relatório institucional 2006

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Explicação do contexto, principais atividades e prestação de contas da Associação Nossa Senhora da Assunção (ANSA).

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

Oano 2006 foi de fatos importantes. Foi umano eleitoral. A campanha política girousobre assuntos nacionais que para uma

grande parte da população eram distantes ealheios aos problemas da nossa realidade, aindaafastada e isolada, do Baixo Araguaia. A nossa região, como a grande maioria da Ama-zônia Legal, tem uma renda anual por habitanteabaixo da média nacional (69%, R$ 6.702 frente aR$ 9.729), e um nível de desenvolvimento huma-no (renda, saúde e educação) mais próximo deuma realidade Centroamericana ou Andina (Ín-dice de Desenvolvimento Humano de 0,700 frentea 0,792 da média nacional), o que deixa entrevergrandes deficiências no acesso ao trabalho e aosserviços públicos básicos. Porém, pela grandedesigualdade de classes, as médias estatísticasescondem uma situação bem mais trágica para amaioria da população, que vive na pobreza e naexclusão, especialmente nas áreas mais rurais.Como dizíamos, infelizmente, estes problemasnão foram o foco central da campanha política. No final de 2006 e começo de 2007, primeirospassos do segundo mandato do governo Lula, as

Ponta de Almeida São Luis

SantarémItacoatiara

Vitória

Região do Baixo Araguaia

Santos

Paranaguá

São Francisco do Sul

MATO GROSSORONDÔNIA

AMAZONAS

PARÁ

prioridades deste foram divul-gadas pelo Programa de Acele-ração do Crescimento (PAC). O PACfoi apresentado como roteiro do proces-so de desenvolvimento para os próximosquatro anos. Trata-se de um investimento de R$504 bilhões, a maior parte destinada à constru-ção de grandes infra-estruturas energéticas e decomunicação (rodovias, portos, hidrovias, etc.). Oobjetivo é consolidar o Brasil como um dos gran-des fornecedores de alimentos e matérias-pri-mas para o resto do mundo, no quadro do pro-cesso de liberalização da economia global. Poresse motivo, o PAC continua colocando a basedo desenvolvimento nas potencialidades expor-tadoras do agro-hidronegócio para a geração dedivisas, que permitem ao Governo pagar a dívidapública. No ano passado R$ 275 bilhões (37% doorçamento da União e 55% do PAC) gastaram-seem juros e amortizações. Portanto, os principaisbeneficiados pelo programa serão as grandesempresas do agro-hidronegócio, as empresas demineração e extração e, principalmente, osbancos e entidades financeiras.

1. Continuamos a caminhada

É bom se fazer a pergunta de onde estão osrecursos para educação, saúde, reforma agrária,para os pequenos empresários (que hoje estãocondenados à informalidade), para moradia,para a proteção do meio ambiente...? Eles nãoaparecem no PAC. Continuaremos falando demonocultura, transgênicos, bancada ruralista,desequilíbrios regionais, exclusão e/ou as-sistencialismo para os pobres (bolsa família eaposentadorias), queimadas e desmatamento,conflitos de terras e grilagem de áreas indígenas,contenção de despesas em gastos públicosprioritários (educação e saúde), estagnação dosalário mínimo, sistema impositivo regressivo(impostos sobre bens de consumo e sobre aclasse trabalhadora), juros que permanecerãoabsurdamente altos...

A monocultura da soja cresce rapidamente. Em 2005, jáocupava 60.000 km2 do estado de Mato Grosso. Com asperspectivas de exporta•ão crescentes, principalmentepara ração animal na Europa, novas infra-estruturas deescoamento e novas áreas de exploração serão abertas naAmazônia Legal, intensificando o desmatamento e osconflitos de terras entre indígenas e posseiros

A soja amazônica éexportada para aEuropa a fim de

atender a demandapor carne barata

Multinacionaisamericanas financiam toda ainfra-estrutura aosprodutores de sojana Amazônia

O lucro gerado com a sojaé transferido para os E.U.A

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O que isso tem a ver com os problemas danossa região? A alta concentração da economia do BaixoAraguaia no que diz respeito às culturas (gado,soja e cana) e a propriedade (latifúndios),provoca grandes conflitos de terra e sériosproblemas ambientais. A região apresentaquatro grandes conflitos de terras irresolutos(área indígena Xavante Marãiwatsede – AltoBoa Vista –, Bordolândia – Bom Jesús –, GlebaBridão Brasileiro – Confresa –, Camponeses quesaíram de Urubu Branco – Canabrava do Norte–). Por outro lado, continua sendo campeã dequeimadas no Brasil e o desmatamento é umarealidade em muitos dos nossos municípios. Umagrande parte das administrações municipaisestão falidas ou com importantes denúncias decorrupção (Operação Boa Vista). Os jovens nãoveêm futuro aqui e a migração para a grandecidade é a única saída. Estes problemas, longede desaparecer, serão vigorados nos próximosanos pelo modelo de latifúndios e monoculturas,uma nova versão da antiga colonizaçãoeconômica da SUDAM nos tempos da ditaduramilitar, e uma nova peça que se encaixa noquebra-cabeça da globalização neoliberal. Segundo está sendo anunciado, o carro-chefedo crescimento econômico agrícola passará dogado e da soja para os biocombustíveis

atendendo as perspectivas de procura domercado global (paises ricos), motivadas pelamudança de um sistema energético que équestionado pelos conflitos que gera (guerra doIraque) e pela mudança do clima que implica. Apergunta que devemos nos fazer é se convertero Brasil num imenso canavial ajudará a melhorara vida do nosso povo e a preservação dosnossos recursos naturais. Evidentemente não,pois será um mergulho profundo no que há demais atrasado no agro-negócio brasileiro (re-produção de relações fundiárias, trabalhistas eambientais incivilizadas). A pergunta a ser feitaaos consumidores americanos, europeus,também brasileiros, é se eles são realmenteconscientes do impacto ambiental e social daprodução do álcool ou do biodiesel que elescolocam nos seus carros, como se estivessemrealizando um ato ecologicamente correto. Ficaclaro que precisamos realizar questionamentossinceros e profundos sobre o estilo de vida dasociedade de consumo e as suas conseqüênciassobre regiões como a nossa.

