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301
NEDRU - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Financeira e Social da Aglomeração Urbana do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e seu colar de influência regional Uberlândia MG Novembro 2013

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  • NEDRU - Ncleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano

    Estudo de Viabilidade Tcnica, Econmica,

    Financeira e Social da Aglomerao Urbana do

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba e seu colar

    de influncia regional

    Uberlndia MG

    Novembro 2013

  • COORDENAO GERAL Prof. Dr Eduardo Nunes Guimares

    Instituto de Economia (IE UFU) Coordenador do NEDRU Ncleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano

    EQUIPE TCNICA

    Nome Formao Instituio

    Coordenadores de rea

    Darcilene C. Gomes Doutorado Unicamp IE-UFU/NEDRU

    Soraia Aparecida Cardoso Doutorado Unicamp IE-UFU/NEDRU

    Pesquisadores

    Adir Aparecida Juliano

    lvaro Fonseca Jr.

    Economista

    Economista

    IE-UFU/NEDRU

    IE/-UFU/CEPES/NEDRU

    Ester William Ferreira Doutorado UFU

    IE-UFU/CEPES/NEDRU

    Jucyene das Graas Cardoso

    Doutorado UFU PMU/NEDRU

    Ricardo Reis Doutorado UFU IG-UFU

    Rick Naves Galdino Mestrado UFU IE-UFU/CEPES/NEDRU

    Sarah Tavares Corra Cunha Mestrado Unesp IE-UFU/CEPES/NEDRU

  • DADOS GERAIS

    Instituio Proponente

    FUNDAO DE APOIO UNIVERSITRIO - FAU C.G.C.: 21.238.738/0001-61

    Reitor: Prof. Elmiro Santos Resende

    Endereo (Reitoria): Av. Joo Naves de vila, 2121

    Bairro Santa Mnica CEP: 38400-902 Uberlndia MG

    Telefone: (34)3239-4805

    Unidade Executora

    Universidade Federal de Uberlndia/Instituto de Economia

    NEDRU (Ncleo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Urbano)

    Coordenador: Dr. Eduardo Nunes Guimares

    Endereo: Bloco 1 J - Sala 1J225 -Campus Santa Mnica

    Av. Joo Naves de vila, 2121

    CEP: 38400-902 Uberlndia MG -Telefone: (34) 3239-4157

  • Sumrio Sumrio ............................................................................................................................................................................. 4

    LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................................................................ 6

    1. Apresentao ................................................................................................................................................................ 7

    2. Introduo ..................................................................................................................................................................... 9

    3. Objetivos, justificativas e abrangncia do estudo ...................................................................................................... 12

    4. Caracterizao de rea de estudo e sua rede urbana................................................................................................. 19

    4.1. Breve histrico da formao regional .................................................................................................................. 23

    4.2. Contribuies da regionalizao funcional do IBGE rede urbana do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba ...... 37

    6. A Aglomerao do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba.............................................................................................. 65

    6.1 - Indicadores demogrficos ................................................................................................................................... 72

    6.1.1 Panorama geral do quadro demogrfico .................................................................................................... 72

    6.1.2 - Crescimento e composio da Populao do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba ..................................... 76

    6.1.3 Migrao ..................................................................................................................................................... 87

    6.1.4 Consideraes sobre a tendncia demogrfica regional .......................................................................... 126

    6.2 Indicadores Econmicos ................................................................................................................................... 129

    6.2.1 Anlise da estrutura econmica................................................................................................................ 129

    6.2.1.1 - A importncia da Mesorregio Tringulo Mineiro e Alto Paranaba no Cenrio Nacional e Estadual ... 129

    6.2.1.2 - Estrutura Produtiva ................................................................................................................................. 134

    6.2.1.2.1 - Composio setorial do Valor Adicionado Bruto (VAB) ....................................................................... 134

    6.2.2 - Anlise dos trs grandes setores econmicos ........................................................................................... 145

    Agropecuria ......................................................................................................................................................... 145

    Indstria ................................................................................................................................................................ 146

    Servios.................................................................................................................................................................. 150

    6.2.2 Mercado de Trabalho ................................................................................................................................ 152

    6.2.2.1 - Crescimento da Populao em Idade Ativa e Populao Economicamente Ativa ................................. 152

    6.2.2.2 - Taxas de participao.............................................................................................................................. 155

    6.2.2.3 - Populao ocupada ................................................................................................................................. 157

    6.2.2.3.1 - Ocupados por setor: agrcola e no-agrcola ....................................................................................... 157

    6.2.2.3.2 - Ocupados por setor/ramos de atividade ............................................................................................. 161

    6.2.2.3.3 - Informalidade e Populao empregada ............................................................................................... 163

    6.2.2.4 - Populao desocupada ........................................................................................................................... 167

  • 6.2.3 Finanas Pblicas....................................................................................................................................... 169

    6.2.3.1 - Receitas Municipais ................................................................................................................................ 169

    6.2.3.2 - Despesas Municipais ............................................................................................................................... 184

    6.2.4 Frota de Veculos ....................................................................................................................................... 190

    6.3 - Indicadores sociais ............................................................................................................................................ 204

    6.3.1 Sade ......................................................................................................................................................... 204

    6.3.1.1 - Indicadores bsicos ................................................................................................................................. 204

    6.3.1.2 - Rede assistencial ..................................................................................................................................... 209

    6.3.2 Educao ................................................................................................................................................... 230

    6.4 ndices de Desenvolvimento ............................................................................................................................ 238

    6.4.1 ndice de Desenvolvimento Humano ........................................................................................................ 238

    6.4.2 - ndice de Gini ................................................................................................................................................ 242

    6.4.3 ndice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) ................................................................................... 244

    6.4.4 ndice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) ................................................................................ 253

    6.5 Outros indicadores de articulao/integrao regional .................................................................................. 257

    6.5.1 Infraestrutura e sistema virio .................................................................................................................. 257

    6.5.2 Influncia das redes de TV e polarizao regional .................................................................................... 273

    7 Principais resultados e recomendaes .................................................................................................................. 279

    7.1 Proposta de agrupamento da rede urbana regional como subsdio criao de umaegio metropolitana

    ............................................................................................................................................................................... 283

    8. Bibliografia ................................................................................................................................................................ 298

  • LISTA DE SIGLAS

    ABCR Associao Brasileira de Concessionrias de Rodovias

    AETT Anurio Estatstico dos Transportes Terrestres

    ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil

    ANFAVEA Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores

    ANFAVEA Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis

    ANTAQ Agncia Nacional dos Transportes Aquavirios

    ANTT Agncia Nacional de Transportes Terrestres

    BIRD Banco Internacional para a Reconstruo e Desenvolvimento

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CLM Council of Logistics Management

    CONIT Conselho Nacional de Integrao das Polticas de Transportes

    COPPE Instituto Luiz Alberto Coimbra de Ps-Graduao e Pesquisa de

    Engenharia

    CSCMP Council of Supply Chain Management Professionals

    DAC Departamento de Aviao Civil

    DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito

    DETRAN Departamento de Trnsito (estadual)

    DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte

    ECT Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos

    FIPE Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas

    GEIPOT Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IE-UFU Instituto de Economia da UFU

    INFRAERO Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroporturia

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    IPEADATA Base de dados econmicos e financeiros mantida pelo IPEA

    MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior

    MT Ministrio dos Transportes

    NEDRU (Ncleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano)

    OSBRA Oleoduto So Paulo / Braslia

    OTM Operador de Transporte Multimodal

    PETROBRAS Petrleo Brasileiro SA

    PORTOBRS Empresa Brasileira de Portos S.A

    REGIC Regio de Influncia das Cidades

    REPLAN Refinaria do Planalto Paulista

    RNTRC Registro Nacional de Transportadores Rodovirios de Carga

    RPN Rede Postal Noturna

    SAMARCO Samarco Minerao S.A.

    TBG Transportadora Brasileira do Gasoduto Bolvia-Brasil S.A.

    TEU Twenty Feet Equivalent Unit

    TKU Toneladas por quilmetro til

    TMAP- Tringulo Mineiro e Alto Paranaba

    TRANSPETRO Empresa de Transporte do Sistema Petrobras

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UFU Universidade Federal de Uberlndia

  • 1. Apresentao

    Este trabalho representa a consolidao de uma srie de indicadores

    que corroboram na formatao final do Estudo de Viabilidade Tcnica,

    Econmica, Financeira, Social e Ambiental da Aglomerao Urbana do

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba e seu Colar de Influncia Regional. Foi

    elaborado, predominantemente, por uma equipe de pesquisadores da

    Universidade Federal de Uberlndia, cujo envolvimento com os temas

    aportados neste relatrio perpassam uma ampla diversidade de estudos e

    pesquisas desenvolvidos ao longo da trajetria de cada membro da equipe.

    Devemos destacar, em particular, a longa experincia acumulada no Instituto

    de Economia da UFU em investigaes relativas ao contexto especfico do

    desenvolvimento regional e urbano do Tringulo Mineiro. O caminho comeou

    a ser traado a partir do incio dos anos 1980 e tem contribudo ao longo dos

    ltimos 30 anos, para a formao de diversos pesquisadores e,

    fundamentalmente, para uma continua interpretao dos mais variados

    aspectos do desenvolvimento e desafios dessa regio singular do espao

    mineiro e nacional. Paralelo a isso, importante destacar que o envolvimento

    de membros da nossa equipe com pesquisas na escala nacional, como o

    estudo da rede urbana brasileira e, depois, suas regies metropolitanas,

    desenvolvidos em parceria entre IPEA/IBGE/NESUR-UNICAMP, em muito

    contribuiu para contextualizar a insero e a dinmica prpria da mesorregio

    do Tringulo Mineiro e sua rede de cidades.

