Este método consiste
em registrar as espécies (riqueza) encontradas (presença/ausência) durante várias caminhadas sem
um padrão pré-determinado.
No presente estudo foram percorridas as trilhas e o entorno da área, apenas uma vez, o que
gerou um esforço de amostragem bastante breve (3 horas). A amostragem ocorreu nas primeiras
horas da manhã (06h às 09h), período de maior atividade biológica das aves. Além desta
amostragem, também foram incluídas as espécies que foram registradas ao longo de 14 horas de
amostragem da vegetação (três dias distintos). Foram registrados apenas dados de presença/ausência
das espécies, tanto por vocalização como por visualização. Para a visualização e identificação das
espécies, foi utilizado um binóculo Optolyth 8X56, além de guias de campo específicos do grupo.
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Após o levantamento de campo, as espécies foram classificadas em categorias de hábitat,
micro-hábitat (florestais), categorias tróficas e permanência de residência, de acordo com
informações contidas na literatura. Foram consultados livros específicos nacionais (Sick 1997, Sigrist
2006) e regionais (Belton 1994). As categorias de hábitat foram: área úmida, aberta, floresta, urbano
e vários (sem preferência). As categorias tróficas foram: carnívoros, detritívoros, frugívoros,
granívoros, insetívoros e onívoros. Os micro-hábitats florestais considerados foram: estratos inferior,
médio e superior, e na categoria de permanência as aves foram classificadas em residentes ou
migratórias.
3.6 Qualidade da Água
A qualidade de água do lago existente na área do Parque foi realizada in situ em 3 de outubro
de 2007 analisando-se os seguintes parâmetros: Temperatura, pH, Condutividade elétrica e Oxigênio
Dissolvido. Após, foram coletadas amostras de água para análise no laboratório de limnologia do
Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram analisadas as seguintes
variáveis com seus respectivos métodos segundo APHA (2005): DBO (Método de Winkler), DQO
(Dicromatometria com refluxo aberto), Fósforo Total (Absorciometria com redução do ácido
ascórbico), Nitrato (Espectrofotometria UV), Sólidos Totais (Gravimetria – secagem à 1050C),
Escherichia coli e Coliformes Totais. Para Nitrito (Método da Sulfanilamida) segundo NBR Nº.
12619/1992, Nitrogênio Total Kjeldahl (Kjeldahl com Nesslerização) segundo NBR Nº. 10560/1988
e 13796/1997 e Turbidez (Nefelometria) segundo NBR Nº. 11265/1990.
3.7 Caracterização e Determinação da Capacidade de Carga Turística das Trilhas
Para determinação da estimativa da Capacidade de Carga Turística das Trilhas (CCT) foi
adotada a metodologia apresentada por Cifuentes (1992) adaptada por Bonatti et al. (2006). Essa
abordagem leva em consideração características como: declividade, acessibilidade, precipitação,
possibilidade de alagamentos, prováveis distúrbios à biodiversidade e prováveis impedimentos
temporários, além de fatores sociais inerentes a cada trilha e a cada grupo de visitantes.
Os dados de campo foram coletados em 26 de setembro e 3 de outubro de 2007. Dados de
campo complementares sobre visitação na Unidade de Conservação foram obtidos por comunicação
pessoal (Sra. Cristine, coordenadora do Parque).
A Capacidade de Carga Turística (CCT) foi calculada considerando que o Parque Municipal
Dr. Tancredo Neves permanece aberto a visitação 2 dias por semana (4 turnos), 8,6 dias por mês (2
dias x 4,3 semanas) e 103,2 dias por ano (8,6 dias x 12 meses). Para cada uma das trilhas foi
executado o seguinte método:
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a) Levantamento plani-altimétrico
A extensão da trilha foi obtida através de trena de 30m e 50m. Os dados foram tomados a
intervalos de 30m e 50m, com os registros das seguintes informações: orientação geográfica,
distância percorrida e identificação geral da vegetação predominante.
Foram também identificados locais de restrição de acesso devido a possíveis impedimentos
de ordem física, segurança e fragilidade (por exemplo, erosão, vegetação sensível, solo pouco
compacto ou alagamentos, etc.) que pudessem resultar em fatores limitantes à visitação. As
características relevantes e representativas das trilhas foram registradas com a utilização de máquina
fotográfica digital modelo Cyber-shot 6.0 mega pixels marca Sony.
b) Declividade
Nos mesmos pontos onde ocorreu o levantamento plani-altimétrico foi medida a declividade
de cada trecho ou fração, com a utilização de um clinômetro. Após, foram estabelecidos os graus de
dificuldade de cada trecho das trilhas, adotando-se o critério proposto por Cifuentes et al. (1999):
baixo grau de dificuldade = valores inferiores a 4,5º (até 10% de declividade); médio grau de
dificuldade = valores entre 4,5 e 9,0º (entre 10% e 20% de declividade) e alto grau de dificuldade =
valores acima de 9,0º (acima de 20% de declividade).
c) Precipitação
Os critérios utilizados para o cálculo do Fator de Correção para Precipitação foram
estabelecidos a partir da adaptação proposta por Bonatti et al. (2006).
d) Características Faunísticas (Avifauna)
Através de levantamento da comunidade de aves pelo método ad libitum foram identificadas
as ocorrências de espécies classificadas em categorias de hábitat, micro-hábitat, categorias tróficas e
permanência, de acordo com informações da literatura (Sick 1997; Sigrist 2006 e Belton 1994).
Para o cálculo de Fator de Correção advindo da Fauna (FCFAU) foram utilizadas as espécies
consideradas vulneráveis por se enquadrarem num dos seguintes critérios: ocorrência em áreas de
floresta e estrato inferior ou áreas de floresta e migrador, a partir do levantamento realizado da
comunidade de aves.
3.7.1 Capacidade de Carga Turística (CCT)
Foi calculada a Capacidade de Carga Turística de três trilhas do Parque Municipal Dr.
Tancredo Neves, utilizando-se o método desenvolvido por Cifuentes (1992), com algumas
adaptações propostas por Zanzini & Macedo (1999) apud Bonatti et al. (2006). Este cálculo busca
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estabelecer uma estimativa do número máximo de visitas que uma área protegida é capaz de receber
a partir de suas condições físicas e biológicas, que se apresentam no momento do estudo.
A metodologia utilizada considera três níveis básicos e interativos: Capacidade de Carga
Física (CCF), Capacidade de Carga Real (CCR) e Capacidade de Carga Efetiva (CCE), os quais se
relacionam das seguintes formas: CCF ≥ CCR ≥ CCE. Abaixo são descritas as metodologias
específicas para determinação de cada um destes níveis.
Para a aplicação do método, parte-se de algumas premissas: (I) o fluxo de visitantes ocorre
em um só sentido em trilhas circulares, como na Trilha do Lago e Ginástica, e em alguns trechos nos
dois sentidos – ida e volta – como no percurso de ida a Figueira Centenária na Trilha da Vovó; (II)
cada visitante requer, para seu conforto e segurança, 2m de espaço linear na trilha para mover-se
livremente; (III) o número de horas em que a área permanece aberta para visitação (entre as 8h e 17h
= 9 h por dia); (IV) o tempo necessário para uma visita em cada trilha depende das condições de
acessibilidade de cada uma; (V) a capacidade de manejo para a área foi considerada como sendo de
30%, seguindo a proposta de Zanzini & Macedo (1999) apud Bonatti et al. (2006) para áreas
protegidas de paises em desenvolvimento.
3.7.2 Capacidade de Carga Física (CCF)
Corresponde ao número máximo de visitas que um determinado sítio pode receber em um
intervalo de tempo. Está relacionado a fatores como o horário de funcionamento da unidade, o tempo
necessário para visitar cada trilha, o tamanho da trilha e o espaço de conforto requerido por cada
visitante.
É dada pela equação CCF = (S/sp) x NV, onde S é o tamanho da trilha em metros lineares; sp
é o espaço utilizado por cada pessoa (2m2); e NV é o número de vezes que uma trilha pode ser
percorrida por um visitante em um dia. O valor NV é calculado pela razão entre o período de tempo
em horas em que o sítio permanece aberto à visitação pública (Hv) e o período de tempo em horas
necessário para que o visitante possa realizar a visita (Tv). Assim, NV = Hv/Tv.
3.7.3 Capacidade de Carga Real (CCR)
Consiste no número máximo de visitas que um determinado sítio pode receber em um
intervalo de tempo definido, considerando a CCF previamente calculada, acrescida dos Fatores de
Correção (FC), definidos em função de características físicas, ecológicas e gerenciais do sítio
visitado. É calculada pela equação CCR = CCF (FC1 x FC2 x FCn).
Os fatores de correção introduzidos no cálculo da CCR relacionam-se a determinadas
variáveis limitantes à visitação apresentadas pelo sítio visitado. As variáveis consideradas para o
Parque Dr. Tancredo Neves foram: o fator social (FCSOC), a precipitação (FCPRE), a declividade
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(FCDECL), a possibilidade de alagamentos (FCALAG), as características faunísticas (FCFAU) e os
impedimentos temporários à visitação para manutenção e recuperação da área (FCITEMP).
Os fatores de correção são calculados para cada variável limitante através da equação FC= 1
– (mln / mtn) que corresponde à magnitude total da variável n.
Variáveis limitantes para o Parque:
a) Fator Social (FCsoc)
Para que se alcance uma melhor qualidade na visitação de cada trilha e, com isso, seja
aumentado o grau de satisfação do público, é necessária a organização dos visitantes em grupos. O
número de pessoas por grupo e a distância a ser obedecida entre um grupo e outro podem ser
tomadas em função das particularidades de cada trilha.
Admitindo-se como 20 o número máximo de indivíduos por grupo, que cada indivíduo
necessite de 2m de trilha para seu conforto e segurança e que a distância mínima entre dois grupos
deva ser de 100m, calcula-se em 140m (20 x 2 + 100) o espaço ocupado por cada grupo na trilha.
O número de grupos (NG) que pode estar simultaneamente em cada trilha será dado pela
razão entre o comprimento total da trilha e a distância requerida por cada grupo (NG = comprimento
linear da trilha / distância requerida por cada grupo).
Antes de calcular o fator de correção social é necessário identificar quantas pessoas (P)
podem estar simultaneamente dentro de cada trilha. A equação para a obtenção dessa informação é P
= NG x pessoas por grupo.
Também se necessita identificar a magnitude limitante (ml) que nesse caso, é aquela porção
da trilha que não pode ser ocupada porque já existem pessoas ocupando. A magnitude limitante é
dada por ml = mt – P, onde mt é a magnitude total, o que representa o comprimento total da trilha.
Calcula-se por fim, o Fator de Correção Social pela equação 1 – (ml/mt).
b) Fator de Correção da Declividade (FCDECLIV)
Leva em consideração a soma dos trechos de cada trilha com um grau de dificuldade médio
ou alto para os visitantes, o que pode conduzir a restrições de uso. Com a finalidade de atribuir maior
importância a trechos de trilha como grau alto de dificuldade, incorporou-se um fator de ponderação
da ordem 1,5 para esses trechos, de forma que a equação resultante é: 1 – [(ad x 1,5) + (md x 1)] / mt,
onde: ad é a soma dos trechos de alta dificuldade; md é a soma dos trechos de média dificuldade; e
mt é o comprimento total da trilha.
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c) Fator de correção de Precipitação (FCPREC)
A grande maioria dos visitantes não está disposta a percorrer trilhas em dias de chuva sendo,
portanto, um fator que impede a visitação normal. Para o Parque assumiu-se um período equivalente
a dois meses de chuva por ano, segundo proposto por Bonatti et al. (2006), ou seja, 540 horas por
ano (9 horas/dia x 60 dias ano). O fator de Correção de Precipitação é calculado por FCpre = 1 –
(hc/ht), onde hc corresponde às horas de chuva e ht às horas totais no ano.
d) Fator de Correção para Alagamentos (FCALAG)
Para este fator de correção leva-se em conta a soma dos trechos onde a água fica retida, pois
o pisoteio pode ocasionar danos à trilha, além da possibilidade de acidentes. Calcula-se através da
equação: FCalag = 1 – (ma/mt), onde ma é a soma do trecho da trilha sujeito a alagamentos e mt é o
comprimento total da trilha.
e) Fator de Correção advindo da Fauna (FCFAU)
A visitação pública pode afetar significativamente a fauna de uma região, no que se refere a
sua abundância, distribuição ou ocorrência. Com isso, a presença de espécies vulneráveis ou
ameaçadas de extinção em áreas sujeita à visitação deve também ser levada em consideração nos
estudos de capacidade de carga turística.
Para a região do Parque foram selecionadas três espécies de aves como as mais suscetíveis a
possíveis impactos locais advindos da presença humana:
1. (FCfau1) Lochmias nematura: popularmente conhecida por joão-porca. Espécie residente,
comum o ano todo, ao longo de margens de riachos e em pedras expostas no meio de riachos, tanto
em florestas quanto em áreas abertas. Residente na maior parte do RS, à exceção da maior parte do
litoral, extremo sul e muito ao oeste. Em relação a sua reprodução, tem registro de ninho com filhote
em dezembro. Sabe-se que não está em fase reprodutiva entre abril-maio. Família Furnariidae.
2. (FCfau2) Todirostrum plumbeiceps: popularmente conhecida por tororó. Espécie
residente, comum na maior parte do Rio Grande do Sul, presente o ano todo e não chegando até a
fronteira com o Uruguai. Habita vegetação rasteira em beiras de florestas, geralmente a 1m do chão.
