relatório do primeiro semestre / 2009 f4m · oportunidade de puxarem um fio aqui e outro acolá...

6
oportunidade de puxarem um fio aqui e outro acolá para tecerem suas próprias memórias. O outro, perceber que os diferentes caminhos se cruzam na estrada do passado. As primeiras lembranças são contadas por nossos familiares. Por isso, esses parceiros foram fundamentais, não apenas no início, mas ao longo de todo projeto. A fotografia, talvez, tenha sido inicialmente o suporte que melhor revelou as marcas do tem- po. Provocamos, então, uma boa mexida nos baús de casa. Fotos de pais, avós, tios, primos, padrastos, bisavós e até tataravós criaram um rebuliço no grupo. “Quem é essa?”, “Ah, essa aqui é minha avó, mas ela aqui tá a cara da minha mãe”. Algumas vinham carregadas de histórias engraçadas, curiosas, outras traziam tristeza ou mistério. “Essa foto é meio louca. É que minha mãe está com meu tio. Só que o meu tio morreu e quando ele morreu aconteceu uma coisa muito doida, ele sumiu na foto”. “A minha tia também morreu, mas ela tá aqui, ó”. Depoimentos escritos por pessoas da famí- lia, em pequenos textos ou em “papos” infor- mais, colaboraram para um retorno ao início, para puxar o fio da memória. “Houve vários fatos marcantes na minha vida, o mais importante foi quando a minha filha Adriana deu a luz. (...) Eu estava numa reunião de trabalho e aquela notícia me fez chorar de emoção e alegria. Este neto se chama João Pedro.” Nelson Campos, 73, avô do João Pedro QUANTAS HISTÓRIAS! A fotografia também impulsionou os primei- ros relatos autobiográficos. Auxiliados pelo pessoal de casa, cada criança compôs a capa de seu caderno e, em sala, fez uma narrativa PROJETO E ARTES QUANTO TEMPO O TEMPO TEM? O samba da Manu, professora de música, e as imagens representativas do surrealismo que sinalizam a escola serviram de inspiração para as crianças refletirem e arriscarem definições próprias sobre o Tempo, tema institucional des- te ano. Trocaram ideias a respeito do que cada dupla pensou e escreveu. Em outro momento, ampliaram suas leituras trazendo, de casa, algumas definições de filósofos, escritores, poetas e historiadores. Posteriormente tenta- ram identificar e, segundo critérios de afinidade, organizaram, em diversos grupos, as diferentes concepções sobre esse assunto. O que pode- mos medir foi chamado de tempo do relógio. O dia e a noite, as fases da lua, o clima entraram no tempo da natureza. O tempo do homem, que também é cíclico, ficou marcado pelo en- contro de gerações. E o tempo da lembrança, mais subjetivo, estaria dentro da gente, sentido e vivido com certa independência do relógio. “O tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó, o tempo é uma superfície oblíqua e ondulada que só a memória é ca- paz de mover e aproximar”. Saramago BDE MEMÓRIAS Convidamos as crianças a um mergulho mai- or no tempo da memória. Nesse momento dois objetivos nos impulsionaram. Um era oferecer a Relatório do Primeiro Semestre / 2009 F4M Rua Capistrano de Abreu, 29 – Botafogo – 2538-3231 Rua Marques, 19 – Humaitá – 2538-3232 www.sapereira.com.br - [email protected] TURMA: ALICE, ALICIA, ANTONIO, CAIO, EIKE, ERNESTO, GABRIEL, JOANA, JOANA, JOANNA, JOAO, LETICIA, LUIZA, MAIRA, MANUELA, MARIA ANTONIA, MARIA EDUARDA B, MARIA EDUARDA L, MARIA HELENA, MARIA, MIGUEL, ROSA, SAMIA, TALI, THEO ADULTOS NO TURNO DA MANHÃ Professores e Auxiliares nas Turmas: F1M: Mariana e Giovanna F2M: Denise F3M: Tânia F4M: Erika F5MA: Beth e Andrea N F5MB: Beth e Andrea N Música: João e Manoela Expressão Corporal: Aninha Teatro: Raquel e Helena Educação Física: Renato e Renata Artes Visuais: Moema Coral: Fernando e Raimundo Inglês: Rosangela Coordenação Pedagógica: Jade e Andrea N Auxiliar do Turno: Rosi Orientação e Tribo: Andrea T Editoração: Viviane Direção: Tetê, Cecilia, Anselmo Secretaria: Renata e Deise Auxiliares Pedro, José, Nívia, Lilian, Eduardo, Dudu e Mário

