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RELATÓRIO FINAL Estágio Profissionalizante do 6º ano Ana Canoso Nº 2008015 15 Setembro de 2014 a 22 de Junho 2015

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RELATÓRIO FINAL Estágio Profissionalizante do 6º ano

Ana Canoso Nº 2008015

15 Setembro de 2014 a 22 de Junho 2015

INTRODUÇÃO

O estágio profissionalizante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) teve como

principal objectivo preparar o aluno através do ensino tutelado da prática médica, fomentando o

espírito de iniciativa, a consolidação de técnicas e conhecimentos e o desenvolvimento de novas

competências, bem como promover capacidades comunicativas, trabalho em equipa, decisão clínica

e autocrítica. De forma transversal, foram estes os meus objectivos, pelo que procurei: tornar mais

ágil e sistemático o meu raciocínio diagnóstico, hierarquização racional dos exames complementares

e terapêutica, em diferentes contextos; aperfeiçoar a minha relação com doentes e familiares, tendo

em conta as suas dimensões psicológica, social, cultural e económica; adquirir e consolidar

competências relacionais; contactar com o funcionamento e articulação dos diferentes serviços de

saúde, integrada num ambiente de equipa multidisciplinar; esclarecer os doentes de forma a prevenir

a doença e promover hábitos saudáveis; reconhecer os meus limites e procurar ajuda sempre que

necessário.

Este relatório estrutura-se em três partes: a nota biográfica que achei pertinente no sentido de

incorporar a minha experiência pessoal como aluna do MIM; o corpo de trabalho, no qual descrevo

sucintamente os objectivos específicos e as actividades desenvolvidas durante os vários estágios

parcelares, por ordem cronológica; e uma reflexão crítica, global bem como específica, sobre as

actividades de cada estágio e o cumprimento dos objectivos iniciais. Os diferentes estágios

parcelares foram previamente avaliados, tendo feito, para cada um, um relatório final e trabalhos de

revisão ou histórias clínicas que serão referidos neste relatório. Em anexo apresento o certificado

relativo à participação no congresso “1º ABC da Imunologia para Médicos” e um artigo de revisão

elaborado no âmbito do estágio de Saúde Mental, não sujeito a avaliação.

NOTA BIOGRÁFICA

Ao longo do MIM senti a crescente necessidade de fugir ao que me parecia ser o indicado

para qualquer estudante de medicina: entregue ao curso e cujas actividades extracurriculares

rondam o objectivo principal da valorização académica. Foi preciso, no entanto, a retenção no

chamado “ano barreira” por reprovação a uma cadeira do 3º ano do MIM, para que essa

necessidade se traduzisse em actos. Desde então tenho feito: trabalho voluntário semanal no Lar da

Serafina (Lisboa), no Hospital Prisional São João de Deus (Caxias) e na Paróquia de Sta. Isabel

(Lisboa); trabalho voluntário quinzenal com a Associação sem Fins Lucrativos “Just a Change” na

reabilitação de casas degradadas na área de Lisboa; organização e animação da Colónia de Férias

AASUL-Carmoteca destinada a crianças entre os 5 e os 18 anos (em Setembro de 2012);

organização e chefia da Missão Universitária da FCM em Janeiro de 2012; fim-de-semana de

trabalho na Casa de Saúde Mental do Telhal em Fevereiro de 2013. Faço ainda treinos de

Kickboxing e treino semanal orientado por um profissional de fitness.

O 6º ano do MIM e, em especial, após a frequência no Estágio Parcelar de Medicina Geral e

Familiar, trouxe-me novas carências. Percebi a difícil influência que o médico exerce na prevenção

da doença e preservação da saúde no típico utente mal informado sobre o peso das suas escolhas

actuais na sua saúde futura, cheio de estigmas e preconceitos ou focado em atitudes radicais tão

largamente aceites. Percebi também que é difícil para o médico porque esta aprendizagem é

também difícil para o utente. Desde então procurei saber mais sobre o modo como podemos tornar

essa aprendizagem mais fácil e mais natural fugindo sempre aos sensacionalismos ("Deixe o

alimento ser a medicina e a medicina ser o alimento." – Hipócrates). Conversei com especialistas em

diferentes áreas (Joana Palma Mira, Nutricionista no Hospital de Dia de Diabetes do Hospital de

Tomar e Mariana Pessanha, da College of Naturopathic Medicine em Londres; entre outros) e testei

esse conhecimento em mim, em casa, com as pessoas mais teimosas que conheço, e nos amigos

mais próximos. Acredito que existe uma nova geração que beneficiará com a percepção frontal,

directa e fundamentada da saúde.