    Ou seja, a equipe envolvida neste trabalho composta por diversos

    pesquisadores com expertise em temas de interesse do desenvolvimento

    regional e anlises setoriais. Eles participam e j participaram de estudos e

    pesquisas que tratam de temas relacionados formao do espao regional do

    Tringulo Mineiro e discusses setoriais que ajudam a entender as

    caractersticas e transformaes ocorridas nesse espao regional e sua rede

    de cidades. Trata-se, portanto, de uma equipe formada em um ambiente com

    longa tradio de pesquisa nos temas envolvidos diretamente com a questo

  • 8

    regional e urbana e seus desafios. Portanto, reside nesse grupo de

    pesquisadores, na sua maioria ligados ao NEDRU (Ncleo de Estudos e

    Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano), do Instituto de Economia

    da UFU, mais do que a capacidade de discusso de temticas e indicadores

    especficos, mas pessoal tcnico com envolvimento direto com o objeto de

    estudo e capaz de realizar uma interlocuo com a comunidade e lideranas

    locais e regionais. Esse um aspecto fundamental, pois a elaborao deste

    relatrio tcnico envolve tanto a anlise de uma srie de indicadores

    econmicos e sociais, quanto a fundamentao de uma discusso acerca da

    aglomerao urbana regional, para servir de subsdio construo de um novo

    arcabouo institucional de planejamento regional, cujos desenhos tero

    importantes impactos no desenvolvimento da rede urbana e da comunidade do

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba.

  • 9

    2. Introduo

    O desempenho econmico e social, aliado diferenciao regional do

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba, em relao a outras regies do Estado de

    Minas Gerais e ao restante do Pas, representam um produto histrico de

    algumas geraes e de uma multiplicidade de atores sociais, que ajudaram a

    moldar suas particularidades e singularidades. Compreender a dinmica

    histrica da rede urbana dessa regio e a imbricao de suas estruturas

    econmica e social configura-se num importante passo para estabelecer

    mecanismos e polticas de desenvolvimento regional com rebatimentos diretos

    na gesto dos municpios.

    Do ponto de vista econmico, no difcil constatar que a regio

    desempenhou um papel diferenciado no cenrio nacional, por meio do

    desenvolvimento virtuoso de suas foras produtivas e da estruturao e

    florescimento de sua rede urbana. Sua evoluo e expresso regional foram

    marcadas por uma particular articulao e integrao nos planos nacional e

    internacional que lhe permitiram participar, desde o sculo XIX, dos circuitos de

    trocas que alavancaram seu desenvolvimento. Entretanto, apesar dos nexos

    regionais e dos desafios comuns presentes nesse espao denominado de

    regio do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba (conforme diviso regional oficial

    do IBGE - Microrregies e Mesorregies Geogrficas, IBGE, 1990), notria a

    ausncia de uma unidade poltico-administrativa diretamente responsvel por

    seu governo e representao, seja na esfera estadual, seja na esfera federal.

    Apesar da complexidade e diversificao das atividades produtivas e dos

    desafios inerentes s suas mltiplas interfaces internas e externas, falta ao

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba uma estrutura institucional, como, por

    exemplo, uma Agncia Metropolitana de Desenvolvimento Regional, que seja

    capaz de estabelecer o planejamento e a governana multinvel. Uma estrutura

    institucional com legitimidade para assumir a responsabilidade de realizar a

  • 10

    ponte entre os governos municipais, as esferas de governo estadual e nacional

    e demais entes de representao de interesses, locais, regionais, nacionais e

    internacionais. Ou seja, ainda que seja possvel recortar esse espao do

    territrio mineiro a partir de suas singularidades sociais e econmicas,

    manifestas nas interaes e complementaridades produtivas e sociais internas

    e externas, faltam-lhe instrumentos de gesto e planejamento multinvel.

    Dentro da atual estrutura federativa brasileira, a criao de uma regio

    metropolitana apresenta-se como um mecanismo de apoio ao planejamento e

    financiamento do desenvolvimento regional, podendo atuar para alm das

    competncias municipais no enfrentamento das assimetrias internas da sua

    rede urbana e na promoo e aproveitamento conjunto das potencialidades

    locais e regionais. Outra alternativa legal concreta de ultrapassar a estrutura

    territorial tradicional a Lei no 11.107/2005, a Lei dos Consrcios Pblicos,

    conforme destacado por Firkowski (IPEA, 2013b:32), que permite a gesto

    associada de servios pblicos entre dois ou mais Entes da Federao e

    que possibilita a busca de solues em conjunto para problemas em comum.

    Embora o tipo mais frequente de consrcio abrangido pela lei tenha sido o de

    sade, tambm possvel utilizar este expediente legal para temas como o

    desenvolvimento regional e os projetos urbanos, alm de saneamento e

    resduos.

    Apesar de avanos nos dispositivos legais preciso reconhecer que o

    histrico e recorrente desafio do desenvolvimento brasileiro tem sido tratar as

    distintas e desiguais caractersticas da dinmica dos seus espaos regionais. A

    tarefa mais difcil, conforme reconhecido por Furtado (1967:07), no admitir a

    existncia das desigualdades regionais de renda e as descontinuidades

    geogrficas entre as diversas reas da estrutura socioeconmica nacional e

    regional. O problema principal perpassa pela realizao de um diagnstico

    compreensivo das desigualdades nas suas respectivas especificidades sociais

    e histricas. Apreender a realidade espacial dos fenmenos sociais condio

    necessria para formular uma estratgia de ao e, assim, definir mecanismos

    e meios para promover o desenvolvimento nas diversas reas e seus

    heterogneos e interligados sistemas produtivos que, em conjunto, conformam

  • 11

    o territrio nacional. Ou seja, o desafio explicar a dinmica espacial existente,

    incluindo o papel das economias de aglomerao, conforme analisado por

    Hirschman (1961), campo de foras - fluncia e polarizao, para determinar

    se existem padres regulares subjacentes aos princpios que governam a

    estrutura do espao econmico e, ao mesmo tempo, se seria possvel

    encontrar (formular) solues alternativas que pudessem contribuir para

    melhorar o bem estar da populao de uma dada rea. Enfim, como ressalta o

    prprio Furtado (1967:12), uma poltica de desenvolvimento deve ser pensada

    no mbito de uma teoria das estruturas espaciais, ou seja, como uma ao

    capaz de influenciar a dinmica de funcionamento espacial da economia.

    Tarefa que no est ao alcance e competncia das esferas de poder local e

    tambm no so adequadamente tratadas nos nveis estadual e nacional.

    Conforme j apontado por Arajo (1999), na estrutura geral do

    desenvolvimento brasileiro existe uma importante lacuna que poderia ser

    preenchida com a construo de uma poltica nacional de desenvolvimento

    regional capaz de tratar tanto das singularidades quanto das potencialidades e

    sinergias que ocorrem nestes espaos de interao entre os territrios

    municipais.

  • 12

    3. Objetivos, justificativas e abrangncia do estudo

    O objetivo geral deste projeto realizar uma caracterizao da hierarquia

    dos polos regionais e suas redes de influncias, envolvendo os demais

    municpios que formam o grande colar regional e, com isso, subsidiar a

    discusso poltica sobre a importncia da estruturao de um arcabouo

    institucional de apoio e promoo do desenvolvimento deste espao particular

    de Minas Gerais. Para tanto, fundamental atentar para o disposto na Lei

    Complementar N 51/98, com base na Constituio Estadual de Minas Gerais,

    que, em seu Art. 45, considera regio metropolitana o conjunto de municpios

    limtrofes que apresentem a ocorrncia ou a tendncia de continuidade do

    tecido urbano e de complementaridade de funes urbanas, tendo como ncleo

    a capital ou metrpole regional, e que exija planejamento integrado e gesto

    conjunta por parte dos entes pblicos. Nesse contexto, e considerando a

    abrangncia da legislao estadual, este trabalho visa discutir a viabilidade

    tcnica da formao da regio metropolitana do Tringulo Mineiro e Alto

    Paranaba ou aglomerao regional com caractersticas metropolitanas.

    O principal problema refere-se prpria definio de regio

    metropolitana. Conforme ressaltado por Firkowski (IPEA, 2013b:27),

    etimologicamente, a palavra metrpole remete Grcia Antiga, e seu sentido

    estava relacionado designao da cidade-me, grande cidade que tinha

    funes das quais dependiam as demais. Assim, a metrpole estava

    relacionada ao domnio de um territrio, oferta de bens e servios

    diferenciados para uma regio. Nesse sentido, a autora destaca que, embora

    os conceitos no possam ser compreendidos fora de seus contextos de tempo

    e espao, na atualidade o termo metrpole encontra-se associado

    importncia funcional de uma cidade. Ou seja, metrpole esto associados

    elementos definidores, como seu peso na economia, sua concentrao de

    atividades superiores e conexo a uma rede urbana cada vez mais mundial.

    (Idem, p.27) Nessa concepo, segundo Ribeiro (2009), o que d sentido a

  • 13

    uma metrpole o seu papel de destaque e centralidade no contexto regional.

    Em torno dessa cidade principal so formados os ns de comando e

    coordenao econmicos e sociais. E assim, a metrpole se destaca pelos

    seus indicadores de tamanho populacional e importncia econmica, mas

    tambm pelo desempenho de funes complexas e diversificadas, formando

    uma hierarquia funcional e um verdadeiro campo de foras centrpetas e

    centrfugas em sua rea de influncia. A importncia da metrpole pode ser

    medida pelo conjunto de interaes com o seu entorno regional, mas tambm

    pela centralidade que desempenha no estabelecimento de relaes

    econmicas e sociais com vrias outras metrpoles e aglomeraes.

    No caso brasileiro, conforme destacado em IPEA (2013a), nem todas as

    unidades institucionalizadas como regies metropolitanas (RMs) resultam

    efetivamente do processo clssico de metropolizao. Ou seja, uma cidade

    central, circundada por um contnuo urbano formado por dois ou mais

    municpios, onde as reas conurbadas dificultam a prpria identificao dos

    limites geogrficos e, principalmente, funcionais. Essa a perspectiva hoje

    presente na legislao mineira. Entretanto, mister destacar que as formaes

    urbanas contemporneas, embora ainda herdeiras das formas pretritas de

    ocupao adensada do solo, contemplam cada vez mais uma interdependncia

    funcional aliada integrao espacial pelo fluxo de pessoas, mercadorias e

    servios, sem a necessria contiguidade fsica. A evoluo nos meios de

    transportes e telecomunicaes, notadamente a partir da dcada de 1990,

    cada vez mais tem permitido a emergncia de centralidades econmicas,

    polticas ou culturais, formadas a partir de uma densa interao e interconexo

    de tecidos urbanos, cuja dinmica dada pela intensidade regular dos

    referidos fluxos a despeito da contiguidade espacial. Um exemplo deste

    processo a forma de operao e prestao de servios das redes de

    telefonia, cuja lgica da chamada interurbana j no guarda necessariamente

    uma relao com os limites territoriais dos municpios. Na mesma direo,

    tambm podemos citar o sistema de comunicao, compras e vendas de bens

    e servios pela internet cuja logstica no est amarrada aos limites territoriais

    municipais ou mesmo dos estados. Este claramente o papel que

  • 14

    desempenham as metrpoles globais e nacionais. Por heranas histricas e

    pelo intenso crescimento demogrfico elas at podem possuir um grande

    adensamento geogrfico conurbado, mas o que lhes d uma real posio de

    destaque e centralidade no a conurbao fsica propriamente dita, mas o

    papel, o volume e a importncia das interdependncias funcionais, das

    interaes e dos fluxos que as integram no espao da sua regio, do pas e do

    mundo.

