relatÓrio de estÁgio em farmÁcia comunitÁria · 2018-03-09 · relatório de estágio em...

47
MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA FARMÁCIA CENTRAL DE OVAR RAFAEL JOSÉ MAIA AMARAL Período de Estágio: 11 Fevereiro - 11 Maio e 2 Setembro - 30 Novembro

Upload: vannguyet

Post on 20-Nov-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM

FARMÁCIA COMUNITÁRIA

FARMÁCIA CENTRAL DE OVAR

RAFAEL JOSÉ MAIA AMARAL

Período de Estágio: 11 Fevereiro - 11 Maio e 2 Setembro - 30 Novembro

Page 2: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral ii

Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José

Maia Amaral, no âmbito da Unidade Curricular “Estágio” do Mestrado Integrado em

Ciências Farmacêuticas, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

A Farmacêutica Orientadora,

_____________________________________________________________

(Dr.ª Maria José M. C. Torres Coelho)

O Estudante,

_____________________________________________________________

(Rafael José Maia Amaral)

Local: Farmácia Central de Ovar

Período de Estágio: 11 de Fevereiro a 11 de Maio e 2 de Setembro a 30 de

Novembro

Ano letivo: 2012/2013

Page 3: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral iii

Relatório de estágio

Declaração de Integridade

Eu, _______________________________________________, abaixo assinado, nº

__________, estudante do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta

integridade na elaboração desta monografia / relatório de estágio.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,

mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou

partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores

pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras,

tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de __________________ de

______

Assinatura: ______________________________________

Page 4: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Dr.ª Maria José Coelho a oportunidade de concretizar a última

etapa do meu curso na Farmácia Central de Ovar. Agradeço profundamente o apoio e

ensinamentos prestados, a compreensão e disponibilidade inexcedíveis demonstradas

ao longo de todo o período de estágio. Esta experiência foi um marco no meu

crescimento pessoal e profissional, pelo que me considero um privilegiado por ter feito

parte da equipa de excelência desta Farmácia.

O funcionamento de uma equipa de sucesso depende do esforço e dedicação

de cada um. Por me terem ensinado tudo o que sei sobre farmácia comunitária, pelo

carinho com que me acolheram, pela confiança que depositaram em mim e,

sobretudo, por toda a disponibilidade e apoio permanentemente demonstrados,

agradeço de forma especial a cada um dos membros da equipa da Farmácia Central

de Ovar: Dr.ª Maria José Coelho, Dr.ª Catarina Andrade, Dr.ª Kathy Teixeira, Dr.ª Rita

Freitas, Dr.ª Paula Pinho e Dr. Daniel Silva, Dª Fátima Murteira e Dª Isabel Oliveira.

Obrigado por me terem feito uma parte ativa da equipa fantástica que é a vossa!

Page 5: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral v

ÍNDICE

Lista de acrónimos……………………………………………………………………………vii

1. Introdução………………………………………………………………………………1

2. Organização do espaço físico e funcional da Farmácia…………………………..2

a) Localização e horário de funcionamento…………………………………..2

b) Organização do espaço físico……………………………………………….2

c) Recursos humanos…………………………………………………………...3

3. Fontes de informação na Farmácia……..…………………………………………..3

4. Gestão da Farmácia…………………………………………………………………..4

a) Sistema informático…………………………………………………………..4

b) Gestão de stocks………………………………………………………..……4

5. Gestão na Farmácia…………………………………………………………………..6

a) Envio e receção de encomendas…………………………………………...6

b) Marcação de preços………………………………………………………….7

c) Armazenamento……...……………………………………………………….8

d) Controlo de prazos de validade………...……………………………..........8

e) Gestão de devoluções………………………………………………………..9

6. Classificação dos produtos na Farmácia……………………………………………9

a) Medicamentos sujeitos a receita médica e não sujeitos a receita

médica………………………………………………………………………….9

b) Medicamentos e produtos veterinários……………………………………10

c) Medicamentos e produtos homeopáticos………………………………...10

d) Dispositivos médicos………………………………………………………..11

e) Produtos para alimentação especial e produtos dietéticos……………..14

f) Produtos fitoterapêuticos…………………………………………………...15

g) Produtos cosméticos e dermofarmacêuticos…………………………….16

7. Dispensa de medicamentos.………………………………………………………..17

a) Medicamentos sujeitos a receita médica.………………………………...17

b) Prescrição médica…..……………………………………………...............18

c) Validação da prescrição médica e direito de opção do

utente…………………………………………………………………………19

d) Avaliação da dispensa do medicamento…….……………………………20

e) Regimes de comparticipação de medicamentos…..…………………….20

f) Dispensa de psicotrópicos e estupefaciente……………………………..21

Page 6: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral vi

g) Dispensa de medicamentos genéricos…………………………………...22

8. Medicamentos e produtos manipulados…………………………………………..22

a) O laboratório e as regras de manipulação………………………………..23

b) Preço dos medicamentos manipulados…………………………………..24

c) Preparação de medicamentos manipulados no estágio………………..24

9. Automedicação e indicação farmacêutica…………………………………………24

10. Outros cuidados de saúde…………………………………………………………..26

a) Determinação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos……………….27

b) Insulinoterapia: administração de insulina e o papel do

Farmacêutico………………………………………………………………...28

c) VALORMED………………………………………………………………….29

11. Farmacovigilância……………………………………………………………………29

12. Conclusão…………………………………………………………………………….30

Referências bibliográficas……………………………………………………………………31

Anexos…………………………………………………………………………………………35

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Classificação dos valores de pressão arterial…………………………………39

Tabela 2. Critérios de diagnóstico definidos pela DGS…………………………………..40

Page 7: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral vii

LISTA DE ACRÓNIMOS

ADSE - Direção-Geral de Proteção Social aos Funcionários e Agentes da

Administração Pública

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

ANF – Associação Nacional das Farmácias

CEDIME – Centro de Documentação e Informação de Medicamentos

CGD – Caixa Geral de Depósitos

CIM – Centro de Informação do Medicamento

CIMI – Centro de Informação do Medicamento e dos Produtos de Saúde

DCI – Denominação Comum Internacional

FEFO – First Expired First Out

FIFO – First In First Out

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

LEF – Laboratório de Estudos Farmacêuticos

MG – Medicamento Genérico

MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica

MSRM – Medicamento Sujeito a Receita Médica

OF – Ordem dos Farmacêuticos

PRM - Problema Relacionado com os Medicamentos

PTGO – Prova de Tolerância à Glucose Oral

PVA – Preço de Venda ao Armazenista

PVF – Preço de Venda à Farmácia

PVP – Preço de Venda ao Público

RAM - Reações Adversas a Medicamentos

RNM - Resultado Negativo associado à Medicação

SAD-GNR - Serviços de Assistência na Doença da Guarda Nacional Republicana

SAD-PSP - Serviços de Assistência na Doença da Polícia de Segurança Pública

Page 8: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 1

1. INTRODUÇÃO

No término do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, o profissional

recém-formado tem à sua frente um leque abrangente de áreas de atividade

associadas à profissão farmacêutica, tais como Farmácia de Oficina, Farmácia

Hospitalar, Análises Clínicas, Indústria Farmacêutica, Investigação, entre outras.

Na Farmácia de Oficina, o farmacêutico desempenha um papel indispensável na

promoção da Saúde Pública, pelo contacto próximo e privilegiado com os utentes.

Este contacto permite-lhe intervir em aspetos como o uso racional e seguro dos

medicamentos, adesão à terapêutica e prevenção da ocorrência de reações adversas

a medicamentos. O farmacêutico é, muitas vezes, visto pelos utentes como a primeira

(e, por vezes, única) opção em termos de aconselhamento na área da saúde, mas

também é o último profissional de saúde com quem os utentes contactam antes de

tomarem a medicação que lhes foi prescrita. Tudo isto contribui para o elevado grau

de responsabilidade atribuído ao ato farmacêutico numa Farmácia de Oficina.

Neste contexto, considero muito importante o estágio curricular em Farmácia de

Oficina, pois permite adquirir conhecimentos e competências fundamentais para o

correto exercício da profissão farmacêutica. O contacto direto com a realidade

profissional permite rever e aprofundar matéria teórico-prática adquirida durante o

curso, bem como aplicá-la na resolução das diversas situações que surgem

diariamente.

O presente relatório tem, assim, em vista descrever os conhecimentos

adquiridos e as atividades por mim desenvolvidas ao longo do meu estágio na

Farmácia Central de Ovar.

Page 9: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 2

2. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E FUNCIONAL DA FARMÁCIA

a) Localização e horário de funcionamento

A Farmácia Central de Ovar está situada na Praça da República, nº 47, em pleno

centro da cidade. A sua localização privilegiada permite-lhe englobar um leque

diversificado de utentes, desde jovens a idosos residentes nas proximidades. Para

além disso, a Farmácia serve um grande conjunto de utentes fixos, que se fidelizaram,

alguns desde há várias décadas, com o trabalho de excelência desta instituição.

Relativamente ao horário de funcionamento, a Farmácia encontra-se aberta ao público

de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 19h00, sem interrupção, e ao sábado das 8h30

às 13h00, obedecendo, assim, o estipulado na legislação referente ao número mínimo

de horas semanais de funcionamento.[1,2] Em dias de serviço, a Farmácia encontra-se

em funcionamento desde a hora de abertura até à hora de fecho do dia seguinte.

b) Organização do espaço físico

A Farmácia Central de Ovar cumpre os requisitos descritos no artigo 29º do

Decreto-Lei 307/2007 de 31 de Agosto e nas Boas Práticas de Farmácia que abordam

as normas gerais sobre as instalações e equipamentos de uma farmácia.[3,4]

O espaço interno da Farmácia distribui-se por três andares. No rés-do-chão

estão incluídos o espaço de atendimento ao público, dividido em cinco balcões, um

gabinete privado de atendimento personalizado, onde são realizados os testes de

glicémia, colesterol e triglicerídeos, a monitorização da tensão arterial e pulsação e a

administração de vacinas, uma arrecadação e uma casa de banho. Ainda no rés-do-

chão, mas numa zona de acesso restrito aos utentes, encontra-se o robot da

Farmácia, onde estão armazenados a maioria dos MSRM e alguns MNSRM, uma

zona ampla onde se procede à receção de encomendas, conferência de receituário,

entre outros. No primeiro andar estão situados o escritório da Diretora Técnica da

Farmácia, o laboratório, uma casa de banho e cacifos para os funcionários. No

segundo e último andar, encontra-se um armazém, uma cozinha e uma casa de

banho. O Anexo A compila algumas fotografias da Farmácia Central de Ovar.