CORPO DE TRABALHO

ESTÁGIO PARCELAR DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR [15 Set a 10 Out – UCSP de Mértola]

Regência: Prof. Doutora Isabel Santos Orientação: Dra. Luísa Sousa Santos.

Defini como principais objectivos a melhor compreensão do papel do Médico de Família na

comunidade em que se encontra inserido, aquisição de competências que me permitam uma

correcta abordagem diagnóstica e terapêutica das patologias mais frequentes na população em

geral e ainda colaborar no seguimento de grupos específicos como mulheres em idade fértil,

grávidas e crianças. Pude assistir a consultas gerais de saúde do adulto e de situações agudas mas

também consultas específicas como a de hipertensão arterial, diabetes mellitus, saúde infantil,

planeamento familiar e saúde materna e acompanhar a equipa de enfermagem nas visitas ao

domicílio. Tive por fim a oportunidade de realizar consultas de forma semi-autónoma e de colaborar

com a equipa de enfermagem na realização de algumas técnicas como a administração de

injectáveis e tratamento de feridas. Ao longo do estágio elaborei o Diário do Exercício Orientado, do

qual constava um registo da minha actividade, um relato clínico, uma análise crítica de um caso e

um posicionamento crítico em relação ao estágio.

ESTÁGIO PARCELAR DE PEDIATRIA [13 Out a 7 Nov – Hospital Dona Estefânia]

Regência: Prof. Doutor Luís Varandas Orientação: Dra. Leonor Sassetti

Os objectivos particulares deste estágio incluíram a consolidação de conhecimentos das

patologias pediátricas mais frequentes e a sua abordagem diagnóstica e terapêutica, contacto com

todos os aspectos do desenvolvimento, alimentação e prevenção de doença, bem como a aquisição

de novas estratégias de comunicação médico-doente-família neste contexto. Durante este período

pude colaborar nas actividades desenvolvidas na enfermaria do Serviço de Adolescentes e SU, tais

como a realização de anamnese e exame objectivo orientado, discussão de diagnósticos e de

abordagens terapêuticas. Pude ainda assistir a consultas de Imunoalergologia e Consulta do

Viajante, ambas no HDE. Destaco a dinâmica componente formativa do estágio, com aulas teórico-

práticas de Imunoalergologia, múltiplas reuniões e Sessões Clínicas dos diferentes serviços do HDE.

O tema escolhido para o seminário foi o “Sobrediagnóstico” através da apresentação de um artigo da

Pediatrics – Official Journal of the American Academy of Pediatrics, de Outubro de 2014, intitulado

Overdiagnosis: How our compulsion for diagnosis may be harming children.

ESTÁGIO PARCELAR DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA [10 Nov a 5 Dez – Hospital dos Lusíadas]

Regência: Prof. Dra. Fátima Serrano Orientação: Dr. Luís Ferreira Vicente

O objectivo principal da Unidade Curricular compreendia a sedimentação dos conhecimentos,

capacidades e atitudes adquiridos no 4º ano, nomeadamente no que diz respeito às patologias mais

frequentes, bem como ao seguimento/prevenção na mulher grávida. Tive a oportunidade de

observar consultas de Ginecologia, de Obstetrícia e de Patologia do Colo Uterino, bem como as

técnicas Histerosalpingografia, Histeroscopia e Ecografias Obstétricas. Pude também assistir a

várias técnicas cirúrgicas no contexto da patologia ginecológica bem como passar pelo bloco de

partos e S.U. Destaco a experiência no Centro de Procriação Medicamente Assistida onde pude

acompanhar o meu tutor nas Consultas de Infertilidade, colheita de óvulos guiada por ecografia,

transferência de embriões e inseminação intrauterina de sémen. Também me foi possível

acompanhar no laboratório do Centro PMA a realização de espermograma, congelação e

descongelação de embriões e monitorização de embriões. No final do estágio apresentei o trabalho

cujo tema foi “Isoimunização: Profilaxia e Vigilância”.

