relatÓrio especial brasil x china efeitos da lei dos ... · principal player produtor da fibra com...
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RELATÓRIO ESPECIAL 1 14 de agosto de 2009
Brasil x China: Efeitos da Lei dos Grandes Números
Cenário Macro
Entender a economia global antes era prever o comportamento da economia americana. Essa situação certamente mudou. O ânimo dos mercados, notadamente para as commodities, é fortemente influenciado pela economia chinesa. Portanto, avaliar o comportamento desta economia se tornou essencial para traçar cenários para a economia brasileira.
As perspectivas para a economia chinesa tanto no curto prazo quanto no médio/longo prazo são de crescimento sustentado. No curto prazo, este será motivado pelo aumento exponencial na oferta de crédito. Para o longo prazo, a manutenção do processo de urbanização, bem como uma mudança estrutural no sentido de maior peso do setor de serviços deverão impulsionar esta economia.
Os maiores riscos à tese de crescimento da China, no curto prazo, são o aumento da inadimplência, devido à forte expansão de crédito e uma reação exagerada do governo diante de uma inflação de ativos. No médio prazo, destacam-se os riscos associados ao tamanho reduzido e à ineficiência do setor de serviços.
Perspectivas Setoriais Ao analisarmos a pauta dos principais produtos brasileiros exportados
para a China, notamos a preponderância de minério de ferro, soja e celulose. Considerando as perspectivas de continuidade de forte crescimento da China, é natural que a busca por garantir fontes de fornecimento de commodities certamente elevará essa relação do Brasil com a China, inclusive acrescentando no futuro outros produtos onde também somos bastante competitivos.
Diante desse cenário e para entender melhor a dinâmica também dos mercados dessas commodities dentro da realidade brasileira, detalhamos a estrutura e as perspectivas de quatro setores identificados como importantes para essa relação Brasil-China: Petróleo, Papel & Celulose, Mineração e Alimentos.
Índice: Sumário Executivo.................... 02
Cenário Macro Brasil - China.... 03
Curto Prazo.......................... 10
Médio/Longo Prazo.............. 18
Perspectivas Setoriais.............. 30
Petróleo ............................... 31
Papel & Celulose ................. 37
Mineração ............................ 44
Alimentos............................. 55
RELATÓRIO ESPECIAL
14 de agosto de 2009
RELATÓRIO ESPECIAL 2 14 de agosto de 2009
SUMÁRIO EXECUTIVO
• Este relatório analisa a economia chinesa em suas diversas esferas: cultural, econômica e política. Buscaremos
aqui desvendar as origens do atual crescimento chinês, bem como traçar perspectivas para o comportamento
desta economia no médio longo prazo, ressaltando os pontos fortes e os riscos inerentes ao processo de
desenvolvimento chinês.
• Houve forte aumento da participação da economia chinesa nas exportações brasileiras. Atualmente, a China é
nosso mais importante parceiro comercial. Dado este fato, entender o desenvolvimento da economia chinesa
tornou-se essencial para avaliarmos o humor do mercado em relação ao Brasil.
• A China apresenta um setor privado pujante, representando 2/3 do PIB. Nos setores considerados essenciais,
como educação e energia, o controle estatal é absoluto. Em grande medida o nível elevado de poupança é
resultado de uma poupança corporativa elevada dada a não distribuição de dividendos pelas estatais.
• A recuperação chinesa nos últimos quatro meses foi impressionante. O principal motor desta recuperação foi
uma forte expansão monetária e creditícia. Contudo, uma expansão de tal magnitude não vem sem uma piora na
qualidade dos créditos concedidos.
• No curto prazo os investimentos em infra-estrutura, aliados à expansão do crédito, devem continuar a ser o
motor da expansão chinesa. Devendo-se atentar para a formação de bolhas no setor imobiliário.
• No médio prazo são imprescindíveis mudanças estruturais para a manutenção do crescimento econômico. A
ampliação de mecanismo de proteção social reduziria a poupança preventiva e dinamizaria o consumo. A
ampliação e melhora do setor de serviços reduziria a dependência externa e permitiria ganhos extraordinários de
produtividade. Há, também, o processo de internacionalização das estatais, com a aquisição de novas
tecnologias e ampliação dos mercados consumidores.
• A produção de petróleo na China cresceu 1,5%a.a. nos últimos 3 anos, bem menos que a demanda e,
consequentemente, as importações mostram ano a ano números cada vez maiores.
• A tendência é de que a demanda de celulose pela China continuará crescente, mas talvez não na velocidade
que foi visto ao longo do 1S09. Importante destacar a posição do Brasil no mercado de celulose, sendo o
principal player produtor da fibra com maior perspectiva de crescimento no futuro. A Suzano Papel & Celulose é
o que mantém a maior exposição à China, tendo esse país atingido no 2T09 uma participação de 52%.
• Ainda que a demanda dos destinos ex-China se recupere aos patamares anteriores à crise, a China parece ter
ocupado uma importância irreversível no portfólio de clientes de minério de ferro da Vale.
• A competitividade de custos e escala das empresas brasileiras de alimentos, bem como sua relevância no
trading global as torna players naturais para fornecer para o mercado chinês, de onde esperamos observar
expansão significativa de demanda por estes produtos.
RELATÓRIO ESPECIAL 3 14 de agosto de 2009
Participação nas exportações brasileiras
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
jan/03
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8jan
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mai/09
EUA ChinaFonte: Mdic
Participação Chinesa nas importações brasileirasAcumulado em 12 meses
4%
5%
6%
7%
8%
9%
10%
11%
12%
13%
jan/04
abr/0
4jul
/04ou
t/04jan
/05ab
r/05
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5jan
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7jan
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jul/08
out/0
8jan
/09ab
r/09
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Participação na importações Crescimento A/AFonte: ATIVA Research
CENÁRIO MACROECONÔMICO BRASIL-CHINA
“Deixemos a China dormir, porque quando ela acordar vai sacudir o mundo”
Napoleão Bonaparte, 1812
Brasil - Cada vez mais dependente do outro lado do mundo. Entender os rumos da economia brasileira tem se tornado cada vez mais complexo nos últimos
anos. Várias foram as rupturas estruturais, merecendo destaque a mudança dramática de seu
balanço de pagamentos. Uma grande parte dessa história é, na verdade, a alta nos preços e
quantidades das commodities, que por sua vez pode ser explicada pelo surgimento da China
como potência global.
Índice de commodities vs. Reservas internacionais
10.000
60.000
110.000
160.000
210.000
fev/99
ago/9
9fev
/00
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0fev
/01
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/02
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6fev
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8fev
/09
0
50
100
150
200
250
300
Reservas internacionais Commodities (eixo secundário)Fonte: Macrodados
US$ Milhões
Durante anos, para entender o cenário internacional, bastava observar o comportamento da
economia americana. A crise deixou claro que os mercados financeiros ainda são conectados ao
americano, principalmente devido à liquidez. Mas será que as economias são tanto quanto já
foram? No caso brasileiro, certamente não.
No mês passado, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil, representando
19,1% das suas exportações. Este dado por si só, gera uma necessidade de conhecimento da
economia chinesa de forma integral, pois não só esta passa a ter impactos significativos sobre a
economia real brasileira no setor exportador, como os agentes de mercado passam a dar mais
importância para a economia chinesa. As importações, embora sejam bem menos expressivas,
estão crescendo em ritmo forte também.
RELATÓRIO ESPECIAL 4 14 de agosto de 2009
Podemos notar, ao analisarmos a pauta dos principais produtos brasileiros exportados para a
China, que esta ainda é uma relação basicamente de suprimento de matérias primas. Tal fato
não deve mudar drasticamente nos próximos anos, principalmente diante do alto grau de
ociosidade do setor industrial chinês atualmente. Podemos notar a preponderância de minério
de ferro e várias de suas variações, soja e celulose.
Participação no total exportado para a China
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
2004
2005
2006
2007
2008
2009
1,0%
1,5%
2,0%
2,5%
3,0%
3,5%
4,0%
4,5%
5,0%
Soja Minério de ferro Celulose (eixo secundário)Fonte: MDIC, ATIVA Research
Esses itens não apenas são importantes na relação de comércio com a China, sendo parte
importante do comércio global brasileiro. No gráfico abaixo, notamos que as exportações de
minério de ferro e soja para a China já representam, nesse ano, 60% do total exportado. Ou
seja, a China é vital para esses mercados no Brasil. No gráfico abaixo estão representados os 6
produtos mais importantes, equivalente a 86,4% das exportações brasileiras para a China.
Participação Chinesa no total exportado de cada produtoProdutos mais exportados para China
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Soja Minério de ferro Petróleo Celulose Ferroniobio Aço
Fonte: MDIC, ATIVA Research
Já do ponto de vista das importações, o Brasil importa de forma cada vez mais relevante partes
de computadores e aparelhos de celular. Em grande parte, para serem montados na zona franca
de Manaus e obterem benefícios fiscais. No cenário atual, de excesso de capacidade
exportadora da economia chinesa, os consumidores brasileiros podem se beneficiar de uma
política de preços mais atrativa.
RELATÓRIO ESPECIAL 5 14 de agosto de 2009
No entanto, é essencial entendermos os fundamentos da economia chinesa para avaliarmos
melhor, parte do humor do mercado internacional em relação ao Brasil. Esperamos que as
próximas páginas consigam elucidar dúvidas cruciais que tínhamos antes de nos aprofundarmos
em nossos estudos. (Iremos também levantar quais são os principais fatores de risco para a
história que parece ora infalível ora insustentável.)
Este relatório se divide em 4 seções: na primeira faremos uma análise dos principais pontos
culturais e históricos que influenciam o cenário macroeconômico chinês, assim como a tentativa
de entender alguns de seus mitos; segue uma seção sobre a recuperação recente, perspectivas
de curto prazo e os seus possíveis riscos; na terceira seção abordaremos as perspectivas de
médio prazo e seus motores; na última seção analisaremos os principais riscos para o cenário
de crescimento chinês para os próximos anos.
Equilíbrio frágil – Qual é aquela palavra mesmo? Ah, Democracia! Existem alguns fatores culturais e decisões históricas do governo chinês que influenciam de
forma crucial as perspectivas para a economia chinesa. Portanto, é crucial gastarmos um tempo
discorrendo sobre questões culturais, para entendermos o cenário para os próximos anos. Além
disso, fica claro ao visitar a China, que a sociedade chinesa tem valores muito diferentes dos
ocidentais, e que, apesar da mudança dramática dos últimos anos, analisar a China com lógica
ocidental pode nos levar a uma série de erros.
A China parece conseguir conciliar algo quase impossível: economia pró-mercado com
valorização do empreendedorismo e estado autoritário – por vezes intransigente. Os eventos
dos últimos meses, como a prisão de funcionários da Rio Tinto e a repressão aos protestos em
Urumqi, de um de suas muitas minorias étnicas, demonstram exatamente o segundo aspecto
deste sistema.
A sustentabilidade encontra-se ancorada em crescimento econômico. O grau de enriquecimento
dos últimos 20 anos foi tão agudo que parece compensar grande parte das mazelas que trazem
a falta de liberdade individual. Há um ponto de forte distinção entre as sociedades chinesa e
ocidental: a relação entre o indivíduo e a comunidade. Na China dá-se maior valor ao coletivo,
abdicando-se de algumas premissas de liberdade individual. Esta diferença, aliada a um sistema
educacional dominado pelo estado e com conteúdo focado na perpetuação do poder, cria
cidadãos com reduzido senso crítico e capacidade de questionar o status quo político.
RELATÓRIO ESPECIAL 6 14 de agosto de 2009
PIB per capita - Base 1978=100
Projeção
80
280
480
680
880
1080
1280
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
Fonte: Bloomberg
Sem dúvidas, na medida em que a sociedade chinesa for se integrando à economia global e o
isolamento de seus cidadãos for se dissipando, como no caso da internet, esse conformismo,
fruto de uma ignorância das opções, será provavelmente o maior desafio para o estado chinês.
Contudo, enxergamos tal perspectiva em um horizonte distante, mais longe do que os horizontes
os quais nós, ocidentais, estamos acostumados a lidar.
Sistema Político – A busca por perpetuação remodelada
Como explicitado acima, o estado chinês ainda hoje é uma ditadura do ponto de vista de
liberdades individuais. No entanto, na sua busca pela manutenção de um modelo que perpetua
o acesso à corrupção e ao poder, os chineses parecem ter encontrado um modelo político
eficiente. Três aspectos da estrutura de governo valem ser mencionadas.
• O governo central é composto por um comitê de 9 membros que toma as decisões. Este
tem um sistema de indicação bastante rígido, baseado em uma meritocracia própria. Além disso,
tem um limite de idade para esses membros, que não podem ser reeleitos após a idade de 62
anos, para evitar líderes que estejam desconectados da realidade do partido e das demandas
sociais. Com isso, há uma renovação constante neste grupo, que parece manter o menor ritmo
possível de mudanças do ponto de vista democrático, sem causar tensões sociais. Este comitê
tem a premissa de executar toda a política macroeconômica, que é feita através de legislações
relativamente frouxas, dando bastante autonomia para as províncias. Com isso, há uma espécie
de laboratório de execução das políticas, que depois de analisadas são implementadas de forma
mais ampla nacionalmente.
• O outro aspecto essencial do ponto de vista econômico é exatamente a estrutura de
províncias. Os governadores locais têm como objetivo manter seu crescimento e as gerações de
emprego os mais fortes possíveis. Isto posto, atuará de forma a manter um fluxo constante de
investimentos em sua região, que tem duas conseqüências: acesso a fundos para a corrupção;
resultados claros de suas políticas para a escalada dentro do partido. A conseqüência mais séria
RELATÓRIO ESPECIAL 7 14 de agosto de 2009
disso é, muitas vezes, um desalinhamento dos interesses do governo central e provincial, que
não tem inflação na sua função utilidade.
• Por fim, diferentemente dos governos democráticos, o ciclo de poder dentro do governo
é diferente. Em primeiro lugar, quanto mais perto do fim de seu mandato – o governo atual
termina em 2012 – mais poderoso este fica para implementar reformas, dado que no início ainda
não conseguiu permear com os seus colaboradores toda a estrutura estatal. Em segundo lugar,
dado que os resultados são medidos, principalmente nas províncias, por grandes projetos, existe
um estímulo para se gastar no início do mandato para haver algo concreto para se mostrar.
Economia privada – Maior do que parece Temos uma percepção equivocada sobre o controle do estado chinês sobre a economia. Desde
as reformas de Deng Xaoping, na década de 70, esta é livre nos estágios iniciais. Mais
importante, verifica-se na sociedade chinesa um comportamento empreendedor.
Provavelmente, pelo fato de viver em um país com um grande excesso de mão de obra, os
chineses desenvolveram um espírito de sobrevivência que repercute em empreendedorismo,
diferentemente de outros lugares. Talvez seja apenas a lei dos grandes números, onde a
quantidade de empreendedores é simplesmente resultado de uma maior oferta de pessoas. No
entanto, a conclusão final é clara e inequívoca: a China tem um pujante e fervilhante setor
privado que, segundo uma série de especialistas, representa 2/3 do PIB.
Obviamente, devido ao alto controle do partido comunista, esses empreendedores, responsáveis
por 80% da formação de empregos na China, não chegam a setores estratégicos como
educação, saúde e prestação de serviços como telefonia e suprimento de energia. Além disso, a
percepção externa de uma economia fortemente estatal é distorcida, devido principalmente à
inexistência de um grande grupo privado. O governo, para evitar a formação de grupos
empresariais fortes, com capacidade de demanda e de verbalizar desejos de reforma, não
estimula a consolidação do setor. Portanto, de fato, todos os grandes grupos que observamos
são estatais (SOE – State Owned Enterprises) ou tem forte participação do governo. Essa
política reflete exatamente a busca pela manutenção do equilíbrio descrito acima.