O espaço externo é composto por uma entrada, onde se encontra uma porta

automática de vidro, e duas montras envidraçadas onde, periodicamente, são

expostos produtos à venda na Farmácia. Esta periodicidade está relacionada com a

altura do ano e com possíveis promoções que a Farmácia tenha para oferecer aos

seus utentes. Por cima das montras encontra-se uma cruz verde e um letreiro com a

identificação da Farmácia. Para além disso, junto à porta, encontra-se um painel com

a identificação da Diretora Técnica, bem como o nome e a localização da Farmácia em

Page 10: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 3

serviço permanente no respetivo dia. Por fim, na entrada, está presente um postigo de

atendimento, utilizado nas noites em que a Farmácia se encontra em regime de

serviço permanente.

c) Recursos humanos

A Farmácia Central de Ovar possui no seu quadro seis farmacêuticos, Dr.ª Maria

José Coelho (Diretora Técnica), Dr.ª Catarina Andrade (Farmacêutica Adjunta), Dr.ª

Kathy Teixeira (Farmacêutica Adjunta Substituta), Dr.ª Rita Freitas, Dr.ª Paula Pinho e

Dr. Daniel Silva, uma técnica de farmácia, Dª Fátima Murteira, uma funcionária

administrativa, Dª Isabel Oliveira e um funcionário auxiliar, António, indo de encontro

ao estipulado no artigo 23º do Decreto-Lei 307/2007 de 31 de Agosto. Todos os

funcionários estão devidamente identificados através de um cartão, no qual está

inserido o nome, título profissional e respetiva fotografia.[3]

3. FONTES DE INFORMAÇÃO NA FARMÁCIA

A Farmácia dispõe de bibliografia variada, atualizada e fidedigna, no sentido de

auxiliar os Farmacêuticos a solucionar as questões colocadas pelos utentes com

qualidade e rigor. Alguma da bibliografia de apoio à prática farmacêutica presente na

Farmácia Central de Ovar inclui as Farmacopeias Portuguesas VII e VIII (publicação

de carácter obrigatório de acordo com o artigo 37º do Decreto-Lei 307/2007 de 31 de

Agosto), os Formulários Galénicos Portugueses 2001 e 2007, o Índice Nacional

Terapêutico 2013, o Prontuário Terapêutico 2013, o Simposium Farmacêutico, o

Medical Express, entre outros. Para além disso, a Farmácia contém ainda um vasto

leque de catálogos, folhetos e protocolos, criados pelos próprios farmacêuticos, que

abrangem uma grande quantidade de temas, como são exemplo as doenças de pele,

a fitoterapia no emagrecimento, a hipertensão e risco cardiovascular, ou ainda os

cuidados farmacêuticos em automedicação.

Relativamente a outras fontes complementares de informação ao alcance dos

farmacêuticos, destaca-se o próprio sistema informático utilizado na Farmácia

(SIFARMA2000®), que contém informação de rápido e fácil acesso, como as

principais indicações terapêuticas, a posologia e doses recomendadas, possíveis

reações adversas, precauções com a toma, contraindicações, interações com outros

medicamentos, entre outros. Adicionalmente, centros de informação e documentação,

como o CEDIME da ANF, o CIM da Ordem dos Farmacêuticos, o CIMI do INFARMED

Page 11: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 4

ou o Centro de Informação sobre Medicamentos Manipulados (LEF), bem como

endereços online nacionais e internacionais credíveis, permitem complementar a

informação a divulgar ao utente.

Durante o meu estágio entrei, por diversas vezes, em contacto com várias das

fontes de informação acima referidas, de forma a poder responder melhor aos desafios

que me eram diariamente colocados. A variedade de situações, dúvidas e problemas

relativos aos utentes é, pelo que pude observar, muito grande, o que torna a

atualização um aspeto fulcral no dia-a-dia de um farmacêutico.

4. GESTÃO NA FARMÁCIA

a) Sistema informático

A Farmácia Central de Ovar está equipada com o software SIFARMA2000® em

todos os terminais, incluindo os cinco presentes na zona de atendimento ao público. A

utilização deste software permite aos Farmacêuticos realizar, de forma simples e

rápida, diversas tarefas relacionadas com todo o funcionamento da Farmácia: envio e

receção de encomendas, gestão de stocks, dispensa de medicamentos e outros

produtos de saúde (o software encontra-se associado ao robot da Farmácia, o que

permite um acesso rápido aos medicamentos lá armazenados), controlo de prazos de

validade, gestão de devoluções, faturação mensal, consulta de dados estatísticos,

entre outras. Outro aspeto importante do SIFARMA2000® e que o torna muito útil

numa farmácia é o facto de permitir o cruzamento de informação associada a um dado

medicamento ou produto de saúde com o de outro medicamento ou produto de saúde

e, ainda, com o perfil de cada utente. Os perfis de utentes fornecem informações como

dados biográficos, histórico de compras de medicamentos e produtos de saúde, perfil

farmacoterapêutico, determinações de parâmetros bioquímicos (na Farmácia Central

determina-se e regista-se a glicémia, o colesterol, os triglicerídeos, a tensão arterial e

a pulsação), entre outros, permitindo, deste modo, um acompanhamento e atuação

mais eficazes por parte do farmacêutico.

b) Gestão de stocks

Dois aspetos fulcrais na determinação do bom funcionamento de uma farmácia

são a sua boa gestão e organização. Dentro destes aspetos destaca-se a gestão de

stocks, uma vez que se trata de uma atividade que está inerentemente relacionada

com a rentabilidade e a qualidade do serviço de saúde prestado aos utentes. Uma boa

gestão de stocks é assegurada através do equilíbrio entre as necessidades dos

Page 12: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 5

utentes e a rentabilidade da farmácia. Um stock excessivo tem como consequências a

imobilização financeira, a ocupação exagerada do espaço de armazenamento e uma

maior dificuldade no controlo da qualidade dos produtos armazenados (ex.: maior

probabilidade de os prazos de validade serem ultrapassados), enquanto que, stocks

demasiado pequenos podem não satisfazer as necessidades dos utentes e levar ao

decréscimo da fidelização destes com a farmácia.

Na gestão de stocks de uma farmácia devem ser tidos em conta vários

aspetos, nomeadamente, as necessidades dos diferentes grupos de utentes da

farmácia, o estrato socioeconómico mais prevalente na área geográfica onde a

farmácia está inserida, a capacidade de armazenamento da farmácia, o custo do

investimento e o retorno financeiro do mesmo (considerado através da margem de

lucro e do volume de vendas do produto na farmácia), as condições de compra

oferecidas pelos fornecedores (bónus de aquisição, disponibilização de promoções,

etc.), a rotatividade associada à época do ano (certos medicamentos e produtos de

saúde são sazonais, isto é, a sua procura aumenta e diminui consoante a época do

ano, como o Verão e o Inverno) e, ainda, a publicitação de produtos na comunicação

social. O SIFARMA2000® presente na Farmácia fornece informações detalhadas e

importantes para a gestão de stocks, tais como o histórico de compras e vendas de

cada medicamento e produto de saúde, bem como os seus stocks mínimos e

máximos, que devem ser periodicamente revistos conforme os aspetos acima

referidos. A escolha adequada dos fornecedores de uma farmácia é também

importante na gestão de stocks e baseia-se em aspetos como a rapidez e frequência

de entrega, as condições de transporte dos produtos, o grau de ocorrência de ruturas

de stock contínuas para determinados produtos ou de erros na distribuição, as

condições de pagamento e bonificações ou descontos nas compras. No seguimento

deste último ponto, a Farmácia Central de Ovar tem estabelecida uma relação de

cooperativismo com a Alliance Healthcare, o que lhe permite, juntamente com outras

farmácias inseridas no mesmo Grupo de Compras, adquirir variados medicamentos e

produtos de saúde a um preço mais acessível. Estes medicamentos e produtos de

saúde, adquiridos diretamente aos laboratórios, ficam armazenados nos armazéns da

Alliance Healthcare, por um período limitado de tempo, estando unicamente

disponíveis para as farmácias incluídas no mesmo Grupo de Compras.

Page 13: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 6

5. GESTÃO NA FARMÁCIA

a) Envio e receção de encomendas

A Farmácia Central de Ovar recebe a maioria dos medicamentos e produtos de

saúde através de dois distribuidores grossistas principais, a OCP e a Alliance

Healthcare, sendo alguns produtos pontualmente pedidos à COFANOR.

Habitualmente são efetuadas duas encomendas diárias aos dois principais

fornecedores (uma ao fim da manhã e outra ao fim da tarde) através do sistema

SIFARMA2000®, que automaticamente cria propostas de encomenda com base na

média mensal de vendas, no número de unidades já vendidas no mês vigente e nos

valores de stock dos produtos em comparação com os respetivos stocks mínimo e

máximo. Após serem verificadas e ajustadas pela Farmacêutica responsável, as

propostas de encomendas são enviadas eletronicamente para os fornecedores

habituais. No início de cada mês são efetuadas encomendas de maior volume de

forma a se dar resposta às necessidades mensais da Farmácia no que à dispensa de

produtos diz respeito. Adicionalmente, são feitos pedidos por via telefónica ou

eletrónica (através do endereço online da OCP ou da opção “Encomenda

Instantânea”, presente na ficha dos produtos do SIFARMA2000®, no caso da Alliance

Healthcare) de medicamentos e produtos de saúde requeridos pelos utentes mas que

se encontram em falta ou que habitualmente não estão disponíveis na Farmácia. Estes

ficam reservados para os utentes em questão, através do registo, em formato de

papel, do nome e contacto do utente, o nome e a quantidade do produto

encomendado e, ainda, o nome do Farmacêutico que fez o pedido. Por fim, alguns

produtos são adquiridos diretamente aos laboratórios que os comercializam, um

processo por vezes mediado por delegados de informação médica. Desta forma existe

a possibilidade de a Farmácia usufruir de benefícios a nível comercial, como

descontos ou bonificações. Alguns medicamentos genéricos, MNSRM e produtos de

saúde, como suplementos alimentares, produtos de dermocosmética, de puericultura,

entre outros, enquadram-se neste processo.

As encomendas efetuadas chegam à Farmácia em contentores apropriados e

corretamente identificados com o nome da Farmácia, um código de barras e um

código numérico. Contentores térmicos são também enviados, com produtos que

exigem temperaturas baixas de conservação. A acompanhar as encomendas são

enviadas as respetivas faturas, em duplicado (Anexo B), e uma requisição de

medicamentos psicotrópicos e estupefacientes, caso estes façam parte das mesmas.

As faturas contêm várias informações, como a identificação do fornecedor, da farmácia

Page 14: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 7

e da Diretora Técnica, o número da fatura, a identificação dos produtos, a quantidade

pedida e a enviada, o preço unitário, a taxa de IVA, o PVP (exceto para produtos de

venda livre), descontos e bonificações, o total da fatura, entre outros.

Na Farmácia Central de Ovar, a receção de encomendas ocorre em duas

fases: primariamente, e após introdução no sistema informático do número da fatura e

do seu valor total, são introduzidos diretamente no robot os medicamentos que lá

ficam armazenados, sendo posteriormente dada a entrada dos restantes

(medicamentos e produtos de saúde não armazenáveis no robot e/ou reservados

previamente para utentes) no SIFARMA2000®. Durante o processo de receção de

uma encomenda são tidos em conta vários parâmetros, como a integridade da

embalagem, o nome, dosagem, forma farmacêutica e código do produto, o número de

unidades pedidas e enviadas e o prazo de validade. Este último parâmetro é

atualizado no sistema informático quando é inferior ao dos produtos em stock na

Farmácia ou quando o stock desse mesmo produto se encontra a zero. Nos

medicamentos introduzidos no robot existe um prazo de validade limite (um ano a

partir do mês vigente) abaixo do qual os prazos de validade são alterados. Cada

medicamento e produto de saúde possui uma ficha no sistema informático, criada

quando este é recebido pela primeira vez na farmácia, e que vai sendo atualizada de

acordo com os movimentos do mesmo.

b) Marcação de preços

O Decreto-Lei 112/2011 de 29 de Novembro aprova o regime de preços dos

MSRM e MNSRM comparticipados, revogando o Decreto-Lei 65/2007 de 14 de Março.