A CNBB (Conferencia Nacional dos BisposBrasileiros), na declaração “eleições 2006”apontava para um modelo de desenvolvimentodesejável para o país: “Entre as propostas parao Projeto de Nação destacamos: democratizar

o Estado e ampliar a participação popular;rever o modelo econômico e o processo demercantilização da vida; ampliar as opor-tunidades de trabalho; fortalecer as exigênciaséticas em defesa da vida; reforçar a soberaniada Nação; democratizar o acesso à terra e aosolo urbano; proteger o meio ambiente e aAmazônia”.

Quais são os desafios? Com estas colocações, fica cada vez mais claroque as soluções não virão de cima para baixo.Portanto, devemos centrar o nosso trabalho naorganização popular e na auto-gestão, con-quistando e defendendo direitos, construindocidadania, cobrando do governo (nacional,estadual e municipal) outra forma de pensar odesenvolvimento, de uma maneira mais in-clusiva, experienciando novas formas de pro-duzir mais diversificada, procurando o mercadolocal, respeitando o meio ambiente, etc. É umtempo de preservar a nossa história e a nossacultura, recuperar valores perdidos, de semearnas novas gerações, de pensar de maneiracriativa outro mundo possível que se concretizadesde pequenas ações concientizadoras quenascem a nível local.

No ano 2006 pudemos rever muitos destescompromissos, na Romaria dos Mártires daCaminhada, onde tivemos a oportunidade deatualizar a nossa história, ligada à Prelazia de

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et

Queimada na Amazônia Processamento do maracujá. Fábrica de Polpas Araguaia

Visita de seguimento do agente de crédito

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

São Félix do Araguaia. Pudemos nos reencontrarcom as Causas dos mártires da Caminhada,expressadas pelo nosso bispo emérito, PedroCasaldáliga, no momento de receber o premioInternacional da Catalunha no ano passado:“Causas especificamente da Nossa América: aterra, a água, a ecologia; as nações indígenas; o

povo negro; a solidariedade; a verdadeiraintegração continental; a erradicação de todamarginalização, de todo imperialismo, de todocolonialismo; o diálogo inter-religioso e inter-cultural; a superação desse estado de esqui-zofrenia humana que é a existência de umprimeiro mundo e um terceiro mundo (e um quartomundo também) quando somos um só mundo, agrande família humana, filha do Deus da vida”.Alguns dos companheiros nos deixaramexemplos de testemunhos de vida e compro-misso. Foi o exemplo do nosso companheiro Pe.Franklin, presidente da ANSA entre os anos1996 e 2000, e Maria de Lurdes (Lurdinhas deSanta Terezinha), funcionária do projeto decombate à hanseníase. Eles faleceram no anopassado deixando-nos um legado inesquecívelno trabalho com a saúde indígena e com osdoentes de hanseníase.

Temos muito trabalho a fazer. A ANSA dispõe-se a continuar trabalhando para construir umfuturo melhor, mais justo e humano. Queremosrenovar essa vocação de permanência junto aopovo, poder abrir portas, semear pequenasesperanças, possibilitar a construção de outromundo necessário. Como já foi dito, temos amissão de “Humanizar a Humanidade, pra-ticando a proximidade”, o que significa renovarmais uma vez o que está escrito no Estatuto daANSA: “lutar pela defesa da vida em todas assuas manifestações”.

Obrigado a todos os que contribuíram durante oano passado para que um pouco de tudo istofosse possível, especialmente a todas asInstituições parceiras e amigos solidários queapoiaram o nosso trabalho e os nossosprojetos.

Grupo Casadão - Assentamento Gleba Dom Pedro

Romaria dos Mártires da Caminhada 2006

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Acampanha da fraternidade de 2007, daCNBB, focalizada na Amazônia, nosconvida a conhecer a realidade da

Amazônia Legal, a nossa realidade, com umolhar crítico e compromissado. A região do Baixo Araguaia é atingida pelamesma problemática da “Amazônia Legal”: omodelo econômico adotado desde há algumasdécadas, concentrador, devastador e violento.Nesta região, a economia apoia-se na grandeprodução extensiva (agropecuária, soja, al-godão, cana de açúcar, oleaginosas, etc.)destinada, fundamentalmente, ao mercadoexterno. Ao mesmo tempo, a procura local dealimentos é atendida pela produção de outroscentros econômicos, a mais de 1.000 km dedistância. Em ambos os casos, a acumulação

2. Um olhar crítico sobre a nossa realidade As ameaças sobre a Amazônia Legal

de riquezas (capital) é externa à região, quenão recebe os benefícios econômicos desseprocesso de “desenvolvimento”. Tal modelo é vigorado pelo contexto dos grandesmovimentos e mudanças nos mercados agrí-colas globais. Nos últimos anos, os ministros deagricultura e comércio do “grupo dos 20”, paísesliderados pelo Brasil, conseguiram um avançopolítico significativo na proposta de diminuiçãodos subsídios agrícolas dos Estados Unidos e daUnião Européia. A abertura destes mercadosoferecerá grandes possibilidades de expor-tação para o Brasil. Porém, para exportarprecisa-se, além de produção, infra-estruturas. AIniciativa para Integração da Infra-estrutura daAmérica do Sul (IIRSA), que envolve governos de13 países da América do Sul, empresas privadas,

e bancos multilaterais (BID, etc.) pretendeconstruir sistemas de transporte que permitaminterligar a Amazônia Legal aos principaismercados internacionais. No Brasil, ela érespaldada pelo atual Programa de Aceleraçãodo Crescimento (PAC). A produção que se expande na Amazônia Legalsegue um modelo de exploração das riquezasnaturais que exclui e não pensa nas con-seqüências futuras. Favorecerá, é claro, ocrescimento significativo do PIB brasileiro, doqual o agro-hidronegócio representa atual-mente 35%. Porém, as estimativas econômicasnão levam em conta os enormes custos am-bientais, sociais e culturais, que ficarão paraos moradores dessas regiões (populaçõestradicionais), em parte porque as sedes dascompanhias e os consumidores não estão nasáreas de exploração. A fim de evitar a pressãosocial, estes grupos nacionais e internacionaisusarão, num primeiro momento, a publicidadeenganosa para melhorar sua imagem apre-sentado-se como os defensores de práticas“sustentáveis”.

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Mural de Santa Terezinha - Cerezo Barredo

Comércio ilegal de madeira na Amazônia

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

Quais serão as conseqüências deste modelode crescimento econômico na AmazôniaLegal?

