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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público 23 Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul Palácio Farroupilha, agosto de 2003. RELATÓRIO FINAL

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

Palácio Farroupilha, agosto de 2003.

RELATÓRIO FINAL

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Presidente Vilson Covatti instala a Comissão em 9 de abril

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Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

Presidente: Deputado Vilson Covatti (PP)

1º Vice Presidente:

Deputado Ronaldo Zulke (PT)

2º Vice Presidente: Deputado Márcio Biolchi (PMDB)

1º Secretário:

Deputado Paulo Azeredo (PDT)

2º Secretário: Deputado Manoel Maria (PTB)

3º Secretário:

Deputado Paulo Brum (PSDB)

4º Secretário: Deputado Cézar Busatto (PPS)

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Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

Presidente da Comissão: Deputado Cézar Busatto (PPS)

Vice Presidente da Comissão:

Deputado Fernando Záchia (PMDB)

Relator: Deputado Ivar Pavan (PT)

Componentes Titulares da Comissão: Deputado Adão Villaverde (PT) Deputado Cézar Busatto (PPS)

Deputado Ciro Simoni (PDT) Deputado Eliseu Santos (PTB)

Deputado Fernando Záchia (PMDB) Deputado Giovani Cherini (PDT)

Deputado Ivar Pavan (PT) Deputado João Fischer (PP) Deputado José Farret (PP)

Deputado Marco Alba (PMDB) Deputado Paulo Brum (PSDB) Deputado Sérgio Stasinski (PT)

Componentes Suplentes da Comissão:

Deputado Fabiano Pereira (PT) Deputado Adolfo Brito (PP)

Deputado Jerônimo Goergen (PP) Deputada Maria Helena Sartori (PMDB)

Deputado Nelson Harter (PMDB) Deputada Floriza dos Santos (PDT) Deputado Gerson Burmann (PDT) Deputado Abílio dos Santos (PTB) Deputado Berfran Rosado (PPS) Deputado Ruy Pauletti (PSDB)

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Introdução

________________________________________

Ao término de cento e vinte dias de existência da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público, cabe ao relator a tarefa de sistematizar e tornar públicas as conclusões de um de trabalho rico e profícuo.

Certamente não será possível transmitir em uma síntese a diversidade de matizes, culturas, concepções, emoções, enfim, a profundidade do trabalho humano que percorreu todos esses dias até culminar neste momento. Todavia, é necessário reconhecer e difundir a dedicação dos participantes da Comissão que, imbuídos de um espírito solidário e social, buscaram contribuir para o estabelecimento de novos padrões de relação entre a sociedade e o Poder Público. Para isso, desde a constituição da Comissão, como veremos a seguir, seu presidente já pugnava pela iniciativa de uma proposta que visasse normatizar para o Setor Público a responsabilidade social. Para essa tarefa, além das contribuições dos Parlamentares membros desta Casa, contou-se um número significativo de representantes de entidades e instituições públicas e privadas que somaram esforços, conhecimentos e vontades para chegar a esse objetivo.

Na finalização dos trabalhos desta Comissão, não se pode deixar de agradecer e prestar uma homenagem aos servidores desta Casa que foram fundamentais para o sucesso do trabalho desta Comissão.

A estrutura da Comissão Especial e a todas as pessoas que se somaram para auxiliar no apoio administrativo do órgão, bem como aos participantes do Grupo Técnico, cujos componentes encontram-se nominados neste relatório, e às assessorias dos Deputados e das Bancadas Parlamentares, fica dirigido um muito obrigado especial.

Aos servidores da taquigrafia, da TV Assembléia e imprensa, e ao Departamento de Comissões Parlamentares, a Comissão Especial também dedica um reverente agradecimento em face da dedicação com que realizaram suas tarefas, muito acima da exigida pelas atribuições funcionais.

E, finalmente, uma homenagem a Dinizar Becker, presidente do Fórum dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento – Coredes – que faleceu no curso dos trabalhos desta Comissão Especial, uma pequena lembrança.

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Dinizar, o que promove

Há uma fatalidade que ainda não somos capazes de enfrentar e

aprisionar num conceito. Estar ausente ainda significa, para muitos de nós, não existir.

Assim, seríamos personagens fugazes que nunca completam seus sonhos ou, dito de outra forma, deixam de levá-los adiante, promovê-los.

Humanos como Dinizar Becker nos convencem do contrário: por eles, descobrimos que a ausência não subtrai a memória, menos ainda contém os estilhaços que se desprendem das nossas ações e atingem a consciência, quem sabe a alma de todos nós, de toda a sociedade.

Porque Dinizar é um promotor. Sua ausência surpreendente não apaga a formidável obra que se espalha pelo RS, por seus Poderes Públicos, Universidades e entidades. Por ser promotor, é a própria ausência que faz dele o exemplo da vida que se reafirma na subjetividade humana, em alguns para sempre.

Esta Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público, em meio aos seus trabalhos, foi surpreendida com a ausência de Dinizar e, a exemplo de inúmeras pessoas, chorou a inevitabilidade da vida. Contudo, ao concluir seus trabalhos, percebeu que estavam lá, no Relatório Final, muitos estilhaços, muitos conceitos, nuances, levados adiante por este humano promotor e, mais que tudo, gravados na alma de cada um.

Assim, o resultado do trabalho desses dias está exposto nas páginas seguintes que culminam com propostas de encaminhamentos e com a apresentação de anteprojeto de lei que “Estabelece normas voltadas à responsabilidade social na gestão pública Estadual” a ser posteriormente levado ao governador do Estado para ser adotado no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul.

Composição do Relatório I – Palavra do Presidente da Comissão Especial de Responsabilidade

Social no Setor Público;

II – Palavra do Relator da Comissão Especial;

III – Histórico;

IV – Composição e estrutura da Comissão Especial;

V – Audiências Públicas;

VI – Grupo Técnico;

VII – Conclusões e Recomendações;

VIII – Anteprojeto de Lei;

IX – Responsabilidade Social – Um Caminho para a Democracia;

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X – Anexo do Relatório: Proposta de Trabalho inicial da Presidência da Comissão Especial.

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Palavra do Presidente da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

_________________________________________

Por que responsabilidade social? Herbert de Souza, o Betinho, nos deixou com um desafio que

comprovou ser lógico e possível . Quando no início dos anos noventa do século passado ajudou a construir e liderou a Campanha Contra a Miséria e a Fome Brasil, o irmão do Henfil subverteu o senso comum que insistia em convencer os fatos com argumentos: não, nosso país não se tornaria desenvolvido e democrático sem antes agregar aos direitos individuais e civis aqueles denominados de sociais. Para isso, seria necessária uma aliança permanente entre os setores público, privado e entidades não-governamentais, capaz de forjar uma Nação socialmente responsável.

Em pouco mais de dez anos, o que era uma idéia tornou-se uma rede de cooperação que já alcança em todo território nacional duzentos e cinqüenta mil entidades privadas e não-governamentais – sessenta mil só no Rio Grande do Sul - atuando em projetos nas mais diversas áreas: promoção da assistência social; promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; promoção gratuita da educação e saúde; promoção da segurança alimentar e nutricional; defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; promoção do voluntariado; promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia; estudos, pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos.

Este fenômeno global de emergência e consolidação do chamado Terceiro Setor se deu num período marcado pela falência dos grandes relatos ideológicos que conformaram os últimos duzentos anos da humanidade e que opuseram a primazia do Estado a do Mercado; por uma escalada sem precedentes do desenvolvimento tecnológico, em especial

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dos instrumentos de fruição das informações e da comunicação ; pelo questionamento da política como atividade ética e à altura das transformações sociais e, também, da democracia como regime eficaz, eficiente e efetivo em proporcionar às comunidades espaços de participação nas decisões, proteção contra a violação dos seus direitos e acesso aos bens públicos e à riqueza produzida.

É preciso reconhecer e entender que o Rio Grande do Sul e cada município gaúcho são células desta nova ordem global e que dependendo da atitude tomada por suas autoridades públicas, cidadãos e cidadãs frente a este contexto, no plano local, nosso Estado terá ou não condições de criar o ambiente necessário ao seu desenvolvimento sustentado e, sobretudo, será ou não sujeito ativo no plano nacional e internacional.

Foi compreendendo a emergência de uma nova sociedade e a relevância dos temas de sua agenda que o legislativo gaúcho, desde o ano de 2000, vem provocando as instituições públicas e seus agentes – parlamentares em primeiro lugar - a uma profunda reflexão acerca da atualidade de suas formas de gestão e da sua capilaridade em relação às demandas de participação social; da disposição de suas esferas de planejamento e execução em atuarem conjuntamente entre si e com a sociedade e aprender com suas experiências.

Este processo teve início no testemunho da Assembléia Legislativa de que as empresas e as entidades não governamentais estão se preparando para enfrentar o desafio lançado por Betinho: em verdade, elas vem transformando em práticas inovadoras a responsabilidade social e forçam o alargamento do espaço público para que governantes, magistrados e parlamentares façam parte deste universo de cooperação.

Neste sentido, a Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público foi mais um passo de uma seqüência que teve seu início na instituição pelo legislativo estadual do Certificado e do Prêmio de Responsabilidade Social, outorgados todo ano àquelas empresas cidadãs que apresentarem o Balanço Social e forem destacadas em práticas inovadoras de promoção social, respectivamente.

Posteriormente, os parlamentares gaúchos instituíram o Dia da Solidariedade, transformando o terceiro sábado do mês de Maio num intervalo de mobilização social, de filantropia planejada e de disseminação de uma cultura baseada na solidariedade, a exemplo do que têm feito as indústrias Tevah há vários anos.

Somou-se a estas iniciativas a Lei da Solidariedade, recentemente regulamentada, que estimula o investimento social privado, através de incentivos fiscais concedidos pelo Estado.

Nestes últimos quatro meses, a Comissão Especial respondeu com sucesso a pergunta suscitada no título deste texto: Responsabilidade Social porque este é o conceito/valor central que promove , anima e dá sentido às ações de milhões de humanos no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo, todos voltados à criação de novas institucionalidades que relegitimem a política, o Estado e a democracia; à afirmação da solidariedade como elemento cultural ; à disseminação de uma ética social intolerante com

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todas as formas de exclusão, suficientemente criativa para proporcionar um ambiente social propício ao desenvolvimento das capacidades individuais e à afirmação dos direitos sociais para todos.

A centralidade do tema também foi atestada pela qualidade dos palestrantes que se sucederam nos eventos públicos da Comissão Especial, pela miríade de saberes que cruzaram, todos eles multidisciplinares e contextualizados e, portanto, com raízes na experiência cotidiana. De suas bagagens sacaram olhares sobre a responsabilidade social, capital e economia sociais; poder e desenvolvimento local; gestão pública por resultados, baseada em mapas e indicadores de processo, impacto e participação. Nos falaram ainda do aproveitamento do capital humano e do capital social já existentes, da comunicação que dialoga, das parcerias, enfim, conceitos que guardam reciprocidade entre si e têm como característica a singularidade de cada ser humano e de cada comunidade.

Não por acaso, profissionais das mais diversas áreas – jornalismo, política, governos, economia, estatística, física, geografia – demonstraram, nestes eventos, com suas exposições, estar imbuídos do objetivo de restabelecer os fios do conhecimento que, em determinado momento histórico, foram rompidos, para prejuízo do entendimento global da realidade e, logo, da ação humana sobre ela. Todos eles e elas, de uma maneira ou de outra, condicionaram o sucesso de políticas sociais públicas à efetiva integração dos departamentos governamentais e esferas públicas, que nada mais é do que a unidade do conhecimento ou a transetorialidade no âmbito do executivo e dos poderes republicanos.

Finalmente - e atestado mais importante da relevância do tema da Comissão Especial - foi a participação voluntária de diversos profissionais nos Grupos Técnicos, que reuniram-se paralelamente aos eventos públicos. Representantes do Executivo Estadual, de Organizações Não Governamentais, Universidades, Tribunal de Contas, do Legislativo, dedicaram tempo, mobilizaram conhecimento e experiências em busca de alternativas que redesenhem os poderes públicos, capacitem os movimentos sociais e o setor privado a empreenderem um projeto cooperativo de inclusão social para o Rio Grande do Sul e que possa servir de exemplo para o Brasil.

Os resultados deste esforço coletivo são estimulantes, embora não definitivos. Com este documento procuro contribuir para o aprofundamento da análise e da reflexão. A opção feita por esta Casa e por seus parlamentares exige o registro da riqueza dos debates proporcionados pela Comissão Especial, dos seus avanços conceituais e um diálogo com as práticas sociais que por ela transitaram em seus eventos públicos e paralelos.

Pois, se ao final deste trabalho, tivermos descortinado uma realidade

mais complexa do que até então era imaginada e proporcionado alguns

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conhecimentos e ferramentas para ajudar a entendê-la e transformá-la coletivamente, então Betinho estava certo: o desafio é lógico e possível de ser vencido.

Cézar Busatto Deputado Estadual/PPS 2

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Palavra do Relator da Comissão Especial

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A responsabilidade do Estado para a inclusão social A Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

retoma um debate sempre necessário sobre a construção de um Estado comprometido com o fim da deterioração aguda das condições sociais. O Rio Grande do Sul vem constituindo, ao longo do último período, um conjunto de políticas públicas capazes de responder às demandas da população. Nessas políticas o desenvolvimento econômico não pode estar desvinculado de um crescimento que priorize a distribuição de renda, com políticas públicas voltadas para a inclusão social, contemplando geração de trabalho e renda, e onde a participação da sociedade na definição dos rumos e prioridades a serem estabelecidas pelo Poder Público deve estar em consonância com o fortalecimento deste Estado. O atendimento às necessidades fundamentais da sociedade gaúcha deve constituir a visão determinante deste crescimento.

O desenvolvimento econômico que almejamos é aquele que serve de instrumento para favorecer a inclusão social de forma mais equilibrada e duradoura, pois esta estratégia, aproveita e fortalece as vocações locais e regionais, contribui para a inserção efetiva dos cidadãos obterem as condições necessárias para o auto-sustento e à sua sobrevivência autônoma. O desenvolvimento econômico deve vir acompanhado de iniciativas que fomentem empreendimentos autogestionários e com isso gerem novos postos de trabalho, servindo de lastro para o reforço da economia do país e do Estado. O fortalecimento do caráter democrático da gestão por meio da capacitação para a autogestão qualifica e estimula o processo produtivo. Um bom exemplo desta questão foi o Programa de Economia Popular Solidária, Decreto nº 41062, de 21/09/01, que garantiu a geração e manutenção de postos de trabalho, elevando a renda dos trabalhadores, evitando a migração para as grandes cidades e incentivando a economia local e iniciativas de comercialização.

Também é oportuno frisar, a propósito do tema da governança social em Québec, desenvolvido por Geneviève Huot na Comissão Especial, que o governo estadual vinha desenvolvendo programas na área da economia popular e solidária. Vale relembrar que em janeiro de 2001, o então Governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, assinou um convênio de cooperação com Québec. Em janeiro de 2002, foi assinado um protocolo, entre Québec e a França incluindo a cooperação com o Estado. Em junho de 2002, uma comissão representando a Secretaria do Desenvolvimento e

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dos Assuntos Internacionais esteve em Québec, dentro do acordo de cooperação firmado em 2001, e em novembro de 2002 uma missão diplomática, representando o governo de Québec esteve em Porto Alegre participando de uma reunião na SEDAI e organizando a vinda da comitiva de Québec para o Fórum Social Mundial de 2002. Na mesma ocasião, foi feito contato com a equipe de transição do governo eleito para dar continuidade ao convênio existente. Um dos palestrantes presentes na Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público foi Olivier Rousseau, que participou da mesa na conferência do dia 30/06 e esteve no Estado para tratar da continuidade desse convênio.

A partir de dados e informações calcados em indicadores sociais e, em consonância com um diagnóstico sobre as necessidade de cada região, o Governo do Estado poderá atuar de forma a constituir novos programas ou dar continuidade aos já existentes. Neste sentido, vale relembrar programas já existentes e que tiveram como eixo o estabelecimento de políticas de inclusão social, entre os quais destacam-se: Família Cidadã; Primeiro Emprego; Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos; Qualificar –RS; repasse regular de recursos aos municípios para gestão compartilhada da saúde e repasse de recursos aos hospitais para requalificação da rede de atendimento, entre outros. Todos estes programas são exemplos de ações do governo do Estado que foram realizados em parceria com a sociedade civil e que podem ser potencializados.

Um outro elemento importante de ser contemplado neste debate é a constante preocupação do reforço à participação popular. A democracia é um decisivo instrumento de construção de política social, pois é com a mobilização da sociedade que o Estado pode ir construindo ações que conduzam para aquilo que realmente é importante e fundamental para o conjunto da população, mas centralmente para a população mais carente e necessitada. É no espaço de tomada de decisões que são estabelecidas as políticas que incidirão sobre as condições de vida da população. O orçamento público e o constante olhar da sociedade sobre ele, garante que o governo concretize as decisões que resultaram da participação popular, estabelecendo uma real permeabilidade entre o Estado e a sociedade, pois aquilo que foi definido pela população transforma-se em políticas públicas efetivas. Essa nova relação estabelece uma forma muito mais transparente e solidária entre os cidadãos do Estado. É necessário comprometermo-nos com a garantia da participação da sociedade nas decisões de governo bem como na avaliação e fiscalização de suas ações.

A participação social entendida como um elemento norteador das ações do Governo, poderá e deverá ter um caráter construtor de política social que instigue a permeabilização do Estado face às demandas da população, mas poderá também, instigar a sociedade como um todo no sentido de sentir-se co-responsável no processo de superação das desigualdades sociais e regionais. Desta forma o Governo estará comprometido com um modelo de Estado que atue de forma generosa,

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solidária e constantemente envolvido com o valor ético de realização dos direitos de cidadania.

Ivar Pavan Deputado Estadual/PT

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Histórico

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A Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público foi proposta por meio do Requerimento RCE nº 06/2003 aprovado na Sessão Plenária da Assembléia Legislativa de 08 de abril de 2003.

O requerimento de constituição da Comissão Especial foi encabeçado pelo Deputado Cézar Busatto e subscrito por mais quarenta e cinco (45) Deputados. Texto da proposta

“EXCELENTÍSSIMO SENHOR DEPUTADO PRESIDENTE DA

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RS: O Deputado que este subscreve, com os demais Deputados abaixo

assinados, requerem à V. Exa., com base nos Artigos 75 à 82, da Resolução 2.288 de 18 de Janeiro de 1991 e suas alterações (Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do RS) a criação de uma COMISSÃO ESPECIAL, de RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR PUBLICO.

Objetivo Geral: Discutir as relações que envolvam o conceito de Responsabilidade Social e sua normatização para o Setor Público.

Introdução: Nos últimos vinte anos o mundo empenha-se na formação de uma nova arquitetura social. Sua emergência manifesta-se nos movimentos de preservação ambiental, direitos das mulheres, direitos humanos, combate à prostituição infantil, ao narcotráfico e tantos outros, que diversos intelectuais procuram sintetizá-lo como "ativismo pela responsabilidade social."

À diferença das grandes utopias do século XX, este neo-ativismo procura a justiça social, desde que livre de pré-conceitos ideológicos, de raça ou de nação e, logo, privilegia o diálogo e o entendimento nas sociedades global e local. Aprofunda, ainda, sua distância das "idéias totais", elegendo o presente como o momento da busca da felicidade e da preservação da vida no planeta.

Os traços desta nova arquitetura social há muito são delineados no Brasil. O resultado das últimas eleições representaram a assunção pela classe política da agenda da responsabilidade social, sem a qual os grandes problemas nacionais não serão enfrentados com a coesão e a

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energia necessárias para a sua superação. Dentre todos os problemas, não há mais dúvidas de que a fome e a concentração de renda tornaram-se intoleráveis e exigem um grande concerto nacional para a sua erradicação.

Neste sentido, inúmeras iniciativas vem sendo tomadas para incluir os brasileiros e, particularmente, os gaúchos que vivem na pobreza e na extrema miséria. Ações voluntárias originárias da sociedade, programas governamentais nas esferas Federal, Estadual e Municipal e milhares de projetos executados por organizações não-governamentais e Igrejas e pela própria iniciativa empresarial privada.

Paradoxalmente, é a esfera pública o setor menos instrumentalizado para atuar nesta área, não só por sua desatualização legal, mas também pela sua cultura segmentada que rege e dificulta ações multidisciplinares entre seus corpos funcionais.

No primeiro caso, inviabiliza parcerias intra poder público e, principalmente, deste com a sociedade, como no fato amplamente noticiado dos Consepros, impossibilitados de viabilizarem contribuições das comunidades para o aparelhamento dos órgãos de Segurança Pública do RS.

Por sua vez, a atuação segmentada do poder público (Federal, Estadual e Municipal) - Executivo, Legislativo e Judiciário - com destaque para os Executivos, historicamente conformados à cultura moderna da divisão dos saberes e de sua especialização e que, por conta disso, obstaculizam iniciativas de constituição de parcerias, inviabilizando a troca e a soma de conhecimentos e experiências para a superação dos problemas da sociedade. Chama a atenção que nos raros exemplos em que esta cultura é subvertida, os resultados sejam extremamente positivos, como nas ações articuladas pela Defesa Civil em situações de calamidade pública.

Por tudo isso, acreditamos que a Assembléia Legislativa Gaúcha pode, apropriando-se da experiência acumulada pela sociedade e por suas organizações, contribuir para a formação de uma nova arquitetura pública, baseada na parceria entre todas as Instituições públicas, o setor privado e as organizações-não-governamentajs e dotada de uma legislação contemporânea que a autorize e viabilize.

Este desafio deverá ser combinado com um outro, de racionalizar e ampliar as ações e os investimentos, através da consolidação de um amplo movimento articulado pela Responsabilidade Social, que promova a cooperação entre todos os setores da sociedade e no qual seja possível não só evitar o desperdício de recursos, mas obter resultados aferíveis no curto e médio prazos, passíveis de serem avaliados por cada cidadão e cada cidadã.

Justificativa: O Rio Grande do Sul possui, historicamente, uma sociedade organizada e, em muitas Regiões, uma cultura tradicional de auto-ajuda. Além disso, nosso Estado é pioneiro em diversas iniciativas Legislativas na área da Responsabilidade Social. Só na última Legislatura, foram aprovados os seguintes Projetos, frutos da agenda dos movimentos sociais: Certificado e Prêmio da Responsabilidade Social, que incentiva as

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empresas a se transformarem em Empresas Cidadãs; o Dia da Solidariedade, que ocorre no terceiro Sábado de cada mês de Maio, liderado pelas Indústrias Tevah e a Lei de Apoio à Inclusão e Promoção Social - chamada Lei da Solidariedade.

Paralelamente, em 2003, tramitará o Projeto de Lei de Responsabilidade Social da área pública, que exige a divulgação do Mapa Social pelos Governos, a definição de metas de melhoria social, a definição de um orçamento, de projetos e avaliação e aperfeiçoamento destas metas ao longo do tempo.

Com este patrimônio acumulado, o Legislativo Estadual Gaúcho, detém enorme potencial para contribuir no esforço, já prometido pelo novo Governo, de enfrentar a exclusão social em nosso Estado, capacitando-o como mais um articulador do amplo movimento de Responsabilidade Social que ocorre RS, e que envolve todos os setores da sociedade.

Cremos que somente a soma de todos os setores da sociedade gaúcha - público, privado, organizações não-governamentais - será capaz de enfrentar este desafio e, também, servir de fonte de experiências para o Governo Federal, no seu propósito de reduzir as desigualdades sociais e erradicar a fome no país.

Objetivos Específicos: 1) Contribuir para a consolidação de um amplo movimento de

Responsabilidade Social no RS, envolvendo todos os setores da sociedade; 2) Aprimorar o projeto de Lei de Responsabilidade Social na gestão

pública; 3) Contribuir para racionalizar e ampliar as ações sociais e os

investimentos públicos e privados, sugerindo, para isso, instâncias de trabalho conjunto e coordenado, que atuem sobre indicadores sociais específicos e com metas de curto, médio e longo prazos, no sentido de tornar seus resultados aferíveis e passíveis de serem avaliados;

4) Consolidar todos os instrumentos legais já existentes e propor outros, no sentido de iniciar a conformação de uma nova arquitetura pública e criar um ambiente propício para a ampliação e racionalização do investimento social e o aumento de sua eficácia;

5) Contribuir para a redução dos índices de pobreza e desigualdade social no nosso Estado e no País, conforme propósito dos Governos Estadual e Federal recentemente empossados.

NESTES TERMOS PEDE E ESPERA DEFERIMENTO. Porto Alegre, 17 de Fevereiro de 2003.”

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Composição e Estrutura da Comissão Especial

________________________________________

Por tratar-se de Comissão Especial o Regimento Interno da assembléia Legislativa (art. 79 à 82) prevê que o prazo de duração é de 120 dias contados da instalação do órgão, improrrogáveis, dentro dos quais deve ser apresentado o relatório final. O relatório deve apresentar conclusões com vista a regular a matéria analisada, podendo propor projeto de lei, de resolução, ou de decreto legislativo, ou propor o encaminhamento de sugestões ao órgão competente.

Em 09 de abril de 2003 a Comissão foi instalada em cerimônia presidida pelo Senhor Presidente desta Casa Legislativa, Deputado Vilson Covatti. Imediatamente após instalada oficialmente a Comissão, o Senhor Presidente empossou os deputados membros titulares e suplentes, lendo sua nominata,

No decorrer dos trabalhos da Comissão Especial, houve duas alterações na composição do órgão: Ciro Simoni (PDT), como titular, em substituição ao João Luiz Vargas (PDT) e Abílio dos Santos (PTB), como suplente, em substituição a Osmar Severo (PDT).