Upload: lamdung

Post on 21-Sep-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

oportunidade de puxarem um fio aqui e outro acolá para tecerem suas próprias memórias. O outro, perceber que os diferentes caminhos se cruzam na estrada do passado. As primeiras lembranças são contadas por

nossos familiares. Por isso, esses parceiros foram fundamentais, não apenas no início, mas ao longo de todo projeto. A fotografia, talvez, tenha sido inicialmente o

suporte que melhor revelou as marcas do tem-po. Provocamos, então, uma boa mexida nos baús de casa. Fotos de pais, avós, tios, primos, padrastos, bisavós e até tataravós criaram um rebuliço no grupo. “Quem é essa?”, “Ah, essa aqui é minha avó, mas ela aqui tá a cara da minha mãe”. Algumas vinham carregadas de histórias engraçadas, curiosas, outras traziam tristeza ou mistério. “Essa foto é meio louca. É que minha mãe está com meu tio. Só que o meu tio morreu e quando ele morreu aconteceu uma coisa muito doida, ele sumiu na foto”. “A minha tia também morreu, mas ela tá aqui, ó”. Depoimentos escritos por pessoas da famí-

lia, em pequenos textos ou em “papos” infor-mais, colaboraram para um retorno ao início, para puxar o fio da memória. “Houve vários fatos marcantes na minha

vida, o mais importante foi quando a minha filha Adriana deu a luz. (...) Eu estava numa reunião de trabalho e aquela notícia me fez chorar de emoção e alegria. Este neto se chama João Pedro.” Nelson Campos, 73, avô do João Pedro

QUANTAS HISTÓRIAS! A fotografia também impulsionou os primei-

ros relatos autobiográficos. Auxiliados pelo pessoal de casa, cada criança compôs a capa de seu caderno e, em sala, fez uma narrativa

PROJETO E ARTES

QUANTO TEMPO O TEMPO TEM? O samba da Manu, professora de música, e

as imagens representativas do surrealismo que sinalizam a escola serviram de inspiração para as crianças refletirem e arriscarem definições próprias sobre o Tempo, tema institucional des-te ano. Trocaram ideias a respeito do que cada dupla pensou e escreveu. Em outro momento, ampliaram suas leituras trazendo, de casa, algumas definições de filósofos, escritores, poetas e historiadores. Posteriormente tenta-ram identificar e, segundo critérios de afinidade, organizaram, em diversos grupos, as diferentes concepções sobre esse assunto. O que pode-mos medir foi chamado de tempo do relógio. O dia e a noite, as fases da lua, o clima entraram no tempo da natureza. O tempo do homem, que também é cíclico, ficou marcado pelo en-contro de gerações. E o tempo da lembrança, mais subjetivo, estaria dentro da gente, sentido e vivido com certa independência do relógio.

“O tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó, o tempo é uma superfície oblíqua e ondulada que só a memória é ca-paz de mover e aproximar”.

Saramago

BAÚ DE MEMÓRIAS Convidamos as crianças a um mergulho mai-

or no tempo da memória. Nesse momento dois objetivos nos impulsionaram. Um era oferecer a

Relatório do Primeiro Semestre / 2009

F4M

Rua Capistrano de Abreu, 29 – Botafogo – 2538-3231 Rua Marques, 19 – Humaitá – 2538-3232

www.sapereira.com.br - [email protected]

TURMA: ALICE, ALICIA, ANTONIO, CAIO,

EIKE, ERNESTO, GABRIEL, JOANA, JOANA, JOANNA, JOAO, LETICIA,

LUIZA, MAIRA, MANUELA, MARIA ANTONIA, MARIA EDUARDA B, MARIA EDUARDA L, MARIA HELENA,

MARIA, MIGUEL, ROSA, SAMIA, TALI, THEO

ADULTOS NO TURNO DA MANHÃ

Professores e Auxiliares nas Turmas:

F1M: Mariana e Giovanna F2M: Denise

F3M: Tânia F4M: Erika

F5MA: Beth e Andrea N F5MB: Beth e Andrea N

Música: João e Manoela Expressão Corporal: Aninha

Teatro: Raquel e Helena Educação Física: Renato e Renata

Artes Visuais: Moema Coral: Fernando e Raimundo

Inglês: Rosangela Coordenação Pedagógica: Jade e Andrea N

Auxiliar do Turno: Rosi Orientação e Tribo: Andrea T

Editoração: Viviane

Direção: Tetê, Cecilia, Anselmo

Secretaria: Renata e Deise

Auxiliares

Pedro, José, Nívia, Lilian, Eduardo, Dudu e Mário

o período da ditadura militar e da censura. Antes do passeio de bonde e da visita à Co-

lombo, as crianças trouxeram de casa pesqui-sas sobre a confeitaria e depoimentos de pa-rentes que eram fregueses de lá.