Além disso, para se aventurar em setores mais sensíveis, que parecem atualmente ter a maior
taxa interna de retorno, somente com a “benção” do governo. Isso inclui passar por uma série de
níveis de corrupção e coerção. Existe, além disso, um risco de segurança pessoal enorme, dada
a ausência do estado de direito. Portanto, não devemos esperar, pelo menos no curto prazo,
uma revolução privada no setor de serviços. Com isso, para o médio prazo ainda há todo o
possível ganho de eficiência inerente à consolidação setorial que deve acontecer na medida em
que o governo for liberalizando o sistema político.
RELATÓRIO ESPECIAL 8 14 de agosto de 2009
SOE – Estatais brasileiras elevadas à décima potência
Os grandes grupos empresariais são na verdade estatais e, como no Brasil, a presença de
estatais traz uma série de conseqüências. Todos os executivos dessas empresas são
escolhidos pelo departamento de organização do partido comunista e seguem instruções diretas
do governo tanto em relação a investimentos quanto ao direcionamento estratégico.
Indubitavelmente a maneira de escalar na hierarquia do partido é criando grupos sólidos e
fortes, o que demanda uma forte geração de lucros para serem reinvestidos. Portanto, ao
contrário do que pode parecer, a busca por lucratividade parece ser constante em várias
esferas.
No entanto, algumas decisões estratégicas são tomadas de forma que não se leva em
consideração o interesse do minoritário, o quê acaba por gerar distorções de capacidade e grau
de alavancagem, muitas vezes, pouco interessantes e não necessariamente eficientes. Dito
isso, essa característica parece tornar a realocação de fatores, pelo menos desses grupos, mais
rápida, na medida em que uma queda de demanda, como a atual, se instala.
Dito isso, a mais importante característica de uma economia que tem 25% PIB de estatais é o
não pagamento de dividendos, gerando uma poupança corporativa muito mais elevada do que
na maioria dos países. Como o objetivo final não é remunerar o acionista, mas sim fortalecer o
grupo empresarial, essas empresas tem uma cultura de reinvestimentos que escapa à lógica
corporativa ocidental. Além disso, este fator torna o ciclo de investimentos bastante
desconectado da política monetária, dado que o custo de capital só está atrelado com a taxa
básica devido ao custo de oportunidade e não o custo do empréstimo em si.
Conseqüentemente, o equilíbrio econômico final não parece sustentável. Porém, enquanto a
China ainda tiver espaço para investir em infra-estrutura e uma demanda por serviços essenciais
crescentes, essa lógica deverá prevalecer.
Poupança - Fator cultural ou estrutural?
Esta questão das estatais nos leva exatamente ao principal fator que torna a economia chinesa
tão peculiar: sua impressionante taxa de poupança. Muitos creditam esse fator à influência da
filosofia de Confúcio, que pregava a poupança como um importante aspecto para uma vida mais
equilibrada. De fato, parece haver um forte aspecto cultural de poupança, principalmente na
geração nascida até a década de 70. No entanto, existem alguns mitos. A taxa de poupança em
relação à renda nas famílias não é tão elevada, sendo estimada em 20%. Este número é
obviamente alto, mas devemos lembrar que este é produto da inexistência de um sistema de
previdência, que é em si um fator de estímulo à poupança. O principal fator para o dado macro
ser tão discrepante é a poupança corporativa e, obviamente, a quantidade de pessoas
poupando.
RELATÓRIO ESPECIAL 9 14 de agosto de 2009
Culturalmente há ainda outro fator que explica este fenômeno. A estrutura familiar é muito
valorizada na China. Mais uma vez o valor do indivíduo parece ser deixado em segundo plano,
portanto, aqui sim, a filosofia confuciana parece ter forte influência. O respeito aos mais velhos e
a obrigação dos filhos pelo bem estar dos pais, durante a velhice, parecem ser valores ainda
muito fortes na sociedade chinesa, mesmo para os jovens já expostos aos valores ocidentais.
Historicamente, devido à falta de sistema de previdência os pais contavam com a renda futura
dos filhos para o seu sustento após a aposentadoria. Além disso, a recente história turbulenta
dos últimos 100 anos, de fomes e guerras, também parece ter influenciado um grau maior de
poupança preventiva.
Outro fator que também influencia é o fato de 45% da população ainda estar exposta
à economia agrícola, intrinsecamente mais arriscada devido à falta de controle de fatores
externos como o tempo e pragas. Logo, é necessário um grau ainda maior de poupança
preventiva. No entanto, este fator tem mudado gradualmente com o processo de urbanização
em andamento. Embora os fatores acima descritos estivessem sempre presentes, só
recentemente a China se tornou uma credora internacional tão marcante a ponto de ser acusada
como parte do problema do excesso de consumo americano.
Economia Serviços
Economia Industrial
Economia Agrícola
Fonte: ATIVA Research
Risco
Crescimento
Trajetória da economia chinesa Economia Serviços
Economia Industrial
Economia Agrícola
Fonte: ATIVA Research
Risco
Crescimento
Trajetória da economia chinesa
A grande diferença aqui é a implementação da “One Child Policy”, esta que talvez seja a maior
prova do pouco valor do indivíduo na sociedade chinesa. Essa política teve implicações
profundas sobre a estrutura de consumo e poupança. Uma vez que os pais não poderiam mais
poupar, para a sua aposentadoria, através da garantia do fluxo futuro de renda dos filhos, a
necessidade de poupança financeira aumentou dramaticamente. Ou seja, a partir do momento
em que houve uma limitação de apenas um filho, que aumenta o risco de falhas como morte ou
pura incapacidade de geração de renda de forma significativa, houve uma realocação de
portfólio onde os ativos financeiros ganharam maior importância. Esta parece ser a explicação
mais convincente para explicar o fenômeno atual, e não nos parece que haverá mudanças no
médio prazo para esta questão.
RELATÓRIO ESPECIAL 10 14 de agosto de 2009
One Child Policy – Famílias menores, problemas maiores. Como ficou claro acima, esta política teve efeitos profundos sobre a economia chinesa e
provavelmente global nos últimos anos. No entanto, não é somente na composição do portfólio
de poupança que observamos seus efeitos. Claramente, o fato de que as famílias chinesas
passaram a ter uma quantidade muito maior de poupança financeira gera sempre o risco de uma
bolha de ativos, especialmente dado o forte controle de capitais sobre as famílias. Com isso,
resta aos chineses apenas o mercado acionário e imobiliário, que estarão sempre sujeitos a tais
fenômenos. Sem dúvidas, a ocorrência de bolhas preocupa no médio prazo para a economia
chinesa.
Além disso, o fato de haver apenas um filho nas famílias leva os pais a estarem dispostos a
ajudar na compra da primeira moradia, que é uma questão cultural importante na China. Criando
aqui uma demanda por imóveis quase que permanente e alta pelos próximos 5 anos, quando o
pico demográfico chinês será atingido à idade de 25 anos. Este fator é positivo, pois reduz o
risco de uma bolha de crédito imobiliário parecido com o americano, dado que o volume de
financiamento tende a ser muito elevado.
O principal fator positivo dessa política é o foco em educação que os pais passaram a adotar.
Dada a concentração de esforços no único filho, há a importância significantemente maior em
dar as melhores ferramentas possíveis para o sucesso do jovem. Com isso, tem havido nas
grandes cidades uma melhora do nível educacional do jovem médio em comparação com a
geração anterior. Por fim, no longo prazo há a possibilidade de que a atual vantagem
comparativa derivada da elevada oferta de mão-de-obra seja substituída pela melhora do capital
humano, o que propiciaria uma nova vantagem, tal qual ocorreu na Coréia.
Cenário Econômico de curto prazo – Expansão monetária, não fiscal!
A recuperação da economia chinesa nos últimos 4 meses tem sido impressionante e tem
movimentado um forte otimismo nos mercados globais em relação à possibilidade de um
desacoplamento das economias emergentes do que parece ser um longo período de
crescimento baixo nas economias do G3. Devido à má qualidade dos dados macroeconômicos
chineses, é difícil de entender o quão sustentável é esse processo no curto prazo – chamaremos
de curto prazo os próximos 12 meses.
As seguidas revisões de crescimento para a China, dos bancos internacionais e dos próprios
organismos internacionais, mostram o grau de surpresa em relação à recuperação desta
economia. Sem dúvidas a economia está em clara expansão, em um ritmo que parecia
impossível no início do ano, diante a exposição chinesa ao comércio internacional. Em grande
parte, isto tem sido atribuído ao pacote de RMB 4 trilhões anunciado em novembro do ano
RELATÓRIO ESPECIAL 11 14 de agosto de 2009
passado. Antes de entrarmos em detalhe sobre esse, convém recapitular o que estava
acontecendo com a economia chinesa antes do agravamento da crise.
PIB - ChinaA/A
5%
6%
7%
8%
9%
10%
11%
12%
13%
1T96
4T96
3T97
2T98
1T99
4T99
3T00
2T01
1T02
4T02
3T03
2T04
1T05
4T05
3T06
2T07
1T08
4T08
Fonte: Macrodados
2009 2010
FMI 7,5 8,5Banco Mundial 6,5 7,5OCDE 7,7 9,3Fonte: FMI (08/jul), BIRD (22/jun) e OCDE (24/jun)
Projeções de Crescimento Econômico para China (%)
Em meados de 2007, a economia chinesa estava crescendo ao ritmo de 13% ao ano,
claramente inflacionário, o que levou o governo central a tomar medidas para desacelerar esse
movimento. É inquestionável que o setor imobiliário foi o principal foco dessas medidas, que
reduziram fortemente novos projetos e ainda desacelerou o que parecia ser um início de uma
bolha de preços nas cidades costeiras. Portanto, na segunda metade de 2008, o governo chinês
estava com o pé no freio da economia. Quando da crise, a simples retirada dessas medidas já
serviriam de estímulo para a economia.
PIB - ChinaA/A
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
3T05
4T05
1T06
2T06
3T06
4T06
1T07
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
2T09
Indústria Primária Indústria Secundária Indústria TerciáriaFonte:Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
RELATÓRIO ESPECIAL 12 14 de agosto de 2009
Preço de venda de prédios residenciaisA/A
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
1T01
3T01
1T02
3T02
1T03
3T03
1T04
3T04
1T05
3T05
1T06
3T06
1T07
3T07
1T08
3T08
1T09
Total Baixa qualidade Qualidade média Alta qualidadeFonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
A rápida reação do governo chinês aliado ao seu controle sobre as SOEs (25% do PIB)
ampliaram a eficiência do pacote. Algumas ressalvas devem ser feitas aqui. Na verdade, até
hoje não é claro quanto desses RMB 4 trilhões são de fato fundos novos e, portanto, realmente
efetivos. O que parece ter sido de fato mais efetivo das medidas governamentais, foi a explosão
do crédito. O nível de expansão atual das concessões de crédito, embora visivelmente
insustentável tem sido, sem dúvida, o grande motor do crescimento corrente. Se somarmos os
RMB 4 trilhões à formação de crédito atual de RMB 5-6 trilhões a mais do que no ano passado,
estamos falando de um estímulo de pelo menos 40% do PIB.
Concessão de créditoBilhões de Renminbi
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
jan/06
mar/06
mai/06
jul/06
set/0
6
nov/0
6jan
/07
mar/07
mai/07
jul/07
set/0
7
nov/0
7jan
/08
mar/08
mai/08
jul/08
set/0
8
nov/0
8jan
/09
mar/09
mai/09
jul/09
Fonte: Bloomberg
Este gráfico chama a atenção para uma elasticidade do crédito à política monetária
superestimada. No entanto, a política monetária clássica tem pouca potência na economia
chinesa. São as medidas setoriais, como redução da entrada para as hipotecas, desconto nas
taxas aplicadas para 70% do valor oficial que são efetivas. Esta característica é importante para
o monitoramento futuro da economia. Dessa maneira, devemos nos ater mais a estas medidas
como sinal de retração de estímulos. Além disso, devido à alta taxa de poupança corporativa, os
investimentos das SOEs também são insensíveis à política de juros pelo canal clássico. Por fim,
RELATÓRIO ESPECIAL 13 14 de agosto de 2009
a necessidade das províncias de gerar crescimento acaba tornado os bancos públicos locais
ferramentas regionais de alavancagem do crescimento.
Grande parte do movimento tem sido direcionado para grandes projetos de infraestrutura,
investimentos da SOEs e o mercado imobiliário, levantando algumas dúvidas de médio prazo,
que exploraremos na próxima seção sobre riscos. No entanto, o que fica claro é que no curto
prazo ainda há muito espaço para a expansão desses investimentos, sendo que estes
eventualmente devem alimentar a demanda doméstica, de fato, para que este processo de
recuperação se torne sustentável.
Investimento em ativos fixosA/A
0%
6%
12%
18%
24%
30%
36%
42%
Jan-M
ai/08
Jan-J
un/08
Jan-J
ul/08
Jan-A
go/08
Jan-S
et/08
Jan-O
ut/08
Jan-N
ov/08
Jan-D
ez/08
Jan-F
ev/09
Jan-M
ar/09
Jan-A
br/09
Jan-M
ai/09
Investimento Total Empresas estatais e Controladas
Edifícios residenciais Desenvolvimento imobiliárioFonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Novos investimentos em ativos fixos urbanos(100 milhões de yuans)
4.000
14.000
24.000
34.000
44.000
54.000
64.000
74.000
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Novos investimentos A/A (eixo secundário)Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Outro setor que tem sido essencial nesse processo é o de veículos. Apenas 9,8% das famílias
chinesas possuem carros, segundo especialistas. Logo, existe uma demanda reprimida imensa
para a população urbana. Com o movimento de expansão do crédito, este setor, que tem um
forte impacto na cadeia produtiva, tem apresentando resultados impressionantes e não parece
ter problemas no curto prazo com saturação. Portanto, enquanto o governo quiser expandir as
concessões para esse setor, parece haver potencial de crescimento.
RELATÓRIO ESPECIAL 14 14 de agosto de 2009
Produção de Veículos Motorizados (mil unidades)
0
25
50
75
100
125
ago/0
4fev
/05
ago/0
5fev
/06
ago/0
6fev
/07
ago/0
7fev
/08
ago/0
8fev
/09
Fonte: Macrodados
Segundo uma série de especialistas com quem conversamos, esse processo expansionista
parece ser sustentável nos próximos 12 meses, sem gerar nenhum risco significativo de
instabilidade fiscal ou monetária para a economia chinesa. Dado o baixo grau de endividamento
soberano chinês, a expansão dos ativos dos bancos – que são todos públicos – é a contratação
de um passivo possível, dada a velocidade, porém, mesmo que estes virem passivos soberanos,
não há problema de sustentabilidade.
Vendas no VarejoA/A
0%
5%
10%
15%
20%
25%
jan/99
jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
As projeções de crescimento dos especialistas indicam uma aceleração do crescimento da
economia chinesa para os próximos 3 trimestres. Parece-nos factível 8% de crescimento em
2009, dado o forte ciclo de expansão dos investimentos e os baixos estoques de imóveis nas
cidades costeiras.
