relatório de estágio profissionalizante · 2018-11-04 · a sua fachada é composta por uma...
TRANSCRIPT
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
II
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Moreira Padrão
janeiro de 2016 a julho de 2016
Ana Catarina Couto Reis Areal
Orientadora : Dra. Maria Júlia Moreira Padrão
______________________________________
Tutor FFUP: Prof. Doutora Helena Vasconcelos
______________________________________
setembro de 2016
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
III
Declaração de Integridade
Eu, Ana Catarina Couto Reis Areal, abaixo assinado, nº __________, aluno do Mestrado Integrado em
Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, declaro ter actuado com
absoluta integridade na elaboração deste documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (acto pelo qual um indivíduo, mesmo por omissão,
assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele). Mais declaro que todas as frases
que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com
novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de ______________ de ______
Assinatura: ______________________________________
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
IV
Agradecimentos
Quero agradecer primeiramente à Dra. Maria Júlia Padrão pela amabilidade com que me recebeu
na Farmácia Moreira Padrão e por toda a disponibilidade demonstrada na transmissão de todos os
conhecimentos essenciais à minha formação que foram, indubitavelmente, uma mais valia na minha vida
profissional.
A todos os membros da equipa um muito obrigada pois sempre se mostraram dispostos a ajudar-
me e a esclarecer todas as minhas dúvidas, o que contribuiu significativamente para a minha adaptação à
realidade profissional, contribuindo para que esta experiência se tornasse um desafio extremamente
enriquecedor e compensador.
Queria também agradecer à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e à minha tutora,
Professora Doutora Helena Vasconcelos, por sempre se ter prontificado a ajudar-me.
Por fim, agradeço à minha família e ao David pela compreensão, apoio e carinho nesta
importante etapa da minha vida.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
V
Resumo
Para a conclusão do curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de
Farmácia da Universidade do Porto realizei um estágio profissionalizante em farmácia comunitária com
duração de seis meses. O estágio em questão decorreu na Farmácia Moreira Padrão, na Trofa, de 11 de
janeiro a 10 de julho de 2016, sob a orientação da Dra. Maria Júlia Moreira Padrão.
O estágio em farmácia comunitária foi para mim a etapa mais aguardada durante todo o curso.
Este estágio profissionalizante possibilitou-me um contacto direto com a realidade do mundo profissional
e com o funcionamento de uma farmácia e, ao mesmo tempo, permitiu-me consolidar os conhecimentos
adquiridos ao longo de todo o curso junto de profissionais com experiência na área que me foram
proporcionando uma aprendizagem constante. Foram seis meses muito intensos com experiências novas
que me permitiram desevolver competências pessoais na promoção do bem estar e na dispensa do
medicamento.
Desta forma, pretendo com este relatório descrever a prática farmacêutica diária e relatar de
forma sucinta todas as atividades que desenvolvi.
Este relatório encontra-se dividido em duas partes, sendo que a primeira corresponde à descrição
detalhada do estágio, ou seja, de todo o funcionamento da farmácia, do que aprendi e das atividades que
desempenhei. A segunda parte corresponde ao desenvolvimento científico de temas que me suscitaram
interesse durante este período de estágio e que me levaram a uma pesquisa mais profunda para prestar
aconselhamentos mais ricos e personalizados.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
VI
Lista de abreviaturas
BPF Boas Práticas de Farmácia
BPO Peróxido de Benzoílo
DHT Dihidrotestosterona
FEFO First Expired, First Out
FF Forma Farmacêutica
FMP Farmácia Moreira Padrão
GH Grupo Homogéneo
HDL Lipoproteínas de alta densidade
HTA Hipertensão Arterial
INFARMED Autoridade Nacional de Medicamentos e Produtos de Saúde, I.P.
IVA Imposto de Valor Acrescentado
LDL Lipoproteínas de baixa densidade
MM Medicamento Manipulado
MNSRM Medicamento Não Sujeito a Receita Médica
MSRM Medicamento Sujeito a Receita Médica
PV Prazo de Validade
PVP Preço de Venda ao Público
SNS Sistema Nacional de Saúde
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
VII
Índice
Parte I – Descrição do estágio
1- Organização da farmácia
1.1. Espaço físico, funcional e exterior ................................................................................. 1
1.2. Espaço interior ............................................................................................................... 1
1.3. Composição e função dos recursos humanos ................................................................ 2
1.4. Enquadramento socioeconómico ................................................................................... 3
2- Fontes de informação .......................................................................................................... 3
3- Medicamentos e outros produtos existentes na farmácia
3.1. Medicamentos sujeitos a prescrição médica obrigatória ............................................... 4
3.2. Medicamentos não sujeitos a prescrição médica ........................................................... 4
3.3. Produtos cosméticos e higiene corporal ......................................................................... 5
3.4. Medicamentos homeopáticos ......................................................................................... 5
3.5. Produtos fitoterapêuticos e suplementos alimentares .................................................... 6
3.6. Produtos para alimentação especial e produtos dietéticos ............................................. 6
3.7. Produtos e medicamentos de uso veterinário ................................................................. 6
3.8. Dispositivos médicos ..................................................................................................... 7
4. Gestão de stocks
4.1. Fornecedores e normas legais de aquisição ................................................................... 7
5. Encomendas e aprovisionamento.......................................................................................... 8
5.1 Realização de encomendas ............................................................................................. 8
5.2. Receção e conferência de encomendas .......................................................................... 9
5.3. Marcação de preços ....................................................................................................... 9
5.4. Armazenamento de produtos ......................................................................................... 10
5.5. Controlo de prazos de validade ...................................................................................... 11
5.6. Gestão de devoluções ..................................................................................................... 11
6. Atendimento ao público
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
VIII
6.1. Prescrição médica e validação de receitas ..................................................................... 12
6.2. Interpretação e avaliação farmacêutica da prescrição médica ....................................... 13
6.3. Dispensa de medicamentos ............................................................................................ 14
6.4. Dispensa e controlo de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes ........................ 15
6.5. Medicamentos genéricos e preços de referência ........................................................... 15
6.6. Comparticipação de medicamentos ............................................................................... 16
6.7. Direito de opção do utente ............................................................................................. 17
6.8. Aconselhamento farmacêutico ....................................................................................... 17
6.9. Implementação da nova receita electrónica ................................................................... 17
7. Conferência de receituário e faturação ................................................................................ 18
8. Medicamentos manipulados ................................................................................................. 18
9. Outros cuidados de saúde prestados na farmácia ................................................................. 20
10. Formações .......................................................................................................................... 21
Parte II – Trabalhos desenvolvidos
1. A acne – Etiopatogenia e Tratamento
I. Contextualização e objetivos ............................................................................................ 22
II. Acne ................................................................................................................................. 22
III. Epidemiologia ................................................................................................................. 23
IV. Etiologia .......................................................................................................................... 23
V. Diagnóstico da acne ......................................................................................................... 24
VI. Patogénese ...................................................................................................................... 24
VII. Manifestações clínicas ................................................................................................... 26
VIII. Tratamento ................................................................................................................... 28
IX. Impacto psico-social da acne .......................................................................................... 33
X. Caso prático...................................................................................................................... 33
2. Colesterol - uma breve abordagem
I. Contextualização ............................................................................................................... 34
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
IX
II. Incidência ......................................................................................................................... 34
III. Colesterol ........................................................................................................................ 35
IV. Principais tipos de colesterol .......................................................................................... 35
V. Fatores que afetam os níveis de colesterol ....................................................................... 36
VI. Valores de colesterol recomendáveis .............................................................................. 36
VII. Tratamento não farmacológico e farmacológico ......................................................... 36
VIII. Rastreio ao colesterol total ........................................................................................... 37
3. Hipertensão Arterial – fundamentos básicos
I. Epidemiologia .................................................................................................................... 38
II. Hipertensão arterial – aplicação na farmácia comunitária ............................................... 39
III. Fisiopatologia .................................................................................................................. 39
IV. Fatores de risco e prevenção da doença cardiovascular.................................................. 40
V. Tratamento da hipertensão arterial.................................................................................... 40
4. Diabetes – a pensar nos utentes da FMP............................................................................... 41
5. Piolhos – da prevenção ao tratamento – guia prático .......................................................... 41
6. Suplementos vitamínicos...................................................................................................... 41
Conclusão.................................................................................................................................. 42
Referências bibliográficas........................................................................................................ 43
Anexos...................................................................................................................................... 48
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
X
Índice de Anexos
Anexo 1: Fachada da Farmácia Moreira Padrão.................................................................... 48
Anexo 2: Área de atendimento ao público da Farmácia Moreira Padrão.............................. 48
Anexo 3: Montra realizada..................................................................................................... 48
Anexo 4: Panfleto colesterol.................................................................................................. 49
Anexo 5: Panfleto diabetes.................................................................................................... 50
Anexo 6: Piolhos – da prevenção ao tratamento................................................................... 51
Anexo 7: Suplementos alimentares........................................................................................ 53
Anexo 8: Cronograma das atividades desenvolvidas ao longo do estágio............................ 54
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
XI
Índice de tabelas
Tabela 1................................................................................................................................. 39
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
XII
Índice de Figuras
Figura 1.................................................................................................................................. 22
Figura 2.................................................................................................................................. 37
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
1
Parte I – Descrição do estágio
1- Organização da farmácia 1.1 Espaço físico, funcional e exterior
A Farmácia Moreira Padrão (FMP) localiza-se no coração do conselho da Trofa, na rua D.
Pedro V, e situa-se no rés-do-chão de um edifício de habitação.
Quanto ao espaço exterior, o edifício apresenta duas cruzes, uma cruz verde luminosa o
que permite a sua fácil identificação e uma outra cruz correspondente à cruz das Farmácias
Portuguesas. A sua fachada é composta por uma montra de vidro na qual são publicitados os
produtos de venda livre e também uma porta de vidro onde estão implícitas algumas das
informações obrigatórias de acordo com as “Boas Práticas de Farmácia” (BPF) [1] sendo essas
informações:
• Horário de atendimento: semanalmente das 9 às 20h e sábados das 9 às 13h
• Identificação da Directora Técnica
• Contacto telefónico
• Testes/rastreios realizados (glicemia, colesterol, controlo do peso e altura e tensão arterial)
1.2 Espaço interior
O Artigo 29 do Decreto-lei nº 307/2007, de 31 de agosto, invoca sobre diversos requisitos
quanto ao espaço físico e equipamentos em vigor. No entanto, a Farmácia Moreira Padrão existe há
mais de meio século, pelo que a sua construção não teve por base a referida normativa legal, mas
sim a que se encontrava em vigor aquando da sua construção. A farmácia encontra-se dividida
pelas seguintes áreas:
Área de atendimento ao público: Após a entrada na FMP podemos encontrar um espaço •
luminoso, agradável e que transmite harmonia. Trata-se de um espaço amplo onde existem
quatro postos de atendimento ao público, todos eles informatizados e dispostos de forma
linear e frontal. Na parte anterior aos postos de atendimento são visíveis várias prateleiras
de vidro onde são expostos produtos de venda livre e de índole sazonal. Ainda na parte
anterior aos postos de atendimento, são acondicionados, em gavetas, os medicamentos
sujeitos ou não a receita médica cuja rotação é acrescida durante todo o ano. Nas zonas
laterais da farmácia existem lineares identificados com a natureza dos diversos produtos,
como os de puericultura e várias linhas de cosmética. É ainda possível visualizar neste
mesmo espaço uma balança e um expositor onde são colocadas todos os panfletos/revistas
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
2
sobre temas variados tanto na área da saúde pública como do medicamento, cujas
informações podem completar o aconselhamento e informação farmacêutica.
Gabinete de determinação de parâmetros: Trata-se de um espaço reservado, limpo e de •
fácil acesso a qualquer utente que visa apoiar todos aqueles que solicitem prestação que
algum serviço e ainda prestar um atendimento mais reservado e confidencial sempre que
seja conveniente. Neste espaço são prestados os cuidados farmacêuticos direcionados ao
controlo de determinadas patologias. Diariamente determinam-se valores da glicemia,
colesterol total e triglicerídeos, sempre mediante avaliação farmacêutica, com
aconselhamento de cuidados primários que o utente deve prestar.
Área de armazenamento, receção e verificação de encomendas: Este espaço é de extrema •
importância, onde são realizadas inúmeras tarefas, sendo por isso fulcral que se mantenha a
sua organização para um bom funcionamento da farmácia. Esta área de armazenamento é
composta por uma série de gavetas metálicas onde os medicamentos se encontram
ordenados por ordem alfabética do nome comercial. Estas gavetas também se encontram
identificadas pelas diferentes formas farmacêuticas (FF), proporcionando uma localização
mais rápida do produto pretendido, aquando no atendimento. Quanto aos medicamentos
genéricos, estes encontram-se ordenados por ordem alfabética e pelo nome do laboratório,
o que facilita a sua dispensa e minimiza o risco de erros.
Zona de recolhimento (quarto): A zona de recolhimento é uma zona que se destina ao •
descanso noturno do funcionário durante uma noite de serviço permanente. Anexo a este
espaço encontra-se um frigorífico onde são armazenados os produtos que requerem
refrigeração (2 - 8ºC) para se manterem conservados.
Escritório: É a área onde se realizam todos os procedimentos relativos à •
administração/faturação da farmácia e onde se procede à verificação e organização do
receituário. Neste mesmo local também se encontra uma pequena biblioteca com toda a
bibliografia obrigatória e facultativa existente na farmácia. No escritório são arquivados
todos os documentos relativos a assuntos de administração e legislação farmacêutica.
Armazém: O armazém da FMP situa-se na cave da mesma. Este encontra-se dividido em •
dois espaços, sendo nele armazenados todos os produtos com stock maior, desde
medicamentos, produtos de dermofarmácia e cosmética, leites e papas para bebé e
respectivos produtos de puericultura, entre muitos outros produtos.
1.3 Composição e função dos recursos humanos
A FMP é composta por uma equipa de oito elementos com distintas funções: a diretora
técnica, a farmacêutica adjunta, o farmacêutico adjunto substituto, duas farmacêuticas, uma
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
3
ajudante técnica, um assessor administrativo e uma funcionária de limpeza, estando cada um deles
devidamente identificados. Desta forma, estão asseguradas as normas relativas aos artigos 23º e 24º
do Decreto-lei nº 307/2007, de 31 de agosto. A Direcção Técnica da Farmácia está a cargo da Dr.ª
Maria Júlia Moreira Padrão. Um diretor técnico exerce um papel crucial, com inúmeras
responsabilidades discriminadas no artigo 21.º vigente no Decreto-lei nº 307/2007, de 31 de
agosto. Assim, de acordo com o referido decreto-lei, a direção técnica da farmácia deverá ser
assegurada, em permanência e exclusividade, por um farmacêutico diretor técnico. Porém, para o
caso da sua ausência, foi nomeada para o cargo de Farmacêutica Adjunta a Dr.ª Joana Fonseca e
como Farmacêutico Adjunto substituto o Dr. Luís Andrade. Desta forma, FMP está de acordo com
a legislação vigente.
1.4 Enquadramento socioeconómico
A FMP situa-se no centro da Trofa, destacando-se das demais farmácias do conselho,
devido à sua fácil acessibilidade tanto pedestre bem como pelos condutores de automóvel, uma vez
que se localiza à face da estrada nacional 104 permitindo a sua fácil visualização, sendo ainda um
local de grande movimento.
Os principais utentes da farmácia são clientes habituais que frequentam a FMP há muitos
anos, o que se torna vantajoso pois permite um acompanhamento farmacêutico destes por parte dos
profissionais da farmácia. A população idosa é a que recorre com mais afluência à FMP, contudo
esta também é frequentada por outras faixas etárias, com diferentes habilitações literárias e
diferente situação socioeconómica, sendo necessária uma adaptação de serviços e atendimento de
acordo com cada utente.
2- Fontes de informação
A arte farmacêutica é uma ciência em constante atualização onde não há lugar para a
inércia e estanquicidade de conhecimentos. Assim, é cada vez mais necessária uma incessante
procura pelo conhecimento devido ao ritmo vertiginoso do conhecimento na área da farmacologia.