1. Um grande conflito social com as populaçõestradicionais (indígenas, ribeirinhos, posseiros,extrativistas...). 21 milhões de pessoas moramna Amazônia Legal, das quais 7 milhões nasáreas rurais e 1,5 milhões são populações ditas“tradicionais” porque ocupam a floresta desdehá muito tempo. Entre eles, encontra-se 60% dapopulação indígena do Brasil. As culturastradicionais levam anos convivendo e pre-servando a floresta; não só não recebemreconhecimento algum por esse favor quefazem à humanidade, como são chamados desubdesenvolvidos. O capital ocupa e transformaa terra deles, terra de sua vida e de seutrabalho, em terra de negócio para uns poucos.O impacto do agro-hidronegócio sobre o meionatural de vida destas populações continuarátransformando-as em vítimas da emigraçãoforçada e da perda da identidade cultural. Outroelemento é a concentração das terras: 25.000grandes proprietários ocupam a mesma área do

que 1,5 milhões de pessoas. O poder do capitalalcança inclusive as altas esferas do governo:Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, umdos maiores produtores de soja, proprietário de400.000 has, recebeu em 2005, o título de“Motosserra de Ouro”, concedido pelo Green-peace pelo fato de o Mato Grosso ter sido ocampeão de desmatamento, por terceiro anoconsecutivo. No entanto, é preciso ressaltarque essa dinâmica da concentração apóia-sena ilegalidade: segundo o INCRA, 45% dasáreas possuídas pelos grandes proprietáriossão obtidas através de grilagem, a ocupaçãoviolenta justificada por títulos de propriedadefalsos.Em 2005, um milhão de pessoas foram atingidaspela violência no campo em todo o territórionacional. O assassinato da irmã Dorothy Stangem Anapú (Pará) é um dos poucos casos que

chegaram à opinião pública. Mataram-na pordenunciar o desmatamento ilegal de terras porgrandes proprietários na estrada BR230 queconecta com a BR163, os dois principaiscorredores de exportação no Pará. A im-punidade dos assassinos demonstra como osgrandes capitais exploram as riquezas doAmazonas recorrendo à violência, às ameaças,à expulsão, à exploração e à exclusão dospovos da floresta, alheios ao Estado de Direito.Na nossa região, a mesma realidade se repete:concentração fundiária, assentamentos quenão dispõem de estruturas mínimas para umavida digna, grilagem de terras nas áreasindígenas (Marãiwatsede e Xingu)...

2. A intensificação da destruição ambiental. Oprincipal agente de destruição é o des-matamento resultante das queimadas e der-rubadas de árvores pelas empresas ma-deireiras, a grande maioria ilegal. Este processotambém é responsável pelas emissões de CO2 –as queimadas na floresta amazônica colocam oBrasil em 14º lugar no ranking dos países quemais contribuem à mudança do clima –, erosãodos solos, poluição e diminuição da quantidade

Desmatamento na Amazônia em km2 (x 1000)

0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000

Desmatamentoaté hoje: 700km

Desmatamento até o nível de colapso: 1.290km

Desmatamento até 2050: 2.150km

Floresta Amazônica Atual: 4.300 km

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pper

Desmatamento ilegal na Amazônia

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de água dos rios e assoreamento, além deincalculáveis perdas de biodiversidade, etc. Oritmo de desmatamento da Amazônia é de20.000/25.000 km2 anuais, equivalentes aoestado de Sergipe. Até hoje, 14% da superfícieamazônica já foi destruída (quase o equivalenteao estado de Mato Grosso) e os cientistasadvertem que os próximos 30% desmatados

sobre a superfície florestal atual terão con-seqüências irreversíveis sobre o ecossistema.Se o nível de destruição atual continuar, afloresta amazônica perderá até 50% do seutamanho até 2050, duas vezes o estado de MatoGrosso. Na nossa região, grande parte dafloresta foi derrubada nos últimos 20 anos paradeixar espaço à pecuária de corte. Atualmente

Os quadros apresentam os problemas existentes na Amazônia Legal com desmatamento e queimadas. 1. Mostra as queimadas no mês de setembro de 2004. As áreas mais escuras são as de maior número dequeimadas, traçando o chamado arco de desmatamento. 2. Apresenta o desmatamento nos municípios de Mato Grosso. A região do Baixo Araguaia tem váriosmunicípios de alto desmatamento. 3. Apresenta o desmatamento até hoje (em vermelho) e uma previsão de desmatamento para 2050 em umcenário de governança, com políticas públicas e fiscalização cidadã (laranja), e outro cenário de mercadoonde as forças do agronegócio e o mercado operam sem controle (amarelo).

encontram-se severamente ameaçadas áreasde floresta nativa nos municípios de Querência,São Félix do Araguaia e Vila Rica. No ano 2006 oBaixo Araguaia foi responsável por 18% dasqueimadas de todo o estado de Mato Grosso,tendo 3 municípios entre os 15 primeiros noranking de queimadas do estado (Querência,Vila Rica, São Félix do Araguaia).

1. Focos de calor na região Amazônica.Setembro 2004. INPE.

3. Previsão de desmatamento daAmazônia nos diferentes cenários.IPAM 2006.

2. Desmatamento nos municípios de Mato Grosso 2006.Imazon 2006.

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

AAssociação de Educação e AssistênciaSocial Nossa Senhora da Assunção(ANSA) é pessoa jurídica de direito

privado, sem fins lucrativos, constituída sobforma de sociedade civil . A ANSA foi fundadapela “Tia Irene” e o bispo Pedro Casaldáligajunto a outros leigos militantes no ano 1974, emplena ditadura militar. Na época, a região estavasendo vítima da implantação de grandeslatifúndios, que expulsavam de suas terras oshabitantes originários (índios, posseiros eribeirinhos) e destruíam a floresta, num pro-cesso depredador de ampliação da fronteira depastos para o gado bovino. Desde a suacriação, foi um instrumento de solidariedade aoserviço da dignidade, os direitos e a construçãode uma cidadania plena dos povos indígenas,posseiros e “ribeirinhos” da região do BaixoAraguaia.

As distâncias ANSA trabalha na região do Baixo Araguaia,entre os rios Araguaia e Xingu, com 85.000habitantes e 150.000 km2 (uma área três vezesmaior que o estado de Rio de Janeiro).

