relatorio final - volume ii

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO ESTUDOS DE BASE CONTRATO DE AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS DE REGULARIZAÇÃO FLUVIAL E PROTECÇÃO DAS MARGENS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO (VOUGA, MONDEGO E LIS) Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Abril de 2013 RELATÓRIO FINAL VOLUME II

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE

REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH

DO CENTRO

ESTUDOS DE BASE

CONTRATO DE AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS DE REGULARIZAÇÃO FLUVIAL E PROTECÇÃO DAS MARGENS NAS BACIAS

HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO (VOUGA, MONDEGO E LIS)

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Abril de 2013

RELATÓRIO FINAL

VOLUME II

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

i

ÍNDICE

Índice de Figuras ................................................................................................................................... iii

Índice de Quadros ................................................................................................................................ v

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1

2. METODOLOGIA DE ATUAÇÃO .................................................................................................. 3

2.1. Introdução ........................................................................................................................................ 3

2.2. Caracterização da rede hidrográfica ....................................................................................... 4

2.2.1. Caracterização da vegetação ripícola .................................................................................... 5

2.2.2. Identificação das principais perturbações e potenciais causas .......................................... 9

2.3. Tipificação das linhas de água .................................................................................................. 12

2.4. Identificação e tipificação das medidas de intervenção ................................................... 15

2.5. Análise de casos práticos ............................................................................................................ 17

2.5.1 Seleção dos casos práticos ........................................................................................................ 17

2.5.2 Caracterização dos casos práticos .......................................................................................... 17

2.5.3 Compatibilização das medidas de intervenção ................................................................... 21

2.5.4 Desenvolvimento de propostas de intervenção e respetiva estimativa orçamental.... 22

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 27

ANEXOS ................................................................................................................................................ 31

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

iii

Índice de Figuras

Figura 1- Esquema geral de atuação para o presente estudo estratégico ................................... 3

Figura 2 - Esquema genérico da disposição longitudinal dos bosques ripícolas das bacias

hidrográficas em estudo, por setor. ......................................................................................................... 8

Figura 3 - Metodologia utilizada na análise dos resultados dos questionários online ................. 10

Figura 4 - Tipos definidos para Portugal Continental não estando representados os 3 tipos dos

grandes rios (INAG, 2008)......................................................................................................................... 13

Figura 5 - Tipologia de Rios da Região Hidrográfica da ARH do Centro segundo a Autoridade

Nacional da Água .................................................................................................................................... 14

Figura 6 - Tipologias de linhas de água definidas no âmbito do “Estudo estratégico para

intervenções de reabilitação na rede hidrográfica da ARH do Centro” ..................................... 15

Figura 7 - Esquema geral utilizado para compatibilização de medidas previstas para

exemplificação em cada roço-tipo ..................................................................................................... 22

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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Índice de Quadros

Quadro 1 - Escala de abundância relativa, segundo a escala de Braun-Blanquet. ................... 7

Quadro 2 – Dados-resumo do questionário online, aplicado no âmbito do presente estudo

(indicadores do INE) ................................................................................................................................. 10

Quadro 3 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 1,

IRR1 ................................................................................................................................................................ 18

Quadro 4 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 2,

IRR2 ................................................................................................................................................................ 19

Quadro 5 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 3,

IRR3 ................................................................................................................................................................ 20

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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1. INTRODUÇÃO

No Volume (II) - Estudos de Base, do relatório final do “Estudo estratégico para intervenções

de reabilitação na rede hidrográfica da ARH do Centro”, descreve-se de uma forma mais

detalhada o esquema geral de atuação do estudo, que esteve na base do

desenvolvimento da proposta do plano de intervenção (Volume I).

Pretendendo-se que este volume constitua um documento que visa, essencialmente, a

fundamentação das diferentes técnicas e métodos utilizados no desenvolvimento da

metodologia, este encontra-se descrito por subcapítulos, correspondendo cada um deles a

uma etapa da metodologia prosseguida, nomeadamente:

Subcapítulo 2.1. – Breve introdução da metodologia de atuação, aplicada no âmbito

da elaboração dos estudos, que estiveram na base do desenvolvimento da estratégia

de intervenção proposta;

Subcapítulo 2.2. – Apresentação das técnicas e métodos utilizados para a

caracterização da rede hidrográfica, em termos físicos (fisiografia e

edafoclimatologia), biológicos (fitogeografia e fitossociologia) e antrópicos

(socioeconomia, usos do solos e utilizações associados aos corredores fluviais); e para

a identificação das principais perturbações e vulnerabilidades e determinação das

respetivas causas;

Subcapítulo 2.3. – Descrição do processo de tipificação das linhas de água, realizado

para o caso específico da RH4 para posterior aplicação no estudo estratégico, e

respetivo resultado;

Subcapítulo 2.4. – Apresentação da tipificação das medidas de intervenção, realizada

para posterior aplicação no estudo estratégico;

Subcapítulo 2.5. – Descrição do processo de seleção e caracterização dos casos

práticos e de desenvolvimento das respetivas propostas de intervenção.

Para anexo, por sua vez, foi remetida (devido à especificidade e extensibilidade da matéria)

toda a informação que resultou da sua aplicação, em particular, da caracterização das

bacias hidrográficas da RH4 (Anexo I), da aplicação do questionário online (Anexo II) e da

análise dos casos práticos (Anexo III), entretanto selecionados; bem como, as fichas-síntese

que descrevem e ilustram as medidas e ações de intervenção (Anexo IV).

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RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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2. METODOLOGIA DE ATUAÇÃO

2.1. Introdução

A metodologia de trabalho (Figura 1), proposta para a (re)definição da estratégia de

atuação, decorre ao longo de 11 (onze) etapas, correspondendo este volume à fase dos

estudos de base do plano de intervenção. A descrição da proposta do plano de

intervenção, propriamente dito, foi já desenvolvida, em detalhe, no Volume (I).

Na concretização dos estudos de base, foram utilizadas várias fontes de informação,

nomeadamente, os documentos de base do Plano de Gestão das Bacias Hidrográficas da

Região Hidrográfica 4 (PGBH-RH4), os resultados da aplicação de um questionário online

(inteiramente desenvolvido pela equipa técnica da FEUP), as observações registadas nas

várias campanhas de visitas de campo, realizadas ao longo do período do projeto de

investigação, e alguma literatura de especialidade.

Figura 1- Esquema geral de atuação para o presente estudo estratégico

A caracterização geral da rede fluvial da RH4 (Etapa 1) consistiu na análise das suas

componentes físicas (fisiográficas e edafoclimáticas), biológicas (fitogeográficas e

fitossociológicas) e antrópicas (dados socioeconómicos, usos do solo e utilizações

associadas às massas de água). Desta caracterização inicial, resultou um conjunto de

informação que serviu de base para o desenvolvimento do presente estudo,

nomeadamente, a definição e tipificação de tipologias de linha de água (Etapa 2) para a

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4

RH4. Esta tarefa foi desenvolvida, com o objetivo de obter uma classificação de referência,

às quais foram associadas características físicas e biológicas específicas e a partir das quais

se estruturaram, também, a análise dos casos práticos e a proposta do plano de

intervenção (Etapa 8).