Pela Deliberação 414/CD/2007, as farmácias comunitárias são obrigadas a possuir o
Prontuário Terapêutico e a Farmacopeia Portuguesa, em formato de papel ou eletrónico, que pode
ser online, desde que esteja disponível num sítio reconhecido pela Autoridade Nacional do
Medicamento e Produtos de Saúde, I. P. (INFARMED) [2].
Em farmácia comunitária revela-se extremamente importante a existência de uma
biblioteca bem como a sua constante organização e atualização e, de acordo com as BPF “ o
farmacêutico deve dispor de fontes de informação sobre medicamentos” para que desta forma
consiga prestar um seviço de maior qualidade aos utentes.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
4
3- Medicamentos e outros produtos existentes na farmácia
3.1. Medicamentos sujeitos a prescrição médica obrigatória
Os medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) são aqueles que só podem ser
dispensados na farmácia mediante apresentação da receita médica emitida por um médico.
De acordo com o Estatuto do Medicamento [3], estão sujeitos a receita médica todos os
medicamentos que:
possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo a)
quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica;
possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados b)
com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam;
contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou c)
reações adversas seja indispensável aprofundar;
se destinem a ser administrados por via parentérica. d)
Os MSRM são sujeitos a um preço de venda ao público (PVP) pré-definido e constituem o
maior volume de medicamentos dispensados na farmácia, sendo de extrema importância o ato
farmacêutico aquando da sua dispensa, nomeadamente na análise da prescrição médica, detetando
interações medicamentosas ou falhas médicas. O farmacêutico deve garantir o fornecimento ao
utente de toda a informação indispensável para a otimização da terapêutica, garantindo a segurança
e eficácia da mesma.
3.2. Medicamentos não sujeitos a prescrição médica
Qualquer medicamento que não cumpra qualquer das condições referidas para os MSRM
pode ser classificado como medicamento não sujeito a receita médica (MNSRM) e pode, desta
forma, ser dispensado sem apresentação de uma prescrição médica. Contudo, estes medicamentos
requerem indicações terapêuticas que se incluem na lista de situações passíveis de automedicação
[4]. De acordo com o Artigo nº 115 implícito no Decreto de Lei 176/2006, de 30 de agosto, estes
medicamentos não são comparticipáveis salvo nos casos previstos na legislação que define o
regime de comparticipação do Estado no preço dos medicamentos. De um modo geral, esta classe
de medicamentos destina-se à profilaxia e/ou tratamento de determinadas afeções ligeiras. Assim, é
da responsabilidade do farmacêutico informar, aconselhar e orientar o utente na seleção do
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
5
MNSRM preferível para a situação concreta que procura solucionar, promovendo o uso racional do
medicamento e controlando o fenómeno de automedicação.
3.3. Produtos cosméticos e higiene corporal
Entende-se por produto cosmético “qualquer substância ou mistura destinada a ser posta
em contacto com as partes externas do corpo humano (epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas,
lábios e órgãos genitais externos) ou com os dentes e as mucosas bucais, tendo em vista, exclusiva
ou principalmente, limpá-los, perfumá-los, modificar-lhes o aspeto, protegê-los, mantê-los em bom
estado ou de corrigir os odores corporais”(Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de agosto).
O Infarmed tem por missão regular e supervisionar o mercado de produtos cosméticos
segundo os mais elevados padrões de proteção da saúde pública, garantindo o acesso dos
profissionais de saúde e dos consumidores a produtos cosméticos de qualidade e seguros. Na FMP
existe uma vasta gama de produtos de cosmética sendo comercializadas linhas como a Avéne®,
Galénic®, Vichy®, La Roche Posay®, Uriage®, entre outras. Ao longo do meu estágio, pude assistir
a várias formações promovidas pelas diferentes marcas de produtos comercializados na farmácia, o
que me tornou mais apta a responder às necessidades de cada utente e a fazer aconselhamentos
mais personalizados e enriquecidos.
3.4. Medicamentos homeopáticos
Segundo o Decreto-Lei 176/2006 de 30 de agosto, um medicamento homeopático é um
medicamento obtido a partir de substâncias denominadas stocks ou matérias-primas homeopáticas,
utilizando um processo de fabrico descrito na farmacopeia europeia, ou na sua falta, em
farmacopeia utilizada de modo oficial num Estado membro. Este mesmo decreto-lei estabelece dois
procedimentos para a autorização de medicamentos homeopáticos:
- um processo de registo simplificado, para os medicamentos homeopáticos introduzidos
no mercado sem indicações terapêuticas e sob forma farmacêutica e dosagem que não apresentem
riscos para o doente;
- um regime idêntico ao dos restantes medicamentos de uso humano, para os
medicamentos homeopáticos comercializados com indicações terapêuticas, ou com uma
apresentação susceptível de apresentar riscos para o paciente, sem prejuízo das características
próprias a que devem obedecer os ensaios tóxico-farmacológicos e clínicos destes medicamentos.
A FMP não possui grande variedade de medicamentos homeopáticos, uma vez que estes
não são significativamente solicitados por parte dos utentes. Contudo, tive a experiência de
dispensar um Osciloccoccium®, dos laboratórios BOIRON, onde dei alguma informação técnica
sobre este tipo de medicação a uma senhora que se encontrava constipada e era contra as
substâncias químicas.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
6
3.5. Produtos fitoterapêuticos e suplementos alimentares
Os produtos fitoterapêuticos são produtos à base de plantas e são utilizados na profilaxia,
no tratamento de doenças ou no alívio dos sintomas, na sua maioria adjacentes a outra terapêutica.
Na FMP existe uma grande variedade de produtos naturais com grande procura por parte do utente
que acredita ser inócuo, contudo estes também possuem ações farmacológicas, o que pressupõe
contraindicações e efeitos adversos. Desta forma, uma vez mais, o farmacêutico assume um papel
fulcral na correta utilização destes produtos, devendo sempre fornecer todas as indicações para um
correto aconselhamento. Os produtos fitoterapêuticos são controlados de acordo com o descrito no
Estatuto do Medicamento.
Os suplementos alimentares são regulados pelo Decreto-lei nº 136/2003 de 28 de junho, e
são utilizados como um complemento ao regime alimentar para suprimir algumas carências, mas
nunca para substituir a dieta [5].
3.6. Produtos para alimentação especial e produtos dietéticos
Os produtos destinados a uma alimentação especial estão regulados pelo Decreto-lei nº
74/2010 de 21 de junho, e distinguem-se dos alimentos de uso corrente pela sua composição ou
processo especial de fabrico, tendo como objetivo alcançar um estado nutricional pretendido. Estes
produtos destinam-se a pessoas com perturbações metabólicas ou que se encontrem em condições
fisiológicas especiais, que necessitem de um controlo sobre as substâncias ingeridas e, também, a
latentes ou crianças jovens em bom estado de saúde [6].
Na FMP tive a oportunidade de contactar e vender alguns produtos como o FORTIMEL®
ou o FRESUBIN® especialmente formulados a pessoas com distúrbios metabólicos, mas também
outros produtos alimentares destinados a crianças e latentes de várias marcas como NUTRIBÉN®,
APTAMIL®, NOVALAC®, ENFALAC®, entre outros, que apresentam diversas gamas de forma a
abranger um maior número de necessidades da população.
3.7. Produtos e medicamentos de uso veterinário
Os medicamentos e produtos destinados a uso veterinário têm legislação específica e são
regulados pelo Decreto-lei nº 184/97 de 26 de julho. De acordo com este documento, um
medicamento veterinário é um produto que possui propriedades no tratamento ou na prevenção de
doenças e da sua sintomatologia, destinado a animais [7]. Na FMP estes produtos estão
acondicionados num local específico, separados dos medicamentos de uso humano e a sua
identificação está facilitada pela menção no rótulo «USO VETERINÁRIO», impressa em fundo
verde, tal como regulamenta o mesmo Decreto-lei.
Ao longo do meu estágio verifiquei que os medicamentos de uso veterinário que tiveram
mais procura foram os antiparasitários e os anticoncecionais para cães e gatos.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
7
3.8. Dispositivos médicos
É estabelecido no Decreto-Lei nº 145/2009, de 17 de junho as regras a que devem
obedecer a investigação, o fabrico, a comercialização, a entrada em serviço, a vigilância e a
publicidade dos dispositivos médicos e respectivos acessórios.
Os dispositivos médicos são instrumentos de saúde destinados, especificamente pelo seu
fabricante, a serem utilizados como forma de prevenir, diagnosticar ou tratar uma doença no ser
humano, sem que, para isso, se tenha que recorrer a ações farmacológicas, metabólicas ou
imunológicas [8]. Durante o meu estágio vendi diversos dispositivos médicos, como por exemplo:
material de penso, seringas, sondas de alimentação, sacos de ostomia, preservativos, meias de
compressão, entre outros.
4. Gestão de stocks
4.1. Fornecedores e normas legais de aquisição
A aquisição dos medicamentos e outros produtos pela farmácia pode ser feita através da
compra a distribuidores grossistas, que funcionam como intermediário entre a farmácia e a
indústria farmacêutica, ou pela compra direta a laboratórios ou seus representantes legais [9]. A
compra a armazenistas apresenta vantagens, como entregas rápidas, possibilidade de compra de
uma extensa variedade de produtos e aquisição apenas de produtos necessários, nas quantidades
desejadas, mediante as vendas do dia. A FMP possui cerca de três principais fornecedores:
Alliance Healthcare, OCP e Cooprofar, para as quais se efetuam diariamente encomendas, sendo
que são enviadas preferencialmente encomendas para a Alliance e Cooprofar. Diariamente nesta
farmácia são entregues por estes fornecedores cerca de três encomendas de modo a assegurar uma
resposta às necessidades imediatas manifestadas pelos utentes. A seleção do fornecedor depende de
vários critérios, entre eles: horário de entrega da encomenda e número de entregas diárias (entregas
somente em dias úteis ou também aos fins de semana e feriados, uma ou mais entregas diárias);
condições de pagamento (por exemplo: pronto-pagamento, pagamento a 30 dias), descontos
comerciais (percentagem de desconto ou bonificação em produto que se obtém na compra de uma
determinada quantidade) e satisfação dos pedidos (envio de todos os produtos pedidos, quantidade
de produtos em falta/esgotados).
A opção entre comprar produtos diretamente à indústria farmacêutica justifica-se em
algumas situações, nomeadamente quando os laboratórios oferecem melhores condições de
compra, como por exemplo, oferecendo descontos. É preferível a compra direta aos laboratórios
quando estes oferecem condições económicas atrativas, como descontos ou campanhas
promocionais. Contudo, estas encomendas exigem a compra em maiores quantidades o que implica
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
8
um maior investimento e stock. Desta forma, este tipo de aquisição só se torna rentável quando se
trata de produtos com elevada rotatividade. Em relação a estas encomendas diretas, a FMP realiza
encomendas de medicamentos genéricos em grandes quantidades, de laboratórios muito procurados
pelos utentes desta farmácia, com descontos muito vantajosos. Na FMP os pedidos requeridos aos
fornecedores são efetuados por via modem e via telefone. Por via modem são realizadas as
encomendas chamadas de “reforço de venda” , que correspondem a produtos/medicamentos
vendidos desde a última encomenda efetuada e ainda produtos em falta detetados durante esse
mesmo período. Por outro lado, pedidos de medicamentos/produtos esporádicos que a farmácia não
disponha no momento e cuja confirmação de existência no armazenista e envio seja necessária, são
efetuados por via telefónica.
5. Encomendas e aprovisionamento
O aprovisionamento é o conjunto de operações administrativas e económicas que permitem
colocar os medicamentos e outros produtos à disposição dos utentes. Foi nesta atividade, junto do
Dr. Luís, que iniciei o meu estágio. O Dr. Luís teve sempre a amabilidade de me ir explicando
todos os passos do circuito do medicamento, desde a realização de encomendas, à sua receção e
armazenamento nos respetivos locais.
5.1. Realização de encomendas
A realização de uma encomenda tem como objetivo repor o stock da farmácia ou
providenciar um produto solicitado pelo utente.
Na FMP realizam-se encomendas com o auxílio do sistema informático, SIFARMA® 2000
que, após averiguar produtos vendidos nesse dia que se encontram abaixo do stock mínimo
estabelecido, sugere a encomenda dos mesmos para reposição. Esta tarefa sempre ficou a cargo do
Dr. Luís, que me mostrou ser possível aprovar ou não a encomenda gerada pelo sistema, bem como
retirar ou adicionar produtos à mesma. Depois de aprovada, a encomenda é enviada ao armazenista
via modem.
Recentemente a Cooprofar criou um gadget que permite verificar a disponibilidade de produto e
realizar a sua encomenda imediata, o que se tem mostrado uma mais valia na rapidez da resposta
do farmacêiutico ao utente, sempre que este solicita um produto que não faça parte do stock da
farmácia. As matérias-primas utilizadas no laboratório da FMP são também encomendadas ao
armazenista.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
9
5.2. Receção e conferência de encomendas
A receção e verificação de encomendas assumem um papel crucial na logística da farmácia.
São atividades que devem ser feitas com a máxima atenção de forma a evitar eventuais erros, que
assumem repercussões negativas no bom funcionamento da farmácia, uma vez que são fonte de
problemas relacionados com o stock da farmácia. Aquando da chegada das encomendas à farmácia
verificamos que estas são transportadas em “banheiras” com cor caraterística de cada distribuidor e
vêm identificadas com o nome da farmácia, um código numérico e um código de barras. Estas
fazem-se acompanhar de uma guia de remessa/factura em duplicado, que contem os dados
necessários à receção dos produtos. Para este efeito, recorre-se ao menu “Receção de Encomendas”
no software SIFARMA® 2000 e procede-se à seleção da encomenda em questão; introduz-se o
número da fatura e o seu valor total. De seguida, procede-se ao seu rececionamento, através da
leitura ótica do código nacional do produto (CNP) dos medicamentos. Contudo, é necessário para a
sua correcta receção ter em conta determinados aspetos como: averiguar se todos os produtos
faturados foram, de facto enviados; verificar o estado de conservação das embalagens; proceder à
atualização dos prazos de validade dos produtos cujo stock esteja a zero ou quando as embalagens
rececionadas tenham um prazo de validade inferior ao das embalagens já existentes na farmácia;
corrigir ou atribuir o PVP aos produtos novos ou aos produtos cujo preço esteja alterado; proceder
à transferência dos produtos esgotados para outro fornecedor e, atualização automática dos stocks
dos produtos. Quando a encomenda se faz acompanhar de produtos que necessitam de condições
especiais de armazenamento a baixas temperaturas é realizado o seu imediato acondicionamento no
frigorífico da farmácia [10]. É de realçar que, quando na encomenda existe uma matéria-prima, esta
deverá ser acompanhada do seu respectivo boletim de análise obrigatório, que é arquivado no
dossier destinado para o efeito. Caso seja a primeira vez que esta matéria-prima é recebida na
farmácia, para além do boletim de análise deverá vir acompanhada das normas de segurança. Outra
situação especial, depreende-se com o facto da encomenda vir provida de medicamentos
estupefacientes e psicotrópicos devendo estes ser acompanhados por uma requisição com a
discriminação dos medicamentos enviados, assinado e carimbado pelo diretor técnico, dado que
estes medicamentos são sujeitos a um controlo especial [11]. Finda a receção e conferência da
encomenda, confirma-se a sua entrega e compara-se o valor total da fatura com o valor apresentado
no sistema informático, que deverá coincidir, revelando que a tarefa foi executada corretamente.
Durante o estágio, esta foi das primeiras tarefas que realizei, o que me possibilitou
familiarizar com os medicamentos e produtos farmacêuticos de que a farmácia dispunha.
5.3. Marcação de preços
O Decreto-Lei nº 112/2011, de 29 de novembro, delibera a obrigatoriedade da indicação do
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
10
PVP na rotulagem dos medicamentos [12].
Para os medicamentos sujeitos a receita médica, o valor é definido pelo INFARMED, que
disponibiliza uma tabela mensal, a partir da qual se confere os PVP.
No caso dos produtos de venda livre, compete à farmácia atribuir-lhes um PVP, que tem em
conta o preço de faturação, o Imposto de Valor Acrescentado (IVA) e a margem que a farmácia
pretende obter [13]. Determinado o PVP, são depois impressas as etiquetas autocolantes contendo o
CNP do produto, designação, preço e taxa de IVA, tendo o cuidado de não ocultar nenhum dado
(lote, do PV e informações em português).