    Tomando como referncia a tipologia usada por Panayotis Soldatos, apud

    Yahn Filho (2013), que define uma cidade ou metrpole internacional, podemos

    desdobrar as mesmas caractersticas para identificar os papis das metrpoles

    nacionais e regionais. A seguir so apresentadas algumas das principais

    caractersticas que, segundo o referido autor, conformam uma cidade

    internacional contempornea. O propsito elucidar que a mesma

    classificao pode ser adaptada respectivamente para os casos de

    classificao das aglomeraes nacionais e regionais:

    a) posio geogrfica, recebimento de investimentos e fluxos de

    comrcio e sede de empresas;

    - a regio do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba reconhecida

    pela sua localizao geogrfica de interligao regional da economia

    paulista com o Centro-Oeste. As duas principais cidades, Uberlndia e

    Uberaba, ao longo da histria vm se destacando no processo de

    atrao de investimentos e fluxos de comrcio. Algumas empresas

    sediadas nestas cidades apresentam uma importante projeo

    regional;

    b) exportar fatores de produo e suas instituies econmicas, sociais,

    culturais e cientficas terem presena no exterior;

    - os polos de Uberlndia e Uberaba cumprem muito

    intensamente essa funo, na escala regional;

    c) ser diretamente interligada com o exterior por meio de transportes e

    comunicaes;

  • 15

    - a estrutura de transportes e comunicaes do Tringulo

    Mineiro e Alto Paranaba representam um grande diferencial na

    projeo regional de seus principais polos;

    d) possuir um setor de servios e mdia de repercusso e difuso

    internacional e acolher encontros e eventos;

    - a regio do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba conta com uma

    forte presena da mdia regional, rdio, televiso e imprensa. Estes

    meios exercem grande influncia na opinio pblica, alm de grande

    capacidade de divulgao de produtos, ideias e eventos. Tambm

    contam com boa infraestrutura capaz de acolher eventos, congressos,

    festivais e jogos esportivos;

    e) possuir uma populao com composio tnica diversificada;

    - conforme dados dos censos demogrficos pode-se notar que

    a regio do tringulo Mineiro e Alto Paranaba no conta com

    expressiva populao de origem estrangeira, mas abriga

    principalmente um contingente variado de pessoas oriundas de

    diversas regies de Minas Gerais, So Paulo, Gois e Bahia. Alm

    disso, os dados revelam que ocorre uma grande movimentao

    interna de migrantes, fazendo com que os principais polos sirvam de

    residncia para pessoas originrias dos demais municpios da regio.

    Portanto, embora a contiguidade de tecidos urbanos represente os seus

    desafios para as escalas municipais, na sociedade de base tecnolgica

    contempornea o mais importante na funo metropolitana no a

    conurbao, embora isto exija polticas especficas, mas os fluxos de

    integrao e relacionamentos que extrapolam suas jurisdies e avanam por

    uma ampla rea de influncia regional, nacional e internacional. A

    interdependncia no deve ser medida ou entendida apenas a partir dos fluxos

    regulares diretos, pois, na verdade, o fundamental nesta relao a

    complementaridade e diviso territorial de funes, que definem os papis e as

    hierarquias presentes nas estruturas socioeconmicas. Por exemplo, a

    presena de uma importante instituio de ensino em uma dada rea no pode

    ser medida apenas pelo fluxo regular de pessoas que a ela se dirigem ou pelo

  • 16

    impacto de demanda que o seu oramento representa, mas tambm pelo papel

    que ela cumpre na difuso de conhecimentos, qualificao do mercado de

    trabalho e toda uma enorme gama de prestao de servios que ajuda a dar

    funcionalidade e identidade ao espao local e regional. O critrio basilar que d

    sentido a uma aglomerao urbana, seja ela conurbada ou no, a formao

    de uma massa demogrfica mnima de cidade de tamanho e importncia mdia

    para grande, entre 400 mil e 01 milho de habitantes. Este pode ser assumido

    como um parmetro atual para demarcar as caractersticas presentes na

    hierarquia funcional urbana, formada pela concentrao, diferenciao e

    diversificao dos setores de produo de bens e servios.

    A forma regionalizada de estruturao espacial da economia e suas

    diversas relaes sociais, formadas a partir de especializaes produtivas cada

    vez mais complexas e suas divises regionais do trabalho, exige um

    planejamento amplo e uma gesto regionalizada da administrao das esferas

    pblicas. Muitos so os sistemas de interconexo regional das administraes

    municipais, como por exemplo, os servios de ateno sade, os servios de

    educao nos seus diversos nveis, a gesto das bacias hidrogrficas, os

    equipamentos de infraestrutura de integrao, a organizao das diversas

    estruturas institucionais dos setores pblicos estaduais e federal e as prprias

    reas de influncia e atuao das empresas privadas.

    Nesse sentido, fundamental refletir sobre o papel dos principais centros

    urbanos brasileiros e contextualiz-lo com as limitaes que prevalecem na

    institucionalizao das unidades metropolitanas na legislao brasileira em

    vigor, cujos parmetros no so homogneos e, muitas vezes, destitudos de

    critrios objetivos e/ou comuns, por parte dos estados, para a determinao da

    existncia de uma cidade central com as funes de polarizao da sua rea

    de influncia. No mesmo sentido, considerando a competncia das escalas de

    poder estadual, tambm temos os desafios colocados nos casos das regies

    onde ocorre a interao de fluxos regulares de bens, servios e pessoas no

    espao das reas de influncia de municpios pertencentes a distintos entes

    federados. Sobre isto, a legislao brasileira prescreve as condies

    institucionais de formao das regies integradas de desenvolvimento

  • 17

    econmico (RIDE), que, neste caso, tambm no possuem o fato da existncia

    de conurbao fsica como o elemento mais relevante do papel regional que

    cumprem.

    Estudo como o realizado pelo Observatrio das Metrpoles (2004) deixou

    claro que, no caso brasileiro, dentro dos aglomerados urbanos identificados

    como metropolitanos, h diferenas substanciais quanto integrao dos

    municpios dinmica da aglomerao, entendida como o adensamento de

    fluxos econmicos e populacionais. O desdobramento desta realidade

    heterognea pode ser verificado na formao de unidades regionais bastante

    diferentes quanto ao efetivo processo de metropolizao, o que dificulta a

    construo de sistemas de governana metropolitana. J o estudo mais

    recente do Observatrio das Metrpoles (2009:14) revela que

    as novas regies tm regulao bastante diferenciada, havendo mesmo estados que, tendo mais de uma regio, conferem tratamento diferenciado a cada uma. Alm da criao de novas regies, os estados passaram a incluir novos municpios em regies antes criadas por leis federais. A falta de critrios claros para definir a condio metropolitana dos municpios, que prevalece no mais das vezes, expe o tratamento do tema a fortes presses polticas, podendo resultar na constituio de regies extremamente heterogneas quanto ao grau de integrao desses municpios ao fenmeno metropolitano. Essa heterogeneidade, por sua vez, dilui a tradicionalmente fraca identidade metropolitana, elemento essencial construo de estruturas de governana.

    Ainda que no consensuais, podemos sintetizar os principais critrios

    elencados na definio dos espaos metropolitanos:

    alta densidade populacional;

    concentrao de atividades econmicas;

    volumoso fluxo de pessoas, mercadorias e servios;

    unidade central ou ncleo bem definido;

    complexidade e diversificao de atividades;

    fortes laos de relacionamento com os espaos externos rea de

    influncia.

    Um segundo aspecto que gera constrangimentos no processo de gesto

    dos territrios refere-se ao tratamento isonmico dado pela Constituio aos

  • 18

    diversos municpios. Estes claramente no poderiam ter as mesmas

    competncias haja vista suas assimetrias territoriais, econmicas, estruturais e

    funcionais. Neste sentido, a institucionalizao de unidades metropolitanas ou

    RIDEs tem por objetivo reparar uma lacuna constitucional no que tange

    inexistncia de instncias de cooperao, fomento e desenvolvimento regional,

    em clara oposio s limitaes dos frgeis localismos. A alternativa utilizada

    tem sido as Associaes de municpios e os consrcios pblicos voltados ao

    desenvolvimento de aes comuns, mas estes ltimos limitados s polticas

    setoriais especficas.

    Enfim, a principal linha de atuao deste relatrio, considerando as

    caractersticas funcionais da regio do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba e

    sua rede de cidades proporcionar uma discusso da viabilidade tcnica e a

    importncia da criao de uma estrutura institucional de desenvolvimento

    regional para essa rea e, em particular, a figura da regio metropolitana. Para

    tanto, apresentado um conjunto de indicadores com o objetivo de realizar

    uma caracterizao do espao territorial do aglomerado regional do Tringulo

    Mineiro, formado por ncleo, entorno, colar metropolitano e rea de expanso.

    Espao de urbanizao este entendido no necessariamente como um tecido

    urbano contguo, mas com forte nvel de pontos de adensamento demogrfico

    e interligao funcional pelos meios de transporte, aes setoriais pblicas e

    privadas e fluxos de mercadorias, servios e pessoas.

    A estrutura deste trabalho foi dividida em cinco partes alm desta

    introduo. Na primeira, apresenta-se objetivos, justificativas e abrangncia do

    estudo. Na segunda a caracterizao da regio, com breve histrico da

    formao regional e contribuies da regionalizao funcional do IBGE. Em

    seguida, a terceira parte apresenta aspectos tericos e metodolgicos que

    nortearam a realizao da pesquisa. A quarta parte traz indicadores

    demogrficos, econmicos, sociais, de desenvolvimento e outros indicadores

    de articulao regional. Por fim, na quinta parte, so apresentados os principais

    resultados e recomendaes para a formao da Aglomerao Urbana do

    Tringulo Mineiro e Alto Paranaba e seu colar metropolitano.