O estudo prosseguiu com a identificação das medidas e ações de intervenção – previstas

no PGBH-RH4 – e respetiva tipificação (Etapa 3), no âmbito da reabilitação fluvial. Esta

classificação foi fundamental para a sistematização da informação, tanto ao nível da

seleção e formulação de soluções para cada caso prático, como da priorização dos troços

de linha de água, procedimento que integra o processo de desenvolvimento do plano de

intervenção, propriamente dito.

A etapa 4 referente à seleção e caracterização dos casos práticos resultou de uma análise

mais aprofundada do PGBH-RH4, onde foram identificadas as massas de água com maiores

necessidades de intervenção, ao nível da conservação e reabilitação fluvial, da aplicação

do questionário online e da realização de visitas de campo. Deste conjunto, foram

selecionados os casos práticos a integrar neste estudo estratégico, com o objetivo de

determinar o número de medidas e ações de intervenção exemplificar, previamente

tipificadas; e, determinar a estimativa de custos associada ao plano de intervenção,

proposto para toda a RH4.

No âmbito da análise dos casos práticos, após a respetiva caracterização, foram

identificadas e compatibilizadas as medidas de intervenção (Etapa 5), previstas e propostas

em cada um deles; das quais resultou uma solução de reabilitação fluvial que agrega um

conjunto de medidas materiais e imateriais (Etapa 6). Esta análise foi acompanhada de

ilustrações em corte e planta, para uma visualização do atual estado do corredor ripícola e

da sua potencial evolução, num horizonte de 10 (dez) anos, face às ações de intervenção

sugeridas. As estimativas orçamentais de reabilitação fluvial, realizadas para cada troço de

linha de água selecionado, fundamentaram, por sua vez, a programação financeira,

proposta no âmbito da concretização e monitorização do plano de intervenção.

Nos subcapítulos seguintes descrevem-se as técnicas e métodos utilizados para o

desenvolvimento de cada etapa (etapas 1 a 6) do esquema geral de atuação (figura 1).

2.2. Caracterização da rede hidrográfica

A caracterização da rede fluvial da RH4 consistiu, de um modo geral, na identificação e

análise das componentes físicas (fisiografia e edaclimatologia), biológicas (fitogeografia e

fitossociologia) e antrópicas (socioeconomia, usos do solo e utilizações), associadas às áreas

territoriais - abrangidas pelas bacias de drenagem dos rios Vouga, Mondego e Lis - e

respetivas massas de água; bem como a identificação das principais perturbações e causas

associadas.

Dos documentos que compõem o PGBH-RH4, foi possível identificar e analisar estas

características com base no levantamento de dados do relatório base, das fichas de

caracterização e evolução do estado da massa de água, fichas dos programas de medidas

e relatório técnico (PGBH-RH4, 2012). A informação foi, posteriormente, validada ou

alterada, de acordo com as observações registadas, durante as visitas de campo, e os

resultados obtidos com a aplicação do questionário online.

Por uma questão de sistematização da informação (na caracterização das linhas de água,

nas propostas de intervenção e plano de intervenção), e atenta à impossibilidade prática

de mobilizar meios humanos e materiais para realizar levantamentos para a totalidade da

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RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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rede hidrográfica, foram predefinidos, no âmbito do presente estudo e na sequência das

visitas de campo, tipologias de linhas de água, que traduzem semelhanças tanto ao nível

específico das suas características fisiográficas, como dos problemas, pressões e

vulnerabilidades, de origem antrópica, a elas associadas. A descrição da metodologia

adotada para a tipificação das linhas de água encontra-se detalhadamente exposta no

subcapítulo 2.3.

No caso particular da caracterização fitogeográfica e fitossociológica, foi realizada uma

revisão de literatura de especialidade e um tratamento específico dos dados, levantados

em campo. Esta caracterização permitiu a identificação dos bosques e comunidades

ripícolas, naturalmente associados aos corredores ripícolas dos rios Vouga, Mondego e Lis, e

respetivas perturbações e pressões (naturais ou antrópicas), que neles ocorrem. Este

exercício, devido à sua especificidade e inerente complexidade, é justificado no capítulo

seguinte (subcapítulo 2.2.1.).

A caracterização geral das componentes físicas, biológicas e antrópicas, juntamente com a

respetiva síntese (identificação de problemas e causas associadas) e conclusão, é

reportada no Anexo I deste volume, uma vez que constitui, por si só, o resultado da

aplicação desta etapa metodológica.

2.2.1. Caracterização da vegetação ripícola

Relativamente à potencial vegetação autóctone, associada aos corredores fluviais das

bacias hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis, que integram a RH4, existem várias

fontes de informação, das quais se destacam: PGRH-RH4 (2012), Nova Flora de Portugal de

Amaral Franco (1971, 1984, 1994,1998), Flora Ibérica de Castroviejo (1986 -1988), Biogeografia

de Portugal Continental (Costa et al., 1998), diversos guias da Serra da Estrela e de outras

áreas protegidas, check-list de Rivas-Martinez et al. (1999), entre outros documentos

referenciados na bibliografia. Com base na revisão destes documentos da especialidade,

procedeu-se a uma triagem inicial das principais espécies arbóreas e arbustivas

bioindicadoras dos bosques ripícolas potenciais.

Esta caracterização fitossociológica foi, entretanto:

Complementada com os dados da Rede Natura 2000 (RN2000) e da Rede Nacional

de Áreas Protegidas (RNAP, 1993), que integram o Sistema Nacional de Áreas

Classificadas (SNAC) da Rede Fundamental da Conservação da Natureza (RFCN),

decorrente da aprovação da Lei de Bases do Ambiente (LBA, 1987) e da

concretização da Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade

(ENCNB, 2001); e,

Validada pelas observações e inventários florísticos, realizados no âmbito deste estudo,

durante as visitas às linhas de água da RH4 (7 dias, 43 pontos de observação e 33

inventários florísticos, em uma ou nas duas margens dos cursos de água).

Este tipo de informação foi, posteriormente, confirmado através da consulta de páginas

eletrónicas (http://www.flora-on.pt/, http://jb.utad.pt/flora), para aferir a distribuição de

algumas espécies, em particular, nestas bacias hidrográficas.

A RN2000 é uma rede ecológica resultante da aplicação das Diretivas n.º 92/43/CEE

(Diretiva Habitats) e n.º 79/409/CEE (Diretiva Aves) – entretanto, transpostas para o direito

interno pelos DL n.º 226/97, de 27 de Agosto, e n.º 75/91, de 14 de Fevereiro, respetivamente

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– e constitui o principal instrumento para assegurar a conservação dos habitats naturais e

espécies no território da União Europeia. Esta rede é composta por Zonas Especiais de

Conservação (ZEC) – estatuto atribuído aos sítios reconhecidos como de importância

comunitária (Sítios) na fase final do processo de inclusão na RN2000 – e Zonas de Proteção

Especial (ZPE). As primeiras foram “criadas ao abrigo da Directiva Habitats, com o objetivo

de contribuir para assegurar a Biodiversidade, através da conservação dos habitats naturais

(Anexo I da Diretiva n.º 92/43/CEE) e dos habitats de espécies da flora e da fauna selvagens

(Anexo II da Diretiva n.º 92/43/CEE), considerados ameaçados no espaço da União

Europeia" (RCM n.º 115-A/2008, de 21 de Julho). Enquanto as ZPE, estabelecidas pela Diretiva

Aves, destinam-se “essencialmente, a garantir a conservação das espécies de aves e seus

habitats” RCM n.º 115-A/2008, de 21 de Julho).