5.4. Armazenamento de produtos
Terminada a etapa de receção e conferência de encomendas, procede-se ao armazenamento
dos produtos recebidos, seguindo-se algumas regras fundamentais para um funcionamento rápido e
eficaz.
Deste modo, na FMP os medicamentos são armazenados em gavetas metálicas também
designadas por “rombics” sendo estes separados tendo por base a F.F. destes. Para além da
separação de acordo com a F.F., são também colocados por ordem alfabética do seu nome e
seguem a rotatividade das existências “First Expired, First Out” (FEFO) colocando os produtos de
menor prazo de validade (P.V.) armazenados à frente daqueles que possuem um PV mais alargado
evitando a retenção de produtos mais antigos com consequente expiração do seu PV.
Existem ainda dois grupos de medicamentos a ter em especial atenção no armazenamento: os
medicamentos psicotrópicos e estupefacientes que estão armazenados numa gaveta no interior da
farmácia, não acessível ao publico, de modo a promover um controlo mais rigoroso destas
substâncias, e os medicamentos que necessitam de refrigeração e que são prioritariamente
colocados no frigorífico de porta transparente. Para assegurar que os produtos mantêm as suas
qualidades originais, o interior do frigorífico deve-se encontrar a uma temperatura entre os 2 - 8 ºC,
diariamente monitorizada a partir de um termómetro que regista as variações de temperatura [14].
Para que se assegurem as condições de conservação dos produtos, segundo as BPF, estes
têm que estar guardados num sítio protegido da luz solar direta, com uma temperatura ambiente
inferior a 25ºC e humidade inferior a 60% [15,16]. Estes parâmetros são controlados na FMP
quinzenalmente, através da análise dos registos dos termohigrómetros situados nos diversos locais
onde se armazenam produtos [17].
Quando a disponibilidade de espaço na zona de atendimento e nos módulos se esgota, os
produtos são colocados no armazém no piso -1 da farmácia, constituindo um stock passivo, pronto
a suprir as faltas do stock ativo.
O armazenamento de medicamentos foi uma tarefa que executei desde o primeiro dia de estágio e
que me conferiu bastante destreza e rapidez para a fase do atendimento ao público.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
11
5.5. Controlo de prazos de validade
O controlo dos PV de todos os produtos farmacêuticos é fulcral para uma boa gestão da
farmácia e para a segurança dos utentes. Como referi no ponto anterior, para auxiliar neste
controlo, aquando da sua receção, os produtos são armazenados de acordo com o princípio do
FEFO. Há a possibilidade de fazer uma devolução aos fornecedores de produtos cujo PV esteja
próximo do fim e, para isso, é necessário o seu controlo periódico.
Na FMP, para além da essencial etapa de verificação e atualização dos PV, aquando da
receção da encomenda, todos os meses é impressa, através do SIFARMA® 2000, uma lista onde
constam todos os produtos cujo prazo de validade termina num período de três meses, a contar do
mês da sua emissão, sendo exceções os produtos que fazem parte do protocolo da diabetes mellitus
e os medicamentos de uso veterinário, pois a devolução dos mesmos deverá ser realizada com
cinco e seis meses de antecedência, respetivamente.
Desta forma, todos os produtos que são discriminados na lista emitida são individualmente
e de forma manual verificados, sendo devolvidos ao respectivo fornecedor os produtos que se
inserem no intervalo considerado acompanhados de uma “Nota de Devolução” em duplicado.
Quando estes produtos são retirados é necessário fazer uma correção dos seus PV no programa
informático, colocando-se sempre o PV mais curto dos que se mantêm no stock, no ítem “Correção
de Prazos de Validade”. Ao longo do estágio, participei em todos os controlos de PV realizados na
FMP, assim como em todas as devoluções daí decorrentes.
5.6. Gestão de devoluções
São diversos os motivos pelos quais há a necessidade para a realização de devoluções no
contexto da farmácia comunitária, entre eles: PV a expirar ou expirado, produtos pedidos por
engano, produtos enviados com PV curtos, produtos enviados que não foram encomendados,
produtos enviados mas que se apresentam danificados, produtos enviados que não foram faturados
e produtos retirados de circulação por ordem do do INFARMED ou do laboratório que os
comercializa. Na FMP, para se fazer uma devolução recorre-se ao SIFARMA® 2000, seleciona-se
o ítem “Criar Devolução” no menu “Gestão de Devoluções”, indica-se o fornecedor para o qual se
pretende fazer a devolução e, de seguida introduzem-se os produtos, referindo para cada caso o
motivo da devolução e o número da fatura desse produto. Ao concluir a devolução é emitida uma
nota de devolução em triplicado, que é assinada, datada e carimbada pelo profissional que a
realizou, onde vem especificado o produto, o número de embalagens devolvidas, o preço, o número
da fatura onde foi debitado e o motivo da devolução. O triplicado é arquivado na farmácia e o
original e duplicado acompanham os produtos devolvidos, que saem automaticamente do stock da
farmácia. O fornecedor pode aceitar a devolução (e, neste caso, substitui o produto ou emite uma
nota de crédito), ou pode rejeitar a devolução, assumindo a farmácia o respetivo prejuízo resultante
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
12
da quebra.
O software SIFARMA® 2000 auxilia na regularização das devoluções através do menu
(“Regularização de Devoluções”) que permite verificar se a devolução foi ou não aceite. Em caso
afirmativo, indica-se qual a modalidade escolhida para a regularização; caso tenha sido rejeitada, os
produtos voltam a fazer parte do stock da farmácia. Se enviarem novos produtos para compensar a
devolução, então estes devem ser introduzidos, entrando para o inventário da farmácia.
Ao longo do estágio tive a oportunidade de realizar várias devoluções pelos diversos
motivos, e pude assim conhecer todo o processo inerente.
6. Atendimento ao público
6.1. Prescrição médica e validação de receitas
As prescrições médicas que chegam a farmácia podem apresentar-se sob duas formas de
validade: pode ser uma receita normal, com validade de 30 dias a contar da data de prescrição, ou
uma receita renovável, com validade de 6 meses e que é emitida em três vias, destinada a um
tratamento prolongado [18, 19]. A receita pode ainda ser manual ou eletrónica [19]. Contudo, de
acordo com a Portaria nº 137-A/2012 de 11 de maio, o prescritor tem o dever de utilizar a receita
eletrónica, embora possa adotar o método manual em casos excecionais nas seguintes situacões:
caso ocorra falência do sistema informático; impossibilidade de adaptação à receita electrónica;
prescrição no domicílio ou noutras situações, desde que não ultrapasse a prescrição de quarenta
receitas por mês. A exceção que permite ao médico prescrever manualmente tem que estar
devidamente assinalada no documento de receita pré-impresso. Por outro lado, as receitas
renováveis não podem ser prescritas de modo manual [19, 20].
Quando o utente chega a farmácia com uma receita, o farmacêutico deve de imediato
verificar se esta se encontra válida. Para o efeito, uma receita só é considerada válida se cumprir os
requisitos estabelecidos, que são: apresentar o número da receita; local e data de prescrição;
identificação e assinatura do médico prescritor; nome e número de utente ou de beneficiário de
subsistema; entidade financeira responsável (mediante a qual é efetuada a comparticipação dos
medicamentos); designação comum internacional (DCI) da substância ativa ou designação
comercial do medicamento (quando não existe grupo homogéneo (GH) com um genérico
comparticipado ou o medicamento não é comparticipado); dosagem; FF; dimensão da embalagem;
número de embalagens e identificação do despacho que estabelece o regime especial de
comparticipação de medicamentos, se aplicável [19].
Em cada receita apenas podem estar prescritos até quatro medicamentos, em que a
prescrição de cada medicamento apenas pode ser até duas embalagens, exceto no caso dos
medicamentos prescritos se apresentarem sob a forma de embalagem unitária [19].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
13
Quanto às receitas com medicamentos psicotrópicos e estupefacientes, estes têm que ser
prescritos numa receita individual, ou seja, que não contenha mais nenhum tipo de medicamento. O
mesmo acontece com os produtos destinados ao controlo da diabetes mellitus incluídos no
Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes. Em relação aos medicamentos
manipulados, também estes devem ser prescritos numa receita à parte e que inclua a menção
“Manipulado” ou “FSA” no caso de serem comparticipados [19, 20].
Quando o utente se dirige à farmácia com prescrição médica para aviar MSRM, tem a
oportunidade de escolher qual o medicamento que pretende levar, se genérico ou de marca, com
base na DCI. Se o medicamento prescrito estiver incluído num GH, o farmacêutico tem o dever de
informar o utente sobre a existência de alternativas e disponibilizar três opções desse GH que se
incluam nos cinco mais baratos do mercado [19].
Existem também situações em que a prescrição inclui o nome comercial do medicamento,
como é o caso de ser um medicamento não comparticipado, ou quando não existe um GH com um
genérico comparticipado e, nestes casos, o médico tem de incluir na receita uma das seguintes
exceções [19-20]:
• Exceção a), quando se trata de um medicamento com margem ou índice terapêutico
estreitos;
• Exceção b), no caso de ter ocorrido uma reação adversa prévia;
• Exceção c), quando o doente faz um tratamento de tempo superior a 28 dias.
Quando o médico prescritor seleciona a exceção a) ou b), o utente não tem direito de optar
por outro medicamento, tendo que ser dispensado a marca comercial prescrita. No caso da exceção
c), o utente pode optar pelo medicamento prescrito ou por outro com um PVP inferior [19, 20]. É
importante que o farmacêutico durante o atendimento verifique todos estes requisitos para fazer
um correto aviamento da receita, indispensável para a receita não seja recusada.
6.2. Interpretação e avaliação farmacêutica da prescrição médica
Após a validação da receita médica, segue-se a interpretação da receita e a respetiva
avaliação farmacoterapêutica por parte do farmacêutico. Segundo as BPF, o farmacêutico deve
analisar cada prescrição médica como um caso indivualizado, questionando o utente sobre a sua
condição e percebendo, desta forma, se o medicamento prescrito é o adequado para a sua
sintomatologia, se existe algum tipo de interação ou contraindicação entre a prescrição e outra
medicação a ser feita pelo utente, assim como a dose, frequência e duração do tratamento [10]. O
farmacêutico deve ainda contactar o médico caso tenha alguma dúvida na prescrição ou detete
alguma incompatibilidade [15].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
14
6.3. Dispensa de medicamentos
A dispensa de medicamento é a principal competência da atividade farmacêutica numa
farmácia comunitária. Segundo as BPF, quando o farmacêutico avia uma receita, ou somente
quando lhe é solicitado aconselhamento de MNSRM, deve garantir a segurança do utente e que este
receba toda a informação indispensável à correta utilização dos medicamentos, para promover o
sucesso da farmacoterapia e o uso racional do medicamento. Deve ainda mostrar a sua total
disponibilidade, proporcionando um aconselhamento personalizado, com uma linguagem clara,
objetiva e adequada, tendo em conta o nível sociocultural do utente. Se este se fizer acompanhar de
uma receita médica, o farmacêutico deve validá-la, interpretá-la e avaliá-la (pontos 6.1. e 6.2.) e,
sempre que for oportuno deve ainda reforçar a informação oral com informação escrita [10]. Todos
estes processos revelam a importância do farmacêutico enquanto detentor de conhecimento e
transmissor de informação.
Recentemente uma nova atualização no software SIFARMA® 2000, denominada
“Verificação”, surge na reta final do atendimento, e permite ao farmacêutico confirmar que os
códigos de barras da receita são coincidentes com os códigos de barras dos medicamentos que
estão a ser dispensados. Este novo atalho permite acabar com a dispensa errada de medicação, com
consequentes prejuizos tanto para a farmácia como para o utente.
A dispensa de medicamentos é executada pelo software SIFARMA® 2000; selecionando-
se o menu “Atendimento” e, de seguida, a tecla F2 ou F3, caso seja uma venda sem ou com
comparticipação, respetivamente. Numa dispensa com comparticipação, introduzem-se os códigos
de barras presentes na receita por leitura ótica e, em seguida, seleciona-se o plano de
comparticipação mencionado na receita. Após o registo dos medicamentos e término da venda, são
impressos os produtos comparticipados no verso da receita, que deve ser assinada pelo utente
confirmando, assim, que lhe foram cedidos os medicamentos e que exerceu, ou não, o seu direito
de opção na escolha dos medicamentos, se aplicável. Posteriormente, cabe ao farmacêutico
responsável por este processo de aviamento, assinar, datar e carimbar a receita no verso.
Caso o utente não se faça acompanhar de uma receita médica e tenha algum problema que
possa ser solucionado sem recorrer ao médico, o seu farmacêutico deve debruçar a sua atenção em
perceber a sintomatologia e questionar o utente de toda a medicação que já toma, de modo a
resolver o seu problema com sucesso na farmacoterapia, promovendo sempre o uso racional do
medicamento. É ainda possível fazer-se uma venda suspensa, quando se trata de doentes crónicos
que no momento não tenham receita médica e que posteriormente a trazem, sendo emitido um
comprovativo de venda suspensa, que deve apresentado quando se fizerem apresentar da receita.
Desde cedo que, durante o meu estágio, me foi dada oportunidade de acompanhar a minha
orientadora nos seus atendimentos, e com ela pude aprender todo este processo e como agir em
variadíssimas situações de aconselhamento.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
15
6.4. Dispensa e controlo de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes
Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes apresentam propriedades muito
específicas pelo facto de atuarem ao nível do sistema nervoso central e são, na maioria das vezes,
indicados para doenças psiquiátricas, dor oncológica e dor crónica. Uma vez que possuem ação no
sistema nervoso central, a sua margem terapêutica é estreita, e por isso facilmente provocam
dependência física e psíquica e alterações comportamentais e de consciência. Uma vez que
apresentam um perfil de dependência em que são muitas vezes usados como drogas de abuso, são
alvo de legislação específica que tem como objetivo fazer um controlo rigoroso do consumo destas
substâncias. Os medicamentos sujeitos a esta legislação apresentam-se discriminados no Decreto-
lei nº 15/93 de 22 de janeiro [11]. A dispensa destes medicamentos só pode ser feita mediante a
apresentação de uma receita médica, que, como já referido anteriormente, não pode conter mais
nenhum tipo de medicamento [19, 20].
Durante o aviamento de receitas com estes produtos, é solicitado ao farmacêutico um
preenchimento obrigatório de um formulário, no qual constam os dados do doente, médico
prescritor e ainda do adquirente da medicação.
Após a finalização da venda, o sistema informático emite duas cópias do documento de
psicotrópicos ou estupefacientes, que deverão ser anexadas, junto de uma cópia da receita e
arquivadas com os registos de entradas/saídas destes produtos durante, pelo menos, 3 anos [20].
O INFARMED, como entidade que fiscaliza todo o circuito inerente a estes
medicamentos, obriga a que lhe seja enviado a listagem de todas as receitas aviadas e a cópia de
todas as receitas manuais deste tipo de medicamentos até ao oitavo dia de cada mês [20].
Ao longo do estágio, tive a oportunidade de assistir e participar na venda de substâncias
psicotrópicas e estupefacientes e ainda participar na organização de todos os documentos inerentes
a este processo.
6.5. Medicamentos genéricos e preços de referência
O Sistema de Preços de Referência é o novo Sistema de Comparticipação do Estado no
preço dos medicamentos, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, e aplica-se apenas a alguns
grupos de medicamentos que apresentam a mesma composição qualitativa e quantitativa em
substâncias ativas, FF, dosagem e via de administração para os quais existe pelo menos um
medicamento genérico no mercado. Os medicamentos nestas condições encontram-se agrupados
em GH [21]. Desta forma, quando se inclui um medicamento num GH, este fica sujeito a aplicação
do sistema de preços de referência. O preço de referência para cada GH corresponde à média dos 5
medicamentos com PVP mais baixo desse grupo, sejam genéricos ou de marca [21]. É sobre o
Preço de Referência que o Estado comparticipa, e sobre o qual se calcula o encargo para o utente.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
16
Os medicamentos presentes em cada GH são trimestralmente atualizados e publicados pelo
INFARMED [22]. É dever do farmacêutico alertar o utente para as possíveis oscilações de preço
dos medicamentos, e ainda os deve informar sobre as alternativas mais baratas, caso existam.