“A minha avó antigamente gostava de comer os docinhos que o pai dela, meu bisa-vô, comprava aos sábados.”

Caio

“Minha avó, Márcia, comia torradas Petró-polis e chá preto. Ela gostava também de sorvete na taça com biscoitos chamados Leques Gauffretes que eram vendidos em latas redondas e muito bonitas. Ela adorava o banheiro do segundo andar, porque era luxuoso e tinha um sabonete líquido que ficava dentro de uma bola de vidro que vira-va, uma novidade naquela época.”

Rosa

oral de sua seleção. Outros artifícios foram utilizados com a inten-

ção de provocar uma visita ao passado na bus-ca de algo para ser compartilhado como, por exemplo, um objeto pessoal antigo. Com o mesmo intuito de resgate, sugerimos alguns temas: um aniversário especial, uma viagem inesquecível, uma tristeza guardada, um dia divertido...

“(...) Antes de eu nascer, meu pai comprou uma centopéia de pelúcia para mim e para rimar com o meu nome (Manuela) ele deu o nome de Cassiopéia, mas continuou não rimando. Pois é, ele é doido e legal. Falando do meu pai, ele inventou uma música da Cassiopéia mais ou menos assim...”.

Manuela

“Essa panela me lembra que tomava ba-nho nela, na França, numa pequena cidade chamada Sanlis, numa casa de campo do lado da casa da minha avó e dos meus tios. Brincava com a minha prima na panela. Eu

também brincava com meu pai, correndo no campo e na floresta. Essa panela me lembra coisas que eu

nunca esquecerei. Até hoje vou lá brincar e busco morangos na plantação.”

Gabriel

Nesse movimento de lembrar, escrever, ler

em voz alta, reescrever, revisar, ler, percebe-ram a necessidade de aprimorar esse instru-mento de comunicação. Dessa forma, se apro-priaram mais dos recursos da Língua. A pontu-ação foi discutida, houve um cuidado maior com a ortografia e mais capricho no traçado das letras. Na leitura do livro Bisa Bia Bisa Bel, de Ana

Maria Machado, o silêncio e os suspiros de encantamento denunciaram o envolvimento do grupo. Voltar ao tempo dos avós e bisavós, a partir dos diálogos entre a personagem princi-pal e sua bisavó, instigou alguns debates sobre a estrutura e a educação familiar, o papel da mulher na sociedade e questões políticas como

Esses relatos aproximaram o grupo daquele

tempo, proporcionando uma visita cheia de afeto e significado. Durante o trajeto, a turma se deslumbrou com cada detalhe. Com a aven-tura de estar nas alturas, sobre os Arcos da Lapa, com a viagem no bonde e, na Colombo, com a beleza estonteante dos dourados, dos cristais, dos espelhos e dos vitrais. Conversar com Orlando, garçom há cinquenta anos, foi como ver uma foto antiga, em preto e branco, ganhar cor e movimento. Tivemos alguns encontros com a poesia,

refestelados em almofadas, travesseiros ou tapetinhos na biblioteca. Às vezes, para leituras silenciosas de poemas trazidos de casa. Outras vezes, para escutar a declamação da professo-ra ou de um colega. O desafio maior foi arriscar rimas e imagens poéticas para traduzir senti-mentos e impressões. Mas fizeram bonito: os autorretratos poéticos brilharam na Mostra de Artes. Com essa turma, tive a grata surpresa de

rever três alunas antigas. Tive a alegria de co-nhecer vinte e dois novos parceiros que, junto àquelas, compõem um grupo amigo e solidário. Grupo que tem consciência da importância do cuidar, do estar junto. Grupo que busca o equi-líbrio na harmonia das diferenças. Grupo que abraça seus compromissos com vontade e leveza e faz qualquer desafio parecer menor.