MédiaInstituições Financeiras 8,8%Consultores 8,2%Acadêmicos 9,0%
Fonte: ATIVA Research
Projeções Chinesas para o PIB de 2009
RELATÓRIO ESPECIAL 15 14 de agosto de 2009
Obviamente, há excesso de capacidade ociosa em alguns setores, principalmente os ligados à
demanda externa, como na província de Quadong, no sul da China. Estes passarão por um
processo de realocação de fatores não trivial. Porém, acreditamos que este parece não ter
capacidade suficiente para ameaçar o crescimento esperado para a economia chinesa. No
entanto, do ponto de vista macroeconômico, um excesso generalizado de capacidade deveria vir
acompanhado por uma deflação de bens forte. Como podemos ver no gráfico abaixo, este não é
o caso, dado que o processo deflacionário, embora tenha sido alto no período pós-crise,
estabilizou-se.
Inflação ChinesaA/A
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
jan/00
jul/00
jan/01
jul/01
jan/02
jul/02
jan/03
jul/03
jan/04
jul/04
jan/05
jul/05
jan/06
jul/06
jan/07
jul/07
jan/08
jul/08
jan/09
Fonte: Bloomberg
Utilização da capacidade instaladaPequenas e média empresas
70%
75%
80%
85%
90%
95%
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
2T09
Fonte: CRR
Além disso, o governo parece estar bastante preocupado com a possibilidade de retirar esses
incentivos antes do tempo, gerando uma recuperação em W. A experiência japonesa da década
de 90 parece assombrar os oficiais chineses, que estão dispostos a aceitar um risco maior de
inflação, principalmente de ativos, para evitar uma recuperação não sustentada. Portanto,
apesar de possivelmente observarmos uma desaceleração dos níveis de crédito no curto prazo,
a economia deve continuar crescendo, dada a mudança de patamar da demanda agregada e os
períodos mais longos dos processos de investimentos, infra-estrutura e construção civil.
Riscos para o processo de recuperação – mitigáveis, mas presentes.
Parece ser um claro consenso entre empresários, economistas e altos funcionários que o
processo de recuperação é sustentável no curto prazo. No entanto, onde há maior divergência é
RELATÓRIO ESPECIAL 16 14 de agosto de 2009
nos riscos que o atual ciclo está criando. Utilizando da experiência brasileira de utilização de
bancos públicos para a concessão de crédito, percebemos claramente um enorme potencial de
risco para a economia chinesa.
Drivers• Mercado Imobiliário • Empréstimos podem gerar surto de NPL`s• Venda de veículos • Inflação de ativos:• Projeto de Infra estrutura pelas províncias − casas - governo reage separadamente, porém • Consumo doméstico pode exagerar nas medidas
− ações - mais fácil de controlar e sem postartantos riscos para recuperação
• Inflação de alimentos - poderia levar o governo a reagir
RiscosCurto Prazo
NPL – Já esperado, mas será que é só isso?
A concessão de crédito em alta velocidade, como podemos ver na China, é claramente
perigosa. Nenhuma estrutura de concessão consegue aumentar a sua estrutura de forma tão
rápida sem implicar na perda da qualidade de seus ativos. Isso é ainda mais importante dado
que os bancos são públicos e interessados em manter o crescimento da economia. Portanto, o
risco de um aumento muito grande de ativos de má qualidade, novamente, no sistema bancário
chinês, é significativo. Como mencionado acima, o governo está aumentando o seu passivo
potencial de forma expressiva. Desde que seja esta uma atitude passageira, em princípio não irá
gerar riscos de médio prazo significativos.
O maior fator de risco aqui está ainda muito concentrado na parte corporativa, dada a velocidade
da expansão dos investimentos e gastos com infra-estrutura de algumas províncias, estes sim
são ativos grandes e duvidosos. O sistema de crédito imobiliário ainda conta com uma série de
diferenças com o ocidental, como uma entrada de pelo menos 20%, que diminuem de forma
significativa a possibilidade de uma crise como a americana.
Além disso, os bancos chineses estão com NPL´s em níveis historicamente baixos e com
balanços saudáveis depois da limpeza da década de 90. Portanto, o risco sistêmico parece
relativamente exagerado, provavelmente devido ao trauma da recente crise americana.
Inflação de Ativos X inflação de bens – situações bem diferentes.
Ao contrário de Alan Greenspan, que não acreditava que o governo deveria reagir à inflação de
ativos, por não saber quando este é uma bolha ou quando é apenas uma mudança de preços
relativos, o governo chinês acredita muito na sua capacidade. Conforme mencionado, em 2008
a economia estava sofrendo uma desaceleração liderada exatamente pelo setor imobiliário, que
RELATÓRIO ESPECIAL 17 14 de agosto de 2009
o governo julgava estar em uma trajetória perigosa. Ou seja, não só eles agem como estão
monitorando de muito perto esse mercado.
Para entender melhor a reação do governo é necessário olhar não o nível de preços, mas a
velocidade do crescimento deste. Indubitavelmente, os fatores estruturais abordados na primeira
seção indicam haver forte tendência para a alta de preços de ativos na China. Contudo, o
governo irá intervir se julgar que há um componente especulativo forte. Ou seja, o risco aqui
levantado é de uma ação contracionista do governo diante de uma elevação muito rápida nos
preços, como aparentemente este procedeu em 2007. Dado que este é um importante motor da
recuperação da economia, essa falha seria crucial.
Prédios residenciais por indivíduosA/A
-25%
-15%
-5%
5%
15%
25%
35%
45%
55%
out/0
5
dez/0
5fev
/06
abr/0
6jun
/06
ago/0
6ou
t/06
dez/0
6fev
/07
abr/0
7jun
/07
ago/0
7ou
t/07
dez/0
7fev
/08
abr/0
8jun
/08
ago/0
8ou
t/08
dez/0
8fev
/09
Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Já no mercado de capitais de Ashares, que é limitado para os investidores estrangeiros, o
governo está preparando uma série de IPO´s de várias SOE´s, inicialmente de pequeno e médio
porte, para testar o apetite do mercado e para que essas novas ações absorvam parte da
liquidez excedente da economia. Com isso, evitando uma explosão dos preços das ações já
listadas. Mais uma vez, uma política pouco convencional para evitar a inflação de ativos.
O risco da inflação de bens parece muito menor e, mesmo que esta acelerasse, o governo
parece mais tolerante com inflação de bens, ao contrário de alimentos, que tendem a gerar
danos sociais mais graves, dado que alimentos representam 40% da cesta de consumo da
população. Portanto, no curto prazo, dificilmente o governo mudaria suas políticas devido à
inflação de bens.
Se aumentarmos a janela de análise, o problema de inflação de ativos e de bens, principalmente
alimentos, parece mais conectado. Com a alta constante dos preços das moradias, haveria um
boom de construção, que é um setor muito intensivo em mão de obra. Com isso, o fluxo de
migração do campo para a cidade aumentaria, gerando um aumento do custo da mão de obra
rural. Finalmente, este elevaria os preços de alimentos, que são exatamente o ponto focal para o
governo chinês. Este processo, embora não imediato, não deixa de ser um risco a se observar.
RELATÓRIO ESPECIAL 18 14 de agosto de 2009
Obviamente, caso houvesse um surto de inflação externa, como em 2008, este poderia gerar
desconforto para o governo a ponto de este agir. No entanto, dado a atual conjuntura da
economia global, este cenário não nos parece o mais provável. Neste ponto há ainda uma
questão não clara a respeito do próprio crescimento da economia chinesa, nos preços globais
de commodities. Como sabemos, a demanda chinesa é significativa na maioria dos mercados
onde ela participa, portanto uma recuperação econômica doméstica pode afetar os preços
globais, gerando uma necessidade maior de reação, mesmo que a inflação seja aparentemente
externa.
Médio Prazo – Cuidado, otimismo a vista! A história de médio prazo da China é muito mais conhecida por todos nós. De fato, quando se
parte de um nível tão baixo de desenvolvimento e com um potencial ganho de produtividade da
mão-de-obra como no caso chinês, sem democracia, não era de se estranhar que
observássemos as taxas de crescimento que observamos. Há um enorme potencial para mais
ganhos e de manutenção de crescimento. Somente a manutenção desses investimentos e a
subida de classes da população parecem ser capazes de gerar crescimento de 7-8% do PIB,
contanto que não haja nenhuma mudança dramática.
O principal motor dessa história é oriundo do processo de urbanização, que traz uma mudança
no padrão de consumo muito forte, além de aumentar muito a produtividade do trabalhador
Trabalhador rural Trabalhador urbano• Baixa produtividade do trabalho • Produtividade elevada• Poupança elevada • Aspirações de escalada social• Baixo nível de capital humano • Melhoria intergeracional do capital humano• Consumo basicamente de subsistência • Acesso ao crédito para alavancagem
• Acesso as redes de bem estar social dos grandes centros urbanos
Renda Per capitayuan/pessoa
-
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
3T06
4T06
1T07
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
Área rural Área urbanaFonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
RELATÓRIO ESPECIAL 19 14 de agosto de 2009
Quando observamos este processo de mudança de foco da produção do trabalhador e aumento
da sua renda, automaticamente pensamos em algumas mudanças do padrão de consumo. A
população passa a querer ter acesso a melhores serviços e a melhores condições de habitação.
Portanto, caso o processo do crescimento do mercado imobiliário for feito de forma controlada,
parece ter um potencial enorme para os próximos anos, não só no mercado de baixa renda,
dada a chegada do campo da população, mas simplesmente em todos os setores, na medida
em que a população melhora o seu nível de renda.
Nos gráfico abaixo comparamos o número de bens por cada 100 famílias de diferentes regiões
da China. Note que no caso de Beijing e Shanghai o número de bens de consumo duráveis são
significantemente maiores que em outras regiões. Esse é apenas um indicativo da demanda
reprimida que há na economia chinesa, que ao longo do processo de urbanização deve ser
liberada. Devemos ressaltar que essas duas cidades (ao contrário do caso brasileiro onde Rio
de Janeiro e São Paulo representam parte significativa da população) representam menos de
4% da população chinesa.
Número de bens por cada 100 famílias
0
50
100
150
200
250
Nacion
al
Beijing
Shang
hai
Tibet
Shaan
xi
Qingha
i
Motocicleta Automóvel Máquina de lavarRefrigerador Tv colorida ComputadorComponente de sistema Hi-Fi Webcam CâmeraForno microondas Ar condicionado Aquecedor de águaTelefone Celular
Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Uma importante característica que diferencia a região rural da urbana na China é a rede de
proteção social disponível na segunda. Nas grandes cidades chinesas, já é possível contar com
alguma proteção social, notadamente melhores serviços de educação pública e de saúde. Além
disso, em algumas províncias existe um sistema de previdência bastante rudimentar, mas que já
provê alguma segurança para os cidadãos. Esse é um dos fatores cruciais para desenvolver a
demanda doméstica chinesa de forma consistente para os próximos anos. Como discutido na
seção inicial do relatório, a falta de uma rede de proteção faz com que o nível de poupança
preventiva tenha que ser maior que a média dos países, gerando, portanto, um nível de
consumo baixo.
RELATÓRIO ESPECIAL 20 14 de agosto de 2009
Distribuição dos gastos dos consumidores
13%
18%
23%
28%
33%
38%
43%
3T06
4T06
1T07
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
0%2%4%6%8%10%12%14%16%18%20%
Alimentação Urbano Alimentação Rural
Vestuário Urbano (eixo secundário) Vestuário Rural (eixo secundário)Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Como podemos ver no gráfico acima, a população rural aloca – percentualmente – menos de
sua renda em bens de consumo, o que serve como indicativo da consequência da falta do
sistema previdenciário no padrão de consumo das famílias – entendemos que o nível de renda
em si também explica parte da diferença. Muitos argumentam que a criação desse sistema mais
amplo de previdência poderia liberar grande parte do consumo reprimido e, de alguma forma,
parte da poupança acumulada.
As perspectivas para essas reformas não parecem tão promissoras no curto prazo. No médio
/longo prazo o governo parece estar analisando o realizado em algumas províncias para tomar
uma decisão mais global. Segundo especialistas, os efeitos dessas mudanças são sentido aos
poucos e, em média, 5 anos após a implementação das reformas. Contudo, parece haver um
entendimento no partido que essas reformas são inevitáveis.
Esta é, sem dúvidas, uma boa notícia, mas como ressaltado na primeira seção, alguns aspectos
culturais devem manter a proporção de poupança do chinês relativamente elevada, em
comparação com os países ocidentais. Além disso, como explicado, a OCP criou um excesso de
poupança preventiva, que mesmo com um sistema de pensão dificilmente seria alterado. Ou
seja, a China pode e deve consumir mais, mas acreditamos que dificilmente terá padrões de
consumo similares ao dos EUA. Além disso, diante da renda per capta chinesa atual, este
consumo, por mais que cresça muito nos próximos 10 anos, não substituirá o consumo do G3.
Além disso, quando comparamos com o Brasil, os percentuais de gastos da família chinesa
urbana média, podemos ver que ainda há um potencial de desenvolvimento do consumo urbano,
que deve desconcentrar ainda mais de alimentação para saúde, educação e outros bens em
geral. Este é mais um potencial de expansão sustentável de consumo que vemos no médio
longo prazo para a economia chinesa.
RELATÓRIO ESPECIAL 21 14 de agosto de 2009
Urbano - R$ 24.912 Rural - R$ 12.432Alimentação 19,6% 34,1%Habitação 36,1% 28,7%Vestuário 5,7% 5,7%Transporte 18,5% 17,9%Higiene e cuidados pessoais 2,2% 2,1%Assistência à saude 6,6% 5,4%Educação 4,3% 1,5%Recreação e cultura 2,5% 1,0%Serviços pessoais 1,1% 0,6%Despesas diversas 3,5% 3,0%
Fonte: Sidra (POF 2003) a preços de 07/2009
Despesa Familiar Anual - Brasil
Urbano - R$ 10.455 Rural - R$ 2.938Alimentação 37,9% 35,9%Habitação 10,2% 20,3%Vestuário 10,4% 6,7%Bens domiciliares 6,2% 5,5%Saúde 7,0% 7,8%Transporte e Comunicação 12,6% 11,4%Recreação, Educação e Cultura 12,1% 10,0%Outros serviços 3,7% 2,4%
Fonte: National Bureau of Statistics (valores referentes ao ano de 2008)
Despesa Familiar Anual - China*
Além disso, na pirâmide etária chinesa, a faixa de 25 anos, que é um dos grandes demandantes
orgânicos de habitação, atingirá o seu pico nos próximos 3 anos. Portanto, há o risco de que no
mercado de alta renda, onde o consumidor é mais informado e tem uma poupança nominal mais
elevada, esteja ocorrendo um forte componente especulativo, dada a necessidade de alocação
de portfólio. Contudo, quando observamos do ponto de vista macro, no médio prazo, parece
existir ainda um enorme potencial para a construção civil na China.
Reformas no setor de serviços
Uma rodada de estímulo monetário e parcialmente fiscal, como está ocorrendo recentemente,
não gera riscos de estabilidade muito grande. Mas o estado não pode continuar ad eternun
estimulando o consumo via fortes expansões de crédito, que inequivocamente geram um
passivo no sistema bancário. São necessárias reformas para que o crescimento doméstico se
torne mais sustentável. Além das mencionadas acima, as reformas do setor de serviços são
outro passo natural que também apresenta potencial para o crescimento chinês de médio longo
prazo.