  • 19

    4. Caracterizao de rea de estudo e sua rede urbana

    Visualmente identificada com a forma geomtrica de um tringulo,

    delineado naturalmente pelos leitos fluviais dos seus principais rios, o Grande e

    o Paranaba, essa regio econmica, como qualquer outra, no deve ser

    apreendida a partir de limites naturais ou geogrficos definidos. Ou seja, a

    identidade de uma regio no dada pela sua forma geogrfica previamente

    determinada ou contida em um plano definido, mas por caractersticas

    histricas e estruturais comuns que a diferenciam e lhe imprimem uma coeso,

    conforme Geiger (1967a: 59) como um espao singular resultante de uma

    combinao de fenmenos de naturezas diversas. Com base na concepo

    espacial de regio como um plano abstrato preciso entender como a

    aglomerao urbana do Tringulo Mineiro se formou e se constituiu enquanto

    uma regio econmica e quais foram seus principais recortes histricos. Uma

    anlise retrospectiva da formao social e econmica do Tringulo Mineiro e

    Alto Paranaba revela que suas diversas localidades e municpios nem sempre

    tiveram uma identificao regional comum. Portanto, o processo de agregao

    e desagregao de municpios nesta estrutura regional s faz sentido a partir

    de sua respectiva contextualizao. Ou seja, so diversos os elementos

    econmicos e sociais responsveis pela moldagem de uma identidade regional

    e diversidade social no Tringulo Mineiro e Alto Paranaba.

    A seguir so apresentados o mapa da distribuio geogrfica e o quadro

    com a discriminao de regionalizao, rea e data de instalao dos

    municpios.

  • 20

    Mapa 4.1 Distribuio geogrfica dos municpios na regio

    Fontes: Elaborao prpria

  • 21

    Quadro 4.1 - Relao dos municpios pertencentes Mesoregio do Triangulo Mineiro e Alto Paranaba, por regies de planejamento e microrregio com data de instalao e rea

    'MUNICPIO rea Km REGIO DE

    PLANEJAMENTO (SEPLAN/MG)

    Data de Instalao

    MICRORREGIO (IBGE)

    Abadia dos Dourados 894,5 ALTO PARANABA 1948 PATROCNIO

    Arapu 172,5 ALTO PARANABA 1962 PATOS DE MINAS

    Arax 1.165,2 ALTO PARANABA 1831 ARAX

    Campos Altos 719,1 ALTO PARANABA 1943 ARAX

    Carmo do Paranaba 1.307,1 ALTO PARANABA 1873 PATOS DE MINAS

    Coromandel 3.296,3 ALTO PARANABA 1923 PATROCNIO

    Cruzeiro da Fortaleza 185,5 ALTO PARANABA 1962 PATROCNIO

    Douradoquara 313,4 ALTO PARANABA 1962 PATROCNIO

    Estrela do Sul 820,3 ALTO PARANABA 1856 PATROCNIO

    Grupiara 192,6 ALTO PARANABA 1962 PATROCNIO

    Guimarnia 370,8 ALTO PARANABA 1962 PATOS DE MINAS

    Ibi 2.707,6 ALTO PARANABA 1923 ARAX

    Ira de Minas 357,6 ALTO PARANABA 1962 PATROCNIO

    Lagoa Formosa 844,5 ALTO PARANABA 1962 PATOS DE MINAS

    Matutina 259,7 ALTO PARANABA 1953 PATOS DE MINAS

    Monte Carmelo 1.353,7 ALTO PARANABA 1882 PATROCNIO

    Nova Ponte 1.105,8 ALTO PARANABA 1938 ARAX

    Patos de Minas 3.189,0 ALTO PARANABA 1866 PATOS DE MINAS

    Patrocnio 2.866,6 ALTO PARANABA 1840 PATROCNIO

    Pedrinpolis 357,7 ALTO PARANABA 1962 ARAX

    Perdizes 2.450,2 ALTO PARANABA 1938 ARAX

    Pratinha 619,3 ALTO PARANABA 1948 ARAX

    Rio Paranaba 1.353,4 ALTO PARANABA 1911 PATOS DE MINAS

    Romaria 402,0 ALTO PARANABA 1962 PATROCNIO

    Sacramento 3.071,5 ALTO PARANABA 1870 ARAX

    Santa Juliana 727,4 ALTO PARANABA 1938 ARAX

    Santa Rosa da Serra 296,3 ALTO PARANABA 1962 PATOS DE MINAS

    So Gotardo 853,8 ALTO PARANABA 1911 PATOS DE MINAS

    Serra do Salitre 1.297,8 ALTO PARANABA 1953 PATROCNIO

    Tapira 1.180,2 ALTO PARANABA 1962 ARAX

    Tiros 2.093,2 ALTO PARANABA 1923 PATOS DE MINAS

    continua

  • 22

    'MUNICPIO rea Km REGIO DE

    PLANEJAMENTO (SEPLAN/MG)

    Data de Instalao

    MICRORREGIO (IBGE)

    gua Comprida 489,5 TRINGULO 1953 UBERABA

    Araguari 2730,6 TRINGULO 1882 UBERLNDIA

    Arapor 298,5 TRINGULO 1993 UBERLNDIA

    Cachoeira Dourada 202,7 TRINGULO 1962 ITUIUTABA

    Campina Verde 3663,4 TRINGULO 1938 FRUTAL

    Campo Florido 1261,7 TRINGULO 1938 UBERABA

    Canpolis 845,2 TRINGULO 1948 UBERLNDIA

    Capinpolis 621,2 TRINGULO 1953 ITUIUTABA

    Carneirinho 2060,7 TRINGULO 1993 FRUTAL

    Cascalho Rico 367,7 TRINGULO 1948 UBERLNDIA

    Centralina 322,0 TRINGULO 1953 UBERLNDIA

    Comendador Gomes 1042,9 TRINGULO 1948 FRUTAL

    Conceio das Alagoas 1348,2 TRINGULO 1938 UBERABA

    Conquista 616,2 TRINGULO 1911 UBERABA

    Delta 104,5 TRINGULO 1997 UBERABA

    Fronteira 199,2 TRINGULO 1962 FRUTAL

    Frutal 2429,7 TRINGULO 1885 FRUTAL

    Gurinhat 1844,4 TRINGULO 1962 ITUIUTABA

    Indianpolis 833,9 TRINGULO 1933 UBERLNDIA

    Ipiau 469,7 TRINGULO 1962 ITUIUTABA

    Itapagipe 1795,4 TRINGULO 1948 FRUTAL

    Ituiutaba 2587,3 TRINGULO 1901 ITUIUTABA

    Iturama 1401,2 TRINGULO 1948 FRUTAL

    Limeira do Oeste 1317,5 TRINGULO 1993 FRUTAL

    Monte Alegre de Minas 2593,2 TRINGULO 1870 UBERLNDIA

    Pirajuba 331,8 TRINGULO 1953 FRUTAL

    Planura 318,0 TRINGULO 1962 FRUTAL

    Prata 4856,6 TRINGULO 1854 UBERLNDIA

    Santa Vitria 3002,8 TRINGULO 1948 ITUIUTABA

    So Francisco de Sales. 1128,8 TRINGULO 1962 FRUTAL

    Tupaciguara 1826,0 TRINGULO 1911 UBERLNDIA

    Uberaba 4512,1 TRINGULO 1836 UBERABA

    Uberlndia 4115,8 TRINGULO 1888 UBERLNDIA

    Unio de Minas 1150,6 TRINGULO 1997 FRUTAL

    Verssimo 1028,6 TRINGULO 1938 UBERABA Fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)

    Fundao Joo Pinheiro (FJP), Centro de Estatstica e Informaes (CEI)

  • 23

    4.1. Breve histrico da formao regional

    Estudos anteriores (BRANDO, 1989; GUIMARES, 2010), com base

    em documentao histrica, descrevem que a regio comeou a ser formada

    como um espao econmico e social regional nos primrdios do sculo XVIII

    quando foram descobertas as primeiras reservas minerais de ouro, prximas

    da Serra da Canastra. Foi este evento que atraiu o interesse dos colonizadores

    e deu origem ao primeiro povoamento colonizador, na localidade denominada

    de Desemboque, atualmente um distrito ligado ao municpio de Sacramento. A

    explorao mineral de ouro e depois pedras preciosas nesta rea foi um

    fenmeno determinante que ajudou a interiorizar o processo de ocupao

    econmica, embora este tenha sido marcado pelo carter pontual e

    relativamente marginal, insuficiente para gestar uma maior organizao da

    estrutura social e econmica, atestados pelo seu baixo impacto no patrimnio

    arquitetnico regional.

    Essa rea, at ento ocupada por nativos e depois por quilombos de

    origem africana, tambm no pode ser definida como uma tpica expanso de

    fronteira, haja vista que a explorao de pedras e minerais preciosos em Gois

    e Mato Grosso transformaram, precocemente, a funo social dos primeiros

    colonizadores das terras do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba (doravante

    denominado apenas de Tringulo Mineiro). Estes passaram a desempenhar

    uma importante funo na diviso regional do trabalho, pois diversos pontos

    desta rea passaram a funcionar como pontos de passagem e abastecimento

    das caravanas que realizavam o trnsito entre o litoral e o Centro-Oeste.

    Portanto, na sua origem como espao econmico, a regio apresenta duas

    caractersticas importantes: por um lado, participa marginalmente do perodo

    ureo da explorao mineral e do seu processo pioneiro e urbanizado de

    colonizao; por outro, sua ocupao ocorre predominantemente na sua

    poro leste, denominada de Alto Paranaba, em torno da principal rota de

    integrao social e econmica do Centro-Oeste com o litoral.