A partir de sua instalação, a Comissão Especial passou a funcionar com reuniões ordinárias dos Deputados-membros e com reuniões extraordinárias. Essas reuniões extraordinárias ocorreram na forma de audiências públicas com a presença de convidados que proferiram palestras e participaram de debates sobre os temas apresentados.

Os trabalhos da Comissão contaram com a colaboração inestimável de Sandra Lima na secretaria do órgão técnico e de Elizabeth Corbetta na função de Assessora Técnica.

Ao mesmo tempo, por convite do Presidente da Comissão, constituiu-se um grupo técnico de assessoramento composto por diversas entidades da sociedade civil e por entidades e órgãos governamentais. Esse grupo, juntamente com a assessoria da Comissão Especial, passou a reunir-se semanalmente para colaborar com os trabalhos da Comissão.

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Comissões temporárias da 51ª Legislatura – 1ª Sessão Legislativa

Nominata dos Componentes da Comissão:

Presidente:

Deputado Cézar Busatto (PPS) Vice Presidente:

Deputado Fernando Záchia (PMDB) Relator:

Deputado Ivar Pavan (PT) Demais Membros Titulares:

Deputado Adão Villaverde (PT)

Deputado Sérgio Stasinski (PT) Deputado Marco Alba (PMDB)

Deputado João Fischer (PP)

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Deputado Giovani Cherini (PDT)

Deputado Ciro Simoni (PDT)

Deputado Eliseu Santos (PTB)

Deputado José Farret (PP)

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Membros Suplentes:

Deputado Paulo Brum (PMDB)

Deputado Fabiano Pereira (PT) Deputado Adolfo Brito (PP)

Deputado Jerônimo Goergen (PP)

Deputada Maria Helena Sartori (PMDB)

Deputado Nelson Harter (PMDB)

Deputada Floriza dos Santos (PDT)

Deputado Gerson Burmann (PDT) Deputado Abílio dos Santos (PTB)

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Relatório Final

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Deputado Berfran Rosado (PPS) Deputado Ruy Pauletti (PSDB)

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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5 Audiências Públicas

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Foram realizadas dezessete (17) audiências públicas com a participação de convidados que proferiram palestras sobre temas afetos à Comissão Especial de Responsabilidade Social. Após as palestras, os participantes tiveram a oportunidade de destinar perguntas aos convidados.

As palestras foram prestigiadas por deputados estaduais, federais, vereadores, secretários de Estado, dirigentes de entidades da administração indireta do Estado, assessores parlamentares, por representantes de entidades da sociedade civil e público em geral. A nominata completa das autoridades, instituições e cidadãos que acompanharam os eventos se encontra no expediente administrativo da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público e na transcrição das audiências que se encontra em anexo.

Para um panorama dos temas tratados e da riqueza das exposições que ocorreram na Comissão, apresenta-se um resumo das audiências realizadas, por ordem cronológica.

1ª. 14 de abril – Eduardo Matarazzo Suplicy Tratou sobre o Programa de sua autoria “Renda da Cidadania no Brasil.” O Senador é Bacharel em Administração de Empresas pela Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas; é mestre e doutor da Michigan State University; é professor de Economia pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas; é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores; foi eleito Deputado Estadual pelo extinto Movimento Democrático Brasileiro – MDB, em 1979, com mandato até 1983; foi eleito Deputado Federal de 1983 a 1987; foi Vereador de São Paulo de 1989 a 1991; primeiro Senador eleito pelo Partido dos Trabalhadores de 1999, com mandato até 2006.

Dentre muitos trabalhos publicados ao longo da carreira do Senador Suplicy, destaca-se : Da Distribuição da Renda e dos Direitos à Cidadania,

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Relatório Final

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Programa de Garantia de Renda Mínima e, seu último livro da Cortez Editora, Renda de Cidadania: A Saída é pela Porta.

Em sua palestra, o senador explicou que o projeto de lei de sua autoria propõe a instituição da Renda de Cidadania no Brasil, que busca garantir a todos os brasileiros residentes no País e aos estrangeiros que vivem há pelo menos cinco anos no Brasil o direito de receberem benefícios monetários. O senador Suplicy entende que o projeto, que tramita nas comissões no Congresso Nacional, garante “uma renda básica incondicional à população. Todos serão sócios do Brasil”. A proposta é o tema do livro “Renda de Cidadania - A Saída é Pela Porta”, com 367 páginas, escrito pelo senador. Se aprovado pelo Congresso Nacional, a implementação da renda de Cidadania deverá ocorrer em 2005, como sugere a matéria. Suplicy revelou que a instituição da renda básica será feita por etapas, atingindo primeiramente os mais necessitados. Ele acredita que a proposta é um caminho dentro do Programa Fome Zero, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse que o governo federal está determinado a erradicar a fome ao longo dos quatro anos de mandato, fazendo com que o brasileiro consiga se alimentar três vezes ao dia. Afirmou que a questão não é fácil, mas que o presidente caminha na direção certa. Para o senador, é necessário a racionalização de todos os programas de transferência de renda, que hoje são quinze (15). “Se racionalizarmos e unificarmos boa parte deles, chegaremos ao objetivo, que deve ser bem coordenado pelos Estados e Municípios. Suplicy também defendeu as reformas tributárias e da Previdência no País. Para ele, as discussões estão sendo bem conduzidas por meio do diálogo estabelecido pelo governo Lula. “O presidente deve conversar ainda hoje com as centrais sindicais. Já ouviu os 27 governadores das unidades federativas. Sempre haverá pontos polêmicos e divergências. Caberá ao Congresso Nacional discernir as dúvidas”, afirmou.

O senador Eduardo Suplicy (PT) disse em sua explanação que o Rio Grande do Sul tem plenas condições de dar mais um exemplo de pioneirismo e adotar, antes mesmo do governo federal, o programa de renda básica da cidadania, projeto de sua autoria – aprovado por unanimidade pelo Senado no final de 2002 e já com parecer favorável da Comissão de Finanças da Câmara Federal.

Conforme Suplicy, a integração dos cerca de 15 programas atualmente voltados para combater a exclusão social trará mais eficácia e proporcionará o resgate da dignidade dos brasileiros com um melhor desempenho da economia nacional. Sua meta é que o projeto da renda cidadania seja implantado até 2005.

“Se quisermos uma sociedade justa e civilizada”, afirmou Suplicy, “temos que agir com responsabilidade social”. Para tanto, o senador ressaltou a necessidade de instrumentos de políticas públicas que proporcionem o compartilhamento da riqueza brasileira com os cidadãos que aqui vivem. Na sua opinião, programas como o bolsa-escola, bolsa-renda, cartão-alimentação, seguro-desemprego e o “Primeiro Emprego” cumprem um papel importante para a transferência de renda, porém, seria preciso avançar mais. No caso específico do “Primeiro Emprego”, programa já anunciado pelo governo federal,

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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o senador pondera que incentivos fiscais concedidos diretamente às empresas acabam sendo ineficazes no objetivo de empregar mais pessoas e podem resultar em concentração de renda.

O senador explicou ainda que a concepção de uma renda básica para a cidadania não é nova, citando estudos de Thomas Penn, um dos formuladores das Revoluções Francesa e Norte-Americanda, como teórico desta idéia, e o Estado do Alaska, que há 22 anos introduziu este programa. Atualmente, os 300 mil habitantes do Alaska recebem uma renda mínima de 1.550 dólares, oriundos de um fundo constituído a partir dos royalties gerados pela exploração dos recursos naturais daquele Estado.

2ª. 28 de abril – João Carlos Brum Torres Secretaria de Coordenação e Planejamento do Estado, sobre

Indicadores Sociais e Plano Plurianual. O Secretário Brum Torres é Doutor em Ciências Humanas pela

Universidade de São Paulo, Professor Titular do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Ex-Diretor do BADESUL; Secretário de Estado da Coordenação e Planejamento do Rio Grande do Sul – 1995/98; e atual Secretário de Estado de Coordenação e Planejamento do Estado.

O secretário de Coordenação e Planejamento do governo do Estado João Carlos Brum Torres, expôs aos membros da Comissão Especial as principais diretrizes do Executivo nos próximos quatro anos. Segundo Brum Torres, a discussão da responsabilidade social e fiscal e o plano plurianual são as principais preocupações do atual governador. O secretário acredita que o "tempo é pouco" mas que diretrizes e uma consciência de responsabilidade social, por parte da gestão pública, podem amadurecer durante este período que se inicia. O Secretário do Planejamento, antecipou na oportunidade, que no Plano Plurianual de investimentos, que foi entregue no dia 15 de maio, já estariam incluídas metas sociais. Conforme o secretário, esses indicadores tratam de questões como a redução da mortalidade infantil, aumento da oferta de eletrificação rural, redução das superlotação dos presídios e erradicação do analfabetismo.

Brum Torres reforçou o entendimento de que é difícil ter eficácia nas ações governamentais se não houver um compartilhamento de responsabilidades com a sociedade e sua conseqüente mobilização para atingir os objetivos de melhoria social. Neste sentido, o secretário salientou que o planejamento de políticas públicas, baseado em indicadores e metas sociais são fundamentais para que se volte a enxergar a essência do setor público, que é servir bem a sociedade.

Segundo Brum Torres, “os indicadores sociais são decisivos para a confecção dos orçamentos”, revelando que embora esta ainda seja uma proposta de vanguarda, a sociedade brasileira já se encontra em tal grau de maturidade que exige este tipo de modernização do setor público. Afinal, no seu entender, estes são instrumentos que servem para que a população

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Relatório Final

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efetivamente possa aferir se os resultados pretendidos estão sendo alcançados.

O secretário argumentou ainda que as iniciativas de consorciar programas governamentais com experiências e programas que já vêm sendo desenvolvidos pela própria sociedade é um passo importante para combater as imensas desigualdades existentes em nosso país. “A prioridade que hoje está sendo dada a ação concertada entre o setor público, a sociedade civil e o terceiro setor é um passo importante para que se consiga ter mais precisão no direcionamento das políticas públicas sociais, melhorando o foco, a economicidade e eficácia”. Na sua opinião, a Comissão de Responsabilidade Social tem um papel importante a cumprir com o aprofundamento destes debates, salientando, porém, que paralelamente a isto, a consolidação do desenvolvimento sustentável e a realização de reformas estruturais são urgentes.

O Secretário citou exemplos do Plano Plurianual sobre as metas definidas em diversas áreas, tais como em saúde e educação. Na saúde algumas metas são: elevação de 17% para 55% da taxa de cobertura da população pelas equipe de saúde da família; aumento de 55% para 95% da resolução dos problemas de saúde nas próprias regiões de origem; duplicação do número de consultas médicas nas especialidades básicas por habitante/ano; e redução da taxa de mortalidade infantil de 15 casos por mil para menos de 10. Na educação, as metas são: a previsão da redução da taxa de reprovação do ensino médio de 17,30% para 12% e com a previsão de zerar o analfabetismo em pessoas com mais de 15 anos (hoje este indicador está 6,65%).

Para que estas metas tenham sucesso, Brum Torres reforçou a necessidade de que a sociedade se apodere de seu protagonismo neste processo. No seu entender, é preciso avançar na mera relação contribuinte/Estado prestador de serviços para uma relação de parceria entre sociedade e poder público para que estas metas efetivamente sejam alcançadas.

3ª. 09 de maio – Maria Adélia de Souza Tratou sobre Descentralização Administrativa e Informação como

Instrumento de Inclusão Social: Metas Sociais na Gestão Pública. A Sra. Maria Adélia é Presidenta do Territorial – Instituto de Pesquisa,

Informação e Planejamento, com Sede em Campinas/SP; Professora Titular em Geografia Humana na Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo; Doutora em Geografia pelo Instituto de Geografia da Universidade de Paris, em 1975; Cátedra de Direitos Humanos da Universidade de Lyon/França, desde outubro de 2000; Professora da área de Geografia do Instituto de Geociência da UNICAMP, de 1998 a 2002; Diplomada em Estudos Superiores pelo Institut de Hautes Études de L’Amérique Latine da Universidade de Paris.

A professora é autora de Diversos Livros, como: Política Nacional de Desenvolvimento Urbano,IPEA,1975; Governo Urbano, NOBEL,1985; São

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Paulo – Ville Mondiale – L’urbanisme Français Sous Le Tropiques, L’harmattan, Paris, 1999.

Em sua exposição, a professora afirmou que "É impossível fazer uma administração pública popular sem uma gestão voltada para atender as demandas e características do território. Temos que governar a partir das localidades, regiões, bairros, lugares onde efetivamente as pessoas vivem". Segundo Maria Adélia, a valorização do território e a democratização da informação são fundamentais para que os governos atendam aos interesses públicos e não aos interesses hegemônicos, como há anos vem ocorrendo no Brasil.

A professora mostrou-se satisfeita em saber da existência constitucional dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento no Rio Grande do Sul, comentando que este já é um primeiro passo para uma gestão mais democrática.

Afirmando ser discípula, amiga e parceira de estudos do geógrafo Milton Santos, Maria Adélia disse acreditar que o Brasil só não explodiu ainda porque entre a imensa população de excluídos brasileiros existe uma grande rede de solidariedade orgânica que permite a sobrevivência dos famintos, desempregados e marginalizados, mas na verdade quem deveria tomar conta dos pobres é o Poder Público. O problema, no seu entender, é que enquanto o Estado insistir em desconhecer a base e seguir governando por setores, corremos sérios riscos de perder o controle da situação. Para ela é preciso conhecer onde e como vivem e quem são estes cidadãos brasileiros e quais são suas necessidades. "Os narcotraficantes sabem e exploram isto", afirmou.

Ela defendeu que o Poder Público deve atender às expectativas da sociedade: ética (usando os instrumentos das auditorias); cidadania (usando os instrumentos de ouvidorias) e solidariedade (utilizando-se de parcerias). Na sua opinião, tudo isto funciona melhor quando o Estado valoriza a gestão do território e utiliza os indicadores sociais como parâmetros para a implementação de políticas públicas que atendam as necessidades locais.

Maria Adélia ressaltou, ainda, que o mundo hoje vive em acelerada mutação, com uma oferta de tecnologia tão impressionante que nos permite acessar o site da Nasa e ver em casa uma foto do planeta terra anoitecendo. "A oferta de informação e tecnologia é imensa; vivemos na era do global, da complexidade, da simultaneidade e instantaneidade", porém, no seu entender "a globalização é técnica, cumulativa e segregadora, e não passa de uma perigosa metáfora, já que o mundo não é homogêneo." Afinal, para ela, é no espaço local que sentimos os efeitos desta globalização.

Diante deste quadro, a cientista chamou a atenção para o fato de que a humanidade é movida pelos projetos que montou para si mesma: "se o nosso mundo é tão diferente de uma década atrás, temos que admitir que ainda é no espaço territorial, no lugar onde vivemos, que construímos a resistência de comandos que controlam os empregos de Betim, por exemplo, através de um controle remoto acionado pela Fiat lá na Itália".

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Relatório Final

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A palestrante questionou as discussões sobre sustentabilidade ambiental promovidas por ONGs e governos do primeiro mundo ("afinal, o caboclo, o índio e os colonos brasileiros não destruíram nossos recursos naturais"); condenou o governo de Fernando Henrique Cardoso por ter atendido, em sua opinião apenas os interesses de negócios setoriais nas áreas de telecomunicações e frisou que não dá mais para governar considerando a saúde, a educação, a segurança, a habitação como meros negócios.

A cientista afirmou ser ainda muito cedo para emitir algum tipo de avaliação do governo Lula, mas lamentou que até agora o presidente não tenha incorporado o conceito de gestão democrática territorial. "De qualquer forma, estou com muita expectativa em torno da fala do Ministro Ciro Gomes, que ainda não falou. Para mim, sua pasta é o mais importante ministério político deste país", concluiu.

4ª. 23 de maio – Pedro Parente Tratou sobre Reformas e Responsabilidade Social no Brasil. O palestrante é especialista em Finanças Públicas, foi Consultor do

Fundo Monetário Internacional e de instituições públicas no País; Ministro de Estado (1999 a 2002) e atual Vice-Presidente Executivo da RBS – Rede Brasil Sul.

Sobre as reformas Previdenciária e Tributária, Parente disse que a aprovação das reformas sugeridas pelo governo federal são indispensáveis. Frisou, entretanto, que embora as discussões em torno das mudanças sejam importantes, por fazerem parte do jogo democrático, isso não deve protelar a execução das alterações: "A aprovação das reformas é urgente, pois cada uma delas traz profundos impactos em outras áreas. Não adianta ficar discutindo muito sobre os benefícios da Previdência, se em pouco tempo o poder público não tiver recursos para pagá-los."

O ex-ministro-chefe da Casa Civil Pedro Parente defendeu a criação de câmaras de gestão para dinamizar o desempenho de administradores públicos. Ele afirmou que os gerentes não são estimulados a empreender e, na prática, acabam sendo conduzidos ao imobilismo: "Se nada fazem, aposentam-se com uma aposentadoria razoável, sem ser incomodados pelos inúmeros mecanismos de controle. Ao contrário, se tiverem iniciativas, se agirem para enfrentar e resolver problemas da sociedade, como acontece na iniciativa privada, os riscos de serem processados são enormes."

Parente destacou que o conjunto de regras, calcado na cultura brasileira, repleta de normas, com marco legal complicado, impede o avanço do setor público em direção à solução dos problemas que afligem a população brasileira. Ele responsabiliza a burocracia como principal entrave para o crescimento econômico do País e para o desenvolvimento de programas voltados à responsabilidade social.

As conclusões de Pedro Parente baseiam-se na experiência acumulada como ministro da Gestão Pública no governo do presidente

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Fernando Henrique Cardoso, cargo que exerceu por alguns meses. Na ocasião, para enfrentar o colapso no sistema de energia elétrica no País, conseguiu agir com certa autonomia e autoridade. Contudo, lembrou que, mesmo ante o sucesso na superação da crise, alguns administradores da câmara de gestão em questão foram denunciados ao Tribunal de Contas da União devido às licitações de compra de energia.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, criticou o rigor e a falta de flexibilidade da legislação brasileira imposta aos administradores públicos. Antes de inibir possíveis contravenções, as normas jurídicas, segundo ele, condenam a maioria dos gestores públicos ao imobilismo: "Os gerentes não são estimulados a agirem, por causa dos riscos de responderem processos posteriormente movidos por organismos responsáveis pelos controles interno e externo, como CPI´s ou denúncias do Ministério Público. "A burocracia no Brasil está tão arraigada que o enfrentamento da crise energética só teve sucesso porque se criou uma câmara de gestão com autonomia", argumentou. Ressaltou que: "No setor público, existe grande diluição de responsabilidades devido a um grau muito elevado de burocracia. Entre a decisão e a implementação de um projeto, há um espaço enorme de tempo e energia que implica em maiores custos e menos eficácia nos resultados."

O ex-ministro também destacou que o Brasil está diante de uma possibilidade histórica para resolver seus problemas de natureza social, porque a economia globalizada prioriza o crescimento econômico com responsabilidade social. Por outro lado, salientou que este movimento já está em andamento na capital gaúcha. Ele citou a Santa Casa de Porto Alegre, como um bom exemplo de parceria entre setor público, iniciativa privada e sociedade.

5ª. 26 de maio – Antônio Hohlfeldt e Dinizar Becker Tratou sobre o Conselho Estadual de Desenvolvimento Social e

Econômico – CODES. O Vice-Governador é formado em Letras pela UFRGS, Mestrado e

Doutorado em Literatura pela PUC/RS; é crítico teatral com participação nos meios de comunicação social locais e atuou como jornalista cultural e literário. Desde 1982, Antônio Hohlfeldt é vereador em Porto Alegre. Em 1993, após sair do PT e ingressar no PSDB, foi líder da bancada deste partido; foi Presidente Estadual do PSDB do Rio Grande do Sul entre 1998-1999 e, em 1990-1991, presidente estadual do ITV – Instituto Teotônio Vilela, também do PSDB. Sua atividade política registra a função de Secretário Municipal dos Transportes (1989) e Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre (1991). Lecionou na antiga FIDENE (hoje UNIJUÍ), na UCS (Caxias do Sul) e na ULBRA (atuando nos campos da Literatura Brasileira, Teoria Literária e Teoria da Comunicação) e PUCRS (curso básico e Pós-Graduação em Comunicação Social). Em 1999, tornou-se Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

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Relatório Final

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da FAMECOS –PUCRS, cargo que deixou em fins de 2002, para assumir a função de Vice-Governador do Estado a 1º de janeiro de 2003.

O vice-governador Antônio Hohlfeldt afirmou que o enfoque básico do governo do Estado com a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Codes) é o combate às desigualdades regionais e sociais.

O presidente do Fórum do Conselho Regional de Desenvolvimento (Coredes), Dinizard Becker, também participou da reunião.

Hohlfeldt enfatizou que o Executivo, ao formular a proposta de criação desse Conselho, quis valorizar a participação popular nas decisões sobre políticas públicas e para isso considera decisiva a aproximação com os Coredes. Disse que, na visão do governo, essa é uma construção coletiva e, como tal, vê como muito positiva a participação do Legislativo, que já apresentou algumas sugestões para melhorar a proposta. O Codes terá três câmaras que vão tratar do desenvolvimento econômico, social e “também ambiental, esta uma área muito sensível ao Estado, que tem uma legislação pioneira no País na área do meio ambiente”, comentou o vice-governador.

Dinizar Becker disse que a sociedade gaúcha precisa alcançar a maturidade democrática em termos de participação popular. “Esse é um processo pedagógico, que precisa de tempo para ser construído”, assegurou. Ele condenou os rótulos que cada governo imprime aos seus projetos de inclusão da sociedade nas decisões sobre gestão pública, já que, para ele, mais importante do que as marcas de uma administração é a "dimensão cívica de construção coletiva" a ser dada à participação popular.

6ª. 30 de maio – Ricardo Paes Barros Tratou sobre Responsabilidade Social e Responsabilidade Fiscal na

Gestão Pública. O palestrante é Doutor em Economia pelo University of Chicago;

Professor Assistente de Economia pelo Economic Growth Center e Membro do Conselho de Estudos Latino Americano pela Yale University, de 1990 a 1996; Pesquisador em Economia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, dos temas Desigualdade, Educação, Pobreza e Mercado de Trabalho no Brasil, de 1979 até a presente data; Diretor da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA, de março de 1999 a 2002.

O economista Ricardo Paes de Barros afirmou que o papel do Estado no combate à pobreza não é apenas investir em programas sociais que visem somente a erradicação da pobreza, e sim projetar uma política social com base em ações que aliviem os efeitos da miséria na população, dando igualdade de oportunidade a todos.

Barros disse que há no País milhares de programas sociais sem qualquer controle dos impactos à população beneficiada. “A avaliação da eficácia dos projetos implantados para o combate à pobreza deveriam estar contemplados na Lei de Responsabilidade Social, como forma de controle dos efeitos dessas medidas aos pobres”, sugeriu o professor.

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Na opinião do economista, o atual governo do País obteria melhores resultados no combate à pobreza se imprimisse eficácia e eficiência aos programas criados pela gestão anterior, ao invés de criar novos programas com essa finalidade. Ele também defendeu a tese de que os recursos escassos não são a principal dificuldade para se combater a pobreza no Brasil, mas sim a falta de eficácia e pouca focalização nos interesses dos mais pobres.

Por outro lado, Paes de Barros ressaltou que os projetos para a "erradicação da pobreza não são um presente, não são um prêmio da loteria, mas um estímulo à população pobre e esta, portanto, precisa sentir-se segura para se engajar ao processo". Para tanto, ele argumenta que o Estado deve sinalizar com clareza, que os pobres serão tratados com justiça e chance de oportunidade em todas as etapas necessárias para a superação de suas dificuldades. "Os pobres", disse, "não são míopes. Apenas têm bons motivos para desconfiar que logo adiante serão abandonados pelo setor público". Em sua palestra, ele lembrou que ao contrário das políticas econômicas, que repercutem em um setor privado que as compreende, as políticas sociais não são entendidas pela população que está lá na ponta e que muitas vezes não acredita que 'agora é para valer'.

O economista e pesquisador do IPEA, manifestou sua preocupação com a tentação de alguns governos em 'terceirizar' a erradicação da pobreza para o chamado Terceiro Setor. Com isto, no seu entender, alguns pobres, mais organizados têm acesso a programas promovidos através de organizações não-governamentais e iniciativas empresariais e aquela população mais excluída, fica sem oportunidade de ascensão social. "As políticas públicas têm que priorizar os mais desorganizados". Outro problema detectado por ele, é a sobreposição dos programas sociais oficiais. "Em São Paulo, por exemplo, estão sendo montados programas Primeiro Emprego federal, estadual e municipal. Além de não haver integração entre os três níveis, não há integração destes programas com outras áreas de governo", lamentou.

O grande desafio que o Estado enfrenta para a adoção de políticas sociais eficientes, segundo Barros, é a transformação de orçamentos com escassos recursos, em projetos que ofereçam muitos serviços à população. E alertou que um dos empecilhos mais comuns para a obtenção de resultados satisfatórios é a falta de processos de avaliação dos programas colocados em execução. "Cada projeto social deveria nascer com um plano de avaliação", defendeu.