Como vimos acima, na análise de consumo da população rural e urbana, uma das principais
demandas da população são serviços melhores, principalmente educação e saúde. Ao melhorar
RELATÓRIO ESPECIAL 22 14 de agosto de 2009
as suas condições de vida e especialmente por ter apenas um decente, o chinês tenta garantir o
melhor para seu filho, ou seja, essas são enormes demandas reprimidas na população
emergente chinesa. Além desses, os setores financeiros e de serviços básicos – telefonia e
eletricidade – são outros que ainda apresentam elevado potencial de reforma, bem como
demandam mais qualidade.
PIB - ótica da oferta2T09
8,6%
50,1%
41,3%Indústria Primária
Indústria Secundária
Indústria Terciária
Fonte:Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
O governo chinês parece entender que reformas são necessárias. Além disso, o período atual
parece ser favorável para o estabelecimento de projetos ambiciosos de mudança. A expansão
do setor de serviços também iria balancear a economia chinesa, pela ótica da oferta, de uma
economia industrial exportadora para uma de consumo doméstico. A reforma no setor de
serviços é essencial para desafogar parte do excesso de poupança das famílias nos próximos
anos, dado o alto grau de demanda reprimida.
Algumas coisas já estão sendo implementadas, como as reformas no setor financeiro. Há uma
clara tentativa de democratizar mais o crédito com a colocação de novas agências locais de
bancos, focadas em empreendedores de médio e pequeno porte. Além disso, o mercado de
dívida privada também está sendo fortemente estimulado pelo governo. Por fim, há um estímulo
para que os bancos emprestem mais às pessoas físicas, sendo que tais efeitos já podem ser
vistos nos mercados imobiliário e de veículos.
É exatamente na frente dos serviços essenciais que o governo parece menos focado. Este é um
risco, dado que essas reformas têm um potencial mais forte de geração de crescimento no curto
e médio prazo, dada a forte demanda reprimida. Portanto, existe um risco que ao final desses 12
meses nenhuma dessas reformas tenham sido implementadas e haja necessidade da
manutenção da atual política monetária e, ainda, de mais gastos fiscais. Caso esse cenário se
materialize, o risco de NPL´s, que já está presente, iria aumentar de forma significativa, além de,
é claro, só se estar adiando as reformas que são vitais para a manutenção do crescimento
chinês de médio longo prazo.
RELATÓRIO ESPECIAL 23 14 de agosto de 2009
SOE
Outro potencial de crescimento de médio prazo para a economia chinesa são as suas estatais
(SOE´s). Estas retém grande parte dos lucros acumulados, tem uma forte capacidade de
investimentos e, analisando por padrões internacionais, de alavancagem. Estas empresas, em
muitos casos, estão com caixa muito elevado precisando reinvestir, gerando lucro.
Esta busca por novas oportunidades na China tende a criar multinacionais no curto prazo. O
governo já sinalizou explicitamente que irá financiar a expansão de suas empresas, inclusive
através das reservas internacionais, caso seja necessário. A maior barreira dessas aquisições
seria as restrições que outros países poderiam criar para evitar aquisições por parte de estatais
chinesas. Mas, em vários casos, imaginamos que este é um cenário provável.
Essa onda de internacionalização pode gerar novos ganhos de produtividade para a economia
chinesa, não só pela aquisição de tecnologia das empresas adquiridas, como uma plataforma
global pode criar novos mercados consumidores para a China. Sabemos que os investimentos
domésticos das SOE´s, assim como os de infra-estrutura, tem taxa de retorno decrescente.
Portanto, a saída para aquisições é um caminho essencial para a manutenção do processo de
crescimento chinês.
Infraestrutura
O argumento mais obviamente difundido como potencial para o crescimento chinês é o hiato de
infraestrutura entre a zona costeira e interna do país, indicando que ainda há uma forte
demanda por ampliação nos próximos anos. Ao se visitar as principais cidades chinesas, como
Shanghai e Beijing, se tem a clara noção da capacidade de construção de infraestrutura pesada
do país. Este hiato, em parte, está sendo preenchido nesse atual ciclo de boom de gastos do
governo, mas que ainda tem bastante espaço para que este continue. Em praticamente 50% da
China a infraestrutura ainda é de uma economia rural de 3º mundo.
RELATÓRIO ESPECIAL 24 14 de agosto de 2009
Novos investimentos em ativos fixosComparação com os mesmo período do ano anterior
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Jan-D
ez/07
Jan-F
ev/08
Jan-M
ar/08
Jan-A
br/08
Jan-M
ai/08
Jan-J
un/08
Jan-J
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Jan-A
go/08
Jan-S
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Jan-O
ut/08
Jan-N
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Jan-D
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Jan-F
ev/09
Jan-M
ar/09
Jan-A
br/09
Jan-M
ai/09
Jan-j
un/09
Nacional Região Costeira Região Central Região Ocidental
Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas Chinês
Essas mudanças marcantes de infraestrutura têm, inicialmente, um forte ganho de
produtividade, devido ao acesso instantâneo à novas conexões de transporte e acesso a outros
serviços. Portanto, esse processo de fechamento do hiato, além de gerar crescimento durante a
construção, tende a gerar ganhos de produtividade para a economia no médio prazo.
No caso específico da infra-estrutura, devemos nos lembrar do arranjo político que faz com que
os dirigentes provinciais tenham como meta desenvolver esses grandes projetos para poder
alçar cargos mais altos no partido. Como a base de comparação é bastante baixa, o potencial de
crescimento é enorme, principalmente em relação ao desenvolvimento de saneamento básico e
serviços de primeira necessidade.
Riscos para a história de médio prazo – Não existe almoço grátis.
O principal risco para que a história chinesa de crescimento sustentado no médio prazo não se
concretize é a não realização das reformas necessárias para tornar a economia menos
dependente da economia internacional. As reformas de serviços e de criação de alguma rede de
bem estar social são essenciais nesse processo, como esperamos ter ficado claro na seção
anterior.
O importante é que a atual fase de crescimento da economia chinesa, que é liderada por forte
expansão do crédito e gastos em infra-estrutura, não são sustentáveis no médio e longo prazo.
Este processo é aceitável, enquanto se espera por uma nova fonte de crescimento. Como o
setor externo não deve gerar muita demanda nos próximos meses, talvez até anos, as reformas
se tornam cada vez mais necessárias.
A redução do crescimento chinês tem efeitos em espiral nada triviais. Esta geraria um
desaquecimento na demanda por melhoras na qualidade das moradias, que por sua vez geraria
uma redução da demanda no setor imobiliário. Sendo este um dos setores mais intensivos em
RELATÓRIO ESPECIAL 25 14 de agosto de 2009
mão de obra, isso significaria uma redução da demanda por migração para as cidades. Por fim,
a queda do processo de urbanização gera uma desaceleração do crescimento do consumo.
Este é apenas um dos canais que podemos descrever de quão encadeado é o processo chinês.
Por isso, o governo parece tão determinado em manter o crescimento tão forte.
Caso essas reformas não sejam feitas nos próximos 3 anos e o crescimento global não retorne a
contribuir positivamente para a manutenção do crescimento chinês, o governo pode se deparar
com a necessidade de mantê-lo elevado. Com isso, o cenário mais provável é uma nova rodada
de empréstimos soltos e fortes investimentos em infraestrutura. Esse cenário induz a riscos mais
relevantes. Contudo, os NPL´s advindos do atual ciclo são sustentáveis quando imaginamos o
estado como provedor de garantia de última instância.
O problema consiste em entrar em um novo ciclo, com novas emissões desordenadas em cima
de um ciclo já forte. O efeito pode ser devastador. Além disso, a extensão de um forte ciclo de
crescimento de infra-estrutura, que tem como principal razão gerar demanda doméstica, não
necessariamente está preocupado na viabilidade econômica desse projeto. Isso implica em um
risco de que as taxas de retorno desses investimentos fiquem cada vez menores, quanto mais
tempo este método durar. A queda dessa produtividade marginal impõe riscos ao crescimento
chinês de médio longo prazo.
Outro risco que não podemos deixar de ignorar no curto ou no médio prazo é o do setor
imobiliário. Após passar por uma crise das proporções da atual, não devemos nunca subestimar
a capacidade de uma bolha imobiliária durar por muito tempo. Sem dúvidas, a questão da
demanda reprimida por habitação aliada à urbanização são fundamentos muito convincentes
para uma história de médio prazo.
No entanto, o cenário de especulação da China é presente, devido ao excesso de poupança
estrutural e a conta de capital fechada. Esses fatores podem estar gerando um excesso de
especulação no sistema, que torna o ciclo dependente da alta eterna de preços para que as
pessoas não tenham “ativo negativo”. Um ciclo de queda de preços pode gerar, por sua vez, um
aumento expressivo dos NPL´s, e assim por diante, como no caso americano. Com a ressalva
de que lá há uma entrada de 20%, que reduz em muito o apetite a risco dos especuladores.
Os otimistas dizem que a especulação é apenas nos imóveis de alta renda nas principais
cidades, onde a classe A chinesa tem acesso e especula. Já a demanda em quantum, mais
importante seria nos imóveis de baixa renda e estes têm os fatores de demanda garantidos,
enquanto tiver urbanização. Além disso, apesar da renda média do chinês atualmente não ser
compatível com os preços dos imóveis em algumas regiões, a renda futura dos novos entrantes
jovens no mercado é muito mais promissora, dado o histórico de crescimento recente da China.
Portanto, a renda média futura dos chineses é compatível com os preços atuais de imóveis.
RELATÓRIO ESPECIAL 26 14 de agosto de 2009
Os pessimistas garantem que os preços da terra nos arredores das cidades indicam que o
processo especulativo é muito mais disseminado e que há claramente um processo de rolagem
nos imóveis através da alavancagem. Além disso, há especulação de chineses expatriados que
vem distorcendo ainda mais os preços dos imóveis nas cidades chinesas. Temos ainda o fato de
que os governos locais, por terem 40% da sua receita proveniente da venda de terras nos
arredores das cidades, desejam manter este crescimento. Com isso, há um incentivo para uma
trajetória claramente não sustentável no médio prazo.
Honestamente, é difícil mensurar as probabilidades dos dois cenários. Entendemos que este é
um risco que deve ser monitorado ao longo dos próximos anos, uma vez que tem um potencial
de causar problemas no setor bancário e este vem sendo um dos principais motores de
crescimento nos últimos anos. Entendemos, no entanto, que no horizonte de projeção dos
mercados de capitais este ciclo ainda é sustentável.
Por fim, o risco de que o frágil equilíbrio dos sistemas político e econômicos seja rompido parece
ser superestimado pelos ocidentais. Não só o povo chinês parece culturalmente menos
questionador, como o crescimento econômico parece mais do que compensar a falta de
liberdades que o sistema político gera. Obviamente, na medida em que a geração urbanizada e
exposta ao ocidente for chegando à idade adulta, o potencial para tensões aumenta, mas este
horizonte é longo demais até para os economistas acadêmicos se preocuparem.
• Urbanização: • Não haver reforma− perfil de consumo • Novo pacote monetário− ganho de produtividade − NPL muito elevado− consumo reprimido • Baixa produtividade marginal dos investimentos atuais
• Reformas no setor de serviços • Inflação de alimentos devido ao êxodo rural• SOE`s e seus investimentos • Instabilidade social• Déficit de infra-estrutura
RiscosMédio/ Longo Prazo
Drivers
Câmbio, Conta de Capital, gestão de reservas – reféns da abundância. A China tem um excesso de poupança que deve ser escoado para o resto do mundo. Ao longo
dos últimos anos, todo este excesso era canalizado na compra de ativos de reserva,
principalmente em títulos da dívida pública americana. No entanto, como explicitado na seção
anterior, o governo vem buscando novas formas de administrar essas suas reservas.
RELATÓRIO ESPECIAL 27 14 de agosto de 2009
Reservas Internacionais - ChinaUS$ Bilhões
100
700
1.300
1.900
2.500
jan/00
jul/00
jan/01
jul/01
jan/02
jul/02
jan/03
jul/03
jan/04
jul/04
jan/05
jul/05
jan/06
jul/06
jan/07
jul/07
jan/08
jul/08
jan/09
Fonte: Macrodados
Em primeiro lugar, devemos dividir a questão da administração dos estoques da manutenção de
um fluxo positivo. O fluxo só se manterá positivo se a população da China e suas empresas
continuarem poupando nos níveis atuais. Como descrito na primeira seção, existem fatores
culturais e estruturais que nos levam a acreditar em um alto nível de poupança na China. Dito
isso, se a situação da economia global continuar tão deprimida e a da China tão pujante, o seu
superávit em conta corrente irá reduzir, podendo inclusive se aproximar a zero. Este é um
cenário factível. Porém, no médio prazo, a China parece ser uma poupadora líquida.
O câmbio nesse cenário fica menos pressionado para apreciação, como está atualmente,
permitindo que o governo chinês mantenha a sua política cambial por um bom tempo. Ou seja, a
transição necessária para a manutenção do crescimento chinês iria paulatinamente reduzindo a
pressão sobre as contas externas chinesas. Claro que no cenário de internacionalização das
empresas (SOE´s) e possíveis remessas de lucros, o cenário de novo pode se alterar, porém,
para quem remeter lucro se não se paga dividendos?
Com isso, não vemos nenhuma mudança severa na política cambial nos próximos meses,
inclusive, não nos surpreenderia se o câmbio se apreciasse em um ritmo menor que o
presenciado nos últimos anos. Os políticos chineses se movem sempre de forma muito gradual
e, nesta questão, os movimentos cambiais com pressões reduzidas, devemos esperar menos
ainda.
Em relação à gestão do estoque de reservas, a situação é muito mais complicada. Não só a
saída do maior demandante de treasuries do mercado poderia gerar perdas exatamente para a
China, como que tipo de ativo poderia ser comprado para substituir o estoque expressivo de 1,4
trilhões de dólares. Qualquer mercado de ativos é pequeno demais para uma mudança desse
tipo. A situação chinesa é de refém de suas escolhas passadas e assim deve permanecer, com
seu estoque no médio prazo.
RELATÓRIO ESPECIAL 28 14 de agosto de 2009
Conclusão – Grandes potenciais. A China está de fato em uma trajetória de curto prazo que mostra suas diferenças em relação às
outras economias mundiais. Em primeiro lugar, o seu pacote de estímulos parece ter sido mais
efetivo, talvez não tanto com gastos fiscais, mas sim via forte expansão monetária, dado o
controle estatal sobre os bancos. Até nisso, ao poder se dar o luxo de uma forte expansão de
crédito, mesmo diante do risco de NPL´s, sem gerar riscos de médio prazo, a China se
diferencia.
Todos os especialistas que consultamos acreditam que o crescimento de 8%, nos próximos 12
meses é factível e, na verdade, o risco é de que este seja mais acelerado, dado o recente boom
de vendas de imóveis que deve ser seguido por um de construção. Portanto, a recuperação da
economia neste horizonte parece sustentada. Existem riscos, claro, porém nem os mais
pessimistas parecem prever a sua materialização no curto prazo, a não ser na circunstância de
uma trapalhada do próprio governo, a lá 2007.
As perspectivas para o médio/longo prazo são também muito promissoras. O processo de
urbanização está ainda longe de ser concluído e apresenta potencias fortes para expansão do
consumo e demanda por infraestrutura. Parece, para muitos especialistas, que o crescimento
para os próximos 10-20 anos estaria garantido simplesmente para aproximar a China do resto
do mundo. Dada a lei de grandes números, as demandas são imensas e os potencias muitas
vezes imensuráveis.