De acordo com o exposto nesse Decreto-Lei, o PVP de um medicamento é obtido a

partir de um conjunto de valores: o PVA, a margem de comercialização do distribuidor

grossista, a margem de comercialização do retalhista, a taxa sobre a comercialização

dos medicamentos e o IVA. É importante salientar também o disposto no Decreto-Lei

25/2011 de 16 de Junho, que estabelece a obrigatoriedade da indicação do PVP na

rotulagem dos medicamentos.[5,6]

O preço dos MNSRM não comparticipados, produtos de dermocosmética,

produtos para uso veterinário, produtos dietéticos, produtos de puericultura, entre

outros, é estabelecido pela Farmácia. Este é calculado com base no PVF, sobre o qual

se aplica a taxa de IVA correspondente e a margem de lucro definida pela Farmácia.

Estes medicamentos e produtos de saúde são, por fim, etiquetados, constando na

etiqueta o seu nome, o código de barras correspondente, o PVP e a taxa de IVA que

lhe é aplicável.

Page 15: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 8

c) Armazenamento

Um armazenamento correto e organizado dos produtos na Farmácia é

fundamental para promover um atendimento mais rápido e eficaz ao utente. Os

medicamentos de armazenamento no robot da Farmácia são arrumados de forma

aleatória pelo mesmo, ficando as coordenadas da sua localização (números do

depósito, prateleira e fila) guardadas no seu sistema. Quando se procede a uma venda

ou saída de um produto, o robot segue o princípio FIFO para a dispensa do mesmo.

No armazenamento dos restantes medicamentos e produtos de saúde é tido em conta

o princípio FEFO em primeiro lugar, aplicando-se o princípio FIFO quando os produtos

apresentam os mesmos prazos de validade. Os medicamentos que exigem

temperaturas baixas de conservação (entre 2 e 8ºC) são armazenados no frigorífico da

Farmácia.

Alguns medicamentos e produtos de saúde, como produtos de

dermocosmética, de perfumaria, de puericultura, de higiene oral, dietéticos,

ortopédicos, veterinários, entre outros, encontram-se expostos ao longo da Farmácia,

de forma a captar a atenção dos utentes e potenciar a sua venda. A exposição de

alguns destes produtos varia de acordo com a sazonalidade que lhes é inerente ou a

existência de campanhas ou promoções. Quando o espaço de armazenamento destes

produtos na zona de acesso livre aos utentes está lotado, procede-se à sua arrumação

em espaços próprios, situados nos três andares da Farmácia, onde ficarão até que

seja necessária a sua reposição.

d) Controlo de prazos de validade

O controlo dos prazos de validade dos medicamentos e produtos de saúde da

Farmácia é importante para garantir a qualidade, segurança e eficácia dos mesmos.

Este controlo é efetuado diariamente, aquando da receção de encomendas, e

mensalmente, a partir da impressão de listagens constituídas por medicamentos e

produtos de saúde cuja validade expira no prazo de três meses. Após a impressão da

listagem, que é fornecida pelo SIFARMA2000®, procede-se à verificação individual

dos produtos que nela constam, separando-se aqueles cujo prazo de validade termina

no período definido de três meses e corrigindo-se informaticamente os prazos de

validade que se encontram incorretos no sistema. Dentro dos produtos separados,

aqueles cujo prazo de validade ainda permite a sua utilização de forma eficaz e segura

são colocados na área de monos, ou seja, de produtos com pouca rotatividade, e

tenta-se proceder à sua venda. Por outro lado, os produtos cujo prazo de validade se

encontram mais perto de expirar são devolvidos aos fornecedores ou diretamente aos

Page 16: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 9

laboratórios, fazendo-se sempre acompanhar pelas respetivas notas de devolução. No

caso dos produtos para devolução serem aceites, é emitida, por parte dos

fornecedores, uma nota de crédito (situação mais comum) ou são enviados os

produtos correspondentes com prazo de validade mais alargado. No caso de não

aceitação do pedido de devolução, os produtos em questão são devolvidos à

Farmácia, que procede à quebra por IVA dos mesmos.

e) Gestão de devoluções

Para além do motivo referido acima (prazo de validade próximo de expirar),

existem outras situações que podem levar à devolução de medicamentos e produtos

de saúde, como o envio de embalagens danificadas, o envio de produtos não

encomendados, pedidos efetuados por engano ou a retirada de produtos do mercado

pelo INFARMED ou pelo detentor de AIM. Através do SIFARMA2000® é emitida uma

nota de devolução, na qual consta a identificação da farmácia, o número da nota de

devolução, o nome, código e quantidade do produto que se pretende devolver, o

fornecedor para o qual ó produto vai ser devolvido, o motivo da devolução e o número

da fatura correspondente. As notas de devolução são impressas em triplicado, sendo

todas carimbadas e rubricadas por um Farmacêutico. Uma impressão fica arquivada

na Farmácia, sendo as outras duas colocadas juntamente com o(s) produto(s) a

devolver num contentor do fornecedor em questão.

6. CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS NA FARMÁCIA

De acordo com o artigo 33ª do Decreto-Lei 307/2007 de 31 de Agosto, as

farmácias estão autorizadas a vendar ao público os seguintes produtos:

medicamentos, substâncias medicamentosas, medicamentos e produtos veterinários,

medicamentos e produtos homeopáticos, produtos naturais, dispositivos médicos,

suplementos alimentares e produtos de alimentação especial, produtos

fitofarmacêuticos, produtos cosméticos e de higiene corporal, artigos de puericultura e

produtos de conforto.[3]

a) Medicamentos sujeitos a receita médica e não sujeitos a receita médica

Segundo o disposto no Decreto-Lei 176/2006 de 30 de Agosto (Estatuto do

Medicamento), são considerados MSRM todos aqueles que “possam constituir um

risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o

fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica, possam constituir

Page 17: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 10

um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em

quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam, contenham

substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações

adversas seja indispensável aprofundar, ou ainda se destinam a ser administrados por

via parentérica”. A dispensa destes medicamentos apenas pode ocorrer numa

farmácia e mediante a apresentação de uma receita médica válida. [7]

De acordo com o mesmo Decreto-Lei, classificam-se como MNSRM todos

aqueles que não preencham as condições acima referidas para os MSRM. [7] Estes

medicamentos não requerem a apresentação por parte do utente de uma receita

médica para serem adquiridos, o que se justifica pelo facto de apenas se destinarem

ao alívio de sintomas menores. Deste modo, a dispensa destes medicamentos deve

estar associada a indicações terapêuticas que estejam incluídas na lista de situações

passíveis de automedicação.[8]

b) Medicamentos e produtos veterinários

A Farmácia Central de Ovar tem disponíveis medicamentos e produtos

veterinários, principalmente destinados a animais domésticos e de pequeno porte,

nomeadamente cães e gatos. Estes medicamentos encontram-se armazenados em

locais próprios, distintos dos locais para medicamentos destinados ao uso humano.

Durante o meu período de estágio, os medicamentos de uso veterinário mais

procurados pelos utentes foram os desparasitantes internos (Drontal®, Drontal® Plus,

Tenil® Vet, Strongid®), desparasitantes externos (Advantix®, Advantage®, Frontline®

spray, Frontline Combo®) e os anticoncecionais (Pilusoft®, Megecat®). O

aconselhamento e transmissão de informação por parte do Farmacêutico são muito

importantes nesta área, não só para que o utente possa utilizar o medicamento da

forma mais correta, mas também para que fique alertado para o risco de transmissão

de doenças por animais. Estes medicamentos encontram-se legislados pelo Decreto-

Lei 184/97 de 26 de Julho, pelo Decreto-Lei 175/2005 de 25 de Outubro e pelo

Decreto-Lei 148/2008 de 29 de Julho.[9,10,40]

c) Medicamentos e produtos homeopáticos

A Homeopatia é uma das mais importantes abordagens terapêuticas

alternativas do mundo atual. A sua procura sucessiva por parte de vários utentes da

Farmácia foi uma realidade com a qual lidei diretamente no meu estágio. O sucesso

desta terapêutica na resolução de diferentes situações clínicas, comparativamente

com a abordagem alopática, foi o principal motivo apontado para a sua escolha.

Page 18: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 11

Criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, trata-se de uma abordagem

terapêutica que assenta fundamentalmente em três princípios: Similitude (ou

semelhante cura semelhante: de forma a curar uma doença devem-se procurar

medicamentos que exerçam sintomas semelhantes aos dessa doença no organismo

humano saudável), Infinitesimalidade (ou dose mínima: o medicamento torna-se mais

potente à medida que é diluído, sendo este processo conhecido como potencialização

ou dinamização) e Globalidade (ou remédio único: os sintomas, ainda que diversos,

estão todos ligados a uma única causa e cada medicamento é dirigido apenas a essa

causa). Deste modo, a preparação de medicamentos homeopáticos envolve a

utilização de quantidades mínimas de matéria-prima (de origem vegetal, animal,

química ou outro material biológico), obtidas através de diluições (decimais ou

centesimais) e dinamizações sucessivas. O grau de diluição mais comum é o

centesimal, o qual é identificado pela inclusão de um dígito, seguido da letra “c” ou das

letras “cH” (o dígito é referente à quantidade de diluições sucessivas, a letra “c” indica

o grau centesimal e o “H” refere-se ao método clássico de diluição de Hahnemann).

Por outro lado, o grau decimal é identificado pela inclusão da letra “x” depois do dígito,

ou pela letra “D” antes do mesmo.[11]

Na Farmácia Central de Ovar estão disponíveis diversos medicamentos

homeopáticos, como Oscillococcinum® (indicado para estados gripais), Homeovox®

(indicado em situações de cansaço das cordas vocais, perda de voz, rouquidão e

laringites), Stodal® (indicado para tosses secas ou produtivas), Sédatif PC® (indicado

para estados ansiosos e emotivos ligeiros), Cicarderma® (indicado nas irritações de

pele, como feridas, queimaduras ligeiras, picadelas de insetos ou eritemas solares),

Coryzalia® (indicado para constipações, rinites, corizas ou febre dos fenos), ou ainda

Arnigel® (indicado para hematomas, contusões ou fadiga muscular). Para além dos

exemplos mencionados, a Farmácia Central de Ovar possui ainda, num local de

armazenamento próprio, variadas pomadas, soluções orais e, sobretudo, grânulos

homeopáticos, com diferentes graus de diluição (ex.: Traumeel S®, Nux Vomica

Homaccord®, Arnica Montana®, entre muitos outros). De acordo com o Decreto-Lei

176/2006 de 30 de Agosto, os medicamentos homeopáticos são classificados como

MNSRM.[7]

d) Dispositivos médicos

Os dispositivos médicos são importantes instrumentos de saúde que englobam

um vasto conjunto de produtos. São destinados a serem utilizados para fins comuns

aos dos medicamentos, tais como prevenir, diagnosticar ou tratar uma doença

Page 19: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 12

humana. Devem atingir os seus fins através de mecanismos que não se traduzem em

ações farmacológicas, metabólicas ou imunológicas, por isto se distinguindo dos

medicamentos.[12] O Decreto-Lei 145/2009 de 17 de Junho regula este tipo de

produtos, estabelecendo, entre outras, as regras a que devem obedecer a

comercialização, a vigilância e a publicidade dos dispositivos médicos e respetivos

acessórios. O mesmo Decreto-Lei integra os dispositivos médicos em diferentes

classes, em função da vulnerabilidade do corpo humano e dos potenciais riscos

decorrentes da conceção técnica e do fabrico. Assim, as classes definidas são: classe

I (dispositivos de baixo risco), classes IIa e IIb (dispositivos de médio risco) e classe III

(dispositivos de alto risco).[13] Na Farmácia Central de Ovar há uma grande variedade

de dispositivos médicos, salientando-se o material de ostomia, material ortopédico,

meias de compressão e descanso, produtos para o tratamento de feridas e material de

penso, entre outros.