Há registro de macho reprodutivo em outubro e fêmea não-reprodutiva em abril. Família Tyrannidae
3. (FCfau3) Elaenia mesoleuca: popularmente conhecida por tuque. Espécie migratória
durante os meses de setembro a abril, sendo abundante durante este período. Encontrado em
florestas, matas abertas e jardins, geralmente nos estratos médio e superior. Pico reprodutivo entre os
meses de dezembro-janeiro, com o início da construção dos ninhos em novembro. Ninhos registrados
em dezembro. Família Tyrannidae.
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Para este estudo, foram adotadas as seguintes características como critério de utilização
destas espécies: período reprodutivo e período total de ocorrência na região. Para o cálculo dos
Fatores de Correção advindos da Fauna foi utilizada a seguinte equação: FCfau = 1 – (pr/pt), onde pr
corresponde ao período reprodutivo em meses da espécie em questão e pt é o período total de
ocorrência na região.
f) Fator de Correção para Impedimentos Temporários (FCITEMP)
O Parque somente recebe visitas às trilhas em 4 turnos por semana (2 dias), sendo que o
restante dos dias permanece aberto, mas sem funcionários disponíveis para a realização de trilhas.
Este Fator de Correção é calculado por: FCITEMP = 1 – (hf/ht), onde hf é o número de horas por ano
que as trilhas não sofrem visitação (9h/dia x 5 dias/semana x 52 semanas/ano) e ht é o número de
horas que a unidade permanece aberta por ano (9h/dia x 5 dias/semana x 52 semanas/ano).
4.7.4 Capacidade de Carga Efetiva (CCE)
A CCE é o número máximo de visitas permitidas em um determinado sítio num intervalo de
tempo definido, considerando-se sua CCR previamente calculada e as condições de ordenação e
manejo da visitação existente na área protegida. Seu cálculo processa-se através da fórmula: CCE =
CCR x CM, onde CM corresponde à Capacidade de Manejo.
A Capacidade de Manejo é um parâmetro expresso em porcentagem, que reflete a condição
de manejo realmente disponível na unidade, relacionando-a com a condição de manejo ideal para o
pleno funcionamento da mesma. Têm importância nessas medições variáveis como respaldo jurídico
e político, equipamentos disponíveis, dotação de pessoal, orçamento anual e condições de infra-
estrutura para a manutenção e atendimento ao visitante (Cifuentes 1992).
3.8 Diagnóstico Sócio-ambiental
O diagnóstico sócio-ambiental foi realizado no mês de outubro de 2007 utilizando um
formulário semi-estruturado com 24 perguntas abertas e fechadas) através de entrevistas com 56
moradores do entorno do Parque, 63 usuários do Parque, três funcionárias de duas escolas da rede
pública e uma escola da rede particular, um funcionário de uma prestadora de serviços e uma
funcionária do Posto de Saúde. A coordenadora do Parque respondeu um questionário para contribuir
no levantamento da realidade do Parque. O formulário foi elaborado considerando as características
de cada grupo entrevistado.
15
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Levantamento florístico e da micota liquenizada
Durante o levantamento florístico foram identificadas 128 espécies de árvores, arbustos,
epífitas e herbáceas de 48 famílias de plantas presentes no Parque Dr. Tancredo Neves (Tabela 1). A
classificação das famílias botânicas foi baseada em APG II (2003). Destas, quatro espécies são
citadas na Lista Oficial da Flora Ameaçada de Extinção do RS (Decreto Nº. 42.099, de 31 de
dezembro de 2002). No que se refere às categorias de ameaça estão: Tillandsia gemniflora Brogn., T.
usneoides L., Picrasma crenata (Vell.) Engl. enquadradas na categoria vulnerável (VU) e Solanum
arenarium Sendtn., como em perigo (EN). Além destas, merece destaque a ocorrência de Ficus
cestrifolia Schott (figueira-de-folha-miúda), anteriormente denominada F. organensis, e de Ficus
adhatodifolia Shott (figueira), pois os indivíduos do gênero são protegidos pela Lei Estadual Nº.
9519/1992, ou seja, são imunes ao corte. Cabe salientar que esta é uma lista parcial das espécies
vegetais presentes no Parque, já que o esforço amostral não foi com o objetivo de exaurir todas as
espécies de todas as sinúsias. Além do enfoque maior foi dedicado as arbóreas, arbustivas e liquens.
Tabela 1. Lista florística das espécies vegetais registradas no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves. Espécies assinaladas com um asterisco (*) são citadas como ameaçadas de extinção, com dois asteriscos (**) protegidas por lei e com três asteriscos (***) exóticas.
Famílias Espécies N. popular Hábito ACANTHACEAE Justicia brasiliana Roth arbustivo
ANACARDIACEAE Schinus terebithifolius Raddi aroeira-vermelha arbóreo
APIACEAE Hydrocotyle leucodephala Cham. & Schlecht. herbáceo
ARACEAE Spathicarpa hastifolia Hook. arácea terrestre herbáceo
ASTERACEAE Elephantopus mollis H.B. & K. erva-grossa herbáceo
Piptocarpha sellowii (Sch. -Bip.) Baker cipó-prata cipó
BALSAMINACEAE Impatiens walleriana Hook.*** maria-sem-vergonha herbáceo
BIGNONIACEAE Jacaranda micrantha Cham. caroba arbóreo
Pyrostegia venusta (Ker-Gawl.) Miers cipó-são-joão trepadeira
Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) ipê-amarelo arbóreo
Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo ipê-roxo arbóreo
Tecoma capensis (Thunberg) Lindley madressilva-do-cabo trepadeira
BORAGINACEAE Cordia americana (L.) Gottschling & J.E.Mill. guajuvira arbóreo
Heliotropium leiocarpum Morong borragem-gervão arbustivo
BROMELIACEAE Tillandsia gemniflora Brogn.* cravo-do-mato epífita
Tillandsia usneoides L. * barba-de-pau epífita
Vrisea sp. epífita continua
16
Tabela 1. cont.
Famílias Espécies N. popular Hábito CACTACEAE Rhipsalis sp. cacto-macarrão epífita
CANNABACEAE Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. esporão-de-galo arbóreo
Trema micrantha (L.) Blume grandiúva arbóreo
CARDIOPTERIDACEAE Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard pau-de-corvo arbóreo
CLUSIACEAE Garcinia gardneriana (Planch. et Triana) Zappi bacopari arbóreo
COMMELINACEAE Tradescantia zebrina Hort. ex Bosi*** onda-do-mar herbáceo
EBENACEAE Diospyros inconstans Jacq. maria-preta arbóreo
ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum argentinum O.E. Schulz cocão arbóreo
EUPHORBIACEAE Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. tanheiro arbóreo
Gymnanthes concolor Spreng. laranjeira-do-mato arbóreo
Margaritaria nobilis Linn. *** figueirinha arbóreo
Pachystroma longifolium (Nees) I.M. Johnst. mata-olho arbóreo
Sebastiania commersoniana (Baill.) Smith & Downs branquilho arbóreo
Sebastiania serrata (Klotzsch) Müll.Arg. branquilho arbóreo
Tetrorchidium rubrivenium Poepp. & Endl. canemuçu arbóreo
FABACEAE Bauhinia forficata Link pata-de-vaca arbóreo
Caesalpinia peltophoroides Benth. sibipiruna arbóreo
Enterolobium contortisiliquum (vell.) Morong timbaúva arbóreo
Inga marginata Willd. ingá-feijão arbóreo
Inga vera Willd. ingá arbóreo
Machaerium stipitatum (DC.) Vogel farinha-seca arbóreo
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan angico arbóreo
Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. canafistula arbóreo
Schizolobium parahyba (Vell.) Blake guapuruvú arbóreo
JUGLANDACEAE cf. Juglans regia L. *** nogueira arbóreo
LAMIACEAE Aegiphila sellowiana Cham. gaioleira arbustivo
LAURACEAE Aioeua saligna Meisn. canela-anhoaíba arbóreo
Cinnamomum zeylanicum (Breyn.) Bl. *** canela de doce arbóreo
Cryptocarya moschata Nees & Mart. ex Nees canela-fogo arbóreo
Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr. canela arbóreo
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canela-preta arbóreo
Nectandra oppositifolia Nees canela-ferrugem arbóreo
Ocotea indecora (Vell.) Rohwer *** canela-sassafrás arbóreo
Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-guaicá arbóreo
MALVACEAE Ceiba sp. *** paineira arbóreo
Luehea divaricata Mart. et Zucc. açoita cavalo arbóreo
Pavonia sepium A. St.-Hil. carrapicho arbustivo
Sida rhombifolia Linn. guanxuma herbáceo
MELASTOMATACEAE Leandra australis (Cham.) Cogn. pixirica arbustivo
Miconia sellowiana Naudin pixirica arbustivo continua
17
Tabela 1. cont.
Famílias Espécies N. popular Hábito MELIACEAE Cabralea canjerana (Vell.) Mart. canjerana arbóreo
Cedrela fissilis Vell. cedro arbóreo
Guarea macrophylla Vahl pau-d' arco arbóreo
Trichilia claussenii C.DC. catiguá arbóreo
Trichilia elegans A. Juss. pau-de-ervilha arbóreo
MONIMIACEAE Hennecartia omphalandra J. Poiss. canema arbóreo
Mollinedia elegans Tul. pimenteira arbustivo
MORACEAE Brosimum glazioui Taub. leiteiro arbóreo
Ficus adhatodifolia Shott ** figueira arbóreo
Ficus cestrifolia Schott** figueira-de-folha-miúda arbóreo
Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. tajuva arbóreo
Sorocea bonplandii (Bail.) Burger, Lanj. & Boer cincho arbóreo
MYRSINACEAE Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. capororoquinha arbóreo
Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze capororoca arbóreo
Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. capororoquinha -do-brejo arbóreo
Myrsine umbellata Mart. capororoca arbóreo
MYRTACEAE Calyptranthes grandifolia O. Berg guamirim-chorão arbóreo
Campomanesia xanthocarpa Berg guabiroba arbóreo
Eugenia involucrata DC. cerejeira arbóreo
Eugenia rostrifolia D. Legr. batinga arbóreo
Eugenia schuechiana O.Berg arbóreo
Eugenia bacopari D. Legrand guamirim arbóreo
Myrcia glabra (O.Berg) D. Legrand uvá arbóreo
Myrcianthes pungens (O.Berg) D. Legrand guabijú arbóreo
NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz maria-mole arbóreo
OCHNACEAE Ouratea parviflora (DC.) Baill. arbóreo
OLEACEAE Ligustrum sp. *** ligustro arbóreo
ORCHIDACEAE Brassavola sp. orquídea epífita
Cattleya intermedia Graham Bot. Mag. orquídea epífita
Mesadenella sp. orquídea herbáceo
PHYTOLACACEAE Seguieria aculeata Jacq. limoeiro-do-mato arbóreo
PIPERACEAE Peperonia pereskiaefolia (Jacquin) Humboldt erva-de-vidro herbáceo
Piper amalago L. pariparoba arbustivo
Piper gaudichaudianum Kunth. pariparoba arbustivo
POACEAE Oplismenus hirtellus (L.) P. Beauv. herbáceo
Pharus lappulaceus Fuseé - Aubl. bambuzinho herbáceo
POLYGALACEAE Securidaca lanceolata St. Hil. trepadeira
POLYGONACEAE Ruprechtia laxiflora Meisn. marmeleiro arbóreo continua
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Tabela 1. cont.
Famílias Espécies N. popular Hábito PROTEACEAE Grevillea robusta A.Cunn. ex R.Br. *** grevílea arbóreo
PROTEACEAE Roupala brasiliensis Klotzsch carvalho brasileiro arbóreo
PTERIDACEAE Anemia phyllitidis (L.) Sw. herbácea
Doryopteris multipartita (Fée) Sehenm samambaia-mão herbáceo
RHAMNACEAE Hovenia dulcis Thunb. *** uva-do-japão arbóreo
ROSACEAE Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. *** nêspera arbóreo
Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-do-mato arbóreo
RUBIACEAE Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) DC. cafeeiro-do-mato arbóreo
Guettarda uruguensis Cham. & Schltdl. veludo arbóreo
Psychotria brachyceras Müll.Arg. cafeeiro-do-mato arbustivo
Psychotria alba Ruiz & Pav. cafeeiro-do-mato arbustivo
Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl. cafeeiro-do-mato arbustivo
Randia ferox (Cham. & Schltdl.) DC. limoeiro-do-mato arbóreo
RUTACEAE Citrus limon (Linn.) Burm. *** limoeiro arbóreo
Balfourodendron riedelianum (Engler) Engler guatambu arbóreo
Esenbeckia grandiflora Mart. cutia arbustivo
SALICACEAE Banara parviflora (A. Gray) Benth. farinha-seca arbóreo
Casearia decandra Jacq. guaçatunga arbóreo
Casearia sylvestris Sw. chá-de-bugre arbóreo
Xylosma pseudosalzsmanii Sleumer sucará arbóreo
Xylosma ciliatifolia (Clos) Eichler sucará arbóreo
SAPINDACEAE Allophylus edulis (St. Hil.) Radlk. chal-chal arbóreo
Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho arbóreo
SAPOTACEAE Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler) Engl. aguaí da serra arbóreo
Chrysophyllum marginatum (Hook. et Arn.) Radlk. aguaí-vermelho arbóreo
SIMAROUBACEAE Picrasma crenata (Vell.) Engl. * pau-amargo arbóreo
SOLANACEAE Brunfelsia cf. pilosa Plowman manacá arbóreo
Cestrum strigilatum Ruiz & Pav. arbustivo
Lycianthes rantonnei (Carrière) Bitter arbustivo
Solanum arenarium Sendtn. * arbóreo
Solanum mauritianum Scop. fumo-bravo arbóreo
TILIACEAE Triumfetta semitriloba Jacq. carrapicho arbustivo
URTICACEAE Cecropia sp. embaúba arbóreo
As famílias que apresentaram maior riqueza em espécies foram: Myrtaceae (8 espécies),
Fabaceae (9), Lauraceae (8), Euphorbiaceae (7), Moraceae (5) e Rubiaceae (6). Essas seis famílias
detiveram 32,5% das espécies registradas, enquanto que as demais 44 famílias compunham os 67,5
% das espécies restantes (Fig. 2). Corroborando com outros trabalhos em florestas semideciduais de
outras regiões do Brasil (Gandolfi et al.1995, Carvalho et al.2000, Jurinitz & Jarenkow 2003).