No entanto, o que colocou a China no ciclo atual de crescimento e que acabou por gerar essa
primeira parte da urbanização foram as reformas de abertura da economia de 30 anos atrás. Na
medida em que o mundo deixa de ser o grande consumidor e que o setor industrial chinês perde
demanda, novas reformas devem ser feitas para liberar as demandas reprimidas e continuar
permitindo o processo de urbanização. O principal desafio consiste na reforma do setor de
serviços, que muitas vezes introduz riscos para a própria estabilidade do sistema. Como essas
vão se desenrolar é crucial para entender o futuro da economia chinesa.
O setor imobiliário, outro que desempenha um papel importante para explicar a recente
recuperação, representa riscos caso o governo reaja com demasiado vigor e acabe
interrompendo a recuperação. Já para o médio prazo representa expectativas distintas: um
potencial de crescimento e um potencial de bolha. Este setor é difícil de acompanhar pela falta
de dados e as próprias características da economia chinesa que parecem ser diferentes dos
países ocidentais. No final das contas, nos parece que no horizonte relevante este representa
um potencial de crescimento, mais que um risco para economia.
RELATÓRIO ESPECIAL 29 14 de agosto de 2009
Página Fonte
Novos Investimentos em Ativos Fixos 15 NBSPreço de venda dos prédios residenciais 14 NBSFAI por região 25 NBS
Vendas no Varejo 16 NBSCPI total 17 Bloomberg CPI de Alimentos n/d* BloombergProdução de Veículos 16 Macrodados
Concessão de crédito NPL 14 Bloomberg
Produção Industrial 23 NBSUtilização de capacidade instalada 16 CRRPPI n/d* NBS
Balança Comercial n/d* NBSImportação NBS Por origem 5 NBS Por produto n/d* NBSExportação NBS Por origem 5 NBS Por produto n/d* NBSReservas internacionais 28 Macrodados
Indicadores
Principais indicadores da economia chinesa
*n/d: gráfico não disponível no relatório. Para maiores informações procure em www.stats.gov.cn
Setor Externo
Imobiliário
Consumo
Crédito
Indústria
RELATÓRIO ESPECIAL 30 14 de agosto de 2009
PERSPECTIVAS SETORIAIS - O peso da China
O cenário traçado na parte macroeconômica deste relatório mostrou que a mudança dramática
do balanço de pagamentos do Brasil nos últimos anos esteve diretamente relacionada à alta no
volume e, principalmente, nos preços das commodities. Esse movimento pode ser explicado
pelo surgimento da China como potência global.
A partir do momento em que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, sentimos
a necessidade de conhecer melhor essa economia. Ao analisarmos a pauta dos principais
produtos brasileiros exportados para a China, podemos notar a preponderância de minério de ferro, soja e celulose. Considerando que as perspectivas de continuidade de forte crescimento
da China irão se materializar, é natural que a busca por garantir fontes de fornecimento de
commodities certamente elevará essa relação do Brasil com a China, inclusive acrescentando
no futuro outros produtos onde também somos bastante competitivos.
Diante desse cenário e para entender melhor a dinâmica também dos mercados dessas
commodities dentro da realidade brasileira, detalhamos a estrutura e as perspectivas de quatro
setores identificados como importantes para essa relação Brasil-China: Petróleo, Papel &
Celulose, Mineração e Alimentos.
A partir desse entendimento podemos justificar a busca pelos ativos acionários brasileiros, que
estão inseridos dentro desse potencial de crescimento de demanda de commodities, e que
apresentam significativa representatividade nos principais índices de ações do país.
Apesar de ainda não ter a mesma significância que minério de ferro e soja, a exportação de
petróleo para a China está crescendo e considerando os projetos para ampliação da capacidade
produtiva brasileira dessa commodity podemos concluir que petróleo também figurará como um
dos principais produtos exportados para a China.
RELATÓRIO ESPECIAL 31 14 de agosto de 2009
Petróleo: Recuperação consistente ou apenas mais uma “bolha”
Analisar o mercado de petróleo apenas utilizando os fundamentos que envolvem a commodity
mais importante do mercado pode não se configurar como a melhor opção para se entender os
movimentos e a enorme volatilidade na trejatória de preços dessa commodity. Por isso
relacionamos a seguir alguns pontos que merecem reflexão no setor, e que certamente explicam
o foco em China neste relatório:
Oferta:
• A crise financeira reduziu o volume de investimentos no setor;
• Indicação de capacidade ociosa é um mistério;
• Questões geopolíticas gerando instabilidade na oferta;
• OPEP ainda mantém sob controle 45% da oferta de petróleo;
• Continuidade da tendência de queda no nível de produção em países não OPEP (México, Rússia, Noruega...);
• Taxa natural de declínio dos campos;
Demanda:
• Não existe queda brutal de consumo de petróleo em períodos de recessão severa, mas mesmo as reduções pontuais afetam o preço da commodity no mercado futuro;
• Demanda crescente da China por matérias-primas, e o baixo nível atual de consumo de derivados em conjunto indicam forte potencial de importação;
• Queda de demanda em países desenvolvidos (57% do total) e desaceleração do crescimento em países em desenvolvimento (43%);
Outros:
• Depreciação do dólar frente a outras moedas;
• Energia alternativa ainda com baixo impacto;
• Participação do mercado financeiro nas commodities potencializa tendência de preços.
A trajetória dos preços do petróleo e de seus derivados nos últimos anos está diretamente
relacionada com o forte aumento da demanda desses produtos por países emergentes, e dentro
desse contexto a China se destaca. Observando essa trajetória e o desenvolvimento do
mercado consumidor da China poderemos concluir, antes mesmo dos dados empíricos, que o
potencial de crescimento da China e dos mercados emergentes poderá sim direcionar a
trajetória de preços da commodity no futuro. Principalmente se passarmos a considerar que nos
mercados desenvolvidos a demanda por petróleo e derivados retorne, a partir de 2010, a
mostrar crescimento.
RELATÓRIO ESPECIAL 32 14 de agosto de 2009
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Evolução diária dos preços(BRENT - US$/barril)
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Moedas
Dólar Comercial - PTAX (R$/US$)
Dólar Canadense/US$
EURO/US$
A seguir, detalharemos cada um dos grupos destacados anteriormente, inserindo a China para
mostrar a evolução recente e os impactos gerados dentro do mercado de petróleo.
Oferta: A tendência natural no período de crise financeira significativa e estreitamento da liquidez
financeira é redução imediata dos investimentos de risco. Neste sentido a indústria do petróleo
deverá apresentar uma queda significativa de investimentos. De acordo com AIE (Agência
Internacional de Energia - que reúne os países consumidores de petróleo) a necessidade de
investimentos anuais no setor é próximo de US$60 bilhões/ano, valor mínimo necessário para
atender a demanda.
Fonte: ATIVA Research e Bloomberg
Fonte: ATIVA Research e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 33 14 de agosto de 2009
Ainda pelo lado da oferta, não podemos deixar de destacar as questões geopolíticas em alguns
dos maiores produtores de petróleo, que podem também contribuir para aumentar a volatilidade
desse mercado e geram um prêmio de risco no preço futuro. A falta de certeza sobre a
capacidade adicional dos grandes produtores também é um fator de risco nesse mercado. O
desenvolvimento da produção fora da OPEP (México, Rússia, Noruega...), que nos últimos anos
decepcionou, pode representar uma oportunidade de crescimento, mas o volume de
investimentos elevados e o foco atual dos governos em debelar a crise pode representar no
futuro próximo uma limitação no potencial de crescimento da oferta de petróleo. A tudo isso
podemos acrescentar a taxa de declínio da produção, fator que necessariamente deve ser
compensado com um nível de produção superior.
América do Norte16,0%
América do Sul e Central
8,2%
Europa e Eurásia21,5%Oriente Médio
32,0%
África12,6%
Ásia Pacífica s/ China5,1%
China4,6%
Produção Global
América do Norte5,6%
América do Sul e Central9,8%
Europa e Eurásia11,3%
Oriente Médio59,9%
África10,0%
Ásia Pacífica s/ China2,1%
China1,2%
Reservas Provadas (% do total)
Importante destacar que as reservas mundiais, altamente concentradas no Oriente Médio,
conforme podemos verificar no gráfico acima, apresentaram crescimento de apenas 1,8%a.a.
nos últimos 10 anos. A produção de petróleo mostrou crescimento de 1,2%, num movimento
claro para atender a uma demanda cada vez maior.
América do Norte28%
América do Sul e Central
7%Europa e Eurásia
24%
Oriente Médio8%
África3%
Ásia Pacífica s/ China21%
China9%
Demanda Global de Petróleo
Numa simples observação da evolução da demanda mundial de petróleo, podemos verificar que
nos últimos 10 anos o consumo (desconsiderando os BRIC´s) cresceu 0,8%a.a., sendo que os
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 34 14 de agosto de 2009
BRIC´s cresceram 4,1%a.a. e a China 6,5%a.a.. Esses dados, em conjunto com pontos
relacionados anteriormente levaram a mudança no patamar de petróleo nos últimos anos.
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08
China e Mundo - % de crescimento do consumo de óleo
Total Mundial China
3000
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5000
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7000
8000
9000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil b
arris
p/ d
ia
China - Consumo de óleo
A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em sua última reunião, indicou
que a redução esperada na demanda mundial por petróleo em 2009 deve atingir 1,4 mm de bpd,
chegando a 84,2 mm bpd (-1,6% YoY). Esse declínio foi minimizado pela demanda de países
em desenvolvimento, que devem manter certa estabilidade esse ano. Importante destacar que a
OPEP ainda controla 45% da produção atual de petróleo no mundo.
Já pelo lado dos maiores consumidores de petróleo, a AIE reviu sua estimativa de demanda
mundial de petróleo para 2009 para um nível de 83,94 mm de bpd (queda de 190 mil bpd sobre
a estimativa anterior), representando queda de 2,7% YoY, o que representaria retornar ao nível
de consumo de 2006. A agência mantém um viés positivo para a demanda dos mercados
emergentes, em especial para a China, onde se espera um crescimento de 1,6% esse ano e
+2,0% em 2010.
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 35 14 de agosto de 2009
A China, diante de sua necessidade de garantir fornecimento de reservas naturais, vem
buscando investir, diretamente ou por meio de contratos, na obtenção do volume necessário de
matéria-prima para o seu crescimento. Diante do seu gigantismo, a entrada ou a saída da China
nos mercados causa enorme volatilidade nos preços das commodities.
A produção de petróleo na China cresceu 1,5%a.a. nos últimos 3 anos, bem menos que a
demanda e, consequentemente, as importações mostram ano a ano números cada vez maiores.
Investimentos para ampliar a indústria de petróleo na China indicam que a capacidade de refino
líquida crescerá 5% até 2011.
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Importações Brutas
Importação de Derivados
Exportações Brutas
Exportação de Derivados
China - Importação e Exportação de Óleo (milhões de toneladas)
2007
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2000
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Mil
barr
is p
/ dia
China: Capacidade de Refino
30
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70
80
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1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Milh
ões
bpd
Produção x Consumo de Petróleo
Produção Consumo
Conclusão
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
Fonte: ATIVA Research, BP e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 36 14 de agosto de 2009
Traçar as perspectivas para o setor de petróleo, considerando a demanda chinesa, é um enorme
desafio e indica potencial de aumento da volatilidade, na medida em que se condiciona a
manutenção dos preços atuais a um nível de demanda brutal da China, em especial neste 1S09.
Considerando o processo de urbanização e aumento da demanda individual dos chineses,
teremos consumo explodindo nos próximos anos e com isso, diante dos fatores relacionados a
oferta, uma pressão natural nos preços do petróleo.
Porém, os riscos desse cenário não se configurar não são pequenos, dado que para que a
economia chinesa retorne ao crescimento pré-crise a demanda por seus produtos vinda dos
mercados desenvolvidos terá que retornar. Os riscos e os eventos necessários desse cenário
foram descritos na primeira parte desse relatório, e sem dúvida estarão diretamente ligados a
evolução dos preços do petróleo no curto, médio e longo prazos.
O Brasil ganha relevância diante do potencial de crescimento das reservas e necessidade
financeira que se terá para desenvolver a produção doméstica. Novos acordos bilaterais
provavelmente serão realizados na medida em que esse cenário de demanda se materialize.
Atrelado a toda essa conjuntura setorial, temos os impactos dos movimentos financeiros que,
apesar de não mudarem tendência, acabam potencializando os movimentos.
RELATÓRIO ESPECIAL 37 14 de agosto de 2009
Papel & Celulose: Celulose com perspectivas melhores que Papel
Resumidamente, podemos enumerar alguns fatores que estão fazendo com que os preços da
celulose no mercado internacional recuperem a trajetória de alta, apesar de ainda estarmos
passando por um nível baixo de atividade econômica no mundo. Na maioria desses fatores, a
China aparece como ator principal e por isso dedicamos um espaço a comentar um pouco mais
sobre cada um deles:
• Continuidade de fechamento de capacidade de produção;
• Demanda crescente por celulose de fibra curta, em especial na Ásia;
• Spread no preço entre fibra longa e fibra curta;
• Substituição do uso de fibra longa pela fibra curta;
• Volatilidade do dólar frente a outras moedas.
Após um longo período de ciclo de alta no preço da celulose no mercado internacional (2002-
2008), um forte ajuste marcou o início do período de baixa. Alguns especialistas do setor
afirmam que nas últimas recessões a queda no preço da celulose foi de até 30% e que a
recuperação aos patamares anteriores a inversão do ciclo costumava ocorrer dois a quatro anos
depois. De acordo com o gráfico abaixo, os preços da celulose de mercado, nas principais
regiões importadoras da commodity, podemos verificar que a última inversão de ciclo começou
efetivamente em set/08 e já mai/09, apenas 9 meses depois estávamos vendo a recuperação
dos preços em alguns mercados. Como a crise atual está fugindo completamente dos
parâmetros das anteriores, estamos vendo ajustes de produção mais precisos e período de
ciclos bem diferentes.
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Preço de Fibra Curta e LongaEuropa
Fibra Longa Fibra Curta
Fonte: ATIVA Research e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 38 14 de agosto de 2009
Com a queda brusca no nível de atividade econômica ao final de 2008, a falta de crédito e a
conseqüente redução brusca do consumo, a demanda por papel colapsou e conseqüentemente
a demanda por celulose também. Importante destacar que alguns tipos de papel são mais
resistência a ciclos econômicos, como é o caso do tissue, e portanto a celulose fornecida a esse
mercado também é um pouco mais resistente do que ao papel Imprimir e Escrever ou
embalagens. Foi necessário então um ajuste próximo no nível de produção para que os
estoques retornassem ao patamar de equilíbrio, fato que foi atingido ao final desse 2T09. Para
tal, o fechamento de capacidade produtiva foi fundamental e promovido não somente para
adequar unidades industriais obsoletas e com problemas ambientais, mas também por questões
econômicas, visto que o preço que a celulose atingiu inviabilizou parte da produção, dados os
custos elevados. De acordo com informações obtidas junto às empresas, foi estimado que
desde 2008 foram fechadas e/ou desativadas mais de 5,0 milhões de tons de capacidade de
produção de celulose.
20
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Estoques (dias): Compradores x Produtores
Fibra Total Compradores Fibra Total Produtores
32
O principal questionamento no momento é o quanto de capacidade produtiva poderá retornar ao mercado quando os preços atingiram um nível de preço remunerador para os produtores do Hemisfério Norte? Muitos especialistas acreditam que parte dessa capacidade
pode retornar, mas mesmo assim não seria suficiente para mudar a trajetória de preços da
celulose, em especial a continuidade do crescimento de demanda para a fibra curta. Mesmo
assim, acreditamos que num primeiro momento, quando a oferta aumentar pela retomada de
alguma capacidade produtiva, poderemos sim ter alguma volatilidade nos preços da celulose no
mercado internacional e/ou redução da velocidade de novos ajustes. Porém essa questão não
mudaria em nada a tendência de médio e longo prazo.