Conforme Paes de Barros, a Lei de Responsabilidade Fiscal limita a indisciplina fiscal, permitindo que a seqüência de governos seja mais equilibrada, evitando-se ciclos de aparente progresso e grandes avanços, que mais adiante serão cobrados com cortes profundos nos serviços à população. Com as finanças públicas mais saneadas, os governos conseguem planejar melhor o futuro. "A sustentabilidade é decisiva para se implementar políticas sociais", frisou, pois de nada adianta construirmos dezenas de hospitais e escolas, se não pudermos mantê-los, entretanto

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Relatório Final

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apenas isto não é suficiente para se combater a pobreza". Mas, diante dos recursos limitados do Estado, o economista defendeu a necessidade do setor público firmar parcerias com o setor privado e com a sociedade. "O que tem que aumentar é o acesso dos pobres aos serviços que eles tem direito, não importando se isto acontecerá pelo setor público, pela iniciativa privada ou pela própria sociedade".

De qualquer forma, para ele, o fundamental é que se tenha avaliação constante sobre as necessidades da população excluída e sobre o impacto das políticas públicas nestas comunidades: "Quando Assembléia Legislativa for aprovar ou fazer emendas no Orçamento, os deputados têm que saber que estão distribuindo os recursos nos programas que efetivamente estão tendo resultados e condições de atingir a população alvo". Daí a importância de se criar uma cultura de avaliação de impactos e a necessidade, na sua opinião, de deixar de colocar a classe média na frente dos mais pobres.

Outro fator que dificulta o combate à pobreza, de acordo com Paes de Barros, é o inadequado conhecimento da situação local das populações. Para isso, sugeriu um sistema de trabalho baseado em núcleos de apoio à família, que poderia ser criado em todo o País, sustentado nas 250 mil pessoas que já atuam como agentes comunitários de saúde e de desenvolvimento humano. A função desses agentes seria a de cadastrar a população pobre e com ela elaborar planos para a saída dessa condição a partir dos programas sociais existentes.

7ª. 06 de junho – José Hugo Ramos e Alceu Moreira O titular da Secretaria Especial de Combate às Desigualdades

Regionais do Estado do RS e o titular da Secretaria Especial de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Estado do RS, falando sobre Desenvolvimento Regional: A Gestão Social.

O Secretário José Hugo Ramos é Secretário Especial de Combate às Desigualdades Regionais; Bel. em Direito e Ciências Sociais (UFRGS); Doutor em Sociologia (Univ. Paris I); Presidente da FDRH (1987-1989); Professor de Sociologia UFRGS/PUC (1974-2001); Procurador do Estado (aposentado); Coordenador Estadual e instituidor do SINE/RS (Sistema Nacional de Emprego (1976-1979); Coordenador Jurídico e de Planejamento da FAMURS/CNM (1994-1998); Consultor Técnico do IRGA (1998-1999); Assessor do Deputado Bernardo de Souza (1999-2000); Consultor Técnico da OCERGS - Organização das Cooperativas do Estado do RGS (2000-2002).

O Secretário Alceu Moreira da Silva é Ex-Vereador na cidade de Osório; Ex-Vice-Prefeito de Osório; Duas vezes Prefeito de Osório; Ex-Presidente da Associação de Prefeitos do Litoral Norte; Ex-Presidente da FAMURS; Deputado Estadual; atual Secretário de Estado da Habitação e Desenvolvimento Urbano.

O secretário especial de Combate às Desigualdades Regionais, José Hugo Ramos, apresentou dados preliminares sobre o mapeamento que

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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está sendo elaborado pelo Estado para medir as desigualdades das 22 regiões do Rio Grande do Sul já aponta que 12 regiões estão na média geral de desenvolvimento do Estado. Sete estão abaixo, e apenas o Delta do Jacuí, Vale do Rio dos Sinos e a Serra tiveram pontuação superior.

Conforme o secretário, o caderno com os mapas que apresentarão os diferentes indicadores sobre as desigualdades regionais seria lançado nas próximas semanas após sua exposição. Entre estes indicadores, estão as variações do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos dois anos, a variação populacional, e o índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, e os índices sócio-econômicos dos municípios, calculados pela Fundação Estadual de Economia e Estatística.

O objetivo do mapeamento é avaliar as causas das diferenças regionais, para auxiliar os municípios na elaboração de um plano estratégico de desenvolvimento. O secretário admitiu que o Estado ainda não está preparado para enfrentar esta situação, afirmando que a reversão do quadro se dará a partir do momento em que os gestores públicos passarem a conviver mais com a realidade da população. "Somos amadores. Temos que nos tornar profissionais", frisou. Ao analisar a situação do Estado, Ramos destacou que o principal desafio da sua pasta é assinalar os motivos que levaram as regiões à perda do dinamismo econômico e social.

O secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Alceu Moreira, revelou que há no Estado cerca de 1.200 vilas com a estrutura urbana inferior às necessidades humanas, que foram formadas pela falta de políticas públicas preventivas ao aumento excessivo da população registrado nos últimos 40 anos. Na sua avaliação, o governo tem o dever de garantir a dignidade mínima da população, oferecendo educação, trabalho, saúde e habitação. "O Estado nasce para as pessoas e não as pessoas para o Estado", assegurou.

Neste sentido, segundo ele, várias secretarias estaduais se uniram para elaborar o projeto "Desenvolvimento Regional: A Gestão Social". De acordo com Moreira, a proposta atuará em quatro eixos: análise mercadológica, qualificação profissional, qualificação gerencial e fontes de créditos. Moreira ressaltou, ainda, a importância da integração entre as esferas públicas e a sociedade civil, com a finalidade de desenvolver uma rede que potencialize e utilize, de forma efetiva, os recursos disponíveis.

8ª. 09 de junho – Letícia Sampaio e Olímpio Dalmagro Presidente do Instituto Souza Cruz, e Diretor da Santa Casa de

Misericórdia, falando sobre “Como Construir de Forma Eficiente Parcerias entre o Público e o Privado”.Letícia Sampaio é socióloga, com graduação e pós-graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fez MBA Executivo no Coppead/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atuou muitos anos na área de recursos humanos, sendo convidada para assumir a Diretoria Executiva do Instituto Souza Cruz, uma

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associação civil sem fins lucrativos, fundada em julho de 2000, a qual foi qualificada pelo Ministério Público como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). O Instituto atua lado a lado com organizações governamentais e não-governamentais que buscam promover a educação para o desenvolvimento humano sustentável.

A sociológa e diretora-executiva do Instituto Souza Cruz, Letícia Sampaio, destacou que o principal desafio de uma gestão pública moderna não é tanto a falta de recursos, mas sim o aproveitamento do ambiente atual, onde empresas e cidadãos começam a se dar conta de que o País com que sonhamos só despontará a partir de um poder público que recoloque as pessoas no centro de seus objetivos. Para tanto, é preciso estimular a conscientização e mobilização da sociedade com base em crenças e valores, fundamentais para engajar a todos na construção de parcerias, soma de competências e esforços.

A socióloga defendeu administrações comunitárias e descentralizadas, com ênfase em gestões cada vez mais locais, por ser este o espaço onde as pessoas vivem e se abrem oportunidades reais para a construção eficaz de parcerias. Ela questionou também se "uma gestão pública com maior participação social exige mais regulamentos ou se a grande quantidade de regulamentos impede maior participação da sociedade". A esse respeito, a sociológa observou que o poder público não tem uma idéia muito clara de quais os objetivos e necessidades de parceria em cada uma das inúmeras áreas onde hoje empresas e ONGs estão suprindo as carências do Estado. E levantou a dúvida: "As ONGs dirigem-se para estas áreas porque há recursos ou porque sua análise indica que aí estão as melhores oportunidades sociais?"

O diretor geral da Santa Casa, Olímpio Dalmagro, explicitou o trabalho que tem sido realizado na instituição e citou a construção do Hospital da Criança Santo Antônio como exemplo da "interação entre os setores público, privado e a população gaúcha". Em tempo recorde de dois anos, a instituição conseguiu a adesão de 183 empresas e 350 mil gaúchos e ergueu o mais moderno hospital pediátrico da América Latina. O total arrecadado foi de R$ 22 milhões, dos quais mais de R$ 2 milhões foram doados pela comunidade e R$ 5 milhões pelas empresas privadas. Governo do Estado e Assembléia Legislativa também colaboraram. O hospital foi inaugurado no dia 13 de junho de 2002.

9ª. 13 de junho – Osmar Terra Tratou sobre A Gestão Pública na Saúde por Metas Sociais e

Parcerias com a Sociedade. O Secretário da Saúde do Estado é médico, formado pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro; em janeiro de 2003, assumiu o cargo de Secretário de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul; é Secretário Nacional da Fundação Ulisses Guimarães do PMDB, coordenando atualmente a formulação do Programa do Partido à eleição presidencial. Cargos exercidos: de maio/2001 a dez/2002, exerceu o

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mandato de Deputado Federal/PMDB-RS, na Câmara dos Deputados; integra o Grupo de Parlamentares na Luta Contra a AIDS no Brasil do Programa Conjunto das Nações Unidas- UNAIDS/Brasil; Secretário Executivo Nacional do Programa Comunidade Solidária da Presidência da República, de julho/1999 até maio/2001; Superintendente do INAMPS no Rio Grande do Sul de abril/86 à maio/88; Prefeito de Santa Rosa - RS, de 1993 a 1996; Presidente da Associação dos Municípios do Grande Santa Rosa – 1992/93 e reeleito em 1995; Presidente da Federação de Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul – FAMURS – 1995/96; Palestrante convidado pela Universidade Nacional de Córdoba e a Universidade Nacional de Mar Del Plata, República Argentina, de 1995 e 1996; Em 1996, fundou o CEPASE (Centro de Promoção da Aprendizagem Sócio Emocional); Sócio fundador do Instituto Zero a Três, entidade não-governamental. É autor da Monografia “Um Começo Melhor para Todos” – sobre oportunidades e conquistas dos programas de interação na primeira infância e do livro “Entenda Melhor Suas Emoções” – sobre Popularização da Neurociência.

Em sua palestra, o secretario estadual Osmar Terra anunciou a liberação de R$ 21 milhões para o “Projeto Saúde para todos”, o que seria, em sua visão, uma ampliação do “Programa Saúde da Família”, instituído no governo anterior.

A proposta apresentada pelo secretário da Saúde é a de inverter a lógica utilizada pelo sistema de saúde no Estado, pois a sua Pasta estará voltada para a promoção da saúde com a previsão de cumprimento de metas por meio de indicadores sociais, e não mais apenas para o atendimento à doença. "Temos que fazer a população sentir-se produtiva, para viver mais. Estimular esta mudança colocará o Estado como modelo de gestão pública de saúde no País", avaliou.

Como primeira meta anunciada pelo secretário estava o lançamento do “Projeto Saúde para todos”, já referido, com o objetivo de proporcionar mais assistência médica à população em casa. A proposta é ampliar o número das 600 equipes atualmente existentes para atender às famílias para até duas mil, em quatro anos. Hoje, o programa atende apenas 13% da população gaúcha, e a estimativa é atingir 60% da sociedade para reduzir os problemas de saúde em 85%.

Para estimular a participação de novos profissionais em lidar com a promoção da saúde e a reduzir as doenças, a Secretaria da Saúde está estabelecendo parcerias com faculdades de medicina para a capacitação de pessoal. Terra adiantou que o governo destinou uma complementação orçamentária de R$ 30 mil por ano para cada equipe, e adotou premiações em dinheiro para os agentes de saúde. "O agente que detectar uma pessoa com tuberculose, por exemplo, a acompanhar e tratar até à cura, ganhará um abono de R$ 500 no seu salário", afirmou. Outra frente de trabalho, segundo informou, é premiar os hospitais que estejam trabalhando para melhorar os índices de saúde em cada região. O Estado também deverá conceder uma espécie de 'plus' aos hospitais que tratarem dos pacientes fora de suas instalações.

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O secretário ressaltou, também, que a redução da mortalidade infantil para menos de 10 crianças mortas a cada mil nascidas vivas está entre as metas do governo. "O Executivo destinou R$ 1 milhão para premiar as microrregiões que reduzirem a mortalidade. Uma parte deste valor vai para os municípios que já obtém o menor índice", antecipou. Além de garantir a vida saudável dessas crianças, o secretário assegurou que o “Projeto Primeira Infância Melhor”, que será lançado, promoverá o desenvolvimento do potencial infantil.

A participação da sociedade civil organizada foi lembrada pelo secretário como primordial para obter avanços sociais: "O papel do Estado é importante e decisivo, mas não é suficiente para resolver todos os problemas sociais". De acordo com Terra, a secretaria elaborou 13 programas que estão contemplados no Plano Plurianual do governo do Estado.

10ª. 16 de junho – Augusto de Franco Tratou sobre Desafio das Parcerias Sociais e Terceiro Setor. Augusto de Franco é coordenador geral da Agência de Educação

para o Desenvolvimento (AED) e diretor executivo da Comunitas – Parcerias para o Desenvolvimento Solidário. Após vários anos de estudos, de militância estudantil e de participação política, publicou seu primeiro livro: "Autonomia e Partido Revolucionário", em 1985; em 1988 foi para São Paulo para dirigir a Fundação Nativo da Natividade e, depois, dedicou-se integralmente a atividades político-partidárias na Executiva Nacional do PT, partido ao qual já pertencia, como membro do Diretório Nacional, desde 1982. Ao todo ficou 14 anos na direção do PT e foi o coordenador do I Congresso desse partido, em 1991. Fundou o Instituto de Política em 1993, juntamente com Roberto Aguiar, que era da UnB na época; em 1994 e 1995 desempenhou o papel de Secretário-Executivo Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida (que ficou conhecida como Campanha da Fome ou Campanha do Betinho); nesse trabalho houve articulação com o antigo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA). Entrementes, foi consultor de muitas instituições internacionais e nacionais, participou de muitos projetos governamentais e não-governamentais. A partir do Instituto de Política, juntamente com Juarez de Paula, coordenou a articulação do Fórum Brasil Século XXI, processo que começou na UnB em 1993 e que teve sua formalização no "Encontro Ano 2000". Entre 1995 e 2002, integrou (juntamente com Ruth Cardoso e Miguel Darcy de Oliveira) o Comitê Executivo do Conselho da Comunidade Solidária, onde foi o responsável pelas Rodadas de Interlocução Política que geraram, dentre outros resultados: a chamada Nova Lei do Terceiro Setor (Lei 9790/99, que criou as Oscips), a estratégia de indução ao Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (Programa Comunidade Ativa) e o início do processo de regulamentação da atividade microfinanceira no Brasil. É autor de mais de 12 livros, dentre os quais – a partir do ano 2000 –, figuram os títulos: “Por que precisamos de DLIS –

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Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável” (2000), “Além da Renda: a pobreza brasileira como insuficiência de desenvolvimento” (2000), “Capital Social: leituras de Tocqueville, Jacobs, Putnam, Fukuyama, Maturana, Castells e Levy” (2001), “Pobreza & Desenvolvimento Local” (2002), “Cartas DLIS” (2002), “Terceiro Setor: a nova sociedade civil e seu papel estratégico para o desenvolvimento” (2003) e “A Revolução do Local” (2003).

Para Augusto de Franco "A pobreza e a exclusão social não devem ser enfrentadas apenas com crescimento econômico e políticas compensatórias, e sim, prioritariamente, com programas inovadores de investimento em capital humano e capital social, construídos em parceria com a sociedade". Segundo Augusto de Franco, a responsabilidade social é uma responsabilidade política de todos os setores - governo, iniciativa privada e organizações da nova sociedade civil - com o desenvolvimento social da Nação. "Daí a necessidade de se mudar o padrão de relação entre Estado e sociedade para impulsionar o desenvolvimento de todos", afirmou.

Na sua opinião, o amadurecimento da sociedade brasileira acelerou-se nos anos 90, quando os cidadãos começaram a perceber que nenhum dos três setores por si só são capazes de enfrentar sozinhos os problemas do mundo contemporâneo diante do fenômeno globalização. Responsável pelo programa Comunidade Solidária, do governo de Fernando Henrique Cardoso, e do comitê que gestou a Lei das Oscips, Augusto de Franco lamentou que o poder público e as corporações que trabalham na máquina pública sejam ainda tão reticientes frente a esta nova realidade. "O Estado é pequeno demais para resolver os problemas do mundo globalizado e grande demais para resolver os problemas de cada comunidade. Isto tem que mudar, mas nem todos perceberam a necessidade de construir sinergia entre os três setores".

Contrariando a tese de economistas conservadores, Augusto de Franco defendeu a visão de que o desenvolvimento é sempre social, e que a pobreza, portanto, não será enfrentada apenas com a distribuição de renda. "Um país só pode ser considerado desenvolvido se as pessoas e as comunidades locais tiverem suas capacidades desenvolvidas", argumentou. Por outro lado, Augusto de Franco lamentou que os governos ainda insistam em fazer diagnósticos equivocados da realidade social. Segundo ele, o poder público insiste em definir seus programas olhando para um poço de necessidades e nunca para uma montanha de possibilidades. Esta situação mudará, no seu entender, quando a sociedade perceber seu papel estratégico na transformação das relações entre governo/sociedade civil.

Conforme Augusto de Franco, cerca de 250 mil organizações do Terceiro Setor atuam hoje no Brasil e movimentam algo em torno de 0,5% do PIB nacional - uma organização para cada 628 habitantes. Números ainda pequenos se comparados com outros países, que como os Estados Unidos, têm nas ONG's uma movimentação de 5% de seu Produto Interno Bruto, ou como na cidade de Bologna, que tem uma organização não-governamental para cada 70 habitantes. A divulgação destes dados, disse

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ele, servem para ilustrar o quanto o Estado brasileiro desperdiça recursos que transitam pela sociedade e que poderiam ser melhor direcionados. "O Poder Público não pode arrecadar mais, mas pode ser um articulador, um agente indutor do desenvolvimento social se estreitar a parceria com a sociedade".

Para Augusto de Franco cabe à sociedade a iniciativa de forçar as mudanças legais necessárias para este novo padrão de gestão pública socialmente responsável. "O exercício da responsabilidade social pelos governos deveria ser normatizado, assim como os próprios cidadãos, que clamam por direitos, deveriam estar conscientes de sua responsabilidade social".

11ª. 27 de junho – Cremilda Medina A Coordenadora da Assessoria de Comunicação Social da USP,

falando sobre Responsabilidade Social e as Práticas Comunicativas entre Sociedade-Políticos e Políticos-Sociedade.

Cremilda Medina é jornalista, pesquisadora e professora de Comunicação Social, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora titular da Universidade de São Paulo, onde realizou o mestrado (1975), o doutorado (1986), a livre-docência (1989) e titularidade (1993). Iniciou suas atividades jornalísticas e editoriais em Porto Alegre e depois passou a atuar em São Paulo. Autora de dez livros sobre Comunicação Social e literatura de língua portuguesa, organizou também várias antologias ensaísticas sobre temas da atualidade. Como pesquisadora da USP, coordena um projeto de livro-reportagem - São Paulo de Perfil - que está na 25ª edição. Em 2001, foi publicado o exemplar Viagem ao Sol Poente, reunindo histórias da migração japonesa em São Paulo, e constam da coleção outras culturas migratórias como hispano-americanos, italianos, judeus ou a trilogia ancestral da população brasileira – índios, portugueses e negros; em 2002, Sagas do Espigão- 90 anos de Medicina e Vida, o 24º exemplar da série. Na pós-graduação da USP, além de coordenar projetos de pesquisa, a partir dos quais foram editados documentos, é orientadora de mestres e doutores. Tem participado de congressos internacionais e nacionais, contribuído em seminários, cursos de graduação, especialização, pós lato senso e estricto senso nas universidades brasileiras, em Portugal, e em centros latino-americanos como o CIESPAL (Quito-Equador). Em outubro de 1999 foi nomeada coordenadora da comunicação social da USP, englobando todas as mídias – agência de notícias, o Portal USPonline, rádio, televisão, jornal semanal, revista USP, uma mídia temática trimestral, e uma revista mensal para a comunidade de funcionários. Em meio às coletâneas por ela organizadas, publicou artigos científicos em revistas e livros, além de editar os títulos de sua produção individual, dentre os quais: Notícia, um produto à venda (Editora Summus), Entrevista, o Diálogo Possível (Ática), Povo e Personagem (Editora ULBRA), ou a trilogia sobre os escritores de língua portuguesa, Viagem à Literatura Portuguesa Contemporânea (Nórdica), A

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Posse da Terra- Escritor Brasileiro Hoje (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, de Portugal) e Sonha Mamana África (Epopéia).

"As experiências concretas de sobrevivência da humanidade, especialmente as ações empreendidas pelas populações da periferia, não estão sendo relatadas pelos veículos de comunicação, nem incorporadas na prática dos políticos, todos voltados para divulgação e não para uma relação mais estreita com a sociedade.", segundo Cremilda Medina.

Cremilda Medina disse ainda que a imprensa, bem como as demais instituições tradicionais sofrem de autoritarismo crônico e precisam ser desinfetadas. "Tentem entrar numa redação para oferecer uma notícia", exemplificou ela, ressaltando que a imprensa precisa se reinventar, lembrar que uma redação é a alma estratégica de um veículo. A jornalista se considera uma cúmplice dos repórteres, lamentando que a grande mídia atualmente esteja tão afastada da realidade social. Ela defendeu a valorização da reportagem, classificando as redações dos grandes jornais "de aparatos tecnológicos claustrofóbicos, onde o jornalista é uma espécie de office boy da notícia". Na sua opinião, o repórter, bem como os artistas, são aqueles que mais podem chegar perto das narrativas daqueles que inteligentemente estão construindo estratégias para sua sobrevivência e por isso melhor poderiam traduzir as transformações sociais em andamento.

Para Cremilda Medina, o que está em questão no momento é muito mais do que a ruptura de velhos paradigmas, mas sim localizar aqueles que têm uma nova visão de mundo. A sociedade, no seu entender, está tocando o barco, as pessoas estão fazendo a sua história, daí a crescente e rica capilaridade encontrada nas diversas formas de comunicação que as pessoas estão buscando, independentemente da grande mídia. Para ela, mais cedo ou mais tarde, a visão reducionista da imprensa será abalada pela sociedade e o divórcio entre o que os veículos de comunicação e o que de fato acontece nas localidades será superado. "É complicado, conflituoso, dolorido", reconhece, mas Cremilda tem uma visão otimista do futuro: o movimento de reconhecimento de uma visão mais abrangente do ser humano está crescendo e acabará por oxigenar a comunicação social também.

A jornalista trouxe exemplos do que a Comunicação Social da USP está colocando em prática para inverter a lógica vigente nos processos de comunicação. O setor que ela coordena na universidade está investindo em ações comunicativas que narrem o milagre da sobrevivência humana, retrando o que ela informalmente chama de 'sevirol' - a estratégia daquele cidadão que põe a mão na massa para ir vivendo. "Isto a grande mídia não relata, pois reproduz a lógica dominante de um outro vetor. O vetor certo sempre será sociedade-universidade, ou sociedade-governante, sociedade-imprensa", comentou. Observou ainda que a busca de parcerias entre a universidade, empresas e prefeituras está produzindo bons resultados, o que sinalizaria um novo caminho para a gestão pública. Por outro lado, Cremilda Medina lamentou que a verba publicitária de governos e partidos políticos continue sendo usada tão irresponsavelmente quanto aquela

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destinada por indústrias farmacêuticas, criando imagens que não correspondem a realidade.

Para Cremilda, os jornalistas têm um importante papel neste contexto e mesmo que as redações ainda tenham dificuldade de enxergar pautas de responsabilidade social, sempre existem aqueles indivíduos sensíveis que compreendem a importância de ir ao encontro do outro. "Ainda somos poucos", lembrou ela, citando título de um livro de Carlos Nejar, "por isso precisamos estar unidos".

12ª. 30 de junho – Geneviève Huot A Pesquisadora e Professora da Universidade de Québec e Montréal,

Coordenadora de Projetos do Chantier de l’Economie Sociale de Québec, falando sobre A Experiência da Governança Social de Québec – Canadá.

Geneviève Huot é Coordenadora de Projetos do Chantier de l’ Économie Sociale de Québec, sendo responsável pelas relações entre Canadá/Brasil. Bacharel em Agro-Economia pela Universidade Laval de Toulouse/França; Mestre em Sociologia; Pesquisadora e Professora da Universidade de Québec e Montréal;

O modelo de governança social de Québec (Canadá) é baseado na participação, integração e parcerias entre governo, sociedade e iniciativa privada. A experiência do desenvolvimento social, com forte ênfase à economia solidária e alargamento da democracia empreendida pela província canadense tem servido de referência para diversos países em busca de um modelo de gestão pública socialmente responsável.

Com uma vocação social muito forte, a sociedade civil de Québec construiu sua relação com os sucessivos governos em cima de quatro pilares, conforme explicou Geneviève: o Fórum de Economia Social, com forte representação de diferentes segmentos de trabalhadores, empresários, universidades, organismos não governamentais, pequenos empreendedores, partidos políticos e instituições governamentais; a Rede de Financiamento e Crédito para a Economia Social, baseada em caixas de poupança, fundos de solidariedade e de ajuda comunitária autônoma; a Rede de Informações e Indicadores Sociais, voltada para a identificação de necessidades e possibilidades de ampliação dos postos de trabalho a custos mais baixos e a Rede de Pesquisa em Economia Social, constituída de forma a aproximar a universidade e pesquisa acadêmica da realidade social.

Segundo Geneviève Huot, que é também coordenadora do Departamento de Economia Social, organismo de representação político-institucional da sociedade civil de Québec, os sindicatos de trabalhadores cumprem um papel muito importante na identificação e gestão de políticas públicas. Além da sua participação na gestão das empresas, os trabalhadores têm forte atuação na definição e acompanhamento da administração pública, o que os torna muito mais do que simples eleitores. A professora explicou ainda que o modelo de governança e parceria social de Québec está em constante aperfeiçoamento, uma vez que está sendo

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construído a partir das negociações constantes entre sociedade e governos. Recentemente, foi constituído o Escritório de Economia Social, uma espécie de porta de entrada aos Ministérios envolvidos com a busca de superação das desigualdades regionais, criação de empregos e apoio aos centros integrados de desenvolvimento local.