19
Figura 2. Número de espécies vegetais das famílias botânicas mais representativas. O acrônimos correspondem às quatro iniciais do nome das famílias (compare Tabela 1).
Para a micota liquenizada foram identificados 28 táxons distribuídos em nove famílias.
Destes 75% são representados pelos liquens de hábito foliosos, incluindo os gelatinosos, os
esquamulosos e filamentosos, 14,3% pelos liquens crostosos e 10,7% pelos fruticosos (Tabela 2).
Para áreas urbanas ainda são poucos os trabalhos existentes com liquens. Os primeiros
trabalhos para o Estado datam do século 19 por Malme (1902, 1925, 1926, 1928 e 1934) e Redinger
(1934 e 1935) que incluíram coletas de liquens em áreas de Porto Alegre. Para a região metropolitana
de Porto Alegre temos a contribuição dos trabalhos realizados por Fleig (1985), Osório & Fleig
(1988) e de Osório et al. (1997), além do trabalho de Martins-Mazzitelli et al. (1999) onde
registraram 72 espécies para a cidade de Porto Alegre.
A baixa riqueza e diversidade de espécies liquênicas registradas para a área do Parque podem
ser devido ao tipo de vegetação, ou seja, constituída de árvores de grande porte, com dossel bem
desenvolvido o que dificulta a incidência de luz, assim como pelo grande número de espécies de
Mirtáceas que possuem a superfície do tronco lisa. Tanto a luminosidade como o tipo de casca são
alguns dos fatores limitantes para a ocorrência de liquens (Brodo 1973, Marcelli 1996, Hawksworth
1975).
20
Tabela 2. Lista de táxons liquênicos registrados para no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves.
Famílias Táxons Hábito Rocellaceae Cryptothecia sp. crostoso Parmeliaceae Canoparmelia texana (Tuck.) Elix & Hale folioso Cladoniaceae Cladonia sp. esquamuloso Biatoraceae Coenogonium sp. 1 filamentoso Biatoraceae Coenogonium sp. 2 crostoso Rocellaceae Cryptothecia rubrocincta (Ehrenb.) G. Thor crostoso Physciaceae Dirinaria applanata (Fée) Awas. folioso Physciaceae Dirinaria confluens (Fr.) Awas. folioso Physciaceae Dirinaria picta (Sw.) Clem. & Shear folioso Graphidaceae Graphis sp. 1 crostoso Physciaceae Heterodermia albicans (Pers.) Sw. & Krog folioso Physciaceae Heterodermia speciosa (Wulf.) Trev. folioso Physciaceae Hyperphyscia sp. folioso Collemataceae Leptogium austroamericanum (Malme) Dodge folioso Lobariaceae Lobaria sp. folioso Parmeliaceae Myelochroa lindmanii (Lynge) Elix & Hale folioso Parmeliaceae Parmelinopsis minarum (Vainio) Elix & Hale folioso Parmeliaceae Parmotrema austrosinense (Zahlbr.) Hale folioso Parmeliaceae Parmotrema tinctorum (Nyl.) Hale folioso Biatoraceae Phyllopsora sp. esquamuloso Physciaceae Physcia aff. caesia folioso Physciaceae Physcia aff. poncinsii folioso Physciaceae Physcia aipolia (Ehrenb. ex Humb.) Fürnrohr fruticoso Physciaceae Physcia sp. 1 folioso Parmeliaceae Punctelia graminicola (B. de Lesd.) Egan folioso Parmeliaceae Punctelia riograndensis (Lynge) Krog folioso Teloschistaceae Teloschistes exilis (Michaux) Vainio fruticoso Parmeliaceae Usnea sp. fruticoso
4.2 Levantamento fitossociológico do estrato arbóreo Nos 67 pontos do estrato arbóreo foram amostrados 268 indivíduos, dentre estes, 16 foram
enquadrados na categoria de mortos em pé. Os vivos distribuem-se em 54 espécies, pertencentes a 24
famílias. A densidade total de árvores (DTA) foi estimada em 718,68 ind.ha-1. Valor considerado
baixo se comparado com a média da densidade para Florestas Estacionais Semideciduais do RS, que
é de 929 ind.ha-1 (Rio Grande do Sul, 2002). Entretanto, o índice de diversidade de Shannon (H')
calculado para a comunidade de arbóreas foi de 3,53 nats, e a equabilidade foi de 0,882.
Contrastando com a média para este tipo de floresta no RS que é de 2,63 nats (Rio Grande do Sul,
2002). Isto pode ser explicado pela grande influência antrópica deste fragmento que introduziu neste,
diversas espécies nativas e exóticas através de plantio, além da alta equabilidade de participação
entre as espécies (E= 0,88), que também eleva o valor de diversidade de Shannon.
21
Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros fitossociológicos calculados para as espécies do
componente arbóreo.
As famílias com maior riqueza de espécies foram Myrtaceae (14,8%), seguida das Lauraceae
(13%), Moraceae e Salicaceae (9,2% cada) e Euphorbiaceae (7,4%), corroborando em parte com as
famílias mais representativas no levantamento florístico total da vegetação (Fig. 2). As exceções
foram Fabaceae e Rubiaceae, sendo que a primeira apresentou espécies arbóreas representadas por
alguns poucos indivíduos, porém notórios devido ao porte, enquanto que a segunda é mais
representativa do componente arbustivo. No restante, a similaridade se deve ao fato de que o estrato
arbóreo foi o que mais contribuiu em número de espécies para este total.
Tabela 3. Parâmetros fitossociológicos calculados para o componente arbóreo amostrado no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, em ordem decrescente de índice de valor de importância (IVI), onde: (ni) = nº de indivíduos, (DA) = densidade absoluta, estimada em n° de indivíduos por ha, (DR) = densidade relativa, (FA) = freqüência absoluta, (FR) = freqüência relativa e (CR) = cobertura relativa.
ni DA DR FA FR CR IVI Espécie
(ind.ha-1) (%) (%) (%) (%) Eugenia rostrifolia 29 82,71 11,51 38,81 11,11 7,52 10,05 Myrcianthes pungens 20 57,04 7,94 20,90 5,98 10,65 8,19 Luehea divaricata 9 25,67 3,57 13,43 3,85 11,11 6,18 Eugenia schuechiana 19 54,19 7,54 23,88 6,84 1,82 5,40 Campomanesia xanthocarpa 11 31,37 4,37 14,93 4,27 6,21 4,95 Ficus cestrifolia 3 8,56 1,19 2,99 0,85 12,26 4,77 Cabralea canjerana 8 22,82 3,17 11,94 3,42 7,48 4,69 Cordia americana 8 22,82 3,17 11,94 3,42 6,30 4,30 Casearia sylvestris 13 37,07 5,16 19,40 5,56 1,64 4,12 Allophylus edulis 10 28,52 3,97 13,43 3,85 0,56 2,79 Nectandra megapotamica 8 22,82 3,17 10,45 2,99 1,49 2,55 Nectandra oppositifolia 4 11,41 1,59 16,42 4,70 0,90 2,39 Guapira opposita 5 14,26 1,98 5,97 1,71 3,22 2,30 Gymnanthes concolor 8 22,82 3,17 10,45 2,99 0,48 2,22 Trichilia claussenii 6 17,11 2,38 8,96 2,56 1,32 2,09 Machaerium stipitatum 6 17,11 2,38 7,46 2,14 0,88 1,80 Diospyrus inconstans 4 11,41 1,59 4,48 1,28 2,42 1,76 Sebastiania serrata 6 17,11 2,38 4,48 2,14 0,51 1,68 Enterolobium contortisiliquum 3 8,56 1,19 7,46 1,28 2,54 1,67 Jacaranda micrantha 3 8,56 1,19 4,48 1,28 2,13 1,53 Ficus adhatodifolia 2 5,70 0,79 2,99 0,85 2,87 1,51 Eugenia bacopari 6 17,11 2,38 4,48 1,28 0,73 1,46
continua
22
Tabela 3. cont. Espécie ni DA DR FA FR CR IVI Prunus myrtifolia 3 8,56 1,19 4,48 1,28 1,79 1,42 Trema micrantha 4 11,41 1,59 5,97 1,71 0,70 1,33 Endlicheria paniculata 5 14,26 1,98 5,97 1,71 0,25 1,31 Ocotea puberula 3 8,56 1,19 4,48 1,28 1,42 1,30 Ouratea parviflora 3 8,56 1,19 4,48 1,28 1,28 1,25 Sorocea bomplandii 4 11,41 1,59 5,97 1,71 0,23 1,18 Ocotea indecora 3 8,56 1,19 4,48 1,28 1,00 1,16 Aegiphila sellowiana 3 8,56 1,19 4,48 1,28 0,17 0,88 Brosinum glazioni 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,77 0,81 Myrcia glabra 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,75 0,80 Hennecartia omphalandra 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,57 0,74 Maclura tinctoria 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,35 0,67 Garcinia gardneriana 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,30 0,65 Cedrella fissilis 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,98 0,60 Aiouea saligna 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,13 0,59 Tetrorchidium rubrivenium 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,12 0,59 Xylosma pseudosalzsmanii 2 5,70 0,79 2,99 0,85 0,11 0,59 Sp.1 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,67 0,50 Ruprechtia laxiflora 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,57 0,47 Myrsine guianensis 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,54 0,45 Banara parvifolia 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,49 0,44 Chrysophilum gonocarpa 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,49 0,44 Eugenia involucrata 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,25 0,36 Calyptranthes grandifolia 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,22 0,35 Casearia decandra 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,17 0,33 Juglans regia 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,17 0,33 Alchornea triplinervia 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,15 0,33 Bauhinia forficata 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,11 0,31 Xylosma ciliatifolia 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,07 0,30 Ligustrum sp. 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,05 0,29 Myrsine laetevirens 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,04 0,29 Tabebuia chrysotricha 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,04 0,29 Guettarda uruguensis 1 2,85 0,40 1,49 0,43 0,03 0,29
As espécies com maior IVI foram Eugenia rostrifolia, Myrcianthes pungens, Luehea
divaricata, Eugenia schuechiana, Campomanesia xanthocarpa, sendo a soma de seus respectivos IVI
34,77%. Quatro destas cinco espécies pertencem à família Myrtaceae, que se destacou
principalmente pela alta densidade e freqüência de seus representantes, corroborando com
levantamentos fitossociológicos nas diferentes formações florestais no Rio Grande do Sul (Jarenkow
& Baptista 1987, Dillenburg et al. 1992, Jarenkow 1994, Waechter & Jarenkow 1998, Waechter et
23
al.2000). Cabe salientar que espécies como Luehea divaricata, Ficus cestrifolia, Cabralea canjerana
e Cordia trichotoma, ao contrário das demais que tiveram alto valor de IVI devido à densidade ou
freqüência, apresentaram destaque devido ao tamanho, elevada cobertura basal, ou seja, devem ser
indivíduos bastante antigos da comunidade.
A presença de espécies como Eugenia rostrifolia no estrato superior e de Gymnantes concolor no
estrato médio, além da altitude média de 45m, sugerem que, de acordo com o Projeto RADAM Brasil
(1986), essa formação florestal caracteriza-se como uma Floresta Estacional Semidecidual Submontana.
As espécies que apresentaram baixa densidade e freqüência (Tabela 3) podem ser
consideradas raras para este fragmento. Porém, não necessariamente são raras do ponto de vista
biológico, pois podem ocorrer em maior densidade em áreas próximas (Figueiredo 1993).
A distribuição do número de indivíduos por classes de diâmetro evidenciou a concentração
destes na primeira classe considerada (Fig. 3). As quatro primeiras classes de diâmetros tratadas
conjuntamente revelaram que 67,5% dos indivíduos amostrados tinham o DAP entre 9 e 29 cm. O
maior diâmetro encontrado foi de 140 cm, de um indivíduo de Ficus cestrifolia, seguido de outro da
mesma espécie (119 cm) e então por um indivíduo de Luehea divaricata, com 118 cm de diâmetro. A
quantidade de indivíduos com classe de diâmetro entre 44,1 e 49 cm foi maior que o padrão de
distribuição das demais classes, fazendo com que a curva da Fig. 3, diferentemente do esperado, não
apresentasse uma distribuição normal (Jurinitz & Jarenkow 2003). Isto pode ter ocorrido devido a um
corte seletivo tipo raleio de espécies arbóreas em determinada época, sendo provavelmente dada
preferência à manutenção de alguns indivíduos de maior porte e que tivessem algum interesse para a
comunidade. A presença de espécies como Cabralea canjerana (canjerana), Eugenia rostrifolia
(batinga) e Myrcianthes pungens (guabijú), sugerem que estas podem ter sido preservadas devido a
características como beleza cênica, atrativo para fauna, por fornecerem sombra ou frutos para a
população que costumava freqüentar o local para churrasco e lazer (relatos locais). Outra hipótese, é
que tais espécies ou outras podem ter sido preservadas por não serem de interesse madeireiro, como
por exemplo, por não apresentar fuste reto.
24
Figura 3 Número de indivíduos do estrato arbóreo amostrados no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, em cada classe de diâmetro (cm).