A Farmácia tem disponível, para os seus utentes, material de ostomia das

marcas Hollister®, Convatec® e Coloplast®, e sacos de urostomia sem válvula, com

válvula e com válvula e torneira T da Romed®. Estes materiais (sistemas coletores)

podem ser de uma ou duas peças e são constituídos por três elementos: placas

adesivas (duras, flexíveis ou convexas), filtros e sacos (abertos ou fechados). A

escolha do material a utilizar está dependente do local de ostomia (ex.: colostomia, da

qual podem resultar fezes sólidas ou líquidas, ileostomia, urostomia) e do conforto do

utente.

No que diz respeito ao material ortopédico, os utentes podem encontrar na

Farmácia Central de Ovar uma variedade de produtos adequados a diferentes regiões

anatómicas e situações clínicas. Uma das principais marcas de produtos ortopédicos

presente na Farmácia é a Futuro®, que comercializa suportes de punho, suportes de

punho desportivos, suportes reversíveis de punho, suportes estabilizadores de punho,

suportes estabilizadores de polegar, suportes para cotovelo (ou cotovelo de tenista,

que apresenta epicondilite), suportes elásticos de conforto para cotovelo, suportes de

tornozelo, suportes estabilizadores de tornozelo, suportes elásticos de conforto para

tornozelo, suportes de joelho, suportes de joelho desportivos, suportes de rótula,

suportes lombares, suportes lombares ajustáveis e colares cervicais. De uma forma

geral, estes produtos são aconselhados em situações como entorses, luxações,

artrites, tendinites, lesões por tensão repetitiva, traumatismos, rigidez, entre outros.

Para além destes produtos, estão também disponíveis na Farmácia pés elásticos,

pulsos elásticos e joelheiras elásticas da marca Medifar®, canadianas, sapatos

ortopédicos, entre outros.

Page 20: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 13

Meias de compressão medicinal (Sigvaris®, Juzo®, Lycias®, Medivan® e

Medivan® elegance) e meias de descanso (RelaxSan®) estão disponíveis na

Farmácia Central de Ovar, estando as meias de compressão medicinal sujeitas a

receita médica. Dentro dos vários tipos de meias, destacam-se as que vão até ao

joelho (AD), até à raiz da coxa (AG) e os collants (AT), sendo que todas promovem

uma compressão gradual no membro, ou seja, uma compressão maior no tornozelo e

que vai diminuindo gradualmente até à parte superior da meia. Este mecanismo

favorece o retorno venoso, melhorando a circulação. As meias de descanso são

indicadas para prevenir ou atenuar situações como a dor e sensação de pernas

cansadas ou varizes simples sem edema, ao passo que as meias de compressão

medicinal são indicadas para situações clínicas de insuficiência venosa (ex.: varizes,

edemas). A utilização destas últimas está contraindicada em utentes com doenças

arteriais, como pressão arterial alta ou insuficiência cardíaca congestiva. No processo

de dispensa de meias de compressão medicinal e de modo a garantir uma terapia

compressiva eficaz, o Farmacêutico deve proceder, preferencialmente de manhã, à

medição de alguns parâmetros, como o perímetro do tornozelo, a “barriga” da perna e

o perímetro da coxa nos pontos mais largos, entre outros (estes parâmetros são

definidos pelos fabricantes).[15] Para além das meias já mencionadas, a Farmácia tem

também disponíveis meias RelaxSan® para pés sensíveis e diabéticos.

A Farmácia Central de Ovar possui uma grande variedade de material de penso

e produtos para o tratamento de feridas e úlceras. Estão incluídas nesta categoria

vários tipos de ligaduras, como ligaduras gessadas, de suporte, de gaze,

compressivas e de crepe (Bastos Viegas®), ligaduras autoaderentes e ligaduras

elásticas (Coban®), bem como ligaduras de óxido de zinco (Varolast® plus) e

ligaduras almofadadas (Soffban® S). Também os materiais de penso e compressas

aqui se incluem, como são exemplo os pensos transparentes e hidrocolóides

(Hydrofilm®), pensos hidrocolóides (Hydrocoll®), pensos autoadesivos (Mepore®,

Cosmopor®), pensos de película com compressa não aderente (Tegaderm®), pensos

Hansaplast® Universal e Hansaplast® Aqua Protect, pensos oculares (Master.Aid®,

Opticlude®), pensos absorventes (Bastos Viegas ®), pensos impregnados (Emla®

penso) e de gaze parafinada (Jelonet®), compressas de gaze hidrófila esterilizada

(Alvita®), compressas de gaze com vaselina (Grassolind®), compressas em tecido

não tecido (Alvita®, Bastos Viegas®), compressas não aderentes (Adaptic®,

Inadine®), entre outros. Para além do material já referido, encontram-se disponíveis

ainda adesivos (Leukoplast®), redes tubulares elásticas e algodão hidrófilo (Bastos

Viegas®), apósitos hidrocolóides (Varihesive®), bandas adesivas em tecido não tecido

Page 21: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 14

(Omnifix®, Heterofix®), adesivos cirúrgicos (Mefix®), emplastros autoadesivos

(Mepore®), entre outros. Alguns destes produtos existem com vários tamanhos

associados, de forma a possibilitar uma maior adaptação à extensão da ferida.

Para além dos dispositivos médicos referidos anteriormente, a Farmácia

Central de Ovar disponibiliza ainda outros aos seus utentes, como frascos para

recolha de urina, fezes e outras amostras biológicas, fraldas para crianças e adultos

com incontinência, seringas com e sem agulhas, luvas de látex com e sem pó, luvas

de vinil, seringas estéreis, dedeiras de escoriação, câmaras de expansão, sondas

gastroduodenais, sistemas para administração de soluções, preservativos, dispositivos

de autodiagnóstico (dispositivos para a determinação da tensão arterial, dispositivos

para a determinação da glicémia, termómetros, testes de gravidez), lancetas, tiras-

teste para a determinação da glicémia, entre outros. Material podológico da DrScholl®,

Comforsil®, Sindolor® e Compeed® está também disponível na Farmácia.

e) Produtos para alimentação especial e produtos dietéticos

De acordo com o disposto no Decreto-Lei 74/2010 de 21 de Junho, os produtos

para alimentação especial “são aqueles que, devido à sua composição especial ou a

processos especiais de fabrico, se distinguem claramente dos alimentos de consumo

corrente, mostrando-se adequados às necessidades nutricionais especiais de

determinadas categorias de pessoas”. Estes géneros alimentícios destinam-se a

pessoas cujo processo de assimilação ou cujo metabolismo se encontram perturbados

(ex.: diabéticos, celíacos), a pessoas que se encontram em condições fisiológicas

especiais e que podem beneficiar de uma ingestão controlada de determinadas

substâncias (ex.: idosos, grávidas) ou a lactentes ou crianças de pouca idade em bom

estado de saúde.[15] No sentido de responder às diferentes necessidades dos seus

utentes, a Farmácia Central de Ovar disponibiliza uma vasta gama deste tipo de

produtos.

O fornecimento proteico e/ou calórico adequado é muito importante para

preservar ou melhorar o estado nutricional, podendo-se corrigir eventuais

desequilíbrios no mesmo. Neste sentido, alguns suplementos nutricionais da linha

Fortimel® apresentam valor hiperproteico, hipercalórico e/ou de alto valor energético,

podendo diferentes produtos ser indicados para faixas etárias e situações distintas,

como perda de peso ou apetite, no pré e pós-operatório, na preparação para

colonoscopias, entre outras. Exemplos de suplementos nutricionais dessa linha

presentes na Farmácia são Fortimel®, Fortimel® extra, Fortimel® energy, Fortimel®

powder. Na Farmácia estão também presentes produtos de outras linhas, como o

Page 22: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 15

Resource® espessante e o Resource® cereal isntant (indicados para pessoas com

dificuldade na deglutição), o Diasip® (indicado para diabéticos ou utentes com

hiperglicemia), o Protifar® (suplemento modular proteico), o Fantomalt® (suplemento

modular calórico), o Stimulance® (suplemento modular rico em fibra) e o Resubin®

protein energy (suplemento hipercalórico).[16]

A gama de produtos específicos para lactentes e crianças de pouca idade é

grande e variada, sendo possível aos utentes encontrar leites para lactentes, leites de

transição, leites de crescimento, leites específicos, papas e boiões. Os produtos da

Nutribén® incluem leites (ex.: natal hipoalergénico, natal anti regurgitante, anti cólica,

de continuação, de crescimento, anti obstipante, entre outros), papas (com e sem

glúten, para preparação com água ou leite), flocos de trigo e boiões com muitos

sabores. Da Aptamil®, a Farmácia disponibiliza leites regulares (de transição), leites

para conforto digestivo (para lactentes com pequenas complicação digestivas, como

cólicas e obstipação ou para lactentes com episódios frequentes de regurgitação ou

refluxo gastro esofágico) e leites para a alergia (leites hipoalergénicos e leites

indicados para bebés com alergia às proteínas do leite da vaca). Há ainda a destacar

os leites da marca Novalac®, que apresenta vários tipos de leites já mencionados

anteriormente (anti obstipantes, hipoalergénicos, anti cólicas e anti regurgitantes). A

Farmácia Central de Ovar dispõe também de produtos do S-26 Gold®, Blédina®,

Enfalac®, Nidina®, Nan® e Milkid®.

A Farmácia Central de Ovar dispõe também de vários produtos destinados à

redução de peso (ex.: Depuralina®, Alli®, Elimin®, Slim®, BioActivo® SlimPrecise,

BioActivo® Slim Duo, BioActivo® CLA Forte, XLS Medical®), suplementos alimentares

que, através do reforço vitamínico, reduzem os sinais de fadiga e cansaço e melhoram

o desempenho físico e intelectual (ex.: Centrum®, Cerebrum®, Viterra®, QI®,

Pharmaton® vitalidade, Pharmaton® 50+, Pharmaton® sport, Neurozan®, Sargenor®

5, Magnesium-OK®), entre outros. Durante o meu estágio pude constatar o elevado

grau de procura associado a estes produtos, bem como a preferência seletiva e

variável entre diferentes pessoas, o que torna indispensável à Farmácia ter um stock

constante e heterogéneo.

f) Produtos fitoterapêuticos

Os produtos fitoterapêuticos são medicamentos produzidos à base de plantas

ou extratos de partes de plantas, procurando, deste modo, fazer uso das suas

propriedades curativas e preventivas. Estes produtos podem apresentar-se na forma

de chás (ex.: Moreno®, Fitos®, Herbis®, Biolys®, Big®Chá), comprimidos ou cápsulas

Page 23: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 16

(ex.; Arkocapsulas®, Bioarga®), sendo bastante procurados para situações de

distúrbio gastrointestinal (obstipação, cólicas intestinais, flatulência e azia). De acordo

com o Decreto-Lei 176/2006 de 30 de Agosto, os produtos fitoterapêuticos são

classificados como MNSRM.[7] Ao contrário do que é, por vezes, considerado pelos

utentes, estes produtos não são isentos de reações adversas, pelo que cabe ao

Farmacêutico garantir, junto do utente, a utilização correta e segura destes produtos.

g) Produtos cosméticos e dermofarmacêuticos

É considerado produto cosmético “qualquer substância ou mistura destinada a

ser posta em contacto com as partes externas do corpo humano (epiderme, sistemas

piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos) ou com os dentes e as

mucosas bucais, tendo em vista, exclusiva ou principalmente, limpá-los, perfumá-los,

modificar-lhes o aspeto, protegê-los, mantê-los em bom estado ou de corrigir os

odores corporais”.[17] Os produtos cosméticos são legislados pelo Decreto-Lei

189/2008 de 24 de Setembro e pelos Decretos-Lei que o alteram (Decreto-Lei

115/2009 de 18 de Maio, Decreto-Lei 113/2010 de 21 de Outubro e Decreto-Lei

63/2012 de 15 de Março).[18,19,20,21] Os produtos dermofarmacêuticos contêm

compostos farmacologicamente ativos, destinados a tratar determinadas patologias,

ao passo que os produtos cosméticos têm uma função essencialmente estética e/ou

preventiva.