Todas as ações de governo são debatidas, analisadas, geridas e acompanhadas pela população através de Fóruns, Comitês de Gestão, que não apenas envolvem-se na definição de políticas públicas como também na gerência de inúmeros fundos voltados para o incremento da economia solidária e geração de empregos. Conforme Geneviève, como todo processo democrático, o modelo por eles adotado também enfrenta conflitos, entretanto, está amadurecida a idéia de que os cidadãos podem e devem ser interlocutores da gestão pública e das empresas que operam naquele território.

Por outro lado, existe uma forte consciência de que a expansão de um negócio deve ser norteada por dois eixos: pela rentabilidade social e viabilidade econômica. Lá, por exemplo, as creches não têm fins lucrativos, são subsidiadas pelo poder público e geridas pelos pais e 5% dos lucros dos cassinos públicos são destinados ao Fundo de Ajuda à Ação Comunitária. "A parceria entre o governo e a sociedade de Québec", disse Busatto, "demonstra como é possível trabalharmos numa direção de desenvolvimento social e solidário que gere mais benefícios a toda a comunidade".

13ª. 10 de julho – Marcos Kisil O Presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento

Social – IDIS, falando sobre PARCERIAS: Caminhos para a Sustentabilidade.

MARCOS KISIL é Presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social - IDIS –, com sede em São Paulo, Brasil. Foi Diretor Regional para a América Latina e Caribe da Fundação W.K. Kellogg. É médico formado pela Universidade de São Paulo tendo se especializado em Moléstias Tropicais. Posteriormente, dedicou-se ao campo da administração de saúde, tendo se doutorado em Administração pela George Washington University, Washington, DC, USA como bolsista da Fundação W.K.Kellogg. Atuou como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde. É professor titular da Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública. Também é membro dos Conselhos Administrativos de várias entidades, entre elas: Escola de Administração de Empresa da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo; do Instituto Ayrton Senna e Fundação Iochep. Kisil é o atual presidente do Conselho do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) e também presidente do Instituto WCF-Brasil.

Marcos Kisil afirmou que as políticas públicas na área social no País tem sido compensatórias desde a República Antiga. "O ideal paternalista também está sinalizado nos primeiros passos do Fome Zero, pois a ação

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não visa transformar a vida das pessoas e sim, a manutenção de um ‘status quo’”, definiu o palestrante.

Ao salientar que qualquer um no Brasil hoje torce para o Fome Zero dar certo, Kisil insistiu na importância da clareza da missão, que no caso do programa não foi definida conjuntamente com os potenciais parceiros - a sociedade civil organizada. "Se perguntado hoje qual é a missão do Fome Zero, o ministro José Graziano não sabe responder e está falta de clareza gera várias interpretações e inquietude", analisou o palestrante.

Segundo o entendimento do palestrante, o Programa Fome Zero não se viabiliza a longo prazo devido à falta de um acordo único entre os organismos envolvidos no projeto. Para ele, o Fome Zero é um programa de governo de política pública que busca na sociedade civil patrocínio ou financiamento, e não uma parceria sustentável: "A missão não foi tratada conjuntamente com os organismos envolvidos".

A capacidade das parcerias de consolidar e incrementar sua interação com a sociedade em função de contribuir com seu desenvolvimento é a definição de sustentabilidade utilizada pelo Instituto. Este modelo, segundo ele, é baseado na prática diária da construção da vida, servindo como instrumentos de desenvolvimento com enfoque transformador. É preciso ter eficiência no cumprimento da missão, definida precocemente. "Isso a gente vem apreendendo com as ONGs, que ao longo de suas existências, passam a buscar dinheiro e esquecem da sua real origem: a missão", lembrou.

Ao longo do caminho, a permanência da missão é a garantia de êxito para a sustentabilidade do acordo entre os parceiros. "Eu ganho legitimidade no decorrer do processo, ao construir uma imagem de credibilidade junto a sociedade", expôs Kisil. Para isso, é necessário eficiência (melhor desempenho e sucesso no uso dos recursos financeiros) e eficácia (no cumprimento da missão). O presidente do Idis citou como um exemplo bem sucedido a Pastoral da Criança.

Kisil enfatizou a importância do acordo em torno da missão. Isto é o que possibilita o sucesso de qualquer projeto na área social a longo prazo. "Quando se pensa em caminhos de sustentabilidade a primeira coisa em que se pensa é na questão financeira e de fato esta é a última", salientou.

Durante sua exposição, apresentou um exemplo de parceria sustentável de sucesso realizada em São Paulo. Um acordo entre duas entidades que formaram parceria com o setores público e privado para administrar a penitenciária de Hortolândia, onde vivem 1,1 mil presidiários. "Além de cumprir com a função social do sistema penitenciário, de reabilitar o detento ao convívio com a sociedade, os presos têm melhor qualidade de vida e custam menos ao Estado", destacou.

De acordo com ele, cada preso custa ao Estado R$ 767 por dia. Com a parceria, o custo diário baixou para R$ 480. O modelo está sendo considerado pelo governo federal para ser adotado pela União no presídio federal do Amazonas.

O palestrante também afirmou que "As políticas públicas no Brasil levam um tempo muito longo para chegarem na base da sociedade a que

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se destinam, porque o Estado brasileiro é muito cartorial, carimbador." Entende que para desobstruir o fluxo dessas políticas é preciso reformar profundamente o Estado. Ainda que fundamental, ele considera essa uma tarefa complicada. Lembrou que o País tem uma Constituição nova há quase 15 anos e praticamente a metade de seus artigos, que precisam de regulamentação não foram regulamentados dando a impressão de que "ela não era para valer".

Ao defender um "Estado gerador de políticas públicas e cobrador de seus resultados", Kisil disse que, apesar desse anacronismo, vêm ocorrendo fatos positivos em termos de desenvolvimento social. Citou que, através do lançamento do Programa Comunidade Solidária, o governo admitia pela primeira vez que não tinha a capacidade de fazer tudo sozinho pela sociedade, conforme determinava a lei.

Marcos Kisil ressaltou a importância de o "empresariado ter descoberto que os mesmos instrumentos de empreendedorismo econômico podem ser utilizados no empreendedorismo social. E o elo de ligação entre os setores público e privado são, a seu ver, as mais de 250 mil organizações não governamentais que surgiram no Brasil dispostas a abraçar as causas do desenvolvimento social.

14ª. 15 de julho – Otaviano Brenner de Moraes O Secretário Substituto da Justiça e da Segurança, falando sobre

Gestão Integrada na Segurança Pública: Uma Necessidade Social. O secretário da Justiça e da Segurança, José Otávio Germano, foi

convidado pela comissão para falar sobre o tema mas não pôde comparecer.

O Secretário substituto afirmou que a gestão integrada entre as polícias é uma necessidade no combate ao crime, pois, "Nós temos que reunir nossas forças para mudar o quadro atual", disse.

Moraes enfatizou que a segurança pública deve estar inserida entre os valores da doutrina da responsabilidade social. Para ele, o compartilhamento do Estado e da sociedade na visão moderna da segurança pública é o que trará resultados eficazes no combate ao crime. Segundo ele, o desenvolvimento de uma política de integração da sociedade com a segurança pública foi uma das prioridades deste ano da Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS). Afirmou, ainda, que a segurança pública é mais do que as polícias civil e militar. "É preciso fazer com que as pessoas acreditem na força do direito", frisou Moraes, na palestra que fez na Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público.

Ele citou o artigo 144 da Constituição Federal que preconiza que é dever do Estado garantir segurança à população e esta é uma responsabilidade de todos. "E a secretaria está procurando suscitar na sociedade a sua parcela de participação no processo", acrescentou. Para Moraes, a integração da forças de segurança pública, comunidade e Estado

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é a forma mais eficaz de conseguir resultados positivos no combate contra a violência urbana e o crime organizado.

Para o Secretário, os Conselhos Pró-Segurança Pública (Consepros), organizados em 300 municípios do Estado, não devem ser apenas instrumentos que canalizem recursos para a segurança, mas ambientes adequados à difusão de boas idéias e onde a sociedade encontre espaço para participar das políticas públicas para a área. Os Consepros terão acento no Conselho Estadual de Segurança Pública (CESP), que funcionará como mais um órgão de cooperação e participação da sociedade. Outra idéia para integrar a população é aproximar a SJS com as universidades na busca de preparação científica e tecnológica para os órgãos da polícia. “Nós temos que reunir nossas forças para mudar o quadro atual”, conclamou. Na sua opinião, os homens públicos se deslocaram do setor público. É hora de reverter esse quadro.

O deputado Jair Soares (PP) afirmou que o restabelecimento dos padrões de segurança que o Estado já teve depende basicamente da priorização de recursos para a área. Ele manifestou preocupação com o fim das carreiras de Estado, em função da reforma da Previdência, alertando que a quebra da hierarquia ao nível da segurança será uma medida nefasta para o setor.

O deputado Marco Alba (PMDB) manifestou a crença de que só a quebra de alguns paradigmas, que possibilite avançar em direção a uma política mais preventiva do que de coercitiva, trará resultados para a área da segurança. Com a política que está sendo pensada para a segurança e a participação da sociedade civil no seu permanente aperfeiçoamento, disse que vê com esperança a obtenção dos resultados.

Moraes concordou com a manifestação do deputado Jair Soares, lembrando que nos 20 anos passados desde que Soares foi governador, ocorreram avanços tecnológicos enormes, particularmente na informática, e no entanto um número grande de delegacias de polícia ainda trabalha com máquinas de escrever.

Moraes afirmou que está em estudo um modelo em que a escola do bairro se transforme em base territorial para o exercício da cidadania. Nesses locais não se fariam presentes apenas a Brigada Militar e a Política Civil, mas haveria diversos tipos de atendimento, incluindo saúde, habitação, assistência judiciária, áreas de lazer, entre outros. “Esse projeto é verdadeiramente uma proposta de responsabilidade social” concluiu Moraes. Entre as inovações introduzidas pela SJS estão também as comissões setoriais, constituídos para aumentar a interlocução com setores da sociedade, como taxistas, bancários, postos de gasolina. O Rio Grande do Sul foi ainda o primeiro estado brasileiro a instituir o Gabinete de Gestão interligado com o Sistema Nacional de Segurança Pública.

O serviço penitenciário foi outro assunto amplamente debatido na Comissão, pois, segundo Moraes, é insensato apenas conter os criminosos em presídios, sem um tratamento adequado que prepare e habilite o detento ao retorno à vida social. “As penitenciárias são um espaço enorme para a difusão da responsabilidade social”, disse. A Secretaria da Justiça e

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da Segurança tem projeto de levar escolas de ensino fundamental e trabalho às penitenciárias, através de convênio com a Ocergs e Federasul.

A grande dificuldade enfrentada pela SJS, no entanto, diz respeito à própria morosidade do Poder Executivo, que associada ao baixo investimento recebido pela pasta nas últimas gestões resultaram no sucateamento das delegacias. “A maior dificuldade do setor é de recursos. A questão da segurança pública passa pelo investimento”, afirmou Otaviano de Moraes.

15ª. 17 de julho – “Jornada de Cases”: quatro painéis

sobre exemplos exitosos de gestão pública com responsabilidade social.

1º) As Cooperativas oriundas de Empresas Privadas: Palestrante: KALIL SEHBE, Secretário Estadual de Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior; 2º) Agência de Desenvolvimento de São Sepé – ADSS. Palestrantes: JOSÉ MARTIN LEÃO, Vice-Prefeito de São Sepé e

Coordenador da ADSS, HÉLIO MARCHIORO, Tecnólogo em Cooperativismo e Especialista em Metodologias DLIS.

3º) Cruzada Antidrogas de Novo Hamburgo. Palestrantes: OSVINO TOILLIER, Coordenador da Cruzada

Antidrogas de N. H.,MÁRIO GUSMÃO, jornalista e Diretor-Geral do Grupo Editorial

Sinos S. A.; 4º) Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves. Palestrante: VÂNIA MORAES, Diretora da Escola. 1º) O secretário da Ciência e Tecnologia, Kalil Sehbe, afirmou que

qualquer política de gestão pública que pretenda adotar padrões de responsabilidade social, nos dias de hoje, tem que ser capaz de gerar emprego e renda.

Kalil defendeu o modelo cooperativista como uma forma eficaz para manter empregos, especialmente nas situações muito freqüentes de falência de empresas no Estado. Ele citou um exemplo da sua própria família, de origem libanesa, que a partir de uma pequena confecção, em Caxias do Sul, montou um grande empreendimento empresarial com 48 lojas comerciais, uma rede hoteleira, gerando até 6 mil empregos nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Depois de 88 anos de existência e um faturamento que chegou a US$ 148 milhões ao ano, Kalil lembrou que o grupo foi vítima do sucateamento da indústria nacional em decorrência das políticas econômicas implantadas no País. Mas graças a uma política de responsabilidade social pioneira, que criou uma fundação para o seu

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quadro funcional, disse que a situação dos empregados não foi tão traumática com a liquidação do empreendimento. Duas cooperativas foram originadas com o fim do grupo empresarial, uma a partir da indústria de fabricação de tecidos de lã, que se localiza em Galópolis e a outra, a Cooperativa Gaúcha de Hotéis e Turismo, pela falência da rede Alfred de Hotéis.

Kalil Sehbe defendeu políticas diferenciadas para as cooperativas, afirmando que elas necessitam de uma carga tributária menor e de linhas de crédito mais acessíveis, medidas na sua opinião inteiramente justificáveis, já que "a geração de empregos abre o caminho para a construção de uma sociedade mais justa".

2º) O segundo caso de gestão pública com responsabilidade social apresentado na Comissão Especial de Responsabilidade Social ocorre em São Sepé. O tecnólogo em cooperativismo e especialista em metodologia Hélio Marchioro afirmou que a experiência realizada através da Agência de Desenvolvimento de São Sepé (ADSS) reúne o setor público, o setor privado e o conhecimento.

Marchioro defendeu que o desenvolvimento deve ser integrado, solidário e conceituado. "Buscamos identificar questões fundamentais conceituais de desenvolvimento e partimos do pressuposto que deveríamos ouvir a comunidade. Não há identidade se não ouvirmos o pulsar da comunidade", disse.

Explicou que dentro desse processo foram implantadas metodologias que seguem padrões fundamentais como a questão da transparência, da ética, da sustentabilidade e da melhoria da qualidade de vida. Três pilares são considerados essenciais por Marchioro para o desenvolvimento da Agência de Desenvolvimento: setor público, setor privado e a questão do conhecimento.

"O setor privado não vai alavancar o desenvolvimento por si só e se sustentar. É preciso ter um trabalho conjunto entre o público e privado", destacou. Explicou que a ADSS organizou 32 associações comunitárias no município para discutir políticas públicas.

O vice-prefeito de São Sepé, José Martin Leão, afirmou que nenhum trabalho pode começar sem planejamento estratégico. Relatou que a Agência de Desenvolvimento criou centrais específicas para as áreas sociais, de projetos econômicos e de relações institucionais. "Trabalhamos basicamente dentro das potencialidades do nosso município", explicou.

Leão apontou como conquistas da agência a mobilização da comunidade, o envolvimento dos setores público, privado e da área do conhecimento. "Parcerias com as universidades ajudam a viabilizar nosso projeto", reconheceu. Ao finalizar, afirmou que todas os matizes políticos do município participam dos projetos da Agência. "Ela é pluripartidária", concluiu.

3º) "A droga surge onde falta a esperança", definiu o professor Osvino Toillier, coordenador do programa "A cruzada antidrogas de Novo Hamburgo". Ele relatou a organização desse trabalho na cidade e atribuiu o

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seu sucesso à correta identificação dos locais onde era preciso atuar e ao apoio decidido da comunidade local.

Toillier sublinhou que o programa propôs ações fortes de prevenção às drogas, trabalho desenvolvido junto às famílias, escolas e igreja; de tratamento dos dependentes químicos junto às entidades especializadas nessa tarefa; e de repressão ao tráfico, trabalho exercido pelos órgãos de segurança, mas com quem a cruzada mantém estreita relação. Destacou também o papel dos meios de comunicação, afirmando que estes executam o papel de "tambor da aldeia".

O coordenador do programa observou que a cruzada tem um caráter permanente, e a participação da comunidade amplia os resultados, que na sua opinião são mais palpáveis do que os obtidos pelas campanhas governamentais veiculadas pelos meios de comunicação. Para exemplificar o grau de participação, citou um evento realizado para arrecadar recursos às entidades que tratam dos dependentes denominado "O maior meio frango do Brasil", que vendeu 20 mil cartões ao preço de R$ 5,00.

O diretor-geral do Grupo Editorial Sinos, Mário Gusmão, alertou que os meios de comunicação devem participar ativamente para reduzir o consumo de entorpecentes na sociedade. Gusmão relatou na audiência pública da Comissão Especial de Responsabilidade Social, a experiência do Jornal NH ao se envolver com a cruzada antidrogas em Novo Hamburgo.

Gusmão lembrou que o NH realizou em 2001, em conjunto com a Câmara de Vereadores, um seminário para discutir o problema. Dentre as preocupações colhidas no evento estavam a presença do tóxico em todas as camadas da população, o assustador avanço do consumo de drogas na sociedade e o desenvolvimento de novos entorpecentes em face ao crescente consumo.

Para Gusmão, este problema só pode ser enfrentado se houver uma rede que auxilie na solução: a cruzada antidrogas deve passar pelo envolvimento da família, da escola, da sociedade, dos organismos que prestam atendimento aos consumidores e pelos órgãos de segurança pública que fazem a repressão às quadrilhas que vencem entorpecentes.

4º) A diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves, Vânia Moraes, apresenta neste momento o último case da jornada com experiências exemplares de gestão pública com responsabilidade social. "O segredo é todo mundo trabalhar unido e bastante", disse, ao iniciar sua exposição.

Localizada em São Leopoldo, no Vale do rio dos Sinos, a escola desenvolve o projeto "Castro Integrado", que atende 300 alunos com 25 professores contratados e pagos com recursos das empresas, através do Círculo de Pais e Mestres (CPM). Vânia explicou que inicialmente foi criado um conselho formado por ex-diretores, professores e clube de mães para identificar os principais problemas da escola e da comunidade. A partir daí, iniciaram as parcerias com as empresas do bairro.

Atualmente 22 empresas financiam o projeto "Castro Integrado", que no contra-turno escolar atende crianças de quatro a 12 anos. Aulas de

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informática, natação, dança, capoeira, vôlei, basquete, pintura, educação para o trânsito, oficina de leitura e de línguas (inglês e alemão) e outros esportes são oferecidos aos alunos.

"A união da comunidade com a escola é positiva e essencial para que o projeto continue avançando", avaliou. As empresas recebem relatório mensal das atividades desenvolvidas pela escola. Vânia Moraes disse ainda que o projeto contribuiu para reduzir a evasão escolar e a reprovação de alunos.

16ª. 21 de julho – Márcio Pochmann e Gervásio Rodrigo

Neves O Secretário Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e

Solidariedade de São Paulo, e o Professor e doutor em Geografia, ambos tratando sobre O Mapa da Exclusão Social.

Para Pochmann, as políticas sociais adotadas pelos governos brasileiros são clientelistas, pois não se baseiam em uma política pública definida, de longo prazo, e são pautadas pela individualidade. “O patamar de política pública para os dias de hoje deveriam se basear na autonomia e emancipação dos seres humanos. Os programas acabam alimentando a pobreza, por não oferecem medidas de independência”, alerta Pochmann. Para o ele, o Brasil vive problemas típicos da sociedade moderna e tenta combatê-los com ações sociais anacrônicas, adotadas no início do século XX. “O primeiro passo para que possamos mudar a realidade é conhecer essa realidade”, afirmou o Secretário.

A repercussão deste modelo, segundo Pochmann, resulta no paternalismo identificado nos programas sociais em todas as esferas de governo, o que acaba estabelecendo maior dependência do público-alvo. "Os programas acabam alimentando a pobreza, por não oferecem medidas de independência".

Também chamadas de concorrenciais, as atuais políticas sociais são pautadas pela individualidade. "É muito comum no Brasil a concorrência entre os ministros no governo federal. Os Estados também disputam com os programas governamentais, e os municípios acabam concorrendo com os Estados". As políticas voltadas à área social são "concorrenciais" porque visam a desenvolver ações isoladas, onde não há integração sequer entre os órgãos de um mesmo governo, o que produz mais assunto para venda de uma imagem dos governantes do que soluções práticas. Quando essa concorrência passa à disputa entre Municípios e Estados, essa integração de políticas públicas se torna ainda mais difícil, pois a tentativa de transformar um determinado projeto social em modelo frente à outros, e assim assegurar uma opinião pública favorável ao seu nome como administrador público, é muito mais acentuada. “É pura disputa de beleza, onde o problema é um meio para alcançar um posto político maior, e não um fim a ser equacionado", afirma Pochmann. "É muito comum no Brasil a concorrência entre os ministros ou secretários de Estado. Os Estados

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também disputam com os programas federais, e os municípios acabam concorrendo com os Estados”, exemplifica.

Além de anacrônicas, as políticas brasileiras também exigem um alto custo de implementação. O secretário justificou que a fragmentação das ações sociais faz com que todas as esferas de governo tenham um elevado custo operacional.

Pochmann usou como exemplo o programa Bolsa Escola, onde a cada R$ 100 que sai de Brasília, 50% é custo com instalação do programa, cadastramento, fiscalização e acompanhamento. Para os municípios, a cada R$ 15 recebido por criança, 50% é destinado aos custo operacionais de aplicação do programa. “Se tivéssemos uma ação unificada, poderíamos abranger muito mais famílias carentes. Por outro lado, o custo com cadastramento das famílias, fiscalização e acompanhamento das ações seriam um e não três”, afirmou.

Para o secretário, o Fome Zero é um programa mais apropriado para a população rural e que pode acabar fragmentando as políticas sociais. "O desafio é atender à população urbana", salientou. "A segurança alimentar é uma das facetas do combate à exclusão social".

A violência localizada basicamente no meio rural nos anos 60, principalmente na luta pela terra, atingiu o seu maior índice no meio urbano entre os anos 80 e 2000. "Houve até decréscimo dos índices, entre as décadas de 60 e 80". Para o secretário, o agravamento da violência tem basicamente duas razões. Segundo Pochmann, a violência teria seguido o rastro do empobrecimento da população, "vítima da ausência de trabalho e de queda na renda familiar".

A segunda razão para a elevação dos índices da violência está na difusão de um padrão cultural onde os indivíduos valem pelo que possuem e não pelo o que são. "O fato explica, por exemplo, o assassinato para o roubo de um bem com valor unitário relativamente alto".

A criação do Sistema Único de Exclusão é o caminho apontado por Pochmann para o efetivo combate à exclusão social. "A exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), atacaríamos a exclusão com cadastro e políticas únicas". Ele apontou o SUS como a única política pública governamental de sucesso no país. "Precisa avançar mais, ter mais recursos, mas deu certo".

O cadastro único, já utilizado pela prefeitura de São Paulo desde abril passado, trabalharia com os mesmos recursos hoje destinados ao social. O diferencial, segundo Pochamnn, seria a administração e implementação de forma compartilhada, entre a União, os Estados e municípios, "ocasionando o combate à exclusão de forma unificada".

O secretário sugeriu ainda que o cadastro único utilizado pelas diferentes áreas sociais e esferas de governo, poderia ser realizado pela Receita Federal, “a maior parte dos pobres brasileiros não tem documentos e esta declaração poderia ser um”. “Acabaríamos com a concorrência improdutiva e atacaríamos a exclusão com cadastro e políticas sociais unificadas”, defendeu.

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Outra proposta defendida por Pochmann é a criação de uma lei que contenha indicadores oficiais para a definição de pobreza, e lembrou os Estados Unidos, que têm uma lei que delimita os índices máximos de pobreza a que o país não pode transpor, sendo possível, se necessário, despender recursos extras para não deixar o índice ser alcançado. “Sem parâmetros para medir a situação de exclusão todos os gestores públicos trabalharão sem planejamento algum. Para isso é necessário a adoção de uma mapa social.”, disse Pochmannn.

O Geógrafo Gervásio Rodrigo Neves defendeu a adoção de uma política social de Estado, que não se restrinja a um governo, pois o país não tem sentido de existir se não for para o povo. "O Estado só tem sentido se tiver um projeto de Nação. Precisamos adotar não apenas um Plano Diretor, como já temos, mas um Plano de Desenvolvimento, no qual o Plano Diretor é parte", defendeu Neves. Para ele, o Brasil precisa buscar dados estatísticos concretos que definam e estabeleçam parâmetros, sem os quais o Brasil é o país do "achômetro", e permitam a definição de políticas públicas a partir desses números.