ESTÁGIO PARCELAR DE SAÚDE MENTAL [8 Dez a 16 Jan – Hospital São Francisco Xavier]

Regência: Prof. Doutor Miguel Xavier Orientação: Dra. Georgina Maia

No início do estágio realizou-se um seminário sob a orientação do regente com o principal

objectivo de aquisição de conhecimentos práticos de actuação em diferentes situações de urgência

relacionadas com a patologia psiquiátrica. Pude assistir também à conferência Co-Morbidity and

Mental Health dada pelo Professor Gabriel Ivbijaro e à conferência Towards a Better Mental Health

Service, pelo Professor Sir David Goldberg, ambas como parte integrante do Curso Internacional

Primary Care Mental Health. Defini como principais objectivos o desenvolvimento de conhecimentos

e capacidades de diagnóstico e intervenção clínica nas principais patologias abordadas pela

especialidade, não só com intuito formativo mas também para a redução do estigma tão associado a

estas doenças. Pude assistir a consultas de Pedopsiquiatria, primeiras consultas e consultas de

seguimento, reuniões de serviço, reuniões com a equipa móvel e serviço de urgências. No final do

estágio pude conduzir uma primeira consulta, sozinha e sem supervisão, discutindo posteriormente o

caso com a minha tutora. Foi possível assistir à discussão da possível implementação do projecto

Mental Health and High School Curriculum Guide em Lisboa via videoconferência com o Dr. Stan

Kutcher. Em conjunto com outra colega elaborei um artigo (não sujeito a avaliação e que apresento

em anexo) e uma apresentação com o tema “Guia Curricular de Saúde Mental para Alunos do 3º

Ciclo e Ensino Secundário”.

ESTÁGIO PARCELAR DE MEDICINA INTERNA [26 Jan a 20 Mar – Hospital Curry Cabral]

Regência: Prof. Doutor Fernando Nolasco Orientação: Dra. Teresa Bernardo

Os objectivos definidos para este estágio passavam por consolidar os conhecimentos teóricos

já abordados em anos anteriores, adquirir novas competências práticas e raciocínio clínico

essenciais para um médico recém-formado tanto quanto obter uma maior autonomia no

acompanhamento do doente desde a entrada no S.U. até ao momento da alta, nomeadamente

através da realização da anamnese e exame objectivo geral e dirigido, elaboração de notas de

entrada, notas de alta e diários clínicos, discussão de hipóteses de diagnóstico, pedido e

interpretação de exames complementares de diagnóstico e discussão de atitudes terapêuticas. Ao

longo do estágio, para além do trabalho de enfermaria e S.U., pude assistir a consultas, assistir aos

Seminários Teórico-práticos e Sessões Clínicas orientadas pelos profissionais de saúde do HCC,

realizar histórias clínicas e observar e realizar técnicas como colheitas, gasimetrias, hemoculturas.

Juntamente com outros alunos do 6º ano, elaborei um trabalho de revisão temática sobre “Icterícia”,

posteriormente apresentado como comunicação oral.

ESTÁGIO PARCELAR DE CIRURGIA [23 Mar a 22 Mai – Hospital CUF Descobertas]

Regência: Prof. Doutor Rui Maio Orientação: Dr. Ramos Dias

O estágio dividiu-se em uma semana de aulas teórico-práticas, quatro semanas de Cirurgia

Geral e uma semana em cada uma das seguintes especialidades: Urologia, Gastroenterologia e

Cirurgia Plástica e Reconstrutiva. A vertente teórico-prática incluiu sessões diversas sobre temas

clínicos, comportamentos e atitudes, procedimentos, técnicas de comunicação e apresentação de

trabalhos científicos. Os principais objectivos consistiram no maior contacto com a prática cirúrgica

em meio hospitalar, visando a consolidação dos conhecimentos adquiridos nos anos anteriores, bem

como a aquisição e desenvolvimento de novas competências. Tive a oportunidade de colaborar nas

actividades diárias de consulta, enfermaria, S.U. e bloco operatório nas diferentes valências. Durante

as 4 semanas de Cirurgia Geral elaborei uma história clínica e um trabalho de revisão teórica sobre

Doenças Diverticulares. No final do estágio apresentei, juntamente com as minhas colegas, o

trabalho intitulado “Terapêutica Cirúrgica: Importância da Abordagem Caso a Caso”, que incidiu

sobre um caso de gastrectomia radical como abordagem terapêutica de um adenocarcinoma T1N0

do tipo difuso.