Atualmente, o quadro de salvaguarda e valorização das áreas classificadas da RFCN é

estabelecido pelo Regime Jurídico de Conservação da Natureza e Biodiversidade (RJCNB),

aprovado no âmbito da publicação do DL n.º 142/2008, de 24 de Julho, e pelos diplomas de

criação de cada área protegida. Porém, no caso particular das áreas abrangidas pela Lista

Nacional de Sítios, potencialmente reconhecidas como Sítios e classificadas como ZEC, não

estava previsto qualquer instrumento de planeamento territorial ou de natureza especial,

que contivesse as medidas necessárias para garantir a sua proteção, até à publicação do

DL n.º 140/99, de 24 de Abril (diploma que procedeu à revisão da transposição para a

legislação nacional das diretivas Aves e Habitats e cuja redação é dada atualmente pelo

DL n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro). Este diploma legal prevê, de acordo com o disposto no

ponto n.º 4 do artigo 8.º, a elaboração de um plano setorial, relativo à implementação da

RN2000, para estabelecer o «âmbito e enquadramento das medidas referentes à

conservação das espécies da flora, da fauna e dos habitats naturais, tendo em conta o

desenvolvimento económico e social das áreas abrangidas». O Plano Setorial da Rede

Natura 2000 (PSRN2000) foi aprovado, no ano 2008, com a publicação da RCM n.º 115-

A/2008, de 21 de Julho, e visa a preservação dos valores naturais das áreas classificadas e

respetiva compatibilização com as atividades humanas, no sentido de uma gestão

ecológica, económica e socialmente sustentável. Este instrumento fornece uma

caracterização sumária dos Sítios e áreas classificadas, com a identificação dos principais

habitats naturais (Anexo B-I do DL n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro) e espécies (Anexo B-II do

DL n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro) que neles ocorrem; bem como, as principais orientações

de gestão para a manutenção ou restabelecimento do seu estado de conservação

favorável.

O estatuto legal de proteção de alguns Sítios e áreas da RN2000 é ainda reforçado pela sua

integração na RNAP (1993), ao ser classificada como Área Protegida. Apesar do RNAP ter

sido criado com a publicação do DL n.º 19/93, de 23 de Janeiro, atualmente, o processo de

criação de Áreas Protegidas é regulado pelo DL n.º 142/2008, de 24 de julho. De acordo

com o artigo 12.º deste diploma legal, este tipo de classificação visa conceder, a uma

determinada área territorial, “um estatuto legal de proteção adequado à manutenção da

biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas e do património geológico, bem como à

valorização da paisagem,” condicionando o uso, gestão e conservação dos seus sistemas

naturais e, designadamente, as intervenções das linhas de água inseridas nessas áreas

protegidas. De acordo com o ponto n.º 2 do artigo 1.º do mesmo diploma legal, são

“classificadas como áreas protegidas as áreas terrestres e aquáticas interiores e as áreas

marinhas em que a biodiversidade ou outras ocorrências naturais apresentem, pela sua

raridade, valor científico, ecológico, social ou cénico, uma relevância especial que exija

medidas específicas de conservação e gestão, em ordem a promover a gestão racional

dos recursos naturais e a valorização do património natural e cultural, regulamentando as

intervenções artificiais suscetíveis de as degradar.” Ao abrigo do disposto no RJCNB, as áreas

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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protegidas podem ser de âmbito nacional, regional ou local, consoante os interesses que

procuram salvaguardar, e podem assumir diferentes tipos de figuras de proteção, de

acordo com o RJCNB. No caso particular da RH4, podemos encontrar áreas protegidas

classificadas como:

Parque Natural – Uma área que contenha predominantemente ecossistemas naturais

ou seminaturais, onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa

depender de atividade humana, assegurando um fluxo sustentável de produtos

naturais e de serviços (Artigo 17.º do RJCNB).

Reserva Natural – uma área que contenha paisagens resultantes da interação

harmoniosa do ser humano e da natureza, e que evidenciem grande valor estético,

ecológico ou cultural (Artigo 18.º do RJCNB).

Paisagem Protegida – uma área que contenha paisagens resultantes da interação

harmoniosa do ser humano e da natureza, e que evidenciem grande valor estético,

ecológico ou cultural (Artigo 19.º do RJCNB).

Para a concretização desta fase do estudo, realizou-se o enquadramento e a distribuição,

por bacia hidrográfica (Vouga, Mondego e Lis), das principais espécies e Habitats Naturais

ripícolas, identificados na RN2000 e na RNAP. Este exercício permitiu determinar,

conjuntamente com outros critérios, a identificação e distribuição dos bosques ribeirinhos

potenciais das diferentes bacias hidrográficas, em cada setor longitudinal.

Os pontos de observação – identificados no âmbito das visitas de campo – que foram

utilizados como base de referência para a caracterização fitossociológica, correspondem a

troços de linhas de água, cujas condições, a nível da flora, correspondem, geralmente, a

um estado de naturalidade e conservação superior. Estes permitiram determinar e classificar,

in loco, o bosque ripícola dominante, assim como, fornecer informação relevante sobre o

elenco florístico, tanto ao nível das espécies biondicadoras, como das espécies

acompanhantes do sub-bosque higrófilo. Para esta classificação, foram também

consultadas as listas de macrófitas dos pontos de amostragem, realizados no âmbito dos

Planos de Gestão das Bacias Hidrográficas (2001). Os respetivos inventários florísticos foram

realizados, recorrendo-se a uma escala de abundância relativa (de 1 a 5), para determinar

a percentagem (%) aproximada de cobertura das espécies vegetais identificadas, em cada

ponto (Quadro 1).

Quadro 1 - Escala de abundância relativa, segundo a escala de Braun-Blanquet.

ESCALA COBERTURA DAS ESPÉCIES VEGETAIS (%)

1 1 a 5%

2 5 a 25%

3 25 a 50%

4 50 a 75%

5 > 75%

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8

A análise de toda esta informação permitiu realizar a tipificação de sete bosques ripícolas,

aos quais se referenciaram tanto os Habitats Naturais diretamente associados aos recursos

hídricos, como os que, devido à sua proximidade aos ecótonos ripícolas e ao seu grau de

hidrofilia, se considerou que contribuíam de forma significativa para o aumento e

diversidade florística das comunidades vegetais ribeirinhas (muitas vezes com a presença de

espécies vegetais de carácter mesófilo). Deste trabalho, foi ainda possível perceber que,

associado aos bosques ribeirinhos, surgem também diversos microhabitats ou comunidades

ribeirinhas ou ripícolas, a nível da secção dos cursos de água, que estão associadas a

condições específicas locais, tais como, afloramentos rochosos ou ressumantes,

comunidades aquáticas (macrófitas aquáticos), etc.