Quanto à distribuição dos indivíduos em classes de altura (Fig. 4), podem-se observar dois
estratos nítidos, um arbóreo inferior com indivíduos entre 6,1 e 12,0m e outro arbóreo superior com
indivíduos entre 14,1 e 18m. As principais espécies emergentes foram Ficus cestrifolia, Eugenia
rostrifolia, Cabralea canjerana, estas com 22 a 24m de altura, além da contribuição de Guapira
oposita, Enterolobium contortisiliquum e Luehea divaricata na porção superior do dossel, com
indivíduos com 22m de altura estimada.
25
Figura 4. Distribuição vertical dos componentes arbóreo (em linha) e arbustivo (em barras) amostrados no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, considerando-se o número total de indivíduos (ou ocorrências para o arbustivo) para cada intervalo de classes de altura estimada.
4.3 Levantamento fitossociológico do estrato arbustivo
Para o levantamento fitossociológico do estrato arbustivo foram registradas 45 espécies
pertencentes a 26 famílias. O índice de diversidade de Shannon (H') para espécies foi de 2,97 nats,
enquanto que a eqüabilidade foi de 0,78. A eqüabilidade foi menor que para o estrato arbóreo, uma
vez que a espécie dominante, Psychotria leiocarpa, apresenta valores de cobertura
consideravelmente maiores que todas as demais, ou seja, a distribuição dos valores de performance
das espécies do estrato arbustivo não foi tão eqüitativa quanto para o arbóreo.
Na tabela 4 são apresentados os parâmetros fitossociológicos calculados para o componente
arbustivo. Considerando o valor de importância, as cinco primeiras espécies somam mais da metade
(51,9%) de toda a comunidade de arbustos, quais sejam Psychotria leiocarpa, Faramea
montevidensis, Gymnanthes concolor, Piper gaudichaudianum e Eugenia schuechiana. Esta elevada
proporção subdividida entre apenas cinco espécies revela o quão pouco eqüitativa é a participação
entre as espécies do sub-bosque, conforme também observado em outros estudos em florestas do RS
(Diesel 1991, Müller & Waechter 2001). A alta freqüência de P. leiocarpa corrobora com outros
trabalhos realizados com o componente arbóreo em fragmentos florestais do RS (Sobrinho &
Oliveira, 2005, Azambuja et al. 2008, Silva-Júnior et al. 2008).
26
Tabela 4. Parâmetros fitossociológicos calculados para o componente arbustivo amostrado no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, em ordem decrescente de índice de valor de importância (IVI) e onde: (np) = nº de parcelas onde a espécie esteve presente, (FA) =freqüência absoluta (FR) = freqüência relativa e (CR) = cobertura relativa.
Espécie ni
FA (%) FR (%) CR (%) IVI (%)
Psychotria leiocarpa 22 64,71 15,49 24,80 20,15 Faramea montevidensis 17 50,00 11,97 12,80 12,39 Gymnanthes concolor 10 29,41 7,04 6,80 6,92 Piper gaudichaudianum 8 23,53 5,63 6,80 6,22 Eugenia schuechiana 8 23,53 5,63 5,60 5,62 Psychotria brachyceras 8 23,53 5,63 5,20 5,42 Trichilia claussenii 6 17,65 4,23 4,00 4,11 Guapira opposita 5 14,71 3,52 2,40 2,96 Trichilia elegans 4 11,76 2,82 2,00 2,41 Piper amalago 4 11,76 2,82 1,60 2,21 Nectandra megapotamica 3 8,82 2,11 2,00 2,06 Sorocea bonplandii 3 8,82 2,11 2,00 2,06 Eugenia rostrifolia 2 5,88 1,41 1,60 1,50 Ouratea parviflora 2 5,88 1,41 1,60 1,50 Campomanesia xanthocarpa 2 5,88 1,41 1,20 1,30 Guarea macrophylla 2 5,88 1,41 1,20 1,30 Justicia brasiliana 2 5,88 1,41 1,20 1,30 Mollinedia elegans 2 5,88 1,41 1,20 1,30 Aioeua saligna 2 5,88 1,41 0,80 1,10 Allophylus edulis 2 5,88 1,41 0,80 1,10 Cordia americana 2 5,88 1,41 0,80 1,10 Nectandra oppositifolia 2 5,88 1,41 0,80 1,10 Cabralea canjerana 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Piptocarpha sellowii 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Diospyros inconstans 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Endlicheria paniculata 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Garcinia gardneriana 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Picrasma crenata 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Trema micrantha 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Triumfetta semitriloba 1 2,94 0,70 0,80 0,75 Banara parviflora 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Banara sp 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Cestrum strigilatum 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Chrysophyllum marginatum 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Citronella paniculata 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Cryptocarya moschata 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Myrcianthes pungens 1 2,94 0,70 0,40 0,55
continua
27
Tabela 4. cont.
Espécie ni
FA FR (%) CR (%) IVI (%)
Miconia sellowiana 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Myrcia glabra 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Myrsine umbellata 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Ocotea indecora 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Pavonia sepium 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Sp 2 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Roupala brasiliensis 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Xylosma cf. ciliatifolia 1 2,94 0,70 0,40 0,55 Xylosma pseudosalzsmanii 1 2,94 0,70 0,40 0,55
As famílias com maior riqueza em espécies foram Lauraceae (15,5%), seguida das Myrtaceae
(11,1%), Meliaceae (8,9%), Salicaceae (8,9%), Rubiaceae (6,7%) e das Piperaceae (4,5%) (Fig. 5).
As demais famílias apresentaram apenas uma espécie.
Figura 5. Número de espécies vegetais arbustivas das famílias botânicas mais representativas.
A presença de espécies de hábito arbóreo no estrato arbustivo, como por exemplo, Aioeua
saligna, Eugenia schuechiana, Guapira opposita, Nectandra megapotamica e Trichilia claussenii,
indicam que está havendo uma regeneração destas espécies, ou seja, provavelmente estes indivíduos
permanecerão temporariamente nestes estratos, pois ou serão sucumbidos ou passarm para o estrato
superior (arbóreo). Da mesma forma, o fato de não encontrarmos algumas espécies de hábito arbóreo
28
no estrato arbustivo, como por exemplo, Casearia sylvestris, Eugenia bacopari, Luehea divaricata,
Sebastiania serrata e Myrcianthes pungens (sendo que desta última foi encontrado apenas um
indivíduo no estrato arbustivo) pode indicar que não está ocorrendo regeneração destas espécies.
4.4 Levantamento da artropofauna
No total foram coletados 864 indivíduos pertencentes ao Filo Arthropoda nas seis transecções
realizadas no Parque abrangendo as classes Arachnida, Insecta, Entognatha e Malacostraca. Dentro
da classe Arachnida foram encontradas três ordens: Acarina, Araneae e Pseudoscorpiones. Na classe
Insecta foram encontradas nove ordens, sendo elas: Archaeognatha, Blatodea, Coleoptera, Diptera,
Hemiptera, Hymenoptera, Lepdoptera, Orthoptera e Psocoptera. A ordem Collembola é representante
da classe Entognatha; e a ordem Isopoda pertence à classe Malacostraca.
A densidade média total de artrópodes nas parcelas, distribuídas nas seis transecções, foi de
6,25 indivíduos/m2, enquanto que o índice de diversidade de Shannon, estimado a partir da densidade
de indivíduos por ordem considerada, foi de 1,17 nats. Esta diversidade pode ser considerada como
funcional, pois as ordens indicam características morfológicas e, conseqüentemente, funções,
“papéis” distintos dentro da comunidade como um todo.
Os resultados de densidade e riqueza de Ordens nas parcelas foram relacionados à riqueza e
cobertura do estrato arbustivo, cujas amostragens foram nas mesmas unidades amostrais. Tanto a
cobertura do estrato arbustivo quanto a riqueza de espécies vegetais não demonstraram nenhuma
correlação com a densidade de artrópodes ou mesmo a riqueza de Ordens, conforme apresentamos na
Figura 6. Esta ausência de relação estatisticamente demonstra que, para o nível de identificação
considerado (classificação em ordens), não há um padrão de distribuição das ordens de artrópodes
associados ao estrato arbustivo, seja pelas diferentes riquezas de espécies vegetais ou pelas
coberturas nas parcelas estudadas. Aparentemente, as ordens de artrópodes se distribuem
regularmente no sub-bosque das áreas do Parque.
29
Figura 6. Correlação entre densidade absoluta de artrópodes e cobertura arbustiva absoluta no Parque Municipal Doutor Tancredo Neves, Cachoeirinha, RS.
Na comparação das unidades amostrais (u.a.) mais próximas à borda com as do interior do
Parque, através de análise de variância via, teste de aleatorização, não encontramos diferenças
significativas, tanto em relação à riqueza de Ordens, quanto em relação à abundância total de
artrópodes (Fig. 7). Entretanto, podemos observar uma tendência à maior abundância de artrópodes
na borda da floresta (Parruco et al. 2007, Montenegro et al. 1996) podendo não ter sido significativa
devido à insuficiência amostral. Estes resultados corroboram os estudos realizados por Parruco et al.
(2007) e Montenegro et al. (1996).
30
0
5
10
15
20
25
30
borda interior
Posição das u.a.
RIQUEZA
ABUNDÂNCIA
Figura 7. Médias da riqueza de ordens e da abundância total de artrópodes das u.a. localizadas na borda e interior da floresta do Parque Municipal Doutor Tancredo Neves, Cachoeirinha, RS.
Os artrópodes, principalmente os insetos, vêm sendo utilizados com sucesso em estudos de
bioindicação em ambientes terrestres (Freitas et al.2003; Lewinsohn et al. 2005). Da mesma forma
que a fauna de solo, coletadas através de Berlese-Tullgren ou armadilhas de pit fall tem sido utilizado
na análise de impacto ambiental. Dentre estes destacam-se, principalmente, os táxons: Acari,
Collembola, Isopoda e Hymenoptera (Sydow, 2007). Segundo New (1995) a indicação dos níveis de
perturbação ou mudança de um sistema é o papel principal dos artrópodes na avaliação da
conservação biológica ou na recuperação de áreas degradadas. Essa indicação pode se dar pelo
declínio da diversidade de espécies especialistas, aumento da abundância de outros taxa, ou de forma
mais genérica, alguma mudança na composição faunística a partir de um estado não perturbado.
Sendo assim, os artrópodes desempenham um importante papel como indicadores da
qualidade ambiental do Parque Dr. Tancredo Neves. Entretanto, para que essa análise seja efetiva,
faz-se necessário um maior número de coletas, incluindo fatores como a sazonalidade
(preferencialmente a longo prazo, abrangendo no mínimo réplicas das quatro estações) e com
transecções que incluam a maior parte possível da diversidade de ambientes presentes no parque,
além de uma identificação em menor nível taxonômico.
.
4.5 Levantamento da avifauna Foram identificadas 56 espécies de aves distribuídas em 56 famílias com 49 gêneros. A
seguir é apresentada a lista de espécies registradas no Parque Municipal Doutor Tancredo Neves.
31
Tabela 5. Lista das espécies da avifauna registradas no Parque Municipal Dr. Tancrqedo Neves. (Habitat: AU=Área Umida, AA=Área Aberta, V=Vários, FL=Floresta e U=Área Urbana. MicroHabitat: S=superior, M=médio e I=inferior. Categoria Trófica: C=carnívoro, I=insetívoro, D=detritívoro, O=omnívoro, F=frugívoro e G=granívoro. Permanência: M=migratório e R=residente.)
N. científico N. popular Habitat MicroHabitatCateg. trófica Permanência
Butorides striatus socozinho AU * C-I M Sirigma sibilatrix maria-faceira AA * C-I R Phimosus infuscatus maçarico-da-cara-pelada AU * C-I R Cathartes aura urubu-da-cabeça-vermelha V * D R Coragyps atratus urubu-da-cabeça-preta V * D R Buteo magnorostris gavião-carijó V * C-I R Mivalgo chimachima gavião-carrapateiro AA-Ma S O R Amazonetta brasiliensis marreca-pé-vermelho AU * C R Ortalis guttata aracuã Ma M F-H R Aramides saracura saracura-do-brejo Ma I O R Vanellus chilensis quero-quero AA * I R Columba livia pomba-doméstica U * O R Columba picazuro asa-branca Ma I F-G R Columbina picui rolinha AA * F-G R Colombina talpacotti rolinha-roxa AA * F R Leptotila verreauxi juriti-pupu Ma I F-G R Zenaida auriculata pomba-de-bando AA * F-G R Guira guira anu-branco V * C-I R Streptoprocne zonaris andorinhão-coleira V * I R Chlorostilbon aureoventris besourinho-bico-vermelho V * N R Stephanoxis lalandi beija-flor-de-topete Ma I N R Celeus flavescens joão-velho Ma M I R Colaptes campestris pica-pau-do-campo AA * I R Lepidocolaptes falcinellus arapaçú-escamoso Ma M I R Sittasomus griseicapillus arapaçú-verde Ma M I R Furnarius rufus joão-de-barro AA * F-I R Lochmias nematura joão-porca FL-AU I I R Synallaxis spixi joão-teneném AA * I R Synallaxis cinerascens pi-puí Ma I I R Syndactyla rufosuperciliata trepador-quiete Ma S I R Tamnophilus caerulescens choca-da-mata Ma I I R Camptostoma obsoletum risadinha V * I R Elaenia mesoleuca tuque FL I-M F-I M Pitangus sulphuratus bem-te-vi V * O R Todirostrum plumbeiceps tororó FL-AU I I R Tyrannus melancholicus suiriri V * F-I M Tyrannus savana tesourinha-do-campo AA * F-I M
continua
32
Tabela 5. cont.