MATEMÁTICA Começamos o semestre ampliando o campo

numérico, estabelecendo relações com os a-grupamentos do sistema de numeração deci-mal e revendo as técnicas operatórias da adi-ção e subtração. Momentos também de ler, escrever, compa-

rar, ordenar, compor e decompor os “números grandes", sistematizando os conceitos de valor relativo e absoluto. Os jogos envolvendo o cál-culo mental da multiplicação por 10, por 100 e por 1000 animaram a garotada. Resolução de problemas continua sendo a essência da ativi-dade matemática. Ler, interpretar, resolver e criar problemas favorecem a construção de

novas aprendizagens e permitem o emprego de conhecimentos já construídos. Procuramos oferecer dinâmicas diferentes envolvendo a realização e correção dessas propostas para estimular a busca de estratégias pessoais e a troca de saberes. Realizamos atividades envol-vendo o nosso sistema monetário e a leitura de tabelas. Iniciamos o estudo da multiplicação com atividades que tratam da configuração retangular, adição de parcelas iguais e combi-nação, ideias características dessa operação. As crianças descobriram que sabiam muito mais do que imaginavam sobre as proprieda-des multiplicativas e sobre a tabuada. Ao pro-curar relações e descobrir algumas proprieda-des da multiplicação, perceberam que podem entender a operação em vez de somente deco-rá-la. Para o próximo semestre reservamos novos desafios.

TRIBO A Tribo busca exercitar estratégias que te-

nham como fim o exercício da convivência. Busca o ouvir e o pensar, especialmente o pon-to de vista do outro. É uma oportunidade de reflexão sobre as questões relacionadas à co-munidade escolar, além das realizadas no es-paço da sala de aula. É um momento de pausa no ritmo dinâmico de pesquisa, estudo, produ-ção e vivências corporais e criativas para focar cada um de nós em si mesmo, no grupo, na escola, no mundo. Muito mais maduras e apro-priadas das estratégias utilizadas nesse espa-ço, as crianças o ocupam com competência, trazendo questões pertinentes guardadas espe-cialmente para a Tribo a fim de garantir uma discussão mais ampla e profunda. No nosso primeiro encontro, como é costu-

me, pensamos sobre esse novo ano, como cada um está crescendo, sobre as novas a-prendizagens e possibilidades. Paramos para refletir sobre o que cada um espera deste Quarto Ano na aprendizagem, na convivência, nas emoções, nos projetos. As crianças escre-veram seus desejos num papel, que ficará guardado até a última Tribo do ano, quando

sos encontros. Novos caminhos, outros assun-tos e temáticas surgirão, sempre acreditando que é na intencionalidade da discussão e refle-xão que procuramos garantir muitas aprendiza-gens e experiências importantes que, do con-trário, poderiam se perder numa vivência esva-ziada de sentido.

ARTES Iniciamos o semestre produzindo os enfeites

para o carro de som que acompanharia o desfi-le do bloco Sá Pereira. Utilizando tecidos e anilina, produzimos vários estandartes com o nome do samba - "Quanto tempo o tempo tem?" - e o da escola. Como o tempo ruim nos obrigou a substituir o desfile por um baile inter-no, utilizamos essa produção para criar a ambi-entação da escola. Passado o período de folia, estimulados pela

sinalização de nossa escola em 2009, que ho-menageia artistas surrealistas como Magritte, Chagall, Dalí e Remédios Varo, buscamos compreender os princípios que norteavam esse movimento, experimentando o desafio de nos libertarmos da lógica e da razão para irmos além da consciência cotidiana, expressando nossos sonhos. Nesse processo, começamos fazendo um rascunho individual de um pensa-mento, sonho ou ideia surrealista. Depois, sele-cionamos os projetos que tinham mais relação com a proposta e organizamos duplas ou trios para finalizar os trabalhos, utilizando lápis pas-tel. Posteriormente, alguns foram escolhidos e

ganharam tridimensionalidade. As instalações foram produzidas na semana que antecedeu a Mostra de Artes, e as crianças das sete turmas participantes cooperaram para que fossem finalizadas a tempo.

“Autorretrato é uma forma de registro em que o modelo é o próprio artista. O retratado é quem se retrata”

Katia Canton

Buscando dialogar com as pesquisas que a turma desenvolvia, nas aulas de Projeto, sobre memória, trouxemos a proposta de estudo so-bre os retratistas. Ao apreciarmos retratos e autorretratos de diferentes artistas, refletimos sobre como a necessidade do homem se autor-retratar sofreu inúmeras modificações ao longo da história. Em seguida, desafiamos as crian-ças a escolherem um meio de deixarem a mar-ca de sua própria imagem para a posteridade. A primeira etapa dessa experiência foi dei-

xarmos a cargo de cada um a escolha do mate-rial que estabelecesse maior sintonia com sua personalidade. Depois do material e da técnica escolhidos, cada criança buscou a melhor for-ma de se representar. Embora o caos reinasse, como em um barracão de escola de samba, conseguimos nos organizar para que todos os canudos, tampinhas, argila, massinhas, tintas etc, encontrassem seus devidos lugares e apli-cações. Para felicidade geral, acabamos com trabalhos bem interessantes que gratificaram bastante as crianças, ajudando-as a construí-rem a ideia de que o autorretrato é o espelho do artista, uma possibilidade de mostrar ao mundo, não apenas a sua imagem externa, mas também seu estado de espírito e sua ma-