Na Farmácia Central de Ovar, o utente tem à sua disposição um conjunto

alargado e diverso de linhas de produtos, que se encontram expostos na área de

atendimento ao público, em lineares organizados de acordo com a marca a que os

produtos pertencem. Algumas das marcas disponíveis na Farmácia são: Uriage®

(possui igualmente uma linha infantil), Avéne®, Roche-Posay®, Roc®, Vichy®,

Bioderma®, Klorane®, Phyto®, Ducray®, Neutrogena®, Barral®, Eucerin®, Lutsine®,

SesDerma®. A Uriage® possui igualmente uma linha infantil, ao passo que a marca

Mustella® é constituída por produtos exclusivamente infantis. As situações mais

frequentes para as quais os utentes procuram resolução incluem a queda de cabelo,

acne, dermatite seborreica, rugas e desidratação da pele. É importante destacar a

intervenção do Farmacêutico nesta área, nomeadamente na indicação dos produtos

mais adequados a cada situação.

Durante o meu estágio tentei progressivamente aprender como adaptar o

aconselhamento dermofarmacêutico às diferentes situações que me foram surgindo. A

queda de cabelo foi a situação para a qual me foi solicitado mais vezes o

aconselhamento. Aqui, procurei sempre avaliar junto do utente o grau e a frequência

Page 24: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 17

de queda do cabelo, de forma a poder aconselhar o melhor tratamento para aquela

situação específica (um tratamento à base de shampoo anti queda, à base de spray

anti queda para aplicar no cabelo seco, ou uma combinação dos dois, podendo o

tratamento ser auxiliado pela toma de suplementos alimentares que fortalecem o couro

cabeludo).

7. DISPENSA DE MEDICAMENTOS

De acordo com as Boas Práticas de Farmácia, a “cedência de medicamentos é

o ato profissional em que o farmacêutico, após avaliação da medicação, cede

medicamentos ou substâncias medicamentosas aos doentes mediante prescrição

médica ou em regime de automedicação ou indicação farmacêutica, acompanhada de

toda a informação indispensável para o correto uso dos medicamentos”.[4] Trata-se de

uma das funções mais importantes de um profissional farmacêutico, sendo este

responsável pela validação da prescrição médica, pelo uso correto e seguro dos

medicamentos e produtos de saúde pelos utentes e pela promoção da adesão à

terapêutica junto dos mesmos.

Durante o meu estágio aprendi como interpretar e validar receitas médicas,

bem como prestar um ato de dispensa de medicamentos completo e de qualidade.

a) Medicamentos sujeitos a receita médica

Tal como já referido anteriormente, a dispensa de MSRM apenas pode ocorrer

mediante a apresentação de uma receita médica válida. De acordo com o Decreto-Lei

176/2006 de 30 de Agosto, os MSRM podem ser classificados mediante o tipo de

receita na qual são prescritos, estando esta dependente do tipo de medicamento e

duração do tratamento. Assim, podem-se distinguir quatro tipos de receitas médicas:

receitas médicas renováveis, não renováveis, restritas e especiais. São passíveis de

receita médica renovável os MSRM que se destinem a determinadas doenças ou

tratamentos prolongados (ex.: medicamentos para a tensão arterial ou diabetes) e

possam, no respeito da segurança da sua utilização, ser adquiridos mais de uma vez,

sem necessidade de nova prescrição médica. Nestes casos são emitidas receitas

renováveis, compostas por três vias, cada uma com validade de 6 meses. Por outro

lado, os medicamentos passíveis de receita médica não renovável são aqueles que se

destinam a tratamentos de curta ou média duração (ex.: medicamentos para o

tratamento de infeções), tendo a receita a validade de 30 dias. Estão sujeitos a receita

médica restrita os medicamentos cuja utilização deva ser reservada a certos meios

especializados, nomeadamente, uso exclusivo hospitalar, destinarem-se a patologias

Page 25: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 18

cujo diagnóstico seja efetuado apenas em meio hospitalar ou estabelecimentos com

meios de diagnóstico adequados, ou destinarem-se a pacientes em tratamento

ambulatório mas a sua utilização ser suscetível de causar efeitos adversos muito

graves. Aqueles que nãos sejam de uso exclusivo hospitalar podem ser vendidos nas

farmácias. Por fim, estão sujeitos a receita médica especial os medicamentos que

contenham uma substância classificada como estupefaciente ou psicotrópico, ou que

possam dar origem a riscos importantes de abuso medicamentoso, criar

toxicodependência ou ser utilizados para fins ilegais.[7]

b) Prescrição médica

O Decreto-Lei 11/2012 de 8 de Março e a Portaria 137-A/2012 de 11 de Maio

estabelecem o regime jurídico a que obedecem as regras de prescrição de

medicamentos, designadamente a inclusão obrigatória da DCI da substância ativa do

medicamento, bem como a sua forma farmacêutica, a dosagem, a apresentação e a

posologia. Em casos excecionais, a prescrição pode incluir a denominação comercial

do medicamento, por marca ou indicação do nome do titular de AIM. Estes casos

verificam-se quando ocorre a prescrição de medicamento com substância ativa para a

qual não existe medicamento genérico comparticipado ou para a qual só exista de

marca e licenças, ou quando existe uma justificação técnica do prescritor

relativamente à insusceptibilidade de substituição do medicamento, sendo este último

ponto apenas admissível em três situações: a) prescrição de medicamento com

margem ou índice terapêutico estreito (Ciclosporina, Levotiroxina sódica e

Tacrolímus24), devendo o prescritor mencionar “Exceção a) do nº 3 do art. 6.º”; b)

fundada suspeita de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma

substância ativa, mas identificado por outra denominação comercial, devendo o

prescritor mencionar “Exceção b) do nº 3 do art. 6.º - Reação adversa prévia”; c)

prescrição de medicamento destinado a assegurar a continuidade de um tratamento

com duração estimada superior a 28 dias, devendo o prescritor mencionar “Exceção c)

do nº 3 do art. 6.º - Continuidade de tratamento superior a 28 dias”.[22,23]

As prescrições têm de ser efetuadas via eletrónica, exceto quando ocorre

falência do sistema informático, inadaptação fundamentada do prescritor, prescrição

ao domicílio ou outras situações até um máximo de 40 receitas médicas por mês.

Nestas situações, a prescrição realiza-se por via manual, tendo de estar mencionada a

palavra “Exceção” seguida da alínea correspondente à situação de exceção. Em cada

receita médica podem ser prescritos até quatro medicamentos distintos, não podendo,

contudo, o número total de embalagens prescritas por medicamento ultrapassar o

Page 26: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 19

limite de duas, nem o número total de quatro embalagens (exceto se o medicamento

prescrito se apresentar sob a forma de embalagem unitária, podendo, nesse caso, ser

prescritos até quatro na mesma receita médica). Os medicamentos contendo

estupefacientes ou substâncias psicotrópicas não podem constar numa receita com

outros medicamentos prescritos. O mesmo acontece com os produtos incluídos no

protocolo da Diabetes Mellitus, pois estes são faturados num organismo específico

(DS) e distinto do dos restantes medicamentos.[22,23]

c) Validação da prescrição médica e direito de opção do utente

Para que uma receita médica possa ser considerada válida, é necessário que

inclua determinados dados, tais como: número da receita, local de prescrição,

identificação do médico prescritor, nome e número de utente ou de beneficiário de

subsistema, entidade financeira responsável, referência ao regime especial de

comparticipação de medicamentos (se aplicável), DCI da substância ativa, dosagem,

forma farmacêutica, dimensão da embalagem, número de embalagens, designação

comercial do medicamento (se aplicável), a exceção e a alínea correspondente (se e

consoante aplicável), identificação do despacho que estabelece o regime especial de

comparticipação de medicamentos (se aplicável), data de prescrição, assinatura do

prescritor e validade.[23] A avaliação cuidada destes aspetos permite detetar erros que

invalidam a dispensa dos medicamentos, evitando-se assim a posterior devolução da

receita, sem atribuição da comparticipação. Após a dispensa dos medicamentos, são

impressos, no verso da receita, os códigos que identificam os medicamentos

dispensados, devendo o farmacêutico datar, assinar e carimbar o verso da mesma.

O utente pode exercer o seu direito de opção na dispensa de medicamentos,

exceto nos casos em que não exista medicamento genérico, quando são prescritos

medicamentos com margem ou índice terapêutico estreito, ou ainda quando se

suspeita de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma

substância ativa, mas identificado por outra denominação comercial. No caso de

medicamentos com continuidade de tratamento superior a 28 dias, o direito de opção

do utente está limitado a medicamentos com preço igual ou inferior ao do

medicamento prescrito.[22,23] O exercício ou não do direito de opção do utente é

demonstrado através de uma assinatura no verso da receita, servindo esta também

para confirmar os medicamentos dispensados.[25,26] O Farmacêutico deve informar o

doente acerca dos medicamentos disponíveis na farmácia com a mesma substância

ativa, forma farmacêutica, apresentação e dosagem do medicamento prescrito, os

comparticipados pelo SNS e o que tem o preço mais baixo no mercado. Deste modo,

Page 27: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 20

as farmácias devem possuir sempre, no mínimo, três medicamentos do mesmo grupo

homogéneo, entre os que correspondem aos cinco preços mais baixos, devendo

dispensar o de menor preço, salvo indicação contrária do doente.[22,23]

d) Avaliação da dispensa do medicamento

Após a validação da receita, o Farmacêutico deve avaliar os aspetos

fisiopatológicos e farmacoterapêuticos, tendo em vista a deteção de PRMs (Problemas

Relacionados com a Medicação) e a prevenção ou eliminação de RNMs (Resultados

Negativos associados à Medicação). Deste modo, os medicamentos prescritos devem

ser avaliados, analisando-se possíveis contraindicações ou interações com outros

medicamentos ou alimentos. Para além disso, deve-se verificar se a dosagem, a forma

farmacêutica, a via e frequência de administração e a duração do tratamento são as

adequadas ao utente. No caso de algum parâmetro suscitar dúvidas durante o

processo de avaliação da dispensa, pode-se discuti-lo com os colegas de trabalho,

recorrer à bibliografia científica disponível na Farmácia ou contactar o médico

prescritor. Após a entrega do medicamento ou produto de saúde ao utente, é

fundamental assegurar que o mesmo compreendeu a informação, oral ou escrita, que

lhe foi transmitida, especialmente quando se trata de uma nova terapêutica. Essa

informação incide sobre a posologia, as precauções inerentes à utilização do

medicamento ou produto de saúde, possíveis efeitos adversos, condições de

conservação e as possíveis consequências do abandono do tratamento, de forma a

evitar falhas na adesão à terapêutica e promover a máxima eficácia e segurança do

mesmo. A informação escrita pode ser fornecida ao utente pela entrega do Guia de

Tratamento, previamente destacado da receita, e/ou pela escrita das indicações

posológicas (e, por vezes, terapêuticas) na cartonagem do medicamento.