17. 23/07 – José Fortunati O Secretário Estadual da Educação, falando sobre A Gestão Pública

na Educação: Metas Sociais e Parcerias com a Sociedade. José Fortunati é Secretário de Estado da Educação. Cursou a

Faculdade de Matemática da UFRGS, onde foi presidente do Diretório Acadêmico (DAEMA), a Faculdade de Administração Pública e de Empresas e a faculdade de Direito; Foi um dos fundadores da Associação dos Moradores da Casa do Estudante Universitário; Ingressou no Movimento Popular através da FRACAB; Presidiu o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (1985/86); Participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores - CUT, sendo o seu primeiro presidente estadual em 1985, reeleito para a gestão seguinte; Participei da direção nacional da CUT como seu Vice-presidente (1986); Eleito Deputado Estadual Constituinte (1987/90), Eleito Deputado Federal por duas vezes (1990/94 e 1994/96), exerceu a liderança da bancada na Câmara Federal, participou do processo de elaboração da LDB/96; foi eleito pelo DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar - um dos deputados mais influentes no Congresso Nacional por três anos consecutivos; Vice-prefeito de Porto Alegre, durante a gestão 1997/2000. No ano de 2000, eleito vereador com a mais expressiva votação da história de Porto Alegre (40 mil votos); Assumiu como Secretário da Educação em 01 de janeiro de 2003; autor dos livros: "Meridional, resultado de uma luta", "A estratégia do engodo", "Fascínio da Estrela".

O Secretário anunciou que a Secretaria Estadual de Educação lançará em 8 de agosto o programa Escola Aberta para Cidadania, em parceria com a Unesco, o fundo das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. No primeiro momento, 51 escolas serão abertas.

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Fortunati adiantou que o projeto visa a reduzir a violência nas comunidades com a abertura das escolas nos finais de semana à população. O programa inicia no sábado (9) com a abertura de 51 estabelecimentos: 10 em Porto Alegre, 15 na Região Metropolitana e o restante nas cidades-pólo do Estado. O programa Escola Aberta para a Cidadania é uma parceria da Secretaria da Educação com a UNESCO, o fundo da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura. O programa terá participação e coordenação do voluntariado, que atuará através das entidades da sociedade civil organizada. Serão inicialmente 51 escolas abertas à comunidade, consoante referido, durante os finais de semana, visando a reduzir a violência nas regiões onde se localizam. O programa se baseia em projeto semelhante desenvolvido em Pernambuco, onde a violência caiu em até 70% em algumas regiões. “O mapa da violência demonstra que os jovens excluídos entre 14 e 22 anos são as grandes vítimas da violência nos finais de semana, e percebemos que a escola pública se encontra junto à essas comunidades excluídas”, justificou Fortunati.

Como vê a educação como um processo natural de inclusão social, Fortunati anunciou que no final de agosto começam as aulas do projeto Alfabetiza Rio Grande, que pretende combater o analfabetismo no Estado. De acordo com o IBGE, 501 mil gaúchos com mais de 15 anos não sabem ler, nem escrever. O secretário informou que a Assembléia deve receber em outubro o Plano Estadual de Educação, com metas a serem atingidas nos próximos dez anos.

Fortunati afirmou ainda que a rede estadual conta com 3.044 escolas, onde estudam 1,5 milhão de alunos. Salientou, contudo, que a Secretaria de Educação busca uma interface com as Secretarias da Segurança e da Saúde e com a sociedade para tratarem a questão das drogas entre a juventude. Fortunati entende que esta é uma demanda prioritariamente da educação, pelo caráter preventivo que a questão exige, mas não se pode deixar de lado a repressão (Segurança) e o tratamento (Saúde), e a sociedade organizada dentro das escolas, como os grêmios estudantis, para auxiliar nesse contexto. “Nossa estrutura é boa e a educação no Estado é pioneira em muitos pontos, mas precisamos ampliar a qualidade e capacitação dos professores e intensificar as relações com as comunidades”, afirmou.

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6 Grupo Técnico da Comissão

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A Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público convidou também representações de vários setores da sociedade - Secretarias de Estado e vinculadas, Universidades, Organizações do Terceiro Setor, Empresários -, para constituir um “Grupo Técnico”, que subdividiu-se em três áreas de trabalho: Legislação; Sistemas de Mensuração e Monitoramento: Indicadores e Metas Sociais; Parcerias Sociais: Relação Sociedade/Governo. Esse Grupo proporcionou subsídios à Comissão para a formulação de um projeto de lei sobre Responsabilidade Social no Setor Público que pretende se constituir num novo marco legal.

A primeira reunião do Grupo técnico ocorreu em 16 de abril, com a presença do deputado Cézar Busatto, presidente da Comissão, e dos seguintes convidados: Alfredo Menegheti Neto - FEE; Márcio Mostardeiro – Fundação Maurício Sirotsky; Zênia Aranha Silveira – FARSUL; Ezio Rezende – Projeto PESCAR; Jair Kievel – Fundação SEMEAR; Lizete Boschetti – Secretaria da Educação; Flávia Goulart Franco – Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social; Helena Beatriz Cunha – Secretaria da Saúde; Rafael Luft – Secretaria da Segurança; Júlio Brunet – Secretaria da Coordenação e Planejamento; Rogério Faé – Secretaria da Habitação; Alessandro Vasconcellos Machado – SEBRAE; Maria Moresco – BRDE; Humberto Canuso – Tribunal de Contas do Estado; Rosinha Carrion – UFRGS; Irineu Frey – Universidade de Santa Cruz do Sul; Francisco Cirne Lima – BRASKEN; Mônica Ferreira – Associação dos Jovens Empresários; Tarcísio Teixeira Cardoso, representante do Deputado Paulo Brum; Simone Simon, representante do Deputado João Fischer; Diego Aguiar Machado, representante do Deputado José Farret; Paulo Motta, representante do Deputado Fernando Záchia; Sisino Silveira, representante do Deputado João Luiz Vargas; Beatriz Pecis – Instituto pela

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Responsabilidade Social; Mariza Melzer Teruchkin – IRS; Naira Pinto Guedes Lomando – IRS; Sandra Lima, secretária da Comissão e Elizabeth Corbetta, Assessora da Comissão.

Após essa reunião, somaram-se ao grupo técnico: Marília Chukst - STCAS; Ana Lúcia Pereira – TCE; Marília Freitas Lima, Maria Inês Velho e Rodrigo Quadros – FARSUL; Marizete Miranda – Secretaria da Saúde; Marília Azevedo – Secretaria da Educação; Miriam Helfer – Fundação Gazeta; Peterson Orsy – SEBRAE; Rosemeri Alessio – Associação dos Jovens Empresários; Núbia Silveira – Fundação TVE; Sérgio Schaumloeffel – Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade; Suzana Guimarães – jornalista na área da responsabilidade social; Hélios Puig, Jorge Accurso e Salvatore Santagada – FEE; Gervásio Rodrigo Neves – doutor em Geografia; Plínio Zalewski e Wladimir Ortiz – gabinete Dep. Cézar Busatto; Fátima Fraga – gabinete Dep. Floriza dos Santos; Tisiane Siqueira – Coordenadoria da Bancada do PT.

Posteriormente, o Grupo Técnico passou a reunir-se quinzenalmente em sua totalidade e semanalmente reuniram-se os sub-grupos temáticos, já referidos.

No final do mês de junho, o Grupo Técnico reuniu-se por três dias consecutivos em um seminário de apresentação de suas conclusões. A partir de então, voltou a reunir-se o grande grupo até a conclusão dos trabalhos da Comissão.

No mês de julho p.p., destacou-se uma equipe para propor a redação do relatório final e de seus anexos a ser apresentada ao Deputado relator e aos demais membros da Comissão Especial, composta por Ana Lúcia pereira – TCE; Rosinha Carrion – UFRGS; Alfredo Meneghetti Neto – FEE; Plínio Zalewski – Gabinete Dep. Cézar Busatto; Tisiane Siqueira – Coordenadoria da Bancada do PT, além da Coordenadoria da comissão.

O relatório apresentado busca contemplar a colaboração voluntária e interessada de todos que participaram do Grupo Técnico instituído para auxiliar a Comissão Especial.

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7 Conclusões e Recomendações

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Como já referido inicialmente, a conclusão do trabalho de uma comissão especial não é tarefa fácil, pois é necessário tentar abarcar o conjunto de discussões realizadas ao longo de seus cento e vinte dias de existência. Não obstante, há uma imensidão de opiniões, de vivências, de sugestões, de observações, de impressões e de percepções que não podem ser contempladas em sua íntegra. Um relatório, neste sentido, deve pautar-se pela tentativa de objetividade e de retrato das principais idéias consensuadas coletivamente. Desta forma, a palavra do relator é mais do que um conjunto de impressões individuais e reflexo de uma concepção político-ideológica e partidária que é ínsita a cada Parlamentar e que informa sua atuação. Afinal, cada um representa uma coletividade de pensamento que somada a do conjunto do Parlamento reflete a sociedade rio-grandense. Então, como não é possível expor a opinião individual de cada participante, deve partir-se para a opinião mais geral e precisa - dentro do possível – da maioria.

Precisamos ter claro que vivemos em um País em que os contrastes e paradoxos existentes nos levam cada vez mais a refletir sobre alternativas e políticas públicas que venham a corrigi-los ou minimiza-los. A necessidade é permanente de se implementar medidas que venham a curto, médio e longo prazos, incluir grandes parcelas da nossa sociedade ao processo produtivo e ao acesso aos serviços prestados pela União, Estados e Municípios, o que se constitui na principal meta de qualquer administrador. Neste contexto, o tema da Responsabilidade Social no Setor Público passa a ser, embora novo, central para a compreensão e definição de novas políticas que alterem o mapa da exclusão social, combatendo desta forma o desemprego, o aumento da criminalidade, da drogadição e da prostituição de crianças e de adolescentes, fato que tanto nos choca

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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quando lemos, ouvimos ou assistimos matérias veiculadas pela imprensa, ou mesmo quando nos deparamos com estas situações concretamente.

Durante os quatro meses em que debatemos o tema da Responsabilidade Social no Setor Público, enriquecido por 17 audiências públicas, tivemos a oportunidade de ouvir especialistas, estudiosos e gestores públicos. Nessas oportunidades, algumas ações e princípios de gestão envolvendo as três esferas de Poder (Federal, Estadual e Municipal) foram recorrentes na maioria das palestras proferidas.

Alguns temas foram quase unânimes, embora partindo de diferentes visões e de realidades distintas. Destaca-se a premência na definição de indicadores que reflitam o mais próximo possível a realidade social em que estamos inseridos. A necessária realização de diagnósticos que permitam o direcionamento preciso dos recursos públicos despendidos nas iniciativas governamentais na área social. As análises produzidas com base em indicadores sejam focadas nas localidades, evitando-se dados genéricos, que não expressem com clareza as especificidades de cada região. E, finalmente, que a ação do Poder Público deve ser pautada por metas a serem atingidas a curto, médio e longo prazos, e readequadas na medida em que a realidade exigir.

Outra proposta que encontrou eco em várias intervenções foi a de que o Poder Público deve evitar a sobreposição de programas nas diversas áreas já apontadas por parte da União, Estados e Municípios, e que estes, uma vez implantados, devam ter suas metas cumpridas independente da alternância do gestor público.

Cabe aqui ressaltar, que o Poder Público pode e deve trabalhar com os movimentos organizados da sociedade civil por meio de parcerias com o Terceiro Setor e com a Iniciativa Privada. Essas parcerias devem ser estimuladas e aperfeiçoadas no sentido de potencializar a ação estatal, embora sem substituí-la. Neste sentido, há carência nos instrumentos legais que orientam as parcerias com a sociedade, ora dificultando sua formação, ora permitindo desvios nos controles públicos. A Lei Federal nº 9.790/99, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) constitui um marco legal importante.

Na área da economia, por meio da Economia Popular Solidária, deve ser perseguida uma maior abrangência, eficiência e eficácia dos programas a serem implementados e uma maior efetividade das políticas nas comunidades alvo. Essa economia solidária, busca potencializar os empreendimentos autogestionados, de forma coletiva e participativa, pelos próprios trabalhadores produtores, permitindo o incentivo ao desenvolvimento de novas atividades econômicas, com fomento da economia local, proporcionando uma distribuição mais justa e eqüitativa da renda. Da mesma forma, essa economia estimula relações sociais de produção e consumo baseadas na cooperação, na solidariedade e na satisfação e valorização dos seres humanos e do meio ambiente.

O trabalho da Comissão de Responsabilidade Social no Setor Público, pretende constituir-se em um alerta aos gestores públicos sobre a

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necessidade de assumirem o compromisso de manter, ampliar e estabelecer políticas que garantam o processo e resultados de inclusão social. Ao mesmo tempo, a Comissão Especial apresenta algumas recomendações e ações à Mesa Diretora desta Casa, ao Poder Público e à União no sentido de contribuir concretamente para a resolução de nossas graves mazelas sociais visando ao cumprimento do disposto no art. 3º da Constituição Federal que dispõe sobre os objetivos fundamentais do País, a saber: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Por fim, tendo em vista o trabalho desenvolvido pela Comissão de Responsabilidade Social no Setor Público em suas múltiplas atividades e as contribuições colhidas das conferências, debates, reuniões e Grupo Técnico, elenca-se algumas recomendações a serem encaminhadas.

1) Para o Governo do Estado:

- que afirme as escolas públicas como ponto de partida para a implantação de centros articuladores de cooperação, participação, diálogo e conexão nas comunidades em que estão inseridas - Economia Privada, Economia Social - e instituições públicas no sentido de promover as economias locais;

- que intente todos os esforços para consolidar a formação de gestores sociais para a área pública;

- que promova Fóruns e Redes de cooperação multisetoriais cujas ações contribuam para o desenvolvimento sustentável;

- que atue para que as Cooperativas tenham acesso à linhas de crédito com juros mais baixos e para que tenham tratamento especial em matéria tributária;

- que sejam mantidos, aperfeiçoados e ampliados programas sociais existentes e em andamento;

- que os diversos órgãos estaduais busquem integrar suas ações e iniciativas de forma a evitar paralelismos e visando a melhorar o atendimento da sociedade;

- que seja adotado o anteprojeto de Lei -que estabelece normas voltadas à responsabilidade social na gestão pública estadual - oriundo das discussões desta Comissão Especial, como de iniciativa do Poder Executivo estadual;

- que sejam aperfeiçoados os mecanismos de aferição de indicadores sociais e adotadas as demais medidas necessárias à responsabilidade social na gestão pública, consoante proposta sugerida.

2) Para a Assembléia Legislativa do Estado:

- que lidere um amplo movimento nacional para que o governo federal crie um Sistema Único de Inclusão Social, que abranja os

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programas, projetos e ações desenvolvidos pela União, Estados e Municípios visando a evitar sobreposições e otimizar os recursos públicos;

- que promova uma ampla avaliação da experiência prática dos Conselhos de Políticas Públicas criados pela Constituição de 1988;

- que a Escola do Poder Legislativo promova e dissemine o conteúdo dos trabalhos da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público, assessore tecnicamente os Municípios e fomente a adoção das medidas previstas no anteprojeto de lei em anexo em nível municipal;

- que elabore uma legislação estadual sobre as organizações sociais do Terceiro Setor;

- que esse relatório seja encaminhado às Comissões Permanentes desta Casa, em face de sua competência regimental, para que contemplem as conclusões desta Comissão Especial em seus trabalhos.

3) Para o Governo Federal

- que o relatório seja encaminhado ao Ministro Chefe da Casa Civil, ao Ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES e à Ministra da Assistência e Promoção Social, tendo em vista a necessidade de integração da União, Estados e Municípios nos programas, projetos e ações na área social.

4) Para o Senado Federal

- que o relatório seja encaminhado para o Presidente do Senado Federal.

5) Para a Câmara Federal

- que o relatório seja encaminhado ao Presidente da Câmara, para as Comissões de caráter social e para os deputados com atuação na área.

Finalmente, recomenda-se que o Relatório Final desta

Comissão Especial seja encaminhado ao Poder Judiciário do Estado, ao Ministério Público Estadual, ao Tribunal de Contas e a todas as instituições e entidades públicas e privadas que contribuíram nos trabalhos do órgão, bem como aos palestrantes e demais convidados que prestigiaram as audiências públicas. Ivar Pavan Relator

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Relatório Final

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8 Anteprojeto de Lei

________________________________________

Projeto de Lei nº

Estabelece normas voltadas à responsabilidade social na gestão pública Estadual e dá outras providências.

CAPÍTULO I DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Art. 1º - São instituídas pela presente Lei normas voltadas à

responsabilidade social na gestão pública estadual, objetivando a promoção do desenvolvimento sustentável do Estado, nos termos do que dispõem os Títulos IV, VI ,e VII da Constituição Estadual e a Lei nº 11.931/03, que instituiu o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social – CODES.

§ 1º - A responsabilidade social na gestão pública estadual constitui-se na ação planejada e transparente do Poder Público Estadual, integrado com os Poderes Públicos Municipais e Federal, por meio de parcerias sociais com o Terceiro Setor e a Iniciativa Privada, visando a implementação de políticas públicas, planos, programas, projetos e ações eficazes e descentralizados, com base em diagnósticos atualizados, sistemas de acompanhamento, avaliação e prestação de contas permanentes, de modo a prevenir riscos e corrigir desvios, capazes de afetar o cumprimento das metas de melhoria dos indicadores sociais do Estado.

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§ 2º - As disposições desta Lei aplicam-se ao Poder Executivo, ao Poder Legislativo, ao Poder Judiciário, ao Ministério Público Estadual, ao Tribunal de Contas e à Administração Indireta.

Art. 2º – As políticas públicas nas áreas econômica, financeira,

social, ambiental e de infra-estrutura deverão pautar-se pelos padrões de responsabilidade social na gestão pública.

CAPÍTULO II DOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO SOCIAL Art. 3º - A gestão pública socialmente responsável utilizará os

seguintes instrumentos de planejamento social : I – Mapa Social: diagnóstico anual da realidade social do Estado, por

Município e região, levando em conta a mesma distribuição espacial prevista na Lei 10.283/94, que instituiu os Conselhos Regionais de Desenvolvimento – COREDES, com base em indicadores sociais relativos ao ano referência da prestação de contas governamental e ao ano imediatamente anterior para fins de comparação.

II – Cadastro Social : registro individualizado e atualizado do público alvo dos programas, projetos e ações sociais, resultantes da aplicação desta Lei.

III – Cadastro da Cidadania: cadastro com base municipal e regional, atualizado, especificado por área, de todas as organizações do Terceiro Setor, da Iniciativa Privada e dos Órgãos Públicos, envolvidos em ações sociais, cuja função será servir de instrumento para a organização e racionalização dos investimentos sociais, evitando a justaposição e maximizando o uso dos recursos disponíveis.

IV – Índice de Responsabilidade Social do Rio Grande do Sul – IRS-RS : índice elaborado com base municipal e regional, a partir de indicadores de resultados, esforços e participação social, das áreas que compõem o Mapa Social.

Art. 4°- Integrará o projeto de lei do Plano Plurianual previsto no

inciso I do artigo 149 da Constituição Estadual, em atendimento ao artigo 165, § 7º, da Constituição Federal, o Anexo Social Plurianual no qual serão estabelecidas as metas plurianuais de melhoria dos indicadores sociais contidos no Mapa Social e do IRS-RS.

Parágrafo Único - O Anexo Social plurianual conterá: I – avaliação do cumprimento das metas relativas ao período anterior,

bem como o resultado obtido; II - demonstrativo das metas plurianuais, instruído com memória e

metodologia de cálculo que justifique os resultados pretendidos e evidencie a sua consistência com as premissas e os objetivos sociais a serem alcançados.

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Relatório Final

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Art. 5º - Integrará o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Anexo Social Anual, em que serão estabelecidas as metas anuais de melhoria dos indicadores sociais contidos no Mapa Social e do IRS-RS.

Parágrafo Único - O Anexo Social Anual conterá: I – avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior,

bem como o resultado obtido; II - demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e

metodologia de cálculo que justifique os resultados pretendidos e evidencie a sua consistência com as premissas e os objetivos sociais a serem alcançados.

Art. 6º - Integrará o projeto de lei orçamentária anual o Anexo Social,

referido nos arts. 4º e 5º desta Lei, bem como a discriminação dos programas, projetos e ações a serem desenvolvidos para alcançar as metas estabelecidas, quantificadas financeira e fisicamente, sempre que possível.

Art. 7º– O estabelecimento das metas dos Anexos Sociais será

resultado de processo de participação da sociedade, por meio dos instrumentos definidos pelo Poder Público estadual.

Art. 8º - Até trinta dias após a publicação do Orçamento, nos termos

em que dispuser a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Poder Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução e de desembolso dos recursos públicos orçados para a consecução das metas.

CAPÍTULO III DOS INDICADORES SOCIAIS Art. 9º - Caberá a Fundação de Economia e Estatística Siegfried

Emanuel Heuser – FEE, a responsabilidade pela elaboração do Mapa Social e do IRS-RS.

Art. 10º – À Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel

Heuser – FEE, coordenará um Fórum, composto por representantes das diferentes Instituições e entidades da sociedade, para a definição dos indicadores mais apropriados a serem utilizados na elaboração do Mapa Social e do IRS-RS.

Art. 11º – A Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel

Heuser – FEE , poderá requisitar aos órgãos da Administração Direta e Indireta do Estado, às Concessionárias e Permissionárias do Serviço Público, os dados necessários à elaboração do Mapa Social e do IRS-RS.

CAPÍTULO IV DAS PARCERIAS SOCIAIS

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Art. 12º – O Poder Público promoverá parcerias sociais com organizações do Terceiro Setor e da Iniciativa Privada para a formulação, execução e fiscalização dos programas, projetos e ações voltados para a consecução das metas dos Anexos Sociais.

Art. 13º – Consideram-se parcerias sociais as formas de cooperação

entre o Poder Público, o Terceiro Setor e a Iniciativa Privada, que tenham por objetivo mobilizar e potencializar os recursos humanos, financeiros e de conhecimento de que dispõem e executar de forma articulada e complementar, programas, projetos e ações compartilhadas e descentralizadas.

Art. 14º – Para a consecução das parcerias sociais de que dispõem

os arts. 12 e 13 desta Lei, o Poder Público assegurará a participação dos Conselhos de Políticas Públicas na avaliação dos resultados, o acesso a qualquer cidadão ao relatório de atividades e às sanções previstas na legislação no caso de mau uso dos recursos públicos.

Art. 15º – O Poder Público estabelecerá mecanismos de integração

das esferas municipal, estadual e federal, visando eliminar as sobreposições e otimizar a aplicação dos recursos públicos disponíveis.

Art. 16º - O Poder Público estimulará o desenvolvimento do

empreendedorismo social, mediante parcerias com organizações do Terceiro Setor e da Iniciativa Privada.

Art. 17º – O Poder Público lançará Edital, quando necessário, para a

seleção de organizações do Terceiro Setor e da Iniciativa Privada, com o objetivo de promover as parcerias sociais previstas nesta Lei .

CAPÍTULO V DA TRANSPARÊNCIA SOCIAL Art. 18º - O Chefe do Poder Executivo encaminhará anualmente à

Assembléia Legislativa, como parte integrante da Prestação de Contas, de que trata o inciso XII do artigo 82 da Constituição Estadual, o Balanço Social do Estado.

Parágrafo Único - Fica instituído o dia 15 de Abril de cada ano, como o Dia da Prestação de Contas, quando o Chefe do Poder Executivo apresentará à Assembléia Legislativa o Balanço Social do Estado.

Art. 19º – O Balanço Social do Estado é o instrumento de prestação

de contas anual, que conterá o relatório circunstanciado dos resultados sociais alcançados no exercício anterior, tendo por base as metas do Anexo Social e a execução dos programas, projetos e ações constantes do Orçamento para alcançá-las.

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Relatório Final

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Parágrafo único – Nos casos de não atingimento das metas do Anexo Social, o Poder Executivo proporá medidas corretivas a serem incorporadas à Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Art. 20º - O Balanço Social ficará disponível, durante todo exercício,

na Assembléia Legislativa do Estado e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.

Parágrafo único - Ao Balanço Social será dada ampla divulgação, inclusive em meios digitais.

Art. 21º – Aos responsáveis pelos Entes Públicos e programas que,

segundo o Balanço Social , obtiverem destacado desempenho, serão conferidos, anualmente, pela Assembléia Legislativa, Certificados de Responsabilidade Social pelo esforço em prol da melhoria das condições sociais no Estado.

Parágrafo Único – O Poder Executivo oferecerá cooperação técnica e financeira aos Entes Públicos que obtiverem Certificados de Responsabilidade Social.

Art. 22º – Fica instituído, no âmbito do Conselho Estadual de

Desenvolvimento Econômico, Social – CODES, o Cadastro de Inadimplentes Sociais do Estado.

Art. 23º – O Cadastro de Inadimplentes Sociais do Estado é

constituído pelos Entes Públicos que se omitirem na prestação de informações para a elaboração do Mapa Social do Estado e do IRS-RS ou não implementarem as medidas previstas na presente Lei .

Parágrafo 1° - Os Entes Públicos referidos no caput ficarão impedidos de estabelecer parcerias com o Poder Executivo enquanto persistir a pendência.

Parágrafo 2º - O CODES poderá suspender, por prazo não superior a 180 (cento e oitenta) dias, a inclusão de ente público no Cadastro de Inadimplentes Sociais do Estado, desde que este se comprometa formalmente a fornecer os dados devidos em prazo razoável, a ser determinado, e adotar as medidas previstas na presente Lei.

CAPÍTULO VI DAS DISPOSICÕES GERAIS Art. 24º – Fica criada a Escola de Gestão Pública, no âmbito da

Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS , em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos – FDRH, voltada para a capacitação de servidores públicos, mediante cursos de aperfeiçoamento e atualização profissional.

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Art. 25º - Fica instituído o Programa de Voluntariado Social dos Servidores Públicos Inativos para cooperar na realização de planos, programas, projetos e ações, necessários à implementação desta Lei.

Art. 26º - Será de responsabilidade do Conselho Estadual de

Desenvolvimento Econômico e Social do Estado – CODES, o acompanhamento e fiscalização do cumprimento da presente Lei, sem prejuízo dos controles interno e externo legalmente definidos, assim como a elaboração, manutenção e atualização do Cadastro Social referido no inciso II do art. 3º desta Lei.