A nossa Missão (Estatutos)I – Lutar pela defesa da vida em todas as suasmanifestações (...) ecológicas, artísticas,culturais, educacionais e sociais, dentro dosprincípios da Declaração Universal dos DireitosHumanos;II – Promover a educação formal e informal,assistência social à população carente daregião, discriminada e vítima de preconceito,incentivando e assessorando os movimentospopulares, abrindo espaço para a reflexão daslideranças, acompanhando pedagogicamente

3. Quem é a ANSA?Uma pequena esperança em meioao conflito

os trabalhos desenvolvidos, trocando expe-riências de trabalho popular, abrindo espaçopara o resgate e a valorização da cultura e daarte populares, não fazendo distinção quanto àraça, condição social, sexo, orientação sexualou qualquer outra condição.

A nossa estruturaANSA tem sua sede na cidade de São Félix doAraguaia. Está cadastrada no Ministério daJustiça como entidade de Utilidade PúblicaFederal, e no registro de entidades beneficentesdo Conselho Nacional de Assistencial Social(CNAS). A organização tem uma base de 63associados, e 90% deles moram nos municípiosde São Félix do Araguaia, Vila Rica e SantaTerezinha. A Assembléia de associados é oórgão máximo decisório da instituição e sereúne, ordinariamente, uma vez por ano. O atualpresidente é o Padre Agostiniano Félix Va-lenzuela. Hoje, são 20 pessoas trabalhando, amaioria na sede da entidade, além dos serviçoscontratados com a empresa de assistênciatécnica para o campo, ASTEC.

ASSEMBLÉIA GERAL

Diretoria

Coordenação Geral

Setores de Serviços

Conselho Fiscal

Núcleos

Saúde Comunitária

Educação para a Cidadania

Economia Solidária e Desenvolvimento rural sustentável

Políticas públicas

Atoleiro na BR-158

Rio Araguaia

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GLOBALIZAÇÃO

Liberalização da economia Agronegócio

Centros de produçãoAmazônia Legal

Centros econômicos(São Paulo, Nova York,...)

Centros de consumo Preços baixos

Acumulação de capital

• Desmatamento• Escassez de água • Erosão• Conflitos pela terra• Expulsão do pequeno produtor• Uniformização cultural

Democratizaçãoglobal e do País

• Redes de cidadãos e movimentos• Terceiro setor• Reforma do Estado• Mercado controlado pela lei e pelos consumidores

• Controle cidadão• Participação• Articulação• Transparência• Políticas públicas• Consumidores responsáveis

CENÁRIOS GLOBAIS

CIDADANIA E TERCEIRO SETOR

CENÁRIOS LOCAIS ESTRATÉGIA DA ANSA

o que fazer?

como?

com quem?

• Pequenas/médias ações ambientais de produção sustentável com perspectiva de longo prazo.• Educação do produtor, acompanhando-o na mudança de modelo produtivo.• Sensibilização e conscientização da população em geral (jovens em particular) sobre valores de cidadania, ambientais e da cultura local.• Atendimento das necessidades básicas não satisfeitas.• Fortalecimento e cooperação com outras organizações, criando tecido social.

• Desenvolvendo estratégias de intervenção.• Formando, organizando e integrando o quadro trabalhista com ênfase nas pessoas locais.• Melhorando os espaços de discussão e decisão internas.• Fortalecendo e incorporando a base social de associados.• Vigorando a transparência e o diálogo com a sociedade.• Criando uma relação madura e duradoura com os beneficiários.• Adotando uma presença territorial adequada e realista.• Articulando-se com outras organizações da região e de fora.

• Com os beneficiários (sem paternalismo e com proximidade)• Com outras organizações locais do terceiro setor (sem monopolizar)• Com a Prelazia (cooperando)• Com outras organização do Centro-oeste brasileiro (aprendendo)• Com o governo (com autonomia)• Com os associados (com transparência e pedagogia)• Com a população solidária do Baixo Araguaia e de fora (somando esforços)

ANSA e o futuro: como contribuir à mudança social?A ANSA deve continuar sendo, pela sua história e pela sua missão,cada vez mais, um agente de mudança social, ajudando ao povo, juntocom o povo, na denúncia, na conscientização e na procura dassoluções a problemas que têm a ver com o trabalho e a renda, a saúde,a educação, o meio ambiente, a cultura... Para isso, ela tem que ter umavoz própria, legitimada, e ser capaz de responder às expectativas.Desde o último ano, a ANSA está desenvolvendo um processo defortalecimento institucional da entidade com o intuito de consolidar otrabalho que vem sendo realizado pela atual presidência (projetosadequados à nossa problemática, equipes de trabalho profis-sionalizadas e articuladas, estrutura viável) e de criar o debate internonecessário que prepare a instituição para encarar os próximos anosdesde uma leitura crítica da realidade e uma adequação dascapacidades internas e organizativas. O trabalho será desenvolvidocom a participação de todos os membros da ANSA nos próximos anosem três eixos: coordenação e órgãos de decisão, gestão interna eformação, e inserção na sociedade.

ReformaAgrária

incompleta

Destruiçãoecológica

Pobreza e suas manifestações:problemas de saúde, educaçãoe marginalidade das crianças

Desemprego e exclusão

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

O trabalho da ANSA nos diversos projetos responde a quatro eixos de trabalho: Saúde,Educação e Cidadania, Economia Solidária/Desenvolvimento Rural Sustentável, PolíticasPúblicas e Meioambiente.

No ano de 2006, foram executados 11 grandes projetos (de mais de R$ 30.000) por um valor totalde R$ 1,59 milhões e 13 pequenas atividades (de menos de R$ 30.000) por um valor total de 200.664,13reais. No total a ANSA gastou R$ 1,7 milhões que beneficiaram umas 8.000 pessoas, entre as maiscarentes e excluídas da nossa região que possui um total de 85.000 habitantes. A maioria dos projetos tiveram uma abrangência local, com um ou dois municípios, à exceção dosconvênios de políticas públicas ambientais, territoriais e de assistência técnica (ATES), e do projetode luta contra a hanseníase - Araguaia Fontilles, que tiveram uma dimensão regional (intervenção emmais de 5 municípios).

Principais ações da ANSA em 2006A ANSA procura que os projetos tenham os seguintes critérios: • Que nasçam do diálogo com os beneficiários (proximidade). • Que atendam necessidades básicas (pertinência). • Que tenham uma visão a longo prazo que supere o assistencialismo (processo). • Que gerem capacidades nos beneficiários e dentro da organização (aprendizagem). • Que integrem valores de solidariedade, respeito à cultura e aos tempos das pessoas, do meio ambientee do valor do movimento e expressões populares (reforçando o local).