e) Regimes de comparticipação de medicamentos

No início do meu período de estágio existiam diversas entidades que

comparticipavam uma percentagem ou a totalidade do PVP dos medicamentos dos

seus beneficiários, mediante a apresentação de receita médica. Os maiores exemplos

dessas entidades eram o SNS e a Direção-Geral de Proteção Social aos Funcionários

e Agentes da Administração Pública (ADSE). Contudo, desde o dia 1 de Abril, o

pagamento das comparticipações do Estado na compra de medicamentos

dispensados a beneficiários de alguns sistemas de saúde passou a ser encargo do

SNS. Aqui se incluem os beneficiários da ADSE, dos Serviços de Assistência na

Doença da Guarda Nacional Republicana (SAD-GNR) e da Polícia de Segurança

Pública (SAD-PSP), entre outros.[27,28]

Page 28: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 21

O Decreto-Lei 48-A/2010 de 13 de Maio, alterado pelo Decreto-Lei 106-A/2010

de 1 de Outubro, regula o regime de comparticipação dos medicamentos prescritos

aos utentes do SNS. Este encontra-se dividido em Regime Geral e Regime Especial.

No primeiro, que abrange todos os utentes do SNS, a comparticipação está fixada em

quatro escalões: 90%, 69%, 37% e 15%, correspondendo aos escalões A, B, C e D,

respetivamente. No Regime Especial, que abrange os pensionistas cujo rendimento

total anual não exceda 14 vezes o salário mínimo nacional, verifica-se um acréscimo

de 5% no escalão A e de 15% nos restantes escalões. A identificação deste regime é

feita pela visualização da letra “R” na receita médica (ou pela presença de uma vinheta

verde nas receitas manuais).[29,30] Os medicamentos destinados a doenças crónicas

(ex.: Alzheimer, Lúpus, Doença Inflamatória Intestinal, Psoríase) estão sujeitos a

comparticipações diferentes, desde que na receita venha indicada a portaria ou

despacho correspondente. Os utentes podem beneficiar ainda de uma

comparticipação em complementaridade quando também são beneficiários de um

subsistema de saúde (ex.: SAMS, SAVIDA, CGD, entre outros). Nestes casos, é

necessário fotocopiar a receita e registar, na fotocópia, o número do cartão do

subsistema que o utente beneficia.

Entende-se por preço de referência, “o valor sobre o qual incide a

comparticipação do Estado no preço dos medicamentos incluídos em cada um dos

grupos homogéneos, de acordo com o escalão ou regime de comparticipação que lhe

é aplicável”.[31] Aplica-se, assim, aos medicamentos comparticipados, incluídos em

grupos homogéneos e que sejam prescritos e dispensados no âmbito do SNS. [31] O

preço de referência para cada grupo homogéneo corresponde à média dos cinco PVP

mais baixos praticados no mercado, tendo em consideração os medicamentos que

integrem esse grupo, e é sobre este valor que o Estado comparticipa.[30] O valor

máximo de comparticipação é determinado de acordo com o escalão ou regime de

comparticipação aplicável, calculado sobre o preço de referência do respetivo grupo

homogéneo. Se o PVP do medicamento for inferior ao valor determinado, o utente não

paga o medicamento.[29]

f) Dispensa de psicotrópicos e estupefacientes

O Decreto-Lei 15/93 de 22 de Janeiro (que já sofreu dezanove alterações)

estabelece o regime jurídico relativo ao tráfico e consumo de estupefacientes e

psicotrópicos, substâncias que, devido ao risco de uso abusivo, dependência e efeitos

secundários graves, sofrem um controlo mais rigoroso que os restantes

medicamentos.[32] O Decreto-Lei 176/2006 de 30 de Agosto enquadra os

Page 29: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 22

medicamentos que contenham uma substância classificada como estupefaciente ou

psicotrópico nos sujeitos a receita médica especial. Contudo, a sua dispensa é

atualmente realizada mediante a apresentação de uma receita igual à dos restantes

medicamentos.[23] No ato de dispensa, contudo, é necessário preencher um conjunto

de informações relativas ao médico prescritor (nome), ao doente (nome e morada) e

ao adquirente (nome, morada, idade, número e data de emissão do bilhete de

identidade ou cartão de cidadão) e é emitido um documento que regista a venda do

medicamento. É obrigatório o arquivo adequado das receitas que contenham estes

medicamentos por um período de 3 anos.

g) Dispensa de medicamentos genéricos

O Decreto-Lei 176/2006 de 30 de Agosto define medicamento genérico como

“medicamento com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias

ativas, a mesma forma farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de

referência haja sido demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados”. O

medicamento genérico deve ser identificado exteriormente (acondicionamento

secundário) pela DCI da substância ativa, seguido da dosagem, da forma farmacêutica

e da sigla "MG".[7]

No que toca à dispensa de medicamentos genéricos, durante o meu

estágio verifiquei grandes divergências na opinião dos utentes, sobretudo relacionadas

com a razão qualidade/preço. Alguns utentes optam ou até preferem o medicamento

genérico ao medicamento “de marca”, seja por razões de preço ou porque

simplesmente se sentem confortáveis com o medicamento. Outros são mais relutantes

e, mesmo tendo conhecimento das diferenças de preço, optam por não levar o

medicamento genérico (a expressão “o que é barato tem rato” foi muitas vezes usada

para justificar a opção por medicamentos de “marca” em detrimento de medicamentos

genéricos). Não obstante a sua preferência inicial, o utente deve ser informado sobre

todas as possibilidades, de forma a poder tomar uma decisão consciente e ponderada.

8. MEDICAMENTOS E PRODUTOS MANIPULADOS

O medicamento manipulado é definido como qualquer forma magistral ou

preparado oficinal preparado e dispensado sob a responsabilidade de um

farmacêutico, em farmácia de oficina ou nos serviços farmacêuticos hospitalares,

segundo receita médica de um doente específico ou segundo indicações compendiais,

de uma farmacopeia ou de um formulário oficial.[33] A grande vantagem associada aos

Page 30: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 23

medicamentos manipulados é a possibilidade de individualização da terapêutica, ou

seja, poder ajustá-la ao doente em questão, atendendo ao seu perfil fisiopatológico, à

existência de hipersensibilidade a excipientes, entre outros. Outra vantagem dos

medicamentos manipulados é a possibilidade de associar princípios ativos que não

existem associados no mercado, ou obter doses e formas farmacêuticas diferentes

das de um medicamento disponível no mercado.

a) O laboratório e as regras de manipulação

O laboratório da Farmácia Central de Ovar encontra-se situado no primeiro

andar e apresenta condições de iluminação, ventilação, temperatura e humidade

adequadas para a produção eficaz e segura de medicamentos manipulados. O

laboratório está equipado com o material de existência obrigatória, indicado na

Deliberação 1500/2004 de 7 de Dezembro (aprova a lista de equipamento mínimo de

existência obrigatória para as operações de preparação, acondicionamento e controlo

de medicamentos manipulados).[34] A receção de uma matéria-prima processa-se de

forma semelhante à dos restantes medicamentos e produtos de saúde, fazendo-se,

contudo, acompanhar de um boletim de análise que atesta a qualidade da matéria-

prima. Após a sua entrada no sistema informático, é preenchido o impresso de registo

do movimento de matérias-primas, onde se indicam informações como o nome da

matéria-prima, o fabricante, o fornecedor, a quantidade recebida, o número de lote, a

validade e o preço de aquisição. O boletim de análise da matéria-prima anexa-se ao

respetivo impresso e ambos são guardados no dossier respeitante ao movimento de

matérias-primas. A Portaria 594/2004 de 2 de Junho aprova as boas práticas a

observar na preparação de medicamentos manipulados, com vista a obter-se um

padrão elevado e generalizado de qualidade dos mesmos. As normas aprovadas

nesta portaria incidem sobre o pessoal, as instalações e equipamentos, a

documentação, as matérias-primas, os materiais de embalagem, a manipulação, o

controlo de qualidade e a rotulagem.[35]

É fundamental ter a documentação organizada para que se possa reconstituir a

preparação de cada medicamento manipulado. Essa documentação inclui a ficha de

preparação (na qual se registam as informações do medicamento manipulado, dados

relativos às operações de preparação e controlo, condições de conservação, material

de acondicionamento, identificação do utente e cálculo do preço), o movimento de

matérias-primas e a listagem dos números de lote dos medicamentos manipulados.

Para além de ser entregue ao utente juntamente com o medicamento manipulado, fica

guardada na Farmácia uma cópia do rótulo do mesmo, que deve conter informação

Page 31: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 24

relativa à identificação, utilização, conservação e prazo de validade do medicamento

manipulado a dispensar, bem como a identificação da Farmácia e da Diretora Técnica.

É importante realçar que quando o medicamento manipulado se destina a aplicação

externa, coloca-se um autocolante com a frase “Uso Externo” em fundo vermelho.

b) Preço dos medicamentos manipulados

A Portaria 769/2004 de 1 de Julho regula o cálculo do preço de venda ao

público dos medicamentos manipulados. Este é estabelecido com base no valor dos

honorários da preparação, no valor das matérias-primas e no valor dos materiais de

embalagem, tal como indicado na seguinte fórmula: (Valor dos honorários + Valor das

matérias-primas + Valor dos materiais de embalagem) x 1.3 + IVA. O valor dos

honorários da preparação tem por base um fator (F), atualizado anualmente

(atualmente é 4.87).[36]

O Decreto-Lei 106-A/2010 de 1 de Outubro confere uma comparticipação de

30% aos medicamentos manipulados que constam da lista apresentada no Despacho

18694/2010 de 18 de Novembro. De acordo com este Despacho, podem ser

comparticipados pelo SNS os medicamentos manipulados relativamente aos quais se

verifique uma das seguintes condições: inexistência no mercado de especialidade

farmacêutica com igual substância ativa na forma farmacêutica pretendida; existência

de lacunas terapêuticas a nível dos medicamentos preparados industrialmente;

necessidade de adaptação de dosagens ou formas farmacêuticas às carências

terapêuticas de populações específicas.[30,37]

c) Preparação de medicamentos manipulados no estágio

Ao longo do meu período de estágio tive a oportunidade de preparar vários

medicamentos manipulados e preencher a documentação necessária e o rótulo

respeitantes a esses mesmos medicamentos manipulados. Os medicamentos

manipulados por mim preparados (alguns mais do que uma vez) foram: suspensão

oral de trimetoprim a 1% (m/V), loção hidroalcoólica de ácido benzoico 2% e ácido

salicílico 1% (m/m), solução alcoólica de ácido bórico à saturação, vaselina salicilada a

5%, e diversas pomadas a partir de matérias-primas obtidas industrialmente.