6.6. Comparticipação de medicamentos
Os sistemas de comparticipação de medicamentos surgiram com o a necessidade de melhorar
o acesso à medicação por parte da população, em particular àquela que possui menos recursos
económicos [22]. Existem diversas entidades comparticipadoras, contudo a que abrange um maior
número de utentes é o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que contém dois regimes de
comparticipação: o Regime Geral e o Regime Especial.
As comparticipações do regime geral pelo SNS variam consoante diferentes escalões, de
acordo com a legislação atual, o Decreto-lei nº 106-A/2010 de 1 de outubro, que faz alterações ao
Decreto lei nº 48-A/2010 de 13 de maio [22, 23]:
• Escalão A – 90% do PVP de comparticipação;
• Escalão B – 69% do PVP de comparticipação;
• Escalão C – 37% do PVP de comparticipação;
• Escalão D – 15% do PVP de comparticipação.
Os medicamentos incluídos em cada um destes escalões são definidos pela Portaria nº 1474/2004
de 21 de dezembro [24].
Nas receitas dos utentes abrangidos pelo regime geral consta a letra “O”. Por outro lado,
para os portadores de regime especial vem a letra “R” ou as letras “RO”.
O Regime Especial, em que o beneficiário usufrui de uma maior percentagem de
comparticipação, inclui pensionistas e utentes portadores de determinadas patologias, como
psoríase, dor crónica ou doença de Alzheimer. Neste regime, o médico prescritor deve mencionar
despacho referente à patologia específica para que o utente usufrua do regime especial de
comparticipação [22]. Cada despacho obedece a legislação própria e o valor da comparticipação
pelo SNS é variável [22]. Para um pensionista cujo rendimento total anual não exceda 14 vezes o
salário mínimo nacional pode usufruir de uma comparticipação acrescida em 5% nos
medicamentos do Escalão A e de 15% nos dos restantes escalões. Caso o utente que cumpra estas
condições opte por um dos 5 medicamentos mais baratos do respetivo GH, a comparticipação é de
100% em todos os escalões [22]. Para além do SNS, existem outras entidade que comparticipam
em simultâneo (complementaridade) um determinado grupo de utentes, isto é; utentes que por
terem seguradoras (por exemplo, Medis®, Multicare®), por pertencerem aos correios de Portugal
ou Serviços de Assistência Médico Social (SAMS), como é o caso dos bancários, usufruem em
simutâneo de dois organismos, do regime Geral ou Especial do SNS e ainda da outra entidade à
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
17
qual pertencem [25].
Quanto aos doentes diabéticos, estes usufruem de um regime especial nos produtos para o
autocontrolo da doença, que têm um valor fixado pela Portaria nº 364/2010 de 23 de junho.
Enquanto que a comparticipação de tiras-teste é de 85%, as agulhas, lancetas e seringas são
comparticipadas pelo SNS em 100% [25].
Ao longo do estágio fui tendo contato com os diversos planos de comparticipação, não só durante
conferência do receituário bem como no atendimento ao público.
6.7. Direito de opção do utente
Atualmente a lesgislação em vigor permite que o utente possa optar pelo medicamento
prescrito dentro do GH correspondente. Por isso, cabe ao farmacêutico informar o utente quando
existem alternativas e disponibilizar três medicamentos desse GH dos cinco mais baratos do
mercado [20]. Através da sua assinatura no verso da receita, o utente pode, ou não, confirmar o seu
direito de opção.
6.8. Aconselhamento farmacêutico
Como já foi referido anteriormente, o farmacêutico deve prestar o devido aconselhamento,
fornecendo toda a informação necessária à correta utilização dos medicamentos dispensados e
fomentar o uso racional do medicamento.
Quando algum cliente recorre à farmácia para tentar solucionar algum problema, o
farmacêutico pode aconselhar medidas não farmacológicas e/ou indicar um MNSRM ou produtos
de venda livre, com o objetivo de resolver um problema menor ou de aliviar a sintomatologia.
Também lhe compete oferecer outros serviços de cuidados farmacêuticos, como o seguimento
farmacoterapêutico e a educação para a saúde. De acordo com as BPF, para a avaliação da
situação, o farmacêutico deve recolher o máximo de informação, realizando uma entrevista ao
utente acerca da sintomatologia, duração, medicamentos que toma e possível relação com uma
doença pré-existente. Caso se trate de uma situação mais grave, o farmacêutico deve reencaminhar
o doente para o médico [10].
Para mim, a parte mais desafiante do estágio foi, indubitavelmente, contactar com a
realidade do aconselhamento farmacêutico. Verifiquei que, na maioria das vezes, a farmácia e o
farmacêutico são o primeiro espaço/profissional de saúde a quem o utente recorre quando necessita
de cuidados de saúde de forma acessível e confiável.
6.9. Implementação da nova receita eletrónica
Em 2015 houve a implementação da tão aguardada receita eletrónica. Com esta inovação,
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
18
a Glint e as Farmácias Portuguesas tem como objetivo transformar as receitas em papel em
prescrições que possam ser acedidas na farmácia através do cartão de cidadão do utente [26, 27].
Desde que iniciei o meu estágio, em janeiro, verifiquei que a adesão a este novo modelo foi sendo
gradual e progressiva. No entanto, ainda é possível dispensar medicamentos através do método
anterior, estando as duas modalidades em funcionamento. O sistema, contudo, ainda apresenta
algumas falhas, como o facto haver certos produtos cuja comparticipação não seja aplicada e,
também, o facto de ainda ser muito demorado no processamento da receita.
Com o este novo modelo, o utente apresenta na farmácia uma “guia do utente” que possui
um código de barras a ser lido pelo software e que, de imediato, gera a receita no ecrã. Este mesmo
código também é apresentado, muitas das vezes, através de uma mensagem no telemóvel do utente.
Futuramente, espera-se que o processo seja mais simples, através do cartão de cidadão do utente
com a introdução de um código no software SIFARMA® 2000.
Ao fazer o registo dos medicamentos, o programa informático faz a verificação dos
produtos e confirma se estão de acordo com a prescrição. Uma das grandes vantagens desta
inovação, além do fator ambiental de poupança de papel, prende-se com o facto de evitar erros na
dispensa e verificar automaticamente o PV da receita. Verifica-se bastante útil para o farmacêutico
porque adiciona automaticamente o plano de comparticipação, eventuais diplomas, e as exceções
técnicas, caso existam. Os processos de faturação e conferência de receituário tornam-se processos
menos morosos, visto que as receitas são imediatamente classificadas como validadas (desde que a
dispensa tenha sido correta) ou não validadas (se ocorreu algum erro na dispensa) pelo sistema
informático. As receitas validadas são agrupadas no lote eletrónico criado para o efeito (lote 99),
enquanto as não validadas vão para o lote 98.
7. Conferência de receituário e faturação
Como já foi referido, existe um sistema de comparticipações de receituário por várias
entidades, que permitem ao utente pagar menos e estas mesmas entidades asseguram, mais tarde, o
pagamento à farmácia.
Na equipa da FMP há duas farmacêuticas responsáveis pela conferência de receituário, que
verificam: se os medicamentos dispensados são os mesmos que os prescritos na receita, se o
dispensado está abrangido pelo Código Nacional de Prescrição Eletrónica de Medicamentos, se a
seleção do organismo de comparticipação foi o correto, se a receita se encontra dentro do PV, se
está devidamente assinada pelo médico, e se o verso da receita está carimbado, datado e assinado
pelo farmacêutico responsável pela dispensa dos medicamentos.
Após o fim do mês, cabe à farmácia organizar o seu receituário, fechar os lotes e faturá-los, para
assim os enviar no dia 5 do mês seguinte.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
19
Para a entrega do receituário, este deve ser devidamente organizado em lotes, sendo que cada lote
deve ser constituído por 30 receitas do mesmo tipo, excluindo o lote das receitas remanescentes
desse mesmo tipo. As receitas são separadas por organismo de comparticipação e ordenadas de
acordo com o número de lote. Todas as receitas terão de ser datadas, assinadas (utente e
farmacêutico) e carimbadas.
Os lotes comparticipados pelo SNS (e respetivos verbetes de identificação, relação de
resumo de lotes e fatura mensal) são enviados para o Centro de Conferência de Faturas e os
comparticipados pelas outras entidades são enviados para a Associação Nacional de Farmácias que
se encarrega de os distribuir pelos organismos a que pertencem.
Posteriormente, as entidades competentes reembolsam a farmácia no valor da
comparticipação de cada receita, caso estejam corretas.
O pagamento do valor das comparticipações é adiantado pela FINANFARMA que, mais
tarde, recebe da Administração Regional de Saúde do Norte [28]. Caso haja irregularidades nas
receitas que foram enviadas para validação, estas são devolvidas à farmácia e devidamente
justificadas relativamente ao motivo da devolução. Há a possibilidade de corrigir as receitas no mês
atual e tornar a enviar para a entidade. Quando há devolução de receitas, é emitida uma nota de
crédito que é enviada juntamente com os documentos de faturação do mês seguinte [28].
Na FMP, todos os processos referidos relacionados com a faturação são auxiliados pelas
funcionalidades do sistema informático SIFARMA® 2000.
Após o tempo inicial de adaptação à farmácia, ao longo do estágio tive a oportunidade de
aprender e ajudar os restantes funcionários na conferência e correção de receitas, o que permitiu
adquirir mais competências através do contacto com as receitas médicas, com as prescrições de
medicamentos e também com as entidades que os comparticipam.
8. Medicamentos manipulados
Segundo a Portaria n.º 594/2004, de 2 de junho, considera-se medicamento manipulado
(MM) qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal preparado e dispensado sob a
responsabilidade de um farmacêutico.
Os manipulados permitem uma adaptação do medicamento de modo a obter-se uma
terapêutica personalizada, sendo por isso uma alternativa aos medicamentos industrializados
quando existe intolerância a excipientes, quando se pretende uma associação de substâncias ativas
não comercializada, quando há dificuldade de deglutição, entre outros motivos.
Cabe ao farmacêutico responsável pela preparação do medicamento manipulado, garantir a
qualidade do mesmo e verificar a sua segurança, no que concerne às doses da(s) substância(s)
ativa(s) e à existência de interações que ponham em causa a ação do medicamento ou a segurança
do utente. Para que esta informação esteja acessível a todos os utilizadores, o Infarmed actualiza
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
20
mensalmente e publica, nesta área, as listagens dos medicamentos cujos pedidos de registo foram
deferidos; indeferidos por não assegurarem os requisitos exigidos na legislação aplicável;
cancelados a pedido do requerente; ou cuja comercialização esteja suspensa. Uma farmácia para
poder preparar medicamentos manipulados, necessita de ter um laboratório com condições
adequadas, quer em termos de espaço físico, como de equipamento e matérias-primas [29].
Contudo, como já referido anterioramente, uma vez que a FMP existe há mais de meio século, a
sua construção não teve por base a referida normativa legal, mas sim a que se encontrava em vigor
aquando da sua construção. Em relação ao material mínimo que o laboratório de uma farmácia
comunitária é obrigada a ter está pormenorizadamente detalhado na Portaria nº 1500/2004 de 7
de dezembro .
É no laboratório da FMP que a farmacêutica responsável executa todos os passos de
manipulação, desde a preparação até ao acondicionamento, rotulagem, documentação obrigatória
(quer das matérias primas utilizadas, quer do MM) e o controlo destes medicamentos [29]. Na
FMP, a manipulação segue as boas práticas de preparação de medicamentos manipulados. As
matérias-primas consumíveis, quando chegam do fornecedor, vêm acompanhadas de um boletim
de análise, que é guardado juntamente com a restante documentação destes produtos e arquivado
no laboratório da FMP. Assim como os medicamentos, também as matérias-primas têm de ser
armazenadas em condições de conservação adequadas, respeitando o descrito na respetiva
monografia e devidamente acondicionadas e rotuladas, de modo a evitar erros ou contaminações
cruzadas e assegurar a qualidade e a segurança dos MM preparados na farmácia. Sempre que há
movimentos das matérias-primas, são registadas todas as entradas e saídas de produto [30].
No final da preparação de um MM é-lhe atribuído um número de lote, colocado o rótulo,
contendo o PV, condições de conservação, posologia, entre outras informações relevantes para o
utente, e é preenchida uma ficha de preparação. O preço final é calculado de acordo com o
disposto na Portaria nº 769/2004, de 1 de julho.
9. Outros cuidados de saúde prestados na farmácia
Aos clientes da FMP são-lhe proporcionados uma vasta gama de serviços que a farmácia
dispõe. Assim, estes dirigem-se à farmácia não só para a compra de medicamentos, mas também
para usufruírem dos restantes cuidados farmacêuticos em prol da sua saúde e bem-estar.
O utente encontra disponível na farmácia programas que visam o controlo de parâmetros
inerentes aos cuidados preventivos, como por exemplo: controlo da sua pressão arterial, contolo de
glicemia, controlo do seu peso, altura e índice de massa corporal e dos seus valores sanguíneos de
colesterol total e triglicerídeos.
Para além disso, na FMP também se administram vacinas e medicamentos injectáveis que
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
21
estejam fora do Plano Nacional de Vacinação, cumprindo as normas de segurança. Todos estes
cuidados de saúde prestados são devidamente acompanhados por um farmacêutico, que oferece um
aconselhamento personalizado a cada situação, de forma a promover a saúde. É de notar que o
controlo de glicemia, pressão arterial e peso são parâmetros gratuitos, e desta forma, há um número
bastante acrescido de pessoas que frequentam diariamente a FMP para o controlo destes
parâmetros.
Na FMP estão constamente expostos materiais educacionais para a gestão da saúde,
programas de promoção da saúde e prevenção da doença adaptáveis a uma vasta gama de
populações e grupos etários.
A FMP também participa no Sistema Integrado de Recolha de Embalagens e
Medicamentos fora de uso, patrocinado pela Valormed, que visa a reciclagem.
Desde o início do meu estágio que acompanhei alguns funcionários da FMP na prestação
de todos estes serviçoes e no aconselhamento inerente aos utentes, principalmente nas
determinações bioquímicas e no controlo da pressão arterial, sendo que, passei gradualmente a
fazê-lo de forma autónoma. A FMP dispõe de profissionais com conhecimentos especializados na
área da segurança e eficácia dos medicamentos e que promovem constantemente o uso racional do
medicamento.
10. Formações
Durante todo o período de estágio pude presenciar que são inúmeras as vezes que
delegados de informação médica visitam a FMP. Muitas vezes fomos visitados por representantes
das marcas, a fim de nos facultarem formações e informações adicionais de produtos já existentes
ou ainda apresentarem novos produtos.
Estas formações têm como objetivo apresentar os seus produtos em detalhe, esclarecer
dúvidas e fornecer informações para que seja feito um aconselhamento personalizado e adequado
visando uma melhoria não só na satisfação do cliente mas também no número de vendas. Uma vez
que tive a oportunidade de contactar diretamente com os responsáveis de formação aquando da
visita à farmácia, não tive necessidade de me deslocar até eles quando davam formações pontuais.
Foi-me dada toda a liberdade de os questionar, após os ouvir, sempre que fizeram visitas à
farmácia. Sempre disponibilizaram todo o tempo necessário a fim de me apresentarem todo o seu
portfólio, desde a informação técnica à experimentação de todos os produtos na própria pele, de
modo a avaliar o perfil de absorvância, cheiro e textura do produto.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
22
Parte II – Trabalhos desenvolvidos
1. A acne – Etiopatogenia e Tratamento
I. Contextualização e objetivos
Durante o meu estágio foi enorme a minha necessidade em saber mais sobre a acne.
Enquanto estive ao balcão, foram diversos os casos que me solicitaram aconselhamento para este
problema, e deles surgiu a minha curiosidade incessante de saber mais para aconselhar melhor.
Desta forma, o meu objetivo principal foi perceber a etiologia desta dermatose e quais os
tratamentos farmacológicos e não farmacológicos inerentes a este problema. Considero que o
desenvolvimento deste tema foi fundamental para alguns dos atendimentos que realizei, pois só
desta forma consegui fazer um aconselhamento personalizado, cuidadoso e enriquecedor. A acne é
uma doença como tantas outras que merecem especial atenção, e na área da dermocosmética é
essencial perceber os mecanismos etiopatogénicos subjacentes a ela.