N. científico N. popular Habitat MicroHabitatCateg. trófica Permanência
Chiroxiphia caudata dançador Ma I-M F-I R Troglodytes musculus corruíra V * O R Pheoprogne tapera andorinha-do-campo AA I-M I M Turdus albicolis sabiá-coleira Ma I-M F R Turdus amaurochalinus sabiá-poca Ma I-M F-I R Turdus rufiventris sabiá-laranjeira V x F-I R Cyclarhis gujanensis pitiguari AA-Ma I-M-S F-I R Coeraba flaveola cambacica V * F-N R Euphonia chlorotica fim-fim V * F R Pipraeidea melanonota saíra-vivúva Ma S I R Thraupis sayaca sannhaçú-cinzento V * F R Molothrus bonariensis vira-bosta AA * O R Poospiza lateralis quete Ma M-S F-G R Zonotrichia capensis tico-tico V x F-I R Saltator similis trinca-ferro-verdadeiro Ma S F R Basileuterus culicivorus pula-pula Ma I-M I R Basileuterus leucoblepharus pula-pula-assobiador Ma I-M I R Parula pitiayumi mariquita V * I R Passer domesticus pardal U * O R
4.5.1 Habitat
Em relação ao habitat destacam-se as ocorrências de espécies de floresta (48%), de vários
habitats (27%) e de área aberta (20%). Juntas representam 88% das espécies (Fig. 8). Se
considerarmos a característica de tamanho do fragmento e sua matriz (ambiente urbano), estes dados
expressam estas características. O fragmento é pequeno, porém predominantemente florestal, e está
circundado por áreas de campo úmido com maricazal (predomínio da espécie Mimosa bimucronata)
associado à vegetação ciliar e pela periferia da zona urbana.
33
Figura 8. Distribuição de freqüências das espécies da avifauna por hábitat, onde: AU = Área Úmida, AA = Área Aberta, V = Vários, U = Área Urbana e FL = Floresta.
4.5.2 Microhabitat
Em relação ao microhabitat, a maioria das espécies ocorre preferencialmente no estrato
inferior (55%), em seguida no estrato superior (22%) e no inferior (14%.) Apenas uma espécie tende
a ocorrer em médio e superior e uma em inferior, médio e superior (Fig. 9).
Estes resultados podem estar relacionados ao fato de o sub-bosque estar bem desenvolvido,
com elevada cobertura e apresentando várias espécies arbóreas regenerando, ao mesmo tempo que o
estrato médio é pouco representativo e no estrato superior predominam espécies de grande porte.
Figura 9. Distribuição de freqüências das espécies da avifauna por microhabitat, onde: S = estrato superior, M = estrato médio e I = estrato inferior.
AA20%
AU8%
V27%
U3%
FL42%
S
22%
M15%
I29%
I-M26%
M-S4%
I-M-S4%
34
4.5.3 Categoria Trófica
Em relação à categoria trófica, observaram-se maiores valores para ocorrência de espécies
com hábito tipicamente insetívoro (47%) e frugívoro (30%) (Fig. 10) relacionadas às características
da estrutura da vegetação citadas anteriormente além da presença da artropofauna. Tal situação é
conseqüência da elevada quantidade de biomassa de artrópodes disponíveis em florestas, bem como
de quantidade de espécies de plantas que produzem frutos atrativos à avifauna.
Figura 10. Distribuição de freqüências das espécies da avifauna por categoria trófica, onde: C = carnívoro, I = insetívoro, D = detritívoro, O = omnívoro, F = frugívoro e G = granívoro.
4.5.4 Permanência
Por fim, em relação à permanência identifica-se que 50 espécies (90%) representam à
categoria de residentes. Ou seja, a maioria das espécies identificadas é residente, com exceção de
algumas espécies migradoras como o Socozinho (Butorides striatus), Suiriri (Tyrannus
melancholicus), Tesourinha-do-Campo (Tyrannus savana), Tuque (Elaenia mesoleuca) e Andorinha-
do-Campo (Pheoprogne tapera).
4.6 Qualidade da Água Os parâmetros obtidos para a água do lago existente no Parque Municipal Dr. Tancredo
Neves foram comparados com a Resolução CONAMA Nº. 357/2005, a qual trata da classificação das
águas e suas qualidades (Tab. 5) e com a PORTARIA SSMA Nº. 02/98, a qual aprova o
enquadramento do Rio Gravataí, segundo a Resolução CONAMA Nº. 20/86. Apesar de realizarmos
C9%
I47%
D3%
O10%
F30%
G1%
35
apenas uma coleta de água em uma determinada data é possível fazermos algumas observações e
recomendações.
De acordo com os dados obtidos de Nitrato, Nitrito, Sólidos Totais e Escherichia coli (Tab.
5), estes se enquadram na Classe 1. Segundo a Resolução CONAMA Nº. 357/2005, esta condição
caracteriza a qualidade da água ao abastecimento doméstico, após tratamento simplificado, e à
proteção das comunidades aquáticas.
Os parâmetros de Oxigênio Dissolvido (OD) e Turbidez (Tab. 5) se enquadram na Classe 2,
na qual entre outras características são águas destinadas ao abastecimento doméstico, após
tratamento convencional.
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) foi enquadrada em Classe 3. Entre outras
características, nesta classe as águas podem ser destinadas ao abastecimento doméstico, após
tratamento convencional e à dessedentação de animais.
De acordo com os valores de pH, considerados para avaliar as condições do Nitrogênio Total,
este se enquadra na Classe 3. Dentre outras características, destaca-se o fato de ser destinada a
recreação de contato secundário e à dessedentação de animais.
No que diz respeito aos Coliformes Totais, os resultados permitiram enquadrar a água em
Classe 4, caracterizada principalmente por usos menos exigentes. Assim, conclui-se que a partir desta
variável que não é possível fazer qualquer uso humano deste corpo hídrico.
Em relação ao enquadramento deste corpo hídrico a partir da PORTARIA SSMA Nº. 02/98, a
qual enquadra este trecho em Classe 2, este não se enquadra em relação aos parâmetros DBO,
Nitrogênio Total e Coliformes Totais.
A partir dos dados apresentados não recomendamos o uso deste corpo hídrico para nenhum
uso humano. A utilização deste recurso seria possível a partir de tratamentos simples empregado
comumente em estações de tratamento de água realizado por especialistas.
Destaca-se, porém, a importância deste recurso por se tratar de uma nascente, sua qualidade
para proteção da comunidade aquática local e dessedentação de espécies da fauna presentes no
Parque.
Outro fato de suma importância é o seu uso para atividades de Educação Ambiental, pois
além de questões ecológicas, apresenta grande relevância paisagística tornando-se um local propício
para o desenvolvimento de intervenções educativas (Fig. 11).
36
Tabela 5. Relação das variáveis ambientais da água coletada na lagoa do Parque Municipal Dr.
Tancredo Neves.
Parâmetros Classe 2* Concentração
Temperatura ( oC) - 17,6 pH 6 a 9 5,8 Condutividade (µS/cm) - 230 Oxigênio dissolvido ≥ 5 5,3 Demanda bioquímica de oxigênio ≤ 5 6,02 Fósforo total (mg/L) 0,03 0,72 Nitrogênio amoniacal total (mg/L) 3,7 5,28 Nitrito (mg/L) 1 0,014 Nitrato (mg/L) 10 2,25 Sólidos dissolvidos totais (mg/L) 500 266 Turbidez (UNT) 100 42,8 Esclerichia coli (NMP/100mL)** 200 10 Coliformes termotolerantes (NMP/100mL)*** 1.000 24.196
*Classe 2 da Resolução do CONAMA 357/2005. **Esclerichia coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes *** não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral.
Figura 11. Vista geral da lagoa existente no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves. Destaque na foto para o predomínio da espécie herbácea maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana) às margens do corpo d’água, uma espécie exótica invasora.
37
4.7 Caracterização e Determinação da Capacidade de Carga Turística das Trilhas 4.7.1 Trilha do Lago
Caracteriza-se por ser circular, com extensão de 800 m, a qual leva a um lago formado a
partir de uma nascente. Esta trilha cobre grande parte do Parque e sua largura é variável, de acordo
com o trecho percorrido, variando de menos de 1m a pouco mais de 5m (Fig. 12).
É caracterizada por apresentar predomínio de vegetação secundária, onde se destaca o sub-
bosque e o estrato superior. Em relação ao sub-bosque destaca-se a presença de Psychotria leiocarpa
(cafeeiro-do-mato), Casearia sylvestris (chá-de-bugre), Cabralea canjerana (canjerana) e Piper
gaudichaudianum (pariparoba), além de indivíduos de grande porte nativos como Cordia americana
(guajuvira), Guapira opposita (maria-mole), C. canjerana, Ficus cestrifolia (figueira-de-folha-
miúda), Eugenia rostrifolia (batinga), Jacaranda micrantha (caroba), entre outras. Ainda, é possível
observar algumas espécies exóticas como Hovenia dulcis (uva-do-Japão). Algumas espécies de
epífitas são observadas como bromeliáceas apoiadas em Ficus cestrifolia (figueira) e lianas como
Pyrostegia venusta (cipó-são-joão).
De acordo com o cálculo de determinação da Capacidade de Carga das Trilhas, para esta é
permitida 65,7 visitas/dia (Tab. 6) e sugere-se em grupos de no máximo 15 indivíduos. O fator de
correção social e de fauna foram os itens que mais restringiram o número de visitas.
Figura 12. Vista parcial da trilha do lago, onde (a) trecho com erosão e (b) vista do lago.
38
4.7.2 Trilha da Vovó
Esta trilha é uma variação da trilha do lago apresentando o mesmo percurso, sendo que no
ponto 580m inicia-se um trajeto de ida e volta até uma figueira-de-folha-miúda (F. cestrifolia)
centenária (Fig. 13).
Neste trajeto é possível observar a presença de indivíduos de Calyptranthes grandifolia
(guamirim), Piper gaudichaudianum (pariparoba), Sorocea bonplandii (cincho), Psychotria
leiocarpa (cafeeiro-do-mato), Myrsine umbellata (capororoca), Guarea macrophylla (pau–d’-arco),
Myrcianthes pungens (guabijú). A presença de lianas como Pyrostegia venusta (cipó-são-joão)
podem ser visualizadas, assim como no estrato herbáceo indivíduos de Pharus lappulaceus
(bambuzinho) e Doryopteris multipartita (samambaia-mão). No final do trajeto de ida, onde se
encontra a figueira centenária há ainda a presença de Guapira opposita, Piper gaudichaudianum,
Pavonia sepium (carrapicho), Solanum mauritianum (fumo-brabo), cf. Juglans regia (nogueira) e
Citrus limon (limoeiro).
Devido a esta variação, a CCT para esta trilha ficou em 60,21 visitas/dia (Tab. 6), sendo que
o fator de correção social e da fauna foram os fatores que mais influenciaram para este resultado.
Figura 13. Aspectos da trilha da vovó, onde (a) presença do tronco da figueira centenária e (b) vista parcial da trilha, numa área mais aberta.
39
4.7.3 Trilha da Ginástica
É uma trilha com extensão de 315m, sendo a menor de todas (Fig. 14), de forma circular e
num único sentido. Apresenta um sub-bosque pouco desenvolvido, sendo caracterizada pela presença
de espécies plantadas como Ceiba sp. (paineira), Hovenia dulcis (uva-do-Japão), entre outras. Ainda
ao longo da trilha observamos a presença de Eugenia rostrifolia (batinga), Cedrela fissilis (cedro),
Hovenia dulcis, Campomanesia xanthocarpa (guabiroba), Cordia americana (guajuvira), Trema
micrantha (grandiúva), Nectandra megapotamica (canela-preta), Myrsine coriacea (capororoquinha)
e Cestrum strigilatum. No estrato herbáceo há ocorrência de Impatiens walleriana (maria-sem-
vergonha), Tradescantia zebrina (onda-do-mar) e Elephantopus mollis (erva-grossa).
Ao final da trilha ainda observa-se indivíduos jovens de Erythroxylum argentinum (cocão) e
de porte arbustivo, espécimes de Casearia sylvestris (chá-de-bugre), Cestrum strigilatum, Cordia
americana (guajuvira), Myrsine coriacea (capororoquinha), Allophylus edulis (chal-chal) e Grevillea
robusta (grevílea), além de epífitas como Peperonia pereskiaefolia (erva-de-vidro).
Para esta trilha foi calculada a capacidade de carga turística de 16,79 indivíduos/dia (Tab. 6)
devido as suas característica peculiares como: tamanho, fator de correção para alagamentos e fauna.
Assim, sugere um grupo de 15 pessoas para cada visita.
Figura 14. Vista geral da trilha da ginástica.
40
Tabela 6. Cálculos para determinação da Capacidade de Carga Turística (CCT) de três trilhas existentes no Parque Municipal Dr. Tancredo Neves.