Fonte: ATIVA Research e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 39 14 de agosto de 2009
O cenário favorável para a celulose de eucalipto vai além dos drivers que têm afetado todo o
setor. A preferência pela utilização da celulose de eucalipto também está contribuindo para
aumentar a demanda pela fibra, que cresce a taxas bem superiores a média do mercado. Em
2008, enquanto a demanda mundial por celulose subiu algo próximo de 1,3%, a demanda por
celulose de eucalipto cresceu 13%. De acordo com a consultoria Hawkings Wright, a demanda
do mercado mundial de celulose em 2009 deverá cair 3,1%, mas a de eucalipto continuará
positiva, o que indica estimativa de queda na demanda por outros tipos de celulose
Evolução da Demanda Mundial Previsão CAGR % p.a.
Em milhões de toneladas 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2007-2012 2007/2008
Total BKP Fibra Longa 21,8 21,4 20,7 20,7 20,9 20,9 -0,8% -1,9%
Bétula 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,8 -8,9% -10,8%
Eucalipto 11,8 13,3 13,4 14 14,7 15,4 5,4% 13,1%
Fibra Curta da Ásia 3,2 3,2 3,3 3,7 4 4,2 5,4% 1,4%
Fibra Curta Mista do Norte 4,4 4,4 3,9 3,7 3,6 3,5 -4,3% -4,2%
Fibra Curta Mista do Sul 2,1 1,9 1,8 1,6 1,6 1,5 -5,8% -10,1%
Total BKP Fibra Curta 22,7 23,9 23,2 23,9 24,7 25,4 2,3% 5,3%
Sulfito 0,8 0,6 0,6 0,5 0,4 0,4 -11,4% -18,6%
Total Celulose Branqueada 45,3 45,9 44,5 45 46 46,8 0,7% 1,4%Fonte: ATIVA Research, Hawkins Wright e Suzano
A China continua fazendo a diferença na demanda por celulose de mercado, atingindo níveis
surpreendentes em 2009. No 1º semestre de 2009 a China aumentou em 68% as importações
de celulose, enquanto os mercados desenvolvidos apresentaram queda próxima de 20%. A
América Latina já é o principal fornecedor de celulose de fibra curta para a China, com 42% de
participação.
China68%
América Latina‐0,8%
Europa Ocidental‐20%
América do Norte‐20%
Japão‐25%
Total‐5%
-40%
-20%
0%
20%
40%
60%
80%Demanda Global por Região
Fonte: ATIVA Research, PPPC e Aracruz
RELATÓRIO ESPECIAL 40 14 de agosto de 2009
• Continuidade de fechamento de capacidade de produção; Conforme mencionamos anteriormente, as empresas do setor estimam que, entre 2005 e o
1S09 foram fechadas várias fábricas devido à baixa competitividade, em volume total que pode
superar 6,0 milhões tons. A estatística de novos fechamentos de capacidade produtiva é
bastante frágil, dado que não há anúncio com grande antecedência desse fechamento, dado o
constrangimento comercial que essa decisão causa. Considerando as indicações dadas, é
esperado que novos fechamentos ocorram, na medida que os preços ainda não estão
equilibrados e que os custos de produção dos produtores do Hemisfério Norte são bem mais
elevados que o dos produtores da América do Sul, conforme detalhamos no gráfico a seguir.
Além disso, em alguns países cuja a indústria produtora de celulose é obsoleta e poluidora,
nota-se uma clara tendência de fechamento permanente de capacidade de produção.
Fechamento de Capacidade 2005 2006 2008 1T09 TotalAmérica do Norte (320) (1.270) (1.700) (1.160) (4.450)Europa (70) (70) (830) (500) (1.470)América Latina (196) (196)Ásia (36) (36)Total (390) (1.340) (2.530) (1.892) (6.152)Fonte: ATIVA Research, Hawkins Wright e Suzano
• Spread no preço entre fibra longa e fibra curta e substituição; O diferencial de preços entre fibra longa e fibra curta de eucalipto no patamar de US$120/ton
também contribui de forma decisiva para o aumento da demanda pela celulose de eucalipto. As
vantagens técnicas aliadas à vantagem financeira têm levado a cada vez mais produtores de
papéis elevarem o mix de fibra curta em suas máquinas. O limite para essa substituição, de
acordo com os técnicos do setor, não existe. A prova disso é de que no Brasil, o papel imprimir e
escrever é feito utilizando 100% por celulose de fibra curta, coisa que não ocorre no mercado
internacional. Historicamente esse spread fica próximo de US$60/ton. Acreditamos que, mesmo
que o spread se reduza, em função da demanda por fibra curta ser maior, ainda assim
acreditamos na manutenção da preferência pela celulose de fibra curta pela garantia de entrega
do produto e pelas vantagens técnicas observadas.
-100
-50
0
50
100
150
jan/
85
jan/
87
jan/
89
jan/
91
jan/
93
jan/
95
jan/
97
jan/
99
jan/
01
jan/
03
jan/
05
jan/
07
jan/
09
Spread Fibra Longa-Fibra Curta (USD)
Fonte: ATIVA Research e Bloomberg
RELATÓRIO ESPECIAL 41 14 de agosto de 2009
• Depreciação do dólar frente a outras moedas. O enfraquecimento do dólar frente a outras moedas tem contribuído para o aumento das
commodities em geral, e logicamente no preço da celulose também. De acordo com o gráfico
abaixo podemos identificar esse movimento, que se revela como um dos pontos mais
vulneráveis para a perspectiva de continuidade do ciclo de alta no preço da celulose e de difícil
estimativa também.
• A oferta não está crescendo de forma a suportar a demanda Uma série de projetos de aumento de capacidade produtiva foi adiado ou cancelado, não
somente no Brasil, mas também em outros países, importantes produtores de celulose. Essa
estatística não é integralmente confiável, mas considerando as dificuldades financeiras atuais e
ainda um baixo preço da celulose, é possível que parte relevante desses projetos tenham sido
realmente cancelados. De acordo com a consultoria Hawkins Wright, em 2009 e 2010 teremos
um adicional de capacidade produtiva para todos os tipos de celulose de aproximadamente
1.800 mil tons por ano, sendo que desse total quase 80% referem-se a fibras curtas, com maior
volume entrando em 2010. Esse crescimento representaria +2,3% da capacidade esperada de
2009 de celulose de mercado.
Os maiores projetos de crescimento com potencial de serem implementados efetivamente está
na América do Sul que, por uma série de fatores, tornam a produção aqui extremamente
competitiva. Disponibilidade de terra, clima favorável, elevada produtividade das florestas e
consequentemente baixo custo de produção indicam que a expectativa é de que a América do
Sul irá atender a 55% da demanda mundial por celulose de eucalipto.
532 520 515 511463 455 452
309 307 302
0
100
200
300
400
500
600
Celulose de Fibra Curta: Cash Cost (US$/toneladas - 2T09)
Fonte: ATIVA Research, VCP e Hawkins Wright
RELATÓRIO ESPECIAL 42 14 de agosto de 2009
Conclusão Os fatores aqui enumerados nos levam a conclusão de que poderemos ter um consistente
aumento de demanda por celulose de fibra curta no longo prazo, e consequentemente a
manutenção de preços vantajosos para a celulose de mercado para as empresas brasileiras. A
tendência é de que a demanda de celulose pela China continuará crescente, mas talvez não na
velocidade que foi visto ao longo do 1S09. As altas nos preços da celulose anunciadas e
implementadas recentemente poderão incentivar produtores a retornarem com parte da
produção que foi suspensa, trazendo um pouco mais de volatilidade ao setor. Além disso, a
demanda por papel precisa se recuperar, o que depende diretamente do nível de confiança dos
consumidores e da recuperação efetiva das economias desenvolvidas. Portanto, ainda estamos
num cenário frágil para o curto prazo, que requer cautela no setor, apesar de acreditarmos que o
cenário positivo para o médio prazo esteja cada vez mais consolidado.
A combinação de urbanização crescente com expansão da, população vai aumentar o consumo
per capita de papel no longo prazo. A China tem barreiras naturais para produzir celulose, como
falta de terras de grande produtividade e poucas florestas. Ela vai continuar dependente das
importações de celulose
Outra questão importante é que a China não é o único mercado de destino para a celulose
produzida no Brasil. Pelos dados de 2008 da Bracelpa, a Europa era o destino da maior parcela
das exportações brasileiras de celulose, seguida da Ásia, com 28%, e América do Norte, com
7%. No 1S09, com o forte crescimento da demanda da Ásia, basicamente chinesa, essa
estrutura sofreu uma mudança significativa, passando a China a ter uma participação de 34%
nas exportações de celulose do Brasil. A Europa continuou recebendo volumes significativos,
porém, dado que não cresceu na mesma proporção que a demanda da chinesa, sua
proporcionalidade foi reduzida para 37%.
China20%
América Latina
1%Europa
51%
América do Norte19%
África0%
Ásia/ Oceania
9%
Brasil - Exportação de Celulose (Jan - Jun 08)
China34%
América Latina
1%Europa
37%
América do Norte19%
África0%
Ásia/ Oceania
9%
Brasil - Exportação de Celulose (Jan - Jun 09)
Fonte: ATIVA Research e Bracelpa
RELATÓRIO ESPECIAL 43 14 de agosto de 2009
Importante destacar a posição do Brasil no mercado de celulose, sendo o principal player
produtor de celulose, especialista da fibra com maior perspectiva de crescimento no futuro,
extremamente competitivo em termos de custo de produção e um dos maiores fornecedores de
celulose para o mercado consumidor que mais cresceu nos últimos anos e que tem enorme
potencial de crescimento.
Entre os principais players produtores de celulose de mercado no Brasil, a Suzano Papel &
Celulose é o que mantém a maior exposição à China, tendo esse país atingido no 2T09 uma
participação de 52%. Além disso, e diante da visão positiva para o longo prazo no setor, a
Suzano está dando continuidade aos projetos de ampliação de capacidade produtiva, cuja
decisão final deverá ser tomada pelo Conselho de Administração ainda em 2009, e talvez por um
custo que retorne à média histórica de US$1.100/ton.
As demais empresas, Aracruz e VCP, estão em processo de consolidação, o que dificulta a
previsão de quando estarão estruturados para voltar a ter planos de aumento mais significativo
no médio e longo prazo. Importante mencionar a enorme representatividade que a nova empresa
terá no mercado de celulose de eucalipto de mercado e as vantagens advindas desse ganho de
escala.
Portanto, apesar de concluirmos que as empresas do setor no Brasil serão beneficiadas pela
retomada dos preços da celulose no mercado internacional e pelo forte demanda que está se
configurando da China, atualmente a Suzano é a empresa com maior exposição ao país, que
está tocando projetos de ampliação de capacidade produtiva e que se encontra com a melhor
estrutura financeira.
RELATÓRIO ESPECIAL 44 14 de agosto de 2009
Mineração: Um pouco mais sobre China....e minério de ferro!
Os resultados das empresas de mineração nos últimos trimestres não deixam dúvidas com
relação à importância da China para a indústria. Em plena crise, quando os números de
produção siderúrgica mundial, ex-China, mostram retração de 35% a 40% YoY, as vendas de
minério de ferro da BHP mantêm-se inalteradas e a Rio Tinto opera a plena capacidade, graças
à demanda chinesa. A Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, aumentou suas
vendas para a China de 25,1 milhões de toneladas no 2T08 para o recorde trimestral de 35,6
milhões de toneladas no 2T09, um aumento de 42% YoY.
Tais fatos incitam alguns questionamentos sobre a sustentabilidade deste cenário nos próximos
anos. Surgem, então, perguntas como “não seria esse apetite da China por commodities
exagerado? Não cessará no curto prazo?”, ou “até que ponto a Vale pode se beneficiar desta
demanda? Qual é a relevância da China para a mineradora brasileira?”.
Desta forma, nosso objetivo é fazer uma breve análise do “fenômeno China” do ponto de vista
de consumidor de commodities metálicas, em especial de minério de ferro, e como isso pode
beneficiar a Vale no curto e médio prazos. Para cumprir tal tarefa, discutiremos o assunto sob a
perspectiva de dois pontos de vistas: o da demanda e o da oferta.
Da demanda: O insaciável apetite do dragão chinês Comecemos nossa discussão com uma análise do aumento do consumo de commodities
metálicas por parte da China. Tal crescimento de demanda tem sido significativamente superior
à expansão do consumo mundial, o que tem causado um aumento gradual e consistente da
participação da China no consumo global dos principais metais. Há 15 anos, a
representatividade da China no consumo mundial de commodities metálicas era restrito a, no
máximo, 5% do total. De 1995 até hoje, entretanto, o processo de urbanização e industrialização
deste país impulsionou o uso de metais de tal forma a alçar a China ao posto de maior
consumidor mundial destas commodities, alcançando shares de aproximadamente 30% para
cobre, alumínio e níquel.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
0
100
200
300
400
500
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 % d
a C
hina
no
cons
umo
mun
dial
000
ton
Níquel - Consumo Chinês
Consumo Chinês ( 000 t) Share China
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
0
1
2
3
4
5
6
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
% d
a C
hina
no
cons
umo
mun
dial
milh
ões
ton
Cobre - Consumo Chinês
Consumo Chinês (mm t) Share China Fonte: INSG, ATIVA Research Fonte: ICSG, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 45 14 de agosto de 2009
Especificamente sobre aço, o que temos verificado é um crescimento bastante robusto e
consistente na produção chinesa, ao ponto de torná-la, atualmente, responsável por 50% do aço
bruto produzido no mundo (assumindo dados de 2009 YTD). Nos últimos 15 anos, por exemplo,
a produção de aço bruto da China cresceu a uma média de 12,4% a.a., enquanto que a
produção dos demais países do mundo evoluiu a apenas 2,8% a.a.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
-
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
Sha
reC
hina
mm
ton
Produção de Aço Bruto
Total ex-China China Share China
CAGR 1994-2009 (15 anos):China: 12,4% a.a.Mundo (ex-China): 2,8% a.a.
Fonte: IISI, ATIVA Research
Ainda, embora a China seja uma tradicional exportadora de diversos bens manufaturados, no
caso de aço não parece que a demanda externa seja o driver principal da siderurgia chinesa.
Nos últimos anos, agosto de 2008 foi, por exemplo, o mês em que a China teve o maior volume
de exportações líquidas, de 6,2 milhões de toneladas, o que representou apenas 15% da
produção local naquele mês1. No entanto, como podemos constatar do gráfico abaixo, desde
abril de 2009 a China tem sido um importador líquido de aço, mais uma amostra da pujança de
sua demanda interna.
-4
-2
0
2
4
6
8
mm
ton
Importação Chinesa de Aço Exportação Chinesa de Aço Exportação Líquida Fonte: Bloomberg, ATIVA Research
1 Os principais parceiros comerciais da China no segmento de siderurgia são outros países asiáticos. Dentre os principais exportadores de aço para a China estão Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Rússia. Por outro lado, os destinos preferenciais do aço chinês são Coréia do Sul, Índia, Indonésia e Irã.
Importações líquidas de aço da China
RELATÓRIO ESPECIAL 46 14 de agosto de 2009
Cabe um parênteses acerca da diferença entre o discurso e a realidade da siderurgia chinesa.