    Conforme registrado nos fatos histricos, o incio do sculo XVIII havia

    sido marcado pela diviso da colnia em provncias, constando os atuais

  • 24

    estados de So Paulo e Minas como uma unidade provincial. A descoberta do

    ouro em Minas desencadeou a separao das Provncias de So Paulo e

    Minas Gerais. A descoberta de ouro, por Bandeirantes paulistas, nas

    proximidades da Serra da Canastra, levou anexao dessas terras

    Provncia de So Paulo, entre os anos de 1720 e 1748. Segundo Matos (1981)

    a rea foi transformada em uma subunidade administrativa colonial, o Julgado

    do Desemboque, rea imprecisamente delimitada, pois formada,

    genericamente, pela confluncia das bacias dos rios Grande e Paranaba, alm

    de parcela do sul de Gois. Essa primria demarcao e subsequente

    ocupao econmica podem ser definidas como uma representao espacial,

    poltico-administrativa e religiosa, incipiente do atual Tringulo Mineiro. Com o

    avano da minerao em Gois o administrador daquela provncia passou a ter

    um interesse direto sobre a ocupao das terras do Desemboque, pois estas

    eram fundamentais para garantir os fluxos econmicos e sociais sob seu

    domnio. Assim, entre 1748 e 1816 a rea passou aos domnios administrativos

    e paroquiais da Capitania de Gois. Ao final deste perodo a rea na margem

    esquerda do rio Paranaba, escassamente ocupada e explorada, passou ao

    controle administrativo da Provncia de Minas Gerais e mais tarde se

    subordinou hierarquia da ordem religiosa mineira. Foi, portanto, ao longo das

    primeiras dcadas do sculo XIX que o tringulo geomtrico, formado pelas

    suas duas principais bacias hidrogrficas, foi paulatinamente sendo

    incorporado aos domnios dos mineiros.

    A articulao precoce com o Centro-Oeste, somada a uma ulterior

    integrao econmica com So Paulo e Centro-Oeste e acrescida de um

    recorrente sentimento de marginalizao na poltica estadual ajudaram a

    fomentar uma identidade regionalista, que ganhou forma e ressonncia

    histrica atravs dos movimentos separatistas. Sem pretenso de discutir a

    existncia de um tipo mineiro padro, pode-se dizer que o espao econmico e

    social do Tringulo Mineiro foi, na sua gnese, um desdobramento da

    sociedade colonial forjada na explorao das riquezas minerais, mas que

    desde cedo comeou a construir sua identidade regional, ajudando a reforar a

    diversidade das Gerais e suas mltiplas variaes sociais e econmicas.

  • 25

    O resgate histrico da formao regional revela que uma das suas

    caractersticas marcantes foi a sua luta separatista e o sentimento de no

    pertencimento, de identidade prpria, de autonomia. Esta ganhou seus

    primeiros contornos na longnqua dcada de 1840, quando foras polticas

    regionais, com epicentro em Arax, em desacordo com a unidade imperial,

    empunharam a bandeira separatista e propuseram formar uma nova unidade

    territorial no Brasil Central. Essa ao de representao poltica, como muitos

    outros movimentos regionalistas, de norte a sul do pas, foram aes de

    identificao espacial que se expressaram sob a forma de rebelies contra a

    fraqueza e o poder unitrio do Imprio. No Tringulo Mineiro estes movimentos

    separatistas tiveram continuidade em diversas outras oportunidades ao longo

    da Repblica, sem claramente definir seus limites territoriais, mas consolidando

    uma reao reivindicatria contra os mecanismos do poder estadual.

    As caractersticas regionais singulares so elementos constituintes da

    formao desta regio, que desde sempre esteve articulada aos grandes

    movimentos de transformao da economia nacional e internacional. Suas

    heranas sociais e econmicas foram moldadas, predominantemente, ao longo

    dos ltimos dois sculos de fluxos econmicos e sociais. Embora no tenha

    sido uma rea com forte presena escravista, o crescente adensamento

    demogrfico desta regio, a partir das primeiras dcadas do sculo XIX, teve

    uma singular herana do modo de vida tipicamente mineiro fundado no ciclo da

    minerao. Minas Gerais, que representava a Provncia mais densamente

    povoada, foi a principal fonte provedora do povoamento que adentrou o espao

    regional triangulino e ajudou a fomentar sua economia, sua estrutura rural e

    urbana, seus costumes, cultura, culinria e tradies. Somada influncia dos

    africanos, ndios, paulistas, goianos e europeus, esse tipo mineiro em

    formao secular foi a base da ocupao originria deste novo espao

    regional.

    Do ponto de vista histrico, a estrutura social do Tringulo Mineiro

    relativamente recente, mas herdeira do patrimnio cultural de ultramar e da

    particular colonizao Ibrica que comandou as marcantes

    economias/sociedades do acar (FREYRE, 1990 e 2004) e da minerao

  • 26

    (ANTONIL, 1992), do latifndio e da urbanizao. A explorao mais

    sistemtica da rea ocupada pelos 66 municpios que hoje formam a regio

    ocorreu basicamente a partir do esgotamento do ciclo mineral, fim da era

    colonial e expanso da agropecuria extensiva com baixa dependncia urbana

    e um influxo demogrfico mais diversificado.

    Portanto, no Tringulo Mineiro, a vida social e econmica ganhou novos

    contornos e caractersticas e incorporou particularidades advindas de um

    estreitamento de relaes econmicas e no econmicas com os ocupantes do

    Centro-Oeste e da nascente economia cafeeira paulista. Esse legado explica

    muito das caractersticas comuns encontradas no Tringulo Mineiro, em

    relao s outras reas do Brasil e, principalmente, das Minas Gerais. Em

    particular, podem-se destacar as prticas e sabores da culinria de longa

    tradio entre seus habitantes, mas tambm ajuda a entender a formao de

    singularidades, variabilidades e resistncias, conforme Guimares (2010),

    prprias da nova realidade social e econmica do espao regional. Ou seja, os

    habitantes da regio carregam heranas marcadas pela forte presena dos

    imigrantes vindos das Gerais, trazendo com eles essa cultura tpica, mas no

    unitria, seja da experincia de vida urbana ou rural. No novo espao regional

    esses mineiros se juntaram com outras descendncias, mas fundamentalmente

    tambm experimentaram cursos de vida e de relacionamentos econmicos e

    sociais diferenciados. Portanto, pode-se afirmar com tranquilidade que o

    espao urbano e regional do Tringulo Mineiro no foi constitudo de relaes

    homogneas. Pelas caractersticas da insero regional na economia nacional,

    nota-se uma importante fragmentao de papis na diviso regional do

    trabalho.

    Uma importante caracterstica abordada em estudos anteriores

    (GUIMARES, 2010) que, desde a ocupao pioneira, nos primrdios do

    sculo XVIII, essa regio passou por uma fragmentao na forma de

    articulao de sua estrutura espacial. Em termos geogrficos, se for tomada

    como referncia uma linha imaginria longitudinal ligando os atuais municpios

    de Uberaba e Araguari, pode-se dizer que o atual Tringulo Mineiro contava

    com duas formaes espaciais distintas: o leste e o oeste.

  • 27

    Mapa 4.2 Tringulo Mineiro e Alto Paranaba e suas microrregies:

    destaque para a linha imaginria que demarcou sua fragmentao originria

    Fonte: IBGE - Elaborao prpria

    A rea situada a leste no s foi ocupada primeiro como, ao longo da

    histria, manteve uma articulao econmica e social de maior proximidade

    com o centro poltico, cultural e econmico de Minas Gerais e da antiga capital

    federal, o Rio de Janeiro. A ocupao pioneira desta regio foi realizada a partir

    das terras situadas predominantemente no Alto Paranaba, que serviam de

    passagem das caravanas e rotas comerciais entre o litoral e o Centro-Oeste. A

    partir das primeiras dcadas do sculo XIX a ocupao foi se espalhando e

    novos municpios comeam a ganhar destaque na rea mais a oeste da regio,

    mais conhecido como Tringulo Mineiro.

  • 28

    Mapa 4.3 Mesorregio do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba: com destaque para as primeiras reas de ocupao econmica

    Fonte: www.mg.gov.br, apud Guimares, 2010.

    A rea situada a oeste recebeu influxo demogrfico e ganhou dinamismo

    econmico a partir de sua estreita relao com a nascente economia paulista e

    com o vasto Centro-Oeste, onde florescia a minerao e pecuria. A ocupao

    originria do incipiente Tringulo Mineiro e Alto Paranaba ocorreu a partir

    destes dois principais fluxos de integrao do interior com o litoral, um

    centralizado em Arax, ligado mais diretamente ao Sul de Minas e Rio de

    Janeiro e outro em Uberaba, comercialmente integrado com as rotas oriundas

    do litoral paulista.

  • 29

    Mapa 4.4 Localizao dos primeiros municpios

    Fonte: www.mg.gov.br, apud Guimares, 2010.

    A fragmentao entre a ocupao do oeste e do leste regional iniciou-se

    no perodo colonial e foi reforada na era ferroviria que reproduziu as duas

    rotas iniciais de integrao, uma ferrovia ligando Araguari, Uberlndia e

    Uberaba a Campinas (SP) e outra ligando municpios do Alto Paranaba ao Sul

    de Minas e litoral carioca. O advento da ferrovia, naquele momento o meio de

    transporte mais moderno e dinmico, promoveu uma reorientao dos fluxos

    econmicos e migratrios, estabelecendo as bases de uma nova estrutura

    produtiva, definitivamente voltada para o mercado. No caso especfico do

    Tringulo, sua poro oeste foi integrada na malha paulista, com a chegada da

    Ferrovia Mogiana a partir de 1889, enquanto a poro leste foi ligada na malha

    mineira e carioca, a partir da segunda dcada do sculo XX, com a chegada da

    Estrada de Ferro Oeste de Minas e depois transformada em Rede Mineira.

  • 30

    Mapa 4.5 Panorama histrico das estradas de ferro na regio

    Fonte: www.geominas.gov.br apud Guimares, 2010.

    Com o desenvolvimento da economia cafeeira assalariada paulista, na

    segunda metade do sculo XIX, servindo de base para uma incipiente indstria

    nascente, somada expanso ferroviria em territrio nacional e regional, o

    Tringulo foi palco de uma reestruturao de sua geografia econmica que

    fortaleceu o eixo de ligao do Centro-Oeste com So Paulo. Entretanto, nota-

    se claramente que a parte mais extrema do pontal dessa regio continuou sem

    ocupao econmica mais sistemtica, sendo assim retardado o aparecimento

    de novos municpios. E, ainda que a era ferroviria brasileira possa ser descrita

    como o advento dos transportes modernos e tendo provocado grandes

    transformaes na economia nacional, ela comeou a se esgotar a partir da

    dcada de 1930, sofrendo um gradativo e comprometedor processo de

    desinvestimento. E, nesse sentido, as transformaes ulteriores na

    configurao espacial da economia, embora significativas, no podem ser

    explicadas a partir do desenho dos traados das velhas ferrovias.