4. O que fizemos em 2006?

Ilha do Bananal(TO)

São Félix do Araguaia

Bom Jesus do Araguaia

SantaTerezinha

Confresa

Luciara

Porto Alegre do Norte

Cana Brava do Norte

Santa Cruz do Xingu

São José do Xingu

Vila Rica

Alto Boa Vista

Querência

Serra Nova

Novo StoAntonio

RibeirãoCascalheira

São Félix do Araguaia• Projeto de saúde infantil e comunitária • Projeto de luta contra a hanseníase • Projeto Crédito Popular Solidário (microcrédito) • Projeto de desenvolvimento rural sustentável através da fruticultura e da produção de polpa congelada • Projeto de estímulo ao agroextrativismo frutícula • Projeto de melhora infraestruturas da fábrica • Oficina de teatro alternativo e juvenil (grupo entrama) • Projeto de educação para a cidadania • Compra da caminhonete para o trabalho no campo • Participação no seminário Fé e Política em Vitória • Reforma da casa da Vila Santo Antônio • Bolsas de estudos para jovens • Medicamentos para pessoas carentes Alto Boa Vista• Projeto Crédito Popular Solidário Bom Jesus do Araguaia• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Cana Brava do Norte• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Confresa• Projeto de saúde infantil e comunitária • Projeto de luta contra a hanseníase• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Luciara• Projeto de luta contra a hanseníase Novo Santo Antonio• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Porto Alegre do Norte• Projeto de luta contra a hanseníase• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Ribeirão Cascalheira• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Santa Terezinha• Bolsas de estudos para jovens • Máquina de arroz Reunidas• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) • Projeto de saúde infantil e comunitária • Projeto de luta contra a hanseníase • Medicamentos para pessoas carentes Serra Nova• Programa Gestar (Gestão ambiental rural) Vila Rica• Projeto de luta contra a hanseníase• Programa Gestar (Gestão ambiental rural)

Coleta de muricipara a fábrica

Polpas Araguaia -Índios Karajá

Horta de beneficiário do Crédito Popular Solidário

11

Eixo de Trabalho Projetos/atividades Benefíciárosdiretos

Recursosaplicados Financiador%

EconomiaSolidária/DesenvolvimentoRural Sustentável

Políticas Públicas e MeioAmbiente

Políticas Públicas eArticulação do Território

Outros Projetos e Atividades

Políticas Públicas eAssistência Técnica

Educação e Cidadania

Saúde Comunitária

Direitos Humanos

- Máquina de arroz Reunidas- Projeto Crédito Popular Solidário (microcrédito)- Projeto de desnvolvimento Rural Sustentável através dafruticultura e da produção de polpa congelada- Projeto de estímulo ao agroextrativismo frutículo- Projeto de melhora de infraestrutura da fábrica

- Bolsas de estudo para jovens do Baixo Araguaia- Oficina de teatro alternativo juvenil (grupo entrama)- Projeto de educaçnao para cidadania

- Medicamentos para pessoas carentes- Projeto de luta contra Hanseníase- Projeto de saúde infantil e comunitária

- Direitos humanos

- Assistência técnica sustentável em assentamentos dereforma agrária

- Oficina de gestão ambiental- Programa gestar (gestão ambiental rural)- Projeto agroextrativista, fortalecimento institucinal- Projetos comunitários de agroextrativismo (Tipo A)- Projeto de desenvolvimento da apicultura

- Projeto de articulação dos atores do território do BaixoAraguaia- Projeto de construção de um Plano Territorial deDesenolvimento Rural Sustentável do Baixo Araguaia

- Compra de camionete para trabalho no campo- Participação no Seminário Fé e Política em Vitória- Projeto de fortalecimento Institucional da ANSA- Reforma da casa da vila Santo Antônio

20,00566,002.189,00

270,002.189,00

10,0025,0060,00

288,00593,00530,00

2.100,00

3.312,00

60,003.312,0084,00232,0050,00

60,00

60,00

0,002,0084,0084,00

2.830,45100.346,99207.065,47

17.778,9085.475,14

32.835,935.000,0012.260,00

7.622,58192.314,7733.965,24

57.403,48

723.946,41

36.587,2556.843,2423.528,9022.439,4363.257,47

25.357,94

41.622,34

25.000,001.200,007.700,0017.111,00

0,2%5,7%11,7%

1,0%4,8%

1,9%0,3%0,7%

0,4%10,9%1,9%

3,3%

41,0%

2,1%3,2%1,3%1,3%3,6%

1,4%

2,4%

1,4%0,1%0,4%1,0%

Aktion Dritte WeltFundação Heres, Manos Unidas, recursos própriosManos Unidas, F Alfonso Comin/Generalitat deCatalunya, F. HSBCISPN - PNUD - BrasilF. Banco do Brasil

Sociedade Inteligência e Coração e Fundação HeresSociedade Inteligência e CoraçãoSociedade Inteligência e Coração

Fundação Nossa Sra. Aux. do ipirangaF. FontillesF. Heres

Doações privadas

Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)

Ministério do Meio AmbienteMinistério do Meio Ambiente - FAOMinistério do Meio Ambiente - CEXMinistério do Meio Ambiente - CEXF. Banco do Brasil

Ministério de Desenvolvimento Agrário

Ministério de Desenvolvimento Agrário

Doações privadasSociedade Inteligência e CoraçãoAmigos do AraguaiaDoações privadas

Projetos e ações desenvolvidas em 2006

Reunião - equipe da ANSA Reunião de Assentados com a equipe da fábrica Polpas Araguaia