II. Acne
Acne vulgaris é uma dermatose inflamatória e multifatorial do folículo pilossebáceo, sendo
uma das dermatoses mais frequentes na população em geral, com uma incidência maior em
adolescentes e adultos jovens [30]. Os folículos pilossebáceos constituem o maior apêndice ao
nível da estrutura da pele e são constituídos pelo folículo piloso e por glândulas sebáceas [31]. As
glândulas sebáceas são glândulas holócrinas que regulam a atividade dos xenobióticos e
apresentam não só ação antibacteriana como ainda pró- e anti-inflamatória, participando também
na cicatrização [32]. À exceção das palmas das mãos e dorso dos pés, podemos encontrar estas
glândulas distribuídas por qualquer zona, estando maioritariamente distribuídas pelo rosto, costas e
peito [32]. Quanto ao folículo piloso, a sua raíz situa-se na zona mais profunda da derme enquanto
que o topo do pêlo avança no sentido da abertura folicular da epiderme, como podemos ver
representado na Figura 1 [33].
Figura 1: As três camadas
da pele: a epiderme, a
derme e a hipoderme.
Representação dos folículos
pilosos, das glândulas
sebáceas e sudoríparas, dos
nervos e os vasos
sanguíneos [34].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
23
III. Epidemiologia
À data de 2010, a acne afetava em todo o mundo cerca de 650 milhões de pessoas, o que
corresponde a cerca de 9,4% da população, mostrando-se ligeiramente mais comum em mulheres
(9,8%) do que em homens (9,0%) [35]. Nos EUA afeta cerca de 40-50 milhões de indivíduos,
sendo o pico na adolescência, com 85% de jovens afectados entre os 12-24 anos [36].
Um estudo de prevalência no Norte de Portugal demonstrou que 42,1% de jovens tinha
acne antes dos 15 anos, 55,8% dos 15-29 anos, 9,2% dos 30-40 anos e 2,1% em indivíduos com
mais de 40 anos [37].
IV. Etiologia
Na literatura estão descritas quatro causas distintas que contribuem para o desenvolvimento
da acne e que podem variar de pessoa para pessoa [38]. Estas causas são: o aumento da secreção do
sebo; a proliferação da bactéria Propionibacterium acnes (P. acnes); o excesso da queratinização
folicular, que provoca a obstrução do folículo com a consequente formação de comedões; e a
reação inflamatória/imunitária, que gera a libertação de mediadores de inflamação no folículo e
derme adjacente, cuja reação é responsável pelas lesões inflamatórias [33].
Por outro lado, fatores genéticos, dietéticos, hormonais e psicológicos, isolados ou
interrelacionados, podem estar envolvidos na etiologia da acne vulgar [39].
• Fator genético: Exerce grande influência na origem e na gravidade da acne vulgar,
influenciando tanto o controlo hormonal como a hiperqueratinização folicular e secreção
sebácea, contudo não tem efeito na infeção bacteriana [39].
• Alimentação: A relação entre o desenvolvimento de acne e a alimentação é controversa,
contudo alimentos como chocolate, produtos láteos, nozes, alimentos gordurosos e hidratos
de carbono de alto indíce glicémico conduzem a uma associação positiva [39]. Quanto à
ingestão de alimentos com indíce glicémico elevado (ricos em açúcar e cereais refinados),
uma vez que conduzem a hiperinsulinemia, que por sua vez desencadeia uma cascata de
fenómenos endócrinos, estão implicados na patogénese da acne [40].
• Hormonas: Os andrógeneos são a principal hormona responsável pelo aumento da
produção de sebo na medida em que o seu órgão alvo é a glândula pilossebácea. Desta
forma, uma alta concentração desta hormona levará a um desencadeamento da acne. É a
porção de androgéneos que não se encontra ligada à proteína das hormonas sexuais (porção
livre em circulação) que atuará ao nível dos recetores específicos das células alvo,
provovando um aumento da secreção de sebo [40].
• Fatores psicológicos: o fatores psicológicos e neurológicos provocam alterações hormonais
que podem desencadear e/ou exacerbar a acne [40].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
24
V. Diagnóstico da acne
Acne não é uma doença infecciosa e não pode ser transmitida de pessoa-a-pessoa.
Contudo, o duto pilossebáceo e a superfície cutânea são colonizadas por microorganismos –
P.acnes, Staphylococcus epidermidis e o fungo Pityrosporum ovale – entre os quais P.acnes
predomina [31]. O diagnóstico de acne é baseada na imagem em laboratório e evidência clínica de
Propionibacterium e Staphylococcus, cuja quantidade na pus examinada se encontra normalmente
aumentada. É necessário obter uma amostra de pus formado na parte inferior do folículo inflamado
para o sucesso da técnica de amostragem [41].
A acne vulgar é quase sempre de fácil diagnóstico, podendo ser classificada de acordo com
o tipo de lesão predominante. Contudo, as diferentes formas – comedónica, pápulo-pustulosa,
nódulo-quística – podem, algumas vezes, gerar dificuldades no diagnóstico. O esquema de
classificação do grau de severidade da acne preconizado pela Academia Americana de
Dermatologia inclui três níveis: leve, moderado e severo. A acne também pode ser graduada em
níveis de I a IV, conforme a gravidade do quadro [42].
VI. Patogénese
Como já referido anteriormente, a acne é uma doença crónica do folículo pilossebáceo. Os
fatores implicados na etiopatogenia da acne vulgaris são [43]:
a. Hiperprodução sebácea;
b. Hiperqueratinização folicular;
c. Colonização do folículo piloso por microorganimos;
d. Reação inflamatória/imunitária com libertação de mediadores inflamatórios no folículo e
derme adjacente.
a) Hiperprodução sebácea
O aumento da secreção de sebo pela glândula sebácea está relacionado com vários fatores [44]:
• Elevada produção de androgéneos;
• Diminuição da proteína transportadora de hormonas sexuais (SHBG) (com consequente
aumento dos níveis de androgéneos livres);
• Aumento da atividade da enzima 5α-redutase (responsável pela transformação da
testosterona em dihidrotestosterona (DHT) [38]);
• Aumento da capacidade do recetor intracelular ao androgéneo.
Na puberdade, como os níveis de testosterona atingem o seu pico máximo verifica-se
também uma maior atividade destas glândulas [45]. Estas hormonas vão atuar em dois locais: nos
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
25
queratinócitos e nos sebócitos. Os sebócitos são os responsáveis pela produção de novos
androgéneos e local onde, através da 5α-redutase, há a transformação da testosterona em DHT -
forma ativa que atua na unidade pilossebácea, responsável pelas alterações sebáceas, nas áreas
seborreicas, sobretudo face e tronco [38].
A 5α-redutase é também a enzima responsável por regular a excreção de lípidos e, como se
encontra aumentada, haverá um desequilíbrio entre a produção de sebo e a sua excreção, o que
levará a uma acumulação de sebo no folículo com bloqueio do duto e consequentemente ao
processo inflamatório [45].
O sebo é formado pela glândula sebácea por um processo holócrino, ou seja, as células da
glândula desfazem-se e convertem-se em lípidos. Assim, é uma mistura de lípidos que pode ser
convertida em ácidos gordos livres comedogénicos e irritantes por microorganismos presentes na
glândula [31].
Quanto à composição do sebo, este varia de um indivíduo normal para um indivíduo
acneico. Em ambos os indivíduos, a proporção de ácidos gordos livres, de colesterol e seus ésteres
e de escaleno são similares. No entanto, a proporção de triglicerídeos nos indivíduos normais é de
46%-52%, face aos 60%-68% do grupo acneico, e a de ésteres de cera é maior entre os acneicos
(20%-26%) em relação aos não acneicos (9%-12%) [46].
Quanto à sua origem, o colesterol e os seus ésteres têm origem epidérmica (glandular) e
são libertados pela glândula conforme a excreção sebácea de cada indivíduo. Por outro lado, os
ácidos gordos livres vêm da hidrólise dos triglicerídeos, que aumenta quanto maior for o tempo de
exposição cutânea do sebo [46].
b) Hiperqueratinização folicular
A comedogénese, resultante da hiperqueratinização folicular, é dos fatores etiopatogénicos
mais importantes.
A estimulação androgénica que leva a uma hiperprodução de sebo, condiciona todas as
anomalias ao nível da diferenciação, proliferação e adesão dos queratinócitos. Desta forma, os
queratinócitos permanecem agregados e obstruem o canal do folículo piloso, formando uma
espécie de rolha, impedindo a drenagem do conteúdo sebáceo produzido pela glândula, o que tem
como consequência a formação de microcomedões e mais tarde, comedões [47]. Por outro lado, os
ácidos gordos quando se acumulam por um longo período de tempo no infundíbulo glandular, têm
a capacidade de irritar o epitélio e, desta forma, levam à hiperqueratinização e inflamação [46].
Também o metabolismo dos hidratos de carbono tem um efeito sobre a hiperqueratinização
folicular. Uma vez que IGF-1 e IGRBP-3 regulam a proliferação de queratinócitos e a sua
apoptose, correspondentemente, quando ocorre uma hiperinsulinemia, esta leva a um aumento de
IGF-1 livre e a uma redução de IGFBP-3, contribuindo para a hiperproliferação de queratinócitos
no folículo [46].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
26
c) Colonização do folículo piloso por microorganimos
Os principais microorganismos responsáveis pela colonização do folículo piloso são P.
acnes e Staphylococcus albus. São os responsáveis pela alteração dos lípidos do sebo, em especial
pela formação de ácidos gordos livres, os quais têm propriedades pró-inflamatórias [47].
Quando há hiperprodução sebácea pela glândula, há proliferação maioritariamente de P.
acnes, com formação de lesões inflamatórias e libertação de enzimas e fatores quimiotáticos [46].
O microcomedão consiste numa lesão elementar e não inflamatória que resulta da obstrução e
dilatação do folículo pilossebáceo. O sistema imune reconhece o excesso de microorganismos e
promove inflamação que se manisfesta com o aparecimendo das ‘borbulhas” [42].
d) Reação inflamatória/imunitária
P. acnes produz fatores peptídicos quimiotáxicos para neutrófilos, ativa o complemento e
provoca a libertação de enzimas lisossómicas destrutivas pelos neutrófilos. Estes fenómenos criam
um ciclo de quimiotaxia e uma inflamação neutrofílica intensa [31]. P. acnes intervem no processo
inflamatório através da produção de citoquinas como a IL-1β, IL-8, interleucina-12 (IL-12) e TNF-
α [33]. A produção citoquinas é mediada pelos receptores TLR [45]. P.acnes provoca uma
imediata e longa reação inflamatória após de ligar ao receptor TLR-4 [38; 48]. Esta reação prolifera
nos comedões com libertação de lipases que irão atuar no sebo ao nível dos triglicerídeos,
reduzindo-os a ácidos gordos livres e glicerol [38; 48]. Os fragmentos de P.acnes e os ácidos
gordos livres propagam-se através da parede do folículo, o que permite uma migração dos
neutrófilos por quimiotaxia [38; 48]. Os neutrófilos vão produzir enzimas de defesa por imunidade
não específica, como as metaloproteases, o que provoca a rompimento da parede do folículo
pilossebáceo, desencadeando o processo inflamatório local [38; 48]. Após a lesão da parede
folicular, vários agentes – substâncias similares à prostaglandina, aminoácidos, ácidos gordos de
cadeia curta e lípases – são produzidos por células inflamatórias e P. acnes. Esses agentes são
extrudados na derme, causando mais inflamação [31].
VII. Manifestações clínicas
Do ponto de vista clínico, a manifestação da acne traduz-se com lesões inflamatórias ou
não inflamatórias, sendo que a primeira manifestação se representa pelo aparecimento de
microcomedão que evolui para comedão. Quanto às lesões não inflamatórias estas dividem-se em
comedão fechado (ponto branco) ou comedão aberto (ponto negro), enquanto que as lesões
inflamatórias apresentam-se como pápula, pústula, quisto ou nódulo [31].
O processo de evolução de um comedão é lento, demora cerca de dois meses desde o seu
estavo primário (microcomedão) e distribui-se, na maioria das vezes, na cara, peito e parte superior
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
27
das costas. Enquanto que os comedões fechados (brancos) surgem como primeira manifestação da
acne, os abertos (negros) resultam da oxidação dos ácidos gordos e do aumento de deposição da
melanina [49].
Como já foi referido, uma anomalia da queratinização provoca uma obstrução do duto
pilossebáseo por um tampão de queratina e, como consequência, as bactérias (P.acnes), sebo e
escamas queratinosas aderem entre si, levando à formação do comedão, ou cravo. Se a obstrução
for superficial, resultarão pápulas e pústulas. Se for profunda, poderão ocorrer pápulas, nódulos e
quistos maiores e mais profundos, com formação de cicatrizes, que correspondem às formas mais
severas da acne, com inflamação granulomatosa [31].
Na acne mais severa, a depressão irregular coberta de pele atrófica, resultante da destruição
do folículo pilossebáceo por reação inflamatória é chamada de cicatriz, e pode levar a uma
desfiguração permanente [47].
Apesar do polimorfismo desta dermatose, é possível definer três tipos de acne com base na
manifestação clínica predominante [47].
a) Comedónica
b) Pápulo-pustulosa
c) Nódulo-quística
A acne comedónica necessita muitas vezes de diagnóstico diferencial pois pode ser associada
a diferentes manifestações [47]:
• Milia: representa-se por pequenas pápulas assintomáticas e esbranquiçadas na cara;
• Ceratose ou hiperceratose folicular: caracteriza-se por micropápulas foliculares monomorfas
tanto nas partes laterais do rosto como na zona externa dos braços;
• Verrugas planas: correspondem a pequenas pápulas verruciformes aplanadas de tonalidade
amarelo-acastanhado que se dispersam na face;
• Molusco contagioso: são pequenas pápulas dispersas com centro umbilicado;
• Siringomas: são pequenas pápulas lisas da cor neutra, que se localizam nas pálpebras.
Na acne pápulo-pustulosa existem manifestações clínicas que podem necessitar de
diagnóstico diferencial [47]:
• Foliculite por Gram negativas: é constituída por pequenas pápulo-pústulas monomorfas
assintomáticas, na área da barba;
• Foliculite estafilocócica: apresenta pápulo-pústulas foliculares, dolorosas e com uma
elevada reação inflamatória, na área da barba;
• Foliculite por fungos: apresenta pápulo-pústulas foliculares assintomáticas, com grande
dimensão, geralmente no mento e lábio superior;
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
28
• Pseudofoliculite da barba: mais frequente na raça negra, e que se caracteriza por pápula,
pústulas e cicatrizes, geralmente com localização na região cervical;
• Acne iatrogénica: provocada por alguns medicamentos (corticóides tópicos ou orais,
vitamina B12, halogénios e outros). Manifesta-se pelo aparecimento geralmente súbito, de
pápulo-pústulas monorfas e pequenas, na face e tronco;
• Dermatite perioral: apresenta pequenas pápulas eritematosas, geralmente de incidência na
região perioral;
• Rosácea: não se observam comedões. Representa-se por pequenas pápulo-pústulas
inflamatórias, que se distribuem pelo mento, regiões malares e nariz, geralmente na mulher
adulta e pré-menopáusica.
Quanto à acne nódulo-quística, esta forma severa difere da acne vulgar na gravidade dos sinais
clínicos, na sua cronicidade e até na resistência à terapia de rotina. Ocorre em ambos os sexos mas
mais frequentemente em homens, apresentando pápulas, nódulos profundos e dolorosos, além de
cicatrizes desfigurantes, às vezes com formação de quelóide. Frequentemente, o distúrbio persiste
até ao início da meia idade. Face, tórax e dorso podem estar afetados, isoladamente ou em
conjunto. O tratamento foi revolucionado pela isotretinoína [31].
VIII. Tratamento
O tratamento da acne tem como objetivo controlar todos os diferentes fatores que
contribuem para o desenvolvimento da patogenia [50]. Desta forma, pretende-se não só controlar a
hiperqueratose de retenção e diminuir a produção de sebo, mas também reduzir a população
bacteriana e a inflamação [50]. Outro aspeto fundamental no tratamento é a prevenção de sequelas
da acne, como são exemplo as cicatrizes.