Por fim, utilizando esta tipificação dos bosques ripícolas, foi possível proceder-se à definição

da sua distribuição (ou maior frequência) por cada setor longitudinal das bacias

hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis. Ao longo das três bacias, verificou-se a

ocorrência de alterações naturais, ao nível dos principais bosques ripícolas, que se

distribuem pelos seus diferentes setores longitudinais (montanha, alto/médio e baixo). De um

modo geral, as zonas de cabeceira albergam bosques ripícolas de amiais. Nas linhas de

água do setor alto/ médio, estes bosques de amiais, surgem associados às comunidades

ripícolas de amiais paludosos e holófitas enraizadas/tabuais; surgindo ainda, na cota mais

baixa dos cursos médios da bacia hidrográfica do rio Mondego, alguns freixiais. Por fim, no

setor inferior ou zonas mais baixas surgem: bosques de freixais e bosques de salgueirais, e

perto da foz albergam os bosques de tamargais, sendo a distribuição longitudinal destes

bosques indicada no esquema abaixo (Figura 2).

Figura 2 - Esquema genérico da disposição longitudinal dos bosques ripícolas das bacias hidrográficas em estudo,

por setor.

1 Bosques de Amieiros (Ficha B1)

2 Bosques de Amieiros (Ficha B1), com comunidades de Amiais Paludosos (Ficha C1) e de Helófitas

(Tabual/Caniçal) (Ficha C2)

3 Bosques de Freixos (Ficha B2)

4 Bosques de Salgueiros (Ficha B3)

5 Bosques de Tamargais (Ficha B7)

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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2.2.2. Identificação das principais perturbações e potenciais causas

Após o levantamento de informação, relativo às características físicas e antrópicas das

bacias hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis e à composição e distribuição dos

bosques ripícolas, naturalmente associados aos corredores fluviais desta região hidrográfica,

procedeu-se à identificação das perturbações e disfunções que ali ocorrem e suas

potenciais causas. Para isso, foram utilizadas as fontes de informação referidas

anteriormente.

O questionário, em particular, funcionou como uma ferramenta de participação pública

para a análise do estado de conservação das linhas de água – informação determinante

para a caracterização geral da rede hidrográfica. Com a análise dos respetivos resultados,

foi possível aferir localmente determinadas características de algumas linhas de água e

respetivas bacias hidrográficas, de acordo com a perceção dos atores locais. Os métodos e

técnicas que estiveram na base deste questionário, bem como o tipo de resultados obtidos,

encontram-se descritos no subcapítulo seguinte, devido à especificidade da matéria em

questão.

Ao confrontar a informação resultante da aplicação do questionário, com os dados da

caracterização presentes no PGBH-RH4 e os resultantes das visitas de campo e da revisão de

literatura especializada, foi possível então identificar e relacionar, de uma forma integrada,

as perturbações físicas, biológicas e antrópicas, que atualmente ocorrem nos corredores

fluviais das bacias hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis, determinando as potenciais

causas associadas. Os resultados desta avaliação encontram-se apresentados no Anexo I

deste volume.

2.2.2.1. Análise do questionário online

No caso particular do questionário, por uma questão de diligência processual, foi adotada

uma abordagem eletrónica (via internet), o que permitiu obter tipos de resposta adequados

ao formato digital de análise dos resultados, assim como a submissão de registos fotográficos

das linhas de água. Relativamente ao público-alvo, julgou-se razoável que os mesmos

deveriam ser as pessoas que têm regularmente uma proximidade forte com as linhas de

água da RH4. Essa escolha recaiu, de uma forma consensual, sobre os presidentes de junta

de freguesia, de forma a aproveitar as bases de dados já existentes nestas instituições –

solicitadas à Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE). Não obstante, outros

interlocutores poderiam ser chamados para o preenchimento do questionário, se assim fosse

necessário, tais como técnicos responsáveis por intervenções e atividades em espaços

ribeirinhos. A plataforma online, utilizada para o preenchimento do questionário, foi

desenvolvida inteiramente pela equipa técnica da FEUP. A sua distribuição foi feita via

correio eletrónico, através do envio do respetivo link (reabrios.tk) para a lista de endereços

oficiais das juntas de freguesia, disponibilizada pela ANAFRE; tendo sido ainda

disponibilizado um contacto eletrónico específico da equipa técnica da FEUP

([email protected]) para o esclarecimento de dúvidas e dificuldades no preenchimento.

O questionário online foi aplicado a nível regional (RH4), tendo abrangido 797 (setecentos e

noventa e sete) freguesias (aglutinadas em 69 concelhos e 7 distritos). O período de recolha

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de dados decorreu entre os dias 4 de Outubro a 31 de Dezembro de 2012. O número total

de respostas ao questionário online foi 174 (cento e setenta e quatro), sendo que as mesmas

eram referentes a 452 (quatrocentos e cinquenta e duas) linhas de água. Após a recolha de

resultados, foi realizado um tratamento de dados para a análise estatística. As respostas

foram analisadas, utilizando o software estatístico SPSS/Windows (Statistical Package for

Social Sciences). Desde logo, o ficheiro resultante teve de ser manipulado, para dar origem

aos formatos .xls e .spv/sav. A análise realizada dividiu-se em duas fases:

Na fase I - Foram alvo de exclusão os questionários ou as respostas de questionários

que não preencheram todos os requisitos para serem validados.

Na fase II - Foram analisadas as respostas quanto aos dados gerais do inquirido,

quanto à caracterização das linhas de água e quanto à opinião dos inquiridos acerca

do tema de reabilitação fluvial.

A análise de resultados do questionário e incorporação destes no esquema geral de

atuação seguiram a metodologia apresentada na Figura 3.

Figura 3 - Metodologia utilizada na análise dos resultados dos questionários online

Deste processo de validação, resultaram as 167 (cento e sessenta e sete) respostas (432

linhas de água, 21% das freguesias sob jurisdição da ARH do Centro), que foram utilizadas

para a prossecução dos objetivos do estudo. No Quadro 2, apresenta-se, atentos já os

resultados obtidos, um resumo geral dos dados do questionário, tendo como padrões alguns

indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Quadro 2 – Dados-resumo do questionário online, aplicado no âmbito do presente estudo (indicadores do INE)

INDICADORES DESCRIÇÃO / RESULTADOS

Entidade responsável FEUP: “Estudo estratégico para intervenções de reabilitação na

rede hidrográfica da ARH do Centro”

Âmbito geográfico da operação Região Centro, sob jurisdição da ARH do Centro

População-alvo Presidentes de Junta de Freguesia e/ou técnicos responsáveis por

intervenções e atividades em espaços ribeirinhos.

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

11

INDICADORES DESCRIÇÃO / RESULTADOS

Tipo de operação estatística Questionário amostral

Tipo de fonte de informação utilizada Direta

Periodicidade de realização da operação Pontual (uma vez)

Período de realização 4/10 a 31/12 de 2012

Desenho do questionário Metodologia seguida para o desenho do questionário: elaboração

de questionário; consulta e validação de testes; disponibilizado via

internet; tempo médio para preenchimento do questionário de 20

minutos.