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

1. Políticas públicas:Meio ambiente earticulação doterritórioPolíticas Públicas.Gestão Ambiental

Rural (GESTAR), Articulação do território (CIAT) econvênio de Assistência técnica (ATES).Na região do Baixo Araguaia vivem 13.000famílias, distribuídas em 52 assentamentoshumanos (15% da população regional).Historicamente, os assentados fazem parte dosgrupos de maior exclusão e pobreza. Vivem numarealidade muito precária pela falta de infra-estruturas (estradas, eletricidade, água, co-municações...), de serviços básicos de qualidade(educação e saúde) e de incentivos para aprodução. Além do mais, o modelo seguido pelopequeno produtor, na maioria das vezes, reproduza depredação das grandes fazendas. Com o fim dese contrapor a tudo isso, surge Projeto Gestar,uma parceria da ANSA com o Ministério de Meio-Ambiente que envolve várias ações no chamado“pacote de políticas públicas”, também apoiadaspelo Ministério de Desenvolvimento Agrário. Oprograma começou no ano 2004, na tentativa doGoverno Lula de levar, para a região do BaixoAraguaia, políticas públicas que impulsionassemoutra forma de pensar o desenvolvimento,compatibilizando soluções para o pequenoprodutor com praticas sustentáveis. Neste tempo,o Gestar conseguiu realizar um diagnóstico socialde entidades e uma Avaliação Ambiental In-tegrada, insumos necessários para a construçãode um Plano de Gestão Ambiental Rural. Alémdisso, no ano 2006, foram coordenadas outrasações dentro do pacote de políticas públicas:mobilização dos atores do território do BaixoAraguaia, cujo principal resultado foi a construçãode um Plano de Desenvolvimento RuralSustentável; apoio logístico (diretrizes e formação)à ASTEC (empresa de assistência técnicaconveniada) no trabalho de assistência técnica(ATES) a 3.312 assentados de 10 assentamentos,

resultando na liberação de R$ 24 milhões emprojetos PRONAF; realização de pequenosprojetos (habilitação de 50 agricultores em api-cultura) e formação em alternativas de produçãoagroecológica. Coordenador: Antonio Tadeu Martin Escameeneficiários Diretos 2006: 3.312,00

2. Economia solidária edesenvolvimento ruralsustentávelCrédito PopularSolidárioA renda média da nossaregião representa 69%da renda média do restodo país. Uma grandeparte da população vivena pobreza, nos as-sentamentos urbanosdas capitais municipaisou no campo. O CréditoPopular Solidário (CPS)foi criado em 2000, como objetivo de melhorar aqualidade de vida daspessoas mais carentesdo Baixo Araguaia. Para

atingir este objetivo, o CPS foca a sua atividade nomicrocrédito. O projeto apóia grupos solidáriosque investem em negócios familiares quantias deentre 200 e 1500 reais, dinamizando a economiados bairros e comunidades mais carentes, ofe-recendo confiança às pessoas, sobretudovalorizando o papel da mulher (62% dosbeneficiários), e fortalecendo os laços comu-nitários. Desde o começo do projeto, foramdistribuídos R$ 1,76 milhões a 2.806 pessoas. Em2006, 566 pessoas (153 grupos solidários)receberam microcréditos em São Félix, Cha-padinha, Alto da Boa Vista e Pontinópolis, no valorde R$ 388.670,00. O projeto CPS realizou umaparceria com o projeto DRS (a continuação) parao incentivo da fruticultura na Gleba Dom Pedro,

tendo distribuído para esse fim R$40.000,00 em2005. Realizou-se o seguimento desses inves-timentos que irão dando o seu resultado nodecorrer de 2007. Por último, o CPS tenta estimulara economia solidária apoiando um grupo decompras coletivas formado por 25 mulheres, quetentam conseguir produtos básicos de forma maisbarata. Coordenadora: Denilza de Sousa Oliveira Beneficiários diretos 2006: 566

Desenvolvimento Rural SustentávelFábrica de Polpas

No ano 2002, a ANSA construiu uma fábrica depolpas de frutas com a perspectiva de lutar contraa pobreza e a degradação ambiental provocadaspelas atividades agropecuárias, oferecendoopções produtivas aos agricultores e índiosmediante o aproveitamento das frutas da região.No ano 2004, o projeto de “Desenvolvimento RuralSustentável (DRS)” surgiu com o objetivo de com-pletar este trabalho impulsionando, junto àComissão Pastoral da Terra (CPT), a produçãofrutícola, agroecológica e familiar nos as-sentamentos e áreas rurais do município de SãoFélix, agregando valor aos produtos agrícolasmediante a transformação industrial dos mesmos(na fábrica Polpas Araguaia) e a sua comer-cialização no âmbito local e regional. Há umaexperiência pioneira com 30 famílias assentadasna Gleba Dom Pedro, com a perspectiva de

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ampliar a outros assentamentos e chácaraspróximas a São Félix. Enquanto isso, umas 210pessoas, moradores de São Feliz e índios Karajáda ilha do bananal, conseguiram um com-plemento de renda graças ao extrativismo,vendendo para a fábrica as frutas dos quintais eroças. Os consumidores da Polpa de FrutasAraguaia (que oferece uma variedade de até 15

frutas diferentes) tam-bém se beneficiam deum produto natural,ecológico, de alta qua-lidade e que valoriza aprodução do Araguaia.Isto ajuda a estimularum consumo crítico econsciente com a pre-servação do meio-am-biente e o valor dodesenvolvimento local.Algumas escolas, hos-pitais, creches, Pasto-ral da Criança..., pude-ram contar com apolpa para melhorar osprogramas de alimen-tação de crianças epacientes. Coordenador: Raúl VicoFerreBeneficiários diretos2006: 2.180

3. Saúde comunitáriaFontilles - Luta contra a HanseníaseA hanseníase representa um grave problema desaúde pública na região do Baixo Araguaia. É oresultado de um contexto de grande pobreza edeficiência dos serviços de saúde públicos. Em2006, detectaram-se 107 casos novos, o quesegundo os critérios da Organização Mundial paraa Saúde (OMS) indicaria que a região éhiperendêmica, com uma média de 14 casos porcada 10.000 habitantes. O projeto funciona desde o

ano 1993 através do apoio de médicos voluntáriosespanhóis e dos recursos da Fundação Fontilles(Espanha). Nestes anos o projeto conseguiugrandes avanços em identificar os doentes erealizar um seguimento nos comunicantes,ocultados pelo preconceito, o desconhecimento ea superstição. Desde então, o projeto continuacapacitando os quadros do sistema público desaúde (agentes comunitários, auxiliares eenfermeiras), apoiando com equipamentosespecializados, e auxiliando no tratamento eintegração dos doentes. O projeto tem umapresença regional nos municípios de Confresa,Luciara, Porto Alegre do Norte, Santa Terezinha,São Félix do Araguaia e Vila Rica, e hoje étotalmente coordenado por pessoas da própriaregião.Coordenadora: Crisley Suzane Rodrigues AraújoBeneficiários Diretos 2006: 593