Uma vez que são múltiplos os fatores envolvidos, o tratamento deverá ser individualizado
e não estereotipado, otimizando todas as terapêuticas instituídas e aumentando a eficácia
terapêutica. O número de lesões, a extensão e gravidade do tipo de acne permitem classificar a acne
em ligeira, moderada ou grave, servindo de guia para a conduta do seu tratamento [47].
Como as demais estruturas epidérmicas, as glândulas sebáceas são continuamente
fabricadas e provavelmente precisam de um mês para chegar à maturidade. Isso pode explicar
porque o tratamento se deve prolongar por esse tempo, para que ocorram resultados [31].
A. Tratamento tópico
O tratamento tópico é a primeira escolha para as formas não inflamatórias da acne e para a
acne inflamatória ligeira, mas também está recomendado nas formas leves a moderadas de acne ou
ainda nas formas mais graves como adjuvantes de tratamentos sistémicos [50].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
29
Durante o meu estágio constatei que os fármacos com aplicação tópica mais prescritos
numa fase inicial do tratamente são os retinóides, os antibióticos e o peróxido de benzoílo (BPO).
Por outro lado, os medicamentos com ácido azelaico, glicólico ou salicílico são prescritos numa
segunda etapa visto demonstrarem vantagens numa fase de manutenção, como adjuvantes dos anti-
acneicos de primeira linha, apesar de terem eficácia limitada [50].
i. Retinóides
São eles o fármaco de 1ª linha para a acne leve e moderada. O principal mecanismo de ação
dos retinóides é ao nível da diferenciação celular e da queratinização, combatendo a hiperqueratose
característica da acne vulgar e a consequente formação de microcomedões, inibindo assim o
processo de comedogénese. Por outro lado, também têm atividade anti-inflamatória e previnem a
formação de novas lesões, mantendo a remissão da acne [51]. Nas lesões já existentes, promovem a
expulsão do comedão [52]. Contudo, apesar de possuirem propriedades anti-inflamatórias verifica-
se que no início da terapêutica e em pele mais sensível, esta ação possa ser mascarada pelo seu
potencial irritativo [50].
NA FMP, os retinóides tópicos disponíveis são: o Ketrel® (Tretinoína em creme (0,05%)), o
Isotrex® (isotretinoína em gel (0,05%) e o Differin® (adapaleno em creme e gel (0,1%)).
Quanto à atividade comedolítica, a isotretinoína, a tretinoína e o adaptaleno têm uma ação similar,
apesar deste último ser um retinóide de 3ª geração com melhor perfil de tolerabilidade. No entanto,
o seu início de ação é mais lento. Quanto aos efeitos adversos, estes causam, muitas vezes,
irritação, fotossensibilidade e pele seca [50].
ii. Ácido Azelaico
Este ácido é utilizado quer para acne inflamatória quer para não inflamatória [56]. É uma
terapêutica eficaz no tratamento da acne suave a moderada pápulo-pustular uma vez que possui um
efeito comedolítico, antimicrobiano e anti-inflamatório [53]. A sua ação revela-se tão eficaz como
a da isotretinoína a 0,05% na acne comedogénica e é melhor tolerado que o BPO e tretinoína, no
entanto o início de ação é mais lento que o verificado com o BPO [55]. Os efeitos adversos mais
comuns são o prurido, descamação, sensação de queimadura e eritema, contudo têm a vantagem de
não apresentar fotossensibilidade [54].
iii. Antibióticos
Os antibióticos tem a sua ação nas duas últimas etapas da fisiopatologia da acne, ou seja, na
colonização por P. acnes e na consequente resposta inflamatória/imunitária [57].
Ao evidente efeito antimicrobiano direto que possuem, com diminuição de P. acnes, também
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
30
possuem variadas ações anti-inflamatórias, como são exemplo a produção de citocinas e de ácidos
gordos livres no infundíbulo piloso; a diminuição da quimiotaxia dos neutrófilos, a inibição da
sintetase do óxido nítrico e aumento da produção de prostaglandinas e de superóxido dismutase
[56]. A principal indicação dos antibióticos tópicos é na acne inflamatória ligeira, em que
demonstraram ser bem tolarados, apesar de terem um início de ação lento [50].
Esta classe de fármacos deve ser interrompida assim que houver melhoria clínica evidente e devem
ser suspendidos ou substituídos, se ineficazes, após 6 a 8 semanas de aplicação regular [50].
Na FMP, dentro desta classe de fármacos, encontram-se disponíveis a eritromicina e a
clindamicina, nomeadamente o ZINDACLIN® 1% 10 mg/g Gel (que possui estes dois
antibióticos) e o Duac ®10 mg/g + 50 mg/g Gel que possui clindamicina e BPO.
iv. Peróxido de Benzoílo
Trata-se de um agente antibacteriano e comedolítico utilizado como substituto dos
antibióticos tópicos, na acne inflamatória ligeira a moderada [31].
Por vezes, encontra-se combinado com outros antibióticos tópicos pela sinergia na redução
da P. acnes e pela prevenção do desenvolvimento de resistências microbianas [50].
Uma vantagem deste agente antimicrobiano é o fato de não estar associado ao
desenvolvimento de resistências bacterianas e possuir eficácia similar à dos antibióticos tópicos,
contudo apresenta como efeito adverso o fato de irritar a pele, podendo causar dermatites de
contacto [50]. Na FMP, o BPO é comercializado na forma de loção de limpeza e de gel, em
concentrações de 5 e 10%, com a marca Benzac®.
B. Tratamento sistémico
O tratamento sistémico da acne engloba antibióticos orais, fármacos hormonais,
isotretinoína e ainda combinações entre estes.
Nas formas moderadas a graves da acne, os antibióticos orais estão mais indicados, uma vez que
têm um inicio de ação mais rápido comparativamente com os antibióticos tópicos, mas são
igualmente bem tolerados [50].
i. Antibióticos
As tetraciclinas são os antibióticos de 1ª linha pelas vantagens que apresentam
relativamente à segurança, eficácia e resistências microbianas [50].
Por outro lado, os macrólidos como a eritromicina, azitromicina e claritromicina além de
apresentarem problemas de tolerância, possuem uma eficácia limitada face ao aumento de estirpes
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
31
com resitências a P. acnes [50]. Desta forma, estes fármacos devem apenas ser reservados para
situações de intolerância ou contra-indicação ao uso de tetraciclinas [50].
Quanto às tetraciclinas, existem as de 1ª, 2ª e 3ª geração [50]:
• Tetraciclinas de 1ª geração: oxitetraciclina e cloridrato de tetraciclina
• Tetraciclinas de 2ª geração: doxiciclina e minociclina
• Tetraciclinas de 3ªgeração: cotrimoxazol e trimetroprim
As de 1ª e 2ª geração apresentam farmacocinética distinta. Enquanto que as de 1ª geração
requerem administrações bidiárias e a sua absorção é prejudicada com as refeições; as de 2ª
geração como podem ser administradas uma única vez ao dia juntamente com as refeições,
possibilitam uma melhor adesão à terapêutica, com menos risco de interrupção precoce ou
administração irregular que possa comprometer a sua eficácia e aumentar a resistência bacteriana
[50]. Deste modo, é dada a preferência às tetraciclinas de 2ª geração.
Contudo as tetraciclinas requerem precauções e cuidados especiais. Este grupo de fármacos
está contra-indicado na gravidez e em crianças, pois atrasa o crescimento ósseo. Outro dos seus
efeitos adversos incluem a pigmentação da pele, tonturas e alterações do esmalte dos dentes. Esta
informação foi especialmente útil enquanto fiz a dispensa destes fármacos durante o estágio.
ii. Tratamento hormonal
O objetivo deste tratamento concentra-se na redução da atividade androgénica ao nível
glândula sebácea e do infundíbulo folicular que, como já referido, está na base da atividade dos
sebócitos e das alterações da queratinização e descamação do próprio epitélio infundibular [58].
Deste modo, para se adquirir um efeito antiandrogénico é possível através das seguintes
formas [50]:
• Aumentando as proteínas transportadoras de hormonas sexuais (Globulina Fixadora das
Hormonas Sexuais (SHBG)), que provocará uma redução nos androgénios livres em
circulação por contracetivos orais que combinam estrogénio com progesterona. Assim, os
contracetivos orais não só inibem as gonadotrofinas e a ovulação, como também a
produção ovárica de androgénios. Este efeito é potenciado quando estes contracetivos
associam um estrogénio (geralmente etinilestradiol) com um progestativo de 2ª geração
(levonorgestrel, noretindroma, diacetato de detinotiol) ou 3ª geração (nomegestrol,
trimegestone, dienogest);
• Fármacos antiandrogénicos como a flutamida, o acetato de ciproterona, o acetato de
cloromadinona, o trimegestone, o dienogest, a espironolactona e a drospirenona, que
conseguem bloquear os receptores dos androgéneos ou inibem a sua conversão em DHT;
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
32
O tratamento hormonal na acne apenas está indicado nas seguintes situações: em mulheres
com agravamento pré-menstrual; mulheres em qualquer idade com acne associada a seborreia;
mulheres com acne na idade adulta e jovens sexualmente ativas com acne inflamatória [50].
iii. Retinóides
A isotretinoína (retinóide oral) é o fármaco de eleição uma vez que atua em todos os
mecanismos fisiopatológicos da acne, reduzindo a diferenciação sebácea. Este fármaco atua a nível
sistémico, tendo a capacidade de diminuir o tamanho da glândula sebácea e a sua capacidade de
produzir sebo; consegue reduzir a formação de novos comedões uma vez normaliza a
queratinização folicular; diminui a colonização pela P. acnes e combate a sua a inflamação [50].
Este fármaco está indicado nas formas mais severas da acne, como a acne nódulo-quística ou a
acne moderada a grave que é resistente ou recidiva logo após tratamento tópico e/ou com
antibióticos sistémicos, sendo um MSRM. A sua utilização é também frequente na acne com
tendência cicatricial e em situações de elevado impacto psicológio [50].
Como nas primeiras semanas de tratamento existe uma libertação exacerbada de
superantigénios da P. acnes, é de esperar que no início do tratamento com isotretinoína possa haver
um agravamento das lesões, principalmente nas formas com marcado componente retencional [50].
O principal efeito adverso deste medicamento é o seu potencial teratogénico, que decorre
desde o tratamento até seis semanas finda a sua toma, pelo que é aconselhável sempre a utilização
de um contracetivo oral adequado à mulher em idade fértil. Para além deste efeito, a isotretinoína
provoca também outros efeitos secundários, como fotossensibilidade, dermatites, rash cutâneo,
secura excessiva da pele, entre outros. Por este motivo, este tratamento é apenas utilizado em
situações mais severas [59].
Ao longo do tratamento com isotretinoína, os valores de triglicerídeos, colesterol e
transaminases hepáticas podem sofrer oscilações, pelo que é recomendado o estudo da função
hepática e hemograma com determinação de todos estes lípidos antes do início do tratamento e às 4
a 6 semanas após o começo para se analisar e comparar [50]. Uma vez tratadas as lesões acneicas,
deve-se proceder à aplicação de um retinóide tópico como forma de manutenção, uma vez que,
logo após a descontinuação do retinóide por via oral, formam-se microcomedões [59].
C. Coadjuvantes no tratamento
Na FMP, na área da dermocosmética, existem diversos produtos que poderão ser
coadjuvantes no tratamento da acne de forma a controlar os efeitos secundários dos tratamentos
tópicos e/ou sistémicos [50]. No aconselhamento destes produtos é essencial que o farmacêutico
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
33
verifique que estes não possuam potencial comedogénico [50]. Dentro da vasta gama de produtos e
marcas disponíveis (Avène, Ducray, Isdin, Uriage, Bioderma) sempre que tive oportunidade de
fazer aconselhamento destaquei:
• Produtos de lavagem que atenuam a irritação provocada pela terapêutica tópica e sistémica,
sendo neste caso indicados os cremes ou emulsões sem óleo;
• Hidratantes labiais, para evitar situações de quelite provocada pela utilização de retinóides
(particularmente em pessoas a fazer tratamento com isotretinoína);
• Emulsões ou cremes com moderado efeito queratolítico que promovem a eliminação de
pontos negros e microquistos e limitam o aparecimento de imperfeições;
• Protectores solares para evitar a formação de marcas e reduzir reações associadas à
fotossensibilidade decorrente da terapêutica anti-acneica.
IX. Impacto psico-social da acne
A acne, enquanto doença dermatológica crónica, provoca no indivíduo um forte impacto,
que o deixa fortemente afetado no seu estado psicológico, atividades quotidianas e relações sociais.
São dois os fatores primordias que concorrem para este fato: um de índole interna que assenta na
auto-estima e na imagem corporal, e outro, de índole externa, pela rejeição social que estes
indíviduos sentem, fruto de mitos e preconceitos que envolvem as doenças cutâneas.
Este impacto psico-social é mais peculiar no adolescente. Muitas das vezes a face, que
corresponde à área mais exposta, encontra-se totalmente preenchida com esta dermatose, o que leva
a uma revolta do adolescente, com grande impacto na sua estabilidade pessoal. Principalmente nos
adolescentes do sexo masculino, esta fragilidade e insegurança provoca, muitas vezes,
consequências trágicas que se traduzem num aumento da prevalência de ideação suicída [60].
Também de referir que, num estudo com cerca de 4597 doentes acneicos, 70% destes
demonstraram uma maior taxa de insucesso escolar (em comparação com o grupo controlo
saudável) e revelaram ainda serem vítimas de rejeição social [61]. O impacto nestes doentes é
negativo uma vez que se prevê, tal como noutras doenças crónicas, que possam surgir problemas
emocionais ou perturbações psiquiátricas [62].
X. Caso prático
Enquanto estive ao balcão, foram diversos os casos que me pediram aconselhamento para a acne. A
exemplo, um jovem de 15 anos que apresentava uma acne típica da adolescência, moderada e mista
com algumas lesões inflamatórias e retencionais. Queixava-se dos seus poros dilatados, e do
excesso de sebo que tornava a sua pele muito oleosa e com muito brilho. Senti-o triste e talvez um
pouco desanimado. Após o questionar sobre os produtos que usava, disse-me que apenas aplicava
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
34
creme Nivea® de manhã para hidratar bem a pele. Expliquei-lhe que o creme em questão não era
apropriado, pois era um creme gordo com alto potencial comedogénico.
Expliquei-lhe também que tão importante como hidratar o rosto com um produto adequado, era a
limpeza da pele. Desta forma, aconselhei-o a lavar a pele de mahã e à noite com água micelar
CLEANANCE DA AVÈNE® (uma água específica para peles oleosas) e, proceder à hidratação do
rosto com EVERCLEAN MATIFICANTE DA ISDIN®. Este gel matificante possui
micropartículas que absorvem a oleosidade, apresenta niacinamida que é um potente antioxidante e
ainda tem ação seborreguladora graças ao ácido salicílico. Desta forma este produto iria combater
as bactérias, as imperfeições e ainda controlar a oleosidade.
2. Colesterol – uma breve abordagem
I. Contextualização
Em fevereiro, quando decorria o meu estágio, a FMP recebeu um convite para participar na
XI Feira da Saúde na Escola Secundária da Trofa, como já era habitual em edições anteriores.
Neste contexto, a diretora técnica propôs-me intervir nesta atividade. Assim, a 28 de abril tive a
oportunidade de representar a farmácia nesta XI Feira da Saúde e promover a saúde individual da
comunidade, realizando rastreios de colesterol.
Aliado a este convite que recebi por parte da farmácia, nasceu o meu interesse de
desenvolver esta temática e assim desenvolvi várias atividades:
• Realizei um panfleto com toda a informação necessária sobre o colesterol, para que
pudesse ser distribuído durante a feira, com o intuito de explicar o que é o colesterol, quais
os fatores de risco e como controlar os seus níveis (Anexo 4);
• Fiz uma pesquisa aprofundada sobre este tema, a fim de esclarecer eventuais dúvidas por
parte da comunidade e, assim, fazer um bom aconselhamento;
• Com base nos diferentes resultados das várias faixas etárias que obtive, realizei um gráfico
onde se pode verificar onde é maior a incidência de colesterol total (Figura 2)
II. Incidência
Em Portugal, cerca de 68,5% da população apresenta valores de colesterol iguais ou
superiores a 190 mg/dl. Aproximadamente um quarto dos portugueses apresenta colesterol de risco
elevado (>240 mg/dl) e 45,1% apresenta risco moderado (190-239 mg/dl) [57].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
35
III. Colesterol
O colesterol é uma gordura essencial existente no nosso organismo, contudo este apenas
necessita de uma pequena quantidade para satisfazer as suas necessidades. O colesterol é
fundamental para a produção de hormonas esteróides, síntese das paredes celulares, de vitamina D
e ácidos biliares que ajudam a digestão dos alimentos. Por outro lado, o colesterol em excesso irá
depositar-se nas paredes arteriais, constituindo placas que reduzem o calibre dos vasos, provocando
a aterosclerose [57].