No início do ano, várias foram as declarações de autoridades chinesas que defendiam uma
limitação da produção de aço na China, o que incluiria o fechamento de usinas de pequeno
porte, antigas ou que apresentassem problemas ambientais. Na prática, o que vemos é a
siderurgia chinesa caminhando para mais um recorde de produção em 2009. Anualizando a
produção realizada entre janeiro e julho, a China fecharia o ano com 544 milhões de toneladas
produzidas, um aumento de 9% frente a 2008.
Das discussões anteriores, parece-nos que não restam dúvidas sobre a atual força da demanda
doméstica de aço na China. Mas quais são os drivers principais dessa demanda chinesa? Seria
esta demanda persistente nos próximos anos? Para responder a tais questionamentos, faz-se
necessário analisarmos a composição da demanda, ilustrada a seguir.
050
100150200250300350400450
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
mm
ton
Composição da Demanda Chinesa por Aço Acabado
OutrosBens MetálicosBens DuráveisTransporteInfra-estruturaMáquinas e EqptosConstrução
Construção:Residencial: 56%Comercial: 12%Industrial: 22%Utilidade Pública: 10%
Fonte: BHP, ATIVA Research
Assim, observamos que, em 2008, o setor de Construção foi responsável por 50% da demanda
total de aço acabado na China, ou o equivalente a 214 milhões de toneladas (para se ter uma
referência, a demanda aparente de aço no Brasil em 2008 foi de 24 milhões de toneladas).
Dentro desta categoria, Construções Residenciais constituem-se no principal sub-item, com 56%
de participação. Além de Construção, outros importantes itens que destacamos são Infra-
estrutura e Transportes, que respondem por outros 75 milhões de toneladas, ou 18% do total.
Mas onde queremos chegar com esses números? Simplesmente queremos demonstrar que
68% da demanda chinesa por aço (ou 289 milhões de toneladas em 2008), está intimamente
ligada a um fenômeno bastante marcante na China: a urbanização de sua população.
A China tem passado nos últimos anos pelo processo de urbanização de sua população. Em
1995, por exemplo, 71% da população chinesa vivia na zona rural. Esse percentual reduziu-se
para 55% em 2007. Embora já tenha havido uma grande evolução neste sentido, a proporção da
população urbana chinesa, de 45%, ainda está muito longe de países como o Brasil (85%),
Estados Unidos (81%) e Rússia (73%). Em outras palavras, esse é um processo que ainda deve
se estender por pelo menos mais 15 anos.
RELATÓRIO ESPECIAL 47 14 de agosto de 2009
29% 30% 32% 33% 35% 36% 38% 39% 41% 42% 43% 44% 45%
71% 70% 68% 67% 65% 64% 62% 61% 59% 58% 57% 56% 55%
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Urbanização da População Chinesa
Pop. Urbana (%) Pop. Rural (%)
Fonte: Bloomberg, ATIVA Research
No estudo intitulado “Preparing for China’s urban billion”, a consultoria McKinsey estima que até
2025 a China deva ter 221 cidades com mais de um milhão de habitantes (comparemos com as
35 existentes atualmente na Europa), dentre as quais 23 cidades terão mais de 5 milhões de
habitantes. Até lá, a participação das cidades no PIB chinês aumentará de 75% para 95%.
Importante destacar que, no caso de várias nações, urbanização e crescimento econômico
andam, historicamente, lado a lado. Ou, melhor, a urbanização impulsiona o desenvolvimento
econômico e vice-versa. No 17º Congresso do Partido Comunista Chinês, o presidente Hu Jintao
comprometeu-se com a meta de quadruplicar o PIB per capita de seu país até 2020, em
comparação com os níveis de 2000. Cumprir esta meta implica, necessariamente, em continuar
o processo de urbanização da China. Isso estimula investimentos maciços em construção civil
(prédios residenciais e comerciais), infra-estrutura urbana e transporte. Em última análise,
garante a longo prazo a demanda por aço em território chinês. Do gráfico abaixo podemos
observar claramente o gigantismo do potencial de demanda chinesa por aço:
China
EUA
Japão
Coréia do Sul
Índia
Alemanha
Rússia
Itália
Brasil
Espanha
México França
Canadá
-50
150
350
550
750
950
1150
1350
$(3.000) $7.000 $17.000 $27.000 $37.000 $47.000
Cons
umo
apar
ente
per
cap
ita (k
g/pe
ssoa
)
PIB per capita (US$ preços 2000)
Consumo de aço e PIB per capita
Nota: Tamanho das bolas representa consumo aparente total
Fonte: World Resources Institute, World Steel Association, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 48 14 de agosto de 2009
Passada a aceleração inicial do consumo de aço para a construção/urbanização, formada uma
base mais representativa de população urbana e aumentada a renda per capita da população, o
próximo ciclo de demanda de aço provavelmente será o de bens duráveis. A demanda reprimida
de veículos e outros bens duráveis na China é imensa e, criadas as condições de acesso a
esses bens para a população, a produção deve intensificar-se.
805
694
596 578535
129
34
EUA Itália Japão França Alemanha Brasil China
Carros por 1000 habitantes
Fonte: ANFAVEA, CIA Factbook, ATIVA Research
1,8 2,1 2,33,3
4,45,2
5,7
7,3
8,99,3
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Produção chinesa de veículos(milhões unidades)
Fonte: ANFAVEA, ATIVA Research
Visto isso, nossa posição com relação aos questionamentos colocados inicialmente parece
clara. Embora a dimensão da demanda chinesa por commodities, em especial por aço, seja
impressionante e nunca antes observada, não nos parece ser uma “bolha” ou um processo de
curto prazo. Acreditamos, sim, que este seja um processo irreversível e de duração de, pelo
menos, mais 10 ou 15 anos. Se nossa interpretação estiver correta, a China deve continuar
demandando muito, muito minério de ferro.
CAGR 20% a.a.
RELATÓRIO ESPECIAL 49 14 de agosto de 2009
Da oferta. China: a salvação da lavoura
Roger Agnelli, presidente da Vale, recentemente declarou: “China loves us, and we love China”.
Não temos certeza da veracidade da primeira parte da declaração, mas, quanto à segunda
parte, acreditamos que o sr. Agnelli esteja sendo sincero. Aliás, não só a Vale, mas também
todas as demais mineradoras, em especial Rio Tinto e BHP, devem venerar o fenômeno chinês.
Para provarmos isso, analisemos a importância da China do ponto de vista da oferta de minério
de ferro.
Em plena crise financeira, quando a siderurgia mundial retraiu a produção de aço bruto em até
25% na comparação YoY, as vendas de minério de ferro da BHP, por exemplo, não sofreram
significativas quedas.
2124 24
26 2628 28
27 2825
1T07 2T07 3T07 4T07 1T08 2T08 3T08 4T08 1T09 2T09
Vendas de MFe da BHP (milhões de ton)
Fonte:BHP
Tal estabilidade de vendas em um período de baixa demanda mundial pode ser explicada pelo
destino das exportações de minério de ferro australiano, que é preponderantemente para a Ásia
(99%), mais especificamente para a China (60% em 2008). No 2S08 e no 1S09, quando a
demanda por parte de Japão e Coréia do Sul reduziram-se, a significativa participação da China
nos destinos de exportação da BHP foram suficientes para estabilizar as vendas da empresa,
dado o crescimento da demanda chinesa por minério importado.
China60%Japão
24%
Coréia do Sul12%
Taiwan3%
Europa1%
Destino das Exportações de MFe da Austrália - 2008
Fonte: DMP (Western Australia), ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 50 14 de agosto de 2009
Historicamente, as importações de minério de ferro (independente da origem) têm acompanhado
o crescimento da produção de aço chinesa. Nos últimos 10 anos, as importações chinesas de
minério de ferro cresceram a uma taxa média de 24 % a.a., chegando ao patamar de 440
milhões de toneladas em 2008. Isso tornou a China responsável por 52% do comércio
transoceânico de minério de ferro no ano passado. Esse mercado transoceânico é dominado
pelas mineradoras australianas (BHP e Rio Tinto) e pela Vale, que detêm, juntas, 70% do
comércio internacional desta commodity.
0
100
200
300
400
500
600
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Milhões de ton
Produção de Aço Bruto e Importação de MFe da China
Produção de Aço Bruto Importação de MFe Fonte: DMP (Western Australia), ATIVA Research
Autrália36%
Brasil33%
Índia11%
África do Sul4%
Outros16%
Mercado Transoceânico de MFeOferta - 2008
China52%
Japão17%
Coréia6%
Taiwan2%
Europa15%
Outros8%
Mercado Transoceânico de MFeDemanda - 2008
Fonte: Rio Tinto, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 51 14 de agosto de 2009
Mas as importações de minério de ferro não cresceram somente em termos absolutos. A
participação do minério de ferro importado no mix do consumo da siderurgia local também teve
seu percentual aumentado consistentemente.
40%
50%
60%
70%
80%
90%1T
04
2T04
3T04
4T04
1T05
2T05
3T05
4T05
1T06
2T06
3T06
4T06
1T07
2T07
3T07
4T07
1T08
2T08
3T08
4T08
1T09
2T09
Participação das importaçõesno consumo de Mfe da China
Fonte: Bloomberg, ATIVA Research
Tal fenômeno é explicado não somente pela forte demanda chinesa, mas também pela falta de
oferta no mercado interno, no caso, de produtores chineses que comercializam no mercado
spot. Com a queda nos preços de minério de ferro (tanto no mercado spot quanto nos preços de
benchmark), uma parte importante dos produtores locais não se sentem incentivados a produzir
minério de ferro, visto seus custos de produção mais elevados que os das grandes mineradoras.
Desta forma, a produção local foi restringida, aumentando consequentemente a participação do
minério importado.
020406080
100120140160180200
jan/
06m
ar/0
6m
ai/0
6ju
l/06
set/0
6no
v/06
jan/
07m
ar/0
7m
ai/0
7ju
l/07
set/0
7no
v/07
jan/
08m
ar/0
8m
ai/0
8ju
l/08
set/0
8no
v/08
jan/
09m
ar/0
9m
ai/0
9ju
l/09
Preço mercado spot China (US$/t)
Fonte: SBB
Ainda sobre preços, observando o gráfico acima, e considerando que no período de outubro/08
a maio/09 a demanda por minério colapsou, causando um excesso temporário de oferta na
China, podemos inferir que o preço mínimo de equilíbrio econômico para a média dos
produtores locais é atualmente em torno de US$ 70/ton. Sempre que este piso foi testado, mais
produtores locais consideravam suas operações não-lucrativas e interrompiam a produção,
fazendo com que houvesse menos oferta e, consequentemente, uma recuperação marginal de
RELATÓRIO ESPECIAL 52 14 de agosto de 2009
preços. Assim, a tendência de preços no curto prazo tem sido de alta, com os preços spot já
ultrapassando a barreira dos US$ 100 /ton. No entanto, não acreditamos em uma alta
sustentada dos preços no curto prazo, visto o incentivo ao aumento da oferta de minério
doméstico com preços elevados.
Assim, temos uma situação de crescimento robusto da demanda por minério e de aumento de
volumes e participação relativa do produto importado, o que transforma a China no grande pólo
de atenção das mineradoras transnacionais.
Desta forma, não são só os australianos, mas a Vale também tem se aproveitado do
crescimento das importações chinesas de minério. Com um portfólio de clientes tradicionalmente
diversificado, no auge do ciclo do setor a Vale limitou suas vendas para a China por falta de
produto. Agora, com importantes clientes reduzindo drasticamente seus volumes, a mineradora
brasileira passou a redirecionar parte deste volume para a China, amenizando os efeitos da
brusca redução de demanda no ocidente. Desta forma, o perfil das exportações da Vale
modificou-se significativamente do 2T08 para o 2T09. A China, que era responsável por 32%
dos volumes de minério de ferro embarcados no 2T08, passou a dominar a carteira da Vale,
com 66% de participação no 2T09. O efeito do aumento de participação não foi somente devido
às menores vendas para os demais clientes, mas em termos absolutos a China passou a
importar mais minério da Vale.
11 1214
17 1720 20 19
22 23 25 24 23 2427
14
35 36
Vendas de MFe da Vale para a China (mm ton)
Fonte: Vale, ATIVA Research
Brasil20%
China32%Japão
11%
Coréia do Sul4%
Europa24%
Outros10%
Vendas por Destino - 2T08
Brasil8%
China66%
Japão6%
Coréia do Sul4%
Europa9%
Outros6%
Vendas por Destino - 2T09
Fonte: Vale, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 53 14 de agosto de 2009
Como forma de exemplificar a importância da demanda chinesa para a Vale, fizemos um
exercício comparando as vendas da mineradora no 2T08 e no 2T09. No 2T08, antes de
qualquer impacto da crise na demanda por minério de ferro, as vendas da Vale foram de 79
milhões de ton. No 2T09, os embarques reduziram-se para 54 milhões de toneladas. Assumindo
que a Vale consiga manter as vendas realizadas no 2T09 para a China nos próximos trimestres,
para se recuperar os patamares de produção do 2T08, basta que os demais clientes da
mineradora recuperem apenas 65% da demanda perdida durante a crise.
Identificando a crescente importância da China para suas vendas, a Vale passou a adotar
estruturas e políticas comerciais diferenciadas para atendê-la, dentre as quais destacamos:
Aumento da base de clientes chineses, investindo no relacionamento com siderúrgicas de
médio porte;
Construção de centros de distribuição no Oriente Médio e na Ásia, de forma a agilizar o
atendimento das demandas;
Adoção de políticas de preço mais flexíveis, praticando vendas no sistema de benchmark ou
no mercado spot;
Desenvolvimento de frota própria através de aquisição de navios usados e de novos navios
graneleiros de grande porte (VLOCs);
Minimização da exposição aos preços de fretes do mercado à vista e assinatura de acordos
de fretes de longo prazo.
Ainda que a demanda dos destinos ex-China se recupere aos patamares anteriores à crise, a
China parece ter ocupado uma importância irreversível no portfólio de clientes de minério de
ferro da Vale. Caso as vendas para a China não recuem (e esse parece ser o caso dado a
demanda chinesa e os investimentos que a Vale tem feito para assegurar um maior market
share neste mercado), estas terão uma participação de 40% nos volumes de vendas da
mineradora, ainda que Europa, Américas e demais clientes asiáticos recuperem suas demandas
do 2T08. Assim, embora a Vale tenha desvantagens competitivas frente aos australianos para o
fornecimento de minério para a China, este país terá relevância crescente e fundamental para a
mineradora brasileira.
Embora estejamos confiantes na força da demanda chinesa e nas possibilidades da Vale
aumentar sua exposição a este mercado, vale destacar alguns riscos:
Por uma nova diretriz política ou por dificuldade na execução dos planos de urbanização e
desenvolvimento econômico, a China pode apresentar crescimento econômico aquém das
RELATÓRIO ESPECIAL 54 14 de agosto de 2009
expectativas, reduzindo a produção de aço e, consequentemente, a demanda por minério
de ferro;
Alianças estratégicas entre companhias chinesas e mineradoras, principalmente
australianas, com o intuito de criar uma relação de fornecimento cativo de minério de ferro
para siderúrgicas chinesas;
O governo chinês pode impor restrições à importação de minério de ferro, seja por meio de
tributos, seja por aplicação de cotas;
O governo chinês pode subsidiar a produção de minério de ferro doméstico, aumentando
artificialmente a concorrência;
Uma mudança nos patamares de preços de frete internacional pode prejudicar a
competitividade do minério brasileiro frente ao australiano, apesar dos investimentos da
Vale em logística marítima.