Saúde infantil e formação continuada delideranças locaisO projeto de Saúde Infantil nasceu no ano 2004com o objetivo de aproveitar as plantas medicinaise os produtos caseiros para a produção deremédios naturais e complementos alimentaresque ajudassem na luta contra a desnutrição e asdoenças nas aldeias indígenas Karajá. Osremédios são produzidos pela ANSA edistribuídos gratuitamente nas aldeias indígenasatravés do DSEI Araguaia. A produção total noano de 2006 chegou a quase uma tonelada de leite

enriquecido e 200 litrosde xarope de plantasmedicinais.Também se iniciou umtrabalho de revitalizaçãoda horta de plantas como objetivo de preservare divulgar o acervo cul-tural e melhorar a pro-dução natural de remé-dios. O objetivo será abri-la à comunidade, espe-cialmente às crianças dos

bairros de São Félix, com o intuito de setrabalhar melhor a prevenção e repassar osconhecimentos das plantas como forma devalorização da cultura local.Coordenadora: Elisa Marín Mourot Beneficiários: 530

4. Educação e cidadaniaEducação para a cidadania

Na região, um dos maiores problemas dascrianças e adolescentes é a falta de estruturasadequadas para o seu desenvolvimento. Arealidade é feita de escolas deficientes e famíliasdesestruturadas. Passam grande parte do tempona rua sem nenhum tipo de estímulo educativo,enfrentando por si sós os problemas de auto-estima provocados por uma sociedade deconsumo excludente que não valoriza sua cultura

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RELATÓRIO 2006 - Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

e raízes. O Projeto de Educação para a Cidadaniacomeçou no ano 2006 com o objetivo de ofereceràs crianças e adolescentes da cidade de São Félixum espaço para eles poderem ser protagonistasna comunidade, participando de atividades deeducação informal. Através das atividades demúsica, capoeira, incentivo à leitura e informática,o aluno desenvolve capacidades (artísticas,esportivas, tecnológicas, etc.) e aprende aconhecer melhor a si mesmo e a realidade na qualvive, repensando-a com um olhar cidadão, ouseja, solidário, crítico, valorizando a cultura local eadquirindo uma visão local e global do mundo. Oprojeto já conta com 60 alunos nas diversasatividades. Em conjunto, no ano de 2006, otrabalho com as crianças foi muito positivo,inclusive com alta participação da comunidadenos eventos de apresentação dos alunos, sendoprioritário agora, numa segunda etapa, uma maiorinclusão dos pais e a continuação do trabalhocom a equipe de professores.Coordenadora: Elisa Marín MourotBeneficiários diretos 2006: 60

Bolsas de estudo para jovensA finalidade do programa de bolsas de estudo éajudar as pessoas jovens da Região do BaixoAraguaia a estudarem o terceiro grau, prefe-rivelmente na região, com o intuito de criarcidadãos preparados, comprometidos e res-ponsáveis perante a sociedade. Os beneficiáriosdo programa cumprem uma serie de requisitos:

morar na região do Baixo Araguaia; mostrar umasensibilidade social e ter participado em mo-vimentos, ação social, etc.; não dispor dos re-cursos necessários para realizar os estudos; terum interesse claro e manifesto de realizar e

terminar os estudos de terceiro grau; realizar umcurso que seja útil para a sociedade; realizarmonografias, trabalhos ou pesquisas que con-tribuam aos objetivos de conhecimento e melhorasocial, econômica, ecológica, étnica, etc., daregião do Baixo Araguaia. Em 2006, 10 jovenspuderam estudar diversos cursos a través desteprograma. Uma parte são funcionários da ANSA,pois o programa está inserido dentro do projeto defortalecimento institucional, visando a melhora daformação do quadro de trabalhadores paramelhorar o serviço à sociedade como um todo. 100% dos bolsistas aprovaram os cursos. Coordenador: Carlos García ParetBeneficiários diretos 2006: 10

Quem se beneficia do nosso trabalho?O trabalho da ANSA é focado nas populaçõesmais carentes e excluídas da sociedade.Tentamos procurar um equilíbrio entre os projetosassistenciais de atendimento a necessidadesbásicas e urgentes, e projetos de desenvol-vimento e auto-gestão de longo prazo, nos quaisos beneficiários são protagonistas dos mesmos.Os grupos atingidos pela ANSA são assentados,posseiros, moradores dos bairros carentes dascidades, crianças e adolescentes, mulheres eíndios, sobretudo do povo Karajá.

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Rainara, 10 anos, há 7meses aluna da Capoiera– Projeto educação para acidadania. São Félix doAraguaia. “Eu gosto da capoeira,porque a gente aprendeum monte de coisas novase faz novos amigos. Temmeninos que quando eucheguei nunca tinha visto,

e agora somos amigos. Aqui eu aprendo a respeitaras coisas e que não vim aqui para fazer besteira. Sema capoeira, eu estaria em casa assistindo TV, ou narua, sem aprender nada de novo. Gosto mais da rodade capoeira porque a gente brinca e canta ao mesmotempo que joga. Às vezes dá preguiça vir pra cá parafazer exercício, mas tem que fazer né?.”

Iraides, beneficiária do Crédito Popular Solidário,Pontinópolis.

“Foi muito bom construídois cômodos, conseguircomprar o material paratrabalhar de manicure,gostei muito da con-fiança das companheirasdo meu grupo e demaisque estão no projeto.Com o capital que con-segui a renda da minhada família melhorou naalimentação da minha

família saúde e transporte consegui comprar umamoto usada sendo utilizada para ir aoassentamento trabalhar com minha família temosuma propriedade na Gleba Dom Pedro. Tive umgrande engrandecimento neste projeto fiz o cursode manicure em São Félix do Araguaia mais nãotinha com trabalhar estava sem capital, esteprojeto levantou muito minha auto estima, poisaqui as oportunidades são raras agradeço muitoao Crédito Popular Solidário”.

5. A nossa genteSônia, funcionária doProjeto Saúde Infantil, SãoFelix da Araguaia.“De 5 anos pra cá, o pro-jeto melhorou porque noinício só tinha a fabri-cação de multi-mistura exarope; agora temos oleite e atividades na horta,também. O projeto é im-

portante porque traz a vida para muita gente. Eugosto daqui porque cada dia é uma coisa diferentee vem muita gente pra visitar, conversar. Ascrianças, por mais danadas que elas sejam, agente cria um carinho e eu gosto de observar comoelas mudam.”