O colesterol possui duas origens: uma parte produzida pelo próprio organismo, sendo a
maior parte no fígado, e outra parte obtida através da alimentação [57].
O colesterol e os seus ésteres, os triglicéridos e os fosfolípidos, são os principais lípidos
presentes no organismo humano. Uma vez que estas moléculas são insolúveis em água e
consequentemente insolúveis no sangue, precisam de ser transportadas através de proteínas – este
complexo lipoproteíco é conhecido por lipoproteína [58].
IV. Principais tipos de colesterol
As lipoproteínas são classificadas em altas, baixas ou muito baixas densidades, em função da
respectiva proporção de proteína e gordura em cada uma, o que determina a sua densidade. Os dois
tipos mais comuns de lipoproteínas são a HDL (lipoproteína de alta densidade) e a LDL
(lipoproteína de baixa densidade). São vulgarmente conhecidas como "bom" e "mau" colesterol,
respectivamente [57].
• LDL: têm como função transportar o colesterol do fígado para as células. Os níveis altos de
colesterol associado à LDL (c-LDL) tendem a acumular-se na parede das artérias,
provocando a aterosclerose. Quanto mais altas forem as LDL no sangue, maior é o risco de
doença cardiovascular;
• HDL: são responsáveis pelo transporte do colesterol das células ao fígado, para ser
processado e eliminado. O colesterol associado à HDL (c-HDL) está relacionado com a
proteção cardiovascular;
• Triglicerídeos: Este tipo de gordura aumenta com a ingestão em excesso de açúcares,
álcool e calorias, aumentando o risco cardiovascular.
V. Fatores que afetam os níveis de colesterol
Existem vários fatores que contribuem para os níveis elevados de colesterol como são
exemplo a diabetes e também fatores genéticos como hipercolesterolemia familiar [59]. No
entanto, outros fatores modificáveis influenciam os níveis de colesterol [57]:
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
36
• Dieta: O consumo excessivo de gordura saturada eleva os níveis de colesterol. A gordura
saturada e colesterol estão maioritariamente presentes em alimentos de origem animal,
como as carnes gordas, queijo, manteiga, charcutarias, fastfood, etc.
• Peso corporal: O excesso de peso aumenta o colesterol. Manter um peso desejável, não só
reduz os níveis de colesterol das LDL como também tem a vantagem de elevar as HDL.
• Atividade física: O exercício regular baixa o colesterol das LDL e sobe as HDL.
VI. Valores de colesterol recomendáveis
Para a população em geral, o valor de colesterol total recomendado é inferior a 190 mg/dl. Por
outro lado, no caso de doentes de alto risco (são considerados doentes de alto risco aqueles com
patologia coronária ou outra doença aterosclerótica, diabetes ou insuficiência renal) os valores de
colesterol total recomendados são inferiores a 175 mg/dl. Relativamente ao colesterol das LDL, os
valores recomendados para população em geral são inferiores a 115 mg/dl e para os doentes de alto
risco, inferiores a 100 mg/dl [57].
VII. Tratamento não farmacológico e farmacológico
Um tratamento inicial implica mudanças no estilo de vida e na alimentação, com uma dieta
saudável rica em fibra vegetal e pobre em gorduras saturadas, colesterol e ácidos gordos trans. A
maioria dos produtos ditos “proibídos” são, na sua maioria, produtos manufaturados a partir de
óleos vegetais, como margarinas sólidas à temperatura ambiente e óleos para fritar [57].
Quando as medidas não farmacológicas são insuficientes na redução do colesterol das
LDL, procede-se ao tratamento farmacológico. Na FMP existe uma vasta gama de medicamentos,
com diferentes mecanismos de ação de forma a reduzir o c-LDL. A redução de c-LDL pode ser
alcançada por três mecanismos: inibição do colesterol endógeno; inibição da absorção intestinal e,
ainda, através do aumento da síntese e/ou eliminação de ácidos biliares através da bílis [60].
Os farmácos de primeira linha a serem recomendados quando há um aumento de c-LDL são
as estatinas [61]. Efetivamente, dos medicamentos que mais vendi enquando estive ao balcão da
FMP foram as estatinas, como a rosuvastatina, atorvastatina, sinvastatina, pravastatina, entre
outras. Estes fármacos atuam primariamente no fígado, provocam a diminuição da síntese de
colesterol hepático por inibição da enzima HMG-CoA redutase que consequentemente estimula o
aumento da atividade dos recetores de LDL potenciando a remoção do c-LDL da corrente
sanguínea [60]. Contudo, outros medicamentos também são utilizados no controlo desta
dislipidemia, como são exemplo a niacina (utilizada para aumentar as HDL); fibratos (utilizados
principalmente na redução dos triglicerídeos); esteróis vegetais (bloqueiam a absorção de colesterol
pelo intestino) e, mais recentemente, a ezetimiba (reduz seletivamente a quantidade de colesterol
pelo intestino delgado e tem elevada eficácia quando associada com uma estatina, conseguindo
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
37
rezudir cerca de 51% das LDL) [57].
VIII. Rastreio ao colesterol total na XI Feira da Saúde na Escola Secundária da Trofa
Durante a Feira da Saúde, realizei 50 rastreios ao colesterol a um leque muito diversificado
de pessoas: desde jovens alunos, a funcionários e professores de jovem e média idade. Verifiquei
que os jovens ainda não tinham noção do que era o colesterol e nunca tinham realizado um rastreio
ao colesterol contudo, o mesmo não se verificou com os adultos. Com base dos resultados que
obtive, tendo em conta o sexo e a idade de cada indivíduo, realizei um gráfico (Figura 2).
Este gráfico encontra-se distribuído por colunas de duas cores, azuis e rosas,
correspondentes ao sexo feminino e masculino, e separado pelas seguintes faixas etárias: dos 13
aos 23 anos, dos 24 aos 34 anos, dos 35 aos 45 anos e dos 46 aos 66 anos. Cada barra representa a
média dos valores de colesterol para cada faixa etária e sexo.
Após análise, verifiquei que os níveis de colesterol mais alto se verificam nos indivíduos
do sexo masculino entre os 35-45 anos, com uma média de 222,6 mg/dl. Também pude verificar
que são preocupantes os valores em jovens dos 24 aos 34 anos, a sua média ultrapassa o limite
máximo recomendável (190 mg/dl). Enquanto realizei o rastreio, fazia uma pequena abordagem ao
tema, tendo sempre em consideração os valores de cada indíviduo, fazendo um aconselhamento do
estilo de vida e alimentação de deveria adquirir.
Em suma, esta atividade tornou-se uma experiência bastante enriquecedora no meu
percurso académico e a adesão da comunidade educativa foi exemplar denotando interesse e
cuidado com a sua saúde. Considero que os panfletos foram uma mais valia tanto para a FMP como
para todos aqueles a quem os distribuí durante a feira da sáude, uma vez que não só ilucidaram os
utentes do que realmente é o colesterol, mas também de todos os perigos subjacentes. Esta
atividade prática (Anexo 4) demonstrou ser um guia útil para os utentes mais idosos da FMP, sendo
que muitos destes me revelaram que iam mostrá-lo a familiares e afixá-lo na porta do frigorífico
para terem sempre cuidado com os alimentos.
174,9 168,6 198,5 190,0 196,8
221,6 196,0 204,0
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
f m f m f m f m
[13 -‐ 23] [24 -‐ 34] [35 -‐ 45] [46 -‐ 66]
valores de colesterol total obtidos
Figura 2: média dos valores de colesterol total, distribuídos por sexo e faixa etária. (f): sexo feminino; (m): sexo masculino
Idade e sexo dos utentes
Concentração de colesterol total (mg/ml)
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
38
3. Hipertensão Arterial – fundamentos básicos
I. Epidemiologia
A hipertensão arterial (HTA) é um dos principais problemas de saúde no mundo. Em 2001,
aproximadamente 7,6 milhões de mortes e 92 milhões de anos de vida perdidos por incapaciadade
em todo mundo, foram devido à HTA. A prevalência da HTA na população geral é de 30-45%
[62], sendo que em Portugal existem cerca de dois milhões de hipertensos, mas apenas 25 milhões
estão medicados e só 11% tem a tensão arterial efetivamente controlada [63].
A probabilidade de que um indivíduo de meia idade ou mais velho desenvolva hipertensão
durante a sua vida é de 90%. A proporção de pessoas hipertensas varia de acordo com vários
aspetos, nomeadamente a raça, sendo a tensão mais elevada nos negros e mais baixa nos brancos. A
idade, bem como a região geográfica onde cada pessoa vive, também são fatores importantes. O
género influencia, na medida em que o sexo masculino tem maior prevalência de HTA.
Relativamente ao nível socioeconómico, foi demonstrado que está inversamente relacionado com a
prevalência, morbilidade e mortalidade relacionadas com a HTA [64].
A prevalência da HTA varia entre os diferentes países e populações. A pressão arterial
aumenta com a idade, sendo que a sistólica aumenta até, aproximadamente, à oitava década de
vida, e a diastólica atinge a fase de platô por volta dos 50 anos de idade, e pode mesmo diminuir.
A pressão arterial sistólica média é mais elevada nos homens do que nas mulheres durante o início
da vida adulta, embora o aumento relacionado com a idade seja mais pronunciado para o sexo
feminino [65].
II. Hipertensão arterial – aplicação em farmácia comunitária
HTA é definida como sendo o valor de pressão arterial a partir do qual a instituição de
terapêutica medicamentosa reduz a mortalidade e morbilidade relacionadas com a mesma. Devem
ser realizadas duas ou mais medições da tensão, na posição sentada e num ambiente calmo, após 5
a 10 minutos de repouso. A braçadeira deve ser posicionada ao nível do coração e a largura da
mesma deve corresponder a pelo menos 40% da circunferência do braço, com um comprimento
suficiente para rodear bem todo o braço, envolvendo 80% do mesmo [66].
A classificação atual é dividida em vários níveis (Tabela 1), sendo que o valor normal de
tensão arterial num indivíduo adulto é definido como aquele em que a sistólica é inferior a 120 e a
diastólica inferior a 80 [67, 68].
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
39
Tabela 1 – Classificação da tensão arterial. Adaptada de : “Guidelines for the Management of
Arterial Hypertension” [62]
Sociedade Europeia de Cardiologia Pressão Sistólica Pressão Diastólica
Ótima <120 <80
Normal 120 - 129 80 - 84
Normal Alta 130 - 139 85 - 89
Hipertensão de grau I 140 - 159 90 - 99
Hipertensão de grau II 160 - 179 100 - 109
Hipertensão de grau III ≥ 180 ≥ 110
Hipertensão sistólica isolada ≥ 140 < 90
III. Fisiopatologia
Relativamente à fisiopatologia, a HTA é dividida em primária (essencial ou idiopática)
cuja causa médica não é identificada, correspondendo este tipo de HTA a 95% de todos os casos,
ou secundária. Os 5% restantes correspondem à HTA secundária, que é provocada por outras
patologias identificáveis, como por exemplo, doenças renovasculares, feocromocitoma,
aldosteronismo, entre outras. A maioria dos pacientes não apresenta sintomas específicos
relacionados com a elevação da tensão arterial. A cefaleia é considerada, popularmente, um
sintoma de HTA, no entanto esta apenas ocorre em pacientes com hipertensão grave, ocorrendo
mais de manhã e na região ocipital. Existem alguns sintomas não específicos relacionados com a
elevação da pressão arterial, como as tonturas, as palpitações, o cansaço fácil e a impotência [65].
IV. Fatores de risco e prevenção da doença cardiovascular
A HTA está frequentemente associada a fatores de risco adicionais para a doença
cardiovascular. Desta forma, é essencial avaliar outros aspetos importantes no doente,
nomeadamente o seu perfil lipídico (colesterol total superior a 200mg/dL), os hábitos tabágicos, a
idade e género (maior risco em homem com idade superior a 55 anos ou mulher com idade superior
a 65 anos). O peso e a gordura abdominal são aspetos muito importantes a ter em consideração,
sendo o risco mais elevado em pessoas obesas cujo perímetro abdominal é superior a 88cm (nas
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
40
mulheres) ou 102cm (nos homens). A história familiar de doença cardiovascular prematura (no
género masculino considera-se quando inferior a 55 anos e no género feminino quando inferior a
65 anos) é outro ponto relevante a considerar quando se realiza a abordagem e avaliação da tensão
arterial de um doente [69]. As intervenções no estilo de vida são um ponto fundamental para o
tratamento da HTA. Desta forma, um farmacêutico deve aconselhar todos os pacientes a quem
tenha sido diagnosticada HTA ou que apresentem valores bordline ou fatores de risco importantes,
a adotarem uma dieta variada, nutricionalmente equilibrada, rica em legumes e frutas e pobre em
gorduras (totais e saturadas). A prática regular de exercício físico (30-60 min, 4-7 dias por
semana), a restrição do consumo excessivo de álcool, a cessação do consumo de tabaco e
diminuição do consumo de sal, são outros pontos a ter em consideração para a prevenção da HTA
[69].
V. Tratamento da hipertenção arterial
O tratamento farmacológico deve ser instituído após tentativa de alterações do valores com a
implementação das alterações do estilo de vida. Existem várias classes de anti-hipertensores,
devendo-se, inicialmente, começar com monoterapia quando existe risco baixo ou moderado, ou
terapêutica associada quando o risco é alto ou muito alto. Dentro das várias classes, os diuréticos
tiazídicos ou análogos (clorotalidona ou indapamida) são uns dos aconselhados como terapêutica
de primeira linha. Os modificadores do eixo renina-angiotensina-aldosterona, de preferência os
inibidores da enzima de conversão da angiotensina (como por exemplo, captopril, enalapril,
lisinopril...) ou, em alternativa, os antagonistas do receptor da angiotensina (losartan, candesartan,
entre outros), são outra opção não menos eficaz. Existem muitas outras classes de
antihipertensores, como os diuréticos de ansa, os beta bloqueadores, os bloqueadores dos canais de
sódio, que podem ser utilizados em associação entre si ou em esquema de monoterapia [62,65].
Um fator importante a ter em consideração são os principais efeitos adversos de cada
classe de antihipertensores, de forma a ser possível aconselhar o utente a dirigir-se ao seu médico,
de forma a proceder a revisão da terapêutica instituída. A exemplo disso, enquanto estive a fazer
atendimento ao balcão, um senhor de meia idade queixava-se de muita tosse e comichão na
garganta, pedia-me um antitússico. Fiz-lhe um pequeno questionário e pude concluir que essa tosse
se devia ao enalapril que tinha começado a tomar. O enalapril pertence ao grupo dos inibidores da
enzima de conversão da angiotensina, e este grupo de fármacos tem como principal efeito adverso
a tosse que o senhor me descrevera. Desta forma, não lhe dei o antiússico como me pedia, mas
aconselhei-o a ir ao médico na tentativa que lhe fosse alterado a classe de fármaco.
Existem vários aspetos que se deve ter em conta para se proceder a instituição de determinado
grupo farmacológico, como por exemplo, a idade do doente, se existe ou não lesão em órgãos alvo,
outras doenças associadas, situações que condicionem a adesão à terapêutica, factores económicos,
entre outros [65, 70]. Dentro dos vários tipos de contra-indicações existem algumas fundamentais
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
41
para reconhecimento de um farmacêutico face a um utente medicado para a HTA. Relativamente às
mulheres grávidas, é contra-indicação absoluta a toma de IECAs ou de ARAs [62, 70]. No entanto,
no caso de um doente asmático um bloqueador-beta não deve ser indicado como opção terapêutica.
Com a realização do meu estágio, apercebi-me da importância de alertar os utentes sobre
os factores de risco e as várias medidas a serem tomadas como forma preventiva, acabando por
concluir que uma grande percentagem não tinha noção dos valores de referência, dos várias
atitudes e estilos de vida a tomar, bem como do controlo da sua própria tensão arterial.