Capacidade de Carga Física Lago Vovó Ginástica
Tamanho da Trilha 800m 1022m 315m
Tempo necessário para percorrer a trilha 1h 1h30mim 45mim
Visitas / dia / visitante (NV) 9 6 12
CCF - cálculo (800/2)*9 (1022/2)*6 (315/2)*12
CCF 3600 visitas / dia 3066 visitas / dia 1890 visitas / dia
REALNG = 5,71 NG = 7,3 NG = 2,25P = 114,2 P = 146 P = 45ml = 685,8 ml = 876 ml = 270
0,142 0,142 0,142ad = 28 m ad = 28 ad = 0
md = 0 md = 0 md = 00,96 0,97 1
hc = 540 h hc = 540 h hc = 540 hht = 3.285 h ht = 3.285 h ht = 3.285 h
0,84 0,84 0,84ma = 180 m ma = 180 m ma = 200mt = 800 m mt = 1022 mt = 315
0,77 0,82 0,36Fcfau1 - pr = 2 Fcfau1 - pr = 2 Fcfau1 - pr = 2FCfau2 - pr = 1 FCfau2 - pr = 1 FCfau2 - pr = 1Fcfau3 - pr = 3 Fcfau3 - pr = 3 Fcfau3 - pr = 3
0,46 0,46 0,46hf = 2340 hf = 2340 hf = 2340ht = 936 ht = 936 ht = 936
1,5 1,5 1,5CCR 219,01 200,71 55,99
EFETIVA
CM 0,3 0,3 0,3
CCE = CCR x CM 65.7 visitas dia 60.21 visitas dia 16.79 visitas dia
CCR = CCF (FCsoc * FCdecliv * FCpre * FCalag * FCfau * FCitemp)
CCE = CCR * CM
FCsoc
FCdecliv
FCpre
FCalag
FCfau
FCitemp
Além das características descritivas, como a estrutura da vegetação, as trilhas apresentam
uma grande beleza cênica e elementos possíveis para se desenvolver a Educação Ambiental. Dentre
estas, destacam-se questões ecológicas como dossel desenvolvido, presença de epífitos, de aves e
árvores cujos troncos apresentam insetos; a presença de uma nascente, seu estado de poluição e suas
origens, relacionado ao seu uso e a presença humana em Unidades de Conservação; conflitos sócio-
ambientais, com as comunidades do entorno e usuários, entre outros.
41
4.8 Diagnóstico Sócio-ambiental
O Parque Tancredo Neves é uma Unidade Conservação Municipal de Proteção Integral que
se insere na categoria de uso indireto. Tem como objetivo preservar os ecossistemas naturais de
relevância cientifica e desenvolver atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação
em contato com a natureza e de turismo ecológico (Sistema Nacional Unidades de Conservação,
2000).
Em 1995, em parceria com o Instituto Unibanco, foi instalado o Centro de Educação
Ambiental Francisco de Medeiros no Parque. No Centro são desenvolvidas atividades com o objetivo
de sensibilizar a comunidade e proporcionar conhecimento da relação entre os seres e seu meio.
O público que participa das atividades são alunos de escolas municipais, estaduais e
particulares, pessoas encaminhadas pelo Posto de Saúde de atendimento médico do SUS da
comunidade vizinha ou e de outros bairros de Cachoeirinha. As pessoas procuram o Parque para
realizar atividades porque esse espaço foi indicado por conhecidos ou através da leitura dos anúncios
dos jornais da cidade. As atividades são direcionadas para a comunidade em geral e não existe uma
proposta voltada especificamente para a comunidade do entorno.
No Parque são desenvolvidos projetos que levam em consideração os diferentes participantes
e suas necessidades, tais como: Ginástica no Parque que utiliza o ar livre para prática de atividades
físicas, integrando as pessoas ao ambiente natural (como exemplo, a ginástica para diabéticos e
hipertensos); Oficina Verde onde os alunos participam da produção de mudas de árvores nativas,
jogos e técnicas para despertar a responsabilidade de cuidar do ambiente através de atividades
práticas; Oficina de Xadrez como o objetivo de melhorar a concentração e o raciocínio dos
participantes; Curso de Jardinagem e Paisagismo em Harmonia com a Natureza, a arte de projetar
um jardim com espécies nativas; Curso de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares:
manipulação e a utilização das plantas; Oficina musical para a sensibilização musical (Teclado,
Técnica Vocal); Grupo de Danças Circulares Sagradas e Grupo de Meditação, Relaxamento e
Mandalas: técnicas de relaxamento e vivencias; Exposições realizadas em datas e eventos
comemorativos (semana do índio e etc.); Palestras adaptadas as diferentes faixas etárias abordando
questões relacionadas aos agrotóxicos, ervas medicinais, resíduos sólidos, água, mudanças
climáticas, desenvolvimento sustentável, vídeo "Agressão ao Homem" e Trilhas Ecológicas
realizadas no interior da mata.
De acordo com um cronograma organizado pela coordenação, as atividades podem ser
realizadas no Parque no turno da manhã (8h30min ás 11 horas) e/ou no turno da tarde (14h ás 17h).
Para que o Parque possa funcionar estão envolvidos 14 trabalhadores direta e indiretamente na
42
organização e no desenvolvimento das atividades. Os profissionais desempenham as funções de
serviços gerais (3), de técnica agrícola (1), de coordenação (1), de administrativo (1), de educadora
ambiental (1), professores de música (2), de estagiário de educação física (1), de auxiliar de
enfermagem (1) e guardas noturnos (4).
Segundo a coordenadora, o Parque enfrenta problemas de ordem social (prostituição no seu
interior e arredores, falta de segurança) e econômica (manutenção, falta pessoal como educadores e
guardas florestais). A manutenção nem sempre é realizada, pois o orçamento da Secretaria de Meio
Ambiente é direcionado para o desenvolvimento de atividades no Centro de Educação Ambiental.
Sócio Econômico Demográfico
A cidade de Cachoeirinha possui uma população estimada 121.880 habitantes. As atividades
de produção estão voltadas para a indústria com mais de mil indústrias instaladas e um intenso
comércio com 3.800 estabelecimentos. O município tem uma área voltada para agricultura com uma
Estação Experimental do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA) que desenvolve pesquisa com o
arroz (Plano Ambiental de Cachoeirinha, 2007).
Na década de 80, com a implantação de grandes loteamentos e conjuntos habitacionais
destinados à população de menor poder aquisitivo e com a implantação do Distrito Industrial pela
Companhia de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Rio Grande do Sul (CEDIC – extinta em
1995) mudou o perfil das pessoas que buscam fixar residência no município de Cachoeirinha. Esse
espaço urbano se constitui por pessoas oriundas de diferentes municípios do estado. As pessoas
entrevistadas, que moram no entorno do Parque, na sua maioria (77%), vieram de outros municípios
do Estado, 21% se deslocaram internamente no município de Cachoeirinha para o bairro do Parque e
somente 2% é proveniente de outro Estado.
Os usuários do Parque são originários das regiões sudoeste, leste, oeste, central e norte do
estado do Rio Grande do Sul, também vieram do estado de Santa Catarina e Goiás. O que chama
atenção para os usuários do Parque é que nem todos moram na cidade de Cachoeirinha. Das 63
pessoas que responderam o questionário, 44 são moradores do município de Cachoeirinha, 11
residem em Gravataí, 5 na cidade de Porto Alegre, 2 de Canoas e 1 de Alvorada.
As pessoas que moram no entorno do Parque trabalham nas áreas humanas, artes, saúde,
ciências agrárias e segurança. A renda familiar dessas pessoas varia de três salários chegando a mais
de 8 salários. As famílias que recebem mais de 3 salários representam 43% do percentual das
famílias, 14% recebem até cinco salários, 5% recebem mais de oito salários e 4% restante do
percentual das famílias estão desempregados.
43
Composição Social da Casa, Faixa Etária, Educação e Saúde
O fato da existência de moradores ao redor do Parque que é uma Unidades de Conservação
Municipal de Proteção Integral que se insere na categoria de uso indireto, significa que é preciso
conhecer a realidade dos habitantes nos seus diferentes aspectos para o planejamento de atividades de
educação e interpretação ambiental envolvendo estes atores sociais na preservação e conservação do
Parque.
Os moradores (87%) do entorno do Parque têm na sua composição familiar duas a cinco
pessoas e 13% dos moradores têm cinco a dez pessoas na sua composição. As famílias são formadas
por 50% do sexo masculino, entendendo que existe uma variação de porcentagem no número de
homens, tal como: 45% das famílias têm dois homens, 30% três homens, 14% um homem, 11%
quatro homens. A composição das famílias quanto ao sexo feminino é de 50%, sendo que há uma
variação de porcentagem no número de mulheres, 35% das famílias têm duas mulheres, 23% uma
mulher, 20% três mulheres, 11% seis mulheres, 7% sete mulheres e 4% quatro mulheres.
As idades das pessoas que compõem as famílias foram organizadas por quatro faixas etárias:
primeira faixa etária, 19% das famílias têm filhos de até 9 anos; segunda faixa etária, 19% têm
filhos de 10 à 20 anos; terceira faixa etária, 60% das famílias têm de 21 à 59 anos e estão inseridos
pais e filhos, por isso é a maior porcentagem de todas as faixas etárias; e quarta faixa etária, apenas
2% possui mais de 60 anos, estando inseridas os avós que moram com os filhos.
Nas proximidades do Parque existe uma escola municipal, uma escola particular e uma
escola estadual. Podemos observar, Página: 43
a partir do número total de pessoas na composição das famílias que são 220 pessoas, e que existe
um investimento na educação, ou seja, 52% cursaram ou estão cursando o Ensino Fundamental,
29% cursaram ou estão cursando Ensino Médio, 32% estão na faixa etária de Educação Infantil,
porém não são todas as crianças que freqüentam um espaço educativo, provavelmente isso
aconteça pelo pequeno número de escolas infantis disponibilizadas para a população, 2% Ensino
Superior e 2% não freqüentaram a escola.
A Rede Municipal de Ensino de Cachoeirinha é composta por sete escolas de Educação
Infantil e 20 de Ensino Fundamental, sendo uma na modalidade de Educação Especial, onze de
Ensino Fundamental incompleto; 6 atendem a modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA e
nessa modalidade, desenvolve-se o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) e
convênio com sete creches comunitárias. O índice de analfabetismo e o número de crianças em idade
escolar que estão fora da escola são considerados baixo. O número de analfabetos é de 1.754 (Plano
Ambiental de Cachoeirinha, 2007).
44
No município de Cachoeirinha, segundo o levantamento informado pela Vigilância
Epidemiológica e Ambiental do Departamento de Vigilância em Saúde, há um coeficiente de
mortalidade por doenças respiratórias superior ao coeficiente da 1ª Regional de Saúde. A forte
degradação sócio-ambiental das regiões metropolitanas, os impactos ambientais das atividades
agrárias extensivas e intensivas que causam desmatamento e perda da biodiversidade têm uma inter-
relação entre saúde e meio ambiente. Como exemplo disso está à queimada, poluição do ar, a perda
da fertilidade do solo, a crescente erosão e contaminação dos solos e dos recursos hídricos.
O Município possui em torno de 25% de sua área geográfica ocupada com estabelecimentos
industriais. Um acidente na Distribuidora de Produtos Químicos MBN provocou uma seqüência de
danos ambientais e sujeitou a população que mora no entorno da distribuidora a riscos diversos. A
explosão ocorreu em 2006 e mais de mil toneladas de 60 produtos entre inflamáveis e corrosivos
contaminaram a água, o solo e o ar (Plano Ambiental de Cachoeirinha, 2007).
Outro dado preocupante é o alto índice de internações por doenças respiratórias. De acordo
com a enfermeira chefe do Posto de Saúde próximo ao Parque, os problemas de saúde mais comum
nessa região são: respiratórios, diarréia, hipertensão, diabéticos e doenças transmitidas por contágio
sexual como: protozoários Trichomonas, bactéria Gardnerella e vírus da AIDS (HIV).
Os moradores entrevistados apontam que na família e/ou na comunidade existem problemas
respiratórios, de pele, alergias e verminose. Quatorze pessoas não sabiam informar quais seriam os
maiores problemas de saúde que a comunidade enfrentava.
A escola particular, a escola estadual e a prestadora de serviços afirmam que não têm
conhecimento dos problemas de saúde da comunidade.
Habitação, Infra-Estrutura e Produção de Resíduo
Os moradores do entorno do Parque habitam em casas de alvenaria ou de madeira e a maioria
residem em casa própria, sendo que 51% possuem a escritura e 38% ainda não possuem a mesma. Do
restante, 7% das casas são alugadas e 4% não informaram sobre a situação da moradia.
No bairro existe a Estação de Tratamento de Esgoto Granja Esperança, sendo que o bairro é
parcialmente atendido por este sistema, ocorrendo lançamento de esgoto sanitário sem tratamento na
rede pluvial em área verde (Parque) com risco de contaminação do solo e dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos.
Nas casas do entorno do Parque 42% do esgoto é público, 31% possuem fossas no próprio
terreno, 11% apresentam encanamento até o riacho, 5% não tem fossa e 11% não souberam informar.
A água utilizada da rede pública é de 77%, porém 23% das famílias utilizam a água retirada
de poço artesiano.
45
O município de Cachoeirinha realiza coleta seletiva através de empresa terceirizada. O
resíduo reciclável recolhido é levado para a unidade de triagem, pertencente à Associação dos
Classificadores de Resíduos Recicláveis (ACRER). Esta foi fundada em 22 de dezembro de 1999,
por pessoas interessadas na conscientização ecológica através da reciclagem de resíduos. A entidade
recebe recursos financeiros da METROPLAN. Em 2006, foi lançado o Projeto Piloto do Movimento
dos Catadores que busca o recolhimento de resíduos recicláveis nos domicílios. Dentre os mais
graves problemas existentes no Município estão as inúmeras disposições clandestinas de lixo em
terrenos baldios e nos cursos d’água (Plano Ambiental de Cachoeirinha, 2007).
No Parque foi organizado um posto de entrega voluntária de resíduo. No entanto, a proposta
não está funcionando porque não foi mobilizado um número considerável de pessoas para entregar o
resíduo. Somente alguns funcionários e freqüentadores trazem o resíduo reciclável. O resíduo
orgânico é colocado diretamente nos canteiros ou na compostagem. O caminhão que transporta o
resíduo reciclável tem faltado constantemente em sua tarefa, ocasionando problemas ao Parque.