  • 31

    Observado em retrospectiva podese afirmar que a primeira metade do

    sculo XX abrigou processos que foram decisivos para consolidar uma

    importante tendncia na estruturao do espao nacional. A emergncia da

    economia paulista mudou a centralidade nacional e ajudou na diferenciao

    produtiva das reas que lhe estavam diretamente integradas. Ao contrrio, a

    decadncia relativa da centralidade carioca gerou estmulos menos dinmicos

    na sua rea de influncia, impactando negativamente o desempenho das

    economias regionais adjacentes. Assim, alm do auge e decadncia do

    sistema ferrovirio, a primeira parte do sculo XX tambm revelou importantes

    transformaes na estruturao dos espaos regionais e foi palco da formao

    de uma economia integrada nacionalmente sob a liderana da economia de

    So Paulo. No caso da regio do Tringulo, alm do impacto diferenciado

    provocado pela distinta articulao com a economia paulista e com a economia

    carioca, cabe registrar que no caso da contribuio da malha ferroviria, nota-

    se que apesar de vrios projetos de expanso havidos no sculo XX, mas

    jamais materializados, a situao atual herdeira dos traados e dos

    investimentos realizados predominantemente no incio do referido perodo.

    Mapa 4.6 Panorama atual das redes ferrovirias brasileiras

    Fonte: ANTT

  • 32

    Somado emergncia da centralidade da economia paulista, da

    nascente industrializao e da formao da economia nacional, pode-se

    afirmar que o arrojado programa de infraestrutura e industrializao da

    segunda metade da dcada de 1950, acrescidos da deciso de construir

    Braslia no Centro-Oeste foi um elemento importante para a formao de uma

    nova hierarquia regional no Brasil na segunda metade do sculo XX. O marco

    temporal se inicia e, ao mesmo tempo, se explicita na seguinte frase do

    Presidente Kubitschek: "todos os rumos levam a Braslia". A capital federal no

    planalto central representou uma condio decisiva para reorientar os fluxos

    econmicos e fomentar a interiorizao da economia. Por um lado, o local

    escolhido para abrigar Braslia se encontrava em regio produtora de bens

    primrios e era herdeira de um entorno de explorao mineral; por outro, a

    ao de investir em infraestrutura e estimular a migrao urbanizada

    interiorizava um amplo potencial de consumo final. Somada ao esforo

    concentrado de criar a infraestrutura para o desenvolvimento da acumulao

    de capitais, Braslia funcionou como o fiel da balana para que estes benefcios

    chegassem ao interior. No caso especfico do Tringulo Mineiro e, em

    particular, do municpio de Uberlndia, a deciso nacional sobre os

    investimentos em infraestrutura de energia e transportes passou a configurar

    uma oportunidade impar e estratgica para a sua emergncia regional, ou seja,

    participar dos planos de ligao entre So Paulo e a nova capital federal.

    No projeto de levar a capital para o interior estavam embutidas ideias de

    redistribuir as atividades produtivas, mas, principalmente, de se criar condies

    para que as pessoas no migrassem impreterivelmente para o litoral. Na

    verdade, no foi empregado o termo migrao por acaso, mas para colocar a

    problemtica de uma interiorizao urbana forada. Ou seja, no planejamento

    estatal de levar infraestrutura ao interior e na sua opo rodoviria estavam

    evidentes os interesses de acumulao urbana, deixando-se, portanto, de

    atacar o problema do xodo rural.

    A partir desta configurao espacial, a regio do Tringulo Mineiro

    ganhou um destaque especial no processo de acumulao de seus ncleos

    urbanos vis--vis a um esquema de interveno pblica e redirecionamento

  • 33

    dos novos e velhos fluxos econmicos. Foi com o desenvolvimento dos meios

    de transportes e com a construo da malha rodoviria, notadamente aps o

    Plano de Metas do Governo JK, que a fragmentao regional no Tringulo

    Mineiro foi sendo diluda atravs de um aumento do fluxo interno de trocas e

    interaes sociais. A partir deste perodo, o maior dinamismo econmico e

    demogrfico do eixo ligado diretamente economia paulista comeou a se

    projetar sobre a poro leste. Assim, os municpios do Alto Paranaba, de

    ocupao regional mais antiga e rural, com heranas mais caractersticas dos

    hbitos e costumes prprios da tradio mineira passam, paulatinamente, a

    sofrerem influncia da polarizao econmica e cultural dos principais plos do

    Tringulo Mineiro Uberlndia e Uberaba. Estes dois ncleos urbanos

    consolidam gradativamente suas reas de influncia regional na direo leste,

    antes dominada pela capital mineira. O maior crescimento e dinamismo dos

    ncleos urbanos de Uberlndia e Uberaba, puxados pela intensa expanso

    demogrfica criaram uma forte centralidade regional em torno da qual

    passaram a ser estruturados os fluxos econmicos e sociais no espao

    regional.

    Alm da superao da fragmentao interna original e da consequente

    construo da unidade regional, criada a partir da maior integrao econmica

    da sua rede urbana, tambm merece destaque o processo de transformao e

    modernizao da economia regional. No caso do Tringulo Mineiro (agora nos

    referindo ao conjunto da regio) este no s diversificou seus setores

    produtivos como foi palco de uma verdadeira revoluo no setor agropecurio,

    recebendo considervel saldo migratrio e investimentos de capital. Portanto, o

    perodo que se inicia na dcada de 1970 marcou a consolidao econmica

    regional sob a hegemonia dos plos de Uberlndia e Uberaba e pode ser

    conceitualmente entendido como a abertura desta regio como espao de

    concorrncia do capital nacional. A forte integrao comercial havida nas

    dcadas anteriores ganhou o reforo da integrao produtiva nacional e a

    regio, por intermdio de seus principais plos, comea a receber os

    investimentos do grande capital nacional. Em sntese, o Tringulo Mineiro,

    contando com a modernizao de sua infraestrutura e a sinergia de sua

  • 34

    integrao funcional com a economia paulista comea a se projetar no cenrio

    nacional como espao de concorrncia tambm do capital extra-regional.

    Mapa 4.7 Estradas de Rodagem Federais Plano de Metas: 1964

    Fonte: Rezende, Elizeu, 1973, apud, Guimares, 2010.

    Do ponto de vista logstico regional, pode-se perceber que a partir da

    dcada de 1960 o municpio de Uberlndia consolida a sua centralidade

    regional, tendo por base a integrao direta com So Paulo, Braslia, Goinia e

    principais cidades do sudoeste de Gois. A posio como entroncamento de

    diversas rodovias que ligam as regies Sudeste e Centro-Oeste do pas ajuda

    a explicar o rpido crescimento econmico e demogrfico de Uberlndia e seu

    crescente papel na integrao da rede urbana regional do Tringulo Mineiro. E

    embora no seja sua principal ligao social e econmica, Uberlndia tambm

    fortaleceu a sua ligao direta com a capital estadual: Belo Horizonte. J no

    caso da cidade de Uberaba, localizada mais prxima do Estado de So Paulo,

    embora apresente boa articulao com a parte sul do Tringulo Mineiro, nos

  • 35

    sentidos leste e oeste, sofre, pela maior proximidade com o interior paulista,

    uma concorrncia mais direta dos principais centros daquele estado (Ribeiro

    Preto e So Jos do Rio Preto). Assim, embora bem integrada com So Paulo

    e com legado histrico mais tradicional, o ncleo urbano de Uberaba no

    constituiu a mesma projeo de Uberlndia na articulao regional e com o

    Centro-Oeste. Uberlndia, ao longo do tempo tornou-se a principal economia

    do Tringulo Mineiro, com rea de influncia estendendo-se por toda a regio,

    com projees para o noroeste mineiro e Sul e Sudeste de Gois. O bom

    posicionamento desta cidade na malha rodoviria da regio contribuiu para o

    forte crescimento e diversificao funcional do seu tecido urbano ao longo do

    ltimo meio sculo, destacando as BR-050; BR-452; BR-365; BR-497 e BR-

    455.

    Neste contexto pode-se dizer que foi decisivamente a ao do Governo

    JK de construir uma nova capital federal no interior e o posterior e arrojado

    programa pblico de modernizao da agropecuria dos cerrados que

    colocaram o Tringulo Mineiro em localizao de destaque para atrair

    investimentos e adensamento populacional, puxados pelos benefcios diretos e

    indiretos da infraestrutura. A deciso de construir Braslia no Centro-Oeste foi

    fundamental para justificar um conjunto de investimentos de infraestrutura

    (energia, transportes, comunicaes, armazenamento, etc.) que posicionaram

    Uberlndia e regio numa localizao estratgica de integrao da indstria de

    So Paulo com a expanso dos mercados interioranos. O desenvolvimento e

    diversificao da economia regional gerou a hierarquia interna da rede urbana

    e promoveu a transformao de Uberlndia no seu principal polo. A

    diferenciao da economia deste municpio ocorre, sobretudo, atravs da

    expanso de sua rea de influncia econmica e social, empurrada pela

    projeo do seu capital comercial, da sua rede de servios de

    telecomunicaes, do setor de servios em educao e sade e, tambm,

    como epicentro da modernizao da agropecuria comercial dos cerrados.

    Estes elementos, combinados no tempo e no espao, transformaram a cidade

    no principal local de destino da migrao e dos investimentos regionais.

  • 36

    Ao cumprir funo polarizadora e ao contabilizar um intenso crescimento

    demogrfico, a cidade de Uberlndia tem experimentado um processo de

    transformao tanto na sua paisagem urbana como, principalmente, na sua

    composio social, onde cruzam e entrecruzam o local, o regional, o nacional e

    o cosmopolita. Entretanto, dado o curto perodo histrico de centralidade

    econmica regional e a grande transformao urbana e social de Uberlndia,

    parafraseando Oliveira (1993), pode-se dizer que se trata de uma centralidade

    regional inacabada. Ou seja, Uberlndia consolidou sua funo econmica de

    polo regional, mas ainda no exerce a mesma liderana poltica e cultural na

    regio.