Objetivos Realizar a caracterização, análise e avaliação das linhas de água

da RH4; Recolher informação sobre o grau de sensibilidade para as

questões ambientais, conhecimentos acerca de rios e ribeiras,

informações de possíveis projetos que acompanharam e

contributos para a melhoria dos sistemas fluviais.

Utilizadores da informação Diagnóstico / Caracterização / Monitorização e Manutenção

Base de amostragem A amostra é aleatória com dispersão por correio eletrónico

Tipo de amostragem Probabilística

Dimensão da amostra 174 Questionários respondidos, dos quais 167 válidos (96%)

452 Linhas de água caracterizadas, das quais 432 válidas (96%)

Utilização de incentivos Apoio e esclarecimento constante no preenchimento dos

questionários

Entrada de dados Digitação

Questionário online

Total de questões 76

Total de questões gerais 43

Total de questões específicas 31

Total de questões abertas 2

Software utilizado SPSS (Statistical Package for Social Sciences) e Microsoft Office

Excel

Tratamento dos dados A informação foi recolhida através do computador.

Em cada questionário foram efetuados os seguintes procedimentos:

- Verificação e validação do trabalho;

- Compilação da informação recolhida;

- Tipificação das questões abertas;

- Constituição da base de dados.

Tratamento de não respostas Foram excluídos do âmbito deste estudo, os questionários repetidos,

os questionários relativos à mesma Junta de Freguesia (JF) mas com

informação contraditória; e os questionários que responderam não

ter qualquer linha de água para caracterizar.

Para as questões em que não houve qualquer resposta por parte

do inquirido, nesse caso, foi codificada em “99”.

Obtenção de resultados Cálculo dos resultados obtido diretamente com base na aplicação

do SPSS. Para facilidade de leitura dos resultados foram agrupados

e realizados gráficos em Excel.

População

População – idade mínima 29

População idade máxima 80

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

12

INDICADORES DESCRIÇÃO / RESULTADOS

Total de Freguesias participantes 167

Total de linhas de água 432

Total de questionários preenchidos 174

Quadro 2 – Dados-resumo do questionário online, aplicado no âmbito do presente estudo (indicadores do INE)

2.3. Tipificação das linhas de água

Por uma questão de sistematização da metodologia, no âmbito do presente estudo, optou-

se, por definir e classificar tipologias de linhas de água homogéneas, que traduzissem

semelhanças ao nível das suas características fisiográficas e biológicas; bem como, dos

problemas, pressões e vulnerabilidades, de origem antrópica, a elas associadas.

A tipificação das linhas de água proposta para a RH4 teve como base a classificação do

Instituto da Água (INAG), realizada em 2008, no âmbito da implementação da DQA. A

validação desta classificação resultou num conjunto de sete tipologias de linhas de água

para a rede fluvial da região hidrográfica em análise, após confrontação com os dados da

caracterização da rede hidrográfica realizada previamente.

De acordo com a definição de tipologia de rios, realizada pelo INAG (2008), existem, em

Portugal Continental, 12 (doze) tipos gerais de rios, acrescidos de três tipos associados e

específicos dos grandes rios: Douro e Minho, Tejo e Guadiana. Assim a tipologia é constituída

por 15 (quinze) tipos de rios (Figura 4). Os tipos de rios assim obtidos resultaram da aplicação

do Sistema B da DQA, onde foram avaliados fatores obrigatórios, tais como: altitude;

dimensão da área de drenagem, latitude; longitude e geologia.

Para além dos fatores obrigatórios, a aplicação do Sistema B seguiu diversos passos,

sinteticamente: (i) seleção dos fatores facultativos (declive médio do escoamento,

precipitação média anual, coeficiente de variação da precipitação, escoamento,

temperatura média anual, e amplitude térmica média anual), (ii) análise estatística

multivariada (ordenação e classificação) das variáveis quantitativas climáticas e

morfológicas para a identificação de regiões morfoclimáticas, (iii) interceção do resultado

obtido com a geologia e dimensão da área de drenagem, (iv) confronto, para efeitos de

validação da tipologia abiótica resultante, com informação biológica das comunidades de

invertebrados bentónicos, diatomáceas (fitobentos), macrófitos e peixes, obtida em

campanhas de amostragem efetuadas em locais de referência (2004-2005) (INAG, 2008).

A Figura 5 apresenta as tipologias de rios da região hidrográfica da ARH do Centro,

efetuada de acordo com a definição e classificação da tipologia de rios em Portugal

Continental adotada no âmbito da implementação da DQA, definida pela Autoridade

Nacional da Água (INAG, 2008).

De acordo com esta classificação, para a rede hidrográfica da ARH do Centro, as tipologias

de rios definidas são:

L Rios do Litoral Centro;

M Rios Montanhosos do Norte;

N1 <=100 Rios do Norte de Pequena Dimensão

N1> 100 Rios do Norte de Média-Grande Dimensão

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

13

Figura 4 - Tipos definidos para Portugal Continental não estando representados os 3 tipos dos grandes rios (INAG,

2008)

Com base nesta classificação, elaborou-se, no âmbito deste estudo, uma análise mais

específica e ajustada à escala da RH4, de forma a traduzir melhor a realidade desta região,

no que diz respeito às suas especificidades, nomeadamente, ao nível das perturbações,

pressões e necessidades. Nesse sentido, para atingir os objetivos supramencionados, foram

definidas e classificadas 7 (sete) tipologias de linhas de água para a região hidrográfica da

ARH do Centro.

Essas tipologias consistem em zonas homogéneas a nível da tipologia de problemas, de

pressões e vulnerabilidades. Da mesma forma, as soluções-tipo propostas foram

apresentadas por tipologia de linha de água, ainda que, naturalmente, possa existir o caso

de a mesma solução-tipo ser adotada em mais do que uma zona, dependentemente das

suas características específicas. Também, os recursos materiais e financeiros para

implementação das soluções-tipo serão diferentes de tipologia para tipologia, em função

das características específicas de cada zona.

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

14

Figura 5 - Tipologia de Rios da Região Hidrográfica da ARH do Centro segundo a Autoridade Nacional da Água

Tendo em conta os pressupostos referidos, e em acordo com a ARH Centro, foi adotada a

seguinte tipificação das linhas de água para a RH4 (Figura 6):

i. Rios Montanha (Cabeceiras Alva e Mondego (Serra Estrela), Buçaco e Caramulo;

ii. Rios Médio e Alto principais (Vouga, Dão, Mondego e Alva);

iii. Rios Médio e Alto secundários (Vouga, Dão, Mondego e Alva);

iv. Baixo Lis principal (a jusante da cidade de Leiria);

v. Baixo Mondego principal (jusante do açude-ponte (Coimbra));

vi. Baixo Vouga principal e secundários mais importantes do Vouga e Mondego;

vii. Rios da zona Baixa secundários e terciários.

As informações de base, que estiveram na origem desta classificação, foram a

caracterização abiótica, realizada pela Autoridade Nacional da Água, e as informações

prestadas pelos técnicos da ARH do Centro e pela população local, auscultada aquando

das visitas de campo realizadas. Neste caso, os parâmetros naturais que determinaram a

tipificação foram essencialmente de natureza fisiográfica, geológica e fitossociológica,

nomeadamente, as perturbações identificadas ao nível da erosão, a presença de

vegetação exótica/infestante e o substrato geológico.