avaliaremos o ano que passou e tudo o que aconteceu com a gente. As Regras de Convivência retornam e to-

mam lugar na Tribo. Sua manutenção é impres-cindível. Elas estão sempre presentes, acom-panhando as crianças em seu desenvolvimento e sua crescente capacidade de entendê-las e aplicá-las. Várias estratégias buscam garantir as discussões e reflexões: apresentação de slides para ler e refletir sobre as regras; bingo para lembrar sempre do que já foi lido e discuti-do; filme feito por ex-alunos representando-as na prática do dia-a-dia; cartões com situações problema da rotina escolar com a indagação: “o que você faria?”; muitas conversas sobre a atitude de cada um numa situação de conflito ou de desrespeito. Essas discussões redimen-sionam a importância das regras para vivermos em harmonia, favorecendo o espaço para ensi-nar, aprender e ter muitos amigos e levando as crianças a ampliarem gradativamente seu en-tendimento sobre a importância de cuidar com simplicidade e carinho dessa preciosa e com-plexa convivência. Em parceria com as aulas de Teatro e com a

montagem da peça “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”, dedicamos alguns encontros a pensar e conversar sobre essa etapa da vida, a velhice. Assistimos à versão montada por uma ex-turma da Sá Pereira que apresentou o espe-táculo para um público de idosos convidados de uma comunidade próxima. Estávamos co-memorando o Dia do Idoso. O filme emociona, toca o coração e dá margem a muitas conver-sas e reflexões. E as crianças surpreendem, reconhecendo e valorizando a importância dos idosos com sua vasta experiência de vida. Nos nossos encontros, como sempre, o rela-

xamento não pode faltar. Rápido mas intenso, é um momento de encontro consigo mesmo. As crianças param, dão uma trégua para as infini-tas demandas do nosso mundo e se percebem de um jeito diferente. Observam o corpo, a mente, os sentimentos, afetos e sentidos pre-sentes em cada um e, se percebendo, perce-bem o outro com mais sensibilidade e possibili-dade de interagir e de cuidar. No próximo semestre seguiremos com nos-

neira de ver e fazer arte, uma forma de perma-necer no tempo, de buscar um contato íntimo consigo mesmo e de ajudá-los a construir sua identidade.

EXPRESSÃO CORPORAL Lembranças de um tempo... memórias. Pri-

meiro lembramos nossas regras de convivência e as especificidades da própria aula de Expres-são Corporal. Fizemos relaxamentos e aqueci-mentos organizando o corpo, entendendo sua estrutura, ritmo e tônus. Falamos de ossos, músculos e pele, buscando introduzir a consci-ência desses tecidos que compõem nosso cor-po e nos permitem desenvolver as possibilida-des motoras e articulares. Abordamos, tam-bém, o cuidado e a necessidade de preparar nosso principal instrumento para a aula. E começamos a procurar traduzir em movi-

mentos nossas lembranças e memória. De curto prazo, sequências de movimentos que eram repetidos de forma cumulativa em jogos lúdicos. Na roda, cada um criava um movimen-to que ia se somando ao movimento criado pelo amigo. Os movimentos iam formando uma se-quência que era repetida por todos enquanto durasse nossa memória coletiva. De longo pra-zo, lembrança de movimentos executados em momentos passados, que não se apagaram da memória. As crianças, depois de sensibilizadas, resgatavam e escolhiam uma lembrança grava-da na memória de cada um e, num jogo mími-co, íamos decifrando a cena que cada um re-presentava com seu corpo. Depois abordamos outra dimensão do Tem-

po, que foi a sua própria marcação com a movi-mentação do corpo. Utilizamos o cronômetro e marcamos o tempo de realização de determina-dos movimentos num espaço pré-definido. De-pois, com o metrônomo, realizamos movimen-tos simples, seguindo o andamento proposto pelo aparelho. Assistimos, em DVD, ao espetáculo de dan-

ça 21, do grupo Corpo. O tempo é temática presente na coreografia e movimentação dos bailarinos. Aproveitamos essa apreciação para improvisar e dançar inspirados na trilha sonora especialmente composta pelo grupo UAKTI. No final do semestre, ensaiamos o baile que

fechava a peça "Guilherme Augusto Araújo Fernandes", apresentada na Mostra de Artes. E nos arriscamos com os passos de um co-

co, dança de roda acompanhada de cantoria, de influência africana e indígena, executada durante festas populares do litoral e do sertão nordestino, para a festa junina!!