    O desenvolvimento e a diferenciao da economia e da estrutura social

    do Tringulo Mineiro nas dcadas de 1970 e 1980, somadas as transformaes

    tecnolgicas e nas economias nacional e internacional contriburam para inserir

    a regio no espao de concorrncia internacional. Assim, somados aos

    interesses do capital regional e nacional pode-se notar que a dcada de 1990

    demarca a transio do Tringulo para o posto de espao da concorrncia

    internacional. Isto significa novas oportunidades de investimentos, mas tambm

    indica um novo patamar de exigncias para a infraestrutura, qualificao da

    mo de obra, servios e qualidade de vida. com base nos desafios presentes

    e futuros que devem ser pensados os desafios, as funcionalidades, assimetrias

    e potencialidades da rede urbana do Tringulo e a importncia do seu

    planejamento integrado.

  • 37

    4.2. Contribuies da regionalizao funcional do IBGE rede

    urbana do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba

    Uma das principais contribuies para entender a dinmica de

    funcionamento dos espaos regionais brasileiros e sua rede de cidades pode

    ser creditada ao conjunto de estudos do IBGE (1972, 1987, 2000 e 2008). Essa

    linha de pesquisa, realizada desde a dcada de 1960 produziu um verdadeiro

    referencial para entender a regionalizao brasileira, no s em termos

    tericos, mas com dados empricos cobrindo um longo perodo histrico. Estes

    estudos produziram primeiro uma Diviso do Brasil em Regies Funcionais

    Urbanas (1972), com ano de referncia em pesquisa de campo de 1966,

    prosseguindo com as verses denominadas de Regio de Influncia das

    Cidades (1987, 2000, 2008), respectivamente com base em dados de 1978,

    1993 e 2007. A base terica e metodolgica deste estudo tinha por referncia a

    escola francesa, muito influente no Brasil naquele perodo (Andrade, 1987), e,

    particularmente, baseou-se em documento coletivo elaborado no mbito do

    IBGE (Geiger, 1968). Desde o trabalho pioneiro estavam claras as

    preocupaes quanto ao significado de regio, tratada como um espao

    diferenciado da superfcie terrestre. Neste aspecto era destacada a importncia

    dos fluxos presentes nas relaes econmicas como elemento definidor da

    diferenciao e da dinmica espacial, sendo as regies construes sociais

    caracterizadas pela existncia de um ncleo ou ncleos urbanos, ordenadas

    em hierarquias pela dimenso e diversificao dos setores tercirios das

    economias urbanas.

    Dentre as principais contribuies deste legado e de interesse especfico

    para entender a regionalizao do Tringulo Mineiro podemos citar a

    interpretao do caso especfico de Minas Gerais, onde no primeiro nvel

    aparecem as reas de influncia dos trs centros nacionais: So Paulo, Rio de

    Janeiro e Belo Horizonte. No segundo nvel so listados os 13 plos regionais

    ligados aos grandes centros, como: So Paulo (Uberlndia, Uberaba, Ituiutaba,

    Poos de Caldas e Varginha); Rio de Janeiro (Juiz de Fora, Muria,

    Governador Valadares e Tefilo Otoni) e Belo Horizonte (Montes Claros, Patos

  • 38

    de Minas, Divinpolis e Barbacena). No ltimo nvel so listados todos os

    municpios que formam a rea de influncia dos centros regionais. Destacando

    o caso do polo regional de Uberlndia, que desde 1996 aparece ligado na rea

    de influncia direta de So Paulo e articulado em uma rede urbana regional

    formada por diversos municpios do Tringulo Mineiro e Alto Paranaba, com

    projees para Gois e Mato Grosso. Neste aspecto ficava claro, desde as

    anlises pioneiras do IBGE, as singularidades histricas do chamado

    Tringulo Mineiro, cuja poro oeste era entendida como um prolongamento

    da economia paulista e sua poro leste, mais conhecida como Alto Paranaba,

    prximo ao polo de Patos de Minas, caracterizava por uma articulao

    econmica direta com Minas Gerais, atravs da centralidade de sua capital

    estadual.

    Voltando concepo do estudo, pode-se notar que o ponto de partida

    de todo este trabalho de regionalizao do IBGE foi o entendimento de que a

    organizao espacial da economia ocorre atravs da polarizao dos ncleos

    vizinhos pelas cidades maiores e mais complexas. Normalmente os

    aglomerados urbanos que apresentam maiores massas econmicas e

    demogrficas formam em torno deles uma rea de influncia regional. Para

    caracterizar e delinear essa relao e essa espacialidade, a pesquisa do IBGE

    procurou identificar indicadores que permitissem caracterizar os vnculos e

    relacionamentos entre os ncleos urbanos. A premissa bsica era a de que

    essas relaes so funo das distncias, da diviso de funes e da

    distribuio de renda. O primeiro passo foi classificar as funes urbanas e

    dividi-las em bsicas e no bsicas, criando uma relao de atividades

    principais que fosse representativa da hierarquia dos centros urbanos e suas

    reas de influncia.

    A primeira grande classificao presente em todas as verses da

    pesquisa foi a identificao de alguns ncleos urbanos que cumprem a funo

    de centros metropolitanos e em cujas reas de influncia aparecem os centros

    regionais e seus sistemas produtivos regionalizados. No caso de Minas Gerais

    estes centros metropolitanos so: So Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

    Em torno destas grandes estruturas urbanas se organizam os centros regionais

  • 39

    e suas reas de influncia. Entre a primeira e a ltima verso (IBGE, 1972 e

    IBGE, 2008) essa metodologia no foi alterada, sofrendo apenas algumas

    modificaes nos resultados, decorrentes da involuo da rea de influncia do

    Rio de Janeiro e ampliao da rea de Belo Horizonte. Diferenas parte,

    cada um desses trs plos era identificado como responsvel por uma rea de

    influncia direta. No delineamento espacial de cada polo era ressaltado que

    suas atuaes perdiam fora em funo da distncia e das suas respectivas

    capacidade de direo ou peso econmico e social. Deve-se destacar nesta

    anlise o reconhecimento que o IBGE concedia, no s s diferenas entre os

    plos principais e suas funes, mas tambm em relao aos contrastes

    variados caractersticos das reas perifricas. Essa viso revela que, embora

    herdeiros da concepo de regio como espao homogneo, o confronto com

    a realidade os impelia a assumir as assimetrias e heterogeneidades prprias

    das diferentes funes regionais, entendidas como decorrentes da organizao

    do espao pelo homem. Na verdade, cada nova verso da pesquisa

    representava uma reviso do estudo anterior e constitui um quadro descritivo

    atualizado para a elaborao de decises ligadas s atividades econmicas de

    uma regio.

    O segundo grande procedimento foi a seleo dos municpios que

    atendiam critrios mnimos de tamanho demogrfico, porte econmico e algum

    critrio de centralidade de acordo com o ano da pesquisa. Nestes municpios

    foram aplicadas as pesquisas empricas diretas, conforme questionrio

    previamente elaborado em 1966 e modificado a cada verso da pesquisa. Por

    exemplo, na verso de 1966 foram pesquisados 135 itens agrupados em 04

    grupos de atividades econmicas e em 1978 o questionrio envolvia 76 itens

    de bens e servios j previamente classificados para designar o nvel

    hierrquico do municpio, sendo reduzido para 46 funes centrais no

    questionrio de 1993 e, finalmente, no questionrio de 2007 foram investigados

    nove itens que compunham grupos de informaes, como ensino superior,

  • 40

    ompras de bens e servios, transportes, etc.1 Mas em todos os anos em que o

    questionrio foi aplicado ele constituiu-se de apenas uma unidade por

    municpio e foi preenchido pelo prprio agente do IBGE responsvel pela

    localidade.2

    A terceira etapa da pesquisa foi a elaborao de matrizes descritivas dos

    relacionamentos espaciais que permitiram a contagem dos relacionamentos de

    fluxos de pessoas para compra e venda de bens e servios entre os municpios

    indicados nos questionrios. Essas matrizes eram formadas com os pontos que

    cada municpio somava de acordo com os setores avaliados, estabelecendo,

    assim, uma hierarquia que possibilitava definir os plos e os centros a eles

    subordinados. Entretanto, considerando que era apenas um questionrio por

    municpio e que estes apenas indicavam se existia ou no relacionamento, sem

    quantific-los ou identificar suas intensidades, estas matrizes apenas

    possibilitaram registrar a existncia e a complexidade das relaes entre os

    municpios. O resultado era uma soma de pontos para cada centro urbano,

    relativos aos distintos relacionamentos com outros centros, sem apresentar

    uma discriminao prvia de qualquer hierarquia das atividades. Primeiro eram

    identificados os centros que apresentavam grande nmero de relacionamentos

    diretamente com os centros metropolitanos, classificando-os como centros

    regionais e, na sequncia, eram identificadas as reas de influncia destas

    cidades.

    Apenas na ltima verso da pesquisa (IBGE, 2008) os pesquisadores

    introduziram algumas mudanas substanciais na metodologia. Segundo eles,

    para melhor qualificar a centralidade dos centros foram utilizados dados de

    pesquisas secundrias sobre uma extensa gama de equipamentos e servios.

    Os critrios utilizados no REGIC 2007 (IBGE, 2008) foram: a gesto federal

    (identificao da localizao dos locais de instalao dos rgos pblicos como

    1 No ano de 1966 foram aplicados questionrios em 716 sedes de municpios, em 1978 aumentou para 1278 sedes de municpios, passando no ano de 1993 para 2106 sedes de municpios em um universo de 4.495 municpios existentes e, finalmente, no ltimo levantamento de 2007, de um universo de 5.564 municpios registrados no pas, a pesquisa coletou dados de 4.625 sedes municipais. 2 No item metodologia do IBGE (2008) so apresentadas as caractersticas das diferentes verses do questionrio de pesquisa utilizado nos diversos anos.

  • 41

    expresso da possibilidade de acesso da populao ao servio); gesto

    empresarial (ideia de que os centros polarizadores atraem a instalao de filiais

    de empresas sediadas em outros centros); equipamentos e servios (estudos

    complementares sobre diferentes equipamentos e servios para qualificar

    melhor a centralidade dos ncleos identificados); comrcio e servios

    (pressuposto de que quanto maior o nmero de atividades, maior a diversidade

    de oferta dessas atividades e maior a centralidade imposta pela cidade); alm

    de instituies financeiras; servios de ensino superior, servios de sade,

    servios de internet, redes de televiso aberta e conexes areas. Com estes

    dados, no considerados nas verses anteriores, as ligaes estabelecidas

    entre as cidades ganharam nova verso. A metodologia para determinar a

    regio de influncia das cidades foi realizada a partir da intensidade das

    ligaes entre as cidades, considerando os eixos de gesto pblica e de gesto

    empresarial. Dessa forma, as matrizes contm o total de ligaes e a

    vinculao entre os centros de acordo com o questionrio, conforme pesquisas

    anteriores, mas tambm em funo dos dados secundrios. Ou seja, o

    resultado final uma combinao, nada esclarecida, das duas redes de

    ligaes, a dos centros de gesto e a das informaes do questionrio, para

    definir as regies de influncia dos centros urbanos.