Edson, assentado na GlebaDom Pedro. Desenvol-vimento Rural Sustentável. “Bom, a ANSA trouxeconhecimento na parte domeio ambiente; trouxemelhoria gerando rendapara as famílias fazendoacompanhamento com osgrupos. O desafio, produzirfrutas em boas qualidades

e aumentar mais a conscientização das pessoascom o meio ambiente”.

Pollyana, 22 anos. Programa de bolsas de estudo,Santa Terezinha. “Nasci e fui criada em Santa Terezinha, no MatoGrosso.Vivi lá até meus 17 anos quando mudeipara Goiânia para estudar. Com 18 anos entreipara a faculdade de Jornalismo e que graças aosmeus pais e ao apoio dado pela ANSA nesseúltimo ano foi possível terminar. Que bom quepude concluir. Fui beneficiada pela bolsa que meproporcionou maior possibilidade de desenvolvermeus estudos aqui tão longe de casa quandomuitas vezes nos deparamos sem nenhum apoioextra. Sem a ajuda oferecida pela ANSA seriaquase impossível para a maioria de nós estarmosestudando ou ter completado o ensino superior.Muito Obrigada mesmo, sem vocês nada dissoseria possível!”

Gilvan, 29 anos, agente decrédito do sertão (CréditoPopular Solidário), São Felixdo Araguaia.Gilvan é um jovem dacomunidade em São Félix doAraguaia. Ele é um dos

primeiros trabalhadores do Crédito Popular Solidário.Entrou no ano 2000 e seu trabalho foi chave naexpansão do projeto às comunidades do sertão e aosbairros mais carentes do Alto Boa Vista. A formaçãoem técnico agrícola e a experiência dentro do projetopermitiu-lhe assessorar às pessoas na hora demelhorar os negócios com os microcréditos. A travesdo esforço e o trabalho realizado, distribuíram-se1.052 microcréditos por um valor total R$ 710.000, noAlto Boa Vista, nas comunidades de Pontinópolis echapadinha, e no assentamento Gleba Dom Pedro.Gilvan sempre diz que o agente de crédito tem queentrar nas famílias com respeito, sempre terminaganhando a confiança delas e escutando epartilhando todos os problemas, que infelizmente sãomuitos. O trabalho não é só meramente técnico, nofinal das contas se criam uns laços humanos, que é oque mais ele valoriza. Apesar da chuva ou da poeiraele sempre chegou pontual nos quintais do sertãopara levar solidariedade.

Felismino, assentado naGleba Dom Pedro. ProjetoDesenvolvimento RuralSustentável. “A diferença e a trans-formação partiram destemomento, pois bem antesos assentados não tinhamincentivos orientações e

nem tampouco tinham diversidades de plantaçõesfrutíferas, não sabiam valorizar o meio em queviviam, mas hoje a realidade é totalmente diferente.As vantagens do projeto: a preservação ambiental.Melhora no seu dia-a-dia parte importantíssima“Alimentos”. Compreensão nas pessoas busca derecursos financeiro como: Projeto P.P.P. CONAB -cursos de capacitação ANSA / C.P.T. Projetos dasede da Associação A.F.C. e outros atos desolidariedade e companheirismo”.

T odo este trabalho não poderia ter sido feito sem o apoio de tantosamigos e amigas solidários e entidades parceiras. A todos, todas,um grande agradecimento em nome dos nossos beneficiários.

Como pode nos ajudar:• Informando-se e conhecendo os problemas desse “outro Brasil”das regiões mais excluídas da Amazônia Legal.

7. Agradecimentos

Fundação Nossa SenhoraAuxiliadora do IpirangaFundación Heres

ATIVO PASSIVO31/12/05 31/12/06 VARIAÇÃO 31/12/05 31/12/06 VARIAÇÃO

CirculanteRealizável a longo prazoPermanenteTOTAL

CirculantePatrimônio Líquido

TOTAL

770.687,401.835,43

301.670,531.074.193,36

802.789,30

369.472,131.172.261,43

4%

22%9%

167.254,05906.939,31

1.074.193,36

225.002,32947.259,11

1.172.261,43

35%4%

9%

RECEITA 31/12/05 31/12/06 VARIAÇÃO

Doações recebidas no país em dinheiro/depósitoProjetosOutros projetos e convêniosReceitas de atividadesRendimento de aplicações bancáriasTOTAL

67.875,51662.600,24

20.169,4563.172,11

17.575,86811.223,72

143.461,86594.618,34

78.815,5410.274,62

827.170,36

111,36%-10,26%

24,76%-41,54%

2%

DESPESAS 31/12/05 31/12/06 VARIAÇÃO

Despesas geraisProjetosObras sociais diversasTOTALSUPERÁVIT/DÉFICIT DO EXERCÍCIO

246.864,44527.376,21

22.122,41796.363,06

14.860,66

175.785,52599.512,6038.952,44

814.250,5612.919,80

-28,79%13,68%76,08%

2%-13%

Entradas de recursos 2005 2006 %

Financiamentos públicoAgências internacionaisInstituições brasileirasDoações particularesAtividade econômicaReceitas bancáriasTOTAL

1.295.660,30533.905,82

214.264,3863.172,11

63.177,942.170.180,55

1.027.614,97443.804,90272.292,41143.461,8678.815,5410.274,62

1.976.264,30

-20,7%-16,9%

-33%24,8%

-83,7%-8,9%

Saída de recursos 2005 2006 %

Despesas geraisObras sociaisProjetosConv. governamentaisTOTAL

246.864,4422.122,41

527.376,211.109.756,811.906.119,87

175.785,5238.952,44707.728,31

985.460,091.907.926,36

-28,8%76,1%34,2%-11,2%

0,1%

6. As nossas contas

• Consumindo e poupando de forma responsável pensando no meioambiente e nas populações exploradas.• Divulgando o que aprendeu conosco.• Comprometendo-se na sua cidade para a construção de umasociedade mais justa e solidária.• Assinando o nosso boletim de notícias em nossa web (em breve).• Contribuindo economicamente com nossa organização e projetos.

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Titular - Associação Nossa Senhora da Assunção I Banco Bradesco S/A I Agência 618/1 I Conta 1183-5Código swift: BBDEBRSPBSALFA I Contato: [email protected] I www.ansaraguaia.org.br