MÚSICA Começamos o ano em ritmo de samba! En-

saiamos o samba enredo do bloco de carnaval (que virou um animado baile), assistimos a um vídeo que mostra os principais instrumentos de percussão de uma bateria de escola de samba e conversamos sobre eles. Passado o carnaval, retomamos o estudo da

flauta doce soprano aprendendo “Asa branca” que foi escolhida por ser uma música conheci-da e tecnicamente viável para as crianças. A-pós a música ter sido aprendida sem o suporte de uma partitura, as crianças se dividiram em

grupos com pelo menos uma criança já saben-do tocar bem a música. Assim, a mais experi-ente pôde ajudar seus colegas e, conforme outras crianças iam aprendendo, ampliava-se a rede de colaboração. Esse trabalho exigiu mui-ta atenção e concentração para decorar a músi-ca e companheirismo e paciência para traba-lhar em grupo. Sua organização nos permitiu uma atenção especial a algumas crianças que apresentaram maiores dificuldades. Terminado esse trabalho, começamos a es-

tudar “Canto do povo de um lugar”, de Caetano Veloso, que ouvimos e cantamos para que pu-déssemos tocar. A melodia foi trabalhada e, quando já estava bem aprendida, foi apresenta-do o arranjo, a quatro vozes, feito pela Manoela Marinho (professora das F2 e F5). As vozes foram sendo acrescentadas lentamente, de forma que todos tivessem a oportunidade de aprender as três primeiras, sendo a primeira a própria melodia da música. Sua divisão foi se dando gradual e espontaneamente, já que as crianças escolhiam, a cada aula, que voz iriam tocar. A divisão final foi cristalizada nas últimas aulas antes da Mostra de Artes, levando em consideração a fluência de cada um. A quarta voz, opcional e bem mais complicada, foi deixa-da para o fim.

A turma conseguiu dominar bem as três pri-meiras vozes, mas não houve tempo para que trabalhássemos a quarta voz, que foi tocada pelo professor. Quando a parte das flautas já estava mais

amadurecida, começamos a definir forma final do arranjo, acrescentando o canto. O resultado foi apresentado, com sucesso, para as outras turmas da escola e para as famílias na Mostra de Artes. Mais recentemente, começamos também a

fazer alguns exercícios preparatórios para o método “O Passo”, que ajudará na construção de ferramentas importantes para garantir uma maior qualidade e autonomia nos estudos de música. Terminamos o semestre ensaiando para a

festa junina e, no próximo semestre, retomare-mos o estudo da flauta doce e “O Passo” com dedicação total. A turma mantém como características o cari-

nho e a alegria, mostrando que continua ama-durecendo. Sua postura, interessada e disponí-vel, e seu comprometimento com o trabalho realizado nas aulas contribuíram para a melho-ra na qualidade da produção musical. No próxi-mo semestre, o desafio é manter essa postura amadurecida, sem perder sua alegria, para

continuar fazendo um bom trabalho. Boas Fé-rias!

TEATRO

“CUECA MUSICAL" Durante as duas primeiras semanas, apro-

veitando o clima de carnaval, selecionamos algumas marchinhas que consideramos mais teatrais, como "A marcha da cueca, "Daqui não saio" e "Me dá um dinheiro aí". Desafiamos as crianças a criarem, em grupos e dentro de suas possibilidades, uma cena que antecedesse o momento da música escolhida, seguindo o mo-delo do teatro de revista e dos musicais. Várias histórias surgiram para uma mesma marchinha, ou seja, a tal cueca foi reinventada diversas vezes, sempre com muito estilo e criatividade! Tamanha foi a farra, que a turma optou por

fazer um registro escrito, coletivo, das cenas da "Marcha da Cueca", que sem dúvida, foi a cam-peã do pré-carnaval musical 2009. Buscando um vínculo com o trabalho nas

aulas de Projeto, lemos o texto de Walter Ben-jamin, “A Torta de Amoras”, que nos fala sobre a relação da memória afetiva e sensorial. De-pois, apresentamos a história “Guilherme Au-gusto Araújo Fernandes”, de Mem Fox. Sua leitura foi definidora: os alunos ficaram bem empolgados, o que nos levou a adaptar o texto e ensaiá-lo para a Mostra de Artes. O mais difícil foi selecionar os personagens, pois todos queriam ser os velhinhos da história! Então, a saída foi colocar os narradores, também carac-terizados, contando a história. Com o afastamento da Raquel, Helena, que

já estagiava na escola, passou a se responsa-bilizar pelo trabalho, dando continuidade aos ensaios. Tínhamos um duro trabalho pela fren-te: uma peça longa, com muito texto, e com personagens um pouco distantes do universo das crianças. Somente durante o processo fomos nos dando conta do tamanho do desafio que propusemos às crianças. Quando dividimos os personagens, nem

todos ficaram satisfeitos. É sempre difícil aten-der à diversidade de desejos e motivações. Mas as crianças insatisfeitas, ao invés de fica-rem só na reclamação, trouxeram novas possi-bilidades. Criaram novos personagens, diverti-dos e carismáticos, improvisaram falas e situa-