4. Diabetes – panfleto para os utentes da FMP
Ao longo do meu estágio, como realizei imensas medições de glicemia, maioritariamente a
uma população idosa e diabética, achei oportuno realizar um panfleto (Anexo 5) apelativo à
diabetes, aos seus riscos, complicações e como prevenir. Distribuí-o variadíssimas vezes aos
utentes da FMP e considerei uma ferramenta bastante ilustrativa e útil.
5. Piolhos – da Prevenção ao Tratamento – guia rápido para os farmacêuticos da FMP
Quando cheguei à FMP desde cedo percebi que não estava apta a fazer aconselhamentos
sobre esta dinâmica. Além de não conhecer os produtos disponíveis, não sabia a diferença entre
eles e o modo de ação de cada um. Desta forma, achei oportuno criar um “guia rápido de prevenção
e tratamento”, ou seja, uma tabela (Anexo 6) que de forma sucinta diferencia-se os vários produtos
que a FMP dispunha, para que tanto eu como os farmacêuticos da equipa da FMP conseguíssemos
de forma rápida saber as diferenças e modo de aplicação de cada um.
6. Suplementos vitamínicos – comparação da composição
Após a minha ida para o atendimento ao balcão, verifiquei que havia uma percentagem
grande de indivíduos a recorrer à farmácia a solicitar suplementos vitamínicos com diversas
finalidades: ou porque se sentiam demasiado cansados após o exercício físico, ou porque estavam
numa fase de exames e pretendiam mais memória, ou porque se sentiam esquecidos e cansaços,
entre outros. Daqui surgiu a minha grande dificuldade: como saber o que aconselhar com tantos
suplementos que a FMP dispunha. Assim, fiz uma tabela comparativa (Anexo 7) com os principais
suplementos alimentares à venda na FMP para perceber a diferença entre eles e qual o mais
adequado a cada tipo de carência. Considerei esta ferramenta como uma mais valia para poder
fazer um aconselhamento mais personalizado.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
42
Conclusão
O papel do farmacêutico em ambiente de farmácia comunitária é de extrema relevância
para a qualidade dos cuidados de saúde prestados. Como especialista do medicamento, assegura
que a farmacoterapêutica instituída respeita o uso racional do medicamento e é segura para o
doente.
O estágio na Farmácia Moreira Padrão proporcionou-me uma constante aprendizagem
através das inúmeras tarefas que diariamente relizei (Anexo 8). Neste estágio consegui pôr em
prática todas as valências que cimentei ao longo de cinco anos de Mestrado Integrado em Ciências
Farmacêuticas: desde a parte teórica à sua aplicação prática.
A relação com os utentes tornou-se a parte mais desafiante, pois estar a apta a explicações
sobre qualquer assunto e medicamento, nem sempre é fácil. Assim, este estágio também me
permitiu excelente adaptação ao ambiente profissional.
Conhecer o funcionamento de uma farmácia era o que mais ansiava desde cedo e, enquanto
estagiária, esta oportunidade superou as minhas expectativas e tornou-se uma motivação para que
um dia a minha carreira profissional passe por este setor.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
43
Referências bibliográficas
[1] Boas Práticas de Farmácia: Manual de Objectivos de Qualidade
[2] Ministério da Saúde (2012). Decreto-lei nº 172/2012 de 1 de agosto. Diário da República,
1ª série. nº 148;
[3] INFARMED, I.P. (2007). Deliberação nº 414/CD/2007, de 29 de outubro;
[4] Ministério da Súde (2006). Decreto-lei nº 176/2006 de 30 de agosto. Diário da República, 1ª série, nº 167;
[5] Ministério da Saúde (2003). Decreto-lei nº 136/2003 de 28 de junho. Diário da República.
1ª série – A. nº 147;
[6] Ministério da Saúde (2010). Decreto-lei nº 74/2010 de 21 de junho. Diário da República.
1ª série. nº 118;
[7] Ministério da Saúde (1997). Decreto-lei nº 184/97 de 26 de julho. Diário da República. 1ª
série – A. nº 171;
[8] Ministério da Saúde (2009). Decreto-lei nº 145/2009 de 17 de junho. Diário da República.
1ª série – A. nº 115;
[9] Ministério da Saúde (2007). Decreto-lei nº 307/2007 de 31 de agosto. Diário da República.
1ª série. nº 168;
[10] Conselho Nacional da Qualidade (2009). Boas Práticas Farmacêuticas para Farmácia
Comunitária. Ordem dos Farmacêuticos. 3ª revisão
[11] Ministério da Saúde (1993). Decreto-lei nº 15/93 de 22 de janeiro. Diário da República. 1ª
série – A. nº 18;
[12] Ministério da Saúde (2011). Decreto-lei nº 112/2011 de 29 de novembro. Diário da
República. 1ª série. nº 229;
[13] Ministério da Saúde (2007) Decreto-Lei nº 65/2007, de 14 de março. Diário da República
[14] INFARMED, I.P.: Informações sobre a conservação dos medicamentos em caso de onda
de calor. Acessível em http://www.infarmed.pt [acedido em 30/05/2016]
[15] Conselho Nacional da Qualidade (2009). Boas Práticas Farmacêuticas para Farmácia
Comunitária. Ordem dos Farmacêuticos. 3ª revisão;
[16] Ministério da Saúde (2013). Despacho nº 11254/2013 de 30 de agosto. Diário da
República. 2ª série. nº 167;
[17] Ministério da Saúde (1998). Despacho nº 348/98, de 15 de junho. Diário da República. 1ª
série;
[18] Ministério da Saúde (2013). Despacho nº 11254/2013 de 30 de agosto. Diário da
República. 2ª série. nº 167;
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
44
[19] Ministério da Saúde (2012). Portaria nº 137-A/2012 de 11 de maio. Diário da República.
1ª série. nº 92;
[20] INFARMED, I.P. (2012). Normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de
saúde. Versão 1.0;
[21] Ministério da Saúde (2011). Decreto-lei nº 112/2011 de 29 de novembro. Diário da
República. 1ª série. nº 229;
[22] Ministério da Saúde (2010). Decreto-lei nº 48-A/2010 de 13 de maio. Diário da
República. 1ª série. nº 93;
[23] Ministério da Saúde (2010). Decreto-lei nº 106-A/2010 de 1 de outubro. Diário da
República. 1ª série. nº 192;
[24] Ministério da Saúde (2004). Portaria nº 1474/2004 de 21 de dezembro. Diário da
República. 1ª série. nº 297;
[25] Ministério da Saúde (2010). Portaria nº 364/2010 de 23 de junho. Diário da República. 1ª
série. nº 120;
[26] Nova Receita Eletrónica: Preguntas Frequentes. Acessível em
http://www.receitaeletronica.pt [acedido em 14/06/2016];
[27] Associação Nacional das Farmácias: Notícias – Conheça a receita eletrónica. Acessível
em http://www.anf.pt [acedido em 14/06/2016];
[28] Administração Central do Sistema de Saúde (2015). Manual de Relacionamento das
Farmácias com o Centro de Conferência de Faturas do SNS. Versão 1.15;
[29] Ministério da Saúde (2004). Portaria nº 594/2004 de 2 de junho. Diário da República. 1ª
série – B. nº 129;
[30] Vivier, A. Atlas de Dermatologia Clínica. Elsevier, 3ª edição;
[31] Carton, J.; Daly, R. e Ramani, P. Chapter 16: skin disease. Em Clinical Pathology. Oxford
University press. 2007: 389;
[32] Makrantonaki, E.; Ganceviciene, R. e Zouboulis, C. An update on the role of the
sebaceous gland in the pathogenesis of acne. Dermatoendocrinol. 2011; 3(1): 41-49;
[33] Chapter 1. Anatomy and Physiology of the Hair and Skin. Section I Scientific
Considerations. 1-17;
[34] Disponível em: ���<http://escola.britannica.com.br/assembly/135568/A-pele-humana-tem-
tres-camadas-a-epiderme-a-derme>. Acedido em: 21 de agosto de ���2016.
[35] RJ Hay et al. The Global Burden of Skin Disease in 2010. Journal of Investigative
Dermatology (2014), Volume 134;
[36] Grob JJ, Stern RS, Mackie RM, Weinstock WA, editors. Epidemiology, causes and
prevention of skin diseases. Cambridge, MA: Blackwell Science, Cambridge; 1997;
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
45
[37] Massa A, Alves R, Amado J, Matos E, Sanches M, Selores M, et al. Prevalência das lesões
cutâneas em Freixo de Espada à Cinta. Acta Med Port 2000 Set- Dez; 13 (5-6): 247-54;
[38] Pawin, H.; Beylot, C.; Chivot, M.; Faure, M.; Poli, F.; Revuz, J. e Dréno, B.
Physiopathology of acne vulgaris: recent data, new understanding of the treatments. Eur J
Dermatol. 2004; 14(1):4-12;
[39] Comin A., Santos. Z.. Relação entre carga glicêmica da dieta e acne. Scientia Medica.
2011; 37-43;
[40] Smith RN, Mann NJ, Braue A, Mäkeläinen H, Varigos GA. The effect of a high-protein,
low glycemic-load diet versus a conventional, high glycemic-load diet on biochemical
parameters associated with acne vulgaris: a randomized, investigator-masked, controlled
trial. J Am Acad Dermatol 2007 Aug; 57 (2): 247-56;
[41] Bednár ̌ M, Fran ̌ková V, Schindler J, Vávra J (1996) Lékar ̌ská mikrobiologie. Marvil,
292–29;
[42] Baumann L. Cosmetic Dermatology: Principles and Practice. Hong Kong: The McGraw-
Hill Companies; 2002;
[43] Rustin MHA. Dermatology. Postgrad Med J. 1990;66:894- 905;
[44] Hassun KM. Acne: etiopatogenia. An Bras Dermatol.2000;75:7-15;
[45] Baumann, L. e Keri, J. Chapter 15: Acne (type 1 sensitive skin). Em Cosmetic
Dermatology: Principles and Practices. Baumann, L. (ed). The mcgraw-hill companies,
inc. 2009;2: 121-127;
[46] Costa A, Alchorne MMA, Goldschmidt MCB. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar.
An Bras Dermatol. 2008;83(5):451-9;
[47] Figueiredo, A.; et al. Avaliação e tratamento do doente com acne – Parte I:
Epidemiologia, etiopatogenia, clínica, classificação, impacto psicossocial, mitos e
realidades, diagnóstico diferencial e estudos complementares. Rev Port Clin Geral.
2011;27:59-65;
[48] Taylor, M.; Gonzalez, M. e Porter, R. Pathways to inflammation: acne pathophysiology.
Eur J Dermatol. 2011;21(3):323-33;
[49] Brenner, F. M.; Rosas, F. M.; Gadens, G.; Sulzbach, M. L.; Carvalho, V. G. e Tamashiro,
V. Acne: um tratamento para cada paciente. Rev. Ciênc. Méd. 2006 15(3):257-266;
[50] Figueiredo, A.; et al. Avaliação e tratamento do doente com acne – Parte II:Tratamento
tópico, sistémico e cirúrgico,tratamento da acne na grávida. Rev Port Clin Geral.
2011;27:66-76;
[51] Thielitz, A.; Abdel-Naser, M. B.; Fluhr, J. W.; Zouboulis, C. C. e Gollnick, H. Topical
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
46
retinoids in acne-an evidence-based overview. J Dtsch Dermatol Ges. 2008;6(12):1023-
1031;
[52] Brunton, L. L.; Lazo, J. S. e Parker, K. L. Chapter 62. Dermatological pharmacology
section XIII. Em Dermatology. Goodman E Gilman’s. The Pharmacological Basis of
therapeutics. The Mc Graw-Hill companies. Inc. 2006;11: 1701;
[53] Goldberg, D. J. e Berlin, A. Acne and Rosacea. Epidemiology, diagnosis and treatment.
Manson Publishing Ltd. 2012;
[54] Part III a common inflammatory skin diseases. Chapter 15. Acne vulgaris. Em Evidence-
based dermatololgy. Blackwell publishing. Luigi Naldi (ed). 2008;2:91;
[55] Helms, R. A.; Quan, D. J.; Herfindal, E. T. e Gourley, D. R. Chapter 10. Common skin
disorders. Em Textbook of therapeutics. Drug and disease management. Lippincott
Williams&Wilkins. 2006;8:211;
[56] Dreno B. Topical antibacterial therapy for acne vulgaris. Drugs 2004; 64 (21): 2389-97;
[57] Carrageta M. Tudo o que deve saber sobre o colesterol . Lisboa: Fundação Portuguesa de
Cardiologia, 2008;
[58] Rifai N, Bachorik, PS, Albers, JJ: Lipoproteins and Apolipoproteins. In: Text Book of
Clinical Chemistry. Edited by Burtis C, Ashwood, E, 3rd edn. Philadelphia: WB
Saunders & Co; 1999;
[59] High cholesterol: get the lowdown. NPS Medicinewise, 2015. [Acedido a 6.06.2016]
Disponível em: http://www.nps.org.au/publications/consumer/medicinewise-
living/2015/high-cholesterol;
[60] Semenkovich, CF. Disorders of lipid metabolism. In: Goldman L, Schafer AI, eds.
Goldman's Cecil Medicine. 24th ed. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders; 2011:chap 213.
[61] Hobbs FDR, McGregor E, Shepherd J: Pharmacotherapy: Improving the Lipid Profile:
Wiley-Blackwell; 2009;
[62] Mancia G, De Backer G, Dominiczak A, et al. 2007 Guidelines for the Management of
Arterial Hypertension: The Task Force for the Management of Arterial Hypertension of the
European Society of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology
(ESC). J Hypertens 2007; 25:1105–87;
[63] Epidemiologia da Hipertensão arterial, Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Acessível
em: htto://spc.pt/spc (acedido a 20 de julho de 2016)
[64] CARRETERO, OA; Oparil S. (Janeiro 2000). "Essential hypertension. Part I: definition
and etiology.”. Circulation 101 (3): 329–35. (em inglês). Am Fam Physician 72 (7): 1391-
8;
[65] Kasper D., et al. Harrison. Principios de Medicina Interna, 19e
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
47
[66] SMITH, Liz. (Outubro 2005). "New AHA Recommendations for Blood Pressure
Measurement";
[67] Arguedas JA, Perez MI, Wright JM, Treatment blood pressure targets for hypertension
[archive]. Cochrane Database Syst Rev 2009; 3. CD004349.pub2;
[68] Arterial hypertension. Report of a WHO expert committee. World Health Organ Tech Rep
Ser 1978; 628:7–56;
[69] Staessen JA, Wang JG, Thijs L Cardiovascular prevention and blood pressure reduction: a
quantitative overview updated until 1 March 2003. J Hypertens 2003;21:1055-76.;
[70] Law MR, Morris JK, Wald NJ. Use of blood pressure lowering drugs in the prevention of
cardiovascular disease: meta- analysis of 147 randomised trials in the context of
expectations from prospective epidemiological studies. BMJ. 2009.
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
48
Anexos
Anexo 1- Fachada da Farmácia Moreira Padrão
Anexo 2 –Área de atendimento ao público da Farmácia Moreira Padrão
Anexo 3 – Montra realizada na Farmácia Moreira Padrão
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
49
Anexo 4 - Panfleto Colesterol
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
50
Anexo 5- Panfleto Diabetes
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
51
Anexo 6- Piolhos – da prevenção ao tratamento
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
52
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
53
Anexo 7- Suplementos alimentares – tabela comparativa
Relatório de Estágio Profissionalizante Farmácia Moreira Padrão, Trofa
54
ANEXO 8
Cronograma das atividades desenvolvidas ao longo do estágio na FMP, que me foram adquirindo mais autonomia e capacidade de exercer o papel farmacêutico.
Atividades 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês 6º mês
Encomendas e aprovisionamento
✔ ✔ ✔ ✔ ✔ ✔
Controlo de PV ✔ ✔ ✔
Conferência de receituário ✔ ✔ ✔ ✔ ✔
Testes bioquímicos ✔ ✔ ✔ ✔ ✔ ✔ Realização de MM ✔ ✔ ✔
Acompanhamento de atendimentos ao público junto da orientadora de estágio
✔ ✔
Atendimento ao público autónomo
✔ ✔ ✔