    Conforme IBGE (1987:17), cada cidade recebeu um questionrio3

    contendo basicamente dois tipos de perguntas: a) de um lado, pergunta-se a

    respeito dos municpios de procedncia das pessoas que, usualmente,

    procuram [a cidade pesquisada] para a compra de um conjunto de bens

    especificados ou a utilizao de um servio relacionado; b) de outro, pergunta-

    se que cidades os moradores [do municpio pesquisado] usualmente recorrem

    para a compra de artigos indicados [e] para a utilizao dos servios

    especificados. Ou seja, a proposta do questionrio era identificar os fluxos

    econmicos entre os diversos municpios brasileiros, entendidos como o

    conjunto de relacionamentos dos municpios. Para tanto, primeiro os

    pesquisadores, em cada verso do questionrio, definiram os setores de

    3 Ver detalhamento dos questionrios nos anexos de IBGE, 1987 e IBGE, 2000.

  • 42

    atividades econmicas considerados mais relevantes para representarem os

    relacionamentos entre os municpios e suas hierarquias urbanas. Em geral o

    questionrio era composto por um conjunto de atividades que buscava

    identificar as ligaes dos fluxos agrcolas ou agropastoris, fluxos de bens e

    servios para a economia e tambm dos fluxos de bens e servios

    populao.

    A ideia que presidiu o questionrio era bastante clara, ou seja, mapear

    os fluxos econmicos que ajudariam na compreenso da organizao e da

    regionalizao do espao brasileiro, atravs da identificao dos ncleos de

    polarizao e das suas redes e reas de influncia regional. Este questionrio

    transformou-se na referncia estatstica para a hierarquizao da rede urbana

    brasileira e para os primeiros trabalhos de classificao e delimitao das

    regies de influncia das cidades.

    Entretanto, sabe-se que o ato de definir e mensurar um sistema de

    fluxos representa o grande desafio de qualquer proposta objetiva de

    regionalizao. Observando o trabalho pioneiro (IBGE, 1972) possvel

    perceber que essa j era uma preocupao presente no projeto. O texto do

    IBGE (1972:10) deixa claro o seguinte questionamento: quais os indicadores

    que podem ser utilizados para exprimir esses relacionamentos urbanos que se

    fazem em funo de movimentos invisveis? Como um instituto de estatstica

    pesquisaria movimentos invisveis? E para complementar a preocupao, quais

    os indicadores deveriam ser utilizados?

    Analisando os procedimentos do IBGE, Guimares e Martins (2012)

    apontaram diversos questionamentos na metodologia de pesquisa empregada,

    demonstrando que embora de grande relevncia os resultados desta pesquisa

    no podem ser assumidos como representativos da realidade da hierarquia e

    dos relacionamentos das redes urbanas regionais. Dentre as principais crticas

    apontadas podemos destacar: a pesquisa de campo no aplicou questionrios

    diretamente na populao, mas se limitou ao preenchimento de formulrios

    pelo prprio agente do IBGE, alm de no ser capaz de revelar um importante

    fluxo de integrao comercial e produtiva que representado pelo consumo

    intermedirio; os formulrios preenchidos no revelam a importncia

  • 43

    econmica dos itens pesquisados, mas uma simples anlise matricial de

    contagem de relacionamentos ou vnculos de consumo final informados em um

    nico questionrio por municpio; as atividades econmicas pesquisadas no

    foram ponderadas e, assim, foram anotados relacionamentos e vnculos, sem

    informao de valores ou importncia, parcialmente corrigidos com critrios de

    importncia; nos casos em que foram detectados mltiplos relacionamentos ou

    vnculos o IBGE adotou critrios de expurgo; por fim, na ltima edio da

    pesquisa o IBGE (2007) incorporou nova metodologia e base de dados

    secundrios (disponveis e no necessariamente os mais adequados para

    responder pergunta feita na primeira edio) que modificam e interferem nos

    resultados. Portanto, parte das alteraes nas reas de influncia e na prpria

    classificao dos centros urbanos revelados na ltima edio decorre de

    mudanas na metodologia e no nas alteraes ocorridas nos sistemas

    regionais.

    A seguir so apresentados os resultados da regionalizao funcional do

    IBGE para o caso especfico da rea de influncia regional do municpio de

    Uberlndia.

    Mapa 4.8 Regio de Influncia de Uberlndia no ano de 1966

    Fonte: IBGE 1972, apud Guimares e Martins, 2012.

  • 44

    No estudo IBGE (1972) a cidade de Uberlndia caracterizada como

    uma localidade com alta intensidade de fluxos de bens e servios e isto a

    coloca no nvel de polo de referncia do sistema produtivo regional.

    Mapa 4.9 - Regio de Influncia de Uberlndia no ano de 1978

    Fonte: REGIC 1987, apud Guimares e Martins, 2012.

    Atuando como polo regional, o estudo confirma a rea de influncia de

    Uberlndia em relao aos centros sub-regionais mineiros de Araguari,

    Patrocnio, Monte Carmelo e Ituiutaba, e os goianos de Itumbiara e Jata.

    Nesse mapa tambm visvel o aumento da participao de municpios

    goianos na rede de hierarquia urbana de Uberlndia, alm da emergncia de

    uma pequena polarizao no sentido do Mato Grosso.

  • 45

    Mapa 4.9 - Regio de Influncia de Uberlndia no ano de 199

    Fonte: IBGE, REGIC 1993, apud Guimares e Martins, 2012.

    Na pesquisa de 1993 as interaes espaciais e os nveis de centralidade

    entre os municpios foram classificadas de acordo com a fora dos fluxos. No

    caso da regio de influncia de Uberlndia, alm de mantida sua interao

    direta com So Paulo, classificado com principal metrpole nacional, tambm

    teve suas relaes de trocas regionais classificadas como de intensidade muito

    forte, demarcando a importncia econmica do polo regional. Outro destaque

    nos resultados desta pesquisa decorreu de alteraes metodolgicas nos

    registros da pesquisa, mas tambm de alteraes no ambiente regional, o que

    levou a classificar o municpio de Uberaba como pertencente rede de

    influncia de Uberlndia. Conforme pode ser visto no mapa os dados da

    dcada de 1990 mostram um Tringulo Mineiro mais robusto, apresentando a

    consolidao da centralidade regional de Uberlndia e sua rea de influncia

    regional formada por uma rede urbana com boa distribuio hierrquica.

  • 46

    Mapa 4.10 - rea de Influncia da Metrpole de So Paulo no Tringulo Mineiro e Alto Paranaiba

    Fonte: IBGE; Regio de influncia das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

    Mapa 4.11 - Regionalizao da rea de influncia de So Paulo: polo de Uberlndia

    Fonte: IBGE. Regio de influncia das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

  • 47

    Conforme ressaltado anteriormente, em funo da mudana na estrutura

    metodolgica da pesquisa do IBGE (2008), as alteraes decorrentes nas

    reas de influncia dos principais plos no decorreram especificamente de

    alteraes nas estruturas produtivas ou funcionais. Na realidade pode-se dizer

    que, observando historicamente os resultados da regio de influncia de

    Uberlndia, nota-se nas trs primeiras pesquisas uma progressividade da

    dinmica funcional regional, enquanto a ltima verso representa uma visvel e

    injustificada ruptura com o padro anterior. Assim, ao adotar indicadores de

    bases secundrias, relacionados aos centros de gesto do territrio, a pesquisa

    de 2007 criou novos parmetros de relacionamentos e hierarquia, que ao invs

    de revelar a funcionalidade regional gerou uma imagem distorcida destes

    ambientes. Com isso, os resultados de 2007 no ajudam a compor um quadro

    evolutivo da dinmica regional, suas hierarquias e redes de relacionamentos.

    Mapa 4.12 - Regio de Influncia de Uberlndia no ano de 2007

    Fonte: IBGE, REGIC 1987, apud Guimares e Martins, 2012.

    Em funo deste fato recomenda-se utilizar como referncia os

    resultados de 1993, procurando agregar novos indicadores para dar conta das

  • 48

    transformaes na realidade regional brasileira e, em particular do Tringulo

    Mineiro. Mas j podendo adiantar que no existem relatos que corroborem

    qualquer inverso de tendncia ou mesmo que tenha sido detectada qualquer

    importante mudana na dinmica da economia regional e, principalmente, sem

    que tenha sido observado um desempenho negativo da economia do principal

    polo regional Uberlndia - conforme apontados na metodologia empregada

    em IBGE (2008).

    Enfim, embora as quatro edies dos estudos de relaes funcionais e

    hierarquias urbanas produzidas pelo IBGE representem um imenso valor

    histrico e um quadro de referncia ilustrativo de grande utilidade para servir de

    apoio em pesquisas regionais, estes no podem ser diretamente utilizados para

    identificar a amplitude e delineamento das regies funcionais brasileiras.

    Entretanto, esta ressalva apenas refora a necessidade de reformulao desta

    proposta de pesquisa e da importncia do investimento nesta linha

    investigativa, com a construo de uma ampla base de dados, coletados

    primariamente no nvel municipal e que possam revelar a intensidade e

    magnitude dos fluxos de relacionamentos interurbanos e regionais.

    Considerando que alm da pesquisa do IBGE no dispomos de outra

    base de dados que pesquise diretamente os sistemas de relacionamentos

    interurbanos e intermunicipais, agregamos a este estudo outras metodologias

    que ajudam na caracterizao e classificao dos sistemas regionais. Um

    esforo nesta direo a proposta de mensurao dos pontos de maior

    concentrao das atividades residenciais, identificadas, conforme Guimares e

    Faria (2006) atravs de um ndice de Terciarizao. Utilizando a base de dados

    do PIB municipal, desagregado, essa metodologia permite cl