ções, e fizeram um grande sucesso. Ponto po-sitivo para turma, que se coloca, questiona e traz sugestões que possam atender a seus anseios. O resultado foi bacana. Todos ficaram gratificados e se divertiram na apresentação final.

CORAL Ar, respirar. Ritmo, pulsar. Beleza, usufruir. Prazer, sentir. Som, ouvir e soar. Som suave, forte, organizado e até mesmo

aleatório. Silêncio, prestar atenção e escutar. Momento de falar e cantar; momento de es-

cutar. Coral, tudo isso junto, lado a lado, ombro a

ombro. A uma voz, em união-uníssono. A mais vozes, em união-polifônica. Respirar junto: retomar o ar com a certeza de

que o outro irá sustentar a nota; sustentar a nota para que o outro possa retomar o seu ar. Concentrar-se individualmente para que o

grupo se concentre. Descobrir e superar novos limites, descobrir

novas possibilidades ao cuidar do som do con-junto, crescendo pessoalmente com e junto aos colegas. É basicamente isto o que queremos nos en-

saios do coral. Concomitantemente à preparação do reper-

tório, também fazem parte do nosso trabalho: - um trabalho de técnica vocal para desen-

volver e dominar, cada vez mais, o instrumento natural de cada um; - a consciência e controle da respiração co-

mo mola mestra do canto e da música; - a estimulação da consciência auditiva: abrir

os ouvidos para o mundo sonoro!; - a utilização lúdica e intuitiva de fundamen-

tos musicais como registros, intervalos, impul-sos e apoios, harmonia vocal, dinâmica e agó-gica e a energia adequada para executá-los Estes elementos são aplicados com base no

repertório que está sendo ensaiado no momen-to. Sempre com a visão de que o coral é um

espaço educacional e de desenvolvimento da

sociabilidade, onde a música representa um objetivo que depende de cooperação e constru-ção coletiva, montamos um repertório aparente-mente pequeno, mas razoavelmente complexo, polifônico, que foi trabalhado no sentido de se realizar o melhor possível dentro das limitações de idade das crianças. Em função do projeto deste ano, preparamos

dois arranjos que abordam a questão do tempo, cada um à sua maneira: “Eu nasci há 10 mil anos atrás” de Raul Seixas e Paulo Coelho, e “Expresso 2222”, de Gilberto Gil, que conclui sua viagem embarcado no Trenzinho do Caipi-ra de Villa-Lobos, com texto de Ferreira Gullar. Essas letras foram apresentadas, na Mostra de Artes 2009, parcialmente, já que o foco inicial da aprendizagem foi da música. Ass letras se-rão apresentadas, na íntegra, no segundo se-mestre. Ao lado dessas novidades ligadas ao projeto, também aprendemos e apresentamos algumas músicas que já podem ser considera-das os “hits” do Coral da Sá Pereira: “Banana”, de Joyce, “Planeta Blue” de Milton Nascimento e Fernando Brant, e “La Bamba”, de Richie Valens, com a calorosa participação do público presente na cantoria. Como sempre, dividimos o repertório em músicas já conhecidas pelas crianças do quinto ano, que ajudam os do quar-to ano a aprendê-las e músicas novas, ligadas ao tema do projeto vigente. Todas com arranjos criados para o coral pelo nosso maestro. Na preparação para a festa pedagógica tive-

mos a oportunidade de “esquentar” fazendo um ensaio geral para as crianças dos primeiros anos onde aspectos como concentração, orga-nização e movimentação foram abordados. Na semana seguinte à estréia, as crianças pude-ram assistir a um video da apresentação, mo-mento que é sempre esperado com muita exci-tação, e onde todos fazem uma autoavaliação, trocam sentimentos, críticas, sugestões e ob-servações a respeito de sua realização até o momento.