Quando os moradores foram indagados se realizavam a separação do lixo, 53% responderam
que faziam separação do lixo de forma indireta e justificaram que o fazem porque os Carroceiros e
Papeleiros fazem a coleta ou porque entregam o resíduo reciclável para a escola. Ficou evidenciado
que a separação do resíduo ocorre porque a coleta é realizada. Quanto à separação do resíduo é
importante salientar que a separação é vinculada de acordo com o tipo de coleta. Caso seja para o
Papeleiro, se restringem a separar o papel, se for para o carroceiro separam garrafas de plástico,
papel e vidro. Somente uma pessoa explicou que faz a separação porque não quer contribuir para o
aumento da poluição. Essa mesma pessoa destina o resíduo orgânico para a horta.
São 45% que não separam o resíduo e explicam os motivos da seguinte forma: por falta de
cuidado, falta de tempo, porque não existe reciclagem, porque não tem coleta seletiva e porque a
Prefeitura recolhe. Ainda, 2% afirmam que às vezes separam o resíduo.
Há um grande número de pessoas que acreditam que é importante fazer a separação dos
resíduos sólidos e assim estão contribuindo com o ambiente. Porém, é preciso resolver os problemas
do não recolhimento do resíduo. É necessário realizar um trabalho educativo para que as pessoas
possam entender o processo e a maneira de mobilizar os moradores para exigir do poder público
soluções com relação à eficiência dos serviços de coleta e sua ampliação.
O destino do lixo por 89% da comunidade do entorno é a coleta normal, 9,0% vai para a
coleta normal e seletiva e apenas 2,0% destinam para a compostagem o resíduo orgânico.
A Prefeitura faz a coleta três vezes por semana segundo 70% dos moradores, 21%
informaram que a coleta é duas vezes por semana, 2% uma vez por semana, 2% informaram que é
realizada diariamente e 5% não informaram.
46
O Posto de Saúde não recicla o resíduo seco comum. O lixo comum é coletado pela
Prefeitura três vezes por semana. E o lixo perfuro-cortante é coletado de 15 em 15 dias por uma
empresa terceirizada.
As escolas fazem à separação do resíduo seco e duas delas entregam para os carroceiros e
catadores e uma para uma cooperativa. O resíduo comum é coletado pela Prefeitura três vezes por
semana.
Os usuários, quando produzem o lixo no Parque, levam para casa ou usam a lixeira, mas se
for resíduo como cascas de frutas são colocadas nas plantas. Neste caso, é importante informa aos
usuários que o resíduo de matéria orgânica deve ser colocado em uma composteira que passa por um
processo de degradação até estar pronto para colocar nas plantas.
As escolas fazem à separação do resíduo seco e duas delas entregam para os carroceiros e
catadores e uma para uma cooperativa. O resíduo comum é coletado pela Prefeitura três vezes por
semana.
Para os diferentes tipos de resíduos é preciso adotar procedimentos de coleta,
acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final. Por isso, as gestões
públicas das cidades necessitam de planejamento ambiental para evitar as repercussões sobre o meio
ambiente (solo, água, ar e paisagem) e sobre a saúde humana. O desenvolvimento do planejamento
ambiental contribui para diminuir os danos ao ambiente e deve proporcionar o engajamento da
comunidade nas questões ambientais.
Percepção Ambiental
No Parque, onde existe um Centro de Educação Ambiental, é fundamental que se conheça a
percepção dos moradores do entorno, dos usuários e da comunidade. A partir das questões indicadas
pelo público é possível organizar o trabalho educativo de acordo com as necessidades de
conhecimentos, de esclarecimentos de dúvidas e de novos conhecimentos, assim como desmistificar
saberes que foram transmitidos de geração em geração, mas que estão equivocados. A percepção é
importante para a compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas,
comportamento e julgamento. Isso contribuirá de forma significativa no trabalho educativo do Centro
de Educação Ambiental.
Os moradores do entorno (86%) afirmam que conhecem o Parque, porém 14% dizem que não
conhecem o mesmo. Ao serem indagadas se já visitaram o Parque, 79% responderam que sim e
dentre elas, 46% já estiveram lá mais de três vezes, 38% no mínimo três vezes e 21% nunca
estiveram no Parque.
47
Ao realizarmos a pergunta se já estiveram no Parque, observamos uma diferença no
percentual de pessoas que nunca estiveram lá e dizem conhecer o parque, o que inferimos que elas
tenham entendido que conhecer significa saber da sua existência.
Os motivos que levam as pessoas a visitar o Parque são: 98% para passeio e recreação e
somente 2% educativo. Os usuários explicam os motivos que os levam ao Parque são para conhecer,
visitar, pesquisar, turismo, por ser educativo e para participar de alguma atividade como: ginástica,
trilha, exposição, curso, música, seminários, dança circular, mandalas, meditação, clube do bosque,
curso jardinagem, pinturas em tela, passeios e ecologia e liderança.
A maioria das pessoas entrevistadas (58%) não avistou animais no Parque e 42% já avistaram
animais, tais como: cachorros, pássaros, lagartos, cobras, gato do mato, azulão, esquilos, gambás,
aves, papagaios, tartarugas, serpentes, ouriços, cavalos, ratão, saracura, preá, capivaras, caturrita
verde e carcará.
Para os usuários em suas atividades, 78% já avistaram aves, animais e insetos (pássaros,
cachorro, gambá, raposa, cavalo, lagarto, cobra, gaviões, tartaruga, coruja, ratão, morcego, aranhas,
mosquitos e borboletas). E 22% não avistaram nenhum tipo de animal. O que chama atenção que as
pessoas indicam o cachorro como um animal no Parque, no entanto, animais domésticos não são
permitidos em Unidade de Proteção Integral.
Mais do que a metade (72%) das pessoas desconhecem as plantas que existem no Parque e
28% conhecem algumas plantas, tais como: peroba, canela, ipê-amarelo e roxo, guabiroba, pitanga,
cereja, chá, canela-do-mato, canela-doce, coquinho, cedro, angico, orquídea, bromélias, nozes,
quaresmeiras, rasteiras, cedro, guabijú, guabiroba, bromélia, guabiroba, cereja, angico, cambará,
figueira, jaca, batinga, pitanga e pingo-d’água.
Os usuários afirmam que não retiram nenhuma espécie de planta do Parque e somente 11%
deles levam mudas do viveiro, as quais são doadas pelo Parque.
Para os moradores do entorno e usuários o Parque representa um espaço onde buscam
vivenciar as lembranças da infância, as sensações e sentimento de bem estar, um lugar fresco no
verão para ficar, pela beleza das flores, um lugar para as crianças brincarem, um espaço de lazer e
encontro com a natureza e pessoas diferentes.
Falas que exemplificam os sentimentos e lembranças da infância: “Fui criada no interior e
gosto do mato”, “o cheiro da mata de manhã cedo”, “um lugar bonito que transmite tranqüilidade e
calma” (Entrevista, outubro de 2007). No entanto, também representa um espaço de violência, de
perigo de insegurança pela presença de prostituição e de tráfico de drogas.
Os moradores e os usuários identificam que o poder público está relacionado à administração
do Parque, em relação à falta de cuidado, ao lixo, à existência de animais mortos, mau cheiro, má
conservação e preservação, um lugar bagunçado e à falta de funcionários.
48
Apontam que os moradores do entorno deveriam ser incentivados a participar mais de
atividades no Parque, e por fim, de que ao redor do mesmo deveria ter um caminho onde as pessoas
pudessem realizar caminhadas.
Quanto à importância da preservação deste espaço, 70% dos moradores consideram que é
muito importante, 24% importante e 6% não consideram importante. Justificam que o Parque deve
ser preservado para as futuras gerações afirmando que “se não cuidar dos bichos as crianças não
irão conhecê-los, que os seres humanos não podem sobreviver sem o meio ambiente e que é o único
espaço na região para levar as crianças”.
Na questão sobre como a comunidade se relaciona com o Parque, 67% dos moradores aponta
que ajuda na preservação e 33% considera que a comunidade prejudica-o quando jogam lixo,
derrubam árvores, não contribuem para melhorar as áreas devastadas, quando ocorrem roubos, com a
presença de prostituição e que o descaso da Prefeitura também é uma forma de prejudicá-lo.
As pessoas que utilizam o Parque apontam que o ambiente do mesmo é prejudicado quando
os carros passam pela frente emitindo gases e poluição sonora.
Para a coordenadora do Parque, a comunidade ainda o vê como uma área de lazer que foi
abandonada pelo município. Afirma que estão trabalhando para modificar essa imagem. As pessoas
que participam das atividades acabam compreendendo a importância de uma área de preservação.
Problemas Ambientais
A comunidade de Cachoeirinha aponta os seguintes problemas ambientais: fumaça, fogo
em lixo, poluição dos rios e arroios com lixo e esgoto, ocupação e construção irregulares nas
margens dos arroios, urbanização nas margens e APP, desvio do rio Gravataí para a irrigação,
assoreamento do rio, instalação de indústrias na planície de inundação, risco de especulação
imobiliária, ocupação desordenada, falta de aproveitamento social e coletivo, falta de
conhecimento da mata nativa, falta de reciclagem, falta de recicladores, podas indiscriminadas,
falta de local para descarte, despejos irregulares de materiais de construção. Dentre os mais
graves problemas existentes no Município, estão as inúmeras disposições clandestinas de lixo,
tanto em terrenos baldios como nos cursos d’água. Este problema está relacionado com a baixa
eficiência dos serviços de coleta e com fatores culturais e econômicos (Plano Ambiental, 2006).
No Parque Tancredo Neves os problemas ambientais estão relacionados com o abandono, a
falta de manutenção, fiscalização, regulamentação do uso. Foi observado ao longo do levantamento
ambiental, realizado em 2007 pela equipe da UFRGS/Ecologia que, em toda a extensão do Parque
tem a presença de resíduos domésticos (Fig. 15) e, ao longo das trilhas, restos de oferendas aos
orixás, árvores queimadas e descarte de roubo (agenda, carteira de identidade, carteira de estudante,
49
bolsa) e indícios da prostituição dentro do parque – como camisinhas, papel higiênico, etc. A
depreciação do meio-ambiente faz com que atividades depreciativas também sejam estimuladas e
com isto tanto administração pública ou privada, usuários e moradores do entorno são responsáveis
por tais práticas.
Figura 15. Resíduos no Parque e na parte interna do tronco da árvore.
Os problemas da região indicados pelos moradores são: a violência (33%), o lixo (33%) e
falta de infra-estrutura (12%), rua alagada, calçamento, assistência médica, venda de drogas,
prostituição, poluição da água (8%) e fogo (8%).
Os representantes do Posto e de duas escolas do entorno consideram que os problemas são a
falta de assistência médica, de infra-estrutura, alagamento, iluminação, poluição da água, violência,
fogo, lixo, esgoto, prostituição e falta de segurança.
Conhecimento das Questões Ambientais
Ao serem indagadas se conheciam alguma campanha relacionada às questões ambientais 34%
dos moradores do entorno responderam que existiam (Projeto Semear, Mudas no Horto, Semear
mudas no Parque, recolhimento de lixo no Parque e plantio, Educação Ambiental, distribuição de
mudas, feira agroecológica), 48% informaram que não existem campanhas e 18% não sabia informar.
As escolas realizam projetos e campanhas com seus alunos, tais como: plantio de árvores,
projeto horta, projetos meio ambiente, agroecologia, água, alimentação saudável e trilha na mata e a
escola municipal realiza feira agroecológica todas as 4ª feira. A escola particular, apesar de estar
localizada ao lado do Parque, não faz nenhuma atividade no mesmo e seu projeto sobre o lixo é
desvinculado do mesmo. As escolas da rede pública realizam visitas educativas no Parque.
50
Dos entrevistados, 60% indicam como um lugar bonito na região as praças e parques (da
Brigada, Citypark, da Matriz, próximo ao Hospital de Cachoeirinha e espaços do próprio Parque
Tancredo). Menos da metade (40%) não apontam nenhum lugar bonito na região.
Os moradores (70%) já ouviram falar sobre Unidade de Conservação e 30% ainda não
ouviram falar. Nas entrevistas e questionários realizados, o Parque Tancredo Neves, não foi citado
em nenhum momento como uma Unidade de Conservação.
Nas entrevistas realizadas com as escolas e a prestadora de serviço todos ouviram falar sobre
Unidade de Conservação. A imprensa foi indicada como um meio de informação sobre preservação e
conservação, assim como o local de trabalho, neste caso, a prestadora de serviço. O Parque Estadual
de Itapuã foi citado, na entrevista com o Posto de Saúde, como exemplo de Unidade de Conservação.
Desejo de Transformação da Realidade
As pessoas consultadas indicam algumas sugestões para modificar a realidade atual do
Parque e da região, com um desejo profundo que suas contribuições sejam valoradas a ponto de
serem observadas pela administração da Prefeitura. As sugestões foram organizadas em dois tópicos
que são: Conflitos Ambientais e Laços com a Comunidade.
Estabelecer Laços com a Comunidade através de reuniões com escolas e comunidade para
auxiliar nos cuidados com o Parque. A própria comunidade aponta para a necessidade de uma maior
proximidade entre o Parque e a população para que haja um engajamento da mesma no processo de
transformação da realidade atual de destruição e falta de cuidado com o ambiente do Parque. O
envolvimento da população nos projetos em áreas protegidas é fundamental, pois se tornam aliados
na proteção desse espaço. Para Diegues (2000), o envolvimento das comunidades do entorno de áreas
naturais podem contribuir de forma significativa para que essas áreas estejam melhor protegidas. De
acordo com Quintas (2005) no processo de transformação do meio ambiente são criadas e recriadas
diferentes maneiras de relação da sociedade com o meio natural.