Art. 27º – A elaboração do Cadastro da Cidadania, previsto no inciso

III do art. 3º desta Lei, será de responsabilidade da Secretaria de Coordenação e Planejamento.

Art. 28º – As despesas decorrentes da execução desta Lei correrão a

conta das dotações próprias consignadas no Orçamento do Estado. Art. 29º – Esta Lei será regulamentada, no que couber, no prazo de

noventa ( 90 ) dias. Art. 30º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação,

passando a gerar seus efeitos a partir do exercício de 2004.

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Relatório Final

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9 Responsabilidade Social no Setor Público: Um Caminho Para a Democracia

_______________________________________ Contextualização Histórica

É bem possível que enquanto este documento é lido, um diálogo intenso esteja ocorrendo em tempo real, entre pessoas localizadas em cinco continentes diferentes. Como exemplo, podemos imaginar que Porto Alegre, Nova York, Paris, Cairo, Moscou e Tóquio estão conectadas através dos computadores de três cidadãos e três cidadãs, sob fusos horários diferentes e que, via internet, conversam em inglês, cinco deles auxiliados por um dispositivo que, se necessário, traduzirá, automaticamente, alguma palavra mais difícil escrita pelo norte-americano. Estamos, com efeito, diante de uma situação inimaginável há pouco mais de quinze anos e que ilustra o quanto as dimensões tempo/espaço se aproximaram, abrindo possibilidades infinitas de interação e cooperação social.

Nossos seis internautas são capazes de abordar qualquer assunto e estão acostumados a aplicar a psicologia à sociologia, estas à história e à filosofia, quando não combinam também conhecimentos de física, antropologia e economia. Fazem isso não porque são mestres ou doutores ou superdotados, mas porque a oferta de informações nos meios eletrônicos, na imprensa, nas revistas, nas edições populares de literatura clássica, nas organizações não governamentais em que atuam os qualificam como membros de uma sociedade mais “reflexiva, energizada e inteligente”, avessa ao conformismo e à tradição e sempre disposta a efetuar juízos de valor, iniciar projetos e fazer escolhas.

Educados em matrizes históricas e culturais diferentes, falando línguas que condensam os significados da realidade com sentimentos e percepções distintas; donos de uma memória histórica natal muito peculiar, cada um deles tem entre suas relações familiares ou de amigos - ou entre

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eles mesmos - casos de famílias mistas, onde convivem pais, madrastas , enteados e filhos do novo casamento ou vice-versa, numa arquitetura familiar inadmissível ou pouco tolerável, a depender do país, há vinte e cinco anos atrás e que é um repto à tolerância , convivência e aos padrões de segurança psicológica de crianças e adolescentes. Provável, também, que boa parte dessas famílias sejam ou chefiadas ou tenham sua liderança compartilhada por mulheres.

Da mesma forma, os temas que os mobilizam, os motivam a participar de listas virtuais de discussão e de organizações civis são aqueles que tratam da garantia de direitos, proteção ambiental, responsabilidade social e combate à fome e à violência. Todos eles assinaram os manifestos contra a execução por apedrejamento de uma nigeriana, acusada de adultério, pela ratificação do Protocolo de Kyoto e instalação do Tribunal Penal Internacional, assim como buscam e trocam informações a respeito de organização , projetos e financiamento de entidades não governamentais.

Entre nossos seis internautas, talvez todos tenham nas suas relações de amizade ou familiares – ou mesmo no meio deles - pelo menos um portador do vírus do HIV, doença que há vinte anos aterrorizou o mundo pela sua capacidade de propagação e de morte. Hoje, com ela convivem milhões de seres humanos, levando uma vida relativamente normal, graças ao avanço nas pesquisas e descobertas de novos medicamentos e tratamentos médicos. Doenças tão virulentas como a AIDS ceifaram em torno de trinta milhões de vidas na Europa nos séculos XIII e XX, como foi o caso da peste bubônica e da gripe espanhola.

Mas existem outras identidades entre aqueles que teclam em Porto Alegre, Nova York, Paris, Cairo, Moscou e Tóquio. Poitiers, na França, é o berço das Tecnópoles, assim como o Vale do Silício, na Califórnia norte-americana serve de modelo para a alta tecnologia. De forma semelhante, Caxias do Sul, no sul do Brasil , apresenta um Índice de Desenvolvimento Sócio-Econômico (IDESE) de 0,831, numa escala de 0 a 1 e São Petersburgo, na Rússia, é um rico centro de turismo cultural e que abriga o maior museu de arte contemporânea do mundo. Por sua vez, Kyoto, no Japão, é uma cidade de economia dinâmica, com uma população com alto grau de solidariedade, enquanto o Cairo, no Egito, é uma metrópole que exporta tolerância religiosa e cultural para todo o mundo muçulmano. Todos são exemplos de desenvolvimento local, com processos históricos , características e esferas de abrangência diferentes – econômicas, sociais, culturais, ambientais - e se constituem em casos emblemáticos dentro de cada nação. Mas todos foram possíveis pela climatização de seus territórios na temperatura propícia ao acúmulo de capital social, conceitos que aprofundaremos ao longo deste relatório.

Paralelo a esta realidade que se expande pelas telas de cristal líquido, uma outra localiza/globaliza as preocupações e ações de nossos seis internautas, mesmo que em graus diferentes. Coexistem com eles grossos bolsões de exclusão social, onde proliferam doenças modernas e outras consideradas contidas ou erradicadas como a tuberculose e a lepra.

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Relatório Final

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Ambientes onde o racismo, a xenofobia e todo tipo de intolerância e violência vicejam e as mais simples conquistas da humanidade não são oferecidas às comunidades : educação, saúde, saneamento, moradia e alimentação, cultura e lazer.

Como se não bastasse, Brasil, EUA, França, Egito, Rússia e Japão apresentarão em 2003 baixa taxa de crescimento do PIB e altas taxas de desemprego, respectivamente, 1,5% e 12,8%; 2,4% e 5,8%; 1,1% e 8,7%; 1,3% e 13%; 1,5% e 8,0%; 1,5% e 5,4%.

Por todas as razões acima, prospera em parcelas significativas das comunidades destes países a desconfiança em relação à capacidade do Estado de resolver com rapidez e eficácia seus problemas. Acumulam-se sentimentos negativos a respeito da política e dos políticos e da democracia é exigido, permanentemente, que justifique sua atualidade. Pois, via de regra, nos países dos nossos internautas e espalhados por seus continentes, é recorrente a obsolescência das instituições clássicas da democracia, de suas instâncias decisórias quando confrontadas com as demandas sociais, com a velocidade exigida para o seu atendimento e mesmo com a efetividade dos resultados obtidos pelas ações públicas, quando elas ocorrem.

Deixemos de lado agora nossos internautas e façamos algumas reflexões, salientando que mesmo possuindo inúmeras identidades globais, eles têm a consciência de que seus problemas nacionais e municipais só serão resolvido com soluções locais.

Um dos mais importantes resultados que a Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público alcançou foi a conquista de um novo nível de cognição acerca do mundo contemporâneo. Com efeito, o mundo no qual o Estado e seus Poderes se referenciam não mais existe, embora sua arquitetura ainda seja capaz de propagar seus velhos vícios e suas fortalezas ideológicas sofistiquem e justifiquem seus erros e limites. Por outro lado, foi possível compreender a razão do crescente estranhamento e insatisfação da sociedade emergente quando se depara com a fragmentação dos esforços e investimentos públicos, com o desperdício de recursos, com a lentidão na tomada de decisões, além do ambiente corporativo pouco inclinado à criatividade e ao risco.

Comparativamente, se a nova sociedade se organiza em rede, compartilha informações, é flexível e exerce relações horizontais, o velho Estado está assentado na hierarquia, na verticalidade e seus agentes públicos fazem do segredo, da burocracia – do obstáculo à comunicação e aprisionamento da informação - a condição do exercício do poder.

De outra parte, se a nova sociedade descentraliza suas esferas de planejamento e de execução, outorgando responsabilidade a cada célula de suas organizações e assim se aproximando cada vez mais das identidades de cada comunidade, o velho Estado centraliza todas suas operações, suprime a liberdade de seus agentes e simplifica a realidade, aplicando medidas gerais para contextos específicos, ou seja, descontextualizando seus projetos e tornando-os inócuos.

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O mesmo paradoxo encontramos quando analisamos a capilaridade do Estado e da nova sociedade. O primeiro teme que a cooperação do tecido vivo da sociedade esvazie seu papel de agente articulador e provedor, enquanto a segunda estimula relações cooperativas para captar a pluralidade cultural, trocar informações e produzir novos conhecimentos e práticas inovadoras, embora seja preciso reconhecer que setores dela ainda desconfiem do poder de manipulação e cooptação da esfera estatal.

Está claro que o paradigma fundador do Estado Nação moderno e dos seus Poderes está esgotado. Modelo importante num momento histórico específico e criador de identidades sociais, culturais, lingüísticas e territoriais – foi sustentado, por um lado, na centralização e controles sociais coercitivos e, por outro, num arcabouço de saberes fragmentados, concernentes a uma etapa de desenvolvimento das ciências que igualava os processos humanos aos naturais e marginalizava as diferenças.

Vivemos, portanto, a emergência de um novo paradigma estruturante das relações políticas, econômicas e sociais, conquanto ele ainda não tenha forjado uma arquitetura pública à altura de seus desafios. Trata-se de um paradigma permeável, flexível e suscetível às inovações proporcionadas pelas relações cooperativas, de soma (e, e...) e refretário aos pré-conceitos , à exclusão (ou, ou...).

A partir de agora, este documento procurará sistematizar os conceitos manejados na Comissão Especial , estando longe de pretender esgotar este processo de aprendizado ou oferecer fórmulas acabadas à nova sociedade e, sobretudo, aos Poderes Públicos. Elementos para uma Governança Social Solidária 1 – O CONTEXTO LOCAL

Os números frios das estatísticas nos apresentam um Rio Grande do

Sul dono da melhor qualidade de vida do país. Como na velha ciência, a média nos esconde as especificidades locais dos gaúchos.

Em números absolutos, nosso Estado alcança um Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) de 0,809, numa faixa estabelecida pela Organização das Nações Unidas que vai de zero (baixo desenvolvimento) a um (alto desenvolvimento). Contudo, dos 497 municípios gaúchos, 214 – quase a metade – encontram-se com IDH abaixo da média estadual. Subjazem a isso, outras características comuns a estes municípios : “baixo compromisso da comunidade com o desenvolvimento municipal; individualismo excessivo; baixo empreendedorismo local; medo das mudanças; pouca participação das pessoas da comunidade nas ações e eventos locais; uma vocação agrícola pela monocultura; pouca disponibilidade de recursos para investimentos; a falta de políticas públicas e a falta de novas lideranças.”

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Coincidentemente, trabalho realizado pelo Banco Mundial em 192 países com o intuito de entender as razões da diferença de crescimento econômico entre eles revelou o seguinte : “16% se explicam pelo capital físico, maquinaria e infra-estrutura física; 20% pelos recursos naturais e 64% são atribuídos ao capital humano e social.”

Recentemente, também, a Fundação de Economia e Estatística divulgou o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) dos municípios do Rio Grande do Sul para o ano de 2000, agregando quatro blocos de indicadores :

- Domicílio e Saneamento : proporção de domicílios abastecidos com água tratada (peso 0,5), proporção de domicílios atendidos pela rede geral de esgoto ou pluvial (peso 0,4) e média de moradores por domicílio (peso 0,1).

- Educação : taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais de idade (peso 0,35), taxa de evasão no ensino fundamental (peso 0,25), taxa de reprovação no ensino fundamental (peso 0,20) e taxa de atendimento no ensino médio (peso 0,20).

- Saúde : percentual de crianças nascidas com baixo peso, taxa de mortalidade de menores de 5 anos e expectativa de vida ao nascer, com participações iguais (um terço cada).

- Renda : Produto Interno Bruto per capita e Valor Adicionado Bruto per capita do Comércio, Alojamento e Alimentação, com pesos iguais (0,5 cada).

Por este índice, a exemplo do IDH, os municípios podem ser classificados em três grupos : baixo desenvolvimento (índices até 0,499); médio desenvolvimento (entre 0,500 e 0,799) e alto desenvolvimento (maiores que 0,800). Os resultados apresentados não só confirmam o que foi afirmado anteriormente, mas tornam cristalina uma realidade multifacetada, regionalmente desequilibrada e localmente singular.

O índice total do Estado é de 0,751, que se distribui da seguinte forma pelos blocos : educação, 0,834; renda 0,757; saneamento e domicílios 0,562 e saúde, 0853. Numa análise tradicional poderíamos supor que o IDESE confirmou nossa excelente qualidade de vida, e bastaria um incremento da intervenção pública na área de saneamento para que ficássemos tranqüilos. É aqui que devemos exercitar nosso novo olhar sobre a realidade e complexificá-la, ou seja, observá-la sob diferentes aspectos e abordar seus diversos elementos e partes, enfim, suas identidades.

Levando em conta os resultados do Estado, Domicílios e Saneamento – proporção de domicílios abastecidos com água tratada, atendidos pela rede geral de esgoto ou pluvial e média de moradores por domicílio - revela-se, como vimos, o pior bloco, encontrando-se nesta situação 89 municípios com índices inferiores a 0,200.

Vale destacar que “segundo o IDESE global, o conjunto dos 20 primeiros municípios classificados abrange 29% da população do Estado e contempla apenas cinco municípios (de um conjunto de 17) com mais de 100 mil habitantes – Caxias, Canoas, Porto Alegre, Santa Maria e

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Cachoeirinha - e observe-se que apenas quatro municípios - (Caxias do Sul, Porto Alegre, Vacaria e Garibaldi) - entre os 20 primeiros apresentam no Bloco de Domicílio e Saneamento índices superiores a 0,700.

Feita esta introdução, aprofundemos a análise da situação do Rio Grande do Sul, revelada pela Fundação de Economia e Estatística, através do Índice de Desenvolvimento Sócio-Econômico e que é mais um reforço ao trabalho que a Assembléia Legislativa desenvolveu quando dos trabalhos da Comissão Especial de Desigualdades Regionais.

Enquanto as regiões da Serra , Metropolitano e Delta do Jacuí e Vale do Rio dos Sinos apresentam , pela ordem um IDESE de 0,799 , 0,787, 0771 e figuram em primeiro , segundo e terceiros lugares, respectivamente, entre as vinte e duas regiões do RS, o Litoral, Vale do Rio Pardo e Médio Alto Uruguai ocupam as três últimas posições com IDESE 0,696, 0,686 e 0,655, muito abaixo dos primeiros colocados e próximos da faixa de desenvolvimento considerado médio.

Entretanto, quando analisamos as mesmas regiões, sob o impacto específico dos quatro blocos de indicadores analisados, algumas posições se invertem dramaticamente:

- Serra : Em Educação e Renda cai para o segundo lugar, com 0,854 e 0,793. Em Saneamento e Domicílios mantém o primeiro lugar, embora com um resultado bem pior do que o absoluto, 0,685 e em Saúde despenca para o nono lugar com 0,864.

- Metropolitana e Delta do Jacuí : Em Educação cai para o sexto lugar com 0,844. Em Renda cai para o terceiro lugar com 0,782. Em Saneamento e Domicílios mantém a segunda colocação com 0,683 – abaixo do índice absoluto e em Saúde despenca para o décimo nono lugar, com 0,841.

- Vale do Rio dos Sinos : Despenca em Educação para o décimo terceiro lugar, com 0,828. Em Renda pula para o primeiro lugar com 0,845. Em Saneamento e Domicílios volta a cair para o oitavo lugar com 0,554, ficando muito próxima do limite que separa médio e baixo desenvolvimento. E em Saúde experimenta sua maior queda, ocupando o décimo segundo lugar, com 0,857.

Vejamos agora o comportamento das regiões que ocupam os três último lugares no IDESE geral:

- Litoral : Em Educação ganha três posições, é a décima nona região, com um IDESE de 0,818. Em Renda mantém o vigésimo lugar, com 0,669. Em Saneamento e Domicílios sobe para o décimo oitavo lugar, com 0,420, já ocupando a faixa de baixo desenvolvimento e em Saúde salta para o quinto lugar, com 0,696.

- Vale do Rio Pardo : Em Educação ganha uma posição, com 0,804. Em Renda dispara para a décima segunda posição, com 0,711. Em Saneamento e Domicílios volta a cair para a vigésima primeira posição, com um índice de 0,384, já bem dentro da faixa de baixo desenvolvimento, e em Saúde sobe para a décima sétima posição, com 0,844.

- Médio Alto Uruguai – Em Educação ganha uma posição, com um IDESE de 0,801. Em Renda, mantém a vigésima segunda posição, com

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0,638. Em Saneamento e Domicílios revela baixo desenvolvimento, com dramáticos 0,298 e em Saúde salta para a terceira posição, com 0,883.

Aproximemos nosso olhar para identidades mais locais e confirmaremos o quanto é necessário um projeto de desenvolvimento a partir da menor unidade territorial.

Entre os vinte primeiros municípios classificados no IDESE, destacam-se, nos primeiros quatro lugares, pela ordem, os municípios de Caxias do Sul, Canoas, Esteio e Porto Alegre, com índices absolutos de 0,831, 0,822, 0,816 e 0,812, respectivamente. Por outro lado, entre os últimos vinte municípios figuram nas últimas quatro posições Esperança do Sul, Monte Alegre dos Campos, Lajeado do Bugre e Benjamin Constant do Sul, com IDESE de 0,529, 0,528, 0512, 0,496, respectivamente. Quando abordamos os quatro blocos de indicadores separadamente, a realidade é a seguinte:

- Caxias do Sul : Em Educação despenca para a nonagésima sétima posição, com 0,853. No bloco de Renda ocupa a décima primeira posição, com 0,813. Em Saneamento e Domicílios, lidera no geral com 0,814 e em Saúde, passa a ocupar a espantosa tricentésima sexagésima quinta posição, com 0,843.

- Canoas : Em Educação despenca para a centésima sexagésima nona colocação, com 0,839. Em Renda, lidera com 0, 943. Em Saneamento e Domicílios cai para a décima oitava posição, com 0,658 e em Saúde também espanta com a tricentésima trigésima nona posição, com 0,849.

- Esteio : Em Educação ocupa a quadragésima posição, com um IDESE de 0,871. Em Renda lidera e é o terceiro colocado, com 0,898. Em Saneamento e Domicílios, cai para a trigésima posição, com 0,625 e em Saúde, despenca para a centésima nonagésima segunda colocação, com 0,872.

- Porto Alegre : Em Educação, a capital gaúcha ocupa a octogésima quarta posição, com 0,858. Em Renda, é o décimo quinto município do Estado, com 0,808. Em Saneamento e Domicílios, é o terceiro, com 0,742 e em Saúde sua posição é surpreendente : tricentésima septuagésima terceira, com 0,840.

Vejamos agora o desempenho dos últimos quatro municípios em relação ao universo dos vinte primeiros classificados pelo IDESE :

- Esperança do Sul : Em Educação é o septuagésimo quinto, com 0,861. Em Renda, é o quadrigentésimo sexagésimo sétimo (467), com 0,367 . Em Saneamento e Domicílios é o quadrigentésimo quadragésimo segundo, com 0,054 – um baixo desenvolvimento muito próximo do zero - e em Saúde é o quadrigentésimo quarto, com 0,835. Todos seus índices estão na faixa do baixo desenvolvimento.

- Monte Alegre dos Campos : Em Educação, ocupa a tricentésima nonagésima posição, com 0,785. Em Renda, a quadrigentésima sexagésima quinta, com 0,367. Em Saneamento e Domicílios, a quadrigentésima décima quarta, com 0,829 e em Saúde, a quadrigentésima vigésima sexta, com 0,825.

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- Lajeado do Bugre : Em Educação, ocupa a quadrigentésima sexagésima quinta posição, com 0,720. Em Renda, a quadrigentésima quinquagésima sexta, com 0,452. Em Saneamento e Domicílios, a quadrigentésima quinquagésima primeira, com 0,051 – muito próximo do zero – e em Saúde, a quadrigentésima vigésima sexta, com 0,825.

- Benjamin Constant do Sul – Em Educação, ocupa a quadrigentésima trigésima sétima posição, com um IDESE de 0,760. Em Renda, a quadrigentésima sexagésima sexta, com 0,368. Em Saneamento e Domicílios, a quadrigentésima sexagésima sétima, com 0,038 – muito próximo do zero – e em Saúde, a quadrigentésima quadragésima quinta, com 0,818.

Este pequeno exercício, se por um lado nos confirma diagnósticos já realizados e os problematiza, por outro, tal qual uma lupa, nos aproxima de detalhes da máxima relevância. Está claro que o Rio Grande do Sul é um Estado com graves desequilíbrios. Ele se revela no interior dos Municípios, entre Municípios e regiões vizinhas, de norte a sul, onde a concentração de renda é quase uma regra. Devemos nos perguntar a razão do Vale do Rio Pardo e da região Metropolitana Delta do Jacuí apresentarem uma Renda tão significativa e abrangerem municípios de alta acumulação de Capital Social e, ao mesmo tempo, conviverem nos seus limites com outras comunidades tão carentes de serviços públicos básicos e de atividade econômica tão modesta. Da mesma forma, como explicar que a Saúde apresente, no Estado, em geral, índices tão robustos, mesmo nos municípios mais retardatários na mesma medida em que Domicílios e Saneamento represente um largo déficit – puxando o IDESE absoluto para baixo no RS – quando sabemos da importância do tratamento da água e do esgoto na prevenção de doenças?

Esta é, pois, parte da realidade que a Comissão Especial de Responsabilidade Social no Poder Público da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul começa a desvendar e, ao mesmo tempo, procura eixos de atuação e ferramentas adequadas para transformar. Some-se a isso a difícil situação financeira do governo gaúcho, o endividamento da esfera federal, a inadequabilidade da arquitetura pública e podemos concluir o quanto é enorme o desafio a que nos propusemos em conjunto com a nova sociedade.

2 – A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Responsável é aquele que responde pelos próprios atos ou pelos de

outrem, assim como responde legal ou moralmente pela vida, pelo bem-estar de alguém. Para efeitos do nosso trabalho, devemos agregar a esta definição a de responsabilidade moral : situação de um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente.

Social é aquilo que interessa à sociedade, que é próprio de uma comunidade ou agremiação.

Um cidadão ou uma cidadã que atuam orientados pela responsabilidade social adotaram uma atitude que não diz respeito ao

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pragmatismo, aos interesses de um grupo ou de outro, às necessidades de uma ideologia, às determinações parentais, às condicionantes empregatícias. A atitude socialmente responsável é uma opção voluntária, consciente, voltada para o conjunto – à comunidade – e tolerante com as diferenças.

Mais do que tudo, responsabilidade social é um conceito/valor promotor, a saber, do latim promovere, “mover para adiante”, que fomenta, determina, trabalha a favor de, favorece o progresso de.

Numa comparação com o conceito/valor dos direitos humanos – com o qual muitas vezes se confunde a responsabilidade social – esta é, a rigor, uma atitude guardiã, importantíssima para a não violação dos direitos, mas que opera na esfera da manutenção. Em verdade, a responsabilidade social promove, “move para adiante” os direitos humanos, agregando-os em práticas sociais, políticas, econômicas e culturais e lhes dando um valor quantificável nas interações sociais.

Quando dizemos que uma empresa é socialmente responsável, sabemos que ela promove o crescimento de seus funcionários e o desenvolvimento de suas capacidades, investe nas comunidades onde atua, emprega setores vulneráveis de nossa sociedade, disseminando a solidariedade e a cooperação. Esta cultura se dissemina de tal maneira que é pouco provável que produtos oriundos de empresas que se utilizam de mão de obra infantil ou trabalho escravo encontrem mercados para comercializá-los, em especial, no comércio internacional.

Se classificamos entidades não governamentais como cidadãs, estamos qualificando-as como promotoras da preservação do meio ambiente, da recuperação do patrimônio histórico de uma comunidade, da educação popular, da inclusão digital, da segurança alimentar e uma multiplicidade de práticas sociais. É pouco provável que nesse meio sobrevivam, por muito tempo, entidades filantrópicas que existam somente para parasitar recursos públicos.

Portanto, a responsabilidade social, por ser essencialmente promotora, é a base sobre a qual poderá prosperar um ambiente propício a acumulação de capital social, necessário ao desenvolvimento sustentável.

3 – UM AMBIENTE CLIMATIZADO

Se há uma lição positiva que o capital financeiro especulativo

globalizado nos ensinou, esta é que não há possibilidade de ganhos em ambientes sociais desfavoráveis. No caso específico dos nossos trabalhos, aprendemos que são poucas as possibilidades de promoção da cooperação, da solidariedade e do desenvolvimento sustentável, num ambiente social marcado pela intolerância, seja ela política, ideológica, religiosa, etc. A ausência de um ambiente de confiança entre os atores sociais é impeditiva para as trocas humanas e materiais.

Portanto, creio que o ambiente que trabalhamos nesta Comissão Especial deve levar em conta os seguintes requisitos:

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a) Capital Social Durante muito tempo foi hegemônica no Brasil a idéia de que primeiro

“era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo”. Este entendimento orientou a área econômica de vários governos, para os quais o acúmulo de capital geraria uma quantidade de riquezas que proporcionaria o acesso dos brasileiros à educação, saúde, habitação, saneamento, bens culturais, levando-os a fruir de suas capacidades individuais. Ledo engano.