INGLÊS Mais um recomeço de ano com essa turma

tão querida. Muitos foram os avanços e as con-quistas ao longo destes anos e neste primeiro semestre não foi diferente. O grupo está empol-gado com as novidades, disposto a ampliar o vocabulário a cada proposta e com as contribui-ções valiosíssimas de alunos que têm experiên-cia com a língua inglesa fora da escola. Depois de matar a saudade, um pouquinho

de samba misturado com salsa e rumba, ou seja, ao som da nossa pequena notável: Car-men Miranda. Seu centenário, o Carnaval e seu sucesso nos EUA foram os assuntos que per-mearam nossos primeiros encontros de 2009. Um pequeno texto biográfico sobre a cantora serviu como modelo para as crianças retoma-rem o processo de escrita de pequenos textos autorais iniciado no final do ano passado. Essa prática transmite segurança, dando oportunida-de de revisitar conteúdos já trabalhados anteri-ormente. Para acompanhar nossas aulas ouvi-mos, cantamos e assistimos ao vídeo “Weekend in Havana”. Os conteúdos aparecem no Quarto Ano de

maneira mais formalizada. É comum as crian-ças estabelecerem relações entre o aprendiza-

do da gramática da Língua Portuguesa com a Inglesa. Surgem sempre exclamações do tipo: “Ah... mas a gente está vendo isso com a Eri-ka...!” ou “Você está falando de artigos, não é?” Essa comparação é muito tranquilizadora para eles. Para estabelecermos relações com o projeto

institucional, trabalhamos com a árvore genea-lógica de cada criança, nomeando e ampliando noções como “family”, “generations”, “parents”, “grandparents”, entre outros. Esse vocabulário apareceu em músicas, textos, histórias e exer-cícios. Também cantamos e dançamos ao som de “Love Generation”, de Bob Sinclair e “We are family”, de Sisters Sledge. As noções de “nouns”, “articles” e

“adjectives” foram exploradas através de dife-rentes textos e exercícios no caderno. Finaliza-mos o semestre trabalhando um texto produzi-

do com a contribuição de todos, no qual as crianças tiveram a oportunidade de fazer uso de todos os conhecimentos adquiridos. "See you all in August!"

EDUCAÇÃO FÍSICA Iniciamos o semestre com muita disposição e

alegria para as brincadeiras e jogos no Perei-rão. Queimado, pique-bandeira, futebol, bas-quete e handebol foram atividades que incenti-varam a cooperação, o espírito esportivo e a competição de forma ética. As crianças foram incentivadas a experimentar diferentes possibi-lidades de movimento, a persistir e ultrapassar os obstáculos. Tolerância e novas formas de solucionar os problemas foram aprendizados importantes.

As regras dos jogos foram adaptadas ao nosso espaço e às faixas etárias, para que pudéssemos executar diversas ações motoras como chutes, arremessos, saltos, corridas, equilíbrio, mudanças de direção e paradas bruscas que resultam em maior coordenação, noção de espaço, tempo, lateralidade e destre-za. Como, ao competir, estamos lidando direta-

mente com emoções e habilidades que cons-tantemente são colocadas à prova, alguns pro-blemas podem surgir, pois ganhar ou perder, se relacionar com o colega e movimentar-se de forma segura no espaço ainda são um desafio. Além disso, as crianças puderam experimentar ajudar, brigar, questionar, reivindicar e organi-zar, reforçando o papel da Educação Física na vida para a aquisição e construção de valores. Os jogos e brincadeiras, as regras de convi-

vência, o respeito aos amigos, aos professores e às diferenças são aprendizados importantes para a nossa vida fora do universo esportivo. Neste grupo é comum desentendimentos por

coisas aparentemente sem importância e, com isso, as crianças, algumas vezes, acabam ten-do dificuldade para organizar os times. Quando se sentem injustiçados ficam muito sentidos. Porém, depois de iniciado um jogo, respeitam as regras e sabem competir de forma autôno-ma mostrando compreender o valor das regras para a atividade coletiva. Animadas e felizes com a realização de mais

um Pereirão sobre rodas, as crianças trouxe-ram seus patins, "skates" e patinetes e, num circuito adaptado a cada turma, foram desafia-das a testar seu equilíbrio, atenção, destreza, percepção do espaço e cuidado consigo e com o outro. Os casos de excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas, tráfego na contra-mão, atropelamento de pedestres e avanços de sinal, eram multados com um minuto fora do circuito. As crianças foram estimuladas a em-prestar o brinquedo para as que não haviam trazido e a trocar de brinquedo com um colega. O sucesso foi grande! Para encerrar o semestre realizamos brinca-

deiras tradicionais juninas como bola na lata, corrida de saco, bola na boca do palhaço, limão na colher, entre outras, sempre buscando rela-cioná-las às regras de convivência e ao respei-to ao outro. Viva São João, São Pedro e Santo Antônio!