Os Conflitos Ambientais apontados estão relacionados à gestão do poder público na
organização e manutenção do Parque. Foram indicadas soluções para as questões administrativas, e
de infra-estrutura. Para as questões administrativas apontam que seja solicitado apoio da brigada,
contratar mais pessoal, maior organização e planejamento do Parque, denunciar para não deixar
acumular o lixo, fazer campanhas, não permitir oferendas, não ter a presença de cachorros, que
houvesse maior divulgação das atividades, que o trabalho fosse mais dinâmico, mais trilhas a serem
feitas e trilha orientada, atividades nos finais de semana, realização de plantio de plantas, não tirar
terra, não permitir que joguem lixo, o prefeito deve pagar para limpar o Parque, mais segurança,
vigilância 24h, a existência de uma portaria no Parque, a polícia deve ser chamada quando alguém vê
irregularidades, a população deveria pressionar os governantes para as modificações necessárias.
51
Quanto ás questões de infra-estrutura: a colocação de tela, fechar e cuidar para as pessoas não pular
e jogar lixo, a entrada deve ser sinalizada, embelezamento do espaço, melhoria na pracinha, mais
bancos, reforma das dependências, o espaço do prédio deve ser ampliado para as atividades, mais
cursos direcionados para a Educação Infantil, mais banheiros com filtro anaeróbio e cisternas para
captação de água para usar nos banheiros, infra-estrutura para receber turmas de crianças nos finais
de semana, melhoria nos banheiros, uma pista de caminhada em volta do Parque.
O diagnóstico sócio-ambiental é uma contribuição importante para o planejamento do
trabalho do Centro de Educação Ambiental, pois no Parque deveria ser organizada uma proposta de
Educação Ambiental, que considerasse as questões indicadas pelos moradores do entorno, usuários,
entidades educativas, de saúde e comercial. Nesse levantamento estão apontadas informações nos
diferentes aspectos culturais, sócio-econômico, percepção, as concepções, as necessidades dos
grupos do entorno e elementos significativos que podem se transformar em problematizações no
desenvolvimento do trabalho educativo (Brugger,1994).
Os projetos de Educação Ambiental devem ser planejados, a partir da realidade de cada
grupo, o que significa que, anterior ao desenvolvimento de atividades é preciso conhecer as
concepções de meio ambiente das pessoas envolvidas (Reigota, 1991). O conhecimento das
concepções dos saberes das pessoas envolvidas no projeto de Educação Ambiental permite pensar
nos processos educativos a serem desencadeados de uma forma crítica para as mudanças na relação
da comunidade com o Parque e um comprometimento com ações para a vida não somente no meio
em que se vive, mas com relação à vida do planeta.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A manutenção e/ou preservação de áreas verdes urbanas é uma das principais particularidades
dos ecossistemas urbanos, sendo que a redução da sua diversidade biológica se deve principalmente
pela eliminação gradativa da cobertura vegetal e biota associada.
A vegetação pode assumir diversas funções e em diferentes níveis de atuação no meio
urbano. Sabe-se da influência no microclima, por exercer ação moderadora sobre a temperatura
produzindo conforto térmico nas vias de transporte; melhorar as condições do solo retendo as chuvas
e controlando a erosão; reduzir a poluição atmosférica; efetuar trocas gasosas, além de qualificar
ambiental e paisagisticamente o entorno, embelezando e valorizando a região (Menegat 1998).
Em específico para a área e entorno do Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, podemos
considerar que a presença da vegetação florestal do parque, com sua diversidade de espécies,
propicia alimento, abrigo e local para reprodução de animais, principalmente da avifauna,
52
promovendo uma opção de contato entre outras populações da fauna e flora local ou oriunda de
outras áreas próxima ao parque, o que estimula o fluxo gênico entre as espécies. Outro fator
importante da presença de espaços verdes em área urbana, como na cidade de Cachoeirinha é o
conforto térmico ambiental que direta e indiretamente contribui para o equilíbrio psicossocial do
homem, proporcionando lazer, repouso e aproximando-o do meio natural.
Apesar de o Parque pertencer a uma Unidade de Conservação, este continua a sofrer
intervenções antrópicas, provocando danos às populações vegetais e animais como um todo,
principalmente nas zonas do entorno. Evitar que efeitos de perturbações antrópicas atinjam a área do
parque é de suma importância para a manutenção da integridade estrutural e diversidade das
comunidades naturais locais, evitando assim o avanço e dominância das espécies exóticas e
oportunistas, tanto da flora como da fauna. Quando tais espécies dominam áreas verdes urbanas,
normalmente há desequilíbrio ambiental associado com epidemias e surtos que acabam atingindo a
população humana. A partir do trabalho realizado na área do Parque e seu entorno tecemos as
seguintes considerações:
Através da avaliação da composição florística do Parque foram identificadas 128 espécies
entre árvores, arbustos, epífitas e herbáceas e 28 táxons de liquens. A família com maior riqueza de
espécies foi Myrtaceae, a família da popular pitanga (Eugenia uniflora), sendo que as duas espécies
mais representativas foram Eugenia rostrifolia (batinga) e Myrcianthes pungens (guabijú), entre
outras. Trabalhos de florística que vêm sendo realizados no Brasil têm citado esta família pelo
número relevante de espécies encontradas em diversos tipos de ambientes florestais. A mesma possui
grande importância ecológica nas diferentes formações florestais (Battilani et al. 2005), pela
dominância nas comunidades arbóreas, especialmente da Floresta Atlântica (Scherer et al. 2005) e
algumas espécies terem valor ecológico e até econômico pelo grande número de frutos comestíveis
(Gressler et al. 2006). Além das mirtáceas, destacamos a presença de espécies com caráter decidual,
ou seja, que perdem suas folhas durante o inverno, entre elas Luehea divaricata (açoita-cavalo),
Machaerium stipitatum (canela-de-veado ou farinha-seca), Enterolobium contortisiliquum
(timbaúva) e Jacaranda micrantha (caroba), que vêm caracterizar as formações de Floresta
Estacional. Outros aspectos a salientar da área do Parque, são as espécies que se destacaram pela
dominância devido ao porte de seus indivíduos, entre as quais tivemos Cabralea canjerana
(canjerana), Cordia americana (guajuvira) e Ficus cestrifolia (figueira), e as espécies que tiveram
elevada densidade, onde destacamos Casearia sylvestris (chá-de-bugre) e Allophylus edulis (olho-de-
pombo ou chal-chal), que corroboram com o caráter secundário do remanescente estudado, pois são
espécies secundárias iniciais.
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No estrato arbustivo, a maior riqueza de espécies foi da família Lauraceae (canelas) que
inclui espécies valiosas, tanto pela qualidade de madeira, como pela produção de frutos, óleos e
especiarias (Marchiori 1997). A maior riqueza de lauráceas, uma família tipicamente arbórea, no
estrato arbustivo, indica o potencial de regeneração deste remanescente florestal, ou seja, as espécies
de laurácea presentes no local correspondem a indivíduos jovens de árvores que futuramente estarão
compondo o dossel da floresta. Myrtaceae também se destacou neste estrato representado também o
componente regenerante arbóreo da floresta. Além destas, a família Rubiaceae (terceira em maior
número de espécies neste estrato) compreende especificamente espécies arbustivas ou arvoretas, ou
seja, espécies que caracterizam florística e fisionomicamente este estrato. Dentre seus representantes,
destacamos a espécie Psychotria leiocarpa (cafeeiro-do-mato) que obteve o maior índice de valor de
importância no estrato arbustivo. Esta espécie, juntamente com Faramea montevidensis (Rubiaceae)
e Gymnanthes concolor e outras espécies do gênero Psychotria são comumente encontradas como
típicas dominantes do estrato inferior das florestas desta região do sul do Brasil.
Do levantamento florístico, ressaltamos que quatro das espécies encontradas no Parque são
citadas na Lista Oficial da Flora Ameaçada de Extinção do RS: Tillandsia gemniflora; T. usneoides,
Picrasma crenata e Solanum arenarium. Além destas, detectamos a ocorrência de Ficus cestrifolia
(figueira-de-folha-miúda) e Ficus adhatodifolia Shott (figueira), que são espécies protegidas pela
legislação estadual, ou seja, imunes ao corte.
Na avaliação da avifauna detectamos uma seletividade de espécies de aves, provavelmente
em função dos diferentes estratos vegetais que são bem diferenciados na área do Parque. Estes
estratos: herbáceos, médios e superiores tornaram-se diferenciados em várias trilhas abandonadas e
que são recolonizadas especialmente por espécies invasoras. A fim de avaliar melhor a avifauna seria
de suma importância estudos mais abrangentes, em diferentes estações do ano. Quanto a artropofauna
recomendamos ampliar o esforço amostral identificando até níveis taxonômicos mais específicos e
contemplando variações sazonais, pois os artrópodos vêm sendo utilizados em estudos de
bioindicação em ambientes terrestres e podem, portanto, ser utilizados como uma ferramenta
importante na indicação de níveis de perturbações ou de mudanças em um sistema florestal.
Quando investigamos a qualidade da água da nascente verificamos que a mesma se encontra
alterada, não sendo possível sua utilização para consumo humano, restringindo-se apenas para
dessedentação de espécies da fauna presentes no Parque. No entanto, o próprio corpo hídrico e a sua
área característica de entorno poderiam ser utilizados como instrumentos didáticos em atividades de
Educação Ambiental dentro do Parque. A limpeza diária – retirada de lixo sólido - e os cuidados de
manutenção com este manancial deve ser encarado como prioridade para a administração do Parque,
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antes de qualquer atividade. O cercamento da área e a utilização de placas de advertência e cuidados
devem ser utilizadas. Fatos e eventos danosos ao parque devem ser denunciados e expostos a opinião
pública – como forma interpretativa do descaso com a UC. Parece que “ocultar” os acontecimentos
no Parque é uma prática comum, com intuito de não desvalorizá-lo.
Na avaliação da capacidade de carga foram eleitas três trilhas que vêm sendo mais utilizadas:
trilha do lago, da vovó e da ginástica. Em todas levamos em consideração a Capacidade de Carga das
Trilhas que variou de 65,7 a 16,79 visitas/dia, que é uma estimativa do número máximo de visitas
que uma área protegida é capaz de receber a partir de suas condições físicas e biológicas. O que mais
contribuiu para avaliação foram os fatores de correção social (melhor qualidade na visitação de cada
trilha) e de fauna (presença de espécies vulneráveis).
Recomendamos que a partir deste estudo sejam utilizadas apenas estas três trilhas para
visitação, deixando as demais, que eventualmente são usadas, para que a vegetação possa se
reconstituir naturalmente. Outro fator importante seria de realizar a manutenção das referidas trilhas,
como por exemplo, a retirada de galhos, troncos caídos, podas orientadas da vegetação que
sobressaem na trilha, além do recolhimento periódico do lixo seco encontrado ao longo de todo o
percurso e no entorno.
Quanto às análises das entrevistas e dos questionários, estas mostram que são necessárias
medidas mitigatórias para a gestão administrativa e ambiental do Parque, trazendo benefícios para a
região com um todo. Medidas fundamentais, tais como:
• Plano de infra-estrutura
• Estratégias de inclusão da população do entorno
• Propostas direcionadas às instituições educativas e de saúde do entorno para que
tenham uma participação efetiva no Parque
6. SUGESTÕES
Diante das considerações anteriormente apresentadas e pela importância da manutenção de
remanescentes de vegetação em áreas urbanas, apresentamos a seguir algumas sugestões que visam
contribuir e embasar um planejamento para a área do Parque, assim como apontar possíveis
melhorias das condições existentes, possibilitando uma aproximação da população como um todo,
sendo estas:
Implantação das três trilhas (do lago, da vovó e da ginástica) como prioritárias para visitação
possibilitando o acompanhamento e reavaliação das capacidades de cargas das mesmas;
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Manutenção das trilhas (do lago, da vovó e da ginástica) quanto à vegetação através da poda
orientada dos galhos e ramos que se sobressaem no trajeto; retirada de galhos e/ou troncos caídos que
possam impedir o transcurso seguro dos visitantes, assim como a implantação de piso permeável ao
longo das trilhas com destaque aos locais que apresentam problemas de alagamento, erosão ou
declividade acentuada;
Não utilizar as outras trilhas existentes no Parque, possibilitando a regeneração da vegetação;
Implantar sinalizações ao longo das trilhas, que poderiam contemplar informações relevantes das
espécies vegetais de grande porte e/ou protegidas pela legislação;
Retirada periódica do lixo seco, principalmente das trilhas e junto ao lago. Esta atividade poderia
ser realizada em conjunto com escolas e/ou comunidade visitante através de campanhas orientadas de
educação ambiental;
Colocação de lixeiras visíveis em pontos estratégicos na área do Parque;
Os resíduos orgânicos poderiam ser destinados para uma grande composteira a ser construída no
próprio Parque, sendo o produto final utilizado em canteiros de ajardinamento na entrada do Parque
e/ou como substrato para produção de mudas nativas;
Cercamento do Parque com estruturas que permitem o acesso e livre trânsito de indivíduos da
fauna de pequeno porte (por exemplo, muro vazado);
Ampliar os estudos sobre a fauna para outros grupos não contemplados neste estudo, como os
pequenos mamíferos e, no caso da artropofauna e da avifauna, obter dados de amplitude sazonal e
uma maior especificidade, principalmente, para a artropofauna;
Recuperação e melhoria da qualidade da água da nascente e do lago;
Utilização da área junto ao lago para atividades de Educação Ambiental devido sua importância
na área do Parque;
Elaboração de folhetos informativos e ilustrativos para distribuição aos visitantes, ressaltando a
importância da preservação do Parque a ser distribuído aos visitantes;
Abranger atividades e/ou orientações sobre o Parque junto à comunidade do entorno e nas escolas;
Elaboração de guias ilustrativos com representantes da fauna e flora do Parque;
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Implantar um sistema mais efetivo e abrangente de fiscalização na área do Parque;
Construir um Plano de Educação Ambiental considerando as questões apontadas no diagnóstico
sócio-ambiental.
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