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

15

Figura 6 - Tipologias de linhas de água definidas no âmbito do “Estudo estratégico para intervenções de

reabilitação na rede hidrográfica da ARH do Centro”

Esta classificação permitiu, num primeiro momento, identificar os tipos de bosques e

comunidades ripícolas autóctones, que se podem encontrar em cada tipologia de linha de

água; e, num segundo momento, desenvolver propostas de intervenção, potencialmente

aplicáveis aos corredores fluviais que integram cada tipologia de linha de água, em função

do tipo de vale e tipologia de uso das margens. Esta tipificação permitiu, em última análise,

determinar a programação financeira para a prossecução dos objetivos de conservação e

reabilitação fluvial da RH4, no âmbito do desenvolvimento do plano de intervenção,

propriamente dito.

2.4. Identificação e tipificação das medidas de intervenção

A proposta de medidas de intervenção surgiu no seguimento de uma análise cuidada das

medidas propostas pelo PGBH-RH4 (total de 184) para as massas de água da RH4. No

sentido da prossecução dos objetivos deste estudo estratégico, foi realizada uma triagem

das medidas adequadas aos mesmos, com base na qual se identificaram 28 (vinte e oito)

medidas gerais. Ao concatenar medidas semelhantes, obtiveram-se 11 (onze) tipos de

medidas, às quais está associado um conjunto específico de ações de intervenção. Estas

foram divididas em dois grandes grupos: medidas materiais (6) e imateriais (5), de acordo

com os objetivos propostos:

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

16

Medidas Materiais Previstas:

M1. Modelação, consolidação, recuperação de margens e remoção de barreiras no leito

e margens;

M2. Conservação, corte e limpeza da vegetação;

M3. Limpeza (remoção) de resíduos;

M4. Plantação e sementeiras de espécies autóctones;

M5. Construção e requalificação de obras hidráulicas;

M6. Melhoria da heterogeneidade habitats;

Medidas Imateriais Previstas:

Mi1. Melhorar a fiscalização e acompanhamento de intervenções;

Mi2. Monitorização, manutenção e ações de valorização/conservação;

Mi3. Gestão e Ordenamento do território fluvial;

Mi4. Promoção da participação pública;

Mi5. Realização de estudos e planos.

A tipificação das medidas de intervenção surgiu da necessidade de sistematizar a

informação relativa à análise dos casos práticos, que integram este estudo estratégico

(Etapas 4 a 6) e à priorização dos troços de linha de água na RH4, procedimento que está

na base da proposta do plano de intervenção (Etapas 7 e 8).

Para cada medida de intervenção foram desenvolvidas várias fichas-síntese, com

informação relativa às especificações técnicas e operacionais, cuidados a ter e

especificações biofísicas, quando necessárias, acompanhadas de ilustrações

exemplificativas das respetivas soluções (Anexo IV – Volume II).A informação relativa aos

recursos materiais e financeiros, necessários para operacionalização das medidas previstas,

é parte integrante destas fichas-síntese. Esta poderá apresentar-se de várias formas,

dependendo do tipo de solução:

Preço por unidade: € /un;

Preço por valor global: € /vg;

Preço por metro linear: € /ml;

Preço por metro quadrado: € /m2

Preço por metro cúbico: € /m3

Esta informação, serviu de base, a posteriori, para determinar a estimativa orçamental das

propostas de intervenção para cada caso prático analisado (Anexo III – Volume II), em

função das medidas e ações selecionadas, no sentido da sua conservação e reabilitação

fluvial.

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

17

2.5. Análise de casos práticos

2.5.1 Seleção dos casos práticos

Na sequência da identificação das medidas de intervenção, que se enquadram nos

objetivos deste estudo estratégico, foram identificadas, no âmbito do PGBH-RH4, 58 massas

de água superficiais (de um total de 191) (Anexo I-A - Volume I), com ações de intervenção

previstas, ao nível da sua conservação e reabilitação fluvial. Posteriormente e tendo por

base estes dados, foram também analisados os resultados do questionário online e

realizadas várias visitas de campo, com o objetivo de selecionar troços de linha de água,

com capacidade para exemplificar as soluções-tipo (com estimação de custos) para os

problemas detetados em cada bacia hidrográfica e tipologia de linha de água, em função

do tipo de vale e da tipologia de uso das margens (Anexo III - Volume II). Estes constituem os

casos práticos do presente estudo estratégico. A escolha destes troços teve por base dois

pontos fundamentais:

1. A representatividade de cada troço em função da tipologia de linha de água a que

pertence, perante as características hidrogeomorfológicas e as pressões e mais-valias

identificadas;

2. A aptidão de cada troço para exemplificar a diversidade de medidas e ações de

intervenção, entretanto tipificadas no âmbito do presente estudo.

No âmbito deste trabalho, foram visitados 43 (quarenta e três) troços de rio da rede fluvial

da RH4, dos quais foram selecionados 20 (vinte), de acordo com os critérios acima referidos,

para constituírem os casos práticos deste estudo estratégico. Após o desenvolvimento das

respetivas propostas de intervenção, os resultados obtidos serviram de base de fundamento

para a proposta do plano de intervenção, principalmente no que diz respeito à

programação financeira.

2.5.2 Caracterização dos casos práticos

Para a caracterização de cada caso prático, foi utilizada não só informação resultante das

observações registadas durante as visitas de campo, mas também da revisão de literatura e

do PGBH-RH4 (2012), relativa ao estado ecológico da massa de água superficial e respetivas

perturbações e pressões antrópicas que nela ocorrem.

A metodologia de caracterização em campo (Anexo III - Volume II) efetuou-se a partir da

recolha e obtenção de dados de diferentes componentes de avaliação. Como exercício

inicial, foram registados, em perfil longitudinal e corte transversal, todos os elementos de

caracterização de cada troço de rio, identificado como potencial caso prático, e respetiva

zona envolvente, numa faixa de 500m de comprimento e 10m para cada lado das margens

da linha de água. Relativamente à identificação da vegetação, existente em cada

corredor fluvial, foi realizado um inventário florístico e identificado o respetivo

enquadramento fitogeográfico, com auxílio de literatura da especialidade. A restante

informação recolhida foi tratada, codificada, reorganizada e classificada para cada ponto

amostrado e troço global, através do cálculo do Índice de Reabilitação de Rios (IRR). Neste

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

18

caso, a partir dos dados qualitativos e quantitativos da tabela de campo apresentaram-se

os resultados globais agrupados em três grupos com sete componentes (Quadros 3, 4 e 5):

IRR1: Dados Gerais (A);

IRR2: Qualidade da água (B); Hidrogeomorfologia (C); Corredor Ecológico (D);

Alterações Antrópicas (E);

IRR3: Participação Pública (F); Organização e Planeamento (G).

A avaliação de cada grupo de caracterização, numa escala de I a V, foi efetuada pelo

resultado com pior classificação do parâmetro em análise.