Está suficientemente demonstrado que o Capital Econômico “não se acumula e reproduz sustentavelmente em ambientes onde não exista um estoque suficiente de Capital Social.” Este pode ser definido, ainda que parcialmente, como a mobilização num mesmo território ou numa mesma comunidade de fatores materiais, psicológicos, naturais, morais, éticos e cívicos e que se retroalimentam de forma sistêmica, através de conexões horizontais. Na sua forma idealizada, o Capital Social pode criar um ambiente onde as condições para uma efetiva igualdade de oportunidades estão muito próximas do alcance dos indivíduos.

As conexões horizontais mencionadas , também chamadas de “laços fracos”, por serem desinteressadas ( não remuneradas ou lucrativas ) e não se determinarem pelo parentesco ou pelas relações de poder dominantes, estão estruturadas em rede e se orientam a partir de valores e objetivos comuns.

Neste sentido, “qualquer organização humana só existe na medida em que as pessoas nela envolvidas tenham um projeto comum, se relacionem de uma determinada maneira estável, compartilhem valores e crenças” e isto chama-se cooperação.

Cooperar é, portanto, operar ou obrar simultaneamente; trabalhar em comum; cooperar para o bem público e em trabalhos de equipe. Num ambiente onde as relações se dão de forma vertical, baseadas na subordinação do outro e a este não é dada liberdade de tomar iniciativas e assumir responsabilidades, está inviabilizada a gestação do Capital Social.

Por outro lado, para que o Capital Social “seja gerado, acumulado e reproduzido” é mister que os indivíduos de um território ou de uma comunidade estejam plugados, que as informações e os conhecimentos que eles produzam sejam acessíveis a todos, rompendo a cultura burocrática do segredo como suposta fonte de poder e que todos estejam capacitados a arriscar uma iniciativa, saber planejá-la e avaliar seus resultados em parceria. . Isto poderá propiciar o aparecimento não de um líder, mas de vários simultaneamente. Isto chama-se rede e rede é entrelaçamento, só possível através da cooperação.

A climatização do ambiente propício para a acumulação de capital social aproxima-se da sua melhor temperatura com a soma de cooperação, organização em rede e democracia. Quanto mais refratária uma comunidade à participação no espaço público para planejar e executar os destinos coletivos e consensuar seus conflitos, menor sua “possibilidade de gerar, acumular e reproduzir em escala ampliada o Capital Social.”

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Todo o ser humano sonha, cria , possui impulso inovador e inúmeras capacidades latentes, que fazem parte do seu Capital Humano e que, a exemplo do Capital Social, é fundamental para o desenvolvimento. Ele precisa, entretanto, de oportunidades para o seu exercício e isto chama-se empreendedorismo, que é a busca do conhecimento e dos saberes para a concretização do talento imaginativo.

Cumpre chamar a atenção sobre um aspecto que me parece muito importante, tendo em vista a centralidade que a questão social adquiriu na agenda nacional. Muitas vezes corremos o risco de inverter os fatores da proposição simplista do “crescimento do bolo.”

É como se passássemos a pensar: “o bolo do Capital Social precisa primeiro crescer para que as capacidades humanas acumuladas passem a dividir a riqueza”. Por pressuposto, deveríamos perguntar : Que riquezas?

Como já foi visto no decorrer deste documento, a simplificação do pensamento e, por óbvio, da realidade, corresponde ao velho paradigma configurador das instituições modernas. O olhar epistemológico da sociedade o flagrou fragmentando os saberes nas Universidades e na ciência, com determinantes repercussões na arquitetura pública. Quando uma autoridade pública da área econômica afirma que “o social não é comigo” está reproduzindo, automaticamente, o velho paradigma. Por óbvio, se o mesmo entendimento ocorrer na área social em relação à econômica, a fragmentação será a regra em todo o governo.

Quando falamos de acúmulo de Capital Social estamos descortinando uma realidade onde o desenvolvimento dos recursos materiais e humanos são simultâneos, operando na dinâmica de um território comunitário sem pausas entre um e outro. A rigor, estamos compreendendo que o desenvolvimento é, a um só tempo, ecônomico e social. Um desenvolvimento sustentável.

b) Economia Social Neste universo, ainda encontramos um fenômeno que é próprio da

nova sociedade. São as organizações não governamentais que se definem como pertencentes à esfera da Economia Social, mas cuja radiografia ainda está longe de ser realizada, à diferença do que ocorre entre as empresas cidadãs.

Segundo pesquisa do Comitê Brasileiro do Ano Internacional do Voluntariado, existem 38 milhões de pessoas envolvidas em alguma atividade social voluntária no Brasil. Não há um levantamento específico para o RS, embora seja uma pista relevante o número de 26 mil voluntários inscritos na organização Parceiros Voluntários.

No mesmo sentido, o IPEA divulgou em 2001 que no ano de 1999 a Ação Social das Empresas no Brasil alcançava um volume de investimentos da ordem de 4,7 bilhões de reais, na qual o RS contribuía com uma fatia de 124,8 milhões. Por sua vez, a GIFE estima que seus 62 associados – 33 Fundações, 21 Institutos e 8 Empresas - investem anualmente 650 milhões de reais.

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Se imaginarmos o crescimento do número de instituições ligadas à Economia Social, o volume de recursos que movimentam e os múltiplos laços que suas redes possuem na sociedade brasileira e gaúcha, podemos compreender a urgência da capacitação da esfera pública para exercer seu papel de articuladora de parcerias e planejadora do investimento social que se dá, invariavelmente, de forma irracional e cujos programas concorrem entre si, sejam eles públicos ou oriundos das empresas e entidades cidadãs.

Por outro lado, muitas das entidades que movimentam a Economia Social enfrentam dificuldades para darem o salto da filantropia para o investimento social planejado. Creches, associações de moradores, sindicatos, clube de mães e mesmo outras organizações do Terceiro Setor sem fins lucrativos ainda trabalham sem “planejamento, gerenciamento dos recursos e acompanhamento dos resultados” e, sobretudo, concorrem entre si, quando o mais adequado, eficaz e econômico seria que atuassem em rede. O resultado é que acabam por atender problemas imediatos e agudos, mas não operam para alterar substancialmente a realidade do indivíduo.

A causa mais profunda destas dificuldades, talvez seja o fato de não se assumirem como unidades econômicas e, como tal, terem necessariamente que assegurar sua viabilidade e sustentabilidade para, assim, poderem cumprir seu papel no desenvolvimento e na mudança social.

c) Comunicação Dialógica Vários pensadores já indicaram que sistemas fechados tendem a

autodestruição. A impermeabilidade à inovação, à auto-avaliação, à revisão de valores, conceitos e condutas é o caminho mais curto, também, para a alienação. Mais grave ainda, esta impermeabilidade ao “mundo exterior”, seja por ignorância, condicionantes da tradição ou parental ou ainda por defesa ideológica e de interesses , conduz o indivíduo – ou um grupo social – à falsificação da realidade para enquadrá-la no seu sistema de entendimento das coisas.

Poderíamos recorrer aqui à imagem de um hospital, onde a concentração de agentes de doença é tão densa que mesmo um controle asséptico de última geração não é capaz de evitar os ataques de infecções graves aos seus doentes.

No plano da organização política e social, o socialismo do leste europeu nos serve de melhor exemplo, visto que a impermeabilidade foi, ao mesmo tempo, a razão de sua existência por mais de setenta anos e de seu desmoronamento. No primeiro caso, porque foi competente, num longo período, de impor argumentos contra os fatos e cortar todos os fluxos de informação externas e internas. No segundo, porque nem o poder de coerção do Estado e do Partido, nem a propaganda falseadora da realidade foram capazes de sustentar a Cortina de Ferro que impedia o diálogo.

O diálogo é na sua própria essência uma fonte de heresia – questionamento, transformação e aprendizado. Se não há diálogo, suspendeu-se a comunicação. Dialogar é travar ou manter entendimento

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(duas ou mais pessoas, grupos, entidades) com vista à solução de problemas comuns, entender-se, comunicar-se.

Por isso, a comunicação Dialógica é o espírito animador da cooperação, das conexões em rede e da democracia e está na base do Capital Social. Um jornal ou um veículo da mídia eletrônica pode estar oferecendo informações sem com isto estar dialogando com a comunidade onde atua. Pode estar, no limite, violentando os fatos com argumentos, a fim de defender os interesses de seus anunciantes, as convicções de seus editores e/ou proprietários. O mesmo acontece na internet. Muitas vezes os internautas navegam para consumir ou disseminar informações, esquecendo de entenderem-se entre si.

O mesmo pode ocorrer entre os atores sociais, quando suas organizações – ou instituições públicas – se negam a atuar conjuntamente, trocando experiências, avaliando-as, corrigindo erros, comemorando acertos e, fundamentalmente, são impermeáveis a novos conhecimentos e inovações.

No caso dos setores públicos esta situação pode adquirir contornos de extrema gravidade e levar a falência de todo o sistema. São inúmeros os exemplos de instituições públicas impermeáveis à participação social. Neste sentido a redemocratização da sociedade brasileira tem conquistado importantes vitórias, a exemplo daquelas inscritas na Constituição de 1988, que consagraram a participação popular como requisito indispensável a uma boa governança. Daí a multiplicação dos Conselhos, dos Estatutos da Criança e do Adolescente, das instâncias de discussão do orçamento público e tantas outras.

Mas também são muitos os exemplos de falta de diálogo – entender-se – no interior dos poderes públicos e entre eles mesmos na busca da solução de problemas comuns, o que não só os mantém desatualizados, mas pereniza uma prática de concorrência de projetos, muitas vezes com objetivos iguais, para desperdício de recursos humanos e materiais. Exemplo maior disso é a inexistência de um Sistema Único de Inclusão Social no Brasil, com definição preliminar do público alvo , o que integraria todos os programas municipais, estaduais e federais, potencializando os recursos e esforços e compondo um mapa de cada realidade local.

4 – RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR PÚBLICO: UM CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Façamos um breve recorte neste documento para podermos retornar

ao diálogo inter-continental mantido pelos internautas na parte deste relatório denominada Cotextualização Histórica.

Lembramos que eles e elas eram seis e teclavam de seis países diferentes. Possuíam identidades globais muito semelhantes e outras locais distintas no mesmo grau. Dentro de seus próprios países coexistiam ilhas de excelência em desenvolvimento e bolsões de atraso cruéis. Tinham, porém, consciência de que seria inócuo despachar um executivo do Vale do Silício para transformar Assuã, no sul do Egito, em pólo de alta

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tecnologia. Seria tão absurdo quanto enviar um arqueólogo de Luxor para ensinar construção de Pirâmides em Paris.

Esta consciência de que existem e coexistem num território comunitário características culturais, sociais, políticas, econômicas, ambientais e subjetivas muito particulares é um passo importante para reconhecer que todo agrupamento humano produz múltiplas identidades e que elas devem ser levadas em conta no momento da promoção e implementação de políticas públicas ou de parcerias. Aqui, portanto, a importância da adequabilidade e adaptabilidade do programa público e, sobretudo, da descentralização e integração de seus departamentos para planejá-la.

Uma pergunta simples poderia ser feita a cada momento pelos agentes públicos, mas que a impermeabilidade e auto-suficiência das corporações e da burocracia não permitem: “O projeto que estamos implementando é adequado ou adaptável à realidade da comunidade que estamos atendendo?” Érico Veríssimo em O Tempo e o Vento já demonstrava sua estranheza ao descrever as casas nos campos riograndenses, castigadas pelo minuano, cujo frio penetrava por suas frestas e não encontrava a resistência de uma lareira.

Da mesma forma, com os dados censitários disponíveis nos surpreendemos com municípios gaúchos onde a falta de planejamento público é capaz de concentrar postos de saúde pública em bairros de classe média alta; alojar grande parte das delegacias onde a violência não é gerada; não prever escolas nas regiões de mais alta concentração de crianças e adolescentes de baixa renda e, pior, creches onde o crescimento de mulheres chefes de famíia é vertiginoso. Ainda podemos encontrar um bairro cuja população concentra o maior número de idosos do município e não existir nenhuma política pública de lazer e convivência, embora ele esteja cercado de pistas de atletismo e de ciclismo.

De outra parte, podemos apreender a importância da cooperação, da democracia e das conexões em rede - elementos do Capital Social – analisando, no item denominado Contexto Local, deste documento, os resultados do Bloco de Saúde do IDESE, pois é nesta área, desde a redemocratização, que se desenvolveram as mais potentes experiências de organização, participação, diálogo e acúmulo de conhecimentos da sociedade brasileira e que ainda servem de modelo para outros setores. Podemos afirmar que as entidades que lidam com a saúde estão verdadeiramente empoderadas.

Não por acaso, é onde populações mais se encontram próximas ao estado de natureza que o saneamento é um artigo de luxo.

Nesta altura, após abordar o contexto geral do RS e os conceitos trabalhados na Comissão Especial, já é possível contribuir para que o setor público retome a centralidade no cenário social e contribua com a sua parte para um desenvolvimento sustentável no RS e que sirva de apoio para todo o Brasil.

Em primeiro lugar, o Setor Público – seus Poderes e esferas municipais, estaduais e federal - precisa reassumir sua responsabilidade

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social, a saber, tornar-se o promotor, o setor que, por características próprias de se relacionar com o local e o global, “move para adiante” as capacidades e projetos comuns da sociedade, articula as iniciativas , disponibiliza sua estrutura física, seu capital humano e democratiza o poder decisório.

Em segundo lugar, o Setor Público deve romper com o paradigma clássico de se estruturar como um sistema fechado, sob o risco de encerrar o ciclo atual de obsolescência. A crescente permeabilidade possibilitará a atualização dos conhecimentos de seus agentes públicos, de suas competências; enfraquecerá as corporações e burocracias, oxigenando as vias de comunicação dialógica , sepultando a prática do segredo como fonte de poder e gerando novas lideranças. O estímulo à convivência entre seus Departamentos e/ou Secretarias internos e com o tecido vivo da sociedade e, também, a formação permanente de seus quadros, poderá fundar práticas de ações integradas interna e externamente, assim como com as demais esferas públicas, municipais, estaduais e federal.

Em terceiro lugar, o Setor Público precisa promover o acúmulo de Capital Social e Capital Humano, incentivando a cooperação nos municípios, a participação popular e facilitando a formação de conexões em rede, a partir da descentralização do seu planejamento, dos seus serviços e da execução de projetos. Além disso, os investimentos públicos devem levar em conta a valorização da economia local, sinalizando para as comunidades que empreender “é um bom negócio”.

Em quarto lugar, o Setor Público deve perseguir um desenvolvimento local e sustentável. Para isso, é de novo importante a descentralização de sua atuação, assim como a produção de mapas de diagnóstico que atendam às especificidades – identidades – da sua menor unidade territorial e combinem indicadores conceituadores do que seja o foco do seu projeto : quem são os pobres em cada município e região? O que é incremento econômico? O que é preservação ambiental – e que possam avaliar processo, impacto e participação.

Igualmente deve o Setor Público produzir mapas que possam diagnosticar o Capital Social de seus municípios e regiões : como anda a organização e a participação social? Qual o número e quais são as entidades e em que área atuam? Qual o número e quem são os voluntários? Qual o volume de recursos humanos e materiais de que dispõem? Qual o quadro dos equipamentos públicos instalados? Que programas sociais públicos são desenvolvidos, quais os recursos disponíveis e de que esferas : estadual, municipal, federal? Quais são os fatores externos – humanos, ambientais - que têm ou podem ter impacto positivo ou negativo para o acúmulo de Capital Social? Quantos indivíduos têm acesso à internet, qual o número de livrarias, bancas de revista, cinemas, teatros, museus?

A par dos mapas e em conjunto com a sociedade, o Setor Público poderá elaborar um planejamento estratégico, definir projetos e programas, métodos de aferição de eficiência e eficácia (integração, adequabilidade e adaptabilidade, engajamento do público alvo) e antecipar resultados :

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quanto custa (eficiência)? que impacto tem (eficácia)? impacto sobre quem? (focalização).

Em quinto lugar, o Setor Público deve promover a Economia Social, através de programas de capacitação, fomento e criação de Fóruns e Conselhos Multisetoriais, a exemplo do Conselho Estadual de Segurança Alimentar (CONSEA) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CODES), criados pelo atual governo e que se constituem, em especial o CODES, na iniciativa mais importante dos últimos anos, não só pelos resultados que poderão ser colhidos a médio e longo prazos no âmbito da gestão pública, mas, principalmente, pelo significado político evidente de que o Executivo gaúcho aceitou o desafio de modernizar-se à luz de um novo paradigma.

Em sexto lugar, o Estado deve promover uma cultura de parcerias, organizando o investimento social público e privado, definindo prioridades conjuntas e racionalizando os esforços do conjunto de recursos humanos e materiais envolvidos.

Neste sentido, o processo que culminou na elaboração e posterior regulamentação da chamada Lei das OSCIPs e seu conteúdo final nos servem como ponto de partida para uma análise geral do quanto o velho paradigma de funcionamento do Setor Público brasileiro disseminou uma cultura de paternalismo, fisiologismo e clientelismo, permeando suas relações com a sociedade e contribuindo para o desgaste da atividade política.

Vale lembrar que, a partir de 1935, com a Lei n.º 91 que criou a Declaração de Utilidade Pública, inicialmente um título honorífico outorgado a entidades que servissem “desinteressadamente à coletividade”, tem início uma prática que, ao longo do tempo, cunhou uma expressão de significado altamente pejorativo: assistencialismo. Com ela, os interesses ou humores do paternalismo e da tutela dos agentes públicos passaram a determinar o reconhecimento ou não dos direitos.

Mais tarde, em 1951, a Lei nº 1493 “disciplinou a transferência de fundos públicos a entidades privadas de ‘caráter assistencial ou cultural’ por meio de pagamento de subvenções (para ajudar no custeio e para obras, aquisições de imóveis, instalações e equipamentos) e continuou a exigir o registro no então Conselho Nacional de Serviço Social. A finalidade original do registro de assistência social, era, portanto, a definição das subvenções sociais.”

“Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito do Orçamento, que investigava o escândalo do orçamento, no governo Collor, o antigo CNSS descobriu subvenções fraudadas por parlamentares. Muitas fundações criadas por parlamentares foram usadas como forma de obtenção de verbas de subvenção para seu próprio uso. Isso gerou impacto negativo na opinião pública sobre as entidades sem fins lucrativos durante os anos subsequentes. A associação feita entre a filantropia e o uso indevido de recursos públicos acabou exigindo uma mobilização para distinguir a filantropia da desonestidade. O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho,

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cunhou a famosa expressão ‘pilantropia’ para designar as entidades desonestas”.

Estes registros devem nos servir de estímulo a construir marcos legais, no âmbito da relação público/privado, que facilitem a cooperação, mas que preservem o interesse de toda sociedade. Nem sempre a busca da eficácia se dá nos limites exigidos pela ética e algumas vezes as autoridades públicas são obrigadas a abrir mão da primeira para garantir a inviolabilidade da segunda. Não esqueçamos que a nova sociedade brasileira já demonstrou, ao longo dos anos noventa, o quanto repudia o famoso “jeitinho brasileiro”.

Mas vejamos as inovações e as conexões contemporâneas que nos traz a Lei 9790/99, chamada de Lei das OSCIP, comparando-a com o marco legal anterior e vigente :

Acesso a recursos públicos para realização de projetos Lei 9.790/99 Legislação anterior e vigente A regulamentação para a realização Há inúmeras leis e normas a do Termo de Parceria é fornecida serem seguidas. pela própria Lei e seu decreto.

A forma de aplicação dos recursos Há rigidez na forma do gasto. é mais flexível em comparação aos Por exemplo, se a entidade for convênios. eficiente ela tem que devolver o

recurso, não podendo aplicá-lo em outra área.

A lei incentiva a escolha de parceiros por meio de concurso de projetos.

Avaliação e responsabilização pelo uso dos recursos públicos Lei 9.790/99 Legislação anterior e vigente O controle se concentra no alcance O controle se concentra na de resultados. forma de aplicação dos

recursos. São imputadas punições severas Os mecanismos de responsa- para o uso indevido de recursos; bilização pelo uso indevido dos além da devolução e multa, prevêem-se recursos são basicamente também a indisponibilidade dos bens devolução e multa. dos responsáveis.

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Uma Comissão de Avaliação Não é prevista uma Comissão – composta por Representantes do para avaliar resultados alcan- órgão estatal parceiro, do Conselho çados. Além disso, não existe de Política Pública e da OSCIP – prática sistemática de avaliação. avalia o Termo de Parceria e verifica o desempenho global do projeto em relação aos benefícios obtidos para população-alvo.

Acima de R$ 600 mil, a OSCIP deve Não está prevista. contratar Auditoria independente para avaliar o Termo de Parceria.

Controle Social e Transparência

Lei 9.790/99 Legislação anterior e vigente É vedada a participação de OSCIPs Essa proibição se refere apenas em campanhas de interesses político- aos recursos públicos, sendo partidário ou eleitoral, independente- permitido aos recursos de outra mente da origem dos recursos (públicos origem ou próprios).

Os Conselhos de Políticas Públicas Não está prevista essa são consultados antes da celebração situação. do Termo de Parceria e participam da Comissão de Avaliação dos Resultados Alcançados.

Qualquer cidadão pode requerer, Não é previsto judicial ou administrativamente, a perda da qualificação de OSCIP, desde que amparado por evidências de erro ou fraude.

Exige a adoção de práticas A legislação é omissa em gerenciais que coíbam o favorecimento em relação a esse aspecto. pessoal em processos decisórios.

A OSCIP deve criar um Conselho Não estipula essas Fiscal, como a primeira instância de atribuições. controle interno.

A OSCIP deve dar publicidade a Não há essa obrigatoriedade. qualquer cidadão ao seu relatório de atividades e às suas demonstrações financeiras.

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Relatório Final

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É livre o acesso às informações Não está previsto. referentes às OSCIPS junto ao Ministério da Justiça.

Como podemos perceber a Lei das OSCIPs é um passo importante,

mesmo que inicial , para a disseminação e consolidação de uma cultura de parcerias entre o Setor Público, e a Economia Social não lucrativa. No RS, foi recentemente regulamentada a chamada Lei da Solidariedade que, através de renúncia fiscal do Estado, concede incentivos da ordem de 75% do ICMS àquelas empresas que investirem em ações sociais, destinando para este ano R$ 28 milhões de reais, atendendo a esfera da Economia Privada socialmente responsável e fomentando a Economia Social não lucrativa.

Em sétimo lugar o Setor Público, em parceria com a sociedade, deve continuar realizando todos esforços para construir uma legislação que expresse as transformações que a realidade social vem experimentando na sua organização, produção de conhecimento, ferramentas de intervenção. Esta “revolução do nosso tempo” tem exigido e carecido da contrapartida do Poder Público, para que a exemplo dos avanços obtidos no trato com as finanças públicas, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, possamos alcançar um novo patamar no tratamento dado ao desenvolvimento humano, através de uma Lei de Responsabilidade Social.

A propósito, urge um amplo debate em nosso Estado que busque a elaboração de um novo marco legal para o Terceiro Setor.

Ao finalizar este trabalho, se fosse instado a produzir um arrazoado sobre quais os aspectos mais importantes para uma Declaração Universal da Gestão Pública Socialmente Responsável, sugeriria o que segue:

É expressamente vedada, no âmbito do setor público, a implantação

de programa e ações na área social que não contemple, pelo menos os seguintes procedimentos de gestão:

1º) O mapeamento social da realidade objeto do programa social,

realizado através de indicadores sociais geograficamente referenciados;

2º) A definição de prioridades e metas de melhoria social a serem alcançadas em determinados prazos, tendo como base os indicadores sociai selecionados;

3º) O cadastramento das organizações sociais locais existentes e do público-alvo a ser alcançado pelo programa social e suas ações, periodicamente atualizado;

4º) A existência de plano de acompanhamento do programa social, com a avaliação das metas e resultados esperados e as medidas corretivas a serem tomadas, quando necessário;

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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5º) A integração de ações das três esferas de Governo – União, Estado e Município – operando complementarmente para viabilizar o programa social e alcançar as metas propostas;

6º) A realização de parcerias sociais do governo com as instituições da sociedade-iniciativa privada e organizações sociais do terceiro setor – compartilhando responsabilidades na formulação , implementação e avaliação do programa social e suas ações;

7º) A mobilização e participação dos cidadãos e comunidades locais

na definição, implementação e avaliação do programa social e suas ações; 8º) A articulação e convergência entre as políticas públicas setoriais

da área social – educação, saúde, saneamento , habitação, assistência social, segurança alimentar, segurança pública, cultura – que contribuam para a implementação do programa social e suas ações;

9º) A formação de fórum, pacto, conselho, comitê, câmara de gestão

ou outro organismo responsável pela coordenação e implementação do programa social e suas ações, constituído por representantes de todos os órgãos e entidades públicas, privadas, não governamentais envolvidos;

10º) A prestação de contas periódica e amplamente publicizada da

execução do programa social e suas ações, seus custos, resultados alcançados com relação às metas e aos prazos propostos, desempenho dos parceiros responsáveis e as medidas corretivas necessárias, a serem adotadas quando for o caso.

Cézar Busatto Deputado Estadual/PPS 04 de Agosto/2003

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Relatório Final

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Anexo I

_______________________________________

Relatório Administrativo da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público – Proposta de Trabalho Inicial da Presidência da Comissão MARCO TEÓRICO¹

Embora os gastos sociais do governo, nos últimos seis anos, tenham sido superiores a R$ 150 bilhões por ano, o que não pode ser considerado uma quantia inexpressiva, a terça parte da população brasileira continua situada na linha de pobreza.