9. AUTOMEDICAÇÃO E INDICAÇÃO FARMACÊUTICA

O Despacho 17690/2007 de 23 de Julho define automedicação como “a

utilização de MNSRM de forma responsável, sempre que se destine ao alívio e

tratamento de queixas de saúde passageiras e sem grande gravidade, com a

Page 32: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 25

assistência ou aconselhamento opcional de um profissional de saúde”. Neste

despacho estão indicadas as situações passíveis de automedicação. [8] A indicação

farmacêutica faz também uso dos MNSRM (ou do encaminhamento do doente ao

médico) com a intenção de aliviar ou resolver um problema de saúde menor e

autolimitado a pedido do doente. Na indicação farmacêutica, a responsabilidade da

seleção de um MNSRM recai sobre o farmacêutico. O processo de aconselhamento

farmacêutico na automedicação e na indicação farmacêutica é, idealmente, composto

por três etapas: entrevista ao doente, intervenção farmacêutica e avaliação dos

resultados.

A entrevista ao doente permite recolher informação importante relacionada com

o problema de saúde que motivou a consulta ao farmacêutico, e possibilita avaliar se

se trata de um transtorno menor e qual o melhor aconselhamento a dar. Deve-se

questionar o doente relativamente aos sintomas principais, à presença de outros

sintomas associados, à sua localização, frequência e intensidade, e ainda, que

medidas foram adotadas até ao momento. É essencial o farmacêutico tentar apontar

os fatores que podem levar ao aparecimento dos sintomas, bem como as situações

que possam agravar ou aliviar esses sintomas. É também importante tomar

conhecimento de outros problemas de saúde ou patologias do doente, conhecer a sua

medicação habitual ou outra que esteja a fazer no momento, de forma a evitar o

aconselhamento de MNSRM que possam ser contraindicados ou que possam interagir

com a medicação já implementada. Após a entrevista, o farmacêutico poderá indicar

uma opção terapêutica para tratar ou aliviar o transtorno menor, oferecer outros

serviços de cuidados farmacêuticos (ex.: seguimento farmacoterapêutico ou educação

sanitária), ou encaminhar o doente ao médico ou a outro profissional de saúde. Na

indicação de uma opção terapêutica, deve-se optar primariamente por medidas não

farmacológicas, e só posteriormente selecionar um MNSRM. Esta seleção deverá ter

por base o princípio ativo e a indicação farmacoterapêutica do mesmo, bem como a

dose, forma farmacêutica, via de administração, posologia, contraindicações, efeitos

adversos e interações. O custo do MNSRM tem também um grande relevo na escolha

da melhor opção terapêutica. Proporcionar ao doente a informação necessária e

relevante sobre a opção terapêutica escolhida é muito importante, pois a informação

inadequada e insuficiente pode resultar em baixa eficácia e segurança da terapêutica.

Os aspetos mais importantes a transmitir ao doente incluem a posologia (dose e

frequência), a duração do tratamento, possíveis efeitos adversos, contraindicações e

interações (com medicamentos e/ou alimentos). É fundamental que o farmacêutico

Page 33: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 26

garanta que o doente compreendeu e assimilou a informação, e que não tem dúvidas

sobre a terapêutica.

Durante o meu período de estágio, foi-me quase diariamente solicitado

aconselhamento para tentar minimizar transtornos menores ou para ajudar na

automedicação. A grande variedade de MNSRM e produtos de saúde presentes na

Farmácia, sobre alguns dos quais tinha pouco ou nenhum conhecimento, foi um

entrave nos primeiros aconselhamentos, mas rapidamente ganhei o à vontade

necessário e adquiri conhecimentos que me permitiram intervir de forma mais

autónoma e positiva. Ao longo dos aconselhamentos pude verificar que muitos utentes

optam, numa primeira instância, pela automedicação ou pela indicação farmacêutica,

justificando-se com a falta de tempo ou condições para irem a uma consulta, mas

também com a confiança que depositam no farmacêutico.

As situações em que foi solicitado o meu aconselhamento com mais frequência

foram: gripe, constipação, tosse, congestão nasal, dores de garganta, dores de

cabeça, dores musculares, fadiga, diarreia, obstipação, azia, irritação ocular, piolhos,

caspa, queda de cabelo, alergias, feridas, micoses, queimaduras, entre outros.

Algumas das situações com que me deparei provaram não ser transtornos menores e

nesses casos optei por encaminhar o doente ao médico.

10. OUTROS CUIDADOS DE SAÚDE

Tal como indicado anteriormente, a Farmácia Central de Ovar tem, no rés-do-

chão, um gabinete privado de atendimento personalizado, que permite aos

farmacêuticos desempenhar um papel ativo no acompanhamento do estado de saúde

do utente. Aqui é realizada a determinação de vários parâmetros fisiológicos e

bioquímicos, nomeadamente, a tensão arterial, a glicémia, o colesterol total e os

triglicerídeos. Trata-se de um serviço muito procurado pelos utentes da Farmácia, que,

assim, procuram monitorizar e controlar a sua saúde. Durante todo o período do meu

estágio realizei a determinação dos parâmetros enumerados em cima e procurei, para

cada doente em particular, sensibilizar para a adesão à terapêutica e para a adoção

de medidas não farmacológicas (ex.: dieta controlada, exercício físico) no controlo dos

diferentes estados patológicos. Também forneci informações sobre a patologia e como

identificar e proceder perante algumas situações adversas (ex.: estados

hipoglicémicos resultante do tratamento com antidiabéticos orais e/ou insulina). No

final de cada determinação, os valores eram registados no cartão do utente (fornecido

gratuitamente pela Farmácia) e informaticamente, caso o utente estivesse associado a

um perfil no SIFARMA2000®. O registo informático (consentido pelo utente) é muito

Page 34: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 27

importante pois permite ao farmacêutico acompanhar a evolução fisiopatológica do

utente, mesmo quando este não se encontra na Farmácia.

a) Determinação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos

A medição da tensão arterial é o serviço de cuidados de saúde mais vezes

solicitado na Farmácia Central de Ovar e corresponde, consequentemente, à

determinação que mais vezes efetuei no meu estágio. A hipertensão é uma doença

silenciosa e, como tal, muitos utentes pretendiam medir a tensão arterial como forma

monitorização e prevenção de complicações, pois não eram hipertensos nem estavam

em tratamento. O aparelho utilizado na Farmácia é um esfigmomanómetro de

mercúrio. Antes da medição, o utente deve repousar por uns minutos, de preferência

sentado. A medição é efetuada, habitualmente, no braço esquerdo, estando este

apoiado num suporte na mesa e à altura do peito, sem roupa por baixo da braçadeira

(que deve estar cerca de 2cm acima do espaço antecubital e bem ajustada). A

interpretação dos resultados deve ser feita em função dos valores estipulados (tabela

1, Anexo C). Os objetivos terapêuticos para os doentes hipertensos são muitas vezes

definidos pelos médicos que os acompanham e podem estar dependentes da

existência de mais estados patológicos (ex.: em doente hipertensos com Diabetes

Mellitus, o objetivo terapêutico é ter a pressão sistólica menor que 130mmHg e a

diastólica menor que 80mmHg).[38] O farmacêutico pode intervir no sentido de

promover a sensibilização dos utentes para a redução da exposição a fatores de risco

modificáveis (ex.: excesso de peso, consumo de álcool, fumar, consumo de sal e

gorduras), incentivando a modificação do estilo de vida. Para os utentes em

tratamento farmacológico, é importante promover a adesão à terapêutica e

desmistificar a ideia de que uma tensão arterial controlada não requer tratamento.

A determinação dos valores de glicémia é também muito solicitada na

Farmácia, não só pelos utentes diabéticos mas também pelos utentes que, pela

história familiar ou pelo estilo de vida menos saudável que praticam, pretendem fazer

o despiste da patologia. A determinação deste parâmetro bioquímico é efetuada com o

aparelho Freestyle Freedom® Lite, utilizando sangue capilar como amostra. Aos

utentes que pretendem determinar a glicémia, é solicitado que o venham fazer com um

jejum de, pelo menos, 8 horas, pois esta trata-se de uma medição mais rigorosa que a

da glicémia ocasional. A interpretação dos resultados é apoiada por valores

estipulados (tabela 2, Anexo D) e orienta o aconselhamento ao utente no sentido de

promover a prática de um estilo de vida saudável, a adesão à terapêutica e a

constante monitorização.

Page 35: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 28

A monitorização dos níveis de colesterol total é uma constante na Farmácia

Central de Ovar e reflete a determinação dos utentes em prevenir ou controlar um dos

fatores de risco de doença cardiovascular. A determinação do colesterol total é

efetuada com o aparelho Accutrend® Plus, utilizando sangue capilar como amostra.

Este parâmetro bioquímico pode ser determinado a qualquer hora do dia uma vez que

a influência da ingestão de alimentos nos resultados obtidos é ligeira. Contudo,

idealmente, dever-se-á efetuar esta medição em jejum, pois permite obter resultados

mais fidedignos. Os níveis recomendáveis de colesterol total são os inferiores a

200mg/dL. É essencial a sensibilização do utente relativamente à importância de

cumprir o regime terapêutico instituído, à monitorização e à prática de um estilo de

vida saudável, nomeadamente no que diz respeito à alimentação e à prática de

exercício físico. Para além disso, e tal como nos doentes hipertensos, é importante

desmistificar a ideia de que o colesterol total controlado não requer tratamento.

Por fim, o parâmetro bioquímico determinado em menor grau pelos utentes é a

monitorização dos níveis de triglicerídeos. A sua determinação é importante, pois

fornece informações sobre o perfil lipídico do utente, complementando os dados

obtidos com a determinação do colesterol total. Tal como na determinação deste

último, os triglicerídeos são também monitorizados pelo aparelho Accutrend® Plus,

sendo aconselhável, contudo, que os utentes se apresentem com um jejum de 12

horas (a concentração sanguínea dos triglicerídeos sofre variações ao longo do dia,

sendo afetada pela ingestão de alimentos). Os níveis recomendáveis de triglicerídeos

são os inferiores a 150mg/dL.

b) Insulinoterapia: administração de insulina e o papel do Farmacêutico

No âmbito do meu período de estágio na Farmácia Central de Ovar, surgiu a

oportunidade de desenvolver um trabalho com o objetivo de avaliar a técnica de

administração de insulina, o conhecimento do doente sobre a terapêutica vigente e os

potenciais benefícios da intervenção do Farmacêutico. O trabalho consistiu na

elaboração e aplicação de um questionário destinado a recolher informações

relevantes sobre o tema, e também na educação do doente (esclarecimento de

dúvidas, correção de erros na técnica de administração). O questionário foi aplicado

pelos Farmacêuticos da Farmácia Central de Ovar a oito utentes diabéticos que se

encontravam a realizar insulinoterapia, tendo sido realizado durante o mês de Abril. Os

principais resultados estão descritos na Monografia “Insulinoterapia: administração de

insulina e o papel do Farmacêutico”, realizada por mim.