POSICIONAMENTO CRÍTICO

Este foi um ano para o qual parti com objectivos claros, expectativas altas e muitos receios:

se por um lado existia a vontade de aplicar os conhecimentos adquiridos até então com uma maior

actuação prática, por outro receava estar aquém do esperado. Sabia no entanto que o entusiasmo,

vontade de aprender e a confiança depositada no método de ensino tutelado não me permitiriam

entrar neste ano com qualquer tipo de apreensão. De um modo geral, os objectivos específicos para

cada estágio foram cumpridos, apesar de algumas faltas nos mesmos: tornei-me mais autónoma na

observação do doente, sistematizei conhecimentos teóricos através da prática clínica e adquiri várias

competências profissionais desde a responsabilidade de ter os meus doentes, ao diálogo com outros

profissionais de saúde e gestão de situações de tensão. Fui confrontada com as minhas fragilidades

de conhecimento em algumas áreas, dúvidas na valorização de dados e dificuldade na definição de

prioridades e na escolha da terapêutica. Os estágios que mais contribuíram para isto foram os de

Medicina Geral e Familiar e Medicina. Foi nestes que tive maior autonomia, com maior exercício do

raciocínio clínico, treino do exame objectivo, técnicas e decisão terapêutica. É interessante referir a

grande diferença que senti entre os dois: no primeiro, houve uma comunicação diária e “feedback”

constante sobre o meu trabalho e evolução, que me garantiram uma sensação de apoio constante

bem como de autoconfiança; no segundo, muito pelo volume de trabalho e número de profissionais

que uma enfermaria de Medicina exige, foi, pelo contrário, um estágio em que a evolução se deu de

uma forma muito mais autónoma exigindo destreza, desembaraço e segurança nas minhas

escolhas. O mais importante, no fim de tudo, foi perceber que em qualquer situação aprendi mais do

que esperava e ambas contribuíram igualmente para o meu crescimento.

Os estágios de Saúde Mental, Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia foram, no geral, positivos

embora numa vertente de observação que foi fundamental para encarar com naturalidade as

singularidades destas especialidades, que requerem uma experiência e um contacto com as

mesmas muito superior ao que temos ao longo do MIM. Destaco apenas o facto de ter conduzido

uma primeira consulta de Pedopsiquiatria, sozinha, e os excelentes comentários feitos pela minha

tutora na discussão da mesma. O estágio de Cirurgia teve a particularidade de ter sido feito num

hospital privado o que, a meu ver, dificultou a possibilidade de treinar gestos práticos (limpeza e

desinfecção de feridas, anestesia local e sutura). Tive, no entanto, uma participação muito activa nos

procedimentos do bloco operatório, tendo-me desinfectado em quase todas as cirurgias que assisti.

Numa visão mais global, penso que a discrepância muitas vezes existente entre os diferentes

hospitais, seja em carga horária ou momentos de avaliação exigidos, e o número e repetição dos

temas das aulas teóricas, particularmente no estágio de Medicina, foram aspectos negativos.

Pessoalmente, considero ter cumprido com os objectivos que me propus inicialmente mas com a

consciência de que muitas vezes o meu conhecimento ficou aquém do esperado em particular no

acompanhamento do raciocínio diagnóstico da equipa e manejo terapêutico em contexto de

urgência. Em retrospectiva penso que deveria ter sido mais “insistente” a fim de treinar algumas

técnicas e gestos mais práticos. A forma como o estágio profissionalizante do 6º ano está

organizado foi, indubitavelmente, fundamental para a minha formação profissional e, seguramente,

para a minha formação pessoal. O contacto com diferentes pessoas, tanto doentes, mais ou menos

diferenciados, como diferentes tutores exigiu flexibilidade, capacidade de adaptação e tolerância.

Estas são características que se adquirem com a experiência e podem ser determinantes quer na

relação com o doente quer na relação entre os diferentes profissionais. Apercebi-me também da

importância da frontalidade na resolução de conflitos e foi com um imenso entusiasmo que me senti

incitada a procurar, em conjunto com outras áreas e não só na Medicina clássica, as melhores

formas de abordar a doença e principalmente a manutenção e preservação da saúde na população

e em especial nas gerações futuras.

Deixo, por fim, o meu mais sincero agradecimento pelas palavras que recebi de alguns tutores

no final de cada estágio. Termino com o sentimento de dever cumprido.

ANEXOS