Se os resultados tem sido insuficientes, frente ao investimento, é necessário que reavaliemos a sua eficácia e a efetividade. Talvez o foco das políticas públicas esteja errado ou não estejam chegando realmente aos que delas necessitam.

A Sociedade Civil não tem se omitido. Talvez em nenhum outro momento a compreensão de que é preciso mudar tenha sido tão forte. Prova disso é o crescimento exponencial das organizações do Terceiro Setor e do voluntariado social. No entanto, também nessa área as dificuldades são enormes e os resultados ainda modestos se comparados a magnitude dos nossos problemas.

Começamos a perceber que a amplitude do que enfrentamos e a sua complexidade tem superado a capacidade e as iniciativas individuais. Somente através da cooperação poderemos enfrentar este desafio. Isolados, Governo, mercado/empresários ou Terceiro Setor, não possuem todos os elementos necessários para abordar com eficácia a tarefa que a sociedade brasileira tem se proposto. A cooperação torna-se, então, um pré-requisito para o sucesso desta iniciativa.

¹ Com base em Augusto de Franco, In OSCIP – Organização da sociedade civil de interesse público: a lei 9.790/99 comoalternativa para o terceiro setor – Brasília: Comunidade Solidária, 2000 e O Desenvolvimento Institucional e a Construçãode Parcerias para o Desenvolvimento Local de Tania Zapata e Silvana Parente (Bndes/Pnud).

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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O maior desafio de nossa sociedade é o de propor uma nova concertação social capaz de caminhar no sentido de reduzir o abismo da desigualdade. Não queremos mais considerá-la como uma questão natural. A banalização do convívio com a miséria chegou a um ponto insuportável.

Esta possibilidade de estabelecer a mudança por maior solidariedade é o que chamamos de Responsabilidade Social, e o envolvimento de políticas públicas neste movimento é indispensável.

Fiéis ao nosso foco, que é o Setor Público, precisamos trabalhar na direção da reforma do paradigma que o regula e as relações entre o Estado e a Sociedade Civil no Brasil.

Redefinir as relações de poder político com a sociedade civil, envolvendo os vários segmentos sociais (conselhos, comissões, fóruns) representativos e legítimos, na administração dos conflitos e na construção dos consensos estratégicos para o desenvolvimento integrado. A nova prática institucional exige credibilidade, transparência, sentido de missão e visão do desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento que causa transformações.

Devemos colaborar para construir uma nova visão de mundo que reconheça o caráter público de um conjunto, imenso e informal, de organizações da Sociedade Civil, trabalhando para criar vínculos de colaboração entre essas organizações e o Estado. Temos que construir um novo marco institucional que possibilite a progressiva alteração das ações públicas, transformando-as em ações públicas de parceria entre o Estado e Sociedade Civil Organizada, com a participação das organizações não governamentais e empresas na sua elaboração, execução, monitoramento, avaliação de resultados e fiscalização.

Entretanto as resistências são muito grandes. Nossa herança cultural é muito forte, vivemos sob a égide do Estado Burocrático Colonial, aonde a cultura estatista predomina no aparelho de Estado. A grande maioria dos dirigentes governamentais ainda pensa nas prerrogativas exclusivas de Estado e no monopólio público.

Até mesmo nos países aonde se vivenciou o “socialismo real” este vício esteve presente, pela separação do Estado todo poderoso e a população beneficiária desse mesmo Estado.

Esta visão distorcida, porém, infelizmente, está presente também em muitos setores da sociedade civil organizada que lutam apenas por aumentar suas facilidades de acesso aos recursos públicos. Reproduzindo uma rigorosa separação entre ação pública e privada numa postura de complementaridade às ações estatais numa espécie de terceirização das ações do Estado.

O papel do Terceiro Setor não é, e nem deve ser, substituir o Estado em suas atribuições, pelo contrário, o papel desta Comissão Especial é criar ou fazer valerem mecanismos que gerem por seus atos compromissos mensuráveis nesta área social assim como já existem na área fiscal. Que passem a ser efetivamente cumpridos planejamentos, orçamentos e execuções de ações, que por sua vez tenham indicadores claros e precisos que possam aferir seus resultados.

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Relatório Final

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Nossa visão é de que o público não é monopólio do Estado. Acreditamos que o olhar público da Sociedade Civil detecta problemas, identifica oportunidades e vantagens colaborativas, descobre potencialidades e soluções inovadoras em lugares onde o olhar do Estado não consegue chegar. Somente com a parceria da Sociedade Civil e da Iniciativa Privada seremos capazes de alavancar recursos em prol do desenvolvimento humano e social sustentável, de uma forma que o Estado isoladamente jamais poderá realizar.

Num modelo de gestão participativa, é desejável que as políticas públicas resultem de uma boa articulação da sociedade civil com o Estado, permitindo que a sociedade civil/terceiro setor compartilhe não apenas a execução, como também, os espaços de tomada de decisão, atuando no planejamento, monitoramento e avaliação destas políticas.

O desafio das políticas públicas é assegurar uma relação de participação e boa articulação entre os setores sociais envolvidos nas instâncias de gestão compartilhada. Este é o caso dos conselhos gestores que vêm se estabelecendo em várias áreas das políticas sociais tendo como finalidade um modelo de gestão participativa.

Se por um lado a Sociedade Civil quer alcançar a sua maioridade política, e não ser tutelada pelo Estado, ela deve caminhar para a sua própria emancipação, lutando pelo seu reconhecimento como sujeito político e ator social. Por outro lado, o Estado, buscando eficácia, tem obrigação de buscar uma nova forma de gestão, que alavanque seu recursos através de sólidas parcerias com o Terceiro Setor e a Iniciativa Privada, sem ter diminuído seu papel fundamental.

Começar a mudar o paradigma hoje existente que separa a ação pública da ação do Terceiro Setor e da iniciativa privada é o nosso desafio. Trata-se de avançar numa estratégia de radicalização da democracia, na qual seja possível compartir com a sociedade as tarefas inerentes ao desenvolvimento social. Trata-se de aumentar as possibilidades e a capacidade das populações influírem no público, distribuir e democratizar o poder num verdadeiro ato de “empoderamento social”. SISTEMÁTICA DE TRABALHO

Nosso objetivo é o de aprofundar o debate sobre responsabilidade social, sobre novas formas possíveis de gestão pública à luz desse conceito e sobre as necessárias iniciativas legislativas inovadoras para viabilizá-las. Por isso, propomos a seguinte sistemática de trabalho para a Comissão da Responsabilidade Social, a partir da divisão de blocos de discussão, que consideramos essenciais ao “empoderamento social”.

Em cada bloco temático deverá ser realizado um ou mais seminários com especialistas, lideranças e autoridades nos temas propostos. Uma comissão técnica será designada para sistematizar as principais contribuições de cada bloco temático e para consolidar, no final dos trabalhos da Comissão Especial, um relatório que contenha a transcrição dos Seminários, bem como a Síntese de Conclusões resultante dos

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debates realizados a partir de cada bloco temático. Será providenciada a publicação deste documento final para ampla divulgação em todos os setores da sociedade, bem como seu envio a todos os Municípios gaúchos, aos demais Estados da Federação e ao Governo Federal. Ao longo dos trabalhos da Comissão Especial, seus conteúdos estarão disponíveis para consultas e interação com a sociedade no site da Assembléia Legislativa (www.al.rs.gov.br).

Primeiro Bloco

Responsabilidade Social na Gestão Pública: Responsabilidade Social e Responsabilidade Fiscal

Contribuir para o grande debate atual: os limites do ajuste fiscal frente ao imenso passivo social de nosso país. A necessidade de um novo olhar sobre o modelo tradicional de gestão pública que alcançou os seus limites.

Pauta específica: a) Mudança de paradigmas para a gestão pública; b) O desafio do desenvolvimento sustentável; c) Lei de responsabilidade fiscal e social.

Responsabilidade Social na Gestão Pública: Responsabilidade Social e Responsabilidade Fiscal

Pauta específica: a) Indicadores sociais; b) Plano Plurianual para o exercício econômico-financeiro de 2003/2006.

Segundo Bloco Responsabilidade Social na Gestão Pública: Balanço Social ou Mapa da Exclusão Social

Gerar uma discussão pública a respeito do PL 007/91, que trata do Mapa da Exclusão Social. Trata-se de um dos marcos legislativos que procuram mudar o paradigma da ação tradicional do Estado.

Pauta específica: a) Obrigatoriedade do Mapa da Exclusão Social ou Balanço Social; b) Definição e construção de Indicadores Sociais; c) Definição de metas de melhoria social para o Estado a partir dos

indicadores sociais; d) Responsabilização pelo cumprimento de metas.

Terceiro Bloco

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Responsabilidade Social na Gestão Pública: O Desafio das Parcerias Sociais

Estimular as parcerias como uma nova forma de gestão pública. Propomos a avaliação da Lei 9.790/99 que regula a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, e os dez anos de existência dos Conselhos Paritários de Políticas Sociais.

Pauta específica: a) Cadastramento e criação do portal das entidades do Terceiro

Setor do RS; b) Avaliação da prática dos Conselhos de Políticas Sociais; c) Aperfeiçoamento da legislação que regula as parcerias sociais

entre o Estado, o Terceiro Setor e a Iniciativa Privada. Quarto Bloco

Responsabilidade Social na Gestão Pública: Responsabilidade Social e Responsabilidade Fiscal

Continuação do debate abordado no primeiro bloco relativo aos limites do ajuste fiscal frente ao imenso passivo social de nosso país. A necessidade de um novo olhar sobre o modelo tradicional de gestão pública que alcançou os seus limites. A importância de aferir os resultados dos investimentos sociais através de indicadores específicos.

Pauta Específica: a) Mudança de paradigmas para a gestão pública; b) O desafio do desenvolvimento sustentável; c) Aferição do comprometimento público com a área social; d) Lei de responsabilidade fiscal e social.

Quinto Bloco

Responsabilidade Social na Gestão Pública: O Orçamento Social

Por uma nova sistemática do Orçamento Público para a área social. Entendemos primordial o resgate do conceito de orçamento-programa, com metas e ações específicas e articuladas entre as secretarias de Estado, para o enfrentamento das desigualdades sociais. Dentro desse marco deveremos discutir uma nova formatação para o Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Orçamento Anual e Balanço do Setor Público. Além disso, como os Orçamentos Públicos incorporarão as ações do Terceiro Setor. Pauta específica:

a) Discussão das vinculações constitucionais; b) Propostas de mudanças das peças legais de autorização das

despesas públicas;

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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c) A incorporação das ações da Sociedade Civil Organizada no Orçamento Público.

Sexto Bloco Responsabilidade Social na Gestão Pública: Balanço Social ou Mapa da Exclusão Social

Dar continuidade a discussão pública realizada dia 9 de maio sobre o PL 007/91, que trata do Mapa da Exclusão Social. Trata-se de um dos marcos legislativos que procuram mudar o paradigma da ação tradicional do Estado.

Pauta Específica: a) Obrigatoriedade do Mapa da Exclusão Social ou Balanço Social; b) Definição e construção de Indicadores Sociais; c) Definição de metas de melhoria social para o Estado a partir dos

indicadores sociais; d) Responsabilização pelo cumprimento de metas.

Sétimo Bloco

Responsabilidade Social na Gestão Pública: Por Uma Nova Forma de Gestão Pública (Governança Social)

Tratar do Programa de Segurança Social para Crianças e Adolescentes como ponto de partida para a mudança da relação Estado, Iniciativa Privada e Terceiro Setor, tratando este objetivo como piloto do marco paradigmático que pretendemos.

Pauta específica: a) A proposta de gestão participativa em rede; b) A relação do Governo com os Conselhos e os Fóruns dirigidos à

criança e ao adolescente; c) Análise e avaliação dos Fundos já constituídos voltados à criança e

ao adolescente; d) O envolvimento do Voluntariado Social e das Empresas Cidadãs; e) Construção de Cidadãos.

Oitavo Bloco

Responsabilidade Social na Gestão Pública: Novas Iniciativas Políticas e Legislativas

Discutir e propor novas alternativas legais para a Responsabilidade

Social na Gestão Pública. Divulgar a Lei Estadual de Apoio à Promoção e Inclusão Social (Lei da Solidariedade) e tratar da sua regulamentação.

Pauta específica:

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Relatório Final

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a) Propostas novas de legislação. b) Consolidação da legislação existente; c) Propostas de alteração e regulamentação para a Lei da

Solidariedade; d) Estatuto para o Terceiro Setor; e) Proposta de Lei da Responsabilidade Social.

CONCLUSÂO

Como conclusão dos trabalhos apresentar, debater e aprovar o Documento Final da Comissão de Responsabilidade Social com sugestões de encaminhamento dos assuntos tratados.

PARCEIROS ESTRATÉGICOS

Por fim cabe estabelecermos uma lista de parceiros estratégicos

socialmente responsáveis para exercerem a função de grupo técnico executivo e de suporte à iniciativa da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.

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Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público

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Anexo II

_______________________________________ Ata da aprovação do Relatório Final da Comissão Especial no Plenário da Assembléia Legislativa O Relatório Final da Comissão Especial de Responsabilidade Social no Setor Público entrou em votação no Plenário da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul como Projeto de Resolução 021/03:

Superintendência Legislativa Departamento de Taquigrafia

55ª Sessão Ordinária, em 14 de Agosto de 2003

Presidência dos Deputados Vilson Covatti e Cézar Busatto

Às 14h15min, o Sr. Vilson Covatti assume a direção dos trabalhos.

O SR. PRESIDENTE VILSON COVATTI (PPB) – Havendo número regimental e invocando a proteção de Deus, declaro abertos os trabalhos da presente Sessão.

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Relatório Final

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Solicito ao Secretário que proceda à leitura da Ata de Sessão anterior.

(O Sr. Janir Branco procede à leitura da Ata de Sessão anterior.)

Ata da qüinquagésima terceira Sessão Ordinária, em 12 de agosto de 2003. Presidência do Deputado Ronaldo Zülke, Presidente em exercício. Às 14 horas e 15 minutos, o Presidente em exercício, Deputado Ronaldo Zülke, assumiu a direção dos trabalhos. Presentes os seguintes Deputados: Adão Villaverde, Dionilso Marcon, Edson Portilho, Elvino Bohn Gass, Estilac Xavier, Fabiano Pereira, Flávio Koutzii, Luis Fernando Schmidt, Raul Pont, Ronaldo Zülke, Sérgio Stasinski, Jair Soares, Jerônimo Goergen, João Fischer, José Farret, Leila Fetter, Marco Peixoto, Pedro Westphalen, Alexandre Postal, Fernando Záchia, Janir Branco, João Osório, Márcio Biolchi, Marco Alba, Maria Helena Sartori, Nelson Härter, Adroaldo Loureiro, Ciro Simoni, Floriza dos Santos, Gerson Burmann, Giovani Cherini, Osmar Severo, Paulo Azeredo, Vieira da Cunha, Abílio dos Santos, Edemar Vargas, Eliseu Santos, Iradir Pietroski, Manoel Maria, Berfran Rosado, Bernardo de Souza, Cézar Busatto, Paulo Brum, Sanchotene Felice e Marlon Santos. Havendo número regimental, a Presidência determinou a abertura da Sessão, convidando o Deputado Paulo Brum a proceder à leitura de Ata que, após lida, foi aprovada. Em Leitura de Expediente, foram lidas justificativas de ausência dos Deputados Adão Villaverde às Sessões Plenárias dos dias 05 e 06 de junho do corrente ano, em razão de sua viagem a Brasília, para tratar de assuntos parlamentares; Frei Sérgio à Sessão Plenária de 12 do mês em curso, em virtude de viagem a Passo Fundo, onde participaria de uma audiência na Superintendência da Caixa Econômica Federal; Flávio Koutzii à Sessão Plenária do dia 05 de agosto, por estar reunido com o Presidente Lula, no encontro de Prefeitos e Governadores, em Brasília; Abílio dos Santos à Sessão Plenária do dia 06 do corrente mês, devido a audiência na Justiça do Trabalho; Eliseu Santos à Sessão Plenária de 07 do mês vigente, por estar em reunião com o Secretário do Trabalho e Deputado Federal Edir de Oliveira, em Canela; e ofício do Deputado Sérgio Stasinski, justificando a ausência do Deputado Ronaldo Zülke à Sessão Plenária de 07 de agosto, por estar participando de audiência pública no Município de Butiá. A seguir, passou-se ao Grande Expediente, ocasião em que Deputado Raul Pont externou sua suspeita de que a comparação entre os números de eleitores da Consulta Popular, do atual Governo, e do OP, do Governo passado, manifestasse um interesse do Governo Germano Rigotto em disputar votos e não propriamente na realização de um processo democrático em que os cidadãos elencassem suas prioridades. Sua Excelência, referindo-se ao decreto de

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regulamentação do Projeto de Consulta Popular, alertou que 51% dos gastos já estavam previamente consignados como gastos correntes, fato pouco esclarecido à população, levando-a a crer que estava decidindo algo que na verdade já estava acertado e privando-lhe da possibilidade de exercer com liberdade suas escolhas. Ao finalizar, o Orador registrou que, a fim de contribuir para a concretização de um processo democratizador sobre a destinação dos recursos públicos, fazia-se necessário avaliar melhor essa experiência, pois os números apontavam para uma frustração da Consulta Popular. Imediatamente, não havendo inscritos para o período de Apresentação e Discussão de Proposições, alguns Oradores se revezaram na tribuna em comunicação de líder. O Deputado Alexandre Postal argumentou que, ao eleger Germano Rigotto como atual Governador, a opinião pública ansiava pela legalização da Consulta Popular, fato não aceito pelo PT. O Parlamentar atribuiu o baixo índice de participação em Porto Alegre e Região Metropolitana no processo de Consulta Popular ao boicote dos administradores da Capital e ao descrédito da população em relação a obras que, previstas pelo OP, acabaram por não se realizar. O Deputado Sanchotene Felice apontou que era significativo terem sido mais de 400 mil votantes disputando 337 milhões de reais para investimentos, preconizando que os números das próximas consultas tenderiam a crescer, dada a credibilidade que o procedimento, realizado de forma ética e séria, obteriam. O Deputado Abílio dos Santos noticiou que Ata da reunião de Comissão de Assuntos Municipais, que tratara da viagem de prefeitos à Itália e França, seria enviada ao Ministério Público, mostrando-se satisfeito com os pronunciamentos ouvidos, que explicaram a real necessidade das visitas a esses países a fim de serem estudados projetos de desenvolvimento. O Deputado Elvino Bohn Gass argüiu que no Orçamento Participativo as pessoas compareciam a reuniões onde eram conhecidas as receitas e despesas do Estado, elegendo seus conselheiros e delegados, que elaboravam a Peça Orçamentária que era dirigida a esta Casa, sendo tal processo mundialmente reconhecido, tendo colocando a Prefeitura de Porto Alegre, por seu pioneirismo, no cenário internacional. Encerrando, o Parlamentar lamentou que o atual modelo de Consulta Popular impusesse um atraso por não discutir o Orçamento com a opinião pública e optando em colocar apenas parte dos recursos à disposição da decisão popular. O Deputado Ciro Simoni notificou que em reunião recentemente realizada, a Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia assinara protocolo de intenções contando com o apoio de diversas entidades representativas de todo o Estado, com o objetivo de unificar o calendário das escolas, a fim de possibilitar que as famílias pudessem se organizar para as férias e seu período de lazer, agradecendo a dedicação dos Deputados Ruy Pauletti e Sanchotene Felice. O Deputado Fernando Záchia saudou os altos números da Consulta Popular no Rio Grande do Sul e criticou que obras previstas em 2000 e 2001 pelo OP da Prefeitura de Porto Alegre ainda não tivessem sido terminadas, gerando frustração e descrédito por parte da população da Capital. O Deputado Iradir Pietroski cumprimentou o trabalho do Vice-

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Governador, que percorrera o Estado, procurando entidades, representações e eleitores, demonstrando a transparência na elaboração do Projeto de Consulta Popular. Concluindo, o Deputado mencionou que se o OP fosse tão bom quanto o preconizado pela Oposição no Estado, o Presidente Lula já o teria implantado. O Deputado Adão Villaverde saudou a criação da Câmara Setorial do Vinho, o que possibilitaria que o setor vitivinícola levantasse questões estratégicas em matéria tributária, fiscalização e outras necessidades, podendo vir a ser apoiado pelo Governo Federal, já que incorporava cerca de 15 mil famílias em seus empregos e mais de 500 empresas, constituindo-se numa importante atividade econômica a ser mais estimulada no Estado. Em seguida, havendo quórum para deliberação, passou-se à Ordem do Dia, quando o plenário aprovou o Requerimento Diverso 15/03. Ao discutir o Projeto de Resolução 19/03, o Deputado Bernardo de Souza adiantou seu voto favorável à matéria, alegando que de janeiro de 1999 a dezembro de 2002 houvera um significativo decréscimo no efetivo ativo da Brigada Militar, preconizando a volta a patamares anteriores, a bem da segurança pública. O Deputado Flávio Koutzii saudou o equilíbrio e a motivação do Deputado Jair Soares na sua contribuição nos trabalhos da Comissão Especial de Segurança Pública, ponderando que se havia limites, deviam-se a um condicionante estrutural, como o acúmulo de comissões. Ao término de seu pronunciamento, o Parlamentar esclareceu que não defendia a fusão das corporações, mas um trabalho sincronizado voltado para resultados mais eficazes. Ao encaminhar o tema, o Deputado Marco Alba parabenizou os Deputados Jair Soares e Sanchotene Felice pelo valoroso trabalho realizado, capaz de aprofundar o conhecimento das questões sociais que envolviam a existência da criminalidade, propiciando que esta Casa cumprisse seu princípio básico, de ir ao encontro das soluções, recomendando que essa Comissão deveria se tornar permanente, para evitar o agravamento da criminalidade. Logo, o plenário aprovou o Projeto de Resolução 19/03 e o Projeto de Resolução 20/03. Após, em comunicação de líder, o Deputado Giovani Cherini aludiu que a Assembléia Legislativa estava na vanguarda ao tratar de temas da vida e da bioética, como a biopirataria, a reprodução assistida, a biociência, a genética, entre outras técnicas, recomendando que fosse criada uma comissão para investigar o tráfico de órgãos e de crianças. Ao final, o Parlamentar solicitou o registro, na íntegra, do Relatório Final da Comissão Especial de Bioética, nos Anais da Casa. Ao discutir o Projeto de Resolução 21/03, o Deputado Cézar Busatto solicitou o apoio de seus Pares, explicando que faltavam diagnósticos precisos e indicadores sociais que servissem de orientadores para a responsabilidade social, fazendo-se necessária uma nova arquitetura pública de forma que essa responsabilidade passasse a ser um novo padrão de avaliação deste Estado nos próximos anos, em parceria com o Executivo, devendo essa lei ser sugerida às Câmaras Municipais e ao Congresso Nacional. O Deputado Marco Alba parabenizou o Relator da matéria por buscar uma reestruturação no modo de gerir os recursos públicos e dar mais atenção às

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camadas de baixa renda. Posteriormente, o plenário aprovou o Projeto de Resolução 21/03; o Requerimento de Comissão Especial 04/03, no que restou prejudicado o Requerimento 08/03, de igual teor e autoria; o Requerimento de Dispensa de Publicação e Interstício e a Redação Final dos Projetos de Resolução 19/03; 20/03 e 21/03. Não havendo mais matéria a ser deliberada, passou-se ao período das Comunicações, quando a Deputada Maria Helena Sartori referiu notícia da decisão do Tribunal de Justiça em manter a exoneração do ex-reitor da UERGS, o que provava que o Executivo atuara corretamente. Ao concluir, a Oradora frisou a importância de escolas da rede pública estarem abrindo nos finais de semana, oferecendo lazer nesse importante espaço, trazendo conhecimento e divertimento, ajudando no combate à violência. O Deputado Dionilso Marcon reclamou que na democracia que estava se procurando exercer, o processo de Consulta Popular deveria ser mais transparente, permitindo que as pessoas expressassem seus anseios de forma clara e aberta, o que não acontecera na administração do atual Governo pois, segundo informações, coordenadores de urnas dirigiam os votos nos municípios do interior. O Deputado Janir Branco repudiou as manifestações do Senhor João Pedro Stédile, do MST, que haviam incitado à desordem, obrigando que vários municípios cedessem parte de seus efetivos da Brigada Militar à região de enfrentamento daquele movimento com os ruralistas, aumentando o clima de insegurança do interior do Estado. Por cessão de tempo, o Deputado Dionilso Marcon respondeu que por onde o MST passara não houvera distúrbios, e que as palavras de João Pedro Stédile haviam sido mal interpretadas pela imprensa, pois não preconizava a violência, somente abordara estatísticas. O Deputado Janir Branco, por cessão de tempo, reiterou que repudiara o discurso do Líder do MST, pois ele, ao ressaltar a diferença numérica entre os sem-terra e os ruralistas, incitava a uma revolução, explicando que o Governo Germano Rigotto estava preocupado em manter a integridade física das pessoas. Com a desistência antecipada dos demais Oradores para as Comunicações e não havendo inscritos para as Explicações Pessoais, a Presidência encerrou a presente Sessão às 17 horas e 05 minutos, convocando os Parlamentares para outra, amanhã, à hora regimental. Plenário, em 12 de agosto de 2003. O SR. PRESIDENTE VILSON COVATTI (PPB) – Declaro aprovada a Ata que acaba de ser lida, ressalvando aos Deputados o direito de retificá-la, por escrito, se assim o desejarem.

(seguiu a sessão)

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Relatório Final

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Assembléia Legislativa Estado do Rio Grande do Sul

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