Page 36: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 29

Os resultados do trabalho de campo desenvolvido não têm significado

estatístico, uma vez que a amostragem é muito pequena. No entanto, na minha

opinião, servem como indicação do papel importante que o Farmacêutico pode

desempenhar nesta área. Os benefícios inerentes ao contacto próximo e privilegiado

com os utentes são muitos e vão além da adesão à terapêutica e implementação de

estilos de vida saudáveis. A intervenção em aspetos como o uso racional e seguro dos

medicamentos e, consequente prevenção da ocorrência de reações adversas aos

mesmos é crucial. A ocorrência de erros no emprego da insulinoterapia relaciona-se

diretamente com a ineficácia no controlo dos níveis de glicemia e no risco aumentado

de complicações da Diabetes. Dos erros detetados no trabalho de campo, os mais

importantes a destacar, ou seja, os que mais contribuem para a baixa eficácia e

segurança da terapêutica, são: a não avaliação e rotação do local de injeção, a não

remoção de bolhas de ar nas canetas, a agitação vigorosa de suspensões de insulina

e a reutilização constante de agulhas. Deste modo, a promoção da educação do

diabético é uma ação que pode e deve ser desempenhada pelo Farmacêutico, no

contexto de Farmácia comunitária.

c) VALORMED

A VALORMED Sociedade diz respeito a um sistema integrado de recolha de

embalagens e medicamentos fora de uso. Por razões de saúde pública, é aconselhada

a existência deste processo de recolha de medicamentos, que o faz de forma segura.

Assim, a Farmácia Central de Ovar sensibiliza os utentes a entregar os medicamentos

fora de uso que possuam, sendo estes colocados em contentor próprio que, depois de

cheio, é selado, pesado e recolhido pelos distribuidores. Para além disto, a Farmácia

também recolhe radiografias usadas.

11. FARMACOVIGILÂNCIA

A farmacovigilância visa melhorar a qualidade e segurança dos medicamentos,

em defesa do utente e da Saúde Pública, através da deteção, avaliação e prevenção

de Reações Adversas a Medicamentos (RAM).[39] A notificação de RAM é um dever do

farmacêutico como profissional de saúde, que assim contribui mais uma vez

ativamente para a qualidade e segurança da terapêutica dos utentes. Durante o meu

estágio não me deparei com nenhum caso em que tenha sido necessário recorrer ao

registo de RAM. Contudo, tomei conhecimento de como proceder a uma notificação

através da Unidade Regional de Farmacovigilância do Norte.

Page 37: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 30

12. CONCLUSÃO

A Farmácia Comunitária, como espaço privilegiado de prestação de cuidados

de saúde e de atendimento ao utente, encerra em si mesma um ambiente de

aprendizagem e formação de valor imensurável. O estágio em Farmácia Comunitária

surge então, para o estudante de Ciências Farmacêuticas, como uma ponte para a

realidade da profissão farmacêutica, colocando-o frente a frente com diversas

situações às quais é esperado que responda com qualidade e profissionalismo, tirando

ensinamentos de cada situação.

O Farmacêutico desempenha na sociedade um papel que vai além da dispensa

de medicação, concretizando uma intervenção que pode ter um enorme impacto não

só na saúde mas na própria qualidade de vida de todos os cidadãos. Assim, é

fundamental que o Farmacêutico exerça a sua atividade profissional tendo sempre em

vista a qualidade dos cuidados prestados ao utente, desde a dispensa ao

aconselhamento, contribuindo para uma melhoria contínua do nível dos serviços de

saúde em Portugal.

Tendo em conta estes aspetos, o Estagio na Farmácia Central de Ovar

constituiu para mim um desafio não só aos conhecimentos adquiridos ao longo do

percurso académico mas também às capacidades de aprendizagem e intervenção que

são constantemente exigidas ao Farmacêutico. No final deste período, sinto que

aprendi e cresci muito enquanto profissional, pois tive o privilégio de o fazer num

ambiente de excelência e qualidade como é o da Farmácia Central de Ovar, pelo que

devo à equipa da Farmácia a experiência positiva que este estágio representou para

mim.

Page 38: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 53/2007, de 8 de Março. Diário da República,

1ª Série, nº 48, 1492-93.

[2]. Ministério da Saúde. Portaria nº 277/2012, de 12 de Setembro. Diário da

República, 1ª Série, nº 177, 5202-03.

[3]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 307/2007, de 31 de Agosto. Diário da

República, 1ª Série, nº 168, 6083-91.

[4]. Conselho Nacional da Qualidade. Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia

comunitária. Ordem dos Farmacêuticos. 2009. Ministério da Saúde.

[5]. Ministério da Economia e do Emprego. Decreto-Lei nº 112/2011, de 29 de

Novembro. Diário da República, 1ª Série, nº 229, 5104-08.

[6]. Decreto-Lei nº 25/2011, de 16 de Junho. Diário da República, 1ª Série, nº 115,

3178.

[7]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 176/2006, de 30 de Agosto. Diário da

República, 1ª Série, nº 167, 6297-6383.

[8]. Despacho nº 17690/2007, de 23 de Julho. Diário da República, 2ª Série, nº 154,

22849-50.

[9]. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Decreto-Lei nº

184/97, de 26 de Julho. Diário da República, 1ª Série, nº 171, 3796-3814.

[10]. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Decreto-Lei nº

175/2005, de 25 de Outubro. Diário da República, 1ª Série, nº 205, 6188-93.

[11]. Paulo Alexandre Lourenço Lobão. Aulas teóricas Terapêuticas Alternativas. Ano

letivo 2010/2011. Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

[12]. INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde,

IP/Ministério de Saúde. Dispositivos médicos. Disponível em

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/DISPOSITIVOS_MEDICOS.

[Última consulta a 21/10/2013].

[13]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 145/2009, de 17 de Junho. Diário da

República, 1ª Série, nº 115, 3707-65.

Page 39: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 32

[14]. Medi. Meias de compressão. Disponível em http://www.medi.pt/produtos/saude-

vascular/meias-de-compressao.html. [Última consulta a 22/10/2013].

[15]. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Decreto-Lei nº

74/2010, de 21 de Junho. Diário da República, 1ª Série, nº 118, 2198-2201.

[16]. Nutricia. Produtos Nutricia. Disponível em

http://www.nutricia.pt/principais/produtos-nutricia. [Última consulta a 22/10/2013].

[17]. INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde,

IP/Ministério de Saúde. Produtos cosméticos. Disponível em

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/COSMETICOS. [Última consulta

a 23/10/2013].

[18]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 189/2008, de 24 de Setembro. Diário da

República, 1ª Série, nº 185, 6826-6905.

[19]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 115/2009, de 18 de Maio. Diário da

República, 1ª Série, nº 95, 3127-41.

[20]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 113/2010, de 21 de Outubro. Diário da

República, 1ª Série, nº 205, 4679-4727.

[21]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 63/2012, de 15 de Março. Diário da

República, 1ª Série, nº 54, 1204-36.

[22]. Assembleia da República. Lei nº 11/2012, de 8 de Março. Diário da República, 1ª

Série, nº 49, 978-79.

[23]. Ministério da Saúde. Portaria nº 137-A/2012, de 11 de Maio. Diário da República,

1ª Série, nº 92, 2478 (2) - (7).

[24]. INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde,

IP/Ministério de Saúde. Deliberação nº 70/CD/2012, de 24 de Maio.

[25]. Ministério da Saúde. Despacho nº 15700/2012, de 30 de Novembro. Diário da

República, 2ª Série, nº 238, 39247-50.

[26]. Associação Nacional das Farmácias (ANF). Ofício Circular nº 1162/2013, de 26

de Março.

Page 40: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 33

[27]. Ministérios das Finanças e da Saúde. Despacho nº 4631/2013, de 22 de Março.

Diário da República, 2ª Série, nº 65, 11037.

[28]. Ministérios das Finanças, da Administração Interna e da Saúde. Despacho nº

4115/2013, de 4 de Março. Diário da República, 2ª Série, nº 56, 9981-82.

[29]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 18-A/2010, de 13 de Maio. Diário da

República, 1ª Série, nº 93, 1654 (2) - (15).

[30]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 106-A/2010, de 1 de Outubro. Diário da

República, 1ª Série, nº 192, 4372 (2) - (5).

[31]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 270/2002, de 2 de Dezembro. Diário da

República, 1ª Série, nº 278, 7520-22.

[32]. Ministério da Justiça. Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro. Diário da República,

1ª Série, nº 18, 234-52.

[33]. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 95/2004, de 22 de Abril. Diário da República,

1ª Série, nº 95, 2439-41.

[34]. Deliberação nº 1500/2004, de 7 de Dezembro. Diário da República, 2ª Série, nº

303, 19288.

[35]. Ministério da Saúde. Portaria nº 594/2004, de 2 de Junho. Diário da República, 1ª

Série, nº 129, 3441-45.

[36]. Ministérios da Economia e da Saúde. Portaria nº 769/2004, de 1 de Julho. Diário

da República, 1ª Série, nº 153, 4016-17.

[37]. Ministério da Saúde. Despacho nº 18694/2010, de 16 de Dezembro. Diário da

República, 2ª Série, nº 242, 61028-29.

[38]. European Society of Hypertension (ESH) and European Society of Cardiology

(ESC). 2013 ESH/ESC guidelines for the management of arterial hypertension. Journal

of Hypertension. 2013, 31:1281–1357.

[39]. INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde,

IP/Ministério de Saúde. Dispositivos médicos. Disponível em

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/PERGUNTAS_FREQUENTES/M

EDICAMENTOS_USO_HUMANO/MUH_FARMACOVIGILANCIA#P1. [Última consulta

a 14/11/2013].

Page 41: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 34

[40]. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Decreto-

Lei nº 148/2008, de 29 de julho. Diário da República, 1ª Série, nº145, 5048-95.

[41]. Norma da Direção-Geral da Saúde nº 002/2011. Diagnóstico e Classificação da

Diabetes Mellitus. Direção-Geral da Saúde, 14/01/2011.

Page 42: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 35

ANEXOS

ANEXO A

Fotografias das instalações da Farmácia Central de Ovar.

ANEXO B

Exemplo de fatura que acompanha as encomendas.

ANEXO C

Tabela 1. Classificação dos valores de pressão arterial.

ANEXO D

Tabela 2. Critérios de diagnóstico definidos pela DGS.

Page 43: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 36

ANEXO A

Espaço de atendimento ao público

Gabinete privado de atendimento personalizado

Page 44: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 37

Robot da Farmácia Central de Ovar

Laboratório

Page 45: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 38

ANEXO B

Page 46: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 39

ANEXO C

Tabela 1. Classificação dos valores de pressão arterial.[38]

Categoria Pressão Sistólica

(mmHg)

Pressão Diastólica (mmHg)

Ótima <120 e <80

Normal 120-129 e/ou 80-84

Normal elevada 130-139 e/ou 85-89

Hipertensão grau 1

(ligeira) 140-159 e/ou 90-99

Hipertensão grau 2

(moderada) 160-179 e/ou 100-109

Hipertensão grau 3

(severa) ≥180 e/ou ≥110

Pressão sistólica

isolada ≥140 e <90

Page 47: RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA · 2018-03-09 · Relatório de estágio em Farmácia Comunitário elaborado pelo estudante Rafael José Maia Amaral, no âmbito da

Relatório de estágio em Farmácia Comunitária 2012/2013

Rafael José Maia Amaral 40

ANEXO D

Tabela 2. Critérios de diagnóstico definidos pela DGS.[41]

Classificação Glicémia de jejum

(mg/dL)

Glicémia ocasional (mg/dL)

PTGO às 2h (mg/dL)

HbA1c (%)

Diabetes

Mellitus ≥126

≥200 + sintomas

clássicos ≥200 ≥6.5

Anomalia da

glicémia de

jejum

≥110 e <126

Tolerância

diminuída à

glucose

≥200mg/dL

(11.1mmol/L) ≥140 e <200