O grupo 1 (IRR1) corresponde à componente dos Dados Gerais (A) de caracterização que

são previamente recolhidos por bibliografia e aferidos diretamente em campo. Fazem parte

deste grupo: a localização, data, nome dos observadores, linha de água, bacia

hidrográfica, ARH, distrito, concelho, freguesia e lugar ou local. Integrou ainda os registos da

hora de início e fim de preenchimento da tabela de campo (Quadro 3). A importância da

recolha de dados gerais estabeleceu o grau de confiança das componentes e seus

parâmetros para uma avaliação final da caracterização.

Quadro 3 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 1, IRR1

COMPONENTES PARÂMETROS /VARIÁVEIS DE RESULTADOS TABELA DE

CAMPO

A. Dados Gerais Os dados corretos e integralmente registados (com controlo de

qualidade).

Equipa com pelo menos um elemento com formação específica, saída

de campo em segurança com material de campo.

0. A1, B.10

Resultado Total de A – Dados Gerais I a V

IRR1 Índice que classifica um troço de acordo com a necessidade de

reabilitação

Todos

Resultado Total de IRR1 I-V

O grupo 2 (IRR2) corresponde às componentes: Qualidade da Água (B); Hidrogeomorfologia

(C); Corredor ecológico (D); e Alterações antrópicas (E), (Quadro 4).

A Qualidade da Água (B) superficial dos locais em estudo foi caracterizada e definida,

através de índices de qualidade. Estes agregam a informação resultante da análise

laboratorial e de campo dos três parâmetros: físico-químicos, bacteriológicos e biológicos,

em cada ponto dos troços em estudo. Para a avaliação e apresentação final dos resultados

recorreu-se a gráficos e tabelas de síntese de dados.

A caracterização da Hidrogeomorfologia (C) subdividiu-se em dois grandes grupos de

estudo: o regime hidrológico e geomorfologia, cujos parâmetros de caracterização e

respetivos índices são descritos na tabela de campo.

A avaliação do Corredor Ecológico (D) constitui uma tarefa complexa e nem sempre

consensual. Entre os inúmeros parâmetros que permitiu estimar o estado e funcionamento

do corredor, destacam-se a conectividade do corredor fluvial, os fluxos e funções deste

espaço, a integridade e resiliência do ecossistema ribeirinho. A informação recolhida das

principais componentes de caracterização e avaliação em campo, como sejam a

vegetação, habitat e fauna, foi também agrupada e classificada, para atribuir os vários

índices de qualidade.

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

19

Para avaliar as Alterações Antrópicas (E), com base na recolha de campo, efetuou-se a

análise de registos, das infraestruturas presentes, dos usos e utilizações das margens e água,

intervenções de regularização, descargas de esgotos e efluentes, presença de indícios de

pressão humana e tipo de comportamento cívico. Os dados recolhidos foram agrupados e

tipificados como poluição, construção e exploração/usos.

A determinação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR2) permitiu, assim, identificar os

principais problemas do local em estudo, indicando o grau de perturbação da linha de

água e as principais medidas de intervenção necessárias para atingir o bom estado da

massa de água.

Com efeito, foi possível estabelecer uma relação entre os principais problemas detetados na

caracterização do IRR2 e as medidas previstas materiais e imateriais apresentadas no ponto

3 (Medidas Previstas) do esquema metodológico.

Quadro 4 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 2, IRR2

COMPONENTES PARÂMETROS /VARIÁVEIS DE RESULTADOS TABELA DE

CAMPO

B. Qualidade da água

B1. Físico-

química/bacteriológica

Avaliação de campo e laboratório A.2

B2. Ecológica Macroinvertebrados: diversidade e presença, %EPT e %AD, estado de

saúde

A.3, 4, 19, 20

Resultado Total de B – Qualidade da água I a V

C. Hidrogeomorfologia

C1. Regime hidrológico Regime de escoamento A.5, 6 e B.1

C2. Características

geomorfológicas

Dimensão do canal

Estabilidade e erosão

Forma do vale

Tipo de substrato do leito, margens e geológico

A.1,

B.1.7;A.(5,

9.1), e B.1.6 a

B1.9; B.3, B.7;

A.9 e 17.3

B.1.2; A.(7.1 a

7.3 e 8)

Resultado Total de C – Hidrogeomorfologia I – V

D. Corredor Ecológico

D1.Vegetação Largura da vegetação; altura dominante e coberto da vegetação;

Índice de Vegetação Ripícola (IVR); Índice de Conservação da

Vegetação Ripícola (ICVR); Índice Simplificado da Qualidade da

Vegetação Ribeirinha (ISQVR); Qualidade dos Bosques Ribeirinhos

(QBR); grau de ensombramento do leito; Índice de Desenvolvimento

da Vegetação (IDV); tipo de vegetação dominante; exóticas e

invasoras.

A.12.3

D3.Habitat Habitat: leito/margem; Comunidades de habitat dominantes;

Abundância de m

Matéria Orgânica (IAMO); Líquenes, musgos e fungos.

A.11.1; A.14 a

15 e B.4

D2.Fauna Peixes; anfíbios; répteis; aves, mamíferos; crustáceos e moluscos;

Presença de espécies exóticas e invasoras.

A.18

Resultado Total de D – Corredor Ecológico I – V

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

20

COMPONENTES PARÂMETROS /VARIÁVEIS DE RESULTADOS TABELA DE

CAMPO

E. Alterações

Antrópicas

E1. Poluição Efluentes, Resíduos, Ruído, Luminosa A.16

E2. Construções Sem infraestruturas; intervenções de regularização; estado de

conservação das construções

A.17,

A.2A.10, 16 e

17

E3. Exploração (usos) Usos do solo nas margens; utilização urbana (pública); utilização da

água

A.11, B.7, B.8

Resultado Total de E – Alterações antrópicas I-V

IRR2 Índice que classifica um troço de acordo com a necessidade de

reabilitação

Todos

Resultado Total de IRR2 I-V

Quadro 4 (continuação) - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 2, IRR2

O grupo 3 (IRR3) corresponde às componentes: Participação Pública (F) e Organização e

Planeamento (G), (quadro 5).

A avaliação da Participação Pública (F) foi efetuada com base nos registos da tabela de

campo conjuntamente com os estudos específicos, que incorporam dados e informações

chave para o desenvolvimento da participação pública no processo de reabilitação fluvial.

A avaliação foi definida de acordo com as atividades programadas no projeto e de acordo

com os indicadores específicos. Os indicadores de avaliação integram as componentes de

avaliação de disponibilização de informação, grau de envolvimento público e as

intervenções de desenvolvimento de ação.

A caracterização do nível de Organização e Planeamento (G) dos recursos hídricos nem

sempre é necessária para desenvolver projetos de reabilitação ribeirinha. No entanto,

considerou-se importante elaborar esta caracterização, para uma correta integração do

processo de reabilitação de um determinado espaço ribeirinho num plano de ação,

monitorização e manutenção das intervenções preconizadas. A caracterização da

Organização e Planeamento (G) consiste em determinar os principais problemas existentes e

a corrigir. As componentes de caracterização, a integrar neste estudo são a legislação,

estratégia de reabilitação e planos de ordenamento e gestão de bacia hidrográfica (ou

PGBH-RH4) e, ainda, gestão das intervenções de melhoria.