RELATÓRIO ESPECIAL 55 14 de agosto de 2009
Alimentos: Uma China menos frugal
O peso da economia chinesa, decorrente de seu processo de crescimento e urbanização, tem
aumentado de forma exponencial na determinação de tendências do setor de alimentos. O
Brasil, como um dos principais produtores e o maior exportador de diversos alimentos,
dependerá, portanto, cada vez mais da expansão da demanda chinesa por grãos e proteínas de
origem animal. Os preços dos alimentos também deverão responder a esta crescente demanda.
Buscamos apresentar nesta seção como as perspectivas para a economia da China podem
influenciar o setor de alimentos brasileiro.
De acordo com a análise do perfil de orçamento familiar chinês realizada na sessão
macroeconômica deste relatório (vide pág. 21), podemos perceber que a população urbana
chinesa, embora destine um percentual menor de sua renda à gastos com alimentação, gasta
mais com comida que as pessoas da área rural devido à diferença de renda, que é cerca de 4
vezes superior à renda média anual da população da área rural, cujos gastos refletem um perfil
de subsistência. O chinês urbano se alimenta melhor, consumindo um mix de proteína superior,
e, portanto, a continuidade do movimento de migração da população chinesa para as áreas
urbanizadas deverão continuar se refletindo no aumento da demanda por carnes.
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000Consumo de carnes na China (mil tons)
Bovina: CAGR 9,3%a.a.
Aves: CAGR 9,4%a.a.
Suina: CAGR 4,3%a.a.
Fonte: USDA, ATIVA Research
Considerando a evolução do consumo da China, verificamos que o país já depende atualmente
de importações de alguns grupos de alimentos, em especial no caso da soja, da qual responde
por metade das importações mundiais deste grão, e em menor grau no caso de proteínas de
origem animal.
RELATÓRIO ESPECIAL 56 14 de agosto de 2009
16%
13%8%7%
6%4%
46%
Maiores importadoresde Carnes em 2008
Russia
Japan
Mexico
Estados Unidos
UE-27
China
Outros
53,4%
17,5%29,1%
Maiores Importadores de Soja em 2008
China
UE-27
Outros
Fonte: USDA, ATIVA Research
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mil
tone
lada
s
Importações Chinesas de carnes
Aves Suínos Bovinos
Fonte: USDA, ATIVA Research
A expansão da produção chinesa de carne de aves foi, em média, de 9,2%a.a. nos últimos 20
anos, enquanto o consumo vem se ampliando em uma taxa ligeiramente maior, de 9,4%a.a. em
termos de volumes no mesmo período, porém com um hiato crescente: as importações de aves
tem expandido, em média, 12%a.a. no mesmo período. Em 2009, o USDA estima que a China
terá necessidade de importar 485 mil tons de carne de aves, um crescimento de 8% ante o
observado em 2008, de modo a abastecer sua população com esta proteína. Para fins de
comparação, o total das importações chinesas de aves no mundo deverão ser equivalente a
cerca de 14% do total das exportações brasileiras deste produto.
RELATÓRIO ESPECIAL 57 14 de agosto de 2009
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
13.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mil
ton
elad
as
Carne de Aves China - Produção X Consumo
Produção Consumo Fonte: USDA, ATIVA Research
No caso da carne suína, proteína animal mais consumida pelos chineses, verificamos que a
produção local deverá continuar cresceno e sendo capaz de atender, pelo menos em 2009, a
demanda pelo consumo deste produto, segundo estimado pelo USDA. As perspectivas de
retornos generosos neste setor, promovidos por incentivos fiscais e subsídios concedidos pelo
governo chinês, deverão superar o efeito de elevação dos custos de produção de suínos este
ano. Ao observarmos o comportamento destas variáveis nos últimos 20 anos, no entanto,
notamos que o consumo de carne suína vem crescendo a uma taxa mais acelerada que a
produção chinesa deste produto, com CAGR de 5,2%a.a. em consumo, ante 4,3%a.a. na
produção. Portanto, considerando o ritmo de crescimento do consumo nos últimos anos, bem
como a limitação do potencial para expansão da área destinada para a criação de rebanhos,
assim como limitação de recursos hídricos, é possível que observemos a China passar a
importar de forma líquida esta proteína em um futuro não muito distante.
38000
40000
42000
44000
46000
48000
50000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mil t
onel
adas
Carne Suína China - Produção X Consumo
Produção Consumo
Fonte: USDA, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 58 14 de agosto de 2009
9%
19%
72%
China: Mix de consumo de proteína animal em 2008
Bovinos
Aves
Suínos
Fonte: USDA, ATIVA Research
Já a proteína bovina, que é muito menos consumida que as demais, tendo em vista seu preço
mais elevado e questões de hábitos alimentares, poderá vir a ganhar relevância com o
enriquecimento da população. Devido à pequena participação da carne bovina na dieta do
chinês, qualquer melhoria no mix de consumo de proteína de origem animal poderá impactar de
modo relevante a demanda por carne bovina e, dada a limitação da produção na China, devido
às questões já mencionadas de escassez de recursos naturais, podem elevar à importação
deste alimento pelo país.
4500
5000
5500
6000
6500
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mil
tone
lada
s
Carne Bovina China - Produção X Consumo
Produção Consumo
Fonte: USDA, ATIVA Research
Mesmo sendo a China o maior país consumidor de carnes no mundo, naturalmente, devido ao
tamanho de sua população, percebemos que o consumo per capita de carnes encontra-se
abaixo de outros países emergentes, com exceção da Índia, o que denota um potencial de
crescimento ainda superior da demanda por este tipo de alimento.
RELATÓRIO ESPECIAL 59 14 de agosto de 2009
China Estados Unidos Brasil Rússia México Japão Índia Argentina
48,6 Kg/ano
114,0 Kg/ano
92,3 Kg/ano
59,3 Kg/ano
71,9 Kg/ano
43,8 Kg/ano
3,8 Kg/ano
106,3 Kg/ano
0
20
40
60
80
100
120
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
Kilo
gram
as
Mil
tone
lada
s
Consumo total e per capita de carnes em 2008
Fonte: USDA, World Bank, ATIVA Research
O papel do Brasil
Nos últimos dez anos, o Brasil elevou de forma significativa sua participação no mercado
internacional, saltando de uma participação de 10% das exportações mundiais de carnes
(bovinos, aves e suínos), para a liderança mundial esperada em 2009, ultrapassando os EUA,
com cerca de 28% estimados para este ano em termos de volume, com destaque para o forte
crescimento de 17%a.a. das exportações de aves, de 14%a.a. em bovinos e de 19% em suínos,
desde 1999.
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mil
tone
lada
s
Exportações brasileiras de carnes
Bovinos Aves Suínos
Fonte: USDA, ATIVA Research
Para 2009, o USDA estima que o Brasil responderá por 42% do trading mundial de aves, com
ganho de 4p.p. ante o ano anterior. No caso dos suínos, o salto seria de 5p.p., alcançando
próximo a ¼ das exportações mundiais. Por fim, a participação brasileira no comércio mundial
da proteína bovina permaneceria estável em 23%, mantendo a liderança no setor, num cenário
RELATÓRIO ESPECIAL 60 14 de agosto de 2009
de realocação do consumo mundial por proteínas de menor valor agregado, em função da crise
econômica que perdurou o 1S09.
Maiores exportadores por tipo de carne (2008)
28%
26%
12%
8%7%
19%
Total de carnes
Estados Unidos
Brasil
UE-27
Canadá
Australia
Outros
24% 19%
11%
8%
7%31%
Bovinos
Brasil
Australia
Estados Unidos
India
New Zealand
Outros
38%
38%
10%
4%3%
7%
Aves
Brasil
Estados Unidos
UE-27
Thailandia
China
Outros
34%
28%
18%10%
4%5%
Suínos
Estados Unidos
UE-27
Canadá
Brasil
China
Outros
Fonte: USDA, ATIVA Research
Em termos de grãos, o Brasil se destaca como o segundo maior exportador de soja do mundo,
respondendo por 37% do total da soja comercializada globalmente, atrás dos EUA, que
comercializa 46% da soja no mundo. Embora o Brasil seja um player relevante no trading de
milho no mundo, as importações chinesas deste grão não são expressivas.
32%
14%
8%
7%
6%33%
Exportações brasileiras de soja em 2008
China
Países Baixos
França
Espanha
Alemanha
Outros
46%
37%
8%3%
5%
Exportações mundiais de soja em 2008
Estados Unidos
Brasil
Argentina
Paraguai
Outros
Fonte: USDA, ATIVA Research Fonte: SECEX, ATIVA Research
RELATÓRIO ESPECIAL 61 14 de agosto de 2009
Do total de soja exportada pelo país, 32% do volume é destinado à China, maior mercado
consumidor deste produto no mundo, respondendo por 23% do volume total consumido.
O Brasil possui importantes vantagens comparativas na produção de alimentos, que
garantem ao país custos competitivos e explicam sua crescente relevância nas exportações
mundiais de grãos e carnes. As duas principais vantagens estão relacionadas à abundância de
recursos naturais, com espaço para expansão de produção, conforme destacado a seguir:
1- Grande potencial de aumento de produtividade e da expansão de área cultivada - Há
cerca de 400 milhões de hectares de territórios disponíveis para agricultura no país, o que
garante ao Brasil a possibilidade de expansão na produção de grãos, bem como na
produção de carnes, em especial frango e suínos, que são alimentados basicamente com
ração a base de milho e soja.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Milh
ões
de h
ecta
res
Área disponível para expansão de agricultura nos países
Área utilizada para agricultura
Pastos e áreas não utilizadas
Fonte: Perdigão, FAO e ATIVA Research
2- Elevado potencial hídrico - aproximadamente 12% do total das reservas hídricas
disponíveis no mundo encontram-se no Brasil. Dado o elevado consumo de água envolvido
no processo produtivo no cultivo de grãos e, em maior grau, na produção de carnes, o país
destaca-se como um produtor natural de alimentos.
A abertura da economia chinesa para exportações brasileiras de carnes deverá ser, nos
próximos anos, um dos principais drivers de crescimento da demanda destes alimentos no
Brasil. Apesar de oficialmente aberta desde o final de 2008, somente em maio/09 observamos a
abertura prática daquele mercado para compra de frangos do Brasil, alcançada a partir de uma
iniciativa bem-sucedida da comitiva presidencial em visita à China, cujo objetivo era estimular a
ampliação da relação comercial entre os dois países.
RELATÓRIO ESPECIAL 62 14 de agosto de 2009
Atualmente, a relevância das exportações brasileiras para a China no setor agrícola se concentra
em um único produto: a soja. Mais de 90% das exportações de produtos agrícolas do Brasil ao
país asiático são concentradas no complexo soja. Se pensarmos que a continuidade do
processo de enriquecimento da população chinesa e sua consequente urbanização levará mais
pessoas a consumir proteína animal, no lugar da proteína vegetal, podemos esperar um
crescimento exponencial das importações de carnes por parte da China nos próximos anos.
Sendo o Brasil o maior país exportador de carne de aves e bovina e o quarto maior exportador
de carne suína, acreditamos que o país será uma das economias mais beneficiadas com o
processo de crescimento chinês e com a conseqüente melhora do mix de consumo de alimentos
de sua população.
CONCLUSÕES
Considerando as perspectivas de:
(i) crescimento econômico acelerado da economia chinesa para os próximos 10 anos,
caracterizado pelo contínuo processo de migração da população rural para áreas
urbanas,
(ii) limitação de recursos naturais para a ampliação sustentável da produção destes
alimentos, como água e terra disponível para agricultura,
(iii) expansão da demanda chinesa por proteína animal como conseqüência da melhoria
de mix da alimentação da população, com o processo de urbanização e
enriquecimento, e
(iv) reabertura comercial do mercado chinês para as exportações brasileiras de aves,
bem como a inevitável retomada no mercado de suínos e bovinos,
Esperamos que:
(v) a necessidade de importação de grãos, como matérias-primas de produção de carnes
se mantenha,
(vi) a China passe a ser mais dependente de importações de proteína animal no médio
prazo, ampliando o consumo de carnes e produtos processados/industrializados,
(vii) o Brasil, como maior exportador de soja e de carnes do mundo, e com expressivo
potencial de crescimento de produção, seja amplamente beneficiado da maior
demanda chinesa,
(viii) o comportamento de preços dos insumos para produção de carnes, destacadamente
soja e milho, assim como os preços da proteína animal, mantenham trajetória
ascendente no médio/longo prazo.
As empresas brasileiras produtoras de alimentos voltadas para atender ao mercado externo
deverão, de uma forma geral, ser beneficiadas pelo aumento da demanda mundial por carnes no
RELATÓRIO ESPECIAL 63 14 de agosto de 2009
médio/longo prazo. Porém, ao analisarmos o comportamento de consumo e produção de carnes
da China, associada à recente abertura deste mercado para as exportações brasileiras de
frango, identificamos neste segmento o maior potencial de crescimento no curto/médio prazo. A
competitividade de custos e escala das empresas brasileiras, bem como sua relevância no
trading global de proteínas as torna players naturais para fornecer para o mercado chinês, de
onde esperamos observar expansão significativa de demanda por estes produtos.
RELATÓRIO ESPECIAL 64 14 de agosto de 2009
O analista responsável pela elaboração deste relatório declara, nos termos do art. 5º da Instrução CVM n.º 388/03 que: I. suas análises refletem única e exclusivamente suas opiniões pessoais e que foram elaboradas de forma independente e autônoma; II. que não mantém vínculo com qualquer pessoa natural que atue no âmbito das companhias cujos valores mobiliários foram alvo de análise no relatório divulgado; III. que a instituição à qual está vinculado, bem como os fundos, carteiras e clubes de investimentos em valores mobiliários por ela administrados não possui participação acionária direta ou indireta, igual ou superior a 1% (um por cento) do capital social de quaisquer das companhias cujos valores mobiliários foram alvo de análise, ou esteja envolvida na aquisição, alienação e intermediação de tais valores mobiliários no mercado; IV. que não é titular, direta ou indiretamente, de valores mobiliários de emissão da companhia objeto de sua análise, que representem 5% (cinco por cento) ou mais de seu patrimônio pessoal, ou esteja envolvido na aquisição, alienação e intermediação de tais valores mobiliários no mercado; V. que, tanto o analista como a instituição a que está vinculado, não recebem remuneração por serviços prestados ou apresentam relações comerciais com qualquer das companhias cujos valores mobiliários foram alvo de análise no relatório divulgado, ou pessoa natural ou pessoa jurídica, fundo ou universalidade de direitos, que atue representando o mesmo interesse desta companhia; VI. que sua remuneração ou esquema de compensação do qual é integrante não está atrelada à precificação de quaisquer dos valores mobiliários emitidos por companhias analisadas no relatório ou às receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela instituição a qual está vinculado. Este boletim foi preparado pela Ativa SA Corretora de Títulos, Câmbio e Valores, sendo distribuído a título gratuito, com a finalidade única de prestar informações ao mercado em geral. Apesar de ter sido tomado todo o cuidado necessário de forma a assegurar que as informações aqui prestadas reflitam precisamente a realidade no momento, a exatidão não é de qualquer forma garantida e a Corretora por elas não se responsabiliza. O informe é fornecido apenas como fonte de dados para investidores profissionais, que devem tomar suas próprias decisões, não aceitando a Corretora responsabilidade, de qualquer natureza, por perdas direta ou indiretamente derivadas do uso deste boletim ou do seu conteúdo. Este não pode ser reproduzido, distribuído ou publicado por qualquer pessoa, para quaisquer fins.
RELATÓRIO ESPECIAL 65 14 de agosto de 2009
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