Quadro 5 - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 3, IRR3

COMPONENTES PARÂMETROS /VARIÁVEIS DE RESULTADOS Nº. TABELA

F. Participação Pública

F1.Disponibilização de

informação

Local de informação por junta de freguesia mais próxima ou acesso

público à internet, disponibilidade de informação (técnicos e não

técnicos) e acesso a informação de projetos de Participação Pública.

Tabela 1. E

B.9

F2.Envolvimento

público

Envolvimento dos decisores e com atividades de envolvimento:

Sessões de Participação Pública no âmbito do projeto; grupos do

Projeto Rios; associação local envolvida; existência de

questionário/questionários à população; registo de

sondagem/entrevista direta à população local.

F3.Acção Integração das decisões de participação nas soluções de projetos de B.9

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

21

COMPONENTES PARÂMETROS /VARIÁVEIS DE RESULTADOS Nº. TABELA

intervenção, existência de feedback das decisões discutidas e finais.

Desenvolvimento de ações: ações de participação ativa

desenvolvidas junto às linhas de água; desenvolvimento do Projeto

Rios; ação de fiscalização; ação de monitorização; ação de

acompanhamento da participação; envolvimento a população em

ações no mínimo 1%.

Resultado Total de F – Participação Pública I-V

G. Organização e

planeamento

G1. Legislação Cumprimento da legislação aplicável

G2. Estratégia, planos

de ordenamento e

gestão

Estratégia de reabilitação em implementação e integrada com as

figuras de ordenamento locais e regionais (PBH. PGBH-RH4, PDM, REN,

RAN).

G3. Intervenções de

melhoria

Definição de objetivos claros de intervenções de melhoria; ações de

monitorização com valores de referência; ações de fiscalização; plano

de intervenção em caso de acidente ou catástrofe; plano de ações

de intervenção e melhoria; ações de manutenção com envolvimento

dos proprietários.

Resultado Total de G - Organização e planeamento I-V

IRR3 Índice que classifica um troço de acordo com a necessidade de

reabilitação Todos

Resultado Total de IRR3 I-V

Quadro 5 (Continuação) - Componentes de avaliação do Índice de Reabilitação de Rios (IRR): Grupo 3, IRR3

A classificação das várias componentes em estudo seguiu os princípios e indicadores de

referência mencionados pela DQA e Lei da Água, no âmbito da reabilitação de linhas de

água. Para a avaliação final efetuou-se uma combinação dos diferentes índices, tendo os

dados analisados sido convertidos em classes de resultados, aos quais correspondem

determinadas cores, potenciando a sua representação em mapas/cartas, tabelas, gráficos

por ponto ou troço em estudo.

2.5.3 Compatibilização das medidas de intervenção

Para o desenvolvimento das propostas de intervenção, foi realizado previamente, um

levantamento das medidas previstas no PGBH-RH4 (Fichas de Especificação e Programação

de Medidas, (PGBH-RH4, 2012)) e das ações propostas nos questionários, para cada caso

prático. No caso particular do questionário online (Anexo II - Volume II), foi utilizada a

informação relativa à opinião dos atores locais sobre os tipos de intervenção a aplicar nos

troços de linha de água, por eles identificados.

Assumindo as medidas de intervenção propostas da equipa técnica da FEUP (resultantes

das observações feitas durante as visitas de campo), foi então estabelecida a

compatibilização das medidas de intervenção previstas para a reabilitação das linhas de

água da RH4, com base num processo de comparação entre as três principais fontes de

informação. Deste exercício, resultou um conjunto de medidas de intervenção, para cada

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

22

caso prático, de acordo com a tipificação estabelecida previamente. A Figura 7 apresenta

o esquema geral utilizado neste procedimento.

Figura 7 - Esquema geral utilizado para compatibilização de medidas previstas para exemplificação em cada roço-

tipo

2.5.4 Desenvolvimento de propostas de intervenção e respetiva estimativa

orçamental

Após o escrutínio das principais medidas e ações de intervenção a adotar em cada caso

prático, para atingir as respetivas metas de conservação e reabilitação fluvial, foram

desenvolvidas as propostas propriamente ditas. Todos os pormenores de projeto (como por

exemplo, as técnicas de engenharia natural e as espécies vegetais a utilizar) variaram

sempre em função dos elementos pré-existentes, da tipologia de linha de água em causa, o

tipo de vale e a tipologia de uso em cada margem.

Para cada caso prático, foi posteriormente registado, em corte transversal, o esquema das

diversas ações materiais de reabilitação fluvial previstas; no caso das plantações,

perspetivando as mesmas no seu estado inicial (1 mês após a intervenção) e determinando

os respetivos módulos de plantação. Para uma melhor perceção do resultado da

intervenção proposta, foi igualmente ilustrada, em perfil longitudinal e corte transversal, a

evolução prevista do troço de rio, para 10 anos.

Por fim, com base nas propostas de intervenção, foi realizada uma estimativa orçamental

para cada caso prático (com preços individuais por medida de intervenção). Os custos

unitários atribuídos a cada medida material e imaterial resultaram de uma análise extensa

dos processos de medições e orçamentos lançados pela ARH Centro, desde 2009, pela

consulta de catálogos (essencialmente, vegetação) e através de pedidos de orçamentos a

diversas empresas. Independentemente do número de casos práticos, esta informação

permitiu determinar uma média ou gama de preço/m2, por tipologia de uso de margem e

tipologia de linha de água, posteriormente utlizada como base de referência para a

programação financeira do plano de intervenção proposto.

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

23

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os dados, resultantes da aplicação da metodologia de trabalho acima descrita, são

apresentados nos Anexos (I), (II), (III) e (IV) e correspondem, respetivamente, à

caracterização da rede hidrográfica e respetivos sistemas ribeirinhos (I), ao desenvolvimento

e aplicação do questionário online (II), ao processo de seleção, caracterização e proposta

de requalificação dos casos práticos (III) e à apresentação das fichas-síntese, realizadas

para cada medida e ação de intervenção proposta (IV).

A produção de toda esta informação permitiu, em última instância, o desenvolvimento da

proposta do plano de intervenção, entretanto apresentado no Volume I deste relatório.

No âmbito da revisão do plano de intervenção, esta metodologia deverá voltar a ser

aplicada, com os devidos aperfeiçoamentos técnicos, e adaptada sistematicamente aos

objetivos e princípios da lei de bases da política da água e do ambiente, vigentes à data de

cada revisão do PGBH-RH4 (instrumento de gestão ao qual deverá estar permanentemente

associado o plano de intervenção proposto).

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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Porto, 30 de Abril de 2013

Rodrigo Jorge Fonseca de Oliveira Maia

(Professor Associado da FEUP, Coordenador do projeto)

Equipa técnica:

Pedro Teiga

António Pinto

António Brito

Rosário Botelho

Diana Fernandes

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO NA REDE HIDROGRÁFICA DA ARH DO CENTRO

RELATÓRIO FINAL – VOLUME II

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ANEXOS

ANEXO I Caracterização das Bacias Hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis

ANEXO II Questionário Online

ANEXO III Casos Práticos

ANEXO IV